018 Autismo
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AUTISMO E NEURÔNIO-ESPELHO
Geremias, Ariel Oliveira¹; Abreu, Margarete Aparecida Broleze¹; Romano, Luis Henrique².
RESUMO
Este trabalho mostra como funciona o cérebro de um autista, em relação ao neurônio espelho. Ao
observar-se as pessoas autistas, é notado que os portadores de autismo não imitam os gestos dos outros,
deduzindo que há alguma deficiência no lobo frontal. Abrange também a hipótese de estar relacionada
com os neurônios-espelhos e aspectos do TEA (Transtorno do Espectro Autista), tendo como objetivo
possibilitar uma visão crítica e científica sobre o assunto, informando o leitor sobre essa abordagem
diferenciada.
INTRODUÇÃO
O TEA (Transtorno do Espectro Autista) trata-se de uma condição clínica que, ainda é um
enigma para a neurociência, as pesquisas sobre esse transtorno revelam que ele é de natureza
multifatorial. Recentemente, as Neurociências têm estudado a possível relação do TEA com um tipo
específico de neurônios, os neurônios-espelho. Esses neurônios estão relacionados a um diverso número
de comportamentos como a interação social, imitação, a linguagem e na capacidade em adotar o ponto
de vista do outro, incluindo a empatia. Essas habilidades estão prejudicadas ou, até mesmo, suprimidas
nas pessoas que apresentam o TEA (SINIGAGLIA, 2008; LEAL-TOLEDO, 2010;
RAMACHANDRAN, 2014).
A imitação é um mecanismo inato, comandado pelo neurônio-espelho, com isso crianças menores
de um ano já tem essa capacidade (RIZZOLATTI et al., 1996), sendo o processo de imitação
fundamental para o desenvolvimento de uma criança, e estão ligadas a habilidades motoras, de
comunicação, interação social (ABRAVANEL et al., 1976; MACCALL et al., 1977). As crianças
aprendem vendo seus familiares, de modo que influenciam as crianças visualmente tornadas assim os
adultos seus inspiradores. Essa ação e essencial para a comunicação verbal e não verbal (MELTZOFF &
MOORE, 2002), e encontra-se relacionada com os neurônios-espelho.
DESCOBERTA DO NEURÔNIO-ESPELHO
O pesquisador Rizzolatti observou que macacos faziam certas atividades imitando outro macaco
ou um humano. Observou-se que a região pré-motora era ativada quando um espécime, ou mesmo um
dos pesquisadores pegava uma banana e os outros observavam, os efeitos de ativação das áreas cerebrais
eram os mesmos do macaco que realmente estava pegando a banana para come-la. Esse mecanismo foi
chamado de Neurônio-espelho. A importância dessa descoberta foi para a compreensão direta da
intenção do outro animal ou ser humano foi imediatamente percebida (GALLESE et al., 1996;
RIZZOLATTI & CRAIGHERO, 2004).
Os neurônios espelhos, quando ativados pela observação de uma ação, permitem que o significado
da mesma seja compreendido automaticamente que pode ou não ser seguida por etapas conscientes que
permitem uma compreensão mais abrangente dos eventos através de mecanismos cognitivos mais
sofisticados (ver revisão em GALLESE, 2005).
Os neurônios-espelho não são ativados somente por observações de movimentos, mas também a
partir de comunicação. Em outro estudo foram comparados à ativação pela comunicação dos cães
através de latidos, macacos em movimentos labiais e em humanos na fala em silencio. Os resultados em
humanos mostraram que a observação na fala em silencio atua na área da Broca no hemisfério esquerdo
(BUCCINO, BINKOFSKI, & RIGGIO, 2004).
Os neurônios espelho foram ligados a várias modalidades do comportamento humano tais como
imitação, teoria da mente, aprendizado de novas habilidades e leitura da intenção em outros humanos
(RIZZOLATTI, FOGASSI, & GALLESE, 2006) e a sua disfunção poderia estar envolvida com a
gênese do autismo (RAMACHANDRAN & OBERMAN, 2006).
Foi apontado que uma das funções do neurônio-espelho é saber interpretar o comportamento dos
outros a partir de uma ativação nas representações motoras (BONINI & FERRARI, 2012; MARSHALL
& MELTZOFF, 2012; RIZZOLATTI & CHAIGHERO, 2004; SINIGAGLIA, 2012;). Pesquisas
apontam que neurônio-espelho tem função chave no processo de imitação de ações motoras. O sistema é
ativado no córtex pré-motor fazendo gerar uma rápida resposta e eficiente à ação observada
(RIZZOLATTI et al., 1996).
Recentemente, foi descoberto na neuroimagem indica que o cérebro humano de adultos também e
constituído do sistema para combinar a ação e observação que podem ser homólogos ao sistema
AUTISMO
O autismo é um bloqueio no desenvolvimento com causas neurobiológicas e está dentro do TEA
que é a sigla de Transtorno do Espectro do Autista. São afetadas as áreas de comunicação interação e
comportamento (SCHWARTZMAN, 2011). De certo modo, o desenvolvimento de uma criança autista é
diferente de uma criança que não tem esse transtorno.
De forma geral, as principais características de uma criança autista são a dificuldade de
compartilhar a atenção com os outros, e reagir de forma harmônica com as emoções das pessoas,
dificuldade em identificar rostos e comportamentos sociais (GALLASE, 2006), tornando importante o
diagnóstico precoce. Atualmente existem vários métodos para identificar crianças com risco de TEA,
exemplo como o ADOS-G (Autism Diagnostic Observation Schedule-Generic) CHAT (Checklist for
Autism in Toodlers) (SCHWARTZMAN in SCHWARTZMAN & ARAÚJO, 2011).
As crianças com autismo apresentam atraso no desenvolvimento da imitação e da linguagem
(CHARMAN, in ROGERS & WILLAMS, 2006). Também tem a dificuldade em imitar gestos e vozes.
NEURÔNIO-ESPELHO E O AUTISMO
O TEA (Transtorno do Espectro Autista), trata-se de uma condição clinica ainda pouco
conhecida, porém as pesquisas indicam que a origem ao TEA, são de natureza multifatorial vários
fatores envolvidos. As neurociências têm relacionado o TEA com um tipo especifico de neurônio, os
neurônios-espelhos. Esses neurônios estão relacionados com o contexto de interação social, imitação,
linguagem (SINIGAGLIA, 2008; LEAL-TOLEDO, 2010; RAMACHANDRAN, 2014).
Tomando como referência o prejuízo neural presente no TEA, estudos com a técnica de neuro-
feedback, técnica que se baseia no condicionamento operante guiado por eletroencefalograma (EEG), ou
seja, os sinais fisiológicos emitidos pelo cérebro são captados em formas de onda que, passam a ser
monitorados e reapresentados ao sujeito por meio de um display externo, um videogame, por exemplo.
O objetivo da técnica é manter um controle consciente sobre esses sinais, suprimindo, nesse caso, as
ondas MU (PINEDA et al., 2014). Nos estudos de Pineda, foi observado que em pessoas normais e o
uso de ondas MU não foi identificado nenhuma mudança já nas com o TEA foi observada uma melhora
no quadro.
Ramachandran (2014) cita e fornece algumas reflexões sobre questões como: Porque não
imitamos todos os estímulos aos quais somos expostos? As funções dos neurônios-espelho são inatas ou
adquiridas ao longo do desenvolvimento do sujeito? Como desempenham a sua função?
Para o primeiro questionamento por meio do conceito de circuitos inibitórios frontais
responsáveis por interromper uma imitação automática. Significa que o lobo parietal inferior esquerdo
fornece uma série de representações diante de um contexto vivido, já o lobo frontal inibe todas elas.
A outra questão formulada volta-se em torno da hipótese de que neurônios-espelho é o resultado
de um aprendizado associativo. Quando vemos um macaco agarrando uma fruta, temos nessa situação
neurônios que se conectam, atuando em conjunto favorecendo a percepção do movimento (próprio e do
outro) ativando, assim, neurônios de comando. A réplica para a última questão é utilizada, sobretudo,
para salientar que a importância das funções desse tipo de neurônio, transcende a dúvida entre o inato e
o adquirido, apontando os benefícios que estes imprimiram no homem, dentre eles: a capacidade de se
posicionar de forma conceitual em relação ao ponto de vista do outro; a capacidade de concepção; de
construção de uma consciência que emerge no outro e com o outro e, sobretudo, a capacidade de
imitação que alguns autores defendem ter sido uma variável ímpar no processo evolutivo do homem.
(LAMEIRA; GAWRYSZEWSKI; PEREIRA JÚNIOR, 2006; RAMACHANDRAN, 2014).
A descoberta dos neurônios-espelho proporcionou uma revolução no interior das
neurociências, pois possibilitou a compreensão de uma série de comportamentos típicos dos seres
humanos. Essa rede específica de neurônios é ativada quando a pessoas realiza uma ação e quando ela
observa a mesma ação, sendo executada por outra favorecendo a base para o comportamento de
imitação e a empatia, variáveis que estão prejudicadas, ou até mesmo suprimidas, nos sujeitos com TEA
(SINIGAGLIA, 2008; LEAL-TOLEDO, 2010).
Pessoas portadores do TEA, apresentam a dificuldade em se comportar de forma empática, de
imitar, de se colocar no ponto de vista dos outros, de compreender seus próprios estados mentais, assim
como, os alheios causando um comportamento retraído e isolado, o que prejudica, especialmente, os
processos de aprendizagem tão importantes para um sujeito ativo na construção de seu mundo interno,
assim como, do externo (APA, 2014; RAMACHANDRAM, 2014).
CONCLUSÃO
As pesquisas em relação ao autismo e neurônio-espelho depende de uma área relativamente nova
nas neurociências, mas a relação entre as estruturas nervosas e o TEA é existente e merece maiores
estudos.
As pessoas com autismo têm dificuldade de comunicar-se e interagir com outras pessoas, no
desenvolvimento tem o atraso da fala ou aprendizagem em uma criança. O espectro autista, afeta o
sistema nervoso podendo afetar os neurônios espelhos que tem função de imitar gestos ou ações de
outros, uma intervenção nas estruturas de neurônios-espelho, poderia melhorar esse aspecto da vida dos
altistas.
O autismo não tem cura, mas tem tratamento que podem amenizar os sintomas. Como foi citado
no texto há maneiras de se identificar a presença e o desenvolvimento da doença, e os neurônios podem
ser regulados por modulação de ondas UM, contribuindo para possíveis melhoras.
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