Pedra Do Ingá PDF
Pedra Do Ingá PDF
Rio de Janeiro
2013
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Rio de Janeiro
2013
O objeto de estudo dessa pesquisa foi definido a partir de uma questão identificada no
cotidiano da prática profissional da Superintendência do IPHAN na Paraíba.
Banca examinadora
_________________________________
Professor Dr. Marcus Tadeu D. Ribeiro (orientador)
_________________________________
Paôla Manfredini R. Bonfim (supervisora e co-orientadora) –
Superintendência do IPHAN na Paraíba
_________________________________
Professora Dra. Patrícia Pereira Peralta – PEP/MP/IPHAN
_________________________________
Professora Dra. Denise Maria Cavalcante Gomes – Museu Nacional / UFRJ
Dedicatória
Acredito que não há como realizar o agradecimento com justiça sem dirigi-lo inicial e
especialmente ao pessoal do Iphan, seja da superintendência de lotação, seja das outras
superintendências, tanto aos servidores do quadro, quanto os temporários com quem convivi
neste período de dois anos, e aos componentes do corpo do Programa de Especialização em
Patrimônio Cultural do IPHAN/PEP-MP, assim como, aos estimados Orientador e
Coorientadora.
Olhando agora, com certo distanciamento, pode-se perceber quão importante e
significante na vida de quem trabalha com aspectos culturais, pode ser o convívio
acadêmico/profissional no cotidiano de um Órgão que gerencia atividades voltadas pra
preservação cultural. Por todas as experiências e vivências que me foram possibilitadas, faço
meus agradecimentos mais profundos e sinceros.
Agradeço, também, a todo pessoal que me recebeu e auxiliou em bibliotecas, arquivos,
museus, entre outras instituições que dispuseram acervos. Igualmente, agradeço, a Amy
Robinson pela gentileza e dedicação na tradução do resumo, ao meu querido sobrinho Flávio
Cézar dos Santos pela revisão gramatical, Patrícia Corrêa pelo empréstimo de equipamento de
luz ultravioleta, ao Professor Marcos Albuquerque e sua equipe, pela disponibilidade para
debates e orientações.
Resumo
A presente dissertação realiza uma discussão crítica a partir das práticas desenvolvidas pelos
Órgãos competentes nas três esferas (municipal, estadual e federal), sobre a preservação
cultural do Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá, tombado em nível Federal em 1944,
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Atualmente não há uma
produção de conhecimento que contemple a importância desse sítio enquanto patrimônio
cultural, permitindo-se, assim, a perpetuação de informações fantasiosas sobre o mesmo, pois,
acabam sendo os “conhecimentos” mais divulgados, quando buscados. Entendendo-se que as
manifestações rupestres deste sítio vêm sendo apresentadas visualmente em condições que
necessitam de complementação objetiva, tanto para bibliografias de referência para estudos de
arqueologia, quanto para documentação inventariante das gravuras. Para contribuir com a
produção de conhecimento científico, buscou-se a relação interdisciplinar, reunindo-se
conhecimentos dos campos da Antropologia, Arqueologia, Artes visuais, História da Arte,
Arte Educação, Filosofia, História e do Patrimônio Cultural. Além da discussão crítica a partir
de conceitos da documentação, de práticas institucionais e da legislação sobre a Preservação
do Patrimônio Cultural, foi elaborado um registro visual. Este registro visual compreende os
registros gráfico, fotográfico e videográfico, produzindo-se imagens objetivas dos artefatos
encontrados em superfície (artefatos líticos e cerâmicos) dos painéis de gravuras e do
ambiente natural onde se situa o sítio arqueológico. Tal registro visual pretende, além de
possibilitar um conhecimento mais completo das formas gravadas na rocha, ser um
instrumento de preservação. Entre outros resultados, menciona-se a contribuição com dados
referentes ao sítio em estudo, complementando o preenchimento da ficha CNSA PB00041, do
Cadastral Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA, do Centro Nacional de Arqueologia –
CNA/IPHAN/Sistema Nacional de Informação Cultural – SNIC/ Ministério da Cultura –
MinC.
The following dissertation carries out a critical discussion on the practices developed by
competent bodies in the three spheres (Municipal, State and Federal) concerning the cultural
preservation of the Itacoatiaras Archaelogical site of the Ingá River, which was put under
federal trust in 1944 by the Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN
(Institution of Historical and Artistic National Heritage). At present, there is no production of
knowledge which considers the importance of this site as cultural heritage, therefore allowing
the perpetuation of false information which then becomes the “knowledge” that is divulged
most when searched for. It is understood that the rupestrian manifestations of this site are
being visually presented in conditions which need objective complementation, as much
though reference libraries for students of archaeology as through catalogued documentation of
the carvings. In order to contribute to the production of scientific knowledge an
interdisciplinary relation was searched for, combining knowledge from the areas of
Anthropology, Archaeology, Visual Arts, Art History, Education Art, Philosophy, History and
Cultural Heritage. Besides the critical discussion concerning concepts, documentation of
institutional practices and legislation of the preservation of cultural heritage, a visual registry
was developed. This visual registry is comprised of graphic, photographic and video records,
producing objective images of artefacts found on the surface (lithic and ceramic artefacts),
images of the carving panels and of the natural surroundings where the archaeological site is
located. Besides enabling a more complete knowledge of the shapes carved into the rock, such
a visual registry is intended to be a method of preservation. Among other results mentioned is
the data contribution in reference to the site studied, supplementing the filling out of the sheet
CNSA PB 00041 of the Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA (National
Registry of Archaeological Sites) of the Centro Nacional de Arqueologia – CNA (National
Centre of Archaeology)/IPHAN/Sistema Nacional de Informação Cultural (National System
of Cultural Information)/Ministério da Cultura – MinC (Ministry of Culture).
Introdução ...............................................................................................................................11
Anexos...................................................................................................................................157
Referências bibliográficas....................................................................................................167
11
Introdução
1
A NBR 6023, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Informação e documentação -
Referências – Elaboração, de agosto de 2002, define documento como: Qualquer suporte que contenha
informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Inclui impressos,
manuscritos, registros audiovisuais, sonoros, magnéticos e eletrônicos, entre outros.
2
Serão usados os termos “Sinalizações Rupestres/Pinturas” e “Sinalizações Rupestres/Gravuras”, segundo
Normas e Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico, “Definidos por gravuras ou pinturas nas rochas em solo
ou paredes.” (BASTOS, 2008, p.37-38).
3
Processo de Tombamento das Itacoatiaras do Rio Ingá, localizadas na Fazenda da Pedra Lavrada - Ingá – PB;
Inscrito nos Livros do Tombo: Nº 2, Histórico, Vol. I, Inscrição nº: 234, folha: 39, Data: 29-5-1944 e Nº 3,
Belas Artes, Vol.: I, Inscrição nº: 301, Folha: 63, Data: 29-5-1944, Nº Processo: 0330-T-43.
4
A transcrição referente à Justificativa do tombamento encontra-se no item 3.1 As possíveis origens da
valoração patrimonial do sítio em estudo, p. 79, deste trabalho.
5
CHAUI, 2000, p. 13.
12
acerca da cultura dos grupos étnicos que habitaram aquele sítio ou adjacências. Visto que,
atualmente só é possível conhecer as imagens gravadas na rocha, de maneira objetiva6,
deslocando-se até o sítio.
As sinalizações encontradas no Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá são
índices muito fortes da atividade humana em tempo anterior ao contato com grupos europeus.
Atualmente permanecem obscurecidos seu contexto e significação, mas é inegável que
esses remanescentes acabam por remeter às manifestações das culturas material e imaterial de
povos antecessores, mesmo que a apreensão desta última nos fuja em sua completude, por
enquanto.
As gravuras realizadas na rocha são riquíssimas esteticamente, apresentam uma
complexidade de formas, um potencial comunicativo e fazem parte de um conjunto de amplas
dimensões. Além disso, apresentam um suposto grau de dificuldade para sua execução, assim
como, a necessidade de técnicas e habilidades específicas. Tais características visuais foram
exploradas através de estudos que possibilitaram identificar possíveis sobreposições de
imagens, formas de uso do suporte, técnicas e, em especial, realizar o registro de todas as
imagens gravadas.
Para tanto, buscou-se resultados através de produção textual que apresenta dados, uma
discussão crítica, respectivas conclusões e resultados a partir de diferentes técnicas e meios
para registro, tais como: gráfico/desenho, fotográfico digital e videográfico. O que se
denominou registro visual.
Portanto, esta pesquisa se propôs a analisar os seguintes problemas:
a. Em que medida a produção de registros visuais e de reflexão crítica sobre as práticas
de preservação do Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá pode contribuir para atender às
recomendações contidas na justificativa para o Processo de Tombamento 330-T-43?
b. Em que medida o atual estado de conservação7 e preservação8 do Sítio
Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá pode ser relacionado com a produção científica de
conhecimento sobre ele?
6
O termo objetivo é usado no sentido que Imannuel Kant (1724-1804) emprega ao abordar a objetividade e
subjetividade na pesquisa científica. Apresentado no item 2.1.1 O sítio arqueológico em estudo e sua
apresentação visual em bibliografias de referência, p. 68, desse trabalho.
7
Conservação: é um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de degradação de
documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de tratamentos específicos (higienização, reparos e
acondicionamento) (CASSARES, 2000).
8
Preservação: é um conjunto de medidas e estratégias de ordem administrativa, política e operacional que
contribuem direta ou indiretamente para a preservação da integridade dos materiais (CASSARES, 2000).
13
Vale ressaltar que esta proposta de estudo não é contemplada por nenhum dos projetos
que atualmente tramitam nas instâncias governamentais, assim, dispõe-se a servir de
complementação a esses.
É fundamental que os resultados deste trabalho sejam buscados através de
procedimentos científicos, pois, inegavelmente, contribuirão com a produção de
documentação por pesquisadores e estudiosos que visam à apreensão dos processos culturais
dos primeiros povoamentos e de seus integrantes.
16
9
TRIGGER, 2004, p. 14.
10
Idem.
11
Idem.
12
Idem.
13
Idem.
17
assuntos interessavam muito à parcela educada da classe média, incluindo líderes políticos14.
Foi através de membros da classe supramencionado que se deu o desenvolvimento científico
em diversas áreas de conhecimento a partir do século XVII15.
Diferente do que aconteceu em outras áreas do conhecimento, as disciplinas de
arqueologia e história têm menos complexidades para sua compreensão e seus resultados
refletem diretamente nas atuais conformações das sociedades modernas16.
Contudo, ao se explorar a perspectiva da manifestação da ideologia da classe média
através da arqueologia, deve-se ter a clareza de que suas conquistas e transformações não se
deram por grupos homogêneos e “unitários”17. Esta classe era formada por “clérigos,
profissionais e administradores a serviço da realeza”18, uma burguesia do velho regime, de um
lado e, de outro, grupos de uma “burguesia empresarial”19 que participaram ativamente na
revolução industrial20.
O próprio desenvolvimento e o interesse desta classe em ascensão apresentavam-se em
graus diferentes, de um país para outro e mesmo internamente a cada um deles21. Assim, as
preocupações da arqueologia estavam apenas com uma parcela destas classes, aquela parcela
interessada por atividades eruditas22.
Portanto, as questões relativas às interpretações arqueológicas podem ser relacionadas
às motivações particulares de seus grupos e tendências teórico-filosóficas, políticas e
econômicas, por exemplo. Ao discutir as “relações entre a arqueologia e a sociedade [,]”23o
autor nos apresenta como uma perspectiva a ser levada em conta pelo arqueólogo, a de
analisar as ideias que levam interpretações arqueológicas serem usadas para reforçar ou
efetivar objetivos políticos24. Há o entendimento por parte de arqueólogos que esta disciplina
sofre influência “por grande número de fatores, tanto internos quanto externos.” 25
Mas, “a maioria dos arqueólogos profissionais acredita [...] que um desses fatores é a
base de dados arqueológica.”26 Esses dados vêm sendo acumulados há muito tempo e são
colocados à prova cada vez que novos dados são apresentados. No fundo, tais dados e as
14
TRIGGER, 2004, p. 14.
15
Idem.
16
LEVINE, 1986 apud TRIGGER, 2004, p. 14.
17
TRIGGER, 2004, p. 14.
18
DARTON, 1984, p. 113 apud TRIGGER, 2004, p. 14.
19
Idem.
20
Idem.
21
TRIGGER, 2004, p. 14.
22
KRISTIANSEM, 1981; LEVINE, 1986 apud TRIGGER, 2004, p. 14-15.
23
TRIGGER, 2004, p. 15
24
Idem.
25
Idem.
26
Idem.
18
metodologias de suas coletas são diretamente influenciadas pelos referenciais teóricos de cada
arqueólogo27.
Tais divergências teóricas e metodológicas acabam por inaugurar “novas linhas de
investigação”28, como explica Trigger, ao mencionar que estudos da economia mesolítica,
realizados por Grahame Clark (1954), os quais propuseram “questões que simplesmente não
podiam ser respondidas com o uso dos dados coletados quando o principal interesse nos
estudos do mesolítico era tipológico”29.
Outros estudos trouxeram novos interesses e, assim como o exemplo citado, a
“arqueologia dos assentamentos revolucionou as pesquisas arqueológicas de sítios”30. Então, a
acumulação de dados não significava uma evolução dos resultados, na mesma proporção31.
Com a ideia de que “os arqueólogos parecem trabalhar mais com as conclusões de
32
seus predecessores do que com as evidências nas quais essas conclusões se baseiam” ,
Trigger faz uma crítica aos procedimentos dos estudos arqueológicos iniciais, que se
pautavam nos estudos já realizados por outros arqueólogos sem fazer novas análises críticas
ou mesmo revisões de resultados encontrados, os quais podiam não ter mais validade se
confrontados com estudos mais preocupados em novas leituras dos mesmos materiais que
forneceram tais resultados.
Deve-se entender que fatores externos aos propósitos dos arqueólogos como os
contextos das instituições que as executavam, pela imposição de governos ou sociedades,
limitavam os estudos. Por uma ‘necessidade’ de “agradar seus patrocinadores [...]”33, seus
pares e políticos que articulavam tais recursos financeiros, acabavam influenciando
fortemente os resultados das pesquisas.
Além disso, podem-se mencionar as limitações e restrições sociais quanto às
escavações de certos tipos de sítios, como áreas fúnebres e sagradas 34. Logo, fatores externos
podem interferir tanto no modo de pesquisar quanto nas interpretações dos resultados.
De forma resumida Pedro Paulo Funari apresenta uma visão crítica do surgimento da
arqueologia: “A arqueologia surgiu no bojo do imperialismo do século XIX, como um
27
TRIGGER, 2004, p. 15.
28
Idem.
29
CLARK, 1932, apud TRIGGER 2004, p. 15.
30
WILLEY, 1953, apud TRIGGER, 2004, p. 16.
31
TRIGGER, 2004, p. 16.
32
Idem.
33
HINSLEY, 1985 apud TRIGGER, 2044, p. 16.
34
ROSEM, 1980, apud TRIGGER, 2004, p. 16.
19
subproduto da extensão das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos que
procuravam enriquecer explorando outros territórios.”35
O autor também observa que o princípio da arqueologia teve como ícone e
representante de uma arqueologia imperialista, aventureira e à procura de tesouros o “mais
famoso arqueólogo de todos os tempos [...]”36: Heinrich Schliemann (1822-1890). Aquele
que, por causa de sua prática, pode ser considerado o verdadeiro difusor da imagem do
estereótipo do arqueólogo aventureiro que veio a inspirar a criação do personagem Indiana
Jones37, assim como, “o relato de suas façanhas levou, nas décadas seguintes e até hoje,
muitos jovens a interessarem-se pela arqueologia”38.
Como antes do século XX a disciplina de arqueologia tinha formado poucos
profissionais, outros “campos e ocupações”39 emprestavam à arqueologia suas “habilidades e
pontos de vistas variados”40. Como exemplo disso, tem-se o desenvolvimento de esquemas de
tipologia e seriação, originados da numismática41.
O fato de que no século XIX muitos estudiosos da arqueologia tiveram formação nas
áreas das ciências naturais e exatas, traz até nossos dias a discussão de “que diferenças
significativas podem ser observadas nas obras de arqueólogos”42 com formação nas áreas das
ciências humanas e das obras daqueles de formação nas ciências naturais.43
Nos últimos anos, os arqueólogos especializados em pré-história contam com
formação em departamentos de antropologia ou de história. Com os avanços das ciências
naturais, o sentido do fluxo de informações deixou de ser unidirecional para dar lugar a uma
relação mais colaborativa.
Um dos melhores exemplos foi o desenvolvimento da datação por radiocarbono 44,
após a Segunda Guerra Mundial, dotando o campo da arqueologia com um instrumento
confiável para identificar os períodos arqueológicos45. Daí é que surge a expressão AP (Antes
35
FUNARI, 2010, p. 9-10.
36
Ibidem, p. 10.
37
Personagem criado por Steven Spielberg e George Lucas e vivido por Harrison Ford, que é o protagonista de
diversos filmes, jogos de computador e até uma série de televisão de filmes de ficção, interpretando Henry Jones
Júnior. Um indivíduo com vida dupla: além de um pacato professor de Arqueologia, é um aventureiro destemido
e pouco convencional. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Indiana_Jones, acessado em 11de abril de 2012.
38
FUNARI, 2010, p. 10.
39
MCKAY, 1976 apud TRIGGER, 2004, p. 16.
40
Idem.
41
Idem.
42
CHAPMAN, 1979, p. 121 apud TRIGGER 2004, p. 16.
43
Idem.
44
“Radiocarbono- Método que mede a radiatividade residual em matérias orgânicas. Com efeito, o teor dos ossos
em carbono radiativo decresce com o tempo, permitindo datar o tempo decorrido desde a morte [...]” (PORUS,
2007, p. 125).
45
TRIGGER, 2004, p. 17.
20
do Presente)46 ou do inglês “BP (Before Present)”, que conta o tempo retroativamente a partir
de 1950.
Também as análises laboratoriais de pólen e de traços de elementos (pequeníssimas
proporções) puderam gerar resultados relacionados às mudanças climáticas e ambientais,
assim como, sobre as dispersões de artefatos e “certas mercadorias”47 em tempos pré-
históricos.
Uma revolução recente na análise arqueológica, veio do tratamento prestado aos
dados, através de uma difusão de formas eletrônicas para tal, o que pode ser comparada ao
advento da datação por radiocarbono48.
A informatização deu agilidade e ampliou a capacidade de análise de dados de modo
rápido e preciso em grandes volumes de informação.
Apesar das diferenças econômicas e da qualificação profissional terem sido grandes
obstáculos entre países desenvolvidos e não desenvolvidos, o que limitava o uso dessas
novidades nestes últimos, as inovações científicas foram rapidamente aceitas e incorporadas
às pesquisas arqueológicas globalmente49.
Podem ser citadas, também, as novas orientações teóricas no campo às quais foram
estimuladas por progressos da matemática, como a Teoria dos Sistemas50 e a Teoria das
Catástrofes51 ainda que com certos limites, na arqueologia passaram a serem empregados
àqueles procedimentos matemáticos que estudam as mudanças52.
No campo da interpretação arqueológica, pode-se observar a influência de teorias do
comportamento humano, conceitos advindos da etnologia e da história, assim como, os
oriundos da economia, da geografia, das ciências políticas, direta ou indiretamente53.
Ainda assim, “concepções específicas sobre o passado podem persistir e influenciar a
interpretação arqueológica muito depois que o arrazoado conducente a sua formulação já foi
desacreditada e abandonado”54. Ao abordar a interpretação arqueológica, Trigger formula
uma conceituação de arqueologia que a distingue das disciplinas de outras áreas do
conhecimento quanto à forma de obtenção de dados, na medida em que:
46
“AP, ‘antes do presente’; por convenção, o presente é o ano de 1950, em referência à descoberta da datação
por carbono-14, em 1952.” (PROUS, 2006, p. 19).
47
TRIGGER, 2004, p. 17.
48
Idem.
49
Idem.
50
FLONNERY, 1968; STEIGER, 1971; LAZLO, 1972 a; BERLINSKI, 1976 apud TRIGGER, 2004, p. 17.
51
TOM, 1975; RENFREW, 1978; RENFREW & COOK, 1979; SANDERS, 1980 apud TRIGGER, 2004, p. 17-
18.
52
TRIGGER, 2004, p. 18.
53
Idem.
54
TRIGGER, 1978 b apud TRIGGER, 2004, p. 18.
21
Esta relação se deve pelo fato de que outras ciências que não a arqueologia, como a
etnologia, a geografia, a sociologia, as ciências políticas e econômicas e a história as quais
estudam diretamente o comportamento das sociedades através da observação ou de registros
documentais, o que não é possível à arqueologia.55.
Numa perspectiva de conhecer outros pensamentos sobre a arqueologia, mas, que na
verdade não se distanciam quanto ao entendimento do tratamento que deve ser dispensado aos
dados arqueológicos, apresentam-se as ideias de Funari que “segundo um ponto de vista
tradicional”56, esta disciplina teria como objeto de estudo apenas “coisas”57, especialmente as
que o homem manufaturou (os artefatos) o que se constitui como “’fatos’ arqueológicos
reconstituíveis pelo trabalho de escavação e restauração por parte do arqueólogo.”58.
No entanto, ele adverte que os produtos do arqueólogo não podem se limitar aos
estudos dos artefatos, mas devem ser ampliados às alterações ambientais e aos restos animais
para que possam ser associados às ações humanas. Assim, os arqueólogos criaram os
conceitos de “ecofatos” e de “biofatos” .59
Logo, de modo mais sintético, apresenta visão dessa forma: “[...] a arqueologia estuda,
diretamente, a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma
cultura total, material e imaterial (grifo do autor), sem limitações de caráter cronológico.” 60.
Por seu turno, a “[...] renovação dos estudos arqueológicos [...]”61 veio para dar força a ala dos
estudiosos que, através da cultura material, “busca compreender as relações sociais e as
transformações na sociedade.”62
Ideias surgidas nos anos sessenta, do século passado, geraram um movimento que
sensibilizou arqueólogos de diferentes ambientes culturais e com diferentes pontos de vista, os
55
TRIGGER, 2004, p. 19.
56
FUNARI, 2010, p. 13.
57
Idem.
58
Idem.
59
Segundo Paulo Funari os conceitos de “ecofato e biofatos” referem-se a “vestígios do meio ambiente e restos
de animais [, respectivamente,] associados aos seres humanos”. (FUNARI, 2010, p. 14).
60
FUNARI, 2010, p. 15.
61
Idem.
62
Idem.
22
quais passaram a considerar que a arqueologia deve envolver-se com os objetivos históricos,
sociológicos e antropológicos, a partir do estudo da cultura material63.
63
FUNARI, 2010, p. 18.
64
BAHN, 1998 p. 283.
65
Tradução livre do Autor do trecho de BAHN, 1998 p. 283.
66
BAHN, 1998, p. 283.
67
MARTIN, 2008, p. 157.
68
Idem.
69
Tradução livre do Autor.
70
MARTIN, 2008, p. 157.
23
71
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA, implantado em 1965 com o patrocínio da
Fundação Smithsonian e do CNPq. (MARTIN, 2008, p. 40).
72
MARTIN, 2008, p. 152.
73
Ibidem, p. 153.
24
etnografia, antropologia ou arqueologia, mas, não fizeram escola e não formaram brasileiros
nesses ofícios.
Mesmo assim, nesse período, com uma “efervescência científica”74, surge um
princípio de ordenação técnica e metodológica e “nasce uma bibliografia especializada” 75. Ao
abordar a história da arqueologia no Brasil, André Prous, argumenta que:
74
PROUS, 1992, p. 09.
75
Idem.
76
PROUS, 1992, p. 12-14.
77
MARTIN, 2008, p. 40.
25
78
PROUS, 1992, p. 17.
79
PESSIS e GUIDON, In: VIDAL, 1992, p. 19.
80
Ibidem, p. 20.
81
Ibidem, p.32.
82
Idem.
83
MARTIN, 2008, p. 40.
84
Idem.
26
85
“[...] divisões geográficas que compartem das mesmas condições ecológicas e nas quais está delimitado um
número expressivo de sítios pré-históricos.” (MARTIN, 2008, p.87).
86
MARTIN, 2008, p. 87.
87
Ibidem, p.151.
88
Idem.
89
Idem.
90
Idem.
91
Idem.
27
informações sobre os modos de vida, desde a organização social aos ritos e atividades
espirituais92.
Segundo o estudo Patrimônio Arqueológico: Paraíba, publicado em 2009, pela
Superintendência do Iphan na Paraíba, no Estado há 107 sítios arqueológicos pré-históricos,
distribuídos por 36 municípios (registros do Iphan-PB até aquele ano), dos quais 41
apresentam gravuras, 47 apresentam pinturas e 12 apresentam pintura e gravura. O restante
apresenta material cerâmico em superfície ou enterrado93.
Sobre os sítios arqueológicos na Paraíba, pode-se dizer que a documentação produzida
ainda precisa ser sistematizada e publicada. Esta carência decorre da pouca produção
científica sobre estes sítios, muitos dos quais já foram catalogados e cadastrados no Centro
Nacional de arqueologia – CNA/IPHAN, via Cadastro Nacional Sítios Arqueológicos –
CNSA. Porém, na maioria deles, com o mínimo de informações nas fichas deste cadastro, ou
seja, a maior parte dos campos das fichas em branco.
92
MARTIN, 2008, p. 152.
93
IPHAN, 2009, p. 27-36.
94
Pleistoceno: período geológico entre 2.000.000 e 10.000 anos atrás (PROUS, 2006, p. 137).
95
PESSIS e GUIDON, p. 19. In: LUX VIDAL, 1992.
28
de parede mostrava duas linhas paralelas de cor vermelha [...]”96, mas, é a partir de 12.000
anos BP, “quando aparecem os primeiros painéis que podem ser lidos, a arte é muito
difundida e seu grau de desenvolvimento consolida a hipótese segundo a qual a arte tem raízes
muito profundas e antigas na região”. Niéde Guidon (1989) e sua equipe defendem que esta
região teria sido “um importante centro de desenvolvimento de sociedades pré-históricas”97, a
partir de condições geoambientais ali existentes.
Para aquela região, inicialmente, propuseram uma classificação da arte rupestre,
dividindo-a em seis tradições, três de pinturas e três de gravuras 98, e esclarecem que “as
tradições são definidas pelas classes de grafismos representados e pela proporção relativa que
as classes guardam entre si”. Pode-se ainda dentro destas, fazerem-se divisões originando sub-
tradições “segundo critérios ligados à diferença de representação gráfica de um mesmo tema e
a distribuição geográfica. A unidade de base, o estilo, é definida pela técnica de manufatura e
pela apresentação gráfica.”99
Assim, pela descrição dessa classificação tem-se que a Tradição Nordeste, dominante
na região central da zona de pesquisa, com evidências de sua presença dentro do período que
vai de 12.000 a 7.000-6.000 anos BP, e segundo a definição de Anne-Marie Pessis, pode ser
identificada “pela presença de grafismos reconhecíveis, de grafismos puros os quais não
podem ser identificados. Estas figuras são, muitas vezes, dispostas de modo a representar
ações, cujo tema é, às vezes, reconhecível.”100
Esta representação é figurativa, continua a autora, mas não realista, onde apesar de
estarem sob um código gráfico, em sua maioria são reconhecíveis101. Gabriela Martin
conseguiu resultados de datação de 9.000 anos BP para outros estados do Nordeste, chegando
a localizar estas manifestações a 50 km do litoral, no Rio Grande do Norte102. Porém, esta
tradição já foi descrita nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, com possível
centro irradiador na área de São Raimundo Nonato.
96
GUIDON,1989, p. 7.
97
Ibidem, p. 6.
98
GUIDON, 1984 apud GUIDON, 1989, p. 6.
99
PESSIS, 1987 apud GUIDON 1989, p. 6.
100
Ibdem, p. 7.
101
Idem.
102
MARTIN, 1988, apud GUIDON, 1989 p.7.
29
É possível que este julgamento estético seja feito em relação a outros desenhos e
pinturas indígenas. Mas, não se pode deixar de observar que é feito a partir da visão de uma
pesquisadora e arqueóloga não indígena, portanto, tais atribuições de valor estético podem
não encontrar ressonância nos valores culturais dos grupos produtores de tais expressões.
103
PESSIS, 1989, p. 11-17, Prancha 03.
104
GUIDON, 1989, p. 8.
30
105
O vídeo documentário O Povo brasileiro, foi idealizado e dirigido por Isa Grinspum Ferraz e realizado por
Cinematografia Superfilmes, Brasil, 2000.
106
PESSIS, 1989, p. 11-17, Prancha 13.
31
André Prous (2007) apresenta, também, outras tradições que ocorrem no Brasil central
e Nordeste, as quais tratam de pinturas.
Assim, identifica a Tradição Planalto, que ocorre do norte do Paraná até Tocantins,
predominando as figuras de animais como cervos, onças, tatu, aves e peixes. Em alguns casos
aparecem figuras pequenas e esquematizadas, com armas em atitude de caça. Podem vir
acompanhadas de figuras geométricas em forma de grade linear, de pente, ou agrupamentos
de pontos. Há dois estilos diferentes de representação dos animais, os feitos a partir de
contornos preenchidos com traços paralelos e os com corpo chapado, em monocromia108.
Fig. 7: “Pinturas rupestres da Tradição Planalto. Jaracussu, Minas Gerais. Foto: Acervo do setor de
Arqueologia da UFMG.”109
107
Ibdem, Prancha 15.
108
Ibidem, p. 28-29.
109
PROUS, 2007, p. 29.
32
Fig. 8: “Peixes e outros animais, assim como a cor vermelha, são típicos da Tradição Planalto. Essa
pintura encontra-se no abrigo de Santana do Riacho (MG).”110
Fig. 9: “Os répteis são figuras freqüentes na Tradição São Francisco. Figuras com decoração interna
simétrica demonstram forte sentido de efeito dos pintores. Lapa do Boquete, Januária (MG).”112
André Prous cita, ainda, outras manifestações como a “Astronômicas” ou
“Cosmológica” – descritos por Maria Beltrão, e o Complexo Montalvânia113. A primeira
remete a astros e estão associados a “linhas em ziguezague, ‘grades’, pontos, representações
de lagartos e, por vezes [,] também pássaros voando.”114 Já a segunda, apresenta gravuras e
pinturas em “conjuntos espetaculares”115, com temas que lembram as Tradições Nordeste e
São Francisco, com figuras que representam armas- propulsores e dardos e antropomorfos
agitados, mas tecnicamente executados com diferença daquelas.
Além de armas, há uma predominância de:
110
GASPAR, 2005, il. 3.
111
PROUS, 2007, p. 29.
112
GASPAR, 2005, il. 6.
113
PROUS, 2007, p. 31.
114
Idem.
115
Idem.
33
Fig. 10: “Grafismos astronômicos. Serra do Cipó de Montalvânia, Minas Gerais. Foto: Loredana
Ribeiro.”116
Fig. 11: “Gravuras da Lapa de Posseidon. Complexo Moltalvânia, Minas Gerais. Acervo Missão
Arqueológica Franco-Brasileira. Foto: Sidney Picasso.”117
116
Idem.
117
PORUS, 2007, p. 32.
118
GUIDON, 1989, p. 9.
34
A terceira, Gongo, não está bem definida e necessita de maiores estudos, uma vez que
apenas um sítio apresenta figuras em forma de grafismos puros, zoomorfos e antropomorfos
esquematizados. O que ainda não foi confirmado se é uma tradição de gravuras ou um caso
isolado.122
119
PESSIS, 1989, p. 11-17, Prancha 16.
120
Idem.
121
PESSIS, 1989, p. 11-17, Prancha 17.
122
Idem.
35
Fig. 15: “Incisões e Cúpulas, provavelmente menos de 2.000 anos. Tradição Meridional. Pedra Grande,
Rio grande do Sul. Foto: J. Brochado.”126
123
Ibdem, Prancha 18.
124
PROUS, 2007, p. 24.
125
PROUS, 2007, p. 24.
126
Ibdem, p. 25.
36
Fig. 16: “Essas gravuras parecem representar pisadas de aves e mamíferos. Exemplo da Tradição
Meridional. Canhemborá, Nova Palma (RS).”127 Observar pintura em preto no interior dos sulcos (grifo meu).
Fig. 17: “Tradição Litorânea Catarinense, com os desenhos e a forma humana geométrica
característicos. Ilha do Campeche (SC).”128
127
GASPAR, 2005, il. 1.
37
Fig. 18: “Grafismos enterrados, incisões e picoteamento datadas entre 9.000 e 7.000 anos. Lapa do
Boquete, Vale do Peruaçu, Minas Gerais. Foto: André Prous.”130
Para as tradições de gravuras do Norte do País, apresenta neste exemplo a Tradição
Amazônica.
Fig. 19: “Antropomorfo da Tradição Amazônica. A riqueza de detalhes chama a atenção: traços do
rosto, cabelos e até outra figura humana na região da barriga, sugerindo gravidez. Serra da Careta, Prainha
(PA).”131
128
GASPAR, 2005, il. 2.
129
PROUS, 2007, p. 26.
130
Idem.
38
Ainda, se pode citar que Madu Gaspar ao apresentar as classificações propostas por
André Prous (1992), diz que este considera uma divisão para a Tradição Geométrica em
Meridional e Setentrional, pois, elas estão manifestadas “atravessando o planalto de Sul até o
Nordeste.”132 Nesta última Região um exemplo desta Tradição está no Sítio Arqueológico
Itacoatiaras do Rio Ingá, com suas gravuras.
Fig. 20: A Pedra Lavrada, de Ingá (PB): Tradição Geométrica (Setentrional). 133
A respeito destas gravuras André Prous (2007) faz uma associação a uma planta
agrícola em particular, para uma das formas ali representadas com a seguinte leitura da figura
21: nas “Gravuras da Pedra de Ingá (detalhe). No alto, à esquerda, possível representação de
uma espiga de milho”134.
Fig. 21: Detalhe do painel vertical em que André Prous associa uma forma à espiga de milho (marcada
com retângulo branco). Ingá, Paraíba. Foto: Loredana Ribeiro.” 135
131
GASPAR, 2005, il. 8.
132
Ibdem, p. 47-48.
133
Ibdem, p. 48.
134
PROUS, 2007, p. 38.
135
Idem.
136
GASPAR, 2005, il. 7.
39
Fig. 22: “Itaquatiaras de Cachoeira do Letreiro, em Carnaúba dos Dantas (RN): exemplo da Tradição
Geométrica.”137
137
Idem.
138
PROUS, 2007, p. 37.
139
PROUS, 2007, p. 47.
140
Idem.
40
No estudo ora proposto serão levados em conta elementos das duas situações, ou seja,
pretende-se trabalhar com os critérios de unidade de análise dos sítios rupestres, em que se
analisará a técnica, a temática, o suporte, a escolha do lugar e seu posicionamento espacial,
com a particularidade de ter um sítio como objeto de estudo, e as possíveis filiações a
tradições, subtradições, estilos e variedades.
As Itacoatiaras do Rio Ingá são mais uma dessas manifestações rupestres, de imagens
sulcadas na rocha, a céu aberto com a descrição ambiental, feita por Gabriela Martin e outros
arqueólogos, caracterizando-se por apresentar matéria prima lítica, água, vegetação e sol.
Porém, ela observa que “Nenhum sítio pré-histórico com pinturas ou gravuras
rupestres, em todo o Brasil, atraiu tantas pessoas dispostas a opinar e decifrar, como a Pedra
do Ingá, cujo impacto visual impressiona os leigos e desafia a arqueologia.” 141 A arqueóloga
aponta, ainda, a falta de pesquisas completas, neste sítio, que possam inseri-lo na pré-história
brasileira, nesses termos:
E ao referir-se à Tradição Agreste, o que pode servir a outras tradições, sugere que:
Assim como, em relação aos estudos para conhecer a Tradição Itaquatira, Martin
acredita que “Naturalmente quando forem organizados repertórios de grafismos que muitas
vezes são repetitivos e se fizer estudos das técnicas empregadas na elaboração das gravuras,
além de se estudar as tendências na distribuição geográfica, haverá respostas científicas.”142
141
MARTIN, 2008, pág. 298.
142
Ibdem, p. 294.
41
Ela compreende que os “Grafismos que se repetem podem ser considerados como
permanência de ideias, que podem tanto significar situações sociais como modificações
ecológicas.”143
Quanto às classificações, Gabriela Martin, apresenta a possibilidade de que os estudos
realizados, e em realização, por Edith Pereira identifiquem uma “Grande Tradição
Amazônica”144, a qual teria como indicadores a presença de grafismos puros, além de
representação de elementos antropomorfos, zoomorfos de traçado geométrico.145
Ainda, sem fazer maiores descrições, relata a existência de outra tradição de gravuras
rupestres que se estende “desde a fronteira da Bolívia até o norte de Minas Gerais, com
ramificação na Argentina e no Uruguai”146 e propõe que no Nordeste brasileiro há uma única
e “Grande Tradição Itaquatiara”147 abrangendo uma ampla variedade de grafismos
confeccionados por diferentes técnicas e tamanhos, em que predominam grafismos puros,
ainda que apareçam, também, figuras antropomorfas, muitas vezes bem elaboradas e com
detalhes, como a representação de atributos148.
Mas, a localização constantemente próxima a cursos d’água, tem dificultado resultados
que comprovem ou vinculem tais manifestações com algum grupo étnico, em função da falta
de evidências materiais, carregadas pelas águas em épocas de cheias e/ou pelo fato de não
apresentar solos com níveis estratigráficos identificáveis ou profundidade para escavações.
Dificultando, inclusive possibilidades de datação.
No entanto, foram encontrados fragmentos de rochas com gravuras, “relacionadas com
indústrias líticas e fogueiras”149, no vale do São Francisco, com datações de ocupação entre
12.000 e 6.000 anos BP150.
Ao longo do curso do rio Carnaúba e seus afluentes, nas formações rochosas que os
acompanham podem ser encontradas pinturas das Tradições Nordeste e Agreste, assim como,
gravuras rupestres, algumas podem ainda ser reconhecidas em semelhança aos grafismos do
sítio Itacoatiaras do Rio Ingá.
Esta situação, de ampla distribuição de gravuras rupestres especialmente entre o
Município de Campina Grande - PB e a Região do Seridó Oriental - RN, pode num futuro,
143
Ibidem, p. 300.
144
Ibdem, p. 292.
145
Idem.
146
Idem.
147
Idem.
148
Idem.
149
MARTIN, 2008, p. 292.
150
Idem.
42
151
Ibidem, p. 298.
152
Ibidem, p. 293.
153
Ibidem, p. 292.
43
Durante muito tempo, considerou-se que a Filosofia nascera por transformações que
os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, caldéia e babilônica).
[...] A Filosofia teria nascido pelas transformações que os gregos impuseram a esses
conhecimentos. Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas
ciências: a aritmética e a geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas
ciências: a astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais uma
outra ciência: a história; dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram
surgir as teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana. Todos
esses conhecimentos teriam propiciado o aparecimento da Filosofia, isto é, da
cosmologia, de sorte que a Filosofia só teria podido nascer graças as [ao] saber
oriental. (CHAUÍ, 2000, p. 28-29)
Portanto, recorreu-se a conceitos filosóficos para mediarem esta relação proposta entre
a Arqueologia e as Artes visuais.
A necessidade de produzir conhecimento tem levado a humanidade a constantes
evoluções no campo intelectual. Através das proposições de Immanuel Kant (1724-1804)
sobre o conhecimento puro e o conhecimento empírico, pretende-se subsidiar teoricamente a
44
Sem dúvida, que outro motivo poderia despertar e pôr em ação a nossa
capacidade de conhecer senão as coisas que afetam os sentidos e que, de um
lado, por si mesmas dão origem a representações e, de outro lado,
movimentam nossa faculdade intelectual e levam-na a compará-las, ligá-las
ou separá-las, transformando então a matéria bruta das impressões sensíveis
num conhecimento que se denomina experiência? Dessa forma, na ordem do
tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência e é com esta
que todo conhecimento principia. (KANT, 2002, p. 44)
[...] a experiência não concede nunca aos seus juízos uma universalidade
verdadeira e rigorosa, mas apenas uma universalidade suposta e comparativa
– por indução-, de tal sorte que, mais adequadamente, se deveria dizer: tanto
quanto até agora foi dado verificar, não se encontram exceções a esta ou
àquela regra. Sendo assim, se um juízo é pensado com rigorosa
universalidade, ou seja, de tal modo que, nenhuma exceção seja admitida,
154
KANT, 2002, p. 67.
155
Ibidem, p. 44.
156
Ibidem, p. 44 e 46.
157
Idem.
158
Ibidem, p. 45.
159
Idem.
160
Idem.
45
não é derivada da experiência, mas é totalmente válido a priori. Por isso que
a universalidade empírica é uma extensão arbitrária da validade, em que se
transfere para a totalidade dos casos a validade da maioria, como no
exemplo: todos os corpos são pesados. (KANT, 2002, p. 45-46)
Uma vez esclarecido o que se quer dizer com conhecimento puro e empírico, através
das ideias de Kant, nos dirigimos à compreensão dos conceitos de espaço e tempo, segundo
esse mesmo autor.
Para Kant, em sua “exposição metafísica”161 do espaço, na “primeira seção do
espaço”162, quando aborda a “Estética transcendental”163 diz que a “[...] capacidade de receber
representações – receptividade – graças à maneira como somos afetados pelos objetos,
denomina-se sensibilidade.”164. Continua, dizendo que através dela, a sensibilidade, “nos são
dados os objetos [...] e só ela nos fornece intuições”165 e, por sua vez, é por meio do
“entendimento que ‘pensa’ esses objetos”166 que surgem os conceitos.
Para que seja melhor compreendido faz o esclarecimento dos seguintes conceitos:
Essa intuição estando “em nós a priori”, é “intuição pura e não empírica”167, pois, um
objeto produz um efeito sobre a capacidade representativa, na medida em que por ele somos
afetados, que é a sensação. A intuição que se relaciona com o objeto, por meio de sensação,
chama-se empírica. O objeto indeterminado de uma intuição empírica denomina-se fenômeno.
161
KANT, 2002, p. 65.
162
Ibidem, p. 67.
163
Ibidem, p. 65.
164
Idem.
165
Idem.
166
Idem.
167
Ibidem, p. 69.
46
A respeito do tempo, Kant diz que “é, então, simplesmente uma condição objetiva da
nossa (humana) intuição – porque é sempre sensível, isto é, na medida em que somos afetados
pelos objetos – e não é nada em si, fora do sujeito.”172. Visto, “como nossa intuição é sempre
sensível, na experiência jamais nos pode ser dado um objeto que não se encontre submetido à
condição do tempo.”173
Temos, assim, uma orientação conceitual para que possamos usar com maior
propriedade os termos espaço e tempo, os quais estão intrinsecamente ligados ao objeto de
estudo e a produção de conhecimento sobre este bem do patrimônio cultural - o qual se
encontra num espaço mais amplo, onde se registram muitas ocorrências de sítios dessa
natureza. Sabe-se, por exemplo, através das primeiras referências às manifestações de
168
KANT, 2002, p. 46.
169
Ibidem, p. 47.
170
Ibidem, p. 69.
171
Ibidem, p. 70.
172
Ibidem, p. 76.
173
Idem.
47
sinalizações rupestres na Paraíba, feitas nos relatos das expansões europeias para o interior do
atual Estado, comandadas por Feliciano Coelho de Carvalho, quando Capitão-Mor da Paraíba,
em 1598, que “encontrou, junto ao rio chamado Arasogipe [Rio Araçuagipe174] gravuras que ele
considerou e descreveu como ‘uma cruz, caveiras de defunto e desenhos de rosas e molduras.’”175
Particularmente, na região onde está situado o sítio em estudo, há algumas pesquisas
iniciadas sobre as possíveis etnias que ocupavam estes territórios, a partir das quais Leon
Clerot cita que:
Numa conclusão a partir das proposições de ocupações que estudou, L. Clerot diz que
“As itacoatiara do Ingá devem ter sido esculpida pelos cariris [...]”176.
Sobre as sinalizações rupestres nessa região há informações, apenas, muito posteriores
a sua feitura, já do período de colonização e, portanto, pode-se pensar na ocupação cultural
desse território anterior a da europeia.
174
IPHAN, 2009, p. 17.
175
BRANDÔNIO [BRANDÃO, A. Fernandez], 1943 apud MARTIN, 2008, p. 229.
176
CLEROT, 2008, p. 139.
48
Não há, até o presente, nenhuma publicação relacionando algum grupo étnico
remanescente na Paraíba, em particular, com essas manifestações rupestres em Ingá.
A partir das ideias de que povos primitivos acreditavam que através da imagem de
alguma coisa (animal ou não) poderiam atingir ou alcançar o seu ser referente, poderiam
colocar-se em dúvidas sobre o que era só imagem criada (representação do referente) e o que
era o objeto real (o referente propriamente dito). Contudo, estas ideias “podem ajudar-nos a
compreender melhor as pinturas mais antigas que chegaram até nós. São tão antigas quanto
qualquer outro vestígio do engenho humano.”177
Os animais pintados nas paredes de cavernas na Espanha e na França, descobertas no
séc. XIX, feitas provavelmente por caçadores, acostumados a vê-los e por isso conheciam
muito bem suas formas e movimentos178. Como se pode observar nas imagens que se
tornaram clássicas ao se discutir a arte primitiva (figuras 23 e 24), a arte acaba por
influenciar-se pelas relações sociais e ritualísticas de seus grupos, estando àqueles indivíduos
mais habilidosos em realizar as representações que lhes são solicitadas, imbuídos de fazê-las
da forma mais funcional possível, pois, “o artista trabalha para gente da sua própria tribo, que
sabe exatamente o que cada forma ou cada cor pretende significar.”179 E fazem-no com muita
propriedade, pois, conhecem todos os códigos, as questões e contextos que tais necessidades
se inserem. Então, o que importa é a funcionalidade nestes rituais, mais do que a beleza da
obra, como a vemos180.
Fig. 23 e 24: Respectivamente, Bisão, c. 15.000-10.000 a. C.. Detalhe de Pintura em caverna. Altamira,
Espanha; e Cavalo, c. 15.000-10.000 a. C.. Detalhe de Pintura em caverna. Lascaux, França.181
177
GOMBRICH, 1999, p. 39.
178
Ibidem, p. 42.
179
Ibidem, p. 43.
180
Idem.
181
Ibidem, p. 41, il.: 19 e 20.
50
Ao comentar a diferença entre a visão da tradição ocidental, para qual “as artes são
conceitualmente separadas de outras esferas da vida social e cultural, ainda que nem sempre
tanto quanto se pretenda [,]”182 afirma que para os grupos indígenas:
182
VIDAL (Org.), 1992, p. 281.
51
As Artes plásticas aos poucos foram cedendo às atualizações e até forma de chamá-las
mudou. Atualmente se usa mais o termo Artes Visuais. Se, no princípio, a arte tratava de
plasmar as formas, tri ou bidimensionalmente, em seus suportes de materiais palpáveis, em
nosso tempo conta-se com muitos outros recursos com os quais se expressa a arte,
especialmente os meios eletrônicos, que desmaterializam cada vez mais a arte de plasmar
formas. É muito comum ouvirmos falar em exemplos de formas “modeladas” em ambiente
virtual.
Portanto, uma arte que emprega recursos de câmeras fotográficas (analógicas ou digitais),
videográficas, informática (softwere) para desenho e afins ou propostas que utilizem suportes
materiais (físicos) sem ter a plasticidade como elemento fundamental, gera uma ampliação da
abrangência de possibilidades de expressão. Por isso, a arte é considerada Visual e não mais
apenas Plástica.
Anne Cauquelin ao abordar Teorias da Arte, chama de Práticas Teorizadas, o modo de
produção de arte em que está presente uma relação cognoscível, seja por parte do crítico de
arte ou do artista que a produz, explicando que:
Elas nascem ao mesmo tempo em que as obras que sustentam e estão ligadas
ao objeto que as incita a existir que não poderiam ter qualquer pretensão de
autonomia, nem sequer de alguma validade, sem esse suporte. Quase
simultâneos, obras e discursos são produzidos no palco da arte,
conjuntamente. Um carrega o outro, e vice-versa. (CAUQUELIN, 2005, p.
129)
de textos teóricos, relatos, manifestos “[...] através dos quais os artistas se situam, analisam os
elementos de seus trabalhos, expõe suas ideias, defendem suas crenças, posicionam-se no
tabuleiro dos movimentos artísticos, respondem às críticas e emitem opiniões sobre seus
congêneres”183. Não é mais a parte material da obra que apenas interessa e “fala” ao fruidor,
são valorizadas também as ideias que estão associadas e complementam o sentido da matéria
na obra. Através deste procedimento, são apresentadas questões intrínsecas pouco visíveis
que, no completar-se do processo de fruição, podem produzir no fruidor algum tipo reação
sensorial ou cognitiva, possibilitando reflexões sobre o tema proposto ou a ele relacionadas.
Ao mesmo tempo em que a produção de arte tem se atualizado, o ensino da arte,
também. Neste sentido, no presente, não se busca mais ensinar a arte através de técnicas
artísticas, puras e simples ou tão pouco através de fazer artístico no modelo fazer por fazer,
sem agregar elementos cognoscíveis e críticos a essas práticas. Desenvolver as habilidades
técnicas teve sua importância. Sobre essas práticas de ensino houve reflexões e novas
proposições, especialmente a partir dos anos 70, do século passado em que começam uma
série de questionamentos sobre os resultados dessas metodologias no educando de arte e as
discussões florescem juntamente com as pesquisas por processos de ensino da arte que
agregassem ao fazer artístico o elemento crítico, através da apreciação.184
Assim, entre outras formas de se realizar discussões sobre as obras de arte - sejam as
realizadas pelos participantes da prática ou obras de terceiros – é possível elaborar
metodologias através de algumas propostas metodológicas, uma das mais aceitas atualmente é
a proposta triangular de Ana Mae Barbosa.
A Abordagem triangular185 sugere atividades que envolvam práticas em três momentos
na relação sujeito-arte, que permitem conhecer a arte - através do seu contexto e da história da
arte; apreciar a arte - etapa em que se faz a leitura, a análise qualitativa e objetiva de uma obra
e; por último, a etapa do fazer arte, é o momento da prática da criatividade e expressão. Nesse
sentido, fazer significa a produção artística do participante, a exteriorização de seu mundo
183
CAUQUELIN, 2005, p. 130.
184
LEÃO, 2003, p. 5 – 65.
185
BARBOSA & CUNHA, 2010, p.11.
53
O resultado dessas práticas vai se revelar nas relações pessoais em diversas áreas e
seguimentos da vida, através de um espírito questionador, observador, sensível, proativo e que
faz julgamentos a partir de fatos, entre outros aspectos positivos para um bom convívio social.
Desses elementos o que vai nos interessar no momento é o “ler”. Essa prática vem sendo
muito trabalhada e muitos estudiosos do ensino das artes têm produzido subsídio a contento.
Em nosso trabalho seguiremos as ideias de Ana Mae Barbosa, a qual se pauta em estudos
de Edmund Feldman e Robert Saunders que apresentam propostas de como aplicar técnicas de
ler obras de arte.187
Ao remeter a origem da Abordagem Triangular as práticas desenvolvidas com
professores da rede pública, no XIV Festival de Inverno de Campos de Jordão, em 1983, Ana
Mae Barbosa, enfatiza a leitura como exercício da crítica, no sentido que lhe dava Paulo
Freire, o que marcou essas práticas nesse Festival, pois, à leitura era dado o sentido de “leitura
da palavra e do mundo” 188. Como já vinha desde os anos 70, do século passado, um desejo de
mudança no projeto educacional, o evento foi o marco para essa “execução de um projeto
educacional fundado na ‘leitura’ crítica [...] e acabou por desencadear pesquisas que
fundamentaram a importância do ato de ‘ver’ e da ‘leitura’ crítica para a integração do Ensino
da arte”, o que se realizou mais tarde através da Abordagem Triangular189.
186
BARBOSA, 1991 apud LEÃO, 2003, p. 5 – 65.
187
LEÃO, 2003, p. 5 – 65.
188
BREDARIOLLI, p. 28. In: BARBOSA & CUNHA, 2010.
189
Ibdem, p. 29. In: BARBOSA & CUNHA, 2010.
54
Ana Mae Barbosa diz, ainda, que a leitura de imagem proporciona uma capacidade de
construção estética associada a uma percepção do meio e consequentemente uma
“decodificação da cultura e do meio ambiente.”190
Esta leitura de imagem pode ser feita através de respostas às perguntas que procurem
saber que sentimentos e sensações são causados ao se entrar num relacionamento visual com a
obra. Estes questionamentos estão relacionados ao mundo sensível e subjetivo de cada um. O
que se considera uma leitura visual subjetiva.
A leitura de imagem pode ser realizada, também, através de perguntas que busquem
respostas de forma objetiva, como, por exemplo: o que é visto? Do que é visto, o que pode ser
reconhecido nas imagens que são observadas? Entre outras. As respostas a essas perguntas
buscam identificar situações, objetos, fenômenos, tipos, espécies, fatos, técnicas ou coisas
conhecidas universalmente. Não se quer dizer que sentimentos e sensações não possam ser
universais, mas que dado objeto pode causar certas sensações ou sentimentos diferentes em
distintas pessoas. Por outro lado, esse mesmo objeto pode ser reconhecido e identificado por
diferentes pessoas por características que são comuns aos obervadores.
A respeito dessa universalidade o que Marilena Chauí apresenta ao explicar o que uma
lei é universal quando “[...] válida para todos os corpos em todos os tempos e lugares.”191
Adaptando-se essa ideia, pretende-se entender como universalmente conhecidos os elementos
e objetos, validamente reconhecíveis em todos os tempos e lugares. Pois, complementa a
Autora dizendo que:
Para o presente trabalho propõem-se perguntas que gerem respostas de cunho objetivo e
não subjetivo.
Assim, ao exercitar a leitura de imagem na figura 25, foram elaboradas as seguintes
questões e respostas:
190
BARBOSA, 1998.
191
CHAUÍ, 2000, p. 22.
55
Fig. 25: Vista geral do painel vertical e parcial dos painéis inferior e superior (detalhe).
O que vejo?
Um bloco rochoso, em que há um conjunto de figuras, com formas complexas, dispostas de
maneira aparentemente organizada;
Do que vejo, o que reconheço? Isto é, existem formas reconhecíveis mesmo estando em
outro contexto?
É possível reconhecer formas de seres vivos, como animais, vegetais e humanos, como
também identificar objetos fabricados pelo homem – artefatos, elementos da natureza, como o
sol, figuras geométricas como pontos e círculos, especialmente.
Como são apresentadas as formas? São duras (com ângulos retos e agudos) ou orgânicas
(arredondadas)?
As formas são apresentadas demonstrando planejamento e um uso harmonioso do espaço,
pois, percebe-se inclusive um possível “discurso” visual, com diferentes temas e transições de
um para outro, aparentando um discurso poético; uma predominância de concentração
elementos no painel vertical em detrimento a outros (inferior e superior), com menos
elementos; algumas formas podem ser identificadas. São no geral, formas orgânicas,
arredondadas sugerindo vida e vitalidade.
É possível identificar a técnica que foi empregada?
Sim, a técnica empregada foi a gravura na rocha, com sulcos feitos através de picoteamento e
polimento, também é possível identificar o resquício de pintura (em vermelho e branco) no
interior de alguns dos sulcos gravados.
Qual o suporte desta obra? Por que esse suporte e não outro?
O suporte é a rocha. Autores da Antropologia apresentam estudos em que grupos indígenas
acreditam que nas pedras moram entidades espirituais, as quais prepararam e proporcionam,
até hoje, as condições de habitação da Terra por humanos. Assim, entende-se que esta
manifestação está relacionada, em alguma medida, com as referidas crenças.
56
questões, entre tantas, que poderiam ser levantadas para exemplificar o caminho da
interpretação e da exteriorização da subjetividade.
Como nos é apresentado por Ana Mae Barbosa e Lilian Amaral, em
Interterritorialidade: mídias, contexto e educação, de certa forma, somos orientados a nos
abrirmos às relações interdisciplinares, pois:
Diálogos cada vez mais intensos [que] vêm configurando uma nova
cartografia cognitiva caracterizada por colaborações entre diferentes
territórios e domínios, colocando em evidência as possibilidades de
compartilhamento de estratégias pautadas pela complementaridade, inter-
relacionamento e reciprocidade entre disciplinas: a história da arte, a
estética, a teoria cinematográfica, os estudos culturais, a teoria dos meios, a
arte-educação, a cultura visual, os estudos de gênero, entre outros.
(BARBOSA & AMRAL – Org., 2008, p. 20)
Confiante nessa interação é que se buscou realizar uma leitura de imagem nas
sinalizações rupestres do sítio em estudo. Portanto, não será realizada uma interpretação,
propriamente dita. Não haverá a especulação do tipo essa imagem me parece um objeto de
minhas lembranças... Mas, toda e qualquer associação será mediante uma identificação
objetiva de elementos conhecidos e reconhecíveis, seja através de vivências ou de
conhecimentos teóricos. Empregando-se o acervo de informações visuais mais universais e
quando se particularizar, recorre-se às bibliografias e afins.
Assim, por exemplo, ao se associar um machado de pedra polida a uma imagem gravada
no bloco principal, isso é decorrente da experiência de ter visto e identificado artefatos
concretos dessa natureza. Esta inferência na leitura, só passa a ser defendida a partir de
constatar que autores especializados tenham feito descrição similar. As formas que não forem
reconhecidas, independente do motivo, não terão atribuição de relação. Para tanto, é utilizada
a referência ao processo comunicativo proposto por Roman Jakobson (1896- 1982), em
que são identificados os elementos da comunicação da linguagem verbal, os quais podem ser
também, empregados em outras linguagens de uma cultura, como as visuais.
Terezinha Maria Losada Moreira apresenta esses elementos, a partir de Jakobson, dessa
forma:
MENSAGEM
Emissor--------canal--------receptor
Código
-------------------
Referencial
(contexto/cultura)
(MOREIRA, 2010, p. 88)
Fig. 26 e 27: Respectivamente, Estudos anatômicos (laringe e perna), 1510, Leonardo da Vinci. Pena,
tinta marrom e aguada sobre giz preto em papel, 26 x 19,6 cm; Biblioteca Real, Castelo de Windsor; e Estudo
para a Sibila Líbia no teto da Capela Sistina, c. 1510, Miguel Ângelo. Giz vermelho em papel camurça, 28,9 x
21,4 cm; Metropolitan Museum of Art, Nova York.195
Numa perspectiva de uso do desenho com um viés técnico e que depois veio a ser
elemento importante de instrumentos de preservação, Mario Mendonça de Oliveira (2008)
lembra que:
194
GOMBRICH, 1999, p. 295 e 311.
195
Ibdem, il.: 190 e 199.
60
196
GOMBRICH, 1999, p. 343, 344 e 345.
197
LUIS, 2007, p.40.
61
Continua Mario Mendonça de Oliveira, dizendo que não pretende “neste texto, fazer
uma análise exaustiva do que os antigos fizeram em relação à documentação cadastral dos
seus edifícios.” 199
Mas, em relação aos instrumentos de preservação afirma que:
198
Ibdem, p. 25.
199
OLIVEIRA, 2008, p. 14.
200
MARTIN, 2008, p. 298.
62
O que se pode dizer do papel do desenho diante das novas tecnologias no processo de
preservação de bens arqueológicos. Como as diferentes técnicas e processos (incluindo o
desenho) podem se complementar?
Para que esses estudos venham a produzir resultados a contento, faz-se necessário a
disponibilização de uma base documental confiável através do registro visual, por meio da
fotografia digital, videografia e, especialmente, do desenho técnico e de observação.
O desenho arqueológico esclarece graficamente dados do objeto, em detrimento de
outros tipos de registros. Assim, o desenho arqueológico é, com efeito, síntese diagramática
uma vez que torna certas características visíveis ou mais visíveis do que o referente
aparentemente mostra.
Nas palavras de Maria S. Vaz, “O desenho arqueológico é um processo de análise
selectiva, portanto, de certo modo, contrário a um registro mimético ou à cópia por imitação
óptica.”202
201
Idem.
202
VAZ apud LIMA, 2007, p. 74.
63
Por esse motivo Luís Carlos Fortunato Lima defende o ato de desenhar e a importância
do produto que gera, com essas afirmações:
No mínimo uma projeção plana de uma das faces, a mais interessante. Mas,
podem aparecer ao lado projeções da outra, ou de um dos lados da mesma
peça, permitindo que ela seja observada sob vários ângulos, como se fosse
girada em torno de um eixo. Além dessas projeções, pode haver a
representação de um ou de vários cortes transversais e longitudinais, que
evidenciam as variações de espessura da peça e seu perfil. (PROUS, 1992, p.
100).
203
Ibidem p. 61.
204
Idem
205
PROUS, 1992, p. 100.
206
Idem.
64
Cabe lembrar que outras áreas do conhecimento também fazem uso do desenho como
instrumento na produção de conhecimento, entre outras podem ser citadas a arquitetura,
algumas engenharias, a ornitologia e, notavelmente, a botânica, pois mais que as outras, usa o
desenho à mão livre a partir das observações de seus elaboradores. A exemplo da botânica
inglesa Margaret Mee (1909-1988), muitos desenhistas se especializaram em desenhos
botânicos conciliando a educação do olhar e a observação com fim cognitivo para a
identificação de vegetais, no todo e em partes, valorizando as capacidades do sujeito em
representar fidedignamente seu objeto de estudo, de forma que possa ser estudado por outros.
Contrariamente ao que comumente se pensa sobre desenhar ser um “dom” disponível
para poucos, desenhar é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Assim como se aprende a
escrever, qualquer pessoa que se dedique a prática de desenhar poderá ter bons resultados.
Atualmente, existe um estilo de arte conhecido como hiper-realismo, em que as obras
chegam a ter um grau tão elevado de semelhança com seu motivo, que à primeira vista, pode
se duvidar ser produto manual. Tanto em cores quanto em preto e branco, obtêm-se imagens
que se confunde com resultados fotográficos.
Ao realizar uma comparação entre os estilos iniciais de desenho, bem mais subjetivos,
e o estilo contemporâneo, percebe-se o quanto é verdadeira a afirmação que essa capacidade
pode ser desenvolvida com habilidades. Trata-se, portanto de valorizar as potencialidades
humanas e não nos deixar acomodar com os resultados de meios mecânicos e eletrônicos.
Um bom exemplo que se observa com a ampliação do acesso à informática é o caso de
acreditar-se que através do uso de softwares para desenho, qualquer pessoa à qual não tenha
habilidades no desenho, poderá ter ótimos resultados. Nem sempre é fato, pois se por trás da
“máquina” faltar quem a opere com destreza, serão alcançados poucos resultados satisfatórios.
A máquina não desenha por si. É apenas o meio, o instrumento, a ferramenta sofisticada,
depois das tecnologias do carvão, do lápis, da caneta técnica, etc.
O desenho é uma resposta motora ao que foi inicialmente observado, internalizado,
processado mentalmente e externado através do comando consciente sobre membros
superiores e especialmente sobre a motricidade fina. É um procedimento que envolve aquelas
características que mais nos diferenciam de outros animais: o tele encéfalo altamente
desenvolvido e o polegar opositor. O que se consegue através do exercício, o produto dessa
prática, torna-se uma fonte de linguagem visual. Por isso, acredita-se que o desenho tem um
papel fundamental na produção do conhecimento e deve-se manter seu espaço ao lado de
outras formas de registro visual, inclusive num sentido de complementação, como pode ser
65
visto no tópico 4.3 Registro visual das gravuras rupestres, do Capítulo 4 – O Sítio
Itacoatiaras do Rio Ingá: proposta de trabalho e resultados obtidos.
Acredita-se, também, que a relação entre conhecimentos ligados à Arqueologia, às
Artes Visuais e à História da Arte, possa gerar respostas adequadas às necessidades de
produzir registros visuais coerentes para documentações que contribuam com as discussões
sobre as manifestações rupestres presentes no Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá e,
sobretudo, com a sua preservação.
207
Arqueologia Brasileira (1992, p. 517) e Artes Pré-históricas do Brasil (2007, p. 38), ambas de André Prous;
Pré-história do Nordeste do Brasil (2008. p. 295 e 430), de Gabriela Martin; A arte rupestre no Brasil (2006, p.
48), de Madu Gaspar; Arqueologia na Borborema (2008, p. 102), de Vanderley de Brito; 30 Anos na Paraíba:
Memórias Corográficas e outras memórias (2008, p. 129 e 130), de Leon F. R. Clerot e Patrimônio
arqueológico - Paraíba- (2010, p. 09, 13, 22, 23, 26, 61 e 62) da Superintendência do Iphan na Paraíba.
66
208
A esse respeito ver metodologia de leitura de imagens, de FELDMAN, E. In: BARBOSA, Ana Mae. A
imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
209
MARTIN, 2008, p. 430, fot.: 30.
67
210
Fig. 29: Imagem apresentada por Gabriela Martin , “gravuras da Tradição Itaquatiara, Pedra do Ingá, Ingá do
Bacamarte, PB.”
Na imagem desenhada em 1964 pode-se observar que apenas parte do painel vertical
foi apresentada, omitindo outras partes igualmente importantes deste painel e a totalidade dos
painéis superior e inferior.
Fig. 30: Desenho211 segundo Bezerra & Falcão, 1964. Citado por PROUS, 1992 e GASPAR, 2006.
Este desenho propõe uma das leituras visuais mais completas dos três painéis, dentre
os apresentados. Mesmo assim, omite alguns elementos (alguns exemplos de lacunas estão
210
MARTIN, 2008, p. 295, fig./il. 97.
211
Imagem obtida na obra de GASPAR, 2006, p. 48.
68
Fig. 31: Registro gráfico apresentado por Vanderley de Brito213 e realizada por Thomas Bruno Oliveira
Nesta outra prancha realizada por Thomas Bruno Oliveira é apresentada uma visada
geral e superior do sítio com a localização de diversas gravuras “marginais”214 , em linguagem
visual empregando o preenchimento da figura (chapada), solucionando a relação figura-fundo.
212
Notas de aula da Disciplina de Desenho de Observação, Curso Desenho e Plástica, Dep. de Artes Visuais,
Centro de Artes e Letras, Universidade Federal de Santa Maria -UFSM, RS, 1996.
213
BRITO, 2007, p. 17.
214
Thomas Bruno denominou as gravuras distantes do bloco principal como “gravuras marginais”. OLIVEIRA
(Org.), 2011, p. 127.
69
Uma observação que pode ser feita às imagens publicadas, exceto a penúltima (Fig.
31), é a falta de escala métrica, para referência das dimensões, assim como, para estabelecer
proporções entre as figuras.
215
OLIVEIRA (Org.), 2011, p. 127.
216
Figuras 33 e 34: fotografias; Figuras 35-38: Imagens estáticas a partir de vídeos e Figuras 39-42: desenhos.
70
Fig. 33: Proposta do autor. Fig. 34: Apresentado por Martin, 2008.
Fig. 35 a 38: Imagens estáticas, a partir de vídeo, à distância e sequencia de movimento descendente,
respectivamente.
71
Fig. 39: Proposta do autor, formas Fig. 40: Apresentado por V. de Brito, 2007.
chapadas preenchidas em preto. Observar as formas vazadas e subjetivas - formas com
pontas agudas que são associadas a “estrelas”.
Fig. 41: Apresentado por G. Martin, 2008. Fig. 42: Citada por A. Prous, 1992 e M. Gaspar,
2006.
72
217
BASTOS & SOUZA (Org.), 2008, p. 3.
73
Por outro lado, como se pode ter ciência através do relato feito por L. Clerot, citado no
item 3.5 Iniciativas e ações de preservação deste trabalho, tal evento aconteceu cerca de oito
anos após o Tombamento do sítio (Anexo E: Certidão), caracterizando-se como um afronta e
desrespeito à legislação da época, pois o Decreto Lei Nº 25, de 30 de novembro de 1937, no
seu Artigo 1º, do Capítulo I, diz que:
218
PROUS, 1992, p. 13.
219
RIBEIRO, Comunicações pessoais, 2012.
74
220
IPHAN, 2010.
221
MARTIN, 2008, p. 293.
75
Portanto, estas recomendações são pertinentes e válidas para qualquer outro sítio
arqueológico em que a conservação e a preservação estejam em risco eminente.
Foi a partir dos primeiros atos de levantamentos e desenhos realizados nos séculos
XVIII, XIX e XX que, possivelmente, se evidenciou a importância das informações contidas
em tal sinalização rupestre. Esses registros foram realizados ora por instituições oficiais, ora
por autodidatas interessados pela relevância das sinalizações rupestres - gravuras e pinturas -
distribuídos pelo Estado da Paraíba.
Tais ações culminaram com o primeiro tombamento de sítio com importância
arqueológica no País, o sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá, pelo Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional - SPHAN222, em 1944, atual Instituto do
222
A respeito das nomenclaturas do Órgão Federal responsável pela gestão do patrimônio cultural pode-se dizer
que: no Brasil o primeiro órgão voltado para a preservação do patrimônio foi a Inspetoria de Monumentos
Nacionais (IPM), uma entidade vinculada ao Museu Histórico Nacional. Instituída pelo Decreto n° 24.735, de
1934; em 1937, o Decreto-lei de n° 25 organizou a "proteção do patrimônio histórico e artístico nacional" e foi
criado o SPHAN- Serviço de Proteção do Patrimônio Artístico e Nacional; em 1946, o Sphan passou a se
denominar Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – DIPHAN, em 1970, a Dphan se
76
transformou em Iphan- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; em 1979 O Iphan se dividiu em
Sphan- Secretaria do Patrimônio Histórico e artístico Nacional - órgão normativo - e Fundação Nacional Pró-
memória (FNpM) - órgão executivo; em 1990, aconteceu a extinção do Sphan e da FNpM e foi criado o Instituto
Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC); finalmente em 1994, a Medida Provisória de n° 752, determinou que
o Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, passasse a denominar-se Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional-Iphan.
223
Ver Anexo E, Certidão de Tombamento.
224
Of nº 1.108, do Museu Nacional, em 22 de dezembro de 1943, encaminhado pela Diretora do Museu Nac.
Heloísa A. Torres para o Diretor do SPHAN, Rodrigo Melo F. de Andrade.
77
Como será apresentado a partir do documento elaborado por Rodrigo Melo Franco de
Andrade, no item 3.4 A produção de conhecimento a partir das ações de
patrimonialização neste trabalho, percebe-se que o sítio Arqueológico de Ingá já constava
como único bem patrimonial de natureza arqueológica no Estado, ainda que esta natureza não
estivesse explicitada, como pode-se observar, com a indicação de “Itacoatiara”, ainda que por
um lado, no meio arqueológico, saiba-se que diz respeito à manifestação rupestre, por outro,
mantém uma referência de localização na “Fazenda Pedra Lavrada” e não faz menção à
natureza da obra como bem arqueológico - cabe informar que este campo225 permanece em
branco nas folhas dos Livros de Tombo em que está inscrito. Pois, curiosamente sua
inscrição226 foi realizada apenas nos livros de Tombo Histórico, Nº 2, Volume I e no de Belas
Artes, Nº 3, Volume I e não no Livro de Tombo Arqueológico, paisagístico e etnográfico,
igualmente criado com o Decreto-lei nº 25, de 1937.
A partir de 1997, houve o interesse em corrigir um erro na inscrição nos livros de
tombo. Segundo o Memorando nº 111/06, AHFC/GProt/DEPAM/IPHAN, de 15 de setembro
de 2006, “a pedido da arqueóloga Regina C. Pinheiro da Silva, então lotada na Divisão de
Proteção Legal [/IPHAN], foi solicitada a abertura de um novo volume ao processo, visando
corrigir um erro na inscrição nos livros de tombo.”
O Departamento de Proteção Legal, através do Departamento de Identificação e
Documentação-DID/Iphan e do Arquivo Noronha Santos (Arquivo Central/Iphan),
procedeu227 a abertura do segundo volume do Processo de Tombamento 330-T43, do Sítio
Arqueológico do Rio Ingá, com vistas à Reratificação de Tombamento, para inscrevê-lo no
Livro de Tombo Arqueológico, paisagístico e etnográfico - com agilidade pertinente para as
demandas do Iphan e condições da época. No entanto, em 2012, este procedimento ainda não
225
Nas folhas dos Livros de Tombo existem 09 (nove) campos que devem ser preenchidos na ocasião da
inscrição de um bem patrimonial, são eles: Nº (número); Obra; Natureza da obra; Situação (localização);
Proprietário; Processo (número e data); Caráter do Tombamento (se voluntário ou compulsório); Data da
inscrição e Observações.
226
A esse respeito sabe-se que atualmente (2012) o CNA/IPHAN esta encaminhando a Reratificação,
pretendendo inscrever no Livro de Tombo Arqueológico, etnográfico e Paisagístico, porém, até a presente data
não foram obtidas informações sobre esse processo.
227
Este procedimento esta documentado nos Memorandos: do Departamento de Proteção- DEPROT/RJ nº 50/97,
de 28 de janeiro de 1997; do Departamento de Identificação- DID/DF, nº 106/97, de 14 de fevereiro de 1997,
Brasília; do Arquivo Noronha Santos, nº 38/97/ARQUIVO/DID/IPHAN/RJ, em 09 de abril de 1997;
78
228
ANDRADE, 1952, p. 107.
229
Idem.
230
Ibidem, p. 108.
79
Para enumerar os bens culturais inscritos nos livros de Tombo, até 1952, Andrade faz
uma relação por Estado. Apresenta, por município, os seguintes bens no Estado da Paraíba:
Ingá
Itacoatiaras: Fazenda Pedra Lavrada.
João Pessoa
Casa
1. Rua Peregrino de Carvalho, nº 117.
2. Casa da Pólvora (ruínas).
Chafariz
Fonte do Tambiá.
Forte
1. Forte Velho.
2. Santa Catarina (em Cabedelo).
Igreja
1. Carmo (O. 3ª).
2. Engenho da Graça
3. Misericórdia.
4. Navegantes (ruínas).
5. São Francisco (O. 3ª).
6. Tambaú (ruínas).
Pilar
Casa: Cadeia.
Santa Rita
Igreja
1. Batalhas.
2. Guia.
3. Socorro.
(ANDRADE, 1952, p. 120-121)
Especificamente sobre o sítio arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá, pode-se dizer que
ainda carece de produção científica. Com exceção do trabalho do Professor Carlos Alberto
Azevedo, que faz algumas reflexões e proposições sobre as ocupações territoriais; os
trabalhos de Vanderley de Brito, que produzem registros gráficos e levantam algumas
questões étnicas, os outros trabalhos publicados permanecem num discurso em que se
acentuam questões pessoais ou institucionais em detrimento às questões profissionais da área,
não contribuindo, assim, significativamente com as discussões construtivas a respeito do
assunto.
Para Gabriela Martin, as causas de poucas produções científicas sobre o sítio podem
ser relacionadas aos seguintes acontecimentos:
Mesmo antes de sua divulgação231, o sítio já vinha sendo alvo de muitas tentativas
leigas de explicação para tais inscrições rupestres e poucos estudos científicos que
fornecessem informações coerentes e relevantes ao conhecimento arqueológico, histórico e
até antropológico da ocupação daquela área, em períodos passados. Conhecimentos
necessários e ainda não elaborados a contento, pois, em tal sítio não houve pesquisas e
estudos que trouxessem respostas e resultados a partir dos potenciais que dispõe. Como
aponta Conceição Lages232 em seu relatório para a Superintendência do Iphan na Paraíba, ao
mencionar as recomendações feitas “há 17 anos pelo pesquisador espanhol catedrático de pré-
história da Universidade da Cantanábria Manuel Gonzalez Morales”233, assim como as
preconizadas pela:
Baraldi, com a obra Os hititas americanos, afirma a descoberta da escrita Hitita nas gravuras
de Ingá e Pablo Vilarrubia, em Mistérios do Brasil, relaciona as gravuras rupestres de Ingá a
produto de atividades de alienígenas.
Contudo, podem ser citados alguns projetos, concluídos ou em andamento, como o
Projeto235 Arqueologia Interativa – Sítio Itacoatiaras do Ingá, no Município de Ingá/PB,
do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade Federal da
Paraíba-NDIHR/UFPB/Minc, 2010. Trata-se de uma proposta para apresentar o sítio em
tecnologia de Realidade Virtual (RV), a ser disponibilizado pelo Ministério da Cultura para
atividades educativas, particularmente de caráter lúdico como jogos interativos via Rede
Mundial de Computadores (Internet).
Cabe esclarecer que esse trabalho tem como proposta a divulgação e valorização
patrimonial do sítio, por ser um dos mais importantes da Paraíba. Os “visitantes” poderão
observar remotamente o sítio, em ambiente virtual e obter, por meio de interação digital,
informações não disponibilizadas em visitas ao local.
Se no campo administrativo os resultados vêm demorando a surtir, no campo
científico a maioria dos pesquisadores ao se referirem às sinalizações rupestres de Ingá,
apresentam textos breves e utilizam imagens que servem mais para ilustrar sua existência, não
contemplando a totalidade e fidedignidade das formas e figuras, necessitando, assim, de
contribuições que complementem e ampliem os detalhamentos e a precisão para uma
apresentação objetiva das manifestações de pinturas e gravuras rupestres.
Assim, podem-se buscar as possíveis relações entre a produção de conhecimento sobre
o sítio (ou a falta dessa) com as atuais condições de preservação e conservação do bem
arqueológico.
Por ser um sítio arqueológico a céu aberto, com atrativos naturais, tem sido alvo das
intempéries e das ações antrópicas. Pelas ações da natureza pode-se perceber ano a ano a
degradação do suporte rochoso da expressão rupestre, tanto pelas elevadas temperaturas e
235
Iphan, Controle de Processos e Documentos-CPROD, Processo nº 01408.001186/2010-84, de 13/07/2010, de
autoria do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade Federal da Paraíba –
NDIHR/UFPB. Superintendência do Iphan na Paraíba-PB.
82
insolação, quanto pelas inundações da estação chuvosa, que ao arrastar grandes pedras e
troncos de árvores, entre outros, fazem com que haja o choque destes materiais com o bloco
rochoso onde há as gravuras rupestres ocasionando, além da abrasão e arranhões, até mesmo a
quebra e o desplacamento (?) de parte do suporte rochoso236.
Já as ações antrópicas são caracterizadas por intervenções antigas, como a exploração
das rochas para pavimentação urbana, como relatou L. Clerot:
Até bem pouco tempo o conjunto da “Pedra Lavrada” era maior: blocos de
pedra superpostos entremeados de ingazeiras emolduravam o pedregal
formando um conjunto agradável e pitoresco. Em dias de 1953 estivemos no
local, surpreendendo uma turma de operários cavoqueiros, destruindo o
pedregal; os blocos da cercadura nas duas margens do rio estavam sendo
reduzidas a rachões e paralelepípedos para pavimentar a Capital. Esse ato de
destruição e vandalismo havia sido autorizado pelo proprietário das terras
onde se encontrava o pedregal, embora a 50 metros de distância existam
pedras bastantes para pavimentar o décupo da área de pavimentação
prevista. Coube à Sociedade Paraibana de História Natural intervir no caso
protestando junto ao prefeito do Município e ao Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional que, tardiamente embora, mandaram sustar a
obra de destruição. (CLEROT, 2008, p. 132) (grifos meus).
Nos anos 80, do século passado, a Empresa de Turismo da Paraíba, deu início à
construção de um prédio de 15 x 25 m, como descrito no relatório de 1985, produzido por
José Saia Neto. Esta obra, ao que consta no documento emitido pelo Senhor José Saia Neto ao
Diretor Regional da SPHAN/proMemória, Senhor Airton de Almeida Carvalho, aconteceu em
desacordo com o disposto no Art. 18º do DL nº 25 de 30/11/37. Infelizmente o teor de tal
documento (Anexo G) transparece uma preocupação com as relações visuais entre o prédio
construído e as gravuras rupestres, como é notado no relato em que aponta a preocupação com
as “interferências que todas estas edificações vêm causando na ambiência do monumento”, as
medidas administrativas cabíveis não são explicitadas no documento que, também, não faz
referências ao caso de revolvimento de solo e possíveis impactos em vestígios arqueológicos,
ocasionados pelas obras. Chama a atenção a resposta dada pala Empresa Paraibana de
Turismo – PBTUR à Fundação Nacional próMemória, como segue na transcrição de parte do
relatório da vistoria técnica realizada por José Saia Neto, no dia 14 de maio de 1985:
236
IPHAN, 2010.
83
Apesar de já estarem, há pelo menos duas décadas, em vigor a Lei Federal nº 3.924, de
1961 e o Decreto Lei nº 25 de 1937. Este relatório deixa a entender que as medidas
administrativas tomadas, na época, foram para regularizar as obras, que não foram
comunicadas previamente aos Órgãos competentes e nem tiveram o acompanhamento de
arqueólogos para um estudo dos impactos no sítio.
Observa-se, também, que alguns meses depois de tal relato, em 24 de julho de 1985,
foi sancionada a Lei nº 7.347, que disciplina a ação civil pública de responsabilidades por
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de direito e valor artísticos,
estéticos, históricos e paisagísticos (vetado) e dá outras providências.237
Outra ação de proteção que pode ser citada é a convocação para reunião entre diversas
instituições das três Esferas Governamentais, encaminhada pelo IPHAN, via Of. Circular nº
002/95, do Diretor da 4ª Superintendência Regional/5ª Cessão Regional/IPHAN, de
13/08/1995.
Cuja pauta foi:
1- Ingá-Itacoatiara
Projeto piloto visando a proteção e aproveitamento turístico/cultural sustentado dos
Sítios Arqueo-Paleontológicos do Estado.
2- Identificação (Inventário)
Levantamento e Catalogação dos Sítios Arqueo-Paleontológicos da Paraíba.
Sendo convidadas as seguintes Instituições238: UFPB, ETFPB, DNPM, SEC/PB,
IPHAEP, PBTUR, FCJA.
Um dos resultados dessa reunião foi a elaboração e proposição do Projeto
Preservação do Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Ingá, sendo proponente a Secretaria de
Educação e Cultura do Estado da Paraíba, com solicitação de reursos ao Ministério da Cultura
– MinC, encaminhado em 16 de outubro de 1995.
Outro projeto que se pode mencionar é o Parque Arqueológico Itacoatiaras do Ingá
– Ingá/PB239, proposto pelo Governo do Estado da Paraíba, através da Superintendência de
237
(OLIVEIRA, 2008, p. 166-167).
238
UFPB: Universidade Federal da Paraíba; ETFPB: Escola Técnica Federal da Paraíba; DNPM: Diretoria
Nacional do Patrimônio Material; SEC/PB: Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba; IPHAEP:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba; Empresa de Turismo do Estado da Paraíba
PBTUR e FCJA: Fundação Casa José Américo.
239
Iphan, Controle de Processos e Documentos-CPROD, Projeto Parque Arqueológico Itacoatiaras do Ingá,
processo 01408.000026/2005-51, de autoria da SUPLAN-PB, documento do Iphan-PB.
84
240
CORREIO DA PARAÍBA, 2007.
241
Ibidem.
85
Por último, pode-se citar a inclusão no Plano de Ação Anual (PA) da Superintendência
do Iphan na Paraíba de um projeto para preservação e conservação do Sítio, no qual se
contribuiu na elaboração, que prevê intervenções de limpeza, conservação e restauro do bloco
rochoso com gravuras e pesquisas arqueológicas no em torno. Foi aprovada uma verba de R$
250.000,00, destinada para que os trabalhos iniciem em 2013. Desse montante, em torno de
R$ 200.000,00 foram para contratação de empresa de serviços técnicos especializados em
arqueologia para realização de prospecções, sondagens, escavações na área do parque e
conservação do painel principal Itacoatiaras de Inga242. Para a contratação de empresa
especializada em serviços de audiovisuais para a produção de material gráfico e registro
videográfico de Pesquisas Arqueológica no sitio Itacoatiaras do Ingá-PB243, o recurso foi de
R$ 15.000,00 e para a contratação de empresa especializada para impressão gráfica de
material resultante das ações de prospecções, sondagens, escavações e conservação do painel
principal, do Sítio Itacoatiaras do Ingá/PB244, outros R$ 35.000,00. Até dezembro de 2012, já
haviam sido contratadas empresas para realizarem estes serviços. Os resultados dos trabalhos
estão previstos para serem entregues em junho de 2013.
242
Processo nº 01408.000999/2012-19, TOMADA DE PREÇOS Nº 00001/2012-000.
243
Processo nº 01408.001036/2012-32, EDITAL DE PREGÃO ELETRÔNICO Nº 03/2012.
244
Processo nº 01408.001037/2012-87, EDITAL DE PREGÃO ELETRÔNICO Nº05/2012.
86
Para elaboração deste capítulo foram realizadas seis viagens ao sítio, no período de
setembro de 2010 a agosto de 2012, sendo uma de dois dias. Nestas atividades foram
realizadas observações das gravuras, croquis, esboços, desenhos e suas correções, captação de
imagens através de câmera fotográfica digital e de filmagem, levantamentos, medições das
gravuras e seus suportes. Esse conjunto de informações serviu para produzir os registros
visuais que serão apresentados a seguir.
Para que se atingissem os objetivos foram realizadas pesquisas: bibliográfica,
documental e de campo, respectivamente, a fim de adquirir fundamentação teórica para o
projeto, para obter dados e informações no desenvolvimento da investigação e análise, e de
observar o sítio arqueológico, in situ, como objeto para o registro visual. Nos registros visuais
foram utilizadas as seguintes técnicas e ferramentas: desenho técnico; fotografia digital,
empregando-se softwares para tratamento de imagens como: Corel Draw X5 da Microsoft e
Photoshop Elements 6.0 da Adobe; filmagem com Câmera Sony DCR-TRV 22, em fita mini
DV, transferindo-se para mídia digital através dos softwares de edição de imagens Windows
Movie Maker da Microsoft e o Premiere Elements 4.0 da Adobe.
Inicialmente a proposta metodológica para o registro visual, no plano vertical foi
concebida a partir de conceitos da Topografia Altimétrica, empregando-se a técnica do
Nivelamento geométrico, cujos instrumentos são o Nível de luneta fixa, a Mira falante (régua
graduada) e Planilhas, a partir de Andrea Carandini245 com adaptações.
O procedimento pode ser descrito da seguinte forma: 1ª etapa: reconhecimento do
terreno; 2ª etapa: estaqueamento – adaptação: em virtude da delicadeza do sítio será
substituído por posicionamento de tripés para a câmera foto/vídeográfica e para um
Referencial de Nível (RN) e 3ª etapa: o nivelamento propriamente dito. Toma-se um ponto de
RN à direita, com o uso do instrumento nivelador para determinar as posições corretas para
a(s) câmera(s) - em termos de altura e distâncias entre os centros de cada ponto de
posicionamento - para cada imagem registrada do paredão - passa-se a deslocar a câmera para
245
CARANDINI, 1997, pág.: 100-119.
87
a esquerda, a partir do RN. Na frente do paredão, sempre paralela a sua superfície vertical,
dispõe-se de uma linha de orientação para o deslocamento lateral, afastada a medidas
equidistantes e produzida por facho de luz laser fixada ao RN, que possibilite um bom
enquadramento das gravuras para determinadas imagens do registro visual, mantendo a
mesma relação de escala, possibilitando uma edição das imagens obtendo-se imagens
panorâmicas, conforme a Figura 43.
O suporte das gravuras rupestres do sítio em estudo tem sido descrito da forma como
Conceição Lage o fez: “O painel principal do sitio da Pedra de Ingá é constituído por um
paredão granítico de aproximadamente 24 m de comprimento e até 3,5 m de altura.”246
(grifo meu). Complementa a autora, descrevendo que o bloco tem a orientação NE/SO,
estando o painel principal voltado para o NO, o qual mede 15,4m de comprimento, com
altitude de 130 m.247
O Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá está localizado248 no Município de Ingá,
no Estado da Paraíba249. Algumas considerações quanto à área do sítio e as dimensões dos
painéis podem ser apresentadas como elementos e informações para reflexão.
A área do sítio arqueológico é apresentada em diferentes dimensões. Segundo o
Decreto nº 7.338 de 10 de agosto de 1977, em que o Governo Estadual da Paraíba Declara de
utilidade pública o imóvel em que está situada a “Pedra do Ingá”, em seu Artigo 1º determina
que a área total do terreno do sítio é de 2,25 Ha (hectares) (Anexo D).
246
IPHAN, 2010, p. 21.
247
Idem.
248
Coordenadas: 07o19’30,2” de Latitude (S) e 35o35’6,8” de Longitude (W). (IPHAN, 2010, p. 21).
249
Ver anexo B: mapa rodoviário da Paraíba.
89
250
PROUS, 2007, p. 22.
90
A
C
C
Fig. 44: vista do bloco com painel vertical (A) e parte dos painéis superior (B) e inferior (C),
respectivamente, acima e a frente do primeiro.
Fig. 45: Vista do bloco que permite perceber a declividade entre os painéis vertical e inferior.
251
A tipologia coloca os objetos em categorias classificatórias como: “morfológicas (em função da sua forma),
tecnológicas (em função da fabricação), funcionais (finalidade dos artefatos) ou estilísticas.” (PROUS, 1992, p.
59).
91
252
PROUS, 1992, p. 60.
253
Idem.
254
Idem.
92
Fig. 50: Picão, com ponta triédrica, apresentado por André Prous.255
255
PROUS, 1992, p. 73, Fig. 7.
93
Fig. 51: Detalhe do panel vertical que permite perceber as possíveis diferenciações de técnicas.
Exemplo de picotemamento superificil na área delimitada por cotorno branco (eliptico), possível preparação do
suporte rochoso e polimento na área com contorno preto (retamgular), para dar a forma e acabamento.
Fig. 52: Detalhe do bloco, do outro lado do riacho, por trás do bloco principal, que permite perceber a
técnica de picotemamento usada para dar forma, sem o acabamento em polimento, na área de contorno preto.
Fig. 53: Detalhe do bloco, do outro lado do riacho por trás do bloco principal, que permite perceber a
técnica de picotemamento para criar formas, sem o acabamento em polimento (?) pouco aprofundado, na área de
contorno preto.
94
Fig. 54: Detalhe de pedra, do outro lado do riacho, por trás e a jusante do bloco principal, que permite
perceber a possível técnica de incisão (?) e resquícios de pintura em vermelho (?), com hachuras paralelas e
cruzadas.
O lascamento é obtido através da aplicação de força via golpe ou pressão, com artefato
de material tão ou mais duro. Busca-se atingir áreas em que arestas fiquem expostas com
condições de ser golpeadas ou pressionadas, assim, retiaram-se partes, as lascas, do corpo
maior, o núcleo. As lascas, por sua vez, podem ser utilizadas da forma como foram retiradas
do núcleo ou receberem mais tratamentos, os retorques – pequenos lascamentos, de forma
cirurgica, pontual e com maestria na execução, que buscam definir e reforçar o gume e a
forma do artefato.
Fig. 55: Detalhe do bloco, do outro lado do riacho por trás do bloco principal, que permite perceber a
possível técnica de retirada de lascas, ou seja, o bloco pode ter sido utilizado como um grande núcleo256(?).
256
André Prous (1992, p. 68) ao apresentar a técnica de lascamento, explica que: “As relações entre o bloco
inicial e as lascas retiradas são várias; em alguns casos, o homem procura obter as lascas para transformá-las em
instrumentos. Nesses casos, o bloco inicial, uma vez retiradas as peças desejadas, é jogado fora [...] o que
interessava para o homem pré-histórico eram as lascas, que seriam utilizadas em seu estado bruto ou retocadas ”.
95
Fig. 60 e 61: Imagem da marca de pintura em vermelho, em que se pode ver o sentido de uma
“pincelada” ou similar. Ampliações com lupa de 10 X acoplada à lente da câmera digital Sony Cyber-shot DSC-
S780.
Fig. 66, 67 e 68: Bloco do outro lado do riacho, por trás e a jusante do bloco principal, que permite
identificar as técnicas de gravura e pintura em vermelho (indicadas por retângulos pretos) e, nos detalhes,
podem-se visualizar as pinturas indicadas por retângulos brancos e gravura com pintura desgastada (?) indicada
por retângulo preto.
A ocorrência deste tipo de manifestação foi evidenciada por André Prous, ao fazer
uma descrição das técnicas de gravura rupestre, em que atenta sobre esse procedimento ao
mencionar que “as gravuras podiam ser pintadas posteriormente, como se verifica em vários
abrigos; em sítios a céu aberto, a pintura pode ter desaparecido em razão do intemperismo,
enquanto os sulcos gravados permaneceram.”257
Também, já foi identificada em outras sinalizações rupestres no Nordeste, como foi
apontado na descrição das gravuras rupestres do sítio Boi Branco, em Iati-PE, em que os
“grafismos únicos de grande tamanho ou associados em pequeno número ocupando a
totalidade dos painéis rochosos, alguns dos quais foram depois preenchidos com tinta
vermelha”258 ou nas gravuras do sítio Santa Fé, Cráto-CE (Fig. 69).
257
PROUS, 2007, p. 22.
258
MARTIN, 2008, p. 299-300.
97
Fig. 69: “Sítio Santa Fé, Crato, CE. Representação de ornitomorfos com técnica de pintura sobre
gravura. (Rosiane Limaverde, Fundação casa Grande, Cráto, CE).” 259
Nas figuras que serão abordadas a seguir, acredita-se que houve uma intenção em usar
uma conjugação entre as formas que a rocha fornecia naturalmente, complementadas por
elementos e formas produzidas pela agência humana, que ajudassem a definir a forma
pretendida e visualizada, virtualmente, no bloco. O emprego de um recurso criativo que é a
imaginação de formas em situações que nos remetem às imagens virtuais. Do mesmo modo
que ao olhar para nuvens, alguém pode visualizar imagens de animais, plantas, cenas, etc.
Assim, na figura 71 se pode ver claramente que um desnível na rocha, causado por
possível desplacamento, em forma de semiarco foi complementado por uma linha apenas
picoteada, completando, assim, o arco. Sob esta linha arqueada, produzida por ambas as
linhas citadas anteriormente, há elementos picoteados e polidos. Esse conjunto nos faz lançar
a hipótese de que se trata de uma figura zoomorfa, sugerindo um felino sentado e arqueado
com a cabeça abaixada, com um suposto dente grande na parte inferior.
Dentro (sob o arco completo) da figura zoomorfa há uma figura em forma de
instrumento musical (chocalho de mão - maracá), à sua esquerda há dois pontos, um acima do
outro, ligados por uma linha já enfraquecida (ou terceiro ponto?) sete linhas quase paralelas,
inclinadas e na vertical, quase desaparecendo uma linha helicoidal (ou linhas concêntricas?),
que perpassa todas as linhas verticais, mais à esquerda, dois arcos concêntricos e sob a
extremidade destes, um conjunto de oito pontos, dispostos em duplas.
99
Fig. 71: detalhe, da figura 74, em que se pode ver com maior clareza a linha picoteada que continua a
trajetória da linha da fratura da rocha, produzindo forma zoomorfa (felino?), assim como, formas no interior do
arco formado por ambas.
Fig. 72: Detalhe, da figura 74, em que se pode visualizar melhor a forma zoomorfa (peixe?)
Como poderá ser visto, na figura 73, a leitura de imagens por outros estudiosos foi
possivelmente dificultada, nos períodos em que as condições de limpeza do painel não
100
permitiam fazê-la plenamente. Ainda que esta fotografia tenha sido obtida na primeira visita
técnica, foi a partir dessa imagem impregnada de pátina, que se começou a fazer tal leitura,
diante do estranhamento de formas tão complexas e não discutidas em nenhuma literatura.
Isto pode ser melhor definido visualmente com a imagem da figura 74, que apresenta
uma limpeza quase perfeita da painel vertical, após períodos de cheias, em 2011.
Fig. 73: Vista do painel vertical, realizada em fevereiro de 2011, pode-se ver o acúmulo de sujidade de
origem orgânica (liquens entre outros). Período de maiores temperaturas.
Fig. 74: vista do painel depois das enchentes de maio a julho de 2011, com as águas torrenciais que
cobriram o painel e carrearam muitos sedimentos acabaram por eliminar quase totalmente as sujidades.
101
Fig. 75 e 76: Montagens fotográficas do Painel inferior, Visadas gerais a partir de fotografias realizadas por Iago
Albuquerque (2010).
102
Fig. 77 a 79: Detalhes do Painel inferior, vista parcial em que são evidenciadas formas não figurativas,
possivelmente, de elementos funcionais (bacias de polimento ou pilões?), que nunca foram registradas
graficamente, por não serem reconhecidas como gravuras ou produzidas pelo homem.
103
Fig. 80 a 83: Detalhes do Painel inferior onde aparecem as gravuras associadas a astros.
Fig. 84 a 85: Detalhes do Painel inferior onde se observam gravuras com várias formas.
Fig. 86 a 87: Detalhes do Painel inferior onde aparecem as gravuras da extremidade direita, próximas do pinel
vertical.
104
Fig. 88 a 90, 90 A e 90 B: Detalhes do Painel inferior onde aparecem as gravuras mais afastadas do
painel vertical, que demarcam a largura do primeiro.
105
Nas imagens que se seguem pode-se ter uma ideia do bloco, no matacão a que
diversos autores têm realizado suas medições e, assim, entende-se as divergências, pois,
possivelmente, têm sido feitas em condições de pouca visibilidade e alguma dúvida do local
mais acertado para começar e terminar a medição. Em nosso trabalho optou-se por medir a
extensão entre a primeira e última gravura, esta, até então, não registrada. Esta delimitação
esta indicada por duas linhas verticais e brancas na figura 91.
Fig. 91: Visão geral do painel vertical delimitado pelas gravuras das extremidades, marcadas por linha
branca vertical. O ponto branco, pouca à direita do centro do bloco, é uma escala de 10 cm, colocada na falha da
rocha.
Fig. 95 e 96: Detalhe do painel vertical, apresentando gravura ainda não registrada fotográfica ou
graficamente, a qual serve como delimitação da extremidade esquerda.
Têm-se afirmado que as cores encontradas nas gravuras são oriundas de camadas de
diferentes minerais que afloraram ao ter sido realizado o sulco, mostrando as camadas mais
interiores da rocha, o que poderia dar uma falsa ideia de pintura. Entende-se que as rochas não
apresentam uma composição química homogenia em toda sua estrutura e essa explicação é
pertinente, no entanto, há relatos (inclusive imagens) que as gravuras eram pintadas e,
possivelmente, essa pintura era refeita periodicamente nas atividades de reverencias míticas.
Não obstante, em gravuras a jusante do bloco rochoso com os painéis principais, foi
identificada pintura ainda preservada no interior de gravuras, já apresentadas no tópico 4.2.2
Técnicas empregadas, deste Capítulo.
Este fato estimulou e, igualmente apoiando-se nos resultados já publicados por outros
autores, ajudou a identificar resquícios de pintura nas gravuras dos painéis principais, sendo
encontradas evidências dessa prática no painel vertical, como é demonstrada através das
fotografias abaixo.
108
Fig. 97 a 100: Detalhes do painel vertical, apresentando gravura em que é possível visualizar emprego
de pigmentos vermelho.
Fig. 100 A, 100B e 100 C: Magnificação com lente de 10 X acoplada à outra lente de 8 X, separadas
por 3 cm, ambas acopladas à lente da câmera fotográfica digital, pode ser visto que a mancha vermelha é de
pigmento e superficial. Claramente se vê que não faz parte da rocha, é uma incrustação.
109
Fig. 101 a 104: Detalhes do painel vertical, apresentando gravura em que é possível visualizar emprego
de pigmentos vermelho.
Fig. 105 a 107: Detalhes do painel vertical, apresentando gravura em que é possível visualizar emprego
de pigmentos vermelho e branco. Na Figura 107: magnificação de 10x acoplada na lente da câmera fotográfica
digital, em que é possível visualizar o alinhamento da mancha de pigmento, indicando a direção da aplicação da
tinta (“pincelada”).
110
Fig. 108 a 113: Detalhe do painel onde tem desplacamento (vandalismo?) e forte arranhão (fig. 110).
111
Nesse estudo não foi possível identificar fases diferentes, mas, alguns aspectos podem
ser mencionados, no sentido de alimentar a discussão. O emprego de técnicas diferenciadas
para a execução e acabamento das gravuras é um deles. A maior diferença está entre as
gravuras que foram picoteadas e polidas, atingindo uma profundidade considerável (cerca de
6 mm) e as gravuras executadas apenas por picotemento, sem uma definição clara da figura
desejada, menor profundidade e que supõe uma dedicação de tempo e trabalho menores que
no primeiro caso, notadamente nas figuras 128 a 143 no tópico 4.3.1.3 Gravuras dispersas, a
seguir. Também, pode-se mencionar gravuras menos profundas no painel vertical (realizadas
em outro momento?), como nas das figuras 114 e 115, que apresentam uma possível técnica
de raspagem (?), princípio de polimento (?). As possíveis retiradas de lascas (ver Fig. 55)
colocam essas marcas em outro tipo de manifestação, diferente da gravura de imagens, pois, o
elemento estético e comunicativo, dá lugar à função prática, como fonte de matéria-prima.
Essas diferenças, quanto ao acabamento, estão muito evidentes entre as gravuras do
painel vertical e as gravuras dispersas em outros blocos rochosos, como as do outro lado do
riacho, por trás do painel vertical.
Observar as formas de linhas cruzadas em “X” dentro de círculos, quase invisíveis, nas
figuras de 114 e 115, apontando claramente a diferença no acabamento técnico, em relação as
outras no mesmo painel (vertical), seriam produzidas em épocas diferentes por outros grupos?
Figuras assim são encontradas no sítio Tapuio, em São Mamende – PB e ao lado de uma
pegada fossilizada de dinossauro, no sítio Serra Branca, em Vieirópolis – PB,260 apresentam a
técnica semelhante, isto é, gravura levemente aprofundada, como se fora raspada.
Fig. 114 e 115: Observar imagens marcadas (“X”), que apresentam gravuras com pouca profundidade.
260
SUPERINTENDÊNCIA DO IPHAN NA PARAÍBA, 2009, p. 7 e 19.
112
Fig. 116 e 117: Observar imagens marcadas, que apresentam gravuras com pouca profundidade.
Fig. 127: Fotocomposição a partir de fotografias do arquólogo Iago Albuquerque (Iphan, 2008),
mostrando olado oposto ao dos painéis, onde são encontradas as “panelas”, como são chamadas popularmente.
Fig. 128 e 129: Gravuras em blocos isolados no leito do riacho à jusante do painel principal. Observar
pintura no interior das gravuras da figura 129, indicadas por seta.
115
116
Fig. 130 a 143: Gravuras dispersas por trás do painel principal, das quais as apresentadas nas figuras de
130 a 137 (com seus respectivos detalhes) estão localizadas na margem oposta por trás do bloco com o painel
principal. Nas figuras 138 a 143, aparecem gravuras localizadas na margem do mesmo lado que o painel
principal, nas chamadas “panelas” (orifícios devido às diferentes composições químicas em partes da rocha?), a
última só foi vista devido a forte estiagem de 2012 para 2013. Estas gravuras apresentam escolhas de locais e
técnicas diferentes das que ocorrem nos painéis superior, inferior e vertical.
Fig. 144 a 147: Nestas imagens observam-se ações e atividades de pessoas e animais. Nas duas
primeiras (com o detalhe) observam-se diversos grupos de pessoas espalhados pelo sítio, sem acompanhamento
técnico, na terceira, o deslocamento de gado bovino no interior do sítio (propriedade de vizinhos do sítio) e, na
última, o “amontoado de pedras” fruto da ação de visitantes.
Fig. 147 A a 147 D: Frames de vídeo261 apresentando uma das cheias do período chuvoso em maio de
2011, observar que a parte mais alta dos painéis está praticamente submersa.
O registro videográfico foi realizado com Câmera Sony Mini DV/Digital Handycam,
mini DV, migrada para meio digital em arquivo de áudio/vídeo do Windows Media (.wmv),
dimensões: 720 x 480 pxs, 29 quadros por seg., lente Carl Zeiss, Vario-Sonar 1,7/3,3-33,
modelo: DCR-TRV22 (Digital Câmera Recorder), gravado em NTSC e 16 k. Editado nos
programas Adobe Premiere Elements 4.0, Windows Movie Maker e Windows Live Movie
Maker, gravado em DVD. Foram realizadas tomadas de reconhecimento do ambiente,
perfazendo-se ângulos abertos e 360º, em diversos pontos, também e especialmente foram
captadas imagens das gravuras no conjunto e em detalhes, numa varredura do painel vertical,
de cima pra baixo e deslocando-se para a direita. O painel inferior foi registrado da parte mais
alta do bloco, somando-se a altura do autor, totalizando uma média de 3 metros e o painel
superior a uma altura de cerca de 1,6 metros.
Este vídeo constitui material de registro visual, não é um documentário ou outro
gênero audiovisual, portanto o que será apresentado é um acervo de imagens que retratam o
sítio e seu entorno em diversas situações, testemunhadas nas seis visitas a campo com
gravação videográfica. Assim, temos como um roteiro elementar uma apresentação visual do
deslocamento de João Pessoa até Ingá, na Paraíba; a chegada ao sítio; os elementos
construídos e naturais; as relações entre comunidade (de forma ampla) e o sítio; as gravuras
rupestres (os painéis em tempos distintos); as enchentes; as áreas de entorno; algumas coletas
de superfície e encerramento.
261
http://www.youtube.com/watch?v=9IrN92dhSg4, vídeo enviado em 04/05/2011, por Dennis Mota.
119
Neste momento cabe-nos advertir que tal vídeo apresenta uma grande quantidade de
imagens que, a nosso ver, devem ser vistas e revistas, sem a preocupação de acompanhar uma
estória.
Fig. 148 a 153: Frames de vídeo, exemplos ilustrativos do conteúdo visual do DVD anexo/encarte.
262
de 1924-26 . Em última instância, segue-se a forma de apresentar as figuras como fizeram
os grupos indígenas que pintavam o interior das gravuras, o que as tornavam com uma cor
chapada, destacando-as por contraste do suporte rochoso não insculpido e pintado, como
discutido no tópico 4.8.1 Pigmentos, 4.8 Outros materiais, deste Capítulo.
Logo, ao se preencher o interior da gravura263, se estabelece um alto contraste, que se
por um lado pode trazer estranheza, por outro, sugere uma apresentação da imagem de forma
mais legível na relação figura-fundo.
O esboço de registro visual foi elaborado a partir de fotografias digitais, feitas em
sequência (Fig. 154), para formar uma imagem panorâmica, sendo ampliada e decalcada
diretamente à mão livre sobre a tela do computador, em filme poliéster cristal (100 µ) nas
medidas: 14,5 x 68,5 cm, estabelecendo-se uma escala aproximada a partir de medições
realizadas em campo de algumas imagens específicas, da distância entre a parte externa das
gravuras das extremidades e do uso de escala de 10 cm sobre o suporte rochoso. A partir de
uma imagem gravada cuja dimensão real era conhecida, buscou-se sua proporção na imagem
fotográfica, encontrando-se a relação que 3,45 centímetros nesta imagem equivalem a 01
metro no bloco rochoso.
Nesta seção são apresentados alguns esboços que foram as bases para as produções
gráficas, como forma de demonstrar algumas etapas do processo do registro gráfico.
262
DANTAS, José Azevedo. 1994.
263
Há descrição de gravuras, no Sítio arqueológico Boi Branco, em Iati, Pernambuco, que eram preenchidas com
pigmento (MARTIN, 2008, p. 299-300, Il.: p. 431).
121
Fig. 155 e 155A: Esboço empregando-se a figura circular como base para as construções de curvas,
com inversão de tons entre figura fundo e início da identificação de elemento zoomorfo (peixe?).
Fig. 161 a 166: Esboço de perfl (A-B, C-D, E-F, G-H e I-J) dos painéis prinicpais. Mesmo sem os equipamentos
de precisão (Nível de luneta fixa, mira falante e trena) optou-se em apresentar um esboço com dimensões
estimadas, em vista do estabelecimento de relação com a altura de um homem de um 1,70m e, claro, sabendo de
algumas medidadas do terreno que serviram de base para essas estimativas. Estes perfis complementariam a
prancha 1, apresentada na figura 167, nos cortes de mesmo nome.
122
Nesta seção apresenta-se o registro gráfico dos painéis principais, que foram divididos
em superior, vertical e inferior, seguindo-se as informações descritas por Reichel-Dalmatoff,
quanto ao posicionamento dos símbolos representados nas gravuras e suas relações de valores,
como é descrito no item 4.9.2 Local sagrado: Os mitos da criação do mundo dos povos do
Alto Xingu, deste Capítulo, na citação do referido antropólogo.
Assim, a linha de capsulares disposta horizontalmente e que praticamente atravessa o
bloco em seu comprimento foi definida como limite entre os painéis superior e vertical. O
limite entre os painéis vertical e inferior está definido pela base do painel vertical, em sua
extensão. Já a largura do painel inferior estende-se no sentido de afastamento do painel
vertical, em distâncias que podem variar entre 1,2 e 13,8 metros, nos extremos direito e
esquerdo, respectivamente.
Através da figura 167, procura-se demonstrar uma forma de contribuir com registro
visual das sinalizações rupestres do sítio.
Fig. 167: Registro gráfico dos painéis em tamanho A3 (42 x 29,7 cm), Prancha 1.
123
Fig. 168: Visão geral dos Painéis, com rebatimento dos painéis superior e inferior. Ponto 1: S: 07º
19’28,9” e W: 035º 35’ 06,0” (+ 16m); ponto 2: S: 07º 19’28,5” e W: 035º 35’ 05,8”; ponto 3: S: 07º 19’28,8” e
W: 035º 35’ 05,9”; e ponto 4: S: 07º 19’28,7” e W: 035º 35’ 06,5” (+ 7m).
estes estão intimamente ligados às formas figurativas, sugerindo ser um código que as
identifica.
Assim, nas figuras 172 a 175, São observados elementos naturais e sobrenaturais
como:
Fig. 172: Sol (deidades?), água (rios e chuva? “pau de chuva”?), outros não identificados;
4.3 Imagens que podem ser relacionadas com formas reconhecíveis e/ou já descritas:
Figuras e formas similares às encontradas nas gravuras.
Nesta seção pretende-se apresentar algumas imagens que já foram descritas por outros
autores e particularmente, foram identificadas por grupos indígenas.
126
Gravuras em técnica
diferente, localizada na 11. Simboliza o
extremidade direita do casamento
painel vertical; exogâmico;266
264
RICHEL-DALMATOFF, 1976:85 apud LUX VIDAL, 1992, 47, fig.14.
265
Idem.
266
Idem.
267
Idem.
268
Idem
127
269
LUX VIDAL, 1992, 251, fig. 2.
270
Ibdem, 41, fig. 8.
271
LUX VIDAL, 1992, 123.
272
IPHAN, 2007, p. 84.
128
4.4 Algumas Sinalizações rupestres de outros sítios que podem ser relacionadas às do
Sítio Arqueológico de Ingá
Fig. 181: “Gravura rupestre em que se vê motivo de peneira, cobra, bem como espirais e pontilhados,
cuja interpretação, segundo Reichel-Dolmatoff, [...]. Uapuí, cachoeira do rio Aiari, índios Hohodene.” Foto:
Berta G. Ribeiro, 1978. (LUX VIDAL, 1992, p. 45. Fig. 13).
273
RIBEIRO, 1992, 44, fig. 10. In: LUX VIDAL, 1992.
274
MARTIN, 2008, p. 402, fot.: 2.
129
Fig. 183: Sinalizações rupestres/gravuras do Sítio Arqueológico Garbin, submersas pelas águas do Rio
Madeira, na barragem da Usina Hidroelétrica Santo Antônio (RO).275
Fig. 184: Petróglifo em Rio Negro, MS. Apresentado por Keny Marques Lima (2012).
Observar a pintura em vermelho no interior das gravuras.
Fig. 185: Gravuras feitas no chão laterítico, no Pantanal mato-grossense. Lajinha, Mato Grosso do Sul.
Foto: André Prous. Observar a similaridade da forma de linhas onduladas presente, também, na Figura 109.
275
Notícia do Jornal Folha de São Paulo, com a fotografia de capa com a seguinte chamada: “Ciência:
Agricultura na Amazônia pode ter surgido há 8.000 anos.” Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 24 de outubro de
2010. Capa e páginas A 22 e A 23.
130
Fig. 186 e 187: Sinalização rupestre/gravura no sítio 050, Pilõezinho, PB. Fotografias do Autor, em
2011.
Para que se possa ter uma ideia da área em que ocorre a presença de gravuras
rupestres, ou seja, o território brasileiro, disponibilizou-se um mapa que apontam alguns sítios
já documentos. Neste caso esta se levando em conta o aspecto técnica (gravura) e não suas
variações (estilos).
No mapa das tradições das gravuras, dispersas pelo território brasileiro, pode-se ter um
panorama das diferentes manifestações e suas localizações, assim como, suas abrangências.
Quanto aos artefatos produzidos a partir da técnica de polimento, André Prous chama
a atenção para:
Uma categoria muito frequente é a das pedras-bigornas, ou ‘suportes’ com
faces achatadas, cuja maioria apresenta, em uma ou duas faces, pequenas
depressões picoteadas de aproximadamente dois centímetros de diâmetro e
até sete milímetros de profundidade; seriam ‘quebra-cocos’, com a depressão
resultando do contragolpe destinado a quebrar as nozes para extrair o
albúmen (figura 43 a, d) [...] o peso é bastante variável, geralmente entre
trezentos e mil gramas. É frequente que esses seixos, geralmente de diabásio,
gnaisse, granito ou riólito, sejam instrumentos múltiplos, combinando várias
categorias, como batedor-quebra-coco, batedor oposto a um gume de
machado, quebra-coco com partes polidas por ter sido utilizado também
como alisador [...] (PROUS, 1992, p. 224).
Podemos ver nos artefatos das figuras 11 e 13 (da tabela), exemplares desse tipo de
instrumentos. O primeiro foi trabalhado por polimento e serviu de base (bigorna) o segundo
foi aproveitado, pela forma desejada estar pronta, provavelmente utilizado como batedor.
Fig. 198: Pilões em pedra polida, Uaxactun, Guatemala. Escala natural, p. 41, fig. 23, (KIDDER,
1947).
Fig. 199: Artefatos encontrados no Sítio Arqueológico Garbin, submerso pelas águas do Rio Madeira,
na barragem da Usina Hidroelétrica Santo Antônio (RO). 276
276
Notícia do Jornal Folha de São Paulo, com a fotografia de capa com a seguinte chamada: “Ciência:
Agricultura na Amazônia pode ter surgido há 8.000 anos.” Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 24 de outubro de
2010. Capa e páginas A 22 e A 23.
133
Fig. 200: Desenho do pilão quebrado, encontrado no entorno do sítio em estudo. Observar que há
pequenas incrustações na base, que podem fornecer dados a partir de traços de elementos que foram macerados.
4.7.1 Pigmentos
A pintura pode ser empregada em diversos suportes desde o próprio corpo até os
artefatos de cerâmica e eventualmente nos líticos, como no caso de preenchimento das formas
das gravuras. Para tanto, são utilizadas tinturas a partir de pigmentos vegetais, minerais ou
mistos, os quais podem conter aglutinantes de origem animal, como gorduras, cuja preparação
vai depender do suporte que vai recebê-las. No presente estudo não entraremos nas questões
relativas à pintura corporal e seus pigmentos, a menos que sejam alguns dos mesmos usados
nos líticos e nas cerâmicas.
Assim, ao abordar os corantes, André Prous, apresenta a conclusão que nos sítios
arqueológicos brasileiros os “pigmentos encontrados [...] são de origem mineral, por serem
mais resistentes que os vegetais (urucum ou jenipapo, tão divulgados entre os modernos
indígenas).”277
277
PROUS, 1992, p. 65.
134
278
Idem.
279
Idem.
135
4.7.2 Cerâmica
[...] técnica de confecção com uso de roletes (ou cordéis), que são
sobrepostos em forma espiralada, a partir do fundo da vasilha ou sobre um
fundo modelado, O tratamento da superfície interna é sempre liso. A
superfície externa pode ser deixada roletada (eventualmente em pequenas
vasilhas) ou receber tratamento plástico com uso dos dedos (corrugado,
digitado), unhas (ungulado) ou outros objetos (espátula, pente, espinho,
galho, espiga de milho, sementes, entre outros) que resultam em tratamento
como espatulado, inciso, estriado, escovado, liso e muitos outros. A pintura
se dá, na maioria das vezes, sobre fundo branco, com traços finos ou mais
largos em tons de vermelho ou preto. Os motivos são geométricos, formando
desenhos retos, em curvas e eventualmente com pontos. Linhas vermelhas
ou incisão horizontal são utilizadas como marcadores de inflexão de ângulos
e junto à borda, formando segmentos que separam a borda do pescoço e
ombro (que pode ser de um a três) do corpo das vasilhas. Todas as vasilhas
foram queimadas em fogueira a céu aberto, em ambiente oxidante, onde o
uso de tempero ou anti-plástico, como areia ou fragmentos de cerâmica
moídos, terá garantido a plasticidade necessária para evitar rachaduras e
fraturas. O corpo das vasilhas como panelas e talhas tem bojo bem saliente,
que corresponde ao maior diâmetro da vasilha e este situa-se normalmente
na metade superior do corpo. A base das vasilhas comumente é arredondada
ou conoidal. Algumas vasilhas apresentam formas complexas, enquanto
outras são tigelas com paredes diretas e de forma aberta (tigelas e caçarolas).
Algumas vasilhas foram usadas para armazenar bebidas e comidas. Outras
vasilhas, as panelas (yapepó) e caçarolas (ñaetá), seriam usadas no fogo, no
processamento de alimentos, especialmente a base de milho e mandioca
(entre outros), alimentos muitos usados pelos índios Guarani. Algumas
pequenas e médias vasilhas foram usadas para servir, de forma individual ou
comunal, como pratos (ñaembê) e copos (combuchí caguabá). Também são
encontradas miniaturas de vasilhas cujo uso desconhecemos. As vasilhas
pintadas terão tido uso cerimonial e a pintura aprece sempre em áreas de boa
visibilidade, que justificasse o empenho estético, isto é na metade superior
externa das vasilhas fechadas e na parte interna daquelas tigelas abertas, de
pequenas ou médias dimensões, com a parede direta e borda extrovertida ou
reta. (MONTICELLI, 2005, p. 32)
137
Dois locais fora dos limites atuais do Sítio são importantes, para estudos futuros, pela
presença de artefatos líticos. Um local apresenta artefatos produzidos por lascamento, o outro,
artefatos polidos.
Um local de importância relevante, ainda que se encaixe no caso de área inundável, foi
marcado à jusante do bloco principal com os painéis de gravuras, constituindo cascalheira de
seixos, aparentemente descobertos pelas enxurradas das cheias de março a junho de 2011, no
Riacho Bacamarte. Áreas que suscitam dúvidas em função da frequência de inundações, causa
pela qual, diversos arqueólogos e técnicos acreditam que artefatos encontrados nestes locais
serão sempre descontextualizados, trazidos pelas águas.
Nessa linha de raciocínio podem ser citadas as discussões propostas por Saul E. S.
Milder, que ao abordar os tópicos 6.7 As camadas antropogênicas e fatores (pós)
perturbadores, 6.7.1 Agentes pedogenéticos e 6.7.5 Os falsos sítios, faz as seguintes
observações:
Essa localização pode contribuir como indicação de local a ser escavado para obter
dados que permitam contemplar as expectativas de contexto arqueológico, via estratigrafia.
O ponto negativo é que as informações arqueologicamente válidas estão sendo
perdidas, literalmente, carregadas água a baixo, e só trabalhos que comecem em pouco tempo
poderão lograr êxito sobre a parte do que sobrou.
Por outro lado, deve ser visto com atenção o fato de que os artefatos ai encontrados
apresentam uma técnica de lascamento executada com muita perícia, com retoques finos.
Tanto os lascamentos de retoques, quanto o lascamento que deu a forma ao artefato, em todos
casos, não apresentam indícios de polimento por terem rolado em algum momento entre
outros seixos e água, o que causaria desgastes facilmente identificáveis. Ainda que se tenham
dúvidas quanto a origem do material encontrado neste local, pode ser reconhecido a
importância desta localização.
Nas imagens a seguir têm-se vistas do local onde a enchente desenterrou um banco de
cascalho de seixos e artefatos. Nesta sequência de imagens em aproximação, por detalhes,
pode ser visto alguns artefatos líticos. Nas figuras 203 e 204 pode ser vista a vegetação
primária regenerando depois de ter sido completamente eliminada pela força das águas. O
280
KASHIMOTO, 2005, p.9.
281
Ibidem, pag. 30, 32 e 41.
139
mesmo tipo de cobertura vegetal que vinha protegendo e “escondendo” esta localização, antes
das cheias.
140
Fig. 201 a 210: Local fora da área do Sítio, em que as águas descobriram material lítico.
O segundo local fica mais abaixo, na curva do riacho, numa área de grande retirada
clandestina de terra onde ficaram amostra alguns artefatos polidos, num barranco (fig. 210 A
e 210 B).
Fig. 210 A, B, C e D: Material lítico polido, bigorna (quebra coco) e mão de pilão.
141
Fig. 210 E: Material lítico polido: mão de pilão, bigorna (quebra coco). Uma bigorna ou batedor em
pedra bruta.
Fig. 211: Fotografia do Arqueólogo Iago Albuquerque, visita técnca em 2008. Vista do local em que as
águas das enchentes de 2011 removeram uma quantidade considerável de sedimente descobrindo banco de
seixos e estratigrafia do terreno com cotas de cerca de 30 cm.
142
Fig. 212: Vista da área depois da enchente de março de 2011. Observar o terreno arenoso. Na parte
inferior e esquerda, já é possível visualizar uma camada de terra preta surgindo por baixo da areia.
Fig. 213 e 214: Visita técnica em 19/02/2011, antes das enchentes, observar solo terra-arenoso.
Fig. 215: Área com possível desinterramento de material cerâmico e indícios de atividades cerâmicas
(sítio oficina?), pelas cheias de março a junho de 2011. Fotografia feita pelo Autor, em maio de 2012. Observar
que esta fotografia é da mesma área fotografada na figura 212. Nesta já não há mais areia, apenas terra, seixos e
material cerâmico. Para efeito de comparação a árvore da direita é a mesma que aparece na figura 212.
143
Fig. 216, 217 e 218: Detahes da fotografia anterior (fig. 215) em que é possível visualizar uma estratigrafia
aberta pelas águas das enchentes. Observam-se torrões de argila em formas globulares, entre os sedimentos
rochosos.
Fig. 219 e 220: Estas imagens são da parte superior do terreno descoberto pelas águas das enchentes (área
marcada por elípce branca na figura 215), nestas imediações, se fez a maioria da coleta de fragmentos
cerâmicos, durante os intervaos das enchentes. Observar o bloco de cerâmica (?) ainda parcilamente enterrado.
144
Fig. 221 e 222: Imagens realizadas no local descrito anteriormente. Observar pequenso caracóis no torrão. Este
tipo de caracol foi encontrado no fragmento de fundo ou assador (?) (antiplástico ?), peça nº 7, na tabela 4.8.2.1
Artefatos/fragmentos cerâmicos coletados no sítio e áreas próximas.
Fig. 219 a 224: Estas imagens são da parte superior do terreno descoberto pelas águas das enchentes (área
marcada por elípce branca na figura 215), nestas imediações, se fez a maioria da coleta de fragmentos
cerâmicos, durante os intervaos das enchentes.
Já numa região de altiplano, por trás dos painéis e distante cerca de 1,5 km, em área
desmatada para uso agripecuário ou para construção de moradia, em função desta ação que
revolveu o solo, foram encontrados fragmentos de artefatos cerâmicos indicando a
possibilidade de tratar-se de local de aldeamento pelas características preferidas por grupos
indígenas.
145
4.8.2 Local sagrado: os mitos da criação do mundo dos povos do Alto Xingu
Discutir as figuras elaboradas por outros grupos indígenas, a partir de uma relação
com os mitos da criação do mundo, dos povos do Alto Xingu, parece ser uma abordagem
coerente, uma vez que, por serem bem descritos, se pode chegar a hipóteses (e até conclusões)
para os possíveis usos dos painéis com sinalizações rupestres em estudo.
Um dos estudos realizados por Berta Ribeiro sobre os povos do Alto Xingu, em
especial, nos serve como porto seguro para apoiar inferências, que já vinham sendo feitas
antes de se ter contato com estes textos, o que nos pareciam leituras de imagens coerentes,
mas, até então sem fontes que as embasassem. Com essas referências, assim como, outras que
este estudo aponta, se dará maior importância as leituras de imagens realizadas, trazendo-as às
relações com os resultados desses estudos. Trata-se de Mitologia: Verdades fundamentais e
282
Expressão Gráfica , um estudo com povos do Alto Xingu, publicado nos anos noventa, do
século passado.
Berta Ribeiro inicia seu texto com uma breve contextualização sobre a representação
visual tradicional de símbolos gráficos codificados que servem pra comunicar certas
passagens míticas daqueles povos e suas atualizações. Acredita-se ser tão satisfatória e
significativa a citação que ela fez dos estudos realizados por Reichel-Dolmatoff (1976-1978),
que foi preferível fazê-la, igualmente:
282
RIEIRO, Berta (92). In: VIDAL (Org.), 1992. p. 35-53.
146
Assim, torna-se linha orientadora para próximos trabalhos, mas, que por ora já nos é
possível procurar estabelecer uma relação entre os resultados destes estudos e de outros como
os do próprio G. Reichel-Dolmatoff (1976 e 1978) e M.H. Fénelon Costa (1986).
As partes grifadas no texto acima apontam para similaridades observadas nas leituras
de imagens realizadas nos painéis do bloco principal. Uma vez que essa leitura permitiu
inferir que, aquilo que por muito tempo vem sendo considerada constelação é, segundo essa
leitura, uma representação de lugares de morada, aldeamento e seus correlatos. O que
comumente são chamadas de estrelas, constelação, nessa leitura, podem ser entendidas como
vistas superiores de malocas circulares com um esteio central, de onde partem as ripas
(costelas) para a cobertura, em forma de raios (como num guarda-chuva). Observa-se que no
chão há pilões e ao lado de um deles, uma figura gravada em forma de “U”, nessa leitura, é a
forma/símbolo para este objeto, que volta a aparecer no painel vertical. Mas, o fundamental é
que nessa leitura de imagens realizada, inferiu-se que este local até então considerado uma
representação de estrelas, é o chão sobre o qual pisamos, numa relação simples e óbvia. No
painel vertical estão as coisas deste mundo, dadas e possibilitadas pelas entidades espirituais
(deidades), até a linha de pontos, acima da qual, está representado o mundo das entidades
espirituais, aquele lugar em que o homem comum não tem acesso, e apresenta uma série de
símbolos e em especial o sol (deidade), os próprios pontos (já identificados como sêmen do
deus sol), o instrumento musical e mítico “pau-de-chuva”/bastão de ritmo , círculos
concêntricos, lugar onde teria sido apoiada a ponta da sarabatana de um espírito, segundo
descrição de Reichel-Dolmatoff, na citação abaixo, ou então as figuras zoomorfas, que
representam peixe e onça, animais significativos dentro do contexto mitológico para o povo
indígena, sobre a criação do mundo. Outras formas que podem situar-se nesse contexto nos
fogem sua identificação completa, especialmente por questões ligadas ao estado de
conservação das gravuras, a preservação material da forma tem prejudicado essa leitura, uma
vez que se encontram desgastadas e ilegíveis.
Segundo resultados que Berta Ribeiro obteve, através de uma leitura contextualizada
de imagens, estas são usadas culturalmente para expressar feitos importantes e ao fazer
referência a Reichel-Dolmatoff, diz, que pra ele, estas imagens são os registros da preparação
da Terra pra ser habitada por homens comuns. Preparação essa realizada por entidades míticas
147
que por aqui passaram. Assim, “informa o mesmo autor que os petróglifos registram eventos
mais transcendentais dessa era mítica e também episódios comuns”. Por exemplo:
Apenas essas passagens já nos seriam suficientes para se ter consciência de que
Reichel-Dolmatoff, conhecia os mitos da criação do mundo dos povos do Alto Xingu, pois,
esse pequeno texto, nessas citações, trás uma síntese daqueles mitos.
Noutra Citação a Reichel-Dolmatoff, Berta Ribeiro diz, que para ele:
Ainda, apresentando citações que Berta Ribeiro fez aos resultados de Reichel-
Dolmatoff, que ricamente nos esclarecem de um comportamento cultural, por mais que sejam
específicos de povos de uma região geograficamente distante, podem ser usados, guardadas as
limitações, para, pelo menos, realizar algumas reflexões e elaborar hipóteses sobre os
possíveis usos do sítio em estudo. Assim, ao serem abordados os temas recorrentes, concluiu
que se tratava de “motivos codificados, possuindo o valor fixo de signos ideográficos” 283 E
que “tão importante quanto essa foi a constatação de que ‘muitos dos motivos retratados
aparecem com frequência nas inscrições (petróglifos) em pedra e pictografias da região e
mesmo além de seus limites.’”284 (grifo meu).
283
REICHEL-DOLMATOFF, 1976, p. 83 apud RIBEIRO, 1992, p. 46. In: VIDAL (Org.), 1992.
284
Ibidem.
148
Ou então na descrição dos Tariano para identificar seus lugares sagrados, onde
apontam que:
[...] Eles não eram pessoas como nós, pois seu corpo não era ainda como o
nosso. Chamamo-os de î’ta-masa, literalmente “gente pedra”, (em tariano,
hipada-nauki) não porque fossem feitos de pedra, mas porque a duração de
sua vida era indeterminada. (IPHAN, 2007, p. 56). (grifo meu).
Conclusão
A partir das respostas aos problemas que esta pesquisa se propôs a analisar, os quais são:
a. Em que medida a produção de registros visuais e de reflexão crítica sobre as práticas
de preservação do Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá pode contribuir para atender às
recomendações contidas na justificativa para o Processo de Tombamento 330-T-43?
b. Em que medida o atual estado de conservação e preservação do Sítio Arqueológico
Itacoatiaras do Rio Ingá pode ser relacionado com a produção científica de conhecimento,
sobre ele?
c. Qual o papel do desenho, como instrumento para documentação, diante das
tecnologias na preservação de bens arqueológicos, na perspectiva de complementação das
técnicas e processos?
Buscou-se verificar a validade da seguinte hipótese:
A produção de registros visuais e de conhecimento sobre as sinalizações rupestres do
Sítio Arqueológico Itacoatiaras do Rio Ingá pode ser um instrumento para a preservação desse
patrimônio cultural, na medida em que esses sirvam de base e estímulo para futuros estudos
acerca daquelas ocupações humanas, assim como, configurem-se em inventário visual de
sinalizações rupestres e que seu registro fotográfico, em especial, seja um índice do atual
estado de conservação, podendo ser empregado como referência para avaliar periodicamente
este estado.
Portanto, conclui-se que tal registro se caracteriza como um instrumento de
preservação e conservação. Porém, têm-se resultados que superam as expectativas da
hipótese, trazendo a possibilidade de contribuir com estudos futuros, inventário visual e
convertendo-se em instrumento de práticas concretas de preservação e conservação do sítio,
mesmo durante seu desenvolvimento.
Quanto à primeira questão colocada nos problemas desta pesquisa, inicialmente pode-
se dizer que a relação é direta, uma vez que se conhece pouco sobre os remanescentes
materiais do referido sítio, tanto os móveis quanto os imóveis, e o mínimo de conhecimento
científico produzido já será boa contribuição. Por outro lado, é inegável que perdemos
informações e o fato de não ter sido plenamente atendido aquele requisito da justificativa,
naquele tempo, causou perdas irreversíveis e desconhecidas, a menos que venhamos encontrar
algum registro gráfico realizado antes das intervenções danosas de mineração predatória e
151
vândala, como relatadas por Leon Clerot, em 1953, que destruíram parte significativa do
suporte rochoso com gravuras.
Portanto, a resposta a essa questão é que o presente trabalho pode contribuir com a
produção de conhecimento apenas sobre as sinalizações rupestres que restaram, logo, não
podendo atender integralmente a tal solicitação em virtude do fato que mesmo depois de
tombado o sítio foi altamente vandalizado e tal requisito não foi atendido pelos órgãos
competentes, na época.
Se por um lado o que se perdeu, em termos materiais e de informações, por enquanto,
é irrecuperável, à segunda questão pode ser respondido que o atual estado de conservação e
preservação está diretamente relacionado à produção de conhecimento científico sobre o sítio,
na medida em que quando há uma concentração de esforços para esta produção o quadro
tende a ser revertido. Isso fica latente quando se constata que houve alguma produção de
conhecimento nos momentos em que o Iphan estava envolvido nas ações, ou seja, mesmo que
a gestão desse sítio tenha sido compartilhada com órgãos do Estado e do Município, as
iniciativas mais eficazes são aquelas em que o Órgão Federal tem participado diretamente.
Ainda assim, mesmo para este Órgão, nota-se que durante o longo período desde o
tombamento até nossos dias, os momentos em que não houve produção significativa de
conhecimento sobre o sítio, não houve, também, ações efetivas de conservação. Parece-nos
que a falta de resultados científicos esta diretamente relacionada à falta de ações para
conservação e preservação. Isso fica demonstrado com o caso deste estudo, que é um produto
de uma concentração de esforços, feita através de diversas formas práticas, que vão desde
desenvolvimento de todas as ações envolvidas na pesquisa científica, passando pelas
participações em reuniões e atividades de cunho mais burocráticas e de aplicação da
legislação (Ações Civis Públicas, por exemplo), até a participação em atividades com
servidores do Iphan, especialmente pelo caráter profissional do curso, em ações voltadas
direta ou indiretamente à preservação do sítio. O que gerou respostas concretas e eficientes às
necessidades de ações de preservação e conservação do sítio arqueológico Itacoatiaras do Rio
Ingá, fundamental e especialmente, com os desdobramentos a partir do envolvimento da
Superintendência do Iphan na Paraíba com o bem cultural. Envolvimento caracterizado por:
interesse pelo projeto, destino de pessoal (servidores e bolsista), busca e obtenção de recursos
financeiros. No Plano de Atividades Anuais – PA, de 2012, para ações de preservação no sítio
em estudo, foram obtidos e destinados recursos que possibilitaram as contratações de serviços
de arqueólogos em dezembro de 2012, com vigência para 2013.
152
Por seu turno, sabe-se que estas são apenas algumas etapas e que o conhecimento
produzido só poderá contribuir com maior qualidade na medida em que tiverem ações
continuadas de preservação, através de programas bem planejados para a gestão patrimonial,
que visem garantir recursos de forma permanente para manter as estruturas necessárias e
executar projetos, programas ou subprogramas de pesquisas e estudos arqueológicos e áreas
afins, de educação patrimonial, de socialização do sítio, entre outros. O que em última
instância configuram-se em ações futuras e permanentes de conservação e preservação
patrimonial de tal sítio arqueológico.
Quanto à questão do papel do desenho diante das tecnologias atuais, percebe-se que o
desenho deve ser mais um elemento dentro do conjunto de elementos utilizados como
instrumentos de registro, neste caso, de artefatos e sinalizações rupestres.
Sozinho não consegue atingir a plenitude de comunicação, uma vez que sua potência
neste sentido é limitada. Mas, ainda assim, informa dados que não estão necessariamente
visíveis, como é o caso da variação de espessura, através de cortes e afins, assim como, a
valorização de algumas partes em detrimento de outras. Por isso, é importante para
complementar as outras formas de registro, as quais podem gozar de maior esclarecimento ao
contar com a linguagem das imagens, como afirma Luis Lima ao citar Feugére:
Por seu turno, a partir de registros fotográficos e com lupa adaptada à câmera
fotográfica, agora, pode-se afirmar que as gravuras rupestres do Rio Ingá, eram pintadas
internamente de vermelho e algumas em vermelho e branco, como apresentado nas figuras 97
a 107, no tópico 4.3.1.2.1 Painel Vertical: indícios de pintura, do Capítulo 4. Sobre o uso
de pintura, pode-se pensar em estudos que respondam a seguinte pergunta: quanto tempo leva
um pigmento à base de minerais, ferrosos especialmente, para se remineralizar e se fixar
indelevelmente no suporte rochoso? Pois, acredita-se que através dessa resposta pode-se
153
chegar a uma solução sobre possível datação (relativa ou absoluta) de sua pintura e
consequente confecção.
Outro resultado significativo, neste trabalho, é a apresentação de imagens figurativas e
não figurativas até então não incluídas nas discussões e registros gráficos sobre o sítio. Assim
como, a leitura de imagem realizada possibilitou a hipótese de que tal petróglifo se enquadra
na função cultural de comunicar narrativas de eventos importantes, tal qual a descrita por
autores que estudaram as manifestações visuais em grupos indígenas dos povos do Alto
Xingu. Ou seja, a demarcação em “texto visual” de um local sagrado onde entidades
espirituais que habitam nas pedras e propiciaram, e continuam proporcionando, aos grupos os
conhecimentos e condições necessárias para viverem na Terra.
A partir do exposto em relação à importância dada pelos povos indígenas às pedras,
enquanto a morada, locais de saída e das transformações de deidades que criam as condições
de vida neste mundo, que ainda hoje moram nas pedras, segundo a cultura desses povos,
pode-se concluir que se houve alguma relação “[...] com o culto [...]”287, não foi para cultuar
as águas, como propôs Gabriela Martin, mas, sim as entidades espirituais que moram nas
pedras, das margens e leitos dos rios, ampliando-se dessa forma as possibilidades de
compreensão da função de tal petróglifo como um elemento de um local sagrado.
Se hoje, com nosso conhecimento dos fenômenos naturais, ainda temos medo e nos
assustamos com terremotos, tsunamis, tempestades e vulcões, procuremos nos colocar no
lugar de homens sem tanta informação da origem desses fenômenos e que, ao longo de
milhares de anos, seus antecessores, presenciaram paisagens se transformando, animais e
outros humanos sendo dizimados pelas forças da natureza. É muito compreensível que
admitissem que os Deuses que promoveram tantas transformações e até as condições de
sobrevivência, morem nas rochas, até hoje, porque estes fenômenos ainda existem. Daí,
possivelmente, o intenso uso do suporte rochoso como meio, canal – segundo os fatores da
linguagem propostos por Jakobson -, para seus discursos míticos. O que pra nós, povos
sucessores, é uma evidência visual de suas culturas. Pensemos na possibilidade de não ter sido
a rocha o elemento de reverência e sim outro de forma mais orgânica e perecível. Não
teríamos nenhum testemunho visual remanescente, pois, já teriam se degradado.
Portanto, conclui-se que tanto as pinturas, quanto as gravuras, sobre rocha nos chegaram
ao conhecimento devido estritamente à relação mítica estabelecida entre este material e as
culturas de diversos povos, e pensando neste aspecto temporal longínquo inclui-se nesta
287
MARTIN, 2008, p. 292.
154
conclusão povos de diversos pontos do mundo, sobre o que há grande produção de estudos
sobre os petróglifos.
Um resultado interessante é a localização de três possíveis áreas para futuras
pesquisas, a saber: na elevação topográfica do terreno, adjacente ao sítio, onde no altiplano foi
encontrada dispersão de fragmentos de cerâmica Tupiguarani - segundo identificação
realizada pelo Prof. Dr. Marcos Albuquerque e sua Equipe288, cujo posicionamento dos
achados (parte alta do terreno) indica que estes não foram abandonados lá, casualmente, por
seus produtores e, também, não foram carregados até lá por fenômenos naturais, como
correntezas de rio, ventos e afins. Pois, no caso de descrédito da validade de dados a partir dos
artefatos encontrados nas áreas baixas, próximas ou dentro do leito do riachão, que em
ocasiões de enchente ficam submersas e tais correntezas fluviais poderiam ter levado os
artefatos, o que pode ser pertinente, por outro lado, os achados nas partes altas eliminam estas
hipóteses e propõem maiores estudos nestas áreas e fragmentos cerâmicos encontrados.
A respeito das causas de perdas de parte rochosa no painel vertical, pode-se fazer o
questionamento: foram causadas por desplacamento natural ou vandalismo? As imagens das
figuras 108 a 113, do tópico 4.3.1.2.2 Desplacamentos no Painel Vertical, do Capítulo 4,
mostram possíveis marcas de percussão e formação de “ferimento” na rocha, contrariamente
ao desprendimento natural de camadas rochosas sem ligação - espaço natural entre a placa
externa da rocha e o núcleo, de onde irá desprender-se, o que muitas vezes ocasionam as
chamadas pedras-sinos, que ao serem percutidas com força média produzem “som metálico”.
Portanto, o que até então, para alguns autores, vem sendo considero desplacamento
natural da rocha, neste trabalho passa a ser visto como possível ação de vandalismo, com
retirada forçada, deixando marcas que uma perícia mais detalhada poderá obter melhores
resultados.
Os artefatos encontrados em superfície no sítio e seu entorno, possibilitaram vários
dados importantes, que especialmente servirão a futuros estudos. Os artefatos cerâmicos
apontam para uma atividade ceramista na área, mesmo sem se ter o contexto arqueológico,
através de estratigrafia. Além disso, ajudaram a identificar um possível local de aldeamento,
fora da área do sítio. Mostrando uma variedade na confecção dos objetos (através de seus
fragmentos) e sua ornamentação (pintura), sendo alguns fragmentos identificados pelo Prof.
Dr. Marcos Albuquerque e sua equipe, como pertencentes à tradição ceramista Tupiguarani.
288
ALBUQUERQUE, Marcos. Prof. Dr. em Arqueologia. Notas de visita técnica ao Laboratório de Pesquisas
Arqueológicas, Aldeia, Camaragibe-PE, maio de 2012.
155
Os artefatos líticos apresentam objetos em pedra polida, uso de pedra bruta e objetos
em pedra lascada, destes últimos, alguns apresentam uma técnica apurada de retirada de lascas
longas o que possibilitou estabelecer uma relação, a fim de alimentar a discussão, com
resultados de estudos já concluídos em outros sítios e que os colocam numa periodização bem
definida.
Por outro lado, nas obras de André Prous, de Gabriela Martin, Paulo Funari, Leon
Clerot, Vanderley de Brito, Madu Gaspar, IPHAN, entre outros, percebe-se o quanto falta
apreender e produzir conhecimento sobre as sinalizações rupestres do sítio arqueológico
Itacoatiaras do Rio Ingá.
Não se quer com isso realizar uma crítica negativa às pesquisas dos referidos autores,
apenas chamar a atenção para o fato, o qual eles têm consciência, de que ainda não se ter
dispensado suficientemente dedicação e concentração de estudos que o sítio merece e
necessita.
Espera-se que essa necessidade seja suprida com o projeto para ações de conservação e
preservação e estudos arqueológicos para o sítio, que até o final do ano de 2012 foi licitado e
contratada empresa especializada, que iniciarão os trabalhos em 2013. Concretização essa que
se acredita ser uma resposta a questão colocada inicialmente a este estudo.
Considerações finais
seja, no ensino formal e informal. Visualizando-se uma aplicação prática dos conceitos de
interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, metodologias participativas e de construção
cooperativa de conhecimento. No caso de não ser configurada tal situação, corre-se o risco, de
deixar num nível raso a questão de socialização dos sítios arqueológicos.
Particularmente ao sítio em estudo, fica a recomendação para que sejam realizados
projetos contemplando propostas de produção de conhecimento, aliadas as práticas de
conservação e preservação do patrimônio cultural público, ações educativas, por fim, sua
consequente e necessária garantia de recursos.
157
Anexos
Anexo A
Anexo B
-36° -35°
-7°
Detalhe adaptado do Mapa Físico da Paraíba (IGBE, 2007), com indicação das Cidades de João Pessoa, Campina
Grande e Ingá, respectivamente, marcadas por elipses, da maior para menor.
159
Anexo C
160
Anexo D
161
Anexo E
162
Anexo F
163
Anexo G
164
Anexo H
165
166
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