A Arte de Contar Histórias
A Arte de Contar Histórias
A Arte de Contar Histórias
Concepção e coordenação
Giuliano Tierno
2007
[email protected]
F. 11 – 7254-6514
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
1. INTRODUÇÃO
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
“O ato de contar histórias, intrinsecamente humano, traz em si, talvez como poucos
outros, o paradoxo de ser dos mais gratuitos e, ao mesmo tempo, dos mais empenhados.
Contar pelo prazer de contar, contar pela alegria de ouvir. Contar para fazer lembrar,
contar para mover montanhas e céus. Por mais que passe o tempo e o ato de contar
histórias adquiri diferentes feições, desdobrando-se em sem-número de linguagens e
suportes, ele tem na sua origem essa dupla raiz: beleza e necessidade.”
José Luis C. T. Ceccantini
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
fantasmagórico, iludindo-se que está criando, quando na realidade ele está reproduzindo
o pensamento e as imagens de outrem.
“Narrar uma história é a arte de transmiti-la depois”, aponta Walter Benjamin
em seu artigo O Narrador. Mas, para isso, afirma o filósofo, são necessárias
comunidades de ouvintes, sem estas não há possibilidade de haver a Arte de Contar
Histórias. A atividade narrativa está intimamente ligada ao ócio. “O ócio é o pássaro
onírico a chocar o ovo da experiência, mas basta um sussurro na floresta de folhagens
para espantá-lo”, continua Benjamin. Essa imagem poética reflete o “risco” de
ameaçarmos o ócio na vida de um indivíduo. Nos grandes centros urbanos, sobretudo,
com uma vida regida por ideais de consumo, as histórias vão desaparecendo do
cotidiano das comunidades e uma sociedade reprodutiva vai se formando.
Daí o valor essencial, se assim podemos dizer, da narrativa. Ela estimula o Ser
em busca de suas imagens, ela propõe uma ruptura com o coletivo a partir do coletivo.
Pensemos numa história de um Rei. Quando narrada, a primeira imagem que pode
surgir é aquela de um Rei baixinho e barrigudo, veiculada pela mídia, em desenhos
animados, ilustrações esquemáticas e figurativas etc. No entanto, ao narrá-la, o contador
de histórias, poderá surpreender seu ouvinte propondo um novo cenário, convocando
aspectos dos outros sentidos do Ser, além da visão, como olfato, paladar, audição e tato,
para estimulá-lo a compor e criar a imagem do Rei que será diferente em cada ouvinte,
que será genuíno e simbólico para cada indivíduo. Isso gerará um outro aspecto
fundamental na relação contador-ouvinte, a comunhão com a história. Não estamos
mais tratando de um universo estereotipado, mas de um espaço singular.
A história propõe a criação de uma relação de encontro. Encontro definido aqui
como um espaço metafórico em que narrador e ouvinte habitam ao mesmo tempo. Não
é o lugar do narrador, não é o lugar do ouvinte. É um terceiro lugar, um lugar vazio
ainda, que será habitado por ambos no instante mágico e presente da história narrada.
A totalidade das narrativas, sejam elas míticas, contos de fadas, literatura
infantil, ou, literatura em geral, trazem marcas da experiência humana, trajetórias
carregadas de imagens poéticas, imagens que compõem contradições e ambivalências
do humano. São essas narrativas que interessam ao leitor e ao ouvinte. Por isso
entendemos que, para a formação de um leitor, a narrativa oral, a contação de histórias é
um aspecto fundamental como um Portal de Entrada para o Maravilhoso, que propõem
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
Todos nós, em algum momento da infância, vivemos sob os encantos dos contos
de fadas. O susto, o prazer, o medo, a tristeza, a alegria, enfim, as dezenas de
sentimentos expressos no rosto das crianças ao ouvir essas histórias sempre me
instigaram. O que eles despertam no imaginário das crianças que tanto as fascina, e por
que eles são importantes para elas?
Os contos de fadas existem há milênios, em diversas culturas, em todos os
continentes. Atualmente, estudiosos do mundo inteiro na área da saúde mental e da
educação passaram a se interessar pela análise de mitos, lendas e contos de fadas. Hoje,
podemos compreender a profunda riqueza simbólica e a utilidade dessas histórias, que
são parte importante de nosso patrimônio cultural. A visão psicanalítica tem nos
ajudado a responder algumas perguntas: afinal, por que as crianças as adoram e pedem
que os recontemos centenas de vezes?
Para entender essas questões precisamos pensar um pouco sobre o
desenvolvimento da psique humana, pois os contos de fadas são tão fascinantes porque
simbolizam processo de nosso desenvolvimento. Para a psicanálise, psique se constitui
de três estruturas dinâmicas, o Id (princípio do prazer), o Ego (princípio da realidade) e
o Superego (princípio da moral).
As crianças pequenas, que passarão ainda por longo processo de sublimação dos
desejos libidinais do Id, estão sob forte influência desse aparelho de nossa mente, e a
linguagem simbólica, não-verbal desses contos, comunica-se diretamente com o
imaginário da criança. Essas narrativas estão envolvidas em um universo que denota
fantasia, partindo de uma situação real, concreta, lidando com emoções que qualquer
criança já viveu. Se passam num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do tempo
e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar, porque todo esse processo é vivido
através da fantasia e do imaginário.
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4. O NARRADOR
“(...)Se o sono é o ponto mais elevado da distensão física, e o ócio o grau mais elevado
do relaxamento psíquico. O ócio é o pássaro onírico a chocar o ovo da experiência.
Basta um sussurro na floresta de folhagens para espantá-lo. Seus ninhos – as atividades,
ligadas intimamente ao ócio – já foram abandonados nas cidades, e no campo estão
decadentes. Assim, a capacidade de ouvir atentamente se vai perdendo e perde-se
também a comunidade dos que escutam. Pois narrar estórias é sempre a arte de
transmiti-la depois, e esta acaba se as histórias não são guardadas. Perde-se porque
ninguém mais fia ou tece enquanto escuta as narrativas. Quanto mais natural a atividade
com que a narração é seguida, tanto mais profundamente cala aquilo que é transmitido.
Onde o ritmo do trabalho se apoderou daquele que narra, ele ouve as estórias de tal
maneira que lhe será natural a maneira de transmiti-las depois. Assim, é construída a
rede que acomoda o dom de narrar e é desta forma que ela vem se desfazendo hoje em
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todos os lados, depois de ter sido atada há milênios no âmbito dos ofícios mais
antigos.(...).”
A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal
modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário
justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la
teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca
consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam
que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da
possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de
inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de
significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a
barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à
barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie
continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que
geram esta regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos
infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em direção ao
que é indescritível e que, nos termos da história mundial, culminaria em Auschwitz.
Dentre os conhecimentos proporcionados por Freud, efetivamente relacionados
inclusive à cultura e à sociologia, um dos mais perspicazes parece-me ser aquele de que
a civilização, por seu turno, origina e fortalece progressivamente o que é
anticivilizatório. Justamente no que diz respeito a Auschwitz, os seus ensaios O
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Além disso não podemos evitar ponderações no sentido de que a invenção da bomba
atômica, capaz de matar centenas de milhares literalmente de um só golpe, insere-se no
mesmo nexo histórico que o genocídio. Tornou-se habitual chamar o aumento súbito da
população de explosão populacional: parece que a fatalidade histórica, para fazer
frente à explosão populacional, dispõe também de contra-explosões, o morticínio de
populações inteiras. Isto só para indicar como as forças às quais é preciso se opor
integram o curso da história mundial.
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em que precisamente a sua densidade impede a saída. Isto aumenta a raiva contra a
civilização. Esta torna-se alvo de uma rebelião violenta e irracional.
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exteriores, sem compromisso, intercambiáveis, como foi possível observar com muita
nitidez também na Alemanha depois da queda do Terceiro Reich. Porém justamente a
disponibilidade em ficar do lado do poder, tomando exteriormente como norma
curvar-se ao que é mais forte, constitui aquela índole dos algozes que nunca mais deve
ressurgir. Por isto a recomendação dos compromissos é tão fatal. As pessoas que os
assumem mais ou menos livremente são colocadas numa espécie de permanente estado
de exceção de comando. O único poder efetivo contra o princípio de Auschwitz seria
autonomia, para usar a expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação,
a não-participação.
Certa feita uma experiência me assustou muito: numa viagem ao lago de Constância, eu
lia num jornal de Baden em que se informava acerca da peça Mortos sem sepuItura, d e
Sartre, que representa as situações mais terríveis. A peça incomodava visivelmente o
critico. Mas ele não explicou este incômodo mediante o horror da coisa que constitui o
horror de nosso mundo, mas torceu a questão como se, frente a uma posição como a de
Sartre, que se ocupara do problema, nós tivéssemos, por assim dizer, um sentido para
algo mais nobre: que não poderíamos reconhecer a ausência de sentido do horror.
Resumindo: o critico procurava se subtrair ao confronto com o horror graças a um
sofisticado palavrório existencial. O perigo de que tudo aconteça de novo está em que
não se admite o contato com a questão. rejeitando até mesmo quem apenas a menciona,
como se, ao fazê-lo sem rodeios, este se tomasse o responsável, e não os verdadeiros
culpados.
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Entretanto não deve haver nenhum mal-entendido quanto à inclinação arcaica pela
violência existente também nas cidades, principalmente nos grandes centros.
Tendências de regressão — ou seja, pessoas com traços sádicos reprimidos — são
produzidas por toda parte pela tendência social geral. Nessa medida quero lembrar a
relação perturbada e patogênica com o corpo que Horkheimer e eu descrevemos na
m cada situação em que a consciência é mutilada, isto se
Dialética do esclarecimento. E
reflete sobre o corpo e a esfera corporal de uma forma não-livre e que é propicia à
violência. Basta prestar atenção em um certo tipo de pessoa inculta como até mesmo a
sua linguagem — principalmente quando algo é criticado ou exigido — se torna
ameaçadora, como se os gestos da fala fossem de uma violência corporal quase
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incontrolada. Aqui seria preciso estudai também a função do esporte. que ainda não foi
devidamente reconhecida por uma psicologia social crítica. O esporte é ambíguo: por
um lado, ele pode ter um efeito contrário à barbárie e ao sadismo, por intermédio do
fairplay, d o cavalheirismo e do respeito pelo mais fraco. Por outro, em algumas de suas
modalidades e procedimentos, ele pode promover a agressão a brutalidade C o sadismo,
principalmente no caso de espectadores. que pessoalmente não estão submetidos ao
esforço e à. disciplina do esporte; são aqueles que costumam gritar nos campos
esportivos. É preciso analisar de uma maneira sistemática essa ambigüidade. Os
resultados teriam que ser aplicados à vida esportiva na medida da influência da
educação sobre a mesma.
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encampada com entusiasmo pelos nazistas, para refrear esta sobrevida simultaneamente
brutal e fantasmagórica desses divertimentos populares.
Tudo isso tem a ver com um pretenso ideal que desempenha um papel relevante na
educação tradicional em geral: a severidade. Esta pode até mesmo remeter a uma
afirmativa de Nietzsche, por mais humilhante que seja e embora ele na verdade pensasse
em outra coisa. Lembro que durante o processo sobre Auschwitz, em um de seus
acessos, o terrível Boger culminou num elogio à educação baseada na força e voltada à
disciplina. Ela seria necessária para constituir o tipo de homem que lhe parecia
adequado. Essa idéia educacional da severidade, em que irrefletidamente muitos podem
até acreditar, é totalmente equivocada. A idéia de que a virilidade consiste num grau
máximo da capacidade de suportar dor de há muito se converteu em fachada de um
masoquismo que — como mostrou a psicologia — se identifica com muita facilidade ao
sadismo. O elogiado objetivo de "ser duro" de uma tal educação significa indiferença
contra a dor em geral. No que, inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor
de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquire o direito de ser severo também
com os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar e reprimir.
Tanto é necessário tornar consciente esse mecanismo quanto se impõe a promoção de
uma educação que não premia a dor e a capacidade de suportá-la, como acontecia
antigamente. Dito de outro modo: a educação precisa levar a sério o que já de há
muito é do conhecimento da filosofia: que o medo não deve ser reprimido. Quando
o medo não é reprimido, quando nos permitimos ter realmente tanto medo quanto
esta realidade exige, então justamente por essa via desaparecerá provavelmente
grande parte dos efeitos deletérios do medo inconsciente e reprimido.
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formação, pela transformação das condições para tanto. Quero fazer uma proposta
concreta: utilizar todos os métodos científicos disponíveis, em especial psicanálise
durante muitos anos, para estudar os culpados por Auschwitz, visando se possível
descobrir como uma pessoa se torna assim. O que aqueles ainda podem fazer de bom é
contribuir, em contradição com a própria estrutura de sua personalidade, no sentido de
que as coisas não se repitam. E essa contribuição só ocorreria na medida em que
colaborassem na investigação de sua gênese. Obviamente seria difícil levá-los a falar;
em nenhuma hipótese poder-se-ia aplicar qualquer procedimento semelhante a seus
próprios métodos para aprender como eles se tornaram do jeito que são. De qualquer
modo, entrementes eles se sentem — justamente em seu coletivo, com a sensação de
que todos são velhos nazistas — tão protegidos, que praticamente nenhum demonstrou
nem ao menos remorsos. Porém presumivelmente também neles, ou em alguns deles,
existem pontos de apoio psicológicos mediante os quais seria possível mudar isto,
como, por exemplo, seu narcisismo, ou, dito simplesmente, seu orgulho. Eles se sentirão
importantes ao poder falar livremente a seu respeito, tal como Eichmann, cujas falas
aparentemente preenchem fileiras inteiras de volumes. Finalmente, é de supor que
também nessas pessoas, aprofundando-se suficientemente a busca, existam restos da
velha instância da consciência moral que se encontra atualmente em grande parte em
processo de dissolução. Na medida em que se conhecem as condições internas e
externas que os tornaram assim — pressupondo por hipótese que esse conhecimento é
possível —, seria possível tirar conclusões práticas que impeçam a repetição de
Auschwitz. A utilidade ou não de semelhante tentativa só se mostrará após sua
concretização; não pretendo superestimá-la. É preciso lembrar que as pessoas não
podem ser explicadas automaticamente a partir de condições como estas. Em condições
iguais alguns se tornaram assim, e Outros de um jeito bem diferente. Mesmo assim
valeria a pena. O mero questionamento de como se ficou assim já encerraria um
potencial esclarecedor. Pois um dos momentos do estado de consciência e de
inconsciência daninhos está em que seu ser-assim - que se é de um determinado modo e
não de outro - é apreendido equivocadamente como natureza, como um dado imutável
e não como resultado de uma formação. Mencionei o conceito de consciência
coisificada. Esta é sobretudo uma consciência que se defende em relação a qualquer
vir-a-ser, frente a qualquer apreensão do próprio condicionamento, impondo como
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No que diz respeito à consciência coisificada, além disto é preciso examinar também a
relação com a técnica, sem restringir-se a pequenos grupos. Esta relação é tão ambígua
quanto a do esporte, com que aliás tem afinidade. Por um lado, é certo que todas as
épocas produzem as personalidades — tipos de distribuição da energia psíquica — de
que necessitam socialrnente. Um mundo em que a técnica ocupa uma posição tão
decisiva como acontece atualmente, gera pessoas tecnológicas, afinadas com a técnica.
Isto tem a sua racionalidade boa: em seu plano mais restrito elas serão menos
influenciáveis, com as correspondentes conseqüências no plano geral. Por outro lado, na
relação atual com a técnica existe algo de exagerado, irracional, patogênico. Isto se
vincula ao "véu tecnológico". Os homens inclinam-se a considerar a técnica como
sendo algo em si mesma, um fim em si mesmo, uma força própria, esquecendo que
ela é a extensão do braço dos homens. Os meios —— e a técnica é um conceito de
meios dirigidos à autoconservação da espécie humana — são fetichizados, porque os
fins — uma vida humana digna — encontram-se encobertos e desconectados da
consciência das pessoas. Afirmações gerais como estas são até convincentes. Porém
uma tal hipótese ainda é excessivamente abstrata. Não se sabe com certeza como se
verifica a fetichização da técnica na psicologia individual dos indivíduos, onde está o
ponto de transição entre uma relação racional com ela e aquela supervalorização, que
leva, em última análise, quem projeta um sistema ferroviário para conduzir as vitimas a
Auschwitz com maior rapidez e fluência, a esquecer o que acontece com estas vítimas
em Auschwitz. No caso do tipo com tendências à fetichização da técnica, trata-se
simplesmente de pessoas incapazes de amar. Isto não deve ser entendido num sentido
sentimental ou moralizante, mas denotando a carente relação libidinal com Outras
pessoas. Elas são inteiramente frias e precisam negar também em seu íntimo a
possibilidade do amor, recusando de antemão nas outras pessoas o seu amor antes que o
mesmo se instale. A capacidade de amar, que de alguma maneira sobrevive, eles
precisam aplicá-la aos meios. As personalidades preconceituosas e vinculadas à
autoridade com que nos ocupamos em Authoritarian Personality, e m Berkeley,
forneceram muitas evidências neste sentido. Um sujeito experimental - e a própria
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Afirmei que aquelas pessoas eram frias de um modo peculiar. Aqui vêm a propósito
algumas palavras acerca da frieza. Se ela não fosse um traço básico da antropologia, e,
portanto, da constituição humana como ela realmente é em nossa sociedade; se as
pessoas não fossem profundamente indiferentes em relação ao que acontece com todas
as outras, executando o punhado com que mantêm vínculos estreitos e possivelmente
por intermédio de alguns interesses concretos, então Auschwitz não teria sido possível,
as pessoas não o teriam aceito. Em sua configuração atual - e provavelmente há
milênios - a sociedade não repousa em atração, em simpatia, como se supôs
ideologicamente desde Aristóteles, mas na persecução dos próprios interesses frente aos
interesses dos demais. Isto se sedimentou do modo mais profundo no caráter das
pessoas. O que contradiz, o impulso grupal da chamada lonely crowd, da massa
solitária, na verdade constitui uma reação, um enturmar-se de pessoas frias que não
suportam a própria frieza mas nada podem fazer para alterá-la. Hoje em dia qualquer
pessoa, sem exceção, se sente mal-amada, porque cada um é deficiente na
capacidade de amar. A incapacidade para a identificação foi sem dúvida a condição
psicológica mais importante para tornar possível algo como Auschwitz em meio a
pessoas mais ou menos civilizadas e inofensivas. O que se chama de "participação
oportunista" era antes de mais nada interesse prático: perceber antes de tudo a sua
própria vantagem e não dar com a língua nos dentes para não se prejudicar. Esta é uma
lei geral do existente. O silêncio sob o terror era apenas a conseqüência disto. A frieza
da mônada social, do concorrente isolado, constituía, enquanto indiferença frente ao
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Não me entendam mal. Não quero pregar o amor. Penso que sua pregação é vã:
ninguém teria inclusive o direito de pregá-lo, porque a deficiência de amor, repito, é
uma deficiência de todas as pessoas, sem exceção, nos termos em que existem hoje.
Pregar o amor pressupõe naqueles a quem nos dirigimos uma outra estrutura do caráter,
diferente da que pretendemos transformar. Pois as pessoas que devemos amar são elas
próprias incapazes de amar e por isto nem são tão amáveis assim. Um dos grandes
impulsos do cristianismo, a não ser confundido com o dogma, foi apagar a frieza que
tudo penetra. Mas esta tentativa fracassou; possivelmente porque não mexeu com a
ordem social que produz e reproduz a frieza. Provavelmente até hoje nunca existiu
aquele calor humano que todos almejamos, a não ser durante períodos breves e em
grupos bastante restritos, e talvez entre alguns selvagens pacíficos. Os utópicos
freqüentemente ridicularizados perceberam isto. Charles Fourier, por exemplo, definiu a
atração como algo ainda por ser constituído por uma ordem social digna de um ponto de
vista humano. Também reconheceu que esta situação só seria possível quando os
instintos não fossem mais reprimidos, mas satisfeitos e liberados. Se existe algo que
pode ajudar contra a frieza como condição da desgraça, então trata-se do conhecimento
dos próprios pressupostos desta, bem como da tentativa de trabalhar previamente no
plano individual contra esses pressupostos. Agrada pensar que a chance é tanto maior
quanto menos se erra na infância, quanto melhor são tratadas as crianças. Mas mesmo
aqui pode haver ilusões. Crianças que não suspeitam nada da crueldade e da dureza da
vida acabam por ser particularmente expostas à barbárie depois que deixam de ser
protegidas. Mas, sobretudo, não é possível mobilizar para o calor humano pais que são,
eles próprios, produtos desta sociedade, cujas marcas ostentam. O apelo a dar mais calor
humano às crianças é artificial e por isto acaba negando o próprio calor. Além disto o
amor não pode ser exigido em relações profissionalmente intermediadas, como entre
professor e aluno, médico e paciente, advogado e cliente. Ele é algo direto e
contraditório com relações que em sua essência são intermediadas. O incentivo ao amor
- provavelmente na forma mais imperativa, de um dever - constitui ele próprio parte de
uma ideologia que perpetua a frieza. Ele combina com o que é impositivo, opressor, que
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atua contrariamente à capacidade de amar. Por isto o primeiro passo seria ajudar a frieza
a adquirir consciência de si própria, das razões pelas quais foi gerada.
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Finalmente, o centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se repita.
Isto só será possível na medida em que ela se ocupe da mais importante das questões
sem receio de contrariar quaisquer potências. Para isto teria de se transformar em
sociologia, informando acerca do jogo de forças localizado por trás da superfície das
formas políticas. Seria preciso tratar criticamente um conceito tão respeitável como o da
razão de Estado, para citar apenas um modelo: na medida em que colocamos o direito
do Estado acima do de seus integrantes, o terror já passa a estar potencialmente
presente.
Theodor Adorno
6. A PALAVRA MÁGICA
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Mario Quintana
8. O OLHAR DE ESTRANGEIRO
Nunca a questão do olhar esteve tão no centro do debate da cultura e das sociedades
contemporâneas. Um mundo onde tudo é produzido para ser visto, onde tudo se
mostra ao olhar, coloca necessariamente o ver como um problema. Aqui não
existem mais véus nem mistérios. Vivemos no universo da sobreexposição e da
obscenidade, saturado de clichês, onde a banalização e a descartabilidade das coisas
e imagens foi levada ao extremo. Como olhar quando tudo ficou indistinguível,
quando tudo parece a mesma coisa?
A empresa tradicional do olhar não é mais possível, na medida em que pressupunha
uma identidade e um significado intrínseco das coisas. Olhar então implicava
descobrir um sentido que se tomava por dado nos indivíduos, relações e paisagens.
Esta suposição de uma realidade anterior ao olhar, ao complexo processo de
exposição que chamamos comunicação, é que porém vem sendo colocada em xeque.
Como se constitui aquilo que hoje se apresenta ao nosso olhar?
Mudanças na estrutura urbana, na arquitetura, nos meios de comunicação e transporte
viriam alterar profundamente a própria constituição da realidade. Hoje o real é ele
mesmo uma questão. As autopistas de alta velocidade – além da informatização –
transformam por completo o perfil das grandes cidades e portanto a nossa
experiência e nossa maneira de ver. O indivíduo contemporâneo é em primeiro lugar
um passageiro metropolitano: em permanente movimento, cada vez para mais longe,
cada vez mais rápido. Essa crescente velocidade determinaria não só o olhar mas
sobretudo o modo pelo qual a própria cidade, e todas as outras coisas, se apresentam
a nós.
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os que lá estão não podem mais perceber. Ele resgata o significado que tinha aquela
mitologia. Ele é capaz de olhar as coisas como se fosse pela primeira vez e de viver
histórias originais. Todo um programa se delineia aí: livrar a paisagem da
representação que se faz dela, retratar sem pensar em nada já visto antes. Contar
histórias simples, respeitando os detalhes, deixando as coisas aparecerem como são.
O estrangeiro toma tudo como mitologia, como emblema. Reintroduz imaginação e
linguagem onde tudo era vazio e mutismo. Para ele estes personagens e histórias
ainda são capazes de mobilizar. Ele é o único que consegue ver através desta
imagerie. Uma das encarnações mais recorrentes do estranho, do recém-chegado, é
aquele que retorna. O cinema recente fez daquele que volta para casa o seu
personagem principal. Depois de fugir deste mundo em que nada mais tem valor, ele
volta para resgatar as figuras e passagens banalizadas do nosso imaginário, para tirar
dele uma identidade e um lugar.
A outra figura do estrangeiro criada pela cultura contemporânea é a do anjo. Ele aparece
insistentemente na narrativa, na pintura e no cinema dos últimos anos. A que se deve
uma tal inflação de anjos? Parece que, nesse mundo de simulacros, onde tudo é
artificial, saiu-se em busca dos personagens e histórias que correspondam a essa
nova constituição e percepção do espaço e do tempo. Nesse momento maneirista da
cultura, que vive de citações e remakes, não é por acaso que se recorre a esse figura
barroca por excelência. Quem, dentre, todos os seres, tem a mesma mobilidade da
câmera que flutua através desse universo cinético, a mesma imaterialidade de suas
criaturas imagéticas? O anjo, é claro, o personagem de nosso tempo. Enquanto os
indivíduos estão se transformando em personagens, ele é o único capaz de ter como
programa tornar-se humano, escapar à pura espectralidade, sem no entanto perder
sua transcendência. O anjo não tem história. Não viveu, não viu nada. Logo, vê
esses indivíduos/ personagens e lugares/ cenários como imagens banalizadas. Ele vê
o que nós não podemos mais enxergar. Contra as imagens-clichês, imagens do
sublime.
Os anjos só vêem o essencial, as formas puras. No último filme de Win Wenders, As
asas do desejo, eles vêem tudo em branco e preto, desprovidos da simulação
brilhante da cor. Um olhar fenomenológico, em meio às coisas, mostrando-as como
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nada fácil, uma vez que o cinema já formou, no nosso inconsciente, através de suas
estrelas, uma figura de mulher sedutora. Todo olhar hoje para uma mulher está
condicionado pela mídia e a publicidade. Vemos uma imagem de mulher em cada
mulher. Como, então, uma mulher pode se oferecer ao nosso olhar sem
imediatamente virar pura imagem?
Carax fez sua atriz, Juliette Binoche, assistir filmes mudos, onde as atrizes tinham a
espontaneidade de gestos e expressões ainda não marcados pela sua própria
repetição. Colocando-se sempre ao lado e não atrás da objetiva. Pedindo-lhe para
olhar para a câmera como se ela estivesse apaixonada por ele e não o inverso.
Trata-se de resgatar aquele momento primeiro em que a mulher guarda a inocência
do olhar, anterior à tomada de consciência do poder de sedução de sua imagem. No
interior da mídia, ela se faz sujeito, e não objeto, do olhar. Também o espectador
livra-se do olhar fascinado, não retribuído, para ter de inventar sua paixão.
Reinstaura-se, ao menos como possibilidade, um espaço para o exercício da
subjetividade. Alguém está olhando para alguém.
Mas este olhar que quer ser olhado é também profundamente amoroso. Em Mauvais
sang, a câmera tem um verdadeiro caso de amor com a atriz. Muito diferente do
cinema contemporâneo corrente, profundamente misógino, onde a exposição erótica
da mulher desprovida de afeição. Daí a recusa enfática ao nu, a toda forma de
exibição que avilte a atriz, que tudo lhe tira sem nada dar em troca. O nu é
irreversível: uma mulher despida ficará assim para sempre. O direito de retratar uma
mulher, sobretudo na sua intimidade, deve ser ganho, deve ser merecido. A atriz é
alguém que se está destinado a filmar. Respeito pelo outro que o cinema, como todo
o aparato voyerístico da mídia, há muito perdeu. Tal como a pintura, tudo deve ser
pretexto para se ter uma relação privilegiada com uma musa. Cinema que se faz por
causa de uma mulher.
Por trás do aparente moralismo, uma vontade do cinema de resgatar sai integridade. Não
é por acaso que o centro da trama seja a recusa a trair o homem amado, ainda que
muito mais velho e doente. Seus personagens apresentam uma consistência de
caráter que parecia ter desaparecido dos nossos horizontes.
Gestos ingênuos e desengonçados, mímica, jogos de circo, brincadeiras que parecem
filmes de pastelão: o cinema busca uma certa inocência. Rostos retratados em close
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9. LENDA AFRICANA1
BATA NA CABEÇA,
QUE COISA FEIA,
EU VOU ROLAR,
EM CIMA DE VOCÊ!!!!!!!!!!!
Há muito tempo numa aldeia da África havia um povo chamado OBI.
Nesse povo havia um menino muito esperto que gostava de andar pelas montanhas que
cercavam a vila.
Um dia esse menino estava passeando pela montanha mais alta lá perto e ele viu uma
abóbora FIBA pequenininha e verde. Esse menino continuou andando sempre por essa
montanha e a cada dia a abóbora ficava maior e maior. Um dia ele percebeu que a
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Contada por Jamie Olivero, no evento Boca do Céu, realizado no SESC PINHEIROS, São Paulo/SP,
Maio/2006.
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
abóbora estava ficando amarelinha e depois de alguns dias ele viu que a abóbora tinha
ficado laranja.
A abóbora continuava crescendo e crescendo e então esse menino teve uma idéia:
- Vou levar essa abóbora para a minha mãe fazer Bolo de Abóbora, Pão de
Abóbora, Bolachinha de Abóbora, suco de Abóbora, Torta de Abóbora – uhmm
que delícia.
O menino foi checar se a abóbora estava madura – batendo na cabeça dela. Mas a
Abóbora FIBA era muito esperta e antes que o menino a desprendesse da terra ela se
soltou e começou a persegui-lo cantando:
Bata na cabeça
Que coisa feia
Eu vou rolar
Em cima de você !!!!!
O menino saiu correndo para não ser atropelado pela abóbora.
Ele começou a descer a montanha e gritou assim para as árvores que estava embaixo:
- Árvores, Árvores, por favor, se afastem – a abóbora FIBA quer me pegar.
As árvores vendo que o menino estava realmente com medo e que ele era um menino
educado, afinal de contas tinha pedido POR FAVOR resolveram se afastar para dar
passagem para o menino – elas abriram o caminho e depois voltaram para onde estavam
– assim poderiam parar a abóbora.
Mas vocês sabem o que aconteceu ?
A Abóbora FIBA passou pelas árvores e elas viraram palitinhos de dentes – tão forte
que era a abóbora.
O menino ficou muito preocupado e então lembrou que a tia dele morava lá pertinho – e
ele foi correndo para a casa da tia com a abóbora cantando atrás dele:
Bata na cabeça
Que coisa feia
Eu vou rolar
Em cima de você !!!!!
Ele falou:
- Tia, tia , POR FAVOR abra a porta que a abóbora FIBA quer me pegar !
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A tia viu que era o seu sobrinho e que ele era muito educado – abriu a porta para ele
entrar e logo fechou mas a abóbora FIBA logo passou pela casa e não sobrou nem um
pedacinho da casa. E ela vinha sempre cantando:
Bata na cabeça
Que coisa feia
Eu vou rolar
Em cima de você !!!!!
O menino estava apavorado e continuou correndo. Logo ele estava chegando num
chiqueiro e pediu para os porcos:
- Seu Porco, POR FAVOR deixa eu passar – a abóbora FIBA está atrás de mim
!!!!!
Os porcos viram que o menino era muito educado e bonzinho e resolveram ajudá-lo
abrindo passagem só para o menino e disseram que iam parar a abóbora FIBA.
Mas vocês imaginam o que aconteceu ???? A abóbora era tão forte, tão forte que depois
que ela passou só ficou bacon por todos os lados !
O menino estava desesperado – e a abóbora vinha atrás dele cantando:
Bata na cabeça
Que coisa feia
Eu vou rolar
Em cima de você !!!!!
Logo o menino viu um bando de vacas e falou:
- Dona Vaca, POR FAVOR me ajude, a abóbora FIBA está atrás de mim e quer
me pegar.
As vacas perceberam que o menino era muito educado e decidiram ajudá-lo:
Falaram assim:
- Menino, você fica atrás da gente que nós vamos protegê-lo. Não se preocupe.
E então as vacas ficaram todas juntinhas e abaixaram a cabeça.....
Logo, logo elas escutaram a abóbora cada vez mais perto. E ela estava cantando:
Bata na cabeça
Que coisa feia
Eu vou rolar
Em cima de você !!!!!
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As vacas ficaram quietinhas e com as cabeças abaixadas, mas quando a abóbora passou
elas levantaram os chifres e...... lançaram a abóbora para o céu. E como a abóbora
estava vindo muito, muito rápido ela subiu muito, muito alto e vocês sabem o que
aconteceu ?
Ela se dividiu em dois pedaços:
Um maior que virou o SOL,
Um menor que virou a LUA e
As sementes que viraram as ESTRELAS que hoje vemos no céu.
10. FOLCLORE
O folclore faz parte da cultura geral. Não se pode admitir, mesmo no homem comum, o
desconhecimento do folclore. É uma espécie de humanismo pré-escolar... Uma criatura
que não sabe canções de roda, adivinhações, brinquedos, histórias, parlendas, não teve
infância, está mutilada, não pode ser feliz, não pode educar seus filhos, não entende
nada de si nem dos seus conterrâneos, nem do homem em lugar nenhum do mundo...
Cecília Meirelles
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CALDAS, Waldenyr. Uma utopia do gosto. São Paulo: Brasiliense, 1988.
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acompanhado ainda de um certo “tom” solene nas relações sociais, a freqüência social a
novos ambientes, enfim, um variado número de características inerentes à cultura da
classe burguesa. Se por um lado a arte renascentista criou um padrão de beleza segundo
o qual a robustez masculina e feminina significavam um conceito aprimorado de belo
(veja-se, por exemplo, as obras de Leonardo Da Vinci, Rafael e Michelangelo), no
início da Revolução Industrial apareceria numa nova estética, em face das
transformações, criando entre outras coisas um novo padrão de beleza e uma “nova”
estética do gosto. O processo se deu da seguinte forma: a burguesia emergente, do
mesmo modo como anteriormente a aristocracia, passaria a investir na sua aparência
pessoal, procurando manter seu corpo sempre bonito e jovial. A boa aparência e a pele
bem-tratada eram sinônimos de boa posição social e de abundância econômica. A
gestualidade comedida, leve e delicada passavam ao espectador a impressão de uma
pessoa de fino trato que atingiu comportamentos suficientemente refinados para ser
reconhecida como uma lady ou um sir.
O repertório, por sua vez, deveria estar sempre à altura da elegância gestual e da posição
social que a pessoa ostentava. A austeridade, a formalidade nas relações sociais e a
freqüência aos lugares e ambientes mais elegantes completavam o quadro e o tipo ideal
de uma pessoa reconhecidamente de bom gosto. Portanto, vale a pena atentarmos para
um aspecto de extrema importância que atravessou o tempo e permanece vivo até os
nossos dias: a idéia de bom gosto, de gosto refinado está intimamente associada ao
poder econômico de tal modo, que um operário do início da Revolução Industrial, tanto
quanto um operário da nossa época, dificilmente poderia ser visto como uma pessoa de
bom gosto. Eu cito operário apenas como exemplo, mas é claro que este critério é
extensivo a todas as pessoas que, pelos mais variados e diversos motivos, pertencem às
categorias sociais mais modestas da sociedade.
Quero aqui retomar a seguinte questão: a idéia de que o bom gosto está diretamente
associado ao poder econômico. Interessante observar, por exemplo, que quase todas as
pessoas cultas e intelectualizadas se consideram de bom gosto, de gosto refinado, e
sempre recebem o beneplácito, a concordância da grande maioria das pessoas. Ocorre
também que essa pessoa culta e intelectualizada quase sempre também pertence aos
estratos da alta classe média ou mesmo da alta burguesia. Ler, por exemplo, Franz
Kafka, James Joyce, Baudelaire e Thomas Mann e ouvir Bach, Liszt, Beethoven,
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Brahms, etc. é considerado uma opção de bom gosto. Ao mesmo tempo, ler Eugène
Sue, Os Mistérios de Paris; Conan Doyle, As Aventuras de Sherlock Holmes; Emily
Bronte, O Morro dos Ventos Uivantes; Alexandre Dumas, O Corcunda de Notre Dame,
e ouvir o cantochão gregoriano, música sertaneja e Charles Aznavour é considerado,
senão por opção de mau gosto, seguramente de gosto duvidoso. Eu, a bem da verdade,
acho que os intelectuais consideram uma opção de mau gosto. Aqui cabe uma pergunta:
quais critérios, regras e métodos foram usados para se estabelecer essa dicotomia do
bom e do mau gosto? Mais adiante eu discuto essa questão num capítulo específico.
Quero retomar uma questão proposta anteriormente. Eu disse que tanto a burguesia
quanto o proletariado possuem uma cultura própria e que alguns valores culturais de
ambas as classes podem ser, num certo momento, assimilados por uma ou outra classe.
Pois bem, essa teoria é verdadeira, tem respaldo científico e já foi demonstrada por
inúmeros antropólogos clássicos como Radclif Brown; Melville J. Herskovits, Man and
His Works; Ralph Linton, The Study of Man; mais recentemente por Cliford Geertz, As
interpretações da Cultura, e pelo magnífico trabalho de Alfred Weber intitulado
História Sociológica da Cultura. É justamente baseado nessa perspectiva teórica da
antropologia cultural que eu quero analisar duas questões, a meu ver fundamentais, para
continuarmos discutindo a utopia do gosto.
A primeira é a seguinte: o poder político e o poder econômico, desde as civilizações
clássicas como Grécia e Roma, por exemplo, sempre reservaram a suntuosidade e a
abundância material aos grupos dominantes da sociedade – nessa época ainda não
podemos falar propriamente em classes sociais. Nesse patrimônio estavam incluídas a
arte erudita, a grande literatura, a ciência, entre outras instituições que continuam sendo
monopólio da classe dominante. A favor dessas instituições estavam, além dos grupos
dominantes, o carisma do capital, que não só causava admiração, como permitia um
estilo de vida desejado (como nos nossos dias) por toda a sociedade.
A segunda questão é um complemento da primeira e trata do seguinte: esse certo
maniqueísmo que estabelece o “mau gosto” e o “bom gosto” tem, a meu ver, suas
origens na diferença de um certo patrimônio (obras, produtos, objetos, etc.) adquirido
pela alta burguesia e pelo proletariado. Aliás, a rigor, a gênese de toda essa questão não
está nem na burguesia surgida a partir da Revolução Industrial. Ela apenas absorveu e
reproduziu valores culturais e comportamentos estéticos da nobreza. Portanto, é uma
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De acordo com o autor (não se trata propriamente de uma tese original), há uma lei
determinada pelo próprio processo histórico, segundo o qual a tradição cultural estaria
acima da divisão de classes, ou seja, da própria estratificação da sociedade. Assim,
determinadas instituições culturais atravessariam o tempo resistindo às transformações
políticas, econômicas e sociais, permanecendo até nossos dias. Claro, nesse aspecto não
há o que contestar. Até porque a Antropologia já analisou exaustivamente essa questão.
Este, aliás, é um aspecto muito importante na formação do gosto estético da sociedade
como um todo. Os antropólogos chamam-no de interpenetração cultural. Cito um
exemplo: como já sabemos, desde a Revolução Industrial na Inglaterra a burguesia
liberal fornece o modelo cultural para a as classes proletárias.
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Bachelard vai mostrar que existem dois tipos de imaginação: a imaginação formal e a
imaginação material. A primeira conduz à geometrização e se fundamenta na visão e na
contemplação do mundo, permanecendo, assim, nas arestas exteriores do objeto. A
imaginação material, ao contrário, instaura uma psicologia do contra, impondo-se como
um convite ao domínio sobre a intimidade mesma da matéria. Recuperando o mundo
como resistência, a imaginação material funciona como acelerador do psiquismo,
provocando um fluxo ininterrupto de imagens sempre novas.
Esta disposição se fundamenta na crítica ao vício de ocularidade que aparece de forma
esparsa ao longo da obra bachelardiana. O ocularismo é, segundo Bachelard, uma
atitude ocularista.
Para Bachelard, a verdadeira imaginação é a imaginação material, pois enquanto a
imaginação formal é puramente contemplativa e opera a partir de um distanciamento do
mundo, a imaginação material, ao contrário, resulta de um corpo-a-corpo com a
materialidade do mundo, tornando-se, assim, dinâmica e transformadora.
Quando, na solidão, sonhando mais longamente, vamos para longe do presente reviver
os tempos da primeira vida, vários rostos de criança vêm ao nosso encontro. Fomos
muitos na vida ensaiada, na nossa vida primitiva. Somente pela narração dos outros é
que conhecemos a nossa unidade. No fio de nossa história contada pelos outros,
acabamos, ano após ano, por parecer-nos com nós mesmos. Reunimos todos os nossos
seres em torno da unidade de nosso nome.
Mas o devaneio não conta histórias. Ou, pelo menos, há devaneios tão profundos,
devaneios que nos ajudam a descer tão profundamente em nós mesmos que nos
desembaraçam da nossa história. Libertam-nos do nosso nome. Devolvem-nos, essas
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BARBOSA e BULCÃO, Elyana e Marly. Bachelard: pedagogia da razão, pedagogia da imaginação.
Petrópolis: Vozes, 2004.
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BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins
Fontes, 1988. págs. 93 e 94.
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Aqui, com efeito, abordamos uma recíproca cujas imagens deveremos explorar: todo
espaço realmente habitado traz a essência da noção da casa. Veremos, no decorrer de
nossa obra, como a imaginação trabalha nesse sentido quando o ser encontrou o menor
abrigo: veremos a imaginação construir “paredes” com sombras impalpáveis,
reconfortar-se com ilusões de proteção – ou, inversamente, tremer atrás de grossos
muros, duvidar das mais sólidas muralhas. Em suma, na mais interminável das
dialéticas, o ser abrigado sensibiliza os limites do seu abrigo. Vive a casa em sua
realidade e em sua virtualidade, através do pensamento e dos sonhos.
Por conseguinte, todos os abrigos, todos os refúgios , todos os aposentos têm valores
oníricos consoantes. Já não é em sua positividade que a casa é verdadeiramente
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BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins
Fontes, 1993. p. 23.
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16. METÁFORA6
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GASSET, José Ortega y. A idéia de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1991. págs. 37 e 38.
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Talvez vocês recordem o delicioso conto de Wells que se intitula “O homem que podia
fazer milagres”. De noite, numa taberna de Londres, dois homens quaisquer, já afetados
pelos pesados vapores da cerveja, discutem fastidiosamente sobre se há ou não milagres.
Um crê neles, o outro não. E em certo instante o incrédulo exclama: “Isso é como se eu
dissesse agora que esta luz se apague e a luz se apagasse!”; e eis que uma vez
pronunciadas estas palavras, a luz, efetivamente, se apaga. E desde aquele momento
tudo o que aquele homem diz ou simplesmente pensa, mesmo sem querer dizê-lo
formalmente, acontece, se realiza. A série de aventuras e conflitos que este poder, tão
mágico como involuntário, lhe proporciona constitui a matéria do conto. Por fim um
agente da Polícia o persegue tão de perto que o pobre homem pensa: “Por que não se vai
ao diabo este policia!”. E, com efeito, o polícia se vai ao diabo.
Mas suponham vocês que algo parecido acontecesse ao humilde apaixonado cuja
imaginação não chega a mais do que a dizer da face da donzela amada que é uma rosa –
portanto, que de pronto aquela face se convertesse realmente numa rosa. Que espanto!
Não é certo? O infeliz se angustiaria, ele não havia querido dizer isso, era pura
brincadeira – ser rosa e a face era apenas metafórico; não era um ser no sentido real,
mas um ser no sentido de irreal. Por isso, a expressão mais usada na metáfora emprega o
como e diz: a face é como uma rosa. O ser como não é o ser real, senão um como-ser,
um quase-ser: é irrealidade como tal.
Perfeitamente; mas então, o que é que sucede quando sucede uma metáfora? Pois
sucede isto: há a face real e há a rosa real. Ao metaforizar ou metamorfosear ou
transformar a face em rosa é preciso que a face deixe de ser realmente face e que a rosa
deixe de ser realmente rosa. As duas realidades, ao serem identificadas na metáfora,
chocam-se uma com a outra, se anulam reciprocamente, se neutralizam, se
desmaterializam. A metáfora vem a ser a bomba atômica mental. Os resultados da
aniquilação dessas duas realidades são precisamente essa nova e maravilhosa coisa que
é a irrealidade. Fazendo chocarem-se e anularem-se realidades obtemos
prodigiosamente figuras que não existem em nenhum mundo.
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Quem lê “Cinderela” não imagina que há registros de que essa história já era contada na
China, durante o século IX d.C. E, assim como tantas outras, tem se perpetuado há
milênios, atravessando todas as geografias, mostrando toda a força e a perenidade do
folclore dos povos.
Por quê? Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo que
detona a fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com emoções
que qualquer criança já viveu... Porque se passam num lugar que é apenas esboçado,
fora dos limites do tempo e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar... Porque
as personagens são simples e colocadas em inúmeras situações diferentes, onde têm que
buscar e encontrar uma resposta de importância fundamental, chamando a criança a
percorrer e a achar junto uma resposta de importância fundamental, chamando a criança
a percorrer e a achar junto uma resposta sua para o conflito... Porque todo esse processo
é vivido através da fantasia, do imaginário, com intervenção de entidades fantásticas
(bruxas, fadas, duendes, animais falantes, plantas sábias...).
Ou, como bem explica Vera Teixeira de Aguiar: “Os contos de fadas mantêm uma
estrutura fixa. Partem de um problema vinculado à realidade (como estado de penúria,
carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que desequilibra a tranqüilidade inicial. O
desenvolvimento é uma busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de
elementos mágicos (fadas, bruxas, anões, duendes, gigantes etc.). A restauração da
ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se
desta estrutura, os autores, de uma lado, demonstram que aceitam o potencial
imaginativo infantil e, de outro, transmitem à criança a idéia de que ela não pode viver
indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento
certo”.
Por lidar com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição
humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje...
Daí que haver numa história fadinhas atrapalhadas, bruxinhas que são boas ou gigantes
comilões não significa – nem remotamente – que ela seja um conto de fadas... Muito
pelo contrário. Tomar emprestado o nome das personagens-chaves desses contos não
faz com que essas histórias adquiram sua dimensão simbólica... A magia não está no
fato de haver uma fada já anunciada no título, mas na sua forma de ação, de aparição, de
comportamento, de abertura de portas...
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18. EXPERIÊNCIA
MASSA(diferente).................. COLETIVO_________________INDIVÍDUO
ARQUÉTIPO PROCESSO
DE
INDIVIDUAÇÃO
INCONSCIENTE
COLETIVO
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IMAGINAÇÃO
CRIADORA
PROCESSO
DE
RUPTURA
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22. DESOBJETO
O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo
de não ser mais um pente. Estaria mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um
tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era
alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes.
Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo.
O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora
um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um
esverdeado a musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O
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fato é que o pente perdera a sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma
árvore e não servia mais nem para pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha
cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino
deu para imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado à natureza como
um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que às arvores colaboravam na solidão daquele
pente.
Manuel de Barros
22.1.Escolha da história
Justificativa pessoal para a escolha da história.
Obs:. Justificativa não deve ser apenas racional, recorrer sobretudo às metáforas, às
imagens que ligam a narrativa à sua experiência pessoal.
22.4.Cenário.
Descrever os lugares em que se passa a história.
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22.5.Sonoplastia.
Quais são os sons/músicas que existem manifestos/latentes na história.
22.6.Personagens.
Quais? Quem são? [traço predominante] Como falam? [modulação da voz]
22.7.Introdução da história.
Construir a partir das três imagens sugeridas para a definição de COMEÇO.
22.8.“Desobjetos”
Há necessidade?
Como torna-los extensão do corpo?
23. SILÊNCIO
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O silêncio sempre se oculta na profundidade, lá onde deve ser procurado por quem
quiser encontrá-lo.
Não há conflito entre a palavra e o silêncio; o silêncio dá à palavra sua profundidade.
Um discurso que ignorasse a qualidade do silêncio não passaria de verborragia.
Gostaríamos de dizer: “Chega! Cala-te! Tua fala não contém o silêncio necessário para
que alcance seu verdadeiro valor.” A emergência do não-dito está lá...”
Jacques Leqoq
24. QUADRINHAS PARA FINALIZAR HISTÓRIAS
O bruxo da corte
Perdeu a memória
Deu três piruetas
Acabou-se a história.
Eu perguntei um dia ao neurologista Oliver Sacks o que, do seu ponto de vista, era um
homem normal. Ele respondeu que um homem normal, talvez, seja aquele que é capaz
de contar sua própria história. Ele sabe de onde vem (tem uma origem, um passado, uma
memória em ordem), sabe onde está (sua identidade) e acredita saber onde vai (ele tem
projetos e a morte, no final). Está, portanto, situado no movimento de um relato, ele é
uma história e pode dizê-la para si mesmo.
26. BIBLIOGRAFIA
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A arte de contar histórias e compartilhar memórias
SARTI, Adilson. A menina que vendia bala no trem. Juiz de Fora, 2004. Franco
Editora.
ROCHA, Ruth. A menina que aprendeu a voar. Rio de Janeiro, 1998. Editora
Salamandra.
ão Paulo, 1995. Quinteto Editorial.
ROCHA, Ruth. Nicolau tinha uma idéia... S
BELINKY, Tatiana. Tatu na casca. São Paulo, 1991. Editora Moderna.
SOUZA, Flávio de. Que história é essa? São Paulo, 2003. Companhia das Letras.
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BENNET, Willian J. – O Livro das Virtudes – Ed. Nova Fronteira, RJ. 1995.
MUNIZ, Flávia – Rita, não grita! – Ed. Melhoramentos.
BORGES, Rogério – Silvino Silvério, o grande caçador – Ed. FTD.
PENTEADO, Maria Heloísa – Lucinha Já-Vou-Indo – Ed. Ática.
MACHADO, Ana Maria – Menina bonita do laço de fita – Ed. Ática.
CALVINO, Ítalo – Fábulas italianas. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
CASCUDO, Luís da Câmara - Contos tradicionais do Brasil. Rio de Janeiro, Ediouro,
1999.
MALLARMÉ, Stéphane – Contos indianos. São Paulo, Experimento, 1994.
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