Aprendendo A Estar Contente

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Jeremiah Burroughs

APRENDENDO
A ESTAR CONTENTE

Uma versão simplificada do clássico The Rare Jewel


of Chrístian Contentment (A Jóia Rara do Contentamento
Cristão) escrito por Jeremiah Burroughs, editado pela
primeira vez em 1648. Está disponível também a obra
completa (em inglês) publicada pela
Banner of Truth Trust, Escócia.

Reescrito para Grace Publications por Philip Tait


a partir da simplificação feita por Sharon James
juntamente com as perguntas para reflexão posterior.

Editores gerais:
H. J. Appleby
P. M. Misselbrook, M.A.B.D.

PE >
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS
Caixa Postal 1287
01059-970 - São Paulo - SP
www.editorapes.com.br
Título original:
The Rare Jewel of Christian Contentment

Primeira edição: 1648

Título da versão condensada:


Learning To Be Happy

Compiladores:
Philip Tait e Sharon James

Editora:
Grace Publications Trust, London

Tradutor:
Armando D. Costa

Revisor:
Antonio Poccinelli

Cooperador:
Luís Christianini

Primeira edição em português: 1990

Segunda edição em português: 2003

Capa:
Guilherme Prado Menga

Impressão:
Imprensa da Fé
A

índice

Página
Prefácio............................................................................ 7
1. A felicidade cristã......................................................... 9
2 .0 grande segredo..........................................................14
3. As promessas de D eus................................................. 23
4. A escola da felicidade..................................................27
5. A felicidade faz bem para você................................... 36
6. Resmungar faz mal para você...................................... 41
7. Hora de parar de resmungar........................................49
8. Sem desculpas!.............................................................52
9. Felicidade - como consegui-la.................................... 57
10. Felicidade - como mantê-la....................................... 62
Prefácio

Este livro fala sobre a felicidade. Não se trata de felici­


dade qualquer, mas daquele tipo de felicidade que provém
de ser cristão. Usamos várias palavras para descrevê-la. De
forma geral a denominei “Felicidade Cristã” ou simplesmente
“felicidade”; porém, não devemos pensar qüe isso signifi­
que estar feliz porque temos tudo que desejamos. Uma
outra palavra que às vezes usamos é “alegria”; mas não
devemos pensar que isso signifique ostentar um grande
sorriso, mesmo quando estamos nos sentindo tristes. Ainda
outra palavra para felicidade é “contentamento”, mas não
devemos pensar que isso signifique aceitar a vontade de
Deus passivamente porque não há nada mais que podemos
fazer. Tudo que estas palavras descrevem é a profunda satis­
fação interior que os cristãos sentem a respeito daquilo
que Deus tem feito para eles. Essa satisfação interior os
capacita a permanecerem contentes ao invés de começarem
a murmurar contra Deus, mesmo quando as coisas parecem
estar contra eles - tal qual uma família feliz permanece

7
assim, até em épocas de tristeza, pois os seus membros
estão sempre satisfeitos com a companhia uns dos outros.
Este livro é uma versão abreviada e simplificada do
livro The Rare Jewel of Christian Contentment (A Jóia Rara
do Contentamento Cristão) por Jeremiah Burroughs (1599-
1646). O livro de Burroughs é uma exposição de Filipenses
4:11. Seu método é examinar o assunto do contentamento
cristão de vários ângulos: ele elabora muitos pontos e com
freqüência repete aquilo que havia dito antes num contexto
diferente. Por causa disso alguns leitores podem achar o
livro muito confuso se lerem esta versão de capa a capa. A
melhor maneira de lê-lo é meditar sobre uma pequena
porção dele de cada vez.
Eu mantive rigorosamente a ordem em que Burroughs
apresenta seus pontos, com exceção dos dois últimos
capítulos, pois acho ser mais lógico considerar em primeiro
lugar como obter a felicidade e depois partir para a sua
manutenção.

Philip Tait, Wembley, setembro de 1987

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1
A Felicidade Cristã
Todos nós desejamos ser felizes, porém percebemos
que isso não é fácil. O problema é que queremos possuir
tudo o que este mundo oferece, na expectativa de que isso
nos trará felicidade. O apóstolo Paulo tinha uma atitude
bem diferente. Ele escreveu: “...já aprendi a contentar-me
com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter
abundância”. Na linguagem de hoje diríamos: “...aprendi o
segredo de estar contente em toda e qualquer situação”
(Filipenses4:ll).
Deus é a única fonte de felicidade verdadeira. Ele não
necessita de nada nem de ninguém para fazê-10 feliz;
mesmo antes de criar o mundo, as três pessoas da Trindade
eram completamente felizes entre Si. O que Deus faz para
os cristãos é torná-los tão felizes quanto Ele é. Isso é
necessário porque eles não são bons ou fortes o suficiente
para se fazerem felizes. Deus lhes dá tudo de que
precisam, como João escreveu: “...todos nós recebemos da
sua plenitude, e graça sobre graça” (João 1:16). Desta
maneira, os cristãos podem sempre estar contentes, pois,
mesmo quando possuem pouco daquilo que este mundo
oferece, eles têm as bênçãos espirituais que Deus nos
dispensa. Em Cristo eles têm tudo que necessitam.

9
Essa felicidade cristã é por vezes chamada de conten­
tamento. A Bíblia diz: “E, de fato, é grande fonte de lucro
a piedade com o contentamento. Porque nada trouxemos
para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo,
porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes.
Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação...”
(1 Timóteo 6:6-9a). “Seja vossa vida isenta de ganância,
contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo
disse: não te deixarei, nem te desampararei” (Hebreus 13:5).
A prim eira coisa que podemos dizer sobre esta
felicidade cristã é que ela vem de dentro. E possível dar
a impressão de que, devido não estarmos reclamando,
estamos contentes com que Deus nos tem dado, quando na
verdade lá no fundo ainda estamos descontentes. Mas
Deus, é claro, sabe o que pensamos. Davi disse: “Ó minha
alma, espera silenciosa somente em Deus” (Salmos 62:5),
porque ele sabia que esta era a única maneira pela qual
podia realmente ser feliz. De igual modo esta confiança
em Deus, esta felicidade que vem de dentro dos cristãos,
os afeta completamente. Davi sabia que Deus estava no
controle de todas as coisas; entretanto ainda pode se sentir
deprimido porque ele não perm itiu que esta verdade
influenciasse verdadeiram ente sua forma de pensar.
Por isso ele escreveu: “Por que estás abatida, ó minha
alma, e por que te perturbas dentro de mim?” (Salmos 42:
5). Como ele, temos que pôr nossos corações naquele
contentamento que começa dentro de nós e nos torna
completamente felizes, semelhantes ao calor do corpo
envolto pelo cobertor o qual nos mantém totalmente

10
aquecidos. E da mesma m aneira que nos sentim os
aquecidos quando estamos usando roupas de inverno,
assim também a felicidade cristã é algo que continua
indefinidamente.
Uma outra coisa que podemos dizer sobre a felicidade
cristã é que ela ainda está presente até mesmo quando
ocorrem as tragédias. Os cristãos se sentem tristes quando
estão em dificuldade exatamente como outras pessoas.
Quando os outros estão passando por problemas, os cristãos
se compadecem deles. Eles oram pelos que sofrem, e é bom
fazer isso, porque o Senhor Jesus, que sofreu quando
tentado, “é poderoso para socorrer os que são tentados”
(Hebreus 2:18). Embora eles orem a Deus, cristãos
maduros que enfrentam problemas não resmungam.
Quando são tentados a fazer isso, eles conseguem se
controlar. Não reclamam acerca de Deus; pelo contrário,
obedecem e amam a Deus. Se falam de seus problemas, eles
o fazem em oração, pois ainda acreditam que Deus pode
ajudá-los.
Um terceiro aspecto importante da felicidade cristã é o
fato de que ela é uma obra de Deus. Ela não é o resultado
dum temperamento feliz por natureza, nem tampouco
duma recusa de se envolver com o que está acontecendo ao
redor. Até mesmo os incrédulos fazem isso, tentando não
ficar preocupados. Todavia, a felicidade cristã é muito mais
do que “tentar não ficar preocupado”; também tem um
elemento positivo. O cristão deseja ser feliz continuamente,
pois isso glorifica a Deus.
Por conseguinte, uma quarta coisa que podemos

11
afirmar com relação à felicidade cristã é que aquilo que
torna o cristão realmente feliz consiste em fazer a vontade
de Deus. Os cristãos não são obrigados a obedecerem a Deus.
Eles o fazem voluntariamente e encontram nisso o que os
torna felizes. Quando param para meditar, percebem que
nada pode fazê-los felizes como se submeterem à vontade
de Deus. Eles se contentam em deixar que Deus planeje o
futuro, mesmo se Seus planos diferem daquilo que eles
esperam realizar. Na verdade, eles preferem os planos de
Deus aos seus próprios, pois sabem que Ele conhece o que é
bom para eles muito mais que eles mesmos. Acima de tudo
Ele os entende melhor que eles mesmos! Os incrédulos, que
crêem que seu destino está nas suas próprias mãos, só têm de
temer o futuro, já que um único deslize pode levá-los ao
desastre, ao passo que os cristãos não têm o que temer: eles
podem entregar o futuro a Deus e então se deleitarem na Sua
orientação. Salomão escreveu: “Confia no Senhor de todo o
teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento,
reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará
as tuas veredas” (Provérbios 3:5,6). Sabendo que Deus está
no controle faz os cristãos felizes enquanto estão em
dificuldades, tanto como depois quando olham para trás
e vêem como Deus os dirigiu.
Além disso, esta felicidade cristã persiste, seja qual for
o tipo de dificuldade sofrida. Os cristãos não têm o direito
de decidirem que espécie de sofrimento irão experimentar;
não podem dizer, por exemplo, que estão preparados para
perderem suas posses, mas não sua saúde. São felizes, não
im porta o sofrimento que possa vir. Talvez venham

12
sofrimentos um após outro até que suas vidas pareçam
ser constituídas de problemas; entretanto, lá no fundo do
coração eles ainda se encontram verdadeiramente felizes.
Pode dar-se o caso de seus problemas parecerem não ter
mais fim mas mesmo assim lá no íntimo são felizes. E Deus,
que planejou integralmente suas vidas, é glorificado nisso.

13
2
O Grande Segredo
Paulo escreveu que ele aprendeu o segredo de estar
contente. Ele o denominou segredo devido ser algo que
muitas pessoas nunca aprendem, e porque é tão difícil para
os incrédulos entenderem aquilo que faz os cristãos felizes.
Neste capítulo vamos considerar algumas coisas sobre a
felicidade cristã que realmente podem ser surpreendentes.
Primeiramente, a felicidade cristã é surpreendente
porque significa estar perfeitamente satisfeito de um lado e
completamente insatisfeito do outro. Os cristãos estão
sempre contentes por saberem que Deus está com eles;
porém ficam infelizes se não sentem isso. Também se
sentem infelizes quando se lembram que são pecadores,
pois é o pecado que os impede de gozar comunhão com
Deus. Somente no céu estarão sem pecado e desfrutarão
de uma comunhão contínua com Deus. Por ora eles não
podem estar satisfeitos com as coisas que os incrédulos
preferem. A sensação de ser amado por Deus é mais
importante para eles do que qualquer outra coisa que o
mundo oferece. Asafe, que escreveu vários dos Salmos,
sentia assim também. Ele escreveu: “Quem tenho eu no céu
senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti”

14
(Salmos 73:25). E este sentimento de ser amado por Deus
tem mantido os cristãos felizes até mesmo em meio a
terríveis tribulações.
Os cristãos também experimentam a paz que Deus dá,
“que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7). Depois
de experimentá-la, eles não conseguem ser felizes sem ela,
pois sabem que ela é o resultado da presença do Senhor
Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, com eles. Eles experi­
mentam paz quando são obedientes a Ele. Por outro lado,
os incrédulos desejam paz, porém não estão dispostos a
obedecerem ao Senhor Jesus. Deveriam perceber que os
cristãos com quem se encontram são as pessoas mais felizes,
satisfeitas e tranqüilas. E quando eles indagarem a razão
disso, os cristãos deverão responder que é porque são servos
do Príncipe da Paz.
Em segundo lugar, a felicidade cristã surpreende os
incrédulos porque ela não advém de obter mais e sim de
desejar menos. Os incrédulos pensam que quanto mais
coisas possuem para desfrutar, mais felizes serão. Os
cristãos sabem que isso apenas os fará felizes por pouco
tempo. Os ricos não são necessariamente os mais felizes.
No entanto, os cristãos sabem que o que realmente os faz
felizes é desejar somente as coisas que Deus escolhe para
lhes dar. A felicidade deles surge não da quantidade de
dinheiro que têm no banco, mas da disposição que eles
têm por estarem satisfeitos com aquilo que Deus lhes dá.
A pessoa que tem muitas coisas mas deseja mais viverá mi­
seravelmente. Quem possui pouco, mas não deseja nada mais,
viverá feliz, assim como uma pessoa com duas pernas

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curtas anda mais confortavelmente do que aquela pessoa
que tem uma perna longa e outra curta! Esta é uma lição
importante para os cristãos aprenderem em dias como estes,
quando os incrédulos estão sempre buscando - e obtendo -
mais e mais coisas materiais. Os cristãos devem mostrar
aos outros como estar contentes, desejando menos ao invés
de granjear mais.
A terceira coisa surpreendente sobre e a felicidade
cristã é o fato de que às vezes o caminho para ser feliz não
significa deixar de se preocupar, e sim começar a se preocu­
par com algo mais. Vamos supor que estejamos inquietos
com respeito a algum problema que está nos afetando.
Estaremos nos enganando se pensarmos que tudo que
precisamos para nos fazer felizes é remover o problema. O
que realmente nos torna infelizes é o pecado. Se nos
preocuparmos mais com isso, nossos outros problemas
não parecerão assim tão grandes. Um pecado específico
que os cristãos podem cometer com facilidade é o de se es­
quecerem de que tudo quanto precisam vem de Deus, e eles
esquecem de agradecer-Lhe, ou então começam a culpá-10
pelas coisas que os afligem. Se se lembrassem de que Deus
é sempre melhor para eles do que merecem, descobririam
que é mais fácil ser feliz - mesmo em tempos de adversi­
dade. Por exemplo, se uma família descobre que seus planos
para o futuro não estão sendo concretizados conforme
planejados, seus membros podem ser tentados a começar a
brigar e lançar culpa uns nos outros; entretanto, a desavença
é pecado e eles devem parar com ela e pedir a Deus
perdão, caso desejam ser felizes no futuro.

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A quarta coisa acerca da felicidade cristã que pode
ser deveras surpreendente é que determinado problema não
precisa ser afastado antes que possamos ser felizes. Às vezes
Deus nos abençoa durante o sofrimento. Paulo escreveu:
“Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a
carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o
que quereis” (Gálatas 5:17). Esta luta se trava incessante­
mente dentro de todo cristão. Às vezes um problema nos
ajuda a sermos vitoriosos sobre a natureza pecaminosa e nos
leva para mais perto de Deus. Assim o sofrimento se torna
em benção.
A quinta coisa surpreendente sobre a felicidade cristã é
o fato dela ser obtida não por desejar mais ou possuir mais, e
sim por fazer mais. O cristão diz: “Deus está por trás do que
aconteceu comigo e Ele é responsável se eu não sou tão feliz
como antes; contudo, não devemos reclamar. Devo buscar
novas formas de servir a Deus e de sentir-me feliz obedecen-
do-Lhe”. Os cristãos se sentirão mais felizes ao servi-10
onde estiverem, e não por tentarem obter aquilo que não
têm, como pessoas que tentam pegar a lua.
A sexta coisa que torna a felicidade cristã surpreen­
dente para os incrédulos é que o que faz os cristãos felizes
é aprender a aceitarem que a vontade de Deus é melhor
para eles. Quando aprendem isso, eles não se preocupam se
estão conseguindo exatamente aquilo que desejam; pelo
contrário, estão felizes por desejarem o que Deus quer, por
amarem aquilo que Ele ama, por odiarem aquilo que Ele
odeia. Dizem: “Deus me tornou sábio espiritualmente; Ele
me tornou santo; Ele me ensinou a aceitar que Sua vontade

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é melhor para mim e desde que Ele está satisfeito com
isso e glorificado, então sou feliz”.
Podemos resumir esses seis pontos dizendo que o que
toma o cristão feliz é o fato de Deus estar tornando-o santo,
portanto sua felicidade depende daquilo que Deus está
fazendo. Quando Tiago escreveu “Donde vêm as guerras e
contendas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos
vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” (Tiago
4:1), ele estava mostrando que a causa da infelicidade entre
os cristãos é o pecado nas suas vidas. Se nos livrarmos
daqueles sentimentos íntimos pecaminosos que levam à
im piedade, seremos m uito mais felizes. Em poucas
palavras, a verdadeira felicidade não é o resultado daquilo
que temos, mas sim o tipo de pessoa que somos. Este é
o grande segredo da felicidade.
Ora, os que são felizes assim, felizes interiormente
porque interiorm ente piedosos, percebem que estão
contentes com qualquer coisa que Deus lhes dá, pois os
cristãos sabem que tudo que possuem é uma dádiva de Deus
- por exemplo: saúde, lar, alimento, roupa, amigos, família,
emprego, oportunidades e diversões. Cada um desses é um
presente vindo de Deus, uma prova do Seu amor. Por esta
razão os cristãos se satisfazem com eles todos e se alegram ao
recebê-los. Eles podem ter menos do que alguns incré­
dulos, mas apreciam mais aquilo que têm porque sabem que
é melhor possuir pouco, ser filho de Deus, do que possuir
muito e estar debaixo da Sua condenação. Demais disso, os
cristãos sabem que cada manifestação do amor de Deus que
recebem é semelhante a um depósito ou uma garantia de

18
que na vida futura Deus lhes dará todas as boas coisas que
Ele prometeu. Tudo que Ele lhes dá os faz felizes e serve
para lembrar-lhes de quão felizes serão no céu.
Outra coisa, os cristãos que são felizes interiormente,
devido à piedade interior, descobrem que, quando sofrem,
eles adquirem mais conforto ao pensar no Senhor Jesus, do
que jamais poderiam se vivessem resmungando. Eles lêem
o Novo Testamento e percebem o quanto Cristo sofreu, e
sabem o que o Senhor sente por eles quando sofrem, pois
Ele sabe o que significa sofrer. O Senhor Jesus Cristo sofreu
todo tipo de agonia física, material, emocional e espiritual.
Por exemplo, Ele era pobre, razão porque pode confortar os
cristãos que são pobres; foi oprimido, por isso pode consolar
os cristãos que são vítimas da injustiça; foi torturado, daí
poder confortar os cristãos que Lhe suplicam força em meio
a sofrimento. O Senhor prometeu que “quando passares pelas
águas, serei contigo”. Os cristãos podem ter medo da morte,
porém são encorajados quando pensam sobre a maneira
como o Senhor Jesus morreu - especialmente quando se
recordam que Ele ressuscitou dos mortos.
Esta é a única forma pela qual os cristãos adquirem
vigor quando sofrem. Eles se voltam para Cristo, que tem
poder para perdoar os seus pecados, fazê-los santos e
auxiliá-los em suas provações. Ao escrever a certos cristãos
que estavam passando por duras provas, Paulo disse-lhes que
teriam que depender da força que Cristo concede, e não
das suas próprias energias. A oração dele era no sentido de
que eles fossem “fortalecidos com todo o poder, segundo a
força da sua glória”. Pediu isso para que tivessem “grande

19
perseverança e longanimidade” (Colossenses 1:11).
Finalmente, qualquer pessoa que se sinta feliz interior­
mente por causa da piedade interior, descobre que a maior
felicidade provém do seu conhecimento de Deus. O escritor
de Lamentações teve tudo para ser uma pessoa deprimida,
quando da tomada de Jerusalém por um inimigo e quando
parecia não haver mais futuro para o povo de Deus. Entre­
tanto, ele sabia que a única fonte real de felicidade era o
próprio Deus; por conseguinte escreveu: “O Senhor é a
minha porção: portanto esperarei nele” (Lamentações 3:24).
Temos visto que Deus concede aos cristãos tudo o que
possuem. As coisas que Ele dá trazem felicidade, assim como
os canos conduzem água. Mas às vezes o suprimento é
cortado e a água tem que ser retirada diretamente do poço
artesiano. Semelhantemente, quando as coisas que Deus
dá são suprimidas, temos que ir diretamente à fonte da
felicidade, o próprio Deus. A medida que o tempo passa,
os cristãos percebem cada vez mais que a fonte da real felici­
dade é Deus. Ele será no céu a única fonte de felicidade:
“Não vi nela santuário, porque o seu santuário é o Senhor
Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não necessita
nem do sol, nem da lua, para que nela resplandeçam,
porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a
sua lâmpada” (Apocalipse 21:22,23). Mesmo aqui na terra
podemos começar a experimentar esta felicidade que existe
somente em Deus.
O Senhor Jesus sintetiza o que temos aprendido neste
capítulo, da seguinte maneira: “O reino de Deus não vem
com aparência exterior; nem dirão: ei-lo aqui, ou, ei-lo ali;

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pois o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20,21).
Os cristãos anelam estar no céu, mas num certo sentido eles
já desfrutam dele. Eles sabem que após experimentar o céu
nesta vida, o experimentarão na sua plenitude no porvir.
Ao mesmo tempo, tudo que experimentam da pessoa de
Deus os satisfaz completamente uma vez que eles não têm
nenhuma necessidade que Cristo não possa suprir.
Contudo, este tipo de contentamento vem somente
quando há paz interior, semelhante a que reina no lar de
uma família feliz. O incrédulo não possui paz e portanto
não pode ser feliz, assim como a família infeliz que está
sempre brigando.
Os cristãos sabem que o fato de terem esta paz e felici­
dade dentro deles é uma indicação de que desfrutarão da
paz e felicidade celestial. O conhecimento disso capacitou
alguns cristãos a morrerem corajosamente ao invés de
negarem a fé, já que eles olhavam para a recompensa no céu.
O apóstolo Paulo escreveu: “Por isso não desfalecemos; mas
ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa
leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais
abundantemente um eterno peso de glória; não atentando
nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem;
porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se
não vêem são eternas” (2 Coríntios 4:16-18). No próximo
capítulo trataremos da razão por que os cristãos podem estar
certos de que Deus cumprirá aquilo que prometeu.

21
Perguntas que Ajudarão o Leitor a Pensar
sobre os Capítulos 1 e 2

1. Quais são as maiores causas de descontentamento em sua


vida? Seja honesto!
2. O contentamento faz parte do caráter do próprio Deus e é
um precioso dom que Ele concede a Seus filhos. O que
você entende ser a natureza deste contentamento?
3. O capítulo 2 fala sobre o contentamento cristão como
sendo um grande segredo, algo que não pode ser entendido
pela pessoa que não é cristã. Se formos honestos, certa­
mente temos de admitir que muitos cristãos desconhecem
este segredo. Por que isso?
4. O que é, ou deveria ser, a relação entre contentamento
cristão e a promessa vindoura de glória?
5. “A felicidade cristã... vem, não de conquistar mais, e sim de
desejar menos.” Como podemos manter os nossos desejos
em equilíbrio?
6. Desde que somos cristãos, como diferem nossos desejos e
expectativas daqueles que os nossos parentes, amigos e
vizinhos incrédulos têm?
7. Qual é o relacionamento entre contentamento e piedade?
8. À luz de suas respostas às perguntas acima, quais as
mudanças necessárias em sua vida e atitude?

22
3
As Promessas De Deus
Deus fez grandes promessas a todos os que crêem em
Jesus Cristo. Pensar sobre a segurança do que Deus
prometeu ajuda os cristãos a serem felizes.
Deus, que é justo, não pode ignorar o pecado. Todavia,
Ele também é um Deus de amor que Se compadece dos
pecadores: Ele quis salvá-los do castigo merecido, mas
visto que eles não poderiam ajudar a si mesmos, Ele
decidiu ajudá-los, ser misericordioso para com alguns e
salvá-los. Por isso enviou Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo,
que concordou em Se tornar homem e viver uma vida de
perfeita obediência a Deus, Seu Pai. Sua obediência é
creditada ao povo de Deus. O Senhor Jesus foi condenado
à morte e crucificado. Ele tomou sobre Si mesmo a punição
que o povo de Deus merecia pelos seus pecados. Assim
podemos dizer que Deus prometeu creditar a obediência de
Cristo aos cristãos a fim de tirar deles a culpa - colocando-
-a em Cristo - e dar-lhes vida eterna. O Espírito Santo
concede nova vida para eles. Ele os leva a crerem no
Senhor Jesus Cristo, dá-lhes segurança de salvação e os
fortalece de maneira que lhes permite vencer a influência
do pecado.

23
As promessas de Deus são o resultado de Sua graça;
isso eqüivale dizer que elas são dadas àqueles que as não
merecem. E as coisas que Deus promete dar são para toda
a eternidade; a morte de Cristo conquistou a segura e
eterna salvação do Seu povo, e Ele não permitirá que o
mesmo se perca. As promessas são dadas aos cristãos
individualm ente e o que Deus prom ete é-lhes dado
pessoalmente.
As promessas que Deus deu constituem um grande
encorajamento para os cristãos. Ele prometeu salvar todo
o Seu povo, o que lhe dá uma sensação de segurança e o
faz muito feliz. Ele prometeu que o diabo nunca venceria
os Seus servos e isso dá-lhes uma sensação de segurança,
mesmo quando enfrentam problemas e decepções. Ainda
que o futuro deles seja incerto, estão felizes porque sabem
que as promessas de Deus são infalíveis. Davi tinha total
confiança na fidelidade de Deus e sabia que Ele manteria
Sua palavra: “Não é assim a minha casa para com Deus?
Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo
bem ordenado e seguro: pois não fará ele prosperar toda a
minha salvação e todo o meu desejo?” (2 Samuel 23:5). E os
cristãos hoje tem razões até mesmo maiores do que Davi
para estarem certos de que Deus irá guardar Sua palavra.
Eles olham para a obra do Senhor Jesus que lhes trouxe
tudo que Deus prometeu. No Velho Testamento, o povo
de Israel podia regozijar-se, pois Deus havia prometido ser
gracioso para com a nação, mas os cristãos de hoje podem
regozijar-se em coisas ainda melhores que Deus tem feito
para eles como indivíduos (Hebreus, capítulo 8).

24
Além da promessa de salvação, Deus fez muitas
outras maravilhosas promessas. Todas elas devem ser
entendidas à luz das grandes prom essas que Deus
concretizou na salvação, pois não adianta pensar que
interpretações literais exaurem o significado de tais
promessas. Por exemplo, o Salmo 91 contém promessas
que o homem de Deus não sofrerá males, acidentes ou
danos. Os cristãos que enfrentam sofrimento podem questi­
onar se este salmo tem algo a dizer-lhes. Pode ser o caso do
povo de Israel ter o direito de esperar bênçãos materiais e
exteriores em troca de obediência. Certamente as bênçãos
prometidas e as ameaças de maldição na lei de Moisés
sugerem que esse foi o caso. Contudo, a promessa dos
versículos 9 e 10 “Se fizerem do Senhor o teu refúgio, e do
Altíssimo a tua habitação, nenhum mal te sucederá, nem
praga alguma chegará a tua tenda” jamais deve ser tomada
no sentido de que os cristãos nunca sofrerão. Pelo contrário,
ela os ensina a ter confiança em que Deus está tomando
conta deles todo o tempo e protegendo-os do mal. Talvez
Ele use dificuldades para discipliná-los, assim como um pai
pune seus filhos; isso prova que eles são filhos de Deus. Ele
tem o direito de dar-lhes o que acha correto e de tirar-lhes
aquilo que Lhe compete; porém, isso sempre ocorre para
o bem deles. Caso aconteça alguma coisa que pareça
prejudicá-los, eles podem estar certos de que tudo faz parte
do plano de Deus para o benefício deles. Portanto, nenhum
mal, espiritual ou eterno, poderá cair sobre eles.
Entre as promessas do Velho Testamento que os cristãos
podem reivindicar para si, estão Isaías 43:2 e Josué 1:5. O

25
escritor aos Hebreus cita a promessa de Josué de uma forma
muito enfática, como se Deus estivesse dizendo “Nunca te
deixarei: jamais te abandonarei” (Hebreus 13:5).
Assim, vimos que Deus fez estas promessas e muitas
outras semelhantes a elas. Todas as promessas apontam
para o céu e nos ensinam que parte do prazer de estar no céu
pode ser desfrutada aqui e agora, como os marinheiros que
enfrentam uma tempestade em alto mar são confortados
ao pensar no porto.

26
4
A Escola Da Felicidade
Neste capítulo vamos à escola, mas não para estudar
matemática, ciência ou geografia. Cristo é o professor e Ele
nos ensinará como ser feliz. Haverá dez lições. Os cristãos
que completarem este curso descobrirão que podem de
fato ser felizes, não importa o que aconteça com eles. E
lembrem-se - Cristo não é apenas o mestre, Sua vida é o
exemplo perfeito da felicidade em todas as circunstâncias.

Lição 1- Negue-se a si mesmo!

Ser cristão é custoso. Qualquer cristão que disser


algo em contrário não está dizendo a verdade. Jesus foi
incisivo com respeito a isso: “Se alguém quer vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem
perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará” (Lucas
9:23,24). E o próprio Jesus que ensina ‘os cristãos como se
negarem a si mesmos. Ele os ensina que não merecem a
atenção de Deus, que merecem nada menos do que a ira de
Deus contra seus pecados e que não conseguem realizar
nada sem Sua ajuda. Quando as coisas que lhes trazem gozo

27
são tiradas, eles percebem que não têm direito a coisa
alguma vinda de Deus, porque fazem tão pouco para Ele.
Cristo lhes ensina que são tão pecaminosos que por certo
estragarão as boas coisas que Ele lhes dá, e embora possa
abençoá-los e capacitá-los a usarem bem essas coisas, se os
abandonar com toda certeza as usarão mal. Ele os ensina
que se morrerem, o trabalho que estão fazendo não se
desmoronará. Deus pode facilmente indicar outros para
assumirem seus lugares. Entender essas coisas é o que
significa negar a nós mesmos. Deveríamos tentar, com
afinco, perceber quão insignificantes somos. Então cada
problema parecerá pequeno e cada bênção grande.

Lição 2 - A autonegação de Cristo

Ninguém jamais negou-se a si mesmo como Cristo.


Isaías escreveu: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu
a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e
como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele
não abriu a boca” (Isaías 53:7). Isaías estava profetizando
acerca da forma que Cristo Se submeteria à morte como
sacrifício pelos pecados do Seu povo. Paulo escreveu sobre
Ele dizendo: “mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e,
achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”
(Filipenses 2:7,8). Apesar disso, Ele foi a pessoa mais
contente que já viveu neste mundo. Quanto mais os cristãos
se aproximem do modo como Ele viveu, seguindo Seu

28
exemplo de abnegação, tanto mais felizes serão. Cristo Se
deleitou em fazer a vontade do Pai, e os cristãos precisam
aprender que os que negam-se a si mesmos se acham felizes
com qualquer coisa que Deus faz, ao passo que as pessoas
egoístas tão-somente conseguem ser felizes quando Deus
realiza o que elas desejam.

Lição 3 - Sem Deus, nada pode satisfazer

“Tudo é vaidade”, diz o Pregador. “Que proveito tem o


homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo
do sol?” (Eclesiastes 1:2,3). Os que se acham infelizes com
as coisas deste mundo não são infelizes, conforme pensam,
porque não têm o suficiente, pois as coisas deste mundo
simplesmente não trazem felicidade. O homem foi criado
para conhecer e ter alegria em Deus. O grande teólogo
Agostinho escreveu que “Tu nos criaste para Ti mesmo e
nossos corações somente encontram descanso em Ti”.
Pessoas infelizes que acham que possuir mais coisas irá
satisfazê-las, são semelhantes a pessoas morrendo de fome
que pensam que um pouco de ar irá satisfazer sua fome.
“Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? e o pro­
duto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?”
(Isaías 55:2). Sem Deus, nada vale a pena.

Lição 4 - Cristo satisfaz

Jesus Cristo ensinou que somente Ele faz as pessoas


realmente felizes. Ele disse: “Eu sou o pão vivo que desceu

29
do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre”
(João 6:51). Também afirmou que “Se alguém tem sede,
venha a mím e beba. Quem crê em mim, como diz a
Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (João
7:37). Pão e água são as necessidades básicas de nossos
corpos. Jesus estava ensinando que Ele satisfaz as necessi­
dades mais básicas de nossas almas, assim como Isaías
profetizara: “...ouvi-me atentamente, e comei o que é bom,
e deleitai-vos com a gordura” (Isaías 55:2). Jesus prometeu
que Seu povo teria “vida, e a teria em abundância”, e que
a alegria dele seria completa (João 10:10; 16:24).

Lição 5 - Seja um forasteiro e guerreiro

Os cristãos são forasteiros. Eles simplesmente estão de


passagem pelo mundo, como que acampados em seus
corpos. Estão se preparando para a eternidade no céu
quando Deus lhes dará corpos perfeitos na ressurreição.
Portanto, é uma insensatez alguém se sentir infeliz quanto
ao estado dos nossos corpos atuais. As pessoas que encon­
tramos em Hebreus, capítulo 11, confessam “...que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Por isso, Deus não se
envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto
lhes preparou uma cidade” (versículos 13 e 16). Os cristãos
devem aprender a pensar desta forma. Viajantes que se
encontram longe de casa sofrem algumas inconveniências,
tais como comida ruim ou condições difíceis de viagem. Os
cristãos têm um lar eterno e o desconforto de sua estada na
terra não deveria ser motivo de preocupação.

30
Os cristãos também são guerreiros. Paulo escreveu a
Timóteo: “Participa dos meus sofrimentos, como bom
soldado de Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:3). Um soldado que
se encontra longe de casa, ou em combate, não espera
encontrar o conforto que tem no lar. Os cristãos são
soldados, guerreando contra o maligno, o inimigo de suas
almas. Eles devem estar dispostos a suportarem dureza.
Devem ter em mente que a vida cristã é um combate
demorado e tem de haver adversidades. Mas enquanto um
soldado não pode saber se irá ganhar a guerra, os cristãos
podem estar seguros de que Jesus Cristo fará tudo para que
a vitória lhes seja assegurada no final.

Lição 6 - Desfrute as boas ocasiões

O mundo inteiro que Deus criou está aqui para


homens e mulheres desfrutarem dele. Eles podem ser
realmente felizes e gratos a Ele, sabendo que tudo o que
possuem provém de Deus. Os cristãos olham para as coisas
que Deus fez e admitem que Ele é bom. Portanto, o que Ele
criou os faz felizes. Todavia, eles devem perceber que suas
posses não são as mais importantes coisas que Deus lhes
deu, e que talvez tenham de viver sem elas se assim Deus o
decidir. Talvez Deus decida chamá-los para servi-10 em
tempos difíceis, ou em tempos favoráveis, e se assim o fizer
Ele quer que se sintam bem com as boas coisas que lhes dá.
Mas Ele escolherá aquilo que é melhor para eles e com
isso devem aprender a estar contentes. Um empregado
que se recusa a trocar de função dentro da firma quando

31
solicitado pelo gerente, não poderá assim agradar o patrão!

Lição 7 - Conhece-te a ti mesmo!

Todos os cristãos deveriam examinar suas próprias


vidas e descobrir seus desejos mais profundos. Isso lhes
ensinaria que não são as circunstâncias de suas vidas que os
farão infelizes, e sim a condição de seus corações. A causa
real da infelicidade é sempre o pecado. Os cristãos que se
auto-avaliam podem cortar o mal pela raiz e poupar suas
vidas de muita infelicidade.
Os cristãos que não se conhecem, provavelmente se
tornarão muito temerosos quando surgirem problemas.
Eles dirão: “Talvez Deus Se esqueceu de mim!” Mas se
souberem que precisam ser humilhados, entenderão que
Deus envia as adversidades para colocá-los à prova ou para
discipliná-los. Um medicamento desagradável com efeitos
colaterais pode salvar sua vida e a experiência que envolve
insatisfação pode guardar você de pecar.
A medida que os cristãos crescem no autoconheci-
mento, suas orações melhoram. Cristãos imaturos que não
conhecem seus próprios corações oram por coisas que não
ajudam e então se tornam deprimidos porque não conseguem
tudo o que desejam.

Lição 8 - Cuidado com as riquezas!

Os cristãos, amiúde, tem inveja dos ricos e falham em


perceber os problemas que as riquezas trazem. “Porque o

32
amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa
cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormen­
taram com muitas dores” (2 Timóteo 6:10). Um par de
sapatos novos pode parecer bom, mas quem os usa sabe
onde eles apertam; uma cidade pode parecer bela, mas os
seus habitantes sabem da sordidez de suas favelas; e as
pessoas podem ser ricas e prósperas exteriormente, mas
tristes interiormente.
As pessoas ricas ou famosas sempre enfrentam tristezas
e problemas. A prosperidade pode trazer problemas. A
prosperidade pode trazer tentações. Jesus disse que era
extremamente difícil para os ricos entrarem no céu. Ainda
mais, pessoas ricas e famosas terão que dar contas a Deus
de como elas usaram suas riquezas e fama.

Lição 9 - Cuidado com aquilo que você deseja!

A Bíblia nos diz em vários lugares a respeito de


pessoas recebendo o que desejam. Aquilo que elas buscam
quase sempre manifesta egoísmo, e não lhes traria benefício
algum se o conseguissem; por essa razão quando Deus lhes
concede o que querem, isso redunda em severo castigo. “Mas
o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me
atendeu. Assim deixei-os andar na teimosia do seu coração:
sigam os seus próprios conselhos” (Salmos 81:11,12).
Bernardo (1090-1153), abade de Claraval, disse: “Não
permitam que eu tenha tamanha miséria, pois dar a mim o
que desejo, dar a mim o que meu coração almeja, é um dos
mais terríveis dos julgamentos no mundo”. Aprender que

33
nossos desejos naturais podem assim nos desviar é uma
das mais árduas, porém mais importantes lições na facul­
dade de Cristo.

Lição 10 - Deus está no comando!

Deus governa todo o universo e isso significa que até


mesmo os mais desprezíveis detalhes do que acontece estão
debaixo de Seu controle. Portanto, tudo o que acontece aos
cristãos é porque Deus assim o deseja, e porque Ele vê que
será para o bem deles. Jesus encorajou Seus discípulos
lembrando-lhes disso. Ele disse: “Não se vendem cinco
pardais por dois asses? Entretanto nenhum deles está em
esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa
cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais vaieis
do que muitos pardais” (Lucas 12:6,7).
Os cristãos deveriam pedir a Deus que aumente sua fé,
a fim de poderem se deleitar no Seu cuidado em planejar
tudo que lhes acontece. Eles também deveriam se lembrar
de que simplesmente não conseguem entender tudo o
que Deus está lhes fazendo. Quem sabe lá, Deus tem um
propósito a cumprir em suas vidas daqui a vinte anos,
coisa que depende de algo que está acontecendo esta
semana. Se eles resistem à Sua vontade para esta semana,
estão resistindo à Sua vontade para todas as outras coisas
que dependem desta semana.
Deus opera de várias maneiras, e isso ajuda os cristãos
a serem felizes com o que Ele faz quando eles entendem
um pouquinho de como Ele opera. Há duas coisas em

34
particular que podem aprender sobre a maneira de Deus
operar.
Primeiramente, é normal para o povo de Deus sofrer.
Os incrédulos pensam que se realmente existe um Deus, e
se essas pessoas verdadeiramente Lhe pertencem, então
elas não deveriam sofrer. Mas é exatamente o oposto que
ocorre: o fato delas sofrerem prova que pertencem a Cristo.
Pedro escreveu: “Amados, não estranheis o fogo ardente
que surge no meio de vós, destinado a provar-vos como
se alguma coisa estranha vos estivesse acontecendo; pelo
contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-partici-
pantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na
revelação de sua glória vos alegreis exultando” (1 Pedro
4:12,13).
Em segundo lugar, Deus pode trazer grande bênção de
terrível mal. Muitas vezes, Deus faz com que os Seus servos
passem por grandes provas antes de ser excepcionalmente
bondoso para com eles. José foi prisioneiro antes de se
tornar o governador do Egito; Davi fugiu de Saul antes de
se tornar rei de Israel; e Jesus Cristo sofreu e morreu antes
de ressuscitar dos mortos e ser glorificado. Lutero disse: “É
assim que Deus age; Ele humilha para que possa exaltar;
Ele mata para poder reviver; Ele subjuga para que possa
glorificar”.

35
5
A Felicidade Faz Bem Para Você
A felicidade faz bem para nós. Neste capítulo vamos
considerar por que os cristãos que se sentem felizes são
pessoas abençoadas.
Em primeiro lugar, os cristãos que são felizes adoram a
Deus como Ele deve ser adorado. A verdadeira adoração
não é simplesmente freqüentar cultos ou fazer orações. Pelo
contrário, é possível participarmos de um culto com o
coração tão insatisfeito que afinal Deus não tenha sido
adorado de forma alguma. Deus deseja que os cristãos O
adorem, com tudo o que têm e são. Assim, e somente assim,
eles verdadeiramente O agradam e O adoram. Fazer o que
Deus quer, isso é adoração: estar satisfeito com o que Deus
dá, isso também é adoração. Felicidade e adoração andam
juntas.
Em segundo lugar, os cristãos felizes são os que fazem o
melhor uso dos dons espirituais que Deus lhes concedeu,
tais como fé, humildade, amor, paciência, sabedoria e
esperança. Deus almeja ver essas coisas se desenvolvendo
em Seu povo, pois as vidas dos cristãos felizes sempre têm
uma influência positiva sobre os incrédulos. Por exemplo,
pessoas que sofrem sem resmungar são incomuns. Os

36
cristãos que assim procedem dão ótimo testemunho, o qual
glorifica a Deus.
Portanto, a terceira coisa que podemos dizer é que os
cristãos felizes glorificam a Deus. A natureza O glorifica
porque Ele a criou. Os cristãos que permanecem felizes, a
despeito de suas provações, O glorificam porque Ele assim
os fez. E os incrédulos se convencem de que Deus está
operando quando vêem os cristãos felizes em meio a
dificuldades.
Outrossim, os cristãos felizes são aqueles a quem
Deus Se mostra gracioso. Se desejam que Ele lhes seja
bondoso, devem ficar quietos e felizes. Não devem se
comportar como crianças mimadas que gritam e berram
até conseguirem o que desejam. Pais sábios deixarão que
seus filhos gritem e não lhes darão coisa alguma até que
fiquem quietos. Os cristãos que pedem algo e depois se
enfurecem porque não conseguiram imediatamente o que
queriam, sempre descobrem que Deus espera até que
eles se acalmem e sejam obedientes, antes de dar-lhes o
que precisam. Uma pessoa que se ache aprisionada com
correntes, somente conseguirá se machucar se tentar
escapar. Ela tem que permanecer quieta até que alguém
a coloque em liberdade.
Além disso, os cristãos felizes são as pessoas mais
úteis. Pessoas inquietas e instáveis não servem para o
serviço de Deus. Elas só estarão prontas para servi-10
quando Ele, através de Seu Espírito, as acalmar. Todos os
cristãos são chamados para o trabalho de Deus, não apenas
os líderes ou aqueles que recebem treinamento específico.

37
Não deveriam pensar que devido serem pessoas comuns
elas não são úteis a Deus, ou que somente algo feito em
público constitui serviço a Deus. A única coisa que as
torna aptas para o trabalho de Deus é um contentamento
espiritual interior.
Em sexto lugar, os cristãos felizes são pessoas mais bem
equipadas para resistir a tentações. Pessoas que reclamam se
desviam com facilidade. O diabo gosta de ver os cristãos
preocupados, e quando eles enfrentam sofrimento ele faz o
máximo para convencê-los de que Deus não está sendo
justo; então, se convencem de que aquilo não lhes deveria
acontecer. Talvez ele tente os cristãos pobres a roubarem ou
os faz cair no erro de tomarem vingança com suas próprias
mãos. Aqueles que estão contentes com o que Deus manda
são protegidos contra tais tentações.
Em sétimo lugar os cristãos felizes são aqueles que se
deleitam plenamente na vida aqui e agora. As vezes as
pessoas de poucas posses são mais felizes do que as que
possuem m uito, porque elas aprenderam como estar
contentes com o que têm, assim como uma nação contente
com o território que ocupa é mais feliz do que aquela que
continuamente guerreia para ampliar suas fronteiras.
Finalmente, os cristãos felizes são os que esperam
ardentemente pelas recompensas das promessas de Deus.
Deus galardoa cada pessoa pelo que ela fez. Ele recom­
pensará os cristãos por suas boas obras e até mesmo por
aquelas boas intenções que não conseguirem concretizar.
Ele dará aos perversos o que suas obras merecem, inclusive
seus maus intentos que foram impedidos. Portanto os

38
cristãos que sofrem por amor a Cristo sem se amargurarem
pelo que padecem podem estar seguros de que não per­
derão o seu galardão.

Perguntas que Ajudarão o Leitor a Pensar


sobre os Capítulos 3 - 5
1. O capítulo 3 sugeriu que o cristão deve se sentir feliz ou
contente com as promessas de Deus. Acaso houve ocasiões
quando você se sentiu infeliz por parecer que Deus não
cumpriu algumas de Suas promessas? Veja o Salmo 91. Como
deveríamos lidar com promessas como as que estão nele?
Como deveríamos encarar situações onde temos a impres­
são de que Deus não está lidando conosco conforme as
promessas de Sua Palavra?
2. O capítulo 4 sugere que um dos modos pelos quais podemos
nos proteger contra uma atitude de descontentamento é o
de assumir um conceito correto sobre nós mesmos - não
uma opinião elevada acerca de nós e do que merecemos.
Qual a importância da auto-imagem para a felicidade
cristã?
3. Até que ponto uma apreciação prática da soberania de Deus
é um ingrediente necessário para o contentamento cristão?
4. Jesus fala de Sua habilidade em satisfazer os que têm sede
(João 4:13,14). Quem tem Cristo deveria se sentir conten­
te com Ele. Que significa isso em termos práticos?
5. O capítulo 4 sugere que os cristãos precisam aprender a
estar contentes. Se a Igreja é a escola na qual estamos
aprendendo de Cristo, de que maneira podemos auxiliar
uns aos outros em nossas lições?

39
6

Resmungar Faz Mal Para Você


Nos cinco primeiros capítulos deste livro, examinamos
a felicidade cristã de vários ângulos, a fim de podermos
aprender o que ela é e porque é tão importante. Na segunda
metade do livro, vamos aprender algo sobre como viver
uma vida cristã feliz. O oposto da felicidade é a amargura, o
espírito de murmuração que procura ver o pior lado das
coisas. Neste capítulo iremos abordar o que há de errado
com a murmuração, e descobriremos que ela tanto é pecado,
como não ajuda em nada. No capítulo 7 examinaremos
algumas situações onde reclamar é coisa séria, e no capítulo
8 consideraremos as desculpas mais comuns que fazemos
para justificar a murmuração. Então estaremos prontos
para ver como conquistar a felicidade e como permanecer
feliz.
A murmuração é prejudicial para nós, prim eira­
mente, porque uma vez iniciada, ela vai piorando cada vez
mais. Um espírito de murmuração é semelhante a uma
ferida que se tornou pútrida. A carne infeccionada não pode
receber tratamento; ela tem que ser cortada; caso contrário a
infecção se espalhará por todo o corpo. E uma tendência à

40
murmuração, se não for estancada, espalhará por toda nossa
vida e arruinará tudo.
Por que é tão grave reclamar? Porque é pecado - e isso é
a nossa segunda observação. Em Judas, versículos 14-16, os
“murmuradores” são colocados em primeiro lugar na lista
de pessoas ímpias que Deus irá julgar. Murmurar é pecami­
noso: Deus julgará quem faz isso. Que coisa horrível!
Mas por que razão a murmuração é pecado? A nossa
terceira observação é que ela envolve rebelião contra Deus.
Quando os israelitas estavam no deserto reclamaram
repetidas vezes. Deus os havia resgatado da servidão no
Egito, porém eles não se sentiram felizes é gratos por muito
tempo. E todas as vezes que eles murmuraram, Deus
considerou aquilo como algo dirigido diretamente contra
Ele (Números 14:26-29). Em Números, capítulo 16, o povo
murmurou contra Moisés e Arão, mas Deus tratou do
assunto como algo feito contra Si próprio, e um terrível
castigo sobreveio aos rebeldes: murmurar é coisa grave e
tem de ser tratada antes que tal espírito de murmuração se
espalhe entre os outros.
Em quarto lugar, reclamar é especialmente sério para
os servos de Deus porque isso é uma contradição de tudo o
que aconteceu quando Deus os converteu. Ele os fez ver
seu pecado e admitir que eram culpados: e porventura tem
eles o direito de permitir que algo tão insignificante os faça
infelizes? Ele lhes mostrou o maravilhoso amor de Cristo,
Sua disposição de deixar Seu Pai e a glória do céu, Sua
paciência em aceitar as limitações de um corpo humano, Se
humilhar em submissão, perfeita vida e morte sem pecado.

41
Podem eles esquecer tudo isso, e se queixar de que Deus não
foi bondoso para com eles? Ele os libertou da necessidade
de coisas materiais para que fossem felizes e será que vão
reclamar por causa disso? Cristo agora é o Senhor e Rei
deles; será que vão rejeitar Sua liderança reclamando dEle?
Deus os levou a se submeterem à Sua vontade; e se agora
reclamarem, isso sugere que jamais se submetam, e talvez
nem sejam verdadeiros cristãos. Se os cristãos se lembras­
sem do que Deus tem feito para eles, Seu amor, Seu perdão,
Seu dom de uma nova vida, e se se recordassem de que
Ele os converteu exatamente com o propósito de viverem
na luz de todas essas coisas até o dia de sua morte, eles não
murmurariam; pelo contrário, iriam desejar se submeter a
Jesus Cristo como seu Senhor, Salvador e Rei.
A quinta coisa que podemos dizer com relação à
murmuração é que ela está aquém do padrão que Deus
estabelece para os cristãos. Deus é o Pai deles: caso recla­
mem, isso implica que julgam que Ele não está disposto
nem é capaz de zelar pelos melhores interesses deles.
Cristo é o noivo; se eles murmuram, significa que eles
não confiam no Seu amor. O Espírito Santo é o ajudador
deles; se murmuram, querem dizer com isso que não
crêem de fato que Ele pode ajudá-los.
Examinemos mais de perto os padrões que Deus estabe­
lece para os cristãos. Ele os elevou a uma posição de grande
honra, os fez senhores do céu e da terra; os trouxe para perto
dEle mais do que os anjos, uniu-os a Cristo; os cristãos
estão numa posição de grande privilégio. Mas Deus teve
um propósito ao chamá-los a tal posição. A razão foi para

42
que suas vidas pudessem mostrar o poder de Deus. Então,
Ele tem o direito de esperar que aqueles a quem tanto
honrou não murmurem.
Deus não é apenas o Salvador deles; Ele é também seu
Pai. Os pais almejam ver irromper em seus filhos seus
pontos fortes, e Deus deseja ver Seu Espírito operando em
Seus filhos. Especialmente Ele quer vê-los se tornando
semelhantes ao Seu Filho Jesus Cristo, que sofreu sobre­
maneira e jamais reclamou. Pelo contrário orou: “Não a
minha vontade seja feita, mas a Tua”. Deus tem o direito
de esperar que Seus filhos não murmurem.
Se os cristãos dizem que Deus significa mais para eles
do que as coisas deste mundo, eles devem prová-lo pela
maneira como vivem. É melhor não afirmar ser um cristão
do que ser inconsistente no comportamento. Deus tem o
direito de esperar que aqueles que reivindicam ser cristãos
vivam segundo os padrões cristãos.
Deus concede aos cristãos a fé, por isso têm certeza que
tudo que Ele prometeu será deles por direito. A Bíblia
afirma que eles devem “viver pela fé”. Isso não significa
que possam esperar viver sem problemas. Se isso fosse
verdade, não haveria necessidade de fé! O que realmente
quer dizer é que eles podem aceitar com alegria a vontade,
de Deus, porque sabem que Ele prometeu toda espécie de
coisas boas para eles. Deus tem o direito de esperar que
aqueles que foram ensinados a crer em Suas promessas não
murmurem.
Em poucas palavras, Deus espera que os cristãos sejam
pacientes em tempos de provas e se alegrem em tempos de

43
dificuldade. Pela Sua graça muitos já alcançaram este alto
padrão: lemos sobre alguns deles em Hebreus, capítulo 11,
pessoas simples que dependiam de Deus para sustentá-las
em situações difíceis. Deus espera isso de nós; se outros
fizeram isso, também nós podemos!
Voltando agora ao assunto da murmuração, uma sexta
coisa que temos de observar é que ela faz com que nossas
orações não tenham qualquer sentido. Não podemos dizer
“Seja feita a tua vontade” e esperar que a nossa seja feita!
Não podemos dizer “Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia”,
e esperar luxo amanhã! A oração é exatamente o reco­
nhecimento de que tudo o que temos vem de Deus. Se
começamos a murmurar sobre o que Deus nos dá, então,
devemos deixar de orar.
Em sétimo lugar, a murmuração só causa infelicidade.
Ela é uma perda de tempo; nossas mentes ficam tão cheias
de reclamações que deixamos de pensar em Deus e na Sua
Palavra. Ela nos faz, úteis para o serviço de Deus. Uma
pessoa contente pode oferecer consolo aos outros em tempo
de necessidade, mas um resmungão não tem nada a oferecer.
Reclamar é o primeiro passo para se afastar de Deus, e como
ocorreu com Jonas, para tentar frustrar o plano de Deus, ao
invés de submeter-se a Ele. Pior que isso, a murmuração
nos torna pessoas ingratas, e a Bíblia considera a ingratidão
um pecado. Cristãos que resmungam não são gratos pelos
muitos dons que eles têm; eles afirmam que desejam os
melhores dons para poderem glorificar a Deus cada vez
mais, porém na verdade não são gratos pelas coisas que já
receberam. Os cristãos podem ser ingratos dessa maneira,

44
tanto com os dons espirituais que Deus lhes dá quanto com
as bênçãos materiais que possuem.
Entretanto, Deus espera que os cristãos sejam gratos e
O louvem por tuda o que Ele lhes deu. Lutero disse: “O
método do Espírito de Deus é pensar menos nas coisas ruins
e mais nas coisas boas; pensar que se a cruz vem, é apenas
algo pequeno, mas se a misericórdia chega, é algo gran­
dioso.” Se vierem as provas, os cristãos deveriam agradecer
a Deus por elas não serem tão severas como poderiam ser. O
Espírito Santo os ensina como enaltecer ao máximo suas
bênçãos e minimizar os seus problemas. O diabo faz o
oposto; vejam os israelitas no deserto. Disseram a Moisés:
“É pouco, porventura, que nos tenha feito subir de uma
terra que mana leite e mel, para nos matares no deserto, para
que queiras ainda fazer-te príncipe sobre nós?” (Números
16:13). O espírito de murmuração tinha entrado neles a
ponto deles estarem desvirtuando a verdade. O Egito, terra
de escravidão, trabalhos forçados, espancamento e mortan­
dade dos filhos, não era “terra que mana leite e mel”. A
liderança de Moisés estava sendo questionada e seus
motivos estavam sendo mal-interpretados. Os cristãos
podem se com portar do mesmo modo. Quando os
problemas surgem, eles são tentados a pensar que antes
eram mais felizes, e tal pensamento apenas os torna mais
infelizes.
Por essa razão podemos acrescentar a oitava observa­
ção sobre a murmuração. Visto que ela só nos torna mais
infelizes, ela não somente é pecado, mas também é tolice.
Que adianta murmurar sobre algo que não temos? Isso

45
facilita nosso aproveitamento das coisas que já temos?
Acaso a criança que joga fora seu pedaço de pão vai satisfa­
zer a sua fome por que não há mais bolo? A murmuração é
algo fútil. Perguntou o Senhor Jesus: “Quem de vós, por
mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua
estatura?” (Mateus 6:27). A resposta naturalmente é que
ninguém pode. As pessoas podem se preocupar em
demasia, mas a murmuração não lhes fará nenhum bem.
Deus talvez retenha uma bênção até que eles estejam num
estado adequado de mente para recebê-la. Ou se Deus
concede a bênção, os cristãos podem descobrir que seu
espírito está agora tão amargurado que não podem apreciar
a bondade de Deus. O fato é que a murmuração é tolice,
pois, ela torna as coisas ainda piores. Cristãos que reclamam
são cristãos orgulhosos, que se recusam a se submeter à
vontade de Deus para suas vidas. Eles são semelhantes aos
marinheiros que reclamam da tempestade ao invés de
preparem o navio para enfrentá-la. Marinheiros sensatos
reconhecem a superioridade da tempestade e arriam as
velas.
As últimas duas coisas que podemos observar com
respeito à murmuração são muito sérias. A murmuração
provoca a ira de Deus. Ele Se irou quando os israelitas
murmuraram; Ele Se enfurece quando os cristãos reclamam.
Os israelitas foram punidos por causa da murmuração; e
os cristãos, portanto, deveriam tomar cuidado para não
aumentar aos seus problemas por atrair sobre si o castigo
de Deus. Um espírito intranqüilo e m urm urador é o
espírito de satanás. Ele foi o primeiro a se rebelar, o

46
primeiro a se queixar, o primeiro a ser amaldiçoado por
Deus. Toda rebelião é amaldiçoada, e os cristãos deveriam
levar a sério o que a Bíblia diz sobre a murmuração.
A última coisa que vamos observar sobre este assunto é
que Deus pode retirar Seu cuidado e proteção daqueles que
reclamam dEle. Um empregado descontente pode ser
demitido e mandado a procurar outro emprego; e Deus
pode enviar Seu povo a procurar outro senhor se ele
reclamar da forma como é tratado. Isso pode ser uma
forma dEle disciplinar Seus servos e fazê-los confiar nEle,
ou pode ser porque eles nunca foram cristãos verdadeiros.
Resmungar faz mal para você. E o primeiro passo numa
estrada escorregadia e íngreme. Alguns dos israelitas que
murmuraram no deserto jamais viram a terra prometida.

47
7
Hora De Parar
De Resmungar
Resmungar sempre será algo errado e estulto; no
entanto há situações em que isso se torna particular­
m ente sério. Neste capítulo veremos quatro dessas
situações.
Em primeiro lugar, resmungar é muito sério quando
temos sido grandemente abençoados. Por exemplo, se há
problemas na vida de nossa igreja, somos tentados a
reclamar, esquecendo-nos de sermos gratos pela liberdade
que temos de adorar e evangelizar da maneira como
queremos. Em alguns países os cristãos têm medo de
perder sua liberdade ou suas vidas porque pertencem a
Cristo. Se Deus é bom para os membros de uma outra
igreja, somos tentados a invejar e a resmungar, esquecendo-
-nos de agradecer a Deus por ter abençoado tanto a nós quanto
a eles, embora de maneira diferente. Talvez na próxima
ocasião nós seremos os abençoados em vez deles. Se Deus
assim o pode fazer para eles, Ele também pode fazer para
nós. Por outro lado, se Deus é bom para nossa igreja numa
fase quando estamos tendo problemas pessoais, somos

48
tentados a esquecer que deveríamos ser gratos por aquilo
que Deus está fazendo, ao invés de reclamar de nossas
dificuldades pessoais. Devemos sempre ser capazes de nos
alegrar quando Deus é bondoso para com Sua Igreja.
Em segundo lugar, resmungar é por demais sério se
estamos reclamando de coisas de somenos importância. Seria
idiotice uma mãe estar preocupada porque seu saudável
e feliz filho nasceu com uma mancha no corpo. Foi uma
tolice da parte do Rei Acabe, que tinha controle sobre um
grande reino, ficar amuado só porque não possuía certa
vinha. E é estúpido os cristãos resmungarem sobre coisas
triviais.
Em terceiro lugar, resmungar é coisa seríssima se é feita
por aqueles a quem Deus tem sido especialmente gracioso.
Caso um viajante receba hospitalidade e veja nela defeitos,
ele está sendo rude e ingrato. Os cristãos são peregrinos
neste mundo, e tudo que eles têm foi graciosamente dado
por Deus. Se Deus tem sido tão bom assim para eles, então
não têm razões para murmuração.
Finalmente, resmungar é algo seríssimo se nossos
problemas fazem parte dos planos de Deus para nos
humilhar. A Bíblia afirma que Enoque andou com Deus,
ou seja, ele percebeu o que Deus estava fazendo na sua vida,
submeteu-se à vontade divina e organizou sua vida de
acordo com ela. Até mesmo em tempos de dificuldades os
cristãos estão preparados para se submeterem àquilo que
Deus deseja e a reconhecerem que Ele está efetuando isso
para os humilhar e abençoar espiritualmente. Por isso, é
errado murmurar, pois Deus está nos fazendo o bem. É

49
altamente errado viver reclamando quando Ele está sempre
nos abençoando. Naturalmente não é fácil suportar a
tribulação, porém a Bíblia nos diz que mais tarde ela
“produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm
sido exercitados” (Hebreus 12:11). Quanto mais os cristãos
experimentam a humilhadora mão de Deus, tanto mais
deveriam apreciar Seu cuidado por eles.
Quando nos encontramos resmungando numa dessas
quatro situações, é hora de parar. Mas dêem uma olhada
novamente na terceira e quarta situação que descrevi. Os
cristãos estão sempre na posição daqueles a quem Deus tem
sido especialmente gracioso. Os cristãos sempre estão na
posição daqueles com os quais Deus está lidando para o
benefício próprio deles; portanto, a murmuração é sempre
séria quando o cristão a pratica. E isso significa que a hora
de parar de resmungar é sempre a mesma - é agora!

50
8
Sem Desculpas!
Desde o momento em que Deus interrogou Adão e Eva
sobre o prim eiro pecado, os homens e mulheres têm
apresentado desculpas pelo seu comportamento. Aqui
estão algumas dessas desculpas que apresentam quando
resmungam.
“Não estou me queixando, apenas estou expondo os
fatos.” É ótimo que os cristãos olhem para sua situação de
forma realística; todavia, eles não deveriam resmungar. Pelo
contrário, estar conscientes dos fatos é estar ciente do
quanto Deus é grande em Sua misericórdia para com eles.
Se pensam mais sobre seus problemas do que sobre as
misericórdias de Deus, então eles têm uma visão distorcida
dos fatos. Estar ciente dos fatos não impede o cristão de
servir a Deus como ele deve servi-10, mas o resmungar sim,
isso impede. Sejamos realistas, encaremos os fatos, mas isso
deveria tornar-nos gratos a Deus, não apenas pelo que Ele
nos tem feito, mas também por aquilo que Ele tem feito para
outras pessoas. Se nós as invejarmos, isso mostra que estamos
pensando demais sobre nossos problemas e não suficiente­
mente sobre a bondade de Deus.
“Eu não estou reclamando: somente estou consciente do

51
pecado.” É fácil dizer isso, porém se a causa do pecado for
tirada, o suposto senso de transgressão desaparece, e isso
simplesmente mostra que não houve nenhuma convicção
real de pecado. Cristãos que de fato estão preocupados
sobre o pecado não desejarão acrescentar nada à sua culpa
por resmungar; pelo contrário, eles se sentirão felizes
submetendo-se à disciplina de Deus.
“Sou infeliz porque sinto que Deus não está comigo.”
Mas só porque estamos sofrendo, não significa que Deus nos
abandonou. Um pai não se vira contra o filho porque ele
teve de discipliná-lo. Deus prometeu estar com Seu povo,
especialmente em tempos de tribulações. “Quando passares
pelas águas, estarei contigo; quando passares pelos rios, eles
não te submergirão” (Isaías 43:2). Portanto Deus está junto
na situação, porém pode ser que às vezes os cristãos não o
sintam porque seu espírito de murmuração afastou deles o
senso da presença de Deus. Se quiserem senti-lo perto,
devem ficar quietos e obedientes e ter o zelo de ser o tipo
de pessoa que Ele deseja que Seus filhos sejam.
“Não é o sofrimento, e sim a atitude de outras pessoas
que não consigo suportar.” Até mesmo a atitude das outras
pessoas está sob o controle de Deus; inclusive os perversos
podem ser usados para Seus propósitos, embora os cristãos
devessem lembrar de que os ímpios estão sob o julgamento
de Deus, e deveriam ser motivo de suas orações. Não
importa quão severo seja o tratamento recebido de outras
pessoas, os cristãos deveriam sempre lembrar que Deus
jamais deixa de ser bom para com Seus filhos. Eles deve­
riam louvá-10: não há desculpas para a murmuração.

52
“Jamais esperava isso.” Os cristãos devem esperar
problemas nesta vida e precisam estar preparados para os
momentos de dificuldades, para que quando vierem eles
possam estar prontos para enfrentá-los. E quantas vezes
eles são capazes de dizer: “Jamais esperava isso”, quando
Deus tem sido especialmente bom para com eles!
“Meu problema é pior do que os dos outros.” Como
você sabe disso, meu amigo? Talvez sua murmuração o
tenha levado a exagerar. Mas supondo que seja o caso, isso
indica que Deus lhe deu uma oportunidade de glorificá-
-10 ainda maior do que a que deu aos outros. Quando os
incrédulos virem como você enfrenta um grande problema,
eles louvarão a Deus e talvez sejam auxiliados com proble­
mas menores.
“Meu problema não me deixa servir a Deus.” Às vezes
ocorre que os cristãos não conseguem servir a Deus como
gostariam devido às circunstâncias que enfrentam. É bom
querermos servir a Deus, e é natural ficarmos tristes quando
não conseguimos isso. Mas isso não é desculpa para
murmuração. Somos membros do corpo de Cristo. É
melhor ser um membro inexpressivo do corpo de Cristo do
que ser uma pessoa importante, a qual não é membro desse
corpo. Todos os cristãos têm um chamado espiritual para
cumprir, não importa quão insignificantes eles pensem que
sejam. Deus Se alegra mais com os atos mais simples de
um cristão humilde do que com todas as obras mais famosas
da história. O que Ele exige não é fama ou realizações
brilhantes, e sim fidelidade e paciência. Os que demons­
tram tais qualidades serão recompensados no céu. Quando

53
cristãos humildes vêem isso, percebem que não têm razões
para resmungar.
“Não agüento minhas circunstâncias, porque elas
sempre são instáveis.” Se as nossas circunstâncias são
incertas talvez a razão seja para nos ensinar a confiar em
Deus em cada passo do caminho. De qualquer forma nosso
estado espiritual é seguro, e nossa vida eterna assegurada.
Enquanto isso, Cristo nos concede muitas bênçãos, “pois
todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre
graça” (João 1:16).
“Eu era rico mas agora sou pobre.” Isso não é desculpa
para murmuração. Você não consegue ser grato peio fato
de ter sido rico e ter tido a oportunidade de se preparar
para esse tempo de pobreza? Ou que você uma vez desfru­
tou de boa saúde e teve a oportunidade de se preparar
para esse período de enfermidade? Ou que esteve em
liberdade e teve a oportunidade de se preparar para esse
tempo de perseguição? Um navegador experiente utiliza
os dias de calmaria para preparar seu barco para enfrentar
a tempestade. Deus não tem obrigação de dar coisa alguma
aos cristãos, por isso deveriam ser gratos pelas bênçãos
imerecidas que receberam, tanto no passado quanto no
presente. Seria justo murmurar por causa de umas peque­
nas adversidades ocorridas numa jornada que, de outra
forma, teria sido satisfatória? Mas talvez o que realmente
esta desculpa signifique seja: “Suportei terríveis dores para
conquistar isso e não é justo que eu o perca”. No entanto,
antes que os cristãos se preocupem com qualquer coisa,
deveriam certificar-se que têm a atitude correta para com

54
ela. Eles devem estar dispostos a abrir mão daquilo que
ambicionam se outra coisa que honre mais a Deus for o que
realmente seja melhor para eles.

Perguntas que Ajudarão o Leitor a Pensar


sobre os Capítulos 6 - 8

1. De que maneia o que você leu até aqui afetou sua vida e
atitudes?
2. Veja Filipenses 2:14,15. Será que realmente cremos que a
murmuração seja pecado?
3. Veja Isaías 53:3-7. Nosso Senhor Jesus não reclamou
mesmo quando estava sendo cruel e injustamente crucifi­
cado. De que maneira o caráter e o comportamento de
Cristo deveriam afetar a vida do cristão?
4. Veja Filipenses 4: 6,7 e compare com 1Tessalonicenses 5:16-
18. Qual é o relacionamento entre oração e contentamento
cristão?
5. Os israelitas, que Deus tirou do Egito, continuamente
murmuravam contra Ele, e Deus se indignou com eles e os
julgou. Você acha que Deus fica indignado conosco quando
reclamamos sobre as coisas? Acaso alguns dos nossos
problemas seriam o julgamento de Deus sobre nós devido
sermos um povo resmungão?
6. Veja Hebreus 12:7-11. De que maneira as dificuldades e os
problemas fazem parte do nosso disciplinam ento na
justiça? Que tipo de atitude é exigida de nós para que tal
disciplinamento resulte em sucesso?
7. De que forma você busca justificar suas murmurações?
8. Que você aprendeu a seu respeito nesse estudo?

55
9

Felicidade - Como Conquistá-La


A felicidade cristã, ou seja, contentamento, é exata­
mente o oposto de um espírito de murmuração. Ela começa
no nosso coração. Não é possível firmar um navio no mar
escorando-o de lado; é necessário lastreá-lo interiormente.
Da mesma forma nada que venha de fora do cristão pode
mantê-lo feliz; é necessário que haja graça no íntimo. Mas
se os cristãos possuem tal graça interior, há certos passos
práticos que eles podem tomar que os ajudarão a conquistar
a verdadeira felicidade.
Em primeiro lugar, eles devem tomar o cuidado de não
se envolverem em demasia com os assuntos deste mundo.
Claro que eles não podem viver neste mundo sem estar
de alguma forma envolvidos nele, e Deus pode até levá-los
a envolver-se particularmente em alguns aspectos dos
negócios deste mundo. Mas se os cristãos vão experimentar
a verdadeira felicidade, devem manter reduzido ao mínimo
seu envolvimento com o mundo.
Em segundo lugar, eles têm que obedecer à Palavra de
Deus como revelada na Bíblia. Isso não deveria constituir-
-se em problema. A Bíblia ensina claramente que Deus opera

56
todas as coisas para o benefício dos cristãos (Romanos 8:28);
portanto, ao servirem a Deus eles estão servindo a um
mestre que sempre tem o melhor para eles em Seu coração.
Os cristãos podem com alegria submeter-se à vontade de
Deus quando entenderem isso.
Em terceiro lugar, como ocorreu com as pessoas
mencionadas no capítulo 11 de Hebreus, eles deveriam
viver pela fé, usando sua fé para entender ou aceitar suas
circunstâncias. Eles deveriam exercitar a fé, não somente
nas promessas de Deus, mas no próprio Deus. Ele cuida
deles de tal forma que não precisam estar ansiosos sobre
coisa alguma. Até Sócrates, (469-399 a.C), um filósofo
pagão, disse: “Já que Deus tem tanto cuidado por vocês,
por que então se preocupam com outras coisas?”. Em
períodos de dificuldades, os crentes deveriam lançar seus
fardos sobre Deus e dedicar a Ele seus caminhos. Crer em
Deus trará para eles a paz e a felicidade.
Em quarto lugar, eles deveriam trabalhar com afinco
para serem orientados espiritualmente: “buscai as coisas que
são de cima, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus”
(Colossenses 3:1). Se os cristãos passam muito pouco tempo
pensando sobre coisas celestiais, e grande parte do tempo
ruminando sobre aquilo que querem, tão-somente se fazem
infelizes. Se as mentes deles estivessem postas nas coisas
do alto e eles dedicassem mais tempo a Deus, não ficariam
desanimados quando enfrentam problemas com as coisas
terrenas.
Bem relacionado com isso é o quinto ponto, qual seja,
que os cristãos não deveriam esperar que essa satisfação

57
provenha das coisas terrenas. Paulo escreveu: “...tendo sus­
tento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Timóteo
6:8). Pessoas que esperam grandes coisas são muitas vezes
desapontadas. Os cristãos deveriam portanto estar contentes
com aquilo que têm. Deveriam seguir o conselho dado a
Baruque: “E procuras tu grandezas? Não as procures...”
(Jeremias 45:5). Se eles esperam grandes coisas espirituais,
não serão desapontados.
Em sexto lugar, eles deveriam estar mortos para o
mundo. Paulo escreveu: “Morro diariamente”. Os cristãos
sabem que a única fonte de sua felicidade encontra-se em
coisas espirituais, e há certo tipo de morte para com as coisas
deste mundo que faz com que elas “obscureçam à luz da
glória de Deus e de Sua graça”. *
Em sétimo lugar, jamais deveriam ficar obcecados
com seus problemas. Uma criancinha coça o machucado,
tornando-o mais difícil de ser curado. Os cristãos podem
ficar assim com seus problemas. Falam sobre eles constan­
temente, e permitem que isso destrua seus momentos de
oração. Eles passam a se sentir mais miseráveis, pois seus
problemas começam a parecer maiores do que realmente são.
Quanto melhor seria se pensassem sobre a bondade de Deus
até que não houvesse mais tempo para murmurações e
infelicidades. Quando a esposa de Jacó morreu ao dar à
luz, ela deu nome a seu filho de Benoni, que significa “filho
de minha tristeza”. Jacó não desejava contudo ser constan­
temente lembrado de que seu filho era a causa de tal

* Esta é uma frase de um hino.

58
infortúnio, portanto o chamou de Benjamin, “filho de
minha mão direita”. Esta atitude positiva sempre é útil
para que os cristãos encontrem a real felicidade.
Em oitavo lugar, então, deveriam fazer esforço concen­
trando para raciocinar positivamente sobre o que Deus faz
para eles. Seria ridículo se um amigo constantemente
interpretasse mal as atitudes de seu companheiro e lhe
atribuísse todo tipo de motivos desonrosos. Da mesma
forma, é errado para os cristãos interpretarem mal o que
Deus faz para eles. Eles deveriam pensar positivamente
sobre o que Ele faz, da seguinte maneira: “Deus viu o perigo
de me tornar dependente demais de certa coisa; então Ele,
carinhosamente, a afastou de mim”, ou “Deus viu que se
permitisse que eu fosse rico, cairia em pecado, portanto
Ele, ternamente, me fez mais pobre”, ou “Deus está me
preparando para uma tarefa especial que Ele tem em mente,
e fico contente com isso”. “O amor não tem prazer no mal”
(1 Coríntios 13:6). Se você ama alguém, interpretará suas
atitudes de maneira amorosa; e se houver nove más inter­
pretações de como Deus lida com você, e somente uma boa,
fique com a boa e esqueça as nove más.
Em nono lugar, eles não deveriam colocar dema­
siada confiança nas opiniões dos outros. Por exemplo, os
cristãos devem sentir-se totalmente felizes até que seu
contentamento seja tirado por alguém lhes dizer que
está faltando alguma coisa neles. Mas se eles estavam
satisfeitos antes de lhes dizerem tal coisa, por que deve­
riam permitir que as idéias de incrédulos sobre felicidade
os molestem? A verdadeira felicidade cristã não depende

59
do que outras pessoas dizem.
Como os cristãos hão de conseguir a felicidade? Todas
essas coisas podem ser resumidas da seguinte maneira: os
cristãos não podem ser dominados pelos confortos deste
mundo. Então eles não serão abalados se estas coisas -
propriedade, família, reputação, etc. - lhes forem tiradas.

60
10
Felicidade - Como Mantê-La
Chega o sofrimento: como podem os cristãos perma­
necer felizes? Neste último capítulo consideraremos cinco
pensamentos que ajudarão os cristãos a permanecerem
felizes em tempos de provações.
Em primeiro lugar, cristãos que enfrentam adversi-
dades deveriam lembrar quão grandes são as coisas que
Deus lhes tem dado e quão insignificantes são as coisas que
eles não têm. Eles são tentados a almejarem aquilo que
os incrédulos possuem, e isso pode fazê-los descontentes
embora gozem privilégios que os incrédulos não conhecem.
Deus os tem dado “toda espécie de bênção em Cristo” (Efésios
1:3), e logo não é correto que eles se sintam infelizes por
não terem as coisas que o mundo oferece e que são portanto
temporárias.
Em segundo lugar, cristãos que enfrentam problemas
deveriam se recordar das bênçãos que receberam no
passado. Alguém que chegou aos cinqüenta anos e que
sofreu de alguma doença por dois anos faria bem se agrade­
cesse a Deus pelos quarenta e oito anos de perfeita saúde, ao
invés de se queixar os dois de enfermidade.

61
Em terceiro lugar, cristãos com provações deveriam se
lembrar, de que a vida neste mundo é breve, ao passo que a
eternidade é para sempre. Em breve seus problemas serão
desfeitos. A Bíblia nos afirma: “Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno de glória,
acima de toda comparação, não atentando nós nas que se
vêem; mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são
temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Coríntios
4:17-18).
Em quarto lugar, os cristãos que enfrentam problemas
deveriam recordar de que os servos de Deus no passado
sofreram provações piores. Jacó era o herdeiro de Abraão e
Isaque, porém teve de trabalhar para seu tio durante
longos anos. Moisés, que morou no palácio do rei do
Egito, passou quarenta anos como pastor e ovelhas, e final­
mente retornou ao Egito tão pobre que pôde colocar sobre
um burro sua família e seus bens (Êxodo 4:20). Elias foi
obrigado ficar escondido e ser alimentado por corvos.
Jeremias foi arremessado no calabouço. Martinho Lutero,
o reformador, não deixou nenhuma herança material
para sua família. E ousariam os cristãos hoje esperar fica­
rem livres de sofrimento, o qual Deus não poupou a esses
grandes servos Seus? Acima de tudo o grande exemplo
para eles no sofrimento é o Senhor Jesus Cristo, que viveu
em piores condições do que as raposas e as aves do céu,
pois Ele não teve onde reclinar a cabeça.
Finalm ente, os cristãos que enfrentam problemas
deveriam esforçar-se para louvarem a Deus por aquilo
que lhes tem dado. Eles possuem uma natureza nova e

62
espiritual; podem louvar a Deus de maneira que realmente
O agrade. E eles descobrirão que haverá real felicidade
proveniente dessa atitude.
Eis aí tenho exposto o que é o contentamento. Leitor,
você o tem? A Palavra de Deus nos mostra como obtê-lo.
Será que já começamos essa jornada à procura dele? E mais
fácil falar sobre contentamento do que encontrá-lo. Assim
os cristãos novos devem se esforçar para cultivar um espírito
quieto e contente desde o início de sua vida cristã; os mais
maduros na fé deveriam tomar consciência do quanto
ainda têm que aprender, pois nenhum cristão verdadeiro
pode estar satisfeito até que tenha encontrado o verdadeiro
contentamento que Deus concede.

Perguntas que Ajudarão o Leitor a Pensar


nos Capítulos 9 e 10

1. O capítulo 9 lembra-nos que um espírito contente é obra da


graça de Deus no coração. Acaso não termos um espírito
alegre significa que a culpa é de Deus? Teríamos permissão
para continuar reclamando e queixando até que Deus nos
faça diferentes?
2. Um dos modos pelos quais aprendemos a estar alegres
é não nos envolvermos em demasia com as coisas
deste mundo (Mateus 6:19-34 e Colossenses 3:1-4). Mas
os cristãos realmente têm de viver no mundo; temos
muitas responsabilidades terrenas - nossas famílias, nosso
trabalho, etc. A luz disso, o que significa em termos
práticos, “envolver-se demais nos assuntos deste mundo”?

63
3. Leia Atos 16:16-25. Tente imaginar-se no lugar de Silas e
Paulo e imagine o que significa ser chicoteado e aprisio­
nado por fazer o que é bom. Qual a importância da oração
e do louvor na preservação de um espírito contente em
tempos de dificuldades?
4. Que tem ajudado você a permanecer alegre quando passa
por situações difíceis?
5. Quando outros cristãos estão passando por provações, qual
a maneira melhor de ajudá-los a permanecerem contentes
com Deus e o que Ele está fazendo para eles?
6. O que você aprendeu neste livro? Que diferença isso fará
na sua vida?

64
Aprendendo a Estar
SI IÍ *wm1 f If í f wQ

JEREMIAH BURROUGHS (1599-1646) estudou na


Faculdade Emmanuel, em Cambridge (Inglaterra). Depois,
ministrou em duas congregações em Anglia antes de abandonar o
país para pastorear a igreja inglesa em Roterdã, Holanda, em 1637.
Quando retornou à Inglaterra em 1642, logo se tornou um dos
mais conhecidos pregadores de Londres. Burroughs foi um dos
delegados na Assembléia de Westminster. Juntamente com
outros quatro ele se opôs à forma de governo na Igreja da
Inglaterra que teve o apoio da maioria. Sendo de espírito sereno,
ele se entristeceu devido às divisões que inevitavelmente se
seguiram às suas objeções.

O livro de Burroughs, The Rare Jewel of Christian


Contentment (A Jóia Rara do Contentamento Cristão), foi
publicado em 1648, dois anos após sua morte. Ele foi publicado
pela Banner of Truth Trust em sua forma completa. Esta que
agora publicamos é uma versão simplificada.

\ ®
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS
Rua 24 de Maio, 116 3o andar salas 14-17
01041-000 São Paulo SP

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