A Importancia Das Capitanias Dos Portos e Capitanias Fluviais Na Seguranca Da Navegacao Diante de Implementacao e Fiscalizacao de Normas Internacionais e Nacionais-Convertido 1

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A IMPORTÂNCIA DAS CAPITANIAS DOS PORTOS E CAPITANIAS

FLUVIAIS NA SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO DIANTE DE


IMPLEMENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DE NORMAS INTERNACIONAIS E
NACIONAIS

Alexsander Telles da Fonseca¹

RESUMO

O transporte marítimo é uma das modalidades mais antigas e importantes da humanidade,


tanto para o transporte de pessoas, bem como para o desenvolvimento do comércio. Atualmente,
representa a quase totalidade dos serviços de transporte no comércio nacional e internacional,
tendo como principais vantagens seu baixo custo e grande capacidade de mercadoria transportada,
sendo também usado em larga escala na modalidade Esporte e/ou Recreio por amadores. Diante
da abundância desse setor, o número de acidentes que ocorre não é desprezível, por vezes
envolvendo fatalidades, e também tendo grande potencial de gerar danos graves ao meio
ambiente. Sendo desejável buscar a excelência num setor de transporte dotado de diversas
vantagens logísticas, a comunidade marítima internacional uniu esforços para regulamentar a
indústria da navegação a fim de preservar o meio ambiente, segurança da navegação e a vida das
pessoas a bordo por meio de tratados, convenções, códigos, normas, e outros meios. A
Organização Marítima Internacional (OMI) é a responsável pelas normatizações internacionais e
a Marinha do Brasil (MB) tem a competência de implementação e fiscalização das normas
aderidas e internalizadas pelo Brasil. Tendo em vista a diversidade e extensão das águas
brasileiras, a MB, além das diretrizes internacionais, utiliza Organizações Militares (OM) para
identificação de características das navegações regionais espalhados pelo território brasileiro,
com a finalidade de adaptar as Normas da Autoridade Marítima (NORMAM) em regras próprias
dessas OM, para ,além de atender as necessidades da população marítima local, melhor fiscalizar
e garantir a segurança da navegação frente às peculiaridades. Como resultado do estudo,
verificou-se que, mesmo com todos esforços da MB e normas aplicadas por suas subordinadas
para garantir a segurança do trafego aquaviário, acidentes e fatos da navegação ainda apresentam
elevados índices no Brasil.

PALAVRAS – CHAVE: OMI; AUTORIDADE MARÍTIMA BRASILEIRA (AMB);


CAPITANIAS DOS PORTOS; NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA CAPITANIA
DOS PORTOS/FLUVIAIS (NPCP/NPCF).

_________________________
¹ Graduado em Ciências Náuticas pela Escola Formação de Oficiais da Marinha
Mercante. Pós-graduado em Modernização, Infraestrutura e Gestão Portuária pela UniBF
e MBA em Shipping também pela UniBF. E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO

A segurança da navegação marítima é fator de suma importância, levando em


consideração a possibilidade de eventos catastróficos tanto para vida das pessoas quanto
para o meio ambiente.
Como a maioria dos setores de transporte, a segurança do tráfego aquaviário
evolui com o tempo, mas infelizmente, desastres de impacto internacional, devido à
grande comoção, ocorreram para que a sociedade marítima desse início as normatizações
visando a salvaguarda da vida humana, como por exemplo: A Convenção Internacional
para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (em inglês: Safety of Life at Sea - SOLAS).
Considerado o mais importante tratado sobre a segurança da marinha mercante,
SOLAS 74/88 é o marco inicial da regulamentação marítima internacional, mas a primeira
versão da SOLAS foi assinada em 1914, consequência direta do acidente com o Titanic,
navio de passageiros britânico que foi pensado para ser o navio mais luxuoso e mais
seguro de sua época, em 1912 durante sua viagem inaugural colidiu com um iceberg e
afundou. O número exato de mortos no naufrágio é incerto devido a vários fatores, sendo
o mais aceito é aquele da Junta Comercial britânica, 1514 mortos.
A marinha mercante é definida como o conjunto de navios, portos,
estabelecimentos e tripulações que permitem o transporte marítimo de mercadorias e
passageiros. Cerca de quase totalidade das mercadorias são transportadas por vias
marítimas, movimentando e mantendo a economia global.
Como o transporte marítimo não fornece um único produto homogêneo, podendo-
se identificar específicos, que, apesar de relacionados, possuem características próprias e
com potencial danoso ao meio ambiente, a comunidade marítima internacional, afim de
manter esse setor e diminuir os acidentes, uniram esforços com o intuito de padronizar a
navegação. Nesse sentido, com o propósito estabelecer os padrões mínimos para a
construção de navios, para a dotação de equipamentos de segurança e proteção, para os
procedimentos de emergência, inspeções, emissão de certificados e outros, a Organização
Marítima Internacional (OMI) foi criada.
Assim, as definições abordadas a seguir tem o propósito de apresentar ao leitor,
de forma simples, como as normas internacionais contribuem para a normatização da
navegação brasileira e como são aderidas e aplicadas no Brasil.

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1.ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL (OMI)

A Organização Marítima Internacional (OMI) foi criada em 1948, como um


organismo especializado pertencente a estrutura da Organização das Nações Unidas
(ONU), os objetivos do organismo, conforme a Convenção, são "fornecer mecanismos
para a cooperação entre os Governos no campo da regulamentação e práticas
governamentais relacionadas a assuntos técnicos de todos os tipos que afetam o transporte
marítimo envolvido no comércio internacional; incentivar e facilitar a adoção geral dos
mais altos padrões praticáveis em questões de segurança marítima, eficiência da
navegação e prevenção e controle da poluição marinha por navios ".

Encarregada de regulamentar a navegação internacional, a Organização nos dias


atuais é composta por 174 Estados Membros que representam 90% dos países membros
da ONU, o que torna indiscutível a conclusão de que obtém sucesso na disseminação de
suas normas na consciência e nas práticas do mundo marítimo à escala global e de certa
forma molda o sector marítimo de hoje já que regem a quase totalidade dos aspectos desde
setor – desde o projeto, a construção, ao equipamento, a exploração do navio até a
formação dos marítimos. Sua Convenção foi ratificada pelo Brasil em 17 de março de
1957 e o país integra, desde 1975, a categoria “B” reservada aos países com interesse
especial no comércio marítimo ou na navegação internacional.

1.1 ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL (OMI)

A OMI em sua estrutura é compreendida por: uma Assembleia, constituída por


todos os Estados Membros, que é o mais alto órgão da Organização; um Conselho,
integrado por quarenta Membros eleitos pela Assembleia, que é o órgão executivo da
Organização; e Comitês e Sub-comitês, que são os órgãos técnicos da Organização.
Destaca-se que o principal órgão técnico da OMI é Comitê de Segurança Marítima (MSC)
e seus Sub-comitês, a quem compete examinar todas as questões que seja da competência
da OMI com relação aos auxílios à navegação, construção e equipamentos de navios,
dotação de material do ponto de vista da segurança, regras para evitar colisão, manuseio
de cargas perigosas, procedimentos e exigências relativos à segurança marítima,
informações hidrográficas, diários e registros de navegação, investigação de acidentes
marítimos, socorro e salvamento, e quaisquer outras questões que afetem diretamente a
segurança marítima.
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1.2 BRASIL NA OMI

O Brasil como Estado Membro da OMI mantém uma representação permanente


atuante: a Representação Permanente do Brasil junto à Organização Marítima
Internacional (RPB-IMO) é o componente da estrutura orgânica do Comando da Marinha
do Brasil sediada na cidade de Londres / Reino Unido que tem o propósito de permitir o
exercício integral da representação dos interesses nacionais perante a OMI. O cargo de
Representante Permanente do Brasil junto à OMI será exercido por um Almirante, do
corpo da Armada, da Marinha do Brasil, da ativa ou da reserva, auxiliado por um assessor,
designado Representante Alterno, do posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra da ativa e por
um Representante Alterno do Ministério das Relações Exteriores.
A comunicação do Estado brasileiro com a OMI é feita através da (RPB-IMO)
com instrução da Comissão Coordenadora dos Assuntos da Organização Marítima
Internacional (CCA-IMO),componente da estrutura orgânica do Comando da Marinha
que tem como finalidade: avaliar a conveniência da assinatura e da adesão às convenções
da IMO pelo Brasil e, se for o caso, recomendar a ratificação, fazendo as necessárias
considerações sobre estas matérias; consolidar as posições a serem adotadas pelas
Delegações brasileiras naquelas reuniões; propor diretrizes e recomendar medidas para a
internalização no País de compromissos assumidos pelo Brasil naquela Organização, bem
como de resoluções aprovadas por aquele fórum; e instruir a Representação Permanente
do Brasil junto à IMO (RPB-IMO) na defesa das posições aprovadas no Brasil pela CCA-
IMO.
No Brasil, as exportações corresponderam a 84% do total gerado em vendas e as
importações representaram 74% do total das compras realizadas pelo país. De acordo com
a ONU, a movimentação brasileira em relação ao transporte marítimo de mercadorias em
2019 foi de 380 bilhões de dólares, equivalente a 19% do PIB nacional deste ano. Com
isso, o Brasil atribui grande importância aos trabalhos da (OMI). As convenções,
protocolos, códigos e outros instrumentos, incluindo manuais e respectivas emendas são
publicados pela (OMI), nos relatórios das conferências ou reuniões que os aprovaram, e
divulgados aos países membros por meio de Notes Verbales. Os Instrumentos da OMI
são incorporados à Legislação Nacional por tramitações jurídicas no Congresso Nacional
as quais os descrevem e estabelecem a sua condição de recomendatório ou obrigatório,
para tal, é feita uma sugestão de tradução pelo apoiada técnico e administrativo da
Comissão Coordenadora dos Assuntos da Organização Marítima Internacional (CCA-
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IMO) a Secretaria Executiva da Comissão Coordenadora dos Assuntos da Organização
Marítima Internacional (SEC-IMO), sediada no Rio de Janeiro, e ao final da tramitação
tornar-se decreto presidencial.

2. LEI DE SEGURANÇA DO TRÁFEGO AQUAVIÁRIO (LESTA/97)

A LEI Nº 9.537, dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob


jurisdição nacional e dá outras providências. A LESTA, como é comumente chamada no
meio marítimo, serve de norte para as atividades desenvolvidas pela Marinha do Brasil
(MB), na qualidade de Autoridade Marítima Brasileira (AMB), promovendo a segurança
da navegação, a salvaguarda da vida humana no mar e hidrovias e a prevenção da poluição
hídrica. A entrada em vigor da LESTA há mais de duas décadas foi importante para os
envolvidos nas atividades voltadas à navegação aquaviária, trazendo tranquilidade
jurídica às ações da MB para a regulamentação e fiscalização do setor.
A Lei nº 9.537/1997 diz que cabe à AM promover a implementação e a execução
desta Lei, com o propósito de assegurar a salvaguarda da vida humana e a segurança da
navegação, no mar aberto e hidrovias interiores, e a prevenção da poluição ambiental por
parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de apoio e ainda em seu Art. 4º dá
competência à AM para elaborar normas de segurança da navegação. Diante deste
contexto, destacamos as seguintes matérias:
• O tráfego e permanência das embarcações nas águas sob jurisdição
nacional, bem como sua entrada e saída de portos, atracadouros,
fundeadouros e marinas;
• A inscrição das embarcações e fiscalização do registro de propriedade;
• A execução de obras, dragagens, pesquisa e lavra de minerais sob, sobre e
às margens das águas sob jurisdição nacional, no que concerne ao
ordenamento do espaço aquaviário e à segurança da navegação, sem
prejuízo das obrigações frente aos demais órgãos competentes; e
• A determinação da tripulação de segurança das embarcações, assegurado
às partes interessadas o direito de interpor recurso quando discordarem da
quantidade fixada.

Todas essas matérias, na forma regida pelas autoridades marítimas brasileiras,


devem ser observadas pelas embarcações brasileiras e seus tripulantes ou não-tripulantes,
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mesmo quando em águas estrangeiras (observadas as normas locais). Por outro lado, as
embarcações estrangeiras que estiverem em águas brasileiras em desacordo com normas
locais de segurança, após inspeção naval, poderão ser ordenadas, conforme a situação
específica, a não entrar ou não sair do porto ou a sair das águas jurisdicionais brasileiras,
ou ainda a aportar em porto nacional. Neste contexto, a Marinha do Brasil, via Diretoria
de Portos e Costas (DPC), emite as chamadas Normas da Autoridade Marítima
(Normam).

3. AUTORIDADE MARÍTIMA

É o representante legal do país responsável pela salvaguarda da vida humana e


segurança da navegação no mar e hidrovias interiores, bem como pela prevenção da
poluição ambiental causada por navios, plataformas e suas instalações de apoio. No
Brasil, essa função é exercida pelo Comandante da Marinha, responsável, dentre outras
atribuições, pelo ordenamento e regulamentação das atividades da Marinha Mercante,
cabendo a ela promover a implementação e a execução da Lei de Segurança do Tráfego
Aqüaviário - LESTA, que da competência a essa autoridade pela elaboração de normas
visando ao ordenamento e a segurança do trafego aquaviário.

A Diretoria de Portos e Costas (DPC) é uma Organização Militar (OM) da


Marinha do Brasil (MB) subordinada ao Comandante da Marinha. É responsável por:
elaborar normas no âmbito das suas atribuições como representante da Autoridade
Marítima Brasileira; atuar na área de Segurança do Tráfego Aquaviário; no Sistema de
Ensino Profissional Marítimo; normatizar e supervisionar a gestão ambiental das OM da
MB; acompanhar as políticas marítimas e as resoluções emanadas da Organização
Marítima Internacional (OMI); além de efetuar a gestão de processos das 67 Capitanias,
Delegacias e Agências espalhadas pelo território nacional.

A Diretoria de Hidrografia e Navegação(DHN) é uma (OM) da (MB) subordinada


ao Comandante da Marinha que tem o propósito de apoiar a aplicação do Poder Naval,
por meio de atividades relacionadas com a hidrografia, oceanografia, cartografia,
meteorologia, navegação e sinalização náutica, garantir a qualidade das atividades de
segurança da navegação que lhe couberem na área marítima de interesse do Brasil e nas
vias navegáveis interiores e, ainda, contribuir para projetos nacionais de pesquisa em
águas jurisdicionais brasileiras e dos resultantes de compromissos internacionais.
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3.1 NORMAS DA AUTORIDADE MARÍTIMA

Atualmente estão em vigor 33 destes normativos que tratam da segurança da


navegação sob diversos enfoques. Elas são editadas pela AM por meio de seus órgãos
delegados, mais especificamente, a Diretoria de Portos e Costas(DPC) e a Diretoria de
Hidrografia e Navegação(DHN). Baseadas em convenções, protocolos, códigos e outros
instrumentos, incluindo manuais e respectivas emendas publicadas pela OMI e adotadas
pelo Brasil a DPC e DHN emitem as chamadas NORMAM – Normas da Autoridade
Marítima.

Cada uma das normas mencionadas possui um detalhamento, em geral dividido


por tipo de embarcação (leia-se características físicas) e/ou uso pretendido, merecendo
especial atenção as normas sobre transporte de cargas considerada perigosa. Há,
outrossim, demais regras de igual relevo a serem observadas em operações marítimas,
dentre todas listadas a seguir:

• NORMAM 01/DPC – Embarcações Empregadas na Navegação de Mar


Aberto
• NORMAM 02/DPC - Embarcações Empregadas na Navegação Interior
• NORMAM 03/DPC – Amadores, Embarcações de Esporte e/ou Recreio
e para Cadastramento e Funcionamento das Marinas, Clubes Entidades
Desportivas Náuticas
• NORMAM 04/DPC – Operação de Embarcações Estrangeiras em Águas
Jurisdicionais Brasileiras.
• NORMAM 05/DPC – Homologação de Material
• NORMAM 06/DPC –Reconhecimento de Sociedades Classificadoras e
Certificadoras (Entidades Especializadas) para Atuarem em Nome do
Governo Brasileiro
• NORMAM 07/DPC – Atividade de Inspeção Naval
• NORMAM 08/DPC – Tráfego e Permanência de Embarcações em Águas
Jurisdicionais Brasileiras
• NORMAM 09/DPC – Inquéritos Administrativos

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• NORMAM 10/DPC – Pesquisa, Exploração, Remoção e Demolição de
Coisas e Bens Afundados, Submersos, Encalhados e Perdidos.
• NORMAM 11/DPC – Obras, Dragagem, Pesquisa e Lavra de Minerais
Sob, Sobre e às Margens das Águas sob Jurisdição Brasileira
• NORMAM 12/DPC – Serviço de Praticagem
• NORMAM 13/DPC - Aquaviários
• NORMAM 14/DPC – Cadastramento de Empresas de Navegação,
Peritos e Sociedades Classificadoras
• NORMAM 15/DPC – Atividades Subaquáticas
• NORMAM 16/DPC – Estabelecer Condições e Rquisitos para Concessão
e Delegação das Atividades de Assistência e Salvamento de Embarcação,
Coisa ou Bem em Perigo no mar, nos Portos e Vias Navegáveis Interiores
• NORMAM 17/DHN – Auxílios à Navegação
• NORMAM 18 – Operação do Sistema de Controle de Arrecadação
• NORMAM 19/DHN – Atividades de Meteorologia Marítima
• NORMAM 20/DPC – Gerenciamento da Água de Lastro de Navios
• NORMAM 21/DPC – Uso de Uniformes da Marinha Mercante Nacional
• NORMAM 22/DPC – Cerimonial da Marinha Mercante Nacional
• NORMAM 23/DPC – Controle de Sistemas Antiincrustantes Danosos
em Embarcações
• NORMAM 24/DPC – Credenciamento de Instituições para Ministrar
Cursos e Treinamentos Complementares
• NORMAM 25/DHN – Levantamentos Hidrográficos
• NORMAM 26/DHN – Serviços de Tráfego de Embarcações (VTS)
• NORMAM 27/DPC – Registro de Helideques instalados em
Embarcações e em Plataformas Marítimas
• NORMAM 28/DHN – Navegação e Cartas Náuticas
• NORMAM 29/DPC – Transporte de Cargas Perigosas
• NORMAM 30/DPC – Ensino Profissional Marítimo de Aquaviários
• NORMAM 31/DHN – Recolhimento da Tarifa de Utilização de Faróis
(TUF)
• NORMAM 32/DPC – Portuários e Atividades Correlatas

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• NORMAM 33/DPC – Implantação e Operação de Sistemas para
determinação de Folga Dinâmica Abaixo da Quilha

4. CAPITANIAS DO PORTOS

A criação das Capitanias dos Portos data do ano de 1845, quando o Imperador,
através do Decreto nº 358 de 14 de agosto daquele ano, autorizou o Governo a estabelecer
uma Capitania dos Portos em cada província marítima do Império. Em consequência do
citado decreto surgiu o primeiro Regulamento para as Capitanias dos Portos com a rubrica
de Sua majestade o Imperador Antonio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de
Albuquerque.

Atualmente, as Capitanias e suas subordinadas (Delegacias e Agências) têm o


propósito de contribuir para a orientação, coordenação e o controle das atividades
inerentes à Marinha Mercante, organizações correlatas e atividades de Esporte e Recreio,
no que se refere à defesa nacional, salvaguarda da vida humana no mar, segurança da
navegação e prevenção da poluição hídrica, concernente à embarcações, plataformas ou
suas instalações de apoio. Em situações de conflito, crises, estado de sítio, estado de
defesa e em regimes especiais, cabem às Capitania, Delegacias e Agências as tarefas de
mobilização e desmobilização que lhes forem atribuídas pelas normas e diretrizes ligadas
à mobilização marítima e as emendas pelos Comandantes dos Distritos Navais.

As principais atividades da AMB, por meio das Capitanias, Delegacias e


Agências, decorrem da área de Segurança do Tráfego Aquaviário, do Ensino Profissional
Marítimo e da prevenção da poluição hídrica causada por embarcações, plataformas e
suas instalações de apoio. A orientação funcional dessas organizações militares está a
cargo da Diretoria de Portos e Costas e subordinação dos Distritos Navais com as
seguintes tarefas:

I. - Cumprir e fazer cumprir a legislação, os atos e normas, nacionais e


internacionais, que regulem os tráfegos marítimos, fluvial e lacustre,
relativos à salvaguarda da vida humana e à segurança da navegação, no
mar aberto e nas hidrovias interiores, e à prevenção da poluição hídrica
por parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de apoio;
II. - Exercer a fiscalização do serviço de praticagem;
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III. - Realizar inspeções navais e vistorias;
IV. - Instaurar e/ou conduzir inquéritos Administrativos referentes aos Fatos
e Acidentes de Navegação (IAFN) e Investigações de Segurança de
Acidentes e incidentes Marítimos (ISAIM), de acordo com a legislação
específica em vigor;
V. - Auxiliar o serviço de socorro e salvamento marítimo, de acordo com o
determinado pelo Comando do Distrito Naval a que está subordinado;
VI. - Concorrer para a fiscalização e a manutenção da sinalização náutica;
VII. - Executar as atividades atinentes ao Ensino Profissional
Marítimo(EPM), no que lhe competir;
VIII. - Executar, quando determinado, atividades atinentes ao serviço militar;
e
IX. - Apoiar o pessoal militar da Marinha e seus dependentes, quanto a
pagamento, saúde e assistência social e, no que couber, o pessoal civil e
seus dependentes, quando não competir a outra Organização Militar da
Marinha.
X. - Cumprir e fazer cumprir as determinações emanadas dos
representantes da Autoridade Marítima Brasileira, de acordo com as
competências que lhes forem delegadas;
XI. - Executar as tarefas de fiscalização necessárias à manutenção da boa
ordem do tráfego aquaviário;
XII. - Seguir as orientações técnicas emanadas da Diretoria de Portos e
Costas, no que se refere à Segurança do Tráfego Aquaviário, ao Ensino
Profissional Marítimo e à prevenção da poluição hídrica;
XIII. - Elaborar, manter atualizadas e divulgar as Normas e Procedimentos da
Capitania dos Portos (NPCP);
XIV. - Manter registros atualizados das informações e características relativas
aos portos, terminais e instalações portuárias;

4.1 NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA CAPITANIAS DOS


PORTOS/FLUVIAIS (NPCP/NPCF)

As NORMAM/DPC possuem abrangência nacional e são aplicadas às


embarcações conforme o seu tipo/atividade: carga; passageiros; pesca; e esporte e

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recreio. Também de acordo com a área na qual vai operar a embarcação ou seja, qualquer
área definida segundo a NORMAM - 08 (2013, CAPÍTULO 1 pg 1-1) como ÁGUAS
JURISDICIONAIS BRASILEIRAS (AJB) que compreendem as águas interiores e os
espaços marítimos, nos quais o Brasil exerce jurisdição, em algum grau, sobre atividades,
pessoas, instalações, embarcações e recursos naturais vivos e não-vivos, encontrados na
massa líquida, no leito ou no subsolo marinho, para os fins de controle e fiscalização,
dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses espaços marítimos
compreendem a faixa de 200 milhas marítimas contadas a partir das linhas de base,
acrescida das águas sobrejacentes à extensão da Plataforma Continental além das 200
milhas marítimas, onde ela ocorrer.

Frente a extensão marítima somada as águas interiores brasileiras em sua infinita


diversidade distribuídas em uma área de 8.514.876 km² de extensão territorial no Brasil,
as especificidades regionais, em virtude das características existentes nas jurisdições das
Capitanias, Delegacias e Agências, são complementarmente regulamentadas por meio das
respectivas Normas e Procedimentos para Capitanias dos Portos/Fluviais (NPCP/NPCF),
com vistas à salvaguarda da vida humana, à segurança da navegação no mar aberto e nas
hidrovias interiores e à prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações,
plataformas e suas instalações de apoio.

De acordo com a Portaria nº 30/Diretoria-Geral de Navegação/Diretoria de Portos


e Costas/MM (1996) que aprovou as normas e procedimentos para as Capitanias dos
Portos/Fluviais apresenta as seguintes diretrizes:

Art. 2º Os Capitães dos Portos estabelecerão, por


Portaria, as Normas e Procedimentos
específicos de suas organizações em um único
documento normativo, elaborado de acordo
com as Normas ora aprovadas.

§ 1º As Portarias das Capitanias dos Portos terão


distribuição para a DPC, DHN, DN,
Autoridades Estaduais e Municipais,
Empresas, Armadores, Agentes e Associações

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de Classe, cujas atividades estejam
vinculadas com o tráfego aquaviário local.

§ 2º Essas Portarias deverão ser submetidas a


apreciação da DPC, via Comando do Distrito
Naval e, após aprovadas, deverão ser
publicadas em Diário Oficial da União.

4.2 MAPA SENSITIVO DA CAPITANIAS DOS PORTOS/FLUVIAIS,


DELEGACIAS E AGENCIAS

Diante de suas responsabilidades as Capitanias dos portos, Delegacias e Agencias


são distribuídas no território nacional pelos 9 Distritos Navais, em posições e áreas
evidentemente estratégicas em relação ao tráfego de embarcações e defesa da pátria, para
melhor exercer suas atribuições, como se vê no mapa disponibilizado pela DPC em seu
sitio e apresentado a seguir:

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5. ESTATÍSTICAS
Mensalmente, a Diretoria de Portos e Costas (DPC) consolida os dados
estatísticos, referentes aos seus serviços realizados, bem como de serviços e atividades
realizadas pelas 67 Capitanias/Delegacias/Agências, voltados para a Segurança do
Tráfego Aquaviário (STA). Dentre os diversos serviços realizados, tomando 2019 como
ano de referência, citam-se:
I. 74.887 emissões de carteiras de habilitação de amador (cha);
II. 218.821 inspeções navais
III. 4.237 vistorias e perícias técnicas em embarcações brasileiras
IV. 2.988 vistorias e perícias técnicas em embarcações estrangeiras
V. 2.580 total de títulos de inscrição emitidos
VI. Autos de infração, apreensões, arrestos e despachos emitidos:
• Autos de infração lavrados 15.126
• Apreensão de embarcação nacional 2.912
• Apreensão de embarcação estrangeira 115
• Arresto de embarcação nacional 38
• Arresto de embarcação estrangeira 10
• Despacho de embarcações nacionais 34.377
• Despacho de embarcações estrangeiras 25.886

O Departamento de Inquéritos e Investigações de Acidentes de Navegação da


Diretoria de Portos e Costas também analisa as investigações de segurança de acidentes
e incidentes marítimos ocorridos com navios de qualquer bandeira nas águas
jurisdicionais brasileiras, em conformidade com o Código de Investigação de Acidentes
da Organização Marítima Internacional (OMI). O principal objetivo das investigações de
segurança é determinar as circunstâncias e as causas do acidente muito grave ou acidente/
incidente considerado relevante com o propósito de prevenir novos acidentes e incidentes
marítimos no futuro. Em seu sitio, a DPC apresenta estatísticas(2019) referentes a
acidentes e incidentes marítimos ocorridos em AJB, citando-se números de forma a alertar
a importância da implementação da segurança na navegação:
• VÍTIMAS FATAIS 234
• FERIDOS 262
• DESAPARECIDOS 62

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6. TRIBUNAL MARÍTIMO

O Tribunal Marítimo, conforme preceitua o artigo 1°, da Lei nº 2.180, de 5 de


fevereiro de 1954, é um Órgão Autônomo, com jurisdição em todo o território nacional,
auxiliar do Poder Judiciário, vinculado ao Comando da Marinha, tem como atribuições
as previstas no artigo 13 desta mesma Lei, a saber:

I - julgar os acidentes e fatos da navegação:

a) definindo-lhes a natureza e determinando-lhes as


causas, circunstâncias e extensão;

b) indicando os responsáveis e aplicando-lhes as penas


estabelecidas nesta lei; e

c) propondo medidas preventivas e de segurança da


navegação.

Conforme determina o Art.33 da Lei nº 2.180/54, será instaurado Inquérito sobre


Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN), sempre que chegar ao conhecimento de um
Agente da Autoridade Marítima, por qualquer meio de comunicação a ocorrência de
acidente ou fato da navegação. Somado a isso, de acordo com a (NORMAM – 09/2003),
somente as Capitanias (CP) e Delegacias (DL) poderão instaurar IAFN, quando uma
Agência da Capitania dos Portos tiver o conhecimento da ocorrência de acidente ou fato
da navegação, deverá comunicar imediatamente o fato à Capitania a que estiver
subordinada, para que essa instaure o competente IAFN.
Concluído o inquérito e cumpridas as formalidades legais, o mesmo será
encaminhado ao Tribunal Marítimo, que fará a devida distribuição e autuação, o qual dará
vista à Procuradoria Especial da Marinha para que adote as medidas previstas no art. 42,
da Lei nº 2.180/54.

6.1 BOLETIM DE ACIDENTES JULGADOS NO TM

O Tribunal Marítimo (TM) através do Boletim de Acidentes Julgados no TM tem


o propósito de levar ao conhecimento das comunidades marítima, náutica e portuária uma
síntese dos principais casos julgados no Tribunal no último trimestre, após análise dos
respectivos acórdãos. Desta forma, os navegantes, homens e mulheres que utilizam

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embarcações em atividades profissionais ou de lazer, poderão tomar conhecimento de
alguns acidentes julgados no Tribunal, suas causas determinantes, ensinamentos colhidos
e recomendações aos navegantes, bem como ações que poderiam ter sido tomadas para
evitar acidentes, e, principalmente, a perda de preciosas vidas humanas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o apresentado neste artigo, quanto ao aspecto normativo, as


Normas da Autoridade Marítima somadas as Normas e Procedimentos para Capitania dos
Portos/ Fluviais são suficientes para assegurar a Segurança do Tráfego Aquaviário no
Brasil. Entretanto, apesar dos esforços do Poder Público, através da Marinha do Brasil, o
país encontra-se longe do que seria considerado o ideal de segurança marítima na prática.
Nesse sentido, a fiel observância da normas e orientações sobre navegação segura
é a melhor forma de assegurar a integridade da sociedade marítima e do meio ambiente.
Diante disso, as Capitanias do Portos, Delegacias e Agências, devem continuar atuando
perante suas atribuições, com enfoque em campanhas educativas, Inspeções Navais,
campanha regionais e divulgação das normas.
É, ainda, de suma importância que os tripulantes e passageiros se conscientize da
responsabilidade que é navegar, atentando-se as normas e treinamentos que são
disponibilizados como subsídios com a finalidade de aumentar suas próprias seguranças.
Neste artigo, foram abordadas diversas Normas da Autoridade Marítima e
estatísticas recentes sobre acidentes da navegação, de tal forma a ficar claro que apesar
de todo o aparato normativo há a necessidade de grande quantidade de mão-de-obra e
equipamentos para a fiscalização do tráfego aquaviário.
Portanto, é desejável que, os instrumentos normativos da OMI junto as Normas
da Autoridade Marítima sejam atualizadas constantemente em busca de reduzir cada vez
mais os índices de acidentes tornando a navegação mais segura para todos, tendo em vista
que os acidentes não se tornaram algo exclusivamente relacionado a um passado distante.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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