A Segunda Perseguição A Igreja (At 5.17-32)

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A Segunda Perseguição a Igreja (Atos 5.

17-32)

01/04/2020

Mesmo com as investidas que vimos no capítulo quatro de Atos, a Igreja continuava forte
e ativa, ganhando o respeito das multidões e muitas almas se ainda se juntavam ao povo de
Deus. Todavia, mais uma vez os inimigos do evangelho voltam-se contra os apóstolos,
buscando silenciar os irmãos. Nosso objetivo nesse momento é observamos como a Igreja
passa por mais essa prova, a segunda perseguição por parte dos judeus (a primeira já foi
vista em Atos 4.1-21), buscando lições para nossa vida eclesiástica na atualidade:

a) O que movia a perseguição dos fariseus e saduceus? (v.17)

Mais uma vez, a inveja dos judeus leva esses homens a tomarem atitudes contra os
apóstolos e a Igreja. Devemos lembrar que para o Sinédrio [os apóstolos] eram um problema
duplamente sério: primeiro, os apóstolos eram hereges. Segundo, eram perturbadores
potenciais da paz (WBi). Desde o ministério terreno de Cristo, esses homens eram movidos
pela inveja em relação ao verdadeiro poder que tinham as palavras de nosso Senhor (Mt
7.28,29).

Em vários momentos da história da Igreja vamos ver que muitos chegaram a ela movidos
por intenções que não eram positivamente espirituais. No caso que estamos estudando,
aqueles homens tinha o poder e o prestígio como objetivo de vida e sabemos que o poder
do Evangelho é algo que vai além de qualquer qualidade humana. Talvez, por isso, na
discussão com Estevão, eles não suportaram ver a presença de Deus na vida e no discurso
do diácono (At 6.15,54).

Esse sentimento, a inveja, é algo que podemos encontrar na nossa vida eclesiástica em
relação aqueles que não conhecem a Cristo e, infelizmente, até entre os que conhecem o
Senhor. É certo que onde o Espírito de Deus está nasce a admiração e a devoção de almas
contritas por perdão assim como cresce a resistência e provação por parte dos inimigos de
nossa alma. Por isso, precisamos vigiar nossos corações para que quanto aos incrédulos,
continuemos os amando apesar disso (Rm 12.20,21) e quanto aos irmãos de nossa
comunidade para que exortemos e sejamos exortados para que não sejamos movidos pela
inveja (Tg 3.16-18; 1Pe 2.1).

b) A prisão dos “incapturáveis” (v.18-20)

Os cristãos são levados a prisão pública, para ali passarem a noite. Na história do
cristianismo primitivo, prisões foram habitação de muitos santos, assim como nos primeiros
séculos do cristianismo. Todavia, mesmo com cadeias e prisões, o Evangelho crescia e
desenvolvia, já que como afirmara o apóstolo Paulo, “a palavra de Deus não está algemada”
(II Tm 2.8-10).
i. Quem pode deter o poder de Deus? (v.19)

Diante dessa situação podemos observar que “O sumo sacerdote e seus aliados,
tomados de inveja, pensaram que podiam estancar o fluxo da obra de Deus com ameaças,
mas não sabiam que a obra de Deus é irresistível e ninguém pode deter o braço do Senhor
onipotente. Cadeias e tribulações, açoites e prisões, torturas e martírios não conseguem
fazer recuar aqueles que estão cheios do Espírito Santo” (HDLii). A fé cristã, sempre
combatida, nunca foi vencida. Seu segredo não é o caráter dos santos ou a força do
movimento político da Igreja, mas o Espírito Santo que envolve o seu povo com coragem e
mantém a obra de pé. O segredo do sucesso da Igreja é a consumação da obra de Cristo na
cruz, que garante seu triunfo até o fim (Rm 8.28-30).

Sobre o enviado de Deus para libertar os apóstolos, sabemos que “Os anjos são
ministros de Deus que trabalham em favor dos que herdam a salvação (Hb 1.14). O ministério
deles pode ser visto tanto no AT (1Rs 19.5-8) quando no NT [...]” (HDL). Alguns comentaristas,
como Barclay, cogitam a hipótese de que anjo aqui seria a identificação de um servo de Deus
usado para abrir a prisão. Todavia, a narrativa parece indicar algo sobrenatural acontecendo
- ainda que Lucas não demonstrem assombro com esse evento. Parece que a Igreja primitiva
tinha uma convicção teológica racional na saudável proporção que confiava na intervenção
sobrenatural de Deus.

Notemos que a saída se deu com tranquilidade, sem alardes e deixou provas que havia
sido feita de maneira divina – o cárcere fechado, seguranças a posto, mas sem prisioneiros
(v.23). Deus estava testemunhando àqueles fariseus que estava ativamente envolvido com a
Igreja e sua propagação.

ii. Liberdade com um propósito – a pregação (v.20)

Os apóstolos tinham sido libertados com um propósito: “[...] o anjo de Deus ofereceu
[aos apóstolos] livramento e comissionamento, ou seja, os apóstolos não foram libertos da
prisão simplesmente para escapar [...]” (HDL). A intervenção sobrenatural tinha um objetivo,
o que nos leva a refletir que Deus tem profundas intenções diante de suas intervenções,
diferente de uma pura satisfação do ego humano. Quando pensamos que Deus nos liberta,
nos assegura ou nos dá oportunidade de estarmos vivos a cada dia, precisamos lembrar que
ele tem como missão fundamental da vida de cada um de nós a propagação de seu
testemunho, como disse o Salmista: “grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos
alegres” (Sl 126).

iii. O que é a pregação do evangelho: “(...)As palavras desta Vida” (v.20)

Observemos como o anjo define a missão dos apóstolos: “Ide [...] dizei ao povo todas
as Palavras desta Vida”. A expressão grega para palavras desta vida, rhēmata tēs Zōēs, traz a
ideia de um discurso vivo, que inflama vida. Como comentado por MacDonald, “[...] Não se
trata apenas de um credo ou um conjunto de doutrinas, mas de uma Vida, a Vida ressurreta
do Senhor Jesus concedida a todos os que creem nele” (WMiii).

Quando pensamos em Evangelho não podemos pensar numa doutrina fria e sem vida,
ou num conjunto de boas ideias para melhorar a moral da humanidade. As escrituras são
explícitas ao indicar o Evangelho como o próprio poder de Deus, poder esse que levantou
Jesus Cristo da sepultura e o exaltou a Senhor de todas as coisas (Rm 1.16; 1ªCo 1.24).

c) A reação ao milagre (v.21-26)

Diante daquela ordem, o que fariam os discípulos? Qual seria o destino deles depois de
ouvirem a ordem de voltar ao local onde tinha sido presos e voltaram a fazer aquilo que
tinha sido proibidos de fazer?

i. Uma ousadia ímpar (v.21)

Os apóstolos pareciam não ter nada a fazer diante daquelas palavras que não
obedecer. A Igreja crescia por ter obediência absoluta a Palavra de Deus. Havia coragem nos
corações, havia vontade e sacrifício porquê eles conheciam quem era o Senhor, através da
revelação própria dele para os seus. Como afirma Adolf Pohl, o evangelho não deve fugir
para a clandestinidade, mas ser proclamado publicamente. Não é uma questão de devoção
privativa, mas de proclamação aberta de Jesus e da obra de sua vida (HDL).

Hoje, sabemos que a revelação de Cristo se dá na Escritura Sagrada e, pecamos muito


por não lermos a Bíblia esperando nela o mesmo que os apóstolos e contemporâneos de
Jesus esperavam quando olhavam para Ele. Além de admirarmos a coragem dos apóstolos,
afirma MacDonald, precisamos resgatar a capacidade da igreja primitiva de manter-se firme
em suas convicções a qualquer custo (WM).

Para Barclay, os apóstolos tinha três importantes características: eram valentes, uma
vez que mesmo sabendo dos que riscos que correriam, os apóstolos voltaram ao templo
para pregar o evangelho; eram homens de princípios já que a pergunta fundamental que
faziam era qual a forma de obedecer a vontade Deus e, finalmente, tinham clareza do dever
e da função, já que eram testemunhas oculares das obras de Jesus e, dessa forma “alguém
que sabe por experiência pessoal que o que diz é certo [se torna] impossível deter um
homem assim, porque é impossível deter a verdade” (WB)iv.

ii. As evidências do milagre (v.22-26)

A maneira como os fariseus são tomados pela perplexidade é descrita por Lucas a cada
nova evidência de que os apóstolos não só não estavam mais presos, como estavam
novamente fazendo o que já tinham sido, por muitas vezes, proibidos de fazer – pregar Jesus.
Notemos que os próprios oficiais não tinham ousadia de fazer algo com os apóstolos, uma
vez que o povo admirava o evangelho. A verdade resplandece no testemunho daqueles
irmãos primeiros!

d) As questões do Sinédrio (v.28)

Tendo os apóstolos de volta a sua presença, o sinédrio passa a interrogá-los. Na sua


interrogação, porém, falam mais de si do que dos que estavam acusando. Primeiro, afirmam
que o evangelho estava alcançado toda a Jerusalém e, dessa forma, testemunham a eficácia
do ministério da Igreja em falar de Jesus. Segundo, tentam se isentar da acusação já feita
por Pedro em sua primeira pregação – a de que o sangue de Cristo estava sob a
responsabilidade daqueles homens. O que é curioso, uma vez que estes mesmos homens
escolheram ter essa responsabilidade ao negar Jesus na crucificação (Mt 27.25).

A pregação de Pedro – e da Igreja como um todo – não pode fugir da verdade. Como
Paulo mesmo afirma que a verdade deve ser combatida com a própria verdade (2Co 13.8).
O evangelho verdadeiro confronta seus ouvintes, incomoda suas mentes e revela sua
situação diante de Deus.

e) As respostas dos apóstolos (v.29-32)

i. A única obediência possível (v.29)

Pedro, liderando os demais apóstolos, é categórico – A Igreja deve obediência apenas


a Deus. Como podemos entender a relação entre as autoridades políticas e a Igreja? Aqui
notamos que, em termos gerais, “[os cristãos] tinham por princípio respeitar e obedecer a
seus governantes, os servos ordenados por Deus para promover o bem comum [...] Quando,
porém, as leis dos homens erma conflitantes com os mandamentos de Deus, os cristãos
costumavam desobedecer os governantes e sofrer as consequências” (WM). Vemos que
somos instruídos a respeitar as autoridades (Rm 13.1-7) mas que, quando as autoridades
ordenam que a Igreja desobedeça seu Senhor, o cristão é chamado a desobediência civil.
Como Dias Lopes aponta “[...] o custo de ser um cristão é estar disposto a obedecer a Deus
antes do que aos homens – e suportar as consequências” (HDL).

A Igreja não tem atividade política institucional – a história já demonstrou que essa
mistura é tóxica para a espiritualidade da mesma. Todavia, a Igreja se posiciona
politicamente tendo em vista os ideias e valores do reino e, portanto, parte do princípio que
a política humana não é seu principal dever. Ela participa como quem não participasse,
usando da linguagem paulina (ICo 7.31). Olhamos para o mundo com os olhos do futuro e
‘fazemos política’ com a política do futuro, cujo valor fundamental são os valores do Reino.
Se olharmos com atenção a resposta de Pedro, vamos ver esses valores presentes:
1. A crença no Cristo vivo (v.30)

A base da fé cristã é o ministério triplo de Jesus: vida, morte e ressureição. Sem a


ressureição, nossa fé não tem sentido, como argumenta o capítulo 15 da primeira carta aos
coríntios. Mais do que base, a ressureição faz a fé cristã ser viva, atuante – uma vez que seu
sentido se encontra na vitória sobre a morte. A ressureição dinamiza a fé cristã (Cl 3.1,2).

2. Para arrependimento e remissão (v.31)

A entrada no reino de Deus se dá por graça, pela atração irresistível de Senhor Jesus
que nos leva a um estado de arrependimento e remissão. O arrependimento é a porta de
entrada para a comunhão com Cristo e a remissão é o ato comprovador de nossa salvação.
Tudo isso, obra de nosso Deus.

3. As testemunhas (v.32)

Finalmente, a Igreja primitiva começou um testemunho que é atemporal: Cristo vive e


reina. Veja que Pedro afirma que não só a igreja primitiva afirma isso, mas todos os que
receberão o Espírito Santo. A igreja cristã é unida pelo Consolador enviado do Pai, que nos
torna um Nele.

Cristo Vivo, Perdoa e Reina – A tônica do testemunho da Igreja por toda a história até
a volta dele.

i
WB – “O Novo Testamento Comentado” (William Barclay)
ii
HDL – “Comentário Expositivo Hagnos – Atos: A ação do Espírito Santo na vida da Igreja” (Hernandes dias Lopes
iii
WM - “Comentário Bíblico popular Versículo por Versículo – Novo Testamento” (William MacDonald)

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