Sebenta Processual Civil Executivo NOVA
Sebenta Processual Civil Executivo NOVA
Sebenta Processual Civil Executivo NOVA
PREÂMBULO
“Os certeiros que fizeram estes meninos não foram muito precisos quando acabaram de os
escrever a computador. Futuras discussões doutrinárias em São Jario permitiriam corrigir
certos erros que aqui estavam, mas essas correções nunca foram efetivadas a computador. E
porque saber Direito não é saber uma sebenta e siga para bingo, encorajam-se os infelizes que
optaram por ler estes meninos a duvidarem de tudo o que for escrito e a discutirem-no com os
seus amigos. Afinal é, também, desses serões que se faz o curso na NOVA.”
OS AUTORES
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Direito Processual Civil Executivo –
Dando arrimo a estas disposições supralegais, vem o CPC pronunciar, no 2º/2, que a
todo o direito corresponde a ação adequada a realizá-lo coercivamente. O processo civil
declarativo situa-se sempre no estrito plano jurídico, visando a produção de um título jurídico
judicial para a pretensão material do autor. Por vezes corre “tudo bem”, mas e se o réu não
realizar, mesmo quando condenado, a prestação devida?
É para isso que surge a ação executiva, definida como aquela em que o autor requer as
providências adequadas à realização efetiva de um comando de atuação do réu enunciado num
título judicial.
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Diz TEIXEIRA DE SOUSA que o direito de executar resulta da incorporação da pretensão
num título executivo, que será constitutivo deste direito autónomo: sem o título, há direito à
pretensão, mas a mesma não tem exequibilidade. O direito à execução não se traduz na
imposição ao Estado de uma prestação de execução: o Estado tem o ius imperium e com ele
realiza atos de execução da prestação, mas o direito à execução nunca perde a sua natureza
inter partes, ainda que simbioticamente ligada à dependência dos meios coativos do Estado,
meios esses de natureza pública.
Começamos pelo 10º/5, que nos diz que toda a ação executiva tem por base um título
executivo. O título executivo constitui a base da execução, por ele se determinando o fim e os
limites da ação executiva, isto é, o tipo de ação e o seu objeto, assim como a legitimidade, ativa
e passiva, para ela (53º/1), e, sem prejuízo de poder ter que ser complementado (714º a 716º),
em face dele se verifica se a obrigação é certa, líquida e exigível (713º).
O título executivo ganha a relevância especial que a lei lhe atribui fruto da circunstância
de oferecer a segurança mínima reputada suficiente quanto à existência do direito de crédito
que se pretende executar.
Que tipos/espécies de títulos executivos existem? Estes vêm elencados no 703º, CPC.
Aliás, a lei especifica taxativamente todos os títulos executivos; não há títulos executivos atípicos
de fonte contratual, por exemplo. Olhemos o 703º:
Não engloba este preceito só as sentenças emitidas em processo civil, mas também as
condenatórias provenientes do processo penal ou administrativo. Excluem-se, assim, da
categoria de título executivo as sentenças proferidas em ações de simples apreciação ou ações
constitutivas. Porquê?
Por um lado, nas ações de simples apreciação o autor apenas pede que seja declarado
um direito, sem pedir a condenação do réu ao que quer que seja; logo o juiz não pode ir mais
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longe e condenar o réu à realização de uma qualquer prestação. O réu, pela sentença, não é
condenado no cumprimento de uma obrigação pré-existente, nem sequer constituído em nova
obrigação a cumprir. Não havendo condenação, não há nada a executar, não há fundamento de
ação executiva, sem prejuízo de a decisão proferida constituir caso julgado prejudicial numa
posterior ação de condenação, cuja sentença, ela sim, sendo de procedência, constituirá título
executivo. Esta solução é um corolário do princípio do dispositivo - quando se formula o pedido
numa ação declarativa, deve-se perceber as consequências que isso terá em matéria de
execução, só pedidos que contemplem uma condenação podem, em caso de procedência, dar
azo a ações executivas posteriores – são as partes que moldam a tutela jurisdicional de que
usufruirão.
LEBRE DE FREITAS circunscreve esta questão ao campo das ações constitutivas, mas
MARIANA FRANÇA GOUVEIA fala ainda desta possibilidade quanto a ações de simples
apreciação. Ex.: numa ação de reconhecimento da paternidade pode estar implícita uma
condenação à entrega da obrigação de alimentos ao filho.
Há quem defenda (JOSÉ ALBERTO DOS REIS ou ANSELMO DE CASTRO) que está implícito
ao efeito que a sentença produz a condenação do réu a uma dada obrigação; por exemplo, que
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está implícito ao efeito da sentença que dá procedência ao pedido formulado na ação
constitutiva de execução específica supramencionada (a transmissão da propriedade do bem)
uma condenação do réu a uma obrigação de entrega de coisa certa. Os defensores desta tese
fundamentam também a sua posição na defesa de que esta solução favorece o princípio da
economia processual, ao evitar que o autor da ação constitutiva tenha de propor outra ação de
condenação para obter a entrega do bem.
LEBRE DE FREITAS tem uma posição mais moderada, mas que, ainda assim, admite a
existência de condenações implícitas, no campo das ações constitutivas, quando com o efeito
constitutivo da sentença se possa cumular uma decisão condenatória expressa ou implícita. Não
deixa de admitir ser duvidosa a existência desta figura à luz do princípio do dispositivo, mas
considera que pode ser configurável na medida em que se tenha também por deduzido um
pedido de condenação implícito e quando, não tendo sido proferida uma decisão de condenação
expressa, pela sentença haja sido constituída uma obrigação cuja existência não depende de
qualquer outro pressuposto. Para ilustrar a sua tese, LEBRE DE FREITAS recorre a dois exemplos:
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sido efetivamente realizada a prestação cuja restituição se pretende. A existência da obrigação
não está na exclusiva dependência da sentença proferida, é necessário provar o cumprimento
do contrato e que o pedido de restituição foi expresso ou implicitamente deduzido.
Outra questão ainda se impõe no campo das sentenças condenatórias: quando falamos
delas como títulos executivos, estamos a falar de sentenças transitadas em julgado ou não? O
regime atual permite a execução imediata da sentença, independentemente do recurso, ainda
que a letra do 704º/1 diga que a sentença só é título executivo depois do trânsito em julgado,
salvo se o recurso ter efeito meramente devolutivo.
Ou seja, a letra do 704º/1, CPC não é clara – deveria antes dizer algo como: a sentença
constitui título executivo mesmo antes do trânsito em julgado, salvo se tiver efeito suspensivo.
A ratio desta norma é (i) fazer com que a propositura da ação executiva sirva como meio de
pressão sobre o devedor para a realização da obrigação a que foi condenado; e (ii) evitar que se
interpusessem recursos apenas como manobras dilatórias da execução.
Ora, se tiver sido instaurada execução na pendência de recurso com efeito meramente
devolutivo, essa execução, por natureza provisória, sofrerá as consequências da decisão que a
causa venha a ter nas instâncias superiores.
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De referir também que o recurso de revista (para o STJ) tem também, regra geral, efeito meramente
devolutivo, com apenas uma exceção: 676º/1.
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uma condenação parcial do réu (ex.: A é condenado a pagar 20.000€, recorre dessa decisão e a
decisão do recurso diz que ele só deve, afinal, 10.000€; nesse caso, a execução limitar-se-á por
esse valor mais reduzido, modificando-se os seus moldes).
Pode ainda a decisão da Relação que absolve o réu ou modifica o valor a executar ser,
ela própria, objeto de recurso. Como não haverá, nesse caso, dupla conforme, pode haver
recurso para o STJ. Quanto ao destino da ação executiva, tudo dependerá do efeito do recurso
para o STJ:
- Se o recurso para o STJ não tiver efeito suspensivo (efeito meramente devolutivo),
então a ação executiva é suspensa ou modificada, conforme estabeleça a decisão da Relação
(consoante a decisão da Relação for total ou parcialmente revogatória da anterior, se absolve o
réu ou modifica o valor a executar). Sendo suspensa, a execução fica parada à espera da decisão
do STJ. Porque é que o acórdão da Relação, não tendo efeito suspensivo e, por isso, produzindo
efeitos, apenas gera a suspensão da ação executiva e não a extingue? Porque é uma decisão
intermédia, para a qual atua o 704º/2, 2ª parte, que apenas prevê a suspensão (269º/1, d)) ou
modificação e não a extinção da ação executiva.
O 704º/3 contempla uma válvula de segurança do sistema, nos termos da qual, para
acautelar a possibilidade de a decisão de condenação que configura o título executivo ser
revertida em recurso, exige que o exequente, durante a pendência do recurso, só possa receber,
pela via executiva, o dinheiro correspondente ao seu crédito, se prestar caução. Já o 704º/4
prevê outra válvula de segurança do sistema, que consiste numa proteção específica à casa de
morada da família do executado. Nota: v. 704º/4.
Por fim, também as sentenças arbitrais condenatórias cabem também no 703º/1, a),
algo previsto especificamente no 705º, CPC. De facto, o 703º/1, a) fala apenas em sentenças
condenatórias, não especifica que estas têm de ser sentenças judiciais, o que, de facto, não
acontece. Quanto a sentenças exaradas em países estrangeiros, vigoram dois princípios:
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esta é uma exceção ao regime-regra (presente na primeira parte do 706º/1), que provém da
consagração deste princípio em fonte supranacional;
Estes documentos estão definidos no 363º/2 e 3, CC2. São títulos extrajudiciais (visto
não se produzirem em juízo) ou negociais (porque emergentes de um negócio jurídico celebrado
extrajudicialmente). Além disso (de cumprir os requisitos formais presentes na definição de
documentos autênticos e autenticados), estes documentos têm de constituir ou reconhecer
uma obrigação Neste último caso, o devedor reconhece uma obrigação pré-existente ou por via
de confissão do ato (ou mero facto) que a constituiu (352º, 358º/2, 364º, CC) ou por via da figura
do reconhecimento de dívida (458º, CC).
É ainda relevante falar do artigo 46º, do antigo CPC (1961 com a redação de 1995), que
aqui transcrevemos:
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Os documentos autênticos são aqueles que são exarados por notário. Já os documentos autenticados
não são exarados por notário, mas são-lhe posteriormente levados para que, na presença das partes, ele
ateste a conformidade da sua vontade com o respetivo conteúdo.
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Artigo 46.º - Espécies de títulos executivos
a) As sentenças condenatórias;
b) Os documentos elaborados ou autenticados, por notário ou por outras entidades ou profissionais com
competência para tal, que importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação;
Em relação ao atual elenco de títulos executivos, vemos que o 46º/1, c) já não existe.
Antes do atual CPC, os documentos particulares podiam, se cumpridos os requisitos desta
norma, ser títulos executivos. Atualmente, à luz do novo CPC, só se esses documentos forem
autenticados é que têm exequibilidade. Ora, esta norma foi revogada com a entrada em vigor
do novo CPC que estabelece um novo elenco de títulos executivos, o já falado artigo 703º; mas
ainda é relevante.
Em primeiro lugar, o artigo 6º/3 da Lei nº 14/2013 (que aprovou o CPC) diz que, quanto
às execuções pendentes que se iniciaram antes da entrada em vigor do CPC, ainda se aplicará o
46º do antigo CPC. O 703º do atual código só se aplica às execuções iniciadas após a sua entrada
em vigor.
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1.1.1.3. Títulos de crédito (703º/1, c)
São título executivos os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força
executiva – o mais relevante deles será o requerimento de injunção ao qual foi aposta fórmula
executória – obtido através da AECOP.
Outro exemplo deste tipo de documentos encontra-se no 944º/5 (o título executivo são
as próprias contas apresentadas pelo réu).
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1.1.2. Natureza e funções do título executivo
- O título executivo como condição suficiente da ação executiva: esta afirmação tem o
alcance de dispensar qualquer indagação prévia sobre a real existência ou subsistência do direito
a que o título executivo se refere, de onde decorrerá que o juiz não pode conhecer
oficiosamente da questão de conformidade ou desconformidade entre o título e o direito que
se pretende executar. Terá esta afirmação valor absoluto? Não, como passamos a explicar.
A nível da validade formal, quando a lei substantiva exija certo tipo de documento para
a sua constituição ou prova, não se pode admitir execução fundada em documento de menor
valor probatório para o efeito de cumprimento de obrigações correspondentes ao tipo de
negócio ou ato em causa. A execução não deve igualmente ser admitida quando as partes
convencionaram certa forma voluntária, e essa forma não tenha sido respeitada no ato de
constituição da obrigação exequenda. A existência destes vícios formais deve ser alvo de
indagação oficiosa do juiz.
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realização de atos executivos. P.ex., os atos executivos não devem ter lugar se a simulação do
negócio jurídico resulta seguramente do título executivo ou dos factos alegados pelo exequente
no requerimento executivo (algo improvável). A mesma orientação deve ser seguida quanto à
ocorrência de factos modificativos ou extintivos posteriores à constituição do título. Imagine-se,
p.ex., que a extinção da obrigação exequenda por ato de pagamento por terceiro resulta do
próprio requerimento executivo; ou que, em caso julgado anterior, foi declarada prescrita a
obrigação ou anulado o contrato de que ela emergia. Toda a desconformidade entre o título e
a realidade substantiva pode e deve, pois, ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja
de conhecimento oficioso e resulte do próprio título, do requerimento inicial de execução, dos
embargos de executado ou de facto notório ou conhecido pelo juiz em virtude do exercício das
suas funções.
Da articulação do 726º/2 c) com o 734º resulta que o juiz deve indeferir liminarmente o
requerimento de execução, com alguns dos fundamentos supramencionados referidos (até os
factos modificativos da obrigação exequenda, mencionados não no 726º/2, c) mas no 726º/3).
Mas resulta também que, não o tendo feito, deverá rejeitar ulteriormente a execução,
extinguindo-a, quando se aperceba da situação, ainda que em virtude de embargos de
executado deduzidos com outro fundamento ou quando o processo lhe seja concluso, por outro
motivo, até ao primeiro ato de transmissão dos bens penhorados. O que o juiz não pode é levar
longe demais a sua indagação sobre a obrigação exequenda3, quer oficiosamente, quer
solicitando elementos complementares de prova ao exequente. A obrigação exequenda tem de
constar do título e a sua existência é por ele presumida, podendo ser ilidida tal presunção. Só
neste sentido LEBRE DE FREITAS julga poder ser afirmada a suficiência do título para a ação
executiva e a sua consequente autonomia em face da obrigação exequenda.
- O título executivo como causa de pedir na ação executiva: Com esta afirmação, a
causa de pedir, deixaria, na ação executiva, de ser o facto jurídico de que resulta a pretensão do
exequente (581º/4) para passar a ser o próprio título executivo. Mas não constituindo o título
executivo um ato ou facto jurídico, esta construção não se harmoniza com o conceito de causa
de pedir. Se considerássemos o título como causa de pedir, então seria impossível deduzir a
exceção de litispendência (por serem diversas as causas de pedir) quando o mesmo crédito
estivesse representado por dois títulos executivos, e ambos fossem executados em processos
diferentes.
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Salvo nos casos de incerteza, inexigibilidade e iliquidez da obrigação exequenda, que estudaremos mais
adiante.
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1.1.3. Outras considerações gerais
No caso de falta do título executivo (p.ex. o exequente não junta o título), LEBRE DE
FREITAS admite que, antes do despacho liminar que indefere o requerimento, deve o juiz prover
pelo suprimento desta falta, proferindo despacho de aperfeiçoamento do requerimento
executivo (ainda que a lei não seja muito clara neste sentido, diz MARIANA FRANÇA GOUVEIA).
Para LEBRE DE FREITAS, porém, esta solução resulta claramente da lei, quando se analisam os
números 2 e 4 do 726º, que vão ao encontro do princípio da economia processual: quando seja
manifesta a falta ou insuficiência do título, tem lugar o indeferimento de requerimento
executivo pelo juiz e a execução extingue-se; não o sendo, o juiz deve convidar o exequente a
suprir a irregularidade, apresentando o título em falta ou corrigindo o requerimento inicial.
No caso de se pedir mais do que conste do título, casos já identificados como sendo de
insuficiência do título executivo, terá lugar o seu indeferimento parcial (726º/3).
No caso de serem deduzidos vários pedidos e nem todos constarem do título, não sendo
manifesta a falta de título para os pedidos a descoberto, deve o juiz mandar aperfeiçoar a
petição, ordenando a apresentação do título do qual constem os pedidos a descoberto e, no
caso de a apresentação não ser feita, indeferir a petição inicial quanto a eles.
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Por insuficiência, quer-se significar que o valor que o título permite executar é inferior ao que a parte
está a requerer para ser executado, p.ex. um título reconhece uma obrigação exequenda de 15.000€ e o
exequente pede 100.000€ - o título só legitima a execução de 15.000€. Nestes casos, teremos um
indeferimento parcial do requerimento executivo, indeferindo-se o pedido até ao limite de valor que o
título executivo permite executar.
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Se o executado for citado, nos casos, descritos supra, em que a petição devia ter sido
recusada, indeferida ou mandada aperfeiçoar, pode o executado deduzir oposição à execução
(729º, a)).
Nota com caso prático – Ação executiva foi pedida contra ambos os cônjuges, mas o
título executivo tinha sido subscrito apenas por um dos cônjuges – foi este o fundamento da
oposição de um dos cônjuges (o que não tinha subscrito o título), que foi considerado
procedente na 1ª instância. O exequente deduz, então e em seguida, um incidente de
comunicabilidade para estender o título executivo ao cônjuge absolvido da instância (que não
tinha subscrito o título executivo). Para decidir do incidente é preciso ver se a dívida é
comunicável nos termos do 1691º, CC. Neste caso era (porque era uma dívida contraída no
âmbito do comércio, porque se presume em proveito comum). Se a dívida for comunicável, eu
tenho de começar a penhora, na ação executiva, pelos bens comuns; só se estes não forem
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suficientes é que a penhora incidirá sobre os bens próprios – 1695º, CC. Se a dívida for própria
aplicamos o 1696º, CC, vamos primeiro aos bens próprios do cônjuge devedor e,
subsidiariamente, à meação desse cônjuge nos bens comuns. Portanto, a comunicabilidade das
dívidas é uma questão não só do âmbito da penhora, mas também da prioridade a dar aos vários
bens que podem ser objeto dela (se primeiro se penhoram os bens comuns ou os bens próprios).
O exequente tem de, em tribunal, exibir o título executivo pelo qual a obrigação é
reconhecida ou constituída. A ação executiva pressupõe o incumprimento de uma obrigação.
Ora, o incumprimento não resulta do próprio título quando a prestação é, perante este, incerta,
inexigível ou, em certos casos, ilíquida. Há, então que a tornar certa, exigível ou líquida, sem o
que a execução não pode prosseguir (713º).
1.2.1. Certeza
Se a escolha pertencer ao devedor, é este notificado (ao mesmo tempo que é citado)
nos termos do 714º/1 para optar por uma das prestações. Caso não efetue a escolha nestes
termos, observa-se o 714º/3 e a escolha passa a caber ao credor.
Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução, seja pelo devedor, por
terceiro ou pelo tribunal, cabe ao exequente, ao propor a ação executiva, fazer nela prova de
que a escolha foi efetuada, por aplicação analógica do 715º/1 a 4.
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No caso de obrigações genéricas, estas só são incertas quando, no género em que se
recorta o seu objeto, há uma pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o devedor está
a prestar ser de uma ou outra dessas espécies. Ex.: obrigação de entregar 200 toneladas de
mármore, que poderá ser de uma de três qualidades. Às obrigações genéricas que sejam incertas
aplica-se o regime das obrigações alternativas (a obrigação genérica incerta acaba por ser um
misto entre as obrigações alternativas e as obrigações genéricas).
1.2.2. Exigibilidade
- Obrigações de prazo certo: Só decorrido o prazo é que a execução é possível, pois até
ao dia do vencimento a prestação é inexigível;
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- Obrigações sinalagmáticas: Estando o credor obrigado para com o devedor a uma
contraprestação a efetuar simultaneamente ou em momento anterior ao da exigência do
cumprimento pelo devedor (428º, CC), incumbe-lhe, independentemente da invocação pelo
devedor da exceção do não cumprimento do contrato, provar que efetuou ou ofereceu tal
prestação (715º/1 a 4), sob pena de não poder promover a execução.
Nota: Chegados a este ponto, e antes de falar do requisito da liquidez, cumpre deixar
uma notinha relativa à prova complementar do título. A certeza e a exigibilidade da obrigação
exequenda têm de se verificar antes de serem ordenadas as providências executivas, pelo que,
quando não resultem do próprio título nem de diligências anteriores à propositura da ação
executiva, se abre uma fase liminar do processo executivo que visa tornar certa ou exigível a
obrigação que ainda não o seja5. Mas, quando a certeza e a exigibilidade, não resultando do
título, tiverem resultado de diligências anteriores à propositura da ação executiva, há que provar
no processo executivo que tal aconteceu (atividade liminar de prova a ter lugar no início do
processo). O artigo 715º/1 a 4 tem alcance geral e não se aplica só aos casos nele previstos,
mas sim a todos aqueles casos em que a certeza e exigibilidade não resultam do título
executivo, mas já se verificaram antes da propositura da ação executiva, assim como aqueles
em que, sendo a prestação exigível em face do título, o credor queira provar que ocorreu o
vencimento e a mora do devedor, para evitar a sua condenação em custas.
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Isto sem prejuízo de ter lugar no próprio requerimento de execução a atuação, a desenvolver para o
efeito, que dependa pura e simplesmente da vontade do credor (escolha da prestação que a ele incumbe),
bem como a solicitação, por ele, da atuação do tribunal, do devedor ou de terceiro que para o mesmo
efeito seja necessária (fixação do prazo ou escolha da prestação).
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Quando a prova seja documental, é aduzida no requerimento executivo e não há lugar a produção de
prova, pois este é um meio de prova constituída.
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Não sendo imediatamente oferecida e efetuada prova complementar do título nem
requeridas as diligências para tornar a obrigação certa ou a prestação exigível, o juiz deve
proferir despacho de aperfeiçoamento ou de indeferimento liminar do requerimento executivo?
Para LEBRE DE FREITAS a solução passa pelo despacho de convite ao aperfeiçoamento do
requerimento executivo (726º/4) e, só no caso de o requerente não aperfeiçoar a petição, é que,
tal como na falta de apresentação do título executivo, se seguirá o indeferimento do
requerimento executivo (726º/5). Se a apreciação judicial destes requisitos não tiver, como é
míster, lugar no despacho liminar, poder ainda vir a ser feita até à primeira transmissão de bens
penhorados (734º/1).
1.2.3. Liquidez
A obrigação ilíquida é aquela que tem por objeto uma prestação cujo quantitativo não
esteja ainda apurado. Ex.: A deve uma quantidade de toneladas de mármore a B que ainda está
por determinar.
A liquidação da obrigação tem sempre lugar na ação declarativa que decorra nos
tribunais (704º/6), renovando-se, para o efeito, a instância quando o pedido de liquidação tenha
lugar depois do trânsito em julgado da sentença (358º/2 e 609º/2). Excetuam-se os casos em
que a liquidação dependa de simples cálculo aritmético, casos em que a sentença pode, desde
logo, ser título executivo. Vimos até agora o regime da liquidação da obrigação exequenda
quando o título executivo seja sentença judicial (condenatória). E se forem diversos os títulos
executivos?
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pelo agente de execução, os vincendos (716º/2). A liquidação pelo agente de execução tem
também lugar no caso de sanção pecuniária compulsória: executando-se uma obrigação
pecuniária, a liquidação não depende de requerimento do executado, devendo ser feita a final,
ou seja, no momento de cessação da aplicação da sanção (716º/3); executando-se obrigação de
prestação de facto infungível, o exequente tem de requerer a liquidação da sanção pecuniária
compulsória, quer já tenha sido fixado na sentença declarativa, quer se pretenda que seja pelo
juiz de execução (868º/1, in fine, 874º/1, 876º/1, c)). Estes são os únicos casos em que se admite
a dedução de pedido ilíquido na execução para pagamento de quantia certa.
Quando ao segundo caso (em que a liquidação não é dependente de simples cálculo
aritmético), aplicamos o 716º/1 e 4. O exequente conclui o requerimento com um pedido líquido
e o executado é citado para contestar a liquidação. Apresentada a contestação do executado,
seguem-se os termos subsequentes do processo comum de declaração (360º/3 por remissão do
716º/4, juntamente com o 732º/2). Quando a prova produzida pelos litigantes seja insuficiente
para fixar a quantia devida, deve o juiz completá-la oficiosamente nos termos do 411º,
recorrendo, em último recurso, ao 566º/3, CC.
E quanto ao caso em que a obrigação ilíquida tem por objeto uma universalidade e o
autor não possa concretizar os seus elementos? Neste caso, o pedido ilíquido é admitido,
procedendo-se à liquidação em incidente imediatamente posterior à apreensão dos bens e
anterior à sua entrega ao exequente (716º/7). Isto porque a universalidade está na posse do
executado e o exequente não tem meios para ela aceder.
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Já se o título for uma sentença, a liquidação tem lugar na instância declarativa, e a
sentença de liquidação que a complementa fica a integrar o âmbito objetivo do caso julgado por
ela formado.
O que é o lugar da execução? É o lugar onde se fará a apreensão efetiva dos bens a
executar. Entra aqui em jogo o princípio da territorialidade, que determina que apenas podem
ser praticados atos de execução num dado país se houver uma ordem dos tribunais desse país
para a prática desses atos. Preside ao princípio da territorialidade uma lógica de soberania, ou
seja, de que o poder judicial de um país autoriza a prática de atos de coerção sobre o particular
que a execução configura apenas para o seu país.
Quando falamos em lugar da apreensão do bens, estamos a falar do lugar onde se quer
apreender esses mesmos bens (p.ex., se for em Portugal proponho a ação executiva em
Portugal, e por aí adiante). O decisivo não é onde estão concretamente os bens, é onde pretendo
executá-los. Por exemplo, se uma pessoa reside em Portugal, é executada em Portugal e depois
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não há bens em Portugal, aí a execução extingue-se não por uma questão de incompetência
internacional, mas por falta de bens em Portugal. Aí, tenho de ir a outro Estado-Membro para
propor ação executiva, um Estado onde estejam os bens.
- os bens imóveis, em relação aos quais não há dúvidas que o 24º, 5), Regulamento
Bruxelas I e o 63º, d), CPC dizem que a competência é exclusiva dos tribunais portugueses em
ações executivas sobre imóveis situados em Portugal;
- os bens móveis – ao contrário do que defende TEXEIRA DE SOUSA (ou outros nomes
da doutrina, como LEBRE DE FREITAS), MARIANA FRANÇA GOUVEIA entende que continua a
valer o princípio da territorialidade e apenas podem ser executados em tribunais portugueses
os bens móveis que se encontrem Portugal (a mesma regra vale, correspetivamente, para bens
situados noutros países);
- direitos – pode uma ordem de tribunal holandês servir para, p.ex., penhorar uma conta
bancária que A tenha num banco português? MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA acha que sim, pelo
mesmo raciocínio exposto supra quanto a bens móveis, que culmina na conclusão de que não
há uma competência exclusiva dos tribunais portugueses (63º, d), CPC, a contrario). Já MARIANA
FRANÇA GOUVEIA diz o contrário: para ela, continua a valer o princípio da territorialidade, tendo
também a penhora de direitos de ter um enquadramento jurídico fornecido por uma autoridade
portuguesa, porque continuamos a estar no domínio de atos de coerção sobre privados, para os
quais é necessário um enquadramento jurídico local. A doutrina internacional e europeia de
comentário ao Regulamento Bruxelas I vai no mesmo sentido desta última corrente doutrinária
exposta.
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1.3.2. Competência Interna
Neste 86º, CPC, utiliza-se o termo “traslado”, que designa uma cópia da
sentença/requerimento executivo. Nestes casos descritos, ou baixa o traslado para o tribunal
competente para a execução ou baixam os próprios autos, correndo o processo executivo num
ou nos outros.
Assim, devemos olhar os artigos 85º e ss. Olhemos o 85º, desenhado para execuções
em que o título executivo é uma decisão judicial, que deve ser analisado conjuntamente com o
626º. De acordo com esta última norma, havendo uma sentença declarativa temos uma
continuação para a ação executiva. Não termina a ação declarativa e começa uma ação
executiva, antes existe uma continuidade, correndo a execução nos próprios autos do processo
declarativo. Isto é importante do ponto de vista teórico e formal (já não temos de definir a
competência ab initio, mas tendo como ponto de referência o tribunal onde decorreu a ação
declarativa), mas tirando esta alteração formal notória, não podemos retirar deste comando
qualquer consequência prática se compararmos este sistema com aquele que, no antigo CPC,
dividia de forma estanque a ação declarativa e a ação executiva. Uma última nota para a
aplicação desta regra no caso de a sentença declarativa ter sido recorrida: se o processo sobe
em recurso, como regra geral o efeito é meramente devolutivo e o processo executivo pode
desde logo iniciar-se, então ele correrá no traslado (faz-se cópia da sentença da 1ª instância e é
22
a partir dela que o processo executivo corre, enquanto o processo declarativo é tratado em
recurso.
Ora, dizem-nos o 85º/2 e o 129º, Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ) que,
havendo uma secção especializada de execução competente territorialmente, o processo é-lhe
remetido7, tenha a execução o objeto que tiver. Portanto, se na comarca onde decorreu o
respetivo processo declarativo houver um juízo de execução, a sentença será executada nesse
juízo, ou seja, num tribunal diferente da mesma comarca. Não havendo nessa comarca um juízo
de execução, o tribunal competente para a execução da sentença condenatória será o mesmo
que a proferiu, independentemente do valor da execução (correndo o processo, que passa para
a sua fase executiva) – isto nos diz o 85º/1. Se houver recurso, o processo sobe para tribunal
superior, ficando o traslado (cópia, certidão, etc.) no tribunal recorrido, a partir do qual corre a
ação executiva.
Se a decisão tiver sido proferida por árbitros em arbitragem que tenha tido lugar em
território português, é competente para a execução o tribunal da comarca do lugar da
arbitragem (85º/3 CPC).
7
Em rigor, é-lhe remetida uma cópia da sentença proferida pelo tribunal declarativo, bem como do
requerimento executivo e da documentação que lhe seja anexa. Esta remessa é feita com cariz de
urgência.
8
Regra subsidiária para todas as execuções, inclusivamente para as fundadas em sentença judicial, se
por alguma razão não se aplicar o disposto no 85º, CPC.
23
Estes são casos especiais dentro da norma geral, que coexistem com as normas gerais do 89º/1
e 3. O 89º/1, de conexão pessoal, diz que será territorialmente competente para a execução o
tribunal do domicílio do executado, podendo o exequente optar pelo tribunal do lugar em que
a obrigação deva ser cumprida quando i) o executado seja pessoa coletiva ou ii) situando-se o
domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha
domicílio na mesma área metropolitana. O 89º/3 prevê o caso de, tendo a ação de ser proposta
no tribunal do domicílio do executado, este não ter domicílio em Portugal. Aí, se o executado,
ainda assim, tiver bens aqui, a execução será proposta no tribunal da situação dos bens.
Sendo estrangeira a sentença a executar, vale a regra do 90º, CPC; se o devedor não
tiver domicílio em Portugal, aplica-se a regra subsidiária do 89º/4, CPC; faltando bens em
Portugal, RUI PINTO diz que se aplica o 80º/3, CPC, mas MARIANA FRANÇA GOUVEIA, à luz do
princípio da territorialidade, diria que, neste último caso, a jurisdição portuguesa não seria
internacionalmente competente.
Sendo nacional a sentença a executar, mas relativa a uma relação plurilocalizada, nada
de novo: valem os princípios e normas que já estudámos dos 85º e 86º, CPC. Se o título executivo
for diverso de sentença, aplicamos, como também já vimos, o 89º/1 e 3. Falhando estes, RUI
PINTO defende a aplicação da norma geral do 80º, mas MARIANA FRANÇA GOUVEIA mais uma
vez advogaria a competência internacional.
24
1.4. Legitimidade das partes
A regra geral da legitimidade das partes para a ação executiva admite várias exceções e
desvios:
9
Notar que, sendo o título extrajudicial (i.e., diverso de sentença) a questão coloca-se nestes termos
simples – a sucessão ocorre entre a formação do título e a propositura da ação executiva. Mas se o título
for uma sentença judicial pode a sucessão ter ocorrido na pendência da ação declarativa, ou seja, antes
ainda da formação do título. Poder-se-ia apontar a impossibilidade disto acontecer, pois nesses casos mais
do que uma sucessão na obrigação do título executivo (que desencadearia o 54º/1), teríamos logo o
sucessor a figurar como credor ou devedor no título a ser formado com a sentença, aplicando-se a regra
geral do 53º. Mas, como aponta LEBRE DE FREITAS, pode a sucessão intervivos não dar automaticamente
lugar à habilitação do adquirente na pendência da instância declarativa (como se extrai de possibilidades
abertas nesse sentido do 356º e 263º/3), quer porque a habilitação do adquirente não seja requerida,
quer porque o juiz não admita a substituição processual, quer porque o adquirente não intervenha no
processo. Tendo sido transmitida a situação litigiosa do réu, a legitimidade do adquirente para a ação
executiva baseada na sentença de condenação estaria sempre assegurada pelo 55º, mas a equiparação
das duas situações (sucessão no crédito e no débito) leva a que ambas as situações de sucessão (do lado
ativo e passivo) sejam abrangidas no 54º/1, que prevalece no concurso aparente dos dois preceitos.
25
Esta “sucessão” tanto pode ser mortis causa ou inter vivos (decorrente de, por exemplo,
cessão de créditos ou assunção de dívida) e, querendo, o executado poderá, na oposição à
execução, invocar a ilegitimidade singular do “sucessor” por falta de sucessão (729º, c), CPC).
A renúncia do credor à garantia real só pode ter lugar pelas formas indicadas na lei civil
e, entre essas formas, não se conta a mera propositura da ação executiva em que a garantia não
seja invocada. Em alguns casos é admissível a renúncia à garantia no requerimento executivo,
desde que expressa. Que casos são esses? Casos em que a hipoteca, sendo voluntária, incide
sobre bens móveis12; ou quando a garantia seja um penhor, ou um direito de retenção, etc.
Mas, fora esta faculdade de renúncia expressa, o exequente não pode, sob pena de
ilegitimidade passiva, deixar de propor a ação executiva contra o proprietário dos bens (mas só
contra o proprietário) quando pretenda fazer valer o direito real de garantia na execução. Já se
não quiser fazer valer esse direito real de garantia, pode propor a ação executiva apenas contra
o devedor e este não pode opor-lhe a necessidade de se reconhecer previamente a insuficiência
dos bens dados em garantia (pois não é dono desses bens, que pertencem a terceiro, veja-se o
752º/1, a contrario). Por isso, e resumindo, o 54º/2 e 3 estabelece opção entre duas hipóteses,
quando os bens dados em garantia pertençam a terceiro e o exequente queira fazer valer a
garantia na execução:
10
Ver Diapositivo 18, do powerpoint “Legitimidade e patrocínio judiciário”.
11
Este artigo pode ser analogicamente aplicado à situação do adquirente dos bens após procedência de
impugnação pauliana, equiparável aos casos descritos no 54º/2.
12
Já que as demais hipotecas (bem como a consignação de rendimentos) são de renúncia expressa mas
mediante a mesma forma exigida para a sua constituição, requisito este que a petição inicial não cumpre.
26
- a propositura da execução contra o terceiro e, mais tarde, se os bens forem
insuficientes, o chamamento do devedor (que poderá, então, opor-se à execução, pelo que não
fica desprotegido);
iv) Falemos agora do 55º, que fala da legitimidade passiva de terceiros abrangidos pelo
caso julgado. Nos termos deste artigo, quando o título executivo seja uma sentença judicial
condenatória, a legitimidade passiva para a ação executiva é alargada às pessoas que, não tendo
sido por ela condenadas, são, porém, abrangidas pelo caso julgado (55º), em manifestação da
ideia de que o âmbito subjetivo da eficácia executiva do título coincide, no caso da sentença,
com o âmbito da eficácia subjetiva do caso julgado.
Esta regra não abrange, como já vimos e segundo LEBRE DE FREITAS, o caso da
transmissão inter vivos da situação jurídica do réu sem subsequente intervenção do adquirente
no processo (caso abrangido pelo 54º/1). Esta é a posição de LEBRE DE FREITAS14, minoritária. A
maior parte da doutrina (com ANSELMO DE CASTRO, MARCO CARVALHO GONÇALVES ou RUI
PINTO à cabeça) defende que, nos casos de transmissão da situação jurídica do réu na pendência
da instância declarativa em que este não intervenha nela, se aplicaria o 55º, aplicando-se
analogicamente o 54º/1 aos casos de transmissão da situação jurídica do autor durante a ação
declarativa.
13
Diversamente do caso em que os bens tenham sido transmitidos pelo devedor ao terceiro.
14
Ver a nota de rodapé n.º 9.
27
Hoje LEBRE DE FREITAS defende que o 54º/1 se aplica diretamente às situações de
transmissão inter vivos da posição jurídica de autor e de réu no decorrer da instância declarativa,
que são assim excluídas do âmbito do 55º. Então que casos sobram na previsão desta última
norma? Aparentemente, os casos de chamamento à intervenção principal de terceiro titular de
situação suscetível de gerar litisconsórcio voluntário passivo nos termos do 32º/2, que não
intervém na causa. Porém, no regime do NCPC, tanto em casos de litisconsórcio necessário como
voluntário, a sentença condenatória pronuncia-se sobre a situação jurídica do chamado ainda
que ele não intervenha no processo (320º), pelo que, intervenha ou não na ação, o terceiro fica,
com a citação, constituído como parte e, sendo condenado, aplica-se-lhe a norma do 53º/1 e
não do 55º (figura no título executivo). Também não se aplica o 55º aos casos de intervenção
acessória (ao contrário do que afirma REMÉDIO MARQUES), pois o interveniente é um mero
auxiliar da parte principal, pelo que, ainda que abrangido pelo caso julgado, não lhe é conferida
legitimidade na ação executiva (não terá qualquer interesse a fazer valer na execução, salvo se
for titular de bem a executar, mas aí aplicaríamos o 54º e não o 55º).
Assim, não se vislumbra, no panorama do NCPC e segundo LEBRE DE FREITAS, que o 55º
tenha alguma forma de aplicação. Nota: ver, porém, o diapositivo 38, do powerpoint
“Legitimidade e patrocínio judiciário”.
28
Nota: quanto à legitimidade do Ministério Público, ver, em específico para a execução,
o 57º e, em geral, os artigos 21º a 24º. Ver, também, o diapositivo 39, do powerpoint
“Legitimidade e patrocínio judiciário”.
29
respetivas e, se tiver agido culposamente, na indemnização dos prejuízos a que tenha dado
causa.
30
executivo enquanto tal. Quando a oposição tem um fundamento processual, o seu objeto é, já
não uma pretensão de acertamento negativo do direito exequendo, mas uma pretensão de
acertamento, também negativo, da falta de um pressuposto processual, igualmente obstando
ao prosseguimento da ação executiva, mas mediante o reconhecimento da sua
inadmissibilidade;
Nota: Chegados à fase da penhora, vamos antes fazer um pequeno resumo da marcha
do processo executivo até aqui. Este inicia-se com a apresentação de requerimento executivo.
A secretaria pode recusá-lo (725º), mas se o aceitar, o processo é concluso ao juiz, algo que tem
sempre de acontecer para ele proferir o despacho liminar (onde (i) ou indefere liminarmente o
requerimento e o processo acaba; (ii) ou profere despacho de aperfeiçoamento em que convida
o exequente a corrigir irregularidades do requerimento; (iii) ou profere um despacho de citação
do executado, de que depende sempre tal citação; (iv) ou profere despacho de dispensa da
citação prévia do executado nos termos do 727º. Isto passa-se assim no processo ordinário. Se
estiver em causa o processo sumário, o requerimento é logo enviado ao agente de execução
que, se não o recusar, procede logo às diligências prévias à penhora e à penhora, sendo que só
depois ou em simultâneo a ela é que cita o executado. Depois da citação (ocorra quando
31
ocorrer), temos a fase da oposição à execução (20 dias para o executado se opor). Se ele não se
opuser à execução, esta prossegue. Ou pode opor-se. Por regra, a oposição à execução não
suspende a execução, só em três situações (733º/1). Não suspendendo a execução, segue-se
logo a penhora. Se a execução for suspensa, tem de se esperar pela sentença do incidente de
oposição à execução que ou a julga procedente (nesse caso, a ação extingue-se) ou
improcedente (aí, segue-se a penhora).
2.4. A penhora
A penhora é o principal ato da ação executiva. A ação executiva visa pagar a obrigação
devida15 e isso alcança-se com a venda executiva de bens do património do executado. A
penhora permite apreender judicialmente esses bens. Esta apreensão paralisa ou suspende a
afetação jurídica de tais bens à realização de fins do executado, que fica consequentemente
impedido de exercer plenamente os poderes dos direitos de que é titular quanto a esses bens.
Esta afetação é transferida para a realização dos fins da execução. Os bens em causa não deixam
de ser do executado, mas ficam especificamente sujeitos à finalidade de satisfação do crédito
do exequente.
15
Visa satisfazer o direito do exequente e, com ele, o dos credores com garantia real sobre os bens
penhorados que venham reclamar o pagamento dos seus créditos na execução.
16
Na altura da satisfação do crédito com recurso ao bem penhorado, deve-se fazer uma gradação não só
dos vários direitos reais de garantia que incidem sobre esse bem, como também das outras penhoras que
sobre ele incidem (em função da sua antiguidade), para determinar qual a ordem de preferência do credor
32
2.4.1. Objeto da penhora
Comecemos por enunciar alguns princípios gerais quanto ao objeto da penhora, que
resultam da articulação dos 735º/1 e 2 e 736º - 739º com os 601º, CC e 818º, CC, assim como
da sua associação com os 740º - 745º, 752º/1 e 54º/2:
(ii) Nunca podem ser penhorados senão bens do executado, seja este o devedor
principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não tem exceções. Vejamos, nesta
matéria, o 735º/2: só podem ser penhorados bens do executado, a execução tem de estar a ser
movida contra o titular dos bens que se querem apreender. Quando esta norma fala em
terceiros não quer significar terceiros em relação à execução (esta tem de ser movida contra
eles para os seus bens poderem ser executados). Quer antes significar terceiros em relação à
obrigação exequenda, que não estejam pessoalmente obrigados na relação substantiva que
subjaz ao título executivo (cônjuge do executado, devedor do devedor, etc.).;
(iii) Os bens de terceiro só podem ser objeto de execução em dois casos: quando sobre
tais bens incida direito real constituído para garantia do crédito do exequendo; ou quando tenha
sido julgada procedente impugnação pauliana de que resulte para o terceiro a obrigação de
restituição dos bens ao credor. Nota: ver 616º, CC. Estes são os casos especialmente previstos
na lei de que fala o 735º/2;
em favor do qual se constituiu a penhora para efeitos de afetação do bem penhorado à satisfação do seu
crédito.
33
(iv) No que diz respeito à modulação do objeto da penhora, há que ter em atenção os
desvios e limitações resultantes da existência de patrimónios autónomos (que não respondem
pelas dívidas pessoais do devedor), da constituição de garantias reais sobre bens próprios do
devedor que não beneficiem o exequente mas antes outros credores, e da articulação de
responsabilidades entre devedor principal e devedor subsidiário. Estes desvios exprimem
diferentes regimes de penhorabilidade subsidiária.
17
Quer para o exercício de um direito próprio da pessoa a quem é atribuído o poder de disposição, com
fim de garantia (caso do credor pignoratício que fica com direito a vender a coisa dada em penhor –
675º/1, CC); quer para a realização do interesse do titular do bem, incapaz de exercer o respetivo direito
(casos de representação legal do incapaz, que é privado de dispor dos seus bens próprios).
18
Quer no seu próprio interesse (maior acompanhado precisa de autorização do acompanhante); quer no
interesse de quem deve autorizar ou consentir (cônjuge em certos casos, como o do 1682º-A/1, CC).
34
de garantia, a pessoa a quem ele é atribuído tem direito a ver o seu crédito satisfeito a par do
do exequente; quando tal atribuição é feita no interesse do titular do direito, a penhora não é
impedida, apenas se tem de assegurar a representação deste no processo executivo. Na situação
(ii) também não oferece problemas o caso em que o poder de disposição é limitado no interesse
do titular do direito, bastando fazer intervir no processo executivo a pessoa que tem de dar a
autorização/consentimento (p.ex., o acompanhante).
19
Já os credores que não participem na cessão continuam a poder penhorar todos os bens do devedor,
incluindo os bens cedidos.
35
A impenhorabilidade não resulta apenas da indisponibilidade (objetiva ou subjetiva) de
certos bens ou de convenções negociais que estipulem tal indisponibilidade. Resulta também
do estabelecimento da impenhorabilidade de certos bens diretamente através da lei;
impenhorabilidade esta que pode ser absoluta, relativa (os bens podem ser penhorados só em
algumas circunstâncias) ou parcial (só podem os bens ser penhorados em parte). É nesse sentido
que correm as normas do 736º e ss..
Assim, são impenhoráveis, por razões de interesse geral, os objetos cuja apreensão seja
ofensiva dos bons costumes (736º, c), 1ª parte), os objetos especialmente destinados ao
exercício do culto público (736º, d)) e os túmulos (736º, e)); bem como os bens do Estado, das
restantes pessoas coletivas públicas, de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos
e de pessoas coletivas de utilidade pública, quando se encontrem especialmente afetos à
prossecução de fins de utilidade pública, salvo se a execução for para pagamento de dívida com
garantia real20 (737º/1).
São impenhoráveis, por estarem em causa interesses vitais do executado, aqueles bens
que asseguram ao seu agregado familiar um mínimo de condições de vida – 737º/3. Esta norma
fala em habitação efetiva, mas LEBRE DE FREITAS e MARCO CARVALHO GONÇALVES preferem
falar em residência permanente/habitual, para aludir a que não serão impenhoráveis bens de
habitações que, ainda que efetivas, sejam apenas transitoriamente usadas pelo executado
(casas de férias), não servindo, portanto, para salvaguardar a sobrevivência do devedor e
respetiva família. É de facto, importante perceber que este é o fim da norma, o de salvaguardar
a subsistência do devedor e sua família. Esta norma fala também em imprescindibilidade, que
deve ser aferida não pelo tipo de economia doméstica do executado, mas por referência a um
padrão mínimo21 de dignidade social comum a qualquer economia doméstica. A penhora dos
bens a que faz referência o 737º/3 é, no entanto, admissível se se tratar de execução destinada
ao pagamento do preço da aquisição ou reparação do bem em causa.
20
No caso excecional em que o 737º/1 permite a apreensão, esta só pode incidir sobre a coisa onerada
em garantia real da dívida exequenda e não nos demais bens do Estado.
21
Existem decisões mais recentes que falam não num mínimo, mas a uma atenção a dar às condições
sociais médias.
22
Ver artigo, com ênfase nas exceções à regra de impenhorabilidade já descrita.
36
reputam indispensáveis ao seu sustento (738º/1 e 5, preceitos só aplicáveis a pessoas
singulares), à sua integridade física (736º, f)) ou à sua personalidade moral (impenhorabilidade
de obra inédita sem consentimento do autor nos termos do 50º, Código dos Direitos de Autor).
In casu, a executada tem um crédito sobre o seu empregador para receber uma
indemnização devida à cessação do seu contrato de trabalho. Qual foi o fundamento da
oposição à execução? A executada disse que apenas seria penhorável 1/3 desta indemnização,
pois este era um valor que substituía o salário que ela receberia se o contrato de trabalho não
tivesse sido resolvido. A 1ª instância considerou procedente tal oposição, reconduzindo este
caso, por analogia, ao 738º/1 (que, se se refere à penhorabilidade do salário, aplicar-se-á
também a valores que pretendem substituir o salário). Como já vimos, a regra geral da
penhorabilidade é a de que todo o património do devedor é penhorável (601º, CC e 735º, CPC),
sendo excecionais as regras que limitam a penhorabilidade.
37
Faria sentido, portanto, concluir no sentido da equiparação deste caso ao 738º/1 se
soubéssemos que a utilização da indemnização seria, ela sim, periodicamente afeta à satisfação
de necessidades básicas do executado, mas não temos factos nesse sentido. Tendo, dividiríamos
a indemnização por meses e de cada valor mensal penhoraríamos 1/3. Mas este é um raciocínio
rebuscado, pois não é esta a natureza da indemnização, pelo menos não temos factos para o
dizer.
Nota: ver Ponto 1.1.4. deste Resumo. Nesse contexto, já vimos que pelas dívidas que são
da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal e, só na sua
falta ou insuficiência, é que respondem, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos
cônjuges (1695º/1, CC). Já pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges
respondem os bens próprios do devedor e os bens comuns do 1696º/2 e, só na sua falta ou
insuficiência, responde a sua meação nos bens comuns (1696º, CC). Quanto a estas últimas
dívidas é, portanto, possível a penhora subsidiária de bens comuns do casal, num regime
adjetivado nos artigos 740º - 742º.
O 740º/1 admite a penhora de bens comuns do casal, em consonância com o 1696º, CC,
aplicando-se à execução movida só contra um dos cônjuges. No entanto, o 740º/1 aplica-se a
38
todos os casos em que a execução seja movida só contra um dos cônjuges, seja os de
responsabilidade exclusiva do executado, seja os de responsabilidade comum mas em que a
execução foi movida só contra um dos responsáveis (quer haja título executivo contra ambos
quer apenas contra o executado). Para cada um destes casos, o objeto da penhora é influenciado
pelos diferentes regimes substantivos aplicáveis:
- Se a dívida for comum e houver título executivo contra ambos os cônjuges, a penhora
deve começar pelos bens comuns e só subsidiariamente é que incidirá sobre bens próprios;
- Se a dívida for comum e o título executivo for sentença contra só um dos cônjuges, o
executado que não chamou o seu cônjuge a intervir no processo declarativo (316º/3, a)) não
pode alegar no processo executivo que a dívida é comum. Segue-se assim o regime da penhora
das dívidas da responsabilidade exclusiva do executado, sem prejuízo da posterior aplicação do
1697º/1, CC;
Após a penhora dos bens do casal na execução movida contra só um dos cônjuges, tem
lugar a citação do cônjuge do executado, para este requerer a separação de bens26 ou mostrar
23
Ou em requerimento autónomo apresentado até ao início das diligências de venda executiva, quando
não o tenha feita no requerimento executivo.
24
Restringe-se esta possibilidade aos casos em que tenham sido penhorados bens próprios do executado
e onerando-se este com a indicação, logo, dos bens comuns que podem ser penhorados.
25
Já se ele aceitar expressamente a comunicabilidade, isso equivale a reconhecimento de dívida ou
confissão, esse sendo o título executivo.
26
Em processo de inventário, que correrá por apenso à execução.
39
que ela já foi requerida: 740º/1. Se o cônjuge nada fizer, a execução prosseguirá sobre os bens
comuns penhorados (740º/1, in fine). Caso contrário, a execução é suspensa até que se verifique
a partilha e se, nesta, os bens penhorados não forem atribuídos ao executado, poderão ser
penhorados outros que lhe tenham cabido, nos termos do 740º/2.
Movida uma execução contra o devedor principal e o devedor subsidiário, este tem o
ónus de invocar o benefício da execução prévia (745º/1). Se o invocar, a penhora começará pelos
bens do devedor principal e só incidirá sobre os do devedor subsidiário, após a venda dos
primeiros sem que estes sejam suficientes para o pagamento das custas da execução, do crédito
exequendo e dos créditos dos credores reclamantes que tenham sido graduados antes do
exequendo. Depois, temos o regime do 745º/2 e 3, que tratámos a propósito do litisconsórcio
sucessivo. Nota: Reler o 745º/2 e 327. O benefício da excussão prévia pode ser apresentado em
simples requerimento; devendo sê-lo no prazo para os embargos de executado (745º/1, in fine
e 728º/1).
Por último, temos os casos em que a lei estabelece que certos bens do devedor só
respondem pela dívida deste em último lugar. Quais são? O direito ao produto da liquidação
da quota do devedor em sociedade civil (999º, CC), em nome coletivo (183º, CSC) e em
comandita simples quando o devedor seja sócio comanditado (474º, CSC); a par do
estabelecimento individual de responsabilidade limitada.
27
Há que salientar os casos em que o título executivo for uma sentença proferida apenas contra o devedor
subsidiário, em ação em que não tenha intervindo o devedor principal. Nesses a falta de chamamento à
demanda do principal importa, salvo declaração expressa em contrário, uma renúncia ao benefício da
excussão prévia (641º/2, CC), que já não poderá ser invocável, nos termos do 745º/2.
40
- De acordo com o 758º/1 (integrado na secção da penhora sobre bens imóveis, mas
aplicável às demais formas de penhora), a penhora abrange as partes integrantes do bem imóvel
(204º/3, CC) e os frutos, naturais ou civis, do bem penhorado28;
- Noutro caso, se o bem penhorado se perder, for expropriado ou sofrer uma diminuição
de valor e, em qualquer dos casos, houver lugar a indemnização de terceiro, a penhora passa a
incidir sobre o crédito de indemnização ou sobre as quantias pagas a esse título (823º, CC);
- Por último, temos o caso de divisão de prédio penhorado. Quando seja penhorado um
bem imóvel divisível e o seu valor manifestamente exceda o da dívida exequenda e dos créditos
reclamados, o executado pode requerer autorização para proceder ao seu fracionamento
(759º/1). Tal fracionamento pode visar a venda separada, permitindo que uma parte do prédio
se mantenha na titularidade do executado ou o levantamento parcial da penhora quanto à parte
destacada do prédio primitivo29.
Após receber esta indicação, mas não estando vinculado por ela, o agente de execução
vai consultar o registo informático de execuções (748º/2 e 717º). Seguidamente, procede a
qualquer diligência de identificação/localização de bens penhoráveis (749º/1 a 7). Não sendo
identificados bens suficientes no prazo de 3 meses, são notificados o exequente e o executado
para indicarem os bens penhoráveis e, na falta de indicação, extingue-se a instância (750º/1 e
2), sem prejuízo do 850º/5.
Em certos casos excecionais, a penhora de certos bens (casa onde executado tenha a
sua residência habitual ou bem móvel nela existente, nos termos do 757º/4, 764º/4 e 767º/1)
depende e tem de ser precedida de despacho judicial. Para proteger a garantia de inviolabilidade
do domicílio (34º/2, CRP), tem o juiz de ordenar a requisição de força pública, designadamente
28
Desde que não sejam expressamente excluídas no ato da penhora e não estejam sujeitos a nenhum
privilégio creditório (739º e 740º, CC) ou consignação de rendimentos (656º e 658º, CC).
29
Este último caso (759º/2) depende de requerimento do executado e autorização do juiz.
41
as modalidades do 757º/2 e 3, exercidas pela polícia. Não se tratando de domicílio, o auxílio às
autoridades policiais pode ser solicitado diretamente pelo agente de execução.
Efetuada a penhora, é admissível ao agente de execução vir penhorar outros bens, além
ou em substituição dos inicialmente penhorados. Os casos em que isto se permite são os do
751º/4, de onde destacamos o da al. a)30, segundo a qual o executado pode vir requerer a
substituição dos bens penhorados por outros que assegurem igualmente o fim da execução.
Nota: ler 751º/4. No caso de a nova penhora visar substituir a penhora inicial, esta só será
levantada depois de penhorados os novos bens (751º/6).
A ordem da penhora surge tratada no 751º. Diz-nos o seu nº 1 que a penhora deve
começar pelos bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização, maxime o dinheiro (que
não preciso de vender para ter valor pecuniário efetivo; não é preciso traduzi-lo em dinheiro,
porque já é dinheiro). Outros exemplos deste tipo de bens são as ações, muito facilmente
transacionáveis; o petróleo ou ainda metais preciosos (ouro, prata, etc.). Depois, para lá dos
bens de mais fácil realização, deve a penhora começar pelos bens que se mostrem mais
adequados ao montante do crédito exequendo. Ex.: sendo crédito exequendo de 1.000€, e os
bens penhoráveis são 1.000€ de um salário e 20.000€ em ouro, então o salário será mais
adequado à proporção do crédito. Em suma, para estabelecer os primeiros bens a penhorar
surgem estes dois critérios do 751º/1 como cumulativos.
30
Ver também 751º/5.
42
Ou seja, a penhora de prédios, rústicos ou urbanos, e de estabelecimentos comerciais
fica, por isso, reservada para os créditos de maior valor, como resulta do 751º/3, a contrario.
Mas, quando seja de esperar que a penhora dos outros bens do executado não vá permitir a
satisfação integral do crédito nos prazos referidos no 751º/3, o princípio da
adequação/proporcionalidade cede perante a necessidade de realização célere do fim da
execução.
31
Neste campo entram considerações sobre a tramitação da penhora e o que ela implica. Às vezes, as
diligências da penhora, pela remoção do bem, podem criar enormes prejuízos ao executado. Ou seja, os
custos da penhora são superiores ao valor do bem, ou podem gerar uma desvalorização ou inutilização
do bem penhorado, sendo nesse caso de preferir penhoras sobre bens de mais fácil apreensão (veja-se,
p.ex. o 764º/2 de onde se transparece um balanço entre interesses do exequente e executado, em tudo
conexa à proporcionalidade da penhora). Ex.: se penhorar um cavalo surgem várias questões: onde o
guardar, como o transportar, como providenciar pela sua saúde (chamar veterinário), pode o cavalo ter
algum acidente nestes procedimentos, etc.
43
executado32; e dos casos em que seguir a vontade do exequente impede violar o disposto no
751º/1, que já vimos supra.
Como se faz, então, a penhora de um bem imóvel? Vejamos o 755º/1, de onde se retira
que tal penhora se faz por comunicação ao registo (via eletrónica). Isto é relevante para definir
quando a penhora é feita, sendo esse momento o do envio do pedido de registo pelo agente de
execução à conservatória. Tem assim lugar uma transferência de posse meramente jurídica, à
qual se segue a feitura do auto da penhora (753º/1) e as diligências do 755º/3, bem como a
tradição material da coisa para o depositário (757º). A penhora por comunicação ao registo
também é a forma de efetuar a penhora de coisa móvel sujeita a registo (768º/1), a penhora de
direito a bem indiviso sujeito a registo (781º/1, a contrario), a penhora de quota em sociedade
(781º/6), de direito real de habitação periódica, e de outros direitos reais cujo objeto não deva
ser apreendido (781º/5), de que falaremos infra a propósito da compropriedade.
Depois, pelo 756º, percebemos que, regra geral quem habita o imóvel penhorado tem
de o desocupar aquando da penhora (na medida em que o seu depositário passa a ser o agente
de execução ou pessoa designada pelo oficial de justiça). Esta regra é alvo de várias exceções:
32
Exemplo: penhora de um recheio de uma casa que, estando usado, terá um valor de venda
substancialmente menor; sendo que o executado incorrerá em grandes custos para substituir a mobília.
Aí o balanço entre o valor que o exequente tirará da mobília e os custos da penhora para o executado
podem levar a ponderar a proporcionalidade da penhora para efeitos do 751º/2.
33
A penhora de bens imóveis é, no fundo, a penhora de direitos sobre bens imóveis que impliquem a
apreensão desses imóveis; ou seja a penhora de um direito de propriedade sobre um imóvel. O mesmo
raciocínio se aplica a bens móveis. Por isso, esta tricotomia é um pouco enganosa: todas as penhoras são,
ao fim e ao cabo, penhoras de direitos. LEBRE DE FREITAS diz, a este propósito, que a penhora de direitos
se determina por exclusão de partes, quando não esteja em causa o direito de propriedade plena do
executado sobre coisa corpórea nem um direito real menor que possa acarretar a posse efetiva e exclusiva
de coisa móvel ou imóvel.
44
- Ou, sem relevância para a vontade do exequente, quando ocorra alguma das
circunstâncias das alíneas do 756º/134. Nota: para o caso do 756º/1, b), ler o 756º/2.
Certo é que, mesmo que o executado seja considerado depositário, após a venda
executiva, ele tem de desocupar o imóvel.
34
Ler essas meninas.
35
O depositário será o agente de execução que realizou a diligência de penhora.
45
Em suma, quando se pondera a penhora de bens móveis, devemos sondar em primeiro
lugar se o bem móvel em causa é ou não parte integrante ou não de um imóvel: se for, aplicamos
o regime da penhora de bens imóveis, se não for aplicamos o regime da penhora de bens móveis.
Em segundo lugar, assumindo que se continua no âmbito da penhora de móveis, então devemos
sondar se a remoção do bem móvel é possível, designadamente através do 764º/2.
Passemos à última forma de penhora: a penhora de direitos. Comecemos, mais uma vez
por uma hipótese prática: A deve a B 50.000€ e B sabe que o único ativo que A tem é um crédito
de 75.000€ sobre C. Mas também sabe que C é uma pessoa difícil e que não pagará sem pressão.
B sabe ainda que C tem uma conta bancária com 150.000€. O que pode B fazer? Em princípio,
como B tem um título executivo contra A, apenas pode propor ação executiva contra A e não
contra C. No entanto, pode penhorar o crédito que A tem sobre C, numa penhora de um direito
de crédito.
Suponhamos, agora, que o crédito está penhorado, seja como reconhecido seja como
litigioso. Será possível chegar ao dinheiro de C na sua conta bancária? Podemos penhorar os
bens de C para satisfazer o crédito? Temos o problema de C não ser executado, e não podemos
penhorar bens de pessoas que não sejam demandadas na execução. Tal problema é resolvido
pelo 777º: C, enquanto devedora que não tenha contestado a existência da obrigação, tem a
obrigação de depositar o valor do crédito (75.000€) em conta à ordem do agente de execução.
36
Pode contestá-la invocando a exceção de não cumprimento, aplicando-se aí o regime especial do 776º.
46
Se não cumprir esta obrigação, aplicamos o 777º/3 e o exequente ou o adquirente do crédito
(se ele já tiver sido vendido) podem exigir a prestação no próprio processo executivo, valendo
como título executivo as possibilidades do 777º/3, 2ª parte37. Aí, o exequente substitui-se ao
executado como credor e isso dá-lha a possibilidade, com a formação de título executivo contra
o devedor (C), de ter todo o património deste a responder pela dívida do executado (sempre, é
certo, na medida do crédito do executado sobre o seu devedor). No fundo, os bens do devedor
do crédito passam a responder diretamente perante o exequente.
A penhora, como já vimos, implica, em regra um depositário. Além dos deveres gerais a
que esteja adstrito (1187º, 1188º, 1191º e 1195º, CC), cabe-lhe administrar os bens/direitos
penhorados como a diligência de um bom pai de família, prestando contas da sua administração
(760º/1).
37
Estes são casos de títulos executivos formados na própria execução: ou (i) a declaração de
reconhecimento da dívida; ou (ii) a não declaração perante notificação do devedor; ou (iii) o título de
aquisição do crédito, se ele já tiver sido vendido.
38
Como por exemplo, a posição do promitente comprador fundada em contrato-promessa com eficácia
real, bem como a do titular de direito de preferência a que se tenha atribuído eficácia real.
47
lugar a depositário no caso de penhora de direito/expetativa de aquisição quando não haja lugar
a apreensão complementar da coisa sobre que incide.
O depositário pode ser removido se não cumprir os deveres do seu cargo (761º/1). Se o
depositário for agente de execução o incumprimento dos seus deveres é sujeito a um regime
diferente, o do 720º/4.
Efetuada a penhora, ela irá, em princípio, subsistir até à venda do bem penhorado. Pode,
porém, extinguir-se por causa diferente da venda executiva; naquilo que consistirá num
levantamento da penhora. Em que casos acontece isto? Nota: ver pp. 296 – 297, Manual de
LEBRE DE FREITAS.
Um destes casos é o de desaparecimento do bem penhorado. Aí, das duas uma: (i) ou
há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o crédito indemnizatório ou para a
quantia já paga a esse título; ou, não havendo lugar a indemnização, a penhora extingue-se por
falta de objeto.
O nosso ordenamento jurídico concede 4 meios de reagir contra uma penhora ilegal: (i)
a oposição por simples requerimento/por simples reclamação; (ii) o incidente de oposição à
penhora; os (iii) embargos de terceiro e (iv) a ação de reivindicação. Destes meios, os dois
primeiros são incidentes, tendo, lugar no próprio processo de execução, ainda que o segundo
por apenso, enquanto os dois últimos constituem ações declarativas, sendo os embargos
também processados por apenso à execução (em que igualmente se inserem funcionalmente).
Já a ação de reivindicação é um meio geral, plenamente autónomo face à execução.
48
bens que não deviam ser penhorados em absoluto, ou que não deviam ser penhorados naquelas
circunstâncias, ou sem excussão de todos os outros bens, ou que não podiam ser penhorados
por referência àquela dívida); ou pode assentar no facto de a penhora ser subjetivamente ilegal,
ou seja, em casos de impenhorabilidade subjetiva (são penhorados bens que não são do
executado). Ora, o incidente de oposição à penhora permite reagir perante a impenhorabilidade
objetiva. Já pelos restantes meios reage-se contra a impenhorabilidade subjetiva.
39
Às pessoas elencadas no 764º/3: quer por exequente (ou alguém em seu nome, quer por terceiro).
40
Estarão, a título exemplificativo, sob a esfera de controlo do executado todos os bens que se encontrem
num imóvel que lhe pertença ou que ele utilize em nome próprio. Ex.: Numa casa em que vivam 4 amigos,
os 3 que não são executados podem utilizar este meio de oposição à penhora caso estejam a ser
penhorados bens móveis seus que se encontrem na casa, pois presume-se pelo 764º/3 que esses bens
são do amigo executado, por estes estarem na sua esfera de controlo, algo que pode nem sempre
corresponder à verdade.
41
Caso em que o objeto da penhora deve ser reduzido, de modo a abranger apenas o direito real que o
executado tem sobre o bem, que não conterá o seu usufruto desse bem, que pertencerá ao terceiro que
se opõe à penhora.
49
da penhora, é normalmente suficiente para o efeito, se não houver motivo sério para duvidar
da sua genuinidade ou da validade do ato documentado. Pode, por exemplo, esta prova ser feita
através de uma fatura com número de contribuinte que identifique o terceiro, desde que
cumpra um dos requisitos apresentados supra quanto aos documentos particulares.
A ilisão da presunção por este meio expedito da oposição por simples reclamação só
pode ter lugar em casos em que, pela prova documental, se torne manifesto o direito de
terceiro. Tal ilisão tem de ser feita perante o juiz e não perante o agente de execução42, dado
que a decisão a proferir implica o exercício da função jurisdicional. Tal implica que o
levantamento (ou a redução) da penhora não seja ordenado, salvo caso de manifesta
desnecessidade, sem a prévia audição do exequente, em observância do contraditório (3º/3).
Não ordenando o juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de o terceiro
deduzir oposição por embargos (764º/3, in fine), mesmo quando tenha sido ele a requerer o
levantamento. Se este não dispuser de prova documental inequívoca ou se achar que não se
justifica a oposição por requerimento, pode deduzir embargos de terceiro. MARIANA FRANÇA
GOUVEIA diz que o terceiro é livre de escolher entre estes dois meios de oposição à penhora.
42
Um agente de execução não tem de parar a penhora quando um terceiro alega que é seu um bem
penhorado. Mas isso não significa que um agente de execução deva realizar a penhora quando seja
confrontado, no próprio ato, com a evidência do direito de terceiro. Ao agente de execução é que
determina os bens a penhorar, segundo o princípio da proporcionalidade pelo que seria absurdo que fosse
obrigado a penhorar um bem que manifestamente pertença a terceiro (como por exemplo, automóvel
deixado a reparar na oficina do devedor).
50
dizer que os bens penhorados são de terceiro. Três são as situações, segundo o 784º, que podem
fundar a oposição do executado à penhora. Estas três situações são os três fundamentos
taxativos que este incidente pode assumir:
43
Estudámo-los, no ponto 2.4.1., a propósito dos artigos 735º - 739º.
44
Falamos aqui do disposto no 735º/3: se a dívida é de 10.000€, só se podem penhorar os bens
necessários ao pagamento desta dívida e das despesas previsíveis da execução, que se presumem de 10%
do seu valor (1.100€). Ou seja, só posso penhorar bens até ao valor de 11.100€. Porém, se o executado
só tiver um bem (p.ex., um imóvel), mesmo que esse bem exceda este valor dado pelo 735º/3, ainda assim
tem de ser penhorado, sem que exista uma violação do 735º/3 ou causa para acionar o 784º/1, a).
51
oposição. Os casos de cônjuges, em que a ação é só proposta contra um deles, com base numa
dívida não comunicável, sendo que primeiramente respondem os bens próprios e só
subsidiariamente os bens comuns. Ou ainda os casos em que existe uma garantia real sobre
dado bem e, em consequência, a execução da divida começa pelo bem dado em garantia;
E quanto à tramitação deste incidente? Nele, o executado vai ter de provar que se
verifica um dos fundamentos do 784º/1, terminando este com uma decisão de manutenção ou
levantamento da penhora (se houver levantamento, este tem os efeitos do 785º/6). O
executado tem, para deduzir a oposição, o prazo de 10 dias, contados da notificação da penhora
(785º/1), estando o incidente sujeito, em tudo quanto não esteja especialmente regulado no
785º, às normas gerais dos 293º e 295º (785º/2), bem como às do 732º/1 e 3 (relativas à
oposição à execução), devidamente adaptadas.
Nota: ver o procedimento deste incidente explicitado nas páginas 319 – 320 do manual
de LEBRE DE FREITAS.
Com a revisão do CPC, a norma atualmente no 342º/1 veio alargar a legitimidade ativa
para a oposição mediante embargos de terceiro. Por um lado, desvinculou-a da posse, ao admitir
52
que os embargos se fundem em ofensa à posse45 ou a qualquer direito incompatível com a
realização ou âmbito da diligência. Sabido que a penhora se destina a possibilitar a ulterior
venda executiva, é com ela incompatível todo o direito de terceiro (ainda que derivado do
executado), cuja existência, tido em conta o âmbito com que a penhora é feita, impediria a
realização da sua função, ou seja, a transmissão forçada do objeto apreendido (840º/1). Assim,
é incompatível com a penhora: (i) o direito de propriedade plena, que sempre impedirá a venda
executiva do bem sobre o qual incide; bem como (ii) os direitos reais menores de gozo que,
considerada a extensão da penhora, viriam a extinguir-se com a venda executiva. Seja de quem
for que o terceiro tenha derivado o seu direito (do executado ou de outrem), os embargos são-
lhe consentidos para defender tal direito, desde que incompatível com a penhora.
45
Em nome próprio ou alheio.
46
Com exceção do arrendamento, como se vê na nota infra.
47
Caso diferente é, nos direitos pessoais de gozo, o do arrendamento, em cujo regime a especial tutela
do direito do arrendatário leva, ao invés, à sua opinibilidade erga omnes e à sua subsistência após a venda
executiva. Por esta razão, e ainda que este direito seja oponível ao exequente e ao adquirente na venda
executiva (não se extinguindo com ela), este direito é também compatível com a penhora.
53
exequente e, portanto, é compatível com a penhora, ao seu titular cabendo, contra o devedor,
o direito a ser indemnizado. e é um direito pessoal não há eficácia contra o exequente (exceção
do arrendamento).
- Quanto aos direitos reais de garantia, podem os seus titulares fazerem-se valer da
faculdade da reclamação de créditos, sendo citados48 para o efeito (786º/1, b), 3 e 4 e 788º). Se
estes não reclamarem os seus créditos, porque não foram citados para o efeito, então, ainda
assim, os seus direitos caducam com a venda executiva, que não será, assim, anulável (o 824º,
CC não sofre exceções). Nos termos do 786º/6, existem, no entanto, mecanismos de
compensação destes credores não citados, mecanismos esses que não implicam o exercício de
qualquer direito sobre o bem vendido, mas antes um ressarcimento nos termos do
enriquecimento sem causa49. A titularidade do direito real de garantia concede uma prioridade
no pagamento da dívida, estrita apenas ao valor do crédito do reclamante (p.ex., se temos um
bem penhorado com um valor de 300, e um credor hipotecário de uma dívida no valor de 200
vier usar da sua faculdade de reclamação de crédito, então do produto da venda serão entregues
48
Só com a citação é que estes credores têm conhecimento da penhora.
49
Não se faz o ressarcimento do credor pela via da responsabilidade civil, antes pelo enriquecimento sem
causa que onera o exequente ou outro credor pago na vez daquele primeiro credor. No entanto, pode
haver responsabilidade civil da pessoa a quem seja imputável a falta de citação (maxime agente de
execução), em cumulação com o ressarcimento a título de enriquecimento sem causa (786º/6, in fine). A
quem nunca vai ser exigida qualquer quantia é ao comprador do bem na ação executiva.
54
200 ao credor hipotecário e o restante dele – 100 – ao exequente). É, assim, que os credores
que gozam de direito real de garantia sobre o bem penhora não têm legitimidade para se
oporem à penhora mediante embargo de terceiros, pois o seu direito não é incompatível com a
venda executiva (mesmo que não sejam citados para reclamar os créditos, existem mecanismos
da sua compensação e a venda prevalece sempre) e, logo, não é incompatível com a penhora;
- Quanto aos direitos reais de aquisição, os bens sobre os quais eles incidam seguem
uma modalidade específica de venda executiva: a venda direta do 831º. Chegados à venda
executiva o bem tem de ser vendido ao titular do direito real de aquisição. Mais uma vez, torna-
se claro que o titular deste tipo de direitos não tem legitimidade para embargar de terceiro, pois
o seu direito é compatível com a venda executiva (que até lhe é feita) e, por isso, com a penhora;
- Já nos direitos reais de preferência, a lei estabelece como mecanismo de proteção dos
seus titulares, a notificação dos preferentes. Esta vem prevista no 819º, basicamente permitindo
um chamamento dos preferentes à execução, perguntando-se-lhes se eles querem exercer o
seu direito. Também aqui não se verifica, portanto, qualquer incompatibilidade.
Em suma, se um direito caduca com a venda executiva, então não é incompatível com
a penhora. Se não for incompatível com a penhora, porque caduca com a venda executiva,
então não há legitimidade do seu titular para embargar de terceiro.
Nota: ver Hipótese 19. Ademais, numa notinha quanto ao percurso lógico a realizar para
fazer esta análise aqui fica: constatamos que é penhorado um bem do executado e sobre esse
bem incide um direito de um terceiro, exterior à execução. Se for tal direito for pessoal, elimina-
se logo a possibilidade de deduzir embargos de terceiro. Se, ao invés, for real, então temos de
ver qual o seu tipo: se tal direito real de terceiro não caducar com a venda executiva (direito real
de gozo anterior à penhora), pode este deduzir embargos de terceiro. Mas se caducar com a
venda executiva, o seu titular não pode deduzir embargos, não deixando, porém, de ter outras
proteções: a reclamação de créditos, a venda direta ou a notificação do preferente.
Como já se disse, para lá de direitos incompatíveis com a penhora, pode existir posse
(em nome próprio ou alheio) que seja incompatível com a realização da penhora ou com o seu
âmbito. Quando é que se pode dizer que uma posse é incompatível com uma penhora? Em
primeiro lugar, quando essa posse, sendo exercida em nome próprio, constitui presunção da
titularidade de um direito incompatível com a penhora: enquanto esta presunção não for ilidida,
mediante a demonstração de que o direito de fundo radica no executado, o possuidor em nome
próprio é admitido a embargar de terceiro. Em segundo lugar, também é incompatível com a
penhora, aquela posse que, exercida em nome de outrem que não o executado, respeite a
55
direito pessoal de gozo ou de aquisição do bem penhorado - cabem aqui, as situações de posse
de locatário, de comodatário, de depositário, etc.; bem como o caso do promitente adquirente
para quem, em cumprimento de obrigação contratual, tenha sido transferida a posse da coisa
prometida. Nestes casos, a tradição do bem penhorado para o tribunal, via depositário judicial,
implicaria a insubsistência da posse destes detentores e, com ela, a das pessoas em nome de
quem possuem, em quem radica a presunção da titularidade do correspondente direito de
fundo.
- Quando tenha sido citado nos termos do 740º/1 e o executado não tenha bens
próprios;
- Quando a penhora incida sobre bens levados para o casal pelo executado ou por ele
posteriormente adquiridos a título gratuito e/ou sobre os rendimentos desses bens ou sobre os
bens sub-rogados no lugar deles; ou ainda sobre o produto do trabalho e os direitos de autor do
executado, dado que estes bens, ainda que comuns, respondem ao mesmo tempo que os bens
próprios (1696º/2 CC).
56
Mas já será admissível ao cônjuge deduzir os embargos quando, por haver bens próprios
do executado, não esteja verificado o condicionalismo em que atua a responsabilidade
subsidiária dos bens comuns do casal; bem como quando não tenha sido feita a citação do
cônjuge nos termos do 740º/1. Importante notar que esta questão não se coloca quanto aos
casos do 741º e 742º, porque o cônjuge do executado por estes artigos torna-se executado
também ele, deixando de ser terceiro face à execução.
Se a penhora incidir sobre um bem sujeito a registo, há que ter em conta as limitações
decorrentes, para o terceiro reivindicante, das regras próprias do registo. Assim, registada a
penhora e a venda subsequente em processo executivo, o exequente e o adquirente do direito
penhorado que estejam de boa fé, gozam da proteção do registo, se este for anterior ao registo
da ação de reivindicação e, alternativamente (i) o direito do reivindicante se fundar na nulidade
ou anulação do negócio jurídico pelo qual o executado adquiriu o direito penhorado e a ação de
reivindicação não for registada nos 3 anos posteriores à conclusão do negócio (291º CC); ou (ii)
houver, fora desse condicionalismo, um registo pré-existente ao da ação de reivindicação a favor
do executado, salvo se o direito do reivindicante se fundar em usucapião (5º/2, a), Código de
Registo Predial).
57
Já no caso de o direito do reivindicante se fundar em transmissão efetuada pelo
executado, esta prevalece, ainda que não registada, sobre os direitos decorrentes da penhora e
da venda executiva.
(i) A transferência para o tribunal dos poderes de gozo que integram o direito do
executado;
(ii) A ineficácia relativa dos atos dispositivos do direito subsequentes;
(iii) A constituição de preferência a favor do exequente.
Contudo, a natureza civil destes efeitos da penhora não deve levar a que esta seha
confundida com uma figura de direito privado. A penhora, sendo ato de apreensão judicial, é
uma manifestação de ius imperii e o primeiro ato pelo qual se efetiva a garantia da relação
jurídica pecuniária.
Iremos agora detalhar um pouco mais dos efeitos da penhora. Em primeiro lugar, temos
a perda pelo executado dos poderes de gozo sobre o bem penhorado, em razão da
transferência destes para o tribunal. De facto, pela penhora, o direito do executado é esvaziado
dos poderes de gozo que o integram, os quais passam para o tribunal, que, em regra, os exercerá
através de um depositário. Quando a penhora incide sobre o objeto corpóreo de um direito real
(penhora de bem imóvel, penhora de bem móvel, penhora de quota em bem indiviso), a
transferência dos poderes de gozo importa uma transferência da posse desse objeto corpóreo,
ou seja, cessa a posse do executado e inicia-se uma nova posse pelo tribunal: o depositário
passa, em nome deste, a ter a posse do bem penhorado. Estando em causa um direito de
natureza diferente (direito de crédito, direito real de aquisição, direito a quinhão numa
universalidade, direito a quota em sociedade, direito potestativo, direito real sobre coisa
incorpórea), já não se pode falar em transferência da posse, mas continua a verificar-se a
transferência, do executado para o tribunal, dos poderes de gozo que integram tal direito.
58
Por exemplo, no caso de penhora de direito de crédito, o agente de execução ou a
secretaria fica com o poder de receber e provisoriamente reter a prestação principal, assim
como as prestações acessórias do crédito, quando este seja pecuniário (777º/1).
Semelhantemente, no caso de penhora de um direito potestativo, destinado a extinguir-se com
o seu exercício, o poder de produzir a declaração de vontade em que esse exercício se
consubstancia passa a pertencer ao tribunal.
O segundo efeito elencado da penhora foi a ineficácia relativa aos atos dispositivos do
direito penhorado subsequentes à penhora. O executado, com a penhora, perde, como já
vimos, os poderes de gozo que integram o seu direito, mas não o poder de dele dispor. Mantém,
assim, a titularidade de um direito esvaziado de todo o restante conteúdo. E, sendo assim,
continua a poder praticar, depois da penhora, atos de disposição ou oneração. Estes atos,
contudo, comprometeriam a função da penhora se tivessem eficácia plena. Por isso, são
inoponíveis à execução, ineficazes. Tais atos readquirirão, portanto, a sua eficácia plena no caso
de a penhora vir a ser levantada. Mas se, pelo contrário, da execução resultar a transmissão do
direito do executado, o direito do terceiro que tiver contratado com o executado caduca,
embora transferindo-se, por sub-rogação objetiva, para o produto da venda (824º, CC).
Fazendo-se a penhora por registo ou devendo este ter lugar depois dela efetuada, as
regras próprias do registo imporiam que se considerasse as datas do registo da penhora e do
ato dispositivo para determinar a anterioridade ou posterioridade do ato de penhora em face
de um ato de alienação ou oneração. Há que ter em atenção, no entanto, alguns preceitos: com
a reforma do 5º/4, Código do Registo Predial, temos de excluir da proteção da prioridade
registral sobre a penhora, os adquirentes por causa diversa de um ato dispositivo do titular da
anterior inscrição registral (esses adquirentes não são terceiros para efeitos deste artigo. Além
disso, com a reforma da ação executiva, passou a estabelecer-se a inoponibilidade à execução
do contrato de arrendamento, pelo que um tal contrato celebrado pelo executado após a
penhora é inoponível perante o adquirente do bem arrendado. Esta regra da ineficácia relativa
também não abrange os atos (subsequentes à penhora) constitutivos de direito real de garantia
sobre os bens penhorados em que o titular destes não intervenha (ex., penhora, arresto,
hipoteca legal ou judicial, usucapião, entre outros), na medida em que estes produzem-se
independentemente da prática de um ato voluntário do executado.
59
real anterior (822º/1, CC). A anterioridade da penhora enquanto direito real de garantia reporta-
se à data do arresto, quando o exequente tenha feito arrestar previamente os bens penhorados
(822º/2, CC) e, tratando-se de bens sujeitos a registo, à data da efetivação deste. Se sobrevier a
insolvência do executado, a preferência resultante da penhora cessa (140º/3, CIRE).
Segue-se a venda direta, aplicável nos termos do 831º, para quando exista a uma pessoa
ou entidade que tenham um direito real de aquisição sobre o bem penhorado. Nota: ler artigo.
Esta venda é feita diretamente a quem possua um direito real de aquisição sobre um dado bem
penhorado e que é sujeito a venda executiva. Como os direitos reais de aquisição caducam pela
venda executiva (824º, CC) e são oponíveis erga omnes, tem de se dar uma oportunidade ao seu
60
titular para poder exercer tais direitos, através desta modalidade de venda. Qual o valor pelo
qual se fará a venda? Aquele que estiver contratualizado no acordo pelo qual nasceu o direito
real de aquisição ou o valor que, de alguma forma, está estabelecido por lei.
Temos, ainda, a venda em leilão eletrónico (837º). Exceto nos casos do 830º e do 831º,
a venda de bens imóveis e móveis penhorados é feita preferencialmente por esta via.
Falemos, ainda, a venda em depósito público (836º), aplicada a bens que tenham sido
para aí removidos e não devam ser vendidos de outra forma. Como já falámos, o modo de
realização da penhora de bens móveis não sujeitos a registo é efetivada através da sua remoção
para depósito (764º), sendo este o campo de aplicação, por excelência, desta modalidade de
venda executiva. Um depósito pode ser público, privado ou equiparado. O que é um depósito
público? Isto é explicado em portaria: é, no fundo, um depósito do Ministério da Justiça ou
diretamente do Estado (sem pertencer a nenhuma estrutura ministerial) que recebe bens. Já um
depósito equiparado será um depósito utilizado por solicitadores/agentes de execução que, não
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sendo do Estado, acabam por cumprir as mesmas funções dos depósitos públicos. Esta
modalidade de venda executiva pode ser efetuada em depósitos públicos ou equiparados. Como
se processa? No armazém de depósito, leva-se a cabo um leilão presencial e vendem-se os bens
penhorados.
Por fim, devemos sinalizar uma modalidade de venda executiva apontada por LEBRE DE
FREITAS: a adjudicação dos bens penhorados ao exequente ou ao credor reclamante (799º -
802º). Esta modalidade tem a particularizá-la (i) o facto de ter lugar a partir da proposta de
compra do bem penhorado, formulada pelo exequente ou por um credor reclamante (799º/1 e
2), em requerimento que indique o preço oferecido (799º/3); (ii) e o facto de constituir
preferência pelo preço oferecido, a favor do requerente, a quem o bem será atribuído se não
surgirem propostas de compra superior50. Com as necessárias adaptações, aplica-se
subsidiariamente a esta modalidade as disposições relativas à venda executiva (maxime as
relativas à venda por propostas em carta fechada) – veja-se o 802º ou o 800º/3.
Em primeiro lugar, a compra pode ser efetuada por terceiro, pelo exequente ou por um
credor reclamante. O exequente ou o credor com garantia sobre o bem comprado estão
dispensados de depositar a parte do preço que não seja necessária para pagar os credores
50
Se surgirem tais propostas superiores, não há adjudicação e a venda segue os termos do 820º e 821º
(801º/2). Para que possam ser apresentadas propostas que obstem à adjudicação, tem esta modalidade
de seguir os termos do 800º e 801º, onde se abre a possibilidade de apresentação de outras propostas de
compra e venda para lá da da adjudicação. De notar ainda o caso de, requerida a adjudicação, já existirem
propostas feitas (799º/4 e 801º/3).
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graduados antes dele (o Estado, pelas custas, incluído) e que não exceda a importância que tem
direito a receber (815º/1 e 2).
Em segundo lugar, notar que a lei processual concede ao cônjuge e aos parentes em
linha reta do executado (842º) um especial direito de preferência - o direito de remição (842º).
Tendo por finalidade a proteção do património familiar, esta figura evita, quando exercida, a
saída dos bens penhorados do âmbito da família do executado, sendo adquiridos pelas pessoas
indicadas no 842º. O direito de remição é um direito de preferência qualificado, na medida em
que, em caso de concorrência, prevalece sobre o direito de preferência em sentido estrito
(844º/1). Nota: ver 844º/2. Mas, circunscrito ao processo executivo, o exercício do direito de
remição só pode ter lugar num prazo apertado, que varia consoante a modalidade da venda e a
formalização (ou não) desta por escrito, nos termos do 843º/1.
Iremos falar, agora, da caducidade dos direitos reais no contexto da venda executiva.
Quanto aos direitos reais de garantia, todos eles caducam com a venda executiva: os
bens são sempre transmitidos livres de todos eles, sejam de constituição anterior ou posterior
à penhora, tenha havido ou não reclamação na execução dos créditos que garantem. Mas, no
campo dos direitos reais de gozo, há que distinguir entre:
(i) Os que sejam de constituição (ou registo, se se tratar de coisas imóveis ou de móveis
a ele sujeitos) anterior à constituição (ou registo) de todos os direitos reais de garantia invocados
ou constituídos no processo de execução. Para que se verifique este caso é preciso, pois, que os
direitos reais de garantia de todos os credores (incluindo do exequente) sejam de data posterior
à do direito real de gozo (ex. usufruto) de um terceiro. Quando a lei refere "qualquer arresto,
penhora ou garantia" (824º CC) abrange tanto o direito real constituído, fora do processo de
execução, por um credor reclamante (e que serve de fundamento à sua reclamação), como o
direito real do exequente (ex. execução de um crédito hipotecário), quer este seja anterior à
63
execução, quer seja constituído na própria execução (este último caso o do exequente que é
um credor comum e só com a penhora adquire um direito real de garantia).
Neste caso, o direito real de gozo do terceiro subsiste. Normalmente a penhora não
terá abrangido esse direito e, se tal aconteceu, o terceiro ter-se-lhe-á provavelmente oposto por
embargos. Mas, mesmo que o bem tenha sido penhorado como se o executado sobre ele tivesse
propriedade plena, o terceiro (p.ex., titular de um usufruto) não tenha embargado e a venda
tenha tido por objeto a propriedade plena, o direito do terceiro subsiste, podendo ele propor
uma ação comum em que o seu direito será reconhecido contra o adquirente na venda
executiva.
51
Transmite-se a propriedade plena e não só a propriedade de raiz que é um direito de propriedade
limitado pelo usufruto.
64
Ou deve o 824º/2, CC ser interpretado restritivamente, quando se refere a qualquer arresto,
penhora ou garantia, passando-se a exigir que essa garantia constituída anteriormente fosse a
favor do exequente para levar à caducidade do direito real de gozo de terceiro? LEBRE DE
FREITAS e JOÃO DE CASTRO MENDES defendem a segunda opção.
LEBRE DE FREITAS defende esta última opção, ancorado na tal interpretação restritiva
do 824º/2, CC, pois, no seu entender, o objeto da venda não pode ir para lá do objeto da
penhora. Assim, quanto aos direitos reais de garantia que contam para o efeito de verificar a
anterioridade do direito real de gozo apenas interessam, para este efeito restrito, os direitos
reais que garantem créditos reclamados mas, portanto, também com o âmbito com que foram
reclamados (no contexto de um processo em que foi penhorado um direito real de gozo limitado
do executado, limitação essa provinda de um direito real de gozo de terceiro sobre o mesmo
bem penhorado). Se o credor não requerer a extensão da penhora ao objeto da sua garantia
(chamando como executado ao processo o terceiro titular do direito real de gozo), então está
implicitamente a renunciar à invocação da desse objeto na execução.
Por último, abordaremos a transferência para o produto da venda dos direitos sobre o
bem vendido que não se transmitem com a venda. De facto, a lei considera caducos os direitos
que não acompanham a transmissão pela venda executiva, mas acrescenta que eles se
transferem para o produto da venda, ou seja, não estamos perante uma verdadeira
52
Pela constituição do direito real de gozo.
65
caducidade, mas perante uma sub-rogação objetiva. A norma constante do 824º/3 não sofre
qualquer limitação literal. É, no entanto, corrente excluir do seu âmbito de aplicação (i) os
direitos reais, de garantia ou de gozo, constituídos pelo executado posteriormente à penhora
(ou ao seu registo), bem como (ii) os direitos reais anteriores constituídos para garantia de
créditos não reclamados na execução53. Argumenta-se neste sentido, com a ineficácia do ato de
constituição dos primeiros relativamente à execução (819º, CC) e, quanto aos segundos, com o
facto de não poderem ser tomados em consideração no processo executivo créditos que aí não
tenham sido oportunamente reclamados. LEBRE DE FREITAS, no entanto, diz que não fazendo a
lei qualquer distinção literal, não há razão para fazer interpretações restritivas do 824º/3, CC,
desde que fique claro o conceito de transmissão para o produto da venda.
Claro que, recorrendo a juízo, o titular do direito real (de gozo ou de garantia) terá de
fazê-lo em processo distinto e autónomo da execução. Por outro lado, só pode fazer valer o seu
direito, no plano real, enquanto o remanescente da venda não for recebido pelo executado ou,
uma vez recebido, enquanto for possível provar a origem da quantia em dinheiro à qual se
arroga o direito. LEBRE DE FREITAS julga ser esta a interpretação mais conforme com os
princípios gerais do direito e com os interesses dos titulares de direitos reais preteridos na
execução54.
53
Defendem isso CASTRO MENDES e ANSELMO DE CASTRO.
54
Embora, na prática, é muito raro, que ainda sobre algum do produto da venda para o executado.
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2.7. Pagamento
Com o pagamento ao exequente e aos demais credores com direitos reais de garantia
sobre os bens penhorados, dá-se a extinção da execução. O pagamento é um ato meramente
administrativo, onde se fazem as contas finais do processo de execução, distribuindo os
diferentes valores pelas diferentes pessoais com direito à sua distribuição, e finalizando-se o
processo executivo com o pagamento do crédito do exequente. Este corresponde ao caso
normal (não patológico) de extinção da execução.
55
Sempre ressalvada a possibilidade do 850º/2 (credores reclamantes requererem o prosseguimento da
execução.
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rendimentos foram consignados, no seu efeito de assegurar a preferência a favor do exequente
(ser pago com preferência sobre os demais credores, se os bens cujos rendimentos tenham sido
consignados forem vendidos ou adjudicados) - 805º/2. Esta preferência virá, designadamente,
a interessar ao exequente no caso de venda judicial do bem penhorado, em outra execução:
se esta for movida por credor que não tenha direito real de garantia constituído em data
anterior à penhora, o consignatário será pago antes dele; do mesmo modo, será pago antes
dos credores reclamantes que tenham garantia real posterior.
Falemos agora da ordem dos pagamentos. O pagamento coercivo tem lugar segundo a
ordem determinada na sentença de graduação de créditos, sendo, porém, sempre pagas em
primeiro lugar as custas da execução (541º) e sendo atendidos igualmente, na respetiva ordem,
os direitos reais de gozo que tenham caducado com a venda executiva e sejam oponíveis à
execução. Ao executado é entregue o eventual remanescente. Como já vimos, feita toda esta
distribuição inerente ao pagamento, a execução extingue-se.
Numa notinha de especialidade e para acabar este lodo de resumo, cumpre abordar o
pagamento em prestações da dívida exequenda, figura trazida pelo NCPC. Para que esta
modalidade de pagamento, é necessário que o exequente e o executado manifestem o seu
acordo com um plano de pagamento, que comunicam ao agente de execução (806º/1), antes
da transmissão do bem penhorado ou, no caso de venda por propostas em carta fechada, até à
aceitação da proposta vencedora (806º/2). Posteriormente, a instância executiva extingue-se
(806º/2), embora se possa renovar quando o acordo não seja cumprido e o exequente pretenda
obter a satisfação do remanescente (808º/1), bastando para tanto a falta de pagamento de uma
prestação (segue-se a regra geral do 781º, CC).
Nota final: estes meninos são dedicados às pessoas sem as quais não teria feito este
caminho – os Punhas de CPRI, com destaque para Beltrão Loiro, e Zé Pedro Degradado da PLMJ.
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