Língua Portuguesa: Leitura, Produção de Texto E Literatura Infantil
Língua Portuguesa: Leitura, Produção de Texto E Literatura Infantil
Língua Portuguesa: Leitura, Produção de Texto E Literatura Infantil
LEITURA, PRODUÇÃO
DE TEXTO E
LITERATURA INFANTIL
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), é com imensa satisfação que esse livro foi preparado para você, pois
participar do seu sucesso estudantil é o grande prêmio de todo docente. Sendo assim,
nós, João Carlos Dias Furtado e Ivone Pingoello, queremos contribuir efetivamente para
a sua formação acadêmica e pessoal.
Este livro foi constituído visando uma formação teórica e promovendo reflexões sobre
a prática que auxiliará o seu trabalho com a Língua Portuguesa, com todas as suas nu-
ances de leitura, produção e interpretação, como também na sua formação como pes-
quisador.
O domínio da língua materna é fundamental para todo cidadão exercer o seu papel ple-
no e alcançar seus objetivos pessoais e profissionais, pois conseguir estabelecer uma co-
municação eficiente e adequada nos mais diversos meios comunicativos é fundamental
para aproximar a pessoa de seu objetivo, de seu sonho; por isso, o ensino da língua
no contexto escolar deve valorizar e promover o enaltecimento de um aluno que saiba
manipulá-la eficientemente e seja um pesquisador constante em sua vida profissional.
A primeira Unidade apresenta a Língua Portuguesa como objeto de estudo, discutindo
suas funções, as diferenças entre a língua escrita e a oralidade, entendendo as concep-
ções de linguagem, a formação gramatical e as diferentes gramáticas possíveis de serem
praticadas. O objetivo dessa unidade é apresentar a língua como um organismo vivo em
constante transformação e o modo como podemos ensiná-la diante das possibilidades
gramaticais existentes.
A segunda Unidade introduz a importância da leitura na formação do aluno, resgatando
as funções da leitura e destacando quais competências precisam ser desenvolvidas em
sala de aula para conseguirmos formar um leitor crítico, que saiba, também, ler as novas
mídias, imagens e o mundo ao seu redor. O objetivo dessa unidade é resgatar a impor-
tância de um bom trabalho de leitura no processo de formação educacional como base
formadora de um indivíduo consciente de seu papel no mundo.
A terceira Unidade discute a produção textual, a necessidade de instrumentalizar os alu-
nos para produzirem bons textos (articulando a coerência e a coesão) e a importância
de trabalhar com os gêneros textuais. O objetivo dessa unidade é valorizar a produção
textual como importante meio de expressão individual e coletiva no ambiente profis-
sional e pessoal.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
35 A Gramática
39 Concepções de Linguagem
42 Considerações Finais
51 Referências
53 Gabarito
UNIDADE II
57 Introdução
83 Considerações Finais
89 Referências
90 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
A PRODUÇÃO TEXTUAL
93 Introdução
127 Referências
128 Gabarito
UNIDADE IV
131 Introdução
160 Referências
161 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
LITERATURA INFANTIL
165 Introdução
205 Referências
207 Gabarito
209 CONCLUSÃO
Professora Dra. Ivone Pingoello
Professor Me. João Carlos Dias Furtado
I
OS NÍVEIS E FUNÇÕES
UNIDADE
DA LINGUAGEM ORAL E
ESCRITA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar linguística, língua, linguagem e fala.
■■ Conceituar os elementos linguísticos da comunicação.
■■ Verificar as especificidades da comunicação oral e escrita.
■■ Compreender as concepções de linguagem existentes.
■■ Compreender a importância e a função da gramática na estruturação
da língua.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A língua materna como objeto de estudo
■■ Os fundamentos linguísticos da comunicação
■■ Oralidade versus Escrita
■■ A gramática
■■ Concepções de linguagem
15
INTRODUÇÃO
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A LÍNGUA MATERNA COMO OBJETO DE ESTUDO
linguística. Para o autor, o cerne dos estudos linguísticos consiste no estudo his-
tórico e descritivo.
No século XIX, já havia uma grande euforia nos estudos da linguagem, apre-
sentando a comparação entre as línguas e suas origens, os estudos fonéticos e
os princípios universais na gramática, mas quem chancela o caráter científico
desses estudos é Saussure, discutindo a língua como um conjunto de relações
que constitui um sistema que é mais relevante do que seus próprios elementos.
Assim, no século XX, Saussure dedica-se ao estudo da língua imanente,
estabelecendo a dicotomia de sistemas Langue (língua) e Parole (fala), embora
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
direcione seus estudos para a língua.
Consoante Faraco (2004, p. 64), “Saussure tinha descoberto na língua uma
construção legitimamente estrutural”, pois trabalhou com o sentido sincrônico
da língua em oposição aos estudos comparatistas diacrônicos e estabeleceu que
o significante e o significado são arbitrários em todas as línguas, desfazendo
qualquer conceito que juntava o sinal gráfico/som ao sentido da palavra em si.
Apesar de não deixar um modelo acabado e/ou pronto de análise linguís-
tica, a proposta estruturalista dele modificou o olhar para os estudos linguísticos,
tornando-se a base da ciência da língua. Esse novo paradigma difundiu-se na
Europa e na América em diversas correntes importantes de estudos, como a Escola
Linguística de Praga (Wilhem Mathesius, Roman Jakobson, Troubetzkoy), o estru-
turalismo que deu origem à glossemática de Louis Hjelmslev, o funcionalismo de
André Martinet e as pesquisas nos Estados Unidos (Franz Boas e Edward Sapir).
Nesse breve panorama, observamos que os direcionamentos saussurianos foram
tão amplos que são poucas, hoje, “as teorias linguísticas que podem declarar-se
autenticamente não saussureanas”, afirma Faraco (2004, p. 68).
Já na segunda metade do século XX, por volta dos anos de 1970, diversos
estudos de base saussuriana entremeiam-se pelas lacunas deixadas pela teoria
estruturalista, propondo um estudo da linguagem e do pensamento, o lado psi-
cológico da comunicação, tendo como base o fato de que “a língua foi criada
somente quando o pensamento humano excogitou empregar os sons vocais com
propósito comunicativo”, conforme afirma Câmara Jr. (1975, p. 59).
Um olhar para os fenômenos da comunicação com o entendimento de que
as estruturas linguísticas não explicariam tudo, recorrendo à base da psicologia
Treinamento
Esses estudos abriram diversas oportu-
nidades de pesquisa e desenvolvimento da
Sociolinguística com diferentes enfoques na EDUCAÇÃO INFOGRÁFICA
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coi-
sa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
(Paulo Freire)
COMUNICAÇÃO
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OS FUNDAMENTOS LINGUÍSTICOS DA
COMUNICAÇÃO
alguém que não gosta de gastar seu dinheiro. Podemos chamá-lo de muquirana,
sovina, mão de figa, avarento, fominha, muximba, mão fechada, e tantas outras
possibilidades. Isso indica o quanto a língua é viva, rica e molda-se à necessi-
dade do falante/escritor.
Esse exemplo demonstra um caráter fundamental das línguas nacionais: a
arbitrariedade, isto é, a relação do signo (palavra) e significante (objeto/sen-
tido) é construída social e historicamente, dado que não há uma naturalidade
entre ambos, pois se assim houvesse, todos os objetos teriam o mesmo nome
nas mais diversas línguas maternas existentes.
Como verificamos isso? Fácil! Pensemos no signo “cadeira” e no seu signifi-
cante (objeto/conceito do objeto); se a relação entre eles fosse natural, em todas
as línguas aquele objeto de sentar e com um encosto chamaria “cadeira”, mas
sabemos que não é assim, por exemplo, em inglês chama-se “chair”, em espa-
nhol “silla”, em francês “chaise” etc.
A arbitrariedade está em não haver relação entre a palavra, que seria o signo,
e a imagem, que seria o significado. Para que houvesse relação, o objeto deveria
ser designado por uma palavra que remeteria à sua função; a cadeira se chama-
ria “sentador”, por exemplo, nome que remete à função da cadeira, de ser um
objeto para sentar. Conseguimos entender que a palavra carro designa o objeto
que já conhecemos por compartilharmos do significado estabelecido socialmente.
Portanto, as grafias convencionais não representam o objeto, não há nenhum
laço natural entre a grafia e o objeto designado.
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construído de forma arbitrária ao longo de sua formação histórica, com diver-
sas influências culturais, sociais e regionais.
Como surgiu a Língua Portuguesa, então? Ela tem sua origem no Latim que,
adotado pelo Império Romano e com a sua expansão por quase toda a Europa,
sofreu a influência de diversos povos conquistados. Constituiu-se, assim, o Latim
erudito, usado por um grupo seleto para documentos oficiais e literários, e o Latim
Vulgar, que transforma-se em outras línguas chamadas neolatinas (com origem
do Latim). Exemplos vivos de línguas neolatinas são o português, o espanhol, o
francês, o italiano e o romeno. Ora, as línguas não existem sem as pessoas que as
falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes (CALVET, 2002, p. 11).
Ficaram claras as mudanças e transformações que ocorreram nas línguas
nacionais? Outro bom exemplo é a diferença de pronúncia (sotaque) e expressão
gramatical entre os países que falam a “mesma” Língua Portuguesa, diferença clara
entre o sotaque de Portugal e do Brasil. Porém, nem precisamos ir tão distante
assim, pois é fácil notar essas diferenças entre os usos da língua materna entre
as regiões do nosso próprio país. Por isso, criamos a nossa identidade cultural
e pessoal diante da interação linguística, vendo, ouvindo, falando e escrevendo
em língua portuguesa; conforme Bakhtin (2010), adquirimos os conceitos da
língua mediante a interação verbal quando ouvimos enunciados concretos e os
reproduzimos com os indivíduos que nos cercam.
São 249 milhões de falantes nativos da língua portuguesa e 20 milhões de
pessoas que têm o idioma como segunda língua, compreendidos pelas comu-
nidades de Macau (China) e Goa (Índia) e por oito países: Angola, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Você sabia que Brasil e Portugal não são os únicos países que usam a Língua
Portuguesa? Realmente, o grupo de países que falam português é grande.
Quer saber um pouco mais? Existe o site dessa comunidade de países que
usam a mesma língua. Nesse site você encontrará informações e curiosida-
des sobre todos os integrantes. Para saber mais, acesse o link disponível em:
<www.cplp.org>.
Fonte: os autores.
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A Língua Portuguesa hoje é a 6ª língua mais falada no mundo, isso nos dá uma
dimensão de sua importância e do peso cultural e comercial que ela adquiriu ao
longo de sua história e formação.
Diante disso, surge uma pergunta: posso entender Língua como um sinô-
nimo de Linguagem?
Para nós, ela [língua] não se confunde com a linguagem; é somente
uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo
tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir
o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 2006, p.17).
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é individual, intencional, espontânea e depende das estruturas psicofísi-
cas do indivíduo para se realizar.
com a verdade, podendo ser fictícia ou misturar fatos reais com a ficção, há liber-
dade de uso de formas não convencionais da escrita em nome da estilística. A
segunda se refere à linguagem utilizada com o objetivo de informar, registrar,
argumentar ou relatar fatos verídicos, é definida como linguagem denotativa,
pois tem compromisso com a verdade.
Na comunicação oral, não são observadas a rigor as formalidades das nor-
mas culta da língua, o falante não necessita ir à escola para aprender a utilizar a
língua falada, ele aprende no meio em que vive, sob a influência de seus fami-
liares e amigos, por meio de veículos de comunicação etc. Em situação de uso
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entre si em um jantar. Da mesma forma que seria estranho ir de terno à praia, é
estranho usar uma linguagem chula em uma apresentação formal de trabalho.
Numa comunidade linguística, possibilidade de representação de de-
terminados elementos linguísticos (fonéticos, morfológicos, sintáticos
etc.) por diferentes modos de expressão. A sociolinguística se carac-
teriza pelo reconhecimento da variação linguística como constitutiva
das línguas humanas e por assumir essa heterogeneidade natural como
objeto de estudo (CALVET, 2002, p. 156).
Percebemos que todas as línguas nacionais têm uma liberdade de uso, de varia-
ções enormes, mas isso não quer dizer que não haja um norma, há sim, pois é a
partir da norma culta da língua que surgem as variantes (variação linguística),
e é por isso que o falante/escritor deve dominar a norma culta e suas variantes
e não somente uma variação linguística, pois se assim ocorrer, seria como se a
pessoa só tivesse um tipo de roupa para ir trabalhar, ir a uma celebração reli-
giosa, ir à praia, praticar um esporte. Isso indica a necessidade de estudarmos
profundamente a nossa língua materna.
As variações linguísticas podem ser classificadas da seguinte forma:
■■ Variação geográfica ou diatópica: características de falas regionais, expressões
próprias de determinados lugares, diferenciação entre o urbano e o rural.
■■ Variação social ou diastrática: características relacionadas à posição que
o falante ocupa em suas relações que demonstram escolaridade, classe
social e/ou gênero.
■■ Variação estilística ou diafásica: características relacionadas à circunstân-
cia comunicativa: espaço da comunicação, assunto abordado, tipo de texto.
Podemos nos deparar em nosso dia a dia com vários níveis de linguagem e
temos a capacidade de nos adaptarmos a todas elas, conforme nossa necessi-
dade e conhecimento. Não podemos dizer que ora erramos ou ora acertamos, o
que ocorre é o uso adequado ou inadequado em certas ocasiões.
Os grupos sociais diferenciam-se por vários aspectos, entre eles a vestimenta,
local de moradia, de trabalho, gosto musical, religioso e político e não poderia ser
diferente com a língua falada por esses grupos, cada qual utiliza códigos linguís-
ticos que os identifica com o grupo ao qual pertencem. Lembrando que códigos
linguísticos são as expressões da comunicação verbal utilizada pelos falantes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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de “a gente vai” ou “nós vamos”?
Devemos nos atentar para o fato de que o linguajar da criança é reflexo do
linguajar da família, do ambiente em que vive, portanto, em uma situação como
essa, não se recomenda chamar a atenção do aluno na frente de todos, expondo-o
à humilhação e indiretamente expondo alguém da família da qual ele copiou o
termo errado; agindo dessa forma, estaremos fazendo com que o aluno passe a
ter vergonha daquele que lhe ensinou a falar errado, que pode ser o pai, a mãe
ou os avós. O correto é o professor ensinar à toda a turma de forma que o aluno
perceba os erros cometidos sem ser citado.
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pessoalmente essas pessoas nunca conversem ou sejam amigas.
Outro exemplo é quando o filho pede algo aos pais, também há um comu-
nicador com sua intenção comunicativa bem clara, um horizonte de expectativa
(conseguir o que foi pedido) e os ouvintes (seus pais). Imagine, hipoteticamente,
que essa pessoa não tenha pais; o seu discurso não se configura como uma comu-
nicação, por isso Bakhtin (2010) reforça a ideia de que as palavras, o texto e o
discurso estão impregnados de significado e são dependentes do outro para faze-
rem sentido ou serem eficazes.
Um grande estudioso da comunicação, das unidades linguísticas e das fun-
ções da linguagem foi Roman Jakobson (1896 - 1982), que participou do Círculo
Linguístico de Praga (grupo de estudos que desenvolveu métodos de análise estru-
turalista e semiótica) que também contou com diversos estudiosos de renome,
como: Vilém Mathesius, Nikolai Trubetzkoy, Sergei Karcevskiy, René Wellek,
Jan Mukařovský, entre outros.
A pesquisa de Jakobson aprofundou o estudo sobre a finalidade da língua,
as funções que a linguagem pode proporcionar e o entendimento da relação
entre o falante e o ouvinte. Como base para a criação de sua teoria, Jakobson
toma o modelo Karl Buhler como princípio de estudo, pois este já definia três
funções básicas da linguagem: função expressiva; função conativa e função de
representação.
Partindo disso, ele cria sua teoria sobre a comunicação com seis elemen-
tos constituintes:
1. Remetente/codificador: emissário da mensagem;
2. Mensagem: objeto da comunicação, conteúdo, assunto;
3. Referente/Contexto: é aquilo (objeto ou situação) a que mensagem se
refere;
4. Código: conjunto de signos comum ao emissor e ao receptor;
5. Canal de comunicação: meio pelo qual a mensagem é transmitida;
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Jakobson foi além de uma simples classificação comunicativa, ele atribuiu a cada
uma das citadas acima uma função comunicativa que estabelece sentido em seu
uso, assim, o remetente corresponde à função emotiva; a mensagem corresponde
à função poética; o referente à função referencial; o código à função metalinguís-
tica; o canal de comunicação à função fática e o destinatário à função conativa.
Para Jakobson (2005), essas funções da linguagem não se anulam, mas sim
há uma predominância de uma sobre a outra, dependendo da situação comuni-
cativa, de forma que, em uma situação comunicativa, quando a função conativa
prevalece, as outras fazem um papel secundário; isso ocorre devido à dinami-
cidade da língua.
A diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas fun-
ções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura
verbal de uma mensagem depende basicamente da função predomi-
nante (JAKOBSON, 2005, p. 157).
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A partir disso, é necessário entendermos as particularidades de cada uma des-
sas funções. Segundo Jakobson (2005), elas são:
■■ Função emotiva: expressa as emoções e sentimentos de quem fala, na
primeira pessoa do discurso. Comum em textos opinativos, frases com
interjeições e poesias subjetivas;
■■ Função conativa: centrada no destinatário, por isso tem um aspecto de
persuasão, convencimento. Comum em textos publicitários;
■■ Função referencial: tem o seu objetivo em descrever/apresentar o objeto
ou situação tratada na mensagem, há predominância do discurso em ter-
ceira pessoa impessoal. Comum em textos científicos e descritivos;
■■ Função poética: tem como objetivo a construção do texto da mensagem,
pois utiliza a linguagem de forma a combinar imagens, sons e ritmos que
produzam uma mensagem mais elaborada. Comum em textos literários
e publicitários;
■■ Função fática: tem como objetivo estabelecer comunicação, prolongan-
do-a, focando-se no canal. Comum em cumprimentos e despedidas;
■■ Função metalinguística: tem como objetivo o próprio código, verificar
o êxito da própria comunicação. Comum quando a comunicação volta-
-se para explicar um termo ou expressão usada na própria comunicação.
Segundo Fávero et al. (2005, p. 74), podemos observar traços distintivos entre a
fala e a escrita organizados no quadro a seguir:
Quadro 1 – Fala X Escrita
FALA ESCRITA
O texto mostra todo seu proces- O texto tende a esconder o seu processo de
so de criação criação, mostrando apenas o resultado
Interação face a face Interação a distância (espaço-temporal)
Planejamento simultâneo ou
Planejamento anterior à produção
quase simultâneo à produção
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Criação coletiva: administrada
Criação individual
passo a passo
Impossibilidade de apagamento Possibilidade de revisão
Sem condições de consulta a
Livre consulta
outros textos
Reformulação pode ser promovi-
A reformulação é promovida apenas pelo
da tanto pelo falante como pelo
escritor
interlocutor
O falante pode processar o texto,
redirecionando-o a partir das O escritor pode processar o texto a partir das
reações do possíveis reações do leitor
interlocutor
Fonte: Fávero et al. (2005, p. 74).
A GRAMÁTICA
Quando nascemos e logo nos primeiros anos de vida, quando começamos a falar,
construímos uma fala baseada em uma lógica comunicativa; mesmo que não
saibamos o que é gramática, sujeito, verbo ou análise sintática, conseguimos esta-
belecer uma comunicação eficiente com os pais e/ou responsáveis. Sendo assim,
notamos que as regras gramaticais surgem da análise de como o ser humano uti-
liza a língua; por isso, a gramática não pode ser uma camisa de força, mas sim
um instrumento que nos auxilie na nossa formação como comunicadores.
Ao olharmos para a história da evolução dos estudos gramaticais, notamos
que os primeiros estudos e os primeiros manuais voltaram-se para estudar um
certo padrão, um certo uso e desconsiderar as outras variáveis, por isso surge o
conceito de “certo” e “errado”.
A origem da gramática tradicional data do século II a. C. e foi descrita pela
primeira vez por Dionísio da Trácia, com o objetivo de oferecer os padrões linguís-
ticos para as obras de escritores consagrados, limitando-se à língua literária grega.
Foi organizada para transmitir o patrimônio literário grego e serviu de modelo
para a tradição gramatical ocidental com o apoio das línguas grega e latina, sendo
aplicada, posteriormente, à descrição de diversas línguas (CHAPANSKI, 2003).
A Gramática
36 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria, vira
ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis,
a ação criadora e modificadora da realidade.”
(Paulo Freire)
De acordo com Travaglia (2006), há três concepções gramaticais que podem ser
trabalhadas, discutidas e utilizadas para a formação linguística do aluno, que são:
Gramática Normativa, Descritiva e Internalizada.
As principais características dessas gramáticas são:
■■ A Gramática normativa estabelece as regras e normas a serem seguidas
pelos falantes da língua e considera erro o que foge a essas regras. É divi-
dida em três partes: a fonética, que estuda os sons da fala; a morfologia,
que estuda as classes gramaticais, e a sintaxe, que estuda a função que as
palavras desempenham dentro da oração, como a concordância, a regên-
cia e a disposição da palavra na frase. Para que se possa compreender o
uso dos pronomes relativos, a colocação pronominal e as várias relações
de concordância, por exemplo, dentro da frase e esta dentro do período, é
importante realizarmos uma análise sintática, que é a parte da gramática
normativa que se preocupa com a organização das palavras na sentença.
A Gramática
38 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
demonstram as diferenças culturais, sociais e históricas na formação de uma
sociedade que optou conscientemente ou não por usar uma construção linguís-
tica para se comunicar; por isso excluir as variedade linguísticas da sala de aula
é excluir a diversidade cultural da sala de aula. Essa exclusão ou segregação lin-
guística e cultural demonstra a distância que a escola está da sociedade.
Dessa forma, todas as questões que envolvem o uso da língua não são
apenas questões linguísticas; são também questões políticas, históricas,
sociais e culturais. Não podem, portanto, ser resolvidas somente com
um livro de gramática ou à luz do que prescrevem os comandos de
alguns manuais de redação (ANTUNES, 2009, p. 21).
Entendemos assim que a língua materna também faz parte da formação pessoal
e cultural do aluno que vai, aos poucos, construindo a sua identidade e inserin-
do-se na sociedade com seus posicionamentos. Isso evidencia que é por meio
do uso da língua que o sujeito constrói sua identidade social, recebe e transmite
informações, ideias, culturas e conceitos; portanto, limitar o conhecimento da
língua seria o mesmo que limitar o campo de atuação do sujeito. Dessa forma,
entendemos que todos devem ter acesso a todas as informações que contribuam
com o desenvolvimento pleno das competências linguísticas adequadas para cada
ocasião, incluindo as variantes da linguagem escrita e a norma culta presentes
em situações que envolvem o aspecto profissional e social.
A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós,
com nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fize-
ram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória
de nossa memória coletiva. Daí, o apego que sentimos à nossa língua,
ao jeito de falar de nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos
nossa adesão a esse grupo (ANTUNES, 2009, p. 23).
gua portuguesa falada no Brasil precisa ter como foco de sua legitimidade as
manifestações da plural e mestiça cultura brasileira”, demonstrando a inclusão
e a diversidade que a língua portuguesa produziu e produzirá.
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Notamos ao longo desta unidade que a língua tem um caráter dinâmico, está em
constante transformação e que historicamente teve um papel importante na for-
mação e construção das sociedades em que o homem viveu.
Muitos estudiosos apresentaram suas teses sobre o desenvolvimento da língua e
sua influência da formação escolar e de seus paradigmas. Contudo, Bakhtin postulou
a concepção dialógica da linguagem, entendendo que a língua se constitui na interde-
pendência da comunicação com o outro, isto é, ela não existe em um sistema isolado.
Concepções de Linguagem
40 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As concepções bakhtinianas inserem-se dentro de um contexto de ensino-apren-
dizado e ainda hoje são pontos fundamentais para a reflexão da prática docente.
As concepções são: linguagem como expressão do pensamento; linguagem como
instrumento de comunicação; e linguagem como forma de interação. Sobre isso,
Travaglia ressalta que
[...] o modo como se concebe a natureza fundamental da língua altera
em muito o como se estrutura o trabalho com a língua em termos de
ensino. A concepção de linguagem é tão importante quanto a postura
que se tem relativamente à educação (TRAVAGLIA, 2006, p. 21).
Concepções de Linguagem
42 UNIDADE I
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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sibilidade de utilizar diversos recursos da linguagem para atingir seu objetivo.
A materialização do som da fala, dos gestos, a entonação vocal e a expres-
sividade facial e corporal constituem partes fundamentais da linguagem que
estudamos, embora evidentemente demos destaque para o estudo da lingua-
gem escrita e falada.
Entendemos as diferenças entre a língua escrita e a oral, os recursos que cada
uma dispõe para sua utilidade e vimos que a linguagem se articula necessaria-
mente na comunicação; por isso, entender os fundamentos da comunicação é
necessário e importante para uma boa aprendizagem.
Discutimos, também, a origem, formação e importância da gramática no
contexto escolar, refletindo sobre o seu uso e a necessidade de estar atento para
a linguagem que extrapola os limites gramaticais que engessam a língua.
Estudamos as concepções de linguagem e entendemos como o ensino da lín-
gua materna pode privilegiar certos aspectos e nuances que valorizam a gramática,
a oralidade e as transformações da linguagem e como isso deve ser trabalhado
para valorizar a formação de um aluno que saiba explorar a sua potencialidade
linguística.
A aquisição da linguagem não é um fim, é um começo de evolutivas etapas
de conhecimento e interação que vão se aprimorando nos níveis subsequentes de
estudos e aperfeiçoamentos. Nesta etapa de nosso trabalho, nosso objetivo foi con-
tribuir com esse aprimoramento e fomentar a percepção da comunicação como
um ato social ao alcance de todos e capaz de transformação e ascensão social.
2. A língua portuguesa, como todas as outras línguas vivas, tem variantes linguísti-
cas que demonstram as diferentes construções sociais, históricas e regionais que
a língua sofre. Sobre isso, é correto afirmar:
I- As variações linguísticas são deformações da norma culta.
II- As variações linguísticas são ampliações do uso da língua.
III- A linguagem informal ou regional não pode ser considerada uma variante.
IV- As variações linguísticas fazem parte do patrimônio cultural de um país.
a) Apenas a alternativa I.
b) As alternativas I e II.
c) As alternativas II e IV.
d) As alternativas III e IV.
e) As alternativas I, III e IV.
44
4. Estudamos, nesta unidade, que a gramática não pode servir para nos “escravizar”,
mas que ela deve apresentar a língua em funcionamento e analisar as poten-
cialidades que podemos realizar ao utilizar a língua materna. Explique como a
gramática pode ser utilizada na prática escolar.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A chegada (2016)
Sinopse: naves alienígenas chegaram às principais cidades do
mundo. Com a intenção de se comunicar com os visitantes, uma
linguista e um militar são chamados para decifrar as estranhas
mensagens dos visitantes.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O documentário “Quando sinto que já sei” registra práticas educacionais inovadoras que
estão ocorrendo pelo Brasil. A obra reúne depoimentos de pais, alunos, educadores e
profissionais de diversas áreas sobre a necessidade de mudanças no tradicional modelo
de escola.
Acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg>.
A diversidade de textos que circulam no caminho diário dos alunos permite que eles
tenham ainda mais possibilidades de conhecer sobre a língua portuguesa. No primeiro
episódio da série é abordada uma das principais preocupações dos estudos linguísticos
da atualidade: a necessidade de extrapolar o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa
baseado apenas no texto verbal escrito.
Acesse o link disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/
perspectivas-lingua-portuguesa-oralidade-e-escrita>.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Org. Charles Bally, Albert Sechehaye. Col.
Albert Riedlinger. Trad. Antônio Chelini, João Paulo Paes, Izidoro Blikstein. São Paulo:
Editora Cultrix, 2006.
TRAVAGLIA, C. L. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática.
11. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
Referência On-line
1
Em: <https://ensaiosenotas.com/2014/11/16/funcoes-da-linguagem-e-a-constru-
cao-do-sentido-para-jakobson/>. Acesso em: 29 jul. 2017.
2
Em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n48/v16n48a02.pdf>. Acesso em: 30
out. 2017.
53
GABARITO
1) B.
2) C.
3) E.
4) A gramática em sala de aula não pode ser utilizada como uma forma de “pren-
der” o aluno dentro de um universo de regras, por isso atentar para as variantes
linguísticas e a norma culta é uma prática necessária, potencializando a apren-
dizagem do aluno, podendo basear-se nas gramáticas tradicional, descritiva e
internalizada de modo que estimulem a prática linguística real.
5) A concepção que favorece a aprendizagem de língua materna é a terceira (lín-
gua como forma de interação), pois entende-se nessa concepção que a língua
é um organismo vivo em constante transformação, assim os alunos percebem a
importância de dominar as variáveis linguísticas para se tornarem exímios co-
municadores.
Professora Dra. Ivone Pingoello
Professor Me. João Carlos Dias furtado
II
CONCEPÇÕES DE LEITURA:
UNIDADE
DA DECODIFICAÇÃO AO
LETRAMENTO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender os processos sociais da leitura.
■■ Aperfeiçoar os procedimentos de leitura.
■■ Ampliar as competências críticas de leitura.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Fundamentos teóricos da leitura
■■ As etapas dos procedimentos de leitura
■■ As competências críticas de leitura
57
INTRODUÇÃO
Introdução
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA LEITURA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e Proficiente. As categorias Analfabeto e Rudimentar se referem ao grupo dos
Analfabetos Funcionais, que é a classificação dada às pessoas que conseguem codi-
ficar e decodificar as letras do alfabeto e construir leituras e escritas apenas para
fins funcionais com caráter instrumental; as categorias Elementar, Intermediário
e Proficiente referem-se ao grupo do Alfabetismo Funcional, que é a classificação
dada às pessoas que conseguem ir além da decodificação e codificação.
No quadro a seguir, produzido pelo INAF, destacamos as conceituações de
cada nível:
Quadro 1 – Níveis de proficiência linguística
• Analfabeto: corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que
envolvem a leitura de palavras e frases, ainda que uma parcela destes consiga ler números
familiares (números de telefone, preços, etc.).
• Rudimentar: localiza uma ou mais informações explícitas, expressas de forma literal, em
textos muito simples (calendários, tabelas simples, cartazes informativos) compostos
de sentenças ou palavras que exploram situações familiares do cotidiano doméstico.
Compara, lê e escreve números familiares (horários, preços, cédulas/moedas, telefone),
identificando o maior/menor valor. Resolve problemas simples do cotidiano envolvendo
operações matemáticas elementares (com ou sem uso da calculadora) ou estabelecendo
relações entre grandezas e unidades de medida. Reconhece sinais de pontuação (vírgula,
exclamação, interrogação, etc.) pelo nome ou função.
• Elementar: seleciona uma ou mais unidades de informação, observando certas condi-
ções, em textos diversos de extensão média, realizando pequenas inferências. Resolve
problemas envolvendo operações básicas com números da ordem do milhar, que exigem
certo grau de planejamento e controle (total de uma compra, troco, valor de prestações
sem juros). Compara ou relaciona informações numéricas ou textuais expressas em gráfi-
cos ou tabelas simples, envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social.
Reconhece o significado de representação gráfica de direção e/ou sentido de uma gran-
deza (valores negativos, valores anteriores ou abaixo daquele tomado como referência).
mento ou estilo do autor do texto. Interpreta tabelas e gráficos envolvendo mais de duas
variáveis, compreendendo elementos que caracterizam certos modos de representação
de informação quantitativa (escolha do intervalo, escala, sistema de medidas ou padrões
de comparação) reconhecendo efeitos de sentido (ênfases, distorções, tendências, pro-
jeções). Resolve situações-problema relativos a tarefas de contextos diversos, que envol-
vem diversas etapas de planejamento, controle e elaboração, que exigem retomada de
resultados parciais e o uso de inferências.
Fonte: Lima, Ribeiro e Catelli Jr. (2016, p. 5).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em relação à situação de trabalho, 47% dos entrevistados classificados como
Analfabetos estavam trabalhando; da mesma forma, 60% do grupo Rudimentar,
62% do grupo Elementar, 68% do grupo Intermediário e 75% do grupo Proficiente
estavam trabalhando no momento da realização da pesquisa (LIMA; RIBEIRO;
CATELLI JR.; 2016).
Os autores Lima, Ribeiro e Catelli Jr. (2016) observam que é na pequena par-
cela da população entrevistada que apresentou o nível de proficiência em leitura
e escrita (8%) que se encontra o maior percentual de pessoas que estavam tra-
balhando. Se observarmos os números, percebe-se que o percentual de pessoas
com trabalho vai aumentando gradativamente à medida que aumentam as habi-
lidades e competências no uso da leitura e da escrita.
Os dados apresentados pelo INAF revelam que as ocupações profissionais
nas quais se identifica a maior presença de pessoas na condição Proficiente são,
também, as que apresentam maior escolaridade. Isto é, a proficiência em leitura
e escrita está diretamente relacionada com o nível mais alto de formação, no
caso, a formação no Ensino Superior (LIMA; RIBEIRO; CATELLI JR., 2016).
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cionais de leitura, escrita, aprendizagem e interação social.
As participações nos fóruns são momentos importantes de materialização
de ideias e organização do pensamento a partir de leituras realizadas; cada pos-
tagem alinha-se aos demais comentários, formando o elo de pensamento:
O objetivo do fórum, dessa forma, assemelha-se ao que Lévy (2004,
2009) chama de inteligência coletiva: capacidade de um coletivo de se
engajar numa cooperação intelectual para criar, inovar e inventar, e tem
como fundamento e objetivo o reconhecimento e enriquecimento mú-
tuo das pessoas (PINTO; FISCHER, 2014, p. 21).
Para Fischer (2008), ser letrado representa ter a capacidade de realizar práti-
cas sociais num contexto de poder e ideologia, de se manifestar, agir em prol da
defesa de ideologias próprias. Isso significa que tornar-se letrado é poder cons-
truir identidade própria. Para a autora, as práticas de leitura e escrita integram as
experiências de vida do sujeito e interferem nos modos de dar sentido às expe-
riências sociais.
Nos sentidos dados por Pinto e Fischer (2014), o letramento empodera o
sujeito nas questões sociais, culturais e econômicas, empoderamento que pode
ser demonstrado nas atuações acadêmicas, profissionais e nas realizações pes-
soais. As autoras ressaltam que as práticas de letramento não se findam com os
estudos acadêmicos, ninguém fica ou está letrado, mas se mantém em constante
processo de letramento. Assim, não se transmite o letramento, mas se promove
o processo de sua construção que é individual, considerando as experiências
letradas de cada sujeito.
ciência severa para aqueles/as cujos direitos são violados. Para Paulo Freire
(2005), a democratização da cultura escrita e da leitura favorece a reflexão e
o clarear das consciências, promovendo a humanização com consequente
compreensão dos direitos que possuem, promovendo a busca desses direi-
tos antes desconhecidos.
Fonte: os autores.
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Interpretação: é a capacidade de análise crítica frente ao texto e só ocor-
re depois da compreensão. Sem compreensão não ocorre a interpreta-
ção. Nessa etapa, recupera-se todas as informações e conhecimentos
prévios sobre o assunto, estabelece-se a intertextualidade entre os tex-
tos, questiona-se, julga-se e tira-se conclusões a respeito do texto lido.
Retenção: é a última fase da leitura, na qual o/a leitor/a é capaz de ar-
mazenar na memória as informações mais importantes expostas no
texto. Cabem então analogias, comparações, reconhecimento do sen-
tido de linguagens figuradas e das ideias subjacentes.
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estão sempre em evolução por ocasião da evolução das novas tecnologias e das
mídias de comunicação e informação.
Desta forma, o sentido do texto tanto pode variar conforme variam os tipos e
o contexto de sua publicação como também podem variar de leitor/a para leitor/a
e varia, também, a percepção do/a leitor/a no campo de evolução das habilida-
des leitoras. Evoluímos lendo, e lendo evoluímos.
Na evolução leitora, ampliam-se os processos de inferência. Para entender
melhor o que é a inferência, leia a piada no quadro a seguir:
Quadro 2 – Três sujeitos discutiam quem tinha a profissão mais antiga
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–– Verifique o nome do/a autor/a: é de alguém conhecido/a, já citado/a em
outros textos?
–– O livro foi publicado em uma única edição e há muitos anos? Sinal de
que não houve muita procura por ele.
–– O livro foi editado várias vezes? Significa que superou as expectativas de
vendas.
–– Todo livro possui uma ficha catalográfica com anotações dos tópicos abor-
dados, são as palavras-chave, lendo-as, você terá uma noção dos temas
abordados.
–– No sumário ou índice de livros, você pode perceber os tópicos, os subtítu-
los que indicam de que forma e quais os pontos que são tratados no livro.
–– Confira a bibliografia consultada pelo/a autor/a, nesta parte você poderá
ter uma noção das bases do texto, da confiabilidade dos dados apresenta-
dos quando se utiliza de autores renomados e respeitados dentro do tema
abordado. Esse item também pode ser utilizado por você para novas con-
sultas, novas garimpagens, cada referência citada pode ser buscada por
você como nova fonte de informação.
Antes de decidir sobre a leitura total do texto, passe os olhos sobre alguns pará-
grafos, leia partes da introdução e partes das considerações finais, desta forma
você terá uma ideia se é o que realmente procura.
Após essa averiguação e o texto sendo descartado de sua leitura, não significa que
você perdeu tempo, pelo contrário, você ganhou conhecimento. O texto pode não lhe
ser útil neste momento, mas poderá o ser num momento futuro. O ideal seria você
anotar o título e o assunto tratado para uma consulta futura, caso venha a precisar.
total da unidade.
h. Análise Temática - A partir dos dados sobre o/a autor/a, principalmente
sua linha teórica, busca-se entender a mensagem que o/a autor/a quer
transmitir sem que sejam feitas interferências pessoais por parte do/a
leitor/a. As questões formuladas nessa parte da análise fornecem o con-
teúdo, o que o/a autor/a quis dizer.
i. Análise Interpretativa – Amparados pelos dados fornecidos pelas duas
fases primeiras de análises, chegamos à interpretação leitora, construímos
nossa própria visão do texto, momento de desenvolvimento intelectual
do/a leitor/a.
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AS COMPETÊNCIAS CRÍTICAS DE LEITURA
Quem não sabe pensar, acredita no que pensa. Mas, quem sabe pensar,
questiona o que pensa.
(Pedro Demo)
Parafraseando Demo, podemos dizer: “Quem não é letrado, acredita no que lê.
Mas quem é letrado, questiona o que lê”.
Essa é a base principal da leitura crítica: questionar tudo o que lê, manter uma
postura analítica, avaliativa, reflexiva e questionadora. É não aceitar um texto
como imposição de ideias, ter a capacidade de desvendar os sentidos explícitos
e implícitos no texto, cogitar a dúvida e dinamizar conflitos.
mado/a autor/a e aceitar como lei o que escreve apenas por ser um/a autor/a
reconhecido nacional e internacionalmente, da mesma forma que não devemos
rejeitar tudo partindo da concepção errônea de que ser crítico é rejeitar tudo e
ficarmos apenas com a nossa verdade. Todas as verdades são transitórias, tudo
tem que ser ponderado e relativizado.
Entre as leituras em relação às quais mais necessitamos ser críticos estão as
leituras propostas pela mídia, tanto no que diz respeito aos textos escritos como
os textos orais, vinculados aos veículos de propagação de informações de massa,
como rádios, redes de televisões, jornais impressos e on-line, revistas impres-
sas e on-line. Esses veículos possuem o poder de decidir o que iremos saber e o
que não devemos saber e, ainda, de que forma a informação será transmitida.
Nesse contexto, é válido retomarmos o pensamento de Bakhtin (2010),
quando o autor afirma que todo ato comunicativo é intencional e carregado de
ideologia e podemos perceber que com os textos midiáticos isso não é diferente.
A mídia jornalística e de entretenimento são produtos de empresas privadas e
como tal estão associadas à ideologia da empresa à qual pertencem. As empresas
de mídia jornalísticas afirmam que são meios independentes de transmissão de
informação, mas isso não ocorre, porque tais empresas são mantidas por grandes
patrocinadores que fazem usos desses meios para divulgar seus produtos e mar-
cas, além de propagandas políticas, conforme esclarecem Hartmann e Santarosa
(2009). Conforme ressaltam os autores, o vínculo com os meios de produção
privada de mercadorias e com interesses de grupos financeiros e políticos “deixa
claro que a objetividade e a imparcialidade são impossíveis em qualquer meio
de comunicação” (HARTMANN; SANTAROSA, 2009, p. 143).
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Hartmann e Santarosa (2009) citam Santos (2001) para esclarecer que os meios
de comunicação valem-se de seu poder para difundir suas ideologias hegemô-
nicas. Para Santos (2001), a globalização promoveu o fortalecimento de várias
empresas em nível mundial, entre elas estão as empresas jornalísticas que, con-
forme declara o autor, não são mais que sete em todo o mundo, e direcionam as
perspectivas de notícias nas agências menores. O que significa que as agências
menores são meras reprodutoras das notícias veiculadas nas grandes agências,
detentoras do poder de difundir apenas as notícias que vão gerar retorno finan-
ceiro, tanto nas vendas dos jornais como na garantia de permanência de seus
patrocinadores.
A seguir, reproduzimos um texto jornalístico utilizado por Hartmann e
Santarosa (2009) para expor a linguagem utilizada nos textos jornalísticos:
Social, Rosani Cunha, negou que a extensão do programa tenha fins eleitorei-
ros, mesmo atingindo jovens já autorizados pela Legislação Eleitoral a votarem.
“Estamos falando de uma modalidade dentro do programa. A compreensão
do governo é a de que não faremos um novo benefício, mas um ajuste em um pro-
grama que já existia. Não é a ampliação do Bolsa Família, mas o seu aperfeiçoamento.
Além disso, a extensão foi aprovada pelo Congresso no ano passado”, afirmou.
Segundo a secretária, o pagamento continuará sendo repassado à mãe
(ou chefe da família) responsável pelo jovem. “Quem melhor consegue deci-
dir onde adotar esse dinheiro é a própria família, preferencialmente a mãe. A
decisão foi muito mais para guardar coerência com o Bolsa Família que qual-
quer outra coisa”, disse a secretária ao ser questionada sobre o suposto viés
eleitoreiro da extensão.
Cunha afirmou que o principal objetivo da mudança é garantir que jovens até
17 anos permaneçam na escola, uma vez que grande parte abandonava os estudos
ao completar 15 anos com o fim do pagamento do Bolsa Família. Dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) revelam, porém, que os beneficiá-
rios do programa têm uma freqüência escolar 1,6% maior que os não beneficiários.
“A faixa etária de 15 a 17 anos é crítica para o sistema educacional. Perder
esses 1,6% seria muito. Para nós, é um índice importante, em um país em que
1% para a educação pública é muita gente”, minimizou o secretário de Educação
Continuada e Alfabetização do Ministério da Educação, André Lázaro.
[...]
(Texto de Gabriela Guerreiro, citado por Hartmann e Santarosa, 2009, p.
144-145)
Para efeito de comparação, Hartmann e Santarosa (2009) refizeram a mesma
reportagem com os dados básicos necessários para seu entendimento, cuja repro-
dução apresentamos a seguir:
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Ontem, 17-03, em Brasília, o governo federal decidiu estender o pagamento do
programa Bolsa Família para jovens de 16 a 17 anos. Desde ontem as famílias que
possuem crianças e jovens inscritos no programa poderão ampliar o benefício
caso os filhos já tenham completado 15 anos – idade fixa como limite em 2003,
para o pagamento do Bolsa Família. Segundo a secretária nacional de Renda e
Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosani Cunha, o objetivo
da mudança é garantir que jovens de até 17 anos permaneçam nas escolas, uma
vez que grande parte abandonava os estudos ao completar 15 anos, com o fim
do pagamento do Bolsa Família.
O segundo texto foi feito por Hartmann e Santarosa (2009, p. 147) com os mes-
mos dados informados no primeiro texto e deixa clara a diferença de objetivos. No
segundo texto há apenas informações objetivas, sem valorização negativa ou posi-
tiva, caberia ao/à leitor/a julgar o fato no âmbito assistencialista, social ou político. O
risco que se corre ao publicar uma notícia dessa é o fato de o/a leitor/a (leia-se elei-
tor/a) estar livre para interpretar, podendo passar despercebido a possível ilicitude
do governo, interpretação desejada pelo jornal, ou interpretar como um ato de bon-
dade do governo, fato que culminará num possível voto de confiança para o governo.
É um risco que um jornal, caso seja anti-governista, não pode correr e já
no enunciado da reportagem lança em debate a negação do governo do uso do
Bolsa Família com a finalidade eleitoreira. Ninguém nega algo de que não tenha
sido acusado, e quando nega levanta hipóteses sobre a veracidade da acusação
(HARTMANN; SANTAROSA, 2009). Dessa forma, o objetivo do primeiro texto
é o de levantar a hipótese de uso do programa Bolsa Família para fins eleitoreiros.
Na primeira frase a ordem é alertar o/a leitor/a de que a inflação está subindo;
na segunda frase a ordem é informar que está tudo sob controle. Manipulações
como essas podem ser facilmente verificadas em épocas de eleições.
Devemos, portanto, ler criticamente todo e qualquer texto publicado nas
mídias de massa, inclusive entrevistas, reportagens, crônicas, artigos de opi-
nião, todos, sem exceção, podem trazer a marca ideológica de quem o escreveu,
de quem pagou para escrever, de quem tem interesse e ganhará dinheiro com a
reportagem ou com a entrevista.
É nesse contexto que o atributo acadêmico passa pela promoção da habili-
tação em ler textos sincréticos e não sincréticos, entender os sentidos explícitos
e os implícitos nos discursos midiáticos, saber interpretar a mensagem não só
pela decodificação das palavras, mas também pela leitura do contexto, do veí-
culo utilizado, razão pela qual as atividades de leitura não devem ser restringidas
a um único veículo, mas à pluralidade dos meios utilizados que se configuram
nos princípios do letramento digital.
Para isso, é necessário formar opiniões críticas a partir de análises de textos
midiáticos com o objetivo de compreender a força midiática disseminadora de
ideologias, construtora/destruidora de identidades; desenvolver as potenciali-
dades identificadoras das marcas discursivas nos diferentes modos de retratar
os mesmos fatos, desvelar a intenção por trás da escolha intencional de verbos
que retratam ações e moldam opiniões, analisar o dito e o não dito.
Diante de conflitos interpretativos, podemos fazer alguns questionamentos
para aguçar o faro crítico. Sugerimos que você pergunte:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
questionadora.
Quanto maior o contato com a leitura, maior será a capacidade reflexiva
sobre os textos, pois há a possibilidade de comparação das ideias propostas por
cada autor/a. Nesse contexto, os hipertextos podem contribuir com a interati-
vidade textual.
OS HIPERTEXTOS E OS HIPERLEITORES
entre tantas delas. O/A leitor/a, mais do que nunca, tem que ter um obje-
tivo claro de leitura, ter a capacidade de filtrar o que lhe interessa e avaliar as
informações. Nesse tipo de leitura, outras habilidades têm que estar presen-
tes, como o domínio dos recursos digitais e o reconhecimento de ícones. O
hipertexto também pode nos remeter a links que constam imagens que o/a
autor/a acredita ser importante para a compreensão do texto. Dessa forma, o
acesso à imagem referida pelo/a autor/a se amplia e se transforma em instru-
mento essencial para manter a atenção do/a leitor/a, para vender, transmitir
mensagens, entreter etc.
Imagem é a voz do momento! O instrumento principal de comunicação
da mídia é a imagem, por ser uma mensagem agradável aos olhos e de rápida
absorção.
LEITURA DE IMAGEM
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
explorada pelos meios de comunicação, os quais também podem manipular o
foco desejado e publicar apenas o que lhes convêm. Portanto, a imagem pode
ter várias funções conforme o interesse de quem a utiliza.
Podemos fazer dois tipos de leitura de imagem, a leitura denotativa e a leitura
conotativa. Na leitura denotativa, elencamos os elementos que compõem a ima-
gem, podemos enumerá-los e/ou descrevê-los como a quantia de objetos, de seres
que aparecem na figura, e as cores utilizadas. A leitura conotativa é a interpreta-
ção das possíveis mensagens que a imagem pode transmitir, a interpretação das
feições dos sujeitos retratados, a disposição dos objetos, o significado das cores.
Para ler uma imagem, devemos mobilizar nossa percepção tanto denotativa
como conotativa, buscando identificar o que a imagem representa, o tema ou
assunto exposto nela; identificar os elementos que a compõem, como objetos,
pessoas, animais etc.; e a interpretação do que a imagem significa.
As imagens podem trazer mensagens que nos remetem a diferentes mun-
dos, como, por exemplo:
–– À cultura e às civilizações passadas, como os quadros clássicos históricos.
Há valores ultrapassados ou atuais que podem ser percebidos nas roupas
ou no posicionamento dos corpos expostos nos quadros.
–– Valores comerciais, como as imagens publicitárias.
–– Situações sociais de diferentes regiões, como a riqueza e pobreza, por
exemplo.
Como já dito anteriormente, nenhum texto está isento da ideologia do/a autor/a,
nem mesmo a imagem que é considerada um texto visual a ser decodificado;
portanto, por trás de toda imagem há uma intenção, e o desafio do/a leitor/a é
descobrir sobre qual intenção se ampara o/a autor/a da imagem, se é a de entre-
ter, divertir, emocionar, informar ou persuadir. Dessa forma, também na imagem
carecemos de usar nossa leitura crítica, principalmente em se tratando de ima-
gens jornalísticas e publicitárias.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, nesta unidade, que a leitura ou falta dela marca os sujeitos históricos.
Numa sociedade grafocêntrica, a leitura é passaporte para ocupações profissio-
nais e o letramento representa a possibilidade de melhorar o nível profissional.
Para além do mundo do trabalho, o mundo da leitura nos torna constru-
tores de nossa própria história, nos oferece chances de construirmos opiniões
próprias, formularmos conceitos, ideias, visões de mundo livre das ideologias
alheias, da alienação, e de construirmos identidade própria.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As práticas de letramento são indissociáveis das práticas sociais, haja vista que
estas são permeadas por imagens, textos, outdoors, placas, livros, jornais e todas
as mídias comunicativas que vendem sonhos pelo preço de mercado e que esta-
mos sujeitos a pagar, caso não tenhamos noções de juízo de valor.
Por isso afirmamos que o letramento é um processo contínuo de aprendiza-
gem da leitura, está construída nas práticas sociais que respondem às demandas
da realidade social, pois a cada instante a mídia inventa novas demandas. Somos
todos leitores em processo contínuo de formação, continuamente aumentando
as habilidades linguísticas, as noções e percepções textuais, ampliando o voca-
bulário e as possibilidades de leituras de mundo e, principalmente, aumentando
nossas defesas contra a alienação.
A ampliação das habilidades leitoras decorrerão das estratégias de leitura,
dos questionamentos perante à dialogicidade estabelecida entre leitor/a e texto.
A interação com o/a autor/a, mediante a palavra escrita, deve ocorrer continu-
amente até que se esgotem os questionamentos necessários para estabelecer a
compreensão e interpretação textual. E lembre-se, somente a prática o/a levará
a eficiência. Aprimorar e disciplinar as leituras o/a conduzirá à autonomia lei-
tora, fundamental para seu sucesso pessoal e profissional, fundamental para o
empoderamento!
Considerações Finais
84
1. Leia um jornal de sua região, anote quantas reportagens há no jornal que falem
bem ou que falem mal de algum governo municipal de sua região e formule
considerações sobre a reportagem: O jornal é a favor, contra ou mantém uma
postura apartidária em relação ao partido do governo citado?
2. Faz parte do processo de formação a autoavaliação de nossa evolução leitora e
isso só é possível se temos bem definido o conceito e a importância do letramen-
to acadêmico em nossas práticas sociais. Dessa forma, solicitamos a você que
defina o que é letramento acadêmico e qual a importância desse processo
em sua vida acadêmica e profissional.
3. Estudamos as quatro etapas que podem promover a leitura com proficiência
propostas por Cabral (1986), as quais são: decodificação, compreensão, interpre-
tação e retenção. Solicitamos a você que conceitue decodificação, compreen-
são e interpretação.
4. Pesquise imagens em jornais e escolha uma para análise. Analise-a quanto ao
que é retratado: ou as pessoas, ou os objetos, o ambiente, a mensagem que a
imagem quer transmitir. Descreva a análise e escreva sua impressão sobre a
imagem/mensagem.
5. A leitura potencializa nossa capacidade de comunicação. Assim, podemos afir-
mar que o hábito de ler amplia nosso vocabulário e subsidia nossos argumentos,
ampliando nosso poder de discussão. Tendo como base esse princípio, assinale
a alternativa que contempla essa evolução:
a. ( ) A prática da leitura não influencia a produção de textos.
b. ( ) Ler e escrever são práticas distintas e desconexas.
c. ( ) A escrita independe de leitura e de organização de pensamento.
d. ( ) Leituras e produção textual promovem o letramento.
e. ( ) Todas as alternativas estão corretas.
85
ginas, mas devem respeitar alguns limites para não serem confundidas com um ensaio,
um artigo ou um resumo.
Não vamos nos estender muito nestas observações, mas é importante ter em mente
que:
1. O fichamento é o primeiro passo na realização de uma pesquisa, portanto, quase sem-
pre fazemos fichamentos, independentemente do tipo da pesquisa.
2. O resumo é uma atividade, um exercício de raciocínio que visa entendimento e sínte-
se de uma obra a partir de regras pré-estabelecidas ou não.
3. Já a resenha é uma atividade de análise e síntese que permite maior elasticidade na
abordagem, porém, exige, além das características já mencionadas, um certo domínio
sobre assunto tratado na obra que está sendo resenhada. A resenha é, portanto, uma
atividade mais complexa, porém torna-se mais fácil quando o hábito de fazer fichamen-
tos e resumos são familiares ao pesquisador.
Quando professores e professoras pedem para seus estudantes fazerem um fichamen-
to, resumo ou resenha, geralmente se referem aos tipos bibliográficos ou de conteúdo.
Cabe ao aluno ou aluna seguir as instruções dadas por cada instrutor(a).
Fonte: Francilin ([2017], on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O link a seguir oferece acesso às entrevistas de Roxane Rojo, gravadas em maio de 2013,
no Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec),
em São Paulo (SP). Roxane apresenta suas concepções sobre alfabetização, letramento
e multiletramentos.
Acesse o link disponível em: <http://www.plataformadoletramento.org.br/em-revista-
entrevista-detalhe/246/roxane-rojo-alfabetizacao-e-multiletramentos.html>.
89
REFERÊNCIAS
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CABRAL, L. S. Processos psicolingüísticos de leitura e a criança. Letras de Hoje, v. 19,
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ciados, 2005.
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rum: Language and Culture, Maringá, v. 30, n. 2, p. 177-187, jul./dez. 2008.
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VA, J. F. M.; PALETTA, F. C. (Orgs.). Tópicos para o ensino da biblioteconomia. São
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HARTMANN, S. H. G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de leitura para o letramento no
ensino superior. Curitiba: Ibpex, 2009.
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Estudo especial sobre alfabetismo e mundo do trabalho. São Paulo: Instituto
Paulo Montenegro Ação Educativa, 2016.
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ligente. São Paulo: É Realizações, 2010.
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pertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo:
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PINTO, C. M.; FISCHER, A. O discurso sobre leitura e escrita de um estudante EaD em
formação. Calidoscópio, v. 12, n. 1, p. 15-23, jan./abr. 2014. Disponível em: <http://re-
vistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/viewFile/cld.2014.121.02/4069>.
Acesso em: 07 jan. 2017.
SANTOS, M. Por uma outra globalização. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. Dispo-
nível em: <http://pt.scribd.com/doc/23574491/SANTOS-Milton-Por-uma-outra-glo-
balizacao>. Acesso em: 07 jan. 2017.
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Campinas: Editora Unicamp, 2015.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
UNESCO. Alfabetização como Liberdade. Brasília: UNESCO, MEC, 2003. Disponível
em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000001.pdf>. Acesso
em: 07 jan. 2017.
GABARITO
III
UNIDADE
A PRODUÇÃO TEXTUAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Entender a importância da leitura na formação de um cidadão
crítico.
■■ Entender a importância da produção textual como instrumento
comunicativo.
■■ Reconhecer a importância dos elementos de coesão e coerência dos
textos produzidos.
■■ Compreender os processos de construção de textos narrativos e
descritivos.
■■ Entender o contexto comunicativo da internet: práticas de produção
escrita.
■■ Compreender a importância do desenvolvimento integral das
práticas de leitura, escrita e análise linguística.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Leitura e formação do leitor.
■■ A influência da leitura na produção de texto
■■ Elementos fundamentais para uma boa produção de texto
■■ Características de textos narrativos
■■ Características de textos descritivos
■■ A produção textual na internet
93
INTRODUÇÃO
situação comunicativa exige um nível linguístico, por isso devemos perceber que
o processo educativo não foge a essa prática, ou seja, devemos utilizar uma lin-
guagem adequada ao ambiente acadêmico que é regido pela norma culta.
Quando adentramos no Ensino Fundamental, depois Médio e Superior, ini-
ciamos uma nova etapa educacional que tem seus desafios e exigências, assim, a
produção textual oral e escrita deve estar coerente com essas exigências.
Nessa Unidade III, estudaremos a importância de uma formação sólida nas
práticas de leitura e escrita que colaboram para a construção de um cidadão crí-
tico e consciente de seu papel social e político, por isso ser um bom leitor, fazer
uma leitura crítica, saber expressar-se oralmente e de forma escrita são requisi-
tos que o século XXI exige cada vez mais no âmbito profissional e pessoal.
Portanto, quando se fala em produção textual, fala-se sobre a capacidade de
participar do mundo letrado, de não ficar às margens da sociedade como mero
espectador do conhecimento quando se tem meios de expressar o próprio conhe-
cimento, contribuindo culturalmente com essa construção.
O uso adequado da linguagem em sua produção textual demonstra a capa-
cidade cognitiva e social do escritor de ler a realidade à sua volta e potencializar
sua comunicação.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO
94 UNIDADE III
Iniciamos esta unidade com uma pergunta pessoal: sou um bom leitor? Evidente
que para alguns a resposta será rápida e objetiva, sim ou não, e para outros será
necessário uma reflexão maior que alcance suas lembranças e conhecimentos
pessoais. Diante disso, destacamos a importância de sermos leitores, leitores de
jornais, revistas, gibis, poesia, narrativas de mistério, romances românticos, publi-
cidade, bula de remédio, manual de instrução e tantos outros textos possíveis.
Ser um leitor significa ler, evidentemente conforme criamos o nosso senso
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
crítico apurado, as nossas leituras ganham em qualidade e há uma seleção natu-
ral do que lemos e por que lemos, mas, no processo de formação de um leitor,
é necessário que sejamos expostos a uma grande diversidade e quantidade de
gêneros textuais que nos permitam formar o nosso gosto particular, senso crí-
tico e entender a dimensão estética das obras literárias.
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de com-
preensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre
a linguagem etc. [...] (BRASIL, 1998, p. 69-70).
A PRODUÇÃO TEXTUAL
95
Assim, verificamos que a prática da leitura é uma habilidade complexa que exige
uma série de conhecimentos que se somam ao longo de nossa trajetória e são adqui-
ridos e fortalecidos com hábitos cotidianos.
A leitura, embora ação corriqueira nos dias de hoje, sobretudo nas regi-
ões urbanas, não é natural. Não lemos como comemos, respiramos ou
dormimos. Para tanto, precisamos aprender o código escrito, socialmen-
te aceito e a ter domínio sobre ele em todas as suas modalidades, quer
práticas (como propagandas, receitas, notícias, informações, anotações)
quer estéticas (como narrativas e poemas) (AGUIAR, 1996, p. 48).
Sendo assim, a prática da leitura não só é um ato pessoal, mas também de cons-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ficou curioso com esses números? Ainda não conseguimos formar um país
de leitores e isso é um dos objetivos que a escola, junto à sociedade, deve
alcançar. O Jornal Estadão fez uma reportagem com o objetivo de entender
melhor esses números que indicam essa triste realidade nacional. Para sa-
ber mais, acesse o link disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/blogs/
babel/44-da-populacao-brasileira-nao-le-e-30-nunca-comprou-um-livro-
-aponta-pesquisa-retratos-da-leitura/>.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: os autores.
Os dados indicam que o brasileiro lê 4,96 livros por ano, o que não dá um livro
por bimestre. Desse número, 0,94 são leituras indicadas pela escola e 2,88 são
escolhas próprias; também do número total, 2,43 foram os livros lidos na ínte-
gra e 2,53 foram lidos parcialmente.
Esse cenário demonstra a importância da escola na formação de bons leitores
que tornar-se-ão cidadãos críticos e conscientes de seu papel na nossa sociedade.
Por isso, a prática da leitura na escola impulsiona outras práticas imprescindí-
veis na sociedade atual, como a escrita.
Um bom leitor forma, ao longo de sua vida, um repertório de leitura que
auxilia e o promove a ser um bom produtor de texto, bom comunicador e com
habilidade suficiente para exercer e apresentar seu ponto de vista e posicionar-
-se de acordo com suas crenças.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
97
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diante disso, proporcionar aos alunos uma boa experiência de leitura que os
possibilite se tornarem bons leitores é fundamental para o desenvolvimento da
habilidade de produção de texto e análise linguística.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o professor deve estimular desde sempre o entendimento da linguagem e suas
possibilidades de uso e manipulação para que assim o aluno seja formado inte-
gralmente e consiga autonomia para se manifestar, pois escrever um texto não
é somente juntar frases ou palavras soltas.
O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo
significativo, qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma seqüência
verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a
partir da coesão e da coerência. Em outras palavras, um texto só é um
texto quando pode ser compreendido como unidade significativa glo-
bal. Caso contrário, não passa de um amontoado aleatório de enuncia-
dos (BRASIL, 1998, p. 21).
Portanto, para o aluno se tornar um bom produtor de texto que “forma um todo
significativo”, é necessário que ele seja um bom leitor e tenha um bom domínio
do funcionamento da língua.
Você tem ideia de como abordar gêneros textuais em sala de aula? Não?
Então leia a reportagem “Como usar gêneros textuais para ensinar leitura e
produção de texto”, da revista Nova Escola, e descubra práticas que podem
estimular a formação linguística integral do aluno. Para saber mais, acesse o
link disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/2588/como-usar-
-os-generos-para-ensinar-leitura-e-producao-de-textos>.
Fonte: os autores.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
99
(Paulo Freire)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
junto ao professor, assim, a escrita é uma construção e não meramente
uma produção ocasional. O filme, a pesquisa ou a música pode ser uma
das etapas de formação para uma produção de texto que envolve a leitura,
análise linguística, estrutura, gênero textual e a possibilidade de reescrita
e aquisição do conhecimento.
A concepção que deve estar presente na escola é a Escrita como trabalho, pois
visa um trabalho completo e interativo do aluno com o professor, com a temá-
tica discutida e todo processo formativo.
Por isso a produção de texto não pode ser feita de qualquer jeito, assim, ao
produzirmos um texto, é importante refletir sobre questões, como: qual gênero
textual usarei? Qual linguagem estará adequada àquele gênero? Quem é o meu
público-alvo? Em qual contexto sociointerativo está inserido o meu texto?
Pois a decisão do como escrever, a linguagem a ser usada, o tema a ser abor-
dado depende muito da destinação do texto. Será um texto destinado ao público
infantil, adulto, ou será um trabalho de conclusão de curso, uma dissertação ou
tese? Qual o gênero a ser trabalhado? Esses são os primeiros direcionamentos a
serem seguidos na definição da estrutura do texto.
Os PCNs (1998) apontam para alguns aspectos fundamentais que o aluno
deve se atentar ao produzir um texto.
■■ finalidade;
■■ especificidade do gênero;
■■ lugares preferenciais de circulação;
■■ interlocutor eleito;
A PRODUÇÃO TEXTUAL
101
Costa Val (2006) considera texto como toda a unidade linguística comunicativa
básica, entendendo-se como texto tanto a comunicação oral como a escrita, pois
ambos não são fragmentos comunicativos, mas textos dotados de significados
que são produzidos pela textualidade composta por elementos responsáveis pelo
processo sociocomunicativo do texto. Tais elementos, segundo Costa Val (2006)
e Koch e Travaglia (2007), são: intencionalidade, informatividade, aceitabilidade,
situacionalidade, intertextualidade e coerência e coesão.
A intencionalidade citada por Costa Val (2006) e Koch e Travaglia (2007)
refere-se à produção textual coerente e coesa com objetivos definidos pelos auto-
res que podem informar, divertir, impressionar, alertar, convencer, pedir, criticar,
elogiar etc. A aceitabilidade se refere, primeiro, à expectativa do produtor da
aceitação de seu produto e, depois, ao receptor, ao nível de aproveitamento, utili-
dade, relevância e aquisição de novos conhecimentos por meio da leitura; fatores
que envolvem a capacidade do texto em cumprir com seus objetivos. Por esse
motivo, a produção de um texto deve ser pensada como um todo; não haverá
aceitação se o texto for incoerente ou estiver fora dos padrões textuais aceitáveis.
A situacionalidade compreende a adequação do texto à situação socioco-
municativa, são os elementos responsáveis pela relevância e pertinência do texto
quanto ao contexto em que está inserido. O contexto orienta tanto a produção
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A intertextualidade, para Costa Val (2006) e Koch e Travaglia (2007), refe-
re-se à dependência do conhecimento de outras unidades linguísticas para a
compreensão/produção de outros textos. Há uma colaboração contínua entre
os textos para que se possa atingir a aceitabilidade, promover a autenticidade,
aumentar a capacidade informativa. Portanto, podemos afirmar que em todo
texto está presente a intertextualidade.
Conforme Koch e Travaglia (2007), o conhecimento de mundo do leitor, o
conhecimento compartilhado que se refere ao conhecimento em comum entre
autor e receptor, a inferência que é o uso do conhecimento de mundo para a
compreensão textual e os fatores de contextualização, que são a âncora do texto
são elementos fundamentais na construção da coerência textual, e que devem
ser analisados pelo autor para que sua intencionalidade seja atingida.
A coerência e a coesão são citadas por Costa Val (2006) e por Koch e Travaglia
(2007) como elementos fundamentais na construção do sentido do texto, ele-
mentos que merecem destaque em nosso trabalho.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
103
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para Fiorin e Savioli (2007), coerência é “um conjunto harmônico, em que todas as
partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante,
nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo” (FIORIN; SAVIOLI, 2007, p. 261).
A coerência passa despercebida de nossas leituras, ao passo que a incoerência
é facilmente percebida. A coerência permite que nossa leitura flua normalmente
sem interrupções; a incoerência causa bloqueios, paradas na leitura na tentativa
de decifrar o que está escrito.
Nos primeiros textos escritos pelas crianças, a ideia de coerência já está
presente. Quando ela escreve, por exemplo: “O meu boi roxo come barbante”,
a coerência está presente, mesmo que cause estranheza aos olhos do professor;
percebe-se que a frase contém o sujeito boi, o adjetivo do sujeito roxo, a ação
cometida pelo sujeito representada pelo verbo comer e o objeto direto represen-
tado pelo barbante. Não se pode confundir criatividade, imaginação, ficção, com
falta de coerência. Independentemente da cor do boi e o que ele come, a frase
tem sentido, logo, tem coerência. Portanto, só se pode dizer que um texto é inco-
erente se ele não apresenta construção de sentido, se não houver nele elementos
estruturais que apontem um fato, uma mensagem, uma ideia ou informação.
Podemos dizer, também, que é incoerente um texto que apresente ideias
contraditórias; como exemplo, podemos citar a seguinte frase: “O herói salvou
A PRODUÇÃO TEXTUAL
105
do assunto), para que o texto não caia no senso comum e torne-se incoerente.
Os autores Koch & Elias (2008) e Costa Val (2006) apontam algumas estru-
turas fundamentais que devem ser observadas para a manutenção da coerência
textual, o que pode ser estruturado da seguinte forma:
■■ Repetição: deve haver um equilíbrio entre a repetição ou retomada de
aspectos importantes e progressão, remetendo a algo novo, uma infor-
mação nova. A repetição ou retomada do termo, citado por Koch e Elias
(2008), é um recurso adotado na progressão textual, porém deve ser visto
com cautela, pois repetição não significa repetir o tempo todo o termo
referenciado, mas sim retomar o essencial do que foi referido para pro-
gredir nas discussões.
■■ Progressão: no desenvolvimento do texto, pode-se perceber a progressão
do tema que pode ser feita de forma constante em enunciados sucessivos;
progressão linear é quando o assunto que se expõe no enunciado ante-
rior é o tema do enunciado seguinte; progressão com divisão do tema é
quando este é subdividido em partes e cada uma é trabalhada em enun-
ciados subsequentes. A progressão textual pode, ainda, ser realizada sob
tópicos, por exemplo, quando citamos a violência escolar como tema e
decide-se falar sobre todas as suas vertentes; cada tópico refere-se a uma
vertente ou, se o assunto tratado é a alfabetização, podemos discorrer
sobre a alfabetização de crianças, de adultos, os métodos de alfabetiza-
ção, os instrumentos utilizados para alfabetizar etc.
■■ Não contradição: refere-se tanto ao âmbito interno como ao âmbito
externo do texto. No âmbito interno, o texto não pode trazer afirma-
ções e negações sobre um mesmo ponto de vista. Não confundir a não
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
car rótulos em língua estrangeira em produtos vendidos no Brasil. Essas
são ações que indicam contradição, e a não contradição seria a adequa-
ção do tema ao público e ao veículo de comunicação.
■■ Encadeamento: há duas formas citadas desse procedimento por Koch
& Elias (2008): o encadeamento por justaposição, quando os enunciados
são justapostos apenas com conexão semântica, sem a utilização de con-
junções (em alguns desses casos podemos utilizar letras do alfabeto ou
enumerar os tópicos para determinar as sequências em que serão apre-
sentados nos textos); e o encadeamento por conexão ocorre quando são
utilizados os conectivos, como os que já vimos anteriormente (mas, con-
tudo, entretanto, porém, segundo, conforme etc.).
■■ Articulação: refere-se à teia formada pelo texto, o encadeamento das
ideias, à ordem linear dessas ideias, é o processo de construção dos sub-
temas unidos ao tema principal.
Vimos que a coerência está ligada ao sentido global do texto, de uma parte dele,
entre os argumentos e a tese defendida. Assim, podemos afirmar que a coesão
é a articulação linguística (gramatical) entre as palavras, períodos e parágrafos
que mantém uma unidade entre as diversas partes que compõem o texto.
Costumou-se designar por coesão a forma como os elementos linguís-
ticos presentes na superfície textual se interligam, se interconectam,
por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um “te-
cido” (tessitura), uma unidade de nível superior à da frase, que dela se
difere qualitativamente (KOCH, 2007, p. 35).
A PRODUÇÃO TEXTUAL
107
Há algumas palavras que podem ser usadas como elementos coesivos de transição,
as mais comumente utilizadas são: além disso; de modo que; bem como; atualmente,
segundo, conforme, de acordo com. Há pronomes que são usados como elemen-
tos de coesão referencial, entre eles estão: meu, eu, tu, eles, este, aquele, algum,
nenhum. E também são utilizados os elementos de coesão por substituição, que
são as palavras utilizadas para substituir o nome evitando sua repetição no texto,
como, por exemplo, substituir o nome próprio por um nome comum, o nome da
pessoa pelo cargo que ela ocupa, pela posição na família (o pai, a mãe etc.). Para
entendermos melhor, vamos observar o exemplo dado por Pignatari (2010, p. 22):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Exemplo de substituição:
A coerência está para o conteúdo assim como a coesão está para a sintaxe. A
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
função da coerência é a formação lógica textual, a função da coesão é a ligação
das partes constituintes do texto. Esclarecendo: sintaxe é a sequência ou ordem
das palavras nas frases e destas nos textos.
A coesão manifestada no nível microtextual refere-se aos modos como
os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou
vemos estão ligadas entre si dentro de uma sequência. A coerência, por
sua vez, manifestada em grande parte macro textualmente, refere-se
aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os concei-
tos e as relações subjacentes ao texto de superfície se unem numa con-
figuração de maneira reciprocamente acessível e relevante. (FÁVERO;
TRAVAGLIA, 2009, p. 10).
A PRODUÇÃO TEXTUAL
109
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O ser humano, desde que soube utilizar a linguagem organizada para se comunicar,
desempenhou três funções básicas: narrar, descrever e dissertar. A primeira serve
para narrar fatos, eventos, situações; a segunda descreve seres animados e inani-
mados; e a terceira serve para se posicionar, convencer, persuadir (PIGNATARI,
2010). Se essas três funções básicas da linguagem oral são as mais utilizadas pelo
homem, passam a ser, também, as mais utilizadas na linguagem escrita.
Cada texto tem suas características próprias que exigem do produtor de texto
conhecimento da estrutura, linguagem adequada e contexto sociocomunicativo
de cada um deles. Dessa forma, cada texto contém uma particularidade que o
diferencia dos demais, ao mesmo tempo que segue uma regra global, como a
coerência e a coesão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
crianças. Quando elas escrevem, elas querem narrar algo, contar algum fato das
suas vidas, contar uma história que viram acontecer ou viajar nas palavras e nar-
rar uma aventura ficcional.
O que é ficção? Imaginem um mundo sem a Cinderela, aquela imagem encan-
tada de seu rodopio dançando uma valsa com o príncipe encantado, vestindo
aquele vestido azul radiante ou as peripécias de Dom Quixote de La Mancha,
Zorro, do Tarzan ou o mundo mágico da Alice viajando pelo país das maravilhas,
as aventuras de Harry Potter e tantos outros personagens que só existem na ficção.
A ficção trabalha com o limiar da criação, da invenção na contação de histórias.
Você já ouviu falar sobre o gênero épico? Não? Será que ele tem alguma
relação com a narração?
Leia o artigo “Gênero épico ou narrativo”, do site Norma Culta - Língua Por-
tuguesa em bom português, e entenda um pouco mais sobre a evolução do
gênero épico. Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.
normaculta.com.br/genero-epico-ou-narrativo/>.
Fonte: os autores.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
111
características principais dos personagens devem ser descritas, pois são fato-
res importantes na interpretação do texto.
Espaço: é o espaço físico onde se desenvolve a ação das personagens; sendo uma
narrativa longa, com várias páginas, a descrição do espaço poderia ser feita de
forma detalhada. Sendo uma narrativa curta, deve-se descrever o espaço com
informações suficientes para que o leitor saiba onde os fatos estão ocorrendo.
Ambiente: são as características sociais, econômicas, psicológicas e morais
em que vivem os personagens. Com poucas palavras, pode-se revelar se trata
de alguém com alto ou baixo poder aquisitivo, se o perfil da personagem é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de alguém calmo, agressivo, se é um imoral ou um personagem moralista.
Tempo: sequência linear dos acontecimentos da narração, época em que se
passa a história ou duração dos fatos. Os fatos devem ser narrados na sequ-
ência em que aconteceram, caso haja referências passadas, o leitor deve ser
avisado de que o que se descreve faz parte da memória do narrador.
Enredo: são as ações que acontecem em torno dos personagens, pode ser cha-
mado de trama ou história. O enredo pode ser apresentado em quatro partes:
1. Apresentação: a exposição do tema central, que seria a introdução da his-
tória para o leitor se situar no tempo e no espaço. Na introdução, devem
ser respondidas as seguintes perguntas: quem? quando? onde? e o que? É
como se a introdução fosse a margem de um rio que se começa a conhecer.
2. Complicação: ou conflito, que seria um problema a ser resolvido, um
fato que incomoda ou um sonho a ser realizado. A pergunta que deve
ser respondida é o por quê, o como a descrição do problema enfrentado
ou dos mistérios a serem revelados. A complicação seria a corredeira do
rio, a aventura, a ação.
3. Clímax: que seria o ponto culminante da história, momento de maior
tensão, pode ser o momento em que o mistério é revelado, descoberto;
a solução é encontrada. Na corredeira do rio, o clímax seria a descida
da cachoeira.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
113
Esses são os elementos fundamentais que compõem uma narração, pois per-
meiam a estrutura e a organização de histórias contadas nos mais diversos temas.
Para Gancho (2004), há três elementos que normalmente são confundidos:
tema, assunto e mensagem. Para a autora, cada um desses elementos tem uma
constituição própria.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você já leu, ouviu ou contou uma fábula? Será que os animais podem nos
ensinar alguma coisa?
Esse tipo de narrativa remonta à Antiguidade grega com Esopo e perdura
até os dias atuais; sempre com suas características marcantes, é uma forma
de contar histórias.
Saiba um pouco mais sobre como os animais podem nos dar lições de moral
por meio da reportagem “Fábula: Animais dão lição de moral”, do portal UOL
Educação. Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://educacao.
uol.com.br/disciplinas/portugues/fabula-animais-dao-licao-de-moral.htm>.
Fonte: os autores.
A descrição textual parte do princípio básico de que será um retrato fiel ou dis-
torcido, isto depende da intenção do texto, de uma imagem, uma realidade, uma
situação. Esse tipo de texto é encontrado comumente em textos narrativos, dis-
sertativos, jornalísticos e policiais. Naturalmente, uma boa descrição mexe com
a imaginação do ser humano, pois possibilita, por meio de uma série de deta-
lhes, a criação de uma imagem mental de determinada situação real ou ficcional.
Descrever não é fazer um texto “sem vida”, que nos conta somente os ele-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mentos primordiais de uma cena, pois ao descrever podemos ir muito além da
descrição básica, dado que descrever é ter, também, a sensibilidade de perceber
as características próprias dos seres animados e inanimados por meio das indica-
ções dos aspectos mais característicos que os distinguem. Para descrever, o autor
pode utilizar os cinco sentidos: a audição, a visão, o tato, o olfato e o paladar.
Portanto, descrever não é só enumerar características, mas ressaltar os traços
mais salientes que podem determinar a impressão do leitor sobre o objeto des-
crito. Por exemplo, ao lermos a palavra cadeira, vem à nossa mente um objeto
que todos conhecemos; mas são todas iguais? A cadeira que eu imaginei é a
mesma cadeira que você imaginou? Com certeza não. E se descrevermos cadeira
em modelo padrão em madeira rústica de pinho? Assim conseguimos aproxi-
mar um pouco mais as nossas visões, ainda que não totalmente.
Notamos facilmente que uma boa descri-
ção parte dos elementos físicos e peculiares,
mas ela também aproveita os elementos psi-
cológicos e a atmosfera do ambiente para criar
esse retrato verbal. Ela pode fornecer cor, tex-
tura, função, local, clima, sensação, vegetação,
peso, altura e tantas outras características.
Por outro lado, se descrevermos uma
cadeira velha de madeira com assento e encosto
de palha, imaginamos um local rústico, mas
se descrevermos uma cadeira de madeira de
lei com assento e encosto em veludo, nossa
A PRODUÇÃO TEXTUAL
115
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escola, como os professores usarão esses novos recursos, como isso estimulará o
aluno, mas o dilema é sempre muito grande. Será que isso ocorre somente agora?
Segundo Pinho (2003, p. 181), “a história é antiga e se repete por ocasião
do nascimento de cada nova mídia. O rádio, o cinema e a televisão, cada um no
seu tempo, surgiram com conteúdos que reproduziam as mídias que os prece-
deram”. Isso nos dá uma ideia de que o desafio é grande, mas não é limitador e
as mudanças não estão ocorrendo somente agora.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
117
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As novas mídias propõem uma nova forma de se expressar e ler, pois o hiper-
texto produz uma falta de linearidade na forma de encontrar as informações
textuais; isso pode parecer um universo caótico, mas não é, pois há uma orga-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nização espacial, cromática e sensorial que explora os recursos de outra forma,
possibilitando interações mais intensas e constantes. Furlanetto (2014) apresenta
uma comparação de uma notícia tradicional com uma feita nas novas mídias:
[...] o texto foge da linearidade convencional imposta pelo impresso e
seduz o leitor com a possibilidade de escolha na forma de ler o conteúdo,
ou seja, o texto digital deve informar no início os dados principais da no-
tícia de forma a conquistar o internauta, ou como vou denominá-lo para
facilitar e adequar à nova mídia: o interleitor, o que busca a informação
digital. Essa informação inicial transmite os dados básicos de uma notí-
cia: Quem, Como, Onde e assim sucessivamente fornecendo condições
de uma visão ampla do fato. Nos veículos impressos o lead inicia o texto e
na sequência o mesmo é trabalhado com informações adicionais lineares
em colunas e parágrafos. No meio digital o lead tem funcionado como
uma espécie de “vitrine” da matéria, ou seja, o interleitor lê o conteúdo
inicial e se gostar pode se aprofundar no assunto através de um hiperlink
disponível no texto (FURLANETTO, 2014, p. 2).
Xavier (2002) cita um exemplo de interação que pode ser benéfico à leitura e
produção de escrita na internet: é a criação de um site que se refere a um gênero
ficcional nascido na rede virtual, em que os participantes podem realizar modi-
ficações nas histórias e nos destinos dos personagens. Isto é, alguém posta uma
história que passa pelo crivo do site, esta é publicada e os demais participantes
podem interagir e dar novos rumos para o texto do autor. Acreditamos que essa
ideia pode ser utilizada de forma didática até mesmo pelas instituições escola-
res, pois é uma forma de incentivar a escrita.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
119
Fonte: os autores.
Seria ledo engano pensarmos que a internet é um espaço totalmente livre; ele é
regido, primeiro, por regras sociais embasadas nos direitos e limites de liberdade de
expressão e, depois, não são todas as páginas que permitem grafias codificadas, se o
que você escreve não for entendido por quem lê, não haverá mensagem. Portanto,
mesmo diante da aparente liberdade de escrita, a produção textual posta na internet
ainda segue as normas básicas da linguagem. Por outro lado, a internet não é com-
posta apenas por sites de relacionamentos em que se pode escrever livremente, há
muitos locais de pesquisa, e se na busca a palavra for digitada errada, não se con-
segue encontrar o que se procura. Da mesma
forma, há páginas de publicações acadêmicas
e científicas que não admitem outra norma se
não a norma culta; há, também, a utilização
de palavras-chave nas buscas que direcionam
para as ideias centrais do texto, sobre os quais
deve-se ter conhecimento.
Percebe-se que para poder se aventurar
no mundo virtual, um vasto conhecimento
de leitura e escrita são necessários para uma
interação produtiva e significativa. Esse movi-
mento amplo, que é o âmago das interações
virtuais, não deve ser ignorado, deve ser refle-
tido, analisado e ponderado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos esta unidade com a certeza de que a produção textual, oral e escrita
é fundamental para a formação crítica de todos os alunos em todos os níveis
educacionais.
Notamos a importância de tornar-se um bom leitor para construir um reper-
tório de leituras que forneça subsídios para a prática escrita, pois quanto maior
a consciência leitora e a compreensão global do mundo ao seu redor, maior o
conhecimento que serve de base para a produção de texto.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Estudamos que um bom texto apresenta ideias claras, articula-se coeren-
temente, desenvolve as ideias progressivamente e conduz o leitor por meio de
elementos coesivos e persuasivos para um sentido preciso e averiguado.
Por isso, para uma boa produção textual, é necessário que se delimite o tema,
que no desenvolvimento do tema as referenciações sejam retomadas, que se dê
continuidade às ideias propostas na introdução, que se organize temas que reque-
rem maiores explicações em tópicos textuais.
Um bom texto não pode ter lacunas, partes incoerentes, erros gramaticais,
uma desorganização das ideias e argumentos, pois a prática da escrita deve esta-
belecer uma comunicação eficiente e convincente com seu leitor e/ou interlocutor.
Independentemente do gênero textual, os elementos básicos da produção
textual são os mesmos eixos norteadores, pois o princípio da coerência, coesão,
adequação temática, do uso da linguagem adequada ao contexto e da clareza são
fundamentais em qualquer texto.
A sociedade atual exige de nós um nível comunicativo de qualidade; como
somos produtores ativos de diversos textos, devemos nos posicionar utilizando
os instrumentos primordiais desta sociedade, que são a leitura e a escrita.
Terminamos assim a unidade, entendendo a importância de ser um bom
leitor e escritor, e a sua função primordial na sociedade moderna que exige uma
comunicação pessoal e profissional apropriada e eficiente.
A PRODUÇÃO TEXTUAL
121
2. A produção textual não deve ser um ato isolado na prática escolar, pois no co-
tidiano essa habilidade está ligada diretamente a outras práticas, como leitura,
interpretação e compreensão linguística. Sobre isso, é correto afirmar:
I- A produção de texto deve trabalhar próxima à realidade linguística de uso dos
alunos.
II- A produção de texto é a mais importante das habilidades que o aluno deve
adquirir no período escolar.
III- A produção de texto deve ser trabalhada intimamente junto à leitura e à aná-
lise linguística.
IV- As produções de texto escrita e oral são práticas fundamentais para a forma-
ção crítica do aluno.
a) Apenas a afirmativa I.
b) Apenas a afirmativa II.
c) Apenas as afirmativas I e II.
d) As afirmativas II, III e IV.
e) As afirmativas I, III e IV.
122
Leia um trecho do artigo “Histórias infantis e aquisição de escrita”, de Vera Lucia Blanc
Simões, que discute a necessidade de ter um ambiente educacional nos anos iniciais
que estimule a leitura e a escrita.
“Vygotsky, entre outros estudiosos do assunto, buscando compreender a origem e o
desenvolvimento dos processos psicológicos do indivíduo (abordagem genética), pos-
tula um enfoque sociointeracionista para a questão, no qual um organismo não se de-
senvolve plenamente sem o suporte de outros de sua espécie, o que afirma que todo
conhecimento se constrói socialmente. Durante todo o percurso do desenvolvimento
das funções psicológicas, culturalmente organizadas, é justamente esse aspecto cultu-
ral, social, de interação com o outro, que desperta processos internos desse desenvol-
vimento. É o contato ativo do indivíduo com o meio, intermediado sempre pelos que o
cercam, que faz com que o conhecimento se construa. Especialmente em se tratando
da linguagem, o indivíduo tem papel constitutivo e construtivo nesse processo (ele não
é passivo: percebe, assimila, formula hipóteses, experimenta-as, e em seguida reelabo-
ra-as, interagindo com o meio). O que lhe proporciona, portanto, modos de perceber e
organizar o real é justamente o grupo social (a interação que ele faz com esse grupo).
É este que determina um sistema simbólico-lingüístico permeador desses modos de
representação da realidade. Ainda segundo o autor, o pensamento e a linguagem estão
intimamente relacionados na medida em que o pensamento surge pelas palavras. A
significação é a força motriz para essa relação: não é o conteúdo de uma palavra que
se modifica, mas a maneira pela qual a realidade é generalizada e refletida nela. E são
exatamente essas construções de significados que a criança vai desenvolvendo interna-
mente (como uma linguagem interna, seu modelo de produção do pensamento) que
partem da fala socializada, da fala dos outros que a cercam.
Foi sobretudo Bakhtin (1992) que, indo mais além, explicitou teoricamente essa posição
dialógica sobre a natureza da linguagem. Segundo ele, é o diálogo a unidade real da lín-
gua. Ao observar as situações de diálogo produzido interativamente, pode-se perceber
que a fala é “polifônica”, que existem numerosas vozes atuando: a voz interna, a voz do
outro, a própria voz...; vozes caracterizadas pelas convergências e divergências presen-
tes no discurso dialógico, que propiciam diversas mudanças de posição que o sujeito
pode fazer, apreendendo, assim, várias facetas da realidade em que vive e represen-
tando-a internamente de forma mais completa. Essa construção, portanto, baseia-se no
que ele chamou de uma interação socioverbal. A linguagem é a expressão e o produto
da interação social de quem fala com quem fala, acrescida do tópico do discurso.
[...] Foram os estudos sobre o que seria a psicogênese da linguagem escrita de Ferreiro
e Teberosky (1985) que lançaram uma nova luz sobre as tentativas de descrever as eta-
pas pelas quais a criança passa durante o processo da aquisição. Segundo as autoras, a
criança, durante o período de contato com os sinais gráficos, vai evoluindo gradativa-
mente. Essa evolução foi caracterizada em quatro grandes níveis: pré-silábico, silábico,
silábico-alfabético e alfabético.
124
Dificuldades de aprendizagem de A -Z
Corinne Smith e Lisa Strick
Editora: Penso
Sinopse: esse livro apresenta as descobertas mais importantes
acerca das funções cerebrais e do processamento da informação,
cobrindo todos os estágios do desenvolvimento. Explora os “mitos”
e as “lendas” que permeiam este tema. Recurso completo que
auxilia tanto na escola quanto em casa.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
1) B.
2) D.
3) E.
4) A função básica de um texto descritivo é conseguir, por meio de palavras, pro-
porcionar uma imagem mental sobre o objeto ou cena abordada, apresentando
características básicas, e também valorizar a ambientação e apresentar a sines-
tesia do lugar.
5) A produção textual também pode acontecer na internet e isso não prejudica
o aprendizado escolar, pois esse novo ambiente proporciona novas interações,
exige uma grande habilidade de leitura, entendimento de adequação linguística
ao contexto no qual o texto será inserido e um olhar crítico sobre o conteúdo a
ser escrito.
Professora Dra. Ivone Pingoello
Professor Me. João Carlos Dias Furtado
ASPECTOS ACADÊMICOS DA
IV
UNIDADE
PRODUÇÃO TEXTUAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar especificidades da produção textual científica acadêmica.
■■ Aperfeiçoar a produção textual acadêmica.
■■ Desenvolver habilidades sociais da comunicação escrita.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As especificidades e a estrutura do texto dissertativo
■■ A linguagem dissertativa
■■ Tópicos de revisão textual
131
INTRODUÇÃO
Para que esse pensamento se confirme, solicitamos a você que resgate algumas
de suas produções textuais do tempo do Ensino Fundamental e Médio e com-
pare com a sua escrita dos tempos atuais. Houve evoluções? Em quais aspectos
sua produção textual evoluiu? Os textos que você produziu nas séries do Ensino
Fundamental apresentam modificações em termos estruturais em relação aos
textos que produziu no Ensino Médio? Os textos que tem produzido na gradu-
ação são estruturados da mesma forma dos do Ensino Médio?
Com essa avaliação, pretende-se que você perceba em quais aspectos evo-
luiu, incluindo vocabulário, quantidade de informações no texto, estruturação
coerente, entre outros aspectos. Isso porque a proposta desta aula consiste em
oferecer novas oportunidades de evolução e/ou aperfeiçoamento de sua produção
textual. Aprender a escrever é um processo contínuo que se inicia na alfabeti-
zação e vai se aprimorando com o passar do tempo, conforme os processos de
ensino e de aprendizagem, contando com a dedicação e esforço do indivíduo.
Aprendizes seremos sempre; quanto mais se escreve, mais exigente se fica, e maior
será a percepção da estruturação textual e do repertório vocabular.
Nos cursos de graduação, a etapa que se inicia é o desenvolvimento mais
profundo do processo de leitura, cujo resultado deverá ser a produção de textos aca-
dêmicos de base científica. Nesse nível de produção textual há normas que devem
ser seguidas, principalmente no que se refere à linguagem utilizada, ao desenvolvi-
mento coerente e coeso dos textos. Com o objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento
sobre produção textual, expomos nesta unidade as estruturas essenciais para a pro-
dução de textos dissertativos, a fim de contribuir com o desenvolvimento de sua
escrita acadêmica científica. Bons estudos e boas produções textuais!
Introdução
132 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS ESPECIFICIDADES E A ESTRUTURA DO TEXTO
DISSERTATIVO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Uma forma de organizar melhor o pensamento é utilizar palavras-chave sobre
as quais estão norteadas às ideias centrais do texto. Observe o exemplo dado por
Pignatari (2010, p. 47):
Pignatari (2010) explica que tese é a ideia em torno da qual a dissertação será
trabalhada e que deve ser projetada antes da escrita para direcionar os argumen-
tos, portanto, conforme o exemplo exposto, a tese sobre a qual os argumentos
serão orientados é de que a inclusão digital é essencial para a empregabilidade.
Observa-se no modelo citado que o tema gira em torno da inclusão digital e
empregabilidade, portanto a organização do pensamento começa na análise do que
se sabe sobre inclusão digital e a sua relação com a empregabilidade. A partir disso,
inicia-se a produção dos argumentos que fazem parte de toda a estruturação dis-
sertativa constituída pela introdução, desenvolvimento e pelas considerações finais.
ELEMENTOS DA INTRODUÇÃO
com a finalidade de situar o/a leitor/a sobre o caminho que o texto percorrerá.
Na introdução do texto dissertativo acadêmico deverá constar o tema, uma
explicação sucinta do assunto a ser tratado; os objetivos do trabalho (qual é
a finalidade do texto, o que você está propondo em termos de análise e refle-
xão); as justificativas (por que escolheu esse tema, qual a importância dele para
a sociedade); o problema, que é a questão que norteia o trabalho, e as possíveis
hipóteses levantadas para a sua solução.
A problematização tanto pode se referir a um problema a ser resolvido como
as relações a serem esclarecidas, suposições a serem confirmadas ou refutadas, per-
guntas a serem respondidas. Utilizando a violência escolar como tema e supondo
que a focalização será sobre a falta de preparo dos professores em enfrentar a
violência escolar, pode-se formular a seguinte pergunta: a falta de preparo dos
professores contribui para a manutenção da violência escolar? Ou: a formação
continuada abrangendo o tema violência escolar contribui com o decréscimo
desse problema na escola? A formulação de uma pergunta orienta os argumen-
tos, evitando perda de foco quando se busca a resposta.
Uma introdução mal formulada pode apresentar os seguintes problemas:
–– Não expõe com clareza o tema a ser debatido;
–– Cita argumentos que não serão debatidos no desenvolvimento;
–– Usa o senso comum para introduzir o assunto, como, por exemplo: “todos
nós sabemos que isso não dá certo” etc.
ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO
Os argumentos são a essência do texto dissertativo, é por meio deles que o/a
autor/a vai tentar convencer o/a leitor/a de suas ideias. Para tanto, Pignatari (2010)
sugere a utilização de argumentos que já são conhecidos e aceitos pelo/a leitor/a.
Podemos pegar como modelo o tema: a pena de morte deve ser legalizada
no Brasil?
O primeiro passo que o/a autor/a deve tomar é se posicionar: ser a favor,
contra ou demonstrar neutralidade. Se optar por ser contra, um dos argumen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos conhecidos e aceitos seria o de que sempre existe o risco de erro judiciário,
comum no Brasil, o que poderia levar à morte um inocente. Esse é um argu-
mento normalmente aceito e pode-se, por meio desse argumento, relatar erros
já ocorridos no judiciário, além das dificuldades econômicas pelas quais passam
as polícias civil e militar, que não conseguem dar conta de investigar de forma
satisfatória todos os casos em que caberia a pena de morte.
Se optar pelo sim, poderá desenvolver argumentos que demonstrem a rein-
cidência de criminosos que praticaram crimes hediondos, a demonstração por
meio de números estatísticos da diminuição da criminalidade em países que
aderem à pena de morte. Se optar pela neutralidade, você pode desenvolver argu-
mentos que demonstrem os dois lados da situação, os prós e os contras e deixar
que o/a leitor/a tome sua própria decisão.
Pignatari (2010) ressalta que, se não houver um argumento satisfatório, o
melhor a se fazer é repensar a tese, pois se não ocorre nenhum argumento plau-
sível no momento da escrita, é sinal de que a tese é frágil.
Da mesma forma que temos a tese na dissertação, que pressupõe uma ideia,
podemos ter, também, a antítese, que seria a tese contrária, a oposição de ideias.
Esse é um recurso utilizado para rebater uma ideia proposta sobre a qual pode
haver concordância ou discordância por parte do/a leitor/a. A introdução de uma
antítese não deve ocorrer de forma arbitrária, sem planejamento, há que se enca-
dear as ideias e utilizar conectivos, tais como: mas, porém, entretanto, contudo,
etc., que exercem a conectividade adversativa (PIGNATARI, 2010).
A inserção de uma antítese no texto dissertativo deve ser decidida antes de
sua produção; evite utilizar esse procedimento no improviso, pois a sua utilização
requer argumentos pró e contra que devem ser bem estabelecidos para não se
cair em contradição e produzir textos incoerentes.
Exemplos de temas que podem ser debatidos entre tese e antítese são alguns
dos alimentos que, se por um lado são saborosos, por outro podem engordar;
a pena de morte, que pode diminuir a violência nas ruas, mas por outro lado
pode ser fator de injustiça judiciária; o aborto, tema polêmico defendido por
uns e condenado por outros.
O desenvolvimento dos textos dissertativos demonstra todo o conhecimento
que o autor possui sobre o assunto, é a parte argumentativa em que as ideias
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vimento do texto esse item deve ser demonstrado a partir de índices
estatísticos que comprovem esta afirmativa.
–– Mobilização dos analistas e pesquisadores – Aqui cabe citar os pesquisa-
dores que estão se mobilizando.
–– O fator histórico envolvido no problema – A gênese do problema, a causa
possível ou as hipóteses da causa.
–– Desenvolvimento de procedimentos preventivos e interventivos – Descrição
de procedimentos que já foram usados, levantamento de hipóteses para
o controle do problema etc.
Fonte: os autores.
Além da cautela com a coerência e coesão textual, devemos tomar alguns cuida-
dos com a orientação argumentativa, conforme sugerido por Pignatari (2010, p.
90), os quais exemplificamos para maior clareza.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos são sobre a avaliação escolar.
–– Mencionar mais argumentos na introdução do que no desenvolvimento.
Exemplo: expor que vai ser desenvolvido os temas alfabetização e forma-
ção de professores e desenvolver apenas um item mencionado.
–– Utilizar dados do senso comum, opiniões pessoais sem credibilidade e
dados imprecisos sem comprovação.
Exemplo: afirmar que a única causa do baixo rendimento escolar dos alu-
nos é o desinteresse e indisciplina dos próprios alunos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
texto. Dados concretos (narração ou Confirmação ou refutação das
A problematização. descrição de fatos, dados estatís- hipóteses.
As hipóteses. ticos, citação de outros textos). Sugestões de soluções.
As palavras-chave. Posição argumentativa - Opinião própria coerente com
antítese, prós e contras, causa e os argumentos apresentados
consequência, análise histórica. no texto.
Fonte: os autores.
Na era do impresso, reservou-se a palavra texto principalmente para referir os textos escri-
tos, impressos ou não; na vida contemporânea, em que os escritos e falas se misturam com
imagens estáticas (fotos, ilustrações, gráficos, infográficos) e em movimento (vídeos) e com
sons (sonoplastias, músicas), a palavra texto se estendeu a esses enunciados híbridos de
“novo” tipo, de tal modo que hoje falamos também em textos orais e em textos multimo-
dais, como as notícias televisivas e os vídeos de fãs no YouTube.
As mudanças relativas aos meios de comunicação e à circulação da informação, o surgimen-
to e ampliação contínuos de acesso às tecnologias digitais da comunicação e da informa-
ção provocaram a intensificação vertiginosa e a diversificação da circulação da informação
nos meios de comunicação analógicos e digitais, que, por isso mesmo, distanciam-se hoje
dos meios impressos, muito mais morosos e seletivos, implicando, segundo alguns autores,
como Chartier e Beaudouin, mudanças significativas nas maneiras de ler, de produzir e de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Observe que nos dois primeiros parágrafos a autora faz uma introdução explicando
os significados dos termos utilizados nos título, contextualizando a discussão. Na
sequência, a autora expõe, de forma argumentativa, as implicações do tema, as
relações do tema com as situações atuais e utiliza duas referências para fortalecer
os argumentos (BEAUDOUIN, 2002; CHARTIER, 1998). No caso dessas duas
referências, a autora decidiu por não colocar o ano da publicação no corpo do
texto. Isso só ocorre quando há permissão do veículo ao qual a publicação está
vinculada; em outros casos, a regra é que a citação venha acompanhada do ano
de publicação. A finalização do texto é composta por um parágrafo com consi-
derações da autora e uma frase que aponta para novas pesquisas, para a busca
de soluções para atender o letramento escolar e o uso dos textos multimodais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A LINGUAGEM DISSERTATIVA
talvez, acho, alguma, coisa. Preste atenção aos verbos: sendo uma linguagem impes-
soal, o verbo deve acompanhar o pronome; observemos os exemplos citados por
Pignatari (2010, p. 108):
Quadro 3 – Diferença entre as linguagens
Exemplos:
a) Acreditamos que a violência escolar tem atingido índices alarmantes.
b) Acredita-se que a violência escolar tem atingido índices alarmantes.
b) Percebemos, por meio dos noticiários, que a seca no nordeste tem casti-
gado os nordestinos.
A linguagem que deve ser usada nos textos acadêmicos é científica, pois o que
se quer enfatizar são as ideias e não o/a autor/a. Por isso, não se deve usar voca-
bulários que denotem a emoção ou afetividade de quem escreve. O que deve
ficar em primeiro plano é sempre o assunto, o tema tratado, e não a emoção ou
opinião pessoal do/a autor/a. O que se propõe são reflexões em torno de uma
questão social e não ideias ou convicções subjetivas.
A Linguagem Dissertativa
146 UNIDADE IV
Causa/ moti-
Condição Continuidade Oposição
vo/ explicação
Se E Mas Mas
Caso Ainda Porém Porque
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim Todavia Visto que
Desse modo Contudo Dado que
Além disso Entretanto Pois
Outro fator a ser No entanto Já que
considerado
Consequência Conclusão Retificação ou
esclarecimentos
Assim Consequente- Por fim A propósito
mente Finalmente Aliás
Por isso Em síntese Assim
Portanto A saber
Para finalizar Isto é
Em suma Ou seja
Fonte: adaptado de Pignatari (2010, p. 24).
deve ser evitada com o uso de sinônimos, pronomes ou outras palavras com o
mesmo valor semântico. Para clarificar esse tipo de problema e verificar como
ele pode ser resolvido, observe os modelos a seguir citados por Pignatari (2010,
p. 280).
Exemplo:
a) As mulheres que estão solitárias e que estão sem empregos podem aca-
bar deprimidas.
Exemplo:
a) O funcionário novo que escreveu o relatório que analisava o balanço patri-
monial foi promovido.
Exemplo:
a) O repórter que chegou ontem elaborou uma reportagem que condena
o aborto.
A Linguagem Dissertativa
148 UNIDADE IV
Use o dicionário para pesquisa de novas palavras; se perceber que uma palavra
foi repetida várias vezes no texto, busque novas palavras com o mesmo signifi-
cado no dicionário. Não use vocabulários de significados duvidosos, confirme
se o significado da palavra cabe exatamente na mensagem que se quer transmi-
tir. Há dicionários que os quais podem ser acessados nas páginas de pesquisas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
na internet. Ao digitar um texto no computador, deixe aberto também o dicio-
nário on-line e recorra a ele em todas as dúvidas quanto ao vocabulário, quanto
à ortografia ou como opção de busca de substituições para evitar as repetições.
A seguir, mais alguns problemas que devem ser evitados na linguagem dis-
sertativa, sugeridos por Pignatari (2010):
–– Se usar expressões numerativas como “Em primeiro lugar”, não se esqueça
de dar a sequência; da mesma forma, se usar a expressão “por um lado”
lembre-se que existe a sequência “por outro lado”.
–– Cuidado com o uso dos pronomes possessivos (seu, sua, teu, tua), que
podem gerar frases de sentido duvidoso, como no exemplo citado por
Pignatari (2010, p. 112): “O acusado feriu a vítima com sua arma” (de
quem era a arma?).
Para corrigir esse tipo de situação, utilize o nome próprio ou mude as posições
das palavras, no caso do exemplo, a frase pode ser reescrita da seguinte forma:
“A vítima foi ferida com a arma do acusado” ou “O acusado feriu a vítima com
a arma dele”.
–– Evite jargões e ditados populares já muitos gastos pelo uso popular, como:
quem vê cara não vê coração; quem com ferro fere com ferro será ferido;
a esperança é a última que morre etc.
–– Não use palavras difíceis apenas por estética.
–– Não fique tentando rebuscar o texto com estruturas mirabolantes, a sim-
plicidade e a objetividade são qualidades em textos dissertativos.
A Linguagem Dissertativa
150 UNIDADE IV
–– Ideologia – atenção para as ideias que se quer defender, cuidado com pala-
vras que denotam preconceito, racismo ou discriminação.
–– Crítico – o autor deve ser um crítico de seu próprio texto, não aderir a
modismos apenas porque o termo ficou bonito no texto. Todas as pala-
vras têm uma função comunicativa.
–– Citações – as citações de outros autores devem ser adequadas ao texto,
nem muito, nem pouco, o suficiente para a discussão das ideias. Citações
em excesso congestionam o texto, e a escassez de citações só é permitida
para quem já possui um vasto conhecimento na área.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
–– Regras – As regras para o texto, como fonte, espaçamento e referências
sempre estão disponíveis no site ou na biblioteca pertencente à instituição
em que o trabalho está sendo desenvolvido. Não havendo o acesso pela
internet, deve-se procurar a bibliotecária que irá providenciar as normas
para trabalhos acadêmicos. Para a correção final dessas regras, a biblio-
tecária também poderá auxiliar.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coi-
sa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
(Paulo Freire)
Não existe escritor/a perfeito/a, o que existe são técnicas de correção. Alguns
usam os trabalhos de profissionais revisores/as de textos, outros fazem suas pró-
prias revisões. O que não se admite é um texto ser finalizado ou publicado sem
a devida correção.
Ao final da escrita, leia e releia o texto na busca de erros, tanto de coerência
e coesão como erros de ortografia. O computador nos oferece alguns instrumen-
tos que facilitam as correções ortográficas, use-os e, caso seja necessário, recorra
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a um/a amigo/a revisor/a de texto ou uma pessoa especializada que preste este
serviço mediante pagamento.
Todos nós estamos sujeitos a cometer erros no momento da
produção textual, isso porque nos prendemos à mensagem e
os erros gramaticais passam despercebidos. Para atenuar esse
problema, costuma-se sugerir aos escritores/as que deixem
seus textos “dormirem” por um período, que vai depender
da urgência de entrega do texto. Por isso se aconselha a escrita
bem antecipada à data de entrega. Esse período de afastamento
permite ao escritor/a se desvincular do texto como autor/a e ter
uma leitura crítica como leitor/a, conseguindo, dessa forma, obser-
var com mais clareza as partes que carecem de correções.
Nessa última correção também será possível distinguir o que é
importante e essencial para o texto do que é supérfluo e desnecessá-
rio. Nos textos atuais, dispensa-se as explicações que não contribuem
com o entendimento das mensagens e que geram leituras desinteressan-
tes, longas e cansativas.
Para que você tenha noção do que é corrigido em um texto, expomos
os procedimentos adotados nas correções de textos de concursos. A corre-
ção segue procedimentos sistematizados, conforme esclarece Pignatari (2010):
1- Adequação ao tema – avalia-se se o tema está adequado ao assunto
proposto na prova, o aprofundamento do assunto, o enfoque dado, a
originalidade do tema e a capacidade de reflexão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nas retomadas, o uso de sinônimos e se há repetições excessivas de termos.
5- Coerência interna e externa – nesse item é avaliada a harmonia do texto,
a progressão, a continuidade e informatividade; a interação e situacio-
nalidade textual, se há conexão entre os argumentos apresentados e a
realidade. Avalia-se os argumentos, se há contradições e incoerências.
1,0 ( ) Variedade do vocabulário, mas com falhas no uso correto das palavras e ade-
quação gramatical (até cinco erros).
Comentários:__________________________________________________
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Comentários:__________________________________________________
Naturalmente, esse quadro apresenta um visão técnica sobre os itens que devem
ser observados durante a correção de um texto, porém, com a experiência diá-
ria, cada corretor cria o seu “caminho de correção”; isso não quer dizer que será
melhor ou pior, mas sim que a apropriação dos conceitos e técnicas é executada
e desenvolvida por cada indivíduo em sua carreira docente.
Uma boa correção é fundamental para a exposição/publicação de qualquer
texto acadêmico, pois a linguagem acadêmica tem um padrão de escrita exigente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
prática, pois não se aperfeiçoa o que não se pratica. Portanto, mãos à obra! Escreva
e reescreva quantas vezes forem necessárias e finalize sua obra-prima.
Se sua dificuldade é argumentar, lembre-se que argumentar é inerente às
práticas humanas, portanto, argumentar não é algo novo, a dificuldade está em
se colocar no papel as ideias propostas. Porém, se você não praticar e buscar o
aperfeiçoamento, a dificuldade permanecerá.
Sabendo que a dissertação é dividida em partes que se entrelaçam, como intro-
dução, desenvolvimento e considerações finais, pode-se organizar o pensamento
também em partes sem perder a noção do todo. Desenvolver o texto partindo de
explicações sucintas sobre o tema, desenvolvendo argumentos mais aprofundados e
culminando com a exposição dos resultados, as considerações que se faz sobre o tema.
Erros podem acontecer e fazem parte de todo o processo de aprendizagem,
e para isso existem técnicas de correções. Utilize o quadro de correções sugerido
em nosso livro. O importante é saber que a produção de um texto exige conhe-
cimento linguístico, técnico e estrutural, pois assim é possível produzir um bom
texto para que atinja os seus objetivos.
Acredite em você, pois o que os outros pensam sobre você é o reflexo dos
seus próprios pensamentos. Assim, não desista ou deixe as dificuldades te ven-
cerem, estude, treine e saiba que seu sucesso e sua melhora na produção textual
serão notados rapidamente e a escrita de qualidade se tornará naturalmente algo
tranquilo para você.
Considerações Finais
156
O Artigo.
O artigo apresenta uma investigação científica em todas as suas fases fundamentais:
um problema digno de ser pesquisado, os objetivos, materiais e métodos de pesquisa,
a análise e as considerações sobre a investigação. É, então, um texto dissertativo que
busca apresentar à comunidade científica e leitora um estudo novo em dada área de
conhecimento.
Esse gênero pode ser de dois tipos principais. O artigo de divulgação, também chamado
de artigo original, é aquele que traz um tema novo ou uma metodologia nova, apresen-
tando essa novidade na forma de um estudo completo e que, assim, poderá ser repli-
cado (repetido) futuramente (inclusive pelo leitor, se for o caso). Ele pode ser teórico,
ou empírico (ou seja, baseado em dados coletados pelo autor ou autora). Já o artigo de
revisão trabalha com estudos já publicados, analisando e discutindo essas contribuições
anteriores sob uma nova ótica ou ponto de vista a ser considerado.
O artigo apresenta uma introdução que contextualiza a área temática e o problema es-
pecífico investigado. O problema é exposto acompanhado dos objetivos de sua investi-
gação. O texto também traz uma revisão de literatura e fundamentação teórica, as quais
podem vir em seções próprias ou diluídas na introdução. A seguir, o artigo descreve os
materiais e os métodos usados para conduzir a investigação do problema, e expõe os
resultados e sua devida discussão. Após isso, é apresentada a conclusão, que responde
diretamente ao problema investigado. A isso se segue a lista de referências bibliográfi-
cas e, se necessário, apêndices e anexos.
Observe que mesmo o artigo de revisão, descrito anteriormente, tem um problema cen-
tral de análise naquela dada literatura, bem como métodos específicos para a análise do
material (isto é, os estudos anteriores revisados) e respectivas conclusões sobre o que
for dissertado na análise.
Além da estrutura vista, é convenção incluir no artigo, após o título e identificação do
autor, um resumo com palavras-chave adequadas para a correta indexação do texto. O
resumo geralmente deve ser tanto em língua portuguesa quanto em uma língua es-
trangeira. Alguns periódicos solicitam o resumo em dois idiomas estrangeiros, outros
delimitam o número de palavras-chave em até 5 ou até 6, outros pedem tradução tam-
bém do título, entre outras variações. Assim, é sempre preciso verificar as diretrizes para
autores do periódico específico em questão.
Fonte: EA Escrita Academica (2017, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Acesse o link e assista ao vídeo para saber mais sobre o uso de pleonasmos, que
se referem à repetição de palavras do mesmo sentido em uma frase. O vídeo é
apresentado pelos atores Leandro Hassum e Marcius Melhem.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7aE6IANa2MU&feature=related>.
Material Complementar
160
REFERÊNCIAS
Referência On-line
1
Em: <http://www.escritaacademica.com/topicos/generos-academicos/o-artigo/>.
Acesso em: 10 nov. 2017.
161
REFERÊNCIAS
GABARITO
V
UNIDADE
LITERATURA INFANTIL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Entender a literatura como direito fundamental da criança.
■■ Conhecer as funções da literatura.
■■ Conhecer a natureza da literatura infantil.
■■ Compreender a importância da literatura infantil na formação de
leitores.
■■ Discutir a literatura infantil como instrumento para a aquisição
da língua, da cultura, de noções estético-literárias e ideológico-
valorativas nela inscritas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A criança tem direito à literatura
■■ Funções da literatura
■■ Características essenciais da literatura infantil
■■ Breve história da literatura infantil
■■ Literatura infantil: formação linguística e cultural
165
INTRODUÇÃO
nunca viajou montado em um tapete voador, quem não desejou ter uma varinha
mágica para transformar o sonho em realidade? Desde os clássicos da literatura,
como Cinderela, A Bela Adormecida, A Bela e a Fera, aos contos de fadas mais
atuais, como Alice no país das maravilhas, Bruxa Onilda, Harry Potter, História
sem fim, entre outros, em que o sonho pede licença à realidade e foge para um
mundo encantado.
Nesta unidade, adentraremos no universo da Literatura Infantil, no mundo
mágico e encantado que envolve esse período de vida tão especial para a forma-
ção humana. Estudaremos uma breve história da literatura infantil no mundo e
no Brasil, veremos as funções que ela exerce em nossas vidas e a sua importân-
cia para formação cultural, histórica, linguística e artística.
Observaremos alguns autores e obras que marcaram a nossa história lite-
rária, qual a importância deles e de seus textos para a nossa formação cidadã e
como eles podem enriquecer a formação dos nossos alunos para que também
seja possibilitada uma aprendizagem ampla, profunda e significativa.
A literatura infantil está diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo e
intelectual da criança, por isso é função da escola oferecer os melhores textos e
autores para os nossos alunos. Assim, a literatura infantil auxilia nos processos
de aquisição da linguagem, em que o lúdico pode ser vinculado ao pedagógico
sem que um se sobressaia ao outro, mas sejam instrumentos que se completam
na busca da formação da autonomia da criança, de seu senso crítico, suas capa-
cidades de controle emocional e de desenvolvimento da inteligência.
Bons estudos!
Introdução
166 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
direito, segundo o dicionário Aurélio ([2017], on-line)1:
O que pode ser exigido em conformidade com as leis ou a justiça.
2- Faculdade, prerrogativa, poder legítimo.
3- Complexo de leis sociais.
4- Lado principal.
5- Que corresponde à distância mais curta entre dois pontos.
6- Sem curvas nem irregularidades.
7- Que fica à direita.
8- Que está de pé.
9- Justo, reto; acertado.
10- Que está bem, que está como é devido.
11- Em linha reta.
12- De forma direta; sem desvios.
13- De maneira considerada correta.
14- Imposto, taxa.
15- direito canônico: conjunto de leis que regula a dis-
ciplina eclesiástica.
16- direito autoral: o mesmo que direitos autorais.
LITERATURA INFANTIL
167
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(Richard Bamberger)
Você pode estar se perguntando: a literatura é uma necessidade tão vital quanto
moradia, alimentação, segurança e saúde? Bom, se pudermos verificar que a
literatura/arte é algo presente em toda a história da humanidade e está presente
todos os dias, podemos sim entendê-la como uma necessidade vital; assim, para
comprovar isso, Candido (2011, p. 176), afirma:
[...] a literatura aparece claramente como manifestação universal de to-
dos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que
possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato
com alguma espécie de fabulação. Assim como todos nós sonhamos
todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas sem
algum momento de entrega ao universo fabuloso.
LITERATURA INFANTIL
169
Esse raciocínio foi também explorado artisticamente pela banda de rock nacional
Titãs com a música “Comida”, lançada em 1987, no álbum “Jesus não tem den-
tes no país dos Banguelas” ([2017], on-line)2, e ela expõe os seguintes trechos:
A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte
A gente não quer só comida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ratificando a noção de que todos nós temos o direito à literatura, isso não pode
ser um privilégio de poucos e proposto em dosagens pequenas, mas da mesma
forma que todos almejam uma boa moradia, uma ótima saúde e atendimento
médico, ter uma boa alimentação e segurança, devemos almejar de promover,
especialmente nas escolas e famílias, a leitura literária de qualidade para todos,
especialmente nos anos iniciais de formação linguística, cultural, social e cog-
nitiva dos seres humanos, a infância.
Ao observarmos artigos presentes no ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) referentes à educação, entendemos a vital importância da litera-
tura a todos e em todos os níveis educacionais:
A criança e o adolescente têm direito à educação visando ao pleno desen-
volvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qua-
lificação para o trabalho [...]. É dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para
os que a ele não tiveram acesso na idade própria; V – acesso aos níveis mais
elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacida-
de de cada um [...] (BRASIL, ARTIGOS 53 E 54, 1990, p. 55-58 on-line).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estado de coisas predominantes (CANDIDO, 2011, p. 177-178).
Como a própria constituição brasileira de 1988 afirma que a educação para todos
é um dever do Estado, e posteriormente o ECA reafirma esse compromisso, enten-
demos que a escola deve promover aos alunos o seu direito à literatura, direito à
ficção, à cultura, à arte e ao lúdico para que eles possam ter sua formação ampla
e com todos os seus direitos assegurados.
FUNÇÕES DA LITERATURA
LITERATURA INFANTIL
171
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo Candido (1972), a literatura tem uma força humanizadora por apresentar
problemas sociais, pessoais, ter uma atuação social e psíquica, indagar a realidade
e seus costumes, aproximar de outros mundos e realidades, isto é, ela promove no
leitor um encontro consigo mesmo e com o outro, atuando diretamente na essên-
cia humana: seus sentimentos, vivências, sonhos, desejos, frustrações e vitórias.
Os contos de fadas oferecem figuras nas quais a criança pode externalizar
o que se passa na sua mente, de modo controlável. Os contos de fada mos-
tram à criança de que modo ela pode personificar seus desejos destrutivos
numa figura, obter satisfações desejadas de outra, identificar-se com uma
terceira, ter ligações ideais com uma quarta e daí por diante, como requei-
ram suas necessidades momentâneas (BETTELHEIM, 1978, p. 82).
Funções da Literatura
172 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade uni-
versal”, afirma Candido (1972, p. 83).
■■ Função formativa: é entendida no processo histórico de que os países
civilizados basearam sua instrução nas letras, mas a literatura deve formar
os alunos, crianças, jovens, adultos e velhos do ponto de vista moraliza-
dor e pedagogizante? A resposta é simples: não, pois ela “pode formar;
mas não segundo a pedagogia oficial [...]”, definida normalmente “[...]
conforme os interesses dos grupos dominantes”, diz Candido (1972, p.
4). Por isso, muitas vezes a literatura é “expurgada” da sala de aula, pois é
difícil acomodá-la ideologicamente, a sua riqueza pode levar à perversão
e subversão e muitos educadores preferem obras infantis moralizantes,
segundo as convenções da época, do que uma obra com valor literário e
artístico elevado. Assim, o autor entende que “a literatura atua (forma-
tivamente), como a vida, ensina na medida em que atua com toda a sua
gama”, ensina para o bem e para o mal e ele continua reforçando a ideia
de que “é artificial querer que ela funcione como manuais de virtude e
boa conduta”, afirma Candido (1972, p. 84).
■■ Função social: é fundamentada na ideia de que a literatura nos propor-
ciona conhecer o mundo e a nós mesmos. Candido (1972, p. 86) diz que
“a obra significa um tipo de elaboração das sugestões da personalidade e
do mundo que possui autonomia de significado”, isso não ajuda a enten-
der que a “autonomia” da obra não a desliga do mundo real, de inspirações
reais, nem tão pouco a torna um simples relato da realidade corrente, pois
a ficção atua livremente sobre ela, por isso “o leitor se sente participante
de uma humanidade que é a sua, e deste modo, pronto para incorporar
à sua experiência humana mais profunda”, afirma Candido (1972, p. 90).
LITERATURA INFANTIL
173
Após estudarmos essas três funções da literatura, fica mais clara a expressão usada
pelo autor: “força humanizadora da literatura”, pois a literatura é um dos meios
de nos aproximarmos mais de nós e dos outros; podemos, assim, nos defrontar
com nossos medos, amores, sonhos, tristezas, alegrias etc.
Ler sempre representou uma das ligações mais significativas do ser hu-
mano com o mundo. Lendo reflete-se e presentifica-se na história. O
homem, permanentemente, realizou uma leitura do mundo. Em pa-
redes de cavernas ou reconhecendo-se capaz de representação. Certa-
mente, ler é engajamento existencial (CAVALCANTI, 2002, p. 13).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, toda teoria literária usada para análise de textos adultos também serve
para a literatura infantil; é evidente que cada nicho literário tem suas particulari-
dades, mas são literatura, isto é, cada gênero literário se utiliza de uma linguagem
que se particulariza diante de seu contexto; as histórias em quadrinho, a poesia, a
narrativas longas, os contos e tantas outras formas articulam-se em seus objetivos
artísticos por meio de uma linguagem que será avaliada como de boa ou má qua-
lidade e não simplesmente como infantil e simplória ou para adultos.
Esclarecido isso, podemos expor algumas das características mais comuns
na literatura infantil:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ o conteúdo deve ser acessível;
■■ ausência de temas adultos;
■■ narrativas relativamente curtas;
■■ presença de estímulos visuais;
■■ linguagem adequada à faixa etária;
■■ apresentando um fato ou uma história de maneira clara;
■■ possuem mais diálogos e diferentes acontecimentos;
■■ poucas descrições;
■■ as crianças são os principais persona-
gens da história;
■■ características melódicas (ritmo, rimas);
■■ brincadeiras fônicas e vocabulares;
■■ jogo lúdico, sensorial e sinestésico;
■■ junção entre as linguagens (letras, dese-
nhos e outros estímulos).
LITERATURA INFANTIL
175
Segundo Sosa (1978), são quatro os elementos necessários para atender às expectati-
vas da criança: o caráter imaginoso, o dramatismo, a técnica do desenvolvimento e a
linguagem. A imaginação é fonte primária do texto infantil, o dramatismo se refere à
tensão e aos conflitos, e a técnica de desenvolvimento e de linguagem se diferencia da
literatura voltada para o público adulto para se adaptar ao nível intelectivo da criança.
As obras direcionadas às crianças não podem ser consideradas inferiores
tematicamente e artisticamente, pois elas constituem uma criação que utilizará
valores estéticos para proporcionar uma experiência qualitativa.
O leitor criança se sente estimulado a continuar uma obra quando encontra
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A casa A casa
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Como tudo é feliz, no fim do dia, Entrar nela não
Quando voltas das aulas e do estudo! Porque na casa
Volta, quando tu voltas, a alegria! Não tinha chão
Aqui deves entrar como num templo, Ninguém podia
Com a alma pura, e o coração sem susto: Dormir na rede
Aqui recebes da Virtude o exemplo, Porque na casa
Aqui aprendes a ser meigo e justo. Não tinha parede
Ama esta casa! Pede a Deus que a guarde, Ninguém podia
Pede a Deus que a proteja eternamente! Fazer pipi
Porque talvez, em lágrimas, mais tarde, Porque penico
Te vejas, triste, desta casa ausente... Não tinha ali
E, já homem, já velho e fatigado, Mas era feita
Te lembrarás da casa que perdeste, Com muito esmero
E hás de chorar, lembrando o teu passado... Na rua dos Bobos
_ Ama, criança, a casa em que nasceste! Número Zero
LITERATURA INFANTIL
177
Você conhece esse livro “Poesias Infantis”, de Olavo Bilac? Não? Então acesse
o site e leia na íntegra todos os poemas publicados no livro disponivel em:
<http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/poesias_infantis_de_
olavo_bilac-1.htm>. Porém, leia atentamente o tópico “Ao leitor” e descubra
as indagações e reflexões que o autor faz sobre a dificuldade em escrever
para o público infantil; o interessante é que ao final o próprio autor pede
desculpas se ele não conseguiu atingir o seu objetivo.
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Sequência narrativa
■■ Propõe problemas a serem solucionados de maneiras diferentes.
■■ Coparticipação nas soluções.
■■ Não apresenta respostas prontas.
Personagens
■■ Individualidades que se incorporam no grupo-personagem.
■■ Valorização de grupos, patotas, a personagem-coletiva.
■■ Espírito comunitário - individualidade do herói está pouco presente.
■■ Personagem questionadora que põe em xeque as estruturas prontas, um
convite à reflexão.
Voz narradora
■■ Mais consciente da presença de um leitor possível.
■■ Tom mais familiar e até de diálogo.
■■ Não trata o leitor como receptor da mensagem, pois não há passividade.
Espaço
■■ Preocupação crescente em mostrar as relações existentes no espaço, a fim
de conduzir à reflexão.
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Nacionalismo
■■ Busca das origens para definir a brasilidade em suas multiplicidades
culturais.
■■ Delimitar uma nova maneira de ser no mundo, a brasileira.
Exemplaridade
■■ Deixa de ser usada somente com intenção pedagógica e passa a revelar a
ambiguidade natural do ser humano.
■■ Tende a ser uma maneira de propor problemas a serem resolvidos e esti-
mular a optar conscientemente nos momentos de agir.
LITERATURA INFANTIL
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A França do século XVII foi, então, o berço dessa literatura voltada às crian-
ças, um exemplo disso é Charles Perrault, que escreveu muitas das histórias que
você leu na sua infância e, possivelmente leu e/ou lerá para seus filhos e alunos.
Vamos conferir? Quem nunca leu: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho
Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela (também conhe-
cida como Borralheira ou Gata Borralheira ou Sapatinho de vidro), Henrique do
Topete e O Pequeno Polegar? Todas essas histórias estão inseridas no livro “Os con-
tos da Mamãe Gansa”.
Charles Perrault era um católico convicto, funcionário da corte de Luís XIV,
e seus escritos para o público infantil possuíam cunho pedagógico e moralizante
para serem incutidos nos pequenos leitores. Perrault recolheu histórias populares
e deu a elas tratamento literário; assim, elas passaram a fazer parte dos contos de
fadas de cunho popular não endereçados à burguesia (COELHO, 2000).
Perrault realizou a literalização dos contos folclóricos, de tradição popular
e oral adulta, transformando em contos de fadas que passaram a ser adotados e
consolidados como literatura infantil, ajustados ao gosto e ao propósito da classe
aristocrática da corte francesa. Esses acontecimentos reforçam as afirmações de
Lajolo & Zilberman (1999, p. 32), de que a literatura tem seus fundamentos na ora-
lidade e se encontra profundamente ligada às raízes da literatura popular, confiando
que as crianças gostariam de ler nos livros as histórias que as babás, ex-escravas e as
mães lhes contavam. Muitas das narrativas publicadas por Perrault foram repagi-
nadas mais de um século depois pelos irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm Grimm),
estudiosos do folclore alemão que viajaram em 1800 por toda a Alemanha, pre-
ocupados em fixar as narrativas orais de seu país. O interesse deles também não
LITERATURA INFANTIL
181
Você não conhece todas as histórias escritas pelos Irmãos Grimm? Não deixe
de ler, aventurar-se e estudar as suas narrativas, pois todas as suas publicações
estão traduzidas e disponíveis gratuitamente no site disponível em: <http://
www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/index?page=1>. Boa Leitura!
Fonte: os autores.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Somente no século XVIII é que as características peculiares às crianças passam a
ser percebidas como seres potenciais que poderão servir no futuro para a manuten-
ção do status quo. Sua educação começa a ser mais elaborada e fundamentada na
preparação para o egresso na vida adulta. Consolidam-se as instituições burguesas
com a industrialização, o que fez com que os livros infantis fossem produzidos em
maior escala. Esse século é conhecido como o século do aparecimento da Literatura
Infantil. Os livros publicados nessa época agradaram adultos e crianças e alguns
títulos se imortalizaram, como Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, publicado em
1719 e Viagens de Guliver, de Jonathan Swift, publicado em 1726.
O século XIX é conhecido como o século do desenvolvimento da literatura
infantil; o campo é fértil para a produção literária, isso porque a criança passou
a receber atenção especial para seu crescimento físico, psicológico e cognitivo,
surgindo, então, novos conceitos de vida, educação e cultura, abrindo novos
caminhos na área pedagógica e literária (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999).
O grande destaque desse século é Hans Christian Andersen, pois seus tex-
tos transbordavam emoções, lirismos e fantasias em seus contos que encantam
até os dias atuais. Dentre suas criações consta o Soldadinho de chumbo, O pati-
nho feio, A pequena Sereia, A roupa nova do Rei, dentre outros. Sua obra foi tão
marcante que o dia de seu nascimento (02 de abril de 1805) é consagrado hoje
como o Dia Internacional do Livro Infantil.
LITERATURA INFANTIL
183
Além dos Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen, despontaram autores e obras
que se tornaram best-sellers, como: Lewis Carroll - Alice no País das Maravilhas;
Collodi – Pinóquio; Jules Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias, entre outros.
Tais autores muito contribuíram com a produção literária destinada ao público
infantil na Europa e no mundo.
Mesmo com uma evolução da literatura infantil e um novo olhar dos escrito-
res para esse público, muitos textos no século XIX e XX estavam direcionados à
infância associando a literatura infantil a um instrumento pedagógico institucional
escolar, que os educadores e pedagogos utilizavam com objetivo utilitário-pe-
dagógico, esquecendo-se, na maioria das vezes, do caráter lúdico, sensorial,
artístico e cultural da obra.
Foi nesse contexto que a escola se constituiu em reprodutora da sociedade
burguesa, segundo Zilberman (2003), negando o social e introduzindo precei-
tos normativos excludentes, taxando a visão burguesa da realidade como sendo
a de maior valor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da burguesia. Há, nesse século, um novo grupo de ávidos e jovens leitores que
exigem boa literatura, por isso este é considerado o grande momento de conso-
lidação e crescimento do mercado editorial para crianças e jovens.
O universo das letras inicia realmente quando o Brasil era um colônia, mas por
força do destino, e a ameaça de Napoleão de invadir Portugal de D. João VI, a
família real vem à Colônia (1808) e eleva o Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil
e Algarves, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, que passou a sediar uma corte
europeia e a ter condições de igualdade com as cidades da metrópole.
Nesse momento, algumas inovações e modernizações ocorreram no Brasil,
advindas das necessidades e aparatos das corte portuguesa, uma delas é a imprensa
nacional, uma das providências para a modernização da
colônia que passava a ter status de sede real, dando
início, assim, à produção de escritos impressos em
terras brasileiras. Isso proporcionou que algu-
mas obras literárias voltadas para as crianças
começassem a ser publicadas. Em 1818,
foram “As aventuras pasmosas do Barão de
Munkausen”, seguidas da coletânea de José
Saturnino da Costa Pereira, “Leitura para
meninos”, contendo uma coleção de histórias
LITERATURA INFANTIL
185
morais relativas aos defeitos ordinários às idades tenras, e um diálogo sobre geo-
grafia, cronologia, história de Portugal e história natural. Em 1848, “Aventuras
do Münchausen” foi reeditada com uma alteração gráfica.
Naturalmente, o Reino Unido do Brasil era recheado por uma população
analfabeta e a tradição das histórias orais era intensamente presenciada e era mar-
cada por histórias místicas, folclore das culturas indígenas, africanas e europeias,
que também ocupavam o lugar da literatura escrita, até porque a leitura não fazia
parte da realidade social brasileira. O universo infantil das classes mais abasta-
das era permeado pelas leituras vozeadas de suas amas e babás. No decorrer do
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país nenhum como este!” (BILAC, 1929, on-line s.p)3. Foram leituras obrigató-
rias em várias gerações de crianças brasileiras.
A primeira publicação feita no Brasil com grande repercussão no meio esco-
lar foi “Livro do Povo“ de Antonio Marques Rodrigues, impresso pela Tipografia
do Frias, com primeira edição em 1861, com 208 páginas e uma tiragem de 4.000
exemplares. Nesse mesmo molde foram publicados: “Método Abílio”, por Abílio
César Borges; “O Livro do Nenê”, por Meneses Vieira; “Série Instrutiva”, por Hilário
Ribeiro; entre outros. Logo após esta fase, contos para a diversão da infância come-
çaram a ser escritos por autores nacionais, como os “Contos Infantis”, de Júlia Lopes
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de Almeida. “Contos da Carochinha” foi a primeira coletânea brasileira de literatura
infantil, com o intuito de traduzir, para a Língua Portuguesa, contos estrangeiros de
sucesso, uma iniciativa tomada por Alberto Figueiredo Pimentel, dotado de fama
pela sua busca de popularização da literatura no Brasil. Mais algumas obras e auto-
res: “Livro das Crianças”, de Zalina Rolim; “Leituras Infantis”, de Francisco Vianna;
“Era Uma Vez”, de Viriato Correia; “Biblioteca Infanto”, de Arnaldo Barreto.
Nos vinte primeiros anos do século XX, a literatura infantil esteve associada
intimamente aos interesses educacionais e do Estado, isto é, com fins didáticos.
Isso realmente muda com a obra “As Reinações de Narizinho”, 1931, de Monteiro
Lobato, livro que serve de mola propulsora para a futura série “Sítio do Picapau
Amarelo”, conhecida e reconhecida nacional e internacionalmente.
Muitos autores produziram boas obras para as crianças nos anos de 1930 a
1960, como: Érico Veríssimo, Luís Jardim, Lúcio Cardoso, Graciliano Ramos,
Guilherme de Almeida, Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles.
Em 1959 a Câmara Brasileira do Livro (CBL) lança o prêmio Jabuti, ideali-
zado por Edgar Cavalheiro, tornando-se hoje o prêmio nacional mais importante
da literatura nacional. Nos anos vindouros, ocorreu uma expansão de instituições
e programas voltados para a ampliação da leitura e a discussão da literatura infan-
til: em 1966, a FNLE (Fundação do Livro Escolar), em 1968 a FNLIJ (Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil), em 1973 o CELIJ (Centro de Estudos de
Literatura Infantil e Juvenill), em 1979 a ABLIJ (Academia Brasileira de Literatura
Infantil e Juvenil) e também várias Associações de Professores de Língua e Literatura
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1999). Instituições que impulsionaram as produções lite-
rárias de autores nacionais. Nesse período, há uma grande expansão do mercado
LITERATURA INFANTIL
187
Ana Maria Machado com o livro Bisa Bia, Bisa Bel; em 2014, Roger Mello ganhou
como melhor ilustração infantil do ano, e já havia sido indicado ao prêmio duas
vezes. Outros autores também se tornaram grandes expoentes literários, como
Ziraldo (O menino maluquinho), Orígenes Lessa (Memórias de um cabo de vas-
soura), Ruth Rocha (Marcelo Marmelo Martelo), Chico Buarque (Chapeuzinho
Amarelo), Sylvia Orthof, Marina Colasanti, Roseana Murray e Pedro Bloch.
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INFANTIL NO BRASIL
“[...] para ocorrer uma mudança de postura é necessário que haja compro-
misso em querer mudar.”
(Paulo Freire)
José Bento Monteiro Lobato, nascido na cidade de Taubaté, interior de São Paulo,
no dia 18 de abril de 1882, foi o autor que mais escreveu para crianças, sendo a
sua obra considerada a mais extensa da literatura infantil de que se tem notícia.
No período de 1925 a 1950, foram vendidos um milhão e meio de exemplares
de seus livros. Tantos personagens e histórias que ainda fazem parte do imagi-
nário de muitas crianças e adultos.
Um panorama resumido da vida de José Monteiro Lobato mostra um homem
nacionalista, militante convicto que queria melhorar o mundo a começar pelo
Brasil. Descobriu que já não era mais possível mudar os adultos e passa a escrever
para as crianças, as quais não precisam ser transformadas, mas formadas, livres
para pensar como numa frase das fábulas de Monteiro, descrita por Abramovich
(1983, p. 37), em que Emília diz para um cão: “ – Pois o segredo, meu filho, é um
só: liberdade. Aqui não há coleiras. A grande desgraça do mundo é a coleira. E
como há coleiras espalhadas pelo nosso mundo!”.
LITERATURA INFANTIL
189
sem ter acesso aos bens de consumo. Conforme relato de Lajolo (2002), Lobato,
em 1930, declara à sua irmã que estava endividado e financeiramente depen-
dente dos lucros de suas produções literárias.
Em sua obra deu voz de liderança para as mulheres, o sítio do pica-pau ama-
relo era todo comandado por mulheres, reconhecendo seus atributos. Em 1933,
anuncia a Anísio Teixeira a produção de Emília no país da gramática. Ciente
da carência de livros didáticos para as crianças, em 1933 publica Aritmética de
Emília, Geografia de Dona Benta e Histórias das invenções.
Exímio tradutor e adaptador de clássicos da Literatura Infantil, em 1936
Lobato lança o livro D. Quixote das crianças, adaptando o clássico para a lei-
tura infantil, com linguagem inteligível para essa faixa etária. A história de Dom
Quixote é contada por meio das leituras de Dona Benta, que deixa claro para
as crianças as diferenças entre a obra original e a adaptação feita para elas e que
devem ler a história original na íntegra.
Sua forma de escrever foi inovadora para o padrão brasileiro e audaciosa,
porque continuou incorporando suas ideias nacionalistas antes reportadas nas
produções para adultos. A importância deste autor é tanta que a data de seu
nascimento, 18 de abril, é consagrada como o Dia Nacional do Livro Infantil.
Monteiro Lobato é reverenciado até hoje pela crítica especializada.
Um ponto muito importante é que a leitura dos livros de Lobato nas escolas
foi responsável pela descoberta do prazer em ler para muitos dos demais autores
renomados que temos hoje; segundo relato de Abramovich (1983), ela própria
e outros autores como Ruth Rocha tiveram seus gostos pela leitura e literatura
infantil despertados por Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato introduziu, por meio dos seus personagens mirins, uma
literatura direcionada para o público infantil com cunho genuinamente brasileiro,
sem vestígios da literatura estrangeira presentes nas traduções que circulavam
nacionalmente. Publicou “Narizinho Arrebitado”, que mais tarde, pelo sucesso
alcançado, foi reeditado como “Reinações de Narizinho”. E a partir das suces-
sivas e bem acolhidas produções literárias, passou a editar as próprias obras
fundando a Editora Monteiro Lobato & Cia., Companhia Editora Nacional e a
Editora Brasiliense. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo
de suas personagens, Lobato ganhou popularidade por inserir em sua obra
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uma realidade comum e familiar à criança. A mais absoluta verossimilhança e
naturalidade passa a ser o elemento integrante do real, absorvendo com isso o
universo literário infantil com absoluta naturalidade, sem deixar de lado o fan-
tástico mundo da imaginação infantil. Sua obra preocupou-se em transmitir às
crianças o conhecimento da tradição, o conhecimento do acervo herdado e que
lhes caberia transformar e também questionar as verdades, os valores e não valo-
res sedimentados na sociedade.
As obras lobatianas são enriquecidas pelo folclore, pela exaltação do nacio-
nalismo e pelo engajamento social. Os personagens infantis em suas obras são
a grande metáfora encontrada pelo autor para ecoar a insatisfação do mundo
adulto e retratar com idealização o panorama nacional almejado. Isso evidenciou
o caráter nacionalista de sua obra, retratado nos personagens pela linguagem,
imagem, comportamento e relação com a natureza.
Monteiro Lobato foi o primeiro autor brasileiro a romper significativamente
com o didatismo que impregnava os livros para crianças. Ele inovou ao escrever
textos com os quais as crianças se identificavam, bem como ao inverter valo-
res em algumas de suas obras. Fez da literatura infantil o grande instrumento
para a educação, realizado pela voz dos seus personagens fantásticos perante os
problemas político-econômicos e sociais. São as principais preocupações nacio-
nais observadas em suas obras: petróleo, analfabetismo, exploração das riquezas
naturais, saneamento básico e influência estrangeira sobre a economia brasileira.
Conseguiu explorar esses problemas aproximando a criança dos problemas coti-
dianos por meio da literatura infantil. Em sua obra mais expressiva, o “Sítio do
LITERATURA INFANTIL
191
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Nos dias atuais, a literatura infantil ampliou-se, ganhou novas vestimentas e conquis-
tou as telas dos cinemas com reproduções de clássicos reproduzidos em desenhos
animados. Abramovich (2004) critica a supressão de cenas dos contos de fadas
expostos na literatura infantil a fim de adaptá-los ao cinema ou para fins didáticos
escolares. Nesse contexto, a fala de Abramovich (2004) tem respaldo na afirmação
de Bakhtin (2010), quando ambos afirmam que fragmentos de textos ou a supres-
são de partes deles destitui a unidade de sentido própria do texto escrito. Segundo
Bakhtin (2010), quando se analisa uma oração isolada perde-se o todo, perde-se o
contexto, perde-se o sentido, pois nenhum enunciado tem sentido fora da cadeia
de comunicação em que a oração isolada é apenas um elo inalienável. A oração iso-
lada, conforme Bakhtin (2010), é desprovida de expressividade, pois uma oração
só atinge a entonação expressiva no todo do enunciado. Por isso, o que se reco-
menda é a não substituição da leitura pelos filmes que retratam de forma comercial
o enredo de um conto de fada. Segundo Abramovich (2004), se no conto há cenas
as quais a criança não conseguirá entender, então deve-se mudar de leitura e espe-
rar a fase da maturação da criança para recomendá-la.
Refletindo sobre o assunto, devemos censurar livros e filmes para as crian-
ças? A primeira lição histórica que devemos sempre ter em mente é que a censura
nunca foi um método eficaz de esconder, apagar ou suplantar determinados
LITERATURA INFANTIL
193
assuntos ou práticas. Por isso, devemos pensar sempre com muita parcimônia e
cautela nesse assunto, pois não deve haver tema ou situação que não possa ser
tratada com as crianças, mas sim o modo como isso é feito é que deve ser pen-
sado por nós educadores, assim invertemos a pergunta retirando o conceito da
censura e introduzindo a ideia da adequação: esse livro, essa temática, essa abor-
dagem está adequada a essa faixa etária?
Dessa forma, conseguimos promover na escola avanços significativos na forma-
ção integral desse aluno e não um aluno que nunca tratou sobre a morte, a tristeza,
o medo, o futuro, a frustração, o sonho, a família, a alegria e tantos outros assuntos
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importantes para formação de qualquer ser humano. Entendemos aqui que o pri-
mordial na escola é desenvolver e cultivar o gosto pela leitura para que chegue o
momento em que esse aluno caminhe com suas próprias pernas no mundo da ficção.
Desenvolver o gosto pela leitura é uma das tarefas da escola, que deve ser
criteriosa na aquisição de livros para sua biblioteca. Em visitas periódicas à biblio-
teca ou no cantinho de leitura na sala de aula, os alunos devem ser incentivados
a lerem livros variados, adequados à faixa etária, de culturas e opiniões diver-
sas, com visões de mundo diferentes. A cada avanço na leitura, novos desafios
devem ser propostos, leituras mais apuradas devem ser sugeridas, textos mais
longos, conteúdos mais explicativos.
Pode-se dizer que a literatura infantil é o resultado da interação entre inten-
ção pedagógica e intenção lúdica que, por sua vez, estimula a criatividade de uma
forma geral, promovendo a aprendizagem.
São três os aspectos que promovem interação entre o lúdico e o pedagógico,
conforme descreve Coelho (2000):
■■ Aspecto psicofísico - a literatura infantil estimula as funções motoras e
intelectuais das crianças, contribui com a formação da personalidade, do
desenvolvimento do imaginário e do espírito crítico infantil.
■■ Aspecto de natureza social - a criança adquire melhores condições de
formar sua identidade social, aperfeiçoar seu processo de sociabilidade e
estabelecer categorias de valor ligadas à ética.
■■ Aspecto linguístico - contribui para o desenvolvimento do vocabulário,
para a aquisição de estruturas linguísticas, para a distinção de registros
discursivos e desenvolvimento da escrita e da narratividade.
Consoante Coelho (2000), entendemos que a literatura não só tem a sua função
de fruição, de deleite, mas também de desenvolvimento cognitivo e aprendiza-
gem que, se bem aproveitado pela escola, pode promover um desenvolvimento
físico e motor com as brincadeiras de roda, a encenação das histórias; o enten-
dimento de seu contexto sociocultural com a identificação dos personagens,
suas ações, o ambiente das histórias e a comparação com a realidade dos pró-
prios alunos; e uma valorização dos aspectos linguísticos, variantes regionais,
sociais, confrontando a linguagem formal, informal, a licença poética dos livros.
Para que essa interação literatura-escola ocorra com sucesso é imprescin-
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dível que o profissional da educação tenha o conhecimento sobre as fases do
desenvolvimento infantil para que possa escolher obras que contemplem as poten-
cialidades de cada fase da criança. Segundo Oliveira (2005 on-line)4, o professor
deve estar atento para os seguintes estágios para escolher um livro literário ade-
quado à correta faixa etária da criança:
1 a 2 anos
■■ Prende-se ao movimento.
■■ Ao tom de voz, e não ao conteúdo do que é contado.
■■ Presta atenção ao movimento de fantoches e a objetos que conversam
com ela.
■■ Narrativas curtas.
■■ Muitas imagens, uma gravura em cada página.
■■ Enredo simples e vivo.
■■ Uso de livros-brinquedo, livros de pano, madeira e plástico .
■■ Nesta fase, há uma grande necessidade de pegar a história, segurar o fan-
toche, agarrar o livro etc.
2 a 3 anos
■■ Histórias rápidas.
■■ Pouco texto e poucos personagens.
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3 a 6 anos
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■■ Leitura acompanhada pela reflexão.
■■ Fase dos questionamentos.
■■ Atração por mitos, deuses, heróis, ficção científica ou policial.
■■ Livros de aventuras e ação constantes, livros de mistério, presença de
heróis e heroínas.
■■ A criança passa a se interessar por narrativas escritas, de extensão mediana
com um número menor de imagens.
12 a 13 – leitor crítico
■■ Livros que contenham textos mais longos.
■■ Motivos cotidianos.
■■ Diversidade de assuntos, própria da curiosidade do
pré-adolescente e do adolescente.
Diante do exposto, entendemos a necessi-
dade do professor saber adequar as histórias
que serão trabalhadas à faixa etária do aluno
para que isso favoreça a formação linguís-
tica e cultural dele, aliando assim uma
formação humanizadora, como
preconiza Candido (2011), a
uma prática pedagógica plu-
ral, ampla e reflexiva.
LITERATURA INFANTIL
197
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
198
3. A literatura infantil não é menor ou tem menos valor estético do que a literatura
adulta, ideia que por muito tempo foi entendida como verdade. A partir disso,
assinale a alternativa verdadeira:
a) A poesia infantil apresenta menos musicalidade e figuras de linguagem que
a poesia adulta.
b) As narrativas infantis, por serem reduzidas, não têm a presença de um narra-
dor e uma cronologia linear.
c) Todos os personagens das histórias infantis precisam ser obrigatoriamente
crianças.
d) Os elementos básicos da narrativa infantil são comuns à narrativa adulta, pois
o que difere essencialmente é o público leitor.
e) O autor das obras infantis não precisa do mesmo esforço que tem ao fazer
uma narrativa para o público adulto.
Monteiro Lobato é um marco na literatura infantil e na história do Brasil por seus feitos,
opiniões e obras escritas. Porém, quando abordamos a vertente escritor de Lobato, co-
nhecemos muito superficialmente as suas obras e, normalmente, não as lemos. Lem-
brando que somos professores e não podemos deixar Lobato de fora de nosso plane-
jamento, apresentarei trechos da reportagem da revista Nova Escola intitulada “Cinco
motivos para se ler Monteiro Lobato com os alunos”, de Camila Camilo.
“Se a leitura de Lobato foi tão importante para as crianças da primeira metade do século
20, ela ainda é atraente para a formação dos pequenos leitores. A seguir, veja cinco ra-
zões para apresentar as obras do escritor aos alunos:
1. As histórias são narradas como fábulas
Em Monteiro Lobato livro a livro, os pesquisadores Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini
mostram uma carta que o escritor enviou a Godofredo Rangel em 1916. Nela, Lobato
manifesta a vontade de “vestir à nacional” as fábulas de Esopo e La Fontaine diante “da
atenção curiosa com que meus pequenos ouvem as fábulas que Purezinha lhes conta.
Guardam-nas na memória e vão recontá-las aos amigos”.
[...] Para ir além do formato tradicional, em suas histórias é possível conhecer os pontos
de vista de vários personagens a respeito de uma fábula contada por outro persona-
gem. Ele conta uma história dentro da história.
[...]
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Marta Morais da Costa
Editora: IESDE
Sinopse: contar histórias, assim como ouvi-las, é uma
experiência humana insubstituível. Para isso, o exercício
de formação do leitor é fundamental desde a infância. Pelo
ensino a distância, você poderá fazer o curso de Literatura
Infantil, que abrirá novos horizontes profissionais para quem
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a exercitar a leitura a partir da alfabetização, por meio da
abordagem de temas como o sentido do texto, as formas
narrativas, a contação de histórias, entre outros assuntos
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REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <https://dicionariodoaurelio.com/direito>. Acesso em: 13 nov. 2017.
2
Em: <https://www.letras.mus.br/titas/91453/>. Acesso em: 13 nov. 2017.
3
Em:<http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/poesias_infantis_de_ola-
vo_bilac-1.htm>. Acesso em: 13 nov. 2017.
4
Em: <http://www.graudez.com.br/litinf/livros.html>. Acesso em: 13 de jul. 2017.
5
Em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1994/cinco-motivos-para-ler-monteiro-
-lobato-com-os-alunos>. Acesso em: 13 nov. 2017.
207
GABARITO
1) C.
2) B.
3) D.
4) Os aspectos descritos por Coelho (2000) são: psicofísico, social e linguístico. O
primeiro auxilia na formação motora e cognitiva do aluno, o segundo na for-
mação identitária do aluno, e o terceiro no desenvolvimento do vocabulário e
manuseio da linguagem.
5) Monteiro Lobato é um divisor de águas na literatura infantil nacional, ele con-
seguiu incorporar as histórias clássicas e tradicionais à literatura infantil, consti-
tuindo um resgate cultural; introduziu personagens crianças/adolescentes que
falavam e agiam realmente como crianças/adolescentes, fazendo com que os
leitores se identificassem com eles; incorporou o folclore e as tradições nacionais
nas histórias, cultivando a nossa cultura; propôs a diversidade em suas obras,
contribuindo para uma ampla reflexão.
CONCLUSÃO
Encerramos esse ciclo de estudos! Temos a certeza de que esse livro auxiliou você
nessa caminhada de sua formação acadêmica, pois a necessidade de ler, discutir,
refletir e atualizar-se foi explorada neste material.
A nossa proposta nesse livro foi deixar clara a importância do domínio da língua
materna, sendo um competente usuário dela nas mais diferentes situações comuni-
cativas e como responsável pelo processo de ensino-aprendizagem de seus futuros
e/ou atuais alunos.
Ao longo das cinco unidades, estudamos as funções da Língua Portuguesa, seme-
lhanças e diferenças entre a escrita e a oralidade; adentramos na importância da
leitura e da formação de leitores críticos e antenados com as novas mídias; destaca-
mos a importância da produção textual com qualidade e dedicamos uma atenção
especial para a produção no Ensino Superior, além de adentramos no universo lite-
rário destinado às crianças e a sua formação linguística, cultural e valorativa.
Assim, compreendemos a importância da boa aprendizagem da língua materna
para a nossa vida pessoal e principalmente para a profissional, especialmente para
profissionais da área educativa.
Nós acreditamos em você, no seu potencial, em sua jornada estudantil e profissio-
nal, por isso valorizamos a discussão e reflexão de forma que você entendesse que
os temas abordados não foram esgotados em sua totalidade neste livro, mas dire-
cionados para a sua formação ampla e vislumbrando a sua continuidade acadêmica,
ressaltando uma formação contínua.
Estar motivado e entender como o processo educativo ocorre é primordial para con-
seguirmos consolidar a nossa formação e dominar cada vez mais os conhecimentos
e habilidades necessários para realizar um bom trabalho pedagógico com a língua
materna, envolvendo aspectos lúdicos, formativos, de pesquisa, de informação e de
reflexão.
Portanto, essa nossa caminhada se encerra aqui, mas a caminhada pelo universo do
conhecimento sempre será constante; desejamos, com isso, sucesso, e uma forma-
ção sólida e profícua, construindo um caminho profissional com muitas realizações.
Boa sorte!