LIVRO Ergonomia

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Ergonomia

Ergonomia

Fabiana Raulino da Silva


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
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André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silva, Fabiana Raulino da


S586e Ergonomia / Fabiana Raulino da Silva. – Londrina :
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
208 p.

ISBN 978-85-522-0139-7

1. Ergonomia. I. Título.

CDD 620.82

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Ergonomia: conceitos e história 7

Seção 1.1 - Conceituação, históricos e diretrizes da ergonomia 9


Seção 1.2 - Domínios e abordagens da ergonomia 25
Seção 1.3 - Diagnose ergonômica do sistema humano x tarefa 39

Unidade 2 | Macroergonomia 55

Seção 2.1 - Etapas, métodos e técnicas da intervenção ergonômica


57 Seção 2.2 - Fisiologia humana e sobrecargas no trabalho 71
Seção 2.3 - Atividade do ergonomista 89

Unidade 3 | Legislação voltada para a Ergonomia 103

105
Seção 3.1 - NR 17 e anexos 120
134
Seção 3.2 - Ergonomia e os Sistemas de Gestão Integrados

Seção 3.3 - Legislação, Normas e Regulamentações

Unidade 4 | Aplicação da Ergonomia 153

157
Seção 4.1 - Projetação ergonômica do sistema humano x tarefa x
171
máquina Seção 4.2 - Aspectos psicológicos, cognitivos e mentais
187

Seção 4.3 - Critérios e estimativas


Palavras do autor
Prezado aluno, estamos felizes que esteja iniciando seus
estudos na disciplina de Ergonomia. Essa ciência tem como
objetivo principal adaptar as condições de trabalho às pessoas que
o executam, de forma a garantir maior segurança, saúde e
desempenho eficiente. Dessa forma, através da ergonomia,
podemos analisar o trabalho de perto e de forma sistêmica,
compreendendo sua realidade e, assim, realizando ajustes que
considerem as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas. Portanto, reflita sobre a importância de estudar essa
disciplina! Ao longo de sua trajetória profissional, você será
desafiado a reconhecer aspectos do trabalho que necessitam de
intervenção e poderá realizá-la com maior domínio técnico-
científico.
Existe uma obrigatoriedade legal de todas as empresas
realizarem uma análise ergonômica do trabalho para identificar e
propor melhorias aos problemas existentes. No Brasil, essa
obrigatoriedade surge da Norma Regulamentadora 17, do
Ministério do Trabalho e Emprego. Além de se ater às questões de
fiscalização e multas, empresas de todos os segmentos têm
aumentado seus interesses na ergonomia não apenas para atender
à legislação mas também para melhorar seus processos e reduzir
os riscos de acidentes e doenças do trabalho.
Portanto, na Unidade 1 desta disciplina, aprenderemos sobre
os conceitos, as abordagens e os domínios da ergonomia,
compreendendo sua origem e formas de aplicação. Em seguida,
na Unidade 2, estudaremos a metodologia da Análise Ergonômica
do Trabalho, com suas etapas, abordagem interdisciplinar e
compreensão da atuação do ergonomista. Na Unidade 3,
avançaremos entendendo a ergonomia pela perspectiva legal,
compreendendo quais leis, normas regulamentadoras e normas
técnicas possuem interlocução com essa ciência. Por fim,
concluímos nossos estudos com a Unidade 4, que tratará da
aplicação da ergonomia na prática, abordando sua ação social, as
formas de contrato, os tipos de projeto e as formas de atuação
para implantar as transformações no trabalho. Assim, convidamos
você a iniciar essa jornada que abordará conhecimentos sobre o
corpo humano, sistemas e história do mundo do trabalho. Então,
vamos começar nossos estudos!
Unidade 1

Ergonomia: conceitos e
história

Convite ao estudo
Prezado aluno,

Vamos começar a nos familiarizar com os conceitos


e as metodologias da ergonomia. Desta forma, você irá
compreender que nem sempre o trabalho está adequado às
características físicas e mentais das pessoas, podendo levar
a acidentes e ao adoecimento. Nesta primeira unidade de
ensino, entenderemos como as transformações no mundo do
trabalho levaram ao surgimento de aspectos que consideram
cada vez menos as necessidades do ser humano. Hoje, tudo
está mais rápido e informatizado. As empresas querem ter
cada vez mais padrões de qualidade e processos
controlados, criando regras e métodos que, muitas vezes,
desconsideram o ser humano e suas necessidades.

Nesta unidade, você conhecerá os conceitos de


ergonomia, o histórico do mundo do trabalho e como as
pessoas podem adoecer por problemas existentes na
interação entre o ser humano com outros elementos ou
sistemas. Ao finalizar as Unidades 1, 2 e 3, você terá
compreensão de todas as etapas para se realizar uma
Análise Ergonômica do Trabalho e propor soluções para
transformar o que não está adequado. Finalizaremos com a
Unidade 4, na qual aprofundaremos nossos conhecimentos a
respeito de como a ergonomia pode transformar o mundo do
trabalho socialmente e quais os tipos de projetos e atuações
são possíveis dentro dessa abordagem.

Ao final da Unidade 1, você terá atingido os objetivos do


estudo e será capaz de responder o que é a ergonomia,
como ela é regulamentada no Brasil, e quais são seus
principais
objetivos como ciência. Além disso, saberá os princípios
da interação do ser humano com outros elementos e
sistemas, aspectos do trabalho real, diferenças entre tarefa e
atividade, a importância da compreensão do trabalho e como
realizar uma diagnose ergonômica.

Para facilitar a compreensão dos conteúdos, será


apresentada uma situação hipotética, na qual você é
chamado para fazer parte de uma equipe de prevenção a
riscos ergonômicos de uma empresa do ramo de
cosméticos. A equipe é constituída por um médico do
trabalho, um engenheiro, um técnico de segurança e
quatro trabalhadores do setor de produção. É a primeira
vez que a empresa cria uma equipe para analisar as
questões voltadas à ergonomia, e nenhum dos integrantes
tem experiência na área. Você, que está iniciando seus
estudos na área, é o que mais conhece a respeito dessa
ciência, e o dono da empresa pede que você oriente os
demais membros dessa equipe sobre a importância da
ergonomia e sobre os principais aspectos que deverão ser
analisados para, posteriormente, serem indicadas
propostas de melhoria. Dentro desse cenário, você
consegue imaginar como pode orientar a equipe para que
esse trabalho seja realizado de maneira que todos estejam
alinhados?

Em cada seção desta unidade, você irá aumentar seus


conhecimentos em ergonomia e irá ajudar sua equipe a
compreender o que, sua importância na empresa e quais
as vantagens de se ter processos e elementos que sejam
adequados a todos.

Você será o principal responsável pelo sucesso dessa


equipe e pelas melhorias nos processos da empresa. Vamos
iniciar nossos estudos! Lembre-se de que passamos grande
parte da nossa vida trabalhando. Todo trabalho se reflete
profundamente na vida e na felicidade da pessoa que o
executa. Desperte o ergonomista que existe em você e vamos
aprender a transformar o trabalho das pessoas para que elas
tenham o máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente!
Seção 1.1
Conceituação, históricos e diretrizes da ergonomia
Diálogo aberto
Relembrando a situação-problema do Convite ao estudo, você
é um profissional de uma empresa do ramo de cosméticos e o
único integrante da equipe que sabe sobre ergonomia. O dono da
empresa chama você para uma conversa para alinhar como será a
primeira reunião com a equipe que irá analisar e atuar de maneira
prevencionista com relação aos riscos ergonômicos existentes no
local de trabalho. Pelo discurso dele, você percebe que ele
relaciona ergonomia apenas a aspectos de postura e mobiliário, e
que não tem claras a importância e a forma como deve atuar
frente a essas questões. O norteamento dessa conversa será
essencial para iniciar os trabalhos com a equipe. Dessa forma,
como você explicaria o que é ergonomia? Qual a importância da
ergonomia nas empresas? Quais vantagens para a empresa e para
o trabalhador são obtidas por meio da ergonomia?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada na seção Não pode faltar. Bons estudos!

Não pode faltar

Quando pesquisamos sobre ergonomia, especialmente em


buscas pela internet, encontramos assuntos ligados à postura e ao
mobiliário. Mas, afinal, o que é ergonomia?

Ergonomia: conceito e definições


Ergonomia é a ciência que visa entender como o ser humano
interage com outros sistemas e elementos do trabalho e modificar
essa interação para que haja maior conforto, segurança e
desempenho eficiente. Em outras palavras, é seu papel planejar,
fazer projetos, avaliar tarefas, postos de trabalho, sistemas, metas,
ritmos, ambientes

U1 - Ergonomia: conceitos e história 9


e outros elementos, a fim de propor mudanças para otimizar o
bem- estar do ser humano e o desempenho global do sistema.
Imagine que uma pessoa trabalha na portaria de um prédio. Se
você perguntar a qualquer um o que ela faz, irão dizer que apenas
faz controle de entrada e saída de pessoas e materiais. Mas é
muito mais que isso! Apenas quem realiza o trabalho sabe a realidade
de seu dia a dia. Será que essa pessoa recebeu um bom
treinamento para realizar seu trabalho? Ou aprendeu sozinha? Ela
sabe executar todas as funções? Ou até hoje cria estratégias para
não lidar com o que não sabe (por exemplo, escrever informações
em um papel em vez de acessar um sistema difícil de manusear)?
Essa pessoa possui um bom sistema de computador, de fácil
entendimento e ágil que auxilie em sua tarefa? A iluminação da
guarita é adequada? Existe algum horário em que ela não dá conta
de atender a todas as demandas ao mesmo tempo? Essa pessoa
precisa se comunicar com outras para fazer seu trabalho? Ela
sempre tem todas as informações necessárias? Esses são apenas
alguns questionamentos para que perceba que todo trabalho é
complexo. Uma visão sistêmica de tudo que acontece é essencial
para que possamos melhorar o trabalho.
O nosso trabalho possui algumas regras e métodos que
não favorecem as nossas escolhas e atitudes. Mesmo que haja
dificuldades, erros, problemas e limitações, o interesse do
trabalhador é sempre usar seu corpo e sua inteligência para atingir
os resultados esperados. Muitas vezes, o esforço é tanto que a
pessoa adoece, se distrai ou precisa criar mecanismos auxiliares
para que possa realizar seu trabalho, o que pode levar à perda de
tempo e retrabalho.
Isso tudo acontece porque nem sempre quem cria o trabalho é
quem o executa. Muitas vezes, seu trabalho está sendo controlado
por pessoas e sistemas que não interagem diretamente com você,
o que faz com que não percebam alguns aspectos da realidade
que influenciam diretamente no seu fazer profissional.
Algumas empresas são tão grandes e possuem tantos
departamentos que a informação se perde. São vistos apenas os
números, as vendas, e são propostas reuniões e ações que não
condizem com a realidade. Nem sempre os trabalhadores se
sentem seguros para expor suas ideias e dificuldades, e, muitas
vezes, essas dificuldades são vistas como “parte do negócio”, “o
trabalho é assim mesmo”, “se não aguenta, vai embora”. Dessa
1 U1 - Ergonomia: conceitos e
forma, inúmeras

U1 - Ergonomia: conceitos e história 11


empresas possuem um número gigantesco de pessoas com
afastamentos médicos e com uma alta rotatividade de funcionários
que não suportaram trabalhar nas condições impostas.
Situações como essas não acontecem apenas em grandes
empresas. Empresas de todos os portes e segmentos possuem
suas características particulares e problemas relacionados À
ergonomia. É por isso que, no Brasil, existe a Norma
Regulamentadora 17, do Ministério do Trabalho e Emprego, criada
para regulamentar a ergonomia em todas as empresas do país.
Nessa norma é citado que todas as empresas são obrigadas a
realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, feita por um
ergonomista, profissional que possui conhecimento na área, e tem
como objetivo compreender o trabalho real para realizar
transformações que melhorem a saúde e o desempenho das
pessoas e do sistema.
Todos nós sabemos algo sobre o trabalho por experiência
própria ou pelo que pessoas próximas já nos contaram. Se você
pensar bem, conseguirá se lembrar de alguma situação de
trabalho e de alguns aspectos que poderiam afetar seu
desempenho, sua segurança e sua saúde.
Mas como analisar as situações de trabalho sem que nossa
base seja apenas nosso julgamento e percepções pessoais? A
ergonomia traz uma metodologia de estudo em que a
compreensão do trabalho real acontece em etapas, sempre
discutindo quais são as incongruências entre o que se espera e o
que realmente acontece no trabalho. O ergonomista exerce papel
imparcial e relata todos os aspectos do sistema e da atividade
humana que devem ser revistos para melhorar o trabalho.

Histórico: as mudanças no mundo do trabalho


Se pensarmos no conceito de ergonomia, ela existe desde a
Idade da Pedra. O homem, ao criar utensílios de pedra lascada,
descobrir o fogo e inventar a roda, já estava melhorando as
condições de seu trabalho. Porém, como ciência, o termo
ergonomia foi utilizado apenas em 1857 pelo polonês
Jastrzebowski, em um trabalho intitulado Ensaios da ergonomia, ou
ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a
natureza. O termo vem das palavras gregas ergon (trabalho) e
nomos (regras).
1 U1 - Ergonomia: conceitos e
Veremos mais detalhes sobre o histórico da ergonomia no Brasil
e no mundo na Unidade 3, mas, para este momento, é importante
que lembremos as transformações do mundo do trabalho ao longo
dos anos para assim entender o contexto socioeconômico da
ergonomia e a importância dessa ciência nas empresas.
Antes do ano de 1700, o trabalho era predominantemente
artesanal. Artesãos realizavam seu trabalho com seus próprios
métodos e no tempo que conseguiam. Tudo era único. Cada um
prestava um serviço e fabricava um produto de forma única e do
seu próprio jeito. Com a Revolução Industrial e a chegada de
máquinas, do motor a vapor e a constante industrialização dos
processos, tornou-se necessária uma organização dos
trabalhadores, agora dentro das empresas.
Tudo ficou mais rápido e automatizado. Houve uma grande
divisão das tarefas. Trabalhadores passaram a ser especializados
em fragmentos do processo, e não mais na construção do todo,
como ocorria com os artesãos.
Assim, surge a Administração Científica do Trabalho, trazida
por Frederick Winslow Taylor. As empresas passam a mapear os
processos e a cronometrar cada ação de cada trabalhador. Em
1911, Taylor apresenta os princípios fundamentais da
Administração Científica: substituição de métodos empíricos por
procedimentos científicos (o trabalho deve ser planejado e testado,
seus movimentos decompostos a fim de reduzir e racionalizar sua
execução); selecionar os operários de acordo com as suas
aptidões e, então, prepará-los e treiná-los para produzirem mais e
melhor; controlar o desenvolvimento do trabalho para se certificar
de que está sendo realizado de acordo com a metodologia
estabelecida e dentro da meta; distribuir as responsabilidades para
que o trabalho seja o mais disciplinado possível.
Imagine: a alta repetitividade de gestos, cada trabalhador
isolado em sua tarefa sem conhecer o todo, a falta de significado
no trabalho, a pressão por produtividade, a indução de ritmos e a
maquinação. Isso tudo trouxe uma disciplina que reduziu o ser
humano a um simples realizador de tarefas.
Em seguida, baseado nos ensinamentos de Taylor, surge
Henry Ford, nos Estados Unidos, e implanta a Linha de Produção.
Agora, posicionadas ao longo de uma esteira ou linha, as pessoas
passam a produzir grandes volumes a baixo custo.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 13


Naquela época, nas fábricas da Ford, centenas de pessoas de
diversos países eram treinadas para fazerem tarefas
fragmentadas. Elas vinham de diversos lugares do mundo e
aprendiam o mínimo do idioma para fazerem apenas uma tarefa.
As empresas começaram a induzir ritmos e métodos cada vez
mais controlados. No Japão, baseados nos ensinamentos de Taylor
e Ford, as fábricas da Toyota aperfeiçoam ainda mais essa
mecanização de processos e pessoas, reduzindo cada vez mais os
tempos e sistematizando cada vez mais os processos.
Essas mudanças no mundo do trabalho trazem o destaque,
desde Taylor (e especialmente por ele), da divisão do trabalho,
em que quem o concebe (quem estabelece as regras) não é
mais quem o executa. Ocorrem, portanto, muitas representações
erradas, preconceituosas e que reduzem o trabalho, considerando
o trabalhador como mero executante, que não precisa pensar, que
não adoece, e que pode ser controlado.
As transformações que podem ser citadas através do
Taylorismo, Fordismo e Toyotismo nos trazem para um cenário de
empresas que querem cada vez mais máquinas e processos e se
preocupam cada vez menos com as pessoas.
Mesmo que o trabalho ocorra cada vez mais rápido e de forma
cada vez mais controlada por números e processos, o ser humano
ainda usa de si, do seu corpo e de sua inteligência para fazer com
que os resultados sejam atingidos da melhor forma.

O trabalho real: principal enfoque da ergonomia


Jamais podemos ignorar que o trabalho é realizado por
pessoas. Podem existir cada vez mais máquinas, sistemas
informatizados e processos, mas ainda são as pessoas que
fazem com que o trabalho aconteça. E essas pessoas sentem,
pensam, agem, decidem, memorizam, controlam, aprendem,
envelhecem, cansam, colaboram, competem, executam, criam e
representam a empresa para outras pessoas.
Quando você compra um celular e ele apresenta problemas, é
com uma pessoa que você fala. Quando você está com fome, é
uma pessoa que lhe atende e faz sua comida no restaurante.

1 U1 - Ergonomia: conceitos e
Pense bem: se você liga para a empresa e alguém não lhe
trata da forma adequada, você culpa a empresa! Se o carro não
funciona, você diz que a empresa não fabrica bons carros. Se a
comida não foi bem-feita, você diz que aquele restaurante não é
bom.
Dessa forma, a ergonomia surge para que a realidade seja
entendida: pessoas estão fazendo o trabalho e os aspectos reais
dele não podem ser ignorados.
Não basta instalar um sistema, é preciso ver como ele funciona
no dia a dia e treinar as pessoas que vão utilizá-lo em situações
reais. Se esse sistema apresentar problemas ou incongruências, a
pessoa que o utiliza deve receber auxílio, e a empresa deve
entender que os erros foram motivados pelo sistema, e não pela
pessoa.
Hoje em dia, a necessidade de controlar o trabalho é tão
grande que as empresas criam metas, indicadores de desempenho,
regras e sistemas que cada vez mais buscam controlar e culpar as
pessoas por erros e falhas.
Ao fazer isso, a empresa ignora o que realmente está
acontecendo e busca soluções que não melhoram a realidade, e sim
criam paliativos que funcionam cada vez menos.

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Você vai a uma consulta médica. Chegando lá, o sistema que o
médico utiliza para fazer sua receita não funciona. O médico fica
preocupado e leva mais tempo para lhe atender. Os outros pacientes
aguardam aflitos com o atraso, e a recepcionista do local precisa
responder a todos sobre o porquê da demora. O médico tenta fazer
o sistema funcionar e não consegue, fazendo a receita de seus
medicamentos à mão, mas sabendo que precisará lançar no sistema
posteriormente para gerar um controle de suas consultas. Ao sair do local,
você recebe uma mensagem perguntando como foi o atendimento.
Você dá uma baixa pontuação devido ao problema do sistema. A
empresa, então, entende que aquela pontuação baixa diz respeito ao
médico e, por isso, ele deve ser penalizado de alguma forma por não ter
atendido às expectativas do cliente.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 15


Perceba que é preciso que a empresa entenda o que realmente
aconteceu e melhore a interação do ser humano com aquele
sistema. Porém, muitas vezes, apenas as pessoas são penalizadas, e

1 U1 - Ergonomia: conceitos e
isso vai acontecendo até que elas adoeçam ou decidam
abandonar aquele trabalho.
Assim, a ergonomia surge como uma ciência que busca não
apenas preservar a saúde das pessoas mas também fazer uma
construção social no mundo do trabalho, no qual as pessoas
sejam mais valorizadas, e não apenas os processos.

Caracterização e desenvolvimento da ergonomia


Quando falamos de trabalho, precisamos lembrar que as
pessoas são diferentes e mudam ainda mais ao longo do tempo.
Homens são diferentes de mulheres. As pessoas diferem em
altura e peso. Com o passar do tempo, envelhecemos, mas
também acumulamos experiência e conhecimento. Quanto mais
realizamos uma tarefa, mais sabemos sobre ela. Quanto mais tempo
permanecemos na empresa, mais conhecemos os processos e
acumulamos conhecimento que pode ser compartilhado com os
demais.
Em uma empresa, todos os trabalhos são interdependentes, e
a regulação dessas interações acontece através das pessoas.
Entender de perto o que acontece em cada trabalho e expor a
realidade a todos os interlocutores é papel fundamental da
ergonomia.
Dessa forma, o trabalho real é o principal enfoque da
ergonomia. Para isso, didaticamente, podemos dividir as dimensões
de estudo da ergonomia em: a) aspectos físicos (Ergonomia Física):
estuda anatomia humana, fisiologia, biomecânica e suas relações
com o trabalho, identificando posturas, esforços físicos,
movimentos repetitivos, aspectos relacionados ao levantamento e
transporte de cargas, postos de trabalho inadequados,
ferramentas de difícil manuseio e outros elementos que possam
gerar sobrecarga osteomuscular no ser humano; b) aspectos
cognitivos (Ergonomia Cognitiva): estuda processos mentais,
como sensação, percepção, cognição, memorização, raciocínio e
tomada de decisão; c) organização do trabalho (Ergonomia
Organizacional): estuda as regras, estruturas organizacionais,
tempos e métodos da empresa, verificando formas de realizar o
trabalho, ritmos, pausas, metas, regulamentações, padrões
exigidos, entre outros.
Perceba que um trabalho não é realizado apenas pelos
U1 - Ergonomia: conceitos e história 17
aspectos físicos de uma pessoa. Essas três dimensões ocorrem

1 U1 - Ergonomia: conceitos e
simultaneamente, por isso é essencial lançar um olhar sistêmico
sobre todas elas.
A ergonomia está diretamente relacionada ao trabalho, e
cada trabalho é único. Essas três dimensões sempre precisam
ser consideradas de forma sistêmica, tratando cada situação de
trabalho com suas peculiaridades. Atualmente, o mercado utiliza
o termo “ergonômico” para alertar o consumidor que seu produto
foi concebido preocupando-se com o design, com seu formato
e aspectos físicos de interação com o usuário. Você já deve ter
escutado termos, como “cadeira ergonômica”, “mesa ergonômica”,
“design ergonômico”. Porém, se pensarmos com cuidado,
veremos que nenhuma cadeira é adequada para todos os tipos de
situação de trabalho que existem; nenhum banco de carro será
confortável para todas as pessoas que se sentarem nele. Dessa
forma, utilizar o termo “ergonômico” apenas pelas características
físicas de um objeto não está correto.

Assimile
Como você pôde perceber no texto, o principal papel da ergonomia é
adaptar o trabalho ao ser humano que o executa, considerando seus
aspectos físicos, mentais e as características da organização do
trabalho. Perceba que, ao falarmos em “organização”, não estamos
nos referindo ao contrário de “bagunça”. O termo “organização do
trabalho” vem da engenharia e diz respeito a regras, ritmos e
processos existentes na empresa para controlarem como o trabalho é
realizado. É importante, caro aluno, que você perceba que em todo
trabalho devemos observar
as características da organização, assim como os aspectos físicos
e psicológicos do ser humano que executa o trabalho. Essas três
dimensões não ocorrem separadamente.

Para isso, é preciso saber que a ergonomia é interdisciplinar,


pois ela lança um olhar sobre o trabalho de diversas perspectivas,
sempre considerando, acima de tudo, a visão do próprio
trabalhador. É papel do ergonomista traduzir o que a pessoa
entende sobre seu próprio trabalho e o que pode ser melhorado
para que este seja realizado da melhor forma para o trabalhador e
para a empresa.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 19


A ergonomia vem ganhando cada vez mais espaço nas
empresas como uma abordagem estratégica de prevenção. Com a
chegada de novas tecnologias, é sempre importante compreender
como a interação do ser humano com o sistema ocorre e quais
problemas devem ser resolvidos para aprimorar essa interação.

Importância da ergonomia nas empresas


Atualmente, muito se gasta com indenizações, afastamentos
médicos, rotatividade de funcionários e retrabalho. A ergonomia
busca melhorar o trabalho de forma a reduzir esses custos,
melhorar a saúde dos trabalhadores e o desempenho estratégico
da empresa.
Na década de 1970, o Brasil era um dos países com maior índice
de acidentes do mundo. Para criar diretrizes e obrigatoriedade para
que as empresas tenham requisitos mínimos de saúde e segurança
para seus trabalhadores, o Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) criou as normas regulamentadoras (NRs), um conjunto de
procedimentos e requisitos obrigatórios a serem seguidos pelas
empresas regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Dentre essas normas, a Norma Regulamentadora 17 é a que
trata da ergonomia e traz as diretrizes básicas para que o conforto, a
saúde e a segurança dos trabalhadores sejam assegurados. Essa
NR tem força de lei e, caso a empresa deixe de cumprir o que é
proposto nesse documento, ela está sujeita a multas e
fiscalizações, além de, claro, poder adoecer, causar acidentes e
diminuir a produtividade de seus trabalhadores.
Um dos itens da NR 17 trata da Análise Ergonômica do
Trabalho, um estudo que deve ser feito sobre as condições de
trabalho, levando à sua compreensão e posterior transformação,
aumentando a produtividade, saúde, segurança, conforto e sentido
na forma com que as pessoas enxergam em seu trabalho.
A Análise Ergonômica do Trabalho é realizada com uma
metodologia específica a qual será tratada em maiores detalhes
na Unidade 2 de nosso estudo. No momento, é importante que
você saiba que esse estudo envolve um olhar para o trabalho real
das pessoas, considerando o que a empresa prescreve que deve
ser feito e o que o trabalhador enfrenta na realidade para cumprir os
resultados exigidos. Assim, observa-se como o trabalhador pensa,
memoriza,
2 U1 - Ergonomia: conceitos e
aprende, faz, comunica, toca, associa, decide, opera ferramentas,
interage com sistemas, atinge metas e indicadores de
desempenho, carrega cargas, transporta materiais, entre outros.
É importante saber que a empresa deve estar disposta a
encarar a realidade do trabalho. Quando hierarquias superiores
(chefes, superintendentes, diretores, gerentes) acreditam em erro
humano e em pessoas que “não trabalham direito”, ignoram
aspectos que podem estar afetando a todos, padronizando
processos que não são vistos de perto.
Quando as condições de trabalho não estão adequadas, as
pessoas podem realizar esforços em seus corpos e mentes de
forma a adoecerem e precisarem se afastar do trabalho, o que
gera custos para a empresa diretamente (com o que pagarão pelo
afastamento) e indiretamente (treinamento de outra pessoa, novas
contratações).
A ergonomia tem papel fundamental na adequação das
condições de trabalho em diversos ambientes. Através dela, pode-
se constatar que trabalhadores realizam esforços para ler
documentos porque a iluminação do ambiente está deficiente;
pode-se verificar que as caixas de um setor de carga e descarga
estão muito pesadas e estão causando dores na coluna dos
trabalhadores; pode-se perceber que o sistema de computador de
uma atendente de loja sempre cai quando chove, o que dificulta a
realização do trabalho nessas condições.
Valorizar os saberes dos trabalhadores é essencial para a melhoria
dos processos. Muitas vezes, a empresa foca em diminuir salários e
investir em tecnologias que diminuem a qualidade dos serviços,
afetando o consumidor e gerando ainda mais perdas e custos para
a empresa.
Hoje em dia, o capitalismo deixa a concorrência de produtos e
serviços cada vez mais agressiva, as empresas precisam mudar o seu
olhar e perceber que não é possível controlar o incontrolável. Por
que criar metas que farão seus trabalhadores competirem entre si?
Não seria melhor que todos se ajudassem e aprimorassem os
processos em conjunto?
Obviamente, pensar em um trabalho perfeito e sem inadequações
é uma utopia. Realizar uma mudança pode fazer outros problemas
surgirem. A ergonomia, portanto, deve seguir um ciclo contínuo
de análise, modificação e checagem das melhorias, para que
U1 - Ergonomia: conceitos e história 21
possa acompanhar todas as situações de trabalho ao longo do
tempo.

2 U1 - Ergonomia: conceitos e
Reflita
Pensando em tudo que aprendemos até o momento, vimos que as
pessoas desempenham papel fundamental nas empresas e que, muitas
vezes, erros e acidentes ocorrem pela forma como o trabalho está
sendo controlado. Assim, Você já foi a algum restaurante e não gostou
da sua experiência lá? A comida não estava bem preparada, o atendente
foi mal-educado, houve demora, trocaram seu pedido? Você já utilizou
novas tecnologias para pedir comida (internet, aplicativos de celular) e
verificou algum erro? O que pensa sobre isso agora que aprendeu sobre
ergonomia?

Finalizando, esperamos que você tenha compreendido que a


ergonomia é uma ciência interdisciplinar, que usa de diferentes
perspectivas para entender como o trabalho realmente acontece e
propor melhorias efetivas aos problemas que afetam os
trabalhadores e a empresa.

Pesquise mais
Para saber mais sobre ergonomia e a importância de se conhecer
o trabalho real, assista aos vídeos do programa Fantástico da Rede
Globo, referentes ao quadro “Chefe Secreto”, disponíveis no link <
http://g1.globo. com/fantastico/quadros/chefe-secreto/>. Esse quadro
mostra diversas situações nas quais os chefes se disfarçam de
trabalhadores comuns em sua própria empresa e verificam as
condições reais e dificuldades que esses trabalhadores enfrentam
todos os dias, podendo assim melhorar as condições de trabalho a partir
de de situações que ele mesmo vivenciou.

Sem medo de errar

Após ter adquirido conhecimentos sobre ergonomia, seus


conceitos iniciais e a importância de se analisar a realidade do
trabalho, você é capaz de analisar a situação-problema apresentada
no Diálogo aberto e iniciar a capacitação da equipe que irá resolver
os problemas relacionados à ergonomia na empresa do ramo de
cosméticos.
Vimos que você é um profissional de uma empresa do ramo
U1 - Ergonomia: conceitos e história 23
de cosméticos e o único integrante da equipe que sabe sobre

2 U1 - Ergonomia: conceitos e
ergonomia. O dono da empresa chama você para uma conversa
para alinhar como será a primeira reunião com a equipe que irá
analisar e atuar de maneira prevencionista com relação aos riscos
ergonômicos existentes na empresa.
Nesse momento, você ressalta a importância de que todos os
participantes da reunião estejam alinhados quanto aos conceitos
de ergonomia e seus objetivos, e destaca que sempre precisarão
consultar os trabalhadores sobre o trabalho que realizam para
entender as reais necessidades e dificuldades existentes. Pelo
discurso do dono da empresa, você percebe que ele relaciona
ergonomia apenas a aspectos de postura e mobiliário, e não tem
clara a importância e a forma como deve atuar frente a essas
questões. O norteamento dessa conversa será essencial para
iniciar os trabalhos com a equipe. Sendo assim, você explica que a
ergonomia é uma ciência que analisa o trabalho de forma sistêmica,
verificando não apenas aspectos físicos do trabalho mas também
aspectos cognitivos (mentais) e organizacionais. Além disso, a
ergonomia é uma ciência interdisciplinar que visa adaptar o
trabalho ao ser humano que o executa, proporcionando o máximo
de conforto, saúde e desempenho eficiente.
Na reunião, você é capaz de apontar que a ergonomia
apresenta papel fundamental nas empresas, primeiramente, por
ter regulamentação legal. A Norma Regulamentadora 17, do
Ministério do Trabalho e Emprego, torna obrigatório que todas as
empresas realizem a Análise Ergonômica do Trabalho e, dessa
forma, estão sujeitas a multas e fiscalizações se não cumprirem
essa legislação. Além disso, ao compreender o trabalho e
melhorar suas condições, são reduzidos custos com afastamentos
médicos e rotatividade de funcionários, além de se melhorar
processos de forma estratégica, evitando perda de tempo,
retrabalhos e erros. Devido à sua abordagem sistêmica, a ergonomia
traz benefícios para a empresa e para os trabalhadores. Ao integrar
os saberes existentes na empresa e envolver todos em busca de
melhorias nos processos, possibilitamos que os trabalhadores
possam ter sua saúde preservada e consigam enxergar maior
sentido em seu trabalho, tendo suas necessidades físicas e
cognitivas preservadas, além de serem avaliados e recompensados
de forma mais justa com relação a aspectos de organização do
trabalho.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 25


Avançando na prática

A consultoria em ergonomia e o checklist


padronizado Descrição da situação-problema
Você é chamado para participar de uma reunião com um
consultor em ergonomia que promete resolver todos os problemas
existentes em sua empresa. Nessa reunião, ele mostra que
inventou um checklist, um conjunto de perguntas padronizadas
que prometem identificar qualquer problema referente a esforços
físicos dos trabalhadores, mapeando as melhores posturas e
formas de realizar esforços em trabalhos puramente braçais. Ao
verificar esse questionário, você percebe que ele é totalmente
voltado para como o corpo dos trabalhadores se comporta em
diferentes situações, verificando posturas no pescoço, ombros,
braços, mãos, coluna e pernas. Você acha que a aplicação desse
checklist irá identificar todos os problemas relacionados à
ergonomia na empresa? Com todos os conhecimentos que
adquiriu referentes à ergonomia, há algum aspecto que possa ser
ignorado nessa abordagem?

Resolução da situação-problema
Como aprendemos ao longo desta unidade de ensino,
podemos verificar que não há um padrão que atenda a todos as
situações de trabalho. Cada trabalho é único e apenas a pessoa
que o desempenha pode identificar suas particularidades,
dificuldades e especificações, que nem sempre são de ordem
física. Ao analisar um trabalho, devemos ter um olhar sistêmico e
interdisciplinar, sabendo que não existe um trabalho puramente
braçal. Ao pressupor que os trabalhadores utilizam apenas
aspectos físicos, ignoramos aspectos cognitivos, como
memorização, aprendizado e tomada de decisões, além dos
métodos e das regras contidos na organização do trabalho. Um
checklist jamais conseguirá analisará a totalidade de um trabalho,
e não é possível que entenda o trabalho real. A ergonomia não
trata apenas de aspectos físicos mas também de aspectos
organizacionais, ambientais e cognitivos.

2 U1 - Ergonomia: conceitos e
Faça valer a pena
1. O mundo do trabalho sofreu diversas transformações ao longo dos
anos. Após a Revolução Industrial, a produção em massa tomou conta
dos processos, exigindo cada vez mais uma organização das formas
como o trabalho era realizado. Assim, surgiu a Administração Científica
do Trabalho, que tinha em sua essência o intuito de aplicar a ciência à
administração. Essa metodologia possui ênfase nas tarefas, buscando a
eliminação do desperdício, da ociosidade operária e a redução dos custos
de produção, com o objetivo de garantir uma melhor relação custo/
benefício aos sistemas produtivos das empresas da época.
Quem foi o responsável pela criação da Administração Científica do
Trabalho e qual o nome do sistema de organização do trabalho concebido
para diminuir tempo e desperdício no trabalho?
a) Mario Toyota e Toyotismo.
b) Henry Ford e Fordismo.
c) Frederick Wislow Taylor e Taylorismo.
d) Jastrzebowski e Ergonomia.
e) Henry Ford e Toyotismo.

2. Ao analisarmos o trabalho real, percebemos que o homem usa de


si, de seu corpo e de sua inteligência para realizar sua atividade frente
Às características da organização do trabalho presentes na empresa.
Ao desconsiderar qualquer um desses aspectos, podemos ignorar
características do trabalho que podem levar a adoecimentos, acidentes e
desempenho ineficiente.
Tratando dos domínios da ergonomia, quais são os três aspectos
principais que ela analisa?
a) Postura, esforço e posto de trabalho.
b) Físico, cognitivo e organizacional.
c) Conforto, erro humano e riscos de acidentes.
d) Metas, produtividade e indicadores de desempenho.
e) Organização do trabalho, afastamentos e acidentes.

3. É comum notarmos a palavra “ergonômico” como adjetivo a


objetos que possuam boas características de design. Termos como
“design ergonômico” são utilizados para descrever embalagens e
veículos motorizados, assegurando que houve preocupação com as
características físicas daquele produto. O termo “cadeira ergonômica” é
utilizado com grande frequência na indústria de mobiliário, designando

U1 - Ergonomia: conceitos e história 27


que é uma cadeira que apresenta regulagens e é adequada para todos os
tipos de trabalho.
Considerando que cada situação de trabalho é única, pode existir o
conceito de “cadeira ergonômica”?
a)Sim. Se uma cadeira possui regulagens, isso significa que todas as
pessoas podem utilizá-la de acordo com as suas características,
adequando altura e profundidade do assento e podendo sentar-se em
postura adequada, o que facilita o trabalho.
b) Sim. A cadeira ergonômica é uma resposta da indústria de mobiliário
para adequar as características do mobiliário às necessidades dos
trabalhadores.
c) Não. O termo “ergonômico” traz a ideia de que aquele objeto atende a
todas as necessidades de todas as situações possíveis. Pensando que
cada situação de interação do homem com o sistema e demais elementos
é única, o termo “ergonômico” deveria ser evitado.
d) Não. O termo “ergonômico” deveria ser utilizado apenas na Análise
Ergonômica do Trabalho, identificando os momentos em que foi
possível realizar todos os ajustes que um trabalho precisa para ser
perfeito.
e) Sim. Se um trabalho é realizado na posição sentada, apenas a
Ergonomia Física pode ser aplicada, identificando a postura correta e
selecionando a cadeira ergonômica adequada àquele trabalho.

2 U1 - Ergonomia: conceitos e
U1 - Ergonomia: conceitos e história 29
Seção 1.2
Domínios e abordagens da Ergonomia
Diálogo aberto
Prezado aluno, seja bem-vindo a mais uma seção de estudo
sobre “Ergonomia: conceitos e história”.
Vamos, a partir de agora, conhecer as abordagens utilizadas
na ergonomia, a interação entre homem e máquina, e os
constrangimentos da tarefa que ocorrem nessa interação.
Para aproximar os conteúdos teóricos da prática profissional,
vamos relembrar a situação hipotética que foi apresentada no
“Convite ao estudo”, na qual você é um profissional de uma
empresa do ramo de cosméticos e o único integrante da equipe
que sabe sobre ergonomia.
Você precisa capacitar sua equipe para formar um comitê que
atuará na resolução dos problemas relacionados à ergonomia
existentes na empresa. A primeira reunião com a equipe será
amanhã. Após uma conversa esclarecedora com você, o dono da
empresa já entende o que é ergonomia e a sua importância, e ele
pede que você inicie a reunião abordando os seguintes temas:
qual o papel da ergonomia na interação do sistema homem, tarefa
e máquina? Como a ergonomia pode assegurar que o trabalho
seja realizado com conforto, segurança e desempenho eficiente?
Por que não é possível aplicar a mesma solução para todos os
problemas de ergonomia? Se a empresa não possui um programa
de prevenção a riscos ergonômicos, quais os possíveis problemas
que podem surgir?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada na seção Não pode faltar. Bons estudos!

Não pode faltar

Passamos grande parte de nossa vida trabalhando. Além de


condições para o nosso sustento, o trabalho dá significado à
nossa vida, a quem somos de verdade.
3 U1 - Ergonomia: conceitos e
As pessoas não são iguais. Somos diferentes em altura, peso,
gênero, cultura, idade, história de vida, preferências. Além disso,
a mesma pessoa não se mantém igual ao longo da vida (nem ao
longo de um mesmo dia). As pessoas aprendem mais,
envelhecem, adoecem, cansam.
O trabalho tem que considerar o ser humano e suas
características. Não são as pessoas que precisam se adaptar ao
trabalho, e sim o oposto. Se uma caixa está pesada, não sou eu
quem deve ficar mais forte para carregá-la. Se um botão está
muito alto, não sou eu quem precisa se esticar para alcançá-lo. Se
eu tento atender um cliente e o sistema fica travando, não sou eu
quem precisa criar estratégias para consertar isso.
É, na realidade, na observação junto ao trabalhador, que percebemos
que podem existir condições de trabalho que geram sobrecarga na
mente e no corpo das pessoas, e que, muitas vezes, não facilitam
a execução das tarefas, fazendo com que elas sejam realizadas
em condições que diminuem o desempenho do trabalhador.
Dessa forma, surge a ergonomia, que trata de proporcionar
adequações na tarefa para que o trabalhador atue com o que
chamamos de trinômio da ergonomia: conforto, segurança e
desempenho eficiente.

Conforto, segurança e desempenho eficiente: o trinômio da


ergonomia
Trabalhar tem papel central na vida das pessoas. As empresas são
responsáveis por propiciar condições de saúde e segurança para que
os trabalhadores não adoeçam e não se acidentem enquanto
estiverem trabalhando. Essa responsabilidade é prevista em lei, e as
empresas que não atendem aos critérios mínimos de saúde e
segurança podem sofrer multas e processos legais, além de ter seu
desempenho prejudicado por possíveis afastamentos médicos e
rotatividade de funcionários. Cada vez que um trabalhador se
afasta, adoece ou se desliga da empresa, isso gera perda de
tempo e de desempenho.
A ergonomia visa adaptar o trabalho às condições reais das
pessoas, e seu objetivo é voltado tanto ao trabalhador quanto à
empresa. Assim, com ações voltadas à ergonomia, garantimos
que o trabalhador tenha melhores condições de conforto, seja
ouvido,
U1 - Ergonomia: conceitos e história 31
tenha melhores condições para realizar o seu trabalho, esteja
seguro e saudável. Em contrapartida, ao adaptar o trabalho, os
processos da empresa funcionam melhor, fazem mais sentido,
ganha-se tempo, melhora-se a comunicação entre as pessoas,
ganha-se conhecimento e diminui-se a quantidade de retrabalho e
possíveis erros que podem existir nos processos.
A ergonomia visa adequar o trabalho às características
psicofisiológicasdoserhumano,quedizemrespeitoatodooconhecimento
referente a como o corpo e a mente das pessoas funcionam.
Para isso, essa ciência utiliza conhecimentos antropológicos,
psicológicos, fisiológicos, anatômicos e de diversas outras ciências
, com o intuito de entender quais as melhores condições para que
o homem interaja em seu trabalho com outras pessoas, com o
sistema, com as máquinas e ferramentas.

Reflita
Todo ser humano tem características e preferências quando se trata
de trabalho. Pense você: você prefere ficar o tempo todo na mesma
posição ou gosta de alternar sua postura quando tem vontade? Você
prefere mexer em programas de computador que são intuitivos ou
prefere ter dificuldades para acessá-los? Você sente cansaço se fica
muito tempo de pé? O que acontece se você tenta ler alguma coisa no
escuro? Como você se sente quando alguém lhe culpa por alguma
coisa que não foi de sua responsabilidade?

As características psicofisiológicas dos trabalhadores, basicamente,


tratam de nossas preferências referentes ao uso de nosso corpo e da
nossa mente.

Nosso conhecimento a respeito do ser humano não está


esgotado. Ainda há muito que se descobrir sobre como o ser humano
funciona em sua totalidade. Porém, há algumas características que
podem ser citadas e são de extrema importância quando tratamos de
ergonomia. Elas são as que ficam em evidência na interação do
homem com seu trabalho.

3 U1 - Ergonomia: conceitos e
Interação homem x máquina x tarefa
Como já vimos, a tarefa é o que a empresa prescreve. Para dar
conta de realizar a tarefa, o ser humano precisa interagir com outras
pessoas, com sistemas, com ferramentas e com máquinas para que
possa atingir os resultados esperados.

Reflita
Já aconteceu de você tentar utilizar um celular e não conseguir?
Ou precisar ajudar sua mãe a ajustar o canal da televisão porque ela
não sabe mexer no controle remoto? Já teve dificuldade em montar
um material com o manual de instruções e desistir no meio? Já se
confundiu com alguma placa que não estava com a informação clara?
Nosso cérebro já tem armazenado um conhecimento prévio o qual
está sendo acionado constantemente. Ao interagir com uma
máquina, ela precisa fazer sentido para você, frente aos
conhecimentos que você já tem. Além disso, ao manuseá-la, ela
deve possibilitar o seu melhor ajuste corporal, para evitar
desconfortos.

Na interação do homem com sistemas e máquinas, é


importante lembrar que há preferências que devem ser
respeitadas. O ser humano prefere utilizar alternadamente toda
sua musculatura e não apenas determinados segmentos.
Gostamos de nos movimentar, escolher a melhor postura. Além
disso, temos baixa tolerância a tarefas fragmentadas que são
executadas em um curto espaço de tempo.

Exemplificando
Empresas que atuam com produção em massa, criando produtos em
larga escala, geralmente, utilizam linhas de produção para realizar
suas tarefas. A linha de produção é constituída por uma esteira em
torno da qual diversos trabalhadores permanecem lado a lado, onde
cada um faz apenas uma parte do processo. Por exemplo, em uma
indústria de cosméticos, para fazer um perfume: um trabalhador só
coloca os frascos vazios na esteira, o do lado aciona a máquina para
envasar o perfume, o seguinte coloca a válvula que espirra o
perfume, o seguinte coloca a tampa, o seguinte coloca o rótulo e o
último guarda o frasco pronto na caixa. Essa fragmentação faz com
que cada trabalhador faça apenas um
U1 - Ergonomia: conceitos e história 33
pedacinho do processo. Estar desvinculado do todo, realizando uma tarefa curta, fra

Todo ser humano prefere que seu tempo seja controlado por
ele mesmo, e não imposto por uma máquina, pela gerência, pelos
clientes ou colegas. Além disso, o homem acelera seu próprio ritmo,
deixando de respeitar os limites do seu corpo, toda vez que se
sente motivado para isso.
As pessoas se sentem bem quando são solicitadas a resolver
problemas, pois são encaradas como pessoas que pensam e agem,
e não como máquinas.
Frederick Wislow Taylor, criador da Administração Científica do
Trabalho, trouxe o conceito de “homem-médio”, que tentava
padronizar os tempos e métodos da tarefa como se todas as
pessoas fossem iguais. O homem não pode ser considerado como
uma máquina. Temos capacidades sensitivas e motoras que
funcionam dentro de certos limites e que variam de uma pessoa a
outra e ao longo do tempo para uma mesma pessoa.
Existe o que chamamos de variabilidade interindividual (as pessoas
são diferentes entre si) e intraindividual (como nós mesmos mudamos)
e que precisam ser consideradas. Somos diferentes entre nós e
não estamos iguais o tempo todo. Envelhecemos e nossas
capacidades se modificam, também acumulamos experiência e
aprendizado. Além disso, seres humanos organizam-se
coletivamente para seu trabalho e uma atenção especial deve estar
centrada nisso: quando as pessoas competem entre si ou não
possuem espírito de equipe, a cooperação não encontra espaço
para acontecer naturalmente, o que atrapalha os processos de
trabalho. Nas atividades humanas, a cooperação tem um papel
importante, muito mais que a competitividade.

Apreciação ergonômica do sistema humano x tarefa x máquina


Na interação homem x máquina, precisamos estar atentos para

3 U1 - Ergonomia: conceitos e
que não haja acidentes, doenças e também para que o
desempenho seja eficiente.
Ao operar uma máquina, deve ser possibilitado que o
trabalhador escolha sua melhor postura, evitando fazer
movimentos repetitivos, força excessiva e sem que nenhuma parte
do seu corpo esteja comprimida por alguma estrutura. Uma pessoa
precisa conseguir se sentar sem que seus joelhos batam contra
alguma estrutura. Ao digitar, precisamos de espaço para apoiar os
nossos braços. Isso tudo deve ser considerado. Mesmo que as
pessoas sejam diferentes em altura, peso e segmentos corpóreos,
realizar um estudo para que a maior parte das pessoas seja atendida
é essencial.
Ainda na operação de uma máquina, ela precisa fazer sentido.
Nós já temos informações armazenadas em nosso cérebro e
possuímos preferência por sistemas que sejam intuitivos. Um
programa de computador não pode ser compreendido só por
quem o criou.
A ergonomia surge para colocar o trabalhador como agente
central das transformações no trabalho. O desempenho eficiente
não trata apenas da produção mas também de criar condições
para que o trabalhador possa permanecer no processo produtivo
durante o máximo de tempo possível, sem adoecer, se afastar e
podendo se desenvolver profissionalmente nesse fazer.
Quando a ergonomia surge na concepção de um trabalho
(no momento que será feito um projeto e ainda estão sendo
desenhadas as ideias), ela tem um papel mais eficiente, pois já
identifica os possíveis problemas antes que o trabalho seja realizado.
Mas se tudo já está em funcionamento, a ergonomia surge para a
correção, e nem sempre conseguimos consertar algo que já foi
concebido de forma inadequada.
A apreciação da ergonomia no sistema “homem x máquina x
tarefa” é centrada em realizar a Análise Ergonômica do Trabalho
para cada situação como se fosse única. A ergonomia lança um
olhar sistêmico, o qual trata de um problema complexo
dissolvendo-o em pequenas partes, entendendo todo o contexto e,
principalmente, considerando a realidade do trabalhador, para
depois traduzir isso para a empresa e propor transformações.
A Análise Ergonômica do Trabalho é um estudo feito por meio
de uma metodologia específica para identificar as diferenças entre
U1 - Ergonomia: conceitos e história 35
o trabalho prescrito e o real e propor melhorias que consideram o
olhar

3 U1 - Ergonomia: conceitos e
do trabalhador para que o trinômio conforto, segurança e
desempenho eficiente seja atingido.

A macroergonomia
Quando analisamos uma situação de trabalho para propor
melhorias, precisamos entender em qual nível de complexidade se
encontram os problemas que identificamos. Algumas vezes,
podemos encontrar um balcão que está muito baixo para uma
operação. Aqui, basta realizar a troca do balcão, ou elevar sua
altura, sendo esse problema visível, pontual e de fácil
entendimento. Aqui, utilizamos a microergonomia, uma visão mais
simplificada e pontual do estudo ergonômico.
A macroergonomia trata de uma análise mais global,
sistêmica, olhando o sistema de produção como um todo. Aqui,
vemos o funcionamento da empresa, suas regras, suas hierarquias
e de que forma aquela situação de trabalho interage e é
influenciada pelos processos como um todo.
Figura 1.1 | Ação macroergonômica

O trabalhador
O trabalho A empresa
Condições de trabalho (predeterminadas Investimento,
Variabilidade e reais) manutenção
intraindividual

História, experiência
pessoal, vida pessoal,
personalização,
significação, idade,
estado de saúde,
tempo de casa, etc.
Variabilidade Políticas, gestão de recursos humanos, organização
A atividade no trabalho
interindividual
Diferenças entre
as pessoas,
características
antropométricas
(altura, porte,
Publicidade,
Resultados do Trabalho (antecipados produção qualidade, etc.
x efetivos)
tamanho dos
segmentos
corpóreos), etc.

Fonte: adaptada de Guerin et al. (2001, p. 17-19).

U1 - Ergonomia: conceitos e história 37


Uma característica importante da macroergonomia é que ela
é um método participativo, no qual os trabalhadores são ouvidos
ativamente ao longo da análise, nova concepção e implantação de
qualquer modificação ou novo projeto em seu ambiente de
trabalho. Por participarem ativamente, os trabalhadores contribuem
para que as intervenções necessárias tenham uma maior
assertividade. Isso reduz a margem de erros e tem melhor
aceitação, já que essa mudança foi pensada e construída em
conjunto com os trabalhadores.
Uma ação macroergonômica aborda em conjunto quatro
subsistemas principais: o tecnológico, o pessoal, o laboral e o
ambiental. Assim, verifica-se como esses subsistemas interagem
e quais os problemas que surgem nessa interação. Algumas
empresas colocam opções para teste e decidem por aquelas que
tiveram melhor aceitação.
Após compreender o trabalho, é necessário propor mudanças
para transformá-lo.

Assimile
A ação ergonômica transforma o trabalho após identificar problemas
relacionados à tarefa. A ergonomia mexe no trabalho, traduz o que
ele realmente deve ser. Se em um setor de carga e descarga os
trabalhadores estão se queixando de dores nas costas, não basta pedir
que eles façam exercícios. A dor já está ali. Não estaremos atuando na
causa. Um estudo do “por que estão surgindo dores nas costas” deve
ser realizado, e a transformação do trabalho deve ocorrer para
eliminar o fator causal.

A macroergonomia consiste na adequação organizacional


voltada à concepção das novas tecnologias e ao seu
gerenciamento. Olha- se a situação de trabalho de maneira
sistêmica, e sua aplicação evidencia interações no contexto social e
organizacional para a melhor adequação do sistema de trabalho e
concepção de novos sistemas. Assim, considera-se como
organização do trabalho: a) as normas de produção (escritas ou
não, explícitas ou implícitas); b) o modo operatório (como e com
qual padrão de qualidade uma tarefa deve ser executada – quanto
maiores as exigências, menos margem o trabalhador terá para fazer
as ações do seu próprio jeito); c) a exigência de tempo (quanto deve
3 U1 - Ergonomia: conceitos e
ser produzido em um determinado tempo, sob imposição); d) a
determinação do conteúdo do tempo (tempo que se

U1 - Ergonomia: conceitos e história 39


gasta para realizar uma subtarefa); e) o ritmo de trabalho
(cadência, refere-se à velocidade dos movimentos que se repetem
em uma dada unidade de tempo, e ritmo, a maneira como as
cadências são ajustadas ou arranjadas); f) o conteúdo das tarefas
(modo como o trabalhador percebe as condições de seu trabalho:
estimulante, socialmente importante, monótono ou além de suas
capacidades).
Esses aspectos de organização do trabalho são essenciais para
a identificação do que condiciona a interação entre homem,
máquina e sistema.

Pesquise mais
Agora que já aprendemos mais sobre ergonomia e sua importância
para adaptar as situações de trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores, complemente seus conhecimentos lendo o artigo
Integrando a ergonomia ao projeto de engenharia: especificações
ergonômicas e configurações de uso. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/gp/v21n4/aop_073313.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2017.

Tarefa x atividade: entendendo o real do trabalho


No ambiente de trabalho, pessoas interagem entre si e com
sistemas, máquinas e ferramentas para realizar a tarefa
imposta pela empresa. Como vimos anteriormente na Seção 1.1
desta nossa primeira Unidade de Ensino, chamamos de “tarefa”
o trabalho prescrito, aquilo que é pedido pela empresa para que o
trabalhador execute para atingir os resultados. Quando um
trabalho é prescrito, geralmente, ele é desenhado por alguém que
não vai executá-lo.

Exemplificando

Vamos entender a diferença entre tarefa e atividade: a tarefa diz respeito


ao que a empresa prescreveu para que fosse realizado pelo trabalhador.
A atividade é como o trabalhador usa de sua mente e seu corpo para
executar a tarefa. Imagine um rapaz chamado Rafael, que trabalha em um
banco como gerente de relacionamento. A tarefa de Rafael é atender
aos clientes, abrir contas, oferecer empréstimos e títulos de
capitalização, tirar dúvidas dos clientes, desbloquear cartões, acessar o
sistema de computador
4 U1 - Ergonomia: conceitos e
para verificar as informações sobre a conta do cliente. Agora, vamos pensar na ativ

Para entender o real do trabalho, é necessário conversar com


o trabalhador e assistir ao seu fazer em detalhes. Colocar pessoas
que realizam o mesmo fazer em grupos e pedir para que
descrevam suas tarefas e atividades é essencial como parte do
método, para incentivar que os grupos alinhem suas ideias e
mostrem o que é de opinião de todos.
A Análise Ergonômica do Trabalho traz a compreensão do que
o trabalhador deve fazer (a tarefa) e como proceder para atingir
esse objetivo (atividade), bem como as dificuldades que enfrenta.
Para isso, é importante listar uma série de itens do sistema para
entender como o trabalho real ocorre: a) dados referentes ao
homem: quantos trabalhadores interagem naquele local, formação,
qualificação exigida, quem faz o que, horários, turnos, modos de
alternância das equipes, idade, gênero, tempo de casa,
treinamento pelo qual passaram; b) dados referentes às máquinas:
estrutura geral; dimensões características (croqui, foto, fluxograma
de produção); órgãos de comando e de sinalização; princípios de
funcionamento da máquina; aspectos críticos evidentes; c)
dados referentes às ações dos operadores: ações imprevistas;
principais gestos; principais posturas; principais deslocamentos;
principais ligações sensório-motoras; tratamentos de informações
(memorização e demanda cognitiva); principais decisões a serem
tomadas; d) dados referentes ao ambiente de trabalho: espaços e
locais de trabalho em confronto com dados antropométricos e
biomecânicos; ambiente sonoro; ambiente térmico; ambiente
luminoso; ambiente vibratório (intensidade, amplitude, frequência);
ambiente tóxico.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 41


Finalizando, esperamos que tenha compreendido o que é o
trinômio da ergonomia, o papel da ergonomia na adaptação das
características psicofisiológicas do ser humano (respeitando suas
diferenças) em sua interação com máquinas e sistemas, e como a
ergonomia pode assegurar um desempenho eficiente.

Sem medo de errar

Após ter adquirido conhecimento sobre a interação homem x


máquina x tarefa, a importância de se identificar o trabalho real
e os constrangimentos da tarefa e a importância do trinômio
conforto, segurança e desempenho eficiente, você já pode analisar
a situação-problema apresentada no Diálogo aberto e iniciar a
capacitação da equipe.
Vimos que você é um profissional de uma empresa do ramo
de cosméticos e o único integrante da equipe que conhece sobre
ergonomia. Você já é capaz de preparar a sua reunião com a
equipe explorando que a ergonomia visa adaptar o trabalho às
condições psicofisiológicas das pessoas, e que isso só é possível
se vocês compreenderem o trabalho real.
Ao analisar como a organização funciona de forma sistêmica, a
ergonomia aparece de forma a identificar um problema complexo,
a analisá-lo em sua realidade e a propor melhorias que envolvam
a opinião dos trabalhadores, garantindo assim maior eficiência.
Você também explica que a ergonomia visa promover o
conhecido trinômio: conforto, segurança e desempenho eficiente.
Assim, os trabalhadores conseguem realizar as tarefas prescritas
com maior margem de manobra para escolherem a melhor forma
de fazer seu trabalho e sem serem atrapalhados pelo sistema, pelas
máquinas, ferramentas, pelo ambiente ou até por outras pessoas.
A ergonomia surge para otimizar processos e garantir que sejam
realizadas reais transformações, com o propósito de resolver os
problemas ao invés de apenas abrandá-los. Isso ocorre através da
Análise Ergonômica do Trabalho, estudo que analisa como a tarefa
e atividade ocorrem e quais são as propostas de melhoria para
cada situação de trabalho.
A ergonomia tem papel central na interação homem x máquina
por nos trazer o trabalhador para um papel central no trabalho. O
trabalho deve se adaptar às preferências do ser humano. Não é

4 U1 - Ergonomia: conceitos e
possível se

U1 - Ergonomia: conceitos e história 43


padronizar máquinas, processos e sistemas. O ser humano tem
que interagir com esses elementos, tendo o maior controle possível
sobre eles. Somos diferentes e não existe uma forma de todas as
situações estarem adequadas a todas as pessoas.
Você encerra a reunião refletindo como poderá conduzir os
trabalhos na empresa a partir de agora.

Avançando na prática

O novo posto de
trabalho Descrição da situação-problema
Fabiana é recepcionista de um prédio comercial há cinco anos.
Ela já conhece todos os visitantes e profissionais que ocupam os
andares, além de ter decorado com maestria os nomes de todas
as empresas que se encontram no prédio, incluindo seu ramal
de acesso. Fabiana sai de férias e, quando retorna, percebe que
realizaram mudanças no seu posto de trabalho. Percebe uma
cadeira mais confortável, uma mesa grande e um sistema de
computador totalmente equipado, com novos ramais, um sistema
de cadastro de visitantes e uma câmera fotográfica conectada ao
sistema para efetuação do cadastro. Após um mês, Fabiana
começa a apresentar atestados e se afasta do trabalho. Ao
conversar com o médico, Fabiana diz que o novo posto de
trabalho, embora pareça melhor, é desconfortável, e que o sistema
de computador que deveria facilitar seu trabalho, na verdade só
atrapalha: a cadeira não se aproxima direito da mesa, gerando
uma postura desconfortável; o sistema trava a cada novo cadastro,
o que aumenta a fila de espera para as pessoas entrarem no
prédio e, consequentemente, gera atrasos e impaciência; a
câmera não é fácil de operar e, se dá erro, não possibilita que
Fabiana o conserte. Qual foi o problema desse novo posto de
trabalho? Se ele foi pensado para facilitar o trabalho de Fabiana,
por que isso não aconteceu?

Resolução da situação-problema
Modificar a situação de trabalho sem considerar a opinião do
trabalhador e sem possibilitar a sua participação nesse processo,
geralmente, traz uma diversidade de problemas que surgem ao

4 U1 - Ergonomia: conceitos e
não se considerar o trabalho real. É necessário conversar com o
trabalhador e assistir ao seu fazer em detalhes. A Análise Ergonômica
do Trabalho traz a compreensão do que o trabalhador deve fazer
(a tarefa) e como proceder para atingir esse objetivo (atividade),
bem como as dificuldades que enfrenta. Se a ergonomia tivesse
sido aplicada na concepção desse posto de trabalho, certamente,
Fabiana identificaria esses problemas e poderia evitar que eles
fizessem parte desse trabalho.

Faça valer a pena


1. A ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos
relacionados ao homem e necessários à concepção de instrumentos,
máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de
,
e .
Assinale a alternativa que completa a frase.
a) dinheiro, tecnologia e energia.
b) rotatividade, multas e adoecimento.
c) conforto, segurança e desempenho eficiente.
d) produtividade, desconforto e ritmo imposto.
e) velocidade, erro humano e adoecimento.

2. A Análise Ergonômica do Trabalho traz a compreensão do que o


trabalhador deve fazer (a tarefa) e como proceder para atingir esse
objetivo (atividade), bem como as dificuldades que enfrenta. Para isso, é
importante listar uma série de itens do sistema para entender como o
trabalho real ocorre. Quando falamos de “organização do trabalho”,
estamos nos referindo a quais elementos?
Assinale a alternativa correta.
a) Posto de trabalho, ferramentas, máquinas e matéria-prima.
b) Iluminação, vibração, ruído e temperatura.
c) Apenas regras escritas que precisam ser obedecidas pelos trabalhadores.
d) Todos os elementos que eliminam bagunça e promovem a limpeza
da empresa.
e)Normas de produção, modo operatório, exigência de tempo,
determinação do conteúdo do tempo, ritmo de trabalho e o conteúdo
das tarefas.

3. As pessoas são diferentes entre si e ao longo da vida. Dessa forma,


não podemos conceber um trabalho considerando que as pessoas são
U1 - Ergonomia: conceitos e história 45
iguais.

4 U1 - Ergonomia: conceitos e
Qual das alternativas a seguir cita aspectos que analisamos quando se
trata de variabilidade interindividual?
Assinale a alternativa correta.
a) Cabeça, tronco e membros.
b) Conforto, segurança e desempenho eficiente.
c) Como mudamos ao longo da nossa vida, experiência pessoal, vida
pessoal, personalização, significação e estado de saúde.
d) Diferenças entre as pessoas, como características antropométricas
(altura, porte, tamanho dos segmentos corpóreos), gênero e idade.
e) Normas de produção e tarefa, atividade.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 47


Seção 1.3
Diagnose ergonômica do sistema humano x tarefa
Diálogo aberto
Prezado aluno, esta seção encerra nossa Unidade 1, intitulada
“Ergonomia: conceitos e história”. Nesta seção, além de
retomarmos diversos conceitos aprendidos anteriormente, também
iremos imergir em novos conhecimentos voltados à diagnose do
sistema humano x tarefa x máquina, a importância de
compreender o trabalho para transformá-lo, antropometria,
usabilidade e desenho universal.
Para construirmos uma relação entre a teoria e a prática,
vamos relembrar a situação hipotética que foi apresentada no
Convite ao estudo. Você é um profissional de uma empresa do
ramo de cosméticos e o único integrante da equipe que sabe sobre
ergonomia. Após ser convidado pelo dono da empresa para
encabeçar os projetos voltados à ergonomia e, também, treinar
uma equipe para auxiliá-lo, você já aprendeu diversos conceitos
que poderão auxiliá-lo nessa jornada: o que é ergonomia, sua
importância, seu histórico, sua base legal no Brasil, a importância de
entender a diferença entre tarefa e atividade, o trinômio da
ergonomia e a importância de nos atermos às características
psicofisiológicas do ser humano.
Agora, você realizará a primeira reunião com a equipe de
ergonomia da empresa e iniciará uma capacitação para que
possam começar os trabalhos de prevenção e resolução dos
problemas relacionados à ergonomia. Assim, será importante
que você relembre: o que é antropometria? Quais riscos
relacionados à ergonomia podem surgir ao não haver um bom
dimensionamento do posto de trabalho de acordo com as
dimensões do corpo humano? Por que é preciso compreender o
trabalho para transformá-lo? O que é usabilidade? Quais as
vantagens de um design acessível voltado às situações de
trabalho? O que é desenho universal?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma

4 U1 - Ergonomia: conceitos e
contextualizada na seção Não pode faltar. Com esses conceitos, a
equipe já se prepara para os

U1 - Ergonomia: conceitos e história 49


primeiros passos voltados a um programa de ergonomia e percebe
que esse trabalho está apenas começando. Bons estudos!

Não pode faltar

Estamos encerrando a nossa Unidade de Ensino 1. Após


compreender o que é ergonomia e sua importância nas empresas,
chegou a hora de aplicarmos os novos conhecimentos. Como
vimos anteriormente, a ergonomia possui três tipos de abordagem:
física, cognitiva e organizacional. Essas três vertentes estão
correlacionadas. Não existe um trabalho em que uma pessoa utilize
apenas sua mente e não seu corpo; da mesma forma, não existe
um trabalho puramente braçal em que nada deva ser pensado.
Todo trabalho possui uma organização de tempos e métodos para
poder ocorrer em congruência com os resultados esperados.
Sendo assim, vamos entender como ocorre a diagnose
envolvida nessa interação.

Diagnose ergonômica do sistema humano x tarefa x máquina


Diagnose é um termo que significa analisar a situação em
detalhes, permitindo um melhor conhecimento da situação de
trabalho. Para se obter a diagnose correta de um problema
voltado à ergonomia, devemos lembrar que todas as situações de
trabalho são complexas e precisam ser analisadas de forma
sistêmica, envolvendo todos os interlocutores (alta gerência, chefia
imediata, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho – SESMT, trabalhadores e demais
envolvidos na tarefa analisada) que estão relacionados a essa
situação de trabalho. Para isso, a ergonomia utiliza uma metodologia
que identifica quais constrangimentos a tarefa traz para o ser
humano em sua relação.
A palavra “constrangimento” é utilizada em ergonomia como
uma tradução de “constrain”, e é utilizada com o significado de
restrição, dificuldade (e não de “vergonha”, como usualmente
significa na língua portuguesa). Dessa forma, devemos lembrar que a
tarefa, muitas vezes, é prescrita por quem não a executa, e isso
pode gerar dificuldades para o trabalhador, podendo levar a
problemas de segurança, de conforto e de desempenho eficiente.

5 U1 - Ergonomia: conceitos e
Para uma diagnose eficaz de um problema voltado à
ergonomia, devemos sempre entender qual é a demanda principal
que está gerando a necessidade de análise. A Análise Ergonômica
do Trabalho
– estudo exigido pela Norma Regulamentadora 17, do Ministério
do Trabalho e Emprego – não possui uma periodicidade de
realização. Diversos documentos e programas voltados à saúde e
segurança do trabalho são de realização anual (como o Programa
de Prevenção a Riscos Ambientais – PPRA – e o Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO). Já a Análise
Ergonômica do Trabalho deve ser realizada sempre que
identificamos que há fatores relacionados à tarefa que atrapalham
o trabalhador, podendo gerar riscos à sua saúde, segurança e ao
seu desempenho.
Assim, a demanda da análise se refere ao problema principal
que exige um estudo aprofundado. Pode ser a chegada de uma
nova linha de produção que não está com altura adequada para
os trabalhadores; pode ser que um laboratório esteja com baixo
iluminamento (densidade de luz em cima de uma superfície) no
balcão, o que atrapalha a visibilidade; pode ser que o trabalhador
precise operar diversos sistemas de computador sem treinamento,
o que leva a erros e perda de tempo; pode ser que as metas
impostas pela empresa não se enquadrem na realidade.
Esses são alguns exemplos de problemas de ordem
ergonômica. Didaticamente, podemos dividi-los em: a)
organizacionais: relacionados a tempos e métodos, ritmos,
indicadores de desempenho, metas, normas e regras da empresa;
b) físicos: relacionados a como o corpo do trabalhador interage
com o sistema, envolvendo postura, força excessiva,
repetitividade, compressão mecânica (ter parte do corpo
pressionada contra alguma superfície) e demais problemas
envolvendo o posto de trabalho, ferramentas e materiais na
interação com o ser humano;
c) ambientais: relacionados ao ruído, iluminamento ineficaz e
conforto térmico, havendo a necessidade de realizar medições dos
agentes ambientais para assegurar o conforto dos trabalhadores;
d) cognitivos: exigência de memorização, falta de treinamento,
tomada de decisão, representações e interação com sistemas.
É importante realizar uma imersão na realidade do trabalho ao
observarmos o trabalhador em ação e todas as suas nuances.
U1 - Ergonomia: conceitos e história 51
Exemplificando
Como já foi visto, tarefa é a prescrição da empresa do que deve ser feito para se obter o

Cada atividade é única e só pode ser identificada na real situação


de trabalho. Muitos estudiosos realizam pesquisas voltadas à
ergonomia em laboratórios. Embora sua relevância seja inegável,
esses estudos são desenvolvidos em ambientes controlados, o
que pode mascarar certos fatores que impactam diretamente na
realidade do trabalhador.
Dessa forma, sempre que for identificada uma oportunidade de
melhoria em uma situação de trabalho, um piloto deve ser
construído com os trabalhadores e deve ser testado antes da
implantação final.
Para uma diagnose ergonômica eficaz, após identificação das
características da empresa, dos trabalhadores e das tarefas a
serem analisadas (de acordo com a demanda), é necessário
realizar uma análise das posturas, tomada de informações,
deslocamentos, necessidade de comunicação e características
dos sistemas. Para isso, realizam-se entrevistas, observação,
gravações em vídeo, fotografia e aplicação de questionários para
verificar onde existe uma incongruência entre o prescrito e o real
que afete a saúde e o desempenho eficiente dos trabalhadores.
É importante ressaltar que a aplicação de um questionário não
deve substituir a análise, e sim complementá-la. Existem diversos
checklists utilizados para verificar aspectos específicos do trabalho
(por exemplo, a postura). Lembrando que o trabalho não demanda
apenas exigências físicas, um questionário de postura irá identificar
aspectos apenas desse domínio, havendo necessidade de ser
complementado por uma análise global que envolva as outras
abordagens.

5 U1 - Ergonomia: conceitos e
Ao analisar a interação entre o homem, a tarefa e as máquinas/
sistemas, devemos lembrar que o trabalho deve estar adequado
às

U1 - Ergonomia: conceitos e história 53


características psicofisiológicas do ser humano. As pessoas tendem
a ultrapassar seus limites para realizar o trabalho prescrito e
acabam utilizando estratégias para dar conta do que lhes foi
pedido. Se existe margem de manobra, ou seja, se a pessoa
consegue adaptar a situação de trabalho, ela o faz. Porém, se a
tarefa é altamente prescritiva e restringe a margem de manobra dos
trabalhadores, esse alto controle faz com que ele deva se adaptar
ao que está sendo proposto, o que pode levar ao adoecimento.
As pessoas são diferentes entre si e ficam diferentes com o
passar do tempo. Padronizar um posto ou uma situação de
trabalho pode deixar de considerar aspectos das pessoas que eram
primordiais para uma boa interação do homem com seu trabalho.

Compreender o trabalho para transformá-lo


Vamos pensar um pouco: é mais eficaz corrigir um problema ou
identificar como evitar um problema? Em ergonomia, diversas
vezes, precisamos ser criativos e identificar como corrigir um
problema já existente. Se for possível analisar uma situação de
trabalho enquanto ela ainda está na fase de projeto, podemos
evitar que ela seja concebida sem considerar as características
humanas.
Boa parte dos problemas relacionados à ergonomia ocorrem
porque a situação de trabalho foi concebida sem levar em
consideração a realidade. Pensa-se no posto de trabalho de um
operador de telemarketing e sabe-se que seu trabalho consiste em
“atender o cliente”. Mas o que está por trás disso? Quais
dificuldades esse trabalhador enfrenta todos os dias? O que tem
que memorizar? Até onde ele pode realmente resolver o problema
do cliente? De quem ele depende? Qual o seu grau de
autonomia?
Para que o trabalho seja adaptado ao ser humano, quem o
realiza deve ser consultado desde o princípio. Testar uma nova
linha de produção com o trabalhador mais bem treinado, mais
saudável, sem nenhuma intercorrência deixa de considerar que,
no dia a dia, diversos trabalhadores, com ou sem experiência,
saudáveis ou não, com materiais que nem sempre serão de fácil
movimentação, estarão trabalhando naquela linha. Por isso, impor
um ritmo que não permita que esses trabalhadores tenham
autonomia sobre ele pode levar ao adoecimento, uma vez que eles
5 U1 - Ergonomia: conceitos e
deverão se adaptar ao ritmo estabelecido sem considerar suas
necessidades físicas e cognitivas.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 55


O mesmo pode ocorrer com uma pessoa que opera uma
ferramenta desgastada e tem prazo para entregar os materiais que
dependem dessa ferramenta. Ou um gerente de banco que tem
metas para fazer seus clientes pagarem um empréstimo, sendo
que nem sempre esses clientes têm dinheiro para fazer um
acordo. Como estabelecer uma meta sobre aquilo que o
trabalhador não tem controle? Ainda, como uma pessoa pode
trabalhar realizando a digitação de códigos de barra quando os
números vêm com difícil visualização e o local de trabalho está
escuro?
É preciso verificar qual a visão da empresa sobre o trabalho e
como a alta hierarquia identifica uma determinada situação. Em
seguida, observamos de perto a situação de trabalho em sua
realidade para, por fim, traduzir para a empresa o que realmente
ocorre e quais problemas estão gerando riscos à segurança,
conforto e desempenho eficiente dos trabalhadores.
Dentre as abordagens da ergonomia, os aspectos físicos são os
de mais fácil visualização, pois são identificados em posturas e
esforços que os trabalhadores realizam na interação com a tarefa e
a máquina durante a realização do trabalho.
Um posto de trabalho ou ferramenta que não considerem as
características físicas dos trabalhadores podem levar a uma baixa
performance e até mesmo ao adoecimento.

Antropometria: as medidas do corpo humano


A Antropometria é o estudo das medidas humanas. Por meio
dela, podemos identificar o tamanho dos segmentos corpóreos e
realizar projetos e design de produtos com maior confiabilidade.
Em ergonomia, utilizamos a Antropometria com grande frequência
para identificar aspectos físicos em postos de trabalho.
Sempre que possível, um posto de trabalho deve apresentar
regulagens, com possibilidade de adaptação à maior parte das
pessoas. Porém, isso gera custos altos para as empresas, que
acabam padronizando as medidas, e nem sempre elas se adéquam
às medidas dos trabalhadores que utilizarão esses materiais.
Quando se pretende obter medidas representativas e confiáveis de
uma população, devemos lembrar que ela sempre será composta
de indivíduos dos mais variados tipos e dimensões. Como já
vimos, existem variações
5 U1 - Ergonomia: conceitos e
intraindividuais (que ocorrem durante a vida de uma pessoa) e
interindividuais (entre as pessoas, como altura, peso e idade).
Além disso, estudos antropométricos mostram que variações
étnicas também influenciam nas medidas dos segmentos
corpóreos – os extremos são encontrados na África e na África
Central, com indivíduos mais altos e mais baixos (os pigmeus),
respectivamente. Diversos estudos antropométricos já foram realizados
pelo mundo todo, gerando tabelas com valores de base para as
populações de diferentes regiões.
Existem muitos exemplos de inadequação de produtos
que foram exportados para outros países sem considerar as
necessidades de adaptação aos usuários. Por exemplo, linhas de
produção japonesas foram exportadas para os Estados Unidos,
onde se encontra uma população com medidas consideravelmente
maiores que as do país oriental.
Realizar a correção de um posto de trabalho que foi concebido
de forma inadequada nem sempre é possível. Assim, é primordial
que, sempre que possível, seja analisado o projeto do produto
e realizado um estudo antropométrico para identificar se são
necessárias modificações.
William Sheldon, na década de 1940, realizou um estudo com a
população americana que mapeou três tipos físicos básicos:
ectomorfo (corpo e membros finos, alongado); mesomorfo (tipo
musculoso, ombros e peito largos); e enfomorfo (formas
arredondadas, abdome grande, maior depósito de gordura).
Figura 1.2 | Tipos físicos

Fonte: Iida (2005, p. 104).

U1 - Ergonomia: conceitos e história 57


Para se realizar um estudo antropométrico, a primeira
providência é definir onde ou para que serão utilizadas as medidas.
Por exemplo, para o projeto de um posto de trabalho
administrativo, no qual trabalharão digitadores, podemos utilizar,
basicamente, algumas medidas (a partir do chão) consideradas no
projeto de um posto de trabalho sentado: altura da fossa poplítea
(joelho), que indicará altura do assento; altura do cotovelo (indicará
a altura da mesa); altura da região lombar, que indicará onde
ficará o encosto; altura dos olhos (posição do monitor); altura da
coxa (espaço entre assento e mesa); largura do quadril (largura do
assento); tamanho do antebraço e das mãos (tamanho do apoio
de braços, quando existir).

Assimile
Antropometria é a parte da antropologia que trata da mensuração
do corpo humano e de suas partes. Para o dimensionamento de
objetivos, produtos e postos de trabalho, utilizamos os conceitos de
antropometria para assegurar a adaptação às características físicas das
pessoas.

Esse é um exemplo de medidas da antropometria estática, em


que a pessoa estará parada em uma posição e são realizadas as
medidas dos segmentos corpóreos. Por sua vez, a antropometria
dinâmica analisa movimentos e zonas de alcance.

Figura 1.3 | Exemplos de zonas de alcance máximo na posição sentada

Plano transversal Fonte: Iida (2005, p. 125).


20 cm acima do cotovelo

5 U1 - Ergonomia: conceitos e
Plano sagital
10 cm à direita do
plano de simetria

U1 - Ergonomia: conceitos e história 59


Essas medidas possibilitam não apenas a construção de postos
de trabalho, mas a criação de modelos computacionais,
tridimensionais e matemáticos que podem realizar simulações.
De acordo com a Antropometria, sabemos que nem sempre é
possível adequar um posto de trabalho ou o design de qualquer
produto a todas as pessoas. Por isso, procura-se adequar o projeto à
maioria das pessoas e promover adaptações aos que não se
adequarem.

Reflita
Não existe homem-médio. Mas então, como podemos agir para
garantir o máximo de adaptabilidade das pessoas a um mesmo posto
de trabalho? Pensando em tudo o que já foi aprendido em
ergonomia, lembre-se de que cada situação é única, porém, garantir
o máximo de margem de manobra e autonomia podem ser saídas
interessantes para problemas relacionados à concepção de novas
situações de trabalho.

O levantamento de dados antropométricos mostra a


variabilidade das dimensões de uma população, portanto, não
podem ser consideradas as medidas que se referem a uma
população de outra região, pois isso pode influenciar nos
resultados finais.
Sempre que possível, devemos adequar o desenho de postos
de trabalho e produto a todos os trabalhadores. Embora nem
sempre seja possível, os princípios de usabilidade e desenho
universal podem auxiliar nessa tarefa.

Usabilidade e desenho universal


O desenho universal visa à concepção de equipamentos,
estruturas e objetos para serem utilizados pela maioria das
pessoas, de forma simples, intuitiva e sem necessitar de projetos
de adequação.

Assimile

Já aconteceu de você preferir comprar uma impressora nova a tentar


consertar a que já tem? Ou já saiu correndo porque sua avó não
6 U1 - Ergonomia: conceitos e
sabia como manusear o controle da televisão e trocou de canal sem
querer?

U1 - Ergonomia: conceitos e história 61


Problemas de usabilidade e desenho universal podem levar o usuário a erros e até m

Para que se trate de desenho universal, sete princípios básicos


devem ser seguidos:
1)utilização equitativa: pode ser utilizado por qualquer um;
2)flexibilidade: engloba diversas preferências e capacidades individuais;
3) simplicidade e intuitividade: fácil de compreender
independentemente do nível de experiência das pessoas;
4) informação perceptível: informação condiz com as
capacidades sensoriais do utilizador;
5) tolerância ao erro: minimiza consequências negativas de
ações acidentais ou involuntárias;
6) esforço físico mínimo;
7) dimensão e espaço adequados para utilização.
O desenho universal garante o máximo de acessibilidade: a
ausência de barreiras para garantir a igualdade de oportunidades e
usabilidade, que é a facilidade com que as pessoas podem
empregar uma ferramenta ou objeto a fim de realizar uma tarefa
específica. Aplicado a um projeto, consiste na criação de ambientes
e produtos que possam ser usados por todas as pessoas, na sua
máxima extensão possível.
De forma geral, as contribuições da ergonomia são
relevantes para as práticas projetuais. A área com o enfoque no
design apresenta interesse para melhorias das condições humanas
que abrange não apenas o trabalho executado a partir de
máquinas e equipamentos mas também as demais situações em
que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade
produtiva.

6 U1 - Ergonomia: conceitos e
Pesquise mais
O comercial do Banco Itaú intitulado Crianças e a evolução
tecnológica (disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=oHm4TopsB7A>. Acesso em: 18 maio 2017) mostra a questão
de usabilidade pela perspectiva de crianças tentando entender o
funcionamento de objetos antigos. Para garantir a usabilidade, o
produto deve respeitar nossas representações mentais e ser
intuitivo, e o vídeo mostra como as crianças lidam com isso.

Esperamos que tenha compreendido o que é usabilidade,


antropometria, desenho universal e a importância de se compreender
o trabalho para transformá-lo.
Agora que finalizamos esta unidade de ensino, para melhor
aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos, elabore um manual
com recomendações de prevenção a riscos ergonômicos para
alguma tarefa específica de sua escolha. Para a confecção desse
manual, faça uma introdução sobre ergonomia, descrição da tarefa
escolhida (com fotos e apontamentos sobre os constrangimentos
identificados) e as recomendações que achar pertinentes.

Sem medo de errar

Depois de muito estudo, você adquiriu diversos conhecimentos


relacionados à ergonomia, à sua importância nas empresas, às
questões voltadas à tarefa e à atividade, aos domínios físico, cognitivo
e organizacional, à antropometria, ao desenho universal e à
usabilidade. Agora, chegou a hora de analisarmos a última etapa
da situação- problema apresentada no Diálogo aberto.
Vimos que você é um profissional de uma empresa do ramo
de cosméticos e o único integrante da equipe que conhece sobre
ergonomia. Você realiza a primeira reunião com a equipe de
ergonomia e inicia a capacitação para que eles possam começar os
trabalhos de prevenção e resolução dos problemas relacionados à
ergonomia.
Assim, você explica que um bom caminho para começar a
abordagem ergonômica é identificar fatores organizacionais,
cognitivos e físicos. Um estudo antropométrico voltado ao

U1 - Ergonomia: conceitos e história 63


mapeamento das medidas corpóreas da população trabalhadora
será de grande utilidade ao analisar as medidas dos postos de
trabalho e as posturas adotadas por esses trabalhadores.
Isso é importante porque, caso não haja um bom dimensionamento
do posto de trabalho de acordo com as dimensões do corpo
humano, os trabalhadores podem adotar posturas desconfortáveis
que podem levar ao adoecimento. Utilizar os preceitos de desenho
universal (que visa à concepção de equipamentos, estruturas e
objetos para serem utilizados pela maioria das pessoas, de forma
simples, intuitiva e sem necessitar de projetos de adequação) e
usabilidade, que é um termo utilizado para definir a facilidade com
que as pessoas empregam uma ferramenta ou mesmo um objeto
para realizar uma determinada tarefa, é essencial para garantir
uma boa adequação do trabalhador. É preciso compreender o
trabalho para transformá-lo, e isso só é possível observando-se de
perto a realidade do trabalho e as características da tarefa prescrita
que possam gerar constrangimentos aos trabalhadores. A partir
desses conceitos, você e sua equipe estão prontos para realizar
intervenções relacionadas à ergonomia com sucesso.

Avançando na prática

A filial japonesa da fábrica de eletrônicos


Descrição da situação-problema
Uma indústria japonesa do ramo de eletrônicos decide instalar
uma de suas filiais no Brasil. Para isso, exporta suas linhas de
produção e os sistemas de computador utilizados para controle
dos ritmos e métodos do setor operacional. Após apenas um
mês de funcionamento, o departamento médico constata uma
alta rotatividade de trabalhadores (muitos pedem demissão e
outros são contratados em seu lugar) e diversos afastamentos
por problemas na coluna. Ao analisar a linha de produção, você
percebe que ela foi toda desenvolvida para a população japonesa
e que os trabalhadores estão realizando suas tarefas em posturas
inadequadas por não terem espaço para acomodarem suas
pernas, devido ao fato de a linha estar com altura baixa para a
operação. O que será preciso fazer para adequar as linhas de
produção e diminuir os problemas?

6 U1 - Ergonomia: conceitos e
Resolução da situação-problema
Para adequar a linha de produção às características dos
trabalhadores, é necessário realizar uma Análise Ergonômica
do Trabalho para identificar onde os trabalhadores estão
encontrando problemas e como a tarefa está gerando problemas
que levam aos afastamentos. Durante a análise, é importante
realizar um estudo antropométrico e identificar quais posturas e
esforços estão sendo realizados e que podem estar levando aos
afastamentos e à rotatividade dos trabalhadores. Após identificar
os possíveis problemas e propor soluções, é necessário realizar
as modificações da situação de trabalho envolvendo os
trabalhadores e experimentando um protótipo, antes de modificar
de forma irreversível, considerando a população que irá interagir
com esse posto de trabalho e a adaptação da maioria, sempre
priorizando regulagens, quando forem possíveis.

Faça valer a pena


1. O desenho universal garante o máximo de acessibilidade, que é
a ausência de barreiras que garante a igualdade de oportunidades e
usabilidade. O que é usabilidade?
Assinale a alternativa correta.
a) Capacidade de usar ou ser usado.
b) Termo utilizado para definir a facilidade com que as pessoas
empregam uma ferramenta ou mesmo um objeto para realizar uma
determinada tarefa.
c) Termo utilizado em informática para tratar do ser humano utilizando
um computador.
d) É o sinônimo de Ergonomia Organizacional.
e) É o termo utilizado para adequações de pessoas com deficiência.

2. Em ergonomia, sabe-se que projetar um posto de trabalho ou uma


ferramenta sem considerar as reais medidas do ser humano pode levar
a problemas de saúde, de segurança e de desempenho eficiente.
Qual o nome da ciência que estuda as medidas do corpo humano?
a) Fisiologia.
b) Psicologia.
c) Engenharia.
d) Antropometria.
e) Usabilidade.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 65


3. , traduzida da palavra “constrain”, é uma
palavra utilizada em ergonomia que diz respeito às restrições e limitações
que a tarefa prescrita pode apresentar ao trabalhador.
Complete a frase:
a) Usabilidade.
b) Tarefa.
c) Atividade.
d) Constrangimento.
e) Contração.

6 U1 - Ergonomia: conceitos e
Referências
ABRAHÃO, J. I. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. 1. São Paulo:
Blucher, 2009.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Manual de aplicação norma
regulamentadora nº 17. 2. ed. Brasília: MTE/SIT, 2002.
COMERCIAL Itaú - crianças e a evolução tecnológica. 16 abr. 2011. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=oHm4TopsB7A>. Acesso em: 18 maio 2017.
CYBIS, W A. Ergonomia e usabilidade: conhecimentos, métodos e aplicações. São
Paulo: Novatec, 2015.
GGUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da
ergonomia. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2005.
LIMA, F.; DUARTE, F. LIMA, Francisco; DUARTE, Francisco. Integrando a ergonomia
ao projeto de engenharia: especificações ergonômicas e configurações de uso.
Gestão e Produção [online]. v. 21, n. 4, p. 679-690, 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
530X2014000400002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 mar. 2017.

U1 - Ergonomia: conceitos e história 67


Unidade 2

Macroergonomia

Convite ao estudo
Prezado aluno, nesta unidade, começaremos a
sistematizar nossos estudos em Ergonomia aprendendo a
realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho, cuja
obrigatoriedade consta na Norma Regulamentadora 17, do
Ministério do Trabalho e Emprego. Dessa forma,
aprenderemos cada etapa da Análise Ergonômica do
Trabalho, como sistematizar seu estudo, como estruturar os
registros de tudo que é visto, falado e acordado na empresa,
sempre com a participação dos trabalhadores envolvidos na
situação de trabalho escolhida para ser analisada.

Como vimos na Unidade 1, é de extrema importância


valorizar os saberes dos trabalhadores. É papel do ergonomista
conversar com todas as pessoas envolvidas na situação de
trabalho que gera a demanda de um estudo em ergonomia.
Existem diversas informações a serem colhidas, opiniões a
serem ponderadas, situações e elementos a serem observados
e muita conversa para acontecer. É importante seguir alguns
passos e prestar atenção a alguns fatores de forma a
identificar os constrangimentos pelos quais os trabalhadores
passam para atingir os resultados envolvidos na tarefa. Ao
entender as diferenças entre a tarefa prescrita e o trabalho
real e verificar como o trabalhador utiliza seu corpo e sua
mente para dar conta do que lhe é proposto, podemos
identificar as oportunidades de melhoria e propor soluções
para transformar o trabalho.

Assim, na Unidade 2, aprenderemos as etapas da


Intervenção Ergonômica; a metodologia da Ergonomia da
Atividade; fatores humanos no trabalho (especificamente,
iniciando nossos estudos em biomecânica e fisiologia); e a
atuação do ergonomista nas empresas.
Ao final desta unidade, você terá atingido os objetivos do
estudo e será capaz de desenvolver uma Análise Ergonômica do
Trabalho. Além disso, saberá os impactos do trabalho no corpo
dos trabalhadores, identificando aspectos de interação do ser
humano com outros elementos e sistemas.

Para facilitar a compreensão dos conteúdos, será


apresentada uma situação hipotética: você é contratado como
ergonomista em uma empresa fabricante de mobiliário e
precisa auxiliar na elaboração de um protótipo de posto de
trabalho para gerentes de relacionamento de um grande
banco. Os gerentes estão reclamando que o atual mobiliário
possui quinas vivas, tem uma cadeira sem regulagens que
causa desconforto na região das costas e não está bem
localizado com relação às janelas. Para realizar o projeto, você
sabe que deve obedecer a alguns preceitos com base na
ergonomia para assegurar o conforto, a segurança e o
desempenho eficiente dos trabalhadores. Os gerentes precisarão
de uma mesa, cadeira, telefone, impressora e computador.
Para iniciar o trabalho, você precisa se lembrar: quais são as
zonas de alcance que devem ser respeitadas? Qual a
demanda desse trabalho? Por que é necessário realizar uma
Análise Ergonômica do Trabalho antes de se modificar o
mobiliário? Qual será o seu papel como ergonomista?

Em cada seção desta unidade, você irá aumentar seus


conhecimentos em ergonomia e irá ajudar sua equipe nas
etapas para realização do seu estudo e sistematização de um
documento final que mostre esses resultados e propostas.

Você será o principal responsável pelo sucesso dessa


intervenção, lembrando que um mobiliário nunca é “apenas
um mobiliário”, ele fará parte de um contexto e deve ser
escolhido com a opinião de todos os envolvidos.

Vamos iniciar nossos estudos! Lembre-se de que todo


trabalho se reflete profundamente na vida e na felicidade da
pessoa que o executa. Você tem papel fundamental na
transformação do trabalho e da qualidade de vida dos
trabalhadores.

Bons estudos!
Seção 2.1
Etapas, métodos e técnicas da intervenção ergonômica
Diálogo aberto

Relembrando a situação-problema do Convite ao estudo, na


qual você é contratado como ergonomista em uma empresa de
mobiliário para auxiliar na elaboração de um protótipo de posto de
trabalho para gerentes de relacionamento de um grande banco,
você realiza a primeira visita ao banco para identificar qual a demanda
que levou à sua contratação. Ao visitar a agência para iniciar a
análise ergonômica do trabalho dos gerentes de relacionamento
para a modificação do seu mobiliário, precisa identificar quais
serão as etapas da intervenção ergonômica. Para isso, é
importante que relembre: o que é a demanda e qual é a demanda
nesse caso? Qual é a importância de realizar uma análise global
da empresa e da população de trabalhadores? Quais são os
impactos de se analisar a tarefa na escolha das características do
mobiliário?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada no item Não pode faltar.

Não pode faltar

A obrigatoriedade da Análise Ergonômica do Trabalho consta


na Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e
Emprego. Todo estudo em ergonomia tem como objetivo a
segurança, o conforto e o desempenho eficiente dos
trabalhadores, dessa forma, deve ser sistematizado para que as
informações sejam compreendidas por todos os envolvidos.
Assim, a Ergonomia da Atividade, tendo sua origem na França,
possui uma metodologia própria, considerando aspectos voltados
ao trabalho real e aspectos sociais contidos no contexto no qual
aquele trabalho está inserido.

U2 - Macroergonomia 57
Não há um modelo pronto e são diversos os exemplos de
documentos que sistematizam uma Análise Ergonômica do Trabalho,
porém existem algumas etapas básicas que precisam ser
seguidas para se garantir que os aspectos mais importantes da
situação de trabalho sejam analisados.

Etapas da intervenção ergonômica


O primeiro item da Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17)
aponta que o principal objetivo da ergonomia é estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho
às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente.
Quando falamos em “parâmetros”, não estamos falando,
necessariamente, de números e questões quantitativas. Percebe-se
uma tentativa constante de criar regras, manuais, números, indicadores
e tantas outras limitações que acabam restringindo cada vez mais
a autonomia das pessoas, na tentativa de alcançar um padrão que
molde cada pessoa e cada fazer como se todas as situações
fossem iguais.
Por exemplo: qual o peso correto para caixas serem
carregadas sem prejudicar a saúde das pessoas?
Muitos já tentaram estabelecer um padrão. A própria
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu Capítulo V, Título
II, artigo 198, diz que é 60 kg o peso máximo que um trabalhador
pode carregar. O estabelecimento de um peso depende das
condições e do contexto onde essas caixas estão.
A que altura elas estão do chão (quanto mais baixas, maior
esforço na coluna para alcançá-las e manipulá-las)? São fáceis de
pegar? Quantas vezes por minuto elas devem ser carregadas?
Quanto tempo na jornada o trabalhador dedica para carregá-las?
Existe assimetria nesse trabalho de forma a aumentar a
sobrecarga na coluna?
Perceba que o peso das caixas é apenas um dos fatores. Todas
essas perguntas podem ser respondidas com uma infinidade de
respostas, dependendo de cada situação, de cada trabalho e de
cada trabalhador.
O papel do ergonomista se foca aqui: os limites de tolerância

5 U2 -
nem sempre podem ser medidos objetivamente. Às vezes, uma
solução sempre é dar maior flexibilidade, autonomia e opções para
que o trabalhador escolha a melhor forma de trabalhar. Para avaliar
conforto,

U2 - Macroergonomia 59
apontado na NR 17 como objetivo da ergonomia, é imprescindível
a expressão do trabalhador, pois só ele pode confirmar a
adequação das soluções propostas.
Sabemos que é difícil para técnicos acostumados a lidar com
números e valores objetivos terem de levar em conta a opinião dos
trabalhadores e se basearem nela para realizar mudanças no
trabalho.
Como “provar” que essa solução será melhor? Onde estão os números?
Onde estão as tabelas que identificam riscos em uma atividade?
É sempre importante, ao iniciar um estudo em ergonomia,
capacitar as pessoas e ensiná-las sobre os objetivos e a metodologia
da ergonomia, para evitar expectativas que induzam a números que
não fazem sentido. Lembre-se de que a origem das atuais
inadequações existentes no mundo do trabalho deve-se, em
grande parte, à separação radical entre a concepção das condições
e organização do trabalho e a sua execução (por exemplo, na
Administração Cientifica do Trabalho de Taylor, vista na Unidade
1). Ao se ignorar a opinião do trabalhador e tentar apontar tudo
objetivamente, esquecemos aspectos cognitivos essenciais nas
condições de trabalho. Essas condições se referem ao
levantamento, ao transporte, descarga de materiais e mobiliário,
equipamentos, às condições ambientais, ao posto de trabalho, à
organização do trabalho e aos aspectos cognitivos (treinamentos,
aprendizado, decisões).

Reflita
É importante apontar que a organização do trabalho não deve ser
considerada intocável e passível de ser modificada apenas por iniciativa
da empresa. Os trabalhadores devem ter voz a respeito de como o
trabalho é conduzido e seus saberes devem ser considerados na
concepção de cada aspecto do trabalho. Precisamos nos perguntar
até que ponto as regras, os ritmos, as metas e os indicadores
condizem com a realidade. Será que o trabalhador é avaliado
verdadeiramente pelo seu trabalho? Será que o sistema implantado
realmente facilita o trabalho?

A Análise Ergonômica do Trabalho não possui um modelo


ou protocolo especifico, porém possui 12 passos que devem

6 U2 -
ser minimamente seguidos de acordo com o Manual de
Aplicação da

U2 - Macroergonomia 61
Norma Regulamentadora nº 17. Eles estão esquematizados na Figura
2.1e serão vistos em detalhes ao longo desta seção.

Figura 2.1 | Os 12 passos para elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho

Fonte: elaborada pelo autor.

Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a


análise global da empresa e dos trabalhadores
Toda Análise Ergonômica do Trabalho parte de uma demanda,
e este é o primeiro passo:
1) Análise da demanda e do contexto.
A obrigatoriedade desse estudo de acordo com a Norma
Regulamentadora nº 17 tem levado as empresas, muitas vezes, a
a realizarem a Análise Ergonômica do Trabalho de forma rotineira
e protocolar, o que leva a análises superficiais que não contribuem
com a melhoria das condições de trabalho.
Sempre que uma empresa for notificada a realizar uma Análise
Ergonômica do Trabalho, todos devem ter clareza do objeto de
análise: ergonomista, trabalhadores envolvidos na situação de trabalho,
departamento de saúde, chefia imediata, alta hierarquia da
empresa, enfim, todos que de alguma forma influenciam aquele
trabalho. A Análise Ergonômica do Trabalho deve deixar clara, no
início, qual foi a demanda que a motivou, para que todos saibam de
quais problemas

6 U2 -
esse documento irá tratar. Toda situação de trabalho precisa ser
analisada para identificar seus aspectos reais, porém, uma vez
que não há queixas e problemas apontados, aquela situação não
precisa ser estudada. Esse é um processo construtivo e
participativo para a resolução de um problema complexo que exige
o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para
realizá-las e das dificuldades enfrentadas para se atingir o
desempenho e a produtividade exigidos.
A demanda pode ser de saúde (acidentes e doenças), social
(reclamação de sindicato), legal (multas, notificações e fiscalizações)
e para melhorar a qualidade de um produto ou serviço para
ganhos de produtividade. Ela deve ser discutida e reconstruída pelo
ergonomista e seus interlocutores logo nos primeiros contatos. A
origem do problema, algumas vezes, não é o que havia sido
explicado e pode ser que não estivesse claro a todos os
envolvidos.
Após análise da demanda e do contexto para situar o problema
a ser analisado, o segundo passo é: 2) análise global da empresa.
Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa
para contextualizar a situação de trabalho. Dessa forma,
identificamos localização geográfica, situação econômica, grau
tecnológico, quem são seus clientes, sua regulamentação (regras
internas, procedimentos, políticas, estratégias), tipos de produto e
serviço (inclusive, padrões de qualidade e certificações), estrutura
administrativa (organogramas e fluxogramas de processos que
estejam relacionados à demanda), características das matérias-
primas, variações sazonais da produção, principais tarefas, arranjo
físico (leiaute), automação, metas produtivas, capacidade de
produção, índice de produtividade e organização do trabalho
(horários, turnos, cadências, ritmos, remuneração, forma de
contratação e exigências).
Esse mapeamento é importante para identificar, inclusive, as
melhorias a serem propostas.
Em seguida, precisamos realizar o terceiro passo: 3) análise da
população trabalhadora. Devemos mapear a política de pessoal,
faixa etária, se há rotatividade, tempo de casa, experiência, categorias,
níveis hierárquicos, características antropométricas, pré-requisitos,
nível de escolaridade e capacitação (quais treinamentos específicos a
empresa proporciona para cada tarefa), estado de saúde e
absenteísmo.
U2 - Macroergonomia 63
Devemos conhecer os trabalhadores para entender como
melhorar o trabalho para eles. É importante ressaltar que, ao tratar
da

6 U2 -
idade e do tempo de casa dos trabalhadores, não apontamos a
média de idade, e sim as faixas etárias em histograma.

Exemplificando
A Figura 2.2 mostra um exemplo de descrição de faixa etária de uma
população de trabalhadores.
Figura 2.2 | Exemplo de histograma com a distribuição de frequências
referentes à idade

Fonte: elaborada pelo autor.

Perceba que as idades estão agrupadas em faixas etárias. Assim,


conseguimos visualizar a distribuição de idades e identificar,
inclusive, se a empresa permite um envelhecimento da sua
população de trabalhadores ou se é uma empresa que emprega
apenas jovens.

Metodologia da Ergonomia da Atividade: a tarefa e o pré-diagnóstico


Após identificar a demanda e reconstruí-la, podemos identificar
quais situações de trabalho precisam ser analisadas. Este é o
quarto passo: 4) definição das situações a serem estudadas.
Essa definição está totalmente relacionada à demanda reformulada.
Estudamos apenas as situações que envolvem a demanda escolhida.
Como vimos na Unidade 1 de nosso estudo, é imprescindível
identificar aspectos da tarefa prescrita (o que a empresa espera) e
do
U2 - Macroergonomia 65
trabalho real. Realizar reuniões iniciais para identificar a
participação de cada ator naquela situação de trabalho e o que
cada um pensa sobre a demanda do estudo é essencial.
Por exemplo: um engenheiro de processos pode acreditar que
seu sistema de indicadores de desempenho seja a melhor forma
de identificar os melhores trabalhadores e busca apontar como
elegíveis para promoção apenas os trabalhadores que se dão bem
com esse sistema. Pode acontecer, na realidade, de trabalhadores
altamente capacitados não serem bem avaliados pelo sistema, o
qual não considera aspectos reais do trabalho.
Assim, o quinto passo é: 5) descrição das tarefas (prescritas e reais)
e das atividades desenvolvidas para executá-las (como o trabalhador
age, pensa, usa seu corpo e sua mente). É importante que a descrição
da tarefa permita compreender o que o trabalhador deve fazer (a
tarefa), como proceder para atingir esse objetivo (atividade) e as
dificuldades que enfrenta.
Nessa descrição, devemos mapear dados: a) sobre os
trabalhadores (formação necessária, quem faz o que, o que utiliza,
de quem precisa, aspectos biomecânicos e antropométricos, posturas
utilizadas, para onde olha e de quais informações precisa, demanda
cognitiva, decisões a serem tomadas, ações imprevistas, com quem
precisa se comunicar, de quem e do que depende, deslocamentos
necessários); b) dados do posto de trabalho (dimensões, órgãos de
comando, sinalizações, princípios de funcionamento de máquinas e
ferramentas, problemas aparentes), como quinas vivas, panes e falta de
calibração, por exemplo; c) interação homem x máquina (informações
necessárias, improvisações, gambiarras, principais regulações em
relação ao homem, ao posto, ao sistema); d) dados ambientais
(conforto térmico, iluminamento, ruído que possa atrapalhar na
concentração e causar desconforto, vibração, questões tóxicas).

Assimile
Iluminação e iluminamento são duas coisas diferentes. Iluminação é
o efeito provocado pela luz. Digamos que é a luz que sai de uma
fonte natural (janela) ou artificial (lâmpadas). Iluminamento é o
quanto de luz incide sobre uma superfície. Pode ser que em um
ambiente haja muita iluminação, mas alguns postos de trabalho
podem ser prejudicados (por exemplo, por questões de leiaute
inadequado). Assim, problemas específicos de iluminamento podem
levar ao desconforto visual ou ainda podem limitar a visibilidade de
6 U2 -
informações importantes.

U2 - Macroergonomia 67
Ao descrever a tarefa e como a atividade surge, precisamos
mapear as exigências do trabalho. Algumas perguntas devem ser feitas:
quais os esforços dinâmicos (movimentos, deslocamentos,
carregamento de peso) e estáticos (duração e frequência de postura
exigida)?; Quais são as exigências sensoriais, Quais órgãos dos
sentidos são recrutados, cores, sinais luminosos, sons, estímulos,
comandos e grau de precisão exigido?
Quanto mais rígidas as regras e o grau de precisão de alguma
tarefa, mais limitado estará o trabalhador. Quanto maior a margem
de manobra (flexibilidade e autonomia) do trabalhador, mais fácil
de adequar o sistema às suas necessidades.
O sexto passo é: 6) estabelecimento de um pré-diagnóstico
e, como o nome indica, ainda não é o diagnóstico final. Nessa
etapa, deve ser explicitado às várias partes envolvidas tudo o que
foi entendido e analisado com relação à tarefa e situação de
trabalho motivada pela demanda. Assim, tudo será validado,
podendo o ergonomista continuar com essas conclusões ou
abandoná-las como hipótese para o problema, verificando se tudo
que analisou até então faz sentido para o estudo.
Em seguida, temos o sétimo passo: 7) observação sistemática.
Filmar, fotografar, observar livremente, entrevistar (questionários,
roteiros semiestruturados) e realizar grupos focais são métodos de
coleta de informação. Avaliar conforto de acordo com a opinião de
um único trabalhador pode não ter validade geral. Deve-se
conversar com diversos trabalhadores e, principalmente, validar
com eles se o que você entendeu e escreveu faz sentido para
todos. Realize grupos em que as pessoas falam livremente sobre o
que elas fazem. Perguntar o que uma pessoa faz e como é seu
trabalho é um início poderoso. Você pode se surpreender com a
quantidade de informações e saberes que partem das
verbalizações dos trabalhadores.
Ao pedir para que o trabalhador reflita sobre o que faz e sobre
a importância do que faz, você já causa uma transformação: o
reconhecimento do sentido no trabalho é um dos caminhos que
leva à saúde.
Caso encontre alguma frase importante, você pode citá-la na
análise, jamais identificando quem a disse. Um termo de
consentimento assegurando a confidencialidade das informações é
essencial.

6 U2 -
Existem, na literatura, alguns modelos de checklists utilizados
em ergonomia. Lembre-se de que nenhum deles consegue
mapear

U2 - Macroergonomia 69
uma situação de trabalho em sua totalidade. Conversar com os
trabalhadores e valorizar seus saberes e opiniões é muito importante.
Mesmo assim, esses checklists e ferramentas podem ser utilizados
como métodos auxiliares, sempre complementados pela
opinião do ergonomista, devido à limitação deles. Alguns
exemplos são: Equação Niosh de levantamento e transporte de
cargas, Rapid Upper Limb Assessment (Rula), Occupational
Repetitive Action (Ocra), Strain Index, Checklists de Couto, entre
outros.

Pesquise mais
Para saber mais sobre os checklists utilizados em ergonomia, leia o
Capítulo 2 da dissertação de mestrado de Joellen Ligeiro, intitulada
Ferramentas de Avaliação Ergonômica em Atividades Multifuncionais:
A contribuição da Ergonomia para o design de ambientes de trabalho,
de 2010, disponível em: <https://www.faac.unesp.br/Home/Pos-
Graduacao/MestradoeDoutorado/Design/Dissertacoes/joellen-ligeiro.
pdf>. Acesso: em: 27 abr. 2017.

Além disso, para entender melhor a limitação dos checklists, leia o artigo A
contribuição da ergonomia para a identificação, redução e eliminação
da nocividade do trabalho, de Ada Ávila Assunção e Francisco P. A. Lima
(2003), disponível em: <http://www.forumat.net.br/at/sites/default/files/arq-
paginas/a_
contribuicao_da_ergonomia_para_a_ident._reducao_e_eliminacao_da_
nocividade_cap_rene_mendes.pdf> acesso em: 27 abr. 2017.

Metodologia da Ergonomia da Atividade: o diagnóstico e a


proposta de melhorias
O oitavo passo é: 8) diagnóstico ou diagnósticos do
problema apontado como demanda para a Análise Ergonômica
do Trabalho. Depois de analisar todas as situações em detalhe
e sistematizá- las, é possível formular um diagnóstico que
permitirá o melhor conhecimento da situação de trabalho.
Chegar a um diagnóstico quer dizer encontrar a causa dos
sintomas referentes à situação de trabalho. Em um frigorífico,
podemos atribuir uma inflamação dos nervos da mão devido aos
movimentos repetitivos, porém esses movimentos, provavelmente,
foram motivados pela velocidade da esteira da linha de produção.

7 U2 -
Reflita
Dessa forma, é possível propor uma solução simplificada para essa
situação, como a troca da ferramenta de corte?

Alterar a organização do trabalho pode ser a única saída para a


preservação da saúde, de acordo com a situação.

Por fim, os últimos três passos são correlacionados: 9)


validação do diagnóstico: em que o ergonomista o apresenta a
todos os atores envolvidos, os quais poderão confirmá-lo, rejeitá-lo
ou sugerir maiores detalhes que escaparam à sua percepção; 10)
projeto de modificações: alteração para sanar os problemas e
transformar realmente a situação do trabalho resolvendo os
problemas e reduzindo os fatores que induzem ao adoecimento, à
insegurança ou ineficiência; 11) cronograma de implantação:
traçar um plano de ação com data, responsáveis, objetivos e
custos, e de acordo com prazos, prioridades e urgências; 12)
acompanhamento das modificações: o ergonomista não deve
abandonar o estudo na entrega das informações iniciais. É
primordial que ele acompanhe as modificações, e isso deve estar
acordado desde o início. É preciso avaliar o impacto das
modificações sobre os trabalhadores e, se possível, formar um
comitê de melhorias relacionadas à ergonomia que seja
capacitado para continuar com os estudos e as melhorias.
Finalizando, esperamos que tenha compreendido as fases da Análise
Ergonômica do Trabalho e a metodologia da Ergonomia da
Atividade.

Sem medo de errar

Após ter adquirido conhecimento sobre ergonomia e as etapas


necessárias para se realizar a Análise Ergonômica do Trabalho,
você é capaz de analisar a situação-problema apresentada no
Diálogo aberto e iniciar a capacitação da equipe que irá resolver os
problemas relacionados à ergonomia na agência bancária em
questão.
Você é contratado como ergonomista em uma empresa de
mobiliário para auxiliar na elaboração de um protótipo de posto
U2 - Macroergonomia 71
de trabalho para gerentes de relacionamento de um grande
banco.

7 U2 -
Você realiza a primeira visita à agência bancária para identificar qual
a demanda que levou à sua contratação.
Dessa forma, você identifica que a demanda inicial é a
modificação do mobiliário.
Ao visitar o banco para iniciar a análise ergonômica do trabalho dos
gerentes de relacionamento para a modificação do seu mobiliário, você
precisa identificar que as etapas da intervenção ergonômica são: 1)
identificação e reformulação da demanda; 2) análise global da
empresa;
3) análise da população de trabalhadores; 4) definição da situação
a ser estudada; 5) descrição da tarefa; 6) pré-diagnóstico; 7)
observação sistemática; 8) diagnóstico; 9) validação do diagnóstico; 10)
propostas de melhorias e projetos; 11) cronograma de ação; 12)
acompanhamento.
Para uma boa análise do mobiliário e realização de
considerações pertinentes, essa análise deve ser feita
considerando os saberes dos trabalhadores e sua opinião sobre o
conforto com relação ao mobiliário, entendendo quais as
facilidades e dificuldades que ele representa na realização da
tarefa.
Ao analisar a tarefa, a população de trabalhadores e as
características da empresa, podemos traçar um plano de ação
contextualizado à realidade da empresa e de seu grau tecnológico,
além de adequar as características fisiológicas da população de
trabalhadores específica daquela empresa. Ao analisar a tarefa na
escolha das características do mobiliário, podemos garantir que os
trabalhadores foram ouvidos, opinaram e que foram observados
todos os aspectos da utilização daquele mobiliário que podem
influenciar na realização do trabalho.

Avançando na prática

Epistemologia e ética em Ergonomia


Descrição da situação-problema
Você é chamado por uma montadora de veículos para realizar
a Análise Ergonômica do Trabalho em uma de suas filiais. Como a
filial é nova, pedem que você analise todas as situações de
trabalho da empresa, em busca de propostas de melhoria. Após a
conclusão do estudo, você identifica que uma das situações de
U2 - Macroergonomia 73
trabalho exige que o trabalhador realize muitos movimentos
repetitivos e força excessiva. Ao validar esse diagnóstico, o
empregador pede que

7 U2 -
você retire essa informação de seu relatório. O que é preciso fazer
nessa situação?

Resolução da situação-problema
É necessário registrar a realidade do trabalho e propor
melhorias. Não há importância em registrar um problema voltado à
ergonomia. O que é preciso é montar um cronograma e manter o
foco nas modificações que devem ser feitas para adequar o
trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores.
Lembre-se de que é o seu nome que estará vinculado às
informações coletadas e existe responsabilidade civil e criminal
com relação à omissão de informações referentes à saúde e
segurança no trabalho. Oriente o empregador a manter as
informações e direcionar as energias para modificações que não
serão benéficas apenas aos trabalhadores, mas sim a toda a
empresa.

Faça valer a pena

1. Não existe um modelo pronto de Análise Ergonômica do Trabalho,


porém existem algumas etapas básicas que precisam ser seguidas para se
garantir que os aspectos mais importantes da situação de trabalho sejam
analisados. A respeito das etapas para a realização da Análise Ergonômica
do Trabalho, assinale a alternativa correta.
a) São 12 passos: demanda, análise global da empresa, análise global da
população trabalhadora, definição da situação de trabalho, descrição
da tarefa, pré-diagnóstico, observação sistemática, diagnóstico, validação
do diagnóstico, proposta de melhoria, cronograma e
acompanhamento.
b) São 5 passos: objetivo, desenvolvimento, materiais e métodos,
resultados e discussão.
c) São 12 passos: demanda, análise local da empresa, análise da
população trabalhadora afastada, descrição da tarefa, descrição da
atividade, pré- diagnóstico, observação sistemática, diagnóstico,
validação do diagnóstico, proposta de melhoria, cronograma e
acompanhamento.
d) São 3 passos: ergonomia física, ergonomia organizacional e ergonomia
cognitiva.
e) Não existem etapas fixas, pois não há um modelo de documento.

U2 - Macroergonomia 75
2. Nesta etapa, mapeamos a política de pessoal, faixa etária, se há
rotatividade, tempo de casa, experiência, categorias, níveis hierárquicos,

7 U2 -
características antropométricas, pré-requisitos, nível de escolaridade e
capacitação (e quais treinamentos específicos a empresa proporciona
para cada tarefa), estado de saúde e absenteísmo.
Com relação à Análise Ergonômica do Trabalho, qual das etapas a seguir
trata do mapeamento dos elementos mencionados?
a) Análise global da empresa.
b) Descrição da tarefa.
c) Análise da população trabalhadora.
d) Análise global da situação de trabalho.
e) Monitoramento de absenteísmo.

3. A metodologia da análise ergonômica do trabalho permite descrever a


realidade do trabalho e propor melhorias às condições analisadas.
Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que contém elementos
utilizados na metodologia da Análise Ergonômica.
a) Valorizar os saberes dos trabalhadores, mapear as características da
empresa e reformular a demanda com os atores envolvidos.
b) Aplicar checklists, desenvolver um método próprio de coleta de dados
que não precise utilizar a opinião dos trabalhadores e criar programas que
gerem conforto aos trabalhadores.
c) Realizar a Análise Ergonômica do Trabalho utilizando as fases
descritas na ABNT 12301, propor melhorias e acompanhar melhorias.
d) Verificar multas anteriores da empresa, copiar dados de riscos físicos,
químicos e biológicos do PPRA para a AET e propor melhorias.
e) Mapear apenas as posturas, aplicar ferramenta de análise e propor
uma solução padrão que atenda todas as situações de trabalho.

U2 - Macroergonomia 77
7 U2 -
Seção 2.2
Fisiologia humana e sobrecargas no trabalho
Diálogo aberto

Relembrando a situação-problema do Convite ao estudo, você


é contratado como ergonomista por uma empresa de mobiliário e
precisa projetar novos postos de trabalho dos gerentes de
relacionamento de um grande banco. Após uma visita, você identifica
que os gerentes estão reclamando que o atual mobiliário possui quinas
vivas, tem uma cadeira sem regulagens que causa desconforto na
região das costas e não está bem localizado com relação às janelas.
Para realizar o projeto, você sabe que deve obedecer a alguns preceitos
de base de ergonomia para assegurar o conforto, a segurança e o
desempenho eficiente dos trabalhadores. Os gerentes precisarão de
mesa, cadeira, telefone, impressora e computador. Ao conversar com
eles para iniciar seus estudos e criar o protótipo de posto de
trabalho, você percebe que deve responder aos seguintes
questionamentos: quais aspectos de biomecânica ocupacional
você deverá considerar? Sabendo que os trabalhadores estão
distribuídos em três turnos de trabalho, o que deverá ser considerado
com relação à fadiga e monotonia? Quais aspectos podem gerar carga
física do trabalho caso o posto de trabalho não esteja bem organizado
e dimensionado? Qual é a importância de se verificar não apenas
aspectos físicos mas também os cognitivos envolvidos na tarefa dos
gerentes?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada no item Não pode faltar.

Não pode faltar

Nesta seção, vamos discutir alguns aspectos relacionados à


fisiologia e biomecânica em situações ocupacionais. Sabemos que
cada situação de trabalho é única e sua singularidade se apresenta
em diversos aspectos. Só conseguimos conhecer a realidade do
U2 - Macroergonomia 79
trabalho e suas dificuldades conversando com o trabalhador.

8 U2 -
A função do ergonomista sempre é compreender o trabalho
para transformá-lo. Para isso, é fundamental conhecer preceitos
básicos relacionados ao funcionamento do corpo humano, para
propor adequações que respeitem as limitações e os riscos de
saúde que podem aparecer quando projetamos de forma
inadequada um ambiente ou uma situação de trabalho.

Fadiga, monotonia e motivação


Nosso corpo precisa de energia e de estímulos para funcionar
de maneira adequada.
Se estamos cansando ou tendo sono no trabalho, pode ser por
causa de alguma inadequação nele.
Quando ouvimos a palavra “monotonia”, logo nos
remetemos àquilo que é chato, parado, moroso. Em ergonomia,
pensando em situações de trabalho, monotonia é a reação do
organismo a um ambiente uniforme, pobre em estímulos ou com
pouca variação.
Isso leva à sensação de sonolência e diminuição da atenção. Se
nada está acontecendo e nada está pedindo que você interaja
ativamente com atenção, a tendência é que os pensamentos se
direcionem para outro lugar. Um exemplo são as operações repetitivas
na indústria (trabalhar na linha de produção com atividades altamente
segmentadas e de ciclos de tempo curtos, sem variação) e o tráfego
rotineiro (dirigir um caminhão na estrada por longa distância no
período noturno).
As condições que podem levar a estados de monotonia são
as atividades repetitivas, de longa duração, com mínimo grau de
dificuldade, sem possibilidade de desligar-se mentalmente de todo
do trabalho, e as tarefas de observação de longa duração, pobres
em estímulos, com a obrigação de atenção permanente.
Fadiga, por sua vez, está relacionada com uma capacidade de
produção diminuída e a uma perda de motivação para qualquer
atividade.
Esse cansaço, falta de energia, é causado por um conjunto
complexo de fatores, cujos efeitos são cumulativos: os fatores
fisiológicos, relacionados com a intensidade e duração do
trabalho físico e intelectual; os fatores psicológicos, como a
monotonia e a falta de motivação; e os fatores ambientais e

U2 - Macroergonomia 81
sociais, como iluminação, ruídos, temperaturas e
relacionamento social com a chefia e os colegas de trabalho.

8 U2 -
Reflita
Já percebeu como é comum as pessoas reclamarem que é segunda-
feira e festejarem que a sexta-feira chegou? Passamos grande parte das
nossas horas produtivas trabalhando. Pense: dormimos, acordamos,
trabalhamos, estudamos e voltamos para casa. A sexta-feira vira
símbolo do final de uma maratona cansativa e estressante. O final de
semana torna- se uma premiação aos trabalhadores cansados daquele
trabalho que não os motiva, não lhes traz sentido, significado, ou
desenvolvimento pessoal.

A monotonia e a fadiga remetem a um tipo de cansaço


corporal e mental que pode estar relacionado ao tipo de tarefa
realizada por aquele trabalhador. Ao transformar essa situação
de trabalho, devemos pensar em como motivar esse
trabalhador, em criar perspectivas para que ele possa explorar
sua inteligência naquela tarefa e ser recompensado quando tiver
destaque em algum indicador que realmente tem sentido com o
que está sendo feito.

Pesquise mais
Para saber mais sobre as questões que geram motivação e
sustentabilidade no trabalho, leia a tese de doutorado de Claudio
Marcelo Brunoro, apresentada em 2013, na Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, com o título Trabalho e sustentabilidade:
contribuições da ergonomia da atividade e da psicodinâmica do
trabalho. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-19092014-
105026/pt-br.php>. Acesso em: 7 maio 2017.

Para motivar um trabalhador, é necessário analisá-lo


individualmente, conhecer suas habilidades, suas aspirações,
seus problemas e seu convívio social. De posse dessas
informações, é possível saber quais necessidades a empresa deve
preencher para motivá-lo no trabalho.

U2 - Macroergonomia 83
Reflita
É preciso tomar cuidado com indicadores de desempenho.
Geralmente, setores voltados à análise de processos criam indicadores
de desempenho voltados a números, vendas e metas, desconsiderando
totalmente o fator humano. Essas metas não se relacionam com a
realidade do trabalho e, muitas vezes, levam os trabalhadores a
criarem mecanismos de defesa para conseguirem trabalhar sendo
avaliados o tempo todo. Pense: avaliar apenas o valor da venda sem
considerar o tempo gasto para dar atenção ao cliente? Avaliar o
tempo de atendimento sem perceber todo esforço e demanda
cognitiva para resolver um problema? Criar metas que causem
competição entre trabalhadores do mesmo setor?

Uma motivação bem-sucedida é voltada a indicadores de


desempenho reais, espaços abertos de discussão (e não de punição)
e cooperação entre equipes. A ergonomia é voltada às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e, para nos
adequarmos a elas, é preciso conhecer alguns pontos importantes.

Fatores humanos no trabalho


As características psicofisiológicas estão relacionadas ao
conhecimento do funcionamento do ser humano. Embora não
seja possível generalizar e nem mapear todas as
características possíveis, há alguns pontos que fazem parte do
consenso de estudos voltados às preferências dos seres
humanos em ambiente de trabalho: 1) preferem escolher
livremente a sua postura de acordo com a tarefa que estiver
desempenhando; 2) preferem alternar os músculos utilizados na
tarefa, e não apenas determinados segmentos corporais; 3)
toleram mal tarefas fragmentadas com tempo curto para
execução, especialmente se for imposto por uma máquina, pela
chefia, pelos clientes ou colegas, ou seja, preferem impor sua
própria cadência ao trabalho; 4) são estimulados a acelerar sua
cadência quando estimulados, não levando em conta os limites
do seu sistema musculoesquelético; 5) sentem-se bem quando
solicitados a resolver problemas, afinal, são seres que pensam
e agem (e não uma máquina que só executa movimentos); 6)
têm capacidades sensitivas e motoras que funcionam dentro de
8 U2 -
certos

U2 - Macroergonomia 85
limites, que variam entre as pessoas e ao longo do tempo; 7) suas
capacidades sensorimotoras modificam-se com o envelhecimento,
mas perdas eventuais são compensadas por estratégias e
experiência;
8) organizam-se coletivamente para gerenciar a carga de trabalho,
ou seja, nas atividades humanas, a cooperação tem um papel
importante, muito mais que a competitividade.
Para criar um posto de trabalho ou desenhar uma situação de
trabalho, deveríamos sempre priorizar as características descritas.
Um posto de trabalho, mesmo quando projetado levando em
consideração as características antropométricas, pode acabar
se tornando desconfortável por outros fatores (organizacionais,
ambientais e sociais).

Biomecânica ocupacional
A biomecânica ocupacional é a ciência que estuda movimentos
corporais e forças relacionados ao trabalho. Vamos abordar
alguns dos princípios básicos de biomecânica ocupacional e os
principais pontos de atenção para se priorizar a saúde dos
trabalhadores quando interagirem com seu posto de trabalho,
máquinas, ferramentas e materiais.
Nosso corpo é a máquina mais extraordinária que existe.
Células unem-se para formar tecidos, os quais se unem para formar
sistemas. Em biomecânica ocupacional, priorizamos a forma como
nossos ossos, músculos e articulações funcionam e interagem nas
situações de trabalho.
Nossos músculos são constituídos em seu centro por feixes de
fibras e em suas extremidades por tendões. Os tendões inserem-
se nos ossos, fixando o músculo que, ao contrair, movimenta o
segmento corpóreo no qual está localizado.

8 U2 -
Figura 2.3 | Estrutura muscular

Fonte: Sobotta (2000, p. 11).

Caso haja uma demanda que exceda o limite desse músculo,


ele pode tencionar, inflamar e até mesmo se romper. O trabalho
muscular se traduz pela contração de certos músculos e pelo
relaxamento de outros. Existem outras estruturas (bursas, nervos,
ligamentos, entre outras) que interagem ativamente com nossos
ossos, músculos e articulações, porém nossa atenção será voltada
aos principais segmentos corpóreos e aos pontos de atenção
voltados às situações de trabalho.

Pesquise mais
Atualmente, é muito fácil encontrar vídeos e animações que
representam o corpo humano com grande precisão. Como sugestão
de pesquisa, verifique no YouTube vídeos sobre a articulação do
ombro, a coluna vertebral e mãos e punhos. Experimente usar como
palavras-chave “biomecânica” e “anatomia” junto às articulações que
deseja conhecer melhor. Sugerimos alguns vídeos:

Biomecânica da coluna:

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yY_7GH0D0LA>.


Acesso em: 31 jul. 2017.

U2 - Macroergonomia 87
Biomecânica do ombro:

Disponível em: Acesso em: 31 jul. 2017.


Biomecânica do cotovelo:

Disponível em: Acesso em: 31 jul. 2017.

O corpo humano é um sistema de alavancas. Os músculos


produzem força e movimentam os segmentos corpóreos, tendo
as articulações como eixo. Quando existe o movimento com
essa força rotatória em torno da articulação, é gerado um torque
(força rotatória vezes o braço de alavanca). Para cada movimento,
há pelo menos dois músculos que trabalham antagonicamente:
quando um se contrai, outro se distende. Da maneira parecida com
as alavancas mecânicas, nosso corpo trabalha com três tipos:
1.Alavanca interfixa ou de primeira classe: o eixo (apoio) está
entre a força e a resistência (o que transmite velocidade, mas com
pouca força). Um exemplo dessa alavanca é o tríceps.
2. Alavanca inter-resistente ou de segunda classe: a resistência
está entre o eixo e a força. É o caso dos músculos da parte
posterior da perna que se ligam ao calcanhar, mas é rara no corpo
humano (seria a ideal para gerar força).
3. Alavanca interpotente ou de terceira classe: a força é
aplicada entre o eixo e a resistência. É a alavanca mais comum no
corpo humano e é a que tem a força mais prejudicada.

8 U2 -
Figura 2.4 | Alavancas do corpo humano

Fonte: Iida (1990, p. 74).

É preciso respeitar os limites de força do nosso corpo devido


a esse sistema de alavancas. Quando realizamos um movimento
que demanda muita força ou exige muitos movimentos sem
pausas suficientes para descanso, podemos adoecer. Nesse
sistema de movimentos, vamos verificar como se comportam
os segmentos corpóreos mais utilizados no ambiente de
trabalho.

A coluna vertebral e os membros inferiores


A coluna vertebral é uma estrutura flexível composta por 33
vértebras divididas nas seguintes regiões: cervical (pescoço), com
7 vértebras; torácica (tronco), com 12 vértebras; lombar (região da
cintura), com 5 vértebras; sacro (região do quadril), com 5
vértebras fundidas; e o cóccix (ponta final da coluna), que tem de 4 a
5 vértebras, também fundidas.
A coluna possui dois tipos de curvatura, as lordoses (cervical e
lombar) e as cifoses (torácica e sacral).

U2 - Macroergonomia 89
Figura 2.5 | Coluna vertebral

Fonte: adaptada de: <https://goo.gl/cMBU6K>. Acesso em: 6 jul. 2017.

Quando analisamos situações de trabalho, o principal risco


relacionado à coluna é no levantamento e transporte de cargas. A
Norma Regulamentadora nº 17 trata especialmente disso, porque
é extremamente difícil padronizar um peso que seja correto e
seguro para todas as situações possíveis de trabalho.
Entre as vértebras existe uma estrutura cartilaginosa chamada
disco intervertebral. Esse disco absorve possíveis impactos e, em
casos de sobrecarga de força ou postura que possa sobrecarregá-lo,
esse disco pode se romper, levando à possibilidade de uma hérnia
discal.

9 U2 -
Figura 2.6 | Disco intervertebral

Fonte: adaptada de <https://goo.gl/QiXPoR>. Acesso em: 6 jul. 2017.

No Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho


(CLT), em seu artigo 198, é estabelecido que o peso máximo a ser
carregado por um trabalhador (adulto e do sexo masculino) é de
60 kg. Esse peso foi estabelecido em uma época em que não
havia muitos estudos para embasar qual o melhor peso a ser
estipulado. Para questões de fiscalização, sempre que encontramos
um número, facilitamos a padronização desse parâmetro, mas
sabemos que em ergonomia isso não funciona. Não é possível
estabelecer um peso seguro para todas as situações. Em 1991, o
National Institute of Occupational Safety and Health (Niosh)
desenvolveu uma equação para ser aplicada nas situações de
trabalho em busca de um peso que seja mais seguro para ser
levantado e transportado. A equação considera as seguintes
variáveis: peso da carga (utilizando 23 kg como peso máximo em
situações ideais); distância dos tornozelos até o centro da carga
(devido à localização do centro de gravidade); grau de assimetria;
qualidade da pega; quantidade de vezes que essa carga é
movimentada por minuto; duração da jornada; altura da pega em
relação ao solo e altura para onde essa pega será transportada.

U2 - Macroergonomia 91
Quanto mais baixa estiver a carga, pior será o movimento para
transportá-la. O movimento de flexão de coluna associado à
rotação ou ao carregamento de peso traz um sério risco para a
coluna, especialmente para a região lombar, que suporta todo
esse peso. Deve-se evitar posicionar cargas em alturas baixas e,
sempre que possível, aplicar a equação Niosh de levantamento e
transporte de cargas para analisar situações.
Além disso, existem diferentes alturas para bancadas de
acordo com a natureza e o objetivo do trabalho: quanto mais
precisão visual necessária, mais alta a bancada; quando maior
necessidade de força, mais baixa a bancada (para facilitar o uso da
coluna).

Figura 2.7 | Altura adequada de bancada para os diferentes tipos de trabalho

Fonte: Iida (1990, p. 147).

É preciso ter atenção não apenas ao disco intervertebral, mas a


toda limitação dessa estrutura. Atividades realizadas em bancadas
baixas podem levar a pessoa a ficar muito tempo com a cabeça
projetada para baixo, o que sobrecarrega toda a musculatura
posterior do pescoço.
Quando for possível, para trabalhos realizados em pé,
providenciar um apoio para os pés de forma que o trabalhador
possa alternar o peso de apoio. Além disso, atividades dinâmicas
costumam ser mais confortáveis para membros inferiores, já que a
contração estática atrapalha o fluxo sanguíneo e o relaxamento da
musculatura.
9 U2 -
Membro superior – ombro e braços
A articulação do ombro é uma das mais complexas do corpo
humano, pois permite o maior grau de liberdade de movimentos
(flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e rotação
externa). Essa articulação é composta por três ossos: a escápula,
a clavícula e o úmero (osso do braço).
Todo nosso corpo é interligado por isso qualquer alteração em uma
estrutura pode influenciar direta ou indiretamente em outra. É o
que acontece no ombro. Se o trabalhador realizar atividades manuais
sem um apoio adequado para os antebraços, esse peso permanece
sustentado pelos ombros. Caso não haja equilíbrio entre as forças dos
músculos do ombro, uns podem movimentar mais a articulação ao que
outros, e esse desequilíbrio pode levar ao impacto de estruturas
dentro da articulação. No ombro, existe uma estrutura gelatinosa
chamada bursa, localizada entre estruturas musculares e ósseas para
auxiliar na absorção de impacto. Essa estrutura pode inflamar quando
há sobrecarga de movimentos ou exigência de força. Os tendões e
as estruturas musculares também podem inflamar ou romper,
especialmente em situações nas quais é necessário elevar o
ombro acima de 90°. Quando realizamos esse movimento, há uma
grande aproximação entre as estruturas do ombro, podendo haver
um impacto.
Exemplificando
Quando um objeto está muito alto, ou algum comando de uma máquina, ou uma ferram

É necessário ter atenção a todas as atividades que são


exercidas com membros superiores e respeitar as zonas de alcance
adequadas. A repetitividade, exigência de força excessiva, presença
de compressão mecânica e manutenção de posturas contra a
gravidade que possam gerar desconforto são fatores de risco
ergonômico.

U2 - Macroergonomia 93
Membro superior – mãos e punhos
Nossa mão é extremamente inervada, tem diversos músculos e
ossos, o que possibilita uma infinidade de movimentos e
capacidade de destreza e sensibilidade. O dimensionamento
incorreto da força e a velocidade de movimentos exigidos nesse
segmento podem gerar limitações nas tarefas, podendo provocar
acionamentos acidentais ou ainda sobrecarga do sistema
musculoesquelético. Essas exigências inadequadas, a
repetitividade, os desvios extremos e frequentes do punho, a
concentração de pressão, a vibração e exposição ao frio têm
levado a um aumento nos diagnósticos de doenças ocupacionais
em membros superiores, como síndrome do túnel do carpo,
tenossinovites e tendinites.

Assimile
O sufixo “-ite” indica inflamação quando falamos em doenças.
Portanto, tendinite é a inflamação dos tendões; tenossinovite é a
inflamação da bolsa sinovial que contorna o tendão; bursite é a
inflamação da bursa.

A síndrome do túnel do carpo é uma das afecções mais comuns nos


ambientes de trabalho. Essa doença é causada pela pressão sobre o nervo
mediano, no punho, o que leva à perda de força, dores e parestesias
(sensações cutâneas subjetivas, como formigamento). O nervo mediano
chega à mão através de um canal formado pelos ossos do punho (ossos
carpais), mantidos juntos por uma membrana resistente (ligamento carpal
transversal). Esse espaço é chamado de túnel do carpo, uma estrutura
rígida por onde também passam diversos músculos. Qualquer inchaço de
tecido adjacente (provocado por repetitividade ou exigência de força, por
exemplo) pode ocasionar compressão do nervo, causando a síndrome
do túnel do carpo.
Figura 2.8 | Disposição das estruturas do túnel do carpo

9 U2 -
Fonte: adaptada de <https://goo.gl/663iZ1>. Acesso em: 7 jul. 2017.

U2 - Macroergonomia 95
Fisiologia e carga física do trabalho
Como vimos, cada uma das principais estruturas corporais
precisa de atenção para que possa atuar com o melhor desempenho
e menor risco. Obviamente, não conseguimos dissociar nosso
corpo de nossa mente. Sempre que notarmos questões físicas (que
são mais visíveis), devemos nos aproximar e valorizar os saberes
dos trabalhadores em questões cognitivas também.
A sigla LER significa lesões por esforços repetitivos, sendo também
denominada como distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
(DORT). São doenças caracterizadas pelo desgaste de estruturas
do sistema musculoesquelético que atingem várias categorias
profissionais. Geralmente, são causadas por movimentos
reincidentes e contínuos com consequente sobrecarga dos nervos,
músculos e tendões. O esforço excessivo, má postura, estresse e
condições desfavoráveis de trabalho também contribuem para o
seu aparecimento.
Para não haver implicações legais e aumentar o desempenho
do corpo nas diferentes situações de trabalho, é preciso ter atenção
aos tipos de risco que podem estar presentes.
Alguns outros preceitos podem ser observados em relação à
fisiologia e biomecânica no trabalho. Um deles é a questão do
trabalho estático versus o trabalho dinâmico. No trabalho
dinâmico, existem contração e relaxamento dos músculos, o que
aumenta o volume do sangue circulado e permite um melhor
relaxamento e alternância da musculatura. O trabalho estático é
aquele que exige contração contínua para manter uma
determinada posição, o que diminui o fluxo sanguíneo e pode
sobrecarregar a musculatura.
O trabalho muscular intenso pode ativar o mecanismo de
eliminação do calor gerado pelo metabolismo. Durante o
movimento, há uma melhor irrigação sanguínea e, portanto, maior
abastecimento de oxigênio.
De maneira geral, a concepção dos postos de trabalho não
leva em consideração o conforto do trabalhador, mas sim as
necessidades da produção. Nas posturas predominantemente em
pé, por exemplo, há tendência à acumulação do sangue nas
pernas (resultando em varizes e sensação de peso); tensão
muscular permanentemente para manter o equilíbrio dificulta a
execução de tarefas de precisão; e a penosidade, ou seja, o
9 U2 -
esforço causado pela posição em pé pode ser reforçada se o
trabalhador ainda tiver que manter posturas inadequadas dos
braços (acima do ombro, por exemplo), inclinação

U2 - Macroergonomia 97
ou torção de tronco ou de outros segmentos corporais. Só
devemos escolher essa postura se forem necessários
deslocamentos contínuos, manipulação de cargas ou exigência de
aplicação de força para baixo. Do contrário, devemos priorizar a
postura sentada, sempre favorecendo que o trabalhador possa
alternar entre as duas quando quiser. Sentado, o esforço postural
(estático) e as solicitações sobre as articulações permitem melhor
controle dos movimentos pelo que o esforço de equilíbrio é
reduzido, sendo a melhor postura para trabalhos que exijam
precisão. Essa postura leva a menor gasto energético e maior
conforto.
Basicamente, esses são alguns princípios que podem auxiliar
a entender as principais questões voltadas às sobrecargas físicas
relacionadas ao trabalho. Há uma infinidade de situações, e abordamos
aqui as que motivam as maiores discussões em ergonomia.

Sem medo de errar

Após compreender mais sobre os aspectos biomecânicos e


de fisiologia e avançar nos seus conhecimentos sobre ergonomia,
ao conversar com os gerentes de relacionamento do banco para
iniciar seus estudos para criar o protótipo de posto de trabalho,
você consegue perceber que deverá considerar aspectos
biomecânicos que respeitem a realidade daquele trabalho e que
deverá consultar os trabalhadores a todo momento. Questões
voltadas à altura da bancada, a movimentos realizados em
membros superiores, membros inferiores e coluna vertebral e a
repetitividade, força excessiva, compressão mecânica e postura ideal
devem ser analisadas a todo momento. Sabendo que os
trabalhadores estão distribuídos em três turnos de trabalho, é
necessário verificar como esse trabalho está sendo organizado, seus
indicadores de desempenho e se a tarefa está organizada de forma
fragmentada que possa levar à monotonia ou tenha alta demanda,
gerando cansaço e fadiga. Se algum desses aspectos não for
considerado, pode-se gerar carga física do trabalho.
Compreendendo que as pessoas toleram mal tarefas
fragmentadas com tempo curto para execução, especialmente se
for imposto por uma máquina, pela chefia, pelos clientes ou colegas,
ou seja, preferem impor sua própria cadência ao trabalho, devemos
sempre considerar os aspectos físicos, cognitivos relacionados ao
9 U2 -
trabalho.

U2 - Macroergonomia 99
Avançando na prática

Atendendo a
lei Descrição da situação-problema
Você é o ergonomista contratado por uma grande rede de
supermercados para realizar a análise da carga e descarga de um
dos Centros de Distribuição. Chegando lá, você nota que todas as
cargas estão posicionadas sobre paletes no chão e que pesam 60
kg. Ao conversar com o empregador, você aponta essa questão e
ele diz que a CLT indica o peso de 60 kg, por isso está atendendo
a lei. O que você diz ao empregador?

Resolução da situação-problema
Embora 60 kg conste como peso máximo na CLT, em momento
algum ela cita que toda situação deva ter esse peso. A Norma
Regulamentadora nº 17 deixa claro que não se pode carregar um
peso que possa causar risco à saúde dos trabalhadores. Nesse caso,
é necessário realizar a Análise Ergonômica do Trabalho no setor,
estipular um peso e uma transformação em toda situação, levando
em conta as variáveis da Niosh e a opinião dos trabalhadores.

Faça valer a pena

1. De acordo com o sistema de alavancas do corpo humano, analise as


afirmações a seguir.
( ) Alavanca interfixa ou de primeira classe: o eixo (apoio) está entre a força
e a resistência.
( ) Alavanca inter-resistente ou de segunda classe: a resistência está entre
o eixo e a força.
( ) Alavanca interpotente ou de terceira classe: a força é aplicada entre o
eixo e a resistência.
( ) Alavanca intercalada ou de quarta classe: há mudança da localização
da força entre eixo e resistência durante o movimento.
Atribua V para verdadeiro e F para falso e assinale a alternativa com a sequência correta.
a) V - F - F - F.
b) F - F - V - V.
c) F - F - F - F.
d) V - V - V - V.
e) V - V - V - F.

1 U2 -
2. A coluna vertebral é uma estrutura flexível composta por 33 vértebras
divididas nas seguintes regiões: cervical (pescoço), com 7 vértebras;
torácica (tronco), com 12 vértebras; lombar (região da cintura), com 5
vértebras; sacro (região do quadril), com 5 vértebras fundidas; e o cóccix
(ponta final da coluna) tem de 4 a 5 vértebras, também fundidas.
Com relação à coluna vertebral, assinale a alternativa correta.
a) Existe uma estrutura cartilaginosa entre as vértebras chamada disco
intervertebral.
b) Lordose é uma das doenças que pode afetar a coluna vertebral.
c) Cifose é uma das doenças que pode afetar a coluna vertebral.
d) O peso máximo que alguém pode carregar individualmente é 60 kg.
e) O peso máximo a ser carregado em qualquer situação de trabalho é 23 kg.

3. Com relação à biomecânica ocupacional, analise as afirmações a


seguir: ( ) No trabalho dinâmico, existem contrações e relaxamento dos
músculos, o que aumenta o volume do sangue circulado e permite um
melhor relaxamento e alternância da musculatura.
( ) O trabalho estático é aquele que exige contração contínua para manter
em uma determinada posição, o que diminui o fluxo sanguíneo e pode
sobrecarregar a musculatura.
( ) Quando houver manipulação de cargas acima de 10 kg, o trabalho
deve ser realizado na posição sentada.
( ) Alavanca interpotente ou de terceira classe é aquela em que a força é
aplicada entre o eixo e a resistência. É a alavanca mais comum no corpo
humano e é a que tem a força mais prejudicada.
Atribua V para verdadeiro e F para falso e assinale a alternativa com a
sequência correta.
a) V - V - V - V.
b) V - V - F - V.
c) F - F - F - F.
d) F - F - V - V.
e) F - F - F - V.

U2 - Macroergonomia 101
1 U2 -
Seção 2.3
Atividade do ergonomista
Diálogo aberto

Mais uma vez, vamos relembrar a situação-problema do


Convite ao estudo: você é contratado como ergonomista em uma
empresa de mobiliário para auxiliar na elaboração de um
protótipo de posto de trabalho para gerentes de relacionamento
de um grande banco. Ao atuar como ergonomista, você terá papel
fundamental na compreensão do trabalho dos gerentes de
relacionamento e na transformação das condições de trabalho
que precisam ser consideradas para assegurar saúde, conforto,
segurança e produtividade a esses trabalhadores. Desta forma,
qual é o papel do ergonomista nas empresas? Quais são os
diferenciais da visão do ergonomista frente à mudança nos
processos das empresas? Qual é a importância de uma atividade
multiprofissional no momento da análise ergonômica do trabalho?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada no item Não pode faltar.

Não pode faltar

Estamos encerrando a nossa Unidade 2. Após entender as


etapas para a realização de uma Análise Ergonômica do
Trabalho e compreender alguns dos principais aspectos da
Biomecânica Ocupacional que podem ser observados nas
situações de trabalho, vamos entender o papel do ergonomista e
seu campo de atuação.

Exemplos e situações de experiências em ergonomia


A ergonomia mostra-se como uma ciência que visa à
compreensão do trabalho real. Para isso, é preciso termos em
mente que o profissional ergonomista precisa permear diversas
áreas do saber para abranger todos os aspectos do sistema, do

U2 - Macroergonomia 103
ambiente e do ser humano para detectar as oportunidades de
melhoria.

1 U2 -
Quanto mais informações e ideias forem trocadas entre
diferentes profissionais, maior será o entendimento daquele
universo de trabalho. Formar equipes e criar espaços para
diálogos e trocas de ideias é essencial para que a abordagem
ergonômica faça sentido e seja eficiente.
Um ergonomista pode atuar em diversas esferas: pode auxiliar
no design de um novo produto; pode verificar se um website é
intuitivo e de fácil navegação; pode analisar a organização do
trabalho e verificar se as metas e os indicadores de desempenho
estão adequados à realidade dos trabalhadores; pode analisar o
projeto de uma nova linha de produção; pode propor melhorias
em uma nova fábrica; pode auxiliar no redimensionamento de um
posto de trabalho; pode verificar o fluxo de processos de uma
determinada empresa; pode contribuir com a sugestão de troca de
ferramentas de um determinado processo; pode propor alternativas a
processos de retrabalho e fluxos obsoletos; entre tantos outros.
Vamos pensar: o que todas as situações listadas têm em
comum? Todas precisam que alguém olhe a realidade do trabalho
de fora, sem pré-julgamentos, buscando apenas otimizar o que já
existe e aproveitando a sabedoria dos envolvidos. Muitas vezes,
observamos que cada profissional está centrado apenas em seu
setor, em sua realidade, e que já tem uma visão preestabelecida
do que ocorre ao seu redor. O ergonomista aparece como um
tradutor da realidade. Através de questionamentos-chave sobre o
que ocorre no dia a dia da empresa, ele propõe uma reflexão sobre
a realidade do trabalho e, assim, um novo olhar sobre o que
sempre aconteceu.

Reflita
Já aconteceu de existir na sua casa algum aparelho com defeito?
Existe uma perda de tempo ou alguma tarefa é atrapalhada por ele,
mas você sempre deu um jeito de transpor esse obstáculo e se
acostumou com o aparelho com essa limitação? De repente, aparece
alguém de fora: uma visita, um profissional que veio consertar outra
coisa, um parente que não visita há algum tempo. Essa pessoa olha
o aparelho com defeito e, de repente, identifica como consertar o
problema. Parecia tão simples, tão rápido, mas você, que sempre
esteve ali, já não enxergava mais como alterar aquela realidade que já
nem incomodava mais. Como dica, assista ao vídeo em que Antônio
Abujamra recita o texto Eu sei, mas não devia,
U2 - Macroergonomia 105
de Marina Colasanti, no Programa Provocações (TV Cultura), disponível em: . Acesso
Nossos olhos se acostumam com a realidade atual. Mudar e transformar é necessário

Precisamos ter sempre em mente: deve existir sentido no


trabalho! O trabalhador não é apenas um “fazedor” de alguma coisa.
Ele precisa se identificar, ser valorizado, enxergar sentido naquilo e
perceber que faz diferença na empresa de alguma forma. Ser
punido por regras que não fazem sentido faz com que o
trabalhador fique desmotivado e busque estratégias para que
aquela regra (que não se aplica à realidade) não o prejudique.

Exemplificando
Imagine a seguinte situação: em uma agência bancária, estão
dois gerentes de relacionamento. Naquele horário, geralmente,
estão três gerentes, porém um está em uma reunião externa. Eles
são avaliados mensalmente por diversos indicadores de
desempenho, e um deles é a satisfação do cliente (mensurada
através do número de elogios e reclamações). Um dia, entra um
cliente no banco com muita pressa, pois é o único dia e o único
horário que tem disponível naquela semana. Esse mesmo cliente já
havia tentado realizar uma transação via internet e aplicativos de
celular, porém, por questões de segurança, isso não foi permitido
(sendo por esse motivo que fora ao banco pessoalmente). Ao chegar,
o cliente pega fila (o que já o deixa irritado) e o tempo de espera piora
com a lentidão do sistema e o afastamento de um dos gerentes.
Quando finalmente é atendido, o sistema cai e o problema não
pode ser resolvido. O cliente fica extremamente aborrecido e
realiza uma reclamação, que pontua negativamente o trabalho do
gerente. Pense a respeito: foi culpa do gerente? Esse indicador
realmente reflete a realidade do seu trabalho? Foi levado em
consideração que a meta se manteve a mesma, mesmo com menos
pessoas no local?

1 U2 -
Ergonomia como atividade profissional
Para resolver questões relacionadas a inadequações da
tarefa que causam constrangimentos aos trabalhadores, o
profissional ergonomista realiza uma análise de todos os aspectos
que influenciam na situação de trabalho, compreendendo o que
acontece na realidade e propondo melhorias que transformem esse
trabalho para que haja maior conforto, segurança e desempenho
eficiente.
Desta forma, o ergonomista será o profissional que realizará a
Análise Ergonômica do Trabalho, estudo que visa entender as variáveis
e a complexidade que existem em cada trabalho.
No Brasil, a profissão do ergonomista ainda não é
regulamentada. A Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) é
uma associação sem fins lucrativos que une os profissionais de
ergonomia e procura estudar e divulgar as interações das pessoas
com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as
suas necessidades, habilidades e limitações.
De acordo com a Abergo, o ergonomista é o profissional que
tem as seguintes competências: investigar, avaliar e reconstruir as
demandas de projetos ergonômicos, assegurando a ótima
interação entre as variáveis envolvidas no trabalho; entender as
bases teóricas para planejamento ergonômico; aplicar uma
abordagem integrada em suas análises; entender as exigências
para gerenciamento de riscos; entender a diversidade de fatores
que influenciam o desempenho humano e suas inter-relações;
demonstrar compreensão de métodos de mensuração pertinentes
para a avaliação e o projeto em ergonomia; reconhecer seu
escopo pessoal de competência (sabendo de suas limitações);
analisar e interpretar os achados das investigações; apreciar o
efeito de fatores que influenciam a saúde e o desempenho
humano; consultar adequadamente as observações e
interpretação de dados de seus levantamentos; analisar diretrizes,
normas e legislação que influenciam a atividade; tomar decisões
justificáveis para transformação do trabalho; documentar os
achados ergonômicos de forma adequada; manter a documentação e
o registro adequados do projeto e intervenção; prover um relatório
em termos compreensíveis pelo cliente e apropriados ao projeto;
determinar a compatibilidade da capacidade humana com as
solicitações planejadas ou existentes; determinar como ocorre a
interação entre as características, habilidades, capacidades e
U2 - Macroergonomia 107
motivações de uma

1 U2 -
pessoa e a organização, os ambientes planejados ou existentes,
os produtos manuseados, equipamentos, sistemas de trabalho,
máquinas e tarefas; determinar se um problema é tratável por uma
intervenção ergonômica; adotar uma visão holística da ergonomia
no desenvolvimento de soluções; desenvolver estratégias para
implementar um novo projeto que estabeleça um local de trabalho
saudável e seguro; comunicar-se de forma efetiva com o cliente e
as pessoas com quem interage profissionalmente; fazer
recomendações apropriadas para projeto ou intervenção
ergonômica; entender as hierarquias dos sistemas de controle;
esboçar recomendações apropriadas para projeto; gestão
organizacional; seleção de pessoal, educação, desempenho
humano; supervisionar a aplicação do plano ergonômico; avaliar e
monitorar os resultados da implementação; produzir reflexão ou
pesquisa avaliativa relevante para a ergonomia; demonstrar
compromisso com uma prática ética e altos padrões de
desempenho; e reconhecer forças e limitações pessoais e
profissionais, sabendo o impacto da ergonomia na vida das
pessoas.
Essas são algumas das várias funções e competências do
profissional ergonomista listadas pela Norma Abergo 1001. Perceba
a seriedade das competências listadas. O ergonomista é um
profissional que provoca a reflexão das pessoas acerca do seu
trabalho, e essa é uma grande responsabilidade.

Ergonomia: atividade multiprofissional


Ninguém é detentor de todo o conhecimento. Somos limitados
pessoal e profissionalmente. A grande beleza do conhecimento é
que ele é inesgotável, e isso faz com que precisemos uns dos
outros para alcançar outros níveis de raciocínio e solução.
Solucionar um problema complexo exige que estudemos
suas partes e que seja proposta uma reflexão com todos os
atores envolvidos e diferentes profissionais para que a realidade do
trabalho seja compreendida para ser transformada de maneira
eficaz. Lembrando dos 12 passos da Análise Ergonômica do
Trabalho, não podemos esquecer que a ação do ergonomista
não termina na proposta de melhorias. Ao modificar o trabalho,
novos problemas podem surgir, e um acompanhamento e uma
reavaliação devem ser realizados constantemente.

U2 - Macroergonomia 109
Quando tratamos de informações organizacionais, pode
acontecer de sermos confrontados com questões delicadas (e até
mesmo constrangedoras). É preciso ter cautela se isso acontecer.
A empresa deve sempre ser comunicada durante a realização da
Análise Ergonômica do Trabalho, e não apenas ao final dela. Em
cada etapa, feedback e entrega parcial (junto a uma reunião de
repasse) podem reduzir os riscos de situações de conflito.
Os ergonomistas, para solucionar questões complexas
relacionadas ao trabalho, devem ter um conhecimento avançado
em diversos campos e ciências. Dessa forma, a ergonomia é uma
disciplina transdisciplinar, de acordo com a demanda que motiva a
condução da análise.
Uma abordagem multidisciplinar refere-se a um conjunto de
disciplinas que tratam, ao mesmo tempo, de uma determinada
questão (cada uma em sua área). Em uma abordagem interdisciplinar,
já há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas,
metodologias e conceitos entre as disciplinas, havendo diálogo
entre elas. Por fim, na abordagem transdisciplinar (na qual
enquadramos a ergonomia), busca-se resolver um problema do
mundo real com base na experiência acadêmica e não acadêmica
(saber profissional), articulando conhecimentos e propondo
soluções que transcendem o âmbito de cada disciplina e surgem
por meio de uma articulação que gera uma nova visão da natureza
e da realidade.

Pesquise mais
A abordagem transdisciplinar da ergonomia vem da necessidade de lidar
com problemas complexos. Edgar Morin, pensador contemporâneo
que estuda as ciências da complexidade, traz a importância de não
sermos reducionistas e não simplificarmos algo aparentemente fácil de
resolver.

Para compreender mais sobre a Teoria da Complexidade, leia o artigo:

SANTOS, Silvana Sidney Costa; HAMMERSCHMIDT, Karina Silveira de


Almeida. A complexidade e a religação de saberes interdisciplinares:
contribuição do pensamento de Edgar Morin. Rev. bras. enferm., Brasília , v.
65, n. 4, p. 561-565, ago. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71672012000400002&lng=en&nrm=i so>. Acesso em: 16 maio 2017.

1 U2 -
A complexidade do trabalho depende das propriedades do
sistema técnico, do contexto organizacional e de certas
características dos resultados, como a gravidade das
consequências das ações do trabalhador e o grau de
irreversibilidade. Em alguns casos, os erros são tolerados e
podem ser fontes de aprendizagem quando podem ser corrigidos.
Em outros, são inadmissíveis devido à gravidade e
irreversibilidade dos efeitos. Quanto mais rígido é um sistema,
mais difícil se torna manobrar os imprevistos que surgem
continuamente.

Atuação do ergonomista: compreender e transformar


Os ergonomistas são profissionais formados em diversas
áreas, que têm como objetivo compreender o trabalho de forma
global para transformá-lo. Essa análise deve incluir os aspectos
físicos, cognitivos, sociais, organizacionais, ambientais e outros. É
importante saber: ao perguntar a uma pessoa como é o seu
trabalho, provocamos uma reflexão de extrema importância, que já
inicia um processo de transformação do sentido do trabalho.
Pensar sobre o que fazemos nos localiza no tempo e espaço, volta
a atenção para nós mesmos e nossa missão no mundo. Dessa
forma, esses profissionais analisam os aspectos físicos, cognitivos
e organizacionais, como já vimos na Unidade 1 de nosso estudo.
Lembrando: características da anatomia humana, antropometria,
fisiologia, biomecânica, postura, manuseio de materiais,
movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos
relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurança e
saúde do trabalhador estão no domínio da Ergonomia Física.
Processos mentais, percepção, memória, raciocínio, interações
entre pessoas e outros elementos de um sistema, carga mental,
tomada de decisões, interação homem- computador, estresse e
treinamento estão no domínio da Ergonomia Cognitiva. Por fim, a
otimização dos sistemas sócio-técnicos (estruturas
organizacionais, políticas e processos), comunicações,
programação do trabalho (tempos e métodos), trabalho cooperativo,
cultura organizacional, metas e indicadores estão no domínio da
Ergonomia Organizacional. O ergonomista lança seu olhar para
esses três pilares, reformulando a demanda e construindo uma
solução junto a todos os atores envolvidos.

U2 - Macroergonomia 111
No Brasil, não existem cursos superiores para formação de
ergonomistas, mas estão disponíveis diversos cursos de pós-

1 U2 -
graduação. De qualquer forma, a atuação multiprofissional dessa
prática faz com que a profissão do ergonomista permeie diversas
outras e não encontre um fim em si mesma.
Obviamente, para uma ação eficaz, o apoio da alta
administração da empresa é essencial, e isso se consegue com
muito diálogo para a transformação do olhar sobre qualquer que
seja o problema que gerou a demanda da Análise Ergonômica do
Trabalho. Muitos profissionais estão acostumados a ver o
problema de um ponto de vista particular. É preciso que sejam
feitos esforços para derrubar barreiras que separam as profissões,
para que todos trabalhem cooperativamente na solução de
problemas.
A melhor forma de fazer isso é com a realização de reuniões
periódicas, de curta duração, com esses profissionais, para
discutir conceitos, apresentar resultados e mantê-los
informados sobre a evolução dos trabalhos. Quando surgir
algum problema em que se torne necessário pedir a
colaboração de algum deles, ela poderá ser obtida mais rápido,
com menor resistência, pois o assunto já é sabido. O
ergonomista, seja na concepção (análise de um projeto antes de
sua execução, projetando uma atividade futura proválvel), na
correção (realizar ajustes em situações reais que já existem), ou
na conscientização (capacitação e treinamentos para elucidar
fatores ergonômicos), tem atuação participativa e necessita de
escuta ativa.

Assimile
Evitar erros é mais fácil do que corrigi-los. Dessa forma, se um
produto ou serviço ainda está no papel, é mais fácil redesenhá-lo do
que corrigi- lo após ser fabricado. Obviamente, muito só é visto após
o protótipo e a confecção, mas pensar numa situação adversa pode
evitar muitos problemas futuros. A abordagem da “atividade futura
provável” de François Daniellou trata da possibilidade de concepção
de um projeto imaginando-se diferentes formas de atividades futuras.
Assim, considera- se a variabilidade das situações de trabalho tendo
como ponto de partida “situações de referência”. Longe de
representarem um modelo, elas permitem a ampliação das
oportunidades de decisões e de opções de projeto.

U2 - Macroergonomia 113
O ergonomista é o profissional que busca trazer soluções ao
trabalho que proporcionem maior autonomia; tempo para se tomar
a decisão e agir; recursos alternativos; grau de cooperação na
equipe; melhoria da gestão; melhoria na carga de trabalho
aceitável e possibilidade de espaços de discussão com
relacionamentos aceitáveis e satisfatórios no trabalho. Para isso,
ele analisa documentos (para constituir e reconstruir a demanda,
analisando a empresa globalmente); realiza entrevistas não
estruturadas (para não induzir as verbalizações dos trabalhadores
e não determinar o caminho da conversa); observação do
trabalho real (registros, filmagens, fotografias, entrevistas);
descrição das tarefas; registro das verbalizações (registrar as falas
dos trabalhadores é essencial para se alcançar o trabalho real);
autoconfrontação (coloca o trabalhador em situação de trabalho,
observando suas ações, de forma que ele pode esclarecer, tanto
para o ergonomista como para ele mesmo, seus comportamentos
e suas ações).
Finalizando, esperamos que tenha compreendido qual o papel
do ergonomista e, principalmente, a responsabilidade e
importância de sua atuação no mundo do trabalho.

Sem medo de errar

Mais uma vez, vamos relembrar a situação-problema do


Convite ao estudo: você é contratado como ergonomista em uma
empresa de mobiliário para auxiliar na elaboração de um protótipo
de posto de trabalho para gerentes de relacionamento de um
grande banco. Ao atuar como ergonomista, você tem papel
fundamental na compreensão do trabalho desses gerentes e na
transformação das condições de trabalho que precisam ser
consideradas para assegurar saúde, conforto, segurança e
produtividade para eles. Dessa forma, vimos que o ergonomista
tem como papel analisar o trabalho de forma sistêmica e
respeitando sua complexidade, compreendendo para propor
melhorias para transformação. Seu papel é assegurar a ótima
interação entre as variáveis envolvidas no trabalho em uma
abordagem integrada que possibilite entender a diversidade de
fatores que influenciam o desempenho humano e suas inter-
relações.
A visão do ergonomista mostra a realidade do trabalho de fora,
1 U2 -
sem pré-julgamentos, buscando apenas otimizar o que já existe e

U2 - Macroergonomia 115
aproveitando a sabedoria dos envolvidos, atuando como um
tradutor da realidade. Por meio de questionamentos-chave sobre o
que ocorre no dia a dia da empresa, o ergonomista propõe uma
reflexão sobre a realidade do trabalho e, assim, um novo olhar
sobre o que sempre aconteceu. A atividade multiprofissional é de
fundamental importância para solucionar um problema complexo
que exige que estudemos suas partes e que seja proposta uma
reflexão com todos os atores envolvidos e diferentes profissionais
para que a realidade do trabalho seja compreendida para ser
transformada de maneira eficaz.

Avançando na prática

"Para todo problema complexo existe sempre uma solução


simples, elegante e completamente errada” (Henry Louis
Mencken)
Descrição da situação-problema
O setor de Carga e Descarga de uma rede de supermercados
apresentou um aumento significativo no número de trabalhadores
afastados por problemas na coluna lombar. Após realizar a Análise
Ergonômica do Trabalho, o ergonomista contratado identificou que
as cargas estavam em alturas baixas, havia poucos trabalhadores
para dar conta das metas estabelecidas e o ritmo estava
acelerado devido ao início do mês, que sempre apresentava maior
demanda. Como solução para esse problema, o ergonomista
sugeriu que os trabalhadores tivessem orientação postural e
passassem a realizar a tarefa se abaixando com as pernas para
alcançar a carga e não flexionando a coluna. Após treinamento, os
problemas continuaram e, agora, alguns trabalhadores se
afastaram com problemas nos joelhos. O que pode ter dado
errado?

Resolução da situação-problema
A Análise Ergonômica do Trabalho é um estudo voltado à
complexidade do trabalho. O Manual de Aplicação da Norma
Regulamentadora nº 17 traz 12 passos para a realização dessa
análise e mostra a importância de se consultar os trabalhadores
e valorizar seus saberes em todo o processo. O principal objetivo
da ergonomia é transformar o trabalho. É de extrema importância
1 U2 -
a orientação postural e consciência das posições e escolhas

U2 - Macroergonomia 117
biomecânicas mais favoráveis ao trabalhador, porém apenas isso
não transforma o trabalho. Mais uma vez, jogamos apenas no
trabalhador a responsabilidade de não adoecer. Como plano de
ação, regularizar a altura das cargas e transformar a organização
do trabalho (metas, ritmos e métodos) através de um cronograma
de prioridades que satisfaça a necessidade de trabalhadores e
empresa torna-se extremamente necessário para que o problema
seja resolvido com eficiência.

Faça valer a pena

1. No Brasil, a profissão do ergonomista ainda não é regulamentada.


Existe, porém, uma associação sem fins lucrativos que une os
profissionais de ergonomia e procura estudar e divulgar as interações das
pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as
suas necessidades, habilidades e limitações. Essa associação procura
criar normas que trazem diretrizes para a prática de ergonomistas no
Brasil. Qual o nome dessa associação?
Assinale a alternativa que contém o nome da associação, cujo objetivo é o
estudo, a prática e a divulgação da ergonomia no Brasil.
a) ABREST.
b) ABEPRO.
c) ABERGO.
d) ERGOBR.
e) FUNDACENTRO.

2. Com relação às competências do profissional ergonomista, é correto


afirmar: ( ) O ergonomista investiga, avalia e reconstrói as demandas de
projetos ergonômicos, assegurando a ótima interação entre as variáveis
envolvidas no trabalho.
( ) O ergonomista busca entender a diversidade de fatores que influenciam
o desempenho humano e suas inter-relações, demonstrando compreensão
de métodos de mensuração pertinentes para a avaliação e o projeto em
ergonomia. ( ) O ergonomista deve reconhecer seu escopo pessoal de
competência (sabendo de suas limitações) e procurar ter uma atuação
transdisciplinar.
( ) O ergonomista pode atuar na concepção (análise de um projeto
antes de sua execução, projetando uma atividade futura provável),
na correção (realizar ajustes em situações reais que já existem) e na
conscientização (capacitação e treinamentos para elucidar fatores
ergonômicos) de problemas voltados à ergonomia.

1 U2 -
Analise as afirmações, atribua V para verdadeiro ou F para falso e assinale
a alternativa que indica a sequência correta.
a) F - V - V - V.
b) V - F - F - F.
c) F - F - V - V.
d) V - V - V - V.
e) F - F - F - F.

3. A abordagem em que se busca resolver um problema do mundo real


com base na experiência acadêmica e não acadêmica (saber
profissional), articulando conhecimentos e propondo soluções que
transcendem o âmbito de cada disciplina e surgem por meio de uma
articulação que gera uma nova visão da natureza e da realidade chama-se
.
Assinale a alternativa que completa corretamente a frase acima com o
nome correto da abordagem.
a) Abordagem multicurricular.
b) Abordagem multidisciplinar.
c) Abordagem interdisciplinar.
d) Abordagem disciplinar.
e) Abordagem transdisciplinar.

100 U2 -
Referências
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Colasanti recitado por Antônio Abujamra 2011. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=ruN_LR60ZfQ>. Acesso em: 16 maio 2017.
ABRAHÃO, J. I. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo:
Blucher, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA – ABERGO. Norma ERG BR 1002: Código
de Deontologia do Ergonomista Certificado. 2003a. Disponível em: <http://www.
abergo.org.br/arquivos/normas_ergbr/norma_erg_br_1002_deontologia.pdf>. Acesso
em: 16 maio 2017.
. Norma ERG BR 1001: Competências Essenciais para os Ergonomistas
Certificados. 2003b. Disponível em: <http://www.abergo.org.br/arquivos/normas_
ergbr/norma_erg_br_1001_competencias_essenciais.pdf>. Acesso em: 16 maio
2017.
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BOUYER, G. C.; SZNELWAR, L. I. Análise cognitiva do processo de trabalho em
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BRUNORO, Marcelo. Trabalho e sustentabilidade: contribuições da ergonomia da
atividade e da psicodinâmica do trabalho. 2013.203 f. Tese (Doutorado)–
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<http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/3/3136/tde-19092014-105026/pt-
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CYBIS, W. A. Ergonomia e usabilidade: conhecimentos, métodos e aplicações. São
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CORRÊA, V. M.; BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto
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U2 - Macroergonomia 101
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990. 465 p.

102 U2 -
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<https://www.researchgate.net/
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Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 65, n. 4, p. 561-565, ago. 2012. Disponível
em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
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SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 21. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2000.
SZNELWAR, L. I.; ABRAHAO, J. I.; MASCIA, F. L. Trabalhar em centrais de atendimento:
a busca de sentido em tarefas esvaziadas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,
São Paulo, v. 31, n. 114, p. 97-112, dez. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0303-
76572006000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 abr. 2017.
TAVEIRA FILHO, A. D. Ergonomia participartiva: uma abordagem efetiva em
macroergonomia. Prod. v. 3, n. 2, p. 87-95, 1993. Disponível em:
<http://www.scielo.
br/pdf/prod/v3n2/v3n2a02.pdf>. Acesso em: 15 maio 2017.
VASCONCELOS, R. C. et al. Aspectos de complexidade do trabalho de coletores de
lixo domiciliar: a gestão da variabilidade do trabalho na rua. Gestão & Produção, São
Carlos, v. 15, n. 2, p. 407-419, maio/ago. 2008.

U2 - Macroergonomia 103
Unidade 3

Legislação voltada para a


Ergonomia

Convite ao estudo
Caro aluno!

É com grande prazer que iniciamos a Unidade 3 do nosso


estudo, voltada para a legislação que regulamenta a
ergonomia no Brasil e no mundo. Está sendo uma excelente
jornada até agora. Já entendemos, na Unidade 1, o que é a
Ergonomia e sua importância na manutenção de boas
condições de trabalho, tanto para o trabalhador como para a
empresa. Vimos alguns exemplos de situações e
aprendemos que, ao tratar de seres humanos, precisamos
entender que eles possuem características psicofisiológicas
que os diferenciam de máquinas e, portanto, não podemos
padronizar tempos e métodos entendendo que todas as
situações são iguais. É preciso analisar o trabalho real de forma
sistêmica. Assim, na Unidade 2 de nosso ensino, iniciamos os
estudos voltados para a Análise Ergonômica do Trabalho e o
papel do profissional ergonomista, entendendo o passo a passo
e a metodologia da Ergonomia da Atividade.

Agora, na Unidade 3, entenderemos o contexto histórico


que trouxe a Ergonomia para o Brasil, suas origens e como foi
criada a Norma Regulamentadora nº 17, que traz a
obrigatoriedade da ergonomia nas empresas. Ao final da
unidade, você terá conhecimentos e habilidades para
identificar itens obrigatórios relacionados à ergonomia dentro
das empresas, questões mínimas de conforto, saúde e
desempenho eficiente estabelecidos pela legislação, normas
e regulamentações que, além da NR 17, também influenciam
na abordagem ergonômica, e a importância de questões
ergonômicas terem um acompanhamento constante.

104 U2 -
Para facilitar a compreensão dos conteúdos, trouxemos a
situação-problema na qual você é convidado como ergonomista
a realizar uma análise ergonômica do trabalho em uma empresa
de telemarketing. A empresa possui 10.000 funcionários
espalhados em diversas cidades pelo Brasil, possui certificação
internacional de ISO 9001, ISO 45001 e SA 8000 e presta serviço
de venda através do teleatendimento para grandes empresas de
telefonia (aparelhos celulares, pacotes de dados e planos pós e
pré-pago de ligações). A empresa está iniciando um Comitê de
Ergonomia, porém nunca realizou uma Análise Ergonômica do
Trabalho, e os contratantes acreditam que estejam com toda a
situação sob controle, uma vez que todos os postos de trabalho
estão dimensionados conforme os aspectos de mobiliário
apontados no anexo II da Norma Regulamentadora nº 17. Ao
visitar o ambulatório médico, você detecta que grande parte
dos afastamentos médicos na empresa se dá por motivos de
infecção urinária e doenças mentais. Para iniciar seu trabalho
como ergonomista, você pode identificar as etapas para
iniciar uma Análise Ergonômica do Trabalho e as principais
características desse tipo de trabalho?

Em cada seção desta unidade, você irá aumentar seus


conhecimentos relacionados à legislação e estará cada vez
mais capacitado a ser um agente de transformação do
trabalho e das condições de trabalho no Brasil e no mundo.
Trabalhar com ergonomia e transformar o trabalho para que
ele seja mais saudável e faça mais sentido é uma forma de
melhorar o mundo. Perceba que existe um aspecto social
muito relevante em transformar o trabalho em algo que faça
sentido e traga realização na vida das pessoas.

Você será o principal responsável pelo sucesso na realização


da Análise Ergonômica do Trabalho nessa empresa e,
amparando-se na legislação e auxiliando a empresa a entender
sua interpretação, você estará melhorando a vida de centenas
de pessoas.

Bons estudos!
Seção 3.1
NR 17 e anexos

Diálogo aberto
Relembrando a situação hipotética do nosso Convite ao
estudo, você é contratado como ergonomista para realizar uma
análise ergonômica do trabalho em uma empresa de
telemarketing. A empresa está iniciando um Comitê de Ergonomia,
porém nunca realizou uma Análise Ergonômica do Trabalho, e os
contratantes acreditam que estejam com toda a situação sob
controle, uma vez que todos os postos de trabalho estão
dimensionados conforme os aspectos de mobiliário apontados no
anexo II da Norma Regulamentadora nº 17 (que trata do assunto). Ao
visitar o ambulatório médico, você detecta que grande parte dos
afastamentos médicos na empresa se dá por motivos de infecção
urinária e doenças mentais. Para iniciar seu trabalho como
ergonomista, você pode identificar as etapas para iniciar uma
análise ergonômica do trabalho e as principais características desse
tipo de trabalho?
Dessa forma, ao iniciar a realização da análise ergonômica do
trabalho na empresa, você precisa se amparar na legislação para
apontar quais aspectos devem ser transformados no trabalho dos
atendentes de telemarketing para solucionar os problemas
apontados pelo departamento médico. Para isso, você precisará
relembrar: o que estabelece a Norma Regulamentadora nº 17? De
quanto em quanto tempo deve ser realizada a analise ergonômica
do trabalho? Quais aspectos devem ser considerados com relação
ao mobiliário dos atendentes? Quais aspectos relacionados ao
trabalho podem influenciar na saúde mental desses
trabalhadores?
Para que você consiga responder a esses e outros
questionamentos, esses conteúdos serão abordados de forma
contextualizada na seção Não pode faltar.
Tenha um excelente estudo!

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 105


Não pode faltar

Histórico da Ergonomia no Brasil e mundo


Se pensarmos na definição de Ergonomia voltada à adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas do
homem, então sua origem vem desde a Pré-história. Ao inventar a
roda, descobrir o fogo e manufaturar objetos em pedra lascada
para satisfazer suas necessidades, o conceito de Ergonomia
estava pairando cada uma dessas ações. O Museu do Louvre, na
França, destaca papiros egípcios com recomendações para a
construção de utensílios e arranjos organizacionais que trazem
aspectos ergonômicos em suas considerações. Leonardo da Vinci,
no desenho de seu homem vitruviano, conceito apresentado na
obra Os dez livros da Arquitetura, escrita pelo arquiteto romano
Marco Vitruvio Polião, traz a importância das noções de
antropometria e medidas humanas. Na Idade Média, Lavoisier e
Villeneuve já realizaram estudos relacionados à toxicologia e
ergonomia. Dessa forma, analisando a história, podemos perceber
que, mesmo sem mencionar a palavra “ergonomia”, a
preocupação com saúde, conforto e desempenho eficiente de
trabalhadores existe desde sempre.
A primeira definição de Ergonomia foi feita em 1857, por um
cientista polonês chamado Wojciech Jastrzebowski. Em uma
perspectiva típica da época, ele publica o artigo intitulado Ensaios
de ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas
da ciência sobre a natureza atestando a ergonomia como uma
ciência natural, estabelecendo que é uma ciência do trabalho e
requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço,
pensamento, relacionamento e dedicação.

Assimile
Esforço, pensamento, relacionamento e dedicação. Jastrzebowski
destaca a importância de se mobilizar os quatro aspectos: físico-
motor, estético-sensorial, mental-intelectual e espiritual-moral. Assim,
dando origem à palavra ergonomia unindo as palavras ergon e nomos
(trabalho e regras, respectivamente; regras para o trabalho), o
pesquisador polonês cria a palavra que está sendo tão difundida no
mundo hoje.

106 U3 - Legislação voltada para a


Na Unidade 1 de nosso estudo, vimos como os trabalhos de Taylor
e Ford transformaram as relações de trabalho e os impactos de seus
estudos no trabalho até hoje. Quando quem prescreve o trabalho
está distante de quem o executa, podem existir diversas
incongruências no trabalho real que levam ao adoecimento dos
trabalhadores e à diminuição do desempenho eficiente da empresa.
Assim, durante a Revolução Industrial, as relações de trabalho se
transformam. O trabalho dos artesãos, com suas próprias regras, seu
próprio ritmo e seu próprio preço, dá lugar às linhas de montagem.
Velocidade, ritmo imposto e padronizações.

Pesquise mais
Para saber mais, leia o Capítulo II do livro A Máquina que Mudou o
Mundo (WOMACK; JONES; ROOS, 1992), que traz o extraordinário
estudo do Massachussetts Institute of Technology (MIT), nos Estados
Unidos, sobre a indústria automobilística. O livro retrata suas várias fases,
desde a produção artesanal até a produção em massa, chegando à
produção enxuta, que perdura até hoje. Na obra, os autores apontam fatos
sobre as automatizações, a chegada de trabalhadores de todas as partes
do mundo (que recebiam, inclusive, um minicurso de inglês para poderem
se comunicar minimamente na empresa), a produção do Ford T (carro
padronizado na cor preta que vinha com um manual de instruções
sobre a manutenção do carro e de suas peças). O International Motor
Vehicle Program (IMVP), título do estudo, é um referencial histórico que
traz em detalhes as transformações do trabalho nessa indústria e em
outras que seguem o mesmo modelo e é uma leitura enriquecedora
para ergonomistas.

A Revolução Industrial não pode ser limitada apenas aos


avanços nos processos técnicos. Houve toda uma evolução
das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre
pessoas e equipamentos. O conceito de “homem médio” para a
padronização de tempos e métodos ainda deixa traços nos
trabalhos atuais.
Em 1915, foi formado na Inglaterra um comitê destinado a
estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria de
guerra, como uma espécie de assistência técnica ao fator humano
nela, verificando peso das armas, formato e demanda cognitiva
existente em controles de cockpits de avião (a perda de um piloto,
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 107
que demorava de 2 a 4 anos para estar preparado, era um ponto de
atenção nesses estudos), além de todo o aparato tecnológico.

108 U3 - Legislação voltada para a


Médicos, fisiologistas e engenheiros abordaram diversas
questões de inadaptação entre trabalho e trabalhadores envolvidos
nessa produção. Assim, formou-se a ergonomia clássica
imediatamente após a Segunda Guerra. Essa ergonomia traz um
paradigma mecânico do ser humano e se baseou em diversas
disciplinas científicas e trabalhos de estudiosos e filósofos da
Antiguidade (como Aristóteles, Bernardino Ramazzini, Gilbreth, entre
outros) e em todos esses estudos da época da guerra. Assim, os
estudiosos no pós-guerra continuaram seus trabalhos voltando-se
para a produção civil, utilizando métodos, técnicas e dados obtidos
para a indústria.
Em 1947 nasce a primeira sociedade de ergonomia, a
Ergonomics Research Society, criada por um engenheiro chamado
Murrel, trazendo a corrente de ergonomia chamada de Fatores
Humanos (Human Factors Engineering ou HFE), como uma
continuidade da prática já mencionada em operações civis.
A HFE, ou Escola de Fatores Humanos, trata de projetos de
instrumentos, dispositivos e sistemas, baseando-se em procedimentos
experimentais que vão do laboratório clássico para o estudo de
fatores humanos em si mesmo até às modernas técnicas de
simulação, buscando uma melhor conformação das interfaces
entre pessoas e sistemas técnicos. Ferramentas de análise
ergonômica e softwares de simulação são exemplos de produtos
dessa escola.
Posteriormente, nasce na Europa uma nova forma de
ergonomia: a Ergonomia da Atividade. Estudiosos percebem que
tratar as questões de trabalho em ambientes simulados
(laboratórios) e com variáveis controladas não mostra a realidade.
Mesmo confirmando a importância desses estudos, é preciso uma
nova metodologia para se enxergar a complexidade e os aspectos
invisíveis do trabalho que não são identificados dessa forma.
Assim, no período do pós-guerra, surge outra vertente da
ergonomia, ensejada pelas necessidades da reconstrução do
parque industrial europeu dizimado pela guerra. Em 1949, surge
essa proposta de metodologia, de Suzanne Pacaud, resgatada em
1955 por Obrendame e Faverge como análise do trabalho.
A proposta de metodologia de análise veio a ser formalizada
somente em 1966, por Alain Wisner, já como Análise Ergonômica
do Trabalho (AET). É importante destacar o nome do professor

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 109


Alain Wisner (pronuncia-se “visnér”), professor de ergonomia do

110 U3 - Legislação voltada para a


Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, França: tratando
a ergonomia como arte, esse professor é um dos grandes
responsáveis pelo estabelecimento da Ergonomia no Brasil e pelo
preparo e formação dos primeiros e grandes nomes de
ergonomistas no país.
Na década de 1970, na Europa, nasce um conceito novo – a
intervenção ergonômica, hoje expressão corrente nos EUA e no
Japão. Temos também a Macroergonomia, vista em nossa Unidade
2 de ensino, numa perspectiva de análise estratégica e
organizacional. Em 31 de agosto de 1983, é criada a Associação
Brasileira de Ergonomia e, em 1990, é publicada a Norma
Regulamentadora nº 17.

Histórico da NR 17
Com a chegada dos computadores, na década de 1980,
tivemos um aumento na quantidade de trabalhadores que atuavam
com digitação. Em 1986, diante dos numerosos casos de
tenossinovite ocupacional entre digitadores, os diretores da área
de saúde do Sindicato dos Empregados em Empresa de
Processamento de Dados no Estado de São Paulo (SINDPD/SP)
fizeram contato com a Delegacia Regional do Trabalho, em São
Paulo, e com a Fundação Jorge Duprat de Figueiredo (Fundacentro)
– um centro de pesquisas relacionado à saúde e segurança do
trabalho, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego –, para
buscar respostas para os fatores causadores dessas doenças e
proposições de melhoria.
Após alguns estudos, foram identificados o pagamento de
prêmios de produção, a ausência de pausas, a prática de horas extras
e a dupla jornada de trabalho, entre outros.
Durante 1988 e 1989, a Associação de Profissionais de
Processamento de Dados (APPD nacional) realizou reuniões com
representantes da Secretaria de Segurança e Medicina do
Trabalho (SSMT) em Brasília, da Fundacentro e da DRT/SP para
elaborar um projeto de norma que estabelecesse limites à
cadência de trabalho e proibisse o pagamento de prêmios de
produtividade, bem como estabelecesse critérios de conforto para os
trabalhadores de sua base, que incluíam o mobiliário, a ambiência
térmica, a ambiência luminosa e o nível de ruído.
Nesse mesmo período, o Ministério do Trabalho convocou
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 111
toda a sociedade civil para que organizasse seminários e debates

112 U3 - Legislação voltada para a


com o objetivo de recolher sugestões para a melhoria de todas as
Normas Regulamentadoras (NR). Nesses seminários, chegaram
várias sugestões de alteração da NR 17, mas eram propostas de
alterações pontuais conservando a estrutura geral em vigor. Não
havia nenhuma proposta concreta que fosse ao âmago da questão:
o controle da cadência e do ritmo do processo produtivo.
Em um seminário nacional realizado em dezembro de 1989, em
São Paulo, foi utilizada a adaptação do texto Les écrans de
visualisation: guide méthodologique pour médecin du travail,
publicado pelo Institut National de Recherche en Sécurité (INRS), em
1987, na França. Nesse seminário, foi decidido que não deveria ser
elaborada uma norma apenas para os profissionais em
processamento de dados, pois as lesões por esforço repetitivo
(LER) eram observadas também em várias outras atividades
profissionais. Além disso, o secretário de Segurança e Medicina do
Trabalho também não concordava com a ideia de elaborar uma
norma que abrangesse apenas o setor de processamento de
dados, argumentando que, dentro em breve, todos os setores
produtivos exigiriam uma norma específica. Assim, foi
estabelecido que se fizesse a redação da NR 17, porém deram o
prazo de apenas 10 dias para que ela fosse escrita.

Reflita
Apenas digitadores foram estudados, e as regras deveriam ser agora
para todos. Além disso, os estudos que apontaram fatos para a
redação da NR 17 vieram da França. Vamos pensar a respeito: na
França, precursora da Ergonomia da Atividade, não estabelecemos
valores fechados para situações de trabalho por saber que cada
situação é diferente e depende do contexto no qual está inserida.
Assim, na redação da NR 17, os seus redatores sabiam do perigo em
estabelecer limite de peso para caixas e quantificar pausas de forma
metódica. Pouco tempo para escrever, apenas uma profissão como
estudo de base e sem poder colocar parâmetros exatos. Esse foi o
contexto no qual a NR 17 foi escrita. Não bastassem essas
complicações, precisamos também entender o contexto no qual uma
norma regulamentadora é escrita.

110 U3 - Legislação voltada para a


Para estabelecer parâmetros e criar uma norma regulamentadora,
é preciso existir uma Comissão Tripartite: representantes dos
empregadores, representantes dos empregados e representantes
do Governo. Geralmente, essas representações vêm das classes
patronais, sindicatos e da Fundacentro.
Após a publicação da NR 17, a classe patronal, principalmente
a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a
Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) se deram conta das
possibilidades abertas pela nova redação e que as alterações não se
limitavam à área de processamento de dados. Com diversos
embates com advogados dessas instituições, que exigiam a
modificação do conteúdo da norma referente às metas de produção,
uma nova proposta foi encaminhada à SSST e publicada em 23 de
novembro de 1990, pela Portaria nº 3.751, com alterações que,
infelizmente, comprometeram, em parte, o seu entendimento e a
sua aplicação prática. Para se ter uma ideia, a norma em si é
redigida em apenas 4 páginas, porém o Manual para sua
interpretação possui 101 páginas.

Interpretação da NR 17
A Norma Regulamentadora pode ser consultada no site do
Ministério do Trabalho e Emprego. Em seu item 17.1, aponta
que seus objetivos são voltados a estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente. Essas condições de trabalho incluem aspectos
relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais,
ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do
posto de trabalho e à própria organização do trabalho.
Perceba que a norma não trata de valores, números e regras.
Assim, em seu item 17.1.2, ela torna obrigatória a realização da
análise ergonômica do trabalho, devendo abordar, no mínimo, as
condições de trabalho, conforme citadas anteriormente.
Quando a norma traz o termo “Análise Ergonômica do
Trabalho”, ele já faz alusão ao trabalho do Professor Wisner e à sua
metodologia, e é isso que nunca ficou muito claro para empresas,
ergonomistas e auditores fiscais. Como vimos em nossa
Unidade 2, existe uma metodologia para se fazer essa análise,
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 111
e ela não tem uma

112 U3 - Legislação voltada para a


periodicidade estabelecida, já que ela própria indica a necessidade
de ser refeita sempre que há inadequações entre trabalho
prescrito e real e quando há embates voltados ao conforto, à
segurança e ao desempenho eficiente dos trabalhadores.
Ao tratar do levantamento e transporte de cargas, a norma
estabelece que não deverá ser exigido nem admitido o transporte
manual de cargas cujo peso possa comprometer a saúde ou a
segurança do trabalhador. Veja que não são sugeridos números.
Em nossa Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no capítulo V,
título II, artigo 198, é estabelecido o peso máximo de 60 kg para
levantamento e transporte de cargas.
Nas unidades anteriores de nosso estudo, já vimos que isso
não pode ser tomado como ponto de partida. Uma análise da
situação com todas as suas reais características é essencial para se
adequar um peso que não comprometa a saúde do trabalhador,
além de destacar treinamentos e uso de equipamentos de auxílio.
A norma destaca que, sempre que o trabalho puder ser
executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser
planejado ou adaptado para essa posição. Pode existir trabalho em
pé, e já vimos que em algumas situações não é possível realizar o
trabalho sentado (por exemplo, o carregamento de peso). Nesses
casos, devem ser instalados assentos para descanso. Esse item
destaca apenas que cadeiras e bancadas devem ter as dimensões
corretas. Se um trabalhador possui baixa estatura, deve ser
dimensionado um apoio para pés.
Com relação às condições ambientais, elas também devem
estar adequadas às características psicofisiológicas dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. Nos locais
de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação
intelectual e atenção constantes, a norma aponta as seguintes
condições de conforto:
a) ruído: seguir o estabelecido na NBR 10152 (Inmetro).
b) temperatura efetiva entre 20 °C e 23 °C.
c) velocidade do ar não superior a 0,75 m/s.
d) umidade relativa do ar não inferior a 40%.
Note que em momento algum a norma estabelece esses
parâmetros para todos. As constantes brigas por temperatura do
ar condicionado não são respondidas pela norma. Uma análise

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 113


precisa ser realizada e, principalmente, uma conversa
esclarecedora com os

114 U3 - Legislação voltada para a


trabalhadores sobre o tema. Muitas vezes, as reclamações são
por falta de conhecimento sobre o tema.
A norma também estabelece que em todos os locais de
trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial,
geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. A NBR
5413 é citada como norma a ser consultada para essa adequação.
É importante destacar que, ao procurar essa norma no site da
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), ela consta
como cancelada e substituída pela Norma ISO 8995-1. Porém, a
nota técnica do Ministério do Trabalho e Emprego nº 224/2014
pede que a norma antiga continue sendo utilizada.
Com relação à organização do trabalho, ela deve ser adequada
às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza
do trabalho a ser executado. Como vimos na Unidade 1 de nosso
estudo, o termo diz respeito a:
a) normas de produção.
b) modo operatório.
c) exigência de tempo.
d) determinação do conteúdo de tempo.
e) ritmo de trabalho.
f) conteúdo das tarefas.
Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou
dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e
inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser
observado o sistema de avaliação de desempenho para efeito de
remuneração e vantagens; pausas para descanso; retorno ao
trabalho após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15
dias, e a exigência de produção deverá permitir um retorno
gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao
afastamento.

Anexos I e II da NR 17
O primeiro anexo da norma refere-se ao trabalho de operadores
de check-out, ou seja, caixas de supermercados. Aqui, por se tratar de
uma situação específica de trabalho, a norma procura estabelecer
alguns números e regras, para assegurar as mínimas condições de
conforto, segurança e desempenho eficiente. Perceba que são
“condições
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 115
mínimas”, pois mesmo atendendo a todos os itens da norma, algo
que não foi contemplado por ela pode prejudicar os trabalhadores.
O posto de trabalho deve ser projetado para atender às
características antropométricas de 90% dos trabalhadores, respeitando
suas zonas de alcance e a visualização da tarefa. Deve também
assegurar a postura para o trabalho na posição sentada e em pé,
garantindo um espaço adequado para livre movimentação e
colocação da cadeira, permitindo a alternância do trabalho em pé e
sentado. A cadeira deve ser adequada, o sistema deve ter esteira para
facilitar a movimentação de mercadorias nos check-outs com
comprimento de 2,70 metros ou mais. Deve- se disponibilizar
sistema de comunicação com pessoal de apoio e supervisão e
manter mobiliário sem quinas vivas ou rebarbas, devendo os
elementos de fixação (pregos, rebites, parafusos) serem mantidos de
forma a não causar acidentes.
A norma traz a importância de os trabalhadores estarem protegidos
de condições climáticas adversas, já que muitos estão perto das portas
de saída dos mercados, o que os submete a vento e todas as
intempéries.
A balança para pesagem de alimentos deve estar alinhada à
esteira, para que o trabalhador apenas empurre o peso para
posicioná-lo, sem precisar erguê-lo.
A norma estabelece que o empregador deve adotar medidas
para evitar que a atividade de ensacamento de mercadorias se
incorpore ao ciclo de trabalho ordinário e habitual dos operadores
de check- out. Além disso, o número de check-outs e de
trabalhadores também é organizado com base nos parâmetros do
Anexo I.
A garantia ao respeito de pausas fisiológicas e treinamentos
específicos também são listadas.
O anexo II da Norma Regulamentadora nº 17 estabelece
parâmetros mínimos para o trabalho em atividades de
teleatendimento/telemarketing nas diversas modalidades desse
serviço, de modo a proporcionar um máximo de conforto,
segurança, saúde e desempenho eficiente.
Esse tipo de trabalho tem crescido muito no Brasil e é um
grande ponto de atenção. Trabalhadores são submetidos a metas
abusivas e completamente desconexas da realidade de trabalho,
tendo suas pausas monitoradas e pontuadas, o que faz com
116 U3 - Legislação voltada para a
que muitos não realizem pausas fisiológicas para atendimento
da meta ou por um grande fluxo de ligações.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 117


Além das demandas cognitivas em precisar atender pessoas
com problemas e requisições diversas, muitas vezes eles não têm
autonomia para resolver os problemas e com sistemas lentos e
desconectados entre si, o que provoca diversas consultas, cliques
e diversas telas.
Embora a norma traga uma infinidade de parâmetros de
tamanho da bancada, condições ambientais, de organização de
trabalho e, inclusive, de assédio, muitas vezes, as empresas realizam
campanhas motivacionais que podem exigir vestimentas e dar
prêmios insignificantes que podem agravar as condições de
trabalho.
É preciso ter cuidado ao se realizar uma Análise Ergonômica
do Trabalho utilizando o anexo II da NR 17, havendo a necessidade de
uma interpretação em conjunto de cada um se seus itens pelas
empresas, pois elas podem acreditar que a norma trate apenas do
mobiliário.
O que se vê são metas abusivas, indicadores de desempenho
que prejudicam a autonomia dos trabalhadores, treinamentos
ineficazes, incentivo à competição entre pessoas que deviam se
ajudar, clientes agressivos e falta de suporte psicológico, além da
existência de três pausas obrigatórias (duas de 10 minutos e uma
de 20) que não dão conta das necessidades fisiológicas e que não
são suficientes para uma descompressão e alimentação
adequadas.

Exemplificando
Em uma de minhas análises, escutei o depoimento de alguns
atendentes sobre pegarem muito trânsito e chegarem famintos ao
trabalho, comendo tão rápido que não conseguem comer devagar
nem quando estão em casa. A pausa de 20 minutos leva o tempo de
desconectar do terminal, descer até a área livre, comer e voltar.
Existem prédios de diversos andares e sem elevador. Alguns apontam
que são monitorados pelo horário de fazer a pausa, mas se cai uma
ligação, eles devem atender e isso é indicado como quebra para
receber a meta. Existem diversos tipos de trabalho que se
caracterizam como teleatendimento, mas não chamam a atividade
assim, mantendo a jornada de trabalho e parâmetros do anexo II fora
da regularidade.

118 U3 - Legislação voltada para a


A norma estabelece parâmetros para mobiliário, ambiente e,
principalmente, para a organização do trabalho, destacando
pausas, folgas semanais, o máximo de 6 horas diárias (e, se
houver horas extras, deve haver mais uma pausa de 15 minutos
antes das horas adicionais, e isso não pode ocorrer por mais de
10 dias).
Em seu item 5.1.2.1, o anexo II estabelece que devem ser
levadas em consideração as necessidades dos operadores na
elaboração das escalas laborais que acomodem necessidades
especiais da vida familiar. É um grande desafio explicar isso para a
empresa, que tem como prioridade atender o cliente e,
geralmente, desloca e muda escalas de acordo com sua própria
lógica.
Por fim, o anexo destaca a importância de se realizar a Análise
Ergonômica do Trabalho envolvendo todas as dimensões
necessárias.

Sem medo de errar

Retomando a nossa situação-problema, você é convidado


como ergonomista para realizar uma análise ergonômica do
trabalho em uma empresa de telemarketing. Ao iniciar a realização
da análise, você precisa se amparar na legislação para apontar quais
aspectos devem ser transformados no trabalho dos atendentes de
telemarketing para solucionar os problemas apontados pelo
departamento médico.
Para isso, você precisará relembrar que o anexo II da Norma
Regulamentadora nº 17 estabelece parâmetros mínimos para o
trabalho em atividades de teleatendimento/telemarketing nas
diversas modalidades desse serviço, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente.
Relembramos que a Análise Ergonômica do Trabalho parte de uma
demanda e não tem periodicidade de realização, porém em um setor
de telemarketing, mesmo atendendo a todos os parâmetros da NR
17, podem haver outros pontos de interesse que precisem de
análise. A norma aponta aspectos do mobiliário com dimensões
adequadas de bancada, cadeira, terminal eletrônico e headset, e
todos esses parâmetros são tratados com valores exatos. Mesmo
que sejam totalmente atendidos, aspectos referentes à saúde

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 119


mental desses trabalhadores devem ser considerados. Esse tipo de
trabalho tem crescido muito no Brasil, e é um grande ponto de
atenção. Trabalhadores são submetidos a metas abusivas e
completamente desconexas da realidade de trabalho,

120 U3 - Legislação voltada para a


tendo suas pausas monitoradas e pontuadas, o que faz com que
muitos não realizem pausas fisiológicas para atendimento da meta
ou por um grande fluxo de ligações.
Além das demandas cognitivas em precisar atender pessoas
com problemas e requisições diversas, muitas vezes, eles não têm
autonomia para resolver os problemas e devem lidar com sistemas
lentos e desconectados entre si, o que provoca diversas consultas,
cliques e telas. O que se vê são metas abusivas, indicadores de
desempenho que prejudicam a autonomia dos trabalhadores,
treinamentos ineficazes, incentivo à competição entre pessoas que
deviam se ajudar, clientes agressivos e falta de suporte
psicológico, além da existência de três pausas obrigatórias (duas
de 10 minutos e uma de 20) que não dão conta das necessidades
fisiológicas e que não são suficientes para uma descompressão e
alimentação adequadas.

Avançando na prática

Late como cachorro, mas é um


gato Descrição da situação-problema
Você é chamado como ergonomista para identificar o que
está acontecendo em um grande banco com centrais por todo o
país. Com os atuais avanços tecnológicos, o banco está
criando uma forma para que os seus gerentes de relacionamento
atendam apenas a distância, utilizando chat para comunicação e
terminais de atendimento eletrônico. O banco chama você para
iniciar a análise de projeto dessa nova situação de trabalho. Quais
pontos referentes ao trabalho de teleatendimento precisam de
atenção e alinhamento imediatamente ao se deparar com essa
situação?

Resolução da situação-problema
É preciso verificar o desvio de funções. O anexo II da NR 17,
em seu item 1.1.2, estabelece que se entende como trabalho de
teleatendimento/telemarketing aquele cuja comunicação com
interlocutores clientes e usuários é realizada a distância por
intermédio da voz e/ou mensagens eletrônicas, com a utilização
simultânea de equipamentos de audição/escuta e fala telefônica e
sistemas informatizados ou manuais de processamento de dados.
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 121
Se os gerentes farão esse tipo de trabalho, o anexo II da NR 17
deve ser respeitado.

Faça valer a pena

1. As condições de trabalho que incluem aspectos relacionados ao


levantamento, transporte e descarga de materiais merecem um destaque
especial na interpretação da Norma Regulamentadora nº 17.
Em relação ao peso ideal que um trabalhador pode erguer sem risco
de adoecimento, é correto afirmar:
a) O peso de 60 kg, de acordo com a CLT, é o peso máximo adequado
e garante que o trabalhador não adoeça.
b) O peso de 23 kg, de acordo com a NIOSH, é o peso máximo
adequado e garante que o trabalhador não adoeça.
c) O peso de 25 kg, de acordo com a Hudson de Araújo Couto, é o
peso máximo adequado e garante que o trabalhador não adoeça.
d) Não é possível garantir um peso ideal que contemple todas as
situações de trabalho e nem é possível garantir que um trabalhador
não adoeça.
e) O peso de 10 kg, de acordo com a NR 17, é o peso máximo adequado
e garante que o trabalhador não adoeça.

2. A origem da palavra ergonomia vem das palavras gregas ergon e nomos


(regras para o trabalho).
Com base na origem da palavra ergonomia, assinale a alternativa que traz
o nome do estudioso que a utilizou pela primeira vez.
a) Leonardo da Vinci.
b) Wojciech Jastrzebowski.
c) Frederick Wislow Taylor.
d) James Ford.
e) Bernardino Ramazzini.

3. A Norma Regulamentadora nº 17 visa estabelecer parâmetros que


permitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo
de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Assinale a alternativa que traz corretamente os nomes das atividades
profissionais tratadas nos anexos I e II da NR 17, respectivamente.
a) Operadores de check-out e trabalho em teleatendimento/telemarketing.
b) Caixas de supermercado e digitadores.

122 U3 - Legislação voltada para a


c) Telemarketing e caixas de supermercado.
d) Operadores de check-in de aeroportos e telemarketing.
e) Os anexos tratam de disposições gerais e atualizações da Norma
Regulamentadora nº 17, não trazendo situações específicas.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 123


Seção 3.2
Ergonomia e os Sistemas de Gestão Integrados

Diálogo aberto
Você é convidado como ergonomista para realizar uma análise
ergonômica do trabalho em uma empresa de telemarketing. A
empresa possui 10.000 funcionários espalhados em diversas cidades
pelo Brasil, possui certificação internacional de ISO 9001, ISO
45001 e SA 8000 e presta serviço de venda através do
teleatendimento para grandes empresas de telefonia (aparelhos
celulares, pacotes de dados e planos pós e pré-pago de ligações).
Essa empresa possui certificação internacional de Qualidade, Saúde
e Segurança no Trabalho e de Responsabilidade Social. Quais
impactos essas certificações podem trazer para os aspectos
relacionados à ergonomia na empresa? Quais os requisitos de base
de cada normatização? Quais as vantagens para a empresa em
realizar uma certificação internacional nesses aspectos e quais as
suas responsabilidades?
Para solucionar esse estudo de caso, vamos ao item Não pode
faltar do nosso estudo.

Não pode faltar

Sistemas de Gestão Integrados: saúde, segurança, meio


ambiente, qualidade e responsabilidade social
Até o presente momento, conversamos sobre a ergonomia e
sua importância nas empresas, abordando a metodologia da
Análise Ergonômica do Trabalho, seu histórico e a legislação brasileira
que trata especificamente da Ergonomia no Brasil: a Norma
Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE).
Para realizar a ação ergonômica na empresa, devemos lembrar
o quão importante é conhecê-la. Só entenderemos o trabalho
real se uma análise global da empresa – seus processos e suas
regras – for realizada. O trabalho sempre está inserido em um
determinado contexto que o condiciona. As regras e normas de
120 U3 - Legislação voltada para a
produção podem afetar diretamente a saúde no trabalho.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 121


Vamos pensar: digamos que haja uma linha de produção
dentro de uma empresa de cosméticos em que os trabalhadores
realizam a colocação de tampas em um batom. Pode acontecer de
a empresa trocar seus fornecedores e a matéria-prima em busca
de padrões mais altos de qualidade, buscando tampas mais rígidas,
que geram dificuldades na tarefa e sobrecarregam as mãos e os
punhos dos trabalhadores. Pode acontecer de o setor que busca a
gestão ambiental da empresa pedir a troca de determinados
materiais que eram essenciais para a tarefa.
Conhecer a empresa e sua forma de funcionamento é
necessário para se traçar em qual cenário as relações de trabalho
acontecem. Como vimos anteriormente, na metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho, de forma esquemática o ergonomista
precisa mapear o contexto comercial e econômico, quem são os
consumidores, quais regulamentações a empresa obedece, quem é
a concorrência, a posição da empresa no mercado, o que vem,
quais seus padrões de qualidade, materiais, história e perspectivas
futuras, suas políticas, estrutura administrativa, localização,
processos, modelo de gestão, grau de evolução tecnológica,
principais etapas do processo de produção, índice de
produtividade, horários, turnos, cadências e demais aspectos da
organização do trabalho.
Dessa forma, estamos ressaltando a importância de saber
como é a gestão da empresa. Quando falamos em gestão,
estamos nos referindo a formas de administrar e controlar um
negócio.
A globalização e o capitalismo promoveram uma mudança nas
necessidades competitivas das empresas: o consumidor está mais
exigente e bem informado, o que torna essencial que a empresa
busque a imagem de ser responsável com seus processos, a
qualidade de serviços e produtos, responsabilidade com seus
trabalhadores e com o meio ambiente.
Mundialmente, existem normas que trazem alguns requisitos
para que as empresas consigam organizar seus processos e
melhorar sua forma de gestão. Atualmente, empresas com poder
aquisitivo organizam seus processos seguindo fielmente esses
requisitos e, em seguida, passam por uma auditoria de órgãos
auditores que garantem a certificação delas. Essa certificação pode
ser voltada à qualidade dos serviços ou produtos, gestão
ambiental, saúde e segurança e de responsabilidade social. Caso
122 U3 - Legislação voltada para a
a empresa não consiga certificar

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 123


seus processos, mesmo assim, é interessante conhecer e aplicar
os requisitos das normas que se enquadrem à sua realidade.
Assim, as empresas buscam mapear seus processos através
de requisitos predefinidos por normas internacionais, o que permite
que possam melhorar a gestão de aspectos, como qualidade, meio
ambiente, saúde e segurança e responsabilidade social de forma
coordenada.
No Brasil, houve a tradução de normas internacionais de sistemas
de gestão integrados: ABNT NBR ISO 9001/2015 para a Gestão
da Qualidade; ABNT NBR ISO 14001/2015 para a Gestão Ambiental;
OHSAS 18001/2007 (sendo atualizada para a ABNT NBR ISO
45001/2016) para a Gestão em Saúde e Segurança; e as normas SA
8000 e ABNT NBR 16001/2012 sobre as diretrizes de
Responsabilidade Social.
Essas normas têm em comum o fato de seguirem um método
de controle da melhoria contínua dos processos e produtos
chamado PDCA ou Roda de Deming (referente a William Edwards
Deming, um dos precursores da gestão da qualidade).
O ciclo PDCA é uma ferramenta baseada na repetição
sucessiva nos processos, com o objetivo de tornar a gestão de
uma empresa mais ágil, clara e objetiva. O ciclo tem quatro etapas
que se repetem com foco na melhoria contínua: Planejar (elaborar
um plano de ação para atingir os resultados necessários); Realizar
(executar o processo, fabricar o produto, realizar o serviço); Checar
(conferir a realidade com os resultados esperados); Agir (ajustar e
tomar ações corretivas).
Perceba que podemos aplicar as quatro fases do PDCA a
praticamente tudo: estabelecer uma meta, realizar, checar para ver
o que pode ser melhorado e realizar ajustes.

124 U3 - Legislação voltada para a


Figura 3.1 | Ciclo PDCA ou Roda de Deming

Agir Planejar
Estabelecer
Agir de acordo com o avaliado, determinar e confeccionar novos planos de uma meta aoumelhoria
ação, promovendo identifcarcontínua.
um problema.
Analisar sistematicamente e definir o PLANO DE AÇÂO.

Checar Realizar
Monitorar e avaliar periodicamente os resultados, confrontando com o planejado,
Executarobjetivos,
as atividades
especificações
conformee mapeadas
consolidando
no PLANO
resultado

Fonte: elaborada pela autora.

O ciclo PDCA estabelece que todos os indicadores


estabelecidos na empresa tenham foco na melhoria contínua. Os
Sistemas de Gestão, isolados ou integrados (quando implantados
em conjunto), sempre seguirão a lógica de melhoria contínua.
Vamos abordar cada um deles e sua relação com a Ergonomia.

Gestão da Qualidade – a norma ISO 9001/2015


Já aconteceu de você ir ao supermercado e encontrar uma
fruta com um “selinho de qualidade”? Atualmente, torna-se cada
vez mais comum vermos selos de qualidade e promessas sobre a
procedência dos produtos e garantia de qualidade de serviços.
Embora “qualidade” seja um conceito relativo (pois um produto
ou serviço pode ser interpretado e sentido de formas diferentes
pelas pessoas), mapear processos para garantir a qualidade é
essencial para a competitividade e o sucesso da empresa.
Imagine duas calças de mesmo número e da mesma marca
terem tecidos diferentes? Ou imagine ir a duas lojas da mesma marca
em locais diferentes e ter atendimentos e informações completamente
divergentes?
A qualidade aumenta a confiança do consumidor. Para garantir
requisitos que assegurem a qualidade de produtos e serviços, o
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 125
Comitê Técnico Quality Mangement and Quality Assurance
(ISO/TC 176) elaborou a norma ISO 9001, que foi o ponto de
partida para a padronização de requisitos de gestão. No Brasil, ela
foi revisada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), ABNT NBR ISO 9001, com sua última revisão em 2015
(até o momento, já que essas normas podem ser revistas sempre
que necessário para atualizar seus requisitos e aplicação).
A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento
da sociedade brasileira. Foi fundada na década de 1940 e é
representante do Brasil nos foros sub-regionais, regionais e
internacionais de normalização.
A ISO 9001, geralmente, é o primeiro foco das empresas. A
norma ISO 9001 não impõe nenhum padrão de qualidade ou
uniformidade de nenhum requisito. É a organização que deve
definir livremente como estabelecer, implementar e manter o
sistema.
Essa norma traz sete princípios da qualidade e estabelece
requisitos para atingi-los:
1) Foco no cliente: sempre precisamos nos perguntar
“qualidade para quem?”, pois apenas conhecendo o público-alvo é
possível garantir sua satisfação e superação de expectativas.
2) Liderança: possuir equipes com líderes que promovem o
engajamento e foco em resultados.
3)Comprometimento das pessoas: comprometimento, alinhamento
e comunicação entre pessoas da organização.
4) Abordagem de processos: estabelecer processos de forma a
garantir uma padronização.
5) Tomada de decisão baseada em evidências: criar indicadores,
monitorar e medir processos.
6) Melhoria: o que pode ser medido pode ser melhorado e,
seguindo o ciclo PDCA, devemos nos perguntar sempre o que
pode melhorar.
7) Gestão de relacionamentos: interação e gerenciamento dos
relacionamentos entre pessoas, processos e organizações.
A norma ISO 9001 não impõe nenhum padrão de qualidade
ou uniformidade de nenhum requisito. É a organização que deve
definir livremente como estabelecer, implementar e manter o
sistema.
126 U3 - Legislação voltada para a
Figura 3.2 | Os sete princípios da qualidade da ISO 9001/2015

Fonte: elaborada pela autora.

Assimile
Como pode ser visto, esses sete princípios buscam o engajamento
de equipes com foco em resultados e na tomada de decisões
baseada em evidências. Analisando cuidadosamente esses
princípios, precisamos ser cautelosos e verificar se o foco em
resultados e o estabelecimento de indicadores que não condizem
com a realidade do trabalho podem estar gerando adoecimentos e
problemas com conforto, segurança e desempenho eficiente dos
trabalhadores.

Muitas vezes, pela busca desenfreada de controle de seus


processos, as empresas começam a estabelecer metas e
indicadores totalmente incoerentes com a realidade do trabalho,
como avaliar negativamente um atendente que não resolveu um
problema, sendo que seu sistema de computador não dava
autonomia para essa resolução; ou cobrar rapidez numa linha de
montagem sem considerar os esforços físicos dos trabalhadores;
ou ainda penalizar trabalhadores que não atingiram os padrões
de qualidade de uma determinada peça sendo que não possuíam
ferramentas ou treinamento adequados para realizar o trabalho.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 127


Pesquise mais
Para saber mais sobre a Gestão da Qualidade e sua abordagem na
atualidade, assista à entrevista do consultor em gestão empresarial
Waldez Ludwig, no Programa do Jô, em 2011 disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=-4UB7XRnK40>. Acesso em: 13 jun.
2017.

Gestão Ambiental – a norma ISO 14001/2015


Empresas de todos os tipos e portes estão cada vez mais
preocupadas em atingirem um bom desempenho sem danificar
o meio ambiente. Assim, realizam a gestão de seus resíduos e
procuram controlar o impacto de suas atividades, serviços e
produtos no ambiente.
Quando compramos um produto, como é seu descarte?
Quais impactos o seu processo de produção causa ao meio
ambiente? De onde veio e qual matéria-prima foi utilizada?
Atualmente, os consumidores têm grande preocupação com
essas questões. Assim, é essencial que as empresas demonstrem
aos seus clientes, fornecedores e sociedade que elas exercem
suas atividades sem provocar danos ao meio ambiente
estabelecendo um Sistema de Gestão Ambiental (SGA).

Exemplificando
Historicamente, há uma série de fatos relacionados a ações irresponsáveis
com o meio ambiente. Para saber mais, veja o exemplo da empresa
Volkswagen, que utilizou um programa para mascarar a emissão de
poluentes em carros a diesel. Leia a matéria Que vias a Volks pode
seguir após o escândalo das emissões, de Luísa Melo, no site da Revista
Exame, disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/que-vias-
a-volks- pode-seguir-apos-o-escandalo-das-emissoes/>. Acesso em: 13
jun. 2017.

A norma ISO 14001 foi elaborada e reformulada buscando a


articulação com a ISO 9001, para que pudessem ser aplicadas
de forma integrada. Também baseada no ciclo PDCA, traz a
correlação dos seguintes elementos: política ambiental,
128 U3 - Legislação voltada para a
planejamento,

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 129


implementação e operação, verificação, análise pela administração
e melhoria contínua.
Assim, a empresa precisará criar uma política que seja
adequada à natureza, planejando a escala e os impactos
ambientais de suas atividades; com comprometimento com
melhoria contínua, com requisitos legais; com estrutura para o
estabelecimento e a análise dos objetivos e metas ambientais; com
documentação e comunicação a todos da empresa.

Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho – a norma


OHSAS 18001/2007 (atual ISO 45001/2016)
A norma OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety
Assessment Series) foi desenvolvida para ser compatível com as
normas ISO 9001 e ISO 14001, em resposta à demanda de
clientes para uma gestão da Segurança e Saúde no Trabalho.
Também baseada no ciclo PDCA, fornece elementos para uma
gestão eficaz, assim como a ISO 14001: Política de saúde e
segurança do trabalho, planejamento, implementação e operação,
verificação e ação corretiva, análise crítica pela direção e melhoria
contínua.
Além de trazer diretrizes para a criação de uma política de
saúde e segurança do trabalho, a norma traz definições de riscos e
perigos, indicando procedimento para sua identificação nas
atividades, no comportamento e fatores humanos, no local de trabalho
e sua vizinhança, nos equipamentos, na infraestrutura, em
mudanças na organização, processos, obrigações legais e controles
necessários e na ergonomia.
A norma OHSAS 18001 foi reformulada no Brasil como ISO
45001/2016, trazendo a saúde e segurança como focos da
empresa, introduzindo a gestão de riscos e maior descrição e
detalhamento dos requisitos. Embora não seja tratada pelo nome,
a ergonomia permeia toda a norma, já que aponta a necessidade
de se verificar a interação dos trabalhadores com os processos de
trabalho, máquinas, equipamentos e organização.
Da mesma forma que a Norma Regulamentadora nº 17, não há
descrição de formas e pontos de atenção voltados à ergonomia,
cabendo ao ergonomista conhecer os caminhos de análise e
melhoria através da metodologia da Análise Ergonômica do
Trabalho, seguindo ainda o PDCA de acordo com a demanda.
130 U3 - Legislação voltada para a
Gestão da Responsabilidade Social – as normas SA 8000 e
ISO 16001/2012
A norma SA 8000 (Social Accountability 8000) foi desenvolvida
pela Social Accountability International (SAI), nos Estados Unidos,
tendo como principal enfoque garantir os direitos básicos dos
trabalhadores. Essa norma destina-se a qualquer organização que
pretenda garantir parâmetros éticos associados aos seus
processos de negócio. A SA 8000 tem como base um conjunto de
convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da
Organização das Nações Unidas (ONU), sendo a certificação
suportada no cumprimento de oito requisitos centrados na
responsabilidade social: Trabalho Infantil: a empresa não deve se
envolver ou apoiá-lo; Trabalho Forçado: a empresa não deve
apoiar, se envolver, nem exigir que os trabalhadores façam depósitos
ou deixem documentos de identidade ao iniciar na empresa;
Segurança e Saúde no Trabalho: a empresa deve prover um
ambiente seguro, com um responsável que assegure que todos os
trabalhadores recebam treinamento e tenham acesso à água
potável banheiros, limpos e instalações e processos seguros;
Discriminação: respeito à raça, classe social, nacionalidade, religião,
deficiência, sexo, orientação sexual, associação a sindicato ou
afiliação política e idade, jamais interferindo nos direitos dos
trabalhadores e não permitindo ofensas ou ameaças; Práticas
Disciplinares: não deve se envolver ou apoiar a utilização de
punição corporal, mental ou coerção física e abuso verbal;
Liberdade de Associação e Direito à Negociação Coletiva: deve
respeitar esse direito, facilitar formas de associação e garantir o
respeito; Horário de Trabalho: jornada de trabalho prevista na lei,
com horas extras apenas voluntárias (não excedendo 12 horas por
semana); Salário: garantir comprometimento e respeitar as leis.

Reflita

Ainda existe trabalho escravo. Atualmente, novas formas de limitação


à liberdade dos trabalhadores surgiram. Há diversos exemplos nas
indústrias de confecção, carvoarias, empresas de limpeza e muitas
outras. A Convenção Suplementar sobre Abolição da Escravatura, do
Tráficoo de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura,
da ONU, conceitua a Servidão por Dívida como

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 131


[...] o estado ou a condição resultante do fato de que
um devedor se haja comprometido a fornecer, em
garantia de uma dívida, seus serviços pessoais ou
os de alguém sobre o qual tenha autoridade, se o
valor desses serviços não for equitativamente
avaliado no ato da liquidação de dívida ou se a
duração desses serviços não for limitada nem sua
natureza definida. (ONU, 1966, [s.p.])

Assim, há exemplos de empresas que induzem trabalhadores a


saírem de suas terras natais e os escravizam, alegando que existe
uma dívida referente à passagem e habitação. Para saber mais, veja
a notícia do Portal R7 intitulada Record flagra trabalho escravo em
rodovia que liga São Paulo a Minas Gerais, disponível em:
<http://noticias.r7.com/fala- brasil/videos/record-flagra-trabalho-
escravo-em-rodovia-que-liga-sao- paulo-a-minas-gerais-15102015>.
Acesso em: 13 jun. 2017.

A norma brasileira ABNT NBR 16001/2012 também é base de


certificação e define a Responsabilidade Social de uma
organização como a responsabilidade pelos impactos de suas
decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio
de um comportamento ético e transparente que contribua para o
desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e o bem-estar da
sociedade; leve em consideração as expectativas das partes
interessadas; esteja em conformidade com a legislação aplicável e
seja consistente com as normas internacionais de comportamento e
esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas
relações.
Com base nessa norma, as organizações devem desenvolver
programas que deverão contemplar 11 elementos da Responsabilidade
Social: boas práticas de governança; combate à pirataria,
sonegação, fraude e corrupção; práticas leais de concorrência;
direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao
trabalho infantil; direitos do trabalhador, incluindo o de livre
associação, de negociação, a remuneração justa e benefícios
básicos, bem como o combate ao trabalho forçado; promoção da
diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de
gênero, de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência);
132 U3 - Legislação voltada para a
compromisso com o desenvolvimento

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 133


profissional; promoção da saúde e segurança; promoção de
padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção, distribuição e
consumo, contemplando fornecedores, prestadores de serviço,
entre outros; proteção ao meio ambiente e aos direitos das
gerações futuras; ações sociais de interesse público.
Precisamos lembrar que atender todos os requisitos da norma
não significa necessariamente que a organização é socialmente
responsável, mas que ela possui um sistema de gestão da
Responsabilidade Social.
Ao verificar os requisitos de ambas as normas, percebemos
como a Ergonomia também é citada indiretamente, pela busca de
assegurar os direitos e melhores condições de trabalho aos
trabalhadores.

Sem medo de errar

Lembrando a situação-problema do nosso Convite ao estudo,


você é convidado para realizar uma Análise Ergonômica do
Trabalho em uma empresa de telemarketing. A empresa possui
10.000 funcionários espalhados em diversas cidades pelo Brasil,
possui certificação internacional de ISO 9001, ISO 45001 e SA
8000 e presta serviço de venda por teleatendimento para grandes
empresas de telefonia (aparelhos celulares, pacotes de dados e
planos pós e pré-pago de ligações). Ela possui certificação
internacional de Qualidade, Saúde e Segurança no Trabalho e de
Responsabilidade Social. Após adquirir novos conhecimentos
voltados a Sistemas de Gestão Integrados na Seção 3.2 da
Unidade 3 de nosso estudo, você agora consegue identificar que
as certificações da empresa podem trazer aspectos positivos e
negativos, caso não estejam integrados e coesos entre si,
especialmente quando relacionados à ergonomia na empresa.
Priorizar a qualidade em detrimento da saúde e segurança dos
trabalhadores, estabelecendo metas abusivas e indicadores de
desempenho para atender o princípio de tomada de decisão baseada
em evidências vai contra quaisquer princípios de ergonomia. Por
outro lado, mapear processos e priorizar a saúde e segurança
junto à qualidade, ao meio ambiente e à responsabilidade social é
uma das chaves do sucesso de qualquer empresa. Cada
normatização possui seus requisitos, que são descritos em cada uma

134 U3 - Legislação voltada para a


das normas. As normas mais citadas quando tratamos de Sistemas
de Gestão Integrados

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 135


são: ABNT NBR ISO 9001/2015 para a Gestão da Qualidade;
ABNT NBR ISO 14001/2015 para a Gestão Ambiental; OHSAS
18001/2007 (atualizada para a ABNT NBR ISO 45001/2016) para a
Gestão em Saúde e Segurança; e as normas SA 8000 e ABNT
NBR 16001/2012, que trazem diretrizes de Responsabilidade
Social.
Assim, percebemos que um Sistema de Gestão Integrado visa
unificar os processos de qualidade, gestão ambiental, segurança,
saúde ocupacional e responsabilidade social. A gestão integrada
desses sistemas torna mais eficiente a implantação das políticas,
objetivos, processos, procedimentos e práticas do que por meio de
sistemas de gestão individuais para cada processo de uma
organização.

Avançando na prática

O que importa é a qualidade?


Descrição da situação-problema
Em uma indústria de cosméticos, o departamento médico
identifica um aumento dos casos de dores nos ombros e afastamentos
por tendinites em uma das linhas de produção. Ao realizar a
Análise Ergonômica do Trabalho, você identifica que os
responsáveis pela implantação do Sistema de Gestão de Qualidade
trocaram as tampas de um determinado produto. As novas tampas
são feitas de um material mais rígido e exigem maior esforço para
serem posicionadas no produto final. O que se deve fazer nesse
caso? Priorizar a saúde ou a qualidade?

Resolução da situação-problema
É importante que ambos os sistemas sejam integrados e que
os responsáveis por cada sistema de gestão recebam
treinamento e aprendam a importância de se atingir padrões de
qualidade sem que isso ocorra em detrimento da saúde do
trabalhador. Buscar um novo tipo de tampa ou verificar uma forma
de seu posicionamento e não sobrecarregar os membros
superiores dos trabalhadores é essencial para que a empresa
opere de forma coesa e com alinhamento entre processos e
prioridades.

136 U3 - Legislação voltada para a


Faça valer a pena

1. Para implantar um sistema de gestão em uma empresa, é


necessário seguir uma série de requisitos que têm como objetivo
mapear elementos essenciais, facilitando o processo de análise,
elaboração de um plano de ação e acompanhamento através do ciclo
PDCA.
Sobre os sistemas de gestão e as normatizações equivalentes no Brasil,
analise as afirmações.
( ) ABNT NBR ISO 9001/2015 é referente ao Sistema de Gestão da
Qualidade. ( ) SA 8000/2014 é referente ao Sistema de Gestão Ambiental.
( ) OHSAS 18001/2007 é referente ao Sistema de Gestão em Saúde e
Segurança. ( ) ABNT NBR ISO 14001/2015 é referente ao Sistema de
Gestão da Responsabilidade Social.
Com relação às normas internacionais e sistemas de gestão integrados,
marque verdadeiro ou falso e assinale a alternativa correta.
a) F, F, F, F.
b) V, V, V, V.
c) V, F, V, F.
d) V, V, F, F.
e) F, F, V, V.

2. O ciclo PDCA é uma ferramenta baseada na repetição sucessiva dos


processos, com o objetivo de tornar a gestão de uma empresa mais ágil,
clara e objetiva. As normas que estabelecem parâmetros e requisitos
de gestão seguem as etapas do PDCA como forma de centralizar seus
processos em melhoria contínua.
O ciclo tem quatro etapas que se repetem com foco na melhoria contínua.
Assinale a alternativa que cita essas quatro etapas de forma correta:
a) Pilot – Design – Create – Art.
b) Prototipar – Desenhar – Criar – Arrumar.
c) Planilha – Documento – Certificação – Arquivo.
d) Planejar – Desenhar – Checar – Argumentar.
e) Plan – Do – Check – Act.

3. A ISO 9001 é a norma que certifica os Sistemas de Gestão da


Qualidade e define os requisitos para a implantação do sistema através de
ferramentas de padronização para a implantação da Gestão da Qualidade.
Com base no sistema de gestão de qualidade, assinale a alternativa que
cita adequadamente os sete princípios da qualidade de acordo com a ISO
9001:

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 137


a) Padronizar tamanhos, padronizar materiais, padronizar atitudes,
padronizar comportamentos, padronizar forma de liderança,
padronizar preço e padronizar concorrência.
b) Foco no cliente, liderança, comprometimento das pessoas, abordagem
de processos, tomada de decisão baseada em evidências, melhoria e
gestão de relacionamentos.
c) Planejar, implantar, checar, corrigir, avaliar, modificar, melhorar.
d) Trabalho escravo, trabalho infantil, salário, saúde e segurança do
trabalho, discriminação, horas extras e livre afiliação a sindicatos.
e) Reutilizar, reduzir, reciclar, retificar, reorganizar, remanejar e racionalizar.

138 U3 - Legislação voltada para a


Seção 3.3
Legislação, Normas e Regulamentações

Diálogo aberto
Relembrando a nossa situação-problema para esta unidade de
estudos, você é convidado como ergonomista para realizar uma
Análise Ergonômica do Trabalho em uma empresa de telemarketing.
A empresa possui 10.000 funcionários espalhados em diversas
cidades pelo Brasil, possui certificação internacional de ISO 9001,
ISO 45001 e SA 8000 e presta serviço de venda através do
teleatendimento para grandes empresas de telefonia (aparelhos
celulares, pacotes de dados e planos pós e pré-pago de ligações). A
empresa está iniciando um Comitê de Ergonomia, porém nunca
realizou uma Análise Ergonômica do Trabalho, e os contratantes
acreditam que estejam com toda a situação sob controle, já que
todos os postos de trabalho estão dimensionados conforme os
aspectos de mobiliário apontados no anexo II da Norma
Regulamentadora nº 17. Ao visitar o ambulatório médico, você
detecta que grande parte dos afastamentos médicos na empresa se
dão por motivos de infecção urinária e doenças mentais. Para
concluir sua análise ergonômica do trabalho, é de extrema
importância que você converse com o Comitê de Ergonomia para
alinhar suas sugestões de melhoria em ergonomia com os demais
programas existentes na empresa. Nesse cenário, é importante
verificar: quais outras normas regulamentadoras se relacionam com
a NR 17 de Ergonomia? Por que é importante alinhar esses
programas? Qual a importância do Comitê de Ergonomia e em
quais fases da análise ergonômica do trabalho ele deve estar
envolvido?
Para responder essas e outras questões, veja o item Não pode
faltar do nosso estudo. É importante ter em mente que entender
sobre a legislação que nos cerca – não apenas sobre ergonomia,
mas de tudo que influencia nosso dia a dia – pode ajudar a nos
tornar mais críticos, a nos proteger e a proteger as pessoas ao
nosso redor, além de poder criar uma visão crítica de transformação
do mundo. Parabéns por todo o estudo até o presente momento!
Vamos em frente!
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 139
Não pode faltar

Até aqui já tivemos uma longa jornada! Agora que estamos


encerrando a Unidade 3 de nosso estudo e estamos perto de
finalizar a nossa disciplina de Ergonomia, é inevitável olhar para
trás e pensar em tudo que já aprendemos.

Legislação e normas técnicas relacionadas à ergonomia


Sabemos que a Ergonomia é a ciência que visa compreender
o trabalho para transformá-lo. Aproximando-se do trabalho real e
entendendo o que exatamente é enfrentado pelos trabalhadores
para que possam alcançar os objetivos da tarefa (estabelecidos
pela empresa e por si próprios), os profissionais que trabalham
com Ergonomia tocam em uma transformação não apenas voltada
à saúde, à segurança, ao conforto e ao desempenho eficiente,
mas propõem sugestões que podem tornar o trabalho mais
sustentável, significativo, com sentido para quem o desempenha.
Nossa legislação serve de pano de fundo para essa temática.
Infelizmente, ainda precisamos da obrigatoriedade por lei e das
multas e demais formas de punição aos que não cumprem o que é
estabelecido por ela. Obviamente, nem todas as pessoas
entendem o que deve ser feito para que o trabalho seja realizado
em melhores condições. Muitas empresas acreditam que estão
realizando os melhores processos e monitorando suas atividades
da melhor forma. É nosso papel educar essas pessoas e explicar o
que é estabelecido por lei e o que se torna mais eficiente em
termos de melhorar o trabalho, tornar processos mais coesos e
eficazes, e integrar equipes para um desempenho voltado à
excelência, performance, saúde e ao desenvolvimento profissional.
Embora haja pelo Ministério do Trabalho e Emprego uma
norma regulamentadora específica voltada à ergonomia – a
Norma Regulamentadora nº 17 –, não podemos esquecer que todas
tratam de Saúde e Segurança do Trabalho e, portanto, todas possuem
correlação com a ergonomia de alguma forma. A seguir, veremos
quais normas regulamentadoras e técnicas fazem correlação com
a Ergonomia.

140 U3 - Legislação voltada para a


Interface da NR 17 com outras normas regulamentadoras
Como vimos anteriormente, a NR 17 visa estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente. Essa norma traz a obrigatoriedade da realização da
Análise Ergonômica do Trabalho, que, por se tratar de uma
metodologia baseada na Ergonomia da Atividade (criada na
França), necessitou de um Manual de Aplicação (criado pelo
Ministério do Trabalho em 2002, 12 anos depois da criação da
norma), explicando alguns passos essenciais para a sua
realização.
Atualmente, temos disponibilizadas 36 normas regulamentadoras.
Movimentos sociais e necessidades do mundo do trabalho sempre
impactam nessas normas, gerando atualizações ou a criação de
novas regulamentações. Veja quais são as normas
regulamentadoras atuais no quadro a seguir:
Quadro 3.1 | Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego

NR 1 - Disposições Gerais NR 19 - Explosivos


NR 20 - Líquidos Combustíveis e
NR 2 - Inspeção Prévia
Inflamáveis

NR 3 - Embargo ou Interdição NR 21 - Trabalho a Céu Aberto

NR 4 - Serviços Especializados
NR 22 - Segurança e
em Eng. de Segurança e em
Saúde Ocupacional na
Medicina do Trabalho
Mineração
NR 5 - Comissão Interna de
NR 23 - Proteção contra Incêndios
Prevenção de Acidentes
NR 6 - Equipamentos de Proteção NR 24 - Condições Sanitárias e de
Individual – EPI Conforto nos Locais de Trabalho
NR 7 - Programas de Controle
NR 25 - Resíduos Industriais
Médico de Saúde Ocupacional

NR 8 - Edificações NR 26 - Sinalização de Segurança

NR 27 - Registro Profissional do
NR 9 - Programas de Prevenção de Técnico de Segurança do Trabalho
Riscos Ambientais no MTB (Revogada pela Portaria
GM n.º 262/2008)
NR 10 - Segurança em Instalações
NR 28 - Fiscalização e Penalidades
e Serviços em Eletricidade

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 141


NR 11 - Transporte,
NR 29 - Segurança e Saúde no
Movimentação, Armazenagem e
Trabalho Portuário
Manuseio de Materiais
NR 30 - Segurança e Saúde no
NR 12 - Máquinas e Equipamentos
Trabalho Aquaviário
NR 31 - Segurança e Saúde no
NR 13 - Caldeiras e Vasos de Trabalho na Agricultura, Pecuária,
Pressão Silvicultura, Exploração Florestal e
Aquicultura
NR 32 - Segurança e Saúde no
NR 14 - Fornos Trabalho em Estabelecimentos de
Saúde
NR 15 - Atividades e Operações NR 33 - Segurança e Saúde no
Insalubres Trabalho em Espaços Confinados
NR 34 - Condições e Meio
NR 16 - Atividades e Operações
Ambiente de Trabalho na Indústria
Perigosas
da Construção e Reparação Naval

NR 17 – Ergonomia NR 35 - Trabalho em Altura

NR 36 - Segurança e Saúde no
NR 18 - Condições e Meio
Trabalho em Empresas de
Ambiente de Trabalho na Indústria
Abate e Processamento de
da Construção
Carnes e Derivados

Fonte: elaborada pela autora.

Por tratarem de saúde e segurança, de alguma forma, todas as


normas regulamentadoras se correlacionam.
A NR 1 trata da ordem de serviço, estabelecendo que todos os
trabalhadores sejam informados de suas atividades, riscos, formas
de proteção e medidas emergenciais durante a realização de seus
trabalhos. A NR 2 trata da inspeção prévia, estabelecendo que
todas as edificações passem por uma inspeção de forma a garantir
sua segurança antes de serem realizadas atividades. A NR 3
estabelece que sejam embargadas obras e interditados setores,
máquinas e locais que ofereçam risco grave e iminente à saúde e
segurança dos trabalhadores.
A NR 4 trata dos serviços especializados em Engenharia de
Segurança e Medicina do Trabalho, uma equipe constituída por
profissionais da área de saúde e segurança (técnico em segurança do
trabalho, técnico em enfermagem, enfermeiro do trabalho, médico do
trabalho e engenheiro de segurança) que pode ser de presença
obrigatória nas empresas de acordo com o número de funcionários
e grau de risco. Além disso, a

142 U3 - Legislação voltada para a


U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 143
NR 4 traz quadros de controle de acidentes e doenças do trabalho
que ajudam no controle estatístico e prevencionista da empresa. A NR
5 trata da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que
estabelece que, de acordo com o número de funcionários e
grupamento das empresas de acordo com sua Classificação
Nacional de Atividade Econômica (CNAE) e com a Classificação
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), as empresas possuam uma
comissão de trabalhadores eleitos pelos seus colegas e outros
indicados pelo empregador para avaliar as condições de saúde e
segurança do trabalho e tomarem ações junto aos demais
trabalhadores e empresa de forma a combater doenças e acidentes
do trabalho.
A NR 6 trata dos equipamentos de proteção individual, e a NR 8
sobre normas de circulação e proteção contra intempéries em
edificações.
As normas regulamentadoras 7 e 9 tratam, respectivamente, do
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e
do Programa de Prevenção a Riscos Ambientais (PPRA). Esses
dois programas são de realização anual e são totalmente
correlacionados. O PPRA traz um mapeamento dos riscos físicos,
químicos e biológicos na empresa, em cima dos quais o PCMSO
faz o controle médico. Essas duas normas trazem em detalhes
como realizar a proteção dos trabalhadores de acordo com os
riscos inerentes ao trabalho, estabelecendo que se tente sempre
eliminar por completo o risco. Caso isso não seja possível, que
esse risco receba uma medida que proteja a todos (isolando-o) e
medidas administrativas de proteção. Apenas em último caso
adotamos um equipamento de proteção individual, pois primeiro
precisamos esgotar todas as alternativas que procurem não deixar
apenas ao trabalhador a sua proteção.
A NR 10 trata de riscos com eletricidade e especificações para
evitar acidentes dessa natureza. As normas regulamentadoras 11, 12,
13 e 14 tratam de transporte de materiais, máquinas e equipamentos,
caldeiras e vasos de pressão e fornos, respectivamente. Essas
normas tratam em detalhes sobre a proteção quando tratamos de
maquinário. Sua observância faz correlação com as demais normas
regulamentadoras, porém especificamente tratando de máquinas
de toda natureza.
A NR 15 é a norma que traz especificações referentes a riscos
químicos, físicos e biológicos, especificando quando esses
144 U3 - Legislação voltada para a
agentes tornam as atividades insalubres, ou seja, estão acima dos
limites de tolerância e podem adoecer o trabalhador. A NR 16
especifica

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 145


quais atividades são tratadas como perigosas, como a atividade
de profissionais de segurança pessoal e patrimonial, pessoas que
trabalham com explosivos e radiações, motociclistas, entre outros.
A NR 18 trata especificamente da construção civil e aborda em
detalhes todas as atividades e riscos inerentes a essa área de
atuação. As normas 19, 20 e 21 tratam dos riscos com explosivos,
líquidos e combustíveis inflamáveis e trabalho a céu aberto,
respectivamente.
Algumas normas tratam de segmentos bem específicos, como
a NR 18. Por exemplo, a NR 22 é específica para a mineração;
a NR 29 trata do trabalho portuário (portos); a NR 30, do trabalho
aquaviário (embarcações); a NR 31 trata da agricultura, pecuária
silvicultura (métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar
os povoamentos florestais), exploração florestal e aquicultura; a
NR 32 trata de estabelecimentos de saúde; a NR 33 trata de
espaços confinados (área ou ambiente não projetado para
ocupação humana contínua, que possua meios limitados de
entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para
remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência ou
enriquecimento de oxigênio); a NR 34 trata da indústria da construção
e reparação naval; a NR 35 trata de trabalhos em altura (acima de 2
metros); e a última norma publicada, a NR 36, trata de empresas
de abate e processamento de carnes e derivados. Essas normas
são tão específicas que trazem linguagem e particularidades de
cada um dos segmentos dos quais tratam.
A NR 23 trata de proteção contra incêndios, estabelecendo
medidas de gerenciamento de emergências. A NR 24 traz condições
sanitárias e de conforto nos locais de trabalho. As normas 25 e 26 tratam
de resíduos industriais e sinalização. A NR 27 foi revogada pela Portaria
GM nº 262/2008 e tratava do registro profissional do técnico em
Segurança do Trabalho. Por fim, a NR 28 trata de fiscalização e
penalidades, estabelecendo as multas para cada item de cada
norma regulamentadora.
Como podemos ver, cada uma a sua forma, quando tratam
de melhorar o trabalho e proteger o trabalhador, essas normas
estão direta ou indiretamente relacionadas à NR 17, de Ergonomia.
Já que seu principal objetivo é que o trabalho esteja nas melhores
condições possíveis de ser realizado, atender minimamente a essas
normas é a base para qualquer ação ergonômica eficiente.

146 U3 - Legislação voltada para a


É importantíssimo alinhar as questões de saúde e segurança
da empresa. Por exemplo, quando tratamos do ruído na NR 15,
ela

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 147


estabelece um teto de limite de tolerância de trabalho a 8 horas
de jornada e 85 decibéis de ruído. Esse valor, embora com
base legal pela NR 15, pode incomodar o trabalhador e
atrapalhar sua atividade, principalmente se ele trabalha com
tarefas que exigem alta concentração. Nesse momento, a NR 17
trata do conforto acústico e cita as normas técnicas da ABNT NBR
10151 e NBR 10152 para que haja a observância no ruído.
Muitas vezes, as normas regulamentadoras buscam na ABNT
uma forma de descrever mais tecnicamente uma ação que é, por
lei, obrigatória. Dessa forma, há diversas normas ABNT que estão
citadas nas NRs e trazem especificações técnicas que não são
foco destas últimas (o que as deixaria por demais extensas).

Assimile
As Normas Regulamentadoras (NR) são um conjunto de requisitos e
procedimentos relacionados à segurança e medicina do trabalho, de
observância obrigatória às empresas privadas, públicas e órgãos do
governo que possuam empregados regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), de responsabilidade do Ministério do
Trabalho e Emprego. Já as Normas Técnicas da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) buscam aplicar regras e procedimentos
de forma a estabelecer diretrizes ou características mínimas para
atividades ou para seus resultados, visando à obtenção de um grau
ótimo de ordenação em um dado contexto.

É preciso alinhar as informações de todas as regulamentações


para que não sejam mantidas informações contraditórias nos
planos de ação. É importante lembrar que sempre o que for mais
restritivo e proteger mais o trabalhador é o ideal. No caso
mencionado, quanto menos ruído, melhor. Não podemos tratar a
legislação friamente e sem avaliar o trabalho real, pois as normas
regulamentadoras trazem parâmetros mínimos, ou seja, sempre
podemos melhorar quando temos condições para tal.
A NR 17 cita ainda a NBR 5413, sobre parâmetros de
iluminância. Iluminação é a quantidade de luz que sai de uma fonte
luminosa, como uma lâmpada. Iluminância é a quandidade de luz
que incide em um determinado lugar, como na bancada de
trabalho. Um aparelho

140 U3 - Legislação voltada para a


chamado luxímetro é utilizado para mensurar a incidência de luz
no ambiente de trabalho; lux é a unidade de medida da
iluminância. A Nota Técnica nº 224/2014, do Ministério do
Trabalho e Emprego, estabelece que essa norma continue sendo
usada, mesmo que tenha sido substituída pela NBR ISO 8995-1,
da ABNT.
É importante lembrar, caro aluno, que cancelamentos e
substituições de normas acontecem sempre que preciso. O mundo
do trabalho evolui em grande velocidade e, quanto mais estudos e
mudanças ocorrem, mais emergem necessidades de atualização
da legislação.

Exemplificando
Os anexos I e II da NR 17 surgiram por demandas específicas que
ocorreram em um contexto histórico e um diferente cenário de quando
a norma foi originalmente criada. Novas profissões surgirão com os
avanços da tecnologia e com necessidades criadas pelo homem e sua
evolução. Nossa legislação acompanha essas transformações, havendo
atualizações que podem incluir ou excluir aspectos relacionados ao
trabalho.

O anexo II da NR 17 ainda cita a Resolução RE nº 9, de 16 de


janeiro de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), sobre o uso de ar-condicionado.
Embora não seja citada na NR 17, a ABNT NBR 9050 trata de
aspectos de acessibilidade e é de grande valia ao tratarmos de
layout e adequação na Ergonomia Física.
Ao redor do mundo, diversas normas voltadas à ergonomia
estão sendo estudadas, desenhadas e estabelecidas por grupos de
discussão.
No Brasil, a ABNT estuda normas ISO em busca de
regulamentar tarefas, como puxar e empurrar, trabalho estático,
levantamento e transporte de cargas, trabalho mental, entre outros.
As normas ISO são padrões desenvolvidos pela International
Organization for Standartization (ISO), organismo internacional não
governamental com sede em Genebra. Essas normas trazem
requisitos de assuntos específicos para padronizar as empresas de
forma a proporcionar melhor desempenho e a melhoria contínua
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 141
baseada na reavaliação constante de seus processos e aplicação de
ajustes, sempre que necessário.

142 U3 - Legislação voltada para a


Pesquise mais
Ao acessar o site Target, disponível em <https://www.target.com.br/>
(acesso em: 23 jun. 2017), você pode encontrar as normas
técnicas da ABNT relacionadas à ergonomia e também verificar
arquivos para consulta pública de normas ainda não publicadas.

O papel do ergonomista na interpretação da norma e na


ação ergonômica
Ao realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, é essencial que
o ergonomista faça reuniões periódicas com trabalhadores e a alta
gestão, de forma a realizar a ação ergonômica.
Para transformar o trabalho, é necessário compreendê-lo. O
ergonomista não pode simplesmente apontar o item da NR 17 e
obrigar a empresa a atendê-lo, especialmente porque muitos itens
não são de fácil interpretação. É preciso ter paciência e uma ação
de educação desses interlocutores.
Desde que iniciamos nossos estudos, pensamos muito sobre o
trabalho e sobre o que aceitamos como imutável. Aceitamos
trabalhar com algo que adoece, desmotiva, não tem sentido.
Aceitamos o nó na garganta, a dor nas costas, a meta que nos
desvaloriza. Aceitamos como se isso fosse uma verdade absoluta não
passível de mudança. A ergonomia faz um movimento social
oposto, promovendo diálogos, espaços de discussão e acesso à
realidade.
O pré-julgamento de que vai ser caro, de que o jeito atual
está ótimo, de que o problema são as pessoas acaba gerando
uma ideia fixa que precisa ser combatida aos poucos.
Com um discurso neutro, o ergonomista chega com a
seguinte pergunta: “O que você faz?”.
Quando as pessoas pensam no que fazem, como fazem, com
quem fazem, tudo começa a se transformar e a ficar mais claro.
Pensar no seu fazer já começa a promover a transformação do
trabalho.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 143


Reflita
O quadro Chefe Secreto do programa Fantástico, da Rede Globo,
traz as transformações que ocorrem quando o gestor se aproxima
de determinadas tarefas que ocorrem todos os dias, mas estão
distantes de um olhar crítico da alta gerência. Não podemos
observar apenas números, pois eles trazem uma análise fria do que
nem sempre descreve a realidade. Veja o quadro Chefe Secreto,
disponível em: <http://g1.globo.
com/fantastico/videos/t/edicoes/v/chefe-secretoexecutivo-consegue-
manter-disfarce-ate-final-da-experiencia/5611543/>. Acesso em: 23
jun. 2017. E reflita sobre o que ocorre com gestor e trabalhadores
quando há essa aproximação.

Lembre-se sempre: a Análise Ergonômica do Trabalho não


transforma tudo apenas na entrega de seu relatório final e nas
suas recomendações. Tudo começa a se transformar no
andamento do trabalho, ao desvendar aos principais atores
daquela situação suas particularidades e onde cada um interfere
no fazer do outro.
Por se tratar da Ergonomia da Atividade e de uma metodologia
desenvolvida na França, a NR 17 pode ter interpretações diversas,
o que torna necessária a ação do ergonomista baseada no manual
de interpretação da norma do Ministério do Trabalho (BRASIL,
2002).
Diálogos são imprescindíveis, e pensar sobre o trabalho, sua
organização e particularidades, com mediação do ergonomista, é
o caminho mais eficiente para a melhoria das condições de
trabalho.

Papel do Comitê de Ergonomia no cumprimento da legislação


O Manual de Aplicação da NR 17 (2002) traz 12 passos
básicos para a realização da Análise Ergonômica do Trabalho. É
importante saber que a ação ergonômica jamais se esgota em si
mesma. O passo de número 12 traz a importância de se
acompanhar as melhorias, porém não podemos simplesmente
entregar um documento para a empresa para que ela leia e
interprete de forma livre. Os trabalhadores e a alta gestão precisam

144 U3 - Legislação voltada para a


estar engajados em todo o processo de análise, promovendo
discussões e reflexões sobre o trabalho real. Ao terminar a análise
de uma determinada situação, os diálogos devem estar vivos e
devem ser acompanhados por um comitê formado por

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 145


pessoas que participam ativamente dessas discussões e têm poder
de decisão sobre o trabalho.
Assim, o Comitê de Ergonomia é um grupo de profissionais da
empresa que se responsabilizam por tratar das ações
relacionadas à ergonomia em toda a empresa. Esses
profissionais se reúnem e estabelecem ações, custos, prazos,
modos de operacionalizar uma ação, responsáveis e onde realizar
cada ação. Dessa forma, a ação ergonômica permanece viva e é
acompanhada regularmente, promovendo mudanças e melhorias
de forma contínua, estimulando os diálogos entre trabalhadores.
Esse comitê deve estar envolvido em todas as fases da análise,
para que acompanhe os diálogos e o raciocínio que levará ao
diagnóstico final. Com ele, é mais fácil o controle e o engajamento
com outras áreas da empresa que possam tratar de assuntos
similares, além do cumprimento da legislação.
Prezado aluno, quando pensamos sobre o trabalho real e sobre
uma ação ergonômica eficaz, precisamos sempre lembrar que
devemos unir esforços e ter uma visão congruente do que torna a
empresa um local mais seguro, confortável e com melhor
desempenho.
Diversas empresas possuem certificações que atendem às normas
ABNT NBR 9001/2015 (Sistema de Gestão de Qualidade), ABNT
NBR 14001/2015 (Sistema de Gestão Ambiental), norma OHSAS
18001 (Sistema de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho,
atualizada para a norma ISO DIS 45001/2016) e a norma SA 8000
(Responsabilidade Social). Quando uma empresa estabelece os
requisitos de um sistema de gestão integrado (ou seja, que integre
todas as áreas citadas), ela busca uma forma de melhorar
continuamente seus processos. Uma empresa não pode priorizar
a qualidade dos produtos acima da saúde e segurança de seus
trabalhadores, também não pode priorizar a responsabilidade social
e perder seu potencial competitivo, ou denegrir o meio ambiente.
Dessa forma, um ergonomista precisa realizar uma análise
global da empresa e seu contexto, para só assim entender a
realidade de cada situação de trabalho. Mesmo que não tenha
poder aquisitivo para a instalação oficial desses sistemas em busca
de certificação, é interessante que toda a empresa siga princípios
e sistematize seus processos para facilitar a coerência entre áreas
e tarefas.

146 U3 - Legislação voltada para a


Você já é um agente de transformação social e agora está
pronto para abrir os olhos para cada transformação que pode
realizar apenas compreendendo o trabalho real.

Sem medo de errar

Vamos retomar a situação-problema da nossa unidade e


responder aos questionamentos desta seção? Você é convidado
para realizar uma análise ergonômica do trabalho em uma
empresa de telemarketing. A empresa possui 10.000 funcionários
espalhados em diversas cidades pelo Brasil, possui certificação
internacional de ISO 9001, ISO 45001 e SA 8000 e presta serviço
de venda através do teleatendimento para grandes empresas de
telefonia (aparelhos celulares, pacotes de dados e planos pós e
pré-pago de ligações).
Após adquirir novos conhecimentos nesta Seção 3 da Unidade
3, vimos que, por tratarem de Saúde e Segurança, de alguma
forma todas as normas regulamentadoras se correlacionam com a
Norma Regulamentadora nº 17. Seja por tratarem de outros
programas de saúde, mapearem riscos, proporem aspectos de
segmentos específicos, todas promovem uma base de requisitos
mínimos para saúde e segurança na empresa, o que interfere
diretamente nos itens estabelecidos na NR 17.
Como cada norma trata de um assunto específico, é importante
alinhar o cumprimento de seus requisitos de forma a não promover
ações incongruentes. Deve-se ter em mente que se o que for mais
restritivo e mais auxiliar o trabalhador é o que mais deve ser
priorizado.
Diversas empresas possuem certificações que atendem às normas
ABNT NBR 9001/2015 (Sistema de gestão de Qualidade), ABNT
NBR 14001/2015 (Sistema de Gestão Ambiental), norma OHSAS
18001 (Sistema de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho,
sendo atualizada para a Norma ISO/DIS 45001/2016) e a norma
SA 8000 (Responsabilidade Social). Quando uma empresa
estabelece os requisitos de um sistema de gestão integrado (ou
seja, que integre todas as áreas citadas), ela busca uma forma de
melhorar continuamente seus processos.
Nesta seção vimos também a importância do Comitê de
Ergonomia, que deve estar envolvido em todas as fases da análise
U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 147
para que acompanhe os diálogos e o raciocínio que levará ao

148 U3 - Legislação voltada para a


diagnóstico final. O cumprimento da legislação, com a formação
desse comitê, fica de mais fácil controle e engajamento com
outras áreas da empresa que possam tratar de assuntos similares.
Com base em todas essas informações, você consegue
atender de forma eficaz e segura a empresa que o contratou,
compreendendo o trabalho, transformando-o e propondo uma
mudança social na vida de seus trabalhadores.

Avançando na prática

O que fazer com esse RUÍDO?


Descrição da situação-problema
Em um laboratório de informática de uma escola, foram
instaladas diversas impressoras devido à falta de espaço nos
outros setores. Assim, durante a aula, diversas impressões eram
feitas, levando a um alto nível de ruído apontado por professores e
alunos. Ao tratar com a direção da escola, a diretora afirma que há
uma norma regulamentadora, a NR 15, que estabelece que é de
85db(A) o nível de ruído ocupacional que pode ser insalubre, em
um período de até 8 horas, podendo chegar a 100db(A) no período
de 2 horas, tempo de duração das aulas de informática. Isso está
correto?

Resolução da situação-problema
A aplicabilidade das normas deve ser coesa à realidade do
trabalho. Não se trata apenas de insalubridade, mas da
necessidade de se realizar um trabalho com níveis de ruído que
não atrapalhem a concentração e o andamento das atividades. Assim,
deve-se consultar a NR 17 e as normas NBR 10151 e 10152 (que
tratam da avaliação do ruído e sua aceitabilidade para proporcionar
conforto acústico) para verificar questões de conforto acústico e
verificar um melhor local para alocação das impressoras.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 149


Faça valer a pena

1. Atualmente, temos disponibilizadas 36 normas regulamentadoras.


Movimentos sociais e necessidades do mundo do trabalho sempre
impactam nessas normas, gerando atualizações ou a criação de novas
regulamentações. Com base no exposto, analise as afirmações a seguir
sobre os temas das normas regulamentadoras:
( ) NR 4 – Trata do SESMT – Serviço Especializado em Ergonomia
pelo Ministério do Trabalho.
( ) NR 5 – Trata da Cipa – Comissão Interna de Prevenção a
Acidentes. ( ) NR 6 – Trata de EPI – Equipamentos de Proteção
Individual.
( ) NR 9 – Trata do PPRA – Programa de Prevenção a Riscos de
Acidentes. Com base nos temas referentes a cada uma das normas
regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, analise as
afirmações, assinale verdadeiro ou falso e assinale a alternativa correta:
a) V, V, V, V.
b) F, F, F, F.
c) F, V, V, F.
d) V, V, F, F.
e) F, V, V, V.

2. A NR 17 visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação


das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança
e desempenho eficiente. Para isso, um dos aspectos relacionados ao
trabalho e analisados pela Ergonomia são as condições ambientais.
De acordo com a Norma Regulamentadora nº 17, qual norma da
Associação Brasileira de Normas Técnicas trata dos parâmetros de
iluminância? Assinale a alternativa correta.
a) ABNT NBR 10152.
b) ABNT NBR 5413.
c) ABNT NBR 9050.
d) ABNT NBR 10151.
e) ABNT NBR 5410.

3. A descrição do processo de elaboração da Norma Regulamentadora


nº 17 é importante para que, expondo o contexto social e os atores
envolvidos, possamos compreender seus avanços e limitações. Para
melhor compreensão da norma, o Ministério do Trabalho e Emprego
publicou, em 2002, o .

150 U3 - Legislação voltada para a


O texto trata de um documento que foi elaborado para auxiliar na
interpretação dos itens da Norma Regulamentadora nº 17 e na
metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho. Assinale a alternativa
que preenche corretamente a lacuna.
a) Manual de Boas Práticas da Anvisa.
b) Consolidado de Leis do Trabalho (CLT).
c) Livro de Interpretação da Ergonomia.
d) Manual de Postura Aplicada.
e) Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17.

U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 151


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U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 151


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152 U3 - Legislação voltada para a


U3 - Legislação voltada para a Ergonomia 153
Unidade 4

Aplicação da Ergonomia

Convite ao estudo
Prezado aluno, é com extrema alegria que iniciamos a
nossa última unidade de estudos, a Unidade 4. Depois de
uma longa jornada entendendo o que é Ergonomia e
desmistificando diversas questões relacionadas ao mundo do
trabalho, entendemos o papel da Análise Ergonômica do
Trabalho em conhecer para transformar a realidade e tornar o
trabalho mais confortável, seguro e com melhor
desempenho. Aprendemos, até o presente momento, a
importância do trabalho em nossas vidas e os aspectos legais
que fazem com que a Ergonomia seja regulamentada, no
Brasil , pela Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do
Trabalho e Emprego, e demais regulamentações. Agora é hora de
finalizarmos nossos estudos em Ergonomia, estruturando uma
proposta comercial e identificando como realizar
transformações no trabalho após uma Análise Ergonômica do
Trabalho participativa e construtiva, identificando como criar um
projeto e imaginar uma atividade futura provável após mapear os
pontos mais importantes com os demais interlocutores.

Dessa forma, na Seção 4.1, entenderemos como ocorre


a construção social em Ergonomia, ou seja, como a ação
ergonômica transforma o mundo do trabalho e, por
consequência, a vida das pessoas e nossa sociedade (o que
apresenta grande responsabilidade). Para a realização da
Análise Ergonômica do Trabalho, é preciso que tenhamos
noção de como realizar uma proposta comercial e um
contrato claro de trabalho, o que está intimamente relacionado
à demanda que motiva o estudo. Depois, iniciaremos nossos
estudos voltados à projetação ergonômica do sistema humano x
tarefa x máquina.
Na Seção 4.2, aprofundaremos nossos conhecimentos
em Ergonomia Cognitiva e Psicologia do Trabalho,
Percepção e Processos Cognitivos, Carga Mental do Trabalho
e Ergodesign. Na Unidade 1 de nosso estudo, iniciamos a
parte conceitual de desenho universal e usabilidade. Agora,
em nossa Unidade 4 de aplicação da Ergonomia, iniciaremos
um novo olhar voltado às transformações do trabalho e à
importância de se considerar os saberes dos trabalhadores
nas propostas de melhoria e nos projetos de modificação.

Por fim, na Seção 4.3, encerrando nossas 60 horas da


disciplina de Ergonomia, trataremos de aspectos práticos de
projeto, como aspectos físicos de projeto e de mobiliário,
aspectos cognitivos, ambientais e organizacionais, a
intervenção ergonômica, concluindo com a Validação e
Transformação do Trabalho, quando percebemos que cada
mudança dá início a um novo ciclo, uma nova visão e,
claramente, uma nova necessidade.

A Ergonomia surge para nos fazer pensar que não


podemos nos acomodar e aceitar condições de trabalho como
se fossem imutáveis. Em busca de mais saúde, sentido no
trabalho, maior condição competitiva no trabalho e melhoria
contínua de processos, a Ergonomia surge como uma
disciplina que promove um pensamento sobre o real do
trabalho e sobre como ele pode melhorar e fazer mais sentido
em diversos aspectos.

Para auxiliar no desenvolvimento das competências


mencionadas e atender aos objetivos específicos do tema
em questão – “Projetação Ergonômica do Sistema Humano x
Tarefa x Máquina” –, a seguir, será apresentada uma situação
hipotética que visa aproximar os conteúdos teóricos e a prática.

Um desenvolvedor de softwares contrata você como


ergonomista para auxiliá-lo a criar um sistema de
computador para a recepção de hóspedes em um hotel. Seu
papel será muito simples: verificar os aspectos de
usabilidade, acessibilidade e ergodesign envolvidos na
interação das pessoas com esse sistema. Assim, é preciso
relembrar: qual a vantagem de se contratar um
egonomista para participar na concepção de um sistema que exige interaçã
Agora, você já é um agente dessa transformação e não poderíamos estar m
Vamos continuar nossos estudos, finalizando a disciplina, mas jamais a nossa b
Bons estudos!
156 U4 - Aplicação da
Seção 4.1
Projetação ergonômica do sistema humano x
tarefa x máquina

Diálogo aberto
Para a primeira seção da Unidade 4, vamos retomar a
situação- problema proposta no Convite ao estudo, para auxiliar
na sistematização dos conhecimentos adquiridos em nossa
unidade.
Um desenvolvedor de softwares contrata você como
ergonomista para auxiliá-lo a criar um sistema de computador para
a recepção de hóspedes em um hotel. Seu papel será muito
simples: verificar os aspectos de usabilidade, acessibilidade e
ergodesign envolvidos na interação das pessoas com esse
sistema. Ao iniciar a análise dos aspectos de usabilidade no
programa de computador, você percebe que precisa realizar uma
reunião inicial com o desenvolvedor para montar sua proposta
comercial e o contrato, para formalizar a demanda do trabalho.
Quais são os aspectos primordiais a serem considerados ao
realizar uma proposta comercial de análise ergonômica do
trabalho? Por que é preciso reformular a demanda e explicar o que
é ergonomia a todos os envolvidos? Quais aspectos devem ser
considerados na interação homem x máquina para assegurar
saúde, conforto e desempenho eficiente dos usuários?
Para responder a essas e outras questões, vamos iniciar o Não
pode faltar da nossa seção. Como um ergonomista, você não é
apenas um investigador de possíveis soluções de problemas: e
sim um articulador da verdade junto aos trabalhadores, mostrando
as melhores opções e facilitando diálogos acerca do trabalho real.
Como um agente de transformações, inspire-se e bons estudos!

Não pode faltar

É inevitável: ao falarmos sobre a Ergonomia da Atividade,


falamos de uma construção social. As pessoas passam boa parte
de suas vidas trabalhando e, aqui, nos referimos aos mais
U4 - Aplicação da Ergonomia 157
diferentes tipos de

158 U4 - Aplicação da
trabalho e formas de contratação (quando há contratação).
Alguém pode trabalhar em casa, ser dono do próprio negócio,
prestar serviços temporários, estar há muitos anos na mesma
função, estar há muitos anos na mesma empresa em funções
diferentes ou, ainda, ter realizado diversos tipos de trabalho na
vida.
Quando trabalhamos, adquirimos saberes referentes ao que
fazemos. Entendemos cada dia mais sobre nossas ações e sobre
os diversos aspectos de nosso trabalho, criando, assim,
competência sobre nosso fazer profissional.

Assimile
Para Fleury e Fleury (2001), em seu artigo científico intitulado
Construindo o conceito de competência, competência é uma
característica subjacente a uma pessoa que está relacionada com
desempenho superior na realização de uma tarefa ou em
determinada situação, envolvendo aptidões (talento natural da
pessoa que pode ser aprimorado), habilidades (demonstração de um
talento particular na prática) e conhecimentos (o que as pessoas
precisam saber para desempenhar uma tarefa).

O trabalhador aprende sobre seu trabalho e desenvolve-se através


dele. Assim, consegue identificar mudanças, agir sobre imprevistos e
entender formas de evolução e melhoria daquilo que faz. O trabalhador
está sempre autorregulando a realidade de trabalho, mobilizando
recursos para resolver novas situações, compreendendo a si, ao outro
e a organização, assim, o trabalho não é um conjunto de tarefas
associadas ao cargo e friamente descritas: é um prolongamento
direto da competência que o trabalhador mobiliza frente a situações
mutáveis e complexas.

Pensando na importância de se reconhecer o saber dos


trabalhadores a respeito de seu trabalho, ao iniciarmos uma ação
ergonômica, fazemos com que cada trabalhador pense em sua
realidade, em seu papel, no que faz, em como é a organização, no
que deseja para si, em como enxerga seu mundo e o que pode ser
melhorado nele.
Caro aluno, é importante que pense a respeito disto: a ação
ergonômica faz com que os trabalhadores e a organização lancem
um olhar sobre si próprios com a sua mediação. Dessa forma, você
U4 - Aplicação da Ergonomia 159
será

160 U4 - Aplicação da
o condutor de diversos diálogos e reflexões que poderão promover
profundas mudanças antes mesmo da entrega das propostas de
melhoria. “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca
em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”
(Sócrates).

Construção social em ergonomia

A Ergonomia no Brasil é amparada pela Norma


Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego, que
torna obrigatória a realização da Análise Ergonômica do
Trabalho para adequar as condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, proporcionando
o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Além
disso, o termo “ergonômico” passou a representar um falso
sinônimo para “design confortável”, muito difundido na indústria
automobilística e de mobiliário.
Como já vimos anteriormente, a abordagem da Ergonomia da
Atividade não traz essa visão reducionista: a ergonomia não busca
identificar apenas aspectos físicos de mobiliário e condições de
postura. Ela vai além dessas barreiras e busca diminuir cada vez
mais a distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real.
Essa abordagem busca trazer maior saúde, segurança e sentido
na realização das tarefas e condições de trabalho, o que promove
uma melhor organização do trabalho e aproveita melhor os
recursos de sistemas, postos de trabalho e, obviamente, humanos,
promovendo desempenho mais eficiente.
A Ergonomia, como ciência, envolve diversas ciências. Como
vimos anteriormente, trata-se de uma abordagem transdisciplinar,
que vai além do conhecimento científico e das delimitações entre
os objetos de estudo das mais diversas ciências.
Quando tratamos o conhecimento como “científico”, ele
passa por diversas barreiras impostas por modelos e teorias que
assegurem uma metodologia à prova de confrontação. Quando
falamos de trabalho, tratamos de situações únicas e que
dificilmente poderiam ser controladas por um ambiente simulado
em laboratório e continuar com todas as variáveis reais, o que não
as torna menos importantes.

U4 - Aplicação da Ergonomia 161


Dessa forma, precisamos pensar sobre as construções sociais
que ocorrem quando mergulhamos na realidade do trabalho: ao
fazer

162 U4 - Aplicação da
alguém pensar sobre si, sobre o que faz, sobre a importância de
seu trabalho e como ele poderia fazer mais sentido, ser mais
seguro, confortável e gerar maior eficiência, abrimos espaço para
uma reflexão que não pode ser contida assim que iniciada.
Alguns pesquisadores tratam (e até definem) a Ergonomia
como uma arte, e não como uma ciência, por saberem que não
existem barreiras claras em sua metodologia. Porém, ela provoca
questões de pesquisa e contribui para a construção de
conhecimento, valorizando a realidade e questões empíricas
relacionadas ao trabalho.
Claramente, o conhecimento científico e as bases formais de
educação apresentam grandes pilares na produção e construção
do conhecimento, porém, valorizar os saberes da prática e os
conhecimentos tácitos dos trabalhadores é de fundamental
importância para uma ação ergonômica de significado.

Assimile
O saber tácito é aquele de difícil verbalização, o que limita que
possa ser transferido por meio da linguagem formal. Uma pessoa
pode saber como fazer algo, sem conseguir articular aos outros em
maiores detalhes. O conhecimento construído para a realização do
trabalho real é produzido pela inteligência do corpo, através da qual o
sujeito enfrenta as provas que o mundo real apresenta e assimila
respostas, aprende comportamentos, hábitos e práticas, além de
propor diálogos e desafios. De acordo com o estudioso Michael
Polanyi, o conhecimento tácito vem da interiorização das nossas
experiências com o mundo. Só podemos aprender uma teoria
matemática praticando sua aplicação, pois a sabedoria real está na
habilidade de usá-la. Não é olhando para as coisas, mas interiorizando
nossa interação com elas que compreendemos seu significado
conjunto.

Precisamos compreender que as constantes transformações do


mundo do trabalho, muitas vezes, apontaram para a ideia de
“homem- médio”, trabalho puramente braçal, tarefas fragmentadas e
desvalorização dos saberes da prática. Um ergonomista olha além
dessas barreiras e promove ações que, aos poucos, transformam o
mundo do trabalho, propondo uma nova realidade baseada em
aprendizado, saúde, sentido no trabalho e desempenho cada vez
160 U4 - Aplicação da
mais valorizado e eficiente, tendo como pilares a realidade do
trabalho e a cooperação.

U4 - Aplicação da Ergonomia 161


A proposta comercial e a análise da demanda

É na análise da demanda que se inicia a ação ergonômica. Um


ergonomista pode ser procurado por diversos motivos: uma demanda
de fiscalização trabalhista; um aumento do número de
afastamentos dos trabalhadores por doenças osteomusculares;
para análise do projeto de uma nova linha de produção; para a
compra de um novo mobiliário; para a identificação de aspectos de
melhoria em uma nova atividade de trabalho; para o estudo de
condições de iluminamento; atendimento da Norma
Regulamentadora nº 17, para adequação das condições de
trabalho; entre outros.
Muitas empresas buscam a Análise Ergonômica do Trabalho
anualmente, como parte de um programa de melhoria contínua.
Devemos lembrar que a análise não deve ser feita
superficialmente, mapeando questões que não exploram a
realidade do trabalho e tampouco buscam transformações
eficazes.
Assim, é importante que o ergonomista evite fechar contratos e
preços a distância, especialmente quando não conhecer a
empresa e sua realidade. A proposta comercial deve partir após
uma reunião, na qual o ergonomista explique o que é a Ergonomia
da Atividade e, especialmente, sua metodologia, para que fique claro
entre ambas as partes que esse processo será construtivo,
participativo e demandará a participação de diversos interlocutores,
reuniões e sigilo na análise de discursos e documentos.
Nem sempre a demanda está clara por parte de quem contrata
o ergonomista. Uma simples “troca de mobiliário” pode ser
desvendada como um problema mais complexo ao se aproximar da
realidade dos trabalhadores, o que necessitará de diálogos e
traduções da realidade através da metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho.
É possível que o ergonomista seja chamado apenas por
questões da Ergonomia Física (mobiliário, design e postura), o que
é legítimo, porém isso não pode ser tratado como um delimitador
da pesquisa e do método.
Para realizar a proposta comercial, é preciso ter noção da
empresa como um todo, seu grau tecnológico e a situação (ou
situações) a ser estudada. Geralmente, o ergonomista cobra por
162 U4 - Aplicação da
horas de trabalho, que consideram seus deslocamentos, a análise, o
tratamento de dados, as

U4 - Aplicação da Ergonomia 163


reuniões, os grupos de discussão e a elaboração de um relatório com
descritivo da Análise Ergonômica do Trabalho. Tudo isso parte da
demanda.
A proposta deve ser elaborada especificando cada um dos
12 passos da metodologia da atividade: análise e reconstrução
da demanda, análise global da empresa, análise da população
trabalhadora, definição da situação de trabalho a ser analisada
(muitas vezes chamada de hipótese de nível 1), descrição da tarefa
prescrita, real e atividade, pré-diagnóstico (ou hipótese de nível 2),
observação sistemática, diagnóstico, validação do diagnóstico,
proposta de transformações, cronograma e acompanhamento das
melhorias.
Cada um desses passos deve ser descrito e contemplado
na proposta comercial, detalhando especificamente qual será a
metodologia de coleta de dados (análise de documentos, termos
de consentimento, entrevistas, grupos de discussão, reuniões com
alta gestão e grupos de trabalhadores, observações livres, entre
outros).
Além disso, validar o diagnóstico é fundamental, um
momento em que trazemos todas as impressões e validamos com
os diversos interlocutores em busca da valiosa visão comum sobre
o problema.
O último passo trata do acompanhamento das melhorias (já que,
ao modificar um trabalho, podemos gerar novos problemas ou novas
formas de racionalidade), e essa etapa pode ser conduzida por um
Comitê de Ergonomia formado na própria empresa. É interessante que
a formação do Comitê e seu preparo também constem na proposta
comercial.

Propostas e contratos

Cada tipo de demanda, empresa e forma de trabalho irá gerar


propostas e contratos diferentes.
O contrato referente à Análise Ergonômica do Trabalho deve
deixar clara a demanda e deve ser elaborado apenas após uma
reunião inicial que esclareça o que é a Ergonomia da Atividade,
como esse estudo será conduzido e como será a apresentação
final de resultados, de forma a esclarecer possíveis quebras de

164 U4 - Aplicação da
expectativa quanto ao método e seu produto final.
Inicie o contrato explicitando os objetivos da Análise
Ergonômica do Trabalho e seu amparo legal na Norma
Regulamentadora nº 17. Em seguida, esclareça a demanda que
motivou o estudo.

U4 - Aplicação da Ergonomia 165


Liste os 12 passos e cite detalhadamente o método e suas
necessidades (agendamento de reuniões, deslocamento de trabalhadores
de suas atividades para realizar grupos de discussão, acesso a
documentos sigilosos). Tudo que estiver acordado em contrato será de
fundamental importância para embasar a ação ergonômica e
possibilitar que sua metodologia seja seguida com sucesso.
A precificação está diretamente relacionada com a
complexidade da situação de trabalho a ser analisada e da
metodologia escolhida para a observação sistemática. Claramente,
uma empresa que possua 10 pessoas em uma situação de trabalho é
diferente da que possui diversas filiais e centenas de pessoas a mais.
Além disso, a quantidade de processos e a complexidade da
organização do trabalho são fundamentais na hora de se realizar uma
proposta: quanto maior a empresa, mais prescrições e processos
podem fazer parte de seu cotidiano e mais complexa pode ser sua
interferência nas tarefas dos trabalhadores.
Lembre-se de que a Análise Ergonômica do Trabalho não se
encerra na visita à empresa. Algumas horas em frente ao
computador serão essenciais para colocar imagens, montar fluxos
e planilhas para sistematizar cada vez mais as ideias adquiridas
durante a análise. Verifique também se será necessário que algum
outro profissional auxilie em suas investigações.
É importante que sua análise tenha uma linguagem clara,
objetiva e imparcial, o que é extremamente difícil depois de se
conhecer tanto sobre o trabalho de alguém. A imparcialidade é de
fundamental importância para que sua linguagem não assuma
lados e trate igualmente a empresa e os trabalhadores em busca
das melhores condições para ambos.

Exemplificando
A tese de Carlos Antonio Ramirez Righi (2002), intitulada Modelo
para implantação de programa de ergonomia na empresa – MipErgo,
traz um modelo de proposta voltado à Ergonomia da empresa Ford.
Para saber mais sobre um modelo de proposta em Ergonomia e itens a
serem explorados na elaboração do contrato, leia o subitem 2.3.6
“Programas Corporativos de Ergonomia”.

Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/106531/187604. pdf?
sequence=1>.Acessoem:10jul.2017.

166 U4 - Aplicação da
Projetação ergonômica do sistema humano x tarefa x máquina

Para realizar um projeto ergonômico que esclareça as relações


do Sistema Humano x Tarefa x Máquina, é importante que o
ergonomista tenha uma visão sistêmica a respeito da organização
do trabalho, aspectos físicos (biomecânica, repetitividade,
levantamento e transporte de cargas, força excessiva,
características do posto de trabalho), sistemas, aspectos
cognitivos e ambientais. Pode ser que uma demanda priorize uma
visão sobre um ou mais aspectos, porém todos devem ser
considerados.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) mapeou alguns
pontos da ação ergonômica a serem considerados. Esses pontos
abordam o local de trabalho, armazenamento e manuseio de
materiais, as ferramentas, máquinas da produção, design de
postos de trabalho, iluminação, controle de substâncias e agentes
perigosos, instalações e a organização do trabalho, totalizando 128
pontos.

Pesquise mais
Práticas e de Fácil Aplicação para Melhorar a Segurança, a Saúde e as Condições de Trabalho.

Esse documento traduzido pela Fundacentro traz diversos


exemplos de soluções práticas para diversas situações operacionais de
trabalho. Realizar adequações em tarefas já existentes exige a
correção de uma situação através de um olhar que considere a
realidade do trabalho e a visão dos trabalhadores sobre melhorias na
situação atual.
Entretanto, em situações em que temos a necessidade de
elaboração de um projeto de uma nova situação de trabalho,
U4 - Aplicação da Ergonomia 167
estamos tratando de uma abstração, ou seja, da criação de uma
situação que ainda não existe.

168 U4 - Aplicação da
Assim, quando tratamos de uma situação futura provável (ou,
para não determinarmos certezas, uma situação futura possível),
é importante que estudemos situações de referência e realizemos
alguns protótipos e simulações considerando os saberes dos
trabalhadores e sua participação ativa.
Nenhuma situação é totalmente previsível e sua singularidade
faz com que possamos imaginar algumas variáveis, mas sabendo
que a realidade gerará outro contexto. Um projeto de ergonomia
deve envolver, portanto, os participantes em todas as etapas do
projeto, inclusive no início, quando a demanda ainda está sendo
estabelecida.
A primeira etapa de um Projeto Ergonômico do Sistema
Humano x Tarefa x Máquina consiste na análise de situações
similares que criem uma referência de base, realizando uma
Análise Ergonômica do Trabalho em situações parecidas com a
situação a ser projetada, considerando suas variabilidades e
estratégias dos trabalhadores para interagirem com ela. A segunda
etapa consiste em identificar situações de ação características,
numerando-as e determinando prioridades de mantê-las na nova
situação ou modificá-las parcial ou totalmente. Por fim, a última
etapa consiste na simulação do trabalho futuro, criando ações
características, instalações que representem as condições reais no
futuro, deslocamentos, necessidades de comunicação e
informação, riscos, posturas e competências necessárias.
Esse tipo de abordagem procura antecipar os problemas
que possivelmente surgirão ainda durante o projeto, sendo mais
eficaz na busca de soluções e com custos menores em casos de
modificações necessárias.
Tanto na formulação de uma proposta comercial como na
projetação relacionada à interação homem x máquina é primordial
a realização da Análise Ergonômica do Trabalho e o
desenvolvimento dos 12 passos expostos em seu Manual de
Aplicação. Após conhecer a realidade do trabalho e promover
reflexões acerca de sua realidade, é possível desenvolver projetos
e modificações que promovam transformações significativas.

U4 - Aplicação da Ergonomia 169


Reflita
O problema da adaptação do trabalho ao homem é que nem sempre ele pode ser resolv

Nesta seção, conseguimos identificar que a Ergonomia


apresenta um papel social. Porém, para se realizar uma Analise
Ergonômica do Trabalho assegurando a clareza de seus objetivos e de
sua metodologia, é necessária a correta formulação de uma
proposta comercial e um contrato de trabalho. A ergonomia
centrada na atividade tem como principal objetivo transformar o
trabalho. Essa é a maior finalidade da ação ergonômica. Assim, o
ergonomista auxilia na concepção de situações de trabalho que
não alterem a saúde e segurança dos trabalhadores; valoriza seus
saberes; considera os objetivos econômicos da empresa; cria
projetos de sistemas de produção, de processos, da organização
do trabalho e das tarefas de forma real, e não simplificada ou
estereotipada. Em projetos, a ergonomia busca uma aproximação
das especificações com a atividade executada pelo trabalhador,
suas representações, variabilidades, modo operatório e sobrecarga
de trabalho vinculadas ao trabalho real, tendo como base a análise da
atividade do trabalhador.
Como ergonomista, a realidade do trabalho é a nossa principal
fonte de ideias. Vamos exercitar isso respondendo à situação-
problema da nossa seção.

170 U4 - Aplicação da
Sem medo de errar

Um desenvolvedor de softwares contrata você como


ergonomista para auxiliá-lo a criar um sistema de computador para
a recepção de hóspedes em um hotel. Seu papel será muito
simples: verificar os aspectos de usabilidade, acessibilidade e
ergodesign envolvidos na interação das pessoas com esse sistema.
Assim, é preciso relembrar: qual a vantagem de se contratar um
egonomista para participar na concepção de um sistema que exige
interação de pessoas com máquinas? Quais aspectos físicos e
cognitivos devem ser considerados nessa interação? Qual a
importância da opinião do trabalhador e da participação do usuário
na concepção de qualquer trabalho?
Ao iniciar a análise dos aspectos de usabilidade no programa
de computador, você percebe que precisa realizar uma reunião
inicial com o desenvolvedor para montar sua proposta comercial e
o contrato, para formalizar a demanda do trabalho.
Após iniciar nossos estudos na Unidade 4, você consegue
identificar que é primordial considerar os 12 passos metodológicos
de realização da Análise Ergonômica do Trabalho, descritos em
seu Manual de Aplicação, para realizar uma proposta comercial.
Assim, após reformular a demanda (passo inicial de cada análise),
é importante abordar: análise global da empresa, análise da
população trabalhadora, definição da situação de trabalho a ser
analisada (muitas vezes chamada de hipótese de nível 1), descrição
da tarefa prescrita, real e atividade, pré-diagnóstico (ou hipótese de
nível 2), observação sistemática, diagnóstico, validação do
diagnóstico, proposta de transformações, cronograma e
acompanhamento das melhorias. Cada um desses passos deve ser
descrito e contemplado na proposta comercial, detalhando
especificamente qual será a metodologia de coleta de dados
(análise de documentos, termos de consentimento, entrevistas,
grupos de discussão, reuniões com alta gestão e grupos de
trabalhadores, observações livres, entre outros). Além disso, validar o
diagnóstico é fundamental, um momento em que trazemos todas
as impressões e validamos com os diversos interlocutores em
busca da valiosa visão comum sobre o problema. É preciso
reformular a demanda e explicar o que é ergonomia a todos os
envolvidos, especialmente sua metodologia, para que fique claro
entre ambas as partes que esse processo será construtivo,
U4 - Aplicação da Ergonomia 171
participativo e demandará

172 U4 - Aplicação da
a participação de diversos interlocutores, reuniões e sigilo na
análise de discursos e documentos. Nem sempre a demanda está
clara por parte de quem contrata o ergonomista. Uma simples
troca de mobiliário pode ser desvendada como um problema mais
complexo ao se aproximar da realidade dos trabalhadores, o que
necessitará de diálogos e traduções da realidade por meio da
metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho. Após estabelecer
todos esses pontos da proposta comercial, sua análise pode ser
iniciada, identificando quais aspectos devem ser considerados na
interação homem x máquina para assegurar a saúde, o conforto
e o desempenho eficiente dos usuários – uma visão sistêmica a
respeito da organização do trabalho, aspectos físicos
(biomecânica, repetitividade, levantamento e transporte de cargas,
força excessiva, características do posto de trabalho), sistemas,
aspectos cognitivos e ambientais.

Avançando na prática

Mas eu só queria uma cadeira


nova Descrição da situação-problema
Miriam, uma secretária executiva de um escritório de
contabilidade, queixa-se há dias de dores nas costas. O chefe dela
manda um e-mail a você, um consultor em ergonomia, para que, a
distância, indique um novo mobiliário, após enviar fotos de como é
o posto de trabalho atual. Ele pede que você precifique sua ação e
envie, inclusive, dados de fabricantes de mobiliário. Com base em
seus conhecimentos, como proceder nessa situação?

Resolução da situação-problema
A Análise Ergonomica do Trabalho parte da análise e
reconstrução da demanda que a motiva. Ao se propor uma
solução sem analisar o trabalho real, entender as tarefas da
trabalhadora e considerar suas opiniões, pode-se estabelecer um
diagnóstico e posterior proposta de solução superficiais e que não
melhoram as condições de conforto, segurança e nem melhoram o
desempenho da trabalhadora. Uma solução eficaz seria marcar
uma reunião com o empregador e explicar os princípios da
ergonomia e sua metodologia, destacando a importância da
análise, reformulando, assim, a demanda antes da proposta
U4 - Aplicação da Ergonomia 173
comercial.

174 U4 - Aplicação da
Faça valer a pena
1. Uma pessoa pode saber como fazer algo, sem conseguir articular
aos outros em maiores detalhes. O conhecimento construído para
a realização do trabalho real é produzido pela inteligência do corpo,
através da qual o sujeito enfrenta as provas que o mundo real
apresenta e assimila respostas, aprende comportamentos, hábitos e
práticas, além de propor diálogos e desafios. Dessa forma, o saber de
difícil verbalização, que vem da interiorização das experiências com o
mundo, é chamado de
.
Assinale a alternativa que completa o texto com a forma de saber de difícil
valorização descrita por Polanyi em 1966.
a) Competência.
b) Saber braçal.
c) Saber tácito.
d) Saber acadêmico.
e) Saber formal.

2. A Ergonomia no Brasil é amparada pela Norma Regulamentadora nº


17, do Ministério do Trabalho e Emprego, que torna obrigatória a
realização da Análise Ergonômica do Trabalho para adequar as
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
proporcionando o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Com relação à elaboração de uma proposta comercial em Ergonomia,
assinale a alternativa correta.
a) A proposta comercial deve partir da explicação do que é a Ergonomia
da Atividade e, especialmente, sua metodologia, para que fique claro
entre as partes que esse processo será construtivo, participativo e
demandará a participação de diversos interlocutores, reuniões e sigilo na
análise de discursos e documentos.
b) Uma proposta comercial pode ser sempre padronizada, já que
todas as situações de trabalho são iguais. Um mobiliário sempre
obedece a regulamentações já existentes, o que facilita um modelo de
contrato para todas as tarefas.
c) A proposta comercial deve ser elaborada única e exclusivamente pela
empresa, pois é apenas o empregador quem tem a visão clara de suas
necessidades e do que quer que seja feito na empresa.
d) A proposta comercial pode ser padronizada, porém revista anualmente.
Como a proposta comercial da Análise Ergonômica do Trabalho
geralmente ocorre anualmente junto ao Programa de Prevenção a Riscos
Ambientais
– PPRA –, pode ser padronizada, revisando apenas o preço estabelecido.
U4 - Aplicação da Ergonomia 175
e) O ergonomista deve ser o único responsável pela elaboração da
proposta e reformulação da demanda, pois os empregadores nunca têm
clareza dos reais problemas de suas empresas.

3. Uma proposta comercial em Ergonomia deve ser elaborada


especificando cada um dos 12 passos da metodologia da atividade:
análise e reconstrução da demanda, análise global da empresa,
análise da população trabalhadora, definição da situação de trabalho a
ser analisada (muitas vezes chamada de hipótese de nível 1),
descrição da tarefa prescrita, real e atividade, pré-diagnóstico (ou
hipótese de nível 2), observação sistemática, diagnóstico, validação do
diagnóstico, proposta de transformações, cronograma e .
De acordo com o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17,
assinale a alternativa que trata do último passo descrito para a realização
da Análise Ergonômica do Trabalho:
a) Envio do boleto bancário.
b) Atividade futura provável.
c) Proposta de modificações.
d) Reformulação da demanda.
e) Acompanhamento das melhorias.

170 U4 - Aplicação da
Seção 4.2
Aspectos psicológicos, cognitivos e mentais

Diálogo aberto
Nesta seção, vamos tratar de aspectos mentais relacionados
ao trabalho. Na aplicação da Ergonomia, é preciso que o
ergonomista tenha visão ampla sobre os processos de trabalho e
sobre como a tarefa é realizada, identificando os constrangimentos
que podem advir do trabalho. Para pensar sobre os aspectos
mentais e o papel da Ergonomia, vamos retomar nossa situação-
problema: um desenvolvedor de softwares contrata você como
ergonomista para auxiliá-lo a criar um sistema de computador para
a recepção de hóspedes em um hotel. Seu papel será muito
simples: verificar os aspectos de usabilidade, acessibilidade e
ergodesign envolvidos na interação das pessoas com esse
sistema.
A Ergonomia Cognitiva leva em consideração aspectos
voltados ao aprendizado, à percepção, cognição e memória.
Pensando que você será o ergonomista responsável em considerar
esses aspectos no desenvolvimento do software, é importante que
você relembre: o que é percepção? O que é cognição? Por que
um design que não considera o usuário durante o processo de
criação pode induzir a erros e perda de produtividade?
Para responder a essas e outras questões, vamos à seção Não
pode faltar do nosso estudo! Agora, vamos fazer uma breve
imersão pelos caminhos da mente no trabalho e vamos enxergar
de perto a beleza do processo de aprendizado.

Não pode faltar

Vamos iniciar nossa seção com a seguinte afirmação: é preciso


valorizar os saberes dos trabalhadores.
Em um estudo realizado com colhedores de tomate do interior
do estado de São Paulo, sob a perspectiva da Ergonomia, foi analisado
como ocorria o aprendizado desses trabalhadores. Sem terem tido
qualquer
U4 - Aplicação da Ergonomia 171
tipo de treinamento formal, eles conseguiam identificar variáveis do
fruto para sua colheita ou descarte: distinguiam cores, formatos,
tamanhos e problemas com os tomates através do tato e da visão.
Ao visualizar e pegar os frutos, os trabalhadores acessavam em
sua memória uma sequência de representações mentais que
faziam com que eles conseguissem tomar decisões importantes
sobre a colheita. Especificidades técnicas, como a aplicação de
venenos, potássio, controle de pH da terra e irrigação, eram
discutidas abertamente entre eles. Além disso, mesmo recebendo
por caixa colhida, os trabalhadores não competiam entre si, pois
perceberam que, ao se ajudarem, o trabalho ficava mais fácil.
Os trabalhadores sabiam que, se utilizassem macacão, o
veneno aplicado poderia entrar e, devido ao calor, penetrar ainda
com mais facilidade na pele. Enquanto eles conseguiam distinguir
os tons dos tomates com maestria, para os autores da pesquisa,
parecia tudo igual.
Vamos refletir um pouco: o trabalho de um colhedor de tomate,
muitas vezes, pode ser enxergado como puramente braçal por
olhos que estão afastados de sua realidade. Porém, esses
trabalhadores realizam escolhas, tomam decisões, aprendem,
memorizam, raciocinam para que sua ação final de colheita seja
guiada por uma sequência de processos mentais.
Quando falamos de processos mentais em Ergonomia,
estamos tratando da Ergonomia Cognitiva.

Ergonomia Cognitiva e psicologia do trabalho

A Ergonomia não analisa apenas postura, ela analisa a interação


do homem com seu trabalho em sua totalidade. Por critérios
didáticos, podemos dizer que a Ergonomia possui abordagens física,
organizacional e cognitiva, estando todas elas correlacionadas no
estudo que conduz a Análise Ergonômica do Trabalho, podendo
priorizar um ou outro aspecto de acordo com a demanda que a
motivou.
A Ergonomia Cognitiva busca descrever como a cognição
humana afeta o trabalho e é afetada por ele, buscando otimizar as
características do trabalho, entendendo os processos cognitivos
face às situações de resolução de problemas nos seus diferentes

172 U4 - Aplicação da
níveis de complexidade.

U4 - Aplicação da Ergonomia 173


Imagine um piloto de avião diante dos diversos comandos
luminosos no painel à sua frente. Um médico tendo que tomar
decisões ao realizar um pronto atendimento de urgência em um
paciente que acabou de ser baleado. Um policial que precisa
definir estratégias e planos para atuar no caso de um assalto. Um
programador que precisa desenvolver códigos e correlacionar
estratégias com linguagem própria.
Ao realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, dependendo da
demanda que a motivou, é preciso traçar como o aprendizado do
homem ocorre em seu trabalho e sua relação com os símbolos,
processos e sistemas; além disso, analisamos a chamada carga
de trabalho, sobrecarga advinda de inadequações do trabalho que
podem causar constrangimentos.
Em 2014, um banco foi processado pelo Ministério Público do
Trabalho do Piauí por assédio moral. Você pode encontrar a
notícia disponível no portal da Época Negócios em:
<https://goo.gl/u7jEvq> (acesso em: 20 jul. 2017). O banco
chegava a enviar mensagens de texto até mesmo de madrugada,
lembrando seus funcionários das metas que teriam que bater no
dia seguinte. Um trabalhador relatou ter recebido até 80
mensagens em um único dia.
O item 17.6.1, da Norma Regulamentadora nº 17, determina
que a organização do trabalho deve ser adequada às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do
trabalho a ser executado. Dessa forma, prêmios por produtividade,
ritmos impostos de forma inadequada, formas de avaliação de
desempenho que se mostram pouco claras ou injustas e regras de
produção que diminuem a autonomia dos trabalhadores
aumentando a carga de trabalho são fatores de atenção para a
Análise Ergonômica do Trabalho.
Para entender o papel da Ergonomia Cognitiva na análise
dessas questões, precisamos entender os processos mentais que
ocorrem no trabalho. Quando falamos em competência, não
estamos nos referindo a quem realiza sua tarefa com perfeição. As
competências são inerentes a todos os indivíduos. Entender em
que bases se constroem as competências do trabalhador é
fundamental para que a Ergonomia Cognitiva possa sugerir
alterações no contexto da situação e até mesmo na concepção de
interfaces informatizadas mais adaptadas.

174 U4 - Aplicação da
Percepção e processos cognitivos

Para começarmos a falar sobre processos mentais no trabalho


e o papel da Ergonomia, é importante que possamos entender o
que é percepção, cognição, representação e competência.
A percepção é a captação de sensações pelos órgãos dos
sentidos. O trabalhador recolhe informações sobre a situação de
trabalho e as relaciona para, apenas depois, julgar e escolher
ações apropriadas.
Após passar pela percepção, é na cognição que os saberes
atingem um nível mais profundo, podendo ser compreendida como
uma série de conexões que envolvem aquisição, armazenamento,
retenção e uso do conhecimento. Esses processos incluem os
fundamentos da atenção, memória, percepção, raciocínio e
aprendizagem. Através dessas funções, o homem compreende e
interage com o mundo, incluindo seus estímulos internos
(pensamentos e sentimentos), pois é por meio da capacidade
cognitiva que se pode planejar ações, realizar julgamentos e
solucionar problemas.
Criamos associações o tempo todo. Nosso aprendizado vai
se acumulando e gerando um universo de informações que são
tratadas, armazenadas e recrutadas quando há necessidade. O
que é decorado pode não criar associações e, portanto, ser
esquecido. Porém, o aprendizado adquirido do trabalho traz uma
riqueza de interações e representações únicas àquele contexto.
A cognição é a reflexão sobre o conhecimento humano.
Uma árvore só é uma árvore se compartilharmos o que
entendemos o que é a sua forma, a cor das folhas, das flores, do
formato dos frutos, do seu tamanho. Uma palavra só é uma palavra
se ela apresenta sentido.
Pesquise mais
Para entender mais sobre as emoções humanas, assista à animação
Divertida Mente, da Disney Pixar, que mostra o papel das emoções
humanas, valores, aceitação, depressão, representações e
amadurecimento.

U4 - Aplicação da Ergonomia 175


Além disso, nossas associações mentais apresentam uma
riqueza de associações tão grande que o pensamento percorre todo
o nosso corpo, gerando uma ação. Uma ação não é apenas um
gesto. Antes,

176 U4 - Aplicação da
ela foi pensada, antecipada, desenhada em nossa mente.
No gesto de carregar uma caixa há a decisão da força, da
forma, do aprendizado da melhor forma de executar aquele gesto.
O trabalhador estabelece quais os resultados da tarefa e identifica
como alcançá-los, através do ritmo, da velocidade, da forma.
Os processos de sensação, percepção e cognição se
completam na formação de um conhecimento que gera uma
ação.
Quanto mais aprendemos, mais conseguimos antecipar uma
ação e tomar decisões. Chamamos de conhecimento tácito o
conhecimento adquirido da prática que é tão internalizado, tão
prático, que é de difícil verbalização. É aquele saber que você
obtém quando pergunta à sua mãe “quanto de sal é para colocar”.
É tão intrínseco, tão próprio às mãos dela, que não é possível
explicar de maneira formal.
Os trabalhos fragmentados que parecem ser simples são
extremamente complexos, pois demandam habilidades que só são
adquiridas após uma longa história de interação naquele trabalho.
Essas habilidades dependem do desenvolvimento do que
chamamos de competência. A competência é a capacidade de
regulação que faz com que tenhamos conhecimento, habilidade e
atitude frente ao que nos acontece, lidando com a variabilidade de
acordo com cada situação.
Os conhecimentos sobre o trabalho são mobilizados num
contexto específico (pois uma atividade é sempre única),
obedecendo à variabilidade interindividual e intraindividual. Uma
mesma tarefa realizada por pessoas diferentes não irá gerar o
mesmo resultado, pois ela é afetada pela sua experiência de vida,
sendo constantemente revista e transformada.
Em Ergonomia, definimos que a competência (ou expertise) é
o conhecimento que é antecedente e pode sofrer transformações,
evoluindo com a prática e o tempo.
É importante salientar que, para colocar em ação os
conhecimentos e habilidades que possui, o trabalhador dispõe
de uma estrutura cognitiva que funciona como um esquema ou
um mapa da situação que engloba os fatores com os quais está
mais familiarizado ou que são significativos no contexto. Essa
estrutura pode ser chamada de representação, mapa mental,
ou seja, diz respeito às formas de armazenamento e
U4 - Aplicação da Ergonomia 177
estruturação diferenciados do conhecimento.

178 U4 - Aplicação da
Em nosso cérebro existe esse mapa, o qual é alimentado ao
longo de nossa vida com representações. Aprendemos que
“verde” significa “siga” e “vermelho” significa “pare”. Embora
pessoas mais jovens possam nunca ter visto um disquete,
associam sua imagem ao ato de “salvar documento” ao elaborar
algo no software Microsoft Word. Você já pode ter passado pela
experiência de alguém na sua casa trocar o canal da TV e não
conseguir consertar um erro por não entender o que aconteceu.
Criamos representações o tempo todo. Elas podem ser
entendidas tanto em um sentido técnico, quando se referem à
expressão de um conhecimento com a ajuda de símbolos, quanto
em um sentido psicológico, quando fazem referência a um
conjunto de valores e propriedades atribuídos a um fenômeno
para armazenamento na memória.

Exemplificando

Em psicologia e design, falamos sobre o conceito de Gestalt, teoria sobre a essência


Quando olhamos uma forma, fazemos diversas associações de acordo com as noss

Figura 4.1 | Princípios da Gestalt

Fonte: elaborada pela autora.

U4 - Aplicação da Ergonomia 179


Princípio Figura-fundo

Alguns objetos parecem destacar-se do fundo e outros parecem recuar.

Proximidade

Tendência a ver os objetos que estão próximos como um grupo.

Similaridade

Tendência a agrupar objetos com base em sua semelhança.

Continuidade

Tendência a perceber as figuras de forma contínua ao invés de interrompidas


Fechamento

Tendência a fechar ou completar objetos que não são completos.

Simetria

Tendência a perceber os objetos como se formassem imagens de espelho.

Desta forma, com as representações mentais, os trabalhadores


conseguem adaptar em sua mente um esquema em que
selecionam as informações mais importantes e as organizam, de
forma a criar uma relação e um sentido entre elas. Uma imagem
da tarefa e de cada uma de suas partes é esquematizada e, de
acordo com a experiência do trabalhador, relações são criadas para
antecipar ações e resolver problemas de acordo com o que foi
aprendido e está sendo recrutado agora.
Todo trabalhador escolhe estratégias que podem ser
entendidas como um processo de categorização (colocar os
pensamentos em categorias, agrupá-los), resolução de problemas e
tomada de decisão que resultam em um modo operatório (que
nada mais é do que uma sequência de ações e operações após
regularmos os objetivos, os meios disponibilizados, os resultados que
queremos e nosso estado interno).
Elaborar novos modos implica reinterpretar a situação presente
e formular estratégias para solucionar os problemas, bem como

180 U4 - Aplicação da
antecipar incidentes. O processo descrito depende da
categorização, do reconhecimento de padrões e como são
agrupados de maneira a elaborar modelos ou identificar
características de um dado contexto ou situação.
Agora, pensemos: e se um trabalhador tem uma meta que não
é clara para ele? E se um painel de comandos não faz sentido? E
se a lógica na sequência de processos de um trabalho apresenta
falha?

Carga mental do trabalho

Quem planeja o trabalho não enxerga a essência cognitiva


escondida no trabalho parcelado porque está em outro “mundo de
atuação”. Trabalhadores possuem uma competência cognitiva, a
qual é adquirida pelas associações entre suas percepções e as
ações relacionadas ao trabalho.
Quando ocorre um acidente, um erro, uma falha, é muito
difícil, dentro da organização, se estabelecer uma compreensão
recíproca do que aconteceu, porque não há senso comum na
linguagem, em como o trabalho é visto.
Não existe erro humano, ou distração, ou negligência: existe
dificuldade em compreender o ponto de vista do trabalhador.
Os modelos mentais adotados nas situações de trabalho tendem
a ser incompletos, muito pessoais, instáveis e não científicos. As
pessoas se apropriam da situação para tomar decisões. Assim, elas
reorganizam conteúdos através de um acúmulo quantitativo de
conhecimentos.
A carga mental é observada onde quer que os processos de
experiência e comportamento humano ocorram e abrange
desde aspectos cognitivos (atenção, concentração, memória,
percepção, tomada de decisão) até aspectos emocionais, que
abrangem afetos, sentimentos e motivação para com o trabalho.
As cargas de trabalho são definidas como exigências ou
demandas psicofisiológicas do processo de trabalho, gerando, ao
longo do tempo, as particularidades do desgaste na saúde do
trabalhador. Em outras palavras, as cargas são mediações entre o
processo de trabalho e o desconforto psicofisiológico.
Quando citamos a carga mental, nos referimos à relação entre

U4 - Aplicação da Ergonomia 181


constrangimentos impostos pela tarefa, pela interface, pelos

182 U4 - Aplicação da
instrumentos e pelo ambiente (carga funcional), junto às atividades
desempenhadas e à capacidade de trabalho do trabalhador.
A carga de trabalho, em Ergonomia Cognitiva, pode ser dividida
em: carga psíquica: referente ao sentido no trabalho e fator
afetivo; carga cognitiva: referente às exigências cognitivas das
tarefas (uso da memória, as decisões, os raciocínios); e carga
mental: aspectos psíquicos e cognitivos integrantes desses dois
outros conceitos.
Enquanto o trabalhador consegue regular as cargas de trabalho,
tendo margem de manobra para tomar decisões e equilibrar as
demandas e os esforços, ele consegue atingir os resultados com
saúde e eficiência.
O problema é quando essa regulação não acontece de forma
eficiente. No mundo do trabalho, estamos lidando cada vez mais
com processos informatizados e formas de controle de produção
cada vez mais distantes da realidade. Quanto maiores as empresas,
maiores as quantidades de processos e formas de controle do que
está sendo feito em cada pedacinho da organização. Números.
Números de vendas. Números de atendimentos. Números de
pessoas que se afastaram do trabalho. Números que separam os
melhores dos piores. Números que avaliam os melhores e os piores.
Rankings. Desafios.
Os cenários criados para se trabalhar podem gerar injunções
paradoxais: por exemplo, deixar um cliente satisfeito, mas não ter
autonomia para resolver o problema dele; não poder se envolver
com o cliente, mas ter que ouvi-lo e conquistá-lo durante uma
venda. Deve-se fazer uma pausa em um horário específico, mas,
se surgir cliente, deve-se atendê-lo.
As organizações criam diversos tipos de indicadores de
desempenho e metas para controlar e “motivar” os trabalhadores,
levando a uma desumanização das relações de serviço. As
pessoas passam a ser vistas como números e leva-se uma visão
reducionista do que acontece realmente no trabalho. Pode
acontecer de se racionalizar tanto a produção, os processos e os
controles que isso pode levar ao adoecimento e a uma lógica que,
na realidade de trabalho, não funciona e não leva a processos
mais eficientes.

U4 - Aplicação da Ergonomia 183


Assimile
O programa Undercover Boss, da CBS, mostra quando um chefe
atua como um dos trabalhadores da produção de forma disfarçada,
mas consegue ver através dos números frios que alcançam sua
mesa. Para que possa assimilar melhor a interpretação de números e
a avaliação fria de trabalhadores através de indicadores de
desempenho sobre seus fazeres, assista ao episódio O Chefe
Espião - O Call Center da GSI Commerce, disponível em:
<https://www.youtube.com/ watch?v=bFiuv7yVu2w> (acesso em: 20
jul. 2017). Note no episódio o que acontece quando o próprio
presidente da empresa não entende a lógica de como é realizado o
trabalho na ponta. Devido a indicadores de desempenho e situações
colocadas para se controlar o trabalho, nem sempre é possível
distinguir realmente quais são os trabalhadores com melhor
desempenho, porque os indicadores não são claros e as metas não
mostram as reais competências.

A fragmentação do trabalho e a busca pelo controle criam


situações que geram constrangimento aos trabalhadores e podem
levar ao adoecimento. A sistemática de controle criada pelas
empresas leva a indicadores de desempenho, metas e
sistemas informatizados que controlam essas variáveis,
fazendo com que os trabalhadores sejam perseguidos por esses
números, que nem sempre refletem a realidade do trabalho.
Esse controle intenso e contínuo ocorre ao longo de todo o
processo de trabalho, muitas vezes sem considerar a atividade
do trabalhador, seu conhecimento técnico, a maneira de fazê-lo,
sua rapidez, seu zelo e seu comportamento. A falsa ideia de
controlar tudo e garantir o bom andamento das operações
resulta em um monitoramento do trabalho graças à tecnologia
disponível e na falta de um debate mais profundo com relação
aos limites éticos das possibilidades de controlar as pessoas.
Quando esses processos de controle são rígidos, não há
margem de manobra para modificações no trabalho. Um grande
número de normas, procedimentos, atitudes e responsabilidades
prescritas que devem ser seguidos à risca tratam os processos
mentais de forma reducionista, levando a um grau de pressão e
controle tão grandes que podem levar ao adoecimento.

180 U4 - Aplicação da
Exemplificando
Como exemplo, leia o artigo Trabalhar em centrais de atendimento:
a busca de sentido em tarefas esvaziadas (SZNELWAR; ABRAHAO;
MASCIA, 2006). O artigo trata dos aspectos do trabalho de centrais
de atendimento, mostrando que essa tarefa é fortemente limitada,
constrangida pelo tempo, com pouca autonomia para regular o seu
ritmo, o fluxo de chamadas e as pausas. Porém, a relação com o
cliente requer uma certa flexibilidade do tempo para que se possa
desenvolver um tratamento adequado, o que mostra uma contradição
de variáveis.

Assim, para resolver demandas relacionadas à Ergonomia


Cognitiva, a Análise Ergonômica do Trabalho deve considerar
como recuperar o sentido do trabalho, gerar o conhecimento que
impede a alienação do trabalhador, valorizar o trabalho como agir
humano através do qual o homem se transforma e transforma a
sociedade, como livre expressão da sociedade criadora, como
superação dos limites pela espécie humana.

Ergodesign

Em Ergonomia, qualquer ação eficaz deve ser realizada em


conjunto. Quanto mais visões e opiniões acerca da mesma
situação, mais alinhadas serão as interpretações de diferentes
pessoas sobre a mesma problemática.
Como já vimos, o ergonomista tem papel de tradutor entre
as partes, aproximando a lógica do trabalhador da visão
distante de quem concebe o trabalho.
Ao falarmos de ergodesign, estamos tratando da participação
do usuário no processo de criação de artefatos, sistemas e
processos. Nada de pedir a opinião de quem vai usar algo apenas
no final do processo: no ergodesign, o usuário participa ativamente
de toda a concepção, realizando testes e opinando em todas as
etapas.
É disso que trata a Ergonomia: quem cria algo tem sua lógica própria.
Porém, muitas vezes, essa lógica só faz sentido para quem a cria.

U4 - Aplicação da Ergonomia 181


Reflita
Você já refletiu sobre a importância dos saberes dos trabalhadores,
especialmente os adquiridos na prática. Valorizar os saberes dos
trabalhadores e dos usuários finais de algum produto ou sistema é
fundamental para um desempenho eficiente. Veja o vídeo do
filósofo Mario Sergio Cortella sobre a história da fábrica de pasta
de dentes, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=f0z56D5qCO0> (acesso em: 20 jul. 2017).

Com o desenvolvimento das tecnologias de informação e


comunicação, chegamos à era da informação com transformações
nas atividades econômicas, sociais e educacionais. Nossas
interpretações e a velocidade com a qual as mudanças ocorrem
trazem um cenário cada vez mais competitivo. As empresas
precisam se organizar e rever seus processos de forma a,
constantemente, se adequarem às rápidas mudanças trazidas pela
tecnologia.

Podemos definir design como uma atividade que consiste em


determinar as propriedades formais dos objetos a serem
produzidos, considerando suas relações estruturais e funcionais que
dão coerência do ponto de vista do produtor e do usuário.
Assim, o ergodesign busca garantir a usabilidade, conjunto de
fatores que deixam os objetos fáceis de usar, eficientes e
agradáveis (da perspectiva do usuário).
Vamos pensar em alguns exemplos de objetos: balde cheio de
água (a pega é adequada?); abridor de vinho (pega e força
exigidas); impressora (algumas pessoas preferem comprar um novo
modelo ao invés de procurar conserto para uma impressora).
A usabilidade apresenta os seguintes objetivos: efetividade
(uma mistura de eficácia e eficiência), produtividade (quantidade
adequada de recursos do sistema em relação à efetividade alcançada),
segurança (oferecer níveis aceitáveis de risco de danos) e satisfação,
learnability (fácil de aprender) e memorability (fácil de lembrar
como se usa).
Quando um erro leva o usuário a desistir de usar um artefato

182 U4 - Aplicação da
ou ainda leva à perda de tempo; quando as ações não são
intuitivas;

U4 - Aplicação da Ergonomia 183


quando o próprio sistema te induz ao erro devido às opções
limitadas e não claras; quando os símbolos não fazem sentido;
quando apenas alguém experiente consegue utilizar; quando são
precisos diversos passos para uma ação que poderia ser
simplificada: nessas situações, podemos dizer que temos problema
de usabilidade e precisamos de um estudo em ergodesign.
Passamos grande parte de nossas vidas no trabalho e um dos
aspectos mais belos do ser humano é sua capacidade de
evolução e aprendizado. Ao tratarmos dos aspectos cognitivos do
trabalho, fazemos uma imersão nesse universo rico em detalhes
que é a mente humana, e torna-se urgente a valorização de todas
as pessoas, todos os trabalhos e todas as relações.
Por isso, aprender sobre sofrimento mental no trabalho,
compreender sua origem, permite antecipar-se às patologias do
trabalho e adotar medidas preventivas que favoreçam a
conservação da saúde física e, principalmente, mental dos
trabalhadores.

Sem medo de errar

Retomando a situação-problema da nossa seção, um


desenvolvedor de softwares contrata você como ergonomista para
auxiliá-lo a criar um sistema de computador para a recepção de
hóspedes em um hotel. Seu papel será muito simples: verificar os
aspectos de usabilidade, acessibilidade e ergodesign envolvidos
na interação das pessoas com esse sistema.
A ergonomia cognitiva leva em consideração aspectos voltados
ao aprendizado, à percepção, cognição e memória.
Pensando que você será o ergonomista responsável em
considerar esses aspectos no desenvolvimento do software, você
entende que a percepção é a captação de sensações pelos
órgãos dos sentidos. O trabalhador recolhe informações sobre a
situação de trabalho e as relaciona para, apenas depois, julgar e
escolher ações apropriadas. Após passar pela percepção, é na
cognição que os saberes atingem um nível mais profundo,
podendo ser compreendida como uma série de conexões que
envolvem aquisição, armazenamento, retenção e uso do
conhecimento. Esses processos incluem os fundamentos da
atenção, memória, percepção, raciocínio e aprendizagem. Através
184 U4 - Aplicação da
dessas funções, o homem compreende e interage com o mundo,

U4 - Aplicação da Ergonomia 185


incluindo seus estímulos internos (pensamentos e sentimentos),
pois é por meio da capacidade cognitiva que se pode planejar
ações, realizar julgamentos e solucionar problemas.
Conhecendo sobre processos mentais e relembrando sobre
ergodesign, entendemos que, quando o design não considera o
usuário durante o processo de criação, ele pode induzir a erros e
perda de produtividade. A usabilidade apresenta os seguintes
objetivos: efetividade (uma mistura de eficácia e eficiência),
produtividade (quantidade adequada de recursos do sistema em
relação à efetividade alcançada), segurança (oferecer níveis
aceitáveis de risco de danos), satisfação, learnability (fácil de
aprender) e memorability (fácil de lembrar como se usa).

Avançando na prática

Desisti de bater a
meta Descrição da situação-problema
Em uma central de teleatendimento, há uma equipe de 10
trabalhadores. Hoje, chegam 5 trabalhadores novos que tiveram
um breve treinamento através de uma apostila impressa sobre
como atender o cliente. Ao chegar na empresa, o coordenador
mostra os indicadores de desempenho. Caso os trabalhadores
consigam desempenho satisfatório em todos eles, receberão
uma bonificação de 30% no salário. Os indicadores eram: realizar
pausa na hora certa (indicada via sistema); “sorriso na voz”; meta
de vendas; meta para fazer o cliente mudar de ideia caso ligue
cancelando o produto; meta de velocidade de atendimento.
Ao final do mês, nenhum dos trabalhadores conseguiu bater
todas as metas, referindo as seguintes situações: o sistema pedia
para realizarem pausas enquanto ainda estavam em ligação; para
atender bem o cliente, não podiam acelerar o atendimento; não
possuíam autonomia para alguns tipos de problemas; sorriso na
voz é um indicador avaliado subjetivamente; fazer o cliente mudar
de ideia era uma meta muito difícil de se bater.
Pensando em toda essa situação, como a Ergonomia Cognitiva
poderia auxiliar nessa situação de trabalho?

186 U4 - Aplicação da
Resolução da situação-problema
Indicadores de desempenho e metas são comuns em centrais
de teleatentedimento. A organização do trabalho é um dos
aspectos a serem estudados na Análise Ergonômica do Trabalho
e, quando ela não está adequada às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, pode levar ao adoecimento.
Quando esses indicadores estão afastados da realidade do
trabalho, eles podem gerar injunções paradoxais (elementos
susceptíveis de induzir confusão, devido a uma manipulação
oculta, como um cartaz no qual está escrito PROIBIDO COLAR
CARTAZES), não correlacionando de forma justa a premiação
com o indicador avaliado. Os indicadores escolhidos pela empresa
em questão não avaliam o trabalhador e sua competência.
Trabalhadores exemplares podem não atingir as metas devido
a problemas do próprio sistema. Assim, a Ergonomia Cognitiva
pode estudar a relação dos trabalhadores com esses indicadores
e propor modificações mais adequadas à realidade da tarefa.

Faça valer a pena


1. A psicologia da Gestalt foi fundada por pensadores alemães, como Max
Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka e trata de como as
pessoas interpretam o mundo, afirmando que o todo é diferente da soma de
suas partes. Com relação à Gestalt e às leis da organização perceptiva,
assinale a alterativa que cita corretamente os seis princípios da Gestalt de
percepção da forma:
a) Princípio do planejar, princípio do agir, princípio do checar e princípio
do corrigir (também conhecido como Ciclo PDCA).
b) Princípio da percepção, princípio da cognição, princípio da
competência, princípio da memória.
c) Princípio dos objetivos, princípio dos meios disponibilizados, princípio
dos resultados produzidos e princípio do estado interno do operador.
d) Princípio da figura-fundo; princípio da proximidade; princípio da
similaridade; princípio da continuidade; princípio da fechamento;
princípio da simetria.
e) Princípio da efetividade, princípio da produtividade, princípio da
segurança e princípio da satisfação.

2. A fragmentação do trabalho e a busca pelo controle cria situações


que geram constrangimento aos trabalhadores e podem levar ao
adoecimento.

U4 - Aplicação da Ergonomia 187


A sistemática de controle criada pelas empresas leva a indicadores de
desempenho, metas e sistemas informatizados que controlam essas
variáveis, fazendo com que os trabalhadores sejam perseguidos por
esses números, que nem sempre refletem a realidade do trabalho.
Em Ergonomia Cognitiva, é essencial que sejam estudados os processos
mentais relacionados ao trabalho. Quando falamos da captação das
sensações pelos órgãos dos sentidos, estamos nos referindo à:
a) Competência.
b) Cognição.
c) Percepção.
d) Carga Mental.
e) Ergonomia Cognitiva.

3. Após passar pela percepção, os saberes atingem um nível mais


profundo, podendo ser compreendidos como uma série de conexões
que envolvem aquisição, armazenamento, retenção e uso do
conhecimento. Esses processos incluem os fundamentos da atenção,
memória, percepção, raciocínio e aprendizagem. A esse processo de
associação de saberes damos o nome de .
Com relação a processos mentais que existem na interação do homem
com seu trabalho, analise a afirmação acima e assinale a alternativa que
completa corretamente a lacuna:
a) Memorização.
b) Usabilidade.
c) Ergonomia.
d) Carga de Trabalho.
e) Cognição.

188 U4 - Aplicação da
Seção 4.3
Critérios e estimativas

Diálogo aberto
Vamos relembrar a situação-problema da nossa unidade: um
desenvolvedor de softwares contrata você como ergonomista para
auxiliá-lo a criar um sistema de computador para a recepção de
hóspedes em um hotel.
A Ergonomia tem um papel fundamental na preservação da
saúde dos trabalhadores e na melhora da produtividade na
empresa. Com os seus conhecimentos em Ergonomia, você já
sabe que nunca é possível conhecer o trabalho real sem conversar
com os trabalhadores e sem trazer à luz os seus saberes referentes
ao fazer profissional. Dessa forma, é importante que você se
lembre por que é importante compreender o trabalho para
transformá-lo. Quais são os aspectos cognitivos, ambientais e
organizacionais a serem considerados em uma análise ergonômica
do trabalho? Por que é importante realizar a validação dos
resultados obtidos na análise ergonômica?
Essas e outras questões serão respondidas ao longo da nossa
última seção e ao finalizar nossa disciplina de Ergonomia. Com
orgulho, sabemos que você será um grande agente de
transformação envolvido no mundo do trabalho.

Não pode faltar

A Ergonomia é uma ciência transdisciplinar: sua metodologia


permeia diversas áreas do conhecimento em busca de respostas que
permitam a compreensão das diferentes situações de trabalho e
suas transformações. Por isso, é preciso que fique claro que a
ação da Ergonomia deve ser construtiva e participativa. Quanto
mais pessoas participarem e conhecerem a importância das
transformações, mais eficaz serão as propostas de melhoria e
mais adequadas estarão à realidade dos trabalhadores e da
empresa.

U4 - Aplicação da Ergonomia 189


Toda situação de trabalho é complexa. Ao tentar simplificá-las,
podemos estar impondo regras, metas, indicadores e condições
inadequadas à realidade. Frases, como “foi sempre assim”, “não
tem problema ficar desse jeito”, e até mesmo “mas isso não é
Ergonomia”, podem surgir caso a ação ergonômica não seja
realizada corretamente.
O processo de transformação se inicia com diálogos e
reflexões de todos os atores acerca de seu trabalho e do que é
real.
É importante entender: quando estamos distantes de uma
situação, dependemos da informação que nos é passada sobre
ela.

Reflita
Suponhamos que sua família more em outro estado e fique difícil
visitá- la sempre. Dessa forma, você encontra formas de acompanhar
o que acontece a distância. Redes sociais, troca de mensagens e
ligações são formas de contato via meios relacionados a telefone e
internet. Vamos pensar: isso assegura que você saberá tudo o que está
acontecendo por lá? Imagens, conclusões a respeito do que está
vendo nas redes sociais e ligações breves mostram tudo que está
acontecendo do outro lado?

Temos racionalidade limitada e tiramos conclusões em cima de


padrões, regras e simplificações que nós mesmos criamos para
facilitar o processo, mas que nem sempre correspondem à realidade.

Ao se aproximar da realidade do trabalho, podemos verificar


que existem normas, regras, questões relacionadas à cultura
organizacional e valores da empresa que indicam uma forma de
funcionamento que é controlada a distância e, muitas vezes,
pode deixar de enxergar aspectos importantes que a tornariam
mais saudável e competitiva.
Atualmente, a opinião do cliente tem papel central na
competitividade das empresas. O consumidor está cada vez mais
crítico e formador de opinião. Com a chegada da internet, novas
formas de compra e acesso à informação transformaram as
relações de trabalho e de consumo. Para verificar os reais
problemas, com o objetivo de conseguir que o trabalho faça cada
190 U4 - Aplicação da
vez mais sentido, seja saudável, eficaz e deixe os clientes
satisfeitos, é preciso abrir mão de fórmulas prontas de controle para
criar alternativas criativas que possam resolver problemas que,
muitas vezes, são ignorados por parecerem obsoletos.

U4 - Aplicação da Ergonomia 191


Aspectos físicos, de projeto e de mobiliário

Quando analisamos aspectos físicos do trabalho, é importante


termos embasamento na Biomecânica Ocupacional e na
Antropometria, para assegurar melhor adequação desses
aspectos físicos às características psicofisiológicas dos
trabalhadores.
Embora cada situação de trabalho seja única, existem alguns
pontos baseados nessas ciências que nos fornecem diretrizes
para adequar postos de trabalho, posicionamento de materiais e
ferramentas para assegurar uma melhor postura, evitar
movimentos que gerem sobrecarga repetitiva, compressões
mecânicas e uso de força excessiva.
No levantamento e transporte de cargas, a aplicação da
equação NIOSH (citada no Manual de Aplicação da Norma
Regulamentadora nº 17) pode auxiliar na realização da análise, já
que ela mapeia fatores que podem influenciar nos riscos de
problemas na coluna, como altura da carga, peso da carga, altura
para onde essa carga será deslocada, fator de assimetria, distância
dos calcanhares ao centro da carga, frequência de levantamento
(por minuto e durante a jornada) e qualidade da pega. Quanto
mais próxima a carga estiver do chão, maior probabilidade de
necessitar de frequentes flexões de coluna para alcançá-la.
Um treinamento de levantamento e transporte de cargas pode
auxiliar os trabalhadores a terem consciência corporal das
melhores formas de levantamento, mas temos que lembrar que
não adianta treinar os trabalhadores para situações que estão
inadequadas e devem ser transformadas, senão fica mais uma vez
nas mãos do trabalhador se adaptar a uma condição de trabalho
ruim, e não o oposto, como preza a Ergonomia.
Sempre que possível, o mobiliário de trabalho deve possuir
regulagens que permitam que as características antropométricas
dos trabalhadores (tais como sua altura, comprimento dos braços
e das pernas) sejam consideradas e permitam maior conforto e
adaptação ao posto de trabalho. Além disso, deve permitir
alternâncias de posturas, pois não existe nenhuma postura
confortável quando mantida por longos períodos de maneira fixa.

192 U4 - Aplicação da
O trabalho estático exige maior demanda muscular que o
trabalho dinâmico. É importante priorizar aspectos que protejam as
articulações e conservem a energia, priorizando rodízios de
atividades ou maior número de movimentos para permitir maior
alternância muscular.
O estudo dos movimentos é de extrema importância, pois na
literatura constam alguns movimentos que, ao serem realizados
com uso de força ou com grande frequência, podem ser fator de
risco para doenças osteomusculares, por exemplo: flexões de
pescoço acima de 20° e mantidas por muito tempo; elevação do
ombro acima de 90° com risco aos músculos do chamado
manguito rotador; manter braços elevados e sem apoio de
antebraços; desvios em punho; uso de força e movimentos
repetitivos em mãos; uso da pega em pinça na região dos dedos
para uso de força, ao invés do uso para precisão; permanecer
sentado sem utilizar adequadamente as regulagens do posto de
trabalho; postos de trabalho sem espaço adequado para membros
inferiores; flexão associada à rotação de coluna; carregamento de
peso excessivo; ritmos de trabalho que impedem a recuperação
muscular por causa da repetitividade; entre outros.
É difícil conceber mobiliários e situações de trabalho que
atendam a todos os trabalhadores, inclusive os extremos.
Atualmente, existem diversas normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas que podem auxiliar nos projetos relacionados à
parte física e de mobiliário da empresa. Normas, como a ABNT NBR
13962, que trata de móveis para escritório (especificamente
cadeiras), e a NBR 9050, que trata de aspectos de acessibilidade,
são exemplos de documentos norteadores que possuem medidas,
parâmetros e metodologias de adaptação das condições físicas do
ambiente de trabalho. Normas Regulamentadoras do Ministério do
Trabalho e Emprego, como a nº 17 (Ergonomia), nº 12 (Máquinas e
Equipamentos) e nº 24 (Condições Sanitárias e de Conforto), são
exemplos de normas norteadoras que também podem auxiliar nos
parâmetros para adequação de aspectos físicos do trabalho.
É importante sempre considerar a natureza do trabalho para
dimensionar a bancada (para trabalhos de maior precisão, ela
deve estar mais alta, e para trabalhos de força, deve estar mais
próxima da cintura para facilitar o uso do tronco e do melhor grau
de contração da musculatura dos braços). Além disso, os materiais,
as ferramentas e os equipamentos devem estar dispostos dentro das
U4 - Aplicação da Ergonomia 193
zonas de alcance

194 U4 - Aplicação da
adequadas (proximal, distal e ocasional), já vistas na Unidade 2 de
nosso estudo.
O arranjo físico deve seguir uma lógica que facilite o
deslocamento de materiais e elimine deslocamentos desnecessários.
A comunicação entre os trabalhadores deve ser facilitada e a
sequência dos processos deve ser entendida por todos.
Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada,
o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para essa
posição, porém não devemos esquecer que a postura mais
adequada para o trabalhador é aquela que ele escolhe livremente e
que pode variar. Os esforços estáticos devem ser evitados ao
máximo.
De acordo com a Nota Técnica nº 60/2001 do Ministério do
Trabalho e Emprego, a postura em pé só é justificada quando a
tarefa exige: deslocamentos contínuos; manipulação de cargas
com peso igual ou superior a 4,5 kg; alcances amplos frequentes;
operações frequentes em vários locais de trabalho; aplicação de
forças para baixo.
Com relação a exigências visuais, a posição das fontes de
informações visuais vai determinar o posicionamento da cabeça
e do tronco. Se o plano de trabalho é muito alto, o trabalhador
deverá elevar os ombros e os braços durante a tarefa. Se for muito
baixo, ele trabalhará com as costas inclinadas para frente.
Levar em conta a opinião dos trabalhadores antes da compra
de um determinado mobiliário tem mostrado um bom resultado, em
que as empresas colocam opções para teste e decidem por
aqueles que tiveram melhor aceitação.
É importante ter um especial cuidado para frases relacionadas
a design que indicam um produto “ergonômico”. Uma cadeira pode
ser confortável para assistir televisão, mas inconveniente a uma
secretária que deve ter acesso alternadamente ao arquivo, ao
microcomputador e ao telefone para realizar sua tarefa. Não existe um
produto ergonômico que atenda a todas as situações de forma igual. É
preciso um estudo da realidade do trabalho para verificar suas
características.
O ergonomista deve fazer um controle junto ao departamento
médico da empresa (quando existente) ou à assessoria
especializada em Saúde e Segurança do Trabalho para fazer um
controle de afastamentos e, principalmente, de queixas. O controle
U4 - Aplicação da Ergonomia 195
de queixas é eficaz por ainda estar na esfera preventiva: a pessoa
ainda está lá, não se afastou e é possível identificar os fatores de
risco daquela tarefa.

196 U4 - Aplicação da
Com o surgimento do Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP),
automaticamente, o CID (número que indica a doença de acordo
com o Código Internacional de Doenças) e o CNAE (número que
indica o ramo de atividade da empresa de acordo com a Classificação
Nacional de Atividade Econômica) são cruzados quando há o
afastamento de um trabalhador. Caso o sistema acuse que é
possível que aquela atividade econômica gere aquela doença,
automaticamente, é acusada uma doença ou um acidente do
trabalho, responsabilizando a empresa por esse caso. Cabe à
empresa provar (ou não) se é realmente responsável por aquela
doença. Dessa forma, é importante um mapeamento das condições
de trabalho para se eliminar fatores que possam gerar nexo causal
entre as tarefas e possíveis doenças que os trabalhadores possam
adquirir.

Aspectos cognitivos, ambientais e organizacionais

Como falamos anteriormente, quando estamos afastados de


uma situação, criamos formas de acompanhá-la a distância. Nas
empresas, isso ocorre através de metas, indicadores e números.
Uma situação de trabalho acaba sendo resumida a números
que são vistos a distância e interpretados dentro das limitações
que as pessoas que os recebem conseguem entender.
Frederick Wislow Taylor, por meio da Administração Científica
do Trabalho, criou uma forma de impor uma divisão racional das
tarefas que, em seguida, foram cronometradas pelo casal Gilbreth.
Claro que é importante o controle de toda a operação e formas
de sistematizar o trabalho para garantir uma racionalidade que
garanta a qualidade, os custos adequados e as melhores formas de
trabalho. O que apontamos é que a repetição de velhas fórmulas e
métodos de trabalho, inadaptados à realidade atual, apenas
enfatiza a insistência em erros, tais como dar ao trabalhador
tratamento secundário diante do trabalho. Pode existir um controle,
mas desde que ele seja adequado à realidade.

U4 - Aplicação da Ergonomia 197


Exemplificando
Como vimos anteriormente, criar um sistema que monitore se um
trabalhador de teleatendimento está fazendo pausas na hora certa, a
distância, mostrará quais trabalhadores são pontuais e assíduos e quais não
respeitam as escalas e regras da instituição. Porém, é preciso cuidado,
pois isso pode condicionar trabalhadores a não realizarem pausas
fisiológicas que estão previstas na legislação, por medo de penalizações.
Além disso, é importante verificar se as condições de trabalho permitem a
saída no momento certo e se as condições físicas do local permitem que
esse período seja suficiente. Por exemplo, se um sistema verifica que
um atendente deve entrar em pausa às 9h30 da manhã e às 9h28 ele
precisa atender a ligação de um cliente, ele não está burlando uma
regra ou infringindo a pausa. É preciso saber até onde vai a racionalidade
do sistema e até onde ela pode afetar a saúde, a segurança, o conforto e
o desempenho eficiente do trabalhador. Nesse caso, ou ele faz a pausa,
ou atende o cliente, ambos indicadores de qualidade da empresa, que
acabam entrando em conflito e, assim, causam perda da eficácia do
sistema.

Outro fator de atenção é o tempo. Impor tempos e métodos


sem considerar os limites dos trabalhadores pode gerar sérios riscos à
saúde. Precisamos saber se o trabalho está adaptado ao
trabalhador, se ele possui todas as qualidades requeridas pela tarefa
que deve realizar ou, ainda, se ela será realizada a contento, com a
devida segurança.
O estudo de movimentos e tempos procura analisar a
decomposição da operação em elementos que possibilitam
eliminar movimentos vistos como inúteis, proporcionando
economia de tempo e esforço do trabalhador, melhorando, assim,
a eficiência do trabalho.
A cronoanálise trata da obtenção de um tempo-padrão de
divisão de tarefas, através da medição da tarefa, organização de
seus elementos e análise da média aritmética das medições
realizadas para se obter o melhor tempo. Para isso, é vista a
imagem de um “operário- padrão” que faça as tarefas em
“condições normais” para que possa ser padronizado o ritmo de
trabalho.
As situações de trabalho não são iguais e os trabalhadores
também não. Dar um certo grau de autonomia e possibilidade de
198 U4 - Aplicação da
autogestão pode impressionar com seus resultados. O ritmo livre é
mais tolerado pelo trabalhador, pois permite contornar os
incidentes sem diminuir a produção.

U4 - Aplicação da Ergonomia 199


Exemplificando
O documentário Carne Osso, visto anteriormente (disponível em:
Acesso em: 30 jul. 2017), trata da realidade dos frigoríficos no Brasil. As questões da alta

A ideia de economia de movimentos e energia parte da


premissa de que o homem funciona como uma máquina e é dotado
apenas de movimentos. Considerar aspectos cognitivos, a
importância da pausa (não apenas para a parte muscular, mas para
descompressão da carga mental), são fatores fundamentais para a
valorização dos trabalhadores e o fortalecimento do aspecto humano
da empresa.
É de estranhar que apenas os tempos, os movimentos e as
metas sejam sistematizados e estudados com grande cuidado,
enquanto a forma de realização do trabalho propriamente dito, tal
como melhor postura, conforto, melhor forma de tomada de
decisão, autonomia, facilidade para execução de tarefas, bem
como estabelecimento de limites, deixe de ser objeto de atenção
mais aprofundada.
Para se administrar um trabalho na atualidade, não podemos olhá-
lo com a ótica dos tempos passados. Precisamos de novos
paradigmas.
A Ergonomia não prega a ausência de controle ou de regras,
ela apenas busca uma organização eficiente sem que seja
imposta de forma violenta e arbitrária, inutilizando a cooperação dos
trabalhadores (afinal, organizar é colocar em ordem num conjunto
de recursos, e os trabalhadores fazem parte disso).
Quando falamos de problemas de cooperação e hierarquia,
percebemos que a divisão do trabalho define quem faz o quê, como
e em quanto tempo, havendo o problema de quem concebe o
trabalho não é a mesma pessoa que o executa.
Atualmente, os clientes estão melhor informados e mais
exigentes, com demandas, personalidades e expectativas diferentes. Por
200 U4 - Aplicação da
essa nova lógica de relações de mercado, mídias sociais, avanços da
tecnologia e

U4 - Aplicação da Ergonomia 201


das formas de conhecimento e comunicação, apenas um
trabalhador bem treinado, que tenha autonomia e competência
pode dar um atendimento de excelência. Se a excelência é uma
preocupação da empresa, ela precisa entender que não adianta o
trabalhador saber todos os aspectos do trabalho se não pode
decidir, se o sistema não funciona, ou se não tem acesso a todas
as informações.
As tarefas são projetadas de maneira fragmentada e sem
considerar que os trabalhadores preferem iniciar e finalizar a
fabricação de um produto, entender, melhorar processos, e não
apenas executar gestos como se fossem máquinas.
As metas estabelecidas, os controles e os prêmios por
produtividade foram um recurso eficiente para controlar o trabalho e
impulsionar o capitalismo a curto prazo, mas trouxeram efeitos
danosos com o passar do tempo.
Estamos diferentes. As novas tecnologias reformulam a forma
de pensar e de se comunicar da nossa sociedade, o que,
obviamente, impacta na maneira das pessoas enxergarem seu
trabalho. O taylorismo pressupõe que todos os homens são iguais e
que não há variabilidade no sistema. Sabemos que estabilidade, no
mundo real, é uma utopia.
As cronoánalises são realizadas durante um tempo muito curto,
em ótimas condições, com trabalhadores com grande experiência.
Aí, impõem-se um ritmo para os demais em outras condições, com
picos de produção, afastamentos, instabilidades. O alto ritmo induz
altas demandas e metas de produção, que farão as pessoas
ultrapassarem seus limites para alcançá-las, podendo levar ao
adoecimento.
Uma mesma cadência pode não ser tolerada igualmente
durante toda a jornada de trabalho. Lembrando o que apontamos
sobre o NTEP, o estabelecimento de ritmos e metas pode levar ao
adoecimento e a empresa pode responder legalmente por isso.
O ser humano pensa! Considerar a direção do olhar; o que ele
precisa decidir; com quais sistemas, pessoas, ferramentas e
variáveis ele tem que interagir; com quem se comunica; de quem
depende; quais as repercussões de um erro; o que o motiva; quais
suas metas e como está sendo avaliado; com quem pode contar
em um momento de dificuldade; quanto sentido faz a forma como
seu trabalho é organizado; qual a relação com a chefia? Esses
202 U4 - Aplicação da
aspectos são de fundamental importância para se realizar uma
Análise Ergonômica do Trabalho eficaz.

U4 - Aplicação da Ergonomia 203


Quando analisamos as normas de produção, podemos
identificar que até mesmo nas que estão escritas há diversas
incongruências: “atenda bem o cliente, mas seja rápido”; “resolva o
problema do cliente, mas você não pode decidir isso sozinho”.
Como atender uma regra sem infringir a outra? Como prestar
um serviço de qualidade com tantos controles e sem autonomia?
Como atender bem se não tenho tempo?
O trabalho precisa de normas, mas elas precisam ser coerentes.
Os trabalhadores preferem lidar com problemas e resolvê-los, gostam
de transpor obstáculos e de obterem reconhecimento por isso.
Os atuais sistemas de gestão apenas fixam metas de produção
e deixam os trabalhadores se desdobrarem para atingi-las, sem
notar de longe que os serviços são garantidos graças às
habilidades dos trabalhadores de contornar tudo para atingir os
resultados (mesmo que custe a sua saúde e mesmo que o sistema
pudesse ajudar no processo).
O trabalhador não pode ser encarado como alguém que
sempre fará pouco e sempre quebrará as regras quando tiver
autonomia.

A intervenção ergonômica

Hoje, mais do que nunca, necessitamos de um pensamento


que nos ajude a reunir informações nas ciências e tecnologia,
visando, principalmente, à segurança e qualidade de vida do
trabalhador.
A ideia de controle precisa ser revista com cuidado. Deve existir
uma forma de trabalho e uma disciplina em sua realização, mas é
preciso pensar até que ponto indicadores de desempenho, formas
de punição e de controle realmente garantem as melhores formas
de trabalho.
Dar maior autonomia ao trabalhador; verificar se há uma boa
interação com os sistemas informatizados envolvidos em seu trabalho;
ter treinamentos adequados a sua realidade de trabalho e pessoas
que possam dar suporte em situações de maior complexidade para
que ele não esteja sozinho; criar espaços para discussão integrando
diversas hierarquias; criar pesquisas de satisfação que permitam total
anonimato e possam ser discursivas (o que dificulta a coleta e o

204 U4 - Aplicação da
tratamento de dados, mas traz informações mais ricas que podem ser
limitadas quando delimitamos as possibilidades de resposta); ter
tratamento diferenciado no retorno de trabalhadores afastados; criar
situações que encorajem

U4 - Aplicação da Ergonomia 205


a cooperação entre pares, e não a competição (é importante que
a empresa compita com concorrentes e não consigo mesma).
Esses são alguns exemplos de ações que podem ser propostas
após uma Análise Ergonômica do Trabalho. O relatório final da
análise não necessariamente deve ficar restrito aos tópicos
mencionados na Norma Regulamentadora nº 17 e nos 12 passos
especificados em seu manual. Eles servem de orientação que
deve permear toda a análise. Dependendo da situação, prioriza-se
alguns em particular (por exemplo: problemas de mobiliário,
iluminamento, de sistema ou de aspectos mentais).
Atualmente, há uma grande demanda pela padronização dos
procedimentos e a premissa básica é que só assim se atingirá a
qualidade prevista. Os Sistemas de Gestão Integrados são um
exemplo. Deve haver um padrão de qualidade, mas não um padrão de
processos que crie “engessamento” da produção.
Limites fixados pela empresa podem superar a capacidade de
um ou vários trabalhadores colocando em risco sua saúde. É
papel do ergonomista realizar uma intervenção que traga à luz os
aspectos reais do trabalho e proporcione uma maior valorização dos
trabalhadores, uma exposição da realidade do seu trabalho e uma
nova lógica que promova uma reflexão da empresa e mudança de
seus processos que possam atender a demanda inicial.
A intervenção ergonômica é um processo coletivo. As
respostas aos problemas devem ser discutidas entre todos,
considerando as características da empresa, a demanda inicial e
as prioridades, para assim se estabelecer um cronograma de
ações. A intervenção ergonômica não se encerra na entrega do
relatório. Deve haver um acompanhamento das modificações e
constante capacitação dos profissionais que cuidam da Ergonomia
na empresa (e podem formar o Comitê de Ergonomia).
A Análise Ergonômica do Trabalho precisa ser vista com cuidado
por todos os envolvidos. Utilizar checklists isolados e formas de
padronizar a análise são maneiras de reduzir a realidade do trabalho e
de se produzir relatórios superficiais que não resolvem o problema.

206 U4 - Aplicação da
Pesquise mais
mostras enviesadas, gráficos dúbios, listagens incompletas e indicadores que são controversos.

Validação e transformação do trabalho

Geralmente, cada um vê uma parte do processo dentro da


empresa: a sua parte. Tudo que vemos a respeito do outro é uma
interpretação nossa, influenciada por quem somos, nossa formação,
nosso dia a dia. É por isso que é de extrema importância a
validação dos resultados com todos os agentes envolvidos.
Quem contratou o ergonomista não estará surpreso, pois a
esse ponto já foram feitas a reconstrução da demanda, diversas
reuniões de reflexão e entregas parciais.
Os trabalhadores precisam ter acesso ao que foi compilado e
interpretado com suas verbalizações: isso pode ser feito em
grupos focais, onde são lidos os trechos de interesse que são
confirmados ou refutados pelos trabalhadores.
A participação dos trabalhadores durante a intervenção é de
extrema importância, pois aajuda a detectar falhas ou enganos na
interpretação das observações e verbalizações durante o método.
O ergonomista acumula conhecimento a cada análise ergonômica
e, mesmo que cada situação seja única, experiências anteriores
contribuem com o trabalho do ergonomista como situações de
referência.
Os ergonomistas identificam os atores do processo de
transformação durante a análise ergonômica, abordando múltiplos
fatores envolvidos na situação de trabalho. Assim, ele analisa seus
papéis e os procedimentos para propor transformações.
É importante destacar que o diagnóstico final pode trazer
contradições entre diferentes lógicas presentes na empresa. É
papel do ergonomista alinhar as visões e interpretações de todos os
atores envolvidos em busca de um denominador comum.

U4 - Aplicação da Ergonomia 207


Assimile
De acordo com Castro e colaboradores (2006), a especificidade
da entrevista em autoconfrontação está em convocar o sujeito
trabalhador a se expressar não sobre as profundezas de sua alma e
sentimentos, mas sobre a complexidade do seu comportamento atual.
Dessa forma, não existe nenhum julgamento de valor sobre a ordem de
importância dessas instâncias, apenas um reconhecimento de diferença.
O entendimento da ação em situação de trabalho permite ao indivíduo
revelar a trama complexa de seu comportamento diante das
exigências do trabalho, resultante de diversas lógicas em jogo (às
vezes, em conflito): do trabalhador, do coordenador, da chefia, do
usuário, do sistema, da organização.

Tudo está em constante mudança. Novas tecnologias


surgirão. Tudo estará cada vez mais rápido, conectado, diferente. É
importante, caro aluno, que você não pare nunca. Busque,
pesquise, conheça. Sempre se aproxime do novo e conheça os
mais diferentes tipos de fazeres e saberes.
Ao se aproximar da realidade do trabalho, podemos verificar
que existem normas, regras, questões relacionadas à cultura
organizacional e valores da empresa que indicam uma forma de
funcionamento que é controlada a distância e, muitas vezes, pode
deixar de enxergar aspectos importantes que a deixariam mais
saudável e competitiva.
Não existe mobiliário perfeito. Não existem fórmulas prontas.
Cada situação deve ser analisada e suas melhorias acordadas em
conjunto.

Como diria Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova


ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Não se acostume em
como as coisas são impostas. Busque o melhor. Transforme.
Analise. Crie formas de mostrar seu ponto de vista. O trabalho tem
papel central nas nossas vidas, então por que ele não pode ser
realizado de uma maneira mais saudável e feliz?
Contamos com você para ser esse agente de transformação!
Que sua vida seja repleta de sucesso!
Todas essas conexões deixarão o seu olhar cada vez mais
atento e rico em detalhes para poder transformar o mundo do
208 U4 - Aplicação da
trabalho com suas análises e propostas de melhoria. Seja aquele que
enxerga o real,

U4 - Aplicação da Ergonomia 209


vê além de números e valoriza os saberes e a vida dos
trabalhadores. Foi um prazer estar com você ao longo dessas 60
horas de estudo! “Ser grande é abraçar uma grande causa” (William
Shakespeare).

Sem medo de errar

No estudo de caso, em que um desenvolvedor de softwares


contrata você como ergonomista para auxiliá-lo a criar um sistema
de computador para a recepção de hóspedes em um hotel,
percebemos que a Ergonomia tem um papel fundamental na
preservação da saúde dos trabalhadores e na melhora da
produtividade na empresa.
Com os seus conhecimentos em Ergonomia, você já sabe que
nunca é possível conhecer o trabalho real sem conversar com os
trabalhadores e sem trazer à luz seus saberes referentes ao fazer
profissional.
Dessa forma, é importante lembrar que o papel da
Ergonomia é compreender o trabalho para transformá-lo: é
aproximar quem concebe o trabalho da realidade de quem o
executa, mediando as lógicas dos diferentes atores envolvidos e
propondo melhorias que realmente tragam maior conforto,
segurança e desempenho eficiente.
Uma Análise Ergonômica do Trabalho deve identificar aspectos
da organização do trabalho (como metas, indicadores, tempos e
regras), cognitivos (raciocínio, cognição, percepção, aprendizado,
memória, interação com sistemas e máquinas) e ambientais (ruído,
iluminamento e conforto térmico) de acordo com a demanda do estudo.
É importante realizar a validação dos resultados obtidos na análise
ergonômica porque, geralmente, cada um vê uma parte do
processo dentro da empresa: a sua parte. Tudo que vemos a
respeito do outro é uma interpretação nossa, influenciada por quem
somos, nossa formação, nosso dia a dia. É por isso que é de
extrema importância a validação dos resultados com todos os
agentes envolvidos. Os trabalhadores precisam ter acesso ao que
foi compilado e interpretado com suas verbalizações: isso pode
ser feito em grupos focais, nos quais são lidos os trechos de
interesse que são confirmados ou refutados pelos trabalhadores. A
participação dos trabalhadores nos apontamentos feitos durante a

200 U4 - Aplicação da
intervenção é de extrema importância, pois evidencia falhas na
metodologia ou pontos específicos, uma vez que cada análise é
sempre uma nova descoberta.

U4 - Aplicação da Ergonomia 201


Avançando na prática

A cronoanálise perfeita
Descrição da situação-problema
Em uma grande fábrica de cosméticos, chegou uma nova
linha de produção. Importada do Japão, a linha era quase
totalmente automatizada, tendo como processos manuais apenas
o abastecimento de frascos de vidro, fechamento das tampas e
guarda nas caixas. Para o primeiro teste da linha, são chamados
os trabalhadores mais experientes da fábrica, sendo feitos os
testes de intervalos de tempo que cada tarefa estava consumindo.
Assim, foi feita a cronoanálise (cronometragem de cada tarefa e
seu tempo, encontrando uma média de tempos para estabelecer
um padrão de acordo com a produção). Após dois meses de
funcionamento, quatro trabalhadores se afastaram com problemas
nas costas e na região do ombro. Quando questionados pelo
médico, eles disseram que não conseguiam se adaptar à linha de
produção (que possuía pontos nos quais pessoas de estatura de
mediana ou alta não conseguiam se posicionar de forma
confortável) e que, muitas vezes, os ritmos de produção acabavam
gerando muitos movimentos repetitivos e sem pausas para
descanso.
O que poderia ter sido feito para evitar esses problemas?

Resolução da situação-problema
Toda nova situação de trabalho demanda uma Análise
Ergonômica do Trabalho inicialmente. Antes da compra da linha
de produção, seria interessante a análise do projeto, para realizar
alterações ainda em sua concepção. Por vir do Japão, onde a
população possui características antropométricas diferentes da
do Brasil, é possível que haja pontos na linha de produção que
precisem ser redimensionados com base na população atual.
Além disso, o teste para a cronoanálise utilizando apenas
trabalhadores experientes pode se afastar da realidade, na qual há
uma variabilidade inter e intraindividual dos trabalhadores que pode
interferir nesses tempos. É interessante pensar alternativas em
que os trabalhadores possuem uma meta de produção, mas têm
autonomia sobre os tempos e as formas de parada para

202 U4 - Aplicação da
descompressão.

U4 - Aplicação da Ergonomia 203


Faça valer a pena
1. A Ergonomia visa adequar o trabalho às características
psicofisiológicas do ser humano, que dizem respeito a todo o
conhecimento referente a como o corpo e a mente das pessoas
funcionam. Para isso, essa ciência utiliza conhecimentos
antropológicos, psicológicos, fisiológicos, anatômicos e de diversas
outras ciências para entender quais as melhores condições para que o
homem interaja em seu trabalho com outras pessoas, com o sistema,
com as máquinas e ferramentas.
Com base nos seus conhecimentos referentes ao trinômio da
Ergonomia (conforto, segurança e desempenho eficiente) e à
Biomecânica Ocupacional, é correto afirmar:
a) Sempre que um trabalho puder ser executado em pé, ele deve ser
projetado para essa posição.
b) Devemos incentivar que os trabalhadores permaneçam com os ombros
elevados acima de 90° sempre que forem transportar alguma carga.
c) Devemos estabelecer que seja de 60 kg a carga máxima a ser
carregada individualmente por um trabalhador (exceto jovens e
mulheres).
d) Devemos realizar a Análise Ergonômica do Trabalho sempre que houver
uma demanda, de forma a estudar as especificidades de cada situação de
trabalho.
e)É possível padronizar um mobiliário de forma a atender todas as
necessidades de todas as pessoas: são os chamados mobiliários
ergonômicos.

2. Um órgão do governo americano responsável pela Saúde e Segurança


Ocupacional desenvolveu uma equação que permite calcular qual
seria o limite de peso recomendável levando-se em conta diversos
fatores, traduzidos pela Nota Técnica nº 477, elaborada pelo Centro
Nacional de Condiciones de Trabajo da Espanha, que trata dessa
equação. O nome do órgão responsável, que também dá nome a
equação, é
.
Analise a afirmação acima a respeito da equação de levantamento e
transporte de cargas e assinale a alternativa que completa corretamente a
frase:
a) National Institute for Occupational Safety Health – NIOSH.
b) Occupational Safety and Health Administration – OSHA.
c) Occupational Health and Safety Assessments Series – OHSAS.
d) International Organization for Standardization – ISO.
e) Occupational Repetitive Actions – OCRA.
204 U4 - Aplicação da
3. A postura em pé provoca maior desgaste energético e fadiga, e
deve ser evitada sempre que possível. Quando for preciso realizar um
trabalho

U4 - Aplicação da Ergonomia 205


em pé, devem ser posicionados assentos para descanso. De acordo com
a Nota Técnica nº 60/2001, do Ministério do Trabalho e Emprego, a
postura em pé só é justificada quando a tarefa exige alguns fatores.
Analise as alternativas a seguir e assinale corretamente a que descreve
um dos fatores que justificam o trabalho com a postura em pé:
a) Necessidade de digitação e entrada eletrônica de dados.
b) Necessidade de montagem de eletrônicos.
c) Manipulação de cargas com peso igual ou superior a 4,5 kg.
d) Atividades com pouca ou nenhuma necessidade de deslocamento.
e) Todas as atividades que precisam ser realizadas no mesmo local.

206 U4 - Aplicação da
U4 - Aplicação da Ergonomia 207
Referências
ABRAHÃO, Júlia Issy; SILVINO, Alexandre Magno Dias; SARMET, Maurício
Miranda. Ergonomia, cognição e trabalho informatizado. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, Brasília,
v. 21, n. 2, p. 163-171, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722005000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 19 set. 2017.
BANCO do Brasil é processado por enviar até 80 torpedos por dia a funcionários
cobrando metas. Época Negócios, 17 fev. 2014. Disponível em:
<http://epocanegocios.globo.com/ Informacao/Acao/noticia/2014/01/pressionados-
para-alcancar-metas-funcionarios-do- banco-do-brasil-chegam-receber-80-sms-por-
dia.html>. Acesso em: 20 jul. 2017.
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