Geografia Historica de Iguatu CE Uma Analise Da Cultura Algodoeira de 1920 A 1980
Geografia Historica de Iguatu CE Uma Analise Da Cultura Algodoeira de 1920 A 1980
Geografia Historica de Iguatu CE Uma Analise Da Cultura Algodoeira de 1920 A 1980
FORTALEZA
2011
2
FORTALEZA
2011
3
AGRADECIMENTOS
À minha mãe (Elisvalda), irmãs (Adilla e Nayara), tias e cunhados (João e Kennnedy)
pela convivência e por acreditarem em minha pessoa. Os momentos de repouso e de lazer
com os amigos Antônio Marcos (beibe) e Paulo Souza também foram fundamentais para
o renovar das energias.
À Anita Pedrosa Fontes, minha companheira inseparável de todos os momentos, por estes
quase três anos de cumplicidade, amor, afetividade e por me agüentar em quanto pessoa,
afinal eu sou um pouco difícil de se entender.
Ao Eider, pessoa simples e companheiro de lutas, obrigado pelos conselhos certos nas
horas certas.
Aos demais amigos André (bichoooo eterno), Danilo (bicho), Thamires, Josué, Yara,
Adriana(bicho) Jean, Mariana Mendes (pela ajuda nos escritos finais), Diego (Baiano),
7
Érika Medeiros (erikete), Heron e Diego (geba). Estes últimos foram também
companheiros de PET – Programa de Educação Tutorial.
Aos meus amigos Icaro Maia (ikim) e Edson Minarete e aos demais companheiros de
PET, Camila, Luiz Antônio, Erilânia, Cristiane, Rose, Thiago, Danilo, Val, Denise,
Patrícia e demais petianos pelos quase cincos anos de aprendizagem coletiva.
Aos professores Ms. Edílson Pereira Júnior e Claúdia Granjeiro (eternos tutores do PET),
a estes devo parte de minha formação intelectual e pessoal, exemplos de personalidades e
de seres humanos. Outros professores que contribuíram para minha formação foram as
professoras Dra. Zenilde Baima, Dra.Ana Matos, Dra. Denise Elias e os professores Dr.
Luiz cruz Lima e Ms. Otávio Lemos.
À minha orientadora Profa. Dra. Zenilde Baima Amora em especial pela extraordinária
capacidade de orientação, pelos momentos de atrito e puxões de orelha, mas, sobretudo,
pela compreensão das dificuldades e das angústias pessoais de um ser humano que esta
vivendo um processo de aprendizagem. Para além de orientadora, percebi que ela é um
ser humano extraordinário.
À Helena Mota e Ludivina Castro que me receberam tão bem na Biblioteca do IPECE.
Aos entrevistados que por demais contribuíram para a pesquisa. Dentre estes agradeço ao
ilustríssimo Senhor Wilson de Holanda Lima Verde, profundo conhecedor da história de
Iguatu que nos acolheu muito bem e disponibilizou horas de conversas e entrevistas que
foram fundamentais para a pesquisa.
Ao Professor Dr. Manoel Fernandes pela atenção, pelas sugestões, provocações e ajuda
em momentos decisivos.
Ao professor Dr. Levi, pelas sugestões, pelas críticas. Depois agente escuta aquele Odair
José.
Solidão
O Quadro branco
Átila Lima
23.12.2010
10
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo contribuir para a leitura da Geografia Histórica do
município de Iguatu, localizado no estado do Ceará - Brasil, tendo como enfoque a cultura
algodoeira. Esta atividade foi, por mais de um século, uma das principais atividades
econômicas do Ceará, até a sua crise nos anos de 70 e 80 do século XX. Responsável em
peso pela integração e organização territorial do Ceará, a atividade algodoeira, junto à
pecuária, foi capaz de gerar um excedente de capital interno, que, aliada também a fatores
políticos, delineou uma industrialização para além das oficinas de charque. A cultura
algodoeira constituiu uma ruptura-permanência na história de Iguatu, o que criou um
excedente de capital e permitiu o desenvolvimento de indústrias de beneficiamento de
algodão, a criação de um proletariado fabril e o desenvolvimento de serviços urbanos.
Essa conjuntura tornou mais complexas as relações sociais de produção, pautadas nas
relações de produção de cunho não capitalistas estabelecidas no campo como as
parcerias, as meias e o arrendamento da terra. O presente trabalho está estruturado em
três capítulos: O primeiro capítulo, intitulado Debates acerca da Geografia Histórica e da
Geo-história: elementos para a análise espaço-temporal, reflete sobre a importância da
análise histórica para a ciência geográfica, fazendo-se a diferenciação entre o olhar do
geógrafo e do historiador sobre o estudo das formações territoriais. Além disso, realizou-
se um debate teórico sobre a Geografia Histórica e a Geo-história, enfatizando a
contribuição de autores como Braudel e Harvey, na análise do espaço. No segundo
capítulo, nomeado A formação territorial de Iguatu no contexto da história econômica do
Ceará, foi evidenciado o desenvolvimento territorial de Iguatu no contexto das principais
atividades econômicas do Ceará: o conhecido binômio gado-algodão. É abordado, ainda,
o papel das estruturas políticas e religiosas no processo de formação territorial e de
emancipação política de Iguatu. Neste capítulo, em específico, são discutidas
determinadas relações - políticas, culturais, sociais e econômicas - existentes no século
XIX e que permearam o período áureo do algodão no século XX. Daí a importância da
literatura de Braudel sobre a longa duração e o tempo da conjuntura. O terceiro capítulo,
denominado A cultura algodoeira em Iguatu, trata, de forma mais aprofundada, o cerne
da atividade algodoeira, cuja discussão discorre sobre o processo de acumulação de
capital, pautado em processos não capitalistas de produção, sobre as relações sociais de
produção, sobre a divisão interna do trabalho na indústria de beneficiamento de algodão e
sobre a espacialização da produção algodoeira em diversas escalas. Assim, a contribuição
para o entendimento das relações socioespaciais estabelecidas pela cultura algodoeira em
Iguatu revela-se na importância da análise geográfica de um capítulo da história da
formação territorial do Ceará.
RÉSUMÉ
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE MAPAS
LISTA DE ORGANOGRAMAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 20
.
2. DEBATES ACERCA DA GEOGRAFIA HISTÓRICA E DA GEO-
HISTÓRIA: ELEMENTOS PARA A ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL...........
28
2.1 As Geografias do passado: debates iniciais............................................................. 28
2.2 Geografia histórica e Geo-história.......................................................................... 32
2.3 Considerações geo-históricas: a contribuição de Braudel...................................... 43
2.4. Geografia Histórica do Capitalismo: uma perspectiva da leitura de Harvey.......... 50
1. INTRODUÇÃO
Rosa Luxemburg (1985), sobre suas teorias da acumulação de capital; Lênin (2008) e sua
teoria do imperialismo. De Marx (1890; 1893), ainda nos apoiamos na análise referente à
produção, circulação, consumo e conceitos como os excedente de capital, mais-valia,
dentre outros.
Para uma melhor compreensão das idéias expostas, o presente trabalho foi
estruturado em quatro capítulos. O segundo capítulo, intitulado Debates acerca da
Geografia Histórica e da Geo-História: elementos para a análise espaço-temporal,
traçamos nossas reflexões acerca da importância da análise histórica para a ciência
geográfica, fazendo a diferenciação dos olhares do geógrafo e do historiador sobre o
estudo das formações territoriais. Além de fazemos um debate teórico-conceitual sobre a
Geografia Histórica e a Geo-História, enfatizando a contribuição de autores como
Braudel (1996; 2007) e Harvey (2005a), para a análise do espaço.
Este capítulo tem como objetivo principal, discorrer sobre o debate teórico-
conceitual acerca das geografias do passado, ou seja, das diferentes abordagens da ciência
geográfica sobre as formações territoriais, as paisagens do passado e as mediações que
contribuíram para a produção do espaço de outrora e do atual. O capítulo enfatiza a
importância da análise histórica para a ciência geográfica e seus estudos. Para tanto,
dividimos estes escritos em quatro tópicos. O primeiro trata das questões sobre a gênese
dos estudos históricos por parte da geografia e do surgimento da Geografia Histórica. O
segundo tópico contempla o debate acerca da Geografia Histórica, da Geo-História, e da
diferença entre os olhares do geógrafo e os do historiador sobre os estudos das formações
territoriais e espaciais. Ressalta-se ainda a importância da análise histórica para os
estudos de caráter geográfico. O terceiro tópico, por seu turno, discute, especificamente, a
proposta da Geo-História de Braudel e a contribuição de seus estudos para a Geografia.
Finalizamos com as discussões sobre a Geografia histórica do capitalismo proposta por
Harvey em obras como ―A produção capitalista do espaço‖ (2005a), e ―O novo
imperialismo‖ (2005b).
1
Sandra Lencioni (2003), em seu livro Região e Geografia nos traz uma boa noção da diferenciação entre o que seria
conhecimento geográfico e Geografia como ciência propriamente dita. Leitura semelhante, mas enfocando a
realidade da Geografia brasileira é feita por Moraes (2008) onde ele reflete sobre o discurso geográfico e a geografia
propriamente dita enquanto ciência.
30
Almagià indicou Ortelio como fundador da geografia histórica, porque com ele
o elemento cartográfico aparece preponderante; Cluverio, uma geração depois,
teve o mérito de mostrar como a reconstituição das condições geográficas das
épocas passadas não é possível sem a observação das condições actuais. A
geografia histórica afirmou assim o seu verdadeiro método científico, tomando
por alicerce – como qualquer outro ramo da geografia – a observação directa.
2
É importante atentar que através do contato da Escola francesa de geografia com a Escola dos Annales, podemos
afirmar conforme Lira (2008) que a geografia de Vidal de La Blache teve influências sobre o trabalho de vários
historiadores como Lucian Febvre, Marc Bloch e Fernad Braudel.
Segundo Ribeiro (2006 apud GOMES, 1997), Vidal de La Blache, principal nome da Geografia francesa e figura
deveras complexa, fundou em 1891 os Annales de Géographie, que inspirariam os futuros Annales dos historiadores,
divulgando um campo do saber diferente do ―ideal de contemplação‖ que caracterizava os trabalhos dos alemães
Carl Ritter e Alexander Von Humboldt no século XIX. (RIBEIRO, 2006, p. 90).
3
Ribeiro (2006) assevera que na França a Faculdade de Letras proporcionava uma dupla formação, na qual, só com o
passar dos anos, o diplomado optava por tornar-se historiador ou geógrafo. Havia, portanto, um fértil campo de
possibilidades. Exemplos conhecidos desta situação são os de Paul Vidal de La Blache, formado historiador porém
geógrafo consagrado, e Georges Duby e Pierre Villar, formados geógrafos mas consagrados enquanto historiadores.
(RIBEIRO, 2004, p.88). Seguindo itinerário semelhante, devido a grande influência que a Geografia francesa teve na
fundação dos cursos de Geografia no Brasil, muitos cursos de Geografia em nosso país, a exemplo do curso de
Geografia da extinta Universidade Católica do Ceará que tinha em suas turmas iniciais a formação conjunta em
História e Geografia.
32
Baker (1984) apud Silva (2007, p. 76) estabelece como marcos da disciplina
nos tempos modernos, ―os estudos de Clifford Darby sobre a Geografia Histórica da
Inglaterra de 1936, e de Carl Sauer sobre a Geografia cultural nos Estados Unidos‖.
Ferro (1986, p.46) afirma que autores como Baldacci definiam a geografia
histórica como ―a disciplina que estuda os fenômenos físicos e antrópicos decorridos no
passado histórico, eventualmente ligados à proto-história e à pré-história, e reafirmando a
necessidade de evitar toda a confusão com a história da geografia‖ [...]. Ainda expõe
como contraponto ao pensamento de Baldacci, a negação de Quaini da existência de uma
geografia histórica enquanto disciplina autônoma visto seu caráter híbrido, ora cultivada
pelos geógrafos, ora pelos historiadores. Estas colocações nos levam à reflexão sobre a
diferenciação da análise histórica da análise geográfica e do que seria a geografia
histórica e a Geo-história.
tempo na compreensão da realidade, procurando evitar uma visão segmentada destes dois
campos.
sentido contrário ao que foi dito anteriormente. Deve-se ter em mente que a relação
espaço-tempo é fundamental para se entender a realidade e qualquer que seja o objeto de
estudo. Neste sentido, Rojas (2003) citado por Pires (2008, p.17) afirma que:
Aceitamos em parte seus argumentos, visto que o tempo passado não está
presente somente nas formas materiais, mas também nas formas imateriais 4 e nas
diferentes temporalidades que coexistem nas relações sociais. Desse modo, o
entendimento da história enquanto processo se faz necessário, visto que os geógrafos
quando se apropriam da dimensão temporal para a explicação da realidade, o fazem de
forma mecânica, como mera sucessão de fatos. É neste sentido que Abreu (s/d) assinala
que em muitos estudos geográficos, sobretudo na corrente teorético-quantitativa, o tempo
histórico é substituído pelo tempo enquanto sucessão de fatos. Visão que pode contribuir
para uma análise distorcida do real e ocasionar um grave problema teórico-metodológico
para a ciência geográfica ao fazer uma análise da realidade sem sujeitos, sem classes:
estes são fundamentais para a produção e reprodução do espaço geográfico e para nossa
compreensão do mesmo.
4
Entendemos as formas, como algo para além dos objetos materiais, ou seja como formas sociais, normas, relações
contratuais. Esse entendimento se torna necessário para que não caiamos no fetiche das formas. Segundo Oliveira e
Moraes (1996), ―as formas da vida social apresentam, por um lado, um caráter abstrato, representando a coisa em si,
objetivado como produto, objeto, etc. Por outro lado, ela engendram uma subjetividade que emerge da relação entre
os homens, traduzindo-se em relações contratuais. Neste sentido, as relações de troca não são apenas atos que
envolvem coisas, objetos, mas sim imediatamente valores, sentimentos e consentimentos que implicam
reciprocidade‖(P.100).
37
5
Não optamos pela periodização eleita por Santos (1992) que elege as técnicas, ou seja, os sistemas técnicos, para
uma periodização da história, visto que, as técnicas por si só não explicam a complexidade do real e nem mesmo são
autônomas das forças produtivas e do modo de produção a que pertence.
6
Para maior conhecimento sobre a categoria tempo e sua apropriação pelas ciências, ver Nilo Odália, O tempo e a
história. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, (7); 1965.
38
Concordamos com esta maneira de pensar e por isso adotamos em nossa pesquisa
a contribuição da noção de não linearidade dos tempos históricos de Braudel (1996) e de
sua divisão do tempo em curta duração, média e longa duração – ou tempo geográfico.
Conforme Ciavatta (2009, p.88),
Desse modo, uma análise que leve em conta a historicidade a longo prazo
(Braudel, 1996; 2007), em sua coexistência com os tempos médios e curtos, se faz
importante para o estudo do espaço geográfico e para o estudo da geografia do passado.
Norton (1984) apud Silva (2007) expõe que os estudos de Geografia Histórica
se classificam em três linhas principais, a saber: o estudo do passado, em que a técnica
mais utilizada é o corte transversal. Este utiliza a descrição e a análise de uma paisagem
do passado, em um período particular, sem referências explícitas aos períodos anteriores
ou posteriores, objetivando orientar a pesquisa documental. Outra linha é a da
transformação no tempo, em que prevalecem os estudos do passado. É dada ênfase à
cultura enquanto agente da transformação da paisagem natural ao longo do tempo.
41
7
O método de retrogradação utilizado pela autora é na verdade o método regressivo utilizado por Lucian Febvre, e
principalmente por Mark Block em seu livro A Sociedade Feudal.
8
Para uma análise crítica e detalhada da Escola dos Annales, ver BURKE, Peter, em seu livro A Escola dos Annales
(1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia; tradução Nilo Odalia. – São Paulo: Fundação Editora da
UNESP, 1997.
42
rompendo com a visão factual e descritiva da História. Segundo este autor, esta escola 9
teve como membros fundadores Lucien Febvre e Marc Bloch.
Bloch e Febvre lutaram incansalvelmente por uma história total, quer dizer, por
uma história centrada na atividade humana, na vida dos grupos e das
sociedades. Esboçaram essencialmente, uma história-problema, uma história
que não caísse no refúgio positivista da monografia exclusiva ou na absurda
pretensão da filosofia da história – a de uma síntese a todo transe [...]
(FLAMARION CARDOSO e BRIGNOLI, 1983, p. 471).
Para Flamarion e Brignoli (1983), as idéias de Bloch e Febvre não eram novas
visto que Henri Berr já havia esboçado críticas à história positivista no início do século
XX. O grande mérito de Bloch e Lefvre foi à criação de um novo tipo de história como
alternativa prática à história positivista.
9
Segundo Burke (1997, p.12), talvez seja preferível falar num movimento dos Annales, não numa escola. Segundo
este autor esse movimento pode ser dividido em três fases. Em sua primeira fase, de 1920 a 1945, caracterizou-se por
ser pequeno, radical e subversivo, conduzindo uma guerra de guerrilhas contra a história tradicional, a história
política e a história dos eventos. Depois da Segunda Guerra Mundial, os rebeldes apoderaram-se do establishement
histórico. Essa segunda fase do movimento, que mais se aproxima verdadeiramente de uma ―escola‖, com conceitos
diferentes (particularmente estrutura econjuntura) e novos métodos (especialmente a ―história serial‖ das mudanças
na longa duração), foi dominada pela presença de Fernand Braudel. Na história do movimento, uma terceira fase se
inicia por volta de 1968. É profundamente marcada pela fragmentação. A influência do movimento, especialmente
na França, já era tão grande que perdera muito das especificidades anteriores. Em uma ―escola‖ unificada apenas aos
olhos de seus admiradores externos e seus críticos domésticos, que perseveravam em reprovar-lhe a pouca
importância atribuída à política e à história dos eventos. Nos últimos vinte anos, porém, alguns membros do grupo
transferiram-se da história socioeconômica para a sociocultural, enquanto outros estão redescobrindo a história
política e mesmo a narrativa. (BURKE, 1997, p. 12-13).
43
Este tópico, não constitui uma revisão bibliográfica, tampouco uma releitura
do pensamento de Braudel, mas um esforço de entendimento de suas contribuições à
Geografia, considerando-se evidentemente sua proposta da Geo-história.
Annales (Braudel: 1951, 487). Depois, abondona! Tanto que Braudel retirou o
item ‗Geohistória‘ da segunda edição de sua obra máxima (Braudel, 2002, 124).
Mas segundo Lira (2008) não foi somente na relação com a geopolítica que a
obra de Braudel se aproximou da ciência geográfica, visto que suas obras Mediterrâneo e
Civilização material sofreram influências do pensamento de Vidal de La Blache e Ratzel
respectivamente.
Segundo Lira (2005) apud Secco (2008), a abordagem de Braudel em sua obra
O Mediterrâneo, é inovadora quando comparada a de geógrafos contemporâneos. Para
Rojas (1996) apud Secco (2008) a visão braudeliana de espaço não era mais um palco,
mas um ―campo de possíveis, como um esquema ao mesmo tempo aberto e determinado.
10
Segundo Ribeiro (2006), muito comum também foram às influências alemãs na obra de Braudel. Cansado da
defasagem da Geografia humana e da Economia política francesa, o autor se interessa por reflexões dos geógrafos
Alfred Hettener e, sobretudo Alfred Philippson, assim como dos historiadores geógrafos Sternberg, Gehler, Frische,
Carus e Okel. Pode se afirmar ainda, baseando-se em Ribeiro (2006), que Braudel teve algumas influçencias da
economia alemã como por exemplo a teoria locacional de Von Thunner e seu conteúdo acerca da centralidade,
hinterlândia e hierarquias espaciais em termos de povoamento, distribuição e funcionamento das redes de atividades
econômicas. (RIBEIRO, 2006, p.104).
46
Ou seja, um espaço de opções limitadas e limitantes, mas não unívocas nem linearmente
determinadas‖.
Por mais que em algumas colocações e reflexões Braudel (1997) pareça cair
em determinismos e faça uma leitura estruturalista da relação sociedade/espaço, o teórico
parece transcender tais posições ao debater o trinômio: espaço, sociedade e economia, ao
afirmar : ―Tenho a necessidade de dizer que a economia modela o social e o espaço, que
o espaço comanda a economia e o social, que a seu turno comanda as duas outras
realidades‖. (BRAUDEL, 1997, p.89 apud RIBEIRO, 2006).
47
Burke (1992) apud Pires (2008, p.16) explica que a utilização da Geo-história
por Braudel na obra O Mediterrâneo tem como objetivo,
Já Secco (2008, p.24) defende que Braudel concebe o espaço como o lócus da
longa duração e assim se expressa:
Braudel (1996b) considera que o curto prazo e longo prazo coexistem e são
inseparáveis e acrescenta que ―vivemos ao mesmo tempo no curto e no longo prazo: a
língua que falo, o ofício que exerço, minhas crenças, a paisagem humana que me rodeia,
eu herdei; existiam antes de mim, existirão depois de mim‖. Já na sua celebre obra sobre
a longa duração (BRAUDEL, 1958; 2007) esclarece que dar ênfase ao longo prazo, não
significa negar o curto prazo, em que a própria estrutura deve ser entendida
historicamente.
11
Conforme Ribeiro (2006) O Tempo no Mundo, também poderia chamar-se ―Os espaços do mundo‖. Tempo do
espaço, tempo de uma escala, história de uma geografia. Mas também espaço do tempo, escala do tempo, geografia
de uma história, porque o pensamento de Fernand Braudel está longe de ser uma via de mão única.(P.105).
50
Uma análise crítica e para além da aparência, nos leva à conclusão de que o
modo de produção capitalista inexistiria caso se pautasse apenas na produção da
mercadoria. Conforme Marx (1893; 1997) não adiantaria para o capitalista o esquema
51
simples M-D-M e nem o esquema D-M-D. Nestes dois casos não se teria a criação de
mais-valor/valia. Seria necessária a produção ampliada de capital, caracterizada pelo
esquema D – M – D‘ para efetivá-la. A busca por superlucros e a acumulação ampliada
se tornariam, portanto, fatores essenciais para o desenvolvimento do capitalismo, urgindo
a expansão da produção, da circulação, das trocas, do consumo, da exploração e mesmo
da ampliação de novos mercados.
Fazendo uma leitura atenta da obra de Marx, Harvey (2005a) percebe que a
teoria da acumulação do capital do pensador socialista revela seu reconhecimento da
acumulação de capital como decorrente de um contexto geográfico, criador de estruturas
geográficas específicas.
A ação isolada dos fatores (a) ou (b) (deslocamentos temporais e espaciais) possui
efeito limitado na tentativa de sanar as crises que já foram historicamente refutadas como
alternativas duradouras de manutenção da acumulação, tal como na falência do regime
fordista-keynesiano. É interessante ressaltar que o ordenamento espaço-temporal tem
como finalidade absorver o capital e a força de trabalho excedente impedindo uma crise
de realização. O objetivo final de tais deslocamentos é expandir a demanda efetiva por
produtos e capitais, possibilitando a alocação de capital e força de trabalho anteriormente
excedentes e transferindo-as para um espaço com relativa escassez.
12
Não pretendemos com este capítulo, recapitularmos toda a História econômica da província cearense, dada a sua
amplitude e objetividade do tempo. Desta forma enfocamos as atividades que mais contribuíram para a formação
territorial do Ceará, no caso a pecuária e a cotonicultura. Para uma leitura mais ampliada da História Econômica do
Ceará, ver Raimundo Girão (1947; 2000) e seu livro clássico História Econômica do Ceará, Fortaleza, Instituto do
Ceará.
13
Em seu livro ―Crítica a razão dualista o ornitorrinco‖, Francisco de Oliveira, faz severas críticas aos pensadores
cepalinos dentre os quais Celso Furtado, devido sua análise dual do desenvolvimento capitalista no Brasil, onde
existiria um Brasil moderno e um arcaico, fruto do subdesenvolvimento. Segundo Oliveira, a permanência de
relações tidas como arcaicas ao invés de serem entendidas como um atraso e como algo fragmentado de um Brasil
58
moderno, deveria ser entendido como de fundamental importância para o desenvolvimento das relações capitalistas,
que na interpretação do autor teve seu desenvolvimento na realidade brasileira pautado nas relações não capitalistas.
14
Antonio Carlos Robert de Moraes – Bases da Formação Territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no
―longo‖ século XVI- (2000) nos apresenta uma minuciosa descrição sobre a formação territorial brasileira, assim
como sobre a produção do espaço Ibero-americano.
15
Não entraremos na polêmica que até hoje permanece entre os historiadores a respeito do fato de se neste período o
capitalismo já estava bem desenvolvido enquanto modo de produção capitalista ou se este se encontrava em sua fase
inicial como capitalismo comercial mercantilista. Acreditamos não existir um conceito, uma abstração pura de
capitalismo que se aplique a todos os lugares, até mesmo por que concordamos com Wallerstein (1985) quando o
mesmo assinala que o capitalismo é acima de tudo um sistema histórico.
59
faixa mediante entre o São Francisco e o Paraíba‖. É neste contexto que Pernambuco e
Bahia surgem como dois núcleos irradiadores da povoação nos sertões nordestinos.
Conforme análise de Santos (2010), foi a partir de fluxos econômicos advindos da Bahia
e de Pernambuco que ocorreu o processo de ocupação cearense.
O mapa desenvolvido por Santos (2010) que tem por intuito correlacionar as
vias de comunicação das antigas estradas com as atividades econômicas desenvolvidas
naquele período demonstra a estreita ligação destas atividades com o processo de
formação do território cearense. (Mapa 1).
61
Conforme Santos (2010), a análise detalhada do mapa, nos indica que estes
caminhos surgiram em dois momentos distintos. Para ele, inicialmente eles foram abertos
pela expansão da pecuária, os chamados ―caminhos do gado‖. Esta rede era maior e mais
ramificada, principalmente no interior, e ligando a província do Ceará às províncias de
Pernambuco, Paraíba e Piauí. Já a segunda rede de caminhos era ligada à produção
algodoeira, tendo menor extensão e sendo mais voltada para o litoral.
16
Para uma análise detalhada das charqueadas no Ceará ver GIRÃO, Valdelice Carneiro(1989) Fundamentos de
fixação no Espaço cearense. In: História do Ceará. Org. Simone de Souza. Fortaleza, Universidade Federal do Ceará;
Fundação Demócrito Rocha. Stylus comunicações, 1989.
63
17
A guerra civil dos EUA, mundialmente conhecida como Guerra de Secessão (1861-1865), ocorreu em razão da
diferença de interesses políticos e econômicos por parte da região sul dos Estados Unidos, grande produtora de
algodão e baseada na utilização de mão de obra escrava, com a região norte e industrial, contrária ao trabalho
escravo. A primeira reivindicava aumento nas taxas alfandegárias para não afetar o intercâmbio com a Europa, fato
que se chocava com os interesses da parte norte do território ianque, que defendia tarifas protecionistas para que
pudesse aumentar as vendas de suas fábricas. Com a eclosão deste conflito, a parte norte bloqueou o comércio da
parte sul com a Europa, impedindo a exportação de algodão e a importação de suprimentos. Este fato levou os países
europeus, sobretudo a Inglaterra, com seu setor têxtil em expansão, a buscar novas zonas produtoras de algodão
(LEITE, 1994, p.35).
66
Fonte: GIRÃO, Raimundo – História Econômica do Ceará. Fortaleza, Ed. Instituto do Ceará, 2000, p.227.
A ascensão do algodão foi tão grande que, Leite (1994) destaca que por volta
da segunda metade da década de 1860, o valor da exportação algodoeira, em relação ao
total exportado pelo Ceará, chegou a atingir 72,6%, enquanto produtos como couro, café
e açúcar representavam 10,8%, 9,5% e 5,3%, respectivamente, do valor total exportado.
18
É importante ressaltar que a base cartográfica utilizada na confecção deste mapa, não corresponde com precisão
com a divisão política e admistrativa da província cearense, visto que neste período a dimensão territorial que
correspondia a Crateús era pertencente ao Piauí e o que conhecemos hoje por Parnaíba, pertencia ao Ceará. Ver mapa
5 de elaboração do IPECE.
67
68
19
A cerca do conceito divisão social do trabalho ver MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro 1.
Vol.1. 13ª edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.; Mohus (1988) In: BOTTOMORE, T. Dicionário Marxista.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. Para o conceito de divisão territorial do trabalho ver SANTOS, Milton.
Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo, HUCITEC, 1988. e GODOI, Cíntia Neves; DEUS, Batista de. A
urbanização no Brasil e as diferentes divisões territoriais do trabalho ao longo do tempo. In: Caminhos de Geografia,
Uberlândia, v. 10, nº 30; jun-2009, p.128-141.
69
20
Para uma descrição minuciosa sobre os tipos de algodão, cumprimento das fibras e os de maior aceitação no
mercado ver Raimundo Girão em seu livro História econômica do Ceará.
21
Para uma análise detalhada sobre a estrutura, o cultivo e as relações de trabalho da cultura algodoeira, ver Ana
Cristina Leite; O algodão no Ceará: Estrutura Fundiária e Capital Comercial 1850-1880 – Fortaleza: SECULT,
1994. (Coleção Teses Cearenses).
70
Ainda sobre o mapa 3, o terceiro gênero produtivo, o algodão, ainda não tinha
o respaldo que viria a ter no final do século XIX e em boa parte do século XX. Como
podemos observar, esta cultura estava restrita às serras de Uruburetama, Meruoca,
Baturité, serra do Machado e outras áreas do território cearense. Nas duas primeiras
décadas do século XIX, que é o recorte temporal deste mapa, podemos asseverar que a
cultura algodoeira já era um produto de exportação da província cearense conforme nos
indica a citação de Leite (1994, p. 105-106):
A elevação contínua dos preços do algodão, que evoluiu de 3$400 réis a arroba,
em 1809 para 8$000 réis a arroba, em 1816, espalhou o cultivo dos algodoeiros,
tornando os distritos de Fortaleza e Aracati e as serras de Baturité,
Uruburetama, Meruoca, Pereiro e Aratanha seus principais produtores. Segundo
Lemenhe, a quantidade de algodão exportado pelos portos do Ceará, no ano de
1811, foi de 26.462 arrobas.
Dados apresentados por Takeya (1995), obtidos com o cônsul francês na Bahia
(1º de março de 1844), demonstram que do total do valor oficial das exportações em
74
milhares de réis, 113.622 eram de algodão22, sendo seguido pelo couro que representava
47.725 réis. Foi nas últimas décadas no século XIX que o algodão ganhou maior destaque
e assumiu o posto de principal atividade econômica do Ceará, conforme debatido
anteriormente.
Ainda nos baseando na cartografia histórica elaborada por Santos (2010), mas
desta vez fazendo uma análise dos fluxos econômicos da economia cearense (ver mapa 4)
desde o início de sua ocupação pelos europeus no século XVII até a independência em
1822, podemos perceber uma série de mudanças no que concerne às estruturas. Como
exemplo, podemos citar a criação de equipamentos técnicos e mudanças nas estruturas
produtivas, mas isso não significando necessariamente melhoria na vida de todos.
22
De acordo com os dados, o destino do algodão era para a Grã-Bretanha com o valor de 113.052 réis e Portugal
com 570 réis. Isso para de 1841-42. (TAKEYA, 1995).
75
Uma análise detalhada do mapa 4 revela que o primeiro período dos fluxos
corresponde ao período de povoamento inicial do Ceará, com destaque para a pecuária. A
este respeito o próprio autor afirma que:
Freguezias Habitantes
1- Vila de Aquiraz 4.766
2- Vila de Arronches 1.059
3- Vila do Crato 3.146
4- Monte – Mor Velho 348
5- Arneiroz 612
6- Vila de Viçosa 7.171
7- Vila de Fortaleza 2.874
8- Russas 7.359
9- Quixeramobim 2.622
10- Vila do Icó 8.564
11- Cariris Novos 4.078
12- Amontada 1.337
13- Inhamuns 4.210
14- Sobral 6.207
15- Granja 2.478
16- Almofala 198
17- S. Gonçalo – Serra dos Cocos 3.577
Total 61.408
Fonte: Waldery Uchoa. Anuário do Ceará 1955-1956 ano V; Editora Fortaleza- Ceará- Brasil, 1956.
Nota: Realizado pelo Capitão – General José César de Menezes.
como a população livre, a escrava não foi recenseada possivelmente por falta de
informações. Se correlacionarmos o contingente populacional com os fluxos econômicos,
perceberemos que estas localidades se destacavam como pólos da criação de gado ou
eram entrepostos comerciais devido as suas localizações estratégicas dentro da província.
Com base em dados retirados de Brasil (1997), podemos afirmar que no ano
de 1813 a população do Ceará era em sua totalidade de 145.265 habitantes divididos
entre as comarcas do Ceará e do Crato. Destas, podemos destacar as Vilas de Crato e
Jardim, que juntas somavam 32.822 habitantes, Icó e Lavras, que juntas somavam 18.216
habitantes, Sobral com 15.218, São Bernardo com 11.363 habitantes e Aquiraz com
10.791 habitantes (BRASIL, 1997).
Esta região era habitada inicialmente pelos índios quixelôs, pertencentes à raça tapuia que
fora aldeada por volta de 1719.
[...] As primeiras datas de sesmarias, no Ceará, por exemplo, não remontam aos
fins do século XVIII, quando começou a infiltração na ribeira do Jaguaribe e
Ubérrimo vale do caririense. Antes do último quartel do século XVII, apenas o
presídio de Fortaleza, a vila do Aracati e Aquiraz, surgiam como primeiros
núcleos civilizadores. [...] (DJACIR MENEZES, 1995, p.35).
Nogueira (1962), com base em vasta análise documental, sugere que já por
volta de 1681, em um local chamado Quixoá, o sargento mor, João de Sousa de
Vasconceles, ali já residindo e sendo o primeiro colonizador do local, e logo em 1682,
Francisco Nogueira Lima, ocupando o mesmo território, que passava a ser conhecido
como Itans, o sítio Irapuás. Mas foi com o estabelecimento das sesmarias que o colono
passou a fixar-se em definitivo (Cf. p.26). Acrescenta, ainda, com base em Raimundo
Girão, que da sesmaria se formava uma fazenda onde se organizavam as famílias, os
proprietários de terras e chefes políticos (Idem; Ibdem, p.26). Portanto, emblemática
estrutura organizacional nordestina que traz na origem o latifúndio e relações de poder
23
Segundo Sousa (2007), [...] é através da implementação das fazendas de gado nos vales dos principais rios e do
posterior crescimento das culturas comerciais voltadas para o mercado de exportação como, por exemplo, a produção
do algodão a partir da segunda metade do século XIX, se dá a ocupação do território. (2007, p.13).
82
[...] a primeira terra obtida na região iguatuense e seu município, se deu através
da data de sesmaria de 26 de janeiro de 1706. Dois foram os seus beneficiários;
o capitão Lourenço24 Gonçalves Moura e Teodózio Nogueira (este foi o 23º
donatário data do Jaguaribe). É este, portanto, o primeiro registro de datas que
se verifica em terras da região iguatuense, direta e declarada.
Cabe inclusive ressaltar que a ocupação por parte dos brancos na extensão
territorial que viria a configurar a província do Ceará se deu em boa parte pelo sistema de
concessão de sesmarias para a criação do gado.
Nogueira (1962; 1985) faz uma análise detalhada das leis de sesmarias desde o
final do século XVII, início de ocupação por parte dos conquistadores brancos,
perpassando pelo século XVIII, e findando no século XIX. O estudo aprofundado destas
concessões são fundantes para o entendimento da estrutura agrária, da formação
territorial e mesmo dos agentes políticos que governavam e que, através do tempo, na
24
Ver Data de Sesmaria nos apêndices de nossa pesquisa.
25
É necessário ressaltar, a falta de trabalhos em Geografia que procuraram fazer uma espacialização das tribos
indígenas no Ceará, visto que estes também poderiam nos dar proposições para entender a ocupação do espaço
cearense.
26
A briga histórica e que ocorreu entre as tradicionais famílias Montes e Feitoza teve início devido a concessão de
terras cedida aos Feitoza, mas que era reivindicada pelos Montes que afirmavam ali já terem se apropriado. Além
deste vários foram os fatores que asseveraram a luta entre esta famílias e que não se faz importante nosso
comentário.
83
Fazendo uma análise dos inventários de 1744, este autor afirma que a Ribeira
dos Quixelôs já vivia certa prosperidade econômica, sobretudo no que se refere à
agricultura e à pecuária. Segundo Nogueira (1962), também é desta data (1744) a
concessão de 2 de julho de 1744, na qual se encontra pela primeira vez a referência
expressa a Telha como povoação. É interessante ressaltar que os grandes beneficiários
das concessões de terras, eram figuras de outras províncias, como as de Pernambuco e
Rio Grande do Norte, além das elites de Icó. que neste período, 1738, já detinham o título
de vila.
27
Em publicação posterior datada de 1966, intitulada A Diocese de Iguatu (seus primórdios históricos), Assis Couto
assevera que nem foram os Carmelitas e nem os jesuítas que catequizaram os indígenas da região, mas um Padre
secular do Hábito de São Pedro. O autor toma por base para tais afirmações, o Livro Informação Geral da Capitania
de Pernambuco, de 1670-1749.
84
Bezerra de Menezes, Nogueira (1962) assegura que a catequização dos índios quixelôs
ocorreu sob a influência dos padres carmelitas. Segundo Assis Couto (1958), existia
inclusive, uma preferência e uma aliança política por parte dos colonos, sobretudo dos
irmãos Feitoza (Lourenço e Francisco) para com os padres carmelitas.
A ação dos carmelitas nessa região causou alguns confrontos políticos com a
própria coroa portuguesa, ficando isso explícito quando El rei foi informado em 1697 que
seus direitos estavam sendo lesados. Daí escrevendo uma carta ao governador de
Pernambuco declarando ser de sua propriedade e não dos carmelitas de Recife os gados
sem divisa e marca esparsos pelo território da capitania do Ceará (ASSIS COUTO,
1960).
28
Em decorrência da grande matança de índios, Montenegro assevera que em 31 de março de 1764, o ouvidor do
Ceará, Dr. Vitorino Soares Barbosa, por edital, ordena que a antiga Missão da Telha com todos os índios quixelôs
migrem para a Real Vila de Monte-Mor, o Novo da América, hoje cidade de Baturité. Esse fato trouxe uma baixa
considerável na população do sítio Telha. (MONTENEGRO, 2008, p. 20).
85
Parte-se do entendimento da geografia humana como ciência social que tem por
objeto o processo universal de apropriação do espaço natural e de construção de
um espaço social pelas diferentes sociedades ao longo da história. Defende-se
que tal processo é passível de ser identificado num corte ontológico do real, isto
é, manifesta-se na realidade com determinações específicas ímpares, atuando
como elemento particularizador, em si uma mediação na análise dos fenômenos
históricos. Sendo tal processo resultante exclusivo do trabalho humano, e
apreendendo o trabalho como ato teleológico de incorporação e criação de
valor, acata-se que a formulação categorial mais precisa e genérica para
expressá-lo deva ser a valorização do espaço.
Moraes (2008, p.45) nos assegura que ―esse conceito é impossível de ser
formulado sem o recurso a um grupo social que ocupa e explora aquele espaço, o
território – nesse sentido inexistindo enquanto realidade apenas natural [...]‖.
29
Acerca da denominação de Telha, Nogueira (1962) vai de encontro a afirmação de autores que defendem que este
nome foi dado àquela localidade, devido a mesma possuir uma antiga telharia que produzia estes artefatos. Segundo
este autor a tradição oral transmitida pelo sertanejo Antonio Freitas Pequeno (falecido em 1960, então morador na
Canafístula, Município de Iguatu), com oitenta anos de idade, que ouviu a história quando criança, de seu pai,
Francisco de Freitas Pequeno, que foi suplente de vereador de Iguatu, pelos idos de 1893-1894, o qual, por sua vez,
teve a notícia por intermédio de pessoas mais antigas. É uma tradição que alcança duzentos anos mais ou menos. Eis
a tradição, pois, transmitida por aquêle ainda lúcido octogenário Antônio de Freitas Pequeno, conforme nossa
indagação. No local em que hoje se encontra Iguatu, diziam os mais antigos moradores que, após a expulsão dos
índios Quixelôs, os primeiros conquistadores, tendo em vista que as palhoças deixadas pelos silvícolas eram fáceis
de ser destruídas pelo fogo e penetradas pela água da chuva, idealizaram um meio de protegê-las. Para isso,
89
colocaram sôbre um cavalete, barro amassado em tôda a sua extensão e que, depois de sêco e retirado, lembrava
vagamente a forma de uma telha. Tal objeto, pois, empiricamente construído, destinou-se a cobertura das tôscas
habitações deixadas pelo indígena que se retirara perseguido pelo branco. O invento, de forma ligeiramente côncava,
lembrando uma telha, foi tida como tal, e Telha ficaram os moradores chamando o lugar. Se alguém, portanto, ia
para aquêle local e se indagava seu destino, dizia-se: ―Vou para a Telha‖. (NOGUEIRA, 1962, p. 38-39).
30
Segundo Nogueira (1962), vale ressaltar o seguinte: como povoação, num único documento o nome deixa de ser
simplesmente Povoação da Telha. E isso se verifica na memória de 18 de abril de 1814, redigida pelo então
Governador Luís Barba Alardo de Menezes, sobre a Capitania independente do Ceará Grande, ao fazer a descrição
das diversas Vilas da mesma, e em se referindo a Icó, ao tratar das povoações com que conta o têrmo desta, diz
textualmente – Santa Anna da Telha na ribeira do Quixelô (documento existente no Arquivo Público e publicado na
Revista do Instituto do Ceará, ano XI, tomo XI. Pág. 47, Fortaleza, 1897). Seria êste, então, o nome oficial da
povoação da Telha, nos idos de 1814: Santa Ana da Telha. (NOGUEIRA, 1962, p. 42).
31
Segundo Montenegro (2008) Icó assumia a posição de Vila no dia 04 de maio de 1738, sendo está, a terceira Vila
mais antiga do Ceará em ordem cronológica, sendo antecedida por Aquiras e Fortaleza.
90
Fonte: IPECE
91
Segundo Nogueira (1962), quando raiou o século XIX, a ribeira dos Quixelôs
havia sido conquistada e estava povoada em muitos e diferentes locais. Acrescenta que
muitas terras ainda estavam por serem ocupadas, tanto que as últimas que foram
conquistadas através da concessão de sesmarias, correspondem a data de 28 de novembro
de 1821, por Manuel José de Araújo Silva.
32
Wilson Lima Verde tem 75 anos, é morador e importante estudioso de Iguatu. Além de historiador ele foi
jornalista e trabalhou no Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, em Iguatu, na década de 1960. A ajuda
92
O algodão ainda não tinha tanto destaque neste período naquela localidade, fato que viria
a ocorrer no início do século XX. Mas nem por isso, este povoado deixou de ter
importância, conforme afirmação de Nogueira (1962, p.49),
[...] a povoação de Telha, pouco a pouco, ia-se tornando, sob vários aspectos,
cada vez maior (...). Era natural, assim, que se tornasse mais complexa a sua
sociedade e novas exigências aparecessem para o funcionamento do agregado
humano. Criam-se nela, então órgãos da administração que antes, funcionavam
no Icó. Este, por sua vez, foi perdendo o contrôle paulatinamente, da povoação.
Era a preparação para que, num futuro não distante, fosse criada a Vila da
Telha.
deste ilustre morador foi fundamental no desenvolvimento de nossos estudos, por ser ele detentor de rico cabedal de
conhecimentos sobre Iguatu.
33
Ver Ata de instalação da Vila de Telha e posse da Câmara da mesma, nos apêndices de nossa pesquisa.
93
34
Acreditamos ter sido a atividade algodoeira, sobretudo a partir de sucessivas crises e pela reorientação da
produção deste produto para o consumo interno, a grande proporcionadora da atividade industrial no Ceará, com a
criação das primeiras indústrias têxteis, a exemplo da Fábrica de Tecidos Progresso, datada de 1883. Nobre (1989)
indica que esta atividade (algodoeira) e não a pecuária é a responsável pela industrialização do Ceará.
95
35
Para uma análise profunda da instalação e dos investimentos dos Boris no Ceará, ver Takeya (1995) no livro
Europa, Ceará e França: origens do capital estrangeiro no Brasil – Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995;
96
procurarmos desvendar o claro-escuro (KOSIK, 1976), ou seja, fazer uma análise que vá
para além da aparência, sem negá-la por completo, é claro que perceberemos que os
benefícios e o excedente econômico gerado pelo algodão foi distribuído de forma
desigual, se concentrando nas mãos dos grandes proprietários de terras e comerciantes de
algodão. Além do mais, apesar de haver determinadas modernizações no território,
mantinham-se as relações de exploração. Crianças, mulheres e homens exerciam
atividades pesadas em várias horas de trabalho por dia. Muito comum era a permanência
de relações de trabalho não capitalistas, a exemplo das parcerias, como era o caso dos
meeiros, dos moradores de fazenda, etc., Relações estas geradoras de extrema
lucratividade para os proprietários de terras e de dependência e submissão para os
camponeses. Conforme Harvey (2005b, p.118) o capitalismo também pode se apropriar
de ―reservas latentes‖ de um campesinato ou, por extensão, mobilizar mão-de-obra barata
de colônias e outros ambientes esternos.
36
Cel. Belisário Cícero Alexandrino foi o 5º Intendente de Iguatu em ordem cronológica. Segundo Nogueira (1962,
p. 157), é exato que, no poder, Belisário chegara ao auge em 1910. Além de o mais importante dos Intedentes ele era
também o presidente da Assembléia Estadual. Nessa condição, podemos dizer que chegava a ser uma espécie de
segundo Presidente do Estado. De fato, a 18 de março de 1910, foi êle quem assumiu a direção da administração do
Ceará, quando o Presidente Nogueira Acióli, em gozo de licença, partiu para o Rio de Janeiro.
37
Cel. Celso Lima Verde, foi outra importante figura política do Estado, assumindo cargos importantes, como
Intendente de Iguatu, Presidente da Câmara de Iguatu e foi considerado o maior rival político de Belisário
(NOGUEIRA, 1962; MONTENEGRO; 2008).
97
Algodão
Sertanejo do norte
Vamos plantar algodão
Ouro branco que faz nosso povo feliz
que tanto enriquece o paíz
Um produto do Nosso Sertão.
Luiz Gonzaga
Acreditamos que uma análise científica, busca os nexos internos dos fatos, as
relações que os constituem, não apenas a aparência. Diferentemente do que está posto na
101
canção, pretendemos ir além do que está explícito, buscando as mediações que nos levam
à essência dos fenômenos, como nos ensinou Kosik (1976, p. 11),
Nesta perspectiva, nossa poesia evoca o algodão como um produto que trouxe
diferenciação social, econômica e espacial ao Nordeste, implicando em modificações no
cotidiano do sertanejo e no interesse do capital nacional e internacional por este produto.
38
A carteira de Credito Agrícola Industrial – CREAI, criada em novembro de 1937 foi considerada como a ―primeira
construção institucionalmente consolidada e nacionalmente articulada de intervenção governamental na
intermediação financeira orientada para a oferta direta de crédito para custeio e investimento produtivo privado de
longo prazo nos setores agrícola e industrial‖. Nesse sentido são arroladas as principais linhas de crédito da
instituição (aquisição de matérias primas e insumos; custeio de entressafra; compra de animais; reforma e
aperfeiçoamento e aquisição de maquinário industrial); as garantias; os prazos de financiamento e os juros cobrados
nos contratos. (FREITAS FILHO, p.4).
Conforme Freitas Filho (s.d) As fontes de recursos da CREAI seriam originárias da emissão de títulos de prazos
diversos: curto, médio e longo. A assistência dada pela Carteira seria voltada para: (a) aquisição de meios de
produção, sementes, adubos e matérias-primas para fins industriais; (b) aquisição de gado destinado à criação e
melhora de rebanhos; (c) custeio de entressafra; (d) aquisição de máquinas agrícolas ou de reprodutores; e (e)
reforma ou aperfeiçoamento de maquinaria. Os empréstimos de prazo mais longo atenderiam os empreendimentos
classificados nas duas últimas categorias – respectivamente, dois e três anos. ―Não eram permitidos empréstimos
para aquisição de imóveis ou instalação inicial de aparelhagem industrial‖. (FREITAS FILHO, s.d, p.4). Sobre o
CREAI, ver ainda Araújo e Melo no artigo Estado, indústria e padrões de financiamento na história da economia
brasileira do século XX: a CREAI, a SUMOC e as indústrias automobilística e petrolífera.
Conforme Wilson Lima verde em conversas diversas, o financiamento da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial –
CREAI, foi implantado em Iguatu por volta da década de 1960, sendo o próprio entrevistado funcionário do Banco
do Brasil e atuando inclusive como fiscal da CREAI.
104
Esse tipo de renda não pode ser considerado um excedente sobre o lucro. ‗Ai a
mais-valia e a renda são idênticas, a mais-valia aparece ainda palpável na forma
de trabalho excedente, sendo evidentes as condições naturais ou os limites da
renda por serem os do próprio trabalho excedente‘ (LEITE, 1994, p.65).
foram incapazes de gerar um excedente de capital interno, sendo este apropriado em sua
maioria, na esfera da reprodução ampliada do capital.
Com base na citação anterior, é possível pensar que o Brasil se insere em parte
nesse processo de acumulação primitiva do capital, o que leva muitos autores a
afirmarem a não existência para a realidade brasileira, de um processo de acumulação
interna de capital, visto que o excedente aqui produzido era apropriado por completo pelo
capital internacional.
39
Entrevista cedida no dia 15-12-2010.
116
História oral é termo amplo que recobre uma quantidade de relatos a respeito de
fatos não registrados por outro tipo de documentação, ou cuja documentação se
quer completar. Colhida por meio de entrevistas de variada forma, ela registra a
experiência de um só indivíduo ou de diversos indivíduos de uma mesma
coletividade. Neste último caso, busca-se uma convergência de relatos sobre um
mesmo acontecimento ou sobre um período de tempo. (QUEIROZ, 1986, p.6).
O fato de a história oral não ser objetiva não significa que ela não seja
utilizável, visto que nem mesmo os inventários, as descrições minuciosas o são por
completo. Cabe nesta situação o papel do que Minayo (2008) chama de ―criatividade do
pesquisador‖, isto é, juntar os fragmentos dos discursos e compará-los com outras fontes,
procurando atingir o maior grau de coerência com a realidade.
Uma utilização coerente da história oral ou das demais fontes orais pode
proporcionar o desvendar de muitos acontecimentos e de sujeitos que a história oficial e
os dados estatísticos não oferecem. Neste sentido Ciavatta (2009, p.111) afirma que:
Outro ponto deve ser mencionado, sobre o trabalho de coleta de análise dos
relatos. O sentido que, por vezes, se tem dado à história oral é o de criar
possibilidades de produção de documentos para confronto com a documentação
oficial, tida como impregnada de ideologia dominante. Os produtos da história
oral seriam documentos nos quais a palavra é concedida àqueles que não
tiveram oportunidades de registrar suas versões sobre os acontecimentos.
Esse procedimento assume, assim, papel importante não apenas como fonte
histórica, mas também para desmascarar e desmistificar alguns dados que são tidos como
verdade absoluta. Portanto, a história oral, através das entrevistas e conversas, muito
contribuiu para as considerações veiculadas em nossa pesquisa.
118
40
Conforme Wilson Lima Verde em conversa no dia 23-06-2010, quem primeiro descaroçou algodão em Iguatu, foi
José Ferreira Pinto de Mendonça em 1913; depois veio Helvércio Teixeira na Varzinha. Se analisarmos
posteriormente outros produtores de algodão ou mesmo alguns industriais beneficiadores e os corretores do algodão,
perceberemos que existem laços familiares com os primeiros povoadores daquela municipalidade. Este fato é uma
comprovação das permanências que resistem no tempo, conforme nos assegura Aguirre Rojas (2002) e Braudel
(2007).
119
Iguatu tem grande número de lagoas e é rico em corpos hídricos. Por sua localização
quase por completo numa área de vale, seus solos de aluvião nas várzeas são bem
propícios à plantação do algodão herbáceo, conforme já comentado.
Trazendo o debate para a escala do Ceará, por volta do inicio do século XX,
este Estado já despontava como grande produtor de algodão, sendo o seu principal
produto de exportação. Em meados de 1920, o Ceará já era o maior produtor de algodão
do Brasil, com uma produção de (24.000.000 quilos), sendo seguido por Pernambuco
(18.000.000 quilos), Paraíba (15.000.000 quilos), Rio Grande do Norte (12.000.000
120
quilos) e São Paulo com uma produção de (10.175.400 quilos), isto no ano de 1927
(IMOPEC,1989). A tabela a seguir, demonstra a quantidade de algodão produzido no
Ceará no período de 1900 a 1944.
Com base nas informações orais transmitidas pelo Sr. Wilson Lima Verde,
podemos considerar que a cultura algodoeira passou por três ciclos em Iguatu, sendo o
primeiro deles, ainda no final do século XIX, com uma agricultura rotineira. O segundo
ocorrendo na década de 1920, com a chegada de vários estabelecimentos industriais, a
exemplo da Companhia Industrial de Algodão e Óleos – CIDAO, considerada a mais
importante em toda a história de Iguatu. E o terceiro ciclo ocorrendo pós-crise de 1929.
o algodão foi o principal produto propulsor de progresso num passado recente, onde de
início o município se utilizava de agricultura rotineira que iria se desenvolver com a
estrada de ferro, mas precisamente na década de 20 do século passado, quando em
Iguatu se instalaram as primeiras usinas beneficiadoras de algodão. Entre elas a CIDAO,
a fábrica Santa Margarida, a fábrica São José, a usina de Octaviano Jaime Benevides, a
usina da viúva Romero, além de corretores da Sanbra – Sociedade Algodoeira
Nordestina. Então a partir dos anos 20, Iguatu passou a se destacar como grande
produtor de algodão do Ceará devido suas características de solo de aluvião etc. Com a
crise de 1929, o comércio e a agricultura algodoeira sofre seu primeiro debaque em
decorrência da queda da bolsa de valores de New York. Ultrapassado os rigores da
crise, eis que o município novamente se engaja na produção algodoeira. Desta feita com
a continuação da Companhia de Algodão e Óleos – CIDAO e a instalação do grupo
inglês com sede no Paraná Anderson Clayton e Companhia Limitada, que começou a
122
41
Entrevista realizada no dia 17/03/10
42
Entenda-se aqui, as relações sociais de produção como as relações entre os homens no processo de produção,
distribuição e intercâmbio de riqueza material e imaterial e que podem se dar em forma de cooperação e assistência
mútua ou de exploração do homem pelo homem. Aprofundaremos este debate posteriormente quando formos discutir
as relações sociais no campo e na cidade de Iguatu.
43
É interessante lembrar que os meios de produção, os instrumentos de produção e a força de trabalho estão inseridos
dentro das forças produtivas, fato que nos esclarece e nos expõe a diferenciação entre técnicas e forças produtivas e
de que o desenvolvimento das relações sociais se da pelo desenvolvimento das forças produtivas e não pelas
técnicas, assim como o propõe alguns autores.
123
O que está posto nas citações anteriores desmistifica a visão daqueles que
interpretam a divisão do trabalho somente através do desenvolvimento técnico, negando o
contexto das classes. Procurando dar significação espacial à divisão social do trabalho,
vários autores entre os quais Godoi (2009) e Santos (1988) propõem o conceito de
divisão territorial do trabalho para demonstrar o desenvolvimento geográfico desigual do
capitalismo nos lugares. Nesta proposta, alguns lugares assumiriam determinadas funções
que lhe garantiriam certa centralidade. Neste caso, a divisão social do trabalho vai para
além das pessoas, se expandindo também para os lugares, ocorrendo assim, uma
especialização na produção ou mesmo na gestão de alguns serviços, ocasionando por
conseqüência uma autarquia entre os mesmos.
124
[...] pensando numa análise que retira o pensamento exclusivo nos indivíduos e
o vincula ao espaço, podemos analisar como as relações se estabelecem neste.
Como, a difusão de técnicas, culturas e políticas podem transformar, aumentar,
definir, especializar, influenciar ou dinamizar a produção espacial. Com isso, o
espaço e a sociedade têm transformada sua característica pretérita de
independentes ou autárquicos (GODOI, 2009, p.129).
Antes [...], a maioria das regiões produzia quase tudo de que necessitava para
sua reprodução, produzia-se de quase tudo em todos os lugares; vivia-se
praticamente em autarquia. Hoje, assistimos à especialização funcional das
áreas e lugares, o que leva à intensificação do movimento e à possibilidade
crescente das trocas.
Como podemos observar, a cultura algodoeira exigia no início dos anos 1920,
a modernização em seu cultivo, necessitando assim, de profissionais técnicos de outros
países, especializados nesta cultura, com o intuito de aumentar a produtividade e garantir
a produção, de acordo com os padrões internacionais. Neste contexto, Iguatu, bem como
Sobral e Fortaleza, ganham destaque e importância no beneficiamento do algodão.
44
Octaviano Jayme de Alencar Benevides era industrial, chefe da firma Alencar Benevides, agente do Bank of
London e da Standard Oil, chefe local do Partido Conservador Republicano Cearense. Este ainda foi Prefeito interino
de Iguatu no ano de 1935 por seis meses.
130
Anderson Clayton & Cia. Ltda. que, em poucos anos, construiu em Iguatu
armazéns para guarda de algodão em rama e instalou maquinismo moderno para
beneficiamento do produto. Para dizer do nível de atenção dado a esse
estabelecimento é só lembrar que foi instalado um motor a óleo Diesel, com
fôrça de 160 h.p. e o primeiro a ser utilizado no interior cearense. As atividades
dessas duas poderosas empresas (para não citar outras menores) resultavam em
lucros excelentes para seus proprietários, embora pagassem eles diárias
miseráveis a seus operários que eram impiedosamente explorados.
(NOGUEIRA, 1962, p.220).
(2005; 2006). Neste sentido consideramos necessária a discussão sobre as relações sociais
de produção no contexto da produção algodoeira em Iguatu.
45
É válido lembrar assim como nos faz Marx, que no livro I, o autor enfatiza mais o primeiro e o terceiro estágios,
dedicando o livro II maior ênfase a esfera da circulação. Conforme a citação anterior feita por Marx (1893), podemos
identificar que na primeira fase o capital encontra-se na esfera da circulação, na forma de capital monetário, onde
teríamos a fórmula D – M, sendo D= dinheiro, M= mercadoria. Na mercadoria estaria agregada a força de trabalho =
Ft e os meios de produção = MP. Em sua segunda etapa, o capital entra na esfera produtiva, onde o trabalho
assalariado combina-se com os meios de produção, criando assim novas mercadorias, com novos valores, sendo
gerada nesta esfera a mais-valia. Neste caso teríamos a fórmula M ... P ...M‘. Nesta segunda etapa, entendemos que o
capital passa de sua forma produtiva para a forma do capital-mercadoria. Para terminar o ciclo, na terceira etapa,
voltamos a esfera de circulação, pois as mercadorias produzidas após a venda converte-se em dinheiro. Dessa forma
chegaríamos a fórmula D – M ... P – M‘ – D‘ que caracteriza o movimento do capital. Ou seja, no inicio o capitalista
entra no negócio com certa quantia e no final recebe um acréscimo daquela quantia inicial que será novamente
aplicada para a ampliação de seus lucros, promovendo assim, uma acumulação ampliada do capital. Para tanto o
processo inicial de acumulação primitiva exerceu papel fundante em todo o processo acima discutido.
140
O processo descrito por Harvey nos oferece uma ampla visão das condições
para a existência da acumulação e desenvolvimento do capitalismo, o que de fato não
ocorre de forma semelhante em todos os lugares, a exemplo da realidade brasileira e de
alguns setores de sua economia.
141
[...] É preciso ter em conta que o desenvolvimento das relações capitalistas num
ramo ou num setor da produção já cria as condições para que a reprodução
capitalista de capital aí ocorra, realizando como excedente capitalista os
excedentes gerados em relações não capitalistas.
De acordo com o que já foi dito, a cultura algodoeira em Iguatu assim como
no Ceará, se desenvolveu através do sistema de parcerias e consorciada com culturas de
subsistência. No caso de Iguatu, existiam fazendas como a de Manoel Matias Costa que
em fase inicial trabalhava com o arrendamento e com o consórcio, mas que com o passar
do tempo, assim como afirmou seu filho Edilmo Costa, optou por plantar somente
algodão (pois era bem mais lucrativo). Mas de modo geral, predominava na estrutura
agrária, a produção em pequenos estabelecimentos.
Na estrutura agrária, o predomínio não era do grande latifúndio, mas como nos
deixou claro Oliveira (1981), de pequenas culturas realizadas por meeiros, posseiros,
sitiantes:
142
recebiam por diária ou por empreitada, além das relações de renda da terra não-capitalista
defendidas por Oliveira (2007).
O exemplo seguinte foi fornecido pelo Senhor José Gomes da Silva46 (Seu
Amanso), que afirma que somente na fazenda em que trabalhava (com a função de
administrador), de propriedade do Senhor Manoel Matias Costa, conhecido como o ―rei
46
Entrevista realizada no dia 26 de junho de 2010, com o senhor Amanso trabalhador da fazenda do Senhor Manoel
Matias Costa há 30 anos.
146
A fotografia a seguir, demonstra que inclusive uma Igreja foi criada para que
os trabalhadores que ali residissem pudessem frequentá-la na hora de seu descanso. Ao
lado da igreja se encontrava o galpão que armazenava o algodão produzido na fazenda.
Todo um aparato material e espiritual foi criado para a manutenção da resignação dos
camponeses e sua permanência. Logo após longas horas de trabalho, seja roçando,
semeando ou colhendo, os trabalhadores tinham seu afago na Igreja, onde iam agradecer
a Deus e ao patrão, por mais um dia de trabalho e de comida.
Rapaz, por ser um lugar de acolhimento das pessoas, uma fazenda, aqui podia
vim gente da Paraíba de todos os outros estados também chegavam aqui e vim
trabalhar sabe. Naquela época, por exemplo, na época da colheita, tal tempo...
agora mesmo nós estamos no mês de junho né, ai mês de abril, por exemplo,
maio, começa a colheita aqui, ai o pessoal que tava lá na Paraíba, lá em outros
estados rapaz dizia, agora lá em Iguatu ta na época da colheita, ai onde chegava
aqui e sabendo aonde tinha algodão pronto tinha serviço pra todo mundo. Todas
essas fazendas aqui, nas adjacências acolhiam gente. Aqui teve famílias que se
arranjaram com gente de fora, de outros estados né que vinham pra cá e ficava e
morava até muitos anos aqui na varzinha sabe, que aqui sempre foi um lugar... a
fazenda aqui sempre foi acolhedora o pessoal chegava aqui pra voltar, mas tinha
casa... tinha muita casa de taipa aqui que geralmente e geralmente sempre tinha
uma desocupada o pessoa vinha se arranjava, ficava ai um bocado de tempo
sabe. Agora eu mesmo filho natural da varzinha, a gente tinha uma média de...
você vê... eu tenho 57 nos, toda a minha vida foi aqui dentro, papai morreu aqui
com oitenta e tantos anos aqui dentro se você ai naquela vila o pessoal o pessoa
conta a historia: o meu pai morreu... o meu pai tinha 90 anos, nasceu e criou-se
na varzinha e tal sabe, é uma historia né a varzinha tem... não é um ―povim‖ que
chegou relâmpago não, que chegou e saio a manhã não, todo mundo aqui sabe...
sabe como começou o primeiros passos aqui da varzinha. (Seu Amâncio,
entrevista realizada em 26 de julho de 2010).
Outro produtor que também conseguiu montar uma indústria com a produção
de algodão foi José Saraiva Coelho, proprietário da COESA S/A, uma das principais
usinas beneficiadoras de algodão de Iguatu. Este senhor, segundo Lima Verde, ainda teve
apoio do governo Federal em consórcio com os E.U.A na chamada Aliança para o
148
Progresso47, instaurada durante o governo do presidente Kennedy para abrir sua usina
(que contou ainda com financiamento do Banco do Brasil).
[...] O fazendeiro apropria parte desse valor, tanto sob a forma de sobre-produto,
resultado da partilha do algodão entre ele e o meeiro, quanto sob a forma de
sobre-trabalho, no ―cambão‖, uma forma muito similar à clássica corvéia da
economia camponesa européia; sob as duas forma oculta-se uma terceira, a
renda da terra que raramente é explicita. O proprietário quase nunca exige um
pagamento do meeiro pela utilização da terra. O fazendeiro em sua ideologia,
‗dá‘ a terra de graça para seus moradores.
Com relação à renda da terra, as formas de pagamento por parte dos pequenos
produtores arrendatários se dava mediante a renda- trabalho, e o pequeno agricultor
dedicava alguns dias de seu trabalho para o grande latifundiário, ou era pago em renda
47
Para uma melhor compreensão da Aliança para o Progresso e do interesse dos E.U.A pelo Nordeste brasileiro, ver
Francisco de Oliveira (1981) em seu Clássico Elegia para uma (Re)ligião.
149
Este mesmo autor ainda discute outras formas de renda da terra que existiram
em Iguatu no processo de produção algodoeira, sendo denominadas por ele de rendas pré-
capitalistas.
dinâmica regional a Iguatu, que se constituiu em uma nova centralidade na rede urbana
cearense, dado o importante papel que assumia no contexto das relações intermunicipais
da região centro-sul do Estado, sobretudo na dinamização do comércio, conforme destaca
Nogueira (1985, p. 159):
FIGURA 8: CIDAO - antigas instalações de produção de óleo FIGURA 9: CIDAO - Velhos Galpões
Fonte: LIMA, Átila de Menezes -2010 Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010
Ainda segundo Teixeira (2007), a CIDAO criou também vilas operárias (ver
fotografias 10 e 11) para os seus trabalhadores48, contribuindo, assim, no âmbito da
moradia, para uma nova forma de intervenção no espaço urbano, fato novo até então para
a cidade. É válido atentar para o fato de que a doação de casas para os trabalhadores nas
proximidades das fábricas era mais uma das estratégias de subordinação do trabalho ao
capital. As fotografias a seguir, mostram que até hoje, as moradias cedidas pela CIDAO,
situadas na Rua da CIDAO e na rua Moreira Filho, constituem parte da paisagem de
Iguatu.
FIGURA 10: casas da antiga vila da CIDAO FIGURA 11: Antiga vila da CIDAO
Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010 Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010
48
Conforme informações de Wilson Lima Verde, estas casas foram cedidas àqueles trabalhadores considerados de
confiança e não a qualquer operário.
153
Estes elementos nos indicam o fato de que no começo do século XX, Iguatu já
se inseria de forma seletiva no âmbito da acumulação capitalista em curso no Ceará.
Neste caso podemos evidenciar o papel assumido por Iguatu na divisão social
e territorial do trabalho no contexto cearense. A este propósito, Rosa (1998, p.117)
assinala que:
aparência, desvendar o claro-escuro (KOSIK, 1976) que existe por trás dos discursos e
dos dados.
49
Entrevista realiza no dia 26 de junho de 2010, com o senhor Amanso trabalhador da fazenda do Senhor Manoel
Matias Costa há mais de 30 anos.
50
Ver na entrevista de José Roberto ex-funcionário da indústria Inácio Parente todo o processo produtivo do
algodão e do caroço do algodão
158
Evidências da grande riqueza que era retida na mão dos industriais do algodão
nos é fornecida pelo Senhor Roberto da Silva Nogueira, filho do proprietário da Fábrica
Horácio Fernandes, onde funciona hoje uma recicladora. Ele nos afirmou que a riqueza
gerada com o algodão foi tanta, que existiam na Cidade 6 aviões, todos estes pertencentes
aos proprietários de fazendas que comercializavam algodão, sendo a sua família
proprietária de um deles.
Lima Verde (2010) nos afirmou que a família Moreira Cavalcante, sócia
majoritária da CIDAO, acumulou muitas riquezas, financiando inclusive os estudos de
um de seus membros (irmãos) em Roma. José Moreira Cavalcante reteve tantas riquezas
que possuía grande patrimônio materializado em imóveis na cidade de Fortaleza, mais
precisamente na Aldeota, hospedando inclusive personalidades como o General Castelo
Branco, quando de sua vinda ao Ceará (Entrevistas - apêndice). Estas informações nos
dão inclusive indícios para concordar com as suposições feitas por Amora (2010) 51 ao
inferir que parte dos investimentos que ocorreram na cidade de Fortaleza tiveram origem
no interior do Estado.
51
Proposições feitas ao longo de nossas discussões na construção desta pesquisa.
159
52
Entrevista com vários moradores antigos do Município de Iguatu conseguida em visita a campo nos dias 8 e 9 de
março de 2010.
160
atingiu uma produção por hectare de 500.000 arrobas e um valor de produção de Cr$
225.000.000,00. Em 1959, sua produção atingiu a quantidade de 310.500 arrobas, com
um valor de Cr$ 97.807.500,00 (isto para o algodão herbáceo).
Tabela 12: Pessoal ocupado, Tratores, arados, segundo as zonas fisiográficas e municípios na Zona
do sertão do Salgado e Alto Jaguaribe – 1950 – 1960
De acordo com Edilmo Costa, o primeiro trator da fazenda data do início dos
anos de 1940, tendo sido comprado nos E.U.A através de representantes comerciais
estadounidenses.
Tabela 13: Área, produção e rendimento de algodão no Ceará e mesoregião dos Sertões dos
Inhamuns e Salgado – Safra 1978-79
Rendimento
Estado, Meso, UEP e Microrregião Área (ha) Produção (t)
(kg\ha)
Tabela 14: Colheita, tipo de cultivo e valor da produção dos principais produtos das lavouras
temporárias, no ano de 1970, segundo municípios. a) Algodão em caroço
Municípios Total Em cultivo simples
Informantes Quantidade Área Valor Informantes Quantidade
(Toneladas) (ha) (Mil cruzeiros) (Toneladas)
Iguatu 1.560 1.765 7.303 1.857 347 448
Jaguaruana 1.053 933 3.932 902 671 610
Quixadá 1.437 1.314 7.844 1.410 224 229
Quixeramobim 402 312 2.136 318 54 40
Quixere 1.138 1.047 4.875 983 19 13
Tabuleiro do Norte 958 530 3.345 487 355 226
Fonte: Recenseamento Geral de 1970; censo agropecuário do Ceará – 1970, . VII Recenseamento Geral. Série regional; volume
II Tomo V II
53
Em estudos futuros, faremos um mapa com a espacialização das indústrias.
175
Tabela 15: Algodão beneficiado por usina em Iguatu, durante o ano agrícola de 1978/79
Tabela 16: Indústria de extração de óleos de caroço de algodão durante o ano agrícola 1978/79
Matéria-prima Produção
Horácio
Fernandes S\A
Pastor Iguatu 5.450 56,7 9.600 - 4.236 77,3 7.378 820 15 1.435
Indústria e
comércio
Detino de Souza
- Iguatu 6.457 56,5 10.600 - 4.663 72,2 8.250 916 14,1 1.650
Lins
Coelho S/A
Indústria e Coesa Iguatu 2.800 100 2.800 - 2.000 71,4 2.000 400 14,2 400
comércio
Fonte: Pesquisa direta realizada nas indústrias de extração de óleo de caroço de algodão – 1979.
Retirado e adaptado de Comissão Estadual de Planejamento Agrícola – CEPA – CE; Beneficiamento de Algodão e Extração de Óleo - Safra 1978-79. Fortaleza 1981.
185
55
É válido lembrar que na contra-mão do processo de fechamento das indústrias de beneficiamento de algodão em
Iguatu, quase todas fechando suas portas nos finais dos anos de 1970 e em meados dos anos de 1980, a Inácio
Parente, conforme entrevista cedida por José Roberto ex-trabalhador desta indústria, teve o início de suas atividades
no ano de 1989 e funcionou até o ano de 2007.
186
Ao ser descaroçada, a pluma era sugada para a prensa, onde eram feitos os
fardos de 200 quilos. Daí ia para os galpões para ser estocada. Muitas vezes o algodão
ficava estocado de um ano para o outro, esperando melhores preços no mercado. Já o
caroço, depois de separado da pluma, seguia para a fábrica de óleo através da calha
(enorme cano que sugava o caroço). Ao chegar à fábrica de óleos, era colocado no
elevador e levado para a deslintadeira, máquina que retira o linter (material que serve
para o enchimento de colchões, cobertores, travesseiros etc.). Depois de ficar bem limpo,
o caroço era levado para o moinho, onde era triturado, e se transformava em massa, indo
em seguida para os panelões, para ser pré-cozida. Logo após, a massa ia para a prensa,
extraindo daí o óleo bruto. O restante virava torta de algodão. O óleo era levado para os
tanques e vendido para a Cooperativa Central dos Produtores de Algodão -
COOCENTRAL, fábrica de óleos situada em Fortaleza, ou para a fábrica de refinamento
de óleos de Eliseu Batista, em Orós. Já a torta do algodão era vendida segundo José
Roberto, para o consumo de gado na região, como também para Sobral. Este entrevistado
ainda acrescenta que a Inácio Parente mantinha outra fábrica em Sobral e tinha uma base
em Crateús.
Só essa fábrica gerava durante oito meses, emprego para sessenta pessoas e, no
restante do ano ficava somente umas quinze fazendo reparos e outras atividades,
mas todos os anos durante uns oito meses, nove meses eram uns sessenta
56
Entrevista realizada no dia no 23 de Junho de 2010.
187
57
Segundo Antunes (1995), podemos caracterizar os antigos processos produtivos (taylorismo/fordismo) por uma
produção em massa por meio da linha de montagem de produtos homogêneos, que controla o tempo e o movimento
do trabalhador pelo cronômetro taylorista e produção em série fordista. Além disso, podemos ainda destacar a grande
especialização do trabalho, a verticalização do processo produtivo, a hierarquização entre os que estão no chão da
fábrica executando a produção e os que pensam a produção, hierarquia que vai ter reflexos na sociedade em geral.
188
58
Realidade apresentada nas entrevistas com ex-funcionários (senhor Expedito) de uma das empresas citadas e com
Wilson Lima Verde.
Organograma 1: Processo produtivo de industrialização do algodão e do 189
caroço do algodão
Algodão em rama
caroço pluma
Preparação
Extração do óleo Indústria Têxtil
Subprodutos
Fertilizantes, rações, fiação
ou confecção de Extração de óleo Fiação
alcochoados
Tintura de fios
Subprodutos
sabões Refinação Tecelagem
Branqueio Tinturaria
Desodorização
Usineiro
Produtor sem terra
Indústria têxtil
Intermediários
diversos
Pequenos proprietários
Mapa 8: Fluxograma de origem e destino de algodão em pluma do Ceará a níveis de MRH – 1978-
79
194
Uma análise detalhada do mapa 08 permite afirmar que grande parte da pluma
de algodão produzida no Estado destinava-se às regiões Sul e Sudeste, destacando-se os
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande
do Sul.
Contribuições valiosas são também as de Smith (2002), que propõe uma teoria
política da escala geográfica, isto é, uma análise que nega a visão do espaço como um
mosaico e procura apreender a realidade a partir da escala do capital em suas diversas
esferas de atuação. Para esse autor, um acontecimento não é somente local, ou mesmo
global, ocorre em todas as escalas ao mesmo tempo, só que com intensidades diferentes.
Acrescenta:
Para Smith (2002, p.141), além da escala ser uma construção delimitada pela
sociedade, suas diferenciações também se dão devido à estrutura geográfica das
interações sociais:
Optamos por esta visão de escala defendida por Smith (2002), sobretudo
quando o autor destaca que a escala global pode ser apreendida considerando o capital
financeiro e o mercado mundial, a escala nacional e regional compreendendo questões
197
Mapa 9: Fluxograma de origem e destino de algodão em caroço do Ceará a níveis de MRH – 1978-79
199
Mapa 10: Fluxograma de origem e destino do óleo e da torta de algodão do Ceará a níveis de MRH – 1978-79
200
grande para o ―novo‖ contexto no qual o Ceará se inseria, sendo mais proveitoso e
lucrativo exportar o fio já industrializado, ou mesmo, o produto em forma de roupas.
Tabela 17: Valor, peso e preço médio de exportação do Fio Têxtil – Ceará –
1961 -1997
Ano Valor (Us$ FOB) Peso (kg) Preço médio (US$ FOB\kg)
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Mauricio de. Sobre a Memória das Cidades. In: Revista Território –
LAGET/UFRJ, n 4, Ano III, Jan/Jun. 1998.
AMORA, Zenilde Baima. Indústria e espaço no Ceará. In: SILVA, José Borzachiello da
(et. al.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005.
ARAÚJO, Victor Leonardo de.; MELO, Hildete Pereira de. BNDE e Banco do
Brasil/CREAI: a evolução do sistema de financiamento de longo prazo no Brasil (1952-
1964). [S.l., s.n.], [1964?].
CARLOS, Ana Fani A. Espaço e Indústria. 7 ed. São Paulo: Contexto, 1997.
COSTA NETO, Yttrio Corrêa da. Bancos oficiais no Brasil: origem e aspectos de seu
desenvolvimento. Brasilia: Banco Central do Brasil, 2004.
FUNDAÇÃO IBGE. Anuário Estatístico do Brasil – 1970. v. 31. Rio de Janeiro: [s.n.],
p. 1 -772, 1970.
GIRÃO, Raimundo. História Econômica do Ceará. 2 ed. Fortaleza: Casa José Alencar
Programa Editorial, 2000.
______. As charqueadas. In: História do Ceará. SOUZA, Simone de. (Org.) Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará; Fundação Demócrito Rocha. Stylus comunicações, 1989.
GODOI, Cíntia Neves; DEUS, João Batista de. A urbanização no Brasil e as diferentes
divisões territoriais do trabalho ao longo do tempo. In: Caminhos de Geografia.
Uberlândia: v. 10, n. 30, p.128-141, jun. 2009.
______. Los límites del capitalismo y la teoria marxista. México: Fondo de Cultura
Económica, 1990.
______. Recenseamento Geral de 1960: Censo Agrícola de 1960. Ceará, Rio Grande do
Norte. VII Recenseamento Geral do Brasil. Série regional; v. II, Tomo II, 2 parte. Rio de
Janeiro: IBGE, 1960.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LACOSTE, Yves. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. São
Paulo – Campinas: Papirus, 1988.
LATOUR, Bruno. Os filtros da realidade. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jan. 1998.
LIMA, Átila de Menezes; AMORA, Zenilde Baima. O algodão e seu papel na produção
do espaço: o caso de Iguatu – CE. In: Leituras e Saberes sobre o Urbano: Cidades do
Ceará e Mossoró no Rio Grande do Norte. Org.Virgínia Célia Cavalcante de Holanda e
Zenilde Baima Amora. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010.
LIRA, Larissa Alves de. Fernand Braudel e Vidal de La Blache: Geohistória e História da
Geografia. In: Confin [Online], 2 |2008, posto online em 28 mars 2008. URL :
http://confins.revues.org/index2592.html DOI : en cours d'attribution.
215
LIRA, Larissa Alves de. O ―modelo insular‖: Ratzel e suas contribuições às idéias de
Fernad Braudel sobre as origens do capitalismo. In: Revista de Economia Política e
História Econômica. São Paulo: Núcleo de Economia Política e História Econômica, n
13, ano 05, Julho. 2008.
LOWY, Michael. Ideologias e Ciência social: elementos para uma análise marxista. 16
ed. São Paulo: Cortez, 2003.
MANDEL, Ernest. O Capitalismo tardio. (Os economistas). São Paulo: Abril Cultural,
1982.
MONTENEGRO, José Hilton Lima Verde. Major Deoclécio Lima Verde: família e
história. Aracaju-SE: [s.n.], 2000.
______. Geografia: pequena história crítica. 21 ed. São Paulo: Annablume, 2007.
______. Crítica a razão dualista: O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 10 ed. São Paulo: Brasiliense,
1967.
PHILO, Chris. História, geografia, e o ―mistério ainda maior‖ da geografia histórica. In:
GREGORY, Derek et alli (org). Geografia Humana – Sociedade, Espaço e Ciência
social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.
QUEIROZ, Maria Isaura P. de. Relatos orais: do ―indizível‖ ao ―dizível‖. 38ª Reunião
da SBPC. Curitiba: [s.n.], jul. 1986.
______. Por uma Geografia Nova: Da crítica da Geografia a uma Geografia crítica. São
Paulo: EDUSP, 2002.
SILVA, José Graziano da. et al. Tecnologia e campesinato: O caso brasileiro. Revista de
Economia Política, São Paulo, v.3, out./dez. 1983.
SILVA, Lígia Maria Tavares da. Trajetórias pela Geografia Histórica. In: Itinerários
Geográficos.Org. Amélia Cristina Alves Bezerra, Cláudio Ubiratan Gonçalves, Flávio
Rodrigues do Nascimento e Tadeu Alencar Arrais. Niterói: EdUFF, 2007. 356 p.
SMITH, Neil. Geografía, diferencia y lãs políticas de escala. In: Terra livre, São Paulo,
ano 18, n. 19; p. 127-146, jul./dez. 2002.
SOUZA, Maria Salete de. Ceará: bases de fixação do povoamento e o crescimento das
cidades. In: SILVA, José Borzachiello da (et. al.). Ceará: um novo olhar geográfico. 2
ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007.
APÊNDICE
Entrevistas e conversas
Em entrevista com Wilson Lima Verde61, onde o enfoque era o papel do algodão para a dinamização da
economia e para a produção do espaço de Iguatu, o entrevistado inicia sua fala destacando que o algodão
foi o principal produto propulsor de progresso num passado recente, onde de início o município se
utilizava de agricultura rotineira que iria se desenvolver com a estrada de ferro, mas precisamente na
década de 20 do século passado, quando em Iguatu se instalaram as primeiras usinas beneficiadoras de
algodão.
Entre elas a CIDAO, a fábrica Santa Margarida, a fábrica São José, a usina de Otaviano Jaime Benevides,
a usina da viúva Romero, além de corretores da Sanbra – Sociedade Algodoeira Nordestina. Então a partir
dos anos 20, Iguatu passou a se destacar como grande produtor de algodão do Ceará devido suas
características do solo de aluvião etc.
Com a crise de 1929, o comércio e a agricultura algodoeira sofre seu primeiro debaque em decorrência da
queda da bolsa de valores de New York. Ultrapassado os rigores da crise, eis que o município novamente
se engaja na produção algodoeira. Desta feita com a continuação da Companhia de Algodão e Óleos –
CIDAO e a instalação do grupo inglês com sede no Paraná Anderson Clayton e Companhia Limitada, que
começou a focar campos experimentais de algodão, trazendo em seu quadro funcional, agrônomos já na
década de 1940.
Nos anos de 1940 foram diversas as usinas beneficiadoras de algodão em Iguatu, bem como em seus
municípios adjacentes. Na sede de Iguatu abriram-se as usinas M. Alexandre e Companhia (beneficiadora
de algodão); Jose Pastor e Cia. (beneficiadora de algodão), Horácio Fernandes & Cia (beneficiadora e
fabricante de resíduos e extração de óleos). É bom lembrar que a CIDAO além do beneficiamento de
algodão, extraia óleo de algodão, da mamona e oiticica em larga escala e comprava estes produtos desde o
interior da Bahia (oiticica e mamona) e babaçu no Maranhão.
As outras usinas eram a Coelho S/A (descaroçadora e fabricação de resíduos e óleos), Ceará Centro-Sul
(beneficiadora de algodão), Usina São Jorge (beneficiadora de algodão), além dos corretores de algodão
da Sanbra e de usinas vizinhas como as de Orós, Cedro, Acopiara. Além do algodão de Iguatu suprir suas
usinas, ainda supria as das vizinhas quase todas.
A década de 50 Iguatu atingiu o máximo, chegando a liderança de produção não só no Ceará, como
individualmente como município no Nordeste brasileiro, chegando na primeira metade de 60, Iguatu ter o
maior imposto de circulação de mercadorias do interior do Estado em virtude do algodão produzido.
Havia produtores de algodão em Iguatu como Manuel Matias Costa (Nelsin), considerado como rei do
algodão, que sozinho produziu o suficiente para montar uma usina de pequeno porte, pois chegou a obter
de sua lavoura, onde costumava empregar nos trabalhos de plantio, tratos culturais e colheita, cerca de
700 (setecentas) pessoas, obtendo em determinado ano, a produção extra de 60 mil arrobas de algodão,
correspondendo a novessentos mil quilos; 60 mil arrobas de 15 quilos.
Numerosos foram os agricultores que se destacaram como grandes e médios produtores de algodão.
Depois de Nelsin podemos destacar Francisco Chaves Neves, Raimundo José das Neves, Adeodato Matos
Cavalcante.
60
Entrevista realizada no dia 17/03/10
61
É preciso deixar claro que a reprodução desta entrevista, procurou transcrever e respeitar de forma coerente a fala
do entrevistado, sem modificações em sua fala, nem em seu conteúdo.
222
De médio à baixo produtores vem Sebastião Dias de Oliveira (Tetê Dias), João Coelho Lima Verde,
Francisco Alves de Oliveira, José Carlos Alencar (todas de Iguatu). Nessa época Quixelô era integrante
territorial de Iguatu.
Continuando vem ai José Alcântara, Francisco Airton Araújo, Solário Ferreira Lima, José Neto de Souza
etc.
Agora, além das usinas, existiam grandes corretores que compravam para fora como Solário Ferreira
Lima (corretores e compradores), Celso Holanda Montenegro, Clóvis Benevides, esses compravam para
Orós, pra Cedro, que é bom ressaltar que além das usinas de Iguatu, Jucás tinha uma usina grande, Cariús
também tinha duas usinas, Cedro tinha duas usinas grandes, Orós tinha a usina de Eliseu Batista S.A, um
dos maiores parque industriais depois da CIDAO e Icó com 4 (quatro) usinas e Acopiara com 4 (quatro)
usinas. Iguatu comprava e vendia para os municípios vizinhos. Haviam produtores de Iguatu que vendiam
para os municípios vizinhos.
O município de Iguatu até o final da década de 1970, quando Quixelô se desmembrou em 1985, Iguatu
era município com Um mil seiscentos e oitenta quilômetros quadrado, e era constituído por terras
apropriadas ao cultivo de algodão, cereais, legumes. Com o advento do açude de Orós muitas das áreas de
terras algodoeiras foram invadidas pelas águas do Orós, passando a ser substituída a cultura da malvácea
do algodão pela cultura do arroz, sendo hoje o Iguatu um dos maiores produtores de arroz irrigados do
estado. A produção de algodão em Iguatu atingiu 50 milhões de kg em 1950, produção de Iguatu
propriamente dita. Essas usinas de Iguatu que chegou a funcionar até meados de 1970 em número de nove
(9) usinas somente dentro da cidade, havendo delas como a CIDAO que funcionava noite e dia.
CIDAO tinha duas fábricas de sabão, uma serraria, uma de benecifiamento de algodão, de óleo de
oiticica, de mamona, de babaçu e preparava a pluma e o linter (produto intermediário entre a pluma e o
caroço, é aquela pelezinha de pluma que fica em adesão ao caroço, dali se extrai o linter, pra encher
esteiras, colchões etc.). Mas não é apropriado para tecido, pois a fibra quebra. È bom saber que a fibra de
algodão de Iguatu atingia o comprimento (os limites) de (34, 36, 32-34, 34-36).
Nos terrenos mais altos, ele produzia a fibra longa, mais, tipo cêda que é a tendência do algodão híbrido
ou o arbóreo propriamente dito; enquanto que nas partes baixas, nos baixios introduzia o algodão
herbáceo propriamente dito, com sementes oriundas de São Paulo, depois de João Pessoa e depois de
sementes advindas da própria Embrapa.
O algodão era quase propriamente de Iguatu e de outros municípios devido sua localização estratégica
dentro da região Centro-Sul, onde 16 municípios dependem da economia de Iguatu, sendo considerado a
capital do Centro-Sul.
A oiticica também era quase toda de Iguatu, mas a mamona e o babaçu eram importados da Bahia e do
Piauí. O comércio da pluma do algodão era comumente levado para o sul do país, mas também pros
Estados Unidos e mesmo pra União Soviética. A estrada de ferro teve muita importância tanto no frete,
quanto na quantidade transportada de mercadoria.
Relatando sobre sua experiência como fiscal da carteira de crédito agrícola ele afirma que percorreu todas
as roças do Centro-sul cearense, dos tabuleiros do riacho do sangue até o divisor de águas do Piauí na
Serra do charito, pegava desde as extremas do município de Arneiroz passando por Catarina, Acopiara,
Iguatu, passando pelas margens direita do rio capim na divisa de Icó com Jaguaribe conhecendo toda
aquela região. O mesmo destaca ter em sua casa uma lista com os apelidos de todos os produtores e
agricultores (pequeno, médio e grande) da letra a a z, e que quando se tratava da quantidade de algodão
produzida ninguém ganhava de Iguatu, nem Sobral, nem Fortaleza.
Wilson Lima verde descreve que com a chegada do Banco do Brasil em Iguatu, que fará 70 anos de
instalação naquele município, e a instalação e funcionamento da carteira de crédito agrícola e industrial
do banco do Brasil expandiu a lavoura e implantou a mecanização do campo na década de 60
consideravelmente. Até então havia meia dúzia de tratores, passou a possuir as maiores propriedades a
223
contar com tratores, arados, cultivadores, máquinas, pulverizadoras etc., graças aos gerentes do banco do
Brasil, principalmente na época de Alano de Moura Beleza, e João Elmo Moreno Cavalcante, onde eu era
fiscal da carteira de crédito agrícola.
No referente a chegada da energia de Paulo Afonso, só chegou em 1961, onde as indústrias dos anos 20,
30 e 40, funcionavam com grupos geradores próprios movidos a termoelétrica, onde a própria cidade era
iluminada através da usina Gustavo Corrêa Lima, usina Boris, depois transformada em usina Vitória que
posteriormente passou a ser propriedade de Alfredo Alves da Silva que por sua vez vendeu o maquinário
para o Maranhão por ter se tornado obsoleta.
Com relação ao campo, o mesmo afirmou que: este também mecanizou bastante, sobretudo a região de
varzinha, onde tinha a propriedade de Manuel Matias da Costa (rei do algodão). Nelsinho tinha quatro
tratores, onde não era qualquer produtor do estado do Ceará que possuía quatro tratores, e Iguatu tinha
produtores com 4 tratores, e já em recuados anos atrás já haviam produtores com dois tratores quando em
nenhuma outra região existia.
Então em matéria de algodão, óleo de algodão, linta, resíduo e caroço de algodão que ele exportava,
Iguatu era líder, e tinha produtores como Nelsinho que nenhum individualmente no Nordeste se
comparava a ele em produção, porque dentro de um sistema como o de Iguatu que era uma agricultura
semi-mecanizada, o sujeito colocar 700 pessoas trabalhando permanentemente era grande, a própria
CIDAO funcionava com 520 funcionários trabalhando dia e noite.
Como se dava a relação entre a produção (meio rural), a comercialização (quem comprava) e o
beneficiamento? Eram etapas diferentes?
Na maioria dos casos a produção era comprada por terceiros que comercializava e industrializava, mas
havia produtores como Nelsin mesmo que em uma época ele tinha a própria usina, José Saraiva Coelho
(produtor) tinha usina e a propriedade de produção algodoeira.
O município de Iguatu você saia no mês de Julho em todas as estradas que você se dirigisse para o interior
do município, se passava por carradas de algodão, quando não eram caminhões eram tratores com
reboques carregadas de algodão ou então naquelas propriedades mais acidentadas e mais afastadas,
vinham as cargas de burro trazendo o algodão. O movimento era tanto que no aniversário do centenário
de Iguatu em 1953, criou-se um hino para o algodão.
Nesse caso, o agricultor era o maior prejudicado (era burro de carga) ele produzia, mas o grande usufruto
da produção vai cair nas mãos do industrial e do grande comerciante, ou seja, os grandes proprietários das
usinas e os grandes compradores do algodão eram os grandes beneficiários, como de resto em todo o
sistema capitalista, a parte desenvolvida come o pão né!
Os bancos tinham um papel importante, pois tinham linhas de crédito direto para o produtor, para o
plantio, mas tinha também crédito aberto para a indústria, empréstimo industrial e o governo por sua vez
instituído ainda no governo Vargas tinha um financiamento para ativição para segurar o preço. Então nós
tínhamos um financiamento chamado ERF, que o sujeito deixava, levava o dinheiro e a mercadoria ficava
depositada a ordem do banco, esse mais tarde, se o cara, o mercado nacional ou internacional não tivesse
224
de acordo ele repassava para o governo Federal com outro empréstimo com o nome AGF- Aquisição do
governo federal, adquiria o produto para não desmerecer a produção do município, créditos estes
instituídos na era Vargas mas que caíram muito com a instituição do governo dos militares. Vargas
garantia um preço mínimo, onde o preço não poderia cair além do já instituído, porque se não gerava
desestimulo a produção e isso, foi mantido até os planos do economista Celso Furtado.
Qual a relação do algodão com a expansão comercial da cidade? Você acha que existia essa
relação?
Sem dúvida que sim, a produção algodoeira gerava farta circulação de moeda, de maneira a expandir as
atividades comerciais em todos os setores, tanto aumentava a expansão comercial, como aumentava a
arrecadação do governo.
A produção algodoeira chegou a um destaque tal que as agências bancárias sediadas em Iguatu ocupavam
o primeiro lugar em volume de negócios e lucros, por exemplo a agência do banco do Brasil era a
primeira do interior a dar lucro, dar maior volume de lucro; não tinha Sobral, não tinha nada não; tinha a
capital, mas a capital é capital né, tem que dar mais lucro; mas no interior o volume era de lá e o número
de agência o maior era de Iguatu. Apesar destas crises que tem se repetido no país, Iguatu continua com o
banco do Brasil; Bradesco; caixa econômica, banco do Nordeste e o Itaú. O banco do Brasil é de 3 de
maio de 1940.
Por que com a queda do algodão Iguatu continuou crescendo? Você concorda com esta afirmação?
É o seguinte, Iguatu foi uma das cidades do Ceará que apesar do desaparecimento da cultura algodoeira,
que lhe proporcionava grandes valores de mercado, Iguatu continua crescendo porque continuou
produzindo largamente na agricultura através da expansão da cultura de arroz e de crescimento de sua
pecuária. Hoje sendo a terceira maior bacia leiteira do estado. Quixeramobim produz mais leite que lá e
Jaguaribe que sempre foram zonas de criação, agora nosso rebanho é mais selecionado.
O senhor acredita que Iguatu centraliza alguns serviços dentro da Região Centro-Sul do Estado?
225
Com a sorte que Iguatu teve nestes últimos oito anos devido a visão empreendedora de seu atual prefeito
que tem a visão de futuro, vem aperfeiçoando a integração de Iguatu com os outros municípios,
reativando e criando várias estradas.
O senhor acredita que o algodão teve grande papel para a implantação de infra-estruturas, como a
estrada de ferro, as escolas agrícolas etc.?
O despertar do governo federal em direção a agricultura em Iguatu foi uma coisa que veio pioneiramente,
sem que nós podecemos dizer que foi A ou B quem trouxe, foi o próprio impulso do desenvolvimento
produtivo, então ali se instalaram os primeiros campos experimentais de irrigação. No governo provisório
de 1931 foi criado o serviço experimental de irrigação do Ceará com sede em Iguatu, depois criou o
fomento agrícola com sede lá e os campos de irrigação de Bugi, Penha, Gadelha, Cardoso e Cardoso 2,
tudo criado pelo Governo Federal e o deputado Adail Barreto Cavalcante que foi uma das maiores forças
que o dinamismo político da região possuiu no passado. Trouxe para Iguatu a escola agrotécnica Federal
no final dos anos 1950 e início dos anos 60se instalando no governo de João Goulart. Ai tudo tomou uma
proporção agigantada em relação ao progresso com a chegada da energia de Paulo Afonso, a partir dos
anos 60.
Qual a relação dos políticos locais para a chegada da energia de Paulo Afonso em Iguatu?
Houve uma movimentação das entidades de classes e o trabalho incansável do deputado Adail Barreto
Cavalcante junto a companhia hidrelétrica do São Francisco e ao próprio Governo Federal no sentido de
instalar. É tanto que em 4 de fevereiro de 1962 quando houve a chamada festa da ponte em Iguatu, Adail
Barreto trazia no bolso o cheque assinado pelo ministro das minas de energia Gabriel de Resendes Pessoa
de cem mil cruzeiros naquela época, quando que arrecadado no Cariri dá 10 mil, 12 mil. Ele trouxe de
uma vez 100 mil, que trouxe do bolso do ministro.
Ela passou um período de crise, ai, ela cedeu parte de seus armazéns para que a Sanbra armazenasse seu
produto. Foi uns dois anos que a CIDAO não comprou algodão, mais ela não arrendou, somente cedeu o
espaço para a Sanbra.
A Anderson Clayton deu um exemplo de modernização já no início dos anos 40, quando incentivou a
implantação de campos experimentais de algodão, onde ela procurava introduzir determinadas práticas de
combate a praga, dos tratos culturais, inclusive o desbache da folha do algodão, a atingir a quinta folha,
fazia um desbache para que a folha se desenvolvesse, então ela trouxe agrônomos apropriados para isto, e
foi o primeiro grande parque na modernização da cultura algodoeira naquela região foi dado por
Anderson Clayton e Cia limitada.
A Sanbra era muito pouco, ela vivia mais de prédios alugados, ela não tinha sede própria, comprava
através de corretores em prédios alugados e um dos últimos corretores dela foi o senhor José Pereira
Curado.
226
Agora a Sanbra nem se comparava a Anderson Clayton, pois era muito poderosa. A Anderson Clayton
apenas beneficiava algodão, logo é o seguinte, ela era honesta na questão de compra e pagamento viu.
Então o cara butava lá e ela exportava diretamente seu produto para a Inglaterra e Alemanha, e ia pela
linha férrea e exportada por navios.
Quase todo o movimento que embarcava através da estrada de ferro ia para o porto do mucuripe e uma
das crises que mais atrasam o Nordeste brasileiro foi a desativação da estrada de ferro.
O que o algodão representou para o cotidiano das pessoas, por exemplo a criação da festa do
algodão etc...?
O Iguatu a partir do iniciar dos anos 60, criou o parque de exposição agropecuária, e esse parque de
exposição, além da mostra de animais de corrente leiteira, gado de corte e gado de tração, ela fazia a
exposição de produtos agrícolas e os bancos oficiais, Banco do Brasil e Banco do Nordeste instalavam
agências lá dentro do parque de exposição, e ali financiavam tanto a melhoria da propriedade rural através
do financiamento de tratores, de implementos, de arame farpado, de aquisição de animais de corte, de
criação leiteira, eles financiavam tudo, davam assistência, e por ocasião destas exposições agropecuárias,
que tornavam vamos dizer um meio de haver uma convivência geral da região, então ali eles promoviam
através do clube recreativo iguatuense a chamada festa do algodão, que era o final da festa agropecuária.
Então finalizavam com a festa do algodão com a escolha do rei e da rainha do algodão, que comumente
caia na pessoa de Manuel Matias Costa, pois ninguém chegava perto dele na produção, então o rei do
algodão era aquele que maior volume de produção oferecia e quem mais produzia era ele.
Como o senhor interpreta a intervenção da CIDAO no urbano da cidade? Por exemplo existiu o
fato de ela de ela ter criado uma vila operária, o que o senhor sabe sobre isto?
A CIDAO foi a primeira unidade industrial do estado do estado do Ceará, a criar uma vila operária, ela
construiu 22 casas modernas em Iguatu aos seus principais operários, além de criar uma escola e um
restaurante. A escola era pra alfabetização primária para os filhos dos operários. Ela (CIDAO), devido ter
o maior número de operários, criou a escola, já as demais (outras empresas) tinham um número menor e
devido as escolas não serem longe, não criaram nem escolas, nem casas padronizadas, mas algumas
davam casas aos seus gerentes.
Dentre as indústrias existentes em Iguatu, o senhor daria mais importância para a CIDAO?
Perfeitamente, era a indústria mais importante do interior do Ceará, não era só de Iguatu, era a maior de
Sobral, maior de Iguatu. O maior número de armazéns aqui em Fortaleza era dela, galpões na praia de
Iracema, um grupo de armazéns próprios ali na praia de Iracema. Também a Eliseu Batista de Orós
possuía armazéns viu.
Era uma contribuição extraordinária, visto que em conjunto elas produziam mais do que a CIDAO, no
conjunto né! Mas quem beneficiava mais era a CIDAO e a Anderson Clayton. No conjunto as pequenas
beneficiadoras produziam muito.
A Horácio Fernandes, por exemplo, era grande indústria, a Coelho S/A também era uma indústria
moderna, foi implantada com financiamento da aliança para o progresso do presidente Kenedy.
227
Há uma monografia, que existem afirmações reatando que Iguatu era ate o início do Século XX era
apenas um pequeno povoado, o senhor confirma isto?
Que monografia é esta? Bom, é o seguinte, Iguatu só veio tomar impulso mesmo de cidade de porte
médio a partir dos anos 50 do século XX, antes disso era praticamente uma cidade provinciana.
Sabemos que o advento do trem e das linhas férreas foram importantes para o modelo agro-
exportador cearense, e sua passagem por Iguatu favoreceu ao seu crescimento econômico. Neste
contexto, qual o papel da política local para a passagem d estrada de ferro em Iguatu e não no Icó?
A estrada de ferro de Baturité, teria de passar pelo Icó pelo Icó que era a cidade mais importante, mas
como o coronel Belisário, apesar de ser filho de Icó, mas residente de Telha, que depois transformou-se
em Iguatu, o Icó não queria a estrada com medo de se transformar em desassossego para a população e
tal, então Belisário foi o grande herói nesta empreitada e levou a estrada de ferro, tendo sua inauguração
no dia 5 de novembro de 1910, cujo o jantar de inauguração se realizou no casarão do coronel Belisário
na praça da matriz em 1910 pela noite. Ele recebeu lá o engenheiro chefe da estrada, o Dr. Jorge Lima
Barroso através de uma festa onde soltaram balões e outras coisas.
O Belisário Cícero Alexandrino foi o 5º intendente de Iguatu, foi deputado provincial na época do
império, foi presidente da câmara municipal, foi deputado estadual já no regime republicano por duas
vezes, foi vice – presidente da assembéia legislativa e presidente inquirino do Estado na ocasião da
deposição do governo de Antônio Pinto Nogueira Acioli, em 1914.
Você cita a pessoa de Elmo Moreno, quem foi esta pessoa e o que ele representou pra Iguatu?
Elmo Moreno foi um grande gerente do banco do Brasil e foi prefeito e deputado estadual. Hoje é um
grande empresário, um homem de visão, um homem que procurou dinamizar a mecanização da lavoura
Iguatuense. No caso, ele como gerente incentivava a mecanização, depois é que se tornou empresário.
Mas ele incentivou muito a aquisição dos conjuntos, motor-bomba para que houvesse a lavoura irrigada
nas margens do Orós, assim, todos esses negócios, o incentivo a produção do arroz, enfim, O Elmo é um
cara de uma visão extraordinária, um cara que Iguatu muito deve a ele.
E dos antigos produtores de algodão que ainda estão vivos, o que estes fazem atualmente? Depois
da crise algodoeira eles investiram seus capitais em que?
Alguns venderam suas propriedades e vivem de outros meios, por exemplo o Teté Dias vive de alguns
imóveis na área urbana etc., o Elmo tem hoje a fabricação de máquinas que outrora eram fabricadas em
outros lugares.
Senhor Wilson, como você interpreta a crise do algodão para Iguatu, houve muitos efeitos?
Teve, ninguém pode negar. O impacto primeiro foi a perda de emprego, nove usinas pararam, então delas
como a CIDAO com pouco mais de 500 empregados, e isso tem um impacto socioeconômico né, tanto na
parte social como na parte econômica, e por sua vez a dificuldade da mão-de-obra porque esse povo todo
teve tendência de desaparecer em direção ao sul do país, causando migração.
Teve uma queda, mas hoje o município vem se recuperando ultimamente, graças a visão empreendedora
do atual prefeito que motivou o crescimento da indústria da construção civil e do comércio. Hoje
228
podemos até perceber que existem quarteirões de lojas em Iguatu que são idênticas ao da capital. Zenir
possui sede lá, a tubifor, indústria da fabricação de móveis, idênticos aos produzidos no Paraná, possui
mais 300 operários.
Você acha que o algodão teve papel importante na ascensão de Iguatu perante a cidade de Icó, visto
que antes, esta era uma cidade muito importante da região Centro-Sul e logo passou lugar para
Iguatu?
O Icó tem o passado histórico muito rico, porque quando os primeiros povoadores brancos passaram
naquela região, subindo o Jaguaribe e o rio Salgado, eles se alojaram no Icó, sendo este um ponto
comercial de concentração. No Icó até barão tinha, o chamado barão do Icó né, então você vê pelo teatro
da ribeira dos Icós, foi fundado pelos sobrados, as ruas largas que lá eram de origem francesa, onde
construiu lá o barão do Crato. Então todas as ligações do Cariri ou do Aracati que era por onde iam o
pessoal, então se alojavam em Icó, onde se firmou o aclamado canela preta né, que era o João Mendes, o
chamado canela preta, que deu origem a família Teixeira. Então Icó era mais importante.
Quando do advento do povoamento da catequese dos índios quixêlos na antiga Telha, hoje Iguatu, é que
começou a se desenvolver uma agricultura mais racional e produtiva a partir do século XX e
consequentemente com a chegada da estrada de ferro e a montagem das primeiras usinas de algodão,
então com o despertar da indústria algodoeira, o Iguatu foi se transformando e se tornando logo mais
importante, uma vez que foi na região Centro-Sul, onde primeiro chegou uma agência bancária, depois
um hospital, depois do hospital, foi onde primeiro o governo construiu a sede dos correios, ai a partir da ai
foi o ponta pé inicial, dado no governo Vargas e seguido pelos demais governantes em virtude da situação
geográficas convidarem para iniciativas, uma vez que Iguatu era ponto de convergência, pólo industrial,
comercial e por assim dizer hoje pólo até educacional.
Ainda existe em Iguatu muito dos armazéns que no passado armazenavam algodão ou mesmo as
velhas estruturas das fábricas permanecendo no presente?
Estão derrubando os últimos paredões da CIDAO né, onde vai funcionar um campus da UECE e da
URCA né, o governador se comprometeu a fazer isto né!.
E as demais usinas, hoje onde era a Anderson Clayton hoje é ocupada por supermercados, a M. Alexandre
hoje é deposito e distribuidora de gás, a Coesa são armazéns também de alugar para finalidades
comerciais, de modo que usinas de algodão mesmo em atividade não existe, mais nenhuma. Existem
diversas usinas de beneficiamento de arroz, cerca de 16 usinas. Inclusive tem arroz de mesma qualidade
que o Rio Grande do Sul, com arroz produzido com águas do Orós. O Orós, mais de um terço de sua
águas ficam represadas no município de Iguatu e quase um terço no município de Quixêlo, o restante é de
Orós.
Agora sendo que Iguatu é beneficiado pelo lado oeste, peãs águas do açude Trussu, outro rio que banha
Iguatu no sentido contrário e que se abraça com o Jaguaribe a 6km da cidade.
A CIDAO funcionava como uma espécie de relógio da economia da cidade, estão ela despertava de
manhã o operariado para a mudança de turno de trabalho da noite para o dia. Ao meio dia ela dava o sinal
para a turma ir almoçar, as duas horas da tarde convocava uma outra turma através do apito, e quando
dava 5 horas da tarde ela apitava a finalização do dia. Quando era 10 da noite, ela dava o sinal que uma
nova turma estava entrando, então o funcionamento dela era diário, noite e dia.
229
Chegou o povo a se acostumar tanto com o horário e o apito da CIDAO que uma certo iguatuense ao se
mudar para Fortaleza, ele que residia em Iguatu e se guiava pelo apito da CIDAO, estando em Fortaleza e
gostando de tomar uma cerveja, ele chegou a um certo ponto que a empregada dele foi chamar ele, e
disse, seu fulano, dona fulana esta lhe chamando, então ele olhou pra ela, isso já aqui em Fortaleza, e
falou, diga a ela que eu só saio daqui quando a usina apitar.A usina virou símbolo do trabalho e do
desenvolvimento.
Outra coisa, qualquer incêndio e em qualquer outra usina, ela dava o alarme com o apito, tanto nela como
em outras usinas que pra poder ter uma solidariedade, eles se ajudavam, pois não existia corpo de
bombeiro, tinham operários próprios que eles trocavam de uma usina pra outra, era um acordo
apalavrado, como eles chamavam.
A CIDAO tinha avião próprio viu, próprio do senhor José Moreira. José Moreira Cavalcante tinha uma
das maiores áreas residenciais do centro da Aldeota. Foi ele quem hospedou Castelo Branco quando este
veio pela primeira vez aqui. José Moreira Cavalcante era o presidente da CIDAO, diretor presidente.
O mais interessante é que este grupo dos Moreira, a CIDAO, quando começou era de propriedade de um
industrial de Sobral. Ele entrou em crise e os Moreiras que eram empregados, encamparam a usina, ai
tornou-se um grupo de Iguatu. Eles eram pobres, nascidos em um bairro de Iguatu, a irmandade todinha
tomou conta da CIDAO. Eles já morreram todos, mas até irmãos como padres terminaram curso, foi em
Roma, se tornaram poderosos mesmo, os Moreira Cavalcante.
Entrevista 2
WILSON LIMA VERDE – 1 ha corresponde a 10.000 m², área essa que por sua vez corresponde a 3
tarefas e meia, nas medidas antigas antes do sistema métrico decimal que a medida da zona rural. E essa
produção que era apurada pelos órgãos governamentais, pelos órgãos oficiais, eles levavam em
consideração as previsões de safra pela a área declarada, que era plantada, faziam uma divisão pelo fator
produtivo, a capacidade produtiva da terra, e achavam aquele volume de produção. ―Deja que‖, no
município de Iguatu, embora a área a menor que o de Acopiara ou de Quixadá, as nossas terras aqui,
tinham uma capacidade, tem uma capacidade produtiva, mais de 10 vezes a deles, razão porque os nossos
volumes de produção são muito superiores aos volumes deles. Então é bom que não se confunda
produtividade ou capacidade da terra de produzir com produção ou volume obtido do produto.
ÁTILA – Então quer dizer que na maioria desses órgãos estatísticos eles lançam...
WILSON LIMA VERDE – Eles laçam aquilo baseado na declaração que o reduzido número de
produtores fez pra eles, enquanto que na nossa antiga Carteira de Crédito Agrícola Industrial do Banco do
Brasil nós tínhamos por método visitar 80 propriedades em cada município durante as 3 fases principais
da lavoura: o plantio, para estimular a área, a formação da lavoura até a floração e a fase de colheita, de
importação nas usinas beneficiadoras...
WILSON LIMA VERDE – É razão porque as previsões de safras feitas pela Carteira Agrícola do
Banco do Brasil e pelo setor de Assistência Rural do Banco do Nordeste eram mais precisos, ou melhor,
fecham quase com a safra real. A safra real, bem entendida, é aquela safra que chegou na usina para
beneficiar, que foi adquirida pelos diversos compradores e que foi tributada nos diversos postos de
lançamento do ICM do Governo do Estado. Então as nossas previsões de safra se baseavam em dados
reais e não em estimativas feitas alheio a realidade dos fatos.
230
ÁTILA – No caso vocês iam mesmo no empírico, no campo e iam fazendo todo o procedimento.
ÁTILA – E qual é o papel que o senhor dá solos da região aqui, para essa produtividade?
WILSON LIMA VERDE – O maior índice de produtividade na região como um todo é o do município
de Iguatu é o solo agrícola mais profundo que existe, a manta superficial mais apropriada ao cultivo do
algodão, dos cereais, dos legumes das mais variadas espécies de... de leguminosas de... cereais ou
gramíneas. O nosso município é rico pela fertilidade de seu solo e pela... pelo lençol freático
relativamente farto e raso, além de nós termos reservas d‘águas substanciais, como o açude de Orós, o
açude Trussu, e as lagoas do Iguatu que a maior do estado, a Lagoa do Barro Alto, a Lagoa da Bastiana, a
Lagoa do Julião, a Lagoa dos Moreira, a Lagoa dos Neves, a Lagoa Cocobo, a Lagoa do Toco, a Lagoa
Redonda e outras pequenas lagoas que nos foge da memória.
ÁTILA – Em entrevista com Sebastião Dias, Teté Dias, ele afirmou que paro o período as indústrias de
Iguatu elas compravam cerca de 13 milhões de quilos anualmente, enquanto que a Eliseu Batista
comprava 20 milhões de quilos mais do que a daqui, a produção daqui.
WILSON LIMA VERDE – É isso há alguns anos, mas ele não pode afirmar isso. O negócio é que em
1950, por exemplo, Iguatu superou todo o interior do Ceará. Eliseu em alguns anos ele fazia isso,
principalmente que houve ano que a CIDAO não comprou algodão.
ÁTILA – Mas no caso esse algodão que a CIDAO não comprava geralmente ela comprava aqui de
Iguatu.
WILSON LIMA VERDE – Eliseu dispunha dos 2 maiores corretores de algodão da região, compradores
que levavam pra ele tirados do Iguatu, Solário Ferreira Lima e Celso Holanda Montenegro. E Orós por si
só a produção era mínima em relação a Iguatu, praticamente o algodão que ia pra Orós era o de Iguatu.
231
WILSON LIMA VERDE – Celso Holanda Montenegro... Tete era considerado pequeno corretor... tinha,
outro, Eliseu, este comprava muito algodão de Cedro e Várzea Alegre através de Clóvis Benevides. O
Teté era produtor e corretor. Ele comprava para a usina de Orós, mas tinha fixação em Cedro, ele residia
lá. Cedro não produzia muito algodão, mas seu algodão era de fibra boa, pois era o algodão de chapada e
este é um algodão de fibra melhor e bem extensa, se assemelhando a seda que é o tipo mocó.
ÁTILA – O senhor tem idéia de quantos trabalhadores existiam no campo na época áurea do algodão?
WILSON LIMA VERDE – Seria difícil dizer, porque o número de propriedades rurais, principalmente
no interior do Ceará, onde predominava o minifúndio, agente não pode ter idéia exata, porque numa casa
embora tivesse quatro pessoas morando, estes eram da casa, não necessariamente eram trabalhadores.
Agora a região do distrito de Suassurana, onde Nelzin, Chagas Neto plantavam, talvez, só nessa região
tivesse mais de dois mil trabalhadores. Pra você ter uma idéia, se você tiver a oportunidade de localizar a
revista dos municípios do Ceará de 1953, então você vai ver que em 1950, saiu daqui 50 milhões de quilo.
Entrevista 3
Entrevista - 23 – 06 - 2010
Comecei a trabalhar desde 1989, ano de instalação e início de funcionamento da fábrica. Ela ainda
funcionou até o ano de 2007.
O algodão vinha do Piauí, aqui do Ceará, como Sobral, Quixêlo, Acopiara, Crateús, onde funcionava a
filial da Inácio Parente, Tauá e de Iguatu. Depois de beneficiado o algodão ia para as indústrias têxteis de
Fortaleza, um exemplo era a Santana Têxtil. Hoje dois dos galpões da fábrica são alugados pela COELCE
e a balança que antes pesava o algodão, hoje pesa caminhões com cargas diversas.
Quando funcionava, a fábrica possuía escritório e dormitório para o dono da empresa.
Primeiramente o algodão era pesado na balança com caminhão e tudo, logo após era descaregado e
colocado nas tulhas (local onde ficava o algodão). Da tulha ele era sugado para o batedor, onde se
limpava e tirava as impurezas (terra, poeira, pedras etc) do algodão.
Depois de limpo o algodão ia para a descaroçadora, onde se separava a pluma do caroço do algodão. Aqui
se iniciava dois processos: o da pluma e o do algodão.
Vamos primeiro para a descrição da pluma. Ao ser descaroçado, a pluma do algodão era sugada para a
prensa onde era feito os fardos de 200 quilos. Daí ela ia para os galpões para ser estocadas. Muitas vezes
o algodão ficava estocado de um ano para o outro esperando melhores preços no mercado.
Dependia do preço do dólar , por isso, o estoque ficava por muito tempo. A queda do algodão se deu pela
queda do dólar. Aqui era produzida a fibra de tamanho 5, esta era a mais comercializada. Iguatu produziu
mais a fibra 5, que era a melhor. A fibra 9 era a pior, era molhada, cheia de terra etc.
Agora a descrição do caroço. Depois de separado da pluma, o caroço seguia para a fábrica de óleo
através da calha (enorme cano que sugava o caroço). Ao chegar na fábrica de óleos, era colocado no
elevador e levado para a deslintadeira, máquina que retira o linter (material que serve para enchimento de
colchão, cobertores, travesseiros etc.). Depois de ficar bem limpo o caroço era levado para o moinho,
onde era triturado, se transformando em massa, daí era levado para os panelões e era preconzida. Logo
após, a massa ia para a prensa, extraindo daí o óleo bruto. O restante virava torta de algodão. O óleo era
levado para os tanques e vendido para a CONCENTRAL, fábrica de óleos de Fortaleza. Já a torta do
algodão era vendida para o consumo de gado na região, como também para Sobral.
A Inácio Parente tinha outra fábrica em Sobral e tinha uma base em Crateús.
Durante o período da produção, quantos pessoas eram empregadas na fábrica? Existia muito
empregos?
Só essa fábrica gerava durante oito meses emprego para sessenta pessoas, e no restante do ano ficava
somente umas quinze fazendo reparos e outras atividades, mas todos os anos durante uns oito meses, nove
meses eram uns sessenta empregos.
Como era a divisão do trabalho (especialização do trabalho) no processo produtivo? Cada um tinha
sua função?
Cada um tinha sua função, eram duas pessoas no chupador do algodão que levava o algodão pras
máquinas, dois na descaroçadeira, um no peneirão, dois na prensa e um mecânico. Era uma turma de oito.
Eram três turmas, uma para cada turno de trabalho. funcionava 24 horas, só parava para fazer reparos,
para manutenção. Agora tinha uma turma que trabalhava despejando o algodão, ensacavam, despejavam.
Era numa faixa de 12 trabalhadores. Essas pessoas ai eram pra descarregar algodão, carregar a torta do
algodão, os serviços gerais assim que aparecesse né. Esses serviços ai, o pessoal que fazia parte dos
turnos não tinham a obrigação de fazer, era uma outra equipe.
Era o mesmo sistema, sete funcionários e um mecânico para cada fábrica. Ou seja, eram sete para uma
fábrica e sete para a outra e um mecânico pra uma e outro pra outra.
As fábrica funcionavam em três turnos. Das seis da manhã as duas da tarde, das duas as dez e das dez as
seis da manhã. Funcionava dia e noite. Quando terminava o horário de uma turma entrava a outra.
Isso ai era com os produtores, ia somente um rapaz aqui da fábrica para organizar as carradas.
Tinha caminhões aqui para fazer este serviço, mas geralmente na época da safra a demanda era muito
grande, ai tinha muito produtor que trazia mesmo, fretava um caminhão etc.
233
Era um movimento que gerava muito emprego e corria muito dinheiro, esse tempo era bom.
Você acredita que existia uma grande dinâmica no comércio, os trabalhadores empregados na
atividade algodoeira consumiam no comércio da cidade?
Se tinha? E como tinha.
Você comentou que boa parte da crise do algodão se deu devido a baixa da cotação do dólar?
É, porque outra coisa, o dólar baixou ai não tem preço, por que mesmo com o bicudo, aqui ainda produziu
muito algodão, mas ai com a baixa cotação do dólar o preço caiu muito. Então o agricultor achava que
não compensava produzir uma arroba por treze reais, uma arroba é 15 quilos.
Você avalia que houve falta de empenho do governo estadual em políticas para a cultura
algodoeira?
Sem dúvida, se não houver incentivos fica difícil. Por exemplo hoje nosso vizinho, a Bahia ainda produz
algodão. Mas se tivesse um tempo em que os governos investissem, mudaria o sistema de agricultura.
Nelsim Matias, deixa eu ver, Téte Dias, Roberto Costa, tinham muitos produtores, geralmente era o
básico né!, a agricultura aqui era o algodão, era o básico. Aqui Iguatu era conhecido.
No passado teve uma importância fundamental no desenvolvimento de Iguatu, foi o algodão que
particamente desenvolvei Iguatu né! Gerava emprego, renda, o pessoal tinha dinheiro. Eu me lembro que
aqui tinha a exposição agropecuária de Iguatu, e o pessoal diziam que tinha gente que banhavam os
cavalos com cerveja.
Na sua opinião, Iguatu exerce na atualidade uma centralidade no comércio e nos serviços na região
centro-sul?
Agora isso é o centro das atenções, o centro do comércio aqui, da região centro-sul é aqui em Iguatu, vem
gente de Quixelô, Jucás, Cariús, Tabuleiro, até do próprio Icó que é uma cidade bem desenvolvida,
Acopiara, Piquet Carneiro, todos vem consumir aqui.
Diversidade, procura de tudo. Procura hospitais e quando a coisa é mais grave, o pessoal vai para
Fortaleza.
Entrevista 4
Entrevista – 24 – 06 - 2010
Era a riqueza que trouxe o desenvolvimento, tudo isso era o algodão. Todos tinham boas rendas, desde o
chapiador, do catador, dos corretores, aos donos de beneficiadoras. Houve muitos empregos, chegando a
precisar buscar mão de obra de fora do município, como jucás, Acopiara, Cariús e de boa parte do centro-
sul e até de campos Sales. Os grandes proprietários buscavam mão de obra em outros municípios.
Existia muito consumo no comércio, pois havia muito dinheiro circulando. A riqueza era tanta que na
época existiam 6 aviões particulares todos dos produtores de algodão, inclusive minha família possuía um
avião.
Na Horácio Fernandes, existia duas fábricas que beneficiavam a pluma do algodão e uma que produzia a
óleo bruto que servia para fazer óleo comestível e a torta de algodão. O óleo bruto era vendido para a
CONCENTRAL (Fortaleza) para ser refinado. O óleo era um subproduto do algodão.
Quando o algodão chegava ele era pesado e ia para a tulha. A tulha era onde se guardava e se classificava
o algodão. Daí ia pra descaroçadeira e uma parte fazia a pluma e a outra o óleo e a torta do algodão.
O algodão vinha todo de Iguatu. Comprávamos toda a produção dos corretores e uma pequena parte vinha
dos pequenos produtores que vendiam diretamente na usina.
O algodão (pluma) era vendida para São Paulo, para Fortaleza, no caso para a Vicunha, as vezes para
Recife, mas o predomínio era pra Fortaleza. O produto era levado de caminhão.
Tinha muitos, parecia serra pelada, mais não sei ao certo o número, os documentos com o número de
empregados se perderam.
Não tenho idéia, tudo era registrado nos papéis, não havia sistema computadorizado, e tudo se perdeu.
Funcionou até o ano de 1989, processando pluma e óleo, depois funcionou como indústria de alimentos e
agora é uma recicladora.
Fechamento de fábricas, desemprego com mudanças radicais no consumo do comércio, pois todos viviam
dessa cultura. Fecharam lojas de móveis, de materiais de construção e principalmente de material
agrícola, máquinas e equipamentos dentre outras. Hoje é que estão abrindo muitas lojas na cidade.
Entrevista 5
Átila – Vocês poderiam descrever como era o passado aqui em Iguatu na época que tinha produção de
algodão.
Átila – Nas décadas atrás 50, 70 se tinha muita produção de algodão mesmo.
Anastácio – É sim.
Anastácio – O processo era... tinha um movimento... o algodão vinha, ele vinha numa calha lá ai subia
num elevador, do elevador caia dentro da máquina ai a máquina prensa em descida né, fica socando até dá
180 quilos duzentos né, ai ela tinha um acusador apontando lá né.
Anastácio – O caroço era beneficiado também em busca de óleo, mas era lá pra dentro, nós
trabalhávamos na seção... a fábrica era separada. Já era outro movimento, era pra quebrar o caroço, fazer
resíduos essas coisas.
Anastácio – Rapaz, direto não, mas juntando tudo parece que deu 16 anos.
Anastácio – Era grande, 67 quando eu entrei era grande, era algodão era a oiticica quando parava um
entrava o outro.
Átila – E você sabe dizer se o município de Iguatu em si, ele comprava algodão de outros municípios?
Anastácio – Comprava, tinha um sítio ai era tudo pra firma NE, tinha uns corretor que ia comprar fora.
Átila – Quer dizer que a CIDAO tinha os corretores próprios no campo, nos municípios vizinhos.
Anastácio – É tinha a mamona vinha de fora, vinha até da china, até da China.
Anastácio – Acopiara já tinha outra indústria pra lá, ela produzia pra lá né.
Anastácio – Eu não sei, sei que saia importado, saia em vagão de trem, saia em carro pipa, esses carros
tanques, saia pra fora, não pra qui pra perto não.
Átila – E, por exemplo, naquela década o senhor acha que tinha muito emprego com o algodão?
Anastácio – Tinha, naquele tempo era muito emprego, empregava muita gente né, ai mesmo funcionava
com 400 homens né, quando tava rodando tudim na fabricas de algodão era 350, 400.
Átila – O senhor não sabe ninguém que tenha esses documentos não, a folha de pagamento do pessoal?
Anastácio – Rapaz é um senhor de idade vê se você se informa ai... mas ele ainda é contabilista de um
escritório é um velho que tem aqui, um senhor dessa esquina lá, em frente a esse prédio ai Benvindo, ele
pode lhe informar que ele era contabilista essas coisas né.
Anastácio – É.
Átila – E como era o comércio naquela época, década de 1970, gerava muito emprego o pessoal
consumia muito no comércio?
Anastácio – Era, produzia pra todo mundo, tendo emprego aumentava o comércio tinha renda né, sem
emprego o comércio não vai pra frente né.
Anastácio – Tendo emprego o cabra comprava, tinha onde compra tudo no mundo ai o comércio ia pra
frente, mas sem emprego... normalizou mais depois que terminou.
Anastácio – A maior força é dos aposentados, não tem emprego pra ninguém ai aparece a vagabundagem
ai né, ai vai comer à custa dos avôs, dos pais né, aqueles que tem um instinto mal vai pegar no que é não é
deles, fazer o que não presta, não emprego, não tem trabalho ai diz fulano não quer. Pelo menos depois de
mim aposentar, ainda trabalhei de 5 anos de carteira assinada de vigia né, depois de estar aposentado.
Entrevista 6
Data – 25 – 06 - 2010
Comecei na agricultura na década de 1970. comecei plantando cinco hectares, cheguei a plantar 1.000
hectares, fui o maior produtor de algodão do Ceará no ano de 1983. Tirei o primeiro lugar em algodão
herbáceo. Fui a Brasília e recebi os presentes e homenagem.
Iguatu, de 1960 a 1985 foi o maior produtor de algodão do Estado do Ceará, gerava muito emprego,
corria dinheiro na cidade em ambudância.
Só eu empregava 250 homens diariamente. Vendia a produção diretamente para as indústrias de Eliseu
Batista de Orós, Adécio do Crato, Horácio Fernandes e cia, José Saraiva Coelho COESA também de
Iguatu e para José Rufino de Acopiara.
Cheguei a tirar 55 mil arrobas anualmente de eras de 1970 a 1985. Aqui em Iguatu existiam plantações
somente de algodão, não havia consórcios.
As indústrias de Iguatu compravam 13 milhões de quilos anualmente. A Eliseu Batista comprava 20
milhões de quilos.
Hoje ainda existe produção de algodão que é feita por Mazin Rufino.
Entrevista 7
Data 26-06-2010
62
Entrevista com o Senhor Amâncio
Amâncio – Pode botar que a produção era de 18, 20 mil arrobas de algodão por ano.
Átila – Seu Amâncio e essa produção ela era vendida pra quem?
Átila – Ele mesmo tinha uma indústria... ai ele beneficiava esse algodão.
62
Seu Amâncio 57 anos (José Gomes da Silva) era o apelido do Administrador há 30 anos da fazenda de Matias
Costa (o rei do algodão).
239
Átila – Ai no caso ele vendia essa pluma pra Fortaleza ou era pra outros municípios da região?
Amâncio – Não a ―pruma‖ ia destinada... era vendida pra Fortaleza, que outros municípios não compraria
né, não comprava né, porque Fortaleza tinha mais tecelagem.
Átila – E você sabe o nome de algumas das firmas de Fortaleza que comprava daqui?
Átila – E essa beneficiadora era só da pluma do algodão ou também trabalhava com óleo.
Amâncio – É.
Amâncio – Os óleos também... rapaz eu não sei o destino dos óleos, qual era a capacidade que eles
vendiam. Eu sei que eles vendiam pra fora.
Átila – Mas não sabe se era pra Fortaleza ou se era paro o Eliseu Batista, porque me deram uma
informação que Eliseu Batista também comprava óleo.
Amâncio – É Eliseu Batista era comprador de óleo né, ai eu ―to‖ na dúvida, não sei se ele vendia ou era
pra Eliseu.
Amâncio – Um dos dois, porque ai é só confirmar né, porque ele confirma né. Tinha a torta do algodão
né também. A torta era distribuída pra fazenda e comercializada no município né.
Átila – Distribuído tanto pra fazenda dele mesmo aqui, pra criação de gado.
Átila – Você quando administrava tinha mais ou menos a idéia de quantos trabalhadores tinha na
fazenda?
Amâncio – Rapaz nessa época aqui a gente trabalhava entre 500 e 550 funcionários sabe.
Amâncio – Era aqui era uma multidão, aqui na varzinha... só na varzinha de mais de 100 morador só pra
você ter uma idéia.
Mototaxista (Vanildo Gomes de Oliveira) – Quando eu passava aqui via ―os quartel‖ de comida feita
―pros‖ trabalhador, que até hoje trabalhava com o algodão, catando algodão. Eu trabalhava ―vizim‖ aqui
do capitão mor e eu via cozinhando pra que 500, 600 pessoas. Tinha dia que tinha mais de 600 pessoas.
Amâncio – Eu ainda tenho tacho ali de 30 anos que eu tenho aqui guardado.
Átila – Um o quê?
Amâncio – Ainda tem aquele pequeno, ainda tenho aquele grande também (apontando para o trator), o
reboque também que tão ali carregado de ração.
Átila – Onde estão os documentos do número de trabalhadores, das pessoas que trabalhavam, nos
cadernos que o senhor tinha que o senhor anotava?
Infelismente no ano passado, eu fiquei zangado, lembrei daqueles tempos e vi que os documentos
estavam ocupando lugar na casa, ai eu queimei tudo. Mas logo depois fiquei triste, porque vi que rebolei
parte de história né!
Átila – Seu Amâncio pra você qual foi a importância que o algodão teve pra economia aqui da
cidade de Iguatu, do município como um todo?
Amâncio – Rapaz naquele tempo foi, pode dizer assim, ou bom tempo por pouco tempo sabe, porque
naquele tempo... aquele foi o tempo que alguém soube aproveitar (04min58seg – não entendi o que ele
disse), porque era bem mais favorável depois veio... houve uma dificuldade de você chegar até esse
patamar que seu Nelzim chegou, Manoel Matias Costa sabe, porque os incentivos, logo no inicio não
tinha o incentivo né, mas depois foram surgindo né uns incentivos pra agricultura, pro algodão etc. e
alguém soube aproveitar aqueles incentivos sabe, mas que aquilo ali foi uma época... a época do algodão
não foi fácil não. A época do algodão foi uma época sofrida, uma época difícil né, porque aquilo ali era
um tempo... era um tempo corrido que trabalhava mulher, menino, criança todo mundo sabe. Se você for
analisar, naquele tempo o analfabetismo era lá em cima não era, por quê? Porque a criança com 6 anos
não tinha acesso a educação, tinha que ta todo mundo na roça.
Átila – E no caso essa via ali era foi feito para o pessoal que trabalhava?
Amâncio – Não, aquele pessoal a maioria daquele povo morava aqui na fazenda, ai depois, agora
ultimamente foi que... a gente ganhou aquelas casas ali daquelas vilas sabe. Morava quase todo mundo
aqui na varzinha, aqui na varzinha, na Inácio Parente, tinha no mínimo 100 morador, não era brincadeira.
241
Amâncio – Não, aqui os bóias frias como se chama hoje né, a não ser o pessoal que mora aqui, vinha
gente de juazeiro, Acopiara, minerolandia, Mombaça, Pedra Branca, Senador Pompeu, Saboeiro.
Amâncio – Rapaz, por ser um lugar de acolhimento pessoas, uma fazenda, aqui podia vim gente da
Paraíba de todos os outros estados também chegar aqui e vim trabalhar sabe. Naquela época, por
exemplo, na época da colheita, tal tempo... agora mesmo nós estamos no mês de junho né, ai mês de abril,
por exemplo, maio, começa a colheita aqui, ai o pessoal que tava lá na Paraíba, lá em outros estados rapaz
agora lá em Iguatu ta na época da colheita, ai onde chegava aqui e sabendo aonde tinha algodão pronto
tinha serviço pra todo mundo. Todas essas fazendas aqui, nas adjacências acolhiam gente. Aqui teve
famílias que se arranjaram com gente de fora, de outros estados né que vinham pra cá e ficava e morava
até muitos anos aqui na varzinha sabe, que aqui sempre foi um lugar... a fazenda aqui sempre foi
acolhedora o pessoal chega aqui pra voltar, tinha casa... tinha muita casa de taipa aqui que geralmente e
geralmente sempre tinha uma desocupada o pessoa vinha se arranjava, ficava ai um bocado de tempo
sabe. Agora mesmo filho natural da varzinha a gente tinha uma média de... você vê... eu tenho 57 nos,
toda a minha vida foi aqui dentro, papai morreu aqui com oitenta e tantos anos aqui dentro se você ai
naquela vila o pessoal o pessoa conta a historia: o meu pai morreu... o meu pai tinha 90 anos, nasceu e
criou-se na varzinha e tal sabe, é uma historia né a varzinha tem... não é um ―povim‖ que chegou
relâmpago não, que chegou e saio a manhã não, todo mundo aqui sabe... sabe como começou o primeiros
passos aqui da varzinha.
Amâncio – Trator.
Amâncio – os algodões.
Amâncio – Ai foi, como eu tava dizendo, quando o incentivo começou a entrar na agricultura, ai
começou por ai, que ate isso ai era costa né.
Mototaxista (Vanildo Gomes de Oliveira) – Aqui tudo era na mão, não foi eu falei, tu viu aquela minha
entrevista lá, tudo era manual.
Amâncio – Quando a gente produzia 20 mil arrobas de algodão no mínimo não tinha negocio de máquina
não, era tudo manual.
Átila - Que dizer que era de 20 mil arrobas anual, mas sem ter nem a mecanização
Amâncio – Não tinha mecanização não. Olha eu bati o recorde... nessa época aqui e ainda não apareceu
um cara pra catar do meu tanto, eu catei 211 quilos por dia. Deixa eu te dizer, depois chegou a
mecanização nós trazíamos o algodão daqui quase uma légua e era pra vim na cabeça pra vim pesar aqui.
242
Entrevista 8
Entrevista – 26/06/10
Vanildo Gomes de Oliveira (idade por volta dos 55 anos) - ex-pequeno produtor de algodão
Eram empregadas, cerca de 100 pessoas na época da colheita, e no restante do ano eram apenas umas 30
pessoas. Meu pai (Vicente Gomes de Oliveira) era quem vendia o algodão.
Também se plantava muito arroz nas épocas de cheias, isso nos anos de 1970 e 1973.
Entrevista 9
Edilmo Costa (ex-prefeito de Iguatu e filho de Manoel Matias Costa – ―o rei do algodão‖)
Entrevista realizada no dia 15-12-2010
Sem dúvida alguma, meu pai, Manoel Matias Costa, conhecido popularmente como Nelzin, foi um dos
pioneiros em plantar algodão na região centro-sul. Ele iniciou mesmo o plantio de algodão, quando
comprou, inicialmente arrendou um terreno lá no município de Iguatu, onde é hoje a Varzinha. Esse
terreno era de um cunhado dele, esse cunhado posteriormente veio a falecer. Os filhos dele eram todos de
menor, e foi nomeado um tutor para esses meninos. O tutor, para que eles tivessem uma renda pra ajudar
na manutenção deles, arrendou o terreno ao meu pai. Acontece que o pai desses meninos, o meu tio, era
político, foi inclusive deputado estadual, se chamava Helvécio Teixeira, era chefe político lá de Iguatu e
de toda a região centro-sul. Ele era político honesto e fazia era tirar do bolso pra promover suas
campanhas e a de quem apoiava.
Com o tempo ele foi se endividando devido a política, fazendo empréstimos, resumindo, quando ele
morreu, estava em situação difícil, e meu tio que era cunhado de meu pai, irmão de minha mãe e tutor dos
meninos filhos desse que se chamava coronel Helvécio Teixeira ... arrendou o terreno pra que tivesse uma
renda. Mas chegou um ponto que a dívida, o débito dele pra com os bancos, com pessoas particulares era
tão grande, foi crescendo que o único jeito foi vender o terreno, até porque o Banco do Brasil achou por
bem leiloar o terreno, colocar como era chamado na época em asta pública, isso em 1943-44 por ai, e meu
pai que já estava trabalhando na terra como arrendatário, já tinha um capitalzinho formado, graças ao seu
trabalho e ao que produziu durante anos que foi arrendatário, durante o leilão ele arrendou esse terreno,
foi mais ou menos a época que ele começou a plantaralgodão.
De início plantava algodão, milho, feijão e uma pequena criação de gado bovino. Então quando ele
começou a plantar, foi no final da década de trinta e início da década de quarenta.
243
Como era o sistema de plantio na fazenda? Era somente plantado o algodão ou existia o consórcio
com outras cultura?
Normalmente naquela época era tudo consorciado. Todo mundo só plantava consorciado. Ele foi um dos
primeiros também a plantar somente o algodão. Ele achou mais vantajoso plantar somente o algodão, até
porque o algodão que se plantava naquela época era o algodão mocó (arbóreo), ele é im algodão mais
tardio. Agente soltava o gado antes do inverno para comer o mato. Depois com a continuação do inverno,
onde o algodão crescia, ai era passado um roço no algodão para limpar, era dada uma roçada no algodão.
Se plantava o arbóreo que é o mocó, depois apareceu uma semente de algodão que era o misto de algodão
arbóreo e herbáceo, um algodão que tinha a semente muito semelhante a do algodão herbáceo, ela era
recoberta de linter que é aquele pêlo que fica na semente do algodão. A semente do mocó é limpa. O
algodão herbáceo por mais que você tire a pluma, ele fica com o linter grudado na semente. Então
apareceu uma variedade de algodão chamada verdão. Esse tinha uma vantagem, pois a produtividade dele
era bem maior do que a do algodão mocó. Em compensação ele exigia tratos culturais maiores. Você
poldava, e ele normalmente só produzia um ano, no final do ano, a pessoa mais uma vez colocava o gado
pra aproveitar o resto de algodão que sobrava na colheita que não dava pra colher, algumas maças, as
ramas, a caraça do algodão, tudo isso servia de pastagem para o gado. Então no mês de setembro e
outubro, novembro, quando acabava a colheita do algodão, o agricultor colocava o gado pra aproveitar a
pastagem e depois arrancava pé, por pé o algodão que foi plantado naquele ano, porque a diferença do
algodão mocó, este chegava a produzir durante até 15 anos, bastando para isso, que você desse um roço
no mato e alguns tratos, enquanto o algodão verdão (algodão híbrido) tinha que ser arrancado. O manejo
dele precisava que se limpasse o terreno todo, no cultivador puxado a boi, a burro, depois é que apareceu
os tratores, meu pai foi um dos primeiros a adquirir um trator, naquela época nem se fabricava trator aqui
no Brasil, foi um trator americano auxadaris era uma marca de trator americano que importou por um
representante comercial, uma coisa assim.
O algodão verdão primeiro você passava o arado no terreno, com o trator, depois a grade com arado,
depois a grade pra destorroar o terreno e depois plantava. Naquela época se plantava a mão também, logo
depois apareceu as plantadeiras mecânicas. Então se plantava a semente do algodão no solo depois de
limpo. Depois que nascia, existia uma operação chamada de desbaste ou raleio, que era a retirada do
excesso de sementes plantadas, deixando somente a quantidade recomendada por metro quadrado.
A produção do algodão mocó normalmente era de 300 a 500 quilos por hectare anual. Com a semente do
algodão verdão, essa produtividade subiu para 1200 quilos por hectare. Nossa fazenda agente plantava de
800 a 1000 hectares de algodão.
Deixa eu voltar para o problema da coisa. Foi começando a melhorar as instituições ligadas a agricultura,
ao algodão vieram melhorando os tipos de sementes, trazendo de outros estados e países, faziam
cruzamentos de diferentes sementes e criaram aqui o Instituto Agronômico de Campinas que era aquela
época o centro e acho que até hoje onde mais se experimentava e se fazia, e se melhorava as tecnologias
para o algodão, era o centro que estudava as tecnologias para o algodão tanto em termo de cultivo e de
manejo e de combate as pragas, de produtividade, tudo isso, então o Instituto Agronômico de Campinas
fez uma variedade de algodão chamado IAC, exatamente a sigla do instituto. O que apareceu, que nós
iniciamos, acho que nós fomos os pioneiros no Nordeste, foi o IAC 13, que apareceu como uma grande
244
novidade, na realidade era um algodão que tinha uma produtividade em torno de 1500 quilo por hectare,
chegando a produzir 2000 quilos por hectare. Depois passaram para o IAC 14, que não deu muito bom.
Depois do IAC 13, o melhor foi o IAC 20, hoje não sei mais como anda a produtividade do algodão, deve
existir melhores no Mato grosso, na Bahia com algodões com produtividade de 3000 a 3500 quilos por
hectare.
Inicialmente meu pai vendia o algodão em rama com caroço, do jeito que colhia, vendia, ensacava e
vendia. Com um tempo ele montou uma usina de beneficiamento de algodão, que separava a pluma do
caroço. A pluma era vendida e o caroço e extraído o óleo na própria usina. Era vendido tanto pra
Fortaleza e pra região como Orós que tinha uma usina de refinamento e enlatamento do óleo. Ou então
eram vendidos para Fortaleza, para a COOCENTRAL – Cooperativa Central dos Produtores de Algodão,
além de outras.
E a pluma era vendida para indústria têxtil, as fábricas de fiação e tecidos que eram localizadas em
Fortaleza, mas antes da década de 1970, a pluma que era produzida era exportada para o exterior como a
Inglaterra, França, Holanda e outros países, principalmente da Europa. Depois a indústria têxtil se
desenvolveu no país e a pluma foi ficando aqui mesmo. Chegou uma época que Iguatu teve em
funcionamento 10 usinas de beneficiamento de algodão que comprava dos produtores o algodão em rama
dos produtores de Iguatu e de outros municípios da região, como também vendiam pra outros municípios
como Orós, Acopiara que também tinham indústrias de beneficiamento de algodão e outros Estados.
A falta de uma política de preço mínimo, a falta de apoio e a chegada do bicudo aqui no Nordeste foram
responsáveis pela dizimação do algodão, sobretudo no Ceará. O Ceará chegou a ser o 2º maior produtor
do Brasil. Depois o IAC, foi criado o Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, fundaram na Paraíba, em
Campina Grande vinculado a Embrapa o CNPA, que por interferência política a sede foi instalada em
Campina Grande, mas era pra ser no Ceará.
Chegaram a vir para nossa fazenda onde eram feitos campos experimentais, para criarem tipos novos de
algodão. Eram feitas pesquisas dos técnicos do CNPA, com técnicos americanos do Texas e faziam
experimentos que eram plantados em nossa fazenda. Existia um amigo nosso que avisou que estava vindo
uma praga exótica que iria acabar com o algodão do Nordeste. Dizem que o bicudo foi criado pelas
multinacionais daquela época que vendiam defensivos para pragas do algodão, eles trouxeram isso,
vieram pela Colômbia, veio pela Amazônia, depois se localizou em São Paulo, onde se localizava o maior
centro de pesquisa, o de Campinas. Veio de Campinas para Paraíba.
Viam da região e de fora do Estado. Agente mandava buscar gente em Juazeiro do Norte, este era um dos
maiores fornecedores de mão-de-obra pra gente. Vinha gente de Quixadá, Acopiara, Saboeiro, Paraíba,
Cajazeiras, Icó, gente da região centro-sul e sertão central. Ai trabalhavam no plantio, menino, mulher,
homem. A mulher plantava. O cara saia cavando a cova com a enxada e a mulher vinha colocando as
sementes. Era o ano todo de serviço.
Ficava por lá. Eles ficavam em galpões armavam as redes e ficavam lá. Chegamos a trabalhar com 500
homens na nossa fazenda. E era o ano quase todo, porque depois da colheita, ele três catas, pois o fruto do
algodão não amadurece todo de uma vez, daí davam três catas ou colheitas. Depois colocava o gado pra
comer o que sobrava, depois arrancava o que sobrava pra plantar algodão no terreno novamente.
Arrancava pé por pé.
245
Ou recebiam por diárias ou então por empreitada, pagava-se um determinado preço pelo trabalho em
alguns hectares de terra. E tinha a diária, era mais comum a diária, apesar de o outro sistema ser melhor,
pois a diária tinha muito escorão.
Rapaz. Existia, só o Banco do Brasil do Iguatu, atendia num sei quantos mil produtores. Existia um
crédito para custeio da safra, o banco lhe emprestava o dinheiro no início do inverno e você pagava no
final do ano, depois da safra. O banco possuía um corpo de fiscais para saber se o povo plantava mesmo,
se estava cuidando e se o dinheiro ia saindo aos poucos, não era todo de uma vez. Existia também o
seguro chamado PROAGRO, que previnia quanto a qualquer intepérie natural, seja chuva de mais ou de
menos, neste caso o banco despensava seu débito.
As máquinas mais conhecidas eram a Piratininga, eram de São Paulo. As primeiras eram importadas de
outros países.
Rapaz sem dúvida foi o grande alavancador, o responsável pelo desenvolvimento inicial de Iguatu, porque
naquela época criou muitas coisas. Hoje a cidade vive mais dos serviços. Mas o que fez Iguatu
desenvolver inicialmente foi o algodão e outras culturas agrícolas.
246
FIGURA: Balança
Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010
FIGURA: Máquina de prensar algodão FIGURA: Transporte o caroço do algodão para a fábrica de óleos
Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010 Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010
247
FIGURA: Deslintadeira
Fonte: LIMA, Átila de Menezes - 2010
ANEXOS
Anexo 1
Registo da petição e data do capitam Lourenço gonsalves de moura e theodozio nogeira das terras do riacho das itans que
dezagoa asima dos bosquerois do iagoaribe.
Senhor Capitam maior Dizem o Capitam Louremso gonsalves de moura e theodozio nogeira moradores nesta Capitania
que elles tem seus gados assim vacunis como Cavallares enam tem terras nem pasto pêra os poderes criar eporque na ribeira de
iagoaribe nas ilhargas de Francisco nogeira tem descuberto hum riacho a que chama das itans em ocoal seacham humam terras
devolutas edezaproveitadas e dezagoa o dito riacho asima dos boqueirois nas terras donde asiste o gentio quichalo ocoal riacho
He capas pêra as ditas criasois edandose de sismaria ao suplicantes terá sua magestade maior crescimento em sua fazenda
edizimos Reais portanto Pedem avosa merse seia servido fazerlhe merse conserderlhe de sismaria tres legoas de terra de
conprido pello dito riacho asima acada e reseberem merse despacho o escrivam das datas me enforme seas terras que o suplicante
ehuma delarguo pera cada banda me enforme seas deianeiros de mil esetesentos e seis dolagos informasam Senhor Capitam meu
poder estam nam consta estarem dadas estam devolutas edezaproservido villa dosera vinte e seis de ianeiro de mil esetessentos
eseis escrivam consedo ao suplicantes em nome desua magestade que deos goardandose em tudo asordenis dodito senhor eo
escrivam lhe pase sua data na forma doestilo fortaleza em vinte eseis de ianeiro de mim esetesentos e seis dollago.
DATA
Gabriel da silva dolagos Capitam maior da Capitania deseara grande egovernador dafortalezadenosa senhora da asunsam
por sua magestade que deos goarde etc. Faso saber aos que esta Carta dedosam esismaria virem que por parte do capitam
Lourenso gosalves demoura etheodozio. nogeira moradores nesta Capitania me Reprezentaram adizer em sua petiçam atrás
escritas pedindome em nome desua magestade que deos goarde lhe consedese por doasam esismaria três Legoas deterra
deconprido acada hum delles pelo riacho das itanis asima que dezagoa asima dos boqueirois do Rio Iagoaribe nas ilhargas dadata
de Francisco nogeira terras donde asiste o gntio quichalo ehuma leguoa pera cada banda dodito riacho pera elles aseus erdeiros
sendentes edesendentesasim edamaneira que pedem eConfrontam pera nelles poderem criar seus gados emais criasois as coais
terras pello serviso que elles suplicantes fazem asua Magestade que deos goarde em lhe povoarem suas terras eaumento que dam
as suas Reais Rendas lhas dou consedoem nome dodito senhor três legoas de terra de conprido pello riacho das itanis asimaque
dezagoa asima dos boqueirois do Rio Iagoaribe ehuma legoa de larguo pera cada banda dodito riacho comensando esta nas
ilhargas da data de Francisco nogeira assim edamenira que pedem econfrotam em sua petiçam esepoderem encher desta que lhe
declaro com todas as agoas canpos matos testadas Logradouros emais úteis que nas ditas terras se acharem nam periudicando
aterseiro das coais pagaram dizimo a ordem dechristo dos fruitos que nellasouverem em tudo goardando senpre as ordenis de sua
magestade que deos goarde eseram obrigados adar caminhos livres ao conselho pera pontes fontes epedreiras pello que ordeno
atodos os ministros dafazenda eiutiça aquém esta minha Carta dedata esiamria for aprezentada em comprimento della lhe
demapose Real efetiva eactual na forma costumada eseram obrigados amandallas confirmar que pera firmeza detudo lhe mandei
pasar aprezente por min asinada esellada com osinete deminhas armas acoal se registraram no livro das datas destas Capitanias
esegoardara econprira tam pontualeinteiramente como nella secontem sem duvida enbarguo nem contradição alguma dada nesta
Villa desam Joseph deRibamar Capitania doseara grande aos vinte eseis dias domes deianeiro demil esetesentos eseis annos eu
Antonio Fernandes dapiedade escrivam das datas esismaria emediççois de terra aecrivy estava osello Gabriel dasilva dolagos
Carta dedata esismaria que vosa merse ouve por ben conserder ao Capitam Lourenso gonsalves demoua e teodozio nogeira três
legoas deterra deconprido em o riacho das itans pera cada hum delles ehuma delarguo pera cada banda dodito riacho pera vosa
merse ver enam continha mais dita data que eu terladei bem efelmente da propia que me foi apresentada sem couza que duvida
fasa dia ehora asima eu Antonio Fernandes dapiedade escrivam das datas esismaria aescrevy‖.
(Cópia fiel do registro da data e sesmaria n°. 74, 1° vol, págs 177 a 178, das “datas de sesmaria” ( 1° Livro manuscrito)
Fortaleza, 1920.)
249
Anexo 2
ANNO DO NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CHRISTO de mil oito centos e cinqüenta e trez aos
vinte e cinco dias do mez de janeiro do ditto anno nesta nova Villa da telha comarca do Icó Provincia do Ciará na
casa que serve para Sessões da Camara onde se achava o Presidente da Camara da Villa do Saboeira o Tenente
Coronel Manoel da Costa Braga commigo Secretario Interino da mesma ao diante nomeado afim de dar posse a
Camara Municipal desta nova Villa erecta pela Resolução numero quinhentos e cincoenta e trez de vinte e sete de
novembro de mil oito cento e cincoenta e um- Numero dezessete- Elevando a cathegoria de Villa a Povoação da
Telha. O Doutor Joaquim Marcos de Almeida Rego Presidente da Providencia do Ciará. Faço saber a todos os seus
habitantes que Assemblea Legislativa Providencial decretou, e eu sancionei a Resolução seguinte: Artigo primeiro
Fica ellevada a cathegoria de Villa a povoação da telha, tendo por determinação a mesma da Povoação. Artigo
terceiro. A criação e transferência de que tratão os artigos antecedentes só terão effectividade depois que forem
edificadas cadeia e casa de Camara. Artigo quarto. Ficão revogada as disposições em contrario. Mando portanto a
todas as auctoridades, a quem o conhecimento e execução da referida resolução pertencer, que a cumprão e fação
cumprir tão inteiramente como nella se contem. O Secretario desta província a faça emprimir publicar e correr.
Palacio do Governo do ciará foi sellada e publicada a presente resolução em 27 de Novembro de 1851. Manoel
Francisco de Paulo Barros- Secretario Interino do Giverno. Registada as folhas do Livro Competente. Secretaria do
Governo do Ciará. Em 27 de Novembro de 1851 . Lourenço Joaquim de Miranda. E como para execução da
referida Lei fosse mister o cumprimento da condição imposta pelo artigo terceiro da mesma lei foi esta satisfeita por
doação temporária que fez o major Bento Villar de Carvalho e sua mulher de huma casa para servir de Sessões até a
edificação de casa própria a Cadeia em virtude do que mandou o EXM°. Presidente da Provincia executar a referida
Resolução por portaria de vinte e sete de novembro ultimo e por officio da mesma data mandou que se procedesse
a Elleição de Veriadores para a nova Camara conforme havia determinado citada Portaria e precedido nesta no dia
dez de novembro próximo passado foi pelo mesmo Exm° Snr. Provisoriamente approvada como fez constar a
mencionada camara da Villa do Saboeiro a qual dirigiu-se a nova camara elleita para esta Villa marcando o dia
d´hoje para instalação da mesma cumprindo as mais disposições do artigo segundo do Decreto treze de novembro de
mil oitocentos e trinta dous. Achando-se pois presentes os veriadores abaixo assignado lhes deferido o dito
Presidente o juramento de que trata o artigo dezessete da Lei de primeiro de Outubro de mil oitocentos e vinte e
quatro havendo assim por installada a Villa de que para constar mandou lavrar a presente Acta e assigno com
Vereadores presentes. Eu Joaquim Pereira de Sousa Junior- Secretário escrevi- Braga- Presidente – Agostinho
Moreira Barros- Joaquim Martins Gomes- Luiz José Moreira Barros- Antonio Gomes Barreto – Alexandre José
Cavalcante. Conforme- O Secretario da Camara Esperidião de Mattos Mariscal.
( Documento existente no Arquivo Público do Estado do Ceará, Secão Histórica, Pacote, n° 43 relativo á
Camara da Telha e de Iguatu).
250
Anexo3:
Notícia de conclusão de obras da fábrica Coelho S.A Indústria e Comércio – COESA, para
receber energia de Paulo Afonso.