67458-Texto Do Artigo-88878-1-10-20131125
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Resumo:
Trata-se de u m breve estudo sobre o pensamento de Francisco de
Vitória e sua contribuição para o desenvolvimento do Direito Internacional no
período que antecedeu os descobrimentos. A matéria, ainda, faz u m a análise
crítica do pensamento de Vitória, demonstrando que a lógica da dominação
mercantilista prevaleceu sobre o caráter humanitário do seu pensamento. A
título de remate analisa a situação do País dentro desse panorama, salientando
a violação de direitos e a figura do índio que após os 500 anos do
descobrimento, ainda não tem consolidado, de forma efetiva, seus direitos e
garantias.
Abstract:
The author's study is about the thought of Francisco de Vitória
and his contribution for the development of the International Right in the
period that preceded the Discoveries. The study still does a criticai analysis of
the thought of Vitória, demonstrating that the logic of the mercantilist
dominance prevailed on the humanitarian character of his thought.
Concluding, it analyzes the situation of the Country inside of that panorama,
pointing out the violation of rights and the illustration of the brazilian indian,
w h o after 500 years of the discovery has not Consolidated, in an effective
form, hisrightsand warranties.
Considerações introdutórias
1. Jean de Léry. Histoire d'un voyage faict en Ia terre du Brésil (1578) (texte établi, presente et
annoté par Frank Lestringant, précédé d'un entretien avec Claude Lévi-Strauss, Paris, Bibliothéque
classique - Livre de poche, 1994, ch. xviii, pp. 439 e ss.).
2. A respeito Paulo B. Casella, "Presença de Francisco de Vitória" in Revista da Faculdade de
Direito, v. L X X X , 1985, pp. 355-369.
Direito dos povos indígenas: releitura de Francisco de Vitória 123
enfatizando os 500 anos do Descobrimento
criticando os seus precursores pela falta de visão e pela falta de método, sabendo
contudo reconhecer-lhes os méritos, e citá-los, quando ocasião se apresenta.
M a s antes de Grotius muitos refletiram sobre questões pertinentes ao
Direito Internacional, dentre os quais podem ser destacadas algumas obras, que se
atem a temas específicos dessa área.
Foram conservadas obras como o De bello de João Legnano (falecido
e m 1383), o Traité des faits d armes et de chevalerie de Cristiano de Pison, LArbre
des batailles (escrito por volta de 1384) por Honório Bonet, ou o Libellus de bello
justo et licito (de 1514) Wilhelmus Matthiae para citar alguns que discorrem
detalhadamente sobre as guerras e atos que, no correr destas, se possam praticar.
Essas obras, e muitas outras, refletiram a preocupação - partilhada por religiosos e
leigos de regulamentar a atividade guerreira. Não apenas os Estados, ou seja, o
conjunto de Repúblicas, Principados e Reinos, mas também os particulares a ela
recorriam para resolver as questões pendentes. T a m b é m foi decisiva a atuação da
Igreja no sentido de restringir as guerras e humanizar os combates.
N a Espanha diversos pensadores se reservaram ao estudo do direito da
guerra. Santo Isidoro, bispo de Sevilha (de 596 a 636), na sua obra Origens ou
Etymologie, retoma o conceito de jus gentium das Institutas de Ulpiano, dando-lhe
características que o aproximam muito da concepção moderna. T a m b é m relevante
foi o trabalho de S. Raimundo de Penaforte (nascido entre 1175 e 1185, falecido e m
1275), Summa poenitentias. Outro marco relevante, são Las siete partidas, obra de
Rei Afonso X de Cartilha, que teve como colaboradores Giacomo Ruiz, Fernando
Martinez e Roldum. Essa obra regulava o direito da guerra de forma minuciosa.
Mas, é só depois de Francisco de Vitória que podemos falar e m
Direito Internacional jus inter omnes gentes. Vitória trouxe contribuição pessoal e
original ao Direito, enriquecendo-o c o m princípios amplos e humanos. Foi Hugo
Grotius o responsável pelo estabelecimento do Direito Internacional como ciência
distinta, mas o pai do Direito Internacional é Francisco de Vitória e essa paternidade
está fora de discussão.
3. Pe. Beltrán, op. cil., Cap. VIII Vitoria y Carlos V, pp. 115-140.
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enfatizando os 500 anos do Descobrimento
4. Fausto, Boris. História do Brasil, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 6a ed.,
1998.
126 Paulo Borba Casclla/Guilhcrme Figueiredo Nascimento
SãoPaulo,julhode2000.