Módulo 5 - Narcisismo
Módulo 5 - Narcisismo
Módulo 5 - Narcisismo
Nesse texto é traçada uma nova distinção entre “libido do ego” e “libido
objetal”; e é introduzido os conceitos de ‘ideal do ego’ e do agente
autoobservador (que constitui a base do que veio a ser descrito como superego
em o Eu e o Isso em 1923.
Elia (1992) diz que do ponto de vista da impelência clínica da produção
teórica freudiana, foram as psicoses que produziram a teoria do sujeito
implicada na teoria do narcisismo.
Houser (2006) diz que a saga de Narciso (um herói devorado de amor por um
objeto que não é outro senão ele próprio) leva a pensar no narcisismo como
uma relação imatura, auto-centrada, erotizada, mais que sexualizada, detida
em uma contemplação especular do idêntico ao “Si-mesmo” do sujeito. Mais
o narcisismo também promove a constituição de uma imagem de si unificada,
perfeita, cumprida e inteira, que ultrapassa o auto-erotismo primitivo para
favorecer a integração de uma figuração positiva e diferenciada do outro, e,
sobretudo, do outro em seu estatuto sexuado.
Luciano Elia (1995) define o narcisismo como o processo pelo qual o sujeito
assume a imagem do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou
essa imagem). Implica o reconhecimento do eu a partir da imagem do corpo
próprio investida pelo outro.
Porém, a partir deste momento, Freud coloca de uma vez por todas a teoria
da sexualidade como propulsora do funcionamento do aparelho psíquico,
sendo possível, inclusive, entender as psicoses, já que o eu se torna, também,
objeto de investimento.
O perfil da clientela atendida por Freud foi de grande importância, uma vez
que o desenvolvimento da psicanálise se deu inicialmente a partir da pratica
clinica com as histéricas, e mais tarde com os neuróticos obsessivos.
O termo é derivado de Narciso, que segundo a mitologia grega, era um belo jovem
que despertou o amor da ninfa Eco.
Mas Narciso rejeitou esse amor e por isso foi condenado a apaixonar-se pela
sua própria imagem refletida na água. Narciso acabou cometendo suicídio por
afogamento. Posteriormente, a mãe Terra o converteu em uma flor (narciso).
Estando relacionado com o auto-erotismo, o narcisismo consiste em uma
concentração do instinto sexual sobre o próprio corpo.
Freud em 1914 fala que o “eu” não é inato e que resulta de uma nova ação
psíquica que se faz como um acréscimo ao auto-erotismo. Essa nova ação
psíquica é o narcisismo.
Freud (1914) diz que o grande encanto de uma criança reside em grande medida em
seu narcisismo, seu auto-contentamento e inacessibilidade.
Em seu texto de 1914, sobre o Narcisismo, Freud destaca a posição dos pais
na constituição do narcisismo primário dos filhos. Freud fala que o amor dos
pais aos filhos é o narcisismo dos pais renascido e transformado em amor
objetal. O Narcisismo primário representaria de certa forma, uma espécie de
onipotência que se cria no encontro entre o narcisismo nascente do bebê e o
narcisismo renascente dos pais.
O narcisismo primário é uma herança do ideal narcísico dos pais. A criança viria
ocupar o lugar daquilo que ficou perdido na vida dos pais.
Cabe a ela recuperar para eles todos os privilégios que estes foram obrigados
a renunciar, e a realizar os sonhos e projetos nos quais eles fracassaram.
Este lugar, no qual os pais costumam colocar o filho, Freud chamou de “Sua
Majestade, o Bebê”.
Num primeiro momento, o ego (eu) para Freud era o ego (eu) da psicologia
corrente. Com o conceito de narcisismo Freud (1914) propôs a constituição
do ego (eu) a partir de ser ele o objeto da pulsão. O narcisismo seria o
momento organizador das pulsões parciais, permitindo a passagem do
autoerotismo para o investimento libidinal de um objeto exterior.
Em Freud o Eu (ego) não existe desde de o início, deve se constituir através de
um ato pelo qual o eu identifica-se com a imagem de seu corpo, imagem que
assume como sua, e mais ainda, como sendo ele próprio(Elia, 1995).
Elia (1995) diz que é contra o estilo freudiano a tradução de Ich por Ego, e
porta as marcas do positivismo cientificista na linguagem. Ich é “Eu”, e o
sentido que ele assumirá em Freud será devido à subversão de seu sentido na
teoria e não ao uso de uma palavra incomum.
Freud ainda não havia elaborado uma teoria do eu consistente, que o concebesse a
partir de uma perspectiva rigorosamente pulsional
1992, p. 117).
Elia (1992) diz que antes do conceito de narcisismo o Eu estava situado diante
dos investimentos pulsionais (uma pulsão sexual, sem sujeito, oriunda do
inconsciente), defendendo-se, recalcando, produzindo e administrando
conflitos, mas não entrava enquanto instancia subjetiva, como efeito do
circuito pulsional.
Elia (1992) enuncia que a posição teórico-clínica e ética de Freud sobre a sexualidade
pode ser resumida em duas proposições complementares: (1) A sexualidade para a
psicanálise é absoluta; (2) A sexualidade para a psicanálise é não-toda (não diz todo
o sujeito).
Elia (1992) lembra que agora também o Eu é um dos alvos da libido, tanto
quanto os demais objetos, mas não do mesmo modo. O Eu é irredutível ao
mundo dos demais objetos e assume a força suficiente para constituir uma
libido de natureza distinta, a que Freud dá o nome de libido narcísica. Não há
assim, uma só libido e dois pólos de investimento (o Eu e os objetos), há duas
libidos: o Eu, de um lado, constituindo a libido narcísica; e os outros objetos,
do outro, constituindo a libido objetal.
O sexual é não-todo, não se fecha numa totalidade, contendo, nos seus confins
, uma dimensão de furo, de impossibilidade radical e estrutural de
significação. Nem tudo poderá ser significado, nem tudo fará sentido, nem
tudo será recalcado no inconsciente, e portanto nem tudo será recordável na
experiência analítica. No lugar do não recordável, do não-interpretável, Freud
coloca a compulsão de repetição: em vez de recordar, o sujeito repete, em ato,
o que não pôde se tornar inconsciente recalcado .
NARCISISMO SECUNDÁRIO
Com o tempo, a criança vai percebendo que ela não é o único desejo da mãe,
que ela não é tudo para ela; “sua majestade, o bebê começa a ser
destronado. Essa é a ferida infligida no narcisismo primário da criança. A
partir daí, o objetivo consistirá em fazer-se amar pelo outro, em agradá-lo
para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através da satisfação
de certas exigências; a do ideal do seu eu.” (Nasio, 1988, pág. 59).
A libido objetal foi inicialmente libido do eu e pode ser outra vez convertida
em tal. (...) Como ilustração desta situação podemos pensar em uma ameba,
cuja substância viscosa desprende pseudópodes, prolongamentos pelos quais
se estende a substância do corpo, os quais, contudo, podem retrair-se a
qualquer momento, de modo que a massa protoplásmica seja restaurada
(Freud [1917] 2006. 131).
AULA 3
NARCISISMO E COMPLEXO DE ÉDIPO
Tem-se então, a mãe como primeiro objeto de amor para meninos e meninas.
Freud assinala que isso ocorre porque as condições primordiais de eleição de
objeto são idênticas para ambos. Mas a entrada no Édipo é diferente para cada
um, pois a menina entra no Édipo em sua forma invertida, ou seja, tendo como
objeto o progenitor do mesmo sexo para depois colocar sua libido sobre o pai
e rivalizar com a mãe.
Enquanto o menino mantém a mãe como seu objeto e rivaliza com o pai. Com
a entrada no Édipo ocorre a plena escolha de objeto a partir de identificações
e investimentos de objeto características desse período. O Édipo marca a
instauração do primado do falo e mostra seus efeitos na construção da
personalidade sobre a constituição das diferentes instâncias, principalmente o
superego e o ideal do ego, pois com o Édipo o indivíduo interioriza as
exigências e interdições. Freud considera que esta relação primária com a mãe
é marcada por metas sexuais de natureza passiva e ativa.
Freud assinala que a menina passa por uma fase do complexo de Édipo
negativo, com a vivência de “inveja do pênis”, antes de ingressar no positivo.
Segundo Freud, as duas formas – positiva e negativa - coexistem no Édipo, o
que possibilita entender a atitude ambivalente para com ambos os pais. O
complexo de Édipo positivo marcaria a masculinidade no menino e a
feminilidade na menina
Nesta fase a criança a acredita que o falo é o único órgão genital existente.
O menino vê a falta de pênis, mas desmente a diferença procurando fazer com
que se encaixe em suas expectativas. A princípio não crê na ameaça de
castração, mas quando esta percepção torna-se significativa passa a temer a
perca de seu próprio pênis. Freud assinala: A falta de pênis é entendida como
resultado de uma castração, e agora se apresenta ao menino a tarefa de lutar
contra a ameaça da castração a sua própria pessoa. ...só se pode apreciar
corretamente o significado do complexo de castração se se leva em conta sua
gênese no primado do falo.
A reprovação da masturbação por parte dos pais que cuidam da criança ativa
o complexo de castração e põe fim à masturbação. Tem-se que a organização
genital fálica do menino se fundamenta a raiz da ameaça de castração.
Enquanto que o complexo de Édipo do menino termina devido ao complexo
de castração, o da menina é possibilitado e introduzido por este último.
Por isso Freud alterna entre um e outro ponto de vista e não se pronuncia a
este respeito de modo que acaba havendo uma incompatibilidade entre suas
colocações. Portanto, Freud apresenta quando escreve sobre o narcisismo, da
mesma forma que procede para com outros conceitos, hesitações, correções,
abandono e retomada de posições. Acaba por não fornecer uma solução, mas
indica caminhos a serem seguidos.
A importância desse conceito deve-se, principalmente, ao fato dele exigir de
Freud explicações teóricas que colaboram para a reestruturação do esquema
psíquico proposto pela psicanálise. Pode-se dizer que Freud não apresenta
uma solução para um fechamento do conceito, mas aponta a tendência por
assumir um narcisismo primitivo e originário no sujeito, cujo protótipo é a
vida intra-uterina. O autoerotismo acaba por desaparecer enquanto fase,
limitando-se a ser um tipo de comportamento sexual em que o sujeito obtém
satisfação recorrendo ao seu próprio corpo apenas. A distinção entre
autoerotismo e narcisismo se perde, pois este passa a ser entendido como
estando presente desde o princípio. Portanto, o que esse estudo nos leva a
concluir é que o conflito essencial, presente desde o início, é aquele que
coloca, por um lado, a posição narcísica primitiva, e, por outro, a
“necessidade” de um investimento para o objeto que assegurará a
sobrevivência daquele que acabou de nascer. Se o investimento permanecesse
exclusivamente narcisista, impedindo o sujeito de se voltar para o objeto
vital, o sujeito seria conduzido à morte.
O NARCISISMO EM KLEIN
NARCISISMO EM LACAN
Por volta dos seis meses de idade o bebê reage jubilosamente diante da
percepção de sua própria imagem no espelho. Para Lacan o bebê tem uma
representação fantasmática do corpo, na qual este aparece fragmentado (a
imago do corpo fragmentado continua a se expressar durante a vida adulta
nos sonhos, delírios, e processos alucinatórios). A imagem no espelho
antecipa para o lactante a coordenação e integridade que não possui naquela
etapa da vida (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
Rancière, J. (2009). O inconsciente estético. São Paulo: Ed. 34. (Trabalho original
publicado em 2001).