Prática de Ensino Da Educação Básica
Prática de Ensino Da Educação Básica
PRÁTICA DE ENSINO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Professora Dra. Gislene Miotto Catolino Raymundo
Professora Me. Vânia de Fátima Matias de Souza
GRADUAÇÃO
PEDAGOGIA
MARINGÁ-PR
2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.
Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br
PRÁTICA DE ENSINO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para
liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no
mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos
nossos fará grande diferença no futuro.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição
universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo do-
cente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesqui-
sa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a
distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e
administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o
mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os
egressos, incentivando a educação continuada.
Fonte:SHUTTERSTOCK.COM
A Prática de Ensino constitui espaço de aprendizagem extremamente importante no
processo formativo dos profissionais da educação básica
Prezado(a) acadêmico(a), acreditamos que ser educadora não faz parte do nosso destino, isto
é, não constitui algo que estava predeterminado, mas constitui parte da nossa história e de
cuja responsabilidade não podemos nos eximir. Compor a nossa história fazendo-se docente
significa comprometer-se com processos sociais, políticos e educativos que contribuem
concomitantemente para a nossa (trans)formação, como também da realidade na qual estamos
inserida.
Freire (1993, p. 87), com seus escritos, faz-nos acreditar cada vez mais que:
Não nasci, porém marcado para ser um professor assim. Vim me tornando desta forma
no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras formas
práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos,
não importa se com eles estava de acordo ou não.
Fazer-se docente é um desafio! É reconhecer que somos seres culturais, afetiva e socialmente
construídos. Enfim, é trilhar caminhos transitórios, onde a certeza do inacabamento, da
inconclusão e da provisoriedade impulsionou-nos a não nos contentar com o que já construímos,
a não nos colocar como expectadores passivos adaptando-nos à realidade social, mas como
Por conseguinte, recomendamos que durante esta disciplina você procure interagir com os
textos, fazer anotações, responder as atividades de autoestudo, anotar suas dúvidas, ver as
indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois com certeza
não será possível esgotar esta temática nos momentos de estudos que juntos compartilharemos
nesta disciplina.
Para que você possa trilhar conosco este processo de reflexão, apresentamos-lhe a forma
como organizamos este material.
Na primeira unidade deste trabalho, por meio de uma visão panorâmica, realizamos um
resgate histórico do surgimento das disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Curricular
Supervisionado a partir dos dispositivos legais de cada época. Esse resgate histórico permite
compreender e identificar as diferentes concepções que a Prática de Ensino e o Estágio
Curricular constituíram no curso de Pedagogia, desde o seu surgimento até os dias atuais,
especificamente, enfatizando as possibilidades de formar um profissional da educação que
fará de sua prática pedagógica um processo contínuo de reflexão e investigação.
Na quinta e última unidade deste livro, pensado na realização do seu Estágio Curricular
Supervisionado, desejamos que você compreenda que o projeto pedagógico da escola,
campo de estágio, e posteriormente, da instituição escolar que você estará inserido, organiza-
se pedagógica e administrativamente, por meio de um documento denominado projeto
pedagógico.
Nesse sentido, ressaltamos que o estudo do planejamento e das práticas pedagógicas enquanto
ações reflexivas na construção do projeto pedagógico são de enorme importância aos futuros
pedagogos, porque, quando implementado de acordo com a realidade e as necessidades da
instituição escola, a relação entre a prática pedagógica e a formação profissional possibilita
que todos os autores envolvidos nesse processo cooperem significativamente para uma
educação de qualidade.
Abraços,
UNIDADE I
UNIDADE II
UNIDADE III
UNIDADE IV
UNIDADE V
CONCLUSÃO 190
REFERÊNCIAS 192
UNIDADE I
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Entretanto, caro(a) aluno (a), esclarecemos que não faremos, no âmbito deste estudo, um resgate
histórico acerca do curso de Pedagogia no Brasil, tarefa realizada em alguns estudos com
diferentes aspectos, dentre os quais destaco os de Brzezinski (1996), Bissolli da Silva (1999),
Scheibe e Aguiar (1999), Tanuri (2000) e Saviani (2005). Mediante uma visão panorâmica do
contexto político, econômico e social, apresentaremos análises sobre as principais legislações
que tratam da Prática de Ensino e Estágio Supervisionado e as orientações pedagógicas
oriundas desse processo.
1
Segundo Kullok (1999), em 1892, por meio da Lei nº. 88/892, instituiu-se o primeiro modelo de Escola Superior
de Formação de Profissionais da Educação, anexo à escola normal da capital. No entanto, essa proposta não
chega a se efetivar desaparecendo, inclusive dos textos regulamentares da educação paulista. Kullok (1999, p.
23), complementa, afirmando que “assim, ao Estado de São Paulo deve-se atribuir, pelo menos por Decreto, a
primeira concepção de Escola Normal Superior Pública”.
Segundo Brzezinski (1996), do final do século XIX até meados da década de 1930, no Brasil,
os professores eram formados pela Escola Normal. No entanto, em 04 de abril de 1935, por
meio do Decreto nº 5.513, foi instituída na cidade do Rio de Janeiro a Universidade do Distrito
Federal e tinha como um de seus fins “promover a formação do magistério, em todos os seus
graus”2 . Entre seus órgãos constitutivos estava “Instituto de Educação”3 que gradativamente
substitui a Escola Normal e “cuja função precípua seria a formação dos professores, sobretudo
os do ensino normal e secundário” (SAVIANI, 2008, p.23). Outro órgão incorporado à
Universidade do Distrito Federal foi a Escola de Professores4, constituindo o primeiro curso
superior de formação de professores. Esta recém-criada Faculdade de Educação passou a
conceder “licença magistral” àqueles que obtivessem na universidade “licença cultural”. Em
1939, com a extinção da Universidade do Distrito Federal, ocorreu a anexação de seus cursos
à Universidade do Brasil (atual UFRJ), organizada pela Lei nº 452, de 5 de julho de 1937.
2
Art. 2º, alínea e, grifos no original.
3
Art. 3º, alínea a.
4
Segundo Saviani (2008), a escola de professores contava com uma estrutura de apoio que envolvia: jardim
de infância, escola primária e escola secundária, os quais funcionavam como campo de experimentação,
demonstração e prática de ensino.
Nesse contexto, a estrutura curricular proposta para atender tal formação estabelecia uma
dicotomia entre teoria e prática, pois formava o bacharel nos três primeiros anos de estudo e,
com mais um ano, realizando o curso de Didática, formava o licenciado que poderia exercer o
magistério nas antigas Escolas Normais.
Desta forma, querido(a) acadêmico(a), o curso de Pedagogia desde seu primeiro decreto
lei, que regulamentou sua estrutura e funcionamento, está presente a dicotomia entre dois
componentes do processo pedagógico: o conteúdo e o método, a teoria e a prática. Desse
modo,
o professor assim formado passava a dominar métodos e técnicas adequados à prática
docente, mas não se aprofundava em estudos da Pedagogia como campo de saber,
isto é, não buscava a teoria elaborada, por meio da pesquisa, como se fosse possível
separar o indissociável: teoria e prática (BRZEZINSKI, 1996, p. 39).
Segundo Saviani (2008), o Decreto-Lei nº. 1190, de 4 de abril de 1939, instituiu um currículo
fechado e não vinculado aos processos de investigação sobre os temas e problemas da
educação. A estrutura curricular definida para o curso de Pedagogia no contexto da década
de 1930, no Brasil, expressava as necessidades geradas pelas novas formas de relações
sociais alavancadas pelo avanço do capitalismo que exigia que os trabalhadores brasileiros
recebessem, pelo menos, o mínimo de escolarização que os qualificasse a atender a demanda
de mão de obra, provocada pelo processo de urbanização e industrialização da sociedade.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
É importante que você saiba que pela primeira vez na história da educação brasileira, uma lei
versaria sobre todos os níveis de ensino e tinha ao mesmo tempo validade em todo território
nacional.
O exame das legislações, entre 1939 a 1950, possibilitou compreender o processo histórico da
organização dos cursos de formação docente, particularmente do curso de Pedagogia, no que
se refere às concepções de Estágio Supervisionado no processo de formação dos professores
no Brasil.
Por meio desse estudo é possível que você compreenda o desenvolvimento do pensamento
sobre a prática do ensino na formação dos professores brasileiros, percebendo que, nesse
período, a concepção de prática confundia-se com a imitação dos modelos existentes de
práticas bem-sucedidas.
5
A partir de 1942, o ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema iniciou as reformas que ficaram
conhecidas como Leis Orgânicas do Ensino, ao todo são oito decretos-lei, ampliando o caráter nacional de
legislação educacional iniciado por Francisco Campos.
Em 1961, foi homologada a primeira Lei das Diretrizes e Bases nº. 4024. No entanto, essa lei
não trouxe mudanças significativas para o curso de Pedagogia. No ano seguinte à promulgação
da lei de diretrizes por meio do Parecer nº. 251/62, do Conselho Federal de Educação, foram
estabelecidas algumas alterações curriculares e fixado um currículo mínimo (bacharelado),
bem como a sua duração. Todavia, segundo Riani (1994), é a partir do Parecer nº. 292/62 que
a Prática de Ensino é definida como componente curricular dos cursos superiores, sob a forma
de Estágio Supervisionado.
Pimenta (1997) esclarece que esse parecer definiu a carga horária das disciplinas de
formação pedagógica para aqueles que optassem em ir além do bacharelado. Assim, ficaram
estabelecidas para o curso de Pedagogia e para todas as licenciaturas, em caráter obrigatório,
as seguintes matérias pedagógicas: Psicologia da Educação, incluindo a Adolescência e a
Aprendizagem, Didática e Elementos da Administração Escolar, além da Prática de Ensino das
matérias que fossem objeto de habilitação profissional, na forma de Estágio Supervisionado.
Fonte: COLEGIODOMBARRETO
É importante que você compreenda que a modalidade de estágio, nesse momento, tinha
por objetivo preparar o aluno para a sua futura atividade profissional, porém a realização do
estágio ficou sob a responsabilidade exclusiva da disciplina de Prática de Ensino, que se
limitava a instrumentalizar o estagiário à produção de materiais didáticos, tais como: cartaz
de pregas, de aniversariantes, flanelógrafos, calendários, entre outros, que seriam utilizados
durante a regência.
Dessa forma, não ocorria a articulação entre o estágio, que se caracterizou como a parte
prática do curso, e as demais disciplinas. Essa organização conduziu a dicotomia entre a
dimensão teórica e a prática na formação inicial do docente. Nesta perspectiva, a Prática de
Ensino e o Estágio Curricular predominaram como elementos estanques, isolados do conjunto
das demais disciplinas do curso, sendo trabalhados de forma fragmentada, impossibilitando
a compreensão do conhecimento e da realidade escolar e social de forma ampla e integrada.
Durante a década de 1960, ocorreu no Brasil intensos conflitos originados tanto pelas classes
trabalhadoras, quanto pelas mais favorecidas economicamente. Enquanto essas exigiam seus
direitos sociais e civis, aquelas, devido à organização dos partidos de esquerda, reivindicavam,
principalmente, a reestruturação dos valores econômicos. Barreiro e Gerbran (2006, p. 45)
declaram que nesse efervescente contexto ocorre, em 1964, “o golpe de Estado pelos
militares, apoiados pela classe empresarial, que objetivava a expansão econômica unilateral,
e pela classe média, que buscava a ascensão social e econômica”.
A organização do curso de Pedagogia definida pelo Parecer nº. 251/62 permaneceu até
1969, quando foi reorganizado, com os objetivos de extinguir a dicotomia entre bacharelado e
licenciatura, criar as “habilitações” e cumprir o que acabava de determinar a Lei nº. 5540/68,
sobre a regulamentação do ensino superior, e também o Parecer nº. 252/69 (BRASIL, 1969c),
que regulamentava o curso de Pedagogia. Segundo Bissoli da Silva (1999, p. 26), esse parecer
estabelece:
Nesse sentido, o Parecer nº. 283/62 do Conselho Federal de Educação garantia a possibilidade
do exercício do magistério primário pelos formandos em Pedagogia que tivessem cursado a
disciplina de Metodologia e Prática do Ensino Primário. No entanto, a formação do especialista,
imposta ao curso de Pedagogia, conduziu fatalmente a uma visão desintegradora do trabalho
pedagógico, provocando a fragmentação da formação do Pedagogo.
Pimenta (1997) corrobora com os nossos estudos ao explicitar que, nesse contexto, a estrutura
curricular do curso de Pedagogia estava fortemente demarcada pela tendência tecnicista, com
o estágio organizado da seguinte forma:
a) Prática de Ensino era uma disciplina que compunha o horário com as demais,
perfazendo 60 horas/aula/ano; b) Prática de Ensino sob a forma de Estágio
Supervisionado era a denominação dada ao estágio. Havia um professor responsável
pelo estágio para as 2as séries, um outro para as 3as. Estes professores eram sempre
os da disciplina Prática de Ensino, podendo-se inferir que os docentes das demais
disciplinas que contribuíam à formação do pedagogo estavam dispensados ou não
eram responsáveis pelas questões adstritas à prática docente. Além disso, para cada
Bissolli da Silva (1999) cita que o Parecer do CFE nº. 252/69 (BRASIL, 1969b) propôs a
inclusão das disciplinas de metodologia de ensino com Estágio Supervisionado na organização
curricular dos cursos de Pedagogia no Brasil, permitindo ao licenciado lecionar para crianças
do curso primário.
Fávero (2001, pp. 63-64), realizando estudos das legislações que abordavam a relação entre
a teoria e a prática nos cursos de formação docente, declara que, “apesar de o Parecer do
CFE nº. 252/69 apresentar o estágio como elemento integrador entre teoria e prática, na
realidade ele continuava sendo um mecanismo de ajuste, na busca de solucionar ou acobertar
a defasagem existente entre os elementos teóricos e os trabalhos práticos”.
Goulart (2002) afirma que, nesta perspectiva, o futuro docente não vivenciava o ato de lecionar.
O período destinado a essa prática era de no mínimo quatro aulas, o restante dava-se mediante
a observação de uma aula por semana, durante o período letivo da universidade (três meses
letivos). Esse momento tornava-se muito mais fragilizado ao não permitir ao estagiário intervir
no processo de ensino e aprendizagem da escola, campo de estágio.
Em 1971, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 5692,
instituída em pleno regime militar. Uma das principais características desta lei foi estender a
obrigatoriedade do ensino fundamental de quatro para oito anos, ou seja, estava assegurado a
todo brasileiro os oito primeiros anos de escolarização, denominados naquela época de ensino
de primeiro grau.
A obrigatoriedade do ensino de oito anos traz como consequência o aumento da demanda por
professores, pois um número significativo de alunos passaria a frequentar os quatro últimos
anos do ensino de primeiro grau. Nesse sentido, houve uma procura imediata por professores,
alavancando a necessidade de novos cursos de formação docente, isto é, propiciou-se a
criação dos cursos de Licenciatura de curta e longa duração que habilitavam para o exercício
no primeiro e segundo graus.
Neste contexto a realização do estágio deveria ocorrer nas próprias escolas da comunidade.
Caro(a) aluno(a) de Pedagogia, apesar do Parecer nº. 349/72 (BRASIL, 1972) estabelecer
legalmente que o aluno-mestre realizasse a Prática de Ensino em escolas da comunidade,
para que pudesse conhecer a organização e o funcionamento da escola e, assim, aproximar-
se da sua futura realidade profissional, o encaminhamento dessa prática tinha por objetivo
o desenvolvimento de habilidades instrumentais, enfatizando o aprendizado de técnicas de
ensino.
Portanto, é importante que você compreenda que segundo essa visão pragmático-utilitarista,
que permeou a formação de professores durante a década de 1970, a teoria seria garantia
É importante que você compreenda que neste movimento, se alavancou a concepção de que
a Prática de Ensino não se limita apenas ao estágio, constituindo este o único momento da
prática durante o processo de formação. Nesta perspectiva, o que se desejava realmente era
a superação da dicotomia teoria-prática na formação do professor, uma vez que essa relação
deveria ser trabalhada ao longo do curso e não apenas pela disciplina de Prática de Ensino e
Estágio Supervisionado.
Nesse contexto, o estágio passou a ser reivindicado pelos educadores como processo criativo,
investigativo, interpretativo e de intervenção na realidade educacional, propiciando, por meio
do envolvimento coletivo das demais disciplinas do currículo do curso de Pedagogia, a unidade
tanto teórica quanto prática no processo de formação docente.
Segundo Nóvoa (1995, p. 15), no final da década de 1980, começaram a ocorrer estudos
que tiveram o mérito de “recolocar os professores no centro de debates educativos e das
problemáticas da investigação”. As pesquisas deste autor trouxeram nova perspectiva
aos estudos dos professores e resgataram a influência da individualidade do professor no
desempenho de sua profissão. Assim, Brzezinski (1996) afirma que, a partir de então, os
educadores começaram a se mobilizar e a escrever a sua história, envolvidos em discussões,
debates e estudos sobre a reformulação dos cursos que formam professores. E, a partir da
década de 1990, amplas reformas educacionais foram iniciadas, havendo especial mobilização
dos educadores no sentido de requerer que a organização curricular dos cursos de Pedagogia
possibilitasse um contato mais significativo do futuro docente com a realidade da escola.
Nesse contexto, foram realizados diversos eventos para discussão da formação de professores,
culminando num processo de mobilização nacional. Então, foi criado o Comitê Nacional Pró-
reformulação dos cursos de Formação de Educadores, contemplando as representações
das diversas regiões do país. Dessa forma, o Comitê passou a ser um dos principais atores
que influiu no processo de reformulação dos cursos de formação de educadores. Devido
sua intensa atuação, esse Comitê transformou-se em Comissão Nacional de Reformulação
dos Cursos de Formação do Educador (CONARCFE) e, em 1990, deu origem à Associação
Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE).
Nesse período, são discutidas propostas educacionais com especial mobilização dos
educadores no sentido de requerer que a estrutura dos cursos de Pedagogia no Brasil
possibilitasse um contato maior dos alunos com a realidade da escola. Segundo Caimi (2004),
verifica-se, no debate pedagógico, uma forte crítica à estrutura dicotômica dos currículos dos
cursos de formação de professores no que se refere ao tema teoria-prática. Nesse sentido, a
identidade do pedagogo e a finalidade do curso de Pedagogia foram repensadas, bem como
foi requerido que o papel dos estágios na formação docente se tornasse um processo criativo,
investigativo, interpretativo e de intervenção na realidade educacional, constituindo um espaço
interdisciplinar de formação do futuro docente. Desse modo, a teoria e a prática são concebidas
como indissociáveis e articuladas à realidade social.
Percebemos que essas proposições da década de 1980 encaminham-se para uma concepção
na qual a prática é indissociada da teoria, sendo ambas, por sua vez, indissociadas da prática
social. A partir desta perspectiva, decorreram as principais mudanças a serem realizadas nos
currículos de formação de professores na década de 1990 e início do século XX.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Nesse contexto, o curso de Pedagogia passou a ser um dos temas
mais polêmicos no país.
Segundo Kuenzer (1999), ao retirar da universidade a formação do professor que irá atuar
na educação básica, o governo retira do seu processo de formação a possibilidade do
desenvolvimento das habilidades de um pesquisador e, concomitantemente, nega-lhe também
a formação epistemológica que lhe permite superar uma prática pedagógica baseada no senso
comum e buscar a consciência crítica do fazer pedagógico, sem o qual é impossível realizar
uma verdadeira práxis, isto é, uma ação intencional e investigativa, fundamentada na relação
dialética entre teoria e prática.
Bissolli da Silva (1999) destaca outros artigos na nova LDB que também foram responsáveis
pelas polêmicas em torno do curso de Pedagogia: o artigo 64, que fixa duas instâncias
alternativas à formação de profissionais de educação para administração, planejamento,
6
Os institutos superiores de educação manterão: I - cursos formadores de profissionais para a educação básica,
inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras
séries do ensino fundamental.
Dessa forma, esse parecer indica que o estágio supervisionado deve propiciar ao aluno a
vivência em sala de aula de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, como
também o contato com a dinâmica escolar nos seus mais diferentes aspectos, garantindo e
permitindo a interação teórico-prática. Conforme declara Barreta (2008, p. 40), “deste modo,
além da docência, é prevista a formação do pedagogo preparado para organizar e gerir
os sistemas e instituições de ensino escolares e não-escolares, com um compromisso de
produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional”.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Além da docência, é prevista a formação do pedagogo preparado para organizar e gerir os sistemas e
instituições de ensino escolares e não escolares.
Dessa forma, o Conselho Nacional de Educação/ MEC especifica que a formação do licenciado
em Pedagogia fundamenta-se no trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não
escolares, que tem a docência como base. Nesta perspectiva, a docência é compreendida
como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações
sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da
Pedagogia (CNE, n.º 5, 13 de dezembro de 2005). Por isso, preconiza uma formação que
proponha tencionar e significar a prática docente.
Segundo Scheibe (2007), as diretrizes curriculares para o Curso de Pedagogia, definidas pela
Resolução nº. 1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação, extinguem as
habilitações do curso de Pedagogia. Nesse sentido, o conceito de docência apresentado nesta
resolução, configura-se como base da formação profissional. No entanto, essa compreensão
não restringe à docência as atividades pedagógicas em sala de aula. O docente formado a
partir dessas diretrizes deverá estar preparado para desenvolver outros trabalhos de natureza
educativa.
A Resolução do CNE/CP nº. 1/2006 (BRASIL, 2006, p.4) instituiu a duração e a carga horária
dos cursos de licenciatura de graduação plena de formação de professores da Educação
Básica em nível superior no total de 3.200 horas de trabalho acadêmico, assim distribuídas:
I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização
de seminários, participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e
centros de documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades
práticas de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de estudos;
O artigo 8º da Resolução do CNE/CP nº. 1/2006 determina que o estágio curricular seja
realizado ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício
profissional, em ambientes escolares e não escolares que ampliem e fortaleçam atitudes
éticas, conhecimentos e competências: a) na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, prioritariamente; b) nas disciplinas pedagógicas dos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal; c) na Educação Profissional na área de serviços e de apoio escolar; d)
na Educação de Jovens e Adultos; e) na participação em atividades da gestão de processos
educativos, no planejamento, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação de
atividades e projetos educativos; f) em reuniões de formação pedagógica (BRASIL, 2006).
A partir da análise realizada verifica-se que no período compreendido entre 1996 a 2006, o
estágio passou a ser concebido como forma de interagir com a realidade da escola, campo
de estágio, buscando compreender, de forma ampla, a situação da educação brasileira e,
de forma específica, os desafios existentes na escola. A legislação desse período busca
promover a articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar, de tal forma
Nesse sentido, tanto a partir da literatura consultada quanto das orientações expressas
nas propostas governamentais, evidencia-se a necessidade de uma concepção de prática
interdisciplinar nos currículos de formação de professores, deixando assim de atribuir
somente à disciplina de Prática de Ensino e de Estágio Supervisionado a responsabilidade de
aproximação à realidade escolar.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
O Estágio Supervisionado constitui, por excelência, o eixo articulador do
currículo do curso de Pedagogia.
7
Compreende-se por instrumentalização técnica os procedimentos didático-pedagógicos que fazem parte do
cotidiano escolar. Exemplos: utilizar de técnicas de ensino para dinamizar e envolver os alunos durante as aulas,
utilizar de diferentes formas de organizar a estrutura física da sala e dos alunos viabilizando uma interação mais
significativa entre professor-alunos e alunos-alunos.
A ideia do professor reflexivo e pesquisador surge por meio da prática reflexiva sobre o ensino,
proposto por Zeichner8, que evidenciou a capacidade de contextualização do mesmo, obtendo
assim um ensino de qualidade.
A ideia do professor pesquisador e reflexivo começou a ser discutido nos países de língua
Portuguesa, no início dos anos 90, com a difusão do livro “Os professores e sua formação”,
coordenado pelo professor português António Nóvoa9, trazendo textos de autores da Espanha,
Portugal, França, Estados Unidos e Inglaterra, e com o I Congresso sobre Formação de
Professores nos Países de Língua e Expressão Portuguesas, realizado em Aveiro, 1993, sob
a coordenação da professora Isabel Alarcão10.
Diante destas novas ideias emergem algumas indagações que deram início a esse processo
de investigação em quatro universidades, sendo duas públicas e duas privadas, nos cursos
de licenciaturas de matemática, considerando que cada um tem a sua própria realidade,
8
Kenned Zeichner escreveu várias concepções dos professores práticos reflexivos, desenvolveu sua pesquisa
em diferentes programas na formação reflexiva de professores nos Estados Unidos.
9
Antonio Nóvoa é Doutor em Educação e catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Lisboa, publicou: Vida de professores. Porto, Portugal; Profissão professor. Porto, Portugal;
os professores e sua formação. Lisboa, Dom Quixote, 1992; as organizações escolares em análise. Lisboa,
Publicações D. Quixote, 1992.
10
Isabel Alarcão, vice-diretora da Universidade de Aveiro, em Portugal, participa de três artigos. Em “A Escola
Reflexiva” analisa este conceito e suas implicações como prática. “A escola tem a função de preparar os
cidadãos, mas não pode ser pensada apenas como tempo de preparação para a vida. Ela é a própria vida, um
local de vivência da cidadania”. Em “Novas tendências nos paradigmas de investigação em educação”.
38 PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | Educação a Distância
com finalidade de encontrar evidências que caracterizam a formação inicial do docente na
concepção professor pesquisador e reflexivo.
Fonte: PHOTOS.COM
A reflexão docente na e sobre a prática fundamenta a postura do professor reflexivo.
Todo ser humano reflete. Aliás, é isso que o diferencia dos demais animais. A reflexão é
atributo dos seres humanos. Ora, os professores, como seres humanos, refletem. Vale lembrar
que, desde os inícios dos anos 1990 do século XX, a expressão “professor reflexivo” tomou
conta do cenário educacional, confundindo a reflexão enquanto adjetivo, como atributo próprio
do ser humano, com um movimento teórico de compreensão do trabalho docente.
No entanto, esse conhecimento não é suficiente. Frente a situações novas que extrapolam
a rotina, os profissionais criam, constroem novas soluções, novos caminhos, o que se dá
por um processo de reflexão na ação. A partir daí, constroem um repertório de experiências
que mobilizam em situações similares (repetição), configurando um conhecimento prático.
Estes, por sua vez, não dão conta de novas situações, que colocam problemas que superam
o repertório criado, exigindo uma busca, uma análise, uma contextualização, possíveis
explicações, uma compreensão de suas origens, uma problematização, um diálogo com
outras perspectivas, uma apropriação de teorias sobre o problema, uma investigação, enfim.
A esse movimento, o autor denomina de reflexão sobre a reflexão na ação. Com isso, abre
perspectivas para a valorização da pesquisa na ação dos profissionais, colocando as bases
para o que se convencionou denominar o professor pesquisador de sua prática.
Assim, encontramos em Schön uma forte valorização da prática na formação dos profissionais;
mas uma prática refletida, que lhes possibilite responder às situações novas, nas situações de
incerteza e indefinição. Portanto, os currículos de formação de profissionais deveriam propiciar
o desenvolvimento da capacidade de refletir. Para isso, tomar a prática existente (de outros
profissionais e dos próprios professores) é um bom caminho a ser percorrido desde o início
da formação, e não apenas ao final, como tem ocorrido com o estágio, dentre esses autores
inicialmente colocam as questões de professor pesquisador para a área de formação destes
são Elliot (1993) e Stenhouse (1984).
Zeichner (1992) entende que a concepção de intervenção reflexiva proposta por Schön, a
partir de Dewey, é uma forma de sustentar a incoerência em se identificar o conceito de
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A teoria tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados
pontos de vista para uma ação contextualizada.
Discorrendo sobre o tema, aponto (PIMENTA, 2000) que o saber docente não é formado
apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação. Dessa forma, a teoria
tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, apresentamos mediante uma visão panorâmica do contexto político, econômico
e social análises sobre as principais legislações que tratam da prática de ensino e estágio
supervisionado, e as concepções e orientações pedagógicas oriundas desse processo.
Dessa forma, enfatizamos para que você compreendesse que as legislações e concepções
são determinadas por fatores históricos, políticos, sociais, econômicos e expressam as
diferentes formas de conceber a organização curricular e, consequentemente, o perfil dos
profissionais que se formam para atuar na educação básica.
Desta forma, caro(a) acadêmico(a), apresentamos análises das legislações, e também, das três
concepções de Estágio Supervisionado que marcaram e ainda marcam a história da formação
de professores no Brasil, e que nas condições históricas presentes na contemporaneidade é
possível formar um Professional da educação que fará de sua prática um processo contínuo
de investigação.
Por conseguinte, esperamos que ter mediado para que compreenda a importância de se
analisar as diferentes legislações e concepções de estágio e de prática está em questionar
as suas possíveis contribuições na formação de um profissional que seja sujeito-ator da sua
realidade profissional e social.
BISSOLI DA SILVA, Carmem. Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. Campinas, SP:
Autores Associados, 1999.
Essa obra apresenta historicamente por meio das regulamentações e dos dispositivos legais a iden-
tidade do curso de Pedagogia, desta forma, pode-se compreender o surgimento da prática de ensino
no currículo de formação do professor da educação básica.
Piconez (1998) declara que quando se aponta para algumas propostas de estágio que o tornem sig-
nifi cativo, acentua-se que se deve pensar no estágio de forma integrada com as outras disciplinas do
curso a que está atrelado. Nessa perspectiva, é possível pensar no estágio sem pensar num projeto
coletivo maior para a formação do educador?
<http://www.youtube.com/watch?v=WH6kuIPXkvA&feature=related>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
A partir da fundamentação teórica discutida nesta unidade explique como era realizada a
formação do professor no período entre 1939 a 1950.
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Fonte: PHOTOS.COM
O estágio curricular enquanto articuladores da formação de professores da educação básica.
Nesta perspectiva, o desafio é romper com essas concepções cristalizadas e que muito
pouco contribuíram com a formação do professor. Porém, é possível romper com a histórica
fragmentação curricular que insiste na dicotomia entre teoria e prática na formação de
professores? Houssaye (2004) corrobora com minha resposta ao afirmar que somente
formaremos um professor quando fizermos surgir no processo de formação um plus na e pela
Nesse sentido, caro(a) acadêmico(a), nesta unidade iremos discutir que formar um professor
pedagógica e politicamente competente significa torná-lo capaz de estabelecer relações
entre os conteúdos discutidos nas instituições formadoras e a prática vivenciada na realidade
escolar, possibilitando na vivência do fazer docente a concomitância teoria e prática.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
É fundamental entender o estágio como um componente integrante do currículo e não como uma
atividade extracurricular realizada para cumprimento de uma carga horária.
A partir da década de 80, no Brasil, a formação de professores está sendo discutida por
grandes fóruns, como a ANPED, ANFOPE, Fórum de Diretores de Faculdades de Educação
Candau e Lelis (1988, p.60), por exemplo, destacam que o fazer pedagógico do professor
abrange “o que ensinar” e “como ensinar” deve se fazer articulado ao “para quem” e “para que”
expressando a unidade entre os conteúdos teóricos e instrumentais dissociados integral ou
parcialmente em muitas das práticas de formação existente.
Freitas (1996), ao analisar a relação teoria e prática, destaca que não se trata de responder
“com mais teoria” e “menos prática.” A questão é que os cursos de formação docente não
formam adequadamente porque são fracos teórica e praticamente, ou seja, não assumem a
formação do profissional para atuar na “prática social”.
Pimenta e Lima (2004, p. 33) também analisam essa temática e afirmam que os cursos de
formação têm-se estruturado como:
[...] um aglomerado de disciplinas isoladas entre si, sem qualquer explicitação de seus
nexos com a realidade que lhes deu origem. Assim, nem sequer se pode denominá-las
teorias, pois são apenas saberes disciplinares em cursos de formação, que em geral
estão completamente desvinculados do campo de atuação do profissional dos futuros
formandos (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 33).
Nessa dimensão o estágio se restringe tão somente a uma tarefa burocrática, que passa
apenas pela determinação de uma carga horária a ser cumprida e a produção de extensos
relatórios sem fundamentos. Também não ultrapassa os limites da sala de aula, constituindo-
se de atividades esparsas que limitam o acadêmico a sentar ao fundo da sala de aula, anotar
os acontecimentos, basicamente, de forma pontual, apresentar críticas (juízo de valor) sobre
a prática desenvolvida pela professora de sala, apresentar os conteúdos e as atividades
desenvolvidas, abordar aspectos relativos ao “comportamento” dos alunos. Essa forma de
vivenciar as atividades de estágio não contribui para a formação do aluno e também não
proporciona qualquer contribuição à escola, campo de estágio.
Freitas (1996, p. 30), ao analisar essa questão, enfatiza que a Prática de Ensino e o Estágio
Supervisionado no contexto da política científica e acadêmica da universidade não são
somente desvalorizados do ponto de vista teórico, mas são consideradas
como uma disciplina de segunda categoria no conjunto das disciplinas que compõem o
currículo dos cursos de licenciatura em geral e da pedagogia em particular. Situada, via
de regra, ao final do curso, nem mesmo os alunos lhe atribuem um significado – ainda
que negativo – que vá além do famoso chavão “é a prática depois de tanta teoria”.
A autora complementa com a afirmação de que essa percepção em relação à prática de ensino
e aos estágios supervisionados é comum aos diversos cursos, nas diferentes instituições de
Nesse sentido, não podemos deixar de insistir que os currículos dos cursos de formação
de professores, organizados a partir de uma prática repetitiva, fragmentada e conteudista
que dicotomiza teoria e prática, precisam ser urgentemente repensados, tendo-se como
pressuposto a ideia de que formar profissionais não significa apenas formar pessoas dotadas
de informações e de técnicas para o bem ensinar. É mais do que isso!
Pimenta (1988) indica-nos esse caminho ao indagar: o que poderia contribuir mais para a
formação de um educador do que refletir sobre a realidade que observa e depois retornar a essa
mesma realidade para inová-la e transformá-la, reinterpretando-a? Reconhecer a vinculação
entre teoria e prática contribui para o desenvolvimento da autonomia intelectual do professor,
qualidade necessária durante toda a sua vida profissional, para que não seja resistente a
mudanças, apegando-se a modelos conhecidos, como também não seja influenciado por
modismos que prometem revolucionar a educação escolar sem promover uma prática em que
o conteúdo seja ressignificado.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
E na formação inicial que devemos oferecer instrumentos teórico-práticos para que os futuros
educadores possam enriquecer a sua prática pedagógica.
Quando se trabalha integralmente teoria e prática, permitindo que a primeira seja o ponto de
reflexão crítica sobre a realidade a fim de poder transformá-la, o estágio poderá constituir-se
um elo, que certamente culminará numa proposta significativa de interferência com vistas à
mudança e à busca da qualidade de ensino. Assim, formaremos um profissional com domínio
dos conhecimentos específicos e pedagógicos, que fará de sua prática um processo contínuo
de investigação.
Uma das habilidades que a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado devem desenvolver no
futuro professor é a capacidade de reconhecer, por meio das atividades pedagógicas privilegiadas,
a concepção de ensino e aprendizagem que orienta o seu fazer pedagógico. Ser capaz de
perceber que as atividades de ensino são intencionalmente organizadas e desenvolvidas e que
cada uma se justifica em função daquilo que se acredita ser aprender e ensinar.
No entanto, para que o futuro professor desenvolva a postura acima descrita, exige-se
que durante o seu processo de formação, além do conhecimento da realidade escolar, da
instrumentalização técnica e de sólida fundamentação teórica que lhe permita interpretar e
direcionar essa realidade para nela intervir, faz-se necessário que a realização do estágio
não se restrinja ao cumprimento de uma carga horária determinada pela legislação e ao
pseudoconhecimento da realidade escolar. Entrar na sala de aula, posicionar-se ao fundo,
anotar os conteúdos e atividades desenvolvidos de forma pontual, apresentando críticas
(juízos de valor) sobre a prática desenvolvida pela professora de sala, abordando aspectos
relativos ao comportamento disciplinar dos alunos, resultará tão somente na produção de
extensos relatórios sem fundamentos que certamente não responderão às reais necessidades
de formação do professor.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
O estágio constitui espaço e tempo de aprendizagem que não pode ficar reduzido ao
pseudoconhecimento da realidade escolar.
Autores como Pimenta (1997), Fazenda (1998), Candau e Lelis (1983), Piconez (1991)
entre outros, têm chamado a atenção para situações precárias de estágios, mesmo dentro
de um currículo em que se estabelece a docência, como base da formação do pedagogo.
As dificuldades são de várias ordens, desde a falta de orientação e fundamentação dos
estagiários para realizarem as atividades de estágio, oriundas da não integração do curso
formador com as escolas, campo de estágio, a falta de acompanhamento dos estágios, até
as limitações impostas pelo estágio convencional: observação, participação e regência. Essa
forma de vivenciar as atividades de estágio não contribui para a formação do aluno e também
não proporciona qualquer contribuição à escola, campo de estágio.
Assim, não se deve encaminhar simplesmente o futuro professor para o local de estágio,
para conhecer o funcionamento da escola, pois, na maioria das vezes, ele não tem clareza
da dinâmica do estágio, da organização pedagógica e administrativa da escola, campo de
estágio, o que fará nela, qual deve ser a sua postura, os limites da sua atuação.
Para Kulcsar (1991, p. 64), essa forma de organização vincula a ideia de um estágio direcionado
para o atendimento das necessidades da comunidade escolar, o qual proporcionará o
engajamento do estagiário na realidade, para que possa perceber os desafios que a carreira
docente lhe oferecerá e possa, assim, refletir criticamente sobre a profissão que irá assumir.
“Esse envolvimento, em situações reais visará primordialmente à integração do saber com o
fazer”.
A execução desse projeto não se limitará a ministrar, durante três ou quatro dias, alguns
conteúdos para uma determinada série, mas possibilitará ao estagiário vivenciar e envolver-
se na rotina do trabalho pedagógico durante um período contínuo em que se pode ver o
desenvolvimento das propostas, a dinâmica do grupo e da própria escola e outros aspectos
não observáveis em estágios pontuais.
Além do mais, caro(a) aluno(a), a realização dos estágios na forma de projetos pode estimular,
no futuro professor, o desenvolvimento de um olhar observador e interpretativo sobre as
questões referentes à realidade da escola, sendo possível perceber as dificuldades que a
Sobre a realização de projetos nos estágios, Pimenta e Lima (2004, p. 228) declaram que
“a realização do estágio em forma de projetos desenvolve uma atitude de autonomia e de
criatividade dos estagiários, uma vez que possibilita a descoberta de espaços e intervenção
significativa para sua formação e para as escolas”.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
O projeto de estágio deve agregar mais conhecimentos para a formação do futuro
pedagogo, e também, contribuir com a escola, campo de estágio.
Essa forma de organização do estágio, além de possibilitar ao futuro docente a vivência real e
objetiva da futura profissão junto às instituições de ensino em diversos contextos e situações,
Segundo Behrens (1991), essa relação estabelecida entre aluno estagiário, instituição
formadora e escola, favorece a articulação entre a teoria e a prática no processo de
formação de professores, pois possibilita que o ensino nas instituições formadoras não seja
descontextualizado, mas enriquecido com a problemática do cotidiano escolar trazida pelos
alunos por meio das práticas de estágio, e também que a prática da escola não constitua
fruto do senso comum, ou uma prática pautada pelo saber tácito, construído pela rotina,
reprodução ou repetição das ações, mas fruto de uma ação crítica e reflexiva sustentada por
um consistente referencial teórico.
Segundo Barreiro e Gedran (2006, p. 91), a Prática de Ensino, sob a forma de estágio
supervisionado, “deve propiciar ao aluno não apenas a vivência em sala de aula, como também
o contato com a dinâmica escolar nos seus mais diferentes aspectos, garantindo e permitindo
a interação teórico-prática”.
Nesta perspectiva, futuro professor poderá desenvolver uma postura reflexiva, possibilitando
que ele saiba observar, descrever, registrar, interpretar e problematizar questões referentes ao
contexto escolar e às situações específicas da sala de aula. Dessa forma, o estágio enquanto
Assim, a relação dialética entre teoria e prática faz com que o estágio não se restrinja ao
fazer, mas constitua uma atividade de reflexão que enriquece a teoria que lhe deu suporte.
Nesta dimensão, o estágio deverá priorizar o envolvimento em situações reais, visando
primordialmente à integração entre o saber com o fazer, constituindo-se um “processo criador,
de investigação, explicação, interpretação e intervenção na realidade” (PIMENTA, 1997, p. 74).
Segundo Pierson, Villani e Franzoni (2008, p. 113), uma das possibilidades que está sendo
apontada com muita intensidade para o avanço da formação inicial refere-se à adoção de uma
determinada perspectiva interdisciplinar que
reconhecendo a compartimentalização das disciplinas presente nas universidades,
promete privilegiar a busca de interconexões disciplinares, possibilitando um
conhecimento contextualizado e favorecendo a compreensão e resolução de problemas
reais na sua complexidade e contexto social concreto.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A prática interdisciplinar permite romper com a fragmentação do conhecimento.
Dessa forma, por meio de uma prática interdisciplinar, o professor certamente estará
rompendo com as barreiras entre teoria e prática e com a fragmentação do conhecimento,
possibilitando melhores condições de aprendizagem, de modo a permitir, ao mesmo tempo,
uma melhor compreensão da complexidade da realidade e do homem como ser determinante
e determinado. Nesta perspectiva, o estágio não se limita a constituir-se um apêndice do
currículo, mas se caracteriza como processo de caráter interdisciplinar permeando todas as
disciplinas do curso.
Dessa forma, pode-se verificar o artigo 3º da Resolução CNE/CP nº. 1/2006 (BRASIL, 2006),
de 15 de maio 2006, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação
Neste sentido, são derivadas da ação, individual e coletiva, práxis intencional, necessitando
serem colocadas constantemente à análise, pensamos a formação do pedagogo como um
processo no qual a teoria e a prática, a reflexão e a ação sejam elementos fundamentais
no seu processo de formação, o que significa dizer que a reflexão como resultado de um
amplo processo de aprendizagem sobre o contexto específico da sala de aula permitirá ao
futuro professor por meio das práticas de ensino e do estágio supervisionado um constante
questionamento entre o que se pensa, teoria guiada da prática, e o que se faz.
Dessa forma, é fundamental que o futuro pedagogo seja auxiliado a refletir sobre a prática, a
organizar suas próprias teorias, a compreender as origens de suas crenças para que possa
tornar-se pesquisador de sua ação, um profissional reflexivo, que melhorando o seu trabalho
em sala de aula, recria constantemente sua prática principalmente na sua efetivação da práxis
realizada por meio de seu estágio.
Libâneo (1999, pp.30-31) afirma que o curso de Pedagogia deve formar um profissional
qualificado para atuar em vários campos educativos para atender demandas sócio-educativas
de tipo formal e não formal e informal, decorrentes de novas realidades - novas tecnologias,
novos atores sociais, ampliação das formas de lazer, mudanças nos ritmos de vida, presença
Libâneo (1999, p.33) ressalta ainda que, quem quer que deseje continuar a ser chamado de
“educador” não pode ignorar a importância hoje dos processos educativos extraescolares,
especialmente os comunicacionais, nos quais está implicada de corpo inteiro a pedagogia.
Observa-se, nesse contexto, que o estágio entra no currículo do Curso de Pedagogia de acordo
com Rios (2001), tanto como facilitador de uma ação competente, quanto como formador de
um pedagogo administrador escolar / coordenador pedagógico / capacitador de formação
continuada / agente de mudança e inovador, preparado para atuar na sociedade pedagógica em
que vivemos, de forma comprometida, crítica e reflexiva. Nesse sentido, ao lado das disciplinas
teóricas do currículo, o estágio se impõe como um instrumento para conhecimento da realidade
escolar, seus desafios e problemas, permitindo ao futuro pedagogo a possibilidade de ver
a escola na sua prática cotidiana, nas suas relações com as demais agências educativas,
sentindo, analisando e atuando, por meio da observação e do contato com a ação dos atores
envolvidos na dinâmica da instituição escolar, protagonistas do Projeto Político Pedagógico e
Rios (2001) afirma que o fazer a aula não se restringe à sala de aula, está além de seus limites,
no envolvimento de professores e alunos com a aventura do conhecimento, do relacionamento
com a realidade.
Portanto, o estágio e sua realização não é apenas um pro forme, uma normativa a ser
seguida, pois por meio do estágio é possível que o futuro pedagogo seja possibilitado a um
conhecimento in loco da realidade escolar, estabelecendo assim as de relações entre teoria e
prática, preparando-o para elaboração e execução do Projeto Político Pedagógico da escola.
Logo, prezado(a) acadêmico(a), pensar e refletir nossas ações no estágio é antes de tudo um
exercício de compromisso e responsabilidade com os saberes que nos propomos a ensinar e
a aprender.
Prezado(a) acadêmico(a), planejar é uma ação diária que expressa o processo de reflexão do
professor sobre a sua ação educativa, portanto, constitui uma ação dinâmica, interativa, e
acontece antes de se iniciar o processo de ensino, durante e depois do processo. É uma ação
reflexiva, que exige do professor permanente investigação e atualização didático-pedagógica.
É importante que você compreenda que o ato de planejar exige exercício do professor:
• Como ele pensou para chegar naquele resultado? De onde o aluno partiu?
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Dessa forma, é muito importante que durante o estágio você planeje de forma consciente e
intencional o seu projeto que desenvolverá nas escolas, campo de estágio.
• saberes pré-existentes;
• saberes que constam do currículo escolar porque requerem uma ajuda específica para
serem aprendidos;
• saberes para os quais exige-se uma apropriação significativa e com sentido por parte dos
alunos;
Destaca-se ainda, que os objetivos, de uma maneira geral, para deixar clara a ação
pretendida, devem iniciar com o verbo no infinitivo porque irá indicar a habilidade desejada.
Caso o professor desejar indicar outra habilidade no mesmo objetivo, deve usar o outro verbo
Schön (2002) em seu texto “O saber fazer-docente”, tem sido uma referência teórico-
metodológica dos profissionais que atuam na área de formação de professores por afirmar
que os bons profissionais utilizam um conjunto de processos que não dependem da lógica,
da racionalidade técnica, mas sim, são manifestações de sagacidade, intuição e sensibilidade
artística. Schön orienta para que se observe estes professores para averiguarmos como
desenvolvem suas práticas, como fazem e o que fazem, para colhermos lições para nossos
programas de formação.
O professor deve refletir didaticamente sobre sua prática, pensar no cotidiano sobre o “saber
fazer” em sala de aula, para não escorregar na mesmice metodológica de utilização dos
métodos. A postura da construção do conhecimento, segundo Vasconcelos (1996), implica
na mudança de paradigma pedagógico, de modo ao invés de dar o raciocínio pronto, auxiliar
o aluno a construir a reflexão tomando por base a metodologia dialética, em que o professor
é mediador da relação educando e o objeto de conhecimento. Nessa perspectiva, prezado(a)
acadêmico(a), é importante que o professor estude sobre essa temática, uma vez que há uma
diversidade metodológica que pode ser trabalhada em sem sala de aula e/ou numa situação
didático-pedagógica.
De acordo com Saviani (2003, p. 13), a essência do trabalho educativo consiste no “[...] ato de
produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida
histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Tal concepção considera o problema da
seleção dos conteúdos humano-genéricos necessários à formação e ao desenvolvimento do
educando no contexto da prática social, assim como o problema das formas, dos métodos e
processos que tornarão possíveis a transmissão e a assimilação dos mesmos.
Fonte: WIKIPEDIA.ORG
Dermeval Saviani
Segundo Saviani, a essência do trabalho educativo consiste em humanizar o indivíduo.
De acordo com Kosik (1976), o conhecimento da realidade não se dá pela experiência imediata,
mas por meio de abstrações que permitam o estudo de sua gênese, assim como dos fatores
que influenciaram e determinaram seu desenvolvimento e sua manifestação fenomênica. O
método dialético analisa, portanto, as contradições existentes entre a essência e a aparência,
investigando as relações entre as partes de forma a compreender o fenômeno em sua
totalidade.
Esse mesmo percurso deve ser seguido pela reflexão filosófica preconizada para a formação
do professor. A categoria de radicalidade diz respeito ao necessário aprofundamento para
se chegar às raízes, aos fundamentos do problema que se apresenta como objeto de
reflexão ao educador. Uma visão superficial, pautada em impressões imediatas, imprecisas
e fragmentárias, não basta para analisar criticamente as situações e circunstâncias que se
apresentam à dinâmica do trabalho educativo. É necessário que se vá ao fundamento, às
bases que dão sustentação ao problema e que determinam sua manifestação como fenômeno
na realidade.
Essa categoria pauta-se na concepção de crítica radical preconizada por Marx em A Crítica
da Filosofia do Direito de Hegel, na qual o autor afirma que “ser radical é agarrar as coisas
pela raiz” (MARX, 2005, p. 151). Nesse sentido, a essência de um fenômeno só pode ser
compreendida por meio do estudo de sua gênese, analisando como se deu seu desenvolvimento
e identificando quais fatores condicionaram sua manifestação.
Conforme Saviani (1996), essas categorias não são autossuficientes nem devem ser
compreendidas como justaposições cuja somatória permitiria o surgimento da reflexão
filosófica.
Trata-se, portanto, de uma reflexão pautada no método dialético que possibilita ao educador o
desenvolvimento da capacidade de refletir com profundidade e rigorosidade sobre os problemas
educacionais. Tal atividade tem como finalidade favorecer a compreensão desses problemas
em sua totalidade, bem como a análise dos condicionantes do trabalho educativo para o
encaminhamento de possibilidades efetivas para a formação do educando, considerando a
concepção histórico-social de formação humana (SAVIANI, 1996).
Para que você compreenda melhor na sequência, enunciaremos alguns pressupostos básicos
que caracterizam a Pedagogia Histórico-Crítica. Objetivamos apresentar brevemente as ideias
fundamentais que sustentam essa corrente pedagógica. Um estudo mais aprofundado da
Pedagogia Histórico-Crítica pode ser desenvolvido por meio da análise da obra de Saviani.
A Pedagogia Histórico-Crítica coloca a prática social como ponto de partida e ponto de chegada
do processo de ensino. É na prática social que os professores encontrarão os grandes temas
para o ensino. O processo de ensino-aprendizagem deveria começar pela problematização,
extraída da prática social (Saviani, 1995, p. 86). Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
O trabalho educativo deve conectar teoria e prática. Por meio da incorporação do conhecimento
sistematizado, o aluno pode interferir em sua realidade, transformando-a. A democratização
do ensino é condição básica para o desenvolvimento do país.
A Pedagogia Histórico-Crítica não confunde ensino com pesquisa, pois são processos que se
condicionam mutuamente. O ensino é a base sobre a qual se desenvolve a pesquisa.
O verdadeiro método é aquele que leva o aluno (por meio da análise contínua da própria
realidade) de uma visão caótica do todo (síncrese) à síntese (conhecimento científico abstraído).
Significa que essa concepção pressupõe a compreensão da questão educacional sob o ponto
de vista das condições materiais da existência humana.
O professor é fundamental nesse processo. Sua contribuição é mais eficaz ainda, quando ele
compreende os vínculos de sua prática com a prática social. Daí a necessidade de se evitar
duas posições equivocadas: 1) Pensar que os conteúdos são autônomos, sem vínculos com a
prática social; 2) Acreditar que os conteúdos são irrelevantes colocando todo o peso da ação
educacional na luta política (politicismo). Portanto, a Pedagogia Histórico-Crítica esforça-se
para aliar, harmoniosamente, compromisso político e competência técnica. Isso implica dizer
que a questão educacional, na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica, “é sempre referida
ao problema do desenvolvimento social e das classes. A vinculação entre interesses populares
e educação é explícita” (SAVIANI, 2000, p. 98).
Em suma, Saviani defende que a determinação da sociedade sobre a educação não retira da
educação a margem de autonomia para retroagir sobre o próprio funcionamento da sociedade,
e assim, coloca a escola como ponto de referência para democratização de conhecimentos,
inserindo as pessoas numa visão mais crítica da sociedade. Com efeito, a Pedagogia Histórico-
Crítica procura articular o processo ensino-aprendizagem num movimento de superação da
sociedade excludente que historicamente vem marginalizando grandes parcelas da população.
Fonte: PHOTOS.COM
É necessário garantir uma escola de qualidade para todos nas condições históricas atuais.
No entanto, é necessário romper com as barreiras existentes nos currículos dos cursos que os
segmentam entre os blocos teóricos e práticos, bem como com a dicotomia na relação entre
teoria-prática no fazer docente.
A possibilidade desse rompimento nos reporta a Freire (1996, p. 88), quando anuncia: “é a partir
desse saber fundamental: mudar é difícil, mas é possível.” Assim, enfatizou-se nesta unidade
a necessidade da superação do paradigma da racionalidade técnica para a construção da
identidade do profissional da educação, fundamentando a sua prática profissional a partir das
condições históricas e sociais de seus alunos.
Nesse sentido, acreditamos, caro(a) acadêmico(a), que a teoria ilumina a prática e a prática
ressignifica a teoria, sem perder de vista o tempo histórico e as condições objetivas sobre as
quais o processo educativo se realiza no contexto social.
“A identidade do professor é construída no decorrer do exercício da sua profi ssão, porém é durante a
formação inicial que serão sedimentados os pressupostos e as diretrizes presentes no curso formador,
decisivos na construção da identidade docente”.
BARREIRO, Iraíde Marque de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de Ensino e Estágio Su-
pervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006, p.17
Refl ita: Caro(a) acadêmico(a), também comungo com Barreiro e Gedran que a identidade docente é
António Nóvoa, educador português, reitor da Universidade de Lisboa, Doutor em Ciências da Edu-
cação e Doutor em História. Com seus estudos contribui de forma valiosa para (re) repensarmos a
educação, especialmente sobre a formação de professores.
Neste vídeo ele aborda a importância do professor da educação básica no processo de formação do
indivíduo.
<http://www.youtube.com/watch?v=xkeaz43wMDA&feature=related>.
Residência Pedagógica
A Residência Pedagógica é uma etapa fundamental da formação dos estudantes de Pedagogia da
UNIFESP – Guarulhos. Apresenta-se como uma ação inovadora de estágio que busca superar a
distância entre teoria e prática pela participação sistemática e sequencial de um grupo de estudantes/
residentes nas práticas pedagógicas de instituições de educação básica.
Para concretizar tal intenção é preciso a efetivação de um trabalho colaborativo, resultante da parceria
e do diálogo entre a Universidade e os sistemas de ensino e escolas de educação básica.
Informações sobre o funcionamento
Descrição do Programa
Trata-se de uma modalidade especial de estágio curricular, baseado na vivência sistemática e tem-
porária de um grupo de residentes em diferentes espaços da escola básica PÚBLICA, envolvendo:
Acompanhamento à prática pedagógica docente;
Acompanhamento à política educativa (Projeto pedagógico) da escola nos aspectos que envolvem a
gestão da escola e da sala de aula;
Conhecimento do contexto e das relações entre a escola e as famílias e entre a escola e o território
(entorno);
86 PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | Educação a Distância
Preparo de pré-projeto de intervenção sob a orientação do professor preceptor da universidade e do
docente que acolhe o residente;
Intervenção;
Descrição preliminar da Logística
Os residentes (alunos e alunas) estarão organizados em grupos que atuarão de modo sincronizado na
escola selecionada, atuando a partir de um rol de experiências previamente planejadas em conjunto
com docentes e gestores da escola;
Cada grupo de residentes contará com um Preceptor da Universidade, encarregado de acompanhar e
assessorar a equipe da escola e os residentes.
Uma das ações previstas na Residência é a proposição de intervenção prática, planejada e acordada
junto ao preceptor e aos docentes e gestores da escola. Pretende-se que haja um Residente envolvido
em Programa de Iniciação Científi ca em cada escola com a função de assegurar a integração entre
as intervenções propostas e realizadas pelos grupos de residentes de uma mesma escola.
Do ponto de vista da produção de conhecimento, o Programa indica como metas:
Desenvolver e sistematizar metodologia para a residência pedagógica como uma política de for-
mação inicial de docentes;
Produção de uma “Teoria da Prática” nos âmbitos da docência, da gestão e da participação comu-
nitária na vida das instituições;
Divulgação e disseminação de saberes tanto no âmbito acadêmico universitário quanto entre uni-
dades escolares, realizando em colaboração com as escolas, docentes e residentes envolvidos: semi-
nários, colóquios, publicações, exposições, comunicações etc.
Realização de evento anual - com características de extensão universitária - envolvendo todos os
interessados em educação localmente, a Universidade e o Poder Público, com vistas à organização
de um Plano Local de Desenvolvimento Educativo.
Fonte: <http://observatorio.unifesp.br/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Item
id=58>. Acesso em: 04 jun. 2012.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1) Pimenta (2005), em seu livro “Estágio e Docência”, afirma “ que o estágio, ao contrário do
que se propugnava, não é atividade prática, mas teórica de conhecimento, fundamentação,
diálogo e intervenção na realidade” (p.45).
a) Explique por que a autora afi rma que o estágio constitui uma atividade teórica.
b) Estabeleça qual a relação do seu processo de estágio curricular com a afirmação da autora.
3) A partir dos fundamentos teóricos discutidos nesta unidade descreva como ocorre a relação
teoria e prática em seu curso.
Indicação de leitura
Segundo Muzikami (2002, p, 42), a formação de professor quer mais que treinamentos. Em vez de re-
ceitas, o desenho está em pensar uma formação integral, não limitada à mera transferência de conte-
údos, métodos e técnicas, mas sim, orientada fundamentalmente àquilo que se pede que os docentes
alcancem seus alunos: aprender a pensar, a refl etir criticamente, a identifi car e resolver problemas, a
investigar, a aprender, a ensinar. Este seria, portanto, o signifi cado dos termos educação e formação
concebidos diferentemente de capacitação e treinamento.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de inves-
tigação e formação. São Carlos: EdUFSCAR, 2002.
12
Ivani Fazenda, Prática Interdisciplinar na Escola, pp. 60 e 61.
90 PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | Educação a Distância
orienta o seu fazer pedagógico. Ser capaz de perceber que as atividades de ensino são intenciona-
lmente organizadas e desenvolvidas e que cada uma se justifi ca em função daquilo que se acredita
que é aprender e ensinar.
A interdisciplinaridade na prática educativa estimula a competência do educador, apresentando-se
como uma possibilidade de reorganização do saber para a produção de um novo conhecimento, por-
tanto, procurando caminhos onde a construção do conhecimento é priorizada, certamente não haverá
a indissociabilidade entre teoria e prática.
Portanto, através de uma prática interdisciplinar o professor certamente estará rompendo com as
barreiras entre teoria e prática bem como a fragmentação do conhecimento, construindo assim mel-
hores condições de aprendizagem, de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor compreensão da
complexidade da realidade e do homem como ser determinante e determinado.
Referências
FAZENDA, I. Catarina Arantes. Didática e interdisciplinaridade.Campinas: Papirus, 1998.
.Encontros e desencontros da Didática e da Prática de Ensino. São Paulo: Cortez, 1998.
.Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez, 1996.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profi ssão
docente. São Paulo: Cortez, 2001.
LUCK, H.Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 1994.
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Nesta pesquisa realizada na PUC-SP o objetivo era constatar qual a contribuição da Prática de
Ensino e do Estágio curricular para a formação do acadêmico. Assim, além de vasta pesquisa
biblográfica a pesquisadora aplicou um questionário com professores e alunos do curso
de Pedagogia de uma determinada instituição, e também procedeu análise dos relatórios
produzidos pelos acadêmicos durante a realização do estágio curricular. Esses questionários
não solicitavam a identificação dos respondentes, permitindo que os mesmos se expressassem
de forma espontânea. A partir de suas respostas, foi possível recolher informações sobre a
concepção e organização de Prática de Ensino e de Estágio Curricular Supervisionado e as
possíveis contribuições desses componentes curriculares para a construção da identidade
profissional13 e também para a ressignificação dos saberes14 docentes.
Neste sentido, Pimenta e Lima (2004, p. 61) declaram que o estágio curricular “como campo
de conhecimento e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita
que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das
posturas específicas ao exercício profissional docente”.
13
Segundo Libâneo (2004, p. 78), a identidade profissional é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes,
valores que definem e orientam a especificidade do trabalho de professor, conforme necessidades educacionais
colocadas em cada momento da história e em cada contexto social.
14
Libâneo (2004, p. 78) declara que os saberes são conhecimentos teóricos e práticos requeridos para o exercício
profissional.
Portanto, nesta unidade temos por objetivo demonstrar que acadêmicos como você tiveram
a oportunidade de vivenciar o estágio como tempo e espaço de aprendizagem e não apenas
como atividade extracurricular realizada para o cumprimento de uma carga horária de forma
isolada e descontextualizada do curso.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Nos próximos tópicos desta unidade iremos descrever as possíveis contribuições da Prática
de Ensino e de Estágio Curricular Supervisionado para a construção da identidade profissional
e também para a ressignificação dos saberes docentes. Lembramos que para comprovar tal
15
O Estágio Supervisionado na formação de professores em cursos de Pedagogia. Dissertação (Mestrado
Educação) – Universidade do Oeste de Santa Catarina, UNOESC, Joaçaba, 2008.
A análise dos relatórios de curso da instituição pesquisada permitiu que verificasse como
acadêmicos percebiam a disciplina de Prática de Ensino e o Estágio Curricular. Segue abaixo
o relato de um aluno do curso16.
A disciplina de Prática de Ensino da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino
Fundamental e o Estágio Supervisionado proporcionam aos seus acadêmicos um
embasamento teórico sobre os aspectos pedagógicos que envolvem o processo
educativo, e, além disso, propicia o envolvimento dos alunos em situações escolares
reais, sendo possível conhecer a dinâmica de uma instituição escolar, através do
Estágio Supervisionado (RELATÓRIO, 2007, p. 23) (RAYMUNDO, 2011, p. 98).
16
Os relatos dos acadêmicos e dos professores utilizados nesta unidade foram retirados do seguinte referencial:
RAYMUNDO, Gislene Miotto Catolino. Prática de Ensino e Estágio Supervisionado: eixos articuladores da
formação inicial dos professores da educação básica. 2011. 230 f. Tese (Doutorado em Educação: Currículo)
– Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2011.
Nesta pesquisa, também foi indagado aos professores da instituição formadora que trabalham
diretamente com a Prática de Ensino e com o Estágio Curricular Supervisionado qual a
importância desses componentes curriculares para os acadêmicos que já atuam no magistério
da educação básica. Para esses professores esses componentes possibilitam:
enriquecer sua formação docente a partir da vivência em instituições privadas e
públicas, capacitando-os para uma análise crítica dos seus funcionamentos, de suas
especificidades, de suas práticas pedagógicas, dos processos de desenvolvimento da
aprendizagem, bem como lhes proporcionando a reflexão da prática docente mediante
constante estudo teórico-prático (P-1) (RAYMUNDO, 2011, p. 100).
Pimenta e Lima (2004) afirmam que a caminhada pelas atividades de estágio para quem já
exerce o magistério deve constituir uma possibilidade de reafirmação da escolha pela profissão
docente.
17
Com o intuito de manter sigilo e a identificação dos participantes a pesquisadora utilizou para os sujeitos –
acadêmicos, a denominados da letra A, sendo numerados, por exemplo: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9 e
A10. Os sujeitos – professores foram denominados pela letra P, sendo também numerados, por exemplo: P1, P2,
P3 e P4.
Entre as definições elencadas pelos acadêmicos nesta pesquisa, destacam-se aquelas que
partem do princípio de que o estágio pode se constituir como um campo de conhecimento,
assim como um espaço de investigação e de intervenção na realidade, atribuindo ao estágio
uma perspectiva investigativa e reflexiva. Assim, tanto nos relatórios de estágio quanto nas
respostas registradas nos questionários, a pesquisadora encontrou declarações de que:
o estágio é uma atitude investigativa envolvendo reflexão e intervenção na vida da
escola, dos professores, dos gestores, dos estagiários, enfim, da sociedade. Desta
forma, não pode ser fragmentado, separando a teoria e prática (DOSSIÊ, 2008, p. 78)
(RAYMUNDO, 2011, p. 104).
“O estágio é também uma oportunidade para revermos nossa prática, acertar o que estamos
fazendo de errado, podar as arestas e os exageros” (A-6) (RAYMUNDO, 2011, p. 104).
A pesquisadora também verificou que para alguns acadêmicos, o estágio além de proporcionar
a unidade entre teoria e prática constitui um momento por meio do qual há a possibilidade de
conhecer e compreender o sentido da profissão e a dimensão social de ser professor na
sociedade em que vivemos. Nesta perspectiva, leia os relatos abaixo:
o estágio é fundamental para o acadêmico, pois é por meio dele que muitos conhecem
a prática tanto falada na teoria. Em outras palavras, o estágio ajuda o discente a
conhecer a realidade de sua formação (necessidades, metodologias, conteúdos,
etc.), bem como contribui para a ciência da responsabilidade que terá em sua atuação
profissional. Por fim, o estágio proporciona ao acadêmico a experiência de atuar, bem
como conscientiza os discentes das responsabilidades fundamentais que a docência
exige (DOSSIÊ, 2009, p. 22) (RAYMUNDO, 2011, p. 105).
Com a realização do estágio, posso compreender que para dar aula o professor precisa
estar preparado, isto é, ter consciência e, principalmente, conhecimento do que irá
trabalhar a fim de formar cidadãos críticos e criativos (A-2) (RAYMUNDO, 2011, p. 105).
Fonte: PHOTOS.COM
As pesquisas de Candau e Lelis (1983), Piconez (1998), Brzezinski (1996), Kuenzer (2003),
Pimenta (1997, 2002,), Pimenta e Lima (2004) entre outras, apontam especialmente para a
dicotomia teoria-prática na formação dos professores, gerada entre outras questões quando
os Estágios Supervisionados realizados apenas ao final do curso são concebidos como o polo
prático, não envolvendo as demais disciplinas no processo de realização interdisciplinar da
prática. Freitas (1996, p.93), confirma a dicotomia entre a teoria e prática quando assegura que:
Caro(a) acadêmico(a), a autora continua explicando que essa estrutura curricular universitária
induz os alunos a separarem em seu processo de formação esses dois polos fundamentais e
indissociáveis, teoria e prática. Dessa forma, encontram dificuldades para relacionar a vivência
de suas experiências práticas com os conhecimentos teóricos visitados durante o curso de
formação e, assim, produzir conhecimento novo sobre a escola, o ensino e a educação.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Também foi possível a pesquisadora constar que os acadêmicos reconheceram que tiveram
a oportunidade de pensar e refletir sobre os processos de ensinar e aprender, colocando em
prática nos contextos escolares os conceitos e fundamentos aprendidos com a aquisição da
teoria, constituindo assim seus saberes sobre a prática. Desta forma segue os testemunhos
confirmando que:
Tanto a organização como toda orientação que recebi para a execução do meu estágio
foram importantes para meu crescimento, mesmo eu já atuando em sala de aula,
muitos conceitos só fui capaz de compreender e aplicar em sala após meu estágio (A-
7) (RAYMUNDO, 2011, p. 123).
Segundo Pimenta e Lima (2004), o estágio como componente curricular pode não ser uma
completa preparação para a docência, mas é possível que professores da escola campo
de estágio, acadêmicos e os professores da instituição formadora problematizem questões
inerentes à profissão docente, como: “o sentido da profissão, o que é ser professor na
sociedade em que vivemos, como ser professor, a escola concreta, a realidade dos alunos nas
escolas de ensino fundamental e médio, a realidade dos professores nessas escolas, entre
outras” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 100).
Realizando a análise dos relatórios, a pesquisadora constatou que os acadêmicos, por meio
das diversas disciplinas do currículo, vivenciam a relação dos fundamentos teóricos com
as questões práticas do fazer docente. Desta forma, segue abaixo os relatos obtidos pela
pesquisadora que comprova o fato de que:
durante o Curso de Pedagogia, nos fundamentamos teoricamente, principalmente
no decorrer das aulas das disciplinas de Fundamentos Teóricos e Metodológicos
da Matemática, Fundamentos Teóricos e Metodológicos de História e Geografia,
Fundamentos Teóricos e Metodológicos das Ciências, Fundamentos Teóricos e
Metodológicos da Alfabetização e da Língua Portuguesa, Prática de Ensino na Educação
Infantil e Ensino Fundamental. Estas aulas aconteceram de maneira interdisciplinar,
envolvendo fatores teóricos sempre os relacionando à prática (DOSSIÊ, 2007, p. 51)
(RAYMUNDO, 2011, p. 127).
Fonte: PHOTOS.COM
A Prática de Ensino e o Estágio Curricular também devem constituir um espaço e tempo de
construção de aprendizagens significativas no processo de formação inicial.
No entanto, salientamos que somente por meio do estágio curricular não será possível
desenvolver todos os saberes necessários ao exercício da docência, pois segundo Tardif
(2002), os professores possuem, desenvolvem e adquirem saberes variados e heterogêneos
e que não provêm de uma fonte única, mas de várias fontes e diferentes momentos da história
de vida e da carreira profissional. Neste sentido, o professor se serve de:
cultura pessoal, que provém de sua história de vida e de sua cultura escolar anterior;
ele também se apóia em certos conhecimentos disciplinares adquiridos na universidade,
assim como em certos conhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos de sua formação
profissional; ele se apóia também naquilo que podemos chamar de conhecimentos
curriculares veiculados pelos programas, guias e manuais escolares; ele se baseia em
seu próprio saber ligado à experiência de trabalho, na experiência de certos professores
e em tradições peculiares ao ofício de professor (TARDIF, 2002, p. 13).
Sobre a produção de saberes no processo de formação inicial, Freire (1996) argumenta que
é necessário que o professor compreenda que um dos saberes indispensáveis para a prática
docente é assumir-se como sujeito também da produção do saber, compreendendo que
ensinar não é transferir conhecimento, mas ensinar é mobilizar uma diversidade de saberes e
criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção.
Diante de todas as fases executadas, pode-se concluir que tal parceria foi de suma importância,
tanto para as acadêmicas do Cesumar, quanto para as alunas da escola campo de estágio -
Modalidade Normal, ambas, futuras profissionais da educação. Para as primeiras, significou
uma vivência significativa no nível de ensino que poderão atuar posteriormente e também o
conhecimento de uma prática pedagógica diferenciada (DOSSIÊ, 2006, p. 97).
Segundo Pimenta e Lima (2004, p. 61), o estágio curricular supervisionado “como campo
de conhecimento e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita
que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção dos saberes e das posturas
específicas ao exercício profissional docente”.
Assim sendo, o estágio se constitui para quem já exerce o magistério, um espaço de reflexão
sobre suas práticas, a partir das teorias, sendo possível ressignificar os seus saberes docentes
e assim produzir conhecimentos. Neste sentido, segundo a pesquisa realizada, os acadêmicos
que já atuam como professores da educação básica confirmam a produção desse novo saber.
Abaixo segue relatos que comprovam esse fato:
“ao realizar o estágio, tive a oportunidade de observar diferentes formas de ensinar.
Desta forma, pude aprender muito com os professores que já atuam na área há algum
tempo” (A-10) (RAYMUNDO, 2011, p. 132).
Considero a realização do estágio supervisionado extremamente importante dentro do
curso de Formação de Professores, pois para os acadêmicos que ainda não atuam na
área o estágio oferece a prática e, para quem já atua, dá a oportunidade de confrontar a
forma de atuar em sala de aula com a de outros educadores, como também nos permite
relacionar teoria e prática (A-9) (RAYMUNDO, 2011, p. 132).
Segundo Tardif (2002, p. 39), os saberes experienciais dos professores são temporais, ou seja,
são adquiridos por meio do tempo e são construídos pelos próprios professores, no exercício
de suas funções e na prática de sua profissão. “São saberes que brotam da experiência e são
por ela validados. Incorporam-se à vivência individual e coletiva sob a forma de “habitus” e de
habilidades, de saber fazer e de saber ser”.
Fonte: PHOTOS.COM
Segundo Ghedin (2002, p.135), “os saberes da experiência não são saberes como os demais,
eles são formadores de todos os demais”.
Ghedin (2002, p. 135) explica que “os saberes da experiência não são saberes como os
demais, eles são formadores de todos os demais”. É na prática refletida (ação e reflexão)
que este conhecimento se produz, na inseparabilidade entre teoria e prática. Neste sentido, é
possível considerar que os professores constroem, no decorrer de suas trajetórias, saberes
que nem sempre são ensinados, como são ensinadas as teorias, e, portanto, é no espaço de
trabalho que são germinados tais saberes. Quanto à produção dos saberes da prática Chartier
(2010, p. 43) também afirma que:
Para se formar e poder exercer bem a sua profissão, um médico precisa dominar os saberes
científicos, obtidos no curso universitário, e os saberes da ação, aprendidos durante o trabalho
Segundo Pimenta e Lima (2004, p. 228), a realização do estágio sob a forma de projetos
possibilita que os acadêmicos desenvolvam um olhar interpretativo sobre as questões da
realidade, “uma postura investigativa, uma visão de conjunto do espaço escolar, uma percepção
das dificuldades que a escola enfrenta, mas também das conquistas reveladas nas ações dos
profissionais que ali se encontram”.
O desenvolvimento do estágio por meio de projeto gera aprendizado tanto para os alunos da
escola, campo de estágio, quanto para os acadêmicos que reconhecem esse aprendizado ao
afirmarem que: “acredito que ambas as instituições se beneficiaram com o projeto, ou seja, a
escola campo de estágio abriu as portas para os acadêmicos do Cesumar, dessa forma, houve
uma troca de aprendizagens, tanto para os discentes quanto para os alunos da escola campo
de estágio” (A-2).
É possível perceber a partir dos relatos coletados que a organização da Prática de Ensino
e o Estágio Supervisionado por meio de projetos de investigação e intervenção possibilitam
ao futuro professor a reflexão em torno da realidade da escola e da sala de aula, tendo em
vista o desenvolvimento de propostas coerentes com as necessidades e possibilidades de
aprendizagem dos alunos. Esse processo de formação oportuniza ao acadêmico mobilizar
vários saberes, (re)significar os conhecimentos e saberes docentes a fim de responder às
exigências das situações concretas de ensino no contexto da educação brasileira.
“Este processo de parceria é vivenciado através de várias reuniões entre a equipe pedagógica
da instituição escolar juntamente com a equipe de coordenação e supervisão de estágio”
(DOSSIÊ, 2006, p. 57) (RAYMUNDO, 2011, p. 141).
Para a realização deste projeto de Estágio Supervisionado, se fez necessário
inicialmente constituir uma parceria entre a Instituição Campo de Estágio e o Centro
Universitário de Maringá – CESUMAR. Esta parceria buscou o comprometimento de
todos os seus participantes promovendo momentos de interação entre as instituições
(DOSSIÊ, 2009, p. 38) (RAYMUNDO, 2011, p. 147).
Tardif (2002) defende a associação entre os saberes acadêmicos transmitidos pelas instituições
de nível superior relacionados à formação de professores, e os saberes experienciais dos
profissionais em exercício, ressaltando a importância da conexão entre Instituições de
Formação de Professores e os profissionais da educação que atuam nas escolas. Nóvoa
(1995, p. 26) também salienta a necessidade da prática docente estar articulada entre as
universidades e as escolas, valorizando os “espaços da prática e da reflexão sobre a prática”.
Segundo Tradif (2002), os professores da escola, campo de estágio, devem ser reconhecidos
como sujeitos de conhecimentos e não apenas como objetos de pesquisa. A pesquisadora ao
analisar os relatórios, percebeu que os professores da escola campo de estágio contribuem de
forma significativa no processo de formação dos futuros docentes, estabelecendo uma parceira
que podemos denominar de formativa, assumindo assim o papel de agentes formadores dos
acadêmicos durante a realização do estágio supervisionado.
Neste sentido, encontramos declarações dos acadêmicos afirmando que ao realizar o estágio,
tiveram a oportunidade de observar diferentes formas de ensinar. Desta forma, puderam
aprender muito com os professores que já atuavam na área há algum tempo. (RAYMUNDO,
2011).
Prezado(a) acadêmico(a), a pesquisa pôde constatar que a parceria também se realiza por
meio da interação entre os conteúdos vivenciados na escola, campo de estágio e os conteúdos
estudados na instituição formadora. Essa interação pode ser verificada quando o acadêmico
em seu relatório de estágio registrou que:
Fonte: PHOTOS.COM
A Prática de Ensino e o Estágio Curricular permitem o
desenvolvimento de atitudes investigativas.
A autora continua explicando que a ênfase nesse tipo de formação que prioriza o
desenvolvimento de uma atitude investigativa por parte dos professores, possibilita-lhes
detectar os problemas do cotidiano escolar e procurar, na literatura pedagógica, na troca de
experiências com os colegas e na utilização de diferentes recursos, soluções para responder
aos diferentes desafios da prática escolar, independente de se atribuir ou não o rótulo de
pesquisa a esse tipo de formação.
Neste sentido, acreditamos que fundamentado com subsídios teóricos e com as orientações
pertinentes para a realização do estágio, o estagiário terá condições de realizar um diagnóstico
da realidade escolar, possibilitando o desenvolvimento de um olhar investigativo sobre o
processo ensino e aprendizagem. Assim, será possível desenvolver um projeto de estágio que
realmente seja significativo para o seu processo de formação e que também colabore com as
necessidades e possibilidades pedagógicas da escola, campo de estágio.
Com base neste relato, percebemos que o estágio, a partir de uma prática investigativa,
possibilita ao futuro professor “sair da atitude de imitação para a atitude de apreensão
e elaboração própria, coincidindo com o criar, emancipar-se e dialogar com a realidade
educativa, visando à sua compreensão e à construção de novos caminhos para a prática
docente” (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 119).
Veja que interessante, prezado(a) acadêmico(a), o relato a seguir. Neste o acadêmico afirma
Santos (2006) enfatiza a necessidade de se estabelecer uma unidade entre o olhar investigativo
e o desenvolvimento de uma prática pedagógica também investigativa do professor orientador
do estágio, junto aos acadêmicos, pois não basta apenas encaminhar o estagiário para a
escola, campo de estágio, é necessário também proporcionar condições para que conheça
as reais situações vividas pelos professores que estão observando, para que fundamente e
reflita sobre os acontecimentos observados no interior da sala de aula e compreenda que as
situações são mais complexas do que aparentam.
André (2006) em seu texto “O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores”,
discutindo sobre o espírito investigativo na formação inicial do docente, afirma que é
extremamente importante “que ele aprenda a observar, a formular questões e hipóteses e
a selecionar instrumentos e dados que o ajudem a elucidar seus problemas e a encontrar
A autora continua explicando que é impossível conceber um professor que não se questione
e busque informações sobre os encaminhamentos mais adequados para resolver os desafios
da prática docente, que não se questione perante a dificuldade de alguns alunos, que não se
pergunte durante a correção das atividades avaliativas porque os alunos não compreenderam
o conteúdo, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didáticas que lhe são
feitas, que não se questione sobre as funções da escola e especialmente sobre a sua função
enquanto sujeito-ator do processo ensino-aprendizagem, viabilizando desta forma, a aquisição
de uma postura investigativa na prática profissional.
Fonte: PHOTOS.COM
Portanto, podemos afirmar que a Prática de Ensino e o Estágio Curricular, enquanto eixos
articuladores no processo de formação inicial de professores, possibilitam o ensino e a
investigação pedagógica como unidade do trabalho docente, objetivando a articulação reflexiva
entre os conhecimentos teóricos e a prática vivenciada pelos acadêmicos nas escolas, campo
de estágio.
Prezado(a) acadêmico(a), nesta unidade tivemos por objetivo discutir com você a publicação
de uma pesquisa que nos permitiu aprofundar os nossos conhecimentos sobre aspectos
relevantes que a Prática de Ensino e do Estágio Curricular proporcionam ao aluno durante
o processo de formação, especificamente comprovar as possíveis contribuições desses
componentes curriculares para a construção da identidade profissional e também para a
ressignificação dos saberes necessário no exercício docente.
Dessa forma, por meio dos relatos colhidos nesta pesquisa realizada na PUC- SP,
compartilhamos com você os olhares dos acadêmicos e dos professores da instituição
pesquisada e acredito que ficou explícito que o Estágio Curricular e a Prática de Ensino podem
constituir espaço e tempo significativos na formação e construção de saberes teórico-práticos,
ressignificando assim, a formação do futuro professor da educação básica.
Dessa forma, nesta unidade discutimos que por meio da vivência da relação teoria e prática
proporciona aos seus acadêmicos momentos significativos e únicos que lhes permitem: a
construção de uma concepção de Prática de Ensino e de Estágio Curricular como elemento
articulador da relação teoria e prática; a construção de saberes necessários à docência; a
percepção da Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, como elo entre os diferentes níveis
de ensino; e o desenvolvimento de atitudes investigativas para a docência.
Portanto, nesta unidade temos por objetivo demonstrar que acadêmicos como você tiveram
a oportunidade de vivenciar em seu processo de formação: a construção de uma concepção
de Prática de Ensino e de Estágio Curricular como elemento articulador da relação teoria e
prática; a construção de saberes necessários à docência; a percepção da Prática de Ensino e
Estágio Supervisionado, como elo entre os diferentes níveis de ensino; e o desenvolvimento de
atitudes investigativas para a docência. Desta forma, o estágio constitui-se um espaço e tempo
de aprendizagem e não apenas como atividade extracurricular realizada para o cumprimento
de uma carga horária de forma isolada e descontextualizada do curso.
Prezado acadêmico, é muito importante que o profi ssional da educação seja capaz de avaliar e “re-
fl etir sobre seu trabalho antes, durante e após sua ação” (BARROS; MORAES, 2002, p. 26). Desta
forma, certamente terá melhores condições para agir e transformar o ensino.
<http://www.youtube.com/watch?v=kQvkxjmWpLg&feature=related>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1)Em nossos estudos nesta unidade, verificamos que é explícito nas diretrizes a formação do
profissional da educação, entendido como profissional com sólida formação epistemológica,
capaz de articular a teoria e a prática, dispondo das habilidades de um investigador para
equacionar a prática pedagógica. Descreva quatro situações que você vivencia em seu
processo de formação que lhe possibilita o desenvolvimento de habilidades investigativas.
2) Lüdke (2009) declara que a parceria entre essas duas instituições de ensino por meio do
estágio supervisionado é relevante para a melhoria da docência e, consequentemente, para a
formação de professores. Explique quais são as contribuições desta parceria entre o Cesumar/
polo de apoio presencial e a instituição de educação básica para o seu processo de formação.
Entrevista:
Prezado(a) acadêmico(a), leia a entrevista com Eunice Durham “Fábrica de maus professores”.
Uma das maiores especialistas em ensino superiorbrasileiro, a antropóloga não tem dúvida: os cursos
de pedagogia perpetuam o péssimo ensino nas escolas
“Os cursos de pedagogia desprezam a prática da sala de aula e supervalorizam teorias supostamente
mais nobres. Os alunos saem de lá sem saber ensinar.
Hoje há poucos estudiosos empenhados em produzir pesquisa de bom nível sobre a universidade
brasileira. Entre eles, a antropóloga Eunice Durham, 75 anos, vinte dos quais dedicados ao tema,
tem o mérito de tratar do assunto com rara objetividade. Seu trabalho representa um avanço, tam-
bém, porque mostra, com clareza, como as universidades têm relação direta com a má qualidade
do ensino oferecido nas escolas do país. Ela diz: “Os cursos de pedagogia são incapazes de formar
bons professores”. Ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação (MEC) no governo
Fernando Henrique, Eunice é do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas, da Universidade de São
Paulo – onde ingressou como professora há cinqüenta anos.
NOS ESTADOS UNIDOS, CERCA DE 60% DOS ALUNOS FREQüENTAM ESSAS ESCOLAS TéC-
NICAS. NO bRASIL, SãO APENAS 9%. POR QUê?
Sempre houve preconceito no Brasil em relação a qualquer coisa que lembrasse o trabalho manual,
caso desses cursos. Vejo, no entanto, uma melhora no conceito que se tem das escolas técnicas,
o que se manifesta no aumento da procura. O fato concreto é que elas têm conseguido se adaptar
às demandas reais da economia. Daí 95% das pessoas, em média, saírem formadas com emprego
garantido. O mercado, afinal, não precisa apenas de pessoas pós-graduadas em letras que sejam
peritas em crítica literária ou de estatísticos aptos a desenvolver grandes sistemas. É simples, mas só
o Brasil, vítima de certa arrogância, parece ainda não ter entendido a lição.
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Prezado(a) acadêmico (a), para se pensar as questões que permeiam o universo da educação
faz-se necessário ir “muito além do horizonte”. É preciso mais do que simplesmente reproduzir
os modelos impostos como verdades de um sistema. Logo, para se refletir acerca do agir da
prática docente é preciso, a priori, romper com os estereótipos e paradigmas que fragmentam
e compartimentam o processo educativo, uma vez que somente a partir de um fazer reflexivo
é possível realizar um trabalho pedagógico alicerçado em saberes que possibilitem o romper
com a linearidade própria da racionalidade técnica positivista, a qual, por vezes, infiltra-se e
promove o aligeiramento do saber no ambiente escolar.
Ser professor significa, nesse sentido, ser aquele que professa não apenas para formar o
homem para o mundo científico, letrado, mas também para a vida, para a sociedade. As ações
de um professor promovem não apenas um saber imediato, mas um saber necessário para
a vida. Guimarães Rosa, em Grandes Sertões Veredas, já dizia: “todos os seres são alvo de
um processo educativo. Os pássaros, por exemplo, desde cedo expulsam seus filhotes do
ninho, fazendo com que experimentem o processo de aprendizagem do voo, e este exercício é
fundamental para a continuidade da vida”. Nós, enquanto seres humanos, também aprendemos
a todo o momento. Prova desse fato pode ser percebida em nossas vivências e experiências
de aprendizagem a todo o momento nos mais variados setores da sociedade, ou seja, em
casa, na rua, igreja e na escola. Vivenciamos e passamos por experiências para aprender,
para ensinar, para aprender e ensinar.
Assim, caro(a) acadêmico(a), para iniciarmos nossos estudos, trazemos nesta unidade alguns
aspectos para reflexão acerca da formação profissional, pois entendemos que a formação deste
profissional deve lhe proporcionar sólida fundamentação sobre a ciência da educação, capaz
de relacionar a teoria e prática, compreendendo o fazer pedagógico como uma possibilidade
de transformação do homem e da sociedade.
Enfim, a educação é muito mais do que um simples fazer imediato, que acontece em sala de
aula, possibilita aos atores da cena interagir, conhecer, modificar e transformar continuamente
a relação com os saberes ali descritos. Nesse sentido, a formação profissional dos educadores
realizadas em todos os níveis, principalmente no nível superior, tem levado às universidades
a repensar suas funções, suas estruturas e seus modos de funcionamento, numa tentativa de
melhorar, especialmente, os processos de formação de seus futuros profissionais que deverão
estar preparados para enfrentar com criatividade os problemas e desafios de uma sociedade
em constantes contradições. Logo, para se pensar em formação profissional é preciso antes
entender a função histórica que a escola ocupa na sociedade.
No entanto, é preciso saber que inicialmente o espaço educacional não é escolar. Ele é o lugar
da vida e do trabalho: a casa, o templo, a oficina, o barco, o mato, o quintal (BRANDÃO, 1993,
p. 32).
Lembramos aqui, brevemente, a história da escola. Buscando alicerce nos dizeres de Brandão
(1993), observamos que esse modelo de educação escolar surge na Grécia e vai para Roma,
ao longo de muitos séculos da história de espartanos, atenienses e romanos. Os primeiros
assuntos relacionados à educação grega foram os dos ofícios simples dos tempos de paz e de
guerra, em geral, assuntos da agricultura, saber do pastoreio, do artesanato de subsistência
cotidiana e da arte.
Todos estes ensinamentos aliados aos princípios de honra, solidariedade e fidelidade à polis, a
cidade grega onde começa e acaba a vida do cidadão livre e educado. O modelo de educação
grega, que adota uma dupla postura, carrega dentro de si a oposição que até hoje o nosso
modelo de educação não resolveu. O modelo de educação duplo, estruturado pelos gregos,
elabora e põe em prática um sistema de divisão entre a tecne e teoria. Ou seja, o saber que
se ensina para que se faça foi denominado tecne, devido suas formas mais rústicas e menos
enobrecidas, verificando a cargo dos trabalhadores manuais, livres ou escravos. As normas de
vida que, quando reproduzidas como um saber que se ensina para que se viva e seja um tipo
de homem livre e, se possível, nobre, os gregos acabaram chamando de teoria.
Por alguns séculos, mesmo para a elite, ainda não existia a escola. Para os gregos, os
que chamavam de educação estava diretamente ligado ao conceito de Paideia (formação
harmônica do homem para a vida da polis), ou seja, por meio do desenvolvimento de todo o
corpo e toda a consciência, começa de fato, fora de casa, depois dos sete anos. Até então, a
criança convive com a sua criação, convivendo com a mãe e escravos domésticos.
A obra de arte da Paideia é a pessoa plenamente madura como cidadã, como militar ou como
político, posta a serviço dos interesses da cidade-comunidade. Assim, o ideal da educação é
reproduzir uma ordem social idealmente concebida como perfeita e necessária, por meio da
transmissão, de geração a geração, valores e habilidades que tornavam um homem tão mais
perfeito quanto mais preparado para viver a cidade a que servia (p.44).
Com o passar do tempo, a educação clássica deixa de ser um assunto privado, passando a ser
uma questão de interesse de estado (pública). Por volta do VI século a.C., Aristóteles:
exige do imperador leis que regulem direitos e controlem o exercício da educação. Atrás
das tropas de conquista de Alexandre Magno, os gregos levam as suas escolas por
todo o mundo. Elas são, mais do que tudo, o meio de impedir que a distância da Pátria
de origem ameace perder-se a cultura do vencedor entre os costumes e o saber dos
vencidos (p. 46).
O princípio que orientou toda a educação clássica dos gregos foi sempre entendido como um
processo pelo qual a cultura da cidade é incorporada à pessoa do cidadão. Uma
trajetória de amadurecimento e formação (como a obra de arte que aos poucos se
modela), cujo produto final é o adulto educado, um sujeito perfeito segundo um modelo
idealizado de homem livre e sábio, mas ainda sempre aperfeiçoável. Assim, a educação
grega não é dirigida à criança no sentido cada vez mais dado a ela hoje em dia. De
algum modo, é uma educação contra a criança, que não leva em conta o que ela é, mas
O processo educativo que se tem início em Roma tinha por objetivo a formação da consciência
moral. Busca-se um homem capaz de renúncia de si próprio em benefício da comunidade. Este
modelo de educação primitivo não tinha a preocupação com a formação física e intelectual do
cidadão ocioso, ocupado com o pensar, governar e guerrear.
Tinham como preocupação a formação do homem para o trabalho e a vida, para a cidadania da
comunidade igualada pelo trabalho. A educação era centrada no lar, os primeiros educadores
de pobres e nobres são os pais. Quando o menino completa sete anos, termina o aprendizado
cheio de afeição da mãe e passa a ser educado pelo pai, que será responsável por formar a
sua consciência segundo os preceitos das crenças e valores da classe e da sociedade (p. 50).
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Como na Grécia, ocorre a separação em duas vertentes do que se pode aprender. Uma oficina
de trabalho para onde vão os filhos dos escravos, dos servos e dos trabalhadores artesãos.
Outra é a escola livresca, para onde vai o futuro senhor (o dirigente, livre do trabalho e do
Estado).
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas que não se encontram ainda
preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um
certo número de estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade
política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
destina (DURKHEIN, p.71).
• “A Educação não é mais do que o desenvolvimento consciente e livre das faculdades inatas
do homem” (SCIACCA).
• “O fim da educação é desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que ele seja
capaz (KANT); É toda a espécie de formação que surge da influência espiritual” (KRIECK).
Basso (1994, 1998), a partir da perspectiva sócio-histórica, ressalta que o significado da prática
pedagógica é importante para a compreensão da realidade do ensino escolar. Por essa razão,
consideramos a formação inicial como responsável por propiciar e incentivar a relação entre
teoria e prática docente.
Dessa forma, caro(a) acadêmico(a), é entendido, nessa ótica, que a Prática de Ensino e o
Estágio Supervisionado os elementos da formação profissional que podem desvelar ao futuro
pedagogo os possíveis problemas pedagógicos concretos que precisam ser resolvidos no
cotidiano do processo de ensino e aprendizagem desenvolvido nas escolas.
Nesse sentido, a Prática de Ensino tem um papel central em todo o sistema de organização
dos conhecimentos, habilidades e atitudes do futuro professor, pois constitui uma via, um meio
sistematizado e organizado de transmissão da experiência social. É importante lembrar aqui da
afirmação de Vygostsky (2000), que diz que a aprendizagem é um momento intrinsecamente
Fonte: SITEPSICOLOGIA.WEBNODE.COM
É importante que você compreenda que Vygostsky esclarece ainda que a educação exerce
um papel de destaque no desenvolvimento dos indivíduos reforçando o caráter interativo do
sujeito no processo educativo. A apropriação da experiência humana depende da atividade
do próprio sujeito. É a base do processo da educação, visto que essa apropriação ocorre por
meio de sua atividade.
Logo, o contato com a prática estimulará o futuro professor a desenvolver reflexões críticas
acerca das teorias que vem estudando ao longo do curso, ao mesmo tempo em que suscita o
redirecionamento e a reorganização da atividade pedagógica que vem se efetivando.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Assim, a teoria como cultura objetiva é importante na formação docente, uma vez que,
além de seu poder formativo, dota os sujeitos de pontos de vista variados para uma ação
contextualizada. Os saberes teóricos propositivos se articulam, pois, aos saberes da prática,
ao mesmo tempo ressignificando-os e sendo por eles ressignificados. O papel da teoria é
oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos,
sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais e dá sua
atividade docente, para neles intervir, transformando-os.
Um dos grandes autores a estudar a relação entre a teoria e a prática foi Vasquez (1977, p.3),
que propôs, para a superação dessa dicotomia, o conceito de práxis, atribuindo a este um
sentido transformador, revolucionário, criador, humano e ajustado a objetivos. O autor define
práxis como “a atividade material do homem que transforma o mundo natural e social para
fazer dele um mundo humano” e afirma (p. 6) que a práxis “marca as condições que tornam
possível a passagem da teoria à prática e assegura a íntima unidade entre uma e outra”. A
práxis utiliza-se da consciência reflexiva para unir consciência, pensamento e ação, em um
sentido social e histórico.
Para Vasquez (1977, p. 204), uma das formas de superação da dicotomia entre a teoria e a
prática é o concreto pensado. Ele afirma que o “método que permite elevar-se do abstrato ao
concreto nada mais é do que o modo como o pensamento se apropria do concreto sob a forma
do concreto pensado. Mas não é de modo algum o próprio concreto”.
Dessa forma, acredito que você deve estar indagando, como a relação teoria e prática ocorre
no processo de formação do professor, especificamente no processo de formação inicial?
Para que o futuro professor vivencie em sua prática pedagógica a relação dialética entre a teoria
e a prática, é fundamental que os conhecimentos veiculados no processo de profissionalização
estabeleçam relação com o contexto social. Temos ciência que a teoria não modifica de forma
imediata a realidade, mas fornece elementos para a sua compreensão e transformação. Nesta
perspectiva, Vázquez (1977, p. 206) declara:
A teoria em si não transforma o mundo. Pode contribuir para sua transformação, mas
para isto tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada
Segundo Ghedin (2002), a formação de professores tem oscilado ora para o saber, ora para o
saber fazer, como se estes dois elementos não fizessem parte do mesmo processo. Quando
dissociamos duas realidades, teoria e prática, estamos querendo separar o que é inseparável,
pois não existe teoria sem prática e nem prática sem alguma teoria.
Prezado(a) acadêmico(a), acreditamos que o contato com as situações reais existentes nas
escolas, mediado pela relação teoria e prática, é essencialmente válido para a formação
dos futuros professores. Nesse sentido, possibilita ao futuro docente o desenvolvimento da
consciência crítica do seu fazer pedagógico, sem a qual é impossível realizar uma verdadeira
práxis, isto é, uma ação intencional fundamentada na relação dialética entre teoria e prática.
Nesta perspectiva, prezado(a) acadêmico(a), com base nessa ideia, entendemos que é
necessário buscar, nos cursos de formação de professores, o aprofundamento teórico das
questões pedagógicas, mas a partir de uma prática dialética que permita a compreensão da
realidade escolar e social
Portanto, é muito importante que você compreenda que a lacuna existente entre a teoria e
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A relação entre a teoria e a prática pode ser abordada segundo uma visão dicotômica ou uma
visão unitária (CANDAU; LELIS, 2001, pp. 56-65):
• Visão dicotômica: nesta visão, a ênfase é posta na total autonomia de uma em relação à
outra, pois se trata de afirmar a separação entre teoria e prática.
Candau e Lelis (2001, p. 60) salientam que a teoria e a prática são dissociáveis e afirmam
que aos “teóricos” compete pensar, elaborar, refletir, planejar e aos “práticos”, executar, agir e
fazer. Dessa forma, cada uma guarda sua especificidade mantendo-se separada. Segundo as
autoras, esse é o esquema da visão dissociativa.
• Visão unitária: a visão unitária tem como características a união e a vinculação entre a
teoria e a prática em uma relação, simultânea e recíproca, de autonomia e dependência.
Nessa perspectiva, a relação entre a teoria e a prática é de indissociabilidade, mas não de
identidade, tendo cada uma delas sua identidade própria.
De acordo com Candau e Lelis (2001, p.63), nesta perspectiva a teoria não mais comanda a
prática, não mais a orienta no sentido de torná-la dependente das ideias, como também não
se dissolve na prática, anulando a si mesma. A prática, por seu lado, não significa mais a
aplicação da teoria ou uma atividade dada ou imutável.
A teoria e a prática possuem uma relação indissociável que, quando revestida de reflexão-
ação-transformação, constitui-se práxis. Nesse sentido, a práxis pode ser concebida como uma
atividade humana sensível e não apenas como um objeto ou intuição. Logo, a compreensão do
conhecimento como um processo subjetivo-objetivo, trazendo o significado de que não só o
objeto atua sobre o sujeito, mas igualmente de que o sujeito, também determinado socialmente,
atua sobre o objeto em termos teórico-práticos.
• impede que a teoria que se faz sobre a prática seja frágil, na medida em que pouco se
articulam;
Segundo Pimenta e Lima (2004), essa concepção não valoriza a formação intelectual do
professor, reduzindo a prática docente a um fazer que se considerava bem-sucedido quando
se assemelhava aos modelos observados.
Para discorrer acerca das possibilidades de uma aprendizagem significativa, faz-se necessário
retomarmos o que significa o termo práxis. De acordo com Pimenta (2002), para Marx, práxis
é a atitude (teórico-prática) humana de transformação da natureza e da sociedade. Não basta
conhecer e interpretar o mundo (teórico), é preciso transformá-lo (práxis).
18
Podemos citar: Piconez (1991), Freitas (1992, 1996), Pimenta (1993).
As histórias de vida de cada pessoa, juntamente com as experiências vivenciadas pelo conjunto
de pessoas, estarão implícitas no trabalho coletivo. Nesse sentido, Vygotsky afirma que as
origens das atividades psicológicas mais sofisticadas devem ser procuradas nas relações
sociais do indivíduo com o meio externo. O ser humano não só é um produto de seu contexto
social, mas também um agente ativo na criação desse contexto (REGO, 2001, p. 49).
Candau e Lelis (p. 69) chamam a atenção para o fato de que um fazer pedagógico indissociável
inclui o “o que ensinar” e o “como ensinar”, o pensar e o agir, e deve fazer a articulação do
“para quem” com o “para quê” nos conteúdos teóricos e instrumentais, o que possibilitará
ao educador uma práxis criadora. Sobre esse aspecto, as autoras enfatizam: nesse sentido,
todos os componentes curriculares devem trabalhar a unidade teoria-prática sob diferentes
configurações, para que não se perca a visão de totalidade da prática pedagógica e da
formação como forma de eliminar distorções decorrentes da priorização de um dos dois polos.
Quanto a esse aspecto, Hengemühle (2004, pp. 230-231) diz que a partir do momento em que,
na contextualização, o professor conseguiu identificar várias situações nas quais o conteúdo
está inserido ou adquire significados no plano de trabalho, ele transforma essas situações em
Ainda, segundo o referido documento (p. 4), o conceito de interdisciplinaridade, como questão
gnosiológica, surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à
fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam-se
dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade reestabelecia, pelo menos, um diálogo
entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a totalidade do saber.
Verifica-se, atualmente, segundo o texto (p. 6), que o conceito de interdisciplinaridade traz
para a educação uma forma coletiva, cooperativa e solidária de trabalho (em substituição
aos procedimentos individualistas), que busca a construção de uma escola participativa na
formação do sujeito social; uma forma que caminha em direção à vivência de uma realidade
global; que visa à articulação de saber, conhecimento, vivência, escola/comunidade, meio
ambiente; que trabalha no sentido de uma educação libertadora; que busca a autonomia
intelectual e moral e na qual o conhecimento passa a ser entendido como consequência da
interação entre o sujeito e o meio.
Professor não é apenas aquele que “professa” um determinado saber e/ou conhecimento
historicamente produzido. O professor deve ser visto como alguém que investiga, reflete, julga
e produz conhecimento, provocando transformações e percebendo as implicações da prática
docente tanto na sua própria vida como na vida do aluno.
Pimenta (1997) enfatiza em seu trabalho que por meio do levantamento bibliográfico de teses,
dissertações, artigos, documentos, conseguiu reunir vários estudos que contribuíram para o
melhor entendimento da indissociabilidade entre a teoria e a prática nos cursos de formação
de professores, dentre eles destaca: Candau e Lelis (1983), Lelis (1989), Fávero (1992).
Devido à autonomia universitária, a Unifesp decidiu criar essa experiência piloto, por meio
da residência pedagógica. Nesta modalidade, os residentes participam de muito mais
atividades práticas em escolas públicas, ou seja, ao invés de realizar 300 horas de estágio, o
acadêmico participa de 800 horas. Segundo informações colhidas no site19 do “Observatório
de Educação da Unifesp”, esta modalidade envolve: acompanhamento da prática pedagógica
docente; acompanhamento dos aspectos que envolvem a gestão da escola e da sala de aula;
conhecimento do contexto e das relações entre a escola e as famílias; preparo e aplicação
de um pré-projeto de intervenção sob a orientação do professor preceptor da universidade
e do docente que acolhe o residente, havendo desta forma uma supervisão constante do
trabalho docente ainda durante o curso de graduação; cada grupo de residentes contará com
um Preceptor da Universidade, encarregado de acompanhar e assessorar a equipe da escola
e os residentes; também haverá um residente envolvido em Programa de Iniciação Científica
em cada escola com a função de assegurar a integração entre as intervenções propostas e
realizadas pelos grupos de residentes desta escola.
Prezado(a) acadêmico(a), dessa forma, você pode observar que em diversas instituições de
ensino há o envolvimento de professores que buscam novos caminhos para inovarem a sua
prática docente. Nesse sentido, desenvolvem projetos inovadores que expressam “a busca
de mudanças que, de forma consciente e direta, tem como objetivo a melhoria do sistema
educativo” (HERNANDEZ et al., 2000, p. 21). Segundo Pimenta (1997), essas propostas
alteraram a forma de estágio que vinha sendo praticada nas escolas.
19
<http://observatorio.unifesp.br/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=5>.
Nesse sentido, caro(a) acadêmico(a), Nóvoa (2007, p.14) enfatiza que o processo de formação
docente não se faz só por mera acumulação de conhecimentos; é necessário, como enfatiza,
“uma formação mais centrada nas práticas e na análise das práticas”. O autor exemplifica
que é desesperante encontrar certos professores que têm uma enorme vontade de modificar
alguns procedimentos em sua prática, mas não sabem como. Têm corpo e cabeça cheios de
teoria, de autores, mas não sabem como toda essa teoria se transforma em prática. Nesse
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Os professores reelaboram os saberes iniciais em confronto com suas experiências
práticas, cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares.
No final da década de 80, segundo esse autor, começaram a ocorrer estudos que tiveram o
mérito de “recolocar os professores no centro de debates educativos e das problemáticas da
investigação” (NÓVOA, 1995, p. 15).
É justamente com base nessas questões que se desenvolve, dominantemente, o debate atual
sobre a formação de professores. As análises, antes voltadas para as questões estruturais da
sociedade, deslocaram-se para as questões culturais, para a compreensão de aspectos mais
específicos da realidade. Assim, os estudos passaram a valorizar os aspectos microssociais,
enfatizando o papel do agente-sujeito e interessando-se pelas identidades culturais, em
especial a construção da identidade profissional do professor. A identidade é compreendida
aqui como um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão, em lugar de
lutas e conflitos e não um dado adquirido ou um mero produto (NÓVOA, 1994).
Maciel (2002) aponta a possibilidade de ressignificarmos esse momento quando afirma que
o estágio, em suas etapas de observação, participação e regência, precisa ser readmirado,
por meio de uma transformação do seu saber e no seu saber fazer. Nesse sentido, aponta
a necessidade de estabelecer uma prática pedagógica que possibilite ao futuro professor
conhecer e compreender as complexas relações que se estabelecem no universo escolar,
como: concepção de conhecimento que permeia a proposta pedagógica do docente; os
processos que envolvem o ensinar e o aprender; a organização do trabalho escolar; as
atividades que constituem rotinas diárias da sala de aula; as ações desenvolvidas pela escola;
dinâmica interna da sala de aula; as reais situações vivenciadas pelo professor no cotidiano
escolar e outras.
Outro autor que merece destaque sobre a temática é Sacristán (1995). O educador espanhol
que analisa a formação de professores com base em teorias que estabelecem relações entre
o pessoal e o social; entre o coletivo e o individual; entre sistema educativo e a estrutura social
mais ampla. O ensino, atividade que integra centralmente a estrutura do trabalho docente, é
compreendido pelo autor como um ofício que se apoia em saberes adquiridos pela experiência
acumulada na prática social e coletiva. Sobre estas experiências, podemos afirmar que elas
incluem, desde a própria vida escolar pregressa dos docentes, as vivências pedagógicas e a
formação pedagógica intencionalmente dirigida para o desempenho profissional.
Por isso é tão importante investir em projetos de melhoria da prática de ensino, no sentido
de levá-la a não se preocupar com a simples aquisição de conhecimentos, mas de uma
transformação da própria pessoa do futuro professor, envolvendo mecanismos psicológicos
mais amplos e essa interação sujeito-mundo (local onde habito e no qual dou e recebo
significações) é que faz aparecerem problemas mais profundos, os quais a simples instrução
não consegue resolver.
Na busca de uma nova dinâmica na formação do educador, mais que em outras épocas, as
exigências atuais para o professor têm anunciado a necessidade de voltar o olhar para duas
dimensões que se articulam ao mesmo tempo, de maneira diferente, mas complementares:
o processo interno (o eu pessoal) e o processo externo (eu profissional) do pedagogo. Essa
distinção em termos de formação docente tem tido repercussão atualmente na construção
de identidade do professor, pois revela a formalização do “saber dizer” científico dos futuros
professores no seu “saber fazer”.
Nesse novo modelo de formação, o homem é visto como ser social e histórico, determinado
e determinante dos contextos sociais no qual atua. Por ser histórico e contextualizado têm
em sua história de vida e na ação vivenciada os elementos de superação de seu ser atual,
da construção do conhecimento e da realidade e de sua própria construção neste processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) acadêmico(a), nesta unidade procuramos demonstrar para você que para
compreender as questões que permeiam o universo da educação faz-se necessário ir “muito
além do horizonte”. É preciso mais do que simplesmente reproduzir os modelos impostos como
verdades de um sistema. Logo, para se refletir acerca do agir da prática docente é preciso, a
priori, romper com os estereótipos e paradigmas que fragmentam e compartimentam o processo
educativo, uma vez que somente a partir de um fazer reflexivo é possível realizar um trabalho
pedagógico alicerçado em saberes que possibilitem o romper com a linearidade própria da
racionalidade técnica positivista, a qual, por vezes, infiltra-se e promove o aligeiramento do
saber no ambiente escolar.
Nesse sentido, no percurso até aqui percorrido, buscamos elencar e apresentar a relação
existe entre a teoria e a prática, firmando as especificidades e categorias de transformação
158 PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO BÁSICA | Educação a Distância
que devem ser respeitas, mas que devem fazer parte de um contexto transformador para que
a relação de ensino-aprendizagem possam ser realmente um processo constante que possam
romper com a linearidade e o pragmatismo de uma formação centrada no individualismo,
rumando a uma formação igualitária que possibilite levar os saberes acadêmicos para as
diversas instâncias da vida do sujeito.
E por acreditarmos nessa junção efetiva que consolida a teoria e a prática como sendo o
alicerce e sustentação de uma formação com qualidade, que permita o professor a uma ação
reflexiva constante, propomo-nos a tratar na unidade seguinte acerca das implicações do
projeto pedagógico e a prática pedagógica.
Indicação de leitura
Artigo: Como buscar os melhores profi ssionais para a sala de aula - Painel de especialistas orga-
nizado pela Fundação Victor Civita aponta oito caminhos para atrair bons candidatos para a docência.
Por Ivan Paganotti ([email protected]). Visite o site: <http://revistaescola.abril.com.br/
politicas-publicas/carreira/como-buscar-melhores-docencia-atratividade-carreira-vestibular-
-pedagogia-licenciatura-528902.shtml>.
Prezado(a) acadêmico(a), Piconez ( 1991, p. 221) alerta que a aprendizagem docente não funciona
como um mero sistema de adição ou substituição de alguns conhecimentos por outros. Por isso,
trata-se de academicismo ingênuo crer que o professores, em contato com uma série de fundamen-
tos disciplinares, será capaz, de maneira automática, de transferir determinados conceitos, saberes,
atitudes, valores, habilidades do contexto acadêmico ao profi ssional. Nessa perspectiva, o curso de
formação inicial ganha importância na medida em que possa favorecer a investigação e compreen-
são de uma série de problemas práticos e relevantes, inerentes ao contexto escolar e às situações
específi cas de sala de aula.
2) Explique qual a importância de uma formação refl exiva para a atuação profi ssional.
3) A relação teoria e prática devem ser uma constante na atuação profi ssional do pedagogo.
Sabendo desse fato, explique a relação entre a teoria e a prática na visão dicotômica e na
unitária e, na sequência, apresente sugestões de como essa relação pode se efetivar no
cotidiano escolar.
Indicação de leitura
Leia abaixo o artigo de Antonia Edna Brito sobre a importância da refl exão na prática docente e a
produção dos saberes profi ssionais.
O signifi cado da refl exão na prática docente e na produção dos saberes profi ssionais do/a professor/a
ANTONIA EDNA BRITO
Universidade Federal do Piauí, Brasil
Introdução
A formação docente, nas últimas décadas, vem sendo analisada na perspectiva de ser retraduzida
tendo em vista a acelerada transformação que afeta a sociedade, a educação e a escola propriamente
dita. Temos, portanto, observado a efervescência de estudos e discussões acerca da formação e da
prática pedagógica de professores. Em face de tais estudos e discussões novos cenários de formação
docente estão sendo propostos. Notadamente no caso do Brasil as transformações indicam que os
processos formativos devem considerar a singularidade das situações de ensino, as novas competên-
cias e os novos saberes que o ofício profi ssional docente está a requerer neste milênio.
De modo singular as investigações em torno da formação profi ssional docente têm desconstruído cer-
tezas e, principalmente, vêm revelando diferentes possibilidades de estudos e de pesquisas, pois, na
medida em que questionam a formação meramente técnica, indicam novos paradigmas de formação
assentados na compreensão de que o processo formativo por si só não assegura a efetiva preparação
profi ssional do professor/a.
Essa formação em sua dinâmica e complexidade é demarcada por diferentes trajetórias formativas,
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir a relação entre a prática pedagógica e sua contribuição para o Projeto Pe-
dagógico escolar.
Plano de Estudo
Assim sendo, os tópicos desenvolvidos estão colocados de maneira a formar um todo com
ênfase na questão do projeto político-pedagógico, uma vez que é a peça-chave do planejamento
educacional e elemento indispensável para as ações do futuro pedagogo.
O Projeto Pedagógico (PP) não é uma novidade instituída pela LDB (Lei 9394/96), embora sua
obrigatoriedade esteja mais explicitada nesta lei e na legislação do CEE- Conselho Estadual
de Educação - Deliberação 07/2000.
De acordo com Veiga (2002), os termos projeto pedagógico e projeto político- pedagógico,
não têm diferenciação naquilo que explicitam. São dois termos usados para designar o
Fonte: UNB.BR
Segundo Veiga (1995), o projeto pedagógico é constituído de uma dimensão pedagógica e política.
Nesse sentido, caro(a) acadêmico(a), comungo com Veiga (1996) quando esclarece que,
na dimensão pedagógica, reside a possibilidade de formação de um cidadão, capaz de
compreender e intervir nas complexas relações sociais em que está inserido. Por conseguinte,
para formarmos um professor competente técnica, política e pedagogicamente, é necessário,
como já anunciei em diferentes momentos desta pesquisa, superarmos no processo de
Nesse sentido, o projeto pedagógico é o instrumento balizador para o fazer universitário e, por
consequência, expressa a prática pedagógica das instituições e dos cursos dando direção à
gestão e às atividades educacionais, especialmente para compreendermos a concepção de
Estágio Supervisionado na forma de Prática de Ensino, enquanto espaço e tempo significativos
na formação e construção de saberes teórico-práticos, vislumbrando assim a possibilidade de
elaboração e ressignificação desses saberes para a formação do futuro professor da educação
básica.
Dessa forma, prezado(a) acadêmico(a), comungamos com Veiga (1995) ao entender que o
projeto pedagógico não constitui um documento que é construído e, em seguida, arquivado
ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas, mas que deve ser vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos no
processo educativo da escola.
Dessa forma, prezado (a) acadêmico(a), o projeto pedagógico se tornou mais do que um simples
documento a ser arquivado, ele está presente no dia a dia, na prática escolar, vivenciado por
todos que dela fazem parte. Sendo assim, entende-se que a escola deve resgatar o espaço
público, lugar de debate e diálogo, baseando na reflexão coletiva.
Os objetivos desse tópico são definir o que é um projeto político-pedagógico, bem como
examinar e analisar os pressupostos que alicerçam essa construção.
A importância do projeto político-pedagógico está no fato de que ele passa a ser uma
direção, um rumo para as ações da escola. É uma ação intencional que deve ser definida
É também um instrumento que identifica a escola como uma instituição social, voltada
para a educação, portanto, com objetivos específicos para esse fim (VEIGA, 2002, pp. 13-
14). Ao se construir o projeto político-pedagógico, é fundamental que se tenha em mente a
realidade que circunda a escola; realidade que se expressa no contexto macro da sociedade:
econômico, político e social; e aquela que se verifica ao entorno da escola. A realidade macro
da sociedade, certamente, afeta a vida da escola, assim como também afeta a sua realidade
interna específica, o seu funcionamento, possibilidades e limites. Não levar em consideração
os aspectos sociais que envolvem a escola no planejamento educacional, mesmo em nível
micro, pode fazer com que o planejamento falhe em seus resultados.
Portanto, com a experiência do passado e suas lições aplicadas ao presente, podemos projetar
o futuro com mais precisão. Nessa terceira dimensão, é importante considerar as esferas
espaciais, temporais e culturais que toda instituição desenvolve em sua existência, formando
assim sua identidade. Ao se considerar essas esferas, pode-se construir um projeto político-
pedagógico em harmonia com a história e a identidade da instituição, perguntando: que cara
tem a nossa escola? (AGUILAR, 1997, p. 9).
De acordo com Veiga (1996), o projeto político-pedagógico pode ser entendido como a própria
organização do trabalho pedagógico da escola como um todo. Esta autora esclarece que o
termo “projeto”, etimologicamente, vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere,
que significa lançar para diante.
O termo “político”, ainda segundo a autora, vem do fato de que todo projeto pedagógico da
escola é político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico e com os
interesses reais e coletivos da população majoritária. É, portanto, político por representar um
compromisso com a formação do cidadão para uma determinada sociedade. E “pedagógico”,
explica a autora, porque é nessa dimensão que reside a possibilidade da efetivação da
intencionalidade da escola.
É preciso entender, nessa perspectiva, que a escola como uma instituição social difere de uma
organização. Como instituição social, a escola busca a universalidade, tendo como referência
e princípio normativo e valorativo a sociedade em que atua. A organização, por sua vez, está
voltada para si, para a sua particularidade, tendo como princípio e referência ela mesma em
um processo de competição com outras com os mesmos objetivos (CHAUÍ, 2003, p. 3).
A escola, portanto, é uma instituição social que se diferencia de uma organização, mas que tem
uma especificidade organizativa, uma cultura que deve ser levada em consideração em um
processo de gestão. Sendo assim, a escola não pode prescindir da administração, entendida
como atividade natural humana para alcançar certos fins e objetivos e que se utiliza de forma
racional de recursos materiais e humanos (PARO, 2002, p. 18).
Apesar das dificuldades inerentes aos sistemas da sociedade atual, o que se pretende é que
a escola tenha uma administração participativa, sem autoritarismos, que se preocupe com o
coletivo, com o desenvolvimento dos seus profissionais, porém sem perder a perspectiva de
realização de um trabalho de qualidade, que visa objetivos sociais, usando métodos e técnicas
que garantam o alcance deles. Enfim, uma administração que, sem os constrangimentos da
• O que ensinar, juntamente com a organização e sequenciação didática dos conteúdos, isto
é, quando ensinar.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A avaliação deve ser compreendida como um processo dinâmico, contínuo e
acumulativo de coleta de informações, análises e reflexões.
Para apresentar de forma mais viva essa maneira de conceber uma proposta pedagógica, vale
lembrar-se da história que Benjamin (1987, pp. 219-220) conta, falando de um rei que, apesar
de muito poderoso, não se sentia feliz e se tornava cada vez mais melancólico. Mandou um
dia chamar seu cozinheiro particular, pedindo-lhe que fizesse uma omelete de amoras tal qual
havia saboreado há 50 anos, na sua infância. Nessa época, seu pai guerreava e, tendo perdido
a guerra, tivera de fugir. Depois de muito vagar pela floresta, famintos e fatigados, o menino-rei
e o pai encontraram uma choupana onde uma velha os fez descansar e lhes preparou uma
torta de amoras. O cozinheiro – que recebera do rei, como promessa, a mão da filha e o reino
caso soubesse fazer aquela omelete, ou a morte, em caso negativo – escolhera de antemão
morrer, já que, embora possuísse os ingredientes e a receita da torta, jamais conseguiria
temperá-la com o gosto do perigo da batalha, da vigilância do perseguido, do calor do fogo e
da doçura do descanso, do presente exótico e do futuro obscuro.
Por que as propostas pedagógicas envelhecem tão rápido? - pode-se aqui indagar. Talvez
por não terem sido geradas por perguntas vivas de uma comunidade atuante e reconhecida
como tal, por retificarem respostas de um lugar que não é o seu. É preciso propor caminhos,
levantando perguntas e gerando perguntas, experimentando caminhos, ao invés de pretender
trazer saídas prontas e adoradas como bezerros de ouro. E se é função de uma política pública
Buscando compreender a história com base em uma concepção crítica, Walter Benjamin
(1987) chama a atenção para o hábito generalizador que faz olhar a realidade como se fosse
única e também única a forma de olhar para ela. Sua preocupação é a de fazer justiça ao
particular, de deixar que também ele fale, evitando que se dissolva na generalização, mas
evitando também que o real se fragmente, não abdicando, pois, de uma dimensão de totalidade.
Pensar uma proposta pedagógica única pressupõe pensar um conceito uniformizador de
criança, de jovem, de adulto; de professor, de educação e de sociedade, um conceito que,
por generalizar, desrespeita as diferenças – seja de etnia, sexo, classe social ou cultura. Ao
contrário, uma proposta pedagógica ou curricular para a educação de crianças, de jovens ou
de adultos precisa trabalhar com as contradições e especificidades da realidade brasileira, de
cada região, estado ou município, zona urbana ou rural. Por isso, não se pode falar de uma
proposta, mas, sim, de várias, porque são múltiplas as situações que o Brasil congrega, porque
são diversificadas as formas de concretização de uma dada proposta numa mesma localidade,
porque são desiguais as condições concretas em que acontecem as práticas educativas, os
contextos em que estão inseridos os profissionais e as populações com que trabalham.
Fonte: PHOTOS.COM
É necessário que o futuro professor compreenda que as instituições de ensino
expressam suas ações administrativas e pedagógicas no projeto pedagógico.
Para Veiga (1998), o projeto pedagógico não se resume em um conjunto de planos e projetos
de professores, nem somente um documento que trata das diretrizes pedagógicas da
instituição educativa, mas um produto específico que reflete a realidade da escola, situada
em um contexto mais amplo que a influencia e que pode ser por ela influenciado. Trata-se
de um instrumento que permite clarificar a ação educativa da instituição educacional em sua
totalidade.
Analisando o processo de formação inicial nesta perspectiva, Pimenta (1997, pp. 143), colabora
conosco ao afirmar que “a finalidade do estágio é levar os alunos a uma análise das realidades
sobre as quais atuarão e também como fonte de experiências concretas para as discussões
sobre as questões de ensino e procedimentos pedagógicos.
Neste sentido, durante o processo de formação inicial o aluno estagiário, ao chegar à escola
campo de estágio, não entra imediatamente em sala para observar a prática pedagógica
da professora regente sem antes conhecer detalhadamente o regimento da escola, o plano
curricular anual, o planejamento, enfim, ele deve primeiramente compreender a concepção de
educação que está explicitada no projeto pedagógico da escola, pois assim, terá condições de
refletir e teorizar sobre os processos de ensinar e de aprender que se dão no interior da sala
de aula, aproximando-se mais da realidade da sua futura área de atuação profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você pode compreender que o projeto pedagógico apresenta em sua essência duas dimensões
política e a pedagógica. Constitui-se político no sentido de compromisso com a formação
do cidadão para um contexto determinado socialmente e é pedagógico, pois possibilita a
efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão que saiba vivenciar
a sua cidadania de forma responsável e crítica na sociedade. Também destacamos que a
dimensão pedagógica expressa as ações educativas da escola, visando a efetivação de seus
propósitos e sua intencionalidade (VEIGA, 1998).
Indicação de leitura:
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. As Dimensões do Projeto Político-Pedagógico. Campinas, SP:
Papirus, 2004.
Prezado(a) acadêmico(a), os textos que compõem este livro não tratam somente de algumas dimen-
sões do projeto político-pedagógico, mas também de questões teóricas e práticas que orientam a
refl exão sobre a escola, tomando como base as atuais políticas públicas. Portanto, recomendamos a
sua leitura!
PIMENTA, S.G.; LIMA, M.S.L. 2004. Estágio e docência. São Paulo, Cortez Editora, 296 p.
Estágio e docência são compostos por três partes. A primeira apresenta o estágio como campo de
conhecimento, visão recente para a pesquisa sobre formação docente no Brasil. A segunda parte da
obra analisa o estágio, a formação inicial e a formação continuada dos professores. E, fi nalmente, a
terceira parte apresenta os planos e projetos de estágios em forma de sugestões para os interessados.
O livro pretende ser uma colaboração para introduzir de forma defi nitiva o estágio como um dos com-
plexos componentes que envolvem a formação docente e que deve ser estudado. O livro discute e
aponta caminhos – não como uma prescrição – para as questões que norteiam a problemática relação
teoria e prática na formação docente.
Na primeira parte, é elaborada a trajetória histórica de como o estágio sempre foi identifi cado nos
cursos de formação, como a parte prática apenas, reforçando, deste modo, a visão dicotômica na
formação docente entre teoria e prática. As autoras apontam uma alternativa para este enfoque tradi-
cional, sugerindo que a prática de ensino/estágio supervisionado seja vista como uma atividade que
possa ser refl exiva e não deva ser separada da teoria e da prática e vice-versa.
O livro insere uma novidade no campo de pesquisa sobre formação docente quando coloca o estágio
como pesquisa e pesquisa no estágio como novas possibilidades de se ampliar os conhecimentos
sobre a formação inicial/acadêmica dos professores no Brasil. Esta abordagem, ou nova abordagem,
centra-se na concepção de professor crítico-refl exivo. Desta forma, o estágio não é analisado apenas
como um mero componente curricular dos cursos de formação docente.
Ainda na primeira parte, no capítulo dois, é dada ênfase ao estágio como componente de grande
importância para a construção da identidade profi ssional do futuro docente. Mais uma vez, as autoras
ampliam as possibilidades de se “enxergar” o estágio nos cursos de formação docente.
No capítulo três da primeira parte, as autoras fazem algumas considerações importantes acerca da
Indicação de Filme
Prezado(a) acadêmico(a), para compreender um pouco sobre as ações na escola é interessante as-
sistir ao fi lme indicado. Como o professor constrói sua prática, com base em quê? O que entra jogo
nas instituições escolares quando temos múltiplas visões e interesses? Qual o papel da família no
processo educacional?
Título: O Clube do Imperador
Tempo de Duração: 109 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2002
Direção: Michael Hoffman
Música: James Newton Howard
Sinopse:
Um professor apaixonado por seu trabalho tem sua vida modifi cada após conhecer um novo aluno,
com quem inicialmente trava uma guerra de egos, mas acaba desenvolvendo uma grande amizade.
1) A partir dos fundamentos teóricos tratados nesta disciplina, conceitue “projeto pedagógico”.
É nessa dimensão da provisoriedade que buscamos delinear, neste estudo, reflexões para
o processo de formação inicial de professores, na expectativa de contribuirmos com as
discussões que estão sendo realizadas sobre a formação dos profissionais da educação
básica, como também cooperarmos para a formação de professores que farão de sua prática
pedagógica e social um processo contínuo de investigação, primando, assim, pela qualidade
do processo ensino e aprendizagem.
Dessa forma, nesse percurso vivenciamos momentos de estudos nos quais realizamos um
resgate histórico do surgimento das disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado
a partir dos dispositivos legais e de cada época. O estudo histórico e legal desses componentes
curriculares, particularmente no curso de Pedagogia, revelou uma trajetória marcada por
influências políticas, econômicas e sociais em diferentes momentos da história deste curso
no Brasil.
Também, para que você realize o seu Estágio de forma mais segura e com a fundamentação
teórico-prática, discutimos questões relacionadas ao dossiê de estágio, planejamento, projeto
pedagógico e outros assuntos que circundam o processo de formação docente e prática
pedagógico do profissional da educação.
Neste sentido, durante a produção deste material, pensamos a formação do pedagogo como
um processo no qual a teoria e a prática, a reflexão e a ação sejam elementos fundamentais
no seu processo de formação, possibilitando-lhe tornar-se pesquisador de sua ação, um
profissional reflexivo que investiga constantemente sua prática principalmente na efetivação
da práxis realizada por meio da relação entre os fundamentos teóricos e prática vivenciada
nas escolas, campo de estágio.
Dessa forma, esperamos ter colaborado no seu processo de formação, principalmente que
a partir das reflexões realizadas nesta disciplina o estágio constitua para você um espaço e
tempo realmente significativo no seu percurso de formação inicial.
Abraços,
ALARCÃO, Isabel. Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001.
ALMEIDA, Maria Isabel de. Ensino com pesquisa na licenciatura como base da formação
docente. In: ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 14., 2008, Porto
Alegre. Anais. Porto Alegre, 2008. pp. 473-487.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Magia e técnica. Arte e política. São Paulo: 1987.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros
Passos, 28o ed., 1993.
BRANDÃO, Z. (org.) A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez, 2002. p.
75-87.
CANDAU, Vera M.; LELIS, Isabel A. A relação teoria-prática na formação do educador. In:
CANDAU, Vera M. Rumo a uma nova didática. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
CANDAU, Vera Maria. Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A,
2000. pp.131-47.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Editora
Cortez, 1996.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
FREITAS, Luis Carlos. Neotecnicismo e Formação do educador. In: ALVES, Nilda (org.).
Formação de Professores Pensar e Fazer. São Paulo, Cortez, 1992.
FREITAS, Helena Costa L. de. O trabalho como princípio articulador na prática de ensino
e nos estágios. São Paulo: Papirus, 1996.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Editora Ática, 2001.
GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia histórico-Crítica. 2. ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2007.
HERNANDEZ, Fernando et al. Inovações: aprendendo com as inovações nas escolas. Porto
Alegre: ArtMed, 2000.
KULCSAR, Rosa. O Estágio Supervisionado como atividade integradora. In: PICONEZ, Stela
C. Bertholo (Org.). A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado. São Paulo: Papirus,
1991. pp. 63-74.
LIBÂNEO, Carlos José. Produção de Saberes na escola: Suspeitas e apostas. In: CANDAU,
Vera Maria. Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p.1145.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 7. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1998.
MACIEL, Lizete Shizue Bomura. A investigação como um dos saberes docentes na formação
inicial de professores. In: NETO, Alexandre S.; MACIEL, Lizete Bomura. Desatando os nós
da formação docente. Porto Alegre: Mediação, 2002. pp. 79-92.
MIRANDA, Maria Irene; SILVA, Lazara Cristina da. Estágio Supervisionado e Prática de
NÓVOA, Antônio (coord.): Os professores e sua formação. 2. ed., Lisboa, Nova Enciclopédia,
1994.
PARO, V.H. Administração escolar: introdução crítica. 11. ed. São Paulo: Cortez Editora,
2002.
PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais. Educação &
Sociedade, Campinas, ano 20, n. 68, pp. 109-125, dez. 1999.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores. São Paulo: Cortez, 1997.
PIMENTA, Selma Garrido (coord.). Pedagogia, Ciência Da Educação? textos de José Carlos
Libanêo... et.al. – 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
PIMENTA, S. G. (Org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2002.
PIMENTA, Selma Garrido. O pedagogo na escola pública: uma proposta de atuação a partir
da análise crítica da orientação educacional. São Paulo: Loyola, 1988. Disponível em: <http://
www.inep.gov.br/pesquisa/bbe-online/det.asp?cod= 7967&type=M>. Acesso em: 20 abril 2012.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo:
Cortez, 2004.
REZENDE, Lúcia Maria Gonçalves de; VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Escola: Espaço do
Projeto político-pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998. (Coleção Magistério: Formação e
Trabalho Pedagógico).
RIOS, Terezinha de Azeredo Rios comenta que: “A aula não é algo que se dá, mas que se
faz, no trabalho conjunto de professores e alunos” - COMPREENDER E ENSINAR, por uma
docência da melhor qualidade, Cortez, 2001, p. 27.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 12. ed. Campinas: Autores
Associados, 1996.
SAVIANI, D. Escola e Democracia. 30. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1995.
SAVIANI, D.: Tendências e correntes da educação brasileira. In: MENDES, D. T.: Filosofia da
educação brasileira. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, pp. 19-47.
SFORNI, Marta Sueli de Faria; GALUCH, Mara Terezinha Bellanda. Ensino, pesquisa e
extensão através do Estágio Supervisionado. In: SEMANA DE PEDAGOGIA, 10., 1999,
Maringá. Anais. Maringá, 1999. pp. 239-243.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro; RESENDE, Lúcia Maria Gonçalves de (Org.). Escola: espaço
do projeto político-pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998.