Ana Maria Severo Chaves
Ana Maria Severo Chaves
Ana Maria Severo Chaves
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CDU 911.3:502.14(813.4)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Banca examinadora:
_____________________________________________________________________
Drª. Rosemeri Melo & Souza – PPGEO / PRODEMA e DEAM / UFS
_____________________________________________________________________
Drª. Josefa Eliane Santana de Siqueira Pinto - PPGEO e DGE / UFS
_____________________________________________________________________
Dr. Jailton de Jesus Costa - CODAP e PRODEMA / UFS
_____________________________________________________________________
Drª. Karla Maria Silva de Faria - PPGEO e CIAMB / UFG
_____________________________________________________________________
Dr. Diógenes Félix da Silva Costa – GEOCERES e PPGE / UFRN e PPGEC / UEPB
Tabela 01: Características das bandas das imagens do satélite Landsat 5 e 8.............................80
Tabela 02: Matriz de confusão.................................................................................................107
Tabela 03: Avaliação da qualidade do mapa de acordo com o índice de Kappa.......................108
Tabela 04: Matriz de confusão 1985........................................................................................111
Tabela 05: Matriz de confusão 1995........................................................................................111
Tabela 06: Matriz de confusão 2005........................................................................................111
Tabela 07: Matriz de confusão 2015........................................................................................112
Tabela 08: Coeficientes de acurácia global dos mapas.............................................................112
Tabela 09: Variáveis para cálculo da adequabilidade geoecológica.........................................117
Tabela 10: Chave de classificação para os níveis de adequabilidade........................................118
Tabela 11: Variações da temperatura da superfície do mar......................................................131
Tabela 12: Variabilidade e amplitude térmica da temperatura superficial da bacia do Riacho
São José-PE.............................................................................................................................138
Tabela 13: Fenômenos atmosféricos no NEB em 1995............................................................140
Tabela 14: Fenômenos atmosféricos no NEB em 2015............................................................141
Tabela 15: Hierarquia fluvial da bacia do Riacho são José-PE.................................................155
Tabela 16: Análise linear da bacia do Riacho São José-PE......................................................156
Tabela 17: Análise areal da bacia do Riacho São José-PE........................................................158
Tabela 18: Análise hipsométrica da bacia do Riacho São José-PE...........................................160
Tabela 19: Quantificação do índice de vegetação pela diferença normalizada.........................177
Tabela 20: Diversificação fitogeográfica da Bacia do Riacho São José-PE.............................185
Tabela 21: Tabulação dos dados fitogeográfico e medida de diversidade baseado na riqueza
específica da bacia do Riacho São José-PE..............................................................................196
Tabela 22: Medidas de diversidade florística na Bacia do Riacho São José-PE.......................200
Tabela 23: Divisão político-administrativa da bacia do Riacho São José-PE...........................211
Tabela 24: Relação dos domicílios na Bacia do Riacho São José-PE.......................................215
Tabela 25: Estimativa da população residente nos setores censitários pertencentes a bacia do
Riacho São José.......................................................................................................................217
Tabela 26: Quantificação das classes de cobertura da terra......................................................226
Tabela 27: Quantificação dos serviços ecossistêmicos identificados na bacia do Riacho São
José-PE e por classe de cobertura da terra................................................................................238
Tabela 28: Estado ambiental da paisagem da bacia do Riacho São José-PE.............................255
Tabela 29: Quantificação da adequabilidade geoecológica da bacia do Riacho São José-PE...272
Tabela 30: Matriz de probabilidade de transição da cobertura da terra do Riacho de São José-
PE............................................................................................................................................181
Tabela 31: Matriz de áreas de transição da cobertura da terra da bacia do Riacho de São José-
PE............................................................................................................................................282
Tabela 32: Quantificação das classes de cobertura da terra nos conjuntos de modelagens
preditivas.................................................................................................................................292
Tabela 33: Planilha com coordenadas de campo para validação cartográfica..........................333
Tabela 34: Dados mensais para o balanço hídrico da bacia do Riacho São José-PE.................342
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
O ambiente semiárido compreende o bioma Caatinga (único do Brasil) e forma feições geomorfológicas
que testemunham paisagens equilibradas pelas interações estabelecidas entre os componentes
geoecológicos: clima, geologia, solo, relevo, hidrografia e vegetação. Essas interações dão forma e cor
à superfície da Bacia do Riacho São José (BRSJ), a qual compõe um sistema territorial apropriado e
transformado pela sociedade, na construção de territórios em suas interfaces econômicas, políticas,
ambientais e culturais. Situação que, ao longo do tempo, tem refletido no esgotamento da paisagem
semiárida na região Agreste do estado de Pernambuco, devido aos modos de apropriação e
transformações feitos da terra, causando problemas ambientais, processos degradantes, interferência na
dinâmica geoecológica, funções dos ecossistemas e afetando a prestação de serviços ecossistêmicos.
Nesse contexto, a presente pesquisa foi desenvolvida sob matrizes da Geografia Física Aplicada, tendo
como objetivo analisar a dinâmica geoecológica da bacia do Riacho São José, na região Agreste de
Pernambuco, para propor cenários prospectivos com fins para a conservação da paisagem semiárida.
Nessa intenção, a abordagem metodológica adotada foi a análise integrada da paisagem, compreendendo
trabalho de gabinete, atividades de campo e confecção de materiais cartográficos em ambiente de
Sistemas de Informações Geográficas, abordando diferentes procedimentos aplicados à geoecologia.
Assim, os resultados apresentam as relações intrínsecas que configuram a paisagem semiárida da BRSJ
através da caracterização geoecológica dos componentes físico-naturais, com atenção a dinâmica
fitogeográfica em suas estruturas, horizontal e vertical, e a diversidade florística: sendo verificado, na
espacialização do Índice de Vegetação Normalizada (NDVI), que as fitofisionomias vegetais e os pontos
representativos da vegetação concentram-se nas áreas de relevo forte ondulado a escarpado; o NDVI,
também, permitiu localizar os pontos ideias para a construção de Pirâmides de Vegetação (PVs) e
mensurar a diversidade florística; desse modo, fazendo uso de métodos fitossociológicos contatou-se
que as espécies arborescentes e arbustivas constituem estado de equilíbrio com maior dominância e
abundância; que a ocorrência de espécies abundantes e raras revela um bom índice de diversidade
Shannon, de 3,13, caracterizando um ambiente representativo da fitogeografia local, logo deve ser
conservado. No contexto dos padrões e mudanças da cobertura da terra, observou-se pouca variação nas
classes ao longo dos 30 anos estudados; já nas especificidades do sistema territorial verifica-se a
existência de muitos equipamentos (de usos social) e serviços diversos, onde se destaca a prestação de
cinquenta e um serviços ecossistêmicos (SE), que concentram-se, principalmente, nas áreas de
vegetação natural e antrópicas agrícolas. Essas informações, sobre a caracterização geoecológica, a
dinâmica fitogeográfica e a cobertura da terra, revelam as atuais interações geoecológicas da bacia,
indicando que 43% da área apresenta níveis de adequabilidade geoecológica adequados aos usos
antrópicos e que no mínimo 23% da BRSJ devem ser conservadas em seu estado natural. Constatações
que são ampliadas na modelagem preditivas, a qual revelou inúmeros cenários futuros (09), no entanto
apenas em um deles foi possível a recuperação de todas as áreas de preservação permanente dos cursos
hídricos, isso a partir de um intervalo de 20 anos e adotando um planejamento ambiental na perspectiva
conservacionista para paisagem semiárida. Perante os resultados alcançados, acredita-se que as questões
norteadoras foram respondidas ao longo dos quatro capítulos de resultados comprovando a tese
proposta, uma vez que produziu resultados que refletem a dinâmica geoecológica da realidade estudada
e vislumbrou construção de cenários futuros viáveis, se faz necessário conhecer o contexto geoecológico
e socioambiental que compõem a bacia do Riacho São José. Logo, a pesquisa compreende um
documento importante no tocante às propostas metodológicas aplicadas no estudo e ao planejamento
ambiental em ambiente semiárido, pensando dentro das potencialidades e possibilidades paisagísticas
do semiárido.
The semi-arid environment comprises the Caatinga biome (unique in Brazil) and forms
geomorphological features that testify landscapes balanced by the interactions established between the
geoecological components: climate, geology, soil, relief, hydrography and vegetation. These
interactions give shape and color to the surface of the São José Riacho Basin (BRSJ), which makes up
an appropriate territorial system and transformed by society, in the construction of territories in their
economic, political, environmental and cultural interface. Situation that, over time, has reflected in the
depletion of the semiarid landscape in the harsh region of the state of Pernambuco, due to the modes of
appropriation and transformations made of the land, causing environmental problems, degrading
processes, interference in geoecological dynamics, ecosystem functions affecting the provision of
ecosystem services. In this context, the present research was developed under matrices of Applied
Physical Geography, aiming to analyze the geoecological dynamics of the Riacho São José basin, in the
Agreste region of Pernambuco, to propose prospective scenarios for the conservation of the semiarid
landscape. With this intention, the methodological approach adopted was the integrated analysis of the
landscape, comprising office work, field activities and making cartographic materials in a Geographic
Information Systems environment, addressing different procedures applied to geoecology. Thus, the
results show the intrinsic relationships that configure the semi-arid landscape of BRSJ through the
geoecological characterization of the physical-natural components, with attention to the
phytogeographic dynamics in their structures, horizontal and vertical, and the floristic diversity: being
verified, in the spatialization of the Index of Normalized Vegetation (NDVI), that the plant
phytophysiognomies and the representative points of the vegetation are concentrated in the areas of
strong wavy to cliff relief; NDVI also made it possible to locate the ideal points for the construction of
Vegetation Pyramids (PVs) and to measure floristic diversity; thus, using phytosociological methods, it
was found that arborescent and shrub species are in a state of equilibrium with greater dominance and
abundance; that the occurrence of abundant and rare species reveals a good Shannon diversity index, of
3.13, characterizing an environment representative of local phytogeography, therefore it must be
conserved. In the context of patterns and changes in land cover, there was little variation in classes over
the 30 years studied; already in the specificities of the territorial system, there is the existence of many
equipments (for social uses) and various services, where the provision of fifty-one ecosystem services
(SE) stands out, which are mainly concentrated in areas of natural vegetation and agricultural man-
made. This information, on geoecological characterization, phytogeographic dynamics and land cover,
reveals the current geoecological interactions of the basin, indicating that 43% of the area has levels of
geoecological suitability suitable for anthropic uses and that at least 23% of BRSJ must be preserved in
their natural state. Findings that are expanded in predictive modeling, which revealed numerous future
scenarios (09), however only in one of them was it possible to recover all areas of permanent
preservation of water courses, this starting from an interval of 20 years and adopting environmental
planning from a conservationist perspective for a semiarid landscape. In view of the results achieved, it
is believed that the guiding questions were answered over the four chapters of results, proving the
proposed thesis, since it produced results that reflect the geoecological dynamics of the studied reality
and envisioned the construction of viable future scenarios, it is necessary to know the geoecological and
socio-environmental context that make up the Riacho São José basin. Therefore, the research comprises
an important document regarding the methodological proposals applied in the study and the
environmental planning in a semi-arid environment, thinking within the potential and landscape
possibilities of the semiarid.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 24
4.1 Estrutura Horizontal: espacialização das fitofisionomias na bacia do Riacho São José-
PE ....................................................................................................................................... 171
4.2 Estrutura Vertical: composição florística e pirâmides de vegetação na Bacia do Riacho
São José-PE........................................................................................................................ 181
4.3 Diversidade Florística da Bacia do Riacho São José-PE ............................................. 194
5.1 Contexto Político Administrativo da Bacia do Riacho São José-PE ........................... 211
5.2 Padrões e Mudanças na Cobertura e Apropriação da Terra na Bacia do Riacho São
José-PE............................................................................................................................... 218
5.3 Sistema Territorial da Bacia do Riacho São José e a Prestação de Serviços
Ecossistêmicos ................................................................................................................... 233
CONCLUSÕES..................................................................................................................... 298
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 304
Apêndice A: Planilha com Coordenadas de Campo da Bacia do Riacho São José-PE.......... 333
Apêndice B: Código dos Serviços Ecossistêmicos Identificados no Riacho São José-PE .... 335
Apêndice C: Conjuntos de Cenários Projetados a partir dos Mapas de Adequação .............. 340
Anexo A: Dados do Balanço Hídrico da Bacia do Riacho São José-PE ............................... 342
Anexo B: Ficha Biogeográfica Aplicada na Bacia do Riacho São José-PE........................... 346
Anexo C: Tabela CICES Aplicada na Bacia do Riacho São José-PE .................................... 348
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
25
Assim, é importante entender que o planejamento ambiental conservacionista surge
perante as preocupações ambientais diante dos modos de apropriação e transformação da
natureza, pautando-se na racionalidade ambiental para uso sustentável dos recursos naturais de
modo a priorizar a qualidade ambiental, preservando as funções ecológicas e a prestação de
serviços ambientais e ecossistêmicos (BRUNETTO, 1997; TORRES, 2006).
Por sua vez, a modelagem de cenários compõe ferramentas de projeção que representam
as mudanças ocorridas na superfície terrestre, resultantes das derivações antropogênicas sobre
os componentes naturais, retratando o funcionamento da paisagem (OLIVEIRA; MELO &
SOUZA, 2013). Por isso os cenários devem ser compreendidos como possibilidades múltiplas,
os quais resultam da atuação humana sobre a superfície terrestre considerando diferentes fatores
da realidade (CORTEZ, 2007; OLIVEIRA, 2007).
Logo, se a intenção é priorizar um meio ambiente equilibrado para as atuais e futuras
gerações, as ações antrópicas devem ser pautadas pela racionalidade ambiental perante o uso
consciente dos recursos naturais, então devem ser direcionadas por um planejamento ambiental
conservacionista.
Nesse contexto, encontra-se na geoecologia das paisagens o caminho teórico e
metodológico, com longa história na geografia, para estudo da dinâmica ambiental com a
finalidade de propor o planejamento ambiental do território por meio dos enfoques de análise
da paisagem: estrutural, funcional, dinâmico evolutivo, histórico-antropogênico e integrativo.
Segundo Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017, p. 13), a geoecologia tem como propósito
a obtenção de conhecimentos sobre o meio natural a partir de seu sistema de métodos,
procedimentos e técnicas de investigações fundamentadas na avaliação do potencial dos
recursos naturais de modo a permitir a “[...] formulação de estratégias e de táticas de otimização
do uso e manejo mais adequados da função e operação, no tempo e no espaço, de cada uma das
unidades paisagísticas.
As unidades paisagísticas são delineadas a partir dos aspectos geoecológicos que
permitem diferenciar as feições da superfície terrestres, auxiliando assim em ações de
planejamento ambiental voltadas para a conservação dos recursos naturais (FARIAS; SILVA,
2015). Assim, realiza-se uma divisão sobre o território a partir dos objetos semelhantes ou
análogos (RODRIGUEZ; SILVA, CAVALCANTI, 2017), logo se destacam as características
geomorfológicas, climáticas e fitogeográficas.
Essa ação de compartimentar se deve a intenção de pensar de modo coerente aos
diferentes aspectos físicos-naturais e socioambientais que estruturam a paisagem,
26
caracterizando sua dinâmica perante as trocas e fluxos de energia, matéria e informações. O que
demanda um planejamento ambiental setorizado a cada unidade definida, baseados na nas
interações geoecológicas, no estado ambiental e funcionamento paisagístico.
Diante do exposto, tendo suas bases na análise integrada da paisagem, a presente tese,
intitulada Dinâmica Geoecológica e Cenários Potenciais para Conservação da Paisagem
Semiárida na Bacia do Riacho São José em Pernambuco, compreende o ambiente semiárido
como sistemas dinâmicos, em constante interação entre os aspectos bióticos, abióticos e
antrópicos.
Localizada na região Agreste do estado de Pernambuco, a bacia do Riacho São José
(BRSJ) compreende um sistema fluvial de cursos intermitentes e efêmeros, os quais possuem
água no leito superficial durante certo período do ano, diante dos contrastes meteorológicos e
climáticos subjetivos à região. Como faz parte da faixa de transição, apresenta fitofisionomias
de caatinga e mata de altitude.
Características essas que compõem um cenário que guarda consigo marcas de outros
tempos históricos que estão registrados nas rochas por meio de figuras rupestres (as mais
antigas) e rugosidades de construções antigas (casas de taipa e elementos de atividades
econômicas de um passado não distante), que resistem na paisagem, além de formações
geológicas e geomorfológicas que anunciam pontos de beleza singular.
Assim, coloca-se em tela a importância de se pensar o ambiente semiárido em suas
potencialidades paisagísticas e ecológicas, configurando o atual sistema territorial da BRSJ
diante das mudanças e dos padrões na cobertura e uso da Terra ao longo do tempo, com a
chegada dos complexos eólicos e no reconhecimento dos inúmeros serviços ecossistêmicos que
são prestados para o benefício e bem-estar humano.
Logo, foi preciso refletir os desdobramentos futuros desse ambiente semiárido, com
vista ao planejamento ambiental, vislumbrando a construção de cenários futuros a partir de
níveis de adequabilidades e interações dos componentes geoecológicos. Para isso, a pesquisa
foi desenvolvida nas perspectivas da Geografia Física Aplicada, a qual apresenta alicerces para
elucidar as seguintes questões norteadoras:
Quais são os componentes Geoecológicos que configuram a paisagem da bacia do
Riacho São José?
Como está estruturada a dinâmica fitogeografia da bacia do Riacho São José, área de
transição Agreste?
27
Quais os padrões que configuram o sistema territorial da bacia do Riacho São José e a
prestação de serviços ecossistêmicos?
Como as interações geoecológicas e os usos antrópicos refletem na adequabilidade da
paisagem da bacia do Riacho São José?
Quais são os cenários prospectivos possíveis para a realidade da bacia do Riacho São
José com fins a conservação do ambiente semiárido?
Ressalta-se que não se vislumbra respostas absolutas e prontas, mas sim entender as
possibilidades diante das dinâmicas atuantes na área de estudo, que é processual e susceptível
a mudanças, pois o território é configurado a partir das relações sociais e possibilidades
paisagísticas.
Diante das questões apresentadas, a tese proposta é que a modelagem de cenários futuros
para o ambiente semiárido da bacia do Riacho São José deve ser pautada no planejamento
ambiental conservacionista, englobando o estudo da dinâmica geoecológica, em seus níveis de
interações físico-naturais e socioambientais. Para que isso seja possível e viável, requer pensar
pelo contexto da adequabilidade entre os componentes geoecológicos e os modos de
apropriação e transformação do sistema territorial, entendendo a relação da sociedade com o
meio em que está inserida.
Nesse entendimento, a pesquisa teve por objetivo geral analisar a dinâmica geoecológica
da bacia do Riacho São José, na Região Agreste de Pernambuco, para propor cenários
prospectivos com fins para a conservação da paisagem semiárida. Para alcançar essa proposta,
os objetivos específicos que delinearam os capítulos da tese, foram: elaborar a caracterização
geoecológica da bacia do Riacho São José-PE; delinear a dinâmica fitogeográfica da bacia
Riacho São José-PE; apresentar a evolução espaço-temporal dos padrões e mudanças da
cobertura da terra para entender o sistema territorial e identificar a prestação dos serviços
ecossistêmicos; correlacionar as interações geoecológicas da bacia do São José para modelagem
cenários prospectivos à conservação da paisagem semiárida.
A modelagem de cenários com a finalidade conservacionista ressalta a importância de
se pensar no ambiente semiárido perante um planejamento ambiental que busque trazer uma
adequação entre os modos de apropriação e transformação dos recursos naturais e a qualidade
ambiental e função ecológica da natureza, visto que poucas ações são voltadas a conservação
das porções semiáridas moderadas e subúmidas, contexto no qual está inserida a BRSJ. Assim,
se faz necessário o desenvolvimento de pesquisas que deem destaque e relevância a singular
dinâmica dessas áreas.
28
Logo, espera-se que a pesquisa venha contribuir no rol de estudos da Geografia Física
Aplicada, perante a apresentação da estrutura e dinâmica dos componentes da paisagem com
base em uma análise integrada, destacando a importância da aplicabilidade de metodologias
direcionadas ao planejamento ambiental com fins conservacionista. Sendo ressaltando a
importância de se pensar no futuro, por meio da construção de cenários prospectivos, como
possibilidades de uma realidade que pode ser modificada, quando são tomadas decisões
adequadas, às condições ambientais de uma área, ou seja, um sistema territorial que envolva o
contexto ambiental, social e cultural do ambiente semiárido.
Além do mais, a presente tese tem caráter formativo para atribuição de título de
doutorado, refletindo aspirações científicas, profissionais e pessoais. Logo, espera-se que ela
sirva como um recurso acadêmico e possível de aplicação para o planejamento ambiental de
paisagens semiáridas, com destaque para a da bacia do Riacho de São José em Pernambuco.
Sendo destaque o fato da BRSJ compreender uma posição geográfica estratégica para o
estudo da dinâmica geoecológica de uma área de transição, integrando em sua superfície
nuances semiáridas distintas, pois compreende encostas a oeste do planalto da Borborema e
porções da depressão do Baixo São Francisco, contrastando diferentes fisionomias
fitogeográficas em suas feições que vão de planas a montanhosa e escarpadas.
E por se tratar de uma bacia hidrográfica, a qual é delimitada a partir de cotas
altimétricas, os divisores d’água, essa constitui uma unidade natural para estudo e análise dos
diversos elementos que estruturam a paisagem em suas relações sistêmicas (BOTELHO, 2015),
ultrapassando as delimitações políticas-administrativas. Assim, observa-se que a bacia do
Riacho São José está localizada entre quatros municípios da Região de Desenvolvimento
Agreste Meridional do Estado de Pernambuco: Caetés, Pedra, Paranatama e Venturosa.
No contexto estrutural, a pesquisa desenvolvida está organizada em introdução, um
capítulo teórico, um metodológico, quatros capítulos de resultados e as conclusões (Figura 01).
Nessa estrutura, a introdução é responsável pela apresentação da pesquisa, trazendo consigo
breve discussão do tema, as questões norteadoras, a tese proposta, o objetivo geral e os
específicos, a justificativa e a estrutura do documento.
O Capítulo I - Contextualização Teórica da Tese aborda as teorias e os conceitos
estruturantes da pesquisa, a partir de autores de tradição e contemporâneos, dialogando sobre a
Paisagem Geográfica, a Geoecologia, o Território e o Planejamento Ambiental. Discussões que
direcionam as escolhas metodológicas e procedimentais para a construção dos resultados da
tese.
29
Figura 01: Estrutura organizacional da tese.
30
O Capítulo II - Delineamento Metodológico da Tese foi dedicado a apresentar os
desdobramentos técnicos e operacionais necessários para a construção de cada etapa da
pesquisa. Assim, expõe-se a concepção metodológica adotada e descreve os procedimentos
realizados em cada capítulo de resultado.
No Capítulo III - Caracterização Geoecológica da Bacia do Riacho São José, por meio
de análise integrada, apresenta-se os componentes geoecológicos que configuram a paisagem
estudada. Para tanto, foi necessário compartimentar o texto em tópicos para se ter uma
organização do conteúdo, pois ele é extenso, uma vez que compreende a Geologia, o Solo, o
Relevo, o Clima e a Cobertura Vegetal, sendo que seu entendimento se faz na integração das
partes em um todo complexo, a paisagem da BRSJ.
Por se tratar do ambiente semiárido, dentro da faixa de transição Agreste, reconhece-se
que a vegetação é o elemento mais visível e sensível da paisagem, o que denota atenção maior,
revelada no Capítulo IV - Dinâmica Fitogeográfica da Bacia do Riacho São José. Quando é
estudada a cobertura vegetal por meio de suas estruturas: horizontal, pela espacialização das
fitofisionomias; vertical, na composição de pirâmides de vegetação e na mensuração da
diversidade florística.
Assim, tendo-se contemplado os aspectos físicos-naturais da BRSJ, o Capítulo V -
Padrões e Mudanças na Cobertura e Uso da Terra na Bacia do Riacho São José: relação entre o
sistema territorial e a prestação de serviços ecossistêmicos traz em contexto a formação política
e administrativa, mudanças e padrões na cobertura e usos da Terra e a relação entre o sistema
territorial e a prestação dos serviços ecossistêmicos, visto que é significativo reconhecer os
benefícios provindos das dinâmicas e das funções ecológicas do ambiente semiárido.
E, por fim, traz-se o Capítulo VI - Interações Geoecológicas da Bacia do Riacho São
José e Cenários Potenciais para Conservação da Paisagem Semiárida no qual é abordado em
sua essência, a dinâmica geoecológica da paisagem, mediante as interações entre seus
componentes (geologia, solo, relevo, vegetação, cobertura da Terra e clima) para mensurar o
estado da paisagem, adequabilidade geoecológica ao uso da Terra e vislumbrar cenários
prospectivos de conservação da paisagem semiárida.
31
CAPÍTULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA DA TESE
1 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA DA TESE
33
Por sua vez, na perspectiva fisionômica a paisagem compreende a objetividade que
define as particularidades regionais, como a forma unificadora de uma natureza compreendida
como um todo por meio da descrição, de medidas e da compreensão de leis gerais (matemáticas
e físicas) da natureza (SILVEIRA; VITTE, 2009).
Assim, Humboldt reuniu um corpo de informações que permitiu o estabelecimento de
relações e conexões entre os elementos do mundo em que a descrição da paisagem foi o modo
de registrar as diferentes regiões descobertas, revelando uma composição híbrida que combinou
a técnica descritiva e o conhecimento das leis naturais ao cenário observado (PEDRAS, 2000;
SILVEIRA; VITTE, 2009).
Essas perspectivas revelam duas dimensões: a subjetividade para explicar e
compreender a natureza pela visão do sujeito daquilo que está impresso e a objetividade no
ambiente e nas formas interdependentes da realidade do mundo.
Assim, profundas e extensas obras a respeito do entendimento da natureza, em
Humboldt, marcam o início do conhecimento da paisagem para as ciências, em especial a
Geografia Física, na qual a paisagem corresponde ao elemento unificador, concepção
estruturadora que permite reconhecer a relação homem e natureza em uma mútua
interdependência.
Nesse contexto, observa-se que Humboldt sistematizou os passos iniciais para o
desenvolvimento do conceito “paisagem” no âmbito científico. E o fato de o referido naturalista
ter morado na Alemanha e na França fez com que ele e as suas obras influenciassem diretamente
o desenvolvimento da ciência geográfica em ambos os países e, consequentemente, o estudo da
paisagem.
Diante do exposto, como apresentado em Vitte (2007, p.71), a categoria paisagem
analisada na geografia possui elasticidade, pois, “[...] permite-nos refletir de um lado, sobre as
bases de fundamentação do conhecimento geográfico como projeto da modernidade. Por outro
lado, ela insere-se no debate sobre a complexidade da abordagem integrada entre a natureza e
a cultura nas ciências sociais”.
Etimologicamente, o termo paisagem teve origem na Alemanha com a terminologia
landschaft, fazendo referência a distrito territorial ou propriedade habitada por um grupo de
pessoas. Posteriormente foi derivado para outros países, mas mantendo o prefixo land (país,
Terra, terreno), cujo significado é associado a unidade territorial, a exemplo: landscip, em
inglês; landskap, em sueco; landschao, em holandês (HOUSTON, 1970).
34
De acordo com a literatura nacional e internacional, o estudo da paisagem é
desenvolvido e sistematizado na Geografia durante os séculos XIX e XX, com destaque para
as escolas russa, alemã, francesa e, posteriormente, a anglo-saxônica (GUERRA; MARÇAL,
2015; LANG; BLASCHKE, 2009; RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017). Nesse
longo percurso, ganhou materialidade e abordagens diversas, sendo, na maioria das vezes,
acompanhado de um arcabouço teórico, metodológico e epistemológico.
Em vista disso, no início do século XIX a paisagem é objeto de estudo de naturalistas e
geógrafos, proporcionando a expansão da terminologia pela Europa, fazendo surgir, no final
desse século, a ciência da paisagem (landschaftskunde), quase estabelecida nas escolas alemã e
a russa (CHRISTOFOLETTI, 1999; LANG; BLASCHKE, 2009).
No entanto, vale ressaltar que a construção, o desenvolvimento e a aplicação do conceito
paisagem ocorreu de maneira diferenciada no âmbito das referidas escolas, visto que as análises
sobre a paisagem estavam apoiadas em diferentes construções epistemológicas e no tempo
específico de cada realidade (GUERRA; MARÇAL, 2015).
Desse modo, nas escolas alemã e soviética o estudo da paisagem é concebido como
complexo natural integrado sobre as influências teóricas de Humboldt e Dukuchaev; já nas
escolas francesa e anglo-saxônica a análise da paisagem é analisada como um espaço social
marcada pelo viés sociocultural de uma Geografia de entidades perceptivas (RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTI, 2017).
É válido destacar que a Geografia francesa passou pelas influências de Humboldt, mas
dando maior peso à análise da fisionomia da paisagem percebida pelo indivíduo, desenvolvendo
uma análise regional da França por Vidal de La Blache, no século XIX. Realidade essa que
passa por novas concepções a partir do entendimento de geossistema desenvolvida nos estudos
de Bertrand, no século XX.
Já na escola anglo-saxônica, mais recente, sobre bases teóricas da Geografia
sociocultural, teve os trabalhos de Carl Sauer (1998) dedicados à paisagem enquanto forma
morfológica e as construções culturais que moldam o ambiente natural.
Por sua vez, a geografia alemã no século XIX passou pelas influências de Humboldt e
dos naturalistas da época, os quais dedicavam-se ao estudo das relações mútuas entre os
elementos do meio e a sua repartição pelo globo (PASSOS, 2003). Além disso, a paisagem era
concebida enquanto conjunto de formas que determinam uma área da superfície terrestre, a
exemplo das diferenciações paisagísticas da vegetação feita por Humboldt (PASSOS, 2003).
35
Nesse mesmo período, virada do século XIX para o XX, na Alemanha diversos estudos
foram desenvolvidos sobre a ciência da paisagem (Landschaftskunde): das contribuições de
Grisebach (entre 1838 e 1872) ao estabelecer a tipologia da formação vegetal derivada de
Humboldt sobre a organização das formas vegetais e o desenvolvimento da diferenciação
fisionômica da paisagem; da visão holística da natureza desenvolvida por Ritter e Kant; e ao
final do século XIX do raciocínio positivista ambiental de Ratzel que insiste nas relações
causais na natureza (PASSOS, 2003).
Por seu turno, no século XX, o entendimento da paisagem enquanto ciência vêm com
expressão nos estudos de Passager, Paffen, Carl Troll, Neef e Haase (LANG; BLASCHKE,
2009; RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017). Dentre esses estudiosos, Passager e
posteriormente Paffen, em 1930, procuraram construir uma analogia da paisagem por meio da
fisiologia enquanto síntese dos elementos peculiares da natureza (LANG; BLASCHKE, 2009).
Conforme Houston (1970), por meio de seus estudos sobre a África, Passager foi o
primeiro a dedicar um livro à paisagem e a sua classificação enquanto categoria para ser
estudada em sua gênese. E em 1931, em seu livro “Geomorfologia”, Passager explica os
vínculos entre as formas do relevo, do clima e da vegetação (PASSOS, 2003), onde vê-se uma
abordagem integrados a refletir múltiplas e complexas conexões existentes na natureza e seu
equilíbrio dinâmico.
Vale destacar que Carl Troll, representante da ciência da paisagem na escola Russa,
também teve enorme contribuição ao estudo da paisagem, pois incorporou as abordagens
recentes da ecologia (desenvolvidas na época) ao conceito de paisagem e assim definiu a
ecologia da paisagem, que posteriormente foi denominada de Geoecologia (PASSOS, 2003;
TRUEBA, 2012). Além disso, Troll representa marco nas reflexões acerca da paisagem natural
e cultural, nas interações entre os modelos espaciais e ecológicos e na questão da escala no
estudo da paisagem (GUERRA; MARÇAL, 2015; PASSOS, 2003).
O termo Geoecologia, desenvolvido por Troll, marca uma concepção interativa da
paisagem, assinalando o enfoque funcional como o resultado de todos os geofatores (elementos
da natureza e da ação do homem em interação), incorporando a abordagem sistemática na
identificação da estrutura da paisagem (GUERRA; MARÇAL, 2015).
Na literatura, os termos “ecologia da paisagem” e/ou “Geoecologia” foram difundidos
na Europa durante a segunda metade do século XX e na América a partir dos anos de 1980
(METZGER, 2001; RITTER; MORO, 2012). Esses termos são tidos como sinônimos, porém,
as vezes apresentam abordagens diferentes: ora uma visão naturalista e ecológica da paisagem;
36
ora compreendendo também o componente humano por meio de um entendimento geográfico.
Mas, tendo em comum o estudo da paisagem com vistas de planejamento.
A evolução no estudo da paisagem passa a refletir, cada vez mais, as modificações
provocadas pela ação antrópica sobre a superfície terrestre, tornando esse um fato motivador
para a mudança do termo, em alguns autores, de uma abordagem mais ecológica e naturalista à
sua concepção mais geográfica e social, a Geoecológica.
O próprio Troll (1966) aborda que o conceito ecologia e paisagem relacionam-se ao
ambiente do ser humano como entendimento de uma área terrestre particularmente variada que
deve ser utilizada de modo adequado no tocante aos seus aspectos socioeconômicos. Visto que
o ambiente natural é transformado constantemente pela sociedade que cria paisagens
economicamente e culturalmente exploradas.
A inserção da ecologia nos estudos da paisagem marca a entrada da abordagem
sistêmica no estudo ambiental, emergindo dois campos: a Geoecologia, com caráter geográfico
e integrado de base ambiental e a ecologia da paisagem por meio de abordagem mais ecológica
e biológica no estudo da paisagem.
Nesse contexto, Metzger (2001) expõe a heterogeneidade de visões ligadas à
Geoecologia a partir de duas abordagens distintas: uma nascida na Europa, a qual foi
desenvolvida por Troll, em 1938; e a outra que surgiu nos anos de 1980, na América do Norte.
A primeira perspectiva aborda a integração entre fatores naturais e a ação humana,
incorporando a abordagem sistêmica na identificação da estrutura e gênese da paisagem
(GORDON et al, 2001; RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017; TAKEUCHI, 1983;
TROLL, 1966). Por conta disso, se faz uso de Sistema de Informações Geográficas (SIGs) e
dados geoespacias para cartografar as paisagens, sendo abordada no Japão, Europa Ocidental e
América do Sul.
Além do apresentado, é uma abordagem ligada, principalmente, ao planejamento da
paisagem, da apropriação feita pela sociedade, onde vem sendo versado sobre a relação de
adequação entre os componentes geoecológicos e os modos com que a sociedade vem fazendo
uso dos diferentes ambientes terrestres.
Por sua vez, a segunda concepção tem origem norte-americana e possui uma base
ecológica influenciada pela ecologia de ecossistemas, pela modelagem e pela análise espacial.
Ademais, oferece maior destaque às paisagens denominadas naturais, fazendo uso de conceitos
da ecologia da paisagem para a conservação da diversidade biológica e do manejo de recursos
naturais (METZGER, 2001; RITTER; MORO, 2012).
37
Vale salientar que a segunda abordagem também se faz presente na Europa, em estudos
ligados ao geoecossistema, à métrica, às manchas, ao mosaico de relevos, aos tipos de vegetação
e as formas de ocupação, à fragmentação e à conectividade das paisagens (ALEXANDER et
al, 2007; BARSCH, 1996; HUGGETT, 1995; LANG; BLASCHKE, 2009). Para esses estudos
se faz amplo uso de dados espaciais e de SIGs para análise dos componentes da natureza em
diferentes escalas.
É válido sublinhar que nesta pesquisa preferência é dada ao uso do termo Geoecologia
em sua abordagem geográfica integradora, tida como um caminho teórico e metodológico
direcionado ao planejamento da paisagem ao longo da história humana e a sua preocupação
com a adequação dos usos antrópicos, com as potencialidades e as possibilidades do ambiente.
Nessa interface, a Geoecologia das paisagens se apresenta como um arcabouço teórico
e metodológico para estudar o meio ambiente por meio da análise integrada, fazendo uso de
procedimentos técnicos e operacionais que permitem identificar a forma, a estrutura e a função
da paisagem (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017). Tudo isso para que seja possível
subsidiar diagnósticos e análises ambientais aplicáveis no planejamento e gestão ambiental do
território.
De acordo com Barros (2011, p. 03), “A Geoecologia da Paisagem tem sua gênese nos
trabalhos realizados a partir do século XIX por Humboldt, Lamonosov e Dokuchaev. No século
XX, Troll (1950) propôs a criação da ciência da Geografia da Paisagem centralizada no estudo
dos aspectos espaço-funcionais”. Por seu turno, a Geoecologia, segundo Rodriguez, Silva e
Cavalcanti (2017), teve sua integração a partir de 1985 e representa um campo da Geografia
Ambiental ou Ecogeografia preocupada com as questões ambientais através do estudo integrado
da relação estrutura-espacial e dinâmico-funcional das paisagens enquanto geoecossistemas.
Para Silva, Gorayeb e Rodriguez (2010), a Geoecologia das paisagens estabelece uma
abordagem teórico-metodológica com o enfoque sistêmico e interdisciplinar. Essa abordagem
pode ser utilizada para subsidiar o planejamento territorial fornecendo um diagnóstico
operacional que tem por objetivo classificar e cartografar as unidades das paisagens no
território.
Em vista disso, a Geoecologia das paisagens tem a paisagem natural como o objeto
inicial da análise “[...] dentro de uma concepção de estudo que a concebe como uma realidade
geográfica. No enfoque geoecológico, ela é interpretada como uma conexão harmônica de
componentes e processos, intrinsicamente integrados” (SILVA; RODRIGUEZ, 2011, p. 02).
38
Na atualidade, as paisagens refletem mudanças das feições naturais devido aos intensos
processos de ocupação e transformação ambiental, que resultam em impactos, leva a paisagem
a ser “[...] compreendida como um conjunto constituído por feições naturais, sociais e culturais”
(SILVA; RODRIGUEZ, 2011, p. 03). Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de análises
interdisciplinares entre os sistemas naturais e culturais.
A visão sistêmica, por sua vez, concebe a paisagem como um sistema integrado, no qual
“[...] cada componente isolado não possui propriedades integradoras. Essas propriedades
integradoras somente desenvolvem-se quando se estuda a paisagem como um sistema total”
(RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017). Nesse sentido, enquanto sistema total, a
interdisciplinaridade se torna necessária para a explicação da realidade.
Nesse entendimento, Barros (2011) compreende que a análise sistêmica da paisagem
engloba os elementos da natureza, da economia, da sociedade e da cultura em um contexto
amplo, composto por variáveis que buscam representar a dinâmica da natureza como um
sistema, o qual relaciona-se com o homem, constituindo sistemas complexos.
Por sua vez, para Cavalcanti (2014, p. 18) “[...] as paisagens são unidades geoecológicas
resultantes da interação complexa de processos naturais e culturais”. Essa interpretação
compreende a paisagem em um processo dinâmico natural quando ocorre a interferência
humana, fazendo parte dos processos atuantes sobre a natureza como integrante do sistema
paisagístico ou externo a ele.
Assim, na concepção geoecológica, a paisagem funciona como um sistema composto
pela absorção, pela transformação e pelo consumo de energia, matéria e informação (E.M.I.),
ou seja, “[...] conjunto de elementos que se encontram em relação entre si, e que formam uma
determinada unidade e integridade” (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017, p. 42).
O sistema, nesse caso, é entendido como um todo complexo aberto, constituído pela
interligação e interdependência entre o sistema maior e os seus subsistemas inferiores, além de
se manter em constante conexão com os demais sistemas presentes em seu entorno através da
troca de E.M.I.
Ainda segundo Barros (2011), a paisagem, enquanto um sistema, exige pensar o todo,
de modo a compreender que neste existem inter-relações entre suas partes. Para este autor, é
importante fazer uma análise dialética da paisagem, o que “[...] significa aceitar sua existência
e a sua organização sistêmica como uma realidade objetiva, considerando-a como um sistema
material e concebendo-a como uma totalidade que se apresenta como um fenômeno integrado”
(BARROS, 2011, p. 6).
39
Assim sendo, com arsenal conceitual e metódico, a geoecologia das paisagens
representa uma proposta adotada nos estudos de geografia aplicada ao planejamento e gestão
ambiental, bem como na construção de modelos teóricos para congregar a sustentabilidade ao
processo de desenvolvimento (BARROS, 2011; RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTE,
2017).
Destarte, a análise ambiental pela perspectiva sistêmica apresenta-se como um caminho
fecundo para a Geoecologia, o que requer o conhecimento acerca das condições geoecológicas
do território, uma vez que conhecer esses elementos é condição fundamental para a explicação
da estrutura e da função que rege a paisagem, os seus aspectos físicos e as interações sociais.
Para tanto, a Geoecologia da paisagem dispõe de um sistema de métodos,
procedimentos e técnicas que possibilitarão o conhecimento sobre o ambiente, o que permitirá
estabelecer diagnóstico operacional direcionado à gestão ambiental sustentável do território
(RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTE, 2017).
Ainda, a análise da paisagem compreende um conjunto de métodos e procedimentos
técnico-analíticos que permitem conhecer e explicar a estrutura e a funcionalidade da paisagem
por meio de suas propriedades, índices e parâmetros que configuram a dinâmica, a história, os
processos de formação e a transformação da paisagem como sistemas manejáveis e
administráveis (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
Dentre os caminhos adotados nas pesquisas geoecológicas, se destaca a
compartimentação da paisagem a partir de diferentes escalas (regional ou local), com finalidade
de definir as unidades de paisagem ou geocomplexos a serem investigados.
Farias (2015) e Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017) destacam que a regionalização
geoecológica parte do princípio de que a diferenciação presente na superfície terrestre
corresponde a processos ininterruptos sobre a influência da dinâmica dos fatores da natureza e
da ação antrópica, constituindo sistemas naturais especializados e complexos.
Ainda para os mesmos autores, o nível regional das paisagens engloba desde a escala
continental até a regional, como regiões geográficas (ecorregiões) que são estudadas pela
regionalização paisagística ou a tipologia da paisagem. Sendo assim, o procedimento da
regionalização paisagística se faz pela compartimentação de uma área, tendo as estruturas
morfológicas como base.
Logo, a regionalização demanda reconhecer a existência de inter-relações e
interdependência entre os componentes naturais, baseando-se na inseparabilidade dos
elementos que formam as unidades paisagísticas, nas quais as interações entre os seus
40
componentes e os seus processos naturais podem favorecer ou desfavorecer específicos
processos de desenvolvimento antropogênico (SILVA; RODRIGUEZ, 2011), ou seja, os usos
feitos do território.
Vale destacar que a tipologia da paisagem apresenta, enquanto procedimento, a
delimitação de sistemas territoriais a partir de traços comuns da paisagem e entre objetos
semelhantes e/ou análogos. Por conta disso, abrange diferentes tipos de classificações que
consideram a configuração de uso, de ocupação da terra e dos impactos presentes para
compreender a composição, a estrutura, as relações, o desenvolvimento e a diferenciação das
unidades de paisagem. (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017; SILVA;
RODRIGUEZ, 2011). Esse processo de divisão também se dá pela análise, classificação e
cartografia dos complexos naturais ou complexos modificados pela sociedade, sendo esses em
nível específico e integrador entre os elementos geoecológicos.
Essas propostas de estudos geoecológicos apresentam, como finalidade, a divisão de
paisagens em unidades locais, o que compreende a diferenciação em espaços menores e de uma
escalar maior, ou seja, apresentam maior nível de detalhamento em que predomina as
diferenciações topográficas e morfológicas (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
De acordo com Rodriguez, Silva e Cavalcanti, (2017, p. 66) citando Haber (1994), “As
“unidades locais da paisagem” originam-se no processo de desmembramento erosivo do relevo,
de penetração da umidade nas rochas-mãe e sua lixiviação, influenciadas pelas atividades vitais
das comunidades vegetais”. Nessas unidades se destacam as relações verticais e horizontais, as
quais o relevo tem o importante papel de distribuir os fluxos de energia e de substâncias.
Para tanto, a escala de análise regional “permite especializar os diferentes fatores de
formação da paisagem e os aspectos atuantes, fornecendo informações físico-geográficas e
socioeconômicas agregadas à dinâmica de funcionamento da paisagem” (FARIAS, 2015, p.
156). Por sua vez, a escala local permite “compartimentar e caracterizar as subunidades
geoecológicas em função do elevado nível de detalhamento; além de agregar os aspectos da
escala regional, consideram os resultados do autodesenvolvimento e a interação complexa entre
os diversos geocomponentes” (FARIAS, 2015, p. 156).
Desse modo, o estudo da Geoecologia se aplica a diversas áreas do conhecimento,
apresentando como uma das principais finalidades cartografar essas unidades (geocomplexos)
da paisagem, bem como promover a integração dos componentes geoecológicos por meio de
perfis geoecológicos e quadros sínteses (FARIAS, 2015; MOTA; MELO & SOUZA, 2017).
41
De acordo com Silva e Rodriguez (2011), os “produtos cartográficos e os quadros
síntese são instrumentos que podem ser aprimorados por meio de novas análises geoecológicas
mais minuciosas”, as quais permitem a elaboração de planos para a gestão ambiental do
território de modo mais democrático, o qual pode ser alcançado com a realização de
zoneamento geoecológico de precisão, ou seja, em uma escala grande, destacando-se os
detalhes presentes na paisagem por meio de suas unidades.
Nesse processo, se escolhe o enfoque ou os enfoques geoecológicos mais adequados à
análise da paisagem a ser estudada. São cinco os enfoques de trabalho: estrutural, funcional,
dinâmico-evolutivo, histórico-antropogênico e integrativo. Eles não são excludentes, mas sim
complementares, assim, a maioria das pesquisas demandam um trabalho interativo entre eles.
42
Geoecologia é possível aplicar de modo integrado os diferentes enfoques: estrutural, funcional,
dinâmico-evolutivo, histórico-antropogênico e integrativo.
Enquanto aporte teórico-metodológico, a Geoecologia possibilita a aplicação dessas
concepções em diversos estudos, como por exemplo: unidades de conservação, zona costeira,
auxílio na elaboração de plano diretor, bacias hidrográficas, compartimentação e classificação
de unidades das paisagens, entre outras possibilidades (BARROS, 2011; FARIAS, 2012; 2015;
MANOSSO, 2005; MOTA, 2017; 2012; PACHECO, 2014; SANTOS, 2016; SILVA;
GORAYEB; RODRIGUEZ, 2010; TÁVORA, 2014; TEIXEIRA, 2018).
De modo geral, as pesquisas embasadas pela Geoecologia buscam realizar,
primeiramente, um levantamento teórico-metodológico do tema, posteriormente fazem um
diagnóstico das condições geoecológicas do sistema paisagístico, e, por fim, indicam as
possiblidades de usos mais adequados ao ambiente e aos recursos naturais.
Desse modo, o diagnóstico dos componentes geoecológicos permite pensar e construir
um planejamento ambiental do território, sendo essa finalidade um dos principais objetivos da
geoecologia, como também a busca de propor uma gestão pautada na governança ambiental,
sustentabilidade das paisagens e equidade social.
Estudos embasados nos preceitos teóricos e metodológicos da Geoecologia, em sua
maioria, consideram mais de um enfoque de análise, sendo o estrutural e o funcional os mais
comuns para a investigação da paisagem. Isso se dá pelo fato de que conhecer as estruturas
(aspectos verticais e horizontais) e a função (gênese e funcionamento) de uma paisagem é o
primeiro passo a ser dado para compreender a integração dos componentes geoecológicos
(FARIAS, 2015; MANOSSO, 2012; MOTA, 2017; SANTOS, 2016).
Diante do exposto, é importante destacar os aspectos teóricos e metodológicos de cada
enfoque elencado. Para isso, se busca nos autores que sistematizaram tais aspectos, Rodriguez,
Silva e Cavalcanti (2017), e pesquisas que fizeram uso desses teóricos. Dessa forma, espera-se
o desenvolvimento de uma análise integrada por meio da estrutura, da função, da evolução
dinâmica e antropogênica, da estabilidade e da sustentabilidade paisagística.
Como apresentado, o primeiro enfoque é o Estrutural, o qual permite conhecer, analisar
e explicar a estrutura da paisagem por meio da combinação entre os componentes inferiores e
superiores que formam e organizam o sistema paisagístico de modo vertical e horizontal.
Segundo Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017), a estrutura da paisagem reflete uma relação
sistêmica entre seus componentes tendo como conceitos básicos à estrutura horizontal, vertical
43
e geodiversidade. Esta última corresponde ao substrato natural e abiótico das unidades
paisagísticas: Pedologia; Geologia, Geomorfologia, hidrografia (MANOSSO, 2012).
O estudo da estrutura paisagística se faz perante a identificação das propriedades
geométricas e espaciais. Sendo as estruturas espaciais “[...] as agrupações reais territoriais das
formações naturais que se repetem ou transformam-se de forma regular, formando uma
integridade que corresponde a um ou outro táxon do conjunto geral das unidades naturais”
(RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017, p. 112, apud ALEKSANDROVA;
PREOBRAJENSKI, 1982).
A estrutura vertical refere-se aos componentes e aos elementos que estão dispostos no
sentido vertical da paisagem, por sua vez, a estrutura horizontal corresponde a uma estrutura
morfológica que representa a integração espacial das paisagens desde o nível inferior ao nível
superior (MEZZOMO; GHISSO; CAMPOS, 2014; MOTA; MELO & SOUZA, 2017). Assim,
o estudo das estruturas da paisagem constitui um conjunto de procedimentos direcionados a
determinar a diversidade geoecológica.
Os métodos aplicados no enfoque estrutural são quantitativos e qualitativos, com
finalidade cartográfica por meio da compartimentação geoecológica pela regionalização e/ou
tipologias das paisagens (FARIAS, 2015). Esses processos podem estabelecer os seguintes
índices: complexidade, forma dos contornos, vizinhança, conexão, composição, integridade,
coerência e configuração geoecológica (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
A perspectiva Funcional é o segundo enfoque analisado. Essa compreende as relações
funcionais e os elementos que estruturam a paisagem destacando os geocomplexos pelo balanço
de energia, matéria e informação, as interações dos componentes, a gênese, os processos, a
dinâmica, a resiliência e a homeostase (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
Nessa abordagem, a gênese da paisagem ocorre por meio de processos, movimentos e
intercâmbios ativos de energia e de substâncias. O que permite conhecer a organização
estruturo-funcional levando em consideração a biota, os solos, o escoamento e as condições
climáticas, caracterizando o funcionamento da paisagem. (HUGGETT, 1995; RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTI, 2017)
Já o funcionamento da paisagem compreende as complexas relações existente entre os
seus componentes, compreendendo funções, ações ou determinados trabalhos que permitem
gerar biomassa, solo, húmus, sais, entre outros elementos, como também acumular e conservar
energia (HUGGETT, 1995; RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
44
A gênese e o funcionamento da paisagem refletem o intercâmbio de energia e substância
mantidas pelos balanços dos fluxos de energia, matéria e informação numa cadeia de relações
que asseguram a integridade e a coerência do sistema paisagístico (RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTI, 2017). Nesse contexto, os métodos de estudos aplicados a abordagem
funcional têm por finalidade estabelecer a função, a estabilidade, a solidez, a fragilidade, o
estado geoecológico, a capacidade de automanutenção, a autoregulação, a organização e o
equilíbrio da paisagem.
O terceiro enfoque apresentado por Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017) é o Dinâmico-
Evolutivo, o qual procura estabelecer as leis e as regularidades que permitem o
desenvolvimento do território por meio de mudanças dinâmicas, estados temporais, evolução e
desenvolvimento das paisagens. Visto que as causas internas e externas provocam mudanças e
desenvolvimentos contínuos a qualquer território, independentemente da forma de ocorrência,
modificando suas partes estruturais (HUGGETT, 1995;).
Assim, a concepção Dinâmica-Evolutiva compreende que a paisagem é susceptível a
três tipos de mudanças regulares: periódicas, ocorrem em um espaço de tempo similar, como é
o caso das estações do ano e as suas mudanças na fisionomia de algumas paisagens; cíclicas,
que caracterizam a capacidade das paisagens se recuperarem do seu estado inicial em diferentes
intervalos de tempo, como acontece com uma área impactada que passa pela regeneração
natural; rítmicas, mudanças que ocorrem em uma cronologia não muito rígida, em que as
paisagens não retornam obrigatoriamente ao mesmo estado inicial (RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTI, 2017).
Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017) destacam que essas mudanças perpassam três
níveis de funcionamento temporal: a curto prazo, que varia de alguns minutos a um dia, como
as condições meteorológicas do tempo; a médio prazo, que corresponde a dias ou meses; a
longo prazo que corresponde às mudanças de estado que ultrapassam mais de um ano, como
por exemplo a distinção de ciclos ou ritmos climáticos de caráter planetário e processos
sucessivos da vegetação em sua dinâmica natural.
Em um contexto mais social, tem-se o enfoque Histórico-Antropogênico, o qual estuda
as interferências e as mudanças decorrentes das relações que as sociedades estabeleceram com
a natureza ao longo do tempo. Nesse viés, o aporte metodológico de análise aplicado é o
histórico e a análise antropogênica, pois procuram diagnosticar os índices de mudanças
antropogênicas, perturbações, modificação e transformação das paisagens, isso compreendendo
45
determinado recorte espacial e temporal (FARIAS, 2015; MOTA, 2017; RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTI, 2017; SANTOS, 2016).
Desse modo, a atenção é dada à capacidade da ação humana em realizar modificações
nas paisagens com certa regularidade, o que ocorre desde o início do tempo histórico da
humanidade, mas que depois da Revolução Industrial (século XVIII) se intensificou,
principalmente nos modos de exploração dos recursos naturais e na descarga de matérias e
substâncias prejudiciais ao meio ambiente.
Por conta disso, as modificações e os impactos antrópicos sobre a superfície terrestre
perpassam por leis naturais, nas quais a paisagem é subordinada em seu funcionamento
dinâmico e evolutivo. Assim, “O homem somente utiliza as leis naturais para alcançar seus
propósitos, modificando, espontânea ou conscientemente, a direção e a velocidade da evolução
paisagística” (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
Vale ressaltar que a modificação imposta pela sociedade não destrói as leis naturais de
uma paisagem, mas pode interferir nas mesmas. Por conta disso, a própria dinâmica da natureza,
após sofrerem uma perturbação, apresenta a capacidade funcional e de resiliência de retorno ao
estado inicial. Porém, caso isso não seja possível, devido a magnitude do impacto ou
transformação, um novo equilíbrio é gerado a partir das condições reinantes.
Para entender o aspecto histórico antropogênico se faz necessário compreender como o
homem modificou as paisagens ao longo de sua história, bem como, o modo que essa mudança
resultou nas paisagens contemporâneas, as quais os sistemas paisagísticos funcionam sobre
fortes tensões decorrentes das atividades antrópicas.
O último e quinto enfoque é o Integrativo da Estabilidade e Sustentabilidade, que tem a
finalidade de delinear estudos de estabilidade natural da paisagem e da sustentabilidade
ambiental do território, pautado no uso consciente dos recursos naturais na atualidade, ou seja,
pensando nas gerações futuras.
A estabilidade é representada pela capacidade de funcionamento da paisagem em
condições ideais de suas estruturas e funções vitais, mesmo depois de expostas a determinadas
cargas negativas de origem natural ou antropogênica. Além disso, a estabilidade é formada na
relação solidez, elasticidade e plasticidade (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
De acordo com Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2017), a solidez mantém a paisagem em
estado e propriedades iguais mesmo após impactos externos, e é composta pela geodiversidade
da paisagem; a elasticidade faz com que a paisagem volte ao estado inicial depois da ocorrência
de mudanças devido a impactos externos; a plasticidade, por sua vez, vai refletir um novo
46
equilíbrio paisagístico, após um impacto interno, mas conservando a integridade paisagística.
Assim, a solidez, a elasticidade e a plasticidade estão presentes tanto na estabilidade das
paisagens naturais como nas antropogênicas, visto que a estabilidade representa a propriedade
espacial dos sistemas paisagísticos para que se mantenham em funcionamento.
Por seu turno, a sustentabilidade geoecológica reflete na capacidade do sistema
paisagístico em se manter em estados ótimos de funcionamento, de modo a cumprir as funções
geoecológicas e o potencial de utilização social e produtivo (RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTI, 2017). Logo, emergem a necessidade de múltiplas sustentabilidades,
envolvendo os meios naturais e os meios sociais em suas esferas de sustentabilidade políticas,
econômicas e sociais (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2017).
Em vista disso, cabe a humanidade encontrar os meios de utilização sustentáveis dos
recursos disponíveis na natureza e indispensáveis à existência da sociedade e isso só é possível
por meio do estudo do sistema biofísico da natureza, ou seja, estudar a paisagem em suas formas
e estruturas como portadora da sustentabilidade.
Vale destacar que o método dessa abordagem é a análise integrada da paisagem, logo,
aborda o suporte estrutural, funcional, relacional, evolutivo e produtivo e antropogênico.
Englobando os demais enfoques em seu corpo teórico e metodológico com a finalidade de
desenvolver um planejamento/ordenamento do território, buscando conciliar a ação humana às
capacidades e potencialidades do ambiente, respeitando-se a fragilidade do meio natural.
Nesse entendimento, verifica-se que os enfoques apresentados delineiam diferentes
etapas procedimentais de uma pesquisa científica, abordando a inter-relação da paisagem em
seus elementos biótico e abiótico, as sociedades atuantes e a construção do território.
Desse modo, conhecer os componentes geoecológicos que compõem a paisagem é o
primeiro passo dado para um diagnóstico, visando desenvolver um planejamento enviesado na
governança ambiental e na equidade social, pois permite conhecer as estruturas e as
funcionalidades do sistema ambiental, seja em seus aspectos geoecológicos, seja no modo de
como a sociedade se apropriou da superfície terrestre.
47
1.2 Concepções sobre o Território Geográfico
O território é uma das categorias de análise clássica da Geografia. Como a paisagem,
conceitualmente, ele vem amadurecendo junto com o desenvolvimento do pensamento
geográfico. Logo, aborda desde uma visão positivista, ligada ao Estado-nação, a derivações do
termo em múltiplos contextos.
Na compreensão do território, Ratzel se destaca no período da Geografia Clássica. Já
Gottmann e Raffestin trazem uma nova roupagem a partir dos anos de 1960-1970.
Contribuições mais contemporâneas abordam a dinâmica do território e as territorialidades, mas
sem desconsiderar a conotação clássica, indo mais além, onde o território é fluido em limites,
ultrapassa o suporte terrestre, indo da esfera marítima a aérea e representando a diversidade
social por meio da construção de relações de poder e identidades (SOUZA, 2000; 2018;
HAESBAERT, 2004; 2007; MOINE 2005; 2006; SAQUET, 2007; 2008; 2010).
No Brasil, as contribuições acerca do território surgem com destaque na nova geografia,
anos 1970, no viés crítico associado às relações de poder e dominação de base econômica e
política; na corrente humanista, a partir das ligações de identidades e processos de construções
dos múltiplos territórios; e na Geografia Física de base sistêmica, se destaca a discussão sobre
o planejamento ambiental e ordenamento territorial.
Os autores de destaque na compreensão do território e as suas múltiplas interações são
Bertrand e Bertrand (2007), Haesbaert (2004; 2007), Haesbaert e Ramos (2004), Mello-Théry
(2011), Melo & Souza (2007) Melo & Souza e Barbosa (2011), Melo & Souza e Giudice (2009),
Moine (2005; 2006), Saquet (2007; 2008; 2010), Souza (2000; 2018), entre outros autores de
igual relevância.
O território enquanto conceito é estudado por várias ciências, mas na Geografia,
especificamente, o conceito esteve ligado inicialmente, conforme reflexões de geógrafos nos
anos 1960, às relações de poder na apropriação de uma determinada porção da superfície
terrestre, reflexo da origem do termo no século XIX.
No início do século XIX, o termo território surge na Geografia Política com Ratzel
(1982), entendido como um domínio do Estado-nação e suporte natural de um povo. Nas
palavras do autor “[...] o Estado não é concebível sem território e sem fronteiras[...], sem um
solo” (RATZEL, 2011, p. 93).
Ratzel (2011) tem por preferência fazer uso do termo solo em vez de território, pois o
solo, em seu papel de habitat e produção de alimento, permite o desenvolvimento de uma nação,
a qual o Estado deve governar e proteger. O referido autor é categórico na crítica aos estudos
48
da Sociologia que analisa o homem sem seus laços com a terra, pois para ele não se pode estudar
o homem sem seu território sem considerar as condições territoriais da sociedade.
Dentro do momento histórico em que Ratzel estava inserido, no viés da Geografia
Política, o território enquanto Estado-nação é entendido como uma base ecológica que deve ser
protegida e governada e assim manter a segurança e a estabilidade da sociedade. Visto que “[...]
um povo regride quando perde território [...]” porque é no território que existe a fontes da vida
de um povo (RATZEL, 2011, p. 94).
Assim sendo, o solo, enquanto território, deve ser protegido e governado para dar
condição à existência e ao desenvolvimento de um povo apresentando duas funções principais,
nas palavras de Ratzel uma dupla necessidade: habitação e alimentação.
Por sua vez, Gotmann (2012), ao traçar o histórico sobre o conceito de território,
apresenta alguns pontos em comum com à visão de Ratzel, entre eles: a formação do estado; a
questão do território enquanto abrigo, fonte de recurso; e a questão da expansão do território
(nesse ponto pode ser pela conquista de novos espaços ou através de relações políticas com
outros territórios). Assim, Gotmann (2012) enfatiza que o território é apenas um dos pontos de
vista do tamanho do Estado, pois também é importante considerar o tamanho da população, os
recursos econômicos e a organização política.
Essa ligação do território enquanto entidade integrante da soberania do Estado-nação
dura até o século XX, por volta dos anos 1960. Assim, a partir dos anos 1960/1970 se vê uma
alteração de sentido, no dizer de Gotmann (2012, p. 530), “[...] o território mais importante
como uma plataforma para oportunidade do que como abrigo para proteção”.
Por conta disso, essa mudança na definição e entendimento do território ocorrem de
modo gradual em relação aos momentos históricos e aos processos de configuração e
reconfiguração espacial, além da evolução das relações das sociedades com a natureza
influenciadas pelo desenvolvimento tecnológico e pelas novas relações políticas, econômicas e
sociais.
Atualmente, o território ainda é abordado na relação com o Estado, mas também
apresenta dinâmica própria, perpassando desde as configurações multiescalares do ambiente
urbano em sua complexidade às relações de identidades culturais e seus territórios ao uso do
território para fins de planejamento e ordenamento.
Como Gotmann fez parte da transição ocorrida na discussão de território nos anos 1970,
segundo ele, naquela época, “[...] o conceito está passando por uma modificação substancial
que deve expressar alterações mais profundas que vêm ocorrendo nas questões da política”
49
(GOTMANN, 2012, p. 524). A mudança advertida pelo autor a respeito do conceito de território
ultrapassava o campo da geografia ou geopolítica, destacando-se no direito jurista.
Desse modo, os anos entre 1960/1970 são marcados pela busca de uma (re)definição a
respeito do território, não só para a Geografia, mas para as áreas do conhecimento que
buscavam entender o que é o território, saindo das amarras de uma porção do espaço dominada
pelas ações do Estado-nação. A esse ponto, as contribuições envolvem as áreas já referidas com
amplos debates no campo da Sociologia e da Antropologia. Essas duas últimas dotaram boas
contribuições para a geografia (HAESBAERT, 2004; 2007).
Em vista disso, Gotmann (2012, p. 523), apesar de advertir sobre a mudança no
significado de território, traz uma definição sobre a influência da geografia política ao
considerar o território como uma conexão ideal entre o espaço e a política. Já em uma concepção
mais flexível e geográfica, o referido autor entende que o território pode ser definido como uma
porção concreta e acessível do espaço geográfico às atividades humanas, ou seja, espaço
repartido e organizado formando, assim, os territórios, que em teoria são limitados, mas podem
ser modificados ao se expandirem, diminuírem ou serem divididos. Sendo que a
compartimentação e a organização se dão por meio de processos políticos.
Gotmann (2012) enfatiza que o conceito de território apresenta componentes materiais
e psicológicos denominados por ele de “dispositivo psicossomático”: de necessidade para
preservação da “[...] liberdade e da diversidade de comunidades separadas em um espaço
acessível independente”[...], no qual é importante destacar a função social diante dos novos
quadros econômicos e tecnológicos; de desigualdade, em que a circulação se estende, se
intensifica e derruba fronteiras, “[...] as mentes dos homens se reagrupam segundo a lealdade
aos sistemas de signos[...]”, sendo as duras fronteiras da atualidade aquelas da lealdade à fé ou
à doutrina (GOTMANN, 2012, p. 543).
Com base nisso, observa-se que as contribuições de Gotmann, como um dos primeiros
a abordar em profundidade as mudanças inerentes ao conceito de território e a sua evolução,
levam em consideração os momentos históricos, as questões políticas atuantes, os processos
econômicos vigentes e as questões culturais e psicológicas que fazem repercutir até as atuais
discussões sobre o território e as derivações diretas: territorialização, territorialidade, des-
reterritorialização e multiterritorialidades.
Por sua vez, na Geografia, precisa-se partir da noção de que o território foi pensado,
definido e delimitado a partir das relações de poder, norteando os estudos geográficos na
perspectiva analítica vinculada à ideia do poder, servindo de artifício ideológico para a
50
expansão e para a dominação territorial sobre um espaço e os seus recursos, mas também
revelado redes e tramas de identidade e pertencimento, poder simbólico e imaterial na
apropriação do espaço geográfico (MELO & SOUZA, 2007; SAQUET, 2010; SOUZA, 2000;
SUERTEGARAY, 2001;).
Por seu turno, a concepção de retórica tradicional do território, retomado nos anos de
1960/1970, procurava explicar a dominação social, a constituição e expansão do poderio do
Estado-Nação, visto que esse exercia a soberania de controle e gestão do espaço (MELO &
SOUZA; GIUDICE, 2009; SAQUET, 2010).
Já em 1980 o território se destaca como reflexos dos processos e das dinâmicas sociais
decorrentes da década anterior como representativo dos movimentos sociais urbanos, esse fato
se deve ao crescimento ocorrido nas cidades, em especial nas capitais e nas metrópoles. Por
conta disso, a problemática urbana sobre a qualidade de vida, a justiça social, a violência e as
desigualdades econômicas fazem do território urbano um elemento importante de
reivindicações (SOUZA, 2000; VALVERDE, 2004).
Assim sendo, a menor autonomia do Estado sobre os sistemas econômicos, a mudança
na dinâmica social e no processo de urbanização faz surgir novas interpretações do território
enquanto produto de conflitos e contradições sociais do ambiente urbano: como área em disputa
dividida entre o poder público e as organizações de grupos minoritários, territórios em rede, a
questão cultural e identidades territoriais, entre outros. (SOUZA, 2000; VALVERDE, 2004;
SAQUET, 2010).
Nesse sentido, a concepção do território para Raffestin (1993) compreende uma
formação que se dá a partir do espaço, quando um ator (indivíduo ou grupo social) realiza uma
ação direcionada a apropriação de espaço, concretamente ou abstratamente. Assim, é
evidenciado a delimitação de um determinado espaço por e a partir das relações de poder
exercidas na apropriação de uma área e os seus bens materiais e imateriais (RAFFESTIN,
1993).
Dessa maneira, o processo de apropriação de uma área se dá pela territorialização e pela
territorialidade, para isso o indivíduo ou grupo social se apropria e domina ou influencia os
aspectos geoecológicos e os recursos de um espaço, formando assim territórios.
Ainda para Raffestin (1993), a compreensão do território é marcada pela mudança de
compreensão dos anos entre 1980 e 1990, principalmente no tocante ao sistema territorial
composto por elementos do espaço, na forma de superfície, pontos e linhas. Além do sistema
de objetos, de ações e dos conhecimentos de práticas caracterizados nas relações econômicas,
51
políticas sociais e culturais, por meio da conexão de tessituras de nós e redes, refletem a
produção do território.
Vale frisar que o referido autor é referência nos estudos da categoria território nas
esferas científicas da década de 1990, no entanto, ele passou a ser criticado por geógrafos
devido a concepção de espaço apresentada. Nesse ponto, Souza (2000, p. 96) diz que Raffestin
comete o equívoco “[...] de “coisificar”, “reificar” o território ao incorporar ao conceito o
próprio substrato material – vale dizer o espaço social”.
Nesse sentido, Souza (2000) compreende que Raffestin faz um reducionismo do espaço
ao espaço natural e coloca o território na condição de espaço social. A esse respeito Haesbaert
(2004, p. 81) retoma a crítica colocada por Souza, discordando desta ao advertir que é preciso
“[...] uma leitura um pouco mais condescendente para com Raffestin, na medida em que,
também para ele, espaço pode ser um “trunfo” e o território, “o campo de ação dos trunfos””.
Assim sendo, Souza (2000), em livro mais recente dedicado aos conceitos fundamentais
da pesquisa socioespacial, reafirma que os “[...] autores clássicos “coisificam” o território
rotineiramente, e havia, colaborado para isso, poderosos fatores ideológicos em jogo” (2018, p.
91). Essa ideia para Souza é confundir o território com um pedaço da superfície terrestre de
modo arbitrário pelo pesquisador.
Para tanto, aqui, compreende-se que fazer uma análise crítica dos autores clássicos é
necessário, pois isso permite vislumbrar as mudanças que aconteceram ao longo do tempo
acerca dos conceitos científicos. Mas, também se faz necessário compreender o contexto
histórico de cada momento da evolução do conceito, por esse motivo é preciso ser
condescendente.
Nessa perspectiva, concorda-se com o conselho dado por Haesbaert (2004), não apenas
em ser necessário ter condescendência, mas também, pelo seu entendimento abrangente e
diversificador sobre o território, o qual é acompanhado pela história da categoria em discussão.
Inclusive é possível verificar uma compatibilidade mais ampla entre as referências pioneiras
em Haesbaert (2004; 2007; 2009) e na obra de Souza (2018).
Isso faz visualizar entre os trabalhos dos respectivos autores, em se tratando do
território, pontos em comum, sendo importante as contribuições de Souza (2000; 2018) na
discussão do território, na questão de ocupação do território por grupos sociais e na sua carga
histórica geradora de raízes e identidades. O território, assim, é “campo de forças”, “teias ou
redes de reações sociais”, com “complexidade interna” que define limites entre os grupos em
seus membros (insiders) e os outros estranhos ao grupo (outsiders) (SOUZA, 2000, p. 86).
52
O referido autor é destaque e referência no estudo sobre a dinâmica territorial urbana e
seus atores no movimento contínuo de construção, desconstrução e reconstrução do território
em escalas temporais distintas (dia, semana, mês, etc), concebendo assim a territorialidade
(fazer o território) e as territorialidades (tipos de territórios) que podem ser contínuas ou
descontínuas. A essa conotação tem-se as contribuições de Haesbaert (2007):
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao
tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais explícito,
de dominação, quanto ao poder no sentido mais implícito ou simbólico, de
apropriação (HAESBAERT, 2007, p. 20-21).
54
território-rede mais envolvidos pela fluidez e a mobilidade” (HAESBAERT, 2007, p. 29). Aqui
se faz destacar a importância dos sujeitos e os tipos de poder expressos para a criação das
múltiplas territorialidades.
A multiplicidade territorial é necessária para se compreender a multiterritorialidade
sobre a qual se vive há tempos, pois se revela na condição de conviver com a coexistência de
vários territórios e/ou territorialidades ao mesmo tempo, um processo de territorialização que
envolve o intercruzamento dos territórios em nível individual e de pequenos grupos
(HAESBAERT, 2007).
Assim sendo, compreende-se, aqui, a possibilidade de intercruzamento de escalas
manifestadas por diferentes tipos de vivências e expressões de poder em suas abrangências:
casa, rua, bairro, cidade. Em uma visão mais tradicional ou primeira, a multiterritorialidade
pode ser “resultante de uma sobreposição lógica de territórios, hierarquicamente articulados,
“encaixados”” (HAESBAERT, 2007, p. 35).
Ressalta-se que diante das atuais relações sociais, em suas diferentes esferas
(econômicas, políticas sócias e culturais), uma hierarquia vai além das escalas, compreendendo
como a sociedade está organizada e como se dão os grupos de resistência, seja pelo seu espaço
de convívio, seja pelas manifestações culturais e simbólicas. E nesse intercruzamento tem-se a
dinâmica das atuais sociedades contemporâneas e seus elementos de globalidade.
Isto posto, o contexto traçado destaca o atual e complexo estágio da discussão
contemporânea sobre o território diverso e múltiplo, que envolve ao mesmo tempo as dimensões
econômicas, políticas, sociais e culturais em uma rede de intercruzamentos entre áreas, linhas,
nós e poder em múltiplas escalas atuantes no espaço ao mesmo tempo.
A essa abordagem contemporânea, tem-se o território compreendido por Saquet (2010,
p.24), o qual apresenta complexidade em sua abordagem por considerar as interações entre as
dimensões sociais do território e com a natureza num processo histórico da dinâmica social. O
território é apresentado através de múltiplos significados: “[...] natureza e sociedade; economia,
política e cultura; ideia e matéria; identidade e representações; apropriação, dominação e
controle; [...]; degradação e proteção ambiental; terra formas espaciais e relações de poder;
diversidade e unidade” (SAQUET, 2010, p. 24).
Cada significado apresentado por Saquet (2007; 2008; 2010) revela, por si só, possíveis
relações de territorialidade e sua dinâmica intrínseca, que podemos compreender como um
território integrado. Por conta disso, fica evidente as diversas formas que o homem tem
55
representado em suas ações para dividir e se apropriar do espaço a partir de sua influência ou
pelo seu poder de influenciar, mas também pelas suas relações materiais e imateriais.
Entretanto, vale salientar que o território também traz uma configuração que é revelada
na paisagem. De acordo com Saquet (2010) e Souza e Passos (2009), o território se apresenta
como condição para existência da paisagem, pois esse é o resultado de múltiplas determinações,
de um espaço natural, social, historicamente organizado, que se estendem em determinados
locais produzindo as paisagens. Por conta disso, o território e a paisagem vão refletir a
construção processual da evolução da sociedade (MELO & SOUZA; BARBOZA, 2011).
Levando isso em consideração, pensar a questão territorial desenvolvida na Geografia é
colocar em relevo as múltiplas relações sociais, políticas, econômicas, culturais e ambientais
possíveis de serem desencadeadas sobre o espaço geográfico. Nesse ponto, indaga-se uma das
principais preocupações atuais que envolve o planejamento e a gestão ambiental dessa
multiplicidade de territórios.
Sobre essas questões, é importante compreender o território em sua perspectiva
integrada e como um sistema complexo, como colocado por Moine (2005; 2006), para o qual,
na atualidade, a análise do território deve integrar a diversidade e complexidade das dimensões
sociais, políticas, econômicas e ambientais, considerando os usos territoriais baseados na
participação cada vez mais ativa da população.
Desse modo, o território como um sistema complexo apresenta dinâmica resultante de
um ciclo de retroalimentação entre um conjunto de atores e o espaço geográfico que eles
desenvolvem e gerenciam por meio de três subsistemas bem definidos (MOINE, 2006):
Os atores inter-relacionados em uma determinada área permitirão compreender as
razões de um equilíbrio ou determinar uma estabilidade dinâmica do território;
O espaço geográfico criado pelos atores, de acordo com o ambiente geográfico, que
apresentam múltiplos objetos interativos: o ambiente geográfico em que os atores
evoluem sobre as limitações ou facilidades naturais que interagem com os atores e
influenciam a organização do espaço geográfico; o espaço antropizado constituído por
todos os objetos antrópicos (redes, construções, homens, entre outros.); o espaço social,
o das relações sociais entre indivíduos, grupos em estreita relação com o espaço político
e institucionalizado em que as múltiplas relações são formalizadas;
Os sistemas de representação (cultural, simbólica) que se baseiam na interligação entre
três tipos de filtros: individual, social e ideológico.
56
A esse sistema complexo, o desafio apresentado por Moine (2005; 2006) é entender
como os territórios são estruturados, funcionam e evoluem. Junto a essa preocupação sistêmica
coloca-se a questão das políticas territoriais, as quais precisam levar em consideração as
dinâmicas sociais, econômicas, culturais e ambientais que caracterizam sistema territorial.
Para isso, é importante compreender como o território está estruturado e organizado,
levando em consideração as forças políticas e econômicas, como também a apropriação feita
da superfície terrestre pela população, a distribuição dos elementos e equipamentos de uso
social (naturais ou antrópicos) e as múltiplas relações com os territórios vizinhos.
57
Segundo Mello-Théry (2011) as primeiras políticas públicas dedicadas ao meio
ambiente ocorreram entre 1930 e 1971, foram elas: o Código das Águas, das Minas, das
Florestas e da Pesca, as quais buscavam definir as regras para uso e gerenciamento dos recursos
naturais.
Em 1950, durante o governo de Juscelino Kubitschek, o plano de metas orientou o
estado ao desenvolvimento rápido e à integração das grandes regiões, visando a modernização
do país pelas políticas regionais e pelas superintendências de desenvolvimento regional. Em
1962 surge a primeira tentativa de um planejamento integrado com a elaboração do plano
trienal, no governo de Goulart, o qual estabelecia ações inter-relacionadas entre os diferentes
setores da administração pública, no entanto, soterrado pelo Golpe Militar (MORAES, 1994).
O governo militar, com vista à modernização e centralização do poder na esfera Federal,
planejava desenvolver uma série de ações voltadas a um planejamento do tipo global e integrado
iniciados com o plano de ação econômica em 1964. Quatro anos depois é criado o plano de
desenvolvimento econômico, mas é em 1970 que se vê uma iniciativa mais completa com o
plano nacional de desenvolvimento (MORAES, 1994).
Entre os anos de 1972 e 1987, sobre influência e controle estatal e em busca de uma
estrutura do sistema ambiental, teve a aprovação da Política Nacional do Meio Ambiente (1981)
que estabeleceu a necessidade de se ter licenciamento para atividades poluidoras e estudos de
impactos ambientais (MELLO-THÉRY, 2011; MORAES, 1994). Política desenvolvida no bojo
das mudanças de paradigmas dos movimentos ambientais no Brasil.
Moraes (1994) aponta que o plano nacional de desenvolvimento sobre um governo
autoritário com um planejamento autocrático e hipercentralizado surgiu das primeiras tentativas
voltadas ao ordenamento do território nacional através de infraestrutura, formação de recursos
humanos e criação de órgãos e programas de interesse das áreas prioritárias e estratégicas.
Apesar dos setores estatais se encontrarem desarticulados, isso não podia ocorrer no
setor ambiental. Em vista disso se vê a ausência de articulação entre os setores de planejamento
e de desenvolvimento, mas a questão ambiental requer, enquanto campo de atuação no
planejamento e criação de políticas públicas, amplo diálogo e articulação entre as diversas
esferas do setor público e privado, bem como nos diversos setores do governo em suas escalas
federais, regionais, estaduais e municipais (MORAES, 1994).
Assim sendo, a integração necessária ao campo ambiental faz-se por meio da
organização entre as políticas nacionais do meio ambiente e as políticas territoriais, os quais
têm por objetivo “[...] cuidar dos bens comuns, por que se entende que o meio ambiente é um
58
bem público a ser assegurado para o uso coletivo, por isso deve ser sujeito da ação do Estado”
(MELLO-THÉRY, 2011, p. 27).
Nesse cenário se vê três tipos principais de políticas no Brasil: econômicas, sociais e
territoriais. Essa última cabe também as políticas ambientais com responsabilidade de produzir
o espaço, de acordo com Moraes (1994) e Mello-Théry (2011), políticas espaciais devido a
espacialização das mesmas.
Nesse sentido, a produção territorial que visa as questões econômicas, as sociais, as
ambientais, as de planejamento, a de articulação, a de escala, a de ordenamento e a de qualidade
de vida são preocupações essenciais a esse grupo de políticas. Além disso, essa produção
territorial exige o desenvolvimento de uma gestão ambiental que compreenda o território
enquanto suporte físico, como também se torna imprescindível que o território seja
compreendido junto às acepções “[...] simbólica, representando a insígnia da soberania de uma
nação; concreta, como suporte físico, objeto de planejamento; ou ainda como um artifício, uma
categoria de análise” (MELLO-THÉRY, 2011, p. 25).
Essas acepções devem ser apresentas dentro de um complexo sistema territorial, no qual
os atores sociais em suas ações cotidianas constroem as territorialidades, onde o meio ambiente
é palco da sociedade; é fonte de recurso naturais; revelas os elos que constroem e organizam o
território; reflete a paisagem em sua condição natural (elemento dinâmicos, essências de uso e
necessários a conservação) e representações culturais na configuração dos elementos da
natureza.
Diante dessa complexidade, na emergência ambiental do século XXI, o planejamento e
a gestão ambiental do território se fazem indispensáveis. Visto que as políticas abientais buscam
associar o contexto antrópico (economia, cultura, política, lazer) ao ambiental (preservação e
conservação de áreas potencias na prestação de serviços ecossistêmicos) dentro de um território
sistêmico (ações de poder, apropriação e dominação, em uma múltipla rede de ralações
econômicas, culturais, políticos e ambientais) em diferentes níveis escalares.
O que coloca os termos meio ambiente e território, política e sociedade, poder e Estado
intrinsecamente interligados, sendo necessário “[...] compreender os nexos entre poder,
ambiente e território implica em discernir como a sociedade e Estado reagem a crise advinda
de esgotamento dos recursos naturais e como recebem a gestão dos problemas ambientais”
(MELLO-THÉRY, 2011, p. 25).
Nessa perspectiva, o Estado, enquanto responsável pelas políticas públicas, deve
procurar, cada vez mais, resolver as emergentes questões ambientais pela gestão ambiental do
59
território, com vistas um planejamento adequado a cobertura da Terra, preocupado com as
relações sociais que configuram e organizam o espaço, constroem territorialidades e o
complexo sistema territorial.
Pois como colocado por Mello-Théry (2011), a gestão ambiental se faz na gestão do
território, priorizando os elementos naturais necessários à vida e também à sua conservação,
considerados bens comum para a sociedade, sendo responsabilidade do Estado e em função da
população. Assim, os desafios são institucionais, técnicos, políticos e territoriais,
principalmente.
Ainda sobre a Gestão ambiental, essa se faz em diferentes escalas (federais, regionais,
estaduais e locais) em que o aparato legal faz surgir contradições e conflitos, visto que nem
sempre as necessidades locais são priorizadas nos níveis de diretrizes federais e regionais. Ao
Estado cabe o papel de conciliador ou de encontrar o meio viável entre estas escalas, uma ampla
e a outra específica.
Além disso, a gestão do ambiente deve ser feita em conjunto com planejamento
ambiental, territorial, ecológico, conservacionista, entre outros. Visto que se faz necessário
conhecimentos aprofundados sobre os aspectos físicos-naturais e socioambientais para se poder
traçar um planejamento e a partir desses se pensar a gestão. No caso em destaque, a gestão
ambiental do território integrada ao planejamento ambiental.
Rodriguez e Silva (2018) abordam que foi devido às preocupações de cientistas e
especialistas com as problemáticas ambientais, de como gerir racionalmente o processo de
ocupação da superfície terrestre e a assimilação do suporte natural aos impactos antrópicos que
fez surgir a noção de planejamento e gestão ambiental.
Como abordado, existe uma diversidade de Planejamento ambiental, mas no Brasil o
mais comum é pautado no ordenamento do território por meio de políticas públicas com essa
finalidade, visto que o termo gerir reflete em ordenar/organizar algo (MELLO-THÉRY, 2011;
MORAES, 1994). De acordo com Mello-Théry (2011, p. 39) “[...] representa um caminho de
redução das pressões antrópicas sobre o meio ambiente, uma exigência contemporânea”.
Desse modo, o ordenamento territorial deve compreender o sistema territorial complexo
dentro da perspectiva integradora de ações, de conflitos e de recursos ambientais, se fazendo
necessário reconhecer a base física, os recursos naturais presentes, as prioridades para uso e
para conservação. Além das derivações antropogênicas em seu processo histórico, as culturas e
as identidades dos territórios no fazer e no refazer das territorialidades. Ademais, também exige
técnicas e procedimentos específicos.
60
Na literatura, vários autores debatem a respeito de como o processo de ordenamento
deve ser realizado, tendo como pontos em comum: compreender o que é o território, sua
construção teórica e metodológica, geografia ou de áreas afins; conhecer a área por meio de
atividade campo, diagnóstico dos recursos naturais, socioculturais e econômicos.
Para Gómez Orea e Gómez (2012) e Gómez (2012), ordenar o território é mais do que
uma simples tarefa, é a atividade de configurar e planejar o sistema territorial. O que reflete a
ação humana sobre a natureza. Logo, é importante pensar a ordenação em relação à estrutura e
ao funcionamento da paisagem, à construção de cenários mediante a atual realidade vivenciada
pelos atores sociais, econômicos, culturais e políticos.
Assim, se faz fundamental ter metas e objetivos claros sobre os usos potenciais e
equilibrados com o quadro natural, com vistas à sustentabilidade, de modo a levar a gestão
discernir os pontos essenciais, considerando a paisagem que se destaca por seu valor
socioeconômico, cultural e ambiental (GÓMEZ OREA; GÓMEZ, 2012).
Diante disso, não se pode deixar de lado o fato que a paisagem ocupa amplo campo de
debate no planejamento e na ordenação do território. Às vezes se faz por meio quantitativo,
com finalidade de quantificar as alterações feita na construção do território, mas também se faz
uso da paisagem em sua condição qualitativa de representatividade de um povo, dos elementos
da natureza, com valores agregados que devem ser ressaltados no processo de ordenação.
Ademais, o território reflete o modo como “[...] o espaço geográfico é construído e
vivido pelas sociedades sucessivas[...]” representando valores na sua dimensão histórica,
costumes e tradições arqueológicas e ecológicas, em seus aspectos e riquezas presentes no
ambiente, compreendendo da condição natural às situações de áreas antrópicas (BERTRAND;
BERTRAND, 2007, p. 119).
Nas palavras de Bertrand e Bertrand (2007, p. 191), a “[...] paisagem nasce quando um
olhar percorre o território [...]. Ela é a expressão do trabalho da sociedade humana sobre a
natureza [...], então não é apreendida fora de sua dimensão histórica e de seu valor patrimonial
[...]”. Logo, denota importância interdisciplinar de relevância para o planejamento e gestão
ambiental do território, que deve levar em conta a construção histórica da paisagem na
dimensão natural e social, das relações humanas que a configura e nela se faz representar.
Nessa discussão é importante ressaltar que o planejamento e/ou o ordenamento do
território é função da administração pública e de suas políticas territoriais, como previsto na
legislação. O que se faz em três fases complementares: diagnóstico do sistema territorial; plano
de ações importantes a serem introduzidas ou restritas ao território; e por fim, a gestão dos
61
recursos naturais e sociais. Tudo por meio de uma abordagem científica, técnica e tecnológica
com base na participação pública e na coordenação de interesses socioeconômicos (GÓMEZ
OREA; GÓMEZ, 2012).
No contexto geográfico o ordenamento territorial é abordado por diferentes interesses.
Alguns enfatizaram mais as questões sociais em que o ordenamento se faz no espaço
socialmente construído no qual o indivíduo é parte integrante de sua própria produção, como
abordado em Melo (2010). O referido autor, bem como Gómez Orea e Gómez (2012) trazem
em questão a importante relação entre realizar o ordenamento com vista à sustentabilidade
ambiental e para a sociedade.
Diante da atual questão ambiental, se entende que planejar e ordenar é necessário para
todos territórios, seja na intenção de direcionar quais as atividades econômicas e humanas mais
adequadas, seja para indicar os locais que precisam ser conservados ou até mesmo preservados
perante as riquezas ínfimas e ameaçadas de extinção.
Em outra perspectiva, Alves (2014) destaca a importância de se pensar o ordenamento
territorial a partir das culturas presentes no território, em que o ordenamento territorial deve
buscar “[...] compreender-identificar a importância de elementos endógenos na formação de
planos locais, os quais “as identidades locais adquirem relevo, consistindo em elemento que
pode modificar, por completo, o planejado para o futuro de determinado território” (ALVES,
2014. p. 69).
Além disso, é necessário pensar o ordenamento e o planejamento ambiental a partir das
diferentes escalas de abrangência (federal, regional, estadual e municipal) e conceder o
necessário valor às culturas presentes no território e às suas práticas tradicionais que são
reveladas nas paisagens naturais e culturais. A partir de então, por meio das políticas públicas,
planejar ações coerentes com as territorialidades dos atores sociais que organizam e dão vida
ao território e suas paisagens.
Vale frisar que o ordenamento ocorre também pelas questões ambientais em nível
global. Segundo Haesbaert (2007, p. 51) “[...] uma nova identidade sócio-territorial, também
planetária, torna-se imprescindível [...], a consciência global dos problemas (ecológicos,
político-militares, econômicos, médico-sanitários...) pode constituir um primeiro passo”.
Emerge dessa esfera a necessidade de se realizar uma gestão ambiental pelos
mecanismos de governança, como colocado por Ferrão (2010). Dessa forma, exige-se uma
visão estratégica e colaborativa entre as políticas públicas para se realizar o ordenamento do
e/ou o planejamento territorial, a “[...] governação que pressupõem uma maior cooperação entre
62
actores e uma melhor coordenação entre políticas, tanto de base territorial como sectorial”
(FERRÃO, 2010, p. 137). Nesse sentido, o autor faz refletir sobre uma governança territorial
eficiente, justa e democrática para todos os grupos sociais.
Nesse contexto, vale destacar que Rodriguez e Silva (2018) compreendem que o
planejamento ambiental deve ser pensado a partir do uso da natureza e a sua relação com todos
os componentes que fazem parte do meio ambiente. Para isso os autores propõem uma forma
de planejamento integradora pautada na paisagem e embasada pela geoecologia.
Rodriguez e Silva (2018), abordam que “[...] o planejamento da paisagem é, portanto,
uma forma eficaz de pensar para um nível mais complexo de integração, o de planejamento
territorial, e exercer de forma plenamente adequada as exigências atuais dos conhecimentos
científicos e técnicos” (RODRIGUEZ; SILVA, 2018, p. 313-314).
Além disso, o planejamento baseado na paisagem reflete a tentativa de se construir
cenários que busquem incorporar a sustentabilidade no processo de desenvolvimento
(RODRIGUEZ; SILVA, 2018), precisando estar conectado às necessidades de conservação e
gestão do ambiente.
Diante do apresentado, o ordenamento e/ou planejamento ambiental deve levar em
consideração as interações entre o território e a paisagem. Um modelo para além das
preocupações políticas e legislativas, no qual se vê a história e construção social do território
sem esquecer que nele está o suporte essencial da vida (todo tipo de vida e os elementos
abióticos), a paisagem natural, base dos recursos essenciais à existência do agora e das gerações
futuras.
Logo, o planejamento ambiental deve ocorrer na interface do sistema territorial e da
paisagem, onde requer pensar a complexa rede de razões sociais, econômicas, políticas,
culturais/simbólicas e ambientais. É necessário entender que o meio no qual a humanidade está
inserida também compreende a biodiversidade e a geodiversidade que necessitam ser
conservadas, pois delas emergem serviços essenciais para a manutenção da vida sobre a
superfície terrestre.
63
1.3.1 Planejamento Conservacionistas no Contexto de Bacia Hidrográfica
Perante o referencial teórico apresentado nos tópicos desse capítulo e a intenção
principal da tese, aqui buscar-se-á apresentar o viés de planejamento ambiental
conservacionista a ser adotado para a área de estudo, uma bacia hidrográfica semiárida. Assim,
as reflexões acerca da paisagem, da geoecologia, do território e do planejamento ambiental dão
o suporte teórico e metodológico necessário a efetivação da presente pesquisa.
Nesse entendimento, torna-se essencial conhecer os componentes que configuram a
paisagem, os quais na literatura são apresentados como caracterização geoecológica, ambiental,
geoambiental ou do meio físico (BARBOSA, et al. 2016; BELTRAME, 1994; BOTELHO,
2015; GUEDES; MEDEIROS; COSTA, 2016; MEZZUMO, 2013; MEZZUMO; GHISSO;
CAMPOS, 2014). Buscando revelar, dessa forma, as relações sistêmicas que dão dinâmica e
vida a paisagem através da interação entre os componentes climáticos, geológicos, pedológicos,
geomorfológicos, hidrológicos e fitogeográficos.
A caracterização desses aspectos geoecológicos compreende a apresentação dos
componentes estruturantes da paisagem em seus aspectos físicos e antrópicos, ou seja, uma das
primeiras etapas dos estudos que “[...] tem a paisagem como categoria de análise dentro da
abordagem sistêmica [...]”, buscando obter resultados com a finalidade de planejamento e
gestão ambiental (MEZZUMO, 2013, p. 18). Logo, segundo Mezzumo (2013) compreende uma
fase que fornece informações básicas sobre o suporte, a cobertura e a dinâmica paisagística.
Somada as especificidades geoecológicas, é essencial conhecer a cobertura da terra, a
qual compreende componentes naturais e/ou artificiais que recobrem a superfície terrestre, e os
usos antrópicos, ou seja, as atividades humanas desenvolvidas no ambiente (ANDERSON et
al., 1976). É por meio das atividades de apropriação e transformação na natureza que a
sociedade constrói os múltiplos sistemas territoriais.
Nesse contexto, observa-se na literatura que o ambiente semiárido, no geral, tem
mantido um padrão na cobertura da terra nos últimos anos, compreendendo áreas de vegetação
natural em redução, áreas antrópicas agrícolas e degradadas em expansão e massas d’águas
(ACCIOLY et al., 2016; COELHO et al., 2014; FARIAS; SILVA; RODRIGUEZ, 2013;
FERNANDES et al., 2015; SILVA, 2017; VIEIRA et al., 2013).
Esse padrão na superfície terrestre do semiárido repercute nas bacias hidrográficas
existentes, a exemplo da bacia do Rio Ipanema (SILVA, 2017) na qual está inserida a bacia do
Riacho São José, ou seja, área estudada na presente tese. Logo, observa-se ser fundamental o
64
conhecimento do meio físico e socioambiental das bacias ou outros ambientes estudados com
a finalidade de propor um planejamento ambiental.
Assim, entende-se que conhecer e sistematizar a estrutura paisagística, pela
caracterização geoecológica, e a construção do território, através da cobertura e apropriação da
terra, formam os primeiros passos no desenvolvimento do planejamento ambiental. Diante
disso, observa-se a existência de inúmeros instrumentos que podem ser utilizados no
planejamento e gestão do território e da paisagem, a exemplo: o zoneamento econômico-
ecológico; o estudo de Pressão Impactos Estado e Resposta (PIER) por meio de indicadores;
planejamento e gestão de bacias hidrográficas; plano de manejo e planos diretores; análise de
riscos e avaliação ambiental estratégica (MELLO-THÉRY, 2011).
Além desses instrumentos, na literatura existem diferentes tipos de planejamento
ambiental, a exemplo: o conservacionista, o ecológico, para uso do solo, para ordenamento
territorial, para gestão ambiental, entre outros. Porém cada um desses apresenta objetivos
específicos (BOTELHO, 2015; RODRIGUEZ; SILVA, 2018).
Situação que coloca o planejamento ambiental como sendo, cada vez mais, utilizado por
profissionais que trabalham com o meio. No entanto, conceitualmente, o termo é utilizado de
forma abrangente e apresenta diversas visões, permitindo que o termo seja “[...] utilizado para
definir todo e qualquer projeto de planejamento de uma determinada área que leve em
consideração fatores físicos-naturais e sócio-econômicos para avaliação das possibilidades de
uso do território e/ou dos recursos naturais” (BOTELHO, 2015, p. 274).
Diante dessas possibilidades, é preciso refletir dentro da realidade vivenciada, a qual
reflete degradantes modos de apropriação do semiárido, fato negligenciado por muito tempo
(MMA, 2019). Logo, o planejamento ambiental para essa região deve ser pautado na relação
entre a conservação da paisagem e o desenvolvimento territorial, pois a região semiárida do
Nordeste brasileiro é a mais povoada do mundo (AB’SABER, 2003; COUTINHO, 2016).
Em vista do apresentado, o planejamento ambiental do ambiente semiárido deve ser
pensado a partir da paisagem, do território e da necessidade de conservação ambiental, com
destaque ao componente vegetal, o mais sensível e visível na superfície terrestre. E se tratando
de uma bacia hidrográfica, se faz importante conhecer sua organização, relações intrínsecas e
conceitos fundamentais.
Na literatura, entende-se a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem como uma área
delimitada a partir de cotas altimétricas, divisores d’água, compondo toda superfície drenada
por um rio principal e seus tributários, ou seja, formando um sistema fluvial (BOTELHO, 2015;
65
CHRISTOFOLRTTI, 1980; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017). Devido as suas
características, delimitadas por critérios geomorfológicos, as bacias são tidas como unidades
ideais para o planejamento, compondo um espaço aberto de interações sistêmicas entre o meio
físico e os aspectos socioambientais, as derivações antropogênicas, que ocorrem na superfície
(BOTELHO, 2015).
Nesse contexto, é importante entender a dinâmica diferenciada que caracteriza os
atributos hidrográficos do semiárido, perante o quando natural e condicionantes climáticos.
Onde a hidrologia é dependente do ritmo climático sazonal, situação que coloca os cursos
hídricos intermitentes e/ou efêmeros, de modo que a população é levada a escavar nos leitos
dos rios poços para ter acesso a água para fins domésticos, pois “[...] o lençol se afunda e se
resseca e os rios passam a alimentar o lençol” (AB’SÁBER, 2003, p. 85).
Revela-se ainda que as bacias semiáridas não apresentam aspectos hidroclimáticos
homogêneos, compreendendo diferentes nuances geográficas, as quais são apresentadas em
Ab’Sáber (2003) como semiáridas acentuadas ou subdesérticas, semiáridas rústicas ou típicas,
semiáridas moderadas e faixas subúmidas. Essa última compreende a faixa de transição,
conhecida também como agreste, em específico no estado de Pernambuco a região Agreste
compreende, faixa de transição entre zona da mata e sertão, envolve parte do semiárido
moderado e das faixas subúmidas.
Nesse contexto, a bacia hidrográfica deve ser compreendida como uma unidade de
planejamento e gestão, a qual comporta as interações do quadro natural e relações complexas
que envolve os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, logo se faz necessário a
realização de uma análise integrada desses elementos (LIMA; FONTES, 2009).
Assim sendo, o arcabouço teórico no estudo geográfico com fins ao planejamento
ambiental é apoiado nas tecnologias da informação, campo de atuação do geógrafo no
diagnóstico do meio ambiente, entendendo as bacias hidrográficas como unidade de
planejamento, sobre as quais se faz o diagnóstico das condições ambientas do território, de
modo a trazer proposta concretas de gestão ambiental (RODRIGUEZ; SILVA, 2018; ROSS,
2009; ROSS; PRETTE, 1998).
No tocante a Geografia, essa em sua construção científica constituiu um arcabouço
teórico e metodológico capaz de fornecer informações e análise que permitem “elevado grau
de eficiência” (ROSS, 2009, p. 198). Além do mais, a preocupação com as questões ambientais
emerge na história junto ao desenvolvimento da informática, nesse contexto o profissional em
Geografia incorpora na sua prática “[...] as novas tecnologias, que auxiliam no melhor
66
entendimento dos ambientes físicos, e das relações que estes mantêm com as questões humanas,
bem como na relação interdisciplinar com profissionais de outras áreas” (AQUINO;
VALLADARES, 2013, p. 118).
Para esse fim prático, é importante compreender que planejamento ambiental
conservacionista, vislumbrado para os cenários futuros dessa pesquisa, prioriza “[...] a
utilização racional e a preservação dos recursos naturais” com finalidade de usos antrópicos
(BOTELHO, 2015, p. 275). Logo, é essencial conhecer as capacidades e limitações dos
componentes geoecológicos sobre os quais se pretende desenvolver o planejamento.
Na literatura, o termo planejamento conservacionista está associada as preocupações
ambientais perante os padrões de apropriação da terra e utilização dos recursos naturais
(BRUNETTO, 1997; PEREIRA; LIMA, 2006; TORRES, 2006). Pois, a busca por
produtividade se dá através da expansão das áreas agrícolas, o que tem aumentando os
processos de degradação dos recursos naturais (principalmente do componente vegetal) “[...]
devido as frequentes alterações não planejadas no uso da terra, acima da capacidade de suporte
do solo” (TORRES, 2006, p. 151).
Tais aspectos colocam em realce a necessidade de traçar o planejamento ambiental
conservacionista, no qual busca-se indicar as possibilidades de usos antrópicos dos recursos
naturais priorizando a racionalidade ambiental, ou seja, sem destruir a qualidade ambiental, as
funções ecológicas e a prestação de serviços ambientais e ecossistêmicos. Assim, utiliza-se
técnicas, tecnologias, práticas e procedimentos que deverão “[...] respeitar e promover a
manutenção do equilíbrio ecológico em todos os níveis na propriedade, para que não sejam
comprometidos ou degradados qualquer dos recursos naturais [...]” (BRUNETTO, 1997, p. 22).
Assim, o planejamento ambiental conservacionista reflete na utilização dos recursos
biológicos e físicos das bacias hidrográficas de modo sustentável, de forma a preservar o
funcionamento ambiental do sistema hidrográfico não causando alterações que impactem
negativamente no ambiente (STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).
Diante do contexto apresentado, a paisagem e o sistema territorial devem ser planejados
levando-se em consideração os aspectos físico-naturais e as questões socioeconômicas dentro
de uma gestão ambiental contínua, ou seja, que visem os modos mais adequados de uso e a
cobertura de terra em relação às possibilidades do ambiente semiárido, à prestação de serviços
ecossistêmicos e à dinâmica geoecológica.
Perante tais questões, observa-se na literatura que as bacias estudadas pelas
perspectivas da geoecologia da paisagem comtemplam pesquisas voltadas ao planejamento
67
ambiental, para isso busca-se conhecer o funcionamento e as características física-naturais e
socioambientais das mesmas. Sendo comum a apresentação de compartimentação para
desenvolvimento do diagnóstico, destacando o estado ambiental da paisagem, seguido da
proposta de planejamento (FARIAS, 2015; 2020; FARIAS, SILVA; NASCIMENTO, 2015;
NASCIMENTO; FARIAS, 2016).
Nas palavras de Farias (2020, p. 24), a grosso modo, a Geoecologia aplicadas em bacias
hidrográficas pode seguir os seguintes passos: “1. Levantamento dos condicionantes
ambientais; 2. Caracterização dos aspectos socioeconômicos; 3. Compartimentação ambiental;
4. Identificação de impactos ambientais; 5. Caracterização do estado ambiental; e 6.
Proposições de planejamento”.
Nesses passos, a compartimentação da paisagem ajuda a delinear as diferentes feições
identificáveis na superfície terrestre, contribuindo com a realização de diagnósticos
direcionados as unidades paisagísticas e auxiliando no desenvolvimento de ações de
planejamento ambiental voltadas para a conservação dos recursos naturais (FARIAS, SILVA,
2015). Assim, para cada unidade pode-se estabelecer diretrizes, metas e normas de modo a
buscar garantir a eficácia na recuperação, conservação e proteção dos recursos hídricos
(DIBIESO, 2013).
Tais observações, no contexto geoecológico, trazem em relevo a importância de se
estudar as bacias hidrográficas na perspectiva integrada, compreendendo esses ambientes em
sua totalidade (físico-natural e social), respeitando as limitações ambientais e atentando as
potencialidades socioambientais. Tais informações, que integram a dinâmica geoecológica
desses sistemas fluviais, revelam a necessidade de se pensar os modos de apropriação e
transformação da superfície terrestre no contexto do planejamento ambiental conservacionista,
considerando as paisagens pretéritas, atuais e futuras.
68
CAPÍTULO II
DELINEAMENTO METODOLÓGICO DA TESE
2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO DA TESE
De modo geral o presente capítulo dedica-se a apresentar o caminho metodológicos
trilhado para construção da tese intitulada Dinâmica Geoecológica e Cenários Potencias para
Conservação da Paisagem Semiárida na Bacia do Riacho São José em Pernambuco. E como
compreende uma pesquisa delineada pela Geografia Física Aplicada, a abordagem
metodológica adotada é a teoria geral dos sistemas, por meio da análise integrada da paisagem.
Assim, primeiro aborda-se um pouco da escolha metódica para a tese e os níveis da
pesquisa, adaptadas da proposta de Libault (1971). Em seguida apresenta-se o recorte espacial
e temporal adota para a realização da pesquisa, destacando o enquadramento da bacia do Riacho
São José perante sua contribuição para bacias integrantes.
Tendo apresentado o método e recorte espacial, traz-se a construção da base de dados e
em tópicos específicos, de forma sequencial aos objetivos, discorre-se sobre os procedimentos
técnicos realizadas para cada capítulo.
70
os geógrafos, professores e estudantes de Geografia um maior debate acerca do domínio e das
possibilidades de uso deste método”.
Embasada no referido método, a presente pesquisa está alicerçada na análise integrada
da paisagem, visto que os estudos são voltados ao entendimento da integração dos elementos
que compõem a paisagem e permitem desenvolver uma leitura de cunho geográfico. Além do
mais, a abordagem integrativa é tradição nas pesquisas de cunho geográfico e nas suas
aplicações em diversas áreas de atuação da Geografia Física.
Partindo desse pressuposto, vale lembrar que a análise integrada da paisagem tem
origem na discussão sobre a ciência da paisagem, quando seus fundadores procuram analisar o
ambiente a partir das interações dos elementos e da preocupação vista nas investigações
realizadas por Dokucháyev nos anos de 1930, no intuito entender a relação solo-vegetação
(PASSOS, 2003).
Por conta disso, entende-se que as relações estabelecidas a partir do “[...] trinômio
clima-solo-planta é um dos aspectos mais relevantes na análise integrada de paisagens”
(JATOBÁ; SILVA, 2017, p. 50). Além desses exemplos, Tricart (1981, p. 12) evidencia que
“[...] a paisagem reflete o funcionamento dos ecossistemas” por meio das interações entre os
elementos geoecológicos. No Brasil, Tricat (1977) realizou o estudo da ecodinâmica, revelando
a relação ecologia e geografia por meio de uma abordagem integrada.
Com o passar do tempo, principalmente com o desenvolvimento da Geoecologia por
Troll, a geografia incorporou em seus estudos algumas das bases reflexivas da ecologia. Em
1960, na relação estabelecida entre geografia e ecologia, foi desenvolvido o entendimento de
geossistema por Sochava. Esse entendimento representa a esfera de interação entre a natureza
animada e inanimada, entendendo a ecologia da paisagem como abordagem útil no estudo de
geossistema e investigação de regimes naturais, os quis são entendidos como a força motriz do
processo físico-geográfico (SOCHAVA, 1970; 1971; SOCHAVA; KRAUKLIS; SNYTKO
1975).
Posteriormente, Bertrand (2004) e Bertrand e Bertrand (2007) aprimoram o
desenvolvimento do geossistema ao incorporar o fator antrópico com agente integrante da
paisagem, estabelecendo relações dialéticas entre o potencial ecológico, a exploração biológica
e a ação antrópica.
Nessa busca da integração entre os elementos geoecológicos (geologia, solo, relevo,
clima e vegetação) e a (inter)ação antrópica, a análise da paisagem repercute na compreensão
dinâmica entre os componentes que estão em constante interação e mudanças e que a sociedade
71
configura, a depender das relações e interesses implementados, em territórios diversos. De
acordo com Passos (2003) e Melo & Souza e Barbosa (2011), os territórios se tornam condição
para existência da paisagem atual. Assertiva que substancia Bertrand e Bertrand (2007) na busca
da integração entre Geossistema, Território e Paisagem (GTP).
Vale mencionar que o sistema territorial evidencia as diferentes maneiras de
apropriação, de uso e de ocupação da terra originada a partir das relações de influência das
classes sociais e as suas identidades sobre o substrato material. Isso, nas palavras de Berque
(1998), reflete na paisagem enquanto marca, referindo-se a expressão de uma civilização e uma
matriz. Além de gerar uma alusão à participação do esquema de percepção, concepção e ações
em relação ao espaço e a natureza.
A paisagem, categoria importante na análise integrada, permite apreender, de modo
geral, a síntese da relação sociedade e natureza em uma dinâmica sucessiva de ordem natural e
antrópica no modelamento e remodelamento do território em diferentes esboços paisagísticos.
Acerca da paisagem, Capdevila (1981) denota a complexidade contida nessa categoria,
por conta disso, faz-se necessário apreendê-la enquanto sistema, o que confere um adicional à
leitura integrada de cunho metodológico na Geografia. Nesse sentido, a paisagem enquanto
sistema acontece na interação e no funcionamento com os demais sistemas perante a troca de
matéria, energia e informação.
Essas trocas de energia caracterizam a dinâmica dos sistemas naturais envolvendo cinco
fontes: radiação solar, orogênica (energia interna da terra), cinética (força pela física),
gravitacional e exossomática (traduz a energia fornecida fundamentalmente pelo homem)
(CAPDEVILA, 1981). Compondo, assim, o quadro complexo de sistemas naturais e sociais em
interação mútua.
É importante salientar que entender a análise integrada da paisagem, significa a
compreensão de que os componentes paisagísticos (geologia, pedologia, geomorfologia, clima
e vegetação) estão em constante interação e envolvem a troca de energia, matéria e informação
de forma interdependente com as ações e atividades antrópicas. Destarte, associados
configuram as paisagens e as unidades paisagísticas.
Partindo desses pressupostos, a construção da presente pesquisa doutoral sobre a
Dinâmica Geoecológica e os Cenários Potenciais para a conservação da Paisagem Semiárida
na Bacia do Riacho São José perpassou, conforme Libault (1971), pelos quatros níveis da
pesquisa geográfica: compilatório, correlatório, semântico e normativo. Além disso, foi
desenvolvida em duas etapas principais: trabalho de gabinete e de campo (quadro 01).
72
Tomando como base o quadro 01, durante os quatros anos de pesquisa, foram realizados
seis trabalhos de campo na área de estudo, os quais compreendiam de dois a três dias seguidos,
utilizando os finais de semanas como dias favoráveis às idas em campo, pois elas ocorriam
junto a integrantes do Grupo de Estudo do Vale de São José. Com base na importância desse
grupo, destacamos o líder, Alexandre Vieira, pois além de pesquisador, conhece bem a bacia
do Riacho de São José. Vale mencionar que os campos em equipe ocorreram devido às medidas
de segurança, visto que eram excursões em trilhas, as quais compreendiam áreas isoladas e de
difícil acesso.
73
julho e agosto) até os primeiros meses da primavera (setembro e outubro). Também se realizou
campos no verão.
O primeiro campo, realizado em maio de 2017, teve por finalidade a ambientação com
a área de estudo. Ele ocorreu em dois dias e foi percorrido a parte do alto e do médio curso da
bacia, durante os quais se fez registros fotográficos, capturas de coordenadas geográficas e
anotações de campo. Essas três atividades (registo, captura e anotação) se repetiram nos demais
campos juntos às atividades específicas.
A segunda, a terceira e a quarta atividade em campo ocorreram em maio, agosto e
setembro de 2018 e foram direcionadas para o conhecimento das características físicas-naturais
e sociais da bacia. Com o intuito de ser possível dialogar com as informações da caracterização
geoecológica da área de estudo e auxiliar no mapeamento, na análise do índice de vegetação e
na cobertura e uso da Terra.
Em maio de 2019, com duração de três dias, ocorreu o quinto campo, que tinha a
finalidade de estudar a dinâmica fitogeográfica. Acerca dos pontos pré-estabelecidos na etapa
de planejamento em gabinete, preencheu-se as fichas biogeográficas necessárias para a análise
da dinâmica fitogeográfica, compreendendo: observação da paisagem, delimitação de um raio
com 10 m², identificação das principais espécies vegetais, os estratos, a abundância e as
dominâncias da vegetação.
Em janeiro de 2020 ocorreu o sexto e último campo juntamente com uma equipe
interdisciplinar durante três dias, que teve o objetivo de identificar a prestação dos serviços
ecossistêmicos. Esse campo intercalou atividades de gabinete para preenchimento da tabela de
Classificação Internacional Comum de Serviços Ecossistêmicos (CICES) e a realização de
atividade prática para verificação de SE prestado e registros fotográficos.
Por sua vez, o trabalho de gabinete compreendeu desde o planejamento das atividades
de campo à apreensão do contexto teórico e metodológico da pesquisa, a tabulação e à análise
de dados, a confecção de mapas temáticos e a escrita da tese, ou seja, o desenvolvimento e a
construção do texto aqui apresentado.
74
2.2 Recorde Espacial da Área de Estudo
Para estudar bacia hidrográfica, faz-se necessário ter a visão integrada de seus
componentes (físico-naturais e socioambientais), compreendendo como uma área de drenagem
cuja delimitação estar sobreposta a limites políticos administrativos conferem potencial para
“[...] análise da superfície terrestre, onde é possível reconhecer e estudar as inter-relações
existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos que atuam na sua
esculturação. [...]” (BOTELHO, 2015, p. 269).
A delimitação de uma bacia constitui-se por métricas de altimetria configuradas na
geomorfologia pelos divisores d’água (o relevo) em pontos elevados, que determinam a direção
do escoamento superficial das águas. Além disso, é constituída por um rio principal e canais
tributários ou afluentes responsáveis pelo transporte de água e sedimentos ao longo do curso.
Estes, por sua vez, podem ser subdivididos a depender do nível de hierarquia dos canais fluviais
(CHRISTOFOLETTI, 1980; BELTRAME, 1994; ARAUJO; ALMEIDA; GUERRA, 2010).
De acordo com Botelho (2015, p. 269), “[...] a bacia hidrográfica é uma célula natural
que pode, a partir do seu outlet ou ponto de saída, ser delimitada sobre uma base cartográfica
que contenha cotas altimétricas, como as cartas topográficas”. Na atualidade, a base principal
para a delimitação de bacias é o modelo digital de elevação (MDE).
Nesse sentido, podemos dizer que bacias hidrográficas são classificadas em três tipos:
bacia, sub-bacia e microbacia. A primeira é uma área principal que pode ser subdividida em
unidades menores; as sub-bacias fazem parte da divisão de uma bacia maior; e microbacia
corresponde a uma unidade espacial mínima dentro de uma bacia de drenagem, ou unidade de
planejamento (BOTELHO, 2015).
Assim, ressalta-se que a presente pesquisa reconhece a importância de entender o
enquadramento escalar das bacias hidrográficas, mas na discussão construída não se prendeu a
uma divisão hierárquica de enquadramento do tamanho da bacia a partir de seus conceitos e
métricas mencionados acima. Pois a intenção é compreendida a bacia do Riacho São José
enquanto unidade de análise da superfície terrestre (BELTRAME, 1994; BOTELHO, 2015), a
qual é possível desenvolver uma análise integrada da paisagem, destacando as (inter)relações
biofísicas e socioambientais que configuram do sistema territorial.
Geograficamente, a BRSJ integra a bacia do Rio Cordeiro, principal tributário do rio
Ipanema (Figura 02). O rio Ipanema compreende um sistema fluvial interestadual que ocupa
uma área de 6.209,67 km², onde a maior parte estar no estado de Pernambuco e sua porção Sul
no Estado de Alagoas, onde confluir no rio São Francisco (APAC, 2021).
75
Figura 02: Enquadramento da bacia do Riacho São José na bacia do Rio Cordeiro e bacia do Rio Ipanema-PE/AL.
77
2.3 Construção da Base de Dados e Delimitação da Área de Estudo
Para a tese, a etapa essencial foi a construção da base de dados primários e secundários,
com informações geoespacias para o desenvolvimento da cartografia temática e outras
informações sobre a bacia do Riacho São José-PE, em ambiente de Sistema de Informações
Geográficas (SIGs).
Segundo Fitz (2008, 53), fazer uso de SIGs requer “[...] a existência de um banco de
dados georreferenciados, ou seja, dados portadores de registros referenciados a um sistema de
coordenadas conhecidas”. Nesse sentido, foram construídos, para área estudada, três Bancos de
Dados (BD): dois com informações espaciais, com arquivos vetoriais (shapefiles - polígonos,
linhas e pontos) e matriciais (raster - imagens digitais geradas por sensoriamento remoto); e o
terceiro com dados alfanuméricos, tabelas com coordenadas associadas às descrições
qualitativas e quantitativas de fenômenos.
Os dados, primários e secundários, necessários para construção dos BD foram obtidos
a partir de órgãos e instituições estaduais, federais e internacionais: Zoneamento Agroecológico
de Pernambuco (ZAPE) disponibilizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e
Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo).
Para isso, todos os arquivos (vetoriais, matriciais e alfanuméricos) foram colocados no
sistema de coordenadas Universal Transversa de Mercator (UTM) com o Sistema de Referência
Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), visto esse último ser o sistema de referência
geodésico estabelecido para Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e para o Sistema Cartográfico
Nacional (SCN) desde o ano de 2005 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE,
2005; BRASIL, 2005).
Vele esclarecer que a conversão para UTM e SIRGAS 2000 de algumas imagens de
satélite só foi realizada após alguns tratamentos específicos necessários para a obtenção do
fenômeno analisado, como ocorreu com as imagens do Landsat 5 para cálculo do índice de
vegetação e estimativa da temperatura da superfície terrestre.
O banco de dados 01 compreendeu dados vetoriais obtidos no IBGE
(ftp://geoftp.ibge.gov.br/), na ZAPE (CD-ROM) e na CPRM (http://geosgb.cprm.gov.br/) com
informações ambientais do território brasileiro. Além de geração de novos dados (pontos linhas
e polígonos) no ambiente SIG, como a delimitação da área de estudo, compartimentação
78
geoecológica da bacia, cursos hídricos e estradas e pontos de referências de objetos e fenômenos
analisados na BRSJ.
Já o banco de dados 02 foi composto por dados matriciais (imagens do satélite Landsat
5 e 8 e o Modelo Digital de Elevação (MDE/ARTM)), os quais são disponibilizados no catálogo
de imagens do INPE (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/) e interface Earth Explorer do USGS
(https://earthexplorer.usgs.gov/). Eles compreendem dados primários que foram corrigidos e
georreferenciados, quando necessário, para obtenção de informações e fenômenos a serem
analisados, como: Temperatura da Superfície Terrestre (TST), Índice de Vegetação Pela
Diferença Normalizada (NDVI), Mapeamento de Cobertura e Usos da Terra (CUT),
declividade e a hipsometria do terreno.
Por sua vez, o banco de dados 03 foi constituído e organizado em tabelas do Excel com
informações qualitativas e quantitativas obtidas nos bancos de dados meteorológicos do
INMET (http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep) e Agritempo
(https://www.agritempo.gov.br/agritempo/jsp/Estacao/index.jsp?siglaUF=PE). Além disso,
houve também dados derivados dos arquivos vetoriais e matriciais dos BD 01 e 02. As
informações do terceiro BD foram utilizadas nos mapeamentos do balanço hídrico e na
construção de gráficos e tabelas para análise dos fenômenos estudados.
Apesar de cada BD corresponde a objetivos específicos da tese, eles se complementam
no desenvolvimento de uma análise integrada. Assim, para apresentar de forma objetiva os
bancos de dados, o quadro 02 expõe uma síntese com as principais informações contidas em
cada um: dados, fenômenos, escala e repositório.
O recorte temporal de trinta anos de análise (1985, 1995, 2005 e 2015), com intervalos
de aproximadamente dez anos, para seleção das imagens dos satélites Landsat com menor
cobertura de nuvens, névoa ou interferência da precipitação no solo e na vegetação da caatinga
compreenderam: dia 27 de novembro 1985; 09 de dezembro de 1995; 02 de novembro de 2005;
14 de novembro de 2015. Todas obtidas na estação primavera e faixa horária de registro entre
as 11hs e 13hs.
As imagens do Landsat 5 com sensor Thematic Mapper (TM), apresentam período de
revisita de 16 dias e resolução espacial de 30m para as bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7 e de 120 m² e para
banda 6 termal. Já a imagem do Landsat 8 com sensores Operational Terra Imager (OLI) e
Thermal Infrared (TIRS) possui mesmo período de revisita e resoluções espaciais de 15m para
a banda 8 pancromática, 30m para as bandas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 9 e de 100m para as bandas
termais 10 e 11 (Tabela 01).
79
Quadro 02: Síntese das informações contidas nos bancos de dados da tese.
Bancos
Tipo de dados Escala Repositório
de dados
Informações ambientais
1:250.000
(Solo e Vegetação) IBGE:
Organização do território https://www.ibge.gov.br/geocienc
1:1.000.000
(limites regionais e ias/downloads-geociencias.html
1:5.000.000
políticos-administrativos)
BD 01 Vetoriais
Zoneamento Agroecológico
de Pernambuco 1:100.000 EMBRAPA: CD-ROM
(Geomorfologia)
Geodiversidade do Estado CPRM:
1:500.000
de Pernambuco (Geologia) http://geosgb.cprm.gov.br/
Imagens do Satélite Landsat INPE:
30 metros
05 http://www.dgi.inpe.br/CDSR/
BD 02 Matriciais Imagens do Satélite Landsat
Earth Explorer/USGS:
08 e Modelo Digital de 30 metros
https://earthexplorer.usgs.gov/
Elevação - MDE
INMET:
Precipitação (Garanhuns) 14 anos https://portal.inmet.gov.br/dadosh
istoricos
BD 03 Planilhas Agritempo:
Precipitação (Capoeiras, (https://www.agritempo.gov.br/ag
14 anos
Garanhuns e Pedra) ritempo/jsp/Estacao/index.jsp?sigl
aUF=PE
Elaboração: A. M. S. CHAVES, 2021.
80
É importante esclarecer que não foram utilizadas todas as bandas que as imagens do
satélite Landsat possui, mas sim aquelas necessárias à análise dos fenômenos apresentados na
presente tese: vermelho e infravermelho próximo para cálculo do índice de vegetação;
infravermelho termal para estimativa da temperatura da superfície terrestre; vermelho,
infravermelho próximo e infravermelho médio para delimitação de cobertura e uso da Terra.
Assim, para a organização, a correção, a construção, a análise dos dados e os fenômenos
que compõem os bancos de dados apresentados, a pesquisa fez uso do ambiente SIGs por meio
dos softwares: ArcGIS 10.3.1, Idrisi 17.0, e QGIS 2.8.1, através de técnicas e ferramentas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto; software Inkscape 0.92.4, planilha excel e da
ferramenta online RAWGraphs.
De posse dos bancos de dados, o primeiro passo realizado foi a delimitação da área de
estudo, a Bacia do Riacho São José (BRSJ), a qual se fez a partir do modelo digital de elevação
(MDE) da imagem da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) (folhas SC-24-X-B e SB-
24-X-D e resolução espacial de 30 m), obtida na interface Earth Explorer (USGS). Os
procedimentos operacionais ocorreram no software ArcGis10.3.1.
Assim sendo, primeiro realizou-se a correção radiométrica do MDE, definindo o sistema
de referência espacial a partir da ferramenta Data Management Tools - Projections end
Transformations - Project Raster, presente no ArcToolbox do ArcGis10.3.1, definição da
projeção UTM e sistema de referência SIRGAS 2000.
Após as devidas correções, se fez a delimitação da Bacia seguindo os procedimentos
metodológicos indicados por Rech et al (2011), atribuindo uso das seguintes ferramentas do
Spatial Analyst Tools: Fill sink; flow direction; flow accumulation; condicional/con; stream to
feature; watershed (Figura 03).
Após concluir a delimitação da área de estudo, seguiu-se para execução dos demais
procedimentos metodológicos, técnicos e operacionais necessários para a construção dos
produtos cartográficos finais apresentados na pesquisa (foram confeccionados no Layout View
do ArcGIS 10.3.1 a partir da inserção dos arquivos com os fenômenos analisados) e dos
elementos obrigatórios de um mapa: título, norte, coordenadas, legenda e escala
(MARTINELLI, 2013; 2014).
81
Figura 03: Processos metodológicos para delimitação de bacia hidrográfica no ArcGIS.
Condicionantes Climáticos
As condições climáticas foram estimadas a partir de dados quantitativos e qualitativos
que caracterizam o clima da bacia do Riacho São José. Esses dados possibilitam identificar as
médias de precipitação e a temperatura ao longo de um recorte temporal para elaboração do
balanço hídrico, além de estimativas de temperatura da superfície.
Como na área territorial da bacia estudada não possui estação meteorológica, os dados
foram obtidos em estações do entorno. Assim, a partir dos dados de precipitação e temperatura
de três estações (Quadro 03) foi estimado o balanço hídrico compreendendo o período de 14
anos (2004 a 2017 – Anexo A) por média do valor mensal das estações. Posteriormente, por
triangulação, se especializou a precipitação anual média e a temperatura média.
82
Quadro 03: Estações meteorológicas utilizadas na estimativa do balanço hídrico da bacia do Riacho São José.
COORDENADAS GEOGRÁFICAS
ESTAÇÃO LOCAL ALTITUDE
SUL OESTE
GARANHUNS GARANHUNS 8° 52’ 48” 36° 30’ 36” 984 m
TRMM. 6105 CAPOEIRAS 8° 43’ 48” 36° 37’ 12” 917 m
TRMM.6257 PEDRA 8° 51’ 0” 36° 55’ 12” 425 m
Fonte: Agritempo, 2018. Organização: A. M. S. CHAVES, 2019.
83
Kriging”; por fim, fez-se a classificação pelo método do desvio padrão com ½ de intervalo para
melhor espacialização dos dados mensurados.
No tocante a Temperatura da Superfície da Terra (TST), esta consistiu na obtenção da
temperatura em graus Celsius (°C) da superfície da área de estudo, mas por se utilizar imagens
de duas versões do satélite Landsat (5 e 8), foi preciso adotar procedimentos distintos para:
banda 6 do satélite Landsat 5 e as bandas 10 e 11 no Landsat 8, as quais representam os registros
da Thermal Infrared.
A obtenção da TST do Landsat 5 seguiu as etapas apresentadas em Chaves e Melo &
Souza 2017. Para isso, utilizou-se o software Idrisi 17.0 para converter os níveis de cinza da
imagem em temperatura (C°) através da ferramenta Thermal. Posteriormente, no ArcGIS
10.3.1, projetou-se e georreferenciamento das bandas termais a partir de pontos de controle e
de uma imagem previamente georreferenciada. Em seguida, selecionou-se o número de classes
desejadas e as cores correspondentes, por fim, adicionou-se uma imagem processada e colorida
para analisar cada classe (C°) representada na superfície.
Para as bandas 10 e 11 do Landsat 8, foi executado os procedimentos apresentados em
França, Chaves e Pinto (2016): conversão dos níveis de cinza para radiância através da caixa
de ferramentas Arctoolbox e habilitando o Raster Calculator com a fórmula (USGS, 2017):
Lλ = ML * Qcal + AL (0.0003342 * Banda termal + 0.1)
Em que Lλ é a Radiância Espectral do sensor de abertura em Watts (m2srμ); ML é o
fator multiplicativo de redimensionamento das bandas 10 e 11 (0.0003342); AL se refere ao
fator de redimensionamento aditivo específico das bandas 10 e 11 (0.1); Qcal é o Valor
quantizado calibrado pelo pixel em DN (imagens bandas 10 e 11). Assim, de posse dos valores
de radiância das bandas, pôde ser gerado a TS em graus Kevins (ºK) pela fórmula:
K2
T= K1
ln ( 1)
Lλ
Em que T = At-satélite temperatura de brilho (K); L λ é TOA radiância espectral (Watts
/ (m2 * SRAD * ^ M)); K 1 a banda específica de constante a partir dos metadados
(K1_CONSTANT_BAND_x, em que x é o número de banda térmica); K 2 a banda específica
de conversão térmica constante a partir dos metadados (K2_CONSTANT_BAND_x, em que x
é o número de banda térmica).
84
Posteriormente é transformada, com o Raster Calculator, a radiância de temperatura
Kelvin a partir da subtração do valor absoluto da temperatura ºK (273.15), gerando o raster da
TS em graus Celsius (ºC) pelas fórmulas:
Banda 10 = 1321.08 / Ln (774.89 / Banda 10 + 1) – 273.15
Banda 11 = 1201.14 / Ln (480.89 / Banda 11 + 1) – 273.15
Após gerar os rasters de temperatura da superfície das bandas termais 10 e 11, somou-
se às respectivas bandas transformando-as em um único raster de temperatura da superfície
através da ferramenta Cell Statistics encontrado no Arctoolbox.
Geologia e Solo
Os primeiros aspectos apresentados são a geologia e o solo, visto que conhecer o
substrato natural da bacia é importante, pois permite compreender o arcabouço geológico da
área, uma vez que esta delimita características intrínsecas aos parâmetros morfométricos, a
exemplo de sua inferência no formato da drenagem dos cursos d’água. Nesse sentido, é
relevante destacar a existência de embasamento rochoso e litologia preexistente, bem como as
variações dos tipos de solos que proporcionam realizar indicações dos usos potenciais mais
adequados para a bacia.
Vale frisar que a cartografia desses elementos se configurou a partir dos dados
disponíveis em GEOBANK/CPRM, do conjunto de dados geoespacias do IBGE e do
Zoneamento Agroecológico de Pernambuco (ZAPE), extraídos em escalas de 1:100.000 e
1:250.000, os quis, auxiliado pelo trabalho de campo, foi possível identificar afloramentos
rochosos e processos exógenos associados.
Por sua vez, no ambiente SIG do ArcGIS se procedeu com a inserção dos dados. Com a
ferramenta clip do geoprocessing presente no arctoolbox, fez-se o recorte da área de estudo.
Posteriormente, no layer de propriedades dos dados fez-se a classificação em complexos
geológicos e as suas litologias e para a pedologia selecionou-se os tipos de solos.
Nesse processo, após o recorte das informações para a área da bacia, no software Global
Mapper 16, se fez a transformação da projeção para sistema Universal Transversa de Mercator
(UTM) e datum SIRGAS 2000, isso foi feito para todas as informações geoecológicas aqui
trabalhadas.
85
Relevo e Morfometria
Como o estudo foi desenvolvido em bacia hidrográfica, ambiente delimitado a partir da
topografia (divisores d’água), conhecer as formas do relevo é essencial, pois são os
componentes responsáveis pela identificação da dinâmica e dos processos atuantes.
No tocante à análise morfométrica, esse procedimento consagrado em estudos
geomorfológicos permitiu a identificação e compreensão de aspectos físicos e métricos da bacia
e são resultantes da dinâmica ambiental associada à formação geológica, geomorfológica,
climática e hidrográfica.
No tocante a Geomorfologia, ela foi identificada a partir de suas características
intrínsecas: relevo predominante, unidades geomorfológicas e especificação dos aspectos
declividade. Esses aspectos estão apresentados na forma de fotografias e mapas elaborados em
ambiente SIG a partir de dados do conjunto de dados geoespacias do IBGE, Zoneamento
Agroecológico de Pernambuco (ZAPE). Todos eles disponibilizados pela EMBRAPA (2001),
já o modelo digital de elevação (MDE), derivado da imagem SRTM, foi disponibilizado pelo
USGS.
O procedimento em ambiente SIG do ArcGIS segue a inserção dos dados (relevo e
unidades geomorfológicas). Com a ferramenta clip do geoprocessing presente no arctoolbox,
fez-se o recorte da área de estudo, posteriormente, no layer de propriedades dos dados, fez-se
a classificação dos dados, o relevo e as unidades geomorfológicas.
Para a declividade, fez-se a inserção do MDE da área de estudo no ambiente SIG, em
seguida, a partir da ferramenta slope, presente no arctoolbox - 3D analyst toos - raster surface,
selecionou-se o MDE e a medida de saída em porcentagem, fez-se a classificação do relevo de
acordo com o sistema brasileiro de classificação de solo em relevo plano, suave ondulado,
ondulado, forte ondulado, montanhoso e escarpado (EMBRAPA, 2018).
A Morfometria, por sua vez, permitiu conhecer a bacia estudada a partir de seus aspectos
físicos e ambientais (CHRISTOFOLETTI, 1980; BELTRAME, 1994; MACHADO; TORRES,
2012): a análise da hierarquia fluvial dos cursos hídricos; a análise linear que concede destaque
para a identificação de aspectos referente ao curso d’água principal e sua relação com o relevo;
a análise areal que caracteriza a geometria da bacia, seu perímetro e a relação entre os canais
do rio; a análise hipsométrica, por meio de relações topográficas do relevo.
86
Hierarquia Fluvial
Ordem fluvial: classificou cada curso a partir de uma hierarquia. Na presente pesquisa,
segue-se a ordem fluvial proposta por Strahler (1957) por ser a mais aplicada nas
pesquisas acadêmicas e apresentar hierarquização clara, que vai de 1ª ordem, 2ª ordem
a nª ordens estabelecidas do seguinte modo: o canal de primeira ordem é o que não
possui tributário, ou seja, se origina em uma nascente; já canal de segunda ordem surge
a partir da confluência de dois canais de primeira ordem; por sua vez, o canal de terceira
ordem surge do encontro de dois canais de segunda ordem e assim por diante
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
Número de segmentos: referiu-se à quantidade dos canais de mesma ordem hierárquica,
ou seja, a contagem de cursos a partir de suas diferentes ordens (CHRISTOFOLETTI,
1980).
Número de ligamentos: compreendeu os trechos de segmentos que não recebem
afluentes (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Análise Linear
Relação de bifurcação: é a relação estabelecida entre o número total de segmentos de
uma dada ordem pelo número total dos canais de ordem superior. Essa relação foi
desenvolvida por Horton em 1945 (MACHADO; TORRES, 2012), a partir da seguinte
equação:
Rb = Nu ÷ Nu+1
Sendo Rb a relação da bifurcação; Nu o número de partes de determinada ordem; Nu+1
o número de partes da ordem imediatamente superior. Nesse sentido, quando se leva em
consideração a hierarquização dos canais proposta por Strahler, o resultado apresentado não
deve ser inferior a dois (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Comprimento do rio principal: correspondeu ao curso do rio principal da bacia desde a
nascente à foz (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Extensão do percurso superficial: compreendeu a área do interflúvio até o canal fluvial,
ou seja, compreende a distância média do escoamento superficial deslocado por uma
enxurrada em bacia, o qual é obtido pela fórmula (CHRISTOFOLETTI, 1980):
Eps = 1 / 2Dd
O Eps representa a extensão do percurso superficial e Dd corresponde a densidade de
drenagem da bacia.
87
Índice de sinuosidade: correspondeu a curva feita a partir da sinuosidade do canal
do rio principal, com o propósito de constatar se o rio é ou não sinuoso. O cálculo
se faz pela fórmula (CHRISTOFOLETTI, 1980; MACHADO; TORRES, 2012):
IS = L ÷ De
Em que IS é o índice de sinuosidade; L é o comprimento do canal; De compreende a
distância dos eixos A e B em linha reta. Um rio é considerado sinuoso quando o valor
encontrado é superior a 1,5.
Análise Areal
Área da bacia: corresponde à área drenada pelo sistema fluvial, cursos hídricos em
direção a um rio principal, bem delimitada pelo relevo e divisores topográficos, que
também são conhecidos como divisor de água (MACHADO; TORRES, 2012).
Perímetro da bacia: representa o limite estabelecido pelos divisores de água que
circunda e delimita uma bacia hidrográfica (MACHADO; TORRES, 2012).
Comprimento da bacia: é estabelecido a partir da “distância medida, em linha reta,
entre a foz e o mais alto ponto situado ao longo do perímetro” (CHRISTOFOLETTI,
1980, p. 114).
Índice de circularidade: refletido a partir de Miller, em 1953, com a finalidade de
determinar a forma da bacia, leva em consideração a “[...] relação existente entre a
área da bacia e a área do círculo do mesmo perímetro” (CHRISTOFOLETTI, idem).
O cálculo se faz com a fórmula:
Ic = A ÷ Ac
Nessa relação, Ic é o índice de circularidade; A corresponde a área da bacia; Ac é a área
do círculo igual ao perímetro. Sendo que a área do círculo, que é semelhando ao perímetro, é
obtida pela fórmula (MACHADO; TORRES, 2012):
C = 2π . r r = C ÷ 2π Ac = π . r2
Em que C é a circunferência do círculo; r corresponde ao raio; Ac a área do círculo. O
índice de circularidade da bacia varia de 0,0 a 1,0. Nessa relação, bacias arredondadas
apresentam valores próximos a 1,0, inversamente, já as bacias estreitas e alongadas
compreendem valores próximos a 0,0.
Densidade de drenagem: refere-se à correlação do comprimento total dos canais de
escoamento com a área da bacia hidrográfica (MACHADO; TORRES, 2012), a qual é
calculada pela seguinte equação:
88
Dd = Lt ÷ A
Sendo Dd a densidade de drenagem; Lt o comprimento total dos canais; A a área da
bacia hidrográfica. A densidade de drenagem permite mensurar qual é o comprimento de cada
canal em Km, disponível a drenar cada unidade da bacia em Km² (MACHADO; TORRES,
2012).
Coeficiente de manutenção tem a finalidade de fornecer o cálculo da “[...] área mínima
necessária para a manutenção de um metro de canal de escoamento [...]” a partir da
seguinte fórmula (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 117):
Cm = 1 ÷ Dd . 1000
Em que Cm é o coeficiente de manutenção e Dd é o valor da densidade de drenagem.
De acordo com Machado e Torres (2012), esse é um dos mais importantes índices utilizados na
caracterização o sistema de drenagem de uma bacia.
Análise Hipsométrica
Para o desenvolvimento da análise hipsométrica, foi necessário estimar as cotas
altimétricas do terreno da BRSJ. Para isso, fez-se uso do ambiente SIG e do MDE
seguindo as seguintes etapas: primeiro se fez as curvas de níveis a partir da ferramenta
Raster Surface - Contuor (contorno de 10 metros) presente no Arctoolbox; criou-se o
Tin pela ferramenta Create Tin – 3D analyst toos - Data management; para delimitação
na área de interesse, a bacia, fez Edit Tin – 3D analyst toos - Data management;
posteriormente, no layer de propriedades dos dados, para estimar os intervalos das cotas
altimétricas.
Altitude mínima, máxima e média: correspondeu aos níveis altimétricos mínimo e
máximo do terreno abrangido pela bacia e a média entre esses valores.
Amplitude altimétrica: representou a declividade média que é conferida pela diferença
nos níveis hipsométricos entre a altitude máxima e a atitude mínima da bacia.
Relação de relevo: parâmetro que expressou a relação “[...] existente entre a amplitude
altimétrica máxima de uma bacia e a maior extensão da referida bacia, medida
paralelamente à principal linha de drenagem [...]” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 120),
a partir da fórmula:
Rr = Hm / Lh
Rr é a relação do relevo; Hm a amplitude topográfica máxima; Lh o comprimento da
bacia. Esse parâmetro foi indicado por Schumm em 1956 (CHRISTOFOLETTI, 1980).
89
Índice de rugosidade: foi obtido por meio da relação dos componentes da topografia,
a partir da combinação entre “[...] qualidades de declividade e comprimento das
vertentes com a densidade de drenagem [...]” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 121)
pela equação:
Ir = H . Dd
O Ir é o índice de rugosidade; H representa a amplitude altimétrica; Dd a densidade
drenagem. Esse índice é utilizado no direcionamento do potencial uso da terra de uma bacia
com relação às suas características (MACHADO; TORRES, 2012).
Perfil longitudinal: correspondeu a variação de declividades do canal do rio
principal, representado graficamente desde a nascente até a foz, “formando uma
linha irregular côncava para cima, com gradientes, em geral maiores em direção à
nascente, e valores mais suaves a jusante (MACHADO; TORRES, 2012).
Cobertura Vegetal
Fechando a apresentação dos componentes geoecológicos que caracterizam a paisagem
da bacia do Riacho São José, traz-se a cobertura vegetal a partir de dados disponíveis pelo
IBGE, contendo os tipos de vegetação dominante, natural e secundária, além de suas
fitofisionomias (arbórea, arbórea/arbustiva e arbustiva). É válido ressaltar que o capítulo IV
será dedicado a dinâmica fitogeográfica da BRSJ em suas estruturas horizontais e verticais e a
diversidade florística.
Assim sendo, o mapeamento da cobertura vegetação ocorreu no ambiente SIG do
ArcGIS10.3.1 seguindo os passos já mencionados: inserção dos dados (vegetação e
fitofisionomia), recorte da área de estudo através da ferramenta clip do geoprocessing presente
no arctoolbox e a classificação das variáveis no layer de propriedades dos dados.
Informações detalhadas no tocante à fitofisionomias e à paisagem são apresentadas a
partir de fotografias obtidas durante o trabalho de campo, bem como foram identificadas
espécies nativas da área da bacia a partir do levantamento florístico em campo e o desenvolvido
por Vieira et al. (2017).
90
2.5 Procedimentos Técnicos e Operacionais para Estudo da Dinâmica Fitogeográfica
Como teve-se por objetivo “delinear a dinâmica fitogeográfica da bacia Riacho São
José-PE”, é necessário apresentar os procedimentos técnicos e operacionais utilizados na
identificação das estruturas horizontais e verticais da vegetação através do Índice de Vegetação
pela Diferença Normalizada (NDVI), conforme apresentado por Ponzoni, Shimabukuro e
Kuplich (2012); a construção de Pirâmides de Vegetação (PV), de acordo com a proposta de
Bertrand (1966); e estimativas de diversidade florística por meio de índices específicos:
Diversidade Shannon, equitabilidade / uniformidade de Pielou e dominância Simpson, como
verificado em Moreno (2001).
Assim sendo, os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos de modo
complementar, integrando assim técnicas mais contemporâneas com uso de imagens de satélite
para o estudo da vegetação, de metodologias clássicas como as pirâmides e os índices de
diversidade (baseadas em técnicas da fitossociologia). Nesse viés, como afirmou Passos (2000),
o estudo que vise a integração busca entender e analisar as relações de um todo das formações
vegetais.
Assim, analisou-se a dinâmica da vegetação na bacia do Riacho São José em integração
com o ambiente semiárido em que está inserida. Para isso, primeiro foram aprestadas as técnicas
operacionais necessárias para utilização de imagens de satélite no recorte temporal de 30 anos;
em seguida explicou-se o cálculo utilizado para o índice de vegetação pela diferença
normalizada; expôs-se os procedimentos para construção das pirâmides de vegetação; por fim,
trouxe-se os índices de diversidade florística.
91
metadados das imagens landsat 5, isso possibilitou realizar a calibração radiométrica das
bandas. Sendo que as bandas do vermelho e do infravermelho próximos (3 e 4) possibilitaram
detectar a resposta espectral da vegetação e as bandas do vermelho, do infravermelho próximo
e do Infravermelho de ondas curtas (3, 4 e 5) são utilizadas no mapeamento da cobertura do
Terra.
No tocante a correção radiométrica do landsat 8, os metadados já são disponibilizados
junto às bandas pela United States Geological Survey, quando feito o download. A USGS
(2017) disponibiliza em site (https://www.usgs.gov/land-resources/nli/landsat/landsat-8?qt-
science_support_page_related_con=0#qt-science_support_page_related_con) quais são os
procedimentos necessários para as correções.
Referente às explicações detalhadas sobre as imagens landsat 8, tem-se a obra feita por
Santos et al. (2014) e Zani, Duarte e Cruz (2015). A bandas utilizadas no mapeamento dos
índices de vegetação e na cobertura da Terra são as mesmas do landsat 5, mas a numeração
muda, ou seja, vermelho e infravermelho próximo (4 e 5) possibilitam detectar a resposta
espectral da vegetação. Já para mapeamento de cobertura da terra foram utilizadas as bandas do
vermelho, infravermelho próximo e Infravermelho de ondas curtas (4, 5 e 6).
Após compreensão teórica dos procedimentos técnicos e operacionais necessários para
tratamento das imagens, fez-se uso de arquivos presentes nos bancos de dados 01 e 02 com
informações vetoriais, criadas na delimitação da área de estudo e matriciais (as imagens do
satélite landsat 5 (INPE) landsat 8, (USGS)).
Tendo a base de dados à disposição, iniciou-se os procedimentos para reprojeção,
correção geométrica e calibração radiométrica das imagens. Primeiro colocou-se as bandas
utilizadas para UTM e datum SIRGAS 2000, 24 Sul. Essa etapa foi feita para as imagens
Landsat 5 e 8 no ambiente SIG do Software ArcGis 10.3.1: no “Arctoolbox” pela ferramenta
“project Raster”, disponível na opção “Data Manegement Tools”/“projections and
Transformations”/“Raster”.
As bandas landsat 8, disponibilizadas pelo USGS, já são ortorretificadas e projetadas
para UTM, assim não precisam passar pela correção geométrica. No entanto, foram reprojetadas
para o hemisfério Sul, pois, quando baixadas, estão todas orientadas para o hemisfério Norte.
A correção geométrica feita nas bandas landsat 5 compreendeu o georreferenciamento
a partir de pontos de controles obtidos em campo e no Google Earth. O processo ocorreu no
ArcGis, adicionando as bandas, habilitou-se a ferramenta “Georeferencing”, opção “Add
Control Points”, selecionou-se os locais de cada ponto de controle, trocou-se as coordenadas e
92
encerrou-se o processo na opção “Rectify”. No final precisou salvar as bandas georreferenciadas
pela importação na ferramenta “Data/Export Data”, mantendo o formato TIFF. Essas ações
foram aplicadas em todas as bandas do landsat 5, uma por vez.
Feito a reprojeção e georreferenciamento das bandas, o passo seguinte foi a calibração
radiométrica, onde é estimado radiância e reflectância, ou seja, processo de convenção dos
Números Digitais (ND) para Números Físicos (NF), possibilitando a caracterização espectral
de objetos (PONZONI; SHIMABUKURO; KUPLICH, 2012). Esse procedimento exige dados
específicos para cada banda e só ocorreu nas bandas de estimação do NDVI.
Para as imagens do landsat 5, essa etapa ocorreu pela ferramenta do “Raster Calculador”
presente na caixa de ferramentas do “Spatial Analyst Tools/Mep Algebra”, a partir de fórmulas
e parâmetros apresentados por Chander, Markham e Helder (2009), Chander, Markham e Barsi
(2007) e Chander e Markham, 2003). Além de dados complementares presentes na plataforma
de download das imagens do INPE e USGS. O Primeiro processamento foi converter números
digitais para radiância, a partir da equação:
Lλ = ( LMAXλ - LMINλ / 255 ) . Qcal + LMINλ
Sendo Lλ a radiância espectral na abertura do sensor [W / (m² ·Sr · μm)]; LMAXλ a
radiância espectral máxima [W / (m² ·Sr · μm)]; LMINλ a Radiância espectral mínima [W / (m²
·Sr · μm)]; Qcal os números digitais a serem convertidos [DN].
Com a radiância, o passo seguinte foi o cálculo da reflectância, o qual converte os
valores da radiância a partir da aplicação equação:
ρp = π . Lλ . d2 / ESUNλ . cos θs
Em que, ρp é refletância planetária sem unidade; Lλ a radiância espectral na abertura do
sensor; d² a distância entre a Terra e o sol em unidades astronômicas; ESUNλ a irradiâncias
exoatmosféricas solares; θs o Ângulo zenital solar em graus.
Após essas duas etapas, os números digitais das bandas do landsat 5 foram convertidos
para reflectância, tornando as bandas prontas para o cálculo e a análise do índice de vegetação
pela diferença normalizada.
Para as bandas do landsat 8, a calibração foi automática pela ferramenta de classificação
e a correção atmosférica Geobia, extensão desenvolvida para ArcGis a partir das versões 10.1
e 10.2, disponível para acesso no site do Centro SIG da Faculdade de Oceanografia e Geografia
da Universidade de Gdańsk-Polônia (http://cgis.oig.ug.edu.pl/CentrumGIS/ptools.html). Além
do download da ferramenta Geobia, foi disponibilizado o tutorial e o manual explicativo de
suas funções.
93
A ferramenta Geobia é conectada ao ArcGis pela caixa de ferramentas “Arctoolbox”.
Clicando com o botão direito sobre ela, selecionando a opção “Add Toolbox” e buscando no
computador caixas de ferramentas, seleciona-se a opção “Landsat8” e clica em “open”, daí a
instalação é executada.
Na caixa de ferramentas “Landsat8” está presente ferramentas de tratamento das
imagens landsat 8, as quais são realizadas em três etapas para todas as bandas (com exceção
das bandas termais 10 e 11), fazendo uso dos metadados que devem estar numa pasta à parte.
Assim foi realizado a composição pancromática, cálculo da radiância e reflectância.
Embora esses procedimentos sejam automáticos pela Geobia, equações utilizadas no
cálculo da radiância e reflectância das bandas landsat 8 estão disponíveis no site da USGS
(2017). Lá é apresentado informações sobre os produtos e a conversão dos números digitais
para números físicos, bem como informações sobre as bandas termais (10 e 11). Além disso, os
cálculos também podem ser executados pela ferramenta “Raster Calculador”, feito uma banda
por vez, o que tornaria o processo mais demorado e cansativo.
Na primeira etapa do landsat 8 foi feita a composição pancromática para preservação
dos valores de números digitais e executado na ferramenta “Pan-sharpening composit”,
presente em “Landsat8”. Nessa etapa adicionou no primeiro campo (Workspace) a pasta com
as bandas; no segundo campo (Meta data Landsat 8 MTL text file), os metadados; no terceiro
campo (Area of interest rectangle), uma área de interesse no formato shapefile (vetor) projetada
no sistema de coordenadas utilizadas; no último campo (Project name), o processo foi
nomeado, selecionada a resolução de 15 m e a composição foi gerada.
Seguindo esse viés, automaticamente são gerados os metadados necessários para a
conversão dos números digitais para radiância e reflectância. Após esse processo, na segunda
etapa faz-se o cálculo da radiância na ferramenta “Radiance atmospheric corected” por meio
da equação:
Lλ = ML . Qcal + AL
Em que Lλ é radiação espectral (Watts/(m2*srad*μm)); ML o fator de
redimensionamento multiplicativo específico da banda presente nos metadados
(RADIANCE_MULT_BAND_x, em x é o número da banda); AL é fator de redimensionamento
aditivo específico da faixa dos metadados (RADIANCE_ADD_BAND_x, em que x é o número
da banda); Qcal valores de pixel do produto padrão (DN) quantizados e calibrados.
Na ferramenta “Radiance atmospheric corectedI”, no primeiro campo (Workspace),
colocou-se a pasta que contém todas as bandas do landsat 8 e que foi gerada anteriormente; no
94
segundo campo (Meta data text file / from Pan-sharpening composit tool) adicionou-se os
metadados gerados na composição da imagem pancromática; no terceiro campo (Project name)
nomeou-se o projeto, clicou em “Ok” e os dados de radiância foram calculados.
Com a radiância gerada, vai-se para a última etapa da calibração radiométrica, cálculo
da reflectância na ferramenta “Reflectance atmospheric corected” pela da equação:
ρλ' = (Mρ . Qcal + Aρ) / cos θsz
Sendo ρλ' a reflectância planetária; Mρ o fator de redimensionamento multiplicativo
específico da banda dos metadados (REFLECTANCE_MULT_BAND_x, em que x é o número
da banda); Aρ o fator de redimensionamento aditivo específico da banda dos metadados
(REFLECTANCE_ADD_BAND_x, em que x é o número da banda); Qcal valores de pixel do
produto padrão (DN) quantizados e calibrados; cos θsz refere-se ao cosseno do zênite solar.
No campo “Workspace” da ferramenta “Reflectance atmospheric corected” adiciona a
pasta com todas as bandas do landsat 8 geradas no processamento anteriore; no campo “Meta
data text file /from Pan-sharpening composit tool” insere-se os metadados gerados; nomeia-se
o projeto no campo “Project name” e clica em “Ok” para cálculo da reflectância. Concluída
essas três etapas, as bandas do landsat 8 estão prontas para mensuração e análise do NDVI.
95
proporcionar maior absorção da radiação e menor reflectância; por sua vez, na faixa do
infravermelho próximo ocorre o aumento da reflectância à medida que aumenta o número de
camadas de folhas e o espalhamento múltiplo da radiação (PONZONI; SHIMABUKURO;
KUPLICH, 2012).
Essas características referentes à interação da vegetação com a radiação eletromagnética
são importantes para a compreensão de como o sensoriamento remoto pode ser utilizado no
estudo da dinâmica fitogeográfica. Outro fator a ser observado é que “a densidade da vegetação
e sua orientação espacial exercem influência na dinâmica da reflectância de um dossel, em
função da variação nas geometrias de iluminação e de visada” do sensor (PONZONI;
SHIMABUKURO; KUPLICH, 2012, p. 38).
Nesse sentido, o cálculo se faz pela diferença da reflectância entre a faixa do
infravermelho próximo (PIVP) e a faixa do vermelho (PV), sendo que a diferença é normalizada
pela divisão entre a diferença e a soma das faixas de PIVP – PV (PONZONI;
SHIMABUKURO; KUPLICH, 2012), a partir da seguinte equação:
NDVI = (PIVP - PV) / (PIVP + PV)
Em que NDVI é o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada; PIVP corresponde
a faixa do infravermelho próximo; e PV a Faixa do vermelho.
A aplicação da fórmula do NDVI foi realizada no ambiente SIG do ArcGis 10.3.1 pela
ferramenta “Raster Calculador” presente na caixa de ferramenta “Spatial Analyst Tools / Mep
Algebra”. Os resultados do índice variam de -1 a 1, representados em tons de cinza, em que
quanto mais claro, maior a concentração de vegetação; pelo contrário, quanto mais escuro os
pixels, menor será a presença vegetal (PONZONI; SHIMABUKURO; KUPLICH, 2012).
Gerado o NDVI, o passo seguinte é a classificação da vegetação em cinco classes:
vegetação arbórea, vegetação arbórea arbustiva, vegetação arbustiva, vegetação herbácea e
ausência de vegetação. A escolha por essas classes foi feita a partir dos campos e a coleta de
pontos de controle para cruzar com os valores de NDVI obtidos, tendo como referência a
proposta de classificação feita por Francisco et al., 2012 e Francisco et al., 2015.
A classificação foi realizada na ferramenta “Reclassify”, opção “Bleak Values” presente
na caixa de ferramenta “Spatial Analyst Tools/Reclass”. Em que: de -1 a 0,200 corresponde a
ausência de vegetação, compreendendo solo exposto e afloramento rochoso; de 0,201 a 0,240
representa vegetação herbácea; de 0,241 a 0,300 abrange vegetação arbustiva; de 0,301 a 0,350
abarca vegetação arbórea e arbustiva; acima de 0,351 está a vegetação de porte arbóreo.
96
Vale ressaltar que a formação vegetal pode ser fechada ou aberta. O primeiro caso é
comum às áreas de difícil acesso humano: encostas íngremes e fundos de vales estreitos, onde
predomina vegetação primaria; já para o segundo caso algumas áreas são de vegetação
secundária e é comum o desenvolvimento de algumas atividades antrópicas. Nas formações
herbáceas pode ser de gramíneas ou alguma atividade agrícola.
A classificação do NDVI foi quantificada a partir da criação de uma tabela de atributos
pela ferramenta “Zonal Geometry as Table” presente na caixa “Spatial Analyst Tools / Zonal”.
Para facilitar a conversão numérica dos dados, a tabela foi aberta e salva no formato texto e
depois aberta no excel, onde as áreas foram convertidas para Km² e porcentagem. Já a imagem
do NDVI, no formato raster, foi transformado em polígono, isso se fez na ferramenta “Raster
to Polygon” presente na caixa de ferramenta “From Rater/Conversion Toos”. Feito a conversão,
fez-se o mapa com layout de acordo com as normas cartográficas (MARTINELLI, 2013; 2014).
Ficha biogeográfica
É onde se organiza as informações fitossociológicas identificadas em campo (Anexo B).
Assim, primeiro foi escolhido as áreas de aplicação das fichas biogeográficas identificando
setores representativos das formações vegetais e delimitado um círculo com raio de 10m. Essa
escolha foi auxiliada e facilitada com o mapeamento da vegetação através do NDVI, pois ele
permitiu identificar no terreno da BRSJ a variação espacial e temporal da vegetação apontando
as áreas mais representativas, as quais não variaram muito ao longo dos 30 anos observados nas
imagens de satélite. Essa proposta foi desenvolvida por Chaves e Melo & Souza (2019).
97
Nos pontos elencados para o trabalho de campo, fez-se o preenchimento das fichas com
informações da composição florística (principais espécies e os diferentes estratos vegetais);
identificação dos aspectos geográficos que influenciam na formação vegetal (clima, solo,
substrato geológico e morfológico, altitude e inclinação da vertente) com base na cartografia
temática (capítulo III); verificação da abundância-dominância das formações vegetais, ou seja,
quanto aproximadamente a área selecionada está coberta pelas espécies; e verificação da
sociabilidade da vegetação estudada, ou seja, o modo de agrupamento das plantas (Quadro 04).
Registros fotográficos das formações vegetais para cada pirâmide foram feitos durante
o campo de preenchimento das fichas biogeográficas. Isso ajudou na análise da abundância-
dominância feita de acordo com os diferentes substratos vegetais identificados (arbóreo,
arborescente, arbustivo, subarbustivo, herbácea e camada de serapilheira).
Pirâmide de Vegetação
É a representação gráfica dos conjuntos de vegetações observadas em quatro pontos
selecionados na bacia do Riacho São José, com raio de 10m. Teve como ponto de partida a
classificação das espécies de acordo com as diferentes alturas verticais, isto é, por meio da
distribuição dos estratos (Quadro 05); na sequência foi feito a estratificação da vegetação
aplicando a escala de abundância-dominância de espécies (número dos diferentes estratos
encontrados). Desses procedimentos derivaram as pirâmides de vegetação.
A elaboração das pirâmides de vegetação (Figura 04) pode ocorrer em ambiente digital
ou em papel milimétrico, em que se faz uma linha reta horizontal de 10 cm de comprimento.
Nesta base, no meio da linha, ergue-se perpendicularmente o eixo da pirâmide e simetricamente
em relação ao eixo, dispõe-se os diferentes estratos vegetais, considerando suas ordens de
sobreposição e de recobrimento (abundância-dominância 1 = 1 cm, 2 = 2 cm, 5 = 5 cm). Assim,
98
a espessura de cada substrato por camada para a construção e a interpretação da pirâmide de
acordo com Bertrand (1966) é de: estrato 1 = 0,5 cm; estrato 2 e 3 = 1 cm; estrato 4 = 1,5 cm;
estrato 5 = 2 cm.
99
Diversidade Florística
Para fechar o delineamento da dinâmica fitogeográfica da bacia do Riacho São José,
mensurou-se a diversidade florística a partir de medidas de diversidade, foram elas: diversidade
(Shannon), equitabilidade/uniformidade (Pielou) e dominância (Simpson). Tais medidas foram
realizadas a partir dos dados obtidos em campo, os mesmos utilizados na construção das
Pirâmides de vegetação, mas considerando apenas as espécies subarbustivas, arbustivas,
arborescentes e arbóreas.
De modo geral, compreende-se que o uso de índices possibilita sintetizar as informações
em valores para realização de comparações por verificações estatísticas de diferentes áreas
amostradas (MORENO, 2001). A base dos índices indicados é a determinação da riqueza
específica das espécies, o número total de espécies (S), a abundância das espécies, e o número
total de indivíduos (N) em uma amostra definida (MAGURRAN, 1988; 2004)
Para estimar a diversidade, as fichas biogeográficas foram transformadas em matrizes,
no excel, as quais compreenderam a relação entre a quantidade e a distribuição das espécies
(dispostas nas colunas) dos quatros pontos amostrados ao longo da bacia estudada (linhas da
matriz) para mensuração no software RStudio. Os índices são não paramétricos e explicados
por expressão matemática simples de acordo com a abundância relativa de cada espécie na
amostra (MELO, 2008).
Assim, antes das medidas especificadas de diversidade, foi analisado a distribuição das
espécies e a relação de abundância por amostra em conjunto (considerando a bacia representada
pelo total das amostras), por meio de diagrama de distribuição e diagrama de curvas de
dominância.
𝐻 = − ∑ 𝑝𝑖 𝑙𝑜𝑔𝑏 𝑝𝑖
𝑖=1
100
Índice de Equitabilidade/Uniformidade de Pielou - J
Procedido do índice de diversidade de Shannon, tem o objetivo de representar a
uniformidade da distribuição dos indivíduos entre as espécies existentes (PIELOU, 1966;
MAGURRAN, 1988) para medir “[...] a proporção da diversidade observada em relação à
diversidade máxima esperada” (MORENO, 2001, p. 44). O mesmo é expresso pela equação:
𝐻′
𝐽=
𝐻𝑚𝑎𝑥′
Em que H’ é o Índice de Shanon-Wiener e Hmax’ é dado pela expressão 𝑚𝑎𝑥′=log𝑏𝑠
101
2.6 Construção do Mapeamento da Cobertura da Terra e Identificação da Prestação de
Serviços Ecossistêmicos
O presente tópico apresenta os procedimentos técnicos e operacionais realizados no
mapeamento da cobertura da terra e a identificação dos serviços ecossistêmicos existentes na
bacia do Riacho São José, conforme o objetivo de “apresentar a evolução espaço-temporal de
padrões da cobertura e uso da Terra e a prestação dos serviços ecossistêmicos”.
Para isso, primeiramente é apresentado a organização política e admirativa da bacia do
Riacho São José por meio de informações oficiais disponibilizadas pelo IBGE em
correspondência ao último senso demográfico (https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html)
que ocorreu em 2010.
Em específicos, utilizou-se dados espaciais (vetores) e quantitativos (domicílios e
população) que tiveram como referência os setores censitários disponibilizados pelo IBGE com
informações referentes à divisão política, administrativa e populacional.
102
Quadro 06: Classificação da cobertura e uso da terra.
Classificação da Cobertura e Uso Da Terra (SCUT)
103
Sistema Territorial e a Identificação de Serviços Ecossistêmicos
Após o mapeamento da cobertura da bacia do Riacho São José, pôde-se analisar a
organização territorial e identificar os serviços ecossistêmicos prestados, os quais são
decorrentes da dinâmica e das funções dos ecossistemas existentes, gerando benefícios direto
ou indiretamente ao bem-estar humano.
Assim, entendendo o território da bacia do Riacho de São José como um sistema,
buscou-se mapear e identificar os equipamentos que prestam serviços básicos à população,
como saúde, educação, lazer, entre outros. Nessas relações, destaca-se a aptidão natural do
ambiente da caatinga, domínio que integra relações entre a vegetação e a fauna com funções e
valor de uso pelo homem. Uma vez que os elementos naturais prestam serviços ecossistêmicos
(SE) direto e indiretamente são utilizados pela sociedade.
A identificação da prestação de serviços ecossistêmicos normalmente é feita a partir de
entrevistas com a população que habita a área estudada, no entanto, aspectos subjetivos da
importância de um serviço em relação a outro varia muito a depender da relação individual que
cada um estabelece com o meio ambiente em que vive.
Nesse contexto, para evitar tal subjetividade pelas diferentes apreensões dos sujeitos que
vivem na área da bacia do riacho São José, foi adotado como meio de para identificação dos SE
a formação de uma equipe interdisciplinar das áreas de Geografia, História, Arqueologia,
Biologia, Agroecologia e Agronomia, que compreende pesquisadores integrantes do grupo do
de Estudo do Vale do São José, pessoas que pesquisam e conhecem a área em estudo.
O primeiro passo foi a apresentação formal dos aspectos teóricos e metodológicos do
que são os serviços ecossistêmicos e as orientações técnicas de Classificação Internacional
Comum de Serviços de Ecossistemas (CICES) em sua versão 5.1 (HAINES-YOUNG;
POTSCHIN, 2018). Momento em que a tabela CICES foi delimitada até a coluna a ser
trabalhada (Quadro 07).
A partir do quadro, identificou-se a prestação dos serviços de provisionamento, de
regulação e manutenção e culturais para os componentes bióticos e abióticos da BRSJ. Tudo
isso de acordo com as diferentes classes de cobertura da Terra. Para isso, trabalhou-se até a
coluna “classe”, a qual exemplifica os SE prestados. A versão da tabela adaptada para a BRSJ
encontra-se no anexo C.
104
Quadro 07: Exemplo dos níveis de identificação dos serviços ecossistêmicos.
CICES 5.1
Seção Divisão Grupo Classe
No quadro de SE adaptada para BRSJ foi acrescentado novas colunas referentes aos
serviços identificados, aos usos, aos exemplos e à sua identificação nas classes de cobertura da
terra. Por fim, fez-se a análise dos impactos negativos e positivos relacionados aos serviços
ecossistêmicos.
Seguindo a ordem estabelecida no quadro, a identificação dos SE foi realizada pela
equipe interdisciplinar em dois momentos complementares: trabalho de campo e de gabinete:
O trabalho de campo teve a finalidade de verificar a prestação de SE, como também a
realização de registros fotográficos. Como todos os integrantes da equipe realizam ou já
realizaram alguma pesquisa na área estudada, esse fator ajudou nos trabalhos logísticos da
escolha do percurso traçado e na análise dos serviços intelectuais autorizados pelo
ecossistema.
O trabalho de gabinete envolveu reuniões, tabulações de dados, identificação e revisão
final de todos os serviços. Tudo isso junto ao preenchimento da tabela e da tabulação dos
dados na plataforma RAW Graphs, ferramenta gratuita e online que possibilita a
visualização de dados de planilhas por meio de gráficos e esquemas de associação (MAURI
et al, 2017).
106
(2009) (Tabela 02). Para esses pesquisadores, a matriz quadrada é preenchida por Números (N)
definidos em linha e colunas: as colunas correspondem aos dados de referência (amostras da
validação), sendo a coluna marginal a Soma (Ʃ) do total de amostras correspondente a uma
classe; as linhas indicam as classes de mapeamento (o mapa a ser avaliado), sendo a linha
marginal a Soma (Ʃ) total de pontos de referência correspondentes a uma categoria Amostrada;
a diagonal representa as amostras corretamente classificadas.
108
Vegetação Natural (AVN), Áreas Antrópicas Agrícolas (AAA), Outras Áreas (OAN) e Água
(AGU).
O primeiro passo para aferir a acurácia dos mapas compreendeu a construção de uma
planilha com dados obtidos em campo, pautado na identificação de coordenadas aos elementos
da paisagem representada, exemplo: área de caatinga arbórea arbustiva, área de pastagem, área
de solo exposto. A referida planilha foi reorganizada em quatro colunas: Ponto, X, Y e Z, em
que ponto faz referência à numeração das coordenadas (1, 2, 3, 4, n..., 50), X e Y correspondem
às coordenadas (UTM – SIRGAS 2000) e Z à descrição de acordo com a classificação utilizada
no mapeamento (Apêndice A).
A planilha foi inserida no software ArcGis 10.3.1 para conversão dos pares de
coordenadas em pontos no formato shp. e posteriormente fez-se a captura dos demais pontos
no formato shp. de forma aleatória por estratificação, buscando uma equivalência entre a
quantidade de pontos e o tamanho das classes de mapeamento a serem validadas. Sendo assim,
juntou-se em uma única tabela os 50 pontos obtidos em campo (19 correspondiam à paisagem
de vegetação, 17 à área de solo exposto ou afloramento rochoso e 14 à área de pastagem e
agricultura) com os pontos capturados nas imagens RGB.
Em vista disso, construiu-se, assim, planilhas de amostragem aleatória estratificadas
com pontos de referência no formato shp., os quais foram distribuídos de acordo com as classes
de cobertura da Terra. Além disso, foram estimados o mínimo de 150 pontos de amostras por
mapa, sendo reservado o mínimo de 20 pontos para classe OAN e 10 pontos para classe água,
visto se precisar de uma quantidade representativa para essas áreas que correspondem a menos
de 10% de área territorial da bacia.
109
pontos de referência – AAA = classe 2; mapa 2015 – OAN = classe 3 / planilha de
pontos de referência – OAN = classe 3; mapa 2015 – AGU = classe 4 / planilha de
pontos de referência – AGU = classe 4. Essa sequência foi seguida em todos os mapas
e planilhas, para isso o mapeamento precisou estar classificado de acordo a priori;
II. Com as planilhas revisadas e organizadas no arcGis, os pontos de referência no formato
shp. foram convertidos para o formato raster (tiff.), com resolução de 30m (compatível
com o tamanho dos pixels classificados nos mapas), por meio das ferramentas
“Conversion Tools – To Raster – Pont to Raster”;
III. Em posse dos pontos de referência no formato tiff., no SIG se fez a combinação desses
com as classes do mapeamento (também no formato tiff.) pelas ferramentas “espatial
analysti tools – Local – Combine”. Após combinação, abriu-se a tabela de atributos do
raster “combinado” e ela foi exportada no formato “dBASE table”;
IV. Ainda no ArcGis, importou-se a tabela produzida na etapa anterior para compor a matriz
de confusão. Para isso, nas ferramentas “Data Management Tools – Table – Pivot
Table” seleciona a tabela “combinada”, especifica a coluna com as classes de
mapeamento a serem validadas. Após isso, a coluna de validação e a coluna de conjunto
gera a matriz de confusão que deve ser exportada no formato “Text File” para ser aberta
e editada no excel, onde foram mensurados os coeficientes de exatidão global e Kappa,
estimando assim a acurácia;
V. No excel, finalizou-se a matriz de confusão fazendo a soma dos elementos da diagonal
principal, das linhas e das colunas. Em posse desses totais, fez-se os índices de exatidão
global e de Kappa seguindo as fórmulas apresentadas anteriormente.
110
longa discussão dos dados apresentados. Ao apresentar o índice de exatidão global e o índice
de Kappa, acredita-se que esses dois índices de concordância tragam uma visão geral.
De modo geral, as matrizes de confusão construídas para os mapas (Tabelas 04, 05, 06
e 07) revelaram que as classes avaliadas apresentam acurácias dentro do desejado, com índices
de exatidão global acima de 70% e o de Kappa acima de 0,54%, sendo considerados mapas de
qualidade “muito bom” e “bom”.
AAA 5 71 17 0 93
OAN 0 2 16 4 22
AGU 0 0 0 0 0
Total 52 77 34 11 174
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
AAA 5 64 15 5 89
OAN 0 2 13 0 15
AGU 0 0 0 1 1
Total 60 71 32 13 176
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
AAA 4 50 5 1 60
OAN 3 6 20 2 31
AGU 0 0 0 1 1
Total 60 75 31 12 178
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
111
Tabela 07: Matriz de confusão 2015.
Dados de Referência
Pontos AVN Pontos AAA Pontos OAN Pontos AGU Total
Classes do Mapa AVN 41 6 1 6 54
AAA 5 74 12 2 93
OAN 0 2 21 2 25
AGU 0 0 0 0 0
Total 46 82 34 10 172
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
Observa-se que a acurácia constatada para os anos de 1985, 1995 e 2010 apresentam
melhores coeficientes para os dois índices, sendo a exatidão global acima de 70% e de Kappa
acima de 0,60. Já o mapa de 2005 apresenta os menores resultados, índice de exatidão global
de 70 % e Kappa de 0,54, mas com valores que se enquadram em mapas de qualidade “muito
bom” e “bom”, de acordo com a proposta de Landis e Koch (1977), conforme a tabela 08.
Diante das matrizes apresentadas, observa-se que o fator responsável pela dominação
dos índices de acurácia do mapeamento de cobertura da Terra em 2005 foi a menor consistência
na classe de áreas antrópicas agrícolas e da classe água. Em relação à classe AGU, essa
apresenta inconstância em todas as matrizes devido sua limitação em relação à resolução
espacial das imagens Landsat, o que possibilita a identificação de pixels de reservatório de água
na sua classificação, confundindo-a com as demais classes.
112
2.7 Propostas Metodológicas para Estudo das Interações Geoecológicas e Modelagem
Preditiva
Com objetivo de “correlacionar as interações geoecológicas da bacia do Riacho São José
para construir cenários prospectivos para a conservação da paisagem semiárida”, o passo inicial
foi a organização dos caminhos metodológicos adotados, os quais foram embasados nos
enfoques geoecológicos da paisagem: estrutural, funcional, histórico-antropogênico e
integrativo, destacando a horizontalidade e a verticalidade paisagística no estudo do estado
ambiental e as interações geoecológicas.
Primeiro foi evidenciado a organização estrutural horizontal da paisagem, tendo como
base a compartimentação geoecológica da paisagem da BRSJ em unidades geoecológicas e
diagnóstico do estado ambiental, relacionando as derivações antropogênicas, a alterabilidade e
os processos degradantes da paisagem para estimar os níveis de estabilidade paisagísticas.
O segundo momento foi compreendido a estrutura vertical da paisagem pela construção
de perfis geoecológicos, matriz de interações e mensurar níveis de adequabilidade geoecológica
da paisagem aos usos antrópicos da Terra. No terceiro momento se trouxe a proposição de
cenários voltados para a conservação da paisagem semiárida da bacia do Riacho São José.
113
Quadro 08: Critérios para análise do estado geoecológico da paisagem.
Estado Ambiental da Paisagem
Nível de Nível de
Estabilidade Descrição
alterabilidade degradação
Corresponde a paisagem não alterada em que se
conserva a estrutura original e não apresentam
problemas ambientais significativos. Os Sem ou muito
Sem e muito
Estável processos geoecológicos são configurados de pouca modificação
baixa degradação
modo natural, com pouca interferência 0 - 20%.
antropogênica. Apresentando núcleos de
estabilidade geoecológica.
Diz respeito à paisagem sustentável com pouca
Mediamente mudança em sua estrutura original. Constitui Pouca alteração
Baixa degradação
estável área de uso antrópico balanceado ao quadro 20 - 40%.
natural.
Configura-se numa paisagem insustentável
caracterizada por fortes mudanças em sua
estrutura espacial e funcional. Assim interferindo Alteração
Instável Degradada
nas funções ecológicas na paisagem, devido à 40 - 60%
sobreexploção dos recursos. Resultando no
declínio da produtividade.
Compreende paisagem insustentável, a qual
ocorreu a perda parcial da estrutura e de funções
ecológicas naturais, configurando fortes
Muita alteração
Crítico problemas ambientais devido a redução do Alta degradação
> 60%
potencial das Terras, fazendo a necessidade de
mitigação para recuperação dos processos
naturais.
Fonte: Mateo e Martinez (1998), Glazovskiy (1998) e Rodriguez, Silva e Calvacanti (2017).
Organização: A. M. S. CHAVES, 2019.
116
parêntese, adiciona o sinal de divisão (/) e o número 4, fecha o segundo parêntese, salva e
executa o processamento.
É Importante esclarecer que o peso das variáveis geoecológicas é atribuído, na base
cartográfica, antes de realizar o cálculo por reclassificação homogênea na ferramenta “Reclass
– Reclassify”, ou seja, cada classe recebe o valor estabelecido (que varia entre 1, 2 e 3). Isso
levando em consideração a capacidade de usos antrópicos, observados nas atividades de campo
da área estudada (Tabela 09).
Áreas degradadas /
2 Planossolo Háplico 8 a 45% Arbustiva
sem uso
Arbórea e
3 Neossolo Litólico > 45% Áreas naturais
Arbórea/arbustiva
Como resultado do cálculo AG, têm-se valores entre 1 a 3. Assim, quando o valor é 1
ou próximo, mais adequado são as áreas para usos antrópicos; quando é 3 ou se aproxima a
esse, os valores indicam áreas inadequadas aos usos antrópicos, nesses casos devem ser
mantidas as condições naturais, ou seja, mantidas para a conservação da caatinga.
Os resultados são dialogados de acordo com a chave de classificação final (Tabela 10),
a qual aponta os três níveis de adequabilidade geoecológica: 1 - adequado (1 a 1,6); 2 -
parcialmente adequado (1,7 a 2,3); e 3 - inadequado (2,4 a 3).
Para obter esses intervalos, a classificação do cálculo AG foi feita a partir de limiares
equidistantes entre os máximos 1 e 3, sendo 2 o limite das classes, a partir do qual se traçou
intervalos de 0,3 em relação aos valores das extremidades (1 e 3), estabelecendo transição
segura entre as classes.
Como resultado final, os dados da chave de classificação são espacializados na forma de mapa
temático, destacando as diferentes adequabilidades geoecológicas na bacia, bem como a
quantificação dos níveis de AG.
117
Tabela 10: Chave de classificação para os níveis de adequabilidade.
Valor de referência Nível Chave de classificação
Áreas de solo com potencial a usos agropecuários sobre terrenos
planos a suave ondulado, com vegetação herbácea ou sem
vegetação primária ou secundária e precipitação podem ser
1 a 1,6 Adequado
favoráveis ao regime hídrico local ou não. A maioria dos fatores
geoecológicos são favoráveis ao desenvolvimento de atividades
antrópicas.
Áreas de solos com potencial a usos agropecuários sobre
terrenos ondulados e forte ondulados, com vegetação herbácea
1,7 a 2,3 Parcialmente ou sem vegetação primária, precipitação nem sempre favorável.
adequado Alguns dos componentes geoecológicos não são favoráveis a
usos antrópicos, o que dificultada as atividades
socioeconômicas
Áreas de embasamento cristalino com rochas expostas, solos
poucos desenvolvidos sobre terrenos de acentuada declividade,
escarpado e/ou montanhoso. Áreas onde predomina vegetação
> 2,4 Inadequado natural recomenda-se preservar, pois compreendem a
fitogeógrafa local como caatinga arbórea arbustiva e mata de
altitude. Compreende ambiente geoecológico desfavorável ao
desenvolvimento de atividades socioeconômicas.
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
118
natural e aquelas que devem ser recuperadas, a exemplo das áreas de preservação permanente
dos cursos hídricos.
Para o ano de 2035 foram modeladas duas possibilidades de projeções, uma a partir do
ano de 2015 (2035a) e outra com base na projeção do ano de 2025 (2035b). O quadro (10)
apresenta os procedimentos e fatores elencados na modelagem e projeção dos cenários.
119
Análise de Cadeia de Markov
A análise de cadeia Marcov compreende um modelo estocástico que estima as mudanças
ocorridas na cobertura da terra de um período a outro por meio de uma tabela cruzada, conforme
as equações a seguir. O que significa dizer que se estima a probabilidade de transição de um
tipo de cobertura da terra (pixels) no tempo t0 permanecer o mesmo ou mudar para outro tipo
de cobertura do solo no tempo t1 (ADHIKARI; SOUTHWORTH, 2012; EASTMAN, 2012).
𝑚
∑ P𝑖𝑗 = 1 𝑖 = 1,2 … … 𝑚
𝑗=1
120
Um conjunto de imagens de probabilidade condicional para cada classe de cobertura da
terra expressa a probabilidade de cada pixel pertencer à classe designada no próximo
período (t2).
As referidas matrizes, junto às imagens condicionais utilizadas para projeção dos
primeiros cenários na ferramenta CA-Markov do Idrisi foram baseados apenas nas mudanças
ocorridas nos mapas de cobertura da Terra entre o t0 (2005) e t1 (2015) para projetar 2025,
2035a e 2035b. Já os cenários baseados em um planejamento paisagístico de cunho
conservacionista para 2025, 2035a e 2035b fazem uso de mapas de adequação terrestre para
áreas de vegetação natural e áreas antrópicas agrícolas por combinação com as imagens
condicionais.
Nos mapas de planejamento paisagísticos, as projeções de 2035 foram simuladas a partir
de matrizes e imagens condicionais geradas entre 2005 e 2015 (2035a) e por matrizes geradas
entre 2015 e o cenário projetado de 2025 (2035b), construindo cenários com intervalos de 20 e
10 anos. Se fez isso com a finalidade de verificar a ocorrência de mudanças na cobertura da
Terra com a redução dos anos ao fazer uso da projeção estimada para 2025.
121
MAT para AVN - 01: (1) níveis geoecológicos inadequados aos usos antrópicos, (2)
áreas de preservação permanente de (Buffer 30m dos cursos hídricos e encostas com
mais de 45° de inclinação), (3) áreas de vegetação natural e (4) áreas de neossolo
litólico.
MAT para AVN - 02: (1) níveis geoecológicos inadequados aos usos antrópicos, (2)
áreas de preservação permanente (Buffer 30m dos cursos hídricos e encostas com mais
de 45° de inclinação) e (3) áreas vegetação natural.
MAT de AAA - 01: (1) níveis geoecológicos adequados aos usos antrópicos: (2)
declividade com 0° a 20° de inclinação, (3) áreas antrópicas agrícolas e (4) áreas com
neossolo regolítico e planossolo háplico.
MAT de AAA - 02: (1) níveis geoecológicos adequados aos usos antrópicos: (2)
declividade com 0° a 20° de inclinação e (3) áreas antrópicas agrícolas.
Como descrito, a diferença entre os MAT é o uso ou o não das classes de solo da Bacia
do Riacho São José, isso ocorre por dois motivos. Primeiro, quando se utiliza os solos, o
incentivo à mudança apresenta maior estímulo, no entanto, a utilização de ambos provoca uma
concorrência muito forte ao crescimento de áreas antrópicas agrícolas, limitando as áreas de
vegetação natural. Segundo, quando se faz uso dos MAT sem a presença de solo, o crescimento
da classe AVN fica limitado, o que não permite que as áreas de buffer sejam colocadas em
visualização.
Para uma visualização completa, o apêndice 2 apresenta todas as projeções feitas a partir
dos mapas de adequação. No resultado da tese está apenas aquele considerado mais condizente
com a realidade da bacia estudada, destacando que a intenção é mostrar cenários que revelem
maior conservação da vegetação natural, por esse motivo foi adotado apenas os mapas de
adequação: MAT para AVN - 01 e MAT de AAA - 01.
É importante frisar que a construção dos mapas de adequação terrestre foi baseada na
lógica boleana, em que os fatores elencados são classificados em dois valores, 0 e 1. Sendo 0 o
valor das áreas de incentivo à adequação de uma classe e 1 aos demais elementos do mapa.
Assim, cada mapa de fator classificado em números boleanos foi multiplicado na calculadora
raster do ArcGis, gerando os quatros MAT. Uma fórmula representativa do referido
processamento é:
𝐴𝐶 = 𝐹1 ∗ 𝐹2 ∗ 𝐹3 ∗ 𝐹𝑛…
Em que Ac é a adequação a uma classe do mapa e Fn representa os fatores multiplicados,
esses variam de acordo com a intenção de estudo.
122
Posteriormente ocorreu a reclassificação dos valores boleanos de modo inversamente
proporcional, mantendo 01 as áreas não adequadas e substituindo o 0 por 2 ou outro número
superior. No final, os MAT são convertidos para o formato ASCII, extensão aceita pela
importação do SIG Idrisi Selva.
No Idrisi, os mapas de adequação são convertidos para o formato “Bytes/binaryI” na
ferramenta “Stretch/Linear with Saturation”, obtendo valores entre 0 e 255, em que as áreas
com valores próximos a 255 apresentam maior incentivo a determinada mudança e o valor 0
áreas não incentivadas a mudança. Em seguida todos foram combinados através da ferramenta
“Collection Editor”, em que se faz todas as combinações possíveis dos mapas de adequação
com as três classes do mapeamento.
Vale mencionar que a combinação final dos MAT precisa expressar a mesma quantidade
de classes do mapa de cobertura da Terra utilizado na análise da Cadeia de Markov. No entanto,
como não é objetivo mapear a adequação da classe de outras áreas (classe 3), se fez uso da
imagem condicional gerada durante o procedimento anterior para se ter o conjunto de imagens
de adequação a ser processada na modelagem do CA-Markov.
123
II. A dinâmica espacial é controlada pelas regras locais por meio do filtro de autômato
celular, considerando a configuração da vizinhança e as probabilidades de transição e
áreas de transição;
III. Em Ambiente SIG, os dados detectados remotamente podem ser usados para definir
condições iniciais, parametrizar o modelo CA-Markov, calcular probabilidades de
transição, determinar as regras de vizinhança e simular modelos espacializados.
Diante do apresentado, se fez uso modelador “CA-Markov” do software Idrisi, o qual
combinou o filtro de CA, os procedimentos da cadeia Markov e os mapas de adequação terrestre
para simulação dos cenários futuros da bacia do Riacho São José-PE. Como os cenários são
direcionados a uma abordagem de planejamento conservacionista da paisagem semiárida, por
esse motivo, o principal objetivo foi delimitar e estimular as áreas adequadas para vegetação
natural, com foco a recomposição da APP dos cursos hídricos. Logo, construiu-se três
possibilidades de simulação:
I. Continuação das condições atuais, sem interferência dos MAT, fazendo uso apenas dos
dados gerados a partir da cobertura da Terra para projeção de paisagens futuras em 2025
e 2035a, tendo por base a as projeções entre 2005 e 2015 + 10 anos e + 20 anos, depois
com base no cenário de 2025, 2015 e 2025 + 10 anos, para 2035b;
II. A segunda possibilidade leva em consideração a projeção de cenários a partir dos mapas
de adequação a áreas de vegetação natural e antrópicas agrícolas, com a finalidade de
determinar o uso adequado a cada classe de cobertura da Terra, tendo por base a
adequabilidade geoecológica para um planejamento ambiental paisagístico. Seguiu-se a
mesmas projeções 2005 e 2015 + 10 e + 20, depois com base no cenário de 2025, 2015
e 2025 + 10;
III. A terceira possibilidade é focada apenas no MAT das áreas de vegetação natural, com
foco conservacionista, a qual não faz interferência nas áreas que tenham usos antrópicos.
Seguiu-se a mesmas projeções 2005 e 2015 + 10 e + 20, depois com base no cenário de
2025, 2015 e 2025 + 10.
Todos os cenários foram reclassificados, quantificados, analisados e agrupados em
conjuntos a partir das possibilidades apresentadas. Sempre que necessário levantou-se diálogos
com autores que já aplicaram a referida metodologia. Por fim, as versões finais dos mapas foram
organizadas no ArcGis 10.3.1 de acordo com as normas cartográficas seguidas.
124
CAPÍTULO III
CARACTERIZAÇÃO GEOECOLÓGICA DA BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ-PE
3 CARACTERIZAÇÃO GEOECOLÓGICA DA BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ-PE
126
Figura 05: Mapa de localização da bacia do Riacho São José em Pernambuco.
128
atmosférica participante na determinação de chuvas e secas, principalmente aqueles
influenciadores no Nordeste.
Nesse contexto, Ferreira e Mello (2005) apontam os sistemas atmosféricos atuantes no
Nordeste Brasileiro (NEB): ZCIT, Frentes Frias, VCAN e Linhas de instabilidades responsáveis
pela variação espaço-temporal pluviométrica e temperaturas elevadas ao longo do ano (que
traduzem de forma ímpar o semiárido nordestino). Além da participação dos oceanos pacífico
e atlântico, conforme a variação do aquecimento da temperatura da superfície da água (TSM),
que fundamentam a ocorrência dos fenômenos: El Niño e La Niña.
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) está disposta entre a faixa equatorial do
globo, na convergência de ventos provenientes de nordeste e ventos de sudeste. Como a
incidência da radiação solar nessa região corrobora para a manutenção de temperaturas
elevadas, provoca a ascendência de ventos quentes carregados de umidade que passa por
condensação para formar nuvens.
Em vista disso, uma faixa nebulosa estendida em torno do equador, com potencialidade
para distribuir chuvas, apresenta deslocamento sazonal no decorrer do ano por conta do
movimento executado. Ocorrendo ora mais para o hemisfério Norte, ora para o hemisfério Sul
equatorial, perante a relação intensa, de um ou outro, dos ventos alísios. Diante disso, a
determinação do potencial de chuvas no Nordeste fica a cargo do posicionamento da ZCIT, pois
quando a migração acontece de fevereiro a março para o norte, a pluviosidade é deficiente,
sucedendo de abril a maio propícia ano chuvoso (STEINKE, 2012; UVO, 1989).
Corroborando para anos chuvosos no NEB, tem-se a participação de sistemas frontais
(frentes), os quais correspondem ao encontro de massas de ar com diferentes características
termodinâmicas. Nesse sentido, a frente fria (mais densa) faz com que a frente quente (menos
densa) ascenda e isso repercute na formação de nuvens. Por conta disso, geralmente, entre
novembro e janeiro, a frente fria desloca até as latitudes tropicais, contribuindo para
precipitação (FERREIRA; MELLO, 2005).
Dentre os sistemas que caracterizam a atmosfera, ainda se revela a participação dos
Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs) originários do oceano atlântico. Os VCANs
abordam nuvens com movimento semelhante ao circular, atuando no sentido horário e
deslocando-se de leste para oeste, onde os arredores apresentam possibilidades pluvial
derivadas das nuvens (FERREIRA; MELLO, 2005; STEINKE, 2012).
Além do mais, a participação do mecanismo de concentração de bandas de nuvens, do
tipo cúmulos, é responsável pela geração de chuvas (STEINKE, 2012). Ferreira e Mello (2005)
129
destacam que a extensão de modo linear favorece período chuvoso geralmente entre fevereiro
e março, conforme as chamadas Linhas de Instabilidade, que são provenientes da intensa
radiação solar e atuam como promotora da formação de nuvens, quando conciliada com a ZCIT.
Perante os sistemas atmosféricos citados acima, tais possibilidades meteorológicas e
climáticas são agentes para que haja disposição de saldos pluviométricos dentro do esperado na
normalidade e ainda eventos extremos, ou seja, chuva concentrada ou seca intensa no Nordeste.
Além disso, por meio dos sistemas atmosféricos, pode-se revelar também o potencial de
influência derivado dos fenômenos desencadeados nos oceanos Pacífico e Atlântico tropical.
Acerca disso, a variação positiva (aquecimento) e negativa (resfriamento) na temperatura da
superfície do mar (TSM) representam fenômenos atmosféricos-oceânicos de La Niña e El Niño
(GONZALEZ et al., 2013). Conforme Kayano e Andreolli (2009), déficits de chuvas no NEB
estão associados ao El Niño (TSM negativa), colaborando a intensificação dos períodos de seca.
Em detrimento a este, a incidência de El Niña (TSM positiva) revela chuvas ao NEB.
Somado a isso, cabe fazer correlação dessas anomalias com a ZCIT, pois como retratado
acima, o enfraquecimento dos ventos alísios de nordeste apoia o posicionamento da ZCIT mais
para o norte do hemisfério. De modo proporcional, acontece com os ventos alísios de sudeste.
Por conta de saldos negativos à norte, esses ventos adéquam-se em relação à TSM, conduzindo
a ZCIT mais para sul e anomalias negativas no Sul deslocam-nas para a porção norte equatorial
(UVO, 1989; FERREIRA; MELLO, 2005).
Diante dessas condições geradas pelas variações da TSM, na tabela 11, a seguir, estão
expressos, trimestralmente, a manifestação das anomalias entre os anos de 2004 e 2017, recorte
temporal com dados disponíveis para o presente estudo. Os dados representam intensidades
diferenciadas do El Ninõ e da La Niña, podendo ser visualizado períodos de forte, moderada e
fraca manifestação.
Nas células de variação da intensidade dos fenômenos, nota-se que, a partir do trimestre
de julho (JJA), os dois fenômenos têm expressão de quantidades consideráveis a serem
mensuradas e acompanhadas em seu desenvolvimento. Tanto para a intensificação ou o
enfraquecimento ou até mesmo para o desempenho das anomalias no mesmo ano.
No entanto, algumas especificidades chamam atenção no que tange a predominância do
El Niño entre 2009 para 2010. Em que, antecedido pela La Niña, desenvolveu-se o resfriamento
da TSM considerado de forte magnitude, porém de 2015 para 2016 apresentou mesmo nível,
permanecendo por nove meses e atingindo patamar 2,6, maior valor registrado na série. Isso
significa que se vivenciou ausência de chuvas neste período, ou seja, extremo de seca no NEB.
130
Vale retratar a presença da La Niña no recorte de 2007 para 2008 de intensidade forte,
registrando quantidade de -1,6. No entanto, é superado posteriormente entre 2010 para 2011,
alastrando durante onzes meses deste último ano ao atingir máxima de -1,7. Essa presença
condiz a períodos de extremos de chuvas no NEB.
131
lembrar que a localização geográfica da bacia, entre o planalto da Borborema e a depressão do
Baixo São Francisco, colabora para a diversificação da variabilidade climática.
30 140
25 120
100
20
80
15
mm
°C
60
10
40
5 20
0 0
Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
132
em Molion (2002) e Uvo (1989) e, tem a participação direta da ZCIT porque sua posição mais
para o sul, concentrada em abril e maio, acarreta sucesso pluvial no período chuvoso. Nesse
sentido, como foi constatado no climograma, o ápice de precipitação está representado em maio.
A sensibilidade (no sentido que qualquer inferência de atuação é proveniente do oceano
e/ou atmosfera no quadro da distribuição pluviométrica) mostra-se evidente pelas quantidades
registradas e, ao mesmo tempo, a dependência da circulação atmosférica para saldos favoráveis
do período chuvoso.
Trazendo para análise a escala da BRSJ, o ponto de partida é esclarecer que os dados
aqui apresentados resultam de uma triangulação de informações (pluviométricas e
temperaturas) de estações meteorológicas localizadas no entorno da bacia nos municípios de
Garanhuns, Capoeiras e Pedra. Esse procedimento foi necessário devido à ausência de estações
no território da bacia e no município de Caetés.
Assim, os dados contabilizados a partir do balanço hídrico evidenciam os
condicionantes climáticos que retratam a realidade em análise a partir de um recorte temporal
de 13 anos. Embora seja um tempo curto, quando se destina analisar os componentes do clima,
eles compreendem os únicos dados disponíveis para as três estações dentro de um mesmo
período.
Para melhor visualização das expressões temperatura e precipitação, fez-se a
interpolação dos dados para a área da bacia em mapas (Figura 07), permitindo verificar a
distribuição dos fenômenos interpolados nos limites da bacia do Riacho São José.
A espacialização das variáveis climáticas do balanço hídrico permite observar que tanto
a precipitação como a temperatura apresentam pouca diferenciação na BRSJ. A primeira varia
entre 66mm a 71mm, uma variabilidade de 6 mm, sendo a maior concentração de chuvas na
porção central da bacia, o que deve ser reflexo inflexão morfológica do planalto da Borborema.
No tocante a temperatura, essa varia entre 23 ºC a 25 ºC, com variabilidade de 3 °C, no
sentido de leste para oeste. Situação também influenciada pelas feições morfológicas entre o
planalto e a depressão do baixo São Francisco.
O caráter climático da BRSJ, conferido no balanço hídrico normal, permitiu aferir a
relação entre a precipitação, a evapotranspiração potencial (ETP) e evapotranspiração real
(ETR). O gráfico a seguir (Figura 08) expressa essa relação, em que a ETR apresenta-se (na
maior parte dos meses) inferior ao valor verificado para a ETP, com exceção de maio a julho,
quando ocorre um equilíbrio devido a maior incidência pluviométrica, atingindo saldo de 126,9
mm.
133
Figura07:Mapadeespacializaçãodas variáveis climáticas dabacia doRiachoSão José-PE.
Elaboração:A.M.S.CHAVES,2021.
134
Figura 08: Balanço hídrico normal mensal da área da Bacia do riacho São José-PE.
140
120
100
80
mm
60
40
20
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
135
Figura 09: Saldo das condições hídricas da área da Bacia do riacho São José-PE.
40
20
-20
mm
-40
-60
-80
-100
-120
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
136
Figura 10: Extrato do balanço hídrico normal mensal da Bacia do riacho São José-PE.
0
-10
-20
-30
-40
mm
-50
-60
-70
-80
-90
-100
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
DEF(-1) EXC
Figura 11: Relação entre a capacidade de armazenamento e o armazenamento mensal da Bacia do Riacho São
José-PE.
120
100
80
60
mm
40
20
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
CAD ARM
137
Os aspectos hidroclimáticos apresentados pelo balanço hídrico abordam de maneira
especifica a relação água e solo. Assim, corroborando nessa análise, apresenta-se outro fator
que caracteriza aspecto climático na bacia do Riacho São José: a temperatura da superfície
terrestre (TST) estimada através das bandas termais do satélite Landsat 5 e 8. Para isso fez-se
uso do recorte espaço temporal delimitado na tese para os mapeamentos do índice de vegetação
e de cobertura e uso da Terra, 1985, 1995, 2005 e 2015.
Como a TST compreende a absorção da energia eletromagnética pelos diferentes tipos
de cobertura da Terra (vegetação, pastagem, solo expostos, afloramento rochoso, água, entre
outros componentes da superfície), as respostas termais sofrem influências direta e indiretas das
condições e do estado ambiental do dia de registro da imagem de satélite, como umidade, ventos
e cobertura de nuvens.
Tais questões vão refletir para a bacia do Riacho São José na variabilidade e amplitude
térmica da TST ao longo das datas analisadas, apresentando desde temperaturas mínimas (entre
17 e 18 °C) a máximas (atingindo 35°C e 43°C) (Tabela 12 e Figura 12). Esses valores revelam
as interações entre energia eletromagnética, as condições do ambiente e a superfície terrestre
apropriada e modificada pela sociedade.
Tabela 12: Variabilidade e amplitude térmica da temperatura superficial da bacia do Riacho São José-PE.
Temperatura da superficie Terrestre da Bacia do Riacho São José-PE
18 - 21 ºC 17 - 19 ºC 20 - 25 ºC 29 - 34 ºC
22 - 24 ºC 20 - 22 ºC 26 - 28 ºC 35 - 37 ºC
25 - 27 ºC 23 - 24 ºC 29 - 31 ºC 38 - 40 ºC
28 - 33 ºC 25 - 26 ºC 32 - 35 ºC 41 - 43 ºC
Amplitude Termica
TST máxima: 33°C TST máxima: 26°C TST máxima: 35°C TST máxima: 43°C
TST miníma: 18°C TST miníma: 17°C TST miníma: 20°C TST miníma: 29°C
Amplitude: 15°C Amplitude: 09°C Amplitude: 15°C Amplitude: 14°C
138
Figura 12: Mapa da variação espacial e temporal da temperatura da superfície da bacia do Riacho São José-PE.
Os dados da tabela corroboram com as respostas de TST amenas para o ano de 1995,
pois nos trimestres de SON, OND e NDJ, a atuação da La Niña conforma condições favoráveis
a precipitações no Nordeste, possibilitando disponibilidade hídrica, aumento da umidade e
florescimento da vegetação, consequentemente, diminuição da temperatura superficial do solo.
Por sua vez, o ano de 2015, embora apresente amplitude térmica próxima ao constatado
nos anos de 1985 e 2005, as temperaturas estimadas apresentam uma elevação considerável,
compreendendo de 29 a 43°C. Tendo como diferença de TST mínima de 11 °C, 12 °C e 09 °C
em relação às demais temperaturas mínimas verificadas, bem como a máxima a 10 °C, 17 °C e
08°C acima dos valores verificados em 1985, 1995 e 2005, respectivamente.
Essa elevação de temperatura se explica por duas situações: primeiro, 2015
compreendeu o ano mais quente já registrado (até o respectivo ano), como declarado pela
National Aeronautics and Space Administration (NASA, 2016), devido às fortes influências do
140
Fenômeno El Nino com valores extremos (Tabela 14), o que acabou condicionando em secas
para o Nordeste; a segunda situação refere-se ao registro do satélite Landsat, o qual documentou
momento de intensa incidência da temperatura no horário das doze horas e trinta e seis minutos
142
Figura 13: Mapa geológico da bacia do Riacho São José-PE.
Figura 14: Leito do Riacho São José no vale do médio curso da bacia.
Ainda, a bacia do riacho São José apresenta solos com pouco desenvolvimento na maior
parte de sua extensão territorial, pois o regime climático e a pedogênese que atuam sobre o
substrato geológico geraram diferentes matérias e solos, ocorrendo um desencadeamento de
processos erosivos e de degradação (CORRÊA; SOUZA; CAVALCANTI, 2014).
Nesse contexto, o clima atua na área da bacia em altas temperaturas e com baixa
pluviosidade, isso reflete em mantos de intemperismo pouco espessos, o que resulta em “[...]
144
balanço denudacional que favorece a erosão sobre os agentes pedogenéticos [...]” (CORRÊA;
SOUZA; CAVALCANTI, 2014, p. 128).
O solo, de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solo (EMBRAPA,
2018), é a “coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas,
tridimensionais e dinâmicas. Além disso, são formados por materiais minerais e orgânicos que
ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do planeta” (EMBRAPA,
2018, p. 27).
Nesse sentido, o clima, as formas do relevo, os organismos, o material de origem e a
idade da superfície do terreno são os principais fatores para a formação dos solos (LEPSCH,
2010; 2011). Assim, verifica-se uma mútua relação entre a formação do solo com o substrato
geológico e climático no ambiente semiárido, o qual (devido ao embasamento cristalino
composto principalmente por rochas metamórficas e ígneas sobre altas temperaturas, baixa
precipitação e resistência) desfavorece a formação de solos bem desenvolvidos.
Referente a este aspecto geoecológico, na BRSJ é constatada a presença de solos que
variam em classes e ordens, conforme indica a EMBRAPA (2001; 2018), em neossolos e
planassolos e que são distinguidos por segunda ordem em: neossolos regolítico e litílico e
planassolos háplico (Figura 15).
Os neossolos são típicos do semiárido e são compostos por arcabouço de rochas
cristalinas. Já o planassolo háplico corresponde a perfis desenvolvidos em detrimento aos
demais de áreas semiáridas e são “[...] formados pelo acúmulo de argila decorrente da
estagnação, ou baixa taxa de circulação de água, em função dos largos interflúvios, sobretudo
nas áreas de depressões[...]” (CORRÊA; SOUZA; CAVALCANTI, 2014, p. 128).
Em aspectos específicos, os neossolos são poucos evoluídos, “[...] constituídos por
material mineral, ou por material orgânico com menos de 20 cm de espessura, não apresentando
qualquer tipo de horizonte B diagnóstico [...]”, ou seja, predomina as características herdadas
da rocha mãe (EMBRAPA, 2018, p. 181).
Os neossolos litólicos predominam em áreas de relevo movimentado, ondulado e
fortemente ondulado, distribuídos por todo o território brasileiro. Desenvolvem-se diretamente
sobre a rocha ou em matéria composto por mais de 90% de fragmentos de rochas que
apresentem diâmetro maior que 2 mm, representando contato lítico típico ou fragmentário em
uma profundidade de 50 cm da superfície (EMBRAPA, 2018). Devido a variação topográfica,
indícios de processos erosivos e afloramentos rochosos desta classe o tornam inaptos para
irrigação e caracterizam limitações para a agricultura (EMBRAPA, 2018; LEPSCH, 2010).
145
Figura 15: Mapa pedológico da bacia do Riacho São José-PE.
147
pediplano central do planalto da Borborema) é composta por neossolo regolítico, provocando
uma diminuição altimétrica do referido pediplano e constituindo a paisagem de serras e serrotes
ocorre o neossolo litólico. Já na parte baixa da bacia, o pediplano do São Francisco (de menores
cotas altimétricas para área) apresenta planossolo háplico.
148
Figura 16: Mapa geomorfológico da bacia do Riacho São José-PE.
150
contexto, o sistema brasileiro de classificação de solos (EMBRAPA, 2018. p. 294-295),
classifica o relevo a partir da variação de declividade em:
Plano: superfície de topografia esbatida ou horizontal em que os desnivelamentos são
muito pequenos com variáveis nos declives entre 0 a 3%;
Suave ondulado: superfície de topografia pouco movimentada e constituída por
conjunto de colinas e/ou elevações de altitudes relativas até 50m e de 50 a 100m,
apresentando declividades suaves com variações entre 3 a 8%;
Ondulado: superfície de topografia pouco movimentada e constituída por conjunto de
colinas e/ou outeiros, apresentando declives moderados com percentual entre 8 a 20%;
Forte ondulado: superfície de topografia movimentada e formada por outeiros e/ou
morros (elevações de 50 a 100m e de 100 a 200m de altitudes relativas, respectivamente)
e raramente colinas, com declives fortes representados em taxas entre 20 a 45%;
Montanhoso: superfície de topografia vigorosa com predomínio de formas acidentadas,
usualmente constituídas por morros, montanhas, maciços montanhosos e alinhamentos
montanhosos, apresentando desnivelamentos relativamente grandes na qual os declives
se apresentam forte e muito forte (manifestados numa variação de 45 a 75%);
Escarpado: áreas com predomínio de formas abruptas, compreendendo superfícies
muito íngremes e escarpamentos como aparados, frentes de cuestas, falésias, vertentes
de declives muito fortes, correspondem aquelas que ultrapassam 75%.
É importante mencionar que essas classes de relevo caracterizam a declividade da BRSJ,
sendo que as classes de declividades (Figura 19) compreendem: de plana a suave ondulada
(ocorrendo no pediplano arenoso no alto curso da bacia e nos pediplanos arenoso/argiloso e
argiloso no baixo curso); de declividade ondulada a forte ondulada (na área de abrangência da
unidade paisagística de serra e serrotes no médio curso); de montanhosa a escarpada
(caracterizadas nas encostas de forte declive).
As características geoecológicas apresentadas (geologia, solo e geomorfologia),
juntamente com os condicionantes climáticos a serem apresentados no próximo tópico,
subsidiam análise de parâmetros morfométricos da bacia do Riacho São José. Visto que a
morfometria de uma bacia permite conhecer estruturas físicas do ambiente fluvial, quanti-
qualitativamente, e a sua relação integrada na estrutura da paisagem.
151
Figura 19: Mapa de declividade da bacia do Riacho são José-PE.
Hierarquia Fluvial
A hierarquia fluvial classifica e estabelece a ordenação dos cursos d’água que compõem
a rede de drenagem da bacia (CHRISTOFOLETTI, 1980; MACHADO; TORRES, 2012). Para
Stevaux e Latrubesse (2017), a morfometria fluvial tem entre seus objetivos conhecer métodos
para ordenar e medir o grau hierárquico da rede de drenagem.
Segundo Christofoletti (1980), os aspectos que formam a ordenação dos canais
compreendem a primeira etapa de análise morfométrica, pois tem como finalidade identificar a
hierarquia fluvial e as suas correlações em relação a segmentos e ligamentos.
Diante dos variados métodos de ordenação dos cursos d`água de uma bacia, aqui foi
adotada a hierarquização proposta por Strahler (1957), pois é consagrada na aplicação de
estudos em bacias hidrográficas. O método de Strahler visa a relação topológica dos canais por
meio da posição apresentada pelos canais na rede de drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Nesse sentido, os canais partem da primeira ordem, compreendendo os cursos que se
originam de uma nascente; já na ocorrência do encontro de dois canais de mesma ordem,
ascende um canal de ordem superior. Assim, quando dois canais de primeira ordem se
encontram, emerge um canal de segunda ordem e mesmo que um canal de primeira ordem se
junte com um canal de segunda ordem a hierarquia não muda, pois, a ascensão para a terceira
ordem só ocorre no encontro de dois canais de segunda ordem, e assim por diante.
O ordenamento dos cursos da BRSJ compreende até a quarta ordem (Figura 20). Isso,
de acordo com Machado e Torres (2012), o aumento da hierarquia em direção à foz e a
diminuição da declividade, reflete em áreas com menor velocidade do volume hídrico.
153
Figura 20: Mapa da hierarquia fluvial da bacia do Riacho São José-PE.
Análise linear
A análise linear engloba aspectos relacionados à rede de drenagem a partir da relação
de bifurcação, comprimento do rio principal, extensão do percurso superficial e o índice de
sinuosidade (Tabela 16).
Figura 22: Encosta escarpada do embasamento cristalino com presença de talús ao longo do curso d’água.
Essas encostas íngremes e escarpadas estão presentes na área da bacia do Riacho São
José e ratificam na paisagem afloramentos de rochas metamórficas e ígneas, possibilitando a
formação de quedas d’água e cachoeiras, sendo exceção em período de regime pluviométrico
favorável no ambiente semiárido. Essas cachoeiras, por sua vez, tornam-se pontos de encontro
157
e lazer para a comunidade local e visitante da região, que são atraídos pela beleza cênica e pelo
aproveitamento recreativo das águas.
Análise Areal
Com área territorial de 146,69 Km², a bacia do riacho São José é circundada por um
perímetro de 74,85 Km e comprimento de 23,98 Km. Cabe esclarecer que o comprimento da
bacia se refere à distância medida em linha reta entre a foz e determinado ponto do perímetro
(CHRISTOFOLETTI, 1980). Aqui se adotou o ponto do perímetro mais longe da foz em
direção à nascente.
Outros parâmetros de análise areal compreendem a forma da bacia e o sistema fluvial
por meio da densidade de drenagem e coeficiente de manutenção (Tabela 17), os quais refletem
sobre os condicionantes da estrutura geológica, pedológica e climática de uma área.
Além disso, o índice de circularidade varia ente 1 e 0 e tem como objetivo definir a
forma de uma bacia, que pode ser arredondada (quando o valor é próximo a 1) ou alongada
(quando o índice se aproxima de 0) (MACHADO; TORRES, 2012). No caso da BRSJ com
índice de 0,33 (caracterizando-a como alongada), isso revela que na ocorrência de escoamento
superficial, perante volume e tempo derivado de excepcionalidade pluviométrica, constitui-se
desfavorável para episódio de inundação.
Esse fato ratifica-se com a apuração da densidade de drenagem mediana de 0,90, a qual
evidencia o comportamento hídrico da bacia por meio do escoamento superficial, repercutindo
diretamente com os condicionantes climáticos, geológicos e pedológicos que conduzirão a
maior ou a menor intensidade de processos erosivos. Manifestando, com isso, características
para indicação de erodibilidade (BELTRAME, 1994; CHRISTOFOLETTI, 1980;
MACHADO; TORRES, 2012; STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).
Em vista disso, Stevaux e Latrubesse (2017) destacam as relações da densidade de
drenagem (Dd) com as condições do ambiente existente, fato que caracteriza o padrão da rede
de drenagem. Assim, é verificado que os maiores valores da Dd abarcam regiões semiáridas,
onde o clima é fator limitante no processo de formação da densidade de drenagem, assim como
158
a participação da estrutura geológica e dos solos. Por fim, os autores destacam a densidade de
drenagem enquanto parâmetro quantitativo e o padrão da rede de drenagem compreende uma
“[...] classificação qualitativa do arranjo da rede que pode refletir mais fortemente o
componente geológico estrutural e histórico geomorfológica da bacia” (STEVAUX E
LATRUBESSE, 2017, p. 69).
Nesse sentido, os fatores elencados acima são condizentes com a composição do quadro
físico-natural sobre o qual a referida bacia está assentada. Caracterizando, com isso,
componente geológico estrutural de rochas ígneas e metamórficas, solos poucos desenvolvidos
e rasos na parte alta e mais desenvolvidos na parte baixa, além de encostas com declividade
acentuada (Figura 23). Desse modo, esses aspectos refletem no coeficiente de manutenção da
bacia de 1,11 Km, a área mínima necessária para manutenção de um metro de canal de
escoamento.
Figura 23: Área de pedimento decorrente de processos erosivos com presença de talús no front das encostas do
médio para o baixo curso da bacia do riacho São José
Análise Hipsométrica
Os dados referentes às características hipsométricas, de acordo com Christofoletti
(1980), tem a função de analisar a inter-relação de uma faixa horizontal em sua distribuição
altimétrica sobre a topografia do terreno, a partir de uma isoípsa.
159
As linhas isoípsas correspondem aos pontos do terreno da bacia sobre a mesma altitude
e medidas pelas curvas de nível. Assim, foi possível obter os valores de altitude, a amplitude
altimétrica, o índice de rugosidade (Tabela 18) e o perfil longitudinal do rio principal.
A variação altimétrica da bacia do riacho São José compreende cotas que variam de
470m (nos pontos mais baixos) pediplano do baixo São Francisco a 980m no pediplano central
do planalto da Borborema (Figura 24), resultando numa altitude média de 760 m.
Os valores altimétricos conformam amplitude de 510m para o terreno da BRSJ, o qual
apresenta-se na forma de relevos que variam do plano a suave ondulado com feições íngremes
e escarpadas, constituindo encostas abruptas de embasamento rochoso em exposição. Já a
relação entre a amplitude altimétrica e a declividade com a densidade de drenagem configuram
aspectos para o índice de rugosidade do terreno, o qual apresenta valor de 459.
Nesse sentido, os valores constatados permitem induzir o cárter erosivo da bacia.
Embora a densidade de drenagem seja mediana, a amplitude altimétrica e a declividade do
relevo em associação como condicionantes climáticos do semiárido, o embasamento cristalino
e o neossolo litólico favorecem processos erosivos e a deposição na parte baixa, a qual
caracteriza-se em classes de planossolos mais desenvolvidos.
A declividade também é o fator preponderante na configuração do perfil longitudinal, o
qual corresponde a uma representação gráfica das variações do canal do Riacho São José,
conforme a diferenças do terreno (Figura 25).
O perfil longitudinal do Riacho São José, além de evidenciar a variação de declividade
dos canais, permite visualizar as variações altimétricas da BRSJ, compreendidas entre 980 m a
470 m de altitude no sentido Leste para Oeste sobre o planalto da Borborema (município de
Caetés-PE) até depressão do baixo São Francisco (município de Pedra-PE).
160
Figura 24: Mapa da variação altimétrica da bacia do Riacho São José-PE.
162
Figura 26: Mapa da cobertura vegetal da bacia do Riacho São José-PE.
166
CAPÍTULO IV
DINÂMICA FITOGEOGRÁFICA DA BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ:
ESTRUTURA HORIZONTAL, VERTICAL E DIVERSIDADE
4 DINÂMICA FITOGEOGRÁFICA DA BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ:
ESTRUTURA HORIZONTAL, VERTICAL E DIVERSIDADE
168
Como a vegetação compreende um dos elementos mais sensíveis e visíveis da paisagem,
ela fornece serviços diversos à sociedade e ao meio ambiente. Isso provocou, ao longo do
tempo, a exploração dos recursos vegetais em seus diferentes domínios fitogeográficos,
resultando na existência de poucas áreas com vegetação primária na atualidade.
Vale ressaltar que, ao longo da história humana, o uso antrópico feito da vegetação do
semiárido levou ao esgotamento da paisagem (revelado na degradação do ambiente), pois com
a retirada da vegetação, devido ao desmatamento (TRAVASSOS; SOUZA, 2014), o solo fica
exposto a ações diretas dos processos erosivos, tornando-o inapto aos usos antrópicos e, em
alguns casos, quando as chuvas são escarças não dando condição para a recuperação ambiental,
ocorre o processo de degradação e/ou desertificação.
O processo de desertificação é uma problemática ambiental que afeta o Brasil, com
maior abrangência nos estados do Nordeste, em especial o ambiente semiárido que apresentam
delicado equilíbrio entre o sistema ambiental e as pressões antrópicas exercidas (MARENGO;
BERNASCONI, 2014). Com destaque as porções semiáridas moderadas e subúmidas, na
posição a sotavento, como as encostas a oestes do planalto da Borborema (onde localiza-se a
BRSJ), cuja suscetibilidade a desertificação é grave, decorrente das mudanças climáticas como
diminuição nas tendências de precipitação agravadas pelas atividades agrícolas de agricultura
e pecuária (CONTI, 2011; Mendonça; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Por conta disso, estudos visando analisar a dinâmica ambiental do semiárido, como se
apresenta a cobertura vegetal e os usos feitos ao longo do tempo, são de grande relevância. Pois,
“[...] as chuvas e as plantas representam elementos interatuantes da paisagem, ou seja, ao
mesmo tempo que as características da precipitação condicionam as características estruturais
e funcionais da vegetação, [...] a vegetação também regula importantes aspectos do clima [...]”,
sendo destaque a liberação de umidade pela evapotranspiração (FIGUEIRÓ, 2015, p. 344).
Assim, diante da complexidade que o sistema ambiental apresenta, na singularidade e
pluralidade, os processos interativos entre os componentes geoecológicos da paisagem devem
ser analisados a partir da “[...] interdependência das partes que formam o conjunto [...]”, pois
“[...] a conexão é geral, de forma direta ou tênue, sendo impossível “compreender” qualquer
aspecto isolado sem referência à sua função como parte do conjunto [...]” (DREW, 1986, p. 19).
Como bem colocado por Drew (1986), o homem provoca uma alteração na natureza
com uma finalidade específica (a exemplo, a retirada da vegetação de uma dada área), no
entanto, a mudança no sistema ambiental não obedece apenas a um comando e isso afeta todo
o sistema, desde mudanças sutis no microclima até o solo, a exemplo de processos erosivos.
169
A esse respeito, Salomão (2015) destaca em seus estudos o papel da vegetação como
defesa natural contra os processos erosivos. Vale frisar que, para além de processos erosivos, a
vegetação é a base de diversos processos ambientais para manutenção da vida na ciclagem
ambiental e para serviços ecossistêmicos em seus aspectos climáticos, pedológicos e biológicos.
Diante do exposto, na atualidade, com o advento da geotecnologia, tem-se uma gama de
possibilidades para o estudo da dinâmica fitogeográfica. Visto que os procedimentos técnicos
e tecnológicos facilitam as pesquisas ambientais com utilização de imagens de satélites, as quais
são fontes de análise, diagnóstico e modelagem da distribuição espacial e temporal da vegetação
de uma área ou região.
Ao logo do tempo, desde o surgimento do geoprocessamento e sensoriamento remoto,
índices para o estudo da vegetação foram desenvolvidos, implementados e melhorados, esse
fato contribuiu com as pesquisas científicas na identificação das mudanças que vêm ocorrendo
na paisagem geográfica. Para tanto, a imagem de satélite captura a resposta espectral da
superfície terrestre por meio das diferentes coberturas existentes, áreas naturais (como as
formações vegetais), áreas antrópicas, corpos hídricos, entre outros.
No tocante a vegetação, esta interage com a radiação eletromagnética a partir do
processo de fotossíntese na absorção da energia solar pelos pigmentos fotossintetizantes. Esse
processo reflete de modo diferencial por meio da radiância das diferentes formações vegetais,
como também nas respostas espectrais captadas pelos sensores dos satélites nos tipos
fisionômicos dos dosséis (PONZONI; SHIMABUKURO; KUPLICH, 2012).
Diante do exposto, o presente capítulo analisou a dinâmica fitogeográfica da bacia do
Riacho São José-PE em três aspectos: estrutura horizontal, com a aplicação do Índice de
Vegetação pela Diferença Normalizada (NDVI), no intuito de identificar a distribuição espacial
e temporal da vegetação em um recorte de trinta anos (1985, 1995, 2005 e 2015); estrutura
vertical, por meio da construção de pirâmides de vegetação para representação gráfica dos
diferentes extratos vegetais e interações geográficas; e a diversidade florística através de índices
de diversidade, demonstrando a riqueza e as abundâncias das espécies vegetais.
Assim sendo, com a realização dessa análise, acredita-se que foi possível compreender
a dinâmica fitogeográfica da bacia do Riacho São José, além de estar associando técnicas e
metodologias biogeográficas e ecológicas. A esse respeito, Chaves e Melo & Souza (2019)
abordam essa discussão na área estudada por meio da proposição metodológica aqui adotada,
fazendo uso do índice de vegetação para selecionar as áreas mais adequadas para construção de
pirâmides fitogeográficas e de estimativas da diversidade.
170
4.1 Estrutura Horizontal: espacialização das fitofisionomias na bacia do Riacho São José-
PE
As fitofisionomias identificadas na bacia do Riacho São José têm variado ao longo do
tempo e do espaço. Assim, para entender essa dinâmica se fez o cálculo do índice de vegetação,
pois ele permite demostrar a estrutura horizontal da vegetação por meio de sua espacialização.
A esse respeito, dois fatores importantes foram observados: a geomorfologia e os
condicionantes do clima.
Em vista disso, cabe destacar que, como mencionado anteriormente, o relevo está
incrustado na área planáltica nordestina da Borborema e pediplano do baixo São Francisco,
compreendendo feições planas, suave ondulada a ondulada, fortes ondulada, montanhosa e
escarpada, sobre os quais ocorre a diferenciação de solos e a cobertura vegetal expressa na
paisagem estudada.
No tocante ao clima, os condicionantes climáticos atuam de modo a refletir as diferenças
nas cotas altimétricas da BRSJ e o resultante de sua forma do tipo alongada. Isso porque,
conforme Botelho (2015), essa diferença diverge do contexto comum estabelecido em bacia de
pequeno porte, porém existe exceção quanto às regiões montanhosas ou/e mesmo devido à
forma e ao comprimento da bacia.
Nesse sentido, as características morfométricas e climáticas do semiárido conferidas
diante dos elementos manifestados através do regime hídrico e da distribuição pluvial, são mais
incidentes a montante da bacia e a saldos reduzidos a jusante. Isso se dá porque o clima fornece
condições quanto à necessidade em disponibilidade de água ou vapor d`água para vegetação,
caracterizando-a em xerófitas (plantas capazes de manterem-se com pouca água suportando
períodos de seca) e caducifólias (perda das folhas e/ou redução foliar inibindo a perda de água).
Perante as características mencionadas, a conjuntura para manifestação predominante
da fitogeografia da caatinga é compreendida por fitofisionomias do tipo arbóreo, arbórea-
arbustivo, arbustivo e herbáceo, além da presença de composições rupestres com espécies
urticantes, cactos e suculentas sobre os afloramentos rochosos (Figura 30).
É válido salientar que a vegetação arbórea compreende principalmente a área do alto
curso da BRSJ, a qual caracteriza formações vegetais abertas, às vezes com exemplares isolados
nas áreas agropecuárias, na mata ciliar de alguns cursos hídricos e do fundo do vale. Por sua
vez, a vegetação arbórea-arbustiva compreende porções do alto e do médio curso, abrange
formações vegetais fechadas e abertas, além de ocuparem, principalmente, as encostas dos vales
171
(grande parte corresponde a vegetação secundária). Essa fitofisionomia marca, de forma mais
acentuada, a transição do ambiente semiárido na região Agreste.
c
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2018; 2020.
(a) Visão panorâmica da vegetação sobre o relevo; (b) Caatinga com característica arbustiva predominante; (C)
caatinga arbóreo-arbustiva.
172
A fitofisionomia arbustiva se distribui por toda a superfície da bacia, com maior
expressão no médio e baixo curso. Sendo que no baixo curso predominam as espécies arbustivas
herbáceas com algumas arbóreas de forma isolada, com exceção de alguns trechos da mata
ciliar com Prosopis juliflora, que formam um corredor verde no leito do rio principal.
Já as espécies herbáceas, por sua vez, também se fazem presentes em toda a bacia,
compreendendo gramíneas, sendo que no alto curso, normalmente, representam atividades
agropecuárias como culturas de subsistência e pastagem para pecuária extensiva.
Nesse contexto, o mosaico de fitofisionomias mostra que ao longo da bacia é comum a
presença de espécies das famílias das Anacardiaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae.
Na figura 30-a se observa a Encholirium spectabile/bromeliáceae (Macambira-de-flecha) e
Poincianella pyramidalis/fabaceae (catingueira); a figura 30-b é composta por Jatropha
molíssima/Euphorbiaceae (pinhão-bravo), Pilosocereus piauhyensis/Cactaceae (facheiro),
Pilocereus gounellei/Cactaceae (alastrado), Tacinga inamoenaquipá/Cactaceae (quipá),
Spondias tuberosa/Anacardiaceae (imbuzeiro), Poincianella pyramidalis/fabaceae
(catingueira) e Senegalia polyphylla/Fabacea (carcará); já a figura 30-c, tem as espécies
Jatropha molíssima/Euphorbiaceae (pinhão-bravo), Chloroleucon dumosu/Fabaceae (jurema-
branca), Pilosocereus piauhyensis/Cactaceae (facheiro), Cereus jamacaru/Cactaceae
(mandacaru), Schinopsis brasiliensis/Anacardiaceae (braúna), Senegalia polyphylla/Fabacea
(carcará) e Mimosa tenuiflora/Fabaceae (Jurema-preta).
No médio curso da bacia se encontra uma variação de todas as fitofisionomias
abordadas, com destaque para as formações rupestres com predominância de cactáceas e
ausência de vegetação em algumas áreas. A vegetação rupestre ocorre sobre os afloramentos
rochosos (Figura 31), já a ausência de vegetação representa solo exposto e rochas nuas.
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2018-2019.
(a) No médio curso e (b) no baixo curso.
173
As fitofisionomias apresentadas caracterizam os tipos de vegetação da BRSJ, os quais
foram quantificados e especializados por meio do índice de vegetação pela diferença
normalizada (NDVI). Os valores estimados foram classificados de acordo com o porte da
vegetação e a sua resposta espectral, conforme especificado na metodologia.
O NDVI é amplamente utilizado para caracterizar e classificar a vegetação da caatinga,
mas para isso é fundamental a realização de atividade de campo (ARAÚJO; MACHADO;
SOUZA, 2019; FERREIRA et al., 2012; FRANCISTO et al., 2012; RÊGO et al, 2012),
conferindo assim maior confiabilidade aos resultados obtidos.
Na literatura, observa-se que no ambiente semiárido o NDVI reflete de formar marcante
a relação entre o domínio da Caatinga com a precipitação pluvial, pois após as primeiras chuvas
a vegetação recompõe a folhagem e os resultados do índice apresentam-se mais elevados
(BARBOSA; HUETE; BAETHGEN, 2006; LINS et al., 2017; RODRIGUES et al., 2009).
Esse índice também é utilizado para mensurar o grau de proteção e/ou degradação da
superfície terrestre perante análise da condição da cobertura fitogeográfica identificada
(MELO; SALES; OLIVEIRA, 2011; SANTOS; AQUINO, 2019; TOMASELLA et al., 2018).
Tais observações, verificadas nos autores acima, são constatadas para a bacia do Riacho
são José. De modo geral, o panorama do NDVI nos anos de 1985 e 2005 apresenta-se próximo,
com os respectivos valores entre -0,1 e 0,68. Para o ano de 1995 ocorreu uma exceção, devido
as precipitações acima da normalidade para o período, o que tornou a vegetação bastante verde,
refletindo em índices mais elevados, atingindo máximo de 0,99. Já em 2015 os valores ficaram
entre -0,8 a 0,85.
A explicação para os elevados valores no ano de 1995 (imagem de 9 de dezembro),
como relatado por Lins et al. (2017) e Rodrigues et al. (2009), se deve a ocorrência de chuvas
nos meses antes a passagem do satélite. Pois, mesmo não sendo comum a ocorrência de
precipitações pluviais nos meses de novembro e dezembro no para a área de estudo, essas
podem ser provocadas pela influência do fenômeno atmosférico conhecido por La Niña, como
esclarecido no capítulo anterior.
Perante os resultados do NDVI, classificou-se a vegetação da BRSJ em fitofisionomias:
arbórea, arbórea/arbustiva, arbustiva, herbácea e ausência de vegetação (essa última
compreende solo exposto, afloramento rochoso e corpo hídrico) (Figura 32). Pois, os valores
constatados refletem a estrutura e caracterização da vegetação.
174
Figura 32: Mapa da variação espaço-temporal do índice de vegetação pela diferença normalizada na bacia do Riacho São José-PE.
Figura 33: Variação do índice de vegetação pela diferença normalizada na bacia do Riacho São José-PE.
Índice de Vegetação pela Diferença Normalizada em 1985, 1995, 2005 e 2015)
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
1985 1995 2005 2015
176
no médio curso da bacia do Rio Poti no Piauí (SANTOS; AQUINO, 2018) e para microbacia
hidrográfica do Riacho dos Cavalos, Crateús-CE (MELO; SALES; OLIVEIRA, 2011).
Nessa relação, fitofisionomia arbustiva representa maior porção territorial para os anos
analisados, com exceção em 2005, quando essa foi superada pela fitofisionomia herbácea.
Desse modo, a vegetação arbustiva intercalou de 33% a 40%, sendo a maior porcentagem para
177
o ano de 1985 (40,77%); diminuiu para 34,58% e 33,50%, em 1995 e 2005, respectivamente; e
apresentou indícios de recuperação em 2015, ocupando 37,59% da área da BRSJ.
Vale frisar que a capacidade de recuperação da vegetação arbustiva e herbácea é maior,
pois caracterizam espécies menos exigentes para o meio e, normalmente, têm crescimento
rápido, ao contrário das espécies arbóreas que precisam de condições mais complexas para seu
desenvolvimento, dado de modo lento.
No tocante às espécies herbáceas, essas diminuíram de maneira acentuada de 1985 para
1995, com perda territorial de pouco mais que 12 Km². E de modo inverso aumentaram para as
demais datas analisadas, saindo de 23,21 Km² para 50,53 Km², em 2005; e de 52,25 Km² no
ano de 2015, o que permitiu mensurar ampliação do uso antrópico nessas últimas décadas. Pois
são fatos comprovados o aumento das áreas com ausência de vegetação que progridem de modo
exponencial com o passar dos anos e regridem em torno de pouco mais de 3% no ano de 2015,
sendo respectivamente: 3,74% em 1985; 6,90 em 1995; 15,96% em 2005; 12,10% em 2015.
Essa ampliação e retração da vegetação herbácea reflete os modos de apropriação da
superfície terrestre. Em alguns casos revelam a ampliação das atividades agrícolas (FERREIRA
et al., 2012), em outros destaca o abandono de terras degradas, acusando a ausência da
vegetação (RÊGO et al., 2012; SANTOS; AQUINO, 2018).
Por sua vez, a variação espacial que ocorreu com a vegetação ao longo do tempo
confirma que as atividades antrópicas aumentaram, sendo mais acentuadas entre os anos de
1995 e 2005, quando se verifica aumento das classes de vegetação herbácea e a ausência de
vegetação. Assim sendo, a situação demonstra mudança no ano de 2015 pela constatação do
aumento da classe de vegetação arbustiva e da diminuição da classe ausência de vegetação.
Essa dinâmica espacial e temporal faz refletir sobre o papel da vegetação, a qual é um
elemento natural com valor de uso para a sociedade. Nas áreas de caatinga as espécies arbóreas
são exploradas devido aos beneficiamentos da madeira para diversos fins, como a
comercialização para produção de móveis, telhados, cercas e uso doméstico.
Em decorrência disso, a exploração das árvores no semiárido provocou a diminuição ou
escassez de espécies nativas (TRAVASSOS; SOUZA, 2014). A esse respeito foi feito registros
da extração de madeira das espécies arbóreas da bacia do riacho São José no baixo curso, sendo
que a exploração era principalmente da Prosopis juliflora, mas in loco constatou-se evidências
da retirada de outras espécies (Figura 34).
Essas ações, desencadeadas pela sociedade na apropriação da terra, colaboram para a
distribuição espacial de fitofisionomias. Isso se retrata na concentração de espécies arbóreas
178
nativas da caatinga reduzidas a áreas isoladas ou em grupos nas matas ciliares no Riacho São
José e tributários. Um exemplo é o bosque com braúna (Schinopsis brasiliensis
Engl/Anacardiaceae), espécie dominante nessa área que é utilizada para acampamentos e
excursões, pois entre a vegetação existem clareiras e trilhas que permitem acesso.
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) Prosopis juliflora e (b) Libidibia ferrea
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) Cerca construída a partir de madeira da caatinga e (b) registro de carvoaria inativa.
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019
(a) Área de pastagem e (b) área regeneração natural da vegetação.
180
das pirâmides de vegetação para estudo da estrutura vertical e composição fitogeográfica.
Proposta desenvolvida em Chaves e Melo & Souza (2019).
181
Figura 37: Mapa de localização das pirâmides de vegetação na bacia do Riacho São José-PE.
183
Também se destacam as espécies arbustivas, subarbustiva e herbáceas, como: Sida
cordifolia L./Malvaceae (malva-branca), Croton rhaminifolius H.B.K. e C./Euphorbiaceae
(velame), Cnidoscolus urens L. Arthur/Euphorbiaceae (urtiga), Herissantia tiubae
K.Schum./Malvaceae, Brizicky (mela-bode), Sida galheirensis Ulbr./Malvaceae (evanço),
Mimosa modesta Mart./Fabaceae – Mimosoideae (malícia), entre outras.
Assim, foram identificadas vinte e cinco famílias de plantas e cinquenta e seis espécies,
desde arbóreas às herbáceas (Figura 38 e Tabela 20). Das famílias verificadas, constata-se que
cinco delas se fazem presentes em toda a bacia e compreendem mais de 55% das espécies
identificadas, são: Cactaceae, com cinco espécies; Euphorbiaceae, com 9 espécies; Fabacea,
com onze espécies; Gramínea, com três espécies; e Malvaceae, com quatro espécies.
8
6
4
2
0
Famílias
Apocynaceae Aspidospermapyrifolium 1
Bromeliaceae Bromelia laciniosa 1
Cactaceae Tacingapalmadora eTacinga inamoena 2
Commelinaceae Commelinabenghalensis 1
Jatrophamolíssima,Croton
SítioConceição Euphorbiaceae rhaminifolius, Jatropha sp,Cnidoscolus 4
Caetés-PE 10 urens 22
P2 Amburana cearensis, Poincianella
Fabacea pyramidalis, Senegaliapolyphylla, 5
Piptadenia speBauhinia cheilantha
Gramineae Gramínea sp1,Loliummultiflorum 2
Malvaceae Waltheria indica, Sida cordifolia, 4
Herissantia tiubaeeSidagalheirensis
Rubiaceae Borreria verticillata 1
Verbenaceae Lippia sidoides 1
185
Em comum, se destaca a família Euphorbiaceae nos respectivos estudos e na bacia do
Riacho São José. Para a BRSJ as famílias Cactaceae, Euphorbiaceae e Fabacea estão presentes
nas quatro áreas amostrais.
De modo geral, no alto curso identificou-se predomínio de espécies individuais por
família ao mesmo tempo que se verificou maior quantitativo de famílias. Já na parte do médio
e baixo curso, embora revelem menor quantitativo de famílias, as espécies são mais variadas.
Sendo importante destacar que as espécies vegetais, arbóreas, arbustivas e herbáceas são
essenciais para o funcionamento e para a dinâmica do sistema, pois compreendem espécies
visitadas pelas abelhas e pequenos amimais essenciais à vida em todas as suas dimensões.
Como destacado, a base para construção das PV é o preenchimento das fichas
biogeográficas, as quais distinguem as espécies em diferentes níveis de estratos. Diante disso,
a mesma espécie pode fazer parte de mais de um estrato, ou seja, o estrato arbóreo (acima de 7
m de altura) e arborescente (3 a 7 m de altura) ou arbustivo (1 a 3 m de altura) e subarbustivo
(0,50 m a 1 m de altura). Assim, a ficha 01 (Quadro 12) é a base da pirâmide 01.
A primeira pirâmide de vegetação (Figura 39) está sobre um terreno plano, mas próximo
à encosta suave ondulada. No raio de 10 m delimitado, as espécies arborescentes e arbustivas
compreendem estado de equilíbrio, cobrindo mais de 50% e 75% da área. Já o estrato arbóreo
compreendeu apenas duas unidades, as espécies mulungu (Erythrina velutina) e algaroba
(Prosopis juliflora), que compreendem altura acima de 07 metros. Sendo que a algaroba
também faz parte do estrato arborescente, pois apresenta árvores como menos de 07 metros. No
entanto, o entorno possui outras espécies arbóreas com mais de 10 m de altura.
Na área, como representado na PV 01, as espécies subarbustivas e herbáceas recobrem
quase toda área em estado de progressão, ou seja, possuem a capacidade de expansão, já que
apresentam um ritmo de desenvolvimento e renovação mais rápido em relação às demais
espécies.
E como a PV 01 encontra-se no baixo curso, ela recebe sedimentos das porções mais
altas. Além de ter por embasamento rochas metamórficas e formação de solos bem
desenvolvidos e ricos em bases (os planossolos háplicos), porém com déficit hídrico, situação
comum ao ambiente semiárido.
Condições geológicas, geomorfológicas e pedológicas semelhantes compõem a segunda
pirâmide (Figura 40), como demonstra a ficha biogeográfica 02 (Quadro 12). Acredita-se que
essa pirâmide seja área de cobertura vegetal secundária, pois não possui estrato arbóreo,
predominando as espécies arborescentes e arbustivas.
186
Quadro 12: Ficha biogeográfica 01.
187
Quadro 13: Ficha biogeográfica 02.
188
A segunda pirâmide apresenta elementos semelhantes a PV 01, sendo que essa é
composta por quatro estratos vegetais: dois estão em estado de equilíbrio (arborescente e
arbustivo) e os outros dois em fase de progressão (os subarbustivos e as herbáceas).
Nas pirâmides 01 e 02 não se formam serapilheira, sobre o solo se encontra folhas e
galhos secos juntos a sedimentos (Figura 41). Em ambas foi identificado processos erosivos no
perímetro e no entorno, como ravinas (PV 01) e pequenos sulcos (PV 02) devido a ação hídrica
das chuvas sobre o solo exposto.
Figura 41: Solo exposto e processos erosivos na bacia do Riacho São José-PE
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) Na na pirâmide 01 e (b) na pirâmide 02.
189
Quadro 14: Ficha biogeográfica 03.
190
Em uma análise de conjunto, a pirâmide 03 reflete uma dinâmica em equilíbrio,
compreendendo uma área em estado de preservação, cujos impactos são a criação de animais
soltos e a presença de trilhas de passagem para pessoas e animais. Os acampamentos, quando
feitos, são compostos em sua maioria por pesquisadores que têm o cuidado de não impactar ou
modificar muito o lugar.
Situação semelhante encontra-se o perímetro delimitado para preenchimento da ficha
biogeográfica da PV 04 (Quadro 15). Essa apresenta substrato geológico semelhante a PV 03,
se diferenciando por apresentar um neossolo mais desenvolvido, neossolo regolítico, e
compreendendo um refúgio de vegetação de mata, conhecido como brejo de altitude.
O resultado dessa área de exceção é uma pirâmide (figura 43) que destaca espécies de
floresta estacional semidecídual, compartilhando mesmo ambiente de espécies arbóreas e
arbustivas da caatinga. Nesse contexto se destaca a dominância da espécie pororoca (Clusia
nemorosa) no estrato arbóreo, o qual apresenta-se em estado de equilíbrio junto aos demais
extratos, exceto o das herbáceas.
Observa-se na pirâmide 04 a área destinada à proteção, mesmo que algumas vezes se
tenha a presença de animais soltos, como cavalos e bois, apresentando uma dinâmica
equilibrada no geral. No entanto, por situa-se entre uma estrada que fica em uma elevação acima
do seu nível e um açude abaixo, essa área recebe o material erodido da estrada e sua lixiviação
até a área do açude.
Dentre as quatros pirâmides de vegetação construídas, a quarta apresenta dinâmica mais
equilibrada entre seus cinco estratos arbóreos, visto que a especificidade de sua composição e
interação geoecológica contribuem para isso. Mas, no geral, observa-se que muitas espécies
comuns são compartilhadas entre as diferentes pirâmides. O que é esperado e já constatado na
literatura, bem como o fato de algumas espécies serem apenas identificadas e uma única
amostra (BARBOSA, 2015; GONÇALVES; BARBOSA; PASSOS, 2015; SILVA, 2016).
Essas especificidades serão discutidas no tópico de diversidade florística.
Em termos de composição florística, as pirâmides apresentam abundância e dominância
por estrato, o que reflete na dinâmica da vegetação a partir de sua estrutura vertical, isso sempre
considerando as interações e as dinâmicas do entorno, além dos demais componentes. A esse
respeito, o estrato arbóreo está em equilíbrio nas pirâmides três e quatro, no entanto essas PV
revelam interações geoecológicas distintas, sendo a última um “refúgio Alto-Montana”,
conhecido como brejo de altitude, enclave localizado no planalto da Borborema a mais de 900
metros de altitude.
191
Quadro 15: Ficha biogeográfica 04.
192
Na pirâmide dois, o estrato arbóreo é inexistente; já na PV 01, esse encontra-se em
regressão, sendo representado apenas por dois exemplares, situação semelhante foi identificada
no estudo de Barbosa (2015). Porém, se destacam nesses e nas demais pirâmides os estratos
arborescente e arbustivo em dinâmica equilibrada, abrangendo em quase todos mais de 50% da
área do perímetro delimitado.
O estrato subarbustivo apresenta diferentes dinâmicas, sendo que o que prevalece é o
estado de progressão (PV 1 e 2), regressão na PV 3 e equilibrado na pirâmide 4. Por sua vez, o
estrato herbáceo apresenta estado de progressão para todas as pirâmides, pois sua dinâmica é
de crescimento rápido e se encontra em um meio com condição para o aumento das espécies.
No que se trata ao substrato, as pirâmides 01 e 02, localizadas sobre a mesma rocha-
mãe e tipo de solo, não formam serapilheira, possuem apenas folhas e galhos secos no chão
junto a sedimentos. Já as outras duas pirâmides (03 e 04) formam fina camada de serapilheira
e são sobrepostas sobre a mesma rocha-mãe, mas com formação de solo diferente, o qual é mais
desenvolvido na PV 04.
As pirâmides de vegetação da bacia do Riacho São José apresentam os estratos vegetais,
predominantemente, em dinâmica de equilíbrio e progressão, principalmente no tocante as
espécies arborescentes e arbustivas. Contexto também verificado nas pesquisas de Barbosa
(2015) e Gonçalves, Barbosa e Passos (2015) constatou-se dinâmicas similares a da BRSJ
(equilíbrio e progressão). Já nos trabalhos apresentados por Silva (2016), observa-se diferentes
estados, sem o predomínio de um e específico. Por sua vez, Vargas, Santos e Miola (2015) e
Gonçalves e Passos (2017) identificaram principalmente a dinâmica em progressão.
Assim, é importante ressaltar que a realização da caracterização geoecológica foi
preponderante para poder se fazer uma análise das interações existentes entre os componentes
físicos, bióticos e antrópicos que caracterizam a BRSJ e como esses interferem na estrutura
vertical da vegetação. Pois, como colocado por Passos (2000) “[...] a análise de um elemento
da paisagem (a vegetação) pode ser efetuada no sentido de compreender-se o elemento (as
espécies vegetais) e o conjunto (a formação vegetal)”, bem como, os fatores biogeográficos que
interferem na referida formação vegetal.
Por fim, com a construção das PV junto com a espacialização e classificação da
vegetação pelo NDVI, têm-se aqui apresentado a estrutura horizontal e a vertical da vegetação
da bacia do Riacho São José.
193
4.3 Diversidade Florística da Bacia do Riacho São José-PE
A fitogeografia do ambiente semiárido compõe uma diversidade cujas espécies são
fonologicamente adaptadas às características intrínsecas da variabilidade climática, geológica,
pedológica e geomorfológica. Esses aspectos definem as condições ambientais múltiplas das
caatingas e áreas serranas úmidas do Agreste pernambucano.
Tais aspectos são variados na área de abrangência da bacia do Riacho São José, o que
faz refletir as diferentes fisionomias da composição florística e da diversidade, fenômenos que
serão abordados no presente tópico, com foco na riqueza da caatinga, ou como colocado por
Ab’Sáber “Caatingas” (2003). Pois compreende tema que deve ser explorado em profundidade,
revelando, por meio de índices de diversidade, uniformidade e dominância das espécies vegetais
da BRSJ (FERNANDES; CARDOSO; QUEIROZ, 2019).
E como se trata de um ambiente rural antropizado, a discussão dos resultados
apresentados também compreende as influências ocorridas na mudança da cobertura da terra
mediante os diferentes índices mensurados, diagnosticando as áreas mais conservadas e as que
estão sob maior pressão das ações antrópica.
Assim, observa-se que estudos em diferentes ambientes semiáridos têm destacado como
é diversa a composição da vegetação existente por meio de análises da riqueza de espécies e
índices de diversidade, entre outros parâmetros (ALCOFORADO-FILHO; SAMPAIO;
RODAL, 2003; MARACAJÁ et al., 2003; ANDRADE et al., 2005; BARBOSA et al., 2012;
OLIVEIRA; COSTA, 2019).
Na BRSJ, o estudo da diversidade da vegetação é relevante diante da sua disposição
espacial, a qual compreende vegetação caatinga entre áreas subúmidas, acima de 800 m de
altitude do planalto da Borborema, a áreas semiáridas características da depressão do baixo São
Francisco. Essa relevância se dá por entender como a riqueza de espécies varia espacialmente
como um importante campo de estudo biogeográfico (GOTELLI et al., 2009). Para isso, se fez
uso de índices de diversidades específicos, foram eles: Índice de Diversidade Shannon, Índice
de Equitabilidade/Uniformidade de Pielou e Índice de Dominância Simpson.
Em termos gerais, a diversidade de uma área, comunidade ou amostra é medida a partir
da quantificação do número de espécies existentes e/ou a descrição da abundância relativa
(MAGURRAN, 1988; MORENO, 2001). No caso da bacia do Riacho São José, identificou-se
e contabilizou-se as espécies em quatro áreas pré-definidas (amostras) dentro de um raio de
10m (314m²), no sentido Oeste-Leste, conforme descrito na metodologia para construção das
pirâmides de vegetação e dos índices de diversidade florística.
194
Com os dados fitogeográficos tabulados (Tabela 21), as informações obtidas por
amostra foram: a riqueza de espécies ou riqueza específica (S), a qual corresponde a
identificação das espécies existentes; número total de indivíduos (N); a abundância das espécies
(A), que equivale a quantidade de indivíduo para cada espécie identificada em unidade; e
abundância proporcional (pi), que compreende a relação entre A/N.
No contexto de medidas de diversidades, a riqueza específica é a mais simples de ser
mensurada, no entanto, possui caráter intuitivo, embora seja utilizada com sucesso
(MAGURRAN, 1988; GOTELLI; COLWELL, 2011). De acordo com Magurran (1988),
quando a área de estudo é delimitada com êxito no espaço e no tempo e as espécies constituintes
identificadas e quantificadas, a riqueza de espécies fornece uma medida de diversidade
extremamente útil.
Nesse sentido, na bacia estudada, as amostras foram delimitadas seguindo os mesmos
procedimentos e suas espécies foram identificadas e quantificadas, o que permitiu estimar S e
N. De acordo com tais dados, intuitivamente pode-se dizer que a amostra 04 (AM_04) apresenta
maior riqueza (com 19 espécies), seguida por AM_01 (com 18), AM_03 (com 17) e AM_02
(com 15 espécies), menor riqueza constatada.
A riqueza específica apresentada na tabela 21, embora revele que a amostra 04
intuitivamente apresenta maior diversidade, não coloca em evidência as abundâncias das
espécies, ou seja, o número de indivíduos por espécies identificadas. Para isso se fez necessário
a construção de diagramas: distribuição das espécies e classificação de abundância para a bacia
do Riacho São José (a qual representa em ordem decrescente a distribuição da abundância por
amostra).
O diagrama de distribuição das espécies (Figura 44) apresenta a divisão das espécies de
acordo com o número de indivíduos representativos. Isso revela que, embora todas as amostras
apresentem espécies com até 31 (AM_01) ou 30 (AM_02, AM_03 e AM_04) indivíduos, a
distribuição não é homogênea ao longo da bacia, como evidencia o gráfico boxplot dos dados.
Logo, observa-se que as amostras 03 e 04 compreendem espécies com menor incidência do que
as amostras 01 e 02, isso se verificar pela posição do segundo quartil (linha divisória da caixa
de plotagem) que representa a mediana dos valores, contendo 50% das espécies identificadas
por ponto amostrado.
195
Tabela21:Tabulaçãodosdados fitogeográfico emedidadediversidadebaseadona riquezaespecíficadabacia doRiachoSãoJosé-PE.
Espécie AM_01 pi/AM_01 AM_02 pi/AM_02 AM_03 pi/AM_03 AM_04 pi/AM_04
Erythrina velutina 1 0,004 0 * 0 * 0 *
Prosopis juliflora 31 0,118 0 * 0 * 0 *
Sideroxylonobtusifolium 3 0,011 0 * 0 * 0 *
Sena sp 8 0,030 0 * 0 * 0 *
Poincianella pyramidalis 30 0,114 20 0,067 0 * 0 *
Piptadenia sp 2 0,008 1 0,003 1 0,014 0 *
Senegalia polyphylla 3 0,011 2 0,007 0 * 1 0,004
Ziziphus joazeiro 1 0,004 0 * 0 * 0 *
Cereus jamacaru 2 0,008 0 * 2 0,028 3 0,013
Jatrophamolíssima 31 0,118 30 0,101 1 0,014 0 *
Tacingapalmadora 10 0,038 2 0,007 0 * 0 *
Sida cordifolia 30 0,114 15 0,050 0 * 30 0,136
Croton rhaminifolius 31 0,118 30 0,101 0 * 30 0,136
Pilocereusgounellei 15 0,057 0 * 0 * 0 *
Crotonargirophylloides 2 0,008 0 * 0 * 0 *
Cnidoscolusurens 30 0,114 30 0,101 0 * 4 0,018
Tacinga inamoena 30 0,114 30 0,101 0 * 0 *
Pilosocereus spp 1 0,004 0 * 2 0,028 0 *
Amburana cearensis 0 * 1 0,003 0 * 0 *
Lippia sidoides 0 * 12 0,040 5 0,070 0 *
Waltheria indica 0 * 30 0,101 0 * 0 *
Aspidospermapyrifolium 0 * 1 0,003 0 * 0 *
Bauhinia cheilantha 0 * 2 0,007 0 * 0 *
Herissantia tiubae 0 * 30 0,101 30 0,42 0 *
Jatropha sp 0 * 30 0,101 0 * 0 *
Bromelia laciniosa 0 * 30 0,101 0 * 0 *
Myracrodruonurundeuva 0 * 0 * 1 0,014 0 *
Schinopsis brasiliensis 0 * 0 * 5 0,070 0 *
Mimosa tenuiflora 0 * 0 * 1 0,014 13 0,059
Libidibia férrea 0 * 0 * 1 0,014 0 *
Euphorbiaphosphorea 0 * 0 * 1 0,014 0 *
Chloroleucondumosum 0 * 0 * 7 0,098 0 *
Croton tricolor 0 * 0 * 3 0,042 0 *
Capsicumparvifolium 0 * 0 * 10 0,140 30 0,136
Oxalis debilis 0 * 0 * 1 0,014 0 *
Clusia nemorosa 0 * 0 * 0 * 30 0,136
Hymenaea eriogyne 0 * 0 * 0 * 2 0,009
Syagrus coronata 0 * 0 * 0 * 4 0,018
Sapiumargutum 0 * 0 * 0 * 1 0,004
Psidiumsp 0 * 0 * 0 * 1 0,004
Croton zehntneri 0 * 0 * 0 * 1 0,004
Ageratumconyzoides 0 * 0 * 0 * 3 0,013
Vanillosmopsis erythropapa 0 * 0 * 0 * 2 0,009
Varroniaglobosa 0 * 0 * 0 * 1 0,004
Sennamartiana 0 * 0 * 0 * 4 0,018
Mimosamodesta 0 * 0 * 0 * 30 0,136
Mimosaquadrivalvis 0 * 0 * 0 * 30 0,136
NúmeroTotal de Indivíduos (N) 261 1 296 1 71 1 220 1
RiquezaEspecífica /Número 18 ** 17 ** 15 ** 19 **
TotaldeEspécies (S)
Fonte:A.M.S.CHAVES,2020.
*Ausênciadeespécieparao cálculo
**Nãomensurável
196
Figura 44: Diagrama de distribuição das espécies em relação ao número dos indivíduos representativos.
197
Figura 45: Diagramas de curvas de dominância por amostra.
199
McGill et al. (2007) observam que, em diferentes pontos amostrados, com frequência
uma espécie rara se torna abundante ou uma espécie abundante se torna rara, situação que se
constata ao analisar composições florísticas da BRSJ, considerando os gradientes ambientais.
Assim, tem-se os seguintes casos verificados (conforme apresentado na tabela 20): a
espécie Jatropha molíssima apresenta abundâncias máximas para as AM_01 e AM_02, 31 e 30
indivíduos, respectivamente, e raridade para a AM_03 com 1 exemplar; Cnidoscolus urens
apresenta grande dominância para as amostras 01 e 02, com 30 indivíduos para ambas e entra
no contexto de raridade para a AM_04, com 4 exemplares; Capsicum parvifolium é abundância
máxima para AM_04 e raridade para a amostra 03 com 10 unidades representativas.
As amostras 01 e 02 apresentam semelhanças na composição florística com abundâncias
proporcionais elevadas para espécies comuns, a exemplo da Poincianella pyramidalis, Sida
cordifolia, Croton rhaminifolius, Cnidoscolus urens e Tacinga inamoena. Situação decorrente
da localização geográfica e de condições ambientais semelhantes, pois ambos os pontos de
amostragem se encontram na posição sotavento da depressão do baixo São Francisco.
Já as amostras 03 e 04 apresentam maior diferença na composição florística e
abundância proporcional, isso também se justifica pelo diferencial geográfico e pelas condições
ambientais. Enquanto a AM_04 está sobre a parte alta do planalto da Borborema acima de 900m
de altitude, a AM_03 compreende descida do vale em altitude de 807m.
A classificação da abundância em diagramas compreende método eficaz para ilustrar
mudanças na diversidade em relação a modificações (perturbações) ambientais, por esse motivo
é importante conhecer os fatores geográficos e ambientais do ambiente escolhido para as
amostragens, pois eles condicionam a diversidade florística existente (MAGURRAN, 1988;
2004; BOHRER, 1998; MCGILL et al., 2007; GOTELLI et al., 2009).
Nesse sentido, para a bacia do Riacho São José, observou-se que a dispersão das
medidas de diversidade, índices de diversidade Shannon, Uniformidade de Pielou e Dominância
Simpson (tabela 22) sofrem influência das variáveis geográficas e ambientais sobre as quais as
amostras estão localizadas, com destaque as classes de solo, declividade do terreno e gradiente
altimétrico (Figura 46).
200
Figura46:Variáveis ambientais quecaracterizamadispersãodasmedidasdediversidadepara abacia doRiachoSãoJosé-PE.
Elaboração:A.M.S.Chaves, 2020.
201
No que diz respeito aos índices de diversidade, uniformidade e dominância, estes
corroboram para definir as amostras 02 e 01 como as que apresentam composição florística
mais diversas, bem como indicam a AM_03 com menor diversidade, conforme apresentado na
dispersão dessas medidas.
Relacionando a variação dos índices mensurados com a localização geográfica e os
fatores ambientais associados, verificou-se que as amostras com maior diversidade,
uniformidade e dominância estão sobre a mesma classe de solo, o planossolo háplico,
declividade plana e cotas altimétricas abaixo de 600 metros.
As composições florísticas das AM_02 e AM_01 também são as mais similares, com
predomínio das fitofisionomias arborescentes e arbustivas, sendo que na área delimitada da
amostra 02 não houve registro de espécies arbóreas com altura acima de sete metros (as
especificidades da estrutura vertical da flora da BRSJ encontram-se no tópico anterior sobre as
pirâmides de vegetação).
Na amostra 03, onde constatou-se as menores medidas mensuradas, as variáveis
ambientais são distintas das demais amostras, estando sobre encosta com declividade ondulada
em neossolo litólico, altimetria acima de 800 metros e fitofisionomia arbórea e arborescente
predominantes. Também, nessa amostra localizada em descida de vale, a vegetação encontra-
se mais conservada, porém a riqueza e a abundância das espécies constatadas são as menores.
Por sua vez, a quarta amostra é a terceira mais diversa e está localizada em ambiente de
“brejo de altitude” acima de 900 metros, configura variáveis ambientais distintas das outras
amostras, com exceção da declividade plana, similar às AM_01 e AM_02. Assim, sobre o
neossolo regolítico predominam as fitofisionomias arbóreas, arborescentes e arbustivas, com
presença de espécies de floresta estacional semidecidual, a exemplo da Hymenaea courbaril
(jatobá) e Clusia nemorosa (Pororoca).
Em um contexto global, considerando todas as espécies identificadas e contabilizadas
na BRSJ (soma das quatro amostras), constatou-se que os índices de diversidade Shannon e
Dominância Simpson são mais elevados do que os valores estimados por amostra. No entanto,
o índice de uniformidade de Pielou é inferior ao das amostras 01 e 02, o que reflete o grande
contraste na abundância das espécies da bacia.
Considerando as medidas de diversidade mensuradas para a BRSJ, observa-se que o
índice de diversidade Shannon é mais aceito e utilizado na literatura (MAGURRAN, 1988;
2004; MORENO, 2001; RICOTTA, 2005; MELO, 2008). Por sua vez, em ambiente de
caatinga, estudos vêm revelando que os índices variam entre 0,86 a 3,26 (BARBOSA et al.,
2012), ou seja, de baixa a alta diversidade, pois os valores de diversidade Shannon tendem a
ficar entre 1,5 e 3,5 (MARGALEF, 1972 apud MAGURRAN, 1988).
Vale frisar que estudos sobre a diversidade florística em ambiente semiárido demostram
que, devido ao histórico de perturbação, os índices têm se revelado baixos, não chegando a
atingir o valor H’ de 02 (CALIXTO JÚNIOR; DRUMOND, 2011; ALVES JUNIOR et al.,
2013; HOLANDA et al., 2015). Situação não ocorrida na bacia estudada porque a escolha dos
pontos amostrais levou em consideração áreas onde a vegetação mostrou-se estável nos últimos
30 anos, conforme procedimento proposto por Chaves e Melo & Souza (2019).
Sabe-se que o índice Shannon para a BRSJ é de 3,13, conferindo ambiente com boa
diversidade e apresenta-se superior ao verificado na literatura. Mas, ao analisar os dados por
amostras, verificou-se variação entre 2,00 na AM_03 a 2,48 para AM_02, o que confere valores
semelhantes ao já constatado na literatura para outras áreas semiáridas, como constatado por
Alcoforado-Filho et al. (2003), Silva (2009); Barbosa et al. (2012), Alves Junior et al. (2013)
e Marangon et al. (2013).
A exemplo, Barbosa et al. (2012) estimaram a diversidade H’ de um fragmento de
caatinga inserido no Planalto da Borborema com variação altimétrica entre 650 e 1.000 metros,
condições semelhantes ao da bacia do Riacho São José, constatando valor de 2,05 (próximo ao
verificado na AM_03 da BRSJ). Já Alcoforado-Filho et al. (2003), ao estudarem um
remanescente de vegetação caducifólia espinhosa arbórea em Caruaru-PE, constataram
diversidade Shannon de 3,09, valor aproximado ao de 3,13 verificado na área total da BRSJ.
Diante dessas variações, é importante esclarecer que os índices de diversidade tendem
a aumentar com o esforço da amostragem (MAGURRAN, 1988; 2004; MCGILL et al., 2007;
GOTELLI et al., 2009. Em vista disso, ao alargar o tamanho das amostras ou considerar todas
as espécies vegetais da área pesquisada os índices mensurados serão mais expressivos.
Sobre isso, em um levantamento da flora de angiospermas existente no vale do Riacho
São José, Vieira et al. (2017) identificaram 171 espécies e 45 famílias, o que revela a
possibilidade do índice Shannon atingir o valor acima de 4,5, tido como exceção e só possível
de ocorrer quando se constata mais de 105 espécies (MAY, 1975 apud MAGURRAN, 1988).
No entanto, a quantificação da abundância das espécies exige um esforço considerado
impossível para uma área com mais de 100Km², pois a maioria dos índices precisam da
identificação e quantificação das espécies.
O segundo índice mensurado foi a uniformidade de Pielou, medida que varia entre 0 e
1, em que zero (0) representa desproporcionalidade na abundância e um (1) confere situação
203
em que todas as espécies são igualmente abundantes (MAGURRAN, 1988), logo, quanto mais
próximo ao valor 1, maior a uniformidade das amostras.
Para a bacia do Riacho São José, a uniformidade geral foi de 0,81, o que significa dizer
que ela apresenta boa equabilidade na distribuição de indivíduos por espécies. Já na análise por
amostra, a uniformidade variou entre 0,74 para AM_03 e 0,87 na AM_02. Por sua vez, as
amostras 01 e 04 apresentaram, respectivamente, 0,84 e 080.
Apesar da variação da uniformidade entre as amostras, os valores são representativos,
pois outros estudos sobre a flora semiárida apresentam equitabilidade abaixo de 0,70 ou entre
0,71 e 0,79, poucos ultrapassam o valor de 0,80 (CESTARO; SOARES, 2004; CALIXTO
JÚNIOR; DRUMOND, 2011; BARBOSA et al, 2012; ALVES JUNIOR et al., 2013;
HOLANDA et al., 2015; SABINO; CUNHA; SANTANA, 2016). Nesse sentido, observa-se
uma boa uniformidade para a BRSJ.
No tocante a dominância de Simpson (D), poucos estudos têm explorado essa medida
para o ambiente semiárido, isso se deve à falta de sua popularidade em relação a diversidade
H’ e uniformidade J’, embora seja tido como um parâmetro robusto (MAGURRAN, 1988;
2004) que corrobora na análise da diversidade junto às demais medidas realizadas.
Para a bacia do Riacho São José, o índice de dominância (D) é de 0,94. Por amostra, os
valores corroboram com Diversidade Shannon e Uniformidade de Pielou, pois indicam a
mesma sequência de importância das amostras: variação de 0,78 para AM_03 a 0,91 na AM_02.
Em relação a outros estudos no semiárido, os resultados constatados são próximos ao verificado
na literatura (SILVA, 2009; ALVES JUNIOR et al., 2013; e MARANGON et al., 2013).
Alves Junior et al. (2013) e Marangon et al. (2013), em estudos realizados no município
de Floresta-PE, estimaram dominância de 0,77 e 0,84, próximo ao verificada na AM_03 e
AM_04 da BRSJ. Por sua vez, Silva (2009) aferiu dominância de 0,86 e 0,88 para a região
Agreste de Pernambuco, valores similares às amostras 01 e 02 da Bacia estudada nessa
pesquisa.
Diante dos dados apresentados, observa-se que a análise da diversidade, uniformidade
e dominância corroboram entre si, indicando que a BRSJ apresenta uma boa diversidade
fitogeográfica, embora os valores variem espacialmente em contraste com as condições
ambientais. Mas, quando comparado a outros estudos em ambiente de caatinga, os índices
gerais da bacia estão entre os mais elevados, acima de 3 para Shannon, 0,80 em uniformidade
e dominância de 0,94, revelando relação de equilíbrio entre riqueza e abundância das espécies
identificadas e quantificadas.
204
Vale lembrar que as medidas de diversidade também permitem avaliar a perda de
espécies e o potencial de conservação dos ambientes amostrados (DIAS, 2020). Nesse contexto,
observou-se na BRSJ que a diversidade reflete os fatores ambientais e geográficos, o que não
significa que a amostra 03, por apresentar menor diversidade, seja a menos conservada; pelo
contrário, sua localização compreende uma das porções mais conservadas do médio curso, isso
por compreender encosta de vale com declividade ondulada sobre neossolo litólico, o que
restringe o desenvolvimento de usos antrópicos.
Já as amostras 02 e 01, apesar de apresentarem os melhores índices mensurados, estão
mais susceptíveis a usos antrópicos, pois apresentam características ambientais favoráveis a
utilização humana. No entanto, a localização geográfica compreende uma área pouco habitada
e com restrições hídricas por estar a sotavento do planalto da Borborema.
Situação contrária se constata na AM_04, que além estar em uma localização geográfica
de fácil acesso e povoada sobre o planalto da Borborema, as médias pluviométricas são mais
bem distribuídas ao logo dos anos e os fatores ambientais são favoráveis ao desenvolvimento
de atividades antrópicas, denotando área que sofre maior pressão de uso. Porém, devido a laços
afetivos com o lugar, o proprietário optou por manter a área conservada.
Em vista disso, nos contextos apresentados, depreende-se que as medidas de diversidade
podem ser tidas como indicadoras que reforçam a importância da BRSJ enquanto área para
conservação de representativas fitofisionomias do ambiente semiárido no Agreste
pernambucano. Para isso, é necessário um planejamento ambiental conservacionista que
considere as potencialidades e as limitações paisagísticas do território.
Assim, diante das diferentes métricas para estimar a diversidade florística de uma área
(na impossibilidade de realizar mais de uma) observando os parâmetros e as suas
aplicabilidades, deve-se priorizar os dados de riqueza, a abundância das espécies, (pois deles
dependem a maioria dos cálculos de diversidade) e escolher à medida que apresentar maior
relação com essas informações. Nesse sentido, foi feito o diagrama de coeficiente de correlação
entre as medidas de riqueza, diversidade H’, uniformidade J’ e Dominância Simpson (Figura
47), conforme método de Pearson, para saber quais apresentam maior correlação com a riqueza.
De modo geral, o coeficiente de correlação mede o grau de relacionamento e a direção
linear entre as variáveis no intervalo entre -1 a +1. Assim, quando as variáveis apresentarem
valor -1 ou próximo a esse, as correlações negativas são fortes; se forem +1 ou próximo a esse,
tem-se correlações positivas fortes; já valores 0 ou próximo a esse valor, apresentam ausência
ou baixa correlação (ROGERSON, 2012).
205
Assim, dadas as possibilidades de correlação para a BRSJ, os valores indicaram
correlações positivas entre todas as medidas estimadas. Sendo a relação mais forte a existente
entre a riqueza de espécies e o índice de diversidade H’ com coeficiente de 0,92, o que permite
entender que H’ é o melhor índice para indicar a diversidade da bacia estudada.
Figura 47. Diagrama de correlação das medidas de diversidade da Bacia do Riacho São José-PE.
Pode-se dizer que a riqueza apresenta correlações positivas com as outras medidas de
diversidade, sendo considerada moderada com a dominância Simpson, cujo coeficiente é de
0,61; muito baixa com a uniformidade ao apresentar correlação de 0,06. A diversidade H’
apresenta correlação elevada de 0,87 com a D e correlação baixa de 0,44 com a uniformidade.
Por sua vez, a dominância apresenta correlação moderada a elevada com todas as medidas.
Por fim, diante das métricas e das relações observadas, acredita-se que a dinâmica
fitogeográfica da BRSJ foi compreendida em sua totalidade, não por se ter quantificado e
identificado todas as espécies existentes (isso está fora do alcance dessa pesquisa), porém bem
adiantado no trabalho de Vieira et al (2017) como um levantamento florístico da área,; mas,
por ter realizado uma análise espacial, temporal, estrutural das fitofisionomias e ter estimado a
diversidade da bacia e as suas interações com o meio geográfico, ou seja, entendendo como as
partes interagem na unidade do todo, em que cada uma exerce função colaborativa e essencial.
206
CAPÍTULO V
208
mesmo o semiárido sendo o detentor do domínio da caatinga (exclusividade do Brasil), pouco
tem se conservado nessa região (MMA, 2019).
A esse respeito, estudos sobre padrões e mudanças nos modos de cobertura e
apropriação da terra são tidos como pré-requisitos básicos para análise e diagnóstico desses
ambientes, além de revelar como o sistema territorial e as dinâmicas territoriais estão
organizados. Sobre isso, de início é importante esclarecer que, conceitualmente, cobertura e uso
apresentam entendimentos distintos, pois a cobertura refere-se aos componentes naturais ou
artificiais que recobrem a superfície terrestre (áreas vegetadas, hidrografia e áreas construídas);
já o uso da terra compreende as atividades antrópicas feitas sobre a Terra e sua cobertura natural
(ANDERSON et al., 1976).
Nesse entendimento, a bacia do Riacho de São José compreende um sistema territorial
sobre o qual faz-se refletir relações complexas que envolvem o quadro natural e o contexto
social, econômico e político. Isso, principalmente, por se tratar de um ambiente delineado entre
dois municípios e limitada por outros dois.
Vale frisar que as relações que destacam a aptidão natural dos ecossistemas que
compõem o ambiente semiárido (domínio da caatinga), integrando a vegetação e a fauna com
funções ecológicas e valor de uso pelo homem. Desse modo, uma vez que a natureza é
(vegetação, fauna, solo, geologia, água, vento) modificada e utilizada pelo homem, ela passa a
prestar serviços, os quais são entendidos como “Serviços Ecossistêmicos” (SE).
Na literatura, estudos relacionados aos serviços ecossistêmicos sugiram da preocupação
com o meio ambiente, as funções ambientais e ecológicas diante das mudanças e com os
impactos provocados pelo modo de vida humano devido aos usos desenfreados dos recursos
naturais. Em decorrência disso, surgiu a Avaliação do Milênio (AM) para os ecossistemas,
destacando que a demanda por bens e serviços ecossistêmicos (como alimentos e água potável)
vêm crescendo. Em contrapartida, as ações humanas estão diminuindo a capacidade de muitos
ecossistemas em suas funções ambientais e ecológicas de atender tais demandas. (ALCAMO,
et al, 2003).
Por conta disso, a Avaliação do Milênio para os Ecossistemas envolveu governos,
setores privados, organizações não-governamentais e cientistas com a finalidade de fornecer
uma avaliação integrada das consequências geradas pelas mudanças provocadas nos
ecossistemas, e, nesse âmbito, analisar as possíveis opções que venham melhorar a conservação
dos ecossistemas e das suas atividades (ALCAMO, et al, 2003).
A esse respeito, em 2013, foi publicado a Classificação Internacional Comum de
Serviços Ecossistêmicos (CICES, 4.3), referência que teve como ponto de partida a Avaliação
209
do Milênio organizada com finalidade de ajudar estudos e pesquisas voltadas a medir,
contabilizar e avaliar os SE prestados. Para tanto, a CICES foi “desenvolvida no contexto do
trabalho no Sistema de Contabilidade Econômica e Ambiental, liderado pela Divisão de
Estatística das Nações Unidas”, sendo largamente utilizada em pesquisas sobre os SE, a
exemplo: identificação de SE, elaboração de indicadores, mapeamento e avaliação dos SE
(HAINES-YOUNG, 2016, p. 1; HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2018, p. 1).
Em 2016, Haines-Young realizou uma pesquisa com a finalidade de melhorar a CICES
4.3, para isso, foi aplicado 327 questionários aos usuários, com a finalidade de saber as
experiências vivenciadas e identificar onde estão os seus pontos fortes e fracos. Os resultados
da pesquisa (realizada para a Agência Europeia do Ambiente (AEA), junto as contribuições de
dois workshops organizados no Projeto ESMERALDA, financiado pela UE (www.esmeralda-
project.eu)) permitiram realizar uma revisão da CICES 4.3 e a publicação da nova versão,
CICES 5.1, em 2018 (HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2018).
Em termos conceituais, a AM e a CICES apresentam definições similares. A primeira
compreende os SE como “[...] benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas [...]”,
incluindo serviços de provisionamento, regulação, manutenção e culturais (ALCAMO, et al,
2003). Já a CICES, Haines-Young e Potschin (2018) definem os serviços ecossistêmicos como
contribuições provindas dos ecossistemas para o bem-estar humano, sendo distintos dos bens e
benefícios derivados.
É válido mencionar que existem diversos conceitos sobre os SE, alguns ligados a áreas
específicas do conhecimento científico, como Economia, Ecologia, Biologia, Recursos
Naturais, entre outros. A esse respeito, Alcamo et al. (2003), os relatórios da Avaliação do
Milênio (2005), Burrett (2008) e os trabalhos de Santos (2018) e Oliveira (2019) abordam essa
diversidade conceitual.
Assim, de acordo com o exposto, fica evidente que entender a dinâmica caracterizadora
da cobertura e os modos e apropriação atuais da bacia do Riacho São José demandam uma
exposição sobre aspectos políticos e administrativos, os quais estão ligadas às questões sobre a
população, bem como às questões inerentes a dinâmica natural de cunho ecológico.
Nesse contexto, a discussão apresentada nesse capítulo compreende os aspectos
territoriais das questões políticas e administrativas; traz a conjuntura da cobertura e apropriação
da terra em um recorte espaço-temporal de 30 anos; colocar em destaque a relação do sistema
territorial (padrões de usos e elementos contidos) com a prestação de serviços ecossistêmicos
derivados das classes de cobertura da terra.
210
5.1 Contexto Político Administrativo da Bacia do Riacho São José-PE
A bacia do Riacho São José, politicamente, faz parte de quatro munícipios da Região
Agreste Pernambucana, sendo que territorialmente as maiores proporções ficam entre Caetés e
Pedra, enquanto Venturosa e Paranatama compreendem limites e pequenas áreas (Figura 48).
Regionalmente, a bacia faz parte da microrregião de Garanhuns (nos municípios de Caetés,
Paranatama e Venturosa), no alto e médio curso e da microrregião do Vale do Ipanema,
(representada pela zona rural de Pedra na área dos distritos de São Pedro Cordeiro e Santo
Antônio) no baixo curso.
Diante da configuração política-administrativa, coube destacar o percentual territorial
que compreende a BRSJ em cada munícipio pertencente, pois dessa forma pôde-se evidenciar
aqueles que recepcionam as porções em extensão na bacia hidrográfica. A relação segue
completa na tabela 23, em que Caetés compreende maior proporção, 76,95 % da bacia, a qual
corresponde 34,23% de sua área territorial; seguida por Pedra e Paranatama com,
respectivamente, 16,50 % e 6,55 %. Como Pedra possui a maior extensão municipal em
comparação aos demais, a BRSJ ocupa aproximadamente 3% de seu território, já referente a
Paranatama a extensão ocupada pela bacia é de 4,16%.
211
Figura 48: Mapa de delimitação política da bacia do Riacho São José-PE.
215
O indicativo desta saída está nas áreas onde restam, apenas, a cisterna que fomentava as
atividades da família em período seco, casas antigas construídas de taipa desabitadas (Figura
51) e até mesmo casas de alvenaria desocupadas, estas, excepcionalmente, quando os
proprietários possuem mais de um domicílio em sua propriedade e não moram na zona rural.
216
Tabela 25: Estimativa da população residente nos setores censitários pertencentes a bacia do Riacho São José.
Estimativa da População na Área da Bacia e Entorno de Acordo com Setores Censitários
População Total por População Total por
Municípios Homens Mulheres População Total
Município Município (%)
407 382 789
188 190 378
398 380 778
Caetés 370 337 707 4.228 67,77%
331 340 671
319 212 531
206 168 374
286 271 557
Pedra 1.530 24,52%
477 496 973
Paranatama 257 224 481 481 7,71%
Total 3.239 3.000 6.239 6.239 100,00%
Fonte: Censo demográfico do IBGE 2010. Organização: A. M. S. CHAVES, 2019.
Diante das especificidades naturais de serras (Figura 52) que caracterizam a paisagem
do médio curso, a população residente nos domicílios do baixo curso da bacia tem a prestação
de serviços básicos de assistência atendida nos povoados e na cidade de Pedra, embora parte
dessas pessoas residam nos limites municipais de Caetés. Isso ocorre devido a proximidade,
disponibilidade de transporte para escola e atendimento de saúde.
Figura 52: Estrada em feições de serras no acesso entre o médio e baixo curso da bacia do Riacho São José-PE.
217
Nesse sentido, essas áreas compreendem a faixa denominada por alguns como “terra
sem dono”, do ponto de vista da gestão pública, pois são terras distantes da sede do município
de origem, com estradas íngremes e sinuosas, acompanhando os contornos das serras, e com
pouca manutenção, ficando intransitável durante chuvas intensas.
Pode-se dizer, então, que esses aspectos apontam que tais fatores promovem relações
intermunicipais por conta dos serviços prestados à população, em certa parte da bacia no setor
a oeste, mesmo que a delimitação geopolítica ou físico-natural esteja em evidência porque as
interações sociais são complexas e diversas.
218
Figura 53: Mapa da cobertura da terra na bacia do Riacho São José-PE.
Figura 54: Registros de áreas de vegetação natural no médio curso da bacia do Riacho São José-PE.
b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2017; 2018.
(a) Maio de 2017 e (b) maio de 2018
220
Esse aspecto é comum ao ambiente semiárido das bacias pernambucanas, pois Calado e
Duarte (2019) constataram a mesma realidade para a Rio Maniçoba no município de Sanhoró
na região Agreste de Pernambuco, como também foi observado por Silva (2017) para a bacia
do Rio Ipanema-PE/AL. Contexto em que a apropriação do solo reflete a declividade do terreno,
limitando as áreas de vegetação natural as encostas íngremes e topos de morros.
Nesses ambientes em que a vegetação natural encontra-se conservada, as dinâmicas
ecológicas se desenvolvem com maior equilíbrio, em decorrência disso a prestação dos serviços
ecossistêmicos de regulação e manutenção são mais eficazes. Isso não impossibilita usos
alternativos, como atividades de bem-estar humano ao ar livre, principalmente quando a
paisagem configura elementos de lazer, como cachoeiras.
Na porção do alto e médio curso da BRSJ, as áreas com caatinga são mais fechadas e
arborizadas, já no baixo curso se encontra a caatinga aberta, composta principalmente por
espécies arbustivas. Isso ratifica certo padrão comum na região semiárida de Pernambuco e
outros estados nordestinos, como constatado em Oliveira e Galvíncio (2011), Coelho et al.
(2014) e Accioly et al. (2016).
Assim sendo, Accioly et al. (2016, p. 07) destacam que “A maior proporção de caatinga
densa no Agreste, em relação ao Sertão, é atribuída aos solos associados ao relevo movimentado
desta mesorregião”. Essas interações caracterizam uma vegetação com características não
uniformes, cuja variabilidade está associada aos fatores ambientais (ACCIOLY et al., 2016),
configurando distintas fitofisionomias. Desse modo, como observado no médio curso da bacia,
devido as características físico-naturais, encontra-se a vegetação mais representativa.
Referente às áreas antrópicas agrícolas, verificou-se a manutenção do padrão de
apropriação da terra ao longo da série analisada, pois no alto curso da BRSJ destacam-se as
atividades voltadas à agricultura e pecuária extensiva, e no baixo curso predominam a pecuária
e o cultivo voltados para a nutrição animal, como a plantação de palma forrageira. No entanto,
é comum verificar os mesmos tipos de cultivo em diferentes espaços da bacia que possibilitem
tal desenvolvimento em diferentes expressões.
Essa diferenciação na cobertura e tipos de uso agrícola se deve principalmente às
características climáticas locais, condicionadas pelo relevo e a forma alongada da BRSJ com
cotas altimétricas de 470m a 980m. Sendo que a amplitude altimétrica ultrapassa os 500 metros,
onde a parte do alto curso (localizada no planalto da Borborema) compreende área à barlavento
recepcionando maior umidade e o baixo curso (na depressão do baixo São Francisco) a
sotavento no com menor umidade e altas temperaturas.
221
Esse contraste também foi verificado na bacia do Riacho do Saco em Serra Talhada-PE.
Sobre essa, Souza (2014, p. 21) destaca que diferenciação da cobertura vegetação e apropriação
da terra está “[...] estritamente ligada à diferença altimétrica e de precipitação entre os
patamares da bacia[...]”. O autor desataca a importâncias dos reservatórios para manutenção
das atividades agrícolas.
No tocante a utilização direta da madeira da caatinga e outras espécies exóticas, foi
possível registrar a retirada e posterior queima dos galhos e raízes das árvores sem utilidade.
Prática evidenciada ao longo da bacia para uso na construção de cercas, lenha para queima
utilizada na cozinha e para a edificação de telhados (Figura 55).
b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019; 2020.
(a) baixo curso e (b) médio curso.
222
A queima de galhos e resíduos da vegetação tem por finalidade limpar o terreno,
suprimindo vestígios que restrinjam as atividades agrícolas, sendo realizada até mesmo em local
desfavorável ao plantio por conta da presença de afloramentos rochosos. Já a madeira retirada,
seja de espécies da caatinga ou não, é utilizada pela população para a construção de cercas e
também para ser utilizada nos serviços domésticos, como lenha para fogão (queima). Vale
ressaltar que há vestígios de antigas carvoarias, as quais faziam carvão, porém atualmente estas
estão abandonadas e deterioradas pelo tempo.
O cultivo agrícola, apesar da restrição de usos em algumas áreas declivosas com
neossolo litólico, ocorre em toda bacia, inclusive no médio curso, sendo comum a criação de
animais (bovinos, caprinos, suínos e galináceos) e a plantação de culturas integradas, como
palma forrageira, milho e feijão (Figura 56).
Figura 56: Exemplos de usos comuns da cobertura agrícola da bacia do Riacho São José-PE.
a b
a a
c d
a a
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019; 2020.
(a) Pecuária, (b) criação de suínos, (c) plantação em associação de milho e feijão e (d) milho e palma.
Em porções do médio e alto curso, foi observado a permanência da classe outras áreas,
compreendendo espaços amplos de afloramentos rochosos, o que é comum para as
características da BRSJ. Esses ambientes apresentam maior ou menor exposição das rochas a
depender da presença ou ausência de caatinga rupestre, ou seja, fitofisionomias que
desenvolvem sobre as rochas e espações fraturados dessas com acumulação de detritos,
refletindo as diferentes interações dos componentes geoecológicos do semiárido (Figura 57).
A concentrada exposição do embasamento cristalino na BRSJ ocorre principalmente no
médio curso, nas formações de vales fechados, feições de relevo forte ondulado, montanhoso e
223
escarpado, mas também foi constatada nas feições de encostas do baixo curso, a exemplo das
cachoeiras que formam quedas d’água durante a ocorrência de precipitações concentradas.
a
a
b
a
224
também mais suscetível aos agentes intempéricos. Isso acaba contribuindo para o transporte de
sedimentos e assoreamento dos cursos hídricos diante das feições de declividade da BRSJ.
Nesse contexto, quando as áreas antrópicas destinadas as atividades agrícolas são
abandonadas pelo esgotamento da fertilidade do solo acabam resultando em porções degradas
e/ou solo exposto, situação já observado por Santos e Aquino (2019) para a bacia do rio Poti no
nordeste do Piauí.
Perante o apresentado, observou-se que a BRSJ apresenta um padrão de cobertura e
apropriação da terra comum ao ambiente semiárido (ACCIOLY et al., 2016; MMA, 2020;
VIEIRA et al., 2013) e de outras bacias hidrográficas do estado de Pernambuco e do Nordeste
(CALADO; DUARTE; 2019; SEABRA et al., 2014; SOUZA, 2014), inclusive correspondente
ao constatado para toda a bacia do rio Ipanema-PE/AL (SILVA, 2017), a qual a bacia do Riacho
São José integra.
Destaca-se ainda que os resultados do mapeamento estão quantificados (Tabela 26) para
se ter uma melhor dimensão das mudanças ocorridas. Ainda, observa-se que, ao longo dos anos,
a classe de cobertura da terra ocupa as maiores proporções territoriais na BRSJ são as áreas
antrópicas agrícolas que compreendem os usos antrópicos, seguidas pelas áreas de vegetação
natural, as quais representam as diferentes fitofisionomias. Vale frisar, ainda, que todas as
classes de cobertura da Terra apresentaram flutuações ao longo dos 30 anos analisados.
As áreas de vegetação natural apresentaram padrão decrescente ao longo das datas
analisadas, com exceção em 1995 quando destacou aumento de 6,31%, atingindo 54,97% em
comparação a 48,66% em 1985. Desse modo, os fatores climáticos contribuíram para esse
resultado, conforme esclarecido no capítulo III, já nas décadas seguintes regrediu para 43,58 %
em 2005 e 42,77% em 2015.
Os usos da madeira, para as atividades humanas, têm acarretado na diminuição das áreas
de vegetação natural da bacia do Riacho São José ao longo do tempo. No entanto essa é uma
situação preocupante para o contexto semiárido no geral, pois, a vegetação da Caatinga sofre o
processo de desmatamento em função das atividades humanas, com destaque a pecuária e
agricultura (MMA, 2020; SEABRA et al., 2014).
Referente as áreas antrópicas agrícolas, cobertura que compreende agricultura e
pastagem, apresentou padrão crescente, saindo de 47,38% em 1985 para 50,81% no ano de
2015, aumento de 3,43 %. Exceção nesse padrão ocorreu no ano de 1995, quando as AAA
ocuparam 43,56% da BRSJ, redução de 3,82 % de abrangência. Mas seguido de recuperação
em 2005 quando voltou a ocupar área territorial de 47,05%.
225
Tabela 26: Quantificação das classes de cobertura da terra da bacia do Riacho São José-PE.
Classes Área Km %
Áreas de Vegetação Natural 63,93 43,58 %
2005 Áreas Antrópicas Agrícolas 69,02 47,05 %
Outras Áreas 13,73 9,36 %
Água 0,02 0,01 %
Total 146,69 100,00 %
Classes Área Km %
Áreas de Vegetação Natural 62,74 42,77 %
2015 Áreas Antrópicas Agrícolas 74,54 50,81 %
Outras Áreas 9,39 6,40 %
Água 0,03 0,02 %
Total 146,69 100,00 %
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
Sobre a classe para solo exposto e às áreas não identificadas, inicialmente compreendeu
3,95 %, em 1985, diminuindo para extensão de 1,45% (1995), seguida por aumento de 7,91%
em 2005, atingido maior porcentagem registrada de 9,36%, e diminuição no ano de 2015
atingindo apenas 6,40%. Tais variações sofrem as influências climáticas, pois espécies
herbáceas podem desaparecer em anos secos e reaparecer em anos de chuvas mais abundantes.
Em contraste com a bacia do Rio Ipanema, em um recorte espaço temporal de 10 anos
(2005 a 2015), Silva (2017) constatou flutuações no padrão de cobertura e apropriação da terra,
com aumento das áreas antrópicas agrícolas (agricultura e pastagem - 1%) e solo exposto (6%),
em contrapondo diminuição das áreas vegetadas por espécies arbóreas (3%) e herbáceas (5%).
Uma realidade ampla para esse sistema fluvial em suas diferentes escalas.
226
Por sua vez, a classe água compreende valores mínimos, variando entre 0,01% a 0,03.
Isso se deve às características físico-naturais do ambiente semiárido da BRSJ, em que os
reservatórios são de pequena extensão, poucos superam a resolução de 30m²; os rios de caráter
intermitente, correlacionados a precipitações reduzidas e pouco distribuídas espacialmente;
incidência de radiação solar e altas temperaturas da superfície terrestre que potencializam a
evapotranspiração do ambiente.
Como observados, as classes de cobertura da terra apresentaram pouca mudança ao
longo do recorte espaço-temporal analisado, pois os usos desenvolvidos são principalmente a
agricultura de subsistência e a pecuária de extensão, essa última também ocorre em área de
vegetação natural.
Em detalhe, no ano de 1985, início da série espaço-temporal, a cobertura da terra que
ocupava maior extensão territorial era AVN, com mais de 71Km², seguida das AAA 69,50 Km²,
compreendendo diferença com menos de 2Km². Já outras áreas e a classe água apresentavam
menores expressões superficiais, sendo 5,80Km² e 0,02 Km², respectivamente (Figura 58).
70
50%
60
40%
50
40 30%
30
20%
20
10%
10
0 0%
AVN AAA OAN AGU
227
mensurar que as AAA foram recuperadas das condições de AVN, bem como recuperadas das
áreas de solo exposto, condições que refletem anos chuvosos e sua influência na cobertura
vegetal da bacia, como abordado nos capítulos III e IV.
80
50%
70
60 40%
50
30%
40
30 20%
20
10%
10
0 0%
AVN AAA OAN AGU
Nos anos seguintes, 2005 e 2015, constatou-se mudanças contrárias, pois predominou a
substituição das áreas de vegetação natural por outras classes de coberturas, situação verificada
em outras analises espaço-temporais em ambiente de caatinga (SANTOS; AQUINO, 2019;
SILVA, 2017).
Essa constatação reflete a intensificação de uma apropriação e utilização degradante dos
recursos da BRSJ, mudando assim o padrão de distribuição das classes de cobertura da terra,
quando as áreas agrícolas ultrapassam a cobertura natural.
No primeiro intervalo (2005) em relação ao ano anterior (1995), ocorreu redução de
aproximadamente 17 Km² nas AVN e aumento superior a 5 Km² nas AAA e de 10 Km² para
classe de OAN (Figura 60).
A situação se agrava um pouco mais em 2015 (Figura 61), pois prossegue a diminuição
das AVN para 62,74 Km² e aumento das AAA atingindo maiores proporções registradas, quase
75 Km². O lado positivo foi que ocorreu apenas o decréscimo pouco mais de 1 Km² da
vegetação natural e uma incorporação superior a 4 Km² de áreas degradadas aos usos
antrópicos.
228
Figura 60: Cobertura da terra para o ano de 2005.
70
40%
60
50 30%
40
30 20%
20
10%
10
0 0%
AVN AAA OAN AGU
70,00
50,00%
60,00
40,00%
50,00
40,00 30,00%
30,00
20,00%
20,00
10,00%
10,00
0,00 0,00%
AVN AAA OAN AGU
Nesse contexto de mudanças ocorridas na cobertura da terra, a classe a água foi a que
menos variou, se mantendo abaixo de 0,05 Km², dados que refletem os aspectos hidrográficos
229
da região semiárida com rios intermitentes, efêmeros e reservatórios com pequena extensão
(Figuras 62).
a b
a a
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) No médio curso e (b) no baixo curso.
230
Outras maneiras de uso e acesso à água se dá por cisternas, poços artesianos e caldeirões
(marmitas / weathering pits). Essa última compreende “depressões fechadas disseminadas sobre
litologias cristalinas” (SILVA; CORRÊA; AMORIM, 2017, p. 350) (figura 64 - a e b), presente
em toda bacia, porém seus usos, para atividades agrícolas e domésticas, são mais comuns no
médio e baixo curso, locais que recepcionam uma precipitação mal distribuída decorrente do
fator orográfico.
Figura 64: Reservatórios de água em marmitas de dissolução na bacia do Riacho São José-PE.
a b
a a
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) No médio curso e (b) baixo cursos.
231
Figura 65: Cachoeiras formadas em áreas escarpadas no médio curso da bacia do Riacho São José-PE.
232
5.3 Sistema Territorial da Bacia do Riacho São José e a Prestação de Serviços
Ecossistêmicos
O sistema territorial da bacia do Riacho São José compreende atores inter-relacionados
em uma área delimitada e sua vizinhança, pois as relações sociais não são restritas a limites
físicos-naturais ou políticos administrativos. Para tanto, o meio é apropriado, transformado e
organizado em espaço geográfico através de sistemas de representações que compreendem as
características sociais, econômicas, culturais e ambientais, as quais perpassam os filtros sociais,
individuais e ideológicos (MOINE, 2006).
Assim, buscou-se trazer as relações estabelecidas entre o sistema territorial por meio
dos serviços e equipamentos que refletem na organização do território da bacia e a prestação
dos serviços ecossistêmicos. Para isso, o primeiro passo foi entender que a bacia do Riacho São
José compreende um espaço rural, mas, em certos pontos do território da bacia e da vizinhança,
existe o fornecimento de serviços de saúde, educação e produtos voltados para a manutenção
das casas, além da existência de uma comunidade rural, o povoado de Ponto Alegre.
Isso faz refletir que parte da população não depende diretamente da cidade de Caetés ou
Pedra para o acesso a serviços básicos, já que estes estarão presentes no ambiente rural. Isso se
pensarmos diretamente na população residente no alto e médio curso da bacia (no município de
Caetés) visto que a população que habita a área territorial de Caetés no baixo curso, devido às
dificuldades de acesso, busca satisfazer as necessidades básicas a partir de distritos e a cidade
de Pedra-PE.
Sobre tais relações territoriais, a partir de 2013, iniciou-se a instalação do maior
complexo eólico de Pernambuco pela empresa Casas dos Ventos. O primeiro complexo,
“Ventos de Santa Brígida”, é composto por sete parques eólicos na área territorial dos
municípios de Caetés, Pedra e Paranatama. Depois foi instalado o complexo “Ventos de São
Clemente”, composto por oito parques eólicos localizados nos municípios de Caetés, Pedra,
Venturosa e Capoeiras (https://casadosventos.com.br/pt/nosso-compromisso/missao-e-
valores). Ambos complexos compreendem a área da BRSJ.
Os terrenos que os complexos eólicos foram instalados compreendem Terras arrendadas
aos donos das propriedades, localizadas nas cotas mais elevadas do planalto da Borborema. O
arrendamento corresponde ao pagamento mensal de um percentual sobre a venda da energia
produzida nas propriedades. Isso marca a paisagem da bacia do Riacho São José em todas as
direções para que se olhe com as gingantes torres (Figura 66 e 67).
233
Figura 66: Parques eólicos instalados no médio curso da bacia do Riacho São José-PE.
Figura 67: Parques eólicos instalados no alto curso da bacia do Riacho São José-PE.
234
Figura 68: Mapa do sistema territorial da bacia do Riacho São José em Pernambuco.
Figura 69: Registros de figuras rupestres na bacia do Riacho de São José em Pernambuco.
237
Nos sítios arqueológicos são desenvolvidas pesquisas acadêmicas, visitas de campo de
escolas e universidades locais, passeios da população local e visitantes. Não se tem um acesso
com trilhas estruturadas e com equipamentos adequados para se chegar aos diferentes sítios,
visto que essas trilhas são feitas com acompanhamento do líder do Grupo do Vale do São José
ou moradores locais que conhecem o percurso, o qual é de difícil acesso e envolve encostas
íngremes em meio a vegetação da Caatinga, que possui plantas urticantes e espinhentas.
Em síntese, seguindo a CICES (2018), foram identificadas 51 classes de serviços
ecossistêmicos para a bacia do Riacho São José: 22 na seção de provimento, 19 na de regulação
e manutenção e 10 na seção cultural (Figura 70).
Figura 70: Quantificação dos Serviços Ecossistêmicos Identificados na Bacia do Riacho São José-PE
20%
Provimento
43%
Regulação e Manutenção
Cultural
37%
Tabela 27: Quantificação dos serviços ecossistêmicos identificados na bacia do Riacho São José-PE e por classe
de cobertura da terra.
Quantificação dos serviços ecossistêmicos identificados na bacia do Riacho São José-PE
Seção BRSJ AVN AAA OAN AGU
Provimento 22 14 16 03 06
Regulação e Manutenção 19 16 16 04 05
Cultural 10 10 06 03 02
Total 51 40 38 10 13
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
238
Como apresentado, a maior concentração dos SE ocorre nas áreas de vegetação natural,
com um total de quarenta, sendo maior a concentração na seção de regulação e manutenção dos
ecossistemas; já nas áreas antrópicas agrícolas verifica-se trinta e oito, com maior representação
para a seção de provimento; na classe outras áreas têm-se dez SE; e na cobertura de água foram
verificados treze serviços, dando destaque também a função de provimento. O gráfico a seguir
(Figura 71) mostra a relação dos tipos de cobertura da Terra e a prestação dos SE identificados.
Figura 71: Relação das classes de cobertura da terra e a prestação de serviços ecossistêmicos.
Figura 72: Relação dos serviços ecossistêmicos prestados em área de vegetação natural.
Pode-se dizer que esses SE acabam refletindo em impactos positivos, uma vez que são
de uso para a manutenção da população, seja como fonte de alimento, seja como material que
possibilita um recurso socioeconômico, sendo comum a utilização da madeira na construção de
cercas para delimitar propriedades rurais, queima em fogões a lenha e construção de currais e
telhados (Figura 74).
Figura 74: Exemplo de uso dos serviços prestados pelos ecossistemas da caatinga.
No entanto, em relação aos SE, estes também resultam em impactos negativos, sendo o
mais visível o desmatamento da Caatinga arbórea e arbustiva, a captura e o consumo ilegal de
242
animais silvestres, a substituição de vegetação natural por áreas agrícolas e de pecuárias sem os
cuidados de fazer manejos adequados, bem como em áreas inadequadas ao uso. Atividades
humanas, como o desmatamento da cobertura vegetal para uso doméstico e industrial e a
transformação de ambientes naturais em áreas propícias para o uso da pecuária e agricultura,
constituem nas ações antrópicas mais frequentemente realizadas na Caatinga (MMA, 2019).
Nesse sentido, o desmatamento constitui-se como a principal causa da diminuição da
riqueza e diversidade da flora nativa da Caatinga, acarretando, também, em impactos na
diversidade biológica, visto que a fauna depende dela. (SENA, 2011). Como discutido no início
deste trabalho, severas pressões antrópicas no ecossistema culminam em um empobrecimento
dos serviços ecossistêmicos prestados por ele, como é o caso do desmatamento que reduz a
oferta de substratos arbóreos que poderiam ser utilizados para nidificação de abelhas nativas.
Dessa forma, sem tais substratos, a riqueza e a diversidade de abelhas são afetadas (PEREIRA,
2006), processo que diminui os serviços de manutenção e regulação prestados por elas, a
exemplo da polinização.
Outras funções de provimento dos ecossistemas de áreas de vegetação naturais positivas
são: sementes e esporos (SEg1), compreendendo materiais genéticos que permitem manter e
estabelecer uma população; animais criados livres na Caatinga para produção de energia
mecânica (SEe2) por meio de equipamento como carros, carroças e arados puxados à tração
animal (de bois, cavalos ou burros). A esses serviços, se somam a água da superfície e
subterrânea com função de nutrição, ou seja, para beber (SEn5 e SEn6) e para o processamento
direto na produção de materiais e serviços (SEm5 e SEm6).
No tocante aos SE de regulação e manutenção, esses são por natureza positivos, pois,
regulam e mantêm em funcionamento a dinâmica e as funções dos ecossistemas. Assim, é
prestada a função mediação de resíduos (FRMr) como remediação biológica (SEr1) por plantas
e insetos que recuperam e nutrem o solo de impactos antropogênicos, filtragem, sequestro,
armazenamento e acumulação (SEr2) de gases e substâncias, como o carbono.
Existem os SE de regulação e manutenção por mediação de perturbação (FRMp), como
as plantas e microrganismos que proporcionam a redução de cheiros (SEp1) indesejáveis; a
vegetação também atenua os ruídos (SEp2), pois funciona como uma barreira acústica, algo
percebido, principalmente, quando se está rodeado da vegetação densa e o ruído provocado
pelas torres eólicas é amenizado; e ainda se tem o fator visual (SEp3), pois a vegetação, para
além dos inúmeros SE prestados, reflete a composição cênica de beleza paisagística que encobre
algumas áreas desagradáveis a visualização, principalmente em época de floração das espécies,
quando paisagens degradadas ganham cor e beleza (Figura 75).
243
Figura 75: O florescer de espécies da caatinga na bacia do Riacho São José-PE.
244
mencionar que as abelhas nativas são importantes na polinização de plantas do bioma Caatinga
(SILVA; PAZ, 2012; KERR, 1987), polinizando espécies como S. tuberosa, M. arundeuva
(SILVA et al., 2012).
Além dos SE com funções de regulação e manutenção das condições ambientais, as
quais diretamente e indiretamente beneficiam a humanidade, trazem-se os serviços culturais, os
quais correspondem às interações diretas entre os indivíduos e os elementos bióticos e abióticos
dos ecossistemas que são as funções de interação física (FCif), interações intelectuais (FCii) e
interações espirituais (FCie). Ainda há os serviços ligados ao bem-estar direto dos indivíduos
por meio do desenvolvimento de atividades físicas ativas e imersivas (SEif1) na promoção de
saúde e lazer, a exemplo da realização de trilhas, escaladas, acampamento e banho, e atividades
passivas e observacionais (SEif2), como caminhadas e contemplação da natureza (Figura 76).
245
Figura 77: Pôr do sol contemplado da parte alta da bacia do Riacho de São José-PE.
246
medicinais cultivadas nas residências; provimento de energia eólica (SEe3) e regulação dos
fluxos de linha de base e ventos extremos de fluxo líquido (SEf4) devido a presença de marmitas
(caldeirões) (esses dois últimos SE ocorrem, também, em outras áreas não identificadas, ou
seja, solo exposto e afloramento rochoso com formação de marmitas).
Figura 78: Relação dos serviços ecossistêmicos prestado em áreas antrópicas agrícolas.
Figura 79: Relação dos serviços ecossistêmicos prestados em outras áreas não identificadas e em ambiente
aquático.
248
Figura 80: Aspectos da geodiversidade da bacia do Riacho São José-PE.
249
respectivamente. Essa situação denota que é sobre as classes de cobertura da terra onde se
verifica a menos prestação de SE que derivam mais impactos negativos.
Figura 81: Quantificação dos impactos associados a prestação de serviços ecossistêmicos por classe de cobertura
da terra na bacia do Riacho São José-PE.
Impactos Associados a Prestação de Serviços Ecossistêmicos por Classe de
Cobertura da Terra na Bacia do Riacho São José-PE
45
100%
40 100%
35
70% 76%
30
25
20
15 30% 100%
24% 100%
10 62%
60% 38%
40%
5
0
AVN AAA OAN AGU
250
CAPÍTULO VI
INTERAÇÕES GEOECOLÓGICAS E MODELAGEM DE CENÁRIOS
PROSPECTIVOS PARA A BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ-PE
6 INTERAÇÕES GEOECOLÓGICAS E MODELAGEM DE CENÁRIOS
PROSPECTIVOS PARA A BACIA DO RIACHO SÃO JOSÉ-PE
253
Figura 82: Mapa da compartimentação geoecológica da bacia do Riacho São José-PE.
255
Em termos quantitativos e qualitativos, as unidades geoecológicas não são iguais, pois
configuram diferenças no terreno da bacia estudada e revelam o estado ambiental da paisagem
em estável, instável e crítico: a UGEO-01 compreende 37 km² (25,46%); a UGEO-02 ocupa
maior extensão, com aproximadamente 73 Km², o que configura quase 50% da área territorial;
e a UGEO-03 36 Km² (24,63%), conforme apresentado na tabela.
Para tanto, é importante compreender que a bacia estudada compreende uma paisagem
antropo-natural, uma vez que compreende um ambiente rural, cujas alterações são feitas,
principalmente, nos componentes abióticos, configurando a substituição da vegetação natural
por áreas antrópicas agrícolas. Isso reflete em uma cobertura natural bastante modificada, no
entanto, ainda conserva a capacidade natural de recuperação, uma vez que sejam cessados os
processos antrópicos atuantes.
Como constatado no capítulo V, a ocupação e os usos do território da BRSJ é mais
intenso a montante e a jusante da bacia (UGEO-01 e UGEO-03). Por sua vez, no médio curso,
devido as características físicas e naturais da estrutura dissecada e modelada de morros, serras
e vales, a UGEO-02 denota a porção da bacia menos alterada, pois não é área favorável às
atividades agrícolas comuns na região.
De modo geral, pode ser observado nas unidades geoecológicas da bacia do Riacho São
José que, ao longo do tempo, a vegetação primária foi sendo substituída por atividades
antrópicas agrícolas, fato que contribui no desencadeamento de processos degradantes da
paisagem, ocasionando assim estados ambientais instáveis e críticos. Essa realidade é comum
para o ambiente semiárido, como já apresentado em Accioly et al. (2016), MMA (2020) e
Seabra et al. (2014)
Isso acontece porque a substituição de vegetação (natural, arbórea e arbustiva,
principalmente) por uso agrícola (pastagem e plantação de feijão, milho, palma) tende a
diminuir, com o passar do tempo, o desenvolvimento das funções ecológicas de regulação e
manutenção do solo interferem no balanço energético da entrada e saída de energia e matéria.
Nesse contexto, tendo como exemplo a plantação de palma forrageira (cultura
frequentes nas unidades geoecológicas (Figura 83)), verifica-se que esse tipo de uso não protege
o solo em toda integridade, deixando-o exposto à incidência direta dos raios solares e do
impacto provocado pelas gotas das chuvas. Isso provoca processos degradantes, como o
aumento da erosão e lixiviação do solo, empobrecendo a sua camada superficial e atuando no
assoreamento dos cursos hídricos. Constatações semelhantes ocorrem em áreas de pastagem
degrada (Figura 84).
256
Figura 83: Plantação de palma forrageira (Opuntia cochenillifera / Cactaceae) na bacia do Riacho São José-PE.
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2019; 2020.
(a) Unidades geoecológicas 01 e (b) Unidades geoecológicas 03.
Figura 84: Área com gramíneas utilizadas como pastagem degradada na unidade geoecológica 01.
Por sua vez, as áreas com vegetação primária ou secundária, arbórea, arbustiva e
herbácea conseguem manter as funções ecológicas e o desenvolvimento de ciclos geoquímicos
importantes para a qualidade e conservação do solo, o protegendo da incidência direta dos raios
solares e do efeito “splash” das gotas da chuva, evitando a desagregação de sedimentos, além
de facilitar o processo de infiltração da água e mantendo a umidade.
Tais mudanças paisagísticas corroboram para o atual estado ambiental da paisagem da
bacia estudada. Vale ressaltar que algumas observações, no tocante aos dados mensurados a
partir de imagens de satélite Landsat 5 e 8 (as quais apresentam resoluções espaciais de 30
metros), podem desfavorecer algumas especificidades locais. Diante disso busca-se amenizar
essas questões por meio dos registros fotográficos obtidos durante as atividades de campo.
257
Em decorrência dessas observações, foi verificado nas atividades de campo, ocorridas
de 2017 a 2020, que o processo de desmatamento ocorre em toda área da bacia, sendo mais
intenso na UNGEO-01 e UNGEO-03. A exemplo da UGEO-01, o relevo aplainado nos topos
dos morros do planalto da Borborema, com solo mais bem desenvolvido, favorece a supressão
da cobertura vegetal para o desenvolvimento dos diversos usos antrópicos (Figura 85).
Assim, pode ser observado na figura apresentada, em primeiro plano da paisagem área
de vegetação rasteira, pastagem degradada com vestígios de vegetação não utilizada nas
atividades antrópicas. No segundo plano paisagístico, limite entre as UGEO-01 e UGEO-02,
após afloramentos rochosos, verifica-se feições de encostas íngremes compostas por vegetação
primária arbóreo e arbustiva com instalação de torres eólicas nos topos tabulares dos morros.
O contexto apresentado caracteriza poucas áreas com vegetação primária na UGEO-01,
as quais compreendem reduto de vegetação semidecidual alto Montana, com Hymenaea
courbaril e Clusia nemorosa e caatinga arbórea e arbustiva, representada principalmente pela
Mimosa tenuiflora (Figura 86).
Essa área faz parte de um brejo de altitude, segundo Ab’Sáber (2003), serras úmidas ou
ilhas de umidades que caracterizam um ambiente com floresta tropical que contrata com a
vegetação de caatinga circundante. Espaço esse bastante modificado pela apropriação antrópica
para o desenvolvimento de atividades socioeconômica devido as características climáticas e a
qualidade dos solos locais.
258
Figura 86: Reduto de vegetação de brejo de altitude na unidade geoecológica 01.
A UGEO-02 (Figura 87) se destaca por apresentar uma paisagem de serras, vales e
escarpas. Embora compreenda estado ambiental alterado e degradado, as encostas apresentam-
se conservadas com vegetação primária e secundária, configurando áreas com poucas alterações
e baixa degradação, além de compor a unidade com menos modificação, a qual é comum a
presença de afloramentos rochosos. Exceção ocorre nos topos dos morros mais planos, como já
mencionado.
Observa-se na figura acima a presença de canal de água construído para todas as torres
eólicas com a finalidade de direcionar o fluxo hídrico das águas pluviais para o fundo dos vales.
Tal mecanismo tem a finalidade de evitar processos erosivos no patamar das torres, mas acaba
259
direcionando água de forma concentrada na encosta, formando caminhos com maior
concentração de sedimentos da parte alta para os cursos hídricos dos vales.
Na UGEO-03, a cobertura vegetal primária permanece sobre encostas e nas matas de
galerias dos cursos hídricos (Figura 88), nas demais áreas predominam atividades antrópicas
(como mencionado anteriormente), plantação de palma forrageira, milho e pecuária extensiva.
Vale lembrar que essas modificações na cobertura da Terra são comuns aos modos de
usos antrópicos desenvolvidos no ambiente rural do Agreste pernambucano, ou seja, a
substituição de vegetação por áreas agrícolas. Processo histórico que tem contribuído para o
desencadeamento e/ou aceleramento de processos erosivos nas unidades geoecológicas (Figura
89 a e b), como também no assoreamento dos cursos hídricos, os quais são intermitentes.
Os processos degradantes interferem na permanência da água na parte superficial dos
leitos hídricos, diminuindo a lamina de água, devido ao excesso de sedimentos acumulado,
como constatado em estruturas antigas de barramento em cursos d’água da BRSJ (Figura 90).
260
Figura 89: Processos erosivos nas unidades geoecológicas.
a b
Fonte A. M. S. CHAVES, 2019.
(a) Unidades geoecológicas 01 e (b) unidade geoecológica 03.
Figura 90: Área de assoreamento de curso hídrico a montante do barramento na unidade geoecológica 02.
Área Assoreada
261
Figura 91: Descarte irregular de resíduos sólidos na cabeceira do vale da bacia do Riacho São José na unidade
geoecológica 01.
Para além dos referidos processos degradantes apresentados, também ocorre, nas áreas
de vegetação natural, a caça e a captura ilegal de animais silvestres, além do uso de agrotóxico
nas lavouras. Tais ações refletem o estado ambiental da paisagem: degradada e crítica. Mas,
vale ressaltar que, deve-se considerar que os usos humanos são distintos dentro das unidades
geoecológicas, refletindo em níveis de alterações e processos degradantes em diferentes
intensidades. Exceção nas áreas de vegetação primária que proporcionam maior estabilidade ao
estado ambiental da paisagem.
A esse respeito, é importante entender que, no semiárido, algumas mudanças no estado
ambiental da paisagem são regidas por fatores periódicos (regulares ou não), como a
sazonalidade de tempos climáticos e a capacidade adaptativa e fenológica da vegetação, pois, a
depender da intensidade e distribuição das precipitações, o florescimento da caatinga ocorre em
distintos períodos do ano (Figura 92).
Figura 92: Influência da precipitação na adaptação fenológica da vegetação caatinga na unidade geoecológica 02
a b
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2017; 2018.
(a) Maio de 2017 e (b) maio de 2018.
262
Nesse contexto, entende-se o estado ambiental da paisagem como resultante dos
processos interativos entre os componentes geoecológicos e as ações antrópicas nos modos de
apropriação e transformação da superfície terrestre, o que possibilita identificar os níveis de
modificações na paisagem (informações úteis ao planejamento ambiental do semiárido).
De acordo com Oliveira (2013), a análise do estado ambiental da paisagem pode ser
direcionada ao ordenamento do território, pois possibilita identificar no terreno os pontos de
maiores ou menores restrições aos usos antrópicos. Situação a ser apresentada ao logo desse
capítulo sobre as interações geoecológicas da BRSJ, os níveis de adequabilidade e os cenários.
5.2 Interações Geoecológicas na Paisagem da Bacia do Riacho São José: perfis e níveis de
adequabilidade
As interações geoecológicas da bacia do Riacho São José-PE refletem os estados
ambientais das paisagens passadas, atuais e futuras, compreendendo cenários resultantes das
derivações antropogênicas desencadeadas sobre os componentes geoecológicos. Desse modo,
pensar assim é vislumbrar as relações estabelecidas na estrutura vertical da paisagem.
Para isso, sobre a estrutura horizontal da paisagem (compartimentação geoecológica da
BRSJ), foram estabelecidos quatros perfis: três transversais (01, 02 e 03) e um longitudinal
(04). Os três primeiros comtemplam a compartimentação geoecológica da paisagem de modo
individual: perfil 01 sobre UGEO-01 de terras altas; perfil 02 sobre a UGEO-02 serras, vales e
escarpas; perfil 03 sobre UGEO-03 terras baixas. Por seu turno, o quarto perfil perpassa pelas
três unidades geoecológicas (Figura 93).
A utilização da técnica de construção de perfis geoecológicos foi escolhida porque
permite colocar em tela as condições ambientais da paisagem investigada, correlacionando a
base cartográfica por meio de transectos (os quais compõem os perfis), permitindo realizar uma
leitura horizontal e vertical, de modo integrado, das informações cartográficas para interpretar
as condições ambientais (MANOSSO; NÓBREGA, 2008; OLIVEIRA; MARQUES NETO,
2013; MEZZOMO; GHISSO; CAMPOS, 2014; JANSEN, 2014).
Os transectos delimitados sobre a estrutura vertical da paisagem da BRSJ coloca em
evidência as distintas camadas que os constituem. Nessa estrutura, a base dos perfis é alicerçada
pelos complexos geológicos. Desse modo, tem-se o Complexo do São Francisco (CSF), a Suíte
Intrusiva Leucocrática Peraluminosa (SILP) e o Complexo Cabrobó (CCa). Em seguida, há uma
camada de formas e feições geomorfológicas: Pediplano Central da Borborema (PCB), as
unidades Pediplano Arenoso (PA) e as Serras e Serrotes (SE); Pediplano do Baixo São
Francisco e as unidades Pediplano Arenoso-argiloso (PAa) e Pediplano Argiloso (PAg). Em
263
sua superfície pedológica apresenta: Neossolo Regolítico (RR), Neossolo Litólico (RL) e
Planossolo Háplico (SX). Acima da superfície pedológica, se intercalam as formações de
vegetação e os usos da terra: Áreas Antrópicas Agrícolas (AAA), Vegetação Arbórea Arbustiva
(VAA) e Vegetação Arbórea, Arbustiva e Rupestre. Por fim, tem-se os condicionantes
climáticos conforme a espacialização feita do balanço hídrico.
Figura 93: Mapa de localização dos perfis geoecológicos traçados na bacia do Riacho São José-PE.
Em síntese, os perfis são baseados nos mapas apresentados nos capítulos três
(Caracterização geoecológica da Bacia), quatro (no tocante a espacialização da vegetação) e no
capítulo cinco (mapeamento de cobertura da Terra), pois essas informações, trabalhadas ao
longo da tese, possibilitaram vislumbrar a organização vertical da paisagem semiárida da BRSJ.
O primeiro perfil (Figura 94) foi construído sobre terrenos de aplainamentos da UGEO-
01, compreendendo percurso transversal de 8,5 Km de comprimento no sentido Sudeste para
Noroeste. A base geológica compreende o Complexo São Francisco (CSF) nos 0,40 Km iniciais
e nos 2,80 Km finais, ficando a porção central desse perfil alicerçada na Suíte Intrusiva
Leucocrática Peraluminosa (SILP), com extensão de 5,30 Km. As principais classes de rochas
são as metamórficas e ígneas.
264
Figura 94: Perfil geoecológicos (01) sobre unidade da paisagem de terras altas.
Por ser área de aplainamento sobre Pediplano Arenoso do Planalto da Borborema (PCB-
PA) formada por neossolo regolíticos (RR), receber umidade a barlavento em altitudes acima
de 8,50 metros com temperatura média de 23°C e sofrer precipitação média anual de 67 mm
com maior incidência entre maio e julho, a cobertura vegetal predominante deveria ser mata de
atitude e caatinga arbórea, demarcando bem a transição Agreste pernambucana. Porém, dessa
área existe apenas redutos, pois o desenvolvimento de atividades agrícolas a substituiu quase
que completamente.
Como se observa, na paisagem ao longo do perfil 01, a cobertura vegetal e os usos
antrópicos se intercalam. Inicialmente se tem área agrícola representada na plantação de milho,
separada de um reduto fitogeográfico por uma estrada de Terra (Figura 95). Na sequência ocorre
pastagem, residências e vegetação arbórea e arbustiva.
O perfil 02 (Figura 96), também traçado de Sudeste a Noroeste, apresenta 8 Km de
comprimento e está sobre a unidade geoecológica 02, serras vales e escarpas. A base geológica
é exclusivamente o Complexo São Francisco em estrutura dobrada, formando relevo
movimentado com Serras, Vales e Escarpas (SE) em 5,9 Km do perfil e Pediplano Arenoso
(PA) a Sudeste com 2,1 Km, trecho de menor declividade.
265
Figura 95: Área agrícola a esquerda e vegetação de brejo de altitude a direita.
Figura 96: Perfil geoecológico (02) sobre unidade da paisagem de serras, vales e escarpas.
266
A pedologia do segundo perfil compreende 0,79 km de Neossolo Regolítico (RR) e 7,21
Km de neossolo Litólico (RL), sendo este pedregoso e pouco desenvolvido, mas comum às
características geológicas dobradas do embasamento cristalino. Vale mencionar que a cobertura
da Terra predominante são as áreas de vegetação arbórea, arbustiva e formações rupestres sobre
os afloramentos rochosos.
No perfil 02 fica clara a relação estabelecida entre o contexto geomorfológico, o solo, a
formação vegetação e os usos antrópicos desenvolvidos para o ambiente semiárido. Neste, os
condicionantes climáticos, por compreender trecho de descida do Planalto da Borborema para
a Depressão Sertaneja, a sotavento, foi constatado no balanço hídrico precipitações anuais
médias de 71 mm (consideradas irregulares e mal distribuídas) e temperaturas médias de 24 °C.
Também, observa-se que as interações entre geologia e pedologia configuram solo que
possibilita o desenvolvimento de atividades agrícolas, a exemplo da plantação de palma
forrageira, cultura bastante utilizada para alimentação animal nas épocas secas. Já sobre os
neossolos litólicos, tem-se área de habitação e pecuária, mas devido a pouca profundidade e a
presença constate de afloramento rochoso, predominam na sequência do perfil a vegetação
arbórea, arbustiva e formações rupestres, com destaque nas encostas dos vales.
É sobre o transecto do perfil 02 que se encontra o vale mais profundo da bacia, onde
localiza-se o leito fluvial do Riacho São José (Figura 97), o qual apresenta afloramentos
rochosos, mata ciliar e na maior parte do ano sem águas superficiais, fato esse que leva as
pessoas a perfurarem poços artesianos ao leito do riacho.
O terceiro perfil (Figura 98) foi traçado no sentido Sudoeste a Nordeste, compreende
4,4 Km de comprimento e está localizado na unidade geoecológica 03. A estrutura geológica é
o Complexo Cabrobó (CCa) com afloramento de rochas metamórficas, relevo com superfície
aplainada do Pediplano do Baixo São Francisco, subdividido intercaladamente em Pediplano
Arenoso-argiloso (PAa) com 3,3 Km de extensão (PAa) e 1,1 Km de Pediplano Argiloso (PAg).
A pedologia compreende o Planossolo Háplico (SX), sobre o qual a vegetação primária
foi modificada, sendo substituída principalmente por áreas de pastagem (pecuária de extensão).
Na área ainda existe vegetação primária e secundária conservada, mas é comum a criação de
animais soltos. No tocante aos condicionantes climáticos, a temperatura média anual é de 25°C
e apresenta precipitações médias de 68 mm, sendo que essas precipitações ocorrem de forma
concentrada em poucos dias no ano.
267
Figura 97: Trecho do leito fluvial do Riacho São José com afloramento rochoso e mata cilia.
Figura 98: Perfil geoecológico (03) sobre unidade da paisagem terras baixas.
268
No perfil traçado, observa-se áreas antrópicas agrícolas caracterizadas por área de
pastagem e residência. Devido as condições climáticas, em maior parte do ano, a vegetação
herbácea apresenta-se ressecada verde acinzentado. Na sequência do perfil se destaca área com
vegetação arbórea e arbustiva sobre área bastante arenosa do leito hídrico do Riacho São José,
o qual é cercado por mata ciliar com predominância da espécie Prosopis juliflora (Figura 99).
Em seguida, tem-se a vegetação arbustiva, rupestre e, ao final, a plantação de palma forrageira.
Os três perfis transversais em tela representam a estrutura vertical da paisagem da bacia
do Riacho São José, tendo como referência as diferentes unidades geoecológicas e a sua
estrutura horizontal. O quarto perfil, por sua vez, permite visualizar a estrutura vertical na
perspectiva longitudinal da bacia do Riacho São José, no sentido de Oeste para Leste.
Assim, apresenta-se um perfil integrativo que perpassa pelas três unidades
geoecológicas: com 11,42 Km sobre terrenos aplainados abaixo de 550 metros de altitude na
UGEO-03; sobre relevo de serras, vales e escarpas por 8,36 Km na UGEO-02; até chegar nas
terras altas e aplainadas da UGEO-01, acima de 900 metros de altitude, abrangendo 5,82 Km.
Essas três unidades somam um perfil longitudinal que percorre 25 Km de extensão e apresenta
amplitude altimétrica de 510 metros.
Figura 99: Trecho arenoso de leito fluvial com mata de galeria predominando a espécie Prosopis juliflora.
269
O perfil geoecológico 04 (Figura 100) revela as interações e variações dos componentes
da paisagem, a partir deles pode-se inferir que a cobertura vegetal e a cobertura da Terra estão
associadas a declividade do terreno e aos tipos de solo. Isso se dá devido as áreas antrópicas
agrícolas correrem, principalmente, em terrenos com relevo plano e suave ondulado sobre
neossolo regolítico a Leste e planossolo háplico a Oeste. Já as áreas com vegetação mais
conservada encontram-se concentradas em neossolo litólico e relevo ondulado ao escarpado.
A cobertura vegetal também pode ser analisada a partir de sua distribuição horizontal,
seguindo o transecto do perfil longitudinal, pois, ao percorrer as três unidades geoecológicas e
observando os perfis transversais, é revelado mudanças fisionômicas seguindo do sentido Oeste
para Leste: caatinga arbustiva aberta, caatinga arbórea arbustiva aberta e fechada e o
predomínio de espécies arbóreas. Isso sabendo-se que existe a exceção do corredor de Prosopis
juliflora entre as unidades geoecológicas 01 e 02, bem como a presença dessa espécie nas áreas
de pastagem do baixo curso (a Oeste).
Sobre os condicionantes climáticos, estes compreendem variações climáticas sutis,
temperatura variante de 23°C a 25 °C de Leste para Oeste e precipitação que varia de 66 mm a
71 mm. A variabilidade das chuvas na bacia é influenciada pelas formas do relevo, como
explicado no capítulo III.
É importante destacar que as interações geoecológicas apresentadas através dos perfis
colocam em destaque a relação estabelecida entre os componentes paisagísticos atuantes em
sua estrutura vertical e horizontal. Em uma abordagem geoecológica mais aplicada, as
interações desses componentes indicam as áreas mais adequadas ou as menos adequadas ao
desenvolvimento de atividades antrópicas. Nesse sentido, a pedologia, a geomorfologia, a
vegetação e a cobertura da Terra foram utilizadas para estimar os níveis de adequabilidade
geoecológica da bacia estudada.
Tais componentes vêm sendo evidenciados ao longo da tese (Capítulos III, IV e V) e
aqui vão refletir as múltiplas interações que permitiram mensurar níveis de Adequabilidade
Geoecológica (AG) da bacia aos usos antrópicos. Isso por meio da aplicação de um cálculo
desenvolvido a partir da álgebra de mapas em ambiente SIG.
270
Figura 100: Perfil geoecológico longitudinal da bacia do Riacho São José-PE.
271
O cálculo foi pensado e desenvolvido para a bacia do Riacho de são José-PE, pois leva
em consideração os componentes que compõem a paisagem desse ambiente. Logo, apresenta-
se como uma metrologia flexível que pode ser aplicada em outras áreas e sempre que necessário
pode ser facilmente adaptada de acordo com as necessidades do pesquisador e do ambiente
estudado. Também se observa na literatura que estudos pautados na interação dos componentes
geoecológicos são utilizados para inúmeras finalidades, com destaque o diagnóstico ambiental
e o planejamento do território e/ou da paisagem (TAKEUCHI, 1983; HUGGETT, 1995;
BARSCH, 1996, GORDON et al., 2001; ALEXANDER et al., 2007; STANIS; OSPANOVA;
KARPUKHINA, 2019; LENTSWE; MOLWALEFHE, 2020).
Assim, na presente pesquisa, cada classe das camadas cartográficas utilizadas no cálculo
da AG foi associada a pesos específicos (1, 2 ou 3) por reclassificação homogênea, o que
possibilitou a realização do cálculo por média aritmética e a reclassificação das múltiplas
interações ocorridas, distinguido espacialmente os níveis da adequabilidade sobre a superfície
da BRSJ, como descrito na metodologia (Capítulo II) em: 1 - 1,6 adequado; 1,7 - 2,3
parcialmente adequado; 3,4 - 3 inadequado (Figura 101).
Os resultados do cálculo AG, em termos quantitativos (Tabela 29), constataram que
predomina o nível adequado aos usos antrópicos com valores entre 1 e 1,6, correspondendo a
63,07Km da área da bacia do Riacho São José; o nível parcialmente adequado encontra-se
distribuído por toda a bacia, cujos valores vão de 1,7 a 2,3, compreendendo 49,34 Km² da bacia;
por sua vez, o nível inadequado equivale a 34,28 Km², evidenciando as áreas menos favoráveis
a atividades antrópicas, pois as interações geoecológicas apresentam variações entre 2,4 e 3.
273
As correlações estão ligadas principalmente a declividade do terreno e às classes de solo,
as quais exercem maior influência na determinação dos diferentes níveis constatados,
principalmente quando associados às classes de vegetação.
O nível parcialmente adequado está distribuído pelas três unidades geoecológicas e faz
referência à zona de transição entre os outros dois níveis, por isso merece atenção em sua
interpretação, pois, ora é mais próximo das áreas adequadas, ora mais próximo das áreas
inadequadas. Sendo que as porções parcialmente adequadas sobre relevo plano, suave ondulado
e ondulado nas UGEO-01 e UGEO-03 correspondem às poucas áreas com vegetação de maior
porte (arbórea e arbustiva), ou seja, trechos que ainda não viraram pastagem ou terra agrícola.
Por conta disso, contribui positivamente para a qualidade desse sistema ambiental devido ao
importante papel prestado pelo componente vegetal em bacias semiáridas.
Além dos quatros componentes geoecológicos utilizados no cálculo da adequabilidade,
é importante destacar a geologia e os condicionantes climáticos, os quais se fazem presentes,
pois refletem os modos de uso da terra. Isso porque, como apontado no Capítulo V desta tese,
as atividades antrópicas agrícolas diferem do alto curso (agricultura e pecuária) para o baixo
curso (predominantemente pecuária) e o fator preponderante para isso é a precipitação.
Além disso, observa-se que as áreas consideradas inadequadas aos usos antrópicos são
caracterizadas por uma dinâmica ambiental mais equilibrada entre os componentes
geoecológicos (dentre os quais a vegetação se destaca), compreendendo ambientes conservados
e os mantendo dessa forma. Isso porque o neossolo litólico é pouco desenvolvido, por conta
disso, é facilmente erodido e exposto, principalmente por compreender terrenos íngremes.
Também é importante vislumbrar que as áreas adequadas ao desenvolvimento de
atividades antrópicas podem ser potencializadas, caso boas práticas de manejo sejam adotadas.
Para isso, é essencial a recuperação e a conservação das matas ciliares dos cursos hídricos e a
manutenção das áreas com vegetação natural, pois essas vão manter a umidade no solo por mais
tempo, minimizam os processos erosivos (seja por proporcionar maior estabilidade a paisagem,
seja por agir como barreira durante as chuvas), serve de sombra aos animais silvestres e criados,
além de prestarem relevantes serviços ecossistêmicos.
Diante dos resultados apresentados, observa-se que a bacia do Riacho São José
apresenta uma dinâmica geoecológica singular na área de transição Agreste devido aos fatores
e processos inerentes do ambiente semiárido, os quais foram colocados em tela por meio de
suas estruturas horizontais, verticais e espaciais.
Então, diante do conjunto de resultados apresentados, tem-se edificado, ao longo dos
capítulos, a organização do território da bacia do Riacho São José e o diagnóstico ambiental, o
274
que permite pensar os cenários prospectivos para a bacia com vista ao planejamento
conservacionista da paisagem semiárida.
276
Figura 102: Mapa de áreas de preservação permanente na bacia do Riacho São José-PE.
278
Figura 103: Mapas de adequação terrestre a áreas de vegetação natural.
Tabela 30: Matriz de probabilidade de transição da cobertura da terra do Riacho de São José-PE.
2005 - 2015 = 2025 2005 - 2015 = 2035a 2015 - 2025 = 2035b
Classes AVN AAA OAN AVN AAA OAN AVN AAA OAN
AVN 0.6053 0.3649 0.0298 0.4830 0.4693 0.0477 0.8500 0.0750 0.0750
AAA 0.2955 0.6027 0.1017 0.3936 0.5162 0.0901 0.3929 0.5923 0.0148
OAN 0.1664 0.6551 0.1784 0.2884 0.6313 0.0803 0.1598 0.0778 0.7624
Fonte: A. M. S CHAVES, 2020.
281
cruzada, revelam o quanto será perdido e as colunas representam o quanto uma classe ganha de
área das demais (SANG et al, 2011). Assim, as áreas de vegetação natural (AVN) e antrópicas
agrícolas (AAA) apresentam maiores probabilidades de transição entre elas, isso se deve por
compreenderem maiores áreas de cobertura da terra. Também se nota que a classe de outras
áreas não identificadas (OAN) revelam alta probabilidade de transição para AAA.
Ainda, observa-se que a probabilidade de transição é mais elevada quando se dobra o
tempo de 10 anos (entre 2015 a 2025) para 20 anos (entre 2015 e 2035), pois tendo como
referência as AVN, o primeiro intervalo mostra que a probabilidade de não haver mudança é de
60,53%, quando se dobra o intervalo para 20 anos, a possibilidade da mesma classe permanecer
sem alteração cai para 48,30%. Por outro lado, quando se calcula a transição tendo como data
de partida a projeção de 2025 para 2035, constata-se uma redução significativa da transição das
classes AVN, que apresenta permanência de 85%.
Por sua vez, as matrizes de áreas de transição (Tabela 31) estabelecem a quantidade de
mudanças a partir dos números de pixels de cada classe de cobertura da terra, permanecendo
ou mudando para outra classe nos períodos simulados (2025, 2035a e 2035b). Em corroboração
às matrizes de probabilidade de transição, as maiores áreas de mudança ocorrem entre as AVN
e AAA, e observa-se diminuição de áreas de mudança na projeção entre 2025 e 2035 para AVN
e OAN.
Tabela 31: Matriz de áreas de transição da cobertura da terra da bacia do Riacho de São José-PE.
2005 - 2015 = 2025 2005 - 2015 = 2035a 2015 - 2025 = 2035b
Classes AVN AAA OAN AVN AAA OAN AVN AAA OAN
AVN 42.060 25.355 2.069 33.559 32.608 3.316 80.446 7.098 7.098
AAA 24.359 49.677 8.386 32.443 42.548 7.430 22.820 34.395 859
OAN 1.729 6.806 1.854 2.996 6.559 834 1.640 798 7.822
Total de
68.148 81.838 12.309 68.998 81.715 11.580 104.906 42.291 15.779
Pixels
Fonte: A. M. S CHAVES, 2020.
A matriz de área de transição revela o total de pixels que irão mudar de classe na
projeção dos cenários. Nesse sentido, nas linhas da tabela tem-se o total de pixels de uma classe
de cobertura da terra que mudou para outra classe, com exceção da diagonal que revela o
número de pixels que permanecem; já as colunas revelam o total de pixels que pertencerão à
mesma classe no final da modelagem (SINGH et al., 2015). Tais alocações de terra, como já
esclarecido, são feitas a partir dos autômatos celulares por proximidade de vizinhança.
282
De modo interpretativo, constata-se nas matrizes de áreas de transição que: no cenário
de 2025, de 68,148 pixels pertencentes às áreas de vegetação natural, 24.359 pertenciam às
AAA e 1.729 à OAN, um ganho de 26.088, no entanto a perda foi superior, 27.424 pixels; na
matriz de 2035a, para a mesma classe de cobertura da terra foi estimado que dos 68.998 pixels,
32.443 foram transferido das AAA e 2.996 da OAN, um ganho de 35,439, mas também
apresentou um perda superior de 35.924 pixels; já na matriz 2035b, as AVN apresentam menor
ganho, correspondendo a 24.460, sendo 22.820 pixels das áreas antrópicas agrícolas e 1.640 de
outras áreas, porém dessa vez a perda foi inferior, 14.196 pixels.
A mesma leitura de ganhos e perdas de pixels pode ser feita para as demais classes de
cobertura da terra a partir da tabela 23, mas como a intenção é ter esses dados espacialmente
representados na forma de cenários, não se fará uma descrição exaustiva do quanto cada classe
ganhou ou perdeu, pois a tabela cumpre bem essa função.
Voltando ao contexto principal, a partir dos mapas de usos e cobertura da Terra (2005 e
2015), dos mapas de adequação Terrestre e das matrizes da análise de cadeia Markov, fez-se a
projeção de três conjuntos de possibilidades de cenários. Para isso, o modelo de Autômato
Celular (CA) adicionará caracteres espaciais ao modelo determinado pelo tempo declarado e a
capacidade de os pixels mudarem para seus vizinhos de acordo com as regras de transição
predefinidas (HOUET; HUBERT-MOY, 2006; SINGH et al., 2015; MONDAL et al., 2016;
ABUELAISH; OLMEDO, 2016), ou seja, a mudança de uma classe de cobertura mapeada para
outra classe se dá por vizinhança, indicando as tendências de mudanças na paisagem.
Por seu turno, o primeiro conjunto de cenários (Figura 105) compreende a abordagem
projetiva, estimando modelagem da evolução da cobertura da Terra da BRSJ, levando em
consideração apenas os dados do mapa de 2005 e 2015. Todas as projeções tiveram como ponto
de partida o ano de 2015 para simular 2025 a 2035a e, posteriormente, a partir de 2025,
projetou-se 2035b com 10 anos (para verificar se existiria mudanças no padrão de evolução da
cobertura da Terra com a mudança de tempo, bem como por se fazer uso de projeção futura).
Observa-se, nas projeções futuras do primeiro conjunto, que a mudança na cobertura da
Terra em 2025 ocorrerá principalmente no alto curso da bacia, área correspondente à unidade
geoecológica de terras altas. Na realidade, se espera por isso mesmo sem a utilização de mapa
de adequação para incentivar, no entanto, o crescimento de outras áreas não é positivo, pois a
realidade corresponde a solos expostos e usos não identificados (principalmente), o que pode
indicar maior degradação do ambiente da BRSJ.
283
Figura 105: Conjunto de cenários projetivos da evolução da cobertura da terra para a bacia do Riacho São José-PE (2015 a 2035).
Figura 106: Quantificação das classes de cobertura da terra dos cenários projetivos.
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
2015 2025 2035a 2035b
OAN 9,39 11,84 12,84 19,00
AAA 74,56 72,09 70,97 71,31
AVN 62,74 62,76 62,88 56,38
De modo geral, ocorre leve crescimento da cobertura terrestre de OAN sobre as AAA
entre 2015, 2025 e 2035a, sendo respectivamente de 2,45 km² e 1 Km ². Vale salientar que,
quando o cenário é modelado a partir da projeção de 2025 para o de 2035b, a mudança de
cobertura da terra incide sobre AVN, o que gera um cenário cuja redução da vegetação
compreende 6,36 Km² e afeta principalmente a unidade geoecológica 03, compreendendo um
crescimento de 7,16 Km² de solo exposto e áreas não identificadas sobre a bacia.
Tais dados compreenderam modelagem de cenários sem forças motrizes direcionadas a
um planejamento ambiental, o que revelou mudanças futuras não positivas, pois, embora a
vegetação natural não varie muito em termos quantitativos, a incidência de solo exposto e outros
usos compreendem, de certa maneira, áreas degradadas. Os dados quantitativos confirmam essa
situação, o que indica a necessidade de se pensar novas ações focadas em um planejamento
285
conservacionista, como será apresentado nos cenários que fazem uso dos mapas de adequação
terrestre.
Como esclarecido na metodologia, para cada mapa de adequação terrestre fez-se três
combinações com os mapas condicionais para as projeções, gerando quatro conjuntos MAT
para simulação dos cenários possíveis para cada tempo especificado (2025, 2035a e 2035b).
Todos os cenários são apresentados em mapa no apêndice B, no presente resultado aborda-se
apenas as projeções consideradas mais adequadas à conservação da vegetação natural.
De modo geral, os MAT têm a função de direcionar os locais considerados adequados
para a ocorrência das classes de cobertura da Terra da bacia do Riacho São José. Nesse sentido,
buscou-se incentivar nos cenários a recuperação da vegetação natural nas áreas de preservação
permanente dos cursos hídricos e inadequadas aos usos antrópicos, pois, como visto no mapa
de APP, muitos cursos não possuem a mata ciliar.
Entre as possibilidades de incentivo por meio do uso dos mapas de adequação,
observou-se que a recuperação das áreas de preservação permanente ocorre de forma mais
acentuada quando se faz uso apenas do MAT a áreas de vegetação natural com a classe de solo
para projeção dos cenários. Por outro lado, ao combinar dois MAT de incentivo, as AAA e
AVN, no alto e baixo curso da bacia, a vegetação sofre redução e fica restrita a algumas porções
do terreno, conforme observa-se no segundo conjunto e cenários (Figura 107).
Isso ocorre nas projeções porque o alto e baixo curso apresentam áreas para a adequação
de ambas as condições de usos, AVN e AAA, o que provoca uma concorrência por área. Tal
situação é tida como conflito de objetivos múltiplos na modelagem, que ocorre quando se deseja
realizar um planejamento ou zoneamento para mais de uma utilização da terra (EASTMAN,
2012). Mas, como na presente pesquisa o objetivo é a construção de cenários prospectivos que
vislumbrem as possibilidades de múltiplas realidades futuras, esse fato reflete em uma das
possibilidades de cenários: a existência de conflitos de usos em relação às áreas naturais, fator
que leva a fragmentação da paisagem.
Nesse sentido, como o autômato celular realiza a alocação terrestre por vizinhança
(EASTMAN, 2012; SINGH et al., 2015; MONDAL et al, 2016), a tendência é a união entre as
células (pixels) de mesma cobertura terrestre. Nesse caso, o MAT das AAA é mais abrangente
no alto e baixo curso da BRSJ, unidades geoecológicas de 01 e 03, o que diminui a capacidade
de crescimento da AVN, afetando assim a recomposição das APP.
286
Figura 107: Conjunto de cenários conservacionistas 01 da evolução da cobertura da terra para a bacia do Riacho São José-PE (2015 a 2035).
Figura 108: Quantificação das classes de cobertura da terra dos cenários conservacionistas - conjunto 01.
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
2015 2025 2035a 2035b
OAN 9,39 10,51 5,83 9,64
AAA 74,56 74,04 75,95 58,66
AVN 62,74 62,14 64,91 78,39
Por sua vez, a simulação 2035b projetada a partir do cenário de 2025 revela um aumento
acentuado da vegetação, atingindo 78,39Km², ou seja, 13, 48 Km² a mais do que foi constatado
em 2035a e 16,25Km², superior ao constatado em 2025. Embora tais dados revelem um
crescimento elevado, eles são possíveis, pois 10 anos compreende tempo suficiente para
recuperação da vegetação caatinga, a qual predomina as espécies arbóreas e arbustivas, em
condições ambientais favoráveis.
288
De acordo com estudos realizados com espécies nativas do domínio caatinga, a
germinação e a taxa de crescimento da vegetação são variáveis, logo as espécies podem
apresentar crescimento de 0,88 metros a 1,5 m em 22 meses (CHAER et al., 2010;
CARVALHO, 2016). Tais constatações dependem de variáveis ambientais, condições
climáticas e interferência antrópica.
Na evolução de mudanças da cobertura da terra, alguns fatores também influenciam no
cenário projetado, como as condições anteriores da cobertura terrestre, as variáveis ambientais
(com destaque as climáticas e hidrológicas) e as atividades antrópicas desenvolvidas (ZHANG
et al, 2011; MONDAL et al., 2016). Tais fatores, quando planejados, podem revelar condições
ambientais mais favoráveis à recuperação das matas ciliares nos cursos hídricos, direcionando
tomadas de decisões eficientes, no entanto os cenários do conjunto 01 e do conjunto 02 não
permitiram alcançar tal objetivo.
Assim, observa-se que os cenários prospectivos do conjunto 03 (Figura 109), os quais
fazem uso apenas do mapa de adequação a vegetação natural 01, e as imagens condicionais das
demais classes, demostram maior recuperação das AVN, revelando a formação das APP nos
cursos hídricos entre 2015, 2025 e 2035a. Porém, 2035b apresenta dados contrários, ou seja,
redução da vegetação em relação às projeções de 2025 e 2035a.
Tais dados revelam que a crescente recuperação da vegetação natural na BRSJ será
possível para os cenários futuros, caso medidas conservacionistas sejam tomadas nessa direção,
principalmente na unidade geoecológica de serras, vales e escarpas que ocupa quase 50% da
área territorial da bacia do Riacho São José. Outro aspecto positivo é a diminuição da classe de
cobertura OAN apresentado nessas projeções, as quais indicam áreas degradadas, revelando sua
redução de 9,39Km² em 2015 para 7,33Km² em 2035a e de 7,19 para 2035b.
As projeções também revelam que a recuperação das APP pode ocorrer de forma
satisfatória dentro do recorte temporal de 20 anos, como pode-se observar no auto e baixo curso
da bacia por reorganização das classes de cobertura do solo entre 2025 e 2035a. Isso, caso a
prioridade seja a delimitação das áreas e o incentivo de ações com tal finalidade, no entanto
acredita-se ser difícil que a porção Nordeste do alto curso chegue, de fato, a essa espacialização,
pois os usos antrópicos são mais intensos nessa na parte da BRSJ.
Observa-se também que o cenário de 2035a preenche quase toda área de incentivo
delimitada no mapa de adequação, com exceção da classe de OAN, revelando que é mais fácil
as AAA se converterem em AVN. Em análise quantitativa, o conjunto de cenários 03 mostra a
superação da classe de AAA por AVN em todas as projeções (Figura 110), embora 2035b
demonstre menor crescimento em relação as outras duas projeções.
289
Figura109:Conjuntodecenáriosconservacionistas02daevoluçãodacoberturada terraparaabaciadoRiachoSãoJosé-PE(2015a2035).
Elaboração:A.M.S.CHAVES,2020.
290
Figura 110: Quantificação das classes de cobertura da terra dos cenários conservacionistas - conjunto 02.
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
2015 2025 2035a 2035b
OAN 9,39 9,18 7,33 7,19
AAA 74,56 52,27 45,16 61,13
AVN 62,74 85,24 94,20 78,37
291
Tabela 32: Quantificação das classes de cobertura da terra nos conjuntos de modelagens preditivas.
Modelagem Preditiva para Cenários Projetivos
2015 2025 2035a 2035b
Classes
Km % Km % Km % Km %
AVN 62,74 42,77% 62,76 42,78% 62,88 42,87% 56,38 38,43%
AAA 74,56 50,83% 72,09 49,14% 70,97 48,38% 71,31 48,61%
OAN 9,39 6,40% 11,84 8,07% 12,84 8,75% 19,00 12,95%
Total 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00%
Modelagem Preditiva para Cenários Conservacionistas - 01
2015 2025 2035a 2035b
Classes
Km % Km % Km % Km %
AVN 62,74 42,77% 62,14 42,36% 64,91 44,25% 78,39 53,44%
AAA 74,56 50,83% 74,04 50,47% 75,95 51,78% 58,66 39,99%
OAN 9,39 6,40% 10,51 7,16% 5,83 3,97% 9,64 6,57%
Total 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00%
Modelagem Preditiva para Cenários Conservacionistas - 02
2015 2025 2035a 2035b
Classes
Km % Km % Km % Km %
AVN 62,74 42,77% 85,24 58,11% 94,20 64,22% 78,37 53,43%
AAA 74,56 50,83% 52,27 35,63% 45,16 30,79% 61,13 41,67%
OAN 9,39 6,40% 9,18 6,26% 7,33 5,00% 7,19 4,90%
Total 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00% 146,69 100,00%
Fonte: A. M. S. CHAVES, 2020.
294
6.4 Sugestão de Planejamento Ambiental Conservacionista para a Bacia do Riacho São
José-PE
Os resultados apresentados ao logo da tese compreendem partes integrantes de um
sistema maior alicerçado nos pressupostos teórico-metodológicos da geoecologia das paisagens
e das tecnologias da informação, com possibilidades de aplicação prática no planejamento
ambiental com perspectiva conservacionista para a bacia do Riacho São José no Agreste
pernambucano.
De acordo com Ross (2009, p. 198), a geografia fornece informações e métodos de
análise que permitem “[...] a adoção de práticas de planejamento e gestão ambiental de base
territorial com elevado grau de eficiência, o que se torna possível pela condução com qualidade
técnica e bases conceituais sólidas”. Para esse fim prático, é importante compreender que
planejamento ambiental conservacionista prioriza “[...] a utilização racional e a preservação dos
recursos naturais” com finalidade de usos antrópico (BOTELHO, 2015, p. 275). Logo, é
essencial conhecer as capacidades e limitações dos componentes geoecológicos sobre os quais
se pretende desenvolver o planejamento.
Dado esse esclarecimento e sabendo que planejar é projetar possibilidades de um futuro
melhor. Sendo que o planejamento ambiental conservacionista, de modo geral, segue passos
comuns a qualquer tipo de planejamento, são eles: (1) estabelecer a unidade de planejamento;
(2) entender a organização ambiental do território; (3) diagnosticar a situação ambiental; (4)
apresentar propostas concretas de gestão ambiental (Figura 112) (RODRIGUEZ; SILVA 2018).
Seguindo as etapas apresentadas, tendo a BRSJ como unidade a ser planejada, o
primeiro passo é construir a base de domínio teórico sobre a unidade de planejamento,
metodológico e de como delimitar essa área dentro de um contexto maior e técnico para fazer
uso das tecnologias da informação, ou seja, os sistemas de informações geográficos-SIGs.
Assim, informações teórico-metodológicas de bacias hidrográficas, como unidades de
planejamento ambiental em diferentes perspectivas, são apresentadas em Beltrame (1994), Ross
e Prette (1998), Ross (2009), Botelho (2015) e Rodriguez e Silva (2018). Ressalta-se que Ross
(2009) e Rodriguez e Silva (2018) apresentam ampla discussão sobre o planejamento ambiental
e as suas aplicações práticas para além do contexto de bacia hidrográfica.
O segundo passo na construção do planejamento ambiental conservacionista para a
BRSJ é entender a organização ambiental do território, para isso precisa-se saber a abrangência
da bacia, a delimitação política e administrativa, a caracterização geoecológica e os serviços e
elementos que compõem o sistema territorial em planejamento. Essa etapa ocorre em
colaboração com o terceiro passo, ou seja, o diagnóstico da situação ambiental da bacia.
295
Figura 112: Sugestão de Planejamento Ambiental Conservacionista para a Bacia do Riacho São José-PE.
297
CONCLUSÕES
CONCLUSÕES
299
É válido salientar que todos os componentes geoecológicos estão em interações
dinâmicas, caracterizando as especificidades paisagísticas de forma alongada delineada sobre
o planalto da Borborema e a depressão do baixo São Francisco sobre distintas influências da
precipitação, cujas fitofisionomias variam no sentido Leste para Oeste. Características essas
que influenciam nos modos de apropriação e no uso do território.
Por tratar-se de bacia em área semiárida moderada e subúmida de transição, em que a
Leste se tem formações vegetais de mata de altitude e caatinga arbórea/arbustiva, foi dada
atenção especial no quarto capítulo, buscando entender como está estruturada a dinâmica
fitogeografia da bacia do Riacho São José, a qual revelou uma área de transição da dinâmica
fitogeografia evidenciada na estrutura horizontal por meio da espacialização da vegetação pelo
índice de vegetação normalizada (NDVI); a estrutura vertical na construção de pirâmides de
vegetação; e a diversidade florística por índices específicos.
Tais aspectos permitiram visualizar sobre o terreno da BRSJ as fitofisionomias arbórea,
arbórea-arbustiva, arbustiva, herbácea e rupestre. Identificando as áreas onde a vegetação vem
sendo degradada ao longo dos últimos trinta anos (de 1985 a 2015), como também indicativos
de onde se mantém as características naturais, ou seja, porções representativas das espécies
vegetais, as quais são comuns sobre relevo forte ondulado, montanhoso e escarpado, feições de
serras, vales e encostas que impõem limitações aos usos antrópicos.
Assim, constatou pelo NDVI que a vegetação arbórea e arbórea-arbustiva reduziu ao
logo do recorte espaço-temporal estudado, por outro lado houve aumento na fitofisionomia
herbácea. Situação que revela a substituição das áreas de vegetação natural por áreas agrícolas
a exemplo de pastagem. Por sua vez, a classe das arbustivas se mantiveram constante, entre
35% e 45% da área territorial da bacia do Riacho São José.
Perante a espacialização do NDVI, escolheu-se pontos onde a vegetação era expressiva
para aplicação de metodologias específicas de campo na identificação, quantificação e
representação gráfica das espécies por meio de pirâmides e estimativas de diversidade. Assim,
fazendo uso de métodos fitossociológicos identificou-se cinquenta e seis espécies pertencentes
a vinte cinco famílias vegetais, com maior dominância para as Cactaceae com cinco espécies,
Euphorbiaceae com nove espécies, Fabacea com onze espécies.
A vegetação foi representada graficamente por meio de pirâmides de vegetação (PV),
constatando que os estratos vegetais predominantemente (espécies arborescentes e arbustivas)
estão em dinâmica de equilíbrio e as herbáceas em progressão. Mudança nessa dinâmica foi
constatado para as espécies arbóreas e subarbustivas que apresentaram regressão na PV 1 e PV
3, respectivamente.
300
Sobre as medidas de diversidade, constatou-se bons resultados para a BRSJ, com
destaque o índice de diversidade Shannon que foi de 3.13, acima do verificado em outros
ambientes semiáridos. A uniformidade de Pielou (de 0.81) e dominância Simpson (de 0.94)
mensurados para a bacia compreendem expressões similares às de outras áreas do Agreste
pernambucano e semiárido nordestino. No geral esses índices revelam valores satisfatórios,
indicando riqueza de espécies, boa uniformidade e ótima dominância.
Após delineamento da dinâmica fitogeográfica, buscou-se identificar quais eram os
padrões que configuram o sistema territorial da bacia do Riacho São José e a prestação de
serviços ecossistêmicos, construindo assim o quinto capítulo da tese. Logo, fez-se o
mapeamento espacial e temporal da cobertura da Terra (1985 a 2015) e verificando as
apropriações antrópicas por meio de atividades de campo, representando os padrões que
configuram o sistema territorial e identificando a prestação dos serviços ecossistêmicos e os
impactos associados.
Nesse contexto, delimitou-se a organização política-administrativa na qual a BRSJ está
inserida, compreendendo a área territorial de três municípios e fazendo parte de 10 setores
censitários. Observou-se pouca mudança no padrão das coberturas classificadas em vegetação
natural, antrópicas agrícolas, outras áreas e água, essa última só visualizada em reservatórios
com área mínima de 30 m² devido a resolução das imagens Landsat. Os usos antrópicos comuns
são atividades agrícolas e pecuária de extensão, com destaque a instalação de parques eólicos a
partir do ano de 2013 nas cotas mais elevadas do planalto da Borborema.
O sistema territorial da BRSJ e adjacências se destacam pelas inúmeras atividades
desenvolvidas e estabelecimentos instalados, como escolas, padarias, mercados, bares, capelas,
borracharias, sítios arqueológicos e cachoeiras. A essas atividades se somam 51 serviços
ecossistêmicos prestados, sendo 22 de provimento com fins nutricionais e materiais, 19 com
função de manutenção e regulação das condições ambientais e 10 culturais com destaque para
as atividades físicas, de saúde, de lazer, tradicionais e científicas. Observou-se, também, que
são as áreas de vegetação natural que desempenham mais funções ecológicas.
Diante dos resultados apresentados, traz-se o último capítulo da tese (VI), o qual
respondeu como as interações geoecológicas e os usos antrópicos refletem na adequabilidade
da paisagem da bacia do Riacho São José. Para isso, primeiro foi apresentada a
compartimentação geoecológica em três unidades: Terras Altas (UGEO-01), sobre as cotas
acima de 870 metros de altitude com relevo plano a ondulado; Serras, Vales e Escarpas (UGEO-
02), em áreas de relevo movimentado e dissecado; Terras Baixas (UGEO-03), sobre terreno
aplainado abaixo de 550 metros de altitude.
301
Sobre cada unidade geoecológica foi analisado o estado ambiental da paisagem,
revelando que a estabilidade paisagística é mediamente estável na UGEO-02, enquanto na
UGEO-01 e na UGEO-03 ocorre maiores processos degradantes, configurando estabilidades
instável e crítica. Esses aspectos, da apropriação e transformação do solo juntamente com os
componentes geoecológicos que estruturam a feições da BRSJ, são integrados e representados
por meio de perfis geoecológicos.
Tais dados refletiram as interações geoecológicas e os usos antrópicos por meio da
estimação dos níveis de adequabilidade geoecológica para BRSJ, constatando que 43% da área
territorial da bacia, com destaque as unidades geoecológicas 01 e 03, são adequadas ao
desenvolvimento das atividades antrópicas; 23,37% compreende áreas inadequadas a
apropriação, por isso devem ser mantidas em conservação; e 33,64% da bacia é considerada
parcialmente adequada.
Diante da realidade investigada, se constatou a necessidade de se pensar o planejamento
ambiental voltado para a conservação da vegetação arbórea e arbustiva, a qual vem sendo
reduzida ao longo do tempo. Tal observação delineou a resposta para última questão norteadora
da tese, delinear os cenários prospectivos possíveis para a realidade da bacia do Riacho São
José com fins a conservação do ambiente semiárido.
Nesse contexto, foi importante entender que para se desenvolver um planejamento
conservacionista foi preciso delinear a bacia do Riacho São José como unidade de
planejamento; conhecer a organização territorial, o que se fez em tópicos dos capítulos III e V;
fazer um diagnóstico ambiental, como pode ser identificado nos capítulos III, IV, V e na
primeira parte do capítulo VI e apresentar as propostas de cenários futuros.
Assim, conhecendo os níveis de adequabilidade geoecológica aos usos antrópicos, as
condições territoriais e ambientais da bacia e suas áreas de preservação permanente (APP),
pode-se realizar a modelagem preditiva de três conjuntos de cenários, para os anos de 2025 e
2035, no modelador CA-Markov. Desse modo, foi constatado que é possível a conservação e
recuperação das APPs e a diminuição das áreas de solo exposto e degradados em um período
de 20 anos, caso ações efetivas sejam tomadas nessa direção. Essa situação é constatada apenas
em um dos nove cenários preditivos.
No primeiro conjunto de cenários, de caráter apenas projetivo, considerando a atual
cobertura da terra sem se preocupar com um planejamento ambiental, constatou-se não ter uma
redução significativa nas áreas de vegetação natural para 2025 e 2035a/b, mas as áreas
degradadas dobraram, saindo de 6,40% para 12,95%. Futura realidade que mudará se for
302
aderido um planejamento conservacionista para a BRSJ, como verificou-se nos outros dois
conjuntos modelados.
O primeiro conjunto de cenários conservacionistas revelaram leve acréscimo das áreas
de vegetação natural e redução das áreas degradadas, mas não permitiu a recuperação das APP
dos cursos hídricos. O que foi conseguido apenas no cenário 2015/2035 da modelagem preditiva
do segundo conjunto conservacionista, o qual evidenciou aumento significativo da classe
vegetação e redução nas demais cobertura da terra.
Diante dos resultados alcançados, a hipótese da tese foi atendida, pois produziu
resultados coerentes com a realidade do ambiente semiárido constatando que a modelagem de
cenários futuros para o ambiente semiárido da bacia do Riacho São José deve ser pautando no
planejamento ambiental conservacionista, englobando o estudo da dinâmica geoecológica, em
seus níveis de interações físico-naturais e socioambientais. O que é possível e viável, quando
pensado pelo contexto da adequabilidade entre os componentes geoecológicos e os modos de
apropriação e transformação do sistema territorial, entendendo a relação da sociedade com o
meio em que está inserida.
Portanto, reconhece-se que a tese apresenta um panorama das possibilidades delineadas
dentro da Geografia Física Aplicada conforme algumas perspectivas da geoecologia das
paisagens em bacia semiárida. Em que é destacado a aplicabilidade de diferentes metodologias,
como também se traz uma proposta flexível e inovadora por meio da álgebra de mapas em
ambiente SIG, pensada nos níveis de adequabilidade geoecológica aos usos antrópicos, com
finalidade de propor o planejamento ambiental conservacionista.
Destarte, é importante o desenvolvimento de novas pesquisas dentro da perspectiva
apresenta, seja em bacias hidrográficas em suas diferentes escalas, seja em outras unidades de
planejamento ambiental. Pois é relevante pensar para o futuro novos desdobramentos e
melhoramentos da proposta executada, visto ser de fácil compreensão metodológica e possível
de adaptação para diferentes ambientes SIG, com destaque para os de livre acesso. Sendo
essencial, enquanto pressuposto, reconhecer e entender as interações geoecológicas que
configuram a dinâmica ambiental do território refletida em diferentes paisagens geográficas.
303
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331
APÊNDICES
Apêndice A: Planilha com Coordenadas de Campo da Bacia do Riacho São José-PE
333
41 734824,00 9025515,00 AAA
42 737991,00 9024110,00 AVN
43 736568,00 9025166,00 AVN
44 741892,00 9022159,00 OAN
45 748979,00 9030756,00 OAN
46 745593,70 9029939,03 AVN
47 755930,00 9032272,00 OAN
48 752478,00 9032994,00 OAN
49 752530,21 9032723,15 AAA
50 753323,66 9029530,08 AAA
Fonte: A. M. S CHAVES, 2019.
AVN - Áreas de Vegetação Natural
AAA - Áreas Antrópicas Agrícolas
OAN - Outras Áreas
334
Apêndice B: Código dos Serviços Ecossistêmicos Identificados no Riacho São José-PE
335
Função de Regulação e
Polinização ou dispersão de
AVN Manutenção do Ciclo da PP
gametas – SEv1
Vida - FRMv
Dispersão de sementes –
AVN FRMv PP
SEv2
Função de Regulação e
AVN Manutenção no Controle Controle de pragas – SEcp1 PP
de Pragas -FRMcp
Função de Regulação e
Processo de Intemperismo –
AVN Manutenção do Solo - PP
SEs1
FRMs
Processo de decomposição e
AVN FRMs PP
fixação – SEs2
Função de Regulação e
Manutenção na Regulação da temperatura e
AVN PP
Composição e Condições umidade - SEa
Atmosféricas - FRMa
Atividades que promovam
saúde, recuperação ou
Funções Culturais de
AVN diversão por meio de PN
Interações Físicas - FCif
interações ativas ou
imersivas - SEif1
Atividades que promovam
saúde, recuperação ou prazer
AVN FCif através de interações PN
passivas ou observacionais –
SEif2
Funções Culturais de Investigação científica ou a
AVN Interações Intelectuais - criação do conhecimento PP
FCii ecológico tradicional – SEii1
Educação e treinamento –
AVN FCii PP
SEii2
Ressonantes em termos de
AVN FCii cultura ou patrimônio – PP
SEii3
Experiências estéticas –
AVN FCii PP
SEii4
Funções Culturais de Elementos de sistemas vivos
AVN Interações Espirituais - que têm significado sagrado PN
FCie ou religioso - SEis1
Elementos de sistemas vivos
AVN FCie usados para entretenimento PN
ou representação – SEie2
Outras Características
Sítios de figuras rupestres
AVN que Têm um Valor de
SEnu1
Não Uso -FCnu
Fonte: Equipe interdisciplinar de pesquisadores do Vale Do São José, 2020.
336
Água subterrânea para beber
AAA FPn PP
– SEn6
Função de Provimento Fibras e outros materiais de
AAA PN
Material - FPm Plantas Selvagens – SEm1
Fibras e outros materiais de
AAA FPm PN
plantas cultivadas- SEm2
Fibras e outros materiais de
AAA FPm PN
Animais Criados – SEm4
Água de Superfície para não
AAA FPm PP
consumo – SEm5
Água subterrânea para não
AAA FPm PP
consumo – SEm6
Função de Provimento
AAA Material Genético - Sementes e esporos – SEg1 PP
FPmg
Plantas superiores e
FPmg PP
inferiores – SEg2
Função de Provimento de
Plantas selvagens – SEe1 NN
Energia – FPe
AAA FPe Animais Criados – SEe2 PN
AAA FPe Energia Eólica –SEe3
Função de Regulação e
Manutenção Por Remediação biológica –
AAA PP
Mediação de Resíduos - SEr1
FRMr
Filtragem, sequestro,
AAA FRMr armazenamento e PP
acumulação –SEr2
Função de Regulação e
Manutenção por
AAA Redução de cheiro SEp1 PP
Mediação de Pertubação
- FRMp
AAA FRMp Triagem visual – SEp3 PP
Função de Regulação dos
AAA Fluxos de Linha de Base Controle de erosão – SEf1 PP
- FRMf
Tampão e atenuação do
AAA FRMf PP
movimento de massa – SEf2
Regulação do ciclo
AAA FRMf PP
hidrológico – SEf3
Proteção contra o vento –
AAA FRMf PP
SEf4
Fluxos líquidos por
AAA FRMf PP
caldeirões – SEf5
Função de Regulação e
Polinização ou dispersão de
AAA Manutenção do Ciclo da PP
gametas – SEv1
Vida - FRMv
Dispersão de sementes –
AAA FRMv PP
SEv2
Manutenção de populações e
AAA FRMv PP
habitats de viveiros – SEv3
Função de Regulação e
AAA Manutenção no Controle Controle de pragas – SEcp1 PP
de Pragas -FRMcp
Função de Regulação e
Processo de Intemperismo –
AAA Manutenção do Solo - PP
SEs1
FRMs
Processo de decomposição e
AAA FRMs PP
fixação – SEs2
337
Função de Regulação e
Manutenção na Regulação da temperatura e
AAA PP
Composição e Condições umidade SEa1
Atmosféricas - FRMa
Atividades que promovam
saúde, recuperação ou
Funções Culturais de
AAA diversão por meio de PN
Interações Físicas - FCif
interações ativas ou
imersivas - SEif1
Funções Culturais de Investigação científica ou a
AAA Interações Intelectuais - criação do conhecimento PP
FCii ecológico tradicional – SEii1
Educação e treinamento –
AAA FCii PP
SEii2
Ressonantes em termos de
AAA FCii cultura ou patrimônio – PN
SEii3
Funções Culturais de Elementos de sistemas vivos
AAA Interações Espirituais - que têm significado sagrado PN
FCie ou religioso - SEie1
Elementos de sistemas vivos
AAA FCie usados para entretenimento PN
ou representação – SEie2
Fonte: Equipe interdisciplinar de pesquisadores do Vale Do São José, 2020.
Quadro 18: Códigos para os serviços ecossistêmicos em outras áreas não identificada.
Cobertura da Impacto Relacionado
Função Ecológica Serviços Ecossistêmicos
Terra (positivo-P / Negativo-N)
Função de Provimento Fibras e outros materiais de
OAN PN
Material - FPm plantas Selvagens- SEm1
Água de Superfície para não
OAN FPm PP
consumo – SEm5
Função de Provimento de
OAN Energia Eólica –SEe3 PN
Energia - FPe
Manutenção do ciclo da Polinização ou dispersão de
OAN PP
vida - FRMv gametas – SEv1
Função de Regulação e
Dispersão de sementes –
OAN Manutenção do Ciclo da PP
SEv2
Vida FRMv
Função de Regulação dos
Fluxos líquidos por
OAN Fluxos de Linha de Base PP
caldeirões – SEf4
- FRMf
Atividades que promovam
saúde, recuperação ou
Funções Culturais de
OAN diversão por meio de PN
Interações Físicas - FCif
interações ativas ou
imersivas - SEif1
Atividades que promovam
saúde, recuperação ou prazer
OAN FCif através de interações PN
passivas ou observacionais –
SEif2
Funções Culturais de Investigação científica ou a
OAN Interações Intelectuais - criação do conhecimento PP
FCii ecológico tradicional – SEii1
Fonte: Equipe interdisciplinar de pesquisadores do Vale Do São José, 2020.
339
Apêndice C: Projeções Feitas com Mapas de Adequação para Bacia do Riacho São José-PE
340
ANEXOS
Anexo A: Dados do Balanço Hídrico da Bacia do Riacho São José-PE
Tabela 34: Dados mensais para o balanço hídrico da bacia do Riacho São José-PE.
Precipitação Total - mm Temperatura Média - ºC
Anos Meses Garanhuns Capoeira Pedra Média Anos Meses Garanhuns Capoeira Pedra Média
1 191,80 334,26 534,81 353,62 1 23,66 24,40 25,10 24,39
2 115,80 146,52 147,12 136,48 2 23,12 23,47 23,95 23,51
3 62,30 79,44 81,66 74,47 3 23,19 23,60 24,65 23,81
4 59,60 19,32 37,08 38,67 4 22,88 23,37 24,83 23,69
5 81,50 7,23 28,29 39,01 5 22,15 22,48 23,63 22,75
6 247,70 82,35 84,18 138,08 6 20,08 20,53 21,12 20,58
2004 2004
7 204,50 6,78 0,00 70,43 7 19,63 20,16 20,45 20,08
8 91,30 48,84 0,00 46,71 8 20,02 20,66 20,79 20,49
9 113,20 6,99 7,50 42,56 9 20,67 21,62 22,48 21,59
10 4,30 33,30 0,00 12,53 10 22,16 23,45 24,94 23,52
11 5,40 51,48 8,46 21,78 11 23,43 24,63 25,83 24,63
12 6,30 102,45 17,67 42,14 12 24,11 25,21 26,11 25,14
1 19,70 77,28 103,98 66,99 1 24,87 25,47 26,10 25,48
2 69,00 100,86 67,62 79,16 2 24,61 25,50 26,30 25,47
3 195,60 297,33 302,88 265,27 3 24,81 25,60 26,23 25,55
4 49,20 32,97 73,29 51,82 4 23,65 24,33 24,30 24,09
5 191,90 83,16 82,32 119,13 5 22,11 22,21 23,15 22,49
6 325,30 115,14 83,64 174,69 6 20,78 21,00 21,75 21,18
2005 2005
7 125,40 0,00 0,00 41,80 7 20,16 20,23 20,77 20,39
8 146,60 0,00 0,00 48,87 8 20,18 20,31 20,90 20,46
9 39,90 14,31 0,00 18,07 9 21,68 21,88 23,05 22,20
10 2,30 121,32 3,51 42,38 10 23,06 23,34 25,24 23,88
11 0,40 110,58 11,61 40,86 11 24,35 24,75 26,15 25,08
12 58,60 129,60 119,85 102,68 12 24,03 24,15 25,24 24,47
1 4,10 64,26 43,83 37,40 1 26,37 26,52 26,10 26,33
2 37,50 214,83 86,46 112,93 2 25,71 25,77 26,50 25,99
3 115,80 119,37 210,69 148,62 3 25,73 25,81 26,15 25,90
4 72,80 94,68 221,49 129,66 4 24,38 24,53 24,72 24,54
5 148,00 158,82 162,93 156,58 5 23,47 23,65 22,84 23,32
6 212,90 64,32 31,83 103,02 6 21,02 21,03 21,40 21,15
2006 2006
7 161,10 6,36 35,76 67,74 7 20,26 20,29 20,81 20,45
8 88,90 7,35 48,84 48,36 8 21,05 21,18 21,48 21,24
9 62,70 13,98 6,81 27,83 9 21,82 21,90 23,62 22,45
10 8,70 35,88 46,92 30,50 10 23,15 23,34 25,31 23,93
11 36,70 91,02 19,47 49,06 11 24,63 24,77 25,75 25,05
12 0,30 23,61 6,18 10,03 12 24,92 25,03 26,44 25,46
1 17,80 38,01 18,30 24,70 1 27,95 28,08 28,06 28,03
2007 2 133,40 198,42 240,75 190,86 2007 2 28,75 28,73 28,61 28,70
3 79,80 88,14 116,64 94,86 3 24,18 24,32 24,79 24,43
342
4 78,20 80,28 82,02 80,17 4 26,45 26,40 26,33 26,39
5 110,30 24,21 65,49 66,67 5 25,60 25,58 25,37 25,52
6 194,60 11,94 10,92 72,49 6 24,80 24,78 24,57 24,72
7 134,60 0,00 6,45 47,02 7 20,51 23,68 23,56 22,58
8 198,40 25,26 0,00 74,55 8 17,38 23,92 24,06 21,79
9 102,30 55,44 15,09 57,61 9 19,50 21,12 22,30 20,97
10 5,10 98,01 3,81 35,64 10 21,58 22,55 24,56 22,90
11 15,00 44,61 1,95 20,52 11 23,50 23,97 25,82 24,43
12 8,80 94,65 7,20 36,88 12 23,81 24,87 26,32 25,00
1 2,80 86,82 25,50 38,37 1 24,11 26,76 28,02 26,30
2 25,80 152,16 230,70 136,22 2 24,60 26,22 28,07 26,30
3 240,10 586,08 493,83 440,00 3 23,88 24,81 26,55 25,08
4 70,30 112,05 148,71 110,35 4 23,00 24,27 25,85 24,37
5 203,90 111,87 196,47 170,75 5 21,30 22,55 24,18 22,68
6 84,70 15,87 19,92 40,16 6 19,97 21,53 22,90 21,47
2008 2008
7 144,80 0,00 7,95 50,92 7 19,12 20,19 21,84 20,38
8 92,90 8,10 0,00 33,67 8 19,75 20,61 22,32 20,89
9 19,20 6,75 23,28 16,41 9 20,89 21,87 23,43 22,06
10 17,70 6,99 0,00 8,23 10 21,94 23,06 24,63 23,21
11 0,00 21,39 2,28 7,89 11 23,85 25,32 26,88 25,35
12 49,60 58,29 24,03 43,97 12 24,48 25,42 27,00 25,63
1 17,30 106,14 96,15 73,20 1 24,52 25,63 26,69 25,61
2 61,00 102,21 180,51 114,57 2 23,82 25,18 26,73 25,24
3 9,00 98,79 106,50 71,43 3 24,44 25,42 27,06 25,64
4 146,90 257,97 282,51 229,13 4 23,85 24,78 26,47 25,03
5 165,90 485,85 725,94 459,23 5 22,23 23,47 25,24 23,65
6 131,30 24,87 42,12 66,10 6 20,93 21,88 23,53 22,11
2009 2009
7 102,80 0,00 25,56 42,79 7 20,40 21,68 23,19 21,76
8 153,10 7,59 16,11 58,93 8 20,28 21,02 22,87 21,39
9 9,90 0,00 15,24 8,38 9 21,99 24,08 25,22 23,76
10 32,20 38,10 8,34 26,21 10 23,50 23,73 25,26 24,16
11 15,80 0,00 0,00 5,27 11 23,64 24,35 25,75 24,58
12 50,00 59,52 87,18 65,57 12 24,04 24,58 25,95 24,86
1 110,00 143,49 261,24 171,58 1 23,46 23,79 25,53 24,26
2 44,80 139,38 168,06 117,41 2 24,08 24,70 26,59 25,12
3 119,90 166,77 123,33 136,67 3 24,94 25,81 27,58 26,11
4 220,70 289,53 294,66 268,30 4 23,75 24,03 25,70 24,49
5 43,60 0,00 17,64 20,41 5 22,98 23,35 25,21 23,85
6 427,50 462,48 354,63 414,87 6 20,86 21,65 23,38 21,96
2010 2010
7 147,50 0,00 18,12 55,21 7 20,07 20,97 22,97 21,34
8 112,90 0,00 0,00 37,63 8 19,39 20,60 21,95 20,65
9 123,60 7,20 32,67 54,49 9 20,22 21,73 23,30 21,75
10 83,70 176,76 240,00 166,82 10 22,70 24,50 26,06 24,42
11 1,70 0,00 0,00 0,57 11 23,49 24,27 26,40 24,72
12 10,40 53,19 35,97 33,19 12 24,21 24,52 26,44 25,06
343
1 64,10 186,15 146,46 132,24 1 23,81 24,11 26,02 24,65
2 78,80 48,18 171,21 99,40 2 24,14 24,32 26,02 24,83
3 150,90 51,48 52,83 85,07 3 24,59 25,34 27,03 25,65
4 120,80 193,35 100,98 138,38 4 23,31 24,12 25,82 24,42
5 206,60 336,51 354,99 299,37 5 21,28 22,60 24,29 22,72
6 140,70 0,00 27,06 55,92 6 20,70 22,27 23,22 22,06
2011 2011
7 208,50 66,54 57,06 110,70 7 19,61 21,08 22,45 21,05
8 82,60 8,52 0,00 30,37 8 20,17 20,94 22,84 21,32
9 101,10 0,00 0,00 33,70 9 20,44 21,45 23,13 21,67
10 13,60 8,79 17,13 13,17 10 22,32 23,40 25,47 23,73
11 32,10 10,83 12,21 18,38 11 23,06 24,32 26,37 24,58
12 0,00 7,80 25,23 11,01 12 24,32 25,47 26,90 25,56
1 16,60 102,54 116,01 78,38 1 23,65 24,44 26,52 24,87
2 24,60 37,32 43,83 35,25 2 23,52 24,48 26,38 24,79
3 3,80 10,38 13,86 9,35 3 23,86 24,52 26,42 24,93
4 37,00 4,32 4,62 15,31 4 23,26 23,43 25,32 24,00
5 64,80 7,59 7,38 26,59 5 22,66 22,35 24,23 23,08
6 72,70 0,00 0,00 24,23 6 21,02 21,58 23,57 22,06
2012 2012
7 90,10 11,43 17,55 39,69 7 20,01 20,58 22,52 21,04
8 115,50 0,00 0,00 38,50 8 19,79 20,52 22,45 20,92
9 11,00 29,37 0,00 13,46 9 21,34 22,12 24,13 22,53
10 7,50 7,44 0,00 4,98 10 22,79 25,08 24,84 24,24
11 1,40 36,12 10,68 16,07 11 24,73 25,47 25,58 25,26
12 6,00 47,88 20,16 24,68 12 24,61 25,31 26,48 25,47
1 13,60 60,30 59,64 44,51 1 24,83 25,69 26,81 25,78
2 4,50 0,00 2,16 2,22 2 24,96 26,11 26,55 25,87
3 14,40 7,74 74,34 32,16 3 25,20 26,21 26,63 26,01
4 114,50 39,84 73,05 75,80 4 24,40 25,15 25,08 24,88
5 66,30 87,90 41,94 65,38 5 22,64 23,40 23,52 23,19
6 117,80 21,51 69,24 69,52 6 21,01 22,68 22,72 22,14
2013 2013
7 177,50 121,35 188,67 162,51 7 19,98 21,65 21,89 21,17
8 97,90 0,00 0,00 32,63 8 20,35 21,76 21,94 21,35
9 21,50 0,00 0,00 7,17 9 21,45 22,93 23,13 22,50
10 58,80 3,81 4,77 22,46 10 22,56 23,89 25,73 24,06
11 25,80 80,52 37,41 47,91 11 23,62 24,38 26,48 24,83
12 74,30 83,61 108,90 88,94 12 23,94 25,18 26,95 25,36
1 13,80 9,84 23,37 15,67 1 23,62 25,31 26,27 25,07
2 20,90 47,82 30,15 32,96 2 23,94 25,23 25,96 25,04
3 62,10 65,46 101,31 76,29 3 25,03 25,15 26,73 25,64
4 152,80 184,74 119,58 152,37 4 23,71 24,30 26,07 24,69
2014 5 176,50 64,20 61,98 100,89 2014 5 21,64 23,06 25,03 23,24
6 120,80 0,00 0,00 40,27 6 20,69 22,12 23,98 22,26
7 144,70 45,09 43,71 77,83 7 20,98 21,45 23,39 21,94
8 131,30 0,00 0,00 43,77 8 19,74 20,81 23,82 21,46
9 68,40 0,00 8,10 25,50 9 21,04 21,93 22,33 21,77
344
10 173,60 0,00 10,32 61,31 10 21,38 22,87 24,19 22,81
11 16,10 62,76 60,48 46,45 11 23,14 24,50 26,53 24,72
12 17,90 67,50 59,40 48,27 12 23,38 24,61 26,50 24,83
1 5,60 46,53 40,17 30,77 1 24,01 25,19 27,02 25,41
2 71,90 173,91 98,49 114,77 2 23,94 25,50 27,73 25,72
3 15,90 51,15 158,25 75,10 3 24,26 25,18 27,45 25,63
4 4,20 40,14 96,00 46,78 4 24,95 24,98 27,08 25,67
5 40,50 23,22 33,18 32,30 5 23,44 23,21 25,79 24,15
6 122,80 0,00 9,63 44,14 6 22,00 21,88 24,48 22,79
2015 2015
7 0,00 9,06 41,88 16,98 7 20,86 21,26 24,06 22,06
8 74,70 8,85 0,00 27,85 8 20,23 20,10 23,08 21,14
9 9,00 0,00 0,00 3,00 9 21,73 22,62 25,05 23,13
10 10,60 0,00 4,53 5,04 10 22,84 23,71 26,06 24,20
11 0,00 2,22 7,77 3,33 11 24,69 25,25 27,23 25,72
12 17,60 67,65 104,46 63,24 12 24,33 25,11 26,98 25,47
1 87,80 236,76 226,44 183,67 1 24,23 24,97 27,29 25,50
2 38,20 107,01 141,33 95,51 2 23,74 24,78 27,12 25,21
3 33,80 47,46 105,57 62,28 3 24,61 24,97 27,29 25,62
4 57,60 4,71 22,44 28,25 4 23,43 24,23 26,48 24,71
5 74,80 57,51 150,57 94,29 5 22,36 23,27 27,29 24,31
6 53,00 20,76 21,12 31,63 6 21,69 22,67 24,83 23,06
2016 2016
7 66,00 0,00 0,00 22,00 7 20,31 21,50 23,81 21,87
8 37,80 0,00 0,00 12,60 8 20,76 21,55 23,66 21,99
9 12,40 0,40 1,70 4,83 9 22,20 22,78 25,23 23,40
10 10,20 5,60 8,20 8,00 10 23,54 23,95 26,23 24,57
11 2,40 0,70 8,50 3,87 11 24,26 24,98 27,37 25,54
12 2,80 13,50 10,10 8,80 12 24,76 25,27 27,47 25,83
1 5,00 41,00 27,60 24,53 1 24,68 25,19 27,50 25,79
2 1,80 22,10 21,90 15,27 2 24,90 25,14 27,38 25,81
3 2,40 25,30 45,80 24,50 3 25,27 25,27 27,53 26,02
4 48,20 48,20 46,20 47,53 4 24,04 24,33 26,47 24,95
5 287,60 47,30 43,10 126,00 5 22,41 23,19 25,44 23,68
6 168,60 3,60 3,30 58,50 6 20,65 21,75 24,05 22,15
2017 2017
7 243,60 2,90 4,60 83,70 7 18,55 20,03 22,44 20,34
8 120,80 0,30 1,20 40,77 8 19,93 20,63 23,18 21,25
9 124,80 0,00 0,00 41,60 9 19,87 21,07 23,62 21,52
10 16,40 0,70 8,30 8,47 10 21,75 22,76 25,32 23,28
11 3,60 18,73 17,90 13,41 11 23,59 24,48 26,88 24,98
12 8,40 35,50 33,57 25,82 12 25,24 25,48 27,66 26,13
Fonte: Agritempo e INMET, 2018. Organização A. M. S. CHAVES, 2018.
345
Anexo B: Ficha Biogeográfica Aplicada na Bacia do Riacho São José-PE
Espécie Estrato
N° de Altura (m)
Espécies por Estrato
Espécies Aprox. A/D S S / Dinâmica
Arbóreo
Arborescente
Arbustivo
Subarbustivo
Herbáceo-Rasteiro
Húmus e Serapilheira:
Erosão: ________________________________________________________________________________
Ação Antrópica:
Dinâmica de Conjunto:
346
INFORMAÇÕES PARA PREENCHIMENTO DAS FICHAS BIOGEOGRÁFICAS
Percentual de Abundância-Dominância
5 - Cobrindo entre 75% à 100%.
4 - Cobrindo entre 50% à 75%.
Percentual de abundância-
dominância da vegetação. Fonte: 3 - Cobrindo entre 25% à 50%.
BERTRAND, 1966. 2 - Cobrindo entre 10% à 25%.
1 - Planta abundante, porém com valor de cobertura baixo não
superando a 10 %.
+ - Alguns raros exemplares.
347
Anexo C: Tabela CICES Aplicada na Bacia do Riacho São José-PE
348
Wild animals (terrestrial and Wild animals (terrestrial and
Provisioning
CICES Biomass aquatic) for nutrition, aquatic) used for nutritional
(Biotic)
materials or energy purposes
Fibres and other materials from
Wild animals (terrestrial and
Provisioning wild animals for direct use or
CICES Biomass aquatic) for nutrition,
(Biotic) processing (excluding genetic
materials or energy
materials)
Wild animals (terrestrial and Wild animals (terrestrial and
Provisioning
CICES Biomass aquatic) for nutrition, aquatic) used as a source of
(Biotic)
materials or energy energy
Genetic material from Seeds, spores and other plant
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from plants, materials collected for
CICES
(Biotic) spore or gamete algae or fungi maintaining or establishing a
production) population
Genetic material from
Higher and lower plants (whole
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from plants,
CICES organisms) used to breed new
(Biotic) spore or gamete algae or fungi
strains or varieties
production)
Genetic material from Individual genes extracted from
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from plants, higher and lower plants for the
CICES
(Biotic) spore or gamete algae or fungi design and construction of new
production) biological entities
Genetic material from
Animal material collected for
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from
CICES the purposes of maintaining or
(Biotic) spore or gamete animals
establishing a population
production)
Genetic material from
Wild animals (whole
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from
CICES organisms) used to breed new
(Biotic) spore or gamete animals
strains or varieties
production)
Genetic material from Individual genes extracted from
Provisioning all biota (including seed, Genetic material from organisms for the design and
CICES
(Biotic) spore or gamete organisms construction of new biological
production) entities
Other types of
Provisioning
CICES provisioning service Other Other
(Biotic)
from biotic sources
Regulation & Transformation of Mediation of wastes or toxic Bio-remediation by micro-
CICES Maintenance biochemical or physical substances of anthropogenic organisms, algae, plants, and
(Biotic) inputs to ecosystems origin by living processes animals
Filtration/sequestration/storage/
Regulation & Transformation of Mediation of wastes or toxic
accumulation by micro-
CICES Maintenance biochemical or physical substances of anthropogenic
organisms, algae, plants, and
(Biotic) inputs to ecosystems origin by living processes
animals
Regulation & Transformation of
Mediation of nuisances of
CICES Maintenance biochemical or physical Smell reduction
anthropogenic origin
(Biotic) inputs to ecosystems
Regulation & Transformation of
Mediation of nuisances of
CICES Maintenance biochemical or physical Noise attenuation
anthropogenic origin
(Biotic) inputs to ecosystems
Regulation & Transformation of
Mediation of nuisances of
CICES Maintenance biochemical or physical Visual screening
anthropogenic origin
(Biotic) inputs to ecosystems
Regulation & Regulation of physical,
Regulation of baseline flows
CICES Maintenance chemical, biological Control of erosion rates
and extreme events
(Biotic) conditions
349
Regulation & Regulation of physical,
Regulation of baseline flows Buffering and attenuation of
CICES Maintenance chemical, biological
and extreme events mass movement
(Biotic) conditions
Hydrological cycle and water
Regulation & Regulation of physical,
Regulation of baseline flows flow regulation (Including
CICES Maintenance chemical, biological
and extreme events flood control, and coastal
(Biotic) conditions
protection)
Regulation & Regulation of physical,
Regulation of baseline flows
CICES Maintenance chemical, biological Wind protection
and extreme events
(Biotic) conditions
Regulation & Regulation of physical,
Regulation of baseline flows
CICES Maintenance chemical, biological Fire protection
and extreme events
(Biotic) conditions
Regulation & Regulation of physical, Lifecycle maintenance,
Pollination (or 'gamete'
CICES Maintenance chemical, biological habitat and gene pool
dispersal in a marine context)
(Biotic) conditions protection
Regulation & Regulation of physical, Lifecycle maintenance,
CICES Maintenance chemical, biological habitat and gene pool Seed dispersal
(Biotic) conditions protection
Maintaining nursery
Regulation & Regulation of physical, Lifecycle maintenance,
populations and habitats
CICES Maintenance chemical, biological habitat and gene pool
(Including gene pool
(Biotic) conditions protection
protection)
Regulation & Regulation of physical,
Pest control (including invasive
CICES Maintenance chemical, biological Pest and disease control
species)
(Biotic) conditions
Regulation & Regulation of physical,
CICES Maintenance chemical, biological Pest and disease control Disease control
(Biotic) conditions
Regulation & Regulation of physical,
Weathering processes and their
CICES Maintenance chemical, biological Regulation of soil quality
effect on soil quality
(Biotic) conditions
Regulation & Regulation of physical, Decomposition and fixing
CICES Maintenance chemical, biological Regulation of soil quality processes and their effect on
(Biotic) conditions soil quality
Regulation & Regulation of physical, Regulation of the chemical
CICES Maintenance chemical, biological Water conditions condition of freshwaters by
(Biotic) conditions living processes
Regulation & Regulation of physical, Regulation of the chemical
CICES Maintenance chemical, biological Water conditions condition of salt waters by
(Biotic) conditions living processes
Regulation & Regulation of physical, Regulation of chemical
Atmospheric composition and
CICES Maintenance chemical, biological composition of atmosphere and
conditions
(Biotic) conditions oceans
Regulation & Regulation of physical, Regulation of temperature and
Atmospheric composition and
CICES Maintenance chemical, biological humidity, including ventilation
conditions
(Biotic) conditions and transpiration
Other types of
Regulation &
regulation and
CICES Maintenance Other Other
maintenance service by
(Biotic)
living processes
Direct, in-situ and Characteristics of living
outdoor interactions systems that that enable
Physical and experiential
Cultural with living systems that activities promoting health,
CICES interactions with natural
(Biotic) depend on presence in recuperation or enjoyment
environment
the environmental through active or immersive
setting interactions
350
Direct, in-situ and
Characteristics of living
outdoor interactions
Physical and experiential systems that enable activities
Cultural with living systems that
CICES interactions with natural promoting health, recuperation
(Biotic) depend on presence in
environment or enjoyment through passive
the environmental
or observational interactions
setting
Direct, in-situ and
Characteristics of living
outdoor interactions
Intellectual and representative systems that enable scientific
Cultural with living systems that
CICES interactions with natural investigation or the creation of
(Biotic) depend on presence in
environment traditional ecological
the environmental
knowledge
setting
Direct, in-situ and
outdoor interactions
Intellectual and representative Characteristics of living
Cultural with living systems that
CICES interactions with natural systems that enable education
(Biotic) depend on presence in
environment and training
the environmental
setting
Direct, in-situ and
outdoor interactions
Intellectual and representative Characteristics of living
Cultural with living systems that
CICES interactions with natural systems that are resonant in
(Biotic) depend on presence in
environment terms of culture or heritage
the environmental
setting
Direct, in-situ and
outdoor interactions
Intellectual and representative Characteristics of living
Cultural with living systems that
CICES interactions with natural systems that enable aesthetic
(Biotic) depend on presence in
environment experiences
the environmental
setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with
Spiritual, symbolic and other
Cultural living systems that do Elements of living systems that
CICES interactions with natural
(Biotic) not require presence in have symbolic meaning
environment
the environmental
setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with
Spiritual, symbolic and other Elements of living systems that
Cultural living systems that do
CICES interactions with natural have sacred or religious
(Biotic) not require presence in
environment meaning
the environmental
setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with
Spiritual, symbolic and other Elements of living systems
Cultural living systems that do
CICES interactions with natural used for entertainment or
(Biotic) not require presence in
environment representation
the environmental
setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with
Characteristics or features of
Cultural living systems that do Other biotic characteristics
CICES living systems that have an
(Biotic) not require presence in that have a non-use value
existence value
the environmental
setting
Indirect, remote, often
Characteristics or features of
Cultural indoor interactions with Other biotic characteristics
CICES living systems that have an
(Biotic) living systems that do that have a non-use value
option or bequest value
not require presence in
351
the environmental
setting
Other characteristics of
Cultural
CICES living systems that have Other Other
(Biotic)
cultural significance
Provisioning Surface water used for
CICES Water Surface water for drinking
(Abiotic) nutrition, materials or energy
Surface water used as a
Provisioning Surface water used for
CICES Water material (non-drinking
(Abiotic) nutrition, materials or energy
purposes)
Provisioning Surface water used for Freshwater surface water used
CICES Water
(Abiotic) nutrition, materials or energy as an energy source
Provisioning Surface water used for Coastal and marine water used
CICES Water
(Abiotic) nutrition, materials or energy as energy source
Provisioning Ground water for used for Ground (and subsurface) water
CICES Water
(Abiotic) nutrition, materials or energy for drinking
Ground water (and subsurface)
Provisioning Ground water for used for
CICES Water used as a material (non-
(Abiotic) nutrition, materials or energy
drinking purposes)
Provisioning Ground water for used for Ground water (and subsurface)
CICES Water
(Abiotic) nutrition, materials or energy used as an energy source
Provisioning Other aqueous ecosystem
CICES Water Other
(Abiotic) outputs
Non-aqueous natural
CICES Provisioning Mineral substances used for Mineral substances used for
abiotic ecosystem
Extended (Abiotic) nutrition, materials or energy nutritional purposes
outputs
Non-aqueous natural
CICES Provisioning Mineral substances used for Mineral substances used for
abiotic ecosystem
Extended (Abiotic) nutrition, materials or energy material purposes
outputs
Non-aqueous natural
CICES Provisioning Mineral substances used for Mineral substances used for as
abiotic ecosystem
Extended (Abiotic) nutrition, materials or energy an energy source
outputs
Non-aqueous natural Non-mineral substances or Non-mineral substances or
CICES Provisioning
abiotic ecosystem ecosystem properties used for ecosystem properties used for
Extended (Abiotic)
outputs nutrition, materials or energy nutritional purposes
Non-aqueous natural Non-mineral substances or
CICES Provisioning Non-mineral substances used
abiotic ecosystem ecosystem properties used for
Extended (Abiotic) for materials
outputs nutrition, materials or energy
Non-aqueous natural Non-mineral substances or
CICES Provisioning
abiotic ecosystem ecosystem properties used for Wind energy
Extended (Abiotic)
outputs nutrition, materials or energy
Non-aqueous natural Non-mineral substances or
CICES Provisioning
abiotic ecosystem ecosystem properties used for Solar energy
Extended (Abiotic)
outputs nutrition, materials or energy
Non-aqueous natural Non-mineral substances or
CICES Provisioning
abiotic ecosystem ecosystem properties used for Geothermal
Extended (Abiotic)
outputs nutrition, materials or energy
Other mineral or non-mineral
Non-aqueous natural
CICES Provisioning substances or ecosystem
abiotic ecosystem Other
Extended (Abiotic) properties used for nutrition,
outputs
materials or energy
Regulation & Transformation of Mediation of waste, toxics
CICES Dilution by freshwater and
Maintenance biochemical or physical and other nuisances by non-
Extended marine ecosystems
(Abiotic) inputs to ecosystems living processes
352
Regulation & Transformation of Mediation of waste, toxics
CICES
Maintenance biochemical or physical and other nuisances by non- Dilution by atmosphere
Extended
(Abiotic) inputs to ecosystems living processes
Mediation by other chemical or
Regulation & Transformation of Mediation of waste, toxics
CICES physical means (e.g. via
Maintenance biochemical or physical and other nuisances by non-
Extended Filtration, sequestration,
(Abiotic) inputs to ecosystems living processes
storage or accumulation)
Regulation & Transformation of
CICES Mediation of nuisances of Mediation of nuisances by
Maintenance biochemical or physical
Extended anthropogenic origin abiotic structures or processes
(Abiotic) inputs to ecosystems
Regulation & Regulation of physical,
CICES Regulation of baseline flows
Maintenance chemical, biological Mass flows
Extended and extreme events
(Abiotic) conditions
Regulation & Regulation of physical,
CICES Regulation of baseline flows
Maintenance chemical, biological Liquid flows
Extended and extreme events
(Abiotic) conditions
Regulation & Regulation of physical,
CICES Regulation of baseline flows
Maintenance chemical, biological Gaseous flows
Extended and extreme events
(Abiotic) conditions
Regulation & Regulation of physical, Maintenance and regulation by
CICES Maintenance of physical,
Maintenance chemical, biological inorganic natural chemical and
Extended chemical, abiotic conditions
(Abiotic) conditions physical processes
Regulation & Other type of regulation
CICES
Maintenance and maintenance service Other Other
Extended
(Abiotic) by abiotic processes
Direct, in-situ and
outdoor interactions Physical and experiential Natural, abiotic characteristics
CICES Cultural with natural physical interactions with natural of nature that enable active or
Extended (Abiotic) systems that depend on abiotic components of the passive physical and
presence in the environment experiential interactions
environmental setting
Direct, in-situ and
outdoor interactions Intellectual and representative
Natural, abiotic characteristics
CICES Cultural with natural physical interactions with abiotic
of nature that enable
Extended (Abiotic) systems that depend on components of the natural
intellectual interactions
presence in the environment
environmental setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with Spiritual, symbolic and other
Natural, abiotic characteristics
CICES Cultural physical systems that do interactions with the abiotic
of nature that enable spiritual,
Extended (Abiotic) not require presence in components of the natural
symbolic and other interactions
the environmental environment
setting
Indirect, remote, often
indoor interactions with Natural, abiotic characteristics
CICES Cultural physical systems that do Other abiotic characteristics or features of nature that have
Extended (Abiotic) not require presence in that have a non-use value either an existence, option or
the environmental bequest value
setting
Other abiotic
CICES Cultural characteristics of nature
Other Other
Extended (Abiotic) that have cultural
significance
Fonte: CICES, 2018.
353