Belchior Gomes de Araujo e o Inconsciente Coletivo Iguatuense

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

BELCHIOR GOMES DE ARAÚJO E O INCONSCIENTE COLETIVO IGUATUENSE

FATIANA CARLA ARAÚJO*

As transformações ocorridas ao longo da história são resultado de enfrentamentos


entre situações cristalizadas e condições outras que se apresentam e resistem às anteriores,
construindo seus próprios valores, com subjetividades próprias. Esse movimento de recriação
apresenta novas formas de subjetividade, que se expressam, na escola, na rua, nas fábricas e de
um modo geral nas experiências sociais do cotidiano. Gilles Deleuze (1992) discute questões
semelhantes às apresentadas anteriormente, indicando o Estado, a família, a escola, os hospitais,
o trabalho e as cidades, como espaços de manifestação de mudança.
Analisando a constituição de subjetividades e suas inter-relações com outros
aspectos da vida social, como memória e representação, busco compreender as práticas de
construção da identidade iguatuense nos últimos sessenta anos. Salienta-se o esforço em
estabelecer relações entre os sujeitos individuais e suas afetividades com as práticas cotidianas,
ou seja, uma forma de viver. Essa análise objetiva perceber a mudança, a realidade como
maleável, mas ao mesmo tempo, detentora de uma ordem imanente às mudanças históricas.
O intuito desse estudo é compreender a construção da identidade iguatuense, não
perdendo de vista o papel desempenhado por Belchior Gomes de Araújo 2. Faço referência a
esse Senhor, por se tratar de um sujeito falecido há 60 anos, mas vivo nas lembranças de
gerações que não o conheceram, através da repetição e recriação de histórias e símbolos, por
meio das quais estabelecem vínculos com esse personagem local. Nesse primeiro momento
destaco algumas pessoas que conviveram com Belchior.
Belchior Gomes de Araújo nasceu em 06 de janeiro de 1908 em uma família
aristocrática, voltada para as atividades rurais, mas também buscando adequar-se às mudanças
do começo do século XX: o desenvolvimento das atividades urbanas, o comércio, a indústria.
Seu pai, Pedro Gomes de Araújo, conhecido como Coronel Pedroca, possuiu engenho de cana

* URCA. Mestre em Serviço Social.


2
A pronúncia correta é com o “o” fechado tônico (Como se fosse Belchiôr).
2

de açúcar de grande porte3, produziu aguardente, assim como, participou do comércio na Vila
de Quixelô-CE e posteriormente em Iguatu-CE, como comerciante (LIMA VERDE, 2011).
Belchior era católico, devoto de Bom Jesus, São Francisco e Nossa Senhora de
Monte Serrat; festeiro por índole, comemorava seu aniversário numa festa que durava três dias
e três noites. Frequentava os cabarés locais, fumava – cigarro Beliza, fumo sergipano – e era
consumidor de cinzano. Estudou em Fortaleza, frequentava a Livraria Iguatu, demonstrava ser
carinhoso4, apresentava uma relação afetuosa com mãe e um enfrentamento ao pai.5
Encontramos um homem que “Por volta de seis horas da tarde, ele andava muito
em volta da casa e nesses momentos sempre estava rezando e ninguém falava com ele6”.
Não desejo analisá-lo como produto de seu tempo, de seu contexto, mas como um
personagem histórico, que viveu em um determinado tempo e espaço, estabeleceu relações com
outros indivíduos, criou seu modo de vida.
As discussões sobre identidade têm suscitado os mais diversos debates, sobretudo
quanto às mudanças provocadas com a pós-modernidade. Apresento uma perspectiva de estudo
pautada numa inter-relação entre oralidade, identidade e inconsciente coletivo.
As ações concebidas e os fatos produzidos por Belchior, em menos de meio século,
ressoaram em seu tempo, construindo uma configuração própria, a partir de elementos que o
identificaram e o identificam, tais como, uma burra, de nome “Estrela”, um automóvel, do tipo
jeep, a cartucheira, armas de diversos calibres, a figura de Luiz Hermínio, conhecido por Luiz
Vaqueiro, festas, ações violentas e até, mesmo as condições de sua morte em 1º de abril de
1955.
Segundo Carl Gustav Jung “o processo simbólico é uma vivência na imagem e da
imagem” (2007: 47). Esses elementos tornaram-se símbolos que passaram a constituir a
formação e evolução da identidade iguatuense.

3
O terceiro maior do Estado.
4
Carta de 03 de outubro de 1933, para Dorinha, sua futura esposa, na qual ele pede que ela se decida pelo
casamento, visto que ela simboliza para ele “a felicidade”.
5
O Cel. Pedroca trouxera para o Sítio Mata Fresca uma amante, Maria Cândida, com a qual tivera 4 filhos. Isso
muito desagradou Belchior que a ameaçava constantemente. Após alguns anos a mulher foi embora com medo. O
Cel. Pedroca tornara a se envolver com mais uma mulher, Maria Severino. Novamente, Belchior tornava a ameaçá-
la, fato este que provocou a reação e o enfrentamento de seu pai, que exigiu respeito e impôs a Belchior um
“exílio”. Após 6 anos, sem dá notícias, ele retorna ao Sítio Mata Fresca. Andou pelo Maranhão, Pará e Goiás.
6
Josefa Gomes de Almeida, 77 anos, aposentada. Entrevista realizada em janeiro de 2012. In. SOMBRA, Waldy
(Org.). Belchior, sim senhor! Fortaleza: Premius, 2013, p. 90.
3

Esses episódios são contados e reinventados; reproduzidos e revividos por


diferentes gerações, ressaltando que “o ato de recordar pode produzir uma série de distorções
onde o indivíduo é levado a construir, ou melhor, a constituir ou reconstruir para si seu passado
a partir da situação histórica que o presente determine” (EWALDO; GUIMARÃES; BRAVO,
2006: 240) ao mesmo tempo em que “a perda da memória é a perda da identidade” (CANDAU,
2011: 59).
Entendo que as fontes orais apresentam uma maneira particular de se relacionar
com o mundo, com seu tempo, com sua sociedade, e até mesmo de se relacionar com sua própria
memória. Esses testemunhos são analisados como construtores de uma história e que, portanto
influenciam e são influenciados.
Como se estabelece a relação entre presente e passado? Qual o significado atribuído
ao passado, a um passado específico?
Percebemos o tempo como que assimilado a “uma qualidade associativa e
emocional, como se o fato tivesse acontecido próximo” (CANDAU, 2011: 87). Os testemunhos
orais alternam-se entre um Belchior mais próximo e outro mais distante no tempo. A maneira
como cada um se relaciona com o tema, às vezes o atrai, em outros momentos, o afasta.
Essa temática foi pensada a partir do interesse e curiosidade em compreender o
porquê das gerações mais novas, que não conviveram com Belchior, reproduzirem suas
histórias, criarem lendas, tornando-o um personagem lendário (ARAGÃO, 1998).
Ao se estudar a contribuição de Belchior Gomes de Araújo na formação da
identidade iguatuense compreende-se, assim como afirma Marc Bloch que “os fatos históricos
são por essência fatos psicológicos” (BLOCH, 2002: 157). A trajetória desse personagem tem
influenciado o pensamento de outras gerações. O imaginário iguatuense está repleto de
histórias, casos, fatos e criações de seu próprio povo, atribuindo sentidos à sua história, visto
que “os símbolos não podem ser arrancados de seu contexto, devemos apresentar descrições
exaustivas tanto da vida pessoal como do contexto simbólico” (JUNG, 2007: 60).
Algumas questões são levantadas: como é imaginada a cidade de Iguatu por seus
moradores? Que estratégias representacionais são acionadas para construir o senso comum
sobre pertencimento ou identidade local?
Conforme Stuart Hall “vínculos de lugares, símbolos, histórias particulares”
(HALL, 2006: 76) são elementos que estão associados à identidade e à construção dos sentidos
4

que influenciam e organizam as ações dos indivíduos. Cabe-nos levantar outras questões: onde
está o Iguatu? quais os elementos que podem caracterizá-lo: físicos, geográficos, ideológicos,
psicológicos?
Destaco a História Oral como instrumento de interpretações realizadas sobre as
narrativas orais e suas representações coletivas manifestadas nas práticas, crenças e lembranças
do grupo estudado. A transmissão oral impregna o indivíduo de sua tradição cultural. Apresento
as discussões de Paul Thompson (1992) e Alessandro Portelli (2010, 2013, 2016).
O debate sobre identidade tem se intensificado nas últimas décadas refletindo sobre
questões étnicas, gênero e até região. Identidade é um tema amplamente debatido na produção
acadêmica e literária em autores das mais diversas concepções e áreas, como Tomaz Tadeu da
Silva (2000), Anthony Giddens (2002), Stuart Hall (2006), Joël Candou (2011), Zygmut
Bauman (2005) e Paul Ricoeur (2007).
A discussão permeada por esses autores suscita a possibilidade de utilização dos
conceitos de inconsciente coletivo e arquétipos, desenvolvidos por Carl Gustav Jung com o
intuito de compreender o processo de formação da identidade iguatuense.
Arquétipos são “padrões de comportamento emocional e intelectual” (FRANZ,
2008: 419) e é um dos conteúdos do inconsciente coletivo; “representam um modelo básico de
comportamento instintivo” (JUNG, 2007: 54). E mais: “as imagens arquetípicas têm um
sentido a priori tão profundo que nunca questionamos seu sentido real” (JUNG, 2007: 24).
Arquétipos são símbolos, imagens inconscientes que representam um modelo de
comportamento, um conteúdo inconsciente; estão expressos nos mitos e contos de fadas.
O inconsciente coletivo “é herdado. Ele consiste de formas preexistentes,
arquétipos, que só secundariamente podem tornar-se conscientes, conferindo uma forma
definida aos conteúdos da consciência” (JUNG, 2007: 54).
É importante ressaltar que “do inconsciente emanam influências determinantes, as
quais, independentemente da tradição, conferem semelhança a cada indivíduo singular, e até
identidade de experiências, bem como da forma de representá-las imaginativamente” (JUNG,
2007: 71).
A contribuição trazida pela psicologia tem um aspecto essencial, pois é através dos
princípios constitutivos do pensar dos iguatuenses que se desenvolverá esse estudo através da
história oral, vista como “um ponto de contato e intercâmbio entre história e as demais ciências
5

sociais e do comportamento, especialmente com a antropologia, a sociologia e a psicologia”


(FERREIRA; AMADO, 2006: 19).
A historiografia aponta para uma simbiose entre memória e identidade; entre
identidade e representação. A identidade é compreendida como

Algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo


inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo
“imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está
sempre “em processo”, sempre “sendo formada” (HALL, 2006: 38).

Enquanto isso, “os indivíduos percebem-se membros de um grupo e produzem


diversas representações quanto à origem, história e natureza desse grupo” (CANDAU, 2011:
25).
Tomaz Tadeu da Silva apresenta identidade e diferença como “criações sociais e
culturais” (SILVA, 2000: 76), assim como “resultado de um processo de produção simbólica e
discursiva” (2000: 81).
A análise da contribuição de Belchior na construção da identidade iguatuense está
fundamentada na ideia de que ele é fruto de uma criação incorporada no inconsciente coletivo
desta sociedade. Enquanto isso, “os indivíduos percebem-se membros de um grupo e produzem
diversas representações quanto à origem, história e natureza desse grupo” (CANDAU, 2011:
25).
Esses autores reforçam as razões da escolha do tema: compreender as práticas
sociais dos iguatuenses através da construção da identidade, manifestada pelo inconsciente
coletivo e discutir o significado das representações sociais expressas na construção de símbolos
e arquétipos.
Conforme Marie Louise Von Franz “podemos constatar até agora o enorme
impacto que os arquétipos produzem no indivíduo, determinando suas emoções e perspectivas
éticas e mentais, influenciando o seu relacionamento com as outras pessoas e afetando, assim,
todo o seu destino” (FRANZ, 2008: 419).
Alguns aspectos se apresentam de forma recorrente:
- a presença de Belchior Gomes de Araújo na construção da identidade iguatuense;
- as manifestações do inconsciente coletivo nas práticas de pertencimento e
identidade local;
6

- a participação de Belchior no âmbito da comunidade local;


- o compartilhamento dos iguatuenses das práticas, representações, crenças e
lembranças referentes a Belchior.
A história oral é utilizada como instrumento metodológico de coleta e análise das
informações que fundamentarão o processo de construção dessa pesquisa. Os conceitos
discutidos por Alessandro Portelli norteiam os fundamentos teórico-metodológicos.
Para Alessandro Portelli mito “é uma história que se tornará significativa na medida
em que amplia o significado de um acontecimento individual (factual ou não), transformando-
o na formalização simbólica e narrativa das auto-representações partilhadas por uma cultura”
(PORTELLI, 2006: 121).
Stuart Hall nos diz que “as culturas nacionais são compostas de símbolos e
representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que
influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos”
(HALL, 2006: 50). Essa leitura suscitou a possibilidade de utilização dos conceitos de
inconsciente coletivo e arquétipos, desenvolvidos por Jung com o intuito de compreender o
processo de formação da identidade iguatuense.
Destaco dois episódios contados sobre a vida de Belchior que funcionam como uma
construção simbólica dos iguatuenses:
- ataque à cadeia de Iguatu;
- a situação da morte7.
No dia 16 de junho de 1948, foi preso José Palmeiras por ter agredido, com um soco inglês,
Nicanor, irmão de Belchior. A imprensa da capital do Ceará noticiou o fato, tendo destaque as seguintes
manchetes: “Uma rixa entre os senhores José Palmeira e o Dr. Nicanor Araújo”8 e “Atacada por um
grupo armado a cadeia de Iguatu”9. Mais de 740 tiros teriam sidos disparados contra a Cadeia
Pública, por Belchior e família, com o intuito de matar o agressor.
Todo esse problema fora motivado por um desentendimento durante um jogo de cartas.
Mesmo com o recolhimento imediato de José Palmeiras à Cadeia Pública, a família não se satisfez. Após
a troca de tiros entre a polícia e a família de Belchior, o preso foi transferido para Fortaleza.

7
Belchior foi assassinado em 1° de abril de 1955, num local conhecido como Alto do Buriti, entre Crato e Juazeiro
do Norte.
8
Jornal O Estado, 18 de junho de 1948, p. 7.
9
Jornal O Nordeste, 17 junho 1948, p. 8.
7

Outro fato de destaque nas histórias contadas e recontadas é o episódio do assassinato de


Belchior. Em viagem para o Crato, no dia 1° de abril de 1955, Belchior acompanhava Luiz
Vaqueiro que faria uma cirurgia no joelho para retirada um projetil. Estavam em sua companhia
a amiga Olga Araújo de Carvalho e sua filha Maria Oneide de Carvalho. Após vários problemas
durante o percurso, o automóvel no qual estavam fica preso em um atoleiro. Do outro lado do
lamaçal estava Clóvis Sampaio10.
Após discussão, Belchior irritador por não receber ajuda de Clóvis para retirar o
veículo da lama, o agride. O homem retira-se e vai à Delegacia de Barbalha, retornando com
vários policiais armados que já chegaram atirando. Belchior é alvejado com 3 tiros de revólver
e 2 tiros de fuzil, falecendo no local.
Apresento uma notícia de jornal que anuncia a morte de Belchior e que demonstra
o papel desempenhado por ele nessa região.

O Ceará, quiçá, o Nordeste, conheceu Belchior Gomes de Araújo, pertencente a


tradicional família de Iguatu, proprietário da Fazenda Mata Fresca, localizada nas
proximidades daquele município. Tratava-se de um moço ardoroso, que teve vida
bastante agitada, assinalada por diversos fatos desfavoráveis, de uma conduta
reconhecidamente belicosa, de aventuras que se tornaram, por assim dizer, motivo dos
mais diversos comentários. Foi um homem que criou fama nos sertões daquela região.
Assim teve fim trágico e inesperado, aquela personagem que, pela vida de aventuras
e truculência através dos sertões, chegou a se tornar como motivo, até, de histórias
fantásticas. Era um homem de coragem e dado a criar situações embaraçosas para os
seus circunstantes, nas quais sempre saía incólume. Chegou, assim, o dia do
Belchior.11

Concomitante a essas leituras, Joël Candau compreende que

As estratégias identitárias de membros de uma sociedade consistem em jogos muito


mais sutis que o simples fato de expor passivamente hábitos incorporados” e “que as
identidades não se constroem a partir de um conjunto estável e objetivamente
definível de ‘traços culturais’- vinculações primordiais- mas são produzidas e se
modificam no quadro das relações, reações e interações sociossituacionais- situações,
contexto, circunstâncias- de onde emergem os sentimentos de pertencimento, de
‘visões de mundo’ identitárias ou étnicas (CANDAU, 2011: 27).

As fontes orais constituem a base desse estudo, estando abaixo definidas as


contribuições que cada uma delas traz.

10
Clóvis Sampaio era sobrinho do Chefe de Polícia do Ceará, Coronel Expedito Sampaio e filho do Delegado de
Polícia de Barbalha.
11
Jornal Gazeta de Notícias, 2 de abril de 1955, p.8.
8

Da cidade de Iguatu, José Barros da Silva, aposentado, morador do Sítio Conceição


dos Vicente é conhecedor de muitas histórias sobre Belchior Gomes de Araújo, além de ter
convivido com sua família. Ele destaca que houve “um contentamento do povo em geral com
o falecimento de Belchior12”. Embora a sensação de alívio e tranquilidade tenha se apresentado
após sua morte, muitos fatos vivenciados por Belchior, mesmo os de violência desmedida, são
recontados hoje, como o caso do ataque à cadeia.
Da cidade do Crato-CE, Maria Oneide de Carvalho, aposentada. É uma das pessoas
que estavam com Belchior no momento de sua morte. Temos o Antonio Primo de Brito, ex-
prefeito deste município, que por muitas vezes, quando jovem visitara a cidade de Iguatu.
Em Barbalha-CE, Napoleão Tavares Neves, médico, estudioso da história local,
contribuirá com informações referentes ao imaginário deste município do período em que
Belchior ainda estava vivo, assim como o médico odontologista, Livonio Callou.
Julie Cruikshank compreende que

Narrativas orais não têm a ver nem com passado nem com presente, são
essencialmente expressões da mente humana (...) longe de serem explicações diretas,
as tradições orais revelam a capacidade dos seres humanos de pensar simbolicamente
seus problemas complexos. A vida real é cheia de contradições, e os mitos nos dão
meios de lidar com um mundo crivado de tais contradições (CRUIKSHANK, 2006:
153).

As questões que são levantadas se remetem à representação do passado e à relação


de como essa memória é representada: “de que há lembrança? De quem é a memória?”
(RICOEUR, 2007: 23).
Acompanhado da história oral há uma possibilidade de ampliação desse estudo
abordando a imprensa local através de vários jornais produzidos entre 1915 e 1956: Iguatu
(1915), O Correio do Iguatu (1918), A Semana (1923), O Caixeiral (1924/1926), Folha dos
Novos (1935), O Nordeste (1948), O Estado (1948), A Gazeta Iguatuense (1949), Tribuna de
Iguatu (1954/1956), Gazeta de Notícias (1955), A Idéia (1955), Unitário (1955) e O Quixelô
(1956). Utilizar-se-á a análise de discurso como instrumento metodológico para interpretação
das informações.

12
José Barros da Silva, 72 nos, aposentado. Entrevista realizada em Agosto de 2012.
9

A memória é daqueles que viveram os fatos, os presenciaram, mas também de


outros, que os narraram e até daqueles que os inventaram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAGÃO, Batista. Iguatu: história. Fortaleza: COPCULTURA, 1998.

BAUMAN, Zygmut. Identidade. São Paulo: Zahar, 2005.

BLOCH, Marc. Apologia da história. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.


10

CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011.

DELEUZE, G. Post-scriptum: sobre as sociedades de controle. Conversações. Tradução de


Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: Editora 34. 1992.

FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (orgs). Usos e abusos da história oral.
8.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

FRANZ, Marie Louise Von. A ciência e o inconsciente. IN. JUNG, C.G. (org.). O homem e
seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11.ed. Rio de Janeiro: DP&A


Editora, 2006.

JUNG, C.G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.


PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.

____________________. A morte de Luigi Trastrulli e outros ensaios. Belém, PA, Unipop,


2013.

____________________. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Unicamp,2007.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis: RJ: Vozes, 2000.

SOMBRA, Waldy (org.). Belchior, sim senhor! Fortaleza: Premius, 2013.

THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. 2.ed. Rio de Janeiro, 1992.

LIMA VERDE, Wilson Holanda. Iguatu: pelos novos caminhos da história. Fortaleza:
Expressão Gráfica Editora, 2011.

Você também pode gostar