Impacto Da Afasia Na Vida Do Afásico e Sua Família
Impacto Da Afasia Na Vida Do Afásico e Sua Família
Impacto Da Afasia Na Vida Do Afásico e Sua Família
O
IMPACTO
DA
AFASIA
NA
VIDA
DO
AFÁSICO
E
DA
SUA
FAMÍLIA
Nirvana
Ferraz
Santos
Sampaio*
(UESB)
Iva
Ribeiro
Cota**
(UESB)
Lucélia
Teixeira
Santos
Santana***
(UESB)
RESUMO
O
objetivo
deste
trabalho
é
apresentar
alguns
desafios
de
sujeitos
com
afasia
e
dos
seus
familiares,
no
decorrer
de
momentos
de
escuta
e
acolhimento
desses
sujeitos.
PALAVRAS-‐CHAVE:
Linguagem.
Neurolinguística.
Afasia.
INTRODUÇÃO
Pode-‐se
considerar
que
a
afasia
é
uma
das
limitações
mais
impactantes
que
uma
lesão
cerebral
pode
provocar.
Entretanto,
neste
trabalho,
além
das
*
Professora
Doutora
em
Linguística
pela
UNICAMP,
lotada
no
Departamento
de
Estudos
Linguísticos
e
Literários
da
UESB.
Líder
do
Grupo
de
Pesquisas
e
Estudos
em
Neurolinguística
(GPEN),
cadastrado
no
CNPq/UESB.
Coordenadora
da
pesquisa
com
financiamento
da
UESB
e
do
CNPq/471384/2010-‐0.
E-‐mail:
[email protected].
**
Mestre
em
Linguística
pelo
Programa
de
Pós-‐Graduação
Strictu
Sensu
em
Linguística
da
Universidade
Estadual
do
Sudoeste
da
Bahia
–
UESB.
Participa
do
Grupo
de
Pesquisas
e
Estudos
em
Neurolinguística
(GPEN),
cadastrado
no
CNPq/UESB.
E-‐mail:
[email protected].
***
Graduada
em
Letras
vernáculas
pela
Universidade
Estadual
do
Sudoeste
da
Bahia
(UESB)
e
atualmente
Mestranda
do
Programa
de
Pós-‐Graduação
Strictu
Sensu
em
Linguística
da
Universidade
Estadual
do
Sudoeste
da
Bahia
–
UESB.
Bolsista
da
Fundação
de
Amparo
à
Pesquisa
do
Estado
da
Bahia
–
FAPESB
e
integrante
do
Grupo
de
Pesquisas
e
Estudos
em
Neurolinguística
(GPEN),
cadastrado
no
CNPq/UESB.
E-‐mail:
[email protected].
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ISSN: 2175-5493
X COLÓQUIO DO MUSEU PEDAGÓGICO
28 a 30 de agosto de 2013
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ISSN: 2175-5493
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627 Essa
negação
é
do
ponto
de
vista
psicológico,
diferentemente
da
natureza
da
anosognosia
(não
reconhecimento
ou
consciência
da
própria
doença)
que,
na
literatura
médica,
está
relacionada
as
afasias
posteriores.
628
Com
Freud
(1930),
entretanto,
verificamos
que,
em
essência,
os
homens
não
são
criaturas
gentis
que
desejam
ser
amadas
e
que,
no
máximo,
podem
defender-‐se
quando
atacadas;
pelo
contrário,
são
criaturas
entre
cujos
dotes
instintivos
deve-‐se
levar
em
conta
uma
poderosa
quota
de
agressividade.
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ISSN: 2175-5493
X COLÓQUIO DO MUSEU PEDAGÓGICO
28 a 30 de agosto de 2013
Diante
dessas
questões,
encontramos
dizeres
como:
“Não
aguento
mais
ficar
em
casa,
meus
amigos
todos
trabalham
e
a
grande
maioria
é
casada”
(RA,
28
anos,
participante
do
ECOA,
vítima
de
um
Traumatismo
Cranioencefálico);
“Não
vou
trabalhar
em
uma
função
que
não
é
a
minha”
(GB,
43
anos,
participante
do
ECOA,
vítima
de
um
Traumatismo
Cranioencefálico);
“Se
eu
não
sei
nada,
eu
não
preciso
fazer
nada”
(CA,
participante
do
ECOA,
62,
vítima
de
Acidente
Vascular
Cerebral/AVC).
Segundo
Sampaio
(2012),
ao
se
defrontar
com
a
afasia,
o
afásico
pode
se
sentir
prisioneiro
de
si
mesmo,
ou
seja,
sabe
o
que
quer
dizer,
mas
não
conseguir
colocar
em
palavras,
como,
por
exemplo,
“aqui,
paqui
o
–
apontando
para
a
cabeça
e
para
a
boca”,
diz
OJ,
um
dos
sujeitos
que
participam
do
ECOA,
em
uma
sessão,
e,
em
outra
sessão,
em
um
momento
de
frustração
e
instabilidade,
desabafa:
"Oh
minha
Nossa
Senhora,
eu
não
estou
podendo
falar!”.
RG,
35
anos,
apontando
para
a
cabeça,
nos
relata
o
distanciamento
entre
o
antes
e
o
depois
de
um
AVC,
“Mas
não
sou
eu,
não.
É
ela,
a
cabeça
que
é
doida”.
Acontece
também
com
esses
sujeitos
o
luto
que,
de
modo
geral,
é
a
reação
à
perda
de
um
ente
querido,
à
perda
de
alguma
abstração
que
pode
ocupar
esse
lugar
como
um
ideal,
ou,
no
caso
da
afasia,
a
perda
ou
interrupção
das
funções
linguísticas.
O
luto
afasta
a
pessoa
de
suas
atitudes
normais
para
com
a
vida,
esse
afastamento
não
é
patológico,
é
normalmente
superado
após
certo
tempo
e
é
inútil
e
prejudicial
qualquer
interferência
em
relação
a
ele.
Diferentemente
dos
traços
mentais
da
melancolia
que
são
um
desânimo
profundamente
penoso,
a
cessação
de
interesse
pelo
mundo
externo,
a
perda
da
capacidade
de
amar,
a
inibição
de
toda
e
qualquer
atividade,
e
uma
diminuição
dos
sentimentos
de
autoestima
a
ponto
de
encontrar
expressão
em
auto-‐recriminação
e
auto-‐envilecimento
(apatia
e
perda
de
vigor),
culminando
em
auto-‐punição.
Nesse
sentido,
o
luto
seria
um
estado
relevante
visto
que
se
trata
de
uma
fase
de
adaptação
que
acontece
após
uma
perda.
Verifica-‐se
que
o
luto
diminui
na
medida
em
que
há
progressos
na
(re)inserção
social.
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Ele
deu
outro
exemplo
de
vida
né?
Que
foi
a
superação
e
aprendeu
a
viver
com
as
sequelas
que
ele
tem
e
eu
nunca
vi
o
meu
pai
reclamar,
eu
nunca
vi
o
meu
pai
achar
ruim
das
coisas,
eu
nunca
vi
o
meu
pai
desanimar.
Então,
para
mim,
foi
muito
mais
um
exemplo
de
vida
do
que
qualquer
outra
coisa
que
eu
pudesse
vivenciar,
né?
(MHAL
–
filha
de
SL629)
CONCLUSÕES
Afirmamos
que
os
problemas
de
linguagem
como
a
afasia
podem
ser
estudados
considerando
a
relação
língua(gem),
cultura
e
sociedade.
No
decorrer
deste
trabalho,
a
partir
da
prática
(clínica)
com
a
linguagem
no
CCA
e
no
ECOA,
os
sujeitos
afásicos
são
incentivados
a
atuar,
no
curso
de
suas
vidas,
através
do
exercício
-‐
reflexivo
e
intersubjetivo
-‐
com
a
linguagem,
a
memória,
a
percepção,
o
corpo,
tal
como
se
estabelece
na
sociedade
em
que
se
inserem.
Dessa
forma,
ratificamos
a
importância
do
trabalho
em
grupo
e
das
práticas
significativas
no
uso
da
linguagem
para
o
enfrentamento
do
impacto
da
afasia
por
parte
do
sujeito
afásico
e
seus
familiares.
REFERÊNCIAS
BOISCLAIR-‐PAPILLON,
R.
A
família
do
afásico.In:
PONZIO,
J.
et
al.
O
Afásico,
convivendo
com
a
lesão
cerebral.
São
Paulo
,
Maltese,
1995.
FREUD,
S.
(1930
[1929])
O
mal-‐estar
na
civilização.
Edição
Standard.
Brasileira
das
Obras
Completas
de
Sigmund
Freud,
vol.
XXI.
Rio
de
Janeiro:
Imago,
1996.
LÉTORNEAU,
P.Y.
-‐
Conseqüências
psicológicas
da
Afasia.
In:
PONZIO,
J.
et
al.
Afásico,
convivendo
com
a
lesão
cerebral.
São
Paulo
,
Maltese,
1995.
629Com
pesar
notificamos
que,
em
julho
de
2006,
SL
passou
para
uma
outra
fase
de
vida.
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