Psicologia Do Trânsito, Uma Revisão Sistemática

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Caderno de Cultura e Ciência, Ano IX, v.13, n.2, Mar, 2015 Artigo Científico
Universidade Regional do Cariri – URCA ISSN 1980-5861

PSICOLOGIA DO TRÂNSITO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA


Gislene Farias de Oliveira1; Hermes Melo Teixeira Batista2; David de Oliveira Rufato 3;
Thércia Lucena Grangeiro Maranhão4; Irineide Beserra Braga5 ; Jose Demontier Guedes6

Resumo

A questão do trânsito hoje é encarada como um problema social. A pressa e a aceleração a que estamos submetidos devido às
novas tecnologias, tem impactado o nosso dia-a-dia e nossas atitudes frente ao trânsito. Essas tem sido pouco estudadas,
embora a sociedade já demande por conhecimentos mais sistematizados nesta área. Há ainda muita ambivalência quanto ao
que é certo ou errado em termos de direitos e deveres de cada um e, quanto às regulamentações pertinentes. O presente estudo
se propôs a uma revisão sistemática da literatura sobre Psicologia do Trânsito de 2004 a 2013. Envolveu 23 artigos,
selecionados de maneira aleatória nas bases de dados Scielo, BVS e PubMed, utilizando-se as palavras-chave: psicologia do
trânsito, violência no trânsito, condutores, direção perigosa, motoristas, motociclistas, volante. De uma maneira geral, os
resultados foram dispostos em 4 categorias de assuntos tratados nos artigos selecionados: 1) Avaliação psicológica (8 artigos –
34,8%); 2)Violência no trânsito (2 artigos – 8,7%); 3) Políticas públicas (4 artigos – 17,4%); 4) Comportamento do condutor (9
artigos – 39,1%). Os estudos demonstraram que a produção científica na área da Psicologia do Trânsito no Brasil, ainda é
bastante incipiente. Os resultados demonstraram a necessidade de fortalecimento de políticas públicas de trânsito. Também que
é necessária a promoção de uma maior visibilidade dos trabalhos desenvolvidos pelo Psicólogo do Trânsito, através do
compartilhamento de suas experiências em periódicos científicos. Dessa forma, colaborando para a atualização da temática e
embasando a execução de políticas públicas para o setor. Também que há necessidade de fortalecimento de políticas públicas
de trânsito. Para isso é imprescindível que os psicólogos se façam mais presentes na criação e fortalecimento de associações
científicas e profissionais de Psicologia do trânsito, como importantes espaços de interlocução com a sociedade e o Governo
Federal. Recomenda-se maior investimento em estudos sobre a validade preditiva dos testes psicológicos utilizados na
habilitação de motoristas, de maneira que se possa estabelecer relações entre desempenhos nos testes e comportamento no
trânsito.

Palavras-chave: Psicologia do trânsito, Violência no trânsito, Direção perigosa.

PSYCHOLOGY OF TRANSIT: A SYSTEMATIC REVIEW


Abstract

The traffic issue is seen today as a social problem. The rush and the acceleration which we are submitted due to new
technologies has impacted our day-to-day and our attitudes towards traffic. These have been little studied, although the society
now demands for more systematic knowledge in this area. There is still much ambivalence as to what is right or wrong in terms
of rights and duties of each and, as the relevant regulations. This study proposes a systematic literature review of Traffic
Psychology from 2004 to 2013 .The present study involved 23 items, selected at random from Scielo, VHL and PubMed
databases using the key words:. Traffic psychology, traffic violence, conductors, reckless driving, drivers, motorcyclists,
steering wheel.In general, the results were arranged in 4 categories of subjects treated in the selected articles: 1) Psychological
Evaluation (8 articles - 34.8%); 2) Traffic Violence (2 articles - 8.7%); 3) Public Policy (4 articles - 17.4%); 4) Driver
Behavior (9 items - 39.1%). Studies have shown that scientific production in the area of Traffic Psychology in Brazil is still
incipient. The results demonstrated the need to strengthen public traffic policies. Also is required the promotion of greater
___________________________
1
Psicóloga. Doutora em Psicologia Social. Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri – UFCA. E-mail:
[email protected];
2
Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (1997). Medico do Hospital Regional do Cariri. Título de Especialista em Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia desde 2004. Mestrando em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC. E-mail: [email protected].
3
Graduado no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (2011) e mestrando em Direito da Sociedade da Informação do Centro
Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU. E-mail: [email protected]
4
Psicóloga , Graduada pela Faculdade de Ciências Humanas de Recife - ESUDA , Especialista em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde , pela Escola
de Saúde Pública do Estado do Ceará . Aluna do Programa de Pós- Graduação da Faculdade de Medicina do ABC , do curso de Mestrado em Ciências da
Saúde. E-mail: [email protected]
5
Psicóloga pela Faculdade Leão Sampaio - CE. Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade Unisaber – Goiás.
E-mail: [email protected]
6
Pedagogo, Acadêmico de Psicologia. Aluno do Programa de Pós Graduação em Ciências da Educação. E-Mail: [email protected]

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visibility of the work undertaken by the Traffic Psychologist, through by share their experiences in scientific journals . Thus,
collaborating to update the theme and reinforcing the implementation of public policies for the sector.Also to the need of
strengthen public traffic policies. For this it is essential that psychologists be more presents at creation and strengthening of
scientific associations and psychological professionals of traffic as important spaces for dialogue with society and the Federal
Government. It is recommended greater investment in research on the predictive validity of psychological tests used in the
qualification of drivers, so that one can establish relations between performances in tests and behavior in traffic.

Keywords: Traffic Psychology, Traffic Violence , Reckless Driving.

Introdução

A questão do trânsito hoje é encarada como um problema social. Há uma série de pessoas e veículos
avançando nas mais diversas direções e sentidos, que vão e vem nem sempre amistosamente. A pressa e a
aceleração a que estamos submetidos por conta das novas tecnologias, tem impulsionado um ritmo frenético ao
nosso dia-a-dia.
No caso dos motoristas, estes necessitam que haja uma certa rapidez no tráfego, ao passo que os pedestres
carecem exatamente do contrário para que possam andar e atravessar as ruas com segurança. Por outro lado, há o
comerciante que também necessita de espaço para estacionamento em frente a seu estabelecimento. Portanto, na
prática, a situação é muito mais complexa do que possa aparentar a primeira vista, pois os atores que delas
participam e, seus interesses não são os mesmos, o que facilita que entrem necessariamente em conflito muitas
vezes
Além disso, há as questões de percepção, que são variáveis conforme a situação e os interesses em cada
momento. Por exemplo, uma pessoa quando está na condição de motorista, pode perceber o pedestre que caminha
de forma mais vagarosa, como um estorvo no seu caminho. A situação pode se inverter, caso a pessoa esteja
movimentando-se como pedestre. Neste caso, poderá perceber o carro como um atrapalho.
As atitudes frente ao trânsito tem sido pouco estudadas, embora a sociedade já demande por conhecimentos
mais sistematizados nesta área. Há ainda muita ambivalência quanto ao que é certo ou errado quanto aos direitos e
deveres de cada um e, quanto às garantias sobre o cumprimento ou não das regulamentações pertinentes.
Observa-se na prática, que muitas pessoas estão fazendo ou interpretando as regras conforme as suas
conveniências e momentos.
Segundo Rozestraten (1986) e Ferreira e Menezes (2012), no Brasil, há muita contradição em relação ao
trânsito. Este ainda é visto como algo genérico. Um carro que bate em algo é tratado como acidente, igualmente a
um carro que bate em uma pessoa. Mas são situações muito diferentes.
A psicologia social do trânsito é relativamente nova, com cerca de 50 anos, e já demanda por uma série de
questões implicadas, como por exemplo: o número de veículos que hoje trafega é absurdamente maior do que o
que deveria, de forma a trafegar-se com segurança e conforto. Também há mais transeuntes e motoristas, já que a
população tem aumentada a sua expectativa de vida de idade produtiva.

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A psicologia do trânsito surgiu à partir de diversas pesquisas que impulsionaram esta área do conhecimento
a tentar entender o conjunto dos deslocamentos dentro de um sistema regulamentado. A ideia inicial
(ROZESTRATEN, 1986) era estudar o comportamento dos pedestres, motoristas, ciclistas e, num sentido mais
amplo, envolver todos os atores do tráfego aéreo, marítimo, ferroviário e fluvial. Segundo Hoffmann e Cruz (2003)
hoje estuda todos esses. De um modo mais geral, estuda o comportamento dos usuários nas rodovias e redes viárias
urbanas, de maneira a que possa contribuir para melhorar as condições de segurança, minimizando os riscos de
acidentes no trânsito e as possibilidades de ameaças a vida.
É uma área da psicologia, que possibilita uma interelação com outras ciências, com o intuito de promover
ações mais eficazes para a melhoria do desempenho e condutas nesse âmbito (HOFFMANN,2002).
Em termos epidemiológicos, é grande o número de mortes por acidentes no trânsito e, mais de 30% delas
acometem pessoas entre 18 e 30 anos. O número de anos de vida útil das pessoas acidentadas no trânsito fica
prejudicado, tendo em vista a série de sequelas causadas, minorando a qualidade de vida desses indivíduos. São
geralmente pessoas jovens, que apesar de terem investido seu tempo no aprendizado acadêmico ou em um ofício,
nem sempre poderão desfrutar deste investimento, às vezes por estupidez, outras vezes por desconhecimento,
distração ou por conta da estupidez de terceiros.
Historicamente essa área da psicologia tem início em 1910, quando motoristas de bonde de Nova Iorque
foram submetidos a testes de inteligência. Porém, seu crescimento no mundo teve maior repercussão nas décadas
de 1950 e 1960, com a formação de diversos centros de pesquisas de comportamento no trânsito
(ROZESTRATEN, 1988). No Brasil, a psicologia do trânsito ainda é um campo que avança com certa timidez
(SILVA e DAGOSTIN, 2006), quando comparada a outros países.
Foi impulsionada pela aprovação do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503, de 1997) e, por um período
de maior sensibilização da sociedade e discussões acerca de políticas públicas de saúde, segurança e educação
relacionadas à circulação humana. Mesmo sendo uma área da psicologia, demandante de maiores conhecimentos,
ainda não há uma grande quantidade de publicações sobre a temática. Partindo dessa afirmação, a presente pesquisa
teve como objetivo a realização de uma revisão sistemática em torno da Psicologia do Trânsito, para conhecer
acerca das reflexões sobre o tema em periódicos científicos brasileiros.
Dentro desse contexto torna-se justificável o presente estudo, pois revisões sistemáticas são importantes
ferramentas que atualizam o panorama de uma área de interesse (MUGNAINI; CARVALHO; CAMPANATTI-
OSTIZ, 2006).
Ante o exposto, nos indagamos: quais as questões debatidas na literatura dos últimos dez anos sobre
Psicologia do Trânsito no Brasil?
O objetivo geral foi realizar uma Revisão Sistemática da Literatura sobre Psicologia do Trânsito, nos
últimos 10 anos, especificamente no período de 2004 a 2013. Os objetivos específicos foram: a) Proceder uma
busca de artigos sobre Temas pertinentes a psicologia do Trânsito nas bases de dados Scielo - Scientific Eletronic
Library Online; na BVS - Biblioteca Virtual em Saúde e, PUBMED - Centro Nacional para a Informação
Biotecnológica; b) Categorizar os artigos segundo método de análise de conteúdo (BARDIN, 2002); c) Conhecer,

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quais as principais questões discutidas nos periódicos científicos acerca da psicologia do Trânsito; d) Identificar
quais as políticas públicas adotadas no Brasil, para o enfrentamento de questões relacionadas ao trânsito.

Método

O presente estudo propôs-se a uma de revisão sistemática da literatura, na última década, mais
precisamente de 2004-2013. Este método é uma maneira de realizar revisão, de forma planejada, seguindo
normativas e critérios estabelecidos nas publicações específicas, a respeito do assunto, a saber: Cochrane
Handbook (CLARKE e OXMAN, 2000), e CDR Report (KHAN, TER RIET, GLANVILLE, SOWDEN,
KLEIJNEN, 2000). No caso da primeira, há uma recomendação sobre as etapas a se seguir: 1) Uma pergunta de
partida que guiará todo o acesso aos estudos, e norteará as conclusões; 2) A maneira como serão selecionadas as
fontes para o estudo; 3) Uma análise mais detalhada e crítica dos artigos que forem selecionados, à partir da
triagem do material por palavras-chave; 4) Análise das informações, em conformidade com os objetivos propostos;
5) Interpretação relativa aos aspectos relacionados com os objetivos; 6) Atualização da temática, proporcionando
novas críticas ou sugestões, como forma de contribuir com estudos subsequentes, atualizando a temática em
questão.
A orientação de Cook, Mulrow e Haynes (1997), é que, uma revisão sistemática precisa ser específica,
criteriosa, reproduzível e baseada em resultados de pesquisas.
A pergunta de partida utilizada no presente estudo foi: Como vem sendo tratada na literatura a Psicologia
do Trânsito?
Para localização dos artigos sobre o Psicologia do Trânsito, inicialmente utilizou-se a triagem pelos títulos
e resumos que contivessem as palavras-chave: psicologia do trânsito, violência no trânsito, condutores, direção
perigosa, motoristas, motociclistas, volante. A escolha dos bancos de dados eletrônicos se deu, por se tratar dos
mais utilizados e conhecidos no Brasil.
O Scielo - Scientific Electronic Library Online, é uma base de dados virtual desenvolvida pela FAPESP -
Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo. Atua em parceria com o BIREME - Centro Latino_americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Eles abrigam periódicos científicos brasileiros de alta qualidade,
segundo o CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Possuem uma metodologia
semelhante de armazenamento da informação científica, em formato eletrônico. São duas importantes referências
que configuram-se como um rico acervo, permitindo observações e análises da situação da Psicologia do Trânsito,
no período de tempo descrito neste estudo, além de uma maior compreensão dos sub-temas mais discutidos.
O PubMed é uma outra base de dados utilizada para artigos científicos, que conta com mais de 17 milhões
de artigos É coordenada pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (National Library of
Medicine). Trata-se de uma versão gratuita da Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online),
uma base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina americana - US National Library of Medicine's. Abriga

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mais de 18 milhões de títulos de jornais científicos, com uma maior concentração em biomedicina, contendo ainda
artigos sobre enfermagem, odontologia, veterinária, psicologia, dentre outros
Os artigos para este estudo, foram selecionados de maneira aleatória, isto é, à medida em que foram
aparecendo na busca eletrônica, quando da utilização das palavras-chave.
Após a escolha dos artigos, procedeu-se adicionalmente, uma Análise de Conteúdo Temática (BARDIN,
2002), de forma a categorizar os artigos e dar um sentido ao material, agrupando-os por semelhança dos principais
temas tratados dentro do tema maior proposto.
Conforme recomenda a literatura, inicialmente foi feita uma leitura flutuante para, posteriormente, fazer-se
uma leitura mais minuciosa, a qual permitisse uma melhor compreensão das informações. Posteriormente
procedeu-se a separação dos textos em categorias.
Segundo Vala (1986), a análise de conteúdos é uma técnica que tem se constituído numa das mais comuns
em pesquisas empíricas, principalmente quando o assunto tratado, diz respeito às áreas humanas, sociais ou da
saúde. A mesma permite inferências sobre a organização do pensamento, através dos discursos. Bardin (2002),
referindo-se à análise de conteúdo, orienta que a mesma trata-se de um conjunto de técnicas utilizadas para uma
analise sistemática das comunicações. A ideia é obter-se indicadores que ajudem a interpretação dos conhecimentos
das mensagens.
Neste estudo, a análise do conteúdo, foi feita inicialmente por títulos e/ou frases nos artigos. Foram
também consideradas as citações nos textos, porque representam uma escolha dos autores quando da
fundamentação dos seus discursos.
Os critérios de inclusão utilizados foram os seguintes: a) artigos completos e originais; b) revisões de
literatura, estudos transversais, pesquisa de campo exploratória e estudos de coorte prospectivos e retrospectivos; c)
artigos em língua portuguesa; d) artigos que continham uma ou mais das palavras-chave no título ou no resumo; e)
Estudos à partir de 2004.
Critérios de exclusão: a) estudos feitos com animais; b) estudos anteriores a 2004; c) editoriais e cartas ao
editor; d) relatos de casos, séries de casos, de caso-controle; e) estudos de revisão que tenham dado ênfase a outros
assuntos.
Foram encontrados 52 artigos, dos quais 23 foram selecionados para compor a presente revisão, por
enquadrar-se nos critérios de inclusão.

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Figura 1: Fluxograma demonstrativo da seleção dos estudos

A tabela 1, apresenta a lista dos 23 artigos considerados, à partir da triagem pelos critérios de inclusão e
exclusão.

Tabela 1 – Artigos selecionados para este estudo (2014)


Artigos Categorias
1 – SILVA e ALCHIERI, 2010 . 1
2 – SAMPAIO e NAKANO, 2011 . 1
3 – LAMOUNIER e RUEDA, 2005 . 1
4 - MARIN RUEDA e LAMOUNIER, 2006 . 1
5 - BALBINOT, , 2011. 1
6 - SAMPAIO, 2012. 1
7 - SILVA, e. ALCHIERI, 2007. 1
8 - MARIN RUEDA e LAMOUNIER, 2005. 1
9 - GOUVEIA, 2008 . 2
10 - ALVES JÚNIOR, 2010 2
11 – NASCIMENTO e GARCIA, 2009 . 3
12 - SILVA, 2012 . 3
13 - MAIDAME, 2009. 3
14 - SILVA, e; GÜNTER, 2009. . 3
15 - FARIAS, ; LEMOS, 2008. 4
16 - BEIL, 2007. 4
17 - THIELEN, 2007 . 4
18 - DIAS, 2013 4
19 - MENDES, 2005. 4
20 - HOFFMANN, 2005. 4
21 - RAAD; CARDOZO; NASCIMENTO e ALVES, 2008. 4
22 - VEIGA; PASQUALI e SILVA, 2009. 4
23 - FERREIRA e MENESES, 2012. 4

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Resultados e Discussão

Análise das informações e Categorias eliciadas

Dos 23 artigos selecionados, quatro artigos foram de 2005, um do ano de 2006, três do ano de 2007; três
do ano de 2008; quatro do ano de 2009, dois do ano de 2010, dois do ano de 2011, três do ano de 2012 e um do ano
de 2013, o que mostra uma relativa e constante distribuição ao longo dos anos. Observe-se o quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Gráfico da distribuição dos artigos selecionados por ano.

Percebe-se uma distribuição relativamente constante, observando-se uma lacuna de publicações nos anos
de 2004, 2006 e 2013, havendo uma maior concentração de trabalhos em 2005 e 2009.
Witter (2006) considera importante, levar-se em conta, algumas questões referentes às pesquisas de revisão,
destacando algumas variáveis de interesse a serem analisadas, a saber: autoria, tipo de estudo, método e,
instrumentos utilizados na coleta de dados, dentre outras informações.
Com relação à autoria dos artigos pesquisados percebeu-se pouca variabilidade, sendo observado na tabela
2, os artigos com um ou com dois autores os de maior frequência. Houveram quatro trabalhos com mais de três
autores.
Witter (2006) considera a presença de artigos com múltipla autoria aceitável, pois tendem a promover
associações de ideias entre os pesquisadores, num mesmo trabalho.

Tabela 2 – Quantidade de autores nos artigos selecionados (2014).


Quantidade de
F %
Autores
1 10 43,6
2 9 39,2
3 1 4,3
4 1 4,3
5 1 4,3
6 1 4,3
Total 23 100,0

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Os resultados corroboram estudos de CARDOSO, SANTOS e SANTOS (2011), que também encontraram
resultados semelhantes em termos de autores em revisão realizada em três bases de dados, a saber: Scielo, Redalyc
e Pepsic.
Os assuntos discutidos foram agrupados em 4 categorias: 1 - Avaliação psicológica (8 artigos – 34,8%);
2 – Violência no trânsito (2 artigos – 8,7%); 3 – Políticas públicas (4 artigos – 17,4%); 4 – Comportamento
do condutor (9 artigos – 39,1%).
As categorias foram inspiradas no Relatório do Seminário sobre psicologia do trânsito: em trânsito pelo
Brasil. São Paulo, do Conselho Federal de Psicologia, lançado em 2012. Nele são descritos uma série de
dificuldades e temáticas mais debatidas no seminário sobre a Psicologia do Trânsito no Brasil.

Categoria 1 – Avaliação psicológica

Nesta categoria foram enquadrados os artigos que trataram sobre aspectos relativos à avaliação psicológica.
Por avaliação psicológica, neste trabalho, entenda-se assuntos que digam respeito a um procedimento de
levantamento de informações a respeito de uma pessoa, cujo propósito é a tomada de decisão. No caso particular da
avaliação psicológica de que trata o presente estudo, podem ser avaliadas características como inteligência,
interesses, personalidade, dentre outras utilizadas na psicologia do trânsito. Trata-se de um processo maior de
coleta de informações sobre o condutor de veículos, onde a utilização de instrumentos como escalas, testes e
inventários são apenas uma das possibilidades.
A tabela 3, apresenta um resumo das características dos estudos selecionados para a Categoria 1.

Tabela 3 – Artigos da Categoria 1 – Avaliação psicológica (2014)


Perió-
Tipo de
Autor / Tema dico/ Amostra Resultados
Estudo
ano
SILVA, Fábio Analisou a possibilidade de se prever infrações de trânsito
Henrique Vieira de 68 pelos motoristas profissionais, partindo-se dos resultados de
Cristo e; ALCHIERI, condutores testes psicológicos que são aplicados no processo de
Psic.:
João Carlos. Validade Explora- que habilitação. Resultou que altos ou baixos escores em todos
Teor. e
preditiva de tório exercem os instrumentos utilizados não demonstraram ser critério
Pesq,
instrumentos Descriti-vo atividade capaz de prever se um motorista cometerá atos infracionais
2010
psicológicos usados na remune-
avaliação psicológica rada
de condutores.
SAMPAIO, Maria
Helena de Lemos; Levantamento de artigos em periódicos sobre a temática.
NAKANO, Tatiana de Psicol. Resultados demonstraram um aumento no interesse pela
22 artigos
Cássia. Avaliação teor. Revisão da área. Prevalência de estudos empíricos, focados na
e 38
psicológica no prat. literatura investigação da personalidade e atenção, fazendo uso de
resumos
contexto do trânsito: 2011 grande número de instrumentos (n = 24), maior parte não
revisão de pesquisas específicos para o contexto do trânsito.
brasileiras.
LAMOUNIER, Psic, Explora- 783 Verificar se os candidatos à obtenção da CNH e os
Rossana; RUEDA, 2005 tório sujeitos condutores habilitados consideram a avaliação psicológica

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Fabián Javier Marín. Descriti-vo importante, se auxiliaria a identificar fatores de risco para
Avaliação psicológica acidentes e, se é importante a maior periodicidade. Os
no trânsito: perspectiva resultados evidenciaram altas porcentagens de respostas
dos motoristas. afirmativas nas três questões estudadas.
MARIN RUEDA,
O objetivo foi verificar diferenças no PMK em um grupo de
Fabián Javier;
candidatos a obtenção da CNH quanto ao gênero,
LAMOUNIER,
escolaridade e idade. 50% eram homens. Resultados: Os
Rossana. O Aval. Explora- 126
homens tendem mais à intratensão controlada, enquanto as
Psicodiagnóstico psicol. tório candida-
mulheres, tendem reacionalmente a dirigir voltadas ao
Miocinético em 2006 Descriti-vo tos
ambiente. No que se refere às análises em função da idade,
motoristas: diferenças
todos os participantes apresentaram uma tendência à
por gênero,
internalização das emoções e menor emotividade endógena.
escolaridade e idade.
BALBINOT, Amanda
Bifano.
Ocorrência de comportamento de risco em condutores da
Desenvolvimento e Explora-
UFRS 42 partici- categoria B em Porto Alegre-RS.
aplicação de um tório
2011 pantes Comportamentos de risco observados estão de acordo com
método de avaliação Descriti-vo
os já descritos na literatura.
do comportamento de
risco em condutores.
SAMPAIO, Maria Influência das variáveis de gênero, escolaridade e faixa
Helena de Lemos. etária no desempenho dos condutores. Tal influência não
Avaliação psicológica foi confirmada significativamente em nenhuma das
no Trânsito: análise de Explora- 319 medidas. Houve influência da faixa etária no exame
UCC
desempenho de tório partici- palográfico (F=1,85; p ≤0,001)
2012
motoristas infratores, Descriti-vo pantes
não infratores e
envolvidos em
acidentes.
SILVA, Fábio
Henrique Vieira de Revisar os estudos brasileiros sobre avaliação psicológica
Cristo e. ALCHIERI, de características da personalidade utilizados nos processos
Psico- Revisão da
João Carlos. Avaliação 15 artigos avaliativos de condutores. Conclui-se que as pesquisas
USF literatura
psicológica da empíricos sobre personalidade de motoristas são escassas e restritas
2007
personalidade de nos seus resultados com base na generalização, sem
condutores: uma resultados conclusivos.
revisão de literatura.
Comparar as avaliações realizadas no PMK por dois peritos
e características de personalidade que diferenciem os
MARIN RUEDA, Psicolo
candidatos aptos e inaptos na Avaliação Psicológica
Fabián Javier; gia: 110
Pericial. Resultados: 64,5% foram considerados aptos para
LAMOUNIER, Pesqui Explora- candida-
a função de motorista e 35,5% inaptos. Houve uma grande
Rossana. Avaliação sa & tório tos à
concordância entre os pareceres dados, assim como
psicológica com o Trânsit Descriti-vo obtenção
correlações altas e significativas na mensuração dos
PMK no contexto do o, da CNH
traçados avaliados. Os candidatos considerados inaptos
trânsito. 2005
mostraram-se mais submissos, passivos e com dificuldade
de tomar decisões.

Oito artigos compuseram esta categoria 1 que versou sobre avaliação psicológica. Trata-se de um dos temas
relativamente bem examinados na literatura, no nosso estudo foram 34,8% dos artigos selecionados.
A avaliação psicológica no contexto do trânsito, tem sido discutida tendo em vista a crescente necessidade
de se definir e redefinir os instrumentos e procedimentos empregados na avaliação de candidatos a condutores de
veículos.
A Psicologia do Trânsito tem sido reconhecida socialmente, apesar dos embates sobre a metodologia de
avaliação que vem sendo empregada. Conforme Gouveia et al. (2002), as discussões referem-se principalmente à

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questões sobre a validade dos testes psicológicos e à capacitação dos psicólogos em avaliar o perfil dos futuros
motoristas. Os autores levantam as seguintes questões:

Os psicólogos estão realmente aptos para avaliar o candidato a condutor e predizer seus
possíveis com-portamentos em situações reais de trânsito? Os testes aplicados atendem às
exigências da medida, isto é, apresentam parâmetros psicométricos aceitáveis de validade e
precisão? Tal processo de avaliação é real-mente necessário para aquisição da carteira de
habilitação? (GOUVEIA et al., 2002, p. 50).

Tais questões estão de acordo com o que preconiza a resolução nº 012/2000, do Conselho Federal de
Psicologia, como uma forma de sitstematizar um perfil do condutor que é submetido à avaliação pericial, onde se
recomenda ao psicólogo selecionar, dentre os vários testes disponíveis, aqueles julgados mais adequados, desde que
atendam os critérios científicos e psicométricos que garantem sua validade e precisão.
Os estudos observados demonstraram ser quase inexistente a probabilidade de previsão de ocorrência de
futura de infrações, partindo-se da lógica dos resultados de testes psicológicos, mesmo aceitando que os resultados
encontrados, têm um poder limitado de generalização. Portanto, muitos aspectos psicológicos, quando comparados
às infrações de trânsito tendem a uma não correlação. Também porque há inúmeras falhas na qualidade dos dados
provenientes dos órgãos oficiais e dos peritos nem sempre capacitados especificamente para as questões do trânsito
(SILVA e ALCHIERI, 2010).
Outra questão abordada foi sobre comportamento delitivo no trânsito e personalidade. Bartholomeu
(2008), não encontrou fortes evidências comparando comportamento de risco e fatores da personalidade. Observou
que a situação de trânsito induz a comportamentos inesperados, não se associando às características mais estáveis
das pessoas. Portanto, diferentes tipos de infração, tais como conduzir veículo sem levar consigo o documento
obrigatório de habilitação, dirigir em velocidade excessiva ou estacionar em local proibido, são comportamentos
que podem estar associados a diversos aspectos psicológicos. O Brasil é um país em que há a obrigatoriedade da
avaliação psicológica para dirigir. Porém, poucos foram os estudos anteriormente realizados, relacionando os testes
psicológicos a segurança no trânsito (ÁVILA E BENCZIK, 2005; LAMOUNIER e RUEDA, 2005; LAMOUNIER
e VILLEMOR-AMARAL, 2006).
Investir pois, em estudos nesta temática, parece ser essencial na identificação de relações entre
comportamento delitivo no trânsito e personalidade, de forma a agregar alguma contribuição na promoção da
segurança no trânsito.

Categoria 2 – Violência no trânsito

Tabela 4 – Artigos da Categoria 2 – Violência no trânsito (2014)


Perió-
Tipo de
Autor / Tema dico/ Amostra Resultados
Estudo
Ano
GOUVEIA, Valdiney Psicol. Explora- 389 Conhecer a percepção que as pessoas têm de um motorista
V. et al . Cenários da Estud tório estudan-tes agressivo e as causas atribuídas ao seu comportamento. Os

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agressão no trânsito: a 2008 Descriti-vo resultados indicaram o motorista agressor percebido como
percepção que as pessoa de mais rusticidade do que delicadeza e urbanidade;
pessoas têm de um Os respondentes com maior pontuação em agressão verbal
motorista agressivo. e agressão física tenderam a minimizar a conotação
negativa do comportamento do motorista agressor.
Falta tempo e profundidade na avaliação dos candidatos a
ALVES JÚNIOR, Diagn
Literatu-ra motorista pelo serviço de psicologia; Motoristas com
Dirceu Rodrigues. Trata-
Revisão especia- distúrbios incompatíveis com a direção veicular não
Fúria no trânsito. men-to
lizada conseguem se sociabilizar no trânsito, desestabilizando a
Diagn Tratamento. 2010
harmonia e a gentileza e generosidade necessárias.

A violência e os acidentes no trânsito, bem como as variáveis que os circundam, a saber comportamento
humano, uso do álcool e drogas, engenharia de tráfego, uso das novas tecnologias, entre outras, têm sido alvo de
grande preocupação social. As modificações do novo Código de Trânsito Brasileiro – CTB, foram uma forma do
Governo de enfrentamento do problema com as estatísticas do trânsito no Brasil. A nova lei já prevê punições bem
mais severas para os infratores, tais como multas mais elevadas, perda provisória da habilitação e a criação de
mecanismos jurídicos para coibir através de punição os crimes de trânsito, isto é, morte por acidente (CALDAS,
1998).
Talvez um dos grandes desafios na área de trânsito, até o aniversário do centenário da regulamentação da
Psicologia no Brasil, seja justamente aprimorar a atuação profissional incorporando esses ou outros modelos,
embasando cientificamente a execução, o acompanhamento, a avaliação ou a elaboração de políticas públicas de
trânsito com base na Psicologia, a fim de intervirmos com qualidade junto ao comportamento dos usuários do
trânsito e do transporte.
Os temas envolvendo agressividade e violência no trânsito, este último como um fenômeno mais coletivo,
tem ocupado pesquisas em diversos países (HENNESSY e WIESENTHAL, 2001; PARKER, LAJUNEN e
SUMMALA, 2002; MILES e JOHNSON, 2003; ROZESTRATEN, 2003). Tem sido estudado, particularmente
sobre os acidentes no trânsito, a exemplo da revisão realizada por Rozestraten em 1988. O autor observou que,
dentre os fatores humanos que implicam em acidentes, estão a forma agressiva de conduzir o veículo e, as brigas
entre casais. Há uma maior tendência agressiva nos homens (LAHEY et al., 2000; UZZELL e MUCKLE, 2005)
como fator predisponente a se envolverem em acidentes de trânsito, mais que as mulheres. Mesmo assim, não é
somente o sexo a variável que predispõe a uma maior velocidade e a acidentes de trânsito. A idade se mostrou
variável predisponente a acidentes no trânsito (FILDES, RUMBOLD e LEENING, 1991; UZZELL e MUCKLE,
2005), havendo também uma relação direta entre o ano do veículo e a velocidade de condução do mesmo.
Em termos do juízo que fazem as pessoas sobre acidentes de trânsito e fatores envolvidos, Gabany,
Plummer e Grigg (1997) estudaram como diferentes grupos percebem a velocidade e a violência no trânsito. Neste
sentido, os autores constataram que a gratificação do ego, que a velocidade proporciona, foi a mais indicada pelos
sujeitos do sexo masculino. Os mais jovens mostraram maior tendência a assumir riscos, como principal causa de
violência no trânsito. As mulheres indicaram a pressa como o fator mais predisponente a violência no trânsito.
Dados da literatura científica dão conta de que a medicina ortopédica já discute sub-especialidades em
trauma, devido a uma demanda crescente de acidentes de trânsito (DAVID, 2004); o SUS (Sistema Único de

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Saúde) tem gasto mais com traumas do que com doenças (ONCKEN, 2004); -os acidentes no trânsito chegam a
US$ 8 bilhões por ano no mundo. No Brasil este valor chega a R$ 3,6 bilhões (dados de abril de 2003) segundo
pesquisa realizada pelo IPEA (IPEA, 2003) sob a denominação "Impactos sociais e econômicos dos acidentes de
trânsito nas aglomerações urbanas". Tal custo é determinado com base no tratamento e nas reabilitações das
vítimas, recuperação; reposição dos bens materiais danificados; custo administrativo dos serviços públicos
utilizados, além de perdas econômicas e previdenciárias.
Montal (2001) estimou que, nos últimos 20 anos, cerca de 12 milhões de pessoas perderam a vida em
acidentes de trânsito. Ainda, 250 milhões sofreram dos mais variados tipos de ferimentos. Tudo isso tem um forte
impacto financeiro na saúde pública.
Só no ano de 2003, o Ministério da Saúde do Brasil (2001) notificou cerca de 30.567 mortes de pessoas que
foram vítimas da violência no trânsito.
Em resumo, as situações no trânsito envolvem diversas variáveis complexas, tais como características e
estado do veículo, condições nas estradas, variáveis do próprio motorista (MARÍN e QUEIROZ, 2000), alguns
deles, inclusive interagindo em si. Os resultados, muitas vezes, sãoe expressos através de ações agressivas, que
implicam em reações semelhantes. Os cenários no trânsito têm significados culturalmente diversos para os
indivíduos, que formam juízos com base nos seus próprios paradigmas.
Os artigos neste estudo, são unânimes em ponderar por um trabalho educativo e preventivo, que seja
voltado para as vítimas de violência no trânsito. Que a avaliação psicológica por si só, não tem condições de fazer
uma previsão sobre quem irá ou não se expor a acidentes, já que estes são problemas pluridimensionais.
Uma vez que os artigos foram selecionados ao acaso, observou-se que, as questões relacionadas a violência
no trânsito, ainda são muito incipiente diante da demanda. Dessa forma, parece assunto pouco discutido na
literatura especializada, de uma maneira geral. Portanto trata-se de uma temática que deve ter mais estimulada a sua
pesquisa, na academia.

Categoria 3 – Políticas públicas

Tabela 5 – Artigos da Categoria 3 – Políticas públicas (2014)


Perió-
Tipo de
Autor / Tema dico/ Amostra Resultados
Estudo
Ano
NASCIMENTO, Objetivou a análise da associação do problema do álcool e
Andréa dos Santos; direção. Entre as décadas de 1980 e 1990, eram menores as
GARCIA, Maria Lúcia Psicol Literatu-ra taxas de acidentes de trânsito versus óbitos. As duas
Teixeira. Álcool e Soc Revisão especia- últimas décadas do século XX, foram marcada pela
direção: uma questão 2009 lizada definição dos acidentes de trânsito como problema de
na agenda política saúde pública. Passou-se a discutir mais acidentes,
brasileira.., violência e óbitos além da combinação álcool e direção.
SILVA, Fábio Teceu uma análise dos aspectos históricos da Psicologia do
Psicol.
Henrique Vieira de Literatu- trânsito. Cita iniciativas como a melhoria nas
cienc.
Cristo e. A Psicologia Revisão ra especia- oportunidades de formação profissional, através de cursos
Prof
do trânsito e os 50 lizada de perito e especializações na área. Informa como a
2012
anos de profissão no Psicologia passou a influenciar em instâncias consultivas e

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Brasil. decisivas nas políticas de trânsito e, discute os esforços do


Conselho Federal de psicologia para refletir como
qualificar as ações dos profissionais na elaboração de
referências técnicas.
MAIDAME, Márcio Textos Demonstrou a utilidade de estudos das sanções previstas
Jus
Manoel. O código de referen-tes no Código de Trânsito Brasileiro. Discute os objetivos da
Naviga
trânsito brasileiro à luz Revisão ao Código legislação de trânsito, como a educação (CTB, art. 6º), e a
ndi,
dos princípios do de Trânsito eficácia das medidas punitivas.
2009
direito do sancionador. Brasileiro
SILVA, Fábio Aborda aspectos históricos da psicologia do trânsito no
Temas
Henrique de Cristo e; Brasil. Desde o desenvolvimento dos primeiros testes
em Literatu-ra
GÜNTER, Hartmut. psicotécnicos. Sugere ao final, direções futuras de estudos e
Psicolo Revisão especia-
Psicologia do trânsito trabalhos nesta área do conhecimento, em face às novas
gia, lizada
no Brasil: de onde veio oportunidades e desafios impostos pelo século XXI, na
2009
e para onde vai? perspectiva de melhorar a qualidade de vida urbana.

Nesta categoria foram enquadrados quatro artigos que se propuseram a discutir aspectos relacionados às
políticas públicas vinculadas à Psicologia do Trânsito.
Os artigos, um pouco diversificados entre si, abordaram desde aspectos históricos desta temática, até as
questões mais atuais.
Tão séria é a questão do trânsito no Brasil, e suas consequências em termos de sequelas, morbidade e
mortalidade, que o Ministério da Saúde um assessoramento, ligado ao Grupo Técnico para Acidentes e Violências
da Secretaria de Políticas de Saúde, com o objetivo de discutir uma política para prevenção e atenção a acidentes e
violência no trânsito. Embora a saúde não seja a única responsável pelos problemas, diante dos risco de acidentes e
violência, é para este setor que convergem os resultantes de tais eventos. A prevenção deve ser entendida em um
conceito mais complexo e amplo, abrangendo a antecipação do evento, seqüelas e mortes, à partir de estatísticas e
informações epidemiológicas.
Minayo e Souza (1999) nos informam sobre estratégias de trabalho propostas pelo Comitê Técnico
Científico (CTC) do Ministério da Saúde, capazes de ter uma influência positiva nestes casos:

a)dar um tom positivo ao projeto político de prevenção da violência e acidentes; b)


valorizar e articular as iniciativas existentes e dispersas; c) articular a formulação de
política e estratégias das ações, nos diferentes órgãos e setores do SUS; d) articular
intersetorialmente e com os movimentos da sociedade organizada; e) manter cooperação
técnica e científica com países que têm políticas pertinentes aos problemas aqui
tratados; f) as ações compreenderão sensibilização, assistência e recuperação (p.9).

O plano de metas inicial contemplaria informação e vigilância epidemiológica; os acidentes de trânsito e


transportes; o atendimento pré-hospitalar; os grupos populacionais, dentre os quais, crianças, jovens e
adolescentes, mulheres e idosos; a recuperação e a reabilitação.
Também estariam em andamento, uma parceria com a divisão de saúde do trabalhador, onde seria também
incluída a violência no ambiente laboral, como uma das metas do plano.
Outra reflexão importante seria a implantação de políticas públicas voltadas, principalmente para a
revitalização dos transportes coletivos, conscientizando a população de sua economia e fluidez. Ainda, programas
de educação e conscientização para evitar-se o consumo de bebidas alcoólicas no trânsito.

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Um importante conceito em Psicologia do Trânsito é o de mobilidade, que infere-se tratar da capacidade


das pessoas de poderem se locomover de um lugar para outro (CARDOSO, 2008). Com a crescente possibilidade
de se deslocar, tanto pela diversidade de transportes como pelas novas rotas de acesso, há que se discutir de que
forma essa mobilidade está acontecendo. Vasconcelos (2001) informa que as pessoas com maior renda tem a sua
disposição modos de se transportar mais rápidos e assim, percorrem mais espaços do que as populações com menor
renda. Para sobreviver nas metrópoles, a população urbana de baixa renda, normalmente é obrigada a fazer muitos
pequenos deslocamentos com a finalidade de chegar ao destino desejado (CARDOSO, 2008).
Outro conceito importante para garantir que o trânsito aconteça de maneira satisfatória é o de
acessibilidade. Entenda-se acessibilidade neste estudo como a facilidade com as pessoas conseguem chegar aos
locais da cidade, levando-se em conta o tempo e o custo envolvidos (GOMIDE, 2006).
Cardoso (2008), orienta que a acessibilidade trata sobre a efetividade dos sistemas de transporte, em
permitir uma conexão entre localidades separadas. A acessibilidade ao sistema público de transporte está
relacionada com o quão distante estão os usuários dos seus destinos e o quanto caminham quando fazem uso de
transporte coletivo, desde o ponto de origem da viagem até o ponto final de desembarque no destino que se propôs.
Quanto menos o passageiro caminhar, melhor é a sua acessibilidade ao sistema de transporte público. É
preciso levar-se em conta também a qualidade do caminho a percorrer (calçadas bem cuidadas, acessíveis a pessoas
com diversos tipos de dificuldades, etc).
Uma outra situação a ser levada em conta em termos de políticas públicas é, a qualidade de vida dentro do
sistema de trânsito.
Vasconcelos (1985) orienta a considerar o respeito às funções de cada via, a exemplo das vias em zonas
residenciais, e ao cuidado com o meio ambiente. Trata-se de promover uma compatibilização entre o uso do solo
das vias públicas e o tipo e volume de tráfego permitido pelos gestores públicos. A qualidade de vida estaria então
condicionada a uma necessária manutenção de todo esse sistema, de forma que funcione adequadamente,
preservando e cuidando do próprio usuário, para que as condições do tráfego sejam as melhores possíveis.
É importante se discutir as políticas públicas que garantam a equidade e a qualidade dos serviços de
transportes coletivos urbanos, de forma a melhorar o acesso da população e o bem estar das pessoas, em termos de
transporte coletivo, individual e o trânsito, de uma maneira geral, sua fluidez e a qualidade das vias públicas.
Em resumo, os trabalhos nesta categoria sugerem que este tema seja melhor explorado e aprofundado
cientificamente, para que novos projetos possam surgir com o intuito de reduzir os acidentes de trânsito e toda a
realidade social e de saúde que os envolve.

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Categoria 4 – Comportamento do condutor

Tabela 6 – Artigos da Categoria 4 – Comportamento do condutor (2014)


Perió-
Tipo de
Autor / Tema dico/ Amostra Resultados
Estudo
ano
FARIAS, Athena de O objetivo deste trabalho foi apontar a importância da
Saú-de
Albuquerque; temática da direção de risco por conta do álcool no Brasil e
Cole-
LEMOS, Priscila Literatu-ra no mundo, através de revisão da literatura.
tiva: Revisão da
Barreiros N. Direção especia-
Cole- Literatu-ra
de Risco Relacionada lizada
tâ-nea.
ao Álcool: Uma
2008
Revisão da Literatura.
427 O objetivo foi verificar a percepção de situações de
Motoris- acidente de trânsito por motoristas infratores com a
tas (325 aplicação da Escala de Percepção de Invulnerabilidade. Os
BEIL, Sibele Luzia. masculi- resultados demonstraram que a percepção de risco está
Percepção dos fatores Uni- no; 102 associada ao perigo em causar dano a outra pessoa ou
Estudo
e situações de risco em versi- feminino) comprometer sua segurança; Níveis elevados de ameaça
Descriti-vo
motoristas infratores. dade todos com implicam em estratégias de minimização do risco;
Quali-
Dissertação de Metodi algum tipo Infrações tem a ver com o contexto social; Percepção do
quantitativ
mestrado em sta SP de infração risco é muito individual, ante as expectativas mais corretas
o
Psicologia da Saúde., 2007 de trânsito socialmente.
2007. pontuado
na CNH
(média de
38 pontos)
Este artigo focalizou o excesso de velocidade no trânsito
urbano e analisou o impacto da legislação na percepção e o
comportamento de motoristas. Os textos legais apresentam
ambivalências, que distorcem o conceito de limite e podem
reforçar percepções inadequadas de que "correr
THIELEN, Iara Textos moderadamente" não oferece risco. Isso se deve a
Psicol.
Picchioni et al . Estudo legais constantes mudanças nas normativas e a confusa
cienc.
Percepção de risco e Document sobre divulgação, que permite aos motoristas reinterpretarem a
prof.,
velocidade: a lei e os al limites de lei, identificando o que seja velocidade máxima conforme
2007
motoristas. velocidade seu próprio entendimento. As placas de sinalização perdem
suas funções como discriminativo e tornam-se incapazes
de orientar um comportamento adequado a um trânsito
seguro,potencializando os riscos. O artigo recomenda que
os textos legais passem a ser inequívocos, para impedir
outras interpretações.
A pesquisa objetivou conhecer a percepção dos condutores
sobre o sistema de trânsito a partir de uma abordagem da
Revista psicologia sócio histórica. As respostas foram: dos
DIAS, Maria Sara de de respondentes 75% homens entre 20 e 22 anos, 70% relatam
Lima. A percepção do psico- 118 que as aulas são de muita validade e 30% percebem que o
Estudo
curso de reciclagem na logia Motoris- curso apesar de ser punitivo contribuiu para uma nova
Descriti-vo
visão do motorista na da tas forma de dirigir, 74% frequentaram o curso por somatório
cidade de Curitiba. IMED de pontos e ainda permaneceram dirigindo enquanto
2013 participavam do mesmo. Os cursos produzem efeitos na
ação de dirigir, no entanto são transitórios já que a grande
maioria é reincidente.
Análi- O futuro da prevenção de acidentes com veículos de duas
MENDES, Ricardo. se Literatu-ra rodas, deveria passar, não apenas por uma avaliação do
Ansiedade nos Psico- Revisão especia- Código sobre a Estrada e as práticas de condução, mas
motociclistas. lógi- lizada também por uma ava-liação psicológica, onde se fizesse
ca, observasse os fatores de risco envolvidos, inclusive a

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2005 ansiedade.
Psico- Este artigo destaca a convergência de estudos em
logia: Psicologia Social e Experimental, explicando fenômenos e
HOFFMANN, Maria
Pes- processos psicológicos que afetam o condutor e a segurança
Helena. Literatu-ra
quisa viária. Evidencia abordagens sobre medidas preventivas na
Comportamento do Revisão especia-
& modificação comportamental de condutores e redução de
Condutor e fenômenos lizada
Trân- acidentes.
psicológicos.
sito
2005
RAAD, Alexandre PSIC – Este estudo investigou a relação que a ansiedade poderia ter
José; CARDOZO, Revista sobre os pleiteantes à Carteira Nacional de Habilitação.
Aline Maria; de Também verificou a partir de que nível a ansiedade poderia
NASCIMENTO, Psico- passar a ser um fator determinante ou não para a
54
Marilia Almeida; logia Estudo reprovação. Os resultados evidenciaram que, na prova
Pleitean-
ALVES, Gledson da Descriti-vo teórica, a aprovação ou não esteve mais associada ao nível
tes a CNH
Lima. A ansiedade no Vetor de escolaridade.
processo de obtenção Edito-
da Carteira nacional de ra
Habilitação. 2008
VEIGA, Heila Magali O objetivo do presente estudo foi realizar uma adaptação do
da Silva; PASQUALI, DBQ (Driver Behavior Questionnarie) para o Brasil. Foi
Luiz; SILVA, Narla aplicado a uma amostra não probabilística de 504
Avalia
Ismail Akel. motoristas do Distrito Federal. A análise fatorial mostrou a
ção 504
Questionário do Estudo existência de três fatores, mantendo-se a estrutura fatorial
psico- Motoris-
comportamento do Descriti-vo do estudo original. Destaca-se a relevância social deste
lógica, tas
motorista – QCM: estudo, pois o mesmo fornece dados que podem auxiliar os
2009
Adaptação e validação profissionais e psicólogos do trânsito, na obtenção de
para a realidade ferramentas voltadas para a área do planejamento e da
brasileira. educação para o trânsito.
A função dos peritos do trânsito ainda está muito ligada
FERREIRA, Breno de
Psico- aos resultados dos testes aplicados. Essa idéia em si é
Oliveira; MENESES, Literatu-ra
loga- insuficiente no significado da Psicologia no trânsito; É
Hélem Soares de. A Revisão especia-
do. necessária uma mudança no comportamento, bem como
ética aplicada á lizada
2012 uma conscientização de que o espaço público, é direito de
Psicologia do Trânsito.
todos e deve ser utilizado de maneira igualitária.

Nesta categoria foram enquadrados nove artigos, que discutiram aspectos relacionados ao Comportamento
do Condutor.
Dentro desta dimensão, os artigos trataram desde questões relativas ao uso do álcool por motoristas e os
mecanismos sociais para a contenção de infrações de trânsito e acidentes associados, como excesso de velocidade;
percepção dos condutores sobre trânsito seguro punição; fenômenos psicológicos que podem afetar os condutores;
ansiedade em motoristas, até a conscientização dos motoristas sobre espaço público seguro.
É sabido que a elevada mortalidade por acidentes de trânsito tem representado um problema de saúde
pública tanto no país como em quase todo o mundo (MELLO-JORGE et al., 1997; YUNES e RAJS, 1994). No
Brasil foram 19 óbitos para cada cem mil habitantes, no primeiro qüinqüênio dos anos 90. Jovens, principalmente
do sexo masculino, são os que mais se envolvem em acidentes de trânsito fatais (ANDRADE e JORGE, 2000;
ZHANG et al., 2000).
Portanto, é de se esperar que os comportamentos no trânsito tenham sido objeto de estudo, em diversos
campos do conhecimento, especialmente na Psicologia. Um estudo no Reino Unido, observou 2.130 acidentes,

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140

sendo que 93% foram atribuídos a fatores humanos, mais 28% a fatores ambientais e finalmente 8,5% a
dificuldades no veículo (OMS, 1976).
Parker et al. (1995) demostraram haver uma tendência a acidentes que pode ser prognosticada, quando
referidas pelo próprio motorista. Segundo West et al. (1993), a velocidade quando auto-referida também seria uma
ferramenta que pode ser utilizada como prognóstico de envolvimento em acidentes.
Para Arnett et al. (1997), a agressividade e o descaso seriam características da personalidade que,
mostraram-se associadas à altas velocidades e ao comportamento delitivo no trânsito.
No Canadá, Zhang et al. (2000) identificaram que nos jovens, a inexperiência, o pouco poder de decisão, a
tendência a velocidade excessiva e as infrações se associam a acidentes fatais no trânsito. Marín e Queiroz (2000),
em estudo de revisão abordaram a importância do comportamento. O consumo do álcool foi o fator mais associado
aos acidentes de trânsito, como inibidor das tomadas rápidas de decisão. Os Acidentes de trânsito e suas variáveis
associadas tem representado um problema social, necessitando de mais estudos a esse respeito.
Estudo levado a cabo no Brasil, destacaram uma maior freqüência de acidentes de trânsito entre os homens.
Também constatou a existência de diferenças sócio-econômicas estatísticamente significativas entre motoristas
com historia de acidentes de trânsito anteriores. Os motoristas com maior envolvimento em acidentes pertenciam
ao grupo de mais elevada renda familiar. Também observou uma maior frequência de acidentes entre motoristas
habituais. O uso do cinto de segurança pareceu ampla- mente difundido (82,8%). Não foi observada diferença na
freqüência de acidentes de trânsito entre os que usam cinto de segurança e os que não usam (p = 0,458). Quanto à
velocidade máxima, 9,9% dos motoristas referiram acelerar numa velocidade de 160km/h e até mais. Foi maior a
proporção de transgressores no trânsito homens que entre as mulheres. Somente a proporção de brigas (discussões)
no trânsito foi maior entre as mulheres
A Nova legislação de trânsito inclui como infração grave, dirigir sob o efeito do álcool. Além disso, há a
mídia antiálcool, mostrando as repercussões sociais dos acidentes de trãnsito relacionados ao consumo de bebidas
alcoólicas. Tal estratégia funciona como um reforço negativo, baseando-se na hipótese da censura social como
inibidora de comportamentos antissociais e delitivos no trânsito. Assim, prevê-se que tal hábito seja diminuído
paulatinamente.

Conclusão

Os estudos demonstraram que a produção científica na área da Psicologia do Trânsito no Brasil, ainda é
bastante incipiente. Diversas são as lacunas em termos de investigações que ainda não foram abordadas. Nesse
sentido, sugere-se que estudiosos promovam pesquisas, principalmente na área de avaliação psicológica, na
construção de instrumentos padronizados de investigação, bem como diversos tipos de grupos amostrais.
Os resultados nos levaram a crer que há necessidade de fortalecimento de políticas públicas de trânsito.
Também que os psicólogos precisam se fazer mais presentes na criação e fortalecimento de associações científicas
e profissionais de Psicologia do trânsito, como importantes espaços de interlocução com a sociedade e o Governo

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Federal. Por meio das associações, torna-se mais viável a reivindicação de melhores condições de trabalho para os
psicólogos atuantes nas clínicas e nos órgãos ligados aos DETRANs. Há ainda pouca definição quanto a escolha
dos instrumentos psicológicos utilizados na avaliação, por exemplo.
Um outro aspecto importante seria a promoção de uma maior visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelo
Psicólogo do Trânsito, através do compartilhamento de suas experiências nos periódicos científicos. Dessa forma,
colaborando para o aperfeiçoamento do trabalho e embasando a execução de políticas públicas para o setor. Enfim,
é preciso reivindicar constantemente a atualização das resoluções, principalmente as que dizem respeito
diretamente ao trabalho do psicólogo do trânsito, de forma a não prejudicar a sua autonomia e trabalho correto.
Tendo em vista os poucos estudos sobre a validade preditiva dos testes psicológicos utilizados na
habilitação de motoristas, torna-se urgente um maior investimento nesta área, de maneira que se possa estabelecer
relações entre determinados desempenhos nos testes e o consequente comportamento no trânsito (SILVA e
ALCHIERI, 2010).
Tais estudos, implicariam em subsídio para que se favoreça a atuação do psicólogo do trânsito, na criação
de novas formas de desenvolver suas intervenções, inclusive baseadas em outros modelos de atuação mais
adaptados às novas tecnologias.
Outras recomendações vão no sentido da elaboração de medidas intervencionistas, não somente junto aos
motoristas, mas também aos usuários mais vulneráveis no trânsito como pedestres e/ou ciclistas. A intervenção nos
processos humanos implicaria na adoção de teorias e conceitos mais adaptados aos problemas do trânsito, com a
finalidade de torná-lo mais seguro. Modelos congnito-motivacionais tem destacado o papel ativo do sujeito, sendo
capazes de redefinir condutas em função do contexto, e não apenas reagindo a ele (CARBONELL et al., 1995).
Este estudo reafirma as proposições da Organização Mundial de Saúde, que dentre outras coisas, preceitua
a promoção de uma melhor qualidade de vida para todos os seres humanos, sem distinção.

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Recebido: 27/02/2015
Aceito: 09/03/2015

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