Unidade Operária Contra o Fascismo

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G.

Dimitrov

A unidade operária contra o


fascismo
Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML)
Rua Carneiro Villela, nº 138,
Espinheiro - Recife-PE
CEP. 52050-030
Fone: (81) 34279367
E-mail: centro [email protected]
Diagramação: Guita Kozmhinsky
Ano: 2014
Acesse: www.averdade.org.br
Índice

Apresentação        5  

I
O fascismo e a classe operária 13

O caráter de classe do fascismo


O que proporciona às massas o fascismo vitorioso?
É inevitável a vitória do fascismo?
O fascismo é um poder feroz, porém precário

II
A frente única da classe operária contra o fascismo 30

A importância da frente única


Os principais argumentos dos
adversários da frente única
Conteúdo e formas da frente única
Sobre a frente popular antifascista
Problemas básicos da frente única
em alguns países
A frente única e as organizações
fascistas de massas
A frente única nos países em que os
socialdemocratas estão no poder
A luta pela unidade sindical
A frente única e a juventude
A frente única e a mulher
A frente única anti-imperialista
O governo da frente única
A luta ideológica contra o fascismo
III
O fortalecimento dos Partidos Comunistas e a luta pela unidade
política do proletariado 72

O fortalecimento dos partidos comunistas


A unidade política da classe operária
Conclusão

IV
Quem foi G. Dimitrov 82
Apresentação

A importância da Frente Popular

A Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxista-


Leninistas decidiu publicar o informe do camarada George Dimitrov ao 7º
Congresso da Internacional Comunista, celebrado em 2 de agosto de 1935,
no qual formula a política de Frente Popular para frear a ofensiva do
fascismo e colocar os partidos comunistas e a classe operária na
perspectiva da tomada do poder político.
Embora tenha sido escrito há quase 80 anos, suas teses essenciais
mantêm uma validade fundamental, uma vez que, como naquelas
circunstâncias, o sistema capitalista atravessa hoje uma grave crise
econômica e os governos a seu serviço tomam medidas para jogá-la sobre a
classe operária e os povos. Na realidade, em vários países aparecem
manifestações indicando que o fascismo é uma opção política da burguesia
para cercear os direitos e interesses da classe operária e dos trabalhadores,
utilizar-se dos orçamentos públicos dos Estados, subjugar nações e
apoderar-se de seus recursos naturais, minerais e energéticos no interesse
de recompor a acumulação do grande capital financeiro.
 É oportuna a decisão de publicar esta obra porque os comunistas
estão prestes a cumprir tarefas políticas que encontram nela orientações
teóricas e práticas de inestimável valor.
 No 6º Congresso da Internacional advertiu-se sobre o perigo
fascista em meio à crise do sistema capitalista. Em uma de suas teses
concluiu-se que: “Em quase todas as partes existem tendências fascistas e
germes de um movimento fascista em forma mais ou menos
desenvolvida”.
 No informe ao 7º Congresso, o camarada Dimitrov vai indicar a
existência de “brotos fascistas” e denuncia uma “ofensiva fascista” da
burguesia para frear o aprofundamento e ampliação da crise do sistema
capitalista.
 Como se fora hoje, afirma que “os círculos imperialistas tentam
descarregar todo o peso da crise sobre as costas dos trabalhadores. Tratam
de resolver o problema dos mercados mediante a escravização dos povos
fracos, mediante o aumento da pressão colonial e de uma nova partilha do
mundo pela via da guerra. Tanto para um quanto para outro conclui que
“necessitam do fascismo”.
 Que o sistema capitalista está em crise é uma verdade fora de
discussão. No desenvolvimento de suas diferentes fases é evidente que
cresceu a desigualdade e a polarização social. A riqueza se concentrou
cada vez em menos mãos, com o consequente empobrecimento da grande
maioria.
 Até o Fórum Econômico, que se reúne periodicamente na cidade de
Davos, Suíça, teve que reconhecer que quanto maior for o fosso entre ricos
e pobres mais se abrem perspectivas de guerras civis. Isto quer dizer que os
magnatas ou os seus representantes, ali reunidos, estão preocupados que o
crescimento dos pobres em todo o planeta seja um obstáculo para que
tenham saída os enormes capitais acumulados pelas empresas
transnacionais. E, conscientes como são das consequências políticas e
sociais dessa realidade, definem e põem em prática políticas e medidas.
 Incentivam a acumulação através das guerras e intervenções
militares mediante as quais destroem forças produtivas, inventam e
produzem outras na procura de gerar lucros à indústria militar, vinculada,
evidentemente, ao capital financeiro. Iraque, Afeganistão, vários países do
Oriente Médio e da África são exemplos claros destas políticas.
 A restrição aos salários, a eliminação ou redução dos benefícios
trabalhistas e sociais em geral constituem uma espécie de assalto do capital
financeiro ao orçamento do Estado formado por recursos públicos e
descarregam por esta via a crise sobre a classe operária e os povos, gerando
mais desigualdade social, mas também amplas possibilidades de lutas
populares.
 Um terceiro componente das políticas e medidas é a especulação
financeira em todos os países por meio da moradia, da energia e dos
recursos energéticos, dos empréstimos a governos e dos investimentos
diretos para explorar as riquezas naturais que, ao mesmo tempo em que
espoliam as riquezas dos povos, criam duras condições ao meio ambiente e
também põem em realce uma contradição entre o interesse nacional desses
países e povos e o capital imperialista expresso na multinacional em
questão.
 Um componente da política para exorcizar a crise, e que por sua vez
integra elementos fascistas, observa-se em regiões dos Estados Unidos da
América do Norte na repressão aos imigrantes sem documentos legais e
aos protestos que estes desenvolvem. Neste país está no auge a indústria
carcerária que prende em presídios privados imigrantes que carecem dos
documentos que exige o governo para permanecerem em seu território.
Eles são mantidos em prisões e posteriormente deportados por empresas
privadas que recebem pagamentos do Estado para esse serviço.
 É um negócio lucrativo ligado às corporações financeiras. Seus
fins requerem leis, a opinião e os valores na sociedade que permitam
converter os imigrantes em material perigoso que deve ser perseguido,
encarcerado e oportunamente expulso. A xenofobia, o discurso sobre a
superioridade racial, de corte fascista, toma corpo nesse país e em várias
partes da Europa.
 A Corrections Corporation of America, uma empresa privada
estadunidense dedicada à prisão de imigrantes, protestou pelo fato de
serem relaxadas as normas e controles dos imigrantes porque isso
“reduziria a demanda de cárceres e serviços” vinculados ao negócio.
 Assim, em meio à crise, desenvolvem-se posições neofascistas em
vários países.
 O que é o fascismo? Dimitrov define o fascismo como a forma mais
terrorista da ditadura burguesa, que surge e se desenvolve precisamente em
momentos de crise do sistema capitalista e quando a classe operária e as
massas populares em geral tomam a iniciativa para defender seus direitos e
interesses e para conquistar demandas políticas importantes. Dito em
outros termos, o fascismo é a fusão do capital financeiro, das
multinacionais, com o poder político mais reacionário.
 Neste momento, o que existe de mais reacionário governa a
Espanha, a Alemanha, a Itália, Turquia e Israel, enquanto governos
influenciados pela socialdemocracia se entregaram de corpo inteiro ao
capital financeiro, eliminando de seus programas as tímidas demandas
sociais que sempre reivindicaram, cumprindo assim com seu caráter
histórico de ser a sala de espera de governos de ultradireita nos tempos do
fascismo.
 Desde a Segunda Guerra Mundial até agora a busca da acumulação
do capital em tempos de crise se fundamentou sempre em três
componentes: 1) o predomínio do capital financeiro sobre qualquer outra
forma do capital; 2) o impulso à indústria militar e 3) a busca, localização e
controle dos recursos naturais: petróleo, gás e minerais em geral.
 Nos Estados Unidos da América (EUA), ainda a principal cabeça
do sistema capitalista, o orçamento do Pentágono aumentou mais de 90%
desde o ano 2000, fato que ocorreu ao mesmo tempo que o aumento do
envolvimento dos militares nas decisões políticas.
 Constata-se, além disso, que grupos de direita radical dedicados a
promover o ódio racial e o nacionalismo extremo aumentaram de 1.753
para 2.145 em 2010.
 Um relatório do Departamento de Segurança Interior de 2010
assinala que gente de extrema direita, incluindo militares que reivindicam
a supremacia branca, assume o tema dos imigrantes para recrutar e para a
ação contra estes.
 Não se pode afirmar que o fascismo, tal como se viveu em ocasiões
anteriores, está no poder nos Estados Unidos da América do Norte e na
Europa. Mas o que se pode advertir é que há condições e processos que
tomam corpo e apontam nesse sentido, e os comunistas têm que levá-los
em consideração na sua tática.
 A criminalização do protesto social e o propósito de fazê-la constar
em modelos constitucionais que afirmam a economia de mercado e a
necessidade de impor a submissão da classe operária e do povo em geral ao
cumprimento da lei e de regulamentos que advêm dessa concepção, como
são os casos promovidos por governos populistas como o de Rafael Correa,
no Equador, ou o de Ollanta Humala, no Peru; a opressão dos sionistas de
Israel ao povo da Palestina; a criminalização dos imigrantes em muitos
países, incluindo a que se faz aos haitianos na República Dominicana; a
ocupação militar do Haiti por uma força liderada pelos ianques sob abrigo
da ONU; a atividade e influência entre os norte-americanos do
ultradireitista Tea Party; a invasão imperialista da França no Mali; o
genocídio no Congo e a propagação de neonazistas por toda a Europa
constituem elementos que levam água ao moinho do fascismo, ou quando
menos a fascistização da vida social e política de muitos países.
 Nesta perspectiva, é pertinente a política de Frente Popular, ou a
denominação que em cada país esta assuma. Mas, objetivamente, frente é
uma coalizão de grupos políticos diferentes, que fazem acordo
programático e de linha de ação, em busca de um objetivo comum.
 Sem uma atitude de flexibilidade é difícil, senão impossível,
realizar acordos com outras forças políticas de ideologia e objetivos
políticos diferentes aos do partido comunista.
 A este respeito, o camarada Dimitrov diz o seguinte: “…organiza-
ções – tanto políticas, como econômicas – encontram-se ainda sob a in-
fluência da burguesia e seguem a esta… A composição social destes partidos
e organizações não é homogênea…. Isto nos obriga a dar a estas organiza-
ções um trato diferenciado, tendo em conta que, frequentemente, a massa de
seus filiados não conhece a verdadeira face política de sua própria direção.
Em determinadas circunstâncias, podemos e devemos encaminhar nossos
esforços para ganhar estes partidos e organizações ou setores soltos deles
para a Frente Popular antifascista, em que pese a sua direção burguesa…”.
 Em cada país há circunstâncias concretas que determinam quais
forças políticas integrariam a frente e quais seriam as linhas do programa e
o objetivo-alvo fundamental que a anime. Inclusive, importará o nível de
desenvolvimento do partido comunista, enquanto partido da classe
operária que tem por objetivo fundamental levá-la ao poder e construir o
socialismo.
 No geral, com a política de Frente Popular o Partido entra em
colaboração política, mas não colaboracionismo de classe, com outros
partidos com base em convergências, para uma conjuntura que pode ser
curta ou longa no tempo, em busca de um objetivo que é comum a essas
forças. A esse propósito, mostra-se disposto a fazer concessões políticas
em troca de receber outras e concretizar um acordo.
 Por outro lado, o Partido não deve renunciar a seus princípios,
caráter e objetivos revolucionários; os manterá e promoverá em meio ao
acordo, ao mesmo tempo em que cumpre estritamente com sua palavra e
firma empenhadas neste. O partido comunista jamais deve renunciar a sua
missão e sempre deverá ter presente que deve construir-se como força
destinada a ser vanguarda dirigente e combativa do processo. A existência
ativa do Partido é uma condição para o surgimento e o desenvolvimento da
frente.
 Adicionar a estes princípios a busca do poder total, ou parte deste, é
a questão geral a qual devem se ater os comunistas em cada país no
momento de impulsionar a política de Frente Popular. Como se denomina,
quais forças a integram e que alvo apontam é questão que se determina nas
realidades específicas.
 Expostas no geral, sobre o papel, é de fácil compreensão. Na
prática, entretanto, é mais complexo, porque múltiplos fatores estão em
meio aos quais estão os interesses e as atitudes das forças políticas e setores
sociais dispostos a fazer parte da frente. Também poderiam ser obstáculos
noutros níveis de entendimento teórico da questão o conservadorismo e
passividade que poderiam nos afetar, quando não, nossa falta de firmeza
revolucionária.
 A política de Frente Popular é a das alianças, e nestas se costumam
haver desvios e erros, como os seguintes:
 1) desvios de direita, reformistas, oportunistas, enfim, porque nos
dissolvemos na frente apagando as fronteiras com as demais forças, ou nos
conformamos com pequenos objetivos, imediatos, e convertemos as
reformas em um fim em si, esquecendo que estas devem nos ajudar a criar
melhores condições para os fins revolucionários;
 2) desvios esquerdistas, ou de ultraesquerda, que se expressam em
uma negativa ou rechaço a fazer concessões políticas, amparados muitas
vezes no discurso sobre a necessidade de manter a pureza dos objetivos e
princípios gerais, quando o que se discute não é a pertinência da revolução
e do socialismo, mas sim como combater junto a outras forças um inimigo
que de repente aparece poderoso e se constitui no obstáculo a superar para
que a revolução ganhe amplitude e um curso impetuoso;
 3) o desvio da nulidade, que se expressa na negativa a não entrar no
acordo, por medo dos erros, ou porque nosso reduzido desenvolvimento
não nos permita hegemonizar a frente, esquecendo que nossas ideias
certeiras e oportunas podem traçar o rumo dirigente e que entre aliados de
massas poderíamos crescer em qualidade e quantidade.
 Nossos partidos têm que superar estes desvios e atreverem-se a
disputar suas ideias e o controle das massas populares com outros partidos
de esquerda, socialdemocratas ou de centro, segundo os casos de cada país.
 É necessária a compreensão por parte do partido do proletariado de
conceber e praticar a política de alianças, de acordos e compromissos, em
qualquer circunstância; resistir à ofensiva da reação, ampliar espaços para
a participação política, assumir posições nas organizações sindicais e
populares, participar das eleições da democracia burguesa, avançar no
processo de acumulação de forças.
 O partido do proletariado deve ter presente que estas políticas são
necessárias tanto nas condições de dificuldades e inferioridade, assim
como nas circunstâncias de superioridade das forças revolucionárias.
 Há experiências em qualquer parte e em tempos distintos sobre
estas questões. A própria política de Frente Popular formulada pelo
Comitern no período 1934-1939 não foi compreendida por uns e foi
atacada por outros. Espanha e França dispõem de experiências que
contribuem neste sentido.
 Entre os críticos e opositores viscerais a essa política destacamos
Trotsky e seus seguidores, que questionavam as frentes populares
assinalando-as como espaços de conciliação de classe com a burguesia, e
defendiam as frentes unidas integradas por setores com identidade de
classe com os trabalhadores.
 Em resumo: a política de Frente Popular é uma resposta prática dos
comunistas à política imperialista de seguir jogando a crise sobre as costas
da classe operária.
 Mais importante ainda: esta orientação aponta no sentido de que os
comunistas se propõem a conquistar o poder, ou ser parte deste, mediante
governos de democracia popular que, além de dar solução aos problemas
principais imediatos da classe operária e dos trabalhadores em geral,
garantam os direitos democráticos e as liberdades públicas, ao mesmo
tempo em que eliminem o perigo da fusão do capital financeiro com o mais
reacionário Estado burguês e imponham uma ditadura terrorista.
 Os resultados políticos da crise econômica capitalista atual
dependerão das forças políticas atuantes e sua inteligência para aproveitar
a conjuntura. De uma crise econômica e uma guerra mundial surgiu a
primeira revolução socialista, a de Outubro de 1917, na Rússia, mas
também de uma grande crise econômica surgiu o fascismo alemão,
encabeçado por Adolfo Hitler.
 Ou seja, a crise pode contribuir para a revolução se existir uma
força política com influência nas massas e capacidade para desenvolver os
movimentos táticos que permitam derrubar os governos burgueses e pró-
imperialistas.
 A questão do Partido Comunista, como categoria histórica e força
dirigente, junto à Frente Popular, que una e mobilize em um só sentido as
reservas patrióticas e revolucionárias para acabar com o domínio
imperialista e seus governos lacaios é uma tarefa que teremos que
continuar dando solução urgente.

Conferência Internacional de Partidos e Organizações
Marxista-Leninistas (CIPOML)
A LUTA PELA UNIDADE DA CLASSE OPERÁRIA
CONTRA O FASCISMO
(Informe apresentado ao 7º Congresso
da Internacional Comunista, em 2 de agosto de 1935)

I - O FASCISMO E A CLASSE OPERÁRIA

 Camaradas: já o 6º Congresso da Internacional Comunista


prevenira o proletariado internacional sobre a gestação de uma nova
ofensiva fascista, chamando-o à luta contra ela. O Congresso salientou que
“quase em toda parte existem tendências fascistas e germes de um
movimento fascista em forma mais ou menos desenvolvida”.
 Sob as condições da profundíssima crise geral do capitalismo e do
revolucionamento das massas trabalhadoras, o fascismo passou à ofensiva
declarada. A burguesia dominante cada vez mais procura salvação no
fascismo para empregar medidas excepcionais de espoliação contra os
trabalhadores, para preparar uma guerra imperialista de rapina e de assalto
contra a União Soviética, para preparar a escravização e divisão da China e
impedir, por meio de tudo isto, a revolução.
 Os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso das crises
sobre os ombros dos trabalhadores. Para isso, necessitam do fascismo.
 Tratam de resolver os problemas dos mercados mediante a
escravização dos povos débeis, mediante o aumento da opressão colonial e
uma nova partilha do mundo por meio da guerra. Para isto, necessitam do
fascismo.
 Tentam atalhar o crescimento das forças da revolução por meio da
destruição do movimento revolucionário dos operários e camponeses e do
assalto militar à União Soviética, baluarte do proletariado mundial. Para
isto, necessitam do fascismo.
 Em uma série de países – particularmente na Alemanha – estes
círculos imperialistas conseguiram, antes da viragem decisiva das massas
para a revolução, infligir ao proletariado uma derrota e instaurar a ditadura
fascista.
 Mas a característica da vitória do fascismo é precisamente a
circunstância de que esta vitória mostra, por um lado, a debilidade do
proletariado, desorganizado e paralisado pela política divisionista
socialdemocrata de colaboração de classe com a burguesia e, por outro
lado, revela a debilidade da própria burguesia, que tem medo que se realize
a unidade de luta da classe operária, teme a revolução e não está em
condições de manter sua ditadura sobre as massas com os antigos métodos
da democracia burguesa e do parlamentarismo.

O CARÁTER DE CLASSE DO FASCISMO

 O fascismo no poder, camaradas, é, como acertadamente o definiu


o 13º Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista, a ditadura
terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e
mais imperialistas do capital financeiro.
 A modalidade mais reacionária do fascismo é o fascismo de tipo
alemão. Tem a ousadia de chamar-se nacional-socialismo, apesar de não
ter nada de comum com o socialismo. O fascismo hitleriano não é apenas
um nacionalismo burguês, é um chauvinismo bestial. É o sistema de
governo do banditismo político, um sistema de provocações e torturas
contra a classe operária e os elementos revolucionários da massa
camponesa, da pequena burguesia e dos intelectuais. É a crueldade e a
barbárie medievais, a agressividade desenfreada contra os demais povos e
países.
 O fascismo alemão atua como tropa de choque da contra-revolução
internacional, como incendiário principal da guerra imperialista, como
iniciador da cruzada contra a União Soviética, a grande pátria dos
trabalhadores de todo o mundo.
 O fascismo não é uma forma de poder estatal que esteja, como se
pretende, “por cima de ambas as classes do proletariado e da burguesia”,
como afirmou, por exemplo, Otto Bauer. Não é “a pequena burguesia
sublevada que se apoderou do aparelho do Estado”, como declara o
socialista inglês Brailsford. Não! O fascismo não é um poder situado por
cima das classes, nem o poder da pequena burguesia ou do
lumpemproletariado sobre o capital financeiro. O fascismo é o poder do
próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terrorista
com a classe operária e a parte revolucionária dos camponeses e dos
intelectuais. O fascismo em política exterior é o chauvinismo em sua forma
mais brutal que cultiva um ódio bestial contra os demais povos.
 É preciso salientar de modo especial este caráter verdadeiro do
fascismo porque a dissimulação da demagogia social deu ao fascismo,
numa série de países, a possibilidade de arrastar consigo as massas da
pequena burguesia desajustada pela crise e até alguns setores das camadas
mais atrasadas do proletariado que jamais seguiriam o fascismo se
tivessem compreendido seu verdadeiro caráter de classe, sua verdadeira
natureza.
 O desenvolvimento do fascismo e a própria ditadura fascista
revestem-se, nos diversos países, de formas diferentes, segundo as
condições históricas, sociais e econômicas, as particularidades nacionais e
a posição internacional de cada país. Em alguns países, principalmente
onde não conta com uma ampla base de massas e onde a luta entre os
diversos grupos no campo da própria burguesia fascista é bastante dura, o
fascismo não se decide imediatamente a acabar com o parlamento e
permite aos demais partidos burgueses, assim como à socialdemocracia,
certa legalidade. Noutros países, onde a burguesia dominante teme a
próxima eclosão da revolução, o fascismo estabelece seu monopólio
político ilimitado, ora de golpe e bordoada, ora intensificando cada vez
mais o terror e o ajuste de contas com todos os partidos e agrupamentos
rivais. Isto não faz com que o fascismo, no momento em que se agrava de
um modo especial sua situação, deixe de estender sua base para combinar −
sem alterar seu caráter de classe − a ditadura terrorista descarada com uma
grosseira falsificação do parlamentarismo.
 A ascensão do fascismo ao poder não é uma simples troca de um
governo burguês por outro, mas a substituição de uma forma estatal da
dominação de classe da burguesia, a democracia burguesa, por outra, a
ditadura terrorista declarada. Passar por alto esta diferença seria um erro
grave que impediria o proletariado revolucionário de mobilizar as mais
amplas camadas dos trabalhadores da cidade e do campo para lutar contra a
ameaça da tomada do poder pelos fascistas, assim como de aproveitar as
contradições existentes no campo da própria burguesia. Não obstante, não
menos grave e perigoso é o erro de não apreciar suficientemente o
significado que tem para a instauração da ditadura fascista as medidas
reacionárias da burguesia que se intensificam atualmente nos países da
democracia burguesa, medidas que reprimem as liberdades democráticas
dos trabalhadores, restringem e falseiam os direitos do parlamento e
agravam as medidas de repressão contra o movimento revolucionário.
 Camaradas, não é possível representar a subida do fascismo ao
poder de uma forma tão simplista e fácil, como se um comitê qualquer do
capital financeiro tomasse a resolução de implantar em tal ou qual dia a
ditadura fascista. Na realidade, o fascismo chega geralmente ao poder em
luta recíproca, às vezes exasperada, com os antigos partidos burgueses ou
com determinada parte destes em luta até no seio do próprio campo
fascista, que muitas vezes conduz a choques armados, como vimos na
Alemanha, Áustria e outros países. Tudo isto, no entanto, não diminui a
significação do fato de que, antes da instauração da ditadura fascista, os
governos burgueses atravessam habitualmente uma série de etapas
preparatórias e realizam uma série de medidas reacionárias que facilitam
diretamente o acesso do fascismo ao poder. Todo aquele que não lutar
nestas etapas preparatórias contra as medidas reacionárias da burguesia e
contra o fascismo em ascensão não estará em condições de impedir a
vitória do fascismo, senão que, pelo contrário, a facilitará.
 Os chefes da socialdemocracia encobriram e ocultaram às massas o
verdadeiro caráter de classe do fascismo e não lutaram contra as medidas
reacionárias cada vez mais graves da burguesia. Sobre eles pesa grande
responsabilidade histórica pelo fato de, nos momentos decisivos da
ofensiva fascista, uma parte considerável das massas trabalhadoras da
Alemanha e de diversos outros países fascistas não reconhecer no fascismo
a fera sedenta de sangue do capital financeiro, seu pior inimigo, e destas
massas não estarem preparadas para fazer-lhe frente.
 De onde nasce a influência do fascismo sobre as massas? O
fascismo consegue atrair para si as massas porque apela de forma
demagógica para suas necessidades e exigências mais candentes. O
fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas
massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com
sua sede de justiça e, às vezes, até com suas tradições revolucionárias. Por
que os fascistas alemães, esses lacaios da grande burguesia e inimigos
mortais do socialismo, se fazem passar perante as massas por “socialistas”
e apresentam sua subida ao poder como uma “revolução”? Porque se
esforçam em explorar a fé na revolução, a atração pelo socialismo que vive
no coração das amplas massas trabalhadoras da Alemanha.
 O fascismo age a serviço dos interesses dos imperialistas mais
agressivos, porém se apresenta diante das massas disfarçado de defensor
da nação ultrajada e apela para o sentimento nacional ferido, como fez, por
exemplo, o fascismo alemão, que arrastou consigo as massas com a palavra
de ordem de “Contra Versalhes!”.
 O fascismo aspira à mais desenfreada exploração das massas,
porém, delas se aproxima com uma demagogia anticapitalista, muito hábil,
explorando o ódio profundo dos trabalhadores contra a burguesia
rapinante, contra os bancos, os “trustes” e os magnatas financeiros, e
lançando as palavras de ordem mais sedutoras em determinado momento
para as massas que não alcançaram a maturidade política. Na Alemanha,
“o bem comum está acima do bem particular”; na Itália, “nosso Estado não
é um Estado capitalista e sim um Estado corporativo”; no Japão, “por um
Japão sem exploradores”; nos Estados Unidos, “pela divisão das
riquezas”, etc.
O fascismo entrega o povo à voracidade dos elementos mais
corrompidos e venais, mas apresenta-se diante dele com a reivindicação de
um “governo honrado e insubornável”. Especulando com a profunda
desilusão das massas em relação aos governos da democracia burguesa, o
fascismo se indigna hipocritamente em face da corrupção (veja-se, por
exemplo, o caso Barmat e Sklaret, na Alemanha; o caso Staviski, na França
e outros).
 O fascismo atrai, no interesse dos setores mais reacionários da
burguesia, as massas decepcionadas que abandonam os antigos partidos
burgueses, impressiona estas massas pela violência de seus ataques contra
os governos burgueses, por sua atitude irreconciliável com os antigos
partidos da burguesia.
 Deixando atrás todas as outras variedades de reação burguesa, por
seu cinismo e suas mentiras, o fascismo adapta sua demagogia às
características das diferentes camadas sociais dentro de um mesmo país. E
as massas da pequena burguesia e uma parte dos operários levados ao
desespero pela miséria, o desemprego forçado e a insegurança de sua
existência, se convertem em vítimas da demagogia social e chauvinista do
fascismo.
 O fascismo chega ao poder como o partido de choque contra o
movimento revolucionário do proletariado, contra as massas populares em
efervescência, porém apresenta sua subida ao poder como um movimento
“revolucionário” dirigido contra a burguesia, em nome de “toda a nação” e
“para salvar a nação” (recordemos a “marcha” de Mussolini sobre Roma, a
“marcha” de Pilsudski sobre Varsóvia, a “revolução” nacional socialista de
Hitler na Alemanha, etc.).
 Mas qualquer que seja a máscara com que se disfarce, qualquer que
seja a forma em que se apresente, qualquer que seja o caminho por que
suba ao poder, o fascismo é a mais feroz ofensiva do capital contra as
massa dos trabalhadores, o fascismo é a reação feroz e a contrarrevolução,
o fascismo é o pior inimigo da classe operária e de todos os trabalhadores.
O QUE PROPORCIONA ÀS MASSAS
O FASCISMO VITORIOSO?

 O fascismo prometeu aos operários um “salário justo”; na


realidade, lhes deu um nível de vida ainda mais baixo, mais miserável.
Prometeu trabalho aos desempregados, e no final das contas lhe
proporcionou mais fome e um trabalho servil: o trabalho forçado. Na
verdade, o fascismo converte os operários e os desempregados em párias
da sociedade capitalista, desprovidos de prerrogativas, destrói seus
sindicatos, arrebata-lhe o direito de greve e de imprensa operária, envolve-
os pela força nas organizações fascistas, rouba-lhes os fundos dos seguros
sociais, converte as fábricas e as oficinas em quartéis onde reina o
despotismo desenfreado dos capitalistas.
 O fascismo prometeu à juventude trabalhadora abrir-lhe um
caminho amplo para um porvir esplendoroso. Na realidade, trouxe à
juventude dispensa em massa das fábricas, campos de trabalhos e
exercícios militares incessantes, visando uma guerra de rapina.
 O fascismo prometeu aos empregados, aos modestos funcionários,
aos intelectuais, assegurar-lhes a existência; acabar com a onipotência dos
trustes e com a especulação do capital bancário. Na prática, trouxe-lhes
maior desespero e insegurança no dia de amanhã, os submeteu a uma nova
burocracia formada por seus partidários mais obedientes, criou uma
ditadura insuportável dos trustes e semeou em proporções nunca vistas a
corrupção e a decomposição.
 O fascismo prometeu aos camponeses arruinados e depauperados
acabar com a vassalagem das dívidas, suprimir o pagamento das rendas e
até expropriar sem indenização a terra dos latifundiários em favor dos
camponeses sem terra e arruinados. Na realidade, entrega os camponeses
trabalhadores à escravidão sem precedentes dos trustes e do aparelho do
Estado fascista e aumenta até o indizível a exploração das grandes massas
camponesas pelos grandes agricultores, os bancos e os usurários.
 “A Alemanha será um país camponês ou não será nada”, declarou
solenemente Hitler. Mas que têm obtido os camponeses da Alemanha sob
Hitler? Uma moratória que já está revogada? Ou a lei regulando o regime
hereditário das fazendas camponesas, que expulsa do campo milhões de
filhos e filhas de camponeses, convertendo-os em mendigos? Os
assalariados do campo veem-se convertidos em semi-servos, aos quais foi
arrebatado até o direito elementar de livre circulação. Aos camponeses
trabalhadores foi tirada a possibilidade de vender os produtos de sua
propriedade no mercado.
 E na Polônia?
 “O camponês polaco – escreve o jornal polonês 'Czas' – emprega
métodos e meios que só se aplicaram, seguramente, nos tempos da Idade
Média: conserva o fogo na estufa e o empresta aos seus vizinhos; divide em
vários fragmentos os pavios de cera. Os camponeses dão uns aos outros a
água de sabão usada. Fervem os barris de arenques para obter água
salgada. Isto não é nenhum conto, mas a verdadeira situação reinante no
campo, da qual qualquer pessoa pode convencer-se por si mesma”.
 E isto, camaradas, não o escreve nenhum comunista, mas um jornal
reacionário polonês!
 Isto não é tudo, mas não é pouco. Dia após dia, nos campos de
concentração da Alemanha fascista, nos porões da Gestapo (polícia
secreta), nas masmorras polacas, nos calabouços da polícia secreta búlgara
e finlandesa, na “Glawnjatsch” de Belgrado, na “Siguranza” romana, nas
ilhas italianas, os melhores filhos da classe operária, os camponeses
revolucionários, os que lutam por um futuro mais belo para a humanidade,
são submetidos a torturas violentas e zombarias tão repugnantes que diante
delas empalidecem os crimes mais abomináveis da polícia secreta czarista.
O criminoso fascismo alemão converte os maridos, em presença de suas
mulheres, em massas de carne sangrenta, enviam às mães em pacotes
postais as cinzas de seus filhos assassinados. A esterilização se converteu
num meio político de luta. Aos presos antifascistas, encerrados nas
câmaras de tortura, inoculam pela força substâncias venenosas, rompem-
lhes as mãos, arrancam-lhes os olhos, enforcam-nos, injetam-lhes água
com uma bomba, recortam-lhes cruzes gamadas na pele viva.
 Tenho diante de mim um resumo estatístico do Socorro Vermelho
Internacional sobre os assassinados, feridos, presos, multilados e
torturados na Alemanha, Polônia, Itália, Áustria, Bulgária e Iugoslávia.
Somente na Alemanha, sob o governo dos nacional-socialistas, foram
assassinadas mais de 4.200 pessoas, detidas 317.800 e 218.600
camponeses, empregados e intelectuais, comunistas, socialdemocratas e
membros das organizações cristãs de oposição foram feridos e submetidos
a torturas cruéis. Na Áustria, desde os combates de fevereiro do ano
passado, foram assassinadas 1.900 pessoas, 10.000 feridos e mutilados e
40.000 operários revolucionários detidos pelo governo fascista “cristão”.
E este resumo está muito longe de ser completo.
 É difícil encontrar palavras com que expressar toda nossa
indignação ao pensar nas torturas que hoje sofrem os trabalhadores em
diversos países fascistas. As cifras e fatos que assinalamos não refletem
nem a centésima parte do quadro verdadeiro da exploração e das torturas,
do terror dos guardas brancos, que enchem a vida cotidiana da classe
operária nos diversos países capitalistas. Nenhum livro, por volumoso que
fosse, poderia dar uma ideia clara das incontáveis bestialidades do
fascismo contra os trabalhadores. Com profunda emoção e ódio contra os
verdugos fascistas inclinamos as bandeiras da Internacional Comunista
ante a memória inolvidável de John Scheer, de Piede Schulze e Lutgens, na
Alemanha; de Koloman, Walisch e Munichreiter, na Áustria; de Sallai e
Furst, na Hungria; de Kofardshiewe, Lutibrodski e Wovkow, na Bulgária;
ante a memória dos milhares e milhares de operários comunistas,
socialdemocratas e sem partido, camponeses e representantes dos
intelectuais progressistas que deram sua vida lutando contra o fascismo.
 Desta tribuna, saudamos o chefe do proletariado alemão e
presidente de honra de nosso Congresso, o camarada Thaelmann (grande
ovação; todos os delegados se põem de pé). Saudamos os camaradas
Rakosi, Gramsci (grande ovação; todos os delegados se põem de pé),
Antikainen, J. Panow. Saudamos o chefe dos socialistas espanhóis Largo
Caballero, encarcerado pelos contra-revolucionários; Tom Mooney, que
conta já 18 anos de cárcere, e todos os milhares de prisioneiros do capital e
do fascismo (grandes aplausos) e lhes gritamos: “Irmãos de luta!
Companheiros de armas! Não vos esquecemos. Estamos convosco!
Empregaremos todas as horas de nossa vida, até a última gota de nosso
sangue, para arrancar-vos e para arrancar todos os trabalhadores do
ignominioso regime fascista” (grande ovação; todos os delegados se põem
de pé).
 Camaradas: já Lênin nos avisara que a burguesia pode conseguir,
caindo sobre os trabalhadores com o terror mais feroz, rechaçar durante um
período de tempo mais ou menos curto as forças crescentes da revolução,
mas que apesar disso não poderá salvar-se do naufrágio.
 “A vida − escrevia Lênin − seguirá seu curso. Pode a burguesia
arrebatar-se, enfurecer-se até o paroxismo, exceder-se, cometer loucuras,
vingar-se com antecedência dos bolcheviques e procurar exterminar (na
Índia, na Hungria, na Alemanha, etc.) centenas de milhares de
bolcheviques do amanhã ou de ontem; ao proceder assim, a burguesia
procede como todas as classes condenadas pela história ao naufrágio. Os
comunistas devem saber que, aconteça o que acontecer, o futuro lhes
pertence. Por isto, podemos e devemos associar, na grande luta
revolucionária, o maior entusiasmo a mais serena e sóbria apreciação das
1
convulsões da burguesia” .
 Sim; se nós e o proletariado do mundo inteiro marcharmos com
firmeza pela senda que nos traçou Lênin, a burguesia se desmoronará,
apesar de tudo (aplausos).

É INEVITÁVEL A VITÓRIA DO FASCISMO?

 Por que e de que modo pode triunfar o fascismo?


 O fascismo é o pior inimigo da classe operária e dos trabalhadores.
O fascismo é o inimigo de noventa por cento do povo alemão, de noventa
por cento do povo austríaco, de noventa por cento dos outros povos dos
países fascistas. Como e de que modo pode triunfar este inimigo
encarniçado?
 O fascismo pode chegar ao poder, antes de tudo, porque a classe
operária, graças à política de colaboração de classe com a burguesia
praticada pelos chefes da socialdemocracia, se achava dividida, política e
organicamente desarmada, frente à burguesia que desenvolve sua
ofensiva, e os Partidos Comunistas não eram suficientemente fortes para
levantar as massas e conduzi-las à luta decisiva contra o fascismo sem a
socialdemocracia e contra ela.
 Assim acontece! Que os milhões de operários socialdemocratas,
que agora sofrem com seus irmãos comunistas os horrores da barbárie
fascista, meditem seriamente sobre isto: se, no ano de 1918, quando
estalou a revolução na Alemanha e na Áustria, o proletariado alemão e
austríaco não tivesse seguido a direção socialdemocrata de Otto Bauer,
Friedrich Adler e Renner, na Áustria, e de Ebert e Scheidemann, na
Alemanha, mas sim marchado pelo caminho dos bolcheviques russos, pela
senda de Lênin, hoje não haveria fascismo nem na Áustria, nem na
Alemanha, nem na Itália, nem na Hungria, nem na Polônia, nem nos
Bálcãs. Não seria a burguesia, mas a classe operária a senhora da situação
na Europa desde há muito tempo (aplausos).
 Fixemo-nos, por exemplo, na socialdemocracia austríaca. A
revolução de 1918 elevou-a a uma altura enorme. Tinha o poder em suas
mãos; tinha fortes posições dentro do exército, dentro do aparelho do
Estado. Apoiando-se nelas, poderia matar em germe o nascente fascismo,
mas foi cedendo sem resistência, uma após outra, as posições da classe
operária. Permitiu à burguesia fortalecer seu poder, anular a Constituição,
limpar o aparelho do Estado, o exército e a polícia de funcionários
socialdemocratas, arrebatar aos operários seus depósitos de armas.
Permitiu aos bandidos fascistas assassinar impunemente operários
socialdemocratas, aceitou as condições do acordo de Ruttenberg, que abriu
as portas das fábricas aos elementos fascistas. Ao mesmo tempo, os chefes
da socialdemocracia enganavam os operários com o programa de Linz, no
qual se previa a eventualidade do emprego da força armada contra a
burguesia e a instauração da ditadura do proletariado, assegurando-lhes
que, se as classes governantes apelassem para a violência contra a classe
operária, o partido responderia com o apelo à greve geral e à luta armada.
Como se toda a política de preparação do ataque fascista contra a classe
operária não fosse uma cadeia de atos de violência, encobertos por meio de
formas constitucionais! Mesmo nas vésperas dos combates de fevereiro e
no transcurso destes, a direção da socialdemocracia austríaca abandonou o
heróico “Schitzbund”, que lutava isolado das amplas massas, e condenou o
proletariado austríaco à derrota.
 Era inevitável a vitoria do fascismo na Alemanha? Não, a classe
operária alemã poderia tê-la impedido.
 Mas, para isso, precisava ter conseguido estabelecer a Frente Única
proletária antifascista, obrigar os chefes da socialdemocracia a pôr fim à
sua cruzada contra os comunistas e aceitar as reiteradas propostas do
Partido Comunista sobre a unidade de ação contra o fascismo.
 Não se devia ter dado por satisfeita, ante a ofensiva do fascismo e a
gradual liquidação das liberdades democráticas pela burguesia, com as
formosas resoluções da socialdemocracia, mas deveria ter respondido com
uma verdadeira luta de massas que estorvasse a realização dos planos
fascistas da burguesia alemã.
 Não devia ter permitido a proibição da Liga dos Combatentes da
Frente Vermelha (Rote Frontkampferbund) pelo governo Braun-Severing,
mas estabelecer contato de luta entre a Rote Frontkampferbund e a
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“Reischsbanner” , que abrangia quase um milhão de filiados, e obrigar
Braun e Severing a armar ambas as organizações para repelir e destruir os
bandos fascistas.
 Precisava ter obrigado os dirigentes da socialdemocracia que
estavam à frente do governo da Prússia a tomar medidas de defesa contra o
fascismo, deter seus chefes, suprimir sua imprensa, confiscar-lhe os
recursos materiais e os recursos dos capitalistas que subvencionavam o
movimento fascista, dissolver suas organizações, tomar-lhes as armas, etc.
 Além disso, precisava ter conseguido que se estabelecesse e
ampliasse a assistência social sob todas as formas, que se concedesse
moratória e subsídios aos camponeses atingidos pela crise, à custa de
aumentos nos impostos sobre os bancos e “trustes”, para garantir por este
meio o apoio dos camponeses trabalhadores. Nada se fez, por culpa da
socialdemocracia alemã, e, graça a isto, pôde triunfar o fascismo.
 Haviam de triunfar inevitavelmente a burguesia e a nobreza na
3
Espanha , país onde as forças de insurreição proletária se combinam tão
vantajosamente com a guerra camponesa?
 Os socialistas espanhóis estiveram representados no governo
desde os primeiros dias da revolução. Estabeleceram por acaso contatos de
luta entre as organizações operárias de todas as tendências políticas,
incluindo os comunistas e os anarquistas? Fundiram a classe operária
numa só organização sindical? Acaso exigiram a confiscação de todas as
terras dos latifundiários, das igrejas e dos conventos em favor dos
camponeses para conquistá-los para a revolução? Tentaram lutar pela
autodeterminação nacional dos catalães e dos bascos, pela libertação do
Marrocos? Limparam o exército de elementos monárquicos e fascistas,
preparando a passagem das tropas para o lado dos operários e dos
camponeses? Dissolveram a guarda civil, verdugo de todos os
movimentos populares, tão odiada pelo povo? Vibraram algum golpe
contra o partido fascista de Gil Robles, contra o poderio do clero católico?
Não, não fizeram nada disto. Repeliram as repetidas propostas dos
comunistas sobre a unidade de ação contra a ofensiva da reação, dos
burgueses, dos latifundiários e do fascismo. Promulgaram uma lei eleitoral
que permitiu à reação conquistar a maioria nas Cortes e uma série de leis
em que se decretavam duras penalidades contra os movimentos populares,
leis que servem agora para julgar os heroicos mineiros das Astúrias.
Fuzilaram, por mão da guarda civil, os camponeses que lutavam pela terra,
etc., etc.
 Assim, a socialdemocracia preparou ao fascismo o caminho do
poder, do mesmo modo na Alemanha, na Áustria e na Espanha,
desorganizando e levando a cisão às fileiras da classe operária.
 Camaradas, o fascismo triunfou também porque o proletariado foi
encontrado isolado de seus aliados naturais. O fascismo pôde triunfar
porque conseguiu arrastar consigo as grandes massas populares
camponesas, graças ao fato da socialdemocracia, em nome da classe
operária, ter feito uma política que era no fundo contra os camponeses. O
camponês via desfilar pelo poder uma série de governos socialdemocratas,
que personificavam a seus olhos o poder da classe operária, mas nenhum
deles lhe entregava a terra. A socialdemocracia não incomodou em nada os
latifundiários, resistiu às greves dos operários agrícolas e a consequência
disto foi que os operários agrícolas da Alemanha, muito antes da subida de
Hitler ao poder, abandonaram os sindicatos reformistas, passando-se na
maioria dos casos para os “Capacetes de Aço” e para os nacional-
socialistas.
 O fascismo pôde triunfar também porque conseguiu penetrar nas
fileiras da juventude, enquanto a socialdemocracia desviava a juventude
operária da luta de classes. O proletariado revolucionário não desenvolveu
entre a juventude o necessário trabalho de educação e não prestou a
suficiente atenção à luta por seus interesses e aspirações específicas. O
fascismo captou a ânsia de atividade combativa aguçada entre a juventude
e atraiu uma parte considerável desta para seus destacamentos de combate.
A nova geração da juventude masculina e feminina não passou pelos
horrores da guerra; sofre em sua pele todo peso da crise econômica, do
desemprego forçado e da decomposição da democracia burguesa. Não
tendo perspectiva alguma para o futuro, setores consideráveis da juventude
se mostraram especialmente acessíveis à demagogia fascista que lhes
pintava um porvir sedutor se o fascismo triunfasse.
 Em relação a isto, muito menos devemos passar por alto a série de
erros cometidos pelos Partidos Comunistas, erros que refreavam nossa luta
contra o fascismo. Em nossas fileiras existia um imperdoável menosprezo
do perigo fascista, que ainda não se desvaneceu em muitos lugares.
Concepções do tipo das que antes podíamos encontrar em nossos partidos,
como aquela de que “a Alemanha não é a Itália”, no sentido de que o
fascismo pode triunfar na Itália, mas sua vitória estava excluída da
Alemanha, por ser um país industrialmente mais desenvolvido, um país de
cultura muito elevada, com uma tradição de quarenta anos de movimento
operário, um país em que é impossível o fascismo; ou a concepção que se
mantém hoje de que nos países da democracia burguesa “clássica” não há
base para o fascismo. Semelhantes concepções podiam e podem contribuir
para amortecer a vigilância diante do perigo fascista e dificultar a
mobilização do proletariado para a luta contra o fascismo.
 Poderíamos citar também muitos casos em que os comunistas se
viram surpreendidos inopinadamente por um golpe fascista. Recordai-vos
da Bulgária, onde a direção do nosso Partido adotou uma posição “neutra”,
oportunista em sua essência, em relação ao golpe de Estado de 9 de junho
de 1923; da Polônia, onde, em maio de 1926, a direção do Partido
Comunista, que interpretou de uma maneira errônea as forças motrizes da
revolução polonesa, não soube distinguir o caráter fascista do golpe de
Estado de Pilsudski e foi a reboque dos acontecimentos; da Finlândia, onde
nosso Partido, baseando-se numa falsa ideia de fascistização lenta,
gradual, deixou produzir-se o golpe de Estado fascista preparado por um
grupo dirigente da burguesia, golpe de Estado que apanhou de surpresa o
Partido e a classe operária.
 Quando o nacional-socialismo se tornou um movimento de massas
ameaçador na Alemanha, havia camaradas, como Heinz Neumann, para os
quais o governo de Bruning já era o da ditadura fascista, e que declaravam
carrancudos: “se o Terceiro Reich de Hitler chegar um dia, será somente a
um metro e meio debaixo da terra e com o poder operário, vencedor, por
cima dele”.
 Nossos camaradas da Alemanha menosprezaram durante muito
tempo o sentimento nacional ferido e a indignação das massas contra
Versalhes; observaram uma atitude desdenhosa com relação aos atritos dos
camponeses e da pequena burguesia; demoraram em estabelecer um
programa de emancipação social e nacional, e quando formularam não
souberam adaptá-lo às necessidades concretas e ao nível das massas, e nem
sequer souberam popularizá-lo amplamente entre elas.
 A necessidade de desenvolver a luta de massas contra o fascismo
foi substituída em vários países pelos raciocínios estéreis sobre o caráter
do fascismo em geral e por uma estreiteza sectária a respeito da posição e
solução das tarefas políticas atuais do Partido.
 Camaradas, se falamos das causas da vitória do fascismo, se
salientamos a responsabilidade histórica da socialdemocracia na derrota
da classe operária, se anotamos também nossos erros na luta contra o
fascismo, não é simplesmente pelo prazer de remover o passado. Não
somos historiadores situados à margem da vida; somos militantes da classe
operária e estamos obrigados a dar uma resposta à pergunta que atormenta
milhões de operários: “É possível impedir, e por quais meios, a vitória do
fascismo?”. E respondemos a esses milhões de operários: sim, camaradas,
pode fechar-se a passagem ao fascismo. É absolutamente possível. Isso
depende de nós mesmos, dos operários, dos camponeses, de todos os
trabalhadores!
 Impedir a vitória do fascismo depende antes de tudo da atitude
combativa da própria classe operária, da coesão de suas forças num
exército combatente que lute unido contra a ofensiva do capital e do
fascismo. O proletariado, ao estabelecer sua unidade de luta, paralisaria a
influência do fascismo sobre os camponeses, sobre a pequena-burguesia
urbana, sobre a juventude e os intelectuais, conseguiria neutralizar uma
parte deles e fazer a outra passar para seu lado.
 Em segundo lugar, depende da existência de um forte partido
revolucionário que saiba dirigir acertadamente a luta dos trabalhadores
contra o fascismo. Um partido que exorta sistematicamente os operários a
retroceder ante o fascismo e permite à burguesia fascista fortificar suas
posições é um partido que conduz os operários inevitavelmente à derrota.
 Em terceiro lugar, depende da política acertada da classe operária
com relação aos camponeses e às massas pequeno-burguesas da cidade. É
preciso aceitar estas massas tal como são e não como desejaríamos que
fossem. Só no decorrer da luta superarão suas dúvidas e vacilações e, se o
proletariado as ajudar politicamente, se elevarão a um grau superior de
consciência e de atividade revolucionária.
 Em quarto lugar, depende da atenção vigilante e da atuação
oportuna do proletariado revolucionário. Não devemos deixar que o
fascismo nos surpreenda, nem deixar-lhe a iniciativa; é preciso vibrar-lhes
os golpes decisivos quando ainda não conseguiu concentrar suas forças;
não lhe permitir a conquista de novas posições. Como se esforça com êxito,
por consegui-lo, o proletariado francês! (aplausos).
 Eis as condições mais importantes para impedir que o fascismo
cresça e suba ao poder.

O FASCISMO É UM PODER FEROZ, PORÉM PRECÁRIO

 A ditadura fascista da burguesia é um poder feroz, porém precário.


Em que residem as principais causa da precariedade da ditadura fascista?
 O fascismo, que pretende superar as divergências e as contradições
existentes no campo da burguesia, vem aguçar ainda mais estas
contradições. O fascismo tenta estabelecer seu monopólio político
destruindo violentamente os demais partidos. Mas a existência do sistema
capitalista, a existência de diferentes classes, a aprovação das contradições
de classe, conduzem inevitavelmente ao enfraquecimento e destruição do
monopólio político do fascismo. Não ocorre o mesmo no país soviético,
onde a ditadura do proletariado é exercida também por um partido
monopolista, mas onde este monopólio político corresponde aos interesses
da sociedade sem classes. Num país fascista, o partido dos fascistas não
pode manter por muito tempo seu monopólio porque não está em
condições de propor-se a missão de suprimir as classes e as contradições de
classe. Suprime a existência legal dos partidos burgueses, mas alguns
destes continuam vivendo ilegalmente e o Partido Comunista avança
também dentro da ilegalidade, tempera-se e dirige a luta do proletariado
contra a ditadura. Deste modo, o monopólio político do fascismo tem que
desmoronar necessariamente sob os golpes das contradições de classe.
 Outra das causas da precariedade da ditadura fascista baseia-se em
que o contraste entre a demagogia anticapitalista do fascismo e a política
de rapinante enriquecimento da burguesia monopolista permite
desmascarar a natureza de classe do fascismo e vai enfraquecendo e
reduzindo sua base de massas.
 Além disto, a vitória do fascismo provoca o ódio profundo e a
indignação das massas, contribui para infundir-lhes espírito
revolucionário e imprime um poderoso impulso à Frente Única do
proletariado contra o fascismo. Realizando a política do nacionalismo
econômico (autarquia) e apropriando-se da maior parte das rendas da
nação para a preparação da guerra, o fascismo solapa toda a economia do
país e aguça a guerra econômica entre os Estados capitalistas. Imprime aos
conflitos que surgem no seio da burguesia o caráter de choques violentos e
muitas vezes sangrentos, minando, assim, a estabilidade do poder estatal
fascista aos olhos do povo. Um poder que assassina seus próprios
partidários, como aconteceu na Alemanha, em 30 de junho do ano passado;
um poder como o fascista, contra o qual luta de armas na mão outra parte da
burguesia fascista (o “putsch” nacional-socialista da Áustria, as lutas
violentas de diversos grupos fascistas contra os governos fascistas da
Polônia, Bulgária, Finlândia e outros países). Este poder não poderá
manter durante muito tempo sua autoridade aos olhos das amplas massas
pequeno-burguesas.
 A classe operária precisa saber explorar as contradições e conflitos
existentes no campo da burguesia, mas não deve nutrir a ilusão de que o
fascismo pode asfixiar-se por si só. O fascismo não se destruirá
automaticamente. Só a atividade revolucionária da classe operária fará
com que os conflitos que surgem inevitavelmente no campo da burguesia
sejam aproveitados para minar a ditadura fascista e derrubá-la.
 Ao liquidar os restos da democracia burguesa e elevar a violência
descarada a sistema de governo, o fascismo solapa as ilusões democráticas
e a autoridade da lei aos olhos das massas trabalhadoras. Isto acontece com
maior razão nos países como, por exemplo, Áustria e Espanha, onde os
operários lutaram de armas nas mãos contra o fascismo. Na Áustria, a luta
heróica de “Schitzbund” e dos comunistas fez tremer desde o início, apesar
da derrota, a firmeza da ditadura fascista. Na Espanha, a burguesia não
conseguiu pôr uma mordaça fascista nos trabalhadores. As lutas armadas
da Áustria e da Espanha fizeram com que massas cada vez mais extensas da
classe operária adquirissem consciência da necessidade da luta
revolucionária de classes.
 Apenas filisteus monstruosos, lacaios da burguesia, como o mais
antigo teórico da Segunda Internacional, Karl Kautsky, podem fazer
censuras aos operários e dizer-lhes que na Áustria e na Espanha não
deveriam ter empunhando armas. Que aspecto apresentaria hoje o
movimento operário na Áustria e na Espanha se a classe operária destes
países se tivesse deixado guiar pelos conselhos traidores dos Kaustky? A
classe operária destes países sofreria uma profunda desmoralização em
suas fileiras.
 “Os povos – disse Lênin – não passam em vão pela escola da guerra
civil. É uma escola dura e em seu programa, se é completo, entram também
inevitavelmente os triunfos da contrarrevolução, a ira dos reacionários
enfurecidos, o ajuste de contas feroz do antigo poder com os rebeldes, etc.
Mas, só os pedantes inveterados e os espíritos mumificados podem
choramingar, lamentando-se de que os povos passem por esta escola cheia
de tormentos; esta escola ensina às classes oprimidas a fazerem a guerra
civil e lhes ensina como triunfa a revolução, acumula nas massas dos
escravos atuais o ódio que os escravos atemorizados, torpes e ignorantes
levam eternamente no íntimo e que conduz os escravos já conscientes do
opróbio de sua escravidão às façanhas históricas mais grandiosas” 4.
 A vitória do fascismo na Alemanha provocou, como é sabido, uma
nova onda de ofensivas fascistas, que conduziu na Áustria à provocação de
Dolfuss, na Espanha às novas agressões da contrarrevolução contra as
conquistas revolucionárias das massas, na Polônia à reforma fascista da
Constituição e na França incitou os destacamentos armados dos fascistas a
uma tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1934. Mas esta vitória e a
fúria da ditadura fascista provocaram no plano internacional um contra
movimento de Frente Única proletária contra o fascismo. O incêndio do
Reichstag, que era o sinal para a ofensiva geral do fascismo contra a classe
operária, o assalto contra os sindicatos e outras organizações operárias e
sua espoliação, os gritos dos antifascistas torturados nas masmorras dos
quartéis fascistas e nos campos de concentração, revelam palpavelmente às
massas aonde conduziu o jogo divisionista e reacionário dos chefes da
socialdemocracia alemã, que repeliram as propostas dos comunistas para
lutarem unidos contra o fascismo agressor, e as convencem da necessidade
de unificar todas as forças da classe operária para a destruição do fascismo.
 Na França, a vitória de Hitler imprimiu também um impulso
decisivo à criação da Frente Única da classe operária contra o fascismo. A
vitória de Hitler não originou nos operários somente temor pela sorte dos
operários alemães, não acendeu apenas o ódio contra os verdugos de seus
irmãos de classe alemães, como ainda fortaleceu sua decisão de não
permitir de nenhum modo que aconteça em seu país o que sucedeu com a
classe operária na Alemanha. A poderosa corrente para a Frente Única em
todos os países capitalistas põe em evidência que os ensinamentos da
derrota não passaram em vão. A classe operária começa a agir de um modo
novo. A iniciativa dos Partidos Comunistas na organização da Frente
Única e a abnegação sem limites dos comunistas e dos operários
revolucionários na luta contra o fascismo aumentaram em proporções
nunca vistas a autoridade da Internacional Comunista. Ao mesmo tempo,
desenvolveu-se uma crise profunda no seio da Segunda Internacional,
crise que se manifesta com uma clareza especial e acentuada depois da
bancarrota da socialdemocracia alemã. Os operários socialdemocratas
podem convencer-se cada vez mais palpávelmente de que a Alemanha
fascista, com todos seus horrores e barbárie, é, em última análise, uma
consequência da política socialdemocrata de colaboração de classe com a
burguesia. Estas massas veem cada vez mais claro que o caminho pelo qual
os chefes da socialdemocracia levaram o proletariado não pode ser
percorrido de novo. Jamais se deu no campo da Segunda Internacional um
transtorno ideológico tão grande. No seio de todos os partidos
socialdemocratas se opera um processo de diferenciação. Em suas fileiras
se destacam dois campos básicos: junto ao campo existente dos elementos
reacionários, que tentam por todos os meios manter de pé o bloco da
socialdemocracia com a burguesia e repelem raivosamente a Frente Única
com os comunistas, começa a formar-se o campo dos elementos
revolucionários que duvidam da justeza da política de colaboração de
classe com a burguesia, que lutam pela criação de uma Frente Única com
os comunistas e começam a passar-se cada vez em maior escala para as
posições da luta revolucionária de classes.
 Assim, o fascismo, que surgiu como resultado da decadência do
sistema capitalista, atua, portanto, em última instância, como o fator de sua
ulterior decomposição. Assim, o fascismo, que se impõe como dever
enterrar o marxismo, o movimento operário revolucionário, o que faz,
como resultado da dialética da vida e da luta de classes, é contribuir para
que se desenvolvam as forças destinadas a ser seus coveiros, os coveiros do
capitalismo (aplausos).

II - A FRENTE ÚNICA DA CLASSE OPERÁRIA
CONTRA O FASCISMO

 Camaradas: milhões de operários e trabalhadores nos países


capitalistas perguntam a si mesmos como se pode impedir que o fascismo
chegue ao poder e como derrotá-lo onde triunfou? A Internacional
Comunista responde: o que é preciso fazer primeiro, por onde se há de
começar, é criar a Frente Única, estabelecer a unidade de ação dos
operários em cada empresa, em cada bairro, em cada região, em cada país,
no mundo inteiro. A unidade de ação do proletariado sobre um plano
nacional e internacional, eis aí a arma poderosa que capacita a classe
operária não só para a defesa eficaz, como também para a contraofensiva
eficaz contra o fascismo, contra o inimigo de classe.

A IMPORTÂNCIA DA FRENTE ÚNICA

 Não é evidente que as ações conjuntas dos filiados aos partidos e


organizações das duas internacionais – a Internacional Comunista e a
Segunda Internacional – permitiriam às massas repelir o impulso fascista e
aumentariam o peso político da classe operária?
 As ações conjuntas dos partidos de ambas as internacionais contra
o fascismo não se limitariam a exercer uma influência sobre seus filiados
atuais, sobre os comunistas e os socialdemocratas; exerceriam também
uma influência poderosa sobre as fileiras dos operários católicos,
anarquistas e não organizados, até sobre aqueles que momentaneamente
são vítimas da demagogia fascista.
 Mais ainda: a poderosa Frente Única do proletariado exerceria uma
enorme influência sobre todas as demais camadas do povo trabalhador,
sobre os camponeses, sobre a pequena-burguesia urbana, sobre os
intelectuais. A Frente Única infundiria aos setores vacilantes fé na força da
classe operária.
 Mas isto não é tudo. O proletariado dos países imperialistas tem
seus aliados potenciais não só nos trabalhadores do próprio país, como
também nas nações oprimidas das colônias e semicolônias. O fato do
proletariado achar-se dividido nos planos nacional e internacional e de uma
parte dele apoiar a política de colaboração com a burguesia, e sobretudo,
seu regime de opressão nas colônias e semicolônias, afasta da classe
operária os povos oprimidos das colônias e semicolônias e enfraquece a
frente antiimperialista mundial. Cada passo que o proletariado das
metrópoles imperialista dá pelo caminho da unidade de ação disposto a
apoiar a luta de libertação dos povos coloniais equivale a converter as
colônias e semicolônias numa das reservas principais do proletariado
mundial.
 Finalmente, se levarmos em conta que a unidade de ação
internacional do proletariado se apoia na força sempre crescente do Estado
proletário, do País do Socialismo, na União Soviética, veremos que largas
perspectivas abre a realização da unidade de ação do proletariado nos
planos nacional e internacional.
 A implantação da unidade de ação de todos os setores da classe
operária, qualquer que seja o partido ou organização a que pertençam, é
necessária mesmo antes de se unificar a maioria da classe operária para a
luta pela derrocada do capitalismo e pelo triunfo da revolução proletária.
 É possível realizar esta unidade de ação do proletariado nos
diversos países e no mundo inteiro? Sim, é possível, e o é imediatamente. A
Internacional Comunista não impõe para a unidade de ação nenhuma
espécie de condições, com exceção de uma elementar, aceitável para todos
os operários, a saber: que a unidade de ação seja dirigida contra o fascismo,
contra a ofensiva do capital, contra ameaça de guerra, contra o inimigo de
classe. Eis aí nossa condição.

OS PRINCIPAIS ARGUMENTOS
DOS ADVERSÁRIOS DA FRENTE ÚNICA

 Que podem objetar e que objetam os adversários da Frente Única?


 “Para os comunistas, a palavra de ordem da Frente Única não passa
de uma manobra”, dizem uns. Mas, ainda que fosse uma manobra –
respondemos nós – por que não desmascarais esta “manobra comunista”
participando honradamente na Frente Única? Dizemos francamente:
queremos a unidade de ação da classe operária para que o proletariado se
fortaleça em sua luta contra a burguesia, para que, defendendo hoje seus
interesses cotidianos contra os ataques do capital, contra o fascismo, esteja
amanhã em condições de assentar os alicerces para sua definitiva
emancipação.
 “Os comunistas nos atacam”, dizem outros. Pois escutai: já
declaramos repetidas vezes que não atacaremos ninguém, pessoas,
organizações, nem partidos que combatam pela Frente Única da classe
operária contra o inimigo de classe. Mas, ao mesmo tempo, temos no
interesse do proletariado e de sua causa o dever de criticar as pessoas,
organizações e partidos que entorpecem a unidade de ação dos operários.
 “Não podemos formar a Frente Única com os comunistas porque
seu programa é diferente”, dizem os de mais longe. Mas afirmais que vosso
programa difere do dos partidos burgueses e isto não vos impediu, nem vos
impede, de fazer coalizões com estes partidos.
 “Os partidos democrático-burgueses são melhores aliados contra o
fascismo do que os comunistas”, dizem os adversários da Frente Única e
defensores da coalizão com a burguesia. Mas, que no ensina a experiência
da Alemanha? Lá os socialdemocratas formaram um bloco com estes
aliados “melhores”. Quais foram os resultados?
 “Se estabelecermos a Frente Única com os comunistas os pequenos
burgueses se assustarão 'do perigo vermelho' e se passarão para os
fascistas”, ouvimos dizer com frequência. Acaso a Frente Única ameaça os
camponeses, os pequenos comerciantes, os artesãos, os trabalhadores
intelectuais? Não. A Frente Única ameaça a grande burguesia, os magnatas
financeiros, os latifundiários e demais exploradores, cujo regime acarreta a
ruína completa de todos aqueles setores.
 “A socialdemocracia é partidária da democracia e os comunistas da
ditadura; por isso não podemos estabelecer a Frente Única com os
comunistas”, dizem vários chefes socialdemocratas. Mas será que nós vos
propomos agora uma Frente Única para proclamar a ditadura do
proletariado? Por enquanto não vos propomos semelhante coisa.
 “Que os comunistas reconheçam a democracia e atuem em sua
defesa, então estaremos dispostos à Frente Única”. A isto respondemos:
nós somos partidários da democracia soviética, a democracia dos
trabalhadores, a democracia mais consequente do mundo. Mas
defendemos e continuaremos a defender nos países capitalistas, palmo a
palmo, as liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o
fascismo e a reação burguesa, pois assim o exigem os interesses da luta de
classe do proletariado.
 “Os pequenos partidos comunistas não contribuiriam em nada com
sua participação na Frente Única realizada pelo Partido Trabalhista”,
dizem, por exemplo, os chefes trabalhistas da Inglaterra. Não obstante,
recordai-vos de que o mesmo afirmavam os chefes socialdemocratas
austríacos com relação ao pequeno Partido Comunista da Áustria. E o que
demonstraram os acontecimentos? Não era a socialdemocracia austríaca,
com Otto Bauer e Karl Renner à frente, quem tinha razão, mas sim o
pequeno Partido Comunista austríaco, que salientou oportunamente o
perigo fascista na Áustria e chamou os operários à luta contra ele. E toda
experiência do movimento operário ensina que os comunistas, ainda que
numericamente sejam poucos, são o motor da atividade combativa do
proletariado. Além disto, não se deve esquecer que os Partidos Comunistas
da Áustria e Inglaterra não são somente as dezenas de milhares de
operários filiados a estes partidos, senão partes do movimento comunista
mundial, secções da Internacional Comunista, a qual pertence o partido de
um proletariado que triunfou e que governa uma sexta parte do mundo.
 “Mas a Frente Única não impediu a vitória do fascismo no Sarre”,
objetam os adversários da Frente Única. Curiosa lógica a desses senhores!
Primeiro, de sua parte, fazem tudo para assegurar a vitória do fascismo e,
depois, se alegram malignamente de que a Frente Única para a qual se
deixaram arrastar nos últimos momentos, não tenha conduzido os
operários ao triunfo.
 “Se formássemos a Frente Única com os comunistas teríamos que
sair dos governos de coalizão e começariam a governar os partidos
reacionários e fascistas”, dizem os chefes socialdemocratas que se sentam
nos governos dos diversos países. Mas acaso não participou a
socialdemocracia alemã de um governo de coalizão? Sim, participou. Não
formou parte do governo a socialdemocracia austríaca? Também fez parte.
Não estiveram os socialistas espanhóis em um governo, coligados com a
burguesia? Sim, também estiveram. E acaso a participação da
socialdemocracia nos governos burgueses de coalizão impediu nesses
países o assalto do fascismo contra o proletariado? Não, não o impediu.
Está, pois, claro como a luz do dia que a participação de ministros
socialdemocratas nos governos burgueses não constitui uma barreira
contra o fascismo.
 “Os comunistas agem ditatorialmente, querem impor e ditar tudo”.
Não, nós não impomos nem ditamos nada. Limitamo-nos a formular
nossas propostas, cuja realização estamos convencidos de que
corresponde aos interesses do povo trabalhador. E isto não é só um direito
senão um dever de quantos atuem em nome dos operários. Tendes medo da
“ditadura” dos comunistas? Pois apresentemos conjuntamente com os
operários todas as propostas, as vossas e as nossas, discutamo-las
conjuntamente, com os operários todos, e escolhamos aquelas que sejam
mais vantajosas para a causa da classe operária.
 Como se vê, estes argumentos contra a Frente Única não resistem a
mais leve crítica. São apenas pretextos dos chefes reacionários da
socialdemocracia, que preferem a Frente Única com a burguesia à Frente
Única do proletariado.
 Não, esses pretextos não prevalecerão! O proletariado
internacional pagou muito caro pelas consequências da cisão do
movimento operário e está cada vez mais convencido de que Frente Única,
a unidade de ação do proletariado, tanto sobre o plano nacional como num
plano internacional, é necessária e perfeitamente possível (aplausos).

CONTEÚDO E FORMAS DA FRENTE ÚNICA

 Qual é e qual deve ser o conteúdo da Frente Única na etapa atual?


 A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos da classe
operária e sua defesa contra o fascismo hão de ser o ponto de partida e o
conteúdo principal da Frente Única em todos os países capitalistas.
 Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela
ditadura proletária, temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem
e formas de luta que se deduzam das necessidades vitais das massas, do
nível de sua capacidade de luta em cada etapa de seu desenvolvimento.
 Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para defender-
se da exploração capitalista e da barbárie fascista.
 Devemos conseguir que se estabeleça a Frente Única mais ampla
por meio de ações conjuntas das organizações operárias das diversas
tendências para defender os interesses vitais das massas trabalhadoras.
 Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por descarregar de
um modo efetivo as consequências da crise sobre os ombros das classes
dominantes, numa palavra, sobre os ombros dos ricos.
 Significa, em segundo lugar, a luta conjunta contra todas as formas
da ofensiva fascista, pela defesa das conquistas e dos direitos dos
trabalhadores, contra a liquidação das liberdades democrático-burguesas.
 Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada
vez mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria a preparação
desta guerra.
 Devemos preparar sem descanso a classe operária para as
mudanças rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem as
circunstâncias. À medida que cresça o movimento e se fortaleça a unidade
da classe operária, teremos que ir mais longe e preparar a passagem da
defensiva à ofensiva contra o capital, dirigindo-nos para a organização da
greve política de massas. Condição obrigatória desta greve é que nela
tomem parte os sindicatos principais de cada país.
 Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar um
só minuto à sua tarefa própria e independente de educação comunista, de
organização e mobilização das massas. Não obstante, para assegurar aos
operários o caminho para a unidade de ação é preciso conseguir, ao mesmo
tempo, firmar acordos a curto e longo prazos sobre ações comuns com os
partidos socialdemocratas, os sindicatos reformistas e as demais
organizações dos trabalhadores contra o inimigo de classe do proletariado.
Nesses pactos, a atenção principal deve encaminhar-se para o
desencadeamento de ações de massas nos diversos lugares, que deveriam
ser realizadas pelas organizações de base mediante resoluções locais. Ao
mesmo tempo que cumprimos lealmente as condições de todos os acordos
firmados com elas, desmascaremos implacavelmente qualquer sabotagem
cometida contra as atividades conjuntas por pessoas ou organizações que
tomem parte da Frente Única. Em todas as tentativas que se façam para
frustrar os acordos firmados – e estas tentativas possivelmente se farão –
respondemos apelando para as massas e continuando infatigavelmente a
luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada.
 Resta dizer que a realização concreta da Frente Única nos diversos
países se efetuará de diferentes modos e revestirá diferentes formas,
segundo o estado e o caráter das organizações operárias, seu nível político,
a situação concreta do país de que se trate, segundo as mudanças operadas
no movimento operário internacional, etc.
 Estas formas podem ser, por exemplo, atividades conjuntas dos
operários, coordenadas para casos determinados e por motivos concretos,
por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma plataforma geral; ações
coordenadas em determinadas empresas ou ramos industriais; ações
coordenadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional;
ações coordenadas para a organização de lutas econômicas dos operários,
para a realização de movimentos políticos de massa, para organização da
autodefesa comum contra os assaltos fascistas, ações coordenadas para
ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação social; ações
conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das mulheres; na
defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.
 Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeito com firmar um pacto
sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação dos partidos e
organizações envolvidas na Frente Única, como acontece, por exemplo, na
França. Isto é apenas o primeiro passo. Os pactos são meios auxiliares para
a realização de ações conjuntas, mas não são ainda a Frente Única. Os
comitês de ligação entre as direções do Partido Comunista e Socialista são
necessários para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas estão
muito longe de bastar para o desenvolvimento efetivo da Frente Única,
para arrastar as amplas massas à luta contra o fascismo.
 Os comunistas e todos os operários revolucionários devem se
esforçar por criar órgãos de classe de Frente Única à margem dos partidos,
eleitos (nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais
prestigiadas no movimento de Frente Única) nas empresas, entre os
desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do
campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento de Frente Única,
as enormes massas não organizadas dos trabalhadores, contribuir para
desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva do capital,
contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta base o extenso corpo de
ativistas operários da Frente Única que é indispensável e formar nos países
capitalistas centenas e milhares de bolcheviques sem partido.
 As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo,
são a base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos
operários é constituída pelas massas não organizadas. Assim, na França, o
total dos operários organizados, comunistas, socialistas e filiados aos
sindicatos de diferentes tendências, é ao total, aproximadamente, de um
milhão, e a estatística total de operários atinge onze milhões. Na Inglaterra,
pertencem aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências uns cinco
milhões, mas a estatística total de operários é de quatorze milhões. Nos
Estados Unidos da América há, aproximadamente, cinco milhões de
operários organizados, mas o total de operários na América do Norte é de
trinta e oito milhões. E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em
outra série de países. Em tempos “normais” esta massa permanece,
substancialmente, à margem da vida política. Mas na atualidade, esta
massa gigantesca se põe cada vez mais em movimento, incorpora-se a vida
política, chega à discussão política.
 A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor
forma de realizar, ampliar e fortalecer a Frente Única na mesma base das
amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra
todas tentativas dos adversários da Frente Única para romper a unidade de
ação alcançada pela classe operária.

A FRENTE POPULAR ANTIFASCISTA

 Na mobilização das massas trabalhadoras para a luta contra o


fascismo, temos como tarefa especialmente importante a criação de uma
extensa Frente Popular antifascista, sobre a base da Frente Única
proletária. O êxito de toda a luta do proletariado está intimamente unido à
criação da aliança de luta do proletariado com os camponeses
trabalhadores e com as massas mais importantes da pequena burguesia
urbana, que formam a maioria da população, mesmo nos países
industrialmente desenvolvidos.
 O fascismo, em suas campanhas de agitação destinadas à conquista
de tais massas, tenta opor as massas trabalhadoras da cidade e do campo ao
proletariado revolucionário e assustar os pequenos burgueses com o
fantasma do “perigo vermelho”. Temos que devolver os tiros e indicar aos
camponeses trabalhadores, aos artesãos e aos trabalhadores intelectuais de
onde os ameaça o verdadeiro perigo; temos que os fazer ver concretamente
quem joga sobre os camponeses a carga das contribuições e impostos,
quem os suga por meio de juros usurários, expulsa de sua terra o camponês
e sua família e os condenam ao desemprego e à mendicância. Precisamos
esclarecer objetivamente, explicar paciente e tenazmente, quem arruína os
artesãos por meio de impostos e taxas de todo gênero, de rendas pesadas e
de uma concorrência insuportável para eles, quem atira à rua e priva de
trabalho as extensas massas dos trabalhadores intelectuais.
 Mas isto não basta.
 O fundamental, o decisivo para estabelecer a Frente Popular
antifascista é a ação decidida do proletariado revolucionário em defesa das
reivindicações destes setores e, em particular, dos camponeses
trabalhadores, das reivindicações que estejam na razão dos interesses
primordiais do proletariado, combinando no decorrer da luta as aspirações
da classe operária com estas reivindicações.
 Para a criação da Frente Popular antifascista, tem grande
importância saber abordar de maneira acertada todos os partidos e
organizações que envolvem uma parte considerável de camponeses
trabalhadores e as massas principais da pequena burguesia urbana.
 Nos países capitalistas, a maioria destes partidos e organizações –
tanto econômicas quanto políticas – se encontram ainda sob influência da
burguesia e acompanha esta. A composição social destes partidos e
organizações não é homogênea. Nela aparecem, ao lado dos camponeses
muito ricos, ao lado de pequenos comerciantes, homens de grandes
negócios, mas a direção está nas mãos dos últimos, os agentes do grande
capital. Isto nos obriga a dar a estas organizações um tratamento diferente,
levando em conta que, com frequência, a massa de seus filiados não
conhece a verdadeira face política de sua própria direção. Em
determinadas circunstâncias, podemos e devemos dirigir nossos esforços
no sentido de ganhar para a Frente Popular antifascista estes partidos e
organizações ou setores isolados deles apesar de sua direção burguesa.
Assim acontece atualmente na França, por exemplo, com o partido radical,
nos Estados Unidos com as diversas organizações de granjeiros (farmers),
na Polônia com “Stronictwo Ludowe”, na Iugoslávia com o Partido
Camponês croata, na Bulgária com a Liga dos Agricultores, na Grécia com
os “agraristas”, etc. Mas, independentemente disto, de que existam
possibilidades de atrair estes partidos e estas organizações para a Frente
Popular, nossa tática tem que ser orientada, sob quaisquer condições, no
sentido de arrastar para a Frente Popular antifascista os pequenos
burgueses camponeses, artesãos, etc., envolvidos neles.
 Assim, pois, como vedes, temos que acabar por completo com o
menosprezo e a atitude depreciativa, que surgem com bastante frequência
em nossa situação, a respeito dos diversos partidos e organizações de
camponeses, artesãos e de massas da pequena burguesia urbana.

PROBLEMAS BÁSICOS DA FRENTE ÚNICA


EM ALGUNS PAÍSES

 Em todos os países há problemas primordiais que numa


determinada etapa comovem as extensas massas e em torno dos quais deve
desenvolver-se a luta para estabelecer a Frente Única. Captar
acertadamente estes pontos fundamentais, estes problemas primordiais,
significa assegurar e acelerar a formação da Frente Única.
a) Estados Unidos
 Tomemos, por exemplo, um país tão importante do mundo
capitalista como os Estados Unidos. Aqui, a crise pôs em movimento massas
de milhões de homens. O programa de saneamento do capitalismo foi a
pique. Massas imensas começam a afastar-se dos partidos burgueses e
acham-se atualmente na encruzilhada. O incipiente fascismo norte-
americano tenta canalizar o descontentamento e a desilusão destas massas
para leitos reacionário-fascistas. A peculiaridade do desenvolvimento do
fascismo norte-americano consiste em que, na fase atual, age
predominantemente em forma de oposição contra o fascismo, consi-
derando-o uma corrente “não americana”, importada do estrangeiro. Ao
contrário do fascismo alemão, que entrou em cena com palavras de ordem
contrárias à Constituição, o fascismo norte-americano tenta apresentar-se
como partidário da Constituição e da “democracia americana”. Mas, se
conseguir penetrar nas amplas massas desiludidas dos antigos partidos
burgueses, poderá converte-se rapidamente num grave perigo.
 O que significaria o triunfo do fascismo nos Estados Unidos? Para
as massas trabalhadoras significaria, naturalmente, uma acentuação
desenfreada do regime de exploração e a destruição do movimento
operário. E qual seria a significação internacional desta vitória do
fascismo? Os Estados Unidos não são – como é sabido – a Hungria, nem a
Finlândia, nem a Bulgária, nem a Letônia. A vitória do fascismo nos
Estados Unidos faria mudar essencialmente toda a situação internacional.
 Nestas circunstâncias, pode o proletariado norte-americano dar-se
por satisfeito simplesmente com a organização de sua vanguarda
consciente de classe, que está disposta a marchar pelo caminho da
revolução? Não.
 É de todo evidente que os interesses do proletariado americano
exigem que todas as suas forças se desliguem sem demora dos partidos
capitalistas. É preciso encontrar os caminhos e as formas apropriadas para
impedir a tempo que o fascismo arraste consigo as amplas massas dos
trabalhadores descontentes. E aqui, temos que dizer que a forma
apropriada às condições da América do Norte poderia ser a criação de um
partido de massas dos trabalhadores, um “partido de operários e
camponeses”. Este partido seria uma forma específica da Frente Popular
de massas na América do Norte, uma frente de oposição aos partidos dos
trustes e dos bancos e ao crescente fascismo. Esse partido não seria
naturalmente, nem socialista nem comunista. Mas terá que ser um partido
antifascista e não deverá ser um partido anticomunista. O programa deste
partido deverá ser dirigido contra os bancos, os trustes e os monopólios,
contra os inimigos principais do povo, que especulam com suas dores. Este
partido só poderá cumprir sua missão se defender as reivindicações mais
vitais da classe operária, se lutar por uma autêntica legislação social, pelo
seguro contra o desemprego, para que obtenham terra e sejam libertados
do jugo das dívidas, se lutar pela anulação das dívidas dos camponeses,
pela igualdade de direitos dos negros, por defender as reivindicações dos
antigos combatentes, os interesses dos membros das profissões liberais,
dos pequenos comerciantes e dos artesãos. E assim sucessivamente.
 Compreende-se que um partido desse tipo terá de lutar por enviar
representantes às administrações autônomas locais e aos órgãos
representativos dos diversos Estados da União, assim como ao Congresso
e ao Senado.
 Nossos camaradas dos Estados Unidos procederam acertadamente
tomando a iniciativa de criar semelhante partido. Mas terão que adotar
medidas mais eficazes ainda para que a criação de tal partido chegue a
conseguir a simpatia das próprias massas.
 O problema da organização de um “partido de operários e
camponeses” e seu programa deve ser discutido em assembleias populares
de massas. É necessário desenvolver um movimento da maior amplitude
para criação desse partido e colocar-se à frente deste movimento. Não se
deve, de modo algum, permitir que a iniciativa de sua organização caia em
mãos daqueles elementos que querem explorar o descontentamento das
massas de milhões de homens desiludidos dos partidos burgueses – o
democrata e o republicano – para criar nos Estados Unidos um “terceiro”
partido como partido anticomunista, como um partido orientado contra o
movimento revolucionário.
 b) Inglaterra
 Na Inglaterra, a organização fascista de Mosley passou,
provisoriamente, a último plano, como resultado das atividades de massas
dos operários ingleses. Mas não devemos fechar os olhos ante o fato de que
o chamado “Governo nacional” leva a cabo uma série de medidas
reacionárias contra a classe operária, mediante as quais se criam também
na Inglaterra condições que, chegada a ocasião, facilitarão à burguesia a
passagem ao regime fascista. Lutar contra o perigo fascista na Inglaterra,
na etapa atual, significa, antes de tudo, lutar contra o “Governo nacional”,
contra suas medidas reacionárias, contra a ofensiva do capital, pela defesa
das reivindicações dos desempregados, contra as diminuições de salário,
pela revogação das leis com que a burguesia inglesa piora o nível de vida
das massas.
 Mas o ódio crescente da classe operária contra o “Governo
nacional” agrupa massas cada vez mais extensas sob a palavra de ordem da
formação de um novo governo trabalhista na Inglaterra. Podem os
comunistas passar por alto esse estado de ânimo nas amplas massas, que
ainda têm fé no governo trabalhista? Não, camaradas! Temos que
encontrar o caminho para estas massas e lhes dizermos francamente, como
o fez o 12º Congresso do Partido Comunista inglês: “Nós, os comunistas,
somos partidários do poder soviético, único poder capaz de emancipar os
operários do julgo do capital. Mas quereis um governo trabalhista?
Perfeitamente. Temos lutado e lutaremos convosco para derrotar o
“Governo nacional”. Estamos dispostos a apoiar vossa luta pela formação
de um novo governo trabalhista, apesar dos dois anteriores não terem
cumprido as promessas feitas pelo Partido Trabalhista à classe operária.
Não esperamos deste governo que realize medidas socialistas. Mas, em
nome de milhões de operários, formulamos a exigência de que defenda os
interesses econômicos e políticos mais angustiantes da classe operária e de
todos os trabalhadores. Vamos discutir juntos um programa comum destas
reivindicações e pôr em prática a unidade de ação que o proletariado
necessita para fazer frente à ofensiva reacionária do “Governo nacional”, à
ofensiva do capital e do fascismo e à preparação da nova guerra”. Os
camaradas ingleses estão dispostos a atuar, sobre estas bases,
conjuntamente com as organizações do Partido Trabalhista nas próximas
eleições parlamentares contra o “Governo nacional” e também contra
Lloyd George que, a seu modo, tenta arrastar consigo as massas contra a
causa da classe operária em interesse da burguesia inglesa.
 Esta posição dos comunistas ingleses é acertada. Ajuda-lhes a
estabelecer uma Frente Única de luta com as massas de milhões de homens
das “trade unions” inglesas e do Partido Trabalhista. Permanecendo
sempre nas primeiras linhas do proletariado combatente, mostrando às
massas o único caminho certo – o caminho da luta por abater
revolucionariamente a dominação da burguesia e para instaurar o poder
soviético –, os comunistas não devem, ao fixar suas tarefas políticas atuais,
empenhar-se em saltar as etapas necessárias do movimento de massas, ao
longo do qual as massas operárias superam, à base da própria experiência,
suas ilusões e passam para o lado do comunismo.
c) França
 A França é, como se sabe, o país cuja classe operária dá a todo
proletariado internacional exemplo de como é preciso lutar contra o
fascismo. O Partido Comunista francês pode servir a todas as Seções da
Internacional Comunista de exemplo de como se deve levar a cabo a tática
da Frente Única, e os operários socialistas franceses podem servir de
exemplo do que devem fazer hoje os operários socialdemocratas dos
demais países capitalistas em luta contra o fascismo. A significação da
manifestação antifascista celebrada em Paris, em 14 de julho deste ano, na
qual tomaram parte meio milhão de homens, assim como as numerosas
manifestações efetuadas em outras cidades da França, é enorme. Isto já não
é simplesmente um movimento da Frente Única operária; é o começo de
uma ampla frente de todo o povo contra o fascismo.
 Este movimento de Frente Única aumenta a fé da classe operária
em suas forças, fortalece nela a consciência de seu papel de guia em
relação aos camponeses, à pequena burguesia urbana, aos intelectuais.
Estende a influência do Partido Comunista sobre as massas operárias e,
com isso, enrijece o proletariado em sua luta contra o fascismo. Este
movimento desperta, a tempo, a atenção vigilante das massas diante do
perigo fascista. Será um exemplo contagiante para o desenvolvimento da
luta antifascista nos demais países capitalistas e exercerá uma influência
animadora sobre os proletários da Alemanha, algemados pela ditadura
fascista.
 É sem dúvida uma grande vitória, mas não decide ainda o resultado
da luta antifascista. A maioria esmagadora do povo francês está,
indubitavelmente, contra o fascismo. Mas a burguesia sabe dobrar,
recorrendo à força armada, a vontade dos povos. O movimento fascista
continua se desenvolvendo com desembaraço completo, com o apoio ativo
do capital monopolista, do aparelho estatal da burguesia, do Estado-Maior
do exército francês e dos dirigentes reacionários do clero católico, baluarte
de toda reação. A mais forte organização fascista, a “Cruz de Fogo”, dispõe
atualmente de mais de 300 mil homens armados, cujo núcleo principal são
os 60 mil oficiais da reserva. Possui fortes posições na polícia, na
gendarmeria, no exército, na aviação e dentro de todo o aparelho do
Estado. As eleições municipais põem em evidência que na França não
crescem somente as forças revolucionárias, como também as forças do
fascismo. Se o fascismo conseguir penetrar de um modo extenso entre os
camponeses e assegurar o apoio de uma parte do exército com a
neutralidade da outra, as massas trabalhadoras da França não poderão
impedir a subida dos fascistas ao poder. Não esqueçamos, camaradas, a
debilidade do movimento francês no terreno da organização, debilidade
que facilita o êxito da ofensiva fascista. Não há nenhuma razão para que a
classe operária e todos os antifascistas da França se dêem por satisfeitos
com os resultados já conseguidos.
 Quais são as tarefas que se apresentam à classe operária da França?
 Primeira: conseguir estabelecer a Frente Única não só no terreno
político, como também no econômico, para organizar a luta contra a
ofensiva do capital; quebrar com sua determinação a resistência que se
opõe à Frente Única nos cimos da Confederação do Trabalho reformista.
 Segunda: conseguir a realização da unidade sindical na França, ou
seja, sindicatos únicos sobre a base da luta de classes.
 Terceira: arrastar ao movimento antifascista as extensas massas
camponesas, as massas da pequena burguesia, reservando um lugar
especial no programa da Frente Popular antifascista para suas
reivindicações vitais.
 Quarta: firmar organicamente e prosseguir ampliando o movimento
antifascista desenvolvido, por meio da criação em massa de órgãos da
Frente Popular antifascista eleitos à margem dos partidos, de órgãos que
com sua influência abranjam massas mais extensas que os partidos e
organizações dos trabalhadores atualmente existentes na França.
 Quinta: conseguir, por sua pressão, a dissolução e o desarmamento
das organizações fascistas como organizações de conspiradores contra a
República e como agentes de Hitler na França.
 Sexta: conseguir que se limpe o aparelho do Estado, o exército e a
polícia dos conspiradores que preparam um golpe fascista.
 Sétima: desenvolver a luta contra os chefes das camarilhas
reacionárias do clero católico, que são um dos baluartes mais importantes
do fascismo francês.
 Oitava: envolver o exército com o movimento antifascista,
mediante a criação, dentro do exército, de comitês de defesa da República
e da Constituição, contra aqueles que querem servir-se do exército para dar
um golpe de Estado anticonstitucional (aplausos); não permitir que as
forças reacionárias da França façam fracassar o pacto franco-soviético,
que defende a causa da paz contra a agressão do fascismo alemão
(aplausos).
 E se o movimento antifascista na França conduzisse à formação de
um governo que lutasse contra o fascismo francês de um modo efetivo, não
apenas com palavras, mas com fatos, que pusesse em prática o programa
de reivindicações da Frente Popular antifascista, os comunistas, sem
deixar de ser inimigos irreconciliáveis de todo governo burguês e
partidários do poder soviético, estariam dispostos, apesar de tudo, ante o
crescente perigo fascista, a apoiar tal governo (aplausos).

A FRENTE ÚNICA
E AS ORGANIZAÇÕES FASCISTAS DE MASSAS

Dimitrov na Internacional  Camaradas: a luta por


estabelecer a Frente Única nos
países onde os fascistas estão no
poder é, talvez, o problema mais
importante que temos apresentado.
Nestes, a luta se desenvolve,
naturalmente, em condições muito
mais difíceis que nos países de
movimento operário legal. Não
obstante, se oferecem nos países
fascistas todas as premissas para a
formação de uma verdadeira Frente Popular antifascista na luta contra a
ditadura fascista, pois os operários socialdemocratas, católicos e de outras
tendências na Alemanha, por exemplo, podem reconhecer de um modo
mais imediato a necessidade de lutarem unidos aos comunistas contra a
ditadura fascista. As amplas camadas da pequena burguesia e dos
camponeses, que já saborearam os frutos amargos da dominação fascista,
se sentem cada vez mais descontentes e desiludidas, o que facilita a tarefa
de arrastá-las ao movimento popular antifascista.
 Nos países fascistas, especialmente na Alemanha e Itália, onde o
fascismo soube criar uma base de massas impondo violentamente suas
organizações aos operários e demais trabalhadores, a tarefa principal
consiste em saber combinar a luta contra o fascismo de fora com o trabalho
para miná-lo por dentro nos órgãos e organizações fascistas de massas. É
necessário estudar, assimilar e aplicar métodos e processos especiais,
apropriados às condições concretas destes países, que estimulem a rápida
decomposição da base de massas do fascismo e preparem a destruição da
ditadura fascista. É preciso estudar, assimilar e aplicar estes métodos e não
limitar-se a gritar “morra Hitler!”, “morra Mussolini!”. Sim! Assimilá-los
e aplicá-los.
 É uma tarefa difícil e complicada. Tanto mais difícil quanto nossas
experiências de luta eficaz contra a ditadura fascista são extraordina-
riamente limitadas. Nossos camaradas italianos, por exemplo, levam já
aproximadamente treze anos lutando sob as condições da ditadura fascista.
Mas não conseguiram desenvolver uma verdadeira luta de massas contra o
fascismo, e por isto não puderam, infelizmente, ajudar muito neste sentido,
com experiências positivas, os partidos comunistas dos demais países
fascistas. Os comunistas alemães e italianos e os comunistas de outros
países fascistas, do mesmo modo que os membros das juventudes
comunistas, fizeram maravilhas quanto ao heroísmo. Fizeram e fazem
diariamente sacrifícios enormes. Ante este heroísmo e estes sacrifícios,
todos nós nos inclinamos. Mas o heroísmo não basta. É necessário
combinar este heroísmo com o trabalho diário entre as massas, na luta
concreta contra o fascismo, para conseguir resultados mais tangíveis nesse
terreno. Em nossa luta contra a ditadura fascista, é particularmente
perigoso confundir os desejos com as realidades; é preciso partir dos fatos,
da situação concreta real.
 E qual é hoje a realidade, por exemplo, na Alemanha?
 Entre as massas crescem o descontentamento e a decepção com a
política da ditadura fascista, revestindo mesmo a forma de greves parciais e
de outras atividades. Apesar de todos seus esforços, o fascismo não
conseguiu conquistar politicamente as massas fundamentais dos
operários; perde e perderá cada vez em maior proporção até entre seus
antigos partidários. Mas, temos que compreender que os operários que
estão convencidos da possibilidade de derrubar a ditadura fascista e
dispostos a lutar desde hoje por isso, de um modo ativo, são ainda, no
momento, uma minoria. Somos nós, os comunistas, e é o setor
revolucionário dos operários socialdemocratas. A maioria dos
trabalhadores ainda não tem a consciência das possibilidades reais e
concretas e dos caminhos pelos quais podem derrubar esta ditadura, e
continua, no momento, na expectativa. Isto deve ser levado em conta ao
fixarmos nossos objetivos na luta contra o fascismo na Alemanha e quando
buscamos estudar processos especiais para derrotar e sacudir a ditadura
fascista na Alemanha.
 Para vibrar um golpe sensível na ditadura fascista, temos que
conhecer seus pontos mais vulneráveis. Onde está o tendão de Aquiles da
ditadura fascista? Em sua base social. Esta base é extraordinariamente
heterogênea. Abrange diferentes classes e diferentes setores da sociedade.
O fascismo se proclama representante exclusivo de todas as classes e
camadas da população: do fabricante e do operário, do milionário e do
desempregado, do latifundiário e do pequeno camponês, do grande
capitalista e do artesão. Finge defender os interesses de todos estes setores,
os interesses da nação. Mas, como o fascismo é a ditadura da grande
burguesia, tem que chocar-se inevitavelmente com sua base social de
massas, e tanto mais quanto, precisamente, sob a ditadura fascista se
destacam com maior relevo as contradições de classe entre a matilha dos
magnatas financeiros e a esmagadora maioria do povo.
 Só podemos levar as massas às lutas decisivas pela derrota da
ditadura fascista se envolvermos os operários que se viram violentamente
impelidos para as organizações fascistas ou que ingressaram nelas por falta
de consciência de classe nos movimentos mais elementares para a defesa
de seus interesses econômicos, políticos e culturais. Precisamente por isto,
os comunistas devem trabalhar dentro destas organizações como os
melhores defensores dos interesses cotidianos das massas de seus filiados,
tendo presente que, à proporção que os operários enquadrados nestas
organizações exigirem com maior frequência seus direitos e defenderem
seus interesses, se chocarão inevitavelmente com a ditadura fascista.
 Baseando-se na defesa dos mais vitais interesses – e, nos primeiros
tempos, os mais elementares – das massas trabalhadoras da cidade e do
campo, será relativamente fácil encontrar uma linguagem comum que nos
una não só aos antifascistas conscientes, como também àqueles
trabalhadores que são ainda partidários do fascismo, mas que estão
enganados e descontentes com sua política, se queixam e procuram a
ocasião para manifestar seu descontentamento. Em geral, temos que levar
em conta que toda nossa tática, nos países da ditadura fascista, precisa ter
um caráter que não repugne ao simples partidário do fascismo, que não o
empurre de novo para os braços do fascismo, e sim que aprofunde o abismo
entre as camadas fascistas e as massas dos desiludidos e partidários das
correntes do fascismo entre as camadas trabalhadoras.
 Não há motivo para preocupar-se, se a gente mobilizada em torno
destes interesses diários for tida como indiferente em política e mesmo
como partidária do fascismo. O importante para nós é arrastá-la ao
movimento, um movimento que talvez em seus começos não se
desenvolva ainda abertamente sob as palavras de ordem da luta contra o
fascismo, porque coloca estas massas frente à ditadura fascista.
 A experiência nos ensina que acreditar que nos países de ditadura
fascista é absolutamente impossível atuar de um modo legal ou semilegal é
prejudicial e falso. Aferrar-se a este ponto de vista significa cair na
passividade, renunciar por completo a todo verdadeiro trabalho de massas.
Certamente, encontrar formas e métodos de atuação legal e semilegal sob
as condições da ditadura fascista é um problema difícil e complicado. Mas,
como em tantas outras questões, também aqui a vida e a iniciativa das
próprias massas se encarregarão de indicar-nos o caminho, pois as massas
já nos deram uma série de exemplos que devemos generalizar e aplicar de
maneira organizada e oportuna.
 É preciso acabar decididamente com o desprezo pelo trabalho
dentro das organizações fascistas de massas. Tanto na Itália como na
Alemanha e em outros países fascistas, nossos camaradas encobriram sua
passividade, e com frequência mesmo a negativa direta de fato em
trabalhar nas organizações fascistas de massas, pretextando que opunham
o trabalho nas empresas à atuação dentro das organizações fascistas de
massas. Na realidade, dessa oposição esquemática resultou precisamente
que tanto o trabalho dentro das organizações fascistas de massas como o
desenvolvido nas empresas fosse extraordinariamente frouxo e até que, às
vezes, não se realizasse trabalho algum. Para os comunistas dos países
fascistas é, portanto, de especial importância estar em toda parte onde se
encontrem as massas. O fascismo arrebatou aos operários suas próprias
organizações legais. Impôs-lhes pela violência as organizações fascistas e
nestas se encontram as massas, seja de boa vontade ou à força. Estas
organizações de massas do fascismo podem e devem ser nosso campo
legal ou semilegal de operações no qual entraremos em contacto com as
massas. Podem e devem ser para nós um ponto de partida legal ou
semilegal para a defesa dos interesses cotidianos das massas. Para
aproveitar essas possibilidades, os comunistas deverão lutar por conseguir
postos eletivos nas organizações fascistas de massas, para manter contato
com as massas e livrar-se, de uma vez para sempre, do preconceito de que
esta tarefa é imprópria e indigna de um operário revolucionário.
 Na Alemanha existe, por exemplo, o sistema dos chamados
“delegados de fábrica”. Onde está escrito que devemos ceder o monopólio
destas organizações aos fascistas? Não podemos acaso tentar unir os
comunistas, socialdemocratas, católicos e outros operários antifascistas
dentro das empresas para que, ao votarem nas listas dos “delegados de
fábricas”, separem os agentes declarados do patrão e incluam nelas outros
candidatos que gozem da confiança dos operários? A prática demonstrou
que isto é possível.
 E não nos ensina também a prática que podemos exigir dos
“delegados de empresas”, em união com os operários socialdemocratas e
outros operários descontentes, uma verdadeira defesa dos interesses
operários?
 Observai a “Frente do Trabalho” da Alemanha ou os sindicatos
fascistas da Itália. Acaso não se pode exigir que os funcionários da “Frente
de Trabalho” sejam eleitos, em vez de designados de cima? Não se pode
insistir em que os órgãos dirigentes dos grupos locais dêem conta de sua
atuação às assembleias de membros das organizações? Não se podem levar
essas reclamações, por resolução do grupo, ao patrão, ao “encarregado do
trabalho”, aos órgãos superiores da “Frente de Trabalho”? Sim, pode-se
fazer com a condição de que os operários revolucionários trabalhem
efetivamente dentro da “Frente de Trabalho” e lutem por conquistar postos
na mesma.
 Métodos de trabalho parecidos são também possíveis e necessários
em outras organizações desportivas, na organização “A Força pela
Alegria”, na Alemanha; no “Dopo Lavoro”, na Itália; nas cooperativas, etc.
 Recordareis, camaradas, a antiga lenda da tomada de Troia. A
cidade de Troia se tornara forte contra o exército sitiante por meio de uma
muralha intransponível, e os sitiantes, que tinham sofrido muitas baixas, só
alcançaram a vitória quando penetraram no interior, no coração mesmo do
inimigo, com o auxílio do famoso cavalo de Troia.
 Parece-me que nós, operários revolucionários, não devemos sentir
nenhum escrúpulo em empregar a mesma tática contra nossos inimigos
fascistas, que se defendem contra o povo por meio da muralha viva de seus
assassinos a soldo (aplausos).
 Quem não compreender a necessidade de empregar tática
semelhante a respeito do fascismo, quem considerar tal atuação
“humilhante”, poderá ser um excelente camarada, porém, se me permitis
que diga, é um charlatão e não um revolucionário; pois não saberá conduzir
as massas à derrota da ditadura fascista (aplausos).
 O movimento de massas da Frente Única que vai germinando fora e
dentro das organizações fascistas da Alemanha, Itália e outros países nos
quais o fascismo conta com uma base de massas, partindo da defesa das
necessidades mais elementares, mudando de formas e palavras de ordem
de luta conforme esta luta cresça e se estenda, será o aríete que destruirá a
fortaleza da ditadura fascista que, hoje, muitos talvez julguem
inexpugnável.

A FRENTE ÚNICA NOS PAÍSES EM QUE OS
SOCIALDEMOCRATAS ESTÃO NO PODER

 A luta pelo estabelecimento da Frente Única levanta outro


problema muito importante: o problema da Frente Única nos países em que
estão no poder governos socialdemocratas ou governos de coalizão com
participação dos socialistas, como acontece, por exemplo, na Dinamarca,
Noruega, Suécia, Tchecoslováquia e Bélgica.
 É bem conhecida nossa atitude absolutamente negativa ante os
governos socialdemocratas, que são governos de conciliação com a
burguesia. Mas, apesar disso, não consideramos a existência de um
governo socialdemocrata ou de uma coalizão governamental do partido
socialdemocrata com os partidos burgueses como obstáculo insuperável
para estabelecer a Frente Única com os socialdemocratas em determinada
questões. Consideramos que também nesses casos é absolutamente
possível e necessária a Frente Única para a defesa dos interesses vitais do
povo trabalhador e para a luta contra o fascismo. Compreende-se que nos
países em que participam no governo representantes dos partidos
socialdemocratas, a direção socialdemocrata oponha a mais enérgica
resistência à Frente Única proletária. Compreende-se perfeitamente que
seja assim. Querem fazer ver à burguesia que são eles que sabem melhor e
mais habilmente que ninguém refrear o descontentamento das massas e
preservá-las da influência do comunismo. Mas o fato de que os ministros
socialdemocratas adotem uma atitude negativa ante a Frente Única
proletária não justifica, de modo algum, o fato de que os comunistas nada
façam para a criação da Frente Única do proletariado.
 Nossos camaradas dos países escandinavos continuam, com
frequência, o caminho da menor resistência, ao limitar-se a desmascarar a
propaganda do governo socialdemocrata. Isto é um erro. Na Dinamarca,
por exemplo, os chefes socialdemocratas há dez anos estão no governo e os
comunistas vieram repetindo dia após dia, durante dez anos, que este é um
governo burguês, capitalista. Deve supor-se que esta propaganda é
conhecida dos operários dinamarqueses. O fato de que, apesar disso, uma
considerável maioria vota no partido governamental socialdemocrata
indica somente que o desmascaramento do governo pela propaganda dos
comunistas não basta; mas também não demonstra que as centenas de
milhares de operários estejam contentes com todas as medidas do governo
dos ministros socialdemocratas. Não, não lhes agrada que o governo
socialdemocrata, com o chamado “convênio de crise”, ajude os grandes
capitalistas e latifundiários, e não os operários e os camponeses pobres;
que tenha suprimido, com o decreto promulgado em janeiro de 1933, o
direito de greve. Não lhes agrada que a direção socialdemocrata planeje
uma perigosa reforma eleitoral antidemocrática, restringindo
consideravelmente o número de deputados. Não julgo equivocar-me ao
afirmar que noventa e nove por cento dos operários dinamarqueses não
aprovam estas medidas políticas dos chefes e ministros socialdemocratas.
 Acaso os comunistas não podem chamar os sindicatos e
organizações socialdemocratas da Dinamarca a discutir tal ou qual questão
da atualidade, a emitir sua opinião a repeito dela e atuar em comum pela
Frente Única proletária para a realização das reivindicações operárias?
Quando, no ano passado, em outubro, nossos camaradas dinamarqueses se
dirigiram aos sindicatos para agir contra a redução do subsídio de
desemprego e pelos direitos democráticos dos sindicatos, aderiram à
Frente Única umas cem organizações sindicais locais.
 Na Suécia está no poder, pela terceira vez, um governo
socialdemocrata; mas os comunistas suecos renunciaram praticamente,
durante muito tempo, a empregar a tática da Frente Única. Por quê? Eram
contrários à Frente Única? Naturamente que não. Eram, em princípio,
partidários da Frente Única, da frente única em geral, mas não percebiam
sobre os pontos, em que problemas, pela defesa de que reivindicações se
podia estabelecer com êxito a Frente Única e como e onde havia de apoiar-
se. Poucos meses antes de constituir-se o governo socialdemocrata, o
partido socialdemocrata se apresentou nas eleições com uma plataforma
em que havia uma série de reivindicações que poderiam ter sido incluídas
justamente numa plataforma de Frente Única proletária, como, por
exemplo, estas palavras de ordem: Contra as tarifas aduaneiras! Contra a
militarização! É preciso acabar com a lentidão de trâmites no seguro de
desemprego! Assegurar aos velhos pensões suficientes para viver! Não
admitir a existência de organizações como o “Munch-Corps” (organização
fascista)! Abaixo a legislação anti-sindical de classe exigida pelos partidos
burgueses!
 Mais de um milhão de trabalhadores da Suécia votaram em 1932
por estas reivindicações formuladas pela socialdemocracia com a
esperança de que se converteriam em realidade estas reivindicações. Nada
teria sido mais lógico, naquela situação, nem poderia corresponder em
maior grau aos desejos das massas operárias, do que o Partido ter se
dirigido a todas as organizações socialdemocratas e sindicais com
propostas de empreender atividades conjuntas para levar à prática estas
reivindicações lançadas pelo partido socialdemocrata.
 Se realmente se tivesse conseguido mobilizar as extensas massas
para a consecução de tais reivindicações formuladas pelos próprios
socialdemocratas e agrupar estreitamente numa Frente Única as
organizações operárias socialdemocratas e comunistas, não resta dúvida
que a classe operária sueca teria saído ganhando. Aos ministros
socialdemocratas da Suécia isto não teria produzido grande alegria,
naturalmente, pois neste caso o governo se veria obrigado a satisfazer pelo
menos algumas reivindicações. Em todo caso, não teria ocorrido o que
agora ocorre: que o governo, em vez de suprimir as tarifas aduaneiras,
elevou; em vez de restringir o militarismo, aumentou o orçamento de
guerra; e em vez de anular toda a legislação dirigida contra os sindicatos,
apresentou, ele mesmo, ao parlamento um projeto de lei deste gênero. É
certo que o Partido Comunista da Suécia desenvolveu uma boa campanha
de massas, no sentido da Frente Única proletária, a respeito do último
problema, conseguido afinal que a própria fração parlamentar
socialdemocrata se visse obrigada a votar contra o projeto do governo e que
no momento o projeto fracassasse.
 Os comunistas noruegueses procederam acertadamente ao
convidar no 1º de Maio as organizações do Partido Operário a celebrar
manifestações conjuntas e apresentar uma série de reivindicações, que
coincidiam no essencial com reivindicações da plataforma eleitoral do
Partido Operário norueguês. E apesar deste passo a favor da Frente Única
ter se preparado de modo indeciso e a direção do Partido Operário
norueguês lhe ser contrária, independente disto foram realizadas
manifestações de Frente Única em trinta localidades.
 Antes, muitos comunistas temiam que fosse uma manifestação de
oportunismo de sua parte não opor a toda reivindicação parcial dos
socialdemocratas suas próprias reivindicações, duas vezes mais radicais.
Isto era um erro ingênuo. Se por exemplo, os socialdemocratas reclamam a
dissolução das organizações fascistas, nós não temos que acrescentar: e a
dissolução da polícia do Estado também (reivindicação que seria oportuno
formular em outras circunstâncias), mas devemos dizer aos operários
socialdemocratas: estamos dispostos a aceitar esta reivindicação de vosso
Partido como reivindicação da Frente Única do proletariado e vamos lutar
até o fim por sua consecução. Empreendamos juntos a luta.
 Também na Tchecoslováquia se podem e se devem aproveitar
certas reivindicações formuladas pela socialdemocracia tcheca e alemã,
assim como pelos sindicatos reformistas, para estabelecer a Frente Única
da classe operária. Quando a socialdemocracia exige, por exemplo,
proporcionar trabalho aos desempregados ou – como já o vem exigindo
desde 1917 – a revogação das leis que restringem a autonomia dos
municípios, é preciso concretizar estas reivindicações em cada localidade
e em cada distrito e lutar de mãos dadas com as organizações
socialdemocratas por sua consecução efetiva. Se os partidos, em seus
discursos, “em termos gerais”, atacam os agentes do fascismo dentro do
aparelho do Estado, é preciso expor à luz do dia, por toda a parte, os porta-
vozes fascistas concretos e agir conjuntamente com os operário
socialdemocratas para eliminá-los das instituições do Estado.
 Na Bélgica, os chefes do partido socialdemocrata, com Emile
Vandervelde à frente, entraram no governo de coalizão. Conseguiram este
“êxito” mediante uma longa e ampla campanha por duas reivindicações
principais: primeira, derrogação dos decretos-leis, e segunda, realização
do plano de De Man. A primeira questão é de grande importância. O
governo anterior havia promulgado um total de 150 “decretos-leis”
reacionários, que atiravam cargas extremamente pesadas sobre os ombros
do povo trabalhador. Apresentava-se o problema de revogá-los
imediatamente. Assim o exigia o Partido socialdemocrata. Acaso o novo
governo revogou esses “decretos-leis”? Nem um só. Limitou-se a atenuar
um pouco alguns com objetivo de oferecer uma espécie de “indenização
simbólica” pelas promessas de grande envergadura feitas pelos chefes
socialistas da Bélgica (algo semelhante ao “dólar simbólico” que algumas
potências europeias ofereceram à América do Norte em pagamento dos
milhões de dólares de sua dívidas de guerra).
 No que diz respeito à realização do pomposo plano De Man, a coisa
tomou para as massas socialdemocratas um aspecto inesperado. Os
ministros socialdemocratas declararam que antes de tudo era preciso
esperar o fim da crise econômica e realizar apenas as partes do plano De
Man que melhorassem a situação dos capitalistas, indústrias e dos bancos,
e que só então se poderia passar a pôr em prática as medidas tendentes a
melhorar a situações dos operários; mas, quanto tempo terão que esperar os
operários a parcela de bem-estar que lhes promete o plano? Sobre os
banqueiros belgas já caiu uma verdadeira chuva de ouro. Foi implantada
uma desvalorização do franco belga em 28% e, devido a esta manipulação,
os banqueiros puderam apropriar-se como troféu de 4,5 bilhões de francos
à custa dos que vivem do salário e das economias da gente modesta. Como
se harmoniza isto com o conteúdo do plano De Man? Se se deseja conceder
crédito à letra do piano, este promete “perseguir os abusos monopolistas e
as manobras dos especuladores”.
 À base do plano De Man, o governo nomeou uma comissão de
controle sobre os bancos; mas uma comissão composta de banqueiros que
se controlam a si mesmos alegre e despreocupadamente!
 O plano De Man promete também muitas outras coisas boas:
“redução da jornada de trabalho”, “normalização dos salários”, “salário
mínimo”, “organização de um sistema completo de seguros sociais”,
“extensão das comodidades mediante a construção de novas casas”, etc.
São todas elas reivindicações que nós comunistas podemos apoiar.
Devemos dirigir-nos às organizações operárias da Bélgica e dizer-lhes: os
capitalistas já obtiveram o bastante e até demasiado. Exijamos dos
ministros socialdemocratas que cumpram as promessas que fizeram aos
operários. Unamo-nos numa Frente Única para a defesa eficaz de nossos
interesses. Senhor ministro Vandervelde, nós apoiamos as reivindicações
contidas na plataforma para os operários, mas declaramos abertamente:
tomamos a sério estas reivindicações; queremos fatos e não palavras
vazias, e por esta razão agrupamos centenas de milhares de operários para
lutar por estas reivindicações!
 Desse modo, os comunistas, nos países onde existem governos
socialdemocratas, ao aproveitar as reivindicações concretas oportunas
tomadas das plataformas dos próprios partidos socialdemocratas e as
promessas eleitorais dos ministros socialdemocratas como ponto de
partida para atividades conjuntas com os partidos e organizações
socialdemocratas, poderão depois desenvolver com maior facilidade uma
campanha para estabelecer a Frente Única, baseando-se já noutra série de
reivindicações das massas que lutam contra a ofensiva do capital, contra o
fascismo e a ameaça de guerra.
 Além disso, é preciso ter presente que se as atividades conjuntas
com os partidos e organizações socialdemocratas exigem dos comunistas,
em geral, uma crítica mais séria, razoável, do “social democratismo” como
ideologia e prática da colaboração de classes com a burguesia, assim como
esclarecer infatigavelmente e com espírito de camaradagem os operários
socialdemocratas sobre o programa e as palavras de ordem do comunismo,
esta tarefa é de singular importância para a luta da Frente Única
precisamente nos países onde existem governos socialdemocratas.

A LUTA PELA UNIDADE SINDICAL

 Camaradas: a realização da unidade sindical, tanto sobre um plano


nacional como internacional, deve constituir a etapa mais importante na
consolidação da Frente Única.
 Como é sabido, a tática divisionista dos chefes reformistas foi
levada com maior exacerbação nos sindicatos. É explicável; aí sua política
de colaboração de classe com a burguesia encontrava seu resultado prático
diretamente nas empresas, à custa dos interesses vitais da massa operária.
Isto provocava, naturalmente, uma crítica severa e encontrava a resistência
dos operários revolucionários dirigidos pelos comunistas contra este modo
de agir. Eis aí porque a mais inflamada luta entre o comunismo e o
reformismo se desenrolou no terreno sindical.
 Quanto mais difícil e complicada se tornava a situação do
capitalismo, mais reacionária era a política dos chefes dos sindicatos
ligados à central de Amsterdam e mais agressivas suas medidas contra
todos os elementos oposicionistas dentro dos sindicatos. Nem a própria
instauração da ditadura fascista na Alemanha, nem a ofensiva redobrada
do capitalismo em todos os países capitalista, diminuíram esta
agressividade. Não é característico que somente em um ano, em 1933, na
Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia se lançassem as mais ignominiosas
circulares destinadas a expulsar dos sindicatos os comunistas e operários
revolucionários? Na Inglaterra, apareceu, em 1933, uma circular
proibindo as seções sindicais de aderir às organizações contra a guerra e
outras organizações revolucionárias. Isto foi o prelúdio da célebre
“Circular Negra” do Conselho Geral das “Trade-Unions”, pela qual todo
conselho sindical que admitisse em seu seio delegados que “estivessem
relacionados, sob uma ou outra forma, com organizações comunistas” era
declarado fora da lei. E o que dizer da direção dos sindicatos alemães, que
aplicou represálias inauditas contra os elementos revolucionários dentro
dos sindicatos?
 Mas nossa tática não deve tomar como ponto de partida a conduta
de alguns chefes dos sindicatos ligados a Amsterdam, por muito grandes
que sejam as dificuldades que esta conduta oponha à luta de classes, senão
que tem de partir, sobretudo, deste fato: onde se encontram as massas
operárias? E aqui, temos que declarar abertamente: o trabalho dentro dos
sindicatos é a questão mais candente dos partidos comunistas. Devemos
conseguir que se dê uma viragem verdadeira no trabalho sindical, e colocar
como ponto central a questão da luta pela unidade sindical.
 Muitos de nossos camaradas, passando por alto a atração dos
operários para os sindicatos, e ante as dificuldades que oferecia o trabalho
dentro dos sindicatos ligados a Amsterdam, não se detinham nesta compli-
cada tarefa. Falavam, invariavelmente, da crise orgânica dos sindicatos de
Amsterdam, de que os operários abandonavam os sindicatos, etc., e perdiam
de vista como estes, depois de certa decaída no começo da crise econômica
mundial, começaram a crescer de novo. A particularidade do movimento
sindical consistia precisamente em que a ofensiva da burguesia contra os
direitos sindicais, as tentativas feitas em uma série de países (Polônia,
Hungria, etc.) de “refrear” os sindicatos, a redução dos seguros sociais, o
roubo dos salários, obrigavam os operários, apesar de não haver uma
resistência da parte dos chefes sindicais reformistas contra tudo isso, a
cerrar ainda mais suas fileiras em torno dos sindicatos, pois os operários
queriam e querem ver no sindicato o defensor combativo de seus interesses
de classe. Assim se explica o fato de que nestes últimos anos tenham
aumentado – na França, Tchecoslováquia, Bélgica, Suécia, Holanda, Suíça,
etc. – o número de membros da maioria dos sindicatos ligados à central de
Amsterdam. A Federação Americana do Trabalho teve aumentado também
consideravelmente nos últimos anos o número de seus filiados.
 Se os camaradas alemães tivessem compreendido melhor a tarefa
do trabalho sindical, da qual tão repetidamente lhes falava o camarada
Thaelmann, teriam tido indubitavelmente, dentro dos sindicatos, uma
posição melhor que a que na realidade tinham no momento de implantar-se
a ditadura fascista. Em fins de 1932, havia nos sindicatos livres apenas
10% de membros do Partido. E isto, apesar dos comunistas, depois do 6º
Congresso da Internacional Comunista, se terem colocado à frente de toda
uma série de greves. Nossos camaradas escreviam na imprensa acerca da
necessidade de consagrar 90% de nossas forças ao trabalho dentro dos
sindicatos. Mas, na prática, tudo se concentrava na Oposição Sindical
Revolucionária, que de fato se esforçava por suplantar os sindicatos. E o
que aconteceu depois da tomada do poder por Hitler? No curso de dois
anos, muitos de nossos camaradas se opuseram tenaz e sistematicamente à
palavra de ordem acertada da luta pela reconstrução dos sindicatos livres.
 Poderia mostrar exemplos parecidos de quase todos os demais
países capitalistas.
 Não bastante, na luta pela unidade do movimento sindical nos
países europeus, já conseguimos as primeiras conquistas sérias. Ao dizer
isto, refiro-me à pequena Áustria, onde, por iniciativa do Partido
Comunista, foram lançadas as bases para um movimento sindical ilegal.
Depois dos combates de fevereiro, os socialdemocratas, com Otto Bauer à
frente, lançaram esta palavra de ordem: “Os sindicatos livres só poderão
restabelecer-se depois da queda do fascismo”. Os comunistas
empreenderam o trabalho de restabelecer os sindicatos. Cada fase desta
tarefa era um fragmento de Frente Única viva do proletariado austríaco. O
restabelecimento eficaz dos sindicatos livres na ilegalidade foi uma
derrota séria para o fascismo. Os socialdemocratas não sabiam o que fazer.
Uma parte deles tratava de entabular negociações com o governo. Outra
parte, em vista de nossos êxitos, criou paralelamente alguns sindicatos
próprios. Mas só podia haver um caminho: ou capitular ante o fascismo, ou
marchar lutando, conjuntamente, contra o fascismo para a unidade
sindical. Sob a pressão das massas, a direção vacilante dos sindicatos
paralelos, criados pelos antigos chefes sindicais, se decidiu por uma
unificação. A base desta unificação é a luta irreconciliável contra a
ofensiva do capital e do fascismo e a salvaguarda da democracia dentro dos
sindicatos. Saudamos este fato da unificação dos sindicatos, que é o
primeiro passo desta natureza desde que se cindiu formalmente o
movimento sindical depois da guerra e que encerra, portanto uma
significação internacional.
 A Frente Única na França serviu indubitavelmente de impulso
gigantesco para a realização da unidade sindical. Os dirigentes da
Confederação Geral do Trabalho refreavam e continuam refreando por
todos os meios a realização da unidade, ao contrapor ao problema
fundamental, que é o da política de classes dos sindicatos, questões de
importância secundária, subalterna ou meramente formal. Um êxito
indubitável da luta pela unidade sindical foi a criação de sindicatos únicos,
sobre um plano local, sindicatos que, por exemplo, no ramo dos
ferroviários, abraçam quase as três quartas partes da massa de membros de
um e de outro sindicato.
 Combatemos decididamente pelo restabelecimento da unidade
sindical dentro de cada país e, sobre um plano internacional, advogamos
por um sindicato único em cada ramo de produção.
 Trabalhamos por uma central sindical única em cada país.
 Lutamos por centrais sindicais internacionais únicas por indústria.
 Somos por uma Internacional Sindical única sobre a base da luta de
classes.
 Combatemos por sindicatos de classe únicos como um dos
baluartes mais importantes da classe operária contra a ofensiva do capital e
do fascismo. Ao fazer assim colocamos como única condição para a
unificação dos sindicatos lutar contra o capital, lutar contra o fascismo e
pela democracia sindical interna.
 O tempo não espera. Para nós, o problema da unidade do
movimento sindical, tanto sobre um plano nacional como sobre um plano
internacional, é o problema da grande causa da unificação de nossa classe
em poderosas organizações sindicais únicas contra o inimigo da classe.
Saudamos a proposta dirigida às vésperas do 1º de Maio deste ano pela
Internacional Sindical Vermelha à Internacional de Amsterdam, para
discutir conjuntamente o problema das condições, métodos e formas da
unificação do movimento sindical. Os chefes da Internacional de
Amsterdam repeliram esta proposta, com o usado argumento de que a
unidade do movimento sindical só pode realizar-se dentro das fileiras da
Internacional de Amsterdam que, seja dito de passagem, agrupa quase
exclusivamente organizações sindicais de uma parte dos países europeus.
 Mas os comunistas, em seu trabalho dentro dos sindicatos, devem
prosseguir infatigavelmente a luta pela unidade do movimento sindical. A
missão dos Sindicatos Vermelhos e da Internacional Sindical Vermelha é
fazer quanto deles depender para que chegue o mais rápido possível a hora
da luta conjunta de todos os sindicatos contra a ofensiva do capital e do
fascismo, para que a unidade do movimento sindical se crie, apesar da
tenaz resistência dos chefes reacionários da Internacional Sindical de
Amsterdam. Os Sindicatos Vermelhos e a Internacional Sindical Vermelha
devem receber de nós para isto toda espécie de apoio.
 Nos países onde existem pequenos sindicatos vermelhos lhes
recomendamos que procurem ingressar nos grandes sindicatos
reformistas, exigindo liberdade para sustentar suas opiniões próprias e a
readmissão dos membros expulsos. Nos países onde existem
paralelamente grandes sindicatos vermelhos e reformistas, recomendamos
que exijam a convocação de um congresso de unificação sobre a
plataforma de luta contra a ofensiva do capital e a salvaguarda da
democracia sindical.
 É preciso afirmar, do modo mais categórico, que o operário
comunista, o operário revolucionário que não pertence ao sindicato de
massa do seu ofício, que não luta por converter este sindicato reformista
em uma verdadeira organização sindical de classe, que não trabalha pela
unidade do movimento sindical sobre a base da luta de classe; este operário
comunista, este operário revolucionário, não cumpre com seu dever
proletário primordial (aplausos).

A FRENTE ÚNICA E A JUVENTUDE

 Camaradas: salientei o papel que desempenha para a vitória do


fascismo a incorporação da juventude às organizações fascistas. Ao falar
da juventude, é necessário confessar francamente: temos desdenhando
nossa missão de arrastar as massas da juventude trabalhadora à luta contra
a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra; temos
desdenhando esta missão numa série de países. Não apreciamos
devidamente a enorme importância que tem a juventude para a luta contra
o fascismo. Não tivemos sempre no pensamento os interesses particulares,
econômicos, políticos e culturais da juventude. Menos ainda dedicamos
atenção ao problema da educação revolucionária da juventude.
 Tudo isto o fascismo explorou muito habilmente em alguns países,
particularmente na Alemanha, para atrair grandes setores da juventude
contra o proletariado. É preciso não esquecer que o fascismo não colhe em
suas redes a juventude somente com o romantismo militarista. A uns dá
comida e roupas envolvendo-os em seus destacamentos; a outros dá
trabalho; funda até estabelecimentos chamados culturais para a juventude
e, deste modo, se esforça por inspirar-lhe a crença de que o fascismo quer e
pode realmente dar à massa da juventude trabalhadora alimento e roupa,
instruí-la e assegurar-lhe trabalho.
 Nossas Juventudes Comunistas continuam sendo, numa série de
países capitalistas, organizações predominantemente sectárias, desligadas
das massas. Sua debilidade principal reside em que se esforçam ainda em
copiar as formas e métodos de trabalho dos Partidos Comunistas e
esquecem que as juventudes comunistas não são o partido comunista da
juventude. Não percebem que são uma organização com tarefas especiais.
Seus métodos e formas de trabalho, de educação, de luta, hão de adaptar-se
ao nível concreto e às exigências da juventude.
 Nossos camaradas juvenis deram exemplos inolvidáveis de
heroísmos na luta contra as violências fascistas e a reação burguesa. Mas
carecem ainda de capacidade para arrancar concreta e perseverantemente
as massas da juventude da influência inimiga. Isto se revela na resistência,
não vencida até hoje, contra a necessidade de trabalhar dentro das
organizações fascistas e no modo, não sempre ajustado, de abordar a
juventude socialista e outras juventudes não comunistas. De tudo isto cabe
também grande responsabilidade, naturalmente, aos partidos comunistas,
que devem dirigir e apoiar a juventude comunista em seu trabalho. Pois o
problema da juventude não é somente um problema das juventudes
comunistas, é um problema do movimento comunista em sua totalidade.
No campo da luta pela juventude, os partidos comunistas e as organizações
juvenis devem dar uma viragem verdadeira e resoluta. A missão principal
do movimento juvenil comunista nos países capitalistas consiste em
marchar valentemente pela senda da organização e da unificação da jovem
geração trabalhadora. Que exercem enorme influência sobre o movimento
juvenil revolucionário até os mais incipientes passos dados nesta direção,
temos a prova nos exemplos recentes da França e dos Estados Unidos.
Bastou que se empreendesse nestes países a realização da Frente Única
para que imediatamente se conseguissem êxitos consideráveis. Também é
digna de atenção, no campo da Frente Única internacional, a eficaz
iniciativa do Comitê Contra a Guerra e o Fascismo de Paris de chegar a uma
colaboração internacional com todas as organizações juvenis não fascistas.
 Estes passos que foram dados com êxito nos últimos tempos no
movimento de Frente Única da juventude mostram, também, que as formas
de Frente Única da juventude não podem aplicar-se com sujeição a
padrões, não têm que ser forçosamente as mesmas que se dão na prática dos
partidos comunistas. As juventudes comunistas devem esforçar-se por
todos os meios em unificar as forças de todas as organizações não fascistas
de massas da juventude, até chegar à formação de diferentes organizações
conjuntas para a luta contra o fascismo, contra a inaudita privação de
direitos e a militarização da juventude, pelos direitos econômicos e
culturais das jovens gerações, por ganhar para a frente antifascista esta
juventude, onde quer que se encontre: nas empresas, nos campos de
trabalhos forçados, nas Bolsas de Trabalho, nos quartéis, na marinha, nas
escolas ou nas diferentes organizações esportivas, culturais e de outro
gênero.
 Nossos jovens comunistas, ao mesmo tempo em que desenvolvem
e fortalecem as juventudes comunistas, devem esforçar-se por criar
associações antifascistas das juventudes comunistas e socialistas sobre a
plataforma da luta de classe.

A FRENTE ÚNICA E A MULHER

 Não menor que a referente à juventude é, camaradas, a insuficiente


compreensão que se manifesta a respeito do trabalho entre as mulheres
trabalhadoras, as operárias, as desempregadas, as camponesas e as
mulheres do lar. Se o fascismo despoja de tudo a juventude, por outro lado
escraviza a mulher de um modo especialmente implacável e cínico,
jogando com os sentimentos profundamente arraigados da mãe, da dona de
casa, da operária sem apoio, incertas do amanhã. O fascismo, que se
apresenta com o papel de filantropo, atira às famílias uma esmola
miserável e tenta com isso afogar os sentimentos amargos, provocados
especialmente entre as mulheres trabalhadoras, pela indizível
escravização a que as submete. Expulsa as operárias da produção; envia ao
campo, pela força, as jovens necessitadas e as condena a converterem-se
em criadas gratuitas dos camponeses ricos e dos latifundiários. Ao mesmo
tempo que promete à mulher um lar feliz, empurra-a, como nenhum outro
regime capitalista, no caminho da prostituição.
 Os comunistas e, sobretudo, nossas camaradas de Partido, devem
ter continuamente presente que não pode haver luta eficaz contra o
fascismo e nem contra a guerra se não se arrastam a esta luta as extensas
massas femininas. E isto não se consegue somente com a agitação. Temos
que encontrar, atendendo a cada situação concreta, a possibilidade de
mobilizar as massas das mulheres trabalhadoras em favor de seus
interesses e reivindicações vitais: contra a carestia da vida, pela elevação
dos salários, segundo o princípio de “para igual trabalho, igual salário”,
contra as demissões em massa, contra tudo o que significa desigualdade de
direitos e contra a escravização fascista da mulher.
 Em nossos esforços por arrastar a mulher trabalhadora ao
movimento revolucionário, não devemos recear a criação de organizações
especiais de mulheres, onde seja necessário fazê-lo. O preconceito de que é
preciso liquidar, nos países capitalistas, as organizações femininas que se
acham sob a direção dos partidos comunistas, por exigências da luta contra
o “separatismo feminino” no movimento operário, é um preconceito que
acarreta frequentemente grandes prejuízos.
 É preciso procurar as formas mais simples e flexíveis para
estabelecer o contato e a luta comum com as organizações femininas
revolucionárias, socialdemocratas, progressistas, antifascistas e anti-
guerra. Temos que conseguir, custe o que custar, que as operárias e as
mulheres trabalhadoras militem na Frente Única da classe operária e na
Frente Popular antifascista, lado a lado com seus irmãos de classes.

A FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA

 Adquire uma importância extraordinária, em relação com as


transformações operadas na situação internacional e doméstica de todos os
países coloniais e semicoloniais, o problema da Frente Única
antiimperialista.
 A respeito da criação de uma ampla Frente Única antiimperialista
nas colônias e semicolônias, é preciso levar em conta, antes de tudo, a
diversidade das condições sob as quais se desenvolve a luta
antiimperialista das massas, o diferente grau de maturidade do movimento
de libertação nacional, o papel do proletariado neste movimento e a
influência do Partido Comunista sobre as extensas massas.
 O problema se apresenta de modo diferente no Brasil e na Índia, na
China, etc.
 No Brasil, o Partido Comunista, que, com a criação da Aliança
Nacional Libertadora, estabeleceu um princípio acertado para o
desenvolvimento da Frente Única antiimperialista, tem que fazer todos os
esforços para continuar alargando no futuro esta frente por meio da
incorporação, em primeiro lugar, das massas de milhões de camponeses,
orientando-se para a criação de destacamentos de um exército popular
revolucionário, entregues, sem reserva, à revolução, e trabalhar pela
instauração do poder da Aliança Nacional Libertadora.
 Na Índia, os comunistas devem participar em todas as atividades
antiimperialistas de massas, sem excetuar aquelas a cuja frente marchem
nacional-reformistas, apoiá-las e estendê-las. Conservando sua
independência política e de organização, devem empreender um trabalho
ativo no seio das organizações ligadas ao Congresso Nacional da Índia e
contribuir para a cristalização de uma ala nacional-revolucionária dentro
destas organizações para continuar desenvolvendo sempre o movimento
de libertação nacional dos povos da Índia contra o imperialismo britânico.
 Na China, onde o movimento popular conduziu à criação de
sovietes em importantes territórios do país e a organização de um poderoso
Exército Vermelho, a ofensiva rapace do imperialismo japonês e a traição
do governo de Nouking puseram em perigo a existência nacional do
grande povo chinês. Só os sovietes chineses podem atuar como centro de
unificação na luta contra a escravização e a divisão da China pelos
imperialistas, como centro de unificação que agrupe todas as forças
antiimperialistas para a luta nacional do povo chinês.
 Aprovamos, portanto, a iniciativa de nosso valente Partido
Comunista irmão da China de criar a mais ampla Frente Única
antiimperialista contra o imperialismo japonês e seus agentes chineses,
com todas as forças organizadas no território da China que estejam
dispostas a desenvolver a ofensiva pela salvação de seu país e do seu povo.
 Estou certo de que expresso os sentimentos e ideias de todo nosso
Congresso ao declarar que enviamos nossa saudação fraternal e calorosa
em nome do proletariado revolucionário do mundo inteiro a todos os
sovietes da China, ao povo revolucionário chinês (grande ovação, todos os
delegados se põem de pé). Enviamos nossa calorosa saudação fraternal ao
heróico Exército Vermelho da China (grande ovação), provado em mil
batalhas. E afirmamos ao povo chinês que estamos firmemente decididos a
apoiar sua luta por libertar-se completamente de todos os rapaces
imperialistas e de seus agentes chineses (grande ovação e vivas, que
duraram muito tempo. Todos os delegados se põem de pé).

O GOVERNO DE FRENTE ÚNICA

 Camaradas: tomamos um rumo decidido e audaz para a Frente


Única da classe operária e estamos disposto a segui-lo com a máxima
consequência.
 Se nos perguntarem se nós, os comunistas, lutamos no terreno da
Frente Única somente por reivindicações parciais ou estamos dispostos a
compartilhar a responsabilidade, mesmo se se chegasse a formação de um
governo sobre a base da Frente Única, diremos, com inteira consciência de
nossa responsabilidade: se considerarmos que pode surgir uma situação
em que a criação de um governo de Frente Única proletária ou de Frente
Popular antifascista seja não somente possível, mas indispensável, no
interesse do proletariado aceitamos, com efeito, esta eventualidade
(aplausos). E neste caso, interviremos sem nenhuma vacilação em favor da
criação deste governo.
 Não me refiro aqui ao governo que possa formar-se depois do
triunfo da revolução proletária. Evidentemente, não está excluída a
possibilidade de que, num país qualquer, imediatamente depois da
derrubada revolucionária da burguesia, se possa formar um governo
soviético sobre a base do bloco governamental do partido comunista com
outro partido (ou sua ala esquerda) que participe na revolução. É sabido
que, depois da Revolução de Outubro, o partido vencedor, o Partido dos
bolcheviques russos, fez entrar no governo soviético os representantes dos
social-revolucionários de esquerda. Esta foi a particularidade do governo
soviético depois do triunfo da Revolução de Outubro.
 Não se trata de um caso deste gênero, senão da possível formação
de um governo de Frente Única antes do triunfo da revolução soviética.
 O que seria este governo e em que situação poderia ser possível?
 É, antes de tudo, um governo de luta contra o fascismo e a reação.
Deve ser um governo formado como consequência do movimento de
Frente Única e que não embarace de nenhuma maneira a atuação do partido
comunista e das organizações de massas da classe operária, senão ao
contrário, que tome enérgicas disposições contra os magnatas
contrarrevolucionários das finanças e seus agentes fascistas.
 No momento oportuno, apoiando-se no movimento ascensional da
Frente Única, o partido comunista do país em questão se manifestará pela
criação de semelhante governo, sobre a base de uma plataforma
antifascista concreta.
 Sob que condições objetivas será possível a formação de tal
governo? A esta pergunta, pode responder-se de um modo muito geral: sob
as condições de uma crise política, em que as classes dominantes já não
estejam em condições de acabar com o poderoso ascenso do movimento
antifascistas de massas. Mas isto é apenas uma perspectiva geral, sem a
qual só será possível, na prática, a formação de um governo de Frente
Única. Somente em presença de determinadas premissas especiais pode ser
colocado na ordem do dia o problema da formação deste governo como
tarefa politicamente necessária. Parece-me que nisto reclamam a maior
atenção as seguintes premissas:
 Primeiro: quando o aparelho estatal da burguesia estiver bastante
desorganizado e paralisado para que a burguesia não possa impedir a
formação de um governo de luta contra a reação e o fascismo.
 Segundo: quando as mais amplas massas dos trabalhadores e, em
particular, os sindicatos de massas, se levantarem impetuosamente contra o
fascismo e a reação, mas não estiverem ainda preparadas para lançar-se à
insurreição com o fim de lutar sob a direção do partido comunista pela
conquista do poder soviético.
 Terceiro: quando o processo de diferenciação e radicalização nas
fileiras da socialdemocracia e dos demais partidos que participam na
Frente Única tenha conduzido a que uma parte considerável dentro delas
exija medidas implacáveis contra os fascistas e demais reacionários, lute
de braços dados com os comunistas contra o fascismo e se manifeste
abertamente contra o setor reacionário e hostil ao comunismo dentro de
seu próprio partido.
 Quando e em que países surgirá de fato uma situação semelhante,
na qual se dêem em grau suficiente estas premissas, é coisa que não se pode
predizer. Mas enquanto esta perspectiva não desaparecer em nenhum país
capitalista, devemos tê-la em conta e não orientar e preparar para ela
somente a nós mesmos, mas orientar também a classe operária da maneira
adequada.
 O simples fato de colocarmos em discussão este problema está
relacionado, naturalmente, com nosso modo de apreciar a situação e as
perspectivas próximas do desenvolvimento e com o auge efetivo do
movimento da Frente Única numa série de países nestes últimos tempos.
Durante mais de dez anos a situação que se apresentava nos países
capitalistas era tal que a Internacional Comunista não tinha motivo para
discutir um problema desta natureza!
 Recordareis, camaradas, que em nosso 4º Congresso, celebrado em
1922, e ainda no 5º Congresso, em 1924, se discutiu o problema da palavra
de ordem do governo operário ou operário e camponês. Aqui,
originariamente, se tratava, em substância, de um problema quase análogo
ao que se nos apresenta. Os debates que em torno desta questão se
promoveram naquela época na Internacional Comunista e, especialmente,
os erros políticos que se cometeram aqui, têm ainda hoje sua importância
para aguçar nossa atenção vigilante ante o perigo de desviar-se para a
direita ou para a “esquerda” da linha bolchevique nesta questão. Por isso,
quero salientar, em poucas palavras, alguns destes erros, com o fim de tirar
deles os ensinamentos necessários à política atual de nossos partidos.
 A primeira série de erros obedeceu, precisamente, a que o problema
do governo operário não se ligou clara e firmemente com a presença de
uma crise política. Graças a isto, os oportunistas de direita puderam
interpretar a coisa no sentido de que era preciso desejar a formação de um
governo operário apoiado pelo partido comunista em qualquer situação,
por assim dizê-lo, “normal”. Ao contrário, os ultra-esquerdistas só
admitiam um governo operário que se formasse única e exclusivamente
mediante a insurreição armada, depois da derrocada da burguesia. Ambas
as coisas eram falsas e, por isso, agora, para evitar a repetição de
semelhantes erros, mostramos com tanto cuidado a necessidade de levar
em conta exatamente as condições concretas e particulares da crise política
e do auge do movimento de massas, sob as quais pode apresentar-se como
possível e politicamente necessária a formação de um governo de Frente
Única.
 A segunda série de erros obedeceu ao fato de que o problema do
governo operário não se ligou com o desenvolvimento do movimento
combativo de massas da Frente Única proletária. Isto deu aos oportunistas
de direita a possibilidade de falsear o problema e reduzi-lo à tática sem
princípios de formação de um bloco com os partidos socialdemocratas, à
base de combinações puramente parlamentares. Os ultra-esquerdistas, ao
contrário, gritavam: “Nada de coalizões com a socialdemocracia
contrarrevolucionária!”, considerando como contrarrevolucionários, no
fundo, todos os socialdemocratas.
 Ambas as coisas eram falsas, e salientamos, agora, de uma parte,
que não queremos de modo algum um “governo operário” que seja,
simplesmente, um governo socialdemocrata ampliado. Preferimos, até
renunciar ao nome de “governo operário” e falar de um governo de Frente
Única que, por seu caráter político, é algo completamente distinto,
fundamentalmente distinto, de todos os governos socialdemocratas que
costumam chamar-se “governos operários”. Enquanto que os governos
socialdemocratas representam um instrumento da colaboração de classes
com a burguesia no interesse da conservação do sistema capitalista, o
governo de Frente Única é um órgão de colaboração da vanguarda
revolucionária do proletariado com outros partidos de luta contra o
fascismo e a reação. É evidente que se trata de duas coisas radicalmente
diferentes.
 Por outra parte, frisamos que é necessário ver a diferença existente
entre os diversos campos da socialdemocracia. Como já salientamos,
existe na socialdemocracia um campo dos socialdemocratas de esquerda
(sem aspas), dos operários que se convertem em revolucionários. A
diferença decisiva entre os dois campos consiste, praticamente, em sua
atitude ante a Frente Única da classe operária. Os socialdemocratas
reacionários são contrários à Frente Única, caluniam o movimento de
Frente Única, o sabotam e decompõem, pois a Frente Única faz fracassar
sua política de conciliação com a burguesia. Os socialdemocratas de
esquerda são partidários da Frente Única, defendem, desenvolvem e
fortalecem o movimento de Frente Única, visto que é um movimento de
luta contra o fascismo e a reação, e será sempre a força motriz que impelirá
o governo de Frente Única a lutar contra a burguesia reacionária. Quanto
maior for a força que desencadeie este movimento de massas, tanto maior
será a força que levará o governo à luta contra os reacionários. E quanto
melhor organizado de baixo estiver o movimento de massas e melhor for a
rede dos órgãos de classe da Frente Única situados à margem dos partidos
nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente
modesta da cidade e do campo, tanto maiores serão as garantias contra uma
possível degeneração da política do governo de Frente Única.
 A terceira série de conceitos errôneos que se manifestaram nos
antigos debates se referia justamente à política prática de um “governo
operário”. Os oportunistas de direita opinavam que o “governo operário”
devia manter-se dentro do “limite da democracia burguesa” e, por
conseguinte, não podia dar nenhum passo que saísse deste marco. Por ouro
lado, os ultra-esquerdistas renunciavam de fato a toda tentativa de
formação de um governo de Frente Única.
 Em 1923, se pode ver na Saxônia e na Turingia um quadro
eloquente da prática oportunista direitista de um “governo operário”. A
entrada dos comunistas no governo da Saxônia, com os socialdemocratas
de esquerda (grupo Zeigner), não era por si um erro. Pelo contrário, este
passo estava completamente justificado pela situação revolucionária da
Alemanha. Mas os comunistas, ao participarem do governo, tinham que se
aproveitar de suas posições, antes de tudo, para armar o proletariado e não
o fizeram. Nem sequer confiscaram uma só das casas dos ricos, apesar da
escassez de casas operárias ser tão grande, que muitos operários com
mulher e filhos não tinham onde abrigar-se. Não fizeram nada para
organizar o movimento revolucionário de massas dos operários.
Procederam em tudo como os habituais ministros parlamentares dentro do
“limite da democracia burguesa”. Como é sabido, foi este o resultado da
política oportunista de Brandler e de seus sequazes. O resumo de tudo foi
uma bancarrota tal, que ainda hoje nos vemos obrigados a referir-nos ao
governo saxão como exemplo clássico de como não devem agir os
revolucionários no governo.
 Camaradas: exigimos de todo o governo de Frente Única uma
política completamente diversa. Exigimos que ele realize determinadas
reivindicações revolucionárias consoantes com a situação, como, por
exemplo, o controle da produção, o controle sobre os bancos, a dissolução
da polícia, sua substituição por uma milícia operária armada, etc.
 Há quinze anos, Lênin nos convidava a que concentrássemos toda a
atenção “em procurar formas de transição ou de aproximação para a
revolução proletária”. Poderá acontecer que o governo de Frente Única
seja, numa série de países, uma das formas transitórias mais importantes.
Os doutrinaristas “de esquerda” passaram sempre de longe em relação a
esta indicação de Lênin, falando somente da “meta”, como propagandistas
limitados, sem preocupar-se jamais com as “formas de transição”. E os
oportunistas de direita tentaram estabelecer uma “fase democrática
intermediária especial” entre a ditadura burguesa e a ditadura do
proletariado para sugerir à classe operária a ilusão de um pacífico passeio
parlamentar de uma ditadura a outra. A esta fase “intermediária” fictícia
chamavam também de “forma de transição”, e invocavam inclusive o
nome de Lênin! Mas não foi difícil descobrir a fraude, pois Lênin falava de
uma forma de transição e de aproximação da “revolução proletária”, isto é,
a destruição da ditadura burguesa, e não de uma forma transitória qualquer
entre a ditadura burguesa e a proletária.
 Por que atribuía Lênin significação tão extraordinária à forma que
revestisse a passagem à revolução proletária? Porque tinha presente “a lei
fundamental de todas as grandes revoluções”, a lei de que a propaganda e a
agitação por si sós não podem suprir nas massas sua própria experiência
política, quando se trata de atrair as massas verdadeiramente extensas dos
trabalhadores para o lado da vanguarda revolucionária, sem o que é
impossível a luta vitoriosa pelo poder. O erro habitual de tipo esquerdista é
a crença de que com o aparecimento de uma crise política (ou
revolucionária), basta que a direção comunista lance a palavra de ordem da
insurreição revolucionária para que as grandes massas a acompanhem.
Não, até em presença de tais crises as massas estão muito longe do preparo
para isso. Vimo-lo no exemplo da Espanha. Para ajudar as massas de
milhões a aprender o mais rapidamente possível, à base de sua própria
experiência, o que têm de fazer, onde podem encontrar a saída decisiva e
compreender que Partido merece sua confiança, para isto são necessárias,
entre outras coisas, palavras de ordem transitórias e formas especiais de
transição ou de aproximação da revolução proletária. Sem isto, as amplas
massas do povo, que são presas das ilusões e tradições democráticas
pequeno-burguesas, poderão, até diante de uma situação revolucionária,
vacilar, perder tempo, vagar sem encontrar o caminho da revolução e cair
sob os golpes dos verdugos fascistas.
 Por isso, salientamos a possibilidade de formar, sob as condições da
crise política, um governo de Frente Única antifascista. Na medida em que
este governo desenvolver uma luta real e verdadeira contra os inimigos do
povo e conceder liberdade de ação à classe operária e ao Partido
Comunista, nós, os comunistas, o apoiaremos por todos os meios e
lutaremos na primeira linha de fogo como soldados da revolução. Mas
dizemos francamente às massas: esse governo não trará a salvação
definitiva. Esse governo não estará em condições de destruir a dominação
da classe dos exploradores, e por esta razão não poderá eliminar
definitivamente o perigo da contrarrevolução fascista. Por conseguinte, é
preciso preparar-se para a revolução socialista! Só exclusivamente o poder
soviético trará a salvação!
 Se analisarmos o desenvolvimento atual da situação internacional,
veremos que a crise política vai amadurecendo numa série completa de
países. Isto condiciona a grande importância e atualidade de uma decisão
firme de nosso Congresso sobre o problema do governo de Frente Única.
 Se nossos partidos souberem aproveitar para a preparação
revolucionária das massas, de um modo bolchevique, a possibilidade de
formar um governo de Frente Única e a luta em torno da formação e
permanência no poder deste governo, esta será a melhor justificação de
nosso rumo para a criação de um governo de Frente Única.

A LUTA IDEOLÓGICA CONTRA O FASCISMO

 Um dos aspectos mais fracos da luta antifascista de nossos partidos


consiste em que não reagem suficientemente nem em seu devido tempo
contra a demagogia do fascismo e ainda hoje continuam tratando
levianamente os problemas da luta contra a ideologia fascista. Muitos
camaradas não acreditavam em absoluto que uma variedade tão
reacionária da ideologia burguesa como a ideologia do fascismo, que em
seu absurdo chega com muita frequência até o desvario, fosse capaz de
conquistar influência sobre as massas. Foi um grande erro. A
avançadíssima putrefação do capitalismo penetra até a própria medula de
sua ideologia e de sua cultura, e a situação desesperada das extensas
massas do povo predispõe certos setores ao contágio dos detritos
ideológicos deste processo de putrefação.
 Não devemos menosprezar, de modo algum, esta força do contágio
ideológico do fascismo. Ao contrário, devemos travar por nossa parte uma
ampla luta ideológica, baseada numa argumentação clara e popular e de
maneira certa e bem meditada de abordar a peculiaridade da psicologia
nacional das massas do povo.
 Os fascistas rebuscam na história de cada povo, para apresentar-se
como herdeiros e continuadores do que há de elevado e heróico em seu
passado, e exploram tudo o que humilha e ofende os sentimentos nacionais
do povo como arma contra os inimigos do fascismo. Na Alemanha, se
publicam centenas de livros que não têm mais que uma finalidade: falsear
ao modo fascista a história do povo alemão.
 Os ardentes historiadores nacional-socialistas se esforçam em
apresentar a história da Alemanha como se por imperativo de “uma lei
histórica” se visse correr como um fio de ligação, ao longo de 2.000 anos, a
trajetória que determinou a aparição no cenário da história do “salvador
nacional”, do “Messias” do povo alemão, do célebre “cabo” de pais
austríacos. Todos os grandes homens do povo alemão, em épocas passadas,
são apresentados nestes livros como fascistas, e todos os grandes
movimentos camponeses como precursores diretos do movimento
fascista.
 Mussolini se esforça obstinadamente em tirar partido da figura
heróica de Garibaldi. Os fascistas franceses mostram Joana D'Arc como
sua heroína. Os fascistas norte-americanos apelam para as tradições da
guerra da independência norte-americana, para as tradições de Washington
e de Lincoln. Os fascistas búlgaros exploram o movimento de libertação
nacional da década de 70 do século passado e os heróis populares deste
movimento, figuras tão queridas como Vasil Lewsky, Stejan Karadash, etc.
 Os comunistas que julgam que tudo isto não tem nada que ver com a
causa da classe operária e nada fazem, a mínima coisa, para esclarecer
diante das massas trabalhadoras, com toda fidelidade histórica e com um
verdadeiro sentido marxista-leninista, o passado de seu próprio povo, para
entrosar a luta atual com as tradições revolucionárias de seu passado, esses
comunistas entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas tudo o
que há de valioso no passado histórico da nação, para que enganem as
massas do povo (aplausos).
 Não, camaradas! A nós afetam todos os problemas importantes, não
só do presente e do futuro, como também os que formam parte do passado
de nosso próprio povo, pois, os comunistas não praticam a política
mesquinha dos interesses gremiais dos operários. Não somos os
funcionários limitados das “trade-unions”, nem os dirigentes dos grêmios
medievais de artesãos e oficiais. Somos os representantes dos interesses de
classe, da mais importante e maior das classes da sociedade moderna, da
classe operária, que tem por missão emancipar a humanidade dos
tormentos do sistema capitalista, que já abateu o jugo do capitalismo e é a
classe dominante numa sexta parte do mundo. Defendemos os interesses
vitais de todos os setores trabalhadores explorados, isto é, da imensa
maioria do povo de todos os países capitalistas.
 Nós, os comunistas, somos, por princípio, inimigos
irreconciliáveis do nacionalismo burguês, em todas as suas formas e
variedades. Mas não somos partidários do niilismo nacional, nem
podemos agir nunca, como tais. A missão de educar os operários e todos os
trabalhadores no espírito do internacionalismo proletário é uma das tarefas
fundamentais de todos os Partidos Comunistas. Mas, aquele que pensar
que isto lhe permite, e mesmo o obriga, a desprezar todos os sentimentos
nacionais das grandes massas trabalhadoras, está muito longe do
verdadeiro bolchevique e nada compreendeu dos ensinamentos de Lênin
sobre a questão nacional.
 Lênin, que lutou sempre decidida e consequentemente contra o
nacionalismo burguês, em seu artigo “Sobre o orgulho nacional dos grão-
russos”, escrito no ano de 1914, nos deu um exemplo de como se deve
abordar o problema dos sentimentos nacionais. Eis aqui suas palavras:
 “É alheio a nós, proletários conscientes da nacionalidade 'grã
russa', o sentimento do orgulho nacional? Não, naturalmente que não!
Sentimos amor por nosso idioma e pelo país em que nascemos;
trabalhamos mais que ninguém para que suas massas trabalhadoras, isto é,
as nove décimas partes de sua população, se elevem à vida consciente dos
democratas e socialistas. Aflige-nos enormemente ver e sentir as
injustiças, a opressão e o escárnio a que submetem nosso belo país os
verdugos do czar, da nobreza e dos capitalistas. Orgulha-nos que estas
investidas tenham encontrado resistência entre nós, entre os 'grão-russos';
que tenha saído dentre eles um Radischev, os decabristas, os
revolucionários pequeno-burgueses da década de 70 do século passado;
que a classe operária de nacionalidade 'grã-russa' tenha criado, em 1905,
um poderoso partido revolucionário de massas. Invade-nos o sentimento
de orgulho nacional ao ver que a nacionalidade 'grã-russa' soube criar
também uma classe revolucionária e demonstrou também que é capaz de
dar à humanidade exemplos grandiosos de luta pela liberdade e pelo
socialismo e não só grandes 'pogroons', fileiras de patíbulos, calabouços de
tortura, fomes terríveis e um atroz servilismo ante os padres, o Czar, os
latifundiários e os capitalistas. Invade-nos o sentimento do orgulho
nacional, e precisamente por isso odiamos com especial força nosso
passado de escravos... e nosso presente de escravos, em que os próprios
latifundiários, ajudados pelos capitalistas, nos conduzem à guerra para
estrangular a Polônia e a Ucrânia, para sufocar o movimento democrático
da Pérsia e da China e para fortalecer o bando dos Romanov, dos Bobriniski
e dos Purischkevich, que cobrem de opróbrio nossa dignidade de 'grã-
russos'”.
 Assim se expressava Lênin a respeito do orgulho nacional.
 Creio, camaradas, não ter procedido com equívoco quando, no
processo de Leipzig, diante da tentativa dos fascistas de caluniar o povo
búlgaro como um povo bárbaro, defendi a honra nacional das massas
trabalhadoras do povo búlgaro, que lutam abnegadamente contra os
usurpadores fascistas, que são os verdadeiros bárbaros e selvagens
(prolongados aplausos), e quando declarei que não tenho nenhum motivo
para envergonhar-me de ser búlgaro e que, longe disso, estou orgulhoso de
ser filho da heroica classe operária búlgara (aplausos).
 Camaradas: o internacionalismo proletário deve “aclimatar-se”,
por assim dizer, em cada país e lançar raízes profundas no solo natal. As
formas nacionais que revestem a luta proletária de classes, o movimento
operário em cada país, não estão em contradição com o internacionalismo
proletário, senão que, ao contrário, é precisamente sob estas formas que se
podem defender com êxito os interesses nacionais do proletariado.
 É evidente que se precisa pôr em relevo, ante as massas, em toda
parte e em todas as ocasiões, e demonstrar de modo concreto, que a
burguesia fascista, sob o pretexto de defender os interesses de toda a nação,
pratica a política egoísta de opressão e exploração de seu próprio povo e a
exploração e a escravização dos demais povos. Mas não podemos limitar-
nos a isto. Ao mesmo tempo, temos que pôr em evidência, através das
próprias lutas da classe operária e nas intervenções do partido comunista,
que o proletariado, ao rebelar-se contra toda vassalagem e contra toda a
opressão nacional, é o único e autêntico paladino da liberdade nacional e da
independência do povo.
 Os interesses da luta de classes do proletariado contra os
exploradores e opressores de nossa pátria não estão em choque com os
interesses de um futuro livre e feliz da nação. Ao contrário: a revolução
socialista será a salvação da nação e lhe abrirá o caminho de um novo
esplendor. Por isso, porque a classe operária ao construir hoje suas
organizações de classe e firmar suas posições, ao defender contra o
fascismo os direitos e liberdades democráticas, ao lutar pela destruição do
capitalismo, luta através de tudo isto por esse futuro da nação.
 O proletariado revolucionário luta por salvar a cultura do povo, por
redimi-la das cadeias do capital monopolista em putrefação, do fascismo
bárbaro que a violenta. Só a revolução proletária pode impedir o naufrágio
da cultura, elevar a cultura a um mais alto esplendor como verdadeira
cultura popular, nacional por sua forma e socialista por seu conteúdo,
como se está realizando a nossos olhos na União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
 O internacionalismo proletário não só não está em choque com a
luta dos trabalhadores de cada país, pela liberdade nacional, social e
cultural, mas, além disso, garante, graças à solidariedade proletária
internacional e à unidade de luta, o apoio necessário para triunfar nesta
luta. Só em estreita aliança com o proletariado vitorioso da grande União
Soviética, poderá triunfar a classe operária dos países capitalistas. Só
lutando de mãos dadas com o proletariado dos países imperialistas,
poderão os povos coloniais e as minorias oprimidas conseguir sua
libertação. A aliança revolucionária da classe operária dos países
imperialistas com os movimentos de libertação nacional das colônias e dos
países dependentes é um elo absolutamente indispensável na senda do
triunfo da revolução proletária nos países imperialistas, pois, como
ensinava Marx, “o povo que oprime outros povos jamais pode ser livre”.
 Os comunistas que fazem parte de uma nação oprimida ou
dependente não poderão lutar com êxito contra o chauvinismo no seio de
sua própria nação, se ao mesmo tempo não puserem em evidência, na
prática do movimento de massas, que lutam realmente para redimir sua
nação do jugo estrangeiro. Por outro lado, os comunistas da nação
opressora não poderão também fazer o que é necessário para educar as
massas trabalhadoras de sua nação no espírito do internacionalismo, se não
travarem uma luta decidida contra a política de opressão de sua “própria”
burguesia, pelo direito completo das nações por ela escravizadas de dirigir
livremente seus destinos. Se não o fizerem, ajudarão menos ainda os
trabalhadores das nações oprimidas a colocar-se acima de seus
preconceitos nacionalistas.
 Somente atuando nesse sentido, demonstrando de um modo
convincente em todo nosso trabalho de massas que estamos tão livres do
niilismo nacional como do nacionalismo burguês, somente então
poderemos travar uma luta verdadeiramente eficaz contra a demagogia
chauvinista do fascismo.
 Por isso, tem importância tão grande a aplicação certa e concreta da
política nacional leninista. É uma premissa absolutamente indispensável
para lutar eficazmente contra o chauvinismo, principal instrumento da
influência ideológica dos fascistas sobre as massas (aplausos).

III - O FORTALECIMENTO DOS PARTIDOS COMUNISTAS E A
LUTA PELA UNIDADE POLÍTICA DO PROLETARIADO

 Camaradas: na luta pelo estabeleci-


mento da Frente Única cresce de um modo
extraordinário o papel dirigente dos Partidos
Comunistas. Apenas o Partido Comunista é na
realidade o iniciador, o organizador, a força
motriz da Frente Única da classe operária.
 Os partidos comunistas só podem
assegurar a mobilização das amplas massas
trabalhadoras para lutar unidas contra o
fascismo e a ofensiva do capital, se
fortalecerem suas próprias fileiras em todos os
aspectos, se desenvolverem sua iniciativa, se
levarem a cabo uma política marxista-leni-
nista e uma tática adequada e flexível, que não
esqueça a situação concreta e a distribuição
das forças da classe.
 Stálin e Dimitrov
O FORTALECIMENTO DOS PARTIDOS COMUNISTAS

 No período decorrido entre o 6º e o 7º Congressos, nossos partidos


dos países capitalistas cresceram sem dúvida alguma e se temperaram
consideravelmente. Mas seria um erro extremamente perigoso ficarmos
satisfeitos com isto. Quanto mais se estender a Frente Única da classe
operária, mais tarefas novas e complicadas se apresentarão, mais teremos
que trabalhar pelo fortalecimento político e orgânico de nossos partidos. A
Frente Única do proletariado faz brotar um exército de operários que só
poderão cumprir sua missão se tiverem à sua frente uma força dirigente que
lhes indique seus objetivos e seu caminho. Só um forte partido proletário
revolucionário pode ser esta força dirigente.
 Quando nós, os comunistas, fazemos todos os esforços por
estabelecer a Frente Única, não o fazemos do ponto de vista mesquinho do
recrutamento de novos membros para os partidos comunistas. Mas
justamente porque queremos fortalecer seriamente a Frente Única
devemos fortalecer também em todos os aspectos os Partidos Comunistas e
aumentar seus efetivos. O fortalecimento dos partidos comunistas não
representa um interesse fechado de partido, senão um interesse de toda a
classe operária.
 A unidade, a coesão revolucionária e a presteza combativa dos
partidos comunistas é o mais precioso capital, que não pertence somente a
nós, mas a toda a classe operária. Associamos e continuaremos associando
a presteza para nos lançar à luta contra o fascismo, conjuntamente com os
partidos e organizações socialdemocratas, com a luta irreconciliável
contra o socialdemocratismo como ideologia e também, por conseguinte,
contra toda penetração desta ideologia em nossas próprias fileiras.
 Na realização decidida e audaz da política de Frente Única,
encontramos em nossas próprias fileiras obstáculos que temos que vencer,
custe o que custar, no menor prazo possível.
 Depois do 6º Congresso da Internacional Comunista, levou-se a
cabo em todos os partidos comunistas dos países capitalistas uma luta
tenaz contra a tendência a adaptar-se de maneira oportunista às condições
da estabilização capitalista e contra o contágio com as ilusões reformistas e
legalistas. Nossos partidos limparam suas fileiras de toda espécie de
oportunistas de direita e, com isso, firmaram sua unidade bolchevique e
sua capacidade combativa. Com menos êxito se travou, e às vezes não se
travou de nenhum modo, a luta contra o sectarismo. O sectarismo não se
manifestava em formas primitivas e descaradas, como nos primeiros anos
de existência da Internacional Comunista, e sim disfarçando-se com o
reconhecimento formalista das teses bolcheviques, freava o
desenvolvimento da política bolchevique de massas. Em nossos tempos o
sectarismo não costuma ser uma “enfermidade infantil”, como a qualificou
Lênin, mas um vício muito enraizado, e, sem nos curarmos dele, não
poderemos resolver o problema de criar uma Frente Única proletária e
levar as massas das posições do reformismo para a revolução.
 Na situação atual, o sectarismo, esse sectarismo enfatuado, como o
qualificamos em nosso projeto de resolução, entorpece, antes de tudo,
nossa luta pela realização da Frente Única; sectarismo satisfeito de sua
estreiteza doutrinária e de seu alheamento da vida real das massas;
satisfeito de seus métodos simplistas para resolver os problemas mais
complicados do movimento operário sobre a base de esquemas cortados
por um padrão; sectarismo que pretende saber tudo e não julga necessário
aprender na escola das massas as lições do movimento operário; em uma
palavra, esse sectarismo, para o qual, como costuma dizer-se, tudo é
brinquedo de criança. O sectarismo enfatuado não quer nem pode
compreender que colocar a classe operária sob a direção do partido
comunista é coisa que não se consegue automaticamente. O papel dirigente
do Partido Comunista nas lutas da classe operária precisa ser conquistado.
Para isto, não é necessário proclamar o papel dirigente dos comunistas,
senão que é preciso merecer, ganhar, conquistar a confiança das massas
operárias com um trabalho cotidiano de massas e uma política acertada.
Isto só se consegue se nós, os comunistas, em nosso trabalho político,
levamos seriamente em conta o verdadeiro nível da consciência de classe
das massas, seu grau de saturação revolucionária, se apreciamos
serenamente a situação concreta, não através de nossos desejos, senão
através da realidade. Temos que facilitar às amplas massas, pacientemente,
passo a passo, a transição para as posições do comunismo. Não devemos
esquecer jamais as palavras de Lênin, que nos advertiu com toda a energia
que “...se trata precisamente de não considerar liquidado para a classe, para
as massas, o que está liquidado para nós” 5.
 Acaso agora, camaradas, há ainda em nossas fileiras poucos
doutrinários que na política de Frente Única só percebem, sempre e em
toda parte, os perigos? Para esses camaradas, toda Frente Única constitui
um perigo rotundo. Mas esta “firmeza de princípios” sectária é apenas o
transtorno político ante as dificuldades da direção imediata da luta de
classes.
 O sectarismo se manifesta especialmente na apreciação exagerada
da maturidade revolucionária das massas, na apreciação exagerada do
ritmo com que se afastam das posições do reformismo, na tentativa de
saltar as etapas difíceis e os problemas complicados do movimento. Os
métodos de direção das massas se substituem frequentemente, na prática,
pelos métodos de direção de um grupo fechado de partido. Não se
apreciava devidamente a força dos laços tradicionais entre as massas e suas
organizações e direções, e quando as massas não rompiam rapidamente
estes laços, adotava-se diante delas uma atitude tão brusca como frente a
seus dirigentes reacionários. A tática e as palavras de ordem se convertiam
num “padrão” válido para todos os países, e não se levavam em conta as
características da situação concreta em cada país determinado. Passava-se
por alto a necessidade de desenvolver no seio da própria massa uma luta
tenaz para ganhar sua confiança, descuidava-se a luta pelas reivindicações
parciais dos operários e o trabalho dentro dos sindicatos reformistas e das
organizações fascistas de massas. Suplantava-se frequentemente a política
de Frente Única, por simples apelos e pela propaganda abstrata.
 As atitudes sectárias entorpeciam também a seleção acertada dos
homens, a educação e a formação de quadros relacionados com as massas,
que gozassem da confiança destas, de quadros com consequência
revolucionária e provados nas lutas de classe que soubessem associar às
experiências práticas de trabalho de massas a firmeza de princípios do
bolchevique.
 Desse modo, o sectarismo atrasou consideravelmente o
crescimento dos partidos comunistas, dificultou a aplicação de uma
autêntica política de massas, entorpeceu a exploração das dificuldades do
inimigo de classe para fortificar as posições do movimento revolucionário,
impediu a conquista das amplas massas proletárias para os partidos
comunistas.
 Lutando de modo mais resoluto por extirpar os últimos vestígios do
sectarismo enfatuado, temos que fortalecer por todos os meios nossa
atenção vigilante e nossa luta contra oportunismo de direita e contra todas
as manifestações concretas, não esquecendo que o perigo deste
oportunismo crescerá à medida que se for desenvolvendo uma ampla
Frente Única. Já existem tendências para reduzir o papel do partido
comunista nas fileiras da Frente Única e reconciliar-se com a ideologia
socialdemocrata. Não se deve perder de vista que a tática da Frente Única é
um método para persuadir praticamente os operários socialdemocratas da
justeza da política comunista e da falsidade da política reformista, e não
uma conciliação com a ideologia e a prática socialdemocrata. A luta eficaz
por estabelecer a Frente Única exige de nós ineludivelmente uma luta
constante dentro de nossas próprias fileiras contra a tendência para reduzir
o papel do partido, contra as ilusões legalistas, contra a orientação para o
espontaneísmo e o automatismo, no que diz respeito à liquidação do
fascismo, como no que se refere à consecução da Frente Única, contra as
menores vacilações, chegando o momento da atuação resoluta.

A UNIDADE POLÍTICA DA CLASSE OPERÁRIA

 Camaradas: o desenvolvimento da Frente Única de luta conjunta


dos operários comunistas e socialdemocratas contra o fascismo e a
ofensiva do capital levanta também o problema da unidade política, do
partido político único de massas da classe operária. Os operários
socialdemocratas se vão convencendo cada vez mais, por experiência, de
que a luta contra o inimigo de classe exige uma direção política única, pois
a dualidade de direção dificulta o desenvolvimento e fortalecimento da
luta em comum da classe operária.
 Os interesses da luta de classes do proletariado e o êxito da
revolução proletária impõem a necessidade de que exista em cada país um
partido único do proletariado. Consegui-lo não é, naturalmente, tão fácil e
simples. Exige um trabalho e uma luta tenazes e tornará necessário um
processo mais ou menos longo. Os partidos comunistas, apoiando-se na
crescente inclinação dos operários para a unificação dos partidos
socialdemocratas, ou de alguma de suas organizações, com os Partidos
Comunistas, devem tomar em suas mãos com segurança e firmeza a
iniciativa desta unificação. A causa da unificação das forças da classe
operária num partido proletário revolucionário único, nestes momentos em
que o movimento operário internacional entra no período de liquidar a
cisão, é nossa causa, é a causa da Internacional Comunista.
 Mas se, para estabelecer a Frente Única dos Partidos Comunistas e
socialdemocratas, basta chegar a um acordo sobre a luta contra o fascismo,
contra a ofensiva do capital e contra a guerra, a criação da unidade política
só é possível sobre a base de uma série de condições concretas que têm um
caráter de princípio.
 Esta unificação só será possível:
 Primeiro, com a condição de emancipar-se completamente da
burguesia e romper inteiramente o bloco da socialdemocracia com a
burguesia;
 Segundo, com a condição de que se realize previamente a unidade
de ação;
 Terceiro, com a condição de que se reconheça a necessidade da
destruição revolucionária da dominação da burguesia e da instauração da
ditadura do proletariado sob a forma de sovietes;
 Quarto, com a condição de que se renuncie a apoiar a própria
burguesia numa guerra imperialista;
 Quinto, com a condição de que se erga o partido sobre a base do
centralismo democrático, que assegura a unidade de vontade e de ação e
que já foi provado pela experiência dos bolcheviques russos.
 Temos que esclarecer os operários socialdemocratas com paciência
e camaradagem, porque a unidade política da classe operária é irrealizável
sem estas condições. Com eles devemos julgar o sentido e a importância
destas condições.
 Por que, para a realização da unidade política do proletariado, é
necessário emancipar-se completamente da burguesia e romper o bloco da
socialdemocracia com a burguesia?
 Porque, toda a experiência do movimento operário, e em particular
a experiência dos quinze anos de política de coalizão na Alemanha, pôs em
relevo que a política de colaboração de classes, a política de submissão à
burguesia, conduz à derrota da classe operária e à vitória do fascismo. E o
caminho da luta irreconciliável de classes contra a burguesia, o caminho
dos bolcheviques, é o único caminho seguro para o triunfo.
 Por que estabelecer previamente a unidade de ação há de ser a
premissa da unidade política?
 Porque a unidade de ação para repelir a ofensiva do capital e do
fascismo pode e deve conseguir-se antes de se unificar a maioria dos
operários sobre a plataforma comum de destruição do capitalismo; para
chegar à unidade de ideias a respeito das mudanças e dos objetivos
fundamentais da luta do proletariado, sem a qual não se poderia unificar os
partidos, é preciso, por sua vez, um prazo de tempo mais ou menos longo. E
o melhor para chegar à unidade de ideias é criá-la na luta conjunta contra o
fascismo hoje mesmo. Propor em vez da Frente Única a unificação
imediata equivale a querer pôr o carro adiante dos bois e julgar que deste
modo o carro andará (risos). Precisamente porque o problema da unidade
política não é para nós uma manobra, como é para muitos chefes
socialdemocratas, insistimos em que se realize a unidade de ação como
uma das etapas mais importantes na luta pela unidade política.
 Por que é necessário reconhecer a destruição revolucionária da
burguesia e a instauração da ditadura do proletariado sob a forma do poder
soviético?
 Porque a experiência do triunfo da grande revolução russa de
Outubro, de um lado, e, do outro, os amargos ensinamentos da Alemanha,
Áustria e Espanha, durante todo o período do pós-guerra, provaram uma
vez mais que o triunfo do proletariado só é possível mediante a destruição
revolucionária da burguesia, e que a burguesia, antes de permitir que o
proletariado instaure o socialismo por via pacífica, afogará o movimento
operário num mar de sangue. A experiência da revolução de Outubro
demonstrou com toda evidência que o conteúdo básico da revolução
proletária é o problema da ditadura do proletariado, cuja missão é esmagar
a resistência dos exploradores vencidos, armar a revolução para a luta
contra o imperialismo e conduzi-la até o triunfo completo do socialismo.
Para realizar a ditadura do proletariado como ditadura da esmagadora
maioria sobre uma minoria insignificante, sobre os exploradores – e
unicamente assim se realizar – são necessários os sovietes, que abrangem
todas as camadas da classe operária, as grandes massas camponesas e
demais trabalhadores, sem cujo despertar e incorporação à frente da luta
revolucionária será impossível assegurar o triunfo do proletariado.
 Por que a negação de apoio à burguesia numa guerra imperialista é
condição para estabelecer a unidade política?
 Porque a burguesia faz a guerra imperialista para alcançar seus
objetivos rapaces contra os interesses da maioria esmagadora dos povos,
qualquer que seja o pretexto sob o qual se faça a guerra. Porque todos os
imperialistas, ao mesmo tempo que se armam febrilmente para a guerra,
reforçam até o último limite a exploração e a opressão dos trabalhadores
dentro de seus próprios países. Apoiar a burguesia em semelhante guerra
significaria trair os interesses do país e da classe operária internacional.
 Finalmente, por que erigir o Partido sobre a base do centralismo
democrático é condição para a unidade?
 Porque somente um partido estabelecido na base do centralismo
democrático pode assegurar a unidade de vontade e de ação e levar o
proletariado ao triunfo sobre a burguesia, que dispõe de uma arma
poderosa como o aparelho centralizado. A aplicação do princípio do
centralismo democrático sofreu uma brilhante prova histórica na
experiência do partido bolchevique russo, o Partido de Lênin.
 Eis aí porque é necessário esforçar-se para conseguir a unidade
política sobre a base das condições apontadas.
 Somos partidários da unidade política da classe operária. Por isso
estamos dispostos a colaborar do modo mais estreito com todos os
socialdemocratas que sejam partidários da Frente Única e que apoiem
sinceramente a unificação, de acordo com os princípios mencionados. Mas
precisamente por isso, porque somos partidários da unificação, lutaremos
decididamente contra todos os demagogos de “esquerda” que tentam
explorar a desilusão dos operários socialdemocratas para criar novos
partidos ou internacionais socialistas dirigidas contra o movimento
comunista e que agravam, portanto, a cisão da classe operária.
 Saudamos a tendência crescente dos operários socialdemocratas
para a Frente Única com os comunistas. Vemos neste fato o aumento de sua
consciência revolucionária e um sinal de que se começa a superar a cisão da
classe operária. Considerando que a unidade de ação é uma necessidade
urgente e o caminho mais seguro para a criação da unidade política do
proletariado, declaramos que a Internacional Comunista e suas seções
estão dispostas a entrar em negociações com a Segunda Internacional e
suas respectivas seções sobre a criação da unidade da classe operária na
luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e contra a ameaça de
uma guerra imperialista.
CONCLUSÃO

 Camaradas: vou terminar meu informe. Como vedes, levando em


conta as mudanças operadas na situação desde o 6º Congresso e os
ensinamentos de nossa luta, e baseando-nos no nível já alcançado de
consolidação de nossos partidos, apresentamos agora de um modo novo
uma série de problemas, antes de tudo o da Frente Única e da aproximação
da socialdemocracia, dos sindicatos reformistas e das demais organizações
de massas.
 Há sabichões a quem tudo isto parece um retrocesso de nossas
posições de princípio, uma viragem da linha do bolchevismo para a direita.
Bem! A galinha faminta, como dizemos na Bulgária, sonha sempre com
milho (risos, grandes aplausos).
 Deixemos as galinhas políticas pensar como lhes pareça! (risos,
grandes aplausos).
 A nós, isto pouco interessa. O importante para nós é que nosso
próprio partido e as grandes massas de todo o mundo compreendam
acertadamente porque lutamos.
 Não seríamos marxista-leninistas, revolucionários, dignos
discípulos de Marx e Lênin, se não mudássemos de um modo congruente
nossa política e nossa tática de acordo com as mudanças operadas na
situação e no movimento operário mundial.
 Não seríamos verdadeiros revolucionários se não aprendêssemos
da própria experiência e da experiência das massas.
 Queremos que nossos partidos dos países capitalistas ajam e
procedam como verdadeiros partidos políticos da classe operária, que
desempenhem na realidade o papel de um fator político na vida de seu país,
que levem a cabo continuamente uma ativa política bolchevique de massas
e não se limitem só à propaganda e à crítica, a lançar simples apelos à luta
pela ditadura proletária.
 Somos inimigos de todo esquematismo. Queremos que se tenha em
conta a situação concreta de cada momento e de cada região dada e que não
se aja sempre e em toda parte de conformidade com um padrão
determinado; não queremos esquecer que a posição dos comunistas não
pode ser igual ali onde as condições são diferentes.
 Queremos levar em conta serenamente todas as etapas do
desenvolvimento da luta de classes e do incremento da consciência de
classe das massas, saber encontrar e resolver em cada etapa as tarefas
concretas do movimento revolucionário que correspondem a ela.
 Queremos encontrar uma linguagem comum com as mais extensas
massas para lutar contra o inimigo de classe; encontrar os caminhos pelos
quais a vanguarda revolucionária se sobreponha definitivamente a seu
isolamento das massas do proletariado e de todos os trabalhadores, e para
que a própria classe operária se sobreponha ao fatal isolamento de seus
aliados naturais na luta contra a burguesia, contra o fascismo.
 Queremos arrastar massas cada vez mais amplas à luta
revolucionária de classe e atraí-las à revolução proletária partindo de seus
interesses e necessidades candentes e sobre a base de sua própria
experiência.
 Queremos, a exemplo de nossos gloriosos bolcheviques russos, a
exemplo do partido guia da Internacional Comunista, do Partido
Comunista da União Soviética, associar ao heroísmo revolucionário dos
comunistas alemães, espanhóis, austríacos e de outros países, o autêntico
realismo revolucionário e acabar com os últimos restos de devaneio
escolástico em torno de problemas políticos sérios.
 Queremos armar nossos Partidos em todos os aspectos para que
possam resolver os problemas políticos mais complicados que lhes
apresentam. Para isto, é preciso elevar cada vez mais seu nível teórico,
educá-los no espírito vivo do marxismo-leninismo e não de um
doutrinarismo morto.
 Queremos extirpar de nossas fileiras o sectarismo enfatuado, que
fecha antes de tudo o caminho para as massas e impede a realização de uma
verdadeira política bolchevique de massas. Queremos reforçar por todos os
meios a luta contra todas as manifestações concretas do oportunismo de
direita, tendo presente que o perigo que surge deste lado crescerá
justamente ao levar à prática nossa política e nossa luta de massas.
 Queremos que os comunistas de cada país tirem e aproveitem
oportunamente todos os ensinamentos de sua própria experiência, que é a
da vanguarda revolucionária do proletariado. Queremos que aprendam
quanto antes possível a nadar nas águas tempestuosas da luta de classes e
não que fiquem à margem, como espectadores e registradores das ondas
que se aproximam, esperando o bom tempo (aplausos).
 Eis aí o que queremos.
 E queremos tudo isso porque só por este caminho a classe operária,
à frente de todos os trabalhadores, estreitando suas fileiras num exército
revolucionário de milhões de homens, dirigido pela Internacional
Comunista, poderá cumprir com toda certeza sua missão histórica: varrer o
fascismo, e com ele o capitalismo, da face da terra.
 (Toda a sala se põe de pé e tributa uma estrondosa ovação ao
camarada Dimitrov. Os delegados prorrompem em vivas ao camarada
Dimitrov, em diferentes idiomas. Ressoa poderosa a “Internacional”,
cantada em todos os idiomas do mundo e seguida de uma nova
tempestade de aplausos. Ouvem-se gritos de “Viva o camarada
Dimitrov! Um hurra bolchevique ao camarada Dimitrov, porta-
bandeira do Komintern!”. Um delegado grita, em búlgaro: “Viva o
camarada Dimitrov, heroico campeão da Internacional Comunista na
luta contra o fascismo!”. As delegações entoam suas canções
revolucionárias: a italiana, a “Bandiera Rossa”, a polaca, a
“Warchavianka!”, a francesa, “La Carmagnole”, a alemã, o “Wedding
Vermelho”, a chinesa, a “Marcha do Exército Vermelho chinês”.)

Notas:
1
Lênin: “A doença infantil do esquerdismo no comunismo”.
2
Reischsbanner: milícia política criada em 1924 pelos Partido Socialdemocrata e pelo
Centro Católico e Democrático da Alemanha em colaboração com os sindicatos
operários. Em 1932, tinha 3 milhões de filiados e, em 1933, os nazistas a dissolveram e
prenderam seus líderes.
3
Alusão à derrota das Astúrias em 1934.
4
Lênin: “Matérias inflamáveis na política mundial” – Ed. Russa.
5
Lênin: “A doença infantil do esquerdismo no comunismo”.
Quem foi G. Dimitrov
“ ...A roda da História gira para a frente. Não conseguirão pará-la.
Ela girará até à vitória final no comunismo”

O que virá a ser esse menino que adora empinar papagaios, correr
pelas ruas do bairro, lutar e fazer mil travessuras com as outras crianças?
Perguntava sua mãe, Parachkeva Doceva Dimitrova, acompanhando os
movimentos do seu primeiro rebento. Há pouco tinham chegado a Sófia,
capital da Bulgária, para onde o pai, Dimitar Mihailov se mudara antes em
busca de trabalho, conseguindo colocação como chapeleiro.
Gueorgui nascera na aldeia Colvatchevski, distrito de Radomir, em
1882. Em 1889, já em Sófia, ingressou na escola primária, que freqüentou
apenas por quatro anos, pois precisava trabalhar para ajudar no sustento da
numerosa família.
Tentou trabalhar como carpinteiro, não se adaptou; como ferreiro,
também não; como tipógrafo, “era como um milagre; as letras tornam-se
palavras, as palavras linhas e nasce o jornal, o livro, a leitura...E quando
colocas letras, lês constantemente. É o mesmo que estudares”, disse
Gueorgui, empolgado, ao pai, que perguntara como se sentia no trabalho da
tipografia.
Assim, aprendendo na escola da vida, o garoto-operário não perdia
uma reunião com os colegas para discutir problemas do trabalho; em 1900,
aos 18 anos, ingressou na Associação dos Trabalhadores Tipógrafos de
Sófia e, em 1902, no Partido Operário Social-Democrata Búlgaro
(POSDB), integrando sua ala esquerda, então denominada de “socialistas
estreitos”, em contraposição à ala direita, conciliadora, dos chamados
“socialistas largos”. Em 1909, foi eleito membro do Comitê Central.
Daí em diante, sua vida foi estudo, trabalho e militância. Mas
encontrou tempo para namorar uma companheira de partido, Liuba,
costureira e poeta, com quem se casou em 1906. A vida de Gueorgui e
Liuba foi “cheia de lutas e dificuldades, rica de amor abnegado e de
cuidados de um para com o outro. Eles não tiveram filhos” (depoimento de
Elena Dimitrova, irmã).
Insurreição e exílio
1923 foi o ano da primeira insurreição armada dos operários
búlgaros contra a ditadura fascista que se instalara no país. Integrante do
Comitê Central Militar Revolucionário, com a derrota da sublevação,
Dimitrov teve de deixar o país clandestinamente.
A partir daí, dedicou-se à organização e ao fortalecimento da
Internacional Comunista (III Internacional), na qual foi incansável
defensor e articulador da frente única contra o fascismo. No meio dessas
atividades, foi preso em Berlim no dia 9 de março de 1933, acusado com
mais quatro companheiros de incendiar o Reichstag (Parlamento) alemão.
O nazifascismo no banco dos réus
Os hitleristas haviam assumido o governo da Alemanha em 1932 por
meios legais, mas planejavam instalar uma ditadura fascista, visando a
eliminar os comunistas, acabar com o socialismo na URSS, dominar o
mundo capitalista e exterminar os judeus e os negros, considerados por
eles como “raças inferiores”
Repetindo o que fizera o imperador romano Nero (pôs fogo em
Roma e acusou os cristãos para justificar a matança), Hitler e seus
auxiliares Goering e Goebels incendiaram o Reichstag e acusaram os
comunistas, visando à proibição do Partido e perseguição aos seus
membros.
Imediatamente à detenção de Dimitrov, criou-se em Londres uma
Comissão Internacional de Inquérito formada por juristas e intelectuais
comunistas e democratas de vários países, que montou um contra-processo
para desmascarar a farsa hitlerista, mobilizando a opinião pública
internacional em favor da libertação dos comunistas injustamente
acusados.
Sem acesso ao trabalho da comissão, Dimitrov, sempre firme e
sereno, preparou a própria defesa, aliás, acusação aos nazifascistas e
brilhou nas audiências realizadas no Tribunal de Leipzig (Alemanha).
Milhões de pessoas no mundo inteiro se emocionaram com a
coragem daquele operário búlgaro que, nas garras da besta nazista, elevou
alto a voz, denunciou os verdadeiros criminosos, propagou o comunismo e
declarou seu amor à URSS, sem abrir mão do “...orgulho de ser filho da
classe operária búlgara”. Entre outras declarações contundentes, disse
Dimitrov: “A lenda de que o incêndio do Reichstag é obra dos comunistas
caiu totalmente por terra. Está demonstrado que o incêndio foi um
pretexto, o prelúdio para uma marcha de destruição, largamente pensada,
contra a classe operária e sua vanguarda, o Partido Comunista Alemão”.
“A roda da História gira, movimenta-se para a frente, para a Europa
Soviética, para a União Mundial das Repúblicas Soviéticas. E esta roda,
empurrada pelo proletariado sob a direção da Internacional Comunista,
não conseguirão parar nem com atividades exterminadoras, nem com
penas de morte. Ela gira e girará até à vitória final no Comunismo”.
Os juízes não suportaram mais continuar ouvindo as cortantes
palavras e calaram-no. Mas não ousaram condenar Dimitrov e seus
companheiros. Goering jurara que, absolvido ou condenado, ele era um
homem morto, mas perdeu também essa cartada. A União Soviética, que
ainda mantinha relações diplomáticas com a Alemanha, concedeu-lhe
cidadania e exigiu a sua soltura, o que aconteceu no dia 27 de fevereiro de
1934.
O combate continua
Dimitrov foi recebido com festa em Moscou. Sua libertação,
comemorada no mundo inteiro. Embora com a saúde abalada, não aceitou
a orientação médica de repouso integral e logo assumiu tarefas na
Internacional Comunista, dedicando-se à preparação do VII Congresso
que se realizou em 1935. Nele, foi decisiva sua atuação para que fosse
aprovada a resolução sobre a formação de frentes únicas contra o fascismo.
Mais tarde, com a invasão da França, da Europa Oriental e da URSS
pela Alemanha nazista (com apoio de seus comparsas: os fascistas
italianos e os militaristas japoneses), a Internacional Comunista orientou
que nos países ocupados se organizassem guerras de libertação por meio
de exército regular e de guerrilhas. Quanto aos países não atingidos
diretamente, a tarefa dos comunistas era conscientizar o proletariado e
todo o povo da ameaça que representava a Alemanha hitlerista e de que
apoiar a URSS significava defender a sua própria liberdade e
independência.
Tragédia familiar não derruba o revolucionário
Liuba havia falecido em 27 de maio de 1933, pouco mais de dois
meses da prisão de Dinmitrov pelos nazistas. Ele sentiu profundamente a
morte da esposa e companheira militante, mas não se deixou abater. Na
URSS, contraiu novo casamento, com Rosa, tendo nascido um filho,
Mitia, que lhe trouxe muita felicidade.
O povo soviético já enfrentava o invasor nazista dentro do seu
território e Dimitrov mobilizava os povos do mundo inteiro em defesa da
democracia e da pátria socialista, quando, em 1941, Mitia contrai difteria e
acaba falecendo aos sete anos de idade.
Inconsolável, disse a sua irmã Elena:
“O que eram os suplícios em Leipizig em comparação com o que
aconteceu agora? Lá, tinha à minha frente o inimigo e sabia como lutar e
superá-lo. Nesse caso, estou desamparado”.
De volta à pátria, para construir o socialismo
Mas sua família maior, o proletariado, o chamava; ele recuperou as
forças e prosseguiu na luta até a derrota do agressor nazista e a libertação
das nações ocupadas, inclusive a sua Bulgária. Para ela, retornou no dia 4
de novembro de 1945, ovacionado pelas massas populares como dirigente
e herói.
Assumiu a Secretaria Geral do Partido Comunista Búlgaro e a
presidência do Conselho de Ministros da República Popular-Democrática,
tendo sido responsável pela formulação das primeiras leis que colocaram o
país no caminho da construção do socialismo: reforma agrária,
nacionalização das empresas capitalistas, entre outras, e assinatura do
primeiro acordo de amizade, colaboração e ajuda mútua entre a República
Popular da Bulgária e a União Soviética em março de 1948.
Em dezembro de 1948, no VII Congresso do PC búlgaro, o informe
elaborado por Dimitrov avaliava:
“A experiência búlgara provou também a ideia leninista da
impossibilidade de realizar sérias e duradouras mudanças nas condições do
capitalismo apodrecido, da crise orgânica e sem saída da democracia
burguesa, sem tocar nas bases do capitalismo, sem dar passos pelo caminho
do socialismo”.
Haverá canções para ti
No dia 2 de Julho de 1949, faleceu Dimitrov. Numa ocasião, em
Moscou, Dimitri Manuilski, então Secretário do Comitê Executivo da
Internacional Comunista, fez-lhe uma bela homenagem, afirmando:
“...Haverá canções para ti e as gerações futuras jamais esquecerão o
homem que, durante os anos mais duros para os comunistas, através do seu
exemplo pessoal, da sua luta corajosa, infligiu a primeira derrota aos
hitleristas e inspirou aos povos fé nas suas forças e confiança na vitória
final”.
Não exageras? Perguntou-lhe Gueorgui Dimitrov.
Manuilski não exagerava!

Os editores

Fontes:
Recordações Sobre Gueorgui Dimitrov, depoimentos compilados por Petra
Radenkova, tradução de Catarina Ferreira Esteves, Sófia-Press, 1982
Gueorgui Dimitrov, Obras Escolhidas, Volume I, composição de Petra
Radenkova, tradução de Catarina Esteves, Sófia-Press, 1982 )

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