Capítulo Escala de Exposição À Violência Doméstica (Eevd) 28.12.2020
Capítulo Escala de Exposição À Violência Doméstica (Eevd) 28.12.2020
Capítulo Escala de Exposição À Violência Doméstica (Eevd) 28.12.2020
Resumo:
O objetivo do presente estudo foi apresentar evidências de validade de
conteúdo e de critério da Escala de Exposição à Violência Doméstica
(EEVD), destinada a crianças e adolescentes. A EEVD pr o p o s t a c o m o
entrevista estruturada, pode ser utilizada por psicólogos, e também por outros
profissionais de nível superior, de equipes muldisciplinares de saúde,
educação, assistência social ou jurídica, que tenham conhecimento, experiência
e capacitação na área da violência doméstica contra crianças e adolescents .A
escala é uma medida de autorrelato usada para avaliar que avalia um
continuum de experiências de exposição à violência conjugal (violência
testemunhal) e os múltiplos fatores relacionados. O instrumento é composto
pelas subescalas: violência conjugal (violência testemunhal); gravidade da
exposição à violência conjugal; exposição à violência na comunidade;
envolvimento da criança nas situações de violência conjugal; fatores de risco
para a exposição da violência testemunhal; outros tipos de vitimização. Para
a validação de conteúdo foram realizadas: tradução, retrotradução,
equivalência semântica, análise do instrumento por profissionais da área e
avaliação por amostra da população alvo. Já para a validade de critério, o
instrumento foi aplicado a 454 crianças e adolescentes, do estado do Rio de
Janeiro e de São Paulo, de ambos os sexos, na faixa etária de 10 a 16 anos,
divididos em dois grupos clínico (vítimas de violência doméstica) e controle
(sem suspeitas de vitimização). Foram feitos estudos estatísticos dos
resultados entre os dois grupos, e observou-se que em todas as subescalas
e no total de pontos o grupo clínico apresentou uma média maior e também
uma maior variação, que o controle, Os resultados apontam para a
viabilidade da utilização do instrumento no contexto brasileiro e boa
adequação aos dois critérios de validade. São apresentadas as orientações
de aplicação, avaliação e interpretação do instrumento para os profissionais
que trabalham com o fenômeno da violência doméstica e com crianças e
adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade. A escala pode ser
empregada em projetos de prevenção e intervenção em junto acrianças e
adolescentes vitimas de violência testemunhal.
Abstract:
The aim of this study was to seek evidence of content and criterion validity from
the Domestic Violence Exposure Scale (DVES), aimed at children and
adolescents, The DEVES proposed as a structured interview, can be used by
psychologists, and also by other professionals with higher education, from
multidisciplinary teams in health, education, social or legal assistance, who
have knowledge, experience and training in the area of domestic violence
against children and adolescents. The scale is a self-report measure used to
evaluate a continuum of experiences of exposure to conjugal violence
(testimonial violence) and the multiple related factors. The instrument is
composed by the subscales: conjugal violence (testimonial violence); severity of
exposure to domestic violence; exposure to violence in the community; child
involvement in situations of conjugal violence; risk factors for exposure to
testimonial violence; other types of victimization. For content validation, were
performed: translation, back-translation, semantic equivalence, analysis of the
instrument by professionals in the field and evaluation by sample of the target
population were performed. For criterion validity, the instrument was applied to
454 children and adolescents, from the states of Rio de Janeiro and São Paulo,
of both sexes, aged 10 to 16 years, divided into two groups: clinical (victims of
violence) and control (without suspicion of victimization). Statistical studies of
the results were made between the two groups, and it was observed that in all
subscales and in the total of points, the clinical group had a higher mean and
also a greater variation, than the control, The results point to the feasibility of
using the instrument in the Brazilian context and good adaptation to the two
validity criteria. Guidelines for application, evaluation and interpretation of the
instrument are presented for professionals who work with the phenomenon of
domestic violence and with children and adolescents at risk and vulnerable. The
scale can be used in prevention and intervention projects for children and
adolescents who are victims of testimonial violence.
Keywords: domestic violence; children and adolescents; psychological
assessment.
Introdução
O fenômeno da violência, em sua complexidade e multicausalidade, tem
atingido, direta e indiretamente, crianças e adolescentes, principalmente no
ambiente doméstico. De acordo com Patias, Bossi e Dell'Aglio (2014), a
violência intrafamiliar de pais contra seus filhos pode se manifestar de forma
direta, por meio da violência física, psicológica, sexual ou negligência, ou de
maneira indireta, pela violência conjugal testemunhada pelos filhos. Edleson et
al (2007) afirmam que os estudos sobre a violência testemunhal adotam
diferentes definições, sendo muitas parciais e/ou imprecisas. Uma das mais
utilizadas é a citada por Jouriles, McDonald, Norwood e Ezell (2001) que
consideram a violência testemunhal como toda violência que ocorre entre os
parceiros adultos no contexto de um relacionamento heterossexual íntimo,
legalmente casados ou não. Segundo os autores, a criança exposta à violência
conjugal é aquela que viu, ouviu um incidente de agressão à mãe, viu o seu
resultado ou vivenciou o seu efeito quando interagindo com seus pais.
Apesar de se mostrar uma definição e caracterização bastante amplas
do fenômeno, em função das atuais mudanças nas configurações familiares, e
da possibilidade da violência ser cometida também pela mulher contra seu
companheiro (Patias, Bossi, & Dell'Aglio, 2014), considera-se mais adequado
adotar a seguinte conceituação para a violência conjugal testemunhada:
toda violência que ocorre entre os parceiros adultos no
contexto de um relacionamento íntimo, legalmente
casados ou não. A criança não precisa observar a
violência para ser afetada por ela. A criança exposta à
violência testemunhal é aquela que viu, ouviu um
incidente de agressão a um dos cônjuges, viu o seu
resultado ou vivenciou o seu efeito na interação com seus
pais ou responsáveis (Pinto Junior e Tardivo, 2017).
Método
O presente estudo comparou crianças e adolescentes vítimas de
violência doméstica com aqueles sem suspeita de vitimização, controlando as
variáveis sexo, idade e condição socioeconômica. Apesar dos controles
tomados, trata-se de um estudo correlacional, frequente em pesquisas que
buscam compreender o fenômeno da violência.
Participantes
A amostra foi composta por 454 participantes com idades entre 09 e 16
anos, dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Do total, 251 (55,3%)
eram do sexo feminino e 203 (44,7%) do sexo masculino, distribuídos em dois
grupos: controle e clínico, representando, respetivamente, 55,3% e 44,7% da
amostra. Este último foi composto por vítimas de violência sexual, física ou
ambas, e o primeiro, por sujeitos sem suspeita de vitimização.
Instrumento
Foi utilizada a Escala de Exposição à Violência Doméstica (EEVD) (Pinto
Juniuor e Tardivo, 2017) adapração da Children’s Exposure to Domestic
Violence Scale - CEDVS (Edleson, Johnson & Shin, 2007), . Trata-se de
instrumento de autorrelato usado para medir o grau de exposição à violência
conjugal e os múltiplos fatores relacionados. A referida escala, originalmente, é
composta por 42 questões distribuídas em seis subescalas que medem: a
exposição à violência conjugal (violência testemunhal); a gravidade da
exposição; a exposição à violência na comunidade; o envolvimento da criança
nas situações de violência conjugal; os fatores de risco para a exposição da
violência testemunhal; outros tipos de vitimização.
Cada questão é respondida utilizando uma escala de quatro pontos do
tipo “Likert”: "Nunca", "Às vezes", "Muitas vezes", e "Quase sempre”, sendo
que a maior pontuação indica mais probabilidade de exposição à violência,
envolvimento, riscos ou vivência de outros tipos de vitimizações. Além das 42
questões, o instrumento comtempla nove perguntas para coletar informações
demográficas, incluindo gênero, idade, raça e etnia, situação de vida atual,
composição familiar, e finaliza com uma pergunta sobre passatempos favoritos
da criança/adolescente.
Procedimentos
Para avaliar a validade de conteúdo, inicialmente foi realizada a tradução
do instrumento original do inglês para o português por um profissional
graduado em letras, com especialização em inglês e com experiência na
temática da violência doméstica. Posteriormente, o instrumento foi novamente
traduzido para o inglês (back translation) por outro profissional com as mesmas
qualificações.
A seguir, foi realizada uma revisão técnica e de equivalência semântica
por outros dois profissionais, de forma independente, com as mesmas
qualificações dos anteriores. A partir das observações desses dois profissionais
elaborou-se uma versão preliminar. Essa versão preliminar foi, então,
encaminhada para três profissionais (juízes) que trabalham na área da
violência doméstica e avaliação psicológica, para analisar a validade de
conteúdo. Com as sugestões dos juízes, foram feitas modificações no
instrumento para a versão final da Escala de Exposição à Violência Doméstica
(EEVED), para melhor atender aos critérios de adaptação à realidade
brasileira, compreendendo, assim, 39 questões, divididas em quatro partes:
Parte 1 - Identificação: contempla questões acerca dos dados
demográficos da criança ou do adolescente.
Parte 2 e Parte 3 – incluem seis Subescalas, a saber: a) violência
conjugal (violência testemunhal); b) gravidade da exposição; c) exposição à
violência na comunidade; d) envolvimento em situações de violência doméstica
(conjugal); e) fatores de risco; e f) outros tipos de vitimização.
Parte 4 – Questões relacionadas à qualidade de vida da criança ou do
adolescente (pontuação não considerada no escore do instrumento).
Análise dos dados
Todos os dados obtidos foram colocados em bases de dados para
análise estatística, valendo-se dos programas Microsoft Excel 2007 e SPSS.
Os resultados do grupo clínico e do grupo de controle foram comparados em
relação à EEVD. Considerando que a distribuição dos dados é não-
paramétrica, as médias dos grupos foram comparados através do teste U de
Mann-Whitney, com nível de significância de p≤0,05.
Resultados e Discussão
A validade de critério concorrente foi analisada a partir da comparação
dos dados da amostra clínica com o grupo controle. O objetivo foi o de verificar
se a EEVD discrimina os dois grupos, por meio da comparação de médias. Os
resultados são apresentados na Tabela 1.
Considerações Finais
A exposição de crianças e adolescentes à violência doméstica vem
sendo reconhecida tanto como um importante problema social quanto um
problema de saúde pública em função dos dados de incidência na população
mundial e das consequências e sequelas que acarreta no desenvolvimento
psicossocial das vítimas. Essa situação exige o desenvolvimento de políticas
de intervenção, prevenção e combate do fenômeno. Para tanto, torna-se
importante o investimento em pesquisas com instrumentos que auxiliem os
profissionais da área na identificação e mapeamento da amplitude e
caracterização da exposição à violência doméstica. Especialmente, escalas e
inventários são recursos que somam a outros métodos para ajudar na
notificação e compreensão desse tipo de experiência. Mas para cumprir sua
função, esses instrumentos de avaliação objetiva devem garantir a
confiabilidade das inferências feitas a partir de estudos de validade.
Considerando que, particularmente no Brasil, uma das dificuldades
enfrentadas é a relativa falta de instrumentos que facilitem a identificação da
exposição de crianças e adolescentes à violência doméstica, um dos objetivos
deste trabalho foi avaliar a adaptação da EEVD no contexto brasileiro,
comparando os resultados entre um grupo de crianças e adolescentes vítimas
de violência doméstica com um grupo de controle, sem suspeitas de
vitimização. As diversas comparações realizadas mostraram que a referida
escala é sensível e apresenta os devidos critérios de validade para identificar e
compreender as diferentes situações de exposição de crianças e adolescentes
à violência doméstica e outras formas de vitimização.
Os resultados apontam que esse instrumento poderá funcionar como
recurso técnico auxiliar para profissionais que trabalham em instituições de
proteção de crianças e adolescentes, além de embasar medidas preventivas e
interventivas nessa área. Assim, os autores dispõem aos colegas a EEVD,
considerando que deverá ser usada como auxiliar na tarefa de identificar o
fenômeno, sempre que houver indícios de exposição à violência doméstica. Os
autores, ainda, estimulam o uso do instrumento para fomentar o
desenvolvimento de outros estudos e pesquisas com o objetivo de ampliar os
resultados descritos nesse texto e no manual correspondente (Pinto Junior e
Tardivo, 2017).
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