O Arquipélago - Érico Veríssimo

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O Arquipélago - Érico Veríssimo

O Arquipélago continua coma história da família Terra Cambará com o Dr. Rodrigo.
Entrelaçada por Reunião de Família, a história da família se reunindo após a
queda de Vargas, com Rodrigo a beira da morte em 1945 continua a história de
Rodrigo e Toríbio. Depois de dois infartos e sofrendo de edema pulmonar, Rodrigo
passa ao tempo todo acamado, com a amante num hotel da cidade (ela veio do Rio
de Janeiro por conta própria), e os filhos desentendidos. Floriano, o
intelectual passivo está apaixonado por Sílvia, mulher de seu irmão Jango, um
homem simples. Eduardo milita o comunismo e ataca o pai até em praça pública,
enquanto Bibi simplesmente se sente deslocada em Santa Fé, com o segundo marido.
Maria Valéria está cega e Flora mantém um casamento apenas de fachada com
Rodrigo. A maioria do tempo vêem-se discussões políticas entre Rodrigo, Tio
Bicho (amigo da família e confessor de Floriano), Irmão Zeca (filho bastardo de
Toríbio que se tornou irmão marista), Terêncio Prates (sociólogo formado pela
Sorbonne e estancieiro), acabando sempre na figura de Getúlio Vargas que Rodrigo
tanto defende. Rodrigo enquanto isto também desobedece às ordens de Dante
Camerino, seu médico (ele chegou a ter um encontro com a amante) e Floriano
confessa a Tio Bicho o que sente por Rodrigo. As anotações (Caderno de Pauta
Simples) de seu filho mais velho, o escritor Floriano, também intercalam a
história. Elas são um preenchimento de lacunas sobre acontecimentos menores da
história; reminiscências de infância e adolescência, onde se lembra como se
sentia por Rodrigo, o colégio interno onde era um dos amantes da mulher do
diretor (eram ambos pederastas); impressões sobre o dia-a-dia daquela reunião;
memórias de quando era professor universitário de Literatura Brasileira em São
Francisco, onde reencontra Mandy Patterson, a americana que namorara no RJ e o
afastou de Sílvia. E aparece também um germe para o romance que pretende
escrever, fechando duzentos anos de história, que é na verdade a história da
própria família Terra Cambará, dando caráter autobiográfico ao personagem (ele
vai afinal, escrever o livro que agora lemos), começando pela história de Pedro
Missioneiro, uma que ele não chegou a conhecer já que Ana Terra nunca revelou.
Essas duas últimas citações dão caráter autobiográfico a Floriano, já que o
autor foi professor de Literatura Brasileira e, bem, escreveu esta história. A
primeira parte é O deputado, que conta sobre Rodrigo em 1922, deputado estadual
chimango. Mas a desilusão com o partido que ele e seu pai passam a sofrer leva
ele a renunciar ao cargo com um discurso inflamado na assembléia municipal.
Passa então mais uma noitada no Rio e volta para Santa Fé e discute política com
os amigos e se prepara psicologicamente com o irmão para a revolução que eles
temem que virá. Lenço encarnado conta sobre a revolução de 23 e a participação
dos Cambarás. Por causa das fraudes nas eleições estaduais, começas uma luta
entre os borgistas (chimangos, situação, inimigos dos Cambarás) e assisitas
(maragatos, oposição, derrotados pela fraude, ironicamente com a participação
dos ex-inimigos jurados dos Cambarás) A revolução começa em janeiro e as tropas
dos maragatos se reúnem, mas só partem com o consentimento e sob o comando de
Licurgo quando Alvarino Amaral decide lutar separado. É um sinal das cicatrizes
que ficaram da revolução de 95, quando a filha de Licurgo, seu sogro e um
agregado morreram. A coluna dos Cambará leva Miguel Ruas, o promotor que nem
sequer gaúcho era; Liroca, quixotesco; a Cacique Fagundes e Juquinha Macedo,
dois chefes tradicionais (o primeiro morre); caboclos pegos no meio do caminho
(vários dos quais morrem); Rodrigo, Toríbio e Licurgo. Eles marcham pelo estado,
andando mais que lutando, e por estas batalhas caem uns e tomam-se munição e
outras coisas. Ruas morre na tomada de Santa Fé e Licurgo numa das últimas
batalhas, com Rodrigo ao seu lado gritando por um médico, esquecido que ele
mesmo era um. Por todo este tempo as mulheres e crianças ficam no Sobrado, Flora
desesperada (este capítulo revela que Flora conhece as escapadas do marido, a de
Toni Weber em especial) e Maria Valéria cuidando de tudo. A revolução acaba em
outubro, com vários mortos e uma paz que manda que o governador reeleito Borges
de Medeiros não o seja mais e outras concessões. Um certo Major Toríbio é a
parte que relata sobre os três anos seguintes, as revoltas contra Artur
Bernardes, presidente na maioria do tempo em que isto se passa (Washington Luís
toma posse mais para o fim). Toríbio se junta, contra a vontade de Rodrigo, a
Coluna Prestes. Mas ele só é visto mais ao final da história, que se passa a
volta de Rodrigo, chocado pela morte da filha (ele leva um ano para se
recuperar, ainda assim nem muito) e ainda perturbado com a do pai. Mostra também
a partida do quieto Floriano, já com jeito para letras, para estudar em Porto
Alegre. Quando finalmente recebe notícias de seu irmão, vindas do já tenente-
coronel Rubim, Rodrigo parte para o Rio e Toríbio é liberto da prisão. Chegando
ao Sobrado, Toríbio conta de sua experiência com a Coluna Prestes aos mais
chegados e como só se salvara de morrer porque um militar cujo a vida Rodrigo
salvou era o responsável pela execução. Mas foi preso ainda assim. É importante
dizer também que, desiludido com a medicina após a morte de Alicinha, Rodrigo
vende a farmácia e a Casa de Saúde aos médicos que o ajudavam, Dante Camerino e
Carlo Carbone, fecha o consultório e entrega a administração do Angico ao sogro.
O cavalo e o obelisco é a história da Revolução de 1930, mostrada desde poucos
meses antes até poucos dias depois. A medida que a tensão cresce vai mostrando-
se a confusão de sentimentos sobre o Getúlio Vargas que Rodrigo esgosta e vem a
admirar tanto mais tarde. Como o pai, Rodrigo é obrigado a se aliar com os
antigos inimigos (Laco Madruga dessa vez) relutantemente. Floriano, já mais
velho, parasitando de modo ainda mais relutante em Rodrigo e sentindo-se mal por
isso é obrigado pelo pai. Homem de paz, quando durante a tomada da guarnição
federal de Santa Fé o pai é ameaçado de morte por um homem que era amigo,
Floriano não o mata em defesa do pai, mesmo depois que este já havia sido
alvejado pelo Tenente no ombro. Floriano foge então sendo chamado de covarde
pelo pai. O homem, Tenente Bernardo Quaresma, estava acuado no escritório, não
tendo sentido a explosão das granadas por estar acompanhado de um cachorro, que
depois assombrou Santa Fé. Rodrigo acaba por dar o primeiro dos tiros que mata
este Tenente, que era apaixonado pela mulher com quem Rodrigo estava traindo
Flora na época, uma poetisa. Rodrigo passa a se atormentar pela morte de
Quaresma a partir daquele dia. Depois ele se encontra com Getúlio Vargas na
estação, faz um discurso dramático e parte para o Rio de Janeiro. Noite de Ano-
Bom mostra um único dia: 31/12/1937. Começando com o enterro da mãe de Arão
Stein, que se encontra na Guerra Civil na Espanha, financiado por Rodrigo.
Eduardo, influenciado por Stein, já principia a militar o comunismo. Floriano se
sente um covarde por não ter revelado à Sílvia seus sentimentos, que agora
percebe o quanto eram profundos ao vê-la, no dia de seu noivado com Jango. Então
se lembra do relacionamento com a americana no RJ que o afastou de Sílvia. Já
aqui a história se foca mais em Floriano que Rodrigo e mostra o quão corrompida
foi a família desde 1930. O noivado realiza-se sob um clima pesado com Rodrigo
defendendo, apesar de ainda não ter digerido, o Estado Novo de todos, inclusive
seu irmão Toríbio. Escala também o nazi-fascismo em Santa Fé. Corre tudo
relativamente bem, exceto pelo desentendimento entre Toríbio e Rodrigo, até que
alguém propõem um brinde à Getúlio Vargas e ao Estado Novo. Toríbio se revolta,
faz um pequeno escândalo e sai com Floriano para um baile numa das favelas de
Santa Fé. Tentando seduzir uma jovem mulata, mete-se numa briga com o outro
pretendente. Floriano ainda ataca um de seus inimigos com uma garrafada (gesto
que não pode realizar em prol do pai), mas muita tarde. Toríbio é ferido na
virilha e se esvai em sangue, chegando morto ao hospital, suas últimas palavras
sendo "Um piazinho de merda..". Do diário de Sílvia vem o preenchimento dos anos
seguintes à tragédia, com impressões sobre seus sentimentos em relação a
Floriano, quase idênticos aos que este sentia; o casamento infeliz e sem amor
com Jango; as dúvidas quanto a sua religiosidade; a correspondência com
Floriano; as confidências com e de Arão Stein (de volta da Espanha. Mais tarde
expulso do PC, começa a enlouquecer) e Zeca (já usando o nome de Irmão Toríbio).
Lembra-se também da infância infeliz e como idolatrava a "gente do Sobrado",
sentindo-se em incesto quando dorme com Jango. E registra as reações em relação
à guerra, a volta de Pepe Garcia e o que Floriano lhe escreve dos EUA.
Encruzilhada, a última parte, tem um título que define a situação em que a
família, p país se encontra naquele final de 1945: estão numa encruzilhada da
vida. Começa a história com Arão Stein, enlouquecido pela expulsão do PC se
matando, enforcado na figueira na paraça central de Santa Fé. Em seguida passa-
se seu funeral e enterro (Rodrigo não fica sabendo), onde Rodrigo, Zeca e Roque
Bandeira discutem mais uma vez. Stein é enterrado sem ter a alma encomendada,
como todo suicida. No Sobrado, Floriano se cruza com Sílvia, abraça-a e beija-a,
mas ambos se separam e ela foge. Depois ele e Sílvia tem uma conversa séria e
ela lhe entrega para ler seu diário. Antes de lê-lo, Floriano tem a conversa
definitiva no qual desabafa tudo o que pensava e sentia sobre sua relação com o
pai, cortando definitivamente o cordão umbilical que os prendia, reconciliando-
se com ele e consigo mesmo. Rodrigo, já liberado por Dante para voltar ao Rio,
manda Sônia, sua amante de volta antes e planeja romper com ela. Floriano sobe
até seu refúgio no sótão e lê o diário de Sílvia, sente-se afinado, inveja Zeca
por ter com ela uma intimidade que ele nunca terá e finalmente lê a última frase
onde ela revela estar grávida. Rodrigo e Flora ouvem isto e ficam felizes.
Rodrigo prepara-se então para voltar ao RJ, mas morre antes. Seu funeral se
processa como era de se esperar. Na noite de Ano-Bom acontece a festa
tradicional, morre Laco Madruga, vê-se todos os personagens por uma última vez e
muito é revelado. Floriano planeja construir as pontes que ligarão sua ilha a
este Arquipélago de pessoas. E ao final, enquanto o neto de Alvarino Amaral,
admirador do escritor e conterrâneo Floriano Cambará, compõem seu primeiro poema
e pensa em se aconselhar com ele, Floriano escreve as primeiras linhas de seu
romance catártico que contará a história de sua família: as primeiras palavras
de O Tempo e O Vento.

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