Adaptação, Dano e Morte Celular

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ADAPTAÇÃO, DANO E MORTE CELULAR.

Os quatro aspectos das doenças que formam o cerne da patologia são as causas (etiologia), os
mecanismos de seu desenvolvimento (patogenia), as alterações estruturais induzidas nas células e nos órgãos
(alterações morfológicas) e as consequências funcionais das alterações morfológicas (significado clínico).
Patogenia refere-se a sequencia de eventos da resposta das células ou dos tecidos ao agente etiológico,
desde o estimulo inicial até a expressão final da doença em si.
Alterações morfológicas referem-se às alterações estruturais nas células ou nos tecidos que são
característicos da doença ou levam ao diagnostico do processo etiológico.
A natureza das alterações morfológicas e sua distribuição nos diversos órgãos ou tecidos influencia a função
normal e determina as características clínicas (sinais e sintomas), curso e prognóstico de uma doença.
Estresses fisiológicos mais severos e alguns estímulos patológicos podem desencadear um grande numero
de adaptações celulares fisiológicas e morfológicas durante as quais são alcançados novos estados de estabilidade,
porem alterados, preservando a viabilidade da célula e modulando sua função conforme ela responde a tais
estímulos. A resposta adaptativa pode consistir em:
Hiperplasia: aumento no numero de células
Hipertrofia: aumento no tamanho das células.
Atrofia: redução no tamanho e função das células.
Se os limites de adaptação a um estímulo são excedidos, ou em determinadas circunstancias quando a
célula é exposta a um agente lesivo ou estresse, ocorre uma sequencia de eventos que é chamado de lesão celular.
A lesão celular é, até certo ponto, reversível, mas se o estímulo persistir ou for severo o suficiente desde o inicio, a
cela atinge um ponto em que não há retorno, e sofre lesão celular irreversível e, finalmente, morte celular.
Adaptação, lesão reversível e morte celular podem ser considerados estágios de um dano progressivo das
funções e estruturas celulares normais.
Existem dois padrões principais de morte celular:
Necrose: tipo de morte celular que ocorre após estresses anormais como isquemia e lesão química, sendo sempre
patológica.
Apoptose: ocorre quando a célula morre devido à ativação de um programa de suicídio controlado internamente. É
projetado para eliminar células indesejáveis durante a embriogênese e vários processos fisiológicos. Também ocorre
em determinadas condições patológicas, quando as células estão danificadas de tal forma que não podem ser
reparadas, e especialmente se a lesão afeta o DNA celular.
ADAPTAÇÃO CELULAR AO CRESCIMENTO E À DIFERENCIAÇÃO
As células respondem ao aumento da demanda e ao estimulo externo por meio da hiperplasia ou da
hipertrofia, e respondem à redução de nutrientes e de fatores de crescimento pela atrofia. Em algumas
situações, as células mudam de um tipo para outro, um processo conhecido com metaplasia.
As adaptações podem estar associadas com a indução da síntese de novas proteínas pelas células-alvo.
Também podem envolver uma mudança na produção de um tipo de proteína para outro pela célula ou pelo aumento
acentuado na produção de uma proteína.
HIPERPLASIA
Aumento no numero de células de um órgão ou tecido, geralmente resultando em aumento do seu
volume. Pode ocorrer juntamente com a hipertrofia, sendo desencadeadas pelo mesmo estímulo externo. A
hiperplasia ocorre se a população celular for capaz de sintetizar DNA permitindo assim, que ocorra a mi tose. Pode
ser fisiológica ou patológica.
Hiperplasia Fisiológica: pode ser dividida em hiperplasia hormonal, a qual aumenta a capacidade funcional de
um tecido quando necessário e hiperplasia compensatória, na qual ocorre aumento da massa tecidual após dano
ou ressecção parcial.
Hiperplasia Patológica: na maioria das vezes causada pela estimulação excessiva das células-alvo por
hormônios ou por fatores de crescimento. Apesar dessa forma de hiperplasia ser anormal, o processo permanece
sob controle, pois a hiperplasia regride se o estímulo hormonal for eliminado. É essa resposta a mecanismos
reguladores normais de controle que distingue a hiperplasia patológica normal do câncer, no qual os mecanismos de
controle de crescimento se tornam defeituosos. Entretanto, a hiperplasia patológica representa um solo fértil
onde à proliferação cancerosa pode finalmente ocorrer. A hiperplasia também é uma resposta importante das
células do tecido conjuntivo na cicatrização, onde a proliferação de fibroblastos e vasos sanguíneos auxilia o
processo de cicatrização.
HIPERTROFIA
Aumento no tamanho das células, resultando em um aumento no tamanho do órgão. As células
hipertróficas têm aumento na síntese de suas estruturas subcelulares. A hipertrofia pode ser fisiológica ou
patológica, causada pelo aumento da demanda funcional ou por estímulos hormonais específicos. O estimulo
mais comum para a hipertrofia muscular é um aumento de carga. No coração, o estimulo é geralmente uma
sobrecarga hemodinâmica crônica causada pela hipertensão arterial ou por valvas defeituosas. Ocorre a síntese de
mais proteínas e filamentos, atingindo um equilíbrio entre a demanda e a capacidade funcional da célula.
ATROFIA
É a redução quantitativa dos componentes estruturais celulares, com diminuição do volume das
células e dos órgãos. Muitas das vezes acompanhada de redução no numero de células. Em geral, há o aumento
da degradação das proteínas celulares. Por ser fisiológica ou patológica (desuso; desnervação; isquemia
marasmo; nutrição inadequada; perda de estimulação endócrina; envelhecimento; pressão). Os mecanismos
bioquímicos responsáveis pela atrofia ainda não são totalmente conhecidos, mas provavelmente afetam o equilíbrio
entre a síntese e a degradação de proteínas.
METAPLASIA
É a alteração reversível onde um tipo de célula adulta, epitelial ou mesenquimal, é substituída por
outro tipo de célula adulta. Isso pode representar uma substituição de adaptação de célula que são sensíveis ao
estresse por tipos celulares mais capazes de sobreviver ao ambiente adverso. A mais comum é do epitélio colunar
para o escamoso que ocorre no trato respiratório em resposta à irritação crônica. A metaplasia não resulta de uma
alteração do fenótipo de uma célula diferenciada, ao contrario, é o resultado de uma reprogramação de células-
tronco dos tecidos normais ou de células mesenquimatosas indiferenciadas presentes no tecido conjuntivo.
LESÃO CELULAR
Quando a capacidade de uma dada célula em se adaptar ultrapassa o seu limiar, a célula passa a apresentar
alterações estruturais, que caracterizam a lesão reversível. Da fase de lesão reversível, a célula passará a apresentar
as alterações de lesão irreversível, que culminarão na morte celular, mais ou menos rapidamente, dependendo do
tipo de célula envolvida, e do tipo, duração e intensidade do estímulo.
Em suma, a lesão celular depende do tipo, intensidade e duração versus adaptabilidade celular.
Existem dois tipos de morte celular, necrose e apoptose, que diferem quanto a morfologia, mecanismo e
papeis que desempenham nas doenças e fisiologia. Quando o dano às membranas é severo, as enzimas
lisossômicas entram no citoplasma e digerem a célula e os componentes celulares vazam, resultando em necrose.
Alguns estímulos celulares nocivos, especialmente aqueles que danificam o DNA, induzem a apoptose, que se
caracteriza pela dissolução nuclear sem perda total da integridade das membranas. Enquanto a necrose é sempre
um processo patológico, a apoptose ocorre em varias funções normais e não está necessariamente associada a
lesão celular.
A lesão celular pode ser causada por:
 Hipóxia, isquemia, reperfusão;
 Agentes físicos, químicos, infecciosos e parasitários;
 Reações inflamatórias e imunológicas;
 Defeitos genéticos;
 Distúrbios nutricionais.
A lesão celular é desencadeada bioquimicamente por:
1. Redução da síntese de ATP;
2. Aumento da liberação de espécies reativas e de radicais livres do oxigênio;
3. Aumento da concentração do sódio intracelular e perda de potássio;
4. Aumento da concentração do cálcio intracelular, no citossol, proveniente do reticulo endoplasmático liso e da
mitocôndria, aumentando a atividade de fosfolipases, proteases, ATPases e endoculeases;
5. Alteração da permeabilidade das membranas citoplasmáticas e das organelas;
6. Dano mitocondrial irreversível: cessa a fosforilação oxidativa (respiração);
7. Perda da integridade do genoma pela ação de desoxirribonucleases, radicais livres, etc.
As lesões celulares resultam de anormalidades funcionais e bioquímicas em um ou mais componentes
celulares essenciais. Os alvos mais importantes dos estímulos nocivos são a respiração aeróbica envolvendo a
fosforilação oxidativa e a produção de ATP, a integridade das membranas celulares, da qual depende a homeostasia
iônica e osmótica da célula e de suas organelas, a síntese proteica, o citoesqueleto e a integridade do componente
genético da célula.
DIMINUIÇÃO DE ATP
A diminuição de ATP e a redução de sua síntese estão frequentemente associadas a lesões hipóxicas e
químicas. A redução de ATP a menor que 5% a 10% dos níveis normais tem efeitos disseminados em muitos
sistemas celulares críticos:
 A atividade da bomba de sódio da membrana plasmática dependente de energia está reduzida. Uma falha
nesse sistema de transporte ativo causa acúmulo intracelular de sódio e perda de potássio da célula. O
ganho de liquido de soluto é acompanhado de agua, causando edema celular e dilatação do reticulo
endoplasmático.
 O metabolismo de energia celular esta alterado. Se o suprimento de oxigênio celular é reduzido, a
fosforilação oxidativa cessa e as células ficam dependentes da glicólise para a produção de energia. Essas
ações resultam em um aumento na taxa da glicose anaeróbica. Consequentemente, os depósitos de
glicogênio são rapidamente reduzidos. A glicose resulta no acumulo de acido lático e fosfato inorgânicos
levando a uma redução do pH intracelular, resultando na diminuição da atividade de muitas enzimas
celulares.
 Com uma diminuição prolongada do ATP, ou com seu agravamento, ocorre uma ruptura estrutural dos
mecanismos de síntese proteica manifestada pelo descolamento dos ribossomos do reticulo endoplasmático
granular e dissociação dos polissomos em monossomos, com a consequência redução na síntese de
proteínas, finalmente, ocorre um dano irreversível às membranas mitocondriais e lisossomais, levando à
necrose celular.
DANO MITOCONDRIAL
A lesão celular é frequentemente acompanhada de alteração morfológicas nas mitocôndrias. Elas podem ser
danificadas pelo aumento do Ca2+ no citosol, estresse oxidativo e peroxidação lipídica. O dano mitocondrial também
pode estar associado ao extravasamento do citocromo c no citosol. Como o citocromo c é um componente integral da
cadeia de transporte de elétrons, podendo iniciar as vias de morte por apoptose no citosol.
FLUXO INTRACELULAR DE CALCIO E PERDA DA HOMEOSTASIA DO CALCIO
A isquemia e certas toxina causam um aumento inicial da concentração de cálcio no citosol devido ao influxo
de Ca2+ através da membrana plasmática e liberação das mitocôndrias e do reticulo endoplasmático. O aumento
continuado do Ca2+ intracelular resulta do aumento não especifico na permeabilidade da membrana. Esse aumento
do Ca2+, por sua vez, ativa varias enzimas que possuem efeitos nocivos a célula, como ATPases, acentuando a
diminuição do ATP, fosfolipases, causando dado as membranas, proteases, que degradam tanto as proteínas das
membranas quanto as do citoesqueleto e as endonucleases que são responsáveis pela fragmentação do DNA e da
cromatina. O aumento dos níveis intracelulares de Ca2+ também causa um aumento na permeabilidade mitocondrial
e induz a apoptose.
ACUMULO DE RADICAIS LIVRES DERIVADOS DO OXIGENIO
As células geram energia reduzindo o oxigênio molecular em agua. Durante este processo, pequenas
quantidades de formas reativas do oxigênio parcialmente reduzidas são produzidas como um produto não desejado
da respiração mitocondrial. Algumas dessas formas são radicais livres que danificam os lipídios, as proteínas e os
ácidos nucleicos. Elas são chamadas de espécies reativas de oxigênio. Um desequilíbrio entre os sistemas de
geração e eliminação de radicais livres causam um estresse oxidativo, condição que tem sido associada com a lesão
celular vista em muitas condições patológicas.
Os radicais livres são espécies químicas que possuem um único elétron sem um par correspondente na
orbita eletrosferica externa. A energia criada por essa configuração instável e liberada através de reações com
moléculas adjacentes (como proteínas, lipídios, carboidratos ou acido nucleicos).
Os radicais livres podem ser criados nas células de varias maneiras:
 Absorção de energia radiante (como luz ultravioleta, raios X, radiações ionizantes);
 Metabolismo enzimático de substancias químicas exógenas ou drogas;
 As reações de reducao-oxidacao que ocorrem durante os processos metabólicos normais.
 Metais de transição como o ferro e o cobre que doam ou aceitam elétrons livres durante as reações
intracelulares e catalisam a formação de radicais livres.
 O oxido nítrico (NO), importante mediador químico gerado por células endoteliais, macrófagos, neurônios e
outros tipos celulares. Ele pode atuar como radical livre e também pode ser convertido a um aníon altamente
reativo, como em NO2 e NO3.
Os efeitos dessas espécies reativas são amplos, mas três reações são particularmente relevantes para a
lesão celular:

 Peroxidacao lipídica das membranas;


 Modificação oxidativa das proteínas;
 Lesões no DNA.
DEFEITOS NA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA
A perda inicial da permeabilidade seletiva da membrana leva, finalmente, a um dano evidente da membrana,
sendo uma característica consistente da maioria dos tipos de lesão celular. O dano à membrana pode afetar a
mitocôndria, a membrana plasmática e outras membranas celulares. Nas células isquêmicas, os defeitos nas
membranas podem resultar de uma serie de eventos envolvendo a diminuição de ATP e a ativação das fosfolipases
modulada pelo cálcio. Vários mecanismos bioquímicos podem contribuir para o dano da membrana: disfunção
mitocondrial; perda dos fosfolipídios de membrana; anormalidades do citoesqueleto; espécies reativas de oxigênio;
produtos de degradação de lipídios; etc.
LESÃO CELULAR REVERSÍVEL
Alterações funcionais e morfológicas que são reversíveis se o estimulo cessar. Caracterizada por fosforilação
oxidativa, depleção de ATP e alterações na concentração intracelular de íons e água. Dois padrões podem ser
reconhecidos na microscopia óptica: edema celular e degeneração gordurosa.
Em termos macroscópicos, pode ser observado palidez, aumento do turgor e no peso do órgão. Ao exame
microscópico, podem ser observados pequenos vacúolos claros no citoplasma, representando segmentos
distendidos do reticulo endoplasmático que se soltaram, sendo chamado de degeneração vacuolar ou hidrópica.
As alterações ultra-estruturais da lesão incluem: alterações da membrana plasmática (formação de bolhas,
redução e distorção de microvilosidades, aparecimento de figuras de mielina, etc), alterações mitocondriais, dilatação
do reticulo endoplasmático e alterações nucleares.
NECROSE
A necrose compreende as alterações morfológicas no organismo vivo, que sequem a morte celular e
envolvem a desnaturação proteica e a progressiva ação enzimática degradativa nas células com lesão
irreversível, sendo desencadeada reação inflamatória. As células que morrem por necrose usualmente apresentam-
se com tumefação ou degeneração hidrópica, na fase de lesão reversível.
As células necróticas são incapazes de manter a integridade das membranas e seu conteúdo geralmente
extravasa, podem gerar a inflamação. As enzimas se originam ou dos lisossomos das próprias celulas mortas,
denominadas autólise, ou dos lisossomos de leucócitos que migram para a região durante o processo inflamatório.
As causas de necrose são isquemia, agentes físicos (mecânicos, calor ou frio intenso e radiações ionizantes),
agentes infecciosos, agentes químicos (ácidos e álcalis, drogas diversas) e fenômenos imunológicos.
A célula necrótica apresenta um aumento da eosinofilia. Podem ter uma aparência vítrea mais homogênea do
que as células normais, principalmente devido à perda de grânulos de glicogênio. As células mortas podem ser
substituídas por figuras de mielina. A calcificação de tais resíduos resulta na saponificação.
Pela ME, as células necróticas se caracterizam por uma descontinuidade evidente nas membranas
plasmáticas e das organelas, dilatação acentuada das mitocôndrias com o surgimento de grandes densidades
amorfas, figuras de mielina intracitoplasmáticas, fragmentos amorfos que se coram facilmente com ósmio ou tetróxido
de ósmio.
Alterações nucleares:
 Cariólise: basofilia diminuída da cromatina, pela ação das endonucleases sobre o DNA. Coloração nuclear
pálida e fraca
 Picnose: retração com condensação da cromatina, com perda da individualidade dos grânulos de cromatina.
 Cariorrexe: fragmentação com desaparecimento do núcleo. Fragmentação do núcleo picnótico.
Quando a desnaturação é o padrão primário, se desenvolve a necrose de coagulação. Quando predomina a
digestão enzimática, o resultado é a necrose liquefativa e em circunstancias especiais, pode ocorrer a necrose
caseosa ou a esteatonecrose.
SEQUENCIA TEMPORAL DA LESÃO CELULAR

 0-30 min: lesão reversível, edema mitocondrial, relaxamento das miofibras


 40 min – 2H: lesão irreversível com densidades amorfas das mitocondrias, destruição de sarcolema
 6-8H: palidez microscópica, necrose de coagulação à histologia
 24-72H: palidez macroscópica, hiperemia periférica
 3-7 Dias: amolecimento central, borda hiperemiada, reabsorção, inicio reparo.
 2-3 meses: fibrose completa.
O produto necrótico é eliminado ou permanece e sofre calcificação. Eliminação direta (ulcera). Eliminação por
trajeto neoformado (fistula). Eliminação por condutos naturais (pulmão). Eliminação por fagocitose.
NECROSE DE COAGULAÇÃO
Ocorre parada completa da circulação sanguínea nos capilares da área necrótica. Isso leva a ausência de
neutrófilos e macrófagos, resultando em longa permanência das células necróticas no tecido como restos
“fantasmas”. São removidos lentamente por fagocitose a partir da periferia da área necrótica.
EX: infarto, tumores de crescimento rápido, lesões químicas e físicas.
Na macroscópica são observadas áreas firmes e pálidas bem delimitas. Forma de cunha caracteriza infarto.
 Esteatonecrose: necrose do tecido adiposo, mais comum na pele (hipoderme), mama, retroperitônio e
epiploon. Lesões traumáticas, isquêmicas ou químicas podem levar a ruptura de células adiposas.
o Pancreatite aguda: lipases pancreáticas liberam ácidos graxos dos triglicérides e estes reagem com
íons Ca2+ dos líquidos intersticiais formando sabões insolúveis de cálcio que tem aspecto
semelhante a cera de vela.
 Gangrena: tecido necrótico sofre modificação por agentes externos como ar ou bactérias.
o Seca: área necrótica perde agua para o ambiente, ficando seca, retraída e com aspecto mumificado.
Fica também negro, por alterações da hemoglobina.
o Úmida: tecido necrótico contaminado por bactérias saprófitas, que digerem o tecido, amolecendo-o.
Estas bactérias são geralmente anaeróbicas e produzem enzimas proteolíticas e fosfolipases.
o Gasosa: bactérias contaminantes do gênero Clostridium, com produção de gases.
 Necrose caseosa: se instala no meio da reação inflamatória provocando por certas doenças, principalmente
a tuberculose. A área necrótica fica com aspecto macroscópico de queijo fresco. Microscopicamente, o
aspecto é róseo, finamente granuloso. Calcificações são frequentes.
NECROSE LIQUEFATIVA
Ocorre digestão enzimática das células mortas, pela liberação de grande quantidade de enzimas
lisossomais, tornando o tecido uma massa amorfa, de consistência muito amolecida. As células necróticas são
removidas rapidamente por fagocitose em toa a área necrótica. Característica de tecidos ricos em lípides (cérebro e
adrenal).
 Infarto cerebral: ocorre apenas redução acentuada da circulação, suficiente para matar os neurônios, mas
que não impede a chegada de células sanguíneas ao local da lesão. Macrófagos removem em poucos dias o
material necrótico (amolecimento do tecido).
 Abscessos: área de infecção bacteriana purulenta que produzem uma nova cavidade no tecido. Esta nova
cavidade resulta de uma necrose liquefativa, por ação das enzimas proteolíticas das próprias bactérias, e dos
neutrófilos atraídos para combatê-las.
APOPTOSE
Via de morte celular que é induzida por um programa intracelular altamente regulado, no qual as células
destinadas a morrer ativam enzimas que degradam seu DNA nuclear e as proteínas citoplasmáticas. A membrana
plasmática da célula permanece intacta, mas sua estrutura é alterada de forma que a célula apoptotica se torna um
alvo primário da fagocitose, a célula morta é eliminada rapidamente, antes que seu conteúdo possa extravasar e,
dessa forma, esse tipo de morte celular não desencadeia uma reação inflamatória. Pode ocorrer em situações
fisiológicas e patológicas.
Suas causas são: embriogênese, alterações hormonais, controle da proliferação celular epitelial e linfocitária,
morte celular tumoral, mortes linfocitárias T e B ou induzidas por linfócitos T citotóxicos, morte de neutrófilos nas
reações inflamatórias, atrofia parênquimal, secundarias as infecções virais, induzida por radiação, hipóxia drogas e
etc, acumulo de proteínas mal-dobradas, envelhecimento.
As características morfológicas da apoptose mais visíveis em microscopia eletrônica são:
 Encolhimento celular
 Condensação nuclear
 Formação de bolhas citoplasmáticas e corpos apoptóticos
 Fagocitose das células apoptóticas ou corpos celulares, geralmente macrófagos.
 Sem reação inflamatória adjacente
Os aspectos bioquímicos principais na apoptose envolvem hidrolise proteica dos citoesqueletos nuclear e
citoplasmático pela ação das caspases, ligações covalentes cruzadas entre as proteínas hidrolisadas pela ativação
das transglutaminases, fragmentação do DNA pelas endonucleases e reconhecimento fagocítico pela expressão das
fosforidilserina e trombospondina, na superfície externa de células apoptoticas, facilitando a fagocitose pelos
macrófagos e pelas células parênquimais.
A apoptose resulta da ativação de duas vias bioquímicas conhecidas como extrínseca, e intrínseca ou
mitocondrial. A via extrínseca inicia-se pela ativação de receptores específicos transmembrana citoplasmática,
enquanto a mitocondrial envolve estímulos intracelulares, como o pela sobrecarga de Ca2+ no citossol, ou o
aumento da geração de espécies reativas do oxigênio. Em ambas as vias, as caspases são ativadas dentro de uma
plataforma supramolecular específica, que catalisa a maturação proteolítica das caspases executoras que medeiam,
em parte, o processo catabólico que leva ao estágio final da apoptose. A permeabilização da membrana mitocondrial
marca o ponto de não retorno da via mitocondrial (intrínseca), pela ativação de ambos os mecanismos, dependente e
independente de caspase, que levam, finalmente, à morte celular. Por exemplo, após a permeabilização da
membrana mitocondrial é liberada a proteína citocromo C, do espaço intermembrana mitocondrial, para o citossol, a
qual interage com o fator adaptador ativador da proteína apoptótica 1 (APAF1) e com a procaspase 9, para formar o
apoptossomo. Isto resulta na ativação sequencial da caspase 9 e das caspases executoras num processo conhecido
como ativação em cascata das caspases. A intersecção entre as vias extrínseca e mitocondrial da apoptose dá-se
através da homologia do domínio 3 (BH3) da proteína bcl2 com a proteína BID, o que desencadeia a permeabilização
da membrana mitocondrial, após a clivagem mediada pela caspase 8.
Desordens associadas com a apoptose defeituosa e aumento do tempo de sobrevida da célula pode originar
canceres e doenças auto-imunes. Desordens associadas com um aumento da apoptose e excesso de morte celular
podem ser originadas por doenças neurodegenerativas, lesão isquêmica e destruição de células infectadas por vírus.
PROCESSOS SUBCELULARES
 Catabolismo lisossômico:
o Heterofagia: digestão de material ingerido do meio extracelular
o Autofagia: digestão dos próprios componentes celulares
 Hipertrofia do reticulo endoplasmático agranular: “adaptação” a droga devido ao aumento do volume do
reticulo.
 Alterações mitocondriais
 Alterações do citoesqueleto: podem se refletir em defeitos na função celular, tais como locomoção celular
e movimentação intracelular das organelas e, em alguns casos, pelo acumulo intracelular de material fibrilar.
o Filamentos finos: fagocitose
o Microtúbulos: cílios, espermatozoides, migração leucocitária.
o Filamentos intermediários: queratina, neurofilamentos, desmina, vimentina, gliais.
DEPÓSITOS INTRACELULARES
Os acúmulos intracelulares podem ser caracterizados por:
 Normais: água, lipídeos, proteínas e carboidratos.
 Substancias anormais:
o Endógenas: produtos de síntese ou metabolismo anômalo envolvendo os glicídios, os lipídeos e as
proteínas.
o Exógenas: mineral (sílica); produto de agentes infecciosos.
 Pigmentos
o Exógenos:
 Carbono ou carvão: inalado e capturado por macrófagos dos alvéolos e transportados por
vasos linfáticos para linfonodos peribrônquicos.
 Tatuagem: pigmento fagocitados por macrófagos da derme
o Pneumoconioses: deposito de pós mineirais no pulmão
 Silicose:
 Lesão pulmonar permanente causada pela sílica, inalada por mineiros, trabalhadores
em pedreira, marmorarias, cerâmicas.
 Fibrose permanente, difusa ou nodular, do parênquima pulmonar, da pleura e dos
linfonodos regionais.
 Causa pneumopatia restritiva.
 Instalação gradual e insidiosa ao longo de vários anos.
 A fibrose prossegue inexoravelmente, mesmo após cessada a exposição.
 Microscopicamente: partículas birrefringentes de sílica em meio ao tecido fibroso.
 Antracose:
 Partículas de carbono da poluição atmosférica que chegam aos alvéolos.
 São inertes no citoplasma dos macrófagos ou no interstício.
 Macroscopia: manchas pretas pequenas na superfície pleural e de corte, nos
pulmões e gânglios hilares e mediastinais.
 Microscopia: pigmento negro, livre ou fagocitado. Partículas muito finas, não-
refringentes.
 Asbestose:
 Lesões semelhantes as da silicose, causada por exposição profissional ao asbesto
ou amianto, um silicato que forma fibras microscópicas de aproximadamente 50mm
de comprimento.
 O asbesto é largamente empregado na indústria da construção civil, como isolante
térmico, e em telhas de cimento-amianto.
 As fibras aspiradas são retidas nos bronquíolos respiratórios. Não podem ser
eliminadas por ação ciliar, nem fagocitadas ou transportadas por linfáticos. Formam
granulomas de corpo estranho e levam à fibrose pulmonar e pleural. Na pleura,
formam placas espessas de fibrose tanto no folheto parietal como no visceral.
 O asbesto aumenta grandemente a incidência de tumores malignos do epitélio
brônquico (carcinomas broncogênicos) e da pleura (mesoteliomas).
o Endógenos:
 Lipofuscina: formado por polímeros de lipídeos e fosfolipídios resultantes do
envelhecimento celular
 Melanina: resultante da oxidação da tirosina
 Hemossiderina: derivado da hemoglobina, acumulada em hemorragias.
 Hemossiderose: depósito de hemossiderina em diversos órgãos e tecidos.
 Bilirrubina: derivado da hemoglobina, mas não contem ferro, presente na bile

A remoção de substancia endógena não supera sua produção (alterações gordurosas do fígado). São
acumuladas devido a defeitos genéticos ou adquiridas do metabolismo. Substancias exógenas se acumulam, pois a
célula não possui mecanismos para metaboliza-la ou transporta-la.
 LIPIDIOS
o Esteatose ou degeneração gordurosa:
 Acumulo de triglicerídeos nas células por defeitos entre a entrada dos ácidos graxos e a
saída das lipoproteínas
 Comum no fígado e coração
 Leve: não prejudica a função celular
 Grave: pode levar a morte celular.
 Pequenos vacúolos no citoplasma em torno do núcleo. Conforme crescem, empurram o
núcleo.
o Colesterol e ésteres de colesterol:
 Aterosclerose: deposição de colesterol nas células musculares lisas e na camada intima
das artérias
 Xantomas: acumulo de colesterol em macrófagos da pele e tendões
 Inflamação e necrose: fagocitose de colesterol das membranas celulares
 Colesterolose: acumulo de colesterol na vesícula biliar
 PROTEINAS
o Geralmente se apresentam como gotículas, vacúolos ou agregados arredondados eosinofílicos no
citoplasma. Ocorrem por aumento da síntese de proteínas, defeitos na síntese e acumulo de
proteínas anormais.
o À microscopia eletrônica, pode ter uma aparência amorfa, fibrilar ou cristalina.
 ALTERAÇÃO HIALINA
o Termo genérico que indica coloração homogênea, vítrea, rósea nos cortes corados com hematoxilina
e eosina.
o Indica depósitos de proteínas, material fibroso e outros depósitos.
 GLICOGÊNIO
o Deposito decorrentes de anormalidades no metabolismo da glicose ou glicogênio.
o Doenças do armazenamento do glicogênio ou gliconoses.
 DISTURBIOS DAS PURINAS
o A gota é uma síndrome caracterizada por deposição de cristais de urato de sódio em certas
articulações, principalmente na metatarso-falangiana do hálux, e cálculos nas vias urinárias.
Predomina em homens, geralmente dos 30 aos 50 anos, bem nutridos e ativos. Inicia-se com
ataques agudos de artrite que regridem espontaneamente ou com medicação. Se não tratada,
progride à fase crônica, em que deposição permanente de cristais na forma de tofos destrói as
articulações.
o A gota aguda tem inicio súbito como uma artrite aguda, geralmente na articulação metatarso-
falangiana do hálux, que fica inflamada: inchada, quente e vermelha. Há febre e leucocitose. O
ataque pode ser desencadeado por excessos alimentares ou bebidas, ou não ter causa aparente. Há
preferencia por articulações distais devido à menor temperatura destas.
o O mecanismo de ataque agudo se da pela precipitação de cristais de urato no liquido sinovial e
tecidos periaticulares, na vigência de hiperuricemia.
o Os cristais provocam afluxo de neutrófilos que, na tentativa de fagocita-los, liberam enzimas
proteolíticas e radicais livres, dando origem aos sinais inflamatórios. Também há ativação do
complemento.
o Gota crônica: com o tempo, após vários ataques e remissões, vão se formando insidiosamente
depósitos de uratos, chamados tofo gotoso, que não são acompanhados de sinais inflamatórios. As
articulações mais acometidas são as distais, e a cartilagem auricular. Microscopicamente, observa-se
reação inflamatória crônica inespecífica ou granulomatosa (presença de células gigantes). Há forte
tendência ao desenvolvimento de cálculos renais.
CALCIFICAÇÕES PATOLÓGICAS
Deposição anormal de sais de cálcio, juntamente com pequena quantidade de ferro, magnésio e outros sais
no tecido. É um processo comum em varias situações patológicas. Ocorrem em necrose, especialmente na necrose
caseosa; vasos sanguíneos com placas de aterosclerose e na esclerose calcificada da camada média, ou de
Monckeberg; valvas cardíacas alteradas, principalmente pela febre reumática; trombos localizados em valvas
cardíacas, artérias ou veias, tumores com áreas de necrose, cicatrizes fibróticas e hialinizadas.
No aspecto macroscópico, a área calcificada pe esbranquiçada ou amarelada e de consistência pétrea ou
quebradia.
Existem duas formas de calcificação patológica:
 Normal: se faz em matrizes proteicas preparadas especificamente para receber os sais de calcio, como a
matriz óssea.
 Distrófica: ocorre em tecidos alterado, degenerados ou necróticos
 Metastática: ocorre em tecidos normais quando há hipercalcemia.
o Causas de hipercalcemia: aumento de secreção de hormônio da paratireoide; destruição de tecido
ósseo; desordens da vitamina D; insuficiência renal.

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