05 09 Dossie9 PDF
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3. Segundo o Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse (1987: 628), pasquim é sinônimo de jornal difama-
dor, sátira, panfleto, libelo. Deste termo o dicionário retira ainda outros dois: pasquinada (difamação escrita em
pasquim) e pasquineiro (autor de pasquins, difamador). Sobre os pasquins, é interessante perceber que, assim
como há vários tipos de imprensa, há diferentes maneiras de se estudar e conceituar a imprensa. Na ótica
burguesa ou oficiosa, existem os bons e os maus jornais. Segundo Capelato (1998, pp. 28-30), os “bons” são
aqueles que contribuem para a manutenção da ordem e do status quo sociais; é o bem comportado, que goza
de privilégios junto aos governantes por não criar confusões. Já a “má” imprensa é aquela depreciada pelos
valores burgueses por ameaçar a “paz” e a “harmonia” da sociedade, depreciando o que se considera “bons
costumes”. Comumente, é vigiada e punida. Pode ser expressa na imprensa adjetivada anarquista, socialista,
comunista. Em raros momentos da história do Brasil, gozou de liberdade, que desapareceu completamente nos
períodos ditatoriais, nos quais até mesmo a “boa” imprensa sofreu perseguições.
enfraquecido, o Império não mais conseguiu impedir veículo político ligado ao grupo dos Bulhões, dirigido
a aquisição de tipografias e a circulação dos jornais. por Antônio Félix de Bulhões Jardim. Entretanto,
O Correio Oficial de Goyás foi criado por Lei Pro- anos mais tarde, ele ressurgiria como órgão oficial
vincial que, além de instituir o jornal como veículo do governo de Goiás, como será abordado mais
de comunicação oficial do Estado, estabeleceu orça- adiante.
mento para que o mesmo pudesse se manter. Da Ressalta-se que, no final do século XIX, a cidade de
rubrica deste orçamento, constavam gastos com Vila Boa era palco de efervescência cultural, política
aluguel de imóvel para o funcionamento da tipografia, e intelectual, além de concentrar todas as decisões
compra de papel, tinta e remuneração de recursos administrativas. Mais de trinta jornais circulavam na
humanos. Sob a direção do mesmo tipógrafo do cidade, mantendo, em sua maioria, a linha dos perió-
Matutina Meyapontense, tenente Mariano Teixeira dos dicos nacionais deste período: ideários republicanos
Santos, o Correio teve a sua primeira circulação em e liberais e duras críticas ao governo.
3 de junho de 1837. No ano seguinte, sua direção
passou para a tutela da Igreja, sendo, a partir daí, Terceiro período: imprensa goiana
comandado pelo monsenhor Joaquim Vicente de lança Goiás no cenário nacional
Araújo, fato que ilustra o aparelhamento religioso do O fechamento do Correio Oficial de Goiás, a expan-
governo do Estado de Goiás (Agi, op. cit.). são dos periódicos pelo Estado e a fundação da Asso-
Em sua primeira fase, o Correio circulou durante ciação Goiana de Imprensa podem indicar um ter-
quinze anos (1837-1852). De 1852 a 1855, os atos ofi- ceiro período da história da imprensa em Goiás, que
ciais passaram a ser publicados no jornal O Tocantins, iria de 1890 a 1934. Proclamada a República, Goiás
até que neste ano foi criada a Gazeta Oficial de Goyás, já não era mais uma província pobre e abandonada,
em substituição ao Correio Oficial de Goyás, agora nem sua capital, o único centro cultural e econômico
sob direção de um civil (João Luís Xavier Brandão). do Estado. Porto Nacional, Mataúna (Palmeiras), Rio
Entretanto, em maio de 1864, o Correio Oficial voltou Verde, Catalão, Suçuapara (Bela Vista), Corumbaíba,
a circular em segunda fase, publicando conteúdos de Itaberaí, Luziânia, Silvânia, Pirenópolis, Anápolis, Jataí,
caráter oficial, tais como peças oficiais do governo, entre outros, também tinham seus jornais e já parti-
trabalhos da assembléia provincial e resoluções das cipavam abertamente do debate político. Os embates
Câmaras Municipais. O jornal deixou de circular políticos ocorriam por meio dos jornais, que não se
definitivamente em 1890, por um ato baixado pelo limitavam aos debates gerais, partindo para questões
governador da província, major Rodolfo Gustavo da pessoais e “ferindo a honra” dos digladiadores.
Paixão. Como justificativa, ele prometeu a compra Nesse período histórico, despontava uma das
de um novo prelo, o que nunca foi concretizado figuras mais polêmicas do jornalismo goiano: Moisés
(idem, 1980). Com o fechamento do Correio, os atos Santana. Formado na Escola Militar da Praia Verme-
oficiais passaram a ser publicados no jornal Goyás, lha, no Rio de Janeiro, Santana combateu na Guerra
6. Na luta pelo poder político em Goiás, Pedro Ludovico queria imprimir a idéia de progresso e desenvol-
vimento na construção da nova capital, deixando para trás tudo o que era velho, arcaico e atrasado, conceitos
que associava ao caiadismo. Desta maneira, as primeiras edificações de Goiânia, projetadas por Atílio Correia
Lima, foram inspiradas no mais moderno estilo arquitetônico da época: o art déco, movimento internacional de
design que teve influências em diversas atividades, como a moda, pintura, cinema e arquitetura.
7. O berço d’O Popular foi a cidade de Goiás, quando, em 1935, Jaime Câmara e Henrique Pinto Vieira
abriram a J. Câmara e Companhia, abrigando uma tipografia e uma papelaria. Com a transferência da capital
para Goiânia, Jaime Câmara desfez a sociedade com Henrique Pinto Vieira, transferindo a firma para Goiânia e
fundando uma nova sociedade, agora com os irmãos Joaquim Câmara Filho e Vicente Rebouças Câmara (Perfil
da Organização Jaime Câmara, 2008).
8. Estima-se que, atualmente, a propaganda governamental é responsável por cerca de 60% da verba publi-
citária movimentada por ano no Brasil.
Para Consuelo Nasser (apud Vaz & Ramalho, op. cit.), o jornal Cinco de
Março teve duas fases: até a década de 1970, com forte ataque aos governos
(federal, estadual e municipal), recheado de jargões, vícios e gírias, com foco
no jornalismo opinativo; e após 1970, devido inclusive ao endurecimento
do regime militar, aproximando-se do conteúdo noticioso, mais ameno,
ouvindo os dois lados e analisando as situações com maior cautela.
a Nita (1897-1986), primeira colunista social de Goi- publicar, até mesmo pelas diversas formas e mani-
ânia; e Rosarita Fleury, redatora do primeiro jornal festações da censura que ocorre via financiamento
de Goiânia (Que me importa?) são a prova de que o privado e governamental, ou até mesmo autocensura
silêncio reinante sobre essa história pede para ser dos empresários do ramo e dos próprios jornalistas.
rompido. Atualmente, a presença maciça das mulheres Além disso, a imprensa goiana é marcada ainda pelo
nas redações de jornais, rádio e televisões e, também, o encolhimento da circulação de jornais diários11 e
nos cursos de jornalismo é indicativo importante para pela baixa qualidade apresentada por estes a partir
a análise sobre a participação da mulher na história do momento em que adotaram um modelo comercial
da imprensa em Goiás. de jornalismo, pouco adepto do compromisso público
Assim, é necessário escrever novos capítulos dessa que a atividade requer.
história. Com a redemocratização do País na década Sérgio Mattos (op. cit.) lembra que a liberdade de
de 1980, pode-se pensar num outro período da his- imprensa é fundamental ao jornalista, mas é impres-
tória da imprensa goiana. Os impactos do período cindível à população em geral e à própria democracia.
ditatorial, a perda da autonomia das empresas jorna- Assim sendo, a liberdade de imprensa não pode ser
lísticas frente à dependência direta do financiamento confundida com a liberdade da empresa em pautar
governamental e, ainda, a concentração das publica- temáticas e editar notícias de acordo com interesses
ções na capital, com a anulação da diversidade e da privados que mortificam o interesse público, razão de
quantidade de publicações espalhadas pelo Estado,
modificaram definitivamente o perfil da imprensa 11. De acordo com Melo (2002), essa não é uma realidade apenas
goiana. Esse período da história ainda está por ser de Goiás. Segundo ele, a imprensa brasileira está sofrendo de um “mal
endêmico” manifestado na exclusão de milhares de brasileiros desta forma
compreendido e nomeado. de cultura escrita, cujo crescimento está completamente descompassado
com o ritmo demográfico do País:“na década de 50 tínhamos um volume
Considerações finais diário de 5,7 milhões de exemplares de jornais para uma população de 52
milhões de habitantes. Chegamos ao ano 2000 com uma tiragem diária
Anos após o final do regime militar, a imprensa de 7,8 milhões de jornais para uma população estimada de 170 milhões
goiana ainda sofre com o medo de questionar e de pessoas” (p. 7).
Referências
Agi – Associação Goiana de Imprensa. Imprensa goiana: depoimentos para sua his-
tória. Goiânia: Cerne, 1980.
Barbosa, Marialva. “Como escrever uma história da imprensa?”. In: Grupo de
trabalho História do Jornalismo, II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho,
Florianópolis, 2004.
Capelato, Maria Helena R. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Contexto/
Edusp, 1988.
Certeau, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1982.
Chartier, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel,
1990.