Estudo Sobre As Medidas de Intervencao Social Nos Maus Tratos Ao Idoso
Estudo Sobre As Medidas de Intervencao Social Nos Maus Tratos Ao Idoso
Estudo Sobre As Medidas de Intervencao Social Nos Maus Tratos Ao Idoso
Porto, 2008
II
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Porto, 2008
Porto, 2008
III
Autor: José António Gonçalves Carreira
Dissertação de Mestrado: Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao
idoso
Orientador:
Co-orientador:
IV
RESUMO
Nas considerações finais foi relevado o papel da formação dos técnicos sociais
directamente envolvidos na prestação de cuidados aos idosos e a necessidade de criar
condições para que esta fase da vida seja vivida de forma tão útil e produtiva quanto possível.
V
ABSTRACT
In a globalized and cultural and affective loss context, the elderly population, which
has increased in developed countries, has shown multiple needs occasioned by the
abandonment and abuse in hostile environments, accompanying the exodus of the population
from the interior to big cities. Having lost all reference and symbolic power as household
providers, today’s elders, as remainders of society, are lonely and abused, whilst losing their
quality of life in an irrecoverable way.
This study aims at the sociological object of the elderly population at risk and at a
group of variables which interfere with its definition. It starts by raising some issues which
need an immediate response: how to humanize these 3rd and 4th ages which have become
more and more aggressive from a human and social point of view? How to define abuses and
how to identify them? How to prevent them? How to provide our elders a gratifying quality of
living?
Through different models and an exhaustive conceptual framework, this study upholds
a strong theoretical component from a methodological point of view. It is based on
bibliographical and digital research, and focuses on the worldwide reality as well as on the
Portuguese one. The legislation used in elderly abuse cases was also studied in the last part of
the work.
The conclusion emphasises the role of training of the social technicians directly
involved in caring for the elderly, as well as the need to create conditions so that this stage of
life can be lived as useful and productive as possible.
VI
RÉSUMÉ
La population âgée, qui représente une proportion croissante de la population dans les
pays développés, est confrontée à un contexte de mondialisation et de déracinement culturel et
affectif. Cette population présente par ailleurs de multiples carences causées par l’abandon et
par les mauvais traitements dans un environnement hostile résultant de l’exode des
populations de l’intérieur du pays vers les grandes villes. Dans la mesure où il a perdu ses
références, et le pouvoir symbolique de celui qui entretenait la maison à l’aide de son salaire,
le vieux d’aujourd’hui est considéré comme un poids mort — accumulant solitude et mauvais
traitement d’une manière qui rend sa qualité de vie non seulement perdue mais encore
irrécupérable.
Dans les considérations finales, l’étude relève le rôle de la formation des techniciens
du social directement impliqués dans la prestation de soins aux aînés, et la nécessité de créer
des conditions afin que cette phase de la vie soit vécue de forme aussi utile et productive que
possible.
VII
Agradecimentos
À Marlene, amiga e companheira, que funcionou sempre como força motivadora para
a prossecução do trabalho. As nossas conversas funcionam sempre como verdadeiras sessões
terapêuticas para a vital renovação de energias e continuação do trabalho.
VIII
Índice:
Introdução............................................................................................................................. 1
Capítulo II. Impacto dos maus tratos na qualidade de vida do idoso .............................. 47
2.1. Noção de qualidade de vida ........................................................................................ 47
2.2. Qualidade de vida versus envelhecimento activo ....................................................... 49
2.3. O papel do trabalho social na promoção da qualidade de vida do idoso .................. 53
2.4. Aspectos éticos do trabalho social – contributo para a promoção da qualidade de
vida ..................................................................................................................................... 60
Webgrafia:........................................................................................................................ 135
IX
SIGLAS
EP – Envelhecimento Produtivo
HV – História de Vida
INPEA - Rede Internacional de Prevenção do Abuso e Mau-trato das Pessoas Idosas (INPEA)
X
OMS – Organização Mundial de Saúde
XI
―A maioria dos idosos não vive, existe. E, existir sem ser visto, é uma espécie de morte.‖
Josias Gyll
XII
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Introdução
1
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
O fenómeno, não sendo exclusivo de Portugal, adquire entre nós contornos graves
devido à sobreposição da idade, do isolamento, da doença e da pobreza, que geram
situações de fragilidade extrema. Importa pois desenvolver meios para melhor
atender às dificuldades do crescente grupo de idosos. Numa era em que a
globalização se faz sentir nos «quatro cantos do mundo», o fenómeno do
envelhecimento ocorre num contexto caracterizado por céleres transformações
sociais.
2
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Há um consenso cada vez maior, entre os diversos actores sociais, no que diz
respeito ao entendimento dos maus tratos, sofridos por pessoas idosas, como um
problema de saúde pública. Quando estes ocorrem, estaremos perante um
fenómeno que atenta contra os Direitos Humanos. Mas os meios jurídicos precisam
de ser completados por estratégias e meios para-jurídicos adaptados ao contexto e à
diversidade do fenómeno dos maus tratos. Estas estratégias são da responsabilidade
de todos.
3
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4
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
5
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
1
http://www.who.int/en (Consultado em 02/03/2007).
6
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
2
Http://www.iagg.com.br/webforms/index.aspx (Consultado em 12/06/2007).
3
Http://www.inpea.net (Consultado em 19/01/2007).
7
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Outro desafio para todos aqueles que se dedicam ao estudo destas questões, reside
na definição das categorias e tipologias que designem as suas várias nuances.
8
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Há residências de idosos que no imaginário desta população opera como o paradigma da
instituição total, no sentido clássico, difundido por Irving Goffman (1999). Estas instituições, tal
como Goffman caracterizava os manicómios, prisões e conventos, tornam-se locais fechados,
imperando a lógica do cumprimento das normas e a eliminação dos traços identitários dos
institucionalizados, em prol de uma uniformização que se julga necessária. Muitas vezes são
fixados horários rígidos, obrigam os idosos a usar determinado tipos de roupa, não é permitido que
levem as suas próprias coisas. É a negação da possibilidade de personalizar o seu novo espaço.
9
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
10
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Uma vez estabelecidas as diversas tipologias dos maus tratos, será igualmente
importante saber quem são as vítimas e quem são os agressores.
“Ora, se existem idosos que são tipicamente agredidos, esses são sobretudo as mulheres5 e os
chamados «grandes idosos”6, os quais devido ao agravamento das suas faculdades funcionais,
cognitivas e de mobilidade se tornam ainda mais vulneráveis à violência doméstica‖
Identifica, com base na análise realizada por Wolf e McCarthy (1991), três perfis
distintos dos idosos vítimas de violência. Um primeiro perfil referente às vítimas
de mau-trato físico e psicológico. Normalmente, embora estas sejam relativamente
independentes nas suas actividades diárias, sofrem de problemas emocionais.
Obedecem ao segundo perfil as vítimas de negligência que são geralmente muito
idosas, sofrem de incapacidade mental e física e têm escasso apoio social,
representando para os seus cuidadores motivo de grande desgaste e stress. Por fim,
o terceiro perfil diz respeito às vítimas de abuso material ou financeiro. Estas
pessoas tendem a ser solteiras e com contactos sociais e redes de apoio
limitadíssimos. As informações são complementadas por Barnett, Perrin e D.
5
As mulheres idosas vítimas de violência situam-se principalmente entre os 75 e os 85 anos e
pertencem às classes médias e médias baixas (Pagelow, 1984, p.359).
6
Devido ao aumento da esperança média de vida foi possível dividir os idosoz em ―younger-old‖
(65 a 74 anos) e os ―older-old‖ (com mais de 75 anos). Cf. Boudreau (1993, p.142); Pagelow (1984,
p.359); Leleu (1998, pp. 12-13).
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Perrin (1997), os quais consideram que as pessoas que vivem sós têm menos
probabilidades de serem maltratados do que os que vivem com alguém; os que
vivem com o cônjuge estarão menos vulneráveis à violência do que aqueles que
vivem com um parente ou outro responsável e os idosos que se encontram mais
isolados da rede de parentesco e de amigos correm um risco maior do que os que
se mantêm integrados.
12
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
“O peso das vítimas idosas está a aumentar. O grupo das pessoas com 65 ou mais anos representa
já sete por cento do total (eram 5,6 por cento em 2005) das que tendo sido alvo de crime foram, de
alguma forma acompanhadas pela APAV. «As vítimas mais velhas têm cada vez mais consciência
de que são alvos fáceis.”
Um pouco na linha do investigador policial, há uma questão que pode ser lançada:
―Quem, inflige tratamentos inadequados, desajustados e sancionáveis
criminalmente ao cidadão sénior? Onde ocorrem estes actos? Que causas estarão
na base destas práticas?‖
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
masculino quem agride. Não deixa de ser interessante constatar que, sendo
habitualmente a mulher a principal cuidadora informal do idoso dependente, esta
não se situar entre os principais agressores. Considerando que alguns estudiosos
sugerem a hipótese de parte das situações de maus tratos serem motivadas pelo
stress, inerente à actividade de quem cuida. A realidade dos números lança mais
uma dúvida, numa área em que ainda muito terreno há para desbravar, uma vez
que as informações, obtidas em estudos de carácter empírico, ainda são muitíssimo
escassas. Dias (2004), diz que os maltratantes, tendencialmente, encontram-se
socialmente isolados, têm frequentemente problemas com a justiça e apresentam
dificuldades em fixar-se num determinado emprego de forma duradoura. São
pessoas bastante instáveis psicologicamente, com lacunas ao nível do equilíbrio
emocional, e que sentem graves dificuldades no processo de socialização, daí que,
em alguns casos, se tornem em indivíduos socialmente excluídos.
Os maus tratos a idosos que ocorrem em instituições e são levados a cabo por
profissionais, continuam, à semelhança dos perpetuados no domicílio familiar,
ainda pouco ou nada estudados. Contudo, se atentarmos em trabalhos de pesquisa
realizados em França (Martin, 1992) e Espanha (Bernal e Gutiérrez, 2005),
poderemos constatar que a falta de motivação e preparação do pessoal, a má
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Os maus tratos sofridos pelos idosos são um problema crescente em todo o mundo
e que ganha uma conotação especial nas sociedades impregnadas pela cultura da
competitividade, da eficiência, bem como do culto à juventude e ao hedonismo.
Envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental que a todos assiste.
Esse direito, contudo, passa a ser ignorado muitas vezes, seja pela família, seja
pelo Estado. O idoso pode ser vítima de atitudes que atentam contra os seus
direitos no espaço da família, no espaço institucionalizado, na rua, no seu grupo de
amigos, na vizinhança.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
sociedade ou estão institucionalizadas, estão, isso sim, bem dentro do nosso meio
de vida, no seio do círculo familiar, no contexto das redes de parentesco de apoio.
A APA (1999) faz referência aos seguintes factos:
2. A maioria dos casos de abuso ocorre no domicílio, visto que este é o local
onde a larga maioria dos idosos vive. Quando se dá o abuso ele é
perpetrado por familiares, ou outros cuidadores pagos para exercerem essa
função. Muitas vezes o abuso é subtil, não sendo fácil de discernir entre o
stress de determinadas situações interpessoais e o abuso tipificado
(Marshall et al., 2000).
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O mau-trato aos idosos no espaço da família é uma realidade que parece afectar um
número significativamente relevante de pessoas, ainda que os conhecimentos
existentes sejam ainda, no seu conjunto, bastante limitados.
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Outra solução, encontrada pelas famílias, para fazer face à perda de autonomia dos
seus idosos é a institucionalização do idoso. Esta fractura, o abandono do lar e o
ingresso num espaço que desconhece partilhando-o com desconhecidos, no qual
terá que cumprir regras predeterminadas, concorde ou não com elas, provoca uma
amargura profunda, sobretudo quando a pessoa idosa, ainda possuidora das suas
faculdades cognitivas, é forçada a fazê-lo contra a sua vontade, sendo os seus
desejos e anseios completamente desvalorizados. O caminho pode ser de sentido
único, desembocar no abandono do seu espaço afectivo e dar entrada num mundo
novo e geralmente desumanizado.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
“Actualmente, e de acordo com o conteúdos dos inquéritos mais recentes, a família é vista como a
mais importante fonte de satisfação pessoal. Hoje em dia, numa sociedade denominada de pós-
industrial e pós-moderna, a família tornou-se o meio ambiente mais próximo, mais quente e mais
solidário. Não é menos certo que as experiências vividas no seio da família podem ser as mais
destrutivas.”
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
O trabalho dos assistentes sociais tem sido de grande monta na busca incessante de
soluções para estes casos de difícil solução. Muitos, diz-nos Pedro Canas Mendes:
―nunca vão sair daqui”. Estas pessoas, para além dos problemas clínicos têm
anexado um grave problema social. São doentes sem um substrato familiar que os
apoie. José Artur Paiva frisou que “em certos casos, a família tem vontade, mas
não consegue ajudar o doente”, mas reconhece que, em outros casos, existe a
efectivação de um cato premeditado de abandono. Quando os indivíduos sofrem de
algum transtorno cerebrovascular, nem sequer têm a noção de que estão a ser
abandonados, lamentam os clínicos. Quando a percepção da realidade existe, os
idosos vivenciam um duplo sofrimento, isto é, a doença que os afecta é exacerbada
pela fragilidade provocada pelo abandono a que foram sujeitos. Contudo, não se
pense que estes preocupantes abandonos são ―apenas‖ fenómenos sazonais…
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Presume-se que entre 2,5% e 3,9% dos idosos são maltratados no seio da família.
De Paúl e Larrión (2006), dizem-nos, com base nos casos detectados e
confirmados pelos serviços sociais, que 90% dos maus tratos resultam do
abandono físico, 20% a 40% dos casos existentes referem-se a maus tratos
psicológicos, entre 12% e 18% sofrem de violação dos seus direitos e os casos
ligados a abuso sexual representam cifras não superiores a 2%.
A velha máxima “Filho és, Pai serás. Tal como fizeres, assim acharás”, parece
viver uma renovada actualidade e deve fazer-nos pensar no sentido de
equacionarmos o futuro que desejamos para nós, devendo esses desejos
reflectirem-se nos cuidados daqueles que hoje já completaram muitas primaveras.
Devemos proporcionar, sem utopias e idealismos «bacocos», as condições de vida
que um dia gostariamos de poder ter ao dispor, condições essas que sejam
propiciadoras de uma boa qualidade de vida.
Os idosos estão sós e escondem-se porque ninguém os inclui e porque eles próprios
se excluem, mas para combater o isolamento destes cidadãos é necessário ter uma
prática assertivamente inclusiva. Esta prática deve ser dinamizada pelas famílias,
redes sociais de vizinhança e pelo Estado. Esta questão passa, por exemplo, por
garantir que os acessos a equipamentos e zonas de uso público estão adaptados a
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
pessoas com dificuldades de locomoção. Passa por coisas tão simples como
garantir que os passeios estão transitáveis (sem carros, sem rampas, sem
corrimões…). O Estado terá, neste ponto, uma palavra importante a dizer, não
sendo expectável que se limite a uma tarefa de cariz assistencialista. Deve
identificar as necessidades na sua área de acção, promover actividades de apoio aos
idosos, reunir e difundir informação sobre as iniciativas locais e promover as boas
práticas nas diversas valências existentes no apoio aos idosos.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
De acordo com Bazo (1998), as actuais políticas sociais neoliberais que dão ênfase ao
cuidado comunitário, assentam, implicitamente, no modelo que considera a família
como o lugar idóneo para envelhecer. Contudo, os dados empíricos evidenciam
que em Portugal esta linha orientadora nem sempre é seguida. Muitas são as
famílias que optam por institucionalizar os seus progenitores. O número de pessoas
institucionalizadas só não será maior porque a resposta à solicitação é claramente
deficitária. Além das dificuldades em obter uma vaga num lar ou residência há
ainda o obstáculo económico. Nem todas as famílias conseguem fazer face aos
valores praticados pelas instituições.
Todavia, muitos são aqueles que terminam a sua vida numa instituição para idosos.
Geralmente, esta opção não é bem acolhida pelos idosos que se sentem
abandonados, negligenciados, desenraizados. Muitos são os preconceitos existentes
em relação à institucionalização. O sentimento de abandono familiar apodera-se de
muitos daqueles que alteram o seu quotidiano, abandonando o seu local de afecto e
ingressando em instituições, que nem sempre lhes permitem viver a sua velhice
com dignidade.
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mesmo.” Vaz refere um facto extremamente curioso, ou seja, a maioria dos lares
têm nomes de flores ou fazem alusões a santos ou lugares santificados, podendo
fazer supor que “quase todos eles são paraísos de bem-estar”.
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idoso, potencia o risco de efeitos adversos. Neste contexto, importa salientar que os
medicamentos podem ser sobreusados, subusados ou mal usados. A atenção
primária, a informação e o acompanhamento são aspectos fulcrais na toma
equilibrada e desejada dos fármacos. O uso de medicamentos, entre os indivíduos
acima de 65 anos, é factor de preocupação, dada a possível ocorrência de reacções
adversas num organismo mais frágil. Dois aspectos podem agravar o problema: a
qualidade da regulamentação sanitária e da assistência médico-farmacêutica. O uso
de múltiplos produtos, a prescrição dos contra-indicados para os idosos, o uso de
dois ou mais fármacos com a mesma actividade farmacológica e o treino
inadequado da equipa de saúde favorecem o aparecimento dos efeitos adversos e
das interacções. Tendo em consideração o que nos diz Correia (2003), a prescrição
medicamentosa, no idoso, oscila entre dois extremos, ambos criticáveis: a
subprescrição e a sobreprescrição. A carga excessiva de fármacos potencia
consideravelmente a possibilidade de ocorrência de interacções medicamentosas.
Esta situação além de poder provocar danos irreparáveis ao consumidor, causa uma
sobrecarga financeira, por vezes insustentável, para o doente idoso. Em certas
situações, a pessoa tem que optar entre os géneros alimentícios e a aquisição dos
medicamentos que lhe permitam manter alguma qualidade de vida.
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Sintetizando, há, de facto, uma realidade preocupante como nos informa Hespanha
(2000).
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FUTURO
MISSÃO VISÃO
VALORES
PRESENTE
Fonte: Vicente et al. (2005, p. 14). Manual de Boas Práticas – Um guia para o
acolhimento residencial das pessoas mais velhas.
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Desde tempos imemoriais que existe uma inquietação do ser humano em entender
a essência do fenómeno da violência, a sua natureza, as suas origens e quais serão
os meios apropriados, a fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da convivência
social. O nível de conhecimento atingido, seja no âmbito filosófico, seja no âmbito
das Ciências Sociais e Humanas, permite inferir, no entanto, alguns elementos
consensuais sobre o tema e, ao mesmo tempo, compreender o quanto este é
controverso, em quase todos os seus aspectos.
É, hoje, praticamente unânime a ideia de que a violência não faz parte da natureza
humana e que a mesma não tem raízes biológicas. Trata-se de um complexo e
dinâmico fenómeno biopsicossocial, mas o seu espaço de criação e
desenvolvimento é a vida em sociedade. Portanto, para entendê-la, há que apelar
para a especificidade histórica. Estamos na presença de um comportamento
apreendido e interiorizado culturalmente. Daí se concluir, também, que na
configuração da violência se cruzam problemas da Política, da Economia, da
Moral, do Direito, da Psicologia, das Relações Humanas e Institucionais, bem
como do Plano Individual.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Giddens (2004) lança uma ideia que coloca por terra ―o mito da família
idealizada‖:
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paredes», local que deveria funcionar como sítio de aconchego, segurança, amor,
solidariedade, mas que, em situações – limite, poder-se-á transfigurar e assumir-se
como um local horrendo, no qual se desenrolam conflitos e abusos de poder.
Estes dados devem gerar uma grande preocupação, se aspiramos a uma sociedade
com relações sociais mais justas e tolerante ante as diferenças existentes entre as
pessoas. É, no nosso entender, na diferença que reside a riqueza das relações
sociais. As relações têm-se degradado progressivamente talvez porque vivemos
numa era capitalistas e neoliberal que tem no triunfo do capital o objectivo
máximo, descurando os direitos sociais, as grandes clivagens, com tendência a
aumentarem, entre ricos e pobres. Nos últimos anos, assistimos à inevitável, e
quem sabe irreversível, agudização dos problemas económicos. Logicamente,
surgem, neste contexto de depressão económica, as frustrações próprias da
sociedade de consumo, a desigualdade de poderes na sociedade e no interior das
famílias. Não somos anti-globalização! Defendemos apenas que esta deveria
assentar noutros pressupostos, não se cingindo ao poder do capital. Parece
cristalino que as grandes alterações provocadas pela globalização do mercado e das
comunicações, trouxeram consigo um processo crescente e inexorável de exclusão
social que tendencialmente agrava os problemas e se manifesta em atitudes
agressivas contra as mulheres, as crianças e os idosos, isto é, contra os «elos» mais
fracos da ―corrente humana‖. Alain Touraine (2007), ―um dos últimos maîtres à
penser do século XX francês‖, caracteriza muito bem o contexto social em que nos
encontramos inseridos:
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que quisermos. Vivemos num mundo em que as instituições sociais estão em crise. A
cidade, a política, a escola, a família – tudo está em crise”.
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Também o modelo de sociedade que se tem instalado, com especial incidência nos
países ocidentais, tende para um exacerbado individualismo, regido pela
imperativa conquista de sucesso profissional, que permita a manutenção de um
determinado status quo desvalorizando os processos e as redes de solidariedade,
tanto familiares como sociais. Objectivamente, são, com toda a certeza (como o
comprovam os estudos realizados em vários países), as pessoas cuja exclusão é
mais frequente as que recorrem à violência, como forma reguladora dos múltiplos
conflitos, aos quais se expõem ou são expostas. A manutenção das redes
familiares, sociais e/ou de vizinhança é fulcral. Igualmente fundamental é a
capacitação de todos os cidadãos para a resolução pacífica de conflitos
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Cremos que uma das primeiras e árduas empreitadas a ter em linha de conta, por
parte do Trabalho Social, recai na urgente sensibilização a levar a cabo da
obrigatória denúncia de toda e qualquer situação de violência, seja esta levada a
cabo por familiares ou não, no interior do lar, na rua ou em contexto institucional.
Este trabalho deve ser encarado como uma etapa prioritária porque um dos grandes
obstáculos à detecção das situações de maus tratos é o habitual silêncio das
vítimas, pulverizado e eternizado pelo medo das consequências posteriores, pois o
agressor é alguém que lhe é próximo, alguém por quem, apesar das agressões, a
vítima nutre sentimentos de apego, quer pela familiaridade (no caso de cônjuges,
filhos, outros familiares) quer pela total dependência em ralação ao agressor que
pode simultaneamente ser o cuidador.
“Das 2911 queixas recebidas na PSP em 2006, apenas 139 são respeitantes a
violência contra idosos. "Os idosos são vítimas silenciosas, já que não apresentam
queixa por medo", garantiu fonte do gabinete do Procurador-Geral da República
(PGR) ao DN.” In DN (2008).
A violência que assola os idosos, que como já vimos não é um feito novo na
sociedade, mas histórico, que vem crescendo em proporções alarmantes; para
muitos é motivo de silêncio, eis que poucos têm coragem de denunciá-la, e os
próprios idosos, vítimas, também estão impedidos de fazê-lo, levando em
consideração que são, na maioria das vezes, dependentes dos agressores, o que
gera insegurança, além de serem limitados fisicamente e temerem uma represália
por parte do familiar agressor.
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Detectar casos de maus tratos não se antevê uma missão fácil, na medida em que as
situações que envolvem esses eventos são, na sua maioria, ―resolvidas (?)‖ dentro e
pela família, criando-se o que Figueiredo (cit. in Bernardo, 2007) chama de «a
conspiração do silêncio», transformando esse tema em «maldito» na medida em
que, ao abordá-lo, se está a desvendar uma face que a família tem todo o interesse
em manter oculta. Mesmo em situações em que se pratique a violência física, a
pessoa idosa pode sentir-se embaraçada e arranjar uma desculpa para as possíveis
nódoas que possam visualizar-se no seu corpo. Se não existem marcas, sinais
exteriores de violência, a pessoa idosa escuda-se num silêncio severo.
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Nesta linha de pensamento estão também autores como Wolfe e Pillemer (1989),
estes entendem que a identificação dos factores que colocam os idosos em risco de
serem vítimas de violência não se deve basear exclusivamente nos estudos
realizados sobre esta problemática, devido à sua inconsistência metodológica e à
diversidade de definições por eles utilizadas. Assim, defendem que deve ser
realizada uma revisão da literatura disponível. Essa revisão permitiu-lhes
identificar as já referidas cinco perspectivas teóricas. Os autores adiantam também
que os factores de risco estão intimamente e inevitavelmente interligados com a
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«As famílias multiproblemáticas (ou severamente disfuncionais) distinguem-se pela presença de
um ou mais sintomas sérios e graves de longa duração e forte intensidade (Weizman, 1985). São
famílias em que a violência, abuso de substâncias, incesto e outros sintomas severos co-existem por
longos períodos de tempo.»
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O termo qualidade de vida é bastante abstracto, daí que se encontre envolto de uma
polissemia significativa, a qual não deve ser descurada, uma vez que para
diferentes pessoas, em diferentes lugares e em ocasiões diferentes este pode
adquirir significados bem distintos. Daí que existam imensas definições para QDV.
Este conceito encontra-se submetido a múltiplos pontos de vista e tem variado de
época para época, de país para país, de cultura para cultura, de classe social para
classe social e, até mesmo, de indivíduo para indivíduo.
Parreira (2006) considera que o construto da QDV se insere na perspectiva da
pessoa humana como um sistema vivo e activo que se auto-organiza por
diferenciação e integração de múltiplas facetas e se auto-regula nas variadas
respostas com que se relaciona com os ambientes onde se afirma. Por conseguinte,
Ruiz (2001) afirma que a qualidade de vida e a saúde não são sinónimas. Tendo a
QDV uma componente subjectiva, podendo ser considerada a diferença entre o
actual e o ideal. A autora entende que a QDV abarca não só a saúde, mas também o
meio ambiente, o salário e o estilo de vida.
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De acordo com a OMS, Autonomia é a habilidade de controlar, tomar e arcar com decisões
pessoais sobre como se deve viver diariamente, de acordo com as suas regras e preferências.
9
De acordo com a OMS, Independência é geralmente entendida como a habilidade de executar
funções relacionadas com a vida diária – isto é, a capacidade de viver independentemente ma
comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros.
49
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Concluiremos que a QDV deve ser sempre equacionada em termos globais, uma
vez que os aspectos físicos, psíquicos, sociais e afectivos se inter-relacionam ao
longo de todo o percurso de vida de um sujeito, contribuindo de forma
determinante para aquilo que será o seu projecto de vida, concretizável em todos os
momentos da sua vida. Para que o projecto de vida de uma pessoa lhe permita
encarar as várias fases do envelhecimento, de forma positiva, há algumas
necessidades básicas que têm que ser asseguradas, referimo-nos ao alojamento;
alimentação; higiene e segurança. Importa também estar atento a factores que
contribuam largamente para um declínio célere das capacidades funcionais, como
10
Segundo a OMS, Expectativa de vida saudável é uma expressão geralmente usada como
sinónimo de «expectativa de vida sem incapacidades físicas». Enquanto a expectativa de vida ao
nascer permanece uma medida importante do envelhecimento da população, o tempo de vida que as
pessoas podem esperar viver sem precisar de cuidados especiais é extremamente importante para
uma população em processo de envelhecimento (OMS, 2002, p.15).
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
“Quase 40 por cento dos portugueses a partir dos 65 anos passam oito ou mais horas dos
seus dias sozinhos. «A solidão dos nossos idosos é assustadora», constata Anabela Mota
Pinto. (…) O «envelhecimento saudável» pressupõe «manutenção da actividade física,
socialização, adaptação às alterações associadas ao envelhecimento e, sobretudo, manter a
satisfação de viver».” (Gomes, 2008, p.4).
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Envelhecer com sucesso é possível muito por força dos progressos da medicina e
de uma educação saudável associados à autonomia e integração do idoso na
sociedade e na família, aproveitando as capacidades individuais do idoso. Nesta
perspectiva o trabalho social tem uma importância inigualável, ao nível da
intervenção, abrangendo múltiplas e complexas relações que se estabelecem entre
os indivíduos e o meio que os envolve. Estes profissionais funcionarão como
agentes promotores do processo de mudança nos indivíduos, famílias e
comunidades.
Os maus tratos estão directamente relacionados com a pouca qualidade de vida dos
idosos e com a inexistência de projectos de vida estruturados e individualizados
que satisfaçam as necessidades de cada idoso em concreto. O trabalho social na co-
construção dos projectos de vida, não nos esqueçamos da máxima «fazer com o
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
idoso e não fazer para o idoso», deve ter como primeira preocupação diagnosticar
as necessidades de cada indivíduo em concreto. Esta tarefa é importante e nunca
deve ser olvidada pois permite-nos captar os diversos prismas das carências e
capacidades humanas. Abraham Maslow desenvolveu na década de 1940 a Teoria
das Hierarquia das Necessidades. O psicólogo acredita que as pessoas têm um
desejo básico de satisfazerem determinados tipos de necessidades e que estas
possuem uma hierarquia em que as necessidades mais básicas são a base. Seguindo
esta ordem de ideias, Maslow acredita que cada nível de necessidades tem de ser
satisfeito para que as necessidades de nível superior sejam importantes. A escala de
necessidades vai subindo ao longo de uma pirâmide até que as necessidades de
auto-realização se tornem os principais motivadores (Nadal e Llunas, 2003, p.66).
Fonte: Nadal e Llunas (2003, p. 67). Una Nueva Visión del Trabajo
Psicosocial en el Ámbito Asistencial.
Facilmente se compreende que, a título de exemplo, um idoso com fome não tenha
como preocupação mostrar aos seus amigos o seu valor e as suas capacidades, mas
sim assegurar o necessário para se alimentar. Se aplicarmos a teoria das
necessidades de Maslow às pessoas idosas podemos chegar a diversos
considerandos. É das necessidades fisiológicas que emerge o estado anímico dos
idosos. O profissional deve estar atento porque, muitas vezes, dependem de nós
para alcançá-las. Dormir, estar higienizado, estar e sentir-se cuidado são factores
que produzirão neles um estado de bem-estar e de paz. No segundo nível, realça-se
a necessidade de segurança, a satisfação e a ordem e o domínio das referências
espácio-temporais, a estabilidade. Necessitam de ter a certeza de que não serão
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
A OMS (2002) recorda que o apoio social deve adequar-se às necessidades desta
população que apresenta maior probabilidade de perder membros e amigos da
família. Estas pessoas são mais vulneráveis à solidão, isolamento social, factores
intimamente ligados a um declínio de saúde tanto física como mental. Os factores,
anteriormente referidos, revestem-se de um elevado índice de risco, no que
concerne à prática de maus tratos sobre idosos. Os profissionais do Trabalho Social
podem ajudar a promover redes de contactos sociais para as pessoas idosas a partir
de instituições de apoio tradicionais e grupos comunitários liderados pelos idosos,
voluntariado, ajuda da vizinhança, controlo e organização e execução de visitas
domiciliárias, acompanhando as famílias, dinamizando programas que promovam
a interacção entre as gerações e os múltiplos serviços existentes. De sublinhar a
57
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Com efeito, Morán (2004) considera que, em relação aos valores, em qualquer
profissão importa identificar alguns pressupostos orientadores que facilitem a
tomada de decisões pelos profissionais. O autor plasma esses irrefutáveis e
fundamentais valores nos seis “i”: Individualidade; Independência; Integração;
Ingressos; Interdisciplinaridade e Inovação.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
- Cada Ser Humano tem um valor único em si mesmo o que justifica o respeito
moral por essa Pessoa;
- Cada indivíduo tem direito à sua autodeterminação, até ao limite em que isso não
desrespeite os iguais direitos dos outros e tem a obrigação de contribuir para o
bem-estar da sociedade;
- Cada sociedade, seja qual for a sua estrutura, deverá proporcionar o máximo de
condições favoráveis de vida aos seus membros;
- Os Assistentes Sociais têm um compromisso com os princípios de Justiça Social;
- Os Assistentes Sociais devem colocar os seus objectivos, conhecimentos e
experiência ao serviço dos indivíduos, dos grupos, das comunidades e da
sociedade, apoiando-os no seu desenvolvimento e na resolução dos seus conflitos
individuais ou colectivos e nas consequências que dai advém;
- Espera-se que os Assistentes Sociais providenciem o melhor apoio possível a
toda e qualquer pessoa que procure a sua ajuda e conselho, sem discriminação com
base na deficiência, cor, raça, classe social, religião, língua, convicções políticas ou
opções sexuais;
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Relativamente à especificidade das questões éticas, no que ser refere aos maus
tratos sofridos pelas pessoas idosas, é fundamental, dada a complexidade com que
se reveste este fenómeno, reflectir antes de qualquer actuação. Actuar ante a
suspeita de maus tratos requer que o profissional faça uma reflexão prévia sobre a
sua atitude geral acerca das pessoas idosas e examine a conceito ético com o qual
enfrentará a situação. Bernal e Gutiérrez (2005) entendem ser lógico que antes de
intervir em casos de maus tratos domésticos, se reflicta em torno da possibilidade
da existência de maus tratos infligidos por profissionais ou pelas instituições em
que trabalham. Apontam alguns factores que contribuem para os casos de
negligência e maus tratos tendo por abusadores os profissionais: atitude negativa
face à pessoa idosa; falta de compreensão do processo de envelhecimento;
deficiente preparação do pessoal; falta de oportunidades de promoção do pessoal.
Todavia, o facto de vivermos numa sociedade gerontofóbica, as lacunas na
formação de base ou mesmo o burnout11 não poderão justificar determinadas
actuações que atentam contra os direitos da pessoa idosa, especialmente porque
nos referimos a profissões de ajuda.
11
O burnout ou a ―síndrome do queimado‖ pode considerar-se um transtorno de adaptação do
indivíduo ao ambiente laboral, que se produz quando se desequilibram as expectativas do
trabalhador e a realidade do trabalho diário. Supõe uma deterioração grave da qualidade de vida
laboral dos trabalhadores que o sofrem. Entre as suas consequências destacam-se um decréscimo
considerável na produtividade do trabalhador e baixas por doença. Esta síndrome pode surgir
associada ao stress laboral assistencial crónico presente no âmbito dos serviços humanos.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
primeira obrigação ética para o profissional será a formação técnica no cuidado das
pessoas idosas, na prevenção, detecção e na abordagem dos maus tratos. A
abordagem dos maus tratos deve ter como ponto de partida a ética baseada no
respeito, na consideração e na responsabilidade.
A problemática dos maus tratos é deveras complexa e muitas são as variáveis a
considerar pelos profissionais sempre que abordam situações de difícil diagnóstico.
Hugnot (2007), presidente da associação francesa ALMA 12, médico, gerontólogo e
autor de uma vasta obra acerca da velhice maltratada, explica no seu último livro
Violences Invisibles – Reconaître les situations de maltraitance envers les
personnes âgées (Violências Invisíveis - Reconhecer as situações de mau trato
contra as pessoas idosas) que nenhum dispositivo de prevenção do mau trato
contra pessoas idosas substitui a experiência e a astúcia. Saber ler para além das
aparências e suspeitar de determinados factos que possam indiciar maus tratos é
um imperativo para médicos, psicólogos, trabalhadores sociais e todos nós.
Realçando o carácter odioso da crueza com que estes actos são praticados, diz-nos
que as situações que as pessoas idosas vivem quotidianamente são sempre mais
complexas do que podemos imaginar. Sempre que as soluções não sejam
plenamente satisfatórias na abordagem à dinâmica familiar ou institucional, devem
procurar-se sempre respostas sustentadas nos princípios éticos, os quais funcionam
como guias gerais de actuação. Seguidamente, apresentamos uma tabela,
apresentada por Bernal e Gutiérrez (2005) que congrega os princípios da bioética e
suas obrigações.
12
Ver: http://www.alma-france.org/ (consultado em 23 de Outubro de 2007)
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Princípio da Justiça
- Obriga a tratar todas as pessoas com igual consideração e respeito na ordem social.
- Não discrimine as pessoas por razão de idade, sexo ou raça.
- Promova a igualdade de oportunidades das pessoas idosas.
Princípio da Autonomia
- Obriga a considerar que todas as pessoas são, em princípio a menos que se demonstre o
contrário, capazes de tomar decisões no que diz respeito ao seu projecto de vida.
- Não confunda a capacidade da pessoa idosa para «fazer» com a capacidade para
«decidir».
- Não ampute a liberdade das pessoas idosas, não coaja e não manipule a informação.
- Trate e cuide da pessoa idosa com respeito.
- Promova a autonomia das pessoas idosas.
Princípio da Beneficência
- Obriga a fazer o bem às pessoas, procurando-lhes o maior benefício e limitando os
riscos.
- Respeite o que cada pessoa idosa entende como benéfico para ela. Evite ser paternalista.
- Trate e cuide a pessoa idosa com cordialidade. Promova o seu bem-estar.
Fonte: Bernal e Gutiérrez (2005, p. 121). Malos tratos a personas mayores: Guía de actuación.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
3.1. Prevenção
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
3.2. Informação
Em primeiro lugar queremos deixar bem claro que julgamos essencial envolver os
idosos em todas as acções que possam vir a ser idealizadas, planificadas e
executadas. Os idosos devem ser considerados actores sociais participantes de um
processo que promova várias ideias força. Urge transformar em oportunidade a
relação dos seniores com o meio social e institucional que os rodeia. A Direcção
Regional de Atenção à Dependência e às Pessoas Idosas de San Sebastián
elaborou um Manifesto a favor das pessoas idosas e um plano gerontológico que
estabelece como primeiro objectivo, tudo fazer em prol da manutenção das pessoas
mais velhas no seu meio e, como primeira estratégia, para alcançá-lo, lutar contra a
discriminação, reforçar a solidariedade e a coesão social. Conscientes da
necessidade de se promover uma mudança de atitude na população, elaboraram o
mencionado documento destinado a projectar uma sociedade menos
discriminatória e mais integradora que promova o reconhecimento e aceitação de
que a sociedade é constituída por pessoas de distintas idades e que todas elas têm o
direito de colaborar no seu desenvolvimento e desfrutar dos seus recursos.
Mencionamos este documento porque nos parece reunir algumas das bases que,
numa primeira análise, poderão orientar a indispensável alteração de atitudes em
todos os âmbitos. O Manifesto a Favor das Pessoas Idosas (2007) elenca três
princípios primordiais: não discriminação negativa em função da idade; cidadania
e solidariedade intergeracional. Apresenta também novas formas de Pensar, de
Fazer e de Comunicar. Assim, no que diz respeito às recomendações, em relação
ao discurso público, consideram que este deve dar uma visão real do
envelhecimento e evitar a contraposição dos direitos sociais das pessoas idosas
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
relativamente aos de outros grupos. No âmbito educativo, defendem que deve ser
explicado aos estudantes o papel dos idosos como transmissores da memória
histórica, a imprescindível sensibilização acerca das dificuldades que as pessoas
idosas enfrentam na sociedade hodierna e estudar o papel que se outorga a estas
pessoas noutras culturas. Quando se debruçam sobre o âmbito laboral dizem-nos
que se devem promover alterações das atitudes nos locais de trabalho, lutar contra
a discriminação em função da idade nas acções de formação e na implementação
de planos para a igualdade de oportunidades e a criação de alternativas laborais que
facilitem, a quem o desejar, uma reforma progressiva ou permanência no posto de
trabalho para além da idade da reforma. Nos serviços sociais devem ser respeitadas
as decisões dos idosos, nunca deve ser assumida, sem diagnóstico prévio, que uma
pessoa mais velha sofre de limitações mentais, garantir os seus direitos e interesses
e nunca utilizar uma linguagem infantilizante. São feitas também algumas
advertências aos meios de comunicação social, como por exemplo: evitar o recurso
a fórmulas ou imagens estereotipadas na representação da velhice, mostrar as
pessoas idosas no seu estado habitual, não dar a impressão que as pessoas idosas se
encontram, invariavelmente, desprezadas pelas suas famílias e mostrar as
actividades positivas que as pessoas idosas desenvolvem no seu habitat familiar.
Fulcral em todo este processo é o meio familiar. As relações estabelecidas têm que
ser erigidas com base no princípio da solidariedade intergeracional, será necessário
aceitar os riscos, que com conhecimento de causa, decidem adoptar os nossos
idosos, informar sobre a possibilidade de nomear uma pessoa, seja ou não da
família, que a represente, respeitar os seus desejos e as suas convicções.
Estamos conscientes de que estas metas não são facilmente atingíveis. Todavia,
também não se nos apresentam utópicas. Nas necessárias e urgentes mudanças, os
profissionais, ligados ao trabalho social terão uma importância vital na
dinamização e operacionalização de todos este processo que pressupõe a
articulação e o desenvolvimento da sociedade civil, uma política da vida
quotidiana mais efectiva, de maior proximidade e participada e, como não poderia
deixar se ser, na potenciação de princípio da cidadania activa geradora do desejado
e aconselhado ―envelhecimento activo‖.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
A instituição Escola poderá realizar acções de grande relevo que imprimam uma
mudança na forma como hoje são olhados os nossos concidadãos de maior idade.
Desde logo, criar um dispositivo, transversal às diversas áreas do saber, que
permita e potencie as necessárias reflexões em torno da «passagem do tempo», o
ciclo vital, a doença, a perda de capacidades, a tolerância, o envelhecimento e as
possibilidades que se oferecem nesta etapa da vida. No trabalho específico, a
desenvolver com os alunos, deve ser dada primazia ao trabalho a realizar em torno
da linguagem. Normalmente, estão associadas ao envelhecimento uma série de
expressões de valoração negativa associadas a mitos, de longa data, que urge
analisar e erradicar. Comprovadamente assertivo é o fomento de encontros com
pessoas idosas nos centros educativos infantis e nas escolas. Leptihn (2007),
coordenador da Sociedade Alemã de Ajuda aos Idosos (GDA – Gemeinschaft
Deutsche Altenhilfe Gmbh) e especialista em doenças do foro mental, constata na
sua prática profissional que muitos idosos não querem ser institucionalizados
porque sentem que essas «casas» só têm gente idosa. Acrescenta ainda que quanto
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
mais idosa a pessoa for, mais necessidade terá de estar com gente nova,
especialmente crianças, uma vez que estas não têm problemas, não se sentem
culpadas e não têm preocupações, precisamente aquilo que eles desejariam para si.
No fundo, os mais novos representam os atributos que eles já um dia possuíram e
que dessa forma lhes é permitido vivenciar, ainda que com uma certa carga
nostálgica. Deve também ser estimulada a frequência das instituições pelas
crianças. Ainda que possa surgir alguma ―agitação / turbulência‖, estas iniciativas
devem ser dinamizadas porque estas situações de menor tranquilidade também
fazem parte da vida. Interessante será promover um trabalho em parceria com, por
exemplo, jardins-de-infância. A este respeito, concordamos em absoluto com esta
perspectiva e parece viável a sua implementação. Não esqueçamos que muitas
instituições, especialmente das IPSSs, possuem diversas valências passíveis de
serem articuladas produzindo ganhos consideráveis através do contacto
intergeracional.
73
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Neste princípio de século XXI é fácil constatar o enorme poder dos media e a sua
exagerada influência na nossa sociedade cada vez mais global, cada vez mais
edificada sob a dinâmica e o domínio de diversos poderes (políticos, económicos,
sociais…) e cada vez mais interessada na mediatização. Há quem defenda a ideia
de que os media ocupam um «quarto poder» ao lado do legislativo, executivo e
judicial. Se este conceito é discutível, inegável é a função indispensável da
comunicação de massas em democracias. A informação é essencial para uma boa
evolução da sociedade e desempenha um papel principal na formação da nossa
sociedade, atingindo uma vasta plateia. Os meios de comunicação contribuem em
grande medida para: a atribuição de status; a valorização da autoridade de
indivíduos e grupos; o reforço das normas sociais; entre outros.
Portanto, a sua rentabilização, em prol da educação para uma sociedade mais justa
e que respeite os direitos dos cidadãos mais velhos, poderá revelar-se deveras
eficaz no desfazer de ―mitos‖, em relação à velhice, e na construção de uma nova
imagem dos seniores como indivíduos activos, interventivos e importantes para o
equilíbrio societal. O que fazer? Em primeiro lugar, devem ser sensibilizados os
múltiplos responsáveis pelos órgãos de informação para o urgente contributo que
poderão dar na construção de uma melhor qualidade de vida para um segmento
populacional em crescendo. Depois podem ser levadas a cabo acções de índoles
diversas: criação de programas de rádio e televisão que ajudem a integrar a velhice
com normalidade e aceitação, dando a conhecer uma imagem mais positiva das
pessoas idosas. Terá que haver sempre o cuidado de se ajustarem as temáticas e os
horários, bem como promover a participação dos idosos e dos que deles cuidam.
Os media serão certamente o meio mais eficaz na luta contra a eliminação dos
estereótipos. Este objectivo poderá ser alcançado através da inclusão de mensagens
em spots publicitários, condenatórias dos maus tratos e de quaisquer outras formas
de discriminação em função da idade. Poderão também auxiliar na reprovação de
tópicos que catalogam cruelmente as pessoas idosas como pessoas de «segunda
linha», sem expectativas, sem curiosidade nem interesse pelo que as rodeia e sem
74
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Uma dimensão a ter em conta é a que tem por base as novas formas de
comunicação através da Web. Neste capítulo salientamos a crescente
implementação da animação cibercultural enquanto poderoso instrumento de
modificação social. Este modelo de comunicação fundamenta-se numa
comunicação de tipo horizontal, comunicação entre iguais, livre de coações
individuais e comunitárias, na qual ninguém procura mudar o outro mas pressupõe
que as partes interactuem e se enriqueçam mutuamente através de uma relação
dialógica. Uma comunicação que tem por objectivo que os indivíduos e as
instituições se convertam em co-autores dos seus próprios conteúdos vitais, que
definitivamente assumam o seu papel de emissor de forma activa, aprendendo e
sendo capazes de se expressarem de forma vivencial e significativa.
Tal como o exercício físico exercita o corpo, as novas tecnologias exercitam a
mente.
75
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Todavia, não podemos deixar de ter em atenção que Portugal é um dos piores
países no que respeita à taxa de acesso à Internet. Muito trabalho ainda há para
fazer, tendo os trabalhadores sociais uma palavra importante a dizer no combate a
76
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
esta lacuna. Os números divulgados pelo Eurostat em Abril de 2006 não nos
podem ser indiferentes: apenas 31% das famílias portuguesas tem acesso à
Internet em casa, abaixo da média da União Europeia, de 48% e muito atrás de
países como a Holanda (78 %), Luxemburgo (77 %), Dinamarca (75 %), Suécia
(73 %), Alemanha (62 %) e Reino Unido (60 %). Atrás de Portugal, ficaram 6
países: Lituânia (16 %), República Checa (19 %), Grécia e Hungria (22 %),
Eslováquia (23 %) e Polónia (30 %). As taxas de info-exclusão em Portugal são
bastante acentuadas, sobretudo se comparados os valores com os registados nos
restantes parceiros comunitários. Os vários estudos permitem verificar que o
acesso e disponibilização das Tecnologias da Informação e Comunicação - vulgo
TIC - dependem sobretudo de factores como a idade, o emprego, o nível de
escolaridade e a região onde vive – urbana ou rural. A info-exclusão poderá ter
outras origens, tais como: falta de infra-estruturas ou acesso; falta de incentivos à
utilização das TIC; falta de capacidades de utilização das TIC.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Sei que sou idoso, o meu Bilhete de Identidade também o afirma. Nasci em 1931 e
já tinha um irmão 5 anos mais velho do que eu (…)
Mudanças radicais, não, não tive, mantive o meu estilo de vida, julgando que por
ele se deveu a maneira de pensar e agir que sempre tive.
Comer saudavelmente, beber com moderação, recusar bebidas fortes em álcool,
não fumar, não perder noites e até na sexualidade houve sempre peso e medida (ás
vezes não), viajando, viajando muito, alargando os conhecimentos de vida.
Abandonei o trabalho aos 72, sinto falta dele e arrependo-me de o ter feito, faz-me
falta o contacto humano e as preocupações que advinham dele.
Tenho um corpo direito, talvez um pouquito barrigudo, fruto da cadeira, continuo
a gostar de rir de fazer uma partida e contar uma boa anedota. Assim, este idoso
não se sente velho e de maneira nenhuma o é.
Tenho muita dificuldade em poder apreciar o que é ser velho, o que é ter
dificuldades de locução, de doença, porque não vivo essa realidade.
Estou convicto que quando em nossa casa, existe um velho doente, acamado e sem
possibilidades de se lhe poder dar assistência, será um drama naquele lar. E neste
momento em quantos lares, asilos ou simples casas com o nome pomposo de
repouso, haverá idosos em fim de vida a sofrerem por falta de apoio, dos
familiares, filhos sem coração, que recusam dar um carinho e apoio aos seus
78
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
progenitores, que tudo fizeram durante a sua existência retirando da sua frente os
escolhos que lhe podiam fazer frente
Alguns mesmo, retirando-lhe a possibilidade de desfazendo-se de bens materiais,
poderiam ter menos sofrimento durante o curto espaço da sua curta existência.
José Oliveira
79
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
A formação é tida, cada vez mais, como uma mais-valia em qualquer área do saber
ou de acção / intervenção. Tão importante como a formação de base, a formação
contínua (actualização de conhecimentos) deve ser estimulada e revestir-se de um
carácter de obrigatoriedade para todos os profissionais. Toda a literatura, seja
nacional ou internacional, apela para a necessária melhoria dos conhecimentos de
todos os profissionais ligados ao trabalho social. Os profissionais que trabalham
com idosos devem munir-se de todos os conhecimentos acerca das necessidades
específicas dos idosos, tendo especial atenção às situações de dependência e aos
seus cuidados. Na perspectiva de Bernal e Gutiérrez (2005), que subscrevemos, é
imprescindível que os profissionais de atenção primária recebam formação
geriátrica e gerontológica e mais concretamente no que concerne aos maus tratos.
Móran (2004) menciona que existe um claro défice de profissionais e técnicos
especializados na temática do envelhecimento. A carência destes recursos humanos
qualificados impede, por sua vez, a concretização de avanços nas investigações e
estudos que possibilitem um maior conhecimento da problemática, relativa aos
idosos e do seu processo de envelhecimento, conhecimentos indispensáveis para se
implementarem melhores decisões em prol desta população. Propomos,
sustentando a nossa opinião nas indicações dadas na literatura de diversos países,
que se promova uma formação interdisciplinar que analise o processo de
80
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Para chegar a esse patamar é preciso combinar esforços das áreas científicas
biomédicas, psicológicas e sociais. Acredita também que as questões ligadas ao
envelhecimento podem e devem ser resolvidas pelas disciplinas ou profissionais
implicados no conhecimento da velhice: Geriatria, Psicologia da Velhice,
Antropologia da Velhice, Sociologia da Velhice, Tanatologia, Direito, Trabalho
Social gerontológico, Pedagogia, Economia, entre outras. Leptihn (2007)
subscreve esta perspectiva e sublinha a necessidade de se traçarem objectivos
comuns às equipas de trabalho multidisciplinar e concede à comunicação uma
grande preponderância, considerando que esta deve ser uma preocupação constante
e deve chegar regularmente a todos os membros da equipa.
81
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
As pessoas que são vítimas de maus tratos e não utilizam os serviços médicos ou
sociais dificilmente se farão notar. Para agravar esta ocultação, existem barreiras
sociológicas e situacionais na hora de denunciar que se está a ser vítima e mau
trato. As instituições IMSERSO, SEGG e OMS (2006, pp. 31-34) estabelecem e
agrupam as várias barreiras que obstaculizam a detecção dos maus tratos: barreiras
presentes na possível vítima; relativas aos possíveis responsáveis pelos maus tratos
e/ou negligência; relativas a familiares; socioculturais; relativas aos profissionais e
estruturais.
Assim, por vezes, a própria vítima torna-se uma barreira porque tem medo de
represálias, nega, sente vergonha, considera-se culpada, tem problemas de saúde,
problemas cognitivos, desconhece a situação, os serviços que tem à disposição na
comunidade, os seus direitos e a gravidade da situação. O sistema de crenças é
também considerado um forte obstáculo. Muitas vezes o indivíduo julga que
ninguém o pode auxiliar, acredita que merece ser maltratado, crê que é um
problema familiar e portanto deve ser resolvido internamente sem o envolvimento
de estranhos, pensa que não vão acreditar nas suas declarações, crê que os maus
tratos que está a suportar resultam de um comportamento familiar normal, acredita
que ainda que conte a alguém nada vai mudar a situação que está a viver, pensa
que a situação terminará rapidamente, especialmente se o responsável pelo mau
trato prometeu que não voltaria a acontecer e crê que não pode confiar em
ninguém. Bernal e Gutiérrez (2005) afirmam que a negação é uma das barreiras
83
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
As barreiras por parte do responsável dos maus tratos e/ou negligência são a
negação (nega a sua existência); o isolamento (pode impedir que a vítima aceda
aos serviços médicos e sociais para evitar que os profissionais detectem os maus
tratos); o medo do fracasso (crê que se admite a existência da situação e procura
ajuda, está a aceitar que as coisas não ―correm bem‖ e que fracassou) e a recusa de
qualquer intervenção, após a confirmação dos maus tratos.
As barreiras relativas a familiares e amigos são a consequência destes não saberem
com quem devem falar da questão; não quererem envolver-se; não quererem
revelar que o mau trato está a ocorrer porque a vítima lhes pediu que não
informem.
Os obstáculos socioculturais que podem complicar a detecção dos maus tratos são
o idadismo (Ageism), isto é, as atitudes negativas, desfavoráveis e de discriminação
em função da idade, considerando os direitos das pessoas idosas como menos
importantes do que os dos outros membros da sociedade, diminuindo o valor que
se lhes concede como pessoas. Acrescem a falta de consciencialização sobre o
tema dos maus tratos e a percepção da situação como normal. No que concerne aos
profissionais, das diversas áreas de intervenção, sublinham a falta de formação
adequada para identificar correctamente os sinais ou indicadores dos maus tratos; a
desorientação acerca de linhas orientadoras de actuação (podem não estar
conscientes de que estão na presença de uma situação de mau trato); não possuir os
meios adequados para diagnosticar de forma diferenciada quando as pessoas idosas
se apresentam com lesões e traumatismos ou quando surgem com problemas de
desnutrição, desidratação13, hipotermia, etc. Outros obstáculos: assumir-se que a
família proporciona sempre apoio adequado e bons cuidados; não querer envolver-
se na situação para evitar interferir, por um lado, nas relações familiares entre a
pessoa idosa e o cuidador, por outro lado, na sua relação profissional tanto com a
pessoa idosa como com o possível responsável pelos maus tratos; a pessoa idosa
13
Hugonot (2007), afirma que é muito fácil matar um idoso, basta privá-lo da bebida! A privação
da água é uma arma temível. Refere que muitos idosos perdem a sensação da sede, a qual provoca
uma desidratação progressiva. Um grande número de iodos pode também falecer de ―Não sede‖.
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Reis (2000), propõe uma medida de despiste do abuso com base numa investigação
em que procurou verificar a importância de uma lista de 60 itens como indicadores
de abuso. Desses 60 itens iniciais verificou que 29 tinham importância enquanto
indicadores de abuso. Paralelamente constatou que outros itens habitualmente
relacionados como estando associados ao abuso, na realidade não se mostraram
associados na sua investigação. Dos indicadores que se mostraram associados
observou variáveis relacionadas com o cuidador e variáveis associadas com o
idoso. A tabela seguinte ilustra as associações encontradas e os números indicam
sequencialmente a força dessa associação.
13. Relação actual de baixa qualidade com o idoso 20. Tem problemas de álcool ou de medicação
14. Inexperiência na prestação de cuidados 21. Relação actual com o cuidador de baixa qualidade
24. Relação passada com o idoso de baixa qualidade 23. Tem problemas emocionais / mentais
25. Acusador
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Níveis de prevenção
Engloba acções destinadas a deter ou
prevenir alguma coisa de modo a que não
Prevenção primária afecte o idoso. Controlo de causas e de
factores de risco.
Prevenção secundária Reduzir a prevalência dos maus tratos
mediante a detecção precoce de situações
ocultas.
Intervenção precoce que impossibilite a
reincidência
Prevenção terciária Minorar os efeitos de uma situação
incapacitante e auxílio na recuperação do
nível máximo de funcionamento
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que vivem. Deve ser garantido o acesso aos direitos sociais que a sociedade deve
atribuir a todos os cidadãos. A prevenção de todos os riscos de exclusão social é
fundamental e é apresenta-se-nos notória a necessidade de criação de novos
recursos indispensáveis para a manutenção ou optimização da inserção do idoso e
dos grupos de idosos.
Vínculo
Dele para a sociedade Societário Do grupo para a sociedade
Vínculo Vínculo
individual Comunitário
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Qualidade
De vida
Potencial
adaptativo
Fonte: Nadal e Lluna (2003, p. 30). Una nueva vision del trabajo psicosocial en el
âmbito asistencial.
As intervenções devem ser alvo de constantes avaliações para que seja perceptível
a sua eficiência em cada caso. A utilização de uma estratégia não deve excluir a
utilização simultânea ou sucessiva de outras, muito pelo contrário, estas poderão
ser complementares entre si possibilitando uma maior eficácia. Leptihn (2007),
sugere-nos seis estratégias de intervenção: 1. Utilizar o presente como força de
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Consideramos que o trabalho com famílias deve ser executado, tendo por base um
processo de criação e de manutenção de um contexto de colaboração, no qual a
nossa responsabilidade, enquanto profissionais, é criar as condições para que esta
colaboração seja possível, para que nós, as pessoas idosas e as suas famílias
―estejamos no mesmo barco‖. Tal como em qualquer actividade em que haja
intercâmbio/contacto entre diferentes sujeitos, o seu trabalho ficar-se-á em grande
parte, a dever ao fruto da interacção estabelecida. Os técnicos desempenham um
importante papel na criação e manutenção das mudanças operadas na família,
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
assumindo uma responsabilidade pessoal e uma oportunidade única para fazer uma
diferença positiva em cada família com quem trabalha. Devem ser trabalhados
activamente vários aspectos: clarificação dos objectivos de todos os actores
envolvidos; estar atento aos objectivos do idoso e dos seus familiares (esforço
constante de “escuta activa”); ter um conhecimento profundo da dinâmica familiar
geral associada às situações de velhice, doença crónica e morte; transparência em
toda a informação com a família e com a pessoa idosa e fazer um uso cuidado da
linguagem, respeitando sempre a postura dos idosos e seus familiares.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Importa, pois, saber que direitos lhe estão garantidos pela lei e que medidas
jurídicas e para-jurídicas têm sido implementadas. Em Portugal, não existe uma lei
geral de protecção às Pessoas Idosas como existe, por exemplo, para os menores. O
Cidadão Idoso é visto como um adulto, com plena capacidade de exercício e como
tal sujeito de direitos e deveres.
Existe sim, uma preocupação especial com as Pessoas Idosas, dispersa por alguns
ramos do Direito. Seguidamente, faremos uma referência aos princípios e normas
legais aplicáveis:
Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais [Parte 1, Título 1, Título II, Capítulo 1 (Direitos,
Liberdades e Garantias Pessoais)]: art.º 13.º - Princípio da Igualdade; art.º 24.º Direito à Vida -;
art.º 25. ° - Direito à Integridade Pessoal -; art.º 26. ° - Outros direitos pessoais. art.º I8. ° - Força
jurídica dos preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias.
Artigo I8 - Força jurídica dos preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e
garantias.
1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias são
directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Código Civil
Responsabilidade Civil
Artigo 483. ° (Princípio geral)
1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na
lei.
Código Penal
Daremos especial atenção ao artigo 152. ° que tipifica o crime de maus tratos no Código Penal:
Artigo 152. °:
2.A mesma pena é aplicável a quem infligir ao cônjuge, ou a quem com ele conviver em
condições análogas às dos cônjuges, maus tratos físicos ou psíquicos.
3.A mesma pena é também aplicável a quem infligir a progenitor de descendente comum em 1.
° grau maus tratos físicos ou psíquicos.
4.A mesma pena é aplicável a quem, não observando disposições legais ou regulamentares,
sujeitar trabalhador a perigo para a vida ou perigo de grave ofensa para o corpo ou a saúde.
5.Se dos factos previstos nos números anteriores resultar:
a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de2a8anos;
b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
1. Nos casos de maus tratos previstos nos n.°s 2 e 3 do presente artigo, ao arguido pode ser
aplicada a pena acessória de proibição de contacto com a vítima, incluindo o afastamento
desta, pelo período máximo de dois anos.
Para que se inicie o procedimento criminal pelo crime de maus tratos do art.º
152. ° do Código Penal não é necessária queixa do ofendido. O Ministério Público
tem legitimidade para iniciar esse procedimento, bastando para isso que tenha
conhecimento da situação de maus tratos.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Alguns desses crimes são porém públicos, pelo que o procedimento criminal não
depende de queixa. (cfr. art.°s i66.°, 169.°, 17o.° e 178.°, n.°i, al. b) do Código
Penal.
Deve estar bem presente, na mente de todos os cidadãos, que as pessoas idosas têm
direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e
comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o
isolamento ou a marginalização social.
A política de terceira idade, ainda que recente e pouco profícua, engloba medidas
de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas
oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da
comunidade.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Na área da saúde, existem também alguns apoios específicos para esta camada
populacional: têm vindo a ser implementadas algumas Ajudas Técnicas; é dado
algum, ainda que escasso, apoio económico para despesas com medicamentos
fraldas e foi implementada a isenção do pagamento de taxas moderadoras no
âmbito do Serviço Nacional de Saúde.
Neste sentido, vale a pena atentar nos pressupostos, relativos ao cidadão idoso,
presentes no Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) referentes ao biénio
2006 / 2008. Na senda da Cimeira de Lisboa (Março de 2000), na qual foi
assumido, pelos diversos Estados-Membros, o compromisso de produzir um
impacto decisivo na erradicação da pobreza e da exclusão social, foram definidas,
na Estratégia Nacional de Pensões algumas directrizes no que visam: reforçar os
recursos destinados a reduzir os níveis e a severidade da pobreza dos idosos;
promover a convergência progressiva dos vários subsistemas de segurança social,
garantindo uma maior equidade e sustentabilidade económico, social e financeira
da protecção social; reformar o sistema de pensões, garantindo a sua adaptação ao
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
A linha telefónica gratuita de apoio aos cidadãos idosos foi criada pelo Provedor de
Justiça, após a Assembleia Geral das Nações Unidas ter proclamado o ano de 1999
como o Ano Internacional das Pessoas Idosas, sob o lema «Por uma sociedade para
todas as idades».
14
Sector da Assessoria especialmente vocacionado para instruir os processos relativos aos direitos
das crianças e jovens, dos cidadãos idosos, das pessoas com deficiência e aos direitos das mulheres,
tendo agregados também os serviços de atendimento telefónico ao Provedor de Justiça (a Linha
Verde Recados da Criança e a Linha do Cidadão Idosos).
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Unidade de Projecto
Direitos das mulheres Deficiência Cidadãos Idosos Infância e Juventude
1%
26%
46%
27%
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9%
2%
7% outros
Maus-tratos psicológicos
46% Maus-tratos físicos
Deficiência
22%
Negligência de cuidados
lares de idosos
14%
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Esta situação obrigou a repensar políticas e estratégias de actuação, que vão para
além da mera garantia da qualidade de vida dos idosos, passando por medidas
sociais, económicas, jurídicas e de protecção. Não basta declarar a existência do
direitos genéricos de todos os cidadãos, urge incrementar o reconhecimento
explícito dos direitos específicos das pessoas idosas. Neste sentido, têm-se
promovido algumas medidas, de âmbito internacional, para auxiliar as pessoas
mais idosas.
Antes de 1977, a questão do idoso não era abordada pela Assembleia Geral nem
pelas agências especializadas da Organização das Nações Unidas. O tema era
referido de maneira marginal na Organização Internacional do Trabalho (OIT), na
Organização Mundial da Saúde (OMS) e na Organização para a Educação, a
Ciência e a Cultura da ONU (UNESCO), como parte de suas actividades
especializadas, sem, contudo, ocupar em qualquer desses foros um lugar central.
Foi naquele ano que o Conselho Económico e Social (ECOSOC) adoptou a
resolução 32/132, pela qual convidava os Estados Membros a examinar a
conveniência de se convocar uma Assembleia Mundial sobre Envelhecimento. Um
ano mais tarde, a Assembleia Geral da ONU, na sua 33ª Sessão, adoptou a
resolução 33/52, pela qual decidiu convocar uma Assembleia Mundial de forma a
servir de fórum para a consideração do tema do envelhecimento e para elaborar um
plano de acção internacional com o objectivo de garantir a segurança económica e
social do idoso, bem como a identificação de oportunidades que contribuiriam para
o desenvolvimento nacional.
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Dignidade - Por fim, a secção intitulada Dignidade afirma que as pessoas de idade
deveriam poder viver com dignidade e segurança, e libertas da exploração e maus
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
Em síntese, os direitos das pessoas idosas são todos e cada um dos direitos
humanos, mas, entre estes, há que garantir com uma especial intensidade
protectora, o direito à saúde, o direito à igualdade, o direito à intimidade, o direito
a uma vida digna - no que diz respeito aos ao aspecto económico, educativo e
cultural - o direito a morrer dignamente e o direito à segurança pessoal face aos
possíveis maus tratos. Como sabemos, os direitos que acabámos de enumerar nem
sempre são respeitados, pois a realidade nem sempre se aproxima do idílico. Os
sonhos desejáveis transformam-se, mais vezes do que as desejáveis, em violações e
omissões dos direitos indicados. Facilmente se constata que a pessoa idosa se
transforma numa vítima propícia aos comportamentos inadequados relativamente
aos cuidados mais primários de atenção, cuidado e protecção. As formas de ataque
a que estão sujeitas estas pessoas são variadas, desde as mais levianas até às que
são passíveis de acção penal.
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“Resta ainda um grande caminho para percorrer, tanto no que se refere ao aumento
significativo dos meios económicos, como a formação dos intervenientes e, ainda
mais, no que se refere à evolução das mentalidades para que os seniores continuem
a desfrutar de todos os seus direitos e atributos, inalienáveis e sagrados, associados
à pessoa humana, já que a velhice não deve ser nem um naufrágio, nem uma
travessia no deserto, para recordar expressões dramaticamente célebres15”.
15
Cf. E.G. Krug et al. (Dir.) (2002, pp. 139-162); www.inpea.net (Consultado em 05/11/2006).
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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No fundo, muito fica por fazer para assegurar, de maneira preventiva, que os
idosos não se sintam privados dos seus múltiplos direitos: de opinião; de decisão;
ao próprio nome; ao espaço próprio; a uma boa alimentação; à privacidade; à
intimidade; ao acesso aos seus pertences; à cidadania; à dignidade humana.
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Considerações finais
Se a questão dos maus tratos tornou-se mais visível, como é patente neste estudo, é
igualmente claro que, nas sociedades ocidentais, como a sociedade portuguesa, o
idoso tem o estatuto social diminuto.
121
Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
A qualidade de vida que se pretende obter, através das medidas preconizadas, terá
inevitavelmente que ter em conta a capacidade de regenerar uma 3.ª e 4.ª idades
dando-lhe valências e competências que as tornem úteis e minimizando as
condições propiciadoras de maus tratos quase sempre relacionadas com situações
de dependência a vários níveis.
Para tanto, e para além das medidas que se preconizam, será necessário que a nova
era de informação cimente uma consciência colectiva que encare a velhice como
uma fase natural da vida a ser apoiada, respeitada e também vivida em toda a sua
plenitude, pese embora uma maior incidência das naturais limitações que sobre
eles recaem. Com isso a sociedade ficará mais rica e todos lucraremos. E assim
talvez diminuam os casos de abandono em lares e hospitais, onde a solidão mata
mais que a própria morte, e onde a crueldade de alguns filhos, ou parentes
próximos, espelha o individualismo duma sociedade materializada.
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Estudo sobre as medidas de intervenção social nos maus tratos ao idoso
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