Plantas Forrageiras - Dilermando
Plantas Forrageiras - Dilermando
Plantas Forrageiras - Dilermando
1 - INTRODUÇÃO
Em um sistema de exploração pecuária com base na utilização de pastagens, a
planta forrageira assume papel primordial, uma vez que tanto a rentabilidade quanto
a sustentabilidade do sistema depende da escolha correta da forrageira.
O Brasil, país de dimensão continental, contém uma série de biomas
diferenciados, o que torna imprescindível a existência de grande número de espécies
forrageiras, gramíneas ou leguminosas, para que todos esses ecossistemas sejam
contemplados quando o objetivo for o estabelecimento de pastagens. O grande
número de espécies forrageiras disponíveis aos pecuaristas realça a necessidade e
esforços dos pesquisadores no sentido de distinguir suas principais características; e
também aumenta a responsabilidade dos pecuaristas quanto à sua escolha, já que as
opções são diversas.
Estima-se que no Brasil exista cerca de 170 milhões de hectares de pastagens,
sendo que 100 milhões são de pastagens cultivadas e 70 milhões de pastagens
naturais (IBGE, 2005). A produção de carne e leite no país é baseada quase que
exclusivamente em pastagens de gramíneas e leguminosas forrageiras. Devido à
importância da pecuária nacional para a economia do país, o cultivo de plantas
forrageiras assume papel relevante para a cadeia produtiva de carne e leite.
Nos últimos anos, a produção de carne aumentou no Brasil e esse
agronegócio movimenta aproximadamente 24 bilhões de dólares ao ano (FAO,
2005). Também no agronegócio leite, a partir da década de 1990, notou-se grande
transformação da atividade no país, resultante de mudanças institucionais, onde os
produtores incorporaram novas tecnologias ao sistema de produção (Martins, 2005).
Assim, o aumento na produtividade de carne e leite no Brasil se deve,
principalmente, à adoção de novas tecnologias pelos pecuaristas, incluindo a
utilização de novas forrageiras mais responsivas em sistemas intensivos de produção,
lançadas pelos centros de pesquisa (Martuscello et al., 2007).
A produção animal em pastagens apresenta vantagens em relação aos outros
sistemas de produção. Geralmente, o pasto é o alimento mais viável economicamente
para a alimentação de ruminantes. Estima-se que o custo de produção da forragem
oriunda da pastagem, na mesma unidade de medida, corresponde a um terço daquele
originado a partir de outras fontes de alimento, como silagem, feno e alimentos
concentrados. Neste contexto, o Brasil encontra-se em situação privilegiada, uma vez
que estimativas são de que 96,5% do plantel de bovinos é manejado exclusivamente
em pastagens, sendo que dos 3,5% restantes, a maioria é criada em pastagens por
algum período do ciclo de produção (ANUALPEC, 2002). De acordo com dados
oficiais do IBGE (2002), as pastagens brasileiras suportam um rebanho que
ultrapassa 200 milhões de cabeças, das quais mais de 171 milhões só de bovinos,
colocando o Brasil na condição de país com o segundo maior rebanho bovino do
mundo.
Entretanto, quando se analisa criteriosamente os índices zootécnicos do
rebanho brasileiro sob pastejo, nota-se ineficiência nos sistemas de produção, já que
o desfrute brasileiro é 23,4% menor do que o da vizinha Argentina, 47,5% menor do
que o da Austrália, que também explora o sistema de produção em pastagens, e
64,1% menor do que o dos Estados Unidos (FAO, 2002). Evidentemente, esses
dados refletem, dentre outros fatores, não só o manejo inadequado das pastagens e
dos animais no Brasil, mas também, em alguns casos, a inadequação da planta
forrageira ao sistema de produção.
Culturalmente o produtor brasileiro tende a buscar a “forrageira milagrosa”
como forma de aumento de produtividade, facilidade de manejo e sustentabilidade do
sistema de exploração. Porém, na maioria dos casos, as subestimativas de exigências
nutricionais e o desconhecimento do manejo da forrageira utilizada, somado à
inadequação desta ao ecossistema, resulta em diminuição da produtividade e,
posteriormente, degradação da pastagem. Ademais, a simples substituição da planta
forrageira tem pouco efeito no sistema de produção como um todo, haja vista que
esta é somente parte integrante do ecossistema. Ainda assim, é de extrema
importância o conhecimento das características agronômicas, morfológicas e
fisiológicas da forrageira a ser utilizada, pois este é a base que norteia a adequada
escolha e o eficiente manejo das forrageiras.
CAPIM-PANGOLA
CAPIM-BRAQUIÁRIA
CAPIM-KIKUIO-DA-AMAZÔNIA
CAPIM-ANDROPÓGON
CAPIM-MARANDU
Recursos vegetais
Recursos físicos
Recursos:
Forragem Forragem Produto
Solo, Clima,
produzida consumida Animal
Plantas
PRODUÇÃO ANIMAL
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/ Universidade de São Paulo, 2006.
CAPÍTULO 2
Gênero Brachiaria
Cacilda Borges do Valle
Manuel Cláudio Motta Macedo
Valéria Pacheco Batista Euclides
Liana Jank
Rosangela Maria Simeão Resende
1 - INTRODUÇÃO - HISTÓRICO
O gênero Brachiaria foi primeiramente descrito por Trinius (1834) como
uma subdivisão de Panicum e depois elevado a gênero por Grisebach (1853). A
taxonomia do gênero é até hoje controversa devido a ampla e contínua variação em
características diferenciadoras utilizadas para delimitar espécies do gênero e mesmo
entre gêneros afins como Urochloa, Eriochloa e Panicum.
Brachiaria inclui cerca de 100 espécies, de origem principalmente tropical e
subtropical africana. Sete dessas espécies - B. arrecta, B. brizantha, B. decumbens,
B. dictyoneura, B. humidicola, B. mutica e B. ruziziensis - são muito utilizadas como
plantas forrageiras na América Tropical (Keller-Grein et al., 1996). Umas poucas
espécies africanas como, B. plantaginea e provavelmente B. mutica, foram
introduzidas durante o período colonial, como cama para os escravos em navios
negreiros (Parsons, 1972; Sendulsky, 1978).
A B. decumbens foi introduzida oficialmente no Brasil em 1952, no Instituto
de Pesquisa Agropecuária do Norte (IPEAN), em Belém (Serrão e Simão Neto,
1971) com o nome de B. brizantha. A partir de 1965, ocorreram novas introduções
dessa B. decumbens, que ficou conhecida como cv. IPEAN, juntamente com as
primeiras introduções de B. brizantha e B. ruziziensis. Houve distribuição e
multiplicação desta forrageira por estolões para outros estados brasileiros, uma vez
que a produção de sementes na região Norte era reduzida (Pizarro et al., 1996). Um
outro ecotipo de B. decumbens, originário de Uganda, mas levado para a Austrália
em 1930 e lá registrado como cv. Basilisk (Mackay, 1982), foi introduzido pelo
Instituto de Pesquisas Internacionais (IRI) em Matão, São Paulo no início da década
de 1960. Entre 1968 e 1972 houve intensa importação de sementes da Austrália dessa
cultivar, estimulada por programas governamentais de incentivo a formação de
pastagens. Estabeleceu-se assim um extenso monocultivo nos cerrados brasileiros. A
boa adaptação aos solos ácidos e pobres, fácil multiplicação por sementes, associada
à grande vantagem competitiva com invasoras e bom desempenho animal comparada
às pastagens nativas, explicam a rápida expansão desta braquiária nos trópicos.
Com o monocultivo de milhões de hectares de B. decumbens, uma cultivar
rústica e apomítica (o embrião é clonal, i.e., uma cópia exata da planta-mãe),
começaram a aparecer problemas como a cigarrinha-das-pastagens, que dizimou
essas pastagens na Amazônia; a fotossensibilização, especialmente em bezerros
desmamados em pasto de capim-braquiária; e extensas áreas de pastagens
degradadas, associadas ao manejo indevido (superpastejo, não realização de
adubações de manutenção ou subsolagem). Neste contexto, a liberação da B.
brizantha cv. Marandu em 1984 (Nunes et al., 1984), resistente às cigarrinhas,
promoveu gradual substituição das áreas de B. decumbens, e por sua vez constituiu
novo monocultivo a partir de meados da década de 1980 e que perdura até hoje.
Segundo um estudo realizado pela Scot Consultoria relatado pelo Jornal dos
Criadores (Anônimo, 2004), em 2003 havia 174 milhões de hectares de pastagens
cultivadas no Brasil, dos quais cerca de 100 milhões em áreas de cerrados. As poucas
cultivares comerciais disponíveis de braquiária respondem por 85% das sementes de
forrageiras comercializadas anualmente no Brasil Central (Macedo, 2006) e por isso
geram grande vulnerabilidade nos mais de 50 milhões de hectares cultivados com
essas variedades.
A capacidade de suporte das pastagens nos Cerrados foi praticamente
triplicada com a introdução da braquiária: se as pastagens nativas eram utilizadas na
base de 3 a 4 hectares por cabeça, e pastagens de capins Gordura ou Jaraguá nos
cerrados com 0,3 a 0,6 cabeças por hectare, as braquiárias suportam em média 1 a 1,5
cabeça por hectare durante o ano. Fala-se mesmo que a braquiária foi um "divisor de
águas" no Brasil central pecuário: pecuária antes e após sua utilização.
O pequeno número de cultivares disponíveis e a baixa diversidade genética
dessas cultivares em uso representam um grande risco a esse patrimônio. Daí a
grande demanda e urgência em desenvolver e selecionar novos genótipos visando a
diversificação das áreas de pastagens nos trópicos.
Fontes de informações específicas e importantes sobre o gênero Brachiaria
estão publicadas nos Anais do 11o Simpósio sobre Manejo da Pastagem (Peixoto et
al., (eds.), 1994); no livro: "Brachiaria: Biology, Agronomy, and Improvement"
(Miles et al., 1996); no capítulo sobre Brachiaria em “Recursos Genéticos &
Melhoramento - Plantas (Pereira et al., 2001); no capítulo “Brachiariagrasses” em
“Warm-Season (C4) Grasses” (Miles et al., 2004), e no capítulo “Breeding of
apomictic grasses” (Valle e Miles, 2001), em “The flowering of apomixis: from
mechanisms to genetic engineering” (CIMMYT; IRD; Commission European
(Org.)). Informações sobre forrageiras tropicais com fotos e características
agronômicas podem ser consultadas on line em www.tropicalforages.info.
Informações mais antigas foram publicadas nos “Encontro para discussão sobre
capins do gênero Brachiaria” (Encontro ..., 1986 e 1991).
Para facilidade de abordagem, os itens origem e caracterização botânica serão
apresentados a seguir para o conjunto de espécies do gênero seguidos de descrições e
ilustrações específicas de cada cultivar.
2 - ORIGEM, DISTRIBUIÇÃO E ADAPTAÇÃO
Espécies do gênero Brachiaria ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais
de ambos os hemisférios. Já o centro de origem das principais espécies de valor
agronômico concentra-se na África Oriental (Figura 1).
A adaptação dessas espécies é ampla, abrangendo várzeas inundáveis,
margens de florestas pouco densas e até regiões semi-desérticas, mas a ocorrência
mais comum é em vegetação de savana. Keller-Grein et al., (1996) compilaram a
distribuição geográfica, climática e edáfica apresentadas no Quadro 1. Segundo
Bogdan (1977), há espécies reconhecidamente adaptadas a solos de baixa fertilidade
e mal drenados.
Dentre as espécies de maior utilização como forrageiras, a B. brizantha é sem
dúvida mais amplamente distribuída, ocorrendo em campos limpos ou com arbustos,
e margem de matas. Segundo Boonman (1993), espécies de Brachiaria são
componentes comuns e de grande valor na vegetação natural do Leste Africano.
Porém, pastagens cultivadas são, essencialmente, inexistentes nos sistemas de
produção animal da África. Fora do continente africano, no entanto, B. brizantha é a
forrageira tropical de maior utilização para produção animal em termos de área
cultivada (Miles e Valle, 1996), totalizando, só nos cerrados brasileiros, cerca de
quarenta milhões de hectares (Jank et al., 2005).
Figura 1 – Mapa da África mostrando região de origem das espécies de Brachiaria de maior
importância agronômica (Linha vermelha). No mapa, cor laranja = desertos;
verde escuro = floresta tropical; verdes claros = savanas de gramíneas e arbustos
(Fonte: http://fathom.lib.uchicago.edu/1/777777122619/3604_africaveg.html ).
E F
4 - CULTIVARES DE Brachiaria
4.1.1 - Origem
4.2.1 - Origem
Gramínea cespitosa de touceira vigorosa, com altura entre 0,8 e 1,5 m, com
rizomas horizontais curtos, duros e curvos, cobertos por escamas glabras, de cor
amarelada ou roxa (Figura 4). Os colmos são vigorosos, eretos ou semi-eretos, com
escassa ramificação e de cor verde intenso. Os nós são proeminentes, glabros, de cor
verde ou amarelo claro, e pouco radicantes. A bainha das folhas são glabras, mais
curtas que os entrenós, de cor verde intenso e arroxeadas na base. A lígula apresenta
um bordo ciliado de cor branca, e de aproximadamente 2 mm de altura. As folhas são
linear-lanceoladas, arredondadas na base e em forma de quilha na extremidade
superior, de 16 a 40 cm de comprimento e 10 a 20 mm de largura, cor verde intensa a
clara, glabras com margens denteadas, mais áspera de um lado do que do outro. As
nervuras são numerosas e finas, e a nervura central é de cor clara. Os entrenós são
planos, de cor verde intenso e roxos no ápice. A inflorescência é uma panícula
racemosa de 10 a 20 cm de comprimento, com 2 a 8 racemos unilaterais, retos, em
forma de racemo. Os ramos laterais são de 3 a 10 cm de comprimento. A raque é
estriada, de cor roxa e verde, com cílios laterais de 2 a 4 mm de comprimento.
Espiguetas oblongas a elíptico-oblongas com aproximadamente 6 mm de
comprimento e 2 a 2,5 mm de largura, de cor roxa no ápice e pilosidade branca no
ápice (Cuesta Muñuz e Pérez Bonna, 1987). O florescimento ocorre no verão
(fevereiro a março). Algumas características dessa cultivar a diferenciam da cv.
Marandu, como ausência de pelos na porção apical dos entrenós, as bainhas glabras
com margens denticuladas e a raque estriada de cor arroxeada e verde.
4.3.1 - Origem
O capim-xaraés (CIAT 26110, BRA004308) deriva de acesso coletado na
região de Cibitoke, no Burundi, África, entre 1984 e 1985. O acesso original foi
importado pelo CIAT na Colômbia, entre 1985 e 1986 junto com uma grande
coleção de ecótipos, na forma de plântulas por cultivo de meristemas, com vistas a
evitar a entrada de patógenos africanos. No Brasil, o acesso foi recebido novamente
como plântulas em tubos de ensaio, juntamente com uma grande coleção de
genótipos, conforme acordo firmado entre Embrapa e CIAT. A quarentena foi
realizada na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) onde
recebeu o código BRA 004308 e códigos de campo B178 (Embrapa Gado de Corte)
e CPAC 3555 (Embrapa Cerrados). Introduzido pela Embrapa em 1986, chegou a
Embrapa Gado de Corte em 1987, e foi avaliado pelos pesquisadores de
forragicultura e pastagem em Campo Grande e da Embrapa Cerrados por mais de 10
anos. Foi registrado no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério de
Agricultura Pecuária e Abastecimento (http://www.agricultura.gov.br/snpc) e
lançado comercialmente em 2003 sob o nome de origem tupi-guarani cv. Xaraés em
homenagem ao conjunto formado por ecossistemas pantaneiros do Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso e os povos que o habitavam (Valle et al., 2004a). No Brasil, há
dois outros registros de cultivares semelhantes, feitos for firmas particulares, sob
nomes de “MG-5 Vitória” e cv. Toledo, mas a Embrapa garante a identidade e
origem e mantém sementes genéticas apenas da cv. Xaraés.
4.4.1- Origem
O capim-piatã deriva de uma planta coletada na região de Welega na Etiópia
em colaboração com o International Livestock Center for Africa”- ILCA (número de
registro no ILCA-13372). O acesso foi recebido juntamente com uma grande coleção
de genótipos, importada do CIAT (Cali, Colômbia) sob número CIAT 16125,
conforme acordo firmado com a Embrapa. A quarentena foi realizada na Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, onde recebeu o código BRA002844 (registro no
SCPA) e códigos de campo GC930/87 - B112 (Embrapa Gado de Corte) e CPAC
3341 (Embrapa Cerrados). Este ecótipo vem sendo avaliado nestes dois centros
desde 1988, em rede nacional de ensaios, e sob pastejo em dois locais distintos desde
2001. A liberação desta cultivar ocorreu em 2007.
4.5.1 - Origem
4.6.1-Origem
A seleção desta cultivar registrada sob número CPI 16707 foi feita a partir do
germoplasma introduzido na Austrália em 1952 (Oram, 1990 citado por Miles et al.,
2004) proveniente da Estação Experimental Rietondale, em Pretoria África do Sul.
Foi inicialmente avaliada em solos bem drenados e não ofereceu vantagem sobre B.
decumbens cv. Basilisk. Este acesso foi depois enviado a Fiji e Papua Nova Guiné e
acabou sendo re-introduzido na região chamada Tully, no norte de Queensland na
Austrália em 1973. Foi lançada comercialmente na Austrália em 1980 como cv.
Tully e ficou também conhecida como coronivia ou Koronivia. O acesso foi
intercambiado entre diversas instituições de pesquisa no mundo tropical e recebeu
registros em várias instituições: CIAT 679 e 6705; BRA002208. Na Colômbia foi
introduzido em 1973 e avaliado em diferentes ecossistemas (Perez e Lascano, 1992).
No Brasil é conhecida apenas como B. humidicola comum e tem grande utilização
nos solos mal drenados e em várzeas. Substituiu a B. decumbens em grandes áreas na
Amazônia, que desapareceu em conseqüência de severos ataques por cigarrinhas-
das-pastagens na década de 1980.
4.7.1 - Origem
A cultivar Llanero deriva de sementes originalmente coletadas de um ecótipo
na Zâmbia em 1971, levado à Austrália e registrado como CPI 59610 (Keller-Grein
et al., 1996). Foi introduzida na Colômbia pelo CIAT em 1978, recebeu o registro
CIAT 6133, e após múltiplas e extensas avaliações em ensaios regionais foi liberada
como B. dictyoneura cv. Llanero pelo Instituto Colombiano Agropecuário (hoje
CORPOICA) em 1987 (Instituto Colombiano Agropecuário, 1987). Este ecótipo foi
reclassificado como B. humidicola (Renvoize et al., 1996). No Brasil recebeu o
registro BRA001449.
4.7.2 - Caracterização morfológica
4.8.1-Origem
4.9.1 Origem
Essa forrageira é amplamente cultivada nos países tropicais. A espécie é
indígena do vale Ruzi no Zaire e Burundi e ficou conhecida como ruziziensis, capim-
congo ou capim-ruzi, e em inglês “Congo signalgrass”, “Kennedy ruzigrass” (Maass,
1996). Sementes obtidas do “Institut national pour l’étude agronomique du Congo
Belge” (INEAC) em Rubona, Ruanda, foram multiplicadas na Estação Experimental
Kitale, no Quênia, no início da década de 1960 (Barnard, 1969; Boonman, 1993) e
depois distribuídas a vários locais na África Continental e Madagascar. Essa
forrageira oriunda da estação agronômica de Lac Alastra em Madagascar, em 1961
recebeu na Austrália o registro CPI 30623. Foi liberada na Austrália em 1966 como
“ruzigrass” comum (Barnard, 1969) e ficou conhecida como cv. Kennedy (Skerman
e Riveros, 1990) apesar deste nome não constar no documento de liberação (Keller-
Grein et al., 1996). No Brasil recebeu registro BRA000281 e CIAT 605 na
Colômbia.
Modo de reprodução
Ploidia
Espécie Cultivar % de SE1 % de SE
(x = 9) Classificação
meióticos apospóricos
B. brizantha
B. brizantha Marandu 4x 9 82 apomítica2
La Libertad 4x 3 97 apomítica
Xaraés 5x 21 52 apomítica
Piatã 4x 11 78 apomítica
B. decumbens
Basilisk 4x 22 71 apomítica
B. humidicola
Tully 6x 24 53 apomítica
Llanero 6x 44 50 apomítica
Tupi 4x 13 74 apomítica
B. ruziziensis
Kennedy 2x 100 0 sexual
1
SE = sacos embrionários; 2 apomíticos facultativos pois SE meióticos ≠ 0.
6. CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
Produtividade
Local Espécie Observações Referência
t.ha-1.ano
Produtividade
Local Espécie Observações Referência
t.ha-1.ano
Produtividade
Local Espécie Observações Referência
t.ha-1.ano
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
Marandu Piatã Arapoty B6 Capiporã Xaraés Tupi Média
7.2 - Semeadura
Em climas com estação chuvosa no verão, como a região Centro-Oeste, a
semeadura deverá ser realizada de meados de outubro até fevereiro, sendo a época
ideal o período de 15 de novembro a 15 de janeiro. Em regiões onde a estação de
chuvas se prolonga, a semeadura pode ser feita até o final de março.
Nos últimos 10 anos tem-se notícias cada vez mais freqüentes sobre a
síndrome da morte do capim-marandu, especialmente em áreas da Amazônia Legal.
Um zoneamento de risco edáfico e potencial de morte foi realizado para o estado do
Acre (Valentin et al., 2000), onde a ocorrência de solos com impedimento de
drenagem são comuns e os relatos mais sérios.
O capim-marandu mostrou-se pouco adaptado a solos mal drenados,
condições essas que favorecem a podridão de raízes causadas por fungos oportunistas
e redução de crescimento. Grandes áreas de pastagens de ‘Marandu’ na região Norte
e Centro-Oeste já foram perdidas e os diagnósticos indicam problemas de estresse
hídrico (especialmente excesso de água em solos com má drenagem), mau manejo
das pastagens e ocorrência de pragas e, ou doenças associadas. Em recente workshop
realizado em Cuiabá – “Morte do capim-marandu”- as diversas causas do problema e
suas inter-relações foram abordadas (Barbosa, 2006; Dias Filho, 2006) e as
características da síndrome sugerem claramente que a solução está na substituição
por outras gramíneas adaptadas ao encharcamento e resistentes aos patógenos
envolvidos.
A tolerância relativa ao alagamento do solo de vários ecótipos de Brachiaria
spp. foi comparada à cultivar Marandu em ensaios conduzidos em ambiente
semicontrolado (Dias Filho, 2002; Dias Filho e Queiroz, 2003). Foram avaliados 15
acessos de Brachiaria spp., dentre os quais apenas um, o capim-capiporã, mostrou-se
menos tolerante ao excesso de água no solo do que o capim-marandu. Três acessos
de B. brizantha: cv. Arapoty, outra B. brizantha e uma B. ruziziensis, foram
selecionados como os mais promissores. As plantas foram cultivadas em vasos, sob
condições de solo alagado (lâmina d'água a 3 cm acima do nível do solo) e bem
drenado, durante 15 dias, em delineamento inteiramente casualizado com cinco
repetições. O alagamento reduziu significativamente a produção de massa seca total
e a taxa de crescimento relativo em todos acessos, principalmente nas cultivares
Marandu e Xaraés. Todos os acessos tiveram alocação relativa de biomassa para as
raízes bem como taxa de alongamento foliar reduzida pelo alagamento. As duas
cultivares produziram raízes adventícias em resposta ao alagamento. A fotossíntese
líquida e a condutância estomática foram mais intensamente reduzidas pelo
alagamento do solo na cultivar Xaraés. Os acessos diferiram quanto à tolerância
relativa ao alagamento do solo e as cvs. Xaraés e Piatã foram classificadas como
intermediárias em tolerância ao alagamento comparativamente à cv. Marandu que é
muito sensível (Dias Filho, 2002).
Outro estudo (Mattos et al., 2005) também mostrou que o capim-marandu foi
o mais prejudicado quanto ao crescimento aéreo e desenvolvimento da planta quando
comparado à B. decumbens e B. humidicola, sob condições de excesso de água no
solo. Os resultados obtidos até aqui demonstram haver variabilidade para a tolerância
a esse estresse entre e dentro de espécies de braquiária. Dias Filho (2006) comenta
que embora variações na tolerância ao alagamento normalmente se devem a
adaptações anatômicas e bioquímicas complexas, no caso dos acessos testados, a
variação na intensidade de tolerância poderia estar relacionada a adaptações
metabólicas, uma vez que os acessos são morfológicamente semelhantes. Em todos
os acessos testados a produção de raízes foi excessivamente afetada, o que poderia
intensificar os efeitos nocivos do alagamento, causando perda de vigor e atraso ou
falha na recuperação quando a situação crônica de anoxia já não existisse. Com o
desenvolvimento das pesquisas nesta área, espera-se num futuro próximo, identificar
genótipos que além das qualidades que consolidaram as cultivares hoje disponíveis,
também apresentem maior tolerância ao estresse hídrico, pois existe variabilidade
para esta característica no germoplasma desse gênero.
Tabela 3 - Médias das taxas de lotação (nº de novilhos de 250 kg.ha-1 de peso
corporal) em P. maximum cv. Tanzânia, B. brizantha cv. Marandu e B.
decumbens cv. Basilisk, de acordo com as doses de adubo.
Cultivares Ano 1 Ano 2 Ano 3
Dose 1 Dose 2 Dose 1 Dose 2 Dose 1 Dose 2
Tanzânia 3,89 4,72 3,35 3,74 2,16 2,69
Marandu 3,65 4,68 3,15 3,71 2,12 2,89
Basilisk* 3,81 4,69 3,32 3,71 2,17 2,81
*Novilho de 200 kg de peso corporal.
Dose 1 (kg.ha-1): 1.500 de calcário dolomítico, 400 da fórmula 0-16-18 e 50 de microelementos.
Dose 2 kg.ha-1): 3.000 de calcário dolomítico, 800 da fórmula 0-16-18 e 50 de microelementos.
Fonte: Euclides et al. (1997).
Considerando-se esses resultados como conseqüência de uma queda de
fertilidade do solo e uma compactação superficial, procedeu-se uma recuperação das
pastagens, envolvendo uma subsolagen e adubação de manutenção (Euclides et al.,
2001), com N, P K e microelementos. Em resposta aos tratamentos e
independentemente da gramínea, as taxas de lotação e os ganhos de peso por animal
e por área foram maiores nos piquetes adubados com DF2. Observou-se a mesma
tendência do ciclo anterior, ou seja, taxas de lotação semelhantes entre as gramíneas
e maiores produções por animal e por área na pastagem de Tanzânia quando
comparada com as de braquiárias (Tabela 4). A menor produção de segundo ano,
também foi conseqüência de chuvas abaixo do normal em Campo Grande.
Apesar da sensível melhoria na saturação por bases no terceiro ano, após a
aplicação de calcário e gesso em julho do segundo ano, a correção de P e aplicação
anual de 50 kg.ha-1 de N não foram suficientes, para manter os teores de saturação
por bases que atingiram valores inferiores a 30%, muito baixos para essas gramíneas,
exceto para B. decumbens. Consequentemente houve queda na produção de forragem
e na capacidade de suporte dessas pastagens (Euclides et al., 2001).
Tabela 5 - Médias dos ganhos de peso por animal (g.nov.-1dia - GP) e por área
(kg.ha-1 – G/A) e taxas de lotação (nº de nov.ha-1 - TL), durante os
períodos seco e das águas, de três cultivares de B. brizantha, média de três
ciclos de pastejo
Período Seco Período das Águas Produtividade
Cultivares GP TL GP TL G/A
Tabela 6 – Disponibilidade de massa seca total (MST), de massa verde seca (MVS),
porcentagens de lâmina foliar (LF), proteína bruta (PB), digestibilidade
in vitro da matéria orgânica (DVIMO), fibra em detergente neutro (FDN)
e lignina em ácido sulfúrico (Lig-S), nos capins xaraés, piatã e marandu,
nos períodos seco e das águas
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CAPÍTULO 3
GÊNERO Cynodon
Carlos Guilherme Silveira Pedreira
1 – INTRODUÇÃO
A raça Selêucida recebeu esse nome pelo fato de ser o seu centro de origem a
região do antigo império Selêucida (atualmente Paquistão e Turquia) (Harlan et al.,
1970b). Harlan e de Wet (1969) apontaram que espécimes típicos, bem-
desenvolvidos de Selêucida se destacam dos espécimes típicos de Tropical e
Temperada. Plantas de Selêucida são ásperas, vigorosas, de coloração azulada, com
alguma pilosidade, e extremamente tolerantes às baixas temperaturas. Essas plantas
são particularmente competitivas em solos férteis e seus colmos prostrados parecem
"galopar", emergindo do solo como estolões para logo adiante voltar para o subsolo
como rizomas (Harlan e de Wet, 1969; Harlan et al., 1970b). Os melhores exemplos
da raça Selêucida são provenientes do Afeganistão, Irã, Iraque, e Turquia. O vigor,
tolerância ao frio e produtividade dessas plantas lhes conferem melhores qualidades
agronômicas (pastejo e produção de feno) quando comparadas às raças Tropical e
Temperada, as quais são de menor porte (< 20 cm).
Plantas do grupo das gramas-estrela são geralmente mais robustas e com
folhas maiores do que as das bermudas. Na média são plantas maiores e em
crescimento livre podem chegar a 2 m de altura em condições extremas (Taliaferro et
al., 2004). As gramas -estrela normalmente produzem estolões vigorosos que podem
atingir mais de 10 m de comprimento (Harlan, 1970), os quais enraizam e podem
emitir perfilhos na região dos nós. A principal característica morfológica que
distingue os taxa bermuda dos de estrela, é a ausência de rizomas nessas últimas
(Clayton e Harlan, 1970). Isso parece conferir às gramas-estrela menor aptidão para
a sobrevivência em condições de estresse como por exemplo, invernos
moderadamente rigorosos, fazendo com que, enquanto as bermudas se adaptem
razoavelmente bem às latitudes subtropicais (~ 30° ao norte e ao sul da linha do
Equador), as gramas estrela sejam tidas como espécies essencialmente tropicais.
Apesar de melhor adaptadas a regiões com pluviosidade anual ao redor de 800 mm,
as gramas-estrela apresentam boa resistência sob déficit hídrico estacional, ainda que
severo (Mislevy et al., 1989a, 1989b).
Diversas cultivares comerciais de grama-estrela têm sido descritas na
literatura. Não raramente, mesma planta é descrita sob denominações diversas, o
fenômeno que pode ser atribuído, entre outras causas, à coordenação menos que
perfeita dos esforços de pesquisa de grupos diferentes atuando em localidades
diferentes, além da aparentemente frequente incerteza sobre qual o genótipo que
realmente se tem no campo ou na estação experimental. Esta situação,
frequentemente, faz com que um novo nome comercial seja atribuído a uma
forrageira previamente "batizada" (e já sendo até comercializada) com outro nome.
Analogamente ao que acontece entre os taxa das bermudas, existe grande
variabilidade morfológica entre as gramas estrela. Plantas de C. aethiopicus (Figura
10) são excepcionalmente vigorosas, podendo atingir 2 m de altura. Folhas, colmos
e estolões são rígidos e resistentes, e as inflorescências vermelho-escuro (Clayton e
Harlan, 1970; Harlan et al., 1970b). C. nlemfuënsis var. robustus lembra C.
aethiopicus em vigor e robustez, embora tenha porte um pouco menor. Em ambas,
os estolões são longos e vigorosos mas crescem rente à superfície do solo. Já C.
nlemfuënsis var. nlemfuënsis é caracterizada por plantas um pouco menores e menos
rígidas, mas com os estolões também crescendo rentes à superfície do solo (Harlan et
al., 1970a). Plantas de C. plectostachyus são as mais facilmente identificadas dentre
os taxa de grama-estrela, com seus estolões moderadamente rígidos cujos entrenós
fazem arcos ao longo da superfície do solo.
Figura 10- Planta típica de Cynodon aethiopicus Clayton et Harlan, com detalhe da
espigueta, em escala diferente, à esquerda. Adaptado de Bogdan
(1977).
4 - CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
1) Plantio em solo úmido (melhor que plantio em solo demasiadamente seco seguido
de irrigação);
2) Uso de mudas recém-colhidas (o armazenamento de mudas, ainda que por curtos
períodos de tempo, diminui drasticamente a sua viabilidade e seu vigor);
3) Deixar pontas de mudas "aparecendo" acima da superfície do solo (cerca de 20-
25% da massa de mudas aparecendo acima da superfície após o término do
plantio);
4) Necessidade de compactação, logo após o plantio (maior quando mais arenosa a
textura do solo, com o objetivo principal de garantir o suprimento de água por
capilaridade);
5) Controle de plantas invasoras, principalmente dicotiledôneas com herbicida 2,4-D
(outras invasoras, como ciperáceas requererão controle químico específico);
6) Adubação nitrogenada em cobertura para estímulo ao perfilhamento e produção de
estolões, de maneira a garantir colonização rápida e eficiente da área.
Cultivares
Característica Tifton 85 Tifton 68 Tifton 44 Coastal
Tabela 5. Produção de massa seca, teores de proteína bruta (PB) e digestibilidade "in
vitro" da matéria orgânica (DIVMO) em gramíneas do gênero Cynodon
Frequência de pastejo (semanas) Média
Grupo Cultivar 2 4 5 7
Produção (t ha-1 ano-1)
Bermuda Florakirk 12,1a 16,5a 16,5a 16,5b 15,4
Tifton 44 5,5c 11,4bc 8,8b 11,2cd 9,2
Tifton 72-81 7,3bc 14,5ab 17,2a 18,5ab 14,3
Grazer 5,3c 6,8d 7,9b 10,1d 7,5
Tifton 68 6,6bc 10,1cd 15,6a 16,1b 12,1
Estrela Florico 11,0a 13,0ac 16,3a 20,5a 15,2
Ona 10,1a 10,1cd 14,1a 15,0c 12,3
PB (%)
Bermuda Florakirk 11,7b 8,1b 9,5a 7,7b 9,2
Tifton 44 13,5a 10,2a 9,5a 9,5ab 10,5
Tifton 72-81' 11,3b 7,8b 10,1a 7,8b 9,1
a
Grazer 9,5c 9,0 b 9,3a 9,7a 9,4
Tifton 68 12,7ab 8,2b 10,9a 8,5ab 10,1
Estrela Florico 12,3ab 8,1b 9,2a 8,4ab 9,5
Ona 13,6a 8,7ab 10,2a 8,5ab 10,2
DIVMO (%)
Bermuda Florakirk 58,5ab 55,0ab 54,8bc 51,3b 54,9
Tifton 44 58,3ab 52,9bc 51,5c 50,4b 53,4
Tifton 72-81 55,7b 49,7c 54,2bc 49,0b 52,1
Tabela 5: continuação...
Frequência de pastejo (semanas) Média
Grupo Cultivar 2 4 5 7
Grazer 55,8b 57,8ab 56,3bc 58,8a 57,2
Tifton 68 63,1a 57,6ab 62,6a 59,5a 60,7
Estrela Florico 58,6ab 58,0a 58,5ab 58,2a 58,3
Ona 59,9ab 54,8ab 57,0b 51,1b 55,7
Letras iguais nas colunas, dentro da mesma variável-resposta, não diferem entre si (P =0,05);
Adaptado de Mislevy et al. (1995)
5.1 - Pastejo
Segundo Mathews et al. (1994), embora existam informações sobre os efeitos
dos métodos de pastejo sobre respostas quantitativas (e. g., produção de MS) em
áreas de Cynodon, há pouca informação quanto aos efeitos do manejo sobre algumas
características qualitativas dessas forrageiras sob pastejo. Esses autores realizaram
experimento comparando três métodos de pastejo com C. dactylon cv. Callie, em
relação à DIVMS e à concentração de nutrientes na forragem: 1) rotativo com
período de ocupação curto (1,5 a 2,5 dias); 2) rotativo com período de ocupação
longo (10 a 14 dias) e 3) lotação contínua. Apesar da maior percentagem de lâminas
foliares encontradas nos pastejos rotativos, foi demonstrado que o valor nutritivo da
forragem variou relativamente pouco entre os tratamentos. Os autores concluíram
que, outras variáveis de manejo, que não métodos de desfolhação, têm,
provavelmente, maior impacto no desempenho animal. Isso foi evidenciado em
trabalho de Carnevalli et al. (2001), que conseguiram melhor desempenho de ovinos
em pastos de Tifton 85 manejados mais altos e com maior disponibilidade de
foragem, comparados a pastos mantidos a menores alturas, todos sob lotação
contínua com taxa de lotação variável.
Gramínea
Características Florakirk Florico Florona
GMD (kg.cabeça-1) 0,39b 0,55a 0,43b
TL (cabeças.ha-1) 6,4a 7,1a 7,5a
Ganho (kg.ha-1) 541c 812a 667b
Valores seguidos de letras iguais na mesma linha não diferem entre si (P>0,05);
Adaptado de Larbi et al. (1989).
Burton (1970) apontou que uma fertilização de 225 kg.ha-1 de N ano-1 na cv.
Coastal sob pastejo, proporcionou um ganho de peso corporal de 765 kg.ha-1 em cada
estação de pastejo, com um ganho médio diário de 0,55 kg e uma taxa de lotação (no
sistema put and take) de 11 novilhos.ha-1. Comparando duas cultivares do gênero
Cynodon (Coastcross-1 e Coastal) com Paspalum notatum var. saurae Parodi
(Pensacola Bahiagrass), Utley et al. (1974) constataram alto potencial do Coastcross-
1. Em um período de quatro anos, esta cultivar apresentou ganhos médios diários
(0,68 kg.cabeça-1) e produção total de carne (527 kg.ha-1) superiores aos das outras
gramíneas estudadas (0,49 e 0,43 kg.cabeça-1, 372 e 249 kg.ha-1, de ganhos médios
diários e produção total de carne, respectivamente para Coastal e Pensacola).
Outro experimento comparando cinco cultivares de Cynodon, avaliando taxa
de lotação, disponibilidade de forragem e ganho médio diário em relação a diferentes
"pressões de pastejo" (leve, média-leve, média-pesada, e pesada - que, pela
terminologia moderna corresponderiam a níveis de diponibilidade de forragem alto,
médio-alto, médio baixo, e baixo, respectivamente), foi conduzido por Conrad et al.
(1981). O ganho de peso total por novilho foi menor para a cultivar Coastal mas, em
função das diferenças nas capacidades de suporte, apenas a cultivar Callie
proporcionou maior ganho de peso por hectare do que a Coastal (Tabela 7). A taxa
de lotação média foi em torno de 33% maior para Coastal e Callie do que para a S-16
e S-54. Os maiores ganhos médios diários foram obtidos com o S-16, S-54 e Callie,
na pressão de pastejo leve. Em média, a cultivar Callie suportou lotações 5 e 18%
maiores do que a Coastal, nas pressões de pastejo média-pesada e pesada,
respectivamente. Como era de se esperar, os ganhos médios diários foram reduzindo
a medida que aumentava a pressão de pastejo.
B) Receita bruta
Leite vendido2 1.379,04 1.106,16
C) Margem bruta (B – A) 569,74 754,04
1
Custos relativos a distribuição de alimentos, mão-de-obra e taxas;
2
Preço de mercado do leite em Juiz de Fora-MG, no mês de abril de 1994, foi de US$ 24 kg-1
Adaptado de Vilela et al. (1993).
5.2 - Fenação
Os capins bermuda são amplamente utilizados na forma de feno tanto em
regiões de clima tropical como em regiões de clima temperado. Diversos
experimentos têm sido conduzidos com a finalidade de determinar os efeitos da
maturidade da planta e da cultivar sobre o consumo e digestibilidade da massa seca
de fenos de gramíneas do gênero Cynodon (Hill et al., 1998).
Os melhores fenos de gramíneas do gênero Cynodon são obtidos das
cultivares que têm mais folhas do que colmos, como a Florakirk, Tifton 85,
Coastcross e Florona. Independente da cultivar, o corte deve ser efetuado quando a
planta alcançar o equilíbrio entre alto teor de nutrientes e elevada produção de massa
seca por unidade de área. Segundo Vilela (1998), isso ocorre, no Brasil Central,
entre 25 e 28 dias no período de primavera/verão e no outono/inverno com 42 a 63
dias, dependendo da região e da fertilização recebida pela planta forrageira.
A "qualidade" do feno pode ser avaliada visualmente, examinando o estádio
de maturação, a quantidade de folhas, a presença de material estranho, o odor e a
presença de mofo. Os teores de PB e de fibra em detergente neutro (FDN) também
fornecem indicações da qualidade do feno. A Embrapa Gado de Leite adota a
classificação de feno nos tipos A, B e C, em função do teor de umidade, PB e FDN
(Tabela 10).
Tabela 10 - Classificação de feno em função da qualidade (EMBRAPA Gado de
Leite)
Tipo Umidade (%) PB (% MS) FDN (% MS)
A 15 - 12 > 13 < 65
B 18 – 15 9 – 13 65 – 69
C 18 – 15 <9 > 69
Época de
Altura do dossel (cm)
avaliação
5 10 15 20
- - - - - - - - - - dias / folha - - - - - - - - - -
Dez 4,1 4,3 4,0 3,1
Fev 3,8 4,9 4,2 5,3
Abr 4,7 4,8 5,3 5,4
Jul 8,3 9,2 8,5 11,4
Adaptado de Pinto et al. (2001).
Tifton 85 Florakirk Coastcross
2,5
Índice de área foliar (IAF)
1,5
0,5
0
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Época de avaliação (mês)
Figura 9 - Índice de área foliar em pastos de Cynodon spp. sob regime de lotação
contínua em diferentes épocas de avaliação (Fonte: Fagundes et al.,
1999b).
80
70
Interceptação Luminosa (%)
60
50
40
30
20
10
0
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Época de avaliação (mês)
Altura
(cm) Dezembro Fevereiro Abril Julho
densidade peso densidade peso densidade peso densidade peso
(perfilho/m2) (mg) (perfilho/m2) (mg) (perfilho/m2) (mg) (perfilho/m2) (mg)
5 15.127 17,4 16.482 11,1 11.155 17,4 14.415 17,8
10 9.904 41,2 11.773 32,6 15.528 22,6 11.661 36,7
15 10.145 51,1 9.026 43,2 14.483 28,4 12.001 41,5
20 6.980 88,8 9.996 63,0 12.251 55,6 17.659 42,8
Adaptado de Sbrissia et al., 2001.
Conforme tem sido demonstrado por uma série de trabalhos mais recentes,
realizados com outras espécies forrageiras tropicais, como os capins dos gêneros
Panicum (Uebele, 2002; Bueno, 2003; Carnevalli, 2003 e Barbosa, 2004) e
Brachiaria (Lupinacci, 2002; Sarmento, 2003; Molan, 2004; Andrade, 2004),
seguindo essa abordagem ecofisiológica, existe uma semelhança muito grande no
padrão de resposta apresentado por essas plantas tropicais no que diz respeito à
estrutura do dossel (arranjo espacial), tamanho do aparato fotossintético (IAF),
interceptação luminosa e dinâmica do perfilhamento com os relatados para as plantas
de clima temperado (Da Silva, 2002). Isso permite inferir que os processos
fundamentais que determinam respostas biológicas de espécies forrageiras tropicais
não devem diferir daqueles que já há algum tempo são melhor conhecidos, bem
aceitos, e largamente aplicados no manejo de gramíneas de clima temperado.
Com base nesse conceito de interceptação de luz, os dados apresentados por
Fagundes et al. (1999b) (Figura 10), indicam que Tifton 85 atingiu os 95% de
interceptação em alturas de dossel ao redor de 20 cm, ao passo que Florakirk e
Coastcross em alturas na faixa de 25 a 30 cm. Isso sugere que devem existir
diferenças nas exigências de manejo para a otimização de processos biológicos
nessas três forrageiras, que, de outra maneira, parecem ser tão semelhantes. Estudos
com outras espécies manejadas sob desfolhação intermitente como Panicum e
Brachiaria (não existem dados específicos para Cynodon em pastejo intermitente
usando esta abordagem metodológica), sugerem que a altura recomendada para o
manejo sob lotação contínua, corresponderia, numa boa aproximação, à condição
média entre a altura de entrada e a altura de resíduo pós-pastejo para a planta. Se
isso se aplicar aos capins do gênero Cynodon, pode-se indicar que para Tifton 85
seriam recomendados uma altura de entrada para pastejo ou corte de 25 cm, com um
rebaixamento para 15 cm de resíduo, e para Coastcross e Florakirk uma altura de
entrada de 30 a 35 cm, e um resíduo semelhante ao do Tifton 85.
Esse novo enfoque metodológico oferece não apenas uma abordagem sob o
prisma de conceitos e princípios, mas principalmente um novo rol de informações
para o entendimento dos diversos aspectos ligados à dinâmica de produção e
consumo de forragem em pastagens, bem como as respostas de animais em pastejo,
trazendo uma visão integrada dos componentes do sistema pastoril, solo–planta–
animal, e possibilitando o estabelecimento de técnicas de manejo mais racionais,
eficientes e economicamente mais viáveis.
Giant (Cynodon dactylon var. aridus): Outrora conhecida como NK37, produz
plantas de maior porte e de estabelecimento mais rápido, sendo por isso muito
utilizada em diversas misturas. Sua produção no ano de implantação é boa, mas
diminui com o tempo, chegando por vezes a desaparecer completamente após dois ou
três anos. Sua resistência ao frio é baixa, desaparecendo no inverno em estados mais
frios. Em um estudo comparativo conduzido na Georgia (EUA) sua produção média
em quatro anos de estudo foi de 66% da produção da cultivar Cheyenne, outra
cultivar propagada por sementes, e o estande final apresentava apenas 50% da
densidade original.
Morhay, Pasto Rico, Pasture Supreme, Texas Tough e Tierra Verde: Essas cinco
cultivares são misturas de sementes de Common e Giant em proporções variáveis, e
comercializados por diferentes empresas produtoras de sementes nos EUA. De forma
geral, todos tendem com o tempo a se tornarem estandes puros de Common, pois
Giant normalmente desaparece com o passar do tempo (Evers e Davidson, 2007).
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CAPÍTULO 4
GÊNERO Paspalum
1- INTRODUÇÃO
Das milhares de espécies de gramíneas conhecidas, a maior parte é
encontrada em pastagens nativas. Entretanto, Hartley e Willians (1956) afirmam que
em 1956, apenas 40 espécies constituíam mais de 99% das pastagens cultivadas. A
busca incessante por novas espécies e, ou cultivares que garantam a quantidade e a
qualidade de forragem produzida tem incentivado a coleta de plantas com potencial
forrageiro.
Atualmente, as pesquisas com plantas forrageiras e a importância de se
conhecer novas variedades mais produtivas tem aumentado de maneira considerável,
com esforços no sentido de identificar gêneros, espécies, cultivares e ecótipos de
plantas forrageiras melhor adaptadas às condições de diversos ecossistemas. No
Brasil, até então, esta atividade vinha sendo realizada de modo a estimular as coletas
e intercâmbios de germoplasma exóticos, principalmente do Continente Africano
(gêneros Brachiaria, Panicum, etc.), esquecendo os gêneros e espécies nativas, como
por exemplo, as pertencentes ao gênero Paspalum.
É notória a importância de forrageiras do gênero Paspalum na formação de
pastagens cultivadas, sendo a América do Sul o centro de origem da maioria das
espécies desse gênero. A variabilidade genética disponível facilita os programas de
melhoramento na busca de cultivares mais produtivas e de melhor valor nutritivo.
Como espécie nativa de nossos ecossistemas, apresenta menor risco ecológico que
aqueles possibilitados pelas exóticas, como os problemas de fotossensibilização e a
suscetibilidade ao ataque de cigarrinha-das-pastagem em Brachiaria decumbens
(Cosenza, 1982) e o vírus do enfezamento em capim-pangola (Digitaria decumbens)
(Schank, 1974).
Segundo Valls (1986), o gênero Paspalum destaca-se entre as gramíneas
brasileiras por possuir grande número de espécies de bom potencial forrageiro e por
possuir boa capacidade de adaptação à acidez, à desfolhação, ao fogo, ao frio e ao
alagamento (Rodrigues, 1986). Pizarro e Carvalho (1992) afirmam que as espécies e
variedades do gênero Paspalum apresentam um grande potencial ainda pouco
explorado, para ocupar importantes áreas como as várzeas e baixadas mal drenadas.
Segundo Pott (1988), no ecossistema Pantanal, 99% das forrageiras são
nativas e, dentre as gramíneas presentes, o gênero Paspalum está representado pelas
seguintes espécies: Paspalum pantanalis, Paspalum plicatulum e Paspalum
hydrophilum (comunidade vegetal felpudo); Paspalum carinatum e Paspalum
lineare (comunidade vegetal fura bucho); Paspalum repens (comunidade vegetal
baía) e grama-tio Pedro (Paspalum oteroi).
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CAPÍTULO 5
Liana Jank
Janaina Azevedo Martuscello
Valeria Pacheco Batista Euclides
Cacilda Borges do Valle
Rosângela Maria Simeão Resende
1 - INTRODUÇÃO E HISTÓRICO
A gramínea forrageira Panicum maximum é conhecida mundialmente por sua
alta produtividade, qualidade e adaptação a diferentes condições edafoclimáticas. A
espécie é a forrageira tropical propagada por sementes mais produtiva existente, e
tem despertado a atenção de pecuaristas também por sua abundante produção de
folhas longas, porte elevado, e pela alta aceitabilidade pelos animais das mais
variadas categorias e espécies ruminantes e equídeos.
Esta forrageira é originária do Continente Africano, mais especificamente da
Leste da África. Sua introdução nas Américas está registrada como sendo por volta
do século XVII. Segundo Parsons (1972), exemplares da espécie foram levados da
Costa Oeste da África para o Caribe, e da Jamaica foi levada a outros países e
América Central. Não há registros definitivos de sua entrada no Brasil, mas segundo
Chase (1944), foi trazida como cama para os escravos, no século XIX e se
disseminou a partir dos locais onde os escravos foram desembarcados e os navios
descarregados (Aronovich, 1995; Jank, 1995; Savidan et al., 1989). A espécie P.
maximum se adaptou tão bem ás condições edafoclimáticas brasileiras, que é
considerado nativo em diversas regiões do país, como nos estados da Bahia, São
Paulo e Minas Gerais.
2 - ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO
O P. maximum pertence à família Poaceae, subfamília Panicoideae e tribo
Paniceae. Três espécies fazem parte do complexo agâmico de P. maximum: o próprio
P. maximum, P. infestum e P. trichocladum (Combes, 1975; Pernès, 1975; Babcock e
Stebbins, 1938, citado por Savidan, 1982). Estas três espécies se constituem em um
complexo agâmico por intercruzarem naturalmente entre si, exibirem o mesmo nível
de ploidia, o mesmo número cromossômico e exibirem formas sexuais diplóides e
formas apomíticas tetraplóides na natureza.
exibe As inflorescências da espécie P. infestum são do tipo rácemo e seus
híbridos com P. maximum exibem inflorescências intermediárias entre o tipo rácemo
e panícula; a espécie P. trichocladum exibe folhas curtas e abundantes. Plantas dessa
espécie apresentam boa aptidão para emitir estolões (Clayton e Renvoize, 1982;
Savidan, 1982). Exemplos destas espécies ou de seus híbridos no mercado são a cv.
Massai (híbrido natural entre P. maximum e P. infestum) e a cv. Embu (P.
trichocladum) não mais comercializada devido á baixa adaptação ao pastejo, à seca e
ao frio.
Basicamente dois grupos efetuaram expedições de coletas planejadas
exclusivamente para a espécie P. maximum em seu centro de origem, Leste da
África: os franceses do ORSTOM (Combes & Pernès, 1970) e os japoneses (Hojito
& Horibata, 1982). Baseado em materiais de herbários, inclusive o de Kew, na
Inglaterra, os franceses D. Combes e J. Pernès chegaram a conclusão que o Centro de
Origem desta espécie era África do Leste, mais especificamente Quênia e Tanzânia.
Portanto, em 1967, fizeram a primeira expedição com início em Nairobi, Quênia,
coletando 249 genótipos nos dois países (Figura 1A). Após estudos em laboratórios
na Costa do Marfim, descobriram uma planta diplóide sexual entre as restantes
tetraplóides apomíticas. Planejaram, portanto, outra expedição para 1969, onde
encontraram mais 22 plantas sexuais na região de Korogwe e 135 acessos apomíticos
de baixo porte e folhas curtas na região de Meru - Embu (Figura 1B). Esta coleção
está disponível no Brasil na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS.
A B
3 - CITOGENÉTICA E MELHORAMENTO
A espécie P. maximum se reproduz por apomixia, que é um modo tipo de
reprodução vegetativa por meio de sementes, uma vez que o embrião não é fecundado.
Nesta espécie, como em outras gramíneas forrageiras tropicais, a apomixia é uma
combinação de uma aposporia (não redução) seguida de uma partenogênese (não
fecundação) (Warmke, 1954; Combes, 1975; Savidan, 1982). Na aposporia, os gametas
reduzidos pela meiose se degeneram, e uma célula somática, normalmente uma célula
do nucelo se desenvolve (Figura 3). Como este desenvolvimento se inicia geralmente
antes da meiose, os sacos apospóricos se distinguem na sua estrutura dos sacos
resultantes de processos sexuais normais, o que pode ser observado sob microscopia de
contraste e interferência de fases. Os sacos sexuais são do tipo clássico Polygonum com
oito núcleos, sendo uma oosfera, dois núcleos polares, duas sinérgides e três ou mais
antípodas. Os sacos apospóricos não reduzidos apresentam somente quatros núcleos:
uma oosfera, duas sinérgides e um único núcleo polar.
Mesmo que vários sacos de quatro núcleos se desenvolvam dentro de um
mesmo óvulo, às vezes juntamente com um saco de oito núcleos, a semente quase
sempre conterá somente um embrião que provirá do desenvolvimento sem fecundação
da oosfera de um dos sacos de quatro núcleos. O pólen, reduzido e viável, como no
processo sexual normal, fecunda o núcleo polar e participa na formação do endosperma,
apesar de não fecundar o embrião. A semente apomítica, portanto, é composta por um
embrião (2n) geneticamente idêntico ao da planta mãe, e um endosperma híbrido (2n +
n). Nas plantas sexuais o pólen também fecunda o embrião produzindo sementes
híbridas. A relação de 2n do embrião para 3n do endosperma, tanto nas plantas sexuais
quanto nas apomíticas, é a razão das sementes férteis das plantas apomíticas (Savidan,
1982).
A espécie apresenta número básico de cromossomos de x = 8. Praticamente
todas as plantas são tetraplóides (2n = 32). Entretanto, todas as plantas sexuais
encontradas na natureza são diplóides (2n = 16). Uma pequena porcentagem de
outros números cromossômicos foi encontrada: triplóides (2n = 24), pentaplóides (2n
= 40), hexaplóides (2n = 48), octoplóides (2n = 64), nonaplóides (2n = 72) e plantas
com números irregulares de cromossomos (2n = 30, 31, 34, 36, 37 e 38) (Combes,
1975; Bogdan, 1977)
A duplicação do número de cromossomos das plantas sexuais com colchicina
permite o cruzamento destas com as plantas apomíticas tetraplóides, e assim a obtenção
de híbridos (Savidan, 1982; Nakagawa & Hanna, 1992). A herança da apomixia em P.
maximum é determinada por um único gen dominante ou um grupo de genes muito
próximos que resultam em progênies de plantas sexuais e apomíticas, na razão 1:1
(Savidan, 1975, 1982, 1983). Portanto, os cruzamentos entre uma planta sexual e uma
apomítica, resultam em 50% dos híbridos sendo apomíticos e 50% sexuais. No modelo
de herança acima, o gen A induz a aposporia, sendo os apomíticos Aaaa e os
tetraploides sexuais aaaa, com a aposporia sendo dominante sobre a sexualidade
(Savidan, 1982).
Considerando- se a reprodução por apomixia em P. maximum, a planta gerada
apresenta as mesmas características da planta-mãe, não apresentando, portanto
variabilidade genética. Neste caso então, há necessidade da presença de plantas
sexuais para intercâmbio gênico (Savidan et al., 1989). Assim, as novas cultivares
forrageiras podem ser desenvolvidas de duas formas, ou pela seleção dos melhores
genótipos a partir do germoplasma, ou pela geração de nova variabilidade por
cruzamentos, fazendo-se em seguida a seleção para as características de interesse.
Assim, quando se analisa a necessidade de intensificação do sistema de
produção de bovinos no Brasil e sendo a espécie P. maximum responsiva a esse tipo
de exploração, evidencia-se que trabalhos de melhoramento nessa forrageira
certamente contribuirão significativamente para a intensificação da produção de
carne, leite, couro e lã no país.
No programa de melhoramento em Campo Grande, 25 acessos foram
avaliados agronomicamente e analisados geneticamente para serem selecionados
visando utilização como progenitores em cruzamentos (Jank et al., 2003). Foi
calculado um índice de seleção para cada condição de adubação (com e sem) baseado
nas variáveis produção de matéria seca foliar, porcentagem de folhas, rebrota,
produção de sementes puras e porcentagem de proteína nos colmos e folhas. Para
condições adubadas, seis genótipos apresentaram índices maiores que a cv.
Mombaça, e mais três maiores que a cv. Tanzânia. Para condições não adubadas,
quatro genótipos apresentaram índices maiores que a cv. Tanzânia, e mais dois
maiores que a cv. Mombaça (Jank et al., 2003).
Por meio de cruzamentos dirigidos, entre acessos apomíticos pré-
selecionados e plantas sexuais, vários híbridos foram obtidos. Foram selecionados 79
híbridos para serem avaliados agronomicamente e morfologicamente durante três
anos (Jank et al., 2001). Considerando a produção anual e na seca, rebrota após os
cortes, porcentagem de folhas, vigor e florescimento, os híbridos e os progenitores
foram agrupados em seis grupos de desempenho, sendo que a maioria dos híbridos
foi superior aos progenitores apomíticos.
Considerando apenas a variável matéria seca foliar, ter-se-ia um ganho de
55% com a seleção do melhor híbrido. Com a seleção dos 20 melhores híbridos, ter-
se-ia um ganho de 24,4% (Resende et al., 2002). Para o programa de melhoramento,
sugeriu-se procedimentos de seleção pela hibridização intrapopulacional, sugerindo
que as progenitoras sexuais devem ser selecionadas pelo efeito genético aditivo
(Resende et al., 2004).
Atualmente, trabalhos de seleção de genótipos tolerantes a luminosidade
reduzida visando sua utilização em sistemas silvipastoris vêm sendo desenvolvidos.
Até o momento, 25 genótipos foram comparados sob três níveis de luminosidade e
concluiu-se que há variabilidade genética entre os acessos que possibilita a seleção
dos mais adaptados para testes em sistemas silvipastoris (Jank et al., 2005).
O estudo de marcadores moleculares ligados à apomixia vêm sendo
procurado em diferentes espécies. Esses facilitarão a detecção precoce e em larga
escala da apomixia em análises de híbridos. Ebina et al. (2005) encontraram
marcadores AFLP e RAPD que co-segregam com aposopria em P. maximum. Alguns
marcadores moleculares já foram identificados em populações de plantas de
Brachiaria (Pessino et al., 2001), porém ainda não foram encontrados marcadores
universais para a apomixia.
Carneiro e Dusi (2004) afirmam que a possibilidade de se transferir a
apomixia entre as plantas usando técnicas de Biologia Molecular requer, antes de
tudo, conhecimento da natureza dos genes envolvidos. Diferentes linhas de pesquisa
estão sendo desenvolvidas para o conhecimento básico da reprodução,
principalmente dos eventos de desenvolvimento do gametófito feminino e da
fecundação.
Embora a ocorrência natural da apomixia tenha sido descrita para muitas
espécies, seu mecanismo ainda é pouco estudado. As abordagens utilizadas na
identificação e na clonagem de genes vão desde a identificação de marcadores
moleculares até a construção de bancos de cDNA e estratégias de mutagênese e
técnicas de “differential display” (Pessino et al., 2001; Savidan, 2000).
Análises de populações segregantes em algumas culturas, derivadas de
cruzamentos entre apomíticos e sexuais têm ajudado a desvendar a transmissão
genética da apomixia e a produzir mapas do locus apomítico (Ozias-Akins et al.,
1993 e 1998), baseado em marcadores moleculares. No entanto, a clonagem a partir
desses mapeamentos ainda não foi obtida.
4 - CULTIVAR MOMBAÇA
A cv. Mombaça foi coletada pelo ORSTOM em 1967 entre Korogwe e Tanga
na Tanzânia (Figura 1) sob o número ORSTOM K190. Foi introduzida no Brasil em
1984 com o germoplasma do ORSTOM, recebendo o registro BRA-006645. Foi
selecionada inicialmente na Embrapa Gado de Corte e lançada comercialmente em
1993 por esta Instituição de Pesquisa, Instituto Agronômico do Paraná e parceiros
(Embrapa, 1993).
6 - CULTIVAR MASSAI
A cv. Massai foi coletada pelo ORSTOM em 1969 entre Dar es Salaam e
Bagamoyo na Tanzânia sob o número ORSTOM T21 (Figura 1). Foi introduzida no
Brasil em 1984 com o germoplasma do ORSTOM, recendo o registro BRA-007102.
Foi inicialmente selecionada pela Embrapa Gado de Corte em Campo Grande, MS e
foi lançada comercialmente em 2001 pela Embrapa Gado de Corte e parceiros
(Embrapa, 2001).
Descrição morfológica: Gramínea perene e cespitosa que pode atingir até 3,0 m de
altura quando em livre crescimento. Rizomatosa, apresentando rizomas curtos
próximos à touceira que originam outras plantas. Intensa capacidade de
perfilhamento, formando touceira de até 2 m de diâmetro. O capim-colonião
apresenta lâminas foliares desenvolvidas (até 1 m) de coloração verde intenso, as
folhas são glabras e ásperas e com as bordas serrilhadas, daí também a denominação
de capim-navalha. Os colmos são bastante desenvolvidos com pêlos nas regiões dos
nós. Lâminas, bainhas e colmos possuem uma cera esbranquiçada bem visível.
Inflorescência tipo panícula aberta, em forma de cone e bastante desenvolvida. As
sementes são viáveis, pequenas e férteis
Descrição morfológica: A cv. Tobiatã é uma planta cespitosa de porte alto (em torno
de 1,6m), com folhas largas (em torno de 4,6 cm) e eretas quebrando nas pontas
(Quadro 1). As folhas apresentam pouca pilosidade, sendo os pêlos curtos e duros.
Os colmos apresentam muita pilosidade, sendo os pêlos duros e curtos. Os colmos
não apresentam pilosidade. As inflorescências são do tipo panícula. As ramificações
primárias na base da inflorescência são longas e as secundárias são longas ocorrendo
apenas nas ramificações primárias inferiores. As espiguetas são glabras, distribuídas
uniformemente pelas ramificações e apresentam muitas manchas roxas o que lhe
confere um tom roxo à inflorescência. O verticilo é piloso.
1 - INTRODUÇÃO
A prática da agricultura foi iniciada cerca de 10.000 anos atrás constituindo um
marco na história da humanidade pelas suas conseqüências sobre o desenvolvimento
da civilização. Desde que o homem descobriu como cultivar as plantas, de forma
consciente e inconsciente, vem-se selecionando plantas para utilização, e desta forma
promovendo mudanças na constituição genética das populações dessas. Entre as
primeiras espécies cultivadas encontram-se as gramíneas que serviam de alimento,
tanto aos homens quanto aos animais. Em diversos estudos têm-se demonstrado que
os cereais, como o trigo e a cevada, encontram-se entre as primeiras plantas
cultivadas pelo homem. Existem registros comprovando que as plantas forrageiras já
eram cultivadas na agricultura primitiva, tais como os encontrados para a alfafa há
mais de 3.300 anos (Bolton et al.,1972).
O cultivo de forrageiras tropicais é bastante recente e a maioria das espécies de
importância econômica são de origem africana, como as dos gêneros Brachiaria,
Panicum, Pennisetum, Andropogon, Setaria, Cynodon e Cenchrus. Entre as
gramíneas tropicais importantes para a pecuária apenas o gênero Paspalum, com
várias espécies de alto valor forrageiro, é nativo da América do Sul. Algumas
espécies introduzidas desde a época do descobrimento do Brasil, por apresentarem
excelente adaptação às condições ambientais brasileiras têm sido consideradas
"espécies naturalizadas", como o capim-gordura (Melinis minutiflora) e o capim-
jaraguá (Hyparrhenia rufa).
As gramíneas são classificadas em duas categorias quanto a sua adaptação
ambiental e eficiência fotossintética: espécies de clima temperado (plantas C3) e
tropicais (plantas C4). Normalmente, as espécies forrageiras C3 apresentam melhor
qualidade, definida em termos de digestibilidade, consumo e teor de proteína. A
degradação ruminal dessas gramíneas ocorre mais rapidamente por apresentarem
parede celular mais fina e com menor teor de compostos indigeríveis, como a lignina.
As do tipo C4 apresentam maior lignificação, entretanto apresentam maior eficiência
fotossintética, sendo, portanto, mais produtivas em termos de matéria seca.
Importante, no entanto, é ressaltar a grande diferença entre estádios de
desenvolvimento do melhoramento de forrageiras de climas temperado e tropical:
enquanto nas primeiras já se explorou a variabilidade natural e utilizam-se
rotineiramente sofisticadas metodologias como marcadores moleculares e
melhoramento assistido para características quantitativas (QTLs), já o melhoramento
das espécies tropicais ainda encontra-se na fase de colheita, avaliação e seleção de
germoplasma. Poucas são as experiências de recombinação genética em forrageiras
tropicais; portanto, grande progresso é esperado com o avanço dos programas de
melhoramento destas espécies.
3 - O CAPIM-ELEFANTE
O capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) é uma das mais importantes
forrageiras, sendo cultivado em quase todas as regiões tropicais e subtropicais do
mundo, devido ao seu elevado potencial de produção de matéria seca, qualidade,
aceitabilidade, vigor e persistência.
Esta forrageira está entre as espécies de maior eficiência fotossintética
(Coombs et al., 1973), apresentando grande capacidade de produção e acúmulo de
matéria seca de boa qualidade (Otero, 1961; Zuniga, 1966). Tem seu uso mais
freqüente em regime de corte (capineiras), podendo também ser utilizada para
ensilagem (Tosi, 1973; Vilela, 1981) e para pastejo rotativo (Veiga, 1985a,b;
Hilleshein, 1987). O capim-elefante é uma das espécies mais exigentes em fertilidade
de solo (Nascimento Junior, 1981), não se adaptando bem a locais expostos à
inundação ou a grandes períodos de encharcamento (Havard-Duclos, 1969; Bogdan,
1977). Entretanto, é uma gramínea rústica, suportando bem o pisoteio, com relativa
resistência ao frio (em geadas prolongadas, as folhas queimam, podendo chegar até a
morte dos rizomas), tolerando bem a seca e o fogo (Evangelista e Rocha, 1990).
4 - ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO
5 - TAXONOMIA E CITOGENÉTICA
7. CULTIVARES DE CAPIM-ELEFANTE
8.1. Estabelecimento
O estabelecimento do capim-elefante é feito, basicamente, por propagação
vegetativa com o uso de colmos; entretanto, esta forrageira também pode ser
propagada por rizomas e sementes. As cultivares propagadas por sementes ainda
constituem novidade no mercado, sendo poucas as informações existentes sobre este
tipo de propagação. Contudo, as vantagens do uso de sementes como a facilidade de
armazenamento, transporte e plantio mecanizado deverão garantir o sucesso desta
forma de propagação do capim-elefante, principalmente para grandes áreas.
Os principais problemas relacionados com a propagação vegetativa são a
ausência de um sistema público ou privado responsável pela produção de propágulos
com qualidade sanitária e pureza varietal garantida, impossibilidade de
armazenamento dos colmos por períodos longos, maior custo de transporte e de
plantio. Ademais, a propagação vegetativa apresenta como vantagem a possibilidade
de multiplicar um único genótipo superior.
Para plantio do capim-elefante são necessárias cerca de cinco a seis toneladas
de colmos por hectare, sendo que um hectare de viveiro produz mudas para plantio
de seis a oito hectares (Martins et al., 1998; Martins e Fonseca, 1998). Os colmos
para plantio devem ter entre 100 e 120 dias de idade, quando apresentam a melhor
brotação das gemas.
Recomendações para o plantio do capim-elefante foram feitas por vários
autores (Deresz et al., 2003; Rodrigues e Reis, 1993; Martins et al., 1998;
Gomide,1999). O plantio pode ser realizado em covas ou sulcos, devendo os colmos
serem cobertos por uma camada de solo de 15-20 cm. O espaçamento recomendado,
entre linhas, varia de 0,70 a 1,0 m, e visa produzir elevada população de plantas e
evitar o crescimento de ervas daninhas nas entre linhas. Os colmos devem ser
sobrepostos nos sulcos, no sistema ponta com pé. O corte dos colmos em pedaços de
cerca de 70 cm promove uma melhor brotação de gemas. Esta operação pode ser
realizada com um facão, após a distribuição dos colmos nos sulcos. O cobrimento
dos sulcos com solo poderá ser realizado com trator ou enxada. O plantio em covas é
indicado para áreas pequenas ou difíceis de mecanizar. Para este sistema de plantio
recomenda-se utilizar dois pedaços de colmo com 3-5 gemas por cova.
8.2. Fertilização
O capim-elefante é uma forrageira bastante exigente em fertilidade do solo.
Para determinação da necessidade de correção da fertilidade do solo é recomendada a
realização de análise do solo. Para a maioria dos solos é necessário o uso de calagem.
O calcário deverá ser distribuído na área, 20-30 dias antes do plantio, seguido de
aração do solo.
No caso de capineiras, normalmente são utilizados 120 kg.ha-1 de N, 50
kg.ha-1 de P2O5 e 150 kg.ha-1 de K2O, correspondentes a 600 kg.ha-1 de sulfato de
amônio, 250 kg.ha-1 de superfosfato simples e 250 kg.ha-1 de cloreto de potássio,
respectivamente. Esses fertilizantes devem ser misturados e aplicados
parceladamente após cada corte, durante a estação chuvosa, com o solo úmido. A
adubação orgânica deve ser feita de acordo com a disponibilidade de quantidade de
esterco, sendo recomendadas aplicações de até 50 t/ha/ano. O esterco verde,
removido diariamente do curral, pode ser distribuído diretamente sobre a superfície
da capineira recém-cortada, independente da época do ano (Cóser e Pereira, 2001).
No caso de pastagem, Martins et al. (1998) recomendam que a adubação
fosfatada seja realizada de uma única vez, distribuída no sulco de plantio, sendo
recomendado o uso de 100 kg de P2O5 para solos com baixos níveis deste nutriente.
Para nitrogênio e potássio, estes autores recomendam 200 kg.ha-1 de N e K2O,
aplicados em cobertura. No caso do nitrogênio o adubo deve ser dividido em três
aplicações, no começo, meio e final do período das chuvas.
Mais informações sobre a adubação do capim-elefante podem ser encontradas
em Martins e Fonseca (1999) e Rodrigues e Reis (1993).
9 - FORMAS DE UTILIZAÇÃO
9.1 - Capineira
9.2 - Pastejo
O capim-elefante é uma das forrageiras que mais têm contribuído para
alimentação animal em sistemas de produção de leite. Além da sua comprovada
superioridade para formação de capineiras, diversos autores (Corsi, 1992; Deresz e
Mozzer, 1997; Deresz, 1994; Derez et al., 1994 e Martins et al., 1992 e 1993) têm
demonstrado que o capim-elefante apresenta excelente adaptação ao pastejo rotativo
(Figura 6).
Na Embrapa Gado de Leite, estudos sobre a utilização do capim-elefante sob
pastejo começaram no início da década de 1980. Resultados de várias pesquisas têm
demonstrado que um hectare de capim-elefante, manejado sob pastejo rotativo e
recebendo adubação nitrogenada em dose correspondente a 150-200 kg.ha-1.ano de
N, pode suportar 4-5 vacas.ha-1.ano, com produções de leite no período das chuvas
variando de 12-14 kg.vaca-1.dia, sem fornecimento de concentrado. Na época da
seca, a suplementação com cana-de-açúcar + 1% de uréia, a partir de maio até início
de novembro, permite manutenção da mesma taxa de lotação. As produções de leite
nesse período variam de 7-10 kg.vaca-1.dia, dependendo do fornecimento de
concentrado. De acordo com vários autores, o manejo intensivo do capim-elefante
sob pastejo rotativo tem potencial para atingir produção anual de leite em torno de
20.000 kg.ha-1 (Carvalho et al., 2001; Cruz Filho et al., 1996; Deresz et al., 1994)
Diversos sistemas de manejo para o capim-elefante, sob pastejo rotativo, têm
sido propostos (Corsi et al., 1996; Faria et al., 1996; Deresz, 1994, Corsi, 1992).
Variações sobre o número de dias de pastejo e descanso, altura de resíduo pós-
pastejo, taxa de lotação e outros componentes do sistema são encontrados na
literatura (Cóser et al., 1999; Corsi et al., 1996). A Embrapa Gado de Leite, com base
em resultados de mais de quinze anos de pesquisa, tem recomendado o uso de 11
piquetes, cada piquete com três dias de ocupação e 30 dias de descanso. Entretanto,
esta é uma orientação aos produtores com base na utilização exclusiva da pastagem
de capim-elefante durante o período do verão. Considerando que a taxa de
crescimento e disponibilidade de forragem na pastagem de capim-elefante é
amplamente variável durante o ano, implica na necessidade de ajuste do período de
descanso da pastagem durante o período de inverno ou de uso de suplementação com
outra fonte de volumoso.
O manejo do capim-elefante sob pastejo constitui uma das dificuldades
enfrentadas pelos produtores em função das características morfológicas da planta,
crescimento cespitoso e porte alto. Embora muitas cultivares possam ser utilizadas
sob pastejo, aquelas com elevado potencial de perfilhamento aéreo e basal
apresentam melhor adaptação ao sistema de pastejo. Pesquisas têm mostrado que
estas características estão associadas com maior disponibilidade de forragem em
sistema de pastejo, bem como maior persistência da forrageira na pastagem.
Visando tornar mais simples o manejo do pasto de capim-elefante, instituições
de pesquisa, como a Embrapa Gado de Leite e o Instituto Pernambucano de
Agropecuária, estão desenvolvendo cultivares de porte baixo para uso específico sob
pastejo. Essas cultivares além de manejo mais fácil poderão ser indicados para
categorias mais jovens, bem como para caprinos e ovinos.
10 - PRAGAS
Pouco se tem pesquisado sobre a ocorrência de pragas nessa forrageira. Farrell
et al. (2002) constataram que, apesar de inúmeras espécies de insetos estarem
associadas ao capim-elefante, em diversos países, poucos danos econômicos são
verificados. No Brasil, insetos como o curuquerê dos capinzais (Mocis latipes),
lagarta do cartucho do milho (Spodopera frugiperda), cupim (Cornitermes sp.) e
formigas (Atta capiguara e Atta bisphaerica) são comumente encontrados associados
ao capim-elefante e esporadicamente atingem o status de praga. Todavia, a
cigarrinhas-das-pastagens tem sido a praga-chave da cultura, ocasionando sérios
prejuízos, tornando a forrageira menos aceita pelos animais, reduzindo o consumo
pelos animais e diminuindo a produção de leite e carne. Estudos de avaliação de
magnitude de danos ocasionados por esse inseto-praga, nessa forrageira, são
incipientes. Em alguns casos, o ataque pode levar a planta à morte, o que causa
prejuízos econômicos consideráveis, dependendo do manejo, das condições
climáticas e do local de ocorrência.
O controle químico é antieconômico; sendo assim, a ameaça representada
pelas cigarrinhas pode ser minimizada com a adoção da associação de práticas de
controle biológico, cultural e químico e da utilização de plantas resistentes;
realizando assim o manejo integrado das cigarrinhas, de forma a reduzir a densidade
populacional desse inseto de forma econômica, social e ambiental.
Considerando a existência de uma demanda nacional dos produtores de leite e
carne para o controle de cigarrinhas-das-pastagens, o objetivo das instituições de
pesquisas envolvidas refere-se à obtenção de cultivares resistentes a esse inseto-
praga, que possam contribuir como processo de intensificação da produção, pois a
ocorrência desse inseto pode limitar o cultivo dessa forrageira.
Tem sido registrados ataques pelas espécies Notozulia entreriana, Deois
schach, Mahanarva fimbriolata e Mahanarva liturata. Entretanto, as cigarrinhas-das-
pastagens do gênero Mahanarva tem sido as de maior ocorrência, causando prejuízos
econômicos (Figura 7). Santos et al. (1995) registraram dois picos populacionais de
M. fimbriolata, em
capim-elefante, sendo o primeiro de outubro a novembro e o segundo em abril.
Nas cultivares Roxo e Capim-Cana D`África foram constatadas as menores
densidades populacionais de ninfas. Já nas cultivares Cameroon, 23-Napier e no
híbrido (Mineiro x Mileto 23-A) foram registradas as maiores populações. Estudos
de seleção de capim-elefante resistente às cigarrinhas-das-pastagens também foram
realizados por Auad et al. (2005), os quais constataram que os genótipos Pioneiro,
Mineiro e Napier foram considerados suscetíveis e Cameroon Piracicaba, Taiwan
A146, Guaçu I.Z.2, Cameroon e Renasce II foram selecionados, por terem
apresentado a menor porcentagem de sobrevivência de M. fimbriolata e M. liturata.
Figura 7. Adultos de Mahanarva fimbriolata (A) e Mahanarva liturata (B) e espuma
das ninfas em capim-elefante (C).
11 - DOENÇAS
Várias doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e outros organismos têm
sido relatadas em capim-elefante. A maioria delas causa danos de pequena gravidade,
não chegando a constituir um problema atual. Exceção se faz em relação a
helmintosporiose, causada pelos fungos Helminthosporium sacchari e
Helminthosporium ocellum, que podem acarretar sérios prejuízos à produção e a
qualidade da forragem, bem como em relação à persistência da planta. Geralmente,
esta doença causa maiores danos em folhas senescentes, contudo, em cultivares
suscetíveis pode ocorrer a morte das plantas. A melhor solução para controle de
doenças em capim-elefante é o uso de cultivares geneticamente resistentes.
O capim-elefante é também atacado por nematóides das espécies Aphelenchus
avenae, Meloidogyne incognita acrita, M. javanica and Pratylenchus brachyurus.
Contudo, ainda não há registros, no Brasil, de ataque por nematóides com prejuízos
econômicos.
13 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 7
1 - INTRODUÇÃO
1
predominância de solos de baixa fertilidade, além de ser bastante cultivado em
regiões com baixa precipitação. O capim-setária constitui-se outro exemplo de
gramínea forrageira adaptada a nichos específicos de cultivo: tolerância a alagamento
temporário e baixas temperaturas.
Forrageiras como o capim-gordura e o capim-jaraguá foram introduzidas no
Brasil desde o período colonial e constituem recurso forrageiro interessante na
medida em que se adaptaram satisfatoriamente às condições edafoclimáticas do país.
Dessa forma, quando existente numa propriedade, podem contribuir para a
manutenção da diversidade genética e, assim, minimizar riscos inerentes ao
monocultivo.
Em muitas situações, a simples substituição dessas forrageiras “tradicionais”
por forrageiras lançadas mais recentemente não constitui ação de manejo eficaz.
Modificações na forma de utilização da forrageira no sistema de produção poderiam
resultar em efeitos mais efetivos e, possivelmente, de melhor relação custo/benefício.
E a forma adequada de utilização dos recursos forrageiros passa, necessariamente,
pelo conhecimento de suas aptidões e, ou limitações.
Assim, serão caracterizadas em seguida, algumas gramíneas forrageiras que
vêm sendo cultivadas no Brasil por longos períodos, embora com menor percentual
de áreas em relação as outras que foram lançadas mais recentemente.
2.1 - Origem
2
bisquamulatus e a squamulatus, sendo esta última variedade inicialmente introduzida
no Brasil, conhecida como capim-gamba (Otero, 1961). Entretanto, devido aos
problemas de reduzida produção de sementes, não despertou interesse dos produtores
(Thomas et al., 1981).
Por outro lado, o genótipo Andropogon gayanus CIAT 621 ou BRA-000019,
originário da Nigéria, foi liberado comercialmente como cultivar Planaltina pela
Embrapa Cerrados em 1980, com boa adaptação ao ecossistema Cerrado e a outros.
Essa cultivar é pertencente à variedade bisquamulatus. Posteriormente, a fim de obter
uma cultivar com estabelecimento mais rápido do que a Planaltina, pesquisadores da
Embrapa Pecuária Sudeste lançaram, em 1993, a cultivar Baetí (Leite et al., 2000),
que apresenta características morfológicas semelhantes a da cultivar Planaltina.
3
O capim-andropógon é bem adaptado às regiões com altitudes variando entre
12 e 1.500 m, embora seja encontrado em regiões com altitudes de até 2.000 m.
Apresenta melhores resultados de produção de forragem quando cultivado em locais
com temperaturas variando entre 18 e 28°C (Leite et al., 2000). Mesmo possuindo
relativa tolerância às geadas, não se adapta às regiões muito frias (Paulino, 1979). É
bem adaptado às condições do Cerrado.
Essa forrageira apresenta relativa resistência à seca, já que possui sistema
radicular profundo, capaz de absorver água de camadas profundas do perfil do solo e
manter seu metabolismo ativo em condições desfavoráveis (Bogdan, 1977). Apesar
de tolerante ao estresse hídrico, sua produção é reduzida na estação seca do ano.
Realmente, dependendo do manejo adotado, o capim-andropógon pode produzir
cerca de 35 % da sua produção anual durante o inverno.
Devido ao crescimento cespitoso, com perfilhos eretos, o capim-andropógon
possui baixa capacidade de cobertura de solo, sendo mais indicado para áreas planas
e, ou ligeiramente onduladas, onde ocorre menor risco de erosão.
O capim-andropógon é adaptado aos solos de textura arenosa ou argilosa e
aos solos de baixa fertilidade e com alto teor de alumínio (Couto et al., 1985).
Apresenta baixa exigência em fósforo e pequenas doses de nitrogênio são suficientes
para produções satisfatórias (Thomas et al., 1981).
A espécie A. gayanus propaga-se por sementes, que são pequenas, com
aproximadamente 360 sementes.g-1 (Sousa, 1993) e com pouca reserva de nutrientes,
tornando necessária a semeadura em menor profundidade. A taxa de semeadura, em
média, é de 8 a 10 kg de sementes, com 20 % de valor cultural, para a formação de
um hectare de pastagem. As espiguetas do capim-andropógon possuem pêlos,
semelhantemente aos que ocorrem no capim-jaraguá, o que pode dificultar sua
semeadura mecanizada. O capim-andropógon também pode ser propagado
vegetativamente, utilizando-se seções de sua touceira.
4
O estabelecimento do pasto é lento, porém uma vez estabelecido, pode
apresentar altos índices produtivos, desde que sejam respeitadas as mínimas
exigências de manejo dessa forrageira. De fato, essa gramínea produz entre 20 e 30
t.ha-1.ano de MS (Thomas et al., 1981).
De acordo com Toledo & Fischer (1989), a cultivar Planaltina é relativamente
tolerante ao sombreamento, pois níveis de sombreamento de até 50 % não reduzem a
produção de forragem. Em geral, plantas de capim-andropógon apresentam
rebrotação vigorosa após a realização de queimada (CIAT, 1984). O capim-
andropógon também é resistente à cigarrinha-das-pastagens e não há relatos de que
apresente problemas devido à fotossensibilização nos animais.
Devido à sua alta capacidade produtiva, sua excelente adaptação aos solos de
baixa fertilidade e à ausência de problemas com pragas e doenças, o capim-
andropógon é bastante utilizado em sistemas de pastejo, sendo bem aceito por
bovinos e equinos. É uma excelente opção para sistemas de produção marginais e, ou
com baixo nível de insumos.
Como o capim-andropógon possui crescimento cespitoso, porte alto e eleva
precocemente o meristema apical, principalmente quando passa do estádio vegetativo
para o reprodutivo, a recomendação de manejo do pastejo mais indicada consiste no
emprego do método de pastejo em lotação intermitente. Quando manejado sob
lotação contínua, é possível que ocorra grande variabilidade na utilização do pasto,
sendo este caracterizado por áreas sub e super pastejadas. O capim-andropógon não é
indicado para diferimento, pois apresenta alongamento de colmo no fim da estação
chuvosa, principalmente devido ao florescimento nesta época.
Zúñiga (1985) recomenda que o capim-andropógon deve ser pastejado
quando estiver com 60 a 80 cm de altura, sendo rebaixado para cerca de 15 a 25 cm.
5
Ainda segundo este autor, não se deve permitir que o pasto permaneça muito alto,
condição em que seu valor nutritivo é inferior e há necessidade de roçadas
periódicas. Recomendações de manejo do pastejo racionais e embasadas em
resultados científicos ainda não estão disponíveis para o capim-andropógon. Na
Universidade Federal de Viçosa, o capim-andropógon vem sendo avaliado com base
em características morfogênicas sob desfolhação intermitente e, futuramente, esses
resultados poderão nortear o manejo eficaz e otimizado do pastejo.
O capim-andropógon também pode ser utilizado para a produção de feno,
desde que seja colhido em estádio de desenvolvimento adequado, de forma a manter
maior relação lâmina foliar:colmo na forragem. Por outro lado, a silagem de capim-
adropógon, em geral, não apresenta boa qualidade (Leite et al. 2000).
Alguns resultados de pesquisa têm mostrado que o capim-andropógon se
consorcia bem com soja perene (Neonotonia wightii). Em condições de cerrado,
pastos consorciados podem manter taxa de lotação de até 1,2 UA.ha-1 (EMBRAPA,
1991).
6
andropógon apresentou o mais alto teor de FDN (Leite et al., 1988). No Quadro 1,
são apresentadas características de valor nutritivo do capim-andropógon em função
da idade.
7
O capim-andropógon possui reprodução sexuada, o que facilita trabalhos de
melhoramento genético na espécie, uma vez que se permite a recombinação gênica.
Entretanto, segundo Jank (1994), o programa de melhoramento genético de
Andropogon está baseado somente na variabilidade existente dentro da cultivar
Planaltina. E, ainda assim, a cultivar Baetí foi lançada e bastante aceita pelos
produtores, principalmente pelo menor período de tempo para o estabelecimento.
3.1 - Origem
8
O pasto de capim-de-rhodes pode atingir 1,50 m de altura, de acordo com o
manejo adotado. Entretanto, quanto maior for a altura de manejo, mais baixa será a
qualidade. Suas folhas são glabras, finas e longas, com comprimento entre 40 e 50
cm e largura de aproximadamente 6 a 7 mm (Mitidieri, 1992). As lígulas apresentam
pêlos finos e longos. A inflorescência é formada por rácemos subdigitados, com 6 a
15 ráquis unilaterais. Apresenta sistema radicular bastante profundo e pode absorver
água no solo em profundidade de até 4,5 m. Em alguns casos observa-se a presença
de rizomas.
Mattos & Mattos (2000) fizeram algumas considerações sobre a espécie C.
gayana. Segundo os autores, esta é uma espécie que apresenta grande variação
genética e são várias as cultivares naturais, que diferem em vigor, tamanho da folha e
diâmetro do colmo. Os “estolões” podem ter entrenós curtos ou longos, bem como
crescimento lento ou acelerado. Algumas raras cultivares não apresentam estolões.
As cultivares mais conhecidas são: Rhodes Gigante, um tipo natural; Katambora, que
apresenta bastante folhas e boa produção de semente; Masaba, também bastante
folhoso, mas com baixa produção de semente; Mbarara, bastante produtivo e de fácil
estabelecimento; Nzoia, de baixa persistência; Rongai, resistente à seca; Pionner, de
florescimento precoce; Pokot, bastante vigoroso e produtivo; Samford, vigoroso, de
florescimento tardio e com produção de sementes em quantidade e qualidade.
9
deficiência de drenagem, contudo o excesso de umidade é prejudicial. Possui
satisfatória tolerância à salinidade do solo, mas não tolera o sombreamento.
Com relação à fertilidade de solo, o capim-de-rhodes exige solos de média a
alta fertilidade e não tolera alta saturação por alumínio. Seu desenvolvimento é
adequado em solos de distintas texturas, mas vegeta melhor em solos de textura
média, bem drenados e com bom teor de matéria orgânica. A produtividade é
incrementada pela adubação nitrogenada. Em pastos já estabelecidos, o efeito do
fósforo parece ser menos pronunciado do que o do nitrogênio, porém vale salientar
que na ocasião da semeadura o fósforo possui função primordial para o adequado
estabelecimento do pasto de capim-de-rhodes.
Essa forrageira pode ser estabelecida por sementes, bem como
vegetativamente, a partir de mudas ou “estolões”. Na prática, o sistema de
propagação mais usual é por sementes, devido à maior rapidez no estabelecimento,
além do menor custo de implantação. A polinização cruzada parece ser normal, tendo
entre 1 e 4 % de autocompatibilidade. O seu florescimento é indeterminado, porém
mais freqüente em dias curtos. As sementes são muito leves e, para se obter sementes
de qualidade, estas devem ser colhidas quando maduras. A maturação das sementes
ocorre em temperatura de 23 a 25 ºC.
Para a formação do pasto de capim-de-rhodes são necessários cerca de 8 a 12
kg.ha-1 de sementes, com valor cultural entre 20 a 30 %. Como estas são muito
pequenas, é necessário bom preparo do solo e realização da semeadura em reduzida
profundidade. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, os meses de setembro e outubro
correspondem à melhor época para semear o capim-de-rhodes. Existem relatos de
semeaduras realizadas mais tardiamente no ano com relativo sucesso, porém, neste
caso, os riscos são grandes, porque pode ocorrer seca temporária que resultaria em
perda total ou parcial das sementes por desidratação. De acordo com Mitidieri
(1992), a formação do pasto após semeadura leva cerca de quatro a cinco meses,
10
entretanto, se as condições de estabelecimento ou semeadura forem adequadas, é
possível utilizar o pasto após cerca de 90 dias da semeadura.
O capim-de-rhodes tem sido acometido por pragas e doenças causadas por
vírus, mas sem grandes prejuízos. Nos Estados Unidos, o Helminthosporuim
victoriae tem sido encontrado na cultura dessa forrageira e, no Quênia, uma espécie
de Cochiliobolus tem causado a morte de plantas (Mattos & Mattos, 2000).
11
Segundo Pedreira & Mattos (1981), o capim-de-rhodes possui acentuada
estacionalidade produtiva, com 87 % da produção ocorrendo no verão e 13 % na
estação seca do ano. Estudos de adaptação de plantas forrageiras conduzidos em
diversas regiões do Estado de Minas Gerais revelaram baixa taxa de crescimento do
capim-de-rhodes, que situou-se entre as espécies de menor persistência e produção
de forragem, notadamente durante a estação seca do ano, onde ocorreu apenas 5 %
da produção anual (Botrel et al., 1998).
A produção de forragem do capim-de-rhodes é variável em função das
condições de meio, tais como solo, clima e manejo. O capim-de-rhodes pode
produzir cerca de 11,5 a 17,2 t.ha-1 de MS anualmente. Em alguns casos, produções
superiores podem ser obtidas quando, por exemplo, o capim-de-rhodes é estabelecido
com espaçamento de 25 cm entre fileiras e adubado com 150 kg.ha-1 de N
(Farnsworth, 1977).
De acordo com Tamassia (2000), a idade da planta de capim-de-rhodes tem
grande influência nos teores de minerais, principalmente após 40 dias de
crescimento, quando os teores de N são de 11,31 g.kg-1, comparados com 21,38 g.kg-
1
aos 20 dias. Ainda segundo o autor, os teores de P são de 3,82 e 2,96 g.kg-1,
respectivamente para plantas com 20 e 40 dias de idade. No quadro 2, são
apresentadas características de valor nutritivo do capim-de-rhodes em função da
idade, fator que mais influencia a qualidade do pasto.
12
Quadro 2 – Características de valor nutritivo do capim-de-rhodes em função da
idade
Idade (dia) PB FDN LIG DMS
0 – 30 10,86 71,20 3,42 47,10
31 – 45 9,34 77,37 5,03 48,40
46 – 60 5,76 77,10 5,55 45,10
61 - 90 4,53 75,97 6,08 -
PB- proteína bruta; FDN- fibra em detergente neutro; LIG- lignina; DMS- digestibilidade da matéria
seca;
Fonte: Valadares Filho et al. (2006).
13
4.1 - Origem
14
gordura são muito leves e providas de apêndices (aristas, glumas), que facilitam sua
disseminação através de pêlo dos animais e do vento (Aronovich & Rocha, 1985).
Durante o período de florescimento, devido à grande emergência de panículas, o
pasto de capim-gordura apresenta um aspecto roxo-avermelhado bem característico.
Existem, pelo menos, três variedades distintas de capim-gordura: Roxo,
Francano e Cabelo-de-negro. A última variedade apresenta entrenós mais curtos, é de
porte menor e mais resistente ao pastejo, enquanto que a Francano se assemelha à
variedade Roxo, sendo de porte mais vigoroso e com touceiras mais abertas (Botrel
et al., 1998). A variedade mais adequada ao pastejo é a Cabelo-de-negro devido à sua
maior capacidade de perfilhamento, boa cobertura do solo e melhor resistência ao
pastejo, quando comparado às outras.
15
O capim-gordura propaga-se tanto por sementes quanto por mudas. Quando se
utiliza sementes, são necessários cerca de 15 a 20 kg.ha-1 de semente para o
estabelecimento, que geralmente é rápido. O capim-gordura floresce
predominantemente em maio e produz cerca de 150 a 250 kg.ha-1 de sementes
(Bodgan, 1977).
Dentre as características agronômicas do capim-gordura, sublinha-se sua
melhor distribuição anual da produção de forragem (Pedreira, 1973), o que pode
permitir o prolongamento do período de pastejo até os meses de outono.
O capim-gordura é atacado por cochonilhas e tido como moderadamente
tolerante às cigarrinhas-das-pastagens (Botrel et al., 1998). Também pode ser atacado
ocasionalmente por lagartas, mas normalmente isso não compromete
demasiadamente a produtividade do pasto.
Segundo Alcântara & Bufarah (1979), o capim-gordura produz de 4 a 4,5
t.ha.ano-1 de MS em quatro cortes. Em muitas regiões do país, o potencial forrageiro
do capim-gordura é limitado por práticas inadequadas de manejo, principalmente o
superpastejo. Outro fator que contribui para a baixa produtividade e persistência
dessa espécie é a realização de queimadas, o que pode resultar em problemas de
erosão e incidência de plantas daninhas, causando a degradação da pastagem.
16
facilmente eliminado durante o pastejo. Dessa forma, a rebrotação após o pastejo é
lenta porque a emissão de perfilhos de gemas basilares, nesta forrageira, é demorada.
A rebrotação via perfilhos aéreos parece que também não contribui para a rápida
produção de forragem. Nesse sentido, recomenda-se a realização de um período de
descanso cíclico nas pastagens de capim-gordura a fim de possibilitar a ressemeadura
natural da área e, dessa forma, garantir sua sustentabilidade.
Embora não existam estudos científicos que permitam recomendar, de forma
segura, referenciais de manejo do pastejo para o capim-gordura, Humpheys (1974)
recomenda a altura de corte de 15 a 20 cm e um período de descanso de 40 a 60 dias
para a recuperação adequada do pasto de capim-gordura. Ademais, no período de
florescimento, o diferimento do pasto é benéfico para a sua sustentabilidade. O
diferimento do pasto de capim-gordura também pode ser adotado com o objetivo de
garantir estoque de forragem durante o período de escassez de recurso forrageiro.
Nesse sentido, Costa et al. (1981), com base em experimento realizado em Viçosa,
MG, recomendam a utilização em junho dos pastos de capim-gordura diferidos em
janeiro, deixando aqueles diferidos em março para utilização no fim do período de
seca. Essa gramínea, em geral, aceita bem a consorciação com várias espécies de
leguminosas forrageiras existentes, tais como centrosema, siratro e soja perene.
O capim-gordura, quando submetido ao corte, não possui boa rebrotação, o que
dificulta sua utilização em colheitas sucessivas para o fornecimento sob a forma de
feno ou forragem verde no cocho. Além disso, a substância oleosa secretada nos
pêlos que recobrem as folhas dificulta sua desidratação, embora isso não
impossibilite sua utilização no processo de fenação (Curado & Costa, 1980).
Devido à sua adaptação às condições de solo e clima do cerrado, em muitos
parques nacionais e áreas de conservação ambiental, o capim-gordura é tido como
planta invasora, que compete com espécies herbáceas presentes na vegetação nativa.
Existem relatos também de que, quando ocorrem queimadas nessas áreas de
conservação ambiental, as temperaturas são mais altas nas áreas com capim-gordura
17
quando comparado à queima da vegetação nativa. Isso pode ter efeito negativo no
banco de sementes de espécies nativas presente no solo.
18
desmistificam a afirmação de que o capim-gordura possui alto percentual de gordura,
conforme sugere o nome comum dessa gramínea.
19
capacidade de resposta à adubação nitrogenada para essa forrageira ocorreu até a
dose de 150 kg.ha-1.ano de N.
Em trabalho realizado por Vilela et al. (1980), na Zona da Mata do estado de
Minas Gerais, vacas mestiças mantidas em pastos de capim-gordura, sem
fornecimento de ração suplementar, produziram, em média, 12 kg.vaca.dia-1,
produção bastante satisfatória em condições de pastos de gramíneas tropicais.
Sementes de capim-gordura também não são encontradas nas principais
empresas que comercializam sementes de forrageiras. Todavia, se o produtor tiver
interesse em colher sementes de capim-gordura, Garcia et al. (1989) recomendam
que esta operação seja realizada quando as plantas estiverem com as panículas
fechadas e de coloração marrom-escura. Devido à sua baixa capacidade de suporte,
rebrotação pouco vigorosa e elevação precoce do meristema apical, o capim-gordura
está sendo largamente substituído por outras espécies forrageiras, principalmente
pela Brachiaria decumbens.
O melhoramento genético do capim-gordura não têm sido significativo no
Brasil, já que não existe banco de germoplasma da espécie em nenhum órgão de
pesquisa ou universidade brasileira. Assim, a diversidade existente no país não é
suficiente para que se inicie um programa de melhoramento genético, ainda mais
quando se considera o fato da espécie se reproduzir por apomixia.
5.1 - Origem
20
predomina a espécie Hyparrhenia rufa, que foi denominada capim-jaraguá ou capim-
provisório, sendo originária do continente africano.
Essa espécie chegou ao Brasil acidentalmente, quando os navios que
comercializavam escravos aportaram no país (Parsons, 1972), como a maioria das
forrageiras utilizadas no país. Apresentando grande capacidade de multiplicação e
ocupação de áreas, a espécie foi amplamente explorada com interesse forrageiro,
principalmente nas regiões de Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato
Grosso de Sul, Tocantins e Maranhão. Devido a sua ampla ocorrência, é considerada
naturalizada em vários locais do país (Leite et al., 2000).
O nome capim-jaraguá é de origem tupi e significa ”senhor do campo”, o que
poderia ser atribuído ao seu caráter dominante. Sua ocorrência próxima à cidade de
Jaraguá, em Goiás, também pode explicar essa designação (Aronovich & Rocha,
1985).
21
temperatura, o que imprimi movimentos de rotação, fazendo com as sementes
penetrem e aumentem seu contato com o solo.
O capim-jaraguá tem crescimento inicial bastante lento, alongando o colmo
muito tardiamente. É pequena a diferenciação morfológica das plantas de capim-
jaraguá durante os primeiros três meses de idade, isto é, toda a planta é praticamente
constituída por folhas nesta fase.
22
capim-jaraguá é feita por sementes, embora seja possível o plantio por mudas. No
primeiro caso, utiliza-se aproximadamente de 15 a 20 kg de sementes por hectare,
enquanto que na segunda condição pode-se adotar o espaçamento entre as mudas de
80 cm. Como as sementes de capim-jaraguá possuem cerdas, a semeadura de forma
mecanizada é dificultada. Principalmente durante a fase de estabelecimento, o capim-
jaraguá pode ser atacado por formigas.
O capim-jaraguá é bem aceito pelos animais e possui bom valor nutritivo
quando em estádio vegetativo. Durante e após o florescimento, a estrutura do pasto
torna-se não predisponente ao consumo e desempenho animal. De fato, acredita-se
que o menor desempenho animal constatado em pastos de capim-jaraguá decorre de
seu menor consumo pelos animais (Gomide et al., 1980).
23
O manejo do capim-jaraguá inclui ainda roçadas periódicas feitas,
preferencialmente, no fim do período de seca com a finalidade de combater plantas
daninhas e remover colmos velhos remanescentes para, assim, garantir melhores
condições de rebrotação no início da primavera (Curado & Costa, 1980). Outra
alternativa muito utilizada, quando o pasto de capim-jaraguá encontra-se alto, foi a
realização de queimadas para eliminar o excesso de forragem de baixa qualidade na
pastagem. Essa estratégia foi um dos motivos da degradação da pastagem de capim-
jaraguá no Brasil, principalmente quando realizada frequentemente.
Alguns trabalhos sugerem sucesso da consorciação do capim-jaraguá com a
maioria das leguminosas forrageiras existentes. Todavia é importante ressaltar que a
ocorrência de sucessos nos consórcios entre gramíneas e leguminosas tropicais tem
sido, via de regra, muito difícil.
A produção de feno de capim-jaraguá, embora pouco realizada, é possível
devido à sua forma de crescimento cespitosa, que facilita o corte mecânico, e aos
seus colmos finos, que favorecem a desidratação no campo (Aronovich & Rocha,
1985).
24
nutritivo com a mudança do estádio vegetativo para o reprodutivo, o que reduz o
período ótimo de utilização do pasto.
Nascimento Jr & Pinheiro (1975) observaram que, após 60 e 70 dias de
crescimento, houve elevação no teor de lignina e redução nas percentagens de
digestibilidade da MS e PB, tanto nas lâminas quanto nos colmos do capim-jaraguá.
Daubenmire (1972) encontrou 7,4 % de PB na MS no período das águas e apenas 1,4
% na estação seca.
Durante dois anos agrícolas, Gomide et al. (1984) avaliaram a produção de
bovinos em pastagens de capim-jaraguá manejas em lotação contínua com taxa de
lotação variável, de acordo com a combinação entre alturas de pastejo (pasto alto e
pasto baixo) e adubação nitrogenada (0 e 60 kg.ha-1 de N). A taxa de lotação das
pastagens sem e com adubação nitrogenada foram 266 e 293 dia.UA-1.ha. O
desempenho animal na pastagem adubada foi superior (858 g.novilho.dia-1) ao obtido
na pastagem não adubada (792 g.dia-1.novilho), embora sem diferença
estatística. A produção por área foi significativamente incrementada, de 183 para 248
kg.ha-1, pela adubação com nitrogênio. Não foram observados efeitos das alturas de
pastejo a que o capim-jaraguá foi submetido.
Nos últimos anos, a importância relativa do capim-jaraguá frente às
gramíneas lançadas no mercado nacional têm diminuído rapidamente, não sendo,
inclusive, incluída na relação das forrageiras comercializadas na maioria dos
catálogos das empresas produtoras de sementes. De fato, a venda de sementes dessa
forrageira vêm diminuindo a cada ano. No estado de São Paulo, em 1995/1996 um
estudo com 217.791 propriedades (10,27 milhões de hectares de pastagens) mostrou
que as gramíneas dos gêneros Brachiaria, Panicum, Pennisetum e Hyparrhenia,
ocorriam, respectivamente em 67,8 %, 2,0 %, 12,7 % e 1,2 % dos estabelecimentos
(Lupa, 2000). Mediante essa realidade, não se tem encontrado muitos estudos ou
pesquisas com capim-jaraguá nos últimos anos.
25
Uma das restrições para o melhoramento genético da espécie tem sido a
pequena variabilidade genética dessa forrageira no Brasil, não havendo um banco de
germoplasma para que se possa realizar futuros trabalhos de melhoramento. A
reprodução do capim-jaraguá é por apomixia, havendo assim, uma grande
uniformidade na população de plantas cultivadas. Valarini et al. (1996) utilizaram
radiação gama para indução de mutações em sementes e gemas objetivando aumento
da variabilidade genética, entretanto foram obtidas plantas com baixo crescimento e
pouco vigor e sem variação no ciclo vegetativo (Veasey et al., 1996).
6.1 - Origem
26
6.2 - Caracterização morfológica
O capim-pangola pode ser cultivada desde o nível do mar até 600 a 800 m de
altitude, desde que a precipitação pluvial esteja acima de 700 mm. Essa forrageira
apresenta certa resistência à seca e a geada, além de possuir, em geral, boa rebrotação
após a queimada do pasto. O seu desenvolvimento é prejudicado em temperaturas
abaixo de 16ºC e acima de 41ºC, sendo otimizado na faixa de temperatura entre 27 e
30ºC.
27
Vegeta bem em solos úmidos, sendo uma excelente opção para regiões de
baixadas. Apresenta produtividade satisfatória em solos de distintas texturas, porém
se desenvolvendo melhor naqueles arenosos. Tolera solos de baixa fertilidade
natural, mas quando cultivado em solos férteis, a produção de forragem aumenta
significativamente (Pupo, 1973). Em geral, responde favoravelmente à adubação,
principalmente a nitrogenada, e é sensível à deficiência de cobre.
Geralmente, o maior percentual das raízes do capim-pangola encontra-se nos
primeiros 30 cm de profundidade no solo, mas estas podem se encontradas em
maiores profundidades. Entretanto, em solos pesados e úmidos há limitação ao
desenvolvimento radicular. Em situação de pastejo intenso, o solo cultivado com D.
decumbens apresenta pouco problema de compactação.
A forma de crescimento estolonífera garante ao capim-pangola boa
capacidade competitiva e de cobertura do solo, conferindo-lhe a capacidade de
vencer a competição com plantas invasoras eficazmente. Isso também o torna difícil
de ser erradicado.
O capim-pangola propaga-se por mudas, pois embora a emissão de
inflorescências seja bastante elevada, poucas sementes são formadas e, quando essas
são produzidas, reduzido percentual é viável. As mudas podem ser plantadas em
covas, sulcos ou em solo totalmente arado e gradeado. Neste último caso, após a
aração, as mudas são espalhadas na área e, depois, é realizada a gradagem para o
enterrio de parte das mudas. Ainda é recomendável a utilização do rolo compactador
para assegurar maior contato do solo com as mudas e, assim, assegurar o melhor
enraizamento das mesmas. O estabelecimento do capim-pangola é rápido.
Acredita-se que a forma de propagação vegetativa contribui para a baixa
variabilidade genética da espécie e, por conseguinte, aumente a susceptibilidade do
mesmo às pragas e doenças (Maraschin, 1988). A cultivar Transvala possui
resistência ao nematóide Belonolaimus longicaudatus e ao vírus do enfezamento do
Pangola, que é comum na América do Sul (Alcântara e Bufarah,1992). No Brasil, a
28
utilização do capim-pangola é bastante limitada, principalmente devido a sua
susceptibilidade à cochonilhas e às cigarrinhas-das-pastagens.
Quando manejado adequadamente, possui bom valor nutritivo. Essa
característica se deve ao seu colmo delgado e suas folhas abundantes. Apresenta
período prolongado de florescimento e, ainda assim, mantém um bom valor nutritivo.
Em regime de cortes, o capim-pangola apresenta produção anual de
aproximadamente 15 t.ha-1.ano. A cultivar Transvala é mais produtiva do que a
cultivar Pangola, principalmente em solos mais férteis.
29
gramínea forrageira para ensilagem, entretanto Semple (1966) considerou a silagem
dessa forrageira como deficiente em proteína.
Devido à sua capacidade de cobertura do solo o capim-pangola tem se
mostrado muito adequado para revegetação de áreas de mineração e de áreas
decapeadas. Também se desenvolve bem em taludes e cortes de estrada.
30
verões consecutivos. Infere-se, portanto, que o capim-pangola poderia contribuir para
a manutenção da sustentabilidade em sistemas de produção mais extensivos.
O capim-pangola foi avaliado por Pringolato et al. (1983) durante o período
de seca, onde foi manejado em regime de cortes com freqüências de 30 e 60 dias,
apresentando 11,8 e 8,9 % de proteína bruta, respectivamente. O intervalo entre
cortes determina a idade do pasto no momento de sua colheita, fator que influencia
sobremaneira o valor nutritivo da gramínea (Quadro 4).
Segundo Botrel et al. (1998), ganhos em peso de até 760 kg.ha.ano-1 foram
obtidos em pastagens de capim-pangola intensivamente manejada (irrigadas e
fertilizadas com 670 kg.ha-1.ano de N) e pelo menos dois fatores são atribuídos ao
bom desempenho dos animais mantidos nessas pastagens: altos percentuais de
lâminas foliares e de açúcares nos colmos.
Em um sistema de produção de leite em regime exclusivo de pasto de
capim-pangola cv. Transvala, localizado em Pinheral, RJ, os índices de
produtividade obtidos foram de 10 kg.dia-1.vaca e 17 kg.dia-1.ha. Esses resultados
corresponderam à média de 33 meses de avaliação (Aronovich & Rocha, 1985).
31
7 - CAPIM-SETÁRIA – Setaria anceps Stapf. ex. Massey
7.1 - Origem
A maior parte das espécies do genêro Setaria são de origem africana, mas são
encontradas também em outras regiões subtropicais e mediterrâneas (Bodgan, 1977),
sendo possível encontrar, inclusive, algumas espécies no Rio Grande do Sul,
consideradas nativas do Brasil (Mattos & Mattos, 2000). No pantanal do Mato
Grosso existe uma espécie nativa, a Setaria geniculata, conhecida como capim-
mimoso-vermelho.
As cultivares de Setaria anceps mais utilizadas são: Nandi, Kazungula e
Narok. A cultivar Nandi foi selecionada a partir de material encontrado no Quênia,
num local chamado Nandi (Mattos & Mattos, 2002). A cultivar Kazungula foi
primeiramente lançado comercialmente na Austrália, a partir de plantas selecionadas
no Zâmbia. A cultivar Narok é oriunda da mesma região da cultivar Nandi, tendo
advindo, porém, de regiões com mais de 2.000 m de altitude. No Brasil, as cultivares
são denominadas vulgarmente de capim-setária, capim-congo, capim-rabo-de-raposa
e capim-de-cachorro.
32
A cultivar Nandi possui touceiras que podem atingir até 1,5 m de altura no
estádio de florescimento, com colmos eretos e rizomas curtos. As inflorescência são
de cor amarronzada, com cerca de 30 cm de comprimento. Uma das grandes
vantagens dessa cultivar é seu florescimento tardio, o que implica na manutenção do
pasto de capim-setária com melhor valor nutritivo durante maior período de tempo.
A caracterização morfológica da cultivar Kazungula assemelha-se bastante a
da cultivar Nandi, com diferenças mais proeminentes na coloração da inflorescência,
que na cultivar Kazungula possui tom mais claro e a cor das folhas é verde-azulado.
Apresenta também porte maior do que a cultivar Nandi, podendo atingir até 2 m de
altura quando em florescimento. A cultivar Kazungula se caracteriza também por
intenso florescimento e, segundo Alcântara & Bufarah (1988), este pode ser reduzido
com pastejo intenso.
As plantas da cultivar Narok podem atingir até 1,8 m na época do
florescimento e são considerada por Mattos & Mattos (2000) como intermediárias
entre as cultivares Nandi e Kazungula no tocante ao vigor. Poucas são as diferenças
morfológicas dessa cultivar em relação às outras, principalmente em relação à
cultivar Nandi.
33
mais indicadas para solos profundos. O capim-setária tem sido recomendado para
regiões com precipitação pluvial anual mínima de 750 mm.
De modo geral, o capim-setária é tolerante ao frio, mas o máximo de
produtividade dessas plantas em regiões subtropicais ocorre nas estações de
primavera, verão e outono. Em regiões livres de geadas, se o pasto for devidamente
adubado, o capim-setária pode apresentar bom crescimento durante o inverno. Esta é
a razão para as recomendações de que o capim-setária poderia substituir algumas
gramíneas de inverno para produção de forragem durante o período de escassez.
As cultivares Kazungula e Narok são consideradas mais tolerantes às
condições de seca e de baixa temperatura, respectivamente. A cultivar Kazungula
adapta-se melhor aos solos rasos, suporta melhor condições de alagamento
prolongado e possui mais rápido estabelecimento do que a cultivar Nandi.
Em geral, as três cultivares citadas anteriormente se desenvolvem bem em
solos de média fertilidade. Essas gramíneas, são bastante responsivas à adubação
fosfatada, havendo aumentos significativos em produção de forragem e, segundo
Pimentel & Zimmer (1983), apresentam boa produção de sementes em solos com
elevada acidez. O capim-setária também não é adaptado aos solos salinos.
O capim-setária se propaga predominantemente por sementes, mas também
pode ser propagado vegetativamente (Jones & Rees, 1973), com mudas enraizadas.
O estabelecimento do pasto é lento e irregular, com conseqüente demora para
utilização inicial da pastagem. As sementes do capim-setária são de reduzido
tamanho e, na cultivar Kuzungula, estima-se que existam cerca de 1.490 sementes
em um grama (Souza, 1993). Em geral, são necessários de 6 a 8 kg de sementes, com
cerca de 30 % de valor cultural, para a formação de um hectare de pastagem. As
cultivares, em geral, são bastante susceptíveis ao ataque de cigarrinhas-das-
pastagens. A cultivar Kazungula é considerada tolerante à cigarrinha-das-pastagens
devido à rigidez dos tecidos na base do seu colmo.
34
Talvez a maior limitação nutricional do capim-setária seja sua concentração
elevada de oxalato, que é nocivo à saúde dos animais, pois reage com o cálcio,
tornando-o indisponível e, assim, ocasionando deficiência induzida deste mineral
(Martines, 1993). Muitos autores consideram como níveis tóxicos de oxalatos
valores entre 4 e 7 % (Jones & Ford, 1972) e, nestas condições, intoxicação de
bovinos pode ocorrer quando animais com estado nutricional precário e não
adaptados ao consumo destas substâncias são introduzidos na pastagem (Pimentel &
Zimmer, 1983). Em geral, quando comparadas em mesmo estádio de
desenvolvimento, a cultivar Nandi possui menor teor de oxalato do que a cultivar
Kazungula.
35
7.5 - Resultados de pesquisa
36
Grande, MS, adotando-se taxa de lotação correspondente a uma vaca por hectare.
Durante o período chuvoso, a capacidade de suporte da pastagem foi de 2,4 vacas.ha-
1
.
8.1 - Origem
37
O capim-quicuio é originário da África Central e Oriental, principalmente do
Zaire e Quênia e, ainda, de regiões da Etiópia, Uganda, Tanzânia, Congo e Ruanda.
O nome quicuio provém de uma tribo de nativos do Quênia, um dos principais locais
em que esta gramínea é originária (Araújo, 1978). Constitui uma das espécies
forrageiras mais difundidas e cultivadas em regiões tropicais do mundo, com
destaque para regiões da Costa Rica, Colômbia, Hawai e Sul da África. Essa
forrageira foi introduzida no Brasil, em 1924, pelo engenheiro agrônomo Jorge
Villares e disseminada para vários estados do país. Além do capim-quicuio comum,
existem duas outras cultivares, a Whittet e a Breakwell.
38
inflorescência, que é localizada na base do limbo foliar junto ao colmo e, dessa
forma, fica normalmente oculta.
A cultivar Breakwell possui menor capacidade de perfilhamento,
crescimento mais prostrado, entrenós mais curtos e forma pastos mais densos do que
a cultivar Whittet.
39
A produção de forragem da cultivar Breakwell é menor quando comparada à
da cultivar Whittet. Por outro lado, a capacidade de cobertura do solo e de
competição com plantas daninhas e à resistência ao pisoteio é maior na cultivar
Breakwell.
40
A produção de forragem do capim-quicuio é variável com as condições de
ambiente e manejo. No Brasil, Otero (1961) relatou a produtividade anual de 60 t.ha-
1
de massa verde nos pastos de capim-quicuio, em seis cortes.
O capim-quicuio responde bem à adubação nitrogenada, o que lhe confere
vantagem competitiva em relação às espécies menos responsivas à adubação.
Colman & Kayser (1974), avaliando os efeitos de adubação do capim-quicuio,
obtiveram eficiência de resposta de 17 a 24 kg de MS por kg.ha-1 de N aplicado.
Em geral, dentre as gramíneas de crescimento estolonífero, o capim-quicuio
não é uma das mais produtivas, principalmente quando comparado às gramíneas do
gênero Cynodon. Neste contexto, Basso et al. (2004) compararam a dinâmica de
alocação de massa seca em Tifton 85 e capim-quicuio e observaram maior acúmulo
de biomassa para o capim-tifton (6,6 t.ha-1) em relação ao capim-quicuio (2,3 t.ha-1).
Além disso, o Tifton acumulou proporcionalmente mais matéria seca em estolões (60
%) em relação ao capim-quicuio (40 %), o que lhe conferiu maior capacidade de
competição.
Quando bem manejado, o pasto de capim-quicuio possui e mantém bom valor
nutritivo durante longo período. Porém a idade do pasto é fator preponderante,
modificando o valor nutritivo do pasto de capim-quicuio (Quadro 6).
41
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46
CAPITULO 8
GÊNERO Arachis
Allan Kardec Braga Ramos
Alexandre de Oliveira Barcellos
Francisco Duarte Fernandes
1 - INTRODUÇÃO
47
Valls e Simpson, 1994; Valls e Pizarro, 1994). A denominação comum para estas
plantas é amendoim-forrageiro perene (pinto peanut, forage peanut, maní forrajero
perenne), amendoim-do-campo, amendoim-rasteiro ou amendoim-bravo (rhizoma
peanut).
A espécie A. pintoi é a mais utilizada no mundo, sendo a única com registro
formal de cultivares para uso em pastagens no Brasil (MAPA, 2006). Também é
objeto de um programa de melhoramento genético que visa ao desenvolvimento de
novas cultivares de forrageiras para uso em diferentes biomas brasileiros. Assim, esta
espécie será contemplada preferencialmente neste texto. A espécie A. repens tem
sido utilizada predominantemente para fins paisagísticos e na proteção de taludes.
Por sua vez, ainda que expressivo, o cultivo da espécie A. glabrata ainda está
praticamente restrito ao Estado da Flórida (EUA).
48
São Francisco (Bahia) e Paranã (Goiás) (Figura 1). A espécie A. pintoi também
ocorre, de forma adventícia, em relvados de grama-batatais (Paspalum notatum
Flügge) em Brasília-DF. Estas plantas foram involuntariamente introduzidas com as
placas de grama usadas na urbanização da nova capital, tendo como origem mais
provável os municípios mineiros de Unaí, Paracatu e João Pinheiro (Valls, 1992).
Arachis glabrata (13-28º latitude Sul; 48-58º longitude Oeste) ocorre no Paraguai, na
Argentina e mais amplamente no Brasil (Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) (Figura 1), registrada em publicações sobre a
flora brasileira desde o século XIX (Valls e Simpson, 1994; ICRISAT, 2006).
O primeiro genótipo da espécie A. pintoi foi coletado na Bahia no ano de 1954
por Geraldo Pinto, então pesquisador da CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira), ao qual foi rendida a homenagem, nominando a espécie, até
então desconhecida. Até o ano de 1981, foi o único acesso de A. pintoi a figurar nas
coleções do gênero Arachis, o qual foi compartilhado e avaliado por várias
instituições. Posteriormente, na busca de novas fontes de genes para o melhoramento
de A. hypogaea, várias expedições de coleta de Arachis spp. foram realizadas pela
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) e instituições parceiras.
Ampliou-se, felizmente, o número de espécies, a diversidade e a variabilidade nos
bancos de germoplasma de Arachis spp., bem como o conhecimento acerca dos
limites geográficos daquelas espécies já conhecidas. A. pintoi e A. glabrata passaram
a ser as espécies melhor representadas na coleção mundial de espécies silvestres de
Arachis (Valls e Pizarro, 1994). Mais recentemente, já foi superada a marca de 150
acessos de A.pintoi catalogados (Paganella, 2001; Valls, 2004). A ampliação,
relativamente recente, da base genética de A. pintoi, A. repens e A. glabrata tem
favorecido enormemente a avaliação do germoplasma visando seu uso em pastagens.
Atualmente, num universo com mais de 4.000 acessos de Arachis spp.
catalogados pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), existem
mais de 200 acessos de Arachis spp. pertencentes às seções Caulorrhizae e
49
Rhizomatosae que são o maior repositório de genes para os programas de
melhoramento genético de Arachis para a produção animal em pastagens. Na seção
Caulorrhizae, A. pintoi representa mais de 80 % dos acessos, prevalecendo no
programa de melhoramento genético de forrageiras da Embrapa. Até 1996, cerca de
110 acessos de Arachis spp. já haviam sido introduzidos e avaliados na Embrapa
Cerrados (Karia e Andrade, 1996) e parte deles (promissores) compartilhados com
outras instituições para a experimentação em rede. Mais recentemente, novos acessos
e híbridos produzidos no CENARGEN foram introduzidos e compartilhados com
outras unidades de pesquisa (Embrapa Acre e Embrapa Gado de Leite) para
avaliação agronômica noutros ambientes (Oliveira, 1997; Castro, 2003; Souza
Sobrinho, 2005; Balzon et al., 2006;)
Da América do Sul, o germoplasma de espécies selvagens de Arachis spp., desde
a primeira metade do século passado, já foi distribuído, introduzido e,ou avaliado
para fins pastoris em mais de 60 países dos cinco continentes, com destaque para o
primeiro acesso de A. pintoi (CIAT 17434; BRA-013251) (Carvalho, 1996). A.
glabrata foi introduzido principalmente nos Estados Unidos (Flórida e Texas), na
Austrália, na Índia e em alguns países da África, enquanto que A. pintoi, graças ao
Programa de Pastos Tropicais do CIAT (Centro Internacional de Agricultura
Tropical), foi mais avaliado na América Central (e.g. Costa Rica), na América do Sul
(e.g. Colômbia) e, mais recentemente, no Sudeste da Ásia (e.g. Indonésia e
Tailândia). Como resultado de vários esforços e o engajamento de várias
institucionais, cinco acessos de A. glabrata e quatro de A. pintoi resultaram em
cultivares de forrageiras oficialmente lançadas em vários países (Quadros 1 e 2), com
a perspectiva de novos e iminentes lançamentos.
50
Figura 1- Áreas de ocorrência natural de Arachis pintoi, A. repens e A. glabrata.
Limites aproximados definidos pelos extremos de latitude e longitude dos
dados de passaporte dos acessos já coletados.
Mapa elaborado em SIG por Marina de Fátima Vilela.
51
Quadro 1 - Cultivares de A. glabrata oficialmente lançados em vários países até o
ano de 2006.
País (ano de Genótip
Cultivar Origem geográfica e usos recomendado
registro/lançamento) oa
Arb EUA (Florida, 1960) PI Brasil, Mato Grosso do Sul
Reclaim África do Sul (1987) 118457 Forragem e planta para cobertura (fruticultura)
PI Paraguai, Amambay . Forragem e planta para
Arblick EUA (Flórida, 1960)
262839 cobertura
PI Híbrido natural derivado do cv. ‘Arb’
Florigraze EUA (Flórida, 1978)
421707 Forragem. Genótipo mais cultivado na Flórida
Paraguai, Itapúa
PI
Arbrook EUA (Flórida, 1986) Forragem em ambientes mais secos e de solos
262817
arenosos
Austrália (Queensland, PI
Prine Origem desconhecida. Forragem
1995) 231318
PI Brasil, Mato Grosso do Sul
Ecoturf EUA (Flórida, 1992)
262840 Paisagismo, ornamental e planta de cobertura
Brooksville PI Argentina, Corrientes, Argentina
EUA (Flórida, 2002)
67 262801 Paisagismo, ornamental e planta de cobertura
Brasil
Brooksville ?
EUA (Flórida, 2002) Paisagismo, ornamental e planta para cobertura
68 9056068
(fruticultura).
a. PI – Plant Introduction - Número no ARS-USDA
Fonte: Cook et al. (2005); FAO (2006) – www.fao.org/ag/agp; NSW (2006) –
http://www.agric.nsw.gov.au;.
53
Quadro 2 - Cultivares de A. pintoi oficialmente lançados em vários países até o ano
de 2006.
País (ano de
Cultivar registro/lançamen Genótipo a Origem e usos recomendados
to)
Amarillo
Austrália (1987)
Maní Forrajero
Colômbia (1992) Brasil, Bahia, Belmonte (Boca do
Perenne BRA-013251,
Honduras (1993) Córrego).
Pico Bonito CIAT 17434
Brasil (SP, 1995) Forragem e planta de cobertura
Amarillo MG-100
Costa Rica (1994)
Maní Mejorador
BRA-
Brasil, Bahia, Belmonte +Minas Gerais,
Maní Forrajero 013251+12122
Panamá (1997) Unaí
(Multilinha) CIAT
Forragem e planta para cobertura
17434+18744
Brasil. Ornamental e planta de cobertura
Golden Glory Havaí (1996) Desconhecido
sob árvores
Brasil. Origem múltipla. Seleção de
plantas tolerantes ao frio/geada de várias
Alqueire-1 Brasil (RS, 1998) BRA-037036 procedências introduzidas no Rio Grande
do Sul.
Forragem
Brasil, Minas Gerais, Unaí.
BRA-012122,
Porvenirb Costa Rica (1998) Forragem, ornamental e planta para
CIAT 18744
cobertura (café, fruticultura)
Brasil, Bahia, Itabuna (ex-situ, como
Brasil (Bahia,
Belmonte BRA-031828 ornamental), introduzido do município de
1999)
Belmonte Pastejo/Forragem
a. BRA / CIAT- Número de identificação na coleção de forrageiras da Embrapa e
do CIAT; b. Questionada por Paganella (2001) e Paganella e Valls (2002);
Fonte: CIAT (2006) – www.ciat.cgiar.org; Cook et al. (2005); FAO (2006) –
www.fao.org/ag/agp; NSW (2006) –http://www.agric.nsw.gov.au; Perez (2004).
54
3- CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE ESPÉCIES E DIFERENCIAÇÃO
DE CULTIVARES DE AMENDOIM-FORRAGEIRO
55
sem ramificações. A. pintoi e A. repens, por conta dos estolões, têm prevalência do
crescimento prostrado, não obstante a presença de um eixo central (principal)
ascendente nas plantas propagadas por sementes, do qual partem os primeiros
estolões que se ramificam e emitem raízes em cada nó. As folhas de A.glabrata não
apresentam cerdas e são levemente pubescentes ou sem pêlos, além de mais rígidas
ou subcoriáceas quando maduras. Também a produção de sementes é nula ou
irrisória em A. glabrata. [Foto 1]
56
pequeno número e restritas ao pecíolo. Em A. pintoi as cerdas podem ocorrer ou não,
em densidades variáveis, no caule, na estípula, no pecíolo, na ráquis e,ou na
superfície inferior dos folíolos (hipófilo ou porção dorsal).
O primeiro acesso de A. pintoi, coletado na Bahia em 1954 e que serviu para
caracterizar e descrever morfologicamente a espécie, foi exatamente o mesmo que
originou em 1987 a primeira cultivar (cultivar Amarillo) de A. pintoi no mundo. Esta
cultivar foi repatriada comercialmente como cv. Amarillo MG-100 em 1995, a partir
de sementes importadas da Bolívia. Todavia, esta cultivar guarda semelhanças e
diferenças morfológicas das demais cultivares lançadas posteriormente no Brasil e no
mundo (Quadro 2). Apesar de sua origem genética múltipla (mistura de vários
acessos, inclusive da cultivar Amarillo), a cultivar Alqueire-1 apresenta o fenótipo
(tamanho e forma de folhas, ramos e frutos) que mais se assemelha ao da cv.
Amarillo (Paganella, 2001). Há, porém, variabilidade fenotípica dentro da cultivar
Alqueire-1, o que permite diferenciá-la da cultivar Amarillo. Em geral, por conta de
indivíduos bastante contrastantes, numa amostra com folhas de várias plantas da
cultivar Alqueire-1 teremos, em média, folíolos levemente mais estreitos, bem como
mais que o dobro do número e da densidade de cerdas registradas nos pecíolos da
cultivar Amarillo. Todavia, é a cultivar Porvenir, que mesmo apresentando pecíolos
de comprimento similar aos das cultivares Amarillo e Alqueire-1, possui maior
número e densidade de cerdas no pecíolo. No entanto, na cultivar Porvenir inexistem
ou são raras as cerdas na face inferior dos folíolos (assemelhando-se a um A. repens
típico), ao contrário as cultivares Amarillo e Alqueire-1, nos quais as cerdas
abundam. Numa condição de monocultivo, as plantas da cultivar Alqueire-1
apresentam-se mais altas, eretas e com os folíolos (expandidos) numa coloração
verde mais intensa. Por sinal, a cultivar Amarillo apresenta sempre folíolos mais
claros quando comparado com todos os demais cultivares de A. pintoi. A cultivar
Porvenir apresenta folhas bem menores e mais estreitas que as da cultivar Amarillo e,
por extensão, da cultivar Alqueire-1. No entanto, as flores e frutos (4 a 5 vs. 6 a 7 por
57
grama) são maiores na cultivar Porvenir. Já a cultivar Belmonte, é a mais facilmente
diferenciada das demais, pois praticamente não produz sementes e tem o folíolo
distal ou apical com formato tipicamente elíptico e bastante estreito. Tanto que a
relação comprimento/largura do folíolo varia de 1,9 a 2,2 na cultivar Belmonte,
enquanto que na cultivar Amarillo varia de 1,2 a 1,4. Nas cultivares. Porvenir e
Alqueire-1 esta relação é intermediária (1,5 a 1,7). Os folíolos da cultivar Belmonte
têm tamanho intermediário, em relação aos das cultivares Amarillo e Porvenir.
Apresenta o menor pecíolo de todas as atuais cultivares. A cultivar Belmonte
também possui caules mais estreitos que os da cultivar Amarillo e menor emissão de
flores (Cook et al., 2005; Paganella e Valls, 2002; Paganella, 2001; Argel e
Villarreal, 1998; Monçato, 1995; Maass et al., 1993). Vale salientar que estas
comparações entre cultivares são possíveis apenas quando as plantas são cultivadas
numa mesma condição de ambiente e de manejo. Os valores absolutos aqui
reportados para as cultivares poderão variar numa outra condição, mas a distância
relativa entre acessos e a capacidade de discriminação das características
mencionadas não mudarão. Nesse sentido, o trabalho de Paganella e Valls (2002) pôs
em dúvida a verdadeira origem da cultivar Porvenir. Plantas desta cultivar, cujas
características foram apresentadas anteriormente, divergiram morfologicamente das
plantas do acesso BRA-012122, tido nos bancos de germoplasma como aquele que
originou a cultivar lançado na Costa Rica (Maass et al., 1993; Argel e Villarreal,
1998; CIAT, 2006).
Na literatura sobre A. pintoi também encontramos relatos que mencionam dois
acessos (BRA-031143 e BRA-040550=Ap.65=Ap01 Acre) em posição de destaque
nas avaliações. O acesso BRA-031143 (W34b ou CIAT 22160) foi amplamente
avaliado no Brasil na década de 90 e suas sementes e estolões vêm sendo
multiplicados na Bolívia e na Ásia (CIAT, 2006; Cook et al., 2005; Pizarro, 2004),
onde tem recebido a denominação de Salvador e de cultivar Itacambira,
respectivamente. Este acesso tem sido divulgado na Ásia como planta forrageira e
58
planta de cobertura em pomares, taludes e estradas (Horne e Stür, 1999; Stür e
Horne, 2001). No Brasil, caracterizou-se por apresentar plantas vigorosas e de porte
mais alto que a cultivar Amarillo, mas desuniformes, com folíolos de vários
tamanhos e de formato mais alongado. A análise molecular de plantas propagadas
por sementes apontou que tratava-se de um híbrido natural em segregação. Como a
segregação não permitiria atender ao quesito estabilidade, necessário a uma cultivar,
suas avaliações não prosseguiram no Brasil. Imagina-se que fora do Brasil, com o
avanço de gerações e multiplicações sucessivas das sementes, a estabilidade já tenha
sido alcançada. Já o acesso BRA-040550, encontra-se em fase de validação e será a
primeira cultivar (ainda não nominado) de amendoim-forrageiro obtido e lançado
pela Embrapa. Na Região Centro-Oeste tem-se mostrado mais prolífico que os
demais cultivares e diferencia-se, principalmente, pelo tamanho e o formato dos
folíolos. Apresenta folíolos maiores que os da cultivar Belmonte, com mais pêlos no
pecíolo e na face inferior do folíolo basal. Possui menos pêlos na ráquis que a
cultivar Belmonte. O folíolo distal ou terminal tem o formato mais arredondado e
com a menor relação comprimento/largura das cultivares. Também floresce mais
abundantemente que a cultivar Belmonte.
59
Figura 2 - Arachis pintoi em pleno florescimento na estação chuvosa. Imagens internas, em sentido horário: Folha típica
de Arachis glabrata (1); Arachis repens (2) e Arachis pintoi (3); Detalhe do caule e do hábito de crescimento
de Arachis glabrata (centro); Estolões característicos das espécies A .pintoi e A. repens.
60
Figura 3. Folíolos superiores de A. pintoi [acesso Ap65-Acre (1), cultivar Amarillo (2), cultivar Alqueire-1 (3), cultivar
Belmonte (4)] e de um acesso de A. glabrata. À direita A. pintoi Ap65 Acre na estação chuvosa (imagem
superior) e em plena estação seca (inferior) em cultivo na Embrapa Cerrados (Planaltina-DF).
61
4- CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
62
4.1 - Arachis glabrata
4.1.1- Cultivares
As três cultivares mais importantes (Florigraze, Arbrook, Prine) foram
desenvolvidos fora do Brasil (Quadro 1). A cultivar Prine, desenvolvido na Austrália,
destacou-se naquele país pela maior produtividade e valor nutritivo da forragem, bem
como pela capacidade de colonização e de competição com gramíneas mais
prostradas, superando a cultivar Amarillo em alguns ambientes. Nos Estados Unidos,
a mais utilizada é a cultivar Florigraze, um híbrido natural, que se destaca pela maior
produção de forragem, menor tempo para estabelecimento, capacidade de
colonização e maior tolerância ao frio que a cultivar Arbrook, que é mais tolerante à
seca e a solos mais arenosos (Cook et al., 2005; FAO, 2006; French et al., 2006).
Naqueles países, além da excepcional persistência em regimes de pastejo mais
intensivos e da capacidade de competir com gramíneas, as cultivares de A. glabrata
destacam-se pela elevada produção de forragem de alta qualidade e pela
multiplicidade de usos que apresentam, em relação a outras opções de leguminosas
de estação quente.
63
espécie tem-se mostrado mais tolerantes à seca que o A. pintoi (de baixíssima
tolerância), adaptando-se melhor a regimes hídricos mais restritivos (750-1.000
mm.ano-1 ao longo de 5-6 meses) e aos solos de textura mais arenosa, com menor
capacidade de armazenamento de água, especialmente a cultivar Arbrook. Apesar
disso, seu cultivo deve ser evitado em áreas com pouca chuva quando o propósito é o
acúmulo de forragem para pastejo ou corte na época seca. A. glabrata também pode
ser cultivada sem restrições em solos argilosos, desde que bem drenados (French et
al., 2006). As atuais cultivares não toleram encharcamento ou alagamento, embora
plantas de A.glabrata ocorram naturalmente em solos muito úmidos. Nesse sentido,
A. pintoi é mais adaptada a solos mal-drenados. A. glabrata tem sido cultivada numa
condição de baixa altitude, mas também se desenvolve em locais de maior altitude
(600-1.000 m).
Outro atributo de destaque das atuais cultivares de A. glabrata é a tolerância ou a
adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade, sendo pouco responsivas a
incrementos na fertilidade, mediante aplicações de fósforo e,ou de potássio em solos
arenosos nas pastagens da Flórida. Este comportamento é atribuído à distribuição em
profundidade do robusto sistema radicular e aos rizomas, que exploram mais
eficientemente o perfil do solo (French et al., 1994; French et al., 2006; FAO, 2006).
Porém, deve-se levar em conta a referência local para um solo de baixa fertilidade e
para uma espécie tolerante, além de não prescindir da análise de solo. As cultivares
atuais de A. glabrata certamente tem menor adaptação ou tolerância a solos de baixa
fertilidade do que as cultivares de Stylosanthes. Assim, quantidades mínimas de
fósforo, calcário e micronutrientes são necessários, até mesmo como um suporte
nutricional para a fixação simbiótica de nitrogênio. Para áreas manejadas sob cortes,
com expressiva exportação de nutrientes, as exigências nutricionais serão bem
maiores e a fertilidade do solo deve ser monitorada mais freqüentemente.
64
A principal limitação agronômica das cultivares de A. glabrata é a lentidão no
estabelecimento, com as áreas levando até três anos para atingirem o patamar mais
alto de produtividade de forragem. No primeiro ano, a produtividade de forragem
não alcança 50 % da máxima possível para a espécie. Embora floresça, A. glabrata
praticamente não produz sementes (<100 kg.ha-1) e aquelas que são produzidas têm
baixo vigor. Assim, sua propagação ocorre de forma vegetativa (taxa de
multiplicação de 1 ha : 30 ha), mediante o enterrio e compactação de rizomas (4-9 m3
de rizomas/ha) provenientes de plantas dormentes no inverno, naturalmente
infectadas por rizóbio, com elevada concentração e estoque de reservas orgânicas, ou
seja, que não sofreram desfolhação ou pastejos intensos e severos recentemente
(French et al., 1994; French e Prine, 2006. Cook et al., 1994; 2005).
A colonização da área dá-se pelo crescimento dos rizomas, que são bem menos
efetivos que os estolões de A. pintoi. Na Colômbia, em dois locais e em cultivo com
B. humidicola, mudas de acessos de A. glabrata apresentaram um taxa de expansão
lateral de 0,04-0,12 cm.dia-1 na fase de estabelecimento, enquanto que A. pintoi
cultivar Amarillo apresentou taxa de 0,26-0,35 cm.dia-1, o que levou a uma menor
cobertura do solo (10-14% vs. 42-53%) e menor massa de forragem (31-147 kg.ha-1
vs. 261-446 kg.ha-1 após seis meses) para os acessos de A. glabrata (Peters et al.,
2000), a despeito de A. pintoi também ser uma planta de estabelecimento lento, em
relação a outras leguminosas herbáceas. Desse modo, além de mudas vigorosas, o
adequado preparo do solo e o controle de invasoras (pré e pós-plantio) são
necessários à implantação do A. glabrata. Por sua vez, a irrigação antecipa o
estabelecimento da pastagem, o mesmo não ocorrendo com a adubação (mineral)
nitrogenada.
A propagação vegetativa de A. glabrata, com rizomas de crescimento muito lento
(5-200 cm.ano-1), e a maior demanda por mão-de-obra, elevam o custo de formação
da pastagem, em relação a outras espécies de leguminosas propagadas por sementes.
Tal fato tem limitado, mas não impedido, a utilização gradativa das cultivares (Cook
65
et al., 1994; Cook et al., 2005; French et al., 1994; French e Prine, 2006; Williams,
1993). Como atenuantes aos maiores custos de implantação, as pastagens com A.
glabrata têm a perspectiva de um horizonte de amortização maior e de retornos
relativamente mais rápidos por conta da longevidade produtiva, do menor custo de
manutenção das áreas e do maior valor alimentício da forragem produzida.
66
Por vezes, a capacidade de competição desta leguminosa é apontada como
responsável pela baixa produtividade da cultivar Pensacola em pastos consorciados
na Flórida. Neste caso, para elevar a produtividade e o valor nutritivo da forragem da
gramínea, a adubação com nitrogênio tem sido preconizada, não interferindo na
estabilidade da consorciação (French et al., 1994; Williams, 1994).
Na Flórida, há registro de áreas com mais de 20 anos de cultivo. Esta
longevidade produtiva é apontada como atenuante ao lento estabelecimento das
cultivares. No Brasil, os registros recentes acerca de A. glabrata como forrageira
referem-se apenas à condição de monocultivo em nível experimental. Avaliado sob
cortes, as cultivares Florigraze e Arbrook não sobreviveram em Planaltina-DF,
enquanto que a cultivar Arbrook persistiu no Acre (Pizarro et al., 1992; Sales et al.,
2002). No Paraná, persistiu como planta para cobertura no mínimo por 9 anos (Neves
et al., 1998).
67
Kelemu et al. (1994) reportaram a incidência de mancha castanho, pinta preta,
ferrugem, antracnose (Colletotrichum gloeosporioides), requeima (Rhizoctonia
solani) e de verrugose ou sarna (Sphaceloma arachidis ) em A. glabrata no Brasil. E
foi a severidade do ataque de algumas destas doenças e de outras, que ainda não
eram relatadas para A. glabrata, que inviabilizaram o cultivo e a intensificação da
experimentação com esta espécie no Centro-Oeste do Brasil, fazendo recair, de vez,
o foco da seleção para a produção de forragem nas duas espécies selvagens de
Arachis da seção Caulorrhizae. Isto porque numa coleção de Arachis spp. com 22
acessos de A. glabrata (cvs. Florigraze e Arbrook presentes), apenas um acesso de A.
glabrata (BRA-017531) sobreviveu ao cultivo numa várzea úmida, enquanto que os
demais acessos (A. pintoi, A. repens e Arachis sp.) sobreviveram e puderam se
destacar pela produção de forragem (Pizarro et al., 1992). Charchar e Pizarro (1995)
apontaram uma baixa incidência de Ascochyta sp. e de antracnose na coleção de A.
glabrata avaliada em Planaltina-DF, porém uma alta incidência de mancha castanho
(Cercospora spp.), de queima das folhas (Leptosphaerulina arachidicola) e,
sobretudo, de ferrugem (Puccinia arachidis), que dizimaram a referida coleção.
Diferentemente, o germoplasma de A. pintoi e de A. repens disponível na coleção
não foi atacado pela ferrugem e teve baixa incidência de Ascochyta sp., de antracnose
e da queima das folhas. A mancha castanho (Cercospora spp.) prevaleceu, porém
sem ocasionar mortes. Desta forma, apesar das perspectivas de desempenho
agronômico superior, a espécie nativa A. glabrata, que também ocorre no Cerrado,
teve que ser preterida nas avaliações para a produção de forragem neste bioma, após
sucumbir aos estresses bióticos locais. Sobressaiu-se, neste caso, a importância da
avaliação da interação genótipo-ambiente para o maior conjunto possível de atributos
da planta forrageira e não somente para aqueles de natureza morfofisiológica, que
sugeriam alta aptidão para o pastejo e adaptação ao clima e ao solo do Cerrado.
Tornou-se evidente a necessidade de, oportunamente, ser acessado o germoplasma
ainda disponível noutras coleções de A. glabrata para fins de avaliação agronômica
68
num outro ambiente, pois quando introduzido no Paraná e no Acre, A. glabrata
sobreviveu e persistiu (Neves et al., 1998; Sales et al., 2002). Também cabe mais
uma vez o alerta para o risco, em potencial, de insucessos associados à mera
repatriação ou introdução de cultivares desenvolvidas em outras condições
ecológicas.
Em relação às invasoras, é pequena a capacidade de competição da A. glabrata
na fase de estabelecimento da pastagem ou do campo de fenação, por conta do lento
crescimento e desenvolvimento dos rizomas e do sistema radicular. O plantio deve
ser precedido de um bom preparo do solo e do controle manual ou químico das
invasoras na fase de pré-plantio e,ou de pré-emergência. Como são poucos os
herbicidas registrados para uso em pastagens, é recomendado, quando possível, o
cultivo prévio da área com espécies cujos tratos culturais previstos permitam reduzir
a presença de invasoras para o cultivo da leguminosa em sucessão. Outra alternativa
é o estabelecimento de A. glabrata associada com outra planta forrageira anual ou
menos competitiva para que gradativamente se estabeleça a sucessão da cultura
acompanhante pelo A. glabrata. Mudas vigorosas, pastejo ou corte precoce e, se
possível, irrigação ampliam a capacidade de competição da leguminosa. (French e
Prine, 2006).
Cook et al. (2005) apontaram que nas aplicações em pré-emergência A. glabrata
é tolerante aos herbicidas trifluralina (=trifluralin) e vernolate (sem registro no
Brasil), e em pós-emergência ao alacloro (=alachlor), dinoseb (sem registro no
Brasil), bentazona (=bentazone), 2,4-D, 2,4-DB (sem registro no Brasil), setoxidim
(=sethoxydim) e fluazifope-P-butílico (=fluazifop-P-butyl), sendo susceptível ao
metsulfurom metílico (=metsulfuron-methyl) e ao glufosinato(=glifosinate).
Bentazona controla as invasoras de folhas largas (dicotiledôneas) e setoxidim e
fluazifope-P-butílico controlam aquelas de folhas estreitas (monocotiledôneas).
Desta relação, apenas os herbicidas 2,4-D e o metsulfurom metílico têm registro para
69
uso em pastagens e a trifluralina, o alacloro e a bentazona para uso no amendoim
comum (A. hypogeae). (MAPA, 2006)..
4.2.1- Cultivares
Para uma espécie com histórico de avaliação relativamente recente, a existência
de várias cultivares de A. pintoi à disposição dos produtores, além da iminente
chegada de novas opções, é um aspecto bastante favorável para um país como o
Brasil, que possui uma grande diversidade de condições climáticas, de solo, de
sistemas de produção e até mesmo de paisagens dentro de uma propriedade.
As cultivares de A. pintoi registradas no Brasil (Quadro 2) originalmente tiveram
recomendação de uso para condições ecológicas ou sistemas de exploração bastante
específicos, por conta da forma como foram introduzidas, selecionadas e validadas
para produção animal. Assim, a cultivar Amarillo MG-100 foi lançada inicialmente
no Estado de São Paulo, a cultivar Alqueire-1 no Estado do Rio Grande do Sul e a
cultivar Belmonte para o Sul da Bahia. Com a ampliação do estoque de
conhecimento e de experiências de pecuaristas inovadores, ampliaram-se os
domínios ecológicos, as modalidades de uso das cultivares e até mesmo a forma
como alguns profissionais da pesquisa e produtores passaram a tratar o tema das
leguminosas em pastos consorciados.
Além do Sul da Bahia, a cultivar Belmonte é a mais recomendada e disseminada
na Região Norte, graças ao trabalho de validação tecnológica realizado pela Embrapa
Acre (Valentim et al., 2001). Da Região Sul, onde foi selecionada pela tolerância ao
frio, a cultivar Alqueire-1 já foi introduzida por pecuaristas no Sudeste e no Centro-
Oeste do Brasil (Perez, 2004). Por sua vez, a cultivar Amarillo MG-100 tem sido a
mais disseminada nas diversas regiões, favorecida pelo pioneirismo de seu
lançamento, pela recomendação regionalizada das demais cultivares e pela facilidade
70
que as sementes proporcionam para a logística de distribuição e para o
estabelecimento e persistência das pastagens em alguns locais. Além disso, é a
cultivar com maior estoque de conhecimento gerado fora do Brasil, o qual foi
adaptado ou transferido aos pecuaristas. No entanto, o desenvolvimento desse
cultivar tem sido bastante errático ou instável, podendo ser suplantado por outras
cultivares, a exemplo do ocorrido na Costa Rica com a cultivar Porvenir.
Numa rede de ensaios (10 acessos pré-selecionados em parcelas sob cortes)
coordenada pela Embrapa Cerrados em 11 locais na faixa tropical (Estados do AC,
AP, RR, TO, MT, MS, SP, DF, BA), a cultivar Belmonte esteve entre os destaques
em 8 locais e a cultivar Amarillo em dois locais, coincidentes com aqueles em que a
cultivar Belmonte se destacou. Detectou-se, assim, maior adaptação e estabilidade
para a produção de forragem na cultivar Belmonte em monocultivo. Nesta rede de
ensaios, a cultivar Alqueire-1 não participou porque estava em fase de avaliação e
era desconhecida. A cultivar Porvenir não foi incluído porque, ainda na condição de
acesso, não fora apontado como promissora nas avaliações iniciais realizadas por
Carvalho (1996) na Embrapa Cerrados. Saliente-se ainda que na fase de
implementação da rede de ensaios, a cultivar Belmonte (acesso promissor BRA-
031828) foi lançada pela CEPLAC, uma vez que já havia sido detectada sua
superioridade agronômica em relação aa cultivar Amarillo nas condições do Sul da
Bahia.
Não há nenhuma leguminosa tropical herbácea que possa ocupar o nicho que as
cultivares de A. pintoi se propõem, aliando persistência e alto valor alimentício da
forragem. Da mesma forma, por questões intrínsecas à espécie, A. pintoi não ocupará
espaço algum para um grande número de situações mais desafiadoras. Até mesmo a
futura cultivar, de lançamento iminente pela Embrapa, terá abrangência ecológica
bem definida.
4.2.2- Clima
71
A. pintoi vem sendo cultivada em várias latitudes (0-30º) e altitudes (0-2.000 m)
na faixa tropical e subtropical, superando os limites de sua ocorrência (13-19º S; 300-
1.100m). Deve, porém, ser cultivada preferencialmente em locais chuvosos (>1.500
mm.ano-1), com precipitações bem distribuídas e com estação seca de curta duração
(<4 meses), pois quanto maior a estação chuvosa, maior tem sido a estação de pastejo
e a produtividade de forragem. Todavia, se as chuvas forem bem distribuídas, pode
sobreviver em ambientes menos chuvosos (1.000–1.200 mm.ano-1) ou com seca
prolongada (seis meses), graças ao banco de sementes (reconstituído na estação
chuvosa) e às reservas orgânicas da coroa e do sistema radicular, que também
asseguram tolerância ao frio, sobrevivência após geadas e o cultivo em regiões frias
ou secas de maior altitude.
Com base na retenção e emissão de folhas, A. pintoi é menos tolerante à seca do
que A. glabrata e muitas outras leguminosas como Stylosanthes guianensis, S.
capitata e Desmodium ovalifolium. Porém, equipara-se a outras leguminosas como,
Centrosema spp. quando o sistema radicular está bem desenvolvido e distribuído
(Cook et al., 2005; Fisher e Cruz, 1994). Com elevada estacionalidade na produção
de forragem na faixa tropical, é uma planta para uso intensivo nas águas, não sendo
recomendada para diferimento da pastagem em locais com estação seca bem
definida. No Centro-Oeste do Brasil praticamente cessa o crescimento a partir de
abril-maio, quando escasseiam as chuvas e a água armazenada no solo. As
madrugadas frias (<15-17ºC de temperatura mínima) limitam o seu crescimento e
inviabilizam a resposta à irrigação no inverno. Nas áreas mais altas, perde totalmente
as folhas e há morte acentuada de estolões em meados da estação seca (julho). Daí,
ser cultivada em maior escala em locais do ecossistema de Mata Atlântica e na região
Norte, nos quais a temperatura média situa-se acima de 22º C e o balanço hídrico
anual apresenta pequeno déficit. Noutros locais, tem sido recomendado o cultivo
preferencial em baixadas úmidas.
72
Para o inverno frio e chuvoso do Sul do Brasil, a cultivar Alqueire-1 é a mais
especializada, uma vez que sua seleção e desenvolvimento enfatizaram a tolerância
ao frio/geada. Nestes locais mais frios, com risco de geadas, o banco de sementes no
solo é de fundamental importância para posterior regeneração do pasto, daí a cultivar
Amarillo também ser utilizada no Paraná.
4.2.3- Solo
A. pintoi pode ser cultivada em solos de qualquer textura. Todavia, desenvolve-se
melhor em solos de textura média. Em locais com chuvas escassas ou mal
distribuídas, deve-se preferir os solos com maior capacidade de armazenamento de
água (argilosos; maior teor de matéria orgânica; várzeas) para prolongar a estação de
pastejo. Quando bem estabelecida, sobrevive a curtos períodos de alagamento, sendo
mais tolerante a solos mal drenados que o A. glabrata e a maioria das leguminosas
herbáceas (Cook et al., 2005), porém sem a mesma adaptação que a gramínea
Brachiaria humidicola. Em geral, A. pintoi é muito mais sensível ao alagamento do
que à déficits hídricos temporários, com reflexos mais acentuados sobre o sistema
radicular (Fisher e Cruz, 1994).
A. pintoi é considerada uma planta adaptada a solos de baixa fertilidade (Vilela et
al., 2000; Rao e Kerridge,1994). No entanto, é mais exigente que as leguminosas dos
gêneros Stylosanthes e bem menos exigente que leguminosas dos gêneros
Neonotonia, Macroptilium e Medicago. Estes referenciais de adaptação devem ser
considerados por ocasião do uso das diversas recomendações (regionais ou estaduais)
de calagem e adubação de pastagens. Também levar em conta que mesmo tolerante a
solos ácidos (pH 4,0-7,0) e a altas concentrações de alumínio (70%), A. pintoi deve
ser cultivada em solos com pH (H2O) próximo a 5,5 ou com saturação por bases (V
%) de no mínimo 30-35%. E que, em geral, responde menos à calagem e à adubação
potássica do que à aplicação localizada de fósforo no sulco de plantio (Góis et al.,
1996; Vasconcelos et al., 1998). Também é uma planta eficiente na aquisição de
73
fósforo em solos com baixos teores deste nutriente e a partir de fontes pouco solúveis
(Rao e Kerridge, 1994). Estabelece associação com micorrizas, sendo apontada como
pequena ou, por vezes, grande a dependência das mesmas para a aquisição de P do
solo e para incrementos na produção de forragem. Tem ainda menor exigência de
cobre e molibdênio quando comparada com outras leguminosas como Stylosanthes e
Macroptilium, e demanda similar de zinco. Mesmo assim, zinco e cobre estão entre
os micronutrientes mais demandados (Rao e Kerridge, 1994, Vasconcelos et al.,
1996; Santos et al., 2001; 2002). Assim como o A. glabrata, A. pintoi tem baixa
tolerância a solos salinos (FAO, 2006).
Para ajustar a fertilidade do solo para o cultivo inicial, convencionalmente a
calagem deve ser prévia, em área total, e no plantio aplica-se o fósforo
(principalmente), o potássio, o enxofre e os micronutrientes na cova ou no sulco.
Sempre que possível, o potássio deve ser aplicado em cobertura, quando os estolões e
o sistema radicular estiverem melhor desenvolvidos. As adubações de manutenção,
geralmente com menores quantidades que as utilizadas no plantio ou semeadura,
podem ocorrer numa freqüência anual ou bienal, conforme diagnóstico da
necessidade. A adubação de plantio, sobretudo com fósforo, tem proporcionado
incrementos de mais de 100% na massa de forragem acumulada na fase de
estabelecimento.
Deve-se salientar, porém, que as exigências nutricionais de Arachis pintoi
dependerão da modalidade de uso, sendo mais elevadas nos sistemas mais intensivos
de produção animal, bastante freqüentes nesta espécie. Nestes casos, o cultivo em
solos de média a alta fertilidade ou a elevação gradual da fertilidade, mediante
adubações de manutenção, devem ser adotados. Ademais, uma maior atenção deve
recair sobre o monitoramento da produtividade e a composição botânica na área.
74
4.2.4- Fixação simbiótica de nitrogênio e reciclagem de nutrientes
A. pintoi tem capacidade de estabelecer, de forma promíscua, a simbiose com
bactérias fixadoras de nitrogênio (N) atmosférico dos gêneros Rhizobium e
Bradyrhizobium, que ocorrem naturalmente em diversos tipos de solos. Este aporte
de N dispensa a necessidade da adubação nitrogenada e contribui para a
sustentabilidade e produtividade do sistema solo-planta-animal, sendo este o maior
apelo ao seu uso em pastagens. Numa estimativa otimista de Argel e Villarreal
(1998), A. pintoi cultivar Porvenir pode fixar até 300 kg.ha-1.ano o de N. Para a
cultivar Belmonte, estima-se a fixação de 80-120 kg.ha-1.ano de N em pastagens no
sul da Bahia (Pereira, s.d.). No Mato Grosso do Sul, Miranda et al. (2003) estimaram
fixação de 99 kg.ha-1 de N em estandes puros da cultivar Belmonte com cerca de dois
anos de idade. Outros acessos da mesma espécie fixaram de 26 a 86 kg.ha-1 de N.
Estas variações dependem do genótipo e do ambiente (em sentido amplo) de cultivo.
Todavia, guardam correlação direta e estreita com a produtividade de forragem ou,
por extensão, com adaptação agronômica e o manejo da cultivar. Na parte aérea de A.
pintoi, a proporção de N que é derivado da fixação simbiótica varia de 40 a 90 %.
Nas plantas mais adaptadas é superior a 80% seja na condição de monocultivo
(Miranda et al., 2003) ou de consórcio (Thomas, 1994). No sistema radicular, que
tem grande influência na fitomassa de A. pintoi, Argel e Villarreal (1998) relataram
trabalhos em que a proporção de N derivado da fixação simbiótica situa-se acima de
50%. Estes números evidenciam o papel que as cultivares bem adaptadas de A. pintoi
podem desempenhar em prol da recuperação de áreas degradadas e na
sustentabilidade e produtividade das pastagens em regiões onde o acesso a
fertilizantes nitrogenados ainda é inviável ou restrito.
Por ser considerada promíscua, A. pintoi tem sido rotineiramente cultivada com
sementes ou mudas não inoculadas. No entanto, nas áreas em que A. pintoi ainda não
foi cultivada, as populações infectantes de rizóbio podem estar em níveis muito
baixos, o que pode levar a uma baixa capacidade de infecção natural e de fixação de
75
N (Sá et al., 2001). Este fato pode até explicar o lento estabelecimento e o fraco ou
instável desenvolvimento de alguns genótipos em vários locais no Brasil.
É reconhecida a interação estirpe – hospedeiro em A.pintoi. Após processo de
seleção, Purcino et al. (2000) recomendaram as estirpes SEMIA 6439 e 6440 para a
inoculação de A. pintoi em cultivos no Cerrado. Estas estirpes proporcionaram, a
curto e longo prazo, em condição de campo, aumentos na produtividade de forragem
(6-52%) e nos teores de nitrogênio (3-74%) na parte aérea, principalmente em solos
de áreas degradadas, ou pobres em N ou sem histórico de cultivo com a leguminosa
A. pintoi. Noutras condições, os benefícios ocorrerão a longo prazo. Já a estirpe de
Bradyrhizobium CIAT 3101, recomendada na Austrália, Costa Rica e Colômbia
(Argel e Villarreal, 1998; Thomas, 1994) para as cultivares Amarillo e Porvenir, não
se mostrou efetiva no Brasil (Purcino et al., 2003).
A imobilização de estoques expressivos e a baixa taxa de reciclagem de N nas
pastagens tropicais é apontada como uma das causas de declínio na produtividade de
forragem. Nesse sentido, numa dada composição botânica, a reciclagem de N nos
pastos consorciados de A. pintoi é maior e mais rápida que a registrada em pastagens
exclusivas de gramínea ou naqueles pastos consorciados com outras leguminosas
herbáceas tropicais (e.g. Desmodium; Stylosanthes). Isto porque a melhor
composição (teores e conteúdos de C, N, taninos) da forragem e da serapilheira
favorecem a atividade biológica e a mineralização do N. Da mesma forma, as
maiores taxas de lotação registradas em pastagens com A. pintoi, cuja forragem é
bastante aceita pelos animais, favorecem a ingestão de N pelos animais, o que amplia
e acelera a reciclagem de N via excreta, principalmente na estação chuvosa. Assim, o
aporte diferenciado de N oriundo da serapilheira ou das excretas modulará a
produtividade de forragem em patamares mais elevados. No entanto, caso não haja o
monitoramento e o controle da condição da pastagem, o maior aporte de N poderá até
afetar a estabilidade da consorciação, por favorecer o crescimento da gramínea
acompanhante (Oliveira et al., 2003; Pereira, 2002; Thomas, 1995).
76
4.2.5- Propagação e estabelecimento
A propagação do A. pintoi ocorre por sementes (a rigor segmentos de frutos) ou
por via vegetativa, a partir de segmentos de raízes, de ramos eretos (=aéreos), de
ramos prostrados (=estolhos), ou propágulos enraizados. Tanto a cultivar Belmonte
(estolões) como a cultivar Alqueire-1 (estolões; ramos aéreos e raízes) têm sido
propagados somente por via vegetativa. O primeiro por ser um péssimo produtor de
sementes (<50 kg.ha-1) e o último por ser ofertado para a comercialização apenas a
parte vegetativa, apesar de sua capacidade de produzir sementes. Já a cultivar
Amarillo tem sido comercializada e propagada apenas por meio de sementes, embora
possam ser propagadas vegetativamente. O mesmo ocorrerá com a futura cultivar da
Embrapa.
Os estolões de A. pintoi apresentam maior capacidade de colonização que os
rizomas de A. glabrata. Mesmo assim, o seu estabelecimento pode ser considerado
muito lento, constituindo-se numa das principais limitações da espécie, sendo objeto
de investigação nas coleções (Carvalho, 1996; Pizarro, 2001; Valentim et al., 2003) e
nos programas de melhoramento da espécie (Castro, 2003). Dependendo da
fertilidade do solo, do regime hídrico, do modo de propagação e da densidade de
propágulos, na maioria das vezes somente na segunda estação chuvosa (pós-plantio)
é que ocorrerá a estabilidade na cobertura do solo, na produção de forragem e na
composição botânica. Apenas em curto prazo (< 3-5 meses), a propagação por
sementes propicia maior cobertura do solo, menor tempo de crescimento das plantas
e maior tolerância aos veranicos, por conta do sistema radicular mais robusto. A
longo prazo (>10-12 meses; estação chuvosa seguinte), as diferenças tendem a ser
mínimas. No entanto, a propagação por sementes tem propiciado, para alguns
genótipos, o estabelecimento de um banco de sementes significativamente maior em
curto prazo, o que praticamente elimina o risco de insucesso no estabelecimento
(Balzon et al., 2005), mesmo que lentamente.
77
Para atenuar o lento estabelecimento são necessários um bom preparo do solo,
um bom controle da competição por luz com a forrageira acompanhante e as
invasoras (via pastejo, roçada, herbicidas, preparo do solo, manejo da adubação), a
adubação, o plantio na época chuvosa (sem veranicos) ou sob irrigação e o uso de
quantidades adequadas de propágulos vigorosos (sementes sadias não-dormentes e
“mudas” maduras ou estolões com 4-5 gemas maduras).
O uso de maiores quantidades de propágulos e até mesmo a maior utilização das
cultivares no estabelecimento de pastagens têm sido limitados pelo alto custo das
operações de plantio e/ou de aquisição dos mesmos (Sementes US$ > 30.kg-1; Mudas
US$ 10.kg-1 via correios). Isto porque os propágulos são importados e produzidos
com uso intensivo de mão-de-obra (sementes) ou são perecíveis e volumosos
(“mudas”). Tal fato, tem levado a recomendações de plantio em taxas ou densidades
próximas do limiar de risco para um rápido estabelecimento de pastagens e,
certamente, distante do ideal (>15 kg sementes.ha-1; 250-600 kg.ha-1 de mudas) que
atualmente é impraticável em muitos locais e em maior escala. Apesar da praticidade
que as sementes propiciam para o estabelecimento e da maior mão-de-obra envolvida
na propagação vegetativa, uma alternativa para os altos custos dos propágulos tem
sido a aquisição de uma quantidade inicial dos mesmos para a formação de pequenas
áreas de multiplicação no âmbito da propriedade que, posteriormente, fornecerão as
mudas para a expansão do cultivo, graças à capacidade de propagação vegetativa de
todas as cultivares. Esta fase inicial de multiplicação na fazenda é até oportuna, pois
possibilita um primeiro contato do produtor com a cultivar antes da utilização em
maior escala e oferece um indicativo inicial de adaptação da planta ao local de
cultivo.
A taxa de multiplicação vegetativa (1ha:20-100ha) varia com a produtividade de
massa no local, o número de colheitas possíveis numa mesma área, a modalidade de
estabelecimento (sulco, cova, superfície+enterrio) e se o uso da pasto será em
consórcio com gramíneas ou puro. Maiores taxas (1ha:50-100 ha) têm sido
78
registradas no Estado do Acre por conta da maior produtividade e do tamanho da
estação chuvosa e da modalidade de cultivo mais recomendada (sulco ou cova)
(Valentim et al., 2001; 2002). No sul da Bahia (1ha:20ha) (Pereira, s.d.) e na porção
oeste do Cerrado (1ha:10ha) as taxas são menores. Em locais mais altos do Cerrado
(>1.000 m), por conta da queda das folhas e da morte dos estolões com a seca e o frio
do inverno, é maior o tempo necessário para a obtenção de mudas vigorosas na
estação chuvosa seguinte, implicando plantios mais tardios das novas áreas de
expansão. Estes plantios mais tardios e o crescimento lento das plantas atrasam o
pleno estabelecimento das pastagens, que rotineiramente ocorre na segunda estação
chuvosa, com a ajuda do banco de sementes.
As mudas devem ser provenientes de plantas em crescimento livre de pastejo ou
desfolhação recentes, com caules eretos e prostrados, grandes, maduros, de áreas
livres de invasoras, pragas e doenças severas. No Cerrado seriam áreas com plantas
de no mínimo 12 meses de idade. As mudas são obtidas pelo corte (mecânico ou
manual) e remoção de toda a parte aérea e de estolões, preservando-se as coroas das
plantas, que eventualmente poderão ser utilizadas, o que implicará maior mão-de-
obra na coleta e atrasos na regeneração da área. O propágulo deve ser usado o mais
rápido possível, embora tolere transporte e armazenamento por curto período (7-10
dias), sem compactação excessiva, sempre em abrigo, na ausência de sol e vento e
com umedecimento freqüente dos caules cortados (Valentim et al., 2002; Perez,
2004). Para maior rendimento, numa situação com baixa oferta de mudas, os estolões
devem ser divididos em segmentos de 20-40 cm (=mudas com + 4 gemas) que
poderão ser menores se a área a ser plantada possibilitar a irrigação. Pequenas
quantidades de mudas já divididas podem ser transportadas parcialmente
desfolhadas, envoltas em papel umedecido ou parcialmente imersas em água (Valls e
Pizarro, 1994).
As sementes (segmentos de frutos; 4-7 por grama) são comercializadas ainda
com o pericarpo, não havendo necessidade de debulha ou de rompimento do mesmo
79
para a semeadura (Pereira et al., 1996). Pureza de 70 % e germinação de 60 % são os
padrões mínimos para comercialização das sementes de A. pintoi no Brasil (MAPA,
2006).
No plantio, para evitar o dessecamento e acelerar a formação de novas raízes, a
maior proporção (50-75%) da muda deve ser enterrada inclinada para que a porção
mais externa da muda também possa rapidamente tocar a superfície do solo e
também enraizar. A semente também deve ser coberta (2-4 cm) para evitar predação
por aves e roedores. Qualquer que seja a modalidade de estabelecimento (muda ou
semente), a compactação do solo após a repicagem, transplantação ou semeadura é
imprescindível para assegurar maior pegamento das mudas e menos tempo para
germinação das sementes e emergência das plântulas.
A eficiência de pegamento das mudas (estolões) varia até mesmo com o
genótipo. Valores na faixa de 70-90% são considerados satisfatórios para mudas
vigorosas, com plantio na época oportuna, sem ocorrência de veranicos, e tomados os
cuidados já descritos. A coroa da planta com raiz assegura maior pegamento, mas
demanda maior mão-de-obra para obtenção e a taxa de multiplicação da área cai
bastante, não sendo a forma de propagação mais utilizada.
Na formação de áreas ou faixas exclusivas de A. pintoi, os espaçamentos
recomendados mais freqüentemente têm sido de 0,5 a 1,0 m entre as linhas (2-4 cm
de profundidade) ou sulcos (10-15 cm profundidade), respectivamente, para o plantio
de sementes (>8 sementes.m-1) ou mudas (>4-8 estolões.m-1; ideal >16 estolões.m-2).
Na formação de pastos consorciados, reduz-se pela metade a necessidade de
propágulos da leguminosa. Assim, em plantio simultâneo ou defasado da gramínea,
adota-se a proporção 1:1 de linhas ou sulcos da leguminosa e da gramínea, num
espaçamento final de 0,5 m entre a gramínea e a leguminosa. Se a gramínea for
semeada a lanço, a leguminosa deve ser plantada no espaçamento de 1,0 m. Em
locais mais chuvosos, para redução de custos, também pode ser utilizado o plantio
das mudas em covas (15 cm profundidade) no espaçamento de 1,0 x 0,5 m e de 0,5 x
80
0,5 m, utilizando-se de 2 a 6 mudas por cova. Nas áreas com gramíneas já
estabelecidas a introdução de A. pintoi deve ser precedida de rebaixamento intenso
do pasto (pastejo ou roçada), com ou sem revolvimento do solo ou a aplicação de
dessecantes nos locais (faixas, linhas, sulcos ou covas) de introdução das sementes
ou mudas. Nestas áreas, o plantio das mudas em sulcos ou em covas tem-se mostrado
mais adequado porque apresenta menor custo e não afeta significativamente a
cobertura e a produtividade da gramínea já estabelecida. No plantio manual em
covas, deve-se priorizar os espaços com solo descoberto por causa da maior
facilidade para o coveamento e para atenuar a competição por luz e espaço, sendo
bastante factível em áreas em processo de degradação ou com declínio na
produtividade. Na introdução de A. pintoi em pastagens já estabelecidas, as áreas não
devem ser pastejadas ou adubadas (em área total) após o plantio até que as plantas da
leguminosa (mais aceitáveis) estejam firmemente enraizadas e emitindo folhas
novas. Eventualmente, o pastejo por bovinos pode ocorrer de forma rápida para
redizir a competição. Deve ser evitado ou bem monitorado o acesso de caprinos e
ovinos nos primeiros pastejos. Já naquelas situações em que há abundância de
mudas, o plantio pode ser simplificado. Após o preparo convencional do solo, as
mudas são distribuídas a lanço na superfície do solo, seguida da fragmentação e
incorporação das mesmas com grade niveladora e posterior passagem do rolo
compactador. Dependendo da forma de obtenção das mudas, da modalidade e da
densidade de plantio, serão necessário de 10 a 20 dias-homem.ha-1 (Fonseca et al.,
1996; Valentim et al., 2001, 2002; 2003; Perez, 2004; Perin et al., 2003; Machado et
al., 2005).
Aumentar a taxa de semeadura ou a quantidade de mudas na área traz
repercussões diretas sobre a produtividade em curto prazo (primeira estação chuvosa)
e antecipa a utilização da pastagem. Porém, acarreta aumentos significativos nos
custos de implantação, mesmo no plantio com mudas produzidas na propriedade. Em
longo prazo (12-24 meses) é possível que áreas estabelecidas com menores
81
quantidades ou densidades de propágulos se equipararem em produtividade àquelas
formadas com maiores densidades. Para tanto, se usadas baixas densidades de
propágulos, as áreas devem ser precedidas ou acompanhadas de um bom controle de
invasoras, de um adequado manejo do pastejo e, principalmente, as plantas terem a
capacidade e a possibilidade de constituírem um banco de sementes razoável já na
primeira estação chuvosa.
Caso haja a possibilidade ou a necessidade de ajustes na densidade de propágulos
para formação de pastagens com A. pintoi, isso deve ocorrer preferencialmente com
o aumento da densidade dentro das linhas ou sulcos de plantio e não com o aumento
do número de linhas ou sulcos de plantio na área. Por outro lado, se forem
necessárias reduções, que elas ocorram no número de linhas ou de sulcos de plantio
(Fonseca et al., 1996; Perin et al., 2003; Machado et al., 2005).
A. pintoi tem mais atenuantes para o alto custo de implantação do que A. glabrata
(horizonte de amortização e retornos mais rápidos), pois se estabelece mais
rapidamente e os propágulos têm menor custo de multiplicação na propriedade.
82
maximum x P. infestum (cv. Massai), Panicum maximum cv. Tanzânia-1, Paspalum
atratum (cv. Pojuca), Cynodon (Coast Cross, Estrela Africana, Tifton-85),
Pennisetum purpureum (anã cultivar Mott), Paspalum notatum (cv. Pensacola),
Paspalum maritimum, espécies de Digitaria e Axonopus, além de forrageiras de
inverno (perenes e anuais) e pastagens nativas (Lascano, 1994; Argel e Villarreal,
1998; Barcellos et al., 1997; Pizarro et al., 1997; Andrade et al., 2006; Cook et al.,
2005; Perin et al., 2006). São combinações com plantas contrastantes quanto à
morfologia, fenologia e referenciais de manejo, evidenciando uma grande
versatilidade da leguminosa. Para tanto, além da morfologia, a tolerância ao
sombreamento, a capacidade de colonização e, ou agressividade e a constituição de
banco de sementes são diferenciais presentes em cultivares de A. pintoi.
Apesar do estabelecimento lento, seu crescimento é mais rápido que o da A.
glabrata o que contribui para uma maior participação inicial na composição botânica
dos pastos. Participação que aumenta com o tempo, se bem gerenciada a competição,
via manejo do pastejo e da adubação (Lascano, 1994; Pereira, s.d.), como em outros
pastos consorciados. Há grande variação entre genótipos para a capacidade de
colonização inicial (Carvalho, 1996). Inicialmente, A. pintoi prioriza o crescimento
horizontal, colonizando os espaços vazios, para posteriormente adquirir hábito de
crescimento mais ereto, em particular a cultivar Belmonte cujo esforço reprodutivo é
mínimo, pela baixíssima produção de sementes.
A tolerância ao sombreamento é crítica para o sucesso de leguminosas herbáceas
em pastos consorciados. A. pintoi é mais tolerante ao sombreamento que A. glabrata
e até mesmo algumas gramíneas. Sob forte competição por luz, A. pintoi aumenta
substancialmente o tamanho dos folíolos como mecanismo de compensação. Por
vezes, experimenta redução na produção de massa proporcional ou não à redução na
radiação incidente (Andrade e Karia, 2002; Andrade et al., 2004). Em ambientes
mais secos, o sombreamento diminui a evapotranspiração, retardando a manifestação
do déficit hídrico em relação à uma condição de pleno sol, o que favorece as atuais
83
cultivares de A. pintoi que têm baixa tolerância à seca. Em locais chuvosos, em que a
restrição hídrica é mínima, o principal modulador da resposta tende a ser a radiação e
a temperatura nas áreas sombreadas.
Outra característica decisiva para a persistência de algumas cultivares é o
tamanho do banco de sementes que essas são capazes de constituir. Há relatos de
bancos de sementes variando de até 3.700 kg.ha-1, dependendo da gramínea
acompanhante, da idade do consórcio, do acesso de A. pintoi (cultivar Amarillo 300 a
1.200 kg.ha-1; cultivar Belmonte <10 kg.ha-1) e do ambiente de cultivo (Carvalho,
1996; Barcellos et al., 1997; Pizarro et al., 1997). Nas cultivares que produzem
sementes, o banco de sementes de A. pintoi em monocultivo é superior a 300 kg.ha-1
com pouco mais de 5-6 meses do estabelecimento (mudas ou por sementes). Numa
condição de pastejo e de consórcio este banco de sementes no solo poderá ser menor,
porém suficiente para assegurar uma nova geração de plantas na estação chuvosa
seguinte e consolidar o estabelecimento da leguminosa ou ainda recompor a
população de plantas no caso da ocorrência de fogo, geadas, seca severa ou
superpastejo. A ativação deste banco de sementes pode afetar substancialmente a
disponibilidade de forragem e a composição botânica da pasto consorciado no início
da estação chuvosa (Andrade et al., 2006). Por isso, em situações muito desafiadoras
(e.g. frio extremo), cautelarmente, a preferência deve recair sobre as cultivares e
manejos na fase de estabelecimento que permitam formar este banco de sementes
inicial. Para tanto, mais uma vez a competição entre gramínea e leguminosa
acompanhante deve ser minimizada.
Por sua morfologia e hábito de crescimento, A. pintoi pode ser pastejada muito
baixa (5 cm) sem afetar sua persistência. O que de fato ocorre na maioria das vezes
pela alta seletividade exercida pelos animais em pastejo. Todavia, a altura de manejo
da planta acompanhante interfere na produção e na forma de crescimento do A.
pintoi, expondo um pouco mais os pontos de crescimento da leguminosa ao pastejo
seletivo. Assim, mesmo plantas de porte alto, como Panicum maximum, Paspalum
84
atratum e algumas cultivares de Brachiaria brizantha devem ser manejados mais
baixos do que o habitual, quando consorciadas com A. pintoi para não induzir ao
crescimento mais ereto em detrimento do prostrado.
Nos pastos consorciados de A. pintoi há, comumente, uma relação inversa entre a
oferta de forragem ou altura do pasto com a massa de A. pintoi e a participação da
mesma na composição botânica. Todavia, no caso do plantio ou semeadura de A.
pintoi em faixas na pastagem, se por um lado favorece o estabelecimento da
leguminosa, por outro, acentua a seletividade dos animais em pastejo, o que tem
afetado a persistência e a produtividade do A. pintoi sempre pastejado
intensivamente. Tal fato é mais freqüente quando há um contraste muito acentuado
entre o valor nutritivo da forragem da gramínea (e.g. B. humidicola, Paspalum
atratum) e do A. pintoi. Constraste que acentua-se com os ciclos de pastejo. Para
atenuar, estabelecer faixas mais estreitas e em maior número, em vez de poucas
faixas largas por piquete. Em áreas experimentais e em propriedades particulares há
registros de situações em que A. pintoi foi ou vem sendo pastejado há mais de 10
anos (Pereira, 2002). Plantas de A. pintoi vêm sendo expostas a regimes de manejo
desafiadores em vários ambientes. A persistência, muito além da mera sobrevivência,
tem sido algo peculiar aas cultivares de A. pintoi.
85
Várias doenças podem incidir em A. pintoi, porém sem ocasionar grandes danos,
principalmente nas áreas pastejadas freqüentemente, que têm menor quantidade de
inóculo. Diferentemente do A. glabrata, o germoplasma de uma grande coleção não
foi atacado pela ferrugem (Puccinia arachidis) e teve baixa incidência de Ascochyta
sp., de antracnose e da queima das folhas (Leptosphaerulina arachidicola). A
mancha castanho (Cercospora spp.) tem prevalecido, porém sem ocasionar mortes
(Charchar e Pizarro, 1995). Mais recentemente, Charchar et al. (2004) relataram
novamente a ausência de ferrugem, porém numa maior incidência das demais
doenças numa outra coleção de A. pintoi avaliada em Planaltina-DF. As doenças
mais severas foram a antracnose e a queima das folhas, que também não ocasionaram
mortalidade de plantas. A podridão do colo Sclerotium rolfsii não ocorreu na cultivar
Belmonte, mas Fusarium ocorreu em todos os acessos (cultivar Belmonte e
Amarillo), podendo ser transmitida pelas sementes. Da mesma forma, a mancha
castanho (Cercospora spp.) ocorreu em todos os acessos, mas sem causar
mortalidade. Além das doenças mais comuns em Arachis, outras doenças como
Phaeoisariopsis personata, Phomopsis sp., Periconia sp., Cylindrocladium sp.,
Sphaceloma arachidis e Rhizoctonia solani têm sido relatadas em outros países sem
causar grandes danos ao cultivo da leguminosa em pastagens. No entanto, por conta
de ser hospedeiro, o uso de A. pintoi como planta para cobertura tem sido evitado em
algumas situações para impedir a transmissão à culturas mais susceptíveis (e,g.
Anonáceas). Também tem sido evitado o cultivo em algumas situações porque tem
atraído roedores que predam suas sementes e também provocam danos a cultura
principal. A cultivar Amarillo tem-se mostrado resistente ou tolerante a vários
nematóides do gênero Meloidogyne spp. e susceptível a Pratylenchus brachyurus
(Cook et al., 2005). Também há o registro da ocorrência natural de Peanut mottle
Potyvirus em A. pintoi cultivado no Cerrado (Anjos et al., 1998).
Apesar do crescimento inicial mais rápido que o do A .glabrata, A. pintoi pode
ser bastante afetada em áreas de cultivo exclusivo (banco de proteína, produção de
86
sementes) nas quais o preparo do solo e o controle de invasoras na fase pré-plantio
não ocorreram adequadamente. Nesse caso, o controle químico de invasores pode ser
necessário. Em trabalhos conduzidos na Costa Rica, Argel e Villarreal (1998)
apontaram o alacloro (=alachlor) como seletivo ao A. pintoi cultivar Porvenir,
quando aplicado em pré-emergência (2.500 g.ha-1 i.a. - ingrediente ativo ). Já
Fergunson et al. (1999) apontaram A.pintoi como tolerante em pós-emergência ao
acifluorfem (=acifluorfen – 448 g.ha-1 de i.a., sem registro no Brasil. Acifluorfem-
sódico com registro), bentazona (=bentazone; 1.440 g.ha-1 i.a.), 2,4-D (500 g.ha-1
i.a.), 2,4-DB (sem registro no Brasil, 1.600 g.ha-1 i.a.), setoxidim (=sethoxydim, 372
g.ha-1 i.a.) e fluazifope-P-butílico (=fluazifop-P-butyl, 212 g.ha-1 i.a.). Cook et al.
(2005) descreveram A. pintoi como sendo susceptível ao metsulfurom metílico
(=metsulfuron-methyl) e ao glufosinato (=glifosinate). No Brasil, apenas os
herbicidas 2,4-D e o metsulfurom metílico têm registro para uso em pastagens e a
bentazona e o alacloro para uso no amendoim comum (A. hypogeae). Bentazona
controla folhas largas e setoxidim e fluazifope-P-butílico controlam folhas estreitas.
(MAPA, 2006). Como são poucos os herbicidas registrados para uso em pastagens,
numa condição muito crítica é recomendado o cultivo prévio da área com espécies
cujos tratos culturais previstos permitam reduzir invasoras para o cultivo da
leguminosa em sucessão.
5-USOS
5.1-Arachis glabrata
Nos Estados Unidos, tem prevalecido o cultivo puro de A. glabrata em sistemas
intensivamente manejados para produção de forragem de qualidade na estação
quente e chuvosa. Predominam as áreas, muitas delas irrigadas, destinadas à
produção de feno, silagem e pré-secado (haylage) para eqüinos, bovinos de leite e
bovinos de corte. O feno também pode ser utilizado na alimentação de caprinos,
87
suínos e aves (fonte de xantofila). Os pastos consorciados são mais usados na
engorda de bovinos de corte, mas sem restrições para as demais categorias animal.
Pastagens de A. glabrata também são utilizadas de forma integrada, no mesmo
espaço, para o cultivo de cereais e forrageiras no inverno (Cook et al., 2005; Rich et
al., 1995; French et al., 1994).
A. glabrata também pode ser cultivada como planta para cobertura na fruticultura
(EUA, Brasil, Austrália e Indonésia) e na silvicultura, estando associada ou não à
produção animal. Além do uso na proteção de taludes e em paisagismo (FAO, 2006;
Neves et al., 1998; French et al., 1994; Cook et al., 1994).
Dependendo da modalidade de cultivo alternativo e do ambiente, a A. pintoi
tende a ser mais efetiva e adaptada que a A. glabrata, por conta do estabelecimento
mais rápido e da relativa maior tolerância ao sombreamento. Ademais, sob
sombreamento artificial, a forragem de A. glabrata cv. Florigraze diminui o seu valor
nutritivo (Johnson et al., 2002).
5.2-Arachis pintoi
A. pintoi tem sido mais utilizada no estabelecimento de pastos consorciados com
diversas gramíneas em sistemas de produção de bovinos de corte e de leite que são
intensificados pela maior taxa de lotação e a maior qualidade da forragem. Outros
herbívoros, como eqüinos, ovinos e caprinos também podem consumir sua forragem
sem restrições, pois não há fatores anti-nutricionais em níveis críticos. Também há
relato de usos em sistemas alternativos de criação de suínos e aves (criados ao ar
livre) e bovinos (fazendas orgânicas), bem como na alimentação de coelhos e
avestruzes.
Na produção de bovinos as pastagens são manejadas intensivamente nas águas,
principalmente em locais com estação seca bem definida. Para alongar a estação de
pastejo tem-se recomendado o plantio ou semeadura nas baixadas úmidas e em
regiões com estação chuvosa mais longa. Nos locais mais chuvosos, também vem
88
sendo utilizado como banco de proteína de modo a reduzir a suplementação
concentrada na alimentação de bovinos de leite (Argel e Villarreal, 1998). Todavia,
fora do trópico úmido não é recomendada a utilização em pastagens diferidas ou
bancos de proteína para a época seca, por conta da baixa tolerância à seca e da forte
competição por luz com as gramíneas de porte alto. No sul do Brasil, com inverno
chuvoso, o diferimento do pastejo é utilizado para o suprimento de forragem no
outono-inverno até o momento em que as forrageiras de inverno restabelecem o
equilíbrio no balanço forrageiro (Perez, 2004). Por conta de seu porte baixo, A. pintoi
não vem sendo utilizada para a produção de feno, silagem ou volumoso verde para
corte, embora não seja inviável.
Como planta forrageira, seu uso deve estar integrado ao de outras forrageiras e de
estratégias de alimentação dos rebanhos. Ademais, o alto valor alimentício, tem
compensado o menor valor nutritivo de gramíneas (p.ex. B. humidicola e P.
atratum), com aumentos expressivos no desempenho animal nos consórcios. Tem
tido papel fundamental na diversificação, na recuperação e na intensificação de
pastagens, sobretudo na Amazônia brasileira. Nesta Região, vem sendo utilizada na
recuperação de pastagens de B. brizantha com declínio produtivo, graças ao aporte
de nitrogênio, à maior tolerância ao pastejo que a Pueraria e à tolerância aos solos
com problemas de permeabilidade/drenagem (Andrade e Valentim, 2006). Embora
ainda não seja realidade no Brasil, é apontada como adequada para a produção
animal em sistemas silvopastoris pela alta tolerância ao sombreamento (Andrade et
al., 1999 ; Andrade e Karia, 2002). Também apresenta potencial para integração de
lavoura com pecuária, no espaço e no tempo, por causa de sua plantabilidade,
tolerância ao sombreamento, cobertura do solo e qualidade da forragem. Neste caso,
o controle mecânico e,ou, químico é necessário e factível (Ayarza et al., 1997).
Como planta multipropósito, vem sendo utilizada para cobertura verde
permanente e, por extensão, como condicionadora do solo e controladora de
invasoras e alguns fitonematóides. No mundo há registros do cultivo em escala
89
experimental e comercial em plantações de citros (Citrus), café (Coffea), maracujá
(Passiflora), banana (Musa), noz macadâmia (Macadamia), tomate (Lycopersicum) e
palma (Elaeis). Apesar do crescimento inicial lento, em relação a outras plantas para
cobertura como Mucuna, Pueraria, Calopogonium e Crotalaria, destaca-se pela
ciclagem de nutrientes, tolerância ao sombreamento, porte baixo e hábito de
crescimento não volúvel (sem necessidade de roçadas ou coroamento), perenidade e
grande partição de biomassa para o sistema radicular. Os estolões, a tolerância ao
fogo (aceiro verde), o vigoroso sistema radicular e o caráter perene também
possibilitam o uso na conservação do solo (e.g. taludes, rodovias). Por fim, bela
beleza de sua folhagem, porte baixo, tolerância ao sombreamento e longo período
com emissão de flores de colorido ímpar, pode ser utilizado como ornamental, a
exemplo do que ocorria com as atuais cultivares Amarillo e Belmonte antes da
espécie se tornar mais uma opção forrageira (Cruz et al., 1994; Argel e Villarreal,
1998; Neves et al., 1998; Andrade et al., 2002; Valentim, 2005; Espíndola et al.,
2006).
90
mas é rápida a retomada do crescimento no início das chuvas. Baixas produtividades,
inclusive em regiões chuvosas da Colômbia e do Brasil (Tocantins e Mato Grosso),
decorrem sobretudo de problemas na fase de estabelecimento, com plantas de baixo
vigor e capacidade de colonização. Há variações acentuadas na produtividade num
mesmo local em decorrência do solo e suas relações com a planta (água,
microbiologia). Geralmente são realizados de três a cinco cortes baixos (5 cm) na
estação chuvosa. Na condição de pastejo, as desfolhações são muito mais freqüentes
e não menos intensas.
A cultivar Belmonte é, freqüentemente, a mais produtiva e com maior espectro
de adaptação conhecido. Ademais, a sua produtividade é mais estável nos diversos
locais, apesar de não constituir banco de sementes no solo. Sob regime de corte em
monocultivo, são comuns produtividades de forragem acima de 6.000 kg.ha-1.ano nos
locais em que as cultivares de A. pintoi se mostram mais adaptadas. Raros
experimentos confrontando A. pintoi com outras leguminosas herbáceas apontam
para menores produtividades da A. pintoi no curto prazo (0-12 semanas na estação
chuvosa), por sua lentidão no estabelecimento. Atualmente essa comparação quase
sempre é impossível porque as coleções de plantas forrageiras avaliadas são
monogenéricas ou mono-específicas. Ademais, impertinente na maioria das vezes
porque envolvem plantas com propostas diferentes. Em A. pintoi a produção animal é
priorizada na estação chuvosa pelo seu potencial produtivo e sua aceitabilidade. E
um dos maiores apelos das cultivares de A. pintoi bem adaptados são os benefícios a
longo prazo. A complementaridade de atributos da A. pintoi com aqueles de outras
leguminosas e gramíneas forrageiras é que deve ser explorada no âmbito da
propriedade.
91
Quadro 3 - Produtividade ou acúmulo de forragem (kg.ha-1) de A. pintoi e de A.
glabrata em crescimento livre em diversos locais nas estações chuvosa e
seca/fria
Estação Estação
Cultivar Total
Chuvosa Seca/fria Fonte
Local ou acesso anual
A. pintoi - Brasil
Acre Amarillo 11.970 3.820 15.790 1
BRA- 23.700-
Acre 2
031143 37.800
5.650 4.200
Acre Amarillo - 3
(16 semanas) (16 semanas)
5.200
Acre AP65-Acre - 4
(5 meses)
Amapá Amarillo 3.258 1.533 4.791 1
Distrito Federal
Amarillo - - 9.450 6
(Glei)
Distrito Federal
Amarillo 603 - 603 1
(Glei)
92
Quadro 3- continuação...
Estação Estação
Cultivar Total
Chuvosa Seca/fria Fonte
Local ou acesso anual
A. pintoi - Brasil
Distrito Federal Amarillo - - 6.490 1
Distrito Federal
Belmonte 6.825 - 6.825 1
(Glei)
Distrito Federal Belmonte 8.450 1
Mato Grosso do
Amarillo - - 2.080 1
Sul
Mato Grosso do
Belmonte - - 7.800 1
Sul
1.200
Minas Gerais Amarillo - - 7
(7 meses)
Rio Grande do Sul Amarillo - - 11.200 8
8.000-
Rio Grande do Sul Alqueire-1 - - 9
12.000
1.790
Roraima Amarillo - - 1
(início chuvas)
Roraima 6.870
Belmonte - - 1
(início chuvas)
São Paulo Amarillo 2.644 - - 1
93
Quadro 3 - continuação...
Estação Estação
Cultivar Total
Chuvosa Seca/fria Fonte
Local ou acesso anual
A. pintoi - Brasil
Tocantins Belmonte 965 - 965 1
A. pintoi - Exterior
Austrália, Sub-
Amarillo - - 6.500 10
trópico
Austrália, Trópico Amarillo - - 5.200-9.600 10
180-1.820 190-2.560
Bolívia Amarillo - 6
(12 semanas) (12 semanas)
540-2.770 330-2.830
Colômbia Amarillo - 6
(12 semanas) (12 semanas)
Costa Rica Amarillo - - 1.800-6.600 6
2.600-4.100
Costa Rica Amarillo - - 11
(12 semanas)
2.100 1.100
El Salvador Amarillo - 11
(12 semanas) (12 semanas)
530-2.360 330-2.310
Equador Amarillo - 6
(12 semanas) (12 semanas)
1.200 1.600
México Amarillo - 11
(12 semanas) (12 semanas)
1.300
Panamá Amarillo - - 11
(12 semanas)
Brasil, Acre Arbrook 7.000 2.580 9.580 1
94
Quadro 3 - continuação...
Estação Estação
Cultivar Total
Chuvosa Seca/fria Fonte
Local ou acesso anual
A. glabrata - Exterior
Brasil, Acre Arbrook 7.000 2.580 9.580 1
3.000-
Austrália Diversos - - 12
11.900
Florigraze,
EUA, Flórida - - 5.800-7.200 13
Arbrook
9.000-
EUA, Flórida Arbrook - - 14
11.000
1- Rede Nacional de Avaliação de Arachis - 1999-2002; 2- Wendling et al. (1999); 3- Valentim et al.
(1994); 4 - Balzon et al. (2005); 5 - Perin et al. (1996); 6- Pizarro e Rincón (1994); 7- Purcino e Viana
(1994); 8-Dame et al. (1998); 9- Perez (2004); 10 - Cook et al. (1990); 11-Argel (1994); 12-Cook et
al. (1994); 13-French et al. (1994); 14-Prine et al. (1990).
95
consorciados é maior nos Estados Unidos. Logo, a sua produtividade de forragem em
consórcio não é tão diminuída.
No Brasil, o registro mais recente apontou menor produtividade da cultivar
Florigraze em relação às cultivares Belmonte e Amarillo de A. pintoi em
monocultivo, com estacionalidade similar (Quadro 3).
96
não são baixos (11%) que é comparável ao de outras leguminosas (Stylosanthes 12%,
Leucaena 10-14% Medicago 13%) e inferior ao registrado em muitas gramíneas
(B.brizantha 6%) (Valadares Filho et al., 2006). Mesmo assim, o consumo e a
digestibilidade da forragem são altos.
A forragem do amendoim-forrageiro tem baixa concentração (<5,5%) de taninos
condensados (Jackson et al., 1996), bem abaixo da registrada para Leucaena e
Desmodium, não sendo suficiente para afetar positivamente a degradação no rúmen
ou negativamente o suprimento de proteína pós-rúmen (Lascano, 1994). Villarreal et
al. (2005) obtiveram valores de proteína degradável no rúmen (PDR) variando de
590 a 700 g.kg-1 de proteína bruta (PB) (115 g.kg-1 matéria seca). Como referência, o
farelo de soja com 48% de proteína bruta, apresenta PDR de 654 g.kg-1 de PB
(Valadares et al., 2006).
As informações acerca do desempenho e da produtividade animal em pastagens
com amendoim-forrageiro são altamente diferenciadas e surpreendem pela
magnitude e consistência (no tempo) das respostas (Quadros 5 e 6), que levou à
superação de quase um mito ou corolário no universo da produção animal: a baixa
persistência sob pastejo das leguminosas tropicais. No Brasil, foram poucos os
experimentos que avaliaram a produção animal (Quadro 5) e poucas são as
comparações com pastagens exclusivas de gramínea, tendo sido mais contemplada a
avaliação de variantes no manejo do pastejo. Como a produção animal varia com o
local, o ano, a estação, as cultivares envolvidas, o manejo da leguminosa, raça e
categoria animal, apenas algumas generalizações ou tendências são apresentadas a
partir dos quadros 5 e 6 e de outros registros na literatura sobre A. pintoi e A.
glabrata.
Os registros de experimentos, principalmente em consórcio com gramíneas do
gênero Brachiaria, apontam para aumentos médios na faixa de 30-40% para o
desempenho e a produtividade animal anuais em relação às pastagens somente com
gramíneas. Esse diferencial geralmente é maior nas situações em que o desempenho
97
animal é baixo nos pastos exclusivos de gramínea, com o amendoim-forrageiro
estabelecendo uma forte compensação ao baixo valor nutritivo da forragem das
mesmas. Também, observa-se que com A. pintoi são possíveis muitas variantes de
manejo do pastejo, sendo mais comum ciclos de pastejo curtos (21 dias) como forma
de gerenciar a competição no consórcio e a queda no valor nutritivo da forragem das
gramíneas. As taxas de lotação mais freqüentes são de 1,4 UA.ha-1 (UA=unidade-
anima=450 kg peso animal) no início da estação chuvosa ou de crescimento.
Todavia, há registros de taxas de lotações médias acima de 2,5 UA.ha-1 na estação
chuvosa (Quadro 5). Verifica-se também que as maiores produtividades (kg.ha-1)
ocorrem em ambientes mais chuvosos, que possibilitam maiores taxas de lotação e
maior número de dias de pastejo por causa da ausência de restrições hídricas ao
crescimento da leguminosa e da gramínea. Mesmo assim, Lascano (1994) chamou a
atenção para a superioridade no desempenho animal em pastos consorciados com A.
pintoi mesmo na época seca, apesar de praticamente a leguminosa não compor a
dieta animal pela baixa tolerância à seca (Quadro 5). Também observou que o
sistema de pastejo afeta menos a produção animal do que a taxa de lotação e que à
medida que se eleva a taxa de lotação, a redução no desempenho animal
(ganho.animal-1) é menor proporcionalmente à registrada nas pastagens exclusivas de
gramíneas,
Genericamente, para leguminosas tropicais a literatura registra valores de 20 a
40% de participação da leguminosa na composição botânica da pastagem visando a
conciliar produção animal e sustentabilidade, via reciclagem (Thomas, 1995; Pereira,
2002). Todavia, em razão do alto valor nutritivo e da seletividade dos bovinos, A.
pintoi é capaz de afetar positivamente a produção animal mesmo quando a sua
participação é pequena na forragem disponível (1.000kg.ha-1) ou na composição
botânica (>15%). No entanto, práticas de manejo devem favorecer o aumento da
participação da leguminosa nas situações em que a gramínea acompanhante é de
baixa qualidade (P. atratum cv. Pojuca, B. humidicola) ou a exigência dos animais é
98
maior, principalmente por proteína, (e.g. bovinos leiteiros). Assim, como todo pasto
consorciado, a composição botânica deve ser monitorada, sobretudo, até que as
plantas consolidem seu estabelecimento na área. Pela sua plasticidade fenotípica e os
vários mecanismos de persistência, A. pintoi e A. glabrata apresentam maior
tolerância ao superpastejo ocasional, pois sua morfologia é favorável. No entanto, o
compromisso em monitorar e gerenciar a competição por luz (subpastejo ou
mosaicos) deve ser maior com as gramíneas de porte alto, pois variações sutis no
manejo têm seus impactos amplificados e cumulativos sobre a leguminosa. Por isso,
as gramíneas cespitosas de porte alto (Panicum, Pojuca, Marandu, Xaraés), em
consórcio com Arachis, devem ser manejadas mais baixas do que na condição de
monocultivo. Como a leguminosa é bem aceita pelos animais, a rebrotação da mesma
não deve ser afetada pelo sombreamento precocemente. Andrade et al. (2006a,b,c)
registraram redução de aproximadamente 50% e 70%, respectivamente, na massa de
forragem e na participação da cultivar Belmonte numa pastagem com a cultivar
Massai quando elevaram a altura de entrada e saída dos animais em pouco mais de
20 cm.
Uma vez gerenciada a competição por luz, A. pintoi geralmente aumenta sua
participação na composição botânica do pasto e na dieta animal com o aumento da
taxa de lotação ou adotando-se menor massa ou altura de forragem residual na
rotação de pastos (Andrade et al., 2006c). Na Bahia, após quatro anos de pastejo com
lotação fixa, Santana et al. (1998) verificaram que a participação da cultivar
Belmonte no consórcio com B. dyctioneura variou de 8 para 12-15% nas maiores
taxas de lotação (2,4-4,0 cabeças.ha-1), com aumento expressivo na produtividade
animal (517-709 kg.ha-1), e manteve-se estável na menor taxa de lotação (1,6
cabeças.ha-1) (313 kg.ha-1). A amostra de resultados com desempenho animal em A.
glabrata restringe-se aos Estados Unidos (Flórida), pois não foram conduzidos
trabalhos com avaliação do desempenho animal no Brasil. São valores de
desempenho animal elevados quando comparados com os registrados em pastos
99
exclusivos de Paspalum notatum ou Cynodon na primavera-verão. Vale salientar,
porém que nestas pastagens a participação da leguminosa é bastante elevada,
diferentemente daquelas pastagens com A. pintoi na América Latina. Logo, são
pastagens que permitem maior ingestão de nutrientes digestíveis.
Informações sobre o desempenho de bovinos leiteiros pastejando amendoim-
forrageiro são escassas. Nenhum trabalho foi conduzido no Brasil. O impacto direto
sobre a produção diária é variável e depende do patamar de produção dos animais.
Lascano (1994) mencionou incrementos de até 17% na produção diária em pastos
consorciados com Cynodon. Gonzalez et al. (1996) registraram aumentos de 14%,
também em pastagens de Cynodon. Como banco de proteína, tem permitido a
redução de 1 a 2 kg.animal-1.dia no fornecimento de concentrado (Argel e Villarreal,
1998).
100
Quadro 4 - Composição químico-bromatológica, digestibilidade e energia digestível (EDg) de A. pintoi e A. glabrata e
forrageiras de referência (negrito). PB=Proteína bruta; FDN/FDA=Fibra em detergente neutro/ácido;
D=Digestibilidade (- aparente); IVMS=in vitro da matéria seca; IVMO=in vitro da matéria orgânica; Ca=cálcio;
P=fósforo
Espécie/cultivar PB FDN FDA DIVMO* D-PB D-FDN D-FDA EDg Ca P
Local Fonte
Fração/idade % % % D-MS** (%) % % % (Mcal/kg) % %
Minas Gerais S. guianensis feno 9,8 63,7 50,1 49,2** 61,2 42,0 42,7 1.980 1
EUA-Flórida Alfafa - feno 19,7 42,8 24,7 62,0** 79,0 45,0 54,0 2.800 3
Brasil Leucaena 16,3-19,9 38,6-43,3 35,2 55,6**-61,3 45,3 51,0 2.620 1,2
Brachiaria
Brasil 7,0 75,0 41,5 56,9-53,3** 0,49 0,24 2
brizantha
A. pintoi feno 100
Minas Gerais 14,3 52,5 35,8 64,4** 70,0 53,6 47,2 2.450 1
dias
Distrito Amarillo (caule-
14,4-17,5 47,0-60,0 4
Federal folha)
Distrito
Amarillo 16,5-17,3 63,4-64,3 1,57 0,24 5,6
Federal
101
Quadro 4 - Continuação...
Espécie/cultivar PB FDN FDA DIVMO* D-PB D-FDN D-FDA EDg Ca P
Local Fonte
Fração/idade % % % D-MS** (%) % % % (Mcal/kg) % %
Distrito
Amarillo 16,5-17,3 63,4-64,3 1,57 0,24 5,6
Federal
Distrito
Belmonte 18,5-22,8 66,5-67,3 1,66 0,23 5,6
Federal
Acre A.pintoi - acessos 17,9-25,8 7,8
Rio G. do Sul Alqueire-1 17,0-23,0 (folhas) 60,0-70,0 (caule -folha) 1,48 0,40 10
EUA-Flórida A.glabrata 15,9 51,0 27,2 56,0** 70,0 43,0 45,0 2.500 3
Florigraze (42-84
EUA-Flórida 12,9-14,4 57,0--61,0* 3
dias)
EUA-Flórida Florigraze 17,7 70,5* 14
102
Quadro 4 - continuação...
Espécie/cultivar PB FDN FDA DIVMO* D-PB D-FDN D-FDA EDg Ca P
Local Fonte
Fração/idade % % % D-MS** (%) % % % (Mcal/kg) % %
103
Quadro 5 - Desempenho (g.animal-1.dia) e produtividade (kg.ha-1)de bovinos de corte
em pastos consorciados (+LEG) ou não (-LEG) com A.pintoi em países
da América Latina
Local Gramínea + Lotação Manejo Época +LEG -LEG Fonte
(a) Arachis (b) (ha) (c) (d) g.an-1.dia kg/ha g.an-1.dia Kg.ha-1 (e)
BR-DF Pojuca+031143 2,9 UA R 8-12% seca 203 1
BR-DF Pojuca+031143 2,9 UA R 8-12% chuva 387 1
BR-DF Pojuca+031143 2,9 UA R 8-12% ano 574 1
BR-DF Pojuca+031143 1,95 UA R 8-12% seca 99 1
BR-DF Pojuca+031143 1,95 UA R 8-12% chuva 578 1
BR-DF Pojuca+031143 1,95 UA R 8-12% ano 793 1
BR-DF Pojuca+031143 2,92 UA R 8-12% chuva 697 545 1
BR-DF Pojuca+031143 3,62 UA R 8-12% chuva 687 477 1
BR-BA Bdy+Belmonte LF ano 558 568 2
BR-BA Bhu+Belmonte LF ano 565 444 2
BR-BA Bdy+Belmonte 1,6 cab. LF ano 547 313 3
BR-BA Bdy+Belmonte 2,4 cab. LF ano 525 517 3
BR-BA Bdy+Belmonte 3,2 cab. LF ano 638 667 3
BR-BA Bdy+Belmonte 4 cab. LF ano 547 709 3
BR-RS Alqueire-1 1,55 UA LF ano 1.200 500 4
BR-RS Alqueire-1 2,67 UA LF ano 900 700 4
COL Bhu+Amarillo 2 cab. A 7-14 d seca 335 250 5
COL Bhu+Amarillo 3 cab. A 7-14 d seca 232 130 5
COL Bhu+Amarillo 4 cab. A 7-14 d seca 71 44 5
COL Bhu+Amarillo 2 cab. A 7-14 d chuva 413 323 5
COL Bhu+Amarillo 3 cab. A 7-14 d chuva 401 320 5
COL Bhu+Amarillo 4 cab. A 7-14 d chuva 300 228 5
COL Bhu+Amarillo 2 cab. A 7-14 d ano 302 302 230 230 5
COL Bhu+Amarillo 3 cab. A 7-14 d ano 390 390 288 288 5
COL Bhu+Amarillo 4 cab. A 7-14 d ano 356 356 244 244 5
COL Bdy+Amarillo 2 cab. A 7-14 d seca 451 361 5
104
COL Bdy+Amarillo 3 cab. A 7-14 d seca 273 200 5
Quadro 5 – Continuação...
Local Gramínea + Lotação Manejo Época +LEG -LEG Fonte
(a) Arachis (b) (ha) (c) (d) g.an-1.dia kg/ha g.an-1.dia Kg.ha-1 (e)
COL Bdy+Amarillo 3 cab. A 7-14 d seca 273 200 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. R 7/21 d seca 337 251 5
COL Bdy+Amarillo 2 cab. A 7-14 d chuva 467 286 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. A 7-14 d chuva 380 311 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. R 7/21 d chuva 456 375 5
COL Bdy+Amarillo 2 cab. A 7-14 d ano 460 336 310 226 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. A 7-14 d ano 645 378 274 300 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 416 456 334 366 5
COL Bbz+Amarillo ? A 7-14 d ano 190 155 5
COL Bdy+Amarillo ? A 7-14 d ano 246 192 5
COL Bdec+Amarillo ? A 7-14 d ano 267 204 5
COL Bhu+Amarillo 2 cab. A 7-14 d ano 438 320 205 150 5
COL Bbz+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 557 609 5
COL Bdy+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 493 540 5
Local Gramínea + Lotação Manejo Época +LEG -LEG Fonte
(a) Arachis (b) (--/ha) (c) (d) g/ani.dia kg/ha g/ani.dia kg/ha (e)
COL Bdec+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 548 600 365 400 5
COL Bhu+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 482 528 5
CRC Bbz+Amarillo 1,5 cab. R 7/21 d ano 282 246 5
CRC Bbz+Amarillo 3 cab. R 7/21 d ano 548 378 5
CRC Bbz+Amarillo 1,33 UA R 7/21 d ano 452-551 534 396-511 478 6
CRC Bbz+Amarillo 2,66 UA R 7/21 d ano 308-501 937 291-377 716 6
(a) BR=Brasil; DF=Distrito Federal; BA-Bahia; RS=Rio Grande do Sul; COL=Colômbia;
CRC=Costa Rica
(b) Pojuca=Paspalum atratum; Bdy=Brachiaria dyctioneura; Bhu=B. humidicola; Bbz=B.
brizantha; Bdec=B. decumbens
(c) cab.=cabeças de novilhos; UA=Unidade-animal (450 kg de Peso corporal)
(d) R=lotação intermitente; %=oferta de forrgem; d=dia; LF=lotação fixa; A=Alternado
(e) 1-Barcellos et al. (1997); 2-Pereira (S.d.); 3-Santana et al. (1988); 4-Pérez (2004); 5- Lascano
(1994) citando vários autores; 6-Hernandez et al. (1995).
105
Quadro 6 - Desempenho (kg.animal-1.dia) e produtividade (kg/ha) de
bovinos de corte em pastagens de A. glabrata na estação de
crescimento (Flórida, EUA).
Cultivar de com Arachis sem Arachis (a) Fonte
(a)
Arachis glabrata kg/animal.dia Kg.ha-1 Kg.animal-1.dia (b)
Florigraze 0,930 - 0,350-0,970 1
Florigraze 0,681-0,904 - 0,503-0,522 1
Arbrook 0,516 418 - 2
Florigraze 0,701 575 - 2
Florigraze 0,600 - - 3
Florigraze 0,679-0,901 - 0,500-0,520 4
(a) Arachis exclusivo ou predominante na composição botânica, tendo como gramíneas
acompanhantes ou de referência Paspalum notatum cv. Pensacola; Pennisetum
purpureum cv. Mott; Cynodon spp.
(b) 1-Sollemberger et al. (1989); 2-Hernandez-Garay et al. (2004); 3-Valencia et al.
(2001); 4-Williams et al. (1991).
106
inegavelmente o tempo para utilização do pasto, como ocorre em A. glabrata,
também propagado vegetativamente.
Com alto custo fixo de produção, a redução no preço da semente passa pelo
aumento da produtividade, pela seleção de genótipos prolíficos com bom valor
forrageiro e redução no uso de mão-de-obra (via mecanização e, ou cultivo em solos
leves). Existe grande variabilidade genética e acentuada interação genótipo x
ambiente para a produção de sementes. Fergunson (1994) reportou produtividades de
500-5.200 kg.ha-1, conforme o local de produção, época e o modo de colheita.
Atualmente, a Bolívia é o principal produtor/fornecedor de sementes de A. pintoi, em
regime de produção em escala familiar. As produtividades variam de 2.000-4.500
kg.ha-1 (5 a 9 sementes.g-1) (Sauman, 2004).
No Brasil, a colheita é efetuada na segunda estação seca (15-18 meses após o
estabelecimento), quando estabiliza o banco de sementes. Parte destas sementes, com
várias idades (cronológicas e fisiológicas), apresenta dormência que é parcialmente
reduzida com uma pré-secagem. Novas colheitas são efetuadas a cada 12 meses na
estação seca, na mesma área, que é recolonizada pelas sementes não recolhidas e
coroas de plantas. Cortes na parte aérea, que aumentam a emissão de flores, não
promoveram variações na produção de sementes de A. pintoi, assim como o
suprimento extra de cálcio via gesso (Andrade e Karia, 1997). No acesso BRA-
031143, a irrigação aumentou a produção de sementes em 20%. Na cultivar Amarillo
são registradas produtividades (colheita e pré-limpeza manuais) acima de 1.000
kg.ha-1 em Planaltina-DF. Na futura cultivar, a ser lançada pela Embrapa, a
produtividade de sementes superou 3.000 kg.ha-1 em Planaltina-DF.
Para reduzir o custo de produção, está em desenvolvimento um protótipo de
equipamento que realizará mecanicamente o recolhimento (com esteira) e a pré-
limpeza das sementes (sistema com duas peneiras concêntricas).
107
7.2 - Mercado de sementes e utilização de cultivares
108
125.000 kg de sementes das diversas cultivares ao longo de 12 anos. Cerca de 85%
da produção foi comercializada para o Brasil. A demanda por sementes no Brasil
elevou-se com a veiculação de matérias jornalísticas na televisão e evoluiu de 5.000
kg.ano-1 para mais de 15.000 kg.ano-1, que seriam suficientes para o estabelecimento
de 1.500-3.000 ha.ano-1. No entanto, acredita-se que estas sementes sejam utilizados
predominantemente para o estabelecimento de “viveiros” de mudas para propagação
vegetativa (Pizarro, 2004).
Nos Estados Unidos, A. glabrata cv. Florigraze, lançada em 1979, é o mais
importante comercialmente, sendo cultivada em cerca de 12.000 ha na Flórida. A
cultivar Arbrook, lançada em 1986 tem um nicho ecológico menor e é menos
cultivada. No início da década de 90, eram cultivados cerca de 3.000 ha (95% com a
cultivar Florigraze) e a expansão das novas áreas, influenciada pela oferta de
rizomas, ocorria a uma taxa de 40% ao ano (French et al., 1994; Rich et al., 1995;
French e Prine, 2006). Essas cultivares não são comercializadas/utilizadas no Brasil,
assim como o A. pintoi cv. Porvenir.
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120
CAPITULO 9
GUANDU
Cajanus cajan
Rodolfo Godoy
Patricia Menezes Santos
1 - INTRODUÇÃO
121
produtividade de 760 kg.ha-1 de grãos. A Índia é seguida por Myanmar (580.000 ha),
China (60.000 ha) e Nepal (28.000 ha). Entre 1972 e 2003, na Ásia, houve aumento
de 57% de área cultivada e 61% de produção. Na China, o guandu é usado para
recuperação de solos, alimentação humana e animal. Na África o guandu é cultivado
em 42 mil hectares e é importante cultura de exportação no Quênia, Tanzânia,
Malawi, Uganda e Moçambique, que respondem por 4% da produção mundial e
utilizam principalmente cultivares resistentes à murcha e de ciclo curto. As Américas
Central e do Sul respondem por 2% da produção mundial.
Menezes (1956) é autor dos primeiros trabalhos de pesquisa com esta espécie
no Brasil e já chamava a atenção para suas importantes possibilidades de uso tanto na
alimentação animal como humana. Entretanto, em nosso País, infelizmente não
dispomos de informações atualizadas sobre área cultivada e produtividade do
guandu, pois nos levantamentos efetuados, geralmente esta cultura é incluída no rol
de áreas de pastagens. No Nordeste brasileiro, o guandu é utilizado principalmente
na alimentação humana, embora o seu uso na alimentação animal esteja sendo cada
vez maior. No Centro Oeste e sudeste, ocorre o inverso, seu principal uso é na
alimentação animal, embora seu uso na alimentação humana seja crescente. Na
região sudeste e em menor extensão na região Sul, é crescente seu uso para
recuperação de áreas degradadas.
122
provável que seja o guandu originário da Índia, de lá levado para a África, de onde
teria se espalhado pelas Américas, principalmente transportado por escravos. Santos
et al. (1994) consideram que, embora o guandu seja largamente cultivado na região
Nordeste do Brasil, o material genético utilizado ainda remonta ao período colonial
do Brasil. Ainda segundo Sharma e Green (1980), o guandu é cultivado
principalmente em países tropicais e tem vários nomes comuns, tais como “pigeon-
pea”, “gandul”, “red gram”, “tur”, “arhar” e “pis d’Angole”. Outros países que
cultivam o guandu são Burma, Uganda, Quênia, República Dominicana, Panamá,
Porto Rico e as Índias Ocidentais. Brasil (Godoy, 2000) e Venezuela (Remanandan,
1989) também possuem significativas áreas com essa espécie e programas de
pesquisa visando melhorias na qualidade de grãos e da forragem de guandu. É
também utilizado no sul dos Estados Unidos, principalmente no Texas, para a
recuperação de áreas degradadas.
Também Reddy et al. (1998) consideram que o guandu originou-se na Índia
Peninsular e provavelmente logo se espalhou por outros países, pois um centro de
diversidade secundário é encontrado no Leste da África. O gênero Cajanus e seu
provável ancestral Atylosia têm dois centros de diversidade com dezessete espécies
ocorrendo no subcontinente indiano e outras treze na Austrália. Esses autores
consideram que a Índia, Myanmar, Quênia, Uganda, Malawi, Tanzânia e República
Dominicana são os principais produtores de guandu, mas concordam que mais de
noventa por cento da produção mundial vem da Índia, para vários propósitos, como
produção de grãos, forragem e produção de energia. Segundo Barcelos et al. (1999) o
guandu é cultura muito antiga e ocupa mundialmente o quinto lugar de importância e
consumo entre as leguminosas forrageiras, sendo que a Índia contribui com mais de
noventa por cento da produção mundial, seguida de outras regiões tropicais, como a
África, Caribe e América do Sul. Seu cultivo destaca-se no Brasil porque pode ser
semeado tanto na época chuvosa quanto na seca, sendo cultura adaptável a regiões
quentes e úmidas.
123
Importante trabalho sobre a utilização do guandu como planta forrageira é o
de Werner (1979). Neste trabalho são citadas várias teorias sobre a origem do
guandu: Oza (1972) atribui sua origem à Índia, assim como Akinola et al. (1975),
mas estes reconhecem várias outras possibilidades, enquanto que Whyte et al. (1953)
consideraram ser o guandu originário da África, Ásia e algumas ilhas do Mar do Sul.
Finalmente, Krauss (1932), mencionou a descoberta de suas sementes em túmulos
egípcios datados de 2.200 a 2.400 A.C.
Bailey (1977) atribui a Augustin Pyramus De Candolle (1778 – 1841) a
classificação do gênero Cajanus, e o descreve como pequeno arbusto, muito
cultivado em países tropicais e subtropicais, por suas sementes comestíveis, sendo o
gênero provavelmente nativo do Velho Mundo.
Sharma e Green (1980) classificam o guandu como pertencentes ao gênero
Cajanus tribo Phaseoleae, subtribo Cajaninae, subfamília Papilionaceae e família
Leguminosae. Subdivisões anteriormente feitas, como C. bicolor DC e C. flavus DC,
baseadas nas variações de arquitetura de plantas, maturação, estrutura da
inflorescência, tamanho e cor da flor são atualmente consideradas como partes da
mesma espécie. Cajanus indicus Spreng., C. luteus, Cytisus cajan L., Cytisus
pseudo-cajan Jacq., e Cajanus-cajan Huth (Britton) são sinônimos. A designação
Cajanus kerstingii Harms, para uma forma encontrada no Senegal, Togo e Ghana,
descrita por Hutchinson e Dalziel (1958), citados por Sharma e Green (1980), é
errada e atualmente considerada pertencente ao gênero Atylosia.
Informações atualizadas sobre a situação da cultura são encontradas em
página do portal do “The International Crops Research Institute for the Semi-Arid
Tropics” (ICRISAT), localizado na Índia e principal órgão de pesquisa do gênero
Cajanus no mundo (http://www.icrisat.org/PegionPea/ PegionPea.htm).
124
3- CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA
125
90º. As vagens verdes foram classificadas como púrpura, verde claro, verde claro
com estrias violeta, verde claro com manchas violeta, violeta, violeta com estrias
verde. As vagens maduras como marrom claro, marrom com manchas púrpura,
palha, palha claro, palha com manchas violeta escura, púrpura, violeta e violeta
escura.
O padrão das estrias das flores foi descrito conforme Figura 1, o padrão de
coloração das sementes de acordo com a Figura 2, e a forma das sementes, de acordo
com a Figura 3.
O ciclo vegetativo dos vários genótipos foi descrito com utilização de
simplifica metodologia recomendada por IBPGR e ICRISAT (1993), com as
seguintes características: dias da emergência ao início do florescimento, até 50% das
plantas estarem em florescimento, até 100% das plantas em florescimento, até
aparecimento das primeiras vagens e até 75% das vagens estarem maduras. Foi
também anotado o período de florescimento em dias. Buscou-se utilizar apenas os
descritores que pudessem servir à caracterização inequívoca de genótipos de guandu,
sendo, portanto excluídos aqueles mais influenciados pelo meio ambiente, de acordo
com o proposto por Godoy et al. (2003).
126
Figura 2: : Padrão de coloração das sementes de Cajanus cajan
127
flores são amarelas ou alaranjadas, com tons de marrom no dorso da maior pétala
(estandarte), podendo apresentar também outras combinações de cores e têm cerca de
2 cm. As vagens têm aproximadamente 5 a 7,5 cm de comprimento e 1,3 cm de
largura, são pilosas e abundantes. As sementes são arredondadas, com um lado
achatado, com aproximadamente 0,6 cm de diâmetro e são normalmente marrons,
com pequeno hilo branco. Estudos mais recentes mostram que essa variabilidade é
ainda maior.
Em 1979, Werner já considerava que, devido à grande variabilidade genética
da espécie, Cajanus cajan apresentava grande potencial, para ser trabalhada no
sentido de selecionar variedades mais persistentes e resistentes à desfolhação, em
condições de corte ou pastejo. A grande variabilidade genética do guandu é
evidenciada pelas características morfológicas encontradas em duas pequenas
coleções, mostradas a seguir, de maneira resumida. Godoy et al. (2003 e 2004)
caracterizaram morfologicamente três cultivares de guandu e vinte e oito linhagens
puras e encontraram 13 diferentes cores de caule, intermediários ou grossos, em
plantas que apresentaram formas de crescimento ereto e semi prostrado, com alturas
variáveis de 65 a 195 cm, no florescimento. Esses genótipos apresentaram de sete a
25 ramos primários e até três ramos terciários, com folíolos de três formas. Foram
encontradas flores com quatro cores básicas e dez secundárias e com quatro padrões
de estrias. As vagens apresentaram três formas diferentes e quando antes do
amadurecimento, apresentaram 13 diferentes cores, que resultaram em 11 cores de
vagens maduras. As sementes apresentaram seis cores básicas e quatro secundárias.
Marcantes diferenças foram encontradas também no ciclo vegetativo desses
31 genótipos. Assim, verifica-se que o início do florescimento variou de genótipo
para genótipo de 69 a 131 dias após a emergência, 50% das plantas apresentavam
florescimento de 79 a 151 dias após a emergência, e 100%, após 90 a 158 dias. As
primeiras vagens surgiram de 90 a 161 dias após a emergência e as plantas
apresentavam 75% das vagens maduras de 127 a 217 dias após a emergência. O
128
período de florescimento variou de 5 a 42 dias, evidenciando a presença de plantas
com florescimento muito uniforme e outros com prolongado período de
florescimento.
Werner (1979) relatou que, à medida que a herdabilidade dos principais
caracteres tem sido estudada em linhagens puras, tem-se verificado que pelo menos
alguns caracteres, seguem a lei mendeliana. A cor primária vermelha das flores é
dominante sobre o amarelo, sementes manchadas ou pintadas predominam sobre
sementes de uma só cor e vagens marrons ou manchadas são dominantes sobre
unicoloridas; vagens pubescentes são dominantes sobre glabras, vagens grandes e
chatas sobre vagens pequenas e redondas; sementes grandes sobre sementes
pequenas. Vagens de quatro a cinco sementes são dominantes sobre as de três a
quatro sementes. Sementes redondas dominam sobre todas as outras formas. Em
altura, há tendência em direção à herança quantitativa, pois cruzando-se plantas
muito baixas com plantas altas, obtém-se plantas intermediárias. Werner (1979)
relatou ainda que cruzando-se um tipo anual com um perene, obtém-se formas
perenes.
Os trabalhos de avaliação agronômica conduzidos na Embrapa Pecuária
Sudeste permitiram concluir que a característica longevidade da planta está associada
ao seu tamanho, ou seja, plantas altas têm vida muito mais longa que aquelas
caracterizadas como anãs, estas geralmente anuais.
As observações de Werner (1979) são apenas em parte concordantes com as
de Menezes (1956), que conduziu uma série de trabalhos envolvendo a genética e a
herdabilidade de caracteres do guandu. Este autor considerou que a pigmentação da
pétala vexilar, da vagem e do tegumento da semente era controlada geneticamente,
mas não encontrou pista sobre a herdabilidade do tamanho da vagem. A altura da
planta e o ângulo dos ramos secundários apresentam herdabilidade quantitativa.
Perenidade, crescimento ereto, inflorescência compacta, pétala axilar vermelha,
vagem escura, vagem marchetada de marrom e tegumento roxo escuro das sementes
129
eram, respectivamente, parcial ou completamente dominantes sobre plantas anuais,
crescimento espraiado, inflorescência aberta, pétala vexilar amarela, vagem
marchetada de marrom e vagens de tom marro intenso com sementes roxo escuras.
Também várias publicações do ICRISAT tratam do assunto, sendo uma das
principais o trabalho de Singh e Oswalt (1992), segundo o qual a planta do guandu é
ereta e ramificada, com caule lenhoso e folhas compostas por três folíolos, e possui
forte raiz pivotante. As plantas permanecem como arbustivas, com 1 a 2 metros de
altura, quando colhidas anualmente, podendo chegar a 4 metros de altura quando
cultivadas como plantas perenes, para cercas ou sistemas agroflorestais (Figura 4).
Em boas condições de umidade e temperatura, o tegumento da semente se rompe
próximo ao micrópilo dois dias após a semeadura e a ponta da radícula se alonga e
emerge. No terceiro dia, o epicótilo aparece em forma de arco e cresce verticalmente,
tornando-se levemente arroxeado. Ele se alonga por 3 a 7 cm antes que a primeira
folha apareça.
O guandu possui sistema radicular pivotante cuja raiz principal em plantas
mais velhas se torna grossa e lenhosa. Essa raiz penetra até dois metros no solo e
possui sistema de raízes laterais bem desenvolvido, principalmente nos primeiros 60
centímetros. Genótipos de vida curta têm sistema radicular menos desenvolvido e
genótipos eretos possuem menor número de raízes laterais.
O caule do guandu é forte e lenhoso, contendo amido na fase vegetativa, que
desaparece na fase reprodutiva, quando as reservas são mobilizadas para o
preenchimento das vagens. O padrão de ramificação do guandu depende do genótipo
e espaçamento. Para propósitos agronômicos, esse padrão pode ser considerado
como ereto, semi-ereto e prostrado e o padrão de florescimento pode ser
determinado, quando a planta completa sua fase vegetativa e entra em florescimento,
e indeterminado, que exibe as fases vegetativas e reprodutivas ao mesmo tempo.
130
Figura 4 – Plantas de Cajanus cajan (Guandu) em estádio vegetativo.
131
diferentes de maneira que as pétalas fiquem no mesmo nível, nos tipos de
crescimento determinado, agrupados na ponta dos ramos, ao contrário do que ocorre
com as plantas de crescimento indeterminado (Figura 5). O número de rácemos é
extremamente variável nos diferentes genótipos e o florescimento ocorre em direção
ao ápice da planta.
4- CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
132
O guandu não tem grandes exigências climáticas e de solos, desenvolvendo-
se satisfatoriamente em regiões de clima tropical, sub tropical e semi-árido. Segundo
Reddy e Virmani (1981), citados por Singh e Oswalt (1992), o guandu pode ser
cultivado entre 14 e 28o de latitude Norte, com a temperatura variando de 26 a 30 oC
na estação chuvosa e de 17 a 22o C no restante do ano, precipitação pluvial de 600 a
1.400 mm, com 80 a 90% ocorrendo na estação chuvosa. Ainda segundo aqueles
autores, isoclimas semelhantes a este da Índia ocorrem na África Oriental e Sul do
Sudão. Essas considerações estão de acordo com o que se observa no Brasil, onde o
guandu é cultivado em condições semelhantes, desde o Norte do País, até o Estado
do Paraná. Todavia, o gênero necessita de muita luminosidade durante a formação
das vagens.
Embora normalmente recomendado para solos de baixa fertilidade, sendo
considerado por Singh e Oswalt (1992), como espécie que apresenta pequena
resposta ao uso de fertilizantes e cujas respostas encontradas à inoculação com
Rhizobium têm sido inconsistentes, o guandu, nas condições brasileiras, tem
apresentado extraordinária resposta a solos mais férteis. Exemplo recente disso são
as produtividades de forragem de três linhagens de guandu: em solo de baixa
fertilidade em São Carlos, SP, as linhagens g3-64, g146-94 e g167-97, produziram
em aproximadamente três meses, no primeiro corte, 2.379, 3.888 e 4.417 kg.ha-1 de
massa seca (MS), enquanto em período de tempo semelhante, em solo de alta
fertilidade, anteriormente cultivado com cana-de-açúcar, essas produções subiram
para 16.681, 13.320 e 14.872 kg.ha-1 de MS, respectivamente.
Outra grande vantagem da cultura é sua boa tolerância à seca, provável razão
de sua boa adaptabilidade a solos arenosos, aliada ao fato de não tolerar
encharcamento.
133
A tolerância ou resistência do guandu aos nematóides é assunto controverso,
pois é frequentemente citado como planta capaz de diminuir populações de
nematóides em áreas infestadas ou como importante hospedeiro deles. Em ICRISAT
(1984) são citados sete nematóides encontrados parasitando plantas desse gênero:
Heterodera cajani, Hoplolaimus seinhorsti, Rotylenchulus reniformis,
Tylenchorhynchus sp., Helicotylenchus retusus, Helicotylenchus indicus e
Pratylenchus sp.
Insetos são de importância secundária até o momento, em culturas desta
espécie. A lagarta Heliotis (Heliothis armigera) é citada por ICRISAT (1984) como
o principal inseto atacando plantas de guandu, embora em geral, não cause grandes
danos econômicos.
Importante no primeiro mês de cultivo do guandu são os cuidados a serem
tomados no controle de saúvas na área semeada. Embora plantas adultas não sejam
cortadas pelas saúvas, estas se mostram extremamente atraídas por plântulas de
guandu.
Várias doenças podem afetar o guandu. Reddy et al. (1997) listam vinte e duas
delas, sendo sete das raízes, três do caule, duas do caule e folhas, nove das folhas e
uma da inflorescência. Destas, apenas três são listadas como de ocorrência no Brasil,
sendo consideradas de importância secundária: cancro do caule causado por Phoma
cajani (Rangel) Khune e Kapoor, murcha foliar causada por Colletotrichum capsici
(Syd.) Butl. e Bisby; C. cajani Rangel; C. graminicola (Ces.) Wilson e mancha foliar
bacteriana, causada por Pseudomonas syringae pv phaseolicola (Burkh.) Dowson.
No Brasil, entretanto, atualmente a doença mais séria é a podridão do colo, causada
por Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid, que pode rapidamente causar a morte
de plantas, sendo mais comum sua ocorrência em culturas que já sofreram alguns
cortes. Pesquisas vêm sendo desenvolvidas pela Embrapa Pecuária Sudeste e pela
UNESP, Campus de Jaboticabal, para obtenção de novas cultivares, resistentes a esse
134
fungo. Embora não existam estudos específicos a respeito, no momento, não há
medidas de controle de doenças do guandu economicamente recomendáveis, a não
ser o já mencionado tratamento preventivo de sementes.
Singh e Oswalt (1992) consideram que o guandu é uma planta de dias curtos,
embora reconheçam que uma combinação de fotoperíodo e temperatura possam
afetar seu florescimento e maturação. Entretanto, parece haver enorme variabilidade
genética na espécie, o que leva à existência de várias gradações de exigência em
fotoperíodo, e até mesmo, tipos indiferentes. Por outro lado, embora ainda não tenha
seu mecanismo desvendado é evidente que a combinação citada por aqueles autores,
de fato afeta o início do florescimento. Em botão floral totalmente desenvolvido, as
anteras envolvem o estigma e ocorre a deiscência um dia antes da flor se abrir, sendo
que, segundo Sharma e Green (1980), a antese ocorre das 6 às 16 horas, com pico em
torno de 10 horas. A fertilização ocorre no dia da polinização, sendo o guandu planta
de auto polinização, com percentual desprezível de polinização cruzada, na ausência
de polinizadores. Na sua presença, o grau de polinização cruzada pode chegar a 40%,
sendo que apenas 10% das flores dão origem a vagens.
O pedúnculo da flor contém pequenos feixes vasculares envolvidos por anel
de fibras. Durante a primeira semana da antese, segundo Singh e Oswalt (1992), o
endosperma passa por rápido desenvolvimento, o núcleo toma posição parietal,
formando um largo vacúolo no centro do saco embrionário, que se alonga e forma
um haustório, que penetra no tecido do núcleo. Na segunda semana, distinguem-se os
cotilédones, onde a síntese de amido e proteínas começa aproximadamente 17 dias
depois da polinização e continua por mais 14 dias. Em cada rácemo,
aproximadamente cinco vagens amadurecem.
135
O desenvolvimento das sementes é visível sete dias após a fertilização. Uma
vagem está completamente formada em aproximadamente 20 dias após a fertilização,
30 dias após, as sementes atingem a maturidade fisiológica e em mais dez dias
perdem umidade o suficiente para serem colhidas. A maior parte dos genótipos
cultivados apresenta três a quatro sementes por vagem, embora esse número possa
chegar a oito.
Conforme já mencionado, em boas condições de umidade e temperatura, o
tegumento da semente se rompe próximo ao micrópilo dois dias após a semeadura e
a ponta da radícula se alonga e emerge. No terceiro dia, o epicótilo aparece em forma
de arco e cresce verticalmente, tornando-se levemente arroxeado. Os cotilédones são
amarelos, a germinação é hipógea e, segundo Singh e Oswalt (1992) não há
dormência conhecida. Entretanto, Godoy e Souza (2004) encontraram várias
intensidades de dormência ao estudarem coleção de linhagens puras de guandu. Esse
tipo de contradição vem apenas mostrar o quanto há a ser estudado nessa espécie
embora progressos tenham sido alcançados, principalmente nos últimos anos.
136
um bom período para o desenvolvimento vegetativo, antes de serem colhidas e
devem ter ainda, período razoável para novo desenvolvimento vegetativo.
Finalmente, quando a finalidade é recuperação de áreas degradadas ou mesmo
apenas melhoria das condições físicas e químicas do solo, a época ideal vai depender
da cultura principal, seu manejo e do manejo do solo pretendido, mas o guandu deve
ter pelo menos 60 dias de desenvolvimento vegetativo, para poder expressar seu
potencial.
A forma de semeadura do guandu pode ser a lanço, nesse caso sendo
recomendável a utilização de cerca de 50 sementes por metro quadrado, o que pode
representar, dependendo da cultivar, de 25 a 60 kg.ha-1 de sementes, com germinação
e pureza mínimas de 70 e 90%, respectivamente. O método mais usual de semeadura,
entretanto, é em linhas. Tradicionalmente, era recomendada a semeadura com
espaçamento de 0,50 m entre linhas e 5 sementes por metro linear, e esse é
considerado ainda o espaçamento ideal para produzir sementes ou grãos. Para a
produção de forragem ou recuperação de áreas degradadas, espaçamentos menores,
chegando a 0,25 m entre linhas e com 10 sementes por metro linear podem ser mais
recomendáveis, por proporcionarem maior produção de massa verde em menor
tempo, maior quantidade de raízes e plantas mais tenras. Entretanto, se for usado
para pastejo, é necessário extrema atenção no manejo da cultura e dos animais, pois
espaçamentos pequenos podem dificultar a locomoção dos animais no pasto.
Segundo Singh e Oswalt (1992), as sementes devem ser tratadas com penta cloro
nitro benzeno, para evitar murcha das plântulas. Em trabalhos experimentais, na falta
de fungicida específico, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento para tratamento de sementes de guandu, tem sido utilizado um
produto recomendado para tratamento de sementes de soja e de feijão, cujo princípio
ativo é o carbendazim, capaz de controlar antracnose (Colletrotrichum sp.),
crestamento foliar (Cercospora sp.), podridão de sementes (Fusarium sp.),
tombamento (Fusarium sp.) e Phomopsis-da-semente (Phomopsis sp.).
137
Considerando-se que o guandu tem desenvolvimento inicial relativamente
lento, é preciso atenção nos primeiros 30 dias, para o controle de plantas invasoras,
podendo ser necessária a aplicação de herbicida para eliminar ervas de folha estreita
ou mesmo controle mecânico, para eliminação de plantas de folhas largas. Essa fase
de maior atenção dura entre 30 e 60 dias após a semeadura. Após essa fase inicial, a
cultura se fecha e poucos cuidados nesse sentido serão necessários.
5.1-Alimentação animal
O interesse em utilizar leguminosas para a alimentação animal se deve,
principalmente, ao seu elevado teor de proteína bruta (PB). Favoretto et al. (1995)
observaram que a forragem aproveitável de guandu (folhas, flores, vagens e ramos
com diâmetro igual ou menor que 6 mm) apresenta de 17 a 27% de proteína bruta e
45 a 53% de digestibilidade in vitro da massa seca.
138
O guandu tanto pode ser pastejado pelos animais (“banco de proteínas”) como
pode ser fornecido no cocho in natura ou conservado por meio de fenação ou
ensilagem (Brown e Chavalimu, 1985; Santos et al., 2004). Rodrigues et al. (2004)
avaliaram o desempenho de novilhas leiteiras em pastagens de capim-braquiarão
(Brachairia brizantha) e banco de proteína de guandu suplemantadas com cana-de-
açúcar, uréia e 1,5 kg.animal-1.dia de caroço de algodão. No período de julho a
setembro, os animais que tiveram livre acesso ao banco de proteínas de guandu por
três horas diárias ganharam 753 g.dia, enquanto o ganho de peso das novilhas que
não receberam guandu foi 683 g. dia.
A aceitação pelos animais é um dos principais fatores limitantes ao uso do
guandu em pastejo. De modo geral, o consumo de guandu eleva-se após o
florescimento (a partir de abril) e é muito reduzido no período das águas. Lourenço et
al. (1994) observaram que o guandu representou 65, 21, 5 e 2% do total de MS
ingerida por bovinos em pastagem de capim-colonião (Panicum maximum) com
acesso a “banco de proteínas” de guandu, nos meses de julho, agosto, setembro e
outubro, respectivamente.
O teor de taninos têm sido investigado como um dos fatores responsáveis pela
baixa aceitação do guandu pelos animais. Godoy et al. (2005), no entanto,
observaram que o consumo de guandu por bovinos, em pastejo é mais elevado no
mesmo período em que este apresenta os mais altos níveis de taninos (abril a
outubro). Os fatores determinantes da baixa aceitação do guandu pelos animais
devem, portanto, ser melhor estudados.
139
adubos verdes em áreas de capim-braquiária (Brachiaria decumbens) degradadas. Na
Tabela 1 são apresentados os efeitos da semeadura dessas espécies sobre
características químicas do solo 90 dias após o seu corte. Os autores observaram que
o guandu melhorou as características avaliadas em quase todas as profundidades. Na
última avaliação, 150 dias após o corte das culturas, Alcântara et al. (2000) não
observaram diferença entre os tratamentos (guandu, crotalária e braquiária),
indicando o final dos efeitos benéficos provenientes da decomposição e da
mineralização dos resíduos adicionados ao solo.
140
Tabela 1- continuação...
Forrageira NO3+NH4 K Ca Mg H+Al V(%)
-3
(mg.dm ) (mmolc.dm-3)
40-60 cm
a a
Guandu 49 48 13,5b 9,5a 70,8a 38a
Crotalária 50a 30b 21,8a 6,2a 70,8a 24b
Braquiária 47a 11c 5,3 c
1,8b 69,5a 10c
60-80 cm
Guandu 47a 33a 14,4b 11,0a 69,2a 37a
Crotalária 48a 19ab 25,9a 11,7a 69,2a 36a
Braquiária 43a 10b 5,3c 2,0b 67,2a 11b
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, para cada variável, em cada profundidade, não diferem
entre si (Tukey, 5%).
Fonte: Alcântara et al. (2000).
141
Tabela 2 - Características das raízes de leguminosas utilizadas como adubo verde,
por ocasião do florescimento, cultivadas em um Pdzólico Vermelho-Amarelo em
Viçosa – MG (média ± erro padrão)
142
Tabela 3 – Estimativa de quantidades de nutrientes minerais contidos na matéria seca
de guandu passíveis de retornar ao solo pela mineralização da biomassa
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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146
CAPÍTULO 10
LEUCENA
Leucaena leucocephala
Alexandre de Oliveira Barcellos
Allan Kardec Braga Ramos
Lourival Vilela
Cláudio Takao Karia
1- INTRODUÇÃO
147
antinutricionais têm restringido seu cultivo e utilização em maior escala no Brasil e
em outros países. No entanto, programas de melhoramento no Brasil e no exterior
têm ampliado e explorado a variabilidade genética do gênero Leucaena (Hutton,
1985), resultando em novas opções de cultivares, ampliando os limites ecológicos
para cultivo desta leguminosa estratégica para a intensificação da produção animal
nos trópicos.
148
como espécie florestal no Brasil. Atualmente, é mais conhecida como planta
forrageira em diversas regiões do Brasil, a partir da introdução de cultivares de L.
leucocephala desenvolvidas na Austrália (Quadro 1) e que pertencem à subespécie
glabrata. O clima e o solo favoreceram a sua utilização nas regiões Sudeste e
Nordeste. No entanto, a expectativa é que as futuras cultivares ampliarão, em escala
regional, os atuais limites de distribuição geográfica de Leucaena, no Brasil e no
mundo, por apresentarem outras características adaptativas.
149
Quadro 1- Algumas cultivares de Leucaena lançadas no mundo e genótipos
promissores para liberação comercial no Brasil
País/Estado
Cultivares
(ano de Origem e características de destaque
liberadas
lançamento)
Seleção da Universidade do Havaí, a partir de sementes do genótipo
K636 coletado a 1.675 m de altitude. Estabelecimento rápido,
Austrália
Tarramba marginalmente mais resistente a psilídeo e tolerante ao frio do que a
(1995)
cv. Peru e Cunningham. Hábito de crescimento mais arbóreo do que a
cv. Cunningham.
Desenvolvida pelo CSIRO, a partir do cruzamento entre o cv. Peru e
CPI 18228, originário da Guatemala. Mais ramificada e mais
Austrália
Cunningham produtiva do que o cv. Peru, com valor nutritivo similar. Condições
(1976)
favoráveis para cultivo onde a pressão causada por psilídeo é menor e
não existe limitação de temperatura baixa.
Selecionada pelo CSIRO (CPI 18614), a partir de introdução existente
na Argentina, cujas sementes provieram do Peru. Maior número de
Austrália
Peru ramificações e maior rendimento que o cv. El Salvador. Adaptada a
(1962)
zonas com precipitação de 750 mm.ano-1 e temperaturas de inverno
superiores a 10ºC.
Introduzida da Universidade do Havaí e selecionada pelo CSIRO
Austrália (CPI 18623). Grande porte e menos ramificada do que a cv. Peru,
El Salvador
(1962) com crescimento rápido. Sementes produzidas na pastagem e que
germinam são utilizadas pelos animais.
Difundida pela Universidade do Havaí durante as décadas de 60 a 80
K8 Havaí e amplamente semeada em regiões tropicais. Porte arbóreo e
fortemente atacada por psilídeo.
Difundido pela Universidade do Havaí como planta de múltiplo
K28 Havaí
propósito. Melhor comportamento do que a K636 em solos ácidos.
Seleção feita no CIAT (acesso CIAT-FOR 21888), em La Romelia,
Colômbia
Romelia Colômbia, em condições de 2.700 mm de precipitação e solos com
(1992)
pH de 5,1 e saturação por alumínio de 22 %.
Malásia Híbrido de L. diversifolia x L. leucocephala desenvolvido pelo
Bharu
(1998) MARDI para resistência à psilídeo e produção de lenha e forragem.
Malásia Híbrido de híbridos de L. diversifolia x L. trichandra desenvolvido
Rendang
(1998) pelo MARDI para resistência à psilídeo e tolerância a solos ácidos.
Genótipos Promissores
Híbrido selecionado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
KX3 Brasil
com tolerância ao frio.
CNPC-846
Brasil Acessos selecionados pela Embrapa Caprinos (CNPC) e Trópico
CPATSA-
(Semi-Árido) Semi-Árido (CPATSA) para as condições do Semi-Árido brasileiro.
83444
Híbrido da cv. Cunningham (K420, seleção 11) e L. diversifolia
(K408, seleção 25), desenvolvida no CIAT por Edward Mark Hutton
Híbrido 11X25
Brasil e desenvolvido e avaliado na região do Cerrado. Apresenta
(Acesso CPAC
(Cerrado) crescimento vigoroso, maior adaptação a solos ácidos do que a cv.
4111)
Cunningham, sendo igualmente susceptível ao psilídeo. Liberação
prevista para 2008.
Adaptado de Cook et al. (2005), Barcellos (2006), Souza (1999), Souza e Araújo (1995), Oram (1990) e Anônimo (1997).
150
3- CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA ESPÉCIE E DIFERENCIAÇÃO
DE CULTIVARES
151
partir da colonização espanhola no século XVI, com alta capacidade invasora.
Plantas do tipo Gigante ou El Salvador apresentam porte alto (arbóreo, até 20 m),
hábito de crescimento ereto, caules grossos, com poucas ramificações, folhas
grandes, alta produção de fitomassa e menor produção de sementes, cujos
representantes correspondem atualmente à subespécie glabrata. Já o tipo Peru
apresenta porte alto, hábito ereto, com bastantes ramificações basais e alta produção
de fitomassa, pertencendo também à subespécie glabrata (Shelton e Brewbaker,
2006; Hughes, 1998). As atuais cultivares forrageiras da espécie L. leucocephala
pertencem à subespécie glabrata.
Cultivares forrageiras (Quadro 1) de Leucaena foram desenvolvidas
principalmente na Austrália (cvs. El Salvador, Peru, Cunnigham e Tarramba), no
Havaí (por ex. K8, K28, LxL, KX2, KX3, K1000) e Malásia (Bharu, Rendang)
mediante seleção de plantas coletadas na natureza ou derivadas de cruzamentos,
inclusive interespecíficos com as espécies L. diversifolia e L. trichandra. No Brasil,
oito genótipos (Cunningham, El Salvador, Gigante, K132, K29, K4, K67, K8, Peru)
figuram no registro nacional de cultivares (MAPA, 2006). Todavia, prevalecem no
comércio as cultivares "australianos" Cunnigham e Peru que apresentam elevado
desempenho agronômico em solos com pouco alumínio tóxico e férteis nas regiões
Sudeste e Nordeste do Brasil, inclusive com alta tolerância à seca. No entanto,
apresentam limitações adaptativas aos solos ácidos da região Centro-Oeste e ao frio
da região Sul do Brasil.
Na busca por novas cultivares, tem-se adotado a seleção de germoplasma e a
hibridação interespecífica para transferência de genes desejáveis (Souza, 1999;
Hutton, 1985). Dentre os cruzamentos promovidos e avaliados, os híbridos de L
.leucocephala e L. diversifolia despertaram interesse pela possibilidade de
incorporação de genes que conferem maior tolerância a solos ácidos (Hutton, 1990,
Hutton & Chen, 1993), resistência ao frio e geadas (Schiffino-Wittmann et al., 1994)
e ao psilídeo Heteropsylla cubana Crawford (Sorensson & Brewbaker, 1986), um
152
pequeno inseto sugador e saltador, semelhante a um pulgão (afídeo). Desse esforço
dos programas de melhoramento, foram identificados genótipos com potencial de uso
em regiões tropicais e subtropicais do Brasil, cujas características adaptativas são
superiores àquelas das atuais cultivares. Nesse sentido, a Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) lançará um nova cultivar (híbrido
L.leucocephala x L.diversifolia CPAC 4111; BRA-001937), ainda não nominado,
tolerante a solos ácidos e a altas concentrações de alumínio no solo (Barcellos,
2006). Havendo ainda genótipos promissores para o Semi-árido nordestino e o Sul do
Brasil (Quadro 1).
Na diferenciação ou distinção das cultivares, caracteres morfológicos,
preferencialmente, e agronômicos são considerados. As cultivares Cunnigham e Peru
apresentam porte, grau de ramificação e diâmetro de caule semelhantes, porém
ambas têm menor porte, menor diâmetro de caule e maior número de ramos laterais
que o futura cultivar híbrido Embrapa (=CPAC 4111) e o cv. Tarramba. A cultivar
Cunnigham apresenta folíolos verdes numa tonalidade bem mais escura que a dos
demais cultivares, além de serem maiores que os dos cvs. Peru e o híbrido Embrapa.
As extremidades (porções mais novas) dos ramos, o pecíolo e a ráquis da cultivar
Cunnigham apresentam coloração avermelhada, principalmente na porção exposta ao
sol, enquanto que na cultivar Embrapa predominam a cor verde nestas partes da
planta. O pecíolo é maior e a glândula do pecíolo é um pouco menor no híbrido
Embrapa, em relação ao cv. Cunnigham (Figura 2). O florescimento é mais tardio e o
tamanho do fruto é maior no híbrido Embrapa, que também apresenta sementes
menores que a da cultivar Cunnigham (Anônimo, 1997, Oram, 1990, Cook et al.,
1995). Morfologicamente, os híbridos interespecíficos, como o híbrido Embrapa
(CPAC 4111), têm características intermediárias àquelas dos parentais, daí o menor
tamanho de folíolo no mesmo, herança do progenitor da espécie L. diversifolia.
153
Figura 2- Flores, frutos (porção superior) e detalhes do pecíolo (cor, tamanho e
glândula do pecíolo) e do folíolo (cor e formato) de Leucaena
leucocephala cv. Cunnigham (esquerda) e do híbrido 11x25 de
L.leucocephala x L.diversifolia (direita).
154
Figura 3- Leucaena híbrida em consórcio com B. brizantha cv. Marandu na estação
chuvosa (pré e pós-pastejo) e na estação seca (pré-pastejo) em Planaltina-
DF.
155
4- FORMAS DE UTILIZAÇÃO
156
(há limites críticos de inclusão) como alternativa às fontes convencionais de
concentrados protéicos. Com o mesmo propósito, excedentes de forragem verde de
leucena podem ser ensilados para uso em períodos críticos, a exemplo do que ocorre
no semi-árido nordestino, em que os animais têm acesso às pastagens nativas e a
produção de forragem de leucena pode ser conservada na forma de silagem ou feno.
Pelo seu alto valor protéico, a forragem de leucena também pode ser utilizada como
“aditivo” para silagens de milho e de outros volumosos pobres em proteína. Dado o
seu valor alimentício e a vocação para sistemas mais intensivos de produção,
Leucaena tem sido mais utilizada na engorda e na recria de bovinos.
O porte arbustivo da Leucaena confere elevada capacidade competitiva na
associação com forrageiras de diferentes hábitos de crescimento e portes (Wildin,
1994), com estabilidade e uma vida produtiva que pode superar facilmente a 20 anos.
Ademais, sua versatilidade propicia o desenho de muitas variantes de sistemas
agrossilvipastoris voltados para a intensificação ou otimização da produção de carne
ou leite no Brasil. Nesse sentido, Leucaena pode ser utilizada de forma integrada no
espaço e no tempo com forrageiras perenes, anuais ou pastagens nativas (Shelton et
al., 1994; Zoby et al., 1985, 1990; Lima, 2005, Barcellos, 2006). Como exemplo de
uma variante, em várias localidades do semi-árido o sistema Caatinga-Buffel-
Leguminosa (CBL) vem sendo preconizado. Nesse sistema, o uso da pastagem nativa
ocorre nas estação chuvosa e na época seca os animais têm acesso aos pastos de
capim-buffel (Cenchrus ciliaris), suplementados com a forragem verde ou
conservada de Leucaena produzida em bancos de proteína. Por conta da elevada
aceitabilidade por ruminantes, o uso de Leucaena na forma de banco de proteína tem
sido bastante difundido pela maior facilidade em gerenciar o estoque de forragem
sob pastejo.
Devido à capacidade de fixação simbiótica de nitrogênio atmosférico, o
consórcio gramínea-Leucaena é uma alternativa à aplicação de nitrogênio mineral
em pastagens, com menores custos para a formação e a manutenção das mesmas.
157
Nesse caso, o incremento na oferta global de nitrogênio no sistema solo-planta-
animal tem reflexos diretos sobre o patamar e a estabilidade da produção. Também é
possível ampliar a produção animal em pastos consorciados com Leucaena, mediante
a aplicação localizada de nitrogênio mineral na faixa de cultivo da gramínea
forrageira, na estação chuvosa, sem o comprometimento da estabilidade do
consórcio, dado o porte arbustivo. Tal prática, não convencional em pastos
consorciados, ao elevar a produção de forragem da gramínea (energia) e a taxa de
lotação da pastagem, permite um melhor equilíbrio nutricional nos pastos no tocante
ao suprimento de proteína (da Leucaena) e energia (capim) para os animais. Ao
otimizar a produção de forragem e animal, no período mais propício à intensificação
(águas), ganha-se eficiência no uso do fertilizante nitrogenado e dos demais recursos,
podendo reduzir custos de produção e minimizar riscos econômicos, inclusive
inerentes à adubação (Barcellos, 2006).
5- CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
158
radicular, que é condicionada fortemente pela características físico-químicas do solo.
De tal modo que no semi-árido do Brasil (Caatinga) é tida como tolerante à seca, ao
passo que no Cerrado apresenta baixa tolerância, embora o balanço hídrico seja mais
favorável neste último. Há relato de cultivo ou ocorrência de Leucaena em regiões
com precipitação pluvial entre 600 e 3000 mm.ano-1, e com altitudes de até 1.800 m.
Em seu ambiente de origem ocorre em solos arenosos e argilosos, com pH neutro a
alcalino, com baixa saturação de alumínio. Não tolera solos encharcados ou com
alagamento temporário, bem como solos salinos ou ácidos, especialmente L.
leucocephala, com baixos teores de cálcio e fósforo no solo e altas concentrações de
alumínio (Skerman, 1977; Seiffert, 1982; Cook et al., 2005).
As cultivares desenvolvidas na Austrália (ex. Cunnigham, Peru, Tarramba)
têm baixa tolerância ao frio e a geadas. Também tratam-se de plantas exigentes em
solos de maior fertilidade e com baixa concentração de alumínio no perfil, conforme
enquadramento definido por Vilela et al. (2000) e Souza et al. (2001). No Cerrado,
além de fertilizantes, a aplicação de calcário e, em particular, de gesso é necessária
para o cultivo de L. leucocephala, senão o crescimento das raízes será superficial, o
que reduz a tolerância ou capacidade de convivência destas cultivares com a seca e
os veranicos na região (Hutton & Sousa, 1987; Souza et al., 2001). Em locais com
estação chuvosa mais prolongada e,ou com menor déficit hídrico, este problema é
atenuado. Em geral, quanto maior o período chuvoso ou o número de dias com chuva
na faixa tropical, maior a produção de forragem e a duração da estação de pastejo em
Leucaena. Mesmo em condições de clima e solo mais propícias, a leucena apresenta
elevada estacionalidade na produção de forragem.
No Brasil, programas de melhoramento têm procurado explorar a
variabilidade genética para tolerância a solos ácidos e ao frio, a partir de cruzamentos
interespecíficos entre L. leucocephala, que deu origem as cultivares desenvolvidas na
Austrália, e L. diversifolia (Shlecht.) Beth & Hook, espécie que apresenta alta
tolerância à acidez do solo (Schiffino-Wittmann et al., 1994; Hutton, 1990). Esta
159
variabilidade genética possibilitou a seleção de híbridos interespecíficos mais
adaptados ao ambiente de Cerrado (Hutton, 1987; Hutton, 1990) e a indicação de
genótipos com maior capacidade de rebrotação e retenção de folhas sob baixas
temperaturas no Rio Grande do Sul (Simioni et al., 1999). Do trabalho, inicialmente
desenvolvido pelo pesquisador Edward Mark Hutton no Centro Internacional de
Agricultura Tropical (CIAT) e na Embrapa Cerrados, destacou-se o híbrido 11x25
(Acesso CPAC 4111) que será lançado comercialmente pela Embrapa (Hutton, 1990;
França-Dantas et al., 1992; Araújo Neto et al., 1994, Barcellos, 2006). Barcellos
(2006) avaliou a resposta deste híbrido (11x25; Acesso CPAC 4111) à calagem do
solo (0-20 cm), em relação a cultivar Cunningham. Ratificou que o híbrido apresenta
maior adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade que a cultivar Cunningham,
com maior produção de massa de forragem nas saturações por bases de 20 a 40 %. A
produção de massa seca do híbrido 11x25 não é afetada pelas variações no pH,
saturação por alumínio, saturação por bases e teores de Ca e Mg no solo,
diferentemente da cultivar Cunningham. Também verificou que ambas têm o mesmo
padrão de resposta crescente ao aumento no suprimento de fósforo, por ocasião do
plantio, na produção de forragem (Barcellos, 2006).
O cultivo de leguminosas geralmente está associado a melhorias na condição
ou na qualidade do solo, seja pelo aporte e reciclagem de nitrogênio e outros
nutrientes, seja pelo aumento da matéria orgânica e da maior atividade da fauna e dos
microrganismos. Em Leucaena todos estes benefícios são relatados em vários
ambientes (Shelton et al., 1995), em especial no trópico úmido. Por outro lado, em
alguns ambientes, leguminosas de alta produtividade, como a Leucaena, levam à
acidificação do solo, a qual deve ser compensada com calagens de manutenção. Na
Austrália, registraram-se significativos processos de acidificação e de movimentação
de cátions no perfil do solo em áreas cultivadas com Leucaena¸ quando comparadas
com áreas exclusivas de gramíneas (Noble & Jones, 1997). Tal fato, tem levado à
discussão acerca da sustentabilidade destas áreas de cultivos. O mesmo deve ser
160
levado em conta em nossas condições. Apesar desta constatação, sistemas intensivos,
irrigados e com uso de adubos nitrogenados tiveram taxas anuais de acidificação do
solo cinco vezes maior do que a observada em áreas cultivadas com Leucaena
(Noble et al., 1998). Numa situação semelhante, é provável que genótipos como o
híbrido 11x25 (CPAC 4111) seriam mais adaptados ou menos sensíveis, uma vez que
o sistema radicular é capaz de explorar maior volume de solo em profundidade.
Além disso, o genótipo 11X25 apresenta estabilidade produtiva quando ocorrem
variações no pH e na saturação por bases nas camadas superficiais do solo.
Em L. leucocephala e seus híbridos, a efetividade da fixação simbiótica de
nitrogênio é dependente da especificidade entre a estirpe de rizóbio e o genótipo
forrageiro. No Brasil, as estirpes autorizadas para a produção de inoculantes para
Leucaena são: SEMIA 6069 e 6070 são recomendadas para a cultivar Cunnigham,
SEMIA 6053 para a cultivar Peru e SEMIA 6162 e 6169 para a espécie L.diversifolia
(MAPA, 2006). Para as condições de Cerrado, as estirpes DF-10 e DF-15 são
recomendadas para a inoculação das sementes tanto da cultivar Cunnigham como do
futura cultivar Embrapa (Híbrido 11x25 – CPAC 4111) (Fábio Bueno do Reis Jr. –
Embrapa Cerrados - comunicação pessoal-2006).
O potencial de fixação simbiótica de nitrogênio é alto, podendo variar de 30 a
50 g de N por árvore em L. leucocephala. Todavia, em condições de campo, os
valores são afetados por condições adversas como acidez do solo, deficiência de
fósforo, quantidade de nitrogênio no solo, estresse hídrico, temperaturas elevadas e
desfolhação freqüente (Lesueur et al., 1998), situações bastante freqüentes no
Cerrado e quando da utilização intensiva sob pastejo. Em Leucaena, a baixa
fertilidade do solo reduz tanto a população das bactérias Rhizobium e
Bradyrhizobium quanto a capacidade de infecção das raízes (Blarney & Hutton,
1994; Cadisch et al., 1994).
Como a quantidade absoluta de nitrogênio fixado depende diretamente do
patamar de produtividade da leguminosa, práticas agronômicas e de manejo que
161
favoreçam o rápido crescimento das plantas serão benéficas, quando se pretende
maximizar os benefícios da (re)ciclagem de nitrogênio em pastagens de Leucaena. A
grande capacidade de produção de Leucaena pode levar ao acumulo de até 560
kg.ha-1 de N ano em sua fitomassa (Ferraris, 1979). Segundo Burle et al. (2003), em
regiões subúmidas da Austrália, uma pastagem com produção de 2500 kg/ha/ano de
forragem consumível da leguminosa aportaria cerca de 75 kg.ha.ano-1 de N via
fixação biológica. Todavia, numa associação entre L. leucocephala e B. decumbens,
em condições desfavoráveis de solo, com baixa produtividade, estimaram que apenas
15 kg.ha-1 de N seriam fixados do ar, no período de nove meses da estação de
crescimento.
Leucaena também estabelece associação com fungos micorrízicos
arbusculares (micorrizas), cuja importância é maior em solos pobres em fósforo e na
fase de estabelecimento das plantas. A ausência de colonização das raízes por
micorrizas implicará maior dependência da adubação fosfatada na fase inicial ou um
crescimento inicial lento (Shelton e Brewbaker, 2006). Assim, o cultivo de leucena é
favorecido quando em sucessão a cultivos que favorecem o aumento de fungos
micorrízicos no solo.
162
pastejo e as plântulas provenientes do banco de sementes são consumidas pelos
animais. Nos atuais híbridos a prolificidade é ainda menor.
A propagação vegetativa é possível em condições bem controladas e com uso
de enraizadores, porém com baixa e variável eficiência, sendo mais voltada para a
clonagem de plantas superiores para exploração silvícola.
No mercado formal, as sementes devem apresentar, no mínimo, 95 % de
pureza física e 60 % de germinação para serem comercializadas (MAPA, 2006). As
sementes apresentam dormência física ou tegumentar e devem ser escarificadas
pouco antes do plantio para que haja uniformidade e redução no tempo de
germinação e emergência. Vários métodos de escarificação podem ser utilizados.
Desde o uso de ácido sulfúrico (solução concentrada e imersão por 20 minutos e
lavagem + secagem), soda cáustica (solução 20% m/v; imersão por 60 minutos e
lavagem+secagem), água quente (100 ºC e imersão por 3-5 segundos; 80ºC e imersão
por 180 segundos + secagem) ou escarificadores/abrasivos físicos (betoneiras com
areia, lixas etc.) (Zimmer et al., 1992; Seiffert, 1982b). A disponibilidade dos
insumos/equipamentos e o volume de sementes a ser escarificado determinarão qual
o método mais prático. Particularmente, a escarificação com água quente a 80 ºC
oferece um equilíbrio entre eficiência do processo e o risco operacional e ambiental
na rotina de trabalho da Embrapa Cerrados com a cultivar Cunnigham e o híbrido
11x25. Os referenciais (concentração, temperatura, tempo) que propiciam maior
eficiência destes métodos aplicam-se a lotes de sementes novos e armazenados em
condições ambientais satisfatórias ou sob baixas temperaturas e baixa umidade
relativa do ar. No Brasil, inúmeros trabalhos ainda são conduzidos avaliando
desnecessariamente estes métodos de escarificação. A rigor, a perda natural da
viabilidade das sementes com o tempo, bem como o envelhecimento do tegumento,
afetado pela condição de armazenamento, demandariam ajustes na temperatura e,ou
no tempo de exposição aos métodos de escarificação acima mencionados. Como o
histórico dos lotes é desconhecido, os resultados acerca das mesmas técnicas de
163
escarificação nos “novos trabalhos” apontam para inconsistências ou baixa
eficiência, o que leva à profusão de novas e desnecessárias recomendações, haja vista
serem as mesmas cultivares (genótipos), para os quais a técnica já foi validada.
Novos genótipos justificariam a iniciativa destes trabalhos, mas não será o caso para
a futura cultivar híbrido 11x25, onde as técnicas já vêm sendo usadas de forma
satisfatória.
Para a semeadura, após a escarificação, é necessária a inoculação das
sementes (proporção inoculante/semente: 0,2 a 1,0 % m/m) com estirpes específicas.
A inoculação deve ser efetuada pouco antes do plantio. As sementes inoculadas não
poderão ser armazenadas por muito tempo e nem misturadas a fertilizantes minerais.
Leucaena apesar do porte arbóreo e do tamanho da semente ser relativamente
grande, tem como grande limitação agronômica o crescimento inicial muito lento, o
que invariavelmente só permite a sua efetiva utilização como planta forrageira na
estação chuvosa subsequente àquela da semeadura, ocasião em que as plantas
apresentam maior altura para competir com o estrato herbáceo do pasto e suportam
melhor o ramoneio intenso dos animais. Daí decorrem algumas orientações para o
êxito na semeadura e no estabelecimento, além da necessária escarificação e
inoculação das sementes: escolha de solos drenados, não-salinos, férteis ou com
ajuste da fertilidade mediante adubação (Vilela et al., 2000; Souza et al., 2001 ou
recomendação local); bom preparo do solo; controle de invasoras (pré e pós-plantio)
e pragas (cupins e formigas); semeadura fora do período de risco de veranicos; uso
de cultivos anuais (um ou mais ciclos) intercalares para amortizar custos com
insumos e robustecer as plantas com maior período de crescimento livre de desfolhas
e sem competição (Barcellos et al., 2001). Caso contrário, algumas compensações
serão necessárias, a começar pela elevação na taxa de semeadura.
A semeadura poder ser efetuada em covas, linhas ou sulcos rasos (2-3 cm),
quando as chuvas firmarem e o mais precocemente possível. Poderá ser feita
manualmente, com o uso de matraca ou semeadoras de grãos. Idealmente, nos
164
plantios em linha ou fileiras, a densidade de plantas deve situar-se acima de 12
plantas por metro (20 sementes/m para 60 % de valor cultural das sementes), o que
leva a um “stand” com plantas de caules e ramos mais finos. Além disso, em geral,
quanto maior a densidade de plantas, maior a produtividade de forragem. Na
semeadura por covas, 50 cm entre plantas é o espaçamento mais freqüente. Já o
espaçamento entre linhas dependerá da modalidade de semeadura, do uso, do cultivo
intercalar e, sobretudo, dos tratos culturais (mecanizados ou manuais). Plantios mais
adensados (1,0-1,5 m entre linhas) são adotados na semeadura de legumineiras para
corte ou em bancos de proteína para pastejo por pequenos ruminantes, o que propicia
plantas com caules mais finos. Para pastejo por bovinos em bancos de proteína, o
espaçamento deve ser acima de 2,0 m entre linhas. Nesse caso, uma menor densidade
de plantas também poderá ser adotada na linha de semeadura para diminuir a quebra
de plantas com a circulação dos animais. Com cultivos intercalares, seja pasto ou
grão, o espaçamento mínimo entre linhas ou fileiras (simples ou duplas) é
determinado pela largura das máquinas e implementos que serão utilizados.
Rotineiramente, tanto em bancos de proteína como em pastos consorciados, a
participação da leguminosa tem sido dimensionada para representar 30% da área sob
a justificativa do equilíbrio entre a reciclagem de nutrientes e o desempenho animal
ou da composição botânica do pasto com a dieta. Tal dimensionamento não leva em
conta a produtividade e a alta oferta de proteína na forragem da leucena na estação
chuvosa, bem como a alta seletividade dos animais em pastejo. No trabalho de
Barcellos (2006) foi possível constatar que sistemas em que a leucena está voltada
para a intensificação da produção animal nas águas, há um excedente de proteína no
compartimento animal que precisa ser melhor compatibilizado com o aumento ou
equilíbrio na oferta de energia da dieta. Tal equilíbrio, poderia ser conseguido com
uma menor proporção de leucena na área da pastagem, o que reduziria custos com
sementes e outros insumos na implantação. Taxas de semeadura variando de 2,0 a 20
kg.ha-1 são relatadas para diversos locais, arranjos e modalidades de cultivo e uso da
165
leucena, sendo mais freqüente o uso de 4 a 8 kg.ha-1 de sementes em pastos
consorciados.
Cultivos de Leucaena também têm sido estabelecidos mediante o uso de
mudas (> 20 cm), dependendo da região, da disponibilidade de mão-de-obra, da
escala do plantio e da modalidade de uso. Em geral, é justificado pelo crescimento
inicial lento e a baixa capacidade de competição das plântulas no campo, pela
estação chuvosa curta ou errática e pelo ataque severo de pragas. Nesta modalidade,
ao minimizar os riscos de insucesso, elevam-se os custos de implantação por conta
da fase de viveiro e com o plantio per se.
Plantas jovens de leucena (<50 cm) são bastante atacadas por cupins e
formigas no estabelecimento em áreas que não passaram por movimentação do solo
ou ciclos de cultivos anuais. Nesses casos, a proteção das plântulas e o controle de
curto prazo dos cupins poderia ser feito com o uso de fipronil ou de carbofuran
(molécula não registrada para uso em pastagens) aplicados no sulco ou ainda com o
uso de fipronil no tratamento das sementes, uma vez que estas moléculas não
interferiram na capacidade de nodulação e no desenvolvimento inicial de plantas de
leucena (Fábio Bueno dos Reis Jr. – comunicação pessoal – Embrapa Cerrados -
2006). Por sua vez, o controle de formigas, deve ser efetuado mediante o uso de
iscas, pós químicos ou culturas armadilhas. Como prática cultural de controle destes
insetos, a implantação da leucena com cultivos anuais intercalares, diminui a
incidência e a severidade dos ataques na área, além de contribuir para amortização de
custos de implantação da pastagem (Barcellos et al., 2001). Principalmente por
ocasião dos veranicos, poderão ocorrer ataques do psilídeo Heteropsylla cubana
Crawford, um pequeno inseto (2 mm) sugador e saltador. Este inseto constitui a
principal praga para o cultivo de Leucena no mundo, tendo sido responsável pela
retração ou menor expansão das áreas de cultivo de leucena em vários países. De tal
modo que a busca de fontes de resistência a este inseto tem sido prioritária nos atuais
programas de melhoramento. Até pouco tempo não era uma praga de expressão nos
166
cultivos com leucena na porção oriental do Cerrado, porém mais recentemente pode
ser encontrado com freqüência na estação chuvosa sugando meristemas, folhas e
ramos novos, até mesmo em plantas de parques e jardins. Nestes ambientes,
comumente é predado por joaninhas (insetos coccinelídeos). Na estação seca e em
regiões mais frias (região Sul) ou secas (Caatinga), ainda não constitui problema. O
grau de susceptibilidade ao psilídeo é similar entre a cultivar Cunnigham e o híbrido
11x25, até porque a primeira foi um dos progenitores envolvidos nos cruzamentos
que originaram o híbrido.
O controle de invasoras é bastante crítico para o estabelecimento da Leucena.
Cultivos anuais prévios ou simultâneos à semeadura da leucena são alternativas à
implantação direta com sistema convencional de preparo do solo e uso de herbicidas
(em pré-plantio) para o controle da sementeira e redução do nível de infestação. Até
porque não há produtos com registro para a cultura. Imediatamente após a semeadura
(pré-emergência da Leucena), herbicidas não seletivos poderão ser utilizados no
controle das invasoras. Na Austrália, o controle de plantas de folhas estreitas em pós-
emergência é feito com herbicidas seletivos (graminicidas). Por sua vez, para o
controle de plantas de folhas largas (dicotiledôneas),os herbicidas a base de
bentazona (1.440 g.ha-1) ou de imazethapyr vêm sendo utilizados em pastagens ou
campos de produção de sementes de Leucena. Para o controle e a erradicação das
plantas de leucena são usados herbicidas a base de picloran e triclopyr (Cook et al.,
2005).
Em locais em que o ritmo de crescimento da Leucena é satisfatório (1,0 m de
altura ao o final da estação de crescimento), as plantas poderão ser pastejadas, de
forma controlada, apenas para desponte e quebra da dominância apical, para
estimular a produção de ramos laterais, o que também poderá ser feito ao início da
estação chuvosa subsequente.
A utilização tardia e as várias práticas culturais necessárias para o
estabelecimento de Leucaena elevam os custos de implantação nas situações em que
167
cultivos anuais não podem ser utilizados para a amortização desses custos. No
entanto, quando comparada com outras opções de leguminosas, deve-se considerar
que o horizonte de utilização das pastagens de Leucaena é o maior de todos, em
decorrência da sua persistência (> >10 anos).
168
sob armazenamento em temperatura ambiente, o que leva a necessidade de expurgo
das mesmas.
A doença fúngica Camptomeris leucaenae que provoca a queda dos foliololos
tem ocorrido em áreas de produção de sementes, principalmente, e em áreas de
pastagens no Cerrado de altitude. Em áreas com pastejo ou cortes freqüentes a
incidência e a severidade do ataque é menor, por conta da menor quantidade de
inóculo do patógeno. Esta doença tem ampla distribuição em países de vários
continentes, não sendo apontada como um entrave ao cultivo, não sendo
contemplada, por enquanto, nos programas de melhoramento. A cultivar Cunnigham
e o híbrido 11x25 (CPAC 4111) têm o mesmo grau de susceptibilidade.
7 -PRODUÇÃO DE SEMENTES
169
Em razão do tamanho restrito das áreas de produção e do mercado de
sementes informal voltado para cultivo de pequenas áreas, a colheita de sementes é
predominantemente manual em vários países. Todavia, pode ser efetuada por
colheitadeiras de grãos (milho, sorgo), desde que os plantios sejam adensados, com
as plantas apresentando porte baixo e caules de pequeno calibre.
Na colheita manual, as plantas são rebaixadas anualmente de modo a tornar
os ramos com frutos maduros mais acessíveis à colheita. Em plantas de porte mais
alto, as sementes das vagens inacessíveis poderão ser derrubadas com varas sobre
lonas estendidas no chão.
Os registros de produtividade de sementes são bastante variáveis no Brasil
(66-1050 kg.ha-1) e no mundo (até 3000 kg.ha-1) (Primavesi et al., 2004; Souza,
1999, Guterridge et al., 1999; Cook et al., 2005). A produção de sementes depende
da cultivar, do local, do manejo da água, da idade do cultivo, da ocorrência de
pragas, do arranjo e do espaçamento das plantas. Na Austrália, 500 kg/ha tem sido a
produtividade mais freqüente (Guterridge et al., 1999). No Brasil, em escala
experimental são registrados valores de 300 a 1050 kg.ha-1 no semi-árido (Souza,
1999), com a colheita manual, e de até 800 kg.ha-1 no sudeste do Brasil (Alcântara e
Bufarah, 1988). Sendo o tegumento de baixa permeabilidade, as sementes dormentes
de Leucaena mantêm a viabilidade por um período de 2 a 3 anos, quando
armazenadas em temperatura ambiente. Sob refrigeração, as sementes mostram-se
viáveis por períodos de até 10 anos.
Estima-se que mundialmente existam de dois a cinco milhões de hectares
implantados ou naturalizados com Leucaena (Shelton e Brewbaker, 2006). No Brasil
não há informações segmentadas, por cultivar ou espécie, acerca da área cultivada e
da participação no mercado de sementes. Até porque prevalecem os canais informais
de comercialização. Em geral, as aquisições de sementes de leucena são efetuadas
em pequenas quantidades por pequenos e grandes produtores. Têm caráter
exploratório da tecnologia (cultivar), com a implantação de pequenos módulos de
170
produção, muitos deles estabelecidos por mudas. Mesmo na Austrália, o berço de
muitas cultivares, onde estimativas passadas apontavam para mais de 100.000 ha de
pastagens com leucena, o tamanho do mercado de sementes (3000-5000 kg.ano-1)
historicamente é limitado, com oscilações para baixo nos anos em que ocorrem os
ataques do psilídeo (Guterridge et al., 1999).
Também, a despeito das diversas questões ligadas à adoção de cultivares de
leguminosas, o caráter perene de Leucaena não contribui para uma demanda
acentuada de sementes para reforma ou renovação das áreas de cultivo já existentes,
haja vista a longa vida produtiva das mesmas. A expectativa é que a chegada de
novas cultivares promova a expansão dos mercados locais, por serem genótipos mais
especializados que contemplam novos nichos ecológicos e sistemas de produção.
Mercado este que estará sempre aquém das expectativas dos entusiastas e
conhecedores do potencial desta planta para a intensificação da produção animal.
Leucaena é descrita como uma das plantas forrageiras com maior capacidade
produtiva de proteína dentre as forrageiras tropicais, sendo a produção altamente
influenciada pela genética da cultivar, ambiente de cultivo (solo, clima, altitude) e
fatores agronômicos, como espaçamento, freqüência da desfolhação, altura de corte,
manejo da adubação e da irrigação, entre outros. Em geral, o crescimento é
estacional e quanto maior a fertilidade do solo, o período de descanso, a temperatura
ou o comprimento da estação chuvosa, maior a produtividade anual de forragem.
Plantios mais adensados nem sempre são os mais produtivos, embora favoreçam,
proporcionalmente, ao acúmulo de forragem (folhas e ramos finos).
171
No Brasil a Leucaena foi inicialmente identificada como planta promissora
para o Nordeste brasileiro (Costa et al., 1973), que apesar da pluviosidade limitada,
apresenta solos com pH proximo à neutralidade em muitos locais, de tal modo que
mesmo após as chuvas cessarem, as plantas ainda são capazes de emitir novas folhas,
graças ao robusto sistema radicular. Há registros de produtividades variando de 1,6 a
9,0 t.ha-1 de material comestível (folhas+ramos finos) no nordeste brasileiro, de
acordo com a cultivar, o local e a modalidade de uso/manejo (Souza, 1999; Lima,
2005). Na década de 1980, estando em evidência no mundo, e em função de suas
características nutritivas, persistência e resistência à doenças e insetos, foram
estabelecidas algumas centenas de hectares de L. leucocephala cv. Cunningham nos
solos mais férteis dos Estados de São Paulo e Mato Grosso (Hutton, 1987).
Atualmente, encontra-se distribuída em toda a faixa tropical do Brasil e em parte da
porção subtropical. Produtividades variando de 2 a 20 t.ha-1 de massa seca de
forragem são registradas na Região Norte, Sudeste e Sul do Brasil, em regime de
cortes (Costa et al., 1998, 2000; Lima, 2005; Alcântara e Bufarah, 1988; Veiga &
Simão Neto, 1992).
Sob pastejo, as produtividades de forragem serão bem menores, uma vez que
a freqüência de desfolhnação é maior e a proporção da leucena na área é bem menor
do que em cultivos puros. No entanto, mesmo com baixa participação na composição
botânica ou na massa de forragem de uma pastagem consorciada, é capaz de
impactar na produtividade animal, devido ao seu alto valor alimentício. Clem et al.
(1993) obtiveram produções de 1.520 kg.ha-1 ano de forragem de Leucaena
consorciada com gramíneas que resultaram em ganho médio de 900 g.animal.dia-1
em um período de 168 dias.
Em outros países, a produtividade de forragem situa-se acima de 15 t/ha,
tanto para as cultivares da espécie L. leucocephala como para os híbridos
interespecíficos (Shelton e Brewbaker, 2006; Cook et al., 2005). Com a entrada de
híbridos do mercado, a tendência é a elevação da produtividade, uma vez que
172
possuem mais atributos adaptativos. No entanto, a estacionalidade da produção tende
a se exacerbar, uma vez que as cultivares de leucena têm se posicionado mais
firmemente no contexto da intensificação da produção nas águas e da
complementaridade com outras espécies nos sistemas de produção animal.
173
aminoácidos sulfurados, requerendo balanceamento com enxofre em dietas
deficientes desse nutriente (Garcia et al., 1996).
Miranda et al. (2003) compararam os aminoácidos de Leucaena leucocephala
e Neonotonia wightii (Graham ex Wight & Arn.) Lakey (soja perene) quanto à
degradação ruminal e digestibilidade intestinal. Os valores observados de proteína
bruta (PB) e a composição dos aminoácidos foram muito semelhantes entre as
espécies. A Leucaena apresentou o maior valor de proteína não degradada no rúmen
(PNDR = 45,57%) em função do escape ruminal e valores de digestibilidade
intestinal (% da PNDR) de 23,56% e 10,74% de PNDR digestível no duodeno
(%PB). Soja perene apresentou apenas 8,12% PNDR e digestibilidade intestinal de
47,87% e 3,89% PNDR digestível no duodeno. Segundo Garcia et al. (1996), a
digestibilidade aparente total da proteína variou de 64,7% a 78%, enquanto a
degradabilidade da proteína no rúmen foi de 42%. O autor, citando Garcia (1988),
constatou, por meio de modelos, que apenas 48% da PB não degradada no rúmen foi
digerida pós-rúmen. A associação de fontes de proteína degradável no rúmen e de
energia é indicada em dietas ricas em Leucaena para obtenção de maior eficiência da
atividade da microbiota ruminal (Rodriguez & Borges, 1989).
Extensa revisão sobre composição química, valor nutritivo e produtividade de
Leucaena foi apresentada por Garcia et al. (1996) que relatam resultados obtidos em
65 trabalhos no período de 1946 a 1992. Em termos médios, foram encontrados na
forragem valores de (g.100g-1 de matéria seca): 29,2 de PB nas folhas e de 22,3 na
forragem, comparável com alfafa; valores altos de FDA (fibra insolúvel em
detergente ácido) variando de 34,1 a 36,1; forragem com teores de enxofre de 0,22,
considerado médio; 1,80 de cálcio, 0,26 de fósforo, 0,33 de magnésio; e folhas ricas
em caroteno (Vitamina A). Os valores totais de proteína degradável no rúmen variam
de 64,7% a 78% e de energia digestível (ED) entre 12,9 e 11,6 MJ.kg-1 de matéria
seca, considerados valores moderados. Norton et al. (1994) reuniram informações de
inúmeros trabalhos sobre diferentes espécies e híbridos. Os valores observados para
174
L. leucocephala e híbridos com L. diversifolia variaram de 34,2% a 40,7% para FDN
(fibra em detergente neutro) , 12,1% a 19,4% para FDA e de 51% a 78% para
DIVMS (digestibilidade in vitro da matéria seca).
Estudos in vivo com animais recebendo dietas com Leucaena permitem
verificar a influência dessa leguminosa no aproveitamento da forragem ingerida. Não
obstante a possibilidade de maior ingestão de proteína e atendimento dos
requerimentos mínimos para uma boa atividade ruminal, dietas com leguminosa,
geralmente, elevam o teor de lignina que atua de forma adversa na digestibilidade da
forragem (Forbes, 1995; Norton, 1994). A participação de frações mais lignificadas,
como ramos de Leucaena na dieta animal, tem levado à redução dos coeficientes de
digestibilidade da MS, PB, FDN e FDA (Bamualim et al., 1980; Saavedra et al.,
1987).
Em estudos com ovinos, recebendo dietas com palhada de milho em
substituição crescente a L. leucocephala, Costa et al. (1990) verificaram resposta
linear positiva da digestibilidade aparente da PB e quadrática do consumo voluntário
da MS. Resultados semelhantes foram obtidos por Masama et al. (1997) trabalhando
com L. leucocephala, entre outras leguminosas, e milho desintegrado com palha e
sabugo. A resposta foi crescente para consumo voluntário de matéria seca e para
digestibilidade da matéria orgânica, com inclusão diária na dieta de 0; 50; 100 e 150
gramas de matéria seca da leguminosa.
Franzolin Neto & Velloso (1986a) avaliaram, com carneiros em gaiolas
metabólicas, dieta pura de Leucaena e misturas da leguminosa na proporção de 30%
e 60% com capim de Rhodes (Chloris gayana Kunth). Obtiveram coeficientes de
digestibilidade da MS e PB de 49,46% e 43,25%, respectivamente, quando do
consumo de Leucaena pura. Para associação com a gramínea, não houve diferença
no coeficiente de digestibilidade entre leguminosa pura e dietas com diferentes
proporções da leguminosa. Detectaram ainda resposta positiva em digestibilidade
175
associativa, obtida com a proporção de 60% de Leucaena e 40% de gramínea na
dieta para proteína bruta e extrato etéreo.
176
Tabela 2: Continuação...
177
carboidratos, em ambientes com condições específicas (Reed, 1995; D’Mello, 1995).
Diferentemente da mimosina, seu efeito pode ser positivo ou negativo sobre a
digestibilidade do alimento e sobre o desempenho animal, a depender de sua
quantidade e atividade biológica (D’mello, 1992). Já a mimosina apresenta efeitos
tóxicos negativos, dependendo da concentração na dieta, tempo de ingestão do
animal e ambiente ruminal.
Alimentos contendo alta concentração de tanino apresentam valores
superiores a 60 g.kg-1 de matéria seca. Nesse nível de concentração, podem levar à
redução do consumo, digestibilidade e absorção de proteína pós-ruminal (Barry &
Duncan, 1984). Concentrações da ordem de 10 a 40 g/kg de matéria seca podem ter
efeitos favoráveis nos ruminantes (Butter et al., 1999).
As concentrações de tanino condensado no gênero Leucaena são muito
variáveis. L leucocephala apresenta teores moderados entre 14 e 79 g.kg-1 de MS,
enquanto L .pallida e L. diversifolia apresentam concentrações maiores (Wheeler et
al., 1994). Em extensa revisão feita por Norton et al. (1994) são mencionados
valores da ordem de 14 a 170 g.kg-1 MS para diferentes espécies e cruzamentos
interespecíficos.
A utilização de Leucaena em larga escala na alimentação animal tem
apresentado restrições, especialmente, para monogástricos. Foram observados
ganhos em peso reduzidos, problemas com fertilidade e queda de pêlos, em eqüinos,
porcos, coelhos e limitação no uso em peixes e galinhas. Em ruminantes, foram
detectados efeitos em menor escala e de magnitude variável em função de diferentes
aspectos. Tais problemas são atribuídos à mimosina, aminoácido não-protéico (β N
3-hiroxi-4 oxipiridil cr- acido aminopropiônico) de ocorrência natural em todas as
espécies do gênero Leucaena e em Mimosa pudica (Bray, 1994). Embora mimosina
seja um agente tóxico na planta, geralmente, não é o causador da toxidez (Jones,
1994). Os produtos primários da degradação ruminal da mimosina originam os
isômeros 2-hydroxi-3(1H)piridina ou 3-hydroxi-4(1H)piridina (2,3 ou 3,4 - DHP)
178
que efetivamente produzem a toxidez. Seu acúmulo, no animal, pode causar queda de
pêlos, redução no ganho em peso, ulcerações no esôfago e rúmen e alterações na
tireóide (Hegarty et al., 1964). A produção do isômero 3,4 DHP ocorre tanto no
processo de degradação da mimosina no rúmen como nas folhas, após a colheita,
pela ação de enzimas. Mimosina e seus isômeros, quando não degradados no rúmen,
podem ser identificados no plasma sangüíneo, fígado, rins, bem como nas fezes e na
urina. Amostras de fezes, urina e soro sangüíneo são empregadas para verificação da
presença de DHP e sua correlação com efeitos tóxicos (Jones e Megarrity, 1983;
Jones e Hegarty, 1984; Franzolin Neto e Velloso, 1986b).
O DHP é reconhecido como um análogo estrutural do aminoácido tirosina e
seus produtos neurotransmissores, dopamina de noradrenalina, encontrados no
cérebro, agindo sobre o metabolismo do iodo. Como análogo à tirosina, apresenta
capacidade de inibir a tirosina carboxilase e tirosinase. (D’mello, 1992; Crouse et al.,
1962 apud Kumar & D’mello, 1995), levando a efeito bociogênico. Como
conseqüência, produz acentuada depressão nos teores dos aminoácidos iodados
triiodotironina (T3), proveniente da conversão da tiroxina (T4). Maior parte da T3
circulante é derivada da desiodinização periférica da T4 pelas enzimas 5’
desiiodinase (Dikson, 1993).
Jones & Hegarty (1984) verificaram que reduções no ganho de peso em
animais que consumiam Leucaena estavam associadas à diminuição da T3 no soro
sangüíneo, indicando efeitos da mimosina quando os valores assumiram 1 nmol.L-1
(equivalente a 65,1 ng.dL-1). Os autores relatam que o indicador T3 apresenta a
vantagem sobre a T4 em função de uma resposta mais imediata à ação tóxica do
DHP. Berry et al. (1983) afirmam que a T3 apresenta maior potencial biológico sobre
a taxa de crescimento corporal do que a T4. A potência da T3, in vivo, chega a ser três
vezes maior que a T4 (Dikson, 1993).
O potencial de uso de Leucaena, em diversas regiões e, especialmente na
Austrália, foi limitado em função dos efeitos tóxicos observados nos animais,
179
gerando menor consumo e efeitos subclínicos que reduziam de 30 a 50 % o ganho de
peso (Kumar & D’mello 1995; Dalzell et al., 2005). Inúmeros trabalhos também
evidenciaram efeitos severos em animais que consumiram Leucaena durante longos
períodos (Kumar & D’mello, 1995), por disfunção da tireóide. Destaca-se, em
fêmeas, a ocorrência de grande número de parições com natimortos (Jones et al.,
1976), redução de 15 a 25 % na taxa de parição (Jones et al., 1989; Falvey, 1976),
redução do peso ao nascimento (Hamilton et al., 1971), além das lesões, crescimento
anormal da tireóide, perda de apetite e dificuldade de locomoção de machos em
recria.
A concentração de mimosina em Leucaena apresenta valores variáveis em
função das frações botânicas da taxa do estádio de crescimento. Em períodos de
crescimento ativo a planta apresenta teores mais altos de mimosina nas folhas (Gupta
et al., 1992). Em condições de estresse hídrico, pode ocorrer a duplicação dos teores
de mimosina (Bray & Hoekstra, 1985). Segundo Bray (1994), os valores de
mimosina podem atingir, nas extremidades da planta em crescimento ativo, de 8 a
12%, em folhas jovens de 4% a 6% e, em vagens novas e sementes, de 4 a 5%, com
ampla variação dentro de espécies.
Jones (1994) promoveu levantamento identificando países onde os sintomas
tóxicos do DHP não eram verificados. Trabalhos prévios, comparando o efeito de
dietas frescas e exclusivas de folhas de Leucaena, indicaram diferenças na
concentração de DHP na urina, tiroxina no soro sangüíneo (T4), tamanho da tireóide
e lesões do esôfago entre cabras australianas e havaianas (Jones & Megarrity, 1983).
Essa constatação foi atribuída à existência de organismos no rúmen dos animais
havaianos que degradavam o DHP. No México, e em alguns países da América
Central e do Sul os efeitos da mimosina e de seus compostos secundários não
apresentavam sintomas em ruminantes, embora o consumo induzido ou acidental de
monogástricos expressasse evidências da ação tóxica da mimosina. Jones (1994)
ainda relata que amostras de urina de bovinos, provenientes do Brasil, apresentavam
180
em 50% dos casos presença de DHP, sugerindo a inexistência de bactérias ativas.
Posteriormente, o autor relata que trabalhos identificaram a presença da bactéria. No
Paraguai e na Venezuela, os resultados são controvertidos quanto a existência das
bactérias em ruminantes.
A introdução da bactéria ruminal, proveniente de cabras havaianas, com
capacidade de degradação do DHP possibilitou a superação dos efeitos tóxicos
existentes em Leucaena (Jones & Megarrity 1983; Quirk et al., 1988).
Posteriormente, Allison et al. (1992) identificaram uma nova bactéria de rúmen,
Synergistes jonessi, como sendo a protagonista na degradação do DHP. Sua produção
em escala comercial foi dominada, sendo amplamente inoculada e difundida pelos
rebanhos australianos (Klieve et al., 2002). Durante a seca do ano de 2003, foram
constatados casos de toxidez com mimosina em rebanhos, levando à morte animais
que seguiam o manejo preventivo (Dalzell et al., 2005). O autor conduziu trabalhos
que diagnosticaram que 52% dos animais avaliados, ingerindo proporções diferentes
de Leucaena, não apresentavam capacidade de degradação no rúmen do princípio
tóxico do DHP. O restabelecimento desta capacidade dependeu da reinoculação dos
animais.
Em pastos consorciados de B. brizantha com Leucaena, na região do Cerrado
brasileiro, e em condições controladas, em gaiolas, com percentuais crescentes da
leguminosa na dieta, Barcellos (2006) encontrou alterações nos valores de
triiodotironina (T3) no soro sanguíneo de bovinos, embora não tenham sido
observados efeitos clínicos nos animais. O autor sugere a ampliação dos estudos com
mimosina, especialmente quanto a introdução e avaliação da eficácia do uso da a
importação e viabilização da inoculação de animais com a bactéria S. jonessi
Além da possibilidade da inoculação de animais com S. jonessi, visando
prevenir o efeito do DHP, foram estudadas diferentes estratégias para uso de
Leucaena na alimentação animal. A aplicação de tiroxina em animais possibilitou
consumo normal e desempenho de bovinos consumindo dietas ricas em Leucaena
181
(Jones & Hegarty, 1984). Tem sido recomendada a restrição do consumo, limitando a
participação a 30% na dieta de bovinos, (Jones, 1994). Blunt & Jones (1977)
testaram a estratégia de pastejo intermitente, com períodos diferentes de acesso à
pastagem com Leucaena seguido de pastejo em áreas de gramínea pura, não tendo
sido eficaz na superação do problema da toxidez e depressão no ganho em peso. A
suplementação mineral com zinco (Zn) apresentou resultados no aumento de
consumo e menor número de lesões, embora não tenha causado efeitos sobre a
tiroxina sérica (Jones, 1994).
Há, ainda, a possibilidade, por meio de cruzamentos interespecíficos,
utilizando L. pallida, L. diversifolia ou L. pulverulenta que apresentam teores mais
baixos de mimosina, alcançar progênies com menor concentração de mimosina.
Entretanto, em alguns trabalhos verificou-se correlação genética positiva entre
mimosina e taxa de crescimento da planta, dificultando a possibilidade de conciliar
produção com baixos teores (Jones, 1994). Corrobora para ampliar a dificuldade de
seleção de novos híbridos o fato de mimosina em Leucaena estar associada à
resistência ao ataque de pragas (Bray, 1994).
182
inserção dessa leguminosa na cadeia de produção de carne. Para tanto, os resultados
apresentados na literatura sobre desempenho animal em dietas com a participação de
Leucaena, evidenciam, de forma direta, a qualidade dessa planta forrageira. Ao fazer
um apanhado sobre o potencial de produção de animal de leguminosas tropicais,
Mannetje (1997) reportou que a maior produtividade animal registrada com
leguminosas tropicais no mundo, ocorreu em pastos de leucena irrigados na
Austrália, com a impressionante marca de 2000 kg/ha.
A adoção de Leucaena na alimentação animal tem por objetivo incrementar a
oferta global de forragem e de proteína. Diferentes formas de ofertar a forragem
incluem o corte e fornecimento aos animais in natura ou na forma de feno, pastejo
em áreas exclusivas da leguminosa (bancos de proteína), complementando o pasto de
gramínea nativas e cultivadas ou em consórcio. Os sistemas de pastejo adotados
variam de controlado, com horas de acesso diário à leguminosa, lotação intermitente
ou contínua. A forma mais freqüente de uso são sistemas com lotação intermitente e,
preferencialmente, restringindo o consumo diário da leguminosa a 30% da dieta.
Nesse sentido, os períodos de ocupação devem ser menores que 10 a 12 dias na
estação chuvosa, dada a alta aceitabilidade e seletividade. Em geral, quanto maior o
período de ocupação dos piquetes, maior deverá ser o período de descanso. Segundo
Norton (1994), Leucaena deve participar na dieta com valores entre 30% e 50% ou
de 0,8% a 1,2% do peso corporal por dia para propiciar bom desempenho de bovinos,
ovinos e cabras que recebam dietas de baixa qualidade.
A utilização dessa leguminosa na complementação de pastos de gramíneas
gera resultados de grande impacto sobre a produção animal. Jones (1994) relatou
dados compilados de 13 experimentos desenvolvidos na Austrália e América Latina,
onde a inclusão da leguminosa na dieta ocorre em consumo puro ou em
complementação de pastagens nativas e cultivadas. No conjunto de 15 comparações,
houve incremento superior a 70% no ganho diário e peso vivo em oito situações,
quando comparada com a pastagem pura. Apenas em um ensaio não houve resposta a
183
incrementos em ganho de peso, sendo observados, nos demais, de 160 a 700g.
animal.dia-1 em resposta à complementação de pastagens nativas e de 370 a 670 g.
animal.dia-1 em pastagens cultivadas.
Na América Central e na Ásia, a utilização de Leucaena em regime de corte e
o fornecimento aos animais geraram bons resultados. Siebert et al. (1976), utilizando
novilhos de 137 a 168 kg, testaram o uso de cana picada com Leucaena e cana picada
com farinha de carne. Os dois tratamentos produziram resultados idênticos com os
animais atingindo ganhos de peso de 600g.dia-1.
A superação dos efeitos tóxicos da mimosina, indicado como depressor do
desempenho animal, obtido por práticas de manejo e pela inoculação de bactéria no
rúmen, elevou, de forma significativa, o desempenho animal em condições de
pastagens consorciadas na Austrália. Jones & Megarrity (1983) observaram
produções de 1420 kg de peso corporal.ha-1 ano em pastagens de capim-Pangola
(Digitaria decumbens Stent.) consorciado com Leucaena e 1330 kg em pastagens
puras fertilizadas com doses 300 a 600 kg.ha-1 ano de nitrogênio. Petty et al. (1994)
relatam que, após introdução da leguminosa em áreas irrigadas na Austrália, a
produção animal evoluiu de 800 kg.ha-1 para 1700 kg.ha-1.
Petty et al. (1998) verificaram que a suplementação com milho em pastagens
de leucena foi responsável pelo incrementar em 54% no ganho por animal, quando
comparado com pastagens exclusivas de Digitaria eriantha. A redução dos custos de
suplementação foi possível pela substituição do milho por 1,25 kg.dia-1 de melaço,
sem que houvesse redução no ganho diário.
No Brasil, Zoby et al. (1985) utilizaram banco de proteína de Leucaena como
complemento alimentar de fêmeas azebuadas na fase de recria em pastagem nativa.
A área para cada animal era de 0,3 ha de banco de proteína e 4,7 ha de pastagem
nativa. Os animais tinham acesso livre aos piquetes. Com a utilização do banco de
proteína, as fêmeas que, ao início do trabalho tinham 10 meses de idade e 136 kg de
184
peso corporal, atingiram 350 kg aos 27 meses. Na pastagem nativa exclusiva, atingiu
274 kg de peso corporal, condição corporal para cobrição aos 31 meses de idade.
Lourenço et al. (1996), em Nova Odessa, SP, avaliaram o desempenho animal
em pastagem de B. brizantha cv. Marandu exclusiva e em associação com L.
leucocephala. Nos tratamentos em associação, a Leucaena foi utilizada como banco
de proteína e em consórcio com a gramínea em faixas largas (11,25 m de gramínea e
3,75 m de Leucaena) e faixas estreitas (3,75 m de gramínea e 1,25 m de Leucaena).
Em 608 dias de pastejo, os ganhos em peso por animal e por hectare foram: 334
g.animal.dia-1 e 390 kg.ha-1 em pastagens de gramínea; de 464 g/animal/dia e 541
kg/ha complementado como banco de proteína e 457 g/animal/dia e 535 kg/ha
quando em faixas.
Manella et al. (2002) avaliaram o desempenho de bovinos Nelore em
pastagens de B. brizantha, suplementada durante todo ano, durante a seca, acesso a
banco de proteína L. leucocephala e pasto exclusivo. Verificaram ganhos médios
diários, durante um período de 314 dias, de 649, 562, 534 e 447 g.animal-1
respectivamente. Os valores são equivalentes e guardam a mesma relação com os
obtidos por Lourenço & Leme (1999).
Manella et al. (2002) ainda constataram que, durante as águas, os ganhos
obtidos em pastagens com Leucaena (741g.dia-1) não diferiram dos ganhos obtidos
nos animais do tratamento suplementados durante todo o ano (782 g.dia-1). Os
ganhos por animal, obtidos nos tratamentos com pastagem sem suplementação
(645g/dia) e suplementados na seca (584 g.dia-1), foram inferiores aos demais. A
produção por hectare teve o mesmo comportamento estatístico durante a estação da
águas. A produtividade animal obtida durante todo o período de avaliação foi de 598,
714, 739, e 835 kg.ha-1 para os tratamentos com pasto exclusivo, com acesso a
Leucaena, suplementada na seca e todo o ano. São ainda relatadas necessidades de
estudos para melhor aproveitar os ganhos compensatórios obtidos nas áreas com
Leucaena, por meio de ajuste da suplementação protéica e energética. Na
185
complementação deste estudo, foi sugerida a necessidade de suplementação protéica
para B. brizantha durante a estação chuvosa (Manella et al., 2003), existindo a
possibilidade de integração das estratégias de suplementação avaliadas para
maximizar a produção por animal e por hectare.
Barcellos (2006) conduziu estudos de desempenho animal, na recria de
fêmeas nelore, em pastos consorciados de Leucaena híbrida 11X25 com Brachiaria
brizantha cv. Marandu, na região do Cerrado. A implantação da Leucaena ocorreu
em associação com a cultura da soja. Utiliza-se a semeadura da Leucaena em faixas
de dois metros, contendo duas linhas espaçadas de um metro, ocupando 25% da área
total. Depois da colheita da soja promoveu-se a sobressemeada com a cv. Marandu.
Na fase de utilização da pastagem, adotou-se sistema de pastejo com lotação
intermitente (12 dias de ocupação e 36 dias de descanso). Os pastos exclusivos
proporcionaram lotações de 3,11 a 4,35 e de 3,11 a 4,58 novilhas.ha-1 nos pastos
consorciados, durante dois anos de avaliação (média de 218 dias.ano-1). O ganho
médio diário variou de 438 a 539 g.animal.dia-1, nos pastos exclusivos, e de 530 a
694 g.animal.dia-1 nas pastos consorciados. Os incrementos no ganho médio diário,
na produção por animal e na produtividade, quando comparado com o desempenho
animal em pasto exclusivo de gramínea, foram superiores. O acréscimo no ganho
médio diário de peso foi de 25% e a produtividade foi elevada em 33% (412,5 kg.ha-
1
), em relação à pastagem pura (309 kg.ha-1), no mesmo nível de fertilização
nitrogenada (60 kg de N.ha.ano-1). O consumo adicional de proteína por animal,
proporcionado pela leguminosa, variou de 402 a 616 g.animal.dia-1. Os incrementos
obtidos no desempenho animal (g.dia) e na produtividade na pastagem consorciada
resultaram em maior eficiência em termos de kg de peso corporal (PC).kg-1 de N
aplicado. O valor obtido, na média de dois anos de avaliação, de 3,33 kg PC.kg-1 de
N aplicado permitiu retorno bioeconômico da fertilização nitrogenada em pastagens
consorciadas com Leucaena,, não sendo observado o mesmo comportamento para as
pastos exclusivos, com valor, médio, de 1,63 kgPC.kg-1 de N aplicado.
186
Em regiões do semi-árido brasileiro o cultivo de espécies forrageiras, nativas
e exóticas, vêm sendo difundido para suplementação volumosa e protéica
(Albuquerque, 1999). A integração se sistemas tradicionais com uso do recurso
natural forrageiro da Caatinga, na alimentação de bovinos e ovinos, e a
complementação com volumosos (capim-buffel) e uma fonte protéica vegetal deu
origem ao sistema denominado de CBL (Caatinga+buffel+Leucaena). A utilização
estratégica do capim-buffel na estação seca permitiu incrementos no peso corporal de
bovinos da ordem de 57 %, quando comparado com o uso exclusivo da Caatinga ao
longo de todo o ano. A inclusão do capim-buffel e suplementação na seca, com feno
de Leucaena ou pastejo direto, o peso final foi 84% superior ao modelo tradicional.
Estima-se que a receita líquida deste modelo de exploração, considerando módulos
de 100 ha, possa ser oito vezes maior que a obtida com uso exclusivo da Caatinga
(Araújo et al., 2001).
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352-356.
197
CAPÍTULO 11
ALFAFA
Medicago sativa
1- INTRODUÇÃO
A alfafa (Medicago sativa L.) é a mais antiga planta forrageira que se tem
conhecimento. Utilizada em todo o mundo, é considerada uma das mais importantes
forrageiras, devido a abrangência da área explorada e por reunir algumas das mais
importantes características forrageiras, como alta produtividade, elevado teor de
proteína, alta digestibilidade e elevado potencial de consumo animal (Carvalho e
Vilela, 1994; Vilela, 2001). Também apresenta alta concentração de vitaminas A, E e
K e de minerais (principalmente cálcio, potássio, magnésio e fósforo), além de
possuir capacidade de fixação de nitrogênio no solo. Nos Estados Unidos (EUA) e
Argentina é o volumoso mais utilizado na alimentação de vacas leiteiras, podendo ser
fornecida aos animais sob a forma conservada (feno e silagem), sob a forma de verde
picado ou em pastejo.
No Brasil, vem ocorrendo um processo de intensificação dos sistemas de
produção de leite, principalmente, nas bacias leiteiras das Regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste. Nestes sistemas são utilizados animais de maior potencial genético,
que demandam a utilização de alimentos de alto valor nutritivo (Vilela, 1992). A
alfafa é uma boa opção para esses sistemas, já que os resultados de pesquisa obtidos
na Região Sudeste mostram que essa forrageira apresenta excelente potencial para
produção de leite, podendo suportar 3,1 UA.ha-1 e proporcionar produção média de
198
leite de 20 kg.vaca.dia-1 (Vilela, 1994; Vilela, 2001).
O cultivo da alfafa no Brasil ainda é incipiente e está concentrado na Região
Sul, sendo explorados cerca de 26.000 ha (Pereira et al., 2001). Os principais fatores
que impedem a sua expansão são a pequena disponibilidade de informações
tecnológicas sobre sua exploração em condições tropicais, e a falta de cultivares
adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas do Brasil.
Atualmente, diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil vêm
desenvolvendo pesquisas com essa importante forrageira, disponibilizando
informações valiosas para o sucesso de seu cultivo nos trópicos. Também encontra-
se em andamento um programa de melhoramento genético coordenado pela
EMBRAPA, que visa obter novas cultivares para corte e, ou pastejo, destinadas às
diferentes regiões do Brasil.
199
posteriormente difundida para os Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e
Minas Gerais (Fontes et al., 1994).
O gênero Medicago é classificado em quatro subgêneros (Medicago,
Lupularia, Orbicularia e Spirocarpos), os quais compreendem um total de 55
espécies (21 perenes, 33 anuais e uma de longevidade variável). O subgênero
Medicago compreende quatro seções (Falcago, Arborea, Marinae, e Suffruticosae), e
as principais espécies cultivadas pertencem à seção Falcago, subseção Falcatae, que
é composta pelas espécies falcata, sativa, glomerata, glutinosa e prostrata (Lesins e
Lesins, 1979). Nessas espécies existem inúmeras possibilidades de intercruzamentos
entre as formas diplóides e, ou tetraplóides, sendo esse complexo de espécies
denominado “complexo Medicago sativa”. Dentro desse complexo, alguns autores
dão uma classificação em espécies, outros em subespécies, já que não existem
barreiras de hibridação. A única barreira para troca de genes entre as espécies do
complexo M. sativa é a ploidia, que pode ser contornada pela produção de gametas
diplóides não-reduzidos (Quiros e Bauchan, 1988).
200
algumas espécies perenes alógamas, mas normalmente as plantas necessitam da
presença de insetos para a polinização e fecundação (Quiros e Bauchan, 1988).
3- CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA
201
A alfafa apresenta folhas trifolioladas dispostas de forma alternada no caule da
planta, com estípulas delgadas junto aos pecíolos. Os folíolos apresentam forma
ovalada ou arredondada, com bordas da parte superior serrilhadas (Teuber e Brick,
1988). A planta quando madura apresenta de 5 a 25 ramificações no caule, com
altura variando de 60 a 90 cm. Possui coroa que se origina a partir do crescimento
contrátil do hipocótilo e da parte superior da radícula, fazendo com que o nó
cotiledonar se posicione sob a superfície do solo. Sua inflorescência é em racemos
axilares, com 5 a 15 flores de cor púrpura a violácea. O fruto é uma vagem
espiralada, com tamanho e número de sementes dependendo do tipo de fecundação,
sendo a fecundação cruzada aquela que produz maiores frutos (Monteiro, 1999).
Seu sistema radicular apresenta, normalmente, uma raiz pivotante que pode
penetrar no solo a profundidades superiores a 9 metros (Barnes e Sheaffer, 1995) e
coroa posicionada na região superficial do solo. Essa coroa e as raízes são
importantes no processo fisiológico de crescimento, já que são os locais de
armazenamento de reservas orgânicas, utilizadas na recuperação das plantas após
corte ou pastejo. Neste caso, as condições ambientais e de manejo favoráveis ao bom
desenvolvimento do sistema radicular e da coroa podem favorecer o crescimento da
parte aérea da alfafa (Monteiro, 1999). A coroa tem importância devido ao papel no
desenvolvimento de novos caules após cada corte ou pastejo. A morfologia da coroa
também está relacionada com a produção e a persistência, uma vez que influencia a
vulnerabilidade da coroa às injúrias mecânicas e climáticas e ao ataque de várias
doenças e insetos.
O caule é o resultado da atividade meristemática do ápice, e é definido
longitudinalmente pelo nós e entrenós, e lateralmente pelas folhas, ramificações
axilares e flores (Crochemore, 1998). A parte aérea da alfafa é composta por dois
tipos de caules que diferem quanto ao local de origem. Da região da coroa surgem
caules basilares, oriundas de gemas adventícias, e da axila das folhas são formados
202
caules superiores (Dall´Agnol e Scheffer-Basso, 2000). O desenvolvimento da flor
começa pela transição do crescimento vegetativo em crescimento reprodutivo de
alguns brotos. Na primavera essa transição ocorre entre o 10o e o 14o nó do caule, e
no verão entre o 6o e o 10o nó, e pode ser reconhecida por uma protuberância do
tecido meristemático na axila do primórdio foliar mais próximo do ápice do broto. O
crescimento do caule é normalmente indeterminado e o ápice continua a diferenciar
órgãos vegetativos e florais até a senescência do caule ou sua remoção (Barnes et al.,
1972).
A subespécie M. sativa ssp. sativa possui flores violetas ou azuis, raiz pivotante,
porte ereto e vagens espiraladas, com dormência de outono altamente pronunciada, e
tolerante às baixas temperaturas (Crochemore, 1998; Bouton, 1999). Já a subespécie
M. sativa ssp. falcata tem flores amareladas, porte prostrado, raízes fasciculadas,
vagens retas ou em forma de foice, às vezes enroladas em espiral, sendo resistente ao
frio e caracterizada por uma remarcável dormência invernal. A cultivar de alfafa
Crioula, que ocupa quase a totalidade da área cultivada no Brasil, possui flores
violetas (Figura 2), raiz pivotante, porte ereto e vagens espiraladas.
As flores são em número de cinco a quinze e pequenas, dispostas em racemos
abertos. O fruto da alfafa é um legume, enrolado em espiral de três a cinco voltas e
indeiscentes, onde pode haver um número variável de sementes de cor variando do
amarelo-claro ao marrom-escuro (Honda e Honda, 1990).
203
Figura 2 - Inflorescência de Medicago sativa cv. Crioula. Goiás, 2003.
4 - CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
204
pH e reduzir o potencial de toxidez de Fe e Al (Cihacek, 1994). Na Região Sul do
Brasil, recomenda-se que o pH do solo seja de 6,5 para o cultivo de alfafa, e no
Sudeste, a correção de acidez está baseada na saturação por bases, com valor de 80%,
tanto para formação como para manutenção da cultura (Werner et al., 1986; Rassini
et al., 2003).
Outro aspecto importante é a fixação biológica do nitrogênio, que permite a
eliminação da necessidade do uso de adubos nitrogenados, reduzindo assim os custos
de produção.
4.2 - Solo
Para que a alfafa possa expressar todo seu potencial produtivo, é necessário
que o solo seja de estrutura média (areno-argiloso), profundo, bem drenado, sem
camada de impedimento (compactação). O lençol freático deve estar situado a mais
de dois metros de profundidade, em razão de o sistema radicular da alfafa atingir,
freqüentemente, mais de dois metros de profundidade. Áreas cujo solo não preencha
esses requisitos terão custos de produção elevados, sendo o processo de escolha da
área para exploração da cultura um dos aspectos mais importantes para o produtor
(Rassini et al., 2003). É aconselhável o uso de áreas relativamente planas e pouco
susceptíveis à erosão (Oliveira e Oliveira, 1999).
205
pelas pragas e doenças, principalmente nas folhas, provocam diminuição na relação
folha:caule com reflexos negativo na qualidade da forragem, elevando o teor de
fibras e diminuindo a concentração de PB (Marten et al., 1988). A susceptibilidade a
pragas e doenças pode, em muitos casos, ser a principal causa da baixa persistência
dessa cultura.
4.3.1 - Pragas
206
(Acyrthosiphon pisum) – são pulgões de corpo mole com coloração variando de
verde-claro a escuro; (iv) pulgão-das-leguminosas (Aphis craccivora) – as ninfas são
de coloração verde-escura e opaca, recobertas com cera, enquanto os adultos são
negros e brilhantes, contrastando com partes esbranquiçadas das antenas e patas.
No controle de pulgões na cultura da alfafa, deve-se dar preferência por
métodos de controle cultural e, ou biológico, e somente em último caso utilizar o
controle químico. Em muitas situações é mais conveniente antecipar o corte ou
pastejo na alfafa, do que realizar controle químico, entretanto, isso vai depender do
estádio de desenvolvimento da cultura. O controle das pragas de alfafa deve ser feito,
preferencialmente, pela utilização de cultivares resistentes, como a cultivar Crioula,
que apresenta boa adaptação às condições edafoclimáticas da maioria das regiões do
Brasil.
4.3.2 - Doenças
207
As doenças podem ocorrer o ano todo, entretanto, são mais severas no período
chuvoso, principalmente em regiões que apresentam temperaturas e umidade relativa
do ar elevadas nesse período (Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste). Nos ensaios da
RENACAL conduzidos no Sudeste, observou-se, com exceção da mancha-de-
leptosferulina, que a incidência de doenças foi mais freqüente durante o período
chuvoso. Em Minas Gerais, Pereira et al. (2003) verificaram que a mancha-de-
leptosferulina ocorreu durante o ano todo, porém com maior severidade nos períodos
mais frios do ano.
A cercosporiose ocorre em regiões e épocas com predominância de
temperaturas elevadas, afetando folhas e caules. Primeiramente, formam-se manchas
pardo-escuras nas folhas inferiores, depois, progressivamente, nas folhas superiores e
no caule. As lesões são circulares, de 2 a 6 mm de diâmetro, com margens irregulares
e circundadas por um difuso halo amarelado. A mancha-de-leptosferulina apresenta
sintomas que se manifestam, preferencialmente, nas folhas mais novas, e nos
pecíolos. No início as lesões são pequenas, escuras; em seguida podem evoluir,
aumentando de tamanho (1 a 3 mm de diâmetro) e tomando uma configuração
ocular, tornando-se pardo-claras no centro, bordejadas de pardo-escuro e circundadas
por halo amarelado. Sob condições ambientais favoráveis, as lesões aumentam de
tamanho e podem coalescer, provocando queima das folhas e desfolhação precoce da
planta (Kimati, 1999).
A ferrugem ocorre com mais freqüência em regiões onde predominam
temperaturas elevadas. Os sintomas são pequenas pústulas de urediniósoporo, pardo
avermelhadas, circulares, que rompem a epiderme em ambas as faces da folha; tais
pústulas podem formar-se também no pecíolo e mais tarde, nos caules, tendendo,
nestas, a serem alongadas. A antracnose ocorre onde predominam temperaturas de 20
a 28 oC e alta pluviosidade. As lesões são tipicamente deprimidas, escuras, elípticas,
localizadas nos caules, cobrindo-se com frutificações escuras, os acérvulos; à medida
que aumentam de tamanho, coalescem, podendo estrangular todo o caule,
208
provocando sintomas indiretos de murcha e seca das partes aéreas. Os sintomas na
lâmina foliar localizam-se preferencialmente nas nervuras, na forma de lesões
alongadas, escuras e deprimidas, como no caule, que tendem a sofrer perfurações
(Kimati, 1999).
O controle das doenças de alfafa deve ser feito preferencialmente pela
utilização de cultivares resistentes, como a cultivar Crioula. Outra medida de
controle, para doenças restritas às folhas e, ou caules, é a realização do corte ou
pastejo na época correta, ou um pouco antecipada, para evitar prejuízos ocasionados
pela queda prematura das folhas doentes que podem aumentar o inóculo
remanescente da doença na cultura, após cada corte (Kimati, 1999). Para as doenças
que afetam o sistema radicular há necessidade de rotação de culturas.
Pesquisas conduzidas pela Embrapa Gado de Leite mostram que sob condições
de irrigação e adubação intensiva é possível obter com essa forrageira produções
anuais de massa seca de até 26,872 t.ha-1 (Fontes et al., 1993). Outro importante fato
observado nessas pesquisas foi a boa distribuição da produção de forragem ao longo
do ano. Assim, na época da seca, sob condições de irrigação, a produção média da
alfafa variou de 30 a 40% do rendimento médio anual, indicando essa leguminosa
como recurso forrageiro alternativo para o rebanho leiteiro durante o período da seca,
quando o crescimento das espécies tropicais, mesmo em condições de irrigação, é
baixo.
209
Uma característica que destaca a alfafa entre outros alimentos volumosos, é
seu valor nutritivo. Assim, a produção de proteína digestível é aproximadamente o
dobro da produção do trevo branco e quatro vezes a da silagem de milho. Pesquisas
conduzidas na Embrapa Gado de Leite mostraram que os teores médios de proteína
bruta (PB) de 32 cultivares de alfafa, registrados durante o período da seca e das
águas foram 28,7 e 26,7%, respectivamente. Quando se considerou apenas folhas, a
concentração média de PB foi de 32,9 e 34,8%, respectivamente, nas estações da
seca e das águas. Os teores de PB nas folhas foi em geral 64% superiores aos valores
observados no caule, realçando a importância de se manter, pelo manejo adequado,
maior proporção de folhas na forragem colhida, obtendo-se, assim, um alimento de
alto valor nutritivo, principalmente durante o período da seca, quando a qualidade
das espécies tropicais cai acentuadamente. Nesses estudos (Botrel e Alvim, 1997) foi
constatado que o teor de PB na forragem da alfafa é maior durante a época da seca
em relação à época das chuvas. Esse fato está provavelmente associado com a menor
proporção de folhas verificada durante a estação das águas ocasionada pela maior
ocorrência de doenças foliares nessa época do ano, diminuindo a qualidade da
forragem pela senescência e queda das folhas.
210
fator limitante para o uso de alfafa em alimentação animal (Vieira et al., 2001).
Também não há relatos nos trabalhos em pastejo com alfafa, realizados no Brasil,
sobre a ocorrência de timpanismo (Vilela, 1994; Vilela, 2001).
211
RNC, do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC
(http://www.agricultura.gov.br/images/MAPA/cultivares/snpc_06.htm), e podem ter
suas sementes comercializadas no Brasil. Entretanto, estudos sobre características
agronômicas dessas cultivares são encontrados apenas para Monarca e Trifecta
(Botrel e Alvim, 1997; Botrel et al., 2001; Botrel et al., 2000; Ferreira et al., 1999;
Ferreira et al., 2000), com destaque para a Monarca, que apresentou boa produção de
forragem em estudos realizados em Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina.
Existem outras cultivares introduzidas de outros países, uma vez que foram
avaliadas no Brasil e apresentaram boa adaptação ao cultivo em algumas regiões do
país, (vide tópico 8.2), entretanto, essas cultivares ainda não podem ter suas sementes
comercializadas, já que não estão inscritas no RNC.
212
O repouso invernal é uma característica genética da alfafa que a permite se
manter em estado latente durante o período de baixas temperaturas e de ocorrência de
geadas, devido ao acúmulo de carboidratos de reserva em suas raízes e coroa
(Rossanigo et al., 1995) durante os períodos favoráveis de crescimento. Esses
carboidratos são utilizados como fonte de energia para promover a rebrotação na
primavera, época que cessam as condições de inverno rigoroso nas regiões de clima
temperado.
As cultivares de alfafa apresentam padrões de crescimento invernais variáveis.
A resistência ao frio é caracterizada pela capacidade da planta paralisar o seu
crescimento sob regime de dias curtos. As cultivares com maior intensidade de
dormência invernal apresentam diminuição do crescimento em dias curtos
(Crochemore, 1998), enquanto as cultivares não-dormentes continuam crescendo
com as baixas temperaturas do inverno e dias curtos. Nos Estados Unidos, a
classificação de dormência das cultivares é realizada por meio de uma escala
denominada FDR (fall dormancy rating), que varia de 1 a 11 (Teuber et al., 1998), e
é baseada em uma equação de regressão obtida pela Universidade da Califórnia.
Entre as cultivares com diferentes intensidades de repouso invernal (GRI),
verificam-se diferenças contrastantes. Cultivares com valores na escala 8 e 9 (menor
dormência invernal) apresentam caules de crescimento ereto e dificilmente superam
70 cm de altura. Já as cultivares com maior dormência invernal tem, em suas
primeiras etapas de desenvolvimento, um crescimento semi-rasteiro dos caules e
depois crescimento de caule mais ereto, podendo alcançar altura de 85 a 90 cm
(Rossanigo et al., 1995). Outra diferença é que cultivares de maior dormência
invernal ou intermediária possuem maior tamanho de coroa e número de caules por
planta quando comparados com cultivares de menor dormência invernal ou sem
dormência.
213
5 - FORMAS DE UTILIZAÇÃO
5.1 - Feno
214
condições, permite que essa forrageira seja fornecida aos animais como forragem
verde o ano todo (Rassini et al., 2003).
5.3 - Ensilagem
5.4 - Pastejo
215
em regiões tropicais (Vilela, 1994; Vilela, 2001). Nesse trabalho, Vilela et al. (1994;
2001) utilizaram vacas pura Holandesas, que receberam como única fonte de
alimento pasto de alfafa. A produção média de leite foi de 20,0 kg.vaca.dia-1,
atingindo no início da lactação 23,6 kg.vaca.dia-1, sem comprometer o peso corporal
e a eficiência reprodutiva dos animais. A capacidade de suporte do pasto de alfafa foi
de 3,1 vacas.ha-1.
Apesar de no Brasil a maior utilização da alfafa ser na forma de feno, em países
como a Argentina em torno de 90% das áreas de alfafa são destinadas ao pastejo, e
76% desses pastos são consorciados com gramíneas das espécies Festuca
arundinacea, Dactylis glomerata, Bromus unioloides, Phalaris aquatica e Agropyron
elongatum (Hijano e Basigalup, 1995).
6 - MANEJO DA ALFAFA
216
O preparo do feno pode ser dividido nas seguintes etapas: corte, secagem e
armazenamento. O corte deve ser realizado pela manhã depois da evaporação do
orvalho, quando o tempo estiver favorável e livre da possibilidade de chuvas. A
forragem cortada é secada ao sol ou à sombra para que sofra dessecação lenta e
gradual.
Na secagem ao sol, a forragem é mantida espalhada no terreno, onde é
periodicamente revirada durante algumas horas, para que ocorra murchamento
superficial. Em seguida, a forragem deve ser enleirada para que a perda de umidade
seja mais lenta. No dia seguinte, as leiras devem ser novamente espalhadas para
receber mais algumas horas de sol, e em seguida deve-se juntar a forragem em
montes maiores, deixando-os secar até atingir o ponto de enfardamento. Já na
secagem à sombra, a alfafa deve ficar um dia exposta ao sol, sendo em seguida
transportada para um galpão, onde é espalhada em estrados de madeira em camadas
nunca superiores a 50 cm, devendo ser reviradas algumas vezes durante o dia para
evitar que ocorra fermentação (Nuernberg et al., 1990). O ponto de enfardamento
(prensagem) da forragem para posterior armazenamento ou transporte, na prática, é
observado quando, ao torcer com as mãos uma quantidade de alfafa seca, não se note
umidade (umidade entre 15 e 20%) (Rassini et al., 2003).
O manejo do corte da alfafa para produção de feno ou forragem verde, deve
ser feito levando-se em consideração as relações entre os estádios vegetativos e
reprodutivos e a relação destes com os rendimentos de massa seca, com a qualidade
de forragem e com as reservas de carboidratos nas raízes e coroa da planta. Após a
semeadura da alfafa, o primeiro corte deve ser feito entre 70 e 80 dias, quando a
planta estiver com floração completa. Os demais cortes, tanto para produção de feno
ou forragem verde, devem ser realizados quando houver 10% de plantas florescidas
(aparecimento das primeiras flores). A altura do corte deve ser de 8 a 10 cm. No
período de inverno pode não ocorrer florescimento, nestes casos a alfafa deve ser
217
colhida quando a brotação da coroa (rebrotação basilar) estiver com 5 cm de altura
(Fontes et al., 1994). Durante o outono-inverno, o intervalo entre cortes,
normalmente, varia de 35 a 42 dias, enquanto na primavera-verão varia de 28 a 32
dias (Rassini et al., 2003).
6.2 - Pastejo
218
Nos trabalhos de pesquisa conduzidos na Embrapa Gado de Leite na Região
Sudeste, o manejo adotado foi de um dia de ocupação e 24 dias de descanso na
primavera/verão e 36 dias de descanso no outono/inverno. Constatou-se também que
bastaram oito horas de pastejo diário para os animais consumiram quantidade
suficiente de forragem para produzir em média, 20 kg.dia-1 de leite. Outras
informações de pesquisa sobre pastejo podem ser obtidas no tópico 8.3.
7 - ESTABELECIMENTO DA CULTURA
219
absorvida pela planta para máxima produção econômica, da quantidade de nutriente
suprida pelo solo e da porcentagem de recuperação do nutriente adicionado ao solo
como fertilizante. Diversos fatores, como estação de crescimento, cultivar, pH do
solo, potencial de produção do solo, manejo da cultura, modo e forma de aplicação
do fertilizante, dentre outros fatores afetam a resposta da cultura à aplicação de
fertilizantes. No estabelecimento de um nível ideal de fertilizante, as variáveis planta,
solo e ambiente devem ser visualizados como um sistema pouco provável de ser
homogêneo, em âmbito de fazenda, assim, recomendações de adubação exigem
julgamento hábil por parte do agricultor ou do técnico responsável pela cultura.
De preferência, a adubação na semeadura deve ser realizada de acordo com a
análise química do solo, e, quando disponível, deve ser utilizada a recomendação
oficial do Estado. Em São Paulo, a recomendação oficial (Boletim 100) diz que a
correção do solo (calagem) deve ser realizada para atingir níveis de saturação por
bases de 80% (Werner et al., 1996). Quanto ao fósforo, a recomendação é de 150,
130, 100 e 50 kg.ha-1 de P2O5, quando os níveis de P extraído por resina forem de 0-
6, 7-15, 15-40, e acima de 40 mg.dm-3, respectivamente. Para o potássio,
recomendam-se doses de 160, 130, 100 e 60 kg.ha-1 de K2O, quando os teores de K
no solo forem entre 0-0,7; 0,8-1,5; 1,6-3,0 e acima de 3,0 mmolcdm-3,
respectivamente. As recomendações de micronutrientes são de 3 a 5 kg.ha-1 de zinco;
1 a 3 kg.ha-1 de cobre; 1 a 1,5 kg.ha-1 de boro.
Uma recomendação geral, que é utilizada pela Embrapa Gado de Leite (Fontes
et al., 1994), é aplicar por meio de semeadoras-adubadoras, ou manualmente, nos
sulcos de semeadura, 600 kg de superfosfato simples (120 kg de P2O5), 120 kg de
cloreto de potássio (72 kg de K2O), 10 kg de bórax (1,1 kg B), 10 kg de sulfato de
cobre (2,5 kg Cu), 10 kg de sulfato de zinco (2,3 kg Zn) e 800 g de molibdato de
amônio (392 g Mo), por hectare.
220
O tratamento de sementes de alfafa com fungicidas é prática comum para
evitar o ataque de patógenos causadores do damping-off (morte de plântulas). Em
Piracicaba, SP, prejuízos grandes e perdas de estandes ocorreram devido à presença
dos fungos Rhizoctonia e Fusarium causando o damping-off. Dentre as práticas
avaliadas, o uso de fungicidas no tratamento de sementes e de solo, nas áreas muito
infestadas, foram os mais eficientes. O aumento na taxa de semeadura não foi eficaz
porque aumentou a competição intra-específica, além de contribuir para mortalidade
das plântulas, o que onera os custos devido ao elevado preço da semente de alfafa no
Brasil (Oliveira e Corsi, 1998).
221
presença de fungicidas existem algumas interações, não sendo recomendado o uso da
SEMIA 135 na presença do fungicida Iprodione.
Segundo recomendação da Embrapa Agrobiologia, a inoculação deve ser feita
com uma mistura de 250 g de inoculante comercial de Rhizobium (utilizar estirpes
testadas e aprovadas por órgãos competentes), com 200 a 300 ml de água, até formar
uma pasta homogênea. A seguir, esta pasta é misturada com 10 kg de sementes de
alfafa, até que todas sejam envolvidas por uma camada uniforme de inoculante. Para
melhorar a aderência, tem sido recomendado substituir a água por uma solução
açucarada, preparada dissolvendo-se sete colheres de sopa de açúcar cristal em um
litro de água. Em seguida, as sementes devem ser espalhadas e deixadas para secar
em lugar sombreado, fresco e arejado. As sementes assim inoculadas devem ser
semeadas no máximo no dia seguinte ao dia de inoculação, caso contrário, as
sementes devem ser reinoculadas.
Segundo Dall´Agnol e Scheffer-Basso (2000), também é recomendado,
sempre que possível, peletizar as sementes, já que esse processo protege o
Rhizobium, aumentando sua viabilidade. A peletização consiste, após a inoculação,
recobrir as sementes, no caso da alfafa, com calcário filler seco e limpo. Para maior
eficiência da peletização a inoculação deve ser realizada por meio de um preparo de
adesivo, feito com açúcar e água (proporção de 6:1), goma arábica a 40% ou polvilho
doce (6 a 7%), entre outros. Para cada 25 kg de sementes utilizam-se dois litros de
solução gomosa (adesivo), 625 g de inoculante e 10 kg de calcário filler. O calcário
filler deve ser colocado na mistura de uma única vez para se obter pellets mais
uniformes.
222
(Dall´Agnol e Scheffer-Basso, 2000). Em cultivos irrigados, a semeadura pode ser
realizada o ano todo, nas regiões de verão ameno do Sudeste Brasileiro. Entretanto, a
semeadura no final do verão (abril/maio), após a germinação da maioria das
sementes das plantas invasoras, e início de outono, é mais apropriada, já que o
controle de invasoras no outono-inverno fica mais facilitado, possibilitando o
crescimento mais rápido da alfafa (Fontes et al., 1994). Em regiões mais frias,
semeaduras outonais muito tardias podem resultar em morte das plântulas devido à
ocorrência de geadas rigorosas.
223
7.7 - Adubação de manutenção
8 - RESULTADOS DE PESQUISA
224
8.2 - Avaliação de cultivares para corte
O uso de alfafa para pastejo ainda é pouco estudado no Brasil, embora haja
trabalhos que indicam potencial técnico e econômico para esse fim, como observado
225
em Minas Gerais por Vilela (1994), onde o pastejo de alfafa por vacas em lactação
suportou até 3,1 UA.ha-1 com produção média de leite de 20 kg vaca-1 dia-1, sem
comprometimento do peso das vacas, capacidade reprodutiva e empanzinamento. No
Rio Grande do Sul, Costa e Saibro (1994) encontraram excelentes resultados no
acúmulo de carboidratos não-estruturais para o consórcio de alfafa e gramínea a uma
taxa suave de pastejo e altura do resíduo de 10 cm. Existem também relatos de
sucesso com o pastejo por eqüinos e ovinos.
Algumas características entre cultivares de alfafa que estão relacionadas à
maior ou à menor capacidade de suporte e ao pastejo em lotação contínua, que
mesmo entre as forrageiras próprias para fenação podem ser encontradas. As
características que se destacam como as mais relacionadas ao pastejo são: caules
prostrados, número de caules e coroa, área de coroa, produção de forragem, área
foliar remanescente e peso das raízes após desfolhação e concentração de
carboidratos não estruturais (Brumer e Bouton, 1991; Brummer e Bouton, 1992). A
elevação da coroa também foi relacionada com pastejo. Aquelas plantas que
elevaram a coroa sofreram mais injúrias durante o pastejo e tiveram menor
persistência (Oliveira, comunicação pessoal).
Oliveira et al. (2000), Perez et al. (2002) e Ferragine (2003) realizaram
trabalhos com o objetivo de iniciar a seleção de cultivares resistentes ao pastejo no
Brasil. Oliveira et al. (2001) mostraram que existem diferenças entre cultivares na
resposta ao pastejo. Foram avaliadas doze cultivares de alfafa sob condição de
pastejo, por quatro ciclos de curta duração. Observou-se que as cultivares Crioula
(sementes chilenas) e Pioneer 5312 foram as que apresentaram maior sobrevivência,
(39,9%) e manutenção de coroas. A melhor cultivar sob corte no primeiro ano, a
Pioneer XAI 32, foi uma das piores quando submetida ao pastejo com sobrevivência
de apenas 26,9%. Em relação à produção de forragem houve cultivares que se
apresentaram estáveis e outras não. Para a Crioula Chilena, a produção foi de 2,46;
2,41 e 2,60, para a Pioneer 5312 foi de 2,01; 1,38 e 1,74 e para a Pioneer XAI 32 foi
226
de 2,64; 1,69 e 1,74 t.ha-1.ciclo de massa seca, respectivamente para o primeiro ano
de corte, segundo ano de corte e para o pastejo sob lotação rotativa, mostrando que a
Crioula foi a mais estável e compensou a produção de forragem com as coroas e
caules remanescentes.
No Sul do Brasil, Perez et al. (2002) encontraram sobrevivência de 90, 65, 59,
55%, respectivamente para as cultivares ABT 805, Crioula (sementes chilenas),
Crioula Roque e Crioula Ledur. Ferragine (2003) encontraram sob lotação contínua
boas produções de forragem, mas em 295 dias de avaliação houve morte total das
cultivares Crioula (sementes chilenas) e CUF 101 ou baixa sobrevivência para as
outras cultivares. Sob lotação rotativa a produção foi menor, mas com sobrevivência
de 44,9; 34,4; 28,2; 27,6 e 24,9% para as cultivares ABT-805, Alfagraze, CUF 101,
Crioula (sementes chilenas) e Pioneer 5432. Apesar da baixa taxa de sobrevivência, a
cultivar Crioula novamente compensou a produção com os caules e coroas
remanescentes, apresentando a maior produção 18,3 t.ha-1 de MS em 295 dias, sob
lotação rotativa.
227
Tabela 1 - Produção anual de massa seca de forragem (PMS), de três cultivares de alfafa mais produtivas, em 14 locais
PMS
Local do ensaio Instituição -1
Cultivar t.ha Cultivar t.ha-1 Cultivar t.ha-1
Coronel Pacheco, MG Embrapa Gado de Leite Crioula 13,0 Monarca 11,9 P-30 11,8
Sete Lagoas, MG EPAMIG Crioula 20,0 P-30 19,6 Rio 16,8
Lavras, MG UFLA Crioula 17,5 P-30 16,3 P-5715 13,7
Governador Valadares, MG UNIVALE Crioula 10,3 Victoria 10,3 CY-9313 9,6
Pati do Alferes, RJ PESAGRO Crioula 14,2 P-30 14,0 Maricopa 13,8
Sertãozinho, SP APTA SW-8210 14,0 Monarca 13,9 P-5715 13,7
São Carlos, SP Embrapa Pecuária Sudeste Crioula 16,4 P-30 13,3 WL-516 12,5
Rio Verde, GO Fundação Rio Verde Crioula 1 9,8 Crioula 2 9,0 P-30 7,9
Eldorado do Sul, RS UFRGS Crioula 9,2 Rio 8,9 P-30 8,4
Bandeirantes, PR IAPAR P-30 22,9 WL-516 22,8 Crioula 21,3
Chapecó, SC EPAGRI Alto 13,9 BR-3 13,4 SW-8112 13,0
Areia, PB UFPB XA-132 17,1 Crioula 15,3 SW-14 14,4
Pentecoste, CE UFC SW-9301 15,2 P-30 14,4 Victoria 14,4
Manoel Vitorino, BA EBDA Cordobesa 18,9 P54H55 17,9 Victoria 17,1
228
Em estudo realizado pelo Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, SP, quatro
cultivares de alfafa (Monarca, Victória, P-30 e Crioula) foram submetidas a pastejos,
intercalados com períodos de descanso. Após a realização de oito ciclos de pastejo, a
produção de massa seca, na entrada dos animais, variou de 3.049 (Monarca) a 3.428
kg.ha-1 (Crioula), e a porcentagem de folhas de 40,9 (P-30) a 47,0% (Monarca). A
cultivar Crioula foi a que apresentou maior produtividade, e a que se mostrou mais
indicada para pastejo (Ruggieri et al. 2005).
A Embrapa desenvolve atualmente projetos de pesquisa com a finalidade de
introduzir o pastejo em alfafa nos sistemas intensivos irrigados destinados a
bovinocultura. O pastejo da alfafa possui vantagens muito relevantes em relação ao
uso exclusivo de gramíneas tropicais nesse tipo de sistema por três motivos: não
utiliza fertilizantes nitrogenados, um insumo usado em grande quantidade e muito
oneroso nos sistemas exclusivos de gramíneas tropicais, possui baixa estacionalidade
de produção e alta qualidade, que conseqüentemente reduz os custos com a
alimentação concentrada.
Em São Carlos, SP, as cultivares Crioulas, sementes multiplicadas no Rio
Grande do Sul e no Chile e a Crioula comercial Itapuã, foram as mais produtivas em
11 meses de avaliação, produzindo entre 20 e 22 t.ha-1 de MS (acima de 8 cm de
altura), com estacionalidade de produção bastante favorável, ao redor de 35 a 40% e
sobrevivência entre 80 e 100%. Apesar dos melhores resultados, essas cultivares
apresentaram plantas com coroas elevadas. Para as cultivares já adaptadas ao pastejo,
como a ABT 805, Maxigraze e Amerigraze, não foram observadas plantas com
coroas elevadas. Na FZEA/USP no município de Pirassununga, SP, as cultivares de
alfafa foram submetidas a cinco ciclos de pastejos, entre fevereiro e agosto, e as mais
produtivas foram a Crioula proveniente do Rio Grande do Sul, a Amerigraze, e a
Crioula Itapuã, com cerca de 8 t.ha-1de MS acumuladas nos cinco pastejos (acima de
8 cm de altura), a sobrevivência dessas cultivares não foram estatisticamente
diferentes entre si, mas variaram de 56 a 81%.
229
Nos experimentos conduzidos no Brasil com pastejo de alfafa e em algumas
propriedades no Noroeste Paulista que estão adotando o pastejo com as cultivares
Crioulas, não foi observado empanzinamento, uma grande preocupação dos
pesquisadores brasileiros dada a grande incidência de casos no exterior.
8.4 - Herbicidas
Os danos provocados pelas plantas invasoras nos alfafais são muito grande,
podendo inviabilizar a produção em algumas situações. Em trabalho realizado no
estado de Goiás, Silva et al. (2004) constataram que a ausência de controle das
plantas invasoras reduziu a produção de biomassa seca e a altura das plantas de alfafa
em 74,5% e 42,8%, respectivamente, quando comparado à testemunha (capinada).
Apesar disso, existem poucos herbicidas registrados para a cultura da alfafa no Brasil
devido à pequena área cultivada. Por ser um problema muito restritivo, vários
experimentos foram instalados para selecionar herbicidas que não provocassem
fitoxicidade na planta de alfafa e controlassem com eficiência as plantas daninhas de
folhas largas e estreitas.
Nos estudos realizados por Oliveira et al. (1997) foram selecionados para uso
na fase de estabelecimento, a partir do estádio em que as plantas possuíam de 3 a 5
folhas trifolioladas, os herbicidas imazethapyr e bentazon para o controle de folhas
largas, e fluazifop-butyl, cethodim, sethoxydim e haloxyfop-methyl para o controle
de folhas estreitas. Também constatou-se que no primeiro ano de exploração do
alfafal, se aparecerem novas infestações de plantas daninhas, os mesmos herbicidas
poderiam ser utilizados em intervalos de três meses entre uma e outra aplicação, e
após esse primeiro ano, além dos herbicidas indicados, o metribuzin também poderia
ser utilizado.
Silva et al. (2003) avaliaram em Minas Gerais, a seletividade e eficiência de
herbicidas latifolicidas no controle de plantas invasoras em fase de estabelecimento
230
na alfafa. Foram testadas duas doses de aplicação dos herbicidas fomesafen (150 e
225 g.ha-1), chlorimuron-ethyl (12,5 e 20 g.ha-1), imazethapyr (70 e 100 g.ha-1) e
MSMA (1.920 e 2.880 g.ha-1). Os herbicidas foram aplicados 25 dias após a
emergência e, três dias após, foram aplicados 250 g.ha-1do herbicida fluazifop-p-
butil. Constatou-se que os herbicidas apresentaram excelente controle das principais
plantas invasoras, acima de 91% até os 90 dias após a aplicação, exceto para
chlorimuron-ethyl na dose de 12,5 g.ha-1. As gramíneas Panicum maximum,
Digitaria horizontalis, D. insulares e Brachiaria decumbens foram controladas
eficientemente pelo fluazifop-p-butil, na dose única. Os herbicidas MSMA,
chlorimuron-ethyl e fomesafen causaram toxicidade inicial, sem danificar o
meristema apical, com boa recuperação das plantas de alfafa.
Em Goiás, Silva et al. (2004) realizaram dois ensaios para avaliar a eficiência
de herbicidas na cultura da alfafa. No primeiro ensaio foram testados os herbicidas
imazethapyr (100 g.ha-1), MSMA (4.320 g.ha-1), fomesafen (200 g.ha-1), bentazon
(720 g.ha-1), chlorimuron-ethyl (15 g.ha-1), imazamox (28 g.ha-1) aplicados em pós-
emergência da alfafa. Já no segundo ensaio foram avaliadas seis misturas de
herbicidas latifolicidas aplicadas sobre a parte remanescente da cultura, um dia após
seu corte: diuron (1.500 g.ha-1) + MSMA (2.880 g.ha-1); diuron (2.000 g.ha-1) +
MSMA (3.600 g.ha-1); diuron (1.500 g.ha-1) + paraquat (400 g.ha-1); e diuron (1.500
g.ha-1) + paraquat (500 g.ha-1). Constatou-se que os herbicidas imazethapyr, MSMA,
fomesafen, bentazon, chlorimuron-ethyl e imazamox foram seletivos à cultura da
alfafa e eficientes no controle de plantas daninhas. As misturas dos herbicidas diuron
+ MSMA e diuron + paraquat aplicados logo após o corte da alfafa causaram danos
às folhas e aos caules remanescentes, entretanto, as brotações surgiram isentas de
toxicidade, apresentando crescimento e desenvolvimento normais, e essas misturas
promoveram eficiente controle de plantas daninhas, e não afetaram o acúmulo de
biomassa seca e altura de plantas em relação à testemunha capinada.
231
8.5 - Estacionalidade de produção
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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238
CAPÍTULO 12
GÊNERO Stylosanthes
1 - INTRODUÇÃO
239
apresenta vários problemas advindos da chamada “monocultura do braquiarão”. Há,
por exemplo, relatos de ataque de Mahanarva spectabilis a essa cultivar, até então
tida como resistente às cigarrinhas (Paula-Moraes et al., 2006).
Outro fator preocupante é a perda da capacidade produtiva das pastagens.
Estimativas indicam que cerca de 80% das áreas com pastagem cultivada estão
degradadas ou em algum estádio de degradação (Barcellos, 1996). Atribui-se a perda
da capacidade produtiva a diversos fatores, dentre os mais importantes, o
estabelecimento de cultivares não adaptadas para o local, o manejo inadequado das
pastagens, insuficiência ou inexistência de correção e manutenção da fertilidade do
solo (Barcellos et al., 2001b; Vilela et al., 2004; Macedo, 2005).
Por serem plantas muito competitivas, fáceis de estabelecer e manejar, com
boa qualidade e outras características favoráveis, as braquiárias são as forrageiras
preferidas para o estabelecimento e, muitas vezes, são semeadas em locais
inadequados. O estabelecimento nessas condições provocou a chamada “Síndrome
da morte do capim-marandu”, que é atribuída ao excesso de umidade no solo e foi
observada, principalmente, na região Amazônica. Milhares de hectares foram
afetados por esse fenômeno, acarretando grandes prejuízos econômicos e ambientais
(Valentim et al., 2002).
Em relação à fertilidade do solo, a principal causa da diminuição da produção
de forragem, principalmente na região do Cerrado, é a deficiência de fósforo e de
nitrogênio (Barcellos et al., 2001b). Se a adubação com fertilizantes fosfatados em
grandes áreas é um problema, pior é a solução para a aplicação de nitrogênio. Esse
nutriente é facilmente perdido no sistema solo-pastagem, sobretudo por volatilização
de N-NH3 e pela desnitrificação (Catchpoole et al., 1983), portanto, a aplicação do
adubo nitrogenado deve ser feita periodicamente. Por outro lado, o Brasil importa
60% do nitrogênio que consome na agricultura e, em 2005, apenas na forma de uréia,
sulfato de amônio e nitrato de amônio, importou cerca de 1,1 milhão de toneladas
desse nutriente (Brasil, 2006a). A aplicação de apenas 50 kg de nitrogênio por
240
hectare ao ano, nos 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas no Cerrado,
implicaria em um aumento anual de 2,5 milhões de toneladas nas importações, o que
é impossível considerando-se o atual cenário do mercado mundial de adubos. Isso
demonstra que essa solução não pode ser aplicada de forma generalizada.
A degradação ambiental é fator preocupante na exploração pecuária, levando
em conta os danos diretos causados à natureza, em grandes extensões de área e
também à grande pressão da sociedade mundial sobre processos de produção que
degradam o meio ambiente, podendo, futuramente, tornar-se uma barreira comercial
aos produtos brasileiros. Segundo Macedo (2005), outro efeito da degradação de
pastagens é o deslocamento dos produtores em busca de novas áreas para abertura,
sobretudo onde o preço da terra ainda é baixo, aumentando o desmatamento, sob o
argumento dos elevados preços da recuperação ou renovação.
O desenvolvimento de alternativas para a manutenção ou para o
restabelecimento da capacidade produtiva das pastagens cultivadas é fundamental
para se alcançar a sustentabilidade e para a intensificação da atividade pecuária no
Brasil. A utilização de leguminosas para incorporação de nitrogênio da atmosfera e a
integração dos sistemas de produção de grãos e pecuária aparecem como opções
potencialmente viáveis para atender extensas áreas.
A utilização de leguminosas em pastagens, além da incorporação de
nitrogênio, também contribui para melhorar a qualidade da dieta animal.
Leguminosas são amplamente utilizadas em pastagens de regiões de clima
temperado, entretanto, em áreas tropicais, essa prática é pouco difundida. Spain
(1988) aponta algumas barreiras à adoção, entre elas a inexistência de germoplasma
adaptado para algumas regiões; conhecimento insuficiente sobre o manejo de pastejo
em pastos consorciados; falta de credibilidade entre os especialistas (extensionistas,
pesquisadores e professores) e entre os usuários (pecuaristas e empresários da área de
produção e comercialização de sementes), principalmente por fracassos ocorridos no
passado.
241
Paradoxalmente, a reduzida utilização de leguminosas forrageiras tropicais no
sistema produtivo brasileiro não reflete a grande variabilidade genética disponível e
avaliada nas instituições nacionais de pesquisa. Milhares de introduções foram
testadas nos últimos trinta anos, especialmente acessos pertencentes aos gêneros
Arachis, Cajanus, Calopogonium, Centrosema, Desmodium, Leucaena, Neonotonia,
Pueraria, Stylosanthes e Zornia. Somente na Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF,
foram introduzidos e avaliados mais de 5.000 acessos de leguminosas com potencial
forrageiro (Karia e Andrade, 1996).
Até novembro de 2006 estavam registradas no Ministério da Agricultura,
Pecuária e do Abastecimento (MAPA) 35 cultivares de leguminosas forrageiras
tropicais, pertencentes aos gêneros Arachis (duas cultivares), Cajanus (dez),
Calopogonium (uma), Centrosema (três), Leucaena (dez), Macroptilium (uma),
Neonotonia (quatro), Pueraria (uma) e Stylosanthes (três) (Brasil, 2006b). Outras
leguminosas tropicais foram lançadas antes da instituição do Registro Nacional de
Cultivares (portaria 527, de 31 de dezembro de 1997, publicado no D.O.U. de 07 de
janeiro de 1998), porém, por não terem sido comercializadas após 1997, não foram
registradas. Dessas 35 cultivares, estima-se que somente entre dez e quinze estão
sendo efetivamente comercializadas, a maior parte para utilização como adubo verde.
A flora brasileira é extremamente rica em leguminosas e é, inclusive, centro
de origem de diversas espécies que poderiam ser usadas no estabelecimento de
pastagens. Dentre estas leguminosas nativas, destaca-se o gênero Stylosanthes (Edye
et al., 1984; Karia e Andrade, 1996) que possui diversas espécies, amplamente
distribuídas pelo continente americano, apresentando grande variação de formas e
tipos, resultantes da evolução de ecótipos submetidos às diferentes condições de
clima, solos e pressões bióticas (Burt, 1984; Karia et al., 2002; Barros et al., 2005). A
maioria das espécies é colonizadora e tem como habitat regiões de baixa
precipitação, com solos de baixa fertilidade natural, pobres em cálcio e fósforo e com
elevado teor de alumínio (Paladines, 1974). Essas espécies também possuem grande
242
potencial de utilização em outros sistemas agrícolas, como adubo verde, planta de
cobertura das entrelinhas em culturas perenes, como planta para proteção do solo e
recuperação de áreas degradadas (Cameron e Chakraborty, 2004).
Segundo Edye et al. (1984), as principais espécies de Stylosanthes para a
formação de pastos em regiões tropicais são S. guianensis, S. capitata, S.
macrocephala, S. scabra, S. humilis, S. fruticosa, S. hamata, S. leiocarpa, S.
sympodialis e S. viscosa. Adiciona-se a essa lista, S. seabrana (caatinga stylo),
anteriormente classificada como S. scabra (Maass e Mannetje, 2002; Costa, 2006).
No Brasil, atualmente, somente as três primeiras espécies são utilizadas nos sistemas
de produção e são nessas que as pesquisas em melhoramento genético no país têm
concentrado os trabalhos.
243
delas encontradas apenas em território brasileiro. No estado de Minas Gerais foram
encontradas dezoito espécies (Costa e Ferreira, 1982).
S. capitata é nativo da América do Sul e encontrado na Venezuela, entre 7° N
e 10° N e 62° O e 65° O, no Brasil, entre 7° S e 22° S e 35° W e 55° W (Figura 1).
Ocorre com maior freqüência em áreas de vegetação de caatinga do nordeste
brasileiro, e também no Cerrado, em vegetação de campo limpo, campo sujo, campo
cerrado e campo rupestre (Costa, 2006). No Brasil pode ser encontrado na Bahia,
Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, São Paulo, Tocantins e no Distrito
Federal (Ferreira e Costa, 1979; Costa, 2006).
S. guianensis é a espécie que possui a distribuição mais ampla, ocorre desde o
México até a Argentina (Williams et al., 1984; Costa, 2006). No Brasil se distribui
pelos estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte, São Paulo, Tocantins e no Distrito Federal (Ferreira e Costa,
1979; Costa, 2006) (Figura 1).
A espécie S. macrocephala é de distribuição mais restrita, ocorre somente no
Brasil (Figura 1), e foi encontrada nos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí e no Distrito Federal (Ferreira
e Costa, 1979; Costa, 2006).
O gênero Stylosanthes pertence à subtribo Stylosanthinae, tribo
Aeschynomeneae, subfamília Papilionoideae, família Leguminosae (Polhill e Raven,
19811, citado por Mannetje, 1984). Foi estabelecido em 1788 por O. Swartz, com
duas espécies: S. procumbens (=S. hamata (L.) Taub.) e S. viscosa Sw e em 1938,
Vogel reconhecia quinze espécies divididas em duas seções: Stylosanthes
(=Eustylosanthes Vog.) e Styposanthes. A primeira seção agrupa as espécies em que
1
POLHILL, R. M. e RAVEN, P. H. Advances in legume systematics - Part 1. Kew, Royal Botanic
Gardens, 1981.
244
a flor não é sustentada por um eixo rudimentar e possui uma bractéola interna, como
em S. guianensis. Na segunda seção, estão as espécies em que as flores apresentam
um eixo rudimentar e, ou duas bractéolas internas, como em S. capitata e S.
macrocephala (Ferreira e Costa, 1979; Mannetje, 1984; Costa 2006).
S. capitata
S. guianensis
S. macrocephala
245
A distinção das espécies dentro do gênero tem sido baseada em várias
características morfológicas, como por exemplo: formato das brácteas, presença ou
ausência de xilopódio, número de artículos férteis do lomento, pilosidade do artículo
e do caule, tamanho e formato dos folíolos e das inflorescências, tipo de venação e
presença ou ausência de pilosidade nas vagens e tamanho do apêndice terminal no
artículo superior das vagens (Costa e Ferreira, 1982; Mannetje, 1984; Batistin e
Martins, 1988; Costa, 2006). Atualmente, outras técnicas, envolvendo análises
citológicas (Vieira et al., 1993) e moleculares, como eletroforese de proteínas de
sementes (Robinson e Megarrity, 1975); eletroforese de isoenzinas (Robinson et al.,
1980); Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP) (Liu e Musial, 1995);
Random Amplified Polymorphic DNA (RAPD) (Vieira et al, 1997); Amplified
Fragment Length Polymorphism (AFLP) (Sawkins et al., 2001); Internal
Transcribed Spacer Region (ITS) (Vander Stappen et al., 1998; Costa, 2006);
Sequence-tagget Microsatellites sites (STMS) ou Simple Sequence Repeat (SSR)
(Vander Stappen et al., 1999a) e polimorfismo do cpDNA (seqüência de DNA de
cloroplasto) (Liu e Musial, 2001), estão sendo utilizadas como estratégia para
auxiliar na taxonomia do gênero.
Segundo Maass e Sawkins (2004), apesar dos esforços da pesquisa, a
taxonomia do gênero é ainda bastante confusa. Entretanto, Costa (2006), com o
objetivo de esclarecer a confusão que se gerou em torno da taxonomia de
Stylosanthes, utilizou três técnicas para auxiliar na classificação das espécies: método
dicotômico tradicional, descritores da morfologia externa das plantas e filogenia
molecular. Como resultado desse trabalho, o autor propôs uma nova chave de
classificação, justifica o reconhecimento e as rejeições das espécies e descreve todas
as espécies reconhecidas do gênero. Esse é o estudo taxonômico mais completo já
feito para Stylosanthes e esclarece vários pontos, anteriormente muito confusos. A
proposta de Costa (2006) para a taxonomia do gênero, portanto, foi a adotada no
presente capítulo.
246
As controvérsias sobre a classificação das espécies eram bastante
pronunciadas em S. guianensis. Mohlenbrock (1958) dividiu a espécie em duas
subespécies, S. guianensis ssp. guianensis e S. guianensis ssp. dissitiflora. Mannetje
(1984) considerou diversas variedades botânicas dentro da espécie: var. guianensis,
var. marginata, var. gracilis, var. intermédia, var. robusta, var. longiseta e var.
dissitiflora. Ferreira e Costa (1979), Ferreira et al. (1986) e Costa (2006) consideram
que S. guianensis é formada apenas pelos espécimes que são classificados por
Mannetje (1984) como S. guianensis var. guianensis. Consideram ainda que a
espécie está dividida em quatro variedades botânicas: var. canescens, var.
microcephala, var. pauciflora e var. guianensis, esta última, denominada
anteriormente de var. vulgaris. As demais variedades de S. guianensis classificadas
por Mannetje (1984), são colocadas como espécies diferentes, S. acuminata, S.
gracilis, S. campestris, S. hippocampoides, S. grandifolia S. aurea e S. longiseta.
Devido a essa antiga indefinição sobre o assunto, freqüentemente se observa na
literatura o termo “complexo S. guianensis” para definir essas variedades e, ou
espécies. Os trabalhos mais recentes, utilizando polimorfismo de DNA, demonstram
que a classificação inicial de Ferreira e Costa (1979) era a mais adequada (Maass e
Sawkins, 2004). Agora, a proposta de Costa (2006) parece resolver definitivamente
essa questão.
3 - HISTÓRICO
247
dessa moléstia, em várias regiões do noroeste africano. Na Índia, S. fruticosa é
utilizada também na medicina popular, como analgésico e antiinflamatório, porém
esse efeito não foi confirmado por Malairajan et al. (2006).
Como forrageira, a Austrália foi o primeiro país a reconhecer o valor dessas
espécies e os registros sobre o uso de S. humilis naquele país datam de 1914 (Edye,
1997). Durante o início do século a espécie foi introduzida acidentalmente e se
naturalizou, cobrindo extensas áreas de savanas tropicais semi-áridas australianas. A
dispersão dessa espécie ocorreu naturalmente e também pelo estabelecimento por
fazendeiros. Por volta de 1970, foi estimado que a espécie havia se dispersado,
naturalmente, em meio milhão de hectares na região semi-árida da Austrália, além
disso, ocupava mais algumas dezenas de milhares de hectares de pastagens
cultivadas (Miller et al., 1997). Essa espécie ficou conhecida como Townsville stylo
ou Townsville lucerne.
No início da década de 1940 foi liberada a cultivar Schofield de S.
guianensis, para a utilização na região tropical úmida da Austrália. É considerada a
primeira variedade cultivada de estilosantes, liberada como produto da pesquisa,
embora sementes de S. humilis naturalizadas tenham sido comercializadas
anteriormente. No início da década de 1970, com a chegada do fungo Colletotrichum
gloeosporioides, extensas áreas de S. humilis foram devastadas pela antracnose. A
partir dessa época, foi ampliada a pesquisa com S. guianensis e outras espécies,
como S. hamata e S. scabra, o que resultou na liberação de diversas cultivares e
permitiu a permanência do gênero no sistema de produção (Miller et al., 1997).
No Brasil, espécies de Stylosanthes são conhecidas vulgarmente como
trifólio, meladinho, manjericão-do-campo, saca-estepe, alfafa do nordeste (Brasil,
1937) e recentemente de estilosantes. Segundo Edye (1997), o valor forrageiro do
estilosantes no Brasil foi reconhecido em 1933, entretanto, na publicação
Informações sobre algumas plantas forrageiras (Brasil, 1937), há relato de que em
1926, foi editado pela imprensa oficial do estado de Pernambuco um folheto sobre a
248
alfafa do nordeste, escrito por D. Bento Pickel. Naquela época já se dizia que a alfafa
do nordeste era “muito apreciada pelo gado vacum e cavallar” e era ressaltado o
potencial de utilização dessa espécie na produção animal.
Em 1933 foram recebidas do Departamento de Agricultura e Pecuária de
Queensland, pelo Departamento Nacional da Produção Animal do Ministério da
Agricultura, as primeiras sementes de alfafa de Townsville. Naquela ocasião, a
classificação botânica gerara dúvidas e essa introdução foi registrada como S.
mucronata ou S. sudaica. Essas sementes foram enviadas para a estação
experimental de Deodoro, no Rio de Janeiro, na época Distrito Federal, para as
avaliações agronômicas. Na época já foram relatados intensos ataques de antracnose
em estilosantes (Brasil, 1937). Posteriormente, dois acessos de S. guianensis
coletados no estado do Rio de Janeiro foram recomendados para utilização no Brasil,
com o nome de cultivar Deodoro e cultivar Deodoro II, entretanto suas sementes não
chegaram a ser comercializadas (Thomas e Grof, 1986). De qualquer forma, são
consideradas as primeiras cultivares brasileiras de Stylosanthes.
No início da década de 1970, quando houve grande incentivo governamental
para a formação de pastagens no Brasil Central, foi grande o interesse pela
consorciação de pastos de gramíneas com leguminosas, haja vista o sucesso dessa
prática na Austrália, que era considerada o modelo para a pecuária nas regiões
tropicais do mundo todo. Sementes das cultivares australianas Schofield, Cook e
Endeavour de S. guianensis foram importadas em grande volume e essas cultivares
foram recomendadas pelos órgãos oficiais de extensão rural, sem terem sido testadas,
efetivamente, para as condições brasileiras. Nessa época, também foi utilizada a
cultivar IRI 1022 (S. guianensis var. canescens), originária de germoplasma coletado
no estado de São Paulo e liberada pelo Instituto de Pesquisas IRI (anteriormente
IBEC Research Institute), entre 1965 e 1970 (Andrade e Karia, 2000). A IRI 1022 foi
a primeira cultivar brasileira a ser efetivamente comercializada e permaneceu no
mercado até o final da década de 1970 (Andrade et al., 2004).
249
A divulgação e uso de S. guianensis naquele período, quando não havia
preocupação com a antracnose, resultou num grande insucesso, pois não existia na
Austrália a variabilidade genética do fungo que ocorre no Brasil. Logo todas as
cultivares importadas eram muito susceptíveis à doença. Com o aumento da área
cultivada, o fungo se espalhou rapidamente e assim, o estilosantes era rapidamente
dizimado pelo ataque da doença. Reflexos desses insucessos são sentidos até hoje e
pode ser uma das principais explicações da resistência de muitos produtores para a
utilização de leguminosas (Spain e Vilela, 1990).
Foi da Austrália que as cultivares de espécies de Stylosanthes se difundiram
pelos países tropicais e subtropicais. Entretanto, a partir do final da década de 1970 e
até meados da década de 1990, o Centro Internacional de Agricultura Tropical
(CIAT) iniciou um intenso programa para o estabelecimento de pastagens tropicais.
Esse programa consistia em coleta e intercâmbio de germoplasma, avaliação e
seleção de forrageiras tropicais e em treinamento de pesquisadores para a formação
de equipes, de modo que todo o trabalho fosse feito em conjunto, sob a coordenação
do CIAT (Andrade et al., 2004). Esse programa ficou conhecido internacionalmente
como Red Internacional de Evaluación de Pastos Tropicales (RIEPT) e foi
fundamental para o crescimento da oferta de recursos genéticos e das pesquisas com
Stylosanthes e outras forrageiras tropicais (Andrade e Karia, 2000).
Com o trabalho da RIEPT e dos centros de pesquisa australianos, a oferta e a
especificidade das cultivares aumentaram e já se contabilizam 37 genótipos
disponibilizados ou recomendados em todo o mundo (Quadro 1). Alguns genótipos
foram comercializados com nomes distintos nos diversos países, como é o caso do S.
guianensis cv. Pucallpa, lançado no Peru, comercializado na China, inicialmente,
como Pia Hua Dou 184 e posteriormente como Reyan 2 - Zhuhuacao, na Tailândia
como Tha Phra e em outros países, como Malásia e Indonésia, é chamado de CIAT
184. Por outro lado, existem cultivares que são amplamente cultivadas em diversos
países e comercializadas com o mesmo nome, como é o caso da cultivar australiana
250
Verano de S. hamata, usado na Malásia, Tailândia, Indonésia, Índia e China (Hall e
Glatzle, 2004; Pathak et al., 2004; Phaikaew et al., 2004).
251
Quadro 1. Cultivares de espécies do gênero Stylosanthes
Espécie Cultivar País Ano Referência
S. guianensis Bandeirante Brasil 1983 Sousa et al., 1983a
Bela1 Brasil Brasil, 2006b
Cook Austrália 1971 Barnard, 1972
Deodoro Brasil Pré-1937 Loch e Ferguson, 1999
Deodoro II Brasil ? Loch e Ferguson, 1999
Endeavour Austrália 1971 Barnard, 1972
Grahan Austrália 1980 Register..., 1980a
IRI 1022 Brasil 1970? Loch e Ferguson, 1999
Mineirão Brasil 1993 Embrapa Cerrados, 1998
Nina Austrália 2003 Southedge Seeds, 2003
Pucallpa2 Perú 1985 Loch e Ferguson, 1999
Reyan 5 China 2000 Guodao et al., 2002
Reyan 7 China 2000 Guodao et al., 2004
Reyan 10 China 2001 Guodao et al., 2002
Reyan 13 China 2003? Guodao et al., 2004
Savanna EUA 1992 Williams et al., 1993
Schofield Austrália 1933? Barnard, 1972
Temprano Austrália 2003 Southedge Seeds, 2003
907 China 2003? Guodao et al., 2004
S. capitata Capica Colômbia 1982 Loch e Ferguson, 1999
S. capitata + S. macrocephala Campo Grande Brasil 2000 Embrapa Gado de Corte, 2000
Continua...
252
Quadro 1 – continuação...
Espécie Cultivar País Ano Referência
S. hippocampoides Comum Austrália 1965 Loch e Ferguson, 1999
(=S. guianensis var. intermedia) Oxley Austrália 1969 Barnard, 1972
S. hemihamata (= S. hamata) Amiga Austrália 1988 Eyles, 1989
Verano Austrália 1973 Register..., 1975
S. humilis Comum Austrália pré-1914 Loch e Ferguson, 1999
Gordon Austrália 1968 Barnard, 1972
Khon Khaen Tailândia 1984 Loch e Ferguson, 1999
Lawson Austrália 1968 Barnard, 1972
Paterson Austrália 1969 Barnard, 1972
S. macrocephala Pioneiro Brasil 1983 Sousa et al., 1983b
S. scabra Fitzroy Austrália 1980 Register..., 1980b
Q10042 Índia 1995 Loch e Ferguson, 1999
Seca Austrália 1976 Register..., 1978
Siran Austrália 1990 Loch e Ferguson, 1999
S. seabrana Primar Austrália 1996 Edye et al., 1998
Unica Austrália 1996 Edye et al., 1998
1
Em pré-lançamento, incluído no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento;
2
Também lançada na China, inicialmente, como Pia Hua Dou 184 (He e Schultze-Kraft, 1988) e posteriormente como Reyan
II - Zhuhuacao (Loch e Ferguson, 1999); na Tailândia como Tha Phra (Loch e Ferguson, 1999).
253
4 - CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO E IDENTIFICAÇÃO DAS TRÊS ESPÉCIES
UTILIZADAS NO BRASIL
254
isoenzimáticos (Stace, 1984) e de biologia molecular (Vander Stappen, 1999b) sugerem
que S. macrocephala deu origem a S. capitata. Outros estudos apontam S.
macrocephala ou S. bracteata como possíveis doadoras maternas e S. pilosa como
doador paterno do genoma de S. capitata (Maass e Sawkins, 2004).
Em comparação com outras leguminosas tropicais, a fisiologia do florescimento
de Stylosanthes é bastante conhecida. As espécies variam quanto ao período juvenil, e
também quanto à resposta ao fotoperíodo. Dias curtos, dias longos, dias longos curtos e
insensíveis são os tipos de respostas encontrados dentro do gênero (Ison e Humphreys,
1984) e essa variação pode ocorrer também entre populações de uma mesma espécie,
como em S. guianensis (Trongkongsin e Humphreys, 1987).
Quanto à biologia da reprodução todas as espécies são predominantemente de
autopolinização, entretanto é comum uma taxa de polinização cruzada, que é um
componente importante para a manutenção das populações na natureza (Stace, 1984).
Miles (1983), utilizando um marcador morfológico (estípula pilosa ou glabra), em um
experimento realizado na Colômbia, detectou uma taxa de cruzamento natural de até
20% em S. capitata. Em S. guianensis var. vulgaris, Miles (1985), utilizando coloração
de flor como marcador morfológico (amarela dominante sobre branca), em um
experimento em campo, concluiu que a taxa de cruzamento natural em doze plantas
homozigotas para flor branca foi de 13,8%. Stace (1982) detectou uma taxa de
cruzamento natural de 1 a 2% em uma população australiana de S. scabra, utilizando o
marcador isoenzimático ADH (álcool dehydrogenage). Essa variação na porcentagem
de cruzamento natural é determinada por fatores genéticos e, principalmente, pelo
número de insetos polinizadores presentes no local (Stace, 1982; Miles, 1985).
255
trifoliolada, por vezes unifoliolada, densamente pilosa. Lomento reticulado, com dois
artículos férteis, o inferior às vezes abortado e, em geral, o superior é glabro e o inferior,
obovóide, levemente pubescente. O estilete residual é uncinado, com aproximadamente
1 mm de comprimento. Semente de ovóide a reniforme, vista de perfil, elipsóide em
vista frontal, mosqueada de vermelho ou castanho, por vezes em manchas (Ferreira e
Costa, 1979; Costa e Ferreira, 1984, Costa, 2006).
No Banco de Germoplasma da Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF, foram
avaliados 44 acessos de S. capitata, provenientes de diferentes locais e o número de
caules primários, inseridos até uma altura de dez centímetros do solo, variou de seis a
doze ramificações; o comprimento e a largura do folíolo central de 2 cm a 3,2 cm e de
0,7 cm a 0,9 cm, respectivamente; pleno florescimento ocorreu entre a primeira semana
de março e a primeira semana de maio e a maturação dos frutos entre a última semana
de abril e a última de maio. A espécie é bastante atacada pela antracnose, causada pelo
fungo Colletotrichum gloeosporioides (Karia et al., 2002).
A
B
256
Costa (2006) redescreve a espécie como planta perene, de herbácea a
subarbustiva, de prostrada a ascendente e a ereta. Caule de glabro, glabrescente a piloso-
setoso-viscoso. Folíolos de elípticos a oblongos, agudos na base, agudos ou obtusos na
extremidade, acuminados no ápice, de glabros, glabrescentes a piloso-setoso-viscosos, 3
a 7 pares e nervuras discretas. Inflorescências terminais ou axilares, de 8 a 30 flores,
globosas ou em taça, simples, formadas por uma única espiga ou compostas por duas ou
mais espigas, com 5 a 20 mm de comprimento; brácteas imbricadas, as externas
freqüentemente trifolioladas, as internas unifolioladas, glabrescentes ou freqüentemente
piloso-setosas por vezes viscosas, 3 a 5 pares de nervuras. Lomento uniarticulado,
subelipsóide, retículo pouco evidente, escuro, tegumento com uma textura suave e fina,
única no gênero, tecido produtor de óleo essencial próximo da base; rostro curto até 0,2
mm, curvo, deitado. Semente amarela ou preta, elipsóide.
Devido a sua ampla distribuição geográfica, com ocorrência em diversos
ecossistemas, a espécie apresenta grande diversidade fenotípica. No Distrito Federal,
foram caracterizados 350 acessos, coletados em diversos países da América Latina,
pertencentes as quatro variedades botânicas e a diversidade fenotípica observada entre
acessos foi bastante ampla. Apresentaram plantas pouco ramificadas (cinco a seis
ramificações primárias, inseridas até uma altura de dez centímetros do solo) a muito
ramificadas (até dezenove ramificações primárias); com comprimento do folíolo central
variando de 1,1 a 5,8 cm e início da maturação dos frutos ocorrendo de março a julho
(Karia et al., 1997).
S. guianensis var. canescens é um subarbusto perene, de hábito ereto ou
ascendente; caules grossos, glabros ou pubescentes; pelos densos, canescentes nas
bordas das brácteas; inflorescências capitadas, obcônicas; sementes ovóides, amarelas
ou pretas. Folíolos oblongos, de glabros a pubescente, de ápice agudo, com 5-8 pares de
nervuras brancas, discretas ou pouco evidentes. Inflorescência terminal ou axilar,
simples, formada por uma única espiga; folíolo das brácteas glabro na página superior e
de glabro pubescente na inferior. O lomento é reticulado e, como toda a espécie,
apresenta apenas um artículo fértil com o estilete residual muito curto. As sementes são
amarelas e, por vezes, pretas. O nome canescens foi dado em função da pubescência
branca, canescente, que existe nas margens das brácteas, característica que partilha com
a variedade microcephala (Ferreira e Costa, 1979; Costa, 2006).
S. guianensis var. guianensis (= S. guianensis var. vulgaris) apresenta plantas
com crescimento prostrado a ascendente (Figura 3 - A); caules lenhosos somente na
257
base, piloso-setoso-viscosos, cerdas longas; folíolos oblongos, com 5 a 7 pares de
nervuras conspícuas; inflorescências capitadas, com 1 a 17 flores por espiga, composta
por 3 a 6 espigas (Figura 3 - B); bráctea unifoliolada com folíolo residual muito
desenvolvido; lomento reticulado e glabro; semente oblonga, amarela, podendo variar
de castanho a preta (Ferreira e Costa, 1979; Costa, 2006).
S. guianensis var. microcephala ocorre somente no Brasil e é a mais fácil de se
distinguir. As plantas são prostradas e ramificadas, raramente ascendente; caules finos,
herbáceos, geralmente glabros; os folíolos são verde-escuros, longo-elípticos, com 4 a 6
pares de nervuras discretas ou pouco salientes. Inflorescências em taça, com pelos
brancos, curtos, 6 a 12 flores por espiga e 1 ou 2 pequenas espigas por inflorescência;
lomento reticulado e glabro; semente obovóide, sempre amarelas. O nome da variedade
foi dado em função das inflorescências pequenas, geralmente simples e em forma de
taça. Foi descrita com base em plantas coletadas em Minas Gerais, que se apresentam
glabras em quase todas as partes da planta, exceto nas brácteas (Ferreira e Costa, 1979;
Costa, 2006).
S. guianensis var. pauciflora, conhecida comumente por “tardio”, apresenta
planta perene, ereta, caules em geral lenhosos e grossos, com haste única, ramificados,
pilosos com cerdas curtas, densas, viscosas, por vezes pubescentes. Folíolos elípticos,
piloso-setoso-viscosos, nas duas páginas ou pubescentes na superior e piloso-setosos na
inferior. Inflorescências obovóides, em taça, formadas por 2 a 4 espigas simples, 7 a 13
flores por espiga. Lomento só com o artículo superior fértil, glabro. Semente em geral
amarela, raramente preta, elipsóide vista de frente, sub-reniforme vista de perfil (Costa,
2006). Em geral, populações dessa variedade são mais tolerantes à antracnose, porém,
apresentam menores produções de sementes.
258
B
A
259
clara: em S. macrocephala plantas geralmente prostradas com caules relativamente
finos; inflorescências com ráquis de comprimento bem definido, globóides, com
antocianina; brácteas superiores reunidas no ápice formando um bico; caules finos,
glabros ou pubescentes, folíolos elíptico-oblongos com nervuras discretas; contra em S.
capitata plantas de hábito bastante variável, de prostradas a eretas, caules mais grossos;
inflorescências elipsóides ou oblongas, ráquis indefinida, continuando a crescer em
condições favoráveis; folíolos oblongo-lanceolados (Figura 2) com nervuras amarelas
conspícuas (Costa 2006).
A B
260
5 - PRINCIPAIS CULTIVARES BRASILEIRAS
261
Em 1993, a Embrapa Cerrados e a Embrapa Gado de Corte liberaram a cultivar
Mineirão de S. guianensis var. guianensis (= var.vulgaris). Essa cultivar, coletada no
estado de Minas Gerais, é perene, semi-ereta, podendo atingir 2,5 m de altura. Possui
caules grossos na base, folíolos lanceolados medindo de 2,0 a 5,0 cm de comprimento e
0,4 a 0,8 cm de largura, com 5 a 7 pares de nervuras. Os caules e folhas possuem
viscosidade que se acentua na seca. Da mesma forma que a cultivar Bandeirante,
permanece verde durante o período seco, é a cultivar mais tolerante à antracnose
existente no mercado e o mais produtivo em solos de baixa fertilidade.
Em geral, o consumo do Mineirão pelos animais é maior no período seco do
ano, quando ainda apresenta teor de proteína bruta na parte aérea de até 12%. No
período chuvoso os animais preferem consumir a gramínea, embora o teor de proteína
bruta do Mineirão seja, em média, de 18%. Quando semeada em outubro-novembro,
floresce em maio-junho e a produtividade de sementes, em campos de produção
comercial, varia de 30 a 60 kg.ha-1, embora já se tenha registrado produtividades de até
120 kg.ha-1, no Distrito Federal. A semente é de cor escura e tamanho pequeno, sendo
que um grama contém 360 sementes.
Em provas regionais, mostrou excelente adaptação e crescimento de Roraima até
São Paulo e Mato Grasso do Sul. É recomendado para formação de pastos consorciados
e como banco de proteína; associado com culturas anuais e em áreas de recuperação de
pastagem (Embrapa Cerrados, 1998). Pode permanecer até quatro anos na pastagem e a
ressemeadura é muito baixa ou inexistente em condições de pastejo. Assim sendo, o
manejo do pastejo deve ser feito de modo a preservar as plantas inicialmente
estabelecidas. Esse genótipo ainda é comercializado no Brasil, embora o preço das
sementes seja considerado alto pelos pecuaristas.
Recentemente, em testes agronômicos na China, apresentou excelente
desenvolvimento, ficando em primeiro lugar num total de quatorze acessos, superando
as cultivares locais Reyan 2 e Reyan 5 (Changjun et al., 2004).
262
Originou-se de plantas sobreviventes de um antigo campo de seleção de acessos de
Stylosanthes, localizado na fazenda Maracujá, em Campo Grande (MS), que após o
término do experimento, foi submetido ao manejo normal da fazenda. Após vários anos,
as plantas sobreviventes, selecionadas naturalmente, se apresentaram altamente
vigorosas e tolerantes à antracnose (Milles e Grof, 1997). Posteriormente dez novos
acessos de S. capitata e cinco de S. macrocephala, pré-selecionados na Embrapa Gado
de Corte, quanto às produtividades de forragem e de sementes e alta resistência à
antracnose, foram semeados em linhas intercaladas com as sementes colhidas na
fazenda Maracujá, para o cruzamento entre plantas da mesma espécie. As sementes
colhidas de cada espécie foram novamente semeadas no ano seguinte, repetindo-se a
mesma metodologia durante seis gerações (Embrapa Gado de Corte, 2000).
A estratégia de se utilizar várias linhagens tem como objetivo evitar a pressão de
seleção do patógeno sobre um único genótipo e, dessa forma, dificultar a quebra da
resistência à antracnose. Apesar da cultivar ser composta por linhas geneticamente
diferentes, essas possuem algumas características fenotípicas uniformes, como altura de
planta, época de florescimento e produção de sementes.
O florescimento ocorre a partir da segunda quinzena de abril, nas condições de
Campo Grande e a maturação das sementes no final da segunda quinzena de maio. Após
a maturação dos frutos, ocorre a queda das inflorescências e de folhas. Muitas vezes,
após a produção de sementes a planta morre, pois sobrevive por no máximo dois anos
sob pastejo, portanto, a contribuição na produção de forragem durante a época seca é
baixa. A manutenção da cultivar na pastagem se dá pela ressemeadura natural,
principalmente em solos arenosos, onde a sobrevivência das novas plantas no início do
período chuvoso é maior. Assim, o manejo do pastejo em consórcio deve ser feito de
modo a beneficiar as plantas jovens, minimizando a competição com a gramínea. No
período de outubro a dezembro, quando houver a emergência e o estabelecimento de
novas plantas, os pastejos devem ser mais intensos, de forma a deixar espaço para as
novas plantas da leguminosa (Embrapa Gado de Corte, 2000).
A produção de forragem, nas condições do Mato Grosso do Sul, atinge 14 t.ha-
1
.ano de MS, o teor de proteína bruta varia de 12% a 18% e a digestibilidade in vitro da
massa seca, de 55% a 60%. Possui alta produção de sementes, acima de 200 kg.ha-1,
permitindo que o preço das sementes seja bastante inferior ao da cultivar Mineirão.
Porém, a produção de forragem na época seca do ano é menor na cultivar Campo
263
Grande, sobretudo nas condições do Cerrado do Distrito Federal, norte dos estados de
Goiás e Minas Gerais e no sudoeste baiano.
6. CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS
264
6.1 - Adaptação edáfica e necessidade de adubação
265
o superfosfato simples, o gesso pode ser dispensado para essa finalidade. (Embrapa
Gado de Corte, 2000).
A recomendação de adubação para as cultivares Bandeirante, Pioneiro, Mineirão
e Campo Grande, além de outras forrageiras, para as condições do cerrado, foi detalhada
por Sousa et al. (2001).
266
produtividade e a longevidade das pastagens. Os dados obtidos por Oliveira et al. (1996)
e Gonçalves e Costa (1994), demonstrando o aumento da produção e da qualidade da
forragem produzida pelas gramíneas consorciadas com leguminosas, quando
comparadas com a condição de monocultura corroboram essa tese.
No Brasil não há necessidade de se inocular as sementes de estilosantes com
estirpes de Rhizobium para a semeadura em áreas de pastagens ou de produção de
sementes. As cultivares disponíveis se associam muito bem com as estirpes nativas,
embora, em alguns locais, essa associação seja mais efetiva do que em outros.
267
60%, ao longo do ano; teor de fósforo de 0,12%, cálcio de 1,18% e magnésio de 0,42%
(Embrapa Cerrados, 1998).
Mesquita et al. (2002) estudaram os efeitos de métodos de estabelecimento e de
doses de calcário, fósforo e gesso na qualidade do pasto consorciado de estilosantes
Mineirão com B. decumbens, em Viçosa-MG. Verificaram que a aração e a gradagem
do solo elevaram a concentração de proteína bruta e a substituição do calcário pelo
gesso, aumentou as concentrações de enxofre, cálcio, proteína bruta e reduziu a
concentração de fibra em detergente neutro no estilosantes. Na segunda colheita do
primeiro ano, os teores de nutrientes da parte aérea do estilosantes variaram de 13,4 a
15,7% de proteína bruta, 0,29 a 0,44% de fósforo, 0,82 a 1,15% de cálcio e 0,50 a
0,61% de potássio, nos diferentes tratamentos.
No Mato Grosso do Sul, a cultivar Campo Grande apresentou teores de proteína
bruta variando de 12 a 22%, digestibilidade in vitro da massa seca de 55 a 60%, teor de
fósforo de 0,12 a 0,18% e de cálcio de 0,9 a 1,0%, ao longo do ano (Embrapa Gado de
Corte, 2000).
Em geral, as espécies de S. guianensis são pouco consumidas na época chuvosa
do ano e são preferidas pelos animais na época seca. Segundo Pereira (2001), em
regiões com o período seco bem definido, esse comportamento é estratégico para que se
possa armazenar forragem, de boa qualidade, para o período de menor oferta de
alimento. Além disso, em pasto consorciado, o consumo preferencial das gramíneas na
época das águas diminui a competição sobre a leguminosa, que possui potencial de
crescimento menor, favorecendo a persistência das plantas nas pastagens.
No caso de S. capitata e S. macrocephala esse comportamento não é observado.
A cultivar Campo Grande é bastante consumida na época das chuvas, quando
comparada com o Mineirão e as plantas perdem as folhas durante a época seca, após o
florescimento. Assim, sua utilização deve ser feita durante esse período. A persistência
da cultivar Campo Grande em pastagens se dá através da ressemeadura natural, pois ao
contrário do S. guianensis, essas espécies produzem muitas sementes e têm ciclo anual
ou então biênico, ou seja, sobrevivem por no máximo dois anos. A utilização das duas
cultivares na propriedade pode ser uma excelente alternativa para garantir forragem de
boa qualidade durante o ano todo.
268
O cultivo de espécies de Stylosanthes tem sido limitado, principalmente, em
virtude da alta intensidade do ataque do fungo Colletotrichum gloeosporioides, que
causa a antracnose. A doença provoca intensa desfolhação e morte de plantas, reduzindo
a qualidade e a produção total de forragem (Lenné e Sonoda, 1978; Baldión et al., 1975;
Fernandes et al., 1992). Condições ambientais com alta umidade e temperatura entre
20°C e 34°C, são ideais para que haja o processo de infecção do fungo. A propagação
da doença ocorre através da disseminação dos conídios pela chuva, por insetos (Irwin et
al., 1984) e também pelas sementes (Charchar et al, 2002).
De acordo com Chakraborty et al. (1988), há dois tipos distintos de sintomas
causados por C. gloeosporioides na Austrália, chamados de tipo A e tipo B. O tipo A é
o mais danoso naquele país, ocorre em todas as espécies de Stylosanthes e é
caracterizado por lesões marrom-claras a cinza, com margens escuras, em caules, folhas
e inflorescências. O tipo B, encontrado em S. guianensis, forma uma necrose geral com
margem não definida, em caules e folhas. Tais sintomas também foram observados no
Brasil. Em estudos de inoculação artificial de isolados do patógeno, provenientes de
diferentes regiões do país, em hospedeiros diferenciadores, foi verificada a ampla
variabilidade de patogenicidade e de intensidade de ocorrência do fungo, além da
grande diversidade genética caracterizada por meio de RAPD. (Davis et al., 1984;
Chakraborty et al., 1997). Esses estudos também demonstraram que a variabilidade
patogênica e molecular do fungo é mais expressiva no Brasil, onde a doença é
endêmica, é menos expressiva na Austrália, onde o hospedeiro e o patógeno foram
introduzidos.
De acordo com Lenné et al. (1984), a variação patogênica explica por que a
antracnose tem sido particularmente prejudicial ao Stylosanthes nas Américas Central e
do Sul. Os autores avaliaram uma grande coleção de S. capitata no Brasil e na
Colômbia. Verificaram que mais de 85% dos acessos foram suscetíveis no Brasil,
enquanto na Colômbia somente 6% tiveram a mesma reação. Acessos de S. capitata,
tais como CIAT 1097 e CPAC 56, que se mostraram promissores durante as avaliações,
foram abandonados por causa dos severos danos de antracnose durante a multiplicação
de sementes em pré-lançamento (Trutmann, 1994).
Devido aos problemas operacionais e aos elevados custos do controle químico, o
manejo da antracnose em pastagens deve ser feito com a utilização de cultivares
resistentes. Entretanto, a variabilidade das populações do patógeno é o maior entrave
269
para a utilização de resistência genética de forma efetiva e estável. Assim, outras
estratégias devem ser somadas para o êxito no controle das diversas raças do fungo.
Misturas de genótipos de Stylosanthes têm sido utilizadas com níveis de sucesso
variados. Na América de Sul, misturas suscetíveis de S. guianensis desenvolveram
menos severidade de antracnose e maior produtividade de forragem que em seus
estandes puros (Lenné, 1985). A cultivar Capica de S. capitata, que é uma mistura de
cinco genótipos, foi amplamente utilizada nos Llanos da Colômbia e, somente após
onze anos de uso, tornou-se moderadamente suscetível à antracnose (Trutman, 1994).
Na Austrália, em dois experimentos conduzidos durante três anos, não houve qualquer
vantagem em relação à resistência o uso de misturas de componentes de S. scabra
quando comparado aos seus estandes puros. (Chakraborty et al., 1991; Davis et al.,
1994).
O uso de resistência quantitativa é outra forma de viabilizar o uso dessa
leguminosa em cultivos comerciais. Nesse caso, o hospedeiro é moderadamente
resistente contra várias raças do patógeno e seu nível de suscetibilidade é intermediário,
isto é, acessos não são completamente resistentes ou suscetíveis. S. hamata cultivares
Verano e Amiga possuem esta forma de resistência (Chakraborty e Billard, 1995).
Em ensaio conduzido na Embrapa Cerrados em 1995 e 1996, os acessos de S.
macrocephala se mostraram mais resistentes à antracnose que os acessos de S.
guianensis, S. capitata e S. scabra. Em uma escala de notas de 1 a 9 (1=resistente e
9=muito susceptível), a média dos acessos de S. macrocephala foi de 1,1; enquanto que
as médias dos acessos de S. guianensis, S. capitata e S. scabra foram respectivamente,
4,0; 3,9 e 4,8 (Andrade e Karia, 2000). A mesma tendência foi observada por Charchar
et al. (2002), também em Planaltina-DF. A cultivar Mineirão ainda tem se mostrado
bastante resistente à antracnose, nas condições do Distrito Federal, onde a doença ocorre
com bastante freqüência e severidade.
Outras doenças podem ser observadas em Stylosanthes, como: ferrugem
(Puccinia stylosanthis), mancha foliar (Botrytis spp. e Cercospora spp.), murcha
(Sclerotium spp. e Neocosmospora spp.), podridão (Macrophomina phaseolina e
Pythium spp.), queima foliar (Rhizoctonia spp.), cancro (Botryosphaeria ribis),
bacteriose (Burkholderia solanacearum) e vassoura-de-bruxa (MLOs – mycoplasma-
like-organism) (Lenné, 1990; Lenné e Trutman 1994). Nenhuma dessas causam danos
expressivos em cultivos comercias. Em condições experimentais, acessos de S. scabra
têm apresentado fortes sintomas de vassoura-de-bruxa e na Embrapa Cerrados, em
270
Planaltina-DF, a doença inviabilizou experimentos com essa espécie. Paradoxalmente,
as populações naturais que ocorrem no Distrito Federal e entorno, raramente apresentam
sintomas de vassoura-de-bruxa.
6.5 - Pragas
2
José Raul Valério, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Rod. BR 262, km 4, caixa postal 154, CEP.
79002-970, Campo Grande-MS. Brasil.
271
escolha de eventual produto recaia sobre os inseticidas com registro junto ao MAPA
para aplicação em pastagens. Alguns produtos registrados para o controle da lagarta do
pescoço vermelho em outras culturas e que também têm registro para uso em pastagens,
incluem: Clorpirifós (Lorsban 480 BR); Thriclorfom (Dipterex 500 CE); Carbaril
(Sevin 480 SC) e Malathiom (Malatiom 500 CE). Para o gorgulho da semente (bicudo
do estilosantes), a escolha dos produtos, utilizando-se os mesmos critérios anteriores,
recai sobre o Clorpirifós (Lorsban 480 BR) e o Malathiom (Malatiom 500 CE)
(Valério5, comunicação pessoal). Em geral, o controle químico se restringe às áreas de
produção de sementes.
Ataques de formigas cortadeiras, saúvas (gênero Atta) e quenquéns (incluindo o
gênero Acromyrmex), podem ocorrer. São pragas potencialmente importantes por
ocasião do desenvolvimento inicial e estabelecimento das plantas. A recomendação é
que se efetue o controle preventivo das colônias existentes nos locais onde as pastagens
serão estabelecidas; ou seja, antes mesmo do preparo da área. Esse esforço de
prevenção, no entanto, não exclui a necessidade de acompanhamento minucioso da área,
da semeadura à utilização da pastagem. Apesar de várias formulações estarem
disponíveis, as iscas formicidas têm sido as mais amplamente empregadas, pelo baixo
custo e poucos riscos. Para o caso do controle das quenquéns, que são formigas menores
que as saúvas, a isca deve ser microgranulada.
7 - FORMAS DE UTILIZAÇÃO
272
patos e peixes. Embora em menor quantidade, Stylosanthes scabra cv. Seca e S. hamata
cv. Verano também são usados em pastejo (Guodao et al. 1997; Phaikaew et al., 2004).
Na Índia, são produzidas anualmente 2.000 toneladas de sementes de
estilosantes e grande parte dessa produção é usada para recuperação de áreas degradadas
(Hazra, 1997). Espécies de estilosantes também são utilizadas em sistemas silvipastoris,
como forragem para corte, adubação verde e como cobertura e conservação de solo; na
Tailândia são mais utilizadas como forragem no sistema de corte (Phaikaew et al.,
2004). Na África são semeadas juntamente com milho e arroz, posteriormente, no
período seco, após a colheita dos grãos, as leguminosas são pastejadas junto com os
restos das culturas (Pengelly et al., 2004).
No Brasil o estilosantes é utilizado como feno, banco de proteína e em pastos
consorciados com gramíneas. A utilização como adubo verde ou planta de cobertura,
embora bastante estudada, ainda não é largamente difundida.
Os sistemas com baixo e médio uso de insumos são os que mais respondem à
introdução de leguminosas, tanto em produtividade como em termos econômicos. Dessa
forma, o potencial de áreas para o cultivo de leguminosas é muito grande, pois a maioria
dos sistemas usados no Brasil se encaixa nesse perfil. Os sistemas com uso elevado de
insumos, em que os custos são altos, exigem altas produtividades para proporcionar
rentabilidade, especialmente quando se levam em consideração o montante de capital
investido (incluindo o preço da terra) e o seu custo de oportunidade (Martha Jr. et al.,
2006).
Esse fato pode ser percebido no trabalho conduzido por Peres et al. (2005), no
estado do Rio de Janeiro. Os autores realizaram uma avaliação da produtividade e
economicidade em três sistemas de produção, utilizando novilhas em pastagens de
capim-elefante. Os sistemas consistiam em pastejo rotativo de capim-elefante puro,
adubado com nitrogênio, o primeiro sem suplementação, o segundo com suplementação
à base de milho e farelo de soja e o terceiro com suplementação com banco de proteína
de estilosantes Mineirão, em uma área suplementar equivalente a 50% da área da
pastagem de gramínea. O desempenho das novilhas, em banco de proteína, foi superior
ao das novilhas sem suplementação no peso final e no ganho por animal, porém foi
inferior no ganho médio por área. Nesse caso, as taxas internas de retorno foram de
29,6%; 30,1% e 10,5%, para os tratamentos sem suplementação, suplementação com
ração concentrada e suplementação com estilosantes, respectivamente. A menor taxa
interna de retorno do tratamento com estilosantes (ainda assim maior que os
273
rendimentos de muitos ativos financeiros) se deveu, sobretudo, à maior área utilizada e
à maior utilização de mão-de-obra.
7.1 - Feno
274
Banco de proteína ou legumineira é uma área formada exclusivamente por
leguminosas, que tem a função de complementar a dieta de animais sob pastejo. Assim
deve ser alocado em uma área de fácil acesso e que permita a subdivisão da pastagem de
gramíneas e do banco de proteína. Essa prática é especialmente indicada para os casos
em que a consorciação é difícil, como é a de estilosantes com capins do gênero Panicum
e com B. brizantha cv. Marandu. Esse último, embora utilizado em consórcio, em várias
propriedades, demanda maior cuidado com o manejo do pastejo e sua possibilidade de
sucesso é menor do que o consórcio com B. decumbens ou com A. gayanus.
Barcellos et al. (2001a) propuseram um esquema de divisão e utilização de
bancos de proteína com estilosantes Mineirão (Figura 5). A idéia consistia em diferir a
pastagem de gramínea para a sua utilização no período seco e complementar a dieta
animal com o banco de proteína de estilosantes Mineirão, pois essa cultivar permanece
verde durante toda a estação seca. Para esta proposta os autores sugerem reservar de 15
a 20% da área total a ser formada e subdividi-la com o mesmo número de meses em que
se pretende utilizar o banco de proteína. Cada subdivisão será pastejada durante um
mês, com acesso livre aos animais. Utilizando esse esquema, em Planaltina-DF, em uma
pastagem de B. brizantha cv. Marandu, os animais com acesso ao banco de proteína de
Mineirão apresentaram ganho médio diário por animal de 465 g durante o período de
um ano, com taxa de lotação média de 1,5 UA.ha-1. Esses animais (machos) chegaram
ao final com 16,5@ aos 29 meses de idade.
Sal
Junho
Julho
Banco de proteína
Agosto
Pastagem de gramínea
Água
Setembro
275
Os mesmos autores propõem um esquema de banco de proteína para pastagens
nativas e nesse caso, a área destinada ao banco de proteína deverá ser de 2.500 a 3.000
m2 por animal.
276
experimento e da braquiária pura, 3 a 5,5 t.ha-1. A média do ganho de peso diário por
animal, no pasto consorciado, variou de 320 a 631 g.dia-1 e na pastagem de gramínea
pura, de 114 a 244 g.dia-1.
Experimento para comparar o efeito no desempenho animal de pastagem de B.
decumbens em monocultura e de B. decumbens consorciada com estilosantes Campo
Grande foi conduzido também em fazenda, no município de Chapadão do Sul - MS, em
um Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média (Valle et al., 2001; Schunke e Silva,
2003). As pastagens foram submetidas a três taxas de lotação (1,0 animal.ha-1; 1,75
animal.ha-1 e 2,5 animais.ha-1). O desempenho animal foi sempre superior no pasto
consorciado, em todas as taxas de lotação (Tabela 1), repetindo-se o resultado do
experimento conduzido por Vilela e Ayarsa (2002). A diferença de ganho de peso diário
e por área a favor do tratamento consorciado deve-se ao aporte de nitrogênio da
leguminosa, que contribuiu para aumentar a disponibilidade de massa seca da
braquiária, bem como elevar o teor de proteína na dieta.
Experimentos com animais em pasto consorciado com estilosantes Mineirão
também foram conduzidos por Barcellos e Vilela (2001), Almeida et al. (2002 e 2003),
Paciullo et al. (2003), Aroeira et al. (2005), todos confirmaram os benefícios da
leguminosa na dieta e desempenho animal.
Tabela 1 – Ganho de peso por área (GPA) e ganho de peso diário (GPD) de bovinos
mestiços, disponibilidade de massa seca (DMS) e teor de proteína bruta (PB)
em pasto de Brachiaria decumbens puro e consorciado com estilosantes
Campo Grande
277
8 - AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Dr. José Raúl Valério, da Embrapa Gado de Corte e ao
Dr. Nuno Maria de Sousa Costa, da Estação Florestal Nacional, órgão vinculado ao
Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas de Portugal, pelas informações
sobre pragas e sobre a taxonomia do gênero.
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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287
CAPÍTULO 13
1 - INTRODUÇÃO
288
facilidade de estabelecimento, vigor, longevidade e capacidade de persistir sob pastejo
ou sistemas de corte. Além disto, as leguminosas aumentaram a rentabilidade dos
sistemas de produção e forneceram outros benefícios aos produtores, incluindo
benefícios ambientais.
Neste capítulo serão abordadas as leguminosas Calopogonium mucunoides
Desv., Centrosema acutifolium Benth var. orinocense e var. matogrossense (nomen
nudum, i.e. sem descrição válida) (Cook et al., 2005), C. macrocarpum Benth., C.
molle Mart. ex Benth., até recentemente denominada C. pubescens Benth. C.
schiedeanum, Galactia striata (Jacq.) Urb., Lablab purpureus (L.) Sweet., Pueraria
phaseoloides (Roxb.) Benth. var. phaseoloides, Macroptilium atropurpureum (DC.)
Urb. e Neonotonia wightii (Wight e Arn.) J.A. Lackey.
2 - CALOPOGÔNIO
2.2 - Sinônimos
2.3 - Família/Tribo
289
Colômbia – rabo-de-iguana
2.5 - Cultivares
2.6 - Origem
290
Figura 1 – Planta de Calopogonium mucunoides em início da florescimento (Fonte:
Judson F. Valentim, 2006).
291
Figura 2 – Detalhe da inflorescência, das vagens e das sementes de Calopogonium
mucunoides Desv. (Fonte: Cook et al., 2005).
292
Em ambientes mais secos, a regeneração ocorre no período chuvoso seguinte, por meio
da abundante produção anual de sementes que podem ser disseminadas por pássaros e
pelos animais em pastejo. Apresenta nodulação em áreas não inoculadas, porém
responde a inoculação com bactérias do gênero Rhizobum pertencentes ao grupo
cowpea (Andrade et al., 1970; Bogdan, 1977; Skerman, 1977; Allen e Allen, 1981a;
Seiffert, 1982; Carvalho, 1985; Cook et al., 2005; FAO, 2006a;).
Esta leguminosa pode ser afetada por viroses, mas raramente isto tem impacto
no crescimento. É susceptível ao nematóide-das-galhas radiculares (Meloidogyne
javanica) (Cook et al., 2005). É uma espécie que se dissemina naturalmente em
condições favoráveis, podendo se tornar uma planta invasora em alguns ambientes
tropicais úmidos. Há registros de invasão de ecossistemas tropicais na Austrália e é
listada como planta invasora nas Filipinas, Indonésia e Malásia (Cook et al., 2005;
FAO, 2006a). Valentim (1990) relata que no processo de degradação de pastagens
cultivadas no Acre, como conseqüência do superpastejo, uso freqüente de queimadas,
compactação e erosão do solo, há tendência ao aparecimento e predominância de
gramíneas (Paspalum spp.) e leguminosas nativas, entre as quais se destaca C.
mucunoides.
Esta leguminosa apresenta elevada proporção de sementes duras, sendo
necessária a quebra da dormência para uma germinação rápida e uniforme. A quebra da
dormência pode ser feita por meio dos seguintes métodos: 1) escarificação mecânica
com areia; 2) tratamento com ácido sulfúrico concentrado, por 30 minutos, seguido de
lavagem das sementes; e 3) imersão em água quente (75ºC) por três minutos. A
semeadura, a lanço ou em linhas, é feita utilizando taxa de 1 a 3 kg.ha-1 de sementes. A
inoculação raramente é necessária, uma vez que as bactérias do gênero Rhizobium
existentes no solo são eficazes na infecção, nodulação e fixação de N nas plantas deste
gênero (Andrade et al., 1970; Bogdan, 1977; Allen e Allen, 1981a; De-Polli, 1985;
Cook et al., 2005; FAO, 2006a).
Souza Filho &e Dutra (1998) verificaram que o pH na faixa de 3,0 a 11,0 não
interferiu na germinação das sementes desta leguminosa, e que a concentração de
alumínio de 2 Cmolc.dm-3 a reduziu em 6%. Após a germinação, as plantas crescem
rapidamente e, 4 a 5 meses após a semeadura, formam uma camada densa de biomassa
com 30 a 60 cm de altura (FAO, 2006a). Pizarro et al. (1996) verificaram que na região
do Cerrado, na 15a semana após a semeadura, 15 acessos de C. mucunoides
293
apresentaram 84% de cobertura do solo, e na 30a semana, 85% dos acessos cobriam
100% do solo.
A produtividade de matéria seca (MS) é estável em ambientes com 60 a 100%
de transmissão da radiação fotossintética ativa, mas não tolera o sombreamento pesado.
A produção de MS, crescimento de raízes e a nodulação diminuem marcadamente à
medida que a radiação fotossintética ativa diminui. É uma leguminosa menos tolerante à
sombra do que Pueraria phaseoloides e Centrosema molle, que são espécies de
estabelecimento mais lento, porém mais persistentes em condições de sombreamento
(Cook et al., 2005).
O florescimento é induzido por dias curtos (menos de 12 horas), dias neutros
(12-14 horas) e dias longos (acima de 14 horas), dependendo da cultivar. É uma espécie
cujo modo de reprodução é por auto-fecundação, com produção abundante de sementes
(Cook et al., 2005).
Oke (1967a, 1967b) demonstrou que espécies de Calopogonium podem fixar N
atmosférico, embora em quantidades menores do que a leguminosa Pueraria
phaseoloides, e, as plantas jovens foram mais eficientes na fixação de N do que as
plantas mais velhas. Nas condições de Cerrado do Brasil, esta leguminosa em
associação com Brachiaria decumbens contribuiu com o equivalente a 416 kg.ha-1 de
nitrogênio em um período de dois anos (Seiffert e Zimmer, 1988). Gomes e Moraes
(1997) observaram que esta leguminosa pode produzir até 100 kg.ha-1 de sementes, nas
condições ambientais do Acre. No Cerrado, a produção de sementes variou em função
do ciclo de florescimento (Quadro 1), sendo que os acessos precoces apresentaram
maior produção do que os tardios (Pizarro et al., 1996). Em outras regiões tem sido
reportada produtividade de sementes variando de 200 a 300 kg.ha-1 (Cook et al., 2005).
Daza (1990a), na Bolívia, concluiu que a utilização de arado de disco ou
gradagem de pastagens de Brachiaria decumbens seguida de semeadura de C.
mucunoides, foram métodos eficientes para a introdução desta em pastagens já
estabelecidas (Tabela 1). O autor ressaltou ainda que o calopogônio teve rápido
desenvolvimento após a semeadura. Entretanto, esta leguminosa apresentou crescimento
e produção de forragem estacional, chegando a desaparecer durante o período seco,
deixando uma grande quantidade de matéria orgânica que ajudou na recuperação da
gramínea.
294
Quadro 1 - Produção de sementes de acessos de Calopogonium mucunoides de
diferentes ciclos de florescimento, no Cerrado (Pizarro et al., 1996)
O calopogônio não tolera desfolhação freqüente ou severa, mas pode ser cortado
a intervalos de 3 a 4 meses, apresentando recuperação lenta. Em sistemas de pastejo, os
melhores resultados são obtidos em sistema de lotação rotativa, com 8 a 12 semanas de
intervalo entre períodos de pastejo (Cook et al., 2005). No Acre, esta leguminosa ocorre
de forma natural em algumas áreas de pastagens cultivadas, onde vem sendo observada
síndrome da morte de Brachiaria brizantha cv. Marandu e em áreas de pastagens
degradadas. Nestas áreas, esta leguminosa tem apresentado melhor persistência quando
manejada em sistema de lotação contínua, com menos de 1,5 UA.ha-1ha.
295
Dias Filho e Serrão (1986), no Pará, observaram que C. mucunoides apresentou
diminuição significativa na produtividade de forragem durante o período seco, porém,
com rápida recuperação após as primeiras chuvas. Estes autores consideram que em
pastos consorciados, este padrão de crescmento sazonal pode ser extremamente
favorável à gramínea, devido à liberação de N após a senescência, mediante a
decomposição das raízes, folhas e caules mortos.
Gonçalves et al. (1987), avaliando a introdução de leguminosas no Cerrado de
Rondônia, verificaram que C. mucunoides não produziu forragem a partir da 6a semana
de avaliação, durante o período seco. Costa et al. (1979) observaram que C. mucunoides
produziu mais de 3 t.ha-1 de MS, durante o período chuvoso, com um teor de PB
superior a 14%. Estes autores também não observaram produção de forragem no
período seco.
C. mucunoides apresenta excelente compatibilidade com gramíneas dos gêneros
Brachiaria, Hyparrhenia, Melinis, Panicum e Setaria (FAO, 2006a). Tem sido utilizada
com sucesso moderado em misturas com as gramíneas Melinis minutiflora, Chloris
gayana e Digitaria decumbens (Riveros, 1960; Bogdan, 1977). Na Bolívia, Daza
(1990a) observou que C. mucunoides, introduzida em pastagens de B. humidicola,
contribuiu para aumentar a qualidade da forragem produzida. A conclusão deste estudo
foi que a introdução desta leguminosa em pastagens de B. humidicola resultou em
excelente consorciação, aumentando significativamente a produtividade e a qualidade
nutritiva da forragem produzida.
Segundo Seiffert (1982), C. mucunoides parece ser uma leguminosa adequada
para formar consorciações, particularmente com espécies do gênero Brachiaria, que têm
elevada importância na Região Centro-Oeste do Brasil e para as quais a disponibilidade
de N é um fator crítico. Euclides et al. (1996), em Mato Grosso, observaram que
pastagens de B. decumbens e B. brizantha consorciadas com C. mucunoides
apresentaram maiores produções por animal e por área do que pastagens puras desta
gramíneas.
Seiffert e Zimmer (1988), avaliando a produção de matéria seca e a fixação de N
em pastagem de B. decumbens consorciada com C. mucunoides, nas condições
ambientais de Mato Grosso do Sul, estimaram que a leguminosa elevou em 60% a
disponibilidade de N no pasto, além de aumentar em 50% a produção de forragem no
período seco (Tabela 2).
296
Tabela 2 - Conteúdo de N e Produção de matéria seca em pasto de B. decumbens
exclusiva e consorciada com C. mucunoides, em Campo Grande (MS), em
diferentes épocas do ano
Conteúdo de N (kg.ha-1)
297
da fertilidade do solo. É uma das poucas espécies de leguminosas com sementes
comerciais disponíveis no Brasil, sendo mais utilizada para cobertura de solo do que
como forrageira (Bogdan, 1977; Allen e Allen, 1981a; Seiffert, 1982; Cook et al., 2005:
FAO, 2006).
Segundo Andrade et al. (1970), a parte aérea desta leguminosa serve
integralmente para a alimentação de bovinos, ou seja, todas as partes das plantas são
consumidas pelos animais. Bogdan (1977) relata que a principal característica negativa
desta espécie é a sua baixa aceitabilidade, geralmente atribuída aos pêlos abundantes
existentes nas folhas e caules. O consumo da forragem é freqüentemente baixo quando
as plantas estão verdes, aumentando no período seco, quando já estão secas e a
disponibilidade de matéria seca é reduzida (Bogdan, 1977; Valentim, 1990; FAO,
2006a).
3 - CENTROSEMA
3.2 – Sinônimos
298
a) Cetrosema acutifolium – Bradburya angustifólia (Kunth) Kuntze; Bradburya
longifolia (Benth.) Kuntze; Centrosema longifolium Benth.; Centrosema
simulans Standley e L.O. Williams (Cook et al., 2005);
b) Censtrosema macrocarpum – Bradburya macrocarpa (Benth.) Kuntze;
Centrosema lispoae Ducke; Centrosema magnificum Malme (Cook et
al., 2005);
c) Centrosema molle - C. pubescens Benth (Cook et al., 2005; FAO, 2006b).
3.3 - Família/tribo
3.5 - Cultivares
299
c) Centrosema molle - Centrosema comum (Brasil – uma linha comum, sem
lançamento formal); El Porvenir, originária da Colômbia (Honduras, 1990);
Villanueva (Cuba, 1993); Cardillo, originária da Bolívia (Austrália, 1995);
Barinas, originária da Venezuela (Sudeste da Ásia, segunda metade da década de
1990) (Cook et al., 2005).
3.6 - Origem
300
pêlos. As folhas possuem três folíolos com 3 cm de comprimento e 2,5 cm de largura.
Os folíolos possuem cor verde-escuro na face ventral e verde-claro na face dorsal, forma
oval a orbicular, levemente acuminados nos ápices e com pubescência constituída de
pêlos finos. Os folíolos novos e a porção terminal dos ramos são tipicamente
avermelhados. As estípulas possuem forma triangular e alongadas e são persistentes
(Figura 3) (Bogdan, 1977; Schultze-Kraft et al., 1989; 1990; Williams e Clements,
1990; Fantz, 1996; Cook et al., 2005; FAO, 2006b).
As inflorescências se desenvolvem em racemos axilares densos e curtos, com 3 a
5 flores com coloração variando de lilás-claro, nas extremidades, a violeta-azulada, na
parte central. Cada flor é inserida sobre duas brácteas côncavas, estriadas e mais largas
do que o cálice. Cálice em forma de campânula com cinco sépalas, carenal em forma
orbicular, com aproximadamente 2 cm de diâmetro, asas e quilha muito menores do que
o estandarte e direcionadas para cima. As vagens são lineares, achatadas, com
aproximadamente 15 cm de comprimento e 5 a 6 mm de largura, retas ou ligeiramente
curvadas, contendo até 15 sementes. As sementes são transversalmente oblongas e
ligeiramente reniformes, com aproximadamente 5 mm de comprimento, 3 mm de
largura e 2 mm de espessura, com cor marrom-claro, manchas escuras e
aproximadamente 40.000 sementes.kg-1 (Figura 4) (Bogdan, 1977; Schultze-Kraft et al.,
1989; 1990; Williams e Clements, 1990; Fantz, 1996; Cook et al., 2005; FAO, 2006b).
301
Figura 4 – Detalhe da inflorescência e das sementes de Centrosema molle Mart. ex
Benth., até recentemente denominada C. pubescens Benth. (Fonte: Cook et
al., 2005).
3.7.2 - Centrsema acutifolium
302
Figura 5 – Detalhe da folha e folíolo de Centrosema acutifolium Benth. (Fonte: Judson
Ferreira Valentim, 2006).
303
Figura 6 – Detalhe das vagens e sementes de Centrosema acutifolium Benth. (Fonte:
Cook et al., 2005).
304
Figura 7 – Centrosema macrocarpum Benth. em floração e frutificação (Fonte: Cook et
al., 2005).
305
Figura 8 – Detalhe das folhas, vagens e sementes de Centrosema macroparcpum Benth.
(Fonte: Cook et al., 2005).
306
fixação simbiótica de N. É uma espécie muito tolerante à sombra, podendo persistir com
até 80% de sombreamento. O florescimento é induzido principalmente pelo fotoperíodo
(dias curtos) e estresse hídrico. Recupera-se bem após queimas leves e a população de
plantas também pode se regenerar a partir do banco de sementes. É relativamente
pouco afetada pela ocorrência de pragas e doenças. Entretanto podem ocorrer ataques
dos seguintes patógenos: mancha foliar (Cercospora sp.), mela (Rhizoctonia sp.) e
antracnose (Colletotrichum sp.). Também ocorrem ataques de insetos mastigadores de
folhas. Possui boa capacidade de disseminação natural por meio de sementes, sendo
considerada uma espécie invasora em algumas partes da África Ocidental (Crowder,
1960; OKE, 1967b; Bogdan, 1977; Schultze-Kraft, 1989; 1990; Cook et al., 2005; FAO,
2006b).
307
leguminosas Stylosanthes capitata e S. guianensis. A consorciação deve ser feita
preferencialmente com gramíneas cespitosas e outras espécies que produzem estandes
mais abertos, para assegurar maior persistência desta leguminosa de crescimento
volúvel. A produtividade anual de matéria seca pode superar 5 t.ha-1. Apresenta alta
aceitabilidade pelos animais, sem registro de fatores tóxicos. O valor nutritivo das
folhas de uma rebrotação de três meses variou de 21 a 29% de PB, 52 a 59% de
DIVMS, 0,14 a 0,25% de fósforo e 0,38 a 0,82% de cálcio (t’Mannetje, 2006a;
Schultze-Kraft et al.,1990; Cook et al., 2005).
308
Andropogon gayanus, Brachiaria brizantha, B. humidicola, Panicum maximum e as
leguminosas Stylosanthes capitata e S. guianensis. A consorciação deve ser feita
preferencialmente com gramíneas cespitosas e outras espécies que produzem estandes
mais abertos, para assegurar maior persistência desta leguminosa de crescimento
volúvel. A baixa produção de sementes sob condições de pastejo limita a disseminação
da leguminosa. A produção de matéria seca pode alcançar 5 t.ha-1 em 12 semanas de
crescimento e 15 t.ha-1.ano. É uma leguminosa muito aceita pelos animais, com valor
nutritivo da rebrotação com 20 a 30% de PB, 45 a 70% de DIVMS e 0,20% de fósforo.
Não há registro de fatores tóxicos (Schultze-Kraft et al., 1990; Cook et al., 2005; FAO,
2006b).
Esta leguminosa tem grande valor para uso em cobertura do solo, adubação
verde, forragem verde colhida para suplementação e em pastos consorciados com
gramíneas. Pode ser utilizada em bancos de proteínas, embora apresente problemas de
persistência nesta forma de uso (Cook et al., 2005). Produz feno de excelente
qualidade quando colhida até o início do florescimento. A perda de folhas é um
problema na produção de feno. Também pode ser utilizada na produção de silagem
(Bogdan, 1977; Schultze-Kraft et al., 1989; 1990; t’Mannetje, 2006a; t’Mannetje,
2006b; FAO, 2006b).
309
manejo, a capacidade de suporte destas pastagens pode variar de 900 a 1.000 kg.ha-1
(Schultze-Kraft et al., 1989; 1990; Teitzel et al., 1991; Cook et al., 2005).
Pastos de C. acutifolium var. orinocense consorciado com Andropogon gayanus
produziu ganho de 530 a 670 g.animal-1.dia durante a estação chuvosa e manteve uma
taxa de lotação de 1,5 novilhos.ha-1. A produção de leite de vacas da raça Holtein em
pasto de C. acutifolium var. matogrossense consorciado com A. gayanus ou B.
humidicola foi 15-20% superior aquela obtida em pastagens puras das gramíneas
(Schultze-Kraft et al., 1990; Cook et al., 2005).
Pasto de C. macrocarpum consorciado com Andropogon gayanus produziu
ganho de 170 a 200 kg.animal-1.ano e 400 a 600 kg.ha-1.ano. Em associação com A.
gayanus ou B. humidicola a produção de leite de vacas da raça Holstein foi 15 a 20%
maior do que aquela obtida de vacas em pastagens puras das gramíneas (Schultze-
Kraft et al., 1990; Cook et al., 2005).
4 - GALACTIA
4.2 - Sinônimos
4.3 - Família/Tribo
310
Família: Fabaceae (alt. Leguminosae)
Sub-família: Faboideae (alt. Papilionoideae)
Tribo: Phaeoleae
Subtribo: Galactiinae
4.5 Cultivares
Galactia striata cv. Yarana – Instituto de Zootecnia, São Paulo, Brasil (1984).
4.6 - Origem
311
Figura 9 – Detalhe da folha e flor de Galactia striata (Jacq.) Urb. (Fonte:
http://tenn.bio.utk.edu/vascular/database/vascular-photos, 2006).
Figura 10 – Detalhe das folhas e vagens de Galactia striata (Jacq.) Urb. (Fonte: Cook et
al., 2005).
312
4.8 - Caracterização agronômica
313
como pastagem diferida durante o período chuvoso para utilização na estação seca
(FAO, 2006c).
5 - LABLAB
5.2 - Sinônimos
Dolichos benghalensis Jacq., Dolichos lablab L., Dolichos purpureus , Lablab niger
Medikus, Lablab purpurea (L.) Sweet, Lablab vulgaris (L.) Savi e Vign aristata Piper
5.3 - Família/Tribo
Familia: Fabaceae (alt. Leguminosae)
Subfamily: Faboideae
Tribo: Phaseoleae
Subtribe: Phaseolinae. Também classificada como Papilionaceae.
Rongai dolichos, lab-lab bean (Austrália); hyacinth bean, lablab bean, field
bean, pig-eras, poor man's bean, Tonga bean (Inglaterra); lubia (Sudão) batao
(Filipinas); feijão mangalô (Brasil); frijol jacinto (Colômbia); quiquaqua, caroata
chwata (Venezuela); poroto de Egipto (Argentina); carmelita, frijol caballero
(Espanha); dolique lab-lab, dolique d'Egypte (França); fiwi bean (Zâmbia); chicarros,
314
frijol caballo (Porto Rico), gallinita (México); frijol de adorno (El Salvador); wal
(Índia); antaque, banner bean (Caribe) (Bogdan, 1977; Murphy e Colucci, 1999; Cook
et al., 2005; FAO, 2006d).
5.5 - Cultivares
5.6 - Origem
315
inflorescências com 4 a 20 cm de comprimento e pedúnculos longos, possuem muitas
flores em forma de rácemos axilares. As flores possuem cor banca (cv. Rongai), azul
ou púrpura (cv. Highworth). As flores são de polinização cruzada (Figura 11). As
vagens com 4 a 5 cm de comprimento têm forma de cimitarra, contendo 2 a 4
sementes (Figura 12). As sementes são grandes, têm forma ovóide e são comprimidas
lateralmente. Possuem cor branca, vermelha, marrom ou preta, com uma marca branca
ao longo de um terço da semente (Figura 13). Contêm 3.300 a 4.290 sementes em um
quilo (Bogdan, 1977; Cameron, 1988; Cook et al., 2005; FAO, 2006d).
Figura 12 – Detalhe das vagens de Lablab purpureus (L.) Sweet. (Fonte: Cook et al.,
2005).
316
Figura 13 – Detalhe das sementes de Lablab purpureus (L.) Sweet. (Fonte: Cook et al.,
2005).
317
tolerância à salinidade, com os sintomas característicos de clorose das folhas, redução
no crescimento e morte das plantas. Esta leguminosa não se adapta a ambientes com
sombreamento moderado, não recupera-se após a queima e não se dissemina
naturalmente. Lablab não nodula facilmente com as raças nativas de bactérias do
gênero Rhizobium. Embora geralmente seja semeada sem inoculação, recomenda-se o
uso de raças selecionadas do grupo cowpea. A porcentagem de sementes dormentes é
muito baixa (Bogdan, 1977; Hendricksen e Minson, 1985; Murphy e Colucci, 1999;
Cook et al., 2005; FAO, 2006d).
É uma leguminosa cujo florescimento é induzido por dias curtos, com
cultivares de florescimento precoce (Highworth) e tardio (Rongai) disponíveis no
mercado. Existem variedades mais precoces, onde o florescimento ocorre a partir de
55 dias após a semeadura. Sendo uma leguminosa anual ou perene de ciclo curto,
lablab floresce e produz sementes na primeira estação de crescimento. A maturação
das vagens nas cultivares forrageiras desta leguminosa não é uniforme. Produtividade
de 1 a 2,5 t.ha-1 de sementes tem sido obtida, dependendo da cultivar (Cook et al.,
2005).
Lablab apresenta melhor estabelecimento quando as sementes são distribuídas
em sulcos ou covas, em áreas bem preparadas, a profundidade entre 2,5 a 5 cm no solo.
A proporção de sementes dormentes é baixa, não havendo necessidade de escarificação.
Áreas para monocultivo de lablab necessitam ser bem preparadas. A semeadura deve ser
feita no início do período chuvoso, em sulcos com espaçamento de 0,80 a 1,20 m e 30 a
50 cm entre plantas, ou com o uso de matracas, com taxa de semeadura de 12 a 20
kg.ha-1, em monocultivo, e de 5 a 7 kg.ha-1 em consorciação com gramíneas. A
profundidade de semeadura varia entre 2,5 a 5 cm no solo. Porém, a leguminosa
também pode ser semeada à lanço, desde que a área tenha sido gradeada para assegurar
pelo menos a cobertura parcial das sementes. Neste caso, a taxa de semeadura é de 8 a
10 kg.ha-1. Sementes de boa qualidade resultam em germinação e estabelecimento
rápido e uniforme, particularmente em condições de solos úmidos. Em solos de baixa
fertilidade recomenda-se a aplicação de fósforo e potássio, de acordo com a análise do
solo. Não se estabelece rapidamente em pastagens já existentes sem que haja algum
revolvimento do solo. Lablab é altamente sensível aos herbicidas 2,4-D, M.C.P.A., 2,4-
D-B e dicamba (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006d).
Embora várias pragas e doenças tenham sido associadas com lablab, apenas
poucas causam danos sérios (Duke, 1983). Em várias partes do mundo esta
318
leguminosa tem sido cultivada sem ocorrência de pragas e doenças (Luck, 1965). Em
Honduras foram observados ataques severos de vaquinha (Diabrotica spp.) durante o
período seco. Apesar disto, os estudos mostraram que a leguminosa é resistente ao
ataque destes insetos, continuando a crescer vigorosamente apesar da sua presença
(Flores, 1993).
Lablab geralmente é cultivada em estandes puros ou em consórcio com milho
ou sorgo em linhas bem espaçadas devido ao seu lento estabelecimento inicial e ciclo
curto. Esta leguminosa não apresenta bom estabelecimento em pastagens naturais, a
menos que estas áreas sejam cultivadas. Pode ser semeada em pastagens desde que as
sementes sejam inoculadas e a leguminosa receba adubação adequada (Bogdan, 1977;
Cook et al., 2005; FAO, 2006d).
Quando utilizada como forrageira em grandes áreas, lablab geralmente é
semeada em consórcio com gramíneas anuais como sorgo forrageiro (Sorghum sp.),
milheto (Pennisetum glaucum), culturas anuais de verão como milho (Zea mays) e
sorgo granífero (Sorghum bicolor). Estas consorciações podem ser pastejadas no final
do verão e outono. O pastejo leve, removendo apenas as folhas, permite prolongar a
vida produtiva das pastagens de lablab. Em sistemas de pequenos produtores, lablab
pode ser intercalada com milho. Neste caso a leguminosa deve ser semeada 28 dias
após para evitar a redução da produtividade do milho devido à competição da
leguminosa.
O período de crescimento desta leguminosa varia de 75 a 300 dias (Kay, 1979).
Em condições favoráveis alcança o crescimento vegetativo máximo cerca de 130 dias
após a germinação, com crescimento adicional dependendo das condições de
temperatura e umidade (Mayer et al., 1986). Lablab apresenta crescimento rápido e o
pastejo ou corte pode ser iniciado 7 a 10 semanas após a semeadura. É possível obter
três colheitas das variedades anuais, mas estas não persistem quando em condições de
pastejo pesado, onde ocorre o consumo de grande parte dos caules. Para o uso como
forrageira e adubo verde, a cultura deve ser pastejada ou cortada antes do
florescimento (Cook et al., 2005).
O ataque de insetos (Adisura atkinsoni, Heliothis armigera, Exelastis atomosa
e Maruca testulalis) pode reduzir a produção de sementes. Callosobruchus spp. pode
danificar as sementes durante a fase de crescimento das plantas no campo e durante o
armazenamento da semente. Esta leguminosa pode ser atacada por nematóides
(Helicotylenchus dihystera, Meloidogyne hapla e M. incognita), antracnose
319
(Colletotrichum lindemuthianum) e mancha foliar (Cercospora dolichi). A podridão
do colmo (Sclerotinia sclerotiorum) pode ocorrer em condições ambientais muito
úmidas (Cook et al., 2005).
Na Nigéria a produção de matéria seca a oito e doze semanas após a semeadura
foi de 20,4 e 46,6 t.ha-1, respectivamente (Nworgu e Ajayi, 2005). Segundo Murphy e
Colucci (1999) a produção de forragem da cultivar Rongai na Austrália variou de 962
kg.ha-1 de matéria seca, após sete semanas da semeadura em condições de seca, a
12.260 kg.ha-1, quando colhida na época da maturação das vagens.
O teor médio de PB da matéria seca total produzida por lablab apresenta
variação de 10 a 22% e nas folhas de 14,3 a 38,5%, enquanto o dos caules varia de 7 a
20% (Murphy e Colucci, 1999). As folhas de lablab não contêm taninos (Schaaffhausen,
1963) e, consequentemente, fornecem uma fonte rápida de proteína digestível,
particularmente para os animais monogástricos. A digestibilidade aparente da PB desta
leguminosa variou de 54,5 a 76,1%, dependendo do teor de PB (Hendricksen et al.,
1981; Jakhmola e Pathak 1981). As sementes contêm 20 a 38% da PB, altos teores de
vitamina A, B e C. A DIVMS varia entre 55 a 76%, com média superior a 60% nas
folhas. Entretanto, as sementes de lablab contêm fatores anti-nutricionais como taninos
e inibidores da tripsina. A atividade destes compostos pode ser reduzida por métodos de
processamento tais como colocar as sementes imersas em água ou para cozinhar
(Lambourne e Wood, 1985; Deka e Sarkar, 1990; Cook et al., 2005).
O teor médio de fibra bruta da matéria seca total de lablab é de 27,8%. Os
teores médios de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e
lignina detergente ácido (LDA) são de 43%, 38,6% e 7,1%, respectivamente (Murphy
e Colucci, 1999). Segundo estes autores, em revisão dos resultados de diversos estudos
mostrou que, independente do método e da espécie animal utilizada na determinação, a
DIVMS média da forragem de lablab foi de 56%.
O consumo voluntário da forragem indica aceitabilidade satisfatória de lablab
durante a fase de crescimento vegetativo (Jakhmola and Pathak 1981). Hendricksen e
Minson (1980) relatam que bovinos em pastejo apresentam forte seleção de folhas na
sua dieta e que o consumo de matéria orgânica diminuiu à medida que a
disponibilidade de folhas foi reduzida. A aceitabilidade das sementes é baixa a
moderada, dependendo da variedade. A utilização desta leguminosa em consórcio com
gramíneas previne a ocorrência do empanzinamento (Cook et al., 2005).
O pastejo inicial, cerca de dez semanas após a semeadura, deve remover apenas
320
as folhas. Uma dieta exclusiva da leguminosa pode resultar em empanzinamento dos
animais, especialmente após rebrotação (Bogdan, 1977; FAO, 2006d). Esta
leguminosa não tolera pastejo pesado, mas se apenas as folhas são consumidas, pode
permitir até três pastejos durante o período de crescimento. O corte ou pastejo deve
assegurar um resíduo de 25 cm e o período de rebrotação até o segundo corte ou
pastejo pode durar até cinco meses no Brasil.
Lablab é uma leguminosa de uso duplo com grande potencial para sistemas de
produção de pequenos produtores, particularmente onde a rotação de culturas é uma
possibilidade. Esta leguminosa é tradicionalmente cultivada para a produção de grãos
para uso na alimentação humana no Sudeste da Ásia e na África Oriental. As flores e
vagens verdes também são utilizadas na alimentação humana. Como leguminosa
forrageira é cultivada para pastejo e conservação de forragem em vastas extensões de
áreas agrícolas em regiões tropicais com ocorrência de chuvas durante o verão.
Também é usada como adubo verde, cobertura do solo associada a cultivos perenes e
forragem verde colhida fornecida no cocho como alimento concentrado,
principalmente durante a estação seca. Pode ser incorporada em sistemas de cultivo de
cereais como leguminosa de rotação de culturas, visando evitar a degradação do solo.
Como leguminosa de uso duplo (alimento humano e animal), é semeada em
monocultura ou em sistemas de culturas intercalares como milho ou sorgo, por
exemplo, para fornecer uma forragem de melhor qualidade. Lablab produz feno de
excelente qualidade se as folhas são preservadas, mas o processo não é fácil porque os
caules grossos secam lentamente e isto resulta em perdas consideráveis das folhas.
Também pode ser utilizada para a produção de silagem pura ou em mistura com sorgo,
aumentando o teor de PB da gramínea de 4,5% para 8,1 ou 11% com proporções de
1:2 e 2:1 da mistura de lablab/sorgo (Bogdan, 1977; Murphy e Colucci, 1999; Cook et
al., 2005; FAO,2006d).
Lablab é uma excelente opção para suprir o déficit de oferta de forragem de
qualidade entre o verão e o inverno. Pode ser utilizada como pastagem diferida desde
que não ocorram geadas, uma vez que o florescimento é tardio e a maior parte da
biomassa é mantida até o inverno. Mesmo com a ocorrência de geadas, se a
leguminosa tiver produzido sementes, como as vagens são indeiscentes, estas
321
asseguram um bom valor nutritivo da forragem. No Brasil, esta leguminosa é semeada
em consórcio com milho e, após a colheita da gramínea, é pastejada pelos animais
junto com os resíduos das plantas do milho (Bogdan, 1977; Hendricksen e Minson
1985; Cook et al., 2005; FAO,2006d).
322
al., 1994). Sinclair (1996), em Honduras, obteve resultado semelhante quando
comparou dois sistemas de suplementação (resíduo de milho x resíduo de milho +
lablab). O sistema, incluindo lablab, produziu mais leite por animal e por hectare do
que o sistema tradicional. Além disto, as vacas que receberam o resíduo de milho +
lablab apresentaram maior ganho de peso do que as vacas mantidas no sistema de
suplementação tradicional.
Carneiros alimentados com feno de aveia e lablab tiveram quase o dobro de
ganho de peso quando comparados aqueles que receberam apenas a dieta básica
(Umunna et al 1995). Resultados semelhantes foram obtidos quando carneiros em
pastagens nativas do Zimbábue receberam suplemento desta leguminosa, resultando
em ganho de peso corporal de 3,1 kg em dois meses, enquanto os animais que não
receberam suplementação tiveram ganho de apenas 1,0 kg, no mesmo período (Ndlovu
e Sibanda,1996).
Caprinos alimentados com resíduos da cultura de milho e suplementados com
lablab apresentaram melhor ganho de peso das matrizes, maior peso ao nascer das
crias, maior ganho de peso e maior produção de leite e menor intervalo entre partos,
quando comparados com o sistema tradicional dos pequenos produtores em que não
houve suplementação (Makembe and Ndlovu, 1996).
A limitação no uso de lablab em pastejo é que para assegurar o máximo de
rebrotação, o pastejo deve ser leniente, com remoção parcial das folhas (Luck, 1965).
Segundo Herrera et al. (1966), após cinco cortes em um período de dez meses, a
densidade do estande de lablab caiu de 7,8 para 0,8 plantas.m-2. Pastos de lablab
pastejados por carneiros 10 e 16 semanas após semeadura apresentaram redução da
densidade do estande de 7,7 para 4,0 plantas.m-2 (Philpotts, 1969). O manejo da
leguminosa lablab deve ser realizado adequadamente para que a sua persistência
produtiva possa ser prolongada (Murphy e Colucci, 1999).
6 - PUERÁRIA
6.2 - Sinônimos
323
Neustanthus phaseoloides (Roxb.) Benth., Dolichos phaseoloides Roxb. [basionym]
6.3 - Família/Tribo
6.5 - Cultivares
6.6 - Origem
324
6.7 - Caracterização morfológica
325
Figura 14 – Detalhe da folha de Pueraria phaseoloides (Roxb.) Benth. var.
phaseoloides (Fonte: Judson F. Valentim, 2006).
326
Esta leguminosa adapta-se a vários tipos de solos, desde os arenosos até os
argilosos, bem drenados e de baixa permeabilidade, inclusive àqueles sujeitos ao
encharcamento ou inundação temporária, tolerando acidez com pH variando entre 3,5 a
5,5, com alta saturação de alumínio e solos deficientes em fósforo e cálcio, embora
nestes caso o estabelecimento seja lento. Apresenta boa resposta à adubação e cresce
melhor em solos férteis e mais argilosos do que em solos pobres e arenosos. Apresenta
tolerância moderada ao sombreamento, sendo, portanto, muito utilizada como cultura de
cobertura do solo associada a cultivos perenes. É pouco tolerante ao fogo, apresentando
excelente regeneração por meio do banco de sementes. Esta leguminosa tem
considerável potencial para se tornar uma planta invasora nos ambientes tropicais
úmidos. É tolerante a aplicação pós-emergente dos herbicidas 2,4-D (em solução a 0,08
a 0,48%) e pré-emergente de alachlor (4,0 kg.ha-1), haloxyfop, ametryne, linuron e 2,2-
DPA. É susceptível a aplicação pós-emergente de 2,4-DB e pré-emergente de
pendimethalin (Bogdan, 1977; Skerman, 1977; Turriate, 1986; Paretas et al., 1989;
Valentim e Carneiro, 2000; Cook et al., 2005; FAO, 2006g).
No Cerrado e na Amazônia, o florescimento ocorre entre abril e maio. O período
médio entre o início do florescimento e a colheita das sementes é de 75 dias. Na
Amazônia, a colheita manual das sementes ocorre entre junho e julho (Valentim e
Carneiro, 2000; Cook et al., 2005). Na maioria das áreas tropicais úmidas onde é
cultivada, P. phaseoloides apresenta produção de sementes variando entre 50 a 100
kg.ha-1, embora existam estimativas de 300 a 500 kg.ha-1 (Hutton, 1970; Bogdan, 1977;
Cook et al., 2005). Nas áreas mais secas ou subtropicais, o florescimento e produção de
sementes é baixa ou muitas vezes inexistente (Whyte et al., 1953).
O estabelecimento de P. phaseoloides é feito predominantemente por sementes,
com as seguintes taxas de semeadura: 1) 3 a 6 kg.ha-1 em semeadura exclusiva onde a
leguminosa é utilizada como cobertura do solo associada a culturas perenes ou como
banco de proteína para pastejo; 2) 0,5 a 1,0 kg.ha-1 em pastos consorciados com
gramíneas. A semeadura pode ser feita em sulcos, com matraca ou a lanço (Bogdan,
1977; Skerman, 1977; Paretas et al., 1989; Cook et al., 2005; FAO, 2006g). No Acre,
recomendam-se 2,5 kg.ha-1 de sementes para cultivos puros e 1 kg.ha-1 em pastos
consorciados com gramíneas (Valentim et al., 1984; Valentim e Carneiro, 1998).
A formação de pastos consorciados é dificultada devido à diferença na
capacidade de crescimento inicial da leguminosa (Mott, 1981). Um dos fatores que
contribuem significativamente para reduzir o crescimento inicial desta espécie é a
327
dormência de grande parte das sementes, as quais apresentam o tegumento duro, isto é,
a casca impermeável à penetração de água, o que dificulta e retarda a germinação
(Bogdan, 1977; Skerman, 1977; Serpa e Verdasco, 1980; Paretas et al., 1989; Valentim
e Carneiro, 1998; Cook et al., 2005; FAO, 2006g).
P. phaseoloides apresenta elevada porcentagem de sementes duras, geralmente
em torno de 80%, podendo alcançar 90% (Aya, 1973; Skerman, 1977; Valentim et al.,
1984; Valentim e Carneiro, 1988). O tratamento com ácido sulfúrico concentrado, por
20 minutos, aumentou a germinação de 22 para 41%. O aquecimento das sementes a
40oC elevou a germinação para 75 a 83% em laboratório. Em experimentos no campo, o
aquecimento combinado com a imersão em água por 12 a 24 horas aumentou a
emergência de plântulas para 41 a 42%, sendo superior ao tratamento com ácido
sulfúrico (Aya, 1973).
Serpa e Verdasco (1980) observaram que a escarificação mecânica das sementes
desta leguminosa elevou o índice de germinação de 6 para 93%, 14 dias após a
semeadura. Esses autores relatam ainda que, 28 dias após a semeadura, as plantas
resultantes das sementes submetidas ao processo de quebra da dormência apresentaram
altura de 4,2 cm contra 1,2 cm daquelas resultantes de sementes não escarificadas.
Valentim e Carneiro (1998) citam os seguintes métodos recomendados para a
quebra da dormência das sementes e semeadura de P. phaseoloides: 1) semeadura sem
quebra da dormência das sementes, quando o estabelecimento de pastos consorciados é
feito em áreas recém-queimadas e a semeadura ocorre quando a incidência de chuvas é
baixa e irregular; 2) mistura das sementes no sal mineral, na proporção de 5 a 10%,
quando os produtores desejam introduzir a leguminosa em pastagens de gramíneas já
estabelecidas, por meio das fezes dos animais, sem a necessidade de utilizar a queimada
ou mecanização na área de pastagem; 3) imersão em água fervendo por 5 minutos; 4)
imersão em água a 75oC por 15 minutos; e, 5) imersão em água com temperatura
ambiente por 12 horas. Os métodos 3, 4 e 5 são recomendados para semeadura da
leguminosa em áreas preparadas por meio da queimada ou mecanização.
P. phaseoloides é pouco específica, podendo nodular facilmente com as
bactérias do gênero Rhizobium presentes na maioria dos solos. Portanto, a sua
inoculação não é decisiva, apesar de ser freqüentemente vantajosa para o
estabelecimento e crescimento da planta (Obaton, 1974; Bogdan, 1977; De-Pollli, 1985;
Cook et al., 2005; FAO, 2006g). Entretanto, estudos desenvolvidos por Cantarutti e
328
Silva (1990a, 1990b), na Bahia, mostram que, naquelas condições ambientais P.
phaseoloides exige inoculação para atingir o seu potencial máximo de produção.
Tang et al. (1993) observaram que a inoculação de P. phaseoloides cv. CIAT
9900 aumentou a produção de matéria seca em 25 a 42% e a produção de N em 28 a
54%, com índice de eficiência da inoculação variando entre 14,8 a 35,5%. A aplicação
de 150 kg.ha-1 de N aumentou a produção de forragem da leguminosa em 49%, com
índice de resposta à adubação de 36,7%.
A formação de nódulos nas raízes desta leguminosa foi observada a partir do
oitavo dia após a germinação e nódulos efetivos a partir do décimo segundo dia
(Rajaratnam e Guan,1972). Em diversos estudos constatam-se que a fixação anual de N
por esta leguminosa varia entre 50 a 200 kg.ha-1 (Rajaratnam e Guam, 1972; Sanchez,
1973; Turriate, 1986; Paretas et al., 1989). Costa e Paulino (1990) e Paulino et al.
(1997) observaram que a inoculação desta leguminosa com micorrizas vesículo-
arbusculares aumentou significativamente a produção de matéria seca e a absorção de
fósforo.
A fase de estabelecimento é considerada crítica na utilização desta leguminosa.
As plântulas de P. phaseoloides crescem lentamente nos primeiros 3 a 4 meses após
semeadura, dependendo da fertilidade do solo, e necessitam de proteção das plantas
invasoras durante este período. As plantas emitem ramos principais que chegam a 6 mm
de diâmetro e se estendem por até 6 m de comprimento. Estes ramos geralmente
desenvolvem raízes nos nós em que se formam os ramos laterais. Após 4 a 5 meses de
crescimento, P. phaseoloides forma uma densa camada de biomassa de ramos e folhas,
podendo alcançar até 80 cm de altura. Nesta fase, devido ao crescimento bastante
competitivo, a leguminosa utiliza as plantas de outras espécies e os tocos existentes na
área como tutores, eliminando rapidamente as plantas invasoras (Bogdan, 1977;
Skerman, 1977; Turriate, 1986; Paretas et al., 1989; Valentim et al., 1984; Valentim e
Carneiro, 1998).
Diversos métodos de semeadura da leguminosa em pastos puros e consorciados
com gramíneas são mencionados na literatura. Para a formação de bancos de proteínas,
Valentim et al. (1984) recomendam a semeadura no início do período chuvoso, em áreas
sem a presença de troncos ou tocos de árvores, utilizando semeadora mecânica ou
manual, regulando a densidade para 3 a 5 sementes por cova, com 1 a 2 cm de
profundidade, no espaçamento de 1 m entre linhas e 50 cm entre plantas.
329
Para formação, recuperação e renovação de pastos de gramíneas consorciados
com esta leguminosa Costa et al. (1980; 1997), Valentim e Costa (1982), Valentim et al.
(1984) e Valentim e Carneiro (1998) recomendam as seguintes opções:
330
invasoras e gramíneas nativas de baixa produtividade e qualidade pela pastagem
cultivada de maior valor nutritivo;
7) Uma opção ainda utilizada com freqüência, devido ao seu baixo custo, é a queima
da vegetação da área degradada, seguida do plantio ou semeadura da gramínea e da
leguminosa.
331
meses de pico populacional da praga, não houve impacto significativo na produtividade
e persistência da leguminosa.
Valentim (1983) observou que pastos de B. decumbens puros apresentaram 86%
de índice de danos devido ao ataque de cigarrinhas-das-pastagens (Deois flavopicta e
Zulia entreriana). Entretanto, na mesma época, pastos consorciados desta gramínea com
P. phaseoloides, localizados em áreas adjacentes, submetidas ao mesmo tipo de manejo
e com pressões de pastejo iguais, tiveram índices de danos de apenas 18%. Este fato foi
atribuído a uma maior diversificação do ecossistema pastagem, constituída de
aproximadamente 50% da leguminosa.
Além de apresentar uma grande faixa de adaptação às condições edafoclimáticas
nos trópicos, P. phaseoloides também produz excelentes quantidades de forragem
nestas regiões. A produtividade de forragem anual desta leguminosa varia entre 5 e 15
t.ha-1 de matéria seca (Bogdan 1977; Costa et al., 1979; 1981; Turriate, 1986; Paretas et
al., 1989). Entretanto, Febles e Padilha (1970) obtiveram 19,7 t.ha-1 de matéria seca.
Valentim e Carneiro (2000), no Acre, observaram que o acesso de P. phaseoloides
BRA-006483 apresentou produção de forragem anual e durante o período seco,
respectivamente, 40 e 117% maiores do que a variedade comercial. Em Rondônia, pasto
consorciado de Brachiaria brizantha e P. phaseoloides tiveram produção anual de 35.3
t.ha-1 de matéria seca, comparada com 32 t.ha-1 na pastagem pura da gramínea. Quando
consorciada com B. brizantha, P. phaseoloides fixou o equivalente a 194 kg.ha-1.ano de
N e transferiu 75 kg.ha-1.ano de N para a gramínea. A transferência de N foi maior do
que outras leguminosas herbáceas de crescimento volúvel (Costa, 1993).
O teor de PB e a DIVMS desta leguminosa têm sido reportados com valores
variando entre 12 a 24% e 60 a 70%, respectivamente, sendo os maiores percentuais
obtidos durante o período chuvoso. A forragem de P. phaseoloides, colhida na fase de
florescimento, apresentou teor de PB superior a 26%. Os teores de Ca e P têm sido
registrados com valores entre 0,36 e 0,98% e 0,16 e 0,39%, respectivamente, sendo os
valores mais elevados observados em pastagens adubadas com fertilizantes (Dirven e
Ehrencron, 1963; Blasco e Bohórquez, 1968; Bogdan, 1977; Costa et al., 1979; Turriate,
1986; Abaunza et al., 1991; Costa et al., 1995; Ruiloba et al., 1995; Cook et al., 2005).
A aceitabilidade desta leguminosa por bovinos é baixa a moderada durante o período
chuvoso, aumentando substancialmente durante o florescimento. Isto pode estar
relacionado à perda de qualidade das gramíneas consorciadas ao final do período
chuvoso (Cook et al., 2005). Para utilização dessa leguminosa é necessário um período
332
de adaptação dos bovinos, porém os animais criados em pastagens de gramíneas
consorciadas com esta leguminosa não apresentam restrição ao seu consumo.
Diversos estudos também demonstram que a inclusão desta leguminosa em
pastagens de gramíneas contribui para aumentar significativamente a qualidade e
quantidade da forragem produzida. Daza (1990b), na Bolívia, observou que a inclusão
de P. phaseoloides em pastagens de B. humidicola aumentou em mais de 57% o teor de
PB na forragem produzida (Tabela 5).
333
Ezenwa e Akenova (1998), na Nigéria, observaram que pastos consorciados de
P. maximum com P. phaseoloides foram tão produtivas como pastagens puras da
gramínea adubadas com 200 kg.ha-1.ano de N. Os pastos consorciados produziram 22 a
154% mais forragem do que as pastagens da gramínea pura sem adubação. Além disto,
a mistura da gramínea com a leguminosa foi mais efetiva no controle das plantas
invasoras e apresentou maior teor de PB na forragem do que a pastagem pura da
gramínea. Costa (1996) observou que a consorciação de Penisetum purpureum cv.
Cameroon com P. phaseoloides apresentou produção de forragem equivalente àquela
obtida pela gramínea pura adubada com 50 kg.ha-1.ano de N.
Valentim (1982) relata que a introdução de P. phaseoloides em pastagens de
capim-colonião (P. maximum) em degradação aumentou o valor nutritivo da forragem,
proporcionou melhor cobertura ao solo, garantindo maior retenção de umidade, além de
incorporar N ao sistema solo-planta. Isto resultou no aumento da disponibilidade e
qualidade de forragem no período seco.
334
6.10 - Desempenho animal
335
7 - SIRATRO
7.2 - Sinônimos
7.3 - Família/Tribo
7.5 - Cultivares
336
7.6 - Origem
337
Figura 16 – Macroptilium atropurpureum (DC) Urb. em fase vegetativa (Fonte: Cook
et al., 2005).
338
Esta leguminosa ocorre naturalmente em áreas desde 30ºN a 22ºS, em altitudes
desde o nível do mar a 2.900 m. É cultivada com sucesso nos subtrópicos e em regiões
de maior altitude nos trópicos com crescimento na estação mais quente. Apresenta
melhor crescimento e produção com temperaturas diurnas de 27 a 30ºC e noturnas de
22 a 25ºC, com crescimento bastante reduzido em temperaturas diurnas e noturnas
abaixo de 18 e 13ºC, respectivamente. As folhas são sensíveis a geadas leves. Geadas
moderadamente severas resultam na morte da parte aérea até a coroa das plantas, mas
estas se recuperam com o início da estação quente e úmida. Exige precipitação anual
entre 700 e 1.500 mm. Não se desenvolve bem em regiões com precipitação acima de
1.800 mm, sendo a incidência de doenças foliares o principal problema nestes
ambientes. Apresenta boa adaptação à seca, possuindo sistema radicular pivotante e
profundo e a capacidade de minimizar a evapotranspiração por meio da pubescência
das folhas, da redução do tamanho e da senescência das folhas em decorrência
da seca. Esta leguminosa é moderadamente tolerante ao sombreamento, se adapta a
uma gama ampla de solos, desde os arenosos aos argilosos. Tem sido estabelecida com
sucesso em solos com pH entre 4,5 e 8,5. Tolera solos com níveis moderados de
alumínio e manganês. Apresenta melhor tolerância à salinidade do que a maioria das
leguminosas tropicais. Não tolera condições de solos encharcados ou inundados
(Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
O florescimento inicia-se em resposta ao início do período seco, geralmente 60 a
70 dias após a semeadura. O crescimento vegetativo recomeça com o início da estação
chuvosa. As vagens se abrem quando maduras. As sementes podem apodrecer nas
vagens em ambientes muito úmidos. A produção de sementes de siratro deve ser feita
em áreas específicas para esta finalidade, uma vez que esta leguminosa apresenta baixa
produção de sementes em áreas sob pastejo. As sementes podem ser colhidas de forma
manual ou mecânica. Na colheita manual, as vagens devem ser colhidas pela manhã,
uma vez que com o sol quente as vagens maduras se abrem ao toque das mãos ejetando
as sementes. Em áreas de produção comercial em larga escala, o uso de irrigação pode
estimular o crescimento, com o florescimento ocorrendo quando a umidade diminui. O
manejo da irrigação permite maior sincronia na colheita das sementes. A produção de
sementes varia entre 100 a 400 kg.ha-1 (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
Apresenta elevada proporção de sementes dormentes, sendo que a escarificação
mecânica pode aumentar a germinação de 10 para 80%. As sementes colhidas com
equipamentos de sucção já são suficientemente escarificadas no processo de colheita. A
339
semeadura deve ser feita em um solo bem preparado, com 2 a 8 kg.ha-1 de sementes,
feita preferencialmente em sulcos ou covas a profundidade de 1,5 a 2,5 cm em solo bem
preparado e as sementes cobertas com uma gradagem leve ou com um rolo. A
semeadura pode também ser feita a lanço de forma manual ou aérea. Siratro geralmente
é cultivada em misturas com gramíneas, com a semeadura sendo feita simultaneamente,
sendo as sementes da leguminosa (média de 3 kg.ha-1) misturadas com as sementes da
gramínea. As plântulas são vigorosas e também podem se estabelecer em condições de
cultivo mínimo em áreas dessecadas com herbicida específico para gramíneas. Em
semeaduras exclusivas para a produção de sementes o trifluralin é utilizado como
herbicida pré-emergente e o fluazitop ou sethoxydim como pós-emergente para o
controle de gramíneas. Também é tolerante ao benfluralin e acifluorfen. Entretanto, é
muito susceptível ao bentazone, 2,4-D e 2,4-DB. É de fácil estabelecimento, com
crescimento inicial rápido, nodulando livremente com tipos de Rhyzobium nativos na
maioria dos solos. Siratro pode fixar anualmente entre 100 a 175 kg.ha-1.ano de N
(Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
Siratro responde bem à adubação com fósforo (P) em solos de baixa a média
fertilidade, porém não é tão exigente quanto a soja perene. O valor crítico de P na parte
aérea da planta é de 0,24% na matéria seca. Para o estabelecimento e manutenção desta
leguminosa em solos com menos de 8 mg.dm-3 de fósforo disponível, pode ser
necessária a aplicação adicional de 20 a 30 kg.ha-1 e 10 a 20 kg.ha-1 de P,
respectivamente. Esta leguminosa não é sensível à deficiência de cálcio, mas em solos
ácidos, o molibdênio (Mo) pode estar indisponível e a aplicação de cálcio para elevar o
pH e liberar Mo que resulta em aumento da produtividade de matéria seca. O valor
crítico de potássio (K) na parte aérea das plantas é de 0,75% da matéria seca. Quando a
disponibilidade de P é elevada, o K pode se tornar deficiente. (Bogdan, 1977; Cook et
al., 2005; FAO, 2006e).
Durante períodos de alta precipitação e umidade a murcha, causada por
Rhizoctonia solani, pode reduzir a produção de folhas desta leguminosa em até 80%.
Geralmente, as plantas se recuperam com o início do período seco. A ferrugem do
feijão (Uromyces appendiculatus var. crassitunicatus) causa o aparecimento de muitas
pústulas de cor marrom nas folhas das variedades susceptíveis, resultando em severa
queda das folhas e redução da quantidade e qualidade da matérias seca disponível na
pastagem. A cultivar Aztec foi desenvolvida para superar este problema. A falsa
ferrugem (Synchytrium phaseoli) se desenvolve durante períodos de umidade elevada e
340
pode ser devastadora. Siratro é reconhecida como uma cultura hospedeira da ferrugem
asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi). A mancha angular das folhas
[Phaeoisariopsis (Isariopsis) griseola] pode causar, em temperaturas frias, perda
moderada a severa das folhas. É também planta hospedeira de Pseudomonas syringae
pv. phaseolica, que tem pouco efeito na sua produtividade e persistência, mas quando
cultivada próximo da cultura de feijão (Phaseolus vulgaris) causa sérios danos. O vírus
do mosaico amarelo do feijão alado afeta M. atropurpureum. A doença da folha
pequena das leguminosas, causada por phytoplasma e disseminada por Orosius
orientalis, pode matar plantas individuais, mas não causa perdas significativas na
produção desta leguminosa. A resistência ao nematóide-das-galhas radiculares
(Meloidogyne arenaria, M. hapla, M. incognita, e M. javanica) é comum nesta
leguminosa. Siratro é resistente ao nematóide Radopholus similis, mas não ao
Helicotylenchus dihystera. As larvas de Melanagromyza phaseolin furam os caules das
plantas e, frequentemente, causam a morte de plântulas. Urbanus proteus (Lepidoptera:
Hesperiidae) ataca as plantas no final de verão e no outono. Adultos de Baryopadus
(Leptopius) corrugatus se alimentam das folhas e as larvas podem causar danos severos
as raízes desta leguminosa (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
Esta leguminosa se dissemina naturalmente por meio de sementes que são
ejetadas há vários metros de distância por ocasião da abertura das vagens maduras.
Também é disseminada por meio do consumo pelos animais em pastejo. Apresenta
maior compatibilidade com gramíneas eretas ou de crescimento cespitoso (Chloris
gayana, Cenchrus ciliaris, Panicum maximum, Setaria anceps) e leguminosas
(Chamaecrista rotundifolia, Desmodium intortum, Macrotyloma axillare, Neonotonia
wightii, Stylosanthes guianensis, S. hamata, S. scabra, S. seabrana) que necessitam de
condições semelhantes de manejo sob pastejo. É menos compatível com gramíneas
decumbentes e mais competitivas (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
Siratro deve ser manejada sob pastejo leve e, ou lotação rotativa visando
assegurar a sua persistência. É essencial proteger os estolões do pastejo excessivo.
Pastagens mistas, onde a participação da leguminosa na composição botânica esteja
caindo, devem ser diferidas durante a época de produção de sementes da leguminosa.
Isto permite aumentar o estande da leguminosa por meio da regeneração de novas
plantas. Também permite que a leguminosa tenha maior capacidade de competir com a
gramínea e as plantas invasoras. Um sistema de manejo sob lotação rotativa com duas
semanas de pastejo e quatro semanas de descanso apresentou bons resultados em
341
condições do trópico úmido. O estande da leguminosa apresenta redução drástica após
um a dois anos sob pastejo pesado devido a perda de pontos de rebrotação, redução do
tempo de vida das plantas, menor produção de sementes e a conseqüente redução no
banco de sementes no solo. Mesmo com bom manejo, os pastos de grmíneas
consorciados com siratro tendem a ser menos produtivas após cinco a sete anos de
estabelecidos. Embora as plantas individuais persistam por quatro anos ou mais, o
diferimento das pastagens durante a época de produção de sementes, a cada três anos é
essencial para a manutenção do banco de sementes da leguminosa no solo. O fogo
queima a parte aérea das plantas, mas estas apresentam boa recuperação a partir de
gemas da coroa e de novas plântulas provenientes do banco de sementes no solo
(Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
A produção de matéria seca desta leguminosa varia de 5 a 10 t.ha-1.ano, sendo
menor do que estes valores sob pastejo ou corte. O valor nutritivo da matéria seca
geralmente é bom, embora o teor de PB (PB), de minerais e a DIVMS possam ser
aumentados por meio do suprimento de níveis ótimos de fósforo, enxofre e molibdênio.
Os valores de PB e DIVMS da biomassa aérea variam de 12% e 45%, em forragem com
maior período de rebrotação, a 25% e 65%, em forragem com menor período de
rebrotação. Os valores médios de PB, fósforo e fibra em detergente ácido (FDA) nas
folhas dos 15 cm superiores do pasto foram avaliados em 25%, 0,26% e 24% e nos
caules foram 15%, 0,22% e 41%, com as folhas representando 76% da matéria seca.
Não apresenta presença de componentes tóxicos ou anti-nutricionais (Bogdan, 1977;
Cook et al., 2005; FAO, 2006e).
Pastos consorciados com siratro quase sempre apresentam maior produção e
maior valor nutritivo da matéria seca quando comparados com pastos exclusivos de
gramíneas (Bogdan, 1977). Na Flórida, estados Unidos, a produção média de matéria
seca durante quatro anos em uma pastagem pura de Digitaria decumbens foi de 19 t.ha-1
comparada com 42,3 t.ha-1 de matéria seca no pasto consorciado com siratro. A PB da
matéria seca aumentou de 6,1%, no pasto exclusivo da gramínea, para 9,5% no pasto
consorciado. A produção total de PB, em quatro anos, passou de 1.140 kg.ha-1, no pasto
puro da gramínea, para 3.900 kg.ha-1, no pasto consorciado com a leguminosa. Em
outro experimento, pasto de Digitaria decumbens consorciado com siratro produziu
tanto quanto o pasto puro da gramínea adubada com 125 kg.ha-1 de N. A produção e o
valor nutritivo de matéria seca na pastagem mista de Paspalum notatum e siratro
342
superou consideravelmente os valores obtidos no pasto exclusivo da gramínea
(Kretschmer, 1972).
343
Cook et al., 2005). Jones (1974), em pasto da leguminosa consorciado com Setaria
anceps, com 2,42 cabeças.ha-1 registrou 256 kg.ha-1 de ganho de peso de novilhos,
sendo esta a taxa de lotação considerada ótima. A mesma gramínea, adubada com 336
kg.ha-1 de N, produziu ganho de peso vivo de 491 kg.ha-1, com taxa de lotação ótima de
5,58 cabeças.ha-1. Entretanto, o ganho de peso por animal no pasto consorciado (106 kg)
foi maior do que o obtido no pasto exclusivo de gramínea (88 kg), no mesmo período. O
fornecimento de uma dieta de forragem exclusiva da leguminosa para vacas em lactação
não é recomendável, devido à baixa ingestão de energia digestível (Stobbs, 1971).
8 - SOJA PERENE
8.2 - Sinônimos
8.3 - Família/Tribo
344
Sub-família: Faboideae (alt. Papilionoideae)
Tribo: Phaeolae
Subtribo: Glycininae. Também classificada como Papilionaceae.
Soja perene (Brasil,); glycine (Austrália, Quênia); soya perenne forrajera, soya
forrajera, soya perenne (Colômbia, México); perennial soybean (English); soja pérenne
(French); ausdauernde soja (German); rhodesian kudzu (Taiwan); fundo-fundo
(Tanzânia); thua peelenian soibean (Thailândia) (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005;
FAO, 2006f).
8.5 - Cultivares
Clarence, Cooper e Tinaroo (Austrália, 1962), IRI No. 1 -SP1 (Brasil), Kenya
white glycine, Kenya violet glycine (Quênia), Malawi (Austrália, 1976), M 218 e
Moshi (Tanzânia), Tropic Verde (Havaí-Estados Unidos, 1992) (Cook et al., 2005).
8.6 - Origem
345
Leguminosa herbácea perene, com forma de crescimento volúvel, sistema
radicular pivotante e profundo, com até 25 mm de diâmetro na base de plantas mais
velhas. Caules com 2 a 3 cm de diâmetro, glabros a densamente pubescentes, com pêlos
esbranquiçados a marrom-avermelhados, semi-eretos, com muitas ramificações. Quando
o caule principal é pastejado ou cortado pode surgir rebrotações de gemas subterrâneas
na coroa da planta. A capacidade dos caules prostrados para desenvolver raízes nos nós
que entram em contato com o solo varia entre as cultivares. As folhas possuem três
folíolos com forma elíptica, oval ou rombóide-ovalada, agudos ou obtusos nas
extremidades, com 5 a 15 cm de comprimento e 3 a 12,5 cm de largura, glabros a
densamente pubescentes em ambas as faces. As estípulas são lanceoladas, decíduas,
com 4 a 6 mm de comprimento. Os pecíolos têm 5 a 13 cm de comprimento. As
inflorescências axilares em racemos densos, com 2 a 35 cm de comprimento em
pedúnculos com 3 a 12,5 cm de comprimento, com 20 a 150 flores em clusters. As
flores têm 4,5 a 11 mm de comprimento, cor branca a violeta-azulada, podendo tornar-
se amarelas a laranja na senescência (Figura 18). As vagens de cor marrom são lineares
a oblongas, retas ou ligeiramente curvadas no ápice, glabras a densamente pubescentes,
com pêlos cinza a marrom-avermelhados, com 1,5 a 4,0 cm de comprimento e 2,5 a 5,0
mm de largura, contendo 3 a 8 sementes. As vagens se abrem quando maduras. As
sementes variam em tamanho, forma e cor. São oblongas, achatadas lateralmente, com 2
a 4 mm de comprimento, 1,5 a 3 mm de largura e 1 a 1,5 mm de espessura, com cor
variando de verde-oliva, marrom-claro a marrom-avermelhado escuro (Figura 19).
Possuem 50.000 a 170.000 sementes.kg-1 (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO,
2006f).
346
Figura 18 – Detalhe das folhas, inflroescências e fores de Neonotonia wightii (Wight e
Arn.) J.A. Lackey. (Fonte: Cook et al., 2005).
Figura 19 – Detalhe das vagens e sementes de Neonotonia wightii (Wight e Arn.) J.A.
Lackey. (Fonte: Cook et al., 2005).
347
8.8 - Caracterização agronômica
Adapta-se a ambientes com precipitação anual média entre 800 a 1.500 mm,
preferencialmente concentrada no verão. Não desenvolve bem em área com
precipitação mais elevada. Necessita de temperaturas anuais ente 15 a 25ºC, algumas
vezes com mínimas de 5 a 6ºC e sujeitas à geadas. As folhas e caules mais finos
morrem em conseqüência das geadas, mas as plantas se recuperam por meio da
rebrotação de gemas nos ramos mais velhos e na base da coroa. Temperaturas abaixo
de 10ºC negativos podem resultar na morte de até 50% das plantas. O regime ótimo de
temperatura diurna e noturna para o crescimento é de 30 e 25ºC, respectivamente, com
o crescimento reduzindo a 16ºC e estabilizando a 13ºC. A formação de sementes é
reduzida em altas temperaturas. É uma leguminosa bastante tolerante à seca, embora
estas características variem entre as cultivares e acessos. Desenvolve-se melhor em
solos bem drenados, mas tolera encharcamento moderado e temporário, com alguns
acessos tendo sido coletados em depressões do solo e em margens de pântanos.
Apresenta razoável tolerância à salinidade, sendo que esta característica varia entre as
cultivares. Prefere pH acima de 6,5. A toxidez de manganês verificada em pH de 5,1
foi eliminada com a aplicação de calcário para elevar o pH para 6,5. Apresenta
tolerância moderada ao sombreamento, desenvolvendo-se com sucesso sob árvores em
florestas abertas ou sob plantios florestais. Quando cultivada em consórcio com
gramíneas de porte alto, beneficia-se de sua forma de crescimento volúvel e utiliza os
caules das gramíneas como tutores para crescer em direção à luz (Bogdan, 1977; Cook
et al., 2005; FAO, 2006f).
A soja perene é uma espécie cuja fase reprodutiva é induzida por dias curtos,
sendo que as cultivares disponíveis foram desenvolvidas parcialmente com base na
época de florescimento. Quando o comprimento do dia é de 8 a 11 horas o
florescimento inicia 45 a 58 dias após a germinação. Com dias com duração de 12 a 14
horas, o período para início do florescimento aumenta e com dias de 16 a 18 horas o
florescimento inicia 130 dias após a germinação e algumas cultivares não florescem. A
Cultivar Clarence e Cooper são precoces e a Tinaroo é tardia. A colheita das sementes
pode ser manual ou mecânica, quando as vagens adquirem uma coloração escura e
começam a se abrir. Embora a produção de sementes possa alcançar 1.000 kg.ha-1, em
áreas com fins comerciais, a média é de 300 kg.ha-1. A proporção de sementes
348
dormentes em lotes colhidos de forma manual é de 80 a 90%. A quebra da dormência
pode ser feita: 1) utilizando a escarificação mecânica; 2) com ácido sulfúrico
concentrado por 25 minutos, seguida da lavagem em água; e 3) com água quente a
70ºC por 10 minutos. Sementes comerciais já são suficientemente escarificadas no
processo de colheita mecânica (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006f).
É uma leguminosa bastante promíscua, nodulando com os tipos nativos de
Rhizobium existentes no solo, porém é mais eficiente e, ou eficaz quando inoculada
com CB 756 (Austrália) SFS 288 ou SFS 404 (Brasil) e MG 5013 (Malawi). A
fixação de N varia de 70 a 165 kg.ha-1.ano. Em área bem preparadas, a semeadura (1,5
a 10 kg.ha-1 de semente) pode ser feita a lanço ou as sementes podem ser distribuídas
no espaçamento de 50 cm ou 100 cm entre linhas, à profundidade de 1 a 3 cm no solo
e compactadas com rolo. Pode ser semeada em pastagens já estabelecidas, precedida
de pastejo e aplicação de herbicida seletivo para gramíneas ou uma gradagem para
facilitar o desenvolvimento inicial das plântulas. Apresenta resposta elevada a
aplicação de fósforo (150 a 250 kg.ha-1 de superfosfato). A germinação é boa a
temperaturas moderadas e cai drasticamente a temperaturas acima de 37ºC. As
sementes emergem cinco a sete dias após a semeadura. O estabelecimento inicial é
relativamente lento, mas a taxa de crescimento aumenta com o desenvolvimento de
nodulos efetivos. Em boas condições 100% de cobertura do solo pode ser alcançada
após dois a três meses da semeadura e a forragem já pode ser colhida, dependendo da
cultivar e das condições ambientais (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006f).
Apresenta tolerância a aplicação pré-emergente de trifularin e benfluralin. As
plântulas são susceptíveis a aplicação de acifluorfen, bentazone, 2,4-D e 2,4-DB. A
tolerância a 2,4-D e 2,4-DB aumenta com a idade das plantas. A aplicação de 2,4-DB
pode ser feita na dosagem de 0,8 kg.ha-1 do ingrediente ativo (i.a.), quando o estande
tiver três a quatro meses de idade, mas ainda reduz o crescimento da leguminosa. Este
herbicida também pode ser usado em estandes com cinco semanas de idade (1,1 kg.ha-
1
do i.a.) e com três a quatro meses (2,2 kg.ha-1 do i.a.). É tolerante a aplicação do
diquat, na dosagem de 140 g.ha-1 do do i.a., quando o estande tem idade entre cinco e
oito semanas e 280 g.ha-1 do i.a. quando a leguminosa já está estabelecida (Cook et al.,
2005).
A soja perene pode ser consorciada com as gramíneas Chloris gayana,
Digitaria eriantha (capim-pangola grass), P. maximum, P. clandestinum, P.
purpureum, S. anceps e B. decumbens. Em áreas exclusivas da leguminosa, onde a
349
biomassa aérea é usada para a produção de feno ou outros fins, o corte é feito na fase
de desenvolvimento das vagens. A produção de matéria seca varia de 3 a 8 t.ha-1,
podendo alcançar 12 t.ha-1. Apresenta boa aceitabilidade durante todo o período de
crescimento. O teor de PB na matéria seca total e na matéria seca de folhas é 20,4% e
26,5%, respectivamente. A DIVMS varia entre 55 e 62%, dependendo da idade da
rebrotação e das condições de umidade do solo. Os teores de cálcio e fósforo são de
1,46% e 0,34%, respectivamente. O valor nutritivo do feno geralmente é menor do que
na forragem verde devido à perda de folhas (Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO,
2006f).
Em ambientes muito úmidos, a mela (Rhizoctonia solani) pode causar severa
perda de folhas. Outras doenças causadas por Cercospora sp., Sclerotinia
sclerotiorum e Synchytrium dolici também podem afetar esta leguminosa. A ferrugem
(Phakopsora pachyrhiza) pode ocorrer em folhas mais velhas, mas não é um problema
em áreas sob pastejo, onde ocorre uma renovação constante das folhas. N. wightii é
uma hospedeira alternativa para Pseudomonas syringae pv. phaseolicola, que afeta
seriamente a cultura do feijão (Phaseolus vulgaris), embora não afete seriamente a
primeira. Em condições quentes e úmidas, insetos do gênero Oncopera spp. podem
causar severa redução da área foliar. As raízes das plântulas podem ser atacadas por
Amnemus quadrituberculatus e Baryopadus corrugatus, causando redução no
estande. A produção de sementes pode ser afetada devido ao ataque de Bruchus sp.
(Bogdan, 1977; Cook et al., 2005; FAO, 2006f).
Em condições normais, pastos de gramíneas consorciados com esta leguminosa
podem ser levemente pastejados 7 a 8 semanas após a semeadura, a fim de reduzir a
competição da gramínea. Após o estabelecimento da leguminosa, os pastos podem ser
manejados sob lotação rotativa, com altura pós pastejo de pelo menos 20 cm.
Recomenda-se diferir as pastagens a cada 2 a 3 anos no final da estação chuvosa, a fim
de permitir um bom florescimento e produção de sementes, assegurando a persistência
da leguminosa. Períodos mais longos de descanso são necessários para que a
leguminosa possa reduzir e, ou eliminar plantas invasoras. A soja perene recupera-se
após a queimada do pasto por meio das gemas localizadas na base da coroa das plantas
e que estão parcial ou totalmente cobertas pelo solo e pela regeneração de novas
plântulas a partir do banco de sementes existente no solo (Bogdan, 1977; Cook et al.,
2005; FAO, 2006f).
350
8.9 - Formas de utilização
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360
CAPÍTULO 14
PALMA FORRAGEIRA
Mércia Virginia Ferreira dos Santos
Mário de Andrade Lira
José Carlos Batista Dubeux Jr
Marcelo de Andrade Ferreira
Márcio Vieira da Cunha
1 - INTRODUÇÃO
A palma (Opuntia e Nopalea) é uma cactácea de multiusos, podendo ser
utilizada como frutífera, forrageira, produção de corante, medicinal, energia, cosmético,
proteção do solo, verdura, entre outros (Florez Valdez, 1977; Retamal et al., 1987;
Gathaara, 1989, Barbera, 2001), sendo o uso forrageiro o mais importante no Brasil.
Essa espécie é um importante alimento para os rebanhos em muitas regiões
áridas e semi-áridas do mundo, principalmente, por sua alta resistência à seca, aliada a
alta aceitabilidade e produção de biomassa (Santos et al., 2005), além de elevado teor de
água em seus tecidos e de nutrientes digestíveis totais na matéria seca. Pelas suas
características, a palma é a cactácea de maior importância no Nordeste do Brasil e em
algumas regiões do mundo.
Considerando a importância da palma como suporte forrageiro, esse capítulo
objetiva descrever os diversos aspectos relacionados à palma forrageira, com ênfase nas
pesquisas realizadas em Pernambuco.
2- HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA
Há controvérsias entre os autores quanto à introdução da palma no Brasil e no
Nordeste e segundo Simões et al. (2005), existem várias versões na literatura e a maior
parte não baseada em estudo historiográfico mais rigoroso.
Segundo Lira et al. (2006), a palma forrageira, provavelmente, foi introduzida no
Rio de Janeiro pelos portugueses, com vistas a quebrar o monopólio Espanhol sobre o
corante carmim produzido no México. Campello e Souza (1960) e Viana (1969)
afirmam que por volta de 1880, Herman Lundgren introduziu em Pernambuco cactáceas
inermes originárias do Texas, onde estavam sendo estudadas pelo botânico Burbanks.
361
Inicialmente, o valor forrageiro da palma no Nordeste não foi reconhecido,
embora no Norte da África o cultivo de variedades inermes de Opuntia para fins
forrageiros já fosse difundido no final do século XIX (Domingues,1963), só
despertando interesse como forrageira em Pernambuco e Alagoas em 1902 (Lira et al.,
2006). Segundo Domingues (1963), a disseminação da palma em Pernambuco foi
incentivada pelo decreto do interventor pernambucano em 1931, que conferia prêmios
aos plantadores de palma que obedecessem a requisitos recomendados de
estabelecimento e de manejo.
Existe um elevado número de artigos que evidencia a utilização da palma para
diferentes fins (Quadro 1). Entretanto, o uso como forragem é notado em diferentes
locais do mundo, como no Brasil (Santos et al., 2006); México (Flores Valdez, 1977),
Espanha (Retamal et al., 1987), África (Nefzaoui e Ben Salem, 2004), Itália (Crosta e
Vecchio, 1979), Estados Unidos (Shoop et al., 1977) e Alemanha (Gland e Weniger,
1981), dentre outros.
Continua ...
362
Tabela 1- Continuação...
3 - ORIGEM E DOMESTICAÇÃO
363
2001). Durante a domesticação das espécies selvagens, que são diplóides, a espécie
Opuntia ficus-indica (L.) Mill. adquiriu alto nível de ploidia. Assim, o processo
evolutivo da espécie conduziu a formação de octaplóides, ou seja, 2n=88 (Kiesling,
1998).
Há indicações que o processo de seleção dos ancestrais da espécie foi direcionado
para plantas sem espinhos e de frutos mais doces. De acordo com Griffith (2004), estas
plantas passaram a ser cultivadas e, através do comércio, foram dispersas pela
Mesoamérica (Figura 1), Caribe e, possivelmente, pela América do Sul. Viajantes
europeus as espalharam no Mediterrâneo e no Norte da África, as quais, em seguida,
passaram às regiões áridas e semi-áridas de todo mundo, inclusive no Brasil.
364
espécie N. cochenillifera Salm-Dyck é diplóide. Similaridade nos caracteres
morfológicos sugere que a espécie é derivada da N. dejecta (Martinez, 2002).
4 - ASPECTOS MORFOFISIOLÓGICOS
365
Figura 2- Morfologia da Opuntia ficus-indica (L.) Mill. A, hábito; B, cladódio; C,
aréola do cladódio; D, flor; E, aréola do flor; G, fruto; H, vista dorsal da
semente; I, vista ventral da semente. Barras=1m (A), 10 cm (B), 5 mm (C,E),
4 cm (D,F), 5 cm (G), 4 mm (H, I).
Fonte: Reyes-Agüero et al. (2005).
366
Figura 3- Morfologia da flor da Nopalea cochenillifera Salm-Dyck. A. Flor (1=ovário,
2=sépala, 3=pétala, 4=estames, 5=estigma; B. Ovário, corte longitudinal
(1=óvulos, 2=aréolas, 3=intumecimento discóide do estilete); C. Perímetro,
corte longitudinal (1=cálice, 2=estilete, 3=estigma, 4=estames); D. óvulo; E.
Gloquídios.
Fonte: Myre (1974).
367
A B
C D
Figura 4- Aspecto morfológico dos cultivares: Palma gigante (A), Palma miúda (B)
Palma redonda (C) e Clone IPA-20 (D).
368
vasos do xilema com células de fibras lenhosas e parede espessa, mesófilo com células
do parênquima clorofiliano com paredes finas e grandes.
A
B
PP
PP
EP
EP
D
C
369
cultivar. Santos et al. (1990) observaram variação no número e dimensões de artículos
de palma cv. Gigante, conforme a ordem dos mesmos (Tabela 3).
370
Tabela 3- Número, dimensões e matéria seca de artículos de diferentes ordens da palma
forrageira cv. Gigante aos quatro anos de idade.
Ordem dos Número de Dimensões, cm Peso seco
artículos artículos/planta g/artículo
Largura Comprimento
Quinta 11,0 b 19,75 a 35,09 a 71,87 b
Quarta 20,4 a 19,08 ab 35,10 a 84,25 b
Terceira 17,4 a 16,80 c 32,35 ab 101,95 b
Segunda 7,4 b 17,87 c 31,71 b 169,32 a
Média 14,05 18,37 33,56 106,84
C.V. % 18,27 7,04 7,34 26,84
Médias seguidas de igual letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P> 0,05).
Fonte: Adaptado de Santos et al.. (1990).
4.2.Características Fisiológicas
371
mudança no metabolismo fotossintético nessas condições. Entretanto, Nobel (2005)
observou que em condições de boa irrigação, plantas de palma mantiveram o
comportamento de espécie de metabolismo CAM.
5 - ESTABELECIMENTO
5.1 -Variedades
A palma forrageira não tolera áreas com deficiência de drenagem e com teores
elevados de sais (Berry e Nobel, 1985; Nobel, 1995). Apresenta moderada tolerância ao
sombreamento, tendo alguns trabalhos (Lima, 1988) demonstrado a possibilidade de
plantio de palma em consórcio com algaroba (Prosopis juliflora). A palma, como a
maioria dos vegetais, apresenta maior crescimento em solos mais férteis. Assim,
recomenda-se solos de textura franca ou argilo-arenosa, que apresentam drenagem
eficiente, mas que por outro lado também tenham CTC e fertilidade mais elevados do
que solos com alto teor de areia.
372
A palma tolera solos ácidos (Berry e Nobel, 1985), mas por ser uma cultura
responsiva à adubação, recomenda-se elevar o pH do solo para propiciar eficiência de
utilização do fertilizante aplicado. Além disso, a palma apresenta alto teor de Ca na
massa seca (MS). Desta forma, a calagem funciona também como fornecedora deste
nutriente (e de Mg) para a palma. Assim, o nível de saturação por bases de 70% pode
ser utilizado.
Diversos experimentos de adubação já foram conduzidos no NE do Brasil, tanto
adubação orgânica (Souza, 1965; Araújo et al., 1974) como mineral (Lima et al, 1974;
Dubeux Jr. et al., 2006), bem como a combinação de ambas (Souza, 1965; Santos et al.,
1996). Em geral, observa-se respostas positivas da palma à aplicação de fertilizantes
(Tabela 4).
A palma apresenta resposta à adubação fosfatada (Tabela 4), notadamente
quando cultivada em populações adensadas (40.000 plantas por ha) e teores de P no solo
(Mehlich-1) abaixo de 10 mg.dm-3 (Dubeux Jr. et al., 2006). O P deve ser aplicado no
estabelecimento e após cada colheita para reposição dos nutrientes removidos.
373
Tabela 4- continuação...
Espécie Densidade Adubação/calagem Produtividade Referência
(planta/ha) (t de MS.ha-1
(2 anos)
0 kg.ha-1 de P2O5 8,0
O. ficus- 5.000 150 kg.ha-1 de P2O5 9,1
indica
O. ficus- 0 kg.ha-1 de P2O5 15,9
indica 40.000 150 kg.ha-1 de P2O5 18,6
374
respectivamente. Também para produções intensivas de forragem deve-se atingir esses
níveis de fertilidade do solo.
Em termos de micronutrientes, o B tem sido apontado como um dos mais
importantes (Nobel et al., 1987) para cultura da palma.
Em termos de adubação orgânica, têm sido observadas respostas positivas
freqüentes ao nível de 20 t.ha-1 de estrume de curral aplicado após cada colheita bienal,
entretanto em populações mais densas essa resposta pode ocorrer em níveis bem mais
elevados. Santos et al. (2007) observaram respostas positivas lineares até 80 t.ha-1 de
estrume de curral aplicados a cada colheita bienal, entretanto esses autores trabalharam
com populações de até 160.000 plantas.ha-1, o que eleva a demanda por nutrientes e
conseqüente resposta à adubação. A recomendação de adubação para esta cultura no
estado de Pernambuco é indicada por Cavalcanti (1998).
5.4.Plantio
375
Devido à estrutura da planta de palma, o espaçamento no plantio deve ser
planejado de forma que permita a aplicação de fertilizantes ao longo do ciclo de
desenvolvimento da cultura. Espaçamentos muito adensados sem espaços entre as linhas
dificultam o manejo. Assim, deve-se fazer o adensamento dentro da linha, mas deixando
espaço entre as linhas. Fileiras duplas também podem ser utilizadas. Em geral, o
adensamento no plantio tem resultado em maiores produtividades da cultura (Dubeux
Jr. et al., 2006), e a principal razão disto é uma maior eficiência na interceptação de luz.
Santos et al. (2007) testaram populações variando de 20.000 até 160.000 plantas.ha-1 e
verificaram incremento de produtividade com o aumento populacional. Espaçamentos
tradicionalmente usados por produtores são mais largos (e.g., 2 x 1 m , 1 x 1 m), embora
seja mais comum atualmente observar espaçamentos menores (e.g., 1 x 0,25 m).
Espaçamentos em fileira dupla que permitam consórcio da palma com outras culturas
alimentares, tais como feijão e milho, são também utilizados (Figura 7).
376
alimentos produzidos pela cultura intercalar na alimentação humana, os restos de cultura
são utilizados na alimentação animal, complementando a dieta de ruminantes
juntamente com a palma.
377
Tabela 5- Efeito de freqüência e intensidade de cortes, na produção de matéria verde e
seca da palma forrageira1
Freqüência de Produção de MS Produção de MV
corte (anos) t.ha-1.ano t.ha-1.ano
Ordem de artículo conservada Ordem de artículo conservada
Primária Secundária Primária Secundária
----------------------------------- t/ha/ano --------------------------------
2 3,43 Bb 4,76 aA 36,07 bB 49,31 aA
4 4,08 aA 4,39 aA 41,90 bA 45,69 aA
1
Valores seguidos de letra igual, dentro de cada parâmetro, maiúscula na linha e minúscula na coluna, não
diferem entre si (P>0,05) pelo teste F.
Fonte: Adaptado de Farias et al. (2000).
378
7. PRAGAS E DOENÇAS
379
semelhantemente ao descrito para doenças, o plantio utilizando propágulos não
infestado, a inspeção das plantas seguido da colheita imediata das plantas atacadas e de
suas vizinhas, são práticas que devem ser adotadas.
380
8 - MELHORAMENTO GENÉTICO
381
A palma forrageira é propagada vegetativamente, entretanto, a reprodução sexual
proporciona segregação e grande variabilidade genética (Santos et al., 1994), haja vista
a espécie O. ficus-indica, como descrito anteriormente, resultantes de hibridações
naturais no seu processo evolutivo.
Devido a grande importância da palma forrageira para o semi-árido do Nordeste
do Brasil, a Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA) e a Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) iniciaram, no final da década de 1980, um
programa de melhoramento genético desta forrageira. No início do programa foram
realizadas competições com os genótipos disponíveis, enquanto que nos últimos anos as
ações têm se voltado para ampliação da base genética com a introdução de clones de
outros locais e a obtenção de variabilidade pela multiplicação por sementes, além da
procura de genótipos resistentes a cochonilha-do-carmim (Dactylopius opuntiae
Cockerell).
O IPA possui o maior banco de germoplasma ativo de palma do Brasil, com
aproximadamente 1.100 acessos. São coleções de variedades frutíferas, para produção
de verdura e forragem e que foram introduzidos principalmente do México e do Chile,
mas também da Argélia, África do Sul, Israel, Tunísia e EUA, bem como acessos de
polinização não controlada gerados pelo programa de melhoramento genético
IPA/UFRPE. Muitos destes acessos ainda precisam ser identificados em nível de gênero
e espécie. Vale ressaltar que no Brasil há outros três bancos de germoplasma ativo de
palma, no CPATSA (EMBRAPA), Pernambuco, EMEPA, na Paraíba, e EMPARN, no
Rio Grande do Norte. A maioria destes bancos de germoplasma está localizada no semi-
árido do Nordeste brasileiro, exceto o da EMPARN que está no litoral. A grande
maioria de seus acessos encontra-se também na coleção do IPA.
No programa de melhoramento genético da palma dois grandes avanços merecem
ser destacados. O primeiro deles foi a obtenção de genótipos com produção superior aos
cultivados, a exemplo do clone IPA-20. O clone IPA-20 foi obtido por meio de seleção
em progênies oriundas de autofecundação da O. ficus-indica cv. gigante. Em vários
trabalhos foi observado que a mudança de variedade, ou seja da cv. Gigante para IPA-
20 representa um ganho de 17%. Este último valor, aparentemente de pequena
magnitude, é relevante, por não representar custos adicionais para o cultivo da palma
(Tabela 6).
Segundo ponto importante foi a identificação de genótipos resistentes à
cochonilha-do-carmim. Assim, observou-se que os genótipos miúda (Nopalea
382
cochenillifera Salm-Dyck) e Orelha de Elefante Africana são resistentes a este inseto
(Vasconcelhos, 2002), bem como outros dez genótipos, dos quais tem se destacado a
Orelha de Elefante Mexicana e a IPA Sertânia (Figura 10), segundo Santos et al. (2007).
Tabela 6- Produtividade (t.ha-1 de MS) em dois anos do clone IPA-20 em relação à cv.
Gigante de palma forrageira
Genótipos
Locais IPA-20 Gigante Autores
São Bento do Una-PE 18,6 15,6 Santos et al. (1998)
Arcoverde-PE 25,2 22,4 Santos et al. (2000)
Vários Locais (5) 20,1 16,7 Santos et al. (2005)
Média 21,3 18,2
Valor relativo 117,0 100,0
Fonte: Lira et al. (2006).
383
correspondente a cerca de 200 t.ha-1.ano de massa verde. Pesquisas realizadas pelo
IPA/UFRPE têm evidenciado este fato (Figura 11).
200
200
(t de MV/ha/ano)
150
Produtividade
103
100
60
42 45
50
0
1960 1970 1980 1990 2000
Décadas
9. COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA
A palma forrageira apresenta baixo teor de massa seca e proteína bruta e altos
teores de matéria mineral (Tabela 7). Embora considerada um volumoso, apresenta
baixos níveis de carboidratos fibrosos (FDN e FDA) e altos teores de carboidratos não-
fibrosos (CNF), caracterizando-se como alimento energético. Esse aspecto deve ser
levado em consideração quando da utilização da palma na alimentação de ruminantes.
Seu uso de maneira indiscriminada tem provocado vários problemas, como diarréias,
queda no teor de gordura do leite, baixo consumo de massa seca e perda de peso,
principalmente em vacas lactantes.
384
funcionamento do rúmen e de suas atividades, como ruminação, movimentação e
homogeneização do conteúdo ruminal, secreção salivar (que favorece a estabilização do
pH ruminal, além de fornecer mais fósforo para a fermentação microbiana) e
manutenção do teor de gordura no leite (Mertens, 1997).
No NRC (2001) recomenda-se que dietas de vacas em lactação devam conter, no
mínimo, 25% de FDN na massa seca total desde que 19% desta seja oriunda de
volumosos. Com relação aos CNF; os teores estão entre 36 e 44% , de acordo com o
teor de FDN da dieta e da proporção da FDN oriunda do volumoso. Valores de CNF
superiores ou de FDN e FDA inferiores, podem causar alterações no padrão de
fermentação ruminal, com conseqüente queda na digestibilidade da fibra e no teor de
gordura do leite.
Portanto, a escolha do volumoso a ser associado à palma forrageira deverá ser
feita levando-se em conta, principalmente, o equilíbrio entre carboidratos não-fibrosos e
fibrosos e o aspecto financeiro. Em dietas com bagaço de cana (rico em FDN e pobre
em CNF), a proporção de palma forrageira poderá ser bem maior que, por exemplo, em
dietas com silagem de milho. Da mesma forma, em dietas com maior nível de alimentos
concentrados, menor proporção de palma deverá ser usada.
385
10. NUTRIENTES DIGESTÍVEIS TOTAIS
(% na MS) (% na MS)
386
Observa-se (Tabela 10) que é baixa a produção de massa seca, principalmente
do milho, muito aquém daquela verificada em outras regiões do Brasil. Isso reflete a
dificuldade de se cultivar essa forrageira em regiões semi-áridas, tornando-a cultura de
risco, devido à irregularidade das chuvas e longos períodos de estiagem. Mais uma vez,
fica caracterizada a importância da palma forrageira como uma planta adaptada às
condições desfavoráveis de ambiente.
Na maioria das fazendas que utilizam a palma como recurso alimentar para
bovinos de leite, a colheita é manual e transportada por eqüídeos ou carroças ou tratores
até o local de utilização, operação geralmente feita diariamente, aumentando os custos
de produção. Santos et al. (1998) estudaram o efeito de diferentes períodos de
armazenamento (0, 8 e 16 dias) da palma forrageira gigante sobre o desempenho de
vacas leiteiras no Agreste de Pernambuco e não observaram influência sobre o consumo
de massa seca e produção de leite (Tabela 10). Logo, maiores quantidades de palma
podem ser colhidas, independente de sua utilização imediata, facilitando assim
atividades de corte e transporte e conseqüentemente reduzindo custos.
387
Tabela 10- Efeito do período de armazenamento da palma forrageira no desempenho de
vacas leiteiras
Período de armazenamento (dias)
Itens 0 8 16
Matéria seca(%) 10,33 8,17 9,76
388
Tabela 11- Composição das dietas e desempenho de vacas mestiças em lactação
alimentadas com palma forrageira associadas a outros volumosos
Fontes de Fibra
Item Sacharina Silagem de sorgo Bagaço Bagaço in
hidrolizado natura
Composição
FDN(% MS) 39,72 40,45 37,67 36,0
Desempenho
(%Peso corporal)
Médias seguidas de letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05);
*Produção de leite corrigido para 4% de gordura.
Fonte: Adaptado de Mattos et al.(2000).
389
Tabela 12- Consumo, digestibilidade, desempenho e comportamento ingestivo de vacas
da raça holandesa recebendo palma forrageira associada a diferentes
volumosos.
Item Tratamentos*
BC FCT FCE SSBC
Consumo de massa seca (kg.dia-1) 17,77a 17,25a 17,97a 18,77a
-1
Consumo de proteína bruta (kg.dia ) 2,52a 2,24b 2,55a 2,58a
Consumo de NDT (kg.dia-1) 9,97a 10,68a 11,25a 12,46a
Digestibilidade da massa seca (%) 56,32a 65,41a 64,37a 68,48a
Digestibilidade da matéria orgânica (%) 58,46a 68,07a 67,09a 70,71a
Produção de leite (kg.dia-1) 15,67a 17,04a 16,9a 17,61a
Teor de Gordura (%) 3,75a 3,73a 3,76a 3,78a
Prod. de leite corrigida 3,5% de gordura 16,20a 17,63a 17,55a 18,36a
(kg.dia-1)
Tempo de alimentação (min.dia-1) 315a 356a 354a 327a
Tempo de ruminação (min.dia-1) 495a 509a 518a 503a
Tempo de mastigação total (min.dia-1) 810a 865a 872a 830a
Médias seguidas de letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05); *BC-
Bagaço de cana, FCT- Feno de capim-tifton , FCE- Feno de capim-elefante, SS- Silagem de sorgo, SSBC-
Silagem de sorgo + bagaço de cana
Fonte: Adaptado de Rodrigues da Silva et al. (2007).
390
Tabela 13. Efeito da substituição do feno de capim-tifton por palma forrageira no
desempenho de vacas em lactação
Desempenho
391
Tabela 14- Desempenho de vacas mestiças alimentadas com duas cultivares de palma
com ou sem milho
Médias seguidas de letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05);
1. Leite corrigido para 4% de gordura.
Fonte: Araújo et al. (2004).
Tabela 15. Produção de leite (PL), produção de leite corrigida para 4% de gordura
(PLCG), teor de gordura do leite (TG) e produção de gordura (PG)
392
É comum, em dietas para ruminantes, a substituição de fontes protéicas por
nitrogênio não-protéico (uréia por exemplo). Contudo, considerando que a uréia não
possui energia, apenas nitrogênio para ser incorporado pelos microorganismos para
síntese de proteína microbiana, deve ser incluído na dieta um concentrado energético
com baixo teor de proteína, como o milho, fonte tradicionalmente utilizada.
Melo et al. (2003) avaliaram a substituição parcial do farelo de soja por uréia e
palma forrageira no desempenho de vacas holandesas em lactação. A uréia representou
0,0; 0,8; 1,54 e 2,40% da massa seca da dieta, o correspondente a 2,31; 4,65; 6,66 e
8,02% de PB na forma de compostos nitrogenados não-protéicos (NNP). Os consumos
de massa seca e NDT, a produção de leite sem e com correção para 3,5% de gordura
diminuíram linearmente com a inclusão de NNP nas dietas. A composição do leite e a
eficiência alimentar (EA = kg de leite.kg-1 de MS consumida) não foram afetadas pela
inclusão de NNP (Tabela 16).
393
Na prática, a forma mais comum de fornecimento de palma forrageira para
bovinos leiteiros é picada no cocho sem a mistura de qualquer outro alimento, enquanto
o concentrado, quando utilizado, é fornecido no momento das ordenhas. É importante
ressaltar que, alimentos ricos em CNF, como é o caso da palma forrageira, quando
fornecidos separados e em grandes quantidades, podem causar uma série de distúrbios
ruminais.
Nesse sentido, Pessoa et al. (2004) investigaram o efeito de diferentes estratégias
alimentares sobre o desempenho de vacas da raça holandesa em lactação. Os autores
avaliaram as seguintes estratégias de fornecimento dos alimentos: mistura completa =
MC, ingredientes separados = IS, silagem de sorgo + concentrado juntos e palma
separada = S + C/P, palma + concentrado juntos e silagem de sorgo separada = P+ C/S,
palma + concentrado juntos e silagem separada = P + S/C. O consumo de alimentos e a
produção de leite não foram alterados pelas diferentes estratégias de fornecimento das
dietas. Porém, o teor de gordura no leite e a produção de leite corrigida para 3,5% de
gordura foram alterados em função das estratégias de fornecimento das dietas (Tabela
17).
Tratamentos
Prod. leite corrigida 3,5%1 (kg.dia-1) 23,30ª 20,94b 20,88b 21,44ab 22,29ab
Médias seguidas de letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05).
1.Dados adaptados de Pessoa et al.(2004) – 2. Dados adaptados de Sousa et al. (2005).
394
Pode-se observar menor percentual de gordura no leite nos tratamentos em que a
silagem foi fornecida separadamente. Da mesma forma, pode-se verificar que, na
estratégia em que a silagem foi fornecida separadamente, os animais permaneceram por
menos tempo mastigando e ruminando, devido o menor consumo de fibra fisicamente
efetiva, o que pode ter afetado também nas condições ruminais, refletindo no teor de
gordura do leite (Allen, 1997).
As informações na literatura sobre a utilização da palma forrageira em dietas de
bovinos leiteiros em crescimento ainda são bastante escassas. Torres et al. (2003)
avaliaram associação da palma ao bagaço de cana em dietas para machos mestiços (3/4
H/Z) de origem leiteira (Tabela 18) e observaram efeito quadrático para o consumo de
massa seca, sendo o máximo estimado em 5,62 kg.dia-1 e 2,73% do peso corporal, com
30% de bagaço de cana na dieta. No entanto, o ganho de peso foi decrescente e a
conversão alimentar crescente com a inclusão do bagaço de cana.
Devido ao baixo teor de massa seca da palma forrageira, dietas formuladas com
grandes proporções de palma forrageira, normalmente, possuem alta umidade, o que
pode ser favorável em regiões onde a água se torna escassa em determinadas estações
(Magalhães et al., 2004). Lima et al. (2003) verificaram que vacas mestiças produzindo
cerca de 15 kg de leite.dia-1 e alimentadas com dietas com, aproximadamente, 50% de
palma Gigante, tiveram as exigências de água supridas pela dieta e praticamente não
395
consumiram água. Da mesma forma, Ben Salem et al. (1996) observaram decréscimo, e
até mesmo, ausência na ingestão de água, em ovelhas consumindo dietas com níveis
crescentes de palma forrageira. Bispo et al.(2007) ao substituírem o feno de capim-
elefante por palma forrageira na dieta de ovinos, verificaram redução linear no consumo
de água (3,25 a 0,44 litros.dia-1) quando os níveis de palma variaram de 0 a 56%.
396
Ao custo de implantação deve-se adicionar o da colheita, transporte, trituração e
de fornecimento ao animal. Admitindo que o palmal fique próximo ao local de
fornecimento e que o produtor disponha de máquina para triturar a palma, é de se
esperar um acréscimo de 15 reais por t de massa verde o que leva a um custo total de 35
por t de massa verde ou, aproximadamente, 35 centavos por kg de massa seca, no caso
do palmal adubado com 10 t.ha-1 de esterco.
Espaçamento
Item (R$.ha-1)
2x1m 1x1m 3 x 1 x 0,5 m
Roçada 433 433 433
Encoivaramento 217 217 217
Coveamento 216 432 432
Aplicação esterco 110 216 216
Distribuição cladódio 110 216 216
Cobertura 216 432 432
Limpas (3) 1.080 1.080 1.080
Sub-total (A) 2.382 3.026 3.026
397
seja, R$15,4 por t de MV, ficando o custo total de 24 reais por t de matéria verde ou 24
centavos por kg de matéria seca, admitindo-se 10% de MS. Estudos conduzidos pelo
IPA/UFRPE indicam que a longevidade do palmal é alta desde que o mesmo seja
fertilizado e que as plantas daninhas sejam controladas. Assim, admitindo-se 10 anos de
vida útil de um palmal, o custo do kg de massa seca fica em torno de 26,2 centavos.
398
Tabela 21- Custo (R$.ha-1) de implantação de um hectare de palma mecanizado e
utilizando herbicida, novembro/2007
Espaçamento
Itens (R$.ha-1)
1 x1m 1 x 0,25 m
Gradagem 150 150
Sulcagem 200 200
Aplicação esterco 216 216
Distribuição dos cladódios 216 864
Cobertura 432 432
Limpeza com herbicida* 560 560
Esterco 800 800
Cladódio 300 1.200
Item R$.ha-1
Compra esterco 800
Aplicação do esterco 216
Limpas com herbicida 560
Total 1.576
399
Para longevidade do palmal semelhante ao sistema manual de plantio, o custo do kg de
massa seca da palma com controle químico das plantas daninhas e plantio mecanizado
fica R$ 23 e R$ 22 para os espaçamentos 1 x 1 m e 1 x 0,25 m, respectivamente.
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407
CAPÍTULO 15
1 - INTRODUÇÃO
408
pastagens naturais. Na maior parte dos casos, as forrageiras de clima temperado são
implantadas como misturas ou consorciações visando aumentos de produção e valor
nutritivo da forragem a ser ofertada.
Quadro 1- Períodos (meses) de utilização sob pastejo das principais forrageiras de clima
temperado em uso no sul do Brasil
J F M A M J J A S O N D
Aveia-preta
Azevém
Trevo-branco
Trevo-vermelho
Cornichão
409
de ciclo vegetativo com as pastagens naturais, alto valor nutritivo, facilidade de
estabelecimento e excelente capacidade de ressemeadura natural. A maior causa de
resistência dos produtores quanto ao uso da aveia e/ou azevém para produção animal em
áreas de lavoura ainda é o suposto “efeito do pisoteio animal”. Várias pesquisas, no
entanto, estão desmistificando este paradigma mostrando, inclusive, os benefícios para o
sistema advindos do uso de animais nessas áreas (Terra Lopes et al., 2008; Aguinaga et
al., 2006; Carvalho et al., 2004; Moraes et al., 2002).
Quanto às leguminosas, o trevo-branco (Trifolium repens L.) é a espécie mais
utilizada, seguida do cornichão (Lotus corniculatus L.), do trevo-vermelho (Trifolium
pratense L.) e, mais recentemente, do El Rincón (Lotus subbiflorus L.). Apesar da
reconhecida importância na fixação de nitrogênio (N) e alto valor forrageiro (Frame e
Boyd, 1987), a baixa persistência das leguminosas em sistemas de produção tem sido
apontada como uma das principais causas de sua pequena representatividade – apenas
2% das áreas de pastagens no Brasil e algo semelhante no RS (Dall’Agnol et al., 2002).
Essa baixa persistência e utilização estariam relacionadas a problemas de
estabelecimento e manejo, como o baixo uso de corretivos e fertilizantes,
desconhecimento dos processos de inoculação e peletização de sementes, dentre outros.
No contexto das forrageiras de clima temperado utilizadas no Brasil, o presente
capítulo tem como perspectiva centrar-se sobre aquelas que, em nosso entender, estão
sendo trabalhadas de forma mais relevante, tanto pelas instituições de pesquisa como
em nível de sistemas de produção. São elas a aveia-preta (Avena strigosa Schreb.) e o
azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) pelas gramíneas, e o trevo-branco (Trifolium
repens L.), trevo-vermelho (Trifolium pratense L.) e cornichão (Lotus corniculatus cv.
São Gabriel e Lotus subbiflorus cv. El Rincón) pelas leguminosas. Não se trata de
desestimo a outras espécies que, por distintos motivos, perderam expressão, mas sim de
dar ênfase às “forrageiras de clima temperado que resistem ao tempo” e que, de uma
forma ou outra, se consolidaram a despeito de todas as adversidades comumente
encontradas.
410
2. AVEIA-PRETA (Avena strigosa Schreb.)
411
Gramínea cespitosa, com colmos cilíndricos, eretos, compostos de nós e entrenós.
O sistema radicular é do tipo fasciculado sendo as raízes fibrosas, o que facilita a
penetração no solo. As folhas apresentam bainha vilosa, lígula obtusa de 1,5 a 7,0 mm e
margem denticulada, com lâminas de 14 a 40 cm de comprimento por 5,5 a 22 mm de
largura, apresentando forma plana de pré-folhação convolutada. As folhas apresentam-
se sem aurícula e com lígula bem desenvolvida, o que difere a aveia de outros cereais de
inverno. Apresenta inflorescência em panícula piramidal e difusa, apresentando
espiguetas contendo um grão primário e um secundário e raramente um terciário. O grão
é uma cariopse encoberto pela lema e a pálea. O termo cariopse é utilizado para
designar grãos pequenos, secos, indeiscentes, apresentando semente única por fruto e
uma fina camada de pericarpo, originado pelo desenvolvimento do óvulo superior. O
peso de mil sementes varia de 15 a 18 g, em média (Floss, 1988a).
Os três principais tipos de aveia cultivados são a preta (Avena strigosa Schreb.), a
branca (Avena sativa L.) e a amarela (Avena byzantina C. Koch.). As aveias brancas e
amarelas são de duplo propósito, pois, são capazes de boa produção de forragem, além
de razoável produção de grãos. Porém, essas espécies são mais susceptíveis à ferrugem
da folha e sua utilização na formação de pastagens somente é recomendável para
regiões menos afetadas por esta doença (Floss et al., 1985).
Apesar de ser conhecida como uma forrageira de clima temperado, trabalhos de
melhoramento têm desenvolvido cultivares adaptadas às regiões mais quentes, como o
Centro-Oeste do Brasil. Temperaturas baixas na fase inicial de desenvolvimento
favorecem o perfilhamento, sendo que pulsos de calor na floração (temperaturas acima
de 32ºC) provocam esterilidade e aceleram a maturação dos grãos. Quanto à altitude, a
aveia-preta pode ser cultivada tanto em nível do mar quanto acima de 1.000 m
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A aveia-preta parece exigir maior teor de umidade para a formação de uma
unidade de massa seca em comparação com outros cereais (com exceção do arroz),
muito embora não tolere solos encharcados ou água estagnada necessitando solos bem
drenados. A maior exigência em água ocorre nos estádios de florescimento até o início
da formação dos grãos. Vegeta bem em solo com pH entre 5,0 e 7,0 e não é muito
412
exigente em relação a fertilidade dos solos; entretanto, responde bem à adubação
nitrogenada, fosfatada e potássica.
A aveia-preta, além de sua precocidade, rusticidade e resistência às principais
enfermidades, produz uma elevada quantidade de massa no período de inverno. Quando
manejada sob cortes, apresenta excelente produção de forragem na primeira colheita,
baixando a produção nas seguintes. Essa espécie não é utilizada na produção de grãos,
pois eles não apresentam qualidade industrial devido à coloração escura, pequeno
tamanho e baixo rendimento de grãos descascados em relação ao grão inteiro (Floss,
1988b).
Tem-se observado a redução da população de plantas espontâneas (plantas
invasoras) pela ação da aveia-preta e de sua palhada, sendo que o seu efeito
supressor/alelopático acaba por reduzir os custos com capinas ou herbicidas nas culturas
subseqüentes. Essa técnica é particularmente benéfica quando precede as culturas do
feijão, da soja e de suas associações com outras espécies. A aveia-preta é bastante
resistente ao ataque de pulgões e à incidência de ferrugem da folha. As condições
ambientais que favorecem esta última são altas temperaturas associadas a alta umidade
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A produção de forragem depende da espécie ou cultivar de aveia (Scheffer-
Basso et al., 2002) podendo atingir 10 t.ha-1 de MS, dependendo do nível de adubação
nitrogenada (Alves, 2002).
413
espécie de rápido estabelecimento podendo, de forma geral, ser utilizada após 40 a 50
dias de sua semeadura, ou mesmo antes, dependendo da fertilidade do solo e do manejo
da adubação. Em razão dessa característica de suas sementes, e do seu ciclo ser, via de
regra, mais curto que o do azevém, a aveia-preta é muito utilizada como pastagem
cultivada em áreas de sucessão com soja ou milho.
A mistura com azevém é utilizada quando se pretende estender o ciclo de uso da
pastagem além do período permitido pela aveia-preta, que em cultivo singular permite
pastejos até final de setembro, embora já nesta fase a sua qualidade seja baixa devido ao
florescimento. No caso da associação com azevém esta deficiência é compensada, pois
o azevém tem seu ciclo mais tardio e complementar.
Além de sua associação com azevém também é possível consorciá-la com
leguminosas como ervilhaca, trevo-vesiculoso e trevo-vermelho, as quais apresentam
semelhante exigência de solo quanto à drenagem. Essas espécies cumprem o papel de
qualificadoras da dieta do animal em termos de proteína e, também, no suprimento de
cálcio que, no caso da aveia, pode não atender as necessidades de vacas leiteiras em
produção ou animais jovens em crescimento.
Uma proposição de consorciação multi-específica é a da aveia-preta com centeio e
azevém. Apesar de ser uma consorciação constituída de três gramíneas, tem por
estratégia estender o ciclo de utilização da pastagem por período maior de tempo. O
centeio é a gramínea mais precoce, concentrando 55% de sua produção entre maio e
junho. Já o azevém, mais tardio, tem 70% da sua produção nos meses de agosto-
setembro ficando a aveia numa posição intermediaria, com 60% de sua produção
concentrada nos meses de junho-julho (Postiglioni, 1982).
A fertilização deve estar de acordo com a análise de solo. Para a adubação
nitrogenada, Alvim (2006) recomenda a aplicação mínima de 270 kg.ha-1 de uréia ou
500 kg.ha-1 de sulfato de amônio. Alves (2002) verificou máximas respostas com aveia-
preta (IAPAR 61) com aplicações entre 150 e 225 kg.ha-1 de N, evidenciando que a
dose ótima depende do tipo de solo (Tabela 1). Nessas doses a produção anual pode
alcançar mais de 9,0 t.ha-1 de MS. Siqueira (1987) sugere utilizar 20 kg.ha-1 de N na
semeadura e o restante da dose em duas ou três parcelas iguais, a partir do início do
perfilhamento, 30 a 40 dias após a emergência.
414
Tabela 1. Produção de massa seca da parte aérea (kg.ha-1) de aveia-preta cultivar IAPAR
61 em quatro cortes, sendo três durante a fase vegetativa da cultura (1, 2 e 3) e
um na fase de enchimento de grãos
415
lotação rotativa, a entrada dos animais no piquete deve ocorrer quando o pasto estiver
com cerca de 25-30 cm, retirando-os quando o resíduo se aproximar de 10-15 cm.
Em pequenas propriedades é comum a utilização da aveia-preta cortada e picada,
sendo oferecida aos animais no cocho. O corte deve ser efetuado à altura de 7 cm acima
do solo, para facilitar a rebrotação. A aveia-preta deve ser fornecida no cocho
gradativamente, iniciando-se com pequenas quantidades que vão aumentando até atingir
a capacidade máxima de consumo dos animais, caso a aveia seja o único alimento
suplementado evitando, assim, problemas metabólicos.
A silagem de aveia-preta é uma alternativa de utilização para esta forrageira,
porém, seu uso não é comum. O período mais favorável para o corte é após o pleno
florescimento, pois este é o momento de mais alto teor de carboidratos, fundamental
para que o processo fermentativo ocorra. Quando o corte é feito no estádio de
florescimento é recomendável a ensilagem pelo sistema de pré-murchamento
aumentando, assim, o teor de matéria seca, pois a ensilagem do produto fresco, com
28% de massa seca, produz uma silagem úmida, com alto teor de acido butírico, o que é
indesejável por reduzir a qualidade do alimento (López, 1975).
416
(Lolium multiflorum Lam), que é a segunda forrageira hibernal mais cultivada no Rio
Grande do Sul.
O azevém é uma planta amplamente utilizada pelos produtores, apresentando boa
produção de forragem, boa rebrotação, resistente ao pastejo e ao excesso de umidade,
que suporta altas lotações, apresenta alto valor nutritivo e boa palatabilidade
(Carâmbula, 1977). Possui alta ressemeadura natural, além de fácil aquisição de
sementes e baixo custo de implantação. O germoplasma de azevém utilizado pela
maioria dos produtores é o azevém diplóide (2n), denominado azevém comum. Alguns
produtores vêm utilizando cultivares tetraplóides (4n), que apresentam algumas
características diferentes do azevém diplóide, como por exemplo, sementes maiores,
folhas mais largas e de coloração mais escura.
O azevém é uma gramínea anual, cespitosa, cujo porte chega a atingir 1,2 m de
altura. Os colmos são cilíndricos e eretos, compostos de nós e entrenós, com 30 a 60 cm
de altura. Possui folhas finas, tenras e brilhantes, com 2 a 4 mm de largura. As bainhas
são cilíndricas e as folhas jovens são enroladas. A lígula é curta e as aurículas são
abraçantes. A inflorescência é uma espiga dística, isto é, com duas fileiras de
espiguetas, com 15 a 20 cm de comprimento, contendo cerca de 40 espiguetas
arranjadas alternadamente, com 10 a 20 flores férteis por espiga. O grão é uma cariopse
e apresenta peso de mil sementes médio de 2 a 2,5 g nas variedades diplóides e 3 a 4,5 g
nas tetraplóides (Balasko et al., 1995). O peso da semente, no entanto, é uma
característica que depende muito do manejo da lavoura sendo que, em nossas condições,
o peso de mil sementes raramente excede 2 g nas variedades diplóides.
417
É uma gramínea considerada rústica, competitiva, com boa capacidade de
perfilhamento e que se desenvolve bem em qualquer tipo de solo, mas prefere os
argilosos, férteis e úmidos. Porém, em condições onde o solo apresente alta deficiência
de drenagem, o azevém tem seu desenvolvimento prejudicado. Embora tolere bem a
acidez, é mais exigente em fertilidade e umidade do que a aveia-preta.
Trata-se de uma forrageira que tem alta palatabilidade pelos animais e contém
elevados teores de proteína e digestibilidade, bem como equilibrada composição
mineral. Além de excelente opção forrageira, presta-se muito como alternativa para
proteção e cobertura de solo, proporcionando boa produção de massa. A produção de
massa é variável, podendo ultrapassar de 10,0 t.ha-1 de MS em situações de bom
manejo.
Floresce geralmente em setembro e produz quantidades apreciáveis de sementes.
Devido a sua grande capacidade de ressemeadura natural, mesmo fenecendo, se
restabelece na área quando do início de um novo período favorável para crescimento.
418
deverá ser aumentada em 50% no caso de boas sementes ou até mais se as sementes não
tiverem as características acima. A qualidade das sementes, sobretudo o seu peso, é
fundamental para um rápido estabelecimento, podendo abreviar o período entre a
semeadura e a primeira utilização em até 20 dias, quando se comparam sementes leves e
pesadas (e.g., 1,5 g contra 2,0 g por 1000 sementes).
Outro aspecto a ser considerado quando da escolha da semente é que o azevém
comum, produzido na integração com a soja, normalmente é colhido mais cedo e isto
tem levado, de forma geral, a uma seleção para tipos de ciclo mais curto, que florescem
já a partir de setembro-outubro, ou mesmo antes. Por outro lado, o mesmo azevém
comum, cujas sementes são produzidas em regiões de pecuária, normalmente é utilizado
sob pastejo até setembro-outubro e, somente então, diferido para produção de sementes.
Isto leva à eliminação dos indivíduos mais precoces determinando que as sementes
colhidas sejam da parte da população com florescimento tardio. Portanto, o
conhecimento da origem da semente do azevém Comum-RS é fundamental para o
planejamento de seu uso. Ambos os tipos são interessantes, dependendo do sistema em
que será utilizado. Os tipos precoces são importantes em sistemas de integração
lavoura-pecuária, enquanto os de ciclo mais longo são mais desejados em sistemas
exclusivamente pecuários.
A época de semeadura do azevém é no outono, dando-se preferência aos meses de
março e abril para que as plantas, ainda jovens, aproveitem o calor dessa estação e se
desenvolvam mais rapidamente de maneira que, quando entrem no inverno, já tenham
altura suficiente para serem pastejadas.
O azevém pode ser semeado sobre pastagem nativa, em meados de maio, quando
essas pastagens na região Sul tendem a diminuir seu crescimento. Nesse caso, a
semeadura pode ser feita a lanço, utilizando o pisoteio dos animais para se colocar a
semente em contato com o solo, ou mesmo utilizar máquinas de plantio direto sobre o
campo. Outro contexto de uso do azevém é aproveitar a seqüência de uma cultura de
soja. Esta prática tem sido utilizada em boa escala no Rio Grande do Sul, com
excelentes resultados. Quando a lavoura estiver apresentando as folhas inferiores
amareladas, começando a cair, se procede a semeadura aérea. Nesse caso, recomenda-se
maior densidade de sementes, entre 45 e 50 kg.ha-1. Essas folhas, caindo sobre as
sementes, mantêm umidade adequada e estimulam o início da germinação. Essa prática
permite que, uma vez efetuada a colheita da soja, o azevém já tenha germinado. Além
disso, o azevém pode aproveitar os resíduos de nitrogênio que a cultura da soja
419
incorpora ao solo. Entretanto, isso não significa que no decorrer do desenvolvimento da
cultura não se deva fazer uso de adubações nitrogenadas.
No momento em que o azevém produz as primeiras 5 a 6 folhas seu perfilhamento
se inicia. Isto ocorre no outono, quando normalmente a liberação de nitrogênio a partir
da matéria orgânica do solo é baixa, uma vez que as temperaturas começam a diminuir.
Se não houver adubação com nitrogênio neste momento, o perfilhamento tem o risco de
ser lento e em menor densidade, e a pastagem leva muito tempo até ter condição de ser
utilizada com os animais. A aplicação de cerca de 45 a 50 kg.ha-1 de N nesta fase tem
possibilitado a entrada dos animais na pastagem em até 40 dias após a emergência das
plântulas, com altura do pasto entre 20 e 25 cm e massa de forragem entre 1.500 e 2.000
kg.ha-1 de MS. O tempo necessário para ser atingido este rendimento varia conforme as
condições climáticas e a fertilidade do solo.
A espera pela massa de forragem ou altura de pasto ideais para início do pastejo
constitui um grande dilema em sistemas pecuários. É comum se deparar com situações
onde, de um lado, determinada categoria animal encontra-se com necessidade urgente
de melhoria de seu nível nutricional sob pena de comprometimento das metas de
produção. De outro, pastos de azevém que ainda não atingiram seu ponto ótimo de
interceptação da radiação solar e enraizamento e que não estão prontos para uso.
Existem alternativas para iniciar a utilização do pasto antes do ponto ótimo, tais como o
pastejo controlado (horário) ou o uso inicial de baixas taxas de lotação (consumo
inferior ao crescimento). Embora ambas as situações procurem minimizar problemas no
estabelecimento do pasto recomenda-se, sempre que possível, a espera pelo momento
ideal, pois 15-20 dias a mais de espera para o pleno estabelecimento podem representar
40 a 50 dias a mais de utilização do pasto, e numa condição potencial de ganho de peso
bastante superior.
A silagem de azevém não tem sido amplamente utilizada, pois o alto teor de
proteína e o baixo teor de carboidratos solúveis desta forrageira originam um produto
com pH alto, acima do recomendado para uma boa silagem (Lopez, 1975). No caso da
fenação, os cortes devem ser efetuados antes do florescimento, sendo o primeiro corte
realizado próximo de 90 dias após a semeadura, e o segundo 40 a 50 dias após primeiro.
Possui ótima palatabilidade e digestibilidade. Pode apresentar produção entre 25 e 30
t.ha-1 de massa verde. No entanto, a produção em feno varia muito, e está diretamente
relacionada com as condições de fertilidade do solo e adubações empregadas (Moraes,
420
1995). Para a utilização como forragem fornecida no cocho (cortes) podem ser feitos de
2 a 4 cortes, dependendo também da fertilidade do solo e da adubação.
A produção de sementes de azevém também pode se constituir em atividade
agrícola importante. Depois de garantir um período longo de pastejo, retiram-se os
animais em fins de setembro e meados de outubro, podendo se proceder uma adubação
em cobertura com uréia. Com esse manejo, é comum que em fins de novembro e início
de dezembro a lavoura possa atingir produção de sementes superior a 500 kg.ha-1.
Além do cultivo exclusivo, o azevém pode ser consorciado com outras gramíneas
(aveia, centeio) e com leguminosas (trevos, alfafa, cornichão, etc.). Normalmente, em
comparação com a aveia, ele apresenta um crescimento inicial um pouco lento, mas em
compensação sua utilização atinge um período de pastejo mais prolongado, variando de
60 a 180 dias conforme o sistema adotado. Com relação à consorciação com
leguminosas como cornichão ou trevos, além do aumento do teor de proteína na
forragem, pode também ser aumentada sua produção. Sob o ponto de vista econômico, a
inclusão de leguminosas (fixadoras de nitrogênio atmosférico) permite uma economia
na aplicação de N para as gramíneas. No caso do azevém ou da aveia, por exemplo, que
respondem a adubações superiores a 450 kg.ha-1 de uréia, praticamente dois terços dessa
quantidade total poderia ser suprimida pela leguminosa.
421
Constitui-se atualmente em componente da flora de todos os continentes,
atestando sua ampla distribuição. No ocidente a sua presença estende-se desde o Alasca
até o extremo sul da América do Sul (Gibson e Hollowell, 1966).
O trevo-branco é a mais importante leguminosa semeada com gramíneas em
pastagens de clima temperado (Frame e Newbould, 1986), destacando-se pela alta
produção de forragem e elevado valor nutritivo (Dall’Agnol et al., 1982). A espécie é
particularmente valorizada para uso sob lotação contínua, pois é adaptada para produzir
sob condições de desfolhação intensa, incrementando a palatabilidade e o teor de
proteína da forragem colhida pelos animais.
422
O trevo-branco não é uma leguminosa pioneira, mas adaptada a boas condições de
fertilidade de solo (Sears, 1953). Também é exigente em fósforo e para sua implantação
é fundamental realizar inoculação. Esta leguminosa é geralmente mais sensível do que
as gramíneas às deficiências de fósforo e potássio (Rangeley e Newbould, 1985) e
muito sensível à acidez do solo (Helyar e Anderson, 1971).
O pH ótimo para o crescimento do trevo-branco é próximo de 6,0, e o limite
crítico de pH é 5,0. Segundo Bailey e Laidlaw (1999), o aumento do pH do solo de 5,4
para 6,1 resultou na duplicação da produção do trevo-branco. Pode apresentar, ainda,
baixa nodulação em solos muito ácidos. Porém, desde que as plantas estejam
efetivamente inoculadas, o trevo-branco persiste e produz bem. A baixa nodulação
ocorre devido aos efeitos tóxicos do alumínio e manganês sobre a multiplicação do
Rhizobium (Wood et al., 1984). Daí a preocupação com a correção da acidez do solo.
Além disso, em baixo pH a deficiência de molibdênio pode impedir a formação do
complexo enzimático que é essencial para a fixação do N2 (During et al., 1960).
Ainda que em cultivo singular o trevo-branco possa produzir entre 7 a 11 t.ha-1 de
MS (Frame e Newbould, 1986), o seu principal objetivo deve ser a consorciação com
gramíneas e até outras leguminosas. É arriscado quando dominante na pastagem dada
sua característica de gerar timpanismo nos bovinos, sendo que o principal cuidado é
manter sempre gramíneas em consorciação. Nestas circunstâncias, a sua produção é
reduzida devido à competição por água, luz e nutrientes contribuindo, não raramente,
com aproximadamente 25% (2.800 a 5.500 kg.ha-1 de MS) da produção total de
forragem,de misturas típicas de clima temperado.
O trevo-branco produz sementes por polinização cruzada, chegando a se colher
entre 350 e 500 kg.ha-1de sementes. Na Nova Zelândia, que produz entre 4.500 e 5.000
toneladas anuais (50% da produção mundial), são alcançados rendimentos entre l00 e
l.000 kg.ha-1, sendo a média nacional de 300 kg.ha-1 (Mather et al., 1996). Na
Califórnia, a principal região fornecedora de sementes nos Estados Unidos, a produção
fica em torno de 420 kg.ha-1 (Pederson, 1995).
As sementes das inflorescências que são pastejadas retêm sua viabilidade após a
passagem no trato digestório dos bovinos ou ovinos, e são depositadas no solo por
intermédio das fezes (Chapman, 1987).
O trevo-branco tem elevado valor nutritivo, sendo rica fonte de proteína, cálcio,
fósforo e caroteno. As inflorescências e os pedúnculos têm menor digestibilidade do que
as folhas e os pecíolos (Soegaard, 1994). Comparado com pastagem de gramínea
423
adubada com nitrogênio, as misturas de gramíneas/trevo têm, geralmente, índices mais
elevados de proteína, minerais, incluindo pectina e lignina, porém, índices mais baixos
da celulose e hemicelulose (Thomson et al., 1985).
424
espaçadas entre 30 e 45 cm (Laidlaw, 1978). Quando em consorciação gramínea/trevo,
para reduzir a competição, a gramínea deve ser semeada com a metade da
recomendação para um pasto exclusivo. Pode ser consorciado, por exemplo, com
azevém, trevo-vermelho e cornichão. Como a gramínea é a componente com produção
mais elevada na consorciação, a escolha da mistura é feita geralmente com base nela.
Segundo Fothergill e Davies (1993), as cultivares de azevém tetraplóides são mais
compatíveis na consorciação do que as cultivares diplóides devido a uma menor
capacidade de perfilhamento.
O trevo-branco é o componente mais sensível em pastos consorciados às
deficiências ou a baixa disponibilidade de nutrientes como P ou K (Dunlop et al., 1987).
Nas pastagens, apesar de boa parte dos nutrientes serem reciclados com o retorno da
excreta dos animais, esta reposição é desuniforme, e uma aplicação de P e de K é
requerida anualmente para manutenção da leguminosa. Quando o trevo-branco é
utilizado para feno ou silagem, cerca de 3 kg de P e 30 kg de K por tonelada de massa
seca são retirados da área pela forragem (Frame e Boyd, 1987). A quantidade anual de
fertilizante nitrogenado necessária em pasto exclusivo de gramínea para alcançar
produções de pastagens de trevo-gramínea varia de l24 a 278 kg.ha-1 de N, com média
de 172 kg.ha-1 de N (Royal Society, 1983).
O trevo-branco pode ser utilizado em lotação contínua ou rotativa. Sob lotação
contínua, o tamanho do folíolo é muitas vezes reduzido, e um aumento das ramificações
pode ocorrer. No método rotativo, o trevo tem tempo para produzir estolões e folhas
maiores durante os intervalos de descanso, razão pela qual este método de pastejo
contém, geralmente, mais trevo do que pastos manejados sob lotação contínua (Steen e
Laidlaw, 1995).
Por se tratar de uma planta que desenvolve seus estolões próximos à superfície
do solo, é bastante tolerante a desfolhações intensas, pois seus pontos de crescimento
ficam protegidos do pastejo. Além disso, seu arranjo foliar permite que, mesmo sob
pastejo intenso, haja área foliar que permita a interceptação de luz necessária ao seu
crescimento. É por essa razão que sob pastejo intenso o trevo-branco, quando em
associação com gramíneas como o azevém ou mesmo com o cornichão, acabe
prevalecendo na mistura e causando timpanismo. Em se tornando o principal
componente da dieta dos animais, o seu elevado teor de proteínas de alta
degradabilidade acaba por prover as condições para a ocorrência do timpanismo. Por
conseguinte, há situações de manejo onde se deva privilegiar a presença da gramínea
425
associada. Excessos de trevo-branco podem ser corrigidos aliviando-se a carga animal e,
ou adubando estrategicamente a gramínea com nitrogênio. Também, em curto prazo, a
suplementação com volumosos, como feno de gramíneas, pode ser uma solução para
esta situação. Associações bem equilibradas dessa espécie com gramíneas podem
assegurar ganhos médios diários de bovinos em crescimento superiores a 1.200
g.cabeça-1.
Comparado com as gramíneas, o trevo-branco tem baixo conteúdo de carboidratos
solúveis em água e de massa seca, e um elevado teor de proteína. Para melhorar a
qualidade da silagem devem ser realizados os seguintes procedimentos: cortar a
forragem no campo com o objetivo de provocar um pré-murchamento e, com isso,
aumentar a concentração de carboidratos solúveis, além de, picar a forragem para ajudar
à liberação dos açúcares e a compactação no silo. No feno é importante tentar evitar a
perda de nutrientes da folha do trevo durante o processo de corte (Bax e Browne, 1995).
426
Sua grande importância se deve a alta produtividade e grande valor nutritivo,
semelhante ao da alfafa, sendo um dos trevos mais cultivados em países de clima
temperado. No sul do Brasil, está adaptado a variadas condições de solo e clima, e
suas sementes (maiores) permitem rápido estabelecimento em relação a outras
leguminosas.
427
conseqüência a temperaturas elevadas, a respiração da planta aumenta diminuindo a
disponibilidade de carboidratos totais, tendo por resultado plantas enfraquecidas com
problemas de sobrevivência no inverno e maior susceptibilidade a microorganismos
do solo, além de problemas de emergência de plântulas (Volonec e Nelson, 1995).
Embora com adaptação ampla no Rio Grande do Sul, as regiões preferenciais
são aquelas com clima mais ameno como a Encosta do Nordeste, Serra do Sudeste e
nos solos profundos da Campanha. É uma planta que apresenta boa produtividade em
solos semi-profundos, drenados e de boa fertilidade. Desta forma, os solos argilo-
arenosos, com razoável teor de matéria orgânica, são os mais indicados. Embora
menos exigente em fósforo que o trevo-branco, é particularmente intolerante a baixos
níveis deste nutriente (Taylor e Quesenberry, 1996). Para uma boa produtividade e
nodulação da raiz são exigidos solos com pH na faixa de 6,0 a 7,0 e com baixos
teores de alumínio trocável. O trevo-vermelho é muito sensível à toxicidade de Mn.
Portanto, é importante manter o pH acima de 5,7, pois a disponibilidade deste
nutriente pode diminuir a partir deste pH (Taylor e Quesenberry, 1996).
Em cultivo singular o trevo-vermelho produz de 8 a 10 t.ha-1 de massa seca,
podendo chegar entre 15 e 23 t.ha-1 com irrigação. A produção de forragem
normalmente declina com o avanço da idade da pastagem. Trabalhos realizados na
Europa com duração de três anos registraram produções de 9 a 18, 9 a l5 e 4 a 14
t.ha-1 (Laidlaw e Frame, 1988). Na França, uma associação gramínea/trevo-vermelho
com l50 kg.ha-1 de N aplicados anualmente produziu o equivalente a uma pastagem
de gramínea pura recebendo 300 kg.ha-1 de N (Guy, 1989).
O valor nutritivo de um pasto de trevo-vermelho está fortemente relacionado
com o seu estádio de crescimento no momento da utilização, bem como com a
relação caule/folha, que aumenta com a maturidade do pasto. Cultivares tetraplóides
têm, de forma geral, digestibilidade, teores de proteína e de carboidratos solúveis em
água mais elevados do que o das cultivares diplóides (Mousset-Declas et al., 1993).
As concentrações de N, Ca, Mg, Fe, Co, pectina e lignina são geralmente mais
428
elevadas do que nas gramíneas, mas outros constituintes podem estar em
concentrações equivalentes ou menores (Narasimhalu e Kunelius, l994).
As produções de sementes de trevo-vermelho, quando bem manejado, são de
aproximadamente 600 a 700 kg.ha-1 (Rincker e Rampton, 1985).
429
bem sucedida em vegetação com baixa massa e quando houver umidade adequada no
solo para a germinação da semente e o desenvolvimento da plântula.
Fósforo e potássio adequados na implantação da cultura são necessários para o
desenvolvimento da plântula, com preferência para fontes prontamente disponíveis.
É recomendada uma pequena aplicação de N para iniciar o desenvolvimento do trevo
nos solos com baixa disponibilidade deste nutriente. Depois da remoção da forragem
para a conservação (feno e silagem) os nutrientes, especialmente P e K, exigem
reaplicações para manter a persistência e a produção ao longo das rebrotações.
A semeadura é preferencialmente feita entre os meses de março e abril. A
quantidade de sementes por hectare varia conforme a utilização que se vai dar a
cultura. Quando se destina a produção de feno são necessários de 6 a 8 kg.ha-1 de
sementes. Com máquinas apropriadas e bom preparo essas quantidades podem ser
menores, entre 4 e 5 kg.ha-1. Se o cultivo se destina à produção de sementes pode-se
empregar de 3 a 4 kg.ha-1 de sementes em linhas distanciadas de 80 cm.
O trevo-vermelho não suporta pastejo intenso e quando a isto é submetido
torna-se dominado por outros componentes da consorciação. Entretanto, em regime
de pastejo leve acaba reduzindo o desenvolvimento das outras espécies (Sheldrick et
al., 1986). A pastagem formada com esta leguminosa, observados os cuidados
principais, tais como época de semeadura e preparo do solo, adubação e manejo
eficiente, permite iniciar o pastejo em 90 dias, desde que as plantas atinjam uma
altura mínima de 15 a 20 cm. Quando consorciada com azevém tem como potencial
ser aproveitada por, no mínimo, 150 a 180 dias no ano.
Pelo seu porte ereto, grande volume de massa e intolerância a desfolhações
freqüentes sua utilização é indicada para corte, possibilitando excelentes produções
de feno ou silagem e permitindo substituir com vantagens econômicas os
concentrados, podendo atingir produção de 4 t.ha-1 de massa fenada.
430
Mesmo apresentando índices baixos de matéria seca e carboidratos solúveis,
uma boa silagem de trevo-vermelho pode ser feita utilizando aditivo eficaz, picando
e realizando o murchamento da forragem antes da ensilagem (Collins, 1982).
De forma geral, a semente é colhida no primeiro ano de florescimento após um
corte. O objetivo do corte é remover o crescimento vegetativo, reduzindo a
desuniformidade do florescimento até que a atividade do agente polinizador esteja
realçada por temperaturas de primavera.
431
acompanhando, provavelmente como impureza, uma mescla de sementes forrageiras
importadas. Sua destacada produtividade provocou sua posterior multiplicação e a
obtenção da cultivar denominada “El Rincón” a partir de 1987 (INIA, 1994).
432
conduzidos com esses genótipos, quanto à resposta a corte ou pastejo (Kallenbach et
al., 2001).
No Brasil, a cultivar mais utilizada é o São Gabriel, desenvolvido pela Estação
Experimental de São Gabriel, RS, a partir de pesquisas entre 1955 e 1965, tendo seu
cultivo se expandido para outros países da América do Sul (Paim, 1988). Essa
cultivar é caracterizada pelo rápido crescimento inicial, boa produtividade e elevada
qualidade de forragem, longo período vegetativo e boa ressemeadura natural.
Contudo, apresenta problemas de persistência, principalmente por causa de seu
crescimento ereto (Oliveira e Paim, 1990).
433
O excelente valor nutritivo do cornichão deve-se aos elevados teores de
proteína e digestibilidade. López et al. (1996) observaram até 24% de proteína bruta
e 86% de digestibilidade. Além disso, o cornichão possui taninos condensados,
responsáveis pelo aumento de 18% a 25% no aproveitamento de proteínas (Hedqvist
et al., 2000), cujos teores atingem 28% quando em estádio bem jovem. Quando do
florescimento os teores se situam entre 15 e 18% e, quando as sementes estão
maduras, os teores caem para níveis próximos a 8%. No pleno florescimento a
porcentagem de proteína é semelhante à da alfafa e do trevo-vermelho.
A produção de massa pode variar entre 10 e 17 t.ha-1 para associações de
cornichão/gramínea, e entre 6 e 14 t.ha-1 para monoculturas (Bullard e Crawford,
1995).
A produção de sementes pode alcançar 600 kg.ha-1, mas o comum é que as
produções variem entre 50 e 175 kg.ha-1 (McGraw et al., 1986). Os baixos valores de
produção de sementes são resultado do hábito de florescimento indeterminado, do
suprimento limitado de fotossíntese ao crescimento reprodutivo, do aborto de flores e
da deiscência das vagens (McGraw e Beuselinck, 1983). Elevada produção de
sementes pode ser obtida pelo uso de reguladores de crescimento, que promovem o
desenvolvimento reprodutivo e encurtam o período de florescimento (Li e Hill,
1989).
O Lotus subbiflorus L. é uma espécie hibernal com crescimento semi-ereto,
que em pastejo baixo e freqüente apresenta crescimento prostrado. Ocorrem plantas
desde quase glabras a muito pilosas de acordo com biótipos e condições ambientais
prevalecentes. Adapta-se a uma ampla diversidade de solos, estabelecendo-se tanto
nos solos ácidos, como nos de baixa fertilidade ou de drenagem deficiente.
Embora o ciclo seja anual na maioria dos casos, há ocasiões em que pode-se
observar certa proporção de plantas bienais, tais como em semeaduras de primavera
ou manejo de desfolhação baixo e tardio que impeçam o florescimento, sempre que
ambas as circunstâncias sejam acompanhadas por abundantes precipitações estivais.
434
Quando do seu uso como estratégia de melhoramento de campo nativo, embora
a contribuição de forragem muitas vezes não seja relevante, o aporte qualitativo no
período de inverno parece ser importante. Aparentemente, isto se deve ao incremento
no nível de proteínas de forma complementar ao campo nativo, que em muitos casos
é dominado por espécies estivais de menor qualidade por ocasião do inverno.
Frente a outras espécies, em geral perenes, a cv. El Rincón apresenta baixa
produção de forragem em fins do outono e durante o inverno, sendo tal produção
menor quanto mais seca e fria forem as condições climáticas, e menor for a
disponibilidade de fósforo no solo. As maiores taxas de acúmulo diário (em torno de
30 a 40 kg.ha-1 de MS) são obtidas entre novembro e dezembro.
Ao final de seu ciclo esta espécie oferece uma elevada produção de sementes
de tamanho pequeno e com alta porcentagem de sementes duras. A quantidade de
sementes por kg é de 2.180.000, número importante quando comparado com o Lotus
corniculatus L. (830.000) e o trevo-branco (1.700.000) (INIA, 1994).
435
São duas as épocas indicadas para a semeadura do cornichão: início de outono
e na primavera. Dá-se preferência ao outono, por haver menor concorrência com
plantas invasoras, e também para que, ao chegar à primavera, a cultura já esteja
estabelecida. A semeadura outonal permite, ainda, que a planta aproveite o período
de chuva e frio para ampliar seu sistema radicular. Outro benefício é que se tem, para
o inverno seguinte, o pasto bem estabelecido, com plantas que podem inclusive
antecipar o início do pastejo (maio).
As quantidades de sementes empregadas por hectare dependem de vários
fatores, tais como a qualidade das sementes, o método de semeadura e a utilização
que se quer dar a cultura (feno, pastagem ou produção de sementes). Uma boa
semente deve apresentar cerca de 80% de germinação. Nas semeaduras a lanço
emprega-se maior quantidade de sementes do que nas semeaduras em linhas
(considerada particularmente para produção de feno ou sementes). Na formação de
pastagens utiliza-se até 8 kg.ha-1 de sementes e, na semeadura em linhas, 5 a 6 kg.ha-1
distanciadas entre 25 e 30 cm.
É uma espécie de crescimento ereto, o que determina que seu manejo deva ser
feito com cuidado para manter uma área de folhas elevada e não se remova os pontos
de crescimento, os quais, em sua maioria, estão bem acima da superfície do solo.
Raramente são relatados casos de timpanismo, mesmo em pastagens dominadas pelo
cornichão. Em suas folhas encontram-se elevados teores de tanino.
Ainda devido ao crescimento ereto é bastante utilizado para fenação exigindo,
entretanto, alturas de corte adequadas para não prejudicar a rebrotação (7 a 10 cm do
solo). O crescimento mais intenso do cornichão vai de meados de julho a novembro.
Isto permite colheitas para a produção de feno a cada 35-40 dias. A cultura pode
produzir até 30 t.ha-1 de massa verde, ou 5 a 6 t.ha-1 de feno.
Quando o objetivo é produzir sementes, e em se tratando de uma cultura de
primeiro ano, o cornichão deverá manter-se em crescimento até o fim de setembro,
quando então deverá ser pastejado com elevada lotação para que, de forma rápida,
436
seja rebaixado. Essa prática proporciona florescimento mais homogêneo e
concentrado. A maturação da semente, que já é bastante desuniforme, poderá, assim,
se uniformizar, permitindo até mesmo a colheita mecânica com máquinas
convencionais de trigo ou soja, bem reguladas.
Consegue-se, em anos favoráveis (verões regularmente chuvosos), até duas
safras. A primeira colheita se dá em fins de dezembro, e cerca de 40 a 50 dias se
procede a segunda colheita, se as condições de tempo assim o permitirem. Não se
recomenda, entretanto, realizar colheitas freqüentes, pois essa prática pode deixar as
plantas frágeis e menos competitivas com aquelas invasoras eventualmente
presentes.
Lotus subbiflorus L.
Essa leguminosa tem seu principal uso no melhoramento dos campos nativos
do sul do Brasil e no Uruguai. Neste contexto, antes da semeadura deve-se efetuar
previamente um pastejo intenso no verão, depois das chuvas do mês de março. Esse
pastejo não deve ser realizado com muitos meses de antecedência, nem tampouco
prolongar-se por longo período de tempo, sob pena de que se promova a formação de
uma estrutura de pasto mais rasteiro que fará com que as espécies do campo se
tornem mais competitivas sobre as plântulas de L. subbiflorus L. devido,
principalmente, ao maior perfilhamento das gramíneas.
A cultivar El Rincón se adapta bem a semeaduras em cobertura, a lanço e em
linhas. As taxas de semeadura recomendadas variam entre 3 e 7 kg.ha-1 de sementes,
buscando-se estandes de plantas entre 30 e 40 plantas.m-2.
Trata-se de uma espécie com baixa exigência em fósforo e excelente
capacidade de associação com Rizhobium. No entanto, responde positivamente à
aplicação de doses crescentes de fósforo (superior à registrada pelo Lotus
437
corniculatus L.) promovendo-se uma melhor disponibilidade de forragem na época
crítica do inverno (INIA, 1994).
Diferentemente dos resultados com outras leguminosas anuais, a nodulação
ocorre de forma eficiente. Entretanto, a população de Rizhobium no solo pode ser
fortemente afetada por acidez elevada, níveis limitados de fósforo e verões longos,
secos e com temperaturas elevadas. É imprescindível suprir o mínimo de fertilizante
fosfatado necessário para obter uma população adequada, favorecendo a
transferência contínua de nitrogênio para as plantas do campo nativo. Para tanto, as
fertilizações de manutenção podem ser anuais, realizadas em anos alternados ou a
cada três anos.
Sob pastejo rotativo as plantas de L. subbiflorus L. mantêm crescimento ereto,
o que favorece o desenvolvimento das inflorescências nos estratos superiores do
pasto, expondo as sementes à ação do pastejo. Por outro lado, se mantivermos um
pastejo com lotação contínua, as plantas se mantêm com crescimento mais rasteiro e
as inflorescências se desenvolvem próximas ao solo. Desta forma, as estratégias de
pastejo utilizadas circunstancialmente durante a fase final da estação de crescimento
afetam as populações de sementes e determinam a capacidade de ressemeadura desta
espécie na pastagem. É importante lembrar que, mesmo sob lotação contínua,
intensidades de pastejo moderadas não impedem uma boa produção de sementes.
Embora o desenvolvimento inicial das plantas de L. subbiflorus L. seja muito
lento, seu crescimento subseqüente é marcado por grande competitividade,
especialmente na primavera. Outra opção consiste em permitir que o cornichão
alcance disponibilidade elevada de forragem durante a primavera/verão com o intuito
de se obter uma reserva forrageira (feno) para os meses de inverno.
438
As espécies exóticas de clima temperado fazem parte do contexto histórico da
experimentação científica em forrageiras no Brasil desde seu início, na década de 50.
Desde então, uma gama de informações foi gerada nos mais variados segmentos da
pesquisa (produção, manejo, melhoramento, etc). Ressaltem-se trabalhos envolvendo
produção de forragem em consorciações de gramíneas e leguminosas (Fontanelli e
Freire Junior, 1991), avaliação de cultivares e progênies (Dall’Agnol et al., 1982),
dinâmica do florescimento e rendimento de sementes (Franke e Nabinger, 1991a;
Franke e Nabinger, 1991b; Nabinger, 1981), valor nutritivo (Fontanelli et al., 1991),
produção animal (Restle et al., 1998; Lesama e Moojen, 1999) e melhoramento de
pastagem natural com introdução de espécies (Vidor e Jacques, 1998; Fontanelli e
Jacques, 1991).
Até o final da década de 90, a maior preocupação era a geração de números
que expressassem potenciais produtivos das espécies e cultivares. Nos anos recentes,
os avanços observados na pesquisa científica referem-se principalmente à busca pelo
entendimento dos processos, como veremos a seguir.
439
Tabela 2- Taxas de acúmulo e de desaparecimento e produção total de MS na
pastagem de azevém associada com leguminosas de inverno, submetida a
diferentes ofertas de forragem.
Oferta de Oferta de Taxa de Taxa de Acúmulo Produção
forragem forragem acúmulo desaparecimento total de total de
pretendida real MS MS
% PV % PV kg.ha-1.dia-1de MS -1 -1
kg.ha .dia de MS
4 3,5 43,4 63,9 4861 7154
4 3,8 46,5 71,8 5208 7816
8 9,6 46,3 52,1 5186 8024
8 9,2 47,9 59,5 5365 8296
12 13,8 51,4 54,8 5757 8993
12 14,0 52,5 58,1 5880 9094
16 19,2 46,0 36,9 5152 8481
16 19,4 44,6 30,7 4995 8192
Fonte: Ido et al., 2005
440
entendimento das relações planta-animal e a definição de ambientes pastoris
favoráveis à produção e bem-estar animal. A produção de forragem passou a ser
esmiuçada em características como taxa de aparecimento foliar, duração de vida da
folha, comprimento final da folha, número de folhas vivas por perfilho, etc. Com
isso, a dinâmica do pasto entra em uma nova escala de observação e detalhamento,
fundamentais tanto para definição de critérios de controle em nível experimental
como de estratégias de manejo do pasto em sistemas de produção.
A fertilização tem sido estratégia constante de distinção de tratamentos
experimentais ao longo dos anos. Respostas potenciais em produção de forragem já
foram bastante avaliadas, como por exemplo a do azevém sob doses de nitrogênio
(N) (Soares et al., 2002; Lustosa, 2002; Lupatini et al., 1998), estudos comparando a
produção forrageira e de grãos em cultivo subseqüente a partir da aplicação de N em
cobertura no pasto ou via fixação pela introdução de leguminosas hibernais
(Assmann et al., 2003, Amado et al., 2003) e dinâmica do N na produção de
fitomassa em espécies hibernais de cobertura (Aita et al, 2006).
Atualmente, um projeto coordenado pela unidade Embrapa Pecuária Sul
(Bagé, RS), em colaboração com o Departamento de Plantas Forrageiras e
Agrometeorologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DPFA –
UFRGS), busca avançar com a pesquisa em modelagem de sistemas forrageiros ao
ter por objetivo construir um modelo matemático para a predição e simulação das
taxas de crescimento em azevém em diferentes condições de nitrogênio no solo e
clima. Os dados estão sendo coletados em pontos distintos da Região Sul contando,
para isso, com uma equipe multi-institucional (Embrapa Clima Temperado,
Universidades Federais do Paraná e de Santa Maria, Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de SC, Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
do RS. Um dos objetivos com esse projeto é a divulgação periódica de boletins on
line da previsão do crescimento do pasto de azevém nas regiões de abrangência dos
locais de avaliação: Bagé (extremo Sul do RS), Eldorado do Sul (Centro do RS),
441
Lages (Alto da Serra de SC) e Pinhais (Serra do PR). Uma vez consolidada, a
validação e disponibilização desta técnica representará um marco na contribuição da
pesquisa científica ao manejo de pastagens no sul do Brasil.
442
para forrageamento hibernal em sistemas à base de pastagens tropicais no estado
fluminense.
No Paraná, o IAPAR desenvolve, há muitos anos, o melhoramento genético
das aveias preta e branca, com duas cultivares a se destacar: a IAPAR 61 (preta) e a
IPR 126 (branca), esta última com resultados mais promissores que sua antecessora
FAPA 2. Essas forrageiras têm sido avaliadas e recomendadas pela Comissão
Nacional de Pesquisa de Aveia. Selecionadas a partir de populações da cultivar
“Comum”, têm apresentado respostas semelhantes em produção total de MS quando
colhidas no estádio vegetativo, mas com notado avanço genético na relação folha-
colmo em relação às cultivares comuns. No RS, Macari et al. (2006) compararam as
cultivares de aveia-preta cv. IAPAR 61 e “comum” em produção primária e
secundária, não encontrando diferenças para taxa de acúmulo de MS, taxa de lotação,
ganho de peso médio diário e por área e proteína bruta. Esses autores definiram como
satisfatórias as respostas obtidas com a cultivar paranaense, recomendando sua
utilização para pastejo no Rio Grande do Sul.
443
outra população em todos os caracteres avaliados, sugerindo que o melhoramento
genético desta espécie possa ser direcionado ao desenvolvimento de sintéticos
combinados entre as populações. Inferiram, ainda, que futuros estudos poderão
discutir a possibilidade de seleção intrapopulacional no melhoramento genético.
Vieira et al. (2004) avançaram no entendimento da distribuição da
variabilidade intra e interpopulacional de azevém. Estudos dessa natureza, bem como
a avaliação de prospecção de genótipos com superioridade em caracteres
morfológicos, tal qual trabalhada por Castro et al. (2003), podem constituir
importante base de trabalho aos melhoristas em azevém. Entretanto, existe um longo
caminho a ser trilhado, o qual provavelmente já deveríamos ter percorrido, dada a
importância dessa espécie para os sistemas agropastoris do Sul do Brasil.
444
Tabela 3- Médias de número de perfilhos por planta, diâmetro de cobertura do solo e
ciclo vegetativo para populações de azevém coletadas em diferentes
regiões do RS
Designação da Variáveis
Região
população em Diâmetro de Ciclo
de Nº de
função do cobertura do vegetativo
coleta afilhos
município solo (cm) (dias)
Júlio de Castilhos 17 C 41 C 172 C
Central Pântano Grande 21 C 40 C 172 C
(C) Rio Pardo 25 B 41 C 186 A
Tupanciretã 17 C 42 C 177 B
Campo Novo 23 B 34 D 163 D
Cruz Alta 19 C 55 A 155 E
Erechim 19 C 37 D 166 D
Ijuí 22 C 46 B 166 D
Lagoa Vermelha 20 C 43 C 190 A
Marau 23 B 40 C 172 C
Panambi 17 C 46 B 160 D
Noroest
Passo Fundo 28 B 49 B 169 C
e (NO)
Santo Ângelo 18 C 54 A 136 F
Santo Augusto 12 C 35 D 172 C
São Luiz
12 C 42 C 171 C
Gonzaga
Sarandi 27 B 51 A 152 E
Tucunduva 23 B 43 C 154 E
Vacaria 27 B 38 D 185 A
Sudeste Camaquã 22 C 38 D 172 C
(SE) Capão do Leão 18 C 39 C 194 A
Dom Pedrito – 1 21 C 31 D 184 A
Dom Pedrito – 2 37 A 42 C 176 B
Dom Pedrito
Sudoest 32 A 36 D 190 A
(Guatambu)
e (SO)
São Borja 20 C 47 B 161 D
São Gabriel 13 C 46 B 166 D
Uruguaiana 18 C 41 C 177 B
CV (%) 22,7 9,8 334
Fonte: Vargas et al., 2006
445
Rebuffo et al. (2005) também salientaram a importância da utilização de
germoplasmas locais nos programas de melhoramento genético de forrageiras de
clima temperado. Argumentam que as variedades crioulas podem formar distintos
grupos adaptados a ecossistemas específicos. O próprio Lotus corniculatus cv. São
Gabriel é citado pelos pesquisadores uruguaios como sendo mais produtivo que
outras cultivares introduzidas, e na última década o processo de melhoramento
genético a partir de populações locais já possibilitou a identificação de cultivar com
produção de matéria seca superior à do cornichão São Gabriel para condições do
Uruguai. Algumas cultivares desenvolvidas no país vizinho têm cruzado as fronteiras
para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, como é o caso do Lotus corniculatus cv.
Inia Dracco e do Lotus uliginosus cv. Maku.
No Rio Grande do Sul, no início década de 90, Paim e Riboldi (1991)
demonstraram a variabilidade do cornichão São Gabriel e seu alto potencial de
resposta à seleção para produção de MS, e alertaram para o longo caminho a ser
percorrido em adaptação e seleção de genótipos em outras espécies e cultivares de
Lotus para o RS. Pois este caminho vem sendo trilhado nesses quase 20 anos de
pesquisa, e os resultados mais promissores são o L. subbiflorus cv. El Rincón e o L.
uliginosus cv. Maku, desenvolvidos no Uruguai e selecionados para condições do Sul
do Brasil. Maroso e Scheffer-Basso (2007) observaram características superiores do
Lotus uliginosus cv. Maku em relação ao Lotus corniculatus cv. São Gabriel no que
tange à tolerância ao pastejo. Ambas cultivares já foram, por demais, utilizadas como
forrageiras-padrão para avaliação de espécies leguminosas nativas do RS (Scheffer-
Basso et al., 2002; Scheffer-Basso et al., 2000). Independentemente de qual espécie
ou cultivar seja melhor em uma ou outra característica, a imagem a ser emoldurada é
a de que a pesquisa em torno do gênero Lotus tem se mantido atenta a questões de
interesse dos sistemas de produção, como adaptação, produção e persistência.
Soster et al. (2004a) avaliaram sete populações de Lotus corniculatus cv. São
Gabriel coletadas no RS. Os autores observaram variabilidade quanto ao
446
comprimento de entrenós, altura, diâmetro, comprimento de vagens, produção de
forragem e valor nutritivo. Para os mesmos genótipos de cornichão, Soster et al.
(2004b) encontraram boa variabilidade morfofisiológica no germoplasma (e.g.,
morfologia das folhas, dos caules e da coroa; hábito de crescimento), recomendando
o uso desses materiais em programas de melhoramento da espécie.
Na mesma linha de estudo de caracterização da diversidade genética para
avanços no melhoramento de leguminosas, Bortolini et al. (2006) avaliaram na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul a divergência de 78 acessos de trevo-
branco provenientes da coleção nuclear do Sistema Nacional de Germoplasma
Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Encontraram ampla
variabilidade nos caracteres morfológicos e agronômicos avaliados, sendo a área
foliar, a altura, a intensidade de florescimento e a produção de MS os que mais
contribuíram para a divergência genética entre os acessos.
Este trabalho de seleção de germoplasma de trevo-branco realizado no
Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS tem, desde
2006, servido de base genética para programa de melhoramento desenvolvido em
parceria com a Embrapa Pecuária Sul, com previsão de lançamento de novas
cultivares para 2009. Nessa mesma unidade da Embrapa foi reiniciada a seleção
dentro da cultivar de trevo-branco BR1-Bagé, lançada na década de 1980, e cuja
população selecionada encontra-se atualmente em ensaios de VCU para lançamento
de cultivares. Em 2007, sob a coordenação da Embrapa Clima Temperado, foi
lançada a cultivar de azevém BRS Ponteio, e a partir de 2008 as unidades da
Embrapa firmaram parceria com a UFRGS para programas de melhoramento de
outras espécies como trevo-vermelho, cornichão e aveias.
Para ampliar a base genética de trevo-vermelho, Simioni et al. (2006)
trabalharam com a poliploidização sexual nesta espécie, novamente com o objetivo
de proporcionar aos melhoristas maior variabilidade para o processo de seleção.
Montardo et al. (2003a), por sua vez, avaliaram a persistência de progênies da
447
espécie em diferentes regiões do RS, confirmando ser esta uma grande limitante da
utilização de trevo-vermelho em regiões abaixo da Encosta Superior do Nordeste.
Através de análise de trilha, Montardo et al. (2003b) identificaram o número de
inflorescências por planta como a principal característica a ser utilizada na busca de
maior produção de sementes em trevo-vermelho.
Numa compilação experimental de espécies e cultivares de forrageiras de
clima temperado de destaque nos últimos anos, Rocha et al. (2007) avaliaram alguns
dos principais acessos do Programa de Melhoramento Genético do Instituto Nacional
de Investigación Agropecuaria do Uruguai. Os resultados médios de produção de
forragem total e por componentes estruturais (Figura 1) realçaram forte expressão da
cultivar de azevém Titan, a qual além de apresentar alta produção de MS (próxima a
7,0 t.ha-1) também se destacou por concentrar, aproximadamente, 85% desta no
componente lâmina foliar. A preocupação em se selecionar para alta produção de
lâminas foliares, já comentada anteriormente nas cultivares de aveia, é um passo
adiante em relação à produção de MS total e é uma tendência no melhoramento de
gramíneas de clima temperado. Já para as leguminosas, é preciso avançar em
genótipos adaptados a condições específicas (e.g., hídricas, nutricionais).
448
Kg.ha-1
7.4- Silvipastoralismo
Face ao avanço das áreas de florestamento no Sul do Brasil a partir do início
dos anos 2000, ganharam destaque no cenário científico pesquisas em sistemas
silvipastoris (SSP). Estudos de produção e valor nutritivo de espécies de clima
temperado em ambientes arbóreos têm sido realizados em toda Região Sul. Na
Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Sartor et al. (2006) avaliaram a
produção de forragem de gramíneas e leguminosas de inverno sob sombreamento de
Pinus taeda. Das espécies trabalhadas, observaram ser o azevém a mais tolerante a
essas condições, principalmente em condição de maior espaçamento entre árvores.
Constataram, ainda, entre as leguminosas, maior adaptação do cornichão ao
sombreamento em comparação ao trevo-branco.
449
No Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o objetivo com a linha de pesquisa em
SSP é o estudo das interações árvore-pastagem-animal. Enfoque especial tem sido
dado ao estudo dos efeitos do sombreamento (natural ou artificial) sobre a produção
e o valor nutritivo da forragem (Barro et al., 2006), bem como efeitos sobre a
morfofisiologia das plantas usadas em sub-bosques. Barro et al. (2002), avaliando o
teor de proteína bruta, a digestibilidade in vitro da matéria orgânica e os nutrientes
digestíveis totais de forrageiras de clima temperado, em pleno sol ou sob densidades
de Pinus elliottii, constataram aumento da qualidade com a diminuição da
luminosidade para azevém, aveia-branca e aveia-preta.
Especial atenção tem sido dada à caracterização microclimática do SSP
mediante a avaliação de diferentes densidades arbóreas e seus efeitos sobre o
acúmulo de forragem, além dos efeitos da introdução de bovinos e ovinos no
sistema. Destaca-se também a avaliação de genótipos forrageiros para utilização em
SSP, com ênfase às espécies de estação fria mais utilizadas em sistemas de produção
do RS (azevém, trevos branco e vermelho, cornichão, aveias branca e preta, etc.),
além de espécies de ciclo estival (gêneros Panicum e Brachiaria) e espécies
nativas.
A produção de carne em SSP no Sul do Brasil tem sido investigada
particularmente em florestas cultivadas (Pinus, eucalipto e acácia-negra). A
evidência experimental disponível atualmente no RS permite afirmar que sistemas
que utilizam pastagens formadas tanto com gramíneas perenes de ciclo estival
(tropicais) como misturas de gramíneas e leguminosas de ciclo hibernal (temperadas)
em ambientes arbóreos podem apresentar índices de produção animal bastante
satisfatórios considerando um sistema integrado. Silva (1998) reporta valores de
ganho de peso corporal por área entre 215 e 380 kg.ha-1, em períodos de pastejo
variáveis entre 64 e 108 dias por ano. Os valores máximos de ganho médio diário
observados em novilhos situam-se entre 1,2 e 0,9 kg.
450
7.5- Produção animal
O melhoramento genético vegetal, a produção de sementes e de forragem, o
valor nutritivo, estratégias de forrageamento, enfim, os diversos segmentos da
pesquisa em forrageiras de clima temperado encontram-se interligados por um
interesse comum: a produção animal. E, seja pela pressão global por resultados em
curto prazo, seja pelo próprio modelo produtivista em que nossa pesquisa foi
concebida, as avaliações da resposta animal predominam nas publicações sobre
pastagens de clima temperado. Ao longo dos anos, grande número de informações
(Tabela 4) foram coletadas visando, na maioria dos casos, verificar respostas
potenciais a estratégias de manejo (e.g., níveis de massa de forragem, métodos de
pastejo, doses de fertilizantes).
A simples comparação de desempenhos ainda tem sido a tendência da maioria
dos trabalhos, embora recentemente se tenha despertado para a busca do
entendimento dos fatores causativos dessas respostas. Nesse sentido, a avaliação de
características relacionadas ao comportamento ingestivo dos animais, bem como
estudos de caracterização estrutural do pasto, entraram com muita força nos
protocolos experimentais de produção animal já existentes.
451
Tabela 4- Desempenho animal em diversos trabalhos conduzidos no RS com
espécies de clima temperado no Sul do Brasil
452
apresentado estudos envolvendo a produção de novilhos superprecoces em pastos de
aveia-preta e azevém integrados com cultivo de soja (Aguinaga et al., 2006; Terra
Lopes et al, 2008). Neste caso, uma equipe multidisciplinar vem trabalhando na
avaliação de todo sistema (dinâmica da produção de forragem, atributos químicos e
físicos do solo, desempenho e mais recentemente comportamento ingestivo dos
animais, avaliação de carcaças, etc). O objetivo é que se possa não apenas obter
magnitudes de resposta animal nas diferentes estratégias utilizadas (altura do pasto
de aveia e azevém – 10, 20, 30 e 40 cm) e sim entender as alterações que ocorrem
nos ambientes pastoris em cada ano e ao longo do tempo, bem como seus reflexos na
produção de grãos das lavouras subseqüentes a cada ciclo de pastagem.
Em sete anos de avaliação desse protocolo, tem sido consolidado que as
forrageiras de clima temperado em uso devem ser manejadas com altura próxima a
25 cm, a qual proporciona o melhor desempenho dos novilhos e produção por área
satisfatória (Figura 2). A explicação vem na melhor relação folha-colmo-material
morto (fluxo de tecidos) em quantidade de forragem não limitante à ingestão. Com
relação à evolução do sistema, os resultados apontam benefícios da ação do pastejo
sobre a qualidade do solo em relação à utilização das mesmas espécies apenas para
cobertura e produção de palha para o sistema de semeadura direta. Há melhoria das
condições químicas e físicas do solo, sobretudo em maiores alturas de manejo do
pasto, com a manutenção de palhada pós-pastejo mais do que satisfatória.
453
700 1,3
600 1,2
1,1
500
1,0
-1
400
0,9
300
0,8
GMD = -0,014502 + 0,00090316PI +
200 0,08750ALT - 0,00179ALT2
P < 0,01 GPV = -17,698ALT + 809,03
0,7
R2 = 0,53 P < 0,01
100 R2 = 0,95 0,6
0 0,5
10 15 20 25 30 35 40
Altura do pasto (cm)
Figura 2. Relação entre altura do pasto (cm), ganho de peso por hectare (GPV) e
ganho médio diário (GMD) em pastos de aveia e azevém manejados sob
diferentes alturas para novilhos de corte.
Fonte: Terra Lopes et al., 2008
454
Figura 3 - Estratégias metodológicas para o avanço da pesquisa científica em
pastagens.
Pastos formados com forrageiras de clima temperado têm sido avaliados também
para produção ovina e, na última década, esses estudos ganharam força em função do
direcionamento da produção para o mercado de cordeiros. Barbosa et al. (2007)
demonstraram que a quantidade de pasto de azevém em oferta é mais importante que
o método de pastejo para o desempenho de cordeiros. Trabalhando com 2,5 ou 5,0
vezes o potencial de consumo em lotação contínua ou rotativa, esses autores
observaram ganho de peso médio diário (GMD) entre 0,15 e 0,18 kg, taxa de lotação
entre 970 e 1430 kg.ha-1 de PC e produção animal por área entre 550 e 750 kg.ha-1 de
PC. O diferencial do protocolo conduzido por Barbosa et al. (2007) foi a utilização
do fluxo de tecidos (sobretudo o filocrono e a duração de vida da folha) como critério
de manejo dos pastos. Ou seja, respeitando o ótimo da planta para a comparação
imparcial dos métodos de pastejo, uma vez que existe grande interação entre a
dinâmica de acúmulo de forragem e o método empregado ao longo do ciclo de
pastejo (Figura 4). Roman et al. (2007) avaliaram o comportamento ingestivo e o
desempenho de cordeiras em pasto de azevém em cultivo exclusivo, observando
ganho de peso médio diário (GMD) entre 0,14 e 0,18 kg, em três níveis de massa de
455
forragem. Os autores concluíram ser a profundidade das lâminas foliares no dossel
do pasto a principal determinante do desempenho individual dos animais.
456
(Brustolin et al., 2005), adubação nitrogenada vs. leguminosa em aveia e azevém
(Rocha et al., 2004), suplementação de novilhas em pastagem cultivada de inverno
(Rocha et al., 2003), comparação de gramíneas de clima temperado na engorda de
novilhos (Roso et al., 2000), melhoramento de pastagem natural com introdução de
leguminosas (Soares et al., 2006), gestação e lactação de ovelhas em azevém
(Pedroso et al., 2004), terminação de cordeiros em azevém (Carvalho et al., 2006),
terminação de novilhos em azevém e trevo-branco integrado com lavoura de arroz
(Marchezan et al., 2002) e estrutura do pasto e comportamento ingestivo em pastos
hibernais (Trevisan et al., 2005). Grande contribuição tem sido dada pelos
congressos e simpósios da área, como a Reunião da Sociedade Brasileira de
Zootecnia e, principalmente, a Reunião do Grupo Técnico em Forrageiras do Cone
Sul, no que tange ao estudo de forrageiras de clima temperado.
Na Epagri (Lages, SC) encontra-se em fase de lançamento o 141º Boletim
Técnico da instituição, trazendo por título “Forrageiras de Clima Temperado para o
Estado de Santa Catarina”. Nessa publicação, pesquisadores daquele estado
apresentam resultados e recomendações dos dois anos iniciais do projeto (2005 e
2006). Os estudos de melhoramento de pastagem nativa na Epagri recomeçaram na
última década. A constatação de que as principais forrageiras de clima temperado
utilizadas eram originárias de outros países (e.g., Uruguai, Argentina) levou os
pesquisadores a concentraram esforços na busca de genótipos tolerantes às
características climáticas regionais de elevada altitude e baixas temperaturas.
O boletim técnico elaborado pela Epagri trará uma diversidade de
informações de produção, valor nutritivo, adaptação e manejo das forrageiras
avaliadas, e de forma bastante acessível aos leitores. Como síntese das forrageiras
recomendadas para SC destacam: aveia-branca (cvs. FAPA 2 e CFT Iguaçu), aveia-
preta (cv. IAPAR 61), azevém anual (cvs. Empasc 304 e Comum), além de centeio,
capim-lanudo e cevadilha como gramíneas anuais; capim-dos-pomares (cvs. Amba e
Oberon), festuca (cvs. Epagri 312-Lages e K 31), aveia perene (cv. Vacaria), mais
457
cevadilha-serrana e faláris como gramíneas perenes. Quanto a leguminosas
recomendam as anuais ou bienais trevo-vermelho (cvs. Quiniquelli e Estanzuela
116), trevo-vesiculoso (cv. Yuchi), trevo-subterrâneo (cvs. Clare e Mount Barker) e
como leguminosas perenes o trevo-branco (cvs. Zapicán, El Lucero e Ladino Regal),
cornichão (cv. São Gabriel), Lotus-serrano (cv. Maku), além da alfafa (cvs. Crioula e
Monarca Inta).
458
privada, na forma de uma associação de produtores de sementes de forrageiras dos
três estados sulinos. Essa associação de produtores (SULPASTO) financiaria o
custeio dos programas de melhoramento de várias unidades da Embrapa e também da
UFRGS e, em contrapartida, teria exclusividade na venda das sementes.
Outra ação integrada no sentido da difusão de tecnologia ao produtor é o
Projeto Redes de Referência, no RS, onde universidades, entidades de classe e
institutos de pesquisa estão monitorando, desde 2006, intervenções técnicas em
propriedades rurais de diferentes regiões do estado (Figura 5). Nessas propriedades
(unidades de referência), o planejamento forrageiro está fundamentado no manejo
adequado das pastagens naturais com a inclusão estratégica de espécies forrageiras
de clima temperado (Figura 6). O projeto encontra-se atualmente em fase de
apresentação dos primeiros resultados junto aos produtores, por meio de informativos
técnicos e a realização de dias de campo.
Ações dessa natureza precisam acontecer com mais vigor no Sul do Brasil
para que a pesquisa científica possa disponibilizar seus arquivos de conhecimento na
cadeia produtiva, de modo a equilibrar a relação oferta-demanda entre a área técnica
e produtores rurais. Se, por exemplo, as metas dos dois programas supracitados
forem atingidas (aumento da adoção de tecnologias), novas demandas e perspectivas
surgirão, num processo de retro-alimentação dos sistemas de produção para com o
ambiente técnico-científico. E nesse contexto é de se esperar que o universo das
forrageiras de clima temperado, sendo uma das alavancas desse processo, possa
corresponder à altura das expectivas do setor produtivo.
459
Figura 5- Projeto Redes de Referência (RS): melhoramento de pastagem natural com
introdução de forrageiras de clima temperado (azevém; trevo-vermelho;
trevo-branco).
460
Figura 6- Produção de novilhos superprecoces em pasto de aveia + azevém (Foto:
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