Ginecologia e Ultrassonografia Reprodutiva em Bovinos - Embrapa

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Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Rondônia
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Ginecologia e ultrassonografia reprodutiva em bovinos

Luiz Francisco Machado Pfeifer


Rogério Ferreira

Embrapa
Brasília, DF
2017
Embrapa Rondônia
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76815-800 Porto Velho, RO
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Presidente: Alexsandro Lara Teixeira
Secretárias-executivas: Marly de Souza Medeiros e Wilma Ines de Franca Araujo
Membros: Marilia Locatelli, Rodrigo Barros Rocha, José Nilton Medeiros Costa, Ana Karina Dias Salman,
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Embrapa Informação Tecnológica

Coordenação editorial: Selma Lúcia Lira Beltrão, Lucilene Maria de Andrade, Nilda Maria da Cunha Sette
Supervisão editorial: Juliana Meireles Fortaleza
Revisão de texto: Corina Barra Soares
Normalização bibliográfica: Iara Del Fiaco Rocha
Projeto gráfico e editoração eletrônica: Leandro Sousa Fazio
Capa: Leandro Sousa Fazio
Fotos da capa: Alcides Okubo Filho (banco de imagens da Embrapa), Janduí Escarião da Nóbrega Júnior, Luiz
Francisco Machado Pfeifer, João Henrique Moreira Viana

Supervisão editorial do e-book: Wyviane Carlos Lima Vidal


Projeto gráfico e editoração eletrônica do e-book: Paula Cristina Rodrigues Franco
Revisão do e-book: Maria Cristina Ramos Jubé

1ª edição
1ª impressão (2015): 200 exemplares
2ª impressão (2017): 500 exemplares
E-book (2017)
Todos os direitos reservados.
Para uso exclusivo de JUSSANAJARA DALTIO BOZI. A reprodução não autorizada desta
publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Informação Tecnológica

Pfeifer, Luiz Francisco Machado.

Ginecologia e ultrassonografia reprodutiva em bovinos / Luiz Francisco Machado Pfeifer,


Rogério Ferreira. – Brasília, DF : Embrapa, 2017.
E-book : il. color.

E-book, no formato ePub, convertido do livro impresso.


ISBN 978-85-7035-697-0

1. Gado. 2. Fisiologia reprodutiva. 3. Reprodução animal. 4. Manejo. I. Ferreira, Rogério. II.


Embrapa Rondônia.
CDD 636.085

© Embrapa 2017
Autores
Luiz Francisco Machado Pfeifer
Médico-veterinário, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Rondônia, Porto Velho, RO

Rogério Ferreira
Médico-veterinário, doutor em Reprodução Animal, professor da Universidade do Estado de Santa
Catarina (Udesc), Chapecó, SC
Apresentação
O agronegócio brasileiro equivale a aproximadamente 23% do PIB brasileiro. A pecuária responde
por boa parte desse desempenho, pois, com um rebanho de 212,34 milhões de cabeças (IBGE,
2015)1, contribui com 30% do valor do agronegócio. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de
carne bovina, e há previsão de que, nos próximos 5 anos, venha a ocupar o primeiro lugar na
produção mundial desse produto, superando, assim, os Estados Unidos. Na produção leiteira, o Brasil
ocupa a quinta posição no ranking mundial, atrás da União Europeia, da Índia, dos Estados Unidos e
da China.

Apesar do elevado volume de carne e leite bovinos produzido e exportado, as taxas de natalidade e
desfrute do rebanho bovino sugerem que podem ser aumentadas consideravelmente. Essas taxas
são os principais indicadores da eficiência reprodutiva e, consequentemente, econômica da atividade
pecuária. Assim, para os técnicos que trabalham com reprodução animal nos sistemas brasileiros de
produção de bovinos, reciclar e ampliar os conhecimentos nessa área é imprescindível para
alavancar a produtividade dos rebanhos.

Este livro contém um didático conjunto de informações que exploram desde as bases fisiológicas
que alicerçam o conhecimento sobre o tema, até o diagnóstico e a aplicação de técnicas
ginecológicas e de ultrassonografia vinculadas à reprodução animal. No Brasil, esse mercado é
promissor, haja vista os dados coletados na última estação reprodutiva, segundo os quais o número
de fêmeas participantes de protocolos de inseminação artificial em tempo fixo foi de
aproximadamente 10 milhões de animais.

A tecnologia especializada nessa área – aqui sistematizada principalmente no uso da


ultrassonografia – é forte garantia da expansão desse mercado. Como ferramenta do manejo
reprodutivo nos sistemas de produção de corte e leite, ela tem sido de grande valia, pois, ao
revolucionar o entendimento e a aplicação de novas tecnologias no campo, gera informações ao
proprietário, o qual poderá, seguramente, transformá-las em lucro.

O conhecimento e a experiência acumulados pela Embrapa sobre o tema vão auxiliar o técnico a
realizar diagnósticos reprodutivos mais seguros e a tomar decisões adequadas, assim como o
estudante, em sua formação acadêmica, e o extensionista, na aplicação das técnicas apresentadas.
Com linguagem simples e direta, concentra as informações necessárias a quem estiver interessado
em diagnósticos reprodutivos para melhorar os índices reprodutivos dos rebanhos bovinos.

Alaerto Luiz Marcolan

Chefe-Geral da Embrapa Rondônia

1 IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática – SIDRA. Pesquisa da pecuária municipal 2015. 2015. Disponível em:

<https:http://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ppm/quadros/brasil/2015>. Acesso em: 27 jan. 2017.


Prefácio
Para a confecção deste livro, foi realizada uma ampla consulta nas obras básicas sobre
ultrassonografia e ginecologia bovina, que norteiam até hoje a condução de uma avaliação
reprodutiva. Este livro não tem, todavia, a pretensão de substituir tais obras. Ele se propõe
simplesmente a transmitir nossa experiência acerca dos exames de rotina de ginecologia e
ultrassonografia reprodutiva em bovinos. Nosso principal objetivo é apresentar um trabalho sintético,
de consulta rápida e fácil leitura, que atenda aos interesses de alunos e profissionais médicos-
veterinários que atuam nos sistemas de produção de bovinos de todo o Brasil. Nesta obra, além da
abordagem fisiológica inicial, serão apresentados os métodos semiológicos utilizados nos exames
ginecológico e obstétrico, assim como serão demonstrados os principais achados decorrentes de
exames ultrassonográficos de rotina. Considerando que este livro é um manual prático, o diagnóstico
e o tratamento das afecções que acometem o trato reprodutivo da fêmea bovina não foram
contemplados.

Em um primeiro momento, o leitor poderá estranhar o fato de as três primeiras seções (Anatomia
do Sistema Reprodutivo da Fêmea Bovina; Fisiologia do Ciclo Reprodutivo da Fêmea Bovina; Fisiologia
do Desenvolvimento Embrionário e Fetal) terem sido reservadas ao estudo anatomofisiológico do
ciclo estral e da gestação. Tivemos um forte motivo para isso. Para que um técnico execute um bom
trabalho, ele necessita entender minimamente o funcionamento dinâmico das estruturas envolvidas
nos processos biológicos responsáveis pela formação da vida. Assim, o profissional terá subsídios
para desenvolver soluções aos desafios impostos durante os procedimentos ginecológico e
obstétrico. Aqueles que não dispuserem de tempo para revisar os conceitos expressos nessas três
primeiras seções deste livro deverão se remeter diretamente à seção Exame Ginecológico, que
apresenta informações relevantes para a execução de um bom exame ginecológico e
ultrassonográfico do trato reprodutivo.

A concepção deste livro foi a forma que achamos de compartilhar nossas experiências com o
público-alvo e, também, identificar as aptidões que devem ser desenvolvidas e aprimoradas por
quem trabalha diretamente com a reprodução bovina.

Esperamos que todos apreciem a leitura!

Os autores
Sumário
Exame ginecológico
Anatomia do sistema reprodutivo da fêmea bovina
Localização e importância
Estrutura do sistema genital
Ligamentos
Ovário
Oviduto
Útero
Cérvix
Vagina
Vulva
Clitóris
Fisiologia do ciclo reprodutivo da fêmea bovina
Características do ciclo estral
Ovogênese e crescimento folicular pré-antral
Crescimento folicular pré-antral
Crescimento folicular antral
Características do ciclo estral em diversas raças e categoria
Puberdade e maturidade sexual
Fisiologia do desenvolvimento embrionário e fetal
Embriogênese inicial
Desenvolvimento das membranas extraembrionárias
Implantação
Reconhecimento materno da gestação
Desenvolvimento fetal
Exame ginecológico
Preparação prévia ao exame ginecológico
Exame ginecológico por palpação retal
Vaginoscopia
Diagnóstico de gestação
Métodos de diagnóstico de gestação

Exame ultrassonográfico reprodutivo


Formação das imagens ultrassonográficas
Importância, princípios e recomendações de uso
Principais ajustes
Limitações do uso da ultrassonografia
Artefatos
Ovário bovino
Folículo
Corpo lúteo
Ovários acíclicos
Cistos
Útero bovino
Principais cortes de visão do útero
Aparência ultrassonográfica do útero bovino durante o ciclo estral
Alterações uterinas detectadas por ultrassonografia
Diagnóstico de gestação por ultrassonografia
Medidas usadas para determinar a idade embrionária ou fetal
Detecção do sexo fetal por meio de ultrassonografia
Novos métodos de obtenção e avaliação de imagens de ultrassonografia do trato reprodutivo
Ultrassonografia com doppler colorido
Ultrassonografia 3D e 4D
Ultrassom biomicroscópio

Referências

Literatura
Exame
ginecológico
Anatomia do sistema reprodutivo da fêmea bovina
O trato reprodutivo feminino dos bovinos é constituído de ovários, ovidutos, útero, vagina e
genitália externa (Figura 1), além dos ligamentos que o sustentam. A compreensão da posição
anatômica dos tecidos que compõem o trato reprodutivo, assim como o conhecimento de suas
estruturas, são elementos--chave para a interpretação dos achados obtidos na palpação retal e nos
exames ultrassonográficos.

Figura 1. Excisão em sistema genital feminino, onde são visualizados tanto o ânus quanto a
bexiga. CUt = corpo do útero; CUE = corno uterino esquerdo; CUD = corno uterino direito;
OE = ovário esquerdo; OD = ovário direito.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Localização e importância

Nas fêmeas bovinas, o trato reprodutivo está inserido na pelve, podendo estender-se para a
cavidade abdominal. A anatomia dos bovinos permite o acesso por via retal a esses órgãos, para a
realização do exame manual ou ultrassonográfico, possibilitando:

Diagnóstico da funcionalidade ovariana.


Diagnóstico de gestação, tempo gestacional ou ainda sexagem fetal, quando a ultrassonografia é
realizada.
Procedimentos de inseminação artificial, coleta e transferência de embriões e coleta de oócitos
para a produção de embriões in vitro.
Diagnóstico de anormalidades no trato reprodutivo.

Estrutura do sistema genital

Com exceção dos ovários, o trato reprodutivo pode ser considerado como uma série de tubos
interligados, recobertos por três camadas:

Serosa: composta por células planas que recobrem a superfície do trato.


Muscular: consiste em uma dupla camada de tecido liso. A interna é composta por fibras
circulares, enquanto a externa, por fibras longitudinais, que servem para a contração.
Mucosa: composta de epitélio apoiado à lâmina basal e lâmina própria. Todas as partes do trato
reprodutivo estão alinhadas internamente com uma camada de epitélio secretório, chamada
“mucosa”. O tipo de epitélio da mucosa varia de acordo com a porção do trato reprodutivo, pois o
epitélio exerce várias funções nas distintas regiões
anatômicas. Quanto mais secretora for uma região, maior será a superfície de contato da mucosa.

Ligamentos

São os ligamentos que dão suporte ao trato reprodutivo, garantindo que a fêmea realize as funções
reprodutivas. Os ligamentos mantêm o trato reprodutivo organizado durante os estágios de
gestação, parto e involução uterina pós-parto, bem como no momento de captura do oócito pelo
oviduto, depois da ovulação. Além disso, o ligamento largo, principal ligamento do trato reprodutivo,
provê a inervação, a vascularização e a drenagem linfática do sistema reprodutivo.

O trato reprodutivo desenvolve-se durante a fase fetal, primeiramente em uma região


extraperitoneal; em seguida, começa um movimento descendente, para que possa se instalar em
uma posição intraperitoneal. No momento em que o trato reprodutivo migra para a sua posição
definitiva, no abdômen do concepto, ele fica circundado por porções do peritônio, o qual se
anastomosa para formar o ligamento largo, que sustenta o ovário, o oviduto, o útero, a cérvix e a
vagina.

Componentes do ligamento largo

O ligamento largo é dividido em três porções, de acordo com a região anatômica:

Mesométrio: forma a maior parte do ligamento largo que sustenta os cornos e o corpo uterino
(Figura 2). A parte dorsal é contínua com o peritônio; dessa forma, o útero fica suspenso na
cavidade, ligado à parede abdominal.
Mesossalpinge: é parte do ligamento largo que dá suporte ao oviduto. Esse ligamento também
envolve o ovário, como uma bolsa. Tal característica orienta o infundíbulo. Assim, o oócito ovulado
pode ser guiado para dentro do oviduto.
Mesovário: é composto pela porção anterior do ligamento largo, que se fixa e dá suporte ao ovário.
No mesovário, encontram-se linfonodos, vasos sanguíneos e nervos, que suprem o ovário e
formam o hilo ovariano.

Figura 2. Visão parcial do trato reprodutivo excisado de uma novilha. Nesta imagem, é
possível observar claramente uma porção do ligamento mesométrio (1), uma porção do corno
uterino (2) e o ovário (3). A seta preta está indicando a presença do corpo lúteo (CL) no ovário,
enquanto as setas brancas indicam o trajeto sinuoso do oviduto.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

O ovário também é sustentado por outro ligamento, que o conecta ao útero, conhecido como
“ligamento útero-ovariano” ou “ligamento próprio do ovário”, o qual não faz parte do ligamento
largo.

Ovário

As principais estruturas anatômicas observadas no ovário estão representadas na Figura 3.


O ovário (Figuras 2 e 3) apresenta funções exócrina e endócrina. A função exócrina diz respeito à
produção de oócitos maduros, capazes de ser fecundados e de produzir um embrião viável. Quanto à
função endócrina, os principais hormônios produzidos são os esteroides ovarianos: progesterona e
estrógenos. Entre os hormônios da família dos estrógenos (família dos hormônios feminilizantes), o
principal é o estradiol 17β; no entanto, o ovário também produz a estrona. Hormônios proteicos,
como relaxina, ocitocina, inibina, ativina e folistatina, também são produzidos pelo ovário. Além
desses, o ovário produz diversos fatores de regulação autócrina/parácrina, sendo mais conhecidos os
membros da família fator de crescimento transformador β (TGFβ), como a proteína morfogenética do
osso 15 (BMP15), e fator de crescimento e diferenciação 9 (GDF9).

Figura 3. Ovário e suas estruturas anatômicas.


Fonte: Adaptado de Anatomia...(2015).

O ovário e o testículo apresentam a mesma origem embrionária, estrutura essa chamada de


“gônoda indiferenciada”. No indivíduo XY, a expressão da proteína TDF (fator determinante de
testículo) codificada pelo gene SRY (região determinante de sexo do cromossomo Y) induz o
desenvolvimento da região medular da gônoda indiferenciada, formando a rete testis, enquanto a
região cortical involui. No caso da fêmea, a ausência do cromossomo Y faz a região cortical
desenvolver-se, formando os folículos, enquanto a região medular tem função nutritiva e estrutural,
conhecida como rete ovari.

O ovário é composto por um tecido conectivo de superfície, chamado “túnica albugínea”, que é
recoberto por uma única camada de células cuboides, chamada “epitélio germinativo”, o qual não
tem função relacionada com a produção de células germinativas. Logo abaixo da túnica albugínea,
instala--se o córtex ovariano. No córtex é que se encontra o estoque oocitário, sendo que as células
que circundam o oócito se organizam para formar o folículo. No córtex ovariano, pode ser encontrada
uma diversidade de folículos em diferentes estágios de desenvolvimento: primordiais, primários,
secundários e antrais. Além dos folículos, nos ovários é possível detectar o corpo albicans (CA), de
coloração branca, em virtude da alta quantidade de tecido conectivo, e, de acordo com a fase do
ciclo estral, o corpo lúteo (CL), de coloração amarelo-alaranjada.

Na região central do ovário, encontra-se a medula ovariana, composta de tecido conectivo denso,
onde se inserem a rede vascular, os nervos e os vasos linfáticos, que dão sustentação ao
metabolismo e ao funcionamento dos ovários.

Folículos ovarianos

Os folículos podem ser classificados em folículos pré-antrais e antrais. Os folículos pré-antrais são
categorizados, de acordo com seu estágio de desenvolvimento, em folículos primordiais, primários e
secundários. Entretanto, os folículos antrais são classificados como folículos terciários e variam de
diâmetro e funcionalidade. Folículos antrais são folículos que apresentam o antro, que é um espaço
formado entre o complexo cúmulus-oócito e a parede folicular, repleto de fluido folicular. Na seção
Fisiologia do Ciclo Reprodutivo da Fêmea Bovina , serão descritas, detalhadamente, a função e as
características dos folículos ovarianos.

Os folículos antrais possuem três camadas: teca externa, teca interna e granulosa. A interação
entre essas camadas é responsável pela esteroidogênese ovariana. A teca externa é composta por
tecido conectivo frouxo, que recobre completamente o folículo. A teca interna é a camada funcional,
que produz progesterona e andrógenos sob a ação do LH. A granulosa é separada da teca por uma
membrana basal e apresenta receptores tanto para o hormônio luteinizante (luteinizing hormone –
LH) quanto para o hormônio folículo estimulante (follicle-stimulating hormone – FSH). A proporção
desses receptores vai depender da fase do ciclo estral, principalmente se antes ou depois da seleção
do folículo dominante, como se verá na seção Fisiologia do Ciclo Reprodutivo da Fêmea Bovina . Outra
característica histológica importante das células da granulosa é a ausência de vasos sanguíneos.
Dessa forma, os nutrientes para tais células são difundidos, a partir da teca, através da membrana
basal.

Corpo hemorrágico

O corpo hemorrágico (CH) é formado logo depois da ovulação, pela ruptura de pequenos vasos
sanguíneos presentes no folículo ovulatório. A perda de fluido folicular causa o colapso das paredes
foliculares e, em virtude do extravasamento de sangue, forma um pequeno coágulo no interior do
folículo ovulado. Depois da formação do CH, as células da teca e da granulosa organizam-se e
diferenciam-se para formar o corpo lúteo (CL). Alguns autores não consideram o CH como uma
estrutura anatômica, considerando que ele é apenas uma fase de transição entre o folículo ovulatório
e o CL.

Corpo lúteo

O corpo lúteo (CL) é uma glândula transitória de aspecto amarelo-alaranjado; é altamente irrigado
e formado por células luteais. O CL é formado a partir da luteinização das células da teca e da
granulosa do folículo ovulado. As células luteais podem ser de dois tipos, de acordo com sua origem:
células luteais grandes (CLG) e células luteais pequenas (CLP). As CLG são oriundas da luteinização
das células granulosa, enquanto as CLP são provenientes da luteinização das células teca. Mais
detalhes sobre a formação e o funcionamento dessas células serão descritos na seção Fisiologia do
Ciclo Reprodutivo da Fêmea Bovina .

Oviduto

O oviduto (Figura 2) é a porção do trato reprodutivo que liga o ovário ao útero; é onde ocorre a
fertilização e o desenvolvimento embrionário inicial. O oviduto
pode ser dividido em três porções distintas:

Infundíbulo: é a parte mais próxima ao ovário. Possui forma de funil e envolve o ovário de modo
que facilita a captura do oócito recém-ovulado. A sua superfície interna é coberta por fímbrias, que
proporcionam uma maior área de contato da mucosa e permitem que o infundíbulo recubra toda a
superfície do ovário no momento próximo à ovulação.
Ampola: é a maior porção do oviduto. É uma parte espessa do oviduto. No seu interior, há várias
dobras da mucosa com tecido epitelial ciliado. É na ampola que o oócito e o espermatozoide
encontram local apropriado para a fecundação. A mucosa do oviduto secreta substâncias que
proporcionam um ótimo ambiente de flutuação para o oócito. Além disso, provê sustento à função
espermática enquanto o oócito ainda não se encontra na ampola. Alguns autores acreditam que o
epitélio do oviduto possa secretar substâncias que facilitam a capacitação de células espermáticas.
Depois da fertilização, o recém-formado embrião permanece cerca de 3 a 5 dias no oviduto, até
alcançar o útero.
Istmo: é uma estrutura mais fina que a ampola. Ele está conectado ao útero da junção útero-
tubárica. Comparado com a ampola, o istmo possui parede muscular mais espessa e menos dobras
na sua porção interna. Acredita-se que, em bovinos, a junção útero-tubárica funcione como uma
barreira que, sob alta concentração de estradiol, fecha-
-se e controla os movimentos do embrião; e, quando as concentrações de estradiol estão baixas,
abre-se, permitindo que o embrião atinja o útero.

Útero

Fêmeas bovinas possuem útero bicornuado (um corpo e dois cornos uterinos) em virtude da
incompleta fusão entre os ductos paramesonéfricos (também chamados de “ductos de Müller”)
durante a organogênese, diferentemente dos primatas, que possuem útero simples, em decorrência
da total fusão dos ductos.

Componentes do útero

Assim como as demais estruturas do trato reprodutivo, o útero possui quatro camadas de tecido.
É no útero que se evidencia mais claramente a funcionalidade dessas camadas. O útero é envolvido
por uma camada serosa chamada “perimétrio”, que é parte do peritônio. O perimétrio é bastante
fino e quase transparente.

Abaixo da serosa, há uma camada de músculo liso longitudinal (fibras) na direção crânio-caudal.
Abaixo dessa, há outra camada muscular circular. As duas fibras musculares formam o miométrio.
Essa porção provê contratilidade ao útero, sendo responsável pelo tônus uterino, que varia conforme
o estágio do ciclo estral. Ao exame ginecológico, a avaliação do tônus pode ser relacionada com a
ciclicidade, pois o útero sem tônus é sugestivo de animal pré-púbere ou em anestro. Por seu turno, o
útero com tônus, mas sem estar contraído, é típico do diestro, e está relacionado com o momento de
entrada do embrião no útero, com o desenvolvimento embrionário inicial e com a implantação. Da
mesma forma, o útero contraído, em decorrência da ação do estradiol no momento do estro, facilita o
transporte espermático durante o processo de fertilização. O miométrio também atua ativamente no
parto, para expulsar o feto e as membranas fetais, e também no período pós-parto, na involução
uterina.

O endométrio, que é a parte mais interna do útero (Figura 4), é composto de uma camada de
epitélio cilíndrico simples, apoiada à membrana basal e, logo abaixo, à lâmina própria. A lâmina
própria pode ser classificada de forma didática em Stratum compactum e Stratum spongiosum.
O primeiro está mais próximo da membrana basal e apresenta maior densidade de células; o
segundo tem menor densidade de células e apresenta uma malha de fibras reticulares semelhante a
uma estrutura esponjosa. Na lâmina própria, estão presentes as glândulas endometriais, as quais são
responsáveis pela secreção de substâncias que proporcionam adequado ambiente uterino, tanto para
o desenvolvimento embrionário (leite uterino) quanto para a viabilidade espermática. As glândulas
endometriais apresentam um formato espiral e percorrem grande parte da lâmina própria; sua
abertura se dá no lúmen uterino, através do epitélio endometrial. As glândulas endometriais são
bastante responsivas à progesterona, aumentando a sua atividade e a produção do leite uterino em
resposta a esse hormônio. O endométrio também é responsável pela produção de prostaglandina
F2α (PGF2α), hormônio responsável pela lise do CL.

Figura 4. Porção interna do corno uterino, evidenciando o perimétrio (setas pretas) e o endométrio (setas brancas) em
útero excisado (A); corte histológico endometrial (B). Os asteriscos indicam várias secções de uma mesma glândula
endometrial, mostrando o seu formato em espiral. As setas pretas indicam a camada epitelial do endométrio. L.P. significa
lâmina própria. HE 200×.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer (A) e Rogério Ferreira (B).

Carúnculas

A superfície do útero possui pequenas áreas protrusas não glandulares, chamadas “carúnculas”.
As carúnculas são altamente vascularizadas e dão origem à porção materna da placenta. Estão
dispostas de forma alinhada, sendo que cada corno uterino apresenta duas linhas dorsais e duas
linhas ventrais. Mais detalhes sobre a estrutura e a função das carúnculas serão descritos na seção
Fisiologia do Desenvolvimento Embrionário e Fetal.

Cérvix

A cérvix (Figura 5) é formada por uma parede grossa que serve como barreira natural contra
agentes e corpos estranhos, além de servir como barreira para espermatozoides defeituosos no
momento do coito. A cérvix da vaca é composta de três a cinco pregas (conhecidas como “anéis”)
músculo-fibrosas, circulares transversais, que têm uma consistência quase cartilaginosa (Figura 6).
O primeiro anel projeta-se em direção à vagina, formando uma cripta, dando origem também a uma
reentrância, chamada de “fórnix” ou “fundo de saco vaginal” (Figura 5). O fórnix vaginal é o local
onde o touro deposita o sêmen; é composto por células epiteliais colunares, que secretam grande
quantidade de muco.
Figura 5. Imagem anatômica de uma vagina aberta na sua porção
cranial. É possível observar externamente a cérvix (1), o fórnix vaginal
(2), situado na parte interna da vagina, e a mucosa da vagina (3). A seta
preta está indicando a abertura da cérvix..
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer (A) e Rogério Ferreira (B).

Figura 6. Cérvix excisada aberta (setas brancas), evidenciando o


tampão mucoso. Anéis da cérvix (setas pretas): corpo do útero grávido
(1); porção cranial da vagina (2).
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer.

O muco vaginal observado durante o estro é secretado pela cérvix e pelo fórnix, e tem como
função a lubrificação da vagina durante a cópula. Além disso, esse muco serve para formar uma
reserva espermática, ou seja, após a monta natural, os espermatozoides ficam armazenados na
cérvix, na forma decapacitada, poupando energia até próximo ao momento da ovulação. Quando o
momento da ovulação se aproxima, as concentrações de estradiol diminuem, enquanto as de
progesterona aumentam, fazendo com que o muco cervical torne-se mais fluídico, o que favorece o
progresso dos espermatozoides para o útero e o oviduto. Somente depois de saírem da cérvix é que
os espermatozoides iniciam o processo de capacitação (principalmente em resposta ao fluido do
oviduto), conforme será discutido na seção Fisiologia do Desenvolvimento Embrionário e Fetal.
Durante a prenhez, a cérvix é responsável pela formação de uma barreira de muco muito viscoso,
chamado de “tampão mucoso da prenhez” (Figura 6), que isola o concepto no interior do útero. Sob
a influência da progesterona, o muco torna-se muito viscoso e liga-se firmemente nas dobras da
cérvix, não permitindo que agentes externos tenham acesso ao concepto.

Vagina

A vagina é um órgão copulatório e um meio de expulsão do feto e da urina. A vagina é


caracterizada por duas regiões – vagina cranial e caudal –, uma vez que cada uma das porções
apresenta uma origem embrionária distinta. A porção cranial da vagina tem a mesma origem
embrionária da dos demais segmentos tubulares do trato genital feminino, ou seja, os ductos
paramesonéfricos. Já a porção caudal é originada do seio urogenital. Por causa dessa diferença de
origem embrionária, as porções cranial e caudal da vagina também apresentam características
histológicas distintas (Figura 7).
Figura 7. Porção interna da vagina excisada de uma vaca prenhe. Na
mucosa vaginal, é possível observar claramente a diferença entre o
epitélio secretor (1), situado na porção cranial da vagina, e o epitélio
não secretor (2), situado na porção caudal da vagina.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer.

A porção cranial da vagina apresenta epitélio colunar rico em células secretórias, que lubrificam o
canal vaginal, principalmente no momento do cio e do parto. Já o epitélio caudal é formado por
epitélio estratificado pavimentoso, lembrando aquele que é observado na pele. A parte da vagina
mais caudal também é conhecida como “vestíbulo” e pertence tanto ao trato reprodutivo quanto ao
urinário. O vestíbulo estende-se desde o orifício externo da uretra até os lábios da vulva. Na vaca e
na porca, ainda há um saco cego, imediatamente ventral, à abertura da uretra, chamado “divertículo
suburetral”.

No assoalho da vagina, abaixo da mucosa e ao longo de sua extensão, podem ser encontrados os
ductos de Gartner. Esses ductos apresentam aproximadamente 2,5 mm de diâmetro e correspondem
aos resquícios dos ductos mesonéfricos ou de Wolff, que originam, no macho, parte da porção tubular
do sistema genital.

Na parede lateral do vestíbulo, encontram-se as glândulas de Bartholin ou glândulas vestibulares


maiores. Essas glândulas estão presentes em pares, situadas uma em cada lado, posicionadas nos
músculos constritores do vestíbulo, medindo aproximadamente 1,5 cm a 3 cm de diâmetro. Seus
ductos estendem-se por 1,5 cm a 2 cm até a superfície vestibular. A secreção mucosa dessas
glândulas é mais intensa durante o estro e é responsável por lubrificar a vagina. A alteração clínica
mais significativa é a obstrução de seus ductos, conhecida como “cisto das glândulas de Bartholin”.
O diagnóstico é fácilitado graças à sua localização e à sua aparência. O conteúdo do cisto pode
variar de viscoso claro a turvo.

Vulva

A vulva é formada por dois lábios vulvares, de origem ectodérmica (Figura 8). Os lábios consistem
principalmente de tecido adiposo entremeado com pequenas fibras musculares, chamadas de
“músculos constritores da vulva”. A pele dos lábios é parte do tecido tegumentar e possui um
grande número de glândulas sebáceas e sudoríparas, além de folículos pilosos.
Figura 8. Imagem anatômica da vulva de uma vaca. Observam-se os
lábios vulvares esquerdo e direito (LVE e LVD) e o clitóris (seta preta),
situado na porção ventral do vestíbulo.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer.

Clitóris

O clitóris está posicionado na comissura ventral do vestíbulo, sendo o órgão feminino homólogo do
pênis (Figura 8). É composto por tecido erétil e recoberto por tecido epitelial escamoso estratificado
(como na vagina caudal). Possui abundante tecido nervoso. Quando o estradiol atinge o pico
plasmático, o clitóris caracteriza-se pelo estado de ereção.

A estimulação clitoriana imediatamente após a inseminação simula o que aconteceria durante a


cópula, e é responsável por estimular a motilidade do trato genital feminino. Embora a motilidade e o
vigor espermático sejam indispensáveis para a fecundação, a migração espermática até o oviduto
ocorre principalmente em virtude da motilidade do trato genital feminino. Dessa forma, a
estimulação clitoriana no momento da inseminação aumenta em cerca de 6% a 10% a prenhez de
vacas; no entanto, isso não se observa em novilhas.
Fisiologia do ciclo reprodutivo da fêmea bovina

Características do ciclo estral

O ciclo estral bovino consiste na série de eventos que ocorrem entre um e outro estro. As fêmeas
bovinas são animais poliéstricos contínuos (não sazonais), que ovulam em um intervalo médio de
21 dias (variando de 18 a 24 dias). Para um entendimento didático de seus eventos, o ciclo estral
pode ser divido em quatro fases:

Estro: fase em que a fêmea apresenta receptividade sexual (cio). No caso da vaca, ela aceita a
monta do macho ou mesmo a de outras fêmeas. A duração do estro é de 10 a 18 horas, podendo
variar muito entre as raças. Excepcionalmente em bovídeos, a ovulação não ocorre durante o estro,
mas cerca de 24 a 30 horas após o início dos sinais de cio, quando a fêmea já se encontra no
metaestro.
Metaestro: é a fase em que ocorre a ovulação, a formação do corpo lúteo e a consequente
elevação progressiva das concentrações plasmáticas de progesterona. O metaestro tem duração
de cerca de 5 dias.
Diestro: esse período é caracterizado pela redução da frequência pulsátil de hormônio luteinizante
(LH). Durante o diestro, o hormônio predominante é a progesterona. O diestro dura cerca de
14 dias.
Proestro: dura 3 ou 4 dias. Caracteriza-se pela redução da concentração de progesterona e pela
elevação progressiva das concentrações de estradiol. Durante essa fase, a fêmea já apresenta
algumas das características secundárias do estro (inquietação, edema de vulva, fonação, elevação
da temperatura corporal, entre outros), mas ainda não aceita a monta do macho e/ou das demais
vacas do lote.
Para melhor compreensão dos fenômenos relacionados à endocrinologia do ciclo estral, é
necessário entender a dinâmica folicular ovariana, pois os eventos foliculares são os principais
responsáveis pela inibição ou ativação de várias rotas biológicas que culminam com a ovulação ou
atresia dos folículos ovarianos.

Ovogênese e crescimento folicular pré-antral

O início do desenvolvimento de folículos e oócitos nos mamíferos ocorre durante a vida fetal. Em
síntese, as células germinativas primordiais presentes no ovário multiplicam-se por mitose, até que
as oogônias formadas iniciem o processo de meiose, passando, então, a ser denominadas “oócitos
primários”. Em bovinos, os oócitos fetais iniciam a primeira prófase meiótica entre os dias 75 e 80
após a concepção. A prófase meiótica é composta por vários estágios: proleptóteno, leptóteno,
zigóteno, paquíteno e diplóteno (estágio em que a meiose é interrompida). O diplóteno é atingido
em média aos 170 dias pós-concepção.

Cada estágio apresenta uma determinada característica na organização cromossômica.


Os cromossomos, durante a parada meiótica, descondensam--se, e uma estrutura nuclear conhecida
como “vesícula germinativa” (VG) é formada. Essa interrupção da meiose e a manutenção dos
oócitos em estágio de vesícula germinativa (fase de diplóteno da primeira prófase meiótica) ocorrem
durante a vida fetal e persistem até próximo à ovulação. Quando o pico pré-ovulatório de LH é
desencadeado, acontece o chamado primeiro reinício da meiose, quando, então, o oócito recomeça a
divisão reducional, que progride até o estágio de metáfase II. Durante essa fase, observa-se a
ruptura da VG (germinal vesicle breakdown – RVG ou GVBD) e seu consequente desaparecimento, e,
ainda, a condensação da cromatina, o pareamento dos cromossomos homólogos, o crossing-over e a
expulsão da metade desses cromossomos, na forma de primeiro corpúsculo polar. Nesse ponto,
ocorre a segunda parada da meiose (em metáfase II), e só haverá um novo reinício da divisão
meiótica por ocasião da fecundação. Se o oócito não for fecundado, ele vai acabar degenerando no
estágio de metáfase II.

A maturação nuclear do oócito, que vai desde o primeiro reinício da meiose (fase de VG) até o
momento em que oócito está pronto para ser fertilizado (em metáfase II), se verifica em um período
de 22 a 24 horas. Se for levada em conta que a ovulação e a maturação do oócito são eventos que
ocorrem paralelamente, e que o processo de ovulação dura de 24 a 30 horas, vai-se, então, observar
que, na espécie bovina, o oócito já está maturado e pronto para ser fertilizado no momento da
ovulação. Na Figura 9, está representado um esquema simplificado dos principais eventos que
ocorrem com um oócito nos estágios da vida da fêmea bovina.

Figura 9. Representação esquemática da ovogênese e do destino dos oócitos durante os


estágios da vida da fêmea bovina.
Fonte: Adaptado de Gonçalves et al. (2008).

Crescimento folicular pré-antral

A representação gráfica de folículos pré-antrais no ovário pode ser observada na Figura 10. Embora
seja fato muitas vezes ignorado em textos científicos que tratam da dinâmica folicular, o crescimento
folicular pré-antral também apresenta um crescimento dinâmico. O desenvolvimento dos folículos
pré-antrais (FPA) depende de uma série de fatores, conhecidos como “fatores de crescimento
folicular pré-antral”. Para o melhor entendimento sobre o desenvolvimento desses folículos, é preciso
conhecer sua organização histológica (Figura 10). Dessa forma, complementando o que já foi
abordado anteriormente sobre a histologia dos folículos, aqui vai ser utilizada uma classificação
baseada nos estudos de Fortune (2003) para caracterizar os FPA.

Figura 10. Estrutura histológica de folículos pré-antrais: folículo primordial (A) – oócito circundado por uma camada de
células achatadas da pré-granulosa (HE 400×); folículo primário (B) – oócito circundado por uma única camada de células
da granulosa cúbicas (HE 400×); folículo secundário (C) – oócito circundado por duas ou mais camadas de células da
granulosa cúbicas, onde se pode observar a zona pelúcida e células da teca (PAS-hematoxilina 200×).
Fotos: Janduí Escarião da Nóbrega Júnior. (2008).

Os folículos primordiais já estão presentes em fetos bovinos com 3 meses de vida intrauterina.
Esses folículos apresentam um oócito com cerca de 25 µm e um folículo com cerca de 35 µm,
envolvido por apenas uma camada de células planas, as quais são conhecidas como “células da pré-
granulosa”. Esses elementos compõem o estoque de folículos das fêmeas. Os oócitos inclusos nos
folículos primordiais formam um estoque finito, os quais permanecem em estado quiescente,
compondo a reserva de gametas de uma fêmea. Quando esses folículos são estimulados, eles
progridem para o estágio de folículo primário, evento conhecido como “ativação folicular”.

Os folículos primários apresentam um oócito com cerca de 30 µm e um folículo de 40 µm a 80 µm


de diâmetro. São constituídos por apenas uma camada de células da granulosa cuboides.

Os folículos secundários apresentam um oócito com 90 µm a 110 µm e folículo com mais de seis
camadas de granulosa, com presença de teca interna e zona pelúcida.

Há vários fatores que estão associados com o crescimento dos FPA, estando entre eles: ativina,
fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I), gonadotrofinas, insulina, neurotropina, esteroides,
fator de crescimento e diferenciação-9 (GDF-9), proteína morfogenética óssea (BMP-15), hormônio do
crescimento (GH), kit ligand e hormônio anti-mülleriano (AMH).

Ainda não são conhecidos todos os fatores que interferem no desenvolvimento dos FPA. Além
disso, a maior parte do conhecimento obtido é oriunda de estudos que utilizam roedores como
modelo experimental ou, então, eles foram realizados a partir de cultivos celulares in vitro.

Crescimento folicular antral

A representação gráfica de folículos antrais no ovário pode ser observada na Figura 10.
O desenvolvimento folicular antral é um processo dinâmico e exige uma interação entre órgãos de
diferentes sistemas (ovário, útero, hipófise e hipotálamo) e uma interação entre hormônios e tecidos-
alvo.

Quando folículos ovarianos secundários se desenvolvem e ocorre a separação entre as células da


granulosa e as células do cúmulus do oócito, formando um espaço intrafolicular conhecido como
“antro”, esse folículo passa a ser chamado de “folículo antral” ou “folículo terciário”. A dinâmica do
desenvolvimento folicular antral está mais bem elucidada do que a dos folículos pré-antrais. Além
disso, em virtude da maior velocidade de crescimento e também da maior resposta às
gonadotrofinas hipofisárias (FSH e LH), os folículos antrais despertam maior interesse, uma vez que
estão diretamente associados a um grande número de biotécnicas de reprodução, como também a
uma maior ocorrência de patologias.

O crescimento folicular antral apresenta duas fases de crescimento: fase de crescimento lento e
fase de crescimento rápido. A fase de crescimento folicular lento compreende o crescimento
folicular, que vai desde a formação do antro até o folículo atingir cerca de 4 mm. Essa fase tem
duração de cerca de 30 a 35 dias, sendo que os folículos sofrem pouca influência das gonadotrofinas
hipofisárias nesse período. Folículos antrais nessa fase apresentam receptores para FSH, mas não
para LH. Dessa forma, acredita-se que o LH não participe do crescimento folicular na fase lenta.
Alguns fatores de crescimento folicular têm papel importante nesse período, como o fator de
crescimento semelhante à insulina (IGF-I), pois atua em sinergismo com o FSH.

Convencionou-se que a fase de crescimento folicular rápido compreende o desenvolvimento


folicular a partir de 4 mm de diâmetro. O crescimento dos folículos durante essa fase é dependente
de gonadotrofinas. A emergência folicular e a consequente regressão folicular ou ovulação são
processos fisiológicos decorrentes da fase de crescimento rápido. Dessa forma, entende-se que,
entre 7 e 10 dias – período correspondente à duração da fase rápida –, os folículos possuem
somente dois destinos possíveis: entram em atresia ou ovulam. No item Regulação do
Desenvolvimento Folicular , os mecanismos que controlam o desenvolvimento folicular serão mais bem
descritos.

Esteroidogênese

Antes de serem elucidados os mecanismos que controlam o desenvolvimento folicular, torna-se


imperativo entender como ocorre a produção dos hormônios esteroides no ovário, processo
conhecido como “esteroidogênese”. Nesse processo, o colesterol é bioconvertido em esteroides
ovarianos, sendo eles: estrógenos (principalmente estradiol, estriol e estrona), andrógenos
(principalmente testosterona, androstenediona e di-hidrotestosterona) e progesterona.

A síntese de esteroides pelo ovário é um processo contínuo, que apresenta uma inter-relação com
a saúde folicular, ou seja, quando um folículo antral está se desenvolvendo, está,
consequentemente, sintetizando estradiol. Da mesma forma, o estradiol sintetizado é indispensável
para o funcionamento folicular, atuando como fator antiapoptótico, além de ser necessário para que
ocorra a divisão mitótica das células foliculares, permitindo sua proliferação e o consequente
crescimento folicular. As ações coordenadas do FSH, LH e seus receptores (FSHr e LHr) determinam o
crescimento e a esteroidogênese folicular.

O modelo mais bem aceito e estabelecido para explicar o crescimento folicular e a


esteroidogênese, denominado “duas células/duas gonadotro​finas”, foi proposto por Fortune e Quirk
(1988). De acordo com esse modelo, as células foliculares atuam de maneira coordenada para a
produção do estradiol 17ß, sendo que as células da granulosa atuam sob o estímulo do FSH,
enquanto as da teca, pela ação do LH.

Os esteroides são sintetizados em cascata, sendo que o colesterol, precursor comum com
27 carbonos, sofre sucessivas conversões até formar a progesterona, com 21 carbonos.
A progesterona, por sua vez, é utilizada como substrato para a síntese dos andrógenos, com
19 carbonos, os quais são clivados novamente para formar os estrógenos, com 17 carbonos.
O processo de esteroidogênese é complexo e abrange várias organelas celulares e enzimas
específicas a cada reação, além da ação conjunta entre as células da teca e da granulosa. No folículo,
predomina a síntese do estradiol, sendo que os compostos intermediários (progesterona e
andrógenos) não se acumulam no fluido folicular de folículos sadios, já que estão sendo utilizados
como substrato para a síntese do estradiol. Mesmo em concentrações menores do que o estradiol, o
folículo saudável também produz progesterona e andrógenos, os quais desempenham funções
importantes para o desenvolvimento folicular e até mesmo para a ovulação. Entretanto, em processo
de atresia folicular inicial, quando a conversão do estradiol é interrompida, observa-se um acúmulo
dos compostos intermediários da cascata esteroidogênica, observando-se uma diminuição da relação
estradiol/progesterona e estradiol/testosterona. Essa relação entre os esteroides é muito utilizada na
experimentação para a detecção de folículos saudáveis e atrésicos. No CL, a enzima 17α-hidroxilase
(também conhecida como CYP 17 ou P450 17α), que converte a progesterona em testosterona, é
inibida e, assim, há um acúmulo de progesterona, sem a produção dos demais esteroides ovarianos.

Folículos pré-antrais expressam FSHr, no entanto, não possuem outros elementos-chave para a
secreção de estradiol até a formação da camada de células da teca. Em folículos secundários e
antrais iniciais, as células da teca iniciam a expressão de LHr, P450 side-chain cleavage (P450scc),
17α-hidroxilase e 3β hidroxiesteroide desidrogenase (3β-HSD), tornando-se hábil, dessa forma, a
secretar progesterona e andrógenos. No momento em que os folículos são recrutados em uma onda
folicular, em consequência da maior responsividade ao FSH, as células da granulosa passam a
expressar P450scc e aromatase (P450arom ou CYP19) e, portanto, estão hábeis a sintetizar
pregnenolona e a converter androstenediona em estrona. Depois do recrutamento, as células da teca
começam a expressar a enzima steroidogenic acute regulatory protein (StAR), completando, assim,
sua capacidade esteroidogênica. À medida que os folículos crescem e um deles se torna dominante,
as células da granulosa começam a expressar 3β-HSD e aumentam a expressão das enzimas
aromatase, enquanto, na teca, aumenta a expressão de StAR.

Para fins didáticos, a seguir será apresentada, de forma simplificada, a esteroidogênese, desde a
entrada do colesterol na célula até a secreção de estradiol (Figura 11). O LH plasmático liga-se a
seus receptores (LHr) nas células da teca e induzem a ativação intracelular da adenilciclase (AC) que,
na forma ativa, transforma ATP em AMPc. Quando o AMPc é formado, ele induz a ativação de uma
enzima chamada proteína-quinase (PK). Nas células da teca, a PK tem três funções: 1) auxilia o
processo de internalização do colesterol associado à lipoproteína de baixa densidade (very low
density lipoprotein – VLDL); 2) ativa a colesterol esterase, que induz a quebra do colesterol e do
VLDL; e 3) ativa a StAR. A função da proteína StAR é transportar o colesterol para dentro da
mitocôndria, o qual logo é bioconvertido em pregnenolona, pela enzima citocromo P450SCC.
A pregnenolona vai para o retículo endoplasmático liso (REL) e é convertida em progesterona, pela
3β-HSD. A progesterona é, então, transferida para o citoplasma e é convertida em androstenediona
e testosterona, pela enzima CYP 17. Ao mesmo tempo que o LH está estimulando a PK na teca, na
granulosa o FSH e, depois da seleção do folículo dominante, o LH estão estimulando a ativação da
PK. Porém, na granulosa a PK ativa a enzima aromatase, que transforma testosterona e
androstenediona em estradiol e estrona. A estrona ainda é bioconvertida em estradiol e vai
constituir a maior parte do fluido folicular (Figura 11).

Figura 11. Esteroidogênese. Representação esquemática da produção dos esteroides,


evidenciando a bioconversão hormonal e a interação entre as células da teca e da granulosa de
um folículo, depois da seleção folicular. LHr = receptor de LH; PG = proteína G; AC =
adenilciclase; ATP = adenosina trifosfato; AMPc = adenosina monofosfato cíclico; PK = proteína
quinase; LDL = low density lipoprotein; STAR = steroidogenic acute regulatory protein;
P450scc = citocromo P450 side chain cleavage; Preg = pregnenolona; 3 βHSD = 3β
hidroxiesteroide desidrogenase; P4 = progesterona; REL = retículo endoplasmático liso; IGF-1 =
insulin like growth factor – 1; IGFBP = insulin like growth factor binding protein; PAPP-A =
pregnant associated plasmatic protein – A.

A esteroidogênese luteal é similar à esteroidogênese folicular, porém, no CL, a progesterona não é


convertida em androstenediona, pois a membrana basal do folículo se rompe no momento da
ovulação. Consequentemente, logo após a conversão de pregnenolona em progesterona, o processo
é interrompido, e o esteroide que deixa o retículo endoplasmático liso, na forma de progesterona, é
liberado para a circulação. Além disso, o LH é que mantém a função esteroidogênica do CL, pois as
células luteais só apresentam receptores para essa gonadotrofina.

Regulação do desenvolvimento folicular

O processo reprodutivo em mamíferos é regulado por uma complexa (e apenas parcialmente


entendida) cascata de eventos combinados entre tecidos do sistema nervoso central (SNC) e tecidos
do sistema reprodutivo. O SNC recebe informações do meio ambiente (visual, olfatório, auditivo e
tátil) e transmite a informação relevante à reprodução por meio do eixo hipotalâmico-hipofisário-
gonadal. No hipotálamo, após estímulos internos e externos, alguns neurônios do núcleo pré-óptico
produzem o hormônio liberador das gonadotrofinas (gonadotrophin releasing hormone – GnRH), que,
transportado por meio do sistema porta hipotálamo-hipofisário, chega ao lobo anterior da hipófise
(adeno-hipófise ou pituitária anterior).

O GnRH é um decapeptídeo com meia-vida bastante curta (aproximadamente 2 a 4 minutos), o


qual é liberado de forma episódica e é rapidamente metabolizado. Por essa razão, se mensurado no
sangue periférico, o GnRH mostra um padrão pulsátil de liberação, podendo apresentar, dependendo
da fase do ciclo estral, um pulso a cada 6 horas ou até um pulso a cada 15 minutos. Conforme
mencionado anteriormente, a secreção de GnRH depende de vários estímulos internos e externos.
Isso ocorre porque diversos neurônios que recebem informações intrínsecas (hormônios endógenos)
e extrínsecas (ambientais, como luminosidade e nutrição), em virtude do seu posicionamento
anatômico no hipotálamo, transmitem-nas para os neurônios secretores de GnRH, influenciando a
frequência de liberação desse neuro-hormônio. Entre os diversos neurônios que se comunicam com
os neurônios secretores de GnRH, um núcleo recebe atenção especial: o periventricular anteroventral
(AVPV). Esse núcleo de neurônios apresenta receptores para os esteroides ovarianos (progesterona e
estradiol) e, de acordo com as concentrações desses hormônios, produz o neurotransmissor ácido
gama-aminobutírico (gaba), que influencia a fre​quência de secreção do GnRH. Como as ações do
gaba são inibitórias, durante o diestro ocorre uma maior produção do gaba e, consequentemente,
uma menor fre​quência de GnRH. Durante as fases do proestro e estro (baixos níveis de
progesterona), o estradiol liga-se a seus receptores no AVPV e inibe a produção de gaba, o que
resulta em aumento da frequência de liberação de GnRH.

Na hipófise, o GnRH estimula as células gonadotróficas (gonadotrofo) a produzir FSH e LH. No


entanto, o efeito do GnRH difere quanto à liberação de cada uma das gonadotrofinas, o que faz que
os padrões plasmáticos de FSH e LH sejam completamente distintos. O FSH não possui um padrão
de acúmulo na hipófise, ou seja, à medida que é produzido, é liberado na corrente circulatória, sem a
necessidade de um pulso de GnRH para estimular a sua liberação. Isso faz os níveis séricos de FSH
serem mais constantes. Já o LH é produzido no ganadotrofo, onde é acumulado, sendo a sua
liberação dependente da ação do GnRH. Como a secreção do GnRH é pulsátil, o LH obedece a esse
mesmo padrão, sendo que, para cada pulso de GnRH, será observado um pulso de LH subsequente.
Dessa forma, quando, em um ambiente progesterônico (diestro), o aumento da concentração de
estradiol induz a diminuição na frequência de GnRH e, consequentemente, de LH. Já na ausência de
progesterona, o aumento de estradiol (produzido pelo folículo dominante) induz o aumento da
frequência de GnRH e, consequentemente, de LH, estimulando o crescimento folicular final. Nesse
ambiente, a frequência de LH eleva-se gradativamente, até atingir o pico pré-ovulatório de LH.

O advento da ultrassonografia em tempo real permitiu a elucidação e a comprovação das teorias


sobre o desenvolvimento folicular, tema que começou a ser intensamente estudado a partir do final
dos anos 1980. Desde então, um modelo de desenvolvimento folicular foi proposto e é o que
convencionalmente é utilizado para entender os processos de emergência, seleção e dominância
folicular. Entender esses eventos é condição para implementar biotécnicas reprodutivas, como
sincronização de estro, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), transferência de embriões (TE) e
fertilização in vitro (FIV). Os eventos biológicos que participam do processo de desenvolvimento
folicular nas diferentes fases do ciclo estral estão representados de forma simplificada na Figura 12.
Figura 12. Representação gráfica simplificada dos eventos foliculares envolvidos nas diferentes
fases do ciclo estral de bovinos: folículos azuis, recrutados; folículos verdes, em processo de
seleção folicular; folículos amarelos, em atresia; e folículos vermelhos, em dominância.

Convencionou-se que uma onda folicular inicia quando um pool de pequenos folículos antrais são
recrutados (emergência folicular), com cerca de 2 mm a 4 mm de diâmetro. Esses folículos
desenvolvem-se sob o estímulo da elevada concentração de FSH oriundo da adeno-hipófise.
O aumento acentuado de FSH nesse período ocorre por ocasião da ovulação ou da atresia do folículo
dominante presente na onda folicular anterior, em virtude do término do feedback negativo que o
estradiol, secretado por esse folículo, estava exercendo sobre a secreção de FSH. Dessa forma, na
espécie bovina, não há sobreposição entre ondas foliculares sucessivas, ou seja, enquanto ocorre o
desenvolvimento de uma onda folicular, o estradiol produzido inibe a síntese de FSH, que, por sua
vez, impede a emergênica da próxima onda. Conforme os folículos vão se desenvolvendo, eles
começam a secretar estradiol e inibina, os quais fazem um feedback negativo na secreção de FSH,
reduzindo sua concentração. Concomitantemente ao declínio do FSH, cada vez menos folículos, do
pool folicular originalmente estimulado, continuam crescendo, até que somente um folículo (folículo
dominante) seja selecionado. Os demais sofrem atresia via apoptose folicular (folículos
subordinados). A atresia folicular consiste no aumento intrafolicular de progesterona e na redução de
estradiol, indicando a perda da capacidade esteroidogênica do folículo. Os sinais de atresia são
expressos no exterior da membrana plasmática das células, por meio de proteínas apoptóticas, que
indicam a perda de função celular. Folículos subordinados permanecem viáveis por até um dia após a
seleção, podendo vir a tornarem-se dominantes se o folículo dominante falhar ou for removido (em
caso de aspiração folicular). A seleção do folículo dominante ocorre cerca de 2 ou 3 dias após a
emergência da onda folicular. O processo de seleção, que é bastante complexo, foi amplamente
estudado. O folículo dominante possui características especiais quando comparado com os demais
folículos da mesma onda folicular, tais como: aquisição antecipada de receptores de LH na granulosa
e elevados níveis de estradiol no fluido folicular.

Outro fator de crescimento que atua ativamente no processo de crescimento e na seleção do


folículo dominante é o sistema IGF. O IGF-1 e o estradiol atuam em sinergismo para aumentar ainda
mais a esteroidogênese e promover o crescimento folicular, pois o IGF-1 é um fator mitogênico que
estimula a proliferação das células da granulosa. O sistema IGF é constituído por IGF-1, IGF-2,
receptores para IGF, proteínas de ligação (IGF binding protein – IGFBP) e proteases do IGFBP. As
IGFBPs atuam como receptores solúveis afuncionais, ou seja, apresentam afinidade pelo IGF, mas
não estão aderidas às membranas celulares e, portanto, não transduzem sinalização sob a ação do
IGF. Dessa forma, as IGFBPs apenas sequestram o IGF, não o deixando atuar em seus receptores de
membrana e, assim, uma maior concentração de IGFBPs intrafolicular diminui a concentração do IGF
na sua forma livre. O FSH induz a secreção de proteína plasmática associada à prenhez (pregnancy-
associated plasma protein A – PAPP-A) na granulosa. Essa protease degrada, principalmente a IGFBP
do tipo 4 e 5 (IGFBP-4 e IGFBP-5), deixando o IGF na sua forma livre, para se ligar a seus receptores
e, com isso, estimula a esteroidogênese e a proliferação celular, e inibe a apoptose.
Recentemente, constatou-se que outros fatores produzidos localmente também participam do
controle autócrino/parácrino da foliculogênese, desempenhando um papel essencial na modulação
do crescimento de folículos e na potencialização do efeito das gonadotrofinas. Dessa forma, é
possível constatar que a seleção folicular não é mediada por uma única característica do folículo
dominante, e, sim, por um processo contínuo de diferenciação das células foliculares, tornando-as
mais responsivas às gonadotrofinas, com maior capacidade esteroidogênica e mais resistentes à
apoptose.

Depois do período de seleção folicular, o folículo dominante passa por um processo de


diferenciação, principalmente na camada das células da granulosa. Esse processo é caracterizado
por um aumento na capacidade mitótica e esteroidogênica do folículo. Esse fato decorre do aumento
na expressão de genes nas células da granulosa, os quais codificam receptores para gonadotrofinas
(FSHr e LHr), enzimas esteroidogênicas chave (aromatase e 3β-HSD) e genes relacionados com o
remodelamento da matriz extracelular (SerpinE2), com a proliferação celular (ciclina D2) e com a
proteção contra apoptose (XIAP, GADD45b, entre outras).

Logo após o estabelecimento da dominância, o folículo dominante passa a ser caracterizado como
LH-dependente, ou seja, o seu crescimento em tamanho e a consequente aquisição de capacidade
ovulatória vão depender da frequência de pulsatilidade de LH. Como discutido anteriormente, existe
uma íntima relação entre a pulsatilidade de LH e de GnRH, sendo que a frequência de pulsos deste
último pode ser afetada por inúmeros fatores, como: condição nutricional, amamentação e estresse.
Além disso, a frequência de GnRH também é modulada pela concentração de progesterona. Portanto,
na presença de altos níveis de progesterona (diestro ou durante a gestação), o estradiol produzido
pelo folículo dominante causa um feedback negativo na frequência de liberação de GnRH e,
consequentemente, de LH, impedindo o crescimento folicular final e a ovulação. Nesse caso, o
folículo dominante (LH-dependente), em um ambiente de baixa pulsatilidade de LH, perde sua
capacidade esteroidogênica e torna-se atrésico. Quando o folículo dominante perde o potencial
esteroidogênico e reduz drasticamente a produção de estradiol, o feedback negativo ao FSH
hipofisário chega ao fim, e uma nova onda de FSH surge. Dessa forma, o processo de emergência
folicular reinicia-se.

Já durante o proestro, caracterizado por baixos níveis de progesterona, o estradiol produzido pelo
folículo dominante causa um feedback positivo na liberação de GnRH e, consequentemente, de LH.
Dessa forma, com uma crescente pulsatilidade de LH, o folículo continua a crescer até adquirir a
capacidade ovulatória. Além disso, na ausência de progesterona, altas concentrações de estradiol
induzem um súbito aumento e de grande amplitude da liberação do GnRH, o qual, por sua vez, vai
estimular o pico pré-ovulatório de LH.

A duração do ciclo estral vai depender do número de ondas foliculares durante o ciclo.
Normalmente, bovinos têm duas ou três ondas foliculares; porém, cerca de 2% dos animais podem
apresentar uma ou até mesmo quatro ondas foliculares. Geralmente, animais com menos ondas
foliculares apresentam ciclos estrais mais curtos. Os processos de luteólise e o fim da produção de
progesterona, assim como a ovulação e a formação do CL, serão vistos adiante, detalhadamente.

Mudanças foliculares e oocitárias após o pico de LH e ovulação

Na ausência de progesterona, quando o folículo atinge a maturidade (diâmetro e capacidade


esteroidogênica) e níveis adequados de estradiol, ocorre um feedback positivo no hipotálamo,
liberando altas descargas de GnRH. Em seguida, o GnRH induz o pico pré-ovulatório de LH na adeno-
hipófise, o que leva a uma série de mudanças estruturais no folículo pré-ovulatório, que culminam
com sua ovulação. Nesse período, ocorre a quebra da membrana basal que separa as células da teca
das da granulosa e, consequentemente, há uma invasão microvascular nas células da granulosa, que
são originalmente avasculares. Depois do pico de LH, a quebra da membrana parece ser o fator
crucial para inibir a enzima CYP17 e, consequentemente, fazer cessar a conversão da progesterona
em testosterona, tanto nas células da teca quanto nas da granulosa. Assim, ambos os
compartimentos começam a sintetizar apenas progesterona. A elevação intrafolicular dos níveis de
progesterona provoca mudanças no oócito e na parede do folículo. No oócito, aumenta a quantidade
de lipídeos e estimula a formação de membranas de Golgi que, por sua vez, induzem o aparecimento
do espaço perivitelino. Na parede folicular, induz a síntese de colagenase na teca interna,
ocasionando sua proteólise.

Durante o processo ovulatório, o aumento das concentrações de estradiol estimula o aumento do


fluxo sanguíneo folicular, em virtude do aumento dos níveis de histamina e prostaglandina E2
(PGE2). Tais fatores levam ao aumento da pressão intrafolicular. A colagenase digere o colágeno que
compõe a túnica albugínea, levando ao aparecimento do estigma ovariano, local onde ocorrerá o
rompimento do folículo. Esses eventos levam a uma contração do próprio ovário e,
consequentemente, à ovulação. A liberação de PGE2 e de prostaglandina F2α (PGF2α) durante o
processo ovulatório causa, além da contração do músculo liso do ovário, a ruptura de lisossomos
dentro das células da granulosa. As enzimas lisossomais liberadas deterioram ainda mais o tecido
conectivo. A principal função da PGE2 é ajudar a remodelar o folículo em corpo lúteo, pois se
acredita que a PGE2 ativa o plasminogênio, que é convertido em plasmina, levando à modelação
tissular.

No oócito, o pico de LH induz a redução de AMPc no citoplasma, o qual desencadeia a retomada da


meiose. Além disso, o LH estimula o acúmulo de um pool de RNAm, o alinhamento dos grânulos
corticais, a quebra das junções GAP entre oócito e granulosa e a expulsão do primeiro corpúsculo
polar. A formação do estoque de RNAm é necessária para promover a síntese proteica enquanto não
ocorrer a ativação do genoma embrionário (fase de transição materno-fetal). Em suma, durante o
desenvolvimento folicular, e principalmente no período final de maturação, o oócito precisa acumular
todos os fatores maternos necessários para sustentar a maturação e o desenvolvimento embrionário,
até que ocorra a ativação do seu próprio genoma.

Formação do corpo lúteo

Conforme referido anteriormente, o corpo lúteo (CL) é uma glândula acessória transitória que
produz progesterona. O CL é formado pela luteinização das células da teca e da granulosa. Logo
após o pico pré-ovulatório de LH, ocorre a degradação da membrana basal e a consequente
desorganização das células da teca e da granulosa, formando um aglomerado de células
luteinizadas. As células da teca se transformarão nas células luteais pequenas, responsáveis pela
produção de cerca de 20% da progesterona, enquanto as células da granulosa se transformarão nas
células luteais grandes, responsáveis pela produção de cerca de 80% da progesterona.

A concentração de progesterona no período pós-fecundação é muito importante para o


estabelecimento da prenhez. Dessa forma, vários estudos têm demonstrado que, quanto maior for o
folículo ovulatório, maior será o CL e sua capacidade de produção de progesterona. A interação
desses fatores aumenta as chances de concepção. O efeito da progesterona e sua interação com o
estabelecimento da gestação serão mais bem discutidos na seção Fisiologia do Desenvolvimento
Embrionário e Fetal .

Luteólise

Não havendo a fecundação e/ou o reconhecimento materno da gestação, a concentração de


progesterona começa a diminuir cerca de 16 dias após a ovulação, em um processo que se inicia
com a luteólise. O processo de luteólise ocorre em virtude da saturação dos receptores de
progesterona, em torno do dia 14 do ciclo estral. Com a redução dos receptores de progesterona
(PR), os receptores de estradiol, que estavam inibidos em virtude da regulação negativa (down
regulation) que a ligação P4-PR exerce sobre eles, começam a aumentar. Quando o estradiol se liga
aos seus receptores no endométrio, ocorre a estimulação dos receptores de ocitocina, que, entre os
dias 16 e 18 do ciclo, são ativados e induzem a secreção de PGF2α pelas células do endométrio.
A secreção endometrial de PGF2α ocorre na forma de pulsos. Da mesma forma, considerando-se
doses fisiológicas, a luteólise completa só se verifica depois da ocorrência de vários pulsos de PGF2α.

A PGF2α é altamente metabolizável, principalmente no pulmão, e, portanto, uma vez produzida


pelo endométrio, é transportada pela veia uterina sem atingir a grande circulação. Dessa forma, o
organismo lança mão de um mecanismo de contracorrente. Esse mecanismo permite que a PGF2α
passe da veia uterina diretamente para a artéria ovariana, alcançando o CL e induzindo a luteólise.
Ao ligar-se a seus receptores das células luteais, a PGF2α estimula o aumento da concentração de
óxido nítrico, causando estresse oxidativo às células, o que vai levar à apoptose. O processo
apoptótico das células luteais ocorre pela ativação da caspase 3 e consequente degradação de seu
DNA. Além disso, a PGF2α parece induzir uma vasoconstrição periférica, reduzindo o suprimento
sanguíneo do CL, o que acelera o processo de regressão luteal.

A luteólise pode ser bloqueada naturalmente pela ação de uma proteína produzida pelo concepto,
chamada “trofoblastina” (e recentemente conhecida como “interferon-τ” – ITF-τ), que é produzida
durante o período próximo à implantação do embrião, nos dias 15 e 25 após a ovulação e a
fecundação. O processo de reconhecimento materno da gestação será mais bem elucidado na seção
Fisiologia do Desenvolvimento Embrionário e Fetal.

Características do ciclo estral em diversas raças e categoria

A dinâmica folicular apresenta diferenças importantes entre raças e entre categoria animal.
O conhecimento dessas características é de suma importância, dada a ampla variedade de raças
nos sistemas de produção de bovinos no Brasil.

Vacas versus novilhas

Em um estudo conduzido por Sartori et al. (2004), foi possível detectar diferenças nas
características do ciclo estral entre vacas e novilhas da raça Holandesa. Como vacas possuem um
metabolismo mais elevado do que novilhas, a depuração da progesterona pelo fígado é maior e,
consequentemente, a concentração de progesterona circulante é menor. Dessa forma, a redução da
progesterona plasmática leva ao aumento da frequência pulsátil de LH. Essas características têm
como consequência o maior diâmetro do folículo dominante e do CL em vacas do que em novilhas.
Vacas tendem a ter maior fase de platô da primeira onda folicular por causa da maior frequência de
LH. Isso leva as vacas a ter mais ciclos de duas ondas foliculares do que as novilhas.

Vacas com duas ondas versus vacas com três ondas foliculares

Como descrito anteriormente, o que define a duração do ciclo estral é a quantidade de ondas
foliculares da fêmea. Vacas com duas ondas foliculares têm um período de dominância folicular
maior, ou seja, o folículo ovulatório e o oócito são expostos por um maior período a um padrão
pulsátil de LH de alta frequência. Esse ambiente de alta secreção de LH pode afetar negativamente a
competência oocitária, pois esses oócitos podem iniciar antecipadamente a maturação. Por sua vez,
vacas com três ondas foliculares apresentam período de dominância folicular menor e tendem a
ovular um oócito mais competente. Dessa forma, foi postulado que vacas com três ondas foliculares
tendem a ser mais férteis do que vacas com duas ondas foliculares.

Bos indicus versus Bos taurus

Como 80% a 90% do rebanho nacional é constituído de bovinos Bos indicus, é imprescindível
entender as características da dinâmica folicular dessa subespécie, visto que a grande maioria da
literatura internacional é caracterizada basicamente por estudos realizados em Bos taurus. Fêmeas
Bos indicus possuem um diâmetro de folículo ovulatório menor (cerca de 12 mm a 14 mm) do que
fêmeas Bos taurus (cerca de de 14 mm a 16 mm). O diâmetro folicular no momento da seleção do
folículo dominante também é menor em vacas Bos indicus, com aproximadamente 6 mm, enquanto,
para Bos taurus, é de aproximadamente 8 mm. Outra diferença muito importante é a quantidade de
folículos recrutados por onda folicular. Vacas zebuínas possuem um número muito superior de
folículos recrutados por onda folicular do que vacas taurinas. Essa característica exerce impacto
direto sobre a eficiência de produção de embriões quando biotécnicas da reprodução, como a
fertilização in vitro, são implementadas, pois a quantidade de oócitos obtida por punção folicular é
muito superior em fêmeas zebuínas do que em taurinas. A Tabela 1 demonstra as principais
diferenças na dinâmica folicular observadas entre Bos taurus e Bos indicus.
Tabela 1. Características ovarianas em fêmeas Bos indicus e Bos taurus.

Características ovarianas Bos indicus Bos taurus


Diâmetro máximo do FD da primeira onda folicular (mm) 12,9 ± 0,4 13,3 ± 0,5
Dia da emergência da segunda onda folicular (dia) 8 ± 0,3 8,4 ± 0,3
Diâmetro máximo do FD da segunda onda folicular (mm) 10,8 ± 0,5 11,1 ± 0,6
Dia da emergência da terceira onda folicular (dia) 14,6 ± 0,5 15.9 ± 0,5
Diâmetro máximo do FD da terceira onda folicular (mm) 13 ± 0,3a 14,8 ± 0,6b
Diâmetro máximo do CL (mm) 21,4 ± 0,5a 24,6 ± 0,5b
FD = folículo dominante; CL = corpo lúteo.
Letras diferentes indicam que os valores são diferentes entre si.
Fonte: Adaptado de Bó et al. (2003).

Puberdade e maturidade sexual

A puberdade representa o momento em que uma fêmea manifesta o primeiro estro acompanhado
de ovulação. Já a maturidade sexual se dá quando a fêmea apresenta plena atividade reprodutiva, o
que ocorre depois de dois ou três ciclos estrais regulares. Há dois fatores principais que, atuando
conjuntamente, determinam o início da puberdade: a idade e o peso vivo.

Antes do início da puberdade, o hipotálamo apresenta uma hipersensibilidade ao estradiol


produzido pelos folículos em crescimento, o qual, em baixas concentrações, causa um feedback
negativo na hipófise (intensa inibição da secreção de FSH e LH). Porém, com a aproximação da
puberdade, ocorrem mudanças no padrão de liberação do GnRH, sendo que seus pulsos, mais
frequentes e com maior amplitude, estimulam a secreção de gonadotrofinas (LH e FSH). A elevação
da secreção de gonadotrofinas leva ao aumento da produção de estradiol pelos ovários, cessando,
assim, a inibição hipotalâmica e hipofisária, e dando início à atividade cíclica da fêmea.

A raça do animal é determinante do momento de início da puberdade. Novilhas leiteiras de origem


taurina podem atingir a puberdade por volta dos 8 a 10 meses de idade, enquanto raças britânicas
de corte só atingem a puberdade entre 12 e 13 meses. Raças zebuínas normalmente são mais
tardias e podem não atingir a puberdade antes dos 24 meses de idade. No entanto, esses são valores
médios, e a idade da puberdade depende muito do manejo alimentar e do processo de seleção
conduzido em cada linhagem.

A íntima relação entre o nível alimentar, principalmente depois da desmama, e o aparecimento da


puberdade torna a nutrição um fator de grande importância. O sinal metabólico que determina o
momento da puberdade ainda não é totalmente conhecido; entretanto, há vários fatores que estão
associados, tais como níveis de leptina, glicose, insulina e IGF-1. O mais provável é que a interação
desses fatores esteja associada, direta ou indiretamente, com o início da puberdade em novilhas.

Características reprodutivas do período peripúbere

Estudos que utilizaram ultrassonografia transvaginal em bezerras detectaram que fêmeas bovinas
com apenas duas semanas de vida já podiam apresentar ondas foliculares. Dessa informação infere-
se que provavelmente as ondas foliculares ovarianas já devem estar ocorrendo durante o final do
período fetal. Várias ondas foliculares desenvolvem-se paulatinamente com o passar do tempo (com
o aumento da idade) e, consequentemente, a cada nova onda folicular, o eixo hipotálamo-hipofisário
torna-se menos sensível ao estradiol (amadurecimento do eixo). Com a aproximação da primeira
ovulação, há uma redução da sensibilidade ao estradiol no hipotálamo e o consequente aumento da
secreção pulsátil de LH.

Com a constante elevação da secreção de LH, o diâmetro do folículo dominante de cada onda
folicular aumenta continuamente, até que atinja quantidades suficientes de estradiol, capazes de
estimular o pico pré-ovulatório do GnRH (hipotálamo), o que culmina com a liberação da onda pré-
ovulatória de LH e a consequente ovulação. O primeiro cio da vida de uma novilha não é fértil, pois,
logo após a primeira ovulação, grande parte dos animais desenvolve CL de vida curta. Assim, o
primeiro ciclo estral dura em torno de 12 a 14 dias, já que, como não há prévia exposição do útero à
progesterona, esse apresenta um grande número de receptores para ocitocina ativos. Isso significa
que concentrações baixas de estradiol pós-ovulação podem ser suficientes para estimular a secreção
de PGF2α uterina. Essa liberação antecipada de PGF2α pelo útero causa a lise precoce do CL e,
portanto, reduz a duração do primeiro ciclo estral.
Fisiologia do desenvolvimento embrionário e fetal

Embriogênese inicial

Conforme discutido anteriormente, o ciclo estral culmina com a ovulação de um oócito maturo (em
metáfase II). Depois da ovulação, o oócito é captado pelas fímbrias do infundíbulo e conduzido até a
ampola do oviduto, onde ocorrerá a fecundação.

Para que ocorra a fecundação, é necessária uma série de modificações em ambos os gametas, que
vão culminar com a penetração do espermatozoide no oócito e a consequente formação dos pró-
núcleos. Para tanto, o oócito deve estar no estágio de metáfase II (Figura 13), sendo que o restante
da progressão meiótica deve ocorrer em decorrência da oscilação intracitoplasmática de cálcio,
induzida pela penetração do espermatozoide. Para que o gameta masculino consiga penetrar na zona
pelúcida do oócito e completar a fecundação, ele deve estar capacitado.

Figura 13. Oócitos imaturos (A) e oócitos maturos em metáfase II (B).


Fotos: Luiz Gustavo Bruno Siqueira

Capacitação espermática consiste nas alterações que ocorrem no espermatozoide, como


desestabilização da membrana plasmática e hiperativação, que vão permitir que ele transponha a
zona pelúcida do oócito para realizar a fecundação. Depois da completa formação e diferenciação no
epidídimo, o espermatozoide apresenta motilidade progressiva e, se retirado diretamente do
epidídimo e colocado junto de um oócito maturado, possui habilidade de fecundá-lo. No entanto,
observando as células espermáticas no ejaculado, percebe-se que o contato com proteínas do
plasma seminal faz essas células voltar a um estado denominado de decapacitado. Isso ocorre
porque as proteínas do plasma seminal ligam-se à membrana plasmática do espermatozoide,
aumentando a sua estabilidade. Esse evento confere à célula espermática menor motilidade,
impedindo-a de romper a zona pelúcida e realizar a fecundação. Em contrapartida, o espermatozoide
na forma decapacitada, em virtude da maior estabilidade da membrana e do menor consumo de
energia, apresenta viabilidade maior no trato feminino.

A célula espermática inicia o processo de capacitação logo que entra em contato com o trato
reprodutivo da fêmea, mas, somente quando atinge o oviduto, é que ocorrerá a total capacitação
espermática, em virtude da secreção local, principalmente pela ação de glicosaminoglicanos. Em
virtude das alterações bioquímicas ocorridas durante a capacitação, as proteínas decapacitantes do
espermatozoide são removidas, de forma que ele adquire uma hipermotilidade e capacidade
fecundante. Por causa do maior consumo de energia e da menor viabilidade do espermatozoide
capacitado, o muco cervical atua como reserva espermática, fazendo com que a maior parte dos
espermatozoides chegue ao oviduto e somente se capacite próximo ao momento da ovulação. Isso
ocorre em virtude da diminuição dos níveis de estradiol e do aumento de progesterona, observado no
período próximo à ovulação. Essa alteração hormonal reduz a consistência do muco cervical,
permitindo uma maior progressão dos espermatozoides pela cérvix.

A primeira fase da fecundação ocorre pela ligação do espermatozoide a receptores específicos


presentes na zona pelúcida do oócito, denominados ZP1, ZP2 e ZP3. Esses receptores permitem que,
na maioria dos casos, a fecundação seja um evento espécie-específico (espermatozoide e oócito da
mesma espécie). Inicialmente, ocorre uma ligação do espermatozoide, ainda intacto, ao ZP3,
desencadeando a liberação das enzimas presentes no acrossoma para a digestão da zona pelúcida,
evento conhecido como “reação do acrossoma”. Depois de completada a passagem do
espermatozoide pela zona pelúcida, estando esse localizado no espaço perivitelínico (espaço entre a
zona pelúcida e a membrana plasmática do oócito), ocorre a fusão do segmento equatorial do
espermatozoide com o oócito.

Existem três mecanismos de controle polispermia, ou seja, eventos que impedem que mais de um
espermatozoide fecunde o oócito. O primeiro deles é o bloqueio vitelínico, que ocorre logo após a
fecundação, com a rápida despolarização da membrana plasmática do oócito, evitando sua fusão
com outros espermatozoides. O segundo mecanismo, conhecido como reação de zona, é a fusão dos
grânulos corticais presentes na periferia do oócito com a membrana plasmática no local onde
ocorreu a penetração do espermatozoide. Essa fusão se propaga por toda a membrana na forma de
onda, conferindo uma barreira de proteção contra a entrada de outras células espermáticas.
O conteúdo desses grânulos corticais é depositado no espaço perivitelínico, causando a hidrólise dos
receptores da zona pelúcida (ZP1, ZP2 e ZP3) e transformando-as em ZP1F, ZP2F e ZP3F. Dessa
forma, impede a ligação de novos espermatozoides e a reação acrossomal. O terceiro mecanismo,
pouco observado em mamíferos, é a extrusão de pró-núcleos supranumerários. Ou seja, em caso de
mais de um espermatozoide penetrar no oócito, todos os pró-núcleos masculinos são removidos, até
que reste somente um.

A fusão do oócito e do espermatozoide é o estímulo inicial para que ocorram as sucessivas divisões
mitóticas para a formação do embrião. A despolarização da membrana causada pela penetração do
espermatozoide provoca a hidrólise do fosfatidilinositol bifosfato, a liberação de várias ondas de
cálcio, a degradação do fator promotor da fase M (MPF) e a consequente progressão da meiose no
oócito. Vale lembrar que o oócito maturado só retoma a meiose após a fecundação, passando pelos
estágios de anáfase II e telófase II. A oótide, que ocorre quando os pró-núcleos feminino e
masculino podem ser observados dentro do oócito fecundado, é uma das maiores células do
organismo e possui alta relação de volume citoplasmático quando comparada com o núcleo. Depois
da singamia (fusão dos pró-núcleos), o ovo passa a ser designado de “zigoto”. Em sequência à
formação do zigoto, ocorrem diversas divisões mitóticas ainda dentro da zona pelúcida, sendo que
cada uma das células que compõem o concepto é denominada de “blastômero”. Como resultado das
sucessivas clivagens, desenvolve-se um embrião com maior número de células, mas ainda com a
mesma massa citoplasmática, pois todas as clivagens realizam-se dentro da zona pelúcida que
mantém o volume do embrião. Durante as primeiras divisões mitóticas, o estágio de
desenvolvimento embrionário é classificado de acordo com o número de blastômeros, como embrião
com 2, 4, 8 e 16 células, e assim por diante. Quando o embrião se torna uma estrutura esférica e não
se pode mais contar o número de blastômeros, esse estágio embrionário é chamado de “mórula”.

Blastômeros de embriões são células também conhecidas como totipotentes ou pluripotenciais,


termo utilizado para designar a capacidade de diferenciação em qualquer célula do indivíduo ou dos
envoltórios fetais. Tal característica pode ser usada para a produção de clones ou gêmeos por
bipartição embrionária. Entretanto, clones oriundos de células somáticas de um indivíduo adulto,
cujos núcleos foram transplantados em oócitos enucleados, também tiveram sucesso na produção de
um indivíduo. Dessa forma, aparentemente todas as células do organismo possuem potencial
totipotente, desde que um oócito seja utilizado como receptor do núcleo.

No estágio de mórula (Figura 14A), as células mais periféricas começam a ficar mais compactadas
do que as internas (mais centralizadas). Começam assim a aparecer dois tipos de células: as
periféricas e as centrais. As células centrais desenvolvem as junções do tipo GAP (GAP junctions),
que permitem a comunicação entre elas. Já as células periféricas desenvolvem junções do tipo tight
(tight junctions), as quais alteram a sua permeabilidade. Depois da formação das tight junctions, o
embrião começa a acumular fluido. Acredita-se que o acúmulo de fluido ocorre por causa da ativação
da bomba de sódio presente nas células periféricas, que coloca íons de sódio no interior do embrião.
Esse aumento da concentração de solutos acarreta a passagem de água pela zona pelúcida e o
acúmulo de líquido no embrião, o que leva à formação de uma cavidade chamada “blastocele”.

Quando se reconhece a blastocele, o embrião é chamado de “blastocisto” (Figura 14B). Esse


estágio embrionário apresenta duas distintas populações celulares: as células da massa celular
interna ou embrioblasto e as células do trofoblasto. As células do embrioblasto serão responsáveis
pela formação dos folhetos embrionários (endoderma, mesoderma e ectoderma), enquanto as
células do trofoblasto darão origem ao córion, parte do componente fetal da placenta.

Durante a fase de blastocisto, os blastômeros continuam o processo de mitose, e os fluidos


continuam sendo acumulados no interior da blastocele, aumentando, assim, a pressão no interior do
embrião (Figura 14C). Paralelamente ao crescente acúmulo de líquidos, as células trofoblásticas
produzem enzimas proteolíticas, que enfraquecem a zona pelúcida (de origem glicoproteica). Com o
consequente aumento do embrião, decorrente das sucessivas mitoses, aproximadamente no oitavo
dia de gestação ocorre o rompimento da zona pelúcida, fenômeno conhecido como “eclosão do
blastocisto” (Figura 14D).

Figura 14. Embriões em vários estágios embrionários: mórula (A), blastocisto (B), blastocisto
expandido (C) e blastocisto eclodido (D).
Fotos: Luiz Gustavo Bruno Siqueira (A e B); Daniela Cristina Lemos de Carvalho (C e D)

Depois da eclosão, o embrião deixa a zona pelúcida e vai gradativamente aderindo ao endométrio.
A completa implantação do concepto vai ocorrer somente por volta do 32º dia de gestação. Antes da
implantação, o embrião possui duas fontes de nutrição: a reserva presente no saco vitelino e a
própria secreção do endométrio da mãe. Essa secreção das glândulas endometriais, que recebe o
nome de leite uterino, exerce função determinante no crescimento e na sobrevivência embrionária.
A produção do leite uterino depende da quantidade e da saúde das glândulas endometriais, assim
como do estímulo da progesterona (ver o item Progesterona e Função Endomentrial no Período de
Reconhecimento da Gestação. O mecanismo de implantação embrionária será discutido no item
Implantação. Depois da implantação, há uma eficiente angiogênese, que permite a nutrição do
concepto e a excreção de parte dos catabólitos.

Atualmente, considera-se que a fase embrionária inicia-se logo após a fecundação, com a primeira
divisão mitótica. Quando a diferenciação celular acaba, inicia-se a fase fetal. Na espécie bovina, a
transição entre a fase embrionária e a fetal ocorre aproximadamente no 45º dia. De forma prática,
diz-se que a fase fetal inicia-se quando se consegue reconhecer a qual espécie pertence o referido
concepto, ou por ultrassonografia, pela calcificação do esqueleto. As características do concepto de
acordo com a idade gestacional estão resumidas na Tabela 2.

Tabela 2. Características e idade gestacional de cada uma das fases do desenvolvimento do concepto.

Idade
Fase Características
gestacional
Mórula
Embrião com 32 a 64 blastômeros. Blastômeros compactos, que ocupam
compacta Dia 5 ou 6
60% a 70% do espaço perivitelino
(Mc)
Blastocisto Embrião com 100 a 200 células, caracterizado pela formação da
Dia 7
inicial (Bli) blastocele. É possível diferenciar o trofoblasto da massa celular interna
Blastocisto Evidente diferenciação das células do trofoblasto, que se aderem à zona
Dia 7 ou 8
(Bl) pelúcida e à massa celular interna
Blastocisto
Aumento considerável de tamanho, com diminuição da espessura da zona
expandido Dia 7 ou 8
pelúcida
(Blx)
Blastocisto Embrião fora da zona pelúcida. Possui aspecto gelatinoso e de difícil
Dia 8 ou 9
eclodido (Ble) manipulação
Do dia 11
Gástrula Forma tubular e elongamento
ao dia 18
Nêurula Dia 25 Formação do tubo neural

Desenvolvimento das membranas extraembrionárias

O termo “concepto” refere-se à estrutura formada pelo embrião ou feto e às estruturas


extraembrionárias. Os envoltórios fetais ou estruturas extraembrionárias possuem várias funções:
aderir ao endométrio materno, proporcionar trocas materno-fetais, secretar alguns hormônios e
servir de proteção ao feto. Além disso, o conteúdo dos envoltórios fetais no momento do parto atua
também lubrificando a via fetal. As estruturas extraembrionárias são formadas por três
compartimentos distintos: âmnio, alantoide e saco vitelino. Essas estruturas são originárias do
trofoblasto, do mesoderma e do endoderma.

As células do trofoblasto são as primeiras a se diferenciarem no embrião e circundam todo o


concepto. A diferenciação das células da massa celular interna (ou embrioblasto) é responsável pela
formação dos três folhetos embrionários (endoderma, mesoderma e ectoderma). O desenvolvimento
do endoderma primitivo forma uma cavidade denominada saco vitelino. Essa membrana é um anexo
embrionário transitório e regride em tamanho conforme a gestação avança. Essa cavidade se
comunica com a porção cranial do intestino primitivo e tem a função de nutrir o concepto durante o
desenvolvimento embrionário inicial. O saco vitelino também é responsável pela formação das
células germinativas primordiais, as quais migram para o tubérculo genital, formando futuramente a
gônada indiferenciada.

Com a progressão do desenvolvimento embrionário, as células do mesoderma unem-se com as do


trofoblasto, formando o córion. O córion será a estrutura responsável pela adesão no endométrio e
pela formação de vilosidades, que permitirão as trocas materno-fetais. O desenvolvimento de
projeções do córion em sentido dorsal até o ponto em que envolva completamente o embrião dá
origem à vesícula amniótica (Figura 15). Essa membrana, que é bastante rígida nos estágios iniciais
de gestação, serve como proteção do embrião.

Figura 15. Feto bovino envolvido pelo âmnio (1). As setas pretas delimitam o âmnio, enquanto
as setas brancas evidenciam a presença de cotilédones no córion.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

A partir da porção caudal do intestino primitivo do embrião, é formado o alantoide, revestido por
células do mesoderma. Essa cavidade é responsável pelo armazenamento de parte das excretas do
concepto e, portanto, aumenta de tamanho ao longo da gestação. O desenvolvimento gradual da
vesícula alantoide promove o contato íntimo de algumas porções com o córion, formando a estrutura
conhecida como “corioalantoide” ou “alanto-córion”. No momento do parto, o líquido alantoide
representa cerca de 70% (~ 9,5 L) do volume total dos envoltórios fetais.

A placenta dos ruminantes é classificada como “cotiledonária sinepiteliocorial” (também chamada


de “sindesmocorial”). Recebe a classificação como cotiledonária porque as vilosidades do córion, em
condições fisiológicas, desenvolvem-se junto às estruturas maternas denominadas de “carúnculas”
(ver Anatomia do Sistema Reprodutivo da Fêmea Bovina. Essa porção da placenta fetal que invade as
carúnculas e estabelece uma íntima comunicação recebe o nome de “cotilédone” (Figura 16).
Quando não se consegue individualizar o que faz parte da carúncula ou do cotilédone, a estrutura é
denominada de “placentônio” (Figura 16).

Figura 16. Útero excisado, evidenciando a presença dos placentônios (1). É possível observar os
cotilédones (setas pretas) despregando-se das carúnculas (setas brancas). O feto ainda se
encontra dentro do âmnio (2).
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

A classificação da placenta como do tipo sinepiteliocorial deve-se ao fato de as vilosidades do


córion estarem em contato com o epitélio endometrial, não havendo contato direto com o endotélio
ou com o sangue materno, como ocorre em outras espécies. O prefixo “sine”, em sinepiteliocorial,
deve-se, aliás, ao fato de ocorrer uma temporária erosão do epitélio endometrial, o qual retoma seu
crescimento em seguida. Isso induz um contato intermitente entre o córion e os capilares maternos.
Além disso, esse tipo de placenta é caracterizado pela presença de células binucleadas gigantes
(CBG), que aparecem aproximadamente no 14º dia, e são originadas da divisão nuclear sem que
ocorra citocinese, fenômeno conhecido como “poliploidia mitótica”. Por volta do dia 16 de gestação,
as CBG representam em torno de 20% do trofoectoderma. Durante o desenvolvimento embrionário,
as CBG migram do trofoectoderma para o epitélio endometrial. Essas células são responsáveis pela
produção de estradiol, progesterona, lactogênio placentário (LP) e glicoproteína associada à prenhez.
O LP possui ação tanto somatotrófica quanto lactogênica, estimulando o desenvolvimento do
concepto e da glândula mamária, respectivamente. Além disso, o LP liga-se ao receptor de prolactina
e estimula o crescimento e a diferenciação das glândulas uterinas, dando, assim, maior suporte ao
estabelecimento da gestação.

Implantação

A idade do embrião é calculada conforme o dia do estro (que é o dia 0). Dessa forma, no momento
da ovulação, considera-se que o oócito está no dia 1. Aproximadamente no dia 5 após a
fecundação, o embrião ultrapassa a junção útero-tubárica e inicia gradativamente o processo de
implantação. Diferentemente de algumas espécies, em ruminantes a implantação vai ocorrer no
corno uterino ipsilateral ao ovário, onde ocorreu a ovulação. Em caso de gestações gemelares,
mesmo que as ovulações tenham ocorrido no mesmo ovário, a busca por espaço faz que, na maioria
dos casos, desenvolva-se um concepto em cada corno uterino.

Conforme discutido anteriormente, aproximadamente no oitavo dia ocorre a eclosão do blastocisto


e, entre os dias 9 e 14 após a ovulação, há o contato do embrião com a parede uterina. Esse contato
promove a interdigitalização das projeções citoplasmáticas das células do córion e as vilosidades do
epitélio endometrial, assegurando a firme adesão.

Reconhecimento materno da gestação

Para a gestação ser levada a termo, a luteólise precisa ser prevenida. A progesterona deve ser
mantida em níveis adequados para que o embrião continue se desenvolvendo e se fixe ao
endométrio. Portanto, o reconhecimento materno da gestação envolve mecanismos de sinalização do
embrião, que promovem a manutenção do corpo lúteo (os mecanismos de inibição da luteólise serão
revisados no item Inibição do Mecanismo Luteolítico Endometrial, a seguir) e, consequentemente, a
contínua secreção de progesterona. A progesterona, durante a gestação, desempenha quatro ações
importantes: 1) estímulo das glândulas endometriais para a secreção do leite uterino; 2) inibição da
contração do miométrio, mantendo o útero relaxado, para evitar a expulsão do concepto;
3) modulação da resposta do estradiol no hipotálamo, evitando um pico de LH e uma possível
ovulação; e 4) ação mamogênica, preparando a glândula mamária para a futura lactação.

Inibição do mecanismo luteolítico endometrial

A prostaglandina F2 alfa (PGF2α) é produzida pelo epitélio endometrial e pelas glândulas


superficiais do endométrio (GSE) em resposta à ligação da ocitocina ao seu receptor (OXTR). Já a
expressão de OXTR é regulada pelos níveis de progesterona e estradiol.

A progesterona age por meio dos seus receptores (PR) para bloquear a expressão dos receptores
de estrógeno (ESR1). A ação do estradiol via ESR1 estimula a transcrição do gene OXTR. No entanto,
a ação contínua da progesterona causa perda do PR após o 11º dia do ciclo, o que permite o
aumento da expressão de ESR1 entre os dias 12 e 13, e de OXTR no dia 14. A ocitocina é secretada
pela neuro-hipófise e/ou corpo lúteo e liga-se ao OXTR para induzir os pulsos de PGF2α entre os dias
14 e 16, o que culmina com a regressão do corpo lúteo.

Em ruminantes, o blastocisto em expansão produz interferon tau (ITF-τ), conhecido também como
“proteína trofoblástica bovina 1”, que atua como um sinal parácrino para o reconhecimento materno
da gestação. O ITF-τ atua por meio dos seus receptores no útero, prevenindo a síntese de PGF2α
pelo endométrio; com isso, evita a luteólise. A ação do ITF-τ é via down-regulation dos receptores de
estradiol (ESR1) e, consequentemente, ocorre a diminuição da expressão dos receptores de
ocitocina. Conforme revisado anteriormente, a ligação da ocitocina, principalmente a produzida pelo
corpo lúteo, ao seu receptor é necessária para a síntese de PGF2α pelo endométrio. O ITF-τ é
produzido pelo embrião entre os dias 13 e 21 após a ovulação, em ruminantes, parece ser o principal
fator responsável pela manutenção do corpo lúteo durante o desenvolvimento embrionário inicial.

Progesterona e função endometrial no período de reconhecimento da gestação

O ambiente materno é indispensável ao desenvolvimento do concepto, o qual, por sua vez, é


crítico para a implantação e o reconhecimento materno da gestação. Depois da eclosão da zona
pelúcida, o embrião precisa se desenvolver rapidamente, passando, em poucos dias, da forma
esférica para a forma filamentosa. Além disso, existe uma correlação entre o crescimento do
concepto e a sua capacidade em produzir ITF-τ. Os fatores de origem endometrial que apoiam esse
crescimento são conhecidos como “histotrofos”.

Durante o início da gestação, a progesterona e os hormônios placentários estimulam a produção


das proteínas do leite uterino. Em um estudo utilizando ovelhas como modelo experimental, a
suplementação com progesterona durante o período pré-implantação determinou uma maior
expressão das proteínas do leite uterino e um aumento no desenvolvimento do concepto de até
220%, o que demonstra que: a) a capacidade do útero de produzir leite uterino interfere no
crescimento e na sobrevivência embrionária; e b) a produção de progesterona pelo corpo lúteo
exerce um importante papel nesse processo.

Existe uma correlação direta, tanto nos bovinos de corte quanto nos de leite, entre as
concentrações plasmáticas de progesterona e a sobrevivência embrionária. Essa relação pode ser
claramente observada em vacas leiteiras de alta produção, nas quais, em virtude da alta depuração
hepática, os níveis de progesterona permanecem baixos depois da ovulação, o que acaba por reduzir
o desenvolvimento embrionário e, consequentemente, as taxas de concepção. O aumento das
concentrações de progesterona entre os dias 2 e 9 da gestação melhora o desenvolvimento do
concepto. Já a baixa concentração de progesterona durante os estágios iniciais de gestação
determina um desenvolvimento embrionário mais lento e uma menor produção de ITF-τ pelo
concepto. A progesterona atua no endométrio induzindo a expressão de proteínas que compõem o
leite uterino, entre elas a galectina 15 (LGALS15) e a osteopontina (SPP1 ou secreted phosphoprotein
one). Essas proteínas regulam a sobrevivência, o crescimento e a adesão durante a implantação do
concepto.

Desenvolvimento fetal

O desenvolvimento fetal em bovinos inicia aos 45 dias de gestação, depois de concluída a


diferenciação da maior parte dos tecidos (fase embrionária) e depois da implantação e do
desenvolvimento placentário. Durante o perío​do fetal, ocorrem processos de diferenciação tecidual
menos complexos do que no período embrionário, juntamente com o crescimento e o
amadurecimento pré-natal do indivíduo. Durante a fase fetal, as carúnculas e os cotilédones
continuam a se desenvolver, de forma a permitir a adequada nutrição do concepto.

O feto apresenta uma curva geométrica de crescimento, que pode ser classificada didaticamente
em duas fases: crescimento lento – da concepção até o terço final da gestação; e crescimento
rápido – do terço final da gestação até o parto. Entre 210 e 270 dias de gestação, o feto bovino
aumenta de peso três vezes mais do que em todo o resto da gestação. Algumas características
durante o desenvolvimento da prenhez podem ser de grande importância no diagnóstico da idade
fetal (Tabela 3).

Tabela 3. Características anatômicas fetais de acordo com a idade gestacional em vacas.

Comprimento do Peso dos


Idade
concepto (cm) líquidos Características
gestacional
(1) fetais (kg)
Sem pelos. É possível identificar a cabeça e os
1° mês 0,8 a 1 0,03 a 0,08
membros
Sem pelos, com reconhecimento de cascos e com
2° mês 6,8 0,15 a 0,5
oclusão do palato externo. A placenta já está aderida
Apresenta pelos nos lábios, na barbela e nas pálpebras.
3° mês 13 a 17 1
Já se identifica o escroto
Apresenta pelos finos ao redor dos olhos, separação
4° mês 22 a 32 1 a 3,5
das unhas e coloração amarelada
Pelos na região ocular e nos lábios. Presença de
5° mês 30 a 45 4 a 8
testículos no escroto. Desenvolvimento dos mamilos
Pelos dentro das orelhas e na extremidade da cauda,
6° mês 40 a 60 4 a 8,5
com todos os órgãos desenvolvidos
Pelos nas regiões dos metacarpos, metatarsos e
7° mês 55 a 75 6,3 a 8,5 falanges. Aparecem pelos longos na extremidade da
cauda
Pelagem completa, com pelos curtos em todo o corpo.
8° mês 60 a 85 8 a 12 Não há ruptura da gengiva causada pelos dentes
incisivos
9° mês 70 a 100 8 a 20 Pelagem com pelos normais. Erupção dos incisivos
(1) Comprimento do occipto-coccígeo, que varia bastante, de acordo com a raça.

Fonte: Adaptado de Grunert e Birgel (1982) e Roberts (1971).

Sinais de maturação do feto ao parto

A maturação do feto é considerada o principal sinal do término fisiológico da gestação. No


momento do nascimento, o feto pode apresentar características de maturidade normal, de
imaturidade (prematuro) ou de demasiada maturidade, etapas que serão descritas a seguir. Os
partos prematuros ou retardados podem ocorrer em virtude de patologias fetais ou até mesmo em
fetos considerados normais, dando origem a quatro classificações, de acordo com Grunert e Birgel
(1982): 1) parto prematuro fisiológico; 2) parto retardado fisiológico; 3) parto prematuro patológico;
e 4) parto retardado patológico. Abaixo serão descritas as características fetais de acordo com a
maturidade, as quais servirão de base para estimar o tempo gestacional:

Feto imaturo: menos que 270 dias de prenhez. Pelos curtos, sendo que os pelos da região umbilical
são mais curtos do que os do restante do corpo. Dentes incisivos (pinças e os primeiros médios)
não alinhados. Gengiva recobrindo os segundos dentes médios e, em alguns casos, também os
primeiros médios.
Feto maturo: ocorrem em gestações que são levadas a termo de forma adequada, com duração de
270 a 295 dias. Pelos recobrindo todo o corpo. Pelos da região umbilical maiores do que os do
restante do corpo. Pinças e primeiros dentes médios presentes na arcada dentária e alinhados.
Feto demasiado maturo: acima de 295 dias de prenhez. Excessivo desenvolvimento de pelos,
sempre encaracolados. Nesses fetos, é possível evidenciar a erupção dos dentes de leite.
Exame ginecológico
O exame ginecológico faz parte da avaliação clínica; portanto, os procedimentos devem ser os
mesmos adotados em um exame clínico de rotina. Os primeiros passos de um exame ginecológico
devem ser a identificação do indivíduo, seguida da anamnese e da inspeção visual, no intuito de
detectar alterações que possam comprometer a saúde e, consequentemente, afetar a produtividade
do animal. O veterinário deve estar ciente de que o detalhamento do exame clínico geral e a
anamnese devem estar relacionados com o motivo do exame. Em casos de exames ginecológicos
e/ou obstétricos em grandes populações, como nos diagnósticos de gestação, a anamnese e a
inspeção serão realizadas em todo o rebanho, avaliando-se o histórico e as condições gerais de
saúde e nutrição. Em vacas leiteiras ou em caso de animais com queixa de infertilidade, far-se-á um
exame clínico geral e uma anamnese individual mais detalhada.

O veterinário deverá associar os achados clínicos com o histórico do animal ou do lote. Se o


profissional for fazer diretamente o exame ginecológico específico, algumas alterações importantes
poderão passar despercebidas. Durante a entrevista, é preciso obter algumas informações
importantes, como: datas do parto, da cobertura/inseminação e do último cio observado, e entrada
indesejada de outros reprodutores fora da estação de monta. Como dito anteriormente, em casos de
diagnóstico de gestação em grandes lotes, a anamnese fornecerá valiosas informações, que poderão
determinar a eficiência e a celeridade do exame. Por exemplo, em casos de fêmeas “solteiras” ou
novilhas com boa condição nutricional e alta ciclicidade, é importante saber, entre outras
informações, o período da estação de monta, o tempo transcorrido entre a retirada do reprodutor do
lote e o exame, e o número de touros utilizados. Nesses casos, em virtude da alta ciclicidade dessas
fêmeas, o examinador vai suspeitar que as gestações estão mais avançadas, pois possivelmente
essas vacas possuirão, em média, gestação mais adiantada do que vacas com “cria ao pé”. Esse
exemplo mostra o quanto é importante a realização de uma adequada anamnese dos animais antes
de se dar início ao procedimento ginecológico propriamente dito.

Tendo em vista a importância da nutrição na função reprodutiva, é sempre recomendado que,


durante a inspeção, o clínico faça também a avaliação do estado nutricional da fêmea. O técnico
deve estar ciente de que, em sistemas de produção de carne e leite, as recomendações nutricionais
são extremamente importantes para que o rebanho atinja adequada eficiência reprodutiva. Além
disso, aprumos devem receber especial atenção, principalmente em rebanhos leiteiros, pois são os
que mais sofrem com as alterações de casco. Aprumos sadios são necessários para a execução das
atividades reprodutivas básicas (exteriorização do cio, monta e parto). Ainda na avaliação visual,
alguns sinais clínicos de afecções reprodutivas podem ser facilmente identificados, tais como:
retenção de placenta, prolapsos de vagina e útero e corrimento vaginal. A boa condução da inspeção
visual pode prover informações importantes, que deverão ser associadas com os dados colhidos no
exame específico do trato reprodutivo.

Preparação prévia ao exame ginecológico

Antes de iniciar o exame ginecológico, o médico-veterinário deve ter sempre ao seu dispor luvas de
palpação, gel lubrificante e planilha para anotações. Para garantir a segurança do veterinário e do
animal que será avaliado, é importante que o examinador esteja com as unhas bem aparadas e não
usar anéis ou pulseiras, que podem causar danos à mucosa da fêmea. Além disso, é importante estar
com vestimenta adequada (macacão, avental, calçado/bota), para lhe assegurar maior segurança.

É altamente recomendável que o animal esteja adequadamente contido, pois animais pouco
acostumados com centros de manejo (brete, currais, mangueiras) podem ficar bastante incomodados
quando palpados no reto, podendo causar danos, tanto a si quanto ao examinador. Não são raros os
relatos de acidentes com profissionais, decorrentes da má contenção do animal ou da má condição
do centro de manejo.
Exame ginecológico por palpação retal

Algumas características do exame retal devem ser observadas antes de serem descritos os
procedimentos de avaliação ginecológica. Na palpação retal de bovinos, é comum a vaca produzir
ondas peristálticas no reto, como ato reflexo para expulsar o braço do examinador. Durante as ondas
peristálticas, recomenda-se que o examinador não force o braço contra a corrente de contração, pois
podem ocorrer lacerações no reto, especialmente em novilhas. Dessa forma, é indicado que o
veterinário utilize bastante gel lubrificante na luva de palpação para proceder ao exame. Exames
retais vigorosos devem ser evitados, pois, além do risco de laceração retal, tal conduta tende a
aumentar as contrações e o tônus retal, dificultando bastante o exame. Se, durante o exame, for
visualizada a presença de sangue fresco (vivo) e em grande volume, o exame deverá ser
interrompido e deverá ser dado início à terapia de suporte ao animal. Existe a possibilidade de
ocorrer ruptura ou danos na mucosa retal, porém dificilmente essas lesões serão ocasionadas em um
único exame. É mais comum ocorrer lesões em fêmeas que são utilizadas para estudos de dinâmica
folicular e controle de ovulação, pois elas são examinadas com maior frequência (a cada 6, 12 ou 24
horas), dependendo da natureza do estudo. De forma geral, os exames ginecológicos devem ser
feitos com movimentos suaves, o que reduz drasticamente os riscos para o animal e aumenta
consideravelmente a eficiência do procedimento.

Na espécie bovina, a remoção das fezes da ampola retal é opcional. Em exames mais detalhados
em que as fezes estiverem muito consistentes, a remoção dessas fezes pode facilitar o
procedimento. No entanto, o movimento de limpeza do reto facilita a entrada de ar, podendo
provocar a distensão da parede da ampola retal e, assim, dificultar consideravelmente o exame.

Na palpação retal para fins ginecológicos, são examinados o cérvix, o útero e os ovários, avaliando-
se as características funcionais e possíveis anormalidades. Nesta seção, será apresentado um
método simples e facilmente aplicável em exames de rotina para a classificação do cérvix, do útero e
dos ovários (Figura 17). Entretanto, os leitores devem estar cientes de que existem outras
classificações, dependendo da fonte de pesquisa utilizada.

Figura 17. Exemplo de ficha de exame ginecológico simplificada, de fácil aplicação no campo.
DPP = dias pós-parto.

Cérvix

Tão logo a mão e o braço do examinador tenham sido introduzidos no reto, pode-se iniciar um
procedimento conhecido como “retração”, que é uma tentativa de alocar, por via transretal, o trato
reprodutivo no interior da pelve. Deve-se primeiro localizar a cérvix, que normalmente está
posicionada na linha média do assoalho da cavidade pélvica. A cérvix é uma estrutura firme,
cilíndrica e um pouco irregular, em virtude da presença de anéis. Depois de localizada, a cérvix pode
ser apreendida e manuseada.

A cérvix deve ser avaliada principalmente quanto à espessura e à sinuo​sidade. A espessura da


cérvix pode ser classificada em: F = fina (principalmente em novilhas); M = média; e G = grossa
(ocorre normalmente em vacas velhas). A cérvix, para ser examinada, deve ser tracionada até o
osso da pélvis. Se o examinador perceber que a cérvix está se estendendo para a cavidade
abdominal e, por isso, mostra-se resistente ao tracionamento, isso poderá ser um indicativo de
prenhez (aproximadamente 5 a 6 meses de gestação), puerpério inicial, piometra ou aborto recente.
A espessura da cérvix pode estar relacionada com a idade (mais fina nas novilhas) e com a raça
(fêmeas zebuínas apresentam maior espessura, principalmente da porção caudal). Quanto à
sinuosidade, fêmeas com cérvix sinuosa normalmente são vacas multíparas, pois, depois do parto, os
anéis da cérvix nem sempre continuam alinhados como estavam antes do parto. Fêmeas com cérvix
sinuosa são mais difíceis de ser inseminadas e submetidas a outros procedimentos, como a
transferência de embriões, sendo mais susceptíveis a traumas durante a aplicação dessas
biotécnicas.

Patologias de cérvix detectadas por palpação retal

As principais patologias de cérvix encontradas nos exames ginecológicos são a hipoplasia e a dupla
cérvix. A hipoplasia de cérvix é uma alteração cujo diagnóstico é raro. Caracteriza-se pela ausência
de um ou mais anéis da cérvix. A dupla cérvix também é uma alteração de raro diagnóstico, e é
caracterizada pela presença de mais de um canal cervical, podendo esse ser verdadeiro
(comunicando a vagina ao útero) ou falso (sem contato com o lúmen uterino).

Útero

O útero deve ser puxado na direção da cavidade pélvica (quando possível) para que possa ser
examinado. Para fazer essa tração uterina, o examinador deve segurar a cérvix e puxá-la dorso-
caudalmente. Depois de deslocar o útero para a cavidade pélvica, pode-se identificar o ligamento
intercornual (situado entre os dois cornos uterinos) para se obter uma referência da posição uterina.
Dessa forma, convém posicionar os cornos uterinos de maneira que fiquem um de cada lado da mão
do examinador. Quando a retração uterina tiver sido executada, a palpação dos cornos uterinos
poderá ser iniciada, por meio de movimentos suaves de deslizamento da mão da bifurcação uterina
em direção à extremidade do útero (região próxima ao oviduto). No exame do útero, devem ser
definidos os seguintes parâmetros:

Espessura (E) dos cornos:


E1 = cornos finos (aproximadamente o diâmetro de um dedo indicador).

E2 = cornos médios (dois dedos indicadores).

E3 = cornos grossos (três dedos indicadores ou mais).

Simetria entre os cornos:


S = simétricos.

A = assimétricos.

A+ = corno direito mais espesso.

+A = corno esquerdo mais espesso.

Contratilidade:
C = contraído (cio, alta concentração de estrogênio).

N = normal (diestro – progesterônico).

A = atônicos (novilhas pré-púberes e vacas em anestro).

Posição:
P = cornos na cavidade pélvica.
1/2P = cornos com uma porção na cavidade pélvica e a outra na cavidade abdominal.

0P = cornos totalmente na cavidade abdominal (gestação, involução pós-parto, piometra, vacas


velhas).

Patologias de útero detectadas por palpação retal

As principais patologias relacionadas ao útero detectáveis nos exames ginecológicos são: útero
duplo, aplasia segmentar, presença de infecções, feto mumificado, feto macerado e alterações dos
anexos fetais.

Casos de útero duplo ocorrem em fêmeas com persistência da parede medial dos ductos
paramesonéfricos entre a cérvix e o ponto de bifurcação dos cornos uterinos. Nesses casos, não há
comunicação entre os dois cornos. Já a aplasia segmentar do útero deve-se ao incompleto
desenvolvimento ou à má fusão dos ductos paramesonéfricos. A alteração pode ser total, quando
falta um corno (útero unicorno), ou parcial, quando falta apenas um segmento em um dos cornos.

Há outras enfermidades ligadas ao útero que também podem ser detectadas no exame
ginecológico: piometra, hidropsia dos envoltórios fetais (hidroalantoide, hidroâmnio e hidroâmnio-
hidroalantoide), fetos macerados e mumificados. Em vacas com piometra, o útero contém grande
quantidade de líquido e há CL no ovário. Seu diagnóstico pode ser feito facilmente por palpação retal,
mas é preciso saber distinguir entre a enfermidade e a gestação avançada, onde há a presença do
feto e de placentônios. Assim, um exame minucioso deve ser feito, pois a detecção do feto entre 4 e
7 meses de gestação pode ser dificultada por causa da distensão do útero. Verifica-se, nas patologias
dos anexos fetais, que o útero e a cavidade abdominal estão muito distendidos. Em casos de fetos
macerados, os cornos uterinos podem apresentar aumento de volume, podendo se mostrar
simétricos ou assimétricos, e parede uterina fina e fragilizada, em decorrência da destruição de suas
camadas internas. Já nos casos de fetos mumificados, é possível detectar a presença de uma massa
endurecida, sem flutuação, em um dos cornos do útero. Isso se deve à reabsorção dos líquidos fetais
e placentários, permanecendo apenas os ossos do feto, que ficam envolvidos pela pele, estando
ambos aderidos à parede do útero.

Ovários

Os ovários estão localizados ao lado do tecido tubular, situando-se muito próximo ao início do
oviduto, normalmente no nível da bifurcação uterina, em ambos os lados (direito e esquerdo). Depois
de localizado, o ovário deve ser cuidadosamente apreendido pelo operador. Nesse momento, os
dedos indicador e polegar devem deslizar suavemente pela superfície dos ovários, para que possam
avaliar a presença das estruturas funcionais do ovário (folículos e CL, principalmente). No exame do
ovário, os seguintes parâmetros devem ser definidos:

Tamanho: para avaliar o tamanho dos ovários, pode-se compará-los com estruturas de tamanho
conhecido, tais como feijão (F), azeitona (A) e noz (N). Ainda nessa classificação de ovário, o uso de
sinal positivo (+) ou negativo (–) ao lado de sua sigla pode indicar as possíveis variações de
tamanho. Por exemplo, se o examinador detectar que o ovário é um pouco maior do que uma
azeitona, a classificação indicadora do tamanho será A+, e assim sucessivamente. Ovários muito
pequenos (F e A-) normalmente são encontrados em novilhas pré-púberes. Ovários hipoplásicos ou
ovário contralateral àquele com tumor de células da granulosa também apresentam tamanho
diminuto. Ovários maiores (A+ e N), no entanto, são normalmente encontrados em vacas com
ciclidade regular.
Função: a função dos ovários é estabelecida de acordo com as estruturas encontradas no exame
ginecológico e está diretamente relacionada com a atividade estral da fêmea. A classificação da
função ovariana proposta neste livro foi adaptada dos registros de Wiltbank et al. (2002). Assim,
quanto à função, os ovários podem ser classificados de 1 a 3, sendo que, na categoria 1, estão os
ovários menos ativos, e, na categoria 3, os ovários em plena atividade, conforme descrição
apresentada a seguir:
1. Categoria 1: corresponde à dos ovários que apresentam desenvolvimento folicular somente até a
emergência, com presença de folículos com cerca de 4 mm de diâmetro. São ovários de tamanho
menor ou igual ao de um grão de feijão, lisos e sem folículos palpáveis. Ovários categorizados como
1 podem ser encontrados em novilhas pré-púberes e em vacas em anestro profundo, conquanto
vacas possuam, normalmente, ovários maiores.
2. Categoria 2: corresponde à dos ovários que apresentam desenvolvimento folicular somente até a
seleção do folículo dominante. Ovários de tamanho maior do que o de um grão de feijão, com
presença de folículo palpável, sem CL. Ovários categorizados como 2 são encontrados em fêmeas
que estão saindo do anestro ou entrando na puberdade, as quais já apresentam desenvolvimento
folicular, mas ainda não estão ovulando.
3. Categoria 3: corresponde à dos ovários que apresentam desenvolvimento de folículos dominantes e
ovulatórios. São ovários que estão em plena atividade estral. Ovários de tamanho grande, maior ou
igual ao de uma azeitona, ostentando folículo palpável e/ou CL.
Com relação ao exame dos ovários, pode-se também recorrer às anotações feitas pelo examinador
sobre as estruturas palpáveis encontradas nos ovários. Dessa forma, é possível comparar a
funcionalidade do ovário entre dois exames, em momentos distintos. Evidentemente, essas
anotações terão maior validade e acurácia quando forem feitas por ultrassonografia, conforme será
descrito, com mais detalhe, posteriormente.

Os ovários podem apresentar estruturas que muitas vezes não são identificadas por palpação retal,
como o CL interno e folículos de tamanho intermediário. Portanto, a não identificação dessas
estruturas pode levar a uma má interpretação pelo técnico. Dessa forma, além do exame dos
ovários, outra ferramenta prática e rápida para predizer a atividade estral da vaca é o exame do
tônus uterino. Nesse sentido, sabendo-se que os hormônios estradiol e progesterona afetam
decisivamente o tônus uterino, por meio da palpação retal podem ser identificadas as fases
estrogênicas (tônus contraído) e progesterônicas (tônus intermediário). Consequentemente, a falta
de tônus uterino é um indicativo de fêmeas em anestro.

Vaginoscopia

O exame de vaginoscopia costumava ser o principal método para diagnosticar inflamações


uterinas. Atualmente, por meio da utilização de algumas técnicas, como ultrassonografia, biópsia
endometrial e lavados uterinos, constata-se um elevado índice de falsos diagnósticos. Mesmo assim,
a palpação retal e a vaginoscopia ainda são os principais meios de diagnóstico reprodutivo e ainda
servem de base para outros métodos de diagnóstico avançados.

No exame vaginoscópico, deve-se dar especial atenção a algumas características estruturais da


cérvix (forma, abertura, coloração, umidade e tipo de secreção), que posteriormente poderão ser
fundamentais para o diagnóstico. Normalmente, os parâmetros que são utilizados para classificar a
cérvix na vaginoscopia são:

Forma:
R = roseta
C = cilíndrica
A = atípica
Abertura:
0 = fechada
1 = discretamente aberta
2 = aberta
Coloração:
0 = pálida

1 = rosada

2 = avermelhada

3 = inflamada

Umidade:
0 = seca

1 = úmida (brilho, reflexo de luz)


2 = filamentos de secreção

3 = abundante secreção

4 = acúmulo de secreção

Tipo de secreção:
M = mucosa (translúcida, limpa)

MP = muco purulento (estrias de pus)

P = purulenta (presença predominante de pus)

S = estrias de sangue

MS = muco sanguinolento
Diagnóstico de gestação
O diagnóstico de gestação representa uma importante prática nos sistemas de produção de gado
de corte e de leite. Rebanhos de corte normalmente utilizam estação reprodutiva (ER) em épocas
bem definidas do ano, com duração de 2 a 5 meses. Depois da ER, o diagnóstico de gestação deve
ser feito precocemente, para que o produtor possa adotar estratégias de manejo de acordo com a
finalidade e a exigência nutricional de cada categoria (animais prenhes e não prenhes), ou, ainda,
selecionar os animais não prenhes para engorda e venda. De forma similar, o diagnóstico de
gestação precoce em vacas de leite permite ao produtor tomar conhecimento das fêmeas que estão
abertas (não prenhes) e, consequentemente, adotar medidas de manejo adequadas, como: melhorar
a detecção de cio, sincronizar ou ressincronizar o estro, ou, até mesmo, descartar o animal. Tais
informações têm impacto direto na lucratividade da empresa leiteira.

Um diagnóstico de gestação ideal detectaria acuradamente uma prenhez antes do primeiro estro
esperado (em torno de 21 dias). Dessa forma, seria possível reinseminar a fêmea com diagnóstico de
prenhez negativo logo no primeiro cio depois da inseminação artificial (IA). Infelizmente, não existem,
atualmente, métodos práticos e eficazes para a detecção de prenhez em vacas antes dos 21 dias
após a IA ou monta natural. A maioria dos métodos de diagnóstico de gestação só consegue detectar
gestações a partir de 26 dias da concepção. Mas não se pode deixar de ressaltar que a taxa de morte
embrionária em rebanhos leiteiros de alta produção é alta durante o primeiro mês de gestação.
Assim, vacas diagnosticadas como prenhes logo após a IA têm maior probabilidade de retornar ao
estro por causa da morte embrionária; portanto, devem ser reavaliadas pelo menos 30 dias após o
primeiro exame.

Métodos de diagnóstico de gestação

Vários métodos foram desenvolvidos para diagnosticar se uma fêmea está gestante ou aberta,
entre os quais devem ser destacados: técnicas de manejo, avaliação ginecológica por palpação retal,
ultrassonografia e métodos químicos realizados com base em análise de sangue ou leite. Entretanto,
neste livro, serão abordados apenas os métodos de manejo e ginecológicos, pois são os que se
aplicam melhor à realidade dos sistemas de produção bovina. Além disso, métodos de diagnóstico de
gestação por ultrassonografia serão abordados na seção Diagnóstico de Gestação por Ultrassonografia.

Métodos de manejo

Os métodos mais tradicionais para a detecção de prenhez são a palpação retal e a


ultrassonografia. Entretanto, algumas alternativas de manejo podem ser usadas para auxiliar no
diagnóstico ou mesmo como método presuntivo de detecção de prenhez. Normalmente, produtores
entendem que, se uma fêmea não retornou ao estro entre 18 e 24 dias após a cobertura ou a IA, ela
provavelmente está prenhe. Essa alternativa de manejo pode gerar uma alta taxa de falsos positivos,
pois depende diretamente da eficiência da detecção de cio da propriedade e também é influenciada
pelo retorno irregular ao estro.

Palpação retal

Embora o uso da ultrassonografia tenha se disseminado amplamente na última década, a palpação


retal ainda é o método mais utilizado para a detecção de prenhez nos rebanhos de leite e corte do
Brasil. O exame do trato reprodutivo por via transretal tem sido usado como método de diagnóstico
de gestação desde o início dos anos 1900. A palpação retal é útil para diagnosticar prenhez nos
diversos estágios da gestação. Dependendo da habilidade do técnico, é possível detectar uma
prenhez desde 35 dias após a concepção.

A vantagem que a palpação retal oferece é a de ser um método rápido e de baixo custo em
comparação com outros métodos. No entanto, o exame deve ser conduzido por um veterinário muito
bem treinado. A principal desvantagem desse exame é que dificilmente ele será realizado antes dos
45 dias de gestação, e, com exceção de profissionais muito experientes, dificilmente será feito com
acurácia. A Tabela 4 descreve resumidamente as estruturas palpáveis de acordo com o período
gestacional em bovinos.

Além das mudanças ocorridas no útero quanto a tamanho, textura, posição e conteúdo, quatro
sinais positivos de prenhez são detectáveis pela palpação retal: 1) deslizamento das membranas
fetais; 2) vesícula amniótica; 3) placentônios; e 4) feto. O examinador deve detectar ao menos um
desses quatro sinais antes de confirmar a prenhez da fêmea.

Na tentativa de demonstrar a dinâmica uterina durante a gestação, uma série de imagens de


úteros excisados está representada na Figura 18. É possível verificar que, com o transcorrer da
gestação, o corno gravídico torna-se cada vez maior do que o corno não gravídico. Em consequência
do aumento de peso e volume, o útero eventualmente vai deslocar-se de sua posição original, na
pelve, para a cavidade abdominal.

Tabela 4. Características de suporte para o diagnóstico de gestação e


estimativa do período gestacional em bovinos.

Estágio de
prenhez Posição
Estrutura palpável
(dias de uterina
gestação)
30 Pelve Vesícula amniótica
Assimetria dos cornos
40 a 60 Pelve uterinos. Pinçamento das
membranas fetais
Fase de pequena bolsa.
Pinçamento das membranas
60 Pelve fetais. Assimetria bem
pronunciada entre os cornos
uterinos
Fase de grande bolsa.
90 Pelve/Abdômen Pinçamento das membranas
fetais
Feto e placentônios. Reflexo
120 Abdômen
de balotamento
Cérvix distendida,
Abdômen placentônios e difícil palpação
150 a 180
ventral do feto. Frêmito da artéria
uterina
Abdômen Placentônios e palpação do
180 a 280
ascendente feto
Figura 18. Apresentação de úteros excisados em vários estágios de gestação.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Deslizamento das membranas fetais

Esta técnica de diagnóstico de gestação é também conhecida como “pinçamento da placenta” ou


“reflexo de parede dupla”. O método consiste na detecção do corioalantoide no lúmen do útero
prenhe, por meio da compressão do corno uterino entre o polegar e os demais dedos, permitindo que
o corno deslize lentamente do local onde está sendo pressionado. Se a vaca estiver prenhe, o
corioalantoide pode ser detectado escorregando por entre os dedos. Essa membrana escorregadia
pode ser sentida no corno uterino prenhe desde muito cedo (cerca de 35 dias de gestação).
O deslizamento da membrana fetal pode ser detectado no corno não prenhe aproximadamente com
70 dias de prenhez. Em gestações recentes, as membranas fetais são finas e sensíveis ao toque e,
por isso, na maioria das vezes, é preciso ter bastante experiência para reconhecer esse sinal de
prenhez. Uma antiga questão, e que sempre se apresenta, é se o método de diagnóstico por
pinçamento das membranas fetais gera perdas embrionárias. Essa pergunta não procede, já que foi
comprovado que tanto a palpação retal por deslizamento das membranas quanto o exame
ultrassonográfico não causam perdas embrionárias.

Detecção da vesícula amniótica

A vesícula amniótica envolve o concepto em desenvolvimento e pode ser palpável aos 28 dias após
a concepção, em novilhas, e aos 32 a 35 dias, em vacas. A vesícula é uma estrutura esférica, túrgida
e repleta de fluido. Tem aproximadamente 1 cm de diâmetro nessa fase, tamanho que aumenta à
medida que a gestação avança. A vesícula amniótica é detectada fazendo-se movimentos circulares
e suaves ao redor do corno uterino, usando o polegar de um lado e os outros dedos do outro lado.
A vesícula flutua livremente pelo útero, mas é comumente encontrada na borda cranial do ligamento
intercornual. Ao longo do tempo, a vesícula amniótica vai ficando progressivamente menos túrgida, o
que dificulta o reconhecimento por volta dos 65 dias. Nesse momento, a vesícula amolece, e o feto
torna-se palpável. No concepto bovino, o coração é externo até cerca de 42 dias. Por isso, ao se
tentar detectar uma prenhez recente, deve-se cuidar para não exercer uma forte pressão sobre a
vesícula amniótica, pois se corre o risco de provocar a ruptura do coração do embrião ou de outros
órgãos do concepto. Portanto, durante o exame, se o técnico não estiver seguro de sua habilidade, o
exame não deverá ser realizado.

Detecção de placentônios

Em ruminantes, os cotilédones da placenta fetal (Figura 19) produzem vilosidades que se projetam
para dentro das criptas das carúnculas maternais para formar os placentônios. No útero da vaca, há
em torno de 75 a 120 carúnculas maternas, arranjadas em duas linhas dorsais e duas ventrais. Os
placentônios começam a se formar no início da gestação e, aos 75 a 80 dias, atingem um tamanho
suficientemente adequado para ser palpável. O tamanho dessas estruturas varia de acordo com o
estágio da gestação e sua localização no útero. Os placentônios próximos à cérvix têm tamanho mais
homogêneo e podem ser palpados nesse local para estimar o estágio de gestação. Além disso, são
identificados por meio da apreensão de uma prega longitudinal da parede uterina, seguida de fricção
leve da prega, entre o polegar e os demais dedos. Em gestações mais avançadas, o examinador
pode palpar placentônios passando a mão aberta ao longo da parede uterina.

Figura 19. Placenta evidenciando a presença dos cotilédones (setas pretas). É possível verificar
o feto circundado pelos líquidos amniótico e alantoidiano.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Detecção do feto

O feto torna-se palpável aproximadamente aos 65 dias, quando a membrana amniótica perde sua
turgidez. A Tabela 5 faz uma comparação entre o tamanho do feto bovino, em vários estágios da
gestação, e o tamanho de outros animais adultos.

Tabela 5. Comparação entre o estágio gestacional do feto bovino e o


tamanho de outros animais adultos.

Estágio de prenhez Animal(1)


2 meses Camundongo
3 meses Rato
4 meses Gato pequeno
5 meses Gato grande
6 meses Cão Beagle
8 meses Cão Labrador
9 meses Cão Doberman
(1) O tamanho do concepto varia bastante, de acordo com a raça.

Por volta do quarto ou quinto mês, o feto pode ser detectado por balotamento: o examinador
define os fluidos fetais em movimento pelo balanço da mão contra a parede uterina e reconhece o
feto conforme o corpo dele repercute contra a mão. O feto é facilmente palpável, como um objeto
firme que flutua livremente no útero, repleto de fluido, durante os primeiros 4 meses de gestação.
Conforme a prenhez avança, o peso do feto e o do fluido pressionam o útero no sentido cranial e
ventral, até o feto alcançar o assoalho abdominal, durante o quinto e o sexto mês. À medida que o
feto cresce, durante o último trimestre (período de ascensão), vai se aproximando da pelve materna,
facilitando, assim, sua detecção por palpação. Estima-se que é possível palpar o feto, em mais de
95% das vacas, durante o terceiro e o quarto mês de gestação; em 40% a 70% das vacas, durante o
quinto e o sexto mês; em 80% delas, no sétimo mês; e em mais de 95%, durante o oitavo e o nono
mês.

Exames falsos negativos são mais comuns se a palpação do feto é feita entre o quinto e o sétimo
mês, pois, nessa fase, o feto encontra-se na porção abdominal ventral da vaca. Erros podem ser
evitados observando-se outros sinais de prenhez na vaca examinada. Entretanto, resultados falsos
positivos serão possíveis se outra estrutura for confundida com o feto. Algumas estruturas podem ser
confundidas com o feto ou com parte dele: o saco dorsal do rúmen, o rim esquerdo, os ovários,
tumores uterinos, linfonodos aumentados, aderências e tecido conjuntivo secundário (decorrentes de
prévia cirurgia ou de trauma obstétrico), necrose da gordura abdominal e quadros de piometra.

Fetos mumificados também poderão ser confundidos com uma prenhez normal se o exame for
superficial. Embora um feto mumificado possa ter o mesmo tamanho de um feto viável, cumpre
lembrar que fetos mumificados não têm nem fluido uterino, nem membranas fetais, nem
placentônios.

Diferença entre os cornos uterinos

Como se viu anteriormente, e conforme as características uterinas apresentadas na Tabela 1, é


imprescindível analisar a simetria entre os cornos uterinos quando se trata de diagnosticar a
gestação em bovinos. Caso seja identificada uma assimetria entre os cornos uterinos (Figura 16),
aquele de maior tamanho deve ser examinado cuidadosamente, para verificar a presença de vesícula
amniótica ou sinal positivo de deslizamento de membrana. Mas há outras condições, além da
prenhez, que podem causar aumento nos cornos: a piometra, a mucometra e o retardo na involução
uterina. No entanto, em nenhuma dessas condições, está presente a vesícula amniótica ou há sinal
de deslizamento de membranas fetais.

Avaliação da cérvix e dos ovários

Em fêmeas não gestantes, a cérvix pode ser facilmente identificada logo na entrada da cavidade
pélvica. Em vacas prenhes, a cérvix pode ainda estar situada na cavidade pélvica, e o útero mantém-
se retraído até aproximadamente 65 a 70 dias. Depois do 90º dia de gestação, o peso do fluido do
útero impede que o examinador erga a cérvix na direção da pelve. Em estágios avançados da
gestação, a cérvix parece estar fixa. Embora a fixação da cérvix seja comumente associada a
prenhez, o acúmulo anormal de fluidos no útero, como nos casos de piometra e mucometra, também
pode causar essa “fixação” da cérvix.

Adesão entre o trato reprodutivo e outros órgãos da pelve ou abdômen, como os que se seguem a
cesarianas ou a traumas obstétricos, também pode ocasionar a retração da cérvix. Tumores uterinos
ou ovarianos, a depender do tamanho, podem “prender” o trato reprodutivo dentro da cavidade
abdominal e também induzir a fixação da cérvix.

Como o exame minucioso do trato reprodutivo inicia-se com a avaliação dos dois cornos uterinos,
geralmente os ovários não são avaliados nos diagnósticos de gestação. Vale, porém, lembrar que a
avaliação ovariana pode fornecer informações sobre a atividade estral da fêmea. Conforme discutido
anteriormente, a manutenção da gestação depende da progesterona secretada pelo corpo lúteo (CL);
portanto, sempre que possível, os ovários devem ser avaliados para detectar a presença do CL em
vacas prenhes. Como a migração transuterina de embriões é incomum em vacas, o CL geralmente
está presente no ovário ipsilateral ao corno gravídico. Consequentemente, a presença de um CL no
mesmo lado do corno uterino, repleto de líquido, sugere diagnóstico positivo de prenhez. No entanto,
certas condições, como piometra e outras anormalidades uterinas, também causam a persistência de
corpo lúteo e o acúmulo de líquido nos cornos. Vale ressaltar que, em gestações gemelares, na
grande maioria dos casos, ocorre o desenvolvimento de um concepto em cada corno uterino,
independentemente do(s) ovário(s) em que ocorreram as ovulações.

Como medida de prudência, os clínicos devem observar algumas regras na realização de um


exame de gestação:

O diagnóstico de gestação deve ser a primeira conduta do exame ginecológico.


Nenhum animal deve receber medicação sem que, antes, o veterinário certifique-se de que o
animal não está gestando.
O diagnóstico de gestação em fêmeas que vão participar de programas de sincronização de cios e
IATF deve ser feito, obrigatoriamente. Não são raros os relatos de profissionais que induzem aborto
acidental em vacas que, de acordo com o produtor, não estavam expostas a reprodutores.
Uma fêmea deve ser diagnosticada como não prenhe somente quando ambos os cornos tiverem
sido cautelosa e completamente palpados.
Não se deve confirmar o diagnóstico positivo de prenhez se os sinais positivos de gestação não
tiverem sido observados.
Exame
ultrassonográfico
reprodutivo
Formação das imagens ultrassonográficas

Importância, princípios e recomendações de uso

O uso da ultrassonografia no estudo da reprodução bovina revolucionou o conhecimento da


biologia reprodutiva nos últimos 30 anos. As novas informações geradas por meio das imagens
obtidas pelo ultrassom vêm esclarecendo a complexidade dos processos reprodutivos, inclusive a
dinâmica dos folículos ovarianos, a função do corpo lúteo (CL) e o desenvolvimento do concepto. As
aplicações práticas do ultrassom abrangem o diagnóstico precoce de gestação, a identificação de
gestação gemelar, a detecção de patologias ovarianas e uterinas, a avaliação da viabilidade fetal e a
determinação da idade e do sexo do feto. Essas aplicações representam uma oportunidade de
melhorar a eficiência reprodutiva e aumentar os lucros da indústria de carne e leite.

A identificação de alterações nos ovários e no útero, principalmente em fêmeas pós-parto, é mais


uma das vantagens da ultrassonografia, já que pode induzir a implementação de terapias
especialmente apropriadas. Além disso, as informações obtidas pelo ultrassom são muito superiores
àquelas alcançadas simplesmente pela palpação retal, sem contar que, com base naquelas
informações, muitas decisões poderão ser tomadas em sistemas de produção bovina. Infelizmente,
para acadêmicos e profissionais veterinários, a ultrassonografia tem sido aplicada apenas como
tecnologia secundária para trabalhos reprodutivos nos bovinos.

A ultrassonografia em modo B (bidimensional) é a mais utilizada para exames ginecológicos em


animais domésticos. As avaliações ginecológicas de bovinos ocorrem principalmente por via
transretal, com a utilização de probes lineares, que produzem imagens retangulares (Figura 20).
Entretanto, também é possível utilizar a via transvaginal, com probes microconvexas, para avaliar
ovários e fazer a aspiração folicular para a coleta de oócitos.

Figura 20. Representação de uma imagem ultrassonográfica de um ovário, mostrando a


imagem retangular realizada por probe linear transretal (7,5 MHz) e evidenciando a escala de
cinza na margem esquerda da tela. Além disso, é possível verificar a posição do foco (seta
branca) no lado direito da tela. Imagem adquirida com probe transretal linear de 7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Atender às recomendações de uso e ter conhecimento dos principais conceitos da ultrassonografia


são condições indispensáveis ao uso do ultrassom. Assim, esta seção procura descrever, de maneira
clara e objetiva, as características específicas de cada equipamento de ultrassom, considerando a
qualidade da imagem e os objetivos do uso da ultrassonografia na reprodução de bovinos.
Posteriormente, serão apresentados os princípios gerais da ultrassonografia – fundamentais para a
compreensão da imagem obtida e do valor do diagnóstico –, assim como o próprio aprimoramento
da técnica.

O aparelho de ultrassom é constituído por uma probe – também conhecida como “sonda” ou
“transdutor” –, ligada por um cabo a um console. O console consiste em uma caixa eletrônica, um
teclado de comando e um monitor com tela de imagem (Figura 21). Para evitar possíveis danos
elétricos, causados geralmente por flutuação no potencial elétrico (mais comum durante
tempestades), é imprescindível usar um estabilizador de tensão, que deve estar localizado entre o
cabo elétrico (ligado na fonte de energia) e o aparelho.

Figura 21. Aparelho de ultrassonografia transportável: monitor (1); fonte de alimentação elétrica
(2); teclado (3); estabilizador de energia (4); probe (5).
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Os equipamentos de ultrassonografia normalmente utilizados para a avaliação reprodutiva são do


tipo não transportável (normalmente usado em hospitais veterinários), portátil (manual) e
transportável (usados em mesas ou suportes). Os dois últimos são os mais recomendados para as
práticas de diagnóstico em campo (Figura 22).

Figura 22. Aparelhos de ultrassonografia portátil (A) e transportável (B) em uso.


Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

A qualidade da imagem gerada pelo ultrassom depende principalmente da probe utilizada. A probe
é constituída de quartzo e determinadas cerâmicas (cristais com propriedades piezoelétricas).
A propriedade piezoelétrica refere-se à substância com capacidade de alterar o seu tamanho quando
recebe uma carga elétrica. Dessa forma, os cristais presentes nas probes dilatam e contraem-se
durante a aplicação dos impulsos elétricos, com uma frequência estipulada dentro da ordem de
frequência de ressonância (dos cristais). Os movimentos repetidos de dilatação e contração dos
cristais piezoelétricos geram ondas sonoras, que se propagam pelo tecido adjacente. Portanto, os
movimentos de dilatação e contração dos cristais definirão a frequência e as características das
ondas sonoras.

As ondas ultrassônicas, ao interagirem com os tecidos, provocam os seguintes eventos: absorção,


reflexão (eco), espalhamento (difusão) e refração. Refração e espalhamento ocorrem quando as
ondas desviam a direção do eixo ultrassônico principal, e a nova direção percorre um ou vários
trajetos. Quando um feixe sonoro não segue a mesma direção, diz-se que sofreu atenuação, que é
resultante da absorção somada à reflexão. Os aparelhos de ultrassonografia de uso diagnóstico,
diferentemente dos de uso terapêutico, apresentam uma alta frequência; nesse caso, a absorção é
muito baixa. Quando um feixe sonoro é absorvido, essa energia é transformada em calor. Isso
praticamente não ocorre na ultrassonografia diagnóstica, sendo, portanto, inócua para o paciente.
Com isso, o evento mais importante é a reflexão, ou seja, dependendo da impedância (capacidade de
transmitir som) dos tecidos, as ondas ultrassônicas seguem sua trajetória ou retornam na forma de
eco e determinam os pontos luminosos da tela (Figura 20).

O feixe de ultrassom emitido pelos cristais dispostos na probe encontram interfaces diferentes e,
em cada uma delas, a produção dos ecos é detectável. Esses ecos são processados para produzir a
imagem de ultrassom. Cada elemento da imagem é chamado de pixel (contração das palavras, em
inglês, picture element). Cada pixel varia em uma escala de cinza de 0 a 255, sendo que a
intensidade 0 significa que a imagem se apresenta totalmente escura (sem eco ou anecoica),
enquanto a intensidade 255 é a imagem mais branca que pode ser obtida (hiperecoica). Dessa
forma, as imagens apresentam brilhos conforme a estrutura, variando de acordo com a intensidade
do eco. Por exemplo, estruturas pouco densas (antro folicular e líquidos aminiótico e alantoide)
aparecem anecoicas (em preto), pois esses tecidos não oferecem impedância à passagem das ondas
sonoras. Por sua vez, as estruturas densas aparecem em diversas escalas de cinza, que vão desde
suaves tons de cinza (tecidos moles) até o branco (estruturas ósseas). Isso se dá porque esses
tecidos oferecem uma determinada resistência à passagem das ondas ultrassônicas, as quais
retornam ao transdutor na forma de eco (reflexão).

Como já mencionado, há vários tipos de probe, sendo que as principais utilizadas em bovinos
podem ser classificadas, de acordo com o tipo de feixe ultrassônico que elas emitem, em linear
(probe linear – Figura 23A) ou curvo/convexo (probes setoriais, convexas ou microconvexas – Figura
23B). Probes produzem imagens com características específicas, permitindo ao veterinário visualizar
estruturas de maiores dimensão e profundidade no animal, e também visualizar através de janelas
acústicas (por exemplo, entre duas costelas).

Figura 23. Tipos de probe mais utilizados em ultrassonografia ginecológica bovina: probe linear
(A) e probe microconvexa (B).
Fotos: Fotos: Rafael Rocha
Nos exames ginecológicos em bovinos, os aparelhos de ultrassonografia são utilizados
principalmente para o diagnóstico de gestação e a visualização dos ovários. Para tanto, na clínica de
ruminantes, aconselha-se usar um equipamento móvel que, independentemente da rede elétrica,
possa também funcionar com uma bateria externa. Pode-se também optar por aparelhos que
possuam bateria interna, que possa ser eletricamente carregada. Em geral, para exames
ginecológicos em bovinos, deve-se optar por aparelhos com probe linear transretal, com frequência
entre 5 MHz e 8 MHz.

Os resultados obtidos nos exames de útero e ovários devem ser registrados para que seja possível
comparar exames feitos em datas distintas. Normalmente, os aparelhos de ultrassonografia
permitem que as imagens sejam gravadas e, assim, os exames possam também ser comparados.
Em estudos de dinâmica folicular, os resultados podem ser registrados de forma didática e de fácil
entendimento, configurados na forma de uma representação gráfica (Figura 24). Dessa forma,
folículos são representados como figuras circulares sem preenchimento, enquanto os CLs, como
figuras circulares com preenchimento. O diâmetro folicular e o luteal podem ser registrados dentro
da própria estrutura. Além disso, como se pode ver naquela figura, normalmente os folículos são
mensurados somente quando atingem 4 mm de diâmetro. Folículos menores podem ser registrados,
mas normalmente não são mensurados, para dar celeridade ao exame ginecológico.

Figura 24. Exemplo de acompanhamento do desenvolvimento folicular em vacas. No painel do


ultrassom, pode-se verificar a presença de um folículo de 1,1 cm de diâmetro no ovário direito de
uma fêmea. O mesmo folículo pode ser observado no desenho representativo, que é feito na
planilha de acompanhamento folicular.
Fotos: Fotos: Rafael Rocha

Por motivos de segurança, durante qualquer exame ginecológico por ultrassonografia, os animais
devem estar devidamente contidos em um tronco ou até mesmo em canzis, e de tal forma que
impeça o animal de coicear o operador e o aparelho.

Atualmente, há uma ampla oferta de aparelhos de ultrassonografia, que servem para os mais
variados propósitos veterinários no mercado. Naturalmente, o aparelho deve ser escolhido conforme
sua destinação, ou seja, para uma determinda espécie de exame. Vale a pena entrar em contato com
os fornecedores do aparelho para aconselhar-se com objetividade. Os representantes podem
apresentar um aparelho com transdutor adequado, com custo acessível e correspondente às
necessidades e exigências do comprador.

Principais ajustes

Antes de o técnico iniciar o exame ultrassonográfico, o aparelho deve ser regulado de acordo com
o tipo e o objetivo do exame e as condições do local. Os ajustes, que podem ser feitos pelo operador,
variam conforme o modelo do aparelho. Abaixo serão apresentados os principais ajustes que podem
ser feitos na maioria dos aparelhos utilizados para fins de diagnóstico reprodutivo em bovinos.

Frequência e profundidade
Os transdutores trabalham com várias frequências de ondas sonoras. A frequência é medida em
Hertz (Hz), que representa o número de oscilações do cristal por segundo (a depender do tipo e da
espessura do cristal utilizado). Normalmente, para avaliações reprodutivas, utilizam-se probes
lineares transretais ou microconvexas transvaginais de 5 MHZ a 8 MHz (MHz = 1 milhão de ciclos por
segundo). O controle da resolução é a característica que torna a frequência um importante fator na
qualidade da imagem que será gerada.

Resolução axial consiste na capacidade de o equipamento discriminar entre duas estruturas


dispostas no mesmo sentido percorrido pelos feixes sonoros. Resolução lateral, por sua vez, refere-se
à qualidade da imagem no eixo transversal às ondas sonoras. Quanto maior a frequência, menor é o
comprimento de onda e, portanto, melhor será a resolução axial da imagem. Da mesma forma,
quanto maior for a frequência, menor será a amplitude das ondas, permitindo uma maior
concentração de ondas dispostas lado a lado; consequentemente, maior será a resolução lateral.
Portanto, resumidamente, quanto maior for a frequência ultrassônica utilizada, melhor será a
discriminação dos detalhes presentes no tecido analisado. Na Tabela 6, podem ser observadas as
características e as indicações para as diferentes frequências, que podem ser utilizadas em
avaliações ginecológicas em bovinos.

Tabela 6. Características e indicação das frequências de probes utilizadas em avaliações ginecológicas em bovinos.

Frequência
Característica
3 MHz 5 MHz 7,5 MHz
Melhor profundidade na Profundidade intermediária
Profundidade reduzida na
Profundidade área de contato (até na área de contato (até 12
área de contato (até 7 cm)
20 cm) cm)
Resolução Baixa Boa Alta
Diagnóstico precoce da
gestação
Rotinas de diagnóstico de
gestação Determinação do sexo fetal
Avaliação Gestação avançada
ginecológica Determinação do sexo fetal Detecção de folículos e CL
Útero pós-parto
Detecção de folículos e CL Acompanhamento da
dinâmica de pequenos
folículos antrais
Fonte: Adaptado de DesCôteaux et al. (2010).

Nas avaliações de ultrassonografia, se o operador desejar localizar tecidos mais afastados da


probe, a profundidade de captação da imagem poderá ser alterada pela função depth
(profundidade). Essa função, juntamente com o ajuste do brilho, o contraste e a posição do foco,
ajuda a melhorar a qualidade da imagem do objeto de análise. Além disso, ondas ultrassônicas de
menor frequência têm melhor penetração do tecido; portanto, para a análise de tecidos mais
afastados do transdutor, opta-se por frequências baixas ou intermediárias.

Nas imagens formadas na tela do ultrassom, observa-se, na borda superior esquerda, uma escala
e, por meio dela, pode-se estimar o alcance no tecido e no tamanho da estrutura avaliada (embrião,
folículo, corpo lúteo, etc.).

Zona de foco

A seta na margem direita da imagem indica a zona de foco (seta branca). Na zona de foco, devem
estar dispostas as regiões de interesse que se deseja examinar com precisão, pois é onde a imagem
é mais nítida (Figura 18).

Ganho

Este ajuste refere-se ao ganho do sistema receptor e à sensibilidade do sinal das imagens, ou seja,
quanto maior for o ganho para uma mesma ecogenicidade, mais evidentes serão os pontos
luminosos da tela. Esse ajuste só deve ser feito durante o escaneamento em tempo real. O operador
deve ajustar o ganho de forma que as estruturas ecogênicas fiquem evidentes; no entanto, deve
tomar cuidado para que as estruturas anecoicas continuem a ser visualizadas com aparência escura.
Controle de ganho de tempo

O controle de ganho de tempo (time gain compensation – TGC) ou, ainda, o ganho de
compensação em profundidade compensa a perda de energia do feixe sonoro em virtude da
atenuação, que ajusta o ganho. O TGC ajusta a curva de compensação de ganho, separada para
diversos segmentos, por profundidade, para otimizar a imagem gerada.

Contraste e brilho

O contraste e o brilho devem ser ajustados de acordo com as condições de iluminação do


ambiente. A maior parte dos aparelhos apresenta uma escala dos diferentes tons de cinza
(Figura 18), desde o branco até o preto absoluto. O usuário deve ajustar o contraste e o brilho de
forma que consiga distinguir os diferentes tecidos entre os distintos tons de cinza.

Mapas de cinza

É um pós-processamento da imagem. A escala de cinza define a variação dos tons de cinza e


permite realçar ou minimizar o contraste em tons específicos de cinza. Cada mapa de cinza deve ser
escolhido de acordo com a luminosidade do ambiente e as preferências do usuário.

Orientação horizontal e vertical

Geralmente, o posicionamento vertical utilizado pela maioria dos profissionais é regulado para que
as imagens mais próximas da sonda apareçam na parte superior da tela. O posicionamento
horizontal vai depender do lado em que o aparelho de ultrassom é posicionado em relação ao animal.
Geralmente, se o aparelho é colocado à esquerda, deve-se fazer a inversão do posicionamento
horizontal. O operador pode fazer um teste de orientação antes de introduzir a sonda no animal,
lubrificando-a com o gel e fazendo movimentos na região anterior e posterior da probe, para
averiguar em qual orientação o aparelho está ajustado. Esses movimentos devem aparecer de forma
natural, ou seja, ao se movimentar o dedo para trás, a imagem deverá aparecer no mesmo sentido,
na tela do ultrassom.

Limitações do uso da ultrassonografia

Na maioria das vezes, a aplicação de exame ultrassonográfico em algum indivíduo consiste em


exame único, em um dado período. Assim, dificilmente o estado fisiológico de um folículo ovariano
(em crescimento ou regressão, dominante ou subordinado) ou do CL pode ser determinado em um
único exame. A imagem do ultrassom ajuda a distinguir os atributos anatômicos das estruturas
analisadas; porém, confere pouca informação sobre o status fisiológico ou endócrino de folículos, do
CL e do útero. Por exemplo, cistos ovarianos podem ser categorizados pelos atributos anatômicos,
como a presença de tecido luteal e a espessura; porém, sem outro exame posterior, não vai ser
possível saber se o cisto está evoluindo positivamente para sua resolução. Em contraste, o
diagnóstico indicador de viabilidade fetal (potencial de manutenção da gestação), em que se
visualizam os batimentos cardíacos fetais, normalmente é conclusivo em um único exame.

Nos casos em que o exame ultrassonográfico visa ao diagnóstico de gestação, tanto vacas em cio
quanto vacas em fase inicial da gestação (21 a 26 dias após a inseminação) terão acúmulo de líquido
uterino, o que facilmente induzirá a confusão, que poderá ser evitada se, além do útero, forem
examinados os ovários. Se for detectado um folículo dominante sem a presença de um CL,
provavelmente a fêmea estará em cio. Do contrário, se a fêmea apresentar um CL sem a presença de
folículo dominante, provavelmente a fêmea estará prenhe. Além disso, a secreção do cio, na maioria
dos casos, é encontrada em ambos os cornos uterinos. Em uma prenhez inicial, o acúmulo de líquido
(líquidos fetais) no início só é encontrado em um dos cornos. Somente após o 32° dia de gestação, a
vesícula embrionária se estenderá até o corno uterino contralateral e, a partir daí, a prenhez poderá
ser visualizada ultrassonograficamente em ambos os cornos.
Artefatos

Artefatos são imagens artificiais formadas em decorrência das características físicas das ondas
sonoras e dos tecidos que elas percorrem. Os artefatos não representam fielmente, pela observação
da imagem ultrassonográfica, o tecido examinado. É necessário conhecer os principais artefatos e
como eles são formados para se evitar uma falsa interpretação da imagem observada. Embora
existam outros, os principais artefatos relacionados à ultrassonografia reprodutiva são reforço e
sombreamento acústicos e reverberação.

Reforço acústico

Esse artefato é observado depois de uma região de baixa ecogenicidade. Isso ocorre porque há
uma baixa resistência às ondas sonoras em regiões pouco densas (geralmente líquidos), o que cria
uma alta impedância no tecido subsequente. Com isso, aumenta-se a reflexão das ondas
ultrassônicas e, consequentemente, a ecogenicidade da região. Nos exames ginecológicos,
geralmente se encontra reforço acústico logo abaixo de folículos de tamanho médio ou grande
(Figura 25), ou, então, abaixo do útero gravídico.

Figura 25. Imagem ultrassonográfica de um folículo ovariano (1).


Observa-se que, após a região de baixa ecogenicidade (interior do
folículo), há um aumento da reflexão das ondas sonoras (demarcado
pelas setas). Deve-se observar que não há uma região de alta densidade
nessa região, tratando-se, portanto, de um artefato. Imagem adquirida
com probe transretal linear de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Sombreamento acústico

Esse artefato é observado na imagem ultrassonográfica abaixo de tecidos de alta densidade. Isso
resulta da alta impedância do tecido, que impede, assim, a progressão das ondas sonoras. Com isso,
o tecido que está imediatamente abaixo dessa região de alta ecogenicidade torna-se hipoecoico na
imagem ultrassonográfica, o que recebe o nome de “sombreamento” (Figura 26).
Figura 26. Imagem ultrassonográfica de útero gravídico e um feto.
Observe-se que, após a região de alta ecogenicidade (ossos fetais), há
um sombreamento acústico (demarcado pelas setas). Note-se também
que não há um tecido de baixa densidade nessa região, tratando-se,
portanto, de um artefato. Imagem adquirida com probe transretal linear
de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Reverberação (cauda de cometa)

A reverberação ocorre quando as ondas ultrassônicas rebatem várias vezes entre duas estruturas
com alta impedância acústica, até que essas ondas sejam completamente atenuadas (Figura 27).
Esse artefato ocorre principalmente em virtude do contato do feixe sonoro com o ar. São exemplos
dessa situação: na ultrassonografia transvaginal ou transretal, quando a fêmea possui quantidade
excessiva de ar na vagina ou no reto; ou, então, na ultrassonografia percutânea, quando a
quantidade de gel utilizada é insuficiente para impedir o contato do feixe sonoro com o ar.

Figura 27. Imagem ultrassonográfica com a presença de reverberação


(demarcada pelas setas). Imagem adquirida com probe transretal linear
de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira


Ovário bovino
As principais estruturas funcionais que podem ser identificadas por uso de ultrassonografia no
ovário são: folículos antrais, corpo lúteo (CL), estroma ovariano e vasos sanguíneos. Além disso, é
possível identificar alterações morfológicas, como cistos e tumores ovarianos. Para se obter uma boa
resolução de imagens do ovário, normalmente probes com frequência de 5 MHz são suficientes;
entretanto, probes que utilizam de 7,5 MHz a 8 MHz apresentam resolução ainda melhor. Nas
imagens ultrassonográficas, os ovários apresentam-se como estruturas de forma ovalada, sendo que
o seu tecido – formado por tecido conjuntivo e rico em vasos e nervos – aparece em tom cinza-claro
(Figura 28).

Figura 28. Ovário apresentando pequenos folículos antrais, em crescimento ou em regressão


(setas): folículo dominante (1) e maior folículo subordinado (2). Imagem adquirida com probe
transretal linear de 7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Folículo

Folículos ovarinos são facilmente identificados na tela. Possuem uma aparência escura, pelo fato de
o fluido folicular ser hipoecogênico (Figura 28). É possível distinguir os folículos ovarianos dos vasos
sanguíneos porque os primeiros apresentam um lúmen hipoecogênico circunscrito por uma parede
ecogênica (Figura 29). No entanto, quando a probe é movimentada em uma direção que permita
uma secção longitudinal – no caso de um vaso –, a imagem, inicialmente esférica, se torna
alongada. Do contrário, o folículo torna-se uma esfera pequena e logo desaparece da imagem
quando a probe é afastada da estrutura. Folículos ovulatórios também são facilmente reconhecidos
nas imagens ultrassonográficas (Figura 30). Para o operador detectar as estruturas presentes no
ovário, é importante que ele saiba identificar os tecidos ovarianos nos exames ginecológicos por
ultrassom.
Figura 29. Imagem ultrassonográfica de ovário apresentando folículo dominante de 11 mm de
diâmetro (1) e vaso sanguíneo (2), que possui uma estrutura hipoecogênica similar à de um
folículo (entretanto, esse está fora do ovário). Imagem adquirida com probe transretal linear de
7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 30. Imagem ultrassonográfica de ovário durante o cio, onde se vê um folículo pré-
ovulatório de 14 mm de diâmetro (1). Escala de 1 cm entre as linhas brancas, demonstradas à
esquerda da imagem. Imagem adquirida com probe transretal linear de 7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Corpo lúteo

Diferentemente do tecido conjuntivo que compõe o estroma ovariano, os corpos lúteos são
altamente irrigados. Por essa razão, nas imagens ultrassonográficas, os corpos lúteos podem ser
diferenciados do tecido ovariano por seu tom de cinza, que é menos ecogênico (Figura 31).
Na maioria dos casos, os tecidos luteais têm forma oval e, em seu centro, forma-se o tecido
conjuntivo. Corpos lúteos gestacionais e corpos lúteos de vacas não gestantes não podem ser
diferenciados ultrassonograficamente. Durante o proestro, o estro e o metaestro, é mais difícil
reconhecer o CL do que no diestro, pois, nessas fases, o CL apresenta-se isoecogênico ao estroma
ovariano circundante. Durante o metaestro, a ecogenicidade do CL depende da formação recente do
tecido do corpo hemorrágico e, durante o proestro, depende da abundância de tecido conjuntivo.
Essa distinção é muito difícil de ser feita, em condições de campo, com os aparelhos comercialmente
disponíveis. Por essa razão, a determinação da idade do CL deve ser assistida, considerando-se as
diferenças nas estruturas foliculares que ocorrerem durante as ondas foliculares, além da aparência
ultrassonográfica do útero durante o ciclo.

Em condições de campo, utilizando-se uma unidade de ultrassom portátil e transdutores com


frequência de 5 MHz a 7,5 MHz, uma borda bem definida do CL pode ser visível durante 3 ou 4 dias
depois da ovulação. Nos exames ultrassonográficos de CL, podem ser encontrados, frequentemente,
corpos lúteos cavitários, cujo centro mostra uma área de tamanho variável, preenchida com líquido
(Figura 32). Durante os primeiros 10 dias do ciclo estral, 30% a 50% dos CL desenvolverão uma
cavidade. Estudos demonstram que os CL compactos e os cavitários têm a mesma capacidade de
produção de progesterona. Veterinários inexperientes podem confundir tais estruturas com um cisto
luteínico porém, tais estruturas devem ser interpretadas como fisiológicas. Os CL cavitários não
alteram a duração do ciclo ovariano nem reduzem a probabilidade de prenhez. Em vacas gestantes,
é raro, mas não impossível, encontrar um CL cavitário a partir de 30 dias de gestação.
Provavelmente, o volume do tecido luteal é mais importante do que a presença ou ausência de uma
cavidade. A cavidade normalmente diminui progressivamente, de acordo com o transcorrer do ciclo
estral e da luteinização. Na imagem ultrassonográfica, os CL cavitários podem ser diferenciados, sem
dificuldade, dos folículos e do tecido ovariano, pois esses CL apresentam parede luteinizada e,
portanto, mais espessa e ecogênica do que a de um folículo. O tamanho da cavidade pode variar
consideravelmente, e filamentos de fibrina ecogênicos são ocasionalmente observados no interior da
cavidade cheia de fluido (Figura 33). A cavidade pode ser totalmente substituída por tecido luteal,
deixando apenas uma linha hiperecogênica ou cicatriz (Figura 34).

Figura 31. Imagem ultrassonográfica de ovário de uma vaca (probe convexa transvaginal de
5 MHz). Note-se a presença de folículo dominante de 13 mm (1); folículo dominante de 10 mm
(2); CL de 17 mm (3). Imagem adquirida com probe transvaginal convexa de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Figura 32. Imagem ultrassonográfica de ovário com corpo lúteo cavitário. Note-se a espessura
da parede luteinizada do CL. Imagem adquirida com probe transretal linear de 7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 33. Imagem ultrassonográfica (A) e anatômica (B) de um CL cavitário. Tecido luteal (1) e cavidade do CL (2).
Imagem adquirida com probe transvaginal convexa de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Figura 34. Imagem ultrassonográfica de ovário com corpo lúteo compacto (1). Note-se a linha
hiperecogênica branca ou cicatriz encontrada no CL (seta branca). Imagem adquirida com probe
transretal linear de 7,5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Na clínica reprodutiva de bovinos, é muito importante identificar a presença do corpo lúteo (CL).
Sua identificação no ovário confirma que a novilha atingiu a puberdade ou que a vaca está ciclando.
Além disso, a detecção do CL auxilia no diagnóstico diferencial entre uma prenhez recente e uma
fêmea em estro, uma vez que ambas apresentarão acúmulo de líquido uterino. A localização do CL
no ovário esquerdo ou direito pode indicar ao veterinário em qual corno uterino há a presença de um
embrião ou feto, auxiliando, assim, no diagnóstico de prenhez.

A identificação do CL bovino é um verdadeiro desafio para o técnico, pois, dependendo do estágio


de desenvolvimento, essa estrutura pode apresentar diversas aparências morfológicas. Muitas vezes,
durante o exame ultrassonográfico, é comum encontrar, no mesmo ovário, um corpo lúteo funcional
e vários folículos de tamanhos diferentes. Mesmo na presença de um CL funcional, o folículo pode
atingir diâmetro maior que 10 mm (Figura 31). Nesse caso, trata-se de um folículo dominante não
ovulatório (folículo de diestro). Tais folículos, sob a influência da progesterona, regridem, e uma nova
onda folicular emerge do pool folicular. Somente quando o CL regredir, o folículo dominante poderá
continuar a se desenvolver, atingir a maturação final e, consequentemente, ovular.

Ovários acíclicos

Ovários acíclicos são associados com anestro e/ou período pré-púbere. São caracterizados pela
ausência de folículos grandes e de CL. Dependendo da severidade do anestro, há apenas a presença
de pequenos folículos antrais (< 6 mm) (Figura 35). Exames ginecológicos ultrassonográficos pré-
estação reprodutiva ou realizados antes de um programa de IATF visam detectar animais com essas
características ovarianas, pois são fêmeas que necessitam melhorar sua condição ovariana antes de
participar de um programa reprodutivo.
Figura 35. Imagem ultrassonográfica de um ovário acíclico. Observe-se
a presença de muitos folículos pequenos (inferiores a 5 mm). Imagem
visualizada com probe transretal linear (7,5 MHz) e com probe
transvaginal convexa (5 MHz).
Fotos: Rogério Ferreira

Cistos

Cistos ovarianos desenvolvem-se quando um folículo dominante atinge o diâmetro ovulatório, sem,
contudo, haver ovulação. Nesse caso, o folículo continua a crescer por alguns dias. Aparentemente,
os cistos desenvolvem-se em vacas que, apesar de possuírem alto padrão pulsátil de LH, não
apresentam pico pré-ovulatório de LH. Dessa forma, não ocorre luteinização das camadas teca e
granulosa suficientemente adequada para causar a ovulação. Esse mecanismo pode estimular o
desenvolvimento de dois tipos de cisto: folicular e luteínico.

Os cistos ovarianos são estruturas anovulatórias que permanecem por longos períodos no ovário,
sem ovular, nem entrar em atresia. Na maioria dos casos, os cistos são maiores do que os folículos
em desenvolvimento; no entanto, cistos com tamanho similar a folículos também podem ocorrer.
Cistos ovarianos podem ser diagnosticados, sem dificuldade, pela palpação retal. Porém, a
diferenciação entre um cisto folicular e um luteínico é extremamente difícil pela palpação. Na
imagem ultrassonográfica, normalmente é possível identificar sinais de diferenciação inequívocos. Tal
procedimento permite que seja conduzida uma terapia apropriada.

Cistos foliculares
“Ovários císticos”, “cistos ovarianos” e “degeneração cística ovariana” são termos utilizados como
sinônimos de “cisto folicular ovariano”. Cistos foliculares em bovinos caracterizam-se pela
persistência de grandes estruturas anovulatórias durante longo período, seguida da ausência de CLs
e da presença de ciclos estrais irregulares. Eles são envoltos por uma fina parede e podem ter
tamanho variado. Embora, tradicionalmente, os cistos sejam definidos como estruturas foliculares
com diâmetro maior que 25 mm, recentemente os cistos passaram a ser entendidos como
estruturas com diâmetro maior que 16 mm. Normalmente, na imagem ultrassonográfica, cistos
foliculares só se diferenciam de um folículo pelo seu tamanho (Figura 36).

Figura 36. Imagem ultrassonográfica de ovário apresentando cisto folicular (a × b;


36 mm × 47 mm de diâmetro). Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Se o cisto não apresentar tamanho muito superior ao fisiologicamente encontrado em folículos


dominantes, o diagnóstico poderá ser confirmado pela presença da mesma estrutura em dois
exames consecutivos, com intervalo de 5 dias entre eles.

Cistos luteínicos

O cisto luteínico (CL) também é conhecido como “corpo lúteo cístico patológico”. Esse cisto pode
ser facilmente confundido com a imagem ultrassonográfica de um CL cavitário. Entretanto, a largura
do tecido luteinizado que circunda a cavidade é decisiva para o diagnóstico diferencial do CL. Com
base nesse critério, é possível esclarecer se se trata de um corpo lúteo cavitário (Figura 33) ou de
um cisto luteínico (Figura 37). Somente quando o diâmetro do tecido luteinizado ao redor da
cavidade for menor que 0,5 cm é que poderá ser feito o diagnóstico de cisto luteínico. Normalmente,
cistos luteínicos possuem tamanho similar ao de cistos foliculares (> 25 mm). Os cistos foliculares
podem sofrer um processo de luteinização (na borda ou no interior do cisto) e formar um cisto
luteínico. É preciso aprender a estabelecer a diferença entre cistos foliculares e cistos luteínicos com
grandes cavidades. A melhor forma de diferenciá-los é pela avaliação ultrassonográfica diária, para
que se acompanhe a evolução do CL ou a estagnação do cisto. Finalmente, é importante mencionar
que nem todos os cistos ovarianos diagnosticados precisam ser tratados. Se for observado um CL
intacto em um dos ovários, nem o ciclo nem a gestação serão prejudicados pela existência do cisto.
Figura 37. Imagem ultrassonográfica de um cisto luteínico (dist. 1 × dist. 2;
24,3 mm × 26,5 mm de diâmetro) e exame transretal. É possível observar a presença de
trabéculas características no interior da estrutura. Imagem adquirida com probe transretal linear
de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira
Útero bovino
Exames ultrassonográficos podem detectar alterações no trato reprodutivo e gerar informações
mais precisas do que o exame retal realizado por palpação manual. Para detectar e interpretar as
alterações do trato reprodutivo, é necessário compreender os eventos fisiológicos relacionados a
cada uma das fases da vida reprodutiva de uma fêmea (exemplo: fase do ciclo estral, estágio de
prenhez, puerpério, anestro, puberdade, etc.). É importante recordar as alterações fisiológicas que o
útero sofre durante o ciclo estral e no período pós-parto. Além disso, um acurado conhecimento
histológico e anatômico sobre as camadas do útero é indispensável para poder entender as imagens
geradas pela ultrassonografia.

Nesta seção, os principais achados uterinos serão abordados e demonstrados por meio de imagens
ultrassonográficas (sonogramas). Convém lembrar que as imagens que serão apresentadas
demonstram somente um momento específico de um exame abrangente e, assim, não podem
substituir a imagem em tempo real.

Principais cortes de visão do útero

O tipo de imagem do útero visualizado no monitor do aparelho de ultrassonografia vai depender da


disposição espacial entre o útero e os cristais da probe. Se a probe for posicionada dorsal e
paralelamente ao útero, o órgão será representado no sonograma em seu perfil longitudinal
(Figura 38). No entanto, se o útero estiver posicionado transversalmente ao transdutor, será obtido
um perfil transversal do órgão (Figura 39).
Figura 38. Imagem ultrassonográfica de um corte longitudinal do corno
uterino de uma vaca em diestro: endométrio (1) e miométrio (2). As
setas pretas indicam o limite inferior do útero. Imagem adquirida com
probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Figura 39. Imagem ultrassonográfica de um corte transversal de um
corno uterino: lúmen uterino (1), endométrio (2) e miométrio (3). As
setas pretas indicam a porção vascular, enquanto as setas brancas
mostram o limite superior do útero. Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Aparência ultrassonográfica do útero bovino durante o ciclo estral

As diferentes situações fisiológicas (período de gestação, fase do ciclo estral, puerpério, entre
outras) determinam a aparência da imagem ultrassonográfica do útero. Basicamente, as
concentrações séricas de estradiol e progesterona é que definem a ecogenicidade do útero nos
sonogramas. Durante o diestro (alta concentração de progesterona), o tônus do útero diminui,
tornando-se mais fino, pouco vascularizado e sem líquido no lúmen (Figura 40A). A imagem da
parede uterina durante o diestro é mais uniforme do que em fases estrogênicas.

Como foi explicado na seção Fisiologia do Ciclo Reprodutivo da Fêmea Bovina , durante as fases de
proestro e estro, há um aumento progressivo das concentrações séricas de estradiol. Nessa fase
estrogênica, o útero aumenta seu tônus (útero contraído) e suas paredes tornam-se mais espessas.
Ademais, aumenta o fluxo sanguíneo para o trato reprodutivo, aumenta a migração de células de
defesa e há edema uterino. Normalmente, a imagem do útero de vacas com alta concentração de
estradiol torna-se heterogênea, diferentemente do que ocorre com o útero de vacas no diestro.
Durante o estro, a mucosa endometrial torna-se mais ecogênica (Figura 40B). Além disso, o limite
entre o endométrio e o miométrio fica mais evidente em virtude do aumento do tamanho da porção
vascular. Esse acúmulo de líquido pode localizar-se em um dos cornos uterinos por até 48 horas após
o início do estro e dar a falsa impressão de gestação precoce. Em avaliações ultrassonográfcas
realizadas pela equipe da Embrapa Rondônia, detectou-se que o acúmulo de líquido uterino tende a
desaparecer cerca de 6 a 12 horas antes da ovulação.
Figura 40. Imagem ultrassonográfica de um corte transversal do útero de uma vaca em diestro
(A) e de uma vaca em estro (B). Observe-se a ecogenicidade mais uniforme e a ausência de
líquido no lúmen da fêmea em diestro. Na fêmea em estro, é possível observar a imagem do
endométrio mais ecogênica e o característico acúmulo de líquido no lúmen uterino. Endométrio
(1). Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Alterações uterinas detectadas por ultrassonografia

Durante o exame ultrassonográfico do útero, as principais alterações que podem ser detectadas
em bovinos são: abortos, involução uterina, absorção de líquidos fetais, endometrites, piometras e
mucometras. Neste item, serão abordadas as características dos sonogramas dessas alterações
uterinas.

Morte embrionária e fetal

Segundo alguns autores, morte embrionária é a perda de um embrião no tempo decorrido entre a
fecundação e o final da organogênese, aproximadamente aos 45 dias de gestação. Perdas
gestacionais depois desse período são consideradas morte fetal. Uma das formas para se determinar
a morte embrionária por meio da ultrassonografia é pela detecção da ausência de batimentos
cardíacos no embrião. Para tanto, certa experiência do examinador é necessária. Alguns achados
podem servir de indicativo para determinar a morte embrionária, como quando há menor quantidade
de líquido uterino em comparação com a idade gestacional, que indica um atraso do crescimento
fetal. Nos casos de suspeita de morte embrionária/fetal, é necessário fazer um novo exame, quando,
então, as medidas do feto entre o primeiro e o segundo exame poderão ser comparadas, assim como
a quantidade e a ecogenicidade do líquido gestacional (alantoidiano e amniótico). Quando o processo
de perda gestacional se instala, o líquido uterino tende a apresentar mais pontos ecogênicos
oriundos do decorrente processo inflamatório. Ao detectar imagens turvas (pontos ecogênicos) nos
fluidos amniótico e alantoidiano, ou estruturas fetais pobremente definidas, o veterinário deve
suspeitar de perda gestacional. Nesse caso, a avaliação ultrassonográfica do concepto deve ser feita
com bastante cuidado. A Figura 41A mostra perda embrionária, enquanto a Figura 41B ilustra
morte fetal.
Figura 41. Imagem ultrassonográfica de mortalidade embrionária (A) e fetal (B). É possível
observar que a espessura do endométrio está aumentada na perda embrionária. Depois da morte
fetal, porém antes da expulsão, é possível observar a turbidez (ecogênica) do líquido
alantoidiano, decorrente dos debris celulares. Endométrio (1) e placentônio remanescente (2).
Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Para fazer uma comparação mais acurada entre dois exames ultrassonográficos de vacas com
suspeita de perda embrionária, pode-se utilizar a função de armazenamento de imagem, para que
seja possível comparar a quantidade de líquido e a imagem do feto em ambos os sonogramas.

A mumificação fetal é um processo asséptico, em que ocorre a morte fetal, com absorção dos
líquidos fetais. As imagens ultrassonográficas da mumificação fetal mostram uma massa de tecido
intrauterino hiperecogênica, com ausência de fluido (Figura 42).
Figura 42. Imagem ultrassonográfica de feto mumificado. Observa-se a
estrutura fetal em aspecto isoecoico, em decorrência da absorção de
líquidos (1). As setas mostram pouco líquido gestacional ao redor do
feto mumificado. Imagem adquirida com probe transretal linear de 6
MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Afecções uterinas

As principais afecções uterinas ocorrem no período pós-parto, e os problemas mais frequentes são
de origem infecciosa. Casos de metrite aguda, endometrite, piometra e abcessos podem ser
comumente encontrados no período puerperal, principalmente em vacas de leite de alta produção.
Entretanto, pequenas alterações do útero só poderão ser distinguidas ultrassonograficamente se o
operador tiver muita experiência.

Em casos de endometrite, apenas um pequeno acúmulo de líquido ecogênico pode ser visualizado
no lúmen uterino (Figura 43). Nos casos de processos inflamatórios (metrite/endometrite), a
quantidade de líquido acumulado pode variar de acordo com o grau de inflamação. Diferentemente
do acúmulo de líquidos fisiológicos no útero (prenhez ou cio), o exsudato inflamatório, por seu maior
teor proteico e celular, tem maior densidade e, com isso, maior ecogenicidade. Na imagem
ultrassonográfica, isso pode ser visualizado tanto na forma de flocos individuais (Figura 44) quanto
na forma de nevasca, como nos casos de piometras. Nos casos de metrite, em virtude da maior
irrigação, a parede uterina apresenta-se menos densa e menos espessa (Figura 45). Por isso, muitas
vezes é difícil diferenciar o útero do tecido circundante.
Figura 43. Imagem ultrassonográfica de endometrite de uma vaca com
24 dias pós-parto. As setas pretas indicam pequeno acúmulo de líquido
inflamatório no lúmen uterino. Endométrio (1). Imagem adquirida com
probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 44. Imagem ultrassonográfica de uma metrite, evidenciando a


presença de “floculações” no lúmen uterino. Imagem adquirida com
probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Figura 45. Imagem ultrassonográfica de uma metrite puerperal aguda


15 dias após o parto, em uma vaca leiteira. Note-se a dificuldade de
estabelecer os limites do útero, em decorrência da quantidade e da
ecogenicidade do líquido e da fina espessura da parede uterina. Imagem
adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Piometra consiste em um grande acúmulo de líquido com alta ecogenicidade no útero (Figura 46A).
Além disso, durante o exame, em alguns casos, certa turbulência pode ser observada nesse líquido.
Essa turbulência pode aparecer quando o animal se movimenta, quando o examinador movimenta o
útero ou quando o útero se contrai. Outra característica da piometra é a persistência do corpo lúteo
(Figura 46B), o que determina elevadas concentrações de progesterona durante o curso dessa
alteração. Os níveis de progesterona fazem a cérvix permanecer fechada, o útero relaxado e o
endométrio com alta capacidade secretória. Todas essas características impedem a expulsão do
conteúdo e favorecem a proliferação microbiana no útero, impedindo a resolução natural do quadro
clínico.
Figura 46. Imagem ultrassonográfica de uma vaca que desenvolveu quadro de piometra. Pode-se observar a quantidade
de líquido purulento (1) no interior do útero (A). A presença de CL no ovário é característica de quadro de piometra em
vacas (B). Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Fotos: Rogério Ferreira

A ultrassonografia permite detectar com acurácia a diferença entre piometra e mucometra


(Figura 47), o que não seria possível pela palpação retal. Na prática, as avaliações ultrassonográficas
uterinas pós-parto são realizadas por causa da presença de sinais de algum processo inflamatório já
instalado (presença de secreção expelida pela vagina). Dessa forma, graças a um diagnóstico
preciso, é possível sugerir a terapia mais indicada e propor planos de reavaliação da vaca afetada.
Normalmente, a partir de 15 dias da data do parto, a avaliação ultrassonográfica do ovário pode
detectar a presença de corpo lúteo (CL); nesse caso, o uso de prostaglandinas para o tratamento de
metrites/endometrites pode ser mais eficaz.

Figura 47. Imagem ultrassonográfica de um quadro de mucometra,


evidenciando a grande quantidade de líquido anecoico no lúmen uterino.
Imagem adquirida com probe transretal linear de 6 MHz.
Foto: Bernardo Garziera Gasperin

Útero bovino pós-parto

O exame de ultrassom no período pós-parto permite monitorar a involução e a saúde uterina,


principalmente durante o período voluntário de espera. As Figuras 48 e 49 mostram o útero durante
o processo normal de involução pós-parto. Quando o puerpério ocorre sem complicações (exemplo:
retenção de placenta, metrite, endometrite e cistos ovarianos), o útero de bovinos completa sua
involução em média no 28º dia em vacas de corte e no 45º dia em vacas de leite.

Figura 48. Imagem ultrassonográfica da involução uterina normal aos


17 dias pós-parto. Note-se o espessamento do endométrio (1) e do
miométrio (2). As setas pretas indicam a presença de líquido no lúmen
uterino. Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Luiz Francisco Machado Pfeifer
Figura 49. Imagem ultrassonográfica de uma involução uterina normal
aos 23 dias pós-parto. Note-se o endométrio já quase totalmente
recuperado (1) e o miométrio ainda espessado (2). As setas pretas
identificam o lúmen uterino (sem acúmulo de lóquios), enquanto as
setas brancas identificam a região vascular do útero. Imagem adquirida
com probe transretal linear de 5 MHz.
Luiz Francisco Machado Pfeifer

A velocidade de involução uterina e o acometimento de metrite puerperal estão relacionados com


diversos eventos que ocorrem antes, durante ou logo após o parto (chamado “período de transição”).
Alguns eventos, como a distocia, a retenção de placenta e doenças metabólicas, aumentam as
chances de uma vaca retardar a involução normal do útero e desenvolver metrites puerperais. Como
os distúrbios do periparto são mais frequentes em vacas leiteiras, a involução do útero também é
mais lenta nessas fêmeas. Além disso, o fato de vacas de corte amamentarem com mais frequência
também é considerado um dos motivos da diferença na involução uterina entre vacas de corte e de
leite. Dessa forma, vacas de corte possuem mais episódios de liberação de oxitocina ao dia e,
consequentemente, as contrações uterinas pós-parto necessárias para a regressão uterina são mais
intensas.
Diagnóstico de gestação por ultrassonografia
A inclusão da ultrassonografia nas práticas do manejo reprodutivo aumentou consideravelmente a
acurácia dos exames de diagnóstico de gestação. Apesar de todas as vantagens que a
ultrassonografia oferece ao sistema de produção bovino, os profissionais devem conhecer as
limitações dessa técnica, para que possam prestar serviços de forma competente.

Alguns cuidados devem ser observados para fazer um diagnóstico preciso da gestação em bovinos.
Quanto mais cedo é dectectada a prenhez, maior é a diferença entre o número de prenhez e o
número de nascimentos. Isso se deve ao fato de que, quanto mais próximo à concepção, maior a
chance de reabsorção embrionária. Das vacas diagnosticadas prenhes 28 dias após a IA, 10% a 16%
sofrem perda embrionária precoce até o 56º dia. Por esse motivo, vacas com diagnóstico de prenhez
precoce com o uso do ultrassom devem ser examinadas novamente em torno de 30 a 60 dias após o
primeiro exame, quando a taxa de perda gestacional diminui significativamente. Entretanto, como já
comentado, o uso do ultrassom não tem sido implicado como causa de morte embrionária no
rebanho. Ademais, a ultrassonografia é uma técnica de diagnóstico de prenhez menos invasiva do
que a palpação retal.

Nas práticas de diagnóstico de gestação por meio da ultrassonografia, o embrião já pode ser
observado 26 a 29 dias após a concepção. Estudos demonstram que, quando a probe de 5 MHz foi
utilizada para a detecção de prenhez, a acurácia não foi confiável até o dia 18 após a IA; entretanto,
após o dia 22 e sob perfeitas condições de exame, a acurácia aproximou-se de 100%. A maioria dos
clínicos concorda que, em condições de campo, aparelhos de ultrassonografia com uma probe de
5 MHz representam um método preciso para diagnóstico após o 26º dia de gestação, quando, então,
os batimentos cardíacos do embrião viável podem ser detectados. Probes lineares com fre​quências
entre 5 MHz e 8 MHz são geralmente as preferidas para fazer o diagnóstico de gestação precoce em
bovinos. O método de diagnóstico tem excelente sensibilidade, ou seja, habilidade de detecção real
de gestação (Figura 50).

Figura 50. Imagem ultrassonográfica de um embrião (1) com 29 dias.


Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Fotos: Rogério Ferreira
A ultrassonografia permite avaliar o desenvolvimento embrionário durante a gestação (Tabela 7).
O embrião propriamente dito pode ser detectado pela primeira vez no interior da vesícula amniótica
aos 20 dias após a concepção, quando, então, o embrião apresenta 3,5 mm de comprimento. Entre
28 e 31 dias de gestação, os tubérculos dos membros anteriores tornam--se visíveis, e os tubérculos
dos membros posteriores podem ser visualizados aproximadamente 2 dias depois. Os cascos são
distinguidos entre os dias 42 e 49, enquanto os movimentos da cabeça e os membros do feto podem
ser percebidos por volta dos dias 42 a 50 (Figuras 51 e 52).

Tabela 7. Características gestacionais que servem de parâmetro para o


diagnóstico nas fases iniciais de gestação, por meio da ultrassonografia.

Características gestacionais Dias pós-serviço


Vesícula embrionária 13 a 19
Embrião 20 a 24
Batimentos cardíacos 25 a 27
Âmnio 30 a 32
Membros 28 a 34
Coluna vertebral 40
Movimentos fetais 42 a 50
Costelas 51 a 55
Placentônios junto ao embrião 33 a 38
Placentônios em todo o útero 60
Fonte: Adaptado de DesCôteaux et al. (2010).

Figura 51. Imagem ultrassonográfica de um feto com 50 dias de


gestação, evidenciando a presença do cordão umbilical (1) na porção
ventral. O feto encontra-se envolvido pelo líquido amniótico (2). As setas
indicam os cascos do feto. Imagem adquirida com probe transretal linear
de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Figura 52. Imagem ultrassonográfica de um feto com 50 dias de
gestação. As setas indicam os membros anteriores (ma) e
posteriores (mp) do feto. Cabeça do feto (1). Imagem adquirida com
probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

As costelas podem ser visualizadas a partir dos dias 51 a 55, e os placentônios ao redor do feto,
nos dias 33 a 38, e, ao longo dos cornos uterinos, pelo 60º dia. Durante o diagnóstico de gestação, é
também importante avaliar a viabilidade do embrião, prestando especial atenção aos batimentos
cardíacos, geralmente perceptíveis a partir dos 25 dias de gestação. Os batimentos cardíacos podem
ser detectados no centro do embrião, em formato de uma luz cintilante, com fre​quência variável,
dependendo da idade gestacional. Além disso, em gestações mais avançadas, é possível visualizar as
quatro cavidades do coração fetal (Figura 53).

Figura 53. As setas brancas apontam para as cavidades do coração de


um feto, em imagem ultrassonográfica. Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

O diagnóstico ultrassonográfico precoce de prenhez revela um lúmen uterino contendo uma


quantidade variável de fluido anecoico, produzido pelo concepto (Figura 50). O acúmulo de fluido e
a distensão uterina dependem muito do estágio da gestação e da idade da vaca. Às vezes, é difícil
localizar o embrião antes dos 30 dias de gestação por causa do seu tamanho diminuto em meio ao
grande volume de fluido amniótico e alantoide. Nesse período, o embrião é geralmente encontrado
junto à parede uterina e pode estar oculto por uma prega endometrial. Um exame cuidadoso na zona
do líquido anecoico geralmente revela a presença do embrião junto às pregas uterinas. No 30° dia,
também é possível visualizar a membrana amniótica, que se apresenta ecogênica (Figura 54).

Figura 54. Vesícula amniótica (1), embrião de 32 dias (2) e líquido


alantoidiano (3). É possível visualizar o líquido amniótico entre o
embrião e a parede da vesícula amniótica. Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Conforme discutido anteriormente, o acúmulo de fluido no útero durante o estro pode ser
confundido com a imagem anecoica do concepto e, assim, causar erro de diagnóstico por falta de
experiência do avaliador. Portanto, a avaliação do embrião e sua viabilidade são procedimentos de
suma importância para que o diagnóstico de prenhez possa ser feito de forma acurada. Em
gestações mais avançadas (> 45 dias), uma das primeiras imagens formadas é a de abundante
líquido anecoico, distribuído em várias partes do útero (pregas uterinas), e também a presença da
membrana âmnio (Figura 55). Embora esses sinais não sejam suficientes para fornecer um
diagnóstico definitivo, eles poderão dar indícios sobre a viabilidade da gestação, pois o líquido
alantoidiano está límpido e o endométrio, sadio. Ainda assim, o operador deve dar prosseguimento
ao exame para averiguar a presença e a viabilidade do feto (Figura 56).
Figura 55. Imagem ultrassonográfica, demonstrando as pregas uterinas com líquido
alantoidiano anecoico (A) e visualização da membrana âmnio (B). Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 56. Visão dorsal da cabeça de um feto com cerca de 50 dias (A) e visão lateral da
cabeça e do membro anterior de um feto com cerca de 80 dias (B). Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Além dos sinais clássicos da prenhez previamente descritos, a presença de placentônios também
serve como forte indício de prenhez e da viabilidade fetal. Os placentônios podem ser identificados a
partir do 33° dia e são visualizados perto do embrião. Na Figura 57, distinguem-se os placentônios
de uma gestação de cerca de 70 dias e, na Figura 58, os placentônios de uma gestação de 210 dias.
Como os placentônios crescem com o transcorrer da gestação, na Figura 9 é possível identificar as
diferentes ecogenicidades entre o cotilédone placentário que circunda a carúncula materna (região
hiperecogênica que circunda a carúncula).
Figura 57. Gestação de cerca de 70 dias, evidenciando os placentônios (1), que se projetam
para o lúmen uterino. Imagem adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 58. Imagem de ultrassonografia de um placentônio de 2,93 cm


aos 210 dias de gestação. É possível observar o limite do cotilédone
(setas brancas), que é a porção hiperecogênica em torno da carúncula.
Placentônio (1) e líquido alantoidiano (2). Imagem adquirida com probe
transretal linear de 5 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Medidas usadas para determinar a idade embrionária ou fetal

A avaliação da idade gestacional pode ter várias aplicações para o manejo reprodutivo de uma
fazenda. A precisão da estimativa da idade fetal depende de vários fatores, tais como: a raça
materna e a paterna, o sexo do feto e a duração da gestação.

Vários equipamentos de ultrassom já vêm com um programa que permite ao veterinário estimar a
idade do embrião ou do feto bovino usando medidas específicas. A medida mais utilizada é a
distância entre o ápice cranial (a coroa) e o final da garupa (crown-rump lenght – CRL; Figura 59) e
os diâmetros da cabeça (Figura 60) e do tórax (Figura 61). Essas são medidas fáceis de obter e são
também as que apresentam maior acurácia no diagnóstico quando realizado até o dia 55 de
gestação. A partir desse estágio, as probes normalmente utilizadas apresentam frequência que não
proporciona boa visibilidade de todo o comprimento do feto.

Figura 59. Avaliação do estágio gestacional por meio da mensuração do


ápice da cabeça até a garupa (crown-rump lenght – CRL) de um embrião
com 39 mm de CRL, com aproximadamente 50 dias. Imagem adquirida
com probe transretal linear de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira
Figura 60. Avaliação do estágio gestacional por meio da mensuração do
diâmetro da cabeça (head diameter – HD). HD com 17,2 mm e idade
gestacional estimada de 62 dias. Imagem adquirida com probe transretal
linear de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Figura 61. Avaliação do estágio gestacional por meio da mensuração do


diâ​metro do tórax (thorax diameter – TD). TD com 11,5 mm e idade
gestacional estimada de 45 dias. Imagem adquirida com probe transretal
linear de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira
Figura 61. Avaliação do estágio gestacional por meio da mensuração do
diâ​metro do tórax (thorax diameter – TD). TD com 11,5 mm e idade
gestacional estimada de 45 dias. Imagem adquirida com probe transretal
linear de 6 MHz.
Foto: Rogério Ferreira

Detecção do sexo fetal por meio de ultrassonografia

Outra vantagem da ultrassonografia para diagnóstico de gestação é a possibilidade de determinar


o sexo do feto. Aproximadamente aos 50 dias de gestação, o sexo dos fetos pode ser revelado por
meio da localização do tubérculo genital, que vem a ser uma estrutura bilobulada altamente
ecogênica. Como a aparência ultrassonográfica do tubérculo genital do macho e da fêmea é similar,
vai ser sua posição que vai determinar o diagnóstico. Ao redor dos 58 dias de gestação, o tubérculo
genital do macho atinge sua posição final, sutilmente caudal ao umbigo (Figura 62). Na fêmea, por
volta dos 53 dias de gestação, o tubérculo genital atinge sua posição final, ventralmente à cauda
(Figura 63).

De forma geral, o melhor período da gestação para fazer a sexagem fetal, com bom percentual de
acerto, é entre 55 e 120 dias. Assim, um profissional experiente é capaz de distinguir o sexo do feto
já entre 55 e 60 dias. Para a obtenção de resultados confiáveis, convém captar imagem frontal ou
sagital da superfície ventral do feto. Essa técnica exige, de qualquer forma, bastante treinamento da
parte do técnico. Entre os erros mais comuns cometidos por técnicos pouco experientes estão a
confusão entre o umbigo e o tubérculo genital masculino, e a confusão entre uma porção da cauda
(vértebra caudal) e o tubérculo genital feminino.
Figura 62. Feto masculino aos 60 dias de gestação (A, B). No painel B é possível visualizar, com
detalhe, o tubérculo genital (seta branca). Na imagem de ultrassonografia (C), a seta branca
indica o tubérculo genital na porção ventral do feto. Imagem adquirida com probe transretal
linear de 5 MHz.
Fotos: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 63. Feto masculino aos 60 dias de gestação (A, B). No painel B é possível visualizar, com
detalhe, o tubérculo genital (seta branca). Na imagem de ultrassonografia (C), a seta branca
indica o tubérculo genital na porção ventral do feto. Imagem adquirida com probe transretal
linear de 5 MHz.
Fotos: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Novos métodos de obtenção e avaliação de imagens de ultrassonografia do
trato reprodutivo

Ultrassonografia com doppler colorido

As alterações ovarianas que ocorrem durante o ciclo estral bovino são acompanhadas por
variações hemodinâmicas decorrentes dos processos biológicos do crescimento folicular, da ovulação
e da formação e regressão do corpo lúteo. Nesse âmbito, a técnica de ultrassonografia com doppler
colorido (USDC) tem a vantagem de não ser invasiva, além de ajudar a avaliar a função vascular do
ovário. Convencionalmente, os aparelhos de ultrassonografia que possuem a função doppler colorido
(DC) apresentam imagens na cor azul ou vermelha, de acordo com o sentido do fluxo sanguíneo.
O uso de USDC para avaliar estruturas ovarianas permite visualizar o fluxo de sangue na parede de
folículos dominantes e pré-ovulatórios e no corpo lúteo (CL). Dessa forma, a USDC permite mensurar
quantitativa e subjetivamente o fluxo sanguíneo e, consequentemente, estimar a funcionalidade
desses tecidos.

O desenvolvimento folicular e a ovulação são eventos que dependem diretamente de uma eficiente
microcirculação na parede folicular. A camada da teca dos folículos pré-ovulatórios desenvolve uma
fina rede de capilares, que atinge a proximidade da camada granulosa. É através dessa rede de
capilares que os nutrientes e os hormônios são fornecidos para as células da granulosa e para o
complexo cúmulus-oócito, situado no interior do folículo. O aumento do fluxo de sangue para a
camada da teca do folículo dominante resulta em um aumento da oferta de gonadotrofinas e outros
fatores hormonais e bioquímicos necessários para a maturação folicular e a consequente ovulação. A
Figura 64 demonstra, de forma simplificada, o perfil de vascularização de um folículo ovulatório
momentos antes da ovulação.

Figura 64. Imagem de ultrassonografia com doppler colorido de um folículo dominante no período periovulatório. Pode
ser observado um aumento gradual da vascularização da parede do folículo com a aproximação da ovulação. Imagem
adquirida com probe transretal linear de 5 MHz.
Fotos: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Para bem entender os papéis de peptídeos vasoativos na fisiologia ovariana, é preciso conhecer a
alteração do perfil do fluxo de sangue dos folículos individualmente e do CL em fases específicas do
ciclo estral. Portanto, estudos que utilizam USDC podem caracterizar as mudanças em tempo real no
fluxo sanguíneo dentro da parede do folículo e do CL. A utilização da ultrassonografia convencional
(Modo B) na avaliação da função do CL durante o período da luteólise é limitada por causa da
assincronia temporária entre a sua regressão funcional e a morfológica. Dessa forma, o uso de USDC
pode superar essas limitações, pois permite a avaliação do fluxo sanguíneo do CL em tempo real,
refletindo indiretamente a funcionalidade da glândula, especialmente no final do ciclo estral. Na
Figura 65, pode ser observada a avaliação de um CL ativo por ultrassonografia modo B e por USDC,
evidenciando que é possível estimar a funcionalidade do CL em tempo real.
Figura 65. Imagem de ultrassonografia de um CL avaliado no modo B (A) e do mesmo CL
avaliado com doppler colorido (B). Observa-se a vascularização ativa do CL, evidenciando sua
funcionalidade (esteroidogenicamente ativo). Imagem adquirida com probe transretal linear de
5 MHz.
Fotos: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Procedimentos de USDC já têm sido utilizados para diagnóstico de gestação precoce por meio da
avaliação da funcionalidade do CL entre os dias 20 e 22 após a IATF. Resultados de pesquisa têm
demonstrado que a detecção de um CL funcional a partir do dia 20 após a IATF pode ser indicativo
de prenhez. É importante salientar que esses procedimentos têm registrado 100% de sensibilidade,
ou seja, não têm sido observados casos de falso negativo de prenhez. A ultrassonografia doppler
deverá, portanto, constar dos exames ginecológicos de rotina.

Ultrassonografia 3D e 4D

Os exames ginecológicos do trato reprodutivo por ultrassom bidimensional (2D) permitem uma
avaliação limitada da funcionalidade de um tecido. Em contraste, a ultrassonografia
tridimensional (3D) e a quadridimensional (4D) podem revelar características funcionais mais
específicas dos tecidos examinados. O ultrassom de imagem tridimensional foi desenvolvido pela
primeira vez na década de 1990. Atualmente, é uma técnica utilizada rotineiramente em obstetrícia e
ginecologia de humanos para avaliar anomalias fetais e o desenvolvimento de tumores.

A ultrassonografia 3D consiste na produção de uma série de imagens convencionais, em modo


bidimensional, que podem ser exibidas em qualquer plano depois do exame. As imagens 3D
adquiridas em tempo real, assim como as imagens 4D, incorporam a quarta dimensão do tempo, o
que significa que os dados de volume de uma região de interesse podem ser armazenados e,
posteriormente, visualizados como uma única imagem dinâmica. A aquisição de imagens por meio
de tecnologia 3D e 4D tem melhorado com a utilização de transdutores de ultrassom de alta
frequência, permitindo que imagens sejam produzidas com mais rapidez, o que vem reduzindo
problemas com movimentos respiratórios e do próprio animal, os quais prejudicam a formação
dessas imagens. Atualmente, as imagens de folículos e CL em 3D e 4D ainda não oferecem
vantagem em diagnóstico sobre as imagens 2D.

Como se pode observar, a ultrassonografia 3D ainda se apresenta como um procedimento


laborioso e demorado, pois a contenção do animal e a imobilidade da estrutura avaliada são cruciais
para garantir a qualidade final da imagem gerada. Dessa forma, avaliações de rotina em ginecologia
de grandes animais ainda têm uso restrito. Na Figura 66, observa-se uma imagem de um feto bovino
adquirida em 3D.
Figura 66. Imagem adquirida em 3D de um feto bovino com cerca de 50 dias.
Foto: João Henrique Moreira Vianar

Ultrassom biomicroscópio

A maioria dos estudos que utilizam ultrassonografia para a avaliação de tecido ovariano em
bovinos contenta-se em visualizar folículos com diâmetro ≥ 3 mm, em virtude do limite de
resolução dos equipamentos de ultrassonografia e da frequência das probes (de 5 MHz a 10 MHz)
comumente utilizadas. A resolução dos equipamentos de ultrassonografia convencionais é suficiente
para os mais variados usos clínicos, porém, para avaliar estruturas ovarianas menores (< 2 mm),
são necessários aparelhos com melhor resolução. Dessa forma, o ultrassom biomicroscópio (UBM),
que possui resolução de 30 μm a 50 μm (abaixo do poder de resolução do olho humano;
~ 200 μm), permite o estudo de estruturas ovarianas em tempo real, com resolução próxima à
histológica. O transdutor do UBM utiliza um único cristal piezoelétrico para emitir ondas sonoras de
altíssima frequência (20 MHz a 70 MHz), o que permite gerar imagens com poder de resolução
muito além do poder de resolução dos equipamentos convencionais de ultrassonografia.
Recentemente, foi demonstrada a possibilidade de geração de imagens de ovários bovinos, in vivo,
com uso do UBM (Figura 67), tendo sido possível até mesmo visualizar complexos cúmulus-oócito
(CCOs) inclusos em folículos antrais (Figura 68). Resultados obtidos por meio de ultrassonografia
biomicroscópica in vivo em bovinos demonstraram ser possível identificar folículos antrais bem
pequenos, com até 0,4 mm de diâmetro.
Figura 67. Imagens de folículos antrais bovinos de 2,6 mm (à esquerda) e 2,3 mm (à direita)
de diâmetro, adquiridas in vivo, por ultrassom biomicroscópico. A parede folicular (1) pode ser
claramente distinguida do estroma ao redor do folículo. Imagem adquirida com probe
transvaginal convexa de 40 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer

Figura 68. Imagem adquirida em exame in vivo, por ultrassom biomicroscópio, de um folículo de
3,48 mm de diâmetro, demonstrando um ponto ecogênico dentro do antro (seta), que se
acredita ser o complexo cúmulus-oócito (CCO). Imagem adquirida com probe transvaginal
convexa de 25 MHz.
Foto: Luiz Francisco Machado Pfeifer
Monitorar sequencialmente o desenvolvimento de pequenos folículos antrais e CCOs contidos
nesses folículos pode ajudar e entender a fisiologia ovariana e a competência oocitária. Entretanto,
estudos que avaliam a dinâmica folicular ovarina com a utilização de UBM ainda não foram
realizados.
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