Monografia Modelagem Térmica - Zona Vulcânica de Taupo, Nova Zelândia

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOLOGIA

Grupo de pesquisa Enxame de Diques da Serra do Mar - EDSM-Rifte

Título do Trabalho
Mapeamento e modelagem da assinatura térmica das intrusões
magmáticas em Pinnacle Ridge, na região de Ruapehu, na Zona Vulcânica
de Taupo (ZVT), Nova Zelândia.

Aluna
Stephanie Ferreira dos Santos
201004032-3

Orientador
Bem Kennedy
(Universidade de Canterbury)

Supervisor Acadêmico
Prof. Dr. Artur Corval
(DG/IA/UFRuralRJ)

Co-orientador
Prof. Dr. Wanderson Lambert
(DEMAT/ICE/UFRuralRJ)

Junho de 2016
Mapeamento e modelagem da assinatura térmica das intrusões magmáticas em Pinnacle
Ridge, na região de Ruapehu, na Zona Vulcânica de Taupo (ZVT), Nova Zelândia.

Stephanie Ferreira dos Santos

Trabalho apresentado à Universidade


Federal Rural do Rio de Janeiro como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Geologia.

Orientador: Bem Kennedy (UC/NZ)


Supervisor: Dr. Artur Corval (DEGEO)
Co-orientador: Wanderson Lambert (ICE/DEMAT)

Seropédica, junho de 2016.

i
1 – FERREIRA, S. S.

Mapeamento e modelagem da assinatura térmica das intrusões magmáticas em Pinnacle

Ridge, na região de Ruapehu, na Zona Vulcânica de Taupo (ZVT), Nova Zelândia.

Trabalho de Graduação, 85 p.

Curso de Geologia / Departamento de Geociências (DEGEO)

Instituto de Agronomia / Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

1-Vulcanologia 2- Magmatismo 3- Geotermia

[Seropédica] Ano 2016

ii
“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo,
à sombra do Onipotente descansará.
Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o
meu refúgio, a minha fortaleza, e nele
confiarei”.
Salmos 91: 1,2.

iii
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, meu criador e salvador. Àquele que nos momentos de tribulação
e desespero, foi o meu refúgio e consolo. A Ele toda honra e toda Glória.

Agradeço aminha melhor amiga, minha mãe Sônia Cristina, pelo apoio e amor incondicionais,
paciência e disciplina. Seu incentivo me fez alcançar lugares que eu jamais imaginaria. Meu caráter e
formação são fruto do seu esforço e anos de anulação própria. Sei que as minhas realizações se fazem
dela e que as minhas alegrias abrilhantam a sua vida. Minhas conquistas são o meu reconhecimento
pela garra dessa mulher. Te amo, mãe.

Agradeço a minha família pelo apoio contínuo. Um agradecimento em especial a minha tia
Christiane, pelo exemplo acadêmico.

Aos meus queridos amigos Sabrina, Deborah, Emerson, Victor, Luciana, Rafael e a todos os
amigos que tiverem tanta compreensão, já que nem sempre pude estar presente nesse período
conturbado. Obrigada por me aguentarem durante estresse todo.

Ao João Vitor, que tem que encontrado um lugar especial em minha vida...só até ali.

Um imenso agradecimento a Larissa e a Priscila, que me deram abrigo durante a confecção da


presente monografia. Meninas, esses anos de amizade estará para sempre em meu coração.

A Família Gonçalves pelo imenso carinho.

Ao Antônio Vicente pela fraternidade alugada.

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro por todos os recursos e suportes oferecidos
durante a vigência desta bolsa e pela experiência acadêmica vivida até agora.

Ao meu orientador, Dr. Artur Corval, pelo longo trajeto acadêmico que traçamos. Agradeço pela
sua contribuição em minha vida acadêmica, espiritual e pessoal. Também lhe sou grata pelos
“esporros”, afinal é errando que se aprende. Agradeço também ao Dr. Sérgio de Castro Valente, pelo
excelente humor e incentivo. A ambos pelos anos estagiando no grupo de pesquisa EDSM-rifte, uma
grande família. Estar com os senhores foi motivo de grande inspiração.

Agradeço imensa e profundamente ao Dr. Wanderson Lambert, pela paciência, dedicação,


prontidão e conhecimentos cedidos, pois sem ele essa bolsa não seria possível.

A todos que fazem ou fizeram parte da minha vida, um agradecimento sincero.

iv
Sumário
RESUMO ................................................................................................................................................................. vii
ABSTRACT .............................................................................................................................................................. viii
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................................................. ix
ÍNDICE DE TABELAS................................................................................................................................................ xiii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................1
1.1. Apresentação ............................................................................................................................................1
1.2. Objetivos...................................................................................................................................................1
1.3. Justificativa ...............................................................................................................................................1
1.4. Metodologia .............................................................................................................................................2
1.5. Localização................................................................................................................................................3
CAPÍTULO 2: REVISÃO TEMÁTICA .............................................................................................................................5
2.1. Mecanismos de transferência de calor: definições e conceitos ....................................................................5
2.2. Modelagem Termal: Conceitos e aplicações ......................................................................................... 12
2.3. Modelagem Térmica aplicada a rochas ígneas ...................................................................................... 20
2.3.1. Modelagem térmica aplicada a sistemas petrolíferos .................................................................. 21
2.3.2. Modelagem Térmica aplicada a sistemas geotermais................................................................... 30
2.4. Breve Contexto Regional ....................................................................................................................... 34
2.4.1. Geologia da Zona Vulcânica de Taupo e Monte Ruapehu ............................................................. 40
2.4.2. Geologia de Pinnacle Ridge ........................................................................................................... 41
2.5. Magmatismo da região de Ruapehu, Nova Zelândia............................................................................. 43
2.5.1. Contexto geral ............................................................................................................................... 43
2.5.2. Caracterizações petrográficas e geoquímicas ............................................................................... 45
2.6. Perfis de Alteração em sistemas geotermais. ....................................................................................... 51
2.6.1. Modelos conceituais para sistemas geotermais em Zonas Vulcânicas ......................................... 51
2.6.2. Sistemas geotermais na Zona Vulcânica de Taupo........................................................................ 54
CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DOS DADOS ........................................................................................................... 58
3.1. Dados de campo ......................................................................................................................................... 58
3.1.1. Reconhecimento da área ..................................................................................................................... 58
3.1.2. Coleta de dados para os modelos térmicos ........................................................................................ 64
3.2. Aplicação da equação de calor e definições de respectivos parâmetros .................................................. 65
3.3. Elaboração de modelos térmicos ............................................................................................................... 68
CAPÍTULO 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................... 73
4.1. Discussões................................................................................................................................................... 73

v
4.1.1. Comportamento termal de uma intrusão unitária versus um dique isolado. ..................................... 73
4.1.2. Comportamento termal para uma intrusão unitária versus múltiplas intrusões................................ 73
4.1.3. Comparação entre os halos de alteração ............................................................................................ 74
4.1.4. Resultados para modelagem térmica encontrados na literatura versus resultados obtidos através do
modelo ora proposto. .................................................................................................................................... 77
4.1.5. Dados de campo versus previsões do modelo .................................................................................... 79
4.2. Limitações ................................................................................................................................................... 81
4.3. Modelo térmico ora proposto: conclusão .................................................................................................. 82
4.4. Trabalhos Futuros ....................................................................................................................................... 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 84
ANEXO I

vi
RESUMO

Esta monografia tem como objetivo elaborar modelos térmicos unidimensionais que auxiliem a
definição e interpretação de halos de alteração em sistemas geotermais associados a intrusões
magmáticas em Pinnacle Ridge, na região de Ruapehu, pertencente à Zona Vulcânica de Taupo (ZVT),
Nova Zelândia. Mineralizações e corpos mineralizados presentes na crosta terrestre são
frequentemente relacionados aos efeitos térmicos da ascensão e solidificação magmática em sistemas
hidrotermais. Em geral, a condutividade térmica de rochas cristalinas (como granitos e basaltos) é mais
elevada do que em rochas sedimentares. Assim, o alojamento de intrusões deste tipo próximas à
superfície é capaz de gerar um aumento da temperatura na região afetada. Esta informação é valiosa,
uma vez que auxilia a compreensão de como as anomalias térmicas geradas a partir de eventos
magmáticos podem ter contribuído para a geração de campos geotérmicos, assim como à maturação
de hidrocarbonetos em bacias sedimentares atípicas. A manifestação de processos magmáticos na
crosta da Terra e seus efeitos sobre a evolução geodinâmica de uma região específica pode ser melhor
entendida se analisada do ponto de vista de modelos numéricos, com o objetivo de descrever a
variação temporal do campo de temperatura associado. A Lei de Fourier, permite quantificar a
transferência de calor por condução através de equações de fluxo de calor onde o fluxo de calor é
diretamente proporcional ao gradiente de temperatura. Modelos térmicos foram desenvolvidos
considerando o tempo e o fluxo de calor entre intrusões e as rochas hospedeiras. Soluções analíticas
com base em equações de calor foram implementados no software MATLAB para gerar gráficos que
destacam a relação entre o fluxo de calor, tempo e distância. As intrusões mais representativas foram
analisadas isoladamente (caso hipotético) e posteriormente comparadas com o efeito térmico de
múltiplas intrusões (dados de campo). Como esperado, a transferência de calor entre os corpos
intrusivos e as rochas encaixantes se comporta de maneira diferente para os casos de múltiplas
intrusões e intrusões unitárias. A interação das ondas de calor aumenta o perfil de temperatura, que
requer mais tempo em uma área maior até que toda a área afetada atinja o equilíbrio térmico. De acordo
com o modelo, tanto para o caso para intrusões unitárias e casos de intrusões múltiplas, os corpos
intrusivos com maiores espessuras possuem maior influência nas rochas encaixantes a maiores
distâncias. Para múltiplas intrusões, as ondas de calor se somam com o passar do tempo, aumentando
o perfil de temperatura no interior na intrusão central devido a sua maior espessura.

Palavras-chave
Modelagem Térmica, Magmatismo, Intrusões, Halos de Alteração, Sistemas Geotermais, Zona
Vulcânica.

vii
ABSTRACT

This paper aims to develop one-dimensional thermal models to assist the definition and interpretation
of alteration halos in geothermal systems associated with magmatic intrusions in Pinnacle Ridge,
Ruapehu region, Taupo Volcanic Zone (TVZ), New Zealand. Mineralization and mineralized bodies
present in the earth's crust are often related to the magmatic rise and solidification thermal effects in
hydrothermal systems. In general, the thermal conductivity of crystalline rocks (such as granite and
basalt) is higher than in sedimentary rocks. Thus, the intrusion of this type of accommodation near the
surface is able to generate an increase in temperature in the affected area. This information is valuable,
as it helps to understand how the thermal anomalies generated from magmatic events may have
contributed to the generation of geothermal fields, as well as hydrocarbon maturation in atypical
sedimentary basins. The manifestation of magmatic processes in the Earth's crust and its effects on the
geodynamic evolution of a specific region can be better understood if analyzed from the point of view of
numerical models in order to describe the temporal variation of temperature profiles. The Fourier's law
quantifies heat transfer through heat flow equations of conduction where the heat flow is directly
proportional to the temperature gradient. Thermal models were developed considering the time and the
heat flux from intrusions in host rocks. Analytical solutions based on heat equations were testes using
the software MATLAB to generate graphs that highlight the relationship amongst heat flow, time and
distance. The most representative intrusions were analyzed separately (hypothetical cases) and
subsequently compared with the heating effect of multiple intrusions (field databased). As expected, the
heat transferred between the intrusive bodies and surrounding rocks behaves differently for the multiple
cases and for single intrusions. Heat waves interaction increases the temperature profile, which takes
longer to reach the thermal balance through larger areas. According to the model, for both the single
and multiple case, intrusive bodies with larger thicknesses have greater influence on rocks enclosing at
greater distances. For multiple intrusions, heat waves add up over time, increasing the temperature
profile within the central intrusion due to its greater thickness.

Key words
Thermal Modelling, Magmatism, Intrusions, Alteration halos, Geothermal systems, Volcanic Zone.

viii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1: (a) Mapa da Ilha Norte da Nova Zelândia mostrando a localização do vulcão Ruapehu na extremidade Sul da Zona
vulcânica de Taupo (ZVT). 1, 2, 3 e 4 representam andesitos basálticos ou erupções basálticas centrais (Graham & Hackett,
1987 in Price et al., 2012). (b) Geologia do vulcão Ruapehu. PR, Pinnacle Ridge; Wh, estação de equi de Whakapapa; Tr,
estação de equi de Turoa; Tk, estação de esqui de Tukino. (c) Seção transversal [A-B em (b) ] mostrando a localização do
vulcão Ruapehu dentro do grabens pertencentes ao Monte Ruapehu. Modificado de Price et al.,
(2012).........................................................................................................................................................................................4
Figura 2.1: Mecanismo de transferência de calor (extraído de King, 2003). T é a temperatura dos meios e q é o fluxo térmico
entre os meios.............................................................................................................................................................................5

Figura 2.2: Elemento de volume com dimensão vertical δy, área 𝒂, densidade 𝝆, calor específico 𝒄, condutividade termal 𝒌 e
geração de calor interno 𝑨 . O calor é conduzido somente na direção do fluxo (perfeitamente unidirecional). Retirada de Allen
& Allen (2004).............................................................................................................................................................................9

Figura 2.3: a. Distribuição da temperatura nas proximidades de um contato ígneo certo tempo após a intrusão. b. Derivadas
primeira e segunda da temperatura em função da distância. A taxa máxima de resfriamento ocorre quando a derivada segunda
é mais negativa, e a taxa máxima de aquecimento ocorre quando esta é mais positiva. (Corrêa, 2007).
..................................................................................................................................................................................................13

Figura 2.4: Imagem esquemática mostrando seção geológica conhecida dividida da seguinte forma: (a) em malhas de 25 (b)
e 100 (c) células discretas homogêneas, onde cada quina de célula define uma rede de nós (pontos azuis) nas quais a
temperatura pode ser calculada. Notar que quanto maior o número de células, maior detalhe do modelo geológico é preservado
no modelo numérico. Retirada de Corrêa (2007). ....................................................................................................................21

Figura 2.5: Perfis de distribuição da temperatura para diferentes tempos (anos) após a intrusão da soleira de 4 m de espessura
do poço PAPA 1460. O eixo horizontal está na mesma escala da seção do poço referido. Retirada de Corrêa
(2007)........................................................................................................................................................................................22

Figura 2.6: Perfis de distribuição da temperatura (acima) e de densidade na soleira (abaixo) na simulação para o poço PAPA
1460 Bacia do Paraná. A espessura da soleira é marcada pela cor azul. Em (a), t ~ 0,01 ano. Em (b), t ~ 0,08 ano. Notar a
solidificação parcial da soleira em t0,01, a qual que se inicia nas bordas (ρ = 2900 kg/m3), em direção ao centro da soleira
(que possui a densidade do magma basáltico, igual a 2700 kg/m3). Em (a), quase toda a soleira é composta por magma,
sendo que apenas uma pequena espessura nas bordas apresenta a densidade do diabásio solidificado. A solidificação quase
total se dá em (b), quando as temperaturas dentro da soleira são iguais ou menores que 980°C (temperatura de solidificação
do magma) (Retirada de Corrêa,
2007)..........................................................................................................................................................................................23
Figura 2.7: Modelo termal para uma intrusão com 166 metros de espessura apresentando diversas curvas de tempo que são
indicadas no inset. A soleira está localizada na Bacia do Solimões (Retirada de Valente et al.,
2010)..........................................................................................................................................................................................26
Figura 2.8: Modelo termal para uma soleira com 396 metros de espessura apresentando diversas. curvas de tempo que são
indicadas no inset do gráfico. A referida soleira é localizada no campo do Rio Urucu – Sub-bacia do Juruá. O detalhe na cor
rosa à esquerda representa a metade da espessura da intrusão. Além disso, as espessuras e localização das rochas
reservatório e geradora estão representadas. Retirado de Oliveira
(2011)........................................................................................................................................................................................27
Figura 2.9: Distribuição da temperatura de um problema considerando a intrusão de um dique em quatro diferentes instantes
de tempo onde a notar que à medida que o tempo aumenta, a área de influência térmica aumenta, mas o máximo de
temperatura gerado pelo magma diminui (Modificada de Zhao et al., 2003)...........................................................................28
Figura 2.10: (a) Taxa de transformação calculada, sem as intrusões. As áreas em branco são as intrusões. (b) Taxa de
transformação calculada, com as intrusões. As áreas em branco são as intrusões (Modificada de Fjeldskaar et al., 2008).
...................................................................................................................................................................................................29
Figura 2.11: Modelo para intrusões com espessuras variadas localizadas em z1= 20 metros, z2= 80 metros, z3= 200 metros,
z4= 300 metros, z5= 400 metros, z6= 450 metros. As áreas avermelhadas representam as intrusões. A temperatura inicial da
rocha intrusiva na modelagem é de 1200 ºC e na rocha encaixante é considerada 0ºC devido o contraste de temperatura. A
janela de óleo varia de 60 ºC a 120 ºC e a janela de gás, varia de 120 ºC a 220 ºC, considerando um gradiente geotérmico
com cerca de 25ºC/km segundo. Retirada de Oliveira (2013)..................................................................................................29
Figura 2.12: Variação vertical das isotérmicas com tempo durante o resfriamento por condução condutora de um corpo ígneo
cilíndrico. Cada intervalo isotérmico varia em 25 ° C e os retângulos pretos indicam aposição da intrusão. Lê-se Ky como mil
anos. Retirado de Fu et al. (2010)...........................................................................................................................................31
Figura 2.13: Gráfico mostrando variação nas estruturas isotérmicas na secção transversal vertical 2D durante o resfriamento
condutivo e convectivo combinados (comparado a Figura 2.14, onde apenas o resfriamento por condução é considerado).
Cada intervalo isotérmico varia em 25 ° C e os retângulos pretos indicam a posição da intrusão. Lê-se Ky como milhões de
anos. Retirado de Fu et al. (2010). .................................................... .......................................................................................31

ix
Figura 2.14: Distribuição da temperatura e seus gradientes para um modelo esquemático dos depósitos de Fushan. A zona
de falha é representada pelas hachuras pretas. (a) distribuição da temperatura; (b) gradiente de temperatura no eixo x; e (c)
o gradiente de temperatura no eixo y. (d) representa a distribuição aproximada de mineralização, que é igual ao produto
escalar da velocidade do fluido nos poros e o gradiente de temperatura (Zhao et al., 2002 in Liu & Dai, 2014). Valores
negativos do mineral indicam precipitação e valores positivos indicam dissolução. Os modelos representam uma extensão de
8km, com uma profundidade de 6km na seção. A temperatura inicial no topo da superfície é de 25ºC e o gradiente de
temperatura é 36ºC/Km (Liu & Dai, 2014); o fluido aquecido na zona de falha tem aproximadamente 600ºC. Modificado de
Liu & Dai (2014). ................... ................................................................................................................ ...................32
Figura 2.15: Performance térmica e hidráulica para um modelo de reservatório durante 30 anos de extração de calor. a) visão
isométrica; b) visão lateral; c) visão planar; e d) evolução da temperatura e transferência de calor durante 30 anos, onde a
isotemperatura da superfície (179ºC) é demarcada para 5, 10, 20 e 30 anos. Modificada de Baksh et al.
(2016)......................................................................................................................................... .......................................... 33
Figura 2.16: Visão lateral do campo de temperatura para modelos abertos (a), confinados na base e no topo (b) e com bordas
fechadas (c). Vista planar dos modelos respectivamente em (d), (e) e (f). Retirada de Bakhsh et al.,
2016...........................................................................................................................................................................................34
Figura 2.17: Mapa mostrando a elevação digital submarina da Nova Zelândia. As zonas de fratura no fundo oceânico abissal
mostram a direção da separação da Zelândia da Austrália e Antártida. Modificado de NIWA
(2012)........................................................................................................................................................................................35
Figura 2.18: Coluna geológico-estartigráfica da Nova Zelândia com mudança na escala vertical a 100 Ma. As unidades da
Superprovíncia Austral são dispostas em ordem aproximada oeste-leste, mas nenhum padrão espacial está implícito para a
Megassequência Zelândia. Unidades alóctones não são mostradas. Os pulsos ígneos Tuhua e Rūaumoko são apenas
esquemáticos. Abreviaturas das suítes plutônicas: S, ponto de separação; Ra, Rahu; D, Darran; T, Lona; Fe, Ferrar; L,
Longwood; Fo, Foulwind; R, Cadeia; T, Tobin; P, Paringa; K, Karamea; J, Jaquiery. Outras abreviaturas: G, grupo; K99, King
et al. (1999) ciclos de segunda ordem; SG, supergrupo; T, terreno. Modificado de Mortimer et al.
(2014)............................................................................ .................................................. ......................... ....................37
Figura 2.19: Geologia simplificada do embasamento da Nova Zelândia. a. Os terrenos (de oeste para leste) são: Buller,
Takaka, Brook Street, Murihiku, Maitai, Caples, Waipapa, Rakaia (Torlesse antigo) e Pahau (Torlesse jovem). Os terrenos
ocidentais são intrudidos por três batólitos compostos (> l00 km²) do tamanho de plútons: Karamea-Paparoa, Hohonu e
Mediano, bem como por numerosas plutons menor. O Batólito Médio é um batólito de cordilheira que representa o sítio de
magmatismos relacionados com subducção de ca. 375-110 Ma. b. Perfil geológico indicado em a.: seção SW-NE. Modificado
de Storey (2015)............................................................. ......................... ......................... ..........................................38
Figura 2.20: Mapa mostrando a localização de vulcões andesíticos e planícies anelares (ring plain) do Centro vulcânico de
Tongariro. Retirado de Hackett (1989).......................................................................................... ............................................41
Figura 2.21: a) Mapa geológico generalizado do trend regional (alinhado para o Norte) de Ruapehu e suas fumarolas
relacionadas. Nota-se que fumarolas mais jovens estão alinhadas a falhas. b) Visão aérea dos flancos nordestes de Ruapehu.
A Formação Te Herenga é indicada pelo padrão sombreado. Corpos intrusivos e zona de alteração hidrotermal ao redor dos
mesmos são referentes às fácies centrais da porção Pinnacle Ridge superior. A porção Pinnacle Ridge Inferior, a cordilheira
Te Herenga e uma cordilheira não nomeada (parte inferior direita em b) consistem em depósitos de fácies proximais – A
cordilheira não-nomeada é um andesito capeado por morenas laterais. c) Fluxos de lava da Formção Whakapapa eu agora
ocupam o largo vale glacial que foi desenvolvido no cone de Te Herenga. Modificado de Hackett
(1985)............................................................... ......................... ......................... ......................... ............................ ..42
Figura 2.22: O painel da esquerda (Wright et al., 2003 in Price et al., 2005) mostra a extremidade sul do arco de Kermadec
e sua extensão para a ZVT, na Ilha Norte, Nova Zelândia (indicada como uma elipse preta aberta). Taranaki é o mais novo de
quatro vulcões que formam um lineamento (indicado pela seta) ao longo do qual o vulcanismo torna-se progressivamente
mais jovem para o sudeste. ZVT é a zona vulcânica de Taupo. O painel da direita é um mapa estrutural detalhado da ZVT
(Rowland & Sibson, 2001 in Price et al., 2005). Os vulcões andesíticos e dacíticos associados com a ZVT e são mostrados
de acordo com a idade estimada de acordo com os símbolos (triângulos e quadrados). Modificado de Price et al.,
(2005)......................................................... ......................... ......................... ......................... ....................................44
Figura 2.23: (a) Padrões típicos de elementos terras raras (normalizados para condritos) e (b) diagrama de multi-elementos
(normalizados para o manto) para erupções em Ruapehu de 1945-1996. Nota-se a semelhança global dos padrões de ETR,
a anomalia negativa de Eu e a crescente inclinação da ETRL com o aumento do teor total REE. O campo de lavas pré-
Ruapehu é colocado dentro das linhas tracejadas. Os valores no diagrama multi-elemento (b) mostram o esgotamento de Nb
e Ti e enriquecimentos (Cs, Rb, Pb) típico de magmas relacionados a zonas de subducção. Modificado de Gamble et al.
(1999)............................................................................. ......................... ......................... ......................... ..................45
Figura 2.24: Diagrama de SiO2 versus razão 87Sr/86Sr para lavas modernas, pré-históricas (seção Whangaehu Gorge: Price
et al., 1997 in Gamble et al., 1999) e todas as lavas de Ruapehu (Graham & Hackett, 1987). Este diagrama demonstra, por
diferentes pacotes de lavas, o aumento global das relações de isótopos radiogênicos com o aumento SiO 2, mostrando que
processos semelhantes operam em diferentes escalas durante a vida útil do vulcão. Os dados para pacotes discretos de lavas,
entretanto, definem tendências sutilmente distintas. Modificado de Gamble et al.
(1999).................................................................................................................. ..............................................................47
Figura 2.25: Diagramas esquemáticos que ilustram modelos para a evolução temporal progressiva dos sistemas magmáticos
andesítico e riolíticos na ZVT. Os sistemas andesíticos são iniciados como derivados mantélicos que foram introduzidos na
crosta inferior, resultando em cristalização fracionada, transferência de calor e fusão parcial. A incorporação de porções
fundidas na crosta e materiais residuais associados à fusão e fracionamento produz andesitos basálticos. O sistema de dutos
x
andesíticos alimentadores abaixo do vulcão torna-se progressivamente mais complexo, com magmas armazenados e em
evolução em soleiras e diques dispersos ao longo da crosta (p.ex.: Price et al., 1997; Gamble et al., 1999 in Price et al.
2005). Conforme a extensão e afinamento crustal progridem, o aumento das geotermas (advecção) resulta em fusão crustal
em larga escala. Os sistemas andesíticos anteriormente formados são, portando, reciclados e os extensos sistemas de
armazenamento riolíticos são progressivamente sobrecarregados em profundidades relativamente rasas. Modificado de Price
et al. (2005). ................................................................................................................ ............................................................50.
Figura 2.26: Modelos conceituais elaborados para reservatórios geotermais com geotermas de a.) 250ºC a 300ºC; e b.) 150ºC
a 200ºC. Os modelos também mostram as isotermas para cada caso, estruturas e zonas de alteração. Modificado de
Cumming (2009). ....................................................................................................................................................................53
Figura 2.27: Elevação digital com a estrutura geológica da atividade geotermal na ZVT. O mapa mostra a localização dos
sistemas geotermais (vermelho, roxo e laranja), os limites das caldeiras ativas e inferidas e o rifte de Taupo. Os nomes em
amarelo representam alguns dos campos geotermais presentes na região. As abreviações são os nomes das caldeiras, em
linguagem Maori: KA= Kapenga, MO = Mangakino, OH= Ohakuri, OK= Okataina, RE= Reporoa, RO = Rotorua, TA= Taupo,
WH = Whakamaru. Modificado de Wyering et al., 2014.
...................................................................................................................................................................................................55
Figura 2.28: Modelo conceitual de um campo geotérmico convencional, aquecido e dominado por líquido. O modelo foi divido
em zonas de alteração típicas para um sistema geotermal, com perfis de temperaturas e expressões geotérmicas superficiais.
Modificado de Wyering et al., (2014). ......................................... ......................... ......................... ................................56
Figura 3.1: Mapa de pontos da área de estudo em Pinnacle Ridge, na ZVT, Nova Zelândia. Os pontos e suas respectivas
coordenadas são descritos na Tabela 3.1. Em destaque (quadrado amarelo) está a localização da área mapeada em relação
ao Monte Ruapehu, demarcada de azul. Fonte: Imagem modificada do Google Earth. 58
Figura 3.2: Visão lateral 3D da cordilheira com a indicação dos pontos mapeados. Fonte: Imagem do Google Earth.
..................................................................................................................................................................................................60

Figura 3.3: Foto evidenciando a identificação e posicionamento das estruturas identificadas. a) As intrusões estão
representadas pela cor verde (escala: intrusão central com cerca de 142 metros de largura); b) Localização dos diques
modelados e posicionamento do permeâmetro. Modificado de Mordensky et al. (2016). .......................................................61

Figura 3.4: Fotografias ilustrando as características das rochas observadas em campo. a) Rochas encaixantes altamente
fraturadas e alteradas; b) Abertura das fraturas nas rochas intrusivas; c) Scanline nas brechas adjacentes aos diques; d)
disposição de fraturas no dique superior.
..................................................................................................................................................................................................62

Figura 3.5: Representação esquemática das juntas nas faces alteradas (verde) e não alteradas (azul) da intrusão. Modificado
de Mordensky et al. (2016). .....................................................................................................................................................63

Figura 3.6: Visão do dique principal (3 m) e dados de permeabilidade baseados em interpretações por meio de testes com
permeâmetro. As setas amarelas indicam o início e o térmico da área analisada. Modificado de Mordensky et al., (2016).
..................................................................................................................................................................................................64

Figura 3.7: Fotografia mostrando o posicionamento e atitudes dos diques dioríticos mapeados. Modificado de Mordensky et
al., (2016). ................................................................................................................ ......................... ...............................65

Figura 3.8: Blocos diagramas referentes às equações propostas. Apesar de dois eixos X e Y estarem representados, os
modelos são unidimensionais (funcionam somente no eixo X). O eixo X é referente às distâncias no espaço e o eixo Y
representa os valores da temperatura. As áreas hachuradas correspondem aos modelos unidimensionais (Temperatura x
Distância) propostos. A localização do dique no modelo do blocos (I) está no centro do domínio considerado; enquanto no
bloco (IV), a intrusão pode estar em qualquer local do domínio. Os parâmetros 𝝀𝒊 , 𝑪𝒑𝒊 𝒆 𝑲𝒊(densidade, capacidade térmica e
condutividade térmica, respectivamente) da intrusão são considerados iguais aos parâmetros 𝝀𝒆 , 𝑪𝒑𝒆 𝒆 𝑲𝒆 da encaixante.
Modificada de Oliveira (2013).
...................................................................................................................................................................................................67
Figura 3.9: Modelo térmico hipotético para um dique de 3 metros de espessura em Pinnacle Ridge, onde h varia de 0 a 25
metros. A região em vermelho-claro representa a metade da espessura da intrusão (w). As linhas tracejadas limitam a
temperatura de halos de alteração (Wyering et al, 2014). ......................................... .............................................................68
Figura 3.10: Modelo térmico elaborado para três diques com espessuras de 1m, 3m e 2,56m, localizados em z1 = 18m, z2 =
25m e z3 = 31m, respectivamente. As áreas vermelho-claras representam os diques e as linhas tracejadas limitam a
temperatura dos halos de alteração (Wyering et al, 2014). ............................... .....................................................................69
Figura 3.11: Modelo hipotético representando o efeito térmico de uma única intrusão com w= 71 metros, onde w é metade da
intrusão e h varia de 0 a 800. A área de cor vermelho-claro representa a intrusão e as linhas tracejadas limitam a temperatura
dos halos de alteração (Wyering et al., 2014). ...................................... ...................................................................................70
Figura 3.12: Modelo mostrando perfis térmicos para três intrusões com espessuras de 54m, 142m e 66m, localizado na z1 =
670, z2 = 800 e z3 = 940, respectivamente. Z varia de 0 a 1.600 metros. As curvas representam os perfis térmicos em seus
respectivos tempos. A curva azul é o instante de tempo de intrusão. A área em vermelho claro é a intrusão. As linhas tracejadas

xi
limitam a temperatura dos halos de alteração (Wyering et al, 2014).
................................................................................................................ ..................................................................................71

Figura 4.1: Bloco diagramas ilustrando os halos de alteração conforme os dados dispostos na Tabela 4.1. As faixas vermelhas
representam as intrusões. Os halos de alteração propilítica, argílica e com esmectita são representados pelas faixas azul,
rosa e verde, respectivamente. As áreas inalteradas são representadas pela cor cinza. A cor marrom relaciona as zonas que
atingiram temperaturas acima daquelas propostas por Wyering et al. (2014) para os halos de alteração. Os halos de alteração
foram estimados para: a) um único dique de 3m de espessura durante 1 ano; b) uma única intrusão de 142m, durante 1000
anos; c) múltiplos diques com espessuras variadas de 1m, 3m e 2,56m, durante 1 ano; e d) múltiplas intrusões de espessuras
variadas de 54m, 142m e 66m, por 1000 anos. Os diagramas dos casos a) e b) são cenários hipotéticos que consideram
somente a influência térmicas das intrusões centrais em c) e d). As dimensões de cada halo de alteração são listadas na
Tabela 4.1................................................................................................................ .................................................................76

Figura 4.2: Fotografia do dique superior (Figura 3.5), com aproximadamente 1 metro de espessura, dando ênfase a abertura
das fraturas em partes menos alteradas do dique. ....................................................................................................................81

Figura 4.3: Amostra de derrame andesítico in situ, na área mapeada em Pinnacle Ridge. A fotografia destaca a porosidade
secundária das rochas efusivas encaixantes. As vesículas estão destacadas pelas elipses
vermelhas..................................................................................................................................................................................82

xii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1: Densidade, calor específico, condutividade térmica e difusividade termal para os diferentes litotipos.
Retirada de Oliveira (2011)................ ............... ............... ............... ............... ............... ............... ...................25

Tabela 2.2: Descrição geológica dos nove principais terrenos tectono-estruturais das rochas do embasamento da
Nova Zelândia. ............... ............... ............... ............... ............... ............... ............... ............... ............... .......39

Tabela 3.1: Sumário de descrições dos pontos segundo o mapa (Figura 3.1). ............... ............... ....................59

Tabela 3.2: Parâmetros físicos utilizados no domínio do modelo. Note que os valores admitidos para as rochas
encaixantes são os mesmos das intrusões (andesitos), exceto pela temperatura. ............... ................. ............66

Tabela 4.1: Migração dos halos de alteração para cada modelo termal através do tempo, baseado nas Figuras
3.9, 3.10, 3.11 e 3.12. ............... ............... ............... ............... ............... ............... ............... ............... ..............77

xiii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

Esta monografia, necessária para conclusão do curso de Geologia da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, é referente à disciplina Trabalho de Graduação (IA 243) e foi orientada pelo professor
Dr. Ben Kennedy (Orientador externo/ Universidade de Canterbury, Nova Zelândia). O supervisor
interno é o professor Dr. Artur Corval. Adicionalmente, o Dr. Wanderson Lambert (Unifal/MG) atuou
também como co-orientador da fase inicial desta pesquisa à época da Iniciação Científica da aluna
Stephanie Ferreira dos Santos (2013/2014), enquanto o mesmo ainda era professor vigente na
instituição de ensino UFRuralRJ.

É importante ressaltar que o presente estudo começou a ser desenvolvido como relatório de
iniciação científica associado à Universidade de Canterbury, durante o período de intercâmbio realizado
pela aluna, bolsista CNPq, vinculada ao programa Ciência Sem Fronteiras.

O tema da monografia é modelagem térmica aplicada a intrusões dacíticas a andesíticas e suas


influências em sistemas hidrotermais, estando vinculada à linha de pesquisa sobre Modelagem Térmica
do grupo de pesquisa EDSM-Rifte.

1.2. Objetivos

A presente monografia teve como objetivo elaborar modelos térmicos unidimensionais que
auxiliem a definição e interpretação de halos de alteração em sistemas geotermais associados a
intrusões magmáticas em Pinnacle Ridge, na região de Ruapehu, pertencente à Zona Vulcânica de
Taupo (ZVT), Nova Zelândia.

1.3. Justificativa

Mineralizações e corpos mineralizados presentes na crosta terrestre são frequentemente


relacionados aos efeitos térmicos da ascensão e solidificação magmática em sistemas hidrotermais
(Zhao et al., 2003). Alterações na condutividade térmica das rochas que constituem a crosta exercem
efeitos significantes na distribuição de calor (p.ex.: Oliveira, 2013; Ferreira, 2014). Em geral, a

1
condutividade térmica de rochas cristalinas (como granitos e basaltos) é mais elevada do que em
rochas sedimentares. Assim, o alojamento de intrusões deste tipo próximas à superfície é capaz de
gerar um aumento da temperatura na região afetada. Nestes locais, a análise do fluxo de calor fornece
informações sobre a estrutura da crosta superior (Oliveira, 2013; Ferreira, 2014). Esta informação é
valiosa, uma vez que auxilia a compreensão de como anomalias térmicas geradas por eventos
magmáticos podem ter contribuído para a geração de campos geotérmicos, assim como à maturação
de hidrocarbonetos em bacias sedimentares atípicas (Oliveira, 2013).

O efeito térmico de intrusões magmáticas em ambientes favoráveis como sistemas hidrotermais


é capaz de gerar material significativo para o surgimento de campos geotermais. A manifestação de
processos magmáticos na crosta da Terra e seus efeitos sobre a evolução geodinâmica de uma região
específica pode ser melhor entendida se analisada do ponto de vista de modelos numéricos, com o
objetivo de descrever a variação temporal do campo de temperatura associado (Turcotte & Schubert,
2002). Desta forma, justifica-se a elaboração de modelos matemáticos para a análise e aproximada
definição de halos de alteração hidrotermal próximos (e ao redor) de áreas de intrusões magmáticas.

1.4. Metodologia

Os métodos utilizados para a execução deste trabalho incluem os seguintes itens:

1) Revisão temática com base em leitura de textos relativos aos seguintes tópicos:
a) Mecanismos de transferência de calor: definições e conceitos;
b) Modelagem termal: conceitos e aplicações;
c) Modelagem térmica aplicada a rochas ígneas;
d) Breve contexto regional;
e) Magmatismo da região de Ruapehu, Nova Zelândia;
f) Perfis de alterações em sistemas geotermais.

2) Atividades de Campo
As seguintes atividades foram realizadas no decorrer de cinco dias para a avaliação da área:

a) Mapeamento e fotografia do pináculo;


b) Mapeamento de fraturas através do método Scanline;
c) Avaliação de determinação de pontos para o posicionamento de permeâmetros;
d) Breve descrição mineralógica e classificação de rochas;

2
e) Análise comparativa (com base em observações de campo e na literatura) entre materiais
alterados em possível relação à atividade ígnea;
f) Identificação e escolha de intrusões relevantes ao modelo, bem como a coleta de
parâmetros necessários para o mesmo.

3) Compilação de dados
a) Compilação de parâmetros geológicos (mais especificamente aqueles que não puderam ser
obtidos no campo, como, por exemplo: condutividade térmica e difusividade) necessários à
elaboração dos modelos térmicos.

4) Gabinete
a) Elaboração dos modelos térmicos de campo unidimensional (1D) para a modelagem
proposta;
b) Testes dos referidos modelos;
c) Análise de dados e resultados, elaboração de relatórios, bem como elaboração do volume
final da monografia de graduação.

1.5. Localização

Monte Ruapehu (Figura 1.1) é um estrato-vulcão ativo e de composição andesítica,


frequentemente afetado por deslizamentos, desmoronamentos e erupções. O presente estudo foi
realizado na Formação Te Herenga (~1700 anos), a mais antiga formação compondo o Monte
Ruapehu. Essa Formação é exposta numa sequência aproximadamente vertical através de eventos
glaciais (~10 Ma) em Pinnacle Ridge (Hackett, 1985).

Três intrusões e um pequeno sistema de diques foram analisados em Pinnacle Ridge, na Zona
Vulcânica de Taupo (ZVT, do Inglês Taupo Volcanic Zone, TVZ) (Figura 1.1), em termos de alteração
originadas por condutividade térmica. O posicionamento de cada intrusão será melhor abordado nos
capítulos referentes às observações de campo empregadas na geração dos modelos.

3
Figura 1.1: (a) Mapa da Ilha Norte da Nova Zelândia mostrando a localização do vulcão Ruapehu na extremidade
Sul da Zona vulcânica de Taupo (ZVT). 1, 2, 3 e 4 representam andesitos basálticos ou erupções basálticas
centrais (Graham & Hackett, 1987 in Price et al., 2012). (b) Geologia do vulcão Ruapehu. PR, Pinnacle Ridge;
Wh, estação de equi de Whakapapa; Tr, estação de equi de Turoa; Tk, estação de esqui de Tukino. (c) Seção
transversal [A-B em (b) ] mostrando a localização do vulcão Ruapehu dentro do grabens pertencentes ao Monte
Ruapehu. Modificado de Price et al., (2012).

4
CAPÍTULO 2: REVISÃO TEMÁTICA

2.1. Mecanismos de transferência de calor: definições e conceitos

O conhecimento da estrutura termal da Terra é indispensável para compreender seu


comportamento mecânico, relacionada à reologia das rochas, que depende da temperatura, por sua
vez, em função da profundidade. A distribuição da temperatura no planeta deve corresponder às
entradas e saídas de calor do Sistema Terra. Tanto a produção como a redistribuição de calor na
litosfera é feita a partir de três diferentes processos fundamentais: condução; convecção (ou advecção);
e produção de calor (Stüwe, 2007). A transferência de calor ocorre pelos processos de condução,
convecção e radiação (Figura 2.1), sendo os primeiros para meios sólidos e o último para gases e
líquidos (Carslaw & Jaeger, 1986).

Figura 2.1: Mecanismo de transferência de calor (extraído de King, 2003). T é a temperatura dos meios e q é o
fluxo térmico entre os meios.

A transferência de calor por condução é um processo difusivo no qual as moléculas transmitem


sua energia cinética para as outras moléculas por meio da propagação de colisões com estas últimas.
A transmissão de calor por convecção (vertical) ou advecção (horizontal) é associada com o movimento
de um meio (mais frio ou mais quente) em relação ao outro (Turcotte & Schubert, 2002).

O sol pode transmitir calor através da energia eletromagnética, todavia com menor relevância nos
processos de transferência de calor terrestre. A radiação consiste de ondas eletromagnéticas viajando
com a velocidade da luz. Como a radiação é a única forma de transferência de calor que pode ocorrer

5
no espaço vazio, a mesma corresponde a principal forma pela qual o sistema Terra-Atmosfera recebe
energia do Sol e libera energia para o espaço (Carslaw & Jaeger, 1986).

A manifestação dos processos magmáticos na crosta terrestre e seus efeitos na evolução


geodinâmica de uma região em particular podem ser melhor compreendidos se analisados do ponto de
vista de modelos numéricos, objetivando a descrição da variação temporal do campo de temperaturas
associado (Turcotte & Schubert, 2002).

A importância dos processos de condução e convecção varia em diferentes zonas do planeta


(Allen & Allen, 2004). Na litosfera, a condução é o processo dominante no transporte de calor, já que
essa é menos densa e quente que o manto sublitosférico, onde o processo predominante é a
convecção, típico de zonas mais interiores e profundas da Terra. A convecção é um processo de
transferência de calor muito mais rápido e eficiente que a condução.

A lei de Fourier permite quantificar transferências de calor por condução por meio de equações
de fluxo de calor, sendo o fluxo térmico Q diretamente proporcional ao gradiente de temperatura
(Stüwe, 2007). A equação, em uma dimensão, toma a seguinte forma:

T
Q  k (1)
y

. Onde k é o coeficiente de condutividade, T é a temperatura em um determinado ponto no meio e y


é a coordenada da direção da variação da temperatura.

A condutividade termal k é obtida quando as amostras de rochas são submetidas a um fluxo de


calor conhecido, analisando-se a diminuição deste calor pela amostra. O fluxo de calor é expresso por
unidades como mWm-2 ou cal cm2 s-1. Quando se trata de fluxo de calor na superfície, o mesmo é
expresso em HFU (unidades de fluxo de calor). O valor de 1 HFU é equivalente a 10-6 cal cm-2 ou 41,
48mWm-2. A condutividade termal é expressa em unidades de Watts por metro centígrado (Wm-1 °C-1),
ou cal cm-1 °C-1.

A aquisição da temperatura pode ser feita em cavernas, minas, poços profundos e no assoalho
oceânico (Carslaw & Jaeger, 1986). A medida da temperatura do assoalho oceanico é feita in situ. A
sonda utilizada para medição de temperatura no fundo oceanico contém um sensor acoplado, que
penetra os sedimentos. Atividade vulcânica ou regiões tectonicamente extensionais podem influenciar
no fluxo de calor devido às altas temperaturas envolvidas nesses processos. Vale denotar que em
regiões colisionais, o fluxo de calor varia de baixo a normal. O fluxo de calor em outras zonas distantes

6
destes eventos não está diretamente relacionado com o decaimento de isótopos radioativos que, no
caso, são sua fonte de calor primária (Carslaw & Jaeger, op. cit.).

A perda de calor terrestre mais eficiente ocorre na superfície oceânica, aproximadamente 60%
(Stüwe, 2007), em comparação com a crosta continental. O assoalho oceânico torna-se mais antigo e
frio quanto mais afastado das dorsais meso-oceânicas.

A produção de calor a cerca de três bilhões de anos atrás era duas vezes maior do que nos dias
atuais (Stüwe, 2007). A razão está relacionada à quantidade de isótopos radioativos decaindo para
isótopos estáveis, o que diminuiu o volume atual de isótopos radioativos. Uma vez que menos calor
está sendo gerado (sabendo-se que o processo de convecção é dependente da viscosidade e a
viscosidade do manto é sensível à temperatura), logo a taxa de transferência de calor também vem
sendo reduzida, assim como a convecção mantélica.

A segunda lei de Fourier descreve um balanço de energia. Essa energia relaciona o calor, a
temperatura e a mudança do fluxo de calor com a variação da temperatura (Stüwe, 2007):

T Q
 (2)
t y

A equação (2) indica que a taxa de variação da temperatura da rocha deve ser proporcional à
taxa com que o conteúdo de calor muda. Esta taxa dada pela diferença entre o fluxo de calor para
dentro da rocha e o fluxo de calor para fora da rocha.

Stüwe (2007) explica que se o fluxo de calor para dentro é maior do que o fluxo de calor para
fora, então o conteúdo de calor crescerá e a sua temperatura aumentará. Se o fluxo de calor para
dentro do volume é tão grande quanto o que flui para fora, a temperatura se manterá constante. Se
mais calor flui para fora do cubo do que para dentro, a sua temperatura diminuirá.

Stüwe (op.cit.) também relacionou a temperatura e o conteúdo de calor pela seguinte fórmula:

H  Tc p (3)

. Onde H é o conteúdo de calor volumétrico (J mˉ³), ρ é a densidade e c p é a capacidade do calor

específico (J kgˉ¹ Kˉ¹).

Se o calor específico de uma rocha é alto, muitos Joules são necessários para aquecê-la. E
mesmo um rápido aumento do seu conteúdo de calor irá retardar o aumento da temperatura e vice-
versa. Portanto, a temperatura e quantidade de calor são inversamente proporcionais (Stüwe, 2007).

7
Considerando que o balanço de energia na equação (2) é formulado em termos da coordenadas
espacial z, e a capacidade de calor é formulada em termos de massa, pode-se multiplicar cp com a
densidade ρ.

Assim, a relação entre o fluxo de calor e a mudança temporal da temperatura pode ser escrita:

T Q
c p  (4)
t y

O sinal negativo surge porque o aumento da temperatura quando ∂Q= Qexterno - Qinterno é negativo,
isto é, mais fluxo de calor para dentro da rocha do que para fora (Stüwe, op. cit.).

Stüwe (op. cit.) substituiu a Primeira Lei de Fourier dentro do Balanço de Energia Termal e
obteve a forma geral da difusão unidimensional ou equação de condução de calor:

 T 
 k 
T 
  
y
c p (5)
t y

Segundo o autor, se k é dependente de y, é possível simplificar (5) significativamente. K pode ser


retirado do diferencial, podendo-se escrever:

T T T  ²T
c p k ou  (6)
t yy t y ²

k
Onde k, ρ e cp são resumidas por  , denominada de difusividade termal. A mesma
( cp)
corresponde à habilidade de o material ganhar ou perder calor por condução. Em palavras, (6) diz que
a taxa de mudança da temperatura é proporcional à curvatura espacial do perfil de temperatura (Stüwe,
2007).

A seguir, será discutida a equação unidimensional de condução de calor, essencial na elaboração


de modelos termais. A discussão será feita com base em um exemplo considerando a dimensão vertical
δy de um elemento de volume (Figura 2.2), com seção transversal de área a.

8
Figura 2.2: Elemento de volume com dimensão vertical δy, área 𝒂, densidade 𝝆, calor específico 𝒄, condutividade
termal 𝒌 e geração de calor interno 𝑨 . O calor é conduzido somente na direção do fluxo (perfeitamente
unidirecional). Retirada de Allen & Allen (2004).

Allen & Allen (2004) assumiram que no topo da superfície do elemento há a entrada de um fluxo
de calor Q( y ) . O elemento possui uma geração de calor interno, densidade ρ e capacidade termal
(calor específico) dado por c . O calor específico representa a quantidade calorífica para elevar a
temperatura por 1°C de 1kg de material (dado por unidades de Wkg-1°C-1).

Em unidade temporal, a entrada de calor no elemento de volume é aQ( y  y ) e a perda de


calor do elemento é aQ( y  y ) .

A equação Q( y  y ) pode ser expandida numa série de Taylor obtendo-se:

Q
Q( y  y)  Q( y)  y  ... (7)
y

Com base nos dois termos da série de Taylor, a perda ou ganho de calor, é dada pela diferença
dos fluxos de calor através do topo do elemento e fora da base do elemento (Allen & Allen, op. cit.).

 Q  Q
aQ( y )  a Q( y )  y   ay (8)
 Y  Y

9
Allen & Allen (2004) denominam o calor gerado internamente por unidade de volume de A . O
calor gerado no elemento de volume ay é então Aay . A perda ou ganho total por unidade de tempo
é dada por:

Q
Aay  ay (9)
Y
Segundo Allen & Allen (op. cit.) o material que forma o referido elemento de volume possui calor
específico c e densidade  , sofrendo uma pequena variação de temperatura T em um tempo curto

t , a taxa de calor (ganho ou perdido) é:

T
 cay (10)
t
Conjugando equações (9) e (10), tem-se:

T Q
 cay  Aay  ay (11)
t y

Simplificando:

T Q
 c  A (12)
t y

Substituindo a Lei de Fourier (1) em (12),

T A k  ²T
  (13)
t c c y ²

há a obtenção da equação de condução de calor unidimensional. Encontra-se mais uma vez, portanto,
k
o termo para difusividade termal  .
( c)

Certas condições de contorno podem ser aplicadas na equação de condução de calor


unidimensional, com o intuito de simplificá-la em algumas situações físicas ocorrentes na litosfera
(Stüwe, 2007):

I. Solução de estado estacionário em que não há mudança de temperatura com o tempo

T / t  0 :

10
 ²T A
 (14)
y ² k

II. Geração de calor interno nula, A0

T K  ²T  ²T
  (15)
t c y ² y ²

, sendo esta a equação da difusão.

Vale destacar ainda casos em que o elemento de volume possa estar em movimento relativo ao
seu entorno, alcançando regiões em que a temperatura varia com a profundidade. Se tal movimentação
se dá a uma velocidade uy na direção y (verticalmente na litosfera), a profundidade após um tempo t
será dada por u y T / y . Ocorre a necessidade, portanto, da alteração da equação de condução de

calor unidimensional por meio da adição do termo advectivo (Stüwe, 2007).

A temperatura muda após um curto período de tempo t e é dada por:

T k  ²T A T
   uy (16)
t c y ² c y
A mudança da temperatura em parte da litosfera é composta de três componentes: um termo de
fluxo de calor basal, um termo de geração de calor interna e um termo advectivo. O movimento de
advecção pode ocorrer pela superfície do elemento de volume associado com a ação de redução pela
taxa de erosão, por exemplo. Ou, ainda, em antemão a velocidade de deposição (Stüwe, 2007).

Ao se adotar uma relação de tempo e fluxo térmico, pode ser utilizada a solução da equação da
variação da temperatura T, em coordenadas cartesianas, no tempo e no espaço:

T k
  2T (17)
t c p
Dentro do contexto da equação acima (17), k é a condutividade térmica, cp é o calor específico e
ρ a densidade do material. Esta equação pode ser obtida de forma analítica (Carslaw & Jaeger, 1986)
ou por meio de métodos numéricos específicos, como o método dos elementos finitos (Beardsmore &

11
Cull, 2001), possibilitando a compreensão da variação da temperatura nos processos de resfriamento
de magmas (plutonismo, vulcanismo, hidrotermalismo) e metamorfismo em relação às rochas
encaixantes.

O transporte de calor ativo terrestre através da advecção pode ser diferenciado da convecção,
devido o primeiro ser geralmente usado se o transporte ativo de calor é apenas em uma direção, a
exemplo do transporte de calor por uma intrusão que se move verticalmente. Sendo assim, o termo
convecção é utilizado quando se refere ao transporte de material em circuito fechado. Por exemplo, a
convecção do material mantélico na astenosfera ou de fluidos em um sistema hidrotermal (Stüwe,
2007). É importante ressaltar que a equação de transporte possui uma maneira mais complexa de ser
resolvida do que pela equação de difusão (6), já que em soluções numéricas de problemas advectivos
há o confronto com problemas de difusão numérica. Uma maneira de evitar esse tipo de obstáculo é
converter um problema de advecção em um onde não há advecção, utilizando-se condições de
contorno (Stüwe, op. cit.).

2.2. Modelagem Termal: Conceitos e aplicações

Alguns conceitos básicos de modelagem termal são necessários para a elaboração dos modelos
supracitados. Os mesmos serão discutidos a seguir.

A modelagem matemática é utilizada quando a idealização do problema físico, com limitantes


(matemáticas) bem definidas e representando as principais características, é alcançada (Oliveira,
2013). Existem diversos tipos de modelagem matemática na literatura que podem ser utilizados para a
análise dos efeitos térmicos. A manifestação dos processos magmáticos na crosta terrestre e seus
efeitos na evolução geodinâmica de uma região em particular, por exemplo, podem ser melhores
compreendidos se analisados do ponto de vista de modelos numéricos, objetivando a descrição da
variação temporal do campo de temperaturas associado (Turcotte & Schubert, 2002).

As soluções analíticas são as melhores soluções para os problemas, mesmo não sendo acuradas
como as soluções numéricas, mas são mais rigorosas com relação aos parâmetros e a maneira
explicita que a solução é apresentada (Oliveira, 2013). A maior parte dessas soluções consiste na
resolução de equações parciais diferencias em um sólido homogêneo sobre condições iniciais e de
contorno apropriadas.

Como um exemplo de solução analítica, a partir da equação (1), também conhecida como
equação de Fourier ou da condução de calor, é possível observar a influência térmica na rocha
encaixante, na Figura 2.3, após certo tempo pós-intrusão. A derivada segunda determina em qualquer

12
ponto a taxa em que a temperatura varia, segundo a equação de Fourier. Ou seja, enquanto a rocha
encaixante recebe o máximo de calor no ponto A, o magma perde o máximo de calor em B (Figura
2.3). O gradiente térmico varia com o tempo, logo, as posições desses máximos também irão mudar.
Devido ao fato da derivada segunda ser zero, a temperatura no contato permanecerá constante
enquanto magma e a rocha encaixante mantiverem suas temperaturas iniciais (Philpotts, 1990 in
Corrêa, 2007).

a. b.

Figura 2.3: a. Distribuição da temperatura nas proximidades de um contato ígneo certo tempo após a intrusão.
b. Derivadas primeira e segunda da temperatura em função da distância. A taxa máxima de resfriamento ocorre
quando a derivada segunda é mais negativa, e a taxa máxima de aquecimento ocorre quando esta é mais positiva.
(Corrêa, 2007).

Carslaw & Jaeger (1986) propuseram a derivação da equação (1), assumindo que o magma e
a rocha encaixante possuem a mesma condutividade térmica K. A partir da solução dada pela aplicação
da função erro é possível calcular uma temperatura 𝑇 em um instante t a uma distância 𝑥:

𝑇 1 1 𝑥
= + 𝑒𝑟𝑓 ( )
𝑇0 2 2 2√𝐾𝑡 (18)

Todavia, a solução supracitada não leva em conta o calor latente de fusão/cristalização do


magma. Esta cristalização ocorre por meio de reações exotérmicas e para considerar esse calor
adicional no modelo e obter uma taxa de resfriamento mais próxima da real, pode-se substituir 𝑇0 por
(𝑇0 + 𝐿⁄𝐶𝑝 ) na temperatura inicial do magma, sendo L o calor latente de fusão/cristalização e Cpa
capacidade térmica do magma. Neste caso, a superfície de solidificação migra com o tempo em direção
ao centro da soleira.

A solução deste problema só é válida até o ponto x onde o magma ainda possui a sua
temperatura inicial T0, próximo ao centro da intrusão. Para resolver essa barreira, Carslaw & Jaeger

13
(1986) apresentam uma solução para uma intrusão do tipo soleira, com espessura 2a, na qual a
distância, x, é medida a partir do centro da intrusão:

𝑇 1 𝑎−𝑥 𝑎+𝑥
= [𝑒𝑟𝑓 ( ) + 𝑒𝑟𝑓 ( )] (19)
𝑇0 2 2√𝐾𝑡 2√𝐾𝑡

As soluções analíticas não necessitam de muito tempo na fase elaboração do modelo e os


parâmetros podem ser facilmente ajustados para se adequar a diferentes casos tornando-as uma
ferramenta eficiente e rápida (Oliveira, 2013).

As soluções numéricas transformam um problema contínuo em um problema discreto, assim,


permitindo encontrar uma solução em cada ponto do sistema, a cada instante e a cada valor de
parâmetro, ou seja, possui uma solução discreta (Oliveira, 2013). O método numérico é capaz de
resolver qualquer tipo de problema, independente da complicação que ele possa possuir e pode ser
refinado o tanto quando desejado pelo operador (ao custo de tempo de processamento computacional)
(Oliveira, 2011).

Estes métodos envolvem a tradução de equações diferenciais em um conjunto de equações


lineares simultâneas em uma forma de diferenças finitas, onde os cálculos gradualmente convergem
para uma solução estável, através de interações numéricas. As incógnitas nestas equações são os
valores numéricos das variáveis dependentes (temperatura), uma para cada incremento das variáveis
independentes (tempo e distância), sendo que o número de equações é igual ao número de incógnitas
(Corrêa, 2007).

A fim de analisar quantitativamente o magmatismo da crosta terrestre e sua influência nos


sistemas petrolíferos de uma região, Oliveira (2013) utilizou um método de análise da variação de
temperatura em função do tempo. Serão apresentadas abaixo algumas propostas de modelagem para
situações geológicas.

A primeira proposta consiste em resolver a equação (17) pelo método de separação de


variáveis para quantificar a evolução térmica das intrusões. Segundo Stüwe (2002, in Oliveira, 2013),
quando se utiliza a equação (17) para descrever um problema de condução dependente do tempo, é
necessário resolvê-la para um grupo de limites e condições de contorno iniciais, mas é de fácil
percepção que isso só é possível para poucos limites e condições iniciais. Para diversos problemas
geológicos é interessante assumir que as condições dos limites irão até o infinito (distâncias bem
maiores se comparadas com a escala do problema). Nesse tipo de problema, os resultados da
integração de (17) irão conter o termo:

14
2 𝑛 (20)
∫ 𝑒 −𝑛² 𝑑𝑛 = erf(𝑛)
√𝑛 0

Essa integral não tem solução, mas por aparecer frequentemente nas soluções da equação de
fluxo do calor, é chamada de função erro. Os diferentes valores de n podem ser obtidos em tabelas ou
calculados numericamente. A função erro complementar (𝑒𝑟𝑓𝑐) é definida como:

(21)
𝑒𝑟𝑓𝑐(𝑛) = 1 − erf(𝑛)

Também é necessário definir uma escala de tempo característica 𝜏 como o tempo necessário
para a mudança da temperatura se propagar a uma distancia 𝑙 em um material com uma difusividade
termal 𝑘 (unidades de distância² tempo-1):

𝑙² (22)
𝜏=
𝑘

A escala de comprimento 𝑙 = √𝑘𝜏 dá a distância que a temperatura se propaga em um tempo


𝜏. É conhecida com a distância da difusão termal.

A solução para a temperatura em função do tempo é dada por:

𝑥
𝜃 = 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( ) (23)
2√𝑘𝑡

onde, no denominador, se encontra na forma da distância da difusão termal, 𝑒𝑟𝑓𝑐 é a função


erro complementar, 𝑥 é a distância horizontal e 𝑡 é o tempo após a intrusão e 𝜃 é a taxa de temperatura
na forma adimensional representada por:

𝑇 − 𝑇𝑏 (24)
𝜃=
𝑇𝑖 − 𝑇𝑏

onde 𝑇𝑖 é a temperatura da intrusão, 𝑇𝑏 é a temperatura da rocha encaixante e 𝑇 é a temperatura


em um tempo 𝑡.

15
Tendo em consideração as informações supracitadas é possível resolver a equação (17) para
determinadas condições de iniciais e de contorno específicas.

Ao assumirmos condução unidirecional, podemos escrever:

𝜕𝑇 𝜕²𝑇
=𝑘 (25)
𝜕𝑡 𝜕²𝑦

Admitindo as seguintes condições iniciais de contorno:

a) T = T1 t=0 y > 0;

b) T = T1 y=0 t > 0; (26)

c) T → T1 y → ∞ t > 0;

Usando a similaridade, temos  como o termo da razão adimensional da temperatura, logo:

𝑇 − 𝑇1 (27)
𝜃=
𝑇0 − 𝑇1

Assim,

𝜕𝜃 𝜕²𝜃 (28)
=𝐾
𝜕𝑡 𝜕²𝑦

Deste modo, as condições de contorno assumem a forma:

a) 𝜃(𝑦, 0) = 0;

b) 𝜃(0, 𝑡) = 1; (29)

c) 𝜃(∞, 𝑡) = 0;

Baseando-se na ideia de um problema com apenas uma escala de comprimento, podemos

determinar  por similaridade, assim sendo o único termo com as mesmas dimensões que y é t ,

16
que caracteriza a Distância de Difusividade Termal (Turcotte & Schubert, 2002). Desta forma, temos

que  está em função do termo adimensional.

𝑦 (30)
𝑛=
2√𝑘𝑡

Podemos reescrever as Equações 28 e 28 em termos de 𝑛. Aplicando a regra da cadeia:

𝜕𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝑛 𝜕𝜃 1 𝑦 1 𝜕𝜃 1𝑛
= = [− ]= (− ) (31)
𝜕𝑡 𝜕𝑛 𝜕𝑡 𝜕𝑛 2 √𝑘𝑡 𝑡 𝜕𝑛 2𝑡

𝜕𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝑛 𝜕𝜃 1
= =
𝜕𝑡 𝜕𝑛 𝜕𝑦 𝜕𝑛 2√𝑘𝑡 (32)

𝜕²𝜃 1 𝜕²𝜃 𝜕𝑛 1 1 𝜕²𝜃


= = (33)
𝜕𝑦² 2√𝑘𝑡 𝜕𝑛² 𝜕𝑦 4 𝑘𝑡 𝜕𝑛²

Substituindo na Equação 28,

𝜕𝜃 1 𝜕²𝜃
−𝑛 = (34)
𝜕𝑛 2 𝜕𝑛²

Assumindo as seguintes condições de contorno:

a) 𝜃(∞) = 0;
(35)
b) 𝜃(0) = 1;

Introduzindo

𝜕𝜃 (36)
∅=
𝜕𝑛

Podemos integrar (34) e obter

1 𝜕∅ (37)
−𝑛∅ =
2 𝜕𝑛

17
Rearranjando,

1 𝜕∅
−𝑛𝜕𝑛 = (38)
2 ∅

Tendo que 𝑙𝑛∅ = (−𝑛2 + 𝑙𝑛𝑐1 ) e ∅ = 𝑐1 exp(−𝑛2 ), assim podemos escrever que

−𝑛2 = 𝑙𝑛∅ − 𝑙𝑛𝑐1 (39)

Onde −𝑙𝑛𝑐1 é uma constante de integração.

Se,

𝜕∅
∅ = 𝑐1 exp(−𝑛²) = (40)
𝜕𝑛

Integrando a Equação (40) temos

𝑛
𝜃 = 𝑐1 ∫ 𝑒𝑥𝑝(−𝑛²)𝜕𝑛 + 1 (41)
0

Sendo 𝜃(∞) = 0,


√𝜋
∫ 𝑒𝑥𝑝(−𝑛²) 𝜕𝑛 =
0 2 (42)

2
Então, a constante 𝑐1 é − ( 𝜋) e

2 𝑛 (43)
𝜃 =1− ∫ exp(−𝑛²)𝜕𝑛
√𝜋 0

Definindo a função erro

𝑛
2 (44)
𝑒𝑟𝑓(𝑛) = ∫ 𝑒𝑥𝑝(−𝑛²)𝜕𝑛
√𝜋 0

18
Podemos, então, escrever a seguinte equação, onde 𝑒𝑟𝑓𝑐(𝑛) é a função erro complementar.

(45)
𝜃 = 1 − 𝑒𝑟𝑓(𝑛) = 𝑒𝑟𝑓𝑐(𝑛)

Em termos das variáveis originais temos:

𝑇 − 𝑇1 𝑦 (46)
= 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )
𝑇0 − 𝑇1 2√𝑘𝑡

𝑦
𝑇 = 𝑇1 + (𝑇0 − 𝑇1 )𝑒𝑟𝑓𝑐 ( ) (47)
2√𝑘𝑡

No entanto, para o resfriamento normal da superfície de uma intrusão será considerado um


sistema de coordenadas com origem no centro de uma intrusão que apresenta metade da sua
espessura com valor igual a w. Devido ao grande contraste de temperatura da intrusão e a rocha
hospedeira, assume-se que T1 = 0 e para as condições de contorno iniciais tem-se:

a) T = T0 em t = 0 para y  w ;
y w (48)
b) T = 0 em t = 0 e ;

Assim, a solução da equação (17) pode ser escrita da seguinte forma (Fowler, 2005 in Oliveira,
2013):

𝑇0 𝑤+𝑦 𝑤−𝑦
𝑇(𝑥, 𝑡) = [𝑒𝑟𝑓 ( ) + 𝑒𝑟𝑓 ( )] (49)
2 2√𝑘𝑡 2√𝑘𝑡

Na equação (49), as fronteiras do problema não são conhecidas ou não tem significado para o
mesmo.

Oliveira (2013) também utilizou uma equação proposta por Stüwe (2002) para realizar a
modelagem de múltiplas intrusões:

19
𝑁
1 𝑧 − (𝑧𝑛 − 0.5𝑙𝑛 ) (𝑧𝑛 + 0.5𝑙𝑛 ) − 𝑧
𝜃 = ∑ (𝑒𝑟𝑓 ( ) + 𝑒𝑟𝑓 ( ) + ⋯)
2 √4𝑘𝑡 √4𝑘𝑡
𝑛=1

(50)
𝜃 = (𝑇 − 𝑇𝑏 )⁄(𝑇𝑖 − 𝑇𝑏 )

Onde 𝜃 é a temperatura normalizada, N é o número de intrusões, 𝑇𝑖 e 𝑇𝑏 são as temperaturas


da intrusão e da encaixante respetivamente, z é a profundidade, 𝑧𝑛 é a profundidade da intrusão e 𝑙𝑛 é
a espessura da intrusão.

Por meio dessas soluções, tornou-se possível a construção de modelos unidirecionais (1D) para
fluxos térmicos (utilizando as equações 49 e 50) entre os diques e as rochas encaixantes com o pacote
computacional MATLAB. Esses modelos fornecem gráficos que confrontam temperatura e distância,
por meio das variáveis tempo e espessura da intrusão, permitindo a análise do fluxo térmico associado
ao efeito das intrusões nas rochas hospedeiras.

2.3. Modelagem Térmica aplicada a rochas ígneas

O conhecimento do regime térmico do interior da Terra é de grande importância na prospecção


e exploração mineral, além de extremamente decisivo em campos de gás e petróleo em bacias com
extenso vulcanismo. Os conceitos da modelagem termal têm sido utilizados para elaborar modelos que
avaliem a influência de intrusões ígneas (principalmente de diques e soleiras) em rochas encaixantes,
que em alguns casos podem estar contidas em sistemas petrolíferos (p.ex.: Caldeira, 2010; Oliveira,
2011; 2013) ou em sistemas hidrotermais (p.ex.: Fu et al., 2010; Liu & Dai, 2014; Bakhsh et al., 2016).
Desta forma, os dados geotermais têm sido utilizados recentemente para uma previsão objetiva sobre
a natureza de um depósito; isto é, definir se o mesmo contém ou possui potencial para gerar material
geotermal (como vapor, óleo ou gás, uma vez que a temperatura e a pressão determinam o estado
físico da água e dos hidrocarbonetos, além de materiais de minério, a partir de reações metamórficas
em sistemas hidrotermais). As mudanças na condutividade térmica das rochas que constituem a crosta
exercem efeito significativo na distribuição do calor nas mesmas. Tal fato pode tornar possível a
compreensão de como anomalias termais, geradas por eventos magmáticos, podem ter contribuído
para a maturação e geração de óleo e gás (p.ex.: Caldeira, 2010) e para a criação de material em
sistemas hidrotermais (p.ex.: Liu & Dai, 2014).

20
2.3.1. Modelagem térmica aplicada a sistemas petrolíferos

Neste tópico serão discutidos vários tipos de modelos, bem como metodologias utilizadas na
modelagem para determinação do comportamento termomecânico de intrusões ígneas. Trabalhos
recentes relacionados à modelagem térmica numérica, com diversas abordagens, foram realizados.
Fjeldskaar et al. (2008), Caldeira et al. (2010), Valente et al. (2010), Valente et al. (2012), Valle
(2010), Oliveira et al. (2011) realizaram uma modelagem térmica com soluções analíticas. Outros
modelos como Zhao et al. (2003), Corrêa (2007) e Wang et al. (2012) abordaram o problema com
modelos com soluções numéricas. O software de modelagem matemático MATLAB foi utilizado na
elaboração de modelos unidimensionais de fluxo térmico, com base em soluções analíticas de
equações de Termologia.

Como um exemplo de solução numérica, Corrêa (2007) resolveu a equação parcial diferencial
a partir da equação de Fourier ou da condução de calor para uma região finita no espaço com intuito
de utilizar o método das diferenças finitas. Ao invés do volume ser infinitesimal, ele é reduzido a um
pequeno volume finito. A variação térmica no sistema pode ser então obtida pelo somatório do efeito
de todas as pequenas células. Quanto menor o tamanho e maior a quantidade das cédulas, mais
próximo da solução exata da equação diferencial ou do modelo geológico real (Figura 2.4).

a. b. c.

Figura 2.4: Imagem esquemática mostrando seção geológica conhecida dividida da seguinte forma: (a) em
malhas de 25 (b) e 100 (c) células discretas homogêneas, onde cada quina de célula define uma rede de nós
(pontos azuis) nas quais a temperatura pode ser calculada. Notar que quanto maior o número de células, maior
detalhe do modelo geológico é preservado no modelo numérico. Retirada de Corrêa (2007).

Além dos modelos numéricos unidimensionais, Corrêa (2007) também elaborou modelos para a
Bacia do Paraná (Figuras 2.5 e 2.6) com base na variação da refletância da vitrinita (Ro), o que indica
fortemente a influência térmica imposta às rochas.

21
Figura 2.5: Perfis de distribuição da temperatura para diferentes tempos (anos) após a intrusão da soleira de 4
m de espessura do poço PAPA 1460. O eixo horizontal está na mesma escala da seção do poço referido. Retirada
de Corrêa (2007).

Nos modelos gerados por Corrêa (2007) foi utilizado, ao decorrer do tempo, uma variação na
densidade da intrusão (RHO) (Figura 2.6), com o prosseguimento do resfriamento e consequente
solidificação. Diferentes constantes de difusividade foram utilizadas para os componentes do modelo.

Corrêa (2007) obteve resultados (Figura 2.5) mostrando que as condições térmicas próximas a
do background da Formação Irati, de 46°C, são retomadas 100 anos após a intrusão do corpo
magmático a uma temperatura inicial de 1100 °C. Vale destacar a rápida taxa de decaimento de
temperatura entre o intervalo de 0,1 anos a 0,3 anos (cerca de 5 a 15 semanas) após a intrusão, quando
a temperatura diminui em mais de 200 °C. Essa alta taxa de resfriamento é causada pela evolução da
densidade dentro da soleira (Figura 2.6) que, após 0,08 anos (cerca de 1 mês), já se torna solidificada
por completo. Com a solidificação total da soleira, há um aumento da condutividade térmica interna.

A referida modelagem possibilitou concluir (Figura 2.5) que os folhelhos encaixantes em contato
direto com as bordas da soleira atingiram uma temperatura de cerca de 40 °C, a qual representaria o

22
pico máximo de temperatura para todas as rochas da Formação Irati nas imediações desta soleira.
Adicionalmente, é possível observar a existência de pico térmico gerado por temperaturas maiores ou
iguais a 200°C (Figura 2.5; Corrêa, 2007).

Figura 2.6: Perfis de distribuição da temperatura (acima) e de densidade na soleira (abaixo) na simulação para
o poço PAPA 1460 Bacia do Paraná. A espessura da soleira é marcada pela cor azul. Em (a), t ~ 0,01 ano. Em
(b), t ~ 0,08 ano. Notar a solidificação parcial da soleira em t0,01, a qual que se inicia nas bordas (ρ = 2900
kg/m3), em direção ao centro da soleira (que possui a densidade do magma basáltico, igual a 2700 kg/m3). Em
(a), quase toda a soleira é composta por magma, sendo que apenas uma pequena espessura nas bordas
apresenta a densidade do diabásio solidificado. A solidificação quase total se dá em (b), quando as temperaturas
dentro da soleira são iguais ou menores que 980°C (temperatura de solidificação do magma) (Retirada de Corrêa,
2007).

Diversos métodos numéricos já foram desenvolvidos, cada um com suas próprias vantagens e
complexidades, desde os mais simples como o método Lumped ou método de diferenças finitas que
podem ser desenvolvidos do zero para cada novo problema até o método clássico de elementos finitos,
que uma vez desenvolvido (mesmo que necessite de muito esforço), pode ser aplicado sucessivamente
a qualquer caso complexo que se tenha em mãos (Oliveira, 2013).

23
Os modelos desenvolvidos representam situações ideais, de modo que algumas considerações
e aproximações fossem assumidas, tais como: temperatura inicial da intrusão magmática sendo em
torno de 1000°C, difusividade termal com valor de 10-6 m2/s e contraste de temperatura entre a
encaixante e a intrusão sendo muito elevado. Assim sendo, pode-se assumir a temperatura da
encaixante como zero (Caldeira et al., 2010).

Além disso, alguns parâmetros obtidos na literatura foram usados na modelagem termal
aplicada as intrusões presentes nas Bacias Paleozóicas analisadas (p.ex.: Corrêa, 2007; Caldeira et
al., 2010; Valente et al., 2010; Oliveira, 2011, 2013), tais como: como densidade (g/cm³), calor
específico (J/g∙°K), condutividade térmica (W/m∙°K) e difusividade termal (mm²/s) para os diferentes
litotipos (Tabela 2.1, Oliveira, 2011). É importante ressaltar que para a posterior modelagem de plumas
mantélicas, as principais litologias a serem consideradas serão: basaltos (toleíticos e alcalinos) e
peridotitos, também dispostos na referida tabela.

Segundo Oliveira (2011), os resultados da modelagem indicaram uma nítida relação entre o
tempo e a influência térmica das intrusões na geração e maturação de óleo e gás (Figura 2.7). É
possível observar a existência de uma migração nos horizontes de geração de gás e óleo (Figuras
2.6). Esta migração é provocada muito provavelmente pelo avanço da frente de fluxo térmico em
direção à rocha encaixante. Além disso, os estudos revelam que existe relação significante entre a
influência térmica imposta pela intrusão e a sua espessura (p.ex.: Corrêa, 2007; Caldeira et al., 2010;
Valente et al., 2012; Oliveira, 2011, 2013). Comparando-se as Figuras 2.7 e 2.8, vê-se que para a
intrusão de 166m o fluxo térmico só influencia a maturação até 775 metros, enquanto que para a soleira
de 396m, este o fluxo atinge até 1850 metros. Portanto, tal influência pode ser favorável a tornar
algumas regiões da rocha encaixante (em intervalos de distância distintos), em regiões potenciais
geradoras de hidrocarbonetos (Oliveira, 2011; 2013) (Figuras 2.7 e 2.8).

Zhao et al. (2003) propuseram um algoritmo com uma malha de elementos finitos fixa com uma
integração da variável ‘tempo’ para simular efeitos térmicos de uma intrusão de magma (Figura 2.9).
A partir do problema da solidificação do magma, antes tratado com um limite variante entre o magma
e a rocha encaixante, é apresentada uma alternativa que não considera esse limite móvel, mas com
uma fonte de calor equivalente.

24
Tabela 2.1: Densidade, calor específico, condutividade térmica e difusividade termal para os diferentes litotipos. Retirada de Oliveira (2011).

Litotipos Condutividade Térmica (W/m∙°K) Densidade (g/cm³) Calor Específico (J/g∙°K) Difusividade Termal (mm²/s) Autor
Granito 1,7 – 4,0 2,6 - 2,7 790 0,001 Schön, (1996)
Calcário 3,1 2,3 - 2,7 810 0,002 Beardsmore, G.R. (1996)
Basalto 1 - 4,5 2,8 - 3,0 840 0,002 Schön, (1996);
Arenito 1,7 – 6 2,2 – 2,8 920 0,001 Schön, (1996)
Andesito 3 2,5 - 2,8 1381 0,001 Beardsmore, G.R. (1996)
Diorito 1,5 - 4,0 2,8 - 3,0 500 - 1000 0,001 Lo & Wai (1982)
Gabro 1,5 - 4,0 2,7 - 3,3 500 - 1000 0,001 Schön, (1996)
Dolomito 1,5 - 5,5 2,8- 2,9 920 0,001 Lo & Wai (1982)
Gnaisse 1,5 – 5 2,6 - 2,9 500 - 1000 0,002 Schön (1996)
Diabásio 3 2,6 - 3,0 500 - 1000 0,001 Beardsmore, G.R. (1996)
Micaxistos 3 2,5 - 2,9 500 - 1000 0,001 Schön, (1996)
Peridotito 3 3,1 - 3,4 500 - 1000 0,001 Schön, (1996)
Quartzito 3 - 7,5 2,6 - 2,8 500 - 1000 0,003 Lo & Wai (1982)
Anidrita 6.3 2,8 500 - 1000 0,002 Beardsmore, G.R. (1996)
Riolito 2,37 2,4 – 2,6 500 - 1000 0,001 Goodman (1989)
Sal de rocha 3 2,5 - 2,6 500 - 1000 0,001 Beardsmore, G.R. (1996)
Xisto 1,5 – 5 2,4 - 2,8 500 - 1000 0,002 Schön, (1996);
Mármore 2,08 - 2,94 2,4 - 2,7 500 - 1000 0,001 Schön (1996)
Argilito 2 2,2 - 2,6 500 - 1000 0,001 Beardsmore, G.R. (1996)
Limestone 2,21 2,5 – 2,8 840 0,001 Schön, (1996)
Folhelho 1,0 – 2 2,4 – 2,8 500 - 1000 0,002 Schön, (1996)

25
Figura 2.7: Modelo termal para uma intrusão com 166 metros de espessura apresentando diversas curvas de
tempo que são indicadas no inset. A soleira está localizada na Bacia do Solimões (Retirada de Valente et al.,
2010).

Os seguintes parâmetros foram utilizados na análise dos elementos finitos proposta por Zhao
et al. (2003): a densidade do magma e da rocha encaixante são 2900kg/m³; calor específico de
1200J/(kgºC); coeficiente de condutividade termal de 1,74W/(mºC). A diferença de temperatura entre a
intrusão e a rocha encaixante foi considerada 1000ºC. A temperatura considerada no topo do modelo
é de 20ºC enquanto na base é de 320º. A média da temperatura inicial das rochas encaixantes é de
230ºC. A temperatura da intrusão é de 1230ºC. A malha de elementos finitos do problema foi modelada
com 1040 elementos finitos quadriláteros com quatro nós, enquanto a intrusão possui 114 elementos
finitos quadriláteros com quatro nós. O comprimento e a altura do domínio computacional têm 40,2 e
10 km e a região da intrusão possui 0,2 e 6 km na horizontal e vertical, respectivamente.

26
Oliveira (2011; 2013) analisou a influência térmica de intrusões hipotéticas da Bacia do Paraná.
Em seus modelos, considerou-se o tempo e o fluxo de calor entre as intrusões e as rochas encaixantes.
Por isso, soluções analíticas das equações de calor foram implementadas no software MATLAB
permitindo a geração de gráficos detalhados com a relação de fluxo de calor, tempo e distância (p.ex.:
Figura 2.8).

Figura 2.8: Modelo termal para uma soleira com 396 metros de espessura apresentando diversas curvas de
tempo que são indicadas no inset do gráfico. A referida soleira é localizada no campo do Rio Urucu – Sub-bacia
do Juruá. O detalhe na cor rosa à esquerda representa a metade da espessura da intrusão. Além disso, as
espessuras e localização das rochas reservatório e geradora estão representadas. Retirado de Oliveira (2011).

Fjeldskaar et al. (2008) calculou os efeitos de maturidade da matéria orgânica e da temperatura


causados por um enxame de soleiras (Figura 2.10). Os parâmetros utilizados foram: densidade de
2720 kg/m³; capacidade térmica de 1090 J/kgK; condutividade térmica de 2,5 W/mK; Temperatura no
topo do sistema de 0ºC e na base de 1300ºC; difusividade térmica de 8,43x10-7m²/s; Dimensões do
domínio em x = 100.000m, y= 100.000m e z 67.000m.

27
Oliveira (2013), também calculou o perfil térmico referindo-se a várias intrusões no mesmo
domínio. Ele demonstra que várias intrusões não geram um cenário positivo para a produção de
petróleo quando a área analisada está entre as intrusões. No entanto, é possível ocorrer ao longo de
zonas sujeitas a geração de hidrocarbonetos próximos as intrusões localizadas em partes mais
externas do sistema (entre z6 e z1; Figura 2.11).

Figura 2.9: Distribuição da temperatura de um problema considerando a intrusão de um dique em quatro


diferentes instantes de tempo onde a notar que à medida que o tempo aumenta, a área de influência térmica
aumenta, mas o máximo de temperatura gerado pelo magma diminui (Modificada de Zhao et al., 2003).

28
Figura 2.10: (a) Taxa de transformação calculada, sem as intrusões. As áreas em branco são as intrusões. (b)
Taxa de transformação calculada, com as intrusões. As áreas em branco são as intrusões (Modificada de
Fjeldskaar et al., 2008).

Figura 2.11: Modelo para intrusões com espessuras variadas localizadas em z1= 20 metros, z2= 80 metros, z3=
200 metros, z4= 300 metros, z5= 400 metros, z6= 450 metros. As áreas avermelhadas representam as intrusões.
A temperatura inicial da rocha intrusiva na modelagem é de 1200 ºC e na rocha encaixante é considerada 0ºC
devido o contraste de temperatura. A janela de óleo varia de 60 ºC a 120 ºC e a janela de gás, varia de 120 ºC a
220 ºC, considerando um gradiente geotérmico com cerca de 25ºC/km segundo. Retirada de Oliveira (2013).

29
2.3.2. Modelagem Térmica aplicada a sistemas geotermais

Fu et al. (2010) apresenta um modelo computacional 2D que combina termo-cronometria e


geocronologia com técnicas de modelagem numérica para restringir quantitativamente a história
térmica e de exumação de intrusões ígneas em depósitos de minério magmático-hidrotermais. O autor
considerou parâmetros relacionados com o esfriamento dos corpos intrusivos, condução, calor latente
de cristalização e de fusão, convecção térmica dentro dos corpos magmáticos, a circulação hidrotermal
induzida por intrusões magmáticas, exumação e erosão.

Os estudos realizados por Fu et al. (2010) sugerem que o resfriamento magmático de corpos
ígneos pode ser dividido em duas fases distintas (Figura 2.12). Durante a primeira fase de resfriamento,
o corpo ígneo esfria rapidamente, enquanto rocha encaixante é simultaneamente aquecida. Esta etapa
é caracterizada por uma velocidade de arrefecimento muito elevada. Na segunda etapa, tanto as
intrusões quanto a encaixante resfriam lentamente até atingirem o equilíbrio térmico, tendo suas
condições geotérmicas iniciais restauradas. A divisão do processo em dois estágios de resfriamento
oferece o potencial para novos estudos sobre processos térmicos que podem controlar a deposição de
deposição do ouro epitermal de baixa temperatura, localizados nas áreas distais das zonas de
resfriamento das intrusões (p.ex.: Arehart et al., 2003 in Fu et al., 2010).

Fu et al. (2010) relatam que embora a condução seja tratada como um mecanismo de
transferência de calor crítico no modelo, a circulação hidrotermal induzida pela intrusão e por
convecção magmática dentro do corpo intrusivo também gera mecanismos de transferência de calor
eficientes. Na Figura 2.13, logo acima do corpo ígneo está localizada uma pluma hidrotermal. Apesar
dos parâmetros usados serem similares àqueles usados para o caso de condução pura (Figura 2.12),
é possível observar que a circulação hidrotermal pode acelerar significativamente o processo de
resfriamento magmático devido à combinação de processos convectivos. A temperatura média
apresentada pelas isotermas, nesse caso, é aproximadamente 25°C mais baixa do que para o caso de
condução.

Liu & Dai (2014) utilizaram o método numérico para simular a transferência de fluidos entre poros
(do Inglês, ‘pore-fluid flow’) e o calor associado aos processos de formação de minérios de ferro no
distrito de Fushan, na China. Os depósitos são tipo skarn e foram gerados através de metassomatismo
entre intrusões hornblenda-dioríticas e as encaixantes. O depósito é também cortado por uma zona
ativa de falhas.

30
Figura 2.12: Variação vertical das isotérmicas com tempo durante o resfriamento por condução condutora de um
corpo ígneo cilíndrico. Cada intervalo isotérmico varia em 25 ° C e os retângulos pretos indicam aposição da
intrusão. Lê-se Ky como mil anos. Retirado de Fu et al. (2010).

Figura 2.13: Gráfico mostrando variação nas estruturas isotérmicas na secção transversal vertical 2D durante o
resfriamento condutivo e convectivo combinados (comparado a Figura 2.14, onde apenas o resfriamento por
condução é considerado). Cada intervalo isotérmico varia em 25 ° C e os retângulos pretos indicam a posição da
intrusão. Lê-se Ky como milhões de anos. Retirado de Fu et al. (2010).

31
Os autores utilizaram o software FLAC (código 2D para cálculos através do método de diferenças
finitas explícitas) para simular o fluxo de fluidos entre poros, a transferência de calor e a mineralização
(Figura 2.14). As equações utiluzadas para simular os processos de formação dos depósitos levaram
em consideração alguns parâmetros como: a velocidade do fluxo de fluidos, a pressão dos fluidos nos
poros, a dinâmica da viscosidade entre o fluido e os poros, a densidade do fluido; o fluxo térmico nas
direções, termperatura e porosidade.

c) Gradiente de temperatura em y

Figura 2.14: Distribuição da temperatura e seus gradientes para um modelo esquemático dos depósitos de
Fushan. A zona de falha é representada pelas hachuras pretas. (a) distribuição da temperatura; (b) gradiente de
temperatura no eixo x; e (c) o gradiente de temperatura no eixo y. (d) representa a distribuição aproximada de
mineralização, que é igual ao produto escalar da velocidade do fluido nos poros e o gradiente de temperatura
(Zhao et al., 2002 in Liu & Dai, 2014). Valores negativos do mineral indicam precipitação e valores positivos
indicam dissolução. Os modelos representam uma extensão de 8km, com uma profundidade de 6km na seção.
A temperatura inicial no topo da superfície é de 25ºC e o gradiente de temperatura é 36ºC/Km (Liu & Dai, 2014);
o fluido aquecido na zona de falha tem aproximadamente 600ºC. Modificado de Liu & Dai (2014).

Os resultados obtidos por Liu & Dai (2014) mostram que a distribuição termal controla fortemente
os padrões do fluxo entre poros, uma vez que a força regente do mesmo é o gradiente de temperatura.
Isso significa que quanto maior a mudança de temperatura, mais rápida será a velocidade do fluido
(Figura 2.14).

Bakhsh et al. (2016) elaboraram modelos numéricos hipotéticos a fim de analisar a influência da
transferência de calor na varação da permeabilidade dentro de um reservatório geotermal, uma vez

32
que mudanças térmicas em poços de produção geradas pelo resfriamento devido à reinjeção de água
fria podem encurtar o tempo de expulsão de fluidos nos poços de produção. Os autores investigaram
a variação da permeabilidade utilizando o Software COMSOL Multiphysics.

Bakhsh et al. (2016) consideraram um reservatório do tipo homogêneo, com um sistema de


injeção e produção, em uma bacia sedimentar de alta permeabilidade e alto gradiente de temperatura
(0,05 K/m). A taxa de injeção foi considerada constante e igual a taxa de produção (40l/s); a temperatura
da água de reinjeção foi assumida como 35ºC. A distribuição da porosidade e permeabilidade da bacia
foi tida como uniforme e os cálculos para os fluxos de fluidos foram efetuados com base na Lei de
Darcy. A área estudada foi restrita ao bloco com largura de 500m (Figura 2.15). Os efeitos
gravitacionais foram negligenciados.

Figura 2.15: Performance térmica e hidráulica para um modelo de reservatório durante 30 anos de extração de
calor. a) visão isométrica; b) visão lateral; c) visão planar; e d) evolução da temperatura e transferência de calor
durante 30 anos, onde a isotemperatura da superfície (179ºC) é demarcada para 5, 10, 20 e 30 anos. Modificada
de Baksh et al. (2016).

Os resultados obtidos na Figura 2.15 apontam para uma influência considerável no volume do
reservatório devido ao gradiente térmico horizontal imposto pela injeção de água fria, através de uma
fratura altamente permeável. O contraste entre esses dois gradientes térmicos é maior em áreas
próximas à injeção, resultando em expansão localizada da temperatura superficial. Além disso, os
33
resultados indicam que a área de transferência de calor ao redor da linha de injeção cresce mais rápido
do que a área de transferência de calor ao redor do poço de produção, dando ao reservatório uma
forma de sino ou domo (Bakhsh et al., 2016).

Bakhsh et al. (2016) também analisaram casos onde os reservatórios são limitados de formas
distintas (Figura 2.16). Os estudos indicaram que a evolução do comportamento termal para cada
cenário é dependente da quantidade de acesso do fluido através das bordas do domínio (maior, por
exemplo, para bordas abertas onde a temperatura de produção também é maior). A forma da área de
transferência de calor para o caso dos limites abertos também diminui.

Figura 2.16: Visão lateral do campo de temperatura para modelos abertos (a), confinados na base e no topo (b)
e com bordas fechadas (c). Vista planar dos modelos respectivamente em (d), (e) e (f). Retirada de Bakhsh et
al., 2016.

2.4. Breve Contexto Regional

A Nova Zelândia é um fragmento do Gondwana que, antes do espalhamento oceânico no


Cretáceo Inferior, era contíguo à Austrália e à Antártica. Apesar da crosta continental da região ser em
torno de um terço da área da Austrália, somente 10% está acima do nível do mar (a exemplo das ilhas
Norte e Sul). Não é exibido nenhum núcleo cratônico continetal do Pre-Cambriano na Nova Zelândia
(Mortimer et al., 2014).

34
Hackett (1985) descreve o sudoeste do Oceano Pacífico como uma região de ilhas isoladas, com
platôs e cordilheiras submergidas, separados por bacias profundas e trincheiras. Na maior parte da
região da Nova Zelândia, a borda da plataforma continental possui isóbaras de 2000m. Dentro dessa
região, embasamentos xistosos, grauvacas e granitoides são expostos em ilhas isoladas. A evidência
mais concreta de que a Nova Zelândia um dia formou o supercontinente Gondwana reside nas zonas
de fratura oceânicas do Cretáceo Inferior (<85 Ma, adjacentes à Zelândia). De acordo com Hackett
(1985), as fraturas no Mar da Tasmânia mergulham em direção a Austrália e as fraturas ao Sul do
Oceano mergulham em direção a Antártida (Figura 2.17).

Figura 2.17: Mapa mostrando a elevação digital submarina da Nova Zelândia. As zonas de fratura no fundo
oceânico abissal mostram a direção da separação da Zelândia da Austrália e Antártida. Modificado de NIWA
(2012).

Estando submersa, a maior parte da Nova Zelândia é inacessível para estudo, mas sua parte
continental contém uma ampla variedade de rochas Fanerozóicas que preservam o registro da margem
convergente do Gondwana (Cambriano ao Cretáceo Superior), do rifteamento no Cretáceo e,
subsequente, margem passiva no Cenozoico. Hackett (1985) faz uma distinção entre as rochas do
embasamento da Nova Zelândia e a cobertura sedimentar, sendo as primeiras com idades anteriores
a 110 Ma, comumente metamorfizadas e altamente deformada; e as segundas, com idades posteriores

35
a 110 Ma, bem estratificadas e pouco deformadas. Além disso, as desconformidades no Cretáceo
Inferior (ca. 85 Ma) dividem as rochas de cobertura em sequências rifte e drifte. Entre 85-110 Ma, o
rifteamento formava semi-grabens associados a depósitos fluviais e marinhos, através do
desenvolvimento de núcleos de complexos metamórficos (Hackett, op. cit.).

Mortimer (2004) revela que as idades dos embasamentos variam do Cambriano Intermediário
ao Cretáceo Inferior; porém nenhuma camada Precambriana ou rochas cratônicas são expostas. O
material mais antigo da Nova Zelândia foi datado através de zircões detríticos em paragnaisses do
Terreno Buller, com idade aproximada de 3402±22 Ma 207Pb/206Pb (Ireland, 1992 in Mortimer, 2004),
relacionados com eventos de subducção imbricada mais complexos (Terreno Pahau, Supergrupo
Waipa) na parte mais leste da ilha Norte (p.e.: Cawood et al., 1999 in Mortimer, 2004). O granito
mais novo da Nova Zelândia no oeste da Ilha Sul foi datado com 82 Ma (Waight et al., 1999 in Tost &
Cronin, 2015) em cerca de aproximadamente 100 km da Falha Alpina (o atual limite entre as placa
Pacífica-Australiana), a direção dos terrenos de embasamento define uma curvatura oroclinal
Cenozoica. Falhas neógenas são muito comuns nessa zona, além de contatos Mezosoico/Paleozoicos
que comumente mostram estruturas de reativação.

A Nova Zelândia pode ser hierarquicamente organizada (p.ex.: Mortimer et al., 2014) como
mostra a Figura 2.18. As duas unidades de nível mais alto são a Superprovíncia Austral e a
Megassequência Zelândia. Estas abrangem todas as unidades estratigráficas de rochas do
embasamento, do Cambriano ao Cretáceo Superior, e de toda a cobertura sedimentar do Cretáceo
Inferior ao Holoceno, respectivamente. A maioria dos componentes de alto nível estratigráfico da
Superprovíncia Austral estão divididas em: Províncias orientais e ocidentais, compostas por 12 terrenos
tectonoestratigraficos, 10 suítes ígneas, 5 batólitos e uma arco metamórfico (Haast Schist). As suítes
Ferrar, Tarpauling e Jaquiery foram adicionadas às suítes plutônicas existentes para descrever todas
as variações de composição conhecida nas intrusivas de Tuhua (como exemplificado na Figura 2.18).
A Megassequência Zelândia consiste em cinco unidades predominantemente sedimentares e uma
unidade ígnea. Os supergrupos Momotu e Haerenga compreendem a porção mais inferior das unidades
de rifte ou margem passiva (terrestre para marinhos transgressivos). O Supergrupo Waka inclui rochas
relacionadas com inundações marinhas máximas associadas à culminação da margem passiva a leste
e início da nova subsidência tectônica a oeste. Os supergrupos Maui e Pākihi compreendem unidades
regressivas de sedimentos marinhos a terrestres, depositadas durante a convergência de placa no
Neógeno. A região vulcânica de Rūaumoko é introduzida para incluir todas as rochas ígneas da
Megassequência Zelândia (Mortimer et al., 2014).

36
Figura 2.18: Coluna geológico-estartigráfica da Nova Zelândia com mudança na escala vertical a 100 Ma. As
unidades da Superprovíncia Austral são dispostas em ordem aproximada oeste-leste, mas nenhum padrão
espacial está implícito para a Megassequência Zelândia. Unidades alóctones não são mostradas. Os pulsos
ígneos Tuhua e Rūaumoko são apenas esquemáticos. Abreviaturas das suítes plutônicas: S, ponto de
separação; Ra, Rahu; D, Darran; T, Lona; Fe, Ferrar; L, Longwood; Fo, Foulwind; R, Cadeia; T, Tobin; P, Paringa;
K, Karamea; J, Jaquiery. Outras abreviaturas: G, grupo; K99, King et al. (1999) ciclos de segunda ordem; SG,
supergrupo; T, terreno. Modificado de Mortimer et al. (2014).

Existe um amplo consenso entre os geólogos da Nova Zelândia sobre a divisão da Ilha do Sul
em terrenos, dispostos nas Províncias Leste e Oeste. Em contrapartida, a nomenclatura na Ilha do
Norte é basicamente restrita à cobertura sedimentar e aos terrenos estruturais que se estendem à
mesma (Mortimer, 2004). Dessa forma, o embasamento (Figura 2.19) do Cambriano ao Cretáceo
Superior pode ser descrito em termos de nove (principais) terrenos vulcano-sedimentares (Tabela 2.2),

37
três batólitos regionais (Figura 2.18) e três cinturões metamórfico-tectônicos que sobrepõe os terrenos
e batólitos (Mortimer et al., 2014).

Figura 2.19: Geologia simplificada do embasamento da Nova Zelândia. a. Os terrenos (de oeste para leste) são:
Buller, Takaka, Brook Street, Murihiku, Maitai, Caples, Waipapa, Rakaia (Torlesse antigo) e Pahau (Torlesse
jovem). Os terrenos ocidentais são intrudidos por três batólitos compostos (> l00 km²) do tamanho de plútons:
Karamea-Paparoa, Hohonu e Mediano, bem como por numerosas plutons menor. O Batólito Médio é um batólito
de cordilheira que representa o sítio de magmatismos relacionados com subducção de ca. 375-110 Ma. b. Perfil
geológico indicado em a.: seção SW-NE. Modificado de Storey (2015).

38
Tabela 2.2: Descrição geológica dos nove principais terrenos tectono-estruturais das rochas do embasamento da Nova Zelândia.
CARACTERÍSTICAS LIMITE ENTRE
IDADE LITOLOGIA REGISTRO FÓSSIL MAGMATISMO AMBIENTE TECTÔNICO REFERÊNCIAS
ESTRUTURAIS TERRENOS
Arenitos continentais e Evento deformacional O contato Buller- Cooper (1989); Cooper e
Cambriano Inferior Quartzitos ricos em
Buller
argilitos siliciclásticas Intrusões do batólito de (Greenland Event ). Margem continental Takaka é maracado Tulloch (1992); Roser e
PROVÍNCIA OESTE

ao Devoniano Graptolites. Variedade


metamorfizados. Sessão Karamea (Devoniano). Almagamamento dos terrenos passiva ou ativa. pela falha Anatoki Korsch (1988) in
Médio. Fossilífera (Ordoviciano).
turbidítica presente. Buller e Takaka (Devoniano). (falha de empurrão). Mortimer et al . (2014).
Blocos alóctones de Contato Takaka-Brook
Rochas siliciclásticas, Arco Convergente, arco
carbonatos fossilíferos. Supergrupos separados pela Street penetrado por Cooper (1989); Cooper e
Cambriano Médio carbonatos, calcáreos de Ilha e retroarco.
Takaka

Trilobitas cambrianos Máficas intrusivas de Orogenia Ross-Delamerian , plútons do Batólito Tulloch (1992); Roser e
ao Devoniano (Ordoviciano) e Possivelmente separado
(fósseis mais antigos Riwaka (~375 Ma). resultando em misturas Mediano, não mais Korsch (1988) in Mortimer
Médio. ortoquartzitos do Gondwana por
datados na Nova metamórficas (Ballon Mélange ). sendo indetificado et al. (2014).
(Siluriano). extensão.
Zelândia). como falha.
TERRENOS TECTONO-ESTRUTURAIS DO EMBASAMENTO

Única ocorrência
Conglomerado conhecida da Zelândia Basaltos piroxênicos e A falha empurrão
Brook Street

discordante sobre de Glossopteris . plutons trondhjemito da Falha de empurrão deslocando "Letham Cume " marca
Mortimer (2004);
Permiano estratos do Permiano. Sequências fossilíferas costa Sul. Pillow Lavas e o Terreno Brook Street sobre o Arco oceânico. o contato entre os
Mortimer et al. (2014).
Sucessão de arenitos- dominadas por gabros isotrópicos Murihiku . terrenos Brook Street
argilitos-carbonatos braquiópodes e primitivos. e Murihiku .
moluscos.
A falha de Hillfoot
Dominantemente Faunas cosmopolitas Localizado no núcleo de uma
Murihiku

Antearco de longa marca o contato


Neopermiano ao arenitos marinhos. (Triássico). Facies não- Rochas extrusivas e/ou sinclinal de escala regional. Mortimer (2004);
duração ou bacia de tectônico entre os
Jurássico. Conglomerados, argilitos marinhas contêm carvão vulcânicas. Terreno cortado pela falha Mortimer et al. (2014).
retroarco. Terrenos Murihiku e
e tufos presentes. fino e fósseis de plantas. Alpina.
Maitai .
Terreno Monte

Sequência
Maitai ( ou

O contato Maitai-
vulcanoclástica Sequência ofiolítica Mélanges no interior do Considerado como a
Dun)

Permiano Inferior Caples é marcado pela Mortimer (2004);


sedimentar (Triássico); Não mencionado. cortadas por complexo cinturão Ofiolítico Dun , parte basal de uma bacia
ao Triássico Médio falha de Livingstone Mortimer et al. (2014).
PROVÍNCIA LESTE

carbonatos; turbiditos de diques. recoberto de forma discordante. de retroarco.


(zona de melange ).
arenosos.

Predominantemente O contato com o


Tectonicamente imbricados, Depósitos de cunha
rochas sedimentares com Riodacitos de média Terreno Rakaia foi
Caples

Perminao ao sequência fracamente acrescionária. Mortimer (2004);


seqiências vulcânicas Registro fóssil raro. composição e clastos sobreposto pelo arco
Triássico metamorfoseada. Dobras Justaposição com o Mortimer et al. (2014).
próximas à base (pillow plutônicos. xistoso de Otago
retumbantes redobradas. Terreno Rakaia .
lavas, cherts). (Haast Schist).

Dominado por arenitos e


Arco volcanoplutonico
argilitos. Arenito e Faunas e floras do
Permiano ao Estrutura interna complexa; continental ativo em uma O limite entre os
argilitos (Jurássico e Rakaia (Permiano ao
Torlesse

Jurássico (Rakaia ) aumento no grau cunha acrescionária Terrenos Rakaia e


Cretáceo Inferior); Triássico) preservadas Suítes Darran e Ferrar . Mortimer (2004);
e Jurássico Inferior metamórfico(leste para o oeste) virada para o leste. Pahau é marcadao
calcários e cherts em sequências clásticas, Pillow lavas. Mortimer et al. (2014).
ao Cretáceo no arco metamórfico Haast Ambiente de deposição pelo Mélange Esk
(Triássico ao Cretáceo similares ao Terreno
Superior (Pahau ) Schist . margem passiva ou ativa Head.
Inferior). Presença de Murihiku .
indefinido.
Tufos.
Predominantemente Cobertura sedimentar
Waipapa

Permiano Inferior sedimentos Ofiolitos com elementos sobreposta ao


Terreno imbricado, basicamente Depósitos típicos de Mortimer (2004);
ao Triássico vulcanoclásticos pobres Não mencionado. de crosta oceânica. Supergrupo Waipapa e
confinado à Ilha Norte. trincheira. Mortimer et al. (2014).
Superior em quartzo. Cherts e Basaltos presentes. parte do terreno
calcáreos presentes. Buller .

39
2.4.1. Geologia da Zona Vulcânica de Taupo e Monte Ruapehu

Os modelos elaborados nesse trabalho de graduação foram baseados em rochas pertencentes


à Zona Vulcânica de Taupo (ZVT), que está localizada na margem sudeste do arco de Tonga-Kermadec
(Figura 2.17) na parte central da Ilha Norte. Esta região pertence a um cinturão de 300 km de extensão
(200 km continentais) e 60 km de largura, definido por bordas estruturais de caldeira, chaminés,
fumarolas e campos geotermais (Price et al., 2012; Wyering et al., 2014). A forma moderna do referido
cinturão coincide com o sistema de riftes conhecido como o rifte de Taupo, que é magmático e
estruturalmente segmentado. A subducção oblíqua da crosta oceânica (placa do Pacífico) por baixo da
placa Indo-Australiana (Figuras 1.1 e 2.17) gerou uma bacia de arco/antearco que posteriormente
originou a ZVT (Wyering et al., 2014).

A Zona Vulcânica de Taupo é uma região do Plioceno a recentes atividades tectônicas e


vulcanismo, que se estende na direção nordeste pela porção central na Ilha Norte (Hackett, 1985). As
feições estruturais e vulcânicas observadas na ZVT mostram que a mesma é uma depressão vulcano-
tectônica, que tem sua porção central preenchida por ignimbritos silícicos, lavas e sedimentos
vulcanogênicos. Essa depressão também pode ser entendida como um baixo estrutural e topográfico
que se estende de Ruapehu a Ilha Branca (White Island), podendo se unir à fossa submarina de Havre.
Elementos estruturais da parte central da Ilha Norte têm sido destacados e interpretados por Hackett
(op. cit.) no contexto de convergência tectônica, onde a ZVT é (com um padrão estrutural NNE-SSW,
Price et al., 2012) é datada por volta do Plio-Pleistoceno a bacias marginais contemporâneas. Recente
vulcanismo andesítico e dacítico no lado leste da ZVT é interpretado como um arco vulcânico que se
estende do Centro Vulcânico de Tongariro na parte Sul e a Ilha Branca, ao Norte. A maior parte desses
eventos expeliram olivina andesitos e andesitos de baixa sílica, e uma minoria de basaltos de baixo
alumínio. Todas as lavas com fenocristais de olivina são consideradas com menos de 50.000 anos
(Cole, 1979 in Hackett, 1985).

Hackett (1985) descreve o Monte Ruapehu como o maior edifício vulcânico no centro de
Tongariro e representa cerca de 40% do volume total das rochas vulcânicas intermediárias na ZVT. O
pico atinge 2.797 metros e é o ponto mais alto da Ilha Norte. O maciço tem um diâmetro basal de cerca
de 19 km e cobre cerca de 255 km². Inúmeras chaminés estiveram ativas durante a história e
construíram um cone com um volume atual de 110 km³, que está atualmente ativo. Abaixo do nível de
1.100 metros, é cercado por uma extensa planície em formato anelar (ring plain) (Figura 2.20) de
detritos de lahar e depósitos de tefra. Ao Norte, os depósitos vulcânicos de Ruapehu fundem-se com
aqueles de Tongariro e Ngauruhoe. Acredita-se que Ruapehu tenha sido construído num terreno
falhado e dissecado de sedimentos marinhos do Terciário subjacentes a grauvacas mesozoicas
(Hackett, 1985). Evidências sísmicas sugerem que o topo da sequência abaixo do centro de Ruapehu
40
ocorre aproximadamente no nível do mar, o que é indicativo da presença de falhas normais no
embasamento sob o maciço.

Os campos geotermais associados às caldeiras vulcânicas na TVZ, as Formações de lava que


compões os depósitos do Monte Ruapehu, bem como o intenso vulcanismo desenvolvido na região
serão discutidos nos próximos tópicos.

Figura 2.20: Mapa mostrando a localização de vulcões andesíticos e planícies anelares (ring plain) do Centro
vulcânico de Tongariro. Retirado de Hackett (1989).

2.4.2. Geologia de Pinnacle Ridge

Dentre as quatro Formações (Figuras 1.1 e 2.21.a) que constituem o Grupo Ruapehu (Hackett,
1985), estabelecidas de acordo com os ciclos eruptivos do vulcão, está a Formação Te Herenga (ou
Te Herenga Ridge). Esta Formação não é exposta sobre áreas extensas, estando basicamente restrita
às superfícies dos flancos nas porções norte e nordeste do vulcão (Figura 2.21.b), a uma elevação
aproximada de 1700 metros. Segundo Hackett (1985), a Formação inclui fluxos de lavas, brechas
tufosas e corpos intrusivos que são recobertos de forma discordante por depósitos mais novos (por
brechas compactadas e tufos). O volume da formação não pode ser estimado precisamente devido à
extensa cobertura de depósitos mais jovens e subsequente erosão. Assumindo uma geometria simples

41
de cones vulcânicos e permitindo que o material seja removido por erosão, o volume original pode ser
estimado na ordem de 55 km3 (Hackett, 1985).

Figura 2.21: a) Mapa geológico generalizado do trend regional (alinhado para o Norte) de Ruapehu e suas
fumarolas relacionadas. Nota-se que fumarolas mais jovens estão alinhadas a falhas. b) Visão aérea dos flancos
nordestes de Ruapehu. A Formação Te Herenga é indicada pelo padrão sombreado. Corpos intrusivos e zona de
alteração hidrotermal ao redor dos mesmos são referentes às fácies centrais da porção Pinnacle Ridge superior.
A porção Pinnacle Ridge Inferior, a cordilheira Te Herenga e uma cordilheira não nomeada (parte inferior direita
em b) consistem em depósitos de fácies proximais – A cordilheira não-nomeada é um andesito capeado por
morenas laterais. c) Fluxos de lava da Formção Whakapapa eu agora ocupam o largo vale glacial que foi
desenvolvido no cone de Te Herenga. Modificado de Hackett (1985).

As melhores exposições da Formação Te Herenga são encontradas na região de Pinnacle Ridge,


dando nome ao Membro (Hackett, 1985). Os depósitos são expostos sobre uma área de cerca de 0.8
km2 e possuem um volume de aproximadamente 0.01 km3 (Hackett, op. cit.). Em seções distais e em
elevações mais baixas, os depósitos são constituídos por piroclastos internamente estratificados e bem
selecionados (Hackett, op. cit.).. O Membro Pinnacle Ridge possui um mergulho subvertical primário,
com porções densa a moderadamente compactadas (Hackett, 1985). Os clastos são essencialmente
compostos por púmices moderadamente vesiculares e que apresentam grau de achatamento paralelo
às estratificações, dando aos depósitos aparência de ignimbrito. Em porções mais elevadas da
cordilheira, os depósitos ainda exibem estratificação interna mais grossa e, em geral, mais densamente
42
compactada, contendo blocos líticos mais largos da Formação Te Herenga (derivados de morenas
laterais e coluvionares). O material magmático juvenil do Membro Pinnacle Ridge é um andesito preto
com fenocristais de plagioclásio (Hackett, 1985).

Pinnacle Ridge também é definida por Hackett (1985) como uma região cortada por diques e
plugs intrusivos, na maioria das vezes cobertos por depósitos de piroclasto de queda, o que também
dificulta o estabelecimento da extensão mesmos. Os depósitos de Pinnacle Ridge e de Te Herenga
Ridge são classificados como seguimentos profundamente erodidos e mais velhos um dos cones do
vulcão Ruapehu (Hackett, op. cit.).

2.5. Magmatismo da região de Ruapehu, Nova Zelândia

2.5.1. Contexto geral

Exemplos de sistemas magmáticos significantemente produtivos na Terra estão associados com


margens de placas convergentes, onde a litosfera está sendo reciclada de volta para o manto (Price
et al., 2005). Um caso típico ocorre na fronteira sudoeste da placa do Pacífico entre Tonga e a Ilha
Norte, na Nova Zelândia. A atividade magmática associada a este limite de placa é marcada por uma
cadeia contínua de ilhas vulcânicas e montes submarinos que se estendem de Tonga através das Ilhas
Kermadec (Figura 2.17 e 2.22) e aos vulcões de arco continental da Ilha do Norte (Figura 2.22).
Diversos geoquímicos (Price et al., 2005) sugerem que os magmas relacionados à subducção têm sua
origem na cunha mantélica acima de uma placa oceânica subductante. Os processos magmáticos em
arcos são, portanto, acionados quando fluidos da placa subductante migram para dentro do sistema e
induzem a fusão da cunha mantélica sobrejacente. As fusões produzidas pela interação de fluidos da
placa e o manto também interagem com as partes mais rasas da cunha mantélica e a litosfera
sobrejacente durante a ascensão à superfície. Dentro do contexto de subducção abordado, encontra-
se a presente região de estudo.

43
Figura 2.22: O painel da esquerda (Wright et al., 2003 in Price et al., 2005) mostra a extremidade sul do arco
de Kermadec e sua extensão para a ZVT, na Ilha Norte, Nova Zelândia (indicada como uma elipse preta aberta).
Taranaki é o mais novo de quatro vulcões que formam um lineamento (indicado pela seta) ao longo do qual o
vulcanismo torna-se progressivamente mais jovem para o sudeste. ZVT é a zona vulcânica de Taupo. O painel
da direita é um mapa estrutural detalhado da ZVT (Rowland & Sibson, 2001 in Price et al., 2005). Os vulcões
andesíticos e dacíticos associados com a ZVT e são mostrados de acordo com a idade estimada de acordo com
os símbolos (triângulos e quadrados). Modificado de Price et al., (2005).

O Monte Ruapehu, com 2.797 m, é o maior vulcão dacito-andesítico ativo (~110 km3) na zona
vulcânica de Taupo (ZVT) da Nova Zelândia. A região é afetada por intenso vulcanismo, extensão
crustal e elevado fluxo de calor, com uma história eruptiva que se estende por pelo menos 250 Ma
(p.ex: Hackett, 1985; Hackett & Houghton, 1988; Donoghue, 1994). Embora processos de mistura
magmática tenham sido identificados ao longo de todo o espectro eruptivo (de basaltos a riolitos, p.ex.:
Graham & Hackett, 1987; Gamble et al., 1990; Blake et al., 1992 in Donoghue et al. 1994), mais de
80% do total do material expelido pelo sistema magmático é riolítico (Price et al., 2005), estando estes
presentes desde as primeiras fases de desenvolvimento da ZVT central. Price et al. (2005)
argumentam que os sistemas riolíticos em grande escala da região tenham sido precedidos por
magmatismo andesítico. Com base nos padrões de vulcanismo preservados no registro geológico em
outras partes da ZVT, os autores (Price et al., op. cit.) sugerem que os vulcões andesíticos tenham
afundado e sido posteriormente soterrados por riolitos tardios durante a extensão crustal propagada ao
sul da zona vulcânica central. Atualmente, o principal foco de magmatismo andesítico é na extremidade
sul do Centro Vulcânico de Tongariro.

44
As atividades vulcânicas de Ruapehu foram resumidas por diversos autores (p.ex.: Hackett,
1985; Donoghue, 1995; Gamble et al., 1999; Price et al., 2005), que denotaram uma periodicidade
eruptiva evidente de 20-30 anos. Grande parte da evidência para as atividades no Holoceno está
ausente do edifício erodido, mas é preservada em sequências de tefra na planície que circunda o vulcão
(plain ring) (Donoghue et al., 1994 in Gamble et al., 1999). Amostragens dos depósitos de tefra
mostram que a atividade durante o final do Holoceno foi centrada sobre a presente cratera e que o
estilo eruptivo tem sido tipicamente freatomagmático. Evidências de atividades vulcânicas no
Quaternário inferior são preservadas nas sequências de fluxo de lava próximas a fumaloras nas partes
expostas no edifício erodido, que foram subdivididas estratigraficamente com base nas discordâncias
mapeáveis ressaltadas por atividades glaciais (Hackett, 1985; Hackett & Houghton, 1989). Tanto as
sequências de tefra e as sequências próximas às fumarolas coincidem com explosões episódicas e
intenso crescimento do cone vulcânico, separadas por períodos de desnudamento e menor atividade.

2.5.2. Caracterizações petrográficas e geoquímicas

Gamble et al. (1999) reuniram dados geoquímicos e petrológicos a partir da amostragem de


erupções ocorridas em Ruapehu durante o período de 1945-1996 para ilustrar a complexidade da
variação geoquímica de curto prazo em arcos vulcânicos. Os estudos também levaram em
consideração dados das erupções pré-históricas a fim de comparar o caráter evolutivo de longo prazo
dos processos magmáticos e da natureza do sistema de canais embaixo do vulcão Ruapehu.

Além das amostras coletadas das paredes da cratera ativa do domo de lava em 1996, os produtos
gerados pelo vulcão Ruapehu durante o período de 1945-1996 (chamadas pelos autores de erupções
modernas) são classificados como bombas de lava de composição andesito-dacíticas, porfiríticas e
com vesículas de tamanhos variáveis (Gamble et al., 1999). A partir da análise modal das amostras,
Gamble et al. (op. cit.) observaram que a concentração de SiO2 e Al2O3 total da rocha versus a
percentagem do volume da matriz para andesitos modernos e pré-históricos não revelam forte
covariação entre a composição química e o conteúdo de cristal, o que implica que a composição do
magma não é simplesmente controlada pela composição dos fenocristais.

Gamble et al. (op. cit.) também identificaram indícios de desiquilíbrio cristal-líquido a partir de
observações petrográficas. Os fenocristais presentes nas bombas vulcânicas são majoritariamente
plagioclásio, comumente zoneadas e apresentando núcleos cálcicos (até An90) e bordas ricas em Na
(An54), mas muitas vezes mostrando forte oscilação. As bordas dos fenocristais estão geralmente em
equilíbrio com os microfenocristais da matriz. Em alguns casos, os cristais de plagioclásio estão
crivados por inclusões de fluidos, sendo estas também comuns em fenocristais de piroxênio.
Clinopiroxênio ocorre em várias formas distintas, podendo aparecer com núcleos verde-pálidos (mais
45
ricos em Fe, comumente reabsorvidos e contendo inclusão de fluidos em contraste com as bordas
exteriores incolores) ou com núcleos incolores (repletos de inclusões de fluidos, que são revestidos por
bordas de cor verde). Outros são incolores por toda parte, mas novamente contendo inclusão de fluidos.
Ortopiroxênio é fracamente pleocróico. Os cristais são comumente 1-2 mm de diâmetro, contendo
inclusões e grãos raros são margeados por clinopiroxênios (Gamble et al., op. cit.).

Kilgour et al. (2013) utilizaram os dados das amostras da erupção de 1996 de Gamble et al.
(1999) para analisar a evolução geoquímica dos sistemas magmáticos de Ruapehu. Os dados revelam
que enquanto há uma distinção clara entre cada erupção nas rochas, as inclusões apresentam
diferenças consideravelmente discretas e por vezes se sobrepõem. As análises feitas por Gamble et
al. (1999) em amostras de todas as erupções de 1945-1996 mostram padrões para Elementos Terras-
Raras (REE) semelhantes entre si (Figura 2.23.a). Uma pequena anomalia negativa de Eu é
perceptível em todas as amostras. As amostras com maiores concentrações de SiO2 mostram os
maiores teores totais de ETR. As parcelas normalizadas para o diagrama multi-elementar (Figura
2.23.b) mostram apenas pequenas diferenças entre as amostras das erupções modernas. A amostra
mais enriquecida é apenas duas vezes maior que a amostra menos enriquecida.

Figura 2.23: (a) Padrões típicos de elementos terras raras (normalizados para condritos) e (b) diagrama de multi-
elementos (normalizados para o manto) para erupções em Ruapehu de 1945-1996. Nota-se a semelhança global
dos padrões de ETR, a anomalia negativa de Eu e a crescente inclinação da ETRL com o aumento do teor total
REE. O campo de lavas pré-Ruapehu é colocado dentro das linhas tracejadas. Os valores no diagrama multi-
elemento (b) mostram o esgotamento de Nb e Ti e enriquecimentos (Cs, Rb, Pb) típico de magmas relacionados
a zonas de subducção. Modificado de Gamble et al. (1999).

Dados químicos de lavas pré-históricas do vulcão Ruapehu definem campos lineares com
aumento de K2O e diminuição de Fe2O3 (ferro total), enquanto há um aumento em SiO2, e também pelo
aumentando das concentrações de Rb, Ba com o aumento de Zr. Estas tendências podem ser
consistentes com diferenciação magmática, mistura ou alguma combinação destes processos (Graham
& Hackett, 1987 in Gamble et al., 1999). Dados isotópicos de elementos como Sr, Nd e Pb para as

46
erupções de 1945-1996 mostram uma variação apreciável, sobrepondo-se com os dados pré-
históricos, indicando que os magmas tiveram fontes similares e que cristalização fracionada não pode
explicar a variação nas lavas. Além disso, em uma escala de tempo de 50 anos, não há variação
química simples ou sistemática nas lavas modernas, mostrando variações nas composições
radiogênicas. Na Figura 2.24, os valores de SiO2 e 87Sr/86Sr para as lavas de 1945-1996 e o pacote de
lavas pré-históricos (Whangaehu Gorge: Price et al., 1997 in Gamble et al., 1999) incisas no flanco
oriental de Ruapehu podem ser comparados com o aumento geral de 87Sr/86Sr com SiO2 identificados
por (Graham & Hackett, 1987 in Gamble et al., 1999) em rochas de todas as idades. Embora
confirmando esta tendência de uma forma geral, os dados de dois períodos de tempo distintos não
traçam uma tendência comum. Cada um define uma trajetória diferente e nenhum destes coincide com
as tendências definidas pelo conjunto de dados agrupados. As amostras de 1995-96 e outras a partir
do registro pré-histórico (p.ex.: Hackett, 1985; Graham & Hackett, 1987; Price et al., 1997) também
mostram evidências petrográficas para os processos de mistura magmática, incluindo assembleias de
fenocristais complexamente zonados, faixas de púmices e inclusões de fluidos de composições
variáveis em fenocristais.

Figura 2.24: Diagrama de SiO2 versus razão 87Sr/86Sr para lavas modernas, pré-históricas (seção Whangaehu
Gorge: Price et al., 1997 in Gamble et al., 1999) e todas as lavas de Ruapehu (Graham & Hackett, 1987). Este
diagrama demonstra, por diferentes pacotes de lavas, o aumento global das relações de isótopos radiogênicos
com o aumento SiO2, mostrando que processos semelhantes operam em diferentes escalas durante a vida útil
do vulcão. Os dados para pacotes discretos de lavas, entretanto, definem tendências sutilmente distintas.
Modificado de Gamble et al. (1999).
47
De acordo com Gamble et al. (1999), as características acima apresentadas podem ser de tal
maneira equivalentes a processos de mistura entre magmas que contém suas próprias suítes de
cristais carreados. Segundo a análise coletiva dos dados, a abundância de SiO2 e as taxas de 87Sr/86Sr
tendem a aumentar ao longo do tempo, consistentes ao amplo controle por processos de assimilação
e cristalização fracionada (AFC). No entanto, os magmas gerados durante os últimos cinquenta anos
mostram variabilidades geoquímicas correspondentes à maior parte das erupções ao longo de toda a
história do vulcão. A abrangente flutuação da composição do magma durante um intervalo de tempo
relativamente curto reflete os efeitos dos processos associados a eventos de reinjeção magmática
dentro do vulcão (Hackett, 1985; Gamble et al., 1999; Price et al., 2005).

Eventos de reinjeção magmática e de reposição têm sido implicados em uma série de recentes
erupções em vulcões de arco (Pallister et al., 1992; Murphy et al., 1998 in Gamble et al., 1999).
Nestes casos, supõem-se que os eventos eruptivos tenham sido provocados pela injeção de magmas
mais quentes e mais máficos em magmas relativamente mais frios e félsicos, promovendo o
aquecimento da porção estagnada, redução da viscosidade, convecção mistura magmática, e erupção.
Com base na similaridade petrográfica de lavas históricas e pré-históricas, Gamble et al. (1999)
assume que eventos semelhantes tenham desempenhado um papel em toda a vida do Ruapehu, mas
que os volumes de magma tenham variado com o tempo em até várias ordens de magnitude.

Estas recargas a curto prazo e os efeitos de mistura são impostas sobre processos evolutivos
contínuos de longo prazo. Alguns pacotes de lavas exibem provas petrográficas convincentes de
mistura de magmas, porém em outros a evidência é mais sutil (Graham & Hackett, 1987 in Gamble
et al., 1999). As variações geoquímicas e petrográficas temporais dentre os magmas expelidos são
moduladas, portanto, por processos de mistura magmática (mingling e mixing) entres magmas frescos,
magmas estagnados e cristais assimilados de eventos anteriores que permaneceram no edifício
vulcânico, provavelmente em diques e soleiras.

Price et al. (2005) estabeleceram um modelo para a evolução temporal progressiva dos sistemas
magmáticos andesítico e riolíticos na ZVT (Figura 2.25). Segundo o modelo, andesitos são gerados
através da interação de magmas derivados da fusão mantélica, com menores influências do
derretimento crustal e de materiais residuais. As diferenças entre os andesitos de Ruapehu refletem
contrastantes condições físicas durante a fusão, bem como variações sutis nas composições do manto
e fonte crustal. Em muitos casos, o componente da crosta parece dominar e ter sido aumentado em
níveis mais elevados durante a cristalização fracionada, assimilação e fusão da crosta enquanto os
magmas ascendiam à superfície (Price et al., op. cit.). Os sistemas magmáticos riolíticos na ZVT
evoluíram conforme a extensão e estiramento crustal, aumentando os gradientes térmicos de modo
que o derretimento da crosta se tornou progressivamente mais significativo. As intrusões andesíticas

48
antecedentes são refundidas e recicladas enquanto o sistema atinge a maturidade térmica. Andesitos
e riolitos na ZVT estão diretamente relacionadas e representam diferentes aspectos de um espectro
contínuo e evolutivo de processos petrológicos pelo qual uma nova crosta é formada, cresce e é
reciclada (p.ex.: Price et al., 1997; Gamble et al., 1999; Price et al., 2005).

Baseando-se nas conclusões de Gamble et al. (1999), entende-se que o sistema de canalização
superficial do vulcão Ruapehu é aberto, sendo alimentado por reinjeções periódicas de magma em um
plexo lacólitos ou diques sob o conduto ativo. Os autores também sugerem que as erupções de 1995-
96 resultaram de um influxo de novo magma, deslocando o magma que provavelmente residia em
bolsões abaixo do vulcão desde o evento de injeção anterior na década de 1960. Em uma escala de
tempo aproximada da vida ativa de um vulcão típico de arco (~500 ka), se o magma é armazenado e
resfriado em um sistema de diques e sill complexos, pode com o tempo, tornar-se mais difícil para
fluidos em ascensão penetrarem o sistema de diques, resultando em câmaras magmáticas
subvulcânicas (Hildreth & Lanphere, 1994 in Gamble et al., op. cit.). Alternativamente, estes fluidos
podem fornecer calor para o sistema de embasamento, aumentando o potencial de interação crustal.
Inevitavelmente, isso ocasionará o fracionamento intracrustal e contaminação, ajudando a produzir as
87
tendências globais observadas de aumento do teor de SiO2 e das razões de Sr/86Sr com o tempo.
Este processo culminará, portanto, no declínio da intensidade eruptiva e eventual extinção da atividade
vulcânica (Gamble et al., op. cit.).

49
Figura 2.25: Diagramas esquemáticos que ilustram modelos para a evolução temporal progressiva dos sistemas
magmáticos andesítico e riolíticos na ZVT. Os sistemas andesíticos são iniciados como derivados mantélicos que
foram introduzidos na crosta inferior, resultando em cristalização fracionada, transferência de calor e fusão parcial.
A incorporação de porções fundidas na crosta e materiais residuais associados à fusão e fracionamento produz
andesitos basálticos. O sistema de dutos andesíticos alimentadores abaixo do vulcão torna-se progressivamente
mais complexo, com magmas armazenados e em evolução em soleiras e diques dispersos ao longo da crosta
(p.ex.: Price et al., 1997; Gamble et al., 1999 in Price et al. 2005). Conforme a extensão e afinamento crustal
progridem, o aumento das geotermas (advecção) resulta em fusão crustal em larga escala. Os sistemas
andesíticos anteriormente formados são, portando, reciclados e os extensos sistemas de armazenamento
riolíticos são progressivamente sobrecarregados em profundidades relativamente rasas. Modificado de Price et
al. (2005).

50
2.6. Perfis de Alteração em sistemas geotermais.

2.6.1. Modelos conceituais para sistemas geotermais em Zonas Vulcânicas

Aproximadamente 75% da energia geotermal global produzida e prospectada está associada a


vulcões em zonas de subducção (Moeck, 2014 in Stelling et al., 2016), sendo esses indicadores
substanciais de fontes de calor próximas à superfície. Arcos vulcânicos contêm a maior densidade de
vulcões do Pleistoceno e Holoceno no Planeta, porém apenas 10% dos centros vulcânicos
pertencentes a arcos no mundo estão atualmente produzindo energia ou têm mostrado ser capazes de
gerar energia (Stelling et al., 2016).

Stelling et al. (2016) descreveram as relações mais relevantes entre os fatores geológicos-chave
para a produção global de energia geotérmica em arcos vulcânicos. Vários critérios foram testados,
incluindo o tamanho de cada edifício vulcânico, a presença e o número de crateras e outras aberturas
de flanco, a composição dos magmas e a variação composicional. Os autores alegam que nenhuma
destas características pode ser diretamente relacionada com a produção de energia geotérmica. A
maioria dos sistemas geotérmicos (e sistemas em potencial) em arcos vulcânicos espalhados pelo
mundo é hospedada por centros vulcânicos que tiveram eventos eruptivos dentro dos últimos 1000
anos (Stelling et al., op.cit.). Destes, a energia produzida nos últimos 160 anos foi quase
exclusivamente gerada por centros vulcânicos de composição máfica, enquanto que a energia gerada
por centros vulcânicos entre os últimos 160 e 1000 anos é quase que inteiramente derivada de centros
vulcânicos félsicos. A identificação e a caracterização de sistemas geotermais são, portanto,
dependentes da análise individual dos critérios acima mencionados e da correlação entre tais fatores
(Stelling et al., op.cit.). Dessa forma, torna-se fundamental para as indústrias geotermais o
conhecimento dos processos de formação e modificação desses sistemas.

Os sistemas geotérmicos são desenvolvidos pelo transporte de águas meteóricas, que penetram
as rochas do sistema através de fraturas, falhas e texturas em litologias, e depois são redirecionadas
à superfície quando aquecidas por corpos magmáticos profundos ou intrusões (p.ex.: Henneberger &
Browne, 1988). Ao percolar a estratigrafia, estes fluidos geotérmicos convectivos se tornam ricos em
minerais dissolvidos, precipitando minerais nas rochas do reservatório (Henneberger e Browne, 1988).
Sistemas hidrotermais fósseis e ativos estão comumente associados a diversos centros vulcânicos
(Henneberger e Browne, 1988; Cumming, 2010; Stelling et al., 2016). As manifestações termais
mais proeminentes em recursos geotermais comercialmente exploráveis são fumarolas e fontes termais
(Cumming, 2010). Fumarolas e fontes de sulfato ácido encontram-se acima do sistema geotermal, a
elevações >1050m acima do nível do mar, enquanto fontes termais bicarbonatadas e clorídricas jazem
em elevações progressivamente mais baixas nos flancos do reservatório. Segundo Cumming (op.cit.),
51
a composição e a temperatura dos gases liberados pelas fumarolas são fortes indicadores da
proximidade das mesmas em relação à fonte geotermal.

As relações entre força e porosidade, mineralogia ou densidade, e a influência de mineralização


secundária sobre as propriedades físicas e mecânicas das rochas em sistemas geotermais têm sido
estudadas por muitos autores (p.ex.: Cumming 2009, 2010; Pola et al., 2012; Wyering et al., 2014).
Estudos dessa categoria são de extremo interesse para a indústria geotérmica convencional, uma vez
que poucas rochas presentes em reservatórios (líquido ou gás dominantes) são inalteradas ou expostas
na superfície. No entanto, os estudos desenvolvidos consideram principalmente rochas sedimentares,
granitos e rochas metamórficas e não podem ser aplicados estritamente a todas as litologias,
especialmente para alterações hidrotermais em rochas vulcânicas em profundidade (Wyering et al.,
2014).

A elaboração de seções permite uma visualização mais intuitiva de como os fluxos de alta
temperatura interagem com a distribuição da permeabilidade em um sistema geotermal. Cumming
(2009) elaborou modelos genéricos para reservatórios geotermais (Figura 2.26) para melhor ilustrar os
fluidos presentes no reservatório e as propriedades das rochas. No que se refere à desenvoltura dos
reservatórios, vale ressaltar que temperatura, pressão e permeabilidade são parâmetros fundamentais,
seguidos em grau de importância por porosidade e quantidade de água. Em sistemas geotermais, a
convecção térmica permite que a água hidrotermal seja direcionada à superfície contra a gravidade em
rochas permeáveis, fazendo com que as isotermas durante o percurso do fluxo de calor sejam
elevadas.

Zonas permeáveis possuem menor temperatura, como ilustrado pelos contornos de 250ºC a
300ºC na Figura 2.26.a e 150ºC a 200ºC na Figura 2.26.b. Os dois modelos ilustram dois tipos comuns
de distribuição da permeabilidade. Nos dois, a principal fonte de calor é o fluxo ascendente em fraturas.
A Figura 2.26.a exibe a característica da maioria dos sistemas vulcânico de temperaturas relativamente
elevadas: quase toda a permeabilidade relevante para os poços de exploração é derivada de fraturas.
Entretanto, a permeabilidade em profundidades intermediárias de 500 a 1500 m comumente refletem
a interação de falhas com as propriedades das rochas do sistema, como juntas que tendem a ocorrer
onde as falhas intersectam zonas de fraqueza na litologia. A Figura 2.26.b mostra um sistema que
possui um fluxo ascendente numa zona de falha estreita, como em alguns sistemas de bacias. O fluxo
ascendente intersecta a formação com uma permeabilidade primária significante e se torna um fluxo
de escoamento. Tais fluxos são aprisionados numa variedade de rochas, incluindo arenitos e brechas
de lava.

52
a. b.

Figura 2.26: Modelos conceituais elaborados para reservatórios geotermais com geotermas de a.) 250ºC a
300ºC; e b.) 150ºC a 200ºC. Os modelos também mostram as isotermas para cada caso, estruturas e zonas de
alteração. Modificado de Cumming (2009).

Zonas de Alteração hidrotermal

Alterações produzem mudanças significativas em quase toda a composição mineralógica,


química e as propriedades físicas das rochas (Lumb, 1983 in Wyering et al., 2014). Dois tipos de
alterações são observados em ambientes vulcânicos: intempérica e hidrotermal (Ceryan et al., 2008
in Wyering et al., 2014). Intemperismo ocorre quando atmosfera e hidrosfera interagem com o sistema
rochoso; enquanto que num contexto hidrotermal, alterações são causadas pelo movimento de fluidos
quentes enriquecidos com íons dissolvidos através das rochas-reservatório causando dissolução,
deposição mineral e a formação de argila mineral, responsável pela produção da mineralização
secundária (Pola et al., 2012). Vários fatores em um campo geotérmico afetam a formação de minerais
de alteração; pressão, permeabilidade, litologia, temperatura, duração e mineralogia variam de forma
relativamente abundante, tanto dentro quanto entre os sistemas geotermais (Cox & Browne, 1998).

Existem três zonas de alteração esperadas em um sistema geotérmico convencional (Figura


2.26): esmectita, argílica e propilítica (Robb, 2005; Stimac et al., 2008; Cumming, 2009; Esmaeily et
al., 2012). A alteração para esmectita é caracterizada pela formação de argila esmectitas e minerais
de alteração em condições de baixas temperaturas atmosféricas. A alteração argílica é caracterizada
pela formação de ilita e outros minerais sob condições temperaturas baixas a moderadas (Robb, 2005;
Lutz et al., 2010) e a alteração propilítica tem minerais de alta temperatura como clorita, epidoto e
quartzo, com menores quantidades de calcita e albita.
53
A delimitação de zonas de alteração em perfis térmicos é frequentemente dada através de
estudos geoquímicos dos sistemas geotermais (p.ex.: Robb, 2005; Stimac et al., 2008; Cumming,
2009). Quando não há sondagens disponíveis para o reservatório, ou quando os dados não são
confiáveis, a geotermometria é decisiva (Cumming, 2009). Além de prover a geotermometria, a análise
geoquímica das feições termais pode caracterizar a distribuição dos tipos de fluidos ao redor do
reservatório, identificar zonas de ebulição e convecção, marcar o nível d’água e sugerir se um sistema
pode ser ácido ou rico em gás. Entretanto, a principal característica é a temperatura; onde a
geotermometria se torna decisiva no desenvolvimento de um modelo conceitual.

Como indicado na Figura 2.26.a, a geoquímica pode é capaz de providenciar a temperatura no


local e em profundidade numa seção transversal. Por exemplo, um segmento inicial da isoterma poderia
ser estimado se a fumarola presente no sistema fosse medida por geotermometria em 250ºC. Isso seria
possível usando uma razão confiável dos gases como geotermômetros (Powell, 2000 in Cumming,
2009). Isso também seria possível a partir das fontes termais clorídricas, analisando os cátions Na-K-
Mg em diagramas ternários ao longo do eixo referente àquela temperatura (Nicholson, 1993 in
Cumming, 2009).

Métodos geofísicos também auxiliam na identificação de zonas de alteração (Stimac et al., 2008;
Cumming, 2009). Cumming (2009) explica que análises de resistividade têm dominado a exploração
de recursos geotermais uma vez que cobrem faixas extensas temperatura (70 a 360ºC). Assim sendo,
a baixa resistividade pode ser estritamente correlacionada à baixa permeabilidade em capas argílicas
(região em amarelo apresentada na Figura 2.26). Devido ao baixo custo, os métodos portáteis de
resistividade podem delimitar a base de capas argílicas em profundidades maiores que 1000m. A
delimitação de perfis geotérmicos é, dessa forma, feita através da combinação dos dados de
resistividade com dados geoquímicos (Cumming, op.cit.).

2.6.2. Sistemas geotermais na Zona Vulcânica de Taupo

Wyering et al. (2014) estudaram os sistemas geotermais presentes na ZVT a fim de caracterizar
física e mecanicamente as rochas vulcânicas alteradas hidrotermalmente. Os autores analisaram
amostras provenientes dos campos geotérmicos de Ngatamariki, Rotokawa e Kawerau (Figura 2.27).
Como citado por Wyering et al. (op.cit.), os campos geotermais de Ngatamariki e Rotokawa
compreendem litologias vulcânicas e sedimentares sobrejacentes ao embasamento sedimentar
metassedimentar Mesozóico (grauvacas). As formações rasas contem sedimentos, tufos e brechas,
ignimbrito e lavas riolíticas brechadas (e com tufos). As formações mais profundas contêm uma mistura
de camadas sedimentares, tufo ou piroclastos com lavas andesíticas ou brechas no topo do
embasamento. Ngatamariki também contém um material intrusivo no extremo norte do campo. No
54
campo geotermal Kawerau, as formações superficiais consistem em uma mistura de riodacitos
extrusivos, ignimbritos, litologias sedimentares misturadas a brechas e tufos, assim como lavas
riolíticas. As formações profundas compreendem tufos compactados, brechas sedimentares, lavas
andesíticas e tufos sedimentares sobrejacentes ao embasamento.

Figura 2.27: Elevação digital com a estrutura geológica da atividade geotermal na ZVT. O mapa mostra a
localização dos sistemas geotermais (vermelho, roxo e laranja), os limites das caldeiras ativas e inferidas e o rifte
de Taupo. Os nomes em amarelo representam alguns dos campos geotermais presentes na região. As
abreviações são os nomes das caldeiras, em linguagem Maori: KA= Kapenga, MO = Mangakino, OH= Ohakuri,
OK= Okataina, RE= Reporoa, RO = Rotorua, TA= Taupo, WH = Whakamaru. Modificado de Wyering et al., 2014.

Através de análise de lâminas delgadas, Wyering et al. (2014) identificaram uma grande
variedade de minerais que ocorrem nas zonas propílicas, argílicas e de esmectita (Figura 2.28). As
litologias mais rasas do presente sistema geotermal, compostas por ignimbritos, riolitos, e amostras
sedimentares, contêm minerais de alteração de baixa temperatura como esmectita, ilita, calcita e
quartzo. Já as litologias mais profundas (ignimbritos, andesitos e matérias intrusivos) possuem minerais
de alteração de temperatura mais elevadas (alteração argílica a propilítica), como minerais de alteração
como epidoto, clorita, albita, pirita e quartzo. Dessa forma, Wyering et al. (op.cit.) mostram que as

55
amostras obtidas cobrem uma gama de alteração típica encontrada num campo geotérmico
convencional dominado por líquido ou gás.

Figura 2.28: Modelo conceitual de um campo geotérmico convencional, aquecido e dominado por líquido. O
modelo foi divido em zonas de alteração típicas para um sistema geotermal, com perfis de temperaturas e
expressões geotérmicas superficiais. Modificado de Wyering et al., (2014).

Como Wyering et al. (2014) sugerem, existe uma relação entre a porosidade e profundidade de
soterramento nestas rochas. No entanto, o efeito do soterramento por si só não pode considerado
isoladamente nessas rochas, uma vez que o tipo de alteração e litologias primárias também têm uma
grande influência sobre a porosidade. As litologias rasas nestes sistemas geotérmicos são tipicamente
ignimbritos e material sedimentar; o que, naturalmente, têm porosidades superiores. As litologias
profundas são em sua maioria compostas por rochas vulcânicas, com uma mineralogia mais
compactada, e de menor porosidade. A variabilidade na porosidade e densidade pode ser também
causada por transferência de massa (Stimac et al., 2008; Cumming, 2009). Alterações hidrotermais
a altas temperaturas (>200ºC) podem tipicamente causar uma diminuição na porosidade e um aumento

56
na densidade quando os minerais são depositados, preenchendo os espaços entre os grãos e entre os
cristais em escalas microscópicas. O preenchimento através de hidrotermalismo pode, dessa forma,
ser responsável pela consolidação e endurecimento da litologia, o que explicaria o caso para
ignimbritos localizados em partes mais profundas do reservatório (Wyering et al., 2014). Alterações
hidrotermais em temperaturas baixas (<150ºC) são complexas, pois podem causar aumento ou
diminuição na porosidade ou densidade dependendo a litologia primária inicial, pressão, e a interação
entre fluidos. Os ignimbritos têm uma porosidade menor e maior densidade do que os ignimbritos em
áreas mais superficiais. Muito provavelmente estes ignimbritos foram depositados pelo mesmo
processo, porém soterramento e alterações hidrotermais começaram a alterar as propriedades,
dificultando a comparação entre as unidades (Wyering et al., 2014).

A porosidade e a densidade em sistemas geotermais têm sido subdivididas em mineralogias


dominantes como esmectita, ilita e clorita (Figura 2.28). De acordo com Wyering et al. (2014), litologias
que contêm abundante esmectita ou ilita tendem a ter maior porosidade e menor densidade do que
litologias que possuem abundante clorita. Assim, assembleias de alteração mineral e tipos de argila
exercem uma função importante em aumentar ou diminuir a porosidade primária (Rejeki et al., 2005).
Os andesitos dos três campos geotermais estuados por Wyering et al. (2014) foram moderada a
altamente alterados, justificando a abundância de ilita (Ngatamarki) e clorita (Rotowaka-Kawerau)
presentes nas amostras. De forma geral, andesitos tem grandes chances de apresentar níveis altos de
porosidade primária, dependendo do arranjo dos clastos e da história deposicional (Dobson et al.,
2003). Entretanto, nos estudos de Wyering et al. (2014), as amostras com temperaturas de alteração
relativamente altas (andesitos de Ngatamariki e Rotokawa) tem porosidade e densidade similares,
enquanto que os andesitos de Kawerau apresentam porosidades 60% mais altas, indicando um cenário
onde a temperatura de alteração e profundidade de soterramento são de fato favoráveis a mudanças
físicas nas rochas em sistemas geotermais (Wyering et al., op.cit.).

57
CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DOS DADOS

3.1. Dados de campo

Neste tópico serão abordadas as características geomorfológicas e petrológicas observadas em


campo. Vale ressaltar que a análise do efeito térmico das intrusões magmáticas na área corresponde
a uma etapa complementar aos estudos realizados por Mordensky et al. (2016) em sua tese de
doutorado. Vale denotar que o autor mencionado está desenvolvendo pesquisas atualmente que dão
continuidade aos estudos ora apresentados. Sendo assim, o mapeamento em questão foi objetivado
para o reconhecimento inicial da área, além da coleta de dados para a inserção no modelo térmico.

3.1.1. Reconhecimento da área

A área estudada, localizada nos arredores da estação de esqui de Whakapapa, é ilustrada no


mapa da Figura 3.1, onde os pontos mapeados são indicados e descritos conforme a Tabela 3.1. A
Figura 3.2 dá uma visão lateral 3D dos pontos na cordilheira, que possui orientação principal NNE-
SSW.

Figura 3.1: Mapa de pontos da área de estudo em Pinnacle Ridge, na ZVT, Nova Zelândia. Os pontos e suas
respectivas coordenadas são descritos na Tabela 3.1. Em destaque (quadrado amarelo) está a localização da
área mapeada em relação ao Monte Ruapehu, demarcada de azul. Fonte: Imagem modificada do Google Earth.

58
A partir das observações gerais de campo, foi possível o reconhecimento de três fácies distintas
em Pinnacle Ridge: a) lavas andesíticas (em forma de depósitos de fluxo de lava e lahars e soleiras
variavelmente alteradas; brechas andesíticas variavelmente alteradas; b) diques dioríticos e intrusões
do tipo stock (intrusões discordantes de pequeno porte). Estas observações corroboram os dados
obtidos na literatura (Hackett, 1985), como previamente mencionado no Tópico 2.4. Pulsos de lahar
podem ser identificados na cordilheira (Figura 3.3a). As estratificações internas indicam o movimento
do fluxo (para SSW), além de facilitar o reconhecimento de estruturas discordantes, como as intrusões
(Figura 3.3a) e os diques (Figura 3.3b e 3.5) mapeados.

Tabela 3.1: Sumário de descrições dos pontos segundo o mapa (Figura 3.1).
Coordenadas Coordenadas
Ponto Descrição
UTM Geográficas
A rocha é cinza-amarronzada, relativamente alterada, e fortemente
376547.00m E 39°15'13.38"S fraturada. Magnetismo fraco identificado. Minerais identificados:
PR-1
quartzo, álcali-feldspato, anfibólio, magnetita, epidoto e argilas
5654092.00m S 175°34'9.18"E
brancas. A rocha pode ser identificada como uma intrusão de
composição dacítica a andesítica alterada (Figura 3.5b).

Flanco direito da intrusão principal. A rocha cinza-amarronzada, com


376522.00m E 39°15'10.94"S indícios de alteração. Possíveis juntas de resfriamento dão à rocha
PR-2 uma característica muito fraturada. É possível quebrar a rocha sem
5654167.00m S 175°34'8.18"E esforços com o uso do martelo. Dacito-andesito fortemente magnético.
Minerais identificados: anfibólio, plagioclásio, magnetita e argilas
brancas.

376487.00m E 39°15'7.35"S Flanco esquerdo da intrusão. Aparente intensificação das fraturas nas
PR-3 bordas da intrusão quando comparadas ao centro da mesma. Fraturas
5654277.00m S 175°34'6.80"E poligonais são identificadas. Posicionamento do Scanline 1 (Anexo I).
A rocha está alterada e tem composição dacítica a andesítica.

Rocha relativamente similar à intrusão principal, porém com faces


fortemente alteradas. Há duas partes diferentemente magnetizadas
(Figura 3.4). No lado não alterado do contato, a rocha é cinza e o
376355.00m E 39°15'5.63"S magnetismo é mais forte. No lado mais alterado do contato, a rocha é
PR-4
alaranjada, as fraturas são mais marcantes e há perda de magnetismo.
5654328.00m S 175°34'1.32"E
A porosidade primária (vesicular) também aparenta ser menor na face
mais alterada. As vesículas são facilmente reconhecidas nas
encaixantes e encontram-se levemente orientadas.

Visão frontal do dique central. Diques dioríticos cortam um depósito de


376245.00m E 39°14'51.18"S Lahar. Posicionamento do Scanline 2. (Figura 3.3b). Os diques estão
PR-5 muito alterados (laranja avermelhado) e muito fraturados. As faixas de
5654772.00m S 175°33'57.03"E Lahar entre os diques encontram-se brechadas (Figura 3.5c) e muito
alteradas.

59
Figura 3.2: Visão lateral 3D da cordilheira com a indicação dos pontos mapeados. Fonte: Imagem do Google
Earth.

Os efeitos de eventos intrusivos nas rochas hospedeiras são consideravelmente heterogêneos


em áreas proximais (<200m) às intrusões em Pinnacle Ridge (Figura 3.3a). Os dados obtidos sugerem
que eventos subsequentes de intrusão alteraram a mineralogia das rochas e as propriedades das juntas
existentes. Intrusões inalteradas e lavas expressam uma história de deformações rúpteis, formando um
terreno vertical e instável, contrastando com fácies alteradas (por ação intempérica) para taludes mais
brandos (Figura 3.3a e 3.3b).

De forma geral, o efeito térmico das intrusões alterou entre cerca de 400 a 500 metros a partir da
intrusão central (Figura 3.3a). É importante frisar que, nesse caso, o campo de alteração à esquerda
da intrusão central é limitado já que o mesmo é coberto por lahar. As partes distais à direita da intrusão
central aparentam estar alteradas dentro da faixa de 500 metros, embora o pacote de neve tenha
impedido uma delimitação precisa. Sendo assim, a extensão da área alterada por baixo da camada de
lahar não é descartada.

As áreas alteradas são facilmente detectadas pela coloração alaranjada, em contraste ao


acinzentado das encaixantes. A alteração também causou mudanças nas propriedades mineralógicas
das rochas, principalmente daquelas mais próximas das intrusões. Isso também pôde ser observado

60
devido à perda do magnetismo nas rochas mais próximas ao contato (Figura 3.4). As mesmas
encontram-se mais fraturadas, apresentando uma coloração alaranjada mais evidente.

Figura 3.3: Foto evidenciando a identificação e posicionamento das estruturas identificadas. a) As intrusões estão
representadas pela cor verde (escala: intrusão central com cerca de 142 metros de largura); b) Localização dos
diques modelados e posicionamento do permeâmetro. Modificado de Mordensky et al. (2016).

A descrição detalhada das rochas não foi realizada devido à logística do mapeamento, por se
tratar de um período de reconhecimento da área. Adicionalmente, a mesma é considerada patrimônio
cultural indígena (Mahori) pelo Departamento de Preservação Ambiental da Nova Zelândia. Dessa
forma, a coleta de amostras sem autorização e justificativa relevante é considerada ilegal. Portanto,
somente a descrição no local e estudos feitos a partir das amostras no próprio afloramento
possibilitaram a identificação das rochas (Tabela 3.1). Os estudos mais avançados, com respeito às

61
fases de alteração e mineralogia presentes, foram fortemente baseados na literatura (principalmente
em Hackett, 1985).

Figura 3.4: Fotografias ilustrando as características das rochas observadas em campo. a) Rochas encaixantes
altamente fraturadas e alteradas; b) Abertura das fraturas nas rochas intrusivas; c) Scanline nas brechas
adjacentes aos diques; d) disposição de fraturas no dique superior.

62
Figura 3.5: Representação esquemática das juntas nas faces alteradas (verde) e não alteradas (azul) da
intrusão. Modificado de Mordensky et al. (2016).

Há descontinuidades nos regimes do fluxo de rochas. Em todas as faces é possível identificar


juntas de resfriamento. Segundo Hackett (1985), tais juntas se encontram relacionadas com a
deposição primária, sendo sobrepostas por juntas regionais extensas. As juntas observadas são
predominantemente subparalelas a orientação regional NNE-SSW das estruturas (Mordensky et al.,
2016). Scanlines (ou “linhas de varredura”, Anexo I) revelam um sistema de juntas poligonais e
planares nas lavas e intrusões não alteradas. Em contraste, lavas e intrusões alteradas hospedam
sistemas de juntas menos regulares e menos densas (Figura 3.5). As lavas e brechas depositadas
próximas às intrusões são alteradas de modo pervasivo para argilas e sulfetos. Alterações de
montmorilonita e ilita na margem das intrusões são controladas pelas juntas (Hackett, 1985).

Na área de estudo também foram realizadas análises com o permeâmetro (aparelho portátil
utilizado para a obtenção da condutividade hidráulica, coeficiente de armazenamento e matriz potencial
de fluxo em solos e rochas; Borges et al., 1999) para examinar a disposição da permeabilidade
próximas às áreas de intrusão. É possível identificar, a partir da Figura 3.6, que as áreas de maior
permeabilidade estão dispostas nas regiões imediatamente ao redor dos diques.

63
Figura 3.6: Visão do dique principal (3 m) e dados de permeabilidade baseados em interpretações por meio de
testes com permeâmetro. As setas amarelas indicam o início e o térmico da área analisada. Modificado de
Mordensky et al., (2016).

3.1.2. Coleta de dados para os modelos térmicos

Os dados coletados para os modelos tiveram como base as medidas de campo obtidas paras as
intrusões e diques, com enfoque na largura e posicionamento (distância entre as intrusões) conforme
ilustrados nas Figuras 3.3 e 3.7. Os dados de três intrusões dacítica a andesíticas (Figura 3.3a) com
espessuras de 54m, 142m e 66m foram utilizados. Além disso, três diques dioríticos (Figuras 3.3b e
3.7), com espessuras de 1m, 3m e 2.56m, também serviram de fonte de coleta. Observa-se que tanto
as intrusões maiores como os diques são parcialmente cobertos por camadas de detritos provindos da
cordilheira, deslocados em épocas de degelo. Devido à instabilidade do terreno, alguns pontos foram
descartados durante a realização da etapa de campo. Tanto os diques quanto as intrusões maiores
foram considerados paralelos entre si. As atitudes reais dos diques estão contidas na Figura 3.7. As
intrusões têm atitude média de 120/75.

64
As informações referentes à qualidade das rochas (níveis de alteração, reologia, porosidade e
fraturas) não foram consideradas como parâmetros para o modelo, porém foram utilizadas durante a
discussão da aplicabilidade das mesmas em sistemas geotermais.

Figura 3.7: Fotografia mostrando o posicionamento e atitudes dos diques dioríticos mapeados. Modificado de
Mordensky et al., (2016).

3.2. Aplicação da equação de calor e definições de respectivos parâmetros

Neste tópico serão apresentados os parâmetros iniciais e de campo aplicados na construção dos
modelos que utilizam as equações 49 e 50 (vide Tópico 2.2). A maioria dos parâmetros segue àqueles
abordados previamente na literatura, como mostra a Tabela 3.2.

A Tabela 3. apresenta os parâmetros utilizados para a elaboração dos modelos de campo que
serão apresentados e discutidos no próximo tópico.

65
Tabela 3.2: Parâmetros físicos utilizados no domínio do modelo. Note que os valores admitidos para as rochas
encaixantes são os mesmos das intrusões (andesitos), exceto pela temperatura.

Propriedades
Andesito Encaixante Unidades Referências
Físicas
Condutividade
3 3 W/m∙°K Schön (1996)
Termal
Densidade 2,5 - 2,8 2,5 - 2,8 g/cm³ Schön, (1996)
Calor Específico 1381 1381 J/g∙°K Schön, (1996)
Difusividade
0.000001 0.000001 m²/s Nabelek et al. (2010); Nabelek,
Termal
Temperatura 900 0 °C Kilgour et al., (2013).

Tem-se que:

 Os modelos da literatura elaborados, por exemplo, por Caldeira et al. (2010), Valente et al.
(2010), Oliveira (2011; 2013) utilizaram a temperatura inicial de 1200ºC para as rochas
intrusivas (basaltos) na modelagem. Para a abordagem do presente modelo, a temperatura
inicial (Tº) das intrusões andesíticas é tida como 900ºC (Kilgour et al., 2013);
 De um modo geral, na modelagem que envolve intrusões ígneas (Caldeira et al., 2010; Valente
et al., 2010; Oliveira, 2011; 2013), a temperatura inicial (Tº) na rocha encaixante é considerada
0ºC devido ao contraste térmico expressivo. Este parâmetro foi mantido no presente modelo;
 Os modelos térmicos revisados na literatura (p.ex.: Caldeira et al, 2010; Valente et al., 2010;
Oliveira, 2011; 2013) utilizam a modelagem para a análise térmica das rochas em sistemas
petrolíferos. Sendo assim, as janelas de óleo e gás (Thomas, 2001), que variam de 60ºC a
120ºC e de 120ºC a 220ºC, respectivamente, foram substituídas pelas faixas de temperatura
referentes aos halos de alteração hidrotermais. Segundo Wyering et al., (2014), tais faixas de
temperatura são: Alteração com Esmectita (100ºC a 150ºC); Alteração Argílica (150ºC a 200ºC)
e Alteração Propilítica (200ºC a 250ºC);
 O gradiente geotérmico é de cerca de 25ºC/km, segundo Gomes (2010);
 É utilizado um único valor para a constante de difusividade termal (  =10-6m2/s), o que é
equivalente para a crosta continental; ou seja, a difusividade da rocha intrusiva é considerada
igual à da rocha encaixante;
 Somente condução térmica é admitida como mecanismo de transferência de calor;
 O calor latente da solidificação do magma não foi considerado;
 As faixas de alteração hidrotermais são consideradas a partir do contato da intrusão até o limite
da modelagem, de acordo com a temperatura que as rege;

66
 As rochas intrusivas se encontram circundadas pelas rochas encaixantes, ou seja, no centro ou
origem do problema;
 A equação (49) gera um perfil de análise térmica para metade da espessura (d) da intrusão
(Figura 3.11). Sendo assim, 𝑤 = 𝑑/2.
 Na equação (50), z representa a posição do centro de uma intrusão no eixo X. O modelo permite
o cálculo de Zn intrusões, desde que as mesmas estejam contidas no domínio h.
 As curvas são construídas com n pontos, que definem a melhor visualização da curva, ou seja,
mais próximo à realidade;
 O mecanismo de intrusão é considerado instantâneo;
 O resfriamento do magma se dá em um único estágio de solidificação visto que a acurácia é
similar ao modelo em três estágios, segundo Zhao et al. (2003, in Oliveira, 2013).
 Os diferentes graus de permeabilidade e porosidade não foram considerados a fim de simplificar
o modelo;
 A análise e elaboração de perfis térmicos são unidirecionais. Dessa forma, a extensão dos
diques e suas respectivas alturas não afetam os resultados do modelo; sendo, portanto,
negligenciadas para os casos apresentados.

A Figura 3.8 apresenta dois bloco-diagramas com a finalidade de elucidar como o cenário de
cada modelo se apresenta.

Figura 3.8: Blocos diagramas referentes às equações propostas. Apesar de dois eixos X e Y estarem
representados, os modelos são unidimensionais (funcionam somente no eixo X). O eixo X é referente às
distâncias no espaço e o eixo Y representa os valores da temperatura. As áreas hachuradas correspondem aos
modelos unidimensionais (Temperatura x Distância) propostos. A localização do dique no modelo do blocos (I)
está no centro do domínio considerado; enquanto no bloco (IV), a intrusão pode estar em qualquer local do

67
domínio. Os parâmetros 𝝀𝒊 , 𝑪𝒑𝒊 𝒆 𝑲𝒊 (densidade, capacidade térmica e condutividade térmica, respectivamente) da
intrusão são considerados iguais aos parâmetros 𝝀𝒆 , 𝑪𝒑𝒆 𝒆 𝑲𝒆 da encaixante. Modificada de Oliveira (2013).

3.3. Elaboração de modelos térmicos

Neste subitem serão apresentadas as aplicações das equações (49) e (50) propostas (vide
Tópico 2.2). Os modelos a seguir são baseados nos dados de campo obtidos para três intrusões
(Figura 3.3a) e um pequeno sistema de três diques (Figura 3.3b) em Pinnacle Ridge. O efeito térmico
das intrusões e dos diques será analisado separadamente, uma vez que o modelo permite somente a
análise de estruturas com os mesmos parâmetros. No caso apresentado, os corpos intrusivos são
subverticais, porém estão localizados em porções diferentes na cordilheira. Tendo em vista que a
transferência de calor admitida pelo modelo é unidirecional, o efeito de térmico de intrusões que não
se encontram no mesmo eixo não terão influência sobre o modelo.

Um modelo hipotético (Figura 3.9) foi gerado com base na equação (49) para simular o efeito
isolado de um dique de três metros de espessura.

Figura 3.9: Modelo térmico hipotético para um dique de 3 metros de espessura em Pinnacle Ridge, onde h varia
de 0 a 25 metros. A região em vermelho-claro representa a metade da espessura da intrusão (w). As linhas
tracejadas limitam a temperatura de halos de alteração (Wyering et al, 2014).

Pode-se observar a partir da Figura 3.9 que:

 A temperatura começa a decair imediatamente após o instante da intrusão (curva azul-escuro);


68
 A maior taxa de decaimento de temperatura ocorre a partir de 0 dias a 30 dias (curvas azul-
escuro e rosa, respectivamente), quando a temperatura diminui em mais de 450 °C;
 O campo de alteração final gerado por um dique de 3 metros espessura é cerca de 1,7 vezes o
tamanho da espessura do dique. Ou seja, cerca de 5 metros a partir do contato entre a intrusão
e a encaixante, até o limite da zona com esmectita;
 Não há nenhum efeito térmico relevante em termos de alteração hidrotermal após 2 anos,
quando a temperatura tende ao equilíbrio térmico.

A partir da equação (50) foi gerado um modelo para o cálculo da influência térmica dos três
diques situados perto das intrusões (Figura 3.10).

Figura 3.10: Modelo térmico elaborado para três diques com espessuras de 1m, 3m e 2,56m, localizados em z1
= 18m, z2 = 25m e z3 = 31m, respectivamente. As áreas vermelho-claras representam os diques e as linhas
tracejadas limitam a temperatura dos halos de alteração (Wyering et al, 2014).

Pode-se notar a partir da Figura 3.10 que:

 Ao longo do tempo, as ondas de calor são somadas. Isso faz com que a temperatura aumente
em direção ao centro da intrusão localizada em z3;
 O comportamento esperado para a temperatura na área entre as intrusões é inversamente
proporcional ao comportamento sobre as margens exteriores dos diques. O perfil de
temperatura diminui durante os primeiros 15 dias (curva verde), voltando a aumentar à medida
que a temperatura é elevada no sentido da intrusão central.

69
 O campo de alteração gerado à esquerda de z1 apresenta cerca de 4 vezes o tamanho do dique
(1m); ou seja, cerca de 4 metros a partir do contato entre z1 e a encaixante. Já o campo gerado
à direita de z3 apresenta cerca de 2,6 vezes o tamanho da espessura do dique (2,56m); ou seja,
aproximadamente 6,7 metros a partir do contato entre a encaixante e o dique;
 A intrusão não causa nenhum efeito relevante depois de 5 anos (curva marrom), onde a
temperatura tende a atingir o equilíbrio térmico.

Da mesma forma que os modelos foram gerados para os diques, um modelo hipotético foi
elaborado com base na Equação (49) para simular o efeito térmico isolado da intrusão principal, com
142 metros de espessura (Figura 3.11).

Figura 3.11: Modelo hipotético representando o efeito térmico de uma única intrusão com w= 71 metros, onde w
é metade da intrusão e h varia de 0 a 800. A área de cor vermelho-claro representa a intrusão e as linhas
tracejadas limitam a temperatura dos halos de alteração (Wyering et al., 2014).

A Figura 3.11 mostra que:

 A taxa mais rápida de declínio da temperatura ocorre entre o intervalo de 1 ano a 100 anos
(curvas azul-escuro e amarela) após a intrusão, quando a temperatura diminui em mais de 320
°C;
 Durante o intervalo de 1 ano a 100 anos (curvas azul-escuro e amarela, respectivamente), a
rocha encaixante tem sua temperatura elevada em torno de 450 °C a 350 ° C, entre 0m a 49m
da intrusão;

70
 O campo de alteração final gerado por uma intrusão de 142 metros de espessura é de cerca de
1,5 vezes o tamanho da espessura do corpo. Ou seja, cerca de 210 metros a partir do contato
entre a intrusão e a encaixante, até o limite da zona com esmectita;
 Não há nenhuma influência térmica relevante após 5.000 anos (curva marrom);

Um modelo térmico foi gerado para as três intrusões mapeadas (Figura 3.12), utilizando a
Equação (50).

Figura 3.12: Modelo mostrando perfis térmicos para três intrusões com espessuras de 54m, 142m e 66m,
localizado na z1 = 670, z2 = 800 e z3 = 940, respectivamente. Z varia de 0 a 1.600 metros. As curvas representam
os perfis térmicos em seus respectivos tempos. A curva azul é o instante de tempo de intrusão. A área em
vermelho claro é a intrusão. As linhas tracejadas limitam a temperatura dos halos de alteração (Wyering et al,
2014).

Pode ser observado a partir Figura 3.12 que:

 O centro da intrusão ainda apresenta valores de temperatura próximos ao inicial após 10 anos
(curva vermelha);
 A taxa mais rápida de decaimento de temperatura ocorre entre o intervalo de 1 ano a 100 anos
(curvas roxa e amarela, respectivamente) após a intrusão, quando a temperatura diminui em
mais de 200°C;
 O comportamento de temperatura esperado para a área entre as intrusões é inversamente
proporcional ao comportamento sobre as margens exteriores dos diques. O perfil de

71
temperatura é susceptível à queda durante os primeiros 10 anos (curva vermelha), tendendo a
crescer à medida que a temperatura aumenta em direção a intrusão central;
 No intervalo de 10 a 500 anos (curva vermelha a verde-escura, respectivamente), a rocha
encaixante tem a sua temperatura aumentada de 400 °C a 350°C;
 Inicialmente, durante 10 anos (curva vermelha) após a intrusão, a temperatura de z1 é mais
elevada do que a temperatura de z3. Depois de 100 anos (curva amarela), o perfil de
temperatura das intrusões marginais é relativamente da mesma;
 A temperatura nas bordas permanece constante ao longo da modelação, como esperado;
 O campo gerado à esquerda de z1 apresenta cerca de 400 metros a partir do contato entre z1
e a encaixante; ou seja, cerca de 7 vezes o tamanho da intrusão (56 metros). Já o campo gerado
à direita de z3 apresenta cerca de 400 metros a partir do contato entre z3 e a encaixante, o
equivalente a cerca de 6 vezes o tamanho da intrusão (66 metros);
 A intrusão não causa qualquer influência térmica após 15.000 anos (curva verde-clara).

72
CAPÍTULO 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1. Discussões

Blocos-diagrama (Figura 4.1) foram elaborados para facilitar a ilustração dos halos de alteração
em Pinnacle Ridge, baseados nos perfis térmicos abordados no Capítulo 3. A progressão dos halos e
suas respectivas dimensões na escala de tempo foram baseadas na Tabela 4.1. A fim de simplificar a
abordagem dos modelos, cada cenário obtido será discutido separadamente.

4.1.1. Comportamento termal de uma intrusão unitária versus um dique isolado.

A transferência de calor entre corpos intrusivos e as rochas encaixantes é feita de maneira distinta
em cenários em que existem intrusões de grande porte comparativamente a cenários onde a fonte
térmica é limitada a pequenos sistemas de diques. Intrusões ou diques de maiores espessuras
influenciam as rochas encaixantes de maneira mais expressiva e em maiores extensões, uma vez que
a quantidade de calor liberada pelos mesmos é maior.

Essa situação é facilmente observada quando comparados os diagramas na Figura 4.1a e 4.1b.
No diagrama a, um corpo intrusivo de 3 metros é responsável pela alteração de uma sessão de cerca
de 5 metros (a partir do contato entre a intrusão e a encaixante, até o limite da zona com esmectita).
Já no caso de uma intrusão com 142 metros de espessura (b), o campo de alteração final é gerado em
cerca de 210 metros a partir do contato entre a intrusão e a encaixante. Em ambos os casos, a alteração
possui em média 1,6 vezes o tamanho original do corpo intrusivo. Porém, como esperado, a área
gerada em b é 42 vezes maior que a área alterada em a. O tempo de resfriamento também é maior
para o corpo ilustrado em b, onde o equilíbrio térmico tende a ser atingido após 5.000 anos; o que no
caso a ocorre em apenas 2 anos.

4.1.2. Comportamento termal para uma intrusão unitária versus múltiplas intrusões

Nos modelos gerados para intrusões unitárias, o calor é transferido diretamente do corpo
magmático para a encaixante e o fluxo de calor decai constantemente até atingir valores próximos ao
equilíbrio térmico. Ao adicionar fontes de calor ao sistema (cenários onde há múltiplas intrusões), a
temperatura local aumenta e o calor começa a decair individualmente a partir das intrusões (Figuras
3.10 e 3.12). Com o decorrer do tempo, as ondas de calor começam a interagir, resultando em gráficos
de picos conforme os padrões apresentados no modelo. A interação das ondas de calor aumenta o
73
perfil de temperatura em direção ao núcleo da intrusão central, sendo posteriormente transferido de
maneira uniforme para as encaixantes, quando as curvas tendem a se unir. Em virtude da maior
quantidade de calor a ser transferida, as áreas de alteração dispostas às margens do sistema intrusivo
serão maiores do que aquelas geradas por sistemas unitários. O fluxo térmico será, portanto,
transferido por um período de tempo mais longo (quando comparados a casos unitários ou para
intrusões múltiplas menos espessas), como ilustrado nos diagramas c e d da Figura 4.1.

É possível comparar os casos de intrusões unitárias aos casos múltiplos considerando somente
as margens do perfil (à exceção das áreas entre as intrusões), como ilustra a Figura 4.1. No diagrama
a, um dique de 3 metros de espessura é responsável pela geração de um campo de alteração na
encaixante com 5 metros a partir do contato. Para o caso múltiplo (diagrama c), a extensão máxima de
alteração gerada pelos diques atinge cerca de 7 metros (no lado direito de z3). No lado esquerdo do
dique localizado em z1, o campo de alteração é de 4 metros. A aparente redução na extensão dos
halos à esquerda de z1 pode ser explicada pelos seguintes fatores: a) interação das ondas de calor; b)
a menor espessura do dique em z1 e c) a distância do dique em z1 em relação à intrusão central mais
espessa. Vale lembrar que z é a localização do centro da intrusão no eixo x, como abordado no
Capítulo 3.

Os campos de alteração gerados para as intrusões pequenas (Figuras 4.1c) ocorrem em


proporções similares àqueles gerados por um dique, onde a área alterada possui cerca de 1,5 vezes o
tamanho do dique. Entretanto, observa-se que no caso de intrusões múltiplas (Figura 4.1d), os halos
de alteração gerados às margens dos corpos em z1 e z3 possuem extensões similares (~400 m). Esta
similaridade está relacionada ao fato de que z1 e z3 estão a distâncias similares da intrusão central em
z2 (130 m e 140 m, respectivamente).

4.1.3. Comparação entre os halos de alteração

É extremamente relevante que, para os casos de múltiplas intrusões, os halos de alteração


também ocorrem entre as intrusões (Tabela 4.1 e Figura 4.1). Para múltiplos diques (depois de 1 ano),
a temperatura das áreas entre os corpos intrusivos é elevada à zona propílitica. No caso de múltiplas
intrusões (depois de 5.000 anos), a temperatura entre z1 e z2 encontram-se acima daquelas propostas
por Wyering et al. (2014) para os perfis de alteração. Entretanto, entre z2 e z3, as áreas encontram-
se dentro do perfil de alteração argílica.

74
Figura 4.1: Bloco diagramas ilustrando os halos de alteração conforme os dados dispostos na Tabela 4.1. As faixas vermelhas representam as intrusões.
Os halos de alteração propilítica, argílica e com esmectita são representados pelas faixas azul, rosa e verde, respectivamente. As áreas inalteradas são
representadas pela cor cinza. A cor marrom relaciona as zonas que atingiram temperaturas acima daquelas propostas por Wyering et al. (2014) para os
halos de alteração. Os halos de alteração foram estimados para: a) um único dique de 3m de espessura durante 1 ano; b) uma única intrusão de 142m,
durante 1000 anos; c) múltiplos diques com espessuras variadas de 1m, 3m e 2,56m, durante 1 ano; e d) múltiplas intrusões de espessuras variadas de
54m, 142m e 66m, por 1000 anos. Os diagramas dos casos a) e b) são cenários hipotéticos que consideram somente a influência térmicas das intrusões
centrais em c) e d). As dimensões de cada halo de alteração são listadas na Tabela 4.1.

75
Tabela 4.1: Migração dos halos de alteração para cada modelo termal através do tempo, baseado nas Figuras
3.9, 3.10, 3.11 e 3.12.

Intrusões unitárias (142m) Diques unitários (3m)


Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
10 anos 14m 12m 5m 1 dia 0.25m 0.15m 0.05m
100 anos 59m 20m 20m 5 dias 0.7m 0.3m 0.3m
500 anos 79m 52m 63m 60 dias 1.7m 0.9m 1m
1000 anos 79m 52m 100m 1 ano 1.7m 1.2m 2.05m
Intrusões múltiplas: Z1 (54m) Diques múltiplos: Z1 (1m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
10 anos 20m 5m 5m 1 dia - - 0.2m
100 anos 47m 23m 23m 5 dias 0.2m 0.3m 0.3m
1000 anos 120m 72m 73m 60 dias 0.2m 0.3m 0.7m
5000 anos 120m 100m 175m 1 ano 0.2m 0.3m 2.6m
Intrusões múltiplas: Z1 a Z2 (54m, 142m) Diques múltiplos Z1 a Z2 (1m, 3m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
1 ano 3m 2m 3m 5 dias - 0.2m 0.6m
15 dias - 0.5m 2.2m
10 anos Acima da temperatura Propilítica
60 dias - 1 -
Intrusões múltiplas:: Z2 a Z1 (142m, 54m) Diques múltiplos: Z2 a Z1 (3m,1m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
1 ano 1m 3m 4m 1 dia 0.10m 1.05m 0.2m
5 dias 1m 1.5m 1.1m
10 nos Acima da temperatura Propilítica 15 dias 1.2m 1.7m 2.5m
60 dias 6m - -
Intrusões múltiplas: Z2 a Z3 (142m, 66m) Diques múltiplos: Z2 a Z3 (3m, 2.56m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
1 ano 3m 2m 5m 1 dia 0.4m 0.5m 0.6m
10 anos 5 dias 1m 1.5m 1.75m
Acima da temperatura Propilítica
500 anos 15 dias
Acima da temperatura Propilítica
2000 anos 140m - - 60 dias
5000 anos - 140m - 1 ano 6m - -
Intrusões múltiplas: Z3 a Z2 (66m, 142m) Diques múltiplos: Z3 a Z2 (2.56m, 3m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
1 ano 3m 1m 3m 1 dia 0.3m 0.45m 0.5m
10 anos 5 dias 0.8m 1m 1.8m
Acima da temperatura Propilítica
500 anos 15 dias
2000 anos 140m - - 60 dias Acima da temperatura Propilítica

5000 anos - 140m - 1 ano 6m - -


Intrusões múltiplas: Z3 (66m) Diques múltiplos: Z3 (2.56m)
Propilítica Argílica Esmectita Propilítica Argílica Esmectita
10 anos 14m 20m 44m 1 dia - 0.4m 0.45m
100 anos 40m 24m 85m 5 dias 0.5m 0.7m 1m
1000 anos 110m 60m 125m 60 dias 0.8m 1.5m 2m
5000 anos 110m 85m 180m 1 ano 1m 3.5m 6m

Em todos os casos, os halos de alteração referentes à zona com esmectita cobrem as maiores
áreas quando comparados aos halos de alteração das zonas argílicas e propilíticas. Isso pode ser

76
justificado pela baixa faixa de temperatura (100°C -150°C) na qual as alterações ocorrem. Portanto, o
comportamento esperado para a esmectita é de constante crescimento até a área máxima de alteração,
quando o calor se dissipa ou não é mais capaz de gerar nenhuma alteração termal. Por exemplo, na
Figura 4.1d (múltiplas intrusões), o halo de esmectita gerado após 1000 anos do instante da intrusão,
é 2,4 vezes maior que toda a intrusão (142 m). A última curva relevante é a de 5.000 anos, pois a
mesma é responsável por aumentar a área com esmectita 3,2 vezes a espessura da intrusão em z1 e
2,7 vezes a intrusão localizada em z3. Dimensões similares também podem ser observadas para o
caso de múltiplos diques (Figura 4.1c).

4.1.4. Resultados para modelagem térmica encontrados na literatura versus resultados


obtidos através do modelo ora proposto.

O modelo gerado para a análise térmica de intrusões a partir das equações 49 e 50 pode ser
comparado às fases de resfriamento de intrusões magmáticas sugeridas por Fu et al. (2010), como
abordado no Capítulo 3. Na primeira fase, rápida taxa de decaimento de temperatura das intrusões
estudadas por Fu et al., (2010), também observada a partir das curvas iniciais nos gráficos dos corpos
intrusivos múltiplos (Figuras 3.10 e 3.12) e unitários (Figuras 3.9 e 3.11), reflete a intensa troca de
calor devido ao contraste térmico expressivo entre a intrusão e a encaixante. Assim, a rocha encaixante
é aquecida simultaneamente ao rápido resfriamento do corpo intrusivo. De igual modo, a segunda fase
estabelecida por Fu et al. (2010) também é observada no presente modelo. Após a acentuada troca
de calor, o sistema resfria lentamente, sendo induzido ao equilíbrio térmico onde suas condições
geotérmicas iniciais tendem a ser restauradas. Consequentemente, os estágios de arrefecimento
reconhecidos por Fu et al. (2010) podem ser relacionados aos níveis de porosidade em sistemas
geotermais, onde zonas mais distais das áreas de resfriamento das intrusões coincidem com os perfis
de alteração argílica (Wyering et al., 2014) de menor temperatura e, portanto, com maior porosidade.

É interessante observar que os dados de Liu & Dai (2014) também podem ser relacionados aos
níveis de porosidade (Fu et al., 2010) influenciados pela disposição dos halos de alterção (Wyering et
al., 2014). Devido ao forte controle da distribuição termal nos padrões de fluxo entre poros, quanto
maior a mudança de temperatura, mais rápida será a velocidade dos fluidos hidrotermais (Liu & Dai,
2014). Essa observação pode também ser comparada ao rápido declíneo das curvas de temperatura
nos primeiros anos do modelo, devido ao contraste térmico a que o sistema é imposto. Além disso, as
áreas tendenciais para a precipitação de minerais de Liu & Dai (2014) são aquelas com temperaturas
mais amenas, que no presente modelo, coincidiriam com as zonas de maior porosidade. É importante
ressaltar que no caso abordado por Liu & Dai (2014), os depósitos do tipo skarn são extremamente

77
dependentes da litologia do depósito, bem como as concentrações mineralógicas favoráveis para a
dissolução e precipitação mineral a partir do fluxo de fluidos hidrotermais. O presente modelo não pode,
dessa forma, ser comparado estritamente às condições de contorno apresentadas pelos modelos de
Liu & Dai (2014), mas possuem relevância quanto à troca de calor entre as fontes térmicas e as rochas
encaixantes. Outro fator importante a ser considerado é o período de tempo necessário para que as
zonas de porosidade e precipitação se encontrem sob temperaturas favoráveis (em áreas distais da
intrusão), uma vez que as frentes térmicas são somadas e permitem a progressão dos halos de
alteração.

No tocante a análise do comportamento dos fluxos de calor, a modelagem térmica é também


aplicável a reservatórios geotermais. No contexto apresentado por Bakhsh et al. (2016), entende-se
que o contraste térmico é um fator crucial para a percolação dos fluidos. Como observado nas Figuras
2.15 e 2.16, o contato de fluidos frios reinjetados em zonas do reservatório que contenham fluidos
quentes aumenta a velocidade de expulsão dos fluidos nos poços de produção. Ao longo do tempo,
ocorre a atenuação do gradiente térmico juntamente à velocidade dos fluidos. Em ambiente porosos e
permeáveis, os fluidos de reinjeção não mais impulsionam os fluidos de produção, migrando, assim,
para as adjacências do reservatório (Figura 2.16).

A presença de intrusões magmáticas em sistemas geotermais é, entretanto, controversa, dando


o que possibilita a discussão de possíveis cenários. Como previamente abordado, fontes térmicas
aliadas a presença de fluidos podem, por exemplo, gerar ambientes de influência hidrotermal favoráveis
à disposição de halos de alteração (Wyering et al., 2014). Assim, características físicas como
porosidade e permeabilidade podem ser intensificadas ou reduzidas de acordo com as frentes térmicas,
influenciando a percolação de fluidos em cenários posteriores ao hidrotermalismo.

Em rochas com porosidade primária, o contrate térmico pode favorecer a migração de fluidos,
como apresentado por Bakhsh et al. (2016). Adicionalmente, a geração de halos de alteração pode
ampliar a capacidade de armazenamento do reservatório, devido ao aumento de porosidade em zonas
distais das áreas de intrusão, onde as frentes térmicas possuem temperaturas amenas.

O armazenamento de fluidos é, contudo, dependente do posicionamento das fontes de calor em


relação ao reservatório. A forma e os mecanismos de intrusão são relevantes, pois influenciam na
disposição e extensão dos halos de alteração, e especificamente no modo de transferência de calor. A
disposição de soleiras homogêneas pode atuar como selos em ambientes de alta porosidade
(usualmente primária), facilitando o armadilhamento de fluidos. Vale a ressalva de que os modelos
elaborados neste trabalho consideram apenas formas intrusivas simples (tabular e perfeitamente

78
geométricas). Dessa forma, para casos com estruturas complexas, a exemplo de intrusões bifurcadas,
em zigue-zague e lacólitos, a modelagem é inaplicável. Nos casos onde há porosidade secundária
como as juntas e fraturas observadas em campo (Figura 3.5), a intrusão pode servir como fator
agravante das estruturas, aumentando, assim, a porosidade e permeabilidade do sistema.

4.1.5. Dados de campo versus previsões do modelo

Os dados obtidos através dos estudos de campo permitem a interpretação dos halos de alteração
propostos pelo modelo em uma escala realística. Como observado na Figura 3.3, as rochas ao redor
das intrusões encontram-se extremamente alteradas, o que pode ser facilmente reconhecido através
da mudança de coloração (alaranjada). Esta zona de alteração se estende por entre cerca de 400 m
a 500 m a partir dos corpos magmáticos. Segundo o modelo gerado para o caso de múltiplas intrusões
(equação 50), halos de alteração são previstos para cerca de 400 metros a partir do contato entre as
intrusões marginais e a encaixante. A previsão sugerida pelo modelo é, portanto, próxima da realidade
e condizente aos dados de campo.

Embora a análise petrológica das amostras não tenha sido realizada, algumas observações de
campo puderam ser relacionadas aos perfis de alteração estabelecidos por Wyering et al. (2014). Nos
pontos próximos às intrusões foram identificados minerais como quartzo e epidoto, que podem ser
incluídos na variedade mineralógica referente à faixa de alteração propilítica (Wyering et al., 2014).
Estes podem ser considerados como minerais de alteração de temperatura mais elevada,
frequentemente relacionados a litologias mais profundas, como andesitos. Nos pontos mais afastados
das intrusões, minerais de alteração de baixa temperatura, minerais argílicos e quartzo puderam ser
identificados. Não foram, entretanto, observadas diferenças expressivas na mineralogia ou textura das
rochas adjacentes à intrusão central, como sugere o modelo (Figura 4.1d). Segundo os halos de
alteração dispostos pelo modelo, a área à esquerda da intrusão deveria apresentar graus de alteração
mais elevados (perfil de temperatura acima da zona propilítica) do que aquelas do lado direito da
intrusão (perfil de temperatura argílica).

As sessões entre os diques encontram-se dentro da faixa de alteração propilítica. Como


observado em campo, as áreas entre os diques encontram-se fortemente alteradas e fraturadas
(Figuras 3.5 e 4.5). Como mencionado no Tópico 3.1, Mordensky et al. (2016) analisou a
permeabilidade das rochas adjacentes aos diques (Figura 3.6) e constatou que as faixas
imediatamente próximas aos corpos intrusivos possuem maior permeabilidade do que as sessões
marginais e ao próprio dique. Embora o aumento da permeabilidade possa estar relacionado ao campo

79
de alteração térmica (Wyering et al., 2014), zonas de alta temperatura de alteração (com abundante
clorita) tendem a apresentar menor permeabilidade do que aquelas de menor temperatura (abundante
em esmectita, ilita e argilas). O aumento de porosidade observado pode ser, portanto, mais facilmente
relacionado à porosidade primária das brechas e derrames andesíticos (encaixantes) e ao faturamento
(porosidade secundária) agravado pelo resfriamento rápido no momento da intrusão que gera o
contraste térmico e reológico entre a encaixante e o dique.

Figura 4.2: Fotografia do dique superior (Figura 3.5), com aproximadamente 1 metro de espessura, dando ênfase
a abertura das fraturas em partes menos alteradas do dique.

A Zona de Taupo é uma área de intensa produção geotermal devido a atividade vulcânica
(Wyering et al., 2014). O potencial de armazenamento e produção em Pinnacle Ridge é dependente
da permeabilidade das rochas, sendo também afetado pela presença de intrusões magmáticas.
Evidências de porosidade primária observadas em campo, como as vesículas geradas pelo escape de
voláteis durante os derrames andesíticos (Figura 4.3) fornecem um cenário favorável para a passagem
ou armazenamento de fluidos em um sistema geotermal. Adicionalmente, o aporte térmico induzido
pelos corpos magmáticos nas encaixantes é capaz de estimular a percolação de fluidos entre os poros
através do contraste térmico, como abordado por Bakhsh et al. (2016).

Com base nas análises de campo, é possível sugerir que a quantidade de argila encontrada nas
rochas e as características das juntas e fraturas presentes nas brechas alteradas estão relacionadas a
um paleo-sistema hidrotermal pervasivo, com uma permeabilidade variável de acordo com o tempo. As

80
propriedades contrastantes das rochas têm, portanto, implicações para monitorar e entender sistemas
vulcânicos e geotermais

Figura 4.3: Amostra de derrame andesítico in situ, na área mapeada em Pinnacle Ridge. A fotografia destaca a
porosidade secundária das rochas efusivas encaixantes. As vesículas estão destacadas pelas elipses vermelhas.

4.2. Limitações

Cálculos analíticos e numéricos tem como objetivo recriar os cenários estudados da melhor
maneira possível, entretanto são dependentes das considerações tomadas para simplificar o modelo.
Como por exemplo, a forma tabular dos diques e intrusões de grande porte comparadas ao formato
original, como mostra a Figura 3.3. Por se tratar de um modelo onde a influência térmica é unidirecional,
os cálculos realizados não podem ser considerados acurados, uma vez que alteram a realidade. Os
bloco-diagramas, entretanto, são ilustrados em 2d para melhorar ajudar a visualização do problema.
Adicionalmente, devido contraste térmico discrepante entre a encaixante e os corpos intrusivos,
considera-se a temperatura da rocha encaixante irrelevante. Em alguns casos, todavia, o contraste
térmico pode ser relevante para o problema e alterar o comportamento do fluxo de calor.

81
Os estudos foram realizados somente considerando trocas de calor efetivas através de condução.
É sabido que corpos magmáticos podem apresentar mecanismos de convecção internos. Estes, por
sua veze, podem alterar as características do fluxo térmico em sistemas geotermais (Fu et al., 2010).
O uso de equações que representem ambas as formas de mecanismo de transferência de calor é,
dessa forma, válido para aumentar a acurácia dos resultados em futuros modelos.

Os estudos de modelagem térmica puderam somente ser realizados em uma pequena sessão
da área mapeada devido ao curto tempo de exploração da mesma. A análise petrográfica da área não
pôde ser realizada para a identificação de possíveis minerais de alteração, como os listados por
Wyering et al. (2014). As faixas de alteração foram então assumidas com base na literatura disponível
para Pinnacle Ridge (Hackett, 1985; Wyering et al., 2014).

4.3. Modelo térmico ora proposto: conclusão

A modelagem é uma excelente alternativa para a reprodução de cenários geológicos, uma vez
que a mesma torna possível a análise simplificada da realidade de cenários que muitas vezes envolvem
parâmetros extremamente complexos.

Ambas as equações 49 e 50 mostram os perfis de temperatura ao redor das fontes de calor. A


principal diferença entre as equações é a forma pela qual o modelo é apresentado (como por exemplo
para as intrusões unitárias que ilustram somente o efeito térmico da metade das intrusões). As
equações consideram que a fonte de calor em ambos os casos é o centro da intrusão (localizada no
centro do modelo para o caso das intrusões múltiplas). O domínio não é limitado, uma vez que não há
nenhuma barreira térmica existente ou conhecida que limite o calor de atingir sua distância máxima.
Esse tipo de modelo é recomendado quando o interesse principal é somente a influência térmica
causada pelas intrusões.

A distância entre as intrusões é essencial para a definição dos halos de alteração ao redor das
mesmas. Quanto mais larga a intrusão, mais tempo será necessário para que a rocha encaixante atinja
o equilíbrio térmico, ocasionando um processo lento de resfriamento por uma área mais extensa.

A partir da equação 50 é possível concluir que zonas propilíticas estão sujeitas às áreas mais
próximas das intrusões, onde as temperaturas mais elevadas tendem a alterar de forma mais evidente
as características físicas e mineralógicas das encaixantes, principalmente àquelas relacionadas a
porosidade. Em comparação, os halos de alteração com esmectita são mais facilmente detectados em
áreas distais das intrusões, onde o perfil de temperatura tende a diminuir e a porosidade aumentar. A
82
determinação de halos de alteração hidrotermais é, portanto, indispensável para a qualificação de
reservatórios geotermais. A elaboração de modelos térmicos como o modelo apresentado é relevante,
uma vez que relaciona as alterações mineralógicas resultantes do efeito térmico de corpos magmáticos
e as mudanças de permeabilidade nas rochas-reservatório.

4.4. Trabalhos Futuros

As limitações do modelo sugerem que algumas melhorias ainda podem ser realizadas, como por
exemplo: a elaboração de modelos bidimensionais (ou mesmo 3D), a fim de compreender o efeito
térmico ao redor das intrusões. Uma abordagem diferenciada implicaria em novas formulações para os
modelos térmicos considerando novas condições de contorno, ainda fundamentadas nas equações-
base de fluxo de calor.

O trabalho de Mordensky et al. (2016) têm sugerido algum questionamento quanto a origem dos
halos hidrotermais, limitando a transferência de calor em função da intrusão central (com 142 metros).
Os resultados, portanto, não revelam dados conclusivos para a existência das três intrusões discutidas
do presente modelo, o que também justificou a elaboração dos gráficos separadamente (casos unitários
e múltiplos). Consequentemente, novos estudos petrológicos (como mapeamento de juntas,
permeabilidade e resistência das rochas ao redor de intrusões) e petrográficos, além de trabalhos
geoquímicos são recomendados para aumentar a confiabilidade do modelo. Deste modo, um modelo
geodinâmico mais robusto para área em questão poderá ser elaborado.

83
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ANEXO I
Análise de fraturas pelo método de linhas de varredura (Scanline Survey)

O conhecimento do espaçamento e tamanho das descontinuidades em uma massa de rocha é


de considerável importância para a previsão do seu comportamento (Priest & Hudson, 1981). As
características das descontinuidades podem ser estimadas utilizando levantamentos através de linhas
de varredura (scanlines). Segundo Priest & Hudson (op. cit.), a metodologia considera a frequência
de distribuição e espaçamento de estruturas planares nas rochas, como fraturas e juntas que
intersectam uma linha de varredura localizada aleatoriamente. A comparação das distribuições reais e
amostrados demonstra o viés introduzido por amostragem das linhas de varredura. As relações entre
as distribuições podem ser utilizadas para produzir métodos analíticos ou gráficos a fim de estimar o
comprimento e características médias das estruturas a partir de medidas obtidas (Priest & Hudson,
op. cit.).

As fraturas observadas na área mapeada em Pinnacle Ridge foram analisadas a partir do referido
método. A seguir estão disponibilizadas as informações da folha de registro do scanline 1, realizado
em uma sessão da intrusão central (142 m).
Folha de registro das linhas de varredura (Scanline Survey )
Informações Iniciais Ponto inicial Ponto final
Linha nº 1 Norte 5652109 Norte 5652167
Linha de rumo 5 Leste 1821640 Leste 1821510
Linha de Dip do
Localização Censoring/Exposure levels (m) Dados Elevação (m) Limite
mergulho (°) afloramento
Intrusão
central, base
6S Superior: 10 Inferior: 1 54 (°) 2071-2081 Nada mapeado acima ou abaixo de 15 cm. 271
lateral
esquerda

Geometria
Estruturas Remarcações
Tipo de Terminação
Comprimento
Distância (m) Terminações Tipo Strike Dip (°) Orientação Rock Acima Abaixo Total Acima Abaixo Abertura Planaridade
(m)
0.13 1J 159 72 SW W 249 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.1 1 2.1 IR FC <1 P
10.45 1J 100 85 SW W 190 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.1 1.45 2.55 IR FC <1 W
10.28 2J 110 83 SW W 200 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.38 0.08 0.46 IR AJ 1 P
9.85 1J 135 85 SW W 225 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.3 2 2.3 IR FC 2-3 P
9.8 2J 140 85 SW W 230 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.3 0.15 0.45 IR AJ 1 P
9.2 1J 150 54 SW W 240 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.2 1 1.2 IR FC 2 W
9.23 2J 145 70 SW W 235 Intrusão dacítica a andesítica alterada 9 1 10 IR IR 2 W
8.85 0J 143 87 SW W 233 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC 2 P
8.35 2J 5 26 E E 95 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.1 3 3.1 IR IR <1 P
8.35 1J 135 74 SW W 225 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 0 10 RC IR 2 W
8.35 1J 75 31 NW W 345 Intrusão dacítica a andesítica alterada 11 0 11 RC IR 2-4 P
8.2 0J 139 60 NE E 49 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC 2 W
7.95 0J 156 90 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC 1 P
7.8 0J 155 75 SW W 245 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC 1-2 P
7.3 1J 100 87 SW W 190 Intrusão dacítica a andesítica alterada 2 1 3 IR FC 3 P
6.55 0J 129 77 SW W 219 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1 1 2 RC FC <1 I
6.36 0J 120 66 NE E 30 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1 1 2 RC FC 2 I
5.9 1J 110 86 SW W 200 Intrusão dacítica a andesítica alterada 3 1 4 IR FC <1 I
Coberta 4.9-5.5 Intrusão dacítica a andesítica alterada
4.9 1J 135 76 SW W 225 Intrusão dacítica a andesítica alterada 5 1 6 AJ FC 3 W
3 0J 115 85 SW W 205 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC <1 W
2.65 0J 115 85 SW W 205 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC <1 P
2.25 0J 115 85 SW W 205 Intrusão dacítica a andesítica alterada 10 1 11 RC FC <1 W
0.13 1 J 159 72 W W 249 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.1 1 2.1 IR FC <1 W
0.30 1 J 170 75 W W 260 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.2 1 2.2 IR FC <1 W
0.60 1 J 172 75 W W 262 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.5 1.3 2.8 IR FC <1 W
0.67 1 J 175 81 W W 265 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.5 1.3 2.8 IR FC <1 W
0.71 1 J 100 45 W W 190 Intrusão dacítica a andesítica alterada 1.3 0.2 1.5 RC IR <1 W
0.86 1 J 90 80 SW S 180 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.3 1.1 1.4 IR FC <1 W

1.10 1 J 180 43 SE E 90 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.4 (direita) 1 (esquerda) 1.4 IR LC <1 P
1.81 1 J 20 50 W W 290 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.6 1 1.6 RC IR <1 P
2.02 1 J 120 52 W W 210 Intrusão dacítica a andesítica alterada 0.51 1.3 1.81 RC IR <1 P

Notação utilizada
Localização das terminações Structure Type Rugosidade Planaridade T1 (Terminação) T2
Corte
0 transversal J Junta B Estratificação R Rugosa P Planar AJ Outra Junta L Baixo Ângulo (<20°)
Corte em
1 interteção V Veio S Zona de falha S Suave W Ondulada IR Rocha intacta H Alto Ângulo (>20°)

F Falha FC Limitado na base


2 Limitado Abertura C Contato SL Polida I Irregular UN Desconhecido
BX induzida RC Limitado no topo

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