Caso Prático I - Teoria Do Conflito

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CASO PRÁTICO 1 – TEORIA DO CONFLITO – CONCEITO E ANÁLISE DO

CONFLITO

A) PERSPECTIVA DE PAZ E VIOLÊNCIA ENTRE IRAQUE E EUA


Em termos de paz no conceito mais básico, a ausência de violência (direta),
percebe-se que EUA e Iraque sempre estiveram envolvidos em confrontos, guerras,
conflitos marcados por interesses de expansão política e econômica.
Na análise é possível vislumbrar aspectos pontuais da teoria geral do conflito,
através de diversas definições de violência, da simples e direta, violência física e
psicológica projetadas em atos, até a violência truncada, devido a sensação constante
de ameaça física e mental entre esses países. Quer dizer, sempre houve uma
animosidade, por isso, já é enraizada uma crença popular negativa sobre a cultura do
“muçulmano”, do “terrorista”, assim como, ao contrário, a imagem do “gringo” é cada
vez mais assimilada ao capitalismo desumano.
Conforme Johan Galtung (1985) e seu estudo da tipologia da violência, a
violência enfocada no sujeito (“o outro é o inimigo”) é demonstrada através da
edificação da violência (de todos os tipos) na estrutura social/cultural, admitindo até
uma percepção de violência latente entre as sociedades em questão, mas inclusive,
entre vários outros países com os mesmos interesses próprios.
Diante disso, é certo que vai muito além de uma disputa objetiva pelo controle
do petróleo do Oriente Médio, o conflito se baseia e se alimenta de uma violência
cultural/estrutural, que enfatiza as diferenças em aspectos culturais, religiosos, de
ideologias, linguagem, ciências, etc.
A relação entre EUA e Iraque é hostil fundada nas crenças e atitudes de cada,
é desequilibrada devido a assimetria de poder e o conflito já ultrapassou a percepção
ou consciência, tendo resultado diversas consequências trágicas que perpetuam em
ambas as sociedades e culturas.
No caso do triângulo da violência, criado e idealizado por Johan Galtung
(1990), é possível verificar que a relação de Iraque X EUA seria um desenho que
projeta a violência estrutural institucionalizada e a violência cultural internalizada,
tendendo a violência direta ser implementada cada vez mais de forma repetitiva,
ritualística, institucionalizada. Assim se explica a trajetória do ciclo deste conflito
partindo do contexto apresentado no caso.

B) PERSPECTIVA DE GATUNG E BURTON


Os pontos principais entre ambos os autores Burton (1979) e Galtung (1980)
é a constatação de que a negação das necessidades humanas origina o conflito e a
resolução está na satisfação de tais necessidades. Fica evidente na análise do
conflito entre EUA e Iraque que vai para além do que uma disputa pelo controle do
petróleo do Oriente Médio.
A teoria do conflito de Burton (1979, 1984, 1987, 1990a, 1991) indica que as
motivações humanas estão associadas às necessidades, aos valores e aos
interesses humanos. Ainda, o autor indica que em certas circunstâncias dentro do
cenário internacional, como no caso do terrorismo, é improvável uma solução única,
devendo o enfoque ser a prevenção.
Galtung (1980) constrói o triângulo do conflito baseado na atitude emotiva ou
cognitiva, no comportamento e no conflito em si.
Para o EUA os interesses são relacionados ao seu poder político e
econômico aumentar, autoafirmação da sua identidade diante dos iraquianos e
demais países, motivados em valores de uma percepção individualista e a visão do
outro como o “inimigo”. A necessidade é de segurança/proteção/defesa quanto ao
comportamento “do outro”, além de mais controle no petróleo do Oriente Médio,
principal objetivo perseguido.
Quanto ao Iraque, seus interesses são: expandir o poder, a influência, militar,
política e cultural, suas motivações são no sentido de preservação da identidade e
segurança/proteção da nação. A necessidade é de defesa política, cultural e
econômica. E os valores fundados na mesma visão de o outro como o “inimigo”,
além de um sentimento de uma resposta ou contra-ataque, vingança.

C) CICLO DO CONFLITO ENTRE EUA E IRAQUE


A primeira fase do conflito entre os EUA e Iraque é resultado das crenças e
atitudes de ambos os países pautados numa relação marcada por ambiguidades.
Estas crenças e atitudes negativas na fase que antecede o conflito são relacionados
ao fato de o EUA agir de uma maneira a priorizar seus interesses econômicos
próprios, como o controle do petróleo do Oriente Médio, a partir de uma visão de
que os países de lá são como o “inimigo”.
E nesta relação em específico é evidente a não separação do país iraquiano,
enquanto nação, do regime político e o principal personagem do contexto em
análise: Saddam Hussein. Além disso, a desestabilidade política e a guerra religiosa
constante nesta zona do planeta contribuem para um cenário cada vez mais fértil
em disputas de influências, riquezas e poder.
Apesar do Iraque ter sido aliado da União Soviética na década de 70, no
confronto Irã-Iraque 10 anos depois, o EUA foi seu apoiador, assim como a França,
Itália e Alemanha. Somente quando Hussein invadiu o Kuwait e iniciou a Guerra do
Golfo houve a ruptura que iniciaria os confrontos fatais entre EUA e Iraque.1

1
G1, Globo.com (2006). Saddam Hussein já foi um aliado cortejado pelo Ocidente. Na década de 70,
o mundo mantinha boas relações com Saddam. A partir de 90, Saddam transformou-se num "novo
Na fase 2 abrange o conflito enquanto a ação inicial da guerra, advindo das
crenças, e principalmente das atitudes tomadas por ambos os países. A Guerra do
Golfo compreendeu em uma operação-missão de ataque, como punição ao Iraque
pela invasão do Kuwait, autorizado pela ONU e apoiado por diversos países. A partir
de então, a escalada do conflito é cada vez mais evidente.
Marcados pelo aumento do número de pessoas envolvidas, a grande
repercussão negativa quanto às razões empregadas pelos EUA, ONU e demais
países para justificar o bombardeio, ou seja, a orientação motivacional individualista
destes agentes de interesses políticos e econômicos próprios, indiferentes às
consequências sofridas pelos iraquianos como mais instabilidade política, piora na
qualidade de vida, e ainda, reféns de um programa de alimentos por petróleo
proposto pela ONU.
Mais uma contribuição para a intensificação do conflito foi o bombardeio
realizado em 1993 pelo EUA, fundamentado por uma possível conspiração contra o
presidente na época, George W. Bush. Configurando uma busca de evidência
confirmadora por parte dos EUA através de uma distorção atribucional em relação
ao “inimigo”. Em outras palavras, a atitude de atacar o Iraque é de intenção
provocativa, partindo da crença que o EUA tem em relação a atitude,
comportamento, conduta terrorista dos iraquianos.
Em complemento à análise da escalada, para então, finalmente adentrar às
fases finais do conflito, demonstrando uma progressão de táticas mais brandas à
mais agressivas (e mortais) por parte dos EUA. Em 1998, a partir da análise da
Comissão Especial da ONU que investigava o governo de Saddam Hussein, foi
realizada uma missão de ataque à fábricas de armas químicas. Indicando uma
percepção cada vez mais seletiva, forçando uma “profecia de autocumprimento” que
vem sendo semeada desde 1993, para aquém, demonstrando todas as expectativas
em relação à resposta do governo iraquiano.
E o envolvimento iraquiano produziu a resposta, em 11 de setembro de 2011
com o ataque ao World Trade Center, configurando a terceira fase da análise deste
conflito.
Por fim, fase 4, o resultado: Guerra contra o Iraque em 2003. Com o objetivo
de eliminação do regime de Saddam Hussein. Sem prudência ou proporcionalidade
e estimativa de 400.00 a 1.000.000 de vítimas, incluindo majoritariamente não
combatentes.
Apesar da tentativa de Barack Obama de estancar o conflito na relação entre
os países em 2009 e ter concluído a retirada das tropas americanas em até 2011 do
território iraquiano, foi obrigado a combater o Estado Islâmico, principalmente em no
ano de 2014.2

Hitler". Recuperado em 21 setembro, 2020, de http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1404224-


5602,00.html
2 Morgade, A. (2020). EUA X Irã: o que originou a rivalidade de décadas entre os dois países. BBC

News Mundo. Recuperado em 23 setembro, 2020, de https://www.bbc.com/portuguese/internacional-


51029316
Em 2018, Donald Trump retirou o EUA do acordo nuclear assinado por
Barack Obama e reestabeleceu sanções contra ao Irã. O que tensionou ainda mais
a relação com o atual presidente do Iraque, pois não concorda que o EUA
permaneça em território iraquiano com suas bases e tropas para “observar” o Irã.3
Em resumo, o atual cenário demonstra a infindável disputa de poder e
petróleo que trava o EUA contra o Irã, estando o Iraque eternamente atado à um ou
outro, ora em confronto, ora em aliança., sempre a depender do interesse e
conveniência das nações envolvidas.4

REFERÊNCIAS

[1] G1, Globo.com (2006). Saddam Hussein já foi um aliado cortejado pelo Ocidente.
Na década de 70, o mundo mantinha boas relações com Saddam. A partir de 90,
Saddam transformou-se num "novo Hitler". Recuperado em 21 setembro, 2020, de
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1404224-5602,00.html;

[2] Morgade, A. (2020). EUA X Irã: o que originou a rivalidade de décadas entre os
dois países. BBC News Mundo. Recuperado em 23 setembro, 2020, de
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51029316;

[3] Taylor, A. (2020). Entenda por que o Iraque está no centro da disputa entre o Irã
e os EUA. Tensão entre os países é bastidor do ataque à embaixada em Bagdá. Folha
de S. Paulo. The Washington Post. Recuperado em 23 setembro, 2020, de
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/01/entenda-por-que-o-iraque-esta-no-
centro-da-disputa-entre-o-ira-e-os-eua.shtml;

[4] Barrucho, L. (2020). A relação entre EUA e Irã em 10 capítulos. BBC News Brasil
em Londres. Recuperado em 23 setembro, 2020, de
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51036728.

3Taylor, A. (2020). Entenda por que o Iraque está no centro da disputa entre o Irã e os EUA. Tensão
entre os países é bastidor do ataque à embaixada em Bagdá. Folha de S. Paulo. The Washington
Post. Recuperado em 23 setembro, 2020, de https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/01/entenda-
por-que-o-iraque-esta-no-centro-da-disputa-entre-o-ira-e-os-eua.shtml
4 Barrucho, L. (2020). A relação entre EUA e Irã em 10 capítulos. BBC News Brasil em Londres.

Recuperado em 23 setembro, 2020, de https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51036728

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