BotAfala Ocupando A Casa Grande
BotAfala Ocupando A Casa Grande
BotAfala Ocupando A Casa Grande
botAfala
ocupando a Casa Grande
2
botAfala é um projeto de pesquisa educacional baseado nas
artes, que utiliza o hip-hop como linguagem para compor
uma paideia democrática. Desenvolvido por estudantes da
UNILAB do Campus dos Malês da Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira
(UNILAB), o botAfala procura debater questões raciais,
questionar estereótipos de gênero, pensar as relações entre
educação estética e autocriação ética, valorizando os
múltiplos letramentos potencializados pelo hip-hop.
3
Copyright © Autoras e Autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos
autores.
BotAfala: ocupando a Casa Grande. São Carlos: Pedro & João Editores,
2020. 229p.
ISBN 978-65-87645-44-5
CDD – 370
4
SUMÁRIO
6 AGRADECIMENTOS
9 PREFÁCIO: Bumuntu: “eu sou porque nós somos” – João
Wanderley Geraldi
17 INTRODUÇÃO: ocupando a Casa Grande
24 Um desafio que bota a fala
27 Nunca tive um brinquedo para chamar de meu
32 Crônicas de um sem nome
46 Bota a fala
51 BOTA A FALA: cantando o futuro, reconhecendo o
passado
60 Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
63 Caminhar com meu pai é seguir o caminho...
69 O hip-hop entre o Muntu e o Kintu
74 O Bill Pensador que não virou Gabriel
77 Martinho da Vila, profeta da Lusofonia
86 Foi Bom desse jeito
88 Do estilo romântico ao RAP: botAfala e as novas
influências musicais
95 O dia em que estive sob um clique
99 O grito é o escudo do oprimido
107 Entre o hip hop e o kuduro: uma travessia
115 Lutas e conquistas da mãe de Oronho
118 Compondo uma educação democrática: Paulo Freire,
Amílcar Cabral e Cornel West
128 Afeto
131 botAFala e a invenção de "Africar": visibilidade
segregada e autoridade semântica
151 INTERMEZZO VARIADO
163 LETRAS
189 INFLUÊNCIAS E INDICAÇÕES
211 GLOSSÁRIO
219 REFERÊNCIAS
224 POSFÁCIO – Filomeno Lopes
5
AGRADECIMENTOS
6
Agradecimentos
7
botAfala
8
PREFÁCIO
Bumuntu: “eu sou porque nós somos”
Que bonito deve ser um país sem preconceito cultural! Todo profissional de
criação, entendendo ou não, gostando ou não, concordando ou não, deve
respeitar a criatividade popular.
Misturar culturas é sempre bom.
Criar exige um sacrifício, uma abnegação, uma vontade de
despretensiosamente colaborar com a humanidade. Não basta ler, pensar.
Tem-se que participar, batalhar pela concretização dos sonhos. (Martinho
da Vila, Kizombas, andanças e festanças, 1998, p.19).
Quando a Filosofia sai da biblioteca para a rua, para as gentes e para suas
vidas, retorna sobrecarregada de sentidos que iluminarão novas leituras do
que a herança cultural nos deixou. Sair da biblioteca não é deixar de fazer
filosofia. Mas é pensar filosoficamente. Cansado das “introduções à filosofia”,
já houve no passado quem propôs uma “introdução ao filosofar.
Gerd A. Borheim
1
Doutor em Linguística. Professor titular aposentado da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), professor visitante da Universidade do Porto (Portugal) e de universidades
brasileiras. Faz parte do Conselho Editorial de várias revistas tais como: Cadernos de Estudos
Linguísticos (Unicamp), Palavras (APP/ Portugal), Leitura: Teoria & Prática (ALB),
Filologia e Linguística Portuguesa (USP), Educação & Realidade (UFRGS), Educação &
Contemporaneidade (UNEB), Fórum Linguístico (UFSC). Campinas/SP. E-mail:
[email protected]
9
João Wanderley Geraldi
10
Prefácio
... [Sem Nome] deparou-se com uma situação, em plena rua, que o deixou
revoltado. Uma mulher de meia idade que ele não conhecia de parte alguma,
brasileira, aproximou-se pra “puxar” conversa, e lhe perguntou de uma
forma inacreditavelmente “sem noção”, se o lugar de onde vinha, a África,
as pessoas só moravam em cima das árvores e se, “nós” os africanos
tomávamos ou não tomávamos banho por causa dessa tonalidade de pele tão
“negra”. Com uma expressão mais natural do mundo, pois pra ela esta
“simples abordagem” não tinha nenhum carácter preconceituoso e ofensivo.
11
João Wanderley Geraldi
12
Prefácio
15
João Wanderley Geraldi
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INTRODUÇÃO:
ocupando a Casa Grande
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Marcos Carvalho Lopes
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Introdução
19
Marcos Carvalho Lopes
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Introdução
21
Marcos Carvalho Lopes
22
Introdução
Links
Vídeo 1: Bem-Vindos na Assembleia Legislativa da Bahia (2015)
23
Um desafio que Bota a Fala
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Marcos Carvalho Lopes
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Nunca tive um brinquedo para chamar de
meu2
Magnusson da Costa
27
Magnusson da Costa
28
Nunca tive um brinquedo para chamar de meu
29
Magnusson da Costa
30
Nunca tive um brinquedo para chamar de meu
Links:
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Crônicas de um sem nome
Lauro José Cardoso
32
Crónicas de um sem nome
33
Lauro José Cardoso
34
Crónicas de um sem nome
35
Lauro José Cardoso
36
Crónicas de um sem nome
37
Lauro José Cardoso
38
Crónicas de um sem nome
feito muito bem a ele. Depois de terem saído, naquele dia, da sessão
de Cinema, os seus corações estavam ligados pela flecha do Cupido
e abençoados pela deusa Vénus. Mesmo sem esquecer a garota
exótica totalmente, ele sente que aos poucos vai conseguindo
arranjar mecanismos de superação. A “Pipoquinha Negra”, o nome
carinhoso que ele deu pra ela, é uma jovem muitíssimo
companheira que tem encantado o são-tomense, cujo olhar fica todo
envidraçado quando vê aquele rosto guineense sorrindo sem parar.
Cada dia que passa, o sentimento vai aumentando.
Decidiram passear de mãos dadas pela cidade, conversar sobre
assuntos românticos, dar boas risadas juntos e lançar observações
nas questões mais sérias, em que o Sem Nome falou da abordagem
preconceituosa que sofreu na rua e sobre os telefonemas
misteriosos que tem recebido. A Pipoquinha conhece toda a
história, ela tem sido uma confidente ideal, mesmo sentindo que, às
vezes, essas confidências sejam demasiado pesadas, ferindo os seus
próprios sentimentos em relação a ele. Mas sempre tem estado
presente sem pressionar ou exigir mais do que pode. A verdade
dentro dum relacionamento é uma preciosidade, porque só desta
maneira os laços poderão ser construídos com um grau de
legitimidade forte e permanente. Então, uma mensagem entrou no
telemóvel dele, o indicativo é +239. Sem ler a curta mensagem
desde o início, já tinha detetado no final da mesma, o nome do
remetente. Érica, ou seja, a traidora exótica.
Estava correndo numa calçada, à noitinha, pra manter-se em
forma, num ritmo pausado e sem ziguezagues, quando de repente
ele sentiu que havia alguém o perseguindo. A pessoa cuja
perseguição ia sendo materializada, possuía um casaco bege com
capuz, e aproximava-se a passos não apequenados. O Sem Nome
acelerou rapidamente de modo a fugir dessa possível ameaça,
porque no bairro onde vive é frequente haver assaltos e roubos
protagonizados desta forma. Foi um forte descuido da sua parte;
afinal, “dar calças roda” naquele lugar num horário delicado e com
um alto nível de “perigosidade”, pode ser catastrófico. O seu
coração começou a bater num ritmo frenético, se assemelhando aos
batuques que regem a dança puíta, pois o pânico dançava nos seus
pensamentos e emitia sons causadores da fobia invés da folia.
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Lauro José Cardoso
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Crónicas de um sem nome
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Lauro José Cardoso
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Crónicas de um sem nome
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Crónicas de um sem nome
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BOTA A FALA
3Por exemplo, em Kobra Renda descreve o drama de uma família que é cobrada
pelo aluguel atrasado.
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Crónicas de um sem nome
Da esquerda para a direita: Lauro José, Ditho Buah SD, Tania Brasiguis, Chito (mostrando a língua), Magno TWD e S-many
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Marcos Carvalho Lopes
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Bota a fala
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Marcos Carvalho Lopes
DJ Robert Foxx, Chito, Magno TWD, Kadija, S_many e Lauro José (Foto de Vinícius Lisboa)
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BOTA A FALA: cantando o futuro,
reconhecendo o passado4
52
Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
53
botAfala
Bem-vindos
54
Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
56
Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
Preconceito
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botAfala
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Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
REFERÊNCIAS
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Marta
Lança. 1ª ed. Lisboa: Antígona, 2014.
OSUMARE, Halifu. “Global Hip-hop and the African Diaspora”.
In: H. Elam, Jr. & K. Jackson, eds., Black Cultural Traffic:
Crossroads in Global Performance and Popular Culture. Ann
Arbor, MI: University of Michigan Press, 2005. p. 266-288.
PINA-CABRAL, João. “Lusotopia como Ecumene” Revista
Brasileira de Ciências Sociais 25 (74), 2010, pp. 5-20.
WEST, Cornel. “Prefácio”. In: DARBY, Derrick e SHELBY, Tommie.
(Org.). Hip Hop e a Filosofia. Da rima à razão. Trad. Martha
Malvelli Leal. São Paulo: Madras, 2006. p.15-16.
59
Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta
ao samba...
Num artigo de 1982, “On afro-american music: from bebop to
rap”, Cornel West descreve uma mudança de valores que coincide
com a ascensão do hip-hop: o espírito da música afro-americana,
presente nos spirituals, blues, jazz etc. dependia da esperança de que
houvesse alguém que nos oferecesse cuidado – Deus, vizinhos,
familiares; pois é justamente essa pressuposição de transcendência
que é o alvo de crítica de cantores de rap. Se a tradição da música
negra é marcada por transformar a dor em resistência, buscando
superar e resistir aos valores que causam opressão, o hip-hop surgia
em muitos casos parodiando, ironizando e subvertendo este tipo de
anseio, desfigurando qualquer dimensão utópica e mostrando o
avanço do niilismo. Nem todo hip-hop cairia no jogo do mercado,
mas seu desafio estaria justamente em fornecer, para as populações
pobres e trabalhadores, perspectivas morais, análises sociais e
posicionamentos políticos que justificassem sua condição de
herdeiros do fogo profético negro.
Esta afirmação, feita logo no início do desenvolvimento do
hip-hop, é profética e pode ser recontextualizada. O samba
brasileiro – apesar de ter sido tomado como símbolo oficial da
brasilidade mulata – também tem muitas vezes um espírito de
transcendência e um tipo de esperança que tem sua origem na
transformação do sofrimento e da dor de negros pobres
trabalhadores em canção. Contudo, na ausência de um momento de
confronto, como a luta pelos direitos civis, a afirmação negra
através da canção talvez só tenha adquirido “autoconsciência” com
o rap de Racionais, Sabotage etc. que questionavam frontalmente o
espírito cordial, desenvolvendo seu trabalho de modo
independente dos grandes esquemas de gravadora, falando da
periferia para a periferia. Essa hipótese é logo alvo de
questionamento daqueles que acusam o rap de oferecer uma
60
Do samba ao hip-hop? E do hip-hop de volta ao samba...
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Marcos Carvalho Lopes
62
CAMINHAR COM MEU PAI É SEGUIR O
CAMINHO...
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Suleimane Alfa Bá
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Caminhar com meu pai é seguir o caminho...
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O hip-hop entre o Muntu e o Kintu
69
Marcos Carvalho Lopes
9 O que chamamos aqui de “ética africana tradicional” é uma concepção que tem sua
descrição derivada das línguas bantu, se considerarmos o que hoje é chamado de
tronco linguístico Níger-Congo. Cobre grande parte da África Negra. De todo modo,
a generalização é, justificadamente, motivo de controvérsia, não só por conta dos
diferentes povos e línguas, mas por conta do uso problemático e unívoco da palavra
“tradição”. Neste caso, sigo o autor Mutombo Nkulu-N’Sengha com a ressalva de
que o tipo de comunitarismo que descreve não é uma forma de essência
incomensurável da “africanidade”. Provavelmente, o tipo de individualismo
proposto pela modernidade como sinônimo de desenvolvimento é um fenômeno
muito mais restrito e recente.
70
O hip-hop entre o Muntu e o Kintu
71
Marcos Carvalho Lopes
REFERÊNCIAS
10Michael Eric Dyson não concorda com essa condenação da palavra “nigga” e a
considera uma forma de redescrição dentro da comunidade negra que dá sentido
positivo a um termo antes negativo.
72
O hip-hop entre o Muntu e o Kintu
73
O Bill Pensador que não virou Gabriel
Magnusson da Costa
75
Magnusson da Costa
76
Martinho da Vila, profeta da Lusofonia
E quando eu conheci Martinho da Vila, eu achava que
conhecia, mas – ai de mim! - a verdade é que não o suficiente para
ter a medida do que deveria re-conhecer em sua presença. Isso é
algo que acontece comumente, porque os seres humanos são
humanos e criam heróis, ídolos, poetas, pontos de referência que,
como “ideal”, deixam distante a possibilidade de que alguém possa
ser ao mesmo tempo humano sendo herói, ídolo, poeta. Martinho
da Vila me pareceu sempre demasiadamente humano, fazendo o
samba aproximar-se da fala, numa dicção que comunica com
facilidade, um sorriso que inspira simpatia e contagia, mas que não
alimenta metafísica. Eis aí o segredo (Aberto Caeiro demais): o
maior mistério é não haver mistério algum. A grandeza de ser
simples é um contraponto em relação ao que se cultiva na academia,
mas isso não significa que a polifonia gere necessariamente
desarmonia: é preciso aprender com o carnaval, com o samba e
entrar na roda, jogar o jogo de não somente traduzir o melhor no
mais comum, mas buscar a direção prática, de fazer diferença nas
lutas que vale a pena lutar.
Na sua autobiografia, Kizombas, andanças e festanças,
Martinho da Vila principia seu texto com um “Canto Livre” em que
justifica a escrita, mas que serve para muito mais. Três parágrafos
com sentenças meio desconexas, como se o pensamento fosse se
descrevendo em movimentos diversos, são um bom mote para
entender como Martinho se pensa como criador:
“Que bonito deve ser um país sem preconceito cultural! Todo profissional de
criação, entendendo ou não, gostando ou não, concordando ou não, deve
respeitar a criatividade popular.
Misturar culturas é sempre bom.
77
Marcos Carvalho Lopes
79
Marcos Carvalho Lopes
acha o outro estranho. Reforço que uns estão na África, e outros na Europa,
América do Sul e Ásia, todos em sintonia (p. 219).
- O que é lusofonia?
- É uma ação efetiva preconizada pelo ex-presidente de Portugal,
Mario Soares, em conjunto com o ex-embaixador do Brasil em
Portugal, José Aparecido da Silva. O principio filosófico visa o
interconhecimento e à interligação afetiva entre os povos
lusoparlantes. A teoria fundamenta a principal filosofia da
comunidade formada por países de língua portuguesa, que envolve
ações de solidariedade e intercâmbio cultural. (p.4).
81
Marcos Carvalho Lopes
nações irmãs. Mas como fazer isso sem participar do diálogo entre
as nações? A segunda estrofe da canção pondera:
.
A expressão do olhar
Traduz o sentimento
Mas é primordial
Uma linguagem comum
Importante fator
Para o entendimento
Que é semente do fruto
Da razão e do amor
82
Martinho da Vila, profeta da lusofonia
83
Marcos Carvalho Lopes
A lusofonia
Na diplomacia universal
Referências
AZENHA, Manuela. “Martinho da Vila, o embaixador do samba”.
Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/287157-1.
Consultado em 01/11/2017.
SUKMAN, Hugo. Martinho da Vila: discobiografia. Casa da
Palavra, 2013.
CONFORTE, André. “Martinho e a Lusofonia”. In: VARGENS, João
Batista M. e CONFORTE, André. Martinho da Vila. Tradição e
Renovação. Rio Bonito, RJ: Almadema, 2011.
VILA, Martinho da. Kizombas, andanças e festanças. 2ª. ed. Rio de
Janeiro: Record, 1998.
_____. Os lusófonos. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006.
_____. “A influência africana na música popular”. In:
CHAVES, Rita de Cássia Natal; SECCO, Carmen Lúcia
Tindó. Brasil/África: como se o mar fosse mentira. Unesp, 2006.
p.25-27.
85
FOI BOM DESSE JEITO
Lauro José Cardoso
86
Foi bom desse jeito
Links:
Programa na íntegra
Marcos Carvalho Lopes explica como funciona a UNILAB
87
DO ESTILO ROMÂNTICO AO RAP:
botAfala e as novas influências musicais
89
Suleimane Alfa Bá
90
Do estilo romântico ao rap
91
Suleimane Alfa Bá
12Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido pelo nome artístico Emicida, nascido
em São Paulo no dia 17 de agosto de 1985 (30 anos). É um rapper, repórter e produtor
musical brasileiro. É considerado uma das maiores revelações do hip hop do Brasil
nos últimos anos. O nome "Emicida" é uma fusão das palavras "MC" e "homicida".
Por causa de suas constantes vitórias nas batalhas de improvisação, seus amigos
começaram a falar que Leandro era um "assassino", e que "matava" os adversários
através das rimas. Mais tarde, o rapper criou também uma conotação de sigla para
o nome: E.M.I.C.I.D.A. (Enquanto Minha Imaginação Compuser Insanidades
Domino a Arte).
92
Do estilo romântico ao rap
93
Suleimane Alfa Bá
S-MANY feat. PATRÍCIA - DIVÓRCIO (prod. Mente Criativa, part. Chito Kaharam
Killer)
94
O DIA EM QUE ESTIVE SOB UM CLIQUE
Magnussom da Costa
96
O dia em que estive sob um clique
97
Magnussom da Costa
98
O GRITO É O ESCUDO DO OPRIMIDO:
O Rap Global de Boaventura como ekfrase
99
Marcos Carvalho Lopes
100
O grito é o escudo do oprimido: o Rap Global de Boaventura
102
O grito é o escudo do oprimido: o Rap Global de Boaventura
103
Marcos Carvalho Lopes
104
O grito é o escudo do oprimido: o Rap Global de Boaventura
105
Marcos Carvalho Lopes
106
ENTRE O HIP HOP E O KUDURO:
uma travessia
107
Eugenio da Silva Evandeco
INÍCIO
108
Entre o hip-hop e o kuduro: uma travessia
109
Eugenio da Silva Evandeco
110
Entre o hip-hop e o kuduro: uma travessia
112
Entre o hip-hop e o kuduro: uma travessia
113
Eugenio da Silva Evandeco
114
LUTAS E CONQUISTAS DA MÃE DE
ORONHO
Patrícia N´zalé
116
Lutas e conquistas da mãe de Oronho
117
COMPONDO UMA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA:
Paulo Freire, Amílcar Cabral e Cornel West
118
Compondo uma educação democrática
anos atrás, não iam à guerra sem mesinho. Ainda há alguns que vão
com a imagem de Nossa Senhora de Fátima dentro dum livrinho, é o
seu mesinho; a Bíblia, é o seu mesinho e, antes de começar os
combates, benzem- se. Os tugas vêm com a sua grande cruz no peito,
e no momento em que o combate começa, beijam-na: é o seu
mesinho. E há ainda os que fiam nos nossos próprios mesinhos.
Esse é que é o nosso nível cultural, em relação à realidade concreta
que é a guerra. Por isso nós aceitamo-la, mas que ninguém pense
que a direção da luta acredita que, se usarmos mesinho na cintura,
não morremos. Não morremos na guerra se não fizermos a guerra,
ou se não atacarmos o inimigo em posição de fraqueza. Se
cometermos erros, se estivermos em posição de fraqueza, morremos
de certeza, não há safa. Vocês podem contar-me uma série de casos
que têm na cabeça: - “O Cabral não sabe, nós vimos casos em que
o mesinho é que safou os camaradas da morte, as balas vieram e
voltaram para trás em ricochete”. Vocês podem dizer isso, mas eu
tenho esperanças que os filhos dos nossos filhos, quando ouvirem
isso, ficarão contentes porque o PAIGC foi capaz de fazer luta de
acordo com a realidade da sua terra, mas hão de dizer: “os nossos
pais lutaram muito, mas acreditaram em coisas esquisitas”. Esta
conversa talvez não seja para vocês agora, estou a falar para o
futuro, mas eu tenho a certeza de que a maioria entende o que digo,
e que tenho razão (CABRAL, 1976, p.141-142).
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Compondo uma educação democrática
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Compondo uma educação democrática
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Marcos Carvalho Lopes
124
Compondo uma educação democrática
16
Em 9 de agosto de 2014, Michael Brown (de 18 anos, que se preparava para entrar
na universidade) foi assassinado por um policial branco. Segundo uma testemunha,
Brown estava desarmado e com os braços levantados quando foi alvejado pelo
policial; na versão da oficial, houve uma luta e o anónimo “agente da lei” (o inquérito
seguiu sem que o nome do policial fosse divulgado) atuou em legitima defesa (c.f.
MAGAGNINI, 2016).
17 A violência desmedida contra a população negra não é um acaso em uma cidade
na qual dois terços da população é negra, mas há somente 3 negros dentre os seus
53 policiais (MAGAGNINI, 2016).
125
Marcos Carvalho Lopes
REFERÊNCIAS
18 Cornel West foi alvo de muitas críticas por esta prisão na linha de frente das
manifestações de Ferguson: este não seria o papel de um intelectual, mas de alguém
que tem sede de aparecer para as câmeras. Em grande parte, essas críticas se
relacionam aos discursos duros que West fez em relação ao presidente Obama.
Clarence Sholé Johnson (2016), por exemplo, cobrou de West caminhos pragmáticos
de superação dos problemas e não performances retóricas. Ora, a crítica pode ser
revertida: onde estavam estes intelectuais e o que fizeram eles em relação a crise de
Ferguson? De todo modo, a dimensão profética parece entrar em tensão com a
reinvindicação pragmática de que as teorias sejam ferramentas de resolução de
problemas. Talvez a diferenciação reinvindicada por West entre o engajamento
prático e o trabalho pedagógico/dialógico possa servir para amarrar atos e palavras.
De todo modo, a compreensão teórica não pode ser um pré-requisito para a
cooperação.
126
Compondo uma educação democrática
127
AFETO
Juciane Aparecida da Silva
129
Juciane Aparecida
19
SAMBA é a sigla do Seminário de Ambientação Acadêmica, que recepciona os calouros e
procura orientar e integrar os alunos na vida da universidade.
130
botAFala E A INVENÇÃO DE AFRICAR: visibilidade
segregada e autoridade semântica
“[...] das histórias que contam pra gente, as pessoas estão divididas em dois
tipos, homens e mulheres. E esses dois tipos, estão divididos em duas cores:
brancos e negros. Só que geralmente as nossas histórias são contadas por
homens brancos. Então, ser mulher e negra, é lembrar o tempo todo que cada
pessoa tem seu próprio desejo, tem sua própria cor. É lutar cada uma de nós
aqui, pra que a gente conte as nossas histórias” (Michele Brau).
TCC). Um segundo fator, de relevância incontestável, foi que a crise do país acabou
afetando todo trabalho acadêmico, mas, de modo muito relevante as atividades de
extensão na UNILAB.
132
botAfala e a invenção de Africar
importante para muita gente. Ele sabe e cuida disso. Também sabe
que o tipo de discurso que pode desenvolver na televisão, dentro
da Rede Globo, é diferente daquele que faz no programa Espelho, na
Rede Cultura, ou nas peças de teatro, em que tem maior poder de
decisão. Lázaro mostra que é preciso ter inteligência e cuidado para
ocupar espaços, escolher papeis e discursos. Queríamos que o Bota
a Fala tivesse o mesmo cuidado. Era uma inspiração, mas também
uma confirmação da importância de “ocupar” a Casa Grande: a
presença do corpo negro significa; a autoridade semântica significa
mais.
Num devaneio, surgiu a ideia de trazer o Lázaro Ramos para
UNILAB; afinal, ele é da Ilha do Pati em São Francisco do Conde, a
UNILAB é uma instituição importante para o movimento negro e
ele estava fazendo lançamentos de seu livro pelo país. Minha
opinião foi a de que deveria haver motivos que justificassem sua
vinda à UNILAB. Este é um movimento que deve ser pensado pelo
artista. Não se trata de um político, que busca o consenso e votos, e
devemos sempre ter cuidado para que essa universidade não se
torne um problemático lugar de “turismo”. O que justificaria a
presença dele na UNILAB? Deveríamos criar essa motivação.
Talvez como paraninfo de uma turma de formandos... mas ainda
assim... a pergunta deveria ser: o que poderíamos fazer para que
essa presença fosse possível/justificada?
Na semana seguinte, por coincidência, soube que Lázaro
Ramos seria apresentador de um programa desenvolvido a partir
de desafios colaborativos semanais na internet. Um dos desafios
daquela semana pedia: “Crie uma música de qualquer ritmo bem
dançante, e que na letra celebre a criatividade, a parceria e o prazer
de fazermos coisas juntos. FORMATO: áudio/vídeo (até dois
minutos)” O prazo de envio é domingo 03/09”. A proposta de
participar foi recebida com entusiasmo pelo grupo, mas o prazo era
muito curto e as primeiras reuniões não renderam, a universidade
não abriria no final de semana e, por uma série de fatores, tivemos
só uma sexta-feira para fazer a canção...
Nesse dia levei o equipamento de gravação, Eugênio
conseguiu um notebook emprestado de um amigo, Magno
apareceu com alguns versos para a letra, o refrão que dizia “Me
133
Marcos Carvalho Lopes
leva, me leva, me leva pra África” era uma criação antiga feita em
cima de uma base enviada pelo DJ Sankofa, mas essa música tinha
seus direitos reservados e não poderia ser utilizada. A solução foi
deixar a criação do beat a cargo do Eugênio, que com sua
experiência misturando ritmos poderia criar algo dançante. Magno
já havia chamado Patrícia N´zalé para cantar no Bota a Fala, mas
essa participação não tinha se efetivado, pela própria inércia do
grupo. Convidou também Juciane Aparecida, caloura que estava
naquela manhã na UNILAB e que já havia se destacado cantando
samba em um evento de recepção de novos estudantes. Nem
Patrícia, nem Juciane cantavam hip-hop; mas o desafio pedia algo
diferente, dançante… Era preciso acertar a letra, aperfeiçoar,
problematizar: fazemos isso conversando. Uma objeção sobre o
refrão era de que a ideia de “back to Africa”, de Marcus Garvey
(como algo físico) a Negritude (como uma reafricanização), me
parecia tão gasta e repetitiva quanto a afirmação da “Mama África”.
Sugeri que mudássemos esse sentido nos versos, pensando como
Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, quando ele diz que
“o sertão está em toda parte”: poderíamos parafraseá-lo dizendo
que a África está em todo lugar e inventamos a nossa aqui. Isso
redescrevia a volta para África. Mas a multiplicação de sentidos
podia ser maior, com uma multiplicação de vozes. Propus um jogo
de perguntas e resposta em que a “dança”, a “música”, a “cabeça”
é o que levariam para África. Essa ideia ruim foi – ainda bem –
ignorada. A polifonia estaria em combinar as vozes, sotaques e
línguas, cantando o refrão em português e crioulo guineense. Mais
do que isso, aproveitariam para também no refrão dizer “Me leva
pra ficar”. Márcio Valverde, compositor, produtor e músico, que é
técnico na UNILAB e participa do Bota a Fala, sugeriu que o som
polifônico do refrão também poderia gerar um verbo, “africar”,
misturando “África” e “pra ficar”. Este “verbo” era perfeito para
redescrever a relação com a África, fugindo de qualquer fixação,
mas tornando-se uma atividade. Africar era também um ótimo
título para a canção.
Magno passou a primeira parte da letra para Juciane, que foi
montando a melodia e já demonstrando o que é óbvio: é uma
cantora de mão cheia. Criou uma melodia dançante, para a abertura
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botAfala e a invenção de Africar
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Marcos Carvalho Lopes
136
botAfala e a invenção de Africar
A gente quer misturar a sua dança com a canção "Africar". Cria aí uma
coreografia bem bacana, sozinho ou com a sua turma, mostrando o swing
de vocês ao som da turma do Bota a Fala de São Francisco do Conde/BA.
Eles postaram essa canção contagiante e agora é a sua vez de dar seu
show de dança! OBS: Grave com o celular na horizontal, num local
aberto ou bem iluminado, de preferência uma paisagem bonita, e manda
pra gente! Vamo bombar nossos parceiros africanos e mostrar todo o
swing brasileiro! FORMATO: Vídeo de até 3 minutos.
137
Marcos Carvalho Lopes
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botAfala e a invenção de Africar
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Marcos Carvalho Lopes
140
botAfala e a invenção de Africar
141
Marcos Carvalho Lopes
22O termo me faz lembrar o livro do espanhol Ortega y Gasset O hombre y la gente,
mas essa é uma pista falsa, porque para Gasset, para ser homem é preciso justamente
lidar com a impessoalidade de ser como os outros são, de ser de modo impessoal, de
ser “gente”: sou com minhas circunstâncias, mas preciso me salvar delas para ser
“eu mesmo”. A busca aqui não é de se afastar do que é comum, na busca por um
ponto de vista incomensurável ou de uma torre de marfim individualista, mas de
buscar o melhor neste ser-junto-aos-outros, de sua solidariedade. De certa forma, o
botAfala também dá este recado na canção que aparentemente passou despercebida:
A gente não para. A canção que foi escolhida pela produção para servir de abertura
ao programa foi Gente de Caetano Veloso, que fala desse brilho comum.
143
Marcos Carvalho Lopes
Uma das ideias que executamos foi um quadro de realizações de sonho, parecido
com os quadros assistencialistas que prometem concretizar o desejo de um
pobre. Só parecido. Em um dado momento, ocorre uma reviravolta: quem
decide qual sonho será realizado são as pessoas que tinham se candidatado para
ter seus sonhos realizados.
Em um passe de magia —certamente negra—, o foco vai de quem tem seu
sonho realizado para quem abre mão de seus próprios sonhos, mas que se realiza
pela concretização do sonho do outro. Gente que resolveu compartilhar seu
privilégio e foi feliz por isso (AZEVEDO, 2018).
144
botAfala e a invenção de Africar
145
Marcos Carvalho Lopes
24
Isso não significa que qualquer representação seja aceitável: um ano antes a série
Sexo e as Negas, idealizada e com roteiro de Miguel Falabella, fracassou, sendo
acusada de cair em estereótipos racistas ao buscar retratar quatro negras
empoderadas do subúrbio.
25 A diversidade e a representatividade faziam parte da construção do programa que
contava, além da direção geral de Jorge Furtado, com três diretoras e entre os
roteiristas havia “quatro mulheres e cinco homens, três deles negros”. Mister Brau é
uma experiência que comprova a tese de que diversidade é potência. Não é apenas
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Marcos Carvalho Lopes
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botAfala e a invenção de Africar
REFERÊNCIAS
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Marcos Carvalho Lopes
despede-com-critica-corrupcao-e-declaracao-de-amor-africa--
19968?cpid=txt Consultado em 08/09/2018.
PRADO, Carol e SARTRIANO, Nicolas. “Como Lázaro Ramos foi
de detrator de redes sociais a influenciador no comando do
programa 'Lazinho com você”. Disponível em:
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/como-lazaro-ramos-foi-
de-detrator-de-redes-sociais-a-apresentador-youtuber-do-lazinho-
com-voce.ghtml. Acesso em: 09 ago. 2018.
ROSA, Milena Alves da. Práticas de resistencia da mulher negra a
partir da personagem Michele em Mister Brau. 2017.
STYCER, Mauricio. Lázaro Ramos quer oferecer “alternativa
civilizatória” aos domingos na TV” Disponível em:
https://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br/2017/10/22/lazaro
-ramos-quer-oferecer-alternativa-civilizatoria-aos-domingos-na-
tv/ . Acesso em: 11 nov. 2017.
WEST, Cornel. “Foreword. On Jay-Z and Hip Hop Studies”. In:
BAILEY, Julius (Ed.). Jay-Z: Essays on Hip Hop's Philosopher
King. McFarland, 2011.
____. “Religión profética y futuro de la civilización
capitalista”. Mendieta, E. y J. Vanantwerpen. In: El poder de la
religión en la esfera pública. Madrid: Trotta, 2011b. P.87-94.
____. “Black Culture and Postmodernism.” In NATOLI, J. e
HUTCHEON, L. (ed.) The Postmodern Reader. Albany: SUNY
Press, 1993. 390–397.
150
INTERMEZZO VARIADO
151
botAfala
S_many
Sou Suleimane Alfa Bá, filho de Mamadú Alfa Bá e de Teté Sane. De
nacionalidade guineense, nascido no dia 08 de janeiro de 1994, numa das
vilas de Guiné-Bissau (Binar). Na área da música “HIPHOP” sou
conhecido por S-many, que é uma abreviatura do meu nome de nascença
(Suleimane) no qual “S” significa #Sulei e o “Mane” significa #Many.
O hiphop na minha vida tem muita importância; praticamente este
gênero musical mudou a minha vida. Porque eu era uma pessoa muito
tímida que não conseguia exprimir tudo que sentia. Fato que mudou a
partir do momento em que me dediquei a fazer músicas do estilo hip hop.
O hiphop é como se fosse o elo de ligação entre eu e a sociedade em
geral, isto é, as pessoas recebem as minhas mensagens através da música,
mensagens essas que se destinam a educar, sensibilizar e alertar a
sociedade sobre as desigualdades sociais que hoje existem no mundo em
que vivemos, um mundo no qual predomina mais o preconceito, o racismo
e a discriminação. Mas, fatos do tipo na verdade não deveriam existir, isto
porque todos somos seres humanos. Portanto, pra mim, o hip hop é como
se fosse uma filosofia da vida.
Com este projeto #botaafala, eu espero que todos nós consigamos
atingir os objetivos almejados, como também passar as nossas mensagens
152
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Minhas Lembranças
Suleimane Alfa Bá
Lembro-me
Lembro-me das noites de menos cortesias
Das lágrimas infinitas que caíram naquela madrugada longa enxurrada de
angústia
Lembro-me de homens, mulheres e crianças que ali estavam à procura de um
asilo.
Com fome, sede, mas com esperança de chegar ao destino.
hoje os “senhores” já não sabem mais o sentido da palavra
solidariedade!
Mas, que outrora fizeram o mesmo percurso à procura de estabilidade, riqueza e
Fortuna.
Lembro-me do navio negreiro cheio de escravizados com destino à terra dos
“civilizados”!
Que ontem se diziam ser defensores dos “direitos humanos”.
Lembro-me do sofrimento e das lágrimas que fluíam nos olhos das mães e dos
gritos das crianças que apenas pediam ajuda.
Mas que só receberam injuria!
Pois, para a maioria dos “senhores” a nós só se deve a tolerância!
Quando devia ser a hospitalidade.
Ainda me lembro das crianças que lutaram sem forças contra as águas do oceano!
Dos pais que deixaram órfãos sem abrigo!
Lembro-me de um adeus.
Adeus de quem só almejava encontrar a paz e estabilidade
Para conviver na alegria, harmonia e felicidade.
Tania Brasiguis
Meu nome é Tânia Correia Jaló. Escolhi Tania Brasiguis, porque eu
sonhava muito em conhecer o Brasil, já que gosto muito de assistir novela.
Disso surgiu a inspiração para o nome Brasiguis, que significa Brasileira
e Guineense. Escolhi este nome no projeto Bota a Fala porque não quero
153
botAfala
deixá-lo de lado só porque já estou no Brasil; esse nome faz parte do meu
sonho. Espero que nosso projeto continue firme e forte porque é uma boa
iniciativa e vamos nos empenhar para que possamos chegar aos nossos
objetivos. Vou dar o meu máximo e espero também o mesmo de todos.
[2015]
154
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Lauro José
Escrever é vida. Daí a minha obsessão pela Palavra, que de certo modo,
cativou em si mesma a musicalidade de transformar-se em melodia,
expulsa por versos e rimas que reverberam pensamentos questionadores,
nutridos por uma ânsia de construir narrativas através do Hip-Hop.
Cá estou eu, mesmo sem ser um Mc profissional estacado em “terreno
brasileiro” (outra frase de uma das minhas composições), tendo como
principal foco o término do Bacharelado e visando uma especificação em
Antropologia ou Ciências Sociais; sigo acreditando que a música não irá
morrer dentro de mim.
Então, continuarei firme no projeto Bota a fala, dando o melhor que
puder e sobretudo: expressando!
[2015]
156
botAfala: Ocupando a Casa Grande
157
botAfala
aspecto que o prestígio pelo Bota a fala aumenta e vem aumentando cada
vez mais.
A calma que transcende em minh’alma reflete a ancestralidade da Mãe
África! E o Bota a fala me faz lembrar sempre disso, reverberando a
grandiosa importância dos meus antepassados.
Intitulo-me como fã número 01 do Bota a fala e nisto há uma relevância
muito grande em minha vida, sobretudo no meu eu. Se conhecer é preciso!
Poetizar através de palavras de sobrevivência e resistência gera ânimo
para continuar na luta. Parar, só para pensar. E isso faz parte das fases.
Assim acredito e toco a minha vida aqui na terra. Transcendentalizando.
158
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Fabiana Gelard
Eu achei que fosse mais fácil falar do Bota a Fala. Mas, ao parar e
pensar no que significa o grupo para mim e para o nosso campus percebi
que as palavras talvez não deem conta de expressar o sentimento. Mas,
para tentar organizar o pensamento; tentarei caminhar cronologicamente,
ainda que o tempo dos sentimentos transformados em palavras não seja
assim tão linear.
159
botAfala
160
botAfala: Ocupando a Casa Grande
161
botAfala
162
LETRAS
163
Letras
Bem−vindos
Sejam bem−vindos à família UNILAB
Nossos irmãos de Cabo-Verde, Angola,
Moçambique, Brasil, Guiné e São Tomé
Cabó medi nada, kilku tem el ki nona kumé
Somos povos unidos pela História
Por isso, abraça o teu irmão
Abra o seu coração
Aqui não existe raça, cor e muito menos religião
O que prevalece é a nossa união.
REFRÃO:
Bem-vindos à família UNILAB
Bem-vindos à nossa universidade
Bem-vindos a São Francisco do Conde
Bem-vindos, bem-vindos ao Brasil
REFRÃO
164
botAfala: Ocupando a Casa Grande
REFRÃO
165
Letras
Preconceito
Eu sou negro
Eu sou preto
Eu sou africano
Com muito orgulho
Nada nos pode deter, mesmo que muitos nos digam que não
Sempre de cabeça erguida que vamos conquistar
Se dantes éramos levados para a Europa
Trazidos para as Américas
Usados como cobaias
Trabalhando como escravos
Mas agora é a hora da nossa afirmação
Negro no poder
Negro no poder
Por que tanto preconceito?
Por que tanta discriminação?
Podemos ter diferenças na cultura ou na cor da pele
Mas todos nós pertencemos a uma única raça, “a raça humana”
Pra tu que es negro
Pra tu que não és racista
Ponha as mãos no ar e grita numa só voz
Não ao preconceito!
Não à discriminação!
Não ao preconceito!
Não à discriminação!
166
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Brasiguis confirma:
167
Letras
Negro ou negra
também pode ser
pai ou mãe
por isso pode ter
a diferença
na cultura ou na cor
mas na verdade
somos todos iguais
168
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Integração
169
Letras
171
Letras
Integração
(versão Mente Criativa)
Um dia venceremos
Angola, Cabo-Verde, Moçambique São-Tomé
Brasil, Timor e Guiné
Nada nos separa
Olhe bem para as nossas caras
Orgulho de ser africanos, é que nos representa
Mantenha cabeça erguida, siga só esse refrão
Alegria, amor e amizade na entra na bu coração (entrará no teu coração)
É vida i yassim, aós anós i unson (é assim essa vida, hoje somos um só)
174
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Africar
Me leva, me leva, me leva,
Me leva pra africar
Lébam, lébam, lébam (me leva, me leva, me leva)
lébam pá nfika... (me leva pra ficar)
Africa stana tudu lugar ahh ahh (África está em todos os lugares,
nó kria dinós li (nós criamos a nossa aqui)
Criatividade kila ka falta ahh ahh (criatividade é o que aqui não falta)
el ki mantinu li vivo (é ela que nos mantém vivos)
175
Letras
176
botAfala: Ocupando a Casa Grande
177
Letras
Em Acari
em Cajazeiras
Em Camundongos
também tem
Em Capão Redondo
O que falta aqui,
Também falta lá.
Conexões marginais
Aqui neste refrão
179
Letras
Josefina26
Ao longe observa a sua netinha tão fofa, tão esperta, bem meiga na sua
carinha.
O filho e a nora parecem estar felizes, o que lhe devora é o facto de estar
fora devido às crises.
Não devia ser assim, mas o seu rebento não perdoou, porque ao vício
disse sim, e nesta Heroína ficou.
Dói demais olhar pra aquilo, uma tristeza intolerável, se medissem isso
em quilo, o número seria incontornável.
Mas ao mesmo tempo se deu por satisfeita, em ver que naquele templo,
seu filho se completa.
A felicidade dele vale mais do que a sua, com o amor de mãe na pele,
deseja todo o bem ao Lucas.
Despede-se com o olhar em lágrimas, não deixou que eles a vissem,
soltou ao vento dádivas: “que os seus sonhos se concretizem”.
Ao virar às costas, pensou no ex-marido, aquele ser nefasto que lhe
explodiu o juízo.
Por outro lado, sabe que a culpa maior é dela, consolo nenhum cabe, cada
um com a sua cela.
181
Letras
Refrão:
“Josefinaaaaaa...Josefinaaaa”.
182
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Abra os portões
Tamo chegando
Bota a fala tá entrando
pra ocupar a casa grande
183
Letras
Abra os portões
Tamo chegando
Bota a fala tá entrando
pra ocupar a casa grande
Abra os portões
Tamo chegando
Bota a fala tá entrando
pra ocupar a casa grande
ocupamos a casa
rompendo a vossa ideologia
negros do campo
contra toda hipocrisia
trazendo as vozes sofridas
no navio negreiro
e convidando a negritude
a fazer parte do cortejo
isto é autoproteção
184
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Abra os portões
Tamo chegando
Bota a fala tá entrando
pra ocupar a casa grande
185
Letras
I ESTROFE
A pouco tempo nos conhecemos
Tantos planos já fizemos
Sei que não vais me deixar, baby girl ahn
Pra sempre vamos ficar
Ey girl, olha pra mim e veja o amor dentro de mim
Os teus olhos me puxam como imãs
Não há quem possa nos deter, acreditas.
Podemos crescer
É melhor a gente entender o que tiver que acontecer
Porque é contigo que eu quero viver
Vem cá, me deixa te tocar e ver a luz do teu olhar
Pa mpudi provau nha paixão
Nmiste preenchi nha lugar na bu coração
Kabu duvida, fia dama ami n’amau
Pa n’cassau, ika pricis nfaci sirmónias
Ku fadi pa nmite noias
Abo inha number one
Sufri bu purdan
Busta lundju dimi
Má bu falta na sintil
Manga de anos passa nha vida continua sedu só desgraça
REFRÃO
Nha vida bu leba
Nó sonhos bu kéma á
Menina, nka sperabá és dibó
Nó plano bu kebra
Nó amor i foi lindoo
Querida, nmiste pano fika djunto
186
botAfala: Ocupando a Casa Grande
II ESTROFE
Baby saiba que, as vezes é difícil entender
E cada passo que marco noto que te estou a perder
Mas, vejo que o culpado disso tudo sou eu
Devo reconhecer e deixar esse orgulho meu
Talvez não tenho feito as coisas certas e agora tu vais
E encontrar alguém como tu, não serei capaz
Por essas e tantas coisas eu peço desculpa
Esqueça as malambas e fique comigo até kalunga
Por mais que finja, sem te não me sinto bem
Podes crer, vou botar no seu dedo o anel
Quero ficar contigo, até a terceira idade
Acho que errei, até pra toda a eternidade
Yeah, mereces isso muito mais e saiba, o que eu fazer pra sua pessoa será
pouco
E eu não sou romântico
Mas, cada um dos meus versos deixa o teu estado louco
Baby eu sei, parece ser exagero
Não te sintas insegura, apenas dá-me o teu coração
Se permitires vou levar-te pro altar
Claro, ah, mas, antes dá-me a sua mão
REFRÃO
Nha vida bu leba
Nó sonhos bu kéma á
Menina, nka sperabá és dibó
Nó plano bu kebra
Nó amor i foi lindoo
Querida, nmiste pano fika djunto
187
Letras
Carta
Nó sai di Guiné p abai buri conhecimento
Aós nó riba pa djuda kumpo terra
Nó sai di Guiné p abai buri conhecimento
Aós nó riba pa djuda kumpo terra
188
influências e indicações
189
Nesta secção colocamos uma lista de algumas pessoas que são
inspiração para o trabalho do botAfala, com algumas indicações
para ler/ver/ouvir. De modo geral, tentamos não repetir o nome
de autores que já apareceram nos textos, como Kabenguele
Munanga, Amilcar Cabral, Paulo Freire, Boaventura Souza Santos,
Martinho da Vila, Tais Araújo, Lázaro Ramos, Dodô Azevedo,
Achille Mbembe, MV Bill etc. Mas essa “regra” acaba sendo
quebrada no caso de autores que consiramos que podem ser
indicações teóricas para quem quer pesquisar o hip-hop. Exemplo
maior dessa exeção é Cornel West, um autor muito importante para
nosso projeto, que por ser pouco estudado no Brasil, merece ganhar
destaque. As indicações são uma forma de alimentar aquele quinto
elemento do hip-hop, que é justamente a busca pela sabedoria, o
compromisso com a autocrítica e busca por aperfeiçoamento. Nesta
mesma direção, sei que fazem falta muitos nomes que são até
citados nas canções do grupo. Só na canção Ocupando a Casa
Grande, temos referêcias para: o diretor de cinema Spike Lee e seu
filme Faça a coisa certa (Do The Right Thing); o capoeirista Besouro
de Manganga (que inspirou um filme e um livro com seu nome);
nomes da filosofia como Sueli Carneiro, Lelia Gonzales, Djamila
Ribeiro, Renato Noguera, Wanderson Flor, Abdias do Nascimento,
Seberino Ngoenha, José Castiano e Filomeno Lopes; a descrição da
Casa Grande e da suposta democracia racial, que remete a Gilberto
Freyre; a noção de negro do campo de Malcolm X... e tantas outras
que estão presentes no som, no jeito de rimar ou cantar os versos.
Essas indicações servem pra aprofundar e complicar... No mini-
cursos, debates, bate-papos, outros nomes estiveram presentes:
estudamos o “rap” de Caetano Veloso; dialogamos sobre Tom Zé,
Gilberto Gil, Milton Nascimento, Cazuza, Legião Urbana, Criolo,
Racionais, Emicida; vimos filmes de Glauber Rocha, Wood Allen,
lemos Platão, aprendi sobre o Real Power, Mindara na Korson e o
cenário do Kuduro e do rap em Angola etc. Esses nomes não são
tudo e nem o mais importante. O que interessa é como as
referências podem e se elas podem servir ao leitor como alimento
pra cabeça: experimente e veja o que gosta ou não.
190
botAfala: Ocupando a Casa Grande
CORNEL WEST
Para ver:
Trilogia Matrix (Matrix, Matrix Reload e Matrix Revolutions) –
além de uma pequena participação como ator nos dois últimos
filmes da trilogia dos irmãos Wachowskis, fazendo o papel de
Conselheiro West (um dos sábios do conselho de Zião), sua obra foi
uma das inspirações para o roteiro, e, juntamente com Ken Wilber,
comentou todos os episódios em um extra da edição The Ultimate
Matrix Collection.
Vida Examinada (Examined Life) 2008 ‧ Documentário ‧ 1h 30m –
traz depoimentos de importantes nomes da filosofia
192
botAfala: Ocupando a Casa Grande
193
influências e indicações
MARTHA NUSSBAUM
Quem é?
Martha Nussbaum (1947-) é uma filósofa norte-americana.
Por quê?
Nussbaum tem se destacado pela defesa da imporancia das
Humanidades para a manutenção da democracia e o
desenvolvimento da imaginanção literária, necessária na esfera
pública para que nos coloquemos no lugar dos outros e
desenvolvamos um comportamento político e ético que reconheça
o direito dos demais. Neste sentido, destaca a necessidade de
redescrever o pacto democrático reconhecendo os direitos de
estrangeiros, dos que têm deficiências cognitivas e de outras
espécies.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
O livro Sem fins lucrativos: Por que a democracia precisa das
humanidades é um manifesto que sintetiza muito do discurso da
autora em desfesa das Humanidades. É interessante destacar que
ela trabalhou junto de Amartya Sen na formulação de uma
perspectiva econômica que considerasse aspectos mais amplos do
que o produto interno bruto, o que resultou na ideia de Índice de
Desenvolvimento Humano.
Para ver:
A entrevista de Nussbaum para a série Beleza e Consolação
encontra-se disponível com legendas em português no youtube.
Nesta mesma série também estão disponíveis entrevistas com
muitos intelectuais importantes, como o vencedor do prêmio Nobel
literatura, nigeriano, Woly Soyinka.
194
botAfala: Ocupando a Casa Grande
RICHARD SHUSTERMAN
Quem é?
Richard Shusterman (1949-) é um filósofo pragmatista norte-
americano de origem judaica.
Por quê?
Richard Shusterman articulou uma estética pragmatista no começo
da década de 90, em diálogo com o rap. Posteriormente,
desenvolveu a somaestética, uma proposta de redescoberta e
valorização do corpo na experiência estética.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
Em português há uma tradução parcial do livro Pragmatist
Aesthetics, em que o autor dialoga com o hip-hop; no entanto, é
difícil encontrar o livro Vivendo a arte: o pensamento pragmatista
e a estética popular (São Paulo: Ed.34, 1998). Shusterman é um dos
colaboradores do livro Hip Hop e a Filosofia, tem artigos
traduzidos em português em diversas revistas acadêmicas, além do
livro Consciência Corporal, que permite uma aproximação de seu
trabalho mais recente sobre a somaestética. No site do autor você
encontra outros textos e entrevistas sobre estética e cultura popular.
195
influências e indicações
JOHN DEWEY
Quem é?
John Dewey (1859 —1952) filósofo e educador norte-americano é
um dos pensadores clássicos do pragmatismo.
Por quê?
Geralmente estudado no Brasil como filósofo da educação, a
perspectiva de Dewey acerca da estética destaca a experiência
transformadora como aquilo que define a obra de arte. Deste modo,
o filósofo norte-americano se distancia da lógica do museu,
procurando valorizar o que efetivamente promove transformações
na vida das pessoas, o que o leva a valorizar a cultura popular,
procurando pensar uma educação democrática.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
O livro Arte como experiência é um bom começo para entender a
perspectiva estética de John Dewey. Pensandores como Martha
Nussbaum, Richard Rorty, Cornel West e Richard Shusteram, cada
um ao seu modo, procuram articular as consequências educacionais
da posição deweyana.
196
botAfala: Ocupando a Casa Grande
HALIFU OSUMARE
Quem é?
Halifu Osumare é professora de Cultura Popular Negra e
coreógrafa, professora aposentada de estudos africanos e afro-
americanos na Universidade da California.
Por quê?
Halifu Osumare realiza um trabalho muito interessante sobre uma
estética africanista, presente na dança e no hip-hop. A pesquisa de
Osumare propõe o conceito de conexões marginais (connective
marginalities, geralmente traduzido como marginalidades
conectivas) para explicar como o rap ultrapassa barreiras
geográficas construindo uma comunicação entre as periferias de
modo global.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
Um dos capítulos da obra The Africanist aesthetic in global hip-
hop está traduzido no livro O hip hop e as diásporas africanas na
modernidade (organizado por Monica do Amaral e Loudes Carril).
Link:
197
influências e indicações
NELSON MACA
Quem é?
Nelson Gonçalves (1965-), conhecido com Nelson Maca é poeta,
contista, professor universitário, produtor cultural e torcedor do
Vitória-BA.
Por quê?
Poeta que cultiva a palavra viva em diálogo com o hip-hop e a
cultura negra da oralidade, Nelson Maca é um criador e agitador
cultural incansável na promoção do orgulho negro.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
O livro Gramática da Ira, lançado por Nelson Maca em 2015, é um
trabalho cuidadoso e forte, que procura articular e traduzir a
ira/orgulho negra em diálogo com um panteão de vozes (Richard
Wright, Lima Barreto, Mano Brown, Frantz Fanon, Carlos Moore,
que cria o “nós”, de uma comunidade herdeira de uma tradição de
luta. O autor rompe a dicotomia entre arte e engajamento pensando
que a estética e a ética não podem se afastar.
Link:
CULTNE DOC - Nelson Maca - Coletivo Blackitude
198
botAfala: Ocupando a Casa Grande
199
influências e indicações
Por quê?
A professora Analu tem um trabalho que é referência para quem
quer estudar o Hip-hop pensando as suas potencialidades
educativas. Nesta direção, ela fundou na UNILAB um projeto que
tomava o rap como linguagem de integração entre os vários povos
que fazem parte da instituição. O Bota a fala surge na mesma
direção apontada por esse trabalho.
Eu ouço/leio/indico:
Para ler:
O livro Letramentos de reexistência, poesia, grafite, música, dança:
HIP-HOP de Ana Lúcia Silva Souza é um trabalho que mostra o
papel educativo do hip-hop no sentido do que Cornel West
chamaria de paidéia democrática.
Para ouvir:
200
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Escute o A.Se.Front
201
influências e indicações
SISTEMA KALAKUTA
Por quê?
O trabalho da dupla, através de suas pesquisas musicais, é
promover um resgate com olhar contemporâneo, sem perder o foco
na sua origem. Os gêneros tocados em suas apresentações são,
principalmente, Juju Music, Highlife, Afrobeat, Soukous, Afrofunk,
Voodoo Funk. Sistema Kalakuta realiza também outras ações, como
projetos que envolvem o diálogo com outras linguagens e
expressões artísticas: dança, artes visuais, literatura oral, sempre
com o foco no que diz respeito às diásporas africanas.
Eu ouço/leio/indico:
202
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Para ler:
Para ouvir:
O melhor é procurar ouvir ao vivo o som de Dudoo Caribe ou do
DJ Sankofa. Para quem não tem essa possibilidade, a melhor dica é
ouvir o programa “Rádio África”, que vai ao ar pela Rádio
Educadora FM de Salvador, toda quinta-feira às 21h. O programa
existe há cerca de 10 anos e é apresentado pelo DJ Sankofa. Os
episódios ficam disponíveis para audição no site da Rádio
Educadora.
http://www.irdeb.ba.gov.br/educadoraonline
Para ver:
Fela Kuti é com certeza uma referência comum para o Sistema
Kalakuta. Para se aproximar de Fela Kuti, além de ouvir seu som,
vale assistir documentários como Fela Kuti: Música como arma ou
ler o livro Fela, esta puta vida, biografia escrita por Carlos Moore.
203
influências e indicações
PINGO DO RAP
Quem é?
Vanderlei Querino Geraldo, conhecido como Pingo do Rap, é um
cantor e compositor de funk carioca.
Por quê?
Pingo do Rap fez parte do grupo Força do Rap, que nos anos 90 fez
parte da explosão inicial do funk carioca e, com canções românticas
e ingênuas, alcançou grande sucesso. Pingo continuou
desenvolvendo sua trajetória como rapper, sendo um dos que
promovem em Acari a festa Favelaria. Pingo esteve na UNILAB em
2016 falando sobre sua trajetória e cantando algumas de suas
canções (juntamente com Nelson Maca e DJ Gug).
Eu ouço/leio/indico:
Para ouvir:
Escute as canções Vaca Magra, Barraco no Morro e Quebra-
Cabeça.
Link:
Nelson Maca e Pingo do Rap na UNILAB em 2015
204
botAfala: Ocupando a Casa Grande
BRUNO M
205
influências e indicações
READY NEUTRO
206
botAfala: Ocupando a Casa Grande
CFKAPPA
207
influências e indicações
MCK
208
botAfala: Ocupando a Casa Grande
Azagaia
Azagaia, ou simplesmente Edson da Luz, é moçambicano, nasceu
em Namaacha, província de Maputo, em 06 de maio de 1984.
Rapper, Design e estudante da universidade pedagoga em Maputo.
Por quê?
O seu estilo musical é mais ligado à crítica social e até certo ponto
política; destaco aqui um dos seus álbuns mais polêmicos, o
Babalaze. Assim como os outros citados acima, Azagaia não faz
diferente, luta pela África e Moçambique em particular. É contra o
sistema opressor e traz isso em suas músicas.
Eu ouço/leio/indico:
Para ouvir:
Indico o álbum Babalaze, lançado em 2007, bastante interessante.
Indico também a música “Abc do preconceito”, de 2013, do álbum
Cubaliwa entre outros trabalhos.
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influências e indicações
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GLOSSÁRIO botAfala
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africar - verbo criativo, para fazer você dançar, religar todos os
sentidos, sintonizando-se com o ritmo que nos leva para a África.
A palavra surge em uma canção de mesmo nome como uma forma
de se desviar/sintetizar tanto do ideal de back to África físico, de
Marcus Garvey quanto o de retorno imaginário, da negritude de
Aimé Cesáire. Não se trata de remeter a nenhuma essência, nem a
alguma forma de identidade essencializada, mas de deslocar e
multiplicar sentidos e centros, como o ritmo da canção sinaliza.
Esse sentido ativo, da África em todo o lugar, foi captado e
articulado pela produção do programa Lazinho com Você ao
propor um desafio colaborativo em que pessoas e grupos de todo
Brasil foram convidados para dançar essa canção: “gaúchos”, com
roupa folclórica; pernambucanos misturando passos do frevo; o
sapateado na Avenida Paulista; um grupo de dança nas ruas
históricas de Salvador; estudantes da UNILAB em São Francisco do
Conde etc. todos deram sentido a este verbo. “Africar”, como
pensamos, não é sinônimo de “africanar” nem de “africanizar”.
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pensar o seu próprio contexto articulando uma fala que deve ter
técnica, ritmo, rimas etc.
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glossário
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glossário
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públicas, acadêmicas, aulas etc. Isso não significa que você não deve
se preparar ao máximo, mas que sua fala, além de articulada, deve
dialogar com o contexto, produzir convergência e empatia
democrática.
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glossário
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ADRINKAS
NKONSONKONSON
"Elo de corrente"
Símbolo de unidade e relações humanas
WOFORO DUA PA A
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glossário
SESA WO SUBAN
SANKOFA
"Volte e pegue"
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REFERÊNCIAS
BARROS, Miguel de; LIMA, Redy Wilson Duarte. Rap kriol (u) o
pan-africanismo de Cabral na música de intervenção juvenil na
Guiné-Bissau e em Cabo Verde. REALIS. V.2, N.2, Julh-Dez. 2012.
BELL, Lee Anne. Storytelling for Social Justice. Connecting
Narrative and the Arts in Antiracist Teaching. Nova Iorque:
Routledge, 2010.
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inquiry. LEAVY, Patricia. (ed.). The Oxford Handbook of
Qualitative Research.
Nova Iorque: Oxford, 2014, p.195-222.
CAMARGOS, Roberto. Rap e política: percepções da vida social
brasileira. Boitempo Editorial, 2015.
CHARRY, Eric (Ed.). Hip hop Africa: New African music in a
globalizing world. Indiana University Press, 2012.
COSTA, Magnusson da. Hip Hop, reconhecimento e paideia
democrática: Bota a Fala, A.se.front. e a experiência artística. 2016.
109 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Humanidades) - Instituto de Humanidades e Letras, Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São
Francisco do Conde, 2016.
DARBY, Derrick; SHELBY, Tommie. (Org.). Hip Hop e a Filosofia.
Da rima à razão. Trad. Martha Malvelli Leal. São Paulo: Madras,
2006.
DIAS, Belidson. Preliminares: A/r/tografia como metodologia e
pedagogia em artes. In: DIAS, Belidson e IRWIN, Rita. Pesquisa
educacional
Baseada em Arte: A/r/tografia. Santa Maria: UFSM, 2013, p. 21-26.
DIMITRIADIS, Greg. Performing identity/performing culture:
Hip hop as text, pedagogy, and lived practice. Peter Lang, 2009.
DE ANDRADE, Elaine Nunes. Rap e educação, rap é educação. São
Paulo: Selo Negro, 1999.
DO AMARAL, Mônica GT; CARRIL, Lourdes (Ed.). O Hip Hop e
as diásporas africanas na modernidade: uma discussão
contemporânea sobre cultura e educação. Alameda, 2015.
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Referências
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Posfácio
POSFÁCIO
Filomeno Lopes27
Caríssimos,
27
Bissau-guinense radicado em Roma, é estudioso de teologia, com doutorado em
filosofia e comunicação social; trabalha como jornalista na Rádio do Vaticano e é
autor de Filosofia intorno al fuoco. Il pensiero africano contemporâneo tra
memoria e futuro (Bologna: editrici missionaria Italiana, 2001); Filosofia senza
feticci (Roma: Edicione Associate, 2004); E se l’Africa scomparisse dal
mappamondo? (Armando Editore, 2009); Bonga Kwenda: um combatente africano
da liberdade africana (Torino: L’ Harmattan, 2013); Filodramática : os PALOP,
entre a filosofia e a crise de conciência histórica (Prior Velho : Paulinas Editora,
2018) entre outros títulos. Também é membro do grupo “Fifito & Bumbulum” que
usa a arte como recurso para uma filodramática que promove uma pedagogia
sensível de educação para a paz, reconciliação e diálogo.
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Filomeno Lopes
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Posfácio
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Filomeno Lopes
haverá nunca nada que possa ser exclusivamente “meu” e que não
seja também do “outro/a” e portanto “nosso”; nada
exclusivamente “meu” que não seja rigorosamente “nosso” ao
mesmo tempo, seja no bem como no mal. É precisamente por isso
que um dos legados da filosofia ubuntu é a consciência que a vida
são os outros e que o melhor remédio para todos os problemas,
esperanças e alegrias dum ser humano, é o “outro ser humano”. A
filosofia é somente um percurso iniciático que estamos a seguir para
chegarmos aos outros/as como sol vital e não como ocaso da vida;
para aprendermos a servir a humanidade com mais conhecimento
de causa, fazendo nosso o mote do comediógrafo Publio Terenzio
Afro : “ Homo sum, humani nihil a me alienum puto” (sou um
homem e tudo quanto é humano me diz respeito), num mundo da
globalização da indiferença.
Um provérbio do povo Bâmbara do Mali nos recorda que
ninguém de nós nasce já pronto” como homem, mulher, como
humano. E de facto, “Mamã deu luz, não significa Mamã findou”.
Depois de dar luz ao mundo uma criança, é preciso educá-la:
educar ou perecer, disse Joseph Ki-zerbo. E, se são necessárias só
duas pessoas para ter um filho/a, para educá-lo/a é necessária toda
a aldeia, expressão de universo in miniatura. A educação é
fundamentalmente uma questão antropo-epistemológica e sócio-
cultural; ela tem a ver com o saber, que é aquela luz do Sol que está
radicado no íntimo da caverna da mente e do coração de homens e
mulheres; é a herança de tudo quanto os nossos antepassados
puderam acumular no arco dos tempos – desde a antiguidade
Egipto-faraónica até hoje -, em termos de conhecimento e de
domínio da luz solar vital e nos legaram como herança. Por isso
mesmo o saber autêntico é sempre algo de sinfónico, não unívoco,
mas também interdisciplinar e intercultural, um produto de um
“nós juntos”. E nas sendas de Amílcar Cabral podemos afirmar que
a arma principal da luta pelo triunfo da vida sobre a morte, “está
efectivamente na superação constante, no estudo constante, naquilo
que ao fim ao cabo se chama educação”(Cabral).
Ao dar os meus parabéns a todos aqueles que vos conduziram,
orientaram com tanta abnegação nesta “longa marcha” da
filodramática e de modo particular o Prof. Marcos, permitam-me
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Posfácio
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TEXTO DA ORELHA
TEXTO DA CONTRACAPA:
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