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A História do Amilenismo
Jack Van Deventer
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

Há alguns anos me deparei com um artigo na internet de Kim


Riddlebarger que, entre outras coisas, mencionava a história do amilenismo. O
que me impressionou foi a dificuldade de Riddlebarger em traçar a história do
amilenismo. Isso era estranho, pensei, visto que os amilenistas freqüentemente
alegam que sua posição remonta à igreja primitiva. Por que isso seria difícil?
De fato, após verificar vários livros sobre história da igreja na biblioteca da
universidade, descobri uma ausência notável entre “Alegorização” e
“Anabatista”. Em nenhum lugar o amilenismo é encontrado. Riddlebarger
escreveu: “O termo amilenismo, como veremos, não foi usado no século
dezenove, e a origem do termo é mantida em mistério. Conseqüentemente,
Gaffin faz a pungente pergunta nesse respeito: ‘Quem cunhou o termo
amilenista?’”.2 Gaffin continua: “O que motivou a invenção da palavra
amilenista?”.3 Visto que a palavra pós-milenista já estava em uso comum antes da
palavra amilenista, é seguro assumir que o amilenismo representa um abandono
do pós-milenismo. E, esse foi um abandono recente.
Amilenistas concordam que o termo amilenismo é de origem recente.4
Strimple escreveu: “O termo amilenismo tem sido amplamente usado desde a
década de 1930, embora quando foi primeiro usado permaneça um mistério”.5
O. T. Allis faz referência a um artigo de 1943, escrito pelo amilenista Albertus
Pieters, onde é declarado que Abraham Kuyper cunhou o termo. (Kuyper
morreu em 1920). Allis estava incerto se a alegação de Pieters era verdadeira
ou não.6 O livro de Peiters de 1937 era menos específico: “Recentemente,
aqueles que tomam essa visão têm começado a se chamarem, ou serem
chamados, de ‘amilenistas’”.7 Nenhuma atribuição a Kuyper foi feita e
permanece indefinido quem originou o termo, amilenistas ou seus oponentes.

1
E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em setembro/2007.
2
Kim Riddlebarger, Princeton & the Millennium, A Study of American Postmillennialism, 1996.
http://www.alliancenet.org/pub/articles/riddlebarger.princeton.html
3
Richard B. Gaffin Jr., “Theonomy and Eschatology: Reflections on Postmillennialism”, in William S.
Barker and W. Robert Godfrey, eds., Theonomy: A Reformed Critique (Grand Rapids: Zondervan
Publishing House, 1990), pp. 199—201, p. 198, 200.
4
G.L. Murray, Millennial Studies, (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1948) p. 87. Jay E. Adams,
The Time is at Hand (Greenville, South Carolina: A Press, 1987), p. 7. Russell Bradley Jones, What,
Where, and When is the Millennium? (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1975), p. 10.
5
Robert B. Strimple, “Amillennialism”, in Darrell L. Bock, ed., Three Views of the Millennium and
Beyond (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1999), pp. 83—129, p. 83.
6
Oswald T. Allis, Prophecy and the Church, (Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed
Publishing Company, 1945), p. 286.
7
Albertus Pieters, The Lamb, The Woman and The Dragon (Grand Rapids: Zondervan Publishing House,
1937), p. 326.

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O International Standard Bible Encyclopedia (ISBE) não tem nenhuma


referência à palavra amilenista em suas edições de 1915 e 1929/1930.
Contudo, um documento pré-milenista em 1915 faz referência a pós-
milenistas e “anti-milenistas”.8 Um panfleto de 1921, intitulado Non-
millennialism vs. Pre-Millennialism (Não-Milenismo vs. Pré-Milenismo), declara
que os “pós-milenistas [estavam] rapidamente mudando para não-milenistas”,
onde a posição não-milenista era certamente a doutrina que mais tarde seria
chamada de amilenismo.9 Erickson escreveu que grande número de pós-
milenistas mudaram suas posições para o amilenismo.10 Essa mudança foi
grande o suficiente para motivar um livro pelo dispensacionalista Charles
Feinberg chamado Premillennialism or Amillennialism? (Pré-milenismo ou
Amilenismo?) em 1963. Esse foi o uso mais antigo do termo que encontrei até
aqui.11
O amilenista Louis Berkhof foi defensivo quando a historicidade da
posição foi questionada. Ele escreveu (aparentemente em 1938 ou antes):
“Alguns pré-milenistas têm falado do Amilenismo como uma nova visão e
como uma das mais recentes novidades, mas isso certamente não está de
acordo com o testemunho da história. De fato o nome é novo, mas a visão a
qual é aplicado é tão antiga quanto o Cristianismo”.12 Adams, com hipérbole
similar, escreveu: “Agostinho advogou fortemente o amilenismo, e essa era a
visão exclusiva de todos os Reformadores”.13 Visto que vários amilenistas
reivindicam Agostinho como um dos seus, é importante citar a refutação de
R. Bradley Jones aos seus colegas amilenistas: “Alguns escritores falam de
Agostinho como um amilenista. Isso dificilmente é correto. Ele pode ser mais
corretamente classificado como um pós-milenista”.14 Além do mais, a análise
histórica de Bahnsen dos principais Reformadores demonstra que as alegações

8
Timothy P. Weber, Living in the Shadow of the Second Coming (Grand Rapids: Academie Books,
1983), p. 32.
9
C.E. Putnam, Non-Millennialism vs. Pre-Millennialism, Which Harmonizes the Word? (Chicago: The
Bible Institute Colportage Association, 1921), p 3.
10
Erickson, Contemporary Options in Eschatology, (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1977), p.76.
11
Embora o termo amilenismo seja novo, é claro que muitos que sustentam a posição não gostam do
termo. Aqui está alguns comentários sobre o termo amilenismo por aqueles que subscrevem a essa
posição. Jones diz que o termo “é de origem recente e é desafortunado, sendo freqüentemente mal-
entendido”. Adams o chama de um “termo infeliz”, que causa “mal-entendidos desafortunados” e propõe
a frase “milenismo realizado” como uma alternativa. Hoekema concorda que “o termo amilenismo não é
muito feliz”, mas pensa que a terminologia alternativa de Adams é “desajeitada”. Cox disse que ele é um
“termo desafortunado”. Pieters: “A palavra não é bem composta, pois usa um prefixo grego para uma
palavra latina, mas é o termo agora em uso, e não podemos fazer nada”. Dado o desdém que os
amilenistas têm pelo termo amilenismo, alguém pode se perguntar se o termo foi cunhado por seus
oponentes pré-milenistas.
12
Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1941), p. 708. Capitalização
maiúscula e itálico aparece como no original. A obra de Berkhof foi impressa em agosto de 1938.
13
Adams, The Time is at Hand, p. 7.
14
Jones, What, Where, and When is the Millennium? p. 11.

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amilenistas acima não possuem fundamento; antes, os Reformadores eram


predominantemente pós-milenistas.15
J. Marcellus Kik cria que o amilenismo começou com os escritos de
Geerhardus Vos, que escreveu extensivamente sobre escatologia de 1911 a
1930 e mais tarde. Kik escreveu: “Não foi até o advento de Geerhardus Vos
que a posição amilenista foi introduzida. Fico pessoalmente triste que os
talentos notáveis de Vos tenham se apartado da posição histórica de
Princeton”.16 Kik lamentou que a herança pós-milenista de Princeton,
representada por grandes teólogos como Archibald Alexander, Joseph A.
Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e B.B. Warfield tinha erodido. As
doutrinas de Vos foram um afastamento do pós-milenismo, tal que a nova
perspectiva teológica garantia um novo termo para identificá-la. Os termos
anti-milenista e não-milenista foram usados até que palavra amilenismo
eventualmente se fixou.
Retornando à questão de Gaffin com respeito à invenção da palavra
amilenista, ficamos curiosos quanto ao que motivou o desenvolvimento da
doutrina antes da invenção. Claramente o pessimismo tinha permeado a Igreja
de 1880 a 1920. O pessimismo pré-milenista com sua ênfase sobre o
Armagedon, o Anticristo, a ruína e o arrebatamento tinham se tornado o
zunido do dia. O pós-milenismo era visto como irrealista, dada a crescente
apostasia, liberalismo, guerras, etc. que eram vistos por muitos como os sinais
da proximidade da vinda de Cristo. Tendo se convencido do declínio da
história e, todavia, ainda rejeitando o dispensacionalismo como anti-bíblico, o
povo presbiteriano e Reformado estava em necessidade do seu próprio
raciocínio teológico para o pessimismo. Não querendo ser deixados para trás,
eles aparentemente creram que precisavam de uma base teológica para
abandonar suas doutrinas pós-molenistas tradicionais do sucesso do
evangelho, do otimismo histórico e da conversão das nações a Cristo. A
solução amilenista foi atribuir as passagens bíblicas de vitória à esfera celestial
ou espiritual. O reino de Deus foi alegorizado, espiritualizado e explicado
como sendo de outro mundo, de outra dimensão espiritual, uma terra além do
tempo e de nosso alcance. As profecias de condenação e destruição, sem
dúvida, foram retidas e aplicadas à esfera terrena. Em outras palavras,
mantenha as maldições, descarte as bênçãos. Embora uma doutrina mais
jovem que o dispensacionalismo, o amilenismo supre a mesma necessidade e
combina com a moda do dia.

Fonte: Credenda, Volume 14, Issue 2.

15
Greg L. Bahnsen, Victory in Jesus, The Bright Hope of Postmillennialism (edited by Robert R. Booth;
Texarkana, AR: Covenant Media Press, 1999), p. 115.
16
J. Marcellus Kik, An Eschatology of Victory (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing
Company, 1971), p. 6.

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