Herdar A Terra1-1 PDF
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Claudia Rosas
Herdar a terra
~ A saúde de uma civilização ~
Ao enunciar suas Beatitudes no Monte Tabor, Jesus diz “Bem-
aventurados os mansos porque eles herdarão a terra.” Ora, sem a chave
adequada, essa frase não faz muito sentido, pois a ideia de o Céu
recompensar a mansidão com posses terrenas – com o planeta inteiro! –
não se insere nos ensinamentos de Jesus... Mas eis que numa conferência
proferida em 1968, o filósofo, pedagogo e Mestre espiritual Omraam
Mikhaël Aïvanhov revela que nos textos sagrados a palavra “terra”
simboliza a nossa parte esférica, o crânio, o cérebro. Omraam esclarece
inclusive que quando agimos com mansidão, bondade e ternura, os elétrons
de nosso cérebro adquirem o teor vibratório adequado para que a nossa
alma venha nos habitar plenamente e possamos trabalhar conscientemente
com o divino no plano terrestre.
No evangelho segundo Mateus Jesus declara que “Dois
mandamentos resumem toda a lei e os profetas: ‘Amarás o Senhor teu
Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito,’ este é o
maior e o primeiro mandamento, e o segundo, semelhante a este, ‘Amarás
teu próximo como a ti mesmo.’” Belíssimos mandamentos, mas o segundo
é aparentemente aberrante, pois desde os tempos mais remotos, admiramos,
cultuamos, celebramos e erguemos monumentos a seres poderosos, sim,
mas que para atingir seus objetivos feriram, mataram, escravizaram,
incapazes de manifestar esse princípio básico de que somos o outro. Jesus
sabia que ao agredir nosso semelhante agredimos a nós próprios, estando
inscrito na nossa essência que somos verdadeiramente irmãos,
companheiros nessa aventura terrestre; ser manso e benevolente é agir
segundo como fomos criados, faz parte da nossa natureza primeira.
Sentir empatia é saber no nosso âmago que somos o outro; ela é uma
função natural do nosso psiquismo saudável, assim como a compassividade
e a amorosidade. E é para mim uma alegria saber que, recentemente, a
neurofisiologia chegou finalmente à conclusão de que no ser humano, um
cérebro bem formado vem programado para a conexão empática com o
outro – seja este mineral, vegetal, animal ou humano.
Apoiando-se nas pesquisas do neurocientista italiano Giacomo
Rizzolatti que descobriu os neurônios espelho – instrumentos físicos do
cérebro para a empatia – o psiquiatra americano Daniel Stern comenta que
estes neurônios “foram construídos para serem captados pelos sistemas
nervosos de outras pessoas, para que possamos vivenciá-los como se
estivéssemos vivendo aquilo pessoalmente. Em tais momentos, ressoamos
com a experiência alheia e os outros, com a nossa.” A inteligência social
de um indivíduo depende intrinsecamente de seus neurônios espelho,
diretamente responsáveis por “saber o que o outro está sentindo.” E
fundamental para a inteligência social é o neocortex, como o denota
brilhantemente o jornalista cientifico Daniel Goleman em seu livro “A
Inteligência Social, O Poder Oculto Das Relações Humanas.”
Em sua epístola aos Hebreus, São Paulo menciona que Jesus era
sacerdote da Ordem de Melkitsedek. Celebrado como rei da paz, da justiça
e do amor, Melkitsedek é o Mestre de todos os mestres da Grande
Fraternidade Branca Universal – composta pelos benfeitores da
humanidade, gênios, filósofos e artistas, cientistas e religiosos ao serviço
do Sublime. Seres altruístas que manifestaram um infindo respeito pela
Vida.
Mais uma vez, na Tradição iniciática impera a noção do valor capital
da mansidão, da paz e do amor para comungar com a vida; qualidades
essenciais para que possamos ser verdadeiras filhas e verdadeiros filhos de
Deus.
Em seu livro “O Milagre do Nascimento,” o teósofo e clarividente
Geoffrey Hodson professa: “O poder da procriação é o atributo mais
divino que o ser humano possui. No exercício deste poder ele atua
microcosmicamente numa sagrada encenação do grande drama da criação
do universo. Quando motivada por um amor puro e mútuo, nesta
encenação as duas metades de Deus – representadas no homem e na
mulher – se unem.”
E pede:
“Homenageiem as mulheres, considerem-nas como rainhas,
e para cada rainha que haja um homem rei,
que cada um honre o outro, reconhecendo sua realeza.
Que cada lar, mesmo o mais humilde, se torne uma corte,
cada filho um cavaleiro, cada criança um pajem.
Que todos entre si se tratem com nobreza,
honrando em cada um sua majestade, seu régio nascimento;
pois há sangue real em cada ser humano; todos são filhos do Rei.”
Hodson adverte que “Os novos corpos gerados por aqueles que
costumam utilizar mal seu poder criativo não provêm templos adequados
para o deus que está para encarnar neles. A atmosfera psíquica do lar – e
da área onde ocorrem tais práticas – afeta não somente as crianças em
crescimento, extremamente sensíveis a tais influências invisíveis, mas todos
aqueles que entram em contato com essas emanações sujas.” Esta
observação ajuda a entender a raiz de inúmeros problemas éticos e
psicossociais que há séculos assombram a humanidade. A própria
neuroendocrinologia revela que tanto o estresse crônico como a
malnutrição alteram o crescimento do eixo embrionário e do feto no que
diz respeito ao delicado processo de divisão e especialização celular...
O místico Edouard Schuré, amigo de Rudolf Steiner, descreve em
sua magna obra “Os Grandes Iniciados” o quanto é importante para a
humanidade a relação harmônica entre o homem e a mulher, o marido e a
esposa. “Quando dois seres conseguem se penetrar completamente, em
corpo, alma e espírito, formam uma síntese do universo," explica ele, ao
revelar que na Escola de Pitágoras a mulher recebia o título de sacerdotisa
do lar, e entre os vários ensinamentos transmitia-se a elas a importância de
desenvolver bondade e amor, agindo como agente transmissor de calma e
fortitude intelectual, moral e espiritual ao seu marido. Para viverem
plenamente as funções de mãe e de esposa, as mulheres passavam por uma
iniciação especial, feminina (assim como nos tempos védicos, no Egito –
na época dos mistérios de Ísis –, na Grécia organizada por Orfeu e em
Roma nos templos das deusas Juno, Minerva, Diana e Ceres). “Esta
iniciação consistia em ritos simbólicos, cerimônias, festas noturnas para
ensinamento especial transmitido por sacerdotisas anciãs ou por um
grande sacerdote, que tratavam de temas extremamente pessoais, como o
contato íntimo dos casais. Davam-se conselhos e regras, diretrizes para as
relações dos sexos, as épocas do ano e do mês favoráveis a concepções
felizes”.
Eu conheço um planeta
sobre o qual as nações vivem em paz,
onde a natureza é respeitada,
onde a ciência e a filosofia
nunca são usadas para escravizar,
limitar, ferir ou aterrorizar...
Lá, cada pessoa é concebida
e gestada conscientemente.
... uma mulher sorria, solene, na janela da cozinha, o olhar a vagar pelos
telhados e pelas copas das árvores, enquanto as estrelas davam lugar a um
novo dia. Suavemente, levou a mão quentinha ao ventre grávido.
Um cantar profundo,
corajoso e silencioso ecoava no seio dessa mulher.
Começara há tempos imemoriais,
percorrera eras e eventos infindáveis,
transmitidos por incontáveis desdobramentos
até aquele momento,
àquela nova vida que crescia
num calor gostoso no centro de seu corpo.
E ela ficava a sorrir,
saboreando com todo seu ser o pão de uma profunda comunhão
com cada ventre, com cada mãe que já havia existido.
O dia começava
a luz o anunciava
assim como um pássaro
e o neném
Mesmo antes de ser concebido, esse bebê morava no seu coração. Ela
costumava olhar adiante e sabia que, quando engravidasse, daria a seu filho
experiências de uma intimidade deliciosa, imagens extasiantes e aventuras
em bibliotecas povoadas de lembranças.
E foi o que fez: durante a gestação, ela caminhou por entre as árvores,
fez versos ao beijar maçãs, elevou-se às estrelas, seguiu o curso de riachos
e, com a música, voou a terras de luz. Compartilhou-se com o seu neném,
mostrando-se por inteiro, revelando sua curiosidade, suas idéias, seu
maravilhamento e suas alegrias.
O neném cresceu, e hoje caminha pela vida digno, robusto, feliz, livre,
bom e sábio. A mulher, agora avó, ainda gosta de acolher o amanhecer. E
quando pensa na época da gestação, sorri o mesmo sorriso solene,
relembrando as deliciosas idéias que teceu com o pequeno companheiro em
seu ventre.
Bibliografia