Criminologia (Aulas)
Criminologia (Aulas)
Criminologia (Aulas)
História da criminologia
Período pré-científico: marcado por textos esparsos da
antiguidade de autores como Sócrates (importância da
ressocialização), Hipócrates (premissas de inimputabilidade
penal ao insano mental) e Platão (fatos econômicos geram
criminalidade).
Ausência de estudo sistematizado do crime e do
criminoso.
Adoção de explicações sobrenaturais ou religiosas para o
delito, como o pecado, por exemplo.
Demonismo personificado pelo criminoso.
É possível dividir os estudos do período pré-científico em
02 enfoques: o criminológico clássico (filosofia,
iluminismo, reformadores e direito penal clássico) e o
empírico (investigações sobre o crime, fragmentada e
com fontes diversificadas).
Idade Média: na Europa feudal a religião dominante era
o cristianismo, com poder político da igreja. Delito era
pecado e o delinquente o pecador.
Ordálios eram admitidos na produção de provas.
Santos Agostinho: pena é medida de defesa social,
ela intimida e promove a ressocialização do
delinquente.
São Tomás de Aquino: considerava a pobreza
grande causa do roubo e que deveria ser levada em
consideração as condições de miséria. Ideia votada
a “dar a cada um o que é seu”.
Demonologia: explicação do mal pela existência do
demônio. Existência da natureza e da qualidade
dos demônios. Há adoção da teoria da tentação, o
criminoso era tentado pelo espírito do mal.
Thomas Morus (Utopia, 1516): delito conectava-se a
vários motivos, mas destacam-se a desorganização
social e a pobre. É dele a proposta de que os poderes
públicos arbitrassem medidas para que delinquentes
trabalhassem para as vítimas, para compensar o dano.
Fisionomistas (séculos XVII e XVIII): estudavam
aparência externa dos delinquentes buscando verificar
as características físicas de matiz criminosa.
Cranioscopia: medição da cabeça e a forma externa do
crânio determina o caráter e a personalidade.
Frenologia: análise interna da mente para identificar a
localização física de cada função anímica do cérebro. Os
atuais estudos de neurofisiologia e neuropsiquiatria se
desenvolveram a partir da frenologia.
Ciência penitenciária (século XVIII): análise, descrição e
denuncia da realidade penitenciária europeia. Reforma
do delinquente deve ser a principal finalidade. John
Howard e Jeremy Bentham.
Psiquiatria (século XVIII): a psiquiatria se desenvolve
como ciência autônoma, a partir de Philippe Pinel,
rompe com o pensamento demonológico e distingue
criminosos de enfermos mentais.
Antropologia: estudos com ênfase no ser humano e na
degeneração presente nos deliquentes.
Escola cartográfica ou estatística moral: delito é
fenômeno social, periódico e relacionado a
determinadores fatores (miséria, analfabetismo, clima e
etc) e que deve ser estudo pelas estatísticas. É dessa
escola que surge o conceito de “homem médio”.
Escola clássica (iluminismo penal, século XVIII): há
superação do pensamento mágico e sobrenatural da
idade médica, que cede espaço para o pensamento
liberal, racionalista e humanista do iluminismo.
Montesquieu (prevenção do delito), Voltaire
(proporcionalidade e legalidade da pena) e Rousseau (má
estruturação do pacto social) são desta época.
Cesar Beccaria e seu livro Dos Delitos e da Penas é
vinculado à escola clássica. Nesse livro, o autor utiliza
um método lógico-abstrato e dedutivo para fundamentar
a responsabilidade penal no livre arbítrio. Há uma
crítica contundente às arbitrariedades da Idade Média.
Período científico: a criminologia se estabelece como uma
ciência autônoma. Os trabalhos de Cesare Lombroso, Enrico
Ferri (delito é fenômeno social determinado por causas
naturais) e Rafaelle Garofalo foram fundamentais para dar
autonomia científica à criminologia.
O positivismo criminológico é a escola de pensamento
que inaugura o período científico.
A obra O Homem Delinquente de Cesare Lombroso é
considerado o marco de nascimento da criminologia,
mas o termo já tinha sido utilizado por Paul Topinard
em 1879.
O século XIX é marcado pelo cientificismo, que possui
as seguintes características: empirismo, método
experimental ou indutivo e verificação prática do crime e
do criminoso.
Há uma passagem do pensamento abstrato (escola
clássica) para o mundo naturalístico e concreto.
Escola positivista: Cesare Lombroso, Enrico Ferri (delito
é fenômeno social determinado por causas naturais) e
Rafaelle Garofalo.
Sociologia criminal: crime como fenômeno social e
fatores ambientais atuam sobre a conduta individual e
conduzem à prática delitiva. Exemplos de autores:
Alexandre Lacassagne, Emile Durkheim e Jean-Gabriel
de Tarde.
Positivismo sociológico: sugere que fatores sociais como
pobreza, pertencimento a subculturas e baixos níveis
educacionais como predisposição para a prática de
crimes. Exemplos de autores: Adolphe Quetelet, Rawson
W. Rawson e Henry Mayhew.
Criminologia socialista (lato sensu): crime decorre da
natureza capitalista da sociedade, que somente iria
diminuir ou erradicar com a instauração do socialismo.
Tem sua base nas teorizações de Karl Marx e Friderich
Engels.
Sociologia criminal norte-americana: depois da primeira
guerra mundial houve um abandono do modelo europeu
e começou-se a seguir orientação de caráter prático e
sociológico (empírico). Influenciada por Sutherland e
Sellin.
Teorias de longo alcance ou grandes teorias são expressões
utilizadas para fazer referência a teorias amplas e abstratas,
demasiadamente especulativas e desconectadas da
observação. Elas fornecem explicações mais amplas e que
facilitam estratégias para compreensão e enfrentamento da
criminalidade. Contudo, a multifatoriedade do delito
inviabiliza que essas teorias forneçam uma explicação
totalizante.
Teorias de médio alcance ou teorias parciais são expressões
utilizadas para se referir a teorias que se ocupam,
principalmente, de uma análise estrutural da sociedade em
que surge o delito. Elas explicam fragmentos do todo, com
conexão empírica e com mais possibilidade de teste das
hipóteses propostas.
Escolas intermediárias.
Apesar da grande discussão entre a Escola Clássica e o
Positivismo Criminológico, existem diversas escolas e modelos
teóricos que também foram criados nessa época e que
representam alternativas aos conceitos e modelos criados
pelas correntes principais.
Escola Eclética, Escola Crítica, Positivismo Crítico ou Terza
Scuol Italiana.
Dualismo metodológico: premissas de etiologia do crime,
da antropologia e da sociologia criminal (escola positiva)
e, apesar de afastar o livre-arbítrio, combina com a
Escola clássica a distinção entre imputáveis (pena) e não
imputáveis (medida de segurança).
O direito penal é substantivo e autônomo.
A responsabilidade moral e baseada no determinismo.
O crime é fenômeno social e individual.
A pena tem caráter aflitivo, para defesa social.
Expoentes: Emmanuele Carnevale, Bernardino Alimena
e Juan Impallomeni.
Escola Técnico-Jurídica Italiana.
Arturo Rocco: o Direito Penal não possui propensão a
ser mero capítulo da história (como aponta o positivismo
criminológico) e do formalismo excessivo (escola
clássica). Há redução do direito penal a uma teoria
jurídica, ou seja, conjunto de princípio, de fatos ou
fenômenos regulados pelo ordenamento jurídico
positivo.
Método dogmático: voltado para o único direito penal
que existe como dado pela experiência, direito penal
positivo. Crime e pena sob aspectos puramente
jurídicos, como fatos disciplinados pelo direito positivo.
Elaboração científica escalonada: fases de interpretação
(exegética teleológica), sistemática e crítica (como o
direito deve ser).
Segundo esta escola, juristas, ao elaborarem o estudo
técnico das leis penais, devem elaborar uma dogmática
guiada por um espírito realista (estudo da instituição
jurídica deve remeter a estudo de sua finalidade e
função social).
Escola Dogmática Jurídico-Penal Alemã.
Binding: foca no estudo do direito em si, excluindo
qualquer consideração metajurídica ou valorativa
(formalismo intranormológico). Para ele, a norma é uma
entidade puramente jurídica e a pena possui apenas
finalidade retributiva, voltada para a sua execução.
Teoria objetiva da interpretação: buscar a vontade da lei,
não a do legislador, mas da vontade do direito que se
exprimiu na proposição jurídica como elemento de um
sistema.
Escola Sociológica Alemã ou Moderna Alemã.
Expoentes: Franz Von Liszt, Adolphe Prins e Von
Hammel.
Olhar sociológico do direito, conservando o estudo
dogmático.
Estudo do delito e da pena em sua realidade sensível.
Sociedade desenvolve e produz criminalidade, ou seja, o
fator social é causa determinante.
Utiliza método indutivo-experimental.
Faz distinção entre imputáveis e inimputáveis.
O crime é um fenômeno humano-social e fato jurídico.
Função da pena é a prevenção especial.
Há uma eliminação/substituição de penas privativas de
curta duração.
Escola da Defesa Social.
Filippo Gramatica: a responsabilidade penal deve
repousar no indivíduo. Deve-se eliminar as causas de
desamparo na sociedade pelo Estado. Não há direito de
castigar, mas de socializar, não com penas, mas com
medidas de defesa social preventiva, terapêutica e
pedagógica. As medidas são em face da personalidade,
não em relação ao dano causado.
Marc Ancel (nova defesa social): máxima
individualização da resposta punitiva para potencializar
a socialização e rechaçar direito penal meramente
retributivo.
Objetivo: prevenção da delinquência e recuperação do
delinquente em contexto de harmonia social.
Prevenção do delito
Classificação da prevenção ao delito com relação aos atores:
Prevenção penal: imposição de castigo a uma
determinada pessoa, intimidando toda a população
(prevenção geral) ou afetando o apenado (prevenção
especial). Não é o mecanismo mais eficaz.
Prevenção policial: presença, investigação e atuação da
polícia.
Prevenção comunitária: mobilização de recursos sociais
de uma sociedade ou delegação à comunidade em
esforços específicos desde baixo.
Classificação da prevenção ao delito com relação aos
destinatários:
Prevenção primária: voltada para as causas do delito,
buscando neutraliza-las, com forte caráter etiológico.
São demandas de alto custo, voltadas para toda
população, de médio a longo prazo, por intermédio de
políticas públicas (Ex: acesso à educação, saúde,
saneamento básico...).
Prevenção secundária: após ou na iminência do delito,
se volta para grupos que possuem mais possibilidade de
sofrerem ou praticarem o delito. Foco em grupos sociais
mais vulneráveis, de curto a médio prazo.
Prevenção terciária: incide sobre detentos após a prática
do delito, com o objetivo de prevenir a reincidência,
como medidas alternativas, serviços comunitários,
liberdade assistida.
Vitimologia
Vitimização primária: decorre da própria prática delituosa,
causando danos à vítima (físicos e patrimoniais).
Vitimização secundária: sobrevitimização, decorrente dos
efeitos causados na vítima pela atuação do sistema de justiça
criminal, seja pelas investigações, seja pelo próprio curso do
processo penal (ex: oitivas, constrangimentos, reconstituições
de delitos, ficar em frente ao criminoso e etc).
Vitimização terciária: a inércia ou atuação insuficiente do
Estado e do próprio corpo social causam prejuízos às vítimas,
que são desestimuladas a denunciar os fatos delituosos ou
buscar reparações (incremento na cifra oculta da
criminalidade).
Modelos de reação ao delito:
Modelo clássico: punição ao agente com a imposição de
penas e reforço coletivo para intimidar. Protagonismo do
Estado e delinquente.
Modelo ressocializador: possibilita a reinserção social,
para além da aplicação da pena.
Modelo restaurador: pretende restabelecer o status quo,
reeducando o agressor, assistindo a vítima e o controle
social.
Penologia.
Teorias absolutas: pena é imperativo da justiça, sem fins
utilitários, mas retribuição pelo crime praticado. Punição
advém da prática delituosa. Retribuição e expiação.
Kant: A pena é um imperativo categórico, consequência
natural do delito. Ao mal do crime impõe-se o mal do
castigo.
Hegel: Pena é a negação da negação do delito. É uma
retribuição jurídica em razão do discernimento e livre
arbítrio do agente.
Teorias relativas: a pena deve ter finalidade utilitária (meio
para a prevenção criminal). Crime não é causa da pena, mas
momento para aplica-la. Fins de prevenção geral (sobre a
sociedade) e especial (sobre o delinquente).
Prevenção geral negativa (intimidação): busca
conformidade pela coação psicológica pela ameaça de
sanção. Inibição sobre a generalidade dos cidadãos.
Prevenção geral positiva (integradora): restabelecimento
do crédito da norma, viés educativo – aprendizagem,
confiança e pacificação social.
Vertente eticizante (Welzel): direito penal enfatiza
valores ético-morais e respeito à vigência da norma,
buscando a conscientização jurídica da população.
Vertente sistêmica (Jakobs): direito é instrumento
para estabilização do sistema e integração social,
reforçando a confiança da população na vigência
da norma.
Prevenção especial negativa: há inocuição ou
neutralização do delinquente.
Prevenção especial positiva: há ressocialização ou
reinserção do delinquente.
Teorias mistas, unitárias ou ecléticas: admitem o caráter
retributivo das penas, mas com finalidade de reeducação e
intimidação.
É a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, como se
observa do art. 59 do CPB.