9 - Dano Estético PDF
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“Para saber se uma sociedade é justa, basta perguntar como ela distribui as coisas que
valoriza – renda e riqueza, deveres e direitos, poderes e oportunidades, cargos e
honrarias. Uma sociedade justa distribui esses bens da maneira correta; ela dá a cada
indivíduo o que lhe é devido. As perguntas difíceis começam quando indagamos o que
é devido às pessoas e por quê”. (SANDEL, Michael J. Justiça. 11. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2013, p. 28).
RESUMO
1
Essa visão, há muito ultrapassada, que trazia em si uma grande carga de
discriminação em face da pessoa com deficiência, evoluiu para se admitir o dano estético nos
casos de marcas e outros defeitos físicos que causem à vítima desgosto ou complexo de
inferioridade sem que haja, necessariamente, uma deformidade física.
Marcas, defeitos, cicatrizes, ainda que mínimos, podem significar um desgosto para a
vítima, acarretando, segundo Wilson Melo da Silva (1999), em um “afeamento”, transformando-
se em um permanente motivo de exposição ao ridículo ou de inferiorizantes complexos.
Por esta senda, e já buscando adiantar até mesmo algumas conclusões dessa pesquisa,
a jurisprudência de nossos Tribunais Superiores, embora imbuída de um grande esforço
intelectual para tentar parametrizar os valores de indenizações por danos morais e,
eventualmente, até mesmo o estético, não poderá tolher a liberdade do julgador de primeiro grau
nem deixar de levar em consideração diversas nuances subjetivas para estabelecer o valor da
indenização.
Segundo Teresa Ancona Lopes (LOPES, 1999), três são os elementos capazes de
caracterizar o dano estético, a saber: transformação para pior, permanência ou efeito danoso
prolongado e localização na aparência externa da pessoa.
[...] um prejuízo que pode ser corrigido in natura, através dos milagres da
cirurgia plástica, cuja operação inegavelmente se impõe como incluída na
reparação do dano e na sua liquidação. Por conseguinte, o dano estético só
pode ter lugar quando se patenteia impossível corrigir o defeito resultante do
acidente através dos meios cirúrgicos especializados.
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No tocante à necessidade de ser a lesão localizada na aparência externa da vítima,
não se tem entendido, atualmente, que a lesão seja visível em situações corriqueiras do cotidiano.
Mesmo deformidades em áreas íntimas da pessoa, que dificilmente se exponham à vista de
terceiros em situações sociais, caracterizam o dano estético, vez que a presença de alterações
físicas, ainda que diminutas, têm sua presença conscientizada pelo portador e sabe este que em
situações de maior intimidade com outras pessoas as mesmas tornar-se-ão visíveis. Inegável o
sofrimento interno, psicológico. Ademais, pode isso acontecer até em situações cotidianas, visto
que em uma sociedade moderna de um país com o clima quente como o nosso o uso de pouca
vestimenta é bastante freqüente, havendo maior possibilidade de exposição destas alterações na
aparência.
Desta feita, pode-se resumir dano estético como toda e qualquer modificação física,
permanente ou duradoura, na aparência física externa de uma pessoa, implicando em redução ou
eliminação dos padrões de beleza ou estética estabelecidos.
3 Fundamentos da reparação
Não se pode negar que a beleza impressiona a visão, abre portas. É a essência da
arte, e o esforço para obtê-la acompanha a vida, desde o início da humanidade. A busca pelo ideal
do belo é um sentimento atávico, que faz parte da natureza humana. São as flores mais bonitas
justamente as que conseguem atrair mais insetos e, por consequência, são as que têm mais
chances de se reproduzir. São os pássaros com plumagem mais vistosa que despertam parceiros
com maior facilidade. São as pessoas com melhor aparência que têm mais possibilidades de obter
uma colocação no mercado de trabalho, e que encontram menos dificuldade para conseguir
pretendentes.
Essa realidade, flagrantemente cruel para quem não se enquadra no perfil esperado, é
instintiva. Beleza está associada à noção de saúde. Inconscientemente, a pessoa bela, além de
supostamente saudável, por cuidar mais de si, de sua aparência, transmite a impressão de que
também é uma pessoa que tem maior capacidade, o que eleva suas chances em uma entrevista de
emprego, por exemplo.
A situação é ainda agravada pelo fato de o ser humano ter o aspecto social como um
dos pilares de sua vida. Como o homem vive em sociedade, necessita da aceitação no grupo. E
uma das facetas dessa aceitação, em nossa sociedade, é a da beleza. Por vezes, a pessoa vítima de
dano estético tem sua vida social abalada, quando não a perde totalmente, por receio de mostrar,
por exemplo, sua deformidade. Com esse contexto que rodeia o homem moderno, nada mais
natural que eventual dano estético possa vir a causar graves prejuízos na vida daquele que, por
infelicidade, é vítima de lesão à sua aparência, o que justifica alguma forma de compensação.
1 Xisto Tiago de Medeiros Neto esclarece que “a proteção alcança todo e qualquer dano extrapatrimonial,
não sendo limitativa a enumeração dos direitos constantes daquele inciso X, art. 5° (intimidade, vida privada honra e
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Acompanhando o entendimento adotado pela Carta Fundamental, o Código Civil de
2002 reconheceu a existência do dano extrapatrimonial e o dever de reparação, ao estipular a
obrigação de indenizar àquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, conforme se depreende da
leitura das cláusulas gerais da responsabilidade civil, quais sejam, o art. 927 conjugado com o art.
186.
Os aspectos acima delinados, por si só, já são suficientes para elidir qualquer espécie
de indenização tarifada no que tange à reparação do dano estético.
Imagine-se que, em uma dada situação, um agente de elite especial, que tinha o dever
de fazer a segurança de um importante chefe de Estado, por imperícia disparou a sua arma que,
por sua vez, veio a decepar a orelha da pessoa que ele tinha o dever de zelar pela segurança.
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Visualize-se a hipótese em que o porteiro de um prédio, que não teve o treinamento
adequado, resolveu fazer um pequeno reparo na eletricidade do prédio a pedido do síndico. Ao
tentar fazer o conserto, em virtude de um choque elétrico, perdeu a orelha.
Em ambas as hipóteses, apenas com base nesses dados, a indenização deverá ser a
mesma? Cada um perdeu uma orelha e pessoa sem orelha recebe X de indenização por dano
estético?
Frise-se, por lealdade, que foi esclarecido, em seguida, que a referida tabela “se trata
de material exclusivamente jornalístico, desenvolvido com o objetivo de facilitar o acesso aos leitores a um número
maior de precedentes do STJ, além daqueles citados no corpo da notícia. A tabela publicada é meramente
ilustrativa e os dados referem-se exclusivamente aos processos listados, ressaltando que os valores são referentes
exclusivamente aos respectivos processos, uma vez que cada caso é um caso.”
A seguir será feito um estudo de caso para demonstrar que, malgrado haja um
esforço doutrinário e jurisprudencial com o intuito de parametrizar as indenizações
extrapatrimoniais, no que toca ao dano estético, o STJ vem respeitando alguns aspectos
subjetivos que, embora alegadamente “desproporcionais”, muitas vezes redundam em uma
Justiça distributiva para situações que detêm peculiaridades completamente distintas.
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5 Estudo de caso: a amputação de um braço
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3. Por outro lado, mostra-se imprópria qualquer comparação no que concerne ao valor
de indenização fixado por esta Corte em caso de morte. No presente caso, está-se a
indenizar a própria vítima por um sofrimento que irá experimentar por toda a vida, ao
passo que a indenização por morte é concedida aos familiares da vítima, em decorrência
da dor experimentada pela perda do querido ente.
4. Indenização elevada ao valor global de R$ 250.000,00, já considerados os danos
morais e estéticos. Quanto ao valor da indenização, ressalva pessoal do relator, que
dava provimento ao
recurso em maior extensão.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido.
(REsp 689088 / MA RECURSO ESPECIAL
2004/0130203-3, Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJE
2/2/2010.)
No primeiro dos julgados acima transcritos, pela ementa pode-se constatar que se
trata de um caso de uma mulher que teve um dos braços amputados e que, em virtude da má
prestação estatal do serviço de saúde houve uma condenação de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
por indenização do dano estético.
Impende-se consignar, pela mera leitura das ementas dos julgados, que o c. STJ vem
analisando diversos aspectos subjetivos para a concessão de valores diferentes de indenizações
por danos estéticos.
No terceiro julgado, por exemplo, foi sopesado que se tratava de uma pessoa muito
jovem que sofreu as lesões e teve um braço amputado.
Isso não quer dizer, obviamente, que um braço de uma criança tenha um valor
econômico maior do que uma pessoa de 100 (cem) anos de idade.
Com efeito, a pessoa física em tênue idade terá enormes dificuldades na afirmação de
sua identidade social, como no exercício do estudo e/ou trabalho, em virtude da falta de
acessibilidade dos meios, por exemplo; essa pessoa terá dificuldade até mesmo em tarefas
domésticas básicas como a criação de um possível filho, coisa que a pessoa no final da vida não
terá mais.
Deve sim, com todo respeito aos que pensam em sentido contrário, essas situações
ser tratadas com a desigualdade que merecem.
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Todavia, embora se reconheça – assim como faz a jurisprudência do c. STJ - que
deva existir e ser respeitado o subjetivismo nas decisões judiciais sobre dano estético, entendo
que os julgadores devem se preocupar com categorias de responsabilidade para, dentro desse
subjetivismo, tentar objetivar a valoração do dano.
Para tentar ilustrar o que se está a defender, segue transcrição de julgado onde houve
a negativação do nome de uma pessoa:
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O primeiro grande erro na pergunta acima realizada é que um dos princípios básicos
no que toca à saúde/integridade física, direito à vida, ao meio ambiente e a todo o arcabouço dos
direitos humanos fundamentais é o da prevenção/precaução e também o da não lesão aos
direitos fundamentais.
6. Conclusão
Eis as conclusões:
I. Os danos estéticos não são apenas aleijões e deformidades, mas podem ser
considerados toda e qualquer alteração na aparência externa do indivíduo que lhe cause uma
diminuição na sua estética em relação ao que era antes da ocorrência do fato danoso. Prescinde
que a lesão seja constantemente visível, necessita que seja duradoura ou permanente e que
produza uma mudança para pior na aparência da vítima.
II. O dano estético gera prejuízos que merecem ser reparados, juntamente com a
reparação moral e material, conforme entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
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jurisprudência estabeleça parâmetros máximos e mínimos para uma adequada quantificação do
valor a ser indenizado.
REFERÊNCIAS
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LOPEZ, Tereza Ancona. O dano estético: responsabilidade civil. 2. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999.
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