A Acácia

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 4

A ACÁCIA

pelo Ven.Irmão Ethiel Omar Cartes González

Loja Guatimozín 66
Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (Brazil)

 
A Acácia na Lenda de Hiram Abif
 
“..., conduziram-no, ao cair da noite, para o Monte Moriah, onde o
enterraram, assinalando a sepultura com um ramo de acácia.” (Ritual
de Mest).
 
“Quando, extenuados, os exploradores chegaram ao local de
encontro, seus semblantes desencorajados só expressaram a
inutilidade de seus esforços. ....Caindo literalmente de fadiga,
(um) .... Mestre tentava agarrar-se a um ramo de acácia. Ora, para
sua grande surpresa, o ramo soltou-se em sua mão, pois havia sido
enterrado numa terra há pouco removida.” (Oswald Wirth).
 
“Os Mestres que foram na procura do Mestre Hiram Abif, encontraram
um monte de terra que parecia cobrir um cadáver, e terra
recentemente removida; plantaram ali um ramo de acácia para
reconhecer o local. Conforme outra versão, a acácia teria brotado do
corpo do Respeitável Mestre morto, anunciando a ressurreição de
Hiram”. (Manual de Instrução para o Grau de M M da GrL de
Chile).
 
Mesmo que a morte de Hiram Abif seja um dos fatos mais
importantes dentro da ritualística do 3º Grau, não resulta estranho
que existam diferentes versões derivadas de diferenças nas
traduções tanto da Bíblia como de antigos Rituais maçônicos. Mas
todos eles coincidem com que na sua sepultura surge um ramo de
acácia.
 
 
A Acácia na Botânica.
 
A acácia é uma árvore leguminosa de madeira dura; muitas espécies
produzem goma-arábica e outras fornecem caucho, guaxe (fruto
comestível), tanino e madeiras de grande valor. Todas as espécies
produzem flores perfumadas brancas ou amarelas, sendo muito
usadas como adorno. A acácia, com suas quase 400 variedades,
existe praticamente no mundo todo: América do Norte, Ásia, Índia,
Egito, Norte da África, China, Austrália, etc. A acácia é universal. No
Brasil a espécie acácia negra constitui uma das riquezas de Rio
Grande do Sul.
 
A acácia de Egito tem a particularidade de ser uma árvore espinhosa
e autores maçônicos especulam que a coroa de espinhos colocada na
cabeça de Jesus era de este tipo de acácia. No hebraico antigo o
termo shittah é usado para acácia sendo seu plural shittin. No texto
original grego do Novo Testamento o termo usado é akanqwn
(akanthon) que foi traduzido ao português tanto como acácia e como
acanto, e que também pode significar espinho, espinhoso, etc. Esta
palavra grega aparece em várias passagens da Bíblia mencionando a
coroa de espinhos e também a árvore shittah. O Irmão Olintho de
Almeida declara que “a coroa de acácia espinhosa na cabeça de
Jesus, é símbolo de sabedoria”. Mas como devemos interpretar o
gesto dos soldados romanos quando coroam a Jesus com espinhos?
Podemos entender como mais um ato de crueldade com um sentido
unicamente burlesco ou será que, aparentemente, houve alguém que
conhecendo a simbologia encetada no ramo de acácia induziu à
soldadesca a usar este tipo de coroa?
 
 
A Acácia na Antigüidade
 
Os povos antigos tiveram um respeito extremado pela acácia
chegando a ser considerado um emblema solar porque suas folhas se
abrem com a luz do sol do amanhecer e se fecham ao desaparecer o
sol no fim do dia; sua flor imita o disco solar. Para os egípcios era
uma árvore sagrada como, igualmente para antigas tribos árabes. O
sentimento dos israelitas pela acácia começa com Moisés, quando na
construção dos elementos mais sagrados é utilizada á acácia (Arca,
Mesa, Altar) pélas suas características de resistência á putrefação.
 
 
A Acácia na Bíblia
 
“Plantarei no deserto o cedro, a árvore da sita, e a murta e a
oliveira...” (Isaias 41:19). Como já temos visto no hebraico, shitat é
o singular de acácia, mas na versão da Bíblia de João Ferreira de
Almeida é traduzido como sita. Aliás, sita não aparece no Dicionário
Brasileiro da Mirador.
 
“Também farão uma arca de madeira de cetim...” (Êxodo 25:10)
“Também farás uma mesa (dos pães da proposição) de madeira de
cetim...” (Êxodo 25:23)
“Farás estes varais (para transportar a mesa) de madeira de cetim...”
(Êxodo 25:28)
“Farás também as tábuas para o Tabernáculo de madeira de cetim...”
(Êxodo 26:15)
“Farás também cinco barras de madeira de cetim ...” (Êxodo 26:26)
“E o porás sobre quatro colunas de madeira de cetim ...” Êxodo
26:31)
“E farás para esta coberta (do Tabernáculo) cinco colunas de madeira
de cetim ...” (Êxodo 26:37)
“Farás também o altar de madeira de cetim ...” (Êxodo 27:1)
“Farás também varais para o altar, varais de madeira de
cetim ...”(Êxodo 27:6)
Aqui João Ferreira de Almeida usa a expressão madeira de cetim e,
conforme o Dicionário Brasileiro da Mirador cetim deriva do árabe
zaituni e serve para designar um tecido de seda ou algodão macio e
lustroso. Considerando que os estudiosos concordam que a Arca, a
Mesa e o Tabernáculo foram construídos com acácia que existia no
deserto (Isaias) por ser imputrescível, incorruptível e inatacável pelos
predadores naturais, acreditamos que madeira de cetim é, no
significado correto, madeira de acácia. Não poder-iam elementos de
sustentação ou de transporte serem construídos com seda.
 
“E acamparam-se junto ao Jordão, desde Bete-Jesimote até Abel-
Sitim ...” (Números 33:49)
Abel-Sitim no hebraico significa Vale das Acácias lugar que ficava 40
kms ao sul de Bete-Sita, mas não aparece nos Atlas modernos.
 
“... e o exército fugiu para Zererá, até Bete-Sita ...” (juizes 7:22)
Bete-Sita no hebraico significa Lugar da Acácia que no Atlas moderno
aparece localizado no paralelo 32 e 30’ ao lado do rio Jordão.
 
A Bíblia é rica em alusões da madeira de acácia dando para ela usos
sagrados o que, por sua vez, a converte em uma árvore sagrada.
 
 
A Acácia na Maçonaria
 
Na parte final da cerimônia de Exaltação, o Orador dirigindo-se ao
novo Mestre convida-o a “... não parar na senda do progresso e da
perfeição, porque A A M É C”. Estas palavras lembram que a
acácia tem sido consagrada como um importante símbolo no 3º Grau,
mantendo uma tradição dos tempos antigos porque por sua
característica de imputrescível simboliza a imortalidade da alma.
 
Também quando o Resp Mest pergunta ao Ven Ir 1er Vig:
“Sois M M” e o interpelado responde: “A A M É C” ele
estabelece de imediato sua qualidade de M o que, conforme Oliver,
equivale a dizer “tendo estado na tomba, he triunfado levantando-me
dentre os mortos e, estando regenerado, tenho direto a vida eterna”.
 
A interpretação simbólica e filosófica da planta sagrada é riquíssima e
lembra a parte espiritual que existe dentro de nós que, como uma
emanação de Deus, jamais pode morrer. A acácia é, simplesmente, a
representação da alma e nos leva a estudar seriamente nosso
espírito, nosso eu interior e a parte imaterial da nossa personalidade.
 
Outra importante significação simbólica da acácia foi dada por Albert
Gallatin Mackey (1807 – 1881) e por Bernard E. Jones (falecido em
1965) e que ressalta a Inocência; o grego akakia é usado para definir
qualidade moral, inocência e pureza de vida. E do maçom, que já
conhece a acácia, é esperada uma conduta pura e sem máculas.
 
Quando a Mac adotou a acácia em seus rituais? Certos rituais do séc.
XVIII não fazem nenhuma alusão a ela e, menos ainda, a fórmula
acima citada e tão conhecida de todos nós. A obra “Regulateur du
Maçom” (Heredom) de 1801 transcreve a fórmula e em alguns rituais
aparecem reproduções do quadro da Loja de Mestre, onde a acácia
pode estar representada sobre um montículo ou sobre o esquife do
Mestre Hiram Abif. É muito mais tarde que começam a aparecer
explicações sobre a acácia, por exemplo, no “Recueil Précieux de la
Maçonnerie Adonhiramita” de 1787. Também na obra “L’Ordre dês
Franc-Maçons Trahi e Leur Sécret Revele” do Abade Péréau (1742) a
acácia é mencionada amplamente e reproduzida no Painel.
Resumindo, F. Chapius (1937) estima que a acácia nasce em nosso
simbolismo junto com a Maçonaria especulativa.
 
Para terminar, das quase 600 espécies de acácia que existem a
maçonaria tem incorporado em seus rituais a Robinia (ou Robinier)
mais conhecida como falsa acácia, mas qualquer variedade que for
usada não tira em absoluto o simbolismo do ritual.
 
 
 
BIBLIOGRAFIA
 
Siete e más .... Juan Agustín González M.(1955)
Manual do Gr de M G L de Chile (1970)
Ritual do Terc Gr Mac Simb do Brasil (1975)
Árvores e seus simbolismos Descartes de Souza Teixeira (Revista A Verdade,
GLESP, Jan/Feb 1995)
A Simbólica Maçônica Jules Boucher (1996)

Você também pode gostar