Raízes Da Mordomia Cristã PDF
Raízes Da Mordomia Cristã PDF
Raízes Da Mordomia Cristã PDF
Raízes da
Mordomia Cristã
Diante de uma Teologia da Mordomia
Mordomia e a Teologia do Dízimo
Mordomia e a Teologia das Ofertas
Dízimo, o Novo Testamento e a Igreja Cristã
Dízimo nos Escritos de EGW
Este material pode ser traduzido, impresso ou fotocopiado por qualquer entidade
Adventista do Sétimo Dia sem permissão adicional. Documentos republicados
devem incluir a linha de crédito: “Departamento dos Ministérios da Igreja, Confe-
rência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, usado com permissão.”
© 1994
Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia
12501 Old Columbia Pike
Silver Spring, MD 20904, EUA
a b c d e f 98 97 96 95 94
Versão em Português
União Central Brasileira
Terceira edição - 2018
Impressão e Acabamento
Casa Publicadora Brasileira
Diagramação
Digital Image Criação e Comunicação Ltda.
Tradução
Luciano Correa Auricchio e Pr. César Guandalini
PReFÁCio
Foi no preparo para o concílio histórico de Mordomia e Consultoria de Mor-
domia, de 20 a 23 de março de 1994, em Cohutta Springs, Geórgia, EUA, que
o Dr. Angel Rodríguez, diretor associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas
GC, foi solicitado a preparar dois documentos: um sobre a Teologia do Dízi-
mo e outro sobre a Teologia das Ofertas
Por muitos anos, o Dr. Rodríguez teve um grande interesse pelo tema de
Mordomia, incluindo dízimos e ofertas. Apesar de sua agenda lotada,
ele deixou de lado suas responsabilidades regulares, e dedicou várias sema-
nas nesta importante atribuição à Mordomia. As apresentações, em Cohut-
ta Springs, foram extraordinárias. Os administradores da Igreja e os diretores
de Mordomia, ouviram, com interesse, esta “primeira tentativa” de apresen-
tar uma teologia de dízimos e ofertas.
No encerramento do Concílio, foi solicitado ao Dr. Rodríguez o preparo das
versões finais de tal documento, o mais rápido possível, e também foi so-
licitado a desenvolver outro documento sobre a Teologia da Mordomia.
Os líderes da Igreja e os diretores de Mordomia incentivaram as primeiras
impressões e distribuições desses três documentos.
Este é um breve histórico do desenvolvimento e publicação do Raízes da
Mordomia, o qual contém os três trabalhos do Dr. Rodríguez mencionados
acima.
Como começaram os reavivamentos de Mordomia em vários países, a ora-
ção do Dr. Rodríguez e da equipe de Ministros de Mordomia da Conferência
Geral é, que sua vida espiritual seja enriquecida, seu pensamento estimu-
lado, e que você sinta um novo gosto por esses importantes assuntos que
descrevem a relação única entre Deus e o homem. No final de cada seção,
você encontrará algumas questões a serem consideradas, as quais foram
designadas para levar a discussões aprofundadas sobre os temas centrais.
Don E. Crane, Co-Diretor
GC CM Ministério de Mordomia
Hino oficial Mensagens
Tudo que tenho vem de Ti Musicais
Ráina Magdalon
Cantora Lírica e Compositora
Minha Alma Exulta em Ti
Tu és o meu Deus e meu Pai. Refúgio e Fortaleza goo.gl/Ep65UB
A minha vida eu entrego e todo o meu ser
O que tenho Tudo que tenho vem de Ti
Magnífico Deus
goo.gl/n5fU4u goo.gl/yxmVe3
Página
Sumário
I. Introdução ...................................................... 6
II. Aspectos da Natureza de Deus ....................... 6
A. Deus “Era”
B. Deus é o Criador
1. O Criador é Incomparável
2. O Criador é Transcendente
3. O Criador é Imanente
4. O Criador é Proprietário
C. Deus é amor
III. Aspectos da natureza humana....................... 9
A. Seres Humanos são criaturas
B. Seres Humanos foram feitos à imagem de Deus
1. Um Ser Físico
2. Um Ser Espiritual
3. Um Ser Intelectual
4. Um Ser Social
C. Seres Humanos e o domínio sobre o mundo
IV. Queda e Pecado ............................................ 12
A. Liberdade Humana
B. Pecado como rebelião: reivindicando a posse
C. Pecado como egoísmo e escravidão
V. Salvação e Mordomia ................................... 15
A. Cristo: imagem de Deus e Mordomo
B. Restaurando os Mordomos
C. Restauração da Imagem de Deus
D. Mordomia da Criação e Apocalipcismo
VI. Sumário ......................................................... 19
VII. Debate ........................................................... 20
Página
5
I. Introdução
Os seres humanos são criaturas questionadoras, en-
volvidas em uma constante busca por significado.
Essa obsessão por significado não é simplesmente
uma tentativa de entender a unidade funcional e
estrutural do universo, e sim uma inquietante pre-
ocupação de descobrir sentido para sua existência.
Pouquíssimas coisas tendem a aumentar um senso
de interesse nos seres humanos mais do que sua
insaciável curiosidade em encontrar a razão de sua
existência.
A teologia bíblica nos informa que nossa origem
está localizada em um ato divino de criação, e que
fomos colocados neste planeta por um amável Cria- shutterstock
dor. Ele preencheu nossa vida de significado por cita ou explicitamente feitas. Uma das mais impor-
(dentre outras coisas) deixar-nos auxiliá-Lo na admi- tantes é que Deus “era”. Isso está implícito em Gêne-
nistração do planeta. O conceito bíblico de mordo- sis 1:1: “No princípio Deus criou os céus e a terra.” Ele
mia é, em essência, uma tentativa de esclarecer a era, antes Ele criou. Em João 1:1 esse conceito é ex-
questão do propósito de nossa vida, providencian- plicitamente afirmado: “No princípio era aquele que
do um auto-entendimento peculiar, baseado em é a Palavra.” Antes que qualquer coisa fosse trazida a
um relacionamento pessoal com o Criador e Reden- existência, Deus já existia.
tor da raça humana.
A propriedade “era” significa, primeiramente, que
Nesse documento examinaremos o significado teo- Deus é eterno. Nunca existiu um tempo em que
lógico desse conceito e o lugar desse auto-entendi- Deus passou a existir. Se nós perguntarmos o que
mento dentro da teologia bíblica. Quais sãos as raí- existia antes do princípio, a resposta proveniente
zes teológicas que criam o conceito de mordomia? dos registros bíblicos é “Deus”. Se Ele “existia” antes
Como a Mordomia é relacionada à visão bíblica de de tudo mais vir a existir, então é impossível apresen-
Deus, e à redenção através de Cristo? Exploraremos tar uma fonte através da qual Deus passou a existir.
as raízes teológicas que proveram a matriz nas quais Não existe nenhuma indicação nas Escrituras de que
essas perspectivas e entendimento da existência Deus “era” porque algo O levou a ser. A Bíblia não fala
humana foram concebidos e preservados. de um princípio antes do princípio. O fato que Deus
Existem pelo menos quatro linhas principais de aná- “era” aponta Sua natureza eterna: Ele sempre “Foi”.
lises a serem seguidas em uma busca pelo funda- Segundo, a propriedade “era” significa que Deus é
mento teológico de Mordomia, que são: (1) a natu- autossuficiente. Desde antes do princípio não exis-
reza de Deus; (2) a natureza dos seres humanos; (3) a tia nada mais a não ser Deus, portanto, Ele é autos-
queda e o pecado; e (4) salvação. Iremos brevemen- suficiente. Uma fonte de energia nunca foi neces-
te examiná-las da perspectiva da mordomia. sária para alimentar a existência divina, exceto Ele
II. Aspectos da Natureza de Deus próprio. Em relação a Deus, autossuficiência signifi-
ca que Ele é autoexistente. Nós devemos, portanto,
A natureza de Deus está envolta de mistério. Filó- concordar com aqueles que argumentam que Deus
sofos e teólogos tentaram penetrar nesse mistério é existência nEle próprio. A vida não é algo que Ele
com pouquíssimo sucesso, se é que houve algum. A possui, mas sim o que Ele é.
autorrevelação de Deus nas Escrituras tem emitido Autossuficiência significa que Deus é absolutamen-
alguma luz sob nosso entendimento sobre Sua na- te livre e autônomo. Fora dEle não existe nada nem
tureza, mas essa natureza continua, e permanecerá, ninguém a quem Deus deva se submeter. Ele é Sua
além da nossa total compreensão. Observemos al- própria lei. Ninguém pode impor obrigações a Ele
guns aspectos da autorrevelação de Deus da pers- ou forçá-Lo a agir de uma maneira específica. Ele
pectiva de mordomia. não precisa de nada de ninguém, porque Ele é au-
A. Deus “Era” tossuficiente. João refere-se a Ele como o “que é, o
Sempre que a Bíblia nos leva à origem e ao começo que era, e o que há de vir, o Todo Poderoso”, (Apo-
do universo, muitas afirmações teológicas são implí- calipse 1:8; cf 1:4).
Página
1 Langdon Gilkey. Criador do Céu e da Terra (Garden City, NY: Doubleday, 1959), p. 83.
2 CJ Labuschagne. A incomparabilidade de Deus no Antigo Testamento (Leiden: EJ Brill, 1966), p. 74. Devemos salientar que no Antigo Testamento “a
característica dominante que faz Deus ser incomparável é a Sua intervenção miraculosa na história como Deus redentor” (Ibid, p 91). No entanto,
sua atividade como Criador é um outro fator (idem, p. 108, 109), cf Isaías 40:18 e 25.
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OsValores.com.br 7
universo e tudo que nele há. Ele é Senhor sobre o “Deus é amor”, (1 João 4:7, 8), é uma das mais im-
universo e atribui tarefas específicas para cada ele- portantes descrições da natureza de Deus nas Es-
mento da criação (e.g. Gênesis 1:14, 26, 29, 2:15, 16). crituras. O apóstolo fez a afirmação no contexto da
A soberania de Deus sobre o mundo é baseada em morte sacrificial de Cristo. Segundo ele, o trabalho
sua atividade criadora. O salmista escreveu: “Do Se- de Cristo revela a verdadeira essência de Deus: “Ele
nhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e é amor.” Esse amor é uma autodoação, totalmente
os que nele vivem; pois foi ele quem fundou-a sobre e absolutamente altruísta, (e.g. João 3:16). Não há
os mares e firmou-a sobre as águas”, (Salmos 24:1, 2). nada no exterior de Deus que pode mudá-Lo ou
Deus declara, “Pois todos os animais da floresta são forçá-Lo a amar. De fato, não há necessidade de ne-
meus, como são as cabeças de gado aos milhares nhuma motivação externa, porque amar é a verda-
nas colinas. Conheço todas as aves dos montes, e deira natureza de Deus. Esse amor “não se baseia na
cuido das criaturas do campo”, (Salmos 50:10, 11). necessidade do sentimento da pessoa amada nem
Deus é, não somente Dono do conteúdo material no desejo suscitado por alguma característica atrati-
desse mundo e das criaturas viventes que o popu- va no amado.” 4 Foi esse entendimento do amor de
lam, mas Sua soberania é cósmica: “Os céus são teus, Deus, que levou Paulo a dizer, “Mas Deus demons-
e tua também é a terra; fundaste o mundo e tudo tra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
o que nele existe”, (Salmos 89:11). O salmista sabe quando ainda éramos pecadores”, (Romanos 5:8).
que “o universo está nas mãos de Yahweh. Para ele, Deus é amor, significa que todas as Suas ações
como um governante o mundo lhe pertence.”3 são originadas e motivadas pelo amor. A esco-
Deus como Criador é um conceito indispensável no lha está baseada em Seu amor, (Deuteronômio
fundamento da teologia de mordomia. A incompa- 7:7, 8), assim como a redenção, (Isaías 43:4, 63:9).
rabilidade de Deus, Sua singularidade, identificam- Ele ama não apenas seu povo, (Deuteronômio
-nO como o Único a quem nós somos encarregados 33:3), mas também o estrangeiro, (10:18). A reve-
como mordomos. O universo não é mantido por lação do amor de Deus alcança sua mais profunda
forças opostas, as quais somos obrigados a servir. dimensão de significado, na encarnação, ministé-
Existe apenas um Criador e Ele espera por nossa ex- rio, morte e ressurreição de Jesus. Seu amor pe-
clusiva lealdade. los pecadores não é motivado pela miséria de sua
A transcendência de Deus, exclui qualquer tentativa condição pecaminosa, mas pelo fato de que Deus
de basearmos nossa prática de mordomia em idéias é amor, e esse é o grande fato que O faz amar os
panteístas. O mundo natural não é uma extensão ou pecadores apesar de seus pecados.5 Para que o
manifestação do divino. O Panteísmo não pode pro- amor de Deus seja expresso, é necessário outra
ver uma fundamentação teológica para a mordomia pessoa. O amor ocorre entre indivíduos que rece-
do mundo, porque isto é rejeitado pelas Escrituras. bem, dão e correspondem. Isso levanta a impor-
A imanência de Deus testifica o fato de que a cria- tante questão da natureza do amor de Deus antes
ção de Deus está em constante necessidade de Seu de criação. O amor altruísta é uma possibilidade
cuidado e preocupação a fim de que funcione har- somente se existir outra pessoa com quem possa
moniosamente. O Criador é também o Mantenedor ser compartilhado. Antes da criação, quando Deus
do mundo. A presença condescendente de Deus no “era”, Ele estava sozinho. Seu amor então, era ego-
mundo, abre espaço para os humanos participarem ísta? A natureza de Deus foi alterada depois dEle
com Ele na administração e preservação de Sua cria- criar criaturas inteligentes capazes de receber e
ção, (e.g. Gênesis 2:15). dar amor? Teólogos cristãos dão um ressonante
“não” como resposta à estas perguntas. A Bíblia
A soberania de Deus como Criador deveria nos lem- fala de somente um Deus que é amor. Amor al-
brar constantemente dos limites de nossa função truísta, portanto, pertence a natureza eternal de
no mundo. É esse aspecto que define, talvez melhor Deus. Sua natureza não experimentou mudança;
do que qualquer outro, a natureza de um mordomo. Ele é aquilo que Ele sempre foi: “amor.”
Ele ou ela nunca é o dono, mas o administrador.
Teólogos cristãos têm argumentado fortemente,
C. Deus é amor que o amor altruísta encontra expressão eternal
O amor parece ser usado na Bíblia para definir ou dentro de Deus, no mistério da Trindade. As relações
descrever a essência de Deus. A afirmação de João, entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo foram condi-
3 Hans-Joachim Kraus, Salmos 1-59: Um Comentário (Minneapolis: Augsburgh, 1988), p. 313.
4 J. P. Baker, “Amor”, no Novo Dicionário de Teologia, S. B. Ferguson; D. F. Wright; e J. I. Packer, eds (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1988), p. 399.
5 Veja A. Nygren, Ágape e Eros (Philadelphia: Westminster, 1958), p. 77.
Página
6 Sobre o amor dentro da divindade consultar H. W. Hoehner, “Amor”, no Dicionário Evangélico de Teologia. Walter A. Alwell, ed. (Grand Rapids, MI:
Baker, 1984), p. 657.
7 Esta linha de raciocínio foi originado por Agostinho, ver Karl Burger, “Amor”, em “A Nova Enciclopédia Schaff-Herzog de Conhecimento Religioso, S.
M. Jackson, Ed. (Grand Rapids, MI: Baker, reimpressão 1977), vol 7, p. 49.
8 E. G. White, Testemunhos, vol 5, p. 739.
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OsValores.com.br 9
uma de nossas maiores responsabilidades. Viver pessoa fosse criada à imagem de Deus, o corpo fí-
dentro de espaço e tempo não é uma limitação, sico deveria também expressá-lo: “No princípio, o
mas sim o modo da nossa existência, e nos dá liber- homem foi criado à semelhança de Deus, não so-
dade de deslocar-nos dentro dessa continuidade, a mente em caráter, mas em forma e aspecto.”10
fim de sermos aquilo que escolhermos ser. O próprio fato de que Deus nos criou como entida-
Finalmente, ser um ser criado significa que não so- des físicas indica que o corpo humano é bom, re-
mos o resultado de forças impessoais dentro do jeitando, assim, o dualismo da antropologia grega,
mundo criado, mas o resultado de um ato criativo que nega o valor do corpo humano. A preservação
de amor. Nossa existência é uma manifestação do do corpo é uma dupla responsabilidade, de Deus e
amor altruísta de Deus: um ato de graça. Fomos cria- das pessoas. Ele proveu tudo que Adão e Eva neces-
dos por Ele, porque em Seu amor, Deus viu que isso sitavam para preservar seus corpos em perfeita con-
era bom. Amor divino, graça e liberdade trouxeram dição, e atribuiu-lhes uma dieta específica da qual
à existência uma criatura inteligente, que era parte se esperava que consumissem, (Gênesis 1:29).
do mundo criado e ainda assim, diferente. Essa cria- A mordomia de nossos corpos é baseada no fato de
tura era capaz de receber e dar amor. que Deus nos criou como seres físicos. Nosso corpo
B. Os seres humanos são feitos à imagem de Deus não é algo que temos, mas algo que somos.11 Nos-
A singularidade da raça humana está no fato de que so corpo e aquilo que somos são inseparáveis. Deus
fomos criados à imagem de Deus, (Genesis 1:27). A espera de nós que o administremos para Sua glória,
criação de Adão e Eva não segue o mesmo padrão (1 Coríntios 6:20).
utilizado por Deus na criação do mundo. Ele falou e 2. Um Ser espiritual
o mundo veio à existência. Nesse caso em particular, Os seres humanos são mais que matéria. Temos a
o falar precedeu a existência. No caso de Adão e Eva, capacidade de ouvir a Deus e respondê-Lo. Apa-
a palavra falada não está presente. A voz de Deus rentemente, nenhuma outra criatura nesse planeta
se dirigiu a eles apenas depois da criação, (Gênesis parece ter essa habilidade. Existe uma similaridade
1:29, 30; 2:16). Eles foram destacados por Deus como de linguagem entre Deus e os seres humanos, que
objetos de Sua fala. Em outras palavras, os humanos os tornam capazes de comungar e estabelecer uma
são criaturas com as quais Deus pode identificar-se, importante relação.
a quem Deus pode intitular como pessoas. Somen- Os seres humanos são pessoas essencialmente reli-
te eles, no mundo criado, podem relacionar-se com giosas. Nós passamos a entender a nós mesmos, par-
Deus em termos pessoais. Esse aspecto de nossa na- ticularmente, nas condições de nosso relacionamen-
tureza humana nos torna capazes de sermos sócios to com Deus. O primeiro relacionamento que Adão
de Cristo na mordomia. e Eva estabeleceram foi com o seu Criador. Quando
Por séculos, os teólogos têm discutido o significado Adão foi criado, Eva não estava presente e, quando
da imagem de Deus nos seres humanos. Sugestões ela foi criada, ele não estava presente. A primeira ima-
diferentes têm sido dadas, mas atualmente parece gem que cada um deles captou foi a do Criador. Todo
existir um acordo geral na crença de que a imagem outro relacionamento foi determinado pelo primário
de Deus não é algo que temos, mas algo que so- e, separado deste, eles poderiam não ser capazes de
mos.9 A imagem de Deus em nós não está locali- entender a si próprios ou o resto da criação.
zada em um aspecto de nossa personalidade, mas Mas, o encontro entre Deus e os seres humanos não
na totalidade de nosso ser. Na criação, a imagem de se tornaria restrito ao momento da Criação. Eles ne-
Deus era refletida em todos os aspectos de Adão e cessitavam de Deus para sua subsistência, e para a
Eva. Iremos explorar alguns deles de um ponto de satisfação da necessidade de um relacionamento
vista holístico. pessoal com Ele. Por isso, o Deus transcendental de-
1. Um Ser físico cidiu permanecer com eles no tempo e no espaço.
A primeira coisa que notamos em um ser humano é É na vontade graciosa de Deus de vir e residir co-
que ele, ou ela, é uma estrutura física que pode ser nosco, que a mordomia de nossa vida espiritual foi
vista com os olhos e tocada pelos outros. Se toda originalmente concebida.
9 Para uma excelente discussão sobre a doutrina bíblica do homem e do significado da imagem de Deus, consulte G. C. Berkouwer, Homem: A
imagem de Deus (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1962), p. 67-118. Entre os eruditos adventistas que têm abordado este assunto estão V. N. Olsen, O
homem, imagem de Deus (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1988) e M. Veloso, El Hombre: Viviente Persona Una (Santiago de Urile: Editorial
Universitaria, 1990), p. 79-89.
10 E. G. White, O Grande Conflito (Mountain View, CA: Pacific Press, 1911), p. 644-645.
11 Veja John A. T. Robinson, O corpo (Londres: SCM Press, 1952), p. 14.
Página
12 Veja Barth K, Dogmática da Igreja: A Doutrina da Criação, vol 03:01 (Edimburgo: T & T Clark, 1958), p. 195-201.
13 E. G. White, Educação, p. 17.
14 Veja D. Jobling, “Domínio sobre a criação, “ Dicionário Intérprete da Bíblia: Volume Suplementar, Creim K, Ed. (Nashville, TN: Abingdon, 1976), p.
247.
15 Veja H. W. Wolff, Antropologia do Antigo Testamento (Philadelphia: Fortress, 1974), p. 163.
16 G. J. Wenham, Gênesis 1-15 (Waco, TX: Verbo, 1987), p. 33.
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OsValores.com.br 11
concessão do domínio sobre eles.17 O domínio era possível porque não existe nada divino ou sagrado
algo positivo, tendo em vista a “garantia do bem es- na natureza. Este conceito tem grande significado
tar de toda a criatura, e a promessa de trazer grande para pessoas interessadas em questões ecológicas.
proveito a cada um.”18 Nossa preocupação pelo bem-estar do planeta não
A ordem “dominar a terra” deve ser compreendida deve estar baseada em sua suposta santidade, mas
na questão de Gênesis 2:5 e 15 como cuidar da terra. no fato de que Deus escolheu as pessoas como
A ideia de usar este poder para explorar a natureza mordomos desse mundo.
é descartada pelo contexto, no qual a bondade da
criação deve ser compreendida, em sua harmonia e
unidade perfeitas. Os seres humanos não deveriam
contrariar a ordem estabelecida por Deus, mas res-
peitá-la e preservá-la.
O domínio dos seres humanos sobre a natureza re-
vela uma função importante da raça humana, como
imagem de Deus: Eles são representantes de Deus
dentro do mundo criado. Foi-nos dito que o homem
“foi colocado como representante de Deus sobre as
ordens inferiores dos seres. Eles não podem com-
preender ou reconhecer a soberania de Deus, ainda
que fossem capazes de amar e servir o homem.”19
Deus delegou a Adão e Eva, como Seus represen-
tantes, a responsabilidade de administrar o restante
da criação. Deus escolheu os seres humanos para shutterstock
OsValores.com.br 13
ela seria como Deus, conhecedora do bem e do éis. O Senhor os julgou e encontrou neles culpa, (Gê-
mal. “Sim, disse a serpente, você pode adquirir total nesis 3:8-19). O Senhor sempre olha para os humanos
entendimento próprio, você pode ser seu próprio como mordomos, porque foi o que determinou que
mestre, você pode ser a fonte de sua própria vida.” eles fossem. Uma natureza corrupta e egoísta não
A serpente prosseguiu a questionar a bondade de justificaria a rejeição deste papel. Somos todos res-
Deus, sugerindo que Deus estava limitando o apro- ponsáveis perante ele, quer reconheçamos ou não.
veitamento completo da vida de Adão e Eva, ao re- Por causa do pecado, Adão e Eva se tornaram escra-
querer que eles dependessem dEle. Eles poderiam vos do mesmo. Paulo mostra que os seres humanos
atingir estas novas dimensões da existência atra- se tornaram escravos daquele que escolheram obe-
vés da autonomia e independência de Deus. Tudo decer, (Romanos 6:16). A raça humana escolheu ser-
o que tinham de fazer era rejeitar seu papel como vir o pecado, e foi escravizada por ele, (6:17), estando
mordomos de Deus, e tornar-se donos da vida. sob este poder e cativo da lei do pecado, (7:14,23).
Eva desejava crescer, se desenvolver e descobrir seu Os seres humanos não podem submeter-se à lei de
potencial completo. Foi Deus quem colocou o de- Deus. É impossível para eles satisfazer a Deus, (Ro-
sejo de sabedoria em seu coração. Mas, ela e seu manos 8:7,8). Existe uma incapacidade básica neles
marido abusaram de sua liberdade e ultrapassaram em servir a Deus. A natureza humana foi corrompida
os limites. Ambos rejeitaram sua posição de mor- em sua essência, trazendo com isso uma hostilidade
domos de Deus a fim de se tornarem proprietários. natural para com Deus, (8:7), tornando-se enfraque-
Eles comeram do fruto da árvore, não porque eles cido, e com uma tendência natural ao pecado. Essa
estavam rejeitando o dom da vida de Deus, mas natureza, possuída pelo pecado, controlou a raça hu-
porque eles desejavam se adequar e desfrutar total mana, (8:9). Por causa dessa escravidão do pecado,
independência de Deus. Estavam interessados em era impossível para os humanos serem fiéis mordo-
acabar com sua condição de criatura para ser como mos de Deus.
Deus. Foram enganados pela serpente, porque o O pecado, como uma rebelião contra Deus não
que ela lhes oferecia era irreal. Tinham, de fato, es- trouxe apenas egoísmo e escravidão, mas também
colhido a morte e não a vida. Ao comer do fruto, a afetou a imagem de Deus na humanidade. “Pois to-
humanidade perdeu sua mordomia do mundo. dos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”,
C. O pecado como egoísmo e escravidão (Rom 3:23). Como resultado do pecado, nossa na-
A decisão de Adão e Eva foi um ato de rebelião que tureza espiritual e moral se corrompeu. De fato,
trouxe ruptura no mundo, afetando a harmonia da nenhum aspecto do ser humano permaneceu into-
criação. Depois de seu pecado, a primeira coisa que cado pelo pecado. Contudo, a imagem não foi to-
eles experimentaram foi a vergonha um do outro. talmente obliterada, (Gênesis 9:6).26 É verdade que
Eles se sentiram estranhos e, consequentemente, os seres humanos “desfiguraram a imagem de Deus”
sua vida social não foi mais a mesma. A ruptura es- em suas almas por uma maneira corrupta de vida27,
piritual interna foi refletida na rejeição do outro. porém “traços” dela “permanecem sobre cada alma.”
28
A corrupção da imagem significou também que
Compreendemos o outro, principalmente, pelo cor- a natureza em si “foi submetida à futilidade... servi-
po. A vida social e a interação são impossíveis fora dão... decadência”, (Romanos 8:20,21).
do corpo. Sentir-se envergonhado diante de outra
pessoa, significa que as relações interpessoais não O papel dos seres humanos como mordomos de
são mais harmoniosas. Adão e Eva desejavam auto- Deus foi drasticamente prejudicado pelo pecado. O
nomia completa, independência de Deus, mas eles pecado, como rebelião contra Deus, retratou os hu-
não perceberam que tal desejo poderia também manos, como quem proclamava-se dono de tudo
significar independência um do outro. O Egoísmo e, em particular, de sua própria vida, a qual tenta-
nasceu em seus corações, e a partir de então, isso vam preservar através de seus próprios esforços. Por
caracterizaria a raça humana. isso, se tornaram escravos do pecado, incapazes de
serem o que o Senhor pretendia que fossem. A res-
O mais interessante é que, apesar de solicitarem inde- tauração dos seres humanos à posição original de
pendência de Deus, Adão e Eva ainda eram responsá- mordomos de Deus exigiria um plano que aborda-
veis perante Ele por suas ações. Eles se esconderam ria as questões de rebelião, egoísmo, escravidão e
do Senhor, porque eles se tornaram mordomos infi- restauração da imagem de Deus.
26 E. G. White, “Comentários de Ellen G. White: Romanos,” em Comentário Bíblico DSA, vol. 6, p. 1078.
27 E. G. White, Testemunhos, vol 4, p. 294.
28 E. G. White, Ministério da Cura, p. 163.
Página
29 Cf. Peter Pokorny, Colossenses: Um Comentário (Peabody, MA: Hendrickson, 1991), p. 74.
30 Ver Eduard Lohse, Colossenses e Filemom (Philadelphia: Fortress, 1971), p. 48-49.
31 Veja Schnackenburg Rudolf, O Evangelho Segundo João, vol. 1 (New York: Imprensa Seabury, 1968), p. 388.
32 Arthur Patzia, Efésios, Colossenses, Filemom (Peabody, MA: Hendrickson, 1984), p. 155. Marcus Barth, Efésios 1-3 (Garden City, NY: Doubleday, 1974),
p. 76, traduz a primeira parte de Efésios 1:10 como, “que ele deveria administrar os dias de satisfação.” Segundo ele, Cristo é descrito nesse versículo
como um mordomo de Deus (p. 86-89).
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derou que o ser igual a Deus era algo a que devia com Ele.34 Tomando a iniciativa, Deus revelou Seu
apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser amor, então desarmando-nos de nosso espírito de
servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sen- rebelião e nos chamando a reconciliarmo-nos com
do encontrado em forma humana, humilhou-se a Ele, (5:20). Isso é possível porque Deus fez Cristo,
si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de “aquele que não tinha pecado, para que nele nos
cruz”, (Filipenses 2:6-8). tornássemos justiça de Deus”, (5:21).
Cristo é um mordomo distinto porque, a fim de pre- Na cruz, Deus mostrou-nos que não existe razão
servar a vida daqueles que confiaram nEle, Ele deu para estar em guerra com Ele, porque Ele sempre
sua vida por eles, (Romanos 5:6). Ele deu tudo o que nos amou. A reconciliação é um reconhecimento e
tinha a fim de preservar a raça humana, pela qual aceitação de nossa condição no universo. É a rejei-
assumiu a responsabilidade como mordomo de ção de nossa parte ante qualquer ideia ou tentativa
Deus. Isso não era esperado de nenhum mordomo de usurpar a autoridade de Deus ou Seu chamado
de Deus. Quando Moisés se ofereceu para morrer de posse. Paulo introduz seu debate sobre o signi-
no lugar de Israel, Deus rejeitou a sua oferta, (Êxodo ficado da reconciliação, em Colossenses, dizendo:
32:31,33). Essa tarefa foi preservada para o homem- “pois nEle foram criadas todas as coisas nos céus e
-Deus, Jesus Cristo, o filho de Deus. Ele, que era rico, na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou
tornou-se pobre “para que por meio de sua pobreza soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas
vocês se tornassem ricos”, (2 Coríntios 8:9). Em Fili- foram criadas por ele e para ele”, (1:16). A criação foi
penses, Paulo faz referência à mesma experiência, efetuada por Deus através de Cristo, portanto, tudo
declarando “mas esvaziou-se a si mesmo”, (2:7). Cris- pertence ao Salvador. Ainda mais, Ele é aquele que
to esvaziou-se de Seu direito de usar Sua divindade mantém o universo, (1:17). Porém, foi Ele quem to-
e, ao contrário, submeteu-se a si mesmo à vontade mou nosso lugar, morrendo na cruz por causa de
do Pai.33 Este era o Seu papel em vida, e como tal, nossa rebelião, tornando possível nossa reconcilia-
Ele cumpriu Sua responsabilidade como mordomo ção com Deus, (2 Coríntios 5:14, 15, 21; Efésios 2:3-
de Deus. 5). A reconciliação implica em reconhecimento da
B. Restaurando os Mordomos soberania de Deus sobre o universo e de nosso pa-
Um cristão é uma pessoa que reconheceu e acei- pel como mordomos do Senhor. Aqueles que se re-
tou que Cristo é a imagem de Deus, e agora deseja conciliaram que, “já não vivam mais para si mesmos,
estar de acordo com essa imagem. Porém, antes mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”,
que isso pudesse acontecer, a alienação causada (2 Coríntios 5:15).
pelo pecado deve ser removida. O indivíduo deve Viver por nós mesmos é uma manifestação óbvia de
restaurar a paz com Deus, aceitar sua função ade- nosso egoísmo, o que torna praticamente impos-
quada no mundo, parar de se empenhar egoistica- sível ser um verdadeiro mordomo de Deus. Desde
mente na autopreservação e ser resgatado do po- que Adão e Eva entraram no pecado, os humanos
der do pecado, que torna impossível a ele ser um têm sido constantemente advertidos a preservar
fiel mordomo de Deus. Tudo isso é possível através suas vidas através de seus esforços. Essa dimensão
de Cristo, que reconciliou-nos com Deus, tornou do pecado foi abordada por Cristo. O egoísmo nos
possível nossa justificação pela fé e redimiu-nos do torna administradores inefetivos das bênçãos de
poder do pecado. Deus, porque tudo aquilo que recebemos de Deus
O espírito de rebelião localizado no centro de nos- apropriamos para nós mesmos, a fim de nos sentir-
sa natureza caída, pode ser controlado somente mos seguros e ter a certeza de que seremos capa-
através do trabalho de Cristo, o que torna possí- zes de desfrutar da vida neste planeta por nós mes-
vel nossa reconciliação com Deus. A reconciliação mos. Tal egoísmo não se preocupa com os outros,
é uma manifestação do amor abnegado de Deus, porque somos totalmente obcecados pela ideia de
(Romanos 5:8-10). Em Cristo, Deus estava reconci- autopreservação.
liando o mundo com Ele próprio, (2 Coríntios 5:19). A solução para essa condição pecaminosa humana
Isso parece significar que por causa do trabalho de é encontrada na morte sacrifical de Cristo na cruz,
Cristo, Deus pôs de lado Sua ira contra nós como que tornou possível a nós sermos justificados pela
pecadores, tornando possível nossa reconciliação fé nEle, (Romanos 3:21-26). Justificação significa que
33 M. Lattke, “Kenoo tornar vazio, destruir” no Dicionário de Exegética do Novo Testamento, vol. 2, Horst Balz e Gerhard Schneider, eds (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1991), p. 282, escreveu a respeito de Cristo em 2 Coríntios 8:9, “a cláusula fala da humildade, abnegação e o abnegado empobreci-
mento da maneira divina de ser.”
34 Veja Angel Manuel Rodríguez, “Salvação por Substituição Sacrificial,” Diário da Sociedade Adventista Teológica, vol. 3 (1992), p. 65-68.
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(Colossenses 3:10). A restauração completa da ima- 39). Em nenhum lugar da Bíblia, o mundo natural é
gem de Cristo em nós será consumada na Segunda descrito como essencialmente mau. Ao contrário, é
Vinda de Cristo, (1 Coríntios 15:49). Mas, o importan- bom, porque Deus o trouxe a existência. A preocu-
te para nós é que a imagem está sendo restabele- pação de Deus com estas coisas serve de modelo
cida em nós agora, em Cristo, e que, consequente- para Seus mordomos. Eles devem tratar com respei-
mente, estamos sendo restaurados a nossa função to e cuidado aquilo que pertence ao seu Senhor. So-
original como mordomos de Deus. mente o ímpio destrói o mundo, e o Senhor, em seu
A responsabilidade mais importante do mordomo tempo, irá destruí-los, (Apocalipse 11:18).
Cristão, no Novo Testamento, é a “administração” A revolução apocalíptica do mundo natural deve
adequada da graça de Deus, isto é, a proclamação ser compreendida como um ato de redenção, que
do evangelho, (1 Coríntios 9:17; Efésios 3: 2,9), ou leva à renovação e não à extinção da criação. É o
“das coisas secretas de Deus” reveladas a nós em ponto de transição de um mundo infectado pelo
Cristo, (1 Coríntios 4:1). Nós, como Cristo, partici- pecado e maldade, a um mundo liberto disso. Não
pamos na administração do plano de Deus na sal- é a negação da natureza, mas uma reafirmação de
vação, (Colossenses 1:25). Isso inclui não somente sua bondade. A experiência da natureza pode ser
a proclamação das boas novas, mas também viver contrastada com a dos poderes malígnos. Eles serão
de acordo com seus mandamentos para santificar totalmente destruídos, extinguidos do universo de
nossas vidas. Deus, sem nenhuma possibilidade de recriação. Se-
Além disso, somos também mordomos dos dons rão condenados como essencialmente maus. Não é
de Deus. De certo modo, essa é a parte da adminis- assim com o mundo natural. A destruição final é a
tração da graça de Deus, porque, dentro da igreja, sua libertação.
Sua graça se manifesta especialmente na concessão Paulo, em Romanos 8:19-22, personifica o mundo
de dons a cada crente, (1 Pedro 4:10). Neste cenário, natural e indica que por causa de sua solidariedade
mordomia caracteriza-se pela disposição de servir com os seres humanos, tem sido afetado por suas
aos outros. Quando Pedro conclama a comunida- experiências de duas maneiras. Primeiro, ele foi “in-
de cristã a administrar fielmente os dons dados por fectado” pelo pecado que os humanos trouxeram
Deus, ele está sugerindo que somos mordomos ao mundo. Foi submetido à frustração, porém, “não
de tudo que temos, porque tudo isso nos foi dado por sua própria escolha”, (v.20). Portanto, a nature-
por Deus. Toda posse Cristã deve ser administrada za é amoral, mas é aprisionada às consequências do
para a glória de Deus. Isso incluiria tudo aquilo que pecado humano. Está agora em um estado de es-
Deus nos deu na criação, incluindo nossos corpos, cravidão e decadência, (v.19). Segundo, a natureza
(1 Coríntios 6:19-20) e nossas fontes financeiras, (ver vive na expectativa do cumprimento da promessa
próximos dois capítulos). O Cristão que é consciente da futura redenção a ser experimentada pelos hu-
de que tudo foi criado e redimido por Deus, através manos no fim dos tempos. Cristo vem trazendo li-
de Cristo e, portanto, que tudo pertence ao Senhor, berdade àqueles que acreditam nEle, e junto deles,
nunca irá achar que é dono de algo, mas será sem- a natureza olha adiante para a consumação dessa
pre como um mordomo de Deus e de Cristo. liberdade. A natureza não está esperando uma par-
D. Mordomia da Criação e Apocalíptica ticipação futura na destruição eterna do ímpio, e
A ênfase do Novo Testamento na escatologia apo-
calíptica, que anuncia a destruição do ímpio e a re-
volução do mundo, (e.g. 2 Pedro 3: 8-10), tende a
sugerir que nossa responsabilidade como, mordo-
mos de Deus, não inclui uma preocupação defini-
tiva pelo mundo natural. Por que deveríamos nos
preocupar com aquilo que será destruído por Deus,
no fim dos tempos?
Tal conclusão seria um sério e terrível erro. Deverí-
amos notar que o Novo Testamento descreve Deus
com um grande interesse no mundo natural. Ele ali-
menta os pássaros que voam, que não podem se-
mear, nem colher, (Mateus 6:26), cuida dos pardais,
(10:29), e enche de beleza a grama do campo, (6:28-
shutterstock
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36 H. Balz, “Mataiotes vaidade, inutilidade, transitoriedade” no Dicionário Exegético do Novo Testamento, vol. 2, p. 397. Para uma discussão sobre a
estreita ligação entre o homem e a natureza em acordo com a Bíblia e a sua importância para a sociedade moderna, ver Frank Moore Cross, “O
Resgate da Natureza”, Boletim do Seminário de Princeton, vol. 10 (1989), p. 94-104.
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que inclui pregá-lo, e submeter nossas vidas a este 8. Discuta como os conceitos do pecado e liberda-
evangelho. Somos também mordomos de todos os de estão intimamente interconectados na teolo-
dons de Deus dados a nós. Somos, de maneira es- gia cristã e história sagrada.
pecial, mordomos da natureza. A escatologia apoca- 9. Devido à rebelião de Adão e Eva contra Deus,
líptica não deveria reduzir nossa preocupação pelo que características pecaminosas foram herdadas
mundo natural. Olhamos adiante para a consuma- pela raça humana?
ção de nossa libertação da presença do pecado e
para a restauração do mundo natural. 10. Qual a relação entre mordomia e a doutrina da
salvação em Cristo?
VII. Debate 11. Discuta se é uma preocupação legítima dos mor-
1. Qual é a sua análise geral com relação à implanta- domos de Deus estarem interessados com o cui-
ção de uma “teologia de mordomia”? dado do mundo natural?
2. Você concorda com as quatro linhas principais de 12. O mundo natural está incluso na esperança apo-
análise para o fundamento teológico de mordo- calíptica?
mia? Justifique. 13. Descreva a mordomia bíblica com suas próprias
3. Que relação há entre o conceito “era” de Deus e palavras.
os fundamentos bíblicos de mordomia? O material adicional seguinte, sobre Dízimo e tópi-
4. Discuta as essenciais diferenças entre O Deus cos relacionados, foi produzido pelos GC Church
Criador e Seus seres criados? Ministries (Ministérios da Igreja da Conferência
Geral) de 1991-1994: Life Principles (Princípios de
5. Como a escolha humana é motivada pelo amor
Vida), SDA Financial Systems (Sistemas Financei-
de Deus?
ros dos Adventistas do Sétimo Dia), Tithing Mo-
6. Quais características únicas as pessoas possuem ments (Momentos do Dízimo), Stewardship and
por serem criadas à “imagem de Deus”? Strategic Planning (Planejamento Estratégico e
7. Explique como as palavras “e deu-lhes o domínio” Mordomia).
descrevem o poder e autoridade dados aos hu-
manos por Deus.
Página
Sumário
I. Introdução ............................................................ 22
II. Dízimo no Antigo Testamento ............................. 22
A. Gênesis 14: O dízimo de Abraão
B. Gênesis 28:10-22: O dízimo de Jacó
1. O compromisso de Jacó com Deus
C. Legislação do Dízimo
1. Levítico 27:30-33
2. Números 18:21-32
3. Deuteronômio 12:6, 11, 17; 14:22-29; 26:12-15
D. Outras passagens do Antigo Testamento
1. 2 Crônicas 31:4-6, 12
2. Amós 4:4
3. Neemias 10:38-39; 12:44, 35:5, 12
4. Malaquias 3:8-10
III. Dízimo no Novo Testamento .............................. 32
IV. Síntese e conclusões ........................................... 34
V. Debate.................................................................. 35
Página
21
I. Introdução remos as associações de ideias bíblicas e sua fina-
lidade. Então, integraremos tais ideias e conceitos
Este estudo examinará a evidência bíblica que des- para prover uma imagem ampla da compreensão
creve o sistema de dízimo, na intenção de explorar bíblica do dízimo.
suas características principais e seu conteúdo te-
ológico. Estudiosos da Bíblia têm mostrado pouco
interesse no estudo do sistema de dízimo israelita.
A maioria dos estudos sobre este assunto tem sido
manipulado por preocupações históricas e críticas,
(reconstruir o desenvolvimento histórico do sistema
e datar diferentes fontes) mais do que pelo interesse
teológico.37 Deveríamos sim aproximar o texto em
sua forma canônica, dando atenção especial para
sua motivação teológica.
É bem conhecido o fato de que dizimar não é uma
prática exclusivamente israelita. Recorde por um
momento à cidade de Ugarit, (século XIV a. C.). Há
indicações de que seus residentes pagavam dízimos
ao templo, um tipo de taxa, e que o rei também re-
cebia uma taxa real (um dízimo) do povo.38
Documentos neobabilônicos do século VI a.C., re- shutterstock
velam que dizimar era uma prática comum na Ba-
bilônia. O dízimo era dado ao templo e, o próprio II. O Dízimo no Velho Testamento
rei deveria dizimar. O dízimo era coletado de todos A. O dízimo de Abraão: Gênesis 14
os bens, incluindo cevada, tâmara, gergelim, linho,
Gênesis 14 é um único capítulo na história patriar-
azeite, alho, lã, roupas, gado, ovelhas, pássaros, le-
cal que nos permite estar familiarizados com um as-
nhas, e produtos de prata e ouro.3939 Dizimar era
pecto importante da vida de Abraão como um líder
também conhecido e praticado entre os persas, gre-
militar. Dentre seus servos tinha um grupo bem trei-
gos e romanos.40
nado de soldados.
A origem dessa difundida prática é desconhecida
Contudo, a proposta de Gênesis 14 não é de apenas
pelos historiadores. A Bíblia não a discute e, quando
descrever as habilidades de liderança de Abraão em
o dízimo é mencionado pela primeira vez, parece já
tempos de guerra, mas revelar a dimensão mais im-
ser uma prática comum.
portante de seu caráter e o caráter daqueles men-
Mesmo assim, sabemos que “o sistema de dízimos cionados na narrativa. Através de suas ações e ati-
estende-se desde os dias de Moisés... até mesmo tudes, as intenções e motivações de seus corações
aos dias de Adão41.” O sistema, como revelado no Ve- foram reveladas, e nós conseguimos perceber um
lho Testamento, é “divino em sua origem42;” foi dado contraste marcante entre Abraão e Melquisedeque
por Deus ao homem. Dizimar parece estar associa- de um lado, e os reis de outro.
do com a raça humana em seu estado caído.
As diferenças entre aqueles dois grupos eram de-
A seguir, examinaremos as passagens bíblicas em terminadas pelo seu comprometimento ou falta de
que o dízimo é discutido ou mencionado. Enfatiza- comprometimento com o Deus Altíssimo. Aqueles
37 Para uma avaliação desses estudos ver Menahem Herman, Dízimo como um presente: A Instituição do Pentateuco e à luz da teoria de Mauso (San
Francisco, CA: Mellen Research University Press, 1991), p. 7-37.
38 Veja Jacob Milgrom, Números: O comentário da Torá JPS (New York: Publicação da Sociedade Judaica, 1990), p 432. Veja também Gary Anderson,
Sacrifícios e ofertas no Antigo Israel (Atlanta, GA: Scholars Press, 1987), p. 78-80. Devemos mencionar que o dízimo não religioso real (fiscal) foi
reconhecido em Israel (ver 1 Sm 8:10-17; Anderson, idem, p. 81, 82).
39 Jacob Milgrom, Culto e Consciência (Leiden: EJ Brill, 1976), p. 58. A discussão de Milgrom baseia-se em um estudo preparado pela M. A. Danda-
mayev, “Chramowaja Desjatina W Pozdnej Babilonii,” Vestnik Drevney Istorii, (1965), 14-34. Veja também M. A. Dandamaye, “Estado e Templo na
Babilônia, no Primeiro milênio a. C.”, em Estado e Economia no Templo e Antigo Oriente Médio, E. Lipinsky, ed.(Leuven: Departamento Orientalísti-
co, 1979), p. 593, 94.
40 Consulte J. A. MacCulloh, “Dízimos”, Enciclopédia de Religião e Ética, editado por James Hasting, vol. 12 (Edimburgo: T & T Clark, MD), p. 347; W. H.
D. Rouse, “Dízimos (grego)“, Ibid, p. 350, 51; e G. Hawthorne, “Dízimos”, Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, editado por
Colin Brown, 3 (Grand Rapids, MI: Editora Zondervan, 1978), vol, p. 851.
41 Elen G. White, Comentário Bíblico DSA, vol. 1, p. 1093 (Testimonies, vol. 3, p. 393).
42 Ellen G. White, Testemunhos, vol. 3, p. 388.
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a. Deus é o Criador. Essa idéia é tão importante tencia ao rei. Segundo, Abraão não desejava que o
que é mencionada duas vezes na narrativa. Melqui- rei dissesse: “eu enriqueci a Abraão.” Dessa maneira,
sedeque e Abraão referem-se a Deus como o “cria- Abraão estava protegendo a honra de Deus.
dor do céu e da terra.” O Deus invocado nas bençãos O patriarca sabia que sua fortuna era resultado das
é o Criador. bênçãos de Deus, e ele não desejava permitir que
A palavra hebraica traduzida por “Criador”, (ganah) ninguém enfraquecesse ou distorcesse essa convic-
vem de uma raiz que significa “adquirir, possuir, ção. Ele rejeitou a fortuna ao invés de fazer sombra
(destacando possuir).” Alguém pode possuir algu- sobre a bondade de Deus, recebendo-a. A implica-
ma coisa fazendo, criando, ou adquirindo-a. Nessa ção é que a primeira preocupação de Abraão não
narrativa, o termo ganah parece expressar a ideia de foi seu bem-estar material ou econômico, mas seu
criação e possessão. Tudo no céu e na Terra perten- relacionamento com o Senhor. Foi onde sua pronti-
ce ao Senhor, pois Ele o criou. A soberania de Deus dão pelo dízimo se originou.
é baseada em Sua atividade como Criador. c. Deus preserva a vida humana. A narrativa
Isso sugere que a realidade é única. Não se espera sugere que o dízimo é motivado teologicamen-
que respondamos a poderes espirituais diferentes, te. Nesse caso específico, o dízimo de Abraão era
somente ao Criador. Nossa lealdade não deve ser di- um reconhecimento de que foi o Deus Altíssimo
vidida entre diferentes deuses, pois há somente um quem lhe deu a vitória, (Gênesis 14:20)43. O sa-
Senhor que trouxe à existência todas as coisas. cerdote, na benção, louvou ao Senhor porque Ele
Sem o conceito bíblico da criação, o dízimo carece derrotou os inimigos, deixando-os nas mãos de
de significado sólido. Abraão dizimou porque o seu Abraão. O papel de Abraão é não negar, mas atri-
Deus era o Criador do céu e da Terra. Ele reconhe- buir a vitória a Deus.
ceu a soberania de Deus através da confissão de sua O dízimo era baseado não somente no fato de que
boca, “Senhor, Deus Altíssimo, Criador do Céu e da Deus abençoou Abraão, mas também no fato de
Terra”, (Gênesis 14:22), e através de suas ações, de- que Ele o preservou, derrotando os inimigos. A im-
volvendo o dízimo a Melquisedeque. plicação é que a vida é tão frágil que não pode ser
b. Deus é Quem Abençoa. Como havíamos desta- completamente preservada por esforços humanos.
cado, Melquisedeque cumpriu uma responsabilida- Existem forças que ameaçam a vida humana, e so-
de sacerdotal ao abençoar Abraão. Teologicamente, mente Deus pode adequada e efetivamente derro-
a bênção precede o dízimo. Sem essa benção pré- tá-las. Essa convicção era tão dinâmica que se incor-
via, o verdadeiro dízimo é impossível. porava ao ato de Abraão dizimar. Portanto, o dízimo
As bênçãos de Deus são sempre uma expressão de expressa o fato da vida não ser nossa, mas sempre
Seu amor e cuidado por nós. O dízimo é um reco- pertencer ao Senhor (não somente porque Ele nos
nhecimento da bondade de Deus e, portanto, sem- criou, mas porque Ele nos preserva em um mundo
pre é uma resposta e nunca um precedente. de pecado e morte).
Abraão estava completamente ciente do fato de De acordo com Gênesis 14, o dízimo é uma forma
que Aquele que o enriqueceu foi o Senhor. Ele de repúdio ao egoísmo. Esse poder escravizante
estava convencido em sua mente que sua segu- rege aqueles que não conhecem o Senhor e os leva
rança financeira não era dependente do poder de a explorar e destruir outros em sua busca por fortu-
ninguém, mas das bênçãos de Deus. Quando o rei na. Abraão dizimou porque ele rejeitou o egoísmo
de Sodoma lhe disse (em tom quase que exigen- como força regedora de sua vida.
te), “dê-me as pessoas e pode ficar com os bens,” a Em um nível mais profundo, a prática do dízimo
reação de Abraão foi imediata, “não aceitarei nada”, de Abraão estava baseada na convicção sólida de
(Veja Gênesis 14:21-23). Melquisedeque veio re- que Deus é o Criador e Dono de tudo no univer-
ceber Abraão e compartilhar comida e benção; o so – Aquele que abençoa e preserva a vida. A ex-
rei de Sodoma saiu para exigir de que pelo menos periência de Abraão esclarece que Deus escolheu
parte de suas propriedades fossem devolvidas a indivíduos específicos para mediar e transferir o dí-
ele. Tecnicamente, os bens do rei de Sodoma per- zimo do adorador para Ele. Um sacerdote recebia o
tenciam a Abraão. Mas Abraão devolveu tudo a ele dízimo, nesse caso em particular e em outros casos
por duas razões. Já expusemos a primeira: Abraão registrados no Antigo Testamento. Abraão devol-
pronunciou um juramento diante do Senhor com- veu seu dízimo para aquele a quem Deus apontou
prometendo-se a devolver tudo aquilo que per- como seu instrumento.
43 E. E. Carpenter, “Dízimos”, Enciclopédia da Bíblia Norma Internacional, vol. 4 (Grand Rapids, MI: WB Eerdmans, 1988), p. 862.
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voto – cuidado protetor de Deus, alimentos e rou- que o fato de dizimar é precedido de uma revelação
pas, seu retorno seguro à terra – Deus já o havia pro- de Deus como Alguém carinhoso e amoroso, sem-
metido. Estamos certos em concluir que, através do pre disposto a abençoar e preservar a vida de Seus
voto, Jacó estava levando Deus a sério e aceitando servos. Jacó descobriu que toda benção espiritual e
Sua oferta graciosa. material é encontrada em Deus e que Ele tem uma
O dízimo é parte do voto. Mas se o dízimo pertence disposição natural para abençoar abundantemente.
ao Senhor, então porque fazer um voto prometen- Segundo essa narrativa, provavelmente é correto
do devolvê-lo a Ele? Há muitas razões que podem concluir que o dízimo esta baseado em uma ética
ser dadas para isto: de imitação. O Senhor é o Grande Doador, e Jacó O
a. Ao fazer um voto, Jacó reconheceu que o dízi- imitou quando dizimou. De certa forma é similar ao
mo pertence ao Senhor. Por outro lado, ele pode ter mandamento do Sábado. Descansar no Sábado está
sido tentado a considerá-lo simplesmente parte de baseado no fato de que Deus descansou nesse dia.
sua renda e devolvê-lo ao Senhor quando achasse Ao cumprir o mandamento, nós O imitamos.
necessário. De certa forma, esse voto era uma teste- Tais imitações éticas tornam-se uma possibilidade
munha à santidade do dízimo. somente depois da pessoa aceitar Deus como Seu
b. Ao fazer um voto, Jacó expressou sua livre de- Senhor pessoal. Isso engloba uma entrega comple-
cisão de devolver o dízimo ao Senhor. Deus não o ta da vida e das posses do indivíduo ao Senhor. O
forçou a dizimar. Os votos na Bíblia sempre são atos dízimo perpetua essa experiência na vida da pessoa.
voluntários baseados no trabalho do Espírito no co- Se um voto está envolvido, é porque o relaciona-
ração do indivíduo. O voto de Jacó significou que mento com o Senhor é formal e o compromisso é
ele tinha escolhido voluntariamente devolver ao Se- permanente. Como um ato de adoração, o dízimo
nhor aquilo que era dEle. renova nossa vontade constante de entregar nossas
c. Ao fazer um voto, Jacó aceitou o desafio de vidas para a Fonte de todas as bênçãos, reafirman-
Deus de confiar nEle ou colocá-Lo à prova, (Mala- do nosso compromisso incondicional a Deus. Dessa
quias 3:10.) Deus fez promessas específicas a Jacó, maneira, o dízimo é uma representação concreta da
esperando que ele aceitasse e acreditasse nelas. Isso aliança.
requeria que Jacó entrasse em um relacionamento C. Legislação do Dízimo
de confiança e confidência com o Senhor. O Senhor inseriu o dízimo à lei da aliança israelita, fa-
Um voto é o mais solene ato através do qual uma zendo disso parte da experiência religiosa do povo
pessoa expressa confiança no Senhor. De certa forma como uma nação. Muitas leis no Pentateuco refe-
é a fé crescendo para a maturidade. No caso de Jacó, rem-se às práticas do dízimo. A intenção dessas re-
o dízimo era uma parte de seu compromisso total de gulamentações é definir o que deveria ser dizimado,
fé no Senhor. Seu voto esclarece que as bênçãos de explicar o processo a ser seguido ao dizimar, definir
Deus precedem o dízimo e que, no entanto, o dízimo o uso do dízimo e expor sua função social e teológi-
não é uma maneira de ganhar o auxílio de Deus. ca. Vamos examinar mais essa legislação.
4. Jacó adorou. O dízimo é mencionado nessa his- 1. Levíticos 27:30-33
tória em um contexto de adoração. Jacó foi confron- Levíticos 27 trata da dedicação dos dons isto é,
tado pela radiante presença de Deus e O adorou. dons prometidos ao Senhor através de voto ou da
Isso é adoração – uma resposta reverente à presen- sua consagração a Ele. Esses dons incluem ofertas
ça de Deus. O local onde ele teve o sonho se tornou donativas das pessoas em montantes fixos de prata,
local de adoração, uma casa do Senhor. Dizimar é (versos 1-8); penhor de animais, (versos 9-13); con-
um elemento no ato de adoração. sagração de propriedades ou terra, (versos 14-24);
Uma leitura dos versos 21 e 22 do capítulo 28, indi- e leis proibitivas, (versos 28, 29). O capítulo também
cam que o voto de Jacó incluia três componentes inclui leis que regulamentam o resgate do primogê-
básicos: (a) comprometimento com o Senhor (“o Se- nito e do dízimo, (v 26, 27, 30-33)46.
nhor será o meu Deus”); (b) adoração a Ele (o lugar A proposta básica do capítulo é definir as principais
tornava-se “santuário de Deus”); (c) dizimar (baseado fontes de renda para os serviços do santuário e dos
no que Deus lhe deu). O dízimo é significativo so- sacerdotes.47 Manter o santuário era uma parte ex-
mente dentro desse cenário teológico. tremamente importante do sistema de adoração
Um elemento importantíssimo nessa narrativa é israelita, porque através dele, o povo mostrava sua
46 Sobre a estrutura geral do capítulo consultar, G. J. Wenham, O Livro de Levítico (Grand Rapids, MI: Eerdmans W B, 1979), pp 336, 37.
47 Baruch A. Levine, Levítico: O comentário da Torá JPS (New York: Sociedade Judaica Publicação, 1989), p. 192.
Página
48 B. Beck,”Baqar”, Dicionário Teológico do Antigo Testamento, vol. 2 (Grand Rapids, MI: WB Eerdmans, 1975), p. 210.
49 Este aspecto do dízimo é enfatizado por Herman, Dízimo, p. 60. Ele vai longe quando afirma que “as ordenanças do dízimo de Levíticos, descrevem
uma reciprocidade sistemática sobre a aliança através da qual os bens são trocados por proteção divina”(Ibid). Ele comercializa o dízimo. A razão
básica dada em Levíticos para o dízimo é que o dízimo é santo. É claro que pressupõe-se as benção de Deus, mas não determinam ou forçam Deus
a abençoar as pessoas.
50 Comentário Bíblico da DSA, vol 1, p. 818.
51 Philip J. Budd, Números (Waco, TX: Word Books, 1984), p. 201.
52 Veja Milgrom, Números, p. 148-54.
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OsValores.com.br 27
A renda dos levitas era o dízimo devolvido pelos isra- levitas. Essa ideia é repetida três vezes no capítulo,
elitas ao Senhor, (versos 21-24). O dízimo é discutido (versos 21, 24, 25).
aqui no contexto do santuário, e está diretamente Esse mesmo enfoque também foi utilizado com
relacionado com o trabalho dos sacerdotes e levitas. relação ao dízimo conferido aos sacerdotes, (ver-
a. Natureza do Dízimo. Números 18 não se refere sos 28,29). Aos levitas eram ordenados apresentar
ao dízimo explicitamente como um dom sagrado o dízimo do dízimo devolvido ao Senhor, porém, o
do Senhor. O dízimo está, provavelmente, incluso na Senhor era quem determinava como deveria ser uti-
frase “as ofertas sagradas dos israelitas”, (verso 32) ou lizado. O dízimo dos levitas era para o Senhor, e não
talvez se refira exclusivamente ao dízimo, mas isso um pagamento feito para os sacerdotes por seus
não é absolutamente certo. serviços: “Vocês deverão apresentar um décimo da-
Apesar disso, o dízimo é descrito como aquilo “que quele dízimo como contribuição pertencente ao
os israelitas apresentarem como contribuição ao Senhor”, (verso 26). O sustento dos sacerdotes não
Senhor”, (verso 24). O verbo traduzido “apresenta- estava nas mãos dos levitas, mas nas mãos do Se-
rem”, (rûm) significa “separado, (retirado), e presen- nhor. Esse dízimo era selecionado da melhor porção
te.” “Uma oferta”, (terûmah) parece referir-se a algo do dízimo dos israelitas, (verso 29), evitando, desse
que é designado, (separado) como uma oferta, fora modo, uma tentativa da parte dos levitas de mani-
do santuário, e que é, subsequentemente, trazida ao pular o processo.
santuário e oferecida ao Senhor53. Se essa interpre- Segundo Números 18, o dízimo foi conferido pelo
tação está correta, então o dízimo era uma oferta Senhor aos levitas e sacerdote como compensação
separada em casa, e mais tarde devolvida ao Senhor por seu trabalho de tempo integral no santuário, em
no santuário. favor do povo de Israel. O dízimo era trazido ao Se-
Ao descrever o dízimo como uma oferta, sua santi- nhor, e não era um pagamento pelo ministério dos
dade está sendo indicada. O fato de ser uma oferta levitas e sacerdotes. De fato, o dízimo nunca é um
não significa que era voluntária; o Senhor a requeria pagamento por prestações de serviços.
do povo54. Essa legislação não define o que deveria 3. Deuteronômio 12:6, 11, 17; 14:22-29; 26:12-15.
ser dizimado. Existe uma menção de “trigo” e “vinho”, Deuteronômio 12 trata da importância de adorar a
(verso 27), contudo o texto não limita o dizimar so- Deus em um santuário – um local escolhido pelo
mente esses itens, (ver versos 28, 29). Senhor. Para este lugar, esperava-se que os israe-
b. Uso do Dízimo. O dízimo pertence ao Senhor, litas trouxessem seus sacrifícios, ofertas e dízimo,
porém Ele o conferiu aos levitas, (verso 21). Essa (versos 6,11).
decisão foi baseada no fato de que os levitas não Em 12:17, encontramos instruções relacionadas ao
receberam nenhuma herança dentre os israelitas e, uso do dízimo, que não encontramos em nenhuma
consequentemente, não tinham nenhuma maneira outra lei. Aos israelitas foi pedido que não comes-
de se sustentarem. Sua função era ministrar no san- sem o dízimo em suas próprias cidades, mas que
tuário e proteger a sua santidade. O Senhor lhes deu o levasse ao santuário. Eles o comiam na presença
o dízimo como compensação, (verso 21; heleph), ou do Senhor, (verso 18). Toda a família era permitida
uma recompensa, (verso 31; sakar) por seu trabalho comer.
no santuário. A legislação registrada em 14:22-27, desenvolveu
Note que ao dizimar, os israelitas não estavam pa- depois essas idéias. Deuteronômio 14 trata “daqui-
gando aos levitas por seu serviço. Eles estavam ape- lo que deveria ou não ser comido55.” O dízimo dos
nas devolvendo o dízimo ao Senhor na forma de grãos, vinho novo, e azeite, é mencionado dentre os
uma oferta. Era o Senhor quem decidia como utili- alimentos que podiam ser comidos, (versos 22-23).
zá-lo. O Senhor decidiu dá-lo aos levitas. Requeria-se dos israelitas que levassem o dízimo ao
O significado desse procedimento está funda- santuário e comessem na presença do Senhor.
mentado no fato de que a qualidade dos serviços Se o santuário fosse muito distante, permitia-se que
prestados pelos levitas aos israelitas, não afetavam o povo trocasse o dízimo por prata. Uma vez que
a prática do dízimo do povo como um todo. Eles chegassem ao santuário, eles compravam aquilo
devolviam seu dízimo ao Senhor e Ele o dava aos que desejassem com a prata. “Então, juntamente
53 Esta interpretação foi sugerida por J. Milgrom, “Oferta Alçada“, Dicionário de Interpretação Bíblica Volume Suplementar (Nashville, TN: Abingdon,
1976), p. 391.
54 Milgrom, entre outros, defendeu a obrigatoriedade do dízimo em Números 18 (Números, p. 433).
55 Peter C. Craigie, Deuteronômio (Grand Rapids, MI: Eerdmans WB, 1976), p. 229.
Página
56 A interpretação que prevalece entre os estudiosos que negam a autoria do Pentateuco, é a interpretação de que estamos tratando aqui em
Deuteronômio, com uma fonte escrita após o exílio, refletindo a natureza e a finalidade do dízimo durante esse período. Eles argumentam que a
legislação registrada em Levítico controla o uso de dízimo durante o exílio, ou pouco antes do exílio. Veja Herman, Dízimo, p. 7-37.
57 E. G. White, Patriarcas e Profetas, p. 530.
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centros de idolatria, mas em seus sermões, o assunto A referência do dizimo em Neemias 10:38-39, é
principal de Amós foi sobre o pecado do formalismo seguida pelo comprometimento do povo com a
religioso – a execução dos atos religiosos nestes cen- preservação dos serviços do templo: “Não negli-
tros que não tinham impacto prático na vida do in- genciaremos o templo do nosso Deus”, (verso 39).
divíduo. O povo e seus líderes haviam separado seus Ao dar o dízimo, eles mostravam sua preocupação
conceitos religiosos da moralidade e justiça. pelo templo, que era o lugar de habitação de Deus.
Amós descreveu o zelo religioso do povo como pe- Desejavam continuar a se beneficiar do perdão gra-
caminoso, e, sarcasticamente, convidou-os a conti- cioso de Deus através do ministério intercessor dos
nuar a executar seus rituais, a fim de aumentar sua sacerdotes.
pecaminosidade: “Vão a Betel e pequem, vão a Gil- Mais tarde, Neemias apontou um grupo dos levitas
gal e pequem ainda mais. Ofereçam os seus sacrifí- para serem responsáveis pelas casas de depósito do
cios cada manhã, os seus dízimos a cada três dias58.” templo. Eles coletavam o dízimo das cidades, (Ne-
Amós declarou que a maioria do povo “ia aos locais emias 12:44). O sistema instituído por Neemias era
de culto e, quanto mais zelosos eram na execução funcional e ganhou apoio dos judeus.
dos rituais, mais continuavam a ofender e transgre- É neste ponto da narrativa que um detalhe impor-
dir59.” Religião sem ética, moralidade e justiça são tante é acrescentado: “Judá estava satisfeito com os
atos de rebeldia contra o Senhor. A “substituição sacerdotes e levitas que ministravam no templo”,
das ofertas de culto pela justiça ao oprimido” é um (verso 44). Note que o motivo do povo dizimar não
ato pecaminoso60. O zelo religioso não é necessa- era porque estavam satisfeitos com o desempenho
riamente uma manifestação de verdadeira piedade. dos sacerdotes, dizimavam porque, de acordo com
Amós disse que o dízimo se torna insignificante se a lei, era o que o Senhor esperava deles. Eles, assim
não é acompanhado de uma experiência religiosa, como os sacerdotes e levitas, estavam cumprindo a
que tenha um grande impacto no comportamento vontade de Deus, e o resultado foi regozijo no Se-
e preocupação social da pessoa para com os outros. nhor. É claro que isso não significa que os judeus
Uma vida religiosa formal ou legalista rouba do dízi- não estavam interessados no que acontecia no
mo o seu significado intrínseco. templo.
3. Neemias 10:38, 39; 12:44, 13:05, 12. Depois de doze anos em Jerusalém, Neemias retor-
Neemias 10:38, 39 faz parte de uma cerimônia de nou para a Pérsia, (ca. 432 A.C.). Logo após sua par-
renovação de aliança. A pequena comunidade de tida, a condição espiritual do povo começou a se
judeus que retornou a Jerusalém, se juntou aos lí- deteriorar. Os sacerdotes perderam a visão de seu
deres para ler a Lei de Moisés, (Neemias 8), para grande chamado. Eliasabe, o sacerdote encarrega-
confessar seus pecados, (Neemias 9) e para renovar do pelas casas de depósito do dízimo, permitiu que
a aliança com o Senhor, (Neemias 10). O dízimo é Tobias, um amonita, tomasse por residência uma
mencionado dentre os acordos da aliança. Durante das casas de depósito dentro do templo, portanto
a cerimônia, os judeus comprometeram-se a trazer profanando-o, (13:15). Ao mesmo tempo, o Sábado
seu dízimo para o Senhor. Os levitas, acompanha- não era guardado devidamente, (13:15); o povo pa-
dos dos sacerdotes, saíram às cidades para coletar o rou de dar o dízimo, (13:10); os levitas deixaram seu
dízimo do povo e levar pelo menos parte disso aos posto no templo e saíram para trabalhar nos cam-
locais de depósito do templo. pos, (13:10).
Essa legislação segue exatamente a instrução en- Neemias retornou inesperadamente à Jerusalém, e
contrada em Números. O dízimo era para os levi- tomou conhecimento da queda espiritual do povo
tas, porém eles davam um décimo aos sacerdotes, e dos líderes. Seu primeiro ato foi de expulsar Tobias
(10:38). Está especificamente explícito que o dízimo do templo e de reconsagrar o lugar. Depois, cha-
era coletado das lavouras, (verso 39), mas isso não mou os levitas de volta ao templo e pediu ao povo
necessariamente excluía um dízimo do aumento que trouxessem seus dízimos para o Senhor.
das manadas e rebanhos, uma vez que o povo de- O erro do povo ao trazer o dízimo ao Senhor foi in-
sejava fazer o que era exigido por lei, (12:44). fluenciado pelo que estava ocorrendo no templo,
58 O terceiro dia mencionado neste versículo pode referir-se ao terceiro dia depois que o povo chegou ao centro de culto, mas isto está longe de estar
certo. É bem provável que as práticas de dízimo no Reino do Norte eram diferentes daquelas de Judá. Veja Hans Walter Wolff Joel e Amós (Philadel-
phia: Fortress Press, 1977), p. 219.
59 Shalom M. Paul, Amós (Minneapolis: Fortress Press, 1991), p. 139.
60 Wolff Joel, Amós, p. 219.
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experiência de conversão. O convite a pararem Malaquias reforça aquilo que o restante do Antigo
de roubar a Deus é introduzido por um chamado Testamento ensina sobre a natureza e propósito
à conversão: “Voltem para Mim”, (verso 7). Dizimar do dízimo. O dízimo pertence ao Senhor. Ele usou
genuinamente é uma possibilidade somente para para sustento dos sacerdotes e levitas, e ninguém
aqueles que devolviam ao Senhor com fé – acredi- tem o direito de retê-lo para si mesmo. Roubar a
tando nEle. Deus era um pecado cometido contra o Senhor,
Para compreender ainda melhor a acusação de Ma- não contra o templo ou o sacerdócio. Portanto, o
laquias contra os israelitas na questão do dízimo, dízimo é conclamado pelo Senhor, apesar da de-
devemos colocar a passagem em seu contexto his- terioração espiritual daqueles que se beneficiam
tórico e religioso. dele. Em Seu próprio tempo, Ele os chamará para
Acredita-se, geralmente, que Malaquias profetizou prestar contas.
durante o tempo de Esdras e Neemias. Uma vez
que a condição espiritual do povo e de seus líderes
é descrita da mesma maneira em Malaquias e Ne-
emias 13, alguns estudiosos concluíram que Mala-
quias profetizou durante o tempo em que Neemias
foi para a Pérsia, (ca. 432 a.C, ou logo em seguida67).
Como vimos, esse foi um período de grande piora
espiritual em Jerusalém. Malaquias descreveu a situ-
ação em maiores detalhes do que Neemias em seus
dois discursos contra o sacerdócio. Um registrado
em Malaquias 1:6-14, e o outro em Malaquias 2:1-9.
O primeiro ataque contra o sacerdócio está base-
ado na falta de respeito com o Senhor, (1:6). Eles
trouxeram sacrifícios contaminados a Ele. As vítimas
sacrificiais eram fisicamente defeituosas, (1:8) e até
doentes, (1:13). Nem mesmo um governador acei-
taria tais presentes, (verso 8). Os sacerdotes também shutterstock
68 Leiland Wilson, “O Antigo Testamento e o dízimo”, Baker Dicionário de Teologia Prática (Grande Rapids, MI: Baker Book House, 1967), p. 357.
69 Achtemeier, Malaquias, p. 192.
70 Wilson, “Dízimo”, p. 357. Para mais informações sobre 1 Coríntios 9:13, ver o próximo capítulo.
71 Ibid.
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IV. Resumo e Conclusões sermos santos. O chamado de Deus aos crentes está
parcialmente baseado em uma ética de imitação.
O Antigo Testamento provê uma fundamentação Ele diz ao seu povo, “Vocês serão santos para mim,
teológica para o dízimo que torna essa prática enri- porque Eu, o Senhor, sou santo” (Levíticos 20:26). O
quecedora na vida do crente. O primeiro elemento dízimo contribui para esse glorioso objetivo, porque
de seu fundamento é a percepção e compreensão em nossas doações estamos imitando a Deus. No
de Deus como Criador dos céus e da terra. No con- processo, o “eu” é subjugado e o amor de Deus en-
texto do dízimo, a proposta dessa declaração não é che o coração humano.
de enfatizar o poder majestoso de Deus, mas seu se-
Em segundo lugar, uma vez que o dízimo é santo, se
nhorio sobre todo o universo. O cosmos pertence a
torna um teste de lealdade para todos. É um teste,
uma Pessoa, Aquele que o trouxe à existência. Qual-
porque estabelece limites a nossa liberdade ao cha-
quer criatura que reivindica senhorio, em qualquer
mar a atenção para a nossa dependência de Deus.
circunstância, está usurpando o direito do Deus.
Nem tudo a que temos acesso é nosso. Como dito
O segundo aspecto da pessoa e obra de Deus, a anteriormente, podemos ser tentados a retê-lo para
qual provê uma base teológica para o dízimo, é o nós mesmos, e desse modo violamos a sua santida-
Seu cuidado providencial, orientação e amor por de. De certa forma, o dízimo é uma analogia à Árvo-
nós. O Criador não abandonou Suas criaturas às for- re do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do
ças do mal. Em um mundo de pecado e morte, Ele Éden. Adão e Eva tinham livre acesso para comer de
permanece como Criador que se opõe ao mal, a fim todas as árvores do jardim, exceto uma. Essa árvore
de preservar nossas vidas. Esse cuidado providencial se tornou um teste de lealdade para com Deus.
pressupõe a obra de redenção de Deus através do
Terceiro ponto, o dízimo nos lembra de nossa alian-
qual somos restaurados à completa comunhão com
ça com o Senhor, de nossa total e incondicional
Ele em Cristo. O mal foi derrotado através de Cristo,
rendição a Sua vontade amorosa. No relacionamen-
e agora podemos participar em Sua vitória. A vida
to de aliança, Deus se torna nosso Deus e nós nos
foi preservada para nós através do Filho, e é através
tornamos Seu povo; Ele é reconhecido como nosso
dEle, também, que recebemos as bênçãos de Deus
Salvador, Aquele que nos abençoa. Nesse relacio-
e todas as nossas necessidades são supridas. Tudo
namento, humildemente reconhecemos que tudo
pertence a Deus, não somente pela criação, mas
o que temos pertence a Ele, e que nossas necessi-
também pela redenção. Seu poder providencial
dades espirituais e econômicas serão supridas por
continua a preservar o universo. Não existe aspecto
Ele. O dízimo é um símbolo, ou um lembrete, de
na vida humana, nenhuma necessidade que tenha-
nosso compromisso total com o Senhor. Quando
mos, que Ele não possa suprir.
estendemos nossa mão e reverentemente deposi-
A natureza do dízimo pode ser resumida em uma tamos nosso dízimo na salva, durante o serviço de
frase: é santa. A santidade aponta para o que é úni- adoração, estamos dando ao Senhor uma fração de
co, diferente e, portanto, pertence àquele que é nossa vida, como um símbolo de nossa consagra-
Santo. Não há nenhum como Ele no universo, por- ção total a Ele.
que Ele é o Criador. Uma vez que o dízimo é santo,
Podemos facilmente concluir que o dízimo é um
não podemos retê-lo, todavia devemos devolvê-lo
testemunho do relacionamento de confiança e
a Deus. Do ponto de vista humano, o dízimo parece
amor estabelecido com nosso Senhor e Salvador.
fazer parte de nossa renda, mesmo algo que ganha-
Este é provavelmente o porquê de pessoas na Bíblia
mos através do trabalho e esforço. Mas aqui, a fun-
pararem de dizimar quando seu relacionamento
damentação teológica se torna relevante para nós,
com o Deus foi quebrado pela apostasia.
lembrando-nos de que tudo o que temos provém
de Deus. Somos responsáveis por administrar todos Finalmente, o dízimo tem um propósito adicional
os dons que Ele nos deu, exceto a décima parte, que conferido por Deus (e não pelo homem). Através
é exclusivamente dEle e deve ser devolvido a Ele. O dele, Deus provê as necessidades daqueles que Ele
dízimo foi dotado com santidade por Deus. chamou para serem Seus ministros. Deus é o único
que determina a maneira pela qual o dízimo deve
O dízimo tem várias finalidades importantes. Primei-
ser utilizado. Isso traz sérias implicações para aqueles
ramente, através do dízimo, Deus permite que seu
que fielmente devolvem o dízimo ao Senhor. Nunca
povo (não somente os sacerdotes) lide com o que é
deveríamos concluir que o dízimo é um pagamento
santo, com aquilo que pertence a Ele. De certa for-
pelos serviços recebidos dos ministros. Isso abriria
ma, é uma popularização da função sacerdotal. Ao
imediatamente a porta para a comercialização. Sob
lidar com aquilo que é santo, somos desafiados a
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Oficinas
01. Os Valores de José 2. Organização dos SEE 3. Plano do Pacto 4. Gestão do Tempo 5. Orçamento da Igreja
Felipe Benfenatti Pr. José Coelho de Melo Pr. Decival Novaes Felipe Rossi Paschoal Gilvan Santos Correa
goo.gl/h39cK4 goo.gl/DTe39U goo.gl/VbmpsD goo.gl/4NJqjn goo.gl/pgS7bT
11. O Mordomo e a Terra 12. Empreendedorismo 13. Sábado 14. Dinheiro na Biblia 1. La Soberania de Dios
Pr. Ronaldo de Oliveira Pr. William Rogers Galdino Alberto Ocaranza Pr. César Ricardo L. Reis Pr. Efrain Choque
goo.gl/491gje goo.gl/mhbM6G goo.gl/h6pVUH goo.gl/jnsQTX goo.gl/41aDgh
16. Mordomia do Tempo 17. Finanças para Casais 18. Adoração 19. As Crianças
Pr. Josué de Castro Matheus Alves Munhoz Pr. Mauro S. Cardoso Vania Cristina de Almeida
goo.gl/3NJTdY goo.gl/EH99Ry goo.gl/ZFf8Pm goo.gl/TKHXCk
Página
Sumário
I. Introdução ............................................................ 38
II. Ofertas no Antigo Testamento ............................ 38
A. Ofertas do sacrifício expiatório
B. Sacrifícios como ofertas
1. Holocausto
2. Ofertas de Paz
C. Outras ofertas
D. Ofertas especiais
III. Ofertas no Novo Testamento ............................. 43
A. Jesus e as Ofertas
1. Ofertas e adorações
2. Ofertas e Relações Interpessoais
3. Ofertas e compromisso com o Senhor
4. Ofertas e verdadeira benevolência
5. Ofertas e Ministério Cristão
B. Paulo e as Ofertas
1. A relutância de Paulo para aceitar ofertas
2. Paulo, como beneficiário das Ofertas
3. Paulo e a arrecadação
C. Ofertas em Atos
1. Oferta aos pobres
2. Oferta Especial
IV. Síntese e conclusões ........................................... 53
V. Debate.................................................................. 56
Página
37
I. Introdução Testamento. A seguir, vamos discutir os diferentes ti-
pos de ofertas mencionadas no Antigo Testamento.
O estudo de religiões antigas sugere que na inte-
A. Ofertas de Sacrifício Expiatório
ração entre seres humanos e o divino, trazer uma
oferta aos deuses era um aspecto constitutivo da Ofertas de sacrifício e expiação estão ligadas entre
devoção pessoal. Em todo o antigo Oriente Médio, si, no sistema de adoração do Antigo Testamento. As
diferentes tipos de ofertas foram levadas aos deuses ofertas expiatórias primárias eram as ofertas pelo pe-
pelos seres humanos que buscavam suas bênçãos, cado, (Levítico 4), e a oferta pela culpa, (Levítico 5),
proteção, perdão e orientação. Na maioria dos ca- chamada “ofertas” em Números 5:9 e 18:8. O termo
sos, as ofertas eram vistas como meio de suprir as hebraico usado é terûmãh, um substantivo possi-
necessidades dos deuses, a fim de ganhar ou obter velmente derivado da raiz verbal rûm: “ser elevado”,
favores72. Esta preocupação intensa para apresentar que em uma de suas formas verbais significa “doar,
ofertas materiais aos deuses era universal. reservar.” Designa um presente ou um conjunto de
ofertas reservadas para o Senhor fora do santuário,
A religião bíblica não é uma exceção nesta área de
então trazidas ao santuário e entregues a Deus73.
práxis de adoração. Com efeito, as ofertas desem-
penham um papel significativo nos serviços do san- O poder dessas ofertas expiatórias não estava no sa-
tuário do Antigo Testamento e no culto cristão do crifício da própria vítima, mas em Deus, que por Sua
Novo Testamento. Nós exploraremos neste artigo a graça, atribuía essa função a elas, (Levítico 17:11).
riqueza do material bíblico sobre este assunto. Em al- Em outras palavras, a eficácia expiatória estava na
guns casos, chamarei a atenção para a terminologia disposição de Deus para perdoar os pecados de Seu
usada para se referir às ofertas, mas o nosso interesse povo, (veja Levíticos 4:26, 31).
principal foca nos diferentes tipos de ofertas men- As ofertas de sacrifício expiatório pareciam ter uma
cionados na Bíblia. Exploraremos principalmente os função limitada. Na verdade, sua única função era
princípios teológicos ou ideias religiosas associadas apontar para Deus como o único que poderia ex-
a essas ofertas, a fim de resumir os elementos fun- piar o pecado. O próprio Antigo Testamento atesta
damentais da teologia e prática de ofertas na Bíblia. a ineficácia final das ofertas expiatórias para alcan-
çar o perdão e, ao mesmo tempo, identifica o único
meio eficaz de expiação. Davi reconheceu que o seu
pecado não poderia ser removido através de ofertas
de sacrifícios de animais, (Salmo 51:16). Sua única
esperança era confiar exclusivamente no amor e na
compaixão de Deus, (versos 1, 2). Quando se trata do
resgate da vida humana, nenhum sacrifício animal
é caro o suficiente para realizá-lo: “Homem algum
pode redimir seu irmão ou pagar a Deus o preço de
sua vida, pois o resgate de uma vida não tem preço.
Não há pagamento que o livre para que viva para
sempre e não sofra decoposição74”, (Salmos 49:7-9)
É impossível para os seres humanos trazer uma ofer-
ta ao Senhor generosa o suficiente para resgatarem
a si mesmos. Deus é o único que poderia prover a
shutterstock
oferta, e Ele a fez. Isaías previu o trabalho futuro do
Messias que, embora rejeitado pelo Seu povo, foi
II. Ofertas no Antigo Testamento oferta expiatória de Deus, provida por Ele, para re-
O Antigo Testamento menciona as ofertas com mui- denção deles. O Senhor fez “a vida dele uma oferta
to mais frequência do que o dízimo. Em um livro de pela culpa” (Isaías 53:10). Ele levou o pecado de mui-
interesse sobre o culto ao Deus único e verdadeiro, tos e foi contado com os transgressores, (versículo
as ofertas têm lugar e função de destaque. Adoração 12), a fim de declará-los justos, (v. 11).
e ofertas são praticamente inseparáveis no Antigo Nenhuma oferta humana poderia realizar o que a
72 Para a religião babilônica ver Helmer Ringgren, Religiões do Antigo Oriente Próximo (Philadelphia: Westminster, 1973), p. 81, 82, 109-20; e para o
Egito consultar Siegfried Morenz, Religião egípcia (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1973), p. 87, 88, 94-99.
73 Isto foi sugerido por Jacob Milgrom, Levítico 1-16 (New York: Doubleday, 1991), p. 474. Para uma discussão sobre a etimologia do substantivo ver
Gary A. Anderson, Sacrifícios e ofertas no Antigo Israel (Atlanta, GA: Scholars Press, 1987), p. 137-44.
74 Todas as citações bíblicas são da NVI.
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Além da função desse sacrifício expiatório, duas ou- louvor, agradecimento e confissão84. A oferta foi
tras razões são dadas para trazê-la ao Senhor. Levíti- apresentada depois de experimentarem o livramen-
co 22:17-20 descreve uma oferta votiva e uma ofer- to de alguns perigos. Foi “um produto do desejo es-
ta voluntária. Uma oferta votiva foi interposta após o pontâneo de realizar um ato público, expressando
cumprimento de um voto. Uma pessoa que apresen- gratidão numa ação, para as bênçãos que foram
tou um pedido ao Senhor e solenemente prometeu desfrutadas85.” A ocasião era para ser alegre86, (Deu-
dar uma oferta depois de receber uma resposta da teronômio 27:7, Salmo 95:2).
oração81. Oferta levada em uma ocasião alegre, na Um par de novos elementos foi introduzido para
qual a pessoa expressou sua gratidão ao Senhor que esclarecer o significado das ofertas no Antigo Tes-
responde orações82, (cf. Salmo 61:8; Naum 1,15). O tamento. Em primeiro lugar, essa oferta pode ser de
holocausto, a oferta queimada, poderia também ser material beneficente para aqueles que oferecem.
uma oferta voluntária. Foi, então, que trouxe para o Como vimos, a maior parte é devolvida ao doador
Senhor “por devoção, não por causa de preceito ou para facilitar a adoração coletiva com membros da
de promessa83;” uma expressão de amor a Deus. família e amigos. Todos compartilham ou partici-
Com base em nossos comentários anteriores, pode- pam da oferta trazida por um deles. Em segundo
mos concluir que uma oferta é um expressão tan- lugar, a oferta poderia ser um veículo para expressar
gível do compromisso total de uma pessoa para o gratidão e louvor a Deus por Suas bênçãos e poder
Senhor, trazida a Ele por gratidão e amor. É para ser para libertar do mal. Foi, em essência, uma expres-
trazida para o centro de adoração e entregue aos são de gratidão ao pacto de Deus.
escolhidos por Deus para recebê-la. É esperado tra- C. Outras ofertas
zer o melhor que se pode oferecer com base nos Várias outras ofertas são mencionadas no Antigo
seus recursos financeiros. Testamento. As “ofertas de cereais” são chamadas
2. Ofertas pacíficas (Levítico 3:1-17) em hebraico Minchãh, que significa “uma dádiva,
A oferta pacífica se diferencia do holocausto (oferta tributo.” Em Levítico, é um termo técnico usado para
queimada) de várias maneiras. A vítima do sacrifício designar uma oferta de cereais transformada em fa-
poderia ser uma fêmea do rebanho doméstico ou rinha, cozida ou crua e misturada com óleo, (Levíti-
selvagem. As fêmeas eram mais caras. A maior par- co 2:1-10). Foi dado ao Senhor, mas Ele deu a maior
te da carne da vítima sacrificial era devolvida para o parte para o sacerdote oficiante.
adorador para comer em companhia de sua família No Antigo Testamento, o termo Minchãh designa
e amigos, (Levítico 7:11-21). Ao trazer a oferta para um presente dado a um superior que foi reconheci-
o holocausto, (oferta queimada), o indivíduo não se do como mestre ou governante sobre a pessoa que
beneficiava materialmente, mas, no caso da oferta deu o presente (ver Juízes 3:15; 2 Samuel 8:2, 6). Ao
pacífica, ele ou ela se beneficiava. Isso permitia que trazer uma Minchãh = oferta de alimentos ofereci-
um grupo pudesse vir junto para adorar a Deus. da a Deus, os israelitas estavam declarando em lin-
Havia três tipos de ofertas pacíficas: de voto, de li- guagem ritual que YAHWEH foi a aliança do Senhor
vre arbítrio e as ofertas de ação de graças (Levítico e eles eram Seus súditos87. O fato de que era uma
7:12, 16). Todas elas eram ofertas voluntárias. Elas oferta de cereais pode sugerir que os frutos da terra
poderiam ser trazidas para cumprir uma promessa foram reconhecidos como resultado das bênçãos do
ou como ato de devoção pessoal a Deus, à seme- Senhor88. No entanto, observe que, o que foi levado
lhança da oferta queimada. O novo elemento é o foi a farinha, não o grão. Através de seu trabalho, eles
aspecto gratidão. O hebraico tôdãh = “ação de gra- transformaram o grão em farinha. Deus e os homens
ças” é utilizado na Bíblia para expressar as ideias de estão trabalhando em conjunto, e quando os seres
81 Ver T. W. Cardoso, “Confessar”, na Enciclopédia da Bíblia International Standard (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1986), vol. 4, p. 998 (doravante citado
como ISBE).
82 Veja Leonard J. Coppes, “Nrdar fazer um voto”, Vocabulário em Teologia do Antigo Testamento, editado por R. Laird Harris (Chicago, IL: Moody,
1980), vol. 2, p. 1309 (doravante citado como TWOT).
83 Roland de Vaux, Antigo Israel: Instituições religiosas (McGraw-Hill, 1961 Nova Iorque) vol. 2, p. 417.
84 Veja G. Mayer, “Ydh”, no Dicionário Teológico do Antigo Testamento, vol. 5, editado por G.J. Botterweck e Helmer Ringgren (Grand Rapids, MI: Eerd-
mans, 1974), p. 428 (doravante citado como TDOT).
85 Noordtzij, Levítico, p. 83.
86 Veja Ralph H. Alexander, “Yrdrh confessar, louvar, agradecer,” TWOT vol. 1, p. 365.
87 Wenham, Levítico, p. 69.
88 Hartley, Levítico, p. 30, depois de constatar que a parcela deste holocausto sobre o altar é chamado “um memorial,” sugere que o prazo “transmite
a ideia de que a pessoa que faz esta oferta está lembrando-se da graça de Deus em dar-lhe o seu alimento diário.”
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era encontrar no coração do povo uma respos- Asmos e a Semana do Tabernáculo, (Deuteronômio
ta positiva, e Ele encontrou. Consequentemente, 16:16). Em cada uma dessas ocasiões, deles era espe-
trouxeram como oferta ouro, prata, bronze, pedras rado trazer ao Senhor uma oferta chamada mattãnãh
preciosas, fios, linho fino, peles de animais, madeira, = “oferta”, a partir do verbo ãn = “para dar”, que desig-
óleo de oliva e especiarias, (Êxodo 25:2-7). Cada um, na entre outras coisas, um presente dado por um pai
homens e mulheres, trouxeram algo de seus bens, para seu filho, (cf. Gênesis 25:6) e o presente de Deus
(Êxodo 35:5), na verdade, eles trouxeram mais do para o sacerdócio de Arão, (Números 18:07; comparar
que era necessário, (Êxodo 36:6-7). os versículos 6 e 29). Era uma oferta frequentemente
Esta oferta especial é chamada de terûmãh, uma dá- solicitada por uma boa e amorosa disposição, de uma
diva dedicada a Deus e em seguida, levadas ao Se- pessoa para outra, (Compare Ester 9:22).
nhor. Todas as ofertas foram levadas para um lugar No contexto destas três ofertas, Deuteronômio
central e dadas a Moisés que era responsável pela 16:16-17 faz várias declarações importantes. A pri-
distribuição e deveria administrá-las para o projeto meira: “nenhum deles deverá apresentar-se ao Se-
pretendido. nhor de mãos vazias”, (versículo 16). Ofertas devem
Quando o primeiro grupo de exilados estava pron- ter um lugar no culto coletivo. Quando chegassem
to para retornar a Jerusalém, em 539 a. C., seus vi- diante de Deus, as pessoas deviam trazer algo a Ele
zinhos providenciaram para eles presentes, ofertas como um testemunho do recebimento de Suas
voluntárias, para serem usados na reconstrução do bênçãos. Estas eram ofertas voluntárias, (verso 10),
templo, (Esdras 1:6). Em 457 a. C., Esdras voltou com que expressavam alegria pelo cuidado e proteção
outro grupo de exilados. Desta vez, o rei, seus con- de Deus. A segunda declaração: “cada um de vocês
selheiros e diretores, e os judeus fizeram uma doa- trará uma dádiva conforme as bênçãos recebidas do
ção, (terûmãh = “oferta”) para apoiar os serviços do Senhor, o seu Deus”, (versículo 17). A tradução literal
templo, (8:25). Esdras manteve anotações cuidado- da última parte da frase seria, “como a bênção do
sas sobre esta oferta, (8:26-30). Senhor, seu Deus, a qual Ele lhe deu.” O montante da
Sempre que os reparos no templo eram necessários, oferta seria diferente de pessoa para pessoa, porque
uma oferta era coletada das pessoas para essa fina- seria baseado no princípio da proporcionalidade - a
lidade. Em 2 Crônicas 24:6-9, tal oferta é chamada quantidade refletida (era na proporção) no quanto
ma’s’eth. Esse substantivo é baseado no verbo nãsã’, o Senhor havia abençoado o indivíduo. A terceira
que significa “para levantar, carregar”, sugerindo que declaração: “...conforme as bênçãos recebidas” (ver
o substantivo designava um presente ou uma oferta versículo 17), indica que precede as doações divinas
de “algo que é levado para outra pessoa,” neste caso, e torna possível a doação humana. O texto suge-
para o Senhor99. Durante o tempo do rei Joás, quan- re que Deus derrama Suas bênçãos a todos e, que
do o templo estava sendo reparado, um cofre foi quando uma pessoa vem antes dEle, ele ou ela teria
colocado fora do templo para recolher esta oferta. A sempre uma razão e algo para dar ao Senhor, (com-
Bíblia afirma que o povo trouxe esta oferta voluntá- pare Ezequiel 46:5, 11).
ria com alegria100, (2 Crônicas 24:10). É interessante notar que as ofertas especiais que te-
Uma oferta especial foi solicitada pelo Senhor du- mos discutido, bem como as outras ofertas, foram
rante a dedicação do altar e do santuário, (Números necessárias ou solicitadas por Deus e elas ainda
7). Cada tribo enviou os seus dons, (qorbãn, versícu- eram expressões voluntárias de alegria e gratidão.
lo 3), através dos seus representantes. Suas ofertas Parece que Deus estava usando o sistema de ofertas
consistituíam de sacrifício de animais, utensílios de para ensinar os israelitas a forma de expressar ale-
ouro e prata, farinha e incenso, que eram neces- gria, gratidão e muitos outros sentimentos de devo-
sários para começar os serviços do santuário101. Os ção a Ele. Surpreendentemente, o Senhor interpre-
israelitas foram responsáveis pela disponibilização tou o deixar de levar as ofertas a Ele, como um ato
de recursos suficientes para operar os serviços do de roubo, (Malaquias 3:6-8). Isso foi, provavelmente,
santuário, e cumpriram essa responsabilidade pelas baseado no princípio de que, se Deus abençoou o
suas ofertas. povo, Ele tinha direito a um presente de gratidão
deles, através do qual Ele seria reconhecido como
Três vezes por ano os israelitas faziam uma peregri- seu Senhor. Deste modo, Deus os protegeu de cair
nação a Jerusalém para celebrar as festas dos Pães no hediondo pecado de idolatria. Privá-Lo de ofer-
99 Walter C. Kaiser, “Nrsr” ,TWOT 2, p 602.
100 Essa oferta pode ter sido instituída por Moisés. Ver 2 Crônicas 24:9 e Êxodo 30:11-16; 38:25, 26; cf Neemias 10:32.
101 Veja Levine, Números, p. 247, 256.
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entrado em contato com as Escrituras Hebraicas e uma violação do voto de usar a propriedade ou a
acreditado nas profecias messiânicas encontradas lá posse de aliviar as suas necessidades109, pode-se
(veja Números 24:17). construir um caso de negligência aos pais de cada
Os magos não chegaram a Jesus de mãos vazias, mas um. Jesus condenou essa prática, alegando que
trouxeram consigo os presentes para o novo rei. O violava o quinto mandamento. O princípio exem-
termo dõron = “dar, oferecer” é o grego equivalente plificado aqui dá a impressão de que ser um bom
ao termo hebraico qorbãn, usado no Antigo Testa- mordomo também significa atender às necessida-
mento para se referir aos presentes e ofertas de sa- des dos nossos parentes. Em outras palavras, a nossa
crifício (veja Hebreus 5:1). Neste caso, em particular, entrega a Deus deve ser equilibrada pela nossa res-
estes foram presentes de homenagem. Eles tinham ponsabilidade para com nossos familiares, porque
vindo, de acordo com suas próprias palavras, para cuidar deles, suprindo suas necessidades faz parte
“adorá-lo”, (Mateus 2:2). O ato de adoração pode ser da nossa experiência religiosa.
entendido como “significante homenagem e sub- 3. Ofertas e compromisso com o Senhor
missão” ao rei messias107. Mas, no contexto de Ma- Dar uma oferta a Deus não é automaticamente um
teus, “Jesus é a manifestação da presença de Deus, reflexo do nosso compromisso absoluto com Ele. A
(Mateus 1:23), o Filho de Deus, (2:15) em um sentido viúva pobre trouxe uma oferta voluntária ao templo,
único e, portanto, de um a ser adorado108.” possivelmente como uma expressão de gratidão e
Nessa passagem, um presente caro/oferta está asso- amor a Deus, (Lucas 21:1-4). Os ricos também trou-
ciado com os conceitos de adoração, homenagens xeram as suas ofertas voluntárias. Jesus comparou e
e submissão. Tais ofertas são expressões tangíveis avaliou suas doações e selecionou a oferta da viúva
desses sentimentos e atitudes. Através de suas ofer- como um verdadeiro dom. Seus olhos perceberam
tas, os magos estavam reconhecendo a grandeza e que os ricos deram “suas sobras, a viúva deu a partir
a superioridade deste grande Rei de Israel. do que ela nem sequer tinha110.” Ambos deram para
2. Ofertas e Relações Interpessoais sustentar os serviços do templo, mas para os ricos,
Jesus, como os profetas do Antigo Testamento, não dar esta oferta foi uma formalidade religiosa que
separou a devoção religiosa, expressa por trazer uma poderia ser satisfeita com um mínimo, um símbo-
oferta ao Senhor, da interação ética e social adequa- lo, não do que eles poderiam dar, mas do que eles
da. Uma oferta reflete não só um estado de paz com estavam dispostos a dar. Não era uma expressão de
Deus, mas também com a própria comunidade de envolvimento pessoal profundo com Deus.
aliança. Viver em harmonia com os outros foi quase Isso restabelece um princípio encontrado no Velho
um pré-requisito para uma oferta. Isto parece o que Testamento e em partes do Novo Testamento: Não
Jesus quis dizer quando afirmou: “Portanto, se você é a quantidade dada, mas o nível do próprio com-
estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali promisso com o Senhor, que faz a oferta aceitável
se lembrar de que seu irmãos tem algo contra você, diante dEle. A viúva queria dar uma oferta e ela trou-
deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro re- xe a única coisa que ela tinha, duas moedas de bai-
conciliar-se com seu irmão; depois volte e apresen- xo custo, confiando que Deus proveria para ela. Sua
te sua oferta”, (Mateus 5:23-24). Uma oferta perde o oferta baseou-se em uma decisão. Na verdade, era
seu valor como uma expressão de amor e gratidão a baseada em uma fé, na qual a sua gratidão e amor a
Deus, se esta vem de um coração em guerra com os Deus prevaleceu. Ela veio do fundo do seu ser. Para
outros. As dimensões, vertical e horizontal, da nossa os ricos, a oferta não tinha nenhum significado pro-
experiência religiosa, se cruzam no ato de adoração fundo, foi uma experiência superficial, uma formali-
através de uma oferta. dade em que a fé em Deus era inativa.
Outro aspecto da relação entre oferta e os relaciona- 4. Ofertas e verdadeira benevolência
mentos com outros está contida na crítica de Jesus O que acabamos de afirmar sugere que a verdadei-
sobre a prática judaica do Corban, (Marcos 7:10-12). ra benevolência é mais do que partilhar ou fazer
Uma pessoa poderia dedicar ao Senhor suas pro- doação. Tem a ver com a condição interna da pes-
priedades, tornando-as indisponíveis para qualquer soa, a força espiritual de um amor por Deus. Este
outro membro da família. Ao argumentar que seria entendimento exclui o egoísmo do ato de doação.
107 Donald A. Hagner, Mateus 1-13 (Dallas, TX: Palavra, 1993), p. 28.
108 Ibid, p. 28. Veja Ulrich Luz, Mateus 1-7: Um Comentário Continental (Minneapolis: Fortress Press, 1989), p. 137.
109 Ver C. Brown “Korban”, no Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol 2, editado por Colin Brown (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1976), p. 43 (doravante citado como NIDNTT).
110 John Nolland, Lucas 18:35-24:53 (Dallas, TX: Palavra, 1993), p. 979.
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fica que ele não queria dar a impressão de que ele A recusa de Paulo em aceitar a oferta, não foi uma
estava se aproveitando da igreja119, (2 Coríntios 11:9; rejeição da prática bílbica apoiada pelo Senhor e
12:14-18). que havia se tornado uma prática aceita na igreja
No entanto, Paulo estava ciente do fato de que ele para o apoio do ministério evangélico, (cf. 1 Pedro
tinha o direito ao apoio financeiro da igreja, (2 Tes- 5:2). Ele estava simplesmente usando sua liberdade
salonicenses 3:9). Em 1 Tessalonicenses 2:7, ele diz para proclamar o evangelho sem despesas para os
à igreja, “embora, como apóstolos de Cristo, pudés- Coríntios, a fim de proteger a integridade de seu mi-
semos ter sido um peso, fomos bondosos quando nistério apostólico.
estávamos entre vocês...” Ele defende este direito 2. Paulo como o destinatário de Ofertas
em termos fortes em 1 Coríntios 9:1-18. Como um Nem todas as igrejas dos gentios aceitaram a de-
apóstolo, ele argumenta, ele tem os mesmos direi- cisão de Paulo para trabalhar na proclamação do
tos que os apóstolos, os direitos que Coríntios tem evangelho sem receber pagamento. Apesar de
reconhecido no caso de outros apóstolos120. Ele jus- sua relutância, as igrejas na Macedônia o apoiaram
tifica o seu direito apostólico de apoio das igrejas quando ele estava em Corinto, (2 Coríntios 11:9). É
com diversas ilustrações baseadas no uso do senso em Filipenses 4:10-19 que Paulo analisa o impacto e
comum: o serviço militar em sua própria despesa é significado da generosidade dos macedônios.
praticamente inimaginável, um agricultor tema a li- Enquanto estava na prisão, Paulo recebeu a visita
berdade de comer as uvas que ele plantou, e um de Epafrodito, um mensageiro das igrejas na Mace-
pastor tema o direito de se beneficiar do leite das dônia. Ele trouxe com ele uma oferta das igrejas de
suas ovelhas, (verso 7). Paulo. Na epístola aos Filipenses, Paulo discute a im-
Paulo também apela para a autoridade do Antigo portância desta oferta e diversos estados de coisas
Testamento, citando Deuteronômio 25:4 e, con- importantes.
cluindo, “Se entre vocês semeamos coisas espiritu- Primeiro, a oferta da Macedônia era uma expressão
ais, seria demais colhermos de vocês coisas mate- de preocupação ou interesse em Paulo, como um
riais? Se outros têm direitro de ser sustentados por pregador do evangelho, (Filipenses 4:10). O verbo
vocês, não o temos nós ainda mais?”, (1 Coríntios phrone traduzido “interessados” é difícil de traduzir.
9:11, 12). Para isso, ele acrescenta um argumento Ele combina as ideias de pensar e de simpatia, ou
a partir dos serviços do santuário: Os levitas eram apego emocional123 do intelecto e da vontade124.
apoiados por todos os dízimos e os sacerdotes eram Não significa apenas para pensar em alguém, mas
apoiados pelo dízimo dos dízimos e porções das para ter sinceros interesses e disposto a fazer algo
ofertas sacrificais levadas para o altar, (versículo 13). por aquela pessoa. Este tipo de preocupação procu-
Paulo está usando a lei do Velho Testamento do dí- ra uma oportunidade de expressar-se de uma forma
zimo como um modelo para o cristão doador121. De tangível. A oferta dos macedônios não era o resul-
acordo com Paulo, as normas do Velho Testamen- tado de uma explosão emocional, mas foi baseada
to foram apoiadas pelo próprio Jesus: “da mesma em uma análise racional, sobre o reconhecimento
forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o de uma necessidade real de alguém com quem eles
evangelho, que vivam do evangelho”, (versículo 14). eram emocionalmente e espiritualmente unidos e,
A frase “da mesma forma”, sugere que a regra do Ve- com cuja missão pudessem identificar-se. Eles cui-
lho Testamento é válida não só para os judeus, mas davam de Paulo, em pensamento e ação, e a oferta
para os Cristãos. O Senhor ordenou à igreja aplicar a foi a prova desta preocupação125. Isso sugere que
mesma regra para o apoio do ministério da igreja. O a oferta deveria ser a expressão de uma séria pre-
verbo “comandar” é uma tradução de diatásso que ocupação e interesse pelo bem-estar da Igreja e no
significa “dar ordem”, “emitir um decreto”, ou “respon- cumprimento da sua missão.
sável para cobrar122.” Designa uma declaração oficial
e autorizada, no caso vinda do Senhor. Segundo, através desta oferta, os macedônios par-
119 J. M. Evert, “Suporte Financeiro”, no Dicionário de Paulo e Suas Cartas, editado por Gerald F. Hawthorne e Ralph Martin (Downers Grove, IL: Inter
Varsity Press, 1993), p. 296 discute várias razões para a recusa de Paulo (doravante citado como DPL).
120 Veja Conzelmann Hans, 1 Coríntios (Philadelphia: Fortress Press, 1975), p. 152.
121 Veja o nosso documento, “Mordomia e a Teologia do dízimo”.
122 eja Gerhard Delling, “Diatáss”, no Dicionário Teológico do Novo Testamento, vol. 8, editado pelo Gerhard Kittle e Gerhard Friedrich (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1972), p. 34, 35 (a seguir citado como TDNT).
123 Veja Gerhard F. Hawthorne, Filipenses (Waco, TX: Word), p. 22.
124 Veja J. Goetzmann, “Phron’sis”, NIDNTT vol. 2, p. 617.
125 Veja Bertram Georg, “Phr’n”, TDNT vol.9, p. 233.
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por ele. Paulo mantinha registros adequados de sua (3) Bênçãos de Deus. Paulo lembra aos coríntios
oferta e enviou-lhes um recibo. que a abundante graça de Deus pode prover o que
3. Paulo e a Coleta: uma oferta especial eles precisam, a fim de permitir-lhes dar, (2 Coríntios
A teologia de Paulo de um plano de ofertas, de uma 9:8-11). Observe que o dom divino se origina na gra-
maneira muito especial em sua discussão e inter- ça de Deus e não é reação da parte de Deus à oferta
pretação da “coleta”, mostra que ele juntou entre dos Coríntios, Deus não está pagando-as140. Suas
as igrejas dos gentios para a igreja de Jerusalém135. bênçãos são atos da graça, que oferecem a opor-
Esta oferta especial foi tão importante que ele men- tunidade para os coríntios compartilharem o que,
ciona em várias de suas epístolas, (Romanos 15:25 graciosamente, receberam do Senhor.
- 28, 1 Coríntios 16:1-4 e 2 Coríntios 8, 9). Para es- A bênção divina, diz Paulo, resulta em autarkeia =
clarecer seus significados teológicos e relevância, “autossuficiência”: Deus proverá todas as suas ne-
vamos examinar os conceitos e princípios de Paulo cessidades141, (verso 8). Paulo associa a autossufi-
associados com esta oferta. ciência com a riqueza econômica. Mas a autossu-
a. A motivação para dar. Além da óbvia necessida- ficiência é para ele um dom de Deus e não, como
de da igreja em Jerusalém, Paulo nos proporciona se acreditava em algumas escolas contemporâneas
uma série de afirmações que parecem dar uma mo- de filosofia, o resultado sério da autodisciplina in-
tivação teológica para dar à coleta. dependente de Deus é baseado em uma tentativa
de viver em harmonia com a razão142. Em Filipen-
(1) Dom da graça de Deus. Em 2 Coríntios 8:1 Paulo ses 4:12, 13 ele afirma independência de circuns-
direciona os Coríntios para a graça de Deus, dada às tâncias externas ou autossuficiência na base de
igrejas da Macedônia, o que os moveu a contribuir sua confiança ou dependência do poder de Deus
para a coleta. Isso poderia ser interpretado como que a fortalece143. Paulo também compreende a
significando que a graça de Deus operou neles, autossuficiência como sendo capacitada por Deus
criando uma disposição para dar136, ou que a gra- “para relacionar de forma mais eficaz com as outras
ça salvadora de Deus alcançou as igrejas como um pessoas, não retirar-lhes”144 auxiliando-os quando
dom através da proclamação do evangelho. Neste necessário. Paulo parece considerar a autossuficiên-
último caso, o fato de que Deus deu o Seu Filho, cia financeira como atingível porque a riqueza e a
como um ato de graça para a salvação dos mace- graça de Deus não são necessariamente exclusivas.
dônios, motivou a doação137. Mas, ambas as ideias Segundo ele “a riqueza deve ser vista como um dom
estão corretas no contexto. Os macedônios deram de beneficência de Deus e não como resultado de
uma oferta, porque a graça de Deus se manifestou uma realização puramente humana145.” A oferta dos
em Cristo como um dom de salvação e essa mesma Coríntios deve ser motivada pela convicção de que
graça estava trabalhando em seu coração138. Deus é quem fornece o suficiente para eles compar-
(2) O exemplo de Cristo. Em 2 Coríntios 8:9 Paulo tilharem com os outros. Dessa forma, eles são esti-
resume o conteúdo de uma mensagem que ele de- mulados a superar o egoísmo.
senvolveu em Filipenses 2:6-11: “pois vocês conhe- b. Doação Planejada. Contribuir para a coleta não
cem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sen- era para ser um ato acidental, mas bem planejado.
do rico, se fez pobre por amor de vocês, para que Paulo menciona pelo menos três elementos impor-
por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos.” tantes na organização da oferta.
A boa vontade de Cristo em dar tudo para a igreja
era um revelação sublime do amor que deveria mo- (1) Com base em sua renda mensal. Paulo não exi-
tivar os Coríntios a dar uma oferta para os pobres ge uma quantidade específica de dinheiro de cada
em Jerusalém139. membro da igreja, mas usa um princípio bíblico a
135 Para um resumo da discussão acadêmica sobre as questões históricas e teológicas associadas a coleta, nós nos referimos ao leitor S. McKnight,
“Coleta para o Santos,” DPL, p. 143-147. Fornece informações bibliográficas importantes.
136 Veja Victor P. Furnish, 2 Coríntios (New York: Doubleday, 1984), p. 399, 413.
137 Veja Hans Dieter Betz, 2 Coríntios 8-9 (Philadelphia: Fortress, 1985), p. 42.
138 Veja Ralph P. Martin, 2 Coríntios (Waco, TX: Verbo, 1986), p. 252, 53.
139 Betz, 2 Coríntios, p. 61.
140 Com Furnish, 2 Coríntios, p. 447.
141 Betz, 2 Coríntios, p. 110.
142 Veja Furnish, 2 Coríntios, p. 448; G.Kitte, “Autarkeia”, vol. TDNT 1, p. 466; B. Siede, “Arke”, NIDNTT vol 3, p. 727.
143 P. T. O’Brian, “Mysticism”, DPL, p. 625.
144 Furnish, 2 Coríntios, p. 448.
145 Betz, 2 Coríntios, p. 110.
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mente, (2 Coríntios 9:11, 13). O termo grego para objetiva. Foi “uma expressão tangível da unidade
“generosidade” é um dos mais importantes, mas um de judeus e gentios151.” Os judeus compartilhavam
dos mais difíceis de traduzir. A tradução comum é as bênçãos espirituais com os gentios, e agora os
“simplicidade, sinceridade”. O termo é difícil de tra- gentios dividem a suas bênçãos materiais com os
duzir, porque tem uma série de significados que são judeus, (Romanos 15:27). Houve apenas uma igreja,
expressos, em inglês, por diversos termos diferentes. universal, caracterizada por um espírito de verda-
Em 2 Coríntios 8:2, o termo é usado para descrever deira comunhão em Cristo. Paulo percebeu que era
os Macedônios como pessoas de “simplicidade, sin- necessário para a Igreja, a nível mundial, expressar
ceridade, retidão, franqueza”, bem como “generosi- essa unidade na mensagem e na missão e, ele en-
dade e liberalidade.” Juntos, esses termos expressam controu nesta oferta um canal através do qual es-
o antigo ideal da vida simples. De acordo com este tas poderiam ser realizadas. As bênçãos materiais e
ideal cultural, das pessoas que vivem a vida simples, espirituais das igrejas pertenciam, por assim dizer, à
pode-se esperar que mostrem generosidade em única Igreja de Cristo.
suas doações e em sua hospitalidade149. O terceiro objetivo da coleta era o de promover
Para Paulo, a vida simples e generosa do cristão é igualdade financeira, (2 Coríntios 8:13-15). É a igual-
uma imitação da atitude do seu Senhor, (2 Coríntios dade produzida pela “escassez ou abundância de
8:9). Às vezes, essa generosidade se manifesta dan- saldo que deve existir entre as igrejas152.” O concei-
do mais do que se é capaz de dar (8:3), mas Paulo to subjacente é o de parceria, koinnia, sugerida em
espera que o Coríntios só deem de acordo com suas Atos 2:44 e 45153. É útil observar que Paulo está ba-
possibilidades. Mesmo assim, eles deveriam tentar seando seu argumento em uma passagem do An-
se destacar em doação para abundar na graça de tigo Testamento: “quem tinha recolhido muito não
dar, (8:7). teve demais, e não faltou a quem tinha recolhido
(4) Dar e doar-se. Paulo ficou impressionado com pouco...”, (Êxodo 16:18). O convite para a igualdade é
a participação inesperada dos macedônios na cole- baseada no entendimento de que é Deus que prevê
ta e creditou sua disposição altruísta ao fato de que o que é necessário. Ao compartilhar suas bênçãos,
“entregaram-se primeiramente a si mesmos ao Se- os fiéis trabalhavam com Deus na criação de igual-
nhor e, depois, a nós...”, (2 Coríntios 8:5). Toda oferta dade financeira na igreja. Aqueles que têm bastan-
é, em certo sentido, a oferta do indivíduo na consa- te para compartilhar com aqueles que têm menos,
gração a Deus e no serviço para Sua igreja, (“nós”). “mas que haja igualdade”, (2 Coríntios 8:13). A distri-
Assim, a oferta é a personificação de uma disposição buição equitativa da riqueza pode não ser uma pos-
do coração, da nossa vontade de entregar e consa- sibilidade no mundo, mas deve ser uma realidade
grar nossa vida ao Senhor. dentro da igreja.
d. Finalidade da coleta. A primeira e a mais óbvia O quarto objetivo da coleção foi expressar o amor
finalidade da coleta foi para suprir as necessidades cristão. Participar da coleta foi uma prova de sinceri-
materiais da Igreja em Jerusalém, (Romanos 15:26, 2 dade e amor dos Coríntios, (2 Coríntios 8:8; compare
Coríntios 9:12). Mas este não era um simples ato de verso 24). Esta questão está intimamente relaciona-
benevolência social. Paulo se refere a ele como “um da com a unidade da Igreja, porque o amor une a
serviço” (liturgia) e, embora esse termo seja usado igreja em Cristo. A oferta fornece a oportunidade
na literatura grega para designar um serviço reali- para o amor levar um conceito ou ideia para o cam-
zado em sua própria despesa, em um sentido não- po da conduta cristã como um princípio ativo. Os
-religioso, o contexto de 2 Coríntios 9:12 indica que Coríntios prometeram participar na coleta, mas não
ele está sendo usado por Paulo em um sentido reli- tinham feito a promessa verdadeira. Agora, Paulo os
gioso, significando “serviço, adoração.” A oferta dada desafia a demonstrar o amor em ação, (2 Coríntios
para suprir as necessidades da igreja em Jerusalém 9:1-5).
foi um ato de adoração ao Senhor150. O quinto objetivo da coleta foi o louvar a Deus. Pau-
O segundo objetivo da coleta era o de fortalecer lo disse que a oferta redunda “em muitas expressões
a unidade da igreja e dar expressão a ela de forma de gratidão a Deus154”, (2 Coríntios 9:12). Porque iria
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propriedade, e prometeram dar todo o dinheiro, ou (compare Efésios 4:4, 5) - eles eram um em Cristo, e
talvez uma parte dele, para a igreja. O dinheiro foi isto foi demonstrado “em sua prontidão de atender as
dado aos apóstolos, que eram responsáveis por ad- necessidades dos outros161.” A unidade espiritual ex-
ministrá-lo, (Atos 4:37). Isso pode ter sido o sistema pressa-se em manifestações tangíveis do amor, e nes-
estabelecido pela igreja e seguido pelos crentes. te caso particular, a oferta desempenhava esse papel.
Como a igreja cresceu, tornou-se evidente que os 2. Ofertas Especiais
apóstolos não puderam gerir as finanças da igreja e Atos 11:27-30 faz referência a uma oferta especial
ao mesmo tempo, anunciar o evangelho em tempo enviada pela Igreja de Antioquia para Jerusalém.
integral. Eles logo descobriram que era impossível fa- Esta foi outra oferta voluntária. O Profeta Ágabo pre-
zer as duas coisas bem feitas. O problema tornou-se disse a vinda de uma grande fome para o Império
grave quando um grupo reclamou que algumas vi- Romano e isso moveu a igreja a “providenciar ajuda
úvas estavam sendo negligenciadas na distribuição para os irmãos que viviam na Judéia”, (Atos 11:29).
de pão, (Atos 6:1-6). Os apóstolos solicitaram uma Foi um fundo especial a ser utilizado nas próximas
revisão dos processos administrativos, de modo que emergências. Cada um dava o que poderia pagar, e
os apóstolos reuniram-se com todos os discípulos na a oferta foi dada a Barnabé e Saulo para levar para
igreja (membros da Igreja) e juntos, eles aprovaram a igreja em Jerusalém. A oferta “foi motivada pelo
um novo plano. Como resultado, sete homens foram amor de Cristo, expressava a solidariedade da co-
eleitos para serem responsáveis pela distribuição do munhão cristã, e mostrou que Deus havia recebido
pão. No processo de seleção procuraram os indiví- os gentios na igreja. A congregação de Antioquia
duos que estavam “cheios do Espírito e de sabedo- não pensava em si como isolada da igreja mãe em
ria”, (Atos 6:3). Em outras palavras, dois títulos impor- Jerusalém. Ela pensou naturalmente, em enviar aju-
tantes foram necessários. Primeiro, eles deveriam ser da para outra parte do corpo que estava com difi-
os líderes espirituais comprometidos com o Senhor culdade162.” Essa oferta pode ter previsto o modelo
e possuídos pelo Espírito e, segundo, esperava-se teológico que Paulo usou para a sua coleta para a
que tivessem algum conhecimento de como lidar igreja em Jerusalém.
com questões administrativas, em especial gestão Atos nos diz que os membros da igreja colocaram
de fundos160. A combinação destes dois elementos seus pertences no serviço da Igreja. Isto foi basea-
indica que a administração das finanças da igreja do em seu entendimento de que Deus era o verda-
não é uma questão de contabilidade secular, mas é deiro dono de tudo o que tinham. Sua vontade de
uma questão profunda e essencialmente espiritual. dar era o resultado do trabalho da graça de Deus
Alguns importantes conceitos teológicos estão no em seus corações. Aqueles cujas ofertas foram mo-
fundamento da oferta em questão. Como a maioria tivadas pelo egoísmo, foram rejeitadas. A oferta foi
desses conceitos foram discutidos no contexto de ou- dada a Deus, apesar de ter sido recebida por seus
tras ofertas, vamos mencioná-los brevemente aqui. A
oferta era um excesso da graça de Deus nos corações
dos fiéis e é associada com a afirmação de que “gran-
diosa graça estava” sobre os crentes, (Atos 4:33). A im-
plicação é que, dentro da comunidade dos cristãos, a
graça de Deus tomou a forma de uma séria preocupa-
ção com os pobres da igreja. Sua graça os levou a dar.
Além disso, devemos observar a percepção dos mem-
bros da igreja com suas propriedades: “Ninguém con-
siderava unicamente sua, coisa alguma que possuísse,
mas compartilhavam tudo o que tinham”, (Atos 4:32).
Seu conceito de propriedade foi radicalmente modifi-
cado por meio do evangelho. Eles sabiam quem era o
verdadeiro dono. Finalmente, com a coleta de Paulo, a
oferta foi um testemunho de unidade na igreja, “uma
era a mente e um o coração”, (Atos 4:32). Eles tinham
um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus shutterstock
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cativo para eles, que às vezes alguns cristãos davam se expressam de maneiras diferentes na vida dos
ofertas além seus recursos. crentes e, uma dessas maneiras é através de uma
Em resumo, poderíamos dizer que o que motiva os oferta tangível, acompanhada por uma confissão da
cristãos a dar ofertas, é seu amor por Deus, um amor bondade do Senhor. Uma oferta é a forma que os
generoso cujo foco de atenção é Deus e os seres nossos sentimentos e atitudes, em relação ao amor
humanos. Dar motivados por uma sede de autore- de Deus, assumem em um ato de adoração.
conhecimento está fora de lugar na vida cristã. Je- Em quinto lugar, uma oferta aceitável é uma ofer-
sus desafiou os crentes a darem tranquilamente, em ta voluntária. Uma oferta não deve ser trazida para
silêncio, esperando a recompensa de Deus. O ego- o Senhor, sob compulsão ou relutantemente, mas
ísmo mancha a oferta e a torna inaceitável a Deus. voluntariamente. O fato de que o Senhor espera e
Uma oferta, também não deve ser dada para obter exige de nós ofertas, não deve nos levar a concluir
ou ganhar a simpatia, o amor ou reconhecimento que é mais um fardo para o crente. Deus quer que
de Deus. É somente através do sacrifício de Cristo experimentemos a alegria de dar, que enriquece
que somos aceitos por Deus. nossas vidas.
Este último comentário nos leva, logicamente, a Em sexto lugar, uma oferta aceitável reflete nosso
uma definição de uma oferta aceitável. Diversos ele- compromisso com a mensagem e missão da igre-
mentos aparecem na Bíblia para nos ajudar a definir ja. Uma vez que acreditamos que Deus está usando
este termo. Em primeiro lugar, uma oferta aceitável sua Igreja para proclamar o evangelho e preparar o
é aquela que é uma expressão da nossa auto-oferta mundo para a Segunda Vinda de Cristo, devemos
a Deus. Em nossos dons, devemos dar-nos a Deus, estar dispostos a colocar nossos recursos financeiros
renovando nosso compromisso com ele. Uma oferta para o serviço do plano de Deus para a humanida-
é para ser uma experiência profundamente religio- de. Isso significa que, dando as nossas ofertas para
sa, porque é um símbolo de uma vida inteiramente a igreja estamos realmente dando a Deus para pro-
entregue ao Senhor. mover e desenvolver o último aspecto do plano de
Em segundo lugar, uma oferta aceitável é um teste- salvação. Não existe maior causa a ser encontrada
munho do fato de que Deus está em primeiro lugar na Terra onde possamos aplicar os recursos que te-
na vida do crente. Porque Ele foi reconhecido como mos recebido de nosso Senhor.
Senhor, a melhor e a mais cara dádiva é trazida até Em sétimo lugar, uma oferta aceitável é aquela que
Ele, com base nos recursos da pessoa. A oferta se vem de um coração em paz com Deus e com os
torna um ato de homenagem e submissão Àque- outros. O ato de adoração pressupõe que a religião
le que nos redimiu e agora é nosso Senhor. Ao se- e ética não devem ser compartimentadas ou sepa-
parar a oferta antes de usar ou investir o dinheiro radas uma da outra. Lidar corretamente com os ou-
em qualquer outra coisa, nós estamos dizendo ao tros é um dever religioso tanto quanto trazer uma
Senhor e para nós mesmos, “Senhor, você está em oferta a Deus. De modo especial, tratar os outros
primeiro lugar na nossa vida.” com justiça significa prover as necessidades de nos-
Em terceiro lugar, uma oferta aceitável é uma ex- sos parentes. O zelo por Deus e Sua causa não deve
pressão de fé em Deus, no cuidado providencial por nunca levar os cristãos a darem ofertas ao Senhor,
nós. Esta oferta vem de um coração que confia em que resultariam em negligência às necessidades de
um Deus pessoal que provê as nossas necessidades suas famílias. Supri-los também faz parte do nosso
como Ele as vê. Quando uma oferta é dada a partir dever religioso.
de um excedente, tende a se tornar uma mera for- Finalmente, uma oferta aceitável, embora espontâ-
malidade, um ato ritual desprovido de devoção. Fé nea, é ao mesmo tempo sistemática. Espera-se que
em Deus é sempre buscar uma forma de expressar o nosso plano de dar, seja com base em nossa ren-
isso, de tornar significativo. Nossas ofertas fornecem da. O montante a ser dado é para ser separado em
um possível canal para expressar nossa fé em um casa, com a família, e depois trazido para a nossa
ambiente de culto. igreja e entregue ao Senhor. Isso nos protege da do-
Em quarto lugar, uma oferta aceitável é a personifi- ação baseada na motivação emocional.
cação da gratidão, ação de graças, alegria e amor do Nosso último ponto levanta a questão da logística
doador. São respostas à experiência do amor reden- no sistema bíblico de ofertas. A Bíblia fornece algu-
tor e providencial de Deus. No pensamento bíblico o mas orientações sobre a coleta e gestão de ofertas.
ser interior revela sua natureza e finalidade por meio Já mencionamos que o montante é basedo nas
de ações. As respostas positivas do amor de Deus bênçãos recebidas do Senhor e que é para ser defi-
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V. Debate 3. Discuta Filipenses 4:10-19. Apesar da relutância de
Paulo, por que as igrejas na Macedônia insistiram
Discussão sobre as ofertas no Antigo Testamento em apoiar o seu ministério?
1. Discuta o propósito real por trás das “ofertas de 4. Listar os princípios espirituais na teologia de Paulo
sacrifício expiatório.” sobre as ofertas, como mencionadas em Roma-
2. Que lições podem ser tiradas a partir do fato de nos 15:25-28, 1 Coríntios 16:1-4 e 2 Coríntios 8 e 9.
que os animais utilizados para o “holocausto” 5. Que lições podem ser aprendidas com a insistên-
eram listados com base em seu valor financeiro? cia de Paulo de que as pessoas bem qualificadas
3. Ao apresentar uma “oferta de alimentos”, o que e de confiança levassem a oferta de Corinto para
estava sendo expresso? Jerusalém?
4. Que princípios divinos podem ser extraídos ao 6. Em Atos 4:32, o que observamos foi a percepção
levar as primícias da terra a Deus? dos membros da igreja sobre seus bens pessoais?
5. Quais são os três princípios ilustrados na “oferta 7. Quais são os três principais e interrelacionados
especial” que os Israelitas eram obrigados a trazer conceitos teológicos atrás da prática de trazer
três vezes por ano? ofertas ao Senhor?
Discussão sobre as ofertas no Novo Testamento 8. Defina “oferta aceitável” a Deus.
1. Discutir as implicações da declaração: “Buscar o 9. Que fins específicos, para trazer uma oferta ao Se-
autorreconhecimento através da nossa oferta é nhor, menciona a Bíblia?
absolutamente incompatível com a verdadeira
benevolência.”
2. O que estava por trás da decisão de Paulo de re-
nunciar ao seu direito de apoio financeiro para o
seu ministério?
Página
Sumário
I. Introdução ............................................................ 58
II. Fundamentos para a prática cristã do Dízimo.... 58
A. Origem pré-israelita
B. Apoiado por Jesus
C. Implícitas em Paulo
D. Perspectivas positivas em Hebreus
E. Resumo
III. Elementos de descontinuidade .......................... 60
A. Conectado ao Santuário/Templo
B. Conectados com Levitas e Sacerdotes
C. Levitas davam um dízimo aos Sacerdotes
IV. Em busca de princípios ....................................... 61
A. Procedimentos diferentes no Antigo Testamento
B. Relevância da Teologia do Dízimo
C. Destinatários dos dízimos são nomeados por Deus
D. Ministros e o Dízimo
V. Local de Depósitos: O princípio ........................... 61
A. O Local de Depósitos no Antigo Testamento
B. Arrecadação e distribuição de Dízimo no Antigo Testamento
1. Sistema dizimal segundo 2 Cr 31:5-12
2. Sistema dizimal segundo Neemias
C. Princípios Transferidos para a Igreja
VI. Dízimo na Igreja Primitiva ................................. 64
A. O Silêncio do Novo Testamento
B. O dízimo na Igreja pós-apostólica
VII. Conclusão .......................................................... 66
VIII. Debate .............................................................. 87
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57
I. Introdução baseado em evidência recolhidas do Velho e Novo
Testamento.
Nosso estudo anterior, sobre o dízimo na Bíblia, indi-
A. Origem pré-israelita
cou que a prática e a teologia do dízimo encontram
sua origem no Antigo Testamento. Isto levanta al- Já vimos que, no Antigo Testamento, dizimar não era
gumas questões sobre a relevância desta lei para a uma exigência cerimonial imposta por Deus sobre
Igreja Cristã. Em que medida esta transferência é vá- os israelitas, única e exclusivamente como resultado
lida e defensável? Se defensável, quanto desta legis- do pacto que Ele fez com eles no Sinai. Embora a
lação deveria ser incorporada na igreja e sob quais origem desta prática seja desconhecida para os his-
fundamentos isso deve ser feito? Existe alguma toriadores das ideias e práticas religiosas, achamos
evidência no sentido de que os cristãos apoiaram mencionada no Antigo Testamento antes que hou-
o ministério evangélico através de seus dízimos? Te- vesse um israelita. Naquele tempo era considerado
mos de enfrentar e lidar com estas questões, a fim ser algo comum entre o povo de Deus, como evi-
de revelar a base bíblica para a prática do dízimo na denciado na experiência de Abraão e Jacó, (Gn 14
Igreja Cristã. Neste assunto, pode-se detectar ime- e 28). Curiosamente, Abraão deu seu dízimo a um
diatamente elementos de continuidade e descon- rei e sacerdote que vivia em uma cidade Cananéia,
tinuidade entre os dois Testamentos que deveriam mas que adorava o Senhor. O dízimo foi recebido
ser levados a sério por quem procura entender este aqui por uma pessoa que não estava relacionada ao
tópico importante. patriarca, sugerindo que essa prática não era para
ser limitada a um único grupo étnico.
B. Apoiado por Jesus
A declaração de Jesus, registrada em Mateus 23:23
e Lucas 11:42 é um claro endosso do dízimo163.
Jesus está condenando os Fariseus de serem ex-
tremamente cuidadosos em dizimar, contudo, ne-
gligenciando “a justiça e o amor de Deus”, (Lucas
11:42). Ou, como propõe Mateus, “negligenciando
os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a
misericórdia e a fé”, (23:23). Jesus está ecoando a
mensagem de Amós: zelo religioso e compromisso
com a justiça, a misericórdia e o amor devem ser
mantidos juntos, (cf. Lc 18:12). Depois acrescentou:
“Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aque-
las, (dizimar)”.
shutterstock Pode-se argumentar que Jesus estava falando como
um judeu e que, portanto, não se deve tomar seu
II. Fundamentos para a prática comentário como tendo algum valor para os cris-
cristã do Dízimo tãos porque depois da cruz o sistema chegou a um
O chamado aos cristãos para apoiar o ministério do fim164. Mas essa linha de argumentação carece de
evangelho através de seus dízimos é, geralmente, sério fundamento165. A passagem faz a atitude de
163 Leiland Wilson, “O Antigo Testamento e o dízimo”, Baker’s Dictionary of Practical Theology (Dicionário de Prática Teológica de Baker) (Grand
Rapids, MI: Baker, 1967), p. 357.
164 Esse argumento é usado, por exemplo, por Norval Geldenhuys, Commentary on the Gospel of Luke (Comentário no Evangelho de Lucas) (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1951), p. 342; e Craig L. Blomberg, Neither Poverty Nor Riches: A Biblical Theology of Material Possessions (Nem a pobreza
nem a riqueza: A Teologia Bíblica dos Bens Materiais) (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), p. 136. Não existe base exegética para apoiar a suges-
tão de que o que Jesus estava na verdade afirmando era: “Observe sua meticulosa regra se você gosta, mas, para isto, não negligencie as coisas
que realmente importam” (R. T. France, Matthew (Mateus) [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1985], p. 328). Melhores são as sugestões oferecidas por
Barclay M. Newman and Philip C. Stine, a saber, “mas você não deve esquecer-se de fazer as outras também,” “mas isso não significa que você não
precisa cumprir essas leis menores” (A Translator’s Handbook on the Gospel of Matthew (Um Manual de Tradutor no Evangelho de Mateus) [New
York: United Bible Societies, 1988], p. 738).
165 Há pelo menos dois outros incidentes no ministério de Cristo que podem sugerir para alguns que, durante seu ministério Ele endossou o sistema
Judaico, mas que a mudança ocorreu após a cruz. Por exemplo, ele incentivou povo a oferecer sacrifícios no templo (Mt 5:23-24), mas sabemos que
o Novo Testamento considera o sistema sacrifical ter chegado ao fim com a morte sacrificial de Cristo. No entanto, o próprio Jesus estava ciente
do fato de que o sistema sacrificial ia chegar a um fim. Ele disse à mulher samaritana que o tempo viria quando pessoas não mais adorariam em
Jerusalém (João 4:21-24), então sugerindo que o sistema sacrifical do templo estava chegando ao fim. Outro caso é o do leproso que Ele curou
(Mateus 8:1-4 / Marcos 1:40-44). Jesus lhe disse para ir para o templo, ao sacerdote, sugerindo que a lei da lepra e da função sacerdotal ainda era
válida. Até o momento, a razão para enviá-lo ao sacerdote não foi a obedecer a lei do culto, mas sim que ela pode servir como um testemunho
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se sugerir que, de maneira simbólica, Abraão estava III. Elementos de descontinuidade.
dando o seu dízimo para “Jesus”.
Dito isto, é necessário compreender que, a respei-
E. Resumo
to do dízimo, existem diferenças significativas entre
Podemos concluir que dizimar, certamente, não é o Antigo e o Novo Testamento, que devemos levar
incompatível com a mensagem cristã e que esse em consideração antes de chegar às conclusões.
ato não pode e não deve ser circunscrito ao sistema As diferenças são importantes, mas como veremos,
cerimonial do Antigo Testamento. A este respeito, o elas não indicam uma mudança radical no sistema
próprio Antigo Testamento aponta para o fato de ou uma descontinuidade radical.
que o sistema do dízimo existia como expressão
A. Conectado ao Santuário/Templo
de convicção religiosa muito antes de existir um
israelita. Para o cristão, o dízimo não é apenas uma Dizimar foi associado no Antigo Testamento com
prática do Antigo Testamento, sem relevância para o santuário/templo como a morada de Deus entre
os crentes, mas parte da compreensão cristã da o seu povo. Os cristãos consideram o templo israe-
verdadeira mordomia. Poderia, de fato, sugerir-se lita totalmente desnecessário, pois agora eles têm
que “a prática dos cristãos de dizimar, cresce fora da acesso ao santuário celeste onde Cristo está inter-
tradição hebraica e, é aí que descobrimos seu rico cedendo por eles diante do Pai. A igreja, como local
significado172.” de reunião para os cristãos, não é o equivalente ao
templo israelita. No Novo Testamento é, certamen-
Na questão do dízimo, o pouco que o Novo Testa-
te, chamada de um templo espiritual, mas não deve
mento diz sobre isso, sugere conformidade com os
ser confundida com um templo da mesma natureza
princípios do Antigo Testamento de devolver a Deus
e função como o Israelita. O antecedente histórico
um décimo de tudo que ganhamos e nos lembrar
das igrejas cristãs é, na verdade, a sinagoga judaica,
da sua finalidade e significado. O Novo Testamen-
que era um lugar de culto e estudo das Escrituras. O
to condena o dízimo como uma manifestação de
cristianismo não tem um lugar central de adoração
auto retidão e desafia o crente a praticar também a
que pode ser associado a um sistema de dízimo.
justiça, misericórdia e amor, (Lucas 18:12; Mt 23:23).
A finalidade básica de dizimar continua a mesma: o B. Conectados com Levitas e Sacerdotes
Senhor os usa para fornecer àqueles que dedicam O culto do Antigo Testamento estava sob o controle
suas vidas para a proclamação do evangelho. O sig- de um sistema sacerdotal e era para os levitas e os sa-
nificado teológico de dizimar no Antigo Testamento cerdotes que Deus dava o dízimo. Este não é o caso
encontra-se no alicerce do dízimo cristão. do Novo Testamento. O sistema sacerdotal chegou
ao fim com a morte, ressurreição e ascensão de Je-
sus, que agora é o único que ocupa o cargo sacerdo-
tal na igreja. Não há levitas na igreja. Os ministros do
evangelho não podem ser vistos como sacerdotes.
Seu ministério é modelado após o ministério terreno
de Cristo, e não após o sistema sacerdotal do Antigo
Testamento. A igreja cristã não tem sacerdotes e levi-
tas para receber o dízimo do povo.
C. Levitas davam um dízimo aos Sacerdotes
No sistema israelita, os levitas recebiam o dízimo e,
em seguida, davam um dízimo aos sacerdotes. Como
não há sacerdotes na igreja cristã, é simplesmente
impossível seguir esta prática. É óbvio que no Antigo
Testamento, dizimar estava diretamente ligado à ad-
ministração Levítica do dízimo, tornando impossível
transferir para o Novo Testamento o mesmo sistema
shutterstock que encontramos no Antigo Testamento.
lida. Mas esta leitura da passagem ignora o fato de que o que Paulo está discutindo é a lei relativa à descendência genealógica do sacerdote. Seu
argumento é que se houver um novo sacerdote de acordo com a ordem de Melquisedeque, então a lei que exigia que todos os sacerdotes devessem
ser descendentes de Aarão não é mais válida. Essa lei foi alterada e não pode ser aplicada a Jesus, que não era descendente de Abraão. Essa mesma
lei também exigia que os descendentes de Levi, que se tornaram sacerdotes seriam responsáveis pela coleta do dízimo (7:5). Mas com uma mudan-
ça na lei, Paulo parece estar dizendo, já não é exigido dos cristãos que deem o dízimo aos levitas. Veja que Paulo não está dizendo que o dízimo não
é mais válido, mas sim que o sistema estabelecido para sua arrecadação entre os Israelitas não é aplicável à igreja porque não existem levitas nela.
172 Wilson “Tithe”(Dízimo), p. 357.
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os israelitas trouxessem seus dízimos. A implicação
óbvia é que havia uma casa do tesouro centralizada.
No Reino do Norte de Israel haviam dois centros de
culto e, aparentemente, as pessoas traziam seus dí-
zimos para ambos, (Amós 4:4).
B. Arrecadação e distribuição de dízimo no Anti-
go Testamento.
Mais informações sobre arrecadação e administra-
ção do dízimo são fornecidas em 2 Crônicas e Ne-
emias, a partir do período pré-exílico e pós-exílico,
respectivamente. Ambas as passagens precisam ser
consideradas.
1. Sistema dizimal segundo 2 Cr 31:5-12
Durante a reforma cultural do rei Ezequias, um siste-
123rf
ma para recolhimento e distribuição dos dízimos foi
A. O Local de Depósitos no Antigo Testamento estabelecido em Judá que pode refletir a forma de
Os dízimos eram obviamente levados para algum como o sistema funcionava, não só durante o tem-
lugar específico e ali armazenados. Identificar a casa po deste rei, mas também durante a monarquia. En-
do tesouro não é muito difícil, uma vez que Mala- tre as características mais importantes do sistema,
quias 3:10, explicitamente, identifica isso para nós: encontramos:
“Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que a) Centralização da arrecadação de dízimos e ofer-
haja mantimento em minha casa... “. O substantivo tas: Como resultado da apostasia do Rei Acaz e do
“casa do tesouro” é uma tradução do termo hebraico povo de Judá, o templo tinha sido fechado e o povo
bayith, “casa, templo, palácio”. Este é o mesmo termo parou de trazer seus dízimos e ofertas. Durante a re-
usado na cláusula seguinte, traduzido por “na minha forma, Ezequias pediu que o povo trouxesse as suas
casa”. Bayith é utilizado com muita frequência no ofertas e dízimos ao templo. A resposta foi extrema-
Antigo Testamento para designar o templo como mente positiva e uma grande quantidade de bens
“casa/palácio” do Senhor. A casa do tesouro estava materiais para o apoio dos levitas e sacerdotes foi
localizada no complexo do Templo e consistia de recolhida, (2 Crônicas 31:4-8). Novos locais de de-
salas especiais construídas com o objetivo específi- pósitos foram construídos no templo para guardar
co de guardar os dízimos e outras ofertas. Isto pode tudo o que trouxeram, (v. 11).
sugerir que a distribuição dos dízimos também foi b) Levitas foram escolhidos para receber dízimos e
centralizada. ofertas: Dois levitas, Conanias e Simei, eram encarre-
Há várias outras passagens em que o dízimo é, im- gados de armazenar os dízimos e ofertas no templo.
plícito ou explicitamente, associado com o santuá- Nesta tarefa, eles eram auxiliados por outros dez le-
rio/templo. De acordo com Números 18:21, o dízi- vitas. O rei Azarias, oficial encarregado do templo,
mo era dado aos levitas por seu trabalho na “tenda atribui-lhes essa responsabilidade, (v. 12-13).
da congregação”, ou seja, o santuário. Uma conexão c) A distribuição dos dízimos e ofertas foi centra-
mais direta entre o santuário e o dízimo é encontra- lizada: Um levita e outros seis indivíduos foram de-
da em 18:24. Os israelitas separavam o dízimo em signados para a distribuição dos dízimos e ofertas.
casa, traziam-no ao Senhor e apresentavam-no a Ele Esses indivíduos foram para as cidades dos sacerdo-
como uma oferta. A apresentação do dízimo como tes “distribuírem as porções a seus irmãos, segundo
oferta deve ter ocorrido no santuário. seus turnos, tanto aos pequenos como aos grandes”,
Segundo Deuteronômio 12:5 e 6, os israelitas deve- (v. 15) . Eles também distribuíram o dízimo “exceto
riam levar as suas ofertas e dízimos para o Senhor a aos que estavam registrados nas genealogias dos
um local definido como “o lugar que o SENHOR vos- homens, de três anos para cima”, (v. 16).
so Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali Acrescido a isso, era responsabilidade deles de atribuir
pôr o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali porções aos levitas com mais de vinte anos e suas es-
vireis.” Deveriam ter feito isto uma vez que eles en- posas e filhos, com base nos registros genealógicos,
traram na terra de Canaã. O Senhor queria que eles (v. 17-18). Os homens eram designados a dar uma par-
tivessem um lugar de culto e esse se tornaria o seu cela para os descendentes de Abraão, “que moravam
santuário. Era para este lugar que se esperava que nos campos dos arredores das suas cidades”, (v. 19).
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riam enviar seus dízimos. Segundo, indivíduos espe- Senhor179” Em sua abordagem para o dízimo, Ellen
cíficos foram escolhidos para recolher e distribuir o G. White confirmou os princípios bíblicos e aplicou-
dízimo. Ninguém deveria assumir esta responsabi- -os para a vida da igreja e seus membros. O que o
lidade importante por si mesmo. Terceiro, o dízimo Senhor havia indicado através das Escrituras tem
era dado aos indivíduos selecionados por Deus para sido confirmado pelo seu ministério profético.
serem o beneficiário do mesmo. Ninguém poderia
nomear-se para receber o dízimo dos israelitas. Na VI. Dízimo na Igreja Primitiva.
igreja cristã, essas pessoas foram identificadas como Vimos até agora que o Novo Testamento tem uma
trabalhadores do evangelho. Finalmente, o sistema atitude positiva no que diz respeito ao dízimo. Não
centralizado permitiu os postos externos arreca- há nenhuma evidência de que os apóstolos rejeita-
darem e distribuírem o dízimo. Isto foi feito sob o ram ou se opuseram a ele, considerando-o irrelevan-
controle e a supervisão de indivíduos devidamente te para os crentes. A pergunta que devemos abordar
nomeados para executar essas tarefas. agora é a que diz respeito à prática cristã do dízimo.
Esta informação bíblica tem servido a nossa igreja Existe alguma evidência no Novo Testamento ou na
como um guia no desenvolvimento do seu sistema igreja primitiva que os cristãos praticavam o dízimo?
de dízimo e a definição e identificação do depósito
na igreja. Na verdade, o sistema é muito semelhan-
te ao encontrado em Israel durante a época de Ne-
emias. Ele considera a associação local como a casa
do tesouro: “Reconhece-se que o nível da Associação
local de organização denominacional é a ‘casa do te-
souro’ de que todos os dízimos devem ser enviados
e, a partir da qual, o ministério do evangelho é sus-
tentado. Para a conveniência dos membros da igreja,
o dízimo é direcionado para a Associação, através da
igreja local, onde os membros são ajudados174.”
Os adventistas têm tido o privilégio de contar entre
eles, a presença dos escritos de uma profetisa, atra-
vés da qual, Deus nos deu instruções específicas so-
bre a arrecadação, uso e distribuição dos dízimos175.
Ela escreveu: “Chegou o tempo em que os dízimos shutterstock
e ofertas pertencentes ao Senhor devem ser utiliza-
dos na realização de um trabalho decidido. Eles de- A. O silêncio do Novo Testamento.
vem ser trazidos para a casa do tesouro para serem Quanto ao Novo Testamento, não é difícil responder
utilizados de uma forma ordenada para sustentar a essa pergunta: Não temos provas explícitas do dí-
os obreiros do evangelho em sua obra176.” Isso era zimo na igreja apostólica. Temos de ser cuidadosos
para ser feito através da Igreja como uma estrutura sobre como interpretar essa falta de evidência. De-
organizacional. Organização foi considerada por ela vemos ter em mente que qualquer conclusão que
parte essencial para a igreja177. O “tesouro” ao qual possamos chegar deve ser baseada no silêncio do
ela se refere é o tesouro denominacional178. Porque Novo Testamento e não em qualquer evidência his-
a arrecadação e distribuição do dízimo eram cen- tórica ou textual e que, consequentemente, seria de
tralizadas, ela foi capaz de dizer: “Ninguém se sinta valor limitado.
na liberdade de reter o dízimo, para empregá-lo se-
O Novo Testamento deixa claro que as igrejas for-
gundo seu juízo. Não devem servir-se dele numa
neciam o bem-estar dos apóstolos e trabalhadores
emergência, nem usá-lo segundo lhes pareça justo,
do evangelho. No entanto, é evidente que, às vezes,
mesmo no que possam considerar como obra do
174 “Working Policy” (Política do Trabalho), Seção T, 05 20
175 Para um estudo mais detalhado do local de deposto nos escritos de Ellen G. White, consulte o folheto por Edward G. Reid, In search of the Sto-
rehouse (Em Busca do alpendre) (Burleson, TX: União Southwestern, 1998). Para um estudo mais detalhado do dízimo em os escritos de Ellen G.
White, ver meu artigo, “Tithing in the Writings of Ellen G. White” (O dízimo nos escritos de Ellen G. White) GC Manejo de Departamento, 2001.
176 Manuscript Releases (Manuscritos Libertos) vol. 19, p. 376.
177 Testemonies to Ministers (Testemunhos para Ministros), p. 26.
178 Roger W. Coon, Tithing: Ellen G. White’s Counsel and Pratice,(Dízimo: Conselho e Prática de Ellen G. White) (Hagerstown, MD: Review, 1991), p. 3.
179 Testemonies for the Church (Testemunhos para a Igreja), vol. 9, p. 247.
Página
180 O estudo Inglês mais recente do dízimo na igreja primitiva é encontrado em Stuart Murray, Beyond Tithing (Além do Dízimo), (Waynesboro, GA:
Paternoster Press, 2000), p. 93-132. Ele tenta mostrar que o dízimo dificilmente era um elemento importante na igreja pós-apostólica.
181 J. Christian Wilson “Tithing” (Dízimo), Anchor Bible Dictionary (Diconário Bíblico ncora), vol. 6, editado por David Noel Freedman (New York:
Doubleday, 1992), p. 580. Epifânio, bispo de Salamina (c.315-403), é relatado como dizendo que dízimo e circuncisão não são exigidos aos cristãos
(ver Haer, 50).
182 Against Heresies IV, XVII (Contra Heresias IV, XVII) (ANF I:848-49).
183 Cyprian, On the Unit of the Church, the fathers of the Church (Sobre a Unidade da Igreja, os Pioneiros da Igreja), ed. Schopp Ludwig (New York,
NY: Cima, 1947), vol. 36, p. 120.
184 Cyprian, Epistle LXV1 (Epístola LXV.1), (ANF, vol. 5, p. 367).
185 F. L. Cross, ed, The Oxford Dictionary of the Christian Church (O Dicionário Oxford da Igreja Cristã) (New York: Oxford University Press, 1958), p. 73.
186 “Apostolic Contituitions” (Constituição Apostólica), II.4.25 (ANF, vol. 7, p. 409). Em outra parte, encontramos a seguinte instrução: “Eu mesmo farei
uma Constituição em matéria de primeiros frutos e os dízimos. Que todas as primícias devem ser levadas ao bispo, aos presbíteros e aos diáconos,
para a sua manutenção, mas vamos ser todos os dízimos para a manutenção do restante do clero, das virgens e viúvas, e daqueles que estão sob
o julgamento de pobreza. Para as primícias pertencem aos sacerdotes e aos diáconos, que ministram a eles “(VIII.4.30 [Ibid., p. 494]).”
187 Citado por Lukas Vischer, “Tithing in the Early Church” (O Dízimo na Igreja Primitiva), (Philadelphia, PA: Fortress, 1966), p. 16
188 Wilson, Tithe (Dízimo), p. 580.
189 Cassian, Conference Nesteros (Conferência Nesteros) I.7 (NPNF, vol. 11, p. 437).
Página
OsValores.com.br 65
rios que estavam ansiosos para oferecer dízimos e as pectos fundamentais do mesmo, que sempre per-
primícias de sua subsistência190.” . maneceram válidos e que podem ser transferidos
No final do século IV, dizimar parece ter sido uma do sistema israelita para a igreja cristã. O próprio An-
prática regular na igreja oriental e foi usado para o tigo Testamento indica que o sistema levítico não é
sustento do clero e dos pobres191. Agostinho, (c.354- indispensável para o sistema de dízimo bíblico. Isto
430) veio representar uma tradição cristã em que permite uma transferência do sistema para a igreja
dizimar era aceitável aos cristãos como um padrão
mínimo para dar192. Foi em 585 d.C., durante o se-
gundo Sínodo de Macon, que o dízimo se tornou
oficialmente uma exigência eclesiástica e, aqueles
que se recusavam a pagá-lo eram ameaçados com
excomunhão193. O dízimo tornou-se uma exigência
legal na época de Carlos Magno, imperador roma-
no medieval, (c.742-814) e era pago para igrejas e
clérigos. De fato, a lei estipulava que o dízimo fosse
dividido “em três partes - para o bispo e o clero, para
os pobres e para manutenção da indumentária da
igreja... Uma vez que o pagamento do dízimo tor-
nou-se questão de obrigação legal, excomunhão
ou penalidades temporais eram decretadas contra
aqueles que recusavam a pagar194.”
Este breve levantamento dos primórdios da histó- shutterstock
190 Cassian, Conference Theonas (Conferência Theonas) I.1 (NPNF, vol. 11, p. 503).
191 Vischer, Tithes (Dízimos), p. 12.
192 Ver Ibid., p. 17-20.
193 E. Sehling, Tithe II. Ecclesiastical (Dízimos II. Eclesiástica), em Enciclopédia New Schaff-Herzog de conhecimentos religiosos, vol.11, ed. SM Jackson
(Grand Rapids, MI: Baker reimpressão, 1977), p. 454. Ver também J. A. MacCulloch, “Tithes” (Dízimos) Encyclopedia of Religion and Ethics (Enciclo-
pédia de Religião e Ética), vol. 12, ed. James Hasting (Edimburgo: T & T Clark, n.d.), p. 349. Louis J. Swift escreveu: “Embora pareça ter havido um
consenso durante os primeiros séculos sobre a obrigação de dízimar, a primeira declaração coletiva sobre o assunto aparece no Sínodo de Macon
em 585..., o qual impôs a todos os cidadãos a devolver o dízimo para apoiar o trabalho da igreja” (“dízimo”, na Encyclopedia of Early Christianity
(Enciclopédia do cristianismo primitivo), vol. 2, editado por Everett Ferguson [New York: Garland, 1998], p. 1134).
194 MacCulloch, Tithe (Dízimo), p. 349.
Página
Sumário
I. Introdução ............................................................ 68
II. Fundamentação Teológica .................................. 68
A. Conceitos Teológicos Gerais
B. Conceitos Teológicos Específicos e Dízimo
1. Origem e Perpetuidade: Bondade da Lei
2. O pecado, Deus, o Dízimo e a Interação Humana-Divino
C. Natureza do Dízimo
D. Conclusão
III. Motivação para o Dízimo ................................... 74
A. Qualidade de vida espiritual e o Dízimo
B. Motivação para o Dízimo
C. Sonegação do Dízimo
D. Conclusão
IV. Logística do Dízimo ............................................ 78
A. Ensinar o sistema do Dízimo
B. Coleta do Dízimo
C. Rendas não dizimáveis
D. Conclusão
V. Usos do Dízimo .................................................... 80
A. Determinando o Uso
B. O uso específico do Dízimo
C. O uso excepcional do Dízimo
D. Utilização incorreta do Dízimo
E. Conclusão
VI. Uso Pessoal do Dízimo por Ellen G. White ......... 84
VII. O segundo Dízimo ............................................. 85
VIII. Conclusão Geral ............................................... 86
IX. Debate ................................................................ 87 Página
67
I. Introdução nos escritos de E. G. White requer identificar a co-
nexão histórica e conceitual entre Deus e dízimo e,
Este artigo vai explorar o conceito, a prática e a fun- o tipo de relacionamento que o dízimo pressupõe
damentação teológica para o dízimo nos escritos de entre Deus e o indivíduo. Temos de encontrar res-
Ellen G. White. Detalhes históricos entrarão na dis- postas às seguintes perguntas: Quem é o Deus que
cussão quando necessário, mas o foco principal será exige um dízimo de Sua criatura e sobre que funda-
a nível conceitual e pragmático. Seus escritos reve- mentos Ele reivindica isso? Qual é a natureza desse
lam crescimento em sua compreensão ao tema do dízimo? Que significado tem o dízimo sobre a quali-
dízimo, mas, dificilmente, qualquer alteração signifi- dade da relação entre Deus e o indivíduo?
cativa em seu ponto de vista195. Nós não encontra-
A. Conceitos Teológicos Gerais
mos uma teologia explícita do dízimo, desenvolvida
de uma forma sistemática, mas sim, conceitos que No contexto de suas discussões sobre o dízimo,
ela associa a isso e que nos fornecem uma janela existem vários lugares onde Ellen G. White se refere
para explorar os aspectos teológicos que formaram a Deus como o Criador196. Ao utilizar esse título para
seus pontos de vista e o conselho que ela deu à Deus, não é sua intensão simular especulações teo-
igreja. É óbvio que as passagens bíblicas a respeito lógicas sobre natureza de Deus ou sobre o mistério
da importância e do uso do dízimo foram a principal do Seu ato criador e Seus poderes, mas claramente
influência no seu entendimento sobre o dízimo. para estabelecer ou definir o relacionamento entre
Deus e o universo. No que diz respeito ao univer-
so, Ele, como Criador, pode afirmar: “Eu sou o dono
do universo197.” O Criador não abandonou o mundo
que Ele criou nas mãos de seres humanos ou dos
poderes malignos, Ele é o Senhor. Divina proprieda-
de universal só pode ser devidamente alegada por
Ele. Essa convicção teológica específica vai determi-
nar a forma como Ellen G. White entende o papel do
ser humano em relação a Deus e ao resto da criação.
O fato de que Deus é o dono do Universo, revela o
Seu poder sobre tudo o que Ele cria, mas não fala
da natureza deste poder. Isso simplesmente esta-
belece que Ele tenha o direito de ser o Senhor de
Sua criação e que Ele “tem direito sobre nós e tudo
o que temos198” Portanto, Ellen G. White introduz
outro aspecto do caráter de Deus que funciona
123rf
como um apoio teológico para o dízimo, ou seja,
II. Fundamentação Teológica Seu amor e bondade. Tem sido por conta de Sua
“bondade e amor” que Ele nos afasta “de catástro-
Explorar a fundamentação teológica para o dízimo
195 O sistema de dízimo se desenvolveu vagarosamente entre os pioneiros adventistas. Como a Igreja estava crescendo, se tornou evidente que fon-
tes financeiras eram necessárias para proclamar a mensagem e pagar trabalhadores de tempo-integral. Em 1858 uma classe bíblica sob direção
de J. N. Andrews estudou os princípios bíblicos para a sustentação do ministério. Como resultado, um plano chamado “Benevolência Sistemática”
for formulado em 1859, e posto em prática para motivar os membros da igreja a prover os fundos necessários. O sistema de dízimo bíblico origi-
nalmente não fazia parte, mas foi mais tarde, em 1860, acrescido ao mesmo. No plano, o dízimo era limitado à renda da propriedade, e aqueles
que não tinham propriedade deveriam dar doações pessoais. O sistema rudimentar foi sustentado por Ellen G. White quem desde 1857 estava
encorajando os membros da igreja a serem liberais em suas doações para a causa (Testimonies [testemunhos] 1:170). Em 1859 ela se referiu ao
plano de Benevolência Sistemática como “agradável a Deus” (Ibid., p. 190). Em 1861 estava claro para ela que o plano tinha que incluir trazer a
Deus dízimos e ofertas. Ela escreveu, “Não roube de Deus retendo dEle seus dízimos e ofertas. Essa é a primeira obrigação sagrada, dentre a Deus
uma porção agradável” (Ibid., p. 221). Mas ela não o define daquilo que devia ser dado, e não especificou o seu uso. De fato, primeiramente os
pioneiros não diferenciavam entre o uso dos dízimos e o uso das ofertas. A partir de 1876, os líderes da igreja perceberam que existiam defeitos no
plano, particularmente a respeito da base sob a qual o dízimo era contado. Foi então estabelecido e votado que um décimo deveria ser dado sob
qualquer renda recebida. Desde então, Ellen G. White frequentemente escrevia sobre o que constituía um dízimo adequado e a maneira específica
que deveria ser usado. Para mais detalhes da história do dízimo na IASD veja, Arthur L. White, “Highlights of the Beginning of the Tithing System,”
[Principais Pontos do Começo do Sistema de Dízimo] Unpublished Ellen G. White Estate Shelf Document, 1990; Arthur L. White., Ellen G. White: The
Early Years [Os Primeitos Anos], vol. 1 (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1985), pp. 380-393; “Systematic Benevolence” [Benevolência Sistemáti-
ca], “SDA Encyclopedia, vol. 2, edited by Don F. Neufeld (Hagerstown, MD: Riview and Herald, 1996), pp. 735-738.
196 E.g.,“Amazing Grace” [Maravilhosa Graça], p. 151; “Tithing and Offerings” [Dízimos e Ofertas], “Southern Watchman” [Atalaia do Sul], 14 de feve-
reiro de 1905, par. 6.
197 “Special Testimonies for Ministers and Workers” [Testemunhos Especiais para Ministros e Obreiros], n º. 9, p. 71.
198 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 43.
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OsValores.com.br 69
Ela nega implicitamente que a prática foi instituída continua “munindo o povo de Deus nestes últimos
por seres humanos como resultado de mudanças dias, tão verdadeiramente como eles estavam no
sociais, religiosas ou financeiras que podem ter tido antigo Israel220.”
lugar no mundo do antigo Oriente. Ela localiza a Afigura-se que logo após a queda de Adão e Eva,
origem da ideia e do ato no próprio Deus. Este “foi o conceito e a prática do dízimo foram instituídos
ordenado por Deus208,” “é divino em sua origem209.” pelo próprio Deus. Ellen G. White cita-o dizendo-
O distinto acordo de devolver o dízimo a Deus, ela -nos: “Quando Eu vos confiei os Meus bens, especifi-
diz, “foi estabelecido pelo próprio Cristo210”, e vai, quei que uma parte deveria ser vossa, para suprir as
ela parece dizer, “já desde os dias de Adão211.”, pre- vossas necessidades, e uma parte deveria retornar
sumidamente depois da queda. Como o casamen- a Mim221.” Isso pode muito bem ser um eco do que
to212, o Sábado213 e o sistema sacrificial214, o dízimo Deus disse ao primeiro casal. A conclusão óbvia é
é removido por ela do campo da inventabilidade e que desde nos primórdios da história humana fora
criatividade humana, e colocado na esfera da mente do Jardim do Éden, o dízimo foi instituído por Deus
divina. Nenhuma explicação sociológica pode, pro- sob os fundamentos da Sua autoridade como Cria-
piciamente, por si só, ser considerada em relação à dor e Redentor. A lei foi uma expressão de Sua von-
origem do dízimo. Isso, para ela, aponta para a natu- tade para nós e deveria ser obedecida. No entanto,
reza singular e a perpetuidade da lei do dízimo e da para Ellen G. White, a lei não foi arbitrariamente for-
bondade da vontade de Deus expressa nela. çada nos seres humanos por um Deus todo podero-
A natureza permanente da lei foi sustentada por Je- so. A vontade de Deus nunca é arbitrariamente es-
sus que, de acordo com Ellen G. White, “reconhecia tabelecida, porque Ele sempre busca o bem de Suas
como dever o dar o dízimo215.” Depois de citar Ma- criaturas222. Assim, o sistema de dízimo223 é uma
teus 23:23, onde Cristo condenou a escrupulosidade expressão da vontade amorosa de Deus para a raça
com que os fariseus pagavam o dízimo, mesmo nas humana, no que Ele começou para “ser uma bênção
coisas que não eram requeridas pela lei, ela comen- para o homem224.” Qual o bem que esta lei particular
ta, “Nessas palavras Cristo torna a condenar o abuso pretende produzir? Qual foi a preocupação amorosa
das obrigações sagradas216” . Portanto, o dízimo não de Deus pelo ser humano, expressa através dela?
era “rejeitado ou afrouxado por Aquele que lhe deu 2. O Pecado, Deus, o Dízimo e a Interação Divino-
origem217” . O fato de que sua origem precedeu a -Humana
promulgação da lei no Sinai, significa que o dízimo Respondendo esta pergunta, Ellen G. White nos
não é para ser identificado com a lei cerimonial. Isto leva ao efeito imediato e direto do pecado na raça
não “deveria caducar com as ordenanças e ofertas humana. Com a entrada do pecado no mundo, um
sacrificais que tipificavam a Cristo218” . No restante novo poder, mau por natureza, reivindicou sobera-
do Novo Testamento, o dízimo, como a guarda do nia sobre a raça humana. “Um demônio tornou-se
sábado, é assumido como um dever cristão219 e isso o poder central no mundo. Onde devia estar o tro-
208 “O Desejado de Todas as Nações”, p. 434.
209 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 45.
210 “Testemunhos”, 6:384.
211 “Conselhos sobre Mordomia”, p.42.
212 “O Lar Adventista”, p. 25-26, “A Ciência do Bom Viver”, p. 356.
213 “Os dons espirituais”, 3:254, e “Profetas e Reis”, p. 183.
214 “Patriarcas e Profetas”, p. 40 e “Mensagens Escolhidas”, p. 1:230.
215 “O Desejado de Todas as Nações”, p. 434.
216 “O Desejado de Todas as Nações”, p. 433.
217 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 46.
218 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 40.
219 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 39.
220 “Obreiros Evangélicos” (Gospel Workers) (1892), p.98.
221 “Conselhos sobre Mordomia”. p. 29. Ela está discutindo os dízimos e as ofertas nessa afirmação, sugerindo que a prática de dar ofertas foi tam-
bém instituída por Deus.
222 Ela escreveu, “Todas as coisas na natureza testificam do cuidado terno e paternal de nosso Deus, e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos.
Suas proibições e ordens terminantes não se destinam simplesmente a ostentar Sua autoridade; antes, em tudo que Ele faz, tem em vista o bem-
-estar de Seus filhos. Ele não exige que estes abandonem coisa alguma que seria de seu máximo interesse conservar”. (Patriarcais e Profetas, p. 441)
223 A frase “sistema de dízimo” é frequentemente utilizado por Ellen G. White para se referir à lei e a prática de dizimar, mas algumas vezes ela parece
utilizá-lo para designar o dever e prática de trazer os dízimos e as ofertas para o Senhor. Nesse papel o usaremos para designar unicamente a
prática do dízimo.
224 “Dízimos”. Pacific Union Recorder. 10 de outubro de 1901, parágrafo 7.
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OsValores.com.br 71
“o egoísmo está na base de todo o pecado235” e C. Natureza do Dízimo
Deus está constantemente nos ajudando em uma Ellen G. White não redefine a compreensão bíblica
multiplicidade de formas de superá-lo em nossas vi- da natureza do dízimo, mas a reafirma e desenvolve,
das. Um dos meios que Ele usa é a prática de devol- esclarecendo algumas de suas complicações. A de-
ver a Ele nossos dízimos e ofertas. Ao fazermos isso claração bíblica a respeito da natureza do dízimo -
nós não retemos, egoisticamente, para nós mesmos “são do Senhor “,(Lv 27:30) - é, muitas vezes repetida
o que o Senhor em Sua amorosa bondade nos for- por Ellen G. White238. Ela usa o sábado para ilustrar a
nece, mas nos tornamos canais de Suas bênçãos natureza do dízimo: “Pois, como o sábado, um déci-
para outros236. Era intenção de Deus para nós “que mo da renda é sagrado239.” Ela observa que “Usa-se
fossemos Sua mão para abençoar os outros237.” a mesma linguagem quanto ao sábado que se usa
Ellen G. White fundamenta o dízimo diretamente à na lei do dízimo: ‘O sétimo dia é o sábado do Senhor
vontade de Deus, quem originou o conceito e a prá- teu Deus’... De igual maneira, o dízimo de nossas ren-
tica logo após a queda de Adão e Eva. O Cristo pré- das ‘santo é ao Senhor240’”. A implicação clara é de
-encarnado estabeleceu este sistema e durante o seu que “Deus reservou para Si uma porção especificada
ministério na terra, Ele o confirmou como a expressão do tempo do homem e dos seus meios241.” Foi esse
da vontade divina para os seres humanos. De acordo ato divino que transformou uma fração de tempo e
com ela, essa ligação entre o dízimo e a vontade di- uma parte do nosso meio em elementos sagrados;
vina determina pontos não só para a perpetuidade eles se tornaram a posse exclusiva de Deus. O dízi-
do dízimo em si, mas particularmente ao fato de que mo é, na verdade, como ela diz, “porção de Deus,
este foi instituído como uma expressão do amor de não absolutamente propriedade do homem242.” Ele
Deus para o benefício da raça humana após a queda. possui o dízimo de uma maneira particular e singu-
Este se tornou uma ferramenta didática nas mãos de lar que o distingue da Sua propriedade do universo.
Deus para manter fresco na mente dos seres huma- Uma vez que o dízimo é sagrado, santo, este não foi
nos a verdade significativa que, apesar da presença colocado sob o controle dos humanos, mas sob o
do pecado e poderes do mal no planeta, Ele é Aquele controle divino. Confrontado pela santidade do dízi-
que nos abençoa e quem tem o direito de ser, nosso mo e a fim de mostrar respeito pelo sagrado, os seres
Senhor. O sistema do dízimo, Ellen G. White parece humanos devem perguntar: “O que devo fazer com
dizer, foi instituído por Deus em razão de nos ajudar ele?”. A resposta dada por Ellen G. White é curta e
a perceber que a preservação de nossa vida é total- direta ao ponto: a fim de santificá-lo, devemos devol-
mente dependente da vontade amorosa e salvadora vê-lo a Deus. Ela encontra sustentação para essa po-
dEle por nós e não sobre o pedido demoníaco de ab- sição no comando de Deus gravado em Malaquias
soluta autonomia dEle. O dízimo também contribui 3:10 - “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro.” Ela
para o nosso desenvolvimento de caráter e autoima- observa, muito perspicazmente, que no mandamen-
gem. Ellen G. White argumenta vigorosamente que, to divino “não se apela para a gratidão ou generosi-
através do poder de Deus, o sistema de dízimo visa dade243”, isto é, o Senhor não apela para a gratidão
derrubar a hegemonia do egoísmo de nossa nature- e generosidade das pessoas para motivá-los a tra-
za pecaminosa, ajudando-nos a desenvolver nobreza zerem seus dízimos. Para ela, o fator determinante
de caráter. Ao instituir este sistema, Deus estava per- de dizimar não é a gratidão ou generosidade, mas
manentemente readimitindo-nos como mordomos algo mais sério e significante baseado na natureza
de Seus bens neste planeta e, consequentemente, santa do dízimo. Ela afirma claramente: “é uma ques-
restabelecendo-nos a um relacionamento pessoal tão de simples honestidade. O dízimo é do Senhor;
com Ele, como proprietário de tudo. O pecado não e Ele nos ordena que Lhe devolvamos aquilo que é
foi permanentemente capaz de nos separar de Deus.
235 “Vitória sobre a Tentação”, “Sinais dos Tempos”, 11 de abril de 1900. par. 7.
236 Ela comenta, “O Senhor tem dividido seu plano por que é o melhor para nós. Satanás está constantemente trabalhando para sustentar o mun-
danismo, a cobiça, e avareza do homem, que podem arruinar nossas vidas, e entravar o trabalho de Deus. O Senhor está buscando cultivas em
nós gratidão e liberalidade. Ele deseja nos libertar do egoísmo, que é tão ofensivo a Ele, porque é muito contrário ao Seu caráter” (“Uma Prova de
Gratidão e lealdade “, Review and Herald, 04 de fevereiro de 1902, par. 6).
237 “Dízimos”, Pacífic Union Recorder, 10 de outubro de 1901, par. 2.
238 E.g. “Conselhos sobre Mordomia”, p. 39, 40, 43, 60; “Testemunhos”, 3:395, 6:386, 9:249.
239 “Testemunhos”, 3:395.
240 “Conselhos sobre Mordomia”,p.39. Cf. “Roubará o homem a Deus?”, Review and Herald, 16 de maio 1882, par. 28.
241 “Patriarcas e Profetas”, p. 385.
242 “Nosso Dever como Professores e Irmãos Leigos”, Indian Reporter, 15 de agosto de 1906, par. 6.
243 “Educação”, p. 138-139.
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OsValores.com.br 73
de qualquer outro poder e, que Ele quer que preser- dos membros da igreja. Por outro lado, o dízimo
vemos Seu relacionamento conosco, restabelecen- poderia ser rejeitado ou poderia tornar-se um ato
do-nos o papel de mordomos de Sua bondade e formal sem significado espiritual profundo. Primei-
bênçãos. Através da expressão da vontade amorosa ro, ela indica que o dízimo deve ser precedido pela
de Deus por nós no sistema de dízimo, Ele também verdadeira conversão. Isso significa que “um mero
está tentando libertar-nos do poder escravizante do assentimento à verdade, não é suficiente” e que de-
egoísmo. O sistema de dízimo é fundamentalmente vemos em espírito de oração “trabalhar com aque-
uma expressão da natureza amorosa de Deus para les que abraçam a verdade, até que eles estejam
com os seres humanos pecaminosos. convencidos de seus pecados e busquem a Deus e
sejam convertidos. Então eles devem ser instruídos
III. Motivação para Dizimar no que diz respeito às reivindicações de Deus sobre
eles nos dízimos e nas ofertas253.” A experiência de
conversão é de fundamental importância no con-
texto do dízimo.
Segundo, o dízimo é o resultado de uma vida santi-
ficada. Uma experiência religiosa formal pode incluir
o dízimo, mas carece de significado espiritual. Ela ar-
gumenta vigorosamente que “religião não consiste
meramente em um sistema de doutrinas secas, mas
na fé prática, que santifica a vida e corrige a conduta
no círculo da família e na igreja. Muitos podem dizi-
mar hortelã e arruda, mas negligenciam os assuntos
de maior peso - a misericórdia e o amor de Deus254.”
Ela acredita que uma vida santa será caracterizada
por ações misericordiosas e amorosas como evidên-
cia da internalização da verdade. Ao mesmo tempo,
shutterstock
essa vida fornecerá a verdadeira posição espiritual
dentro da qual o dízimo vai funcionar adequada-
Ao abordar a motivação cristã para trazer o dízimo mente.
ao Senhor, Ellen G. White deixa claro que o dízimo é, Terceiro, o dízimo requer sensibilidade espiritual. So-
essencialmente, uma resposta ao senhorio de Deus nolência espiritual tende a fazer-nos ignorar a voz e
e aos atos salvadores em nosso favor, e não o veícu- a orientação de Deus, tornando difícil reconhecê-Lo
lo através do qual obtemos a aceitação por Ele. Não como Senhor em todos os aspectos da nossa vida.
há traços de uma aproximação legalista no assunto Se os crentes, escreve ela, fossem “espiritualmente
do dízimo a respeito do que ela tem a dizer sobre despertos, ouviriam na renda de cada semana, seja
isso. Isto é significativo na medida em que, apesar muito ou pouca, a voz de Deus e da consciência
do fato de que muito do que ela escreveu sobre o com autoridade exigindo os dízimos e ofertas devi-
assunto teve o propósito de motivar os membros das ao Senhor255.” A fim de ouvir essa voz, deve ser
da Igreja a devolverem os dízimos para o Senhor, ela espiritualmente sensível e alerta. Essa sensibilidade
manteve-se claramente focada na função teologi- leva ao dízimo e o dízimo mostra por si “que a graça
camente correta do dízimo na vida cristã. Existem de Deus está trabalhando no coração256”.
diversas maneiras que ela aborda a questão da mo- B. Motivação para o Dízimo
tivação, começando com a qualidade da vida espi-
ritual do crente. Há um grupo de conceitos básicos religiosos e teo-
lógicos que Ellen G. White usa para motivar fiéis ao
A. Qualidade de vida espiritual e o Dízimo dízimo. Aqui iremos explorar alguns dos mais im-
De acordo com Ellen G. White, o dízimo exige um portantes.
compromisso previamente genuíno com Cristo Primeiro, há uma motivação soteriológica. De acor-
como Salvador e Senhor na vida e na experiência do com ela, na obra de redenção de Deus através
253 “Discurso e Apelo: Pondo a Frente a Importância do Trabalho Missionário”, Review and Herald, 12 de dezembro de 1878, par. 9
254 “Testemunhos”, 4:337.
255 “Testemunhos”, 4:474.
256 “Conselhos sobre Saúde”, p. 590.
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— não deveria a nossa gratidão ter expressão em tar as bênçãos de Deus275. Eles têm de ser relem-
dádivas mais abundantes a fim de levar a outros a brados que “a condição de prosperidade depende
mensagem da salvação?268” A pergunta retórica es- de levar à tesouraria do Senhor aquilo que é Seu276.”
pera uma resposta positiva. O plano de Deus é que Visto que, aquilo que damos a Ele, já pertence a Ele,
o evangelho eterno da salvação seja pregado por fundamentalmente, a benção não é o elemento
todo mundo. No cumprimento desse ideal, Deus motivacional do dizimo. Essa conclusão parece ser
chamou indivíduos específicos para pregar ao Mun- apoiada pela maneira que ela correlaciona o dízimo
do, mas através do sistema de dízimo “Ele o fez um e as bênçãos em outros contextos. Note seu con-
privilégio para toda a igreja compartilhar no traba- selho, “O dízimo fiel é a parte do Senhor. Retê-lo, é
lho, contribuindo com seus recursos, para o próprio roubar a Deus. Deve todo homem trazer livre, vo-
sustento da igreja269.” Através do sistema de dízimo, luntária e alegremente os dízimos e ofertas à casa
ela comenta, “Todos podem sentir que lhes é pos- do tesouro do Senhor, pois, em fazê-lo, há uma bên-
sível ter parte em promover a preciosa obra de sal- ção277.” Uma rápida leitura da norma pode sugerir
vação270.” Ela nos chama para dar “os nossos recur- que a benção é uma motivação para dar. Mas note
sos para salvar aqueles por quem Cristo morreu271.” que o embasamento para dar, a verdadeira motiva-
A motivação missiológica procura identificar nosso ção para dizimar, é a moral – “Dízimo é a porção do
interesse com aquilo que pertence a Cristo, na sal- Senhor. Retê-lo é roubá-lo de Deus.” Qual é então o
vação de almas para Seu reino272. papel da benção? É um bônus adicional! Deus nos
Quinto, existe a motivação da benção. Essa motiva- criou, ela diz, e nos proveu com “todas as bênçãos”
ção é um pouco difícil de definir porque o dízimo que desfrutamos, mas quando nós dizimamos, exis-
pressupõe que já fomos abençoados pelo Senhor. te uma benção especial através da qual Deus faz os
Isso é o que Ellen G. White quer dizer quando ela nove décimos que possuímos, valham mais “do que
pergunta, “Será que vamos receber todas as bênçãos o montante inteiro sem Sua benção278.” Deus au-
da mão de Deus sem retribuir, até mesmo o dízimo, menta nossos benefícios a fim de darmos mais a Ele.
a porção que Ele reservou para Si mesmo?... Mas será Ao observar a benção deveríamos estar observando
correto recebermos continuamente Seus favores o privilégio de dar mais para a causa do senhor.
com indiferença, sem Lhe corresponder ao amor?”273 C. Retenção do dízimo
Deus não pode esperar de nós o dizimo antes de nos Existe uma condição sob a qual deveria ser certo re-
abençoar, pela simples razão de que seria impossível ter ou abusar do dizimo? Tendo discutido a motiva-
para nós dizimar sem as prévias bênçãos de Deus. ção para dizimar, a resposta óbvia para essa questão
Por isso, Deus toma a iniciativa e nos abençoa, indig- é a negativa. Não existe nenhuma desculpa que al-
nos pecadores, esperando que nós O reconheçamos guém pode dar para não trazer o dízimo ao Senhor.
como a fonte destas bênçãos com uma resposta de Ellen G. White rejeita a pobreza como razão. Como
amor expressa através do dízimo274. o dízimo é devolvido proporcionalmente à renda,
Segundo Ellen G. White, as palavras do Senhor re- o dízimo do pobre “será de uma importância com-
gistradas em Malaquias 3:10 são destinadas para o parativamente pequena, e suas dádivas serão de
povo que perderam sua fé no Senhor. Ele está os en- acordo com a sua possibilidade. Mas não é o vulto
corajando a confiar nEle e trazer Seus dízimos para o da dádiva que torna a oferta aceitável a Deus, é o
templo. Se eles mostrarem fé nEle, vão experimen- propósito do coração, o espírito de gratidão e amor
268 “Patriarcas e Profetas”, p. 388.
269 Nos Lugares Celestiais, p. 303. A palavra “recursos” é usada por Ellen G. White para referir, algumas vezes, aos dízimos e ofertas. De qualquer ma-
neira, isso não significa que os dois são equivalentes. Ela sempre considerou o dízimo como sendo único e chamou-o “uma oferta especial, para
um trabalho especial” (“Chamado de Deus sobre Nós,” Review & Herald, 8 de Dezembro de 1896, par. 2). Mas esse dízimo verdadeiramente natural
pertence a Deus e “deve ser devotado somente para o sustento daqueles que dão a si mesmos para a pregação do evangelho”. Temos mais a dizer
sobre isso abaixo.
270 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 45.
271 “Cooperadores de Deus”, Review and Herald, 11 de junho de 1901, par. 7.
272 Ela escreveu, “O Senhor nos deu o privilégio de nos tronarmos cobreiros com ele, que a palavra da origem celestial possa ser posta ao alcance de
todos, em todos os países. O homem foi privilegiado de se tornar o agente para trabalhar, não em seus próprios planos, mas os planos dos Céus.”
(“O Dever de Pagar o Dízimo e as Ofertas”, Review and Herald, 17 dezembro de 1889, par. 5).
273 “Mensagens aos Jovens”, p.306.
274 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 62.
275 “Testemunhos”, 6:389.
276 “Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos”, p.305.
277 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 40.
278 “Testemunhos”, 3:404.
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mais meios para outorgar290.” Nesse caso, a falta de uma grande fraqueza moral e a mais grave ofensa.
abundantes bênçãos de Deus é designada para mo- A proclamação do evangelho à raça humana pesa
tivá-los a colocar Deus em primeiro lugar em suas arduamente nos corações daqueles que já rece-
vidas. Note que a proposta da benção, como já indi- beram seus benefícios e devem considerá-los para
camos, é de possibilitar-nos a doar mais. prover os meios, particularmente através do dízimo,
Em conclusão, segundo Ellen G. White, “O dízimo de a fim de tornar possível a muitos outros ouvirem as
tudo o que Deus tem te abençoado, pertence a Ele; boas novas. Se a prometida benção de Deus, sobre
e você roubou de Deus quando o usou para seus aqueles que devolvem seus dízimos para Ele, fun-
próprios propósitos. Ele tem colocado o assunto à ciona como uma força motivadora para dizimar, a
frente de qualquer questão291.” ênfase adequada deve ser colocada no desejo de
D. Conclusão receber mais do Senhor, a fim de ser capaz de dar
Segundo Ellen G. White, a motivação individual para mais. Enquanto existem várias razões para motivar-
dizimar não é simplesmente baseada na dimensão -nos a dar nosso dízimo ao Senhor, não existe razão
emocional do ser humano, mas nos aspectos espi- para retê-lo dEle. Mesmo o caso mais sério de uma
rituais, afetivos, morais e racionais de sua personali- deficiência ministerial e administrativa ou falha no
dade. O dízimo requer um compromisso total com uso adequado do dízimo, não provém sustentação
Deus através de arrependimento e conversão, uma para os membros da igreja retê-lo e usá-lo como
vida consagrada para o Senhor que é sensível à orien- acharem necessário.
tação do Espírito de Deus em nossa vida, como Ele IV. Logísticas do Dízimo
nos conduz à obediência à vontade revelada de Deus.
A morte sacrifical de Cristo na cruz, Ellen G. White O sistema de dízimo, assim como o procedimento
indica, clama por uma resposta amorosa dos cren- desenvolvido durante o tempo de Ellen G. White, re-
tes que se expressam de várias maneiras, incluindo colher o dízimo era bastante simples e prático. O sis-
o dízimo. O senhorio de Deus e Sua vontade de nos tema em si, como descrito na Bíblia, “é belo em sua
indicar uma posição de confiança como Seus mor- simplicidade e equidade” e não “requeria profundo
domos, deveria nos comover a corresponder a esta aprendizado para entendê-lo e executá-lo292.”
confiança, devolvendo o dízimo para Ele como mor- A. Ensinando o Sistema de Dízimo
domos fiéis, por conseguinte, reconhecendo Seu O primeiro passo no processo era treinar os leigos
senhorio. Mas dizimar, ela acresce, também apela a no que diz respeito à fundamentação bíblica do
nós como agentes morais que, uma vez despertos dízimo e nos seus aspectos práticos. Ellen G. Whi-
pelo clamor de Deus no dízimo como Sua proprie- te muitas vezes relembra os pastores de instruir os
dade exclusiva, deveríamos considerar roubá-Lo membros da igreja em relação a sua responsabilida-
de de trazer seus dízimos e ofertas para o Senhor.
Aparentemente, ela estava desperta da relutância
de alguns pastores em apresentar essa questão em
suas igrejas, particularmente para novos conversos,
e ela identificou problemas que poderiam gerar re-
sultados. “se vem um segundo ministro, e apresenta
as exigências de Deus quanto a Seu povo, alguns
voltam atrás, dizendo: ‘O ministro que nos trouxe a
verdade, não mencionou essas coisas.’ E se escan-
dalizam com a Palavra. Alguns recusam aceitar o
sistema do dízimo; afastam-se, e não se unem mais
com os que crêem na verdade e a amam. Quando
outros pontos lhes são expostos, dizem: ‘Não nos foi
ensinado assim’, e hesitam em avançar. Quanto me-
lhor teria sido se o primeiro mensageiro da verdade
houvesse educado fiel e cabalmente esses conver-
shutterstock
sos quanto a todos os assuntos essenciais293” .
290 Ibid.
291 “O Dever de Pagar os Dízimos e as Ofertas”, Review and Herald, 17 dez 1889, par. 1.
292 “Conselhos sobre Mordomia”, p. 45, cf. “A Igreja e Sua Missão N º 1”, Michigan Médio Banner, 18 de janeiro de 1905, par. 3.
293 “Evangelismo”, p. 321.
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entanto, ela reconhece que o montante irá diferir
de pessoa pra pessoa, não simplesmente porque é
proporcional à renda ou aumento309, mas por causa
de detalhes e, possivelmente, a definição daquilo
que são renda e aumento têm ficado “com a cons-
ciência e boa vontade dos homens, cujo discerni-
mento nesse sistema de dízimo deve ser livre310.”
De qualquer maneira, ela imediatamente acresce,
“Enquanto é deixado livre para a consciência, um
plano foi estabelecido definitivamente suficiente
para todos. Nenhuma compulsão é requerida311.” O
contexto indica que o plano ao qual ela se refere é
aquele estipulado pela Bíblia, segundo o qual, um
décimo de todo o aumento deveria ser devolvi-
do ao Senhor. Muitos anos depois ela novamente
shutterstock
comentou, Deus “deixa todos livres para dizerem
quanto seja o dízimo, e se querem ou não dar mais sobre como usar o dinheiro do dízimo. Não há dúvi-
que isso312.” Seus escritos parecem mostrar um tipo da que nesse caso houve um aumento em seu en-
de esclarecimento progressivo das fontes das quais tendimento, uma vez que ela mesma disse na carta
dizimamos, mas não da natureza do dízimo. para Elder A. G. Daniels, datada de 16 de Março de
1897, que: “Eu nunca entendi tão completamente
D. Conclusão
esse assunto como agora o entendo. Tendo ques-
Segundo Ellen G. White, o sistema de dízimo é in- tões direcionadas a mim para responder, eu tenho
tencionalmente simples a fim de tornar possível recebido instrução especial do Senhor, de que o
para todos consentirem com ele. Pastores devem dízimo é para um propósito especial313.” São essas
ensinar para os membros da igreja o sistema e a sua instruções que devemos explorar agora.
responsabilidade de trazer o dízimo ao Senhor. An-
A. Determinação do Uso
tes de usar qualquer rendimento, o dízimo deve ser
separado em casa, quase como um ato de adora- Aqui, a questão básica é quem decide como o dízi-
ção. Então, deve-se trazê-lo para a Igreja no sábado mo deve ser usado. Essa é, provavelmente, a questão
como um ato de adoração a fim de reconhecer nos- mais difícil que lidamos quando discutimos os dízi-
sa constante dependência das bênçãos e da graça mos nos escritos de Ellen G. White. Lendo o que ela
de Deus. O dízimo deve ser pago de toda a renda e diz sobre esse assunto, alguns são impressionados
aumento, permitindo a liberdade do indivíduo de- com sua constante ênfase naquilo que o Senhor re-
terminar os detalhes. velou a ela, concernindo o uso do dízimo. Ela enfati-
za esse ponto de diferentes maneiras. Por exemplo,
V. Usos do Dízimo ela diz: “Deus deu orientação especial quanto ao
emprego do dízimo314;” este deve ser colocado no
Muito daquilo que Ellen G. White escreveu sobre o
tesouro de Deus “e mantido sagrado para o serviço
dízimo, lida com questões e conselhos que ela deu
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zimo330. Ela claramente afirma que “o dízimo deve ir C. Uso Excepcional do Dízimo
para aqueles que trabalham na palavra e doutrina, Existem alguns casos em que Ellen G. White estende
sejam eles homens ou mulheres331.” o uso de dízimo para algumas situações que estão
4. Utilizado para Sustentar os Médico-Missionários fora das utilizações prévias que discutimos.
Quando alguns estavam se opondo à ideia de usar 1. Trabalho Médico-Missionário no Hospital
o dízimo para sustentar a obra médico-missionária, Ellen G. White aprovou um plano apresentado a ela
ela escreveu: “sou instruída a dizer que… um minis- pelo Dr. John Harvey Kellogg. Segundo esse plano,
tro do evangelho que seja também médico-missio- um montante equivalente ao dízimo pago pelos
nário… é um obreiro muito mais eficiente do que trabalhadores do hospital para a Associação, era
aquele que não o pode fazer332.” Assim, ela apoia o apropriado para serem utilizados para levar adian-
uso do dízimo para pagar seus salários. te o trabalho missionário adjunto ao hospital337.
5. Utilizado para Sustentar os Ministros Aposenta- O trabalho consistia em ajudar pessoas pobres.
dos e suas Famílias Contudo, ela foi cuidadosa em seu aval, lembran-
Em 1904 ela estava encorajando os administrado- do os líderes da igreja que nossa responsabilidade
res a prover benefícios de sustentação para viúvas primária é a proclamação da terceira mensagem
de ministros formados333. Quando em 1911 a igreja angélica338.
criou um plano de sustentação no qual cada Asso- 2. Construindo Casa de Adoração
ciação devia contribuir cinco por cento de seus dízi- Isto deve ser feito em casos muito excepcionais. Ela
mos, ela sustentou-o completamente334. escreve, “Existem locais diferenciados, onde a po-
6. Utilizado para Sustentar os Diretores do Depar- breza é tão profunda que, a fim de assegurar o local
tamento de Publicações mais humilde de adoração, pode ser necessário a
Não existe nenhuma afirmação de Ellen G. White apropriação dos dízimos339.”
na qual ela sustenta o uso do dízimo para pagar os 3. Pagando os Coletores do Dízimo
Diretores do Departamento de Publicações. Existe Essa utilização do dízimo não está contida em ne-
uma carta datada de 10 de Maio de 1912, de W. C. nhum dos escritos de Ellen G. White, mas segundo
White para W. S. Lowry, onde ele afirma que “aon- W. C. White, Ellen e Tiago White apoiaram-na. O co-
de quer que essa questão tenha sido trazida para a letor do dízimo não era apenas o tesoureiro, mas ele
Mãe, ela tem dado sua aprovação do plano geral- tinha a vigente responsabilidade de coletar o dízi-
mente adotado pelo nosso povo335.” mo dos membros da igreja.
7. Utilizado para Sustentar Campos Carentes de Essas exceções eram raras, e Ellen G. White não
Missão queria dar a entender que deveriam se tornar uma
Ela aconselha as associações que têm um dízimo prática comum através da igreja, mas cada caso en-
excedente a compartilhar com regiões além de suas volvia circunstâncias particulares que necessitava
fronteiras na América e além-mar. Ela apela, “existem uma aproximação especial. O que é o significante
missões a serem sustentadas em campos que não aqui é que os líderes da igreja ouviram seu conselho
existem Igrejas e nem dízimos e também onde os a fim de estarem certos de que eles não estavam
crentes são novos e o dízimo é limitado. Se você tem violando a santidade do dízimo. Eles aparentemen-
recursos que não são necessários depois de estabe- te entenderam que era Deus quem decidia como o
lecer com você os ministérios de forma liberal, envie dízimo deveria ser utilizado.
o dinheiro do Senhor para os locais destituídos336.”
330 “Manuscript Releases”, 12:160.
331 “Manuscript Releases”, 1:263.
332 “Medicina e Salvação”, p. 245.
333 “Manuscript Releases”, 1:189, também, “O Uso do Dízimo,” par Echoes, 21 de junho de 1905. 6.
334 “Manuscript Releases”, 3:272-273.
335 Veja, Robert W. Olson, “Ellen G. White Comentários sobre Utilização dos Fundos do Dízimo,” não publicado, Fevereiro de 1990, p. 19. Olson sugere
que sobre algumas circunstâncias, ela pode ter favorecido algum salário parcial para alguns colportores (p.20). Ele baseia sua posição em uma
carta escrita por W. C. White em 11 de Junho de 1902, na qual ele descreve o que foi feito na Austrália, enquanto Ellen G. White permanecera lá,
para ajudar alguns colportores. Eles eram pagos não mais do que “dois dólares e meio por semana... com o dízimo da associação para ajuda-los
em suas despesas” (Ibid.). Isso foi feito em lugares que eram “muito difíceis de trabalhar.”
336 “Manuscript Releases”, 1:184.
337 “Manuscript Releases”7:366.
338 Veja Olson, “Comentários de Ellen G. White,” p. 22.
339 “Manuscript Releases”, 1:191.
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pelo Senhor, e quando os administradores, pastores que o dinheiro do dízimo não é nosso para utilizar-
ou membros da igreja usaram o dízimo impropria- mos como nós bem entendemos355.
mente, ela falou contra. Os líderes da igreja também
reconheceram que é Deus quem determina como VI. Uso pessoal do dízimo por
o dízimo deve ser usado, e eles demonstraram sua Ellen G. White
crença observando o seu conselho quando uma de-
cisão devia ser tomada em relação ao uso do dízimo.
Ela fundamentalmente ensinou que o dízimo deve-
ria ser usado para o ministério evangélico. Possíveis
exceções eram feitas quando necessárias, mas elas
não deveriam se tornar práticas permanentes. Seu
uso estritamente específico do dízimo pode ser in-
terpretado em termos de condição econômica da
Igreja durante o tempo de sua vida. Uma vez que
a Igreja não tinha recursos financeiros abundantes
naquele tempo, poderia se argumentar que o mon-
tante limitado do dízimo que chegou ao tesouro foi
cuidadosamente guardado e usado para a procla-
mação do evangelho. Mudanças na condição finan-
ceira da Igreja podem necessitar um uso diferente
do dízimo que permite aquilo que ela não permitia.
shutterstock
Tal interpretação da evidência, não seria aceitável
para Ellen G. White. Ela insiste que sua descrição do
uso do dízimo era a maneira que o Senhor espera- O Uso pessoal que Ellen G. White fez para o seu dízi-
va que Igreja o utilizasse. Uma vez que é sagrado mo, tem sido cuidadosamente estudado por outros,
e, uma vez que é propriedade exclusiva de Deus, tornando desnecessário para nós irmos a todos os
Ele é o único que pode determinar como deve ser detalhes da questão356. É claro que ela enviou seus
empregado. A sustentação para essa interpretação dízimos para a tesouraria da associação, mas em
da evidência vem do conselho que ela deu para a alguns casos, ela se apropriou de uma necessida-
Associação que tinha um excedente de dízimo. Ao de específica. Ela estava muito preocupada com o
contrário de permitir que eles fossem criativos com trabalho no campo do Sul e a falta de apoio finan-
o uso do excedente, ela convocou que eles dividis- ceiro adequado para os pastores que trabalhavam
sem-no com outros campos354. ali. Por isso, ela apropriou-se do dinheiro do dízimo
O fato de ela ter perimitido algumas exceções a suas “para o campo mais necessitado e mais desanima-
instruções específicas, indica que existe alguma li- dor no mundo357.” Além disso, ela estava disposta a
berdade no uso do dízimo. Mas, ao mesmo tempo, aceitar o dízimo de outras pessoas que lhe davam
esses casos não deviam se tornar parte da regra. pedindo que ela os aplicasse “onde sabia ser mais
Além disso, ela ainda estava viva para guiar os líde- necessário358.” Ela usou o dinheiro “para ajudar mi-
res da igreja nos casos em que as exceções deviam nistros brancos e negros que foram negligenciados
ser feitas. Toda exceção nos dias de hoje deve ser e não receberam o suficiente para sustentar suas fa-
cuidadosa e devotamente estudada, lembrando-se mílias359.” Em alguns casos específicos, ela indicava
354 Panfleto 004-Um Recurso para as Missões, pp 24-25.
355 Robert W. Olson fez alguns comentários importantes sobre as implicações das instruções de Ellen G. White a respeito da utilização do dízimo
(“Comentário de Ellen G. White,” pp. 24-25). Ele sugeriu que “a razão básica para dar suprema prioridade para o ministério evangélico na utilização
dos fundos do dízimo deve ser que pastores, evangelistas, e administradores da associação não tem nenhuma outra fonte de renda adequada
disponível para seu sustento. Isto também é verdade do outro pessoal do escritório da associação, como as secretárias, contadores, zeladores, etc.”
Isso é obviamente verdade, mas como sugerimos, ela tinha uma teologia inteira sobre dízimo que informava e determinava sua perspectiva da
utilização do dízimo.
356 Veja, Arthur L. White, “a Sra. Ellen G. White e o Dízimo, “Shelf Estate, Ellen G. White Documento, de 1990, Arthur L. White, Ellen G. White: O
início dos anos Elmshaven, vol. 5 (Washington, DC: Review and Herald, 1981), pp 389-397; Alberto R. Timm, “Uma análise de quatro de-
clarações de Ellen G. White sobre Usos Especiais de Dízimo, “Livro de pesquisas inéditas, abril de 1991, e Roger W. Coon, “Dízimo: Ellen G. White em
Coselhos e Práticas”, suplemento da “Adventist Review”, de 1991.
357 “Manuscript Releases”, 2:99 (1902).
358 Ibid. p. 100.
359 Ibid., p. 99. Ela tinha um verdadeiro fardo com os ministros aposentados que estavam em necessidades financeiras, porque naquele tempo a
igreja não tinha um plano de aposentadoria. Ela escreveu, “Onde eu vejo obreiros nessa causa que foram verdadeiros e leais ao trabalho, onde
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Levitas e os pobres”, e era “um fundo para os usos de
caridade e hospitalidade370.” Ela mostra que era “um
dízimo em adição e inteiramente distinto daquele
dado todo ano para o serviço de Deus371.”
Dar um segundo dízimo hoje, não é desencorajado
por Ellen G. White, mas também não é fortemente
promovido por ela. Embora, na Austrália, ela tenha
encorajado os membros da igreja a trazer as ofertas
para aumentar o fundo para a construção do San-
tuário de Sydney. Ela comunicou que “Nossos co-
legas trabalhadores na Austrália responderam gra-
ciosamente e amavelmente. O segundo dízimo era
separado para aumentar os fundos da construção.
Muitos presentes em dinheiro, trabalho e material,
representando incalculáveis abnegações, foram fei- shutterstock
tos372.” Não fomos informados se ela requereu um
Filho, provém uma base teológica sólida para o cha-
segundo dízimo para este projeto ou não. O impor-
mado de Deus para nós, tudo que temos e nosso
tante é que, aparentemente, pelo menos em algu-
dízimo em particular.
mas ocasiões, os membros da igreja deram um se-
gundo dízimo. O dízimo foi instituído pelo próprio Deus para ser
uma benção para uma raça caída, possuída por
Quando o trabalho educacional estava se desenvol-
incontrolável egoísmo. A bondade de sua lei é re-
vendo, a questão de como financiá-lo foi levantada,
velada pelo fato que se originou em Deus, e foi
e Ellen G. White foi questionada: “O segundo dízimo
confirmado por Jesus, como de permanente valor
não poderia ser utilizado para sustentar o trabalho
para Seu povo. Através do dízimo, Deus pretende
da igreja-escola?” Sua resposta imediata foi, “Não
imprimir em nós, a realidade que Ele é o Doador de
poderia ser utilizado em melhor propósito373.” Mas
todas as nossas bênçãos. Ele é Aquele quem preser-
quando os líderes tentaram cobrir todas as despesas
va nossas vidas, e nós devemos reconhê-Lo como
escolares com o segundo dízimo, ela afirmou, “Eu fui
nosso Salvador e Senhor. Ele também pretende
instruída que o plano de não cobrar mensalidade
restaurar nossa dignidade pessoal, restituindo-nos
dos estudantes, dependendo do segundo dízimo
como Seus mordomos, como evidenciado no ato
para sustentar a escola, sempre deixará a escola em
do dízimo. Através do poder de Deus, o dízimo de-
vergonhosa condição financeira374.”
via ser uma poderosa ferramenta subjugando nosso
Nada mais foi escrito por ela sobre o segundo dízi- egoísmo inato.
mo. Parece que ela não o considera como obrigató-
Portanto, para Ellen G. White, o dízimo era um ins-
rio à igreja, mas não desencoraja aqueles que dese-
trumento nas mãos de Deus para nos abençoar. E
jam dá-lo para projetos específicos.
era propriedade exclusiva de Deus e santo. Devol-
VIII. Conclusão Geral vê-lo a Deus é um dever religioso e moral, porque
ele pertence a Deus e é santo. Ele é mantido santo
Está claro pra mim que o conselho que Ellen G. quando os membros da Igreja o reservam para o Se-
White dá, a respeito do dízimo assim como seu cha- nhor e depositam-no em Sua tesouraria na assossia-
mado aos membros da igreja a trazer seus dízimos ção. Essa reserva sagrada é preservada santa quan-
para o Senhor, não é primariamente baseado nas do é usada pelos administradores da Igreja para os
considerações financeiras pragmáticas, mas é deter- propósitos de Deus.
minado pelo seu entendimento teológico particular
Para Ellen G. White, o dízimo é o resultado de um
de dízimo. Seu conceito de Deus como o honrado
relacionamento pessoal com o Senhor, com base
Dono do universo, em Sua bondade que é revelada
em um total compromisso com Ele. Ela motiva os
nos constantes dons e bênçãos que Ele tem dado a
crentes a dizimar, com base no fato de que Cristo
nós e que culminam no dom supremo de Seu único
370 Ibid.
371 A Usura exigente dos Irmãos”, Review and Herald, 11 de março, 1884, par. 3.
372 “A necessidade para a Causa da Austrália,” Necessidades, 04 de julho de 1903, par. 21.
373 “Manuscript Releases”, 7:138 (1904).
374 Ibid., p. 139.
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Plenárias do Simpósio
Palestra 1 Palestra 2
Dr. Ángel M. Rodriguez Pr. Marcos F. Bomfim
goo.gl/wYyvvx goo.gl/iPKJmN
Palestra 3 Palestra 4
Dr. Juan Prestol-Puesán Dr. Ángel M. Rodriguez
goo.gl/7TCRoQ goo.gl/8WMTr6
Palestra 5 Palestra 6
Dr. Juan Prestol-Puesán Pr. Marcos F. Bomfim
goo.gl/Q7v2X9 goo.gl/yP1UEU
Palestra 7 Palestra 8
Dr. Ángel M. Rodriguez Pr. Herbert Boger Jr
goo.gl/RWC4U1 goo.gl/12poJP
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