HEGEL Paulo Meneses Entfremdung e Entäusserung
HEGEL Paulo Meneses Entfremdung e Entäusserung
HEGEL Paulo Meneses Entfremdung e Entäusserung
UNICAP
Resumo: Este artigo visa situar e distinguir dois termos hegelianos que se
encontram na Fenomenologia do Espírito. Trata-se, em ambos, de uma
"exteriorização em que o que era apenas interior se faz exterior, mas com
resultados opostos. Em poucas palavras, na Entfremdung (alienação), o sujeito
se perde e não pode retomar sobre si mesmo: sofre um 'desessenciamento~ Ao
contrário, na Entiiusserung (extrusão) ele se encontra, nela se reconhece e
retoma sobre si mesmo, consigo reconciliado e enriquecido com as determina-
ções do ser. O artigo percorre as diferentes passagens em que os termos
aparecem, com diversos matizes, conforme a diversidade das figuras.
Palavras-chave: Entfremdung (alienação), Entausserung (extrusão), Hegelianismo,
Fenomenologia do espírito.
Abstract: This paper aims to bring forward and differentiate between two
Hegelian terms that are present in "Phenomenology of Spirit". Both apply to
an exteriorization in which something that was interior becomes exterior, but
with opposite logical outcomes. In other words, in Entfremdung (alienation), the
subjects goes astray and cannot return to itself: it suffers a loss 01 essence;
whilst in Entiiusserung (extrusion) it finds and recognizes itself in it and
retums upon itself, reconciled with itself and enriched with the determinations
of being. The paper discusses different segments of the book, in which the
terms appear, in different nuances, according to the diversity of forms that
Spirit assumes.
Key words: Entfremdung (alienation), Entausserung (extrusion), Hegelianism,
Phenomenology of Spirit.
E
ssa dicotomia em Hegel, e mais especialmente na Fenomeno!ogia
do Espínto, parece ser muito importante, mas, paradoxalmente,
deu lugar a muito equívoco. Marx, por exemplo, confunde os
dois conceitos, (ou considera que toda Entiiusserullg é sempre uma
Elltfremdung, nunca podendo haver na exteriorização uma realização
do ser, mas somente um esvaziamento). Hyppolite, por sua vez, troca
um termo pelo outro e parece não ver com clareza sua distinção.
I - Entfremdung
Vale observar que, para Hegel, o poder do Estado não é, por si mesmo,
uma alienação; é antes, "a absoluta COi~" mesma, a obra universal na C/ual
é elllllleiada aos indivíduos sua esséneia ". Mas o próprio do mundo da
cultura é que" o indillíduo não encontra no Estado sua indil'ldualidade como
tal: encontra seu ser-em-sl; mas não seu ser-para-sl> ou melhor encontra nele
seu i~ç;ir,mas como {~ç;irdenegado e submetIdo d obedlétlcitl. O Poder do Estado
é para ele a poténeia opressora". Isso acontece tanto na "consciência
nobre "(# 500), ou seja nos cortesãos que servem e adulam o monarca
absoluto, no "heroismo do serl'l{'o da pessoa C/uerenuneia d posse e ao gozo
de si mesma, C/ueage e é e/é/illa para o poder vzç;enft!', quanto nos outros,
fora desse círculo, que vêem na soberania uma algema e uma opressão
do ser-para-si, por isso odeiam o soberano, só obedecem com perfídia,
e estão sempre dispostos à rebelião". Também não é a riqueza (a
esfera ou atividade econômica) que é alienação, mas a riqueza re-
cebida como um favor, prêmio ou outorga do soberano ou benfeitor,
que só vale pela ostentação e consumo conspícuo - um gozo efêmero
em que os nobres e privilegiados se perdem - e que causa revolta
na "consciência vil".
Nesses textos, fica claro que a "Entausserung" requer força, ou que ela
mesma é força. Está também explícito seu resultado: "FflZer-si' coi,'fl ",
"Suporfflr o ser", 'Pár-si' COIIIOsubsftlllClfl i'jdil'fl ", "Crlflr Si'U IIll/lllfo ". Isso
é: sair do puro interior para o exterior, objetivar-se, tornar-se um "ime-
diato". É um processo doloroso, pois tem de passar pela negatividade,
e mesmo por um radical dilaceramento, além do qual se encontra con-
sigo mesmo. É a força mágica (Zfll/berkmjí) que o transforma em ser
(Fl'llOlIIl'Iloll~\,lfl, # 32).
Nas passagens acima, a extrusão não está nomeada, mas está descrita
e analisada em suas características. É uma objetivação ou exteriorização
em que o sujeito se exprime no que ele é, onde se reconhece e se conhece
melhor do que em sua pura interioridade e donde retoma a si
suprassumindo-a na unidade da individualidade e da objetividade, da
interioridade e da exterioridade, no universal ou no Espírito. (# 418:
Esséllcia de todas as esséllcias ou esséllcia espiritual). Estamos pois,
nos antípodas do desessenciamento (ElltllJeSullg) da alienação, se ain-
da fosse preciso insistir na diferença e oposição dos dois conceitos.
- Inglesa: MILLER.
- Espanhola: ROCES.
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