252 - Temas Atuais Da Investigacao Preliminar No Processo Penal
252 - Temas Atuais Da Investigacao Preliminar No Processo Penal
252 - Temas Atuais Da Investigacao Preliminar No Processo Penal
ATUAIS
1. NOVOS MODELOS DE COLABORAÇÃO INVESTIGATIVA:
TRIBUNAL DO JÚRI, DE PROVA ACUSATÓRIA (FOR- Adriano Valente OS PROGRAMAS DE WHISTLE-BLOWING COMO SOLU-
MALMENTE OU MATERIALMENTE) CONTROVERSA ÇÃO PARA A DETECÇÃO DE ESQUEMAS CORRUPTOS
PRODUZIDA EM INQUÉRITO POLICIAL Adwaldo Lins Peixoto Neto
Adriano Valente
Antônio Carlos de Almeida Castro, Anderson Bezerra Lopes 2. NOTAS PARA UMA RELEITURA CRÍTICA SOBRE A UTILI-
DA
Kakay; Marcelo Turbay Freiria
André Luiz Nicolitt ZAÇÃO DA “DENÚNCIA ANÔNIMA” NA INVESTIGAÇÃO
16. A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA PARA PRELIMINAR
O DIREITO DE DEFESA NOS DELITOS EMPRESARIAIS Andrey Borges de Mendonça Anderson Bezerra Lopes
Leonardo Palazzi Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
INVES
3. INVESTIGAÇÃO DIRETA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO:
17. A QUEBRA DE SIGILO FISCAL, A IMPOSSIBILIDADE ANÁLISE QUANTO AS POSSIBILIDADES PARA SUA
DE UTILIZAÇÃO DOS DADOS DO REGIME ESPE-
Bruno Silva Rodrigues REALIZAÇÃO E DOS LIMITES TRAÇADOS PELO STF
CIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA Cezar Roberto Bitencourt NO JULGAMENTO DO RE 593.727/MG
INSTITUÍDO PELA LEI 13.254/16 NO ÂMBITO DA André Luiz Nicolitt; Adwaldo Lins Peixoto
INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR DE NATUREZA CRIMI- Cristiano Zanin Martins Neto
NAL E A NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA
TIGAÇÃO
ADMINISTRATIVA PARA CRIMES DECORRENTES DA Daniel Zaclis 4. A RENÚNCIA AO DIREITO RECURSAL EM ACORDO DE
ADESÃO AO CITADO REGIME COLABORAÇÃO PREMIADA
Débora Nachmanowicz de Lima
Marcos Vidigal de Freitas Crissiuma Andrey Borges de Mendonça; Fernando
Diogo Tebet Lacerda Dias
PRELI
18. O JUIZ DAS GARANTIAS, A ESTRUTURA ACUSATÓRIA
E AS MEMÓRIAS DO SUBSOLO. UM OLHAR SOBRE Eduardo Samoel Fonseca 5.O ABUSO DE INVESTIGAR DOS ÓRGÃOS DE INTELIGÊNCIA
O PL 8045/10 (PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL) Fernando Lacerda Dias Bruno Silva Rodrigues
Marcos Zilli Gustavo Alves Parente Barbosa 6. METODOLOGIA OPERACIONAL DA DELAÇÃO PREMIADA
- OS ABUSOS REALIZADOS NA OPERAÇÃO LAVA JATO
19. OPERAÇÃO LAVA JATO E GRAVAÇÕES CLANDESTINAS
Gustavo Badaró
MINAR
Pedro Machado de Almeida Castro Cezar Roberto Bitencourt
Gustavo Torres Soares 7. A NECESSIDADE DE REVISITAR O PAPEL DO JUIZ DE
20. PRESENÇA DO DEFENSOR NA INVESTIGAÇÃO PRELIMI-
GARANTIAS
NAR: INCREMENTANDO O CARÁTER DEMOCRÁTICO João Victor Esteves Meirelles
NO
DA PERSECUÇÃO PENAL Cristiano Zanin Martins
Renato Silvestre Marinho José Henrique Kaster Franco
8. A INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR NEUTRA
21. RECONHECIMENTO DE PROVA LÍCITA EM PROCESSO Leonardo Palazzi Daniel Zaclis
PENAL COMO ILÍCITA NO PROCESSO CIVIL? UMA
Marcelo Turbay Freiria 9. INADMISSIBILIDADE DA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA E
PROCESSO
ABORDAGEM DA INADMISSIBILIDADE, NO PROCES-
AMBIENTAL CLANDESTINA: DA NECESSÁRIA REVISÃO DA
SO CIVIL, DE FONTES DE PROVA DECORRENTES DE Marcos Vidigal de Freitas JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
MEIO DE PESQUISA DE PROVA ADMISSÍVEL NA LEI N.º
12.850/13 Crissiuma Diogo Tebet
PENAL
Renato Vieira Marcos Zilli 10. O CONTRADITÓRIO (MITIGADO) NA INVESTIGAÇÃO
PRELIMINAR: UMA CARACTERÍSTICA DO ESTADO
22. A (IM)PARCIALIDADE DOS RELATORES DAS INVESTIGA-
ÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STF E OS
Pedro Machado de Almeida Castro DEMOCRÁTICO DE DIREITO?
Eduardo Samoel Fonseca; Ricardo Ma-
MECANISMOS DE CONTROLE DE SUA ATUAÇÃO Renato Silvestre Marinho
Ricardo Sidi moru Ueno
Renato Vieira
23. A NOVA LEI QUE PERMITE A INFILTRAÇÃO DE AGEN- 11. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A OITIVA DE FUN-
Ricardo Mamoru Ueno
[ORGS.]
TES NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CIONÁRIOS EM INVESTIGAÇÕES CORPORATIVAS
Rômulo de Andrade Moreira Gustavo Alves Parente Barbosa
Ricardo Sidi
RICARDO
24. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL NA ABOR- 12. CINCO ASPECTOS CONCRETOS DA INOVAÇÃO
DAGEM POLICIAL - O INEFICIENTE CONTROLE DA
Rômulo de Andrade Moreira INVESTIGATIVA
ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR
Débora Nachmanowicz de Lima
Tiago Cintra Essado
editora SIDI Gustavo Torres Soares
13. A OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO DO INTERRO-
25. A CADEIA DE CUSTÓDIA E SUA RELEVÂNCIA PARA A
PROVA PENAL ANDERSON GATÓRIO ANTRES DO OFERECIMENTO DE EXORDIAL
ACUSATÓRIA NA SEARA PENAL
Gustavo Badaró BEZERRA João Victor Esteves Meirelles
26. INVESTIGAÇÃO PATRIMONIAL: REFLEXÕES SOBRE AS
CAUTELARES REAIS
ISBN 978-85-8425-700-3 LOPES 14. FIGURA QUE ATRAPALHA A POLÍCIA E O PARQUET:
SERVE PARA QUÊ?
Tiago Cintra Essado José Henrique Kaster Franco
TEMAS
ATUAIS
DA
INVES
TIGAÇÃO
PRELI
MINAR
NO
PROCESSO
PENAL
[ORGS.]
RICARDO
SIDI
ANDERSON
BEZERRA
LOPES
Copyright © 2017, D’Plácido Editora. Editora D’Plácido
Copyright © 2017, Os Autores. Av. Brasil, 1843, Savassi
Editor Chefe Belo Horizonte – MG
Plácido Arraes Tel.: 31 3261 2801
CEP 30140-007
Produtor Editorial
Tales Leon de Marco W W W. E D I TO R A D P L A C I D O. C O M . B R
Bibliografia.
ISBN: 978-85-8425-700-3
CDU343 CDD341.5
NOTA DOS ORGANIZADORES
Essa expressão foi muito bem empregada pelo Supremo Tribunal Federal por
1
Adriano Valente1
1. INTRODUÇÃO
A história do processo penal é marcada por movimentos pen-
dulares, ora prevalecendo ideais de segurança social e de eficiência
repressiva, ora predominando maior inclinação pela preservação de
garantias ao acusado. Nesse sentido, a forma como o direito é regulado
representa o reflexo dos valores dominantes em determinado momen-
to histórico2. Na quadra atual, o novo modelo básico de enfrentamento
ao crime organizado no Brasil pode ser considerado como resultado
de transformações substanciais nos métodos de investigação policial e
técnicas para a detecção de atos ilícitos. Em especial, o despontamento
dos acordos de colaboração premiada e os resultados obtidos com a
Operação Lava-Jato despertaram em parte da população, incentivada
por agentes públicos diretamente envolvidos no caso, a sensação da
abertura de uma suposta janela de oportunidade, passageira e única,
para o combate à corrupção.
No entanto, conforme demonstraremos a seguir, grande parte
da sistemática de atuação e dos métodos investigativos utilizados
pelos procuradores e policiais responsáveis pelo caso aparentam não
1
Mestrando em Direito da Regulação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio),
Pós-Graduado em Processo Penal pela Academia Brasileira de Direito Constitu-
cional (ABDConst) e Pós-Graduado em Ciências Criminais pela Universidade
Cândido Mendes (UCAM).
2
FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional. 3ª.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, pp. 20-21.
13
ser facilmente replicáveis em modelos locais de apuração criminal. A
criação de Forças-Tarefas altamente especializadas, o alto investimento
orçamentário e a pressão exercida por veículos de comunicação social
são alguns dos fatores que dificilmente estarão presentes em investi-
gações policiais exercidas nos pequenos e médios municípios brasi-
leiros. Indo além, a utilização expansiva dos acordos de colaboração
premiada, principal traço característico da Operação Lava-Jato para
a detecção de esquemas ilícitos ainda desconhecidos pelas autorida-
des, não escapa de severas críticas que as classificam como verdadeira
consagração legal da traição3 e chancela estatal para a concessão de
benefícios em troca de atos antiéticos e imorais4.
Nessa linha, nas páginas que seguem essa breve introdução, o
artigo encontra-se divido em duas seções principais. Inicialmente,
apontaremos a sistemática de atuação da Operação Lava-Jato, de-
monstrando que os métodos para a detecção de atos criminosos
utilizados pela equipe de policiais e procuradores, de forma geral,
não representam um padrão viavelmente replicável em escalas locais
de combate à corrupção. A partir daí, sugerimos um atual modelo
brasileiro de investigação criminal consolidado em mecanismos não
circunstanciais, apresentando uma análise crítica e sintética a respeito
da implementação de Programas de Whistle-blowing no Brasil como
alternativa para a etapa de detecção de esquemas corruptos, apon-
tando as principais vantagens e riscos relacionados a esse instituto de
política criminal.
Em aspectos metodológicos, não desconsiderando as dificuldades
de conceituação do termo5 e as divergências entre os autores que
se dedicaram ao tema, durante o trabalho nos referimos à corrupção
como quaisquer atos contrários à lei e praticados com o envolvimento
direto de um ou mais agentes públicos que, utilizando-se do cargo
3
FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos, São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005, p. 359.
4
GARCIA, Roberto. Delação premiada: ética e moral, às favas. Boletim do
IBCCRIM, São Paulo, n. 159, v. 2, fev. 2006.
5
Nesse sentido, cf. BREI, Zani Andrade. Corrupção: dificuldades para definição e
para um consenso. Revista de Administração Pública, v. 30, n. 1, p. 64-77, 1996.
Esboçando uma teoria da corrupção, Luís GRECO e Adriano TEIXEIRA.
Aproximação a uma teoria da corrupção. In: LEITE, Alaor;TEIXEIRA, Adriano
(org.). Crime e Política: corrupção, financiamento irregular de partidos políticos,
caixa dois eleitoral e enriquecimento ilícito. São Paulo: FGV, 2017, pp. 19-52.
14
ou função exercida, buscam a obtenção de vantagens indevidas para
si ou para terceiros, sejam estas de ordem financeira ou não. Com
relação às dificuldades de tradução para a língua portuguesa de vo-
cábulo equivalente à expressão whistle-blower, sugerimos o emprego
do termo “reportante”, utilizado ao longo das páginas seguintes.
De remate, há algumas ressalvas a serem feitas. Não é a intenção
do trabalho o apontamento de erros e acertos ocorridos durante a
condução das investigações realizadas pela Operação Lava-Jato ou
qualquer juízo de valor a respeito do comportamento das autoridades
envolvidas. Em igual sentido, também não serão abordados aspectos
conceituais, causais e consequenciais da corrupção praticada no Brasil.
O presente artigo trata-se apenas de esforço para a compreensão de
que não há oposição, tampouco incompatibilidade, entre o combate
à corrupção e o respeito a garantias constitucionais, buscando apontar
alternativas viáveis para o modelo de investigação criminal brasileiro.
Nessa linha, analisaremos a possibilidade de implementação de um
Programa de Whistle-blowing no Brasil e ofereceremos alguns subsídios
para eventual regulamentação sobre o tema.
6
DALLAGNOL, Deltan. A Luta Contra A Corrupção: A Lava Jato e o Futuro
de Um País Marcado Pela Impunidade. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa, 2017,
p. 122.
15
da ocorrência do crime originalmente investigado, mas também de
diversos outros delitos até então desconhecidos pelos agentes esta-
tais. Isso conferiu um efeito exponencial às investigações, ainda mais
quando, na sequência das apurações realizadas a respeito dos fatos
relatados pelos colaboradores, alguns dos delatados também decidi-
ram colaborar7.
A respeito da influência midiática exercida e da divisão das in-
vestigações em diferentes fases, a pulverização diária de informações
nos veículos de comunicação social impediu que o tema e expressões
a ele relacionadas (como o nome da operação, dos investigados e do
juiz) saíssem da agenda de debates da imprensa e da opinião pública,
funcionando como verdadeiro combustível – sempre renovável – para
a sequência vigorosa da Operação Lava-Jato.
Por fim, quanto aos fatores relacionados à cooperação jurí-
dica doméstica e internacional, parece de fato possível concordar
que representaram papés importante durante o desenvolvimento
do caso. Quase duzentos pedidos de colaboração foram realizados
pelas autoridades brasileiras desde o início da Operação. Em alguns
casos específicos, a troca de informações com agentes estrangeiros
possibilitou a identificação de elementos-chave para o desfecho das
investigações, como por exemplo a localização de contas no exterior
utilizadas pelos envolvidos nos esquemas criminosos apurados.
Indo além, conforme será melhor demonstrado no item seguin-
te, outros fatores relacionados à questões orçamentárias e a criação
de uma Força-Tarefa altamente especializda também representaram
particularidades do modelo de investigação utilizado durante toda a
Operação Lava-Jato, dando espaço à formação de um cenário bastante
circunstancial para o combate à corrupção.
16
outros fatores decisivos no desenvolvimento das apurações. Designada
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ainda em abril
de 2014, a equipe responsável pela condução do caso conta, desde as
fases iniciais da investigação, com procuradores altamente especia-
lizdos em crimes relacionados à corrupção e ocultação de valores.
Em semelhante sentido, o grupo dos agentes policiais diretamente
envolvidos no feito foi também formado por profissionais de perfil
extremamente técnico e qualificado, selecionados pelo alto grau de
conhecimento em métodos investigativos de crime econômicos e
empresariais.
Grande acerto, de fato. A detecção da maioria de atos corrup-
tos envolvendo o conluio entre funcionários públicos e grandes
corporações privadas, assim como o subsequente desenvolvimento
das investigações e reunião de elementos comprovatórios das sus-
peitas iniciais, são tarefas extramamente difíceis. A alta qualificação
econômica e técnica de considerável parcela dos crimes investigados
durante a Operação-Lava-Jato exige (além de estruturas razoáveis)
uma preparação altamente especializada dos órgãos que busquem
combatê-los8.
Com relação às questões orçamentárias e estruturais, também
devem ser colocados sob análise aspectos como o orçamento próprio
destinado à condução da Operação e os consideráveis gastos realizados
para o desenolvimento das investigações9, cenário consideravelmente
distante das realidades locais de combate ao crime organizado no
Brasil. Outro aspecto de difícil solução em relação à atuação dos
órgãos de fiscalização diz respeito ao fato de que se verifica imensa
desigualdade entre as medidas adotadas no plano federal e as imple-
mentadas no âmbito dos estados e municípios brasileiros. A situação
destes últimos em relação à situação da Administração Pública federal
8
MASI, Carlo Velho. O crime de evasão de divisas na era da globalização: novas
perspectivas dogmáticas, político-criminais e criminológicas. Porto Alegre:
Pradense, 2013, p. 69.
9
Conforme consta nos dados enviados pelo Serviço de Informação ao Cidadão
da Polícia Federal, em resposta aos pedidos de acesso à informação E-SIC
08850000873201770 e STRI e-Prot (DPF) 010021023, solicitados pela Agência
Pública, apenas nos anos de 2015 e 2016 foram gastos para o desenvolvimento da
Operação Lava-Jato, em despesas com diárias, passagens, material de consumo,
material permanente e outros serviços à disposição da operação, quase R$8
milhões. Disponível em: http://apublica.org/ Acesso em 30/07/2017.
17
é muito mais vulnerável em diversos quesitos: qualificação de fun-
cionários, previsão orçamentária, estrutura dos órgaos de prevenção à
corrupção, independência institucional, dentre outros10. Naturalmente,
as delegacias de polícia de pequenas e médias cidades brasileiras muitas
vezes contam com situação precária de trabalho e possuem poucas
condições de chegar ao conhecimento de relevantes ilícitos praticados
com o conluio entre funcionários públicos e entes privados.
Por essa linha de raciocínio, a hipótese principal do presente
trabalho é que a conjunção de todos os fatores anteriormente citados,
isto é, (1) a utilização expressiva dos acordos de colaboração premiada,
(2) o avanço por pulsos ou fases, (3) a cooperação doméstica e inter-
nacional, (4) a atuação expressiva dos canais de comunicação social,
(5) a criação de Forças-Tarefas com profissionais altamente especiali-
zados, (6) a disponibilização de consideráveis recursos orçamentários
e (6) a existência de estruturas técnicas razoáveis para o trabalho de
investigação, formaram um ambiente extremamente circustancial para
o combate à corrupção desenvolvido durante a Operação Lava-Jato.
No entanto, grande parte desses aspectos não traduzem fielmente a
realidade do modelo investigativo desenvolvido no Brasil e tampouco
aparentam ser facilmente replicáveis em escalas locais de combate à
criminalidade.
É evidente ressaltar, contudo, que não desconsideramos a alta
complexidade e expressiva dimensão dos crimes apurados durante a
Operação Lava-Jato, forçando a aplicação de um modelo mais robusto
e estruturado de atuação. Ainda assim, cremos que diversos esquemas
de corrupção praticados em escalas talvez mais modestas, como por
exemplo as corriqueiras fraudes relacionadas à pequenas prefeituras
de municípios brasileiros, seguem representando atividade igual-
mente perniciosa ao desenvolvimento econômico do país. A grande
questão é que os órgãos fiscalizatórios atuantes em tais localidades,
de forma geral, não contam com estruturas adequadas de funcio-
namento e consequentemente encontram constantes dificuldades
para a identificação de irregularidades. Em resumo, vultuosos valores
seguem cotidianamente sendo subtraídos dos cofres públicos através
de arranjos criminosos praticados em remotas comarcas brasileiras,
sem que o Estado possua ferramentas necessárias para detectá-los,
18
investigá-los e puní-los. O presente trabalho se concentra apenas na
primeira dessa três etapas de atuação, avaliando os riscos e benefícios
envolvidos na implementação de modelos alternativos para a detecção
de esquemas corruptos.
Em verdade, as análises precedentes sugerem que a expectativa
em mudanças perenes no tratamento à impunidade no Brasil e a
continuidade dos resultados obtidos na Operação provavelmente de-
penderão de caminhos alternativos para o combate à corrupção. Por
outro lado, ao que parece, a sistemática de atuação até agora aplicada
pelos agentes estatais responsáveis pela condução do caso não se mostra
suficientemente replicável à categorias menos expressivas de investi-
gação criminal. É a partir daí que, buscando encontrar soluções para
tais limitações, nos propomos a analisar nos itens e capítulos seguintes
os Programas de Whistle-Blowing como um modelo de colaboração
investigativa que sirva também à escalas locais de enfrentamento aos
crimes praticados em prejuízo à Administração Pública brasileira.
19
a instituição de incentivos para a colaboração dos cidadãos opera
como estímulo ao fornecimento de informações pelos interessados
nos benefícios oferecidos, representando verdadeira otimização do
trabalho de investigação policial.
Assim foi com a utilização da colaboração premiada durante
o desenvolvimento da Operação Lava-Jato. Depois que o ex-di-
retor da Petrobras Paulo Roberto Costa celebrou acordo com o
Ministério Público Federal, o segundo da fila foi o doleiro Alberto
Youssef, apresentando dezenas de novos fatos, num verdadeiro efeito
dominó: a cada novo acordo, novos envolvidos eram citados, novos
fato criminoso eram detectados e novas investigações surgiam11. Daí
seguiram as colaborações prestadas por empreiteiros, executivos, do-
leiros e políticos, totalizando mais de 150 acordos12 celebrados até o
mês de julho do ano de 2017, apenas em 1ª instância. Foi assim que
a apuração de um aparentemente inexpressivo esquema de lavagem
de dinheiro envolvendo um posto de combustíveis se trasnformou
na maior e mais complexa investigação criminal da história brasileira.
Não obtante, os acordos de colaboração premiada seguramente
não escapam de severas críticas13 a respeito de seus aspectos legais,
constitucionais, morais e éticos. Questionamentos a respeito de prisões
cautelares utilizadas como instrumento de tortura e intimidação dos
potenciais delatores, alegações de ofensas aos direitos de defesa dos
envolvidos, dúvidas a respeito da fidelidade das informações prestadas14
e protestos contra a concessão de premiações à indivíduos desones-
11
CHEMIM, Rodrigo. Mãos Limpas e Lava Jato: A corrupção se olha no espelho.
Porto Alegre: CDG, 2017, p. 103.
12
Disponível em: http://lavajato.mpf.mp.br/ Acesso: 01/08/2017.
13
Oferecendo críticas à utilização do instituto a partir de seus aspectos constitucionais
e éticos: COUTINHO, Jacinto. Fundamentos à inconstitucionalidade da delação
premiada. Boletim do IBCCRIM, São Paulo, v. 159, n. 9, fev. 2006; GARCIA,
Roberto. Delação premiada: ética e moral, às favas. Boletim do IBCCRIM, São
Paulo, n. 159, v. 2, fev. 2006. Em leitura sobre parâmetros para a compatibilização
constitucional do instituto, cf. PEREIRA, Frederico. A Compatibilização Cons-
titucional da Delação Premiada. Revista CEJ, Brasília, Ano XVII, 59, p. 84-99,
jan./abr. 2013. Defendendo a importância do instituto para o combate ao crime
organizado e moralidade dos acordos de colaboração premiada: FONSECA,
Cibele. Colaboração Premiada. Belo Horizonte: Del Rey, 2017.
14
Nesse aspecto, analisando as cautelas necessárias para a utilização de informações
prestadas por envolvidos em práticas criminosas, cf.TROTT, Stephen. O uso de
20
tos e criminosos são apenas alguns dos argumentos direcionados ao
instituto após sua institucionalização no ordenamento brasileiro.
É a partir desse cenário que o presente trabalho apresenta uma
breve análise da implementação de outras ferramentas de colabo-
ração investigativa, em geral baseadas no fomento à participação da
sociedade civil para a obtenção de informações a respeito de crimes
cometidos, como alternativa ao modelo utilizado pela Operação La-
va-Jato e outras megaoperações policiais, com ênfase específica aos
denonimados Programas de Whistle-blowing.
No entanto, ainda antes de avançar em aspectos conceituais a
respeito do instituto, algumas questões centrais devem desde logo ser
pontuadas. Diferentemente dos réus e investigados envolvidos em
acordos de colaboração premiada, as denúncias realizadas por whistle-
-blowers contam com um baixo índice de repúdio social, uma vez que
os reportantes não participaram das atividades criminosas relatadas.
Eventuais críticas aos seus aspectos éticos costumam repousar mais
sobre a questão do pagamento de recompensas pelas informações
prestadas. Indo além, via de regra, os acordos de colaboração premiada
pressupõem que os órgãos públicos responsáveis pela apuração já co-
nheçam alguma informação inicial relacionada aos fatos denunciados
e de alguma forma desconfiem da participação do delator. Afinal, é
pouco crível que determinado indivíduo, sem a percepção de que
as autoridades policiais desconfiam da existência de seus esquemas
criminosos, voluntariamente se dirija à determinado órgão estatal e
ofereça informações para a celebração de qualquer espécie de acor-
do. Os acordos de colaboração premiada, na maior parte das vezes,
surgem justamente quando os investigados ou acusados já se encon-
tram em situação processual desfavorável e consideram uma decisão
condenatória como desfecho mais provável para o caso. Nesse ponto,
os Programas de Whistle-blowing possuem a vantagem significativa
de não pressuporem nenhuma investigação já iniciada, permitindo a
descoberta de fatos que provavelmente permaneceriam para sempre
desconhecidos pelas autoridades fiscalizatórias.
Não deve também ser ignorado que tais Programas vêm de
alguma forma se destacando no cenário internacional como efi-
ciente ferramenta para a recuperação de valores subtraídos dos
21
cofres públicos através de fraudes. Nos Estados Unidos, a Securities
and Exchange Commission, agência americana cujas funções institu-
cionais se assemelham à Comissão de Valores Mobiliários brasileira,
efetuou o pagamento de mais de US$ 158 milhões em recompensas
desde a implementação de um Programa de Whistle-Blowing no
ano de 201115. Em semelhante sentido, pronunciamentos recentes
das autoridades responsáveis pelo Programa nigeriano de Whistle-
-Blowing apontam a recuperação de cifras próximas a casa dos R$
100 milhões16 apenas nos primeiros meses após sua implementação.
Nos parece, portanto, considerando os modelos estrangeiros de re-
sultados extremamente satisfatórios, que as informações fornecidas
pelos whistle-blowers merecem ser melhor avaliadas como alternativa
para o modelo de investigação policial brasileiro, em especial atu-
ando na etapa inicial de detecção de esquemas criminosos, isto é,
funcionando como verdadeiro start investigativo. Resta saber se os
aspectos gerais inerentes ao instituto guardam compatibilidade ao
ordenamento jurídico brasileiro e se eventuais riscos e efeitos ne-
gativos do Programa são compensados pelos benefícios prometidos,
questões analisadas no decorrer do capítulo seguinte.
15
Disponível em: https://www.sec.gov/whistleblower/ Acesso em 01/08/2017.
16
Disponível em: http://www.finance.gov.ng/index.php/resources/news-media/
news-archive/294-fg-confirms-first-payments-to-whistleblowers Acesso em
07/08/2017.
17
RAGUÉS, Ramón.“El fomento de las denuncias como instrumento de política criminal
contra la criminalidad corporativa:’whistleblowing’ interno vs.’whistleblowing’ externo”.
In: Responsabilidad de la Empresa y Compliance: Programas de prevención,
22
estrangeiros18 seguem apostando em incentivar que seus cidadãos,
ao tomarem conhecimento de condutas praticadas em desacor-
do com a lei, reportem tais fatos às autoridades e recebam como
contrapartida proteção e eventualmente recompensas. Em grande
parte dos casos, são denominados pelas legislações ou regulamentos
internos como Programas de whistle-blowing, mas não escapam de
divergências substanciais estabelecidas de acordo com as particula-
ridades de cada país.
Em tradução literal da língua inglesa para a portuguesa, o termo
whistle-blower representa a junção das palavras “apito” e “soprador”,
remetendo à ideia de um indivíduo que, tomando conhecimento
de determinada situação irregular, deseja chamar a atenção das au-
toridades. Nesse sentido, os chamados Programas de Whistle-blowing
estabelecem a criação de canais de comunicação para o recebimento
de denúncias realizadas por esses cidadãos, regulamentando aspec-
tos como as formas de processamento e apuração das informações,
assim como os incentivos e mecanismos de proteção destinados aos
reportantes. Não obstante, a maneira exata de como a expressão whis-
tle-blower deve ser compreendia ocupa razoável parcela dos espaços
de discussão sobre o tema e recebe tratamentos bastante díspares
por parte da literatura especializada e dos ordenamentos jurídicos
estrangeiros. As classificações variam desde aspectos relacionados
ao vínculo profissional com a empresa ou órgão envolvidos nos
fatos relatados, passando por métodos anti-retaliações oferecidos
aos reportantes e pelas recompensas eventualmente pagas como
contrapartida às informações prestadas. Também é possível notar
diferenças com relação à natureza dos atos ilícitos definidos como
reportáveis e a implementação de Programas limitados apenas ao
setor público ou privado.
Na sequência, após inicialmente explicadas algumas diferenças
entre testemunhas, colaboradores e reportantes, todos esses aspectos
serão apontados de forma sintética pelo presente trabalho, acompanha-
dos de sugestões que possam colaborar como subsídio para eventual
regulamentação de um Programa brasileiro de Whistle-Blowing.
23
3.2. DIFERENÇAS ENTRE TESTEMUNHAS,
COLABORADORES E REPORTANTES
O ordenamento jurídico, ao prever determinada premiação dos
whistle-blowers, faz com que o Estado, para obter informações e apli-
car a lei, deva interagir com um cidadão honesto e que não obteve
qualquer benefício com o ato reportado, permitindo a investigação
dos responsáveis pelos crimes denunciados, a aplicação de eventuais
sanções previstas e o ressarcimento de eventuais prejuízos financeiros
causados. Trata-se, portanto, de remunerar e incentivar os cidadãos
que se levantam contra os malfeitores da sociedade. Ao contrário, os
acordos de delação premiada e de leniência sugerem ao Estado, para
obter informações e aplicar a lei, a prática de barganhas com pessoas e
corporações desonestas, que já se beneficiaram ilicitamente e causaram
danos a sociedade, mas terão as punições atenuadas por colaborarem
com a persecução de terceiros19.
A delação, nesse aspecto, não se constitui propriamente em
gratificação para uma conduta nobre e altiva. Efetivamente, tra-
ta-se de uma premiação concedida ao autor de um crime, que,
por certa dose de deslealdade e traição com os demais comparsas,
colabora com o Estado e em troca recebe compensações como a
redução de sua pena, flexibilização do regime de cumprimento,
aplicação de sanções alternativas ou até mesmo o perdão judicial.
Certamente difere da ideia de uma premiação por comportamen-
tos corretos, lícitos, éticos e elevados praticados por um cidadão
não envolvido na prática dos atos criminosos relatados20, como é
o caso dos whistle-blowers.
É também de se destacar a ausência de espontaneidade presen-
te nos acordos de colaboração premiada. Via de regra, os delatores
somente aceitam colaborar com informações após perceberem que
os elementos colhidos contra eles provavelmente serão suficientes
para uma condenação criminal. Nesses casos, os acordos passam a
representar uma – senão a única – oportunidade para que os inves-
19
ROCHA, Márcio Antônio. A participação da sociedade civil na luta contra
a corrupção e a fraude: uma visão do sistema jurídico americano focada nos
instrumentos da ação judicial qui tam action e dos programas de whistleblower.
Revista de Doutrina do TRF4, Porto Alegre, n.65, abr. 2015.
20
WEDY, Miguel Tedesco. A colaboração premiada entre o utilitarismo e a racio-
nalidade de princípios. Revista Direito e Liberdade, v. 18, n. 3, 2016, p. 217.
24
tigados ou acusados não sejam submetidos a longos anos de pena
cumprida em cárcere. Tais circunstâncias sugerem a possibilidade
de que, buscando contornar a imposição de severas punições ao
final de um processo criminal, os colaboradores em determinadas
situações sejam seduzidos a fornecer às autoridades tanto informa-
ções verdadeiras quanto falsas, misturando fatos comprováveis com
meras ilações irresponsáveis21.
Há, também, algumas diferenças substancias entre a figura do
reportante e da testemunha criminal. Estas últimas, salvo exceções
legais22 previstas pelo Código de Processo Penal, possuem obrigação
legal de colaboração com a Justiça, sob pena de conduções coercitivas
e condenação pelo crime de desobediência em casos de descum-
primento. Além disso, tecnicamente, os depoimentos prestados por
testemunhas, quando colhidos em fase judicial e em observância ao
princípio do contraditório, possuem valor probatório e mesmo desa-
companhados de outros elementos de prova, em alguns casos, podem
fundamentar condenações criminais e suprir a ausência do exame de
corpo de delito. Em diferente sentido, os whistle-blowers, via de regra23,
não possuem dever legal de colaboração e fornecem informações
que devem ser tratadas como meras fontes de prova, isto é, deverão
servir apenas como um start investigativo para os órgãos fiscalizatórios
estatais, os quais, a partir do relato recebido, eventualmente buscarão
elementos que comprovem as alegações realizadas pelo reportante. As
valorações probatórias dos depoimentos prestados por testemunhas e
dos relatos realizados por whistle-blowers, portanto, além das questões
relacionadas à obrigação legal de colaboração, obedecem à lógicas
bastante distintas.
21
O Artigo 4º da Lei 12.850/2013 prevê que a concessão de benefícios levará em
conta fatores como a “gravidade e a repercussão social do fato criminoso”, além da
“eficácia da colaboração”.Tal circunstância parece apta a gerar uma inclinação para
que o colaborador busque exasperar a responsabilidade dos demais comparsas,
deixando de lado o grau de certeza das informações prestadas.
22
São desobrigadas de prestar esclarecimentos, por força do Artigo 206 do Código
de Processo Penal, as testemunhas que se enquadrem na condição de ascendente
ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão
e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
23
Apontando a previsão do dever de denúncia em alguns ordenamentos estran-
geiros, ver item 3.6, Nota 30.
25
3.3. ESPÉCIES DE ATOS ILÍCITOS COBERTOS PELOS
PROGRAMAS DE WHISTLE-BLOWING
Embora algumas orientações internacionais24 sugiram um tra-
tamento expansivo aos tipos de atos ilícitos reportáveis pelos whis-
tle-blowers, parece ser um bom começo para o Programa brasileiro a
ambição por um número mais modesto de relatos recebidos, focando
inicialmente suas atenções para os crimes relacionados à atos de
corrupção. Indo além, o recebimento e apuração das informações
recebidas exigem, de certo modo, que os profissionais encarregados
por essas tarefas possuam certo grau de conhecimento técnico nos
temas abordados pelos reportantes, tornando um desafio complexo
a estruturação de grande número de equipes especializadas. Nesse
sentido, após um período inicial de vigência do programa, devem ser
analisados fatores como (1) o grau de eficiência no funcionamento do
órgão recebedor dos relatos e (2) a existência de estrutura suficiente
para o processamento de uma carga maior de reportes. Somente a
partir daí, após revisões periódicas25 dos resultados e correção das falhas
iniciais, sugere-se a implementação de um Programa mais abrangente
com relação aos tipos de atos reportáveis.
24
Nesse sentido, cf. orientação dada pelo Council of Europe, Resolution n. 1729,
6.1.1.: “The definition of protected disclosures shall include all bona fide warnings against
various types of unlawful acts, including all serious human rights violations which affect
or threaten the life, health, liberty and any other legitimate interests of individuals as
subjects of public administration or taxpayers, or as shareholders, employees or customers
of private companies”.
25
Cf. item 3.9.
26
NEAR, Janet; MICELI, Marcia. Organizational dissidence:The case of whistle-
-blowing. Journal of Business Ethics, 1985, p. 6:“We, therefore, define whistle-blowing
to be the disclosure by organization members (former or current) of illegal, immoral or
illegitimate practices under the control of their employers, to persons or organizations that
may be able to effect action”.
26
vinculação ao ambiente laboral das condutas praticadas possa trazer
alguns aspectos positivos (ao permitir, por exemplo, certo filtro nos
relatos recebidos), tal condição oferece limitações exageradamente
restritivas ao Programa. Nesse aspecto, cremos que a caracterização da
figura do whistle-blower não se encontra baseada na existência de qual-
quer espécie de vínculo profissional ou funcional, mas efetivamente
no conhecimento de informação relevante e disposição em levar ao
conhecimento das autoridades a prática de determinados atos ilícitos.
Considerando, portanto, que a importância e qualidade do relato
oferecido não pressupõem necessariamente a vinculação ao local de
prática dos fatos reportados, sugere-se que eventual regulamentação
a respeito do tema preveja o direito de todo cidadão às proteções e
benefícios oferecidos pelo Programa27, desde que os tipos de condutas
denunciadas estejam dentro das diretrizes previstas pelo legislador.
Eventualmente, apenas devem ser excluídos os relatos de indivídu-
os que possuam a obrigação legal de fiscalizar e agir para coibir as
condutas ilícitas reportadas, assim como os reportes realizados por
profissionais submetidos ao dever de sigilo em estreitas relações de
confiança (v.g. investigadores policiais, auditores fiscais da Receita
Federal, compliance officers etc).
27
Em semelhante sentido, o Art. 3º da Convenção Interamericana Contra a
Corrupção (Decreto nº 4.410/2002): “Para os fins estabelecidos no artigo II desta
Convenção, os Estados Partes convêm em considerar a aplicabilidade de medidas, em seus
próprios sistemas institucionais destinadas a criar, manter e fortalecer: 8. Sistemas para
proteger funcionários públicos e cidadãos particulares que denunciarem de boa-fé atos de
corrupção, inclusive a proteção de sua identidade, sem prejuízo da Constituição do Estado
e dos princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico interno”.
28
ARELLANO GAULT, David; MEDINA, Alejandra; RODRÍGUEZ, Roberto.
Instrumentar Una Política De Informantes Internos (Whistleblowers): ¿Mecanis-
27
TEMAS
ATUAIS
1. NOVOS MODELOS DE COLABORAÇÃO INVESTIGATIVA:
TRIBUNAL DO JÚRI, DE PROVA ACUSATÓRIA (FOR- Adriano Valente OS PROGRAMAS DE WHISTLE-BLOWING COMO SOLU-
MALMENTE OU MATERIALMENTE) CONTROVERSA ÇÃO PARA A DETECÇÃO DE ESQUEMAS CORRUPTOS
PRODUZIDA EM INQUÉRITO POLICIAL Adwaldo Lins Peixoto Neto
Adriano Valente
Antônio Carlos de Almeida Castro, Anderson Bezerra Lopes 2. NOTAS PARA UMA RELEITURA CRÍTICA SOBRE A UTILI-
DA
Kakay; Marcelo Turbay Freiria
André Luiz Nicolitt ZAÇÃO DA “DENÚNCIA ANÔNIMA” NA INVESTIGAÇÃO
16. A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA PARA PRELIMINAR
O DIREITO DE DEFESA NOS DELITOS EMPRESARIAIS Andrey Borges de Mendonça Anderson Bezerra Lopes
Leonardo Palazzi Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
INVES
3. INVESTIGAÇÃO DIRETA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO:
17. A QUEBRA DE SIGILO FISCAL, A IMPOSSIBILIDADE ANÁLISE QUANTO AS POSSIBILIDADES PARA SUA
DE UTILIZAÇÃO DOS DADOS DO REGIME ESPE-
Bruno Silva Rodrigues REALIZAÇÃO E DOS LIMITES TRAÇADOS PELO STF
CIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA Cezar Roberto Bitencourt NO JULGAMENTO DO RE 593.727/MG
INSTITUÍDO PELA LEI 13.254/16 NO ÂMBITO DA André Luiz Nicolitt; Adwaldo Lins Peixoto
INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR DE NATUREZA CRIMI- Cristiano Zanin Martins Neto
NAL E A NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA
TIGAÇÃO
ADMINISTRATIVA PARA CRIMES DECORRENTES DA Daniel Zaclis 4. A RENÚNCIA AO DIREITO RECURSAL EM ACORDO DE
ADESÃO AO CITADO REGIME COLABORAÇÃO PREMIADA
Débora Nachmanowicz de Lima
Marcos Vidigal de Freitas Crissiuma Andrey Borges de Mendonça; Fernando
Diogo Tebet Lacerda Dias
PRELI
18. O JUIZ DAS GARANTIAS, A ESTRUTURA ACUSATÓRIA
E AS MEMÓRIAS DO SUBSOLO. UM OLHAR SOBRE Eduardo Samoel Fonseca 5.O ABUSO DE INVESTIGAR DOS ÓRGÃOS DE INTELIGÊNCIA
O PL 8045/10 (PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL) Fernando Lacerda Dias Bruno Silva Rodrigues
Marcos Zilli Gustavo Alves Parente Barbosa 6. METODOLOGIA OPERACIONAL DA DELAÇÃO PREMIADA
- OS ABUSOS REALIZADOS NA OPERAÇÃO LAVA JATO
19. OPERAÇÃO LAVA JATO E GRAVAÇÕES CLANDESTINAS
Gustavo Badaró
MINAR
Pedro Machado de Almeida Castro Cezar Roberto Bitencourt
Gustavo Torres Soares 7. A NECESSIDADE DE REVISITAR O PAPEL DO JUIZ DE
20. PRESENÇA DO DEFENSOR NA INVESTIGAÇÃO PRELIMI-
GARANTIAS
NAR: INCREMENTANDO O CARÁTER DEMOCRÁTICO João Victor Esteves Meirelles
NO
DA PERSECUÇÃO PENAL Cristiano Zanin Martins
Renato Silvestre Marinho José Henrique Kaster Franco
8. A INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR NEUTRA
21. RECONHECIMENTO DE PROVA LÍCITA EM PROCESSO Leonardo Palazzi Daniel Zaclis
PENAL COMO ILÍCITA NO PROCESSO CIVIL? UMA
Marcelo Turbay Freiria 9. INADMISSIBILIDADE DA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA E
PROCESSO
ABORDAGEM DA INADMISSIBILIDADE, NO PROCES-
AMBIENTAL CLANDESTINA: DA NECESSÁRIA REVISÃO DA
SO CIVIL, DE FONTES DE PROVA DECORRENTES DE Marcos Vidigal de Freitas JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
MEIO DE PESQUISA DE PROVA ADMISSÍVEL NA LEI N.º
12.850/13 Crissiuma Diogo Tebet
PENAL
Renato Vieira Marcos Zilli 10. O CONTRADITÓRIO (MITIGADO) NA INVESTIGAÇÃO
PRELIMINAR: UMA CARACTERÍSTICA DO ESTADO
22. A (IM)PARCIALIDADE DOS RELATORES DAS INVESTIGA-
ÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STF E OS
Pedro Machado de Almeida Castro DEMOCRÁTICO DE DIREITO?
Eduardo Samoel Fonseca; Ricardo Ma-
MECANISMOS DE CONTROLE DE SUA ATUAÇÃO Renato Silvestre Marinho
Ricardo Sidi moru Ueno
Renato Vieira
23. A NOVA LEI QUE PERMITE A INFILTRAÇÃO DE AGEN- 11. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A OITIVA DE FUN-
Ricardo Mamoru Ueno
[ORGS.]
TES NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CIONÁRIOS EM INVESTIGAÇÕES CORPORATIVAS
Rômulo de Andrade Moreira Gustavo Alves Parente Barbosa
Ricardo Sidi
RICARDO
24. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL NA ABOR- 12. CINCO ASPECTOS CONCRETOS DA INOVAÇÃO
DAGEM POLICIAL - O INEFICIENTE CONTROLE DA
Rômulo de Andrade Moreira INVESTIGATIVA
ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR
Débora Nachmanowicz de Lima
Tiago Cintra Essado
editora SIDI Gustavo Torres Soares
13. A OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO DO INTERRO-
25. A CADEIA DE CUSTÓDIA E SUA RELEVÂNCIA PARA A
PROVA PENAL ANDERSON GATÓRIO ANTRES DO OFERECIMENTO DE EXORDIAL
ACUSATÓRIA NA SEARA PENAL
Gustavo Badaró BEZERRA João Victor Esteves Meirelles
26. INVESTIGAÇÃO PATRIMONIAL: REFLEXÕES SOBRE AS
CAUTELARES REAIS
ISBN 978-85-8425-700-3 LOPES 14. FIGURA QUE ATRAPALHA A POLÍCIA E O PARQUET:
SERVE PARA QUÊ?
Tiago Cintra Essado José Henrique Kaster Franco