Evolução Da Criminologia e o Potencial Do Modelo de Prevenção Primária No Combate Ao Crime.

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Teorias criminológicas e a potencial redução da criminalidade no

Brasil através do modelo de prevenção primária.

Resumo:

SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO.
2. O que é a criminologia?
2.1) CRIMINOLOGIA, DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL
2.2Teorias macrossociológicas
2.2.1 Teoria do consenso: Escola de Chicago
2.2.2 Teoria ecológica
2.2.3 Teoria espacial
2.2.4 Teoria das janelas quebrada
2.2.5 Teoria tolerância zero ou da lei e da ordem
2.2.6 Teoria da associação diferencial
2.2.7 Teoria da anomia
2.2.8 Teoria da subcultura delinquente
2.2.9 Teoria do conflito: etiquetamento, labelling approach
2.2.10 Teoria radical, nova criminologia
3. Realidade Brasileira
4. MODELOS PREVENTIVOS E O CONTROLE SOCIAL
a) Primário
b) Secundário
c) Terciário.
1. Introdução.
A criminologia é uma ciência autônoma integrante do campo das
ciências criminais que há muito tempo vem contribuindo com a análise do
fenômeno criminal como um fato.
É de extrema importância conhecer a ciência criminológica para
entender o nascimento do crime, quem o comete, potenciais vítimas e a
forma de prevenção e possível erradicação de um fato delituoso.
Ao longo deste artigo iremos nos aprofundar no estudo da
criminologia e conhecer modelos preventivos dos crimes e principalmente
na prevenção primária e de que forma o governo e também a sociedade
como um todo podem ser protagonistas diretos em um tema de interesse
coletivo que é a redução da criminalidade e da desigualdade social em um
Estado democrático de direito.

2. O QUE É A CRIMINOLOGIA.

A origem da palavra criminologia, hibridismo greco-latino que


significa estudo do crime.
É uma ciência social, filiada à sociologia e atualmente compreendida
como uma ciência empírica, interdisciplinar que estuda o crime, o
criminoso, a vítima e o controle social.

É uma ciência que se utiliza de conhecimentos provenientes da


experiência, observando o mundo físico, real através dos sentidos.

Também leva em consideração os resultados de outros ramos dos


saber, como por exemplo a biologia, medicina e psicologia entre outros.

Entende-se na atualidade que a criminologia é uma ciência humana,


dotada de leis evolutivas e flexíveis, em constante mutação.
Trata-se de uma ciência que aborda como as coisas são, na realidade
prática e material, não de como as coisas deveriam ser no campo teórico,
abstrato ideal.

2.1 CRIMINOLOGIA, DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL.

Primeiramente é necessário destacar que a criminologia é uma


ciência que orbita na esfera criminal, porém não se confunde com direito
penal. Ela é uma ciência autônoma que se complementa com o direito
penal e a política criminal buscando conhecer a realidade e compreendê-
la, a fim de produzir um diagnóstico da criminalidade e assim subsidiar as
outras ciências criminais.

O direito penal tem como objeto o crime como forma, promovendo


repressão àqueles que cometem um fato definido como crime e aplicando
uma punição ao descumpridor da norma. A finalidade no direito penal é a
proteção de um bem jurídico público ou particular, logo é uma ciência
pautada no dever ser do cidadão.
Por sua vez a política criminal tem por objeto o crime como valor, ou
“conjunto sistemático de princípios e regras através dos quais o Estado
promove a luta de prevenção e repressão das infrações penais.” É
definida muitas vezes como ponte entre a criminologia e o direito penal.
Segundo Nilo Batista:
“A política criminal pode ser também considerada com o conjunto
de princípios e recomendações destinados à reforma da legislação penal e
transformação dos órgãos encarregados de sua aplicação. Tais princípios
são obtidos através das constantes mudanças sociais, das análises dos
sistemas penais passados e aqueles ainda vigentes, com revelações
empíricas das instituições penais, corroborando os avanços e descobertas
da criminologia”.

Já a criminologia enxerga o crime como um fato social, observando


o fenômeno o crime, o criminoso, a vítima e o comportamento da
sociedade. Logo é uma ciência do ser e não do dever ser.

Para Antonio Garcia-Pablos de Molina: “a Criminologia é a ciência


empírica e interdisciplinar, que tem como objetos o crime, o delinquente,
a vítima e o controle social do comportamento delitivo, tratando-se de
uma ciência que estuda os fenômenos criminológicos em sua causa
explicativa e não lógico dedutiva, tratando-se a criminologia de uma
ciência autônoma”.

2.2 TEORIAS MACROSSOCIOLÓGICAS

Para aprofundarmos mais no universo da criminologia, é necessário


que conheçamos suas teorias.
As teorias macrossociológicas buscam encontrar na sociedade
razões e motivos da criminalidade.

a criminologia é pensada sobre a perspectiva macrossociológica,


que tem por objeto o estudo do fenômeno delitivo a partir da análise de
multifatores que conduzem à sociedade para a criminalidade e não de
uma abordagem focada no indivíduo ou grupo pequeno (Shecaria, 2004;
Calhau, 2013; Sumariva 2014).
As teorias macrossociológicas são dividas por duas visões. A
primeira chamada de teoria do consenso (de cunho funcionalista ou
integração) e dividem-se em: Escola de Chicago, teoria da associação
diferencial, teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente.

Penteado Filho diz: As teorias de consenso entendem que os


objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento
perfeito de suas instituições, com os indivíduos convivendo e
compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras de
convívio.

Logo as teorias consensuais defendem que toda sociedade é


composta por fatores em comum que se baseiam no consenso entre seus
integrantes.

A segunda é conhecida como teoria do conflito e se dividem em


teoria do etiquetamento ou rotulação (labelling approach) e teoria crítica
ou radical ou (marxista).

Por sua vez, nas teorias de conflito, “a coesão e a ordem na


sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e
sujeição de outros”. Nelas, ignora-se a “existência de acordos em torno de
valores de que depende o próprio estabelecimento da força”. (Shecaria,
2004: 134).

Por conseguinte, na teoria do conflito não existe um acordo pacífico


entre a sociedade conectando todos a um objetivo comum, e sim uma
divisão social e econômica divida entre dominantes e dominados,
fundamentados no pensamento de Karl Marx.

2.2.1 Teoria do Consenso: Escola de Chicago.

A escola de Chicago foi o berço da sociologia, criada em 1890 e


conhecida como a “sociologia da grande cidade”. Isso porque a cidade de
Chicago era a terceira maior cidade da época e cada vez mais
experimentava do aumento populacional devido à imigração de
estrangeiros que buscavam trabalho nos grandes polos industriais da
cidade.
A cidade cresceu exponencialmente o que desencadeou com o
passar do tempo problemas de ordem social, cultural e trabalhista.

Problemas que traduziam em acirramento de conflitos e potencializadores da


criminalidade. “A inexistência de mecanismo de controle social e cultural permite o
surgimento de um meio social desorganizado e criminógeno que se distribui
diferenciadamente pela cidade” (Shecaria, 2004: 114).

Essa escola foi fundamental para o estudo da criminalidade pois seu


objeto de estudo foram as grandes cidades e mais precisamente às áreas
de delinquência, como por exemplo bairros mais pobres e guetos onde
perceberam que nesses ambientes haviam uma degeneração física e
moral, seus habitantes viviam de modo imoral.

A escola utilizava os inquéritos sociais (social surveys) na


investigação da criminalidade de modo a fornecer o real índice de crimes
na cidade (SUMARIVA, 2014).

As principais teorias criminológicas que surgiram da escola de


Chicago foram: Teoria Ecológica, Teoria Espacial, Teoria das Janelas
Quebradas e Política de Tolerância Zero.

2.2.2 Teoria ecológica


A primeira teoria, chamada de teoria ecológica ou teoria da
desorganização social.
Esta teoria argumenta que a ordem social, estabilidade e integração
contribuem para a paz social e a conformidade com as leis, já a
desorganização e a má integração do indivíduo o conduzem à
criminalidade e delinquência.
Tem como principal obra The City: Suggestion for the Investigation
of Human Behavior in the City Environment, dos autores Robert Park e
Ernest Burguess.
“vê a cidade como um elemento motivador da criminalidade, pois para
ela convergem fatores que trazem em si elementos predisponentes à
incidência de atos violentos” (Santos, 2016: 59).

2.2.3 Teoria Espacial

Em 1940, a teoria da espacial tomou o lugar da teoria ecológica.


Essa teoria enfatizou nos estudos arquitetônicos e urbanísticos das cidades
e concluiu que a reestruturação física das cidades poderia reduzir a
criminalidade.

“por meio de políticas sociais específicas, focadas em regiões


urbanas com maiores índices criminais e mais graves problemas de
socialização” (Santos, 2011).

2.2.4 Teoria das janelas quebradas

Em 1982 surgiu a teoria das janelas quebradas, um estudo foi


realizado em 1969 da seguinte forma:
Para o experimento, foram utilizados dois locais, um bairro de
classe pobre (Bronx, Nova Iorque) e outro considerado de alto padrão
(Palo, Alto, Califórnia).
Em ambos, colocaram um veículo com a tampa do motor aberta.
Em pouco tempo, o veículo foi completamente depredado no Bronx por
vândalos, enquanto que em Palo Alto o veículo permaneceu intacto. Antes
que alguns concluíssem de forma limitada e precipitada que a
criminalidade estava vinculada apenas à classe social de cada região,
Zimbardo quebrou uma das janelas do veículo até então preservado que
havia estacionado em Palo Alto.
Com isso, poucas horas após a janela ter sido quebrada, o veículo
foi completamente destruído por pessoas que por ali passavam.

A partir desse experimento concluiu-se que há uma relação de


causa entre desleixo, desordem e impunidade pelo fato de as pessoas não
conseguirem enxergar mais um obstáculo de punição ao praticar um
delito.
Com isso a teoria das janelas quebradas dispôs a ideia de que a
tolerância de pequenos delitos podem estimular criminosos a cometerem
crimes cada vez violentos.
na visão de João Milanez da Cunha Lima e Luís Fernando da Cunha
Lima (2009, p.88), aponta:

[...] uma área se torna vulnerável ao crime quando os moradores se descuidam dos seus
padrões de controle social, quando deixam de tomar as providências devidas para eliminar
fatores adversos, quando se isolam em suas próprias casas, quando não se interessam pelo que
se passa à sua volta, evitando até os vizinhos. O ambiente de desleixo e abandono, por falta de
coesão social, dando a sensação de que as pessoas “não estão nem aí”, constitui claro indício
do afrouxamento do controle social, que não deixará de fomentar desordens, pequenas
infrações, arruaças e bebedeiras, em detrimento da qualidade de vida. Não tarda mudarem-se
dali as pessoas ordeiras, mais apegadas ao bairro, sendo substituídas por moradores mais
instáveis, que passam a habitá-lo em caráter provisório.

Também se uma janela de uma fábrica for quebrada e não imediatamente consertada, os
indivíduos que por ali passarem entenderão pelo desinteresse e inexistência de autoridade
responsável pela manutenção da ordem, culminando na decadência daquele local (KELLING;
WILSON, 1982).

Essa teoria inspirou a teoria da tolerância zero que argumenta que


a segurança pública deve punir de maneira severa inclusive os crimes de
menor potencial ofensivo, pois penas brandas incentivam crimes mais
graves.

Nessa toada, a existência de um policiamento comunitário também


fundamenta a teoria, uma vez que a presença física do agente policial na
comunidade traduziria meio apto a ensejar a redução do índice de
criminalidade, pois reduziria o nível de desordem naquele local (RUBIN,
2003).

2.2.5 Teoria da tolerância zero ou lei e ordem

Essa teoria jurídico-política buscou inibir de maneira ferrenha a


criminalidade inibindo o poder de discricionariedade (juízo de
conveniência e oportunidade) da autoridade pública, devendo ela reprimir
de maneira severa qualquer tipo contravenção independente da culpa do
infrator.
2.2.6 Teoria da associação diferencial

Essa teoria criada por Edwin Sutherland, sociólogo americano que


ao analisar perfis de criminosos, concluiu que o crime não está somente
ligado a pessoas menos favorecidas, e não é exclusividade delas.
O principal ponto dessa teoria está ligado aos crimes de colarinho
branco ou crimes ou crimes corporativos, cometidos por pessoas de status
social elevado.
Sutherland aponta então que a conduta criminosa não algo
anormal, falta de inteligência ou algum problema psicológico, e sim um
comportamento adquirido por meio do aprendizado.

Segundo Molina e Gomes a teoria da associação diferencial


de Edwin H. Sutherland é resumidamente descrita em nove proposições,
conforme descrita abaixo:
1) A conduta criminal se aprende
2) A conduta criminal se aprende em interação com outras
pessoas, mediante um processo de comunicação. Requer, pois, uma
aprendizagem ativa por parte do indivíduo. Não basta viver em um meio
criminógeno, nem manifestar, é evidente, determinados traços da
personalidade ou situações frequentemente associadas ao delito. Não
obstante, em referido processo participam ativamente, também, os
demais.
3) A parte decisiva do citado processo de aprendizagem
ocorre no seio das relações mais intimas do indivíduo com seus familiares
ou com pessoas do seu meio. A influência criminógena depende do grau
de intimidade do contato interpessoal.
4) A aprendizagem do comportamento criminal inclui
também a das técnicas de cometimento do delito, assim como a da
orientação específica das correspondentes motivações, impulsos, atitudes
e da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva.
5) A direção dos motivos e dos impulsos se aprende com as
definições mais variadas dos preceitos legais, favoráveis ou desfavoráveis
a eles. A resposta aos mandamentos legais não é uniforme dentro do
corpo social, razão pela qual o indivíduo acha-se em permanente contato
com outras pessoas que têm diversos pontos de vista quanto à
conveniência de acatá-los. Nas sociedades pluralistas, dito conflito de
valorações é inerente ao próprio sistema e constitui a base e o
fundamento da teoria sutherlaniana da associação diferencial.
6) Uma pessoa se converte em delinquente quando as
definições favoráveis à violação da lei superam as desfavoráveis, isto é,
quando por seus contatos diferenciais aprendeu mais modelos criminais
que modelos respeitosos ao Direito.
7) As associações e contatos diferenciais do indivíduo
podem ser distintas conforme a frequência, duração, prioridade e
intensidade dos mesmos. Contatos duradouros e frequentes, é lógico,
devem ter maior influência pedagógica, mais que outros fugazes ou
ocasionais, do mesmo modo que o impacto que exerce qualquer modelo
nos primeiros anos de vida do homem costuma ser mais significativo que o
que tem lugar em etapas posteriores; o modelo é tanto mais convincente
para o indivíduo quanto maior seja o prestígio que este atribui à pessoa ou
grupos cujas definições e exemplos aprende.
8) Precisamente porque o crime se aprende, isto é, não se
imita, o processo de aprendizagem do comportamento criminal mediante
contato diferencial do indivíduo com modelos delitivos e não delitivos
implica a aprendizagem de todos os mecanismos inerentes a qualquer
processo deste tipo.
9) Embora a conduta delitiva seja uma expressão de
necessidades e de valores gerais, não pode ser explicada como
concretização deles, já que também a conduta adequada ao Direito
corresponde a idênticas necessidades e valores.

2.2.7 Teoria da Anomia ou estrutural funcionalista

Teorizada por Merton (1938). Segundo o autor, a


motivação para prática delitiva está ligada ao lugar onde o criminoso
almeja chegar econômica ou socialmente e acredita que só poderia
alcançar através da delinquência.
É um fato social onde falta coesão e ordem, especialmente
no tocante a normas e valores. Dessa maneira, a teoria da anomia dispõe
a perda de efetividade ou desmoronamento das normas e valores vigentes
da sociedade.
Assim, conforme exposto por Molina (2008, p. 309-310), os
postulados de maior transcendência criminológica dessa vertente
sociológica são: a normalidade e a funcionalidade do crime.
2.2.8 Teoria da subcultura delinquente

Desenvolvida por Wolfang e Ferracuti em 1967 e


consagrada na literatura com o livro delinquent boys escrito por Albert K.
Cohen.
Essa teoria defende a existência de uma subcultura
delinquente onde pessoas para se sentirem pertencidos a um grupo se
comportam iguais aos integrantes, mesmo se esses comportamentos
forem ilegais.

2.2.9 Teoria do conflito: Labelling approach ou etiquetamento.

A teoria do etiquetamento, interacionismo simbólico ou rotulação


teve origem por volta da década de 1960, por seus principais idealizadores
Erving Goffman e Howard Becker e concluem uma rotulação do criminoso
pelas instâncias de controle social formais (Polícia, Ministério público e
Judiciário), gerando um menosprezo do criminoso pela população de
maneira discriminatória. Isto faz com o interacionismo rejeite o
determinismo e os modelos estruturais e estáticos na abordagem do
comportamento, bem como no que tange a compreensão da própria
identidade individual (DIAS; ANDRADE, 1984).

Seu principal objeto de estudo foi o controle social. Também inovou


trazendo a ideia de que o mais importante não era estudar os motivos da
delinquência e que na realidade as pessoas se tornam aquilo que as outras
veem nela.

“A tese central dessa corrente pode ser definida, em


termos muito gerais, pela afirmação de que cada um de nós
se torna aquilo que os outros veem em nós e, de acordo com
essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a
pessoa rotulada como delinquente assume, finalmente, o
papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o
mesmo. Todo o aparato do sistema penal está preparado para
essa rotulação e para o reforço desses papéis”. ZAFFARONI.

Essa teoria serviu de ponte do paradigma etiológico-determinista


para a criminologia moderna crítica.

2.2.10 Teoria crítica, radical.


Essa teoria também se engloba no conjunto de teorias do
conflito. Ela estuda a criminalidade como criminalização e se pauta
principalmente nos conflitos socioeconômicos, idealizados por Karl marx.
Para essa corrente, a criminalidade nasce dos conflitos
socioeconômicos, afirmando que a justiça é classista e seletiva.
Acredita que a criminalidade só irá se esgotar quando não
existir mais diferença entre as classes sociais.

3. Realidade Brasileira

4. Modelos preventivos

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