História Da Devastação Dos Manguezais em Aracaju PDF
História Da Devastação Dos Manguezais em Aracaju PDF
História Da Devastação Dos Manguezais em Aracaju PDF
FEVEREIRO – 2008
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
FEVEREIRO – 2008
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
3
CDU 504.05=823.3:711.3/.4(813.7)
____________________________________________
Dr. Adauto de Souza Ribeiro
(PRODEMA/UFS - orientador)
______________________________________________
Dra. Laura Jane Gomes
(PRODEMA/UFS)
______________________________________________
Dr. Aristides Arthur Soffiati Netto
(ICSDR/UFF)
5
____________________________________________
Dr. Adauto de Souza Ribeiro
(PRODEMA/UFS – orientador)
6
________________________________________________
Fernanda Cordeiro de Almeida – autora (PRODEMA/UFS)
____________________________________________
Dr. Adauto de Souza Ribeiro
(PRODEMA/UFS – orientador)
7
AGRADECIMENTOS
Sou grata ao Deus supremo que coordenou cada peça, cada detalhe, para a composição
deste estudo. À minha família, que sonhou junto comigo a possibilidade da realização
desta extensa pesquisa, ofertando-me apoio integral nos momentos cruciais.
À minha mãe, que sempre me apoiou fornecendo confiança e serenidade para que pudesse
seguir em frente. Além disto, ensinou-me a noção de responsabilidade, na máxima: “Tudo
que merece ser feito, deve ser bem feito”. Ao meu “paidastro”, Ivaldo, que me concedeu
todas as ferramentas necessárias para o discernimento do significado da palavra “objetivo”,
fazendo-me persegui-lo. E aos meus queridos irmãos Luana e Murilo que também me
forneceram amor e apoio nos momentos de ansiedade. Neste sentido, agradeço também ao
meu cunhado David.
Ao meu companheiro, Allisson, que, com seu apoio fundamental, segurou a minha mão
nas horas difíceis, incentivando e impulsionando esta jornada. Agradeço por extensão à sua
família.
Agradeço à Professora Eliane Oliveira de Lima Freire e à amiga Lorena Campello, por me
introduzirem na pesquisa da História Ambiental e por me apresentarem o PRODEMA.
Dedico um muito obrigada especial ao meu orientador Professor Adauto de Souza Ribeiro,
que, apesar das pedras no caminho, soube conduzir a orientação desta pesquisa, iniciando-
me no Tirocínio Docente e incentivando-me a nunca desistir do ideal.
Agradeço também, notadamente, ao Professor Arthur Soffiati, que, neste pouco mais de
um ano de correspondências eletrônicas, demonstrou seu apoio absoluto à realização desta
dissertação.
Sou grata à Professora Laura Jane Gomes que com sua postura ativa e responsável diante
das questões ambientais, contagiou-me.
9
Sou muito grata pela amizade dispensada a mim pelas amigas-irmãs Isabella Chagas e
Rosemeire Guimarães, que acompanharam de perto cada minuto de agonia e descobertas
desta pesquisa.
Às professoras Maria Augusta Mundim Vargas (Guta) e Terezinha Alves Oliva por
aceitarem o convite para a suplência na banca.
Sou muito grata à minha prima Claryane e a Suany, que abriram portas na SEPLAN.
À Sra. Maria Gleide que me permitiu a acesso na DEOHP, e ao Sr. José Nilson de
Carvalho, que com desvelo procurou diversas plantas no Arquivo de Projetos da DEOHP.
Por fim, agradeço ao Promotor Público Dr. Eduardo Seabra, que me concedeu o Projeto
Praia Formosa.
11
ARACAJU
Céu todo azul
Chegar no Brasil por um atalho
Aracaju
Terra cajueiro papagaio
Araçazu
Moqueca de cação no João do Alho
Aracaju
Voltar do Brasil por um atalho
Ser feliz
O melhor é ser feliz
Mas
Onde estou
Não importa tanto aonde vou
O melhor é ter amor
Aracaju
Cajueiro arara cor de sangue
Nordeste-sul
Centro da cidade bangue-bangue
Aracaju
Menos Sergipe e mais o mangue.
(Euclides da Cunha)
12
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation aims at understanding, based on Aracaju city history, the reasons why the
mangroves of the city were covered with earth. To answer this question, it was necessary
to state three more specific objectives: to indentify the reasons for mangroves covering
throughout Aracaju history; to locate the areas where there used to be mangroves, but not
anymore; and to show the relationship between the aracajuano inhabitant and the
mangroves. After the first step of the research, the data collection, the research documents
were categorized, according to Bardin (1977). In the first specific objective there are the
categories named public sphere and the public-private connection, divided into another
classes: health, accessibility, housing and real estate speculation; the last two objectives
can be observed throughout the analysis. The historical sources studied, like the reports
given by the presidents of Sergipe province in the 19th century, point out the covering as a
constant routine. Together with this findings, the observation of the recent urbanization,
mainly in Jardins area (1996-1997) and the occupation on the mangroves are the reason for
the first time delimitation from 1855 to 2005. Although the 150 year-celebration could stop
the analyzes about the theme and induce to the total history, that is not the purpose. From
this research, the reasons for the coverings show a continuous time and, besides that, an
agreement by civil society in which the government is included. Finally, this study, while
historical study of the devastation and partial extinction of Aracaju mangroves, does not
intend to judge the man from the past, but to alert to its probable extinction.
SUMÁRIO
Página
ABREVIATURAS 16
LISTA DE FIGURAS 17
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 19
CAPÍTULO 2 – SOCIEDADE, HISTÓRIA e MANGUEZAIS: Por uma 29
convergência
2.1 – Relação Sociedade – Natureza – Desenvolvimento: um breve histórico 29
2.2 – Propostas, Conceitos e níveis da História Ambiental 37
2.3 – A História dos manguezais no Brasil 42
CAPÍTULO 3 – OS MANGUEZAIS E A DEVASTAÇÃO 47
3.1 – Manguezais: conceitos e importância ecológica 48
3.2 – Os aterros como fator de devastação 53
3.3 – A devastação dos manguezais no Mundo e no Brasil 55
3.4 – A distribuição dos manguezais em Sergipe 63
C CAPÍTULO 4 – A HISTÓRIA, OS MANGUEZAIS E A ESFERA PÚBLICA 67
4.1 – Nota histórica sobre os manguezais de Sergipe 68
4.2 – O objeto de estudo: Os aterros dos manguezais aracajuanos 71
4.3 – A esfera pública e os aterros de manguezais 75
4.3.1 – A salubridade-acessiblidade 78
4.3.2 – A habitação (conjuntos) 88
CAPÍTULO 5 – A CONEXÃO PÚBLICO-PRIVADA: Aterros X 95
Manguezais
5.1 – A acessibilidade-habitação 97
5.1.1 – O bairro São José 98
5.1.2 – O bairro Coroa do Meio 105
5.2 – A política-especulação imobiliária (Treze de Julho) 115
5.3 – A habitação-especulação imobiliária 123
5.3.1 – O Bairro Jardins 124
5.3.2 – Os loteamentos sobre os manguezais da zona norte de Aracaju 130
ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
PÁGINA
Fig.3 Mapa de vegetação e usos da terra de Sergipe, com destaque para áreas de 64
manguezal
Fig.4 Localização dos pontos amostrados por bacia 159
Fig.5 Localização e características dos tensores em áreas de manguezal no estado 160
de Sergipe
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
19
1.0 - INTRODUÇÃO
Aracaju, uma capital brasileira com pouco mais de 500 mil habitantes, era
conhecida nos meios turísticos como a “capital do caranguejo”. No entanto, este título foi
perdido, diante das diversas pressões que o ecossistema manguezal vem sofrendo. Em
2003, o jornal da cidade1 lançou a público a noticia da escassez do crustáceo em Sergipe,
alertando as autoridades quanto ao risco da extinção, ao problema social acarretado e à
evasão de divisas, visto que a iguaria estava sendo importada do Pará para atender à
demanda dos consumidores. Mas o que levou Sergipe de grande exportador a reles
importador? As razões são as mais diversas, inclusive a descoberta de um fungo que
contaminou e levou à mortandade dos caranguejos sergipanos2.
Não obstante, uma forte razão para a escassez do caranguejo-uçá foi apontada ainda
nos idos de 1993, por uma revista especializada em ecologia de âmbito nacional3. Na
época, de acordo com a bióloga Norma Crud: “O resultado é que hoje, em Sergipe, já não
se encontram mais os enormes caranguejos de antigamente, mas apenas exemplares
menores. [...] A longo prazo, a perspectiva é de extinção”. (MANGUEZAIS, 1994, p. 34).
O que está havendo de errado com os manguezais sergipanos? Uma via para a
resposta consiste nos impactos ambientais por que passam estes ecossistemas:
contaminação por petróleo, mercúrio (carcinicultura), esgotos domésticos e industriais;
pesca e cata predatórias com fins de atendimento ao mercado consumidor; e aterros, por
1
EDITORIAL: MANGUES SEM CARANGUEJO. Jornal da Cidade. Ano 32, nº9.324. 03 e 04 de agosto de
2003. Caderno A, p. 2.
2
MORTANDADE DE CARANGUEJO CAUSADA POR FUNGO. Jornal da Cidade. 31 de janeiro de
2006.
3
MANGUEZAIS: Sistemas abertos. Ecologia e Desenvolvimento. Ano 2, nº27, Maio de 1993,p. 30 – 37.
20
lixo, por terra, por lama para o assentamento de famílias, especulação imobiliária ou para
novos acessos da cidade. Estes últimos estressores, em Aracaju, são o objeto desta
dissertação. Através do estudo dos manguezais numa perspectiva histórica (1855 – 2005),
percebeu-se que os aterramentos eram uma constante na história de Aracaju, apresentando
uma forte ligação com o presente.
Diante da crise ambiental da atualidade, este estudo pretende contribuir como alerta
para o rompimento da continuidade de uma prática que vem se repetindo e devastando os
manguezais aracajuanos. Do mesmo modo, tem o intuito de desmistificar alguns pré-
conceitos em torno da prática de aterramentos, tais como a sua ligação a pessoas com
menor poder aquisitivo, ou ainda sobre o próprio ecossistema manguezal, geralmente
associado à insalubridade, ao lixo e ao terreno baldio que deve ser conquistado, aterrado,
suprimido.
Durante quase 153 anos, o homem aracajuano aterra seus manguezais, sem uma
reflexão profunda do que está fazendo, de que maneira, e por que o faz? Neste sentido,
esta dissertação transforma-se numa contribuição para o esclarecimento destas simples
perguntas, na medida em que, através de fontes históricas, aponta prováveis respostas.
Objeto da pesquisa
Não se pretende, a partir deste estudo, julgar a prática de aterros dos manguezais
aracajuanos, mas questionar um problema ambiental do presente, evidenciando sua
trajetória, suas motivações, suas limitações e seus impactos sócio-ambientais. Além disso,
pretende-se também alertar para o futuro de um ecossistema necessário em áreas estuarinas
tropicais e que não tem condições de competir com uma prática tão arraigada. A
continuidade de novos estudos, neste sentido, faz-se essencial para desvelar as motivações
para os aterros e evidenciar os manguezais que ficaram para sempre “enterrados nas
entrelinhas” da história da cidade de Aracaju.
Após o recolhimento das fontes, procedeu-se à análise dos dados coletados. Esta foi
efetuada em duas etapas: a primeira foi baseada na análise de conteúdo sugerida por Bardin
26
Estrutura da dissertação
CAPÍTULO 2
4
Teoria a partir da qual a observação de partículas subatômicas leva a crer que as mesmas assumem a forma
de corpúsculos ou de ondas luminosas (Sofiatti, 2000).
31
passou a ser objeto de estudo e exploração. Deus deixou de ser o “senhor da natureza”.
Dessa forma, o homem passou a sê-lo. (Porto-Gonçalves, 2005).
DESENVOLVIMENTO e SUNTENTABILIDADE
relações atuais. Neste sentido, há, no presente, uma fase de transição do paradigma
antropocêntrico para o ecocêntrico.
Neste sentido, Sachs (2007) propõe cinco dimensões para a sustentabilidade, que são
as sustentabilidades social, econômica, ecológica, espacial e cultural. Na dimensão
referente à sustentabilidade espacial, o autor destaca a importância de frear a destruição de
37
O contexto histórico de surgimento desta vertente teórica foi marcado pelo pós-
1914-1918 e a quebra da bolsa de valores de Wall Street em 1929. Neste ínterim, os
reflexos da deflação, recessão e desemprego em âmbito mundial impulsionaram
questionamentos que valorizaram os setores econômico e social. Portanto, o lançamento
da revista refletiu os anseios de uma época cuja política foi relegada ao segundo plano.
Assim, também os objetos da história migraram do âmbito político para o econômico e o
social (Dosse, 1992).
A proposta da Escola dos Annales era contrapor, com novos estudos, a História
Positivista e Tradicional calcada na vida de indivíduos, camada superior das sociedades,
elites (reis, estadistas, grandes revolucionários) e acontecimentos (guerras, revoluções) ou
38
Anos mais tarde, a partir da década de 1960, com o surgimento dos “novos
movimentos sociais”, dentre estes, o movimento estudantil, o movimento hippye, o
movimento feminista e o movimento ambientalista. Com o crescimento das preocupações
ambientais, notavelmente a partir da publicação de “Silent Spring”, de Rachel Carson, e da
realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Cnumah),
em Estocolmo, em 1972, emergiu a História Ambiental.
Esta preocupação com a vida em todas as suas formas faz da história ambiental um
campo dinâmico do saber, na medida em que, através de seus objetos de estudo, observa,
discute e enfatiza as práticas que contribuíram ou não para a manutenção da mesma. Para
tanto, o historiador deve lançar-se ao estudo de outras disciplinas, praticando assim a
interdisciplinaridade. Assim, “a sua originalidade está na sua disposição explícita de
‘colocar a sociedade na natureza’ e no equilíbrio com que busca a interação, a influência
mútua entre sociedade e natureza” (Drummond, 1991, p. 184)
Por fim, Leff (2005), ao definir a História Ambiental, acentua a sua ligação entre o
passado e a sua responsabilidade com o futuro:
No Brasil, a história dos manguezais tem como ponto de partida os sambaquis6, que
datam ainda da pré-história brasileira, cerca de 7.000 a 10.000 anos antes do presente.
Estas acumulações de conchas estendem-se entre o litoral do Espírito Santo e o Rio Grande
do Sul, chegando a medir 300 metros de comprimento e 25 metros de altura. Nestes
lugares desenvolveu-se uma economia sem a necessidade de gasto de energia ou técnicas
para a colheita de ostras das árvores dos manguezais. Não se sabe ao certo os motivos que
levaram ao acúmulo de tais monturos, mas Dean (1996) sugere algumas hipóteses:
Consumo conspícuo? Proteção contra predadores? Quebra-ventos? Status? (p. 42).
5
“Nós propomos que também é importante olhar o passado para aprender lições que podem ser usadas na
conservação presente deste ecossistema. De fato, as características espaciais, estruturais e funcionais de
alguns ecossistemas que nós chamamos de natural são o resultado de um longo passado de intervenções
humanas. Nós precisamos olhar para o passado para aprender lições que podem auxiliar-nos no
desenvolvimento humano adaptado aos ecossistemas. Isto é, ecossistemas compartilhados e estruturados por
ações humanas, mas que possam ser ecologicamente seguras, economicamente produtivas, esteticamente re-
administradas, e que preservem um equilíbrio permanente entre homem e seu ambiente” (Tradução livre).
6
Segundo o arqueólogo André Prous (1992): “A palavra sambaqui seria derivada de tamba (marisco) e ki
(amontoamento) em tupi. Trata-se, portanto, de uma acumulação artificial de conchas de moluscos, vestígios
da alimentação de grupos humanos.
43
orvalho nas Avicennia e utilizavam esta observação para saber quando iria chover ou não.
Se houvesse grande acumulação de orvalho, o que eles chamavam de choro de canoé (a
avicennia era conhecida como mangue canoé), a estação invernosa seria chuvosa. A
relação ameríndia com os manguezais pode ser considerada como mera exploração, que
envolvia formas astutas de administração que incorporava a natureza ao seu ambiente para
subsistência das tribos. (Schaeffer-Novelli & Citrón-Molero, 1999).
Ainda no século XVI, foram feitos alguns relatos sobre os manguezais brasileiros.
Os dois primeiros tratam da presença do ecossistema nas capitanias brasileiras pelo padre
Pero de Magalhães Gandavo e por Gabriel Soares de Souza. Gandavo relatou a presença
das árvores denominadas mangue nas capitanias de Ilhéus, da Bahia, e provavelmente de
São Vicente. Já Soares de Souza (1587), ao descrever brevemente os recortes geográficos
brasileiros, deteve-se na descrição do ambiente de manguezal e as denominações tupi
utilizadas para nomear suas plantas. Mais tarde, agregaram-se os relatos do francês André
44
Numa primeira instância, a Coroa portuguesa deu ganho de causa aos moradores do
Rio de Janeiro. No entanto, a proibição de extração de madeira de manguezal no Brasil
continuou, desta vez justificada pela extração de tanino para a utilização em curtumes em
1706, na Bahia. Na região de Camamu, uma série de cartas em defesa da utilização do
ecossistema pela população desprovida economicamente foi emitida. Até que, em 1760, o
rei de Portugal, D.José I, expediu um alvará com força de Lei que deveria ser aplicado às
Capitanias do Rio de Janeiro, Pernambuco, Santos e Ceará (Soffiati, 2004).
45
CAPÍTULO 3
OS MANGUEZAIS
E
A DEVASTAÇÃO
47
Todavia, além das funções ecológicas para as espécies, o manguezal oferece, aos
seres humanos que vivem em suas cercanias, a possibilidade de subsistência alimentar
através da cata de crustáceos, da pesca de peixes e moluscos e de moradia através do
fornecimento de madeira para a construção de casas. Apesar de tantas funções ofertadas, os
manguezais vêm sendo constantemente perturbados e suprimidos. Na verdade, desde o
início da colonização européia, os usos econômicos dos manguezais passaram a fazer parte
do cotidiano no Brasil. A extração ostensiva da madeira, com fins de uso do tanino para a
tinturaria de roupas na Europa, inseriu o manguezal num ciclo econômico que figurou de
maneira coadjuvante no Brasil Colônia do século XVI. Mais recentemente, as principais
capitais litorâneas foram assentadas sobre manguezais, à base de aterramentos.
7
O termo “mangue” refere-se às espécies vegetais exclusivas de áreas costeiras banhadas por água salobra.
No Brasil, existem seis espécies exclusivas de manguezal: Rizophora mangle, r. Racemosa, r. Harrisonii,
Aviccenia schaueriana, A. Germinas e Laguncularia racemosa. (SCHAEFFER-NOVELLI et al, 2000.
48
um amontoado de lama, uma terra de ninguém, um lugar para ser absorvido pela ordem
econômica vigente representada pela especulação imobiliária.
8
O termo mangue é usado para designar um grupo florístico diverso de árvores tropicais e arbustos
pertencentes a famílias sem parentesco que dividem características fisiológicas e adaptações especiais que
permitem sua persistência em inundações, salinidade, oxigênio reduzido e a não consolidação de substratos.
‘Mangue’ é também utilizado para denotar uma comunidade de floresta de mangue ou um ecossistema de
manguezal, o meio de interações entre plantas, animais e microorganismos ocupando uma área de mangue e
seu ambiente físico. Florestas de mangue ou ecossistemas são variavelmente referidos como florestas de
marés, floretas de mangue, mangues de pântano ou manguezal. (tradução livre), (Schaeffer-Novelli et
al,2000, p. 562)
49
Nas palavras de Mário Moscatelli9, 1993: “Num país com grande carência de
alimentos protéicos, a destruição dos manguezais revela, no mínimo, um total
desconhecimento do assunto, ou descaso para com a fome da população”. Além da
importância alimentar indireta, a alimentação direta, ou seja, a subsistência de populações
carentes que vivem no entorno desses sistemas ecológicos também é drasticamente afetada
e, em conseqüência, o fato transforma-se num grave problema socioambiental. Schaeffer
Novelli (1989) descreve o processo da cadeia alimentar do manguezal desde fungos e
bactérias até chegar ao homem:
A queda das folhas das árvores e sua mistura com o lodo, além de pelotas
fecais e organismos em decomposição, formam restos orgânicos importantes,
que são utilizados por bactérias e fungos, o que constitui a importância
fundamental desse ecossistema. O material solúvel desses detritos se dissolve
na água, onde outras bactérias os aproveitam e ainda certos animais
detritívoros vão utiliza-los como alimento. Os próximos níveis da cadeia
alimentar serão constituídos por peixes bentônicos, aves, peixes maiores e o
homem. (destaque nosso) (Schaeffer-Novelli, 1989, p. 2)
dos que vivem exclusivamente nos manguezais e o dos que ali se abrigam e se alimentam
em toda a sua fase juvenil. O primeiro grupo é formado por moluscos e crustáceos, como o
caranguejo-uçá, que se alimenta dos fungos provenientes das folhas de mangue que se
decompõem em solo lodoso; o aratu, que raramente desce ao sedimento, e o marinheiro,
que se alimenta das folhas e algas encontradas em troncos e raízes. Já o segundo grupo é
composto por espécies que, adultas, retornam ao mar ou ao rio, à montante, e outras que
freqüentam a maré cheia para desovar. E ocorrem ainda casos de espécies, como as de
jacarés e de tigres, que encontram refúgios quando os seus hábitats de origem encontram-
se devastados. Estas últimas fazem parte do grupo de animais visitantes.
(MANGUEZAIS,1993).
10
SCHAEFFER, Y. & CINTRON-MOLERO, G. 1993. Manguezais brasileiros: Uma síntese sobre aspectos
históricos (séculos XVI a XIX), zonação, estrutura e impactos ambientais. Anais do III Simpósio de
Ecossistemas da Costa Brasileira, Publicação ACIESP no. 87-I, Serra Negra, SP: 333-341.
11
Cf. MANGUEZAIS: sistemas abertos. Revista Ecologia e Desenvolvimento. Ano 2. nº 27. Ed. 3º Mundo
Ltda. Maio, 1993, p.30 a 37.
52
Rodrigues (2001, p.63), “todas as espécies são parte da comunidade de seres vivos e têm
tanto valor de existir quanto qualquer ser humano”.
14
Schaeffer-Novelli em entrevista a MANGUEZAIS: sistemas abertos. Revista Ecologia e Desenvolvimento.
Ano 2. nº 27. Ed. 3º Mundo Ltda. Maio, 1993. p.30 a 37.
15
Este exemplo será discutido mais detalhadamente no capitulo 5.
16
Lacerda, loc. cit.
55
maciçamente pela imprensa digital, escrita e falada: as tsunamis. Se, entre os dez países
afetados por esses desastres, os manguezais estivessem conservados, talvez muitos
indivíduos não chegassem a óbito17.
17
Cf. no sites: http://www.iucn.org/tsunami/ e
http://www.iucn.org/tsunami/MFF/Env_storiesIUCN_final.pdf
56
acadêmica dos estudos18, muito embora, não haja dados quantitativos sobre a devastação
dos manguezais aracajuanos.
18
Artigos de estudiosos do assunto e/ou instituições reconhecidas no estudo e/ou proteção do manguezal.
57
19
Para melhor especificação da distribuição dos manguezais em nível mundial ver Oslon e Dinerstein (1998,
p.507). Os autores especificam cada porção com seus respectivos países, cujo ecossistema manguezal é
representativo: A Porção Neotropical é composta por América Central (Belize, México, Honduras,
Nicarágua, El Salvador, Panamá, Guatemala e Costa Rica), Panamá (Equador, Panamá e Colômbia),
manguezais Orinoco-Amazônia e pântanos costeiros (Venezuela, Trinidad e Tobago, Guiana, Suriname,
Guiana Francesa e Brasil), manguezais mexicanos (México). Já a Porção Afro-Tropical é composta por
manguezais e pântanos dos rios Senegal e Gâmbia (Senegal, Gâmbia, Giné e Giné-Bissau), Costa de
manguezais Guinea-Congolian (Nigéria, Camarões, Benin, Togo, Gana, R. Congo, Costa Ivory, Libéria,
Guiné Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, D.R. Congo, Serra Leoa, Angola), manguezais do leste
africano (Quênia, Tanzânia, Somália e Moçambique). A Porção Indo-Malásia é referente aos manguezais
do delta do rio Mekong (Vietnam, Camboja), manguezais Sundarbans (Índia, Bangladesh), manguezais,
Sunaland e manguezais do arquipélago leste da Indonésia (Indonésia), Delta do rio Indo (Paquistão, Índia). E,
por fim, a menor unidade, porém não menor em extensão, designada Porção AustralÁsia, composta por
Manguezais da Nova Guiné (Papua Nova Guiné, Indonésia, e China).
58
produtos marinhos (o camarão na maioria dos casos) é altamente lucrativo, o baixo custo
do cultivo de arroz facilita a construção de lagos de peixes ou de camarões. Estes fatores
culminaram no desaparecimento de aproximadamente dois terços dos manguezais
chineses. (Li & Lee, 1997).
Para se ter uma idéia da devastação dos manguezais no Equador, em julho de 1987,
as áreas que continham o ecossistema representavam 362.802 ha. Já em 2004, a extensão
das áreas caiu drasticamente para o número de 108.000 ha. Houve, assim, um decréscimo
de cerca de 70% dos mangues em 30 anos.
20
Cf. pgs. 251e 252 em: M.S. Li, S.Y. Lee. Mangroves of China: a brief review. Forest Ecology and
management 96 (1997) 241-259.
21
Ver estudo sobre manguezais equtorianos em Situación Del ecossistema manglar, C-CONDEM
(Corporación Coordinadora Nacional para la Defensa del Ecosistema Manglar
in:http://www.ccondem.org.ec/cms.php?c=185,acessado em 20/11/2007.
59
440.000 ha, mas este número foi modificado com o passar de 30 anos. De acordo com
pesquisas locais22, neste período, foram perdidos 1.220 km² de manguezais, o equivalente
a 40,8 km² por ano. Porém, a maior perda foi registrada no Caribe. Em 1984, havia cerca
de 1.898 km² e permaneceram apenas 863 km², em 1997, ano de publicação do estudo
aqui referenciado.
22
Steer, R., Arias-Isaza F., Ramos A., Sierra-Correa P., Alonso D., Ocampo P. 1997. Documento base
para la elaboración de la Politica Nacional de Ordenamiento Integrado de las Zonas Costeras Colombianas.
Documento de consultoría para el Ministerio del Medio Ambiente. Serie publicaciones especiales No.6,
390p.In: http://usuarios.lycos.es/camilobotero/steer.pdf , 20/11/2007.
60
A devastação dos manguezais brasileiros não é algo novo. Na realidade, esse tipo
de impacto está intrinsecamente vinculado à História do Brasil. São mais de 500 anos da
colonização portuguesa e, junto com ela, a exploração histórica dos recursos provenientes
dos manguezais como madeira, tanino, peixes, crustáceos e moluscos. Além da exploração
desses recursos, com a consolidação dos primeiros centros urbanos, muitos manguezais
brasileiros foram suprimidos. A Baía de Todos os Santos, em Salvador-BA, por exemplo,
continha um grande manguezal que foi extinto para a construção da Cidade Baixa
(MANGUEZAIS, 1993).
61
A partir dos dados acima, percebe-se que a devastação dos manguezais não é
apenas uma peculiaridade aracajuana, mas é uma prática corriqueira no mundo e no Brasil
e que está intrinsecamente associada ao desenvolvimento e à expansão urbana.
O litoral sergipano é pouco recortado, interrompido, apenas, pelos estuários dos rios
São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vasa-Barris e Piauí/Real, e possui aproximadamente
163 km de linha de costa. É também ocupado por formações de planícies litorâneas, com
predominância da planície marinha que engloba a foz dos rios Real/Piauí até a foz do rio
Japaratuba. Deste ponto até a foz do São Francisco, existe uma planície fluviomarinha
(ADEMA, 1984).
Bacia do Japaratuba
Bacia do Sergipe
Bacia do Vasa-Barris
Bacia do Piauí/Real
Fig.3 – Mapa de vegetação e usos da terra de Sergipe, com destaque para áreas de manguezal.
Fonte: Sergipe Atlas digital, 2004.
23
Ver figura 3 em anexo A.
24
ESTADO DE SERGIPE. Mapa de vegetação e uso da terra. IN: SERGIPE Atlas digital sobre Recursos
Hídricos. Aracaju-SE: SEPLANTEC/SRH, 2004.
65
Francisco, com 33,94 km²; a segunda, referente à Bacia do rio Japaratuba, com 9,31 km²; a
terceira é a Bacia do rio Sergipe, com 57,4 km² ; a quarta área, a Bacia do Rio Vasa-Barris,
possui 51,52 km² de extensão; e, por fim, a Bacia dos rios Piauí/Real, com 95,57 km² de
área de manguezal25.
25
Os dados das extensões em km² das áreas de manguezais das bacias hidrográficas sergipanas são o
resultado do somatório de várias áreas de mangue contidas no Atlas digital de Recursos Hídricos, 2004.
Portanto, pode haver diferença de resultados, tratando-se de uma aproximação.
26
Ver quadro localização e características dos tensores em áreas de manguezal no estado de Sergipe,
(ADEMA,1984) na figura 5, anexo A.
66
CAPÍTULO 4
A HISTÓRIA, OS MANGUEZAIS E
A ESFERA PÚBLICA
67
Na primeira seção, encontra-se uma breve síntese histórica acerca dos primeiros
registros sobre os manguezais em Sergipe, tratando de uma primeira aproximação sobre os
usos do manguezal pelos habitantes de Sergipe na época colonial e em seus primeiros anos
de República. A seguir, outras três seções dizem respeito ao objeto de estudo, e a esfera
pública e aos aterramentos dos manguezais aracajuanos.
68
27
O período de estudo, inicial, 1855-2005, foi extrapolado, visto que este documento refere-se ao século
XVI. [Pela lógica, não pode haver documento anterior, visto que este é o primeiro registro sobre Sergipe,
que, na época, pertencia à Capitania da Bahia, e que somente em 1590, tornar-se-ia a Capitania de Sergipe,
sendo instituída pelo seu conquistador Cristóvão de Barros.] Cf. NUNES, Maria Thétis, Sergipe Colonial I,
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989; Freire, Laudelino História de Sergipe, Aracaju: Tipografia de O
Estado de Sergipe, 1898, com 2ª edição no Rio de Janeiro: H. Garnier, 1901.
28
O documento foi traduzido do espanhol para o português, sendo estudado na disciplina História de Sergipe
I, no período 2006/01, sob os cuidados do Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza do Departamento de História
da Universidade Federal de Sergipe. Por este motivo, não conserva o espanhol arcaico vigente à época.
69
(1808) relata sobre a Barra do Rio Real, delimitada ao norte pela villa de Santa Luzia e ao
Sul pela paradisíaca praia de Mangue Seco.
O trecho acima possui alcance até os dias atuais, pois além de tratar de um tema
pouco debatido na época, ratifica a importância da preservação dos recursos naturais para
as gerações futuras. Este assunto foi discutido em âmbito mundial, pela primeira vez, na
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Cnumah), em
Estocolmo, no ano de 1972. Isto comprova a vanguarda das palavras de Silva, além disto, a
riqueza do relato reside, também, no estímulo ao replantio do gênero Rizophora, ainda nos
idos de 1920. Na época em que Clodomir Silva cunhou estas palavras, segunda década do
século XX, havia ainda uma forte a associação dos manguezais à insalubridade. O que o
torna um homem à frente do seu tempo.
29
Obra que trata do centenário da emancipação política de Sergipe, descrevendo seus municípios e a vida
política do Estado durante o seu centenário.
70
Através deste trecho, pode-se formular a hipótese de que esta Memória conteria a
primeira conceituação do terreno de manguezal do Estado de Sergipe. Além disto, pode ser
considerado, também, o primeiro estudo cientifico sobre o tema, debruçando-se sobre as
variações de manguezal, como a coroa (pequenas ilhas de mangue), e o apicum (zona de
transição) e sobre a origem e descrição dos solos.
Com esta breve síntese histórica, notou-se que os usos do manguezal em Sergipe
Colonial eram ligados à subsistência, ao curtume, ao abastecimento combustível e ao
comércio. Estes usos apontam a frugalidade e a comodidade da alimentação dos primeiros
habitantes da Capitania de Sergipe, descrita por D. Marcos de Souza, como uma alternativa
à escassez de alimentos relatada pelo Padre Ignácio Toloza. Já no século XX, o relato de
Clodomir Silva alerta para o uso exploratório com fins econômicos do manguezal. Vinte e
um anos após, o estudo de Newton Cordeiro lançam a público, talvez, pela primeira vez, a
conceituação e a distribuição dos manguezais em Sergipe.
71
Aracaju é uma cidade litorânea que possui uma área de 181,8 km², uma população
de 520.303 habitantes e uma densidade demográfica de 2.535,19 hab/km². Além disto, a
capital limita-se com os municípios de São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Santo
Amaro das Brotas (Aracaju, 2008).
30
Todas as denominações atuais de topônimos antigos da cidade de Aracaju foram encontradas no livro de
Porto. Cf. PORTO, Fernando. A cidade do Aracaju 1855 – 1865. 2.ed. Aracaju: Governo de
Sergipe/FUNDESC, 1991. p.24 e 25
72
31
A carta de solos do mapa geoambiental de Aracaju (2005) foi recortada nos limites correspondentes a
ponta do Tramandaí à esquerda, a Massaranduba (bairro Industrial) à direita e o Santo Antonio à esquerda ao
norte.
73
No final da última citação, Arendt (op. cit.) afirma que “em nossos dias a esfera
pública começa a desaparecer completamente sob a forma da esfera ainda mais restrita e
impessoal da administração”. Esta diluição da esfera pública em “esfera restrita e
impessoal da administração” pode ser vislumbrada em Aracaju, através da construção dos
grandes conjuntos habitacionais, a partir da década32 de 1970.
Não obstante, Habermas adverte sobre as dificuldades nos usos dos conceitos de
público e privado. Dentre as quais a multiplicidade de significados concorrentes, a
contraposição dos termos e seu emprego um tanto confuso parecem exigir uma
manipulação ideológica:
32
Em 1965, governo de Sebastião Celso de Carvalho (1964-1967), com incentivos do governo federal
(Marechal Castelo Branco, 1964-1967) e da USAID (United States Agency for Inernational Development)
foi criada, dentre outras intituições a COHAB (Companhia de Habitação) em Sergipe, tendo grandes reflexos
na âmbito habitacional a partir da década de 1970. Cf. Dantas, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 –
2000). Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.
77
Através das considerações feitas pelo filósofo e sociólogo alemão, podem ser
percebidas as dificuldades nas conceituações e contextualização histórico-sociológica que os
termos público e esfera pública exigem. Não obstante, não cabe nesta pesquisa um maior
aprofundamento neste campo de estudo, visto que a divisão das categorias de análise das
motivações para os aterramentos de manguezais aracajuanos requer apenas uma
diferenciação didática entre as esferas pública e privada, muito embora, as mesmas estejam
bastante interligadas.
78
4.3.1 – A salubridade-acessiblidade
33
Relatorio apresentado pelo terceiro vice-presidente desta Provincia, commendador José da Trindade Prado,
por occasião de passar a administração da mesma Provincia ao Primeiro Vice Presidente, Barão de Maroim
no dia 25 de setembro de 1855. p.1 Disponível em : http://www.crl.edu/content/brazil/serg.htm , Acessado
em: 18/02/2006.
79
34
Almeida (2002, p. 183), ao estudar a fundação da cidade observou que antes de se tornar a capital
sergipana Aracaju possuía os seguintes topônimos: Barra do Aracaju, barra do Cotinguiba, povoado de Santo
Antonio do Aracaju ou portos e praias do Aracaju.
35
Cf. SEBRÃO SOBRINHO. Laudas da História do Aracaju. Aracaju: Prefeitura Municipal, 1955; SILVA,
Clodomir. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
36
A primeira capital possuía como principal via para o escoamento de mercadorias o rio Paramopama,
sujeito ao movimento das marés, o que impedia o acesso de navios de cabotagem. Já a nova proposta estava
vinculada à Barra do Cotinguiba, vale fértil de Sergipe. Nesta barra desenvolveram-se os mais prósperos
engenhos de açúcar da Província de Sergipe Del Rey. A nova capital foi projetada especificamente para
substituir a antiga, São Cristóvão, que já não atendia ás necessidades econômicas do lugar. Naquela época,
para garantir o seu desenvolvimento, a província de Sergipe necessitava de um porto para o escoamento da
sua produção de açúcar e algodão. Cf. DINIZ, Alexandre. Aracaju: síntese de sua geografia urbana, Aracaju:
tese de concurso para catedrático, 1963.
37
Secretaria da Presidência. In: Correio Sergipense – ANNO XVIII – Sábado, 1º de setembro de 1855, nº41,
p. 1. Typographia Provincial de Sergipe na cidade de Aracaju, 1855 – Administrador L. F. de M. Cavalcanti.
SISDOC (Sistema de Documentação), Sergipe (Estado). Secretaria de Estado da Cultura, SIMH (Sistema
Informatizado de Memória Histórica de Sergipe), CD ROM 007.
38
Relatorio apresentado pelo terceiro vice-presidente desta Provincia, commendador José da Trindade Prado,
por occasião de passar a administração da mesma Provincia ao Primeiro Vice Presidente, Barão de Maroim
no dia 25 de setembro de 1855. p.1 Disponível em : http://www.crl.edu/content/brazil/serg.htm , Acessado
em: 18/02/2006.
39
Relatório do Vice-presidente Pinto Guimarães em 15 de outubro de 1855.
http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1001/000001.html Acessado em 20 de fevereiro de 2006.
40
Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da provincia, o doutor Alvaro
Tiberio de Moncorvo e Lima em 14 de maio de 1856. Bahia, Typ. de Antonio Olavo da França Guerra e
Comp., 1856.p. 7 Disponivel em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/119/000007.html, acessado em 20 de fevereiro
de 2006.
80
41
Instruções Sanitárias Populares. In: Correio Sergipense – ANNO XVIII – Sábado, 25 de agosto de 1855,
nº39, p. 1. Typographia Provincial de Sergipe na cidade de Aracaju, 1855 – Administrador L. F. de M.
Cavalcanti. SISDOC (Sistema de Documentação), Sergipe (Estado). Secretaria de Estado da Cultura, SIMH
(Sistema Informatizado de Memória Histórica de Sergipe), CD ROM 007.
42
Estatística Mortuária. In: Correio Sergipense – ANNO XVIII – Quarta-feira, 19 de dezembro de 1855,
nº59, p. 1. Typographia Provincial de Sergipe na cidade de Aracaju, 1855 – Administrador L. F. de M.
Cavalcanti. SISDOC (Sistema de Documentação), Sergipe (Estado). Secretaria de Estado da Cultura, SIMH
(Sistema Informatizado de Memória Histórica de Sergipe), CD ROM 007.
81
Mas o traçado reto não deve tirar o mérito do plano urbanístico de Pirro, sendo
necessário um recuo no tempo para observá-lo à luz de seu contexto histórico, como sugere
Porto (1991):
Não nos cabe, porém, apodar o trabalho de Pirro. Volvamos aos
dias de 1855 para examinarmos as circunstâncias em que ele foi
lançado. Na adoção de semelhante plano, Pirro agiu influenciado
por fortes fatores de ordem geral e local. Naquele tempo vivíamos
dominados por tendências urbanísticas muito inclinadas a um uso
exagerado das linhas retas, nos planos das novas cidades ou na
remodelação e regularização das existentes. O espetáculo do
passado alimentava mesmo este geometricismo, que um certo
sabor francês facilitava a penetração em nosso país (PORTO,
1991, p. 30).
43
Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da Undécima Legislatura da Assemblea Provincial de Sergipe no
dia 2 de julho de 1856 pelo Excellentíssimo Presidente Doutor Salvador de Sá e Benevides. Bahia, na
Typographia de carlos Poggetti, rua do Corpo Santo, nº47, 1856. Disponível em
http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/1051/index.html, Acessado em 20 de fevereiro de 2006.
82
44
Cf. SEBRÃO SOBRINHO. Laudas da História do Aracaju. Aracaju: Prefeitura Municipal, 1955. p. 94.
83
Santo Antonio do Aracaju ou portos e praias do Aracaju já eram dados ao local antes
mesmo da transferência da capital.
Esta foi a mentalidade que permeou por muito tempo o pensamento dos
aracajuanos, principalmente o dos governantes, que enxergavam em lagoas, manguezais e
84
pântanos o abrigo perfeito para a proliferação de febres45. De acordo com Santana (2005),
o governo apresentou um pequeno programa de saneamento ambiental para Aracaju, no
qual o aterro de pântanos e distribuição de água potável constituíram-se em graves
problemas que deveriam ser enfrentados.
45
Cf. CARDOSO, Amâncio. Uma geografia da morte: roteiro do cólera por Sergipe: 1855-1856. Revistado
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, n. 33, p. 209-236, Edição comemorativa dos 90 anos de
sua fundação 2000-2002.
46
Manuel Presciliano de Oliveira Valadão (1849 – 1921). Cf. DANTAS, Ibarê. História de Sergipe:
República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2004. p. 305.
José Joaquim Pereira Lobo (1864 – 1933) Cf. DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 –
2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2004. p. 305.
47
Mensagem dirigida á Assembléa Legislativa de Sergipe em 7 de setembro de 1915 por occasião da
abertura da 2ª sessão ordinária da 12ª legislatura pelo presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira
Valladão, Aracaju, Typographia d’O Estado de Sergipe, 1915. (IHGS – SS 2982).
85
48
Mensagem dirigida á Assembléa Legislativa de Sergipe pelo Presidente do Estado General Manuel P. de
Oliveira Valladão em 7 de setembro de 1917, ao installar-se a 1ª sessão ordinária da 13ª Legislatura, Aracaju:
Imprensa oficial, 1917 (IHGSE – SS 2982).
49
Prática também efetuada na destruição das muralhas para a construção de boulevards em Paris entre os
séculos XVI e XVII. Cf. PESAVENTO, Sandra Jathay. O imaginário da cidade: Visões literárias do urbano
– paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFGRS, 1999. p.35. “Todavia,
mesmo, nesse caso, a noção de centralidade poderá ser retomada se tivermos em conta o processo de expurgo
das populações menos favorecidas para os subúrbios, para além dos limites desta ‘cidade centro’”. Cf.
CARDOSO, Amâncio. Cidade de Palha: Aracaju 1855-1895. Revista de Aracaju. Aracaju, n. 10, p. 111-115,
2003.
86
Com o aterro da grande área de apicum, pôde-se estabelecer a ligação entre o local à
margem da fábrica Sergipe Industrial50 com os terrenos do Manoel Preto. A grande
devastação de apicum empreendida na área foi justificada pela importância daquele espaço
para edificações e logradouros públicos. A partir desse momento, as obras de aterros não se
50
A Indústria Têxtil Sergipe Industrial S/A (SISA S/A) foi inaugurada em 15 de fevereiro de 1882 por João
Rodrigues da Cruz e localizava-se nos antigos trapiches de açúcar às margens do riacho Caiçá. A SISA S/A
junto com a fábrica de tecidos Confiança, inaugurada em 1908, contribuiu pra a expansão e o
desenvolvimento do bairro Industrial. Cf. GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. De maçaranduba a
industrial: história e memória de um lugar. Aracaju: Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esportes –
FUNCAJU, 2005. p.44.
87
referem apenas à insalubridade, mas à busca de novos acessos e, logo, à expansão urbana
da cidade.
Em 192151, Pereira Lôbo recorre novamente aos aterros por conta do terrível flagelo
que acometera as localidades do litoral, o impaludismo52. E ratifica a importância dos
aterros para o combate da doença, através da drenagem e do saneamento, qualificando-os
como principal obra de sua administração. Além de combater a moléstia, o Coronel
pretendia, através dos aterros, embelezar a cidade de Aracaju. Tal embelezamento foi
efetivado através da desapropriação de 126 casas de palha, situadas ao lado norte da
cidade, cujos quintais eram focos permanentes de infecção.
Dois anos após, em 1923, outros aterros de apicuns foram propostos; dessa vez, por
iniciativa do Intendente Municipal Dr. Baptista Bittencourt53. O Intendente, na seção de
obras públicas de sua mensagem, fez alusão à construção da “Ponte do tecido” no bairro
industrial. Dentre os benefícios da edificação da ponte, destacou-se a facilidade de acesso
dos operários da Indústria Têxtil (das fábricas Sergipe Industrial e Confiança) ao local.
Para tanto, foi necessário o aterro sobre o apicum, uma vez que a área em questão
impossibilitava o transito no local, que estava sujeito à inundação pelas marés.
51
Mensagem apresentada à Assembléia legislativa, em 7 de setembro de 1921, ao installar-se a 2ª sessão
ordinária da 14ª legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lôbo, Presidente do estado. P. 57. IHGS -
SS – 2990.
52
Nome arcaico dado à febre amarela. Cf. CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na
Corte Imperial, São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
53
Mensagem apresentada ao Conselho Municipal de Aracaju em 10 de janeiro de 1923, pelo Intendente Dr.
A. Baptista Bittencourt. Aracaju: Typographia do Sergipe Jornal, 1923, p. 12, 32-34. IHGS – SS 5764.
88
4.3.2 – A habitação
Esta seção refere-se aos conjuntos habitacionais Orlando Dantas e Augusto Franco,
que foram assentados em terrenos de manguezais. A coleta de dados efetuou-se através de
plantas dos locais, de antes da construção e da atualidade; de matérias jornalísticas que
tratam da história dos bairros; e da entrevista de uma moradora, que experienciou a
moradia nos dois conjuntos. Antes, contudo, faz-se necessária a inserção destes conjuntos
residenciais no contexto histórico sergipano e brasileiro.
Em fins de 1964, o Estado de Sergipe passava por uma grave crise econômica e, em
âmbito nacional, a instituição do AI-4 convocava o congresso nacional para a votação de
um novo projeto de constituição. Este ato culminou numa nova Constituição em 1967 que
mantinha a eleição indireta para presidente da República e para governadores (Dantas,
2004).
54
Este assunto será melhor abordado na seção convergência entre o público e o privado, moradia-
acessibilidade.
89
55
Neste período, de 1971 a 1982, o PIB (Produto Interno Bruto) de Sergipe superou as médias nacional e
nordestina: Sergipe – 9,9 %, Nordeste – 7,5 % e Brasil – 7,09 %. Cf. DANTAS, Ibarê. História de Sergipe:
República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. p. 205.
56
O II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) instituído no Governo Geisel (1974 – 1979) e tinha como
objetivo fortalecer o parque produtivo nacional diante da dinâmica do capitalismo internacional. Cf.
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004, p.
202.
90
57
Cf. PRODUÇÃO de habitações e Obras Públicas – Período 1968 – 2005. Assessoria de
Planejamento/DEOHP (Departamento Estadual de Habitação e Obras Públicas), 2007.
91
No que diz respeito aos aterros, a moradora do bairro São Conrado59 esclarece um
aterro que ocorreu, na década de 1990, nas imediações do conjunto Orlando Dantas, e teve
grande repercussão na mídia impressa. Mais precisamente, o local do aterro foi a Avenida
Contorno, às margens do manguezal do rio Poxim.
58
Entrevista concedida a esta pesquisa em 6 de dezembro de 2007.
59
Bairro onde está inserido o conjunto Orlando Dantas.
60
Cf. INVASOR JÁ CONSTRÓI SOBRE MANGUEZAL. Jornal da Cidade. Ano 26, nº 7.673, 06 de
fevereiro de 1998.
92
Anos mais tarde, o aterro da avenida Contorno (também conhecida como avenida
Heráclito Rollemberg) foi incorporado à esfera pública, representada pela PMA (Prefeitura
Municipal de Aracaju), para a construção do condomínio Sérgio Vieira de Melo do PAR
(Programa de Arrendamento Residencial)62. Este empreendimento foi entregue aos seus
arrendatários em 16 de janeiro de 200663 e teve como financiadores a CEF (Caixa
Econômica Federal), em parceria com o Governo Federal e a PMA.
61
Depoimento de Rosendo Vilela In: CONSTRUÇÃO NO MANGUEZAL CRESCE E NÃO SE FAZ
NADA. Jornal da Cidade, Ano 26, nº 7.683, 27 de fevereiro de 1998.
62
O PAR é uma política habitacional diferenciada do Governo Federal, implementada em grandes centros
urbanos para proporcionar moradia à população com renda familiar até R$ 1.800,00. Ver site da
CEFhttp://www.caixa.gov.br/habitacao/aquisicao_residencial/arrendamento/hab_res_aq_arr_det.asp.Em
Aracaju, este programa entrou em vigor a partir do ano de 2001. Entre os anos de 2001 e 2005 Total de
cadastros 31.630, cadastros já trabalhados – 26.322, arrendatários aprovados, unidades entregues – 4.256
(CD Aracaju em Dado , Desenvolvimento Econômico, p. 182. FUNDAT: PAR, PMA, 2006)
63
Data obtida a partir do site da PMA: http://www.aracaju.se.gov.br/index.php?act=leitura&codigo=20773.
93
64
Política ambiental de Sergipe que estabelece em seu Art. 2º. “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, que deve atender às necessidades públicas e aos
interesses sociais, sendo essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público Estadual e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, garantindo-se a
proteção dos ecossistemas e o uso racional dos recursos ambientais, de acordo com o estabelecido nesta Lei”.
SERGIPE (Estado). Decreto-lei nº 5858 de 22 de março de 2006. Publicado no Diário Oficial nº 24989, do
dia 28/03/2006.
94
CAPÍTULO 5
O referencial teórico, como no capítulo anterior, terá como base os conceitos dos
filósofos Arendt (1997) e Habermas (2003). A conceituação de esfera privada na
contemporaneidade está intrinsecamente associada às relações que esta mantém com a
esfera pública. Há, portanto, uma tendência de diluição destes dois campos da sociedade
numa terceira esfera: a social.
Sabemos que a contradição entre o privado e o público, típica
dos estágios iniciais da era moderna, foi um fenômeno
temporário que trouxe a completa extinção da própria diferença
entre as esferas privada e pública, a submersão de ambas na
esfera social. Pela mesma razão, estamos em posição bem
melhor para compreender as conseqüências, para a existência
humana, do desaparecimento de ambas estas esferas da vida – a
esfera pública porque se tornou função da esfera privada, e a
esfera privada porque se tornou a única preocupação comum que
sobreviveu (Arendt, 1997,p.79, grifo nosso).
Para Arendt (1997), a proteção pública exigida pela esfera privada culminou no
acúmulo de mais riqueza por parte dos proprietários. Nesta pesquisa, os proprietários dos
manguezais aracajuanos sempre encontraram na esfera pública o respaldo para as suas
ações de supressão destes ecossistemas. Em bairros da zona sul, como São José, Coroa do
Meio, Jardins, e 13 de Julho, as empresas da construção civil conseguiram respaldo através
da construção de infraestrutura e criação de uma legislação específica65. Já na zona norte,
alguns loteamentos nos bairros Bugio e Lamarão também tiveram apoio da esfera pública
através da legitimação de invasões com a instalação de eletricidade e esgotamento
sanitário.
65
Cf. PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Projeto de lei nº56/90. Diário Oficial de Aracaju.
Aracaju, 11 de maio de 1990; BRASIL. Decreto de lei nº 77 439. Diário Oficial da União. 19 de abril de
1976; BRASIL. Decreto de lei nº 77 440. Diário Oficial da União. 19 de abril de 1976.
97
5.1 – A acessibilidade-habitação
Este tópico foi construído a partir de entrevistas com pessoas que vivenciaram as
mudanças na paisagem do bairro São José, principalmente a supressão de manguezais; bem
como do cruzamento com fontes históricas do período que corroboram os depoimentos de
época sobre a região; e de acervo fotográficos pessoais disponíveis, principalmente os do
Srs. Murilo Melins e Edson Araújo. A seguir, dados que evidenciam a presença de
manguezais no bairro São José, até o fim da década de 1950, já que a mesma não pode ser
observada no presente.
O bairro São José possui esta designação por causa da paróquia de mesmo nome
inaugurada em meados de 192466. Antes, todavia, o local atendia pela alcunha de “carro
quebrado”, que, para PORTO (2003), significava:
A existência de apicuns nos fundos do Colégio São José pode ser ratificada pelos
depoimentos do Prof. Ibarê Dantas67, do Sr. Gustavo68 e do Sr. Murilo Melins69, que
jogaram bola num campo de futebol denominado “Bariri”, que ficava onde hoje é o
Hospital São Lucas, próximo ao colégio mencionado. Apesar da pequena diferença de
66
Cf. Jornal Gazeta de Sergipe, 20-06-1971.
67
Historiador, mestre em ciências políticas pela UNICAMP, ensinou na Graduação de História e coordenou
o Núcleo de Pós Graduação em Ciências Sociais. É pesquisador das áreas de Ciência Política e História e
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. É autor de seis livros que são referencia sobre a
política e a História de Sergipe.
68
Funcionário do IHGS há 37 anos.
69
Memorialista e autor do livro: MELINS, Murilo. Aracaju Romântica que vi e vivi: Anos 40 e 50. 3ed.
Aracaju: UNIT, 2007.
99
idade entre eles, os mesmos não chegaram a compartilhar jogos, visto que seus colegas de
futebol pertenciam a grupos diferentes.
O professor Ibarê Dantas afirmou, em entrevista, que jogou futebol no Bariri com
os colegas internos do Colégio Jackson de Figueiredo, entre os anos de 1952 e 1953.
Dantas descreve o campo como um local de manguezal que alagava nas marés cheias, mas
quando a maré recuava aparecia um areal que permitia os jogos de bola. Todavia, os jogos
de futebol não se tornaram uma rotina na vida do historiador:
O memorialista Murilo Melins reconstitui a paisagem do bairro São José, nos anos
de 1950, com grande riqueza de detalhes. Em entrevista, Melins descreveu o local do
campo de futebol, a construção do Colégio São José sobre um manguezal e a utilização da
madeira biriba para a sua fundação:
70
Entrevista de Murilo Melins concedida em 04 de dezembro de 2007.
100
localiza-se o hospital São Lucas) para a construção do Colégio Patrocínio São José em
1940. Para facilitar a visualização do que foi dito, seguem abaixo as fotografias dos locais
nas décadas de 1940 e 1950 e no presente.
Manguezal do
braço do
Tramandaí
Trave do
campo
“Bariri”
Fig.11 – Igreja São José na década de 1950.
Fonte: Acervo fotográfico de Murilo Melins,1950. Estádio Lourival
Batista
Área urbanizada
onde ficava o
manguezal do
braço do
Tramandaí
Hospital São
Lucas, local onde
ficava o campo
“Bariri”.
Na figura 11, ao lado esquerdo da Igreja de São José, pode ser vista a trave do
campo Bariri e ao fundo o manguezal do braço do riacho Tramandaí. A figura 12, em
comparação com a figura 11, demonstra a área totalmente urbanizada. Segundo Melins, as
casas ao lado da Igreja São José, em sua maioria, possuíam viveiros de peixe. Todavia, o
que se vê no local onde havia viveiros são prédios residenciais construídos, e onde foi o
manguezal de um braço do Tramandaí, há a urbanização e um canal que segue e deságua
próximo ao estádio de futebol Lourival Batista, indicado na fotografia 12.
de ensino em questão. Logo em seguida na figura 15, pode ser observada a fachada do
Colégio em questão na atualidade.
Fotografia 13 – Praça Tobias Barreto, quando da construção do Colégio Patrocínio São José em 1940.
Fonte: Acervo fotográfico de Murilo Melins, 1940.
Não se sabe ao certo se as areias do morro do Bomfim, que mais parece uma
formação dunar, foram utilizadas para os aterros dos manguezais do bairro São José. O que
pode ser apreendido a partir das figuras 16 e 17 é que uma grande área de manguezal que
se estendia por detrás da Igreja de São José, onde se situa o estádio Lourival Batista, foi
aterrada.
71
Entrevista, do Sr. Gustavo, concedida em 07 de dezembro de 2007.
72
“Personalidade forte, liderança maior da UDN, Leandro Maciel ingressou na vida pública durante a
Primeira República. [...]. Empenhou-se como ninguém para a conclusão dos trabalhos do novo aeroporto,
cujas obras haviam sido iniciadas há cerca de 17 anos e terminou inaugurando-o. [...].Em Aracaju, demoliu o
Morro do Bomfim, facilitando a circulação na área. Prédios públicos foram levantados. Enfim, proporcionou
novo impulso ao processo de urbanização da capital.” In: DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República
(1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. p. 129-130.
103
Mas, como informa Melins (2007), as areias do Morro do Bomfim começaram a ser
retiradas entre as décadas de 1920 e 1930. As mesmas eram transportadas por uma
pequena via férrea, com trilhos de bitola estreita, por onde corriam quatro vagões caçamba,
puxados por duas pequenas locomotivas. Com o desenvolvimento urbano experimentado a
partir da valorização de terrenos próximos ao Mercado Municipal, Estação Leste Brasileiro
e do Centro Comercial, o Morro do Bomfim transformara-se numa barreira ao crescimento
e progresso da cidade. Desta maneira, as dunas de areia contrastavam com os alagados da
zona sul.
fatores, a busca por classes abastadas por melhor qualidade de vida73, expulsou a
população residente no Centro da cidade para bairros limítrofes, como o São José, Treze de
Julho, Salgado Filho, Grageru e Luzia. Desta maneira os dois primeiros bairros
transformaram-se em eixo do setor elegante da cidade. Isto ocorreu, sobretudo, com a
expulsão de antigos moradores locais: os pescadores (Loureiro, 1987; Ribeiro, 1989).
73
Segundo Loureiro (1983), a partir da década de 1970, a área central da cidade deixou de ser um atrativo
para a moradia, na medida em que o aumento de aglomerações capitalistas no local promoveu a deterioração
na qualidade de vida das pessoas. Poluição atmosférica, sonora, congestionamentos de tráfego etc, impeliram
a elite aracajuana para bairros limitrofes como: 13 de julho, São José, Salgado Filho, Grageru e Luzia. Cf.
LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. A Trajetória urbana de Aracaju: em tempo de interferir. Aracaju: INEP,
1983. p. 81.
74
BRASIL. Decreto de lei nº 77 439. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 19 de abril de 1976.
75
BRASIL. Decreto de lei nº 77 440. Diário Oficial da União. Brasília, DF,19 de abril de 1976.
106
Após os devidos registros públicos, o bairro Coroa do Meio foi construído a partir
do projeto CURA, do BNH, a partir de 1976. Para a execução do mesmo, foi contratado o
escritório Técnico do arquiteto Jaime Lerner, na época ex-prefeito de Curitiba-PR. Além
da contratação da empresa Jaime Lerner Planejamento Ltda., para a elaboração do
anteprojeto global da coroa do meio, do projeto de urbanização e concepção básica dos
projetos arquitetônicos, também foi contratado um escritório de sondagem técnica e
geológica, o Hildálius Cantanhede Sociedade Ltda (Machado, 1989).
Segundo Machado (1989), o projeto CURA foi desviado de sua função inicial, que
era a realização de obras públicas de caráter social; não obstante, o projeto iniciou suas
atividades expropriando comunidades ribeirinhas:
76
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Lei nº 429/75 de 22 de setembro de 1975. Diário Oficial de
Aracaju. Aracaju, 23 de setembro de 1975.
107
a ameaça de despejo de centenas de pessoas. Para Machado: “começava ali uma série de
medidas que viriam atingir as populações carentes (de habitação, trabalho, serviços
públicos, etc.) e discriminadas, e que se prolongariam tempo afora, com vestigios ainda
nos dias atuais” (Machado, 1989,p. 178-179).
Já a terceira fase do projeto CURA teve início em 1983 e terminou em 1986, e era
considerada como uma área “especial”, pois nela houve a construção de caráter
diferenciado como os centros esportivo, religioso, comunitário e de área verde (onde hoje
localizam-se a Marina, o Shopping Riomar e a casa de espetáculos Miami Hall). Neste
período iniciaram-se a erosão e a invasão de prédios residenciais de 4 pavimentos
financiados pela CEF (Caixa Econômica Federal) (SEPLAN, 2002).
77
Cf. BEZERRA RESPONDE PROCESSO POR AGREDIR MEIO AMBIENTE. Jornal Gazeta de Sergipe,
15 de maio de 1991; JUÍZA INTIMA VEREADOR POR CRIME CONTRA MEIO AMBIENTE. Jornal da
Cidade, 15 de maio de 1991.
78
Cf. JUSTIÇA INOCENTOU EMURB NO ATERRO DA MARÉ DO APICUM. Jornal Gazeta de Sergipe,
16 de maio de 1991.
109
Apesar desta afirmativa para a isenção de culpa do vereador na época, não condizia
com o Código Florestal79 de 1965, que em seu artigo 2º, alínea f consideram áreas de
preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas nas
restingas como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangue. Para a supressão parcial
ou total de qualquer destas áreas, o artigo 3 º parágrafo 1º afirma que é necessária um
prévia autorização do Poder Executivo. O Código Florestal, no caso dos incentivos do ex-
presidente da EMURB às invasões, foi totalmente desobedecido e deturpado, visto que o
argumento da absolvição do réu recaiu na responsabilidade da proprietária dos terrenos
acrescidos de Marinha, que deveria ter sido consultada a União.
79
BRASIL. Decreto-lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 1965.
80
Cf. CASAS SÃO DEMOLIDAS SEM ORDEM JUDICIAL. Jornal da Cidade. Ano 27, nº 7.720. 05 e 06
de abril de 1998. Capa, p. 1; EMURB NÃO PODE DEMOLIR NO APICUM: JUIZ CONCEDE LIMINAR
À AÇÃO DOS INVASORES E PROÍBE AÇÃO ADMINISTRATIVA DA EMPRESA MUNICIPAL.
Jornal da Cidade. Ano 27, nº 7.727, 15 de abril de 1998. Caderno B, p.9.
110
Na Coroa do Meio, o que ocorreu foi o aterro das áreas, construção por parte dos
sem-tetos, pagamento em forma de casa e novas invasões. De acordo com a reportagem82,
no local havia verdadeiras mansões, com dois pavimentos e vários carros na garagem, o
que denota a ação de pessoas de alto poder aquisitivo por trás do comércio de terras dos
manguezais. Conforme o dirigente Edivaldo Rosas, este tipo de especulação ganhara
espaço por causa da falta de uma ação integrada dos órgãos competentes na desapropriação
dos invasores.
81
EMURB COLABORA COM ATERRO DE MANGUEZAL. Jornal da Cidade. 25 de março de 1994.p.B7
82
Cf. MANGUEZAIS: ESPECULADORES USAM SEM TETOS EM ÁREA NOBRE. Jornal Gazeta de
Sergipe. 31 de agosto de 1994.
83
Cf. A INVASÃO DO APICUM, NO BAIRRO COROA DO MEIO, SOFRE COM A AUSÊNCIA DE
SANEAMENTO BÁSICO. Jornal da Cidade. Ano 26, nº7.519. 06 de agosto de 1997, Caderno B. p. 9.
111
84
Cf. NOVAS FAMÍLIAS INVADEM ÁREA DE MANGUEZAL. Jornal da Cidade. Ano 27, nº 7.702, 14
de março de 1998. Capa, p.1.
85
Cf. JUSTIÇA ACUMULA 400 PROCESSOS CONTRA OS INVASORES DE MANGUE. Jornal da
Cidade. Ano 27, nº7.713. 28 de março de 1998. Capa, p.1.
112
Enquanto o projeto de UAS não foi implantado, as pessoas que habitavam a região
da Maré do Apicum continuavam a sobreviver da pesca de peixe, ostras, sururu e
massunim apanhadas nas águas e lama do manguezal poluído por esgotos domésticos e
86
Cf. CASAS SÃO DEMOLIDAS SEM ORDEM JUDICIAL. Jornal da Cidade. Ano 27, nº7.720. 05 e 06
de abril de 1998. Capa, p. 1.
87
Cf. CALÇADÃO PARA PROTEGER MANGUEZAL. Jornal da Cidade. Ano 27, nº 7.793. 05 e 06 de
julho de 1998.
88
Cf. INVASÃO: SOLUÇÃO PARA APICUM É DEBATIDA EM REUNIÃO. Jornal da Cidade. Ano 28,
nº 8.113, 30 de julho de 1999. Caderno B, p.2.
89
Cf. IBAMA: INVASORES RECLAMAM DAS MULTAS. Jornal da Cidade. Ano 28, nº8.182, 21 de
outubro de 1999. Caderno B, p.1.
90
Cf. URBANIZAÇÃO DA INVASÃO DA COROA DO MEIO SAI DO PAPEL. Ano 30, nº 8.699, 07 de
julho de 2001. Capa, p. 1
113
Fig. 19 – Mulher que morava nas palafitas do Apicum cozinha mocotós de boi num latão.
Fonte: Jornal da Cidade, 08/11/2001.
91
Cf. FAMÍLIAS POBRES RETIRAM COMIDA DO MANGUEZAL: MULHERES E CRIANÇAS
PASSAM ATÉ 8 H NA LAMA EM BUSCA DE MARISCOS. Jornal da Cidade. Ano 30, nº8.801, 08 de
novembro de 2001. Caderno B, p. 1.
92
Cf. AVENIDA NA ATALAIA SOTERRA MANGUEZAL. Jornal da Cidade. Ano 33, nº 9.683, 08 de
outubro de 2004. Capa, p. 1.
114
93
Cf. TRATOR DA EMURB DERRUBA BARRACOS DA COROA DO MEIO: MORADORES
AFIRMAM AINDA QUE TINHAM ATÉ SEMANA QUE VEM PARA DEIXAR A ÁREA. Jornal da
Cidade. Ano 34, nº 9.890. 18 de junho de 2005. Caderno B, p. 1.
115
94
Segundo nome dado ao bairro que hoje é conhecido como praia 13 de Julho.
95
Entrevista concedida em 6 de dezembro de 2007.
96
Cf. PORTO, Fernando Figueiredo. Alguns nomes antigos do Aracaju. Gráfica editora J. Andrade, 2003, p.
127.
116
Segundo Porto (2003), o nome praia Treze de Julho utilizado atualmente refere-se a
uma homenagem de um grupo de veranistas “tangidos pelos ventos revolucionários” dos
levantes de 1924. Esta homenagem foi dirigida ao interventor Maynard Gomes, com esta
surgiu a idéia de mudar o nome do bairro para a praia Treze de Julho97. Em 27 de
novembro de 1930, a vontade dos banhistas foi atendida através do ato municipal nº11,
sendo inaugurada a praia 13 de Julho, em 28 de janeiro de 1931.
97
Em 13 de julho de 1924, no contexto dos levantes tenentistas da Primeira República, quatro oficiais dentre
eles o Tenente Augusto Maynard Gomes saíram do 28º BC e investiram contra o Quartel de Polícia e o
Palácio, prenderam o do Estado e dominaram o Governo de Sergipe por 21 dias. Cf. DANTAS, Ibarê.
História de Sergipe: República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. p. 42.
98
ESTADO DE SERGIPE. Prefeitura de Aracaju. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Eronides Ferreira
de Carvalho, D.D. Interventor Federal no Estado, pelo prefeito da capital, Godofredo Diniz Gonçalves,
Exercício 1939.
117
Após esta breve incursão histórica acerca do bairro Treze de Julho, será abordado
um assunto que marcou a história dos manguezais deste local. Em 1990, o prefeito da
cidade decretou um projeto de lei pelo qual estes ecossistemas seriam aterrados desde o
iate clube até o terminal de integração da Atalaia. O Projeto Praia Formosa99 foi elaborado
com o intuito de dotar Aracaju de uma atração turística capaz de inseri-la como destaque
no circuito nordestino.
99
Cf. Em anexo C, PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Projeto de lei nº56/90. Diário Oficial de
Aracaju. Aracaju, 11 de maio de 1990.
100
Teve como finalidade proteger as áreas de manguezal do Estado de Sergipe e que em seu artigo 1º proíbe
o corte, a queima, o aterro e ou qualquer outra forma de destruição parcial ou total dessas vegetações. Cf.
SERGIPE (Estado). Lei nº 2.683. Diário Oficial do Estado de Sergipe. 17 de setembro de 1998. Vide em
anexo C.
118
101
Cf. Em anexo C, PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Mensagem do prefeito à Câmara
Municipal de Aracaju. 11 de junho de 1990.
119
Bosques
de
manguezal
Bosques de
manguezal da
13 de julho
agrupados num
grande conjunto
102
Dados preliminares do projeto “Expansão urbana e impactos ambientais em Aracaju” desenvolvido pela
Profa. Dra. Lílian de Lins Wanderley. In: RIACHO TRAMANDAÍ É FOCO DE DOENÇAS: OS FORTES
ODORES E A SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL REPRESENTAM PERIGO PARA A SAÚDE
PÚBLICA. Jornal da Cidade. Ano 33, nº 9.702. 31 de outubro e 1º de novembro de 2004.
120
Após esta breve incursão na bibliografia incipiente que explica as causas para a
situação criticada pelo prefeito de Aracaju em 1990, convém o retorno ao Projeto Praia
Formosa. Num trecho subseqüente ao citado anteriormente, o apelo para a execução da lei
é a afirmação inconsistente de que no local não havia vegetação estuarina:
103
ADEMA. Levantamento da flora e caracterização dos bosques de mangue do estado de Sergipe. Governo
do Estado de Sergipe. Convênios: FINEP – Financiadora de estudos e projetos, SUDEPE – Superintendência
do desenvolvimento da pesca e SUDENE – Superintendência do desenvolvimento do Nordeste. 1984. 134p.
104
Cf. Em anexo C, PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Mensagem do prefeito à Câmara
Municipal de Aracaju. 11 de junho de 1990.
121
equipamentos e de uma arborização equilibrada. Nota-se, neste trecho, mais uma vez um
contra-senso, os bosques de manguezais seriam destruídos e a área seria (re) arborizada.
O projeto seria executado pela Sedrag Engenharia de dragagem S/C Ltda. No plano
diretor do projeto,105 a empresa propôs o aterramento com vistas à futura construção de
hotéis, edifícios residenciais, escolas de 1º e 2º graus, shopping, lojas, cinemas e teatros.
Ou seja, o aterramento dos manguezais poderia proporcionar novas ações da especulação
imobiliária no local.
105
Cf. em anexo C.
106
APROVAÇÃO DO ATERRO CUSTOU UMA FORTUNA. Jornal da Cidade. 16 de junho de 1990, p.5.
107
ASPAM TAMBÉM ARGUI VIABILIDADE DO ATERRO DA PRAIA 13 DE JULHO. Jornal Gazeta
de Sergipe. 19 de junho de 1990.
108
Cf. ATERRO VAI TER PASSEATA DE PROTESTO. Jornal Gazeta de Sergipe. 06 de julho de 1990. e
ATERRO TEM HOJE PASSEATA DE PROTESTO. Jornal Gazeta de Sergipe. 13 de julho de 1990.
122
109
SERGIPE (Estado). Lei nº 2.825. Diário Oficial do Estado de Sergipe. 24 de julho de 1990. Cf. em anexo
C.
110
Cf. RIACHO TRAMANDAÍ É FOCO DE DOENÇAS: OS FORTES ODORES E A SITUAÇÃO DE
RISCO AMBIENTAL REPRESENTAM PERIGO PARA A SAÚDE PÚBLICA. Jornal da Cidade. Ano 33,
nº 9.702. 31 de outubro e 1º de novembro de 2004.
111
Cf. MANGUE DA 13 VAI SER LIMPO: APÓS REPORTAGEM DO MORAR BEM, EMSURB JÁ
RETIROU DO LOCAL QUASE CINCO TONELADAS DE LIXO E ENTULHOS. Jornal da Cidade. Ano
34, nº 9.964. 16 de setembro de 2005. Caderno Morar bem, p. 1.
123
Grande parte dos aterramentos dos manguezais aracajuanos foi empreendida pela
esfera privada, majoritariamente representada pela especulação imobiliária. Apesar deste
fenômeno estar, em maior parte, associada à esfera privada, as principais construtoras da
cidade surgiram com laços estreitos com a política.
Conforme Dantas (2004) várias empresas da construção civil surgiram a partir dos
incentivos do BNH, notadamente a partir da construção do D.I.A. (Distrito Industrial de
Aracaju) entre os anos de 1976-1979. Nota-se, através do trecho abaixo a relação de apoio
mútuo entre o poder público, aqui representado pela política, que financiava novas
edificações e das construtoras que apoiavam candidatos em pleitos eleitorais:
A divulgação pelo Jornal da Cidade do tempo de posse da área pela Norcon ratifica
a existência da especulação imobiliária no local: “A Norcon deverá explorar o terreno que
possui por aproximadamente 15 anos, quando pretende construir dezenas de edifícios e
casas residenciais” (Jornal da Cidade, 05/11/1996, caderno B, p. 10).
112
Segundo Arantes apud Souza (2005): “A gentifrication é uma resposta especifica da máquina urbana de
crescimento a uma conjuntura histórica marcada pela desindustrialização e conseqüente desinvestimento de
áreas urbanas significativas, a terceirização crescente das cidades, a precarização da força de trabalho
remanescente e sobretudo a presença desestabilizadora de uma ‘underclass’ fora do mercado. Forma de
apropriação das camadas afluentes e do capital privado do espaço público ‘requalificando’ concertadamente
com outros atores, inclusive o poder público, e criando uma situação de exclusão e especulação, convertendo
espaços privilegiados remanescentes degradados em espaços de consumo de uma classe social ascendente”.
126
113
Segundo Souza (2005), a inauguração do shopping Jardins em 1997, com a instalação de lojas locais,
nacionais e multinacionais proporcionou a valorização do espaço representado pela construção de um grande
pólo comercial. Cf. SOUZA, Alysson Cristian Rocha. Piasagens e Transeuntes: notas sobre o espaço e as
sociabilidades no bairro Jardins. In: FRANÇA, Vera Lúcia Alves, FALCÓN, Maria Lúcia de Oliveira. (orgs.)
Aracaju: 150 anos de vida urbana. Aracaju, PMA/SEPLAN,2005, p.145-156.
127
114
“O parque ecológico do Tramandaí foi criado através do decreto nº 112 de 13 de novembro de 1996, nos
termos das leis federais números 4.771 (Código Florestal) e 5. 197 (De proteção à fauna) e, ainda, nos termos
da lei orgânica Municipal, objetiva a definição de um espaço especial de lazer e preservação no contexto
urbano da zona sul da cidade de Aracaju, compondo com o Parque da Sementeira e Governador Valadares,
um complexo ambiental que exponenciará os benefícios ecológicos que estas áreas verdes já concedem à
vida na cidade”. Cf. SANTOS, Marly Menezes. Parque Ecológico do Tramanday: Projeto de recuperação.
Aracaju: Mata verde assessoria e consultoria de meio ambiente, 2000. p. 2-3.
115
Esta lei em seu art. 1º estabelece que: Qualquer obra ou atividade que implique o uso, a ocupação ou
utilização da área de manguezal deverá, para sua efetivação, ser submetida previamente ao Conselho
Estadual do Meio Ambiente, para conhecimento, análise e aprovação, o qual determinará os parâmetros para
a respectiva implantação ou instalação, após serem ouvidos os órgãos técnicos”. Cf. SERGIPE (Estado).
Decreto de lei nº 3.117. Diário Oficial do Estado de Sergipe. 20 de dezembro de 1991.
128
116
O Riacho Tramandaí é um pequeno afluente do rio Sergipe, em análises da ortofotocarta elaborada pela
Aerofoto Cruzeiro para o Governo do Estado de Sergipe, em 1979, apontam para a localização desse riacho
nas imediações da avenida Tancredo Neves, onde hoje se localiza a concessionária de carros Contorno
Veículos e daí assumia direção norte, recebendo a contribuição de um pequeno riacho proveniente do oeste.
O riacho seguia seu curso tomando direção geral norte, com suave inflexão para nordeste, até seguir
bruscamente para leste até desaguar no rio Sergipe. Cf. PEQUENO AFLUENTE DO RIO SERGIPE. Jornal
da Cidade. Aracaju, ano 33, n º 9.702, 31/10 e 1º/11/2004, Caderno B, p. 3.
129
117
Segundo a reportagem do Jornal da Cidade, a Prof. Dra. Lílian de Lins Wanderley desenvolvia em 2004 a
pesquisa intitulada: Expansão urbana e impactos ambientais em Aracaju. Cf. RIACHO TRAMANDAÍ É
130
Cidade118, em 2004, foi encontrada presença de 10 a 20 mil coliformes fecais por 100ml de
água na região do Tramandaí. Além disso, alertou a geógrafa, a situação não é pior por
causa do movimento das duas marés, a alta e a baixa.
Em 1990, uma área de manguezal do conjunto Bugio estava sendo aterrada pelo
líder comunitário120 que tinha o intuito de construir sobre os ecossistemas e alugar casas
depois. Segundo moradores, os aterramentos eram feitos por lixo que, segundo o infrator,
era o “melhor” material para a ação. Esta era efetivada por pagamentos da “liderança” aos
caminhoneiros de caçambas coletoras de lixo. Para o pescador José Sérgio dos Santos, a
deposição contaminava seriamente a fauna e a flora locais com reflexos na pesca e na cata
de caranguejos e, por conseguinte, na subsistência de pescadores e catadores de crustáceos
que começavam a escassear.
FOCO DE DOENÇAS: Os fortes odores e a situação de risco ambiental representam perigo para a saúde
pública. Jornal da Cidade. Aracaju, ano 33, n º 9.702, 31/10 e 1º/11/2004, Caderno B, p. 3.
118
Cf. RIACHO TRAMANDAÍ É FOCO DE DOENÇAS: Os fortes odores e a situação de risco ambiental
representam perigo para a saúde pública. Jornal da Cidade. Aracaju, ano 33, n º 9.702, 31/10 e 1º/11/2004,
Caderno B, p. 3.
119
Cf. RETIRADA DE BARRO PARA FAZER ATERRO PREJUDICA O RIO DO SAL. Jornal Gazeta de
Sergipe. 18 de agosto de 1989.
120
Cf. MANGUE É DESTRUÍDO PARA CONSTRUIR CASAS. Jornal da Cidade. Ano 18, nº 5.368. 06 de
maio de 1990, p. 5.
131
No início de 1995, mais uma área de manguezal do rio do Sal, nas imediações da
Avenida Euclides Figueiredo121, no Bairro Lamarão, foi aterrada por lama e lixo, causando
grande mal-estar aos moradores vizinhos, por causa da proliferação de ratos e baratas, além
do mau odor exalado. O IBAMA proibiu a construção de uma revendedora de pneus que
seria instalada no local, segundo projeto apresentado junto a ADEMA. No entanto, o órgão
federal não prosseguiu com a fiscalização, causando descontentamento das pessoas
afetadas.
121
Cf. ÁREA DE MANGUE ATERRADA COM LAMA E LIXO. Jornal da Cidade. 1º de fevereiro de
1995, caderno B, p. 9.
122
Cf. MARGENS DO RIO DO SAL SÃO DESTRUÍDAS. Jornal da Cidade. 05 de novembro de 1995,
Caderno B, p. 5.
123
Cf. MANGUE É ATERRADO AO LADO DO BUGIO – ATERROS PARA LOTEAMENTOS ESTÃO
ACABANDO COM O MANGUEZAL E REDUZINDO CANAIS, AFLUENTES DO RIO DO SAL. Jornal
da Cidade. Ano 25, nº 7.356, 17 de janeiro de 1997, Caderno B, p. 10.
124
Cf. IBAMA VAI DESATERRAR LOTEAMENTO NO MANGUE. Jornal da Cidade. Ano 25, nº7.357,
18 de janeiro de 1997, Capa, p. 1.
132
No início de 2000, João Paulino da Silva vendeu125, no bairro Lamarão, lotes sobre
o manguezal do rio do Sal ao preço de R$ 600,00. (figura 27). O infrator alegava ser
proprietário do local. As famílias permaneceram na área, com a ressalva de não adentrarem
em mais áreas de preservação ambiental instituídas por lei. Para tanto, este órgão aguardou
a decisão judicial para remover os moradores dos terrenos. Para impedir novas invasões, o
fiscal do órgão federal contou com o apoio da população através do disque denúncia e da
DESO e da Energipe, para evitar as instalações de água e energia nas áreas aterradas.
125
Cf. MANGUEZAIS SÃO LOTAEADOS NO LAMARÃO: MORADOR E COMERCIANTE CONFESSA
QUE ESTÁ VENDENDO LOTES EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PELO PREÇO DE R$ 600,00. Jornal
da Cidade. Ano 28, nº 8.252. 14 de janeiro de 2000. Caderno B, p. 5.
126
Cf. CASAS SÃO CONSTRUÍDAS EM MANGUEZAL: IBAMA INVESTIGA A PRESENÇA DE
ESPECULADORES NO LOTEAMENTO ÂNGELA CATARINA, NO CONJUNTO BUGIO. Jornal da
Cidade. Ano 29, nº 8.478. 10 de outubro de 2000. Caderno B, p. 2.
127
Id. Ibid.
133
das placas ao longo dos trechos de manguezal implantadas pelo IBAMA, as ruas
reconhecidas pela prefeitura aumentavam cada dia mais.
O líder comunitário afirmou que havia, no Porto Dantas e Santos Dumont, lotes
com pequenas construções que chegavam a custar R$1,5 mil. Alguns moradores das
adjacências lembraram nostalgicamente do tempo em que, nos manguezais dos bairros,
havia peixes camarões, siris e caranguejos, que, os aterros cometidos pelas oficinas e
ferros-velhos, substituíram-nos por pneus e pedaços de chaparia de carros.
entanto, a partir das figuras 27 e 28, observa-se que a especulação imobiliária do local agia
de forma diferente conforme o bairro. Na figura 27, observa-se um casebre de taipa nas
imediações do Lamarão. Já na figura 28, as construções do loteamento Ângela Catarina
eram de alvenaria. A comparação das edificações e seus valores de mercado nos dois
bairros, R$ 600, 00, no Lamarão, e R$ 1.200,00, no Bugio, demonstram a valorização das
terras do manguezal de acordo com o contexto socioeconômico de cada lugar.
A Energipe defendeu-se afirmando que a área já tinha sido aterrada por seu antigo
dono e que o IBAMA não a libera para a construção de sua sede. As esquivas foram uma
constante neste processo de ocupação: a culpa era da empresa, dos sem-tetos, do ex-
proprietário e de ninguém, o verdadeiro dono dos terrenos de manguezal localizados nas
margens do rio Poxim, como afirma um ocupante da área:
128
INVASÃO A ÁREA ATERRADA PELA ENERGIPE: IBAMA NUNCA LIBEROU O TERRENO
PARA A CONSTRUÇÃO PORQUE É UMA ÁREA REMANESCENTE DE MANGUEZAL. Jornal da
Cidade. Ano 26, nº7.591. 30 de outubro de 1997. Caderno B, p. 9.
135
129
Cf. TUMULTO NA INVASÃO DO POXIM: INVASOR DE ÁREA RECLAMADA PELA ENERGIPE
ACORDA COM A POLÍCIA NA PORTA, MAS JUIZ VAI REVER PROCESSO. Jornal da Cidade. 04 de
junho de 1998. Caderno B, p. 9.
136
estabelecido há mais de quatro anos no local, visto que a área, no momento pertencia a
uma Energipe recém privatizada130.
Não obstante, dois meses após a tentativa de reintegração de posse, moradores das
imediações dos terrenos da Energipe denunciaram à EMURB o aterramento do manguezal
e a construção de um muro efetuados pela empresa energética. Prontamente, a EMURB
derrubou o muro imaginando que o mesmo havia sido construído pelos “invasores” e
quando descobriu que havia sido uma edificação da Energipe cessou a derrubada. No
entanto, a concessionária de energia alegou que a construção do muro era para preservar o
manguezal de novas invasões.131
130
Id. Ibid.
131
Cf. MORADOR DENUNCIA ATERRO A MANGUEZAL. Jornal da Cidade. Ano 27, nº 7.822. 09 e 10
de agosto de 1998, Caderno B. p. 14
132
Cf. INVASÃO: MORADORES DO POXIM AGUARDAM DEFINIÇÃO. Jornal da Cidade. Ano 30, nº
8.685, 21 de junho de 2001, Caderno B, p. 2.
133
Cf. INVASÃO DO POXIM PODE ACABAR: COMISSÃO VISTOU ONTEM A ÁREA PARA
DECIDIR SOBRE DESTINO DE 26 FAMÍLIAS DO LOCAL. Jornal da Cidade. Ano 32, nº9.264, 22 de
maio de 2003, Caderno B, p. 1.
137
transferência das famílias, pela Prefeitura, para locais mais seguros, sobretudo no que dizia
respeito ao saneamento. A reportagem do Jornal da Cidade, de 22 de maio de 2003, foi a
última134 sobre o caso da invasão do Poxim. (Figura 30).
Diante do exposto, percebe-se que o poder público, representado pela EMURB agiu
de forma dúbia, por vezes expulsando os moradores através de demolições ou defendendo
sua permanência no local, como exposto acima. Além desta postura, atuou de acordo com
os “imperativos econômicos” ao cessar as demolições de um muro ao saber que havia sido
construído pela Energipe.
134
Para a construção desta dissertação, o Jornal da Cidade foi pesquisado até as datas 16 e 17 de abril de
2006 com a reportagem: MORADORES GANHAM CASA SEM REBOCO. Jornal da Cidade. Ano 35, nº
10.137. 16 e 17 de abril de 2006. Capa, p.1.
138
CAPÍTULO 6
A contradição permeou todo este estudo. A primeira que pode ser observada é a
riqueza do manguezal preterida, dando lugar a sua devastação. Portanto, faz-se
indispensável evidenciar todos os paradoxos observados nesta pesquisa, compondo assim
algumas considerações.
XX, que impunha o aterro de manguezais como solução para o controle de doenças e a
promoção da salubridade, em 1920, o advogado e professor aracajuano Clodomir Silva
lançou a primeira voz em defesa dos manguezais sergipanos. Em O álbum de Sergipe
(1920), Silva sugeriu o replantio da Rizophora mangle e preocupou-se também com as
necessidades das gerações futuras, enquadrando o devastador de manguezal como
“transgressor” do código florestal de Sergipe135, de 1913.
Mais outro paradoxo foi notado, na década de 1990, com o aumento da especulação
imobiliária na cidade. O processo especulativo que para o senso comum é, facilmente
associado às grandes construtoras do ramo imobiliário, apresentou mais uma contradição: a
utilização de sem-tetos na prática especulativa, na Coroa do Meio, e nos loteamentos sobre
manguezais em bairros da zona norte da capital, como Lamarão e Bugio. O contrasenso
destas ações residiram na “camuflagem” com pessoas de alto poder aquisitivo utilizando
“laranjas” desprovidos economicamente.
Diante destas considerações observa-se que o poder público também teve uma
postura contraditória, oscilando entre a repressão e o apoio aos aterros de manguezais da
135
Cf. SERGIPE. Lei nº656 de 3 de novembro de 1913 , expede código para o serviço florestal do estado.
Leis e Decretos, Caixa 2, APES.
141
sobre isto, uma forma de pensar que se iniciou há mais de 150 anos, e que, ainda está
presente nas ações dos aracajuanos que suprimem as áreas de manguezais.
SUGESTÕES
Como sugestão, foi traduzida a tabela de princípios de manejo dos recursos dos
manguezais de autoria de Schaeffer-Novelli e Gilberto Cíntron Molero (1999):
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, José do Patrocínio Hora; GARCIA, Carlos Alexandre Borges. O rio Sergipe no
entorno de Aracaju: qualidade da água e poluição orgânica. In: ALVES, José do Patrocínio
Hora (org.). Rio Sergipe: Importância, vulnerabilidade e preservação. Aracaju: Ós editora,
2006. p. 87 – 109.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo; pós-fácio Celso Lafer.
8ªed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
ARIÈS, Phillipe. História das mentalidades. In: LE GOFF, J.; CHARTIER, R.; REVEL,J.
A história Nova. Trad. Eduardo Brandão. 4 ed. São Paulo, Martins Fontes,1988. p. 154 –
176.
CARDOSO, Amâncio. Uma geografia da morte: roteiro do cólera por Sergipe: 1855-1856.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, n. 33, p. 209-236, Edição
comemorativa dos 90 anos de sua fundação 2000-2002.
CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial, São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
COSTA, José Pedro de Oliveira. Áreas de Proteção Ambiental – APAS. Disponível em: <
http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/arprot/tombadas/apas/index.h
tm>, acessado em 10 de dezembro de 2007.
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004.
DEAN, Waren. A ferro e fogo: A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. Trad.
Cid Knipel, São Paulo: Companhia das Letras,1996.
DINIZ, Alexandre. Aracaju: síntese de sua geografia urbana, Aracaju: tese de concurso
para catedrático, 1963.
DOSSE, F. A história em migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Ensaio.
Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1992.
FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise do Conteúdo. Brasília: Plano editora,
2003.
GABEIRA, Fernando. O Mar não está para a família Peixe. Folha de São Paulo de 30 de
out. 2000. In. FONTES, Ilma. Zé Peixe: uma vida no mar. Aracaju: Sercore, 2000. p.46-47.
(O livro dos danados, 1).
LACERDA, Drude et al. Manguezais do Nordeste. Ciência Hoje, v.39, nº 229, ago. 2006
M.S. Li & S.Y. Lee. Mangroves of China: a brief review. Forest Ecology and management
96 (1997) p. 241-259.
MARTINEZ, Paulo Henrique. História Ambiental no Brasil: Pesquisa e Ensino. São Paulo:
Cortez, 2006.
MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3ª ed. Aracaju: Unit, 2007.
NUNES, Maria Thétis, Sergipe Colonial I, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
149
OBRAS de reurbanização da Coroa do Meio serão entregues hoje pelo prefeito Marcelo
Deda, disponível em < http://www.aracaju.se.gov.br/index.php?act=leitura&codigo=4987>, acessado em
31 de mar. de 2006.
ODUM, Haward.et al. Sistemas Ambientais e Políticas Públicas: Texto sobre ciência,
tecnologia e sociedade que unifica ciências básicas, meio ambiente, avaliação energética,
economia, microcomputadores e políticas públicas. Livro II, trad. Enrique Ortega-
Rodríguez, Universidade da Flórida, Unicamp,1987.
RICHARDSON, Jarry Roberto. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 2 ªed. São Paulo:
Atlas, 1989.
SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios.
Aracaju: o autor, 2005.
SAMPAIO, Everardo V.S.B. & SOUZA, Marta Maria de Almeida. Variação Temporal da
Estrutura dos Bosques de Mangue de Suape – PE após a Construção do Porto. Acta
Botânica Brasileira, 15 (1), 2001, p. 1-12.
STEER, R., ARIAS-ISAZA F., RAMOS A., SIERRA-CORREA P., ALONSO D.,
OCAMPO P. 1997. Documento base para la elaboración de la Politica Nacional de
Ordenamiento Integrado de las Zonas Costeras Colombianas. Documento de consultoría
para el Ministerio del Medio Ambiente. Serie publicaciones especiales No.6, 390p.In:
http://usuarios.lycos.es/camilobotero/steer.pdf , 20/11/2007.
VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável: O desafio do Século XXI. 2 ªed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2006.
WORSTER, D. Para fazer História Ambiental. In: Estudos Históricos, vol. 4, n. 8, 1991, p.
198 - 215.
152
BRASIL. Decreto de lei nº 77 439. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 19 de abril de
1976.
BRASIL. Decreto de lei nº 77 440. Diário Oficial da União. Brasília, DF,19 de abril de
1976.
SERGIPE. Lei nº656 de 3 de novembro de 1913 , expede código para o serviço florestal do
estado. Leis e Decretos, Caixa 2, APES.
REFERÊNCIAS DE JORNAIS
CASAS SÃO DEMOLIDAS SEM ORDEM JUDICIAL. Jornal da Cidade. Ano 27,
nº7.720. 05 e 06 de abril de 1998, capa, p. 1.
MORADORES GANHAM CASA SEM REBOCO. Jornal da Cidade. Ano 35, nº 10.137.
16 e 17 de abril de 2006. Capa, p.1.