Livro 07 Sobre Direito e Atualidades Coletânea de Ensaio e Artigos
Livro 07 Sobre Direito e Atualidades Coletânea de Ensaio e Artigos
Livro 07 Sobre Direito e Atualidades Coletânea de Ensaio e Artigos
(COORDENADORA)
SOBRE ATUALIDADES DO
DIREITO
Coletânea de ensaios e artigos
1ª Edição
MARIANA,
FUPAC-MARIANA
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN: 978-85-98974-24-8
Coletânea de textos do 7º Concurso de Ensaios e de Artigos Acadêmicos
da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Mariana.
17
CONSIDERAÇÕES SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DO PARQUE
NATURAL MUNICIPAL ARQUEOLÓGICO DO MORRO DA
QUEIMADA PARA MONUMENTO NATURAL MUNICIPAL
ARQUEOLÓGICO DO MORRO DA QUEIMADA
RESUMO:
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa objetiva analisar a criação/implementação
do Parque Natural Municipal Arqueológico do Morro da
Queimada e avaliar proposta de transformação da categoria da
unidade.
18
Tal unidade de conservação tem por finalidade, além da
proteção dos seus recursos naturais, a proteção aos bens
culturais arqueológicos inseridos em seu perímetro. A
discussão de sua criação visou especificamente coibir a
ocupação urbana desordenada das ruínas existentes.
Muito embora a referida Unidade de Conservação tenha
sido criada por lei, verifica-se que tal criação não atendeu aos
requisitos da Lei Federal nº 9.985/00, lei que institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Ademais, a criação do Parque restringiu-se à própria lei,
não tendo sido efetivamente implementado pelo Poder Público.
Esta situação deu origem a uma Ação Civil Pública ajuizada
pelo Ministério Público de Minas Gerais (autos nº
0461.12.000020-7), que também será objeto de exame deste
artigo.
Aprecia-se, por fim, a proposta de alteração da categoria
da unidade de conservação, que passaria a ser configurada
como Monumento Natural, tal transformação poderá gerar um
efeito positivo em sua implementação na medida em que reduz
os custos de regularização fundiária sem prejudicar os objetivos
de conservação.
Apresenta-se neste estudo um levantamento da
legislação relativa à Unidade de Conservação, bem como foram
examinados os documentos constantes da Ação Civil Pública
mencionada.
Tal pesquisa se justifica pela necessidade de maior
consideração dos aspectos jurídicos durante o processo de
19
implantação de uma unidade de conservação. Muitas vezes tais
espaços são criados sem observância à norma e sem atenção às
consequências de sua Constituição.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. HISTÓRICO DO MORRO DA QUEIMADA
A busca e descoberta dos metais preciosos no interior do
Brasil foi o principal fundamento da povoação e articulação das
regiões meridionais da antiga colônia portuguesa. De acordo
com FURTADO (1987):
20
A ocupação iniciou-se e desenvolveu-se a
partir da descoberta de abundantes
depósitos de ouro aluvionar no final do
século XVII, tendo rapidamente se tornado
o segundo maior centro populacional da
América Latina e também capital da
Província de Minas Gerais. O auge da
corrida do ouro ocorreu nas primeiras
décadas do século XVIII, com intensas
atividades mineradoras subterrâneas e a
céu aberto, em vales e encostas,
principalmente na Serra de Ouro Preto,
limite norte da atual cidade.
21
a futura Vila Rica, povoando-a de
forasteiros ávidos. (BANDEIRA, 1963)
24
e a seguinte descrição sumária: “Sítio arqueológico de
inestimável valor, por ser um testemunho material das
primeiras tipologias arquitetônicas da cidade e guardar
preciosos registros da exploração de ouro no início do século
XVIII”.
Posteriormente, a Lei 836/2013 alterou dispositivos da
Lei 465/08, notadamente alterou a denominação do Parque
para Parque Natural Arqueológico Municipal do Morro da
Queimada e o perímetro do Parque passando a sua área para
66,5595 ha.
Em 2015, foi publicada a Lei nº 966/2015 que revogou
dispositivos visando adequar a Lei nº 465/08 à Lei Federal nº
9.985/00, lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC).
Importante destacar que a criação do Parque pela Lei
Municipal nº 465/08 não observou a Lei do SNUC, tal fato é
visível pela própria denominação dada ao mesmo, uma vez que
nas categorias previstas de unidades de conservação não há
previsão Parque Arqueológico, mas sim Parque Natural. A
denominação do Parque foi objeto das duas alterações
legislativas, até se chegar ao hoje Parque Natural Municipal
Arqueológico do Morro da Queimada (PNMAMQ) 3.
26
A implantação do cercamento e sinalização
do Parque Arqueológico Municipal Morro
da Queimada, no prazo de 90 dias,
conforme projeto de fls. 73/74;
A designação, no prazo de 60 dias, de um
gerente e quatro guarda-parques para
atuação exclusiva no Parque Arqueológico
Municipal Morro da Queimada;
A eleição e posse do Conselho
Administrativo do Parque Arqueológico
Municipal Morro da Queimada, no prazo
de noventa dias;
A retirada, no prazo de trinta dias, de
todos os resíduos sólidos (restos de
material de construção e lixo doméstico)
depositados irregularmente dentro da área
do Parque, inclusive dentro de sarilhos;
A disponibilização ao Parque Arqueológico
Municipal Morro da Queimada, no prazo
de noventa dias, de pelo menos um veículo
novo, preferencialmente tracionado, para
realização de vistorias e vigilância;
A remessa a esse juízo, bimestralmente de
todas as atas do conselho administrativo,
pareceres técnicos, autos de fiscalização e
infração e manifestações relacionadas à
implantação e/ou funcionamento do
Parque Arqueológico Municipal Morro da
Queimada.
Em decisão às ff. 91/92 dos autos, a Juíza de Direito da
2ª Vara Cível da Comarca de Ouro Preto reconheceu o fundado
receio de dano irreparável em virtude das invasões, construções
irregulares e depósito e queima de lixo no perímetro do Parque e
deferiu parcialmente o pedido liminar nos seguintes termos:
27
Diante do exposto, DEFIRO
PARCIALMENTE o pedido liminar e
determino nos termos do art. 461, §4º e 5º
do CPC, a implementação pelo Município
de Ouro Preto das medidas especificadas
no pedido liminar de itens A, B, C e D das
ff. 15/16, sob pena de imposição de multa
diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), até
o limite de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais), em caso de descumprimento desta
decisão. No que tange ao item E do pedido
liminar de f. 16, indefiro-o em vista da
ausência de justificativa da necessidade de
veículo novo de preferência tracionado
para a realização das vistorias e vigilância
do Parque, por se tratar de um ônus
excessivo ao Município de Ouro Preto, que
deverá garantir de forma efetiva a
realização da vigilância constante do
Parque. Caberá ao Município prestar
informações bimestralmente ao Ministério
Público de todas as atas do conselho
administrativo, pareceres técnicos, autos
de fiscalização e infração e manifestações
relacionadas à implementação e/ou
funcionamento do Parque.
O Município interpôs agravo de instrumento contra a
referida decisão, tendo sido negado seu provimento pelo TJMG
consoante a seguinte ementa do acórdão:
29
arqueológicos, sendo difícil de vislumbrar quais foram os
parâmetros utilizados para embasar tal delimitação.
Tal situação foi inclusive constatada em material juntado
pelo Ministério Público intitulado “Parque Arqueológico Morro
da Queimada: delimitação do Patrimônio Arqueológico”
elaborado sob a coordenação do Prof. Carlos Magno Guimarães,
que aponta o seguinte às fls. 187 dos autos ao tratar sobre a
denominada área 2:
30
Além disso, a tentativa de cercamento da unidade de
conservação evidenciou a existência de conflitos fundiários,
tendo sido apuradas matrículas inseridas dentro do perímetro
do Parque, sem que houvesse sido instaurada qualquer ação
expropriatória·.
A referida ACP segue em tramitação em fase de instrução
32
2.4. DA ALTERAÇÃO DE CATEGORIA DE UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO
34
situação. Nesta senda, a adoção da categoria Monumento
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da pesquisa realizada, constata-se que a
Constituição do Parque Natural Municipal Arqueológico do
Morro da Queimada ocorreu sem observar a Lei Federal nº
9.985/00 (SNUC), notadamente restou evidente a ausência de
estudos técnicos que permitiriam identificar a localização, a
dimensão e os limites mais adequados para a unidade.
Esta omissão gera consequências que dificultam a
implementação da unidade de conservação, uma vez que não
há uma delimitação clara dos atributos arqueológicos e
naturais do Parque.
35
Além disso, constatou-se a existência de diversas
propriedades particulares inseridas dentro do perímetro da
unidade e a ausência de recursos financeiros para a devida
desapropriação, uma vez que o domínio das terras de Parques
Naturais deve ser público.
A ausência de destinação de recursos públicos para a
gestão e efetivação das unidades de conservação é um problema
que precisa ser enfrentado. Neste sentido, é louvável a iniciativa
do Ministério Público ao ajuizar a Ação Civil Público.
No entanto, a forma de implementação de uma unidade
de conservação deve ser respaldada na participação
democrática e subsidiada por estudos técnicos, com
observância da possibilidade financeira do Poder Público
Municipal, e não por meio de sentença judicial.
Visando superar um aspecto econômico da efetivação das
unidades de conservação, a opção pela categoria Monumento
Natural é bastante indicada, haja vista que permite a existência
de propriedades particulares e até mesmo a utilização das
terras pelos proprietários dentro dos moldes do Plano de
Manejo, o que reduz o custo de regularização fundiária e de
gestão do espaço territorialmente protegido.
Assim, mostra-se oportuna a alteração da categoria da
unidade, sendo certo que tal legislação deverá ser precedida
pelo procedimento administrativo previsto na Lei Federal nº
9.985/00, delimitando-se fundamentadamente os limites da
unidade através de estudos técnicos e promovendo-se ampla
36
consulta pública com a participação dos proprietários e
possuidores dos imóveis afetados.
REFERÊNCIAS:
37
ENSAIO ACERCA DA FUNDAMENTAÇÃO DAS
TUTELAS PROVISÓRIAS A LUZ DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL
1 INTRODUÇÃO
A Constituição da República de 1998 que inaugurou o
Estado Democrático de Direito fora erigida de acordo com a
adoção de um novo paradigma pós-positivista, que acentuou a
39
O objetivo precípuo desse artigo consiste em contribuir
para a mensuração das repercussões do instituto aplicadas as
decisões judiciais emanados em face à propositura de Tutelas
Provisórias pleiteadas perante a Comarca de Ouro Preto/MG
sob a representação do Núcleo de Prática Jurídica da
Universidade Federal de Ouro Preto entre os anos de 2015 a
2018. Apresenta-se como principal hipótese a efetividade do
princípio da fundamentação. Almeja-se com o presente artigo
contribuir para a robustez teórica e pratica acerca do panorama
de aplicabilidade da fundamentação à realidade judiciária.
Adotar-se-á para a consecução do presente artigo de
acordo com Miracy Gustin (2013, p. 28) o método jurídico
teórico. O caminho metodológico percorrerá a analise de
dispositivos pertencentes ao CPC/ 2015 e CR/ 1988, buscando
assim identificar e analisar os pontos fundamentais do
instituto, perquirindo e apresentando, por fim, um panorama
acerca da efetividade do principio da fundamentação.
40
sentença conforme se extrai da dicção do inciso II do artigo 489
do CPC/2015, corroborando para acentuar a
indispensabilidade da motivação para a formação do
pronunciamento judicial.
Para Luiz Guilherme Marinoni (2005, p. 457) “a
motivação, é a explicação da convicção e da decisão”, é na
fundamentação que o Magistrado eivado de um juízo de
imparcialidade demonstra as razões que conduziram a
formação do seu convencimento, segundo Elpídio Donizetti
(2017, p. 95) a fundamentação é essencial “de um lado, para
que se possa aferir em concreto a imparcialidade do Juiz e a
justiça de suas decisões e, de outro, é essencial às partes, para
que elas conheçam as razões da decisão”, contribui também
para a viabilização do acesso ao duplo grau de jurisdição por
meio do qual, de acordo com Daniel Amorim (2016, p. 277) “o
órgão jurisdicional competente para o julgamento do recurso
possa analisar o acerto ou equívoco do julgamento impugnado"
além do efeito imediato aos sujeitos processuais a
fundamentação transcende aos efeitos interpartes refletindo
segundo Michelle Taruffo (2015, p. 23) na opinião pública.
Atento à indispensabilidade da fundamentação para a
legitimidade dos pronunciamentos judiciais, o legislador
positivou por meio do § 1º do artigo 489 do CPC/2015 às
hipóteses em que as sentenças, acórdãos e decisões
interlocutórias não serão considerados fundamentados.
O inciso I do § 1º do art. 489 do CPC/2015 determina
que não será fundamentada a decisão que: “se limitar à
41
indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida”
(BRASIL, 2015), obrigando ao Magistrado a adotar uma postura
mais rígida demonstrando que conhece as singularidades da
lide, afastando o sentenciamento genérico.
Em contra partida o inciso II do art. 489, §1° do
CPC/2015 aduz que as sentenças, acórdãos e decisões
interlocutórias não serão motivados quando: “empregar
conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso” (BRASIL, 2015), destaca-se
que o ordenamento jurídico esbarra com o obstáculo material
de abarcar todas as situações sociais que necessitam de
regulamentação, diante de tal impossibilidade o legislador opta
pela utilização de conceitos jurídicos indeterminados, contudo a
legitimidade de tais conceitos somente será aferida no
pronunciamento judicial nas hipóteses em que o julgador
embasar o seu emprego.
O Inciso III, do § 1º do art. 489 do CPC/2015, considera
como não motivada à sentença que: “invocar motivos que se
prestaria a justificar qualquer outra decisão” (BRASIL, 2015),
esse dispositivo possui como condão primordial a tentativa de
vedação a prática recorrente adotada por Magistrados de
sentenciamento padronizado e estereotipado sem o devido
enfrentamento das singularidades constantes nas lides.
O Inciso IV, do § 1º do art. 489 do CPC/2015, determina
que as sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias não serão
fundamentas quando “Não enfrentar todos os argumentos
42
deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a inclusão
adotado pelo julgador” (BRASIL, 2015), neste diapasão incumbe
ao Magistrado apreciar todas as questões trazidas pelas partes
à lide, ao revés, diante do desconhecimento de alguma questão
as partes são legitimas a invocar o remédio processual
denominado Embargos de Declaração insculpido no artigo
1.022 do CPC/2015 visando a reanalise da lide com o intuito de
abarcar os fatos omissos.
Segundo a dicção do inciso V do § 1º do art. 489 do
CPC/2015 não será fundamentada a sentença quando esta: “se
limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes, nem demonstrar
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos”
(BRASIL, 2015), o dispositivo visa insculpir uma postura critica
aos Magistrados direcionando-os a um estudo histórico dos
procedentes jurisprudenciais a fim de verificar a similaridade
com o caso concreto.
Por fim, o inciso VI do § 1º do art. 489 do CPC/2015
(BRASIL, 2015) enumera a última hipótese na qual a sentença
será considera não fundamentada: “deixar de seguir enunciado
de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demostrar a existência de distinção no caso em julgamento
ou a superação do entendimento” (BRASIL, 2015), o texto
normativo em prol da segurança jurídica induz o
condicionamento da sentença à formação de um entendimento
conciso, no qual o Magistrado deverá pronunciar-se inclusive
43
acerca de precedentes e normativas invocados pelas partes e
inutilizados na sentença.
44
situações em que o autor do pedido é hipossuficiente,
dispensando-se o recolhimento da referida caução, visando
conceder amplo acesso à justiça. Nesse sentido leciona
Alexandre Câmara:
46
Embora o princípio da fundamentação encontre escopo
constitucional no inciso IX do artigo 93 da CF/88 o Código de
Processo Civil optou por enfatizar a necessidade da motivação
por meio dos artigos 11 e 489 do CPC/15, pois esta representa
uma garantia para as partes que o juiz efetivamente conheceu a
lide.
O dever de fundamentação não está atrelado apenas às
sentenças, devendo ao revés, estar presente em todos os atos
processuais que contenham conteúdos decisórios, embora as
Tutelas Provisórias constituam-se de procedimentos
extraordinários devido à necessidade de celeridade, o
Magistrado está condicionado a seguir o tramite ordinário de
sentenciamento, principalmente no que tange a subordinação à
obrigatoriedade de fundamentação das decisões.
Nesse sentido os artigos 298 e 489 ambos do CPC/2015
evidenciam que qualquer decisão que conceder negar, modificar
ou revogar a tutela provisória, o juiz deverá motivar o seu
convencimento de maneira clara para que todos entendam o
teor de sua decisão (BRASIL, 2015). Com isso, observa-se que o
Magistrado deve-se ater aos requisitos de cada uma das tutelas
provisórias e proferir uma decisão motivada conforme orienta o
Código de Processo Civil com o intuito que as partes
identifiquem as razoes que conduziram à decisão a formação do
convencimento judicial.
48
Tutelas Provisórias
Tutela e Curatela Alimentos Provisórios
Guarda Provisória Fornecimento de medicamentos
Negatória de Paternidade Direito das coisas
11% 5%
11% 37%
10%
26%
50
desconformidade com os princípios constitucionais e
processuais. Dentre esses princípios encontra-se a
obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais que
devem estar presentes em todos os provimentos judiciais com
conteúdo decisório inclusive as decisões interlocutórias.
Extrai-se de uma observação inicial que as decisões
analisadas são prolatadas em uma média de duas laudas, não
possuindo um conteúdo material exaustivo, o que não afasta a
possibilidade do Magistrado apreciar e resolver as questões de
fato e de direito que são postas à sua apreciação.
Prosseguindo-se a análise em relação à estruturação da
decisão verificou-se que todas possuem breves relatos da
demanda em uma média de dois parágrafos eivados de todas as
informações pertinentes ao processo, arquitetados de acordo
com uma dinâmica clara possibilitando aos sujeitos processuais
uma rápida identificação do caso concreto.
Após a demonstração de conhecimento das questões
fáticas consubstanciada em um breve relatório, passou-se a
analise do Pedido de Tutela Provisória. Ressalta-se que 45 %
destes pedidos de antecipação de tutela tiveram o seu pleito
indeferido e foram requisitados em processos envolvendo a
temática contratual, do direito das coisas, alimentos provisórios
e fornecimento de medicamentos.
As decisões interlocutórias que versaram acerca do
indeferimento de Tutelas Provisórias requeridas em ações
contratuais, do direito de vizinhança e alimentos provisórios
estavam estruturadas sucintamente e o conteúdo do
51
indeferimento versava apenas na necessidade de dilação
probatória, decidindo o Magistrado pela não concessão da
tutela e pelo prosseguimento ordinário do pleito.
No que tange os pedidos ora indeferidos de alimentos
provisórios, insta salientar que os pedidos pleiteados na
exordial estavam cumulados com o pedido de investigação de
paternidade, demandando efetivamente a necessidade de
diligencias probatórias da paternidade para posterior
cominação de verbas alimentares. Contudo o Magistrado
poderia ter assumido uma postura de adoção da
fundamentação do indeferimento mostrando o conhecimento a
respeito da lide, ao invés de restinguir-se apenas a necessidade
de dilação probatória.
Em contrapartida as decisões interlocutórias que
indeferiram pedidos liminares de fornecimento de
medicamentos contra os Entes Públicos tiveram uma
estruturação divergente das decisões anteriores, caracterizada
por um conteúdo extenso, por uma análise minuciosa e pela
impugnação de todos os documentos comprobatórios e laudos
médicos juntados, ressalta-se, contudo a subjetividade da
fundamentação de tais impugnações, uma vez que, o
Magistrado não possui conhecimentos específicos relacionados
às ciências medicas, restringindo à decisão a afirmação de
inexistência de urgência citando de forma genérica o artigo 300
do CPC/2015.
Quanto ao conteúdo normativo da negativa estava
estruturado nos preceitos constitucionais que versam acerca da
52
separação dos poderes, afirmando que a concessão da medida
em caráter liminar provocaria uma usurpação dos poderes
legislativos por meio da criação de politicas públicas no âmbito
do poder legislativo.
Ao revés, as decisões interlocutórias que concederam os
pedidos de antecipação de tutela, caracterizavam-se pela
utilização de uma linguagem clara e sucinta, verificou-se a
demonstração de conhecimento acerca do material probatório
juntado aos autos e da utilização para a fundamentação da
decisão do conteúdo dos dispositivos legais. Majoritariamente
os pedidos concedidos versavam acerca de tutela, curatela e
guarda e alimentos provisórios.
A decisão fora embasada utilizando-se do critério
cronológico no que tange a necessidade de concessão da guarda
provisória, e com fulcro nos laudos médicos para a
comprovação da imprescindibilidade de deferimento da tutela e
da curatela. Quanto à fundamentação normativa, o Magistrado
remeteu-se ao artigo 300 do CPC/2015 para determinar o
enquadramento da urgência do pedido e da probabilidade do
direito que fora atestada pelas provas documentais.
Contudo há que se ressaltar, que a concessão de tais
medidas influi diretamente na esfera personalíssima dos
sujeitos vulneráveis que necessitam de acompanhamento,
podendo tal medida, refletir negativamente quando concedida a
um tutor, curador ou guardião que não possui condições de dar
esse suporte a vulnerável. Neste ponto fora inobservado na
53
decisão jurisdicional uma analise nem sequer previa da
viabilidade e da capacidade para tutelar e curatelar.
Ressalta-se que as Ações de Tutela e Curatela foram
pleiteadas antes da vigência da Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015 que modificou a parte geral do Código Civil de 2002 e o
Estatuto da Pessoa com Deficiência no que concerne aos
direitos da pessoa com deficiência, é importante tecer
considerações acerca das modificações do Estatuto da pessoa
com deficiência - Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 – em que
o mesmo fornece as pessoas com deficiência a dignidade da
pessoa humana, pois os desloca do patamar de absolutamente
incapazes para a posição a ser definida no caso concreto, em
que se verificará a necessidade de curatela, tutela ou nenhum
instituto de acordo com a análise específica de um determinado
indivíduo e com isso, a possibilidade ou negativa de uma
interdição (BRASIL, 2015).
Com a inserção das modificações referidas alhures,
cogita-se uma superveniente diminuição do número de Ações
de Tutela e Curatela, mitigando as discrepâncias e lacunas
procedimentais das ações envolvendo a temática em foco.
Quanto ao conteúdo normativo, restou-se verificado para
fundamentar os conteúdos decisórios, estes não foram inseridos
como uma simples paráfrase, encontrando-se a efetivação de
uma relação entre o positivado e o caso concreto. Contudo
pondera-se por meio do estudo das sentenças objeto da
presente pesquisa, a necessidade de adoção pelos Magistrados
54
de uma postura mais cautelosa e criteriosa ao valer-se das
normativas legais.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
56
GUZZO, Fabiano César Rebuzzi. Núcleo de Assistência
Judiciária da Universidade Federal de Ouro Preto: uma
importante experiência extensionista. IN: Maria Tereza Fonseca
Dias (Org.), Miracy Barbosa de Souza Gustin (Pref.). Mediação,
Cidadania e Emancipação social. A experiência da implantação
do Centro de Mediação e Cidadania da UFOP e Outros ensaios.
Belo Horizonte: Fórum, 2010, Cap. 1, p. 209-217.
57
ANÁLISE DO ETHOS E DO PATHOS NO EPISÓDIO
“CONDUTA MÉDICA”, DO SERIADO BULL
Magna Campos1
Maria Cláudia Pires Fernandes2
RESUMO:
Este texto tece análise sobre o sistema retórico, mais
especificamente, sobre a questão do ethos e do pathos no
episódio “Conduta Médica”, do seriado Bull. A análise foi feita
cena a cena, evidenciando-se o tipo de ethos ou de pathos que
pode ser verificado em cada situação. O episódio mostrou-se
bastante prolífero em relação aos dos meios de argumentação
subjetiva, e evidencia como esse tipo de argumentação está
engendrada nas atividades humanas e que, muitas vezes, não
são percebidas ou bem utilizadas.
INTRODUÇÃO:
Em uma série de outros textos recentemente publicados,
Campos (2015a3; 2015b4; 20175; 2018a6, 2018b7), já se tratou
62
Decorre daí que a demonstração e as inferências formais
são, portanto, corretas ou incorretas, já os argumentos, as
razões fornecidas a favor ou contra uma tese têm maior ou
menos força e fazem variar a intensidade de adesão do auditório
(PERELMAN, 1998). Assim, a argumentação não visa à adesão a
uma tese porque ela é exclusivamente verdadeira, “pode-se
preferir uma tese à outra por parecer mais equitativa, mais
oportuna, mais útil, mais razoável, mais bem adaptada à
situação” (PERELMAN, 1998, p.156).
A argumentação, como bem propõe Perelman (1998),
preocupa-se com o discurso dos valores e não com o discurso
do real, e explica que,
64
ETHOS PATHOS
(Caráter/imagem) (Emoção/ paixão)
Subjetividade
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Objetividade
LOGOS
(Razão, raciocínio lógico)
65
2.1 AS PROVAS RETÓRICAS SUBJETIVAS: ETHOS E
PATHOS
O ethos é a prova retórica associada ao caráter do orador
(portanto, ligada à imagem, à performance, à figura daquele que
locutor. Relacionada à apresentação de si no e pelo discurso de
modo a inspirar confiança, respeito, competência e
credibilidade junto ao auditório, para que este possa confiar em
seu juízo e aceitar o que se diz (digno de fé).
Segundo Reboul (2004), sejam quais forem os
argumentos lógicos, eles nada obtêm sem a confiança inspirada
pelo ethos. É preciso, por exemplo, mostrar que se acredita no
próprio cliente, na causa – construir uma imagem crível pelo
discurso.
O discurso valoriza o caráter ético do orador, o que torna
mais provável que o auditório venha a ser “seduzido” pelas
ideias/argumentos do orador como sendo “verdadeiras”. Assim,
o orador deixa transparecer uma boa imagem de si mesmo,
uma imagem digna de fé, mesmo que isso não seja condizente
com a verdade. Afinal, como ensina a análise do discurso, ao
falar, eu me falo e ao dizer, o sujeito se diz.
Ruth Amossy (2005) propõe algumas classificações para
o ethos que podem ser assim sistematizadas:
66
Prévio: pré-construído, pré-existente ao
discurso.
Ethos
Discursivo: construído à medida que se
fala.
67
3. ANÁLISE DO EPISÓDIO: ETHOS E PATHOS EM
“CONDUTA MÉDICA”
69
No julgamento, a advogada começa a interpelar os
jurados sobre o “personagem histórico que mais admira”, a fim
de que seja construído um ethos prévio para o Dr. Bull e a sua
equipe. Após essa análise, solicitaram a retirada ou a
permanência para que sejam usados de uma forma favorável ao
julgamento, tendo em vista o perfil pragmático do réu. Com a
ajuda da Cable McCrory, Hacker, especialista em análise de
perfis digitais, ela juntamente com a Marrisa e o Dr. Bull
realizam “uma leitura” dos jurados, a fim de que os perfis se
cruzem com o Terrence. Através dos ethos prévio construíram
os perfis dos jurados e empregaram os nomes dos deuses da
mitologia grega.
Após a investigação do vídeo do momento da cirurgia, a
equipe Trial analisa, através do pathos da enfermeira, que se
apresenta confusa no momento em que a paciente sofre uma
perda de sangue e é auxiliada pelo médico na colocação da
bolsa de sangue correta. E a Danny James, Ex-FBI, especialista
em investigação, declara, após várias conversas realizadas com
membros do hospital, que o Terence omitiu informações e que
usou da sua influência para montar a equipe cirúrgica.
Com o júri formado, constata-se que o mesmo possui
ethos projetivo em que eles demonstram serem egocêntricos.
Dr. Bull elabora junto com a advogada a criação do ethos prévio
da principal testemunha da acusação, Dr. Talbertison, cirurgião
ginecológico sênior, em que apontará que houve uma falha nos
procedimentos do Terence, provocando uma reação em que será
observada pelos “deuses” (jurados denominados pelo Dr. Bull,
70
como na mitologia grega). Sugere a advogada que crie um
pathos projetivo, através da linguagem especifica instigando nos
“deuses” o raciocínio comum. Bull expõe o ethos discursivo dos
jurados: ”Zeus” que é um banqueiro de investimento que
responde uma análise estatística, na jurada “Athena”
instigando o lado treinadora dela que gosta de vencer, o
“Dionísio”, crítico gastronômico, colocando elementos como
cozinha e fogo, fazendo um paralelo do seu trabalho a realidade
ali imposta. Após as considerações, ela cria nos jurados o
pathos efetivo apresentando dados estatísticos em comparação
aos procedimentos realizados entre o Dr. Talbertison e ao Dr.
Terence, evidenciando que ele foi mais eficaz e com forte indício
de salvar a vida da paciente conforme o número de cirurgias
que ele realizava.
A autora Érica cria o ethos do cirurgião Terence como
sendo indiferente, que tem um ego grande e não prestou a
devida atenção após o ocorrido. Causa o pathos nos jurados no
momento em que afirma que seu único desejo era ser mãe e
este foi aniquilado causando uma mutilação.
Dra. Library compara o Terence a grandes nomes como
Churchil, Steve Jobs construindo um pathos de que
desempenho de alto nível e um ego de alto nível andam lado a
lado. Dr. Bull observa que o “deus” Dionísio não estava
prestando a atenção no depoimento.
Dr. Bull ao encontrar com o “deus” Dionísio menciona
que ele tem chamado a atenção e está muito exposto, gerando
um pathos projetivo quando declara que poderá ser indiciado,
71
sua pena poderá ser de 05 (cinco) anos, teria que procurar um
advogado para o defender e, caso continuasse fazendo as coisas
erradas, contaria a juíza sobre o ocorrido. Com isso, o “deus”
Dionísio solicitou a Dr. Bull que o ajudasse, assim sendo, pediu
que não aparecesse no tribunal.
No decorrer do julgamento, o deus “Dionísio” não se
apresentou junto ao corpo de jurados e este foi substituído pela
“deusa” “Afrodite”, apontada o ethos pelo Dr. Bull, como
terapeuta sexual, causando um consenso no júri e “possuindo
habilidade para unir o Monte Olímpio”.
Após as análises da McCrory, constatou-se que não
houve erro médico e sim falha no braço robótico denominado
Atticus, evidenciando que o software havia sido corrigido e o
“Deus Dionísio” havia sido subornado para comprar o veredicto
de inocente, a fim de que não denegrisse a imagem do Dr. Grey
Wicht como “jogada” de marketing, como explica o Dr. Bull.
Dr. Grey Wicht, declarado como engenheiro chefe da
Atticus, expôs o ethos do braço robótico que levou 12 anos e
$100 milhões de dólares para ser desenvolvido e sem
apresentar nenhum erro médico.
Dra. Library provoca um pathos em todos no momento
que sugere que o braço seja utilizado, conforme na cirurgia,
comprovando que o aparelho sofreu alterações inocentando o
réu.
A equipe busca elementos que auxiliem na aceitação de
todos os deuses que o réu é inocente, mas Dr. Bull salienta que
os procedimentos e a tecnologia não são o principal motivo da
72
acusação e sim a forma como o cirurgião Terence se portou
mediante a paciente. Então, embasado no análise do ethos da
“deusa” “Afrodite” elaboram um ethos discursivo do Terence,
com a intervenção do Benny Colón, advogado, conselheiro
jurídico, especialista em preparar o júri espelho, e que já havia
o interrogado antes, porém sem sucesso, para que construí um
pathos para os jurados e se dirigindo a eles de que ele
reconhecesse que “não pode consertar tudo”, que ele fez de tudo
para salvá-la, apresentado elementos médicos que
influenciaram na cirurgia, mencionou que não sabe lidar com
as emoções e o demonstrou um ethos efetivo em que é um
excelente profissional e que estudou para isso.
Finalizando com a Dra. Library, dirigindo-se aos jurados,
construiu um pathos de que é mais necessário um médico
eficiente do que aquele que é amigo e simpático e que um dia
poderia ser eles, o jurado, a ser “socorrido” pelo o Dr. Terence.
Os jurados o declaram inocente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Através da análise do seriado Bull, nota-se que o poder
argumentativo de ethos e pathos está engendrado nas
atividades humanas e que, muitas vezes, não é percebido e bem
utilizado.
As ferramentas jurídicas tais como leis e jurisprudências
não foram tão exploradas, pois o sistema retórico satisfez os
elementos da narrativa e proporcionou uma análise muito mais
ampla do caso apresentado.
73
Assim, comprovamos a importância do sistema retórico a
sua teoria e a sua prática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
74
JUSTIÇA RESTAURATIVA: UM NOVO PARADGMA DE
SISTEMA DE JUSTIÇA
RESUMO
INTRODUÇÃO
77
pena não impede a reincidência ao crime, nem tão pouco
contribui para a ressocialização do apenado, neste sentido, o
CNJ considera como um dos pontos centrais da Justiça
Restaurativa,
78
reparação, e para a comunidade a cooperação em participar de
forma ativa na compreensão e resolução do conflito.
Como nos ensina o professor Howard Zehr em sua obra
Trocando as Lentes,
79
Inspirada em modelos de justiça tribal, a
Justiça Restaurativa nos desafia a
ressignificar os valores fundamentais que
condicionam as atuais práticas de Justiça,
sobretudo no enfrentamento da violência e
da criminalidade. Além do campo da
justiça institucional, essas reflexões
permitem visualizar e reconfigurar a forma
como atuamos nas atividades judicativas
que exercemos conosco mesmos e com
nossos relacionamentos, nas instâncias
informais de julgamentos de que
participamos cotidianamente em
ambientes como a família, escola ou
trabalho. (BRANCHER, 2011)
80
o conceito de Justiça, contribuindo de forma marcante o estudo
teórico do tema, criando e dirigindo iniciativas chamadas como
Centro de Justiça Comunitária, programa que reconcilia
vítimas e infratores nos Estados Unidos.
Em 2012, o Conselho Econômico e Social da ONU, na
37ª Sessão Plenária em 24 de julho, editou a Resolução
2002/12 que trataria dos princípios básicos para utilização de
programas de justiça restaurativa em matéria criminal, que
traduz como terminologia “Significa qualquer que use processos
restaurativos e objetive atingir resultados restaurativos”,
definindo processo restaurativo como “Qualquer processo no
qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer
outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um
crime, participam ativamente na resolução das questões
oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador”.
No brasil, o Conselho Nacional de Justiça, por
influência da ONU editou a Resolução 225/2016,
recepcionando os princípios norteadores para promoção da
cultura da paz, desde então, vem recomendando aos tribunais,
práticas da Justiça Restaurativa como forma de resolução do
conflito.
81
uma violação entre o agente que comete a infração, a vítima e a
comunidade, cabendo à Justiça incentivar as partes envolvidas
no conflito a dialogarem com objetivo de se chegar a um acordo,
como parte centrais. Com isso, a Justiça seria avaliada por sua
competência em contribuir com que o agressor assuma a
responsabilidade do delito, assim como os resultados sociais
sejam alcançados.
Este conceito é diferenciado do conceito de punir do
Estado, tendo em vista que na Justiça Restaurativa, o Estado
apenas atua como “mediado/orientador” do círculo
restaurativo, de modo que não há de forma alguma a imposição
ao infrator, e sim uma abertura para que o próprio agressor,
assuma sua responsabilidade.
Zehr, demonstra através de um quadro, as seguintes
comparações relacionado às formas de ver o crime para a Lente
Retributiva e para a Lente Restaurativa
82
Podemos observar que tanto a justiça Retributiva
quando a Restaurativa tem sua importância, não se trata de
uma substituir a outra, mas sim de complementar, para que se
alcance resultados mais eficientes para todas a sociedade.
5. OS PROCESSOS RESTAURATIVOS
84
da empatia, da cooperação por parte de terceiros envolvidos no
contexto do conflito.
Há indicadores favoráveis a efetividade dos círculos
restaurativos para promoção da cultura da paz, do acesso à
justiça de forma eficaz.
Diferentemente do processo de mediação, os processos
restaurativos possuem um caráter voluntário, envolve
participação da vítima, do ofensor, além de amigos de ambos e
família, como na mediação possui o mediador, no círculo
restaurativo conta com o apoio de um facilitador, que apenas
coordena a solução do conflito, sem impor alguma alternativa
de solução do conflito às partes. Este procedimento embora seja
semelhante ao da mediação, diferencia-se quanto à participação
do facilitador e ao mesmo tempo a ampla participação da
família, amigos e comunidade, o que não ocorre na mediação.
O CNJ, após a Resolução 225/2016 vem promovendo
cursos de Justiça Restaurativa através da Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, atendendo todos
os tribunais estaduais e federais, para que sejam difundidos os
Fundamentos, Princípios e Valores da J.R. O quadro abaixo
desenvolvido para um melhor entendimento das fases de um
círculo restaurativo.
85
Possui diversos benefícios, como a construção de uma
sociedade que valoriza a cultura da paz, não só no âmbito
jurídico, mas também no âmbito escolar, institucional, privado,
enfim, em todas as relações pessoais, com a prática da
cooperação e da empatia para contribuir para não só colocar
fim em processos judiciais, mas também nos conflitos.
5.1 PRINCÍPIOS
86
justiça criminal"; recordando também sua Resolução 2000/14,
de 27 de julho de 2000, intitulada "Princípios básicos sobre a
utilização de programas de justiça restaurativa em matéria
criminal", o qual conta com o seguinte anexo e preambulo:
Anexo
Princípios básicos sobre a utilização de
programas de justiça restaurativa em
matéria criminal
Preâmbulo
Recordando que tem havido um
significativo aumento global de iniciativas
relacionadas à justiça restaurativa,
Reconhecendo que tais iniciativas
frequentemente baseiam-se em formas
tradicionais e nativas de justiça que veem
o crime como fundamentalmente danoso à
pessoa,
Enfatizando que a justiça restaurativa é
uma resposta evolutiva ao crime que
respeita a dignidade e a igualdade entre
cada pessoa, constrói a compreensão e
promove a harmonia social por meio da
recuperação das vítimas, dos infratores e
das comunidades,
Destacando que este enfoque permite que
aqueles afetados pelo crime compartilhem
abertamente seus sentimentos e
experiências, tendo como objetivo o
atendimento de suas necessidades,
Consciente de que tal enfoque confere às
vítimas a oportunidade de obter reparação,
sentir-se mais seguras e alcançar uma
conclusão para o problema; permite que os
infratores compreendam melhor as causas
87
e as consequências de seus
comportamentos e assumam, de forma
significativa, responsabilidade por suas
ações; e permite que as comunidades
entendam as causas do comportamento
criminoso, promovam o bem-estar
comunitário e previnam outros crimes
Notando que a justiça restaurativa
proporciona um variado leque de medidas,
que são flexíveis em sua adaptação aos
sistemas criminais estabelecidos e que os
complementam, levando em consideração
particularidades legais, sociais e culturais,
Reconhecendo que a utilização da justiça
restaurativa não obsta o direito de o
Estado processar supostos infratores.
89
até mesmo, a vítima é representada por outra pessoa que
também tenha sofrido o dano por um crime parecido, mas não
com o mesmo réu, o que também acaba preservando a vítima
em casos em que esta não deseja exposição.
90
voluntário ou indicado por entidades
parceiras;
III – as práticas restaurativas terão como
foco a satisfação das necessidades de
todos os envolvidos, a responsabilização
ativa daqueles que contribuíram direta ou
indiretamente para a ocorrência do fato
danoso e o empoderamento da
comunidade, destacando a necessidade da
reparação do dano e da recomposição do
tecido social rompido pelo conflito e as
suas implicações para o futuro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
92
para prevenir a reincidência ao crime, o que acaba
sobressaindo é o isolamento do apenado, assim como sua
estigmatização frente à sociedade,
Cumpre salientar a importância que a empatia e a
cooperação possuem nas relações pessoais, e que estas são
práticas necessárias para que haja a mudança social e cultural
que tanto precisamos, por meio da proposta de um novo
paradigma de sistema de justiça proporcionado pela Justiça
Restaurativa, com apoio da mediação, dos círculos
restaurativos.
Através da Justiça Restaurativa, alcançaremos uma
sociedade mais harmoniosa e equilibrada, onde o ofensor se
responsabilize verdadeiramente do dano que causou e assim
possa repará-lo, bem como, deixar que a vítima se expresse,
exponha suas necessidades seus sentimentos com relação ao
fato danoso. Aos poucos contribuirá para que haja de fato
reconstrução dos laços rompidos dentro da sociedade,
sobretudo do resgate de valores humanos, que foram de certa
forma se perdendo ao longo dos conflitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
93
BRASIL. Cartilha do Programa Justiça para o século 21- TJ
RS – Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/08/03fae
bc99e4d18816aa549f0ff41307a.pdf : Acesso em dezembro de
2018
94
BRANCHER, Leoberto Narciso. Justiça Restaurativa: a
Cultura de Paz na Prática da Justiça. 2011. Disponível em
http://jij.tjrs.jus.br/justica-restaurativa/cultura-de-paz-na-
pratica-da-justica : Acesso em dezembro de 2018
SENNETT, Richard. Juntos. Os rituais, os prazeres e a
política de cooperação. [Tradução de Clóvis Marques] Rio de
Janeiro. Record, 2012.
95
O TRATAMENTO JURÍDICO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS
ELETRÔNICOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM VIGOR
RESUMO
INTRODUÇÃO
Os títulos de créditos consistem em um documento
importante no ramo comercial, para o Direito e toda uma
sociedade, e, consequentemente, contribui significativamente
97
desmaterialização dos títulos de créditos eletrônicos,
considerando os avanços tecnológicos, suas benesses e
consequências na perspectiva jurídica, sob a égide da legislação
brasileira vigente. Igualmente, como objetivos específicos
impede analisar se a realização dos negócios na forma virtual
tem alcançando seu fim almejado no Direito Comercial, verificar
como a legislação atual tem tratado os títulos de créditos
eletrônicos, tendo em conta o aspecto da segurança jurídica e
demonstrar as benesses da desmaterialização de tais títulos, de
acordo com os avanços da tecnologia e caracterizar o
tratamento jurídico dos títulos de créditos desmaterializados.
Neste seguimento, não se pode olvidar que a tecnologia
de informação trouxe ao Direito Comercial mecanismos que
possibilitam o aumento de circulação de riquezas através dos
títulos de créditos desmaterializados. Em virtude disso, os
tradicionais documentos em papéis passaram a ser
substituídos e reproduzidos por documentos virtuais,
entretanto, estes possuem o mesmo alcance jurídico que os
outros. Tal temática ainda não recebeu a devida atenção
acadêmica, sendo assim, é necessário que o Direito acompanhe
e se adéque à globalização e aos mecanismos e sistemas
tecnológicos de forma que esses títulos de créditos eletrônicos
alcancem um lugar na esfera acadêmica com mais segurança
jurídica.
De igual forma, a temática envolve interesses de todos os
cidadãos em geral, pois participam do mercado consumidor,
adquirindo bens ou contratando serviços por meios dos títulos
98
eletrônicos, principalmente, para os que atuam no mercado na
qualidade de empresário ou prestadores de serviços, sendo que,
através dos avanços de informatização, os títulos de créditos
são caracterizados pela rapidez, e, consequentemente,
facilitando a sua utilização nas transações cotidianas para as
pessoas.
A pesquisa proposta se encaixa na categoria geral da
pesquisa básica qualitativa por se destinar a conhecer melhor
como a temática é tratada no âmbito da legislação em vigor e
quais as suas implicações frentes a tecnologia de
informatização, por meio de análise do conteúdo dos textos e
não por análises estatísticas. E, na categoria específica,
classifica-se como pesquisa bibliográfica, vez que, se valerá de
estudos de literatura específica da área associada aos estudos
de artigos científicos, doutrinas, ensaios, dentre outros. Ainda,
por se propor a usar a legislação, também ganha o patamar de
pesquisa documental.
Do mesmo modo, o estudo se valerá do método de
pesquisa dedutivo, tendo em vista que já existem teorias e
legislação estabelecidas para tratar da temática sobre as
tratativas dos títulos de créditos eletrônicos.
Dando continuidade ao introito, vale notar que, para
abordagem das principais definições, legislações e autores
empregados no artigo acerca dos títulos de créditos
desmaterializados e materializados, utilizou-se como principais
marcos teóricos: Ulhoa Coelho (2005), Vivante (2006), Código
Civil Brasileiro (2002) e Falconeri (2005).
99
Primordialmente, cumpre destacar o conceito de títulos
de créditos, bem como elencar os princípios que regem e de
certa forma regulamentam tais títulos, explicando e discorrendo
sobre cada característica desses, de forma que possibilite
demonstrar as principais particularidades dos títulos de
créditos. A partir de então, cuida-se de discutir sobre o
tratamento que vem recebendo o princípio da cartularidade
especificamente, pois este é o que mais foi alterado devido os
avanços da tecnologia.
Nessa conjuntura, exprime-se que os avanços
tecnológicos de informatização atingiram a regulamentação e
transações dos títulos de créditos, de modo que há uma nova
figura que podemos denominar de instituto da
desmaterialização, levantando dúvidas correntes quanto à
segurança jurídica dos títulos de créditos eletrônicos, tal como
se a respectiva legislação vigente é suficiente para normatizar
sobre o assunto e ainda apresentar modalidades inovadoras
que abrirão caminhos para futuramente serem regulamentados
e de fato usuais.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
100
Deste modo, torna-se essencial compreender o instituto da desmate
brasileira vigente. Por outro lado, há de se demonstrar os
encadeamentos nas relações civis e comerciais, da mesma
maneira, as benesses que trazem as tecnologias de informações,
fazendo com que o Direito Comercial aumente seu fluxo de
circulação de riquezas, através desses títulos descartularizados.
Por esse meio, há de se evidenciar que os títulos de créditos
eletrônicos ou desmaterializados não perderão sua eficácia por
não possuírem mesmas características dos tradicionais títulos,
ou seja, aqueles representados pelo documento papável, há
muito denominado cártula, apenas há um acompanhamento
desses quanto aos avanços tecnológicos e consequentemente, o
Direito também deve acompanhar, de forma que se amolde na
tecnologia de informatização, haja vista que o ordenamento
jurídico deve ser pautado em conformidade com os momentos e
problemas que surgem em certo espaço de tempo.
101
Na forma do Artigo 887 do Código Civil, bem como
pela conceituação trazida por Vivante, conclui-se que os títulos
de crédito só produzirão efeitos e disporão de validade quando
preenchidos os requisitos expressos na lei, isto é, os títulos de
créditos dependem de certas características para que sejam
validados, e, por conseguinte, é um documento de
representatividade de uma obrigação pecuniária. Nesse
diapasão, ensina Coelho (2015, p. 271):
102
Ainda, na mesma linha de raciocínio, é imprescindível
elucidar outra conceituação de títulos de créditos compreendido
por Coelho (2005, p.369 e 370), colacionada a seguir:
103
começaram a surgir os primeiros documentos, papéis e titulares
daqueles créditos fazendo com que a circulação dos capitais
aumentasse nos comércios. Com isso, devido às constantes
mudanças que se caracterizam pela necessidade da função
econômica, isto é, para maior promoção das movimentações
creditícias, atualmente é o que conhecemos como títulos de
créditos.
Sobre a origem do crédito, Rizzardo (2011, p.4) ensina
que:
106
princípio o credor somente pode exercer seus direitos, ou
melhor, os benefícios do regime jurídico cambial, quando possui
a posse do documento (cártula)”.
Destarte, se analisarmos a interpretação literal da
definição dos títulos de créditos, percebemos que não há
margem para circulação digital de tais títulos, todavia, devido
às evoluções tecnológicas de informação e com o intensivo uso
da internet para realização dos negócios, quais sejam compras,
vendas e inclusive relações negociais jurídicas, esses
documentos representados pela cártula, estão perdendo seu
espaço no mundo todo, de forma gradativa e sendo substituídos
e representados não pelo documento material tradicional, mas
sim reproduzidos pelos documentos eletrônicos. Posto isso, com
o surgimento dos títulos de créditos eletrônicos, o princípio da
cartularidade vem sendo limitado, isto quer dizer que um dos
principais princípios do Direito Cambiário está sendo
relativizado em razão das alterações nas transações comerciais,
fruto de uma tecnologia digital.
Como já mencionado no presente trabalho, pelo princípio
da cartularidade os títulos de créditos devem ser expedidos e
percorrer por intermédio de material e eis que surgem
indagações referentes ao tratamento que o princípio da
cartularidade vem recebendo, visto que devido a sua
relativização houve transformação na transferência da cártula
para o documento virtual, desta forma, para que tenha validade
e eficácia os títulos de créditos não mais se tornam necessária
apresentação do documento corpóreo, apenas que cumpra os
107
requisitos exigidos em lei. Contudo, apesar de caracterizar
limitação ao princípio mencionado, entende-se que não há
ofensa quanto ao mesmo, porque a ausência de documento
papável não descaracteriza a validade e nem mesmo o direito
literal contido no título de crédito, restando evidente que tal
relativização e limitação são uma superação ao referido
princípio, de forma que a modernidade também vem
alcançando a esfera judicial.
Tal superação do princípio da cartularidade em relação à
desmaterialização dos títulos de créditos tornou-se resistente
quanto aos questionamentos de ofensividade ao princípio,
todavia, o tema ainda necessita de aprimoramento e
progressão, de modo que não haja dúvidas e questionamentos
sobre o assunto. Assim assinala Francisco de Paula apud
Rodrigo Almeida:
De fato, a desmaterialização ou o
abandono do papel, no todo ou em parte,
constitui um fenômeno que, malgrado
esteja longe de sua maturação, está em
plena evolução nas esferas pública e
privada das sociedades. Aliás, ao se
analisar a desmaterialização, em sentido
extenso, tomando-se por parâmetro alguns
países em que se manifesta, percebe-se
que o universo dos setores atingidos, a
dimensão e as perspectivas de
aprofundamento do fenômeno variam de
conformidade com o estágio de
desenvolvimento econômico e tecnológico
de cada um. (DE PAULA apud ALMEIDA,
2006, p. 65)
108
Desse modo, sustenta-se que a utilização de títulos de
crédito eletrônicos não afronta ao princípio da cartularidade,
pois este não deixou de existir, considerando que apesar de
haver um conflito no que tange o assunto, há de se
compreender que tal discussão é um fato consolidado.
Entretanto, no que se refere a sua aplicabilidade, esta deverá
posteriormente deixar de ser habitual, visto que estamos diante
de uma evolução na transição dos títulos de créditos no campo
do Direito Empresarial, influenciado pelo processo da tecnologia
de informatização, ou seja, o contínuo e gradual uso da internet
repercute nas relações sociais, bem como econômicas. Tal qual,
podemos dizer que ocorreu uma mitigação ou relativização do
princípio da cartularidade de forma que a finalidade do mesmo
se torna inviável quanto aos títulos desmaterializados, não por
ofensa ou lesão ao referido princípio da cartularidade, todavia,
pelo fato do desenvolvimento, desde o seu modelo, estrutura,
emissão e circulação se dá de forma virtual, tornando-se
desnecessária e inexigível apresentação da cártula, malgrado os
princípios da literalidade e autonomia continuam sendo
aplicáveis aos títulos de créditos desmaterializados.
109
pelo Código Civil de 2002, percebemos que é imprescindível que
se tenha posse da cártula e faça sua apresentação fisicamente.
Entretanto, em virtude das inovações, as transações
comerciais estão sendo vistas através de novas perspectivas, de
modo que os hábitos, as práticas e atividades realizadas no
âmbito do Direito Empresarial vêm sofrendo alterações no que
se refere aos títulos de créditos. Tais práticas podem-se
caracterizar ou denominar por desmaterialização ou
descartularização dos títulos de créditos, visto que por meio dos
avanços tecnológicos, mais precisamente através da tecnologia
na informatização, esses títulos virtuais vêm auferindo grande
lugar, posto que a incidência desses tenda a crescer cada vez
mais.
A influência na tecnologia dos computadores retrata um
avanço na seara econômica e financeira, tanto dentro de uma
determinada empresa, como também na esfera que envolve o
interesse de qualquer cidadão, pois esses participam do
mercado consumerista e até mesmo quando não houver
participação desses cidadãos quanto às relações empresariais,
temos as relações civis, que dizem respeito à relação
obrigacional, quer dizer, no direito obrigacional comum, que é
composto por três elementos, quais sejam o credor, o devedor e
o vínculo jurídico-obrigacional pelo qual este fica obrigado a
realizar prestações em favor daquele. O fato de haver um
vínculo obrigacional faz incidir na relação entre as partes o
denominado direito das obrigações.
110
Assim, percebe-se que através desses avanços
tecnológicos na informatização as transações dos títulos de
créditos consequentemente tornam-se mais eficazes por conter
características de rapidez, contribui para um maior
desenvolvimento nas relações empresariais, aumenta a
circulação e riqueza, eficiência, facilitação de sua utilização nas
relações comerciais cotidianas, fazendo com que todos tenham
oportunidade de participar dessa evolução, mesmo
compreendendo que nem todos possuem acesso a essa
informatização, entretanto tudo ao nosso redor e até mesmo as
pessoas, estão propicias a submeterem-se às mudanças, posto
que elas sejam necessárias, na medida em que os membros de
um espaço é que se adaptam e se sujeitam aos avanços da
tecnologia e não o inverso. Desta maneira, esclarece Pinto
(2003, p. 04):
111
apesar de não possuírem sua devida regulamentação,
gradativamente vêm tomando conta de seu espaço no mundo
jurídico e comercial, fazendo com que os documentos físicos se
tornem não essenciais e não tão usual, bem como
demonstrando que os títulos de créditos desmaterializados
também possuem eficácia e validade e que o princípio da
cartularidade apresenta paulatinamente característica de
inaplicabilidade, contudo não tira deste sua particularidade e
nem mesmo em virtude dessa nova realidade o torna ineficaz e
inválido.
112
Título de crédito não pode mais ser
conceituado como “o documento
necessário para o exercício do direito
literal e autônomo nele mencionado”, mas
sim o documento, cartular ou eletrônico,
que contempla a cláusula cambial, pela
qual os coobrigados expressam a
concordância com a circulação do crédito
nele mencionado de modo literal e
autônomo.
115
principais atributos essenciais dos títulos de créditos, qual seja,
a cartularidade. Assim, os clássicos doutrinadores entendem
que deve haver exigência da cártula. Contudo, essa
exigibilidade não mais se adapta a nova realidade, visto que são
totalmente aceitos os documentos eletrônicos. No mesmo
sentido, insistindo na necessidade de documento corpóreo para
validade dos títulos de créditos, leciona Costa, (2006, p.278-
279):
116
literal e autônomo nele mencionado”, mas
sim o “documento, cartular ou eletrônico,
que contempla a cláusula cambial, pela
qual os coobrigados expressam a
concordância com a circulação do crédito
nele mencionado de modo literal e
autônomo.
117
relativizado em virtude das mudanças, e sendo assim, a
sociedade e o próprio Direito, devem caminhar junto aos fatores
e não o inverso, como dito anteriormente. É nítido compreender
que os avanços da tecnologia, em especial na informática não
vem sendo acompanhado pela legislação cambiária (DUTRA,
LEMOS, 2013).
118
A forma para adquirir a moeda virtual ou criptomoeda é
efetivada através de uma plataforma específica digital,
conhecida como exchanges. Na referida plataforma a pessoa
efetuará um cadastro.
Para melhor entendermos, o Bitcoin tem seu
funcionamento descentralizado, o que significa dizer que não
existe um banco, um intermediário ou uma instituição
regulatória de mercado para participar das transações dos
indivíduos, ao contrário disso, possui característica básica de
realizações de negócios diretamente entre as partes envolvidas,
do qual podemos denominar de “Peertopeer”. Desta forma, como
não há um administrador central para regular o negócio, não
há possibilidade de seu valor ser manufaturado, de forma que
este possa sofrer intervenções na valorização, ou melhor, não
há taxas, impostos a serem saldados, isto porque os bitcoins
são efetuados de maneira online e guardados nos computadores
dos seus pertencentes. Assim, assinala Ulrich que:
121
regulamentação específica acerca da matéria para normatizar o
mercado virtual. Desta forma, partindo do pressuposto de que a
tecnologia na informatização não está atrelada apenas nas
vantagens, mas também nas desvantagens, ressalta ULRICH
(2014, p.25) que:
122
juridicamente os Bitcoins não são compreendidos como títulos
de crédito eletrônicos, e sim, como moedas eletrônicas.
123
créditos, quais seja, alteração do viés dos tradicionais
documentos físicos exibidos através da cártula, pelos
documentos eletrônicos, da nova geração, prole dos avanços
tecnológicos, se manteriam estáveis quanto a sua validade e
efeitos que produzirão, de forma que haverá garantia na
satisfação do crédito.
Em verdade, malgrado existam controvérsias referentes
à segurança jurídica quanto à matéria, pode-se observar que os
títulos de créditos por meios eletrônicos circulariam com mais
rapidez, posto que atingiriam sua destinação de negócios com
maior celeridade, mais eficiência, aumentaria a sua utilização,
vez que nos dias atuais toda sociedade usa de meios virtuais,
até mesmo para relações negociais, de compra e venda por
exemplo, além de que, contribuiria para preservação e
conservação do meio ambiente, pois a degradação dos recursos
ambientais é algo inquietante que afeta todos nós. Igualmente,
as realizações por via eletrônica, tornam as negociações mais
práticas e modernas, em virtude de que as transações poderão
ser efetuadas em qualquer parte do mundo, e nem por isso, a
desmaterialização dos títulos descaracterizaria a validade e
eficácia dos créditos, nem mesmo perderia seu caráter por
carência de cártula. Em outras palavras, os documentos
eletrônicos possuem mesma qualidade e legitimidade dos
documentos convencionais, já que representam uma obrigação
pecuniária, da mesma forma que, no documento físico é
assinado, no documento eletrônico também há essa
possibilidade através da assinatura digital, findando então, que
124
há compatibilidade e conformidade tanto entre documento em
papel como documento virtual, sem este perder eficácia e
validade.
Desta maneira, muito embora a legislação que trata do
assunto seja escassa e precária para regulamentar os títulos de
créditos desmaterialização, em virtude, do não
acompanhamento do Direito ao mundo tecnológico, dado que a
norma que deve acompanhar o mundo globalizado e não o
contrário, a figura da segurança jurídica não deixa de existir
nos títulos desmaterializados, essa se encontra elencada nos
títulos de créditos eletrônicos, pois esses também desfrutam de
legalidade da mesma forma que os documentos físicos, isto
porque, tanto um quanto o outro abrangem as mesmas
finalidades, quais sejam, validade e eficácia do título de crédito,
na medida em que logrará êxito nas relações cambiais virtuais,
quanto nas relações cambiais tradicionais, posto que o fato de
um título de crédito ser desenvolvido através de meio eletrônico,
não significa que acabaria com a segurança de tais títulos, pelo
contrário, apenas aqueles que fazem parte da relação cambial é
que teriam acesso aos dados e conteúdos constantes dos títulos
de créditos eletrônicos por meio de uma ferramenta que
garantirá uma segurança desses títulos digitais.
125
Quando nos referimos aos títulos de créditos eletrônicos,
logo sabemos que possuem ligação direta com os institutos da
desmaterialização e da descartularização. Basicamente toda a
discussão e problemática se concentram nessas duas figuras.
Vale lembrar que o artigo 889, §3º do Código Civil prevê a
possibilidade de utilização dos créditos pela via eletrônica, diz
que:
126
para tratá-los, a maneira de recebê-los acaba sendo afetada de
forma que não se dá tanta importância para tanto, ficando
restrito ao que se considera tradicional, e a sociedade e o
Direito acabam por não se adaptarem à inevitável modernidade,
aos avanços tecnológicos, que são meios de aumentar a
circulação de riquezas, além da rapidez e praticidade.
Acrescentando que, o que se necessita a realizar e buscar
são um maior suporte e auxílio jurídico, reforçando o
tratamento dos títulos de créditos desmaterializados, dado que
o instituto da desmaterialização não caracteriza inexistência e
invalidade dos títulos de créditos e sim uma ferramenta que se
adequou aos avanços tecnológicos, ou seja, não há forma
corpórea, qual seja documento em papel, contudo, essa nova
figura não deixa de possuir caráter de títulos de crédito.
Conforme nos ensina Adrianna de Alencar Setubal:
A desmaterialização, etimologicamente
falando, é a ação de não materializar. É
um não fazer alguma coisa e no caso dos
títulos de crédito é, inserir dados
referentes a uma operação em um
computador, em um banco de dados e não
imprimi-los, deixando-os somente
registrados eletronicamente, como coisa
material. Entende-se: a desmaterialização
não se confunde com a inexistência. Dizer
que algo inexiste é dizer que não há algo. A
inexistência refere-se à carência de
existência, à falta de existência, o que não
ocorre na desmaterialização, que consiste
simplesmente em não dar forma material a
alguma coisa existente. Um título
127
desmaterializado é um título representado
sob a forma incorpórea. Já um título
inexistente, é um título que não se
representa sob nenhuma forma porque
não há título. (SETUBAL, p. 58, 1999).
128
No campo empresarial, verifica-se sobretudo que os
títulos de créditos informatizados tornarão mais célere e ágil a
circulação de riquezas, no que tange os direitos e obrigações
creditícias e ajudaria na organização da empresa. No mesmo
sentido, facilitaria para muitos empresários nas relações
negociais, aumentando os lucros, visto que geraria um
progresso empresarial e equilíbrio econômico. Essas mudanças
foram crescendo gradativamente, pois facilitaram as relações
comerciais, principalmente para aqueles que atuam na esfera
empresarial, na medida em que há outros meios de
pagamentos, tal como através de transferências eletrônicas, por
intermédio dos cartões de créditos e pagamentos em débito
automático pelo telefone celular.
Posto isso, percebe-se que os títulos de créditos
eletrônicos ainda não receberam seu devido espaço e que
consequentemente o seu tratamento jurídico se torna
insatisfatório. Nesse sentido, conclui-se que há necessidade de
uma remodelação quanto à legislação brasileira em vigor no que
tange os títulos de créditos, para uma maior eficiência e
validade aos títulos de créditos que serão representados por
documentos eletrônicos, pois o que se visualiza é que a previsão
que trata desse dispositivo ainda necessita percorrer um longo
caminho no que se refere ao nível jurídico, cabendo ao Direito ir
ao encontro e no mesmo caminho que a evolução social, visto
que essas inovações referentes a tais títulos de créditos é
considerado uma ferramenta que acrescenta positivamente no
129
meio Empresarial, propiciando na facilitação da realização dos
negócios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
130
créditos sua validade e eficácia, tendo em vista que também
constarão no título eletrônico os requisitos essenciais para sua
legitimidade. Assim, é inconteste no que se refere à existência
dos títulos de créditos virtuais ou eletrônicos, haja vista que o
ordenamento jurídico brasileiro acolheu a possibilidade de tais
títulos desmaterializados.
Analisando o estudo, toda a discussão é acerca da sua
regulamentação, visto ser escassa e insuficiente, gerando uma
lacuna na legislação brasileira vigente, onde a figura da
descartularização dos títulos de créditos, num primeiro
momento parece lesar o principal princípio dos títulos, qual
seja, o princípio da cartularidade. Porém, mesmo que haja
mitigação ou relativização do referido, os princípios que regem
os tradicionais títulos de créditos poderão ser utilizados nas
relações jurídicas comerciais dos títulos eletrônicos, pois não
houve extinção de tais características, e nem essas deixaram de
ser importantes, pelo contrário, estão se adequando as
negociações para otimização das relações comerciais, uma vez
que são analisadas sob a ótica da tecnologia da informatização.
Apesar da incontestável existência dos títulos de créditos
eletrônicos, percebe-se que a sua normatização está precária,
tornando sua previsão falha, insatisfatória, deficitária e como
resultado disso, em declínio, desta maneira, o ideal seria que
houvesse regulamentação específica quanto à matéria.
No que se refere à segurança jurídica dos títulos de
créditos eletrônicos, embora haja modificação no suporte legal,
não há que se falar em ineficácia e invalidade, pois a essência
131
dos títulos de créditos virtuais seria a mesma, havendo
mudanças apenas em sua estruturação, mas a segurança
desses títulos desmaterializados, com o avanço na tecnologia da
informatização poderia se dar através de uma ferramenta
virtual, onde apenas as partes do vínculo creditício teriam
acesso aos respectivos títulos de créditos eletrônicos por meio
de login e senhas. Além disso, a realização dos títulos de
créditos por meio eletrônico agilizaria sua circulação,
promovendo acima de tudo preservação e conservação do meio
ambiente, haja vista ser um assunto preocupante que nos
cercam.
Averiguaram-se, ainda, com o referido trabalho que em
prol dos avanços da tecnologia na informatização, têm-se uma
nova modalidade de moeda, aquelas que se denominam moedas
eletrônicas ou virtuais, no qual apesar de pouco utilizada, já se
tornou conhecida em todo o mundo. Apensar de ser um novo
patamar para as relações comerciais, privilegiando quanto à
circulação dos valores, essa modalidade de moeda virtual, ou
seja, os Bitcoins ainda estão conquistaram por completo seu
espaço no mercado, e para uma amplificação e crescimento em
relação aos números de usuários e à sua segurança jurídica é
necessário que também haja regulamentação específica para
assegurarem aqueles que não utilizam desses recursos
tecnológicos devido ao medo e desconfiança.
Assim, é possível concluir que os avanços tecnológicos
contribuem significativamente para a sociedade, e desta forma,
também para o Direito, entretanto, é essencial que haja
132
acompanhamento de todos em busca de adaptações, pois o
mundo, assim como o Direito são dinâmicos, e desta maneira
sempre estão em constantes mudanças. É certo que existem
readaptações a serem efetuadas, especialmente por parte do
ordenamento jurídico no que se refere à regulamentação, pois
se compreende lacunas e omissões por parte desse, dificultando
a circulação dos títulos eletrônicos, fazendo com que o Direito e
a Economia não estejam lado a lado. Em contrapartida, a
legislação caminha certo, tentando sanar os vícios e lacunas, e
ainda analisando a incontestável existência dos títulos
desmaterializados, percebe-se que a descartularização não
corrompe com um título de crédito, ressaltando que ante as
necessidades de um mundo cada vez mais globalizado, e
consequentemente informatizado, torna-se obrigatório atender
as expectativas da economia, promovendo riquezas.
REFERÊNCIAS
133
TIFICA/artigos/willeduartecosta01.pdf>. Acesso em: 20 jun.
2018.
134
SOUZA, Wallace Fabrício Paiva; FERNANDES, Jean
Carlos. Títulos de crédito: uma relação entre a segurança
jurídica e a justiça nas teorias da criação e
emissão. Florianopolis: Conpedi, 2015. p. 193-212.Disponível
em: <www.conpedi.org.br/publicacoes/.pdf>. Acesso em: 15
nov.2017.
135
ANÁLISE DA OBRA “ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA” DE JOSÉ
SARAMAGO SOB AS DIMENSÕES DO OLHAR, DO VER E DO
REPARAR
Bruno Oliveira
Danielle Alves de Paula
Jesus Brendon Das Dores Carneiro
Juliana Quatorze Voltas
Lorena Ferreira
Moisés Moura
Nilmara Regina Gomes Dias
Rúbia Poletto1
René DENTZ2
RESUMO
Esse artigo tem como objetivo analisar a obra “Ensaio sobre a
cegueira” de José Saramago através das dimensões do olhar, do
ver e do reparar descritas no texto de Henriete Karam 3
distinguindo a cegueira do Ensaio dos tradicionais sentidos de
cegueira.
INTRODUÇÃO
A obra de José Saramago relata uma incomum epidemia
de cegueira na qual os habitantes de uma cidade são atingidos
pela “cegueira branca” onde as pessoas infectadas passam a ver
apenas um branco clarão. No início, apenas algumas pessoas
137
alusão à outra obra do autor, a “História do cerco de Lisboa”
onde o autor afirma que:
2. O OLHAR
140
veem nitidamente e torna-se evidente que
esses mesmos olhos têm uma visão clara.
(...) – Portanto, relativamente à alma,
reflete assim: quando ela se fixa num
objeto iluminado pela verdade e pelo ser,
compreende-o, conhece-o e parece
inteligente, porém quando se fixa num
objeto ao qual se misturam às trevas, o
que nasce e morre, só sabe ter opiniões, vê
mal, alterando o seu parecer de alto a
baixo, e parece já não ter inteligência. (...)
– Fica sabendo que o que transmite a
verdade aos objetos cognoscíveis e dá ao
sujeito que conhece esse poder, é a ideias
do bem. Entende que é ela a causa do
saber e da verdade, na medida em que
esta é conhecida, mas sendo ambos assim
belos, o saber e a verdade, terás razão em
pensar corretamente que neste mundo a
luz e a vista são semelhantes ao sol, mas
já não é certo tomá-las pelo sol, da mesma
maneira, no outro, é correto considerar a
ciência e a verdade, ambas elas,
semelhantes ao bem, mas não está certo
tomá-las, a uma ou a outra, pelo bem,
mas sim formar um conceito ainda mais
elevado do que seja o bem. (A REPÚBLICA,
508c-509a)
Para explicar o trecho e finalizar podemos dizer que
Platão usa o Sol para fazer uma analogia e comparação com a
nossa visão, pois como dissemos anteriormente nosso olho
necessita do elemento de luz para visualizar um objeto, por
essa razão nossa mente precisa da Luz do Sol que segundo
Platão representa a verdade do conhecimento, do bem; logo,
ilumina nossa escuridão interior reduzindo a ignorância, o mal,
nos evoluindo como pessoa e a sociedade como um todo.
141
3. O VER
142
Seguindo a linha de raciocínio Aristóteles diz na abertura
da Metafísica:
143
Diferentemente do olhar, o ver está intrinsecamente
ligado à capacidade de gerar conhecimento e através disso
atingir a real felicidade, pois este seria o real objetivo capaz de
conceder plenitude ao homem. Neste sentido, Aristóteles afirma
que a visão é de certa forma privilegiada se comparada aos
demais sentidos, pois é capaz de analisar o contexto geral com
a mesma facilidade que pode ser focada nos detalhes. Essa
sofisticação da visão causa uma dependência enorme, não
apenas pelo que a cegueira em si pode causar, mas também
pela forma como os demais sentidos trabalham. É possível usar
como amostra dois sentidos que se tornam muito caros para o
homem que não pode ver, o tato e a audição.
O primeiro se apega ao micro, sendo extremamente
desvantajoso quando se precisa ter uma ideia do contexto geral,
pois o escopo máximo para observação se torna o que a ponta
dos dedos é capaz de tocar. A audição, por sua vez, embora
acurada a curta distância, e capaz de oferecer certa localização
espacial, pode se tornar inútil em meio a diversos estímulos
contínuos. Tendo esses conceitos em vista, é possível notar que
embora a falta da visão não seja empecilho definitivo para o
desenvolvimento racional, definitivamente é um atraso.
Adiante se desenvolve a noção do ver e ser visto através
de M. Merleau-Ponty, onde ao mesmo passo que a visão confere
um caráter ativo ao homem, também o transforma em agente
passivo para o olhar de outrem. O que mais tarde S. Freud
chama de “pulsão escópica”, onde o ver gera tanto prazer
quanto o ser visto.
144
Com a Schautrieb, pulsão de ver, S. Freud inscreve na
cultura ocidental uma nova concepção da visão, que deixa de
estar centrada na atividade de ver, seja esta vinculada ao
atributo sensível ou à consciência e ao pensamento, para
desempenhar funções relacionadas ao prazer de ver e de ser
visto.
O Ensaio trata bem desse aspecto através da sexualidade
excessiva de alguns dos personagens, de modo que as cenas de
abusos e estupros não estão inseridas gratuitamente. Ao se
verem incapazes de observar e serem observador, acabam por
extravasar essa sexualidade de forma bizarra. O próprio médico
acaba por trair sua esposa, pois mesmo sabendo que está ainda
era capaz de ver, ele não tinha sua própria visão para
referenciá-la.
E é neste ponto que a mulher do médico se mostra
verdadeiramente superior aos afetados pela cegueira, não
apenas fisicamente, mas também em caráter psíquico. Pois
mesmo após ser traída por seu marido, ela é capaz de um
esforço hercúleo para manter segredo sobre sua condição
privilegiada ao mesmo tempo em que guia seu grupo através do
campo de batalha que se tornou a cidade.
5. O REPARAR
Esta dimensão, segundo José Saramago, é a única que
pode alcançar a visão plena, pois somente através dela a visão
busca extrair as partes e reintegrá-las para alcançar o todo e
assim compreendê-lo.
145
Na obra, a única capaz de chegar a esta dimensão da
visão é a mulher do médico, pois além de enxergar ela passa a
ter a capacidade de reparar a verdadeira face das coisas e das
pessoas. À medida que o tempo passava, a sensação de não ser
mais objeto de observação de outrem - já que pensavam
estarem todos cegos dentro do manicômio - aumentava, os
personagens passaram a deixar a ética e a moral de lado e
preocupar-se apenas com o bem-estar e prazer próprio. Além
disso, no filme há também um escritor que escreve sobre como
ficou a sua vida e de sua família após ficaram cegos e, no final
do filme, quando a mulher do médico o encontra e ele fica
sabendo que ela é a única testemunha ocular do que ocorreu no
manicômio ele percebe que ninguém mais sabe o que realmente
aconteceu mais do que ela porque além de ela poder ver o que
estava acontecendo, também presenciou as intenções e
aspirações daqueles que pensavam não poder ser vistos através
daquilo que Henriete Karam no artigo “A visão e as Dimensões
do Olhar, do Ver e do Reparar”, nomeou como reparar:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
148
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA E ACESSO À JUSTIÇA NO
PROCESSO DO TRABALHO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA
REFORMA TRABALHISTA
RESUMO:
149
O princípio do acesso à justiça é consagrado pela
Constituição da República (BRASIL, 1988), e permeia todo o
ordenamento jurídico pátrio.
O preceito constitucional garante que todos/as os
cidadãos/ãs tenham a sua demanda apreciada pelo Poder
Judiciário, uma vez que é tutela fundamental e indisponível dos
litigantes.
Sendo um imperativo legal que permeia todo o
ordenamento pátrio, a inafastabilidade da jurisdição é princípio
fundamental também do Processo do Trabalho, servindo de
aporte para que empregados e empregadores tenham suas
celeumas apreciadas pela Justiça do Trabalho.
Cumpre ressaltar que, embora a Constituição tenha
assegurado a inafastabilidade da jurisdição, sendo um dos
corolários dos direitos fundamentais, o autor Mauro Cappelletti
alerta para o fato de que três obstáculos devem ser transpostos
para se alcançar o efetivo acesso à justiça. São eles: obstáculo
econômico, obstáculo organizacional e obstáculo processual.
(CAPPELLETTI, 1994).
A recente Lei 13.467/2017, conhecida como Reforma
Trabalhista, trouxe significativas mudanças que impactam
diretamente na relação entre os trabalhadores e o Poder
Judiciário, especialmente no tocante ao acesso à justiça.
O artigo 791-A, §4º oriundo da Reforma Trabalhista
(BRASIL, 2017) explana acerca de honorários de sucumbência
para a parte vencida no processo do trabalho, ainda que
150
beneficiário da justiça gratuita, e contraria diretamente o
entendimento que havia sido consolidado pelo Tribunal
Superior do Trabalho- TST, na edição da Súmula 2194.
Diante das referidas inovações no Processo do Trabalho,
o presente artigo perquire investigar se o mencionado artigo
791-A, §4º pode ser lido como um obstáculo econômico ao
acesso à justiça, especialmente para os trabalhadores
hipossuficientes.
Para balizar a discussão proposta, por meio de pesquisa
teórico-dogmática, adota-se como referencial teórico os
pesquisadores Mauro Cappelletti e Bryan Garth (1988).
156
A Lei n. 13.467/2017 reformou o entendimento que
havia sido consolidado no tocante aos honorários de
sucumbência na Justiça do Trabalho. Até aquele momento, não
havia previsão legal que permitisse a cobrança de honorários de
sucumbência da parte vencida, mas, tão somente, a previsão da
Súmula 219 do Tribunal Superior do Trabalho.
O novo dispositivo inserido pela Reforma Trabalhista (art.
791-A) aduz que:
157
Dessa forma, a parte que não lograr êxito em seus
pedidos, ainda que beneficiário da justiça gratuita, poderá ser
condenado em honorários de sucumbência, podendo utilizar as
verbas vencidas de outro processo para quitar as custas
judiciais. Cumpre ressaltar que o benefício da justiça gratuita é
garantia fundamental prevista na Constituição da República,
em seu artigo 5º, LXXIV (BRASIL, 1988).
De início, cabe elucidar que o perfil do beneficiário da
justiça gratuita é delimitado pela Consolidação das Leis do
Trabalho, no art. 790, também objeto de reforma pela Lei
13.467/2017:
158
insuficiência de recursos para o
pagamento das custas do processo.
159
Nesse sentido, “a concessão do referido benefício (justiça
gratuita) é elemento indispensável ao acesso à justiça,
principalmente, na seara trabalhista pela natureza alimentar e
o caráter inadiável das verbas trabalhistas” (XAVIER, LEITE,
2018, p. 92).
A Reforma Trabalhista prevê no art. 791-A, §4º que a
parte vencida poderá arcar com os honorários de sucumbência,
ainda que beneficiários dos auspícios da justiça gratuita. Ora,
“a penalidade para o vencido em países que adotam o princípio
da sucumbência é aproximadamente duas vezes maior- ele
pagará os custos de ambas as partes” (1988, p. 17).
Nesse aspecto, Alves e Alves indicam que “a Reforma
Trabalhista, na prática, acaba por mitigar a noção de
hipossuficiência, pois em diversos dispositivos pressupõe
igualdade contratual e jurídica entre empregados e
empregadores.” (ALVES; ALVES, 2017, p. 61).
Segundo Alves e Alves, “o que se busca, ainda que a
médio prazo, é a transformação do contrato de trabalho em um
contrato comum, típico do direito civil.” (ALVES; ALVES, 2017,
p. 61). Ora, após a Reforma Trabalhistas (BRASIL, 2017), há
um risco eminente de que as relações de trabalho sejam
tratadas como meras relações cíveis, o que é inadmissível
diante das diferenças abissais entre os dois institutos e as
relações jurídicas às quais regulam.
Dessa forma, tendo em vista o estado de hipossuficiência
do trabalhador que faz jus aos auspícios da justiça gratuita,
dificilmente o mesmo terá condições de adimplir com os
160
honorários de sucumbência, sendo que referida medida pode
ter como consequência a obstacularização do acesso à
jurisdição pelo empregado.
Garth e Cappelletti indicam que “de qualquer forma,
torna-se claro que os altos custos, na medida em que ambas as
partes devam suportá-los, constituem uma importante barreira
ao acesso à justiça”. (1988, p. 18).
Cumpre elucidar que:
162
parece, a imposição de honorários de sucumbência pode estar
na contramão de um efetivo acesso à justiça.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, constata-se que a Reforma
Trabalhista (Lei 13.467/2017) pode ser prejudicial ao
empregado, especialmente o art. 791-A, §4º da CLT.
Isso porque o novo artigo prevê a possibilidade de
pagamento dos honorários de sucumbência pela parte vencida,
ainda que beneficiária dos auspícios da justiça gratuita.
Dessa forma, a intenção do legislador ao inserir o referido
artigo na CLT foi o de dar celeridade aos processos e reduzir as
demandas temerárias. Ocorre que, não obstante a vontade do
Legislador, o referido artigo pode ser lido como um possível
obstáculo econômico para os litigantes hipossuficientes.
Nesse ínterim, a Reforma Trabalhista, neste aspecto,
encontra-se na contramão do movimento de acesso à justiça,
preconizado no Brasil pela Constituição da República (BRASIL,
1988).
Por esse motivo, a interpretação dos aplicadores da Lei
deve ser no sentido de ampliar o espaço de acesso à jurisdição,
uma vez que é direito fundamental do trabalhador brasileira, e
jamais restringi-lo, sob pena de silenciar eventuais demandas e
abusos no âmbito da relação empregador/a-empregado/a.
Destaca-se, contudo, que, no presente artigo, não há
oponibilidade ao pagamento de honorários de sucumbência pela
parte vencida na Justiça do Trabalho; opõe-se, contudo, à
previsão de referido ônus para os beneficiários da justiça
163
gratuita, que devido à sua vulnerabilidade econômica podem
encontrar na nova medida um possível obstáculo de acesso à
jurisdição.
Dessa forma, entende-se que colocar o empregado
hipossuficiente nesta situação é uma flagrante afronta ao
primado de acesso à justiça.
REFERÊNCIAS
ALVES, Amauri Cesar. Interpretação da Reforma Trabalhista
em síntese. In: ALVES, Amauri Cesar; LEITE, Rafaela
Fernandes. Reforma Trabalhista: comentários à Lei
13.467/2017. Belo Horizonte: Conhecimento Jurídico, 2018, p.
11- 15.
165
DIREITO À RELIGIÃO NO ESTADO LAICO: ESTUDO DE
CASO
Israel Quirino1
166
O que se tem perguntado, nesse momento, é se essa
ascensão religiosa na política não estaria tendente a impor uma
corrente de fé ao povo brasileiro que, tradicionalmente se fez em
diversas crenças. O sincretismo religioso, caso seja tutelado
pelo Estado, ou a unificação da fé em torno de uma só
manifestação, é, sem dúvida, uma afronta às nossas diversas
origens culturais.
No passado, o sincretismo religioso foi usado para
impor o domínio português sobre o negro escravizado, de
maneira a romper os laços com terras ancestrais e “adotar” a fé
cristã da Casa Grande. O mesmo já havia sido feito com o
indígena nos primeiros anos da colonização por toda a América
Latina. Não era uma miscigenação de culturas, mas sim, a
religião como instrumento de dominação.
Fato é que a religiosidade, em alta neste novo período
da história política brasileira, tem sido o diferencial de outras
guinadas ideológicas do estado nacional ao longo dos anos,
desde proclamação da República em 1889. Há que se
dimensionar, no futuro breve, o alcance desta interseção.
Política e religião já foram uma só entidade quando, na
Constituição de 1824 (artigo 5º), fora oficializado o estado
confessional, instituído o padroado que submeteu a igreja
católica ao controle do Império do Brasil.
Mesclando modelos da monarquia inglesa com
ferramentas do discurso iluminista do Século XVIII,
preservando valores da tradição portuguesa e mirando as
liberdades civis das revoluções francesa (1789) e americana
167
(1776), coube a Dom Pedro I outorgar a Constituição do
Império, a mais longeva do país, e ter os seus princípios
firmados nos preceitos emanados dos livros sagrados do
cristianismo. Pelos ingredientes postos à disposição, a
Constituição de 1824 é, de fato, um caleidoscópio de ideias.
A laicidade do estado brasileiro, no entanto, é fruto do
positivismo do final do Século XIX que, no pensamento de
Auguste Comte, inspirou a República de “ordem e progresso”
inserido em nossa Bandeira Nacional.
Todavia, antes mesmo da instauração de uma nova
forma de governo, Dom Pedro II, por meio do Decreto 1.114 de
11 de setembro de 1861, instituiu o casamento civil, oferecendo
tutela jurídica à união conjugal concebida fora dos umbrais da
igreja católica, religião oficial do Império.
A inovação proposta pelo segundo imperador traduz não
em uma “tolerância” do Estado à diversidade religiosa, mas no
reconhecimento oficial de que a pluralidade de povos que
compunham o Brasil estaria a exigir do Estado o
reconhecimento de outras tendências religiosas, para além das
práticas oficiais. Um avanço, sem dúvida.
O casamento Civil de pessoas “não católicas”, que veio a
ser regulamentado pelo Decreto 3.069 de 17 de abril de 1863,
reafirmou que o Império, embora confessional e declarado
católico em sua Constituição, se via na obrigação de oferecer
garantia de direitos àqueles que não professavam a religião
oficial.
168
Separada a Igreja do Estado, de maneira oficial na
Constituição de 1891 (§ 7º do Art. 72), a religiosidade passou a
ser prática social e não mais instrumento oficial de transmissão
de crença, preceitos e ritos de um determinado grupo, como
forma de manter a ordem política. Ademais, nesse contexto, os
dogmas espirituais professados pelas religiões cristãs estavam
em sentido oposto à corrente filosófica positivista que inspirava
os líderes republicanos.
Algumas reminiscências deste período religioso do
estado ainda pululam a vida civil nacional, quando temos, na
gama dos oito feriados nacionais legalmente instituídos (Lei
662/1949 e Lei 6.802/1980 – ambas recepcionadas pela CF de
1988), dois deles são nitidamente religiosos (Dia de Natal e dia
de Nossa Senhora Aparecida). Isso sem descer à legislação
municipal que institui seus dias de feriados, mormente,
atrelados aos santos de devoção.
Na prática a separação estado/religião não corresponde
exatamente ao que diz o texto legal, posto que as igrejas (no
plural) continuam a ser relevantes fatores de poder político
compondo, inclusive, bancadas parlamentares nas Casas
Legislativas, como fazem os segmentos representativos da
economia em defesa dos seus interesses.
Já no contexto do mundo sem fronteiras, originado da
globalização dos anos 1980, a Constituição de 1988, em um
momento de confraternização dos vários povos que formam a
nação brasileira, consagrou a pluralidade como característica
nacional e reafirmou não apenas a laicidade do Estado (art. 19,
169
I), mas também a possibilidade de tutela estatal às várias
manifestações religiosas (Art. 5º, VI), inaugurando uma era de
respeito à diversidade.
Respeito e Diversidade. Estas são as palavras chaves
deste ensaio, no momento em que o Brasil vive o confronto de
ideias e mudanças de rumos político-ideológicos, desafiando até
mesmo a permanência da “Constituição Cidadã” e plural de
1988.
Os fatos que foram notícia nos primeiros dias de 2019
retratam bem essa convivência (ou conflito) Igreja/sociedade e
Estado/religião no cenário nacional.
A prisão de um médium em Goiás, tido para muitos
como um ícone de fé, a valoração midiática de princípios de
moral religiosa e a adoção de valores tradicionais como
fundamento de políticas públicas esboçado por alguns
integrantes do novo governo federal mostram a efusão (e
confronto) de ideias que apresenta esse momento da história do
país e a sua pluralidade.
A questão político-religiosa, neste contexto, é tão
desafiadora que se chega ao paradoxo de se apresentar um
governo rotulado de “direita” que tem pensamentos (e discurso)
de moral cristã, como se o cristianismo fosse uma ideologia
político-partidária. Enfim, isso não é o objeto desta discussão,
pois demandaria um estudo mais aprofundado.
Neste cenário de polarização estado/religião, em outra
ponta, em um episódio que quase passou despercebido à
grande mídia, a juíza Caroline Rosa Vieira, do Tribunal de
170
Justiça da Bahia (Comarca de Nazaré), em decisão que merece
reverência, ressaltou a pluralidade religiosa do povo brasileiro,
quando determinou o cumprimento de rituais de Candomblé às
exéquias de Maria Stella de Azevedo Santos, conhecida como
Mãe Stella de Oxóssi.
A nosso sentir, conjugando preceitos de direito civil a
princípios constitucionais, o caso Mãe Stella de Oxóssi superou
as balizas das decisões legalistas, indo àquele campo cinzento
do “espírito das leis” (sem trocadilho), a entender que a norma
serve a um povo que define, por si, seu destino, suas crenças e
valores. Vamos ao caso.
No dia 27 de dezembro de 2018, na cidade de Nazaré
das Farinhas, faleceu a Sra. Maria Stella de Azevedo Santos,
aos 93 anos de idade. O episódio ganhou mídia nacional pela
importância cultural da finada, incansável defensora de sua
crença e das suas origens ancestrais, contrária ao sincretismo
religioso e líder praticante do Candomblé.
Na sociedade, a falecida, pelo que consta dos autos,
vivia em união estável devidamente documentada e à sua
companheira legal para fins civis competia, segundo normas
vigentes (art. 12 do CC), reivindicar para si as obrigações post
mortem.
Assim o velório de Mãe Stella de Oxóssi deu inicio na
cidade de Nazaré das Farinhas, previsto o sepultamento para o
Cemitério Nosso Senhor dos Aflitos, naquela cidade.
Ocorre que Maria Stella de Azevedo Santos, ou Mãe
Stella de Oxóssi, em vida exerceu a liderança de uma
171
comunidade religiosa de matriz africana, sendo escolhida, em
19 de março de 1976, como a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opó
Afonjá, na cidade de Salvador.
Para quem não é familiarizado com as religiões de
matriz africana, necessário se faz um parêntese exemplificativo.
A função de iylorixá é uma espécie de sumo-sacertode do grupo
religioso (mãe-de-santo), líder máximo de um Terreiro
(ilê). Autoridade religiosa digna das maiores reverências. E aí
está a celeuma.
A falta de consenso entre a responsável legal da falecida
(que insistiu em realizar o velório na cidade de Nazaré) e os
preceitos de sua religião (que exigia que o velório fosse realizado
no Terreiro, em Salvador) levou o caso ao Judiciário, em um
embate sem precedentes que se travou acerca do domínio sobre
o corpo morto da líder religiosa e seus possíveis “direitos” a um
ritual fúnebre nos moldes de sua fé.
Pelas disposições da religião de matriz africana, as
exéquias de seus líderes são realizadas com rituais próprios, em
locais de culto adequado, em cerimônias fúnebres que
acontecem com a presença física do corpo do falecido, no
Terreiro onde exercia suas funções religiosas.
A realização do velório fora do Terreiro e sepultamento
sem que se cumpram os rituais funéreos, acompanhados pela
egbé (a comunidade do Terreiro), afronta à religiosidade do
falecido e dos seus parceiros na fé e, mais que isso, interfere na
vida pós-morte do pranteado.
172
O caso chegou ao Judiciário e de acordo com a Inicial
apresentada nos autos, na cerimônia fúnebre de uma mãe-de-
santo o corpo é velado no Terreiro que regia porque é nesse
momento em que se inicia o ritual de passagem conhecido por
axexê, sendo aí também oportunidade em que são tomadas
decisões importantes dentro do culto, como o destino dos
objetos sagrados da pessoa morta.
A realização do velório nos moldes dos preceitos
religiosos é, pois, um momento sagrado da fé professada, que
não pode ser obstado ou impedido, haja vista disposições da
Constituição Federal que assegura a liberdade de culto. Mais
que um direito do morto, é um direito da comunidade de
reverenciar os seus mortos.
Desta forma, realizar o velório e sepultamento de um
líder religioso fora dos seus rituais significaria não apenas
negar a ela (a morta) o direito de passar pelas honrarias
fúnebres de sua religião, mas também poderia comprometer o
funcionamento religioso de toda uma comunidade, afrontando a
dignidade de sua crença.
Em petição apresentada ao juízo de Nazaré das
Farinhas (Processos nº 8000796-64.2018.8.05.0176 e
8000797-49.2018.8.05.0176), a Sociedade Cruz Santa do Axé
Opô Afonjá (razão social do Terreiro que era dirigido
espiritualmente pela falecida), por seus representantes legais
requisitaram o envio do corpo de Mãe Stella para o Terreiro que
regia, exigindo do Estado a prestação jurisdicional que
assegurassem aos parceiros na fé o direito de cultuarem seu
173
líder morto e, ao falecido, o direito de merecer as exéquias
próprias dos rituais da fé que professou em vida.
Confrontando o Código Civil (artigo 12) que dá direito ao
familiar de exercer os ritos mortuários, com as disposições da
Constituição Federal que asseguram a pluralidade religiosa e o
respeito às suas manifestações, optou a magistrada por conferir
eficácia à norma constitucional, determinando a remessa do
corpo para a cidade de Salvador, onde fora sufragado pela
comunidade religiosa e lá enterrado, conforme preceitos do
Candomblé.
A decisão, por certo, inusitada, haverá de compor a
literatura nacional no rol daqueles feitos singulares da crônica
jurídica.
O que soa como novidade, porém, está na valorização
das nossas origens plúrimas, de sociedade eclética, na
isonomia, na liberdade de crença e culto, no respeito à
diversidade cultural, enfim, um aprendizado sobre a sociologia
brasileira que já há muito superou os limites da Casa Grande e
Senzala.
Em sua decisão, a juíza invocou a proteção ao
patrimônio cultural do Terreiro (e do povo brasileiro, por que
não?), reafirmando, por influência reversa, as diversas posições
legislativas em defesa da cultura afro-brasileira e do
reconhecimento da igualdade racial, já antes previstas na
Constituição Federal de 1988.
A ela os nossos aplausos!
174
Inegável o fato histórico de que a nação brasileira se fez
sob estandartes da fé cristã, estampada nas velas das
embarcações portuguesas que aqui aportaram. Todavia, outros
barcos atracaram nesses mesmos portos e aqui desembarcaram
outras crenças, outros deuses, todos abrigados sobre as
mesmas asas de que nos fala o refrão do Hino da República:
“Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.”
175
A MOEDA NA ERA DAS TRANSAÇÕES ON-LINE: UMA
ANÁLISE DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DA PENHORA DE
CRIPTOMOEDAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO
RESUMO:
1. INTRODUÇÃO
177
Para o desenvolvimento do estudo, em um primeiro
momento será realizado um breve percurso histórico da
evolução da moeda no mundo até chegar ao século XXI, a “Era
das Moedas Digitais”. Posteriormente, será abordado, de
maneira geral, o conceito das criptomoedas, em especial o da
Bitcoin, que, até então, consiste na moeda virtual mais
conhecida e utilizada, bem como as formas de adquiri-las e as
vantagens e desvantagens de sua utilização nas negociações.
Ressalva-se que diante da temática vasta e complexa e o
conhecimento ainda limitado acerca do tema, o estudo do
assunto do que são criptomoedas e suas funções exigirá outros
aprofundamentos por parte do leitor.
Por fim, tratar-se-á da difícil exequibilidade da penhora
de criptomoedas, apontando os desafios e possíveis soluções
apresentadas pelo Desembargador do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, Alexandre Câmara.
Destarte, note-se que se utilizou como fonte de estudo
entendimentos jurisprudenciais, bem como fontes legislativas e
a pesquisa bibliográfica, tudo com o escopo de verificar a
viabilidade fático-jurídica da penhora de criptomoedas no
ordenamento jurídico brasileiro.
2. BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA
178
considerado o modo mais primitivo de trocas realizadas pelos
negociantes. Ainda hoje a mera troca é um método que traz
vantagens mútuas para ambas as partes envolvidas, já que
uma das partes obterá o que quer, oferecendo a outrem aquilo
que ele deseja. Não se tem informações concretas de como
funcionava o escambo em tais tempos, no entanto, as
comunidades que ainda vivenciam tal forma de negociação
servem como parâmetros das comunidades primitivas, como se
exprime das palavras de Davies (2002) citado por Silva (2016),
nos seguintes termos:
179
implementando o sistema no qual certas mercadorias tinham
preferência se comparadas a outras por apresentarem algum
tipo de qualidade que as diferenciassem das demais. Nas
palavras de Vasconcellos e Garcia (2011), a moeda mercadoria
constitui a forma mais primitiva de moeda na economia,
expressando que:
180
ser muito superior ao demandado para a produção dos
produtos, como proclama Vasconcellos e Garcia (2011).
Dessa forma, as trocas de mercadorias se tornaram
insuficientes nos fluxos de negociações, sendo necessário o
surgimento de novas moedas para simplificar e agilizar as
transações. Assim sendo, as principais moedas que surgiram
foram as metálicas – ouro, prata e cobre, senão vejamos:
181
Ora, o desenvolvimento da sociedade, e,
consequentemente, de seus sistemas monetários, exigiam o
surgimento de um novo tipo de moeda para superar as
desvantagens das moedas metálicas, como por exemplo, o seu
peso e o elevado risco de roubo. Abriu-se assim, caminho para
a criação dos bancos e dos títulos de crédito:
182
monopólio da emissão de tais notas, como apontam
Vasconcellos e Garcia (2011):
183
Nessa linha, Teixeira (2017) aduz que à medida que os
países conquistavam sua independência, seus governos
passaram a conduzir a emissão de cédulas e passou a controlar
as falsificações. Além disso, hoje a maioria dos países possuem
Bancos Centrais aos quais são encarregados de emitir as
cédulas e moedas. O autor menciona ainda:
184
Em nossa sociedade o dinheiro tangível, no qual fazemos
pequenas transações representa uma parte modesta frente a
todo o dinheiro em circulação no mundo. Atualmente, vivemos
a era das transações on-line e das criptomoedas, baseadas na
tecnologia, matemática e ciência e não mais no papel ou metal
como nos tempos passados.
Para uma melhor compreensão sobre a possibilidade da
penhora de criptomoedas, em especial do Bitcoin, parece
imprescindível apontar o que são moedas virtuais, suas
características e demais informações pertinentes.
3. CRIPTOMOEDAS
185
eletrônico que permitem ao usuário final
efetuar transações de pagamento
denominada em moeda nacional. Por sua
vez, as moedas virtuais possuem forma
própria de denominação, ou seja, são
denominadas em unidade de conta
distinta das moedas emitidas por governos
soberanos, e não se caracterizam
dispositivo ou sistema eletrônico para
armazenamento em reais (BANCO
CENTRAL DO BRASIL, 2014).
188
a utilização de moedas virtuais traz como vantagem a
praticidade e celeridade, uma vez que as transações podem ser
realizadas em qualquer dia, horário ou local, e por não
contarem com a presença de um intermediário, como as
instituições financeiras, por exemplo, além de possuírem tempo
médio da realização das transações reduzidas. Nesse sentido,
Teixeira (2017), analisando os dizeres de Joel Kurtzman,
assenta:
190
ser empregado o bem apreendido na satisfação do crédito
exequendo.” Da mesma forma, Câmara (2018) leciona que:
191
juros, das custas e dos honorários
advocatícios (BRASIL, 2015).
192
natureza. Decisão mantida. Recurso
desprovido.4
195
criptomoedas na prática se depara com um grande problema:
saber se o devedor possui as criptomoedas e onde estão
depositadas.
Como visto, uma das formas de adquirir criptomoedas é
através de corretoras ou casas de câmbio, que auxiliam na
compra e venda das moedas. Tendo informações de que o
devedor tem por costume investir em moedas virtuais, deverá o
credor fornecer ao Poder Judiciário lista dessas instituições
para que então o magistrado envie uma ordem judicial, a fim de
verificar a existência e a quantidade de criptomoedas do
devedor e, então, efetivar a sua penhora.
Outro desafio para que ocorra a penhora de moedas
criptografadas é sua elevada volatilidade. Sabe-se que a
morosidade do Poder Judiciário pode fazer com que um
processo se desenrole lentamente e devido à alta volatilidade
das criptomoedas, o valor apontado no momento da penhora e
da satisfação do débito podem ser completamente diferentes.
Caso a moeda tenha se valorizado nesse lapso temporal, a
constrição patrimonial será eficaz, a dívida satisfeita e o valor
excedente (se for o caso) devolvido ao executado. No entanto,
caso as criptomoedas sofram uma desvalorização elevada, a
penhora terá sido frustrada.
Solução para esse problema é apresentado pelo
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em
entrevista ao canal no Youtube da Professora Priscilla Menezes,
que consiste na aplicação análoga do art. 852 do Código de
Processo Civil de 2015:
196
Art. 852. O juiz determinará a alienação
antecipada dos bens penhorados quando:
I - se tratar de veículos automotores, de
pedras e metais preciosos e de outros
bens móveis sujeitos à depreciação ou à
deterioração; (BRASIL, 2015) (grifos
nossos)
197
regulamentação para fins de garantia da ordem e da segurança
jurídica. Aplicando tal raciocínio no âmbito das criptomoedas, é
notório que o ordenamento jurídico brasileiro ainda tem muito a
regulamentar.
Todavia, malgrado a insuficiência da legislação pátria
sobre as criptomoedas, resta inequívoco que as mesmas são
dotadas de valor econômico, compondo, por conseguinte, o
patrimônio das pessoas físicas e jurídicas. Daí, do ponto de
vista jurídico, tais moedas, como a moeda Bitcoin, podem ser
penhoradas nos processos de execução, visto não existir óbice
legal, porém, alguns desafios podem emergir do ponto de vista
prático, ante as reais dificuldades de se provar que o devedor
possui esse tipo de investimento. Logo, entende-se que com
regulamentação adequada e fiscalização efetiva por parte do
Estado, no futuro (espera-se que bem próximo) esse tipo de
constrição patrimonial do devedor possa ocorrer com facilidade,
segurança e adequação, já que os avanços tecnológicos devem
ser elementos de concretização de direitos.
REFERÊNCIAS
199
ULRICH, Fernando. Dez formas de explicar o que é Bitcoin.
2014. Disponível em:
https://www.infomoney.com.br/blogs/cambio/moeda-na-era-
digital/post/3160782/dez-formas-de-explicar-o-que-e-bitcoin.
Acesso em: 13 já. 2019.
200
O DIREITO REAL DE HABITAÇÃO: PRIMEIRAS REFLEXÕES
SOBRE SUAS CONTROVÉRSIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
Em época na qual a estrutura social era altamente
matrimonializada e conservadora, o Estatuto da Mulher Casada
(Lei n° 4.121, de 1962) surgiu como meio de minimizar a
desigualdade entre os gêneros, dando maior autonomia à
mulher - até então considerada como relativamente incapaz -
conferindo-lhe maior proteção patrimonial ao introduzir o
direito real de habitação no ordenamento jurídico brasileiro.
Assim, o direito real de habitação, instituído pela norma
supracitada, garantia ao cônjuge sobrevivente, casado sob o
201
regime de comunhão universal de bens, o direito de continuar a
residir no imóvel da família enquanto não contraísse novas
núpcias e desde que fosse o único bem daquela natureza a
inventariar. Caso o regime de bens fosse outro, era resguardado
ao cônjuge sobrevivente o direito de usufruto da quarta parte
dos bens do de cujus, quando este deixasse filhos, e ao usufruto
da metade dos bens, caso não os tivesse.
A Constituição de 1988 trouxe novas tendências ao
direito das famílias, com a valorização de seus membros, o
reconhecimento de outras formas de família e a necessidade de
ampliação de sua proteção, uma vez reconhecida sua
importância para as estruturas sociais. Posteriormente, o
Código Civil e o direito real de habitação também sofreram
alteração, remanescendo, na legislação codificada atual, como
garantia que cabe somente ao cônjuge sobrevivente, conforme
preceitua o artigo 1.831 do Código Civil vigente.
Ocorre que, o direito real de habitação estabelecido no
Código Civil de 2002 é marcado por algumas inconsistências na
redação que geram controvérsias em relação a sua
interpretação. Assim, o presente artigo se propõe a analisar
algumas das questões controvertidas que o circundam,
partindo de uma abordagem histórica do instituto e de seus
principais fundamentos, seguida da análise do posicionamento
doutrinário e jurisprudencial a respeito destes aspectos.
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO REAL DE
HABITAÇÃO
Para melhor compreensão do tema, é importante abordar
o contexto histórico do direito real de habitação no
202
ordenamento jurídico brasileiro, o que nos permitirá refletir
sobre sua finalidade enquanto instrumento de garantia dada ao
consorte sobrevivente.
204
natureza a inventariar. Em relação ao usufruto vidual, tratado
no parágrafo 1°, restaria ao consorte casado em regime diverso.
Nesse caso, sobre a cota de bens que usufruiria, a referida
norma estabelecia que em havendo filhos, caberia a quarta
parte dos bens do falecido, entretanto, não os havendo, seria da
metade. Entretanto, apesar da melhoria da condição da mulher
casada e de representar uma superação em prol de sua
emancipação, alguns autores, como Caio Mário da Silva Pereira,
asseveram que a Lei n°4.121/62 deixou a desejar em alguns
aspectos, deixando resquícios de certas desigualdades.
Importante destacar que a finalidade do instituto do
direito real de habitação era, senão, garantir alguma qualidade
de vida ao consorte sobrevivente independente da existência de
testamento a seu favor. Nesse sentido, conforme preleciona
Daniel Blikstein, embora os textos legais atinentes ao direito
real de habitação e o usufruto vidual buscassem conceder
direitos à mulher casada, os benefícios de sua aplicação
favoreciam tanto o homem quanto a mulher.
Mais tarde, houve nova alteração no artigo 1.611 do
Código Civil de 1916, com a Lei 10.050/2000, que estendeu o
benefício conferido pelo parágrafo 2º ao filho necessitado
portador de deficiência. Finalmente, o Código Civil de 2002
trouxe diversas mudanças em relação ao seu antecessor,
especialmente no que tange ao direito real de habitação na
sucessão hereditária dos cônjuges sobreviventes. O artigo 1.831
extinguiu o usufruto vidual e positivou o direito real de
habitação vitalício ao cônjuge supérstite (ANDRADE, 2018,
205
p.29). Além disso, com a mudança, as disposições do referido
artigo subsistirão em favor do cônjuge independente do regime
de bens adotado pelos nubentes e sem prejuízo da participação
que exista na herança. Ademais, não menciona a necessidade
de que o cônjuge permaneça viúvo ou limita o valor do imóvel,
de forma que a única condição imposta é a necessidade de que
o imóvel destinado à residência seja o único da mesma natureza
a inventarias. Notadamente, na hipótese de falecimento de
cônjuge beneficiado que constituiu nova família, o direito de
habitação será extinto. Importante notar, também, a escolha do
legislador por não contemplar o filho com deficiência, na falta
do pai ou da mãe e os conviventes em união estável, deixando
espaços para diversas interpretações sobre a possibilidade ou
não de aplicação por analogia.
A entrada em vigor do Código de 2002 trouxe à baila uma
série de divergências entre os estudiosos sobre o direito real de
habitação, principalmente, em relação às consequências da
extensão da proteção do instituto e a condição de que seja o
único imóvel de natureza residencial. Um dos temas
controvertidos é em relação à preocupação da lei em não deixar
o cônjuge sobrevivente desamparado, mas não ter essa mesma
preocupação com os filhos menores. Entretanto, para melhor
compreendermos o tema, é necessário pontuarmos algumas
características do direito real de habitação no ordenamento
jurídico pátrio.
206
O direito real de habitação está inserido no livro do
direito das sucessões, parte especial do Código Civil. No que
tange às características do instituto, estão regulamentadas no
título de direitos reais, especificamente nos artigos 1.414, 1415
e 1.416, sendo aplicáveis também, de forma subsidiária, as
disposições inerentes ao usufruto.
Para Maria Berenice Dias (2013, p. 64):
208
Patrícia Andrade, em distorção da finalidade do instituto,
propiciando mitigação injustificável de direito alheio, a
desigualdade e o enriquecimento sem causa.
209
secundária no âmbito familiar e necessitando de amparo em
razão de sua vulnerabilidade em prol da solidariedade familiar.
Diante deste quadro, era adequada a proteção conferida ao
cônjuge enquanto colaborador do núcleo familiar.
A Constituição de 1988 trouxe novas tendências para o
conceito de família e elevou a mulher a um patamar mais
igualitário, conforme assevera Patrícia Andrade:
(...) em 1988, a igualdade de gêneros
restou exaltada na Constituição da
República. As mulheres consagraram a
sua independência e autonomia, o
conceito de família ganhou novos
contornos, tornando-se um núcleo, que
pode ser estabelecido pelo afeto, de
promoção da autonomia e da realização
pessoal de cada membro. Assim, outras
formas de relações interpessoais
ganharam o status de entidade familiar e o
divórcio foi facilitado. Sob a égide dos
modernos fundamentos constitucionais e
da autonomia privada, atrelada à
inexorável busca individual por novas
realizações e pela felicidade, as famílias se
desfazem e se refazem, rapidamente, as
relações se tornam mutáveis, flexíveis e
efêmeras. (ANDRADE, 2018, p. 66).
210
parece justificável a tutela da moradia permanente ao consorte,
com base na presunção de solidariedade e hipossuficiência da
mulher e em detrimento dos demais herdeiros. É necessário,
conquanto, analisar a situação do consorteno caso concreto
com intuito de averiguar a necessidade ou não de concessão do
benefício.
214
acerca da situação. Considerando situação de de cujus que
contraiu núpcias várias vezes durante a vida, deixando filhos
mais velhos que o cônjuge supérstite, o que pode ocorrer é de
nunca os filhos desfrutarem do patrimônio deixado, pois o
cônjuge supérstite tem expectativa de vida maior, e o direito
real de habitação é vitalício.
216
Nesse cenário, questiona-se o que deve persistir: o direito real
de habitação eu garante moradia ao cônjuge ou o direito
constitucionalmente garantido de moradia dos filhos exclusivos
do de cujus?
Ainda que raros julgados cuidem dessa temática, na
maioria das vezes as decisões optam por uma aplicação literal
da norma. Entretanto, na relatoria do REsp 1.134.387, a
Ministra Nancy Andrighi, buscou relativizar a aplicação do
instituto e negou a aplicação do direito real de habitação em
razão do condomínio do bem com os outros filhos do falecido
que não integravam o grupo familiar. Nessa linha de
pensamento, o voto proferido foi no sentido de buscar maior
isonomia entre os filhos e a preservação do bem-estar entre os
ascendentes do de cujus de forma que o direito real de
habitação não deveria afrontar o direito de propriedade dos
demais herdeiros diante da ausência de vínculo de
parentalidade entre a viúva e os filhos exclusivos do falecido.
Entretanto, o posicionamento da ministra não encontrou
respaldo.
Um possível caminho para a solução da avença pode ser
encontrada no direito de habitação chileno, que estabelece uma
preferência ao cônjuge sobrevivente para usar de sua cota parte
da herança para adquirir o imóvel e, somente não havendo
recurso suficiente para a aquisição, o conserte faria jus ao
direito real de habitação. O Código Chileno, ainda que não
ofereça a decisão mais acertada, procura minimizar a restrição
ao direito de terceiros, concedendo a tutela do benefício apenas
217
se for necessário. Assim, a necessidade deveria ser considerada
requisito para aplicação da norma, pois no contexto familiar
contemporâneo a vulnerabilidade e hipossuficiência do cônjuge
sobrevivente não deve ser presumida, mas averiguada de
acordo com o caso concreto. Imagine que o cônjuge
sobrevivente possua condições mais do eu necessárias para
manter-se, ou eu tenha outro imóvel onde possa residir. Nesses
casos, reconhecer-lhe o direito real de habitação é ignorar
a ratio da norma. A esse respeito, assim apregoa Patrícia
Andrade:
218
O que se vislumbra, em verdade, é a incapacidade do
Direito de acompanhar os anseios e mudanças de paradigmas
da sociedade. Todavia, resta demonstrada que a excessiva
proteção conferida pelo direito real de habitação carece de
hermenêutica que busque adequar a norma à realidade
(ADRADE, 2018), pois sua configuração é, muitas vezes, débil
em relação ao contexto atual.
2.6 APLICAÇÃO DO DIREITO REAL DE HABITAÇÃO EM
IMÓVEIS DE VALOR VULTOSO OU AINDA QUE NÃO SE
TRATE DE ÚNICO IMÓVEL DE NATUREZA RESIDENCIAL A
INVENTARIAR
220
Quanto aos imóveis de alta monta, a jurisprudência não
parece se preocupar com o tema, reconhecendo o direito
independente do valor em que fora avaliado. Entretanto, não
parece haver nenhuma justificativa jurídica para a manutenção
desse entendimento, em razão do mesmo argumento de que,
para manter uma vida digna, não é necessário habitar em
imóvel de elevado valor. A esse respeito, assim aduz Patrícia
Andrade:
221
devem ser levados em conta para a aplicação de qualquer regra.
O que se vê é uma interpretação superficial e negligenciada da
norma, que acarreta em sua aplicação desarrazoada.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
222
sociedade. Por óbvio, a saída para os dilemas apresentados
seria conferir à norma interpretação conforme e não literal,
impondo-lhe limitações por meio da hermenêutica ou com uma
possível alteração da norma, adequando o direito real de
habitação às demandas sociais atuais.
Por fim, o tema ainda é bastante controvertido,
carecendo de reflexões profundas sobre as suas mais diversas
vertentes de aplicação. A intenção aqui é contribuir para o
debate no âmbito acadêmico, somando-se aos artigos que já
abordaram o tema.
REFERÊNCIAS
223
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil:
direito das sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2012. v. VI. 19
ed.
224
DEMOCRACIA, SISTEMAS E DIREITO: UMA ABORDAGEM A
PARTIR DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DA FILOSOFIA
POLÍTICA
Marcos Ribeiro1
René Dentz2
225
Sob o viés histórico, o plebiscito como instituto surgiu o
declínio do Império Romano (27- a.c até 476 d.c.), mais
precisamente no ano de 245 d.c. Roma. Com a revolução no
ano supracitado, a aristocracia passou a ter a mais completa
ascendência sobre o povo.
O povo (plebe) oprimido reivindicou ao império romano,
maior participação política, e organizaram seus planos de
reivindicação de poder e direitos que até então eram
sistematicamente recusados.
Entretanto, nem todas as participações políticas
aspiradas pelos plebeus lograram êxito de plano. Foi preciso um
trabalho lento e pertinaz de politização da plebe feito por líderes
dos movimentos por direitos políticos, até a célebre retirada
para o Monte Sagrado próximo a Roma, de modo que os
plebeus, até então maioria da população romana, fizeram uma
espécie de boicote sócio econômico evadindo de Roma, e só
voltariam à cidade depois que de fato pudessem participar da
vida política do império, e como Roma não sobreviveria sem os
plebeus, estes foram atendidos pelos patrícios, os nobres de
Roma, em suas aspirações.
226
que deram, conforme antes exposto, origem ao plebiscito, eram
numericamente a maioria da sociedade Romana, a plebe era
composta basicamente por pequenos comerciantes, artesãos e
outros trabalhadores livres, possuíam poucos direitos políticos.
Abaixo dos plebeus, na estrutura social estavam os
cilentes, viviam “presos” aos patrícios, e possuíam por estes
uma forte relação de dependência, essa classe era formada
basicamente por estrangeiros e refugiados pobres, tinham apoio
econômico e jurídico dos patrícios, mas como os vassalos da
idade média, lhes deviam ajudas em trabalhos e questões
militares.
227
do escravo romano, que poderia adquirir a sua liberdade seja
pela concessão de seu proprietário, por abandono, ou até
mesmo pela compra da própria liberdade, da mesma forma que
escravidão brasileira, geralmente trabalhava para seu ex
- proprietário.
Após toda essa explanação, desse arcabouço histórico
acerca da divisão de classes da civilização grega e do império
romano, grande e desnecessária tarefa seria dissertar sobre as
subdivisões de outras sociedades e civilizações antigas, focou-
se, portanto nessas duas, posto que a Grécia antiga é o berço
da filosofia e o direito romano é à base do ordenamento jurídico
brasileiro.
Karl Marx, no seu livro Manifesto Comunista, mais de
1600 anos depois do declínio do império romano, cita de forma
veemente a luta de classes sociais. E como visto, no império
romano em 245 d.C. havia as lutas de classes entre os plebeus
e os patrícios, mesmo a plebe sendo maioria do império, os
membros da mesma não eram considerados cidadãos.
Os plebiscitos ocorridos após a revolta no monte sagrado
eram de fato, as primeiras inserções populares da Humanidade,
concernente ao período republicano de Roma (509 a. c-27 d, c),
pois os plebeus em sua maioria conquistaram o direito de eleger
seus representantes, os chamados tribunos da plebe, esses
poderiam propor plebiscitos, decretos da plebe, passados em
comícios e válidos inicialmente para a sua classe e que
tornariam a decisão “soberana” da plebe mediante o plebiscito,
e se tornou uma axiologia no período republicano do império
228
romano. Assim como o próprio sistema político, a palavra
democracia tem origem no idioma grego, e vem de demokratia,
sua versão em latim era democratia.
Também segundo a vertente grega, o termo tem em sua
base duas palavras gregas, demos que significa povo, e kratos
domínio e poder, trás o significado de “poder do povo”.
Entretanto, sob o ponto de vista social, o termo não
condiz com a realidade fática, pois apenas uma minoria
privilegiada os eupátridas, e somente eles, tinham direito a voto
e a voz, já que as mulheres e as demais classes, não tinham
direito algum.
Democracia e política são termos análogos, a política em
sua morfologia e etimologia o termo grego Politikos polis
significa cidade e ikos sistema. A “cidade” Atenas era composta
apenas pelos eupátridas, classe social correspondente aos
patrícios do Império Romano.
Houve um exponencial crescimento democrático dos
plebeus entre 75 - 509 a.c e no período seguinte o republicano
509- 27 d.c, o que gerou uma grande massa de insatisfeitos
com a vida política do império romano, se sentiam alijados da
vida política de Roma, criaram um “governo paralelo”, afim que
dentro da sua classe se tornariam a decisão soberana da plebe,
mediante o voto. Cria-se, portanto o embrião do plebiscito hoje
democraticamente utilizado em muitos países, principalmente
os ditos civilizados.
Apenas em 380 d.c o império romano se tornou cristão,
através do decreto do imperador bizantino Teodósio primeiro, e
229
houve de fato uma divisão política social maior, com o advento
do clero no poder, e era a “aristocracia” dos “melhores” de
aristos “melhor”, mais kratos “poder”, e eram aristocratas os
patrícios romanos, e os plebeus postos à margem da vida
política e jurídica do império romano.
Necessária, portanto foi à explanação da divisão política
do império romano para se entender a origem do plebiscito na
Humanidade.
230
para ampliar a participação popular e concomitantemente
mantendo a estrutura da democracia representativa.
Lentamente, diversos países passaram a prever o referendo em
suas constituições, todavia, em muitos deles, tal figura jurídica
restou esquecida no texto legal, sem qualquer expressão
prática. Todavia, mesmo não sendo utilizado politicamente, o
termo referendo, foi cunhado nas antigas confederações
germânicas e helvéticas, no século, XIX entre 800 e 900, nas
quais todas as leis eram aprovadas ad referendum pelo povo, ou
seja, desde que obtivessem como reposta o consentimento da
população a lei seria válida. Portanto
estes institutos trazem desde a sua origem, a ideia de
consultar a opinião pública.
É necessário frisar que a origem do plebiscito e referendo
nos moldes em que foram apresentadas, está condicionada a
história meramente ocidental, mais precisamente na Europa
dito o continente civilizado sob o viés histórico, não significa,
portanto que o continente africano, americano, asiático e a
Oceania, não utilizavam consultas prévias ou posteriores de
criações de leis, mas, contudo, apenas os registros históricos
escritos, servem para a comprovação histórica da democracia
em sua plenitude.
A DEMOCRACIA E A CONSTITUIÇÃO
231
era imperial) subsequentemente em1891, 1934, 1937, 1946,
1967 e 1969 (As últimas promulgadas em plena ditadura
militar) e por fim a Constituição Federal da Republica
Federativa do Brasil, batizada de Constituição cidadã em 1988.
Muito tardiamente somente após 71 anos da proclamação da
República veio à luz, a normatização do plebiscito em uma
Constituição brasileira através da EC nº 4 de 2 (dois) de
setembro de 1961.
232
questão. Entre 1889 e 1894, o governo republicano era exercido
por militares, portanto por se tornar um governo classista, por
motivos óbvios, não era interessante submeter às decisões do
país ao crivo popular.
Segundo o site história brasileira, nos anos de 1894 a
1930, conhecida como a era da república do “café com leite”, no
qual governava a oligarquia rural, grandes produtores rurais e
latifundiários, descendentes dos senhores do engenho de Minas
Gerais e São Paulo, se revezavam no cargo de mandatário
máximo da nação.
Por óbvio, a oligarquia latifundiária em questão, só
queria o poder concentrado com seus pares, uma classe
privilegiada economicamente, nesse contexto plebiscitos e
referendos como institutos de democracia plena e participativa,
eram considerados descalabros para a classe política da época.
Ainda segundo o site, história brasileira em 1930 Getúlio
Vargas assume o governo mediante uma ditadura que perdurou
até 1945. E em um governo ditatorial,
233
como o próprio sistema pressupõe não cabe à consulta
popular sobre as leis promulgadas ou a serem produzidas. Nos
dezesseis anos subsequentes, em plena guerra fria entre União
Soviética e Estados Unidos, tendo o Brasil como sempre se
posicionando a favor dos Estados Unidos, não poderia tomar
atitudes populistas para não serem associados a uma
aproximação com o comunismo soviético. Logo no início dos
anos 1960, governos presidencialistas populares, como os de
Jânio Quadros e de João Goulart, que se aproximaram muito
da Cuba comunista, teve mediante a EC de 2 (dois) de setembro
de 1961, a primeira implementação do plebiscito e referendo do
Brasil, no caso, através de uma emenda constitucional a
Constituição de 1946, como supracitado.
O receio da burguesia do Brasil de se tornar um país
comunista, consubstanciado pelo contexto histórico da época
potencializou o golpe militar de 1964, que só de um cidadão
conjecturar plebiscitos e referendos, seria preso como
subversivo, provavelmente torturado e até assassinado.
A ditadura militar perdurou até 1985, três anos antes, da
promulgação da última Constituição de 1988, onde foi
normatizado enfim os institutos de plebiscitos e referendos no
Brasil que serão abordados no capítulo a posteriori.
235
ao plano jurídico, moral ou político - está intimamente ligada à
responsabilidade.
237
Em Ricoeur (2006), partindo de sua obra Parcours de
Reconaissance1, desenvolvida em três estudos, “o
reconhecimento como identificação”, “reconhecer-se a si
mesmo” e “o reconhecimento mútuo”, a primeira formulação
dada à temática do reconhecimento propriamente dita foi feita
por Hegel, através de sua conhecida obra Fenomenologia do
Espírito (2005). Aqui, Hegel, segundo o filósofo francês, parte do
caminho realizado por Hobbes, trabalhando dentro da dialética
do senhor e do escravo.
Com efeito, analisando o pensamento de Hobbes (2005),
que preconizava o estado de natureza como acalentador de uma
situação de constante tensão e conflito, consistente num estado
de guerra de todos contra todos, e produzida, conforme se vê no
Leviatã, pela desconfiança, competição e busca de glória, Hegel
vai se afirmar contrário a este autor, postulando que há um
fundamento moral diverso do medo preconizado por Hobbes,
para explicar as relações sociais e a instauração do pacto, que é
justamente o desejo de ser reconhecido.
Por meio da dialética do senhor e do escravo do autor
alemão, Ricoeur (2006) verá que, não obstante senhor e escravo
serem seres pensantes e possuírem humanidade, é no conflito
dessa relação negativa de desprezo que o reconhecimento
postula-se plausível para Hegel. Sendo o desprezo e a negação
238
do reconhecimento frutos da contradição social2 vê-se, ainda,
um desequilíbrio entre a igual atribuição de direitos e a
desigual distribuição dos bens, o que causa, para Hegel, a não
realização da estima social. Ou seja, há a prescrição formal do
reconhecimento, mas também a sua negação fática, o que gera
o anseio por ser reconhecido de modo concreto.
Com relação a Axel Honneth, através de seu livro Luta
por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais
(2003), publicado em 1992, Ricoeur (2006) dirá que ele
retomará a ideia hegeliana da experiência negativa de desprezo
como aquilo que possibilita o desejo de ser reconhecido.
Trazendo uma dimensão de luta social à ideia de
reconhecimento, Honneth proporá que este possibilita o
respeito de si e a estima social, sendo força moral com
possibilidade de promover desenvolvimentos e progressos na
realidade social, instaurando, também, o que chamará de
autorrealização.
Contudo, o filósofo francês postulará que, se o
reconhecimento for analisado somente pelo horizonte da luta,
não obstante a sua contribuição bastante válida, haverá uma
demanda que ele chamará de “insaciável”, “uma reivindicação
sem fim”, “um tipo de nova consciência infeliz”. Por isso sua
proposta é “de completar uma problemática da luta por meio da
evocação das experiências de paz pelas quais o reconhecimento
Paul Ricoeur: The act of judging, in: Paul Ricoeur: The Just,
transl. by David Pellauer, Chicago / London: University of
Chicago Press, 2000, (p. 127-132), [orig. L’acte de juger, in: Le
Juste, Paris: Éd. Esprit, 1995].
Paul Ricoeur: The Moral, the Ethical, and the Political, trans. by
Alison Scott-Baumann, in: Paul Ricoeur and the Task of Political
Philosophy, edited by Greg S. Johnson, Dan R. Stiver, Lanham:
Lexington Books, 2013, (p. 13-24) [orig. Morale et Politique,
1993].
Paul Ricoeur: Who is the subject of rights? In: Paul Ricoeur: The
Just, transl. by David Pellauer, Chicago / London: University of
Chicago Press, 2000, (p. 1-10), [orig. Qui est le sujet du droit?
In: Le Juste, Paris: Esprit, 1995].
241
IMPACTOS DA PSICANÁLISE NO DIREITO PROCESSUAL
PENAL: ESTUDO DE DECISÃO DE CASO DE PEDOFILIA
INTRODUÇÃO
A temática abordada diz respeito a como a Psicanálise,
através de estudos sobre o inconsciente, pode contribuir
243
classifica-se em um estudo de caso de pedofilia, pois será o
motivo real de análise.
O estudo se valerá do Método Indutivo, tendo em vista que
a temática não se encontra pacificada e nem respaldada na
legislação específica, porém o assunto necessita ser
interpretado pela Psicanálise, a fim de que sejam julgados os
casos de indivíduos que cometem a pedofilia.
Para se chegar à demonstração, exigiu-se uma melhor
compreensão, através de embasamento teórico, buscado em
estudos realizados por Sigmund Freud (1856-1939), após o
surgimento da Psicanálise no final do século passado, o qual
alterou, radicalmente, o modo de pensar da vida psíquica, e,
por meio da Lei Nº 12.015/2009, que reestruturou o Titulo VI
da Parte Especial do Código Penal, caracterizando como ¨DOS
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL¨. Valer-se-á, ainda,
da premissa do Coordenador do Núcleo de Direito e Psicanálise
do Programa de Pós-graduação em Direito da UFPR, o Dr
Jacinto Nelson Miranda Coutinho (1996), que demonstrou uma
aproximação possível entre o Direito e a Psicanálise
Será traçada, inicialmente, uma abordagem à introdução da
Psicanálise, a qual, clinicamente, é a linguagem do inconsciente
que parte do sujeito e traz informações precisas desde os
primeiros momentos de sua vida, e, podendo refletir em seus
comportamentos futuros. Posteriormente, há discussão acerca
da interlocução da Psicanálise com o Direito Penal, partindo do
pressuposto de que ainda existem muitas lacunas em relação
244
aos crimes sexuais. Para finalizar, e na perspectiva de elucidar
o tema proposto, será apresentado um caso de pedofilia.
2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
246
com a aplicação justa e não apenas de forma superior e
independente em um caso concreto.
Em síntese, um magistrado não deve visualizar o Direito
somente a partir de entendimentos isolados, mas, por meio da
interdisciplinaridade de outros saberes.
2.1 INTRODUÇÃO DA PSICANÁLISE
248
Sendo assim, muitos fatos acontecidos, desde o nascimento
e a infância, ficam armazenados no inconsciente do sujeito e
refletindo em seus comportamentos futuros.
Nesse sentido, o esquecido será sempre penoso para o
sujeito, mas não significando, necessariamente, que deverá ser
algo ruim, pois poderá ser algo bom que se perdera ou que fora
intensamente desejado. Portanto, estes conteúdos psíquicos se
alojam no consciente, podendo ou não vir à tona.
Nos trabalhos terapêuticos, Freud abandonou as perguntas
aos pacientes, deixando-os dar livre curso às suas ideias. Dessa
forma, foi observado que os pacientes ficavam embaraçados,
envergonhados com algumas ideias ou imagens que lhes
corriam. Freud descobriu, ainda, que as experiências
traumáticas e reprimidas referiam-se a conflitos de ordem
sexual, a partir de fatos acontecidos desde os primeiros anos de
vida do sujeito e que, consequentemente, refletem na formação
de sua personalidade.
2.2 VISÃO ONTOGENÉTICA DA PSICANÁLISE
250
que será traduzida pela Psicanálise pela sua oralidade, isto é,
através da sucção do seio materno.
É nesse momento que ocorre a primeira fase da
sexualidade, chamada de fase oral, a qual Freud mostra que se
inaugura a sexualidade do sujeito num processo simbiótico.
Todavia, Freud discorre que pode haver algumas consequências
no momento, pois o Eu do sujeito está com a mãe e ela também
poderá passar alguns elementos fortes para o bebê.
Entretanto, a partir dessa fase, o bebê começa a ter a
introdução de outro sujeito nessa relação, que é a figura
paterna. Isso representará uma ruptura entre o bebê e a mãe,
tirando aquele do imaginário e o levando para o real, isto é, o
mundo concreto onde existem limites. Porém, essa ruptura é de
suma importância para o sujeito, visto que ele estará fora desse
processo da simbiose.
Assim, nesse momento, o sujeito irá deixar essa fase, a qual
significa deixar de entender o mundo apenas pela mãe. É mister
lembrar que se trata de um processo inconsciente trazido pela
psicanálise de forma predominante. Sendo assim, deixará a
mãe como um único processo de estar no mundo e tendo agora
também a figura paterna.
Essa passagem faz-se necessária ao bebê, visto que
representa a existência de algo proibido no mundo, com perigos
e limites. Em razão disso, surge, consequentemente, a culpa,
que é a lei interna, a qual o sujeito entenderá que não poderá
fazer tudo o que quiser.
251
Considera-se que o real é fundamental para o
desenvolvimento da criança, pois se instaura nesta um ser de
desejos. Portanto, a estrutura psíquica do sujeito nunca será
completa, pois sempre será uma estrutura de desejos e de falta.
254
Segundo as palavras de Herzmann:
255
dessa premissa, a Psicanálise procura compreender o
comportamento humano e, por conseguinte, o comportamento
desviante.
Barata esclarece que:
262
A continuidade do comportamento antissocial durante toda
a vida do psicopata é realmente impressionante, conforme
afirma Hare (2013, p.240), caracterizando o fracasso desses
indivíduos ao ajuste de regras e normas sociais e as
consequentes condenações criminais que compõem seu
histórico.
3.0 CRIMES SEXUAIS
3.1 PEDOFILIA
Foi a partir de 1905 que Sigmund Freud adotou o termo
perversão para a psicanálise, propondo a ideia de que havia nos
sujeitos perversos um desvio sexual em relação a uma norma
(MELO, 2011). Através da Psicanálise, é possível entender que a
sexualidade é um processo de fixação do desejo em alguns
263
elementos do mundo, e a partir disso será definida a
heterossexualidade e a homossexualidade.
Entretanto, a pedofilia apresenta-se como um descaminho
relativo a um desequilíbrio entre o Superego e o Id, pois a
sexualidade tem um ajuste, isto é, não é desenfreada. O desejo,
diferente de prazer, pressupõe um impedimento, que é a parte
consciente do sujeito.
A compreensão mais adequada é que o sujeito sabe que
terá de ter limites, isto é, não poderá a todo o momento ter
relação sexual ou exercer a sexualidade. Portanto, tendo essa
consciência, o mesmo acaba não sofrendo com essa limitação.
Todavia, no caso da perversão ou mais especificamente da
pedofilia, o sujeito tentará armar uma estratégia inconsciente
de não ter uma proibição e poderá atrair indivíduos mais
vulneráveis, as quais, crianças ou adolescentes, que,
supostamente, têm menos resistência para manter relações
sexuais com o pedófilo.
Para maior compreensão da ligação entre a pedofilia e os
crimes sexuais contra vulneráveis, conceitua-se este como
aquele indivíduo que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência à conduta do agente.
Mirabete dispõe sobre o conceito de vulnerável
267
proporcionado ao pedófilo apenas o prazer pela masturbação e
não pela consumação da relação sexual.
No entendimento da Psicanálise, o motivo da perversão
sexual do pedófilo encontra-se abrigadas no Complexo de
Édipo, período de intensa dualidade de sentimento entre o amor
e o ódio.
Portanto, este comportamento é um desequilíbrio entre o
Superego e o Id, isto é, uma má formação da personalidade,
transformando-se então numa perversão.
4.0 ESTUDO DE DECISÃO DE UM CASO DE PEDOFILIA
269
anos. No julgamento, realizado em dezenove de agosto de 1997,
o réu foi condenado, após recurso examinado neste colendo
Sodalício, em nove anos de reclusão (art. 214 c/c o art. 224,
"a", na forma do art. 71, todos do CP), de acordo com o acórdão
acostado às f. 643/669 do feito originário ora em apenso.
Na leitura da descrição de f. 406 deste processo,
evidencia-se que o réu, quando apresentava a idade de 06 (seis)
anos, sofrera abusos sexuais e o mesmo reconhecia sua
patologia mental e afirmava que ¨sua doença não tinha cura¨.
Nesse contexto, a Psicanálise contribuirá de forma
significativa para esclarecer determinados comportamentos
sexuais no Processo Penal, haja vista que aquela estuda o
inconsciente, através de traumas acontecidos na infância, e que
consequentemente refletirá ao longo de toda vida.
No caso em tela, o comportamento sexual do condenado
está diretamente ligado no desvio da formação de sua
personalidade, uma vez que o mesmo foi abusado na infância,
período de intensa dualidade de sentimento entre o amor e o
ódio. Possivelmente, o trauma sofrido culminou em práticas
sexuais desviantes, pois não se conseguiu canalizá-lo.
Vale frisar que nem todos os indivíduos abusados
sexualmente, quando criança ou adolescente, terão uma
conduta que os levarão a cometer crimes sexuais, entretanto,
sob uma visão psicanalítica, certos indivíduos, quando têm
experiências sexuais traumáticas, quando adultos, armam
estratégias no inconsciente, as quais o levarão às práticas
sexuais sem limites.
270
As perícias f. 227/237 e f. 405/413 dos autos da revisão
criminal, principalmente aquele trazido em sede oficial f. 405 e
seguintes, revelam a provável origem da conduta criminosa do
condenado, ali se indicando os fatores que teriam instigado o
agente a seguir o referido caminho.
Na leitura da descrição de f. 406 deste processo é
possível constatar que o réu estaria envolvido em fatos de
mesma natureza há um longo tempo. Noticia-se, ainda, o abuso
sexual em detrimento do condenado, quando este apresentava a
idade de seis anos.
Segundo as f. 409 dos autos da revisão - quesito n. 08,
Problema este ligado à patologia mental, que no caso do réu foi
diagnosticada como desvio para práticas pedofílicas, a ponto de
mitigar a capacidade plena de determinar-se de acordo com o
entendimento do caráter criminoso dos fatos.
Assim, aplica-se aqui o seguinte enunciado:
271
O presente estudo evidencia que, diante de crimes
sexuais, mais especificamente crimes de pedofilia, o Direito
Penal apresenta-se ainda bastante incompleto, se analisado de
forma isolada, autônoma e independente dos demais saberes.
Apreende-se que o Juiz, quando é estritamente legalista,
isto é, analisa o processo baseando-se apenas na lei seca,
apresenta-se muito despreparado para a promoção da justiça
em um caso concreto que demanda o uso de uma gama de
saberes.
Nesse sentido, demonstrou-se a importância da
interlocução entre o Direito Penal e a Psicanálise, visto que
esta, através do estudo da personalidade do sujeito, ajuda a
interpretar determinados comportamentos relacionados ao
inconsciente, podendo intervir e contribuir para os operadores
de Direito, a fim de que uma decisão judicial, nos crimes
sexuais, não seja proferida apenas se baseando no Código Penal
Brasileiro.
E importante salientar que a Psicanálise, através do
processo de análise, que é a terapia, poderá, no primeiro passo,
detectar qual foi o trauma ocorrido na formação da
personalidade, a qual, consequentemente, gerou a passagem
para o ato, isto é, o motivo pelo qual o individuo tem essa
personalidade, que irá levá-lo a cometer os crimes sexuais e
também por não ter a dimensão do Superego desenvolvida.
Sendo assim, nesses casos de psicoses, em que há a
prática de crimes sexuais, mesmo não tendo cura, nota-se que
através de terapia, poderá ocorrer um processo denominado de
272
sublimação, que é a passagem desse sintoma para outro,
através de uma mediação, ou seja, canalização do indivíduo por
meio de atividades terapêuticas (arte, músicas ou outras...)
para que ele consiga expressar a sua psicose, por meio de uma
forma que não seja maléfica a ele e a outro.
Vale ressaltar que não se há nenhuma pretensão no que
tange a esgotar o tema proposto, dado à sua complexidade, e,
sobretudo , porque há muitos desafios a serem alcançados,
como, por exemplo, fornecer esse tipo de tratamento em grande
escala ao serviço público, uma vez que não há outro caminho
de ressocialização do individuo.
E cediço que o Estado democrático de direito, como
detentor do poder de punir, deve aplicar medidas de segurança
mais humanizadas aos indivíduos que sofrem de transtornos
mentais e praticam crimes sexuais, e não apenas administração
medicamentosa, que tira o indivíduo ou controla instantânea de
sua própria personalidade.
REFERÊNCIAS
Disponível:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.h
tm.
273
CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Teoria da argumentação.
Constitucionalismo e Democracia em uma reconstrução das
fontes no direito moderno. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2009.
CECCARELLI, Paulo Roberto. Contribuições da Psicopatologia
Fundamental para a Criminologia, v. 10, 18, ano 10, jan-jun.
João Pessoa, 2011.
274
HERZMANN, Edgar. O Comportamento ilícito para a
psicanálise, 2014. Disponível em:
<http://edgarherzmann.jusbrasil.com.br/artigos/129534783/o
-comportamento-ilicito-paraapsicanalise>.
275
ANÁLISE DO FILME “MAR ADENTRO” A PARTIR DA
FILOSOFIA DE PAUL RICOEUR
Marisa Quintão1
René Dentz2
RESUMO
INTRODUÇÃO
É um caso verídico, com apologia à liberdade onde pode
ser notado na frase marcante do personagem principal Ramón
San Pedro onde ele diz: “Liberdade que elimina a vida, não é
liberdade, e vida que elimina liberdade, não é vida”.
277
estruturalismo, fenomenologia, história das religiões, ciências
históricas e políticas têm sido utilizadas por Ricoeur como saída
em impasses a certas situações. O filósofo francês tem sua
filosofia com reflexão da vida moral do princípio ao fim. É uma
filosofia da vontade humana. Movemos no mundo das
interpretações na sua pluralidade e conflitos. Portanto, a
hermenêutica de Ricoeur gira progressivamente até a ética.
Ricoeur foi sem dúvida um dos principais nomes da
filosofia contemporânea. Sua importância está ancorada em
diversos fatores: suas numerosas publicações, seu brilhantismo
na articulação filosófica, sua clareza de objetivos, na abordagem
pertinente para sua época e em constante diálogo com a
mesma. Ricoeur foi um pensador atento e sensível ao seu
tempo, não se esquivando nem dos acontecimentos de sua
época, nem dos fatos impactantes em sua existência.
No entanto, destacamos três fatores que o distinguem de
outros importantes nomes da filosofia do século XX: sua
interlocução com diversas áreas do saber, demonstrando uma
abertura ao novo, possibilitando uma constante abertura de
sua filosofia a novas dimensões do saber e do humano.
Podemos verificar esses frutos intelectuais a partir do diálogo
com a teologia, a psicanálise, a literatura, a história, a
linguística, as religiões, etc.; sua preocupação em pensar a
filosofia de forma rigorosa, fundamentando-a na tradição, mas,
ao mesmo tempo, promovendo abordagens a partir dos mitos,
da religião, dos poetas antigos, ou seja, de fontes “não
filosóficas da filosofia”. O diálogo entre teologia e filosofia, nesse
278
sentido, alarga o campo de pensamento filosófico,
enriquecendo-o, protegendo-o de preconceitos e ideologias; seu
contato com um tipo de filosofia que tem como inspiração a
tradição analítica, o que lhe permite fazer uma abordagem
sobre a linguagem de forma mais ampla. Durante quinze anos
Ricoeur vive e lecionou nos Estados Unidos, em Chicago. Lá,
teve contato com uma perspectiva diferente de filosofar,
partindo de um horizonte mais “analítico” e menos
“hermenêutico”. No entanto, não abandonou a hermenêutica,
apenas a ampliou.
A hermenêutica e a ética não se opõe em seu projeto de
se encontrar e se complementam. A experiência moral (a lei, a
obrigação) se encaixa hermeneuticamente.
Para Ricoeur, não há conflito entre a hermenêutica dos
textos e a ética do cuidado do outro. A interpretação não se
entende sem o momento ético-pessoal da aplicação, da
produção prática. Ramon deseja a morte porque a vida do corpo
é a liberdade, não existem certezas e existe o esvaziamento do
“eu”. Como forma de se orientar na realidade, Ricouer mostra
três momentos: a racionalidade que dá conta do humano é
narrativa. As narrações fazem parte de nossa vida. Somos
moradores de nós mesmos. A identidade humana, pessoal,
social, nossas crenças são narrativas; e para Ramon existem
essas narrativas que são pessoais, identitárias.
As narrativas são formas de produzir sentido e o sentido
pode ser múltiplo e ter ambiguidades; o que fica bem claro nas
posições de Ramon durante o decorrer do filme. Existe a
279
necessidade da racionalidade definida pelo ideal da
universalidade as quais não se buscam na natureza sem o
próprio sujeito.
A partir de uma tomada de consciência, o indivíduo
descentra-se de si mesmo e adentra numa perspectiva de
abertura, concretizando a humanidade que emerge com os
valores da pessoa em um sentido comunitário.
Em meio às verdadeiras guerras
intelectuais que assolam violenta e
soberbamente os meios acadêmicos,
Ricoeur, em atitude sempre discreta e
humilde, privilegiou a escuta, a atenção
profunda à assimetria possível no diálogo e
ao argumento sempre respeitável do
adversário. Para nós, intelectuais de hoje,
seu legado é o de um caminho generoso e
certamente apto a conduzir as criaturas
falíveis que somos através dos
desconfortos destes tempos modernos e
pós-modernos (BINGEMER, 2005, p. 2).
280
(é considerar que para Ramon não é direito à vida, porque o que
ele vive não é vida para ele).
Desde o início, Ricoeur considerou a racionalidade
filosófica como um desafio a assumir na condição de crente.
Dessa forma, procura no círculo hermenêutico compreender
mais para crer e crer mais para compreender e alcançar um
caminho de maior harmonia entre a filosofia e a religião, mas
nunca uma solução simplista. “Eu sempre caminhei sobre duas
pernas. Não foi apenas por precaução metodológica que não
misturei os gêneros, mas porque procuro afirmar uma dupla
referência, absolutamente primeira para mim” (RICOEUR,
1995a, p. 211).
Tanto nas intervenções filosóficas, quanto em seus
trabalhos exegéticos, Ricoeur se esforça para rejeitar tudo
aquilo que poderia ser identificado como um “fundamentalismo
redutor”, seja especulativo, conceitual ou teológico. É
justamente o diálogo entre a filosofia e a religião que ele vê
como um antídoto para tal problema. Esse diálogo não pode se
instituir sem essa alteridade principal, sem essa diferenciação
bem clara entre dois campos, que animam, com o mesmo rigor,
um pensamento que nunca perde como horizonte a
incompletude. Essa cisão entre os dois domínios teve mesmo
uma tendência a se reforçar. Os artigos publicados por Ricoeur
nos anos cinquenta e sessenta justapõem as intervenções dos
dois registros. Por outro lado, os três volumes de Lectures
separam esses domínios. Em Lectures 2 se dedica aos filósofos,
281
em Lectures 3 se situa na fronteira da filosofia, estudando
temas teológicos.
Em Soi-même comme un autre Ricoeur não quis, mesmo
que seu editor, François Wahl não visse nenhuma objeção, que
sua hermenêutica do si, propriamente filosófica, se finalizasse
com dois capítulos de hermenêutica bíblica. Ele se explica no
prefácio da obra, reconhecendo que sua escolha é discutível e
pode ser criticada, mas mantém um “discurso filosófico
autônomo”. Fica aqui claro que ele pretende evitar críticas no
campo teológico de que seria um “cripto-filósofo”, pois tentaria
transformar a fé bíblica em uma filosofia; e no campo filosófico
de que seria um “cripto-teólogo”, pois traria à discussão temas
que não são próprios à razão filosófica. Por certo, em ambientes
onde a crítica filosófica é mais acirrada, como na França,
Ricoeur parece não se sentir à vontade para abordar temas
teológicos. No entanto, ministra várias conferências pela
Europa, por exemplo, as Gifford Lectures, em Edimburgo, nas
quais também aborda temas com forte inspiração teológica.
Essa forma de ascese perpassa toda sua obra, configurando-o
como um “tipo de filósofo que a nomeação efetiva de Deus está
ausente e onde a questão de Deus, na condição de uma questão
filosófica, permanece em um suspense que podemos dizer
agnóstico” (RICOEUR, 1990, p. 36).
Outro nível é o deontológico é o exercício crítico com
respeito ao interior buscando ir mais além da relação particular
deste paciente e o médico. É o nível dos códigos deontológicos
282
da medicina. Seria a postura médica frente à vontade da
eutanásia.
Finalmente, outro nível para Ricoeur é a ética médica
com caráter reflexivo com esforço de legitimação e
fundamentação dos saberes exercidos na prática e depurados
pelos códigos deontológicos. É necessário para Ricoeur que
exista o esforço reflexivo próprio da filosofia em questões de
saúde, enfermidade, sofrimento.
Desse modo, a fenomenologia resgata o movimento
unitário do voluntário e do involuntário, havendo uma
superação do estágio puramente analítico da fenomenologia
para estabelecer um movimento de conjunto da vida e da
vontade. Ricoeur mostra que a reflexão faz a vontade chegar ao
seu máximo nas determinações de si por si, isto é: eu me
decido, eu me determino e determino o que corresponde a uma
relação ativa e passiva do sujeito para si mesmo. Ao atribuir a
mim mesmo a responsabilidade pelos meus atos, esta já se
mostra presente em minha consciência, o que traduz a
possibilidade de ação da minha liberdade.
285
estão em desencontro à vontade do paciente que é o
proprietário de sua própria vida.
REFERÊNCIAS
286
A CULTURA DAS SELFIES E O NARCISISMO
André Germano
Bruna Mariane
Carlos dos Reis
Débora Luz
Jonathan Corrêa
Marlon Mesquita
Mayara Aparecida
Paulo Castanheira1
René Dentz2
RESUMO
INTRODUÇÃO
288
buscar um entendimento das selfies embasando-se pelo
conceito narcisista.
A CULTURA DAS SELFIES
289
O termo narcisismo surgiu pela primeira vez em 1910
numa nota acrescentada por Freud aos Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade. Freud escreveu que eles “tomam a si
mesmos como objetos sexuais” e, “partindo do narcisismo,
procuram rapazes semelhantes à sua própria pessoa, a quem
querem amar tal como sua mãe os amou”.
Freud se dedica totalmente ao narcisismo em sua obra
escrita em 1914, onde desenvolve sua teoria sobre o tema, e
acordo com o dicionário de psicanálise, o termo Narcisismo foi
“empregado pela primeira vez em 1887, pelo psicólogo francês
Alfred Binet (1857-1911), para descrever uma forma de
fetichismo que consiste em se tomar a própria pessoa como
objeto sexual” (ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 530). O termo
foi depois utilizado por Havelock Ellis, em 1898, para designar
um comportamento perverso relacionado com o mito de
Narciso.
Ainda sobre sua origem na tradição grega, o personagem
Narciso descreve o amor do indivíduo por si mesmo, mas ainda
nesse período, esse termo não estava relacionado a um conceito
construído cientificamente:
291
Uma definição que traz ainda um melhor entendimento
para as reflexões pretendidas neste ensaio pode ser encontrada
no texto de Fernando Gaio e André Gaio (2013) no qual definem
o olhar narcísico como sendo: “aquele que acredita que nada
existe de melhor à sua volta a não ser sua própria imagem
refletida. Os sujeitos narcisistas ficam agarrados à própria
imagem; são incapazes de distinguir entre uma imagem do que
se imaginam ser do que realmente são. Eles se identificam com
uma imagem idealizada; assim a imagem real se perde.”
Outra forma na qual a definição do narcisismo deve ser
explorada para uma melhor elaboração da discursiva atual, que
é através da definição de que em certos casos o indivíduo
engloba um outro/objeto ao seu eu, considerando assim esse
outro/objeto como parte de si, portanto, formando na concepção
deste indivíduo uma única entidade que o indivíduo considera
como toda a extensão do eu. E aqui, precisa-se esclarecer
melhor ao leitor sobre o que é o termo outro/objeto, cujo valor é
de extrema importância para o devido entendimento a respeito
deste ensaio, e possui a seguinte representação: em Freud, o
indivíduo possui a sua essência, que no âmbito técnico é
chamado de self, que nada mais é do que o núcleo daquele
indivíduo, aquilo que o forma e o define.
Entretanto em alguns casos o indivíduo pode atribuir
uma pessoa, um objeto ou um 'status' como parte de si mesmo,
podendo ser citado a título de exemplo uma pessoa que acredita
que aquilo que o define fundamentalmente é o seu emprego. Ele
considera que esse emprego faz parte dele, e algo como a perda
292
de tal seria considerada como a perda de uma parte de si
mesmo, causando assim um sofrimento melancólico. Outro
exemplo, talvez mais identificável, encontra-se nos
relacionamentos, nos quais as pessoas em muitas ocasiões
passam a enxergar outras pessoas, no caso os parceiros
afetivos, como parte de si e do que lhes definem, e caso haja um
afastamento, por qualquer motivo que seja: falecimento; quebra
da relação, haverá também o sofrimento advindo da sensação
de perda de parte do eu.
293
Ou seja, o sujeito, a cada dia, na sociedade
contemporânea, vem se tornando individualista no sentido do
pensamento em si só, a satisfação própria e nada mais,
entretanto esse mesmo sujeito busca desesperadamente pela
aceitação alheia do outro, e em muitas vezes define inclusive
essa aceitação esperada como um objeto componente do seu
eu, e é isso que se observa entre as diversas redes sociais, essa
importância da autoimagem, onde os indivíduos postam seus
autorretratos a todo o momento com o intuito obter o máximo
de ‘curtidas’ possíveis. E mais, a cada ‘curtida’ obtida, o que se
espera é ter o retorno narcísico, que seria esse engrandecimento
do eu que, pela concepção do indivíduo, está englobado ao
status daquele reconhecimento advindo dos outros. E esta
afirmação tem seu embasamento reforçado através da citação
do seguinte trecho de Birman: “a pessoa se contempla e quer
ser contemplada o tempo todo, preocupada com a identidade
fundada na imagem” (BIRMAN, 1997, p.228 )
295
Então, através de todos os fatores apresentados, um dos
entendimentos que pode vir a ser alcançado por essa reflexão, é
que a sociedade contemporânea passou a utilizar o autorretrato
como uma nova forma de comunicação, que visa contar a
história do indivíduo de uma forma fluida e à medida que vai
acontecendo. E é claro, isso tem consequências, tanto para a
sociedade como um todo, assim como para o indivíduo.
Particularmente, no caso do indivíduo, o que é visto é
justamente o aumento dessa cultura narcisista, onde o sujeito
pensando apenas em si próprio, busca adaptar-se aos
requisitos sociais exigidos para agradar o grupo social em que
está inserido para assim obter deles como retorno desse
investimento a tão desejada aceitação. Esse indivíduo muitas
vezes acreditando estar demonstrando a sua individualidade,
na verdade está cada vez mais engessado quanto a restrições
comportamentais exigidas para que o mesmo mantenha sempre
a visibilidade apenas do seu eu ideal. E isso é um fator
preocupante, porque por um lado o sujeito encontra-se
pressionado pela sua condição narcisista, que incorporou como
parte de si o reflexo daquilo que ele recebe como retorno através
das opiniões alheias, por outro esse mesmo sujeito permanece
em constante pressão devido ao fato de não poder expressar
alguns de seus anseios e desejos advindos do seu eu real para
manter intacto a imagem criado desse eu idealizado.
Ainda mantendo a analogia da questão, observa-se um
fator social que também contribui para o agravamento da
condição discorrida no parágrafo anterior, pois no intuito de
296
manter as aparências e seguir os requisitos sociais necessários
para manter a desejada aparência do eu idealizado, a sociedade
participante dessa cultura, perante as redes sociais cria a
aparência de ser formada apenas por seres perfeitos, cuja
sincronicidade de eventos estão sempre a beneficiar-lhes, e isso
visto através dos olhos daquele indivíduo que possa estar
passando por alguma dificuldade, pode ser um fator
psicossomático agravante tendo em vista que muitas vezes a
sensação desse sujeito é que apenas ele sofre dessas
imperfeições ou má sorte que possibilitaram a ocorrência de
sua dificuldade.
Então, permanecendo nos acarretamentos dessa
assertiva, pode-se apontar um dos porquês da atualidade
contemporânea possuir um número tão grande de casos de
depressões, entre outras enfermidades psicossomáticas, se
comparado com épocas anteriores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
297
FREUD, Sigmund. A História do Movimento Psicanalítico,
Artigos sobre a Metapsicologia e Outros Textos (1914-1916)
em: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, v. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
298
SOCIEDADE INTOLERANTE E SUAS VÁRIAS FACETAS:
MANIFESTAÇÕES E PRECONCEITOS
RESUMO:
INTRODUÇÃO:
300
todas as ações cometidas pelas sociedades, são reflexos de
corrupção, desigualdade, falta de interesse da sociedade em
solucionar as ações que acontecem no nosso dia a dia.
Em uma entrevista à BBC Leandro Karnal diz:
301
2. AS VÁRIAS VERSÕES E MANIFESTAÇÕES DE
INTOLERÂNCIA NA SOCIEDADE
302
laico desde a primeira Constituição, ou seja, não há uma
religião dominante. A intolerância religiosa é algo que atinge
não só o Brasil, mas como todo o mundo. Ela acontece quando
o indivíduo possui atitudes e ideologias que caracterizam a falta
de respeito pelas religiões que possuem crenças e hábitos
diferentes das suas, mesmo que a liberdade de crença seja
assegurada pela lei.
A nossa Constituição Federal (1988) assegura a liberdade
de crença ela é considerada “inviolável”, de acordo com o quinto
artigo da Constituição segundo a lei, é assegurado a todos os
brasileiros o “livre exercício de cultos religiosos e tendo
garantida a proteção aos seus locais de culto e às suas
liturgias” (BRASIL, Constituição Federal, 1988). Ainda segundo
a carta, o Estado brasileiro se declara laico, então, não tem
religião oficial e nem deveria favorecer uma religião, entretanto,
muitos são os casos de injúrias, piadas, agressões, assassinatos
e destruição de templos e patrimônios religiosos.
Em alguns casos, a intolerância religiosa já chegou a
deixar vítimas em estado grave no Brasil, com isso o artigo 208
do Código Penal Brasileiro cita dos crimes contra o “sentimento
religioso”, como debochar de alguém por motivo de crença
religiosa, perturbar ou impedir culto e desrespeitar ato ou
objeto religioso. É válido ressaltar que se houver emprego de
violência em alguns casos a pena pode aumentar ⅓ de acordo
com o paragrafo único do Código Penal. (BRASIL, Código Penal
Brasil, 1940).
303
No atual contexto da sociedade brasileira, a mídia
televisiva, é usada para atacar as religiões afro-brasileiras como
a umbanda e o candomblé. Deste modo, há uma tensão social
onde fica claro a obediência aos líderes católicos, pastores,
sobre seus fiéis que partiram para os atos de ofensa e agressão.
Essas duas religiões são as mais afetadas e denominadas como
religiões demoníacas por diversos religiosos católicos e demais
religiões cristãs. Diante disso, os relatos da imprensa menciona
a ocorrência, nas duas últimas décadas, de casos, ainda que
em pequeno número, de invasões de centros e terreiros, de
imposições forçadas da Bíblia, agressões a símbolos religiosos,
agressões físicas a adeptos dos cultos afro-brasileiros e
espíritas e até de prática de cárcere privado (MARIANO, 2007,
p. 137). Mas o que mais ocorre é a agressão a símbolos
religiosos.
Para exemplificar alguns desses relatos da imprensa,
houve um fato de agressão a símbolo sagrado que ocorreu em
novembro de 2014, em Salvador, no Bairro Cajazeiras. A
chamada Pedra de Xangô é considerada sagrada para as
religiões de matrizes africanas, mas também já foi cultuada
pelos indígenas e, nos tempos coloniais, ficava dentro da área
de um quilombo. Os jornais noticiaram que ocorreram
pichações na Pedra e também o despejo de 200 kg de sal
grosso. Segundo informações locais, a agressão foi denunciada
à polícia para que fossem tomadas as providências cabíveis,
mas não se conseguiu identificar os agressores. Além de
provocar danos ao símbolo religioso do Candomblé, que já faz
304
parte do patrimônio histórico do município, destruiu oferendas
que se encontravam no local.·.
O presidente da Associação de Preservação da Cultura
Afro, Leonel Monteiro afirmou: “Esse monumento aqui significa
muito para o povo do axé, para o povo do candomblé, de
Umbanda, que aqui cultuam suas divindades e este
monumento precisa ser preservado”. A prática de jogar sal
grosso em elementos que simbolizam as religiões afro-
brasileiras é uma situação já enfrentada há tempos,
principalmente, nos terreiros, mas, em Salvador, tem-se
tornado frequente.
Entretanto, o dano histórico causado com essas
agressões pode ser irreversível. Para a mãe de santo, Mãe
Branca de Xangô, a Pedra de Xangô não é apenas um santuário
para as religiões que a utilizam, mas também um presente
deixado por seus ancestrais. A Pedra de Xangô significa justiça.
Por meio do Símbolo, utiliza-se do poder dos orixás,
principalmente, pelas oferendas e pelos pedidos, colocados no
local.
Sobre o uso do sal grosso, Franco Guizzetti informa que o
sal grosso e o sal marinho são muito usados para eliminar a
energia negativa de ambientes e das pessoas. A escola de
samba Nenê da Vila Matilde, de São Paulo, com o tema, Uma
história do mundo, retratou o poder econômico do sal e seu uso
em rituais religiosos e de magia, desde a antiguidade. Guizzetti
ressalta que, na Idade Média, o sal era usado para afastar os
maus espíritos, os demônios e as bruxas das casas, sendo
305
jogado nas portas, janelas e chaminés, como representação da
purificação.
Num Estado Democrático de Direito qualquer pessoa tem
a opção de escolher sua fé religiosa e nela se manter sem ser
hostilizada ou assediada por essa escolha. Diante disso, o
Brasil é um país tão multicultural e fruto das mais diversas
miscigenações, é possível afirmar que nenhuma crença deveria
ser reprimida, mas sim respeitada em suas mais diversas
formas de manifestação. Vivemos em uma sociedade
democrática, e a liberdade está ligada diretamente aos direitos
fundamentais de primeira geração, portanto é dever do Estado
proteger a todos, considerando os princípios fundamentais e
individuais.
A legislação protege as vítimas desse crime, mas mesmo
com essa proteção, ele ainda está presente, portanto vai muito
além de proteger as vítimas é preciso uma conscientização de
que todas as pessoas são livres para demonstrar a sua fé.
Diante disso a população brasileira não deve enxergar as
religiões diferentes da sua, não como algo devastador e
demoníaco, mas sim como uma fonte de conhecimento mútuo e
aberto a diversas formas de interpretação.
306
questionar seu governo e a desconfiar do sistema democrático.
Tal cenário serve como combustível para discursos políticos
extremistas, que trazem consigo a intolerância as diferentes
ideologias políticas e pontos de vista.
A intolerância política, ou de qualquer natureza, é um
grave desrespeito aos direitos humanos e ameaçam diversos
direitos que foram conquistados pela sociedade ao longo da
história, essa perda de direitos, muita das vezes, é mais
perceptível nas minorias, que na maioria das vezes não tem a
devida proteção da legislação ou do Estado.
Os vários crimes de corrupção acentuam mais ainda a
desconfiança da população no sistema democrático, mas
diferente dos casos de corrupção que, na maioria das vezes, é
notícia na imprensa, os cidadãos também praticam corrupção
no seu dia a dia, seguindo esse pensamento Masi (2015) apud
Bittar (2017, p.54) declara:
308
Como ainda muitas pessoas não sabem separar as
informações falsas das verdadeiras, a força que essas
manifestações que são compartilhadas via redes sociais ganha
força e podem até se transformar em grandes movimentos,
como cita Bucci (2016) apud Bittar (2017, p.59), “Um certo grau
de violência, neles, funciona como publicidade. No rumor dos
protestos, a violência é linguagem”, dessa forma devemos ficar
mais atentos às informações que recebemos diariamente, temos
de saber filtrá-las.
No Brasil, infelizmente, tem se tornado cada vez mais forte
a cultura da intolerância. Tem sido assim com a xenofobia em
alguns outros países como nos Estados unidos e em alguns da
Europa, por exemplo. No meio político, os ânimos estão ficando
cada vez mais acirrados, tratando diferenças como inimizades,
fato que, tem causado uma enorme polarização de ideais e
posicionamentos políticos, que fazem com que a intolerância
cresça e o diálogo diminua.
De fato, Brasil, no atual cenário do ano de 2018, enfrenta
uma de suas maiores crises de toda história. Além de estarmos
em um cenário de crise econômica mundial, enfrentamos
também uma crise da economia nacional e uma crise causada
pela corrupção em nosso sistema político. Diante desse cenário
desastroso o Brasileiro passou a recorrer a políticos que usam
do discurso simplista e desesperado, que se baseia em soluções
rápidas e, aparentemente, práticas. Enquanto, de um outro
lado, temos os brasileiros que se “agarram” aos resultados que
antigos governos deixaram como herança. Com o cenário ideal
309
para o surgimento da mencionada polarização política.
Causando efeitos negativos na discussão de ideias, a exclusão
dessa possibilidade de diálogo aconteceu de tal forma que o
antagonismo político agora gera medo, ódio e ressentimento
social.
Como se não bastasse intolerância por parte do eleitor,
os políticos também praticam essa triste ação, mas de uma
forma bem mais preocupante e perigosa: a ditadura. Na
ditadura, como diversos livros de história nos mostram e
também como temos frequentes notícias de países que vivem
regimes ditatoriais, como a coreia do norte, de maneira simples,
se você não é a favor do governo você é considerado perigoso,
por isso pode acabar preso, torturado ou morto, como cita
Snyder (2017, p. 13):
311
entraram em confronto, em alguns pontos do estado de São
Paulo, como na porta do da residência do ex-presidente em São
Bernardo do Campo e no aeroporto de Congonhas em são
Paulo.
A polícia foi acionada e chegou aos locais onde os
confrontos estavam acontecendo, e os ânimos foram
acalmados, mas a “calmaria” não durou muito tempo. Uma
manifestante pró lula atirou um arranjo de flores em um carro
que passava em um dos focos de manifestação, outros
manifestantes trocaram agressões físicas e verbais, como foi
noticiado no G1. Ao decorrer do dia os focos de confrontos e
manifestações foram se dissipando e a PM conseguiu
restabelecer a paz.
Confrontos como esse, noticiados pelo G1 no dia
04/03/2016, tem se tornado corriqueiro e tomado cada vez
mais às manchetes dos portais de notícias e jornais. Esses
casos mostram a que ponto chegou a disputa política no Brasil,
com a intolerância atingindo um nível perigoso. Ter um
posicionamento político e defendê-lo faz parte da democracia.
Mas a discordância e o respeito às opiniões divergentes
também. Pratique a tolerância e compartilhe essa ideia.
314
É válido dizer que o racismo, na maioria das vezes, não
se encontra em situações muito grotescas, até porque como já
foi dito acima, o número de pessoas que se consideram racistas
não bate com a alta taxa de racismo que temos Brasil. O
racismo acaba sendo notado em situações mais sutis, onde as
pessoas tentam disfarçar e mascarar, tentam fazer com que
aquilo seja algo “normal”, cotidiano.
315
acaba por nem ter real noção dos significados das atrocidades
que diz (BARTEL, 2014).
O Estado é um agente com grande força quando
tratamos deste assunto, pois mesmo ele não sendo quem
diretamente prática, a partir do momento que ele não pune
quem comete tal intolerância, ele acaba legitimando esses tipos
de discurso. Então, é de extrema importância a colaboração do
Estado para conseguirmos vencer o racismo.
317
um para que situações como essas não se repitam, e se
repetirem que não sejamos omissos e condizentes, mas sim que
denunciemos.
318
As formas de opressão vividas por mulheres na
atualidade se manifestam de diversas formas: mulheres que
galgam “poder” de alguma forma têm seus anseios
pormenorizados, onde suas opiniões são colocadas sempre em
xeque, exemplo claro é a Ex-presidente Dilma Roussef que
sofreu discriminação devido ao cargo de alto poder no qual ela
ocupava, as mulheres são julgadas pela vestimenta, pela forma
de agir e falar entre outras coisas.
Vivemos em uma sociedade caótica, com mulheres
assassinadas, estupradas, espancadas, humilhadas. E esse
ódio discriminatório tem ceifado vidas de várias mulheres,
meninas indefesas, pelo simples fato de não respeitarem.
A partir desses fatos ocorridos ao longo dos anos houve a
necessidade de se começar a questionar a representação da
mulher e a discussão sobre a luta e os crimes cometidos e elas
começam a buscar os direitos garantidos pelo Estado. De
acordo com (SILVA; DUARTE, 2017).
319
Mas hoje buscamos resgate de valores, agregando
justificativas na norma, onde o legislador reconhece inúmeras
formas de “violência”, praticada contra a mulher, em todos os
sentidos, desde o convívio doméstico com o pai, marido e
também nas redes sociais e vida social. O nosso ordenamento
jurídico dispõe de leis que protegem os direitos das mulheres.
Temos a lei Maria da penha, a inclusão do feminicídio, a lei que
proíbe propagação de conteúdo misógino em redes sociais lei
nº13.642 de 3/04/18:
320
Visto que a aversão contra as mulheres têm uma raiz
histórica, onde desde o início da civilização a mulher era vista
como submissa aos homens e sem voz ativa, com o passar do
tempo isso foi sendo cultivado e repassado por várias gerações
na nossa sociedade.
De acordo com Gomes (2017), é possível observar que a
criação de uma legislação, não muda a mentalidade ou educa a
pessoa conta a prática da violência ela simplesmente coíbe o
autor por medo das respectivas sanções, não que isso impeça
que tal ato seja cometido.
Para obter efetividade em relação ao direitos da mulheres
é preciso que haja conscientização no âmbito social, mães, pais
tias ou orientadores devem se policiar na educação da crianças,
tendo como objetivo tentar anular o conceito de submissão das
mulheres, pregando direitos iguais perante aos gêneros.
Também é necessária a criação de políticas públicas
embasadas na igualdade entre os gêneros, devendo ser
aplicadas em escolas, creches, em todos os lugares de convívio
social, uma vez que a sociedade sendo educada em relação à
violência de gênero, não haveria tantos crimes como a atual
situação do Brasil.
Com a mudança de valores e a erradicação desse
histórico de aversão às mulheres é possível sim o bom convívio
social e a erradicação da violência de gênero. A misoginia é
cruel e desumana, mas pode ser retirada do nosso convívio,
com muita determinação e nova conscientização social, cabe a
nós mudarmos essa realidade social de submissão e
321
desrespeito, agregando a educação social à nossa proteção
estatal.
Os exemplos de violência contra a mulher estão mais
próximos do que imaginamos, um caso bem recente é sobre a
adolescente de apenas 16 anos que saiu para uma festa com as
amigas e simplesmente não voltou mais para a casa.
Em um relato do jornal LIRA (2018), Rayane Alves
Paulino desapareceu após ir a uma festa em Mogi das Cruzes,
seu corpo foi encontrado somente oito dias após o seu
desaparecimento em uma área da mata em Guararema.
Michel Flor da Silva de 28 anos, vigia do terminal
rodoviário de Guararema, foi preso sob suspeita de estuprar e
matar a jovem.
Amigos de Rayane relataram que ela resolveu ir embora
da festa sozinha, visto que a jovem caminhava em sentido
contrário ao pretendido um senhor a ofereceu carona até o
terminal rodoviário de Guararema, para a polícia o senhor não
teve nenhum tipo de envolvimento com o crime. Já o segurança
Michel foi descoberto após ser encontrado próximo ao corpo da
vítima uma caneta com a marca da empresa de segurança na
qual Michel prestava serviço para o terminal rodoviário.
Michel acabou confessando o crime, alegando ter matado
Rayane após uma relação sexual entre os dois, Michel disse que
teria a intenção de fazer sexo consensual ou não de qualquer
forma, mas relata que após realizar o sexo consensual a vítima
se arrependeu e ameaçou a denunciá-lo pelo crime de estupro e
o chutou, neste momento ele aplica um golpe mata-leão na
322
vítima e a leva para desovar em uma mata, chegando lá ele
percebe que Rayane ainda estava com vida e decide asfixiá-la
com o cadarço da bota que a jovem usava.
Michel foi indiciado pelos crimes de estupro e homicídio
qualificado por motivo torpe, impedir a defesa da vítima, asfixia
e por ocultar a vantagem de outro crime, que seria o estupro.
Como apresenta Lira (2018), o crime gerou uma
manifestação que, além de homenagear a jovem ressaltou a
necessidade de discutir a violência contra a mulher, o ato “Eu
sou Rayane” reuniu centenas de pessoas na Avenida Cívica, em
Mogi Das Cruzes.
Casos parecidos com o da Rayane tomam conta de
páginas diárias dos jornais, um crime torpe que fere o direito de
negativa das mulheres. Por motivos assim e pelo direito de ir e
vir das mulheres é que são necessárias medidas
socioeducativas contra esse tipo de comportamento, pois autor
do crime após cumprir sua pena será incluso na sociedade
novamente. O Estado fez o papel de punir. E as nossas
“Rayanes” como ficam? E isso nos faz pensar que quem fica
preso é quem está morto, uma vez o crime cometido não há
como voltar atrás, por isso é necessário a mudança deste
conceito em nossa sociedade.
2.5 HOMOFOBIA
323
culturais, religiosas, étnicas e sexuais. Muitos não conseguem
acompanhar essas mudanças e por muitas vezes não estão
abertas “ao novo”. Fato notório em que a própria Legislação
Brasileira não tem acompanhado essas variações.
Desta feita, surgiu um novo conceito de família, onde o
Supremo Tribunal Federal reconheceu a união entre pessoas do
mesmo sexo como entidade familiar (MONTEIRO, 2016). Apesar
deste reconhecimento, várias pessoas têm os seus direitos
violados diante de sua orientação sexual. Essa classe
minoritária denominada LGBTI – Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Intersexuais é composta por pessoas
que diferem dos padrões impostos, atualmente, pela sociedade.
O que ocorre no Brasil, é que não há uma lei específica e
não foi inserido no Código Penal, a criminalização da
homofobia. Há Projetos de Leis, tais como: Projeto de Lei nº
122/2006 e Projeto de Lei nº 31/2010, tramitando na Câmara
dos Deputados e no Senado Federal há anos sem nenhuma
perspectiva de que os mesmos sejam aprovados, como apontado
por Monteiro (2016).
O que se discute é o porquê da omissão dos
parlamentares em tratar de um assunto sério, sendo que todas
as pessoas são asseguradas pela Constituição Brasileira na sua
dignidade humana, direito à vida, a liberdade como abordado
pelo Alexandre Moraes (MORAES, 2012, p. 34 apud
MONTEIRO, 2016):
324
qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. O direito à vida é o mais
fundamental de todos os direitos, já que se
constitui pré-requisito à existência e
exercício de todos os demais direitos.
326
Nota-se, também, que não somente as escolas, mas como
a população de uma forma geral, não compreende as
expressões sexuais de gêneros. O conceito de família está
arraigado no heterossexualismo, nas crenças religiosas, nos
núcleos familiares em que a sociedade, ainda, não consegue
absorver tantas mudanças.
É imperioso que, a sociedade busque uma maior
informação nas escolas, universidades, que tenhamos políticas
públicas com a eficácia no cumprimento das leis e estas sejam
aprovadas, que envolvam o ministério da saúde e promovam
através de campanhas socioeducativas informações acerca das
diversidades de gêneros.
Os relatos de homofobia, quando revelados, aparecem
constantemente em jornais, revistas, redes sociais. É o que
demonstra O Jornal Folha de São Paulo, que apresenta o caso
de Lucas Siqueira Dionísio, estudante, de 21 anos, que
começou a sofrer preconceitos homofóbicos desde a 6ª série e se
estendendo para o ensino médio, em Escolas Públicas da cidade
de Cornélio Procópio, interior do Paraná.
Hoje está cursando uma universidade, mas não tem boas
lembranças do seu período escolar. Iniciou com “piadinhas” até
chegar ao limite da agressão física, ocasionando em Lucas uma
aversão à escola.
Lamentável a constatação de que não há uma
intervenção da escola nesses casos de Bullying homofóbico,
como relata o Secretário de Educação da ABGLT, Toni Reis
(SALDAÑA, 2016): “Há um silenciamento e individualização por
327
parte da escola. As pessoas veem e não querem tratar do
assunto. Tratam como se agressões fossem normais, coisa de
adolescente. Mas isso magoa, chateia e causa até suicídio.”
Assim sendo, devemos nos empenhar para que crimes
como este, e tantos outros que não são relatados, não sejam
admissíveis em nossa sociedade. Temos que “reeducar” as
nossas famílias expandindo para as escolas, as comunidades, e
toda a sociedade em geral. Reeducar no sentido de que temos
que “Respeitar” as diferenças e promover o bem estar social.
Reivindicando, também, a aprovação dos Projetos de Leis para
que tais crimes sejam punidos.
328
como ele é divulgado. O discurso de ódio é
uma forma especial de propagação do mal
e meio informacional tem papel
fundamental no atual contexto histórico.
329
O fio da faca que esquarteja, ou o tiro
certeiro nos olhos, possui alguns aliados,
agentes sem rostos que preparam o solo
para esses sinistros atos. Sem cara ou
personalidade, podem ser encontrados em
discursos, textos, falas, modos de viver,
modos de pensar que circulam entre
famílias, jornalistas, prefeitos, artistas,
padres, psicanalistas etc. Destituídos de
aparente crueldade, tais aliados amolam a
faca e enfraquecem a vítima, reduzindo-a a
pobre coitado, cúmplice do ato, carente de
cuidado, fraco e estranho a nós, estranho
a uma condição humana plenamente viva.
Os amoladores de facas, à semelhança dos
cortadores de membros, fragmentam a
violência da cotidianidade, remetendo a
particularidades, casos individuais.
Estranhamento e individualidades são
alguns dos produtos desses agentes. Onde
estão os amoladores de facas?
330
tentar frear essa propagação com objetivo de conter o avanço
indiscriminado do discurso de ódio.
Mas como a sociedade pode lidar com essa explosão de
ódio que espalha pela rede mundial. Em primeiro lugar
deixando claro que este é não é um crime sem punição, que não
é terra de ninguém, na qual estes salteadores de dignidade
podem agir de forma preconceituosa e não identificados,
desrespeitando pessoas e leis.
Buscar ideias novas que garantam punição aos
agressores, essa mudança é o ponto de partida para garantir
a tolerância, o combate ao discurso de ódio nas redes sócias
começa com o auxílio da legislação passando conhecimento
das leis por aqueles grupos que sofrem tal agressão.
Neste sentido a ação seria simples, o Estado e a
sociedade sendo responsáveis por esse combate, o cidadão
entender seus direito e respeitar os direitos de cada um, ao
Estado identificar e punir o agressor na forma da lei “A
condução da sociedade se dá por ela mesma, ela deve superar a
noção de preconceito e aprender que o Estado é um
instrumento da sociedade” (CARCARÁ, 2017, p.10).
Sabendo a vítima de agressão moral por preconceito ou
por qualquer diferença dos seus direitos e que há meios de
combater essa agressão e punir seus agressores, nesta
proporção se tornará menor esses casos, o agressor sendo
punido não mais praticarão tal crime.
Na ideia defendida, o ódio existe, todos nós nos
deparamos com ele a todo o momento, no trabalho, no ônibus,
331
na escola, mesmo sendo em pequena proporção o indivíduo é
alvo. As circunstâncias modificam os grupos e criam novas
classes de intolerantes alimentando o ódio.
Na comissão geral sobre a intolerância, ódio, preconceito
e violência na internet, discordam sobre o melhor meio de
combater o discurso de ódio, o autor do requerimento o
deputado (Assis de Melo, PC do B- RS) disse que legislação
atual é insuficiente para coibir esse tipo de discurso “O papel
do congresso nacional é especificar e tornar crime os atos de
intolerância, ódio e preconceito que são disseminados,
principalmente através das redes sociais.”
Já a coordenadora geral do Fórum Nacional pela
democratização da comunicação (Renata Mielli) e a diretora do
Coletivo intervozes (Helena Martins) discordam, pra elas criação
e aumento de leis penas não é o melhor caminho, já que há leis
que punem o discurso de ódio, como a lei do racismo (lei
7.716/89) e a lei Maria da Penha (lei 11.340/06), mas não tem
evitado os crimes.
O presidente da câmara (Rodrigo Maia) defendeu a
adaptação da legislação à nova realidade, “o marco civil da
internet (Lei 12.965) está precocemente envelhecida”. “A”
(SAFERNET) empresa que recebe denúncias de crime violações
na internet, também concorda que o (Marco Civil da Internet)
não cria obstáculo para que o discurso de ódio seja removido e
que nos últimos anos foram removidas pelas plataformas e
pelas redes sociais 88 mil páginas que foram denunciadas,
332
também afirma que as plataformas veem fazendo um bom
trabalho retirando as paginas que foram denunciadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
333
reeducar as gerações futuras, as famílias e aprender melhor a
viver com a diversidade, respeitando a todos independente de
sua religião, raça, cor, sexo, ensinar o mundo a viver com o
diferente, respeitar as nossas opiniões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
335
Terra. GUIZZETTI, Franco. Use o sal para afastar maus
espíritos e recarregar energias. Disponível em:
<https://vidaeestilo.terra.com.br/horoscopo/esoterico/use-o-
sal-para-afastar-maus-espiritos-e-recarregar-
energias,23087e55a7b4d310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.ht
ml.>Acesso em: 03 nov.2018.
336
GOMES, Bárbara Cristina Govoni. Crítica sobre a aplicação da
lei 11.340/2006: Um estudo sobre a eficácia da Lei Maria da
Penha sobre o prisma da pesquisa elaborada pelo instituto
de políticas econômicas aplicadas. Revista Faculdade de
Direito, São Bernardo do Campo, v. 2, n. 21, p.01-15, 19 ago.
2017. Jan/jun. Disponível em:
https://revistas.direitosbc.br/index.php/fdsbc/article/view/82
8/739
Acesso em: 27 out. 2018.
337
INTOLERÂNCIAS NA SOCIEDADE MODERNA: ORIGEM,
CAUSA E EFEITOS
Bernardo Coelho1
Guilherme Damasceno2
Iago Valadares3
Ingrid Rocha4
Jéssica Cristina5
Manoel Douglas6
Matheos Junio7
Maycon Douglas8
Magna Campos9
RESUMO:
O presente ensaio tem como objetivo expor problemas
vividos na sociedade moderna, que com a evolução
apresenta vários tipos de fenômenos, nesse estudo
analisamos comportamentos da sociedade causados pelas
intolerâncias, sendo elas: religiosa, política, racial, contra a
mulher, homofobia, xenofobia e combate aos discurso de
ódio nas redes sociais, o objetivo é expor de forma
detalhada cada tema abordando acontecimentos históricos
e analisando pensamentos de especialistas no assunto
para que possamos entender os problemas causados à
sociedade devido às intolerâncias.
INTRODUÇÃO:
O presente ensaio faz abordagens de temas com
grande relevância à sociedade, as intolerâncias, fato
340
Constituição Federal, 1988), mas que devido às
intolerâncias passam esses direitos a serem violados, não
respeitando as leis, tendo como consequências a
propagação de vários tipos de violências podendo ser física
e/ou simbólica, causadas por abusos e negligências.
Em nosso ensaio apresentaremos análises
científicas do grupo de estudos, analisando fatos
históricos e sociais da atualidade, expondo pontos de vista
e analisando cada tema individualmente sobre
intolerâncias presentes em nossa sociedade.
A intolerância religiosa é um
conjunto de ideologias e atitudes
agressivas a diferença crenças e
religiões. O ato de intolerância seja
no aspecto psicológico, físico ou
intelectual, é uma afronta à opinião
do próximo. Satirizar ou ridicularizar
a importância da cultura e suas
devoções. (JESUS et. al., 2018, p.2).
O seguinte trecho extraído do artigo nos mostra
qual é a maior causa da violência em função da escolha de
religião:
342
Cada religião tem suas tradições, crenças, conceito
que leva o indivíduo a ter fé, acreditar que aquela crença
pode mudar sua vida e trazer uma paz espiritual para o
indivíduo. Sendo assim essa atitude deve ser respeitada,
para que a discriminação seja anulada na sociedade, se o
indivíduo não acredita em uma religião, porque
discriminá-lo? Todo sujeito tem direitos e deveres somente
a ele cabe decidir o que seguir.
O Brasil é um país que possui uma extensa
diversidade cultural, que com a migração e a mistura de
povos fizeram do Brasil um país de diferenças, somos um
país laico temos liberdade de escolher aquilo que é certo
para cada um de nós e devemos respeitar acima de tudo
as diferenças e diversidades presente em nossa sociedade,
pois somos diferentes e não podemos tentar moldar
ninguém do jeito que queremos.
Podemos analisar o seguinte trecho retirado do
artigo “A presença do religioso no espaço público:
modalidade no Brasil”:
No Brasil, em se tratando de
laicidade, nos deparamos com a
aurora republicana como marco. É
quando se adota de modo assumido o
princípio da separação entre Estado e
igrejas. Em termos mais concretos:
rompe-se com o arranjo que
oficializava e mantinha a Igreja
Católica; o ensino é declarado leigo,
os registros civis deixam de ser
eclesiástico, o casamento torna-se
civil, os cemitérios são secularizados;
343
ao mesmo tempo, incorporam-se os
princípios da liberdade religiosa e da
igualdade dos grupos confessionais, o
que daria legitimidade ao pluralismo
espiritual. (GIUMBELLI, 2008, p.2).
Vemos que o Brasil é um país que se considera
como laico, mais na realidade é um lugar que nem todas
as religiões são aceitas pela sociedade, um país que duas
grandes religiões se destacam das demais, sendo seguidas
pela a maior parte da nação brasileira, sendo elas: o
catolicismo e o evangelicalismo. Já as demais religiões
grande parte da população as menosprezam, por serem a
maioria delas afrodescendentes, vindas de culturas
africanas trazidas pelos os escravos ao longo dos séculos
XVI e XIX.
O seguinte trecho relata um pouco a questão da
separação do Estado e da Igreja Católica, que foi um
pouco contra, pois assim perdia o poder que a ela era
conferido:
345
Humanos (MDH). (RESK,
TOMAZELA, COTRIM, p.01.)
Vemos que grandes partes dos templos religiosos
são invadidos por pessoas que são contra a religião ou
pessoas que seguem outras religiões, mas não são a favor
de uma determinada religião que discrimina, na maioria
dos casos, são pessoas que entram para roubar os objetos
sagrados mais importantes para uma determinada
religião, como por exemplo, a religião católica que tem a
eucaristia que representa o corpo de Cristo para eles, este
tipo de situação tem sido cada vez mais comum na
sociedade atual, que a cada dia a sociedade está se
tornando mais ignorante por não aceitar outras religiões.
O seguinte trecho da notícia ”Brasil registra uma
denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas”, nos
mostra como religiões afro são discriminadas ainda nos
dias atuais:
347
Atualmente, estamos em processo eleitoral, várias
intolerâncias políticas ocorrem nesses momentos,
observamos "o ódio político” e a “insatisfação com o
governo”, gerando violência. “As redes sociais têm sido no
Brasil, um termômetro, neste sentido, demonstrando a
forma bruta com a qual se exprimem as manifestações
populares nas ruas, as opiniões políticas no ambiente
virtual e o ódio político nos veículos das mídias”. (BUCCI,
2016, p30.)
Quando tocamos no assunto de intolerância política
há vários casos de violência física ou verbal como este
acontecimento com José de Abreu.
350
meio, pois, trás cada vez mais ódio na sociedade, sendo
um ciclo que se repete por várias vezes.
Vivemos momentos em que se faz necessária
prudência, tolerância e sabedoria. Precisamos discutir
alguns valores éticos e morais, a honestidade e o respeito
à diversidade ideológica e política é essencial para o
desenvolvimento do país.
Conforme vimos nos últimos dias um ato de
intolerância política é o caso da estudante universitária de
33 anos em Fortaleza, o crime ocorreu em torno da
universidade (UNIFOR) em Fortaleza. A polícia está
investigando o caso.
Podemos então perceber que no Brasil a sociedade
ainda tem um comportamento agressivo em opiniões sobre
política. E o aumento dos crimes ocorre em épocas de
eleições.
A comissão de direitos humanos se posicionou em
relação a este crime, É lamentável e repugnante o nível
que se chega nessas eleições. É preocupante o
empedramento de grupos que repercute o discurso de
ódio.
A vítima ainda ouviu insultos como “esse lugar não
é pra gente como você” de homens na entrada do campus.
A intolerância hoje cada vez cresce mais não porque o
cenário político do Brasil está em crise, mas porque nós
não temos educação de ouvir a opinião do outro a escolha.
Por isso, defendemos o incentivo a programa a educação
351
política o ato de ouvir e respeitar a opinião da sociedade o
bem como a todos assim cresceremos em uma sociedade
como um bem maior para nosso país.
352
Continuaram para mostrar a sociedade que são
pessoas capazes de realizar outros afazeres obrigações
serviços na sociedade como qualquer outra pessoa:
353
existem outras maneiras de realizar esses protestos
sempre em vista de estar melhorando a vida e os direitos
dos negros. Depois desses protestos o governo começou a
enxergar uma desigualdade social entre negros e brancos
com isso criando uma lei que defendia os direitos dos
negros “a Fundação Cultural Palmares – cuja finalidade é
"promover a preservação dos valores culturais, sociais e
econômicos decorrentes da influência negra na formação
da sociedade brasileira" (art. 1º da Lei Federal nº 7668/88)
apud (CICONELLO, 2007, p 7.)
Contudo, vemos que os negros vêm lutando desde
sempre, para que seus direitos sejam alcançados, essa
luta de todos os negros pelos seus direitos só irá para,
quando todos, sem exceção, aceitarem-nos de verdade
como pessoas de direitos que não sejam excluídos de
certas coisas só por serem negros.
Analisando um novo artigo sobre intolerância racial
vemos uma abordagem maior sobre este tema vemos que o
racismo vem de muitos anos atrás podemos ver que esse
assunto o racismo em si não tem diminuído com o tempo
ele ainda tem sido muito combatido durante os anos
através de protestos pacíficos e as demais manifestações
pacíficas tentando mostrar a uma sociedade que os negros
são pessoas comuns como qualquer outra tendo
capacidade para exercer qualquer função.
Nessa sociedade, perguntas são frequentes como
"qual a forma desse racismo? Seu modus operandi? Suas
354
nuances, sutilezas e transformações? Em que situações e
locais ele se manifesta ou se torna visível?” (BARTEL,
2018.p.105) essas perguntas são acontecimentos
frequentes que vemos na sociedade como negros sendo
excluídos de uma certa forma, que vemos que o racismo
não vem diminuindo por certas atitudes que as próprias
pessoas praticam contra os negros.
Propõe integrar populações negras e indígenas na
vida social do país, considerando que até então essas
comunidades foram marginalizadas e excluídas
socialmente, devido o processo histórico sofrido por
ambas. O processo de a sociedade tentar rejeitar uma
parte da população negra fez com que menos negros
consigam alcançar certo padrão de vida, sendo que todos
não partem de um mesmo ponto inicial perante os outros.
”Assim, as populações carentes encontram inúmeras
dificuldades em meio à sociedade brasileira, condição que
se agrava quando acrescida de outros adjetivos como
negro, mulher e homossexual” (BARTEL, 2018.p.112).
Na onde vivemos temos que ver pessoas com alta
capacidade mais serem desprezadas pela sua cor de pele
antes mesmos de verem a suas qualidades ou mesmos de
conhecer a tal pessoa temos vendo que o racismo e de tal
forma cometido pelos outros que durante tantos anos se
passando vemos que não evoluímos e continuamos a
ignorar essa questão voltada para o racismo que por si
355
não vem trazendo benefícios para nenhum dos lados dos
negros ou de brancos.
Como vemos no cotidiano, muitas formas do
preconceito se manifestam e em todo lugar, como, por
exemplo, nos esportes onde muitos jogadores são vítimas
desse tipo de racismo chamados com certas ofensas e
ações ofensivas que criticava sua cor e raça. “Por fim, cabe
ainda dizer que insultos raciais são encontrados nos
estádios de futebol há muitas décadas”. (BARTEL, 2018,
p.112)
Com tudo se a sociedade não mudar o seu olhar
para os negros não vamos ver mudanças consideráveis na
sociedade que julgam pela aparência que um negro
aparenta sem que todos já julguem pela sua cor.
Com base no tema escolhido vemos que os tipos de
racismo praticados não só por rejeição na sociedade ou em
campos de trabalho vemos que o racismo pode ser
praticado nas redes sociais onde esses praticantes desse
crime tentam se esconder e tentando ferir as pessoas.
356
principalmente no seu facebook onde diziam “te pago com
banana” “me empresta seu cabelo pra lavar louça”, muitos
não acreditam no racismo, mas vemos que isso é
predominante na sociedade.
Num caso da atualidade acontecido com a Maria
Júlia Coutinho também foi alvo de internautas que
queriam prejudicá-la tentando atingi-la com esses
comentários racistas sem saber o que passam depois de
passar por isso como elas se sentem tristes e vulneráveis
com esse racismo praticado por esses internautas.
Mais esse tipo de racismo não sai impune por eles
esses internautas praticam o crime de injúria.
357
Podemos observar que desde a época do
descobrimento do Brasil as mulheres não tinham voz na
sociedade, eram escravizadas e utilizadas como objeto
sexual de seus “donos”, com apenas o objetivo de conceder
prazer ao homem e de procriar.
De acordo com Silva e Duarte (2017), embora o
direito à liberdade e igualdade de gêneros seja assegurado
constitucionalmente, sabemos que a realidade é diferente,
basta observarmos a diferença salarial entre homens e
mulheres no mercado de trabalho, o tratamento dado a
uma mulher pela maneira como se veste e muitas vezes
até mesmo a falta de credibilidade intelectual feminina
frente ao homem. É também cada vez mais comum
escutarmos acerca do Feminicídio e misoginia, que são,
respectivamente, crime contra a figura da mulher e
aversão e ódio ao sexo feminino.
Outra ideia também apresentada é a diferenciação
entre Feminismo e Femismo, como pode ser visto no
seguinte trecho: ”O feminismo é movimento social e
político que busca a igualdade entre gêneros, através de
direitos e oportunidades iguais para os dois sexos. Já o
feminismo propaga a ideia de que a mulher é superior ao
homem, como se fosse um machismo inverso.” (SILVA;
DUARTE, 2017, p. 14)
Em decorrência disso e sempre em busca da
efetivação de seus direitos, através de movimentos sociais
e políticos de empoderamento, as mulheres estão cada vez
358
mais conquistando o seu espaço na sociedade, apesar de
sabermos que a desigualdade de gênero e o preconceito
estão longe de acabar diante da resistência humana de
personificar o machismo como algo banal.
Por fim, o texto em análise ressalta a importância
da educação sexual e conscientização das crianças sobre o
respeito mútuo que deve existir entre as pessoas,
principalmente as mulheres neste caso, como seres
possuidores de direitos fundamentais, para que só assim
possamos construir uma sociedade evoluída e igualitária.
O artigo “Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-
feminista” retrata a questão do feminicídio na sociedade
brasileira, de forma a demonstrar que os direitos das
mulheres não eram objeto de proteção no Código Penal
vigente em nosso ordenamento, mas como houve um
aumento exorbitante de violência em relação à mulher
ocorreu a tipificação em especial doméstica e familiar. Mas
somente em 2006 é que surgiu a Lei Maria da Penha, lei
esta que iniciou o marco de reconhecimento dos direitos
das mulheres em nossa sociedade. Apesar disso, a
violência contra a mulher ainda se mostra bastante
evidente.
O seguinte trecho de LAGARDE apud CAMPOS
(2015) mostra o conceito de violência de gênero:
359
opressão, exclusão, subordinação
discriminação, exploração e
marginalização. As mulheres são
vítimas de ameaças, agressões,
maus-tratos, lesões e danos
misóginos. As Modalidades de
violência de gênero são: familiar, na
comunidade, institucional e
feminicida.
Assim, percebe-se que o feminicídio é um crime de
ódio, tendo como objeto a figura da mulher. Tudo isso
originado pelo machismo, culturalmente, enraizado em
nossa sociedade. Nesse sentido, o trecho a seguir:
Os estereótipos e os pré-conceitos de
gênero estão na base das atitudes
preconceituosas e discriminatórias
contra mulheres e podem ser
identificados em muitas situações:
por exemplo, muitos homens acham
que mulheres não devem trabalhar
fora e são violentos quando elas
procuram trabalho; na visão de que
as adolescentes femininas são
promíscuas, por isso podem ser
estupradas; nos ditos populares
mulheres gostam de apanhar; em
briga de marido e mulher ninguém
mete a colher; matou por amor,
dentre outros. (CAMPOS, 2015, P-
112).
Assim, podemos notar que os crimes contra as
mulheres estão longe do fim, pois infelizmente o machismo
está bastante presente na sociedade, mesmo após leis
específicas que defende os direitos das mulheres.
360
O filme “Vidas Partidas”, ora analisado, é dirigido
por Marcos Schechtman, 2016 e traz como protagonistas
Domingos Montagner (Raul) e Naura Schneider (Graça). É
inspirado no caso Maria da Penha e relata a violência
doméstica sofrida por Graça, visto que o seu marido
mostrou-se, ao longo dos anos, um cara violento e
dominador.
O filme por ser inspirado em fatos reais, retrata um
pouco sobre o drama vivido por Graça, uma mulher
inteligente e que estava se destacando em seu emprego,
em contrapartida, a vida de seu marido Raul, homem
desempregado e que não estava muito contente com a sua
situação, pois tinha em mente que era o homem que
deveria manter a casa.
Ao longo da história, o sossego de Graça foi
desaparecendo, na medida em que as agressões foram
aumentando até chegar a uma tentativa de morte, embora
tenha sido uma tentativa em vão, a mulher ficou com
sequelas. A partir disso, iniciou-se um processo na justiça
para que fosse reconhecido que a mulher era vítima de
violência doméstica, sendo seu marido, o autor daquela.
Em síntese, o filme nos demonstra como foi criada a
lei Maria da Penha no Brasil em 2006, lei esta que
assegura e protege os direitos das mulheres na sociedade
brasileira contra qualquer tipo de violência, seja ela física
e/ou psicológica.
361
2.5 INTOLERÂNCIA SEXUAL - HOMOFOBIA
363
que não continuem impune atos homofóbicos e desta
forma o estado não permitiria que uma pessoa seja
discriminada pelo fato de sua orientação sexual ser
diferente do padrão tradicional.
Ao analisar um segundo artigo de autoria de Sarah
Schulman, do ano de 2012, ele nos faz compreender o
fundamental papel da família na vida de pessoas que se
declaram homossexuais, como ressalta a autora no
seguinte trecho:
364
movida por um sistema de prazer baseado em crenças
religiosas e valores vindos de grupos de heterossexuais.
Trata-se, portanto, de um dispositivo regulatório ou
moldador da sexualidade que vai de sutil até formas
violentas de opressão e dominação.
Enganam-se quem acha que tal ato é demonstrado
somente pela sociedade, pois muitas das vezes o
desrespeito com a liberdade de escolha da vítima começa
dentro de casa com seus próprios familiares que são
moldados pela sociedade e por suas crenças religiosas.
“Sem intervenção compassiva, entretanto, a homofobia
familiar pode se tornar uma opressão dolorosa
determinante na vida da pessoa gay” (SCHULMAN. p.4.
2012).
A esse respeito é preciso ressaltar:
365
unida nas escolhas de cada um dos seus membros,
mostrando que toda forma de amor é aceita e respeitada,
pois só assim teremos o início de uma sociedade mais
igualitária e justa com os direitos dos cidadãos, até mesmo
porque é no lar que se deve aprender a respeitar e amar as
diferenças que encontramos à nossa frente.
Para entendermos melhor a problemática
apresentada vale ressaltar uma análise do filme “orações
para Bobby” dirigido por Russel Mucahy e tendo como
produtor Damian Ganczewski no ano de 2009, o longa-
metragem traz em seu elenco principal Sigoumey Weaver
interpretando a personagem Mary Griffith e Ryan Kelly no
seu personagem Bobby Griffith.
Por ser um filme baseado em fatos reais, traz por
meio de cenas fortes, sensíveis e emocionantes a
comovente e trágica história de vida de um jovem
homossexual e da sua família em especial sua mãe de
como lidam com essa questão da homossexualidade. Mary
durante todo o filme demonstra o amor pelos filhos,
percebemos que a mesma não deixou de amar Bobby
quando ele se revela homossexual, mas por ser uma
religiosa tradicional e tomada pelo discurso religioso
presente na bíblia que exclui os gays como merecedores do
amor de deus ela se esforça para que o filho aceite a
condição de pecador tentando promover nele uma
mudança de orientação sexual.
366
Somente após a triste e prematura morte de Bobby
quando o jovem se joga de uma ponte a fim de acabar com
a dor causada pela família que o repreende por sua
escolha sexual e sua mãe Mary não aceita ter um filho
gay, que a matriarca da família vê possibilidade de
compreender a angústia e o sofrimento do universo dos
homossexuais.
A esse respeito podemos destacar questões para
trazer reflexões acerca da homossexualidade. Cabe a nos
perguntarmos como lidar com a dor da perda de um filho
diante de uma situação de preconceito sexual/ religioso?
Ou como a experiência de ter um filho homossexual pode
ajudar a compreender o mundo a partir do respeito à
diferença? São perguntas como essa que deveríamos fazer
antes de julgar ou banalizar a escolha de alguém, pois no
mundo em que vivemos é incontestável que agredimos
indivíduos através de atos ou discurso de ódio
desrespeitando a liberdade de escolha e de expressão do
próximo.
367
Contudo, a maioria dos imigrantes é atingida pelo
preconceito de classe, em especial aqueles que procuram
um lugar melhor para morar (refúgio), devido às baixas
condições de vida, guerras, conflitos, pobreza, entre outros
males onde moravam.
Ainda sobre o preconceito de classes, exalta-se
Cleusa Santos:
368
No Brasil, a imigração é um caso típico da
construção econômica e social, a migração na questão
histórica remete ao período escravocrata.
Em um ocorrido histórico, com a vinda de pessoas
da Europa com o objetivo de trabalhar, ocorreram várias
mudanças e conflitos significativos na política de
migração, decorrendo a movimentos (greves) reivindicando
a entrada de imigrantes, de acordo com Santos (2016).
Quando falamos em preconceito e imigração, logo
pensamos em acontecimentos que já presenciamos ou que
foram acontecidos, de acordo com Santos (2016):
369
Os assistentes sociais desse debate no Brasil vêm
crescendo a cada dia, porém não é sua responsabilidade
atribuir aos indivíduos seus problemas, mas oferecer aos
imigrantes acessos à educação, saúde, trabalho, entre
outros.
Para entender como acabar com o preconceito com
os imigrantes, será papel de cada um ajudar.
O segundo artigo feito por Vivian Rafaella Prestes e
Alexandre Luís Ponce Martins, no ano de 2017, tem como
principal objetivo discorrer sobre diferentes análises a
respeito do conceito de xenofobia. Agregando ideias
relativas psicanalíticas na compreensão da xenofobia em
suas concepções geográficas e sociológicas do termo.
Ao falar sobre xenofobia percebe-se que este tema
nunca foi algo restrito a atualidade, essa situação sempre
ocorreu na história da humanidade, sendo um tema
bastante presente nas discussões políticas de âmbito
internacional.
Segundo Cabecinhas (2010, apud PRESTES e
MARTINS, 2017, p. 25- 39), “desde a antiguidade
determinados povos dominavam outros a partir de
diversas ações, entre as quais, também, formas violentas,
neste contexto, o que os diferenciavam era de fato a
crença, subjetiva e concreta, na superioridade de um
grupo sobre outros”.
O etnocentrismo e xenofobia estão dentro do mesmo
conceito, o autor os coloca no mesmo fragmento, todo
370
xenofobismo apresenta conjunções com o outro conceito,
mas, nem todo etnocentrismo é xenofobia, ou seja, o
preconceito pode variar dentro de um mesmo país.
Segundo (ROCHA, 1988, p.5), “Etnocentrismo é
uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado
como centro de tudo e todos os outros são pensados e
sentidos através dos nossos valores, nossos modelos,
nossas definições do que é a existência. No plano
intelectual, pode ser visto como a dificuldade de
pensarmos a diferença; no plano afetivo, como
sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.” (apud
PRESTES e MARTINS, 2017, p. 25- 39).
Apesar de ter sentidos próximos, etnocentrismo e
xenofobia não são sinônimos, assim a xenofobia segundo
Albuquerque Júnior, (2016, p. 9):
“A palavra xenofobia vem do grego, da articulação
das palavras xénos [ξένος] (estranho, estrangeiro) e phobos
[φόβος] (medo), significando, portanto, o medo, a rejeição,
a recusa, a antipatia e a profunda aversão ao estrangeiro.
Ela implica uma desconfiança e um preconceito em
relação às pessoas estranhas ao território, ao meio, à
cultura a que pertence aquele que julga, que observa, que
se considera como estando em seu lugar. A xenofobia
implica uma delimitação espacial, uma territorialidade,
uma comunidade, em que se estabelecem dentro e um
fora, uma interioridade e uma exterioridade, tanto
material quanto simbólica, tanto territorial quanto
371
cultural, fazendo daquele que vem de fora desse território
ou dessa cultura um estranho ao qual se recusa, se rejeita
com maior ou menor intensidade” (apud PRESTES e
MARTINS, 2017, p. 25- 39).
A xenofobia pode ser vista como uma forma de pré-
conceito mais aparente em razão dos processos de
globalização, que diz respeito à aversão pelo estrangeiro,
ou seja, a intolerância por aquele que é diferente,
estranho, desconhecido. A xenofobia é um exemplo de
como alguns grupos localizam no outro os sentimentos de
insuficiência e desconforto.
Concluindo, o preconceito é um tema que, para ser
entendido, exige a articulação de várias áreas do saber.
Para melhor entendimento sobre a questão do
preconceito com os imigrantes, um exemplo será uma
reportagem feita pelo “Jornal Hoje”, publicado no dia
22/10/2014, com o seguinte título: Imigrantes haitianos
são vítimas de preconceito e xenofobia no Paraná.
A partir dessa reportagem é possível entender como
é feito e suas consequências.
A reportagem apresenta a história de um grupo de
haitianos que foram em busca de melhores condições de
vida e trabalho no Paraná. Enfim, a busca pelo trabalho
eles conseguiram, porém, não ficaram muito tempo,
devido aos atos infelizes de seus companheiros de
trabalho. Como cita um haitiano na reportagem: “Eles me
chamam de macaco. Eu não fiz nada pra eles e continuam
372
me chamando de macaco. Ele me deu uma banana e me
bateu".
Os haitianos mesmo sendo vítima de xenofobia, ao
voltar ao trabalho em seguida foram demitidos, sem
nenhuma justificativa. Com isso o Ministério Público do
Trabalho está investigando todos esses acontecimentos.
374
propagados por meio dessas redes tem influência direta e
indireta sobre a sociedade como um todo, fazendo com que
ideias que promovam ódio, se tornem uma ameaça real
aos direitos e liberdades das pessoas.
De acordo com a ideia de Nandi (2018), notamos
que um dos principais reflexos negativos causados por
esses discursos, é a segregação social, onde ao invés de
lutarem contra o sistema de opressão, as vítimas acabam
reproduzindo e adaptando os mesmos discursos, mas
contra os opressores que agora são vistos como um grupo
a ser combatido, sendo assim, tornou-se necessária a
intervenção do estado, onde, autoridades de vários países
se juntaram ao combate imparcial dos discursos odiosos
nas redes sociais, criando barreiras legais na tentativa de
coibir a popularização de ideias e ideais discriminatórios,
conscientizando sobre os impactos que esse tipo de
atitude causam na vida de outras pessoas.
Apesar da recente repercussão negativa de um
velho problema, as soluções adotadas para a resolução
estão cada vez mais efetivas, tanto dentro quanto fora do
ambiente virtual, a sociedade moderna, cada vez mais, se
une contra a disseminação de discursos criados para
separar as pessoas, mostrando que apesar de nossas
diferenças físicas ou culturais, podemos resolver conflitos
utilizando a racionalidade e demonstrando que somos um
mesmo povo, independente da origem, cor, credo ou
375
orientação sexual, somo unidos pela condição de sermos
humanos.
Analisando o segundo artigo “Liberdade de
expressão e discurso do ódio: o conflito discursivo nas
redes sociais” produzido por Walter Claudius Rothenburg
e Tatiana Stroppa, no ano de 2015, busca-se trazer à tona
a questão do conflito entre o discurso de ódio nas redes
sociais e a liberdade de expressão, de forma a questionar
quais são os limites da liberdade de expressão e onde esse
direito começa a cercear a liberdade de outras pessoas.
Ao tratar da liberdade de expressão no discurso de
ódio, busca-se realizar a interpretação correta da lei, que
apesar de permitir a livre manifestação através do
discurso, sem que haja censura prévia, mas também
limita esses discursos a não atentarem contra os direitos
já garantidos na Constituição.
376
eivadas de conteúdo preconceituoso.
(CLAUDIUS & STROPPA, 2015, p. 04)
Essa questão da limitação da liberdade de
expressão pelos direitos já garantidos na Constituição é o
que leva muitas vezes ao equívoco ao exercer esse direito,
o erro interpretativo e o desconhecimento, acaba
contribuindo para a propagação, de discursos de ódio que:
377
novas tecnologias passa pela
superação das barreiras
socioeconômicas.
Assim notamos que muitas vezes é utilizado o
conceito de liberdade de expressão para a propagação de
ódio, atitude que, apesar de aparentar se tratar de uma
brecha legal, é somente um erro interpretativo ou até
mesmo desconhecimento por parte de quem busca
disseminar discursos de ódio ou apoiar tais práticas,
apesar disso, nota-se claramente um avanço na legislação
no sentido de coibir cada vez mais esse tipo de
comportamento, e tratar os casos já existentes de
maneiras mais eficientes o possível.
Para exemplificar a relação entre os discursos de
ódio no ambiente virtual e os reflexos causados nas vidas
das pessoas analisamos o seguinte trecho da reportagem
publicada pelo Extra, portal de notícias da empresa Globo
em Julho de 2015:
379
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
380
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
381
BARTEL, Carlos Eduardo. Manifestações de Racismo e de
Intolerância no Brasil Contemporâneo. História Unicap,
Rio Grande do Sul, v. 1, n. 1, p.106-118, 2014. Jan./jun.
384
DEBATES SOBRE A INTOLERÂNCIA: UMA ANÁLISE
SOBRE ESSE ESTIGMA DIFUNDIDO E TOLERADO NA
SOCIEDADE GLOBAL E BRASILEIRA
Danielle Alves1
Géssica Corrêa2
Ianka Aniceto3
Nathalia Rocha4
Nilmara Regina Gomes Dias5
Marisa Oliveira6
Paulo Castanheira7
Samuel Camilo8
Magna Campos9
RESUMO:
INTRODUÇÃO:
A sociedade, em seu desenvolvimento histórico,
sempre teve em seu âmago as diferenças e segregações
386
geral, alguns debatem a questão da influência dessa
aproximação mundial, ou seja, o quanto a globalização
influencia no surgimento dos conflitos que frequentemente
chegam ao ponto da intolerância. Em sua entrevista,
Karnal afirma, a respeito da influência da globalização e
dos meios atuais de comunicação quanto à intolerância,
que:
A intolerância religiosa na
antiguidade ao redor do mundo se
tornou evidente quando o Império
Romano se mostrou intolerante
diante do crescimento do
cristianismo em seu território, eles
perseguiram e mataram muitos
cristãos. Entretanto, uma vez que foi
legalizado e admitido como religião do
Império, é a vez dos cristãos se
tornarem intolerantes com os pagãos.
(JESUS et al., 2018, p.3)
390
expressar a sua vontade a escolha do seu culto religioso
no Brasil, a Constituição Federal (1988) citada por JESUS
et al. (2018, p. 4)
392
constituídos pela população que tende a crescer conforme
os séculos vão se passando isto segundo Teixeira (2016),
ora que tais enigmas devem ser dialogados e conhecidos,
haja visto que o que torna algo intolerante é a descrença,
ou seja, a ignorância do não conhecido, a respeito, da
advinda de um outro termo que interpreta a vida na busca
do mesmo para todos.
O diálogo, segundo Teixeira (2016), é o melhor meio
para se compreender essa diversidade pluralista das
religiões. Nesse momento o pluralismo não pode ser mais
visto como algo simples e sem importância, mas como
uma formação positivada assim como as leis do direito.
Essa positivação que Teixeira prega é uma tentativa
de garantir questões universais do ser humano se
tornando a sua autonomia uma heteronomia que mantém
o alinhamento das questões sociais da população, tal ideia
de autonomia e heteronomia advindas de Kant, para
propor uma nova fundamentação dos direitos naturais do
homem, como a liberdade de crença, para garantir a
aceitabilidade da autonomia do homem.
Teixeira (2016) vai afirmar que: “Trata-se de um
espírito novo, que requer abertura e coragem, e que
convida a teologia a romper com os esquemas tradicionais
e a se aventurar em novos sendeiros.” A fim de que esse
rompimento quebre a cristalização das crenças para que
elas possam se envolver em suas ideias, diminuindo os
seus conflitos, se vendo com um novo olhar, não mais de
393
uma rivalidade entre elas, mas em uma fraternidade. Para
esse fato, é necessária a sensibilidade para o diálogo
levando-nos a reconhecer a presença de Deus e da Sua
graça nas diversas tradições religiosas.
E é dessa forma que Teixeira (2016) vai dizer como
a teologia deve se comportar em meio ao pluralismo
religioso em seu artigo “Deus não tem religião.”
ressalta que: “os teólogos deverão, cada vez mais, suportar
intelectualmente o enigma de uma pluralidade das
tradições religiosas na sua irredutível diferença.”
fazendo com que a teologia seja um dos meio para
desencadear o diálogo entre as religiões trazendo
harmonia entre elas e o respeito à crença como o artigo 5°
(BRASIL, Constituição federal, 1988) mencionou neste
ensaio.
A revista digital Carta Capital revela que no
trimestre de 2018 houve aumento da intolerância religiosa
no estado do Rio de Janeiro comparado com o trimestre do
ano anterior. Segundo a Secretaria de Estado de Direitos
Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI)
apud Carta Capital (2018, p.1), “o índice aumentou de 16
para 25 denúncias de intolerância.”
Vale ressaltar que a Carta Capital (2018, p.1) vai
citar que:
395
financiadas por desigualdades sociais provenientes de
grupos que tendem a se manter no controle instigando e
intimidando outros grupos almejando o poder absoluto
retirando a autonomia da representatividade do indivíduo
em representar sua crença.
396
Esses problemas evidenciados, segundo Bittar
(2017) causam tensão na credibilidade da democracia, que
está inteiramente ligada ao funcionamento do sistema
democrático em geral, e que a crise econômica em cada
localidade com suas especificidades são globais.
O texto relata sobre as tensões sociais que estão
cada dia mais claras para a sociedade. Essas tensões
exigem soluções, conforme explica Bittar (2017), que
geram discursos políticos e midiáticos com intuito de
manipulação, sendo assim, para que aconteça o processo
civilizatório, a sociedade precisa passar por essas crises.
Contudo pode-se dizer que o processo de modernização ao
mesmo tempo em que sofre avanços, em outras
perspectivas retrocede e ao mesmo tempo em que suas
estruturas sistemáticas são libertadoras elas também
podem ser opressoras a partir de um pensamento crítico.
397
Quanto às questões sociais, o autor diz que as
etapas de emancipação também passam por conflitos e
tensões. Pois segundo Bittar (2017), a conquista da
liberdade consequentemente ocasiona uma evolução
tecnológica, com isso geram novas ideologias políticas e
dúvidas sócio-históricas. Então, pode-se afirmar que em
um período de conflitos geram intolerâncias políticas,
assim como a intolerância política do passado que
causaram mortes, revoltas históricas, sendo assim uma
grande conquista que é a dos direitos humanos não
podem sofrer retrocessos, mesmo que seja necessário o
combate aos conflitos políticos, o exercício dos direitos
humanos num regime democrático deve ser exercido,
contradizendo o totalitarismo e autoritarismo que se
fizeram presentes no cenário político histórico.
O autor conceitua que no país essas relações de
política ela é instável, contraditória, relatando a ditadura
civil militar (1964- 1985) e o de construção da democracia
com a Constituição federal de 1988, manifestações e
revoltas que transformaram a sociedade com os
impeachment dos presidentes Fernando Collor e Dilma
Rousseff. Bittar (2017).
O autor aponta indicadores que estão relacionados
diretamente com a crise econômica e a fragilidade da
democracia que estão atreladas às interações sociais,
relatando os altos índices de desemprego, desigualdades
socioeconômicas, manifestações, greves populacionais,
398
liberdade de expressões políticas entre outros, que
implicam nas questões da consolidação da democracia
brasileira.
Na segunda parte do texto, democracia, ação social
e a vida em comum, Bittar (2017) indica teoria da
democracia a partir da teoria do filósofo Hans Kelsen,
apontando o conceito de um ponto de vista psicológico a
“personalidade democrática”, afirmando ser feita a partir
das relações humanas (relação um para com o outro),
surgindo a ideia de que a democracia não está somente
associada a um governo ou instituições, pois a democracia
implica diretamente na ação de esfera pública, e
fornecendo uma linha de comportamento a serem
seguidos pela sociedade civil. Sendo assim, podendo
observar o estado da cultura republicana e democrática de
acordo com os vínculos estabelecidos pelos cidadãos, de
um lado os problemas sociais, violência e de outra parte o
respeito e a cidadania. Sendo assim a compreensão do
conceito de democracia se dá pela ação, produção de
valores sociais e conduta dos indivíduos que formam a
sociedade.
Bittar (2017) aponta várias perspectivas de
democracia, como por exemplo: democracia política,
democracia social, democracia cultural e democracia
global, que são inteiramente ligadas uma à outra, e são
essenciais para o processo de socialização dentro de uma
sociedade democrática. Apontam também novas
399
dimensões para o conceito de democracia, determinantes
para o processo de sociabilidades dentro das perspectivas
da ação social democrática.
Com isso, na realidade contemporânea brasileira
todas as questões levantadas indicam a ideia de que a
democracia é denominada apenas por uma forma de
relações de organizações políticas e suas instituições, além
das relações de convívio cotidiano das pessoas que
compõem a sociedade caracterizando a democracia como
uma forma de interação social.
No artigo, Bittar (2017), afirma que crise global
econômica financeira e a situação de crise política social
estão de algumas formas ligadas, quando observa os
escândalos de corrupção o desvio de dinheiro público e a
instabilidade política.
Na terceira e última parte do artigo, Democracia do
Convívio e Republicanismo, trata a realidade brasileira
contemporânea, a partir da crise econômica social e
cultural, causando grande tensão e conflitos na sociedade.
Essa crise abre brechas para manifestações populares,
impondo necessidades de refazer a identidade cultural e
novas considerações para os parâmetros de socialização.
(Bittar, 2017)
Para Bittar, gerando uma disruptura do tecido social,
com isso, surge a ideia de ódio político e a insatisfação do
povo com o governo e suas formas de organização,
percebendo que a democracia nas falas e visões do dia a
400
dia e abandono do padrão republicano para retroceder
historicamente ao padrão autoritário. Sendo assim, o
processo civilizatório democrático e os direitos são
colocados de lado, repetindo as mesmas formas de governo
do passado, consequentemente causando divisão social e
a descrença política.
O autor também trata a democracia
desinstitucionalizada, que apoiada na base do elo moral
entre os sujeitos democráticos em relações de cidadania de
forma de convívio com intuito de construir uma
democracia independente das condições políticas. Além de
uma democracia que se consolida em uma base de
negociação étnico racial e dialógico e colaborativo, assim
como a construção de valores a partir dos direitos
humanos. (Bittar, 2017).
Assim, o processo de modernização democrático do
Brasil ainda é um desafio constante e consiste uma
preocupação pelos estudiosos diante dos grandes
problemas sociais enfrentados pela sociedade através de
políticas públicas, desigualdades sociais, liberdade
política, e cidadania, que são importantes para estrutura e
organização do País, exigindo um desenvolvimento à
medida que se deve alcançar, sempre considerando
questões históricas, enquanto a verdadeira prática da
democracia não avançar a sociedade passará sempre por
períodos de crise, retrocessos, dúvidas, interrupções e
relativização, e, toda sociedade de certa forma entende a
401
necessidade de aprender com a crise econômica financeira
que se torna crise política e consecutivamente crise social
e moral.
A partir da compreensão do texto de Bittar (2017),
podemos relacionar suas teorias da realidade
contemporânea sobre a Intolerância Política e democracia,
com as ideias do psicanalista Christian Dunker.
Dunker (2017) diz que a intolerância ganha cada
vez mais força e espaço. É fácil entender esse cenário no
cotidiano. Mesmo que as pessoas não o falam de maneira
aberta, muitas o sentem. Diante deste cenário, é urgente a
necessidade de se fazer uma reflexão sobre o porquê de
não estarmos vivendo bem em sociedade, contradizendo
com o sentido verdadeiro de democracia.
Vivemos um período de recessão econômica e crise
política que há muito não se via, a primeira que atinge
diretamente a geração nascida entre o fim da década de
1980 e início dos anos 90, exatamente a faixa etária que
está ganhando protagonismo.
Diante desses fatos, as crises políticas e
econômicas são mais comuns do que se parece,
entretanto, nesta, em específico, o que mais se destaca é o
fato de as pessoas estarem reagindo de forma mais
agressiva à adversidade.
Existe um investimento no
sentimento da insatisfação sem
causa. A narrativa é que você faz
402
tudo que o mundo manda fazer: vai à
escola e tira boas notas, arruma um
emprego, casa, tem filhos, ganham
dinheiro. Ainda assim existe um
sentimento permanente de que falta
algo. Essa lacuna de quando em
quando é direcionada para a resposta
mais simples de que o outro é
culpado por essa insatisfação. E o
que está faltando na realidade foi
‘roubado’ pelo outro. Dunker (2017, p
01).
403
O psicanalista afirma que é necessário insistir na
cultura da tolerância, pois a moral da tolerância pode
pacificar as pessoas em situações em que são exploradas.
No sentido de explorar o respeito a diversidades de
opinião.
Conforme um dos autores citado acima, Bittar
(2017), pode-se afirmar que em um período de conflitos
geram intolerâncias políticas, assim como a intolerância
política do passado que causaram mortes, revoltas
históricas, podemos mostrar como exemplo na atualidade
as eleições políticas de 2018.
Segundo Rafael Gregório, as eleições de 2018 serão
lembradas pelos casos de violência, dizem analistas.
(Folha de São Paulo).
Assassinatos, lesões, ameaças e ofensas fizeram
parte dessas eleições as mais violentas da história, dizem
os especialistas em segurança.
A polarização levou pessoas a quererem impor
verdades à força, a eleição mais violenta, tanto na
ideologia quanto entre eleitores, e não só entre
desconhecidos, mas entre amigos e familiares. A crise
deixou as pessoas mais inseguras e fomentou medo,
individualismo e violência.
Temos a plataforma Violência política no Brasil,
dos portais Opera Mundi, que contabiliza 133 agressões
por motivos políticos, incluindo 8 mortes e 42 lesões
404
corporais. Além disso, a contabilidade não considera
ameaças verbais.
Um dos episódios mais emblemáticos foi o do
compositor e mestre de capoeira Romualdo Rosário da
Costa, o Moa do katendê, morto em Salvador a facadas.
Após ser preso o agressor Paulo Ferreira de Santana
afirmou que o ataque se deveu a divergência política, pois
ele é eleitor de Bolsonaro (PSL), e Moa que faria 64 anos,
havia declarado voto ao Fernando Haddad (PT).
Segundo Lima, do FBSP, a radicalização dos políticos
fez as pessoas se sentem autorizadas a cometer atos
violentos. “Principalmente Bolsonaro, com um discurso de
destruição do inimigo”, ele diz.
O Brasil está vulnerável, os governantes tinham como
objetivo um futuro melhor e agora se tornou o único vilão
e causa de todos os males, colocando em dúvida a
credibilidade da democracia.
Diante das informações mencionadas, concluímos que
é necessário insistir na cultura da tolerância, pois a moral
da tolerância pode pacificar as pessoas em situações em
que são exploradas. No sentido de explorar o respeito a
diversidades de opinião, conforme diz o psicanalista
Dunker (2017).
405
O racismo se baseia em práticas realizadas por uma
determinada raça/etnia que, por possuir certo
favorecimento social, coloca outra raça/etnia em situação
desfavorável. Este se manifesta de diversas formas e é
uma das principais causas de pobreza e desigualdades
sociais no Brasil. “Metade da população brasileira é negra
e a maior parte dela é pobre” (CICONELLO, 2008, p. 02),
dessa forma, há uma imensa distância que ainda hoje
separa brancos e negros, distância esta que reflete no
acesso que a população negra possui aos meios de
sobrevivência.
Fazendo uma análise histórica podemos observar
que no Brasil, por ser um país que nunca estabeleceu um
regime jurídico de segregação da população negra, ergueu-
se a ideologia da democracia racial, criando assim, a falsa
ideia de que brancos e negros convivem de forma
harmônica e possuem iguais oportunidades. Esta ideologia
acaba por se tornar um mito, pois ao mesmo tempo em
que visa integrar a população negra acaba por mostrar
uma sociedade onde o racismo e as desigualdades sociais
que dele decorrem são ignorados fazendo com que
aparentemente não existam.
Assim como Abdias Nascimento10, entendemos que
a escravidão deixou como legado o racismo, e a mulher
negra é um exemplo claro disso. O Brasil herdou de
Portugal a estrutura patriarcal de família, estrutura esta
407
promoveu uma deliberada política de
branqueamento da população, com o
incentivo à imigração de origem
europeia. Essa política foi
implementada tendo como
justificativa ideológica a suposta
superioridade da “raça” branca,
incentivada pelo racismo científico da
época. (CICONELLO, 2008, p. 08)
408
muitas vezes os negros acabam ocupando posições sociais
determinadas e subordinadas no mercado de trabalho.
409
vida são retiradas. Nascimento (1978, p. 101) demonstra
claramente este círculo vicioso ao afirmar que
410
subordinadas. Além disso, “a mídia, no geral, tem se
mostrado contrária a qualquer política de ação afirmativa
para a população negra, além de desqualificar o discurso
do movimento negro e das iniciativas governamentais
nesse sentido” (CICONELLO, 2008, p. 13).
A título de exemplificação das discriminações
raciais que ainda ocorrem nos dias de hoje, podemos usar
o recente caso, relatado pelo site da revista Época em 24
de out. 2018, ocorrido em um voo da Ryanair entre
Barcelona e Stansted, na Inglaterra, que acabou virando
caso de polícia na Espanha.
Em vídeo publicado nas redes sociais, um homem
branco agrediu verbalmente uma senhora negra de 77
anos. De acordo com a filha da vítima, em uma entrevista
a um jornal, o homem teria se exaltado porque a sua mãe
demorou um pouco para dar espaço para que o homem
pudesse chegar ao seu assento e, mesmo depois que ela
tentou fazê-lo parar, ele continuou com as ofensas.
Uma questão levantada em razão desse episódio é o
papel da companhia aérea frente ao combate da violência
sofrida pela senhora. Muitas pessoas se manifestaram e
disseram que a Ryanair deveria ter expulsado o homem do
voo, mas isso não aconteceu, o avião decolou e o homem
foi autorizado a permanecer a bordo. De forma contrária,
como demonstrado pela revista Época (2018), o vice-
prefeito de Barcelona, Jaume Asens, disse que o caso será
411
denunciado ao promotor público para verificar se um
crime de ódio foi cometido.
Este cenário racista e desigual começa a mudar a
partir da ressignificação de ser negro, ou seja, a
valorização da negritude que
412
De forma paralela ao movimento negro, entendemos
que o Estado possui papel relevante nesse processo de
superação do racismo. Este, que segundo Ciconello (2008,
p.08) foi
416
as leis não foram suficientes para o fim da violência contra
mulher. De acordo com Oliveira (2012, p.182)
417
social, que deve ser observado e discutido, com todas as
pessoas, classes, raças e gêneros. Visto que há uma
necessidade de implantar na sociedade a consciência
social, de que o problema de uma determinada minoria e
de relevância para todos. Uma nova cultura ao invés da
cultura machista e patriarcal em que vivemos, seria o
primeiro passo para a erradicação da violência. Nesse
sentido, Oliveira (2012, p.183) acredita que no momento
histórico em que vivemos, está remeteria a percepção dos
direitos e da cidadania, e da relação direta com as
representações sociais que sujeitos desenvolvem na
sociedade.
Contudo, mesmo com inúmeras conquistas
alcançadas pelo movimento feminista, o caminho para
alcançar a equidade de gênero ainda estar sendo
percorrido. Atualmente, as mulheres possuem voz ativa e
cargos públicos, no executivo, legislativo, judiciário, como
por exemplo, a participação ativa a bancada parlamentar,
faz com que as mesmas tenham forças e mecanismos de
modificar e solidificar não apenas leis ordinárias e textos
constitucionais, mas também de implantar políticas
públicas e sociais no país. Oliveira (2012, p.183) acredita
que a falta das políticas públicas são a base da
problemática citada e a criação destas resultaria em
melhorias.
É evidente a necessidade de mudança, fora dos
textos constitucionais, como uma nova visão da sociedade
418
em relação à violência contra a mulher, citado por Oliveira
(2012) em suas falas. Um exemplo é o recente caso da
advogada Tatiane Spitzner, de 29 anos, que foi encontrada
morta no apartamento em que morava com o marido, no
Paraná. O circuito interno do prédio em que morava,
mostram a vítima sendo brutalmente agredida no elevador
e em outros locais do prédio.
As filmagens ainda mostram Luís Felipe, atual
esposo da vítima, limpando o sangue da mesma antes de
fugir. Agora réu, e principal suspeito do caso, Manvailer
responderá pelos crimes de homicídio qualificado, fraude
processual e cárcere privado, segundo a MP do Paraná, em
entrevista ao Jornal da Globo. (G1.COM, 2018).
Os gritos de socorro de Tatiana, ecoaram pelo prédio,
porém a vítima não recebeu nenhuma ajuda de seus
vizinhos que a ouviam gritar. O caso de Tatiana traz um
questionamento além dos textos constitucionais e do
crime cometido. Seria a sociedade em que vivemos
negligente em situações de agressões? O termo “em briga
de marido e mulher não se mete a colher”, não seria um
pejorativo para se manter imparcial em situações onde
caberia a outrem intervir, e salvar uma vida? Uma
problemática desta, só seria vencida através de mudanças
nas estruturas sociais e morais da sociedade.
2.5 HOMOFOBIA
419
O artigo Criminalização da Homofobia (2016) tem
como objetivo demonstrar a necessidade da criminalização
da homofobia, partindo do princípio de que essa forma de
preconceito atinge uma parte minoritária da sociedade, a
comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Intersexuais), o que causa um
estranhamento a partir dos conceitos tradicionais
estabelecidos de gênero.
A sociedade está passando por várias
transformações ao longo do tempo e uma dessas
mudanças inclui a decisão do Supremo tribunal Federal,
em 5 de maio de 2011, na Ação Direta
Inconstitucionalidade 4277 e na Ação Direta de Preceito
Fundamental 132, reconhecendo a união de pessoas do
mesmo sexo como entidade familiar.
Berenice (2016) tem como objetivo mostrar a
necessidade de criminalizar a homofobia, demonstrando a
violação de direitos constitucionais que promove o bem-
estar comum de uma sociedade, independente de raça,
origem, cor, sexo, idade, e, identificar as dificuldades a
partir da inexistência de uma lei que pune atos de
intolerância, violência por ódio, repulsa além de grandes
índices de homicídios, apenas pelo fato de não aceitarem
as diferenças que contradizem com padrões estabelecidos.
Projetos de Lei indispensáveis aos homossexuais
tramitam pelo Poder Legislativo, porém sem previsão de
aprovação, viabilizando ainda mais a impunidade, e,
420
enquanto isso, vidas continuam sendo ceifadas e afetadas
psicologicamente, sonhos interrompidos pelo preconceito,
além da propagação da falta de respeito e do preconceito.
A criminalização da homofobia é de suma
importância para a comunidade LGBT, pois punindo atos
de discriminação e intolerância, além de protegê-los de
certa forma, tem como objetivo inibir que pessoas a
cometam crimes contra essas comunidades minoritárias,
dando a essas pessoas o direito à liberdade e de ir e vir,
assim como garante a Constituição Federal Brasileira,
conforme explica Berenice (2016).
A autora informa que a homofobia manifesta-se a
partir da intolerância, discriminação e preconceito, para
que essa conduta seja penalizada faz-se necessário
tipificação penal que mencione tal conduta realizada e a
pena legal a ser imposta, sendo assim parte do princípio
da legalidade penal, também previsto na Constituição (CF
5° XXXIX) “não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal.” (Brasil,
Constituição Federal, 1988).
O texto “A Criminalização da Homofobia”, deixa claro
essa observação: “assim, para que uma conduta seja
considerada crime, faz-se necessário que uma lei a defina.
E, ainda, que essa definição seja feita de forma clara e
precisa.” (BERENICE, p.4,2016).
De acordo com a autora, todo o cidadão, a partir da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que define o
421
direito básico de uma sociedade civil tem direito de
usufruir de sua liberdade, sem distinção de qualquer
forma, inclusive a de sua opção sexual.
No entanto, quando atos de repulsa e de violência
são praticados a comunidade LGBT, esses direitos são
claramente violados, daí surge à necessidade de leis
punitivas para essa prática de discriminação.
São várias violações cometidas com tais atos,
como por exemplo: o Direito à vida, Dignidade da Pessoa
Humana, Direito à Igualdade, Normas Infraconstitucionais
e etc. O Poder legislativo reconhece os crimes praticados
pelo ódio, porém há uma grande contradição, pois mesmo
reconhecendo esses fatos, não apresentam projetos de
correção dessa problemática, nem aprovam projetos de leis
punitivas desses crimes, demonstrando a ineficiência das
ações do legislativo.
Um dos motivos para a não aprovação dos projetos
contra a homofobia é a prática do tradicionalismo religioso
e da moralidade pragmática, impedindo que o estado
assegure aos homossexuais o direito à vida e a
criminalização da homofobia.
Podemos relacionar o texto A Criminalização da
Homofobia (2016), com o artigo Homofobia, Cultura e
Violências: A Desinformação social (2013), da autora Sônia
Maria Ferreira Koehler, professora do Centro Universitário
Salesiano de São Paulo, Coordenadora do Observatório de
422
Violência nas Escolas, Doutora em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano.
Koehler (2013) tem a intenção de ressaltar nesse
artigo, a problemática das questões sociais, educacionais e
de violência, a partir da contextualização de sexo e gênero.
Já observamos no texto anterior, às mudanças adquiridas
ao longo dos anos dentro dessas perspectivas, e o quanto
a opção sexual dos indivíduos gera problemas no âmbito
social, e, o principal deles é a Homofobia.
Com isso, a discriminação e aversão à comunidade
LGBT, tem ocasionado um aumento significativo de
violência e crimes contra travestis, gays e lésbicas, levando
a sociedade a repensar medidas socioeducativas, para
desconstruir o tradicionalismo religioso e moralista, de
que só existe uma verdade única nos processos de padrões
sociais.
Contudo mesmo existindo movimentos a favor da
comunidade LGBT, as escolas e o poder legislativo, se
omitem diante dos problemas, ao invés de investigar, criar
políticas públicas, medidas de proteção e garantias dos
direitos civis desses sujeitos, que são corrompidos pelos
atos de discriminação e violência.
Um dos objetivos desse artigo é a desconstrução
de que a homofobia é uma doença, mas sim uma atitude,
observado no trecho do artigo Koehler (2013) p.143:
423
[...] e um crescente entendimento de
que a homofobia não é uma doença,
mas sim uma atitude, ainda
relacionada ao medo em relação a
outro homem, a coisa ou lugar,
aparecendo ainda de forma relevante
o “não entendimento” do conceito,
assim como o entendimento do termo
“homofobia” sem relação com a
sexualidade [...].
2.6 XENOFOBIA
Podemos observar na sociedade atual uma alta
intolerância com os imigrantes, à medida que a crise do
capitalismo ressurge em um ciclo vicioso. Temos através
dos imigrantes a chegada de mão de obra no país, muitos
provindos de países em guerra ou de extrema pobreza, em
consequência disso, além do preconceito de classe, temos
também o aumento deste “exército” de mão de obra na
sociedade, favorecendo o capitalismo monopolista neste
ciclo.
424
A mão de obra imigrante amplia o
exército de reserva de trabalhadores/
as que garante a sobrevivência do
império do capitalismo monopolista,
estruturado na livre circulação de
moedas e mercadorias, mas cerceia a
livre circulação da força de trabalho.
Afinal, no atual estágio do
capitalismo, a legislação que garante
direitos aos/às migrantes e
refugiados/ deteriora não só as
condições de trabalho, como
contribui para a desvalorização do
valor do trabalho para todos/as,
tanto nacionais quanto
estrangeiros/as, como classe.
(SANTOS, 2016, p.7)
425
Partidos políticos neoliberais e
conservadores, utilizando discursos
ultrageneralistas, novamente
levantam as bandeiras da xenofobia,
da hostilidade, da intolerância e da
violação dos tratados, leis e estatutos
de proteção aos/às estrangeiros/as.
Os/as defensores/as da
desregulamentação de mercado
(liberalização da economia) defendem
um tipo de desenvolvimento
econômico que tem resultado na
desigualdade, na concentração de
renda, no desemprego, entre outros.
(SANTOS, 2016, p.8)
431
aponta os crimes de preconceito em razão de raça, cor,
etnia, religião etc.
Portanto, o que se pode depreender é que a
Liberdade de Expressão não é absoluta, nem é um direito
fundamental de hierarquia maior, aos moldes da tutela
estadunidense. Essa Liberdade terá que ser
compatibilizada com outros direitos fundamentais, em
respeito ao sistema constitucional em vigor. Para tanto,
poderá ser utilizada, em casos de violação de direitos, uma
solução promovida pelo princípio da proporcionalidade ou
dissidência recíproca entre valores constitucionais, ou
ainda outros recursos disponibilizados pela hermenêutica.
Quanto ao discurso do ódio, entretanto, pode-se
observar vedações expressas infraconstitucionais
promovidas pela lei, Fica claro, portanto, o limite
promovido por texto de lei infraconstitucional à Liberdade
de Expressão, consoante o artigo 5º, II da CF/88, que
estabelece o princípio da legalidade. Como a “Lei n.
7.716/89, que tipifica, em seu artigo 20, como condutas
criminosas, a prática da discriminação que deprecia e
desqualifica em razão da raça, cor, etnia, procedência
nacional ou religião”. (BRASIL, Código Penal, 1989)
O discurso do ódio questiona os limites e
fundamentos do Estado Democrático de Direito, pois se
trata de um discurso que tem a intenção de agredir e
hostilizar certos grupos sociais, étnicos, religiosos ou
432
culturais, tendo como consequência uma intensa e
perigosa incitação de ódio contra estes grupos.
Para melhor se analisar este fenômeno, deve-se
estudar os princípios constitucionais que garantem o
direito à liberdade, à liberdade de expressão, mas também,
por outro lado, é necessário que se conheça os limites
dessas liberdades, uma vez que estes direitos não são
absolutos. Exemplos de limitação à liberdade de expressão
estão previstos no próprio texto constitucional, como
ocorre com a vedação ao anonimato, a proibição de
violação à honra e à imagem do indivíduo e a previsão de
indenização pelos danos morais ou patrimoniais advindos
de eventuais abusos no exercício desses direitos.
O fenômeno “discurso do ódio” se trata de uma
apologia abstrata ao sentimento de ódio nas pessoas,
representando repúdio e discriminação a determinados
grupos devido a suas características definidoras, como,
por exemplo, os islâmicos, os judeus, os homossexuais,
dentre outros.
Para Brugger (2007), o discurso do ódio:
433
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, na Europa,
principalmente, restou grande preocupação dos países em
evitar o ressurgimento do antissemitismo. Uma importante
medida foi a de se criminalizar a Teoria Revisionista, que é
aquela em que se questiona a existência do holocausto.
Ora, ao se questionar a existência dessa barbárie, incita-
se expressamente o apoio àquele regime cruel e às suas
nuances discriminatórias.
Um dos principais direitos afetados por este
discurso do ódio é o direito da dignidade da pessoa
humana, pois as manifestações de desprezo e ódio a
determinados indivíduos por conta de suas características
existenciais e essenciais tende a diminuir a autoestima
desses seres humanos, bem como sua dignidade e
autorrespeito, e instigam, ainda, o preconceito em pessoas
que não viam nenhum defeito nesses grupos
anteriormente.
O discurso do ódio pode ocorrer devido a atos que
incitem o preconceito, a discriminação ou o racismo,
sendo necessária, desta forma, a análise de cada um
destes conceitos.
Questão complexa para o sistema jurídico é a
dificuldade em identificar o discurso do ódio para, assim,
repudiá-lo e puni-lo. Isto se deve ao fato de a incitação ao
ódio poder ocorrer não apenas de maneira explícita, mas
também, de maneira implícita. Insultos e ofensas,
mensagens de ódio ou de repulsa, podem estar presentes
434
no discurso por meio de mensagens subliminares. Assim
sendo, o Estado deve ser extremamente cauteloso para
averiguar este fato, pois não poderá restringir a liberdade
de expressão do indivíduo se não houver prova concreta de
que a sua intenção era praticar este ato.
Assim, o grande desafio do Estado e da sociedade
será possibilitar e garantir o direito à liberdade de
expressão sem que haja abuso e, consequentemente,
prejuízos e danos irreparáveis para a dignidade da pessoa
humana e o direito à liberdade.
A Constituição Federal brasileira guarnece proteção
à liberdade de expressão, à dignidade da pessoa humana e
repudia a prática de racismo. Assim sendo, já foram
ratificados pelo Brasil inúmeros tratados acerca da
proteção à liberdade de expressão e da proibição de
práticas discriminatórias e atentatórias aos direitos
fundamentais. Apesar disso, nenhuma lei brasileira refere-
se expressamente à proibição do discurso do ódio.
O Supremo Tribunal Federal, Corte de nossa
jurisdição e principal defensor da Constituição Federal
brasileira, já teve, infelizmente, que julgar um caso
histórico que envolvia a prática de racismo e o discurso do
ódio. Foi assim, desde esta decisão, que passou a haver
especial observância à matéria “discurso do ódio” na
jurisprudência brasileira.
O referido caso tinha como objeto o Habeas Corpus
82.424/Rio Grande do Sul, impetrado em favor de
435
Siegfried Ellwanger, que houvera sido denunciado pelo
crime de racismo em 14 de Novembro de 1991. Este
paciente fora absolvido em primeira instância, entretanto,
fora condenado em segunda instância, em dois anos de
reclusão por apologia a ideias preconceituosas e
discriminatórias contra judeus.
Siegfried Ellwanger era sócio da editora Revisão
Editora Limitada e também era autor de algumas obras
literárias detentoras de conteúdo antissemita.
Primeiramente, ocorreu a sua condenação pelo Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul. Assim, impetrou-se
habeas corpus em seu favor no Superior Tribunal de
Justiça, sendo indeferido nesta instância, fazendo com
que, em seguida, o caso chegasse ao Supremo Tribunal
Federal. A Corte Suprema denegou o writ, decidindo:
436
A referida decisão do Supremo Tribunal Federal foi
tomada por maioria de votos, entretanto, não foram
enfrentados de maneira direta os conflitos entre direitos
fundamentais e a liberdade de expressão, a dignidade do
povo judeu e a proibição à prática do racismo, por não ser
este o ponto central do habeas corpus. A questão principal
era saber se judeu era considerado raça ou não.
Todavia, deve-se ressaltar que o racismo não está
no fato de uma pessoa ser judeu ou não, mas sim se quem
promoveu prática discriminatória, o fez baseado na
concepção e conceito de raça. Por isso que no caso
concreto, judeu é uma raça.
Assim, o Tribunal Constitucional, na medida em
que lhe foi proposta a discussão acerca do tema, fixou o
entendimento de que a liberdade de expressão não é um
direito absoluto, pois para exercê-lo, há que se observar e
respeitar limites morais e jurídicos. Este foi um
importante passo para a preservação da dignidade da
pessoa humana pela nossa jurisprudência, entretanto, a
luta contra o racismo, a discriminação e o preconceito
ainda está muito distante de um fim.
Com a popularidade da internet e o uso cada vez
mais frequente das redes sociais e aplicativos, inúmeras
questões jurídicas envolvendo o uso da tecnologia
começaram a surgir. Furto de dados, sites falsos com o
objetivo de fraudar o consumidor, uso indevido de imagem
e discurso de ódio são apenas alguns dos exemplos de
437
situações que demandam regulamentação e soluções por
parte dos operadores do Direito.
Assim como no caso Marcelo Valle Silveira Mello,
Policia Federal investigou Marcelo na Operação
Intolerância devido ao blog de masculinismo assinado por
Silvio Koerich, que na verdade era um pseudônimo usado
por Marcelo e seu comparsa Emerson Eduardo Rodrigues
Setim. As postagens incluíam discurso de ódio contra
mulheres, inclusive ensinando técnicas de estupro, e
também incitavam que se praticasse pedofilia e violência
contra negros, judeus, homossexuais e nordestinos.
Exatamente por isso o direito tenta atuar de
maneira multidisciplinar, ou seja, agregando situações
previstas nas mais diversas áreas do direito, como:
Direito civil: processos de danos morais, motivados por
difamação, injúria e calúnia, são bastante comuns.
Direito penal: quem difama ou calunia uma pessoa
através de uma rede social pode processado por crimes
contra a pessoa, previsto no direito penal. O mesmo ocorre
com quem furta dados privados, públicos ou empresariais,
para quem usa a Internet para traficar drogas ou vender
armas, para a pornografia infantil, extorsão, falsidade
ideológica, entre outros.
Injúria, difamação ou discurso de ódio tipificada na
divulgação de informações mentirosas sobre uma empresa
ou sobre uma pessoa física que ocorra na internet A
pessoa lesada poderá requerer o reparo da informação e o
438
crime vai depender do contexto; dispositivos que se faz
essa interpretação são:
“Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato
ofensivo à sua reputação (…)”
“Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro (…)”
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
439
Então, através de todos os fatores apresentados, as
pesquisas, as opiniões dos especialistas e os exemplos, por
si só, já evidenciam a necessidade de se estudar, debater,
e principalmente educar o máximo possível à sociedade,
preparando-a para lidar melhor com essa questão da
Intolerância.
Até porque, mesmo com a existência de leis que
visam a proteger as parcelas da sociedade, entre essas
leis, a título de exemplo, o supracitado, no tópico 2.1 desta
obra, o Art. 5º (BRASIL, A Constituição Federal, 1988) que
visa garantir as liberdades do indivíduo, observa-se na
prática que tais barbaridades advinda da intolerância
continuam por ocorrer pelos mais diversos motivos.
Há aqueles que defendem sanções mais rigorosas
em relação à Intolerância, em alguns casos, tal rigor até se
mostra necessário, como é o caso da implantação da Lei
Maria da Penha, promulgada na forma da Lei nº
11.340/06 (BRASIL, 2006), que visa proteger a mulher no
âmbito familiar, tentando desta forma amenizar a
intolerância de gênero dentro do ambiente familiar.
Entretanto, mesmo com essas sanções, o que é
observado, na realidade, é que tais atos de intolerância
continuam a ocorrer com extrema frequência, incitados
principalmente pela incapacidade e despreparo dos
indivíduos em lidar com as diferenças surgidas das
questões anteriormente debatidas: religião, política, racial,
de gênero, de orientação sexual e de imigração.
440
Neste ponto, percebe-se que o que realmente é
necessário para enfrentar adequadamente essa questão, é
educar de forma correta a sociedade, preparando-a e
moldando-a, para que, ao invés de partir para violência ou
aderir a discursos de ódio, ela resolva suas divergências
utilizando-se de formas pacíficas e através de um
consenso que permita a coexistência de todas as partes
envolvidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
441
em:<https://observatorio3setor.org.br/carrossel/intoleran
cia-um-risco-a-democracia/>. Acesso em: 20 out. 2018.
442
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro:
processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1978.
443
A INTOLERÂNCIA CONTEMPORÂNEA: RAÍZES E
CONTINUIDADE
André Ferreira1
Camila Ferreira2
Leticia Santos3
Lucas Borges4
Samuel Miranda5
Stefanne Oliveira6
Victor Moreira7
Magna Campos8
RESUMO:
446
entrevista dirigida por Néli Pereira âncora do jornal BBC
Brasil, o historiador Karnal ressalta:
447
diretamente ideologias e doutrinas, mas que deve se
resguardado por lei, todos sabem que o homem, de forma
geral, é livre para escolher qual ideologia deve seguir. A
intolerância pode ser expressa de várias formas, seja
física, psicológica ou intelectual. Pessoas de certa religião
não aceitam ideias contrárias o que sua religião propõe, e
agridem aqueles que não seguem sua religião.
No Brasil a intolerância religiosa começou antes
mesmo do País se chamar Brasil, os portugueses
trouxeram o catolicismo, que de certa forma não aceitava
ideias contrárias, como por exemplos as crenças indígenas
eram discriminadas, os negros escravizados também
foram proibidos de cultuar sua religião, tratada como algo
demoníaco. Com a chegada dos Ingleses, essa perspectiva
que só poderia ter apenas uma religião acabou em 1891 a
Igreja foi separada do Estado com a nova forma de
governo, república. 1903 a lei que impedia templos não
católicos foi revogada. Mas é preciso deixar claro que nem
todo católico é intolerante, é comum recebermos notícias
nas quais católicos também vem sofrendo ataques de
outras religiões como, por exemplo, em locais que adotam
o islamismo com a religião principal e o quem segue outra
religião não podem praticar sua fé. (JESUS et al,2018)
Com o grande registro de crimes voltados à religião,
foram criadas leis para que se resguarde a vida e a fé
daquelas pessoas que têm opiniões religiosas contrárias
com o que é considerado a religião “principal” no país.
448
Essas pessoas, teoricamente estão protegidas de
discriminação religiosa, de ser ameaçado, morto,
humilhado devido sua escolha religiosa. Está na
Constituição que todos são livres para escolhas políticas,
para expressar, para locomover e para escolher qual
religião seguir. Porém sempre esses direitos são vetados,
do direito político a religião sempre existe uma pessoa que
discrimina suas ideologias. E para essas pessoas que
agem dessa forma, o código penal prevê sanções.
Em 1981, uma declaração das nações unidas
artigos que dão mais segurança às pessoas possuem
crenças e religiões dadas como “diferentes” foi criado com
intuito de valorizar as religiões e evitar com que crimes de
intolerância religiosa virassem coisa comum, e não
resguarda se a cultura dessas pessoas. Valorizar
principalmente o que é a luta de muitas minorias, a
igualdade. O respeito independente do sexo, raça, cor,
religião deve existir. (JESUS et al, 2018)
A principal causa para tais tipos de ação que
resulta a intolerância, podemos dizer que seria o
fanatismo, acreditar cegamente em algo e achar que tudo
que está contrário daquilo está errado, é não perceber que
há opiniões que mesmo que diferentes podem estar certas,
pode ser até considerado algo de ego, acreditando que é o
dono da verdade e aquele que o contradiz é inimigo. A
diversidade cultural faz com que haja um choque de
cultura e religião e é o que está ligado diretamente a
449
intolerância religiosa. Jesus (2018) Lembra que
intolerância religiosa não é apenas de uma religião contra
outra, existe caso de intolerância religiosa de indivíduos
da mesma religião, mas com interpretações diferentes da
palavra sagrada praticam atos de intolerância, exemplo
cristãos católicos e cristãos protestantes.
No mundo, continuarão existindo diversas culturas
e diversas religiões independentemente do que você
acredita ou não, não será com violência que isso resolverá,
todas as religiões prezam por paz, amor e respeito, esse é o
principal objetivo da religião, e os que seguem devem
prezar por isso também. É necessário educação, empatia,
conscientização para que as intolerâncias religiosas se
extingam, somente as leis impostas pelo ordenamento
jurídico não são suficientes para que tais atos se cessem.
E a partir do momento que as pessoas comecem ser
conscientizadas sobre o assunto, teremos uma solução
melhor do que as leis fizeram até hoje.
Costumes e culturas vivem em constantes
mudanças e conflitos principalmente após o processo de
globalização, o contato com terceiros que possuem
ideologias diferentes a divergência de opinião é muito
comum e intolerância é algo presente. Sendo assim é
necessário relembrar os direitos garantidos por lei com
lembrado por Souza (2018), o direito à liberdade de culto e
liberdade de crença, que estão garantido por na
Constituição Federal, no artigo 5. O estado se declara
450
laico, garantindo a harmonia e igualdade entre crenças,
em que todos têm liberdade de exercer ou não qualquer
religião, tem a liberdade do culto, protegendo os locais de
cerimônias, assim teoricamente deixando cada um
escolher sua crença.
Um fato muito relevante totalmente ligado à
globalização e enfatizado por Souza (2018) é o fato da
ascensão evangélica fazendo com que religiões católicas,
afro- brasileiras e outras perdesse força e aguçando cada
vez mais a intolerância contra aquele que não segue suas
ideologias.
Após diálogos e entrevistas com muitos líderes de
Igrejas, principalmente evangélicas na cidade de Anápolis,
Souza (2018) percebeu que a maior parte de intolerância é
contra as religiões afro-brasileiras por serem consideradas
algo atrelada demonização, o que para tais líderes é
inaceitável. Comparando ao que Souza pesquisou em
Anápolis devido uma questão cultural, sociológica é
notório observar tal intolerância em todo Brasil contra
essas religiões que vem da cultura afro, seja umbanda
apelidada de forma “pejorativa” como macumba, e também
contra candomblé.
De forma geral, conforme explicado por Souza
(2018), podemos observar que a intolerância religiosa
infelizmente é presente no cenário mundial, a disputa por
territórios é uma grande influência para tal violência.
Também como grande força de influência a separação de
451
poder do estado e da igreja, fazendo com que a igreja
perdesse força perante dominação do país, em muitas
ocasiões ela tenta aproveitar do momento de fé de
terceiros para implantar certa ideia controversa sobre tal
costume, um exemplo disso é a maçonaria, não é uma
religião, mas grande parte da população tem preconceito
pelo fato da Igreja ter colocado para seus fiéis que quem
participasse de um grupo fechado como maçonaria
possivelmente teria vendido alma para o demônio.
Essa história começou quando Dom Pedro II virou
maçom e deixou de acatar todas as ordens da Igreja e
apoio várias ideias o grupo fechado nomeado de
maçonaria, criado por homens que com certa influência
financeira na época estava tentando defender o que era
melhor para o país, e não só para uma minoria que
detinha poderes. Como a maçonaria, diversas religiões
sofrem desse preconceito se não está de acordo com a
ideologia da religião predominante na sociedade.
Com tudo analisado e com o que presenciamos no
nosso cotidiano, é preciso fazer mais, apenas a lei ainda
não garante a segurança para escolher sua crença, é
necessário respeito, empatia e além de tudo criar suas
opiniões, mas acatar a do outro, vivemos em um caos
político, religioso, ideológico e sabemos que a violência não
mudará opinião do outro, quem sabe um diálogo para
entender o ponto de vista diferente faça entender o motivo
da crença, sendo assim seguindo o verdadeiro sentido da
452
religião que é viver em paz, e fazer bem ao próximo e não
disseminar o ódio, a intolerância como presenciamos em
diversas situações.
Como pautado anteriormente, as pessoas que
seguem religiões afros são as que sofrem mais
discriminação em nossa sociedade. Para comprovar essa
afirmação além do que presenciamos no nosso cotidiano.
O Portal de notícias brasileiro, popularmente conhecido
como “G1” no dia 16/06/2015 publicou uma notícia de
uma criança que foi atacada ao sair de um culto de
Candomblé.
Uma menina de onze anos ao sair de um culto
Candomblé na noite do domingo 14/06/2015, foi atingida
por uma pedra na Avenida Meriti, Vila da Penha, Zona
Norte do Rio de Janeiro.
Dois homens em um ponto de ônibus atiraram
pedras e insultaram um grupo de religiosos, e a criança foi
atingida. Os homens fugiram e o caso foi registrado como
lesão corporal. E enquadrado no artigo 20, da lei 7716
(praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional).
Esse caso trazido pelo G1 não é um fato isolado, e
está longe de ser o único, infelizmente não é o primeiro
nem o último crime baseado no desrespeito a diversidade,
seja religião, raça, costumes etc. A reportagem só
comprovou o que já havia sido escrito acima, que a
453
intolerância contra religiões de origem afro sofrem
preconceito com frequência, independentemente da idade,
gênero o indivíduo que tem opinião contrária ao outro
corre risco. Como enfatizado durante todo o ensaio, essa
situação não pode continuar, não podemos mais aceitar
essa situação, todos têm direito a escolha e não há o que
fazer a não ser respeitar.
454
Conforme explica o autor, após a ditadura civil-
militar de 1964-1985, no período de restauração da
democracia da Constituição Federal de 1988, tem-se uma
situação de três pedidos de impeachment para Presidentes
eleitos por voto popular que serão citados abaixo:
456
os níveis básicos como, educação, saúde, política,
cidadania, justiça, economia e a cultura construir uma
democracia desinstitucionalizada com respeito aos direitos
humanos.
O artigo, “A proposta da constitucionalização do
direito como via de legitimidade para o direito penal
contemporâneo”, procura analisar as principais
características do direito penal atual para, a partir daí,
denunciar o seu afastamento e suas raízes filosóficas, que
permitiram a formação do penalismo moderno, para se
voltar exclusivamente à necessidade de resposta práticas,
como resultado de falsa política criminal.
Varjão (2013) explica em seu artigo “A proposta da
constitucionalização do direito como via de legitimidade
para o direito penal contemporâneo” que para os
ordenamentos jurídicos modernos somente um Direito
Penal garantista poderia ser considerado legítimo, e
somente um objetivo deveria ser perseguido: a proteção de
interesses humanos fundamentais (bens jurídicos). Não há
espaço para a atuação punitivo sem o fim de garantir a
proteção, ou mesmo reparação, de um bem jurídico
lesado.
O Direito Penal Contemporâneo é uma área do
Direito que segundo Alan Jefferson Santos Varjão é onde
garante a ordem e a defesa da sociedade diante dos
problemas atuais: ataques ao ambiente, violência,
intolerância, drogas, corrupção, inversão de valores,
457
informatização etc. Neste aspecto podemos delimitar as
principais características do Direito Penal Contemporâneo:
459
a circunstâncias de que algumas
tipificações previamente existentes
são questionáveis à luz dos novos
valores constitucionais ou da
transformação dos costumes.
(BARROSO, 2010, p. 378 apud
VARJÃO, 2013, p.24)
460
Segundo o G1, Bolsonaro foi socorrido e levado à
Santa Casa de Misericórdia da cidade. O hospital informou
que ele deu entrada na emergência, por volta de 15h40,
com “uma lesão por material perfurocortante na região do
abdômen”. Segundo os médicos, Bolsonaro chegou com a
pressão baixa por causa da perda de sangue. O candidato
teve lesões nos intestinos delgado e grosso e passou por
uma cirurgia.
Portanto, o caso acima revela um grande
desrespeito com o Estado Democrático de Direito, a
liberdade constitucional política e gerando grande afronta
à liberdade de expressão.
461
De acordo com Duarte e Silva (2017), a história da
sexualidade humana se desenvolveu com o tempo e passar
dos séculos, no século XVII não tinha tanto pretexto sobre
o sexo e a nudez antigamente os corpos nus eram visto
com maior naturalidade, adultos e crianças vivenciaram
com normalidade. No século XVII, teve uma limitação
sexual, onde o sexo tinha apenas uma finalidade a
reprodução, as pessoas que escolhiam a prática ilícita da
sexualidade deveriam procurar locais apropriados e onde
preço era muito alto. Na igreja todo pensamento de
desejos, atração, vontade partida da sexualidade tinha que
ser dito, o questionamento da igreja se confundia com a do
estado. O homem tratava a mulher como apenas um
objeto tinha o sexo na hora que quer, e a mulher casada
ela seria fiel a ele, enquanto o homem poderia ter relação
sexual, permitia-se a prática da relação sexual
extraconjugal, ou seja, poderia se relacionar com outras
mulheres, como toda repressão sexual era baseada no
poder a mulher foi considerada inferior ao homem,
domesticadas por fazer a vontade do homem.
No ano de 1500 as portuguesas chegaram ao Brasil,
trazendo uma cultura totalmente diferente do Brasil e a
sexualidade também vivenciada pelos índios. Os
portugueses se depararam com as índias nuas e sem
maldade alguma, ao longo tempo o processo de
colonização e catequização, a nudez dos índios eram
combatida pelos padres, e vestir eles seriam um ato
462
bondoso. De acordo com Priore (2011) apud Duarte e Silva
(2017, p.5) Fala sobre o sexo na colônia portuguesa: "que
para o casal ter a privacidade, o casal dirigia-se às praias
ou ao meio do mato, para escapar dos olhares curiosos", e
naquela época ninguém tinha privacidade em suas casas,
e lá seria o local menos adequado a praticar. Na Reforma
Católica que aconteceu por volta do ano 1545, a pureza foi
reforçadas pelas igrejas, as mulheres se cobriam o corpo
quase todo e depilavam-se como sinal de pureza.
A mulher era sujeito passivo do homem, ou seja,
submissa a ele, e órgão sexual da mulher era visto apenas
como reprodutivo Priore (2011, p.32) apud Duarte e Silva
(2017, p.5), continua ressaltando "Os pregadores barrocos
preferiam descrevê-lo como a porta do inferno e a entrada
do diabo, pela qual os luxuriosos gulosos de seus mais
ardentes e libidinosos desejos descem ao inferno"
responsabilizavam as mulheres como o demônio, como se
elas tivesse cometido o pecado, pelo fato do homem não
saber resistir a ela, mas então a culpa seria da mulher e
não do homem. Ainda com a descoberta do clitóris por
Cristovão Renaldus (1559) citado por Duarte e Silva (2017,
p.6) "o prazer feminino da mulher não foi considerado no
sexo, mas resumiria na maternidade", ou seja, ela serviria
apenas para cuidar do filho. Com a chegada dos escravos
os homens usavam às negras como objeto sexual e para
trabalho, e as brancas tinham o respeito, da forma que
seria correto a eles.
463
A Mulher portuguesa era inferior ao homem,
negras e índia eram mais ainda, portanto eram mais
desvalorizadas do que as prostitutas portuguesas,
conforme Priore (2011) citado Duarte e Silva (2017, p.6).
No início do século XX, aconteceram muitas mudanças
sociais, mulheres praticavam esportes, dança, se vestiam
por completa e se adaptaram as atividades que suponham
a elas, e com isso ocorreu a pornografias, O Rio Nu
garantiu as pessoas terem o acesso ás imagens, e
demonstravam certa liberdade de expressão, com base a
isso pessoas que não eram casados podiam se relacionar
sexualmente, e ser aceitos socialmente, embora a igreja
não aceitasse certo tipo de coisas. Com as mudanças
sexuais, se o homem não é virgem e se nega ao sexo com a
mulher, eram humilhados e chamados de gays, como se
fosse um defeito, e ainda a mulher inferiorizada, era
obrigada a ser pura, e servir de objeto, tarefas domésticas,
cuidar de filhos e etc.
Conforme explicam os autores Silva e Duarte
(2017), até um certo tempo o prazer sexual limitava-se
apenas para procriação, a mulher era vista como demônio
pelos cristãos, eram recarregadas pela culpa do pecado, e
o exemplo mais forte na época foi a Eva, responsável pela
queda do homem, e levou-se a morte. Entre os séculos XII
e XVIII igrejas identificavam as mulheres como uma forma
de maldade sobre a terra, no período da menstruação
eram consideradas ninhos de pecados, as mulheres
464
sofriam todo tipo de preconceito pelo fato de ter
características femininas, a igreja e a sociedade não sabia
lidar com isso. No século XXI, Duarte e Silva (2017, p.9)
diz que a mulher ainda seria mal vista como ruim para
muitos homens que não se assumam, sobre a
inferioridade e o ódio à mulher, terá fundamentos
históricos e religiosos.
Tratando-se de estupro e agressões que leva a
morte o feminicídio foi incluído nesses tipos de crimes, que
se trata a vida da mulher nas mãos do homem, adquirindo
proprietários delas e como vemos maridos, ex-marido
intimidando a mulher com ameaças, violências que chega
até a morte. Um crime de ódio, discriminação
desigualdade pelas mulheres brasileira. Tratando de ódio é
considerado o misógino são homens heterossexuais que
agride a mulher, mesmo relacionando com elas, trata-se
da integridade física e moral na da mulher, pondo como
inferiores aos homens.
Douradouro (2013) apud Duarte e Silva (2017, p.14)
diferencia o feminismo com o femismo: “O feminismo é um
movimento social e político que busca a igualdade entre os
gêneros, através de direitos e oportunidades iguais para os
dois sexos. Já o femismo propaga a ideia de que a mulher
é superior ao homem, como se fosse um machismo
inverso." Com base ao texto foi criado a Misandria que
será contrário de misoginia o ódio e aversão aos homens,
seria colocar a mulher como negativas, pelo fato de serem
465
mulheres. "Na história e no presente, a questão do poder
está no centro das relações entre homens e mulheres".
Relacionando aos estupros, tratando do abuso
sexual a vítima sempre terá sua prioridade,
independentemente de como ela esteja vestida, se ela
ingeriu bebida alcoólica ou não, são violentadas por
homens que achando que pode ter o direito de abusar
simplesmente por uma mulher está como uma roupa
curta por exemplo. A mulher tem seu lugar na sociedade e
vale ressaltar que a educação o convívio entre meninos e
meninas é fundamental na educação da criação dos filhos,
o respeito é principal na vida e princípios de cada ser
humano.
De acordo com texto “Feminicídio no Brasil” damos
a continuidade e falaremos sobre os tipos de violência
doméstica e familiar, casos mais ocorridos nos dias atuais,
trazendo uma superioridade masculina em relação à
mulher, a inserção da lei no código penal Brasileiro é um
avanço e tem objetivo de diminuir os índices de
assassinato contra mulher. Sobre seus direitos, conforme
Conceição (2017), a Lei Maria da Penha nº 11.340
sancionada em 07 de agosto de 2006, exigiu uma
mudança de transformação sobre o respeito e direito de
igualdade a todos, a lei 11.340/2015 deu-se como nome
de feminicídio, classificando como crime homicídio,
caracterizando-se a violência contra a mulher, tendo o
resultado a morte. Qualquer tipo de violência seja força
466
física, ou ameaças, contra si próprio ou contra outra
pessoa, pode-se resultar em mortes, danos psicológicos,
privado e limitando a pessoa de uma vida normal.
O feminicídio no Brasil é considerado o assassinato
da mulher tratando um caso especial de vítima, quando é
relacionado à violência doméstica, familiar, discriminando
os direitos da mulher. De acordo com Debelak, Dias e
Garcia (2012) apud Conceição (2017, p.4), "A relação entre
eles é inegável: 43,4% dos assassinatos femininos
cometidos em 2011 no Brasil tiveram autoria do parceiro
ou ex-parceiro da vítima, segundo o mapa de
violência publicado no ano de 2012".
Conceição (2017) ressalta que o Brasil no ano de
2012 já se encontrava no rol dos países com o maior
índice de homicídios femininos do mundo, tem-se que a lei
do feminicídio é um avanço e tem por objetivo diminuir os
índices dos assassinatos contra mulher, visando sua
proteção sobre seus direitos.
Com base o texto a varias tipos de feminicídio,
tratando de feminicídio são casos íntimos, não íntimos e
por conexão. Para Conceição (2017), no feminicídio íntimo,
o autor do crime é o atual ou ex-companheiro da mulher
com o qual a ela manteve algum tipo de relacionamento ou
convivência conjugal, extraconjugal ou familiar.
Feminicídio não íntimo o autor do crime e a vítima mulher
não possuíam qualquer ligação familiar, de convivência ou
de relacionamentos pelo fato ocorrido, Já o feminicídio por
467
conexão, ocorre quando o homem tem por objetivo
assassinar outra mulher, no entanto, a vítima que não era
alvo, vem a ser assassinada por estar na hora errada, o
lugar até mesmo sendo confundida com a pessoa que seria
o alvo.
Feminicídio não se refere uma característica
biológica, mas sim gêneros ligados aos papéis sociais
desempenhados pelo homem e a mulher, cria-se certa
separação na sociedade mesmo nos tempos de hoje, tem
uma diferenciação entre o homem e a mulher como no
mercado de trabalho, na vida pessoal etc. De acordo com
Teles e Melo (2002) apud Conceição (2017, p.13) explica-se
sobre o sentido da violência de género: "que na violência
de gênero há dominação do homem e a submissão da
mulher, que foram impetrados historicamente promovendo
violência entre os sexos com fundamentos ultrapassados
em ideologias patriarcais”.
O feminicídio é um termo cada vez mais presente
nos noticiários. O alto índice dos assassinatos de
mulheres motivados apenas pelo gênero, ou seja, pela
vítima ser do sexo feminino, A principal causa dos
assassinatos de mulheres e da violência contra a
população feminina é o machismo. A legitimação do
sentimento de posse, visto por muitos como natural de um
relacionamento, além do julgamento de práticas e que
muitos homens consideram como “imorais” ou
“desviantes” da mulher ideal podem induzir ao crime.
468
De acordo com o tema falarei sobre um caso
ocorrido publicado no site conhecido como “G1”
aproximadamente a 3 meses atrás no dia 31/07/2018. O
feminicídio advogada Tatiane Spitzner, de 29 anos, que
caiu do 4º andar do prédio em que morava em
Guarapuava, região central do Paraná. De acordo com o
delegado Bruno Miranda Maciozeki, o caso foi qualificado
por homicídio através do feminicídio feito por seu marido
Luis Manavailer, de 32 anos, seu marido retirou o corpo
do local e apagou manchas e marcas de sangue no local.
Seu marido negou-se as acusações, mas foi preso ao sofrer
um acidente na BR-277, em São Miguel do Iguaçu, a 340
quilômetros de Guarapuava no mesmo dia que em sua
mulher foi morta. O circuito de monitoramento das
câmeras do prédio mostrava forte agressões brutais,
contra a vítima e que deixou marcas evidentes em seu
corpo.
A família de Tatiane Spitzer anexou conversas por
whatsapp de Tatiane conversando com a amiga sobre a
situação que se passava na sua casa, e relatava que sentia
medo e insegurança sobre o seu marido que dizia em ter
“ódio mortal” dela, essas mensagens foram arquivadas por
parte de um pedido de prisão preventiva do marido. Luís
Felipe Relatou que as mensagens e a petição não teriam
um valor legal referente. As mensagens terá um valor
jurídico e as mensagens forem extraídas por uma perícia.
469
Casos como esse é frequentemente ocorre no nosso
dia á dia, a criação da Lei do Feminicídio foi um passo
importante para a sociedade, já que determina o que
constitui tão crime, acelerar os julgamentos e dá
visibilidade ao assunto. A real dimensão da violência
contra a mulher, já que muitos casos não chegam ao
conhecimento dos órgãos oficiais. O medo e a dependência
fazem com que mulheres que são agredidas não
denunciam seus parceiros. A dificuldade em encontrar
ajuda e a falta de orientação correta de agentes públicos e
órgãos de proteção também agravam a situação das
vítimas.
470
livre de discriminação e mais segurança e eficácia na
garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Vamos apresentar alguns tópicos para abordagem
desses assuntos atuais e de extrema importância na
sociedade a qual vivemos, de acordo com Monteiro (2016):
a inexistência de lei que criminalize a homofobia, direitos
essenciais à pessoa humana; normas constitucionais;
direito à igualdade; normas infraconstitucionais; projetos
de leis; estado laico; pontos negativos e positivos da
criminalização da homofobia.
Mesmo com tantos casos de violência, a pessoa do
grupo LGBT ainda não tem garantido na Constituição uma
lei que criminalize a homofobia e intolerância,
aumentando ainda mais o número de violência contra
eles, a respeito, Monteiro (2016, p.3) declara:
471
esses direitos por falta de normas positivadas que
criminalize a homofobia (MONTEIRO, 2016).
O processo para aprovação da lei que criminalize a
homofobia ainda se encontra em tramitação no Senado
Federal e Câmara dos Deputados. O projeto lei número
122/2006 propunha a criminalização por preconceito e
intolerância aos homossexuais e transgêneros, com o
objetivo de fazer com que a sociedade reconheça que as
pessoas de orientação sexual atípica também sejam
reconhecidas como sujeitos de direitos e deveres na ordem
civil, respeitando sua dignidade (MONTEIRO, 2016).
De acordo com Monteiro (2016), vários fatores
impossibilitam a criação de normas que criminalize a
homofobia. Cada indivíduo tem total liberdade para
escolher a religião a qual irá seguir ou até mesmo não se
adentra a nenhuma. Dessa forma, a nossa Constituição
assegura a todo o cidadão de conviver entre si, de forma
pacífica, respeitando uns aos outros, mesmo sendo de
religiões distintas. Em contrapartida podemos perceber
que a religião é usada fortemente como uma influência
para esses tipos de preconceitos e violência contra
homossexuais e demais abordados neste presente texto.
Uma vez que de certa forma a religião proíbe e exclui
pessoas com opção sexual atípica do mundo espiritual,
influenciando mesmo que indiretamente no meio jurídico a
não criação de leis que criminalize a homofobia.
472
Uma parcela da população é a favor da
criminalização da homofobia enquanto outra parcela
sendo a maioria é contra, por questões morais ou
religiosas como vimos no tópico acima. Criar leis que
criminaliza o preconceito e intolerância dará mais
efetividade aos direitos humanos, direito à vida, à
liberdade de expressão, e ainda o direito desse grupo de
homossexuais serem tratados de forma igualitária sendo
protegidos pela Constituição. Diante dos pontos negativos
da criminalização da homofobia temos as pessoas que são
contra, alegando que isso limitaria o direito de expressão
dessas pessoas contrárias a essa opinião. Porém esse
pensamento é usado por grupos que tem preconceito
contra os LGBTs, contrariando a criação de leis que
criminalizam a homofobia para não serem vítimas de
processos criminais (MONTEIRO, 2016).
Diante dessas premissas relatadas no presente
texto e de acordo com Monteiro (2016) podemos averiguar
falhas do poder legislativo em positivar leis contra a
homofobia, mas também verificamos um avanço do
sistema jurídico no poder judiciário ao reconhecer a união
de pessoas do mesmo sexo como uma entidade familiar
representando assim um grande passo para que no futuro
a homofobia seja vista como um crime, cabe agora ao
Congresso Nacional aprovar tais leis visando uma
melhoria na qualidade de vida dos envolvidos.
473
Percebe-se, porém que os políticos acabam
deixando se influenciar por crenças religiosas, princípios
ou até mesmo receio de aprovar essas normas e serem
vistos como homossexuais, demostrando mais uma vez o
quanto nosso país precisa de uma mudança
primeiramente na forma como tratam os homossexuais, e
consequentemente o reconhecimento de que são
necessárias normas que criminalizem a homofobia para
uma sociedade livre de preconceitos e intolerância contra
este grupo.
Já ressaltamos anteriormente a importância da
criação de leis constitucionais que criminalizam a
homofobia a fim de punir pessoas preconceituosas e
intolerantes e proporcionar bem estar, proteção e maior
garantia dos direitos fundamentais aos homossexuais já
que esses são excluídos da sociedade contemporânea por
ter uma opção sexual “anormal” das demais pessoas.
Diante dessas premissas vamos apresentar propostas a
fim de amenizar ou até mesmo acabar com essa
problemática a qual vem afetando nossas gerações
futuras. Vamos analisar como o ensino jurídico poderia
contribuir para ensinar as pessoas a respeitarem as
diversidades sexuais, além disso, propor ao ensino escolar
a construção de uma sociedade a qual veja a
homossexualidade como algo normal, respeitando assim
essas diferenças.
474
Sabemos que escola é um lugar de convívio social, à
qual estamos aptos a conviver com diversidades culturais
e sexuais, e nada melhor do que um lugar sociável para
criação de hábitos e fazer com que os direitos
fundamentais sejam mais conhecido e praticados ao invés
de ficar apenas na teoria. Segundo Rodrigues (2007) a
questão da homofobia se dá através de uma construção
social, sendo assim para ela a escola é responsável por
criar entre os estudantes a heteronormatividade, isto
significa dizer que no meio escolar o tratamento ao
homossexual tornaria igualitário, refletindo na sociedade
em geral. Porém, claramente é visto que as escolas vêm ao
contrário do que se espera, causando uma maior
desigualdade entre as pessoas. Cada vez mais os
homossexuais não têm sua liberdade de expressão e
opinião aceita no meio social. Diante disso Rodrigues
(2007) afirma que os homossexuais sofrem com o não dito,
aquilo que é mantido em silêncio, falar sobre a escolha
sexual atípica ainda é um tabu por não estar associados
nos padrões impostos da sociedade contemporânea,
contudo, o objetivo é acabar com esse não dito nas escolas
e trabalhar com os alunos sobre a opção sexual como algo
comum. A problemática não se encontra somente nos
ambientes escolares, porém é um meio a qual pode ser
eficaz no combate a desigualdade, assim como afirma
Rodrigues (2007, p.65):
475
É oportuno observar que suas
propostas não partem de uma
postura ingênua de supor que é
possível transformar a sociedade a
partir da escola, mas parte da
premissa de que “adotar uma atitude
vigilante e continua no sentido de
procurar desestabilizar as divisões e
problematizar a conformidade com o
“natural”; isso implica disposição e
capacidade para interferir nos jogos
de poder”.
Apesar de levar para as escolas assuntos
relacionados à sexualidade e quebrar os tabus sobre o
mesmo apenas essa medida não seria a solução dos
problemas da discriminação, pois a sociedade está
fortemente ligada às questões culturais, influências
religiosas e até mesmo política, deixando assim de “abrir
os olhos” e reconhecer que somos todos iguais perante a
lei e sociedade, e que a homofobia é um comportamento
absolutamente preconceituoso. Já que essa proposta
acima não é totalmente suficiente, mas seria um grande
passo para ressocialização digna dos homossexuais, para
melhor concretização dessas medidas devemos levar em
conta os direitos fundamentais que cada cidadão tem. O
direito que tem sofrido constantes mudanças em leis,
jurisprudência e medidas constitucionais quando se trata
de escolha sexual. Segundo Rodrigues (2007, p.65) ‘’No
campo direito, uma das estratégias que tem sido pensada
é a de construir um ensino jurídico na perspectiva da
476
promoção de uma cultura de direitos humanos e da
diversidade sexual. ’’
Diante das críticas ao ensino escolar gerador de
diferenças sociais e preconceitos o direito também se
enquadra nesse aspecto uma vez que no Brasil o direito é
instrumento conservador e controlador e não
transformador, algo que deveria acontecer de acordo com
as mudanças ocorridas na sociedade. Como consequência
disso, formam se juristas com perfil conservadores,
impossibilitando abertura de um sistema jurídico o qual
realmente defenda os direitos de igualdade e de liberdade
de cada indivíduo. Para melhoria no sistema jurídico é
preciso formar juristas críticos a qual passam a
compreender o direito a partir de uma perspectiva social,
baseando se nos direitos fundamentais, respeitando a
cultura e orientação sexual de cada um e trazendo para a
sociedade benefícios na efetivação dos direitos humanos
(RODRIGUES, 2007).
Um dos assuntos mais polêmicos no ramo do
direito está ligado ao conceito de família, uma vez que na
Constituição não é prevista que devemos seguir
determinado padrão de família, mas sim que a família deve
ser protegida pelo estado, porém, podemos observar que a
sociedade ainda sim suprimem os casais homoafetivos, até
mesmo para que eles adotem um filho, a burocracia é
intensa destacando mais uma vez o desmazelo aos direitos
fundamentais da pessoa humana (RODRIGUES, 2007).
477
Assim para que aconteçam avanços na esfera
jurídica segundo Rodrigues (2007) é indispensável que
temas sobre a sexualidade seja debatidos nas
universidades de direito, a fim de proporcionar maior
conhecimento sobre o assunto, além disso, formar
profissionais capazes de mudar o sistema jurídico de
acordo com as necessidades sociais, sendo assim, teremos
mais efetividade dos direitos fundamentais e um estado
realmente democrático de direito.
Diante dos resultados e análises acima vamos agora
averiguar um caso de homofobia publicado no jornal G1
em 15 março de 2017, na cidade de São Carlos (SP) algo
que está se tornando tão comum na nossa sociedade e que
ainda está longe de acabar. Um casal gay foi agredido com
uma pá, e vários chutes e socos por dois homens quando
voltavam de uma festa, abraçados e fazendo gestos
carinhosos. Eles então retornaram ao local da festa em
busca de ajuda, porém o Douglas desmaiou. Ocorreu um
tumulto em frente ao local e os amigos do casal foram até
os agressores para saber exatamente o que ocorreu e eles
alegaram que estavam apenas separando uma briga do
casal. (SEGNINI, 2017)
Um problema grave envolvendo este caso está
associado ao pouco caso dos órgãos públicos em relação a
esse tipo de acontecimento: intolerância homofóbica. Ao
procurarem a delegacia para registrarem o boletim de
ocorrência com base na lei estadual 10.948/2001 que
478
prevê uma punição a atos de descriminalização em razão
da orientação sexual ou de gênero, perceberam o desleixo
com o acontecimento, sendo que nenhuma medida foi
efetuada. (SEGNINI, 2017)
Os direitos fundamentais dando ênfase ao princípio
da igualdade estão sendo desrespeitado por pessoas
intolerantes que não respeitam as desigualdades, porém,
isso deve ser mudado, pois existe sim uma Constituição a
qual defende os direitos dessas pessoas que afinal são
todas iguais perante a lei e assim deve ser na convivência
social.
479
principal a movimentação do capital nas mãos dos menos
favorecidos, a mão de obra de imigrantes aumenta o
exército de trabalhadores no qual garante o império do
capitalismo monopolista.
Diante a desvalorização do valor do trabalho para
todos, é gerado preconceito de classe que abrange a
maioria dos imigrantes, conforme destaca Santos (2016,
p.8), “esse preconceito de classe se expressa em
comportamentos que beiram o fascismo, destilando
discursos de ódio e de repulsa ao “diferente”, ao/a
estrangeiro/a, não familiar, vistos como ameaça a uma
pretensa estabilidade da “ordem” e da economia
mundiais”.
O Brasil em meados do século 19 sofre grande
influência de imigrantes em sua formação econômica e
social. “Ocorrendo os movimentos reivindicatórios de
imigrantes, o governo republicano altera então o art. 72 da
Constituição de 1891, que passa a exigir a apresentação
de passaporte” (SANTOS, 2016, p.9).
Já no início do século 20 que houve mudanças
significativas na política de migração.
Com a chegada de trabalhadores
estrangeiros para substituir mão de
obra escrava no setor manufatureiro
e no campo, entre esses
trabalhadores vieram muitos
anarquistas e socialistas italianos,
onde também que ocorreram as
primeiras greves e movimentos
reivindicatórios, que deram início a
formação de uma separação de
480
classe, devido aos problemas
ocasionados por eles, o Estado Novo
implantou a Lei de Cotas, que limita
a contratação a 2% do número de
imigrantes de cada nação. (SANTOS,
2016. P.9)
481
fenômenos de discriminação violenta, entre eles a
escravidão, genocídio, segregação, etc. CABECINHA (2008)
reforça “associados à crença na superioridade de um
grupo em face de outros, a noção de raça como critério
para a diferenciação entre grupos humanos é
relativamente recente”.
No período medieval indivíduos diferentes eram
designados ‘monstros’, não havia uma categoria para
caracterizar raça.
482
Essas medidas têm como característica a conscientização
para a realidade pluricultural das sociedades europeias.
Universalmente, cresceu o número de elemento
relacionado ao conjunto de imigrantes. De forma que com
boas práticas que são determinadas pelas entidades
reguladoras, e em muito desses elementos a nacionalidade
e a origem dos intervenientes são omitidas. Em
compensação CABECINHA (2008, p.16) destaca
“aumentou significantemente o recurso a palavras
genéricas, como ‘imigrantes’ e ‘estrangeiros’, o que
contribuiu para reforçar ainda mais a homogeneização
informativa”.
O Brasil tem sido um grande refúgio para pessoas
que tem enfrentado uma situação precária em seu país,
como a Venezuela que adotou um regime militar imposto
por seu governante Nicolás Maduro. “Crise Humanitária”
título usado pelo jornal O TEMPO no dia 10/02/18 após a
publicação de casos de xenofobia.
Entre esses casos, uma criança venezuelana de três
anos e seus pais que ficaram gravemente feridos em
Roraima, após desconhecidos jogarem uma bomba caseira
dentro da casa onde estavam abrigados. As vítimas foram
levadas para o hospital, e a criança sofreu queimaduras de
segundo grau em várias partes do corpo
Uma imigrante que dormia com outra pessoa em uma rede
teve queimaduras de segundo grau no rosto, pescoço e
483
costas. No local, viviam seis adultos e sete crianças que
estavam dormindo quando foram atacados.
Casos como esses são apenas um reflexo dos dias
atuais, onde os que não pertencem a um grupo social têm
sofrido ataques de diversas formas e maneiras. Atitudes
como essas não podem ser mais toleráveis ao semelhante,
onde todos devem e têm o direito de ir e vir com liberdade
sem sofrer qualquer tipo de repressão.
484
De acordo com Nandi (2018, p.37), o discurso do
ódio é o conflito em si. A exposição de mensagens nas
redes sociais contra as minorias: LGBTs, mulheres,
negros, índios entre outras socialmente reprimidas, por
exemplo, pode ser vista como uma propagação do ódio e
uma ruptura nas relações entre os envolvidos.
Essa necessidade que algumas pessoas têm de ferir
o outro pode ser explicada, de acordo com Castells, pelo
fato de o ser humano ser individualista, e as redes sócias e
a internet darem um amparo para que essa característica
seja reforçada. Como estamos vivendo em uma sociedade
cada vez mais individualista, o número de casos de
pessoas que sofrem algum tipo de violência virtual é cada
vez mais crescente, não tão somente pela individualidade
do ser, mas também pela virilização muito rápida das
informações, o que faz com que muitas pessoas possam
ter acesso a ela ao mesmo tempo e também que um grupo
de pessoas possa ser atingida pela mesma ofensa.
Silva (2011) citado por Nandi (2018, p.40), explica
esse fato através da seguinte afirmação:
488
O caso foi investigado pela polícia. Porém, até a data
da publicação da reportagem no portal, os autores não
haviam sido identificados.
É um caso lamentável, que atingiu três vítimas,
sendo que uma delas tomou uma atitude extrema em
relação ao que tinha acontecido a ela.
Notamos, através das pesquisas realizadas que a
jurisprudência Brasileira e de outros países, vê o discurso
do ódio como uma violação aos princípios básicos do ser, e
que existem alguns casos que foram levados a julgamento,
tendo sido aplicadas as medidas cabíveis.
Porém, apesar do número de relatos a respeito do
discurso do ódio estar cada vez maior, muitos casos ainda
ficam silenciados, ou por medo por parte da vítima em
denunciar seu agressor, ou pelo fato de não se conseguir
identificar quem cometeu tal ato, pelo fato de existirem
muitos perfis falsos na rede.
Fica, portanto, incumbido a cada um, tentar
diminuir essa triste realidade, que está se tornando cada
vez mais comum e de uma maneira cada vez mais cruel
por parte de quem a pratica.
Considerações finais:
490
federal expõe no Art. 5º(1988) “que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Com
isso, todas as pessoas poderão viver sem qualquer receio
pelas diferenças, e viveram em harmonia dentro da
sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
491
RODRIGUES, Maria Alice (Rio Grande do Sul). Rompendo
o silêncio: Homofobia e heterossexismo na sociedade
contemporânea. Políticas, teoria e atuação. 3. ed. Porto
Alegre: Nuances 2007. 116 p. Disponível em:
https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/30
426292/Livro_Rompa_o_Silencio.pdf?AWSAccessKeyId=AK
IAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1540523697&Signature
=ZLQOhlD%2BNymMBwGn64dASp6m06Y%3D&response-
content-
disposition=inline%3B%0filename%3DRompendo_o_silenci
o_homofobia_e_heteross.pdf#page=2 , acesso em: 10 out.
2018.
492
Mãe de jovem achada morta após vídeo íntimo reclama
de ‘violação’. Rio de Janeiro, 17 de Nov. 2013. Disponível
e http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2013/11/mae-de-
jovem-achada-morta-apos-video-intimo-reclama-de-
violacao.html. Acesso em 1 de nov. 2018.
493
NANDI, José Adelmo Becker. O COMBATE AO DISCURSO
DE ÓDIO NAS REDES SOCIAIS. 2018. 57 f. Tese
(Graduação) - Curso de Tecnologias de Informação e
Comunicação, Centro de Ciência, Tecnologia e Saúde,
Becker Nandi Universidade Federal de Santa Catarina,
Araranguá, 2018.
494
MUNDO PLURALIZADO: AS DIFERENÇAS QUE NOS FAZ
HUMANOS
Bruno Oliveira1
Moisés Moura2
Lorena Ferreira3
Rúbia Poletto4
Martinho Cardoso5
João Victor Silva Costa6
Yusf Jamil7
Jesus Brendon8
Magna Campos9
RESUMO
496
A intolerância tem sua base enraizada no
preconceito que tem como definição ideias pré-concebidas
discriminatórias a algo ou pessoa. Podemos citar, por
exemplo, o preconceito racial. Muitas vezes o preconceito é
motivado por ignorância por tudo que não é considerado
“normal” para a realidade da pessoa criando ódio e
atitudes hostis ao próximo, como violência verbal ou até
mesmo física.
Nesse Ensaio vamos trabalhar especificamente em
cada tópico com os temas intolerância religiosa, política,
contra a mulher, sexual (homofobia), xenofobia e o
combate de discurso de ódio nas redes sociais, temos
também o objetivo através da investigação dos motivos do
fenômeno Intolerância, de onde vêm os enraizamentos do
problema e como solucioná-los. (FANTINI, 2014)
498
conta não aceitava nenhuma outra
ideia que não fosse a sua própria,
desprezavam as crenças indígenas as
quais tinham como maléfica. Com o
passar das décadas, houve a vinda
dos negros para serem escravizados,
e a mesma situação se repetiu. Para
livrar-se das perseguições de seus
senhores e do clero, os negros faziam
uso das imagens dos santos católicos
em suas cerimônias, quando na
verdade estavam cultuando seus
orixás. Eles foram os que mais
sofreram intolerância religiosa,
porque sua religião era considerada
na época, uma religião demoníaca.
Perseguidos pela polícia, os
praticantes deviam se esconder ou
tolerar invasões e penas de prisão por
estarem reunidos em suas
cerimônias religiosas. (JESUS, et al.,
2018, p.2)
499
Art. 5º Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
VI - é inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias; VII - é
assegurada, nos termos da lei, a
prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de
internação coletiva; VIII - ninguém
será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as
invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada
em lei. (BRASIL, Constituição
Federal, 1998 apud JESUS et al,
2018)
500
2.2 INTOLERÂNCIA POLÍTICA
504
teremos um candidato que agradará a todos, mas com o
princípio de alternância de poder podemos perceber que
você será representado em algum momento.
Para que tenhamos um país livre temos que ter
tolerância de todos os lados, onde todos possam expor as
suas ideias sem medo de sofrer retaliações depois de ditas.
Em todos os casos vemos a ignorância tomando partido do
ser e julgando sem olhar o objetivo de todos. Para um
Brasil melhor, teremos que ser brasileiros melhores. Assim
funciona para todo o mundo.
505
vida, desde dificuldade para receber uma educação de
qualidade até obstáculos para conseguir um bom
emprego. Como em casos de um garoto negro ter mais
chances de morrer de uma forma violenta andando para
sua casa, que um garoto branco, mostrando assim, que os
brancos possuem mais privilégios, tanto em segurança,
quanto em saúde, como uma mulher branca ter acesso à
saúde privada, e conseguir métodos conceptivos mais
seguros, e uma menina negra sofrer no mercado de
trabalho e ainda morrer no sistema de saúde pública, em
casos de abortos ilegais, reforçando assim as
desigualdades.
Portanto, mesmo em situações em que os negros
conseguem uma oportunidade de emprego, ele continua
abaixo da média branca. Causando assim, um
distanciamento entre os grupos sociais, e reforçando ainda
mais a discriminação gerada por fatos históricos, que
depois de anos, ainda consegue ter um grande peso na
dinâmica social.
507
os negros e os incentivarem a lutar, a não se calar diante
do preconceito.
Um dos estilos que abraçaram a causa, e começou
em regiões periféricas, onde o número de negros é alto, foi
o estilo ‘’rap’’ e ‘’hip-hop’’, onde em suas letras, os artistas
tentam retratar, e protestar contra essa intolerância, como
Ciconello (2008, p 5,6) cita:
508
Foi instaurado um programa pelo MEC, que é
explicado por Silva (2002, p.74):
O Programa de
Garantia de Renda Mínima – PGRM –
Bolsa Escola, instituído em 1992, é,
segundo o Ministério da Educação e
Cultura – MEC, um programa eficaz
ao assegurar às famílias com renda
per capita inferior a meio salário
mínimo, condições financeiras que
permitam a permanência das
crianças e adolescentes de 7 a 14
anos na escola.
509
das crianças negras no trabalho;
desemprego elevado; concentração
em postos de trabalho mais
desprotegidos; baixos rendimentos
auferidos etc. – engendrando
mecanismos compensatórios que as
corrijam. (SILVA, 2002, p.74)
510
brancos que possuem educação privatizada de qualidade e
pais que possuem uma renda boa, uma vaga para
ingressarem em uma boa universidade. As oportunidades
não são a mesmas, e essas cotas são o mínimo que o
Brasil fez para tentar diminuir de fato essa desigualdade
de privilégios.
511
ódio, resultado desse contexto de discriminação,
desigualdade, opressão e violência vividas pelas mulheres".
Contexto marcado e legitimado por centenas de
anos de normalização do machismo, da misoginia e da
inferiorização e objetificação feminina, e como definido por
Silva (2010, pág. 560) "pode ser entendido como uma
decantação do preconceito, da discriminação e do
sentimento de intolerância pelos quais as mulheres vêm
passando nos últimos dois séculos". Conceitos atrelados à
ideologia de que mulheres são inferiores, fonte do mal na
sociedade, desvirtuam os homens e interferem de forma
maléfica em seus caminhos, tem fundamento na história
de Adão e Eva e a expulsão do Jardim do Éden. Santo
Agostinho chegou a dizer que Eva foi escolhida pela
serpente para fazer com que eles provassem o fruto
proibido justamente por ser mulher, inferior, e que,
segundo ele, Adão não seria facilmente enganável como ela
e só sucumbiu ao pecado para não deixar sua
companheira, como discorre a autora Uta Ranke-
Heinemann (1996, apud. SILVA; DUARTE, 2017): "Satanás
se dirigiu "ao elemento inferior dos dois humanos [...]
pressupondo que ao homem não seria assim tão fácil
enganar".
É possível observar essa ideologia presente em
diversos - senão todos - momentos da história, na qual a
figura feminina foi constantemente subjugada, ocupando
lugares secundários e culpada pelos males ocorridos,
512
como ocorreu também na Inquisição Católica quando
diversas mulheres morreram acusadas de bruxaria, o que
não acontecia aos homens, era uma acusação feita
exclusivamente às mulheres, por serem mulheres (SILVA e
DUARTE, 2017) ou como ocorreu durante o Iluminismo: a
mulher que tentasse apossar da igualdade estabelecida
pela Revolução Francesa para abrir para elas espaços na
vida pública teria como destino a morte na guilhotina.
Muitas mulheres que tentaram reivindicar seus direitos de
cidadania tiveram esse destino, como Olympe de Gouges,
uma escritora, feminista atuante e revolucionária francesa
(SILVA, 2010).
E, apesar de não mais existir o tribunal da
inquisição e as mulheres terem conquistado mais espaço
na sociedade, os reflexos trazidos pelo machismo podem
ser observados em diversos comportamentos sociais,
incluindo no modo da sociedade enxergar e lidar com o
feminicídio, que como dito por Silva (2010) até bem pouco
tempo, era tão comum que passava despercebido como
forma de violência em nossa sociedade, onde as mulheres
simplesmente escondiam o seu sofrimento sem poder
denuncia-lo ou compreendê-lo.
Feminicídio que é, até hoje, na maioria das vezes
encarado com banalidade, como crime passional, afinal, se
a mulher é considerada "fonte do mal", inferior, e durante
toda a história seguiu ocupando espaços secundários na
sociedade, é natural que os males que ocorresse a elas
513
fossem aceitos, deixados de lado, não se tomasse
nenhuma providência e, por fim, fossem esquecidos,
principalmente quando os maiores agentes de crimes
contra a integridade feminina são os chefes do
patriarcado, protagonistas da sua história e da história
geral: os homens.
É importante destacar que a violência tratada aqui
não se resume à violência física, contra o corpo da mulher
seja ela de qualquer natureza, mas também nas diversas
violências cotidianas que se mascaram no nosso modo de
relacionarmos, como evidenciou Silva (2010, pág. 560):
516
punibilidade do crime pelo casamento da vítima com o seu
agressor (GEBRIM e BORGES, 2014).
Observa-se que, no Brasil, apesar de avanços no
âmbito jurídico - como a positivação da Lei Maria da
Penha e inclusão do feminicídio no rol de crimes
hediondos - a realidade enfrentada pelas brasileiras ainda
tem um longo caminho pela frente para que haja
mudanças significativas no cenário, visto que, palavras de
Silva e Duarte (2017, pág. 7):
517
Poucos entrevistados concordaram com a primeira
afirmação e discordou da segunda, mas apenas o fato de
terem pessoas concordando e de mulheres estarem
incluídas nos que concordam que a vestimenta e o
comportamento feminino podem ser motivo nos casos de
estupro e que não é necessário ensinar meninos a não
estuprar, demonstra grande cegueira social, imenso
condicionamento do pensamento machista e ignorância
acerca da realidade feminina no Brasil, inclusive pelas
próprias mulheres, o que se torna ainda mais aparente
quando se afirma que não existe machismo no Brasil, ou
que "no Afeganistão é pior”, o que só reforça a
ridicularização e tentativa de desvalidação da violência
sofrida pelas mulheres americanas, como evidenciado pela
afegã̃ Noorjahan Akbar com a publicação do artigo
"Queridos misóginos americanos: A opressão das
mulheres afegãs não existe para o seu benefício". (SILVA e
DUARTE, 2017).
As estatísticas em torno dos altos índices de
violência contra as mulheres em todo o mundo deixa clara
a necessidade do combate sistematizado que deve ser feito
bem como a necessidade latente de grandes mudanças de
comportamento e de atitudes da população frente à̀
violência de gênero (Machado, 1998) apud (Silva, 2010),
para que haja mudanças efetivas nesse cenário é
necessário também que as próximas gerações sejam
educadas de forma a sair desse tipo de pensamento e que
518
a justiça faça valer as leis positivadas para proteção às
mulheres.
Pelos motivos apresentados acima, há pouco tempo
desde que as nações reconheceram que esse é um
problema que merece atenção especial e que diversas
medidas devem ser tomadas para minimizar os danos
causados às mulheres, incluindo a implantação de
políticas de conscientização social para que haja a
diminuição de crimes de gênero, pois além de violar os
direitos humanos, também representa um grave problema
de saúde pública (GEBRIM e BORGES, 2014), não só na
sociedade brasileira quanto em esfera mundial, e que
tomou tamanha proporção que há algum tempo busca-se
a adoção de medidas eficazes para proteger as mulheres
das diversas formas de violência aos quais são vítimas,
como a violência física, psicológica, patrimonial, estupro,
feminicídio, agressões domésticas, entre outras (SILVA e
DUARTE, 2017).
519
discriminação, mas na primeira oportunidade
demonstram o contrário. Um ódio avassalador, em
especial por quem tem uma orientação sexual diferente da
sua, que é tida como normal, diante de um padrão pré-
estabelecido pela sociedade, esse ódio em muitos casos vai
além do simples fato de não gostar, se manifestando em
forma de violência, podendo ser uma agressão verbal ou
física, está em vários casos culmina com lesões graves ou
até a morte da vítima. .
O fator moral, cultural e até intelectual influenciam
na conduta preconceituosa, não bastasse isto, o poder
legislativo também fomenta essa prática cruel que faz
tanto mal a classe LGBT, pois no Brasil, além de fatores
como sociedade e família, a ausência de leis também
contribui significativamente para o aumento da
intolerância e do ódio contra uma classe minoritária tão
maltratada por uma outra classe perversa e superior,
numericamente falando, embora alguns integrantes dessa
camada social se acham superiores em todos os sentidos
(MONTEIRO, 2016).
Sabemos que, mesmo havendo fatores que são
determinantes para a prática de um delito, se houver uma
legislação específica que trata do assunto e com punição
exemplar para quem descumprir a norma estabelecida, o
indivíduo se sente desencorajado a praticar o delito,
sabemos também que nossos deputados e senadores
sofrem pressões de alguns segmentos da sociedade que
520
influenciam muito suas ações, e nesse caso, o segmento
que mais influencia suas ações e o religioso que atua
fortemente para que não se aprove leis em benefício da
classe LGBT.
O poder judiciário na figura do supremo tribunal
federal, diante da inércia do legislativo acaba tomando
algumas decisões para minimizar o desrespeito e a
desigualdade que essa classe sofre, uma conquista
importante que eles obtiveram através do STF “[...] em 05
de maio de 2011, reconheceu a união homoafetiva, ou
seja, a união entre pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar” (MONTEIRO, 2016. p. 7).
A sociedade como um todo precisa entender que os
homossexuais e afins são detentores não só de deveres,
mais também de direitos, em suma, em pleno século XXI
não podemos admitir que uma pessoa seja mal tratada
simplesmente em razão da sua opção sexual, pois em
épocas passadas essas pessoas eram tratadas com mais
dignidade, como cita (BASTOS, 2015, p. 18):
521
foram vistas como perigosas ou
subversivas.
523
pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) onde mostra que em 2016
foram mortas 343 pessoas lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais no Brasil, um recorde nos 37 anos
que compila a pesquisa sobre o número de vítimas fatais
da homofobia, isso significa que, aproximadamente a cada
25 horas pelo menos uma pessoa com estas orientações
sexuais são assassinadas no país.
Segundo o GGB, esse número pode ser ainda maior,
pois muitos casos não são registrados como homofobia, já
que a polícia e o judiciário muitas das vezes não tipificam
o crime como homofobia, negando sua conotação
homofóbica. Esse tipo de crime vem crescendo, de acordo
com o levantamento, em 2000 foram registradas 130
homicídios, já em 2016 este número foi de 260, a região
norte lidera essa triste estatística tirando a liderança que
há décadas pertencia à região nordeste, em 2016 foram
computados 3,02 homicídios a cada um milhão de
habitantes no norte, seguido pelo centro-oeste (2,56),
nordeste (1,94), sul (1,24) e sudeste (1,19). Há uma
predominância de vítimas brancas, elas representam 64%
dos casos para 36% de pessoas negras.
Em números absolutos a nível estadual, São Paulo
lidera com 49 assassinatos, segundo os autores do
levantamento, os crimes acontecem com maior frequência
nos grandes centros urbanos, porém, cidades pequenas do
interior também registram homicídios inclusive com
crimes em família, como foi o caso do jovem Itaberli
524
Lozano, de 17 anos, que foi morto pela mãe no final de
dezembro, na cidade de Cravinhos que fica no interior de
São Paulo, embora haja divergência entre o ministério
público e a polícia civil quanto à motivação do crime, há
relatos de pessoas próximas ao jovem dando conta de que
a mãe dele não aceitava sua orientação sexual, que
inclusive já lhe agrediu por isso.
Itaberli era gay, grupo que segundo o estudo
corresponde a 50% dos homicídios registrados em 2016
seguido de travestis e transexuais representam 42% e
lésbicas 3% ainda de acordo com o levantamento nem
mesmo heterossexuais escapam da violência, eles são
mortos simplesmente por terem alguma proximidade com
pessoas LGBT, como foi o caso do ambulante Luiz Carlos
Ruas, morto no dia de natal em uma estação de metrô em
São Paulo após defender um homossexual e um travesti de
agressores. O GGB destaca a falha dos governos no
monitoramento destes crimes, ressaltando ainda que,
apenas 10% dos casos registrados em 2016 levaram a
abertura de um processo judicial, o grupo defende a
criação de leis específicas que para o crime de homofobia,
como é o caso do racismo que hoje é crime inafiançável.
Assim a caracterização da homofobia não dependeria da
boa vontade da polícia e do judiciário.
525
A série de cadernos assistente social no combate ao
preconceito tem por base estimular e orientar os
assistentes sociais a uma compreensão crítica, nas
diferentes ocasiões de preconceito. A xenofobia e uma
forma de preconceito fundamentada pela discriminação.
Essa discriminação é pela raça, crença, e culturas
diferentes e isso tudo é relacionado a outras nações.
Atualmente o preconceito tem uma característica o que
vemos de diferente não aceitamos facilmente.
De acordo com Santos (2016, p.10)
526
Segundo Santos (2016, p.7)
527
O motivo maior de ocorrer essa imigração e a crise
do capitalismo, pois existem poucas pessoas com muito e
muitas pessoas com pouco, de acordo com Santos (2016,
p.7), “Somente 62 indivíduos possuem o total da riqueza
de três bilhões e meio de pessoas que fazem parte do
grupo dos/as mais pobres da humanidade”.
Ao estudarmos o artigo de Giralda Seyferth do ano
de 2008, faz a gente compreender mais o que se passa na
vida de um imigrante, as leis impostas para os imigrantes
quando chegam ao seu país de destino e ao preconceito
que eles sofrem.
De acordo com Seyferth (2008, p.4),
528
emprego, moradia, comida e dinheiro, além de sequer
conhecer o idioma do país de destino.
Segundo Seyferth (2008, p.5)
530
A internet se tornou o meio de comunicação mais
utilizado e rápido, colocando em contato várias etnias,
culturas. Contudo criou-se um paradoxo, com um
ambiente individual: as plataformas, redes sociais, que
fornecem ao usuário assuntos mais interessantes ao
indivíduo, não o colocando em contato com diversidade e
sim com a similaridade. O uso do anonimato em conjunto
com a falta de comunicação presencial tem dado uma
falsa sensação de impunidade, gerando discursos de ódios
ao diferente.
De acordo com Santos e Silva (2013) apud (SIQUEIRA
JÚNIOR, 2008) apud (NANDI, 2018), “a velocidade da vida
tecnológica gera a intolerância. O isolamento do indivíduo
na tela do computador esperando uma resposta rápida
provoca, sem dúvida, a perda de sociabilidade. A
convivência gera a tolerância. A tolerância é o respeito à
diversidade”. Ou seja, a pessoa se sente no direito de
poder propagar notícias falsas, ditar uma opinião pessoal,
só pelo fato de não corresponder a suas crenças. É muito
comum ver discursos de ódios sendo disseminados através
de piadas estereotipadas e colocando a culpa na própria
vítima.
Vitimização, termo que descreve como:
531
ser humano deve ao outro. Mas não
só isso. No caso do discurso odiento,
vai-se além: é atacada a dignidade de
todo um grupo social, não apenas a
de um indivíduo. Mesmo que este
indivíduo tenha sido diretamente
atingido, aqueles que compartilham a
característica ensejadora da
discriminação, ao entrarem em
contato com o discurso odiento,
compartilham a situação de violação.
Produzem o que se chama de
vitimização difusa. Não se afigura
possível distinguir quem, nominal e
numericamente, são as vítimas.
Aquilo que se sabe é que há pessoas
atingidas e que tal se dá por conta de
seu pertencimento a um determinado
grupo social. (SILVA, 2011) apud
(NANDI, 2018, p.40)
532
principal incitar o ódio contra indivíduos ou grupos, com
base em determinadas características como: raça ou etnia,
religião, deficiência, sexo, idade, status de reservista militar
e orientação/identidade sexual. Todavia ainda são comum
tais manifestações pela internet, sem a devida punição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir que nós seres humanos temos em
si a diversidade em nossa “pele”, somos diversos na forma
de agir, pensar, expressar, amar, ter fé e até mesmo na
forma de viver sendo moldado através da região/cultura
que vivemos, e, assim, infelizmente a misoginia,
homofobia, racismo, xenofobia, intolerância religiosa são
uma parte triste da nossa sociedade e através dela crimes
de ódio são espalhados e ocorrem diariamente sendo de
forma verbal, física ou ambos.
Essa intolerância enraizada em algumas pessoas
ganhou muita facilidade de ser “expressada” através do
anonimato que alguns locais oferecem como a internet, os
crimes de ódio, preconceito são facilmente compartilhados
ou comentados apenas para causar discórdia e despejar
sua raiva no próximo, por isso a livre forma de expressão
deve continuar aberta para todos, mas há de haver mais
fiscalização contra ataques nas redes, pois muitos casos
são apenas ignorados e isso não deve ocorrer, pois é crime
e retira a liberdade do próximo ser como ele é.
533
Nossa Constituição de 1988 ajudou a diminuir
bastante as diferenças judicialmente, pois somos iguais
perante a lei, e essa mentalidade de que alguém é melhor
do que o outro segrega a sociedade nos afastando uns dos
outros, por essa razão a solução é apenas uma, a
educação, pois ela nos faz ter a autocrítica para
refletirmos e melhorarmos como pessoas e entender que o
que nos faz ser livres é aceitar que todos somos únicos e
essas diferenças que nos faz sermos “humanos”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
536
INTOLERÂNCIA NA SOCIEDADE: IMPACTOS NA VIDA DE
TODOS NÓS
Vinícius Neves 1
Jonathan Correa2
André Rossini3
Carlos Eduardo4
Gilson Félix5
Bernardo Coelho6
Magna Campos7
RESUMO:
INTRODUÇÃO:
Qualquer tipo de intolerância na sociedade (religiosa,
política, racial, feminicídio, homofobia, xenofobia) fere os
538
2. AS VÁRIAS VERSÕES E MANIFESTAÇÕES DE
INTOLERÂNCIA NA SOCIEDADE
539
E para evitar os casos de intolerância é sempre bom
pensar no próximo e procurar saber os motivos que o leva a
acreditar em tal religião, afinal “Toda pessoa tem o direito de
liberdade, consciência e religião.”.
Desde os primórdios da civilização humana, as crenças e
religiões têm exercido importante função na formação da
consciência coletiva. No entanto, a intolerância religiosa
tornou-se um fator preocupante de discriminação e fomentação
da violência em sociedades modernas, inclusive no Brasil. É
importante elencar o trecho do artigo científico em análise, uma
vez que ele nos apresenta a problemática no Brasil:
540
religiosas. (GOMES; PAULO; OLIVEIRA,
2014 p.2).
541
racismo estrutural presente no corpo social condiciona religiões
de matriz africana à marginalização. Diante desse cenário no
Brasil, e no mundo, se fez necessária a criação de mecanismos
jurídicos para a proteção dos cidadãos brasileiros desse tipo de
discriminação, entre eles o artigo 5, incisos VI ao VII da
Constituição Federal de 1988.
Em âmbito mundial, o Direito nos assegura por
declarações como a Declaração das Nações Unidas, artigos que
garantem uma maior proteção a pessoas que professam uma fé
diferente das outras.
Em síntese, é necessário que o Estado garanta a todos o
direito de exercer os seus direitos fundamentais previstos em
lei, incluindo o direito de professar livremente a sua fé. Além
disso, é necessário que o Estado, em conjunto com o Judiciário,
puna os cidadãos que porventura venham a pôr em risco o
direito universal de liberdade de crença e culto, e que façam
valer as leis que protegem todo e qualquer cidadão dessas
agressões.
Uma garota foi agredida no último domingo (14) e,
segundo sua avó, que é a mãe de santo, todos estavam vestido
de branco, porque tinham acabado de sair do culto. Eles
caminhavam para casa, na Vila da Penha, quando dois homens
começaram a insultar o grupo. Um deles jogou um pedra, que
bateu num poste e depois atingiu a menina. (GLOBO
NOTÍCIAS, 2015)
542
Iniciada no candomblé há mais de 30 anos, a avó da
garota diz que nunca havia passado por uma situação como
essa. (GLOBO NOTÍCIAS, 2015)
Atualmente o termo ''Intolerância Religiosa'' está
frequentemente sendo manchetes nos jornais nos dias atuais.
Infelizmente o preconceito de religiões leva a
discriminação e ofensas, pessoas que seguem religiões que não
são aceitas pela minoria da sociedade são rigorosamente
discriminadas e excluídas.
Quando se trata de religião, liberdade de expressar, não é
o forte. As pessoas não têm direito de opinar em nada, ou
concordar ou até mesmo discorda de algum assunto que se
refere ''religião'‘, preconceito e violência caminham juntos,
infelizmente.
Ainda que estejamos falando de um país que se diz laico,
diversos problemas são detectados diariamente, como por
exemplos Críticas religiosas, desrespeito, ódio, violência,
atentados.
Com todos esses problemas o governo precisou tomar
medidas com urgência, como: impor leis para combater a
intolerância religiosa, para que também essas leis garanta que
todas as pessoas tenham direitos iguais.
543
concordando com isso por não ter ciência do que está fazendo,
isso fica visível a partir do momento que a pessoa não aceita a
demonstração de interesses de outras pessoas por outros
partidos ou políticos que sejam diferentes do que ele defende ou
tenha mais afinidade.
Um dos motivos para o Brasil chegar a esse nível de
intolerância política é que o povo brasileiro principalmente as
classes mais desfavorecida não conseguem mais suportar a
desigualdade social que existe em nosso país, as mentiras e
falsidades que são praticadas pelos nossos políticos que ficam
visíveis para toda a sociedade.
Sendo assim no Campo da Ciência política
contemporânea que vivemos, fica claro a indignação da
sociedade democrática com a nossa política brasileira que
estamos vendo cada dia mais as pessoas demonstrando cada
dia mais o que pensa do nosso cenário político, usando muito a
internet para demonstrar a intolerância com a nossa política.
Acabando que muitas pessoas ficam se atentando
somente em quem votar qual candidato fala melhor ou que
parece ser mais honesto, e esquece realmente os problemas que
o Brasil está passando o desemprego, violência, dívidas
públicas e outros, e não sabem qual o candidato que está mais
bem preparado para lidar com isso que tem o melhor plano de
governo para sair desses problemas apresentado e que todo o
povo brasileiro está sofrendo por isso.
Na democracia que vivemos cabe a todos nós cidadãos a
intenção de cada dia mais participar da política em nosso país,
544
de questionar medidas tomadas em nosso cenário político, de
tentar informar o que de fato acontece em nosso país e não
somente ficar falando e criticando de modo que não vai nos
levar em nada, precisamos sim de críticas produtivas e que
realmente irá fazer efeitos precisamos procurar conhecimento
para termos autonomia pra poder falar.
Só assim teremos um futuro melhor no nosso país
pessoas cada vez mais instruídas para poder falar de assuntos
delicados como a intolerância política, assim cada um
respeitará a democracia e o ponto de vista de cada pessoa
mesmo que a opinião e posicionamento do próximo não sejam o
mesmo que eu defenda e acho correto, porque nem sempre o
meu ou o seu desejo será o certo ou o melhor para a situação e
a sociedade.
Para o levantamento de dados e apuração de resultados
foram analisados dois dos principais movimentos sociais e suas
respectivas atuações na manutenção ideológica e logística que
incentivaram os discursos políticos nas redes sociais, as
páginas Movimento Brasil Livre (MBL) e Revoltados Online.
545
André (São Paulo) e abandonou o curso de economia da
Universidade Federal do ABC devido à universidade não ensinar
correntes como a de Milton Friedman e outros teóricos
liberalistas. Kim acredita e defende a privatização da saúde e
educação. Fernando Bispo Silva (Fernando Holiday), além de
coordenador das atividades do MBL, reside e é vereador eleito
pelo estado de São Paulo com 48.055 votos. O ativista, em
resumo de suas crenças e currículo pessoal, define:
8 https://youtu.be/QpmfMK6D_m4
546
possuía aproximadamente 707 mil fãs. O movimento tem como
figura icônica o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o
Jornalista Olavo de Carvalho. O líder do movimento é o
administrador paulista Marcelo Reis, nascido na cidade de São
Paulo.
Em 2016 (dois mil e dezesseis) sua página no facebook
contava com cerca de 308 mil seguidores, sendo que nela se
encontravam, insistentemente, lemas como “Guerra entre o
bem e o mal”, “só temos Deus a nossa frente” e “não vamos
desistir do Brasil”. Em análise aos perfis dos três líderes deste
movimento é possível notar uma proximidade de ideologias,
devido às constantes postagens e proximidade dos assuntos, se
diferenciando somente, conforme mencionado por Messenberg
(2017, p. 627-628), pela sofisticação da escrita, níveis de
agressividade e teores conspiratórios dos discursos.
547
pesquisa efetiva na área ou se baseiam a partir deste mito para
criarem suas opiniões. A problemática reside nos conflitos de
ideias emergidos do não conformismo da liberdade e diferença
de pensamentos. O facebook se tornou uma ferramenta de
fabricação do ódio gratuito que se alastra, não só nas redes
sociais, como também nos centros urbanos transformando
manifestações em campos de guerra. A convivência é uma
forma de se praticar o autocontrole e o respeito ao próximo, por
isso é preciso que haja consciência e racionalidade em relação a
pensamentos distintos.
548
cometido por um indivíduo negro, majoritariamente acarretará
consequências negativas no que tange sua moral, pois mesmo
havendo a mesma proporcionalidade delituosa, haverá
interpretações distintas, de forma negativa perante a ação
cometida pelo negro. Desta forma, mesmo vivendo em uma
sociedade em que se diz evoluída, é perceptível a existência da
intolerância racial.
O Brasil é um país de renda baixa média, algumas
pessoas possuem muito (minoria) e a maioria possui baixa
renda, e sim os negros são as maiorias nos que possui uma
renda mais alta.
Outro fator muito importante quando se trata do assunto
é a educação, gráficos mostram que os brancos permanecem
nas escolas por mais tempo que os negros, e um dos fatores
que faz com que isso seja acarretado são as dificuldades que os
negros têm de irem à aula devido às desigualdades.
Conclui-se que ainda existe o pareamento da intolerância
racial e desigualdade social nos dias atuais. Contudo, espera-se
uma democratização social para que se tenha uma sociedade
igualitária.
A questão racial parece um desafio do presente, só que se
trata de algo existente desde há muito tempo. É de
conhecimento geral que o preconceito racial é um dos
problemas mais graves que afeta o Brasil, um ato repugnante
que está no cotidiano da população, principalmente nas redes
sociais. Mesmos que nas sociedades modernas, os atos
explícitos de discriminação racial são publicamente condenados
549
por lei, é frustrante que o Brasil sendo um país democrático de
direito a cor da pele sirva para qualificar uma pessoa diante da
outra, como mostra Helio Santos:
550
É pensando nesses aspectos que foram criadas as cotas
nas instituições públicas que tem como objetivo integrar os
negros na sociedade, isto ocorre por que:
553
aconteceria sem a convivência institucional e social. As
discriminações e violência contra as mulheres que se
perpetuam até o extremo de letalidade. O estado, por ação ou
omissão, compactua com a perpetuação destas mortes.
Nesse cenário, emerge a importância de nomear o
feminicídio e chamar a atenção para a necessidade de conhecer
sua dimensão e contextos de forma mais acurada. Além de
desnaturalizar concepções e práticas enraizadas nas relações
pessoais e instituições que confirmam a permanência de
violência fatal contra as mulheres em diferentes realidades.
Segundo o livro, Visibilidade Mata, da autora Patrícia
Galvão (2007), mulheres são assassinadas por parceiros ou ex,
por familiares ou desconhecidos estupradores, esganadas,
mutiladas, negligenciada, violentadas, invisibilizadas. Mulheres
marcadas pela desigualdade de gênero recebeu uma designação
própria: feminicídio, no Brasil é também um crime hediondo.
Esse crime de feminicídio foi definido legalmente desde que a lei
nº 13.104 entrou em vigor em 2015 e alterou o artigo 121 do
Código Penal. Nomear e definir o problema é um passo
importante, mas para coibir os assassinatos femininos é
fundamental conhecer suas características e assim,
implementar ações efetivas de prevenção.
A lei Maria da Penha artigo 7º define cinco formas de
violência doméstica e familiar e não pressupõem o que só há
violência quando a agressão deixa marca física evidentes.
1. Violência Física: Ação ou omissão que coloque um risco
ou cause dano a integridade física de uma pessoa.
554
2. Violência Moral: Ação determinada a caluniar, difamar
ou injuriar a honra ou reputação da mulher.
3. Violência sexual: Ação que obriga a pessoa manter
contato sexual, física ou verbal ou na participação de
relações sexual com o uso de força, intimidação,
manipulação, ameaça.
4. Violência psicológica: Ação ou omissão determinada a
degradar ou controlar as ações comportamento ou
crença e decisões de outra pessoa por meio de
intimidação.
5. Violência Patrimonial: Ato de violência que implique
dano, perda, subtração, destruição, retenção de objetos,
documentos pessoais e o abandono.
555
Além disso, as mulheres tendem a depreciar a política, a
valorizar o social e o informa, assim interiorizando as normas
tradicionais. É, uma vez mais, todo o problema do
consentimento que aí se coloca. (PERROT, 2001, p. 184).
Conclui-se então que o feminicídio e a misoginia são fatores
recorrentes no Brasil , que ainda afeta milhares de mulheres
todos os dias fazendo-a as vítimas de violência , abuso sexual .
2.5 XENOFOBIA
556
construção de um projeto societário alternativo ao capitalismo.
Para isso, é preciso refletir sobre o tema, nos marcos do projeto
ético-político, nos referenciando no Código de Ética da
profissão. Contribuir para esse objetivo é a função principal
deste material.”
Vimos também que o Brasil não tem um histórico muito
bom quando se trata de imigrações, pois havia muita mão de
obra de estrangeiros os quais eram tratados como ou eram
escravos, e isso só foi mudar no século 20 quando ocorrem
mudanças significativas acarretadas de uma greve.
Muitas vezes, os imigrantes ficam com medo de procurar
ajuda e sofrer mais preconceitos, e optam por viverem mais
isolados em casa de amigos, parentes. E quando conseguem
empregos, normalmente, recebem pouco, trabalham muito e
não têm os direitos que deveriam.
Tudo que o imigrante vive tem grande influência do
neoliberalismo
558
língua, a história, a religião, os costumes,
as instituições, e por um sentimento de
subjetivo de autoidentificação. São vários
os níveis deste sentimento de pertença (do
tribal ao civilizacional), mas todos têm em
comum a sua fundamentalidade, porque
são produto de séculos e marcam uma
mundividência estrutural menos
permeável á mudança de que as ideologias
e os regimes políticos. (SILVA, p2,2010)
559
De acordo com a Secretaria Especial de
Direitos Humanos do governo federal,
cresceram nos últimos anos as denúncias
de xenofobia e intolerância religiosa no
Brasil. Violações dos direitos de migrantes
e refugiados, ou seja, atos xenófobos,
aumentaram 633% em 2014 e 2015 (330
denúncias foram acolhidas em 2015,
contra 45 no ano anterior). O então
secretário de Direitos Humanos, Rogério
Sottili, citou como exemplos perseguições
contra haitianos, palestinos e nordestinos
que vão para o sul do país. (DANIEL, p14,
2017)
560
social, econômica e humanamente dessas
interações. (DANIEL,p15,2017) .
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
561
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
562
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: A
efetividade da Lei 11.340/2006 de combate a violência
doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo. ed. Revista
dos Tribunais,2008.
563
Magna Campos,
Mariana,
2019.
564