Síndrome de Burnout
Síndrome de Burnout
Síndrome de Burnout
E SEGURANÇA NO
TRABALHO
Introdução
O excesso de trabalho, a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado,
problemas com a liderança, trabalhos sem significado e ambiente de
trabalho instável, somados à grande pressão por qualificação, produtivi-
dade e aquisição de novas competências e habilidades, vêm abalando a
estabilidade emocional dos trabalhadores, impulsionando o surgimento
do estresse e da síndrome de burnout, que, se prolongados, podem gerar
outros problemas de saúde, inclusive, a depressão.
Neste capítulo, você vai estudar sobre o trabalho na contemporanei-
dade, conhecerá o conceito, as causas e os principais sintomas da síndrome
de burnout e vai conhecer como a psicologia organizacional e a gestão de
pessoas podem atuar para prevenir o adoecimento relacionado ao trabalho.
O trabalho na contemporaneidade
As transformações pelas quais o mundo vem passando têm provocado mu-
danças na vida das pessoas, nas sociedades e no mundo das organizações e do
trabalho. No século XVII, com o surgimento da burguesia, que se dedicava
ao comércio, o sentido do trabalho começa a ser modificado — até então,
trabalho era considerado como uma atividade inferior destinada aos escravos.
Os avanços científicos ocorridos nesse período, a transição do feudalismo
para o capitalismo e as consequências decorrentes desses eventos fazem o
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Nesse contexto, os trabalhadores vêm sendo cada vez mais cobrados pelas
organizações, visto que, para acompanhar as novas exigências que lhes são
requeridas, precisam qualificar-se mais, dedicar-se mais e envolver-se com o
trabalho que realizam. Dessa forma, o trabalho assume cada vez mais impor-
tância e significado na vida dos trabalhadores, visto que estes passam a maior
parte de seu tempo nas empresas e menos tempo com suas famílias. Assim,
é importante destacar que o trabalho, além de ser um fator de equilíbrio e
desenvolvimento pessoal, pode ser também um fator de deterioração física e
psíquica (DEJOURS; DESSORS; DESRIAUX, 1993).
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Você viu que o trabalho, além de ser um meio de sobrevivência, é uma forma de
as pessoas se realizarem profissionalmente e pessoalmente, além de um meio de
reconhecimento e aceitação social. Ou seja, o trabalho é algo fundamental para
a existência humana, uma vez que é por meio da remuneração recebida que as
necessidades humanas de alimentação, moradia, educação, bem-estar social, entre
outras, são satisfeitas. Dessa forma, o trabalho é um elemento crítico que contribui
para o autoconceito e para a identidade pessoal (FERREIRA; LUCCA, 2015).
Nesse sentido, é importante ter em mente que um trabalho só possui signi-
ficado para um indivíduo se gerar algum valor que ele possa perceber, ou seja,
se contribui para seu crescimento profissional ou pessoal; se o resultado do
trabalho é relevante; se oferece benefícios em relação ao ambiente empresarial,
etc. O sentido que o indivíduo dá a seu trabalho, isto é, a forma como ele
trabalha e o que produz com seu trabalho, afeta-o diretamente, não somente
no ambiente de trabalho, mas fora dele também, gerando impacto sobre seu
pensamento, liberdade, consciência, comportamento e independência. Isso
significa que um trabalho que não gera qualquer interesse no trabalhador e
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O neuroticismo é um dos cinco traços da teoria dos traços que constituem a persona-
lidade de um indivíduo e refere-se ao nível crônico de desajustamento e instabilidade
emocional. Os demais traços são a extroversão, a abertura para experiência, a amabi-
lidade e a consciência (PERVIN; JOHN, 2013).
A síndrome de burnout é muitas vezes confundida com estresse, o que pode dever-se
ao fato de que os sintomas do estresse estão presentes nessa síndrome (MERZEL, 2019).
Outro aspecto que deve ser destacado é que o problema que causa a síndrome
não surge em decorrência de falha pessoal, e, sim, da falta de afinidade do
indivíduo com aspectos de seu trabalho, como, por exemplo, sobrecarga de
trabalho, falta de controle, recompensas insuficientes, ruptura na comunidade,
falta de justiça e conflitos de valor. Dessa forma, o acúmulo de atividades
e de responsabilidades, bem como o alto nível de exigências e pressões por
parte das empresas, pode desencadear os primeiros sintomas da síndrome.
Nesse contexto, três aspectos principais se manifestam: o esgotamento físico
e mental; uma sensação de impotência e a falta de expectativas.
Cabe destacar que, quanto maior for a incompatibilidade entre o traba-
lhador e seu trabalho, maior é a probabilidade de desenvolver burnout. Por
outro lado, quanto menor for essa incompatibilidade, maior será o nível de
comprometimento com o trabalho (ROSSI et al., 2010).
Vamos ver um pouco mais sobre algumas incompatibilidades?
Além disso, a síndrome é preocupante porque pode gerar custos não só para
os funcionários, mas também para as empresas. Muitas vezes, os gerentes não
dão a devida importância para os sintomas de estresse e esgotamento apresen-
tados pelo trabalhador. De modo geral, ao identificar tais sintomas, os gerentes
pensam que se trata de um dia ruim na vida do trabalhador, considerando que
esse é um problema seu, e não da empresa. Muitas pesquisas revelam que o
estresse no trabalho indica uma piora no desempenho do trabalhador, proble-
mas nos relacionamentos com a família e de saúde. Por exemplo, o auge da
síndrome pode causar uma crise física e emocional que, muitas vezes, requer
um atendimento médico com intervenção medicamentosa e psicoterapia. Um
funcionário com burnout apresenta padrões mínimos de trabalho, passa a ter
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forma, entendemos que não basta uma ótima estrutura, recursos materiais e
tecnológicos necessários se as empresas não puderem contar com profissionais
qualificados e comprometidos. Assim, é preciso que essas empresas cuidem
dessas pessoas, entendendo-as nesse universo e compreendendo os aspectos
relacionados à sua atuação no ambiente de trabalho.
A psicologia organizacional tem como objetivo estudar o indivíduo na
organização e a influência desta no indivíduo. Nesse contexto, além de es-
tudar a estrutura formal e informal das empresas, estuda seus processos de
recrutamento e seleção, a forma como recompensam seus trabalhadores pelos
serviços executados, como estimulam a motivação nos trabalhadores, como
esses se relacionam socialmente neste ambiente e como seu pensamento, seus
sentimentos e comportamentos são influenciados pela empresa, entre outros
aspectos (FURNHAM, 2001).
A gestão de pessoas, por sua vez, tem como responsabilidade coordenar e
equilibrar os interesses pessoais e organizacionais, com vistas a manter na orga-
nização funcionários motivados, qualificados, produtivos e comprometidos com
os objetivos da organização. Nesse contexto, o psicólogo organizacional tem como
principal função ocupar-se com a saúde emocional e psicológica do trabalhador.
Mas quais são as funções da gestão de pessoas nas organizações? Vamos
ver algumas delas a seguir (GIL, 2006).
outros, pois, para cada caso, haverá uma solução ou ação específica que deve ser
buscada com a participação do trabalhador envolvido (ROSSI et al., 2010).
Além de todas as ações apresentadas, deve ser dada uma atenção maior ao
comportamento e ao desempenho do trabalhador, ou seja, a como ele está se
relacionando com seu líder, com seus colegas e seus clientes; se a sua relação
com os outros é respeitosa; se está conseguindo executar suas atividades
diárias dentro do prazo estabelecido; se cumpre normalmente seu horário de
trabalho; se participa com contribuições significativas nas reuniões com seu
líder e equipe; se consegue atingir as metas estabelecidas, entre outros. Cabe
destacar que, se a empresa cobra tanto do profissional, deve estar atenta a
esses e outros aspectos. Por sua vez, é preciso avaliar se a empresa oferece
boas condições de trabalho e disponibiliza os recursos necessários para a sua
realização; como ela remunera, recompensa e valoriza seus trabalhadores;
se as metas estabelecidas para os trabalhadores são factíveis; se o trabalho é
significativo para o trabalhador e se este possui autonomia e responsabilidade
para sua execução; se a empresa investe e estimula relações pessoais saudáveis;
se gerencia os níveis de estresse no ambiente de trabalho; se a comunicação
com os trabalhadores é clara e transparente, etc. (ROSSI et al., 2010).
Assim, podemos concluir que a manutenção da saúde do trabalhador dentro da
empresa é fundamental, pois, além de oferecer ao trabalhador maior qualidade de
vida no trabalho, traz para a empresa maior produtividade e obtenção dos resultados
esperados, uma vez que trabalho e saúde não se dissociam. Nesse sentido, o psicó-
logo organizacional atua na prevenção de adoecimentos relacionados ao trabalho.
Leituras recomendadas
MOWDAY, R. T.; PORTER, L. W.; STEERS, R. M. Employee-organization linkages: the psycho-
logy of commitment, absenteeism and turnover. New York: Academic Press, 1982.
ROSSI, A. M. R.; MEURS, J. A.; PERREWE, P. L. Stress e qualidade de vida no trabalho: stress
interpessoal e ocupacional. São Paulo: Atlas, 2015.