HEGEL Paulo Meneses Entfremdung e Entäusserung

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Paulo Meneses

UNICAP

Resumo: Este artigo visa situar e distinguir dois termos hegelianos que se
encontram na Fenomenologia do Espírito. Trata-se, em ambos, de uma
"exteriorização em que o que era apenas interior se faz exterior, mas com
resultados opostos. Em poucas palavras, na Entfremdung (alienação), o sujeito
se perde e não pode retomar sobre si mesmo: sofre um 'desessenciamento~ Ao
contrário, na Entiiusserung (extrusão) ele se encontra, nela se reconhece e
retoma sobre si mesmo, consigo reconciliado e enriquecido com as determina-
ções do ser. O artigo percorre as diferentes passagens em que os termos
aparecem, com diversos matizes, conforme a diversidade das figuras.
Palavras-chave: Entfremdung (alienação), Entausserung (extrusão), Hegelianismo,
Fenomenologia do espírito.

Abstract: This paper aims to bring forward and differentiate between two
Hegelian terms that are present in "Phenomenology of Spirit". Both apply to
an exteriorization in which something that was interior becomes exterior, but
with opposite logical outcomes. In other words, in Entfremdung (alienation), the
subjects goes astray and cannot return to itself: it suffers a loss 01 essence;
whilst in Entiiusserung (extrusion) it finds and recognizes itself in it and
retums upon itself, reconciled with itself and enriched with the determinations
of being. The paper discusses different segments of the book, in which the
terms appear, in different nuances, according to the diversity of forms that
Spirit assumes.
Key words: Entfremdung (alienation), Entausserung (extrusion), Hegelianism,
Phenomenology of Spirit.
E
ssa dicotomia em Hegel, e mais especialmente na Fenomeno!ogia
do Espínto, parece ser muito importante, mas, paradoxalmente,
deu lugar a muito equívoco. Marx, por exemplo, confunde os
dois conceitos, (ou considera que toda Entiiusserullg é sempre uma
Elltfremdung, nunca podendo haver na exteriorização uma realização
do ser, mas somente um esvaziamento). Hyppolite, por sua vez, troca
um termo pelo outro e parece não ver com clareza sua distinção.

Entfremdung vem de FREMD (alheio); traz a idéia de alienar, ou de


alienar-se, tornar-se estranho a si mesmo. Conota uma perda, um
"desessenciamento" - outro termo de Hegel que tem certa afinidade
com o primeiro.

Entiiusserung vem de AUSSER (fora) e conota a idéia de uma vinda-


para-fora, um sair de si, e também uma objetivação, um "fazer-se ser"
ou "ser-aí", ou mesmo, uma "coisificação". Mas há também Ausserung
(exteriorização), que, em certos contextos, parece ter o mesmo sentido de
Entausserung, como em Fenomeno!ogia do Espínto § 10: "Die Kmft des
Gá'ites !~'itnur so gross a!s seille Aussenlllg; seine Titft, nur so !léfe a!s er in
scfner Aus!~({ung sid! auszubretfen und sich zu verltéren gctmuf". (A força
do espírito só é tão grande quanto a sua exteriorização; sua profundi-
dade só é profunda na medida em que ousa expandir-se e perder-se no
seu desdobramennto).

Essa dicotomia é um jogo de conceitos próprio da "Fenomenologia".


Na Ft!osofia do Diretfo impera a Entiiusserullg. No contexto jurídico,
ElltdusserutZ({ é alienação de um bem, de um patrimônio, que por esse
ato se torna alheio a quem dele se despossuiu, não sendo mais
"próprio"ou propriedade dele. Segundo Enrique Dussel, o termo foi
introduzido no alemão por Lutero, ao traduzir a "kenose" de Ft!ipenscs,
2,7. Quando a Vulgata diz que o Verbo exinanivtf (ekénosen) a si mesmo,
Lutero escreveu entiiusserte.sich). Dali passou para Hegel através de seus
professores de teologia de Tübingen. (E. DUSSEL,Ética comuntfária,
Petrópolis: Vozes, 1987, 262, n.34).

Porém há mais: segundo Labarriere (P.-J. LABARRIÉRE, /ntroducfion ií une


!ecture de!a Phénomenologie de l'Esprit, Paris: Aubier-Montaigne, 21979.
Hegel inicialmente não tinha fixado sua terminologia, como se vê no
Prefácio da Fenomeno!ogia do Espínto § 19: "An sich i,,·tjénes Leben woh!
die ungetriibte G!cfchhetf ulld Einltetf mtf siclt se!bst, der es kein Emst mtf dem
Andersselll und der Elltfremdung sowie mil dem Überwillden dieser
Elltfremdullg ist" (A vida de Deus é, em-si, tranqüila igualdade e uni-
dade consigo mesma: não lida seriamente com o ser-Outro e a aliena-
ção, nem tampouco com o superar dessa alienação). O autor observa
(nota 3, p. 82): "Entfremdung- Em sua acepção lógica, esse termo conota
a impossibilidade de um retorno a partir de uma exterioridade radical-
mente "estranha" (fremd). Ao contrário, a saída de si, que exprime a
interioridade como exteriortdade, exprime-se através do termo de
'extrusão' (Entifussentng). Essa distinção encontra-se na explicitação
das figuras fenomenológicas (ver o estudo de JOSEI'H GAVIN, intitulado
"Entifllssertlllg et En{fremdung dans Ia Phénoméno!ogie de !'Esprtf de
Hegel", em Archives de Plll!osophie, oct.-déc. (1962): 555-571).

Confirmando o que diz Labarriere, há uma passagem, também no Pre-


fácio (§ 36): "A experiência é esse movimento em que o imediato se
aliena e, depois dessa alienação, retorna a si mesmo ". Porém, no corpo
da Fenomet!o!ogia, quando já tinha fixado seu vocabulário, Hegel dirá
(§ 658): "Falta à 'bela alma' a força da extrusão, a força para fazer-se
coisa e suportar o ser".

Antes de passar à análise dos dois conceitos na Fet!omellOlt~í[iado Es-


pírito, devemos ter presente, antes de tudo, que Entifussertlll/{ e
Entfremdllllc'{ se opõem como gênero e espécie: ou seja, toda a alienação
é um tipo de extrusão, que poderia ser chamada "extrusão perversa",
enquanto nem toda extrusão é alienação. Só que a "boa extrusão" não
recebe nome que a especifique; denomina-se extrusão, sem mais; pos-
sivelmente, daí procede boa parte da confusão entre os termos. A alie-
nação supõe uma extrusão, é gerada por ela, só que seu resultado, ou
objetivação, é excessivo: escapa e se perde do sujeito que o produziu.
(ver # 487 até # 491). # 488: "Frenfc a ele se comporta como se fosse 1I111
111l1ndocstnmllO /~O indivíduo não se reconhece nessa sua exteriorização-
objetivação: toma-a como um objeto estranho, e mesmo hostil. Dela não
há retorno, isto é, o indivíduo não chega a refazer sua unidade, recon-
ciliar-se com esse objeto numa unidade verdadeira. Mas a alienação
pode "alienar-se a si mesma, e mediante isso, o todo se recuperará em
seu conceito" ("dic Entji'emduni: wird sic/I selbst cnfrcmden, lllld das Cf11l2C
durc/I sie in Sel!le Bt;í[ri[fsic/I 2uriicknchmet!" # 491). Para não entrar em
contradição com outras afirmações de Hegel, deve-se pôr a ênfase na
palavra "conceito". É só no conceito que se pode recuperar, ou mesmo,
diria, para nós, filÓsofos, que vemos a totalidade do processo e enten-
demos sua dialética; e não no mundo real do espírito alienado de si
mesmo.

I - Entfremdung

Há toda uma parte da Fet!omet!o!t~í[ir7dedicada à alienação do Espírito,


a qual produz a "cultura" do "Ancien Régime": O espírito alienado de
si mesmo: a cultura. O "mundo" produzido por essa alienação se
divide em dois: um é o mundo da efetividade, ou o da alienação do
espírito; o segundo, o mundo em que o espírito, elevando-se sobre o
anterior, constrói para si no éter da pura consciência". O reino da
efetividade, por sua vez, cinde-se entre o político e o econômico. Pela
alienação política, constitui-se o Estado: é pela abdicação total da liber-
dade dos indivíduos em favor de um soberano que esse pode dizer:
"L 'ttat, c'est moI"'. Pela alienação econômica, o homem põe sua essên-
cia na fruição das riquezas; e o indivíduo só é alguém pelas honras e
reconhecimento que recebe do soberano/Estado e pela ostentação das
riquezas que o fazem reconhecido como fidalgo e gentil-homem. Esse
mundo, no entanto, é o mundo da cultura: por ele o indivíduo sai de
sua insignificância individual e acede ao universal: ao refinamento da
bela palavra e da espirituosidade, ao reconhecimento da sociedade que
o ,lcolhe e admira pelo prestígio que o rei lhe outorga e pelos bens que
lhe dão aceso ao luxo e a uma vida brilhante. Mas ali o indi\'Íduo se
exalça como universal e se perde como realização pessoal: uma existên-
cia de aparências, um mundo "virtual" ou de "simulacro", diríamos
hoje. Mas, como nota Labarriere, acima citado, desse mundo de aliena-
ção não há retorno. Ao buscar uma saída, o que se encontra é uma
"alienação da alienação" ou uma alienação à segunda potência. Perde-
se num mundo ainda mais vazio, ou seja, opera-se a fuga em direção
ao v<Ícuo, para escapar ao esmagamento ou "sufoco" do mundo real.
Pois h,í, por assim dizer, uma lei nesse mundo de alienação: de que
tudo Sl' constitua por cissiparidade, ou em dicotomias. (Isso parece
característico do viés esquizofrênico da alienação; enquanto, na extrusão,
,1 unidade se restabelece pela reconciliação entre o sujeito e o objeto, o
indi\Íduo e seu mundo, o conceito e a efeti\'idade, o interior e o exte-
rior).

A dualidade Estado/riqueza recobria uma dUillidade mais fundamen-


tal que oscila\'a entre os pólos do Bem e do Mal, numa altl'rnância em
que cada uma das determinaçôes ocupa\'a um dos pólos. Agora, o
espírito alienado da cultura, ao querer escapar de seu mundo, também
se bifurca, produzindo duas figuras: a do puro pensamento e a d,l fé,
# 487" ESSI' 1lllIlIdo, oposto rliJudil a!li'llil(il0, pOI' i,~,'o 1111'SII/{ll!fl0 I; 1/[11'('dda,
1II11S
I; alltcs 11/1('1I11S
a outl'll/i)!'!llll da a/IÍ'l!fl(tlO, iJuc COIIS/~,'Ii';1I'i'U:"ilIl/i'IIIi' C!II

ta a COIISClhlClil 011 doi,' 1IIlIIIdos O "puro


diZ'I'l'sOS, c iJU1'a/Jill'lil il 11!I1/JO."
".

pensamento" parece ter inspirado em Marx a "alienação filosófica" -


l'sse pensamento, des\'inculado do real (que tem parentesco com a
"sofisticaria" l' o pensamento "raciocinante" - de que se fala no Pre-
fácio de Fenomenologia), ao querer escapar do mundo da cultura e
traduzi-Io em noções, perde-se em si mesmo e, quanto mais progride,
mais Sl' afasta da realidade do mundo. A outra e\'asão do mundo é a
'Té", essa figura que a religião assume no mundo da cultura. O indi-
\íduo tenta escapar da alienação e angústia que ali o oprimem, fugindo
pc1r,lum mundo imagin,írio: o mundo aprazível da Fé, réplica invertida
do mundo real. O mundo da lIustraç,lo e o d,l Fé se comll<ltem e
,m,ltl'matizam com ardor, sem se d,lrem conta de quanto se assemelham
por SU,l origem l' objetivo cOllluns. O embate histórico da llustraç,lo
contra a Fé é cheio de equívocos e mal-entendidos, embora, no balanço
final, a Ilustração vença a Fé porque consegue contaminá-Ia com seu
racionalismo.

Há na Fenomenologia outras situações em que o indivíduo e o Estado


se relacionam ou mesmo se opõem, mas em que não existe propriamen-
te a "alienação". Vemos primeiro na "Eticidade", que tem por modelo
ideal a cidade grega. Ali não pode haver alienação, porque o indivíduo
está plenamente submerso no "compacto da substância": sua vontade,
seu projeto de vida, têm identidade total com os da comunidade. Qu,1Il-
do começa o distanciamento, pelo espírito crítico da tragédia e, mais
ainda, da comédia, esse mundo entra em processo de "desvanecimen-
to".

Já no "Estado de Direito", que remete ao império romano, o indivíduo


não interessa por sua peculiaridade pessoal, nem tem a mínima parti-
cipação no mundo político: é apenas um átomo intercambiável, só
presente como sujeito de direito - bcm entendido, de direito ci\'il, que
rege a esfera privada onde ele se encontra cncerrado como num círculo
de ferro, Acima de todos, está o Senhor do mundo, o Imperador que se
apoderou da liberdade de todos e a todos oprime com seu arbítrio fora
de toda ética. É a opressão total, produzida pelas forças da devastação
que se voltam contra o próprio Senhor do mundo, fazendo dele um
monstro, tipo Calígula ou Nero,

A dialética do "Senhor e do escravo" é mais complex'l. Nela h,1 uma


certa alienaç,lo do escravo que põe sua essência no Senhor, em fa\'l)r
do qual renuncia e abdica de si mesmo ante o medo da morte. Porém
a morte não acontece - ela que é o Senhor absoluto - e porque a vida
continua, o relacionamento entre os dois pólos - Senhor e escra\'() -,
que for,l estabelecido em função da morte, torna-se ambíguo e contra-
ditório. Na verdade, o Senhor acaba dependente do escravo para a
satisfaç,lo de suas necessidades mais elementares e, de outro lildo, o
escravo pelo trabalho se humaniza e alcança um patamar de dignidade
humana acima do seu Senhor. Aqui se encontra uma situação em que
parece haver uma superação ((i/J/'ril'illdi'll) da alienação - dessa situ-
ação da qual Labarricre dizia n,lo ha\cr retorno. Com efeito, o escra\'l)
encontra uma saída através do trabalho, Mas podia-se t,llvez observar
que a situação inicial da alienação j'l entrara em declínio desde o
começo, pois era uma reação diante da morte; mas ao optar-se pela
\'ida, entrou-se numa torrente que deixou a situação trilum<Ítica origin,ll
cadil \'ez mais para trás e possibilitou uma s,lída, um atalho ou, melhor,
uma mediação para esquivar-se da ,1lienação inicial.

Outril situação de alienação é ,1 d,l "consciência infeliz". Situaç,lo


comp!L'xa, pois há uma alternãncia entre as duas conscil'ncias em que
l'la se cinde: uma é sempre a outra, consciência ao mesmo tempo
duplicada e indivisa. (Fenomen%gltl # 207 e # 208). A consoencia
infeliz identifica-se com um dos pólos, o pólo inferior e inessencial da
mutabilidade: mas põe sua essência no pólo superior, no Imutável.
Pode-se então dizer que nele se aliena; que é um exemplo típico da
"alienação religiosa". Porém a situação é bem mais complexa que isso,
porque, na alta mística, a alma se torna um com seu Deus; mas, sobre-
tudo, porque o Imutável se faz figurado e vem ao encontro dela, que por
sua vez, pelo desejo e pelo trabalho, recupera sua essência.

Resta falar do "Terror", que encerra essa segunda parte do "espírito


alienado de si mesmo". Em muitos aspectos, lembra o "Estado de
Direito", onde havia a cisão entre o Senhor e os átomos das individu-
alidades, a cisão entre a universalidade inflexível e fria, de um lado, e
a dureza egoísta dos átomos conscientes-de-si que não são susceptíveis
de nenhuma mediação. Não se diz que estes indivíduos "se alienem de
si mesmos", mas, antes, que há uma usurpação através da "violência
destruidora que o Senhor do mundo exerce contra o si de seus súbditos"
(# 482,483); é ele uma potência negativa, "cujo Si é puro ato de devas-
tar", "consciência-de-si descomunal que se sabe como deus efetivo, cujo
gozo de si mesmo é uma orgia colossal". Ele operou assim, uma "de-
vastação" no resto dos "átomos conscientes-se-si", que se tornam "um
caos de potências espirituais que, ( # 483) "desencadeadas como essên-
cias elementares em selvagem orgia, se lançam umas contra as outras,
frenéticas e arrasadoras". A palavra aqui é inessencialidade
(U!!ll'esCIlI/{'tf), "perda de sua essência" ( Ver/lIs! sei!!es VVf'SCll),paralela ao
"desessenciamento" (E!!ll'esllllg) de outros textos.

Nessas três figuras (Estado de Direito, Senhor e Escravo, Liberdade


absoluta e Terror), há acentuados paralelismos. Compare-se, por exem-
plo, esse naufrágio "na necessidade simples do destino vazio" com a
Morte, o Senhor absoluto, na dialética do Senhor do Escravo, ante o
qual todo o ser se dissolvia; e com a Morte, também onipresente no
Terror - que fecha a Seção "Cultura", assim como o Estado de Direito
concluía o "Mundo ético". Essa presença da Morte ainda acentua que
não se trata de alienação propriamente dita, em que o sujeito ou o
Espírito se aliena de si mesmo, mas de um esvaziamento ou de uma
devastação operada sobre o sujeito por uma potência mortífera que lhe
arranca a essência - que é a liberdade - ou mesmo, que ameaça ou
elimina sua própria existência; no caso do Terror, cortando-lhe a cabeça
como se "corta uma cabeça de couve-flor".

Em suma: há diversas figuras da alienação, umas bastante complexas,


como a da consciência infeliz, com sua instabilidade de pólos, em que
o inferior, por sua vez, se identifica com o pólo superior, e a alienação
do mundo da cultura, que se opera por cissiparidade, e onde se encon-
tra uma "alienação da alienação" ou uma alienação à segunda potên-
cia. Em todos os casos, a alienação não é uma realização do indivíduo,
mas um esvaziamento desse, embora produza realidades tão brilhantes
como no mundo da cultura. Porém as coisas se complicam ainda mais
quando entra a "mediação alienadora da linguagem', e nessa passa-
gem, a Entifussenmge a Entfremdung(extrusão e alienação, como tradu-
zimos) se entrelaçam e alternam, dificultando a distinção dos dois
conceitos. Abaixo apresentamos nossa solução, caracterizando a lin-
guagem como sendo uma "extrusão" e, na verdade, a "exteriorização"
por excelência do Eu, mas cuja mediação opera uma alienação: justa-
mente a alienação constitutiva do mundo da cultura.

Esta é a caracterização geral do "mundo da cultura" (# 488) "O scr-


ai desse mundo, como também a efetividade da consciéncia-de-si,
descansa no movimento pelo C/ual a conseiéneia-de-si se extrusa de sua
personalidade e assim produz o seu mundo; frente a ele se comporta
como se fosse um mundo estrmzllO, do C/ual devesse i~ç;oraapoderar-si!'.
Vê-se bem, neste texto como a alienação supõe uma extrusão, que se
torna alienação quando o indivíduo nela não se reconhece.

A morte, que aparece nas figuras acima estudadas, é aqui designada


como um tipo de extrusão - a extrusão essente - de todo contrária à
verdadeira extrusão, da qual há retorno ao Si, à consciência. Vejamos:
"O sacn/ieio do ser-ai, C/ueocorre no Serlll{Y7,só é completo C/uando dll~ç;aaté
d morte"; mas o perigo superado da própria morte a que se sobreviveu
(ver a dialética do Senhor e do Escravo) deixa o resíduo de um deter-
minado ser-aí e, com isso, de um particular Para-si" - uma opinião
própria e uma vontade particular. E assim se torna uma consciência vil,
sempre disposta à rebelião contra o poder do Estado. Essa contradição
tem de ser suprassumida, não pela extrusão do ser-aí, que é a morte -
que não passa de uma extrusão essente, à qual nem a consciência
sobrevive, pois passa ao seu contrário não reconciliado -, mas por
uma extrusão que retome à consciência. [# 508] "Ora, essa altél{{lfiio
somente se dá na linguagem: por ela, como mOllimento mediatizante'~ como
meio-termo, resulta em uma alienarão: pOl~Ço poder-do-Estado só passa para
a consciéneia como honra, mas não passa ifáivamente".

Vale observar que, para Hegel, o poder do Estado não é, por si mesmo,
uma alienação; é antes, "a absoluta COi~" mesma, a obra universal na C/ual
é elllllleiada aos indivíduos sua esséneia ". Mas o próprio do mundo da
cultura é que" o indillíduo não encontra no Estado sua indil'ldualidade como
tal: encontra seu ser-em-sl; mas não seu ser-para-sl> ou melhor encontra nele
seu i~ç;ir,mas como {~ç;irdenegado e submetIdo d obedlétlcitl. O Poder do Estado
é para ele a poténeia opressora". Isso acontece tanto na "consciência
nobre "(# 500), ou seja nos cortesãos que servem e adulam o monarca
absoluto, no "heroismo do serl'l{'o da pessoa C/uerenuneia d posse e ao gozo
de si mesma, C/ueage e é e/é/illa para o poder vzç;enft!', quanto nos outros,
fora desse círculo, que vêem na soberania uma algema e uma opressão
do ser-para-si, por isso odeiam o soberano, só obedecem com perfídia,
e estão sempre dispostos à rebelião". Também não é a riqueza (a
esfera ou atividade econômica) que é alienação, mas a riqueza re-
cebida como um favor, prêmio ou outorga do soberano ou benfeitor,
que só vale pela ostentação e consumo conspícuo - um gozo efêmero
em que os nobres e privilegiados se perdem - e que causa revolta
na "consciência vil".

Como observamos acima, esse mundo da cultura é o da cissiparidade.


Nesse ponto, é a alienação política que se acompanha da alienação
econômica. Aqui, em relação ao mundo econômico, os pontos de vista
hegelianos são demasiado ideais, ou mesmo ideológicos. (Parece para-
doxo ou ironia caracterizar a riqueza como uma "essência cujo espírito
é ser sacrificado e entregue", e nos albores do capitalismo dizer que "a
ni;IIi'::ll cristi' como /JCl1Ifíoó 1IJ1il'Nsal': IfI/e S1ll1ess/'l10il l1I'ce.'~'lfnÍ1I1/1i(li'/:'111
cOllsiste em CO/l/11l1/álr-se17todos os st!~íillli1n's, em si'r a dom/ora de I1I1/mtlOS"
# 497). Seu discípulo, Marx, deu uma dimensão incomparavelmente
mais rica ao tema da alienação econômica. A mediação agora é a do
trabalho, cujo produto se aliena do trabalhador e vai somar-se ao ca-
pital, que é o outro pólo da relação. A dissociação ainda se acentua no
fctichismo da mercadoria, em que o fruto do trabalho passa, por assim
dizer, por uma "alienação na alienação" e nos fluxos monetários que
tomaram, de maneira crescente, o lugar dos fluxos reais na economia
capitalista.

Assim, parece suficientemente caracterizada a Entfremdung(alienação)


que, por um lado, constitui um esvaziamento ou perda de essência em
benefício de um ser-aí outro, alheio (/Í'i'md), em que o sujeito não se
reconhece, e que antes se lhe opõe como algo adverso. Por outro lado,
é uma situaç,lo donde não há retorno. Antes, ao procurar uma saída,
pode incidir numa "alienação da alienação", como numa das figuras
do mundo da cultura. Mas, se não h,) retorno propriamente nessa
figura, ela tem necessariamente de ser ultrapassada, pois a dialética
não pára; ser,) cedo ou tarde "suprassumida" no processo total do
espíri to.

l3em diversa da Elltfl'i'!!/dllll,\', ponto por ponto, é a EII!rills.'I'n/!~I'. Em


lugar de um desessenciamento, temos aqui um fazer-se ser. Em vez de
um es\'aziamt'l1to, empobrecimento, temos uma força que faz o que é
puramente interior exteriorizar-se, objetivar-se. E sobretudo, nessa
objcti\',lç,lo, o sujeito se reconhece e retoma pilr,l si mesmo, conhecen-
do-se melhor do que antes se conheci,l, num enriquecimento tanto no
pl<1no do conhecimento quanto no da realidade.
É recorrente, em Hegel, caracterizar a Enf/iu55ertlllg pela força que im-
plica. Por isso, traduzimo-Ia por "extrusão", apesar de ser palavra
insólita, a não ser no vocabulário da metalurgia ou da geologia. Mas
o uso metafórico não é sempre uma "metábasis eis all0 génos"? Não
encontramos em nosso idioma outro vocábulo que transmitisse essa
noção de uma exteriorização feita com força. (Aliás, exteriorização jéí
corresponde a AusserIlIlg, e se necessitava de outra palavra para
Enf/iusserung). Criticaram severamente a audácia de introduzir esse
termo, como também outros, usados em nossa tradução da FmOIlli'llOll{\'IÍl,
mas sem convencerem, porque não apresentaram sugestão melhor.

Citamos três textos, que nos pareceram emblemáticos, em nosso Roteiro


"Para ler a Fenomenologia do Espírito" (Ver a 2" edição p.lO): note-se
a presença da força, Kraft, em todos eles.

}" - Na figura da "Bela Alma": # 658: 'Ffllffl-Ilu' (á Bdfl AlllIfl) fltiJI{tl


dfl extrustio, fl/lllffl pflrfljÍ7Zi'r-si' CO/~'ifl
i' suporlflr o si'r". "Nfl fmll,'pflri'lIfl'
purczfl de seus I/lOllIenfos flrde, Jlljdiz, lIIllfl flssilll-c/lfllllfldfl bdfl-flllllfl, ClJIl-
sUI/!!Íldo-si' fl si IIIi'Slllfl i' Si' i'l'flpOrtl 1'01110
IIUl'i'lll infilrll/i' tjUi' 110flr 51'di"sol-

2" - "A/1JrÇfl do JlldizJiduo COllsi"fl' 1'111


... i'XfrUSflr-Si' di' Si'U si i' pár-si' flssilll
COIIIOsubsfr1nClfl essl'lIfe ob;dim ". Ou 1'111
oufro lugflr, # 488 - "O 'ser-flí'
di'sfi' 11ll/lIdo, bi'1II 1'01110
fl i'jdil'úffldi' dfl COIISClL'lIClÍl-di'-S/;repousfllll 11011111-
l'illli'lIfo i'1II tjUi' i'Sffl Si' ITfruSfl di' SUfl pi'rsollfllúfmfi', produzilldo flssilll o SI'1I
IIllIll do ",

Nesses textos, fica claro que a "Entausserung" requer força, ou que ela
mesma é força. Está também explícito seu resultado: "FflZer-si' coi,'fl ",
"Suporfflr o ser", 'Pár-si' COIIIOsubsftlllClfl i'jdil'fl ", "Crlflr Si'U IIll/lllfo ". Isso
é: sair do puro interior para o exterior, objetivar-se, tornar-se um "ime-
diato". É um processo doloroso, pois tem de passar pela negatividade,
e mesmo por um radical dilaceramento, além do qual se encontra con-
sigo mesmo. É a força mágica (Zfll/berkmjí) que o transforma em ser
(Fl'llOlIIl'Iloll~\,lfl, # 32).

Outra característica, que distingue ainda mais a extrusão da alienação,


é que o sujeito se reconhece nessa exteriorização, e mesmo se conhece
melhor depois dela e nela. Dali retorna sobre si mesmo, enriquecido
com as determinações do exterior, ou da ordem do ser. Comprovou o
que era em si e para si nesse ser outro, e está agora consigo mesmo
reconciliado.

Pode-se entender isso melhor examinando a extrusão que é a lingua-


gem (# 507 e # 508 da Fl'Ilollll'lloll~\,lfl). São passagens em que alienação
e extrusão se alternam e incluem, como acima foi dito, tornando difícil
sua distinção. Damos a interpretação que nos parece coerente, à luz de
outras passagens: "10 sflCrlj!ClÓ di' SI; tj!!i' ocorri' 110Si'I7'/f'oJ / Ulllfl i'xfnr,iio
do ser ilí, (que só !!tI morte se completilriil) - umil extnlsilo essente, c
não umil extrusão que retornil à consciénciil. Altas, tlltllpOUCOII COW;-
ciéJlcillIhc sobre'{Jive,nem é em si e pilra si, milS pilSSil somente ilO seu
contránÍ! não reconCiliado.Mils il IlÍlguilgem é o ser-ilí do puro SI;- pelrl
IIÍZfuilgem entra nil existênciil r/ singularidilde pilra si essente dil cons-
Clénciilde S/~de fortllil quc elil é para os outros. O Eu, como estc puro
Eu, llilo está ai de outra tlIilllcira: em qUillquer outra exteriorizil{flo
(Ãusserung) esfá 1Í1lersocm uma ejéfiZJldildedil qUillpode retirar-se: ele
é nflefldo sobre si mesmo a partir de sua il{rlo... deixando fazer illfllli-
mado um tal ser-aí imperjáto, onde sempre esfrí demilsiildo como de-
maslrldo pouco. Porém a lillguilgem contém o sCl'-ai em Sllfl pureza; só
expressil o Eu, o EIl mesmo. Esse ser-aí do Eu é, como ser-ilí, umil
ob;éfilJidade que cOlltém rI '{Jenfildcirallatllreza dele.
n

Vemos, portanto, que a extrusão da linguagem expressa o Eu, na qual


ele está em sua pureza: é uma objetividade que contém sua verdadeira
natureza. Estamos, pois, no pólo oposto à Elltfremdlllzç;,pois, no caso da
alienação, é uma objetividade que não expressa a verdadeira natureza
do Eu, mas, antes, onde ele não se reconhece, e que o defronta como
uma potência estranha. É verdade que, nessa seção da Felloml'llOIi~ç;lrl,
a linguagem está num contexto de alienação, ou seja, opera uma alie-
nação, ao constituir o poder e a glória do Monarca, dizendo o que ele
é; mas trata-se de uma mediação em que a linguagem atua como ins-
trumento (ou demiurgo) da criação de um mundo.

Seria talvez a ocasião de observar que, se essa linguagem constrói o


Poder do Monarca absoluto, outra linguagem poderá "desconstruÍ-lo".
Mais do que a linguagem do "dilaceramento", que Hegel encontrou no
romance de Diderot, "Le lle(leUde Rrllllmll, ele poderia ter estudado a
linguagem revolucionária dos jacobinos que" desconstruiu" o poder do
Monarca, caracterizando-o como "Déspota e Tirano" - reduzindo a
um reles criminoso esse "deus" (adorado pelos cortesãos, que na capela
de Versailles ficavam de costas para o altar e voltados para ele) e fazer
que as cabeças coroadas fossem cortadas, igual à de qualquer inimigo
da República, como simples "cabeças de couve-flor". Mas seria muito
exigir de Hegel, que passou dos entusiasmos juvenis pela revolução
francesa para uma forte antipatia diante do seu desenrolar-se, e termi-
nou caracterizando-a como puro Terror. De minha parte, quando leio
esses parágrafos sobre a "Coisa mesma", o que me ocorre, como ponto
de referência histórica, são as Revoluções francesa e americana; e ima-
gino que Hegel, que as conhecia muito bem, não podia esquecê-Ias
quando escrevia esta Seção.

A "Coisa Mesma". Parece-nos que a exposição mais clara da extrusão


está na Seção "A Coisa Mesma", da "Individualidade real em si e
para si". É uma dialética rigorosa, que parte do conceito interior, onde
tudo parece unido e coerente, daí passa à obra e exteriorização, onde
surgem contradições e conflitos por todos os lados; e enfim,
tudo é suprassumido no terceiro momento dialético, que res-
taura a unidade da consciência e da substância, e que recebe
o nome de "Coisa Mesma". O texto é muito complexo, de uma
excepcional riqueza, até mesmo comparado ao conjunto da
Fenomenologia; e como na "Linguagem", também termina -
e encontra seu pleno sentido - nessa comunhão de consci-
ências que Hegel chama "Espírito". Pode considerar-se tam-
bém a "Filosofia da ação" hegeliana, desenvolvida bem antes
de BlondeI.

Analisá-Ia exigiria um longo artigo ou mesmo um volume. Vamos apenas


destacar alguns textos principais. # 401: "O tl.:fir,preâ'ifllnCllte, é o puro
trasladar da jórma do ser, tlinda não representado, para ajórma do ser repre-
sClltado ". # 404: "O indilJíduo não pode saber o que ele {~antes de se ter lezJado
ir efefilJidade atralJés do agir'> "Só da ação aprCllde a conhecer sua essénC/fl
or{fimfria ..."; Se;fl o que ftça ou que lhe aconteça, fti ele quefez, e isto é ele:...
é o traslado de si mesmo da noite da possibilidade para o dlfl da ;m'senftl: e
pode ter esta certeza: o que zJem ao seu encontro na luz do dia é o que JflZlfl
adormeCido na noité'. Assim, o indivíduo, porque sabe que em sua
efetividade nada pode encontrar a não ser a unidade dela com o pró-
prio indivíduo, ou somente a certeza de si mesmo em sua verdade, ...,
só sente em si alegria". # 405: "A obra é a realidade que a conscIênC/fl se
dá. Nda, o indilJíduo é para a consciénC/fl o que é em si" de modo que a
consciénC/fl para a qualzJem a ser na obra não é conscIênC/fl particular, mas
slin a unilJersal". # 406: "Na obra a consciénC/fl lJem a ser para si meSllla tal
como é em lJerdade, e deslJanece o conceito lJazio (que tinha! de si meSllla ".

A consciência retorna sobre si mesma a partir desse momento da pura


objetividade, suprassumindo-o e elevando-se ao universal, que é sua
verdade. # 409: "Mas a Ejéflúdade objefilJa é um mOlllCllto que na ;mipnfl
consciéncianão telllmf1l:'i lJerdade em si' alJerdade consiste somente na umdade
da consciência com o tl.:'5ir,e a obra lJerdadeira é SOlllente essa ullldade do tl.:'5ir
e do ser, do querer e do illlplemClltar'. # 411: "Por conseguinte, na Coisa
Mesma, enquanto interpenetração que se tornou objetiva da indivi-
dualidade e da objetividade mesma, veio-a-ser para a consciência
seu verdadeiro conceito de si, ou chegou à consciência de sua subs-
tância". (Notar o xewordenen que aparece duas vezes nessa frase.
Trata-se de um processo, de um vir-a-ser: não é algo "encontrado,
achado por aí", termos que Hegel contrapõe com firmeza, como
Nietzsche contrapunha o que "brotava das raízes" com a "invenção
fortuita").

Nas passagens acima, a extrusão não está nomeada, mas está descrita
e analisada em suas características. É uma objetivação ou exteriorização
em que o sujeito se exprime no que ele é, onde se reconhece e se conhece
melhor do que em sua pura interioridade e donde retoma a si
suprassumindo-a na unidade da individualidade e da objetividade, da
interioridade e da exterioridade, no universal ou no Espírito. (# 418:
Esséllcia de todas as esséllcias ou esséllcia espiritual). Estamos pois,
nos antípodas do desessenciamento (ElltllJeSullg) da alienação, se ain-
da fosse preciso insistir na diferença e oposição dos dois conceitos.

É uma das ironias da história: um pensador como Hegel, que tanto


valorizou a ação humana e que procurou entender o ser humano nas
sua criações - cultura, história, arte, religião -, que definiu o homem
como ação, linguagem, trabalho, seja estigmatizado como um pensador
abstrato e irrealista: ele que só valorizava o concreto e só entendia a
ética e os valores como encarnados na realidade histórica. Considerava
a leitura dos jornais matutinos como a oração da manhã do homem
moderno. Parece-me que abstratos são seus críticos e detratores, que
não souberam captar o ritmo do pensamento dialético, que é o único
pensamento não-abstrato, pois é a identidade da identidade com a não
identidade, ou seja, a convergência, ou melhor, a suprassunção dos
opostos numa unidade concreta, em que a diversidade não dispersa a
unidade, mas a constitui e enriquece, e a unidade não anula a pletora
da diversidade, mas nela se expressa e expande.

"A força do Espírito só é tão grande quanto sua exteriorização; sua


profundidade só é profunda, na medida em que ousa expandir-se e
perder-se em seu desdobramento" (" Die Kmji des Gâ'itcs ist mlr so gross
0/..'" l!Ire Aiisscrtmg: SelllC Tirjé, IlU!"so tie(c ais er ill seille Aus/~'{Ullg siel!
iJ!lszubrCllell ulld siel! zu ZJer/!ércllgefmut" (Ft'IlOlllt'IlOI{~'{it!# 10).
- Portuguesa: PAULOMENESES,FeIlOlJlello!({'{tf7do Espirlto, 2 vols., Vozes,
1991 e 1992, (agora na quarta edição) - utilizamos a numeração da
tradução inglesa de Miller, que dá um número a cada parágrafo da
FellolJlcllo!ogia, para facilitar as citações - Francesas: (HYPPOLITE,
LEEREBVRE, LABARRIÉRE).

- Inglesa: MILLER.

- Espanhola: ROCES.

PAULO MENESES,Para ler a FCIlOlJlello!({'{tf7do Espínto (Roteiro), Loyola,


"1992.

JEAr\ HYPPOLITE,CCIlt'se ct slmcfure de!a Phénomenologie de l'Esprit de


Ht;'{c!, Aubier-Montaigne 1946.

P.-J. LARARRIÉRE,1lllroducliollli 1Il11'!ecfurc de!a Phénomenologie de l'Esprit,


Aubier-Monla{'{nc, 1979. Slruclurcs ct IIlOIllJelllCIlI dia!eclique dalls !a
Phénomenologie de l'Esprit, Aubier-Montaigne, 1968.

JOSEI'HGAVIN, Elllifusscnlllg et Elltfrellldullg dans Ia PltéllolllcIlO!({'{lé de


I'Espril de Hegc!, ArdtiZJCs de P!lllosop!llé, oct.-déc. (1962): 555-571.
Wortindex zu Ht;'{c!s Phanomenologie des Geistes, Bouvier,1984.

ENRIQUEDUSSEL,Élica C01JllIJllftíria. Vozes, Petrópolis, 21987.

Endereço do Autor:
Rua do Príncipe, 526
50050-900 Recife - PE

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