Aula 11 - Linhas de Transmissão
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CAPÍTULO 11
Os sistemas de transmissão proporcionam à sociedade Os assuntos aqui tratados estão direcionados para
um benefício reconhecido por todos: o transporte de linhas de transmissão de
energia elétrica entre os centros produtores e os centros
consumidores. potência. O sistema de transmissão de energia elétrica
compreende toda rede que interliga as usinas geradoras
Formas comuns de linhas de transmissão são: às subestações da rede de distribuição.
As linhas de transmissão podem variar em comprimento, A rede de transmissão liga as grandes usinas de geração
de centímetros a milhares de quilômetros. As linhas com às áreas de grande consumo. Em geral apenas poucos
centímetros de comprimento são usadas como parte consumidores com alto consumo de energia elétrica são
integrante de circuitos de alta frequência, enquanto conectados às redes de transmissão onde predomina a
que as de milhares de quilômetros para o transporte de estrutura de linhas aéreas.
grandes blocos de energia elétrica.
A segurança é um aspecto fundamental para as redes
As frequências envolvidas podem ser tão baixas quanto de transmissão. Qualquer falta neste nível pode levar a
50 Hz ou 60 Hz para linhas de transporte de grandes descontinuidade de suprimento para um grande número
blocos de energia ou tão altas como dezenas de GHz para de consumidores. A energia elétrica é permanentemente
circuitos elétricos utilizados na recepção e amplificação monitorada e gerenciada por um centro de controle. O
de ondas de rádio. nível de tensão depende do país, mas normalmente o
nível de tensão estabelecido está entre 220 kV e 765 kV.
Em frequências muito altas (VHF), o sistema de
transmissão utilizado pode ser o guias de ondas. Estes A Rede de Subtransmissão
podem estar na forma de tubos metálicos retangulares
ou circulares, com a energia elétrica sendo transmitida A rede de subtransmissão recebe energia da rede de
como uma onda caminhando no interior do tubo. Guias transmissão com objetivo de transportar energia elétrica
de ondas são linhas de transmissão na forma de apenas a pequenas cidades ou importantes consumidores
um condutor. industriais. O nível de tensão está entre 35 kV e 160 kV.
A teoria básica de linhas de transmissão pode ser aplicada Em geral, o arranjo das redes de subtransmissão é em
a qualquer das modalidades de linhas mencionadas. anel para aumentar a segurança do sistema. A estrutura
Entretanto, cada tipo de linha possui propriedades dessas redes é em geral em linhas aéreas, por vezes cabos
diferentes que dependem, por exemplo, de: subterrâneos próximos a centros urbanos fazem parte da
rede.
• Frequência;
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A permissão para novas linhas aéreas está cada vez consumidores de energia. Hoje o país está quase que
mais demorada devido ao grande número de estudos de totalmente interligado de norte a sul como pode ser visto
impacto ambiental e oposição social. Como resultado, é na Figura 1.1.
cada vez mais difícil e caro para as redes de subtransmissão
alcançar áreas de alta densidade populacional. Grande parte da região norte e uma parcela reduzida
da região centro-oeste, além de algumas localidades
Os sistemas de proteção são do mesmo tipo daqueles esparsas pelo território brasileiro, ainda não fazem
usados para as redes de transmissão e o controle é parte do sistema interligado, sendo o suprimento de
regional. energia elétrica efetuado, quando existente, por meio de
pequenos sistemas elétricos isolados.
A Transmissão de Energia Elétrica no Brasil
Nesses casos, a produção de eletricidade é normalmente
As linhas de transmissão no Brasil costumam ser extensas, efetuada por meio de unidades geradoras de pequeno
porque as grandes usinas hidrelétricas geralmente estão porte, utilizando frequentemente motores diesel como
situadas a distâncias consideráveis dos centros equipamento motriz.
Para atender às políticas externa e energética, o Brasil O SIN permite que as diferentes regiões permutem energia
está interligado aos países vizinhos como Venezuela (para entre si, quando uma delas apresenta queda no nível dos
fornecimento a Manaus e Boa Vista), Argentina, Uruguai reservatórios. Como o regime de chuvas é diferente nas
e Paraguai. regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, os grandes troncos
(linhas de transmissão da mais alta tensão: 500 kV ou 750
O Sistema Interligado Nacional é responsável por mais de kV) possibilitam que os pontos com produção insuficiente
95% do fornecimento de energia sejam abastecidos por centros de geração em
situação favorável.
nacional. Sua operação é coordenada e controlada pelo
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Vantagens dos sistemas interligados:
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Sua colocação nas estruturas, com relação aos cabos Tratando-se de uma linha de transmissão ideal, a
condutores, é fundamental no grau de proteção oferecido resistência elétrica dos condutores é considerada
à linha, e merece ser cuidadosamente estudada. nula, como também o dielétrico entre os condutores
é considerado perfeito, de forma que não há perdas de
Teoria da Transmissão da Energia Elétrica energia a considerar.
A expressão linha de transmissão se aplica a todos os Do eletromagnetismo, temos que, entre dois condutores
elementos de circuitos que se destinam ao transporte separados por dielétricos, podemos definir uma
de energia, independente da quantidade de energia capacitância e uma indutância.
transportada. A mesma teoria é aplicável, feitas
as necessárias ressalvas, independentemente do Consideremos ainda que junto ao receptor haja um
comprimento físico dessas linhas. dissipador de energia, representado pela resistência R2.
Um circuito equivalente está representado na Figura 3.1.
Linha de Transmissão Ideal
O Fenômeno da Energização da Linha Em um instante de tempo imediatamente anterior ao
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fechamento da chave S, os terminais da fonte estão sob medida em seu receptor. A corrente fornecida pela fonte,
uma diferença de potencial U. No instante em que a chave uma vez atingido o valor da corrente de carga, se mantém
for fechada entre os terminais 1 e 1’, aparecerá a mesma constante.
diferença de potencial U.
Cargas elétricas em movimento dão origem a campos
Devido aos elementos indutivos e capacitivos ao longo magnéticos e elétricos. Portanto, ao se energizar uma
da linha, decorre um tempo finito entre o instante em linha, ao longo da mesma irão se estabelecendo,
que se aplica uma tensão ao transmissor de uma linha progressivamente, campos elétricos e campos magnéticos,
de transmissão e o instante em que esta tensão pode ser do transmissor ao receptor. Dizemos que esses campos se
propagam do transmissor ao receptor.
A velocidade de propagação para uma linha de Para uma linha a dois condutores, no ar ou no vácuo,
comprimento l (km) é definida por: desprezando o efeito do fluxo magnético interno do
condutor e da presença do solo:
sendo T o tempo necessário para que a tensão no receptor Essa é a velocidade de propagação da luz no vácuo. Nas
atinja o valor U. A impedância da entrada da linha é linhas reais, em que o fluxo interno dos condutores não
definida como: é desprezível, assim como o meio em que a linha se
encontra, v é um pouco menor.
uma grandeza característica denominada impedância energia armazenada no campo magnético. Por isso é o
natural da linha ou impedância de surtos da linha. campo elétrico que recebe a energia excedente, que se
manifesta na forma de uma elevação da tensão e que se
Com isso, temos: irá propagar ao longo da linha.
b) R2 < Z0
Temos então:
Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável
será maior. Junto ao terminal da linha haverá um déficit de
Uma vez que na terminação da linha não há campos energia que não poderá ser suprimido de imediato pela
magnéticos e elétricos a armazenar energia, toda a energia fonte que alimenta o sistema. O novo estado de equilíbrio
fornecida pela fonte será dissipada na resistência R2. Logo somente poderá ser atingido se essa deficiência for suprida
a corrente I0 continuará com a mesma intensidade inicial, pela própria linha, a custas da energia armazenada por ela
como se a linha fosse de durante o processo de energização.
comprimento infinito, independente do valor de l. Uma vez que há um aumento no valor da corrente, o campo
Uma linha assim terminada é denominada linha de magnético não somente não pode ceder energia, como
comprimento infinito. também deve armazenar maior quantidade da mesma, o
que faz à custa do campo elétrico, que a cede. Haverá,
Quando o valor de R2 for diferente de Z0 o equilíbrio da portanto, uma redução na tensão junto ao receptor, que
linha será alterado, devemos considerar, portanto, dois caminha progressivamente em direção à fonte.
casos:
Outro caso extremo de operação da linha seria quando R2
a) R2 > Z0 = 0, ou seja, a linha de transmissão está curto-circuitada.
Neste caso observamos que:
Neste caso a corrente através de R2 e a potência dissipável
será menor. Junto ao terminal da linha haverá um excesso I. A tensão junto ao receptor somente pode
de energia. Um novo estado de equilíbrio deverá ocorrer, ser nula, propagando-se esse valor do receptor ao
pois esse excesso de energia não poderá ser destruído. transmissor;
II. Há um aumento no valor da corrente junto ao
Uma redução da corrente da linha leva a uma redução da receptor que se propaga para o transmissor.
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III. Numa linha em curto-circuito a corrente crescerá, A condição com carga é o regime normal de operação de
no receptor, ao dobro do seu valor. linhas. Para o caso onde a impedância da carga é igual a
impedância característica da linha, o fator de potência é
Linha de Transmissão Real constante e o defasamento entre a tensão e a corrente
é sempre igual. A linha não necessita de energia reativa
Consideremos uma linha real, incluindo em seu circuito externa para manutenção de seus campos elétricos
equivalente os elementos representativos das perdas nos e magnéticos. A única energia absorvida pela linha é
condutores r e das perdas nos dielétricos g, como mostra energia ativa e destina-se a cobrir as perdas por efeito
a Figura 3.2. Joule e dispersão.
A função de propagação da onda é fornecida pela equação: O conceito de potência natural (Surge Impedance
Loading – SIL) vem recebendo cada vez mais importância
na técnica de transmissão de energia. Sendo uma
Nas linhas de transmissão de energia elétrica em regime potencia ativa, foi adotada na prática como unidade
permanente, nas quais a frequência é constante, a função base de potência, exprimindo-se os demais valores das
de propagação será constante. potências transmitidas através de uma linha, em função
de sua potência natural. Tornou-se preponderante no
Sua parte real, α, é responsável pelo amortecimento da dimensionamento de linhas.
onda e recebe o nome de função de atenuação, tendo
como unidade o néper/km. Dela dependem os módulos Sendo independente do comprimento da linha, devido ao
das tensões ou correntes. Seu valor é diretamente fato de Z0 depender essencialmente da distância entre os
relacionado com as perdas de energia da linha. condutores e de seus raios, a potência natural das linhas
tornou-se fator importante na escolha das tensões de
A parte imaginária, β, recebe o nome de função de fase, transmissão em primeira aproximação e como orientação
tendo como unidade o radianos/km, pois indica a forma inicial dos estudos técnicos e econômicos para sua fixação.
como as fases da tensão e da corrente variam ao longo
da linha. Apesar de ser a condição mais vantajosa, a operação
constante de uma linha com potência natural, na
A impedância característica da linha de transmissão é prática, ocorre só em condições especiais, já que a carga
dada por: alimentada não é constante, variando continuamente de
acordo com a demanda do sistema.
Se fizermos r = g =0, obteremos exatamente a mesma Nos cálculos de linhas de transmissão procura-se obter
expressão da impedância natural da linha Z0. Nas linhas valores de tensões, correntes e potências com erros
reais, como r e g são, em geral, relativamente pequenos inferiores a 0,5%. As linhas de transmissão devem ser
se comparados com L e C, respectivamente, seu valor representáveis através de seus circuitos equivalentes ou
numérico não difere muito do valor de Z0. modelos matemáticos da forma mais simples e racional
possível, compatível com o grau de precisão almejado.
Análise das Linhas em Regime Permanente
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A partir de agora, a não ser que venha expressamente Linhas Médias (entre 80 km e 250 km)
especificado de modo diferente, trataremos
exclusivamente de linhas aéreas trifásicas. Estas são O circuito equivalente que buscamos para linhas médias
suficientemente equilibradas para que possam ser deverá ser simples, principalmente tendo em vista
representadas através de circuitos monofásicos. que deverá representar as linhas em circuitos bastante
complexos dos sistemas de energia elétrica.
De um modo geral, no cálculo elétrico das linhas de
transmissão objetivamos: Deparamos com dois circuitos conhecidos dos cursos de
circuitos elétricos, o circuito T representado na Figura 4.2
• Conhecidas ou especificadas tensões e correntes e o circuito Pi representado na Figura 4.3.
em um ponto da linha, determinar essas mesmas
grandezas em outro ponto da linha;
• Conhecidas ou especificadas potências ativas
e reativas em um ponto da linha, determinar essas
grandezas em outro ponto da linha;
• A determinação de grandezas de desempenho:
regulação, rendimentos, ângulos de potência, etc.;
• Estudo de compensação para correção de
desempenho; Figura 4.2 – Circuito T de uma linha de transmissão
As equações para o circuito T são:
A regulação de tensão de uma linha, em um determinado
regime de carga, é a variação percentual entre os módulos
das tensões entre transmissor e receptor, com relação a
esta última:
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Figura 4.4 – Diferenças entre o circuito T e Pi para efeito de inclusão das linhas em sistemas de energia elétrica
Linhas Longas (maiores que 250 km) Essas equações possuem, cada qual, duas variáveis
independentes e duas variáveis dependentes relacionadas
São aquelas em cujo cálculo os processos das linhas entre si pelos parâmetros dos respectivos circuitos, aos
curtas e médias são considerados insuficientemente quais as seguintes restrições são impostas:
precisos para os fins desejados.
• Devem possuir apenas uma entrada e uma saída,
O circuito Pi é adequado para a representação das representada por dois pares de terminais, podendo um
linhas longas, em regime permanente, desde que os deles ser comum a ambos;
valores de sejam adequadamente corrigidos, • Devem ser passivos, o que exclui a presença de
fontes de tensão;
para retratar a condição de parâmetros distribuídos: • Devem ser lineares, a fim de que a sua saída
(resposta) tenha a mesma forma que o estímulo aplicado
Linhas de Transmissão como Quadripolos à entrada, exigindo pois, impedâncias e admitância de
valores constantes independentes do valor da corrente e
Dadas as suas características próprias, os circuitos que da tensão a elas aplicados.
representam as linhas podem ser classificados como • Devem ser bilaterais, significando que sua
Quadripolos, que pode ser definido por seis pares de resposta a um estímulo aplicado a um par de terminais
equações lineares, todas elas inter-relacionadas entre si: é a mesma que a um estímulo aplicado ao outro. Essa
exigência exclui os retificadores de corrente.
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ou seja,
Figura 4.9 –
Variação da
tensão no
receptor de uma
linha com tensão
constante no
transmissor
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Considerando uma linha sem perdas a potência ativa rendimento de uma linha é dado por:
transmitida ao receptor é dada por:
A máxima transferência de potência ativa ocorre quando Para a análise de determinados fenômenos relacionados
sen(δ) é igual a 1. com as linhas de transmissão, nos quais o desequilíbrio
elétrico e magnético existente ao longo das linhas é fator
Perdas de Potência e Rendimento importante, surge a necessidade da representação das
linhas por seus modelos matemáticos trifásicos, ou seja,
As perdas de potência de uma linha de transmissão são sua configuração trifásica deve ser evidenciada.
dadas pela diferença entre a potência ativa P1, absorvida
pela linha no transmissor, e a potência ativa P2, por ela Os modelos anteriormente desenvolvidos pressupunham
entregue no receptor: equilíbrio eletromagnético tal que as três fases de um
circuito podiam ser representadas por um circuito unipolar.
As perdas de potência numa linha de transmissão podem Os mesmos modelos, desde que convenientemente
ser consideradas como sendo compostas de: adaptados, podem ser usados nas representações
trifásicas. Os parâmetros elétricos e magnéticos das linhas
• Perdas por efeito Joule nos condutores de um sistema de vários condutores podem ser definidos
(representam a maior parcela das perdas nas linhas); através de um par de matrizes de ordem 3 por 3.
• Perdas no dielétrico entre condutores;
• Perdas causadas por correntes de Foucault e por Em se tratando de linhas longas, não é prático procurar
histerese magnética na alma de aço de condutores e em determinar as matrizes para as constantes generalizadas
peças metálicas próximas às linhas; em virtude das dificuldades matemáticas que serão
• Perdas por circulação nos cabos para-raios. O encontradas. É preferível usar como modelo a linha
artificial trifásica.
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