Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica Completos
Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica Completos
Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica Completos
1. INTRODUÇÃO
O termo "dificuldade de aprendizagem" (no original em língua inglesa,
"learning disability") aparentemente foi usado pela primeira vez e definida por
Kirk (1962, citado em Streissguth, Bookstein, Sampson, & Barr, 1993, p. 144).
O autor referia-se a uma aparente discrepância entre a capacidade da criança
em aprender e o seu nível de realização. Porém, a dificuldade de
aprendizagem refere-se a um distúrbio, que pode ser gerado por uma série de
problemas cognitivos ou emocionais e que pode afetar qualquer área do
desempenho escolar do aprendente.
2. METODOLOGIA
O Estudo de Caso foi realizado com a participação de um menino de 10
anos, aluno de instituição particular, cursando o 3º ano do Ensino
Fundamental, que mora com sua avó materna, tio e primo e possui irmã,
padrasto e mãe, (pai desconhecido).
A avaliação psicopedagógica tem um impacto importante na vida dos
alunos e alunas assim como também em suas famílias. Por isso devem se
extremar as medidas para que as condições em que for feita, os instrumentos,
o procedimento e a análise dos resultados não incorporem distorções que
comprometam os resultados. (SÁNCHEZ-CANO, 2011).
Na avaliação psicopedagógica de V.S.R. os instrumentos utilizados
foram: Entrevista de Anamnese (realizada com a avó), E.O.C.A., Provas para
Diagnóstico do Pensamento Operatório, Jogo Simbólico, Testes de Leitura,
Teste de Audibilidade, Atividades de Sequência Lógica, Prova da Noção de
adição e subtração, Técnicas Projetivas Psicopedagógicas (Par Educativo –
Família Educativa), Inventário Alfabético, Teste Compreensão Oral, Coleção
Papel de Carta, Entrevista com Material Escolar, contato com a escola
(professora e orientadora pedagógica), entre outros.
3. REGISTRO DA QUEIXA
Aprendente: V.S.R.
Queixa: V.S.R. está cursando o 3° ano do Ensino Fundamental, estuda no
turno vespertino em uma escola da Rede privada na cidade de Alvorada. A avó
do menino apresentou a seguinte queixa: V.S.R. tem apresentado
comportamento irregular na sala de aula e em casa. Não consegue fazer as
atividades em sala de aula e não realiza as atividades enviadas para casa. Sua
preocupação é com as notas baixas de V. A avó tem receio de que poderá ser
reprovado este ano; o aluno ainda não consegue ler fluentemente, não
reconhece todas as letras, troca os fonemas/grafemas, além da dificuldade na
leitura apresenta dificuldades na escrita e dificuldade básicas em matemática.
Subteste de Escrita
Consigna: Escreva seu nome nesta linha.
O aprendente escreveu corretamente seu nome utilizando letra bastão.
Ditado de palavras
O aprendente se recusou a fazer – disse que não sabia escrever as
palavras.
3–8–6 7–2–0–9
2–7–5 1–5–8–6
9–0–4 9 – 4 – 7– 3 – 1
7–3–2 8–4–2–3–9
3–4–1–7 5–2–1–8–3
6–1–5–8 7–0–4–9–6
Segundo Weiss:
“As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de
aquisição de algumas noções chave do desenvolvimento cognitivo, detectado o
nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura
cognitiva que opera” (2003, p.106).
Ela ainda nos alerta que não se devem aplicar várias provas de
conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma
de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados
dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitudes,
solução que dá às questões, seus argumentos e juízos e como arruma o
material. Isto será fundamental para a interpretação das condutas.
PROVAS APLICADAS:
Aplicação do Teste:
1º Foi apresentado o alfabeto e pedido que V. circulasse algumas letras.
Acertou as vogais.
2º Apresento as seguintes figuras e peço que escreva o seu nome ao lado de
cada figura.
JOANINHA – o aprendente escreveu: GPOD
CARACOL – o aprendente escreveu: CAVO
PEIXE – o aprendente escreveu: NCUT
BOI – o aprendente escreveu:BOE
3º Frase ditada:
O CARACOL NÃO TÊM OSSO.
O aprendente escreveu: GAVO NÃO OSA
5ª - Frase ditada:
O GATO É MEU
O aprendente escreveu: GATAO FABO
Conclusão do Teste:
Nível de desenvolvimento da escrita: silábico- alfabético.
2 Muitas pessoas gostam de passear á noite, pois o sol está muito alto e claro.
Responde não – de noite não tem sol
O avião é mais rápido que rápido que o navio porque voa e o navio não
7 O homem diz ao seu cachorro: - Lulu fique de guarda, vou viajar! Lulu responde:
Pode ir patrão, que tomarei conta da casa.
Responde não – cachorro não fala
1 Um boi ia à frente de três bois. Olhou para trás e contou: um, dois, três.
Responde não – boi não fala.
1 Meu pai é mais velho que eu, mas meu avô é mais velho que meu pai.
Responde sim – porque o pai nasceu primeiro.
1 Carlinhos saiu de casa. O céu estava azulzinho. De repente, gritou para o amigo:
Veja que lindo arco-íris está no céu!
Responde não – não tem arco-íris porque não choveu.
2 Eu gosto de ir ao sítio de minha tia. O único cuidado que tomo, quando estou lá
é com as ruas, que são movimentadas. Nelas passam muitos carros.
Responde não – sítio não tem ruas.
2 As plantas nascem e crescem na terra, mas precisam de água para não morrer.
Responde sim – porque precisam de ar.
2 A noite mais escura é quando cai um temporal e o céu fica todo colorido de
estrelas.
Responde não – o céu fica preto.
Consigna: Escolha a lâmina que mais gostou e conte uma estória, dando um
título para ela.
Ele escolheu a sua preferida, ou seja, a que mais gostou a lâmina nº 3 – depois
numerou as outras estabelecendo uma ordem (eu gostei das outras também,
nessa ordem: 6 – 4 – 5 – 2 – 1).
Peço que me relate a estória da lâmina escolhida, ele a analisou, ficou bastante
pensativo e após minha insistência relatou o seguinte:
A mãe está fazendo o seu filho dormir e os passarinhos estão cantando para
ajuda a fazer o filho dormir.
E o filho dormiu como um anjo e os passarinhos cantando.
É de noite e não tá chovendo, o céu tá cheio de estrelas e tá calor e eles tão do
lado de fora da casa. A luz tá acesa, lá dentro tá o pai, eles não tem irmãos.
Que título você daria para a sua estória?
AS FAMÍLIA DE RATO.
5. INFORME PSICOPEDAGÓGICO
O laudo ou informe psicopedagógico tem como finalidade resumir as
conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas iniciais que
motivaram o diagnóstico. Esse documento deve ser entregue apenas a
instituição (escola, Hospital...) que solicitou o diagnóstico, não sendo
necessário a entrega para os pais, a estes devemos apenas realizar a
entrevista devolutiva de forma verbal.
Motivo da avaliação:
A orientadora da escola de Vitor busca avaliação psicopedagógica, com
o objetivo de auxilia-lo em suas dificuldades na aprendizagem.
Segundo relato da orientadora e da avó, V. apresenta problemas na
realização das tarefas escolares, tem dificuldades na leitura e na escrita. A avó
relata que V. frequentemente apresenta mudanças de humor e comportamento
inadequado ao lidar com ela, informa ainda que o menino sente muito a falta da
mãe.
LEITURA:
Na prova de decodificação de palavras V. apresenta dificuldade
acentuada. Não consegue identificar todas as sílabas, faz confusão entre as
letras efetuando troca de fonemas/grafemas. Não realiza leitura silenciosa nem
oral.
ESCRITA:
Grafia: Preensão adequada do lápis. A folha verticalmente em direção
ao corpo, determinando adequada sinergia articular. V. é canhoto e apresenta
bastante habilidade no uso da mão esquerda. (recorte).
Ortografia: Na prova do Inventário Alfabético consegue identificar a
maioria das letras com lentidão efetuando a troca do N pelo M – G pelo P – T
pelo F – A pelo O, se confunde ao escrever palavras acrescentando letras. Ao
solicitar que ordenasse o alfabeto apresentou dificuldades informando ter
esquecido o nome das letras. Não reconheceu as letras L e Q.
NÍVEL DE PENSAMENTO:
Os dados levantados a partir de algumas técnicas piagetianas de
investigação do desenvolvimento das estruturas cognitivas permitem inferir que
Vitor, no que se refere à construção da noção de conservação da quantidade
de matéria, apresenta respostas indicativas de um nível inicial pré-operatório
intuitivo articulado, ou seja, num nível 2 - de transição, ora conserva, ora
não conserva; no que se refere à seriação, observa que realiza com
imprecisão, no que se refere à construção da estrutura de classificação
com mudança de critério dicotomia, as condutas são intermediárias,
reunindo os elementos por critério de cor e tamanho, no que se refere
à inclusão de classes obtendo êxito. Qualitativamente, observou-se que
Vitor realizou com presteza as atividades solicitadas, teve curiosidade sobre o
material, teve um ritmo acelerado na resolução das proposições, demonstrou
insegurança na realização das mesmas.
MATEMÁTICA:
No teste de problemas matemáticos de Stein, que envolvem distratores
linguísticos, demonstrou pequenas falhas na realização das operações de
adição, as respostas não foram corretas pelos problemas nos cálculos.
Síntese: Demonstra interesse e gosto pelos números e pelas contas, porém ainda
apresenta dificuldades na construção do número.
DESEMPENHO ESCOLAR:
De acordo com a análise do material escolar evidencia-se, falta de
cuidado com seus cadernos, apresentam desenhos coloridos, adesivos, alguns
espaços em branco e orelhas nos cadernos, letra variada, omissões de letras e
trocas. Realiza cópia do quadro e por falta de organização espacial e temporal
comete falhas e apresenta atividades incompletas. Não realiza os temas de
casa.
6. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Após ter realizado as sessões diagnósticas e o fechamento do
diagnóstico em um segundo momento a criança/jovem poderá ser submetido
ao tratamento que varia de acordo com a origem do problema. Assim sendo é
possível que se torne necessário apenas a intervenção psicopedagógica, ou
também a intervenção de outros profissionais, a exemplo de psicólogos, de
fonoaudiólogos, e demais especialistas. Outra possibilidade é unir o
acompanhamento psicopedagógico a um desses profissionais ou a mais de
um. É importante ressaltar que em alguns casos os pais e ou a família também
devem passar por algum processo terapêutico.
O acompanhamento psicopedagógico parte das questões investigadas no
diagnóstico. Através de atividades variadas pretende-se vencer os obstáculos
que se impõem ao processo de aprendizagem para que a criança possa
retomá-lo com maior autonomia e sucesso. O trabalho psicopedagógico visa
desencadear novas necessidades, de modo a provocar o desejo de aprender e
não somente uma melhoria no rendimento escolar. Durante o
acompanhamento são estabelecidos contatos periódicos com a equipe escolar
(coordenador e professores) e responsáveis pela criança, visando maior
integração entre terapeuta-escola-família.
Segundo Feurstein, Rand, Hoffman e Miller (1980), as experiências
vividas durante o processo de mediação permitem à criança modificar as suas
estruturas cognitivas, e, consequentemente, adaptar-se a novos modos de
funcionamento. A plasticidade cognitiva varia em grau de uma criança para
outra, e está diretamente relacionada à capacidade individual de se beneficiar
da ajuda recebida durante o processo de mediação.
A intervenção psicopedagógica dirigida à criança com dificuldade de
aprendizagem visa promover ajuda continuada à criança, na medida em que
representa uma situação protegida de ensino-aprendizagem, com objetivo de
dessensibilizar a criança, diminuindo a ansiedade frente à tarefa de aprender e
propiciar o desenvolvimento de habilidades e transmitir conhecimentos
(Linhares, 1998b). Dessa forma, a intervenção psicopedagógica pode ampliar a
possibilidade de detectar recursos potenciais cognitivos da criança, muitas
vezes encobertos por situações aversivas de ensino experimentadas
anteriormente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o importantíssimo papel desempenhado pelo
psicopedagogo clínico, pude perceber que intervir na vida do aprendente que
apresenta algum tipo de dificuldade de aprendizagem, estimulando-o a superar
suas limitações e trazendo de volta sua autoestima, é uma das recompensas
que dinheiro nenhum jamais poderá pagar.
A intervenção que se dá a partir de uma queixa trazida pela família e/ou
pelo educador que acompanha a trajetória escolar desse sujeito e que conhece
suas fraturas pode vir a ser uma das ferramentas imprescindíveis para o
trabalho psicopedagógico, uma vez que os pais, em geral, têm grande
expectativa com relação ao que o psicopedagogo irá dar de informação e
orientação sobre sua intervenção clínica. Assim, o termo é entendido aqui
como a fase em que o educador procura com a orientação psicopedagógica, a
natureza e a causa da Dificuldade de Aprendizagem.
A Psicopedagogia ainda é uma ciência nova, e como tudo que se inicia,
há necessidade de muito estudo e pesquisa, inclusive para alicerçar o campo
teórico. Como é uma área nova, ainda há muita comparação entre ela e as
outras ciências como, por exemplo, a Psicologia.
O objetivo da Psicopedagogia é resgatar a dificuldade que impediu o
individuo de aprender durante o processo de aprendizagem e intervir de forma
a derrubar essa barreira, para que ele possa reconstruir e prosseguir com
suas aprendizagens.
A importância da parceria da Psicopedagogia e as demais áreas que
atendem o indivíduo como os profissionais da educação e a saúde, como
também, a família do paciente, tendo como objetivo comum à aprendizagem do
envolvido é algo que merece ser fortalecido em todos os sentidos.
Como os profissionais da psicopedagogia são os investigadores sobre
as dificuldades que o indivíduo tem em aprender, é necessário, uma pratica
constante de formação, pois isso facilitará no atendimento de qualquer
paciente. Somos todos serem em construção, aprendendo e ensinado a
aprender.
Espero que como futura psicopedagoga eu possa contribuir para mudar
a realidade das escolas, e das instituições em meu município através da
divulgação da importância do trabalho do psicopedagogo e pela cobrança da
inclusão deste profissional tanto no sistema educacional público como também
no setor privado.
REFERÊNCIAS
ACAMPORA, Bianca. Psicopedagogia Clínica: o despertar das
potencialidades. Rio de Janeiro: Wak Editora. 2012.
CHAMAT, Leila Sara José. Coleção Papel de Carta: teste para avaliação das
dificuldades de aprendizagem. 2ª Ed. São Paulo: Vetor.1997.