História e Organização Do Ensino Superior No Brasil PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 116

HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO

DO ENSINO SUPERIOR
NO BRASIL

Autoria: César Augusto Jungblut

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa
Prof. Ivan Tesck

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais


Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

146.3
J95h Jungblut, César Augusto

História e organização do ensino superior no Brasil / César Augusto


Jungblut. Indaial : UNIASSELVI, 2017.

116 p. : il.

ISBN 978-85-69910-58-9

1.História Social.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Cesar Augusto Jungblut

Graduado (Licenciado e Bacharel) em


História pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Especialista em Gestão e Tutoria em EAD
pela UNIASSELVI, com mestrado em História Latino-
Americana. Tem experiência em escolas públicas e
particulares no ensino básico, bem como em diversas
universidades de Santa Catarina, como UDESC, UFSC,
UNIASSELVI e FUCAP.

Atualmente é professor em cursos de Pós-Graduação.


Dedica-se também às questões de Metodologia de Ensino
(Superior, História e Geografia), na área de formação
de professores, em Políticas Públicas Educacionais e
na Gestão e Legislação Educacional, entre outros.
Tem vários trabalhos publicados na área de EAD,
tanto na área de História como de Educação.
Sumário

APRESENTAÇÃO...................................................................... 7

CAPÍTULO 1
Panorama da História, da Educação e do Ensino Superior
no Brasil .................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
Os Modelos Contemporâneos de Educação: Liberal e
Neoliberal ............................................................................. 37

CAPÍTULO 3
Panorama Geral do Ensino Superior em Outros Países,
Instituições Públicas e Privadas, a Situação Atual do
Ensino Superior no Brasil................................................... 53

CAPÍTULO 4
Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino Supe-
rior no Brasil........................................................................ 87
APRESENTAÇÃO
Olá! É uma grande satisfação ter você por aqui, que foi quem nos motivou a
escrever este material de estudo! Esperamos ter a oportunidade de dividir com você as
conquistas que tivemos sobre o conteúdo que vamos tratar. Para tanto, convido você
a começar os estudos de mais esta disciplina que faz parte da matriz curricular do seu
curso. Uma disciplina de suma importância quanto todas as outras estudadas até aqui,
assim como as próximas que virão para a sua especialização enquanto profissional.

Desejamos que o assunto aqui introduzido e debatido traga caminhos possíveis


de serem trilhados na busca de seu aperfeiçoamento e entendimento sobre questões
acerca da História e Organização do Ensino Superior no Brasil.

Para um melhor entendimento, dividimos este material em quatro capítulos. No


primeiro capítulo faremos uma retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a
colônia até a república, analisando a evolução do ensino no Brasil e suas principais
características. Visto que conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização
requer um exercício histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de
colonização como se organizava o ensino em nosso país.

Já no segundo capítulo abordaremos as principais caraterísticas do liberalismo


e sua relação com a educação; o neoliberalismo e sua aplicabilidade na educação
e também os pontos comuns entre liberalismo e neoliberalismo. Anotando que, num
primeiro momento, faremos uma conceituação do tema, para em seguida situar também
o neoliberalismo e relacioná-lo com a educação.

No terceiro capítulo veremos sobre a trajetória do ensino superior em outros


países; identificando também a diferença entre instituições públicas e privadas de
ensino superior no Brasil e suas funções; e por fim, qual é a situação atual do ensino
superior no Brasil.

No quarto e último capítulo abordaremos temas como a organização e as leis do


sistema educacional do ensino superior brasileiro; as organizações de coordenação da
educação superior; e um pouco das atuais políticas públicas para o ensino superior do
Brasil.

Aqui uma palavra de incentivo. É fundamental que para seu aprendizado você faça
a leitura atenta e também resolva as atividades propostas. Além disso, procure sempre
completar seus estudos com as leituras sugeridas e referenciadas ao longo do caderno.
Se for o caso, procure também outras fontes para o seu aprendizado. Bons estudos!

O autor.
C APÍTULO 1
Panorama da História, da Educação
e do Ensino Superior no Brasil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a colônia até a


república.

� Analisar a evolução do ensino no Brasil e suas principais características.


História e Organização do Ensino Superior no Brasil

10
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

Contextualização
“A história é o exercício da memória realizada para compreender
o presente e para nele ler as possibilidades do futuro, mesmo
que seja de um futuro a construir, a escolher, a tornar possível”.

Francisco Cambi

Conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização requer um exercício


histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de colonização como
se organizava o ensino em nosso país. Notadamente, não podemos falar que
nos primeiros séculos do período colonial havia ensino superior no Brasil, porque
estudos mais aprofundados e em nível superior existiam somente na metrópole
portuguesa e em outros países europeus, pois a oferta dessa modalidade de
ensino era proibida nas colônias por motivos óbvios que estavam atrelados
à exploração das terras e dos nativos. Tratavam-se de ações convenientes ao
controle e exploração dos espaços territoriais conquistados. Desse modo, a ação
educativa ficou a cargo dos religiosos jesuítas, que ofereceram na época colonial
a formação para o sacerdócio, que não era uma formação superior, devido ao
seu caráter confessional e específico. Outras formas de ensino foram criadas e
aplicadas pelos padres jesuítas nos três primeiros séculos da nossa história, as
quais serão abordadas adiante.

É importante frisar que o ensino superior no Brasil só veio a ter um sentido


universitário nos anos de 1930. Isso contrastou com o restante da América
espanhola, que criaram ainda no período colonial suas primeiras universidades,
como a do Peru e México. Em nosso país, o ensino superior só foi possível com a
chegada da família real portuguesa em 1808.

O Modelo Educacional Jesuítico


e Sua Influência na Educação
Brasileira
Vindos para a América somente com o intuito de explorar a terra e lucrar
ao máximo, a colonização brasileira foi decorrência da vontade de expansão de
Portugal que buscava maneiras de superar as dificuldades econômicas existentes
na Europa no final da Idade Média. Após conhecer as terras que seriam a futura
colônia na América, os portugueses se dedicaram exclusivamente a explorar as
riquezas aqui existentes nos trinta primeiros anos, não se preocupando com um
projeto de povoamento.

11
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Esse desinteresse em povoar as terras descobertas não duraria muito


tempo. Notando que sua colônia na América corria o risco de ser tomada, devido
às investidas de corsários e até de embarcações oficiais de países europeus, os
portugueses decidiram tomar providências e povoar de forma efetiva a colônia.
Para isso foram criadas as capitanias hereditárias em 1532. Todavia, havendo
dificuldades de sua implementação, em 1549 a coroa portuguesa criou o
governo geral, que foi a primeira forma de poder público no Brasil, e teve como
objetivo auxiliar as capitanias hereditárias. É importante frisar que junto com o
estabelecimento do governo geral vieram os padres jesuítas.

Para compreender o papel dos jesuítas na educação do Brasil, antes de


tudo é preciso se localizar no tempo e no espaço e entender o cenário
A educação jesuítica
esteve diretamente daquela época.
relacionada
às ideias do A educação jesuítica esteve diretamente relacionada às ideias
Renascimento do Renascimento europeu, também conhecido como Renascença ou
europeu, também Período das Luzes, compreendido entre os séculos XV e XVI.
conhecido como
Renascença ou
Período das Luzes, No final da Idade Média para a Idade Moderna, a luta entre
compreendido entre católicos e protestantes não ficou só no terreno religioso/espiritual,
os séculos XV e também foi muito acirrada no campo educacional. Para tentar barrar a
XVI. reforma, os católicos organizaram a companhia de Jesus. Você já ouviu
falar dela? Conhece um pouco da história dos jesuítas no Brasil e no
mundo? Edificada pelo padre espanhol Inácio de Loyola em 1534, e reconhecida
em 1540, a companhia de Jesus nasceu como instrumento de combate à reforma,
fundamentando-se na perspectiva de que tudo deveria ser feito para a máxima
maior glória de Deus. Enfim, pode-se afirmar que a contrarreforma católica foi
a tentativa de resgate da perdida hegemonia católica, contra qualquer inovação
política, ideológica e cultural, e os jesuítas colaboraram nessa empreitada
(CARVALHO, 2008).

Aqui temos a presença dos jesuítas, que chegaram em 1549 nas terras
brasileiras trazendo a expansão da fé católica e do reino, reunindo colonizadores
e evangelizadores sob o mesmo empreendimento. Com uma missão catequista,
edificaram igrejas e escolas em várias regiões da colônia da América.
Construíram um sistema educacional, desenvolvendo uma pedagogia que atingia
especialmente as crianças, usando o teatro, a música e a dança para cumprir
seus objetivos.

Com a chegada ao Brasil do padre Manuel da Nóbrega, no ano de 1549, teve


início de fato a tarefa de catequização. Com uma dupla tarefa de converter os
povos indígenas ao catolicismo e, com isso, expandir a fé católica, a companhia

12
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

de Jesus, que nada mais era do que um pelotão de soldados de Cristo, também
teve a missão de fazer retroceder o crescimento protestante que avançava mundo
afora.

Sobre a ação dos jesuítas no período inicial da colonização


brasileira, acesse o seguinte endereço eletrônico: <http://www.ufjf.br/
lahes/files/2010/03/c1-a7.pdf>.

Você deve estar se perguntando: como era a educação das populações


indígenas do território brasileiro antes da chegada dos jesuítas e europeus? Não
havia escolas, as crianças participavam espontaneamente de atividades com os
mais velhos, recebendo informações dos papéis que iriam desempenhar quando
adultas. Assim, a atuação dos jesuítas se volta para as crianças e jovens, pois
com os adultos encontravam maior dificuldade na conversão.

Desembarcados em 1549, na Vila de Pereira, depois Vila Velha, quatro padres


e dois irmãos da companhia de Jesus se juntaram aos propósitos do governo de
Portugal. Assim, como já foi dito, a chegada da companhia de Jesus no Brasil
colônia esteve diretamente vinculada com a missão de facilitar a implantação e
a manutenção de um modelo econômico colonial e também a divulgação da fé
católica, ambos ameaçados pela reforma na Europa.

Foi esta determinação, de um governo preocupado com


a manutenção da ordem, disciplina, domesticação para
o serviço escravo e imposição da fé cristã, que marcou
o início da formação da identidade brasileira. Os padres
jesuítas ocuparam papel central neste modelo de formação
educacional, característica do ideal de pessoa e sociedade
que se pretendia formar aqui no Brasil. A educação jesuítica
do Brasil colonial esteve relacionada com todo o movimento de
emergência da escolarização no mundo. Os jesuítas tiveram
grande influência na organização da sociedade brasileira
e coube a eles orientar a população, desde os filhos dos
senhores de engenho, colonos, escravos e índios, na fé cristã,
na disciplina do corpo e do silêncio, nos valores morais, nas
artes eruditas e nos costumes europeus. Aos índios coube, em
especial, a catequese, a leitura e escrita e o idioma de Portugal.
(CARVALHO, 2008, p. 8).

Desde o início, a coroa portuguesa acreditava que a catequese era a


forma mais eficiente para o domínio dos povos indígenas da colônia brasileira.

13
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

A coroa portuguesa Consequentemente, a catequese passou a ser um ato fundamental


acreditava que a para Deus e para o rei. Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores
catequese era a portugueses puseram o índio a serviço de três interesses: o reino
forma mais eficiente ambicionava integrá-lo ao processo colonizador; os jesuítas aspiravam
para o domínio dos convertê-lo ao catolicismo; e os colonos esperavam usá-lo como
povos indígenas da
trabalho escravo. Foram considerados, na época, como seres sem
colônia brasileira.
alma, animais, criados para serem instruídos e domesticados com
violência e exploração. As práticas educacionais em muitos casos reforçavam
isso, recusando sua diversidade.

Nos primeiros tempos da colonização, os jesuítas frequentavam as aldeias


e ensinavam às crianças a leitura, a escrita e a doutrina cristã. No entanto, como
o trabalho de adaptação do indígena para a lavoura exigia sua presença para
um adestramento diário e ininterrupto, começaram a organizar aldeias para
reunir os indígenas da região. Essas aldeias ficaram conhecidas por quase todo
o período colonial como missões. Também organizaram escolas elementares e,
acima de tudo, difundiram um projeto pedagógico bastante uniforme, tão bem
esquematizado que até nos dias de hoje é possível perceber seus reflexos.

Você sabe o que eram as escolas elementares?

Durando aproximadamente um ano, o curso elementar continha em seu


currículo o princípio católico e as primeiras letras, ou seja, o que conhecemos
hoje por alfabetização, mas com conteúdo doutrinário. Muita disciplina, atenção e
perseverança eram as três características de estudos a serem apreendidas pelos
alunos, elementos que facilitariam o próprio aprendizado e o desenvolvimento do
caráter ao futuro sacerdote e ao cristão leigo (ROCHA, 2005).

Aqui cabe uma observação importante! Os jesuítas não ficaram somente


focados na obra da catequese e no ensino das primeiras letras aos “gentis”.
Aos poucos, acabaram se dedicando à educação da elite colonial. Ainda que
a principal missão deles fosse a conversão dos índios, o estabelecimento de
colégios acabou por assumir, senão a prioridade, importância comparada à outra.
Assim, a educação jesuítica acabou dando atenção à formação da elite letrada
da colônia, ou seja, dos padres e senhores de engenho. Formou-se “[...] uma
concepção que acabou por assumir contornos elitistas, almejada por
A partir de 1564
foi inventado um todos que procuravam status, como símbolo de classe e de distinção,
imposto para a que demarcou as raízes fundantes da organização do ensino nacional”
sustentação dos (CARVALHO, 2008, p. 9).
colégios jesuítas,
chamado de “padrão É importante assinalar que a partir de 1564 foi inventado um
de redízima”,
imposto para a sustentação dos colégios jesuítas, chamado de “padrão

14
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

de redízima”, compreendendo 10% de todas as arrecadações dos impostos.


Machado (2002, p. 27) lembra que “[...] com o passar do tempo, os jesuítas
acabaram se tornando ricos e poderosos frente à coroa portuguesa, sendo este
um dos motivos para serem expulsos pelo Marquês de Pombal”, conforme você
verá mais adiante.

Os jesuítas ficaram conhecidos como soldados de Cristo, com


a missão cristã e civilizatória de acabar com as “crendices”
indígenas, impondo assim uma nova forma de ver e conceber
o mundo. Assim, a educação brasileira, nesse período, estava
estreitamente vinculada à política colonizadora portuguesa.
A metrópole desejava que a educação dos índios servisse
para formar súditos do rei em terras tropicais, ou seja, através
da uniformização da fé buscava-se uma unidade política,
facilitando a dominação do povo que se encontrava na colônia
(MACHADO, 2002, p. 26).

A educação jesuítica teve dois momentos de destaque no Brasil colônia. O


primeiro teve início em 1549, com a chegada dos padres jesuítas, e durou até
1570, quando morreu o padre Manoel da Nóbrega.

Machado (2002) informa que na fase inicial do projeto educacional instituído


pelo padre Manoel da Nóbrega no Brasil, a intenção era instruir e catequizar os
indígenas e também os filhos dos colonos, haja visto que os jesuítas constituíam
os únicos mestres oficiais da colônia. Para tanto, “[...] foram instituídos os
‘recolhimentos’, sendo que através deles se processaria a educação dos mestiços,
dos órfãos e dos filhos dos caciques, além dos filhos dos colonos, em regime de
externato” (MACHADO, 2002, p. 31).

Esse plano de estudos foi elaborado para atender a objetivos


muito diversos. Iniciava pelo aprendizado do português,
que incluía o ensino da doutrina cristã e a escola de ler e
escrever. Depois continuava, em caráter opcional, o ensino
de canto orfeônico (coral) e de música instrumental. A partir
daí, havia uma bifurcação: podia-se seguir pelo aprendizado
profissional e agrícola, ou pelas aulas de gramática seguidas
de viagem à Europa, é claro, para a elite. De início, não havia
a intenção de oferecer um ensino diferenciado aos indígenas
e aos filhos dos colonos, mas diante da falta de “adequação”
do índio e de acordo com as características da colônia
(latifúndio, escravidão e monocultura), aos índios foi reservada
a aprendizagem agrícola e aos filhos dos colonos, o ensino da
gramática, seguido de viagem à Europa. A partir da publicação
das “Constituições da Companhia de Jesus” em 1556, o plano
do Padre Manuel da Nóbrega deixou de vigorar, excluindo-
se das etapas iniciais de estudo o aprendizado de canto,
música instrumental, profissional e agrícola. Esse processo

15
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

culminará com a instituição da Ratio Studiorum em 1599, que


trouxe grandes mudanças à prática pedagógica dos jesuítas
(MACHADO, 2002, p. 31).

A partir da criação do ratio studiorum, inicia-se o segundo momento de


destaque da educação jesuítica no Brasil colônia. O plano de catequizar e
instruir os índios sofreu modificações. Os educados foram os filhos dos colonos
e aos índios restou apenas a catequização. Aqui se juntava a vontade da coroa
portuguesa e da igreja católica (coroa colonizadora) de tornar o índio mais
submisso para ser aproveitado como mão de obra escrava. Já para os padres
jesuítas, o de converter o maior número de nativos ao catolicismo, estremecido
pela reforma protestante.

Segundo Carvalho (2008), essa segunda fase chamada de ratio studiorum,


que durou de 1570 até 1759, teve como concepção uma pedagogia tradicional
com uma visão assistencialista de homem, compreendendo que esse mesmo
homem era constituído por uma essência universal e imutável, e que eles já
estavam prontos e determinados. Nessa fase, para atender à educação da elite,
a criação de colégios assumiu uma importância maior que a ação missionária.
À educação caberia apenas acomodar os alunos, segundo a essência universal.
Dando ênfase a essa concepção, veja:

Entre 1554 e 1570 os jesuítas fundam cinco escolas de instrução


elementar (Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente
e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro,
Pernambuco e Bahia). O currículo dividia-se em duas seções
ou classes distintas. Nas classes inferiores, com duração de
seis anos, ensinava-se retórica, humanidades, gramática
portuguesa, latim e grego. Nas classes superiores, com três
anos, os alunos aprendiam matemática, física, filosofia, que
incluía lógica, moral e metafísica, além de gramática, latim e
grego (CARVALHO, 2008, p. 12).
“Se a primeira fase
foi de penúria, ela
teve o aspecto Rocha (2005) ressalta que a mais significativa diferença entre a
positivo de obrigar primeira (1549-1570) e a segunda fase (1570-1759), foi pelo tipo de
os jesuítas, dependência econômica entre religiosos e indígenas. “Se a primeira
desprovidos fase foi de penúria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesuítas,
de recursos,
desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando-
a conquistar a
simpatia popular, se identificados com seus problemas, necessidades e anseios”
mostrando-se (ROCHA, 2005, p. 3). Desse modo, num primeiro momento, a tarefa
identificados com dos jesuítas foi a de poder aproximar essas culturas e integrá-las numa
seus problemas, nova e coesa realidade social. Já na segunda fase, sem se preocupar
necessidades e com a ausência de recursos, os soldados de Cristo teriam se voltado
anseios” (ROCHA,
para um passado clássico e medieval, evitando a realidade imediata
2005, p. 3).
e recusando qualquer mudança social e ideológica. “A cultura deixou

16
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

de ser posta a serviço da sociedade para se colocar à margem da vida, dedicada


à conservação dos esquemas mentais clássicos e das convenções sociais
estabelecidas” (ROCHA, 2005, p. 3).

Machado (2002) nota que a educação ofertada pela companhia de Jesus


possuía características rígidas na maneira de pensar. A formação dos professores
ganhava uma precaução no que tange à leitura e ao treinamento. Era apenas
com mais de trinta anos que o professor iniciava seu trabalho educativo. “Havia
um controle rigoroso para manter a tradição: em casos de alguns professores se
aproximarem das novidades ou ter um de espírito demasiado livre, devem ser
afastados sem hesitação do serviço docente” (MACHADO, 2002, p. 32). Era uma
pedagogia altamente autoritária, que servia tanto ao governo português e aos
interesses da Igreja, que via na fé e na autoridade da religião, um ótimo aparelho
de dominação política (ROCHA, 2005).

Você acha que essa rigidez ainda é válida para os dias de hoje?

Vamos nos deter um pouco mais no método ratio studiorum. Ele é fundamental
para compreender a educação jesuítica da época e até mesmo posterior!

Conhecido de forma abreviada como ratio studiorum, era o método


Conhecido de forma
pedagógico dos jesuítas, também chamado de plano de estudos. abreviada como
Publicado no ano de 1599, esse plano de estudos foi estabelecido a ratio studiorum,
partir das vivências pedagógicas que tiveram início no colégio italiano de era o método
Messina. A partir dessa primeira experiência italiana, houve uma disputa pedagógico dos
entre o modus italicus e o modus parisiensis de ensino, predominando jesuítas, também
chamado de plano
o segundo, o modelo da Universidade de Paris, onde estudaram muitos
de estudos.
jesuítas, até mesmo o próprio Loyola.

Composto de regras que abarcavam da organização escolar, orientações


pedagógicas, até a aplicação rigorosa da doutrina católica, esse plano de ensino
propunha uma pedagogia tradicional que remetia abertamente à escolástica
medieval, onde a educação era sinônimo de catequese e evangelização. A
formação proposta pelo ratio studiorum almejava o desenvolvimento de um
homem perfeito, do bom cristão e era direcionada para a elite colonial. Veja o que
Shigunov Neto e Maciel (2008, p. 180-181) dizem sobre o tema:

17
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

O Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu, mais


conhecido pela denominação de Ratio Studiorum, foi o
método de ensino que estabelecia o currículo, a orientação
e a administração do sistema educacional a ser seguido,
instituído por Inácio de Loyola para direcionar todas as ações
educacionais dos padres jesuítas, tanto na colônia quanto na
metrópole, ou seja, em qualquer localidade onde os jesuítas
desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não
era um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim uma
coletânea de regras e prescrições práticas e minuciosas a
serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto,
era um manual prático e sistematizado que apresentava ao
professor a metodologia de ensino a ser utilizada em suas
aulas.

O método divulgado originariamente em 1599 era centralizador e autoritário


em sua concepção, tendo também um aspecto universalista, humanista e literário.
O ratio studiorum proporcionava três alternativas de cursos: o curso secundário e
dois cursos superiores, de filosofia e teologia.

Assim, sua proposta curricular dividia-se em duas partes


distintas: os “estudos inferiores”, conhecidos por ensino
secundário; e os “estudos superiores”. Os cursos secundários
com duração de cinco anos, que na maioria das vezes
prorrogavam-se por seis anos, destinavam-se à formação
eminentemente literária e humanista.
Portanto, o objetivo do curso de humanidades era a arte acabada
da composição, oral e escrita. O aluno deve desenvolver todas
as suas faculdades, postas em exercício pelo homem que se
exprime e adquirir a arte de vazar esta manifestação de si
mesmo nos moldes de uma expressão perfeita. As classes de
gramática asseguravam-lhe uma expressão clara e exata, a
de humanidades, uma expressão rica e elegante, a de retórica
mestria perfeita na expressão poderosa e convincente “ad
perfectam aloquentiam informat”.
Esse curso de humanidades foi o que mais se propagou
e difundiu na colônia, podendo ser considerado o alicerce
da estrutura educacional jesuítica. Já os cursos superiores
eram integrados pelos cursos de filosofia e ciências, também
denominado de curso de “artes”. Tinham duração de três
anos e eram direcionados para a formação do filósofo, pois
as disciplinas que compunham os estudos eram a lógica, a
metafísica, a matemática, a ética e as ciências físicas e naturais
(SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180-181).

Os estudos superiores instituídos pelo ratio studiorum visavam à formação


profissional do homem, enquanto que os cursos secundários tinham a finalidade
de formar o humanista, o homem para viver em sociedade.

18
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

Atividades de Estudos:

1) A companhia de Jesus no Brasil colônia teve como missão facilitar


a implantação e a manutenção de um modelo econômico colonial
e também a divulgação da fé católica. Descreva de que forma
isso ocorreu.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) O modelo educacional jesuíta teve dois momentos de destaque


no Brasil. O primeiro iniciado em 1549, com a chegada dos padres
jesuítas, e que durou até 1570, e o segundo foi a partir da criação
do ratio studiorum. Escreva um pequeno texto diferenciando
esses dois momentos.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Sobre o legado e a influência dos jesuítas na educação colonial


brasileira, leia a seguinte obra:

SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no


período colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

O que parecia durar para sempre, não durou! Em 1759 o Marquês de Pombal
expulsa os jesuítas de Portugal e consequentemente das terras brasileiras,

19
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

acabando completamente com a organização educacional por eles aqui praticada


desde o século XVI. Conhecido como Marquês de Pombal, Sebastião de Carvalho
e Melo conduziu a política e economia portuguesa por 27 anos. Nomeado por D.
José I (1750-1777), como primeiro ministro de Portugal, Pombal foi responsável
por mudanças drásticas na reorganização do Estado.

Você deve estar se perguntando: por que expulsar os padres


Os jesuítas
também foram jesuítas da colônia brasileira? Portugal tinha motivos para isso? Quais
“colonizadores”, seriam esses motivos? Em termos gerais, a vontade de expulsar
atuando em os jesuítas era antiga e, especialmente, por dois fatores: a miséria
diversas áreas intelectual e econômica do reino, pela qual eram culpados; o privilégio
e contrariando, exclusivo do ensino por eles exercido desde o ano de 1549. Sem
em muitos
sombra de dúvida, a companhia de Jesus se desviou dos seus objetivos
casos, interesses
econômicos missionários e educacionais na América. Não foram aquilo que eram
e políticos na Ásia: somente ação missionária. Aqui, os jesuítas também foram
portugueses. “colonizadores”, atuando em diversas áreas e contrariando, em muitos
casos, interesses econômicos e políticos portugueses. A questão não
era simples e exigia avaliação.

Os jesuítas procuraram catequizar também os negros,


combatendo o culto dos deuses africanos. Mas não lhes foi
permitido oferecer aos escravos qualquer educação mais
formal e, assim, a educação deles foi limitada aos sermões
que os exortavam à prática da moral e fé cristãs.
Os jesuítas eram acusados de educar os índios a serviço da
ordem religiosa e não dos interesses da metrópole e de não
conhecerem outro soberano que não fosse o geral da companhia
e outra nação que não fosse a sua própria sociedade. Pombal
propôs-se a solucionar o problema do ensino não mais como
tarefa das ordens religiosas, mas como atribuição própria, sem
ser exclusiva do poder real. Mas, quando a coroa começou a
impor a reforma pombalina (alvará de 28/06/1759) e o processo
de secularização do ensino, determinando o fechamento das
escolas jesuíticas, a colonização já estava consolidada e a
língua portuguesa e a religião cristã já estavam divulgadas
entre indígenas e escravos (ROCHA, 2005, p. 9).

Pombal sabia da importância política e econômica da colônia e por isso


reformulou muita coisa por aqui. Criou as companhias de comércio que tinham
privilégios de taxar produtos na compra e venda, aumentou os impostos na região
de mineração, criando as famosas casas de fundição, e fixou quotas anuais de
produção de ouro.

Reforçando um pouco mais sobre as causas da expulsão dos jesuítas


do Brasil, lembramos que elas foram variadas, desde questões políticas até
ideológicas. Tornando-se uma barreira aos interesses do Estado moderno

20
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

português, a companhia de Jesus possuía um amplo poder econômico desejado


pela coroa portuguesa. Esse novo Estado português, influenciado pelas ideias
iluministas então vigentes na Europa, também almejava a formação de um novo
homem, ou seja, o homem burguês, o negociante, e não mais somente o cristão.

Shigunov Neto e Maciel (2008) observam que para analisar a expulsão da


companhia de Jesus deve ser levado em conta a compreensão de um processo
amplo, que abrange questões políticas, ideológicas e econômicas. Para os citados
autores, a expulsão dos padres jesuítas e por consequência o fim da companhia
de Jesus, culminando com o desmoronamento do sistema de educação criado por
eles, ocorreu por dois motivos:

Político – os jesuítas representavam um empecilho aos


interesses do Estado moderno, além de serem detentores de
grande poder econômico, cobiçado pelo Estado.
Educacional – a necessidade de a educação formar um novo
homem – o comerciante e o homem burguês, e não mais o
homem cristão – pois os princípios liberais e o movimento
iluminista trazem consigo novos ideais e uma nova filosofia de
vida (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180).

As missões, que eram muitas, passaram a ser controladas por funcionários


do governo. “As capelas tornaram-se paróquias, com vigários nomeados pelo rei;
os indígenas deveriam deixar de ter “nomes bárbaros”, passando a ter nomes
portugueses” (CARVALHO, 2008, p. 14). As línguas nativas faladas foram
proibidas, tornando-se obrigatória a língua portuguesa. “Os caciques viraram
capitães e juízes, e as lideranças passaram a ser os vereadores municipais. Todos
os indígenas, a partir daquele momento, se tornariam cidadãos portugueses”
(CARVALHO, 2008, p. 14).

Provocando um retrocesso no sistema educativo da colônia, a expulsão dos


jesuítas comprometeu menos a educação dos pobres que a educação das elites. O
sistema educacional edificado por eles, aos poucos se transformou num
sistema cada vez mais voltado às elites, refletindo o que recomendava Grande parte das
características do
a companhia de Jesus e o ratio studiorum. Em 1759, ano da expulsão,
padrão pedagógico
eles tinham, além das escolas de ler e escrever, inúmeros seminários e do ensino jesuítico,
cerca de 24 colégios, sem contar a grande quantidade de missões. que foi praticado no
Brasil por mais de
Grande parte das características do padrão pedagógico do ensino dois séculos, ainda
jesuítico, que foi praticado no Brasil por mais de dois séculos, ainda permanece viva em
muitas instituições
permanece viva em muitas instituições escolares brasileiras, sejam
escolares
elas públicas ou privadas. Isso é notório quando vemos muitas escolas brasileiras, sejam
preocupadas com a formação de valores religiosos, impondo uma elas públicas ou
disciplina corporal, preservando hierarquias e utilizando estratégias privadas.

21
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

didáticas como: o aluno “líder” da sala, o estudioso que deve ser exemplo a ser
seguido, e principalmente a memorização, o silêncio e até a competição.

E a pergunta mais uma vez é necessária: o que foi feito em termos


educacionais após a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras? Machado (2002)
assinala que com o banimento dos jesuítas da colônia brasileira pelo Marquês
de Pombal, a coroa portuguesa tentou implantar um sistema educacional para
ocupar seu lugar. O mesmo autor diz que foi criado um sistema de aulas régias
que era mantido pelo imposto chamado de subsídio literário, no entanto, essa
nova tentativa não deu conta de prover a educação da colônia, pois não havia
recursos e nem profissionais qualificados para tanto.

Vejamos o que Rocha (2005, p. 10) ensina sobre o assunto:

Infelizmente, Pombal esperou treze anos para tentar substituir


os dois séculos de tra­ balho jesuítico e, mesmo assim, a
Ordenação de 10 de novembro de 1772, que instituiu o
“subsídio literário”, imposto cobrado sobre o consumo da
carne e produção de aguardente, criado especialmente para
a manutenção das aulas de ler e escrever e de humanidades,
não foi capaz de arrecadar os recursos necessários.
A instituição do regime das “aulas régias”, ou seja, aulas de
disciplinas isoladas, não apresentava a coerência necessária,
dada a ausência de um plano sistemático de estudos e a falta
de motivação discente. Uma das razões para as escolas régias
não serem frequentadas é a de que eram constantemente
visitadas por soldados incumbidos de recrutar rapazes
com mais de treze anos. Certamente, outros motivos mais
sérios provocavam essa debandada das aulas, ministradas
por professores leigos, ignorantes e sem nenhum senso
pedagógico.

O legado desse período (1759-1808) foi de pura ilusão. A identidade da ação


pedagógica de um nível para outro, e até os cursos superiores, foram trocados
pelas difusas aulas régias, enfraquecendo a organização de um novo sistema.
A distância entre a diretoria geral de estudos e os mestres não congregados em
colégios, mas dispersos, sem órgãos intermediários permanentes, nem pedia
qualquer inspeção eficaz, nem criava um ambiente favorável às iniciativas de
vulto. Tudo, até os detalhes de programas e a escolha de livros, tinha que vir de
cima e de longe, do poder supremo do reino, como se este tivesse sido organizado
para instalar a rotina, paralisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de
absorver, os organismos parasitários que costumam desenvolver-se à sombra de
governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Essa foi uma das
razões pelas quais a ação reconstrutora de Pombal não atingiu, senão de raspão,
a vida escolar da colônia.

22
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

Para Portugal, quando implantou esse sistema, seria o fim do "atraso" da


educação no Brasil. No entanto, a educação, que era quase de responsabilidade
total dos jesuítas, teve um grande retrocesso. Vinte anos após a expulsão da
companhia de Jesus, o número de escolas em toda a colônia era bem pequeno se
comparado à época dos padres. Muitas escolas foram fechadas e as bibliotecas
dos mosteiros foram abandonadas ou destruídas.

Mais uma vez, Machado (2002, p. 34) ensina:

Como você pode perceber, os jesuítas tornaram-se instrumentos


na formação da elite colonial, já que foram os educadores
durante 210 anos. O modelo de educação implantado era
adequado à política colonial portuguesa, pois se privilegiava
o trabalho intelectual, deixando de lado o trabalho manual.
Desta forma, os alunos ficavam distantes da realidade em que
viviam. A maioria da população era iletrada - pobres, negros e
mulheres - o que fazia a elite colonial acreditar que o mundo
civilizado estava lá fora, sendo a metrópole, o modelo ideal.

De forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos


jesuítas no Brasil durante 210 anos, outros, porém, criticam de forma veemente
esse trabalho educativo. O modelo educacional jesuítico teve influência em
todo período colonial, alcançando até o império e, porque não dizer, o período
republicano. Essa educação criou uma cultura importada, com influência
notadamente europeia. No entanto, não podemos esquecer de que os padres
jesuítas foram os orientadores sociais e intelectuais da colônia por mais de dois
séculos e que, seguramente, sem eles teria sido impossível ao conquistador
português conservar a coesão de sua cultura e de sua civilização. Isso era
coerente com a ação educacional jesuítica, pois procedia com seus objetivos
principais na colônia, a conversão do gentio à fé cristã. A obra jesuítica também
apresentou papel fundamental e acabou contribuindo de forma determinante
para que o governo de Portugal alcançasse seus objetivos na colonização e
povoamento da colônia brasileira na América.

A ação educacional jesuítica na colônia pode ser compreendida a partir


de duas fases: uma delas corresponde ao primeiro período, o de adaptação e
construção do trabalho de catequese e, por conseguinte, a conversão do nativo
aos costumes europeus; num segundo momento, que iniciou no segundo século
de sua atuação, ocorreu um tempo de amplo aumento do sistema educacional
disseminado no primeiro período, ou seja, foi a fase de solidificação do projeto
educacional, dedicando-se também à catequização do gentio à fé católica e ao
ensino dos filhos dos colonos e demais membros da colônia, principalmente, os
filhos dos donos de engenho e funcionários reais.

23
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Existiram, e ainda existem, críticas realizadas ao método pedagógico


aplicado pelos jesuítas na colônia brasileira. De forma geral, critica-se o monopólio
da educação da juventude portuguesa e colonial, que tinha uma orientação para
a uniformidade intelectual; acusavam seus ensinos de dogmático e abstrato; de
usar em seus métodos autoritarismo, retórica e conservadorismo, não havendo
lugar para os debates inovadores da época. Em meio a essas críticas, apesar das
dificuldades e com as dimensões geográficas do Brasil:

Os números da obra jesuítica impressionam pela grandeza,


pois foram fundadas 36 missões; escolas de ler e escrever
em quase todas as povoações e aldeias; 25 residências dos
jesuítas; 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre
colégios e seminários, nos principais pontos do Brasil, entre
eles: Bahia, São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Espírito Santo,
São Luís, Ilhéus, Recife, Santos, Porto Seguro, Paranaguá,
Alcântara, Vigia, Pará, Colônia do Sacramento, Florianópolis e
Paraíba (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 183).

O que foi colocado A questão que se deve assinalar aqui, é a de peculiaridade após
no lugar da a expulsão dos jesuítas: o que foi colocado no lugar da educação
educação jesuítica jesuítica não deu conta nem de longe de educar tanto a elite como os
não deu conta demais moradores da colônia portuguesa na América. A destruição e
nem de longe de
substituição das antigas propostas pelas novas, só melhorou um pouco
educar tanto a elite
como os demais com a vinda da família real em 1808. Por fim, a grande perspectiva
moradores da que devemos pensar é a do educador comprometido, aquele que lê
colônia portuguesa as entrelinhas da história da nossa educação, para entender que tipo
na América. de educação tínhamos e qual, eventualmente, podemos construir hoje
para o futuro.

O Surgimento do Ensino Superior


Brasileiro
Tardou, mas aconteceu! O aparecimento do ensino superior no Brasil ocorreu mais
de três séculos depois do seu “descobrimento”. A implantação de cursos superiores em
terras brasileiras ocorreu por dois motivos: a chegada da família real portuguesa ao
Brasil e a necessidade em atender aos jovens nobres que foram impedidos de cursar
universidades europeias após o bloqueio continental de Napoleão sobre a Europa.

Para a metrópole portuguesa, a aventura em terras brasileiras, na colônia, se


assemelhava ao investimento de uma empresa, unicamente voltada para a exploração
e a esse fim se manteve fiel. Dessa maneira, a coroa não se preocupava com a criação
de instituições de ensino superior, ainda mais de universidades. Até as ações dos

24
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

padres jesuítas de fundar seminários para a formação de um clero brasileiro cessaram


na reforma efetuada pelo Marquês de Pombal, quando expulsou a companhia de Jesus
no final do século XVIII. Assim, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas
apenas em 1808 e as primeiras universidades são ainda mais recentes, datando da
década de 1920/1930 (SANTOS, 2009).

Arrastando por alguns anos essa situação vexatória da educação em terras


brasileiras, com a expulsão dos jesuítas, ela só começou a mudar no momento em
que a família real portuguesa se mudou para o Brasil em 1808. Fugindo da invasão
de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, a corte se transfere para sua colônia
mais importante, fixando-se na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, o Brasil é
elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves e ocorre a abertura dos
portos às nações unidas. Isso significou que todas as mercadorias importadas e
exportadas pelo Brasil, que antes eram comercializadas somente com Portugal, agora
são comercializadas diretamente com os países interessados. O principal parceiro
comercial na época era a Inglaterra.

De forma esclarecedora, Rocha (2005, p. 12) lembra:

A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro


(1807-1808) mudou de maneira radical as relações entre a
metrópole e sua colônia mais próspera, o Brasil. Do ponto de
vista da educação, novas orientações foram, forçosamente,
introduzidas, ampliando-se o processo de secularização do
ensino iniciado com Pombal. Motivada por preocupações
de utilidade prática e imediata, a obra escolar de D. João VI
marcou uma ruptura com o programa escolástico e literário até
então em vigor. Muito havia a ser feito para atender à demanda
educacional da aristocracia portuguesa, preparando, inclusive,
novos quadros para as ocupações técnico-burocráticas.
Também é fato que o ensino superior foi a maior preocupação,
ficando os demais níveis relegados à própria sorte, mas, com
essa obra teve início o processo de autonomia que iria resultar
na independência política.

Sobre a família real portuguesa, sugere-se a leitura da seguinte


obra:

LAURENTINO, Gomes. Como uma rainha louca, um príncipe


medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram
a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2007.

25
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

A obra intitulada “Como uma rainha louca, um príncipe medroso


e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de
Portugal e do Brasil”, está disponível no seguinte endereço eletrônico:
<http://goo.gl/nffLtj>.

Nessa ocasião, o Brasil se constituiria em capital do reino português,


tornando-se assim essencial atenuar as carências do sistema de ensino brasileiro,
suscitando uma estrutura educacional nova e que pudesse formar servidores
preparados para esta realidade política. O primeiro passo foi multiplicar o número
de cadeiras de ensino e criar cursos superiores e instituições culturais. Para tanto,
foram criadas a Academia Real da Marinha (1808) e a Academia Real Militar
(1910), destinadas a preparar oficiais e engenheiros para a defesa militar da
colônia. Também foram criados os cursos de cirurgia, anatomia e medicina (1808-
1809). Por fim, foram criados cursos voltados para a formação de técnicos para os
campos da economia, indústria e agricultura (MACHADO, 2002).

Conforme Machado (2002, p. 34):

Para incrementar a vida cultural e social do Rio de Janeiro,


foram criados o Jardim Botânico (1810), a Biblioteca Nacional
(1810) e o Museu Real, posteriormente Museu Nacional
(1818). Foram incentivadas a vinda de missões estrangeiras
compostas por pintores, músicos, cientistas, entre outros
estudiosos. Em 1808, também foi liberada a imprensa e a
criação de indústrias no país. A imprensa era proibida devido
ao medo da metrópole de que, através dos jornais e dos livros,
se difundissem ideias que levassem a independência. Também
por causa disso, a entrada de livros na colônia era controlada.

A vinda da corte É importante assinalar que muitos historiadores consideram a


portuguesa marcou criação desses cursos superiores o verdadeiro início do ensino superior
de fato o início em nosso país. Pois, como assinala Sampaio (1991), a vinda da corte
da construção do
portuguesa marcou de fato o início da construção do ensino superior
ensino superior no
Brasil. no Brasil, cujo padrão de ampliação teve, como particularidades
principais, sua orientação para formação profissional e a infraestrutura
necessária para modernizar a colônia.

Existia, para tanto, um modelo de formação profissional no qual:

26
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

As escolas de medicina, engenharia e, mais tarde, de direito,


se constituíram na espinha dorsal do sistema, e ainda hoje
estão entre as profissões de maior prestígio e demanda.
Durante esse primeiro período, de 1808 a 1889, o sistema de
ensino superior se desenvolve lentamente, em compasso com
as rasas transformações sociais e econômicas da sociedade
brasileira. Tratava-se de um sistema voltado para o ensino,
que assegurava um diploma profissional, o qual dava direito a
ocupar posições privilegiadas no restrito mercado de trabalho
existente e a assegurar prestígio social (SAMPAIO, 1991, p. 6).

No Brasil, a criação de instituições de ensino superior seguiu esse modelo,


buscando formar grupos profissionais para a administração dos negócios do
Estado, para a construção de obras públicas e também para encontrar novas
riquezas, rejeitando também o papel educacional da igreja católica, exceto o ensino
das primeiras letras. A independência política, ocorrida em 1822, não significou
grandes mudanças no ensino superior do Brasil, menos ainda a ampliação ou
diversificação do sistema. Os novos dirigentes não vislumbraram qualquer
vantagem na criação de universidades, prevalecendo o modelo de formação para
profissões em faculdades isoladas. De fato, o processo de independência não foi
além de uma continuidade protocolar de poder (SAMPAIO, 1991, p. 7).

Atividades de Estudos:

1) Com a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras, o que


aconteceu com a educação da colônia portuguesa na América?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808,


ocorreram mudanças significativas na educação do Brasil,
principalmente no ensino superior. Quais foram essas mudanças?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

27
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

A Universidade: Uma Instituição


Tardia no Brasil
Cabe salientar que, proclamada a República, outras tentativas são feitas.
A situação do ensino superior permaneceu praticamente inalterada, desde a
independência em 1822 até a Proclamação da República, em 1889. O que mudou
com a República foram as alterações na legislação do ensino, com um ideário
positivista, pois o discurso passou a afirmar que todos os cidadãos deveriam ter
as mesmas oportunidades educacionais.

Fávero (2006) lembra que, na Constituição Republicana de 1891, o ensino


superior deveria ser amparado pelo poder central, haja visto que do ano de 1889
até 1930 (período conhecido como República Velha), o ensino superior no país
sofreu inúmeras alterações decorrentes da publicação de diferentes dispositivos
legais sobre o assunto. Apesar da demora no surgimento da universidade,
o regime de desoficialização do ensino acabou por gerar condições para o
surgimento das universidades, com tendência para se deslocar provisoriamente
da órbita do Governo Federal para a dos Estados. Nessa conjuntura, surgiu em
1909 a Universidade de Manaus, em 1911 é constituída a Universidade de São
Paulo e, em 1912 a Universidade do Paraná, todas como instituições livres.

A Universidade do Como resultado disso, em setembro de 1920 o Presidente Epitácio


Rio de Janeiro é a Pessoa, mediante o Decreto nº 14.343, organizou a Universidade do
primeira instituição Rio de Janeiro. Criada a partir de três unidades de caráter profissional,
de ensino superior foi-lhe garantida autonomia didática e administrativa. Dessa maneira, a
criada legalmente
primeira universidade oficial foi criada, resultando da reunião formal de
pelo Governo
Federal. três escolas tradicionais já existentes, sem uma maior conexão entre
elas e cada uma conservando suas características. Fávero (2006)
lembra que apesar das ressalvas feitas à criação dessa instituição de ensino,
cabe assinalar que na história da educação superior brasileira, a Universidade do
Rio de Janeiro é a primeira instituição de ensino superior criada legalmente pelo
Governo Federal.

Aos poucos o panorama começou a mudar. Em 1931, ainda no governo


provisório de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública,
tendo Francisco Campos como o primeiro ocupante da pasta. Através de uma
série de decretos, organizou a “famosa” Reforma Francisco Campos. Dentre esses
decretos, o nº 19.851 de 1931, instituiu o estatuto das universidades brasileiras,
que ao tratar sobre a disposição do ensino superior, instituiu o regime universitário,
elevando para o nível superior a formação de professores secundários.

28
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

No que tange à organização do ensino superior, essa reforma previu duas


modalidades: o sistema universitário (oficial, mantido pelos governos federal e
estaduais ou particulares) e o instituto isolado. A direção central da universidade
cabia ao reitor e ao conselho universitário, sendo o reitor escolhido a partir de uma
lista tríplice, prática que vigora até hoje nas universidades federais e em algumas
públicas estaduais. Essa reforma também dispunha sobre a composição do corpo
docente, catedráticos e auxiliares de ensino, que deveriam ser escolhidos por
concursos de títulos e provas, entre outras medidas.

Outro fator importante relativo à universidade nas primeiras décadas do


século XX, dizia respeito à necessidade da pesquisa. A pesquisa que deveria ser
realizada pelas universidades, sempre promovendo a formação do pesquisador,
realizava-se até então nas escolas profissionais, muitas impróprias para esse fim.
“A pesquisa precisava de um espaço mais distanciado de resultados práticos, e
com mais liberdade de experimentação e pensamento” (SAMPAIO, 1991).

Nesse quesito, a criação de uma universidade no Brasil ressurgiu com uma


nova expectativa, qual seja, a de romper com a argumentação resumidamente
política que prevaleceu ao longo de todo o século XIX e início do século XX.
Atribuía-se à universidade um novo papel: desenvolver a ciência, as humanidades/
artes e a pesquisa. Para essa nova finalidade, a Academia Brasileira de Ciência
(ABC) e a Associação Brasileira de Educação exerceram um papel de suma
importância. “Elas colocaram em pauta um projeto de reformulação completa do
sistema educacional brasileiro, desde o nível primário com o projeto da Escola
Nova, até o superior com o projeto da Universidade Brasileira, que seria seu
coroamento” (SAMPAIO, 1991, p. 8).

A criação da Associação Brasileira de Educação em 16 de


outubro de 1924, foi um acontecimento de importância fundamental
para o direcionamento das mudanças que ocorreram no sistema
educacional escolar na segunda metade da década de 1920 e,
principalmente, na primeira metade da década seguinte. Até aquela
data, o debate sobre as questões educacionais se restringia, quase
que exclusivamente, ao interior do Estado. Depois dela, passou a
existir um espaço na sociedade civil onde se discutiam as políticas
educacionais elaboradas pelo Estado e as sugestões.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/eaBexD>. Acesso em: 16 fev. 2016.

29
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

De acordo com Sampaio (1991, p. 8), essa universidade moderna deveria ser
organizada:

[...] a) de maneira que se integrem num sistema único, mas


sob direção autônoma, as faculdades profissionais (medicina,
engenharia, direito), institutos técnicos especializados
(farmácia, odontologia), e instituições de altos estudos
(faculdades de filosofia e letras, de ciências matemáticas,
físicas naturais, de ciências econômicas e sociais, de
educação etc.); b) e de maneira que, sem perder o seu caráter
de universalidade, se possa desenvolver, como uma instituição
orgânica e viva, posta pelo seu espírito científico, pelo nível
dos estudos, pela natureza e eficácia de sua ação, a serviço da
formação e desenvolvimento da cultura nacional.

A despeito de todas as tentativas, a Reforma Francisco Campos não


conseguiu pôr em prática o ideal de universidade que tinha movimentado
educadores e intelectuais em 1920, apesar de não ter mantido o ensino superior
nos moldes tradicionais anteriores. Desse modo, a Reforma Francisco Campos
além de não modificar solidamente a universidade imaginada pelos educadores
nos anos 20, também não refletiu na política do Governo Vargas ao longo do seu
primeiro mandato (1930-1945). “Esse período assistiria à criação de dois projetos
universitários que teriam continuidade, o da Universidade de São Paulo e da
Universidade do Brasil, e o projeto frustrado da Universidade do Distrito Federal,
no Rio de Janeiro” (SAMPAIO, 1991, p. 11).

Em suma, a concepção da universidade em nosso país significou um


processo de sobreposição de modelos, do que efetivamente de substituição, isto
é, reuniu em muitos casos faculdades já existentes. A universidade, com forte
tendência à pesquisa, foi parcialmente instituída com a fundação da USP em
1934, no restante foi preservado o antigo modelo de formação para profissões, o
que mudaria de certa forma com a Reforma Universitária de 1968, nosso próximo
assunto.

Final dos anos de


A Reforma Universitária de
1940 e começo dos
anos 1950, surge
1968
nas universidades
a vontade de Após o final da ditadura Vargas, teve início a redemocratização
mudanças, no Brasil, confirmada com a promulgação de uma nova Constituição
principalmente por
em 1946, que se distinguiu por ter caráter liberal em suas premissas.
uma autonomia
universitária, tanto Já nesse período, final dos anos de 1940 e começo dos anos 1950,
interna como surge nas universidades a vontade de mudanças, principalmente
externa. por uma autonomia universitária, tanto interna como externa. Eram
os ventos das mudanças.

30
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

A partir dos anos de 1960, a União Nacional dos Estudantes (UNE) buscava
em seus seminários exigir uma reforma universitária, vinculada, é claro, com
mudanças estruturais e políticas do país. No entanto, entre abril de 1964 até 1967,
as discussões no movimento estudantil foram centralizadas especialmente em dois
pontos: “[...] a) revogação dos acordos MEC/USAID; b) revogação da Lei Suplicy
(Lei nº 4.464, de 9.11.1964), pela qual a UNE foi substituída pelo Diretório Nacional
de Estudantes” (FÁVERO, 2006, p. 20).

Ramos (2011) lembra que nesse período, um pouco antes do golpe militar
que ocorreu em 1964, a comunidade acadêmica tinha iniciado a discussão em
torno da necessidade da reforma universitária, envolvendo a criação de institutos
de pesquisa, a modificação da estrutura da carreira docente, o reajuste salarial
dos professores e a assistência aos estudantes, através de bolsas, alimentação,
alojamento etc.

No começo do ano de 1968, uma intensa mobilização de estudantes,


avivada por intensos debates nas universidades, exigiu do governo medidas que
solucionassem os problemas educacionais mais graves, principalmente a falta
de vagas. A resposta do governo militar ocorreu com o Decreto n. 62.937, de
02.07.1968, que criou um Grupo de Trabalho (GT) encarregado de estudar, em
caráter de urgência, as medidas que deveriam ser tomadas para resolver a crise da
universidade. Veja:

No relatório final desse grupo aparece registrado que essa


crise sensibilizou diferentes setores da sociedade, não
podendo deixar de exigir do governo uma ação eficaz que
enfrentasse de imediato o problema da reforma universitária,
convertida numa das urgências nacionais. Entre as questões
levantadas, o relatório chama a atenção para o fato de a
universidade brasileira estar organizada à base de faculdades
tradicionais que, apesar de certos progressos, em substância,
ainda se revelam inadequadas para atender às necessidades
do processo de desenvolvimento, que se intensificou na
década de 1950, e se conserva inadaptada às mudanças
dele decorrentes. A universidade se expandiu, mas, em seu
cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar
o processo de desenvolvimento e os germes da inovação
(FÁVERO, 2006, p. 18).

Dentre as medidas da reforma que tiveram por objetivo a produtividade e a


eficiência da universidade, principalmente as públicas, destacam-se: “[...] o sistema
departamental, o vestibular unificado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a
matrícula por disciplina, bem como a carreira do magistério e a pós-graduação”
(FÁVERO, 2006, p. 18). Muitas dessas mudanças permanecem até os dias
atuais, mas o que se discute hoje em relação ao ensino superior, não é tanto sua
organização, mas sim seu alcance social e econômico para o país, assunto que
será discutido nos próximos capítulos!

31
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Para conhecer um pouco mais sobre a reforma universitária de


1968, leia com atenção o seguinte texto:

LIRA. A. T. N. As bases da reforma universitária da ditadura


militar no Brasil. Disponível em: <http://goo.gl/BkulTo>. Acesso em:
16 fev. 2016.

Atividades de Estudos:

1) Em que ano e em que contexto a primeira universidade brasileira


oficial foi criada?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2)
Durante o Período Vargas, uma importante reforma foi
implementada na educação. Quais foram os principais aspectos
dessa reforma para o setor?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) Descreva o que foi a reforma universitária de 1968 e o que ela


modificou no modelo de ensino superior do Brasil.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

32
Capítulo 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino
Superior no Brasil

Algumas Considerações
Caro pós-graduando! Chegamos ao final do primeiro capítulo. Esperamos
que a leitura deste material tenha despertado não só o conhecimento sobre a
educação superior brasileira, mas também, a vontade de conhecer mais. Faça
isso, leia as indicações sugeridas no próprio texto do livro de estudos!

Algumas considerações são necessárias para encerrar este capítulo! De


forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos jesuítas
no Brasil durante 210 anos, outros porém, criticam veemente esse trabalho
educativo.

A educação praticada pelos jesuítas perpassou toda a época colonial,


chegando a influenciar práticas desde o Império até a República. Essa educação
criou uma cultura importada, com influência notadamente europeia. No entanto,
não podemos esquecer que os padres jesuítas foram os orientadores sociais e
intelectuais da colônia por mais de dois séculos e que, seguramente, sem eles
teria sido impossível ao conquistador português conservar a coesão da sua
cultura e da sua civilização. Isso era coerente com a ação educacional jesuítica,
pois procedia com seus objetivos principais na colônia, a conversão do gentio
à fé cristã. A obra jesuítica também apresentou papel fundamental e acabou
contribuindo de forma determinante para que o governo de Portugal alcançasse
seus objetivos na colonização e no povoamento da colônia brasileira na América.

Todavia, os primeiros ensaios do ensino superior no Brasil somente


aconteceriam muito após a vinda dos primeiros colonizadores, ou seja, apenas
com a chegada da família real portuguesa em terras brasileiras em 1808. Nesse
momento surgiu, de fato, o ensino superior no Brasil, com uma preocupação
basicamente profissionalizante. As universidades demoraram para serem criadas
em nosso país, pois somente na década de 1920 e 1930 surgiram universidades
com estatuto próprio. Por fim, a ditadura militar empreendeu uma reforma
universitária caracterizada pela racionalização e com forte teor político ideológico.

Referências
CARVALHO, C. et al. Educação jesuítica: contexto, surgimento e
desdobramentos. Revista Eletrônica de Ciências da Educação, Campo Largo,
v. 7, n. 2, nov. 2008.

FÁVERO, M. L. A. A universidade no Brasil: das origens à reforma universitária


de 1968. Curitiba: Educar, 2006.

33
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

MACHADO, A. História da educação. 3. ed. Florianópolis: UDESC, 2002.

RAMOS, F. P. História e política do ensino superior no Brasil: algumas


considerações sobre o fomento, normas e legislação. 2011. Disponível em:
<http://goo.gl/iVZMVD>. Acesso em: 16 fev. 2016.

ROCHA, M. A. S. A educação pública antes da independência. 2005.


Disponível em: <http://goo.gl/0XDQbV>. Acesso em: 16 fev. 2016.

SAMPAIO, H. Evolução do ensino superior brasileiro, 1808–1990. 1991.


Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9108.pdf>. Acesso em: 11
fev. 2016.

SANTOS, A. P. Ensino superior: trajetória histórica e políticas recentes. 2009.


Disponível em: <https://goo.gl/uI5eYN>. Acesso em: 14 fev. 2016.

SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período


colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

34
C APÍTULO 2
Os Modelos Contemporâneos de
Educação: Liberal e Neoliberal

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Definir as principais caraterísticas do liberalismo e sua relação com a educação.

� Conhecer o neoliberalismo e sua aplicabilidade na educação.

� Analisar os pontos comuns entre liberalismo e neoliberalismo.


História e Organização do Ensino Superior no Brasil

36
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

Contextualização
“É possível renascer das cinzas, é possível e necessário lutar
por um mundo mais justo e igualitário. Simplesmente porque a
história ainda não terminou”.

Frigotto

O conceito de neoliberalismo pode ser sobreposto aos países que têm


optado por ampliarem uma política de intervenção mínima. Adotando um
discurso de maior autonomia e liberdade, tal política segue práticas muitas vezes
centralizadoras, implantando, inclusive, uma política de mercado privativista sobre
os direitos sociais básicos, como por exemplo, educação e saúde.

No momento de crise muitos Estados são reorganizados, tanto nas esferas


econômica, política como social. Nessas reorganizações, surge o pensamento
liberal carregado de propostas, que têm como defesa o arranjo das sociedades
em função dos interesses privados, empresariais e principalmente, do livre
mercado. Conhecer um pouco sobre as modificações que vivemos hoje num
mundo globalizado, é importante para que não sejamos tragados pela nova ordem
mundial da atualidade. Dessa forma, vamos buscar elementos para entender
essa “ideologia” vigente (não tão nova assim) que rege a economia e a política
mundial. No segundo capítulo serão conhecidos, de forma concisa, os caminhos
navegados por essa ideologia, tentando compreender seus pressupostos gerais e
sua influência na educação.

Caro pós-graduando, vamos conhecer um pouco sobre o liberalismo,


deixando claro que o propósito não é abordar toda a história e os tipos de
pensamento liberal, visto que o tema é vasto e amplo na sua forma de apresentar.
O enfoque aqui vai ser, num primeiro momento, fazer uma conceituação do tema,
para em seguida situar também o neoliberalismo e relacioná-lo com a educação.

O Modelo Liberal na Educação


O vocábulo liberal é originário do latim “liber” e significa livre. Numa O vocábulo liberal
é originário do latim
definição vulgar, liberal diz respeito a um pensamento político que aposta no
“liber” e significa
limite do poder para proteger e lutar pelos direitos individuais. Essas ideias livre.
apareceram a partir dos pensadores iluministas do século XVIII (Montesquieu
e John Locke), que defendiam a limitação do poder político ao afirmarem “[...] que
existiam direitos naturais e leis fundamentais de governo que nem os reis poderiam
ultrapassar sob o risco de se transformarem em tiranos” (LAGE, 2016, p. 1).

37
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Tais ideias também concordavam com o conceito de que a liberdade comercial


deveria ser adequada a todos, defendendo de certa maneira o capitalismo em
seu desígnio. Esse era o lado econômico do liberalismo, que proclamava a não
intervenção do Estado na economia (produção e distribuição de riquezas), a
não existência de medidas protecionistas e, principalmente, a livre concorrência
comercial. Pensadores como David Ricardo, Adam Smith e Malthus defenderam
essas ideias. Assim, o liberalismo não pode ser percebido como um amontoado
de ideias desarticuladas da realidade, mas uma ideologia, uma forma de pensar
da sociedade burguesa, resultado do avanço do capitalismo do século XVIII e XIX.
A classe burguesa usou as ideias liberais para fundamentar o modo de produção
capitalista, abolindo os resquícios da ordem medieval.

Agora vamos conhecer um pouco mais sobre ele!

O termo liberalismo pode ser entendido como um conjunto


O termo liberalismo
pode ser entendido de ideias que tem como intenção garantir a liberdade individual e
como um conjunto igualmente a propriedade privada. Nesse caso, o estado liberal seria
de ideias que tem concebido como garantidor dos direitos naturais e intangíveis do
como intenção indivíduo. Porém, o pensamento liberal, assim como outras tantas
garantir a liberdade formulações ideológicas, não ocorreu abstratamente num vazio
individual e
histórico. Vejamos:
igualmente a
propriedade privada.
Assim como o marxismo, o keynesianismo, o fascismo, entre
outras doutrinas, o liberalismo é historicamente datado.
Apesar de o temo “liberal” ser utilizado desde o século XIV,
os primórdios do liberalismo enquanto corrente de pensamento
estruturada advêm das revoluções inglesas do século XVII,
tendo se expandido pelo continente europeu principalmente a
partir da revolução francesa no final do século XVIII. Tal doutrina
obteve grande relevância no que diz respeito à luta contra o
absolutismo monárquico e também no pensamento iluminista.
Um dos maiores expoentes do pensamento liberal, sem
dúvidas, foi o inglês John Locke, que desenvolveu suas ideias
na passagem do século XVII para o XVIII. Segundo Marcelo
Lira Silva, Locke contribuiu para a formação de uma concepção
de Estado que rompia com os paradigmas absolutistas e que
influenciou posteriormente, outros pensadores ligados ao
liberalismo (LEIBÃO, 2015, p. 224).

Para Heywood (2010), o liberalismo só se concretizou como um princípio


político propriamente dito no século XIX. Como qualquer outra forma de
pensamento político, social ou econômico, o liberalismo não pode ser visto de
maneira alguma como se fosse um modo de pensamento homogêneo. Ao longo
da história, dentro do pensamento liberal, desenvolveram-se uma série de
divergências no que diz respeito à economia, política, cultura e também educação.

38
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

Aqui, caro pós-graduando, é importante apresentar dois conceitos-chave


para entender o liberalismo, ou seja, o de indivíduo e o de liberdade. Vamos
conhecê-los?

Por que os liberais defendem a primazia do indivíduo? Essa defesa não


ocorreu a partir de uma mera abstração, contudo foi desenvolvida a partir de um
contexto histórico bastante específico. Veja:

Tratava-se da formação da sociedade industrial capitalista,


resultante do crescimento econômico e político da burguesia
europeia. Diferentemente do modo de produção que havia
precedido a industrialização e o capitalismo (o feudalismo),
com o advento da revolução industrial na segunda metade do
século XVIII e a crescente urbanização da sociedade europeia
nos séculos que a seguiram, a individualidade do ser humano,
segundo este autor, adquiriu um valor que muitas vezes
é negligenciado pelos estudiosos do assunto. No período
feudal, por exemplo, o indivíduo não era visto como a célula
mais importante de uma sociedade, mas sim as famílias, os
povoados, as comunidades locais e os estamentos. Isso
significa dizer que as relações sociais, alianças políticas e
até as alianças matrimoniais aconteciam em decorrência dos
interesses familiares, coletivos ou estamentais e não em função
das motivações individuais dos seres humanos. Esta mudança
político-cultural não ocorreu por acaso, mas sim devido a
um processo de elevação da burguesia enquanto classe
dominante. Processo este que não ocorreu naturalmente,
tampouco sem conflitos na passagem do antigo regime para
a ascensão político-econômica da burguesia (LEIBÃO, 2015,
p. 224).

Como visto anteriormente, a ideia de indivíduo deu origem também ao


termo individualismo, que pode ser entendido como um tipo de sociedade que dá
uma importância excessiva ao indivíduo em prejuízo do corpo social e coletivo.
Por conseguinte, o indivíduo permaneceria no centro de toda a teoria social e
política para a explicação dos fenômenos sociais. Esse princípio geral fez com
que os liberais criassem uma série de entendimentos sobre diversos fenômenos
sociais. Tal fato construiu uma visão comportamental do ser humano, na qual ele
é naturalmente egoísta e interesseiro (HEYWOOD, 2010).
O liberalismo tem a
E o papel do Estado nessa questão? Para um dos grandes característica de se
aproximar das ideias
estudiosos do tema, Norberto Bobbio, o liberalismo tem a característica
democráticas, pois
de se aproximar das ideias democráticas, pois tanto o pensamento tanto o pensamento
liberal quanto o democrático, partem do mesmo ponto de vista: o liberal quanto o
indivíduo. Isso só pode acontecer porque o liberalismo entende o democrático, partem
do mesmo ponto de
vista: o indivíduo.

39
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Estado como indivíduos que atuam politicamente e que estabelecem o mundo a


partir das relações constituídas uns com os outros (BOBBIO, 2000).

Para a maioria dos pensadores liberais, o Estado existe para assegurar a


liberdade dos indivíduos. Geralmente os liberais acreditam que os indivíduos
precisam de um mecanismo que permita exercer as suas liberdades e, para esse
mecanismo, dão nome de Estado. Além disso, em linhas gerais, “[...] podemos
dizer que, para o pensamento liberal, o Estado deve ter como uma das suas
principais funções garantir as liberdades individuais dos seres humanos” (LEIBÃO,
2015, p. 225).

Já que cabe ao Estado ser a garantia da liberdade dos indivíduos em uma


determinada sociedade, assegurando que um não intervenha na liberdade
do outro, torna-se imprescindível conhecer o segundo conceito importante do
liberalismo: a noção de liberdade proposta por esse pensamento. Tal questão
é de suma importância, porque a liberdade, de forma unânime, é defendida por
praticamente todos os pensadores liberais do passado e da atualidade. Afinal, o
que é liberdade para os liberais? Vejamos o que diz Heywood (2010, p. 46) sobre
o assunto:

A defesa da liberdade é um princípio unificador para a ideologia


liberal, sendo ela algo sem a qual a humanidade não poderia
atingir a plena felicidade. A liberdade, no liberalismo defende
que os indivíduos têm o direito de fazer suas próprias escolhas,
como por exemplo, para onde ir, qual profissão seguir, onde
morar, do que se alimentar, como se expressar, entre outros
fatores. Ainda segundo este autor, ao destacar John Stuart Mill
– um dos expoentes do pensamento liberal clássico – ele afirma
que este pensador possui uma postura libertária, uma vez que
só defende a imposição de limites à liberdade do indivíduo
quando esta põe em risco a liberdade de outros indivíduos.
No entanto, um fator primordial para se entender o conceito de
liberdade no liberalismo é a sua relação com a propriedade.
Historicamente, o conceito de liberdade esteve atrelado ao
direito de propriedade privada no pensamento dos liberais,
principalmente por se tratar de uma ideologia que se volta
especialmente para a burguesia (mas não somente para ela,
é importante dizer).

Em consonância com as ideias liberais praticadas no restante do mundo,


também no Brasil desde o início do século XIX até boa parte do século XX, o
liberalismo constituiu a ideologia predominante. Assim, o reflexo do pensamento
liberal, adaptado às necessidades das elites políticas brasileiras, teve força política
suficiente para se perpetuar. E mesmo que ainda no século XXI muitos educadores
lutem visando o fortalecimento da escola pública, somente pelo fato dela existir e
até hoje ser gratuita, pode ser considerado uma vitória, pois o Estado brasileiro

40
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

ao longo da sua história fez questão de garantir a educação, principalmente para


uma elite econômica e bem situada financeiramente, esquecendo até bem pouco
tempo da maioria da população trabalhadora (LEIBÃO, 2015).

Atividades de Estudos:

1) Elabore uma síntese sobre o que é liberalismo.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Qual é o papel do Estado para o liberalismo?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Caro pós-graduando, a partir desse quadro geral sobre do liberalismo é


possível relacioná-lo com a educação? Como a educação é concebida por esse
ideário de pensamento? Ora, para o liberalismo a educação é idealizada como
uma ação apropriada para mudar a realidade social, econômica e política onde
está inserida e, também, contribuir para a emancipação humana (individualidade
e liberdade) que é o princípio basilar do próprio liberalismo.

Você acha que a partir do ideário liberal a educação pode


emancipar o homem e mudar a realidade individual e social de uma
determinada sociedade?

41
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

O Modelo Neoliberal na Educação


Após adentrarmos em discussões tão densas e que, certamente, não
se esgotam nestas breves páginas, agora é importante conhecer um pouco
sobre o neoliberalismo e suas conexões com a educação! De maneira rápida,
o neoliberalismo se define como uma doutrina ou ideologia que na atualidade
vem ganhando força, apoio e atração dos governos em âmbito local, nacional e
internacional, constituindo, por isso, os modelos de política econômica de muitos
países no mundo.

Os liberais achavam Pelo próprio nome não é difícil saber que o neoliberalismo (novo
que os elementos liberalismo) reivindica à cena as ideias socioeconômicas conhecidas
econômicos como liberalismo. Na sua definição original, o termo liberalismo
eram conduzidos defende as ideias que dão prioridade ao indivíduo, à liberdade e
por uma ordem recusam qualquer tipo de ação do Estado sobre os indivíduos.
natural, que levaria
Relembrar algumas noções do liberalismo ajuda a entender essa nova
inexoravelmente
ao equilíbrio e à aparência chamada neoliberalismo. Um ponto central nessa doutrina
prosperidade. era o repúdio a qualquer intervenção do Estado na área econômica. Os
liberais achavam que os elementos econômicos eram conduzidos por
uma ordem natural, que levaria inexoravelmente ao equilíbrio e à prosperidade.
Para garantir esse equilíbrio, deveria existir a livre concorrência. Muitas dessas
ideias continuam como fundamento do neoliberalismo até os dias atuais, ainda
que outros elementos tenham sido acrescidos.

Para entender a dimensão das conexões e contradições das políticas


educacionais de viés neoliberal, é importante entender o percurso histórico que
engendrou o neoliberalismo e as principais características que lhe diferenciam do
Estado liberal e do Estado do bem-estar social, e por último, como essa dimensão
política influencia a educação.

Tendo por base o liberalismo clássico do século XVIII, o neoliberalismo é


mais um liberalismo econômico, todavia há importantes diferenças entre eles.
Veja o que diz Crepaldi (1999, p. 5) sobre o assunto:

O termo neoliberalismo tem sido aplicado aos Estados que


optam por desenvolverem uma política de intervenção mínima.
Tal política, embora advogue um discurso de maior liberdade e
autonomia, adota práticas centralizadoras e implanta, inclusive
sobre os direitos sociais básicos, tais como saúde e educação,
uma política de mercado com tendência à privatização.
Portanto, o Estado liberal clássico era mais mínimo do que o
Estado neoliberal na medida em que neste novo modelo, o
Estado coloca-se como interventor no âmbito do mercado – em

42
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

substituição ao laissez-faire – e age de forma direta sobre os


indivíduos ao estimular a competitividade e ao implantar formas
novas de vigilância, fiscalização, avaliação de desempenho
e, em geral, de formas de controle. No neoliberalismo, ainda
muito mais do que no liberalismo clássico, o individualismo,
o empreendedorismo e o economicismo são supervalorizados
e difundidos, o que por sua vez gera o esvaziamento do valor
social das coisas.

Para entender o liberalismo antigo, que cedeu lugar ao neoliberalismo e ao


Estado do bem-estar social, é importante conhecer, ainda que de maneira rápida,
as mudanças que o mundo passou desde a década de 1930, e também as ideias
que foram elaboradas como prováveis soluções para as crises que o mundo
capitalista conheceu a partir de então.

Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa


laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente
“deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. A expressão refere-se a uma
ideologia econômica que surgiu no século XVIII, no período do
iluminismo, através de Montesquieu, que defendia a existência do
mercado livre nas trocas comerciais internacionais, ao contrário
do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas alfandegárias,
típicas do período do mercantilismo.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/zCmuw2>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Veja as lições de Crepaldi (1999, p. 7) sobre o tema:

A crise do capitalismo norte-americano em 1929 e sua


internacionalização colocaram em xeque o liberalismo clássico,
bem como a vigência absoluta do laissez-faire, o que, em
contrapartida, favoreceu a ascensão dos Estados totalitários
na Europa – gérmen da II Guerra Mundial (1939-1945). O
fim deste desastroso momento histórico e a continuidade
da tensão mundial materializada na Guerra Fria, ou seja, na
oposição entre o capitalismo e socialismo, levou à implantação
do chamado Estado do bem-estar social (welfare state) nos
países capitalistas da Europa ocidental – o que além de ser
uma maneira de enfrentar a crise do capitalismo no pós-guerra,
era também mais uma forma de garantir que o socialismo

43
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

ficasse restrito ao Leste Europeu.


Mas, ainda no contexto da II Guerra Mundial, uma obra publicada
em 1944 intitulada, “O Caminho da Servidão”, do austríaco
Friedrich August Von Hayek (1899-1992), apresentava um
ataque veemente a todo intervencionismo econômico estatal –
era o marco teórico do neoliberalismo que nascia exatamente
quando o keynesianismo era visto como a solução para a crise
da Europa no pós-guerra. Apesar do desprezo às ideias de
Hayek por parte dos governos da Europa ocidental naquele
momento, este continuou a ganhar a simpatia dos liberais mais
extremados.
Os primeiros neoliberais argumentavam que o igualitarismo
promovido pelo Estado do Bem-Estar Social destruía a
liberdade individual e a livre concorrência – o que conduzia,
inevitavelmente, ao “Caminho da Servidão” – e que a existência
da desigualdade era imprescindível para as nações capitalistas
ocidentais. Tais argumentos pareciam quase que irracionais
diante do progresso que o welfarestate promovia nos anos de
ouro do capitalismo intervencionista – décadas de1950-1960.

O QUE É O ESTADO DO BEM-ESTAR?

Também chamado de welfare state (em inglês), o Estado do


bem-estar é o modelo estatal desenvolvido, sobretudo nos países
europeus, ao término da II Guerra Mundial, em 1945. Seus princípios
básicos foram elaborados pelo economista inglês John M. Keynes,
motivo pelo qual, com frequência, fala-se em keynesianismo para se
referir a esse tipo de Estado.

Houve muitas variações na forma como os diversos países


compreenderam e aplicaram o modelo do welfare state. É possível,
entretanto, identificar algumas características básicas:

a) O Estado intervém na área econômica, através de subsídios a


diversos setores. Também controla a exploração de alguns recursos
naturais (indústria mineral, energia etc.) através de empresas
estatais. Na época, isso fazia parte de um projeto de construção
nacional que, no plano político, correspondia à democracia liberal.

b) O Estado é responsável pela promoção da justiça social e do


igualitarismo. As políticas sociais são universais: saúde, educação e
previdência para todos. Aumentam os recursos destinados a essas
políticas.

44
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

c) Abandona-se a ideia de que a lógica do mercado está


acima de tudo. No campo das relações de trabalho, a estabilidade
dos trabalhadores no emprego é estimulada. Nos países onde
este modelo se desenvolveu, o poder de negociação dos sindicatos
era muito alto.

Fonte: Disponível em: < http://goo.gl/YfnP4>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Conforme dito anteriormente, nas décadas de 1950 e 1960 as ideias


neoliberais não tiveram ressonância. Nesse período, registrou-se as mais
altas taxas de crescimento econômico da história do capitalismo, ainda sob o
predomínio do Estado do bem-estar. Em 1973, contudo, esse modelo econômico
entrou em crise. Na Europa e nos Estados Unidos, teve início uma longa recessão
que combinou baixas taxas de crescimento econômico com altas taxas de inflação.
A crise que fez ascender o neoliberalismo ocorreu quando os países do primeiro
mundo entraram em uma intensa recessão econômica, advinda principalmente
da crise do petróleo que gerou uma grande elevação do preço do barril. Era
nesse contexto que se esboçava o terreno favorável para o progresso das ideias
neoliberais.

Naquele momento, os países de capitalismo avançado conheciam uma


crise econômica caracterizada por altas taxas de inflação e baixas taxas de
crescimento. É assim que o capitalismo intervencionista inicia sua agonia e chega
a hora e a vez do neoliberalismo tentar solucionar a crise do sistema capitalista.

No entanto, mesmo o neoliberalismo se apresentando como recurso para a


crise que se avizinhava em alguns países capitalistas do velho mundo, a primeira
experiência neoliberal não aconteceria na Europa, menos ainda nos Estados
Unidos da América, mas sim na América Latina. Veja:

No Chile, a partir de 1973, com o governo de Pinochet, foi


implantado um intenso programa de privatização e o resultado
final foi a instalação de um cruel regime ditatorial. Na Europa,
a primeira experiência neoliberal ocorreu na Inglaterra com
a eleição de Margareth Thatcher em 1979 – Thatcher ficou
conhecida como a “Dama de Ferro” e governou a Inglaterra
de 1979 a 1990. Entre as principais medidas de Thatcher, que
tão bem identifica o Estado neoliberal inglês, se destacam: a
elevação da taxa de juros, corte de gastos sociais, repressão
às greves e imposição de uma legislação antissindical,
criação de índices massivos de desemprego, além, é claro, de
práticas de privatização. Em 1981, Ronald Reagan assumiu

45
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

a presidência dos Estados Unidos e deu início à implantação


do neoliberalismo na América do Norte, elevando as taxas
de juros, reprimindo greves e, evidentemente, no contexto
da Guerra Fria, investindo pesado na corrida armamentista,
criando um deficit público sem precedentes (CREPALDI, 1999,
p. 8).

No Brasil, as No Brasil, as principais ideias do modelo neoliberal começaram


principais ideias do a ser aplicadas a partir do Presidente Fernando Collor de Mello, no
modelo neoliberal ano de 1989, tendo continuidade nos dois mandatos de Fernando
começaram a ser
Henrique Cardoso (entre 1994 a 2002). A partir de então, como em
aplicadas a partir
do Presidente toda experiência neoliberal, os direitos dos trabalhadores passaram
Fernando Collor a ser considerados privilégios; as empresas estatais passaram a ser
de Mello, no ano consideradas improdutivas e ineficientes, assim como os serviços
de 1989, tendo públicos de saúde e educação. Assim, justificou-se as políticas de
continuidade nos privatização e terceirização, o que no modelo neoliberal faz dos
dois mandatos de
serviços (principalmente os públicos) mais produtivos e eficientes,
Fernando Henrique
Cardoso (entre 1994 logo, menos caros (CREPALDI,1999).
a 2002).
Em períodos do neoliberalismo, o que ocorre de forma clara é a
imagem de Estado mínimo no que se refere à gestão dos recursos financeiros
e geração e distribuição financeira administrativa. Por outro lado, esse mesmo
Estado mínimo também cumpre a função de administrador, regulador e
controlador, colaborando diretamente para a conservação das desigualdades
sociais por meio da sustentação dos privilégios da elite, relegando as políticas
públicas para um segundo plano.

Pois bem, e a educação no discurso neoliberal?

Para os governos neoliberais, a educação abandona o campo social e político


para entrar no mercado e funcionar a sua semelhança. Nesse sentido, Caprio e
Lopes (2016, p. 2) ressaltam três objetivos relacionados com a retórica neoliberal
aplicada ao papel estratégico da educação. Veja:

1. Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho


e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às
necessidades da livre iniciativa. Assegurar que o mundo
empresarial tem interesse na educação porque deseja uma
força de trabalho qualificada, apta para a competição no
mercado nacional e internacional.
2. Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios
doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola
à ideologia dominante.
3. Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria
cultural e da informática, o que, aliás, é coerente com a ideia de

46
Capítulo 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação:
Liberal e Neoliberal

fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas


é contraditório, porque enquanto no discurso os neoliberais
condenam a participação direta do Estado no financiamento da
educação, na prática não hesitam em aproveitar os subsídios
estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos
no mercado escolar.

Conclui-se, portanto, que o neoliberalismo acredita que a educação deve


estar no mesmo âmbito do mercado e das técnicas de gestão empresariais,
retirando qualquer conteúdo político, social e cidadão da escola, colocando em
seu lugar os direitos do consumidor. É como consumidores e clientes que o
neoliberalismo enxerga os alunos e os pais.

Atividades de Estudos:

1) Escreva com suas palavras a diferença entre liberalismo e


neoliberalismo.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Como o neoliberalismo pensa a educação?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste segundo capítulo, foram analisados alguns conceitos do liberalismo
e do neoliberalismo, bem como a relação destes com a educação. A partir de

47
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

um quadro geral do liberalismo, foi possível desvendar sua essência. Impondo-se


como elemento decisivo na organização das sociedades capitalistas pelo mundo
a partir do século XIX, o liberalismo se estendeu como uma nova conformação
social instaurada a partir de uma classe: a burguesia. Constatou-se que o padrão
liberal da sociedade nasceu como justificativa composta de princípios no plano
econômico, político, ideológico e educacional, fundamentado em premissas de
liberdade e igualdade para todos, contrapondo o antigo regime. Para o ideário
liberal, a lógica em relação à educação é que ela seja capaz de mudar a realidade
social e econômica, colaborando para a emancipação humana, com liberdade e
igualdade.

Por sua vez, o neoliberalismo, apropriando-se e dando continuidade ao


pensamento liberal, preocupa-se mais com a não intervenção do Estado na
economia, dando ao mercado amplos poderes para resolver as contradições
capitalistas. Tendo sua base no liberalismo clássico do século XVIII, a teoria
neoliberal se caracteriza por uma adequação em função das mudanças ocorridas
durante a trajetória do capitalismo. Acreditam seus defensores que a independência
do mercado e o Estado mínimo são suficientes para desenvolvimento social/
educacional.

Referências
BOBBIO, N. Liberalismo e democracia. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.

CAPRIO M.; LOPES E. C. As influências do modelo neoliberal na educação.


2016. Disponível em: <http://goo.gl/1dzLuw>. Acesso em: 20 fev. 2016.

CREPALDI, E. M. F. Política educacional brasileira no contexto da política


neoliberal. 1999. Disponível em: <http://goo.gl/ZcUQ7y>. Acesso em: 22 fev.
2016.

HEYWOOD, A. Ideologias políticas: do liberalismo ao fascismo. São Paulo:


Ática, 2010.

LAGE, A. C. P. Liberalismo no Brasil. 2016. Disponível em: <http://goo.gl/


H3xepy>. Acesso em: 18 fev. 2016.

LEIBÃO, M. de C. Indivíduo, propriedade e liberdade na educação brasileira.


Revista de Educação, Rio de janeiro, n. 3, p. 223-342, jan. 2015.

48
C APÍTULO 3
Panorama Geral do Ensino Superior
em Outros Países, Instituições Pú-
blicas e Privadas, e Situação Atual
do Ensino Superior no Brasil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a trajetória do Ensino Superior em outros países.

� Identificar a diferença entre instituições públicas e privadas


de Ensino Superior no Brasil e suas funções.

� Perceber qual é a situação atual do Ensino Superior no Brasil.


História e Organização do Ensino Superior no Brasil

50
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

Contextualização
Caro pós-graduando! Depois de corrermos um percurso onde conhecemos
um pouco da história do Ensino Superior no Brasil, neste capítulo vamos entender
sobre o liberalismo e o neoliberalismo e sua relação com a educação, e um pouco
do surgimento e desenvolvimento das universidades. É importante assinalar
que os modelos de universidades atuais só são possíveis de existir a partir do
conhecimento de sua história, visto sua influência decisiva na construção das
universidades nos dias de hoje. No primeiro momento, vamos compreender a
origem do sistema universitário no continente europeu, especificamente na Idade
Média, e em seguida, o aparecimento das universidades na América Latina, bem
como a diferenciação entre universidades públicas e privadas. E, por último, um
pouco do Ensino Superior atual no Brasil.

Fazendo parte atualmente da vida de milhões de pessoas pelo mundo, as


primeiras universidades nasceram na Idade Média europeia e estavam vinculadas
à Igreja ou ao poder real. Curioso é que nessa época a universidade era bem
diferente do que conhecemos hoje, não existia idade para nela ingressar, e em
muitos casos, até mesmo analfabetos ingressavam nas instituições e participavam
das atividades de aprendizagem. Considerada uma das mais antigas do mundo
em funcionamento até os dias atuais, a Universidade de Paris é tida como a
primeira instituição desse tipo.

Em muitos casos, ingressava-se nas universidades para buscar inserção


política e também cultural na sociedade. Mesmo tendo um perfil doutrinário no
início, os primeiros progressos do desenvolvimento do pensamento investigativo
e científico formalizados surgiram nesses espaços. O entendimento que temos
de universidade hoje, com pré-requisito de ingresso, com currículo específico,
com colação de graus, títulos, teve sua origem na Europa medieval. No entanto, é
bom notar que já existiram diversos centros de Ensino Superior por todo o mundo
anteriores aos da Idade Média, que de forma comum buscaram conhecimentos
superiores até mesmo precedendo as universidades medievais. Na antiguidade
tínhamos a célebre Academia de Platão, destinada, entre outras coisas, à
discussão e socialização do livre conhecimento.

E quais eram as instituições que exerciam papéis essenciais na preservação


e difusão dos conhecimentos antes das universidades? Durante séculos, antes
do surgimento das universidades, eram os mosteiros que exerciam tal função.
Porém, foi nas universidades que o conhecimento se tornou mais acessível e
buscou explicações mais racionais e científicas para o mundo. A universidade
seria o lugar adequado da verdadeira atividade intelectual, onde o ensino e o
conhecimento prosperam mais do que em qualquer outro tipo de instituição. Na

51
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

época do seu surgimento, a função que a universidade tinha era a de buscar a


liberdade intelectual, num período onde heresias eram perigosas. Assim, seu
papel foi de suma importância. Constituía um dos únicos espaços onde assuntos
coibidos podiam ser debatidos com uma certa impunidade.

Por fim, como já referido, nesse capítulo iremos estudar primeiramente a


partir de um retrospecto histórico, uma melhor compreensão do tema, iniciando
com as instituições medievais, a passagem para a modernidade, a transição do
século XIX para o XX e, por último, alguns modelos atuais do Ensino Superior
brasileiro.

O Ensino Superior em Outros Países


Ao longo da história da humanidade, a universidade se constituiu
Desde 387 a.C.,
fundada por Platão, quase sempre como o fundamento da formação científica e intelectual.
próximo à Atenas, Desde 387 a.C., fundada por Platão, próximo à Atenas, temos um tipo
temos um tipo de de “escola” que pode ser entendida como algo parecido como a primeira
“escola” que pode universidade da história. No entanto, foi na Europa medieval que ela
ser entendida surgiu de fato. Período onde o conhecimento superior significava tão
como algo parecido
somente status social e político, onde, na maioria dos casos, esse
como a primeira
universidade da conhecimento estava oficialmente vinculado à Igreja Católica ou ao
história. poder real. O desenrolar da história, a organização do conhecimento,
as mudanças econômicas, sociais e culturais do mundo nos últimos
séculos também transformaram as universidades, que têm hoje uma função muito
mais importante do que tinham quando surgiram.

O Surgimento da Universidade
Medieval
Espalhando-se de forma rápida por toda a Europa e depois pelo mundo, a
universidade teve seu surgimento na Idade Média. Desde seu aparecimento, esse
tipo de instituição criou e transmitiu o conhecimento da humanidade acumulado,
desempenhando até hoje um enorme papel social. Mesmo sendo validadas pelo
papado (no início vinculadas à Igreja e autorizadas por bulas papais) ou pelo
poder real de cada país, as universidades medievais foram lugares importantes
para a construção do conhecimento do mundo ocidental. Nelas havia estudiosos
preocupados com o desenvolvimento do pensamento “crítico” e da ciência.

52
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

A Igreja, que tudo dominava nesse período, era responsável, por A Igreja, que tudo
meio do papado, pela autorização da criação de uma universidade. dominava nesse
Determinava seu formato, seguindo os cânones evangélicos. Mesmo período, era
tendo que seguir tais determinações, a universidade medieval possuía responsável, por
liberdade na sua estrutura administrativa e pedagógica, relativa ao meio do papado,
pela autorização
currículo, à relação entre professor e aluno, à avaliação e à estrutura
da criação de uma
física. As universidades geralmente alicerçavam-se sobre duas universidade.
faculdades: Teologia e Artes Liberais, sendo que o curso de Teologia
era, evidentemente, o mais prestigiado. Das três universidades mais antigas,
Paris e Oxford eram essencialmente teológicas, tendo entre seus representantes
os prestigiados Santo Tomás de Aquino, Pedro Abelardo e Guilherme de Ockham.
Por sua vez, a universidade de Bolonha iniciou seu projeto com o curso de Direito,
sob a autoridade de Irineu e Gratianus. A de Paris ainda criou as faculdades de
Direito e Medicina (LACERDA; ÁLVARES, 2005).

Atualmente sabemos que cada curso universitário tem seu currículo próprio e
adequado à formação de cada profissão. E nesse período, como era o currículo?
Existiam diferenças com a atualidade? Segundo Lacerda e Álvares (2005, p. 97),
“[...] o currículo básico universitário era formado por duas rubricas disciplinares:
o trivium: gramática, dialética e retórica; e o quadrivium: aritmétca, geometria,
música e astronomia”. Após cursar essas disciplinas básicas, o maître faria sua
tese. Caso aprovado pela banca composta pelos doutores da faculdade, recebia
solenemente o grau de Doutor.

Como não poderia deixar de ser, a concepção de mundo medieval,


metafísica, exercia influência direta nos estudos, assim, o universo criado por
Deus precisaria ser conhecido de forma racional pela ciência filosófica a partir de
uma metodologia dedutiva. Dessa forma, a fé cristã, por meio da teologia, guiava
a razão para atingir o verdadeiro e sagrado conhecimento. Este papel aparecia no
lema medieval que explicava as relações entre filosofia e teologia:

A Teologia cristã determinava que todo o conhecimento humano


por iluminação divina tinha a função evangélica de salvação do
pagão e manutenção do orbe christiano. A universidade deveria
encaixar-se nesse modelo. Exemplo claro foi a Universidade de
Praga, autorizada pelo Papa Clemente VI, em 1347, com o fim
de formar mestres evangelizadores para as tribos teutônicas
do leste europeu (LACERDA; ÁLVARES, 2005, p. 99).

Como já referido anteriormente, Paris e Bolonha estão entre as


primeiras universidades na Europa. A mais antiga foi a de Bolonha, Paris e Bolonha
estão entre
criada a partir de 1088; já a de Paris, que serviu de exemplo para
as primeiras
outras instituições, surgiu em torno do ano de 1200. Estimulada pela universidades na
localização geográfica, a Universidade de Paris cresceu também devido Europa.

53
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

à participação da administração real. Primeiramente, a corporação, denominação


que era outorgada à universidade, se formou em 1150, no século XII, e adquire
o título de Estudos Gerais, tendo a Teologia como a mais importante de todas
as áreas. A partir do século XIII já estava consolidada, formando a Corporação
dos Mestres Parisienses (1262) ou Universitas Magistrorum et Scholarium.
Composta de alunos e professores, recebia alunos de todos os lugares, sendo
então reconhecida oficialmente pela mais alta autoridade do período, o papa, por
meio de uma bula papal (ROSSATO, 2005).

Em Bolonha, o sistema de organização e de ensino dos Estudos Gerais


segue outros moldes para atender anseios municipais, carentes de juristas e de
administradores. Sua estrutura eminentemente estudantil dominava a corporação
dos mestres, determinando o salário, os métodos de ensino e até as exigências
para a colação de título. Cobravam multas dos mestres faltosos ou que não tinham
suficiente competência, e os reincidentes podiam ser até expulsos (BOHRER,
2008).

Para aprofundar seus estudos sobre o assunto debatido até


este momento, faça a leitura do trabalho acadêmico de autoria de
Terezinha Oliveira, intitulado Origem e memória das universidades
medievais – a preservação de uma instituição educacional, disponível
no seguinte endereço eletrônico: <http://goo.gl/6F6XUl>.

Nesta época Bem diversas do que conhecemos hoje por universidade, nesta
essas instituições época essas instituições agrupavam-se em bairros onde os estudantes
agrupavam-se em
residiam, a forma de ensino era a da lição, isto é, primeira leitura,
bairros onde os
estudantes residiam, comentários pelo professor/mestre e, após, a discussão entre os
a forma de ensino alunos proposta pelo mestre. E o mestre/professor, quem era? “Este
era a da lição, isto era o profissional que tinha sido admitido à corporação dos ensinantes,
é, primeira leitura, maior de 21 anos, com no mínimo seis anos de estudo e defesa de um
comentários pelo debate público, passando pelos três graus: bacharelado, licenciatura e
professor/mestre e,
mestrado” (BOHRER, 2008, p. 3).
após, a discussão
entre os alunos
proposta pelo Tendo uma relativa autonomia sociopolítica, geralmente seus
mestre. membros (doutores, reitores, licenciados – seculares ou clérigos – e
estudantes) tinham um status legal além das leis jurídico/sociais. Em
casos de litígio, o julgamento era realizado pelo corpus universitarium, uma espécie

54
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

de assembleia, presidida pelo reitor responsável pela casa da qual o aluno fazia
parte. Não havia proibição dos prazeres carnais, porém a universidade protegia
aqueles membros que faziam votos de abstinência, mas excessos eram julgados
e proibidos conforme a autonomia sociojurídica de cada instituição. Em muitos
casos cabia ao bispo da cidade a “[...] intermediação dos problemas causados
pelos excessos e o poder moderador sobre as atividades sociais e políticas
dos membros universitários”. Pela sua importância, a universidade determinava
“[...] o prestígio de uma cidade e de um reino, o êxodo de professores e alunos
devido a problemas sociais e políticos era evitado pela amenização das coerções”
(BOHRER, 2008, p. 4).

Completamente livresca, a educação universitária da época era Completamente


realizada por uma seleção bastante limitada de livros em cada área, livresca, a educação
universitária da
livros aceitos como verdade única e absoluta. Muito raros e caros, os
época era realizada
livros eram de difícil acesso, assim, o estudante tinha somente nas aulas por uma seleção
a oportunidade de adquirir conhecimento. Em muitos casos os próprios bastante limitada de
textos eram lidos e ditados pelos docentes para que os estudantes livros em cada área,
pudessem conhecê-los. Volta-se muito mais para o aprendizado livros aceitos como
de discursos formais, retórica e eloquência, do que propriamente a verdade única e
absoluta.
aquisição de conhecimento para a busca da verdade, ou até mesmo
para auxiliar o estudante a familiarizar-se com o pensamento laico. Isso tudo não
era aprovado pela eclesiástica ortodoxa. Todavia, a organização administrativa
gozava de certa liberdade, visto que:

As universidades de Paris possuíam um governo democrático,


estavam localizadas em centros de população e possuíam
privilégios especiais legais e pecuniários, entre eles: a colação
de grau era a licença para ensinar, antes somente concedida
pela Igreja; possuíam já nesta época o direito de greve, de
recessão ou de mudar a universidade - caso os privilégios
fossem infringidos -; isenção dos estudantes do serviço oficial
e de impostos; e, o mais importante, o de jurisdição interna,
ou seja, o de julgar seus membros em todos os casos civis
e em muitos criminais. A influência política das universidades
foi notável como primeiro exemplo de organização puramente
democrática. Os assuntos políticos, eclesiásticos e teológicos
eram livremente debatidos, embora se percebesse a inclinação
para as classes privilegiadas. A autoridade política da
universidade na época fez com que ela tivesse voz no governo,
e ainda mais, sua maior influência deu-se em relação à vida
intelectual. Antes restrita, formal e pobre, viu-se reconhecida
em igualdade com a Igreja, o Estado e a Nobreza (BOHRER,
2008, p. 6).

55
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

A educação livresca, também conhecida como intelectualista,


estava pautada somente na transmissão de conhecimento pela
imitação.

As coisas eram assim nas universidades medievais, bastante privilégio para


quem ali estudasse. O governo secular também fazia sua parte, providenciando
questões logísticas e protegendo legalmente a universidade para o seu bom
funcionamento, porém, não podemos achar que os governos investiam muito
nessas instituições, suas influências geralmente eram incipientes.

Tida como exemplo de construção para as outras universidades


A assembleia era o
órgão máximo da do período, por ser a mais prestigiosa, a Universidade de Paris criou
universidade. um modelo universitário que: “[...] consistia da reitoria, da assembleia,
das nações das casas dos docentes e dos discentes. Uma nação
era a congregação de alunos de uma mesma nacionalidade. A assembleia era
o órgão máximo da universidade [...]”, que era constituída pelo reitor, pelos
doutores, licenciados e também pelos representantes das nações (LACERDA;
ÁLVARES, 2005, p. 97). A mesma decidia tanto sobre aspectos de infraestrutura
da universidade, quanto sobre a pedagógica, moral e até espiritual. O papel do
reitor era o de convocar a assembleia sempre que preciso, e essa “autonomia
universitária” pela comunidade universitária causou, em muitos casos, conflitos com
as autoridades dos bispos. Esses conflitos se davam sobre um ponto importante,
o da liberdade do conhecimento. Querendo preservar os ditames evangélicos, as
autoridades eclesiais indicavam as restrições acadêmica e religiosa.

No geral, as universidades medievais não eram segregacionistas,


Por sua estrutura
pedagógico- tinham uma constituição comunitária, porém, as mulheres não tinham
eclesiástica, a acesso. Por sua estrutura pedagógico-eclesiástica, a universidade
universidade estava isolada da sociedade medieval e já no século XIV começava
estava isolada da uma lenta laicização. Com mudanças profundas na sociedade medieval,
sociedade medieval o advento do Renascimento, o modelo medieval de sacralidade do
e já no século XIV
universo cedia, aos poucos, lugar ao individualismo, à razão e à ciência.
começava uma lenta
laicização. São essas mudanças que veremos a seguir!

56
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

Para ampliar os horizontes sobre o tema estudado, assista


ao filme intitulado O nome da rosa, lançado em 1986, dirigido por
Jean-Jacques Annaud e disponível no seguinte endereço eletrônico:
<https://goo.gl/9lOMoS>.

Resumo: estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro


beneditino localizado na Itália durante a baixa Idade Média, onde as
vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro
guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges têm acesso às
publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano
(Sean Connery), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o
verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da
Santa Inquisição.

Atividades de Estudos:

1) A partir do que foi lido sobre a universidade medieval, registre


aqui as principais características desse modelo de universidade.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Qual era o papel da Igreja em relação à universidade medieval?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

57
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Caro pós-graduando! Assim, a universidade medieval vai deixando seu


modelo para trás, novos horizontes para o conhecimento pautados na razão vão
surgir com o mundo moderno, onde cada vez mais as ideias religiosas irão dar
lugar a debates científicos calcados num racionalismo vigoroso.

Universidade na Época Moderno-


Contemporânea
“Rompida a unidade cultural da Idade Média, no século
dezesseis, inicia-se a nossa Idade Moderna com o renascimento
da cultura clássica e as novas forças do nacionalismo e da
reforma. O redespertar intelectual cedo deu lugar, entretanto, a
um novo pensamento, o pensamento científico”.

Anísio Teixeira

O Renascimento A Idade Média estava ficando para trás, o Renascimento dava


dava seus ares e,
seus ares e, logo, o Iluminismo e a razão iriam disputar a hegemonia
logo, o Iluminismo
e a razão iriam sobre um novo projeto de universidade já na modernidade. No campo
disputar a político-social, durante o século XVI, dois acontecimentos foram
hegemonia sobre de significativa importância: a Reforma Protestante, iniciada por
um novo projeto de Martinho Lutero (1483-1546), que estimulou, de um lado, a laicização
universidade já na e a estatização das universidades, reduzindo o controle da Igreja, e,
modernidade.
de outro lado, instituiu uma nova força no controle da liberdade dos
professores; já a Contrarreforma reforçou o cerceamento da liberdade de cátedra,
criando também a educação jesuíta, cujo principal objetivo estava relacionado
à missão de preparar os jovens no mundo todo para o trabalho eclesiástico de
catequização. Desse modo:

O fim da Idade Média, com os seus múltiplos componentes,


entre os quais a Reforma Protestante, contribuiu decisivamente
para romper a unidade e gradativamente o modelo medieval
sobrevive, mas ao lado de novos paradigmas que vão se
instituindo e fortalecendo. A concorrência com o pensamento
humanista e os colégios, instituições que gozam de grande
prestígio nos séculos XVI e XVII, a perda do monopólio, os
novos ensinamentos (Descartes, Copérnico, Galileu...),
as ideias iluministas em ascensão, acentuam a crise da
universidade, que vive profunda decadência e vê muitas
instituições desaparecerem ou sobreviverem em condições
precárias (ROSSATO, 2005, p. 30).

O nascimento das universidades modernas, entre os séculos XVI e XVIII,


ocorreu a partir dos anos 1500, com o movimento da Reforma Protestante se
alastrando pelos países do norte da Europa e dando início ao envolvimento de

58
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

instituições não católicas nas universidades; isso ocorreu também O nascimento das
nos Estados Unidos da América. E o que basicamente diferia as universidades
universidades medievais das universidades modernas? As modernas modernas, entre os
estavam mais diretamente vinculadas à pesquisa. A partir do século séculos XVI e XVIII,
XVIII, as principais universidades europeias, inclusive, já publicavam ocorreu a partir dos
anos 1500, com
suas próprias revistas científicas. A nova ideia desse período foi
o movimento da
atrelar o conhecimento científico ao desenvolvimento tecnológico. Em Reforma Protestante
1794, na França, se fazem presentes a Escola Politécnica e a Escola se alastrando
Normal Superior, estabelecidas sob estrito controle estatal, e também pelos países do
a Universidade de Berlim, em 1810, que pregava a indispensável norte da Europa
missão das universidades de desenvolverem pesquisas e lutarem e dando início
ao envolvimento
pela prioridade de liberdade acadêmica. Novos tempos nasciam nas
de instituições
universidades! não católicas nas
universidades
Segundo Lacerda e Álvares (2005), o modelo de universidade
dos séculos XVI a XVIII manteve sua estrutura trinômica, ou seja, educação,
investigação e ciência, que, de acordo com os autores, a caracterizou desde sua
fundação. Todavia, surgiam no panorama europeu, com mais ênfase na Itália,
França e Alemanha, elementos que determinaram novas orientações da sua
atuação e criaram novas formas de relação com as demais instituições sociais
vigentes, que até hoje estão presentes. No campo da cultura geral e acadêmica,
três elementos são decisivos:

O primeiro é a paulatina substituição de um modelo de epistéme


medieval, entendida como metafísica, para um modelo de
epistéme experimental, como física. A experimentação dá
lugar à especulação, a partir de uma cosmovisão mecanicista
inaugurada por R. Descartes. A astronomia, inaugurada por N.
Copérnico, G. Galilei e H. Kepler, será levada ao ápice com as
leis da gravitação universal de I. Newton.
O segundo elemento é o surgimento do humanismo no século
XV, nas universidades da Itália, que impulsionará o ensino do
Direito, da retórica e da anatomia.
O terceiro elemento é a descoberta da imprensa no século XV.
Embora sua força revolucionária tenha levado algum tempo
para se desenvolver, desde cedo será recebida com ressalvas
pela Igreja, que mantinha todos os esforços no sentido de
intensificar, contra todas as resistências, a teologia clássica e a
supremacia da fé em relação à razão, proibindo, por exemplo,
a publicação de obras consideradas heréticas (LACERDA;
ÁLVARES, 2005, p. 102).

Cabe ressaltar que na França, que se encontrava atrasada em relação à


Alemanha e Inglaterra, as ideias da Revolução de 1789, acontecimento político
relevante de emancipação política e burguesa, culminaram num novo olhar para
a universidade e uma maior liberdade acadêmica. Foram propostas uma nova

59
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

otimização da ciência em relação à teologia e a criação de centros de estudos


científicos, por exemplo, o observatório de Paris. Também de forma inovadora,
a construção de um Conselho Nacional de Educação, cuja tarefa principal era
idealizar o conhecimento em todos os níveis de ensino, inclusive o universitário.
Ainda no clamor revolucionário, em 1791 foi criado o Ministério da Educação,
estatizou-se o ensino, instituiu-se uma corporação estatal de professores e uma
educação universal e gratuita.

Nota-se que a busca por uma autonomia universitária fez parte da história
da universidade entre os séculos XVI e XVIII. “A tentativa de separação entre
epistéme e poder nunca foi concluída, pois ora a Igreja (católica ou reformada)
intervém, ora os príncipes e reis controlam. Apesar do controle externo,
paulatinamente a universidade vai se abrindo para a sociedade” (LACERDA;
ÁLVARES, 2005, p. 103). A despeito disso, a universidade internamente sempre
buscou manter seu caráter crítico, que caracterizou sua trajetória desde o início.
As relações professor-aluno nesse período cada vez mais assumiam aspectos
institucionais, em substituição às familiais típicas da época medieval.

Rossato (2005) assinala que três revoluções abriram o caminho para o


surgimento de uma nova instituição e o nascimento das universidades modernas
no século XIX: a Revolução Inglesa, a Revolução Francesa e a Revolução
Industrial. A partir desse momento, a universidade vai dando maior atenção à
pesquisa e à investigação, o pensamento científico vai aos poucos
três revoluções
abriram o caminho assumindo o caráter de técnica, especialmente após a Revolução
para o surgimento Industrial, tornando-se condição imprescindível para o progresso social
de uma nova e a economia capitalista. Sofrendo com as pressões do mercado nessa
instituição e o fase, a universidade ajudará o rápido progresso e o desenvolvimento
nascimento das econômico-social, que estava exigindo maiores níveis de trabalho
universidades
especializado e tecnologias. Contudo, o desenvolvimento científico
modernas no século
XIX: a Revolução demandava altos investimentos e os domínios teóricos concentraram-
Inglesa, a se exclusivamente nas universidades europeias, japonesas e norte-
Revolução Francesa americanas, restando aos demais países apenas a aplicação dos
e a Revolução modelos ali desenvolvidos.
Industrial.

E o século XX? Neste século, como nos lembra Eric Hobsbawm em Era dos
Extremos - O Breve Século XX, o mundo sofreu transformações profundas de
ordem econômica, política, social, cultural, e as universidades não ficaram de
fora e buscaram novas formas de atuação. Estas transformações foram bastante
concretas nos modelos inglês, francês, alemão, norte-americano e também
socialista. No primeiro modelo, temos uma formação humanista e voltada para a
transmissão do conhecimento. O modelo francês possuía um forte monopólio do

60
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

Estado para uma forte contribuição ao desenvolvimento nacional. Já no padrão


norte-americano sobressai o pragmatismo, com o aparecimento da universidade-
empresa. Na Alemanha, a universidade é entendida como uma comunidade
de pesquisadores com liberdade acadêmica e política. Por último, no modelo
socialista havia intensos traços estatais e buscava-se a gratuidade do ensino para
todos (BOHRER, 2008).

Por fim, na segunda metade do século XX, aprofundam-se cada vez mais
as reivindicações do mercado por mão de obra mais qualificada, e somadas a
isso aparecem as exigências de distintas parcelas da sociedade excluídas que
surgiam nesse período por vagas nas universidades. Iniciava-se um período onde
aos poucos o Ensino Superior deixava de ser um lugar somente de
Na segunda
uma elite, e em muitos lugares passa a abrir seus muros a uma parcela metade do século
maior da sociedade. Tais exigências pressionaram a universidade para XX, aprofundam-
se adequar a uma nova realidade, mais global e inclusiva, ao mesmo se cada vez mais
tempo em que criam institucionalmente uma constituição diferente, as reivindicações
onde algumas universidades vão se dedicar à pesquisa e à ciência e do mercado por
mão de obra mais
outras somente ao ensino.
qualificada.

Para ler o livro do autor Eric Hobsbawm, intitulado Era dos


extremos - O breve século XX, acesse o seguinte endereço
eletrônico: <https://goo.gl/PPFdJO>.

Caro pós-graduando! É importante reforçar que na atualidade temos


uma série de modelos universitários e outros que ainda não conseguiram
se impor no século XXI. Porém, o melhor de tudo isso é que cada vez mais a
universidade ocupa um lugar de destaque no mundo contemporâneo e seu papel
atualmente é indispensável para o avanço em todas as áreas do conhecimento e
desenvolvimento para a humanidade.

61
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

A Universidade na América Latina


Notamos uma Depois de conhecer a trajetória da universidade desde a Idade
significativa Média até o século XX, vamos voltar nosso olhar agora para o Ensino
diferença entre Superior na América Latina. A primeira questão que podemos notar, ao
o caminho da olhar para a América, é que ao conhecer seu desenvolvimento histórico,
educação superior
notamos uma significativa diferença entre o caminho da educação
na América
Portuguesa (Brasil) superior na América Portuguesa (Brasil) e na América Espanhola.
e na América Enquanto na parte colonizada pelos espanhóis, a universidade surgiu
Espanhola. desde o início do processo de colonização (século XVI), aqui no
Brasil, como já visto por nós no primeiro capítulo, as universidades só
apareceriam no século XX. Um atraso de quatro séculos em relação ao restante
da América. Todavia, é notório assinalar que, apesar do desenvolvimento desigual,
na atualidade ambas apresentam pendências relativas aos seus papéis e a luta
por uma maior democratização.

A Espanha A primazia espanhola relativa ao Ensino Superior nas Américas


implantou uma
ocorreu porque, enquanto os portugueses restringiram durante todo o
política de criar
e incentivar período colonial o acesso ao Ensino Superior na colônia da América,
instituições de a Espanha, pelo contrário, implantou uma política de criar e incentivar
Ensino Superior instituições de Ensino Superior nas suas colônias, com o objetivo
nas suas colônias, de formar pessoas apropriadas para suprir a demanda dos cargos
com o objetivo de administrativos na burocracia colonial. Isso tudo fez com que em
formar pessoas
1538 ocorresse a fundação da primeira Universidade das Américas,
apropriadas para
suprir a demanda em São Domingos, e logo, em 1551, a fundação da Universidade de
dos cargos San Marcos, no Peru. Era somente o início da criação de inúmeras
administrativos na universidades nas terras espanholas das Américas.
burocracia colonial.

Para aprofundar seus estudos sobre a história da educação na


América Latina, faça a leitura da seguinte obra:

GONDRA, José Gonçalves; SILVA, José Cláudio Sooma.


(Orgs.).  História da educação na América Latina: ensinar &
escrever. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

62
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

Diante da implantação do Ensino Superior na América espanhola, fica a


pergunta: Como eram estruturadas as universidades na América nesse momento?
Quais modelos seguiam e se inspiravam? Como algo inerente ao pacto e domínio
colonial, as universidades são transpostas da metrópole para cá, correspondendo
ao modelo europeu da época. Sua criação era um gesto administrativo, refletia
mecanicamente o contexto europeu e sempre estava de consenso com a elite
colonial local. Quando da fundação das universidades na América espanhola,
a Europa passava por uma efervescência cultural e científica própria do
Renascimento e, em seguida, do Iluminismo, contudo, o modelo de universidade
que vinha da Europa para a América era o mais velho e medieval da época.
Em muitos casos este modelo reforçava e ampliava os poderes eclesiásticos
estabelecidos além-mar. Neste sentido:

No início do século XVI, o sistema universitário espanhol


foi trazido para a América Latina, com a criação de diversas
universidades. Naquele século, o modelo europeu,
especialmente que exercia forte influência em Portugal e
Espanha, foi o adotado pela América Latina nas sociedades
e universidades. Nesse sentido, a educação superior era
destinada somente para a elite dos países latinos, como
também o acesso aos postos políticos e burocráticos.
(ROSSATO, 2005, p. 46).

O modelo adotado estava ligado à Universidade de Salamanca, na Espanha,


que positivamente influenciou as instituições latinas. As universidades do México,
de Santiago e de Lima, no seu início possuíam um ensino com tendência
humanista e sua organização seguia o princípio de universidade dos estudantes.
Todavia, essa influência de Salamanca nas universidades nacionais não durou
muito tempo, pois, após o movimento da Igreja Católica de Contrarreforma,
o modelo de uma universidade mais espiritual e voltada para a formação de
grupos dirigentes para a “conquista espiritual” passou a ser predominante, tanto
no velho continente como no novo. Por décadas ou até mesmo séculos, essas
universidades apresentaram desenvolvimento precário, tendo na sua constituição
muitos alunos e poucos professores. Manteve-se uma estrutura medieval nas
universidades latinas e interesses limitados à Igreja Católica e à elite colonial.

Enquanto na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, prosperava um


pensamento iluminista, racional e científico, nas universidades latinas se assistia
a um assombroso atraso. A crise era, sobretudo, estrutural e ideológica e fazia
parte de uma crise geral do colonialismo nas Américas, a independência, logo
as potências mercantis europeias perderiam suas possessões. Assim, as
universidades refletiam o pensamento atrasado das elites locais. A luta pela
independência impelia os estudantes e professores latinos a abolir com a arcaica
estrutura universitária, muitas vezes controlada pela Igreja. A ausência de

63
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

democracia e de autonomia atingia os métodos de ensino e dificultava qualquer


desenvolvimento científico moderno. Desse modo, no século XIX:

Em quase todos os países, a independência política das


colônias foi acompanhada de um movimento de secularização
que separou Igreja e Estado, transformando as universidades
tradicionais em instituições públicas e seculares e
modernizando-as.

Essa tendência não se implantou sem forte oposição da


Igreja e os sistemas criados no século XIX resultaram dessa
luta, que teve desencadeamentos diferentes nos diversos
países. No Chile, estabeleceu-se um sistema dual, formado
de universidades públicas laicas e universidades católicas
que recebiam do Estado o mesmo tipo de financiamento. Na
Colômbia, a força da Igreja Católica logrou impedir a criação
de uma universidade pública laica até meados deste século.
No México e na Argentina, o sucesso da secularização foi
completo, e as universidades católicas só foram recriadas,
respectivamente, nas décadas de 40 e 50 do século XX, mas
separadas do Estado (DURHAM; SAMPAIO, 1997, p. 10).

LISTA DE UNIVERSIDADES E O ANO


DE FUNDAÇÃO NA AMÉRICA

1538 – Universidade Autônoma de Santo Domingo – República


Dominicana.
1551 – Universidade Nacional Autônoma do México.
1562 – Colégio Universitário de Santo Tomás – Colômbia.
1613 – Universidade Nacional de Córdoba – Argentina.
1624 – Universidade Maior Real e Pontifícia San Francisco
Xavier de Chuquisaca – Bolívia.
1636 – Universidade de Harvard – Estados Unidos.
1653 – Universidade de Rosário – Argentina.
1663 – Université Laval – Canadá.
1676 – Universidade de San Carlos da Guatemala.
1721 – Universidad Central de Venezuela.
1728 – Universidade de Havana – Cuba.
1785 – Universidade de New Brunswick – Canadá.
1792 – Real Academia de Artilharia, Fortificações e Desenho –
Brasil.
1812 – Universidade de Nicarágua.
1820 – Universidade do Haiti.

64
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

1826 – Universidade Central do Equador.


1832 – Universidad Mayor de San Simon – Bolívia.
1841 – Universidade de El Salvador.
1842 – Universidade do Chile.
1843 – Universidad de Costa Rica.
1847 – Universidad Nacional de Honduras.
1849 – Universidad de La República – Uruguai.
1890 – Universidad Nacional de Asunción – Paraguai.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/1jBD51>. Acesso em: 20 abr. 2016.

Atividades de Estudos:

1) O que basicamente diferia as universidades medievais das


universidades modernas?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Ocorreram três revoluções que abriram o caminho para o


surgimento de uma nova instituição e o nascimento das
universidades modernas no século XIX. Descreva quais foram
essas revoluções.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) O Ensino Superior na América espanhola seguiu um modelo.


Qual foi esse modelo?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

65
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

Aqui podemos ver como surgiu e que modelo a universidade seguiu na


América Latina, muito antes de surgir no Brasil. Vimos que as mesmas surgiram
num contexto bem específico da colonização espanhola e que também tiveram um
rápido desenvolvimento ainda nesse contexto.

Evolução Histórica do Ensino


Superior no Brasil
Lembre-se, caro pós-graduando, a universidade brasileira
A universidade no somente surgiu no início do século XIX, resultando da organização
Brasil surgiu em
das elites, que estavam cansadas de buscar educação/qualificação
momento de crise/
mudança e foi superior na Europa. Assim, a universidade no Brasil surgiu em
essencialmente momento de crise/mudança e foi essencialmente resultado da reunião
resultado da reunião de faculdades específicas e institutos isolados, acontecimento que lhes
de faculdades deu uma característica bastante fragmentada. Muito mais vinculada
específicas e à iniciativa privada no seu surgimento, aos poucos ela foi ganhando
institutos isolados.
apoio público, porém essa dicotomia acompanha o debate até os dias
atuais. Assunto que veremos a partir daqui.

Instituições Públicas e Privadas de


Ensino Superior no Brasil e Suas
Funções
Quando falamos em instituições públicas e privadas de Ensino
A diferença entre
Superior no Brasil e suas funções, precisamos saber que a diferença
educação pública
e privada no Brasil entre educação pública e privada no Brasil existe desde pelo menos
existe desde pelo 1930. Na sua origem estava relacionada muito mais a aspectos
menos 1930. pedagógicos e ideológicos do que funções e objetivos de formação.
Por um lado, as instituições públicas reivindicavam a existência
Enquanto a de um ensino leigo, enquanto as instituições privadas buscavam
educação pública essencialmente a educação com princípios religiosos. Existia também
buscava ser uma disputa no que tange ao forte conteúdo social. Enquanto a
universal e gratuita, educação pública buscava ser universal e gratuita, a educação privada
a educação privada atingia grupos economicamente mais privilegiados. Aos poucos, mais
atingia grupos
especificamente no final dos anos sessenta, esta polarização relativa
economicamente
mais privilegiados. ao Ensino Superior perdeu inteiramente seu sentido original.

66
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

Atualmente o debate entre esses dois tipos de instituições está ligado


à questão financeira, isto é, a quem o Estado pode financiar, quem tem direito
à gratuidade e quem deve pagar para estudar. Por um lado, as universidades
públicas têm mantido a gratuidade total do ensino no setor público, já o setor
privado tem conseguido ampliar seu campo de ação, inclusive:

[...] pelo reconhecimento de um grande número de novas


universidades que, graças à autonomia constitucional, terão
condições de se proteger tanto das limitações governamentais
à criação de novos cursos, quanto de eventuais controles mais
sistemáticos relativos à qualidade do produto educacional que
oferecem (DURHAM; SCHWARTZMAN, 1989, p. 7).

Durham e Schwartzman (1989, p. 7) esclarecem que a esta altura a questão


do ensino público vs. privado “[...] não pode continuar a ser discutida em termos
dos respectivos interesses ou preconceitos, e ser posta em termos de questões
de natureza mais ampla, como a do acesso, da equidade social, dos diferentes
públicos, da qualidade do ensino e da pesquisa”.

E hoje, qual a diferença entre esses tipos de instituições? Você


A princípio, as
saberia dizer? Já leu ou aprendeu algo a respeito? Como é constituído instituições públicas
o sistema de educação superior brasileiro? A princípio, as instituições são criadas,
públicas são criadas, financiadas e administradas pelo poder público financiadas e
federal, estadual e/ou municipal. Por sua vez, as instituições privadas administradas
são criadas, mantidas e administradas por pessoa física ou jurídica de pelo poder público
federal, estadual
direito privado, podendo ter ou não fins lucrativos, e por credenciamento
e/ou municipal.
no Ministério da Educação. As instituições
privadas são
Há outras questões que diferenciam esses dois tipos de criadas, mantidas e
instituições, que, de acordo com a Cartilha de Instituições Privadas do administradas por
Ensino Superior, são: pessoa física ou
jurídica de direito
privado, podendo
[...] as instituições de Ensino Superior podem ser
classificadas academicamente em universidades, ter ou não fins
centros universitários e faculdades. A diferença lucrativos.
principal estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996) é que nas instituições universitárias existe a obrigação
para que sejam desenvolvidas, regularmente e de forma
institucionalizada, as atividades de ensino, pesquisa e extensão,
ao passo que nas não universitárias existe obrigação apenas
do ensino. Os centros universitários, pela oferta do ensino,
pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições
de trabalho acadêmico oferecidas à comunidade escolar. As

67
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

faculdades, embora também devam zelar pela qualidade do


Ensino Superior ministrado, não estão obrigadas a manter
programas institucionais de pesquisa (BRASIL, 2007, p. 8).

Credenciamento e recredenciamento: as instituições de Ensino


Superior brasileiras públicas e privadas são submetidas a diferentes
procedimentos de criação e credenciamento. O credenciamento
concedido pelo poder público é temporário, conforme estabelece
a nova LDB (Lei nº 9.394/1996). Por isso existe a necessidade de
recredenciamento da instituição após as avaliações realizadas no
contexto do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
(SINAES).

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/n0uysy>. Acesso em 20 abr. 2016.

Além dessa divisão, o Ministério de Educação no Brasil determina, para


finalidades estatísticas, que as instituições de Ensino Superior estão classificadas
da seguinte maneira:

a) Públicas (federais, estaduais e municipais);


b) Privadas (comunitárias, confessionais, filantrópicas e particulares).

Essa definição relaciona-se com as formas de financiamento, ou seja, quem


as financia, e com que cada modelo sobrevive no panorama da educação superior.
Se o Ministério da Educação (MEC) faz uso da categoria público-privado para
classificar e diferenciar o sistema de Ensino Superior no Brasil, é importante então
entender que isso constitui a maneira de manutenção financeira e administrativa
de cada uma das instituições. Vejamos, a partir do estudo de Luciane Stallivieri,
quais são as diferenças relacionadas aos tipos de financiamento e manutenção.

Essencialmente, o sistema público de Ensino Superior é sustentado pelo


poder público federal, estadual e municipal. A lógica é bastante simples: as
instituições públicas federais usam recursos públicos federais para o seu custeio,
isto é, a União é o principal mantenedor, “[...] já que nelas o ensino é gratuito
e somente cerca de 3,5% do orçamento global é constituído por recursos

68
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

diretamente por elas arrecadados” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Por sua vez, as
instituições estaduais têm nos governos estaduais seu financiador principal,
nestas o ensino também é gratuito. É bom salientar que as instituições de ensino
estaduais de nível superior criadas e mantidas pelos Estados não estão presentes
em todos os entes da federação brasileira. Luciane Stallivieri assinala que “[...]
essa modalidade de instituição de caráter estadual está mais concentrada na
região Sudeste do Brasil, onde estão as grandes universidades que apresentam
programas de ensino e pesquisa avaliados como sendo os de melhor qualidade
do país” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Por último, as instituições municipais, que, se
comparado aos outros dois tipos de instituições, são de número bastante baixo e
que recebem recursos financeiros dos governos municipais.

Quando se trata do sistema de Ensino Superior privado, as


Quando se trata
fontes de financiamento para manutenção e expansão são oriundas, do sistema de
na sua maior parte, do pagamento das mensalidades dos próprios Ensino Superior
alunos, mensalidades essas pagas para os cursos de graduação privado, as fontes
e também para os de pós-graduação. Contudo, algumas destas de financiamento
instituições privadas contam, muitas vezes, com o apoio financeiro de para manutenção
e expansão são
mantenedores particulares, que seriam membros da comunidade e/ou
oriundas, na sua
até de ordens religiosas. Uma informação importante para ser analisada maior parte, do
“[...] é que, por serem de caráter privado, essas instituições não podem pagamento das
receber recursos públicos, mas podem apresentar e concorrer com a mensalidades dos
apresentação de projetos para o desenvolvimento de pesquisa e de próprios alunos
pós-graduação” (STALLIVIERI, 2006, p. 7).

Steiner e Malnic (2006) lembram que, mesmo entre as instituições de caráter


privado, essa categoria se subdivide em comunitárias, confessionais, filantrópicas
e particulares.

Com relação às instituições de caráter comunitário, elas podem ser laicas


ou confessionais. “As instituições comunitárias laicas são instituições sem fins
lucrativos e são financiadas por membros da comunidade onde estão inseridas,
além dos recursos provenientes da mensalidade dos alunos” (STALLIVIERI, 2006,
p. 7). Há também as instituições comunitárias confessionais, que estão ligadas
diretamente a uma congregação de ordem religiosa específica.
Esses três tipos
de instituições,
Esses três tipos de instituições, comunitárias, confessionais e
comunitárias,
filantrópicas, se distinguem pelas isenções fiscais de que desfrutam. confessionais e
Por serem caracterizadas como instituições sem fins lucrativos, os filantrópicas, se
resultados de suas atividades necessitam ser reinvestidos nelas distinguem pelas
mesmas, não podendo, nesse caso, existir distribuição de lucros. isenções fiscais de
que desfrutam.

69
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

De acordo com Stallivieri (2006, p. 8), por se constituírem como instituições


sem fins lucrativos, dois são os principais tipos de isenção fiscal que elas têm:

Do Imposto de Renda, para instituições educacionais sem


fins lucrativos, e das contribuições para fins de seguridade
social, para as instituições consideradas beneficentes (as
chamadas filantrópicas), de utilidade pública e que apliquem
integralmente os resultados operacionais na manutenção e
desenvolvimento dos objetivos institucionais. A beneficência
se caracteriza pela concessão de desconto de 50% a 100%
do valor da mensalidade a alunos considerados carentes, bem
como outras gratuidades especialmente na área de extensão.

Por sua vez, quando falamos do setor privado, também encontramos as


instituições de caráter particular com fins lucrativos. Muitas dessas instituições são
criadas e mantidas por proprietários ou mantenedoras que não são provenientes
do meio educacional. Nesse caso, encontramos instituições preocupadas com um
ensino de boa qualidade.

O PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA DE
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS DE ENSINO
À LUZ DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL

Em benefício da educação, a Constituição Federal, promulgada


em 1988, no inciso III do artigo 206, estabelece, como princípio
da educação escolar, o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas e a coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino. Este mesmo princípio de ensino foi reproduzido e desdobrado
em incisos próprios, o III e o V do artigo 2º, na Lei 9.394/96, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a chamada
LDB.

No presente trabalho, vamos nos deter ao princípio da


coexistência de escolas públicas e privadas. É importante
entendermos, desde logo, que o princípio de coexistência do público
e do privado assegura ao poder público, como prescreve o artigo 19
da LDB, a competência de criar ou incorporar instituições de ensino
para atender as demandas sociais por um ensino público, obrigatório

70
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

e gratuito. É o referido princípio que autoriza, de outra sorte, pessoas


físicas ou jurídicas de direito privado a abrirem escolas em qualquer
estado ou município da federação, ou em um distrito, localidade ou
rua de qualquer cidade brasileira.

É por este princípio de coexistência do público e do privado que


podemos, neste século, fomentar escolas públicas mais orientadas
ao mercado e estimular as escolas privadas com fins públicos. O
diretor-presidente da UBEE, Manoel Alves, em entrevista à Revista
Linha Direta (n. 90, p. 38, set. 2005), afirma, à luz deste princípio,
que as instituições de ensino, públicas ou privadas, têm uma
natureza essencialmente social e socializadora, de modo a não
ficarem ausentes das iniciativas concretas que contribuam com o
desenvolvimento sustentável.

[...]

Numa palavra, podemos afirmar que, sem a coexistência de


escolas públicas e privadas, sem o ensino livre à iniciativa privada, o
Brasil seria mais centralizado, menos federativo, menos democrático;
por sua vez, a educação seria menos social, posto que é através
deste princípio de ensino que as IE’s, no Estado democrático de
Direito, superam a contradição capitalista entre o público e o privado.

Escolas lucrativas e não lucrativas

No século XXI, a privatização do ensino é uma questão obsoleta.


A coexistência institucional, enfim, permite que os entes federativos
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) busquem a alta
qualidade de ensino da educação pública e incentivem a expansão
da educação privada.

As escolas públicas e as privadas têm, na vida social, uma


busca em comum: o bem público. Sem os valores sociais do trabalho
e da iniciativa privada, não poderíamos afirmar, a rigor, que o Brasil
se constitui em Estado Democrático de Direito (inciso IV, Art. 1º, CF).

A Constituição Federal de 1988 prescreve, conforme podemos


observar à luz dos artigos 205, 209 e 213, dois gêneros de escolas:
as públicas e as privadas. É estabelecido pela Constituição que as
escolas privadas se subdividem em duas espécies: as lucrativas e as
não lucrativas.

71
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

O artigo 209 da Constituição Federal prescreve, por seu turno,


que o ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as condições de
cumprimento das normas gerais da educação nacional (inciso I) e
autorização e avaliação de qualidade pelo poder público (inciso II).

No tocante ao financiamento da educação nacional, os recursos


públicos podem ser dirigidos, conforme preceitua o artigo 213 da
Constituição Federal, a escolas comunitárias, confessionais ou
filantrópicas que comprovem finalidade não lucrativa, apliquem
seus excedentes financeiros em educação (inciso I) e assegurem a
destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica
ou confessional – ou ao poder público, no caso de encerramento de
suas atividades (inciso II).

No plano da legislação ordinária, o artigo 20 da LDB, que


categoriza as chamadas instituições privadas de ensino, entende que
as particulares são definidas, em sentido estrito, como as escolas
instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas
de direito privado que não apresentem as características das demais
escolas privadas, isto é, comunitárias, confessionais e filantrópicas.
São entendidas como confessionais, segundo a LDB, no inciso III do
referido artigo, as escolas instituídas por grupos de pessoas físicas
ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação
confessional e ideologia específicas. As escolas filantrópicas são
regidas por lei própria.

As escolas comunitárias, a partir da Lei 11.183, que dá uma


nova redação ao inciso II do caput do art. 20 da Lei nº 9.396, são
consideradas as instituídas por grupos de pessoas físicas ou por
uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais,
professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora
representantes da comunidade. Como, então, esta estruturação
legal das redes pública e privada repercutirá na oferta da educação
básica?

[...]

Quantidade e qualidade no serviço educacional

O princípio da coexistência de instituições públicas e privadas


de ensino é, a rigor, bem diferente da ideia de independência extrema
ou absoluta dessas mesmas instituições, o que não quer dizer que

72
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

não possam concorrer na oferta de educação escolar. Uma nova


“equação” para a educação, vista como direito social de todos e dever
do Estado, da Família e da Sociedade como um todo, é – ou deveria
ser – a seguinte: Educação Escolar = escolas públicas X escolas
privadas. Se as escolas públicas zeram, no produto final, o fracasso
repercute também negativamente no setor privado, porque o público
e o privado pertencem à mesma sociedade. Da mesma forma, se as
escolas privadas zeram ou fecham suas portas, há comprometimento
social: menos vagas para os profissionais de ensino e menos opção
para as famílias, em se tratando de serviço educacional. Isso só será
óbvio quando a sociedade política, e não apenas a civil, vir, no setor
privado, um segmento com fins sociais ou públicos.

A esse respeito, diríamos, tomando a palavra de Marcelo


Batista de Sousa (2005, p. 24), que o “pluralismo preconizado pela
Constituição não é observado se a oferta oficial de educação é
apenas aquela oferecida pelo próprio Estado. (...) A escola particular
transformou-se em desejo e sobrevive, repito, pela eficiência e
excelência. ”

[...]

Considerações finais

O princípio da coexistência de escolas públicas e privadas


é fundamental para a superação da dicotomia entre o público e o
privado, uma vez que, sendo a educação um direito de todos,
portanto, um bem comum, que abrange os processos formativos
desenvolvidos em diferentes ambiências sociais, a começar pela
vida familiar, passando pela convivência humana, pelo mundo do
trabalho, pelas escolas, pelos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e chegando às manifestações culturais, não existe, a
rigor, uma contradição entre a busca de uma escola pública de boa
ou alta qualidade e o incentivo à expansão da escola privada.

À guisa de palavra final, apropriar-me-ei, mais uma vez, do


pensamento de Marcelo Batista de Sousa, que, no já referido
artigo publicado na Revista Linha Direta, revela que há burocratas
do governo, na verdade, radicalmente estatizantes, que tentam
desqualificar o sistema escolar privado. A visão crítica de Marcelo
Batista parece sintetizar bem o olhar da RLD, ao longo de seus dez
anos de existência, sobre a educação brasileira. Segundo ele, o

73
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

papel do Estado, ao garantir a educação como direito social, deve


ser o de proporcionar a democratização e a gratuidade do ensino
fundamental, conforme preceitua a Constituição Federal, além de
avaliar as instituições públicas e privadas e zelar pela qualidade de
ensino. Mas a ação da livre iniciativa é uma questão de princípio
fundamental da ordem social e cultural do país e se reveste de
importância capital numa sociedade democrática, porque apresenta
às famílias brasileiras alternativas de formação escolar em prol da
educação básica e superior.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/XytvKF>. Acesso em: 20 abr. 2016.

Desta forma, caro pós-graduando, fechamos esse assunto tão importante


sobre a coexistência entre instituições públicas e privadas de Ensino Superior
no Brasil. Porém, mais do que conhecer essa diferenciação, é importante
assinalar que todas as instituições, sendo públicas e/ou privadas, têm o dever de
oferecer um ensino de qualidade que contribua de forma direta ou indireta para o
desenvolvimento econômico e social do Brasil.

A Situação Atual do Ensino Superior


no Brasil
Caro pós-graduando! Entender o atual sistema de Ensino Superior do Brasil
não é tarefa muito fácil, mas sim bastante complexa, devido à grandiosidade de
sua estrutura e organização. Contudo, é indispensável entender pelo menos um
pouco do atual contexto da educação no Brasil. O que faremos neste final de
capítulo é tentar esclarecer alguns conceitos de como o atual sistema de Ensino
Superior brasileiro se apresenta neste momento. Não entraremos na apresentação
das políticas públicas sobre o tema, pois isso será abordado no próximo capítulo.

As principais Assim, as principais tendências e os problemas relativos ao


tendências e os sistema de Ensino Superior não devem prescindir da importância desse
problemas relativos sistema para a sociedade brasileira. Não restam dúvidas para ninguém
ao sistema de de que o desenvolvimento econômico de um país e a melhoria das
Ensino Superior não
condições de vida para a maioria da população dependem diretamente
devem prescindir da
importância desse do aumento da escolaridade dos cidadãos, haja vista que a
sistema para a universalidade da educação básica é essencial para o melhor exercício
sociedade brasileira. da cidadania e da democracia. No entanto, como afirma Cunha (1999,
p. 2):

74
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

O desenvolvimento do Ensino Superior é também fundamental.


A modernização da economia e das estruturas sociais exige
cada vez mais pessoal altamente qualificado, com formação
de nível superior. Além disso, deve-se considerar que, também
com relação a esse nível de ensino, no Brasil, a restrição do
acesso tem se constituído em fonte de desigualdades sociais,
o que restringe o exercício da cidadania acima mencionado.
Não se pode perder de vista, também, a importância que o
Ensino Superior guarda como suporte aos demais graus
de ensino, tanto no que diz respeito à preparação dos seus
recursos humanos, assim também como instância de produção
e divulgação do conhecimento e de tecnologias, insumos
essenciais para o desenvolvimento das nações nos dias atuais.

Dessa forma, as mudanças ocorridas no sistema de Ensino Superior brasileiro


na última década fazem parte de um processo mais amplo, que vem tentando
modernizar a sociedade, visto que segmentos médios se tornaram integrantes
do sistema educacional, que vem melhorando sua estrutura para assumir uma
nova demanda considerável. Portanto, a busca por vagas na universidade por
parte dos jovens derivados de famílias sem tradição em educação superior ou
ainda de pessoas com mais idade, “[...] com o objetivo de se ilustrar ou melhorar
sua posição no emprego e a ampliação do contingente feminino em cursos que
antes eram predominantemente masculinos [...]”, são fenômenos que têm feito
a expansão das matrículas de forma significativa e mudado bastante a cara da
universidade brasileira nos últimos tempos (CUNHA, 1999, p. 3). Abaixo temos
alguns dados sobre essas mudanças e como se encontra atualmente nosso
Ensino Superior. Veja:

BRASIL – UNIVERSIDADES

O Brasil conta hoje com um amplo e descentralizado sistema


de educação superior. No total, o país possui 2.368 instituições de
Ensino Superior, que oferecem quase 33 mil cursos de graduação
em todas as regiões. Os dados constam no Censo da Educação
Superior 2014 divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), em dezembro de 2015.

De acordo com sua organização acadêmica, as instituições


se dividem em universidades, centros universitários, faculdades
e institutos federais. Elas podem ser privadas ou públicas, vinculadas
aos governos federal, estadual ou municipal.

75
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

As universidades se caracterizam pela indissociabilidade


das atividades de ensino, pesquisa e extensão. As universidades
são instituições acadêmicas pluridisciplinares, que produzem
conhecimento intelectual institucionalizado. Para tanto,
devem seguir alguns requisitos do Ministério da Educação
(MEC), como ter, no mínimo, um terço do corpo docente
atuando em regime integral e um terço de mestres e doutores.

Já os centros universitários abrangem uma ou mais áreas do


conhecimento, mas neles não é obrigatória a realização de pesquisa
institucionalizada. As faculdades são instituições que oferecem
cursos superiores em apenas uma área do conhecimento e compõem
as universidades, os centros universitários ou são independentes.

Os institutos federais são unidades voltadas à formação


técnica, com capacitação profissional em áreas diversas. Oferecem
ensino médio integrado ao ensino técnico, cursos técnicos, cursos
superiores de tecnologia, licenciaturas e pós-graduação.

Com relação às instituições privadas, elas podem ter ou não


finalidade lucrativa. Entre as que não possuem este objetivo estão as
comunitárias, filantrópicas ou confessionais.

A rede privada participa com 74,9% no número de novos alunos.


De acordo com o levantamento do Inep, há 301 instituições públicas
de Ensino Superior e 2.090  privadas. O perfil mais recorrente do
estudante das universidades brasileiras é mulher, tem 21 anos e
cursa bacharelado no período noturno de uma instituição de ensino
privada.

Atualmente, o país conta com 195 universidades, que equivalem


a 8,2% do total de instituições de ensino e concentram 53,2% das
matrículas em cursos de graduação. Em dez anos, de 2003 a 2013, o
Brasil inaugurou 20 novas universidades. Dados apontam que 82,8%
dos cursos nas universidades são na modalidade presencial e o grau
acadêmico predominante é o bacharelado, com 66,8%.

Dentre as universidades brasileiras, 18 estão incluídas entre


as 1.000 melhores do mundo, segundo levantamento feito pelo
Centro de Rankings Universitários Mundiais, divulgado em agosto
de 2015.  A Universidade de São Paulo (USP) foi considerada a
melhor instituição de Ensino Superior da América Latina e a 143ª no
mundo. Também fazem parte da lista a Universidade Federal do Rio

76
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

de Janeiro (UFRJ), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)


e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre outras. A
pesquisa avaliou instituições de Ensino Superior de aproximadamente
50 países, baseando-se em indicadores que mensuram critérios tais
como: número de formandos que ganharam prêmios de relevância;
número de formandos que ocupam cargos de destaque nas
melhores empresas do mundo; qualidade dos professores; número
de publicações em jornais de grande influência; número de citações
em pesquisas e número de patentes internacionais solicitadas pela
universidade, entre outros.

Números e estatísticas

A quantidade de alunos matriculados nas universidades públicas


e privadas do país também cresceu na proporção de 6,8% de 2013
para 2014, passando de 7,3 milhões para 7,8 milhões. Deste total, 4,8
milhões são mulheres – ou seja, 61,3%. Entre os novos estudantes,
as mulheres também dominam: dos 2,1 milhões de calouros, 54,6%
são mulheres. Entre os que concluíram um curso de graduação em
2014, o público feminino também é maioria, com 498 mil pessoas.
Não surpreende, portanto, que o perfil mais recorrente de estudante
nas universidades brasileiras seja mulher, tenha 21 anos e curse
bacharelado no período noturno de uma instituição de ensino privada.

As universidades públicas também são responsáveis por uma


significativa parcela no cenário de pesquisa do Brasil. Grande parte
das pesquisas é realizada no âmbito da pós-graduação. Apenas em
2014, foram 3.741 programas de pós-graduação, responsáveis por
5.560 cursos, sendo 3.112 de mestrado (56%), 1.878 de doutorado
(34%) e 570 de mestrado profissionalizante (10%).

Em todos os 27 Estados há universidades federais e estaduais.


Vale lembrar que o Brasil não possuía nenhuma instituição de Ensino
Superior até o início do século XIX. Após a independência do Brasil,
surgiram as primeiras escolas superiores, isoladas, sem status de
universidade e de orientação profissionalizante, especialmente nas
áreas de direito, medicina e engenharia. A Universidade de São
Paulo, uma das mais importantes do país, foi fundada em 1934.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/5c7Y8j>. Acesso em: 20 abr. 2016.

77
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

As transformações Com todos esses dados é possível concluir que as transformações


no Ensino Superior no Ensino Superior brasileiro estão andando de forma rápida, o que
brasileiro estão
também vem ocorrendo em consonância com o cenário da educação
andando de
forma rápida, o mundial e sobretudo nos países da América Latina. É lógico que tem
que também vem muita coisa que precisa avançar no Brasil no que se refere a oferecer
ocorrendo em uma educação de nível superior para uma parcela ainda maior de sua
consonância com o população, em particular para aqueles que estão em idade de ingressar
cenário da educação no tão almejado Ensino Superior. Dessa forma, a expansão mais do
mundial e sobretudo
que urgente do número de instituições é uma obrigação imediata.
nos países da
América Latina. Todavia, a ampliação não pode ocorrer de forma desorganizada,
somente pelo aumento expressivo de instituições privadas de ensino,
visto que muitos na sociedade brasileira não têm condições de arcar com os altos
custos que representa cursar e concluir um curso universitário.

Isso tudo provoca em nosso meio a necessidade de uma imprescindível


avaliação relativa ao sistema de Ensino Superior brasileiro, com a finalidade de
ofertar novas vagas que estejam em consonância com as necessidades oriundas
da sociedade, e igualmente com os novos cenários advindos da globalização e,
por fim, com as necessidades vindas do mercado de trabalho. Passamos por um
momento delicado, os conflitos que existem entre o sistema público e privado de
ensino, as questões relativas às verbas e financiamento da educação superior, a
busca por uma autonomia universitária e a obrigação de avaliações para garantir
um padrão mínimo de qualidade são questões prementes para os gestores de
políticas públicas da área educacional do país.

Mesmo sendo grandes os desafios a enfrentar, contudo, como veremos a


seguir no próximo capítulo, já temos sinais que evidenciam que progressos
foram conquistados, e que, para melhorar ainda mais a oferta e a qualidade da
educação superior no país, há a necessidade da criação de políticas educacionais
mais eficazes, contínuas, estruturais e não somente conjunturais.

Atividades de Estudos:

1) Faça uma pequena síntese elencando as principais diferenças


entre as instituições públicas e privadas de Ensino Superior no
Brasil.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

78
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

____________________________________________________
____________________________________________________

2) Quais mudanças você acha que deveriam ocorrer no atual


sistema de Ensino Superior do Brasil?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Algumas Considerações
Caro pós-graduando! Chegamos ao final de mais um capítulo. Aqui podemos
ver desde o surgimento das universidades na Idade Média até o cenário atual
em nosso país. Ressaltamos que as universidades de Paris e de Bolonha foram
pioneiras do Ensino Superior na Idade Média. Seus modelos e contribuição na
educação deste período foram inquestionáveis, servindo de inspiração para as
outras instituições universitárias da época, inclusive na atualidade.

Aprendemos também que as universidades medievais não eram


segregacionistas, tinham uma constituição comunitária, porém, as mulheres não
tinham acesso. Com mudanças profundas na sociedade medieval, o advento do
Renascimento, o modelo medieval de sacralidade do universo cedeu, aos poucos,
lugar ao individualismo, à razão e à ciência.

Já analisando o nosso continente, notamos uma significativa diferença entre


o caminho da educação superior na América portuguesa (Brasil) e a América
espanhola. Enquanto na parte colonizada pelos espanhóis a universidade
surgiu desde o início do processo de colonização (século XVI), aqui no Brasil as
universidades só apareceriam no século XX, representando um atraso de quatro
séculos em relação ao restante da América. Em relação às instituições públicas,
elas são criadas, financiadas e administradas pelo poder público federal, estadual
e/ou municipal. Por sua vez, as instituições privadas são criadas, mantidas e
administradas por pessoa física ou jurídica de direito privado, podendo ter ou não
fins lucrativos, e por credenciamento no Ministério da Educação.

79
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

No que tange ao Ensino Superior brasileiro na atualidade, pode-se


reconhecer que houve avanços significativos, porém, há ainda problemas que
necessitam ser enfrentados com urgência para que o Brasil consiga alcançar
um nível maior de importância condizente com sua participação econômica no
cenário global. É importante também notar que o sistema de Ensino Superior
não é independente em relação à sociedade e, dessa maneira, não teremos uma
maior democratização de acesso se não houver uma diminuição drástica das
desigualdades sociais em nosso país.

Por último, o desenvolvimento da universidade, que teve uma notável


expansão a partir do século XXI, deixou de pertencer apenas a uma pequena
parcela dos alunos, sendo, em muitos casos, uma esperança de transformação
do quadro socioeconômico e já está, em certo sentido, na agenda de prioridades
políticas de nossos governos.

Referências
ÁLVARES, O. P. A universidade e a sociedade do conhecimento. Universitas,
São Paulo, v. 1, p. 90-112, ago. 2006.

BOHRER, I. N. et al. A história das universidades: o despertar do


conhecimento. 2008. Disponível em: <http://goo.gl/rCZ0gL>. Acesso em: 20 abr.
2016.

BRASIL. Cartilha: instituições privadas de ensino superior. Brasília: Ministério da


Justiça, 2007. Disponível em: <http://goo.gl/n0uysy>. Acesso em: 20 abr. 2016.

CUNHA, M. C. O ensino superior no Brasil: algumas tendências e alguns


problemas. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade, n. 3, 1999.
Disponível em: <http://goo.gl/jCBSuT>. Acesso em: 20 abr. 2016.

DURHAM, E. R.; SAMPAIO, H. O setor privado de ensino superior na América


Latina. 1997. Disponível em: <http://goo.gl/FM6zbz>. Acesso em: 20 abr. 2016.

DURHAM, E. R.; SCHWARTZMAN, S. Situação e perspectivas do ensino


superior no Brasil: os resultados de um seminário. 1989. Disponível em: <http://
goo.gl/VT0C1Y>. Acesso em: 20 abr. 2016.

LACERDA, R. A.; ÁLVARES, O. P. A universidade e a sociedade do


conhecimento. Universitas FACE, v. 2, n. 1, 2005. Disponível em: <http://goo.gl/
gNecLF>. Acesso em: 20 abr. 2016.

80
Capítulo 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros
Países, Instituições Públicas e Privadas, a
Situação Atual do Ensino Superior no Brasil

ROSSATO, R. Universidade: nove séculos de história. Passo Fundo: UPF, 2005.

STALLIVIERI, L. O sistema de ensino superior do Brasil: características,


tendências e perspectivas. Caxias do Sul, RS: Universidade de
Caxias do Sul, 2006. Disponível em: <https://sigaa.ufrn.br/shared/
verArquivo?idArquivo=2558185&key>. Acesso em: 15 jun. 2016.

STEINER, J. E.; MALNIC, G. (Orgs.). Ensino superior: conceito e dinâmica. São


Paulo: EDUSP, 2006.

81
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

82
C APÍTULO 4
Legislação Educacional e a
Coordenação do Ensino Superior
no Brasil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar como é a organização e as leis do sistema educacional do ensino


superior brasileiro.

� Conhecer algumas organizações de coordenação da educação superior.

� Entender as atuais políticas públicas para o ensino superior do Brasil.


História e Organização do Ensino Superior no Brasil

84
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

Contextualização
Caro aluno! Chegamos ao quarto e último capítulo do seu livro de estudos!
Até agora já podemos ver muita coisa sobre o ensino superior no Brasil e no
mundo! Neste capítulo, continuaremos estudando sobre o ensino superior no
que tange a sua legislação, sua organização e as políticas públicas relativas a
ele. Antes de tudo, é importante assinalar que o nosso país vem despertando
cada vez mais para a temática da educação. Tanto a sociedade civil como as
ações governamentais, têm buscado a expansão educacional de todos os níveis
de ensino. Isso só foi possível, é claro, primeiramente pela legislação atual, a
implementação de políticas de acesso e permanência, a avaliação e o controle
de qualidade, que tem trazido uma sensível melhora nos índices de escolaridade
em todos os níveis, mas principalmente, no superior. Requisito este, fundamental
para o desenvolvimento do país.

Além disso, a formulação e implantação de políticas públicas do Governo


Federal, nos últimos anos, direcionadas para ampliação e melhoria da qualidade
do ensino fundamental e médio, contribuem diretamente, também, para o
acréscimo de novas vagas e pelo acesso cada vez maior ao ensino superior no
Brasil.

Descrever a legislação, a organização e as políticas públicas do sistema de


ensino superior do Brasil é, no mínimo, uma empreitada árdua e bem complexa
devido a sua grande diversidade legal e organizacional. O que pretendemos fazer
neste capítulo é a tentativa de apresentar algumas características, elucidar alguns
conceitos e sintetizar como é a organização legal do sistema de ensino superior
brasileiro na atualidade. Para tanto, vamos apresentar as principais leis que
regem esse sistema, a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), entre outros assuntos. Bons estudos!

Organização e Leis para o Constituição Federal


de 1988, pela Lei
Sistema Educacional do Ensino de Diretrizes e
Bases da Educação
Superior Nacional (Lei n°
9.394/96), como
pela Lei n° 9.135/95,
Você sabe quais são as leis e normas que regem a estrutura e que instituiu o
também o funcionamento do ensino superior no Brasil? Assunto bastante Conselho Nacional
complexo e controverso, tanto a estrutura quanto o funcionamento do de Educação.
ensino superior no Brasil são determinados e conduzidos por uma série

85
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

de leis e normas estabelecidas a partir da lei maior que é a Constituição Federal


de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/96),
como pela Lei n° 9.135/95, que instituiu o Conselho Nacional de Educação, além,
é claro, de inúmeros outros decretos, resoluções e portarias. Não é nosso objetivo,
e nem espaço para isso temos, conhecer toda a legislação acerca da educação
superior brasileira, mas sim o que esses documentos dizem e como organizam a
estrutura do funcionamento do ensino superior em nosso país.

No que diz respeito ao ensino superior, na Constituição Federal de


1988 aparece pouca coisa sobre o tema. Na carta constitucional de 1988 a
educação superior somente é tratada na seção I do Capítulo 3 e do Título
VIII, respectivamente nos artigos 206 até 214. Nesses artigos está escrito que
a oferta de ensino superior é livre para a iniciativa privada, seguindo é claro, o
cumprimento das normas gerais e a avaliação de qualidade, realizada pelo poder
público. Porém, as atividades universitárias de pesquisa/extensão nas instituições
privadas poderão receber apoio financeiro público (parágrafo 2º do inciso II do
artigo 213). Na constituição, também fica determinado o dever do Estado em
garantir o acesso aos mais elevados níveis de ensino e pesquisa.

No artigo 207 é assegurado que as universidades têm “autonomia didático-


científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988).

De acordo com a Constituição Federal de 1988, no seu


artigo 207, as universidades brasileiras estão consubstanciadas
no princípio republicano, “o qual afirma a indissociabilidade entre
as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. O princípio
da indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão, no ensino
superior, que busca superar a dicotomia entre teoria/prática, sujeito/
objeto, empiria/razão”. Sendo assim, esta indissociabilidade entre
ensino-pesquisa-extensão deve permitir novos arranjos pedagógicos
de ensino, produção e socialização de conhecimentos, efetivados na
interdisciplinaridade (PUHL; DRESCH, 2016, p. 37).

Em relação aos recursos públicos, eles serão designados às instituições


públicas, no entanto, podendo em alguns casos ser aplicados às instituições
confessionais, comunitárias e/ou filantrópicas determinadas por lei. Ainda,

86
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

consta na constituição que o ensino será ministrado com base nos princípios de
igualdade de condições de acesso e permanência, bem como o pluralismo de
ideias, a gestão democrática no ensino público e a valorização dos profissionais
do ensino. É evidente que há outros determinantes relativos ao ensino superior
implícitos no texto constitucional concernentes à educação em geral (SEVERINO,
2008).

Para conhecer mais sobre a Constituição Federal de 1988 e


também seus princípios relativos à Educação, acesse: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.

Outro dispositivo legal e bastante importante para a organização


Na LDB, além
e estrutura do ensino é a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da dos dispositivos
Educação Nacional, aprovada em 1996, que regulamenta os princípios referentes à
constitucionais relativos ao ensino superior. Severino (2008, p. 77) educação em geral,
adverte que “a Lei nº 9394/96 não faz apenas uma operação jurídico- há também alguns
legislativa formal, mas consolida igualmente as opções políticas do artigos aplicáveis
ao ensino superior,
Estado brasileiro como também suas opções ideológicas”. Ou seja,
sendo destinado
o que está contido na lei é uma opção por um modelo educacional e todo um capítulo,
acompanhado de escolha para o seu funcionamento e ordenação. o IV, à educação
superior, os artigos
Na LDB, além dos dispositivos referentes à educação em geral, há 43 ao 57.
também alguns artigos aplicáveis ao ensino superior, sendo destinado
todo um capítulo, o IV, à educação superior, os artigos 43 ao 57. Ali são
estabelecidos:

[...] suas finalidades (art. 43), definidos seus cursos e


programas (art. 44) – estabelecendo-se que ela será ministrada
em instituições de ensino superior públicas ou privadas,
com variados graus de abrangência ou especialização
(art. 45) – regulamentados os processos de autorização e
reconhecimento dos cursos (art. 46), definido o ano letivo
regular (art. 47); trata da emissão dos diplomas (art. 48), das
regras de transferências de alunos (art. 49), da disponibilidade
das vagas não preenchidas para alunos não regulares (art. 50),
das normas de seleção e admissão dos alunos (art. 51), das
características que as instituições devem ter em função de seu
perfil formativo pluridisciplinar (art. 52), do regime jurídico e de
carreira docente do pessoal das universidades públicas e do

87
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

compromisso da União em assegurar recursos orçamentários


suficientes para a manutenção das instituições federais (art. 55).
No art. 56, determina-se que as instituições públicas de ensino
superior “obedecerão ao princípio da gestão democrática,
assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos,
de que participarão os segmentos da comunidade institucional,
local e regional”. E o artigo 57 estabelece que ‘o professor das
IES públicas ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais
de aulas’ (SEVERINO, 2008, p. 80).

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, criou novas


regras de funcionamento do ensino superior, tais como: a obrigatoriedade da
frequência de professores e alunos nos cursos, exceto na modalidade à distância;
a deliberação das IES quanto às normas de seleção; a obrigatoriedade em ofertar
cursos noturnos nas instituições públicas; o cumprimento do período letivo de 200
dias; a oferta de informações obrigatórias disponíveis para os alunos antes de
cada período letivo; e a exigência de que os docentes do ensino superior tenham
pós-graduação, preferencialmente o mestrado e o doutorado (NEVES, 2002).

Outra questão que foi redefinida pela nova Lei de Diretrizes e Bases
Nacional, diz respeito ao sistema educativo brasileiro de forma geral, onde foram
estabelecidos desde os níveis de ensino escolares, as modalidades de educação
e também as respectivas finalidades.

Em relação aos níveis de ensino, estes se dividem em: Educação Básica,


cujo objetivo é o desenvolvimento do educando, assegurando-lhe a formação
mínima indispensável para o aprendizado da cidadania e fornecendo-lhe meios
para prosseguir no trabalho e também em estudos posteriores. A Educação Básica
é formada por três estágios: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
médio. Já o outro nível de ensino é a Educação Superior, composta basicamente
por cursos de graduação, cursos de pós-graduação lato sensu — especialização
– e Programas de pós-graduação — mestrados e doutorados. Devendo este
nível ser ministrado tanto em instituições públicas ou privadas, tendo vários
graus de abrangência ou especificação, disponíveis para os candidatos que
tenham concluído o ensino médio e admitidos em processo seletivo. Por fim, as
modalidades de educação e ensino são: educação profissional, educação de
jovens e adultos, educação especial, educação a distância, ensino presencial,
ensino semipresencial e educação continuada.

Abarcando um sistema diversificado e complexo de instituições públicas e


privadas com diferentes tipos de cursos e programas, a educação superior no
Brasil, hoje, abrange vários níveis de ensino, desde a graduação até a pós-
graduação lato e stricto sensu. Nesse sentido, Neves (2002, p. 3) aponta para um

88
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

fato importante, a autora assinala que a base da atual estrutura e funcionamento


da educação brasileira teve a sua fixação “[...] com a aprovação da Lei nº
5.540/68, da reforma universitária. Muitas das medidas adotadas pela reforma de
1968 continuam, ainda hoje, a orientar e conformar a organização desse nível de
ensino”.

DAVIES, Nicholas. Legislação Educacional Federal Básica.


São Paulo: Editora Cortez, 2014.

BRZEZINSKI, Iria (Organizadora); BELLONI, Isaura. A Educação


Superior na nova LDB. In: LDB Interpretada: diversos olhares se
entrecruzam. São Paulo: Cortez, 2002. p. 129.

Através da LDB se estabelece que a educação abarca os processos


formativos, desde aqueles que se desenvolvem na família, no trabalho, na
convivência humana, nas instituições de ensino, nos movimentos sociais e
na sociedade civil, e também nas manifestações culturais. A lei estabelece,
prioritariamente, que a educação superior tem por finalidade:

I. estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito


científico e do pensamento reflexivo;
II. formar diplomados, nas diferentes áreas do conhecimento,
aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e
colaborar na sua formação contínua;
III. incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica,
visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e, ainda,
da criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive;
IV. promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade
e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de
outras formas de comunicação;
V. suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural
e profissional e possibilitar a correspondente concretização,
integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa
estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada
geração;
VI. estimular o conhecimento dos problemas do mundo
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
uma relação de reciprocidade;

89
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

VII. promover a extensão, aberta à participação da população,


Outra lei importante
visando à difusão das conquistas e benefícios da criação
neste contexto, cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na
é a de nº 9.131. instituição (STALLIVIERI, 2006, p. 12-13).
Aprovada em
24 de novembro
de 1995, criou o Outra lei importante neste contexto, é a de nº 9.131. Aprovada
Conselho Nacional
em 24 de novembro de 1995, criou o Conselho Nacional de Educação,
de Educação,
composto pelas composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior,
Câmaras de que tem atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao
Educação Básica Ministro da Educação.
e de Educação
Superior

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

O Conselho Nacional de Educação foi criado em 1982, pelo


Decreto-Lei nº 125/82, de 22 de abril, como um órgão superior de
consulta do então Ministro da Educação e das Universidades, com o
objetivo de “propor medidas que [garantissem] a adequação permanente
do sistema educativo aos interesses dos cidadãos portugueses”.

Em 1987, na sequência da publicação da Lei de Bases


do Sistema Educativo, que institui expressamente o conselho no
seu artigo 46º, o Decreto-lei nº 125/82 foi ratificado com alterações
pela Lei nº 31/87, de 9 de julho. Este diploma prevê a matriz que
ainda hoje caracteriza o conselho, isto é, como órgão com funções
consultivas e ampla representatividade, com um elevado grau
de independência e orientado para a formação de consensos. O
presidente deixa de ser um representante do Ministro e passa a
ser eleito pela Assembleia da República por maioria absoluta dos
deputados com efetividade de funções. Desgovernamentaliza-
se a composição do conselho, passando a alargar-se o seu
âmbito de representatividade a outros agentes da sociedade.

No ano seguinte, em 1988, são promovidos alguns ajustamentos


que a prática aconselhou, nomeadamente os que se relacionam com
o funcionamento da Comissão Permanente (Decreto-Lei nº 89/88, de
10 de março) e os que decorrem da constituição de um Conselho
Administrativo que permite operacionalizar as competências
que lhe advêm do seu estatuto de autonomia administrativa
e financeira (Decreto-Lei nº 423/88, de 14 de novembro).

90
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

Outros ajustamentos são introduzidos em 1991, 1996, 2005 e


2009, mas sem que se tivesse alterado a matriz de 87, instituída pela
Assembleia da República.

Fonte: Disponível em: <http://www.cnedu.pt/pt/apresentacao/


historial>. Acesso em: 20 jul. 2016.

Atividade de Estudos:

1) Conforme estudamos nesta seção, vimos que na LDB existem


alguns artigos relativos à educação superior, os artigos 43 ao 57.
A partir da leitura destes artigos faça um pequeno resumo.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Organizações de Coordenação da
Educação Superior
O órgão mais importante no sistema educacional brasileiro é o O órgão mais
Ministério da Educação (MEC). Ministério do poder público federal importante no
responsável pelo campo da educação, tem nas suas atribuições sistema educacional
a formulação e a avaliação da política nacional de educação, a brasileiro é o
Ministério da
observância pela qualidade do ensino superior e a garantia do
Educação (MEC).
cumprimento das leis que o regem. As áreas de sua abrangência dizem
respeito à política nacional de educação; à educação básica, educação geral,
desde a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio, a educação
tecnológica, a educação superior, a educação de jovens e adultos, a educação
especial, educação profissional e a educação a distância. Também a avaliação, a

91
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

informação e a pesquisa de todo o sistema educacional. No que tange ao sistema


de ensino superior, o Ministério da Educação é o órgão que faz a coordenação do
controle normativo do sistema, o financiamento das instituições de ensino superior
públicas federais (as IFES) e também a fiscalização e avaliação destas, quanto
das IES, de caráter privado.

Outro órgão bastante significativo na coordenação do ensino no Brasil, aqui


já referido, é o Conselho Nacional de Educação. Estabelecido a partir da Lei nº
9.131/95, substitui o extinto Conselho Federal de Educação. Ele é responsável
por ações normativas, deliberativas e de assessoria ao Ministério da Educação.
O atual Conselho Nacional de Educação é composto por duas Câmaras: a do
Ensino Básico e a do Ensino Superior, sendo que cada uma é composta por 12
conselheiros, onde a metade deles são indicados pelo Presidente da República
e os outros são compostos por representantes da sociedade civil. Neste sentido:

Especificamente em relação à composição da Câmara de


Educação Superior, definiu-se que metade dela devia ser
composta por conselheiros indicados a partir de uma lista
formulada por entidades nacionais, públicas e particulares
‘que congreguem os reitores de universidades, diretores de
instituições isoladas, docentes, estudantes e segmentos
representativos da sociedade civil’, conforme o artigo 8º da
Lei nº 9.135/95. Os outros conselheiros são indicados pelo
Presidente da República, incluindo o Secretário de Educação
Superior – membro nato dessa instituição.

A Câmara de Educação Superior tem as seguintes atribuições


de caráter deliberativo e de assessoramento ao MEC:
analisar e emitir pareceres sobre os processos de avaliação
da educação superior; deliberar sobre o reconhecimento de
cursos de graduação, mestrado e doutorado, assim como o
credenciamento/recredenciamento de IES; analisar questões
relativas à aplicação da legislação referente à educação
superior; deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas
pelo MEC para os cursos de graduação; oferecer sugestões
para a elaboração do Plano Nacional de Educação e
acompanhar sua execução; e deliberar sobre os estatutos das
universidades e o regimento das demais instituições (NEVES,
2002, p. 6).
O Instituto Nacional
de Estudos
e Pesquisas Existem mais dois organismos importantes no que tange à
Educacionais Anísio
coordenação do ensino superior no país, são eles: o Instituto Nacional
Teixeira (INEP)
e a Fundação de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a
Coordenação de Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Aperfeiçoamento Superior (CAPES). O INEP é
de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).

92
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

[...] uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação


(MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações
sobre o Sistema Educacional Brasileiro com o objetivo de
subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas
para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e
equidade, bem como produzir informações claras e confiáveis
aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral
(INEP, 2015).

O INEP, com a Lei nº 9.948/97, foi transformado em autarquia federal,


passando a assumir um papel estratégico para a educação: o de gerar informações
a partir da avaliação da educação básica e superior. Dessa forma, atualmente o
INEP vem tendo um papel importante para o acompanhamento da qualidade do
ensino em todos os níveis e modalidades, visto que realiza há algum tempo três
tipos de avaliações, todas implantadas a partir da década de 1990, são elas:

a) Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)

É a avaliação da educação básica, realizada em larga escala desde 1995. De


acordo com o próprio INEP, “o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),
conforme estabelece a Portaria nº 931, de 21 de março de 2005, é composto por
dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação
Nacional do Rendimento Escolar (ANRSC)”.

A ANEB é realizada por amostragem das Redes de Ensino, em


cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos sistemas
educacionais. Por manter as mesmas características, a ANEB recebe
o nome de SAEB em suas divulgações.

A ANRESC é mais extensa e detalhada que a ANEB e tem foco


em cada unidade escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome
de Prova Brasil em suas divulgações.

Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016.

93
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

b) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

Criado em 1988, este conhecido exame tem como objetivo avaliar as


competências e o resultado educacional dos alunos ao final do Ensino Médio.
É tido como um instrumento formidável na avaliação desse nível de ensino e
atualmente seus resultados se constituem em critério de seleção para ingressar
em muitas instituições de ensino superior do Brasil.

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998


com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da
educação básica, buscando contribuir para a melhoria da qualidade
desse nível de escolaridade.

A partir de 2009, passou a ser utilizado também como mecanismo


de seleção para o ingresso no ensino superior. Foram implementadas
mudanças no exame que contribuem para a democratização das
oportunidades de acesso às vagas oferecidas por Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e
para induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio.

Respeitando a autonomia das universidades, a utilização dos


resultados do ENEM para acesso ao ensino superior pode ocorrer
como fase única de seleção ou combinado com seus processos
seletivos próprios.

O ENEM também é utilizado para o acesso a programas


oferecidos pelo Governo Federal, como o Programa Universidade
para Todos – ProUni.

Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016.

c) Exame Nacional de Cursos

Conhecido popularmente como “Provão”, foi instituído em 1995, pela Lei nº


9.131/95. O mesmo faz parte das avaliações periódicas das instituições de ensino
superior. Seu objetivo principal é o de avaliar os conhecimentos e habilidades

94
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

adquiridos pelos estudantes ingressantes e concluintes das áreas e cursos a


serem avaliados pelo ENADE. Dessa maneira, com o uso desse instrumento, se
torna possível fazer a avaliação comparativa entre a performance de um mesmo
curso oferecido em diferentes IES, além, é claro, de acompanhar a evolução do
desempenho dos cursos dentro de uma escala de tempo.

E de acordo com o INEP:

O Exame Nacional de Cursos (ENC-Provão) foi um exame


aplicado aos formandos, no período de 1996 a 2003, com o objetivo
de avaliar os cursos de graduação da Educação Superior, no que
tange aos resultados do processo de ensino-aprendizagem.

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE)


é um dos procedimentos de avaliação do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior (SINAES), criado pela Lei nº 10.861,
de 14 de abril de 2004.

O objetivo do ENADE é avaliar e acompanhar o processo de


aprendizagem e o desempenho acadêmico dos estudantes em
relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes
curriculares do respectivo curso de graduação; suas habilidades para
ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento
e competências para compreender temas exteriores ao âmbito
específico da profissão escolhida, ligados à realidade brasileira e
mundial e a outras áreas do conhecimento. 

Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016.

d) CAPES

Por sua vez, a CAPES que foi criada em 1951, e em 1992 instituída como
fundação, constitui-se numa agência de fomento da pós-graduação. Auxilia
o Ministério da Educação na formulação de políticas para a pós-graduação,
“coordenando e estimulando a formação de recursos humanos altamente
qualificados para a docência em grau superior, a pesquisa e o atendimento
da demanda por profissionais dos setores públicos e privados”. Tem também

95
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

algumas finalidades de suma importância para a pós-graduação no país, tais


como: “elaborar planos de atuação setoriais ou regionais; promover estudos e
avaliações, necessários ao desempenho de suas atividades; apoiar o processo de
desenvolvimento científico e tecnológico nacional” (NEVES, 2002, p. 9). Manter
também o intercâmbio e o contato com os demais setores da Administração
Pública ou de entidades privadas do Brasil ou de outros países.

Veja a seguir um pouco do que é a missão desse importante organismo para


a educação superior do Brasil.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação (MEC),
desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da
pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os
estados da federação.

Em 2007, passou também a atuar na formação de professores


da educação básica ampliando o alcance de suas ações na formação
de pessoal qualificado no Brasil e no exterior.

As atividades da CAPES podem ser agrupadas nas seguintes


linhas de ação, cada qual desenvolvida por um conjunto estruturado
de programas:

• avaliação da pós-graduação stricto sensu;


• acesso e divulgação da produção científica;
• investimentos na formação de recursos de alto nível no país e
exterior;
• promoção da cooperação científica internacional;
• indução e fomento da formação inicial e continuada de
professores para a educação básica nos formatos presencial e
a distância.

A CAPES tem sido decisiva para os êxitos alcançados pelo


sistema nacional de pós-graduação, tanto no que diz respeito à
consolidação do quadro atual, como na construção das mudanças
que o avanço do conhecimento e as demandas da sociedade exigem.

96
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

O sistema de avaliação, continuamente aperfeiçoado, serve


de instrumento para a comunidade universitária na busca de um
padrão de excelência acadêmica para os mestrados e doutorados
nacionais. Os resultados da avaliação servem de base para a
formulação de políticas para a área de pós-graduação, bem como
para o dimensionamento das ações de fomento (bolsas de estudo,
auxílios, apoios).

Fonte: Disponível em: <http://www.capes.gov.br>. Acesso em: 23 jul. 2016.

Outro ponto importante que muitos querem saber sobre o ensino superior
brasileiro é como acontece a classificação das instituições de ensino e quais os
tipos de cursos de graduação e pós-graduação que existem. Como já foi dito aqui,
a organização do sistema brasileiro de ensino superior é complexo e é regido pela
LDB. O mesmo classifica-se de acordo com o tipo de financiamento, as instituições
e sua organização acadêmica, deliberadas em lei pelo Decreto nº 3.860 de 9 de
julho de 2001, que de acordo com Stallivieri (2006), são:

Universidades – De acordo com a Constituição Federal, as


universidades devem obedecer ao princípio da indissociabilidade
do ensino, pesquisa e extensão. Tal exigência não existe para as
outras formas institucionais de Ensino Superior, de acordo com a
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996. A LDB também dita que
as universidades são instituições pluridisciplinares de formação de
quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, investigação,
extensão, domínio e cultivo do saber humano. Devem possuir: I.
produção intelectual institucionalizada, mediante o estudo sistemático
dos temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científico
e cultural, quanto das necessidades de nível regional e nacional; II.
um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de
mestrado e doutorado; III. um terço do corpo docente em regime de
tempo integral. A universidade tem autonomia didática e científica,
bem como autonomia administrativa e de gerenciamento de recursos
financeiros e do patrimônio institucional.

Centros Universitários – Os centros universitários são


instituições multicurriculares que oferecem educação de excelência

97
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

e têm autonomia em seus cursos e programas de educação superior.


Eles têm autonomia semelhante à das universidades, no sentido de
estar dispensados de solicitar autorização para abertura de novos
cursos, no entanto não são obrigados a efetivar a realização de
pesquisas.

Os centros universitários deverão comprovar elevada qualidade


no ensino, o que deve incluir não só uma infraestrutura adequada,
mas titulação acadêmica do corpo docente ou relevante experiência
profissional na respectiva área. Deverão comprovar, também, a
inserção e as práticas investigativas na própria atividade didática, de
forma a estimular a capacidade de resolver problemas e o estudo
autônomo por parte dos estudantes, assim como o constante
aperfeiçoamento e atualização do corpo docente.

Faculdades integradas, faculdades e institutos de educação


superior – As faculdades integradas e as faculdades são instituições
multicurriculares organizadas para atuar de uma maneira comum
e sob um regime unificado. São instituições de um só plano de
estudos diretamente sob o controle de uma administração central.
Já os institutos de educação superior são instituições voltadas para a
formação de professores.

As faculdades integradas, faculdades isoladas, escolas


superiores e institutos superiores não gozam de autonomia e devem
solicitar autorização ao poder público e ao Ministério de Educação,
para a abertura de um a um de seus novos cursos.

Fonte: Stallivieri (2006, p. 15-16).

Além das características administrativas e da organização acadêmica do


sistema de Ensino Superior no Brasil descritas acima, é essencial
Assim, no artigo conhecer também os tipos de cursos superiores oferecidos pelas
44 da LDB, ficam instituições de ensino que são ofertados pelas instituições que
definidos os tipos de
compõem o sistema.
cursos e programas
que a educação
superior abrange, Assim, no artigo 44 da LDB, ficam definidos os tipos de cursos e
esses são os programas que a educação superior abrange, esses são os seguintes:
seguintes:

98
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

I. sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis


de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino;
II. de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído
o ensino médio ou equivalente, ou tenham sido classificados
em processo seletivo;
III. de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado
e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento
e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de
graduação e que atendam às exigências das instituições de
ensino;
IV. de extensão, abertos a candidatos que atendem aos
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
ensino (BRASIL, 1996).

Os cursos de pós-graduação, que compreendem programas de


especialização, mestrado e doutorado, têm as seguintes características: os cursos
de especialização dão direito ao título de especialista “na área de conhecimento
escolhida e geralmente são concluídos com 360 horas de estudos presenciais”
ou na modalidade a distância. Eles não estão “sujeitos à supervisão e
Existem também
avaliação da CAPES, nem há autorização ou reconhecimento externos dois tipos de cursos
à instituição” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). Compete às instituições de mestrado.
e seus órgãos responsáveis concederem a autorização para a oferta O mestrado
destes cursos. profissional é um
“curso de mestrado
que enfatiza
Existem também dois tipos de cursos de mestrado. O mestrado estudos e técnicas
profissional é um “curso de mestrado que enfatiza estudos e técnicas diretamente voltadas
ao desempenho
diretamente voltadas ao desempenho de um alto nível de qualificação
de um alto nível
profissional” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). Este destaque na qualificação de qualificação
profissional é a diferença principal em relação ao mestrado acadêmico. profissional”.
“O mestrado profissional confere o mesmo grau e prerrogativa, inclusive
para o exercício da docência, e como todo o programa de pós-graduação Já o mestrado
stricto sensu tem a validade nacional do diploma condicionada ao acadêmico, o
mais comum
reconhecimento prévio do curso” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). E por que
dos mestrados,
a criação do mestrado profissional? Ele responde a uma necessidade é destinado,
definida socialmente relativa à capacitação profissional com uma especialmente,
natureza diversa pelo mestrado acadêmico, não se contrapondo à oferta para quem deseja
e expansão desta modalidade de curso. Já o mestrado acadêmico, o seguir a carreira
mais comum dos mestrados, é destinado, especialmente, para quem de professor no
ensino superior e
deseja seguir a carreira de professor no ensino superior e realizar
realizar pesquisas
pesquisas acadêmicas. acadêmicas.

Quanto à carga horária dos cursos de mestrado no Brasil, “geralmente são


concluídos em dois anos e, ao final, para ter direito à obtenção do título de mestre,

99
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

os concluintes devem apresentar uma dissertação sobre determinado tema, a qual


será defendida na presença de especialistas em banca pública”. Por último, temos
os cursos de doutorado, que são desenvolvidos por “períodos maiores de tempo
e, ao concluírem, os alunos devem defender um tema de caráter inédito, ou seja,
apresentam uma tese inovadora sobre determinado assunto” (STALLIVIERI, 2006,
p. 17). Exige-se a defesa de uma tese ao término, que é realizada publicamente e
aprovada por uma banca, ao final o concluinte recebe o título de doutor.

Há também uma série de organismos não governamentais que operam em


âmbito nacional e que, de forma direta ou indireta, intervêm nos rumos e políticas
da educação superior em nosso país. Tais como:

• CRUB – Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras.


• ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Instituições
Superiores.
• ABRUC – Associação Brasileira das Universidades Comunitárias.
• ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais
de Ensino Superior.
• ANUP – Associação Nacional das Universidades Privadas.
• ANACEU – Associação Nacional dos Centros Universitários.

Atividades de Estudos:

1) Um dos órgãos mais importantes no sistema educacional brasileiro


é o Ministério da Educação (MEC). E de acordo com o estudado
aqui, escreva com suas palavras qual a responsabilidade deste
Ministério para a educação brasileira.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Existem dois organismos importantes no que tange à coordenação


do ensino superior no país, são eles: o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a
Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Faça uma pequena descrição destes dois
organismos.

100
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) A partir do que foi estudado, faça uma diferenciação entre


mestrado profissional e mestrado acadêmico.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

As Atuais Políticas Públicas para o


Ensino Superior do Brasil
Pelo menos desde a última década em nosso país, está acontecendo um
processo bastante significativo de democratização relativo ao acesso de um
número cada vez maior de jovens matriculados em instituições de ensino superior
público e privado. Atento à busca desse acesso e à inclusão dos jovens ao ensino
superior de qualidade, o Governo Federal vem canalizando esforços necessários
para viabilizar isso através de algumas políticas públicas, desde o conhecido Pro-
Uni, o FIES e até a política de cotas.

O Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado a partir da O Programa


MP nº 213/2004 e institucionalizado pela lei nº 11.096/2005, tem tido Universidade Para
um alcance amplo no contexto do ensino superior brasileiro. Maneira Todos (ProUni),
bastante simples e eficaz, usado para a ampliação do acesso da criado a partir da
população de baixa renda excluída por séculos do ensino superior em MP nº 213/2004 e
institucionalizado
nosso país, o mesmo foi criado no primeiro mandato do Presidente Luís
pela lei nº
Inácio Lula da Silva. Esse programa consiste em concessão de bolsas 11.096/2005,
de estudos – integrais e parciais – para estudantes de baixa renda, em
instituições privadas de ensino superior. O programa é visto por especialistas em
política pública, de grande estímulo para expansão do ensino superior no país na
última década.

101
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

O ProUni nada mais é do que uma “política de ação afirmativa desenvolvida


pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e tem sua lógica interna de inclusão
socioeducativa associada à política de renúncia fiscal pela União”, que destina
“bolsas de estudos em instituições de ensino superior privada, para parcela da
população caracterizada pela sua situação socioeconômica, etnia e cultura”
(COELHO; MAUCH, 2012, p. 7).

Possuindo ainda políticas de ações afirmativas para estudantes pretos,


pardos, indígenas e também aos portadores de deficiência, o ProUni, que é um
programa de subsídio do governo federal, oferece duas modalidades de bolsa:
“a integral, para estudantes que possuem renda bruta familiar per capita de
até um salário mínimo e meio; e a parcial, de 50%, para estudantes com renda
bruta familiar per capita de até três salários mínimos” (CARMO, 2014, p. 315).
Para concorrer ao ProUni, é imprescindível ter realizado o ENEM e obtido uma
pontuação mínima que é estabelecida pelo programa. Dessa forma, as notas do
ENEM são usadas como um dos critérios de repartição das bolsas. Outro critério
importante para se obter a bolsa do programa é o de ter feito todo o ensino médio
em escola pública ou então em escola particular na condição de bolsista. O ProUni
também pode beneficiar os professores que atuam na rede pública de ensino, que
optarem em fazer um curso de licenciatura na sua área de atuação.

O QUE É O PROUNI

É um programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo


Federal em 2004, que oferece bolsas de estudo integrais e parciais
(50%) em instituições privadas de educação superior, em cursos
de graduação e sequenciais, de formação específica a estudantes
brasileiros sem diploma de nível superior.

Podem participar:

• Estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da


rede particular na condição de bolsistas integrais da própria
escola.
• Estudantes com deficiência.
• Professores da rede pública de ensino, no efetivo exercício
do magistério da educação básica, integrantes de quadro de
pessoal permanente de instituição pública. Nesse caso, não é
necessário comprovar renda.

102
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

Para concorrer às bolsas integrais, o candidato deve comprovar


renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até um salário mínimo e
meio. Para as bolsas parciais (50%), a renda familiar bruta mensal
deve ser de até três salários mínimos por pessoa.

Fonte: Disponível em: <http://siteprouni.mec.


gov.br/>. Acesso em: 25 jul. 2016.

Outro programa bastante significativo para o acesso ao ensino superior é o


FIES. Não sendo necessariamente um programa oriundo do período de
valorização e expansão do ensino superior do qual estamos falando, Outro programa
mas foi nesse período que passou por suas maiores modificações bastante significativo
para o acesso ao
para harmonizar-se às demandas da sociedade por políticas públicas
ensino superior é o
destinadas ao acesso à educação universitária. Mas, do que trata esse FIES.
programa chamado FIES? O FIES é um programa de financiamento
da educação superior para estudantes que estão matriculados em instituições
privadas de ensino. A quem se destinam os financiamentos? Os financiamentos
são designados aos alunos matriculados em cursos que “tenham sido avaliados
de forma positiva pelos processos conduzidos pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)” (CARMO, 2014, p. 318),
organismo que subsidia as políticas educacionais do Ministério da Educação
(MEC) através de avaliações.

Dessa forma, desde 2010, o FIES

[...] passou a ser operado pelo Fundo Nacional de


Desenvolvimento da Educação (FNDE), quando os juros
foram reduzidos e o pedido de financiamento foi liberado para
estudantes em qualquer período do ano. Pelas atuais regras
do FIES, o estudante paga, durante o período de duração do
curso, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50,00. Após
a conclusão do curso, ele tem dezoito meses de carência e,
nesse período, continua pagando, a cada três meses, o valor
máximo de R$ 50,00. Este pagamento é referente aos juros
incidentes sobre o financiamento. Encerrado esse período de
carência, o saldo devedor é parcelado em até três vezes o
período financiado e acrescido de doze meses. Isso significa
que o aluno que contou com o financiamento por quatro anos
terá dezoito meses depois de concluído o curso, treze anos
para pagamento do débito com parcelas mensais (CARMO,
2014, p. 318).

103
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

O QUE É O FIES?

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa


do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na
educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores
não gratuitos na forma da Lei nº 10.260/2001. Podem recorrer ao
financiamento os estudantes matriculados em cursos superiores que
tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério
da Educação.

Em 2010, o FIES passou a funcionar em um novo formato: a


taxa de juros do financiamento passou a ser de 3,4% a.a., o período
de carência passou para 18 meses e o período de amortização para
3 (três) vezes o período de duração regular do curso + 12 meses. O
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a
ser o Agente Operador do Programa para contratos formalizados a
partir de 2010. Além disso, o percentual de financiamento subiu para
até 100% e as inscrições passaram a ser feitas em fluxo contínuo,
permitindo ao estudante solicitar o financiamento em qualquer
período do ano.

A partir do segundo semestre de 2015, os financiamentos


concedidos com recursos do Fies passaram a ter taxa de juros
de 6,5% ao ano com vistas a contribuir para a sustentabilidade do
programa, possibilitando sua continuidade enquanto política pública
perene de inclusão social e de democratização do ensino superior.
O intuito é de também realizar um realinhamento da taxa de juros
às condições existentes no cenário econômico e à necessidade de
ajuste fiscal.

Fonte: Disponível em: <http://sisfiesportal.mec.gov.


br/?pagina=fies>. Acesso em: 25 jul. 2016.

104
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

A mais recente das medidas de democratização para o acesso ao


ensino superior no Brasil, que na verdade é um debate antigo, refere- A mais recente
das medidas de
se à reserva de vagas nas instituições públicas para os estudantes
democratização
procedentes de escolas públicas, além, é claro, das já consolidadas para o acesso ao
cotas raciais e étnicas. ensino superior
no Brasil, que na
verdade é um
Esta medida visa promover o acesso ao ensino debate antigo,
superior e ao ensino técnico em nível médio à
refere-se à reserva
população historicamente menos favorecida. A Lei
nº 12.711 de 2012, a Lei de Cotas (Brasil, 2012), de vagas nas
prevê que metade das vagas de todos os cursos instituições públicas
e turnos das instituições federais seja reservada a para os estudantes
alunos que estudaram todo o nível médio em escola procedentes de
pública. Uma parte dessas vagas é reservada a escolas públicas.
pardos, negros e índios, outra parte aos estudantes
com renda familiar igual ou menor que 1,5 salário mínimo per
capita (CARMO, 2014, p. 321).

Na verdade, já havia uma divisão visivelmente equilibrada nas universidades


públicas anteriores à Lei de Cotas. Segundo dados levantados pela Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES),
44,8% dos estudantes universitários federais matriculados no ano de 2011,
haviam cursado todo o ensino médio nas escolas públicas (CARMO, 2014).
Assim, a Lei da Política de Cotas só veio oficializar uma prática de certa maneira
institucionalizada no ensino superior público brasileiro.

PERGUNTAS FREQUENTES

1. O que é a lei de cotas?

A Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano,


garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59
universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e
tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público,
em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais
50% das vagas permanecem para ampla concorrência.

2. A lei já foi regulamentada?

Sim, pelo Decreto nº 7.824/2012, que define as condições gerais de


reservas de vagas, estabelece a sistemática de acompanhamento das

105
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

reservas de vagas e a regra de transição para as instituições federais


de educação superior. Há, também, a Portaria Normativa nº 18/2012, do
Ministério da Educação, que estabelece os conceitos básicos para aplicação
da lei, prevê as modalidades das reservas de vagas e as fórmulas para
cálculo, fixa as condições para concorrer às vagas reservadas e estabelece
a sistemática de preenchimento das vagas reservadas.

3. Como é feita a distribuição das cotas?

As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas da instituição)


serão subdivididas — metade para estudantes de escolas públicas com
renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio per
capita e metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar
superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será
levado em conta o percentual mínimo correspondente ao da soma de
pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo
demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

4. A lei deverá ser aplicada imediatamente?

Sim, mas gradualmente. Em 2013 terão de ser reservadas, pelo


menos, 12,5% do número de vagas ofertadas atualmente. A implantação
das cotas ocorrerá de forma progressiva ao longo dos próximos quatro
anos, até chegar à metade da oferta total do ensino público superior
federal.

5. Como as universidades que já tiveram edital de vestibular


publicado devem agir?

As universidades que já publicaram seus editais para o vestibular


terão de fazer novas chamadas.

6. A lei vale para quem estudou em colégios militares também?

Sim, vale para todas as escolas públicas de ensino médio. O


conceito de escola pública se baseia na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), Lei nº 9394/96, art. 19, inciso I:

“Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-


se nas seguintes categorias administrativas:

I – públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,

106
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

mantidas e administradas pelo Poder Público”.

7. Quem obteve certificação do ensino médio pelo Enem


poderá entrar pela reserva de vagas?

Para ser considerado egresso de escola pública, o estudante


deve ter cursado o ensino médio em escola pública ou ter obtido
certificação do Enem, Encceja e demais realizadas pelos sistemas
estaduais, tendo cursado o ensino fundamental em estabelecimento
público. O estudante não pode ter cursado em escola particular em
nenhum momento.

8. Quem concorrer pelas cotas também poderá entrar pela


ampla concorrência?

Nos primeiros quatro anos de implementação da lei, os


estudantes cotistas devem disputar vagas tanto pelo critério de cotas
quanto pelo de ampla concorrência, já que as vagas serão oferecidas
gradativamente. A partir de quatro anos, a permanência desse
modelo ficará a critério de cada instituição de ensino.

9. As cotas valerão para vestibulares tradicionais e para o


Sisu?

Sim, a lei já valerá para os próximos vestibulares das instituições


e também na próxima edição do Sistema de Seleção Unificada
(Sisu) do Ministério da Educação. As instituições federais de ensino
que adotarem diferentes processos seletivos precisam observar as
reservas de vagas em cada um destes processos.

10. Como será comprovada cor e renda declarados pelos


candidatos?

O critério da raça será autodeclaratório, como ocorre no censo


demográfico e em toda política de afirmação no Brasil. Já a renda
familiar per capita terá de ser comprovada por documentação, com
regras estabelecidas pela instituição e recomendação de documentos
mínimos pelo MEC.

11. No critério racial, haverá separação entre pretos, pardos


e índios?

Não. No entanto, o MEC incentiva que universidades e institutos

107
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

federais localizados em estados com grande concentração de


indígenas, adotem critérios adicionais específicos para esses povos,
dentro do critério da raça, no âmbito da autonomia das instituições.

12. Como o governo federal vai garantir a permanência dos


estudantes cotistas na universidade?

A política de assistência estudantil será reforçada. No


orçamento de 2013 já está previsto um aumento para o Programa
Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Serão investidos,
pelo menos, R$ 600 milhões em assistência estudantil em 2013. O
MEC está articulando com os reitores a política de acolhimento dos
alunos cotistas, que também gira em torno da política de tutoria e
nivelamento.

13. Universidades que já têm programas de cotas terão de


mudar?

Podem ser mantidas as iniciativas já existentes, desde que as


exigências da lei, ou seja, 12,5% das vagas, sejam implementadas
conforme o Congresso Nacional estabeleceu. Então, no mínimo,
esses 12,5% têm que corresponder integralmente aos critérios da
lei. A partir desse 12,5%, podem ser criados critérios adicionais. A
Lei de Cotas determina o mínimo de aplicação das vagas, mas as
universidades federais têm autonomia para, por meio de políticas
específicas de ações afirmativas, instituir reservas de vagas
suplementares.

14. Haverá algum tipo de acompanhamento da implementação


da lei?

Sim. O acompanhamento ficará a cargo de um comitê composto


por representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da Fundação
Nacional do Índio (Funai), com a participação de representantes de
outros órgãos e entidades e da sociedade civil.

Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cotas/perguntas-


frequentes.html>. Acesso em: 25 jul. 2016.

108
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

Por fim, é notório lembrar que o rumo das atuais políticas públicas
destinadas à educação superior no Brasil passa, essencialmente, pelo Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE). Entre os principais objetivos ensejos do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), destacam-se:

• Expandir a oferta de educação superior para jovens de 18 a 24 anos, entre


o período de 2011 a 2020 em pelo menos 33%.
• Expandir a educação superior para que 40% das matrículas estejam nas
instituições públicas.
• Elevar o volume de recursos financeiros aplicados em educação para
atingir o patamar de 10% do PIB (CARMO, 2014, p. 317).

PORTO, Claudio; RÉGNIER, Karla. O ensino superior no


mundo e no Brasil: condicionantes, tendências e cenários para o
horizonte 2003-2025: uma abordagem exploratória. Brasília, DF,
2003. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/
ensinosuperiormundobrasiltendenciascenarios2003-2025.pdf>.
Acesso em: 2 nov. 2007.

TRANSFORMAÇÕES EM CURSO NO ENSINO SUPERIOR

Mudança na estrutura do setor de educação superior

As transformações que ocorrem no âmbito do setor da Educação


Superior implicam igualmente no surgimento de novos protagonistas,
que não apenas concorrem com as universidades tradicionais, mas
que também lhes servem de complementos e parceiros, destacando-
se os seguintes atores:

• Universidades corporativas, patrocinadas ou administradas


por grandes empresas, visando à aprendizagem contínua e
especializada de seus quadros.

• Empresas instrucionais – instituições terceirizadas que


prestam serviços às universidades no próprio domínio do

109
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

ensino superior em nichos especializados do conhecimento,


dos processos pedagógicos ou da clientela, através de
contratos definindo indicadores e metas de resultados e as
condições desejadas de ensino-aprendizagem.


Entidades de Intermediação, cuja função é fazer a
ponte entre os provedores de educação superior e os
“consumidores”, visando apoiar, inclusive financeiramente,
os futuros alunos, fornecer-lhes orientação e informações
relevantes e certificar o conhecimento por eles adquiridos.
Podem ainda atuar na defesa dos interesses dos alunos,
mobilizando estudantes e negociando cursos específicos e
descontos junto às instituições de ensino, além de promover a
busca de emprego e trabalho para os concluintes.

• Organizações não tradicionais – entrada no setor de


novos tipos de protagonistas, oriundos de outros segmentos
da economia, tais como empresas de telecomunicação, de
informática e informação, de entretenimento, bem como
organizações governamentais e do “terceiro setor” engajadas
na educação, treinamento e desenvolvimento profissional.

Embora tradicionalmente tais instituições tenham sido


consideradas basicamente como fornecedoras ou clientes do sistema
de educação superior, devem passar a ser vistas agora como parte
dele e, portanto, como colaboradoras e/ou competidoras potenciais.

Mudanças nas relações da universidade com a sociedade

À medida que a universidade, além dos papéis clássicos de


ensino, pesquisa e extensão, tem desempenhado outras funções
de interesse da sociedade (serviços de saúde e assistência,
desenvolvimento econômico, entretenimento etc.), as barreiras que
a protegiam das invasões de agentes políticos e econômicos estão
sendo derrubadas. Assim, as universidades, como instituição, estão
se tornando cada vez mais visíveis e vulneráveis e menos protegidas
diante dos agentes da sociedade, requerendo, portanto, novas
formas de interação e inserção com o ambiente externo.

Mudança na natureza da prestação dos serviços acadêmicos

A prestação dos serviços de educação superior tende a assumir,


cada vez mais, as seguintes características:

110
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

• Aprendizagem continuada, implicando na necessidade


de as instituições de ensino proporcionarem aos cidadãos
condições e formas de uma aprendizagem continuada por
toda a sua vida profissional, atendendo aos requisitos de uma
sociedade em permanente mudança.


Ausências de fronteiras rígidas entre os serviços,
significando que as diferentes atividades acadêmicas, não
apenas se tornam mais inter-relacionados, mas se fundem
efetivamente.

• Aprendizagem assíncrona (qualquer tempo, qualquer lugar),


quebrando as restrições de tempo e espaço para tornar
as oportunidades de aprendizagem mais compatíveis às
necessidades e estilos de vida das pessoas.

• Serviços bastante diversificados, visando servir a uma


população cada vez mais diferenciada e com inúmeras e
variadas necessidades e objetivos.

Mudança no modo de execução das atividades acadêmicas

A universidade do século XXI será considerada, cada vez mais,


como uma instituição prestadora de serviços do conhecimento
(criação, preservação, integração, transmissão e aplicação), em
qualquer das formas demandadas pela sociedade contemporânea.
Neste contexto, embora seus papéis tradicionais (ensino-pesquisa-
extensão) não devam sofrer alterações fundamentais, seus modos
específicos de execução mudarão significativamente:

• Evolução do atual “modelo artesanal” de produção para um


outro mais próximo da “produção em massa” da era industrial
e com fortes influências do modelo adotado na indústria de
entretenimento.


Os métodos de ensino-aprendizagem e os papéis dos
professores estão submetidos a fortes pressões para
mudança, principalmente em função das novas tecnologias
da teleinformática e do surgimento de uma “geração digital”,
com suas demandas por novos processos e relacionamentos.
Assim, outras formas de ensino, muitos mais interativos e
suportados pelas novas tecnologias, deverão se intensificar,

111
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

com o professor afastando-se da “sala de aula” para


assumir funções de geradores e administradores de novos
experimentos de aprendizagem e de consultores e orientadores
dos alunos, como aliás já ocorre na pós-graduação.

O desenvolvimento da pesquisa também deverá sofrer grandes


alterações. Os processos de criação tornar-se-ão muito mais coletivos
e multidisciplinares, tendo em vista tanto os recursos tecnológicos
disponibilizados, como a natureza dos novos conhecimentos
demandados pela sociedade.

Centrada tradicionalmente na biblioteca e, portanto, suportada


no formato impresso, a preservação do conhecimento talvez seja a
função universitária mais suscetível a mudanças tecnológicas radicais.
A tecnologia da informação – ou mais amplamente a “convergência
digital” das várias mídias – já produz impacto significativo na
preservação, divulgação e acessibilidade do conhecimento,
tornando-se cada vez mais democrático e disponível a todos, não
sendo mais apenas uma prerrogativa ou privilégio da comunidade
acadêmica. Neste contexto, a “biblioteca” da Universidade do Século
XXI, suportada por diferentes mídias, extrapolará de muito suas
atuais funções e seus domínios tradicionais de abrangência.

No campo da extensão, a aplicação dos conhecimentos


continuará a ser ditada, cada vez mais, pelas necessidades e
demandas reais da sociedade. Neste sentido, provavelmente
a extensão constitui a função universitária mais suscetível
às mudanças sociais, devendo sofrer consequentemente
transformações profundas, à medida que a sociedade é transformada
radical e aceleradamente. Dessa forma, a amplitude e diversidade
de aplicação, a velocidade de atendimento e a capacidade de
respostas concretas requeridas exigirão da extensão novos modelos
e processos de produção.

Tendências já consolidadas ou invariantes

1. Declínio das taxas de crescimento demográfico e progressivo


envelhecimento da população.
2. Aceleração da produção científica e tecnológica e mudança
nos padrões de competitividade das nações.
3. Crescente disponibilidade de novas tecnologias para a
educação e crescimento da educação a distância.

112
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

4. Redefinição da estrutura do mercado de trabalho, do


conteúdo do trabalho e das condições de empregabilidade.
5. Crescimento da educação continuada.
6. Consolidação da educação como objeto de aspiração dos
jovens e de suas famílias.

Mudanças em andamento e fatos portadores de futuro

1. Globalização do mercado de trabalho.


2. Incremento nos fluxos internacionais de estudantes.
3. Empresas produtoras de tecnologia atuando como
certificadoras de conhecimento.
4. Desterritorialização e internacionalização da oferta de ensino
superior e serviços associados.
5. Maior presença das universidades corporativas.
6. Novos arranjos institucionais – a criação de universidades
virtuais e a formação de consórcios.
7. Formação de parcerias entre instituições de ensino superior.
8. Acirramento da concorrência e transformação no padrão de
atuação das instituições de ensino superior.
9. Presença de novos atores no campo da educação superior.

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/jjiws3>. Acesso em: 25 jul. 2016.

Atividades de Estudos:

1) Escreva com suas palavras o que é o Programa Universidade


Para Todos (ProUni).
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

113
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

2) Faça um pequeno resumo sobre o que é a lei de cotas.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Algumas Considerações
Ufa! Chegamos ao final do quarto e último capítulo! Percorremos muito chão
até aqui, não é mesmo, caro acadêmico? No entanto, algumas coisas precisam
ser ditas ainda! Nesse sentido, é notório assinalar que a partir da promulgação
da Constituição Federal de 1988 e igualmente com a nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9394/96), observou-se o surgimento de
um aumento significativo nas normas e dispositivos legais inovadores relativos à
educação nacional. Fato que proporcionou aos poucos um novo impulso para a
educação, indo desde o aumento de vagas a uma maior segmentação do ensino
superior.

É lógico que um maior acesso ao ensino superior gera uma expectativa de


maior aumento na qualidade ofertada. Agora é plausível que apesar de algumas
deficiências estruturais e financeiras, atualmente a qualidade educacional
brasileira está bem melhor do que anos atrás. E embora levando em consideração
as crises econômicas e políticas ocorridas no país nas últimas décadas, pode-se
afirmar que mesmo assim, as instituições públicas e privadas estão estabelecendo
um novo sistema educacional.

Nota-se que as modificações que vêm ocorrendo no cenário da educação


superior brasileira estão também acontecendo a nível mundial, e sobretudo nos
países da América Latina. Por fim, podemos concluir afirmando que o nosso país
precisa ainda avançar muito em relação a um maior acesso à educação de nível
superior para uma parcela maior de sua população, e esse acesso será somente
possível com a expansão do número de instituições tanto públicas quanto
privadas.

114
Capítulo 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino
Superior no Brasil

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil,
1988. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1996.

CATANI, A. M. Organização do ensino no Brasil: níveis e modalidades na


Constituição Federal e na LDB. 2. ed. São Paulo: Xamã, 2007.

DAVIES, N. Legislação Educacional Federal Básica. São Paulo: Editora


Cortez, 2014.

BRZEZINSKI, I. (Organizadora); BELLONI, I. A Educação Superior na nova LDB.


In: LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 2002.
p. 129.

CARMO, E. F. Políticas públicas de democratização do acesso ao ensino


superior e estrutura básica de formação no ensino médio regular. Rev. bras.
Estud. Pedagog (on-line), Brasília, v. 95, n. 240, p. 304-327, maio/ago. 2014.

COELHO, V.; MAUCH, P. Gestão financeira pública e privada nas instituições de


ensino superior. In: Observatorio de la Economía Latinoamericana, n. 167,
2012.

INEP. Conheça o Inep. 2015. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/conheca-


o-inep>. Acesso em: 6 abr. 2017.

PUHL, M. J.; DRESCH, Ó. I. O princípio da indissociabilidade entre ensino,


pesquisa e extensão e o conhecimento. Revista Di@logus, v. 5, n. 1, p. 37-55,
2016.

STALLIVIERI, L. O sistema de ensino superior do Brasil: características,


tendências e perspectivas. Caxias do Sul, RS: Universidade de
Caxias do Sul, 2006. Disponível em: <https://sigaa.ufrn.br/shared/
verArquivo?idArquivo=2558185&key>. Acesso em: 15 jun. 2016.

NEVES, C. E. B. A estrutura e o funcionamento do ensino superior no Brasil.


In: SOARES, M. S. A. (Coord.) et al. A educação superior no Brasil. Instituto
Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe
IESALC – Unesco – Caracas. Porto Alegre, nov. 2002. Disponível em: <https://

115
História e Organização do Ensino Superior no Brasil

construindoumaprendizado.files.wordpress.com/2012/11/a-estrutura-e-o-
funcionamento-do-ensino-superior-no-brasil.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2016.

SEVERINO, A. J. O ensino superior brasileiro: novas configurações e velhos


desafios. Educar, Curitiba, n. 31, p. 73-89, 2008.

116

Você também pode gostar