LEI 12.288 de 2010
LEI 12.288 de 2010
LEI 12.288 de 2010
2010
D.O.U.: 21.07.2010
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nºs 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de
novembro de 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população
negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica.
Art. 3º Além das normas constitucionais relativas aos princípios fundamentais, aos
direitos e garantias fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o
Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-jurídica a inclusão das vítimas
de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da
identidade nacional brasileira.
Art. 5º Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído o Sistema Nacional de
Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CAPÍTULO I
DO DIREITO À SAÚDE
Art. 6º O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante
políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de
outros agravos.
Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9º, os governos federal, estaduais,
distrital e municipais adotarão as seguintes providências:
Seção II
Da Educação
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioeducacionais realizadas por
entidades do movimento negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros
mecanismos.
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos responsáveis pelas políticas de
promoção da igualdade e de educação, acompanhará e avaliará os programas de que
trata esta Seção.
Seção III
Da Cultura
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, clubes e
outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica
comprovada, como patrimônio
histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o direito à
preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção do
Estado.
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e das datas
comemorativas relacionadas à trajetória do samba e de outras manifestações culturais de
matriz africana, bem como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e
privadas.
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas
modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural
brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos
necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas
relações internacionais.
Seção IV
Do Esporte e Lazer
Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas
desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais.
Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do art.
217 da Constituição Federal.
CAPÍTULO III
DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E AO LIVRE
EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos
religiosos de matriz africana compreende:
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas
religiões;
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância
com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores,
especialmente com o objetivo de:
CAPÍTULO IV
DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA Seção I
Do Acesso à Terra
Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência técnica rural, a simplificação
do acesso ao crédito agrícola e o fortalecimento da infraestrutura de logística para a
comercialização da produção.
Art. 30. O poder público promoverá a educação e a orientação profissional agrícola para
os trabalhadores negros e as comunidades negras rurais.
Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos.
Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá políticas públicas especiais
voltadas para o desenvolvimento sustentável dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental das comunidades.
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das comunidades dos
quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento especial diferenciado,
assistência técnica e linhas especiais de financiamento público, destinados à realização
de suas atividades produtivas e de infraestrutura.
Seção II
Da Moradia
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas públicas para assegurar
o direito à moradia adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, áreas
urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las
à dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida.
Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os efeitos desta Lei, inclui não
apenas o provimento habitacional, mas também a garantia da infraestrutura urbana e dos
equipamentos comunitários associados à função habitacional, bem como a assistência
técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização fundiária da habitação
em área urbana.
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, promoverão ações para viabilizar
o acesso da população negra aos financiamentos habitacionais.
CAPÍTULO V
DO TRABALHO
Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades
no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de
medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o
incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas.
§ 5º Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e
urbano, com ações afirmativas para mulheres negras.
Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio de financiamento para
constituição e ampliação de pequenas e médias empresas e de programas de geração de
renda, contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros.
CAPÍTULO VI
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e programas que
abordem especificidades de grupos étnicos determinados.
§ 1º Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, nas especificações para
contratação de serviços de consultoria, conceituação, produção e realização de filmes,
programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades
de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço contratado.
TÍTULO III
DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL (SINAPIR)
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das
ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas.
CAPÍTULO III
DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA
Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional de promoção da igualdade
racial contendo as metas, princípios e diretrizes para a implementação da Política
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR).
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos recursos referentes aos
programas e atividades previstos nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios
que tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.
CAPÍTULO IV
DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À JUSTIÇA E À
SEGURANÇA
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes
Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para
receber e encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou
cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção da igualdade.
Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a violência policial incidente
sobre a população negra.
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discriminação e preconceito
praticados por servidores públicos em detrimento da população negra, observado, no
que couber, o disposto na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de lesão aos interesses da
população negra decorrentes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre
outros instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei nº 7.347, de 24 de julho de
1985.
CAPÍTULO V
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE
RACIAL
Art. 56. Na implementação dos programas e das ações constantes dos planos plurianuais
e dos orçamentos anuais da União, deverão ser observadas as políticas de ação
afirmativa a que se refere o inciso VII do art. 4º desta Lei e outras políticas públicas que
tenham como objetivo promover a igualdade de oportunidades e a inclusão social da
população negra, especialmente no que tange a:
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, emprego e moradia;
Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, poderão ser consignados nos
orçamentos fiscal e da seguridade social para financiamento das ações de que trata o art.
56:
TÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras em prol da população
negra que tenham sido ou venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios.
Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para aferir a eficácia social das
medidas previstas nesta Lei e efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a
divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede mundial de computadores.
Art. 60. Os arts. 3º e 4º da Lei nº 7.716, de 1989, passam a vigorar com a seguinte
redação:
"Artigo 3º (...)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional." (NR)
"Artigo 4º (...)
Art. 61. Os arts. 3º e 4º da Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, passam a vigorar com a
seguinte redação:
"Artigo 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º e nos dispositivos legais que tipificam os
crimes resultantes de preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto nesta
Lei são passíveis das seguintes cominações:
(...)" (NR)
Art. 62. O art. 13 da Lei nº 7.347, de 1985, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º,
renumerando-se o atual parágrafo único como § 1º:
§ 1º (...)
"Artigo 1º (...)
§ 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou
conduta, baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade
étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto no âmbito público quanto no privado.
(...)" (NR)
Art. 64. O § 3º do art. 20 da Lei nº 7.716, de 1989, passa a vigorar acrescido do seguinte
inciso III:
(...)
§ 3º (...)
(...)
Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação.