Cartilha OAPar
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CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO
E JUSTIFICATIVA
“A meu ver, isso é o que deveria ser dito à criança pelo Juiz, assumindo ele as
razões de sua decisão ao se referir à lei que está aplicando. É preciso que a
criança saiba que o juiz não faz a lei e que não faz o que quer. O juiz está preso,
seja à lei, seja à lógica de uma situação: assim, adota uma medida que talvez a
criança não deseje, mas que lhe parece a melhor para o desenvolvimento dela.”
Dolto, Françoise.
Quando os pais se separam.
RJ: Zahar ed. 2003, p 138.
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psicóloga e bacharel em Direito, na PUC-RIO. O OAPar surgiu
da preocupação de aprofundar o entendimento sobre o tema, sua
identificação e da necessidade de educar e informar as famílias, o
Poder Judiciário, profissionais de saúde, de educação e sociedade
como um todo sobre os malefícios da Alienação Parental na família.
A iniciativa de elaboração da cartilha foi acolhida e recebeu apoio:
todos unidos pelo objetivo de proteger crianças e adolescentes dos
efeitos ruins da Alienação Parental.
Com essa cartilha, você poderá entender melhor a Alienação Paren-
tal (AP) e seu impacto sobre a vida das famílias: (i) derrubaremos os
mitos que envolvem o tema da AP; (ii) explicaremos o que é; (iii)
como ela se manifesta; (iv) como agir quando ela se apresenta. #medeixasereu
E por que você deveria conhecer a AP? Nessa cartilha você vai desco-
brir que a AP é uma forma de violência psicológica contra crianças
e adolescentes. Combater a AP é defender o direito que cada criança
e cada adolescente tem de amar e dizer que ama sua própria família.
É dever de cada pessoa na nossa sociedade proteger as crianças e os
adolescentes.
Vamos então desvendar esse fenômeno chamado Alienação Parental
e os aspectos da Lei n.º 12.318/2010 que trata do tema?
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CAPÍTULO 2
DERRUBANDO
MITOS
A lei da alienação parental sofreu críticas e alguns grupos da
sociedade buscam sua revogação e o seu cancelamento. É verdade
que a lei pode ser melhorada, mas os argumentos dos críticos ba-
seiam-se em mitos. Vamos juntos derrubá-los!
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A luta dos que defendem nossas crianças dos pedófilos é exatamente “laudos periciais parciais e suspeitos” - Mito!
a mesma daqueles que defendem as crianças da violência psicológica Os laudos periciais são feitos dentro do processo judicial, e cada uma
que é a alienação parental. E justamente por ser a pedofilia um caso das partes tem seu próprio advogado ou defensor público zelando
tão grave, tanto quanto a alienação parental, devemos repudiar as pelos seus interesses. A perícia psicológica é feita por profissional ou
falsas denúncias de abuso que possuem o intento de afastar filhos equipe multidisciplinar habilitada.
de seus pais!
Quem define como a perícia vai acontecer é o psicólogo, mas cada
“lei que só pune as mulheres, misógina!” - Mito! uma das partes do processo pode fazer suas perguntas ao psicólogo.
A alienação é praticada por homens, mulheres, jovens ou idosos. E Normalmente essa perícia conta com entrevista das partes envolvidas,
a lei é uma só para todos! Você sabia que pai pode alienar o filho exame do histórico do relacionamento do ex-casal e dos documen-
de sua mãe? E até avós podem alienar seus netos contra os pais ou tos que constam no processo, avaliação da personalidade das partes e
outras pessoas da família? Qualquer pessoa que cuide das crianças e exame do comportamento da criança ou adolescente sobre eventual
dos adolescentes pode praticar a AP. O objetivo do alienador na AP acusação contra o genitor.
é impedir que a criança ou o adolescente ame os outros membros da
família; é transformá-los em adversários do outro lado da família. É Todas as partes desse trabalho acontecem com muito cuidado e res-
uma espécie de lavagem cerebral que o alienador faz com o objetivo peito, não só à criança como também a todas as partes envolvidas.
de causar prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos Você sabia que no processo judicial o Juiz é obrigado a garantir o
com o genitor alienado e toda a sua família extensa. contraditório e a ampla defesa? Isso significa que, sobre todos os
atos do processo, todas as partes têm oportunidade de se manifestar
Será que é mesmo possível dizer que a lei é contra a mulher ou e falar. E mais, você sabia que, quando a criança fala, muitas vezes
contra a figura materna? NÃO! O foco da lei é a proteção dos filhos ela tem uma fala de fantasia, e não de realidade? Sabia que até mes-
em primeiro lugar. De que forma? Reconhecendo a importância da mo o silêncio da criança precisa ser acolhido e interpretado? É por
participação de ambos os lados da família - materna e paterna - na isso que somente um especialista da psicologia pode traduzir a fala
criação e educação dos filhos. E como se faz isso? Assegurando que ou silêncio de uma criança.
os filhos tenham ampla convivência com pai e mãe e respectivas
famílias extensas. Agora que derrubamos os principais mitos que envolvem essa lei,
vamos conhecer melhor o fenômeno e a importância da lei de AP.
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“Sua mãe é
maluca!”
CAPÍTULO 3
O QUE É?
O fenômeno da AP pode ser definido como uma violência psi-
cológica que prejudica o estabelecimento e a manutenção do vínculo
afetivo com o outro genitor. Pode ser praticada por um ou mais entes
familiares (mãe, pai, avós, tios) ou alguém próximo à criança ou ao
adolescente, como padrinhos, babás, professores. Você sabia que a
AP pode acontecer também com idosos em situação vulnerável?
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CAPÍTULO 4
COMO SE MANIFESTA A AP EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES?
As crianças e os adolescentes que sofrem a AP dão sinais de
alerta! As famílias e os cuidadores devem ficar atentos às mudanças
que aparecem em seu comportamento. Os sinais que a criança e o
adolescente apresentam podem ser mais visíveis ou mais discretos.
Para lhe auxiliar na identificação da AP, destacamos quatro sinais. Se
você identificar estes sinais, procure ajuda especializada!
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É importante dizer que esse sentimento de culpa da criança SINAL 5 | Criança/Adolescente-Sintoma. Muitos filhos de
pode ser ou não fruto da AP. Existe a AP quando a culpa ou pais em conflito apresentam sintomas na ocasião da transição
dificuldade que a criança sente de interagir com o outro lado entre as casas, o que é natural e passageiro, sinal de estresse
da família é consequência da ansiedade do adulto alienador, e clima tenso entre os familiares. No entanto, nas situações
que tem medo da interação positiva da criança ou do adoles- em que a criança/adolescente estão expostos a intenso litigio,
cente com o genitor alienado. A criança fica nervosa, descon- presenciando brigas e grande hostilidade, podem passar a ser
fortável na casa do outro genitor. uma criança/adolescente-sintoma, que é quando eles apresen-
tam no corpo a marca de uma dor, de uma angústia relaciona-
SINAL 3 | Sentimento muito negativo com o lado aliena- da ao conflito dos pais. São comuns:
do. Sabe quando os filhos só trazem queixas sobre o genitor
com quem não tem entrosamento? A criança que volta de • Enurese: incontinência urinária noturna que acontece após
uma das casas só tem reclamações: a comida é sempre ruim; os 5 anos de idade, portanto fora da normalidade do processo
as brincadeiras são sempre chatas; as atividades são sempre de desenvolvimento;
desinteressantes; os passeios são horrorosos. Com frequência • Encoprese: repetidas evacuações, voluntárias ou não, de
está hipersensível ou com muita raiva. Não interessa o es- fezes nas roupas;
forço da família, se procurou acolher o que a criança gosta de • Onicofagia: roer unha ou ao seu redor, de forma exagerada,
comer ou de fazer, nunca é o suficiente, nunca é bom. diante de uma situação de estresse, patologia da ansiedade;
• Transtornos alimentares: obesidade, compulsão alimen-
SINAL 4 | Criança “antena parabólica”. É o momento em tar, anorexia, bulimia;
que parece que as famílias estão em guerra, e os filhos vi- • Doenças de pele: muito comum a Alopecia Aerata (perda
raram os agentes infiltrados no continente inimigo. Acon- de cabelos do corpo por situações de estresse);
tece quando a criança fica muito ligada, atenta ao litígio dos • Automutilação;
pais: escuta atrás da porta, vasculha armários e gavetas, grava • Retração das gengivas;
conversas, tenta procurar provas para prejudicar a família no • Sistema imunológico baixo: pequenas doenças recorrentes;
conflito processual. Veja! É uma situação bastante diferente • Tricotilomania: arrancar compulsivamente cabelos ou pe-
de quando os genitores e as famílias falam mal abertamente los corpos.
na presença dos filhos sobre o outro lado da família.
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Além de sintomas físicos, as crianças filhas de pais em intenso
conflito também podem apresentar:
Vale lembrar que esses sinais são exemplificativos, podendo aparecer ou-
tros que certamente não passarão despercebidos pelos genitores e demais
cuidadores atentos à prática de AP. Daí a necessidade de todas as pessoas
que trabalham com crianças conhecerem o fenômeno Alienação Paren-
tal e como ele se manifesta no corpo e no comportamento da criança.
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CAPÍTULO 5
COMO AGIR?
EIXO FAMÍLIA
EIXO PROFISSIONAIS DE SAÚDE
EIXO JUSTIÇA
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no exercício da autoridade parental, como também o da criança de • quando em companhia do genitor alienador, crianças e
conviver com ambos os pais. adolescentes não conseguem expressar suas emoções, apre-
sentando sentimento de culpa, abandono, traição, e conflitos
Lembre-se: de lealdade;
• quando uma criança é proibida de amar um dos seus pais, ela • um dos genitores, ou ambos, quando não realizam o divór-
deixa de amar metade dela; cio perpetuam o litígio conjugal na seara do cuidado e edu-
• é normal o filho oferecer certa resistência no início. A convivência cação do filho, que passam a ser objeto de disputa e meio de
deve ser incentivada mesmo assim. Não cabe à criança e ao adoles- vingança;
cente a decisão de não estar com o genitor alienado; • o desejo da criança e do adolescente é de unir os pais, e se
• os pais devem contribuir para que crianças e adolescentes vivam sentem, muitas vezes, responsáveis pela separação entre eles.
em um ambiente sadio, livre de hostilidade;
• os membros da família devem contribuir para que a criança e o O pediatra e os médicos legistas também são responsáveis pela con-
adolescente fiquem à vontade nas duas casas, evitando que se sintam dução de uma notícia de violência física contra a criança. Sendo
culpados, reprimidos, sem poder falar o que sentem. assim, devem conhecer o fenômeno da AP para poder distinguir
uma lesão provocada por terceiros com dolo ou culpa e uma queixa
Se você percebeu que sua família pode estar inserida num contexto sobre uma lesão. Se a lesão for incompatível com a queixa, pode ser
de AP, o próximo passo é buscar auxílio especializado. fruto de distorção da criança ou do adolescente que apresentou a
reclamação.
5.2 EIXO PROFISSIONAIS DE SAÚDE
5.3 EIXO JUSTIÇA
O tratamento psicológico clínico e/ou psicanalítico é importante
para que, tanto cuidadores quanto as crianças e os adolescentes, pos- Advogados ou Defensores Públicos - São os primeiros que re-
sam tratar suas emoções no momento pós- separação, porque: cebem a família que vai buscar ajuda judicial. Os advogados espe-
cializados terão o papel de orientar os genitores sobre a gravidade
• nas separações litigiosas os filhos estão envolvidos emocio- da prática de AP, jamais incentivando comportamentos que afastem
nalmente nos conflitos entre seus pais, independentemente um genitor do filho ou utilizando a Justiça nesse intuito. Eles vão
de suas vontades. São pessoas vulneráveis, dependentes e aconselhar sobre a melhor condução jurídica do tema e quais são as
muito sensíveis às falas e atos dos seus cuidadores;
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condutas que a família pode assumir dentro e fora do processo judi- Assistentes Sociais - Realizam o Laudo Social que auxilia o juízo
cial para romper o ciclo da AP. a formar um panorama da vida cotidiana da criança.
Juiz - É a quem se destina o pedido de declaração do ato de No processo judicial são muitas as medidas que as partes, incluindo o
alienação parental, sendo de grande valia a intervenção do Juiz para Ministério Público, podem solicitar ao Juiz para proteger as crianças
dar limites aos adultos que abusam emocionalmente dos vulneráveis e os adolescentes e remediar a situação de AP. Quer conhecê-las? As
que estão sob sua autoridade. mais comuns são:
Promotores de Justiça - Os membros do Ministério Público têm 1ª ADVERTÊNCIA | É a medida mais branda. O alienador é
dupla função em processos envolvendo vulneráveis: atuam como chamado pelo Juiz e recebe uma orientação sobre a AP e a
fiscal da lei e como protetores dos direitos dos vulneráveis. Devem, necessidade de mudar sua forma de agir. Muitas vezes, esse
por isso, ser diligentes para requerer ao juízo a aplicação das medi- alerta do Judiciário aliado à boa atuação dos advogados é
das de proteção adequadas ao caso concreto e fiscalizar a execução suficiente para mudar as atitudes. Importante ressaltar que
das medidas. esse é um alerta para conscientizar o alienador de que, caso
continue praticando o ato de AP, os remédios aplicados serão
Psicólogos do Juízo - São do quadro do Tribunal ou nomeados mais intensos.
pelo juízo para realizar a Avaliação Psicológica. Devem conhecer o
fenômeno, saber distinguir a alienação de outras situações banais 2ª AMPLIAÇÃO DO REGIME DE CONVIVÊNCIA | Um remédio
típicas das famílias em conflito e devem servir de instrumento para muito eficiente para frear a AP é o aumento do tempo de
que o juízo conheça a criança e adolescente que estão em risco, de- convivência entre filhos e genitor alienado. O resultado direto
vendo o laudo abranger a dinâmica relacional dos adultos e das cri- desse tempo maior é que a convivência permite que os filhos
anças e sugerir medidas que visem à promoção da dignidade humana tenham boas memórias de amor e cuidado, capazes de resta-
e promoção dos direitos humanos de todos os membros da família. belecer e fortalecer os laços de afetividade. É recomendável
que tal medida seja concedida judicialmente antes de proferi-
Psicólogo Assistente Técnico - São Psicólogos contratados pelas da a sentença, transformando o tempo do processo em um
partes do processo para auxiliar advogados e famílias na realização aliado de boas soluções para o caso concreto.
da perícia psicológica.
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3ª MULTA | Quando mesmo com a advertência e o aumento 6ª FIXAÇÃO CAUTELAR DO DOMICÍLIO DA CRIANÇA OU DO
do tempo de convivência segue a prática de ato de AP, o Juiz ADOLESCENTE | O nome parece complicado? Mas a medida
pode determinar o pagamento de multa. é bastante simples: o Juiz determina que a criança continue
morando em um determinado endereço. Por que fazer? Para
4ª ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO OU BIOPSICOSSOCIAL | impedir uma mudança da criança ou do adolescente para lo-
Você sabia que o juiz pode determinar que os alienadores cal distante do genitor alienado, sem justificativa, com a única
façam acompanhamento psicológico? É mais uma forma de finalidade de prejudicar a convivência. Nesse caso, a mudança
conscientização dos genitores ou parentes próximos sobre os só acontece com autorização do Juiz.
prejuízos para as crianças e os adolescentes que vivem em um
ambiente de hostilidade. Recomenda-se também o acom- 7ª INVERSÃO DA OBRIGAÇÃO DE LEVAR E/OU BUSCAR A CRI-
panhamento psicológico para criança ou adolescente como ANÇA OU O ADOLESCENTE | E se o Juiz não tiver usado a me-
mais uma ferramenta para lidarem melhor com o conflito dida n.º 6 e perceber, depois da mudança, que essa alteração
que existe entre as famílias materna e paterna. Permite o tra- aconteceu só para prejudicar a convivência? Nesse caso, o
balho emocional, por exemplo, das falsas crenças, do senti- Juiz determina que o alienador seja o responsável por levar e
mento de culpa pelas brigas dos pais e famílias e do medo da buscar o filho para a convivência do genitor alienado.
perda do amor do genitor alienador.
8ª SUSPENSÃO DA AUTORIDADE PARENTAL E A PERDA DO PO-
5ª REVERSÃO DA GUARDA | A guarda da criança e do ado- DER FAMILIAR | São as medidas mais extremas para tratar a AP
lescente é invertida. Os filhos passam a ficar sob a guarda em famílias já muito adoecidas pelo permanente abuso do poder
do pai/mãe alienado. É a medida aplicada quando a AP está por parte do genitor alienador. O Juiz pode determinar a sus-
tão grave que trouxe prejuízos ao desenvolvimento da cri- pensão da autoridade parental por um tempo, para acompanhar
ança e do adolescente e dano severo na relação do filho com como fica a criança ou o adolescente longe do alienador. Em últi-
o genitor alienado. Nesse caso, é estabelecida convivência mo caso, quando nem mesmo a suspensão serve para o alienador
mais restrita com o genitor alienador, com objetivo de fazê- entender a gravidade dos seus atos e mudar sua forma de agir, o
lo compreender a gravidade de suas ações. É possível, com a Juiz decreta que o alienador perdeu o poder familiar. O vínculo
melhora da atitude do alienador, ampliar novamente a con- biológico permanece, mas o genitor não mais poderá participar
vivência. das decisões da vida do filho. É a medida mais grave, pois o Juiz
só afasta um filho de pai ou de mãe quando essa é a única medida
eficaz para a proteção da criança e do adolescente.
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CAPÍTULO 6
CONCLUSÃO
A Sociedade deve seguir unida, com diálogo franco e democráti-
co sobre o tema. Fechar os olhos e negar a existência da AP é o mes-
mo que negar a existência de abusos contra os frágeis.
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volvidos, em especial para os filhos. Recomenda-se usar as medi-
das jurídicas para tratar os casos das famílias adoecidas somente nas
situações em que existe suspeita real de alienação parental.
APOIO