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COMISSÃO EDITORIAL:
Introdução ao estudo
da
HISTÓRIA DO BRASIL
BRASILIANA
Volume 349
*
Direção de
AMÉRICO JACOBINA LACOMBE
Coleção Johann Becker
Introdução ao estudo
da
- DO BRASIL
HISTORIA
SÃO PAULO
O9 JUN. 1006
710011366
VFRJ
MUSEU 8ACrõMAL ~
&1fltíôlft:CÃ
Introdução XI
1 - Fontes Históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 - Setores da História 68
3 - Disciplinas Auxiliares ................. 98
4 - Elaboração da História do Brasil . . . . . . . . . 122
5 - Centros de Atividade Histórica 130
6 - Ensino da História . . ...... ~ " .. ... ·~ + • " .. " - •• 145
7 - Historiografia brasileira 160
8 - Conclusões .. . ..•.. • 204
SIGLAS
usadas no presente trabalho
AROLDO DE AzEVEDO
1 - FONTES fflSTóRICAS
Abordagem do assunto
1
Está clar:o que a oportunidade de tal experiência depende de
condições pes,soai,s. A maio,riia dos alunos nos ,cunsos ginasiais não
tem ainda lastro capaz de permitir qualquer divagação fora do
1
2
2. À primeira observação que deve ser feita é relativa à
olaboração científica do,s ensinamentos. Observar que os fatos,
antes de serem incorporados aos compêndios, foram objeto de uma
análise. Os alunos de cursos primário e ginasial limitam-se a
saber que os oompên<lios são feitos através de consultas a tratados.
Será con"'.eniente que ao entrarem no segundo ciclo já venham a
travar conhecimento de como se fazem os tratados, como se pro-
cessa o trabalho do ,pesquisador e tenham uma noção do que são
as fontes da história(7).
Testemunho
3 . A ,res.peito do testemunho, primeira fonte da história,
será interessante provocar uma experiência: um depoimento pes-
soal acer:.:a de um incidente próximo, para fo:alizar o grande
manandal d,a ciência históri:a. Se houver dois testemunhos, e
forem co-ntraditórios, é o caso de tirar proveito para_me>strar que
oabe precisamente ao historiador valer-se de fontes diversas e,
mui,tas vezes divergentes, para criticá-las e elabomr c,om elas uma
veI1São ou uma con:lusão contrasteada oom elementos fornecidos
pela dên.:;ia da história. Poder-se-á ,chegar a uma conclusão nega-
tiva e cons,ignar-se a impossibilidade de um resultado positivo.
Os debates sob a orientação do profei.!'.o.r, dis,or,eta mas eficaz,
terão a vantagem de habituar os ·alunos à discussão ordenada.
Ainda que não seja possível empregar os rígidos dispositivos
padame.ntam,, habituam os alunos a exprimirem-se com cfo.r,eza e
método, ao mesmo tempo a mciderarem o temperamento, desen-
volvendo o espfr.ito de argumentação. Em regra o debate bem
ode,ntado "aguça~lheis a inteligência, a energia mental e o esforço
despendido nunca é desperdiçado. A classe permaooce em geral
extremamente atenta durante um debate or,deiro. Até os mais
tardos ficam alerta e ardendo per colaborar no campo da
destreza" ( 8 ) •
3
Para dar wna aplicação prática e de interes6e para o Brasil
será curioso focalizar um episódio bastante conhecido e ler alguns
testemunhos diretos. Por exemplo : o episódio do grito do lpiranga
segundo os relatos do major Francisco de Castro Canto e Melo(º); o
do barão de Pindamonhangaba (Manuel Marcondes de Oliveira
Melo)( 10 ) ; o do padre Belchior Pinheiro de Oliveira ( 11 ).
O cotejo das "variantes entre as narrações das testemunhas
de vista ou de ouvido, que são inevitáveis, ocorrendo em todas as
ocasiões em que 13; elas se faz apelo", como observa Oliveira Lima,
pode dar lugar a úteis observações sobre a ,crítica do testemunho(1 2 ).
Desmonta-se, assim, a famosa anedota atribuída a Sir Walter
Raleigh, descrente da ciência histórica ao observar o desentendi-
mento das testemunhas de um fato próximo. Fosse ele um autên-
tico historiador, e teria feito a crítica de cada ~estemunho e explica-
do a causa das distorções.
Documento
4
Cabe ao professor de história despertar no aluno o cuidado
com os documentos em geral, ensinando a ver neles o material de
trabalho por excelência. Será preciso, desde logo, chamar a atenção
para o fato de que até os bilhetes poderão vir a ser fontes preciosas
de estudo, visto como ninguém sabe o papel destinado no futuro
aos contemporâneos. Deverá chamar a atenção para a importância
que têm, para a reconstituição de uma época, os diários e cartas,
mesmo que os signatários não tenham atingido as culminâncias da
sociedade. Infelizmente a vida normal de uma família, que resistiu
a sé::ulos de transformações, ou de uma casa comercial, que não
sofreu nenhum golpe, ao contrário do que se pensa, costuma deixar
perecer ou dispersar os arquivos(1 3 ). Urge, então, espeicialmente
num país em que os hábitos de família se transformam rapidamente,
despertar o interesse pelo papel, pelo documento, e incentivar os
alunos a se transformarem em defensores dos valores histórkos para,
no futuro, servirem ao estudo da época em que agora vivem.
A defesa dos arquivos particulares deve ser o resultado de
um estado de espírito cultivado desde a escola. Os arquivos das
grandes casas religiosas, das instituições onde se recebem hóspedes,
das empresas comerciais e industriais, podem, às vezes, trazer
esclarecimentos importantes à história. "Mas não são f:icilmente
5
acess1ve1s, salvo se tiverem sido confiados aos depósitos legais
oficiais. Podem ser, em certos casos, as relíquias de família dos
alunos. Estes terão assim, despertado por elas, um interesse expon-
tâneo e até poderão fazer em torno das mesmas um estudo especial,
caso tenham importância para a coletividade" ( 14 ).
O amor pelos documentos locais e pelos monumentos do pas-
sado por parte de um cidadão bem formado pode obviar calamida-
des contra a cultura. Um só homem de senso evitou, numa
assembléia delirante, a destruição da catedral de Chartres, já deci-
dida pelo comité revolucionário local(1 5 ).
A conservação dos registros civis é imprescindível para a his-
tória social, que extrai deles elementos essenciais. É o que concluiu,
com um apelo caloroso às autoridades, uma assembléia de especia-
listas reuni d1: recentemente em França (1 6 ).
Entre nós o abandono de cartórios eclesiásticos, que até a
república desempenharam papel oficial, e mesmo dos notariais, é
verdadeira calamidade que está longe de provocar uma reação razoá-
vel por part~ das classes pretendidamente cultas.
História local
6
que parece ter seus cinqüenta anos, mas cuja disposição, esculturas
e ,campanário indicam origem mais remota"(1 8 ). Esta preocupação
de despertar o gosto pela história partindo da curiosidade pelos
monumentos e objetos próximos é uma constante na pedagogia uni-
versal. Na publicação resultante da pesquisa promovida pela
UNESCO, foi um traço que ressaltou da experiência educativa de
várias nações (1 9 ).
7
E não somente a motivação do ambiente servirá para o início
do estudo da história local, mas ainda a história contemporânea e
nacional servirá de incentivo para o percurso pelo passado. Que
um filósofo conceba uma linha da evolução humana a partir da
pré-história e abrangendo os diversos ciclos da humanidade, é
compreensível. Mas que um jovem, que ainda não sabe como
funcionam as instituições de seu -próprio país, possa considerar
"mestra da vida" a descrição das instituições persas e egípcias, é
difícil de aceitar. Isso já foi dito por um velho e esquecido histo-
riador português, e com muita propriedade: "Julgou-se que a
história do passado anunciaria o futuro, o que era um conceito
absurdo, porque não há, nunca houve, nunca haverá na história
um fato que integralmente se repita. Disse-se que o passado era
a lição do presente, quando o presente é que é lição do passado.
Quer dizer que eu, pela história antiga, não fico habilitado a enten-
der a história moderna. Ao contrário, pela história moderna, é
que me habilito e entender a história antiga. De maneira que,
pedagogicamente, redunda num contra-senso ensinar a história aos
rapazes como ela se ensina em toda parte do mundo, isto é, come-
çando-se pelos egípcios, ou pelos gregos e romanos. Quando deve-
ria ser ao invés; dever-se-ia, para ensinar a história de Portugal,
por exemplo, fazer a história de Portugal constitucional, nas suas
leis, nas suas instituições, na sua vida econômi-ca, moral e religiosa.
Fácil seria, então a transição para o Portugal do absolutismo;
mostrar-se-lhe-ia com simplicidade a passagem, por exemplo, da
propriedade parcelarizada atual para o anterior regime de contrato,
da herança igual pelos filhos para o privilégio dos morg3dos etc.
Ir-se-ia do conhecido para o desconhecido e seguir-se-ia do des-
conhecido próximo, mais acessível, por mais semelhante, para o
desconhecido remoto, menos acessível, por menos parecido. Agora,
como se faz? Põe-se em frente do aluno, de chofre, a república
romana, dê-se o caso. Que acontece? Que o estudante, para
entender alguma coisa, tem de imaginar forçosamente o mundo
romano à laia do mundo atual português que ele conhece; e daí
deriv.am erros e incongruências que cumpriria ,presumir"( 2º).
8
Este contato com o depoimento histórico é facilitado enorme-
mente, se iniciarmos o estudo de qualquer período com a leitura
de diários e memórias de contemporâneos. O diário de Rebouças, as
memôrias do visconde de Taunay, algumas páginas da Minha for-
mação, de Nabuco, poderão dar uma idéia do interesse e do prazer
que representam a recordação histórica de uma grande personali-
dade.
Do documento particular passar-se-á ao estudo do documento
público. Não convém entrar no estudo árido de suas dassificações
propostas pelos clássicos alemães( 21 ). O melhor será obter alguns
diplomas, patentes, escrituras e autos, -antigos e modernos, exibi-los
perante os alunos, ressaltando as características formais dos do-
cumentos públicos, que revestem uma feição prescrita pela lei, ou
pela praxe, a fim de preencher o requisito da notoriedade.
6. Do contato com o documento passar-se-á a um âmbito
mais vasto, chamando a atenção para a informação que nos advém
9
dos monumentos em geral, das inscrições e mesmo das construções.
Finalmente a tradição oral, que pode constituir fonte válida de his-
tória, desde que devidamente depurada.
Heurística
22. Lúcio José dos SANTOS, "A inconfidência mineira", RIHGB, Con-
gresso Internacional de Hist. da América, 1922, t. III, 1927, p. 271. As
primeiras coleções arquivísticas no Brasil foram organizadas empiricamente.
Só recentemente começou-se a formar aquilo que uni trabalho da maior
lucidez sobre o problema chamou de "consciência arquivológica". \Valdemar
Tavares PAES e Antônio HOUAISS, "As fontes arquivais brasileiras", Actas
do III Colóquio I11tem. de Estudos Luso-brasileiros (Lisboa, 1957), vol. 11,
Lisboa, 1960, p. 361. Este trabalho é um grito de alarma da inteligência
brasileira e termina por um apelo às autoridades federais, estaduais e
municipais, no sentido de "propiciar o máximo · de atenção a todos os
acervos arquivais do Brasil, assistindo, na hierarquia político-administrativa,
todas as instâncias e escalões já com recursos materiais, já com ajuda
técnica e de pessoal especializado formado". Igualmente v. Antônio HouA1ss,
Sugestões para uma política da língua, Rio de Janeiro, Instituto Nacional
do Livro, 1960, p. 184. ~ contudo lamentável que, ainda recentemente,
10
O aluno já terá conhecimento do progresso que representou
para a ciência histórica a formação dos grande acervos europeus.
Para a história do Brasil, convém dar preliminarmente uma pequena
jnformação dos arquivos portugueses. Para uso dos pesquisadores
aqui faremos um exame dos principais ,acervos( 23 ).
11
Torre do Tombo
8. O arquivo mais famoso de Portugal, e de importância
primacial para o Brasil é o da Torre do Tombo, que tem este nome
por ter tido outrora sua sede numa torre do castelo de São Jorge.
Está hoje instalado numa ala do palácio de São Bento, sede da
Assembléia Nacional, antigo mosteiro beneditino. .f: o arquivo mais
trabalhado por uma série de investigadores brasileiros, a partir de
Varnhagen( 24 ). Nele se encontra a carta de Pero Vaz de Caminha
12
sobre o descobrimento do Brasil, a cópia -da História do Brasil, de
autoria de Frei Vicente do Salvador, e muitos outros documentos
fundamentais para o conhecimento de nossa terra. Não há um
índice geral, mas cerca de 600 índices parciais. N:is várias coleções
(Corpo cronológico ( 25 ); Chancelarias reais( 26 ); Mercês, Cartórios
do Santo Oficio, Ordens militares, Documentos judiciários, Gavetas
27
( ) etc.) guardam-se incalculáveis documentos essenciais para
13
nq:,sos· estudos. Em diferentes mrssoes de pesquisadores, o Brasil
obteve importantes coleções de cópias desses documentos( 28 ). Urge
a preparação de um guia dos manuscritos brasileiros, com as cotas
exatas d1s espécies e indicação da eventual publicação( 29 ).
14
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Arquivo Histórico Ultramarino
9 . Outro arquivo, riquíssimo de informações sobre o Brasil,
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......... •
I
15
XLVI e L). Tal índice, porém, abrange apenas 128 caixas das 1 . 204
caixas e maços relativos ao Brasil.
O Boletim do Arquivo Histórico Colonial, vol. I, 1950, ini-
cia-se com uma excelente exposição acerca da "Organização dos
serviços do Arquivo Histórico Colonial" pelo seu incansável di-
retor, Dr. Alberto Iria. O Arquivo Histórico Colonial foi criado
em 1931. A ele se incorporaram os documentos do antigo Con-
selho Ultramarino (Arquivo de Marinha e Ultramar) e os do
antigo Ministério das Colônias, além de acervos provenientes de
instituições oficiais e particulares. Segundo a relação publicada
pelo Dr. Iria, o acervo referente ao Brasil consta de 385 caixas
e 819 maços de que só uma pequena parte está catalogada e uma
ínfima, publicada. No referido boletim encontra-se uma transcri-
ção de alguns documentos sobre o Brasil. Um índice das consul-
tas do Conselho da Fazenda, existentes no mesmo arquivo ( 1622-
1652), foi publicado por Luís Camilo de Oliveira Neto, no núme-
ro LVIII dos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Há
um "Catálogo de documentos sobre a história de São Paulo, exis-
tentes no Arquivo Histórico Ultramarino, de Lisboa, elaborado
pelo Governo português e publicado pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, em comemoração do IV Centenário da
Fundação de São Paulo", tomo especial da RIHGB, 1956-1959,
15 vols., sendo dois de índices. Note-se que boa parte da do-
cumentação do Conselho Ultramarino encontra-se ainda entre os
"Documentos portugueses", do Arquivo Nacional brasileiro, de
que adiante se tratará. Os seus arquivos acompanharam o Prín-
cipe regente. Entre os papéis avulsos existentes no Arquivo Ul-
tramarino está a "Relação dos livros embarcados" ( 31 ).
Nos Anais do 1.° Colóquio Internacional de Estudos Luso-
brasileiros, realizado em Washington em 1950, figuram duas me-
mórias de uma insigne pesquisadora, D. Luísa Fonseca, em su-
mário: "Algumas sugestões de assuntos brasileiros no Arquivo
Histórico Colonial" e "Mapas e plantas do Brasil do arquivo de
desenhos da direção da arma de engenharia, Arquivo Histórico
Colonial". Ainda recentemente publicou o Dr. Alberto Iria um
"Inventário geral dos códices do Arquivo Histórico Ultramarino
apenas referentes ao Brasil. Fontes para a história luso-brasilei-
ra" (3 2 ). Estão no mesmo arquivo não só os processos referentes
31. Marcelo CAETANO, O Conselho Ultramarino. Esboço da sua his-
tória, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1967, p. 54.
32. Studia, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, Lisboa, n. 0 18,
VIII, 1966.
16
à administração brasileira, mas ainda as "Consultas" ( que então
tinham o sentido que hoje damos aos "Pareceres") do Conselho
Ultramarino( 33 ).
33. José Honório RODRIGUES, As fontes da história do Brasil na
Europa, Rio de Janeiro, 1950, p. 12; do mesmo autor, A pesquisa histórica
no Brasil, 2.ª ed., São Paulo, 1969, p. 103; Gwendolin B. CoBB, "Bancroft
library microfilm. Portugal and her empire", Hispanic American Historical
Review, fevereiro de 1954, relaciona os documentos que reproduziu em
100.000 microfilmes. A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possui grande
partes destes microfilmes, obtidos por intercâmbio; Alberto IRIA "A Bahia no
Arquivo histórico colonial de Lisboa. Notas de heurística e arquivologia",
Anais do IV Congresso de História Nacional, vol. 11, p. 15 (Tomo especial da
RlliGB, 1950).
Outros catálogos parciais do mesmo arquivo são os de Cândido da Silva
TEIXEIRA, Index indicum do Arquivo Histórico Colonial, 1947 (Descrição dos
vários cartórios); Luísa da FONSECA, "O Maranhão. Roteiro dos papéis
avulsos do século XVII do Arquivo Histórico Colonial", Congresso do Mundo
Português, Lisboa, 1940, t. XI, p. 197; "lndice do códice das mercês gerais",
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. LVIII, 1936, p. 337 (Códi-
ces de 1644 até 1824); "fndice dos documentos relativos ao Brasil pertencentes
ao Arquivo Histórico Colonial de Lisboa", lb., vol. LXI, 1939, p. 59; Luísa da
FONSECA, "lndice abreviado dos documentos do século xvm do Arquivo
Histórico Colonial de Lisboa", Anais do 1.° Congresso de História da Bahia,
1949, Bahia, 1950, t. 11, p. 7. (Compreende 20 caixas de documentos avulsos
da Bahia, do séc. XVIn); Maria Isabel de ALBUQUERQUE, "Documentos de
interesse biográfico para a Bahia", lb., p. 475; da mesma autora: "Navegação
entre Portugal e Bahia <le 1801 a 1808. Documentos do Arquivo colonial",
lb., p. 465.
O inventário das chamadas "consultas mistas", códices 13 a 29, está
publicado na Revista do Gabinete de Estudos Ultramarinos, de 1951 a 1956
(n.•• 1 a 16, com falhas). Uma coleção de cópias desses documentos encon-
tra-se no arquivo do IHGD, RIHGD, t. 86.
Uma importante contribuição para a história artística do Brasil é a
relação comentada de documentos relativos aos " Monumentos construídos
pelos portugueses no Brasil", organizada pela catalogadora Anêmona Xavier
de Bastos FERRER e publicada na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, Rio de Janeiro, 1961, p. 231. Abrange a correspondência adminis-
trativa, as consultas e os planos de inúmeros monumentos arquitetônicos.
O acervo do arquivo se enriquece continuamente. Importantes documen-
tos sobre o fiool da era colonial foram adquiridos recentemente. V. Boletim
internacional de bibliografia luso-brasileira, Lisboa, Fundação Calouste Gul-
benkian, vol. 1, 1960, p. 63.
17
Biblioteca Nacional de Lisboa
18
tos do mundo. Para a construção deste edifício fizeram-se estudos
sistemáticos em vários países pelo diretor do estabelecimento( 35 ).
19
o Arquivo distrital e a Biblioteca de f:vora, muito freqüentados
por brasileiros( 39 ); e o Arquivo da Universidade de Coimbra, onde
além dos documentos escolares de cerca de 3.000 brasileiros, há
valiosos manuscritos ( 4º).
12. Muitos outros arquivos portugueses mereceriam menção
neste estudo, como os do Porto ( 41 ), de Braga (42 ), de repartições
20
públicas especializadas( 43 ), além de inúmeros arquivos particula-
res de casas nobres e famílias ligadas ao Brasil. f. praticamente
por ordem régia, o examinou, no ano de 1795, o co11Selheiro João Pedro Ri-
beiro, natural da mesma cidade, Prefácio e notas de J. A. Pinto FERREIRA,
Porto, Gabinete de História da cidade, 1951 (Documentos e memórias para a
história do Porto). Sobre _os documentos que especialmente se referem ao·
nosso país, v. MAGALHÃES BASTOS, Alguns documentos de interesse para a
história do Brasil, Manuscritos da Biblioteca municipal do Porto, Coimbra,
1953 .. Acha-se .publicado o Catálogo dos mss ultramarinos da Biblioteca Mu-
nicipal do Porto, Lisboa, 1938. (Publicação do l.º Congresso da História da
Expansão- Portuguesa no Mundo.)
42. O Arquivo municipal de Braga publica, desde 1935, um Boletim e,
desde 1949 uma revista: Brachara Augusta. A ele foram incorporados os
arquivos de ordens religiosas que tiveram casas no Brasil.
43. Assim, a Alfândega de Lisboa dispõe de um rico arquivo de
grande interesse para a história econômica do Brasil. Francisco Bilard da
FONSECA, O arquivo geral da Alfândega de Lisboa, Lisboa, 1950 (Separata
dos Anais das bibliotecas e arquivos).
O arquivo do Ministério das Obras Públicas é riquíssimo em documentos
e compreende vários núcleos ali reunidos. Sobre ele v. o livro de seu diretor
Mário Alberto NUNES CosTA, Biblioteca e arquivo do Ministério das Obras
Públicas, Lisboa, 1958. No Congresso Internacional de História dos Desco-
brimentos (1960), apresentou o mesmo autor uma "Nota sobre alguns
documentos _i:elacionados com a expansão ultramarina portuguesa" (Atas do
congresso, v. 2. 8 pte., p. 35-40).
Entre esses núcleos documentais está o Arquivo da Superintendência
Geral dos Contrabandos (1771-1834). Sobre ele v. a nota que o mesmo
diretor escreveu no Boletim Internacional de bibliografia luso-brasileira,
Fundação Calouste Gulbenkian, IV (1963), p. 115. Desse arquivo ainda
publicou o diretor um inventário preliminar que se encontra na Revista
portugúesa de história, IX, 1960, p. 325. Aí se encontram os originais das
chamadas "Balanças gerais do comércio do reino de Portugal com seus
domínios e nações estrangeiras", base para o estudo do tráfico colonial, é
verdade que desfalcadas por lamentável incêndio ocorrido em 1821, mas
reconstituídas por ordem da Regência. bem como o registro da saída e des-
pachos dos navios que demandavam o Brasil.
Interessam-nos ainda os arquivos do Conselho de Guerra (1640-1834),
o do Correio-mor (1790-1834), o da Junta dos Três Estados (1641-1813).
Sobre o arquivo do Conselho de Estado escreveu uma memória o conde de
ToVAR, "O arquivo do Conselho de Estado", Anais da Academia Portuguesa
da Hi:;tória, Lisboa,. 1961, série n, vai. 11.
21
impossível completar uma relação dos importantes mananciais his-
tóricos para temas brasileiros existentes em Portugal.
22
Arquivos europeus e americanos
13. Em outros países europeus existem documentos impor-
tantes para pesquisadores brasileiros( 44 ). Assim, na Espanha( 45 ),
o Archivo General de Indias, em Sevilha - fundamental para a
COIMBRA, Livros de "Ofícios para o reino" do Arquivo Histórico de Angola,
Luanda, Publicação do Museu de Angola, 1959. Além de referências a muitos
brasileiros que ali exerceram importantes funções, há dados importantes
sobre o comércio com a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Como se disse de início, muitas famílias conservam arquivos preciosos.
Poucos estão abertos ao público e raros inventariados. O mais importante a
este respeito é o dos duques de Cadaval. Virgínia RAu e Maria Fernanda
Gomes da SILVA, Os manuscritos da casa de Cadaval respeitantes ao Brasil,
Coimbra, 2 vols., 1956-1958.
O arquivo Lavradio-Rio Maior, cujo inventário sumário encontra-so
na RIHGB, tomo 97 (1925), p. 495, é hoje o Arquivo do Cosme Velho,
pertencente ao historiador Marcos Carneiro de MENDONÇA, que já tem feito
valiosas publicações aproveitando o rico material.
O arquivo da Casa de Mateus foi adquirido pela Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro. Pertenceu ao Morgado de Mateus (Dom Luís Antônio de
Sousa Botelho e Mourão) que foi governador de São Paulo no século xvm.
V. Hélio VIANNA, São Paulo no arquivo de Mateus, Rio de Janeiro, Biblio-
teca Nacional, 1969 (Coleção Rodolfo Garcia).
A descentralização do sistema arquivai português faz com que muitos
fundos ainda não tenham sido relacionados. Assim, poderíamos enumerar
os arquivos da Direção da Arma de Engenharia, da Faculdade de
Medicina de Lisboa, da Marinha, do Ministério do Interior, do da
Justiça, do Governo civil de Lisboa, da Imprensa Nacional, do Hospital
São José, da Junta de Crédito Público, da Misericórdia de Lisboa, da Pa-
triarcal, do mosteiro de São Vicente de Fora, do Tribunal de Contas, da
Academia de Belas-artes e da Assembléia Nacional. (V. Joaquim LEITÃO,
O Palácio de São Bento, Lisboa, 1945 (Catálogo de mss., p. 107).
44. Este assunto constituiu o tema n.0 1 da secção VII do III Colóquio
Intern. de Estudos Luso-brasileiros, em Lisboa, 1957 (vol. II, Lisboa, 1960):
"Reconhecimento dos fundos arquivísticos estrangeiros que interessam ao
Brasil, a Portugal e suas províncias ultramarinas". Aí se encontra o exaustivo
trabalho de A. H. de Oliveira MARQUES sobre a "Documentação sobre
Portugal em arquivos hanseáticos alemães" e uma nota do mesmo autor sobre
o fundo de história de Portugal na Biblioteca Ibero-americana de Berlim.
Do mesmo assunto tratou Luís SILVEIRA, Portugal nos arquivos do estran-
geiro. /. Manuscritos portugueses na Biblioteca estadual de Hamburgo, Lisboa,
Instituto para a Alta Cultura, 1946. O trabalho mais antigo a este respeito
é o de Antônio BAIÃO, o; arquivos da história de Portugal no estrangeiro,
23
história da América em geral( 46 ); o Archiv,o general de Simancas,
em Valladolid( 47 ); o Archivo Histórico Nacional de Madrid( 48 ).
Coimbra, 1916. Na obra organizada por D. H. THOMAS e L. M. CHASE, Guide
to the Diplomatic Archives of the Western Europe, Filadélfia; 1959, há uma
parte relativa a Portugal elaborada por Manuel da Silveira CARDOSO. Há
uma súmula dos arquivos europeus que possuem documentos de interesse
para a América Latina em geral, na parte preliminar do livro de Ernesto de la
Torre VILLAR, Las fuentes francesas para la historia de México y la guerra
de intervención, México, Sociedad Mexicana de Geografia y Estadística,
1962.
45. Sobre os arquivos da Espanha há obras gerais como a de FoucHÉ-
DELEOSC, Manuel de l'hispanisant, 2 vols., Nova York, Bruges, 1920-1924i
José Torre REVELLO, Los archivos espanoles, Buenos Aires, lmprenta de la
Univcrsidad, 1927; Francisco Sintes y OBRADOR, Guia de los archivos de Ma-
drid, Madrid, 1952; José Tudela de LA ORDEN. Los manuscritos de América en
las bibliotecas de Espana. Madrid, Ed. de Cultura Hispánica, 1954; Julian PAZ,
Catálogo de los manuscritos de América existentes en la Biblioteca Nacional
de Madrid, Madrid, 1953. Acrescente-se o Guia dei lector de la Biblioteca
Nacional de Madrid, Historia, organisación y fondos, Madrid, 1952, e Robert
R!CARD, Documents des biblioteques espagnoles relatifs au Brésil, Coimbra,
1924.
Sobre a biblioteca e arquivo do Palácio real há um catálogo de Jesus
Dominguez BoRDONA, Catálogo de la Bibl. de Palacio, t. IX - Manus-
critos de América, Madrid, 1935. Outros dados complementares encontram-s·e
em Ricardo DoNoso,· Fuentes documentales para la historia de la indepen-
dencia de América, México, Instituto Pan-americano de Geografía e Historia
1960 (Publicação n.0 233), Roscoe R. HILL, Descriptive Catalogue of the
documents relating to the History of lhe United States in the "Papeles
procedentes de Cuba" deposited in the Archivo General de Indias at Seville,
Washington, 1916; Eugenio Larrabure y UANANUE, EI archivo de Indias y
la biblioteca colombina de Sevilla, Reselia de sus riquesas bibliográficas, Bar-
celona, 1914 (Edição francesa, Paris, 1914); William R. SHEPHERD, Guide
to the materiais for t/Je History of the United States i11 Spanish Archives
(Simancas, The Archivo historico nacional and Seville), Washington, D.C.,
Carnegie Institut of Washington, 1907; Pedro ..Torres LANZAS e German LA
-TORRE,. ,1rchiv.o general de. /adias .. Quadro. general de . la docúmentàción,
s~vílla, 1918; Francisco Rodriguez MARIN, Ouia histórica .y .d_escriptiv.a :de. lós
archivôs, bibliotecas y museos· arqueol6gicós de Espana, Madrid, 191.6 (vol.
1 Archivo histórico nacional); F. MARTIN ARRABEL, Archivos· espanoles: su
origen y su historia, Madri, 1892.
46. A maior pesquisa realizada no ,Arquivo .das ..lndias, por sugestão
da Comlssão•.:de,·estudos de textos- :de:..'história. do ·Brasil ..é .a de" 1 oão Cabral
24
de MELLO NETO, O Arquivo das Jndias e o Brasil. Documentos para a his-
tória do Brasil existentes no Arquivo das lndias de Sevilha, Rio de Janeiro,
Ministério das Rei. Ext., 1966, com uma introdução de José Honório
Rodrigues, onde se faz uma síntese das pesquisas até agora empreendidas nos
arquivos espanhóis e seus resultados. Está em preparo um novo volume
contendo a bibliografia e o indispensável índice remissivo. Os Anais do
Museu Paulista (Ipiranga), vol. I, 1922, II, 1925, v, 1931 e XIII, 1949, publica-
ram muitos documentos relativos às bandeiras, precedidos de uma nota do
insigne historiador Afonso d'Escragnolle TAUNAY sobre "Documentação espa-
nhola". No último desses volumes há um índice geral e uma explicação do
chefe da secção histórica, Tito Lívio FERREIRA. Ainda que o arquivo não
disponha de um catálogo geral, há vários catáloges parciais e guias que
facilitam a pesquisa, como o de José Torre REVELLO, El archivo general de
lndias de Sevilla, Buenos Aires ,1929; José María de Le Pena y CAMARA,
Archivo de Indias de Sevilla. Guia de[ visitante, Madri, 1958. Nele pesquisa-
ram Rodolfo R. Schuller e Pedro Souto Maior, conforme consigna José
Honório RODRIGUES, Pesquisa histórica no Brasil, 2.ª ed., São Paulo, 1969
(Coleção Brasiliana), p. 91-93. Os inventários do primeiro encontraram-se
na Biblioteca Nacional e a relação das pesquisas do segundo na RIHGB,
tomo 81 (1918).
Há ainda elementos importantes a pesquisar no Catálogo de los fondos
americanos dei Archivo de Protocolos de Sevilla, tomos r, II e m, Século
XVI, Madri, Companhia Ibero-Americana de Publicaciones (Instituto Hispano-
cubano de História de América, Sevilha).
47. No Arquivo real de Simancas, apesar da centralização empreen-
dida com a criação do Arquivo das lndias, em Sevilha, ainda restam muitas
peças essenciais para a história da colonização brasileira. (V.: Dirección
General de Archivos y Bibliotecas; Guia de[ Archivo General de Simancas,
Madrid, 1958.) Sobre ele há dois trabalhos portugueses que interessam o
nosso país: J. M. Queirós VELLOS0, O Arquivo Geral de Simancas, sua im-
portância capital para a história portuguesa, Coimbra, 1923; Padre Fran-
cisco Manuel ALVES, Catálogo dos manu:scritos de Simancas respeitantes
à história portuguesa, Coimbra, 1933. Nele está elaborando pesqui-
sas, por ordem do ltamarati, o pesquisador Eliseu de Araújo Lima. Ali
pesquisou ativamente Varnhagen em 1946. Segundo ele passam de 100.000
OS- documentos sobre .nossos limites; (J;. Honório. · RODRIGUES, A pesquisa
hist., p.-47.)--A·reiação.das cópias ..de m~s. extraí.das ·por ordem: de Varn.hagen
e~tá:iià--Iiessâ Biblioteca Na:cionaL(.fü):. Entre..as·suas v.inte.e cinco:coleçQes,
tim.especfal inter~sse-as relativas. à -~·casá-e Pl:ssoas. Reais", sec•. IX (.Reinos
de Hungria é -Portugal,~ à- -~Secretaria. da Guerra" (Américá: .guerra. com
Portugal) e a sec. VI "Secretaria de Estado~' (Série 1x - Negociações com
Portugal) e a sec. xm "Mercês · e despachos, entre· os 'quais .para as ln dias
e·.arasil-( 1585-1668 )".
25
Na Holanda, em que pesquisaram proveitosamente Joaquim
Caetano da Silva ,e José Higino Duarte Pereira, há acervos pre~
ciosos como o Arquivo Real da Haia e o Antigo Arquivo de
Amsterdã( 49 ).
26
Em Viena, onde existe abundante material resultante das ex-
pedições científicas no início do século XIX, e documentos históri-
cos por causa das ligações dinásticas entre a Áustria e o Brasil,
ainda há muito que pesquisar( 5º).
27
14. Na França(Sl), na Itália( 52), na Inglaterra( 53), no Va-
ticano(54), nos países escandinavos( 55 ), Rússia( 56 ), Alema-
nha(57), Suíça( 58 ), em quase todos os países da Europa(S9) e da
América( 6º), existem, pelo menos, os despachos diplomáticos de
seus representantes no Brasil, contendo depoimentos sobre aconte-
cimentos históricos. Dentro do mundo civilizado, portanto, todos
os países precisam colaborar para obterem documentação de pri-
meira ordem.
29
bibliotecas de Roma", Revista crítica de historia y literatura espafiola, por-
tuguesa y hispano-americana, VIII (1902).
Sobre a famosa Biblioteca Ambrosiana, de Milão, há a obra de seu
diretor Achille RArn (depois papa, com o nome de Pio XI): Guida
sommaria per i visitori della biblioteca Ambrosiana e delle collezione annes-
se, Milão, 1907.
Da Biblioteca Nacional de Nápoles há um estudo especial acerca dos
manuscritos: Alfredo MIOLA, Notizie di manoscritti neo-latini; Parte prima:
Mss. francesi, provenzali, spagnoli, catalani, portoghesi della Bibl. Nazionale
di Napoli, Nápoles, 1895. Sobre o arquivo de Estado de Nápoles, escreveu
o general F. de Paula CIDADE um útil estudo, "Alguns arquivos europeus",
publicado na RIGHMB, n. 0 46 (1964).
53. A Inglaterra centralizou os seus serviços de arquivo no reinado
da rainha Vitória, criando o Public Record Office (Arquivo Nacional),
sob a direção do Master of the ralis (espécie de Guarda-mor dos' arquivos).
Esta repartição controla tanto os arquivos judiciários como os administra-
tivos. Como é natural, contém esse depósito oficial uma respeitável soma
de documentos relativos ao Brasil, quer no setor diplomático, quer no
naval (repressão ao tráfico, etc.). Os arquivos ingleses são exclusivamente
de papéis oficiais. Os americanos do Norte têm elaborado excelentes inven-
tários d~ documentos relativos a seu país, como o de Charles M. ANDREWS,
Charles O. PAULLIN e Frederic L. PAXSON. Os guias, organizados pelos fun-
cionários, são excelentemente elaborados e permitem uma consulta frutífera.
Os manuscritos e as coleções particulares encontram-se especialmente
nas bibliotecas das grandes universidades e nos opulentos depósitos de mss.
do British Museum. Ali trabalhou o erudito espanhol Pascual de GAYANGOS
e elaborou um Catalogue of the manuscripts in the spanish language in
the British Museum, Londres, 4 vols., 1875-1893. Nele se encontram várias
peças relacionadas com o Brasil. Sobre os portugueses trabalhou Frederico
Francisco de LA FIGANIERE, autor de um Catálogo dos manuscritos portu-
gueses existentes no Museu Britânico, em que também se dá notícia dos
manuscritos estrangeiros relativos à história civil, política e literária de Por-
tugal e seus domínios, e se transcrevem na íntegra alguns documentos impor-
tantes e curiosos, Lisboa, 1853. Este trabalho foi a base das pesquisas brasi-
leiras nesse acervo. Sobre ele elaborou Francisco Adolfo de VARNHAGEN,
Succinta indicação de alguns manuscritos importantes, respectivos ao Brasil
e Portugal, existentes no Museu Britannico em Londres e não comprehendido.s
no catálogo de Figaniere, publicado em Lisboa em 1853, ou simples adita-
mento ao dito catálogo, Havana, 1863.
Anos depois retomou a pesquisa Manuel de OLIVEIRA LIMA, "Relação
dos manuscritos portugueses e estrangeiros de interesse para o Brasil exis-
tentes no Museu Britânico de Londres", RIHGll, t. 65, 2.ª pte., Rio de Janeiro,
30
1903. Ainda mais tarde voltou a lavrar no mesmo terreno o conde de
TovAR, Catálogo dos manuscritos portugueses ou relativos a Port11gal exis-
tentes no Museu Britânico, Londres, 1932.
Há uma utilíssima publicação: List o/ record depositories in Great
Britain. British Record Association, Report from committees, Londres, 1956.
54. O arquivo do Vaticano constitui, naturalmente, uma fonte ines-
timável para pesquisas históricas, especialmente para países católicos, ainda
mais o Brasil que nunca teve solução de continuidade em suas relações com
a Santa Sé. Os documentos que pertenciam a fundos diversos foram centra-
lizados por LEÃO XIII em 1881, abertos à consulta pública e entregues à
direção de eminentes historiadores. A obra clássica sobre o arquivo do Vati-
cano é a de H. A. FINK, Das Vaticanisclie Archiv. Ein/ührung und die Bes-
tiinde und ihre Erforschung, 2.ª ed., Roma, 1951. Superou de muito a obra
an-terior de G. BROM, Guide aux archives du Vatican, Roma, 1910. A direção
do arquivo tem publicado sucessivos guias: Sussidi per le consultazione deli'
Archivo Vaticano, Roma, Biblioteca Apostolica Vaticana, 1926, 1937, 1947.
Os papéis que mais interessam ao Brasil são os da divisão Archivo
della Segretaria di Stato, especialmente os da nunciatura em Lisboa (mais
de duas centenas de volumes) e nunciatura do Rio de Janeiro, além da cole-
ção Affari di America. Nestes fundos têm sido feitas importantes pesquisas
que serão oportunamente referidas. V. o discurso de Jerônimo de Avelar
FIGUEIRA DE MELO sobre o arquivo do Vaticano na RIH0B, t. 87, p. 411
(1920).
55. Sobre os arquivos dos países escandinavos há excelente pesquisa
de Magnus MõRNER, Fuentes para la historia de Ibero-América conservadas
en Suecia, trad. do sueco por Ester Pastor l.oPEZ, Estocolmo, publicado sob os
auspícios da UNESCO, do Conselho Internacional de Arquivos e do Conselho
de Investigações Humanísticas da Suécia, 1968 (Arquivo Nacional da Suécia,
Guia de fontes para a história <la Ibero-América-Escandinávia). Verifica-se
que o primeiro país que atraiu a atenção dos suecos na América Latina
foi o Brasil. A correspondência do ministro sueco no Rio de Janeiro em
1808 (J. A. KANTZOW), desconhecida totalmente, tanto em Portugal quan-
to no Brasil, foi publicada na RIH0B, vol. 276, v11-1x de 1967, ce-
dida pelo Instituto Ibero-americano de Estocolmo. Note-se que a Suécia
e Noruega estiveram unidas, em união pessoal, de 1814 a 1905. Eram
comuns aos dois países, tanto a administração dos negócios estrangeiros
quanto a representação diplomática. Se bem que os arquivos suecos não
devam conter material que modifique fundamentalmente os resultados das
investigações atuais, podem complementar muitos pontos já elaborados,
como se verifica pela correspondência acima citada, competentemente ano-
tada pelo embaixador Joaquim de Sousa LEÃO FILHO.
31
Há muitas narrativas de expedições marítimo-comerciais e de. cônsules
suecos na Bahia. Pernambuco, Santos, Porto Alegre, Florianópolis e Rio
de Janeiro.
Nos documentos da Casa Real há cartas da imperatriz D. Amélia, irmã
da rainha da Suécia.
Do mesmo erudito Magnus MÕRNER, Quelques documents sur l'éman-
cipation hispano-américaine recueillis dans les archives suédoises, Estoco!.
nio, Biblioteca do Instituto de Estudos Ibero-americanos da Escola de
Ciências econômicas, 1960. (Trad. para o espanhol, Madri, Ed. Guadarrama,
1961.) Sobre estes documentos elaboraram-se várias pesquisas enumeradas
pelo professor José Honório RODRIGUES, loc. cit., p. 221.
Dos documentos de Copenhague dá notícia Ruth Lapham Bun.ER em
"Latin-american, manuscripts in the Royal Iibrary at Copenhague", Hand-
book of Latin-American Studies, 1936, p. 482-487.
56. Sobre os arquivos russos, v. Frank A . GoLDER, A guide to mate-
riais for American History in russian archives, Washington, D . C., Car-
negie lnstitut, 1917 (Carnegie lnstitut of Washington, publ. n. 0 239).
Reoentemente publicou Boris ScHNAIDERMAN, "Documentos russos sobre o
Brasil", Revista de história, São Paulo, n.0 67, vn-IX, 1966.
57. Sobre os arquivos alemães, v. Victor LoEWE, Das Deutsche Ar-
chrwesen. Sein Geschichte und Organisation, Breslau, 1971.
58. Sobre os arquivos suíços, Albert B. FAUST, Guide to materiais for
American History in swiss and austrian archives, Washington, D . C., Car-
negie lnstitut of Washington, 1916 (publ. n. 0 220).
59. Os Estados Unidos dotaram o Governo com um dos mais per-
feitos sistemas arquivísticos do mundo. O National Arcliives é realmente
um órgão centralizador e sistematizador da documentação nacional. V.:
Guide to the records in the National Archives, Washington, The National
Archives, 1948. Há ainda uma série de úteis publicações para uso dos
funcionários: National Archives, Handbook of procedures, Washington,
The National Archives, 1952. Sobre o Brasil : Referente lnformation
Papers, n. 0 8. Materiais in the National Archives relating to Brazi/, Washing-
ton, National Archives, 1942. Além disso o Arquivo Nacional americano
microfilmou em grande parte (e fornece aos consulentes) a correspoooência
diplomática e consular. A lista dos microfilmes está publicada. H. Stephen
HILTON, Preliminary inventory of the records of the office of lnter-american
affairs, Washington, Toe National Archives, 1952.
Para a história religiosa, v. os catálogos: Paul J. Fou:, Catholic
arthives of America, 1915; William L. LALLOU, The Archives of the Ameri-
can Catholic Historical Society, Filadélfia, 1915. Preciosos elementos se
encontram no livro de Henry Tutney BEERS, Bibliographies in American
History (Guide to materiais for research), Nova York, 1942.
32
15. Convém ressaltar perante os alunos às imensas vanta-
gens para a pesquisa histórica representadas pelo progresso da fo-·
tografia e os modernos processos de reprografia. Missões cien-
tíficas que necessitariam anos de penosos trabalhos, ocupando de-
zenas de copistas, reúnem hoje material contido em inúmeros vo-
lumes manuscritos em poucos dias de atividade, de que resultam
cópias. evidentemente mais seguras e contidas. em pequenos rolos
Para situar os vários centros de pesquisa de história e civilização latino-
americana nos Estados Unidos é de grande utilidade o Handbook of his-
panic source materiais and research organizations in the United States,
organizado pelo prof. Ronald HlLTON, 2.ª ed., Stanford University Press,
Califórnia, 1956.
A pesquisa de fontes européias para a .história americana tem sido a
mais sistemática e _completa. A planificação dessas pesquisas está estudada
por José Honório RODRIGUES na Pesquisa histórica no .Brasil, cit., p. .222.
O trabalho se processou cm três etapas: l.º - a elaboração de um guia
dos arquivos oficiais americanos: C. H. VAN TYNE & Waldo G. LELAND,
Guide of the archives of the government of the United States i11 Washing-
ton, Washington, D. C., 1904; 2. 0 - a elaboração de uma lista de mss. já
constantes dos catálogos publicados: List of manuscripts concerning ame-
rican history preserved in european libraries and noted in their published
catalogues and similar printed lists, Washington, D. C., 1926; 3.0 - a
microfilmagem em massa de documentos. Foi a mais perfeita e organizada
pesquisa até hoje realizada, com o concurso de vultosas doações da Fun-
dação Carnegie e do milionário John D. Rockefeller.
Ao lado dessa pesquisa geral, que transformou Washington oo maior
repositório de documentação histórica do continente, o erudito Waldo G.
LELAND também publicava, com o auxílio da Carnegie Institution, os guias
a que nos referimos ao tratar da documentação francesa.
60. Um estudo geral dos arquivos latino-americanos é o de Roscoe
R. HILL, The National Archives of Latin America, Cambridge, Mass., 1945.
Do mesmo autor: "Latin-American Archivology - 1951-1953", HAHR,
vol. 39, 2, p. 256. Um exame exaustivo das fontes arquivais do continente
foi realizado por Lino Gomez CANEOO, Los archivos de la historia de Amé-
rica, Período colonial espanhol, México, D. F., Instituto Panamericano de
Geografia e História, 1961. (Comisión de Historia, n. 0 87.) Após estudar
os arquivos espanhóis passa a estudar os arquivos e bibliotecas hispano-
americanos: México, América Central, Antilhas, Colômbia, Equador, Vene-
zuela, Peru, Bolívia, Chile e Rio da Prata. No seguinte volume estuda as
fontes existentes nos arquivos dos Estados Unidos e oos países europeus
(exceto Espanha). Sobre o mesmo assunto: María Castelo de ZAVALA,
Noticia sobre a[gunos archivos hispano-amt;ricanos, México, 1947.
33
de microfilmes. Quando se imagina o que custavam os imensos
sacrifícios representados pelas excursões dos antigos cronistas à
cata de documentação, ou, mais modernamente, as missões como
as que o Brasil mandou à Europa, vê-se que facilidades os mo-
dernos mecanismos oferecem aos pesquisadores. Nada melhor para
despertar o interesse pelo assunto do que exibir alguns microfilmes
de documentos, incentivando o gosto pela leitura direta da peça que
conserva a grafia e as fórmulas primitivas (6 1 ).
16. A fim de promover o interesse pelos depósitos arquivais
brasileiros nada melhor do que promover, quando possível, uma
visita a uma instituição local. Os alunos de história devem sen-
tir-se ligados aos grandes centros de documentação histórica de
sua terra e, conhecendo o seu funcionamento, tornarem-se cola-
boradores permanentes de seu enriquecimento. Muitas v,ezes a in-
tervenção pessoal do estudioso impede a perda de uma peça ou
a dispersão de um arquivo. Aqui reunimos alguns apontamentos
tendo em vista a dificuldade em que se encontra, muitas vezes, o
professor, em reunir os dados para uma exposição( 62 ).
17 . As primeiras medidas legais de proteção dos documen-
tos oficiais foram o decreto de 1O de janeiro de 1825 ( comple-
tado pelo de 2 de janeiro de 1838 de que adiante se tratará), or-
denando que fossem recolhidos à Corte os documentos que im-
portassem à nossa história.
34
O maior centro de documentação arquival do Brasil é o Ar-
quivo Nacional, localizado desde 1907 à praça da República, no
antigo edifício do Museu Nacional. Previsto na Constituição do
Império (art. 70) e referido em todas as leis votadas pela Assem-
bléia Constituinte( 63 ), foi estabelecido no Regulamento n. 0 2, ex-
pedido ao tempo da regência de Araújo Lima, em 2 de janeiro de
1838. Funcionou algum tempo na rua da Guarda Velha (atual
13 de Maio), na· Praça do Comércio (atual 2.0 Tribunal do Júri),
na Secretaria do Império, na casa de Albino dos Santos Pereira,
no convento de Santo Antônio, num edifício dos irmãos terceiros
da Ordem do Carmo, ao lado da antiga igreja de Nossa Senhora
35
do Parto ( atual rua Rodrigo Silva). Suas publicações já atingiram
mais de sessenta tomos, além de várias publicações especiais( 64 ).
As instalações eram obviamente insuficientes para as funções
que ,o Arquivo devia desempenhar. Mas um grande ,esforço e boa
vontade dos funcionários compensavam as deficiências materiais.
A impressão que do serviço recebeu o barão de Koseritz, em vi-
sita ao Rio de Janeiro, ao tempo da direção do conselheiro Ma-
chado Portela (um dos mais esforçados, ao tempo do Império),
foi a melhor possível. "Com o conhecimento mais direto dos fun-
cionários daqui, a minha consideração pelo funcionalismo brasilei-
ro subiu muito." O Arquivo estivera ao abandono quase 30 anos.
"Espaço, pessoal e recursos são limitados. Mas com pouco soube
Portela realizar muito, pois todo o Arquivo, que enche cinco
salas, está em perfeita ordem e classificado na melhor forma"( 65 ).
Esta tradição de boa vontade tem perdurado, graças a Deus.
Mas era preciso dar à Nação e ao Governo a noção de que aguar-
da dos papéis não é uma questão de sentimentalismo, mas de in-
teresse público. A renovação da mentalidade arquivística, em-
preendida sob a orientação do professor José Honório Rodrigues,
tinha que logicamente começar pela formação de um ,corpo de téc-
nicos à altura dos conhecimentos especializados, tal como são apli-
cados nos grandes países. Daí a importância dos cursos ministra-
dos no Arquivo por alguns grandes nomes de fama internacional.
18 . As principais linhas dessa direção imposta ao Arquivo
ressaltam do Relatório em que justifica seu plano diretor( 66 ). As
observações ali feitas a respeito da função eminentemente adminis-
trativa dos arquivos oficiais, - o que não exclui, é bem de ver,
a existência de "atividades históricas", - são, sem dúvida pro-
cedentes. A falta de orientação predominava em todas as reparti-
ções congêneres. O Professor José Honório Rodrigues procurou
traçar uma política centralizadora em matéria de arquivos, esbo-
çando um histórico da repartição e seus problemas e iniciando uma
campanha naquele sentido.
36
Ao mesmo diretor devem-se um novo Regimento (Decreto
n. 0 44.862, de 21 de novembro de 1960) e uma série de publica-
ções que resultam dos cursos ministrados, importantes para a trans-
formação do ambiente não somente naquela casa, mas em vários
outros centros do país. Assim é que foi traduzido o clássico livro
de T. R. ScheUenberg(67).
37
4) Ernst PosNER, Alguns aspectos do desenvolvimento arquivístico a
partir da Revolução Francesa ["Some aspects of Archival Development since
the French Revolution", artigo em The American Archivist, vi - 1940],
trad. de Leda Boechat Rodrigues, Rio de Janeiro, 1959.
5) Michel DucHEIN, A colaboração entre os serviços administrativos e
os arquivos. ["La collaboration entre les services administratives et Ies
archives", artig,., de La Gazette des archives, 1 - 1957], trad. de Leda
Boechat Rodrigues, Rio de Janeiro, 1959.
6) Herman KAHN e Randolph W. CHURCH, Os arquivos públicos e
bibliotecas ["Librarians and Archivists - Some Aspects of their Partnership"
e "The relationship between Archival Ag;:ncies and Libraries", artigos pu-
blicados em The American Archivist, 1943-1944], trad. de Leda Boechat
Rodrigues, Rio de Janeiro, 1960.
7) Robert H. BAHMER e Ernst PosNER, Os arquivos nacionais dos Estados
Unidos ["The National Archives after 20 Years" e "The National Archives
and the Archival Theorist", artigos em American Archivist, 1955], trad. de
Leda Boechat Rodrigues, Rio de Janeiro, 1960.
8) Ricardo FILANGIERE, Os arquivos privados ["Les archives privées",
publicado em Archivum, 1956], trad. de Leda Boechat Rodrigues, Rio de
Janeiro, 1960.
9) T. R. ScHELLENBERG, O preparo de listas de maços de documentos
["The Preparation of Lists of Record Itcms", publicado no The National
Archives, Staff information papers, n. 0 17, XI - 1959], trad. de Leda
Boechat Rodrigues, Rio de Janeiro, 1960.
10) T. R. ScHELLENBERG, Problemas arquivístivos do governo brasileiro.
"Archival Problems of the Federal Government of Brazil", Relatório apre-
sentado ao diretor do Arquivo Nacional, trad. de Leda Boechat Rodrigues,
Rio, 1960. (Relatório de uma visita pessoal do vice-diretor do Arquivo
Nacional dos EUA e professor da American University, de Washington, acerca
do problema arquivístico brasileiro. O mesmo professor realizou uma série
de conferências e cedeu os direitos de uma série de publicações.)
11) J. MADY e R. H. BAUTIER, Os arquivos e os documentos públicos
modernos ["Les archives et les papiers administratifs modernes", trabalho
apresentado à 2.ª Conferência Internacional da Table ronde des archives],
trad. de Marilena Barbosa Vieira, Rio de Janeiro, 1960.
12) Odon de SAINT BLANQUAT, O problema das transferências nos ar-
quivos das grandes cidades, ["Le probleme des versements dans les archives
des grandes villes", publicado em La Gazette des archives, 1956], trad. de
Marilena Barbosa Vieira, Rio de Janeiro, 1960.
13) Robert H. LAND, O catálogo coletivo nacional das coleções de
manuscritos [The National Union Catalog of Manuscript collections", pu-
blicado em The American Archivist, 1954], trad. de Manuel Adolfo Wan-
derley, Rio de Janeiro, 1960.
38
19 . Outro valioso depósito arquival do Rio de Janeiro é a
secção de manuscritos da Biblioteca Nacional. Fundada em 1810
por Dom João v1, era a própria biblioteca do rei, que a abriu ao
público em 1811. 1:. considerada hoje a maior da América do Sul
e edita duas importantes coleções: os Anais, que já atingiram 88
volumes, fora os avulsos, e os Documentos históricos (atualmente
suspensa), que atingiram 110 tomos( 68 ). A sua secção de ma-
nuscritos, entre inúmeras preciosidades, contém o arquivo das mer-
39
ces, do antigo Ministério da Justiça, sob a denominação de "Do-
cumentos biográficos", que fornecem dados preciosos para a his-
tória do Reino e do Império( 69 ).
20. Para a história diplomática, o nosso maior patrimônio
é o Arquivo histórico do Itamarati(7°), ao qual foram incorporados
alguns arquivos particulares de valia, como o do barão do Rio
Branco(7 1 ).
21. Para a história militar o fundo principal é o Arquivo
do Exército( 72 ). Só agora se reorganiza o Arquivo da Mari-
nha(73). O do Ministério da Educação e Cultura teve uma triste
história(74 ). De outros ministérios e serviços não há notícia por-
menorizada (75).
40
de Duarte da Ponte Ribeiro, barão da Ponte Ribeiro, adquirido pelo mm1s-
tro Otávio Mangabeira.) Parte III 34. Arquivo particular do barão do Rio
Branco, 2.ª edição, Rio de Janeiro, 1967. (Este catálogo teve uma edição
anterior com o título de Arquivo do barão do Rio Branco, concluído pelo
embaixador Aluízio Napoleão, Rio de Janeiro, 1951.) Partem, 35, Pareceres
do Conselho de Estado. 36. Documentos históricos (1.ª série e 2.ª série),
Introdução do ministro Horácio Láfer, Rio de Janeiro, 1960. (Compreende
muitos documentos avulsos da Casa Imperial, membros da Família Impe-
rial e altas personalidades, sem sistematização.) (Os pareceres do Conselho
de Estado foram também objeto de outra publicação: Sérgio CORREA DA
CosTA, Pareceres do Conselho de Estado e do Consultor do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, 1842-1889, Rio de Janeiro, 1942.)
O Ministério das Relações Exteriores publicou também os documentos
do arquivo através de uma série: os Annaes do ltamaraty, dos quais apare-
ceram os vols. I.º - 1936, 2. 0 - 1937, 3. 0 - 1938, 4. 0 - 1938, 6. 0 - 1942
e 7. 0 - 1942. Esta publicação esteve sob a direção do historiador Aurélio
Porto. Compreendem esses volumes a correspondência dos encarregados de
neg6cios do Brasil em Montevidéu, a do nosso agente diplomático em Buenos
Aires, depois plenipotenciário no Paraguai. O vol. v não foi distribuído. O
v1 e o vil contêm os documentos relativos à ocupação da Cisplatina. (Corres-
pondência de Lecor.)
Uma outra série de publicações do Arquivo do ltamarati começou a
ser feita pela Comissão de Estudos de Textos de História do Brasil, com
o nome de Documentos diplomáticos. Compõem-na os textos das missões
especiais que constituem um setor próprio no acervo histórico. Apareceram
até o presente: A missão Pimenta Bueno, Introdução por Pedro Freire
Ribeiro, Rio de Janeiro, 1965 e Documentos, Rio de Janeiro, 1966: a
Missão Bellegarde ao Paraguai (1849-1852), vol. I. Exposição de antecedentes
e notas por José Antônio Soares de Sousa, Rio de Janeiro, 1968; vol. 11.
Histórico da missão e notas, por José Antônio Soares de Sousa, Rio de
Janeiro, 1968: vol. m, 1971.
Sobre a posição do arquivo no quadro da Secretaria de Estado, v.
Marcos ROMERO, História da organização administrativa da Secretaria de
Estado dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, Rio de Janeiro,
MRE, 1951.
O Ministério publicou em 1922 a coleção dos documentos relativos às
negociações para o reconhecimento da independência do Brasil, prefaciados,
os documentos de cada missão, por um membro do quadro da antiga Secre-
taria de Estado. :É um conjunto excelente de estudos, alguns dos quais fo-
ram posteriormente desenvolvidos. O título geral é Arquivo diplomático da
independência. Coletânea de documentos históricos autorizada por S. Ex.ª
o dr. J. M. Azevedo Marques, MRE, Rio de Janeiro, 1922-1925, 6 vols.
41
A Comissão de Estudos de Textos de História do Brasil, tem publicado,
desde o 2.0 semestre de 1943, uma série de opúsculos com a Bibliografia
de História do Brasíl, 14 até 1958.
Como instrumentos de trabalho, além da divulgação de documentos,
mencionem-se alguns modelares, de grande importância: Ministros e altos
funcionários da antiga repartição dos Negócios estrangeiros depois Reparti-
ção das Relações Exteriores do Brasil e membros do extinto Conselho de
Estado (1808-1910), Rio de Janeiro, 1910. [Há nova edição atualizada: Mi-
nistros e altos fu11cio11ários da antiga repartição dos Negócios estrangeiros de-
pois Ministério das Relações Exteriores - e membros do extinto Conselho de
Estado (1808-1939). Rio de Janeiro, 1939]; Raul Adalberto de CAMPOS, Rela-
ções diplomáticas do Brasil, contendo os nomes dos representantes diplomáti-
cos do Brasil 110 estrangeiro e os dos representantes diplomáticos dos diversos
países no Rio de Janeiro de 1808 a 1912, Rio de Janeiro, 1913; José Manuel
Cardoso de OLIVEIRA, A tos diplomáticos do Brasil, Tratados do período
colonial e vários documentos desde 1493, coordenados e anotados por ... ,
2 vols., Rio de Janeiro, 1912; Raul Adalberto de CAMPOS, Legislação Interna-
cional do Brasil, Rio de Janeiro. 1929; Hildebrando AccIOLY, Atos interna-
cionais vigentes no Brasil, Rio de Janeiro, 1927 [2.ª ed., 2 vols., 1936]; Ru-
bens Ferreira de MELLO, Textos de direito internacional e de história diplomá-
tica de 1815 a 1949, Rio de Janeiro, 1950. Do mesmo autor: Dicionário de
Direito internacional público, Rio de Janeiro, 1962.
71. V., além do catálogo publicado pelo Itamarati: Mário de VAs-
CONCELLOS, "Os arquivos do ltamaraty", na obra Motivos de história diplo-
mática do Brasil, Rio de Janeiro, 1930; Aluízio NAPOLEÃO, Os arquivos par-
ticulares do ltamaraty, Rio de Janeiro, 1940; Heitor LYRA, "Manuscritos di-
plomáticos portugueses no Arquivo do ltamaraty", em História diplomática e
politica internacional, Rio de Janeiro, Civilização, 1941.
72. O Arquivo do Exército, localizado no Quartel-General, à praça da
República, contém os documentos relativos ao pessoal que compunha a ofi-
cialidade da tropa de linha. Sua organização é relativamente recente. O
que se chamava antigamente Arquivo Militar, criado em 1808, não passava
de um depósito cartográfico. General F. de Paula CIDADE, "Arquivo militar
e Arquivo do Exército, um equívoco", Jornal do Brasil, 20 de abril de 1958.
Do mesmo autor: Síntese de três séculos de literatura militar, Rio de Ja-
neiro, 1959 (especialmente p. 529-533, onde s:, narram os esforços do autor
e do coronel Jônatas do Rego Monteiro para reconstituir o acervo de docu-
mentos, dispersos pelas unidades e destruído em grande parte, pelo fogo por
ordens expressas do governo. O núcleo do acervo esteve mesmo entregue à
Limpeza Pública e só por um milagre escapou de completa destruição).
O coronel Laurênio LAGO, antigo diretor da Secretaria de Estado da Guerra,
e conhecedor profundo do arquivo, fez várias publicações biográficas e do-
cumentais extraídas desse rico acervo. Mencionem-se as seguintes: Relação
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nominal dos generais efetivos do exército brasileiro, Río de Janeiro, 1938;
Brigadeiros e generais de D. João VI e D . Pedro I no Brasil, Dados bio-
gráficos, 1808-1831, Rio de Janeiro, Imp. militar, 1938; Conselheiros de
guerra, vogais e ministros do Conselho supremo militar. Ministros do Su-
premo tribunal militar, Dados biográficos, 1808-1943, Rio de Janeiro, Imp.
militar, 1944. Apesar de prejudicado, contém material importantíssimo.
73. O antigo Arquivo Naval acha-se disperso, parte no Arquivo
Nacional e parte no IHGB. Em 1937 foi criada, pelo Decreto-lei n.0 101,
no Ministério da Marinha, a Divisão de História Marítima do Brasil, com
sede no Ministério da Marinha e constituindo uma divisão técnica do Estado
Maior da Armada. Esta divisão, entregue à chefia do comandante Dídio
Iratim Afonso da Costa, iniciou logo a publicação de uma série de
volumes, hoje 22, sob o título de Subsídios para a história marítima do
Brasil, Rio de Janeiro, Imp. naval, 1938, contendo preciosos dados históricos.
Organizou-se depois o Serviço de Documentação da Marinha, composto de
quatro secções: 1) História marítima do Brasil; 2) Biblioteca da Marinha;
J) Arquivo histórico, e 4) Revista Marítima Brasileira. Compõe-se hoje de
seis secções, acrescendo o Museu e os Serviços geraís. O serviço está inte-
ligentemente reunindo o acervo documental através da microfilmagem das
peças, sem promover sua transferência imediata. Adquiriu também o arquivo
particular do marquês de Tamandaré, devidamente coordenado pelo escritor
Raul Lima. As publicações, ainda que não sistemáticas, são de indiscutível
utilidade. A revista que substituiu os antigos Subsídios é a Navigator, em
moldes modernos e excelentemente organizada.
74. O arquivo do Ministério da Educação e Cultura, a princípio
Ministério da Educação e Saúde, fundado em 1931, compreendia não só os
papéis internos de serviço da Secretaria de Estado, mas ainda os arquivos
de estabelecimentos de ensino extintos que ali eram depositados por dispo-
sição legal. Incendiou-se durante o Estado Novo, As perdas para a história
da educação são incalculáveis.
75. O arquivo do antigo Ministério da Justiça (distinto do Ministério
do Império, correspondente ao do Interior no princípio da República) está
em parte no Arquivo Nacional. Mas os requerimentos de mercês, com o
nome de Documentos biográficos estão, como já se disse, na secção de
manuscritos da Biblioteca Nacional. O arquivo do antigo Ministério da
Viação e Obras Públicas foi vendido a peso, como papel velho. Alguns
curiosos da história puderam adquirir alguns processos, mas simplesmente
pela curiosidade de conterem autógrafos de valor como os pareceres de
Machado de Assis, funcionário e diretor daquela secretaria. V.: Thiers
Martins MOREIRA, "Machado de Assis versus Boynton", R evista da Sociedade
dos amigos de Machado de Assis, n.0 8, 1x - 1968, p. 6. Com o da Fa-
zenda passou-se coisa semelhante. Os arquivos judiciários não obedecem
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22. Em cada Estado da Federação, ·em cada mumc1p10, ·em
cada catedral, há de haver um arquivo digno de ser visitado e
prestigiado; Em alguns estados há instituições notáveis, centros
de documentação e publicação de primeira ordem. Na adminis-
tração do Arquivo Nacional do professor José Honório Rodrigues,
mediante convênio com o Centro Brasileiro de Pesquisas Educa-
cionais, foi incumbido o professor Guy de Holanda de elaborar
um inquérito geral dos arquivos brasileiros. O relatório desse
trabalho permanece inédito(76 ).
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trais; vol. v. Assembléia Constituinte e Constituição do Império, Adesão das
províncias, Rio de Janeiro, 1922.
SÃo PAULO. O arquivo do Estado de São Paulo, criado em 1842 é ri-
quíssimo, apesar das vicissitudes por que passou. Publica importantes séries
de documentos: Documentos interessantes para a história e costumes de
São Paulo, que já ult~apassa 79 tomos (de 1895 a 1955); os Inventários e
testamentos, com cerca de 39 tomos (1920-1954); as Sesmarias (1921-1944),
6 vols., os Documentos avulsos de interesse para a história e cost11mes de
São Paulo, 3 vols., 1954; a Divisão judiciária e administrativa dq Estado 'e
São Paulo, 1936; o Catálogo dos manuscritos e impressos, 1908; o Histórico
do Arquivo, 1908; além do Boletim, 12 vols. (O vol. 11 contém o Curso de
Paleografia ministrado em 1952.) V. Ubirajara Dolácio MENDES, Pequeno his-
tórico e prontuário do Arquivo do Estado de São Paulo, São Paulo, Depar-
tamento do Arquivo do Estado de São Paulo, 1953; Antônio Paulino de
ALMEIDA, O Arquivo público do Estado e sua contribuição à história de
São Paulo, São Paulo, 1948; e M. R. da Cunha RODRIGUES, "O Departamento
do Arquivo do Estado de São Paulo", Revista de História, n.0 50, 1962,
p. 475.
A prefeitura do município de São Paulo, por intermédio da Divisão de
Arquivo Histórico do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação
e Cultura, fez publicar as Atas da câmara da vila de Santo André da Borda
do Campo (1555-1558), 1 vol.; as Atas da Câmara de São Paulo, 61 vols.; o
Registro geral da Câ!'lara de São Paulo, com 38 vols. (1583-1863) e as Datas
de terra, com 20 vols. (1562-1863). A Revista do Arquivo Municipal de São
Paulo é uma das publicações históricas de maior importância no país. Nela,
além de se prosseguir na publicação das atas da Câmara Municipal, têm-se
editado as ordens régias e papéis avulsos de várias épocas. Péricles da Silva
PINHEIRO, "Algumas fontes para o estudo da história de São Paulo", Ensaios
paulistas, contribuição de O Estado de S. Paulo às comemorações do rv
centenário da cidade de São Paulo, São Paulo, Anhambi, 1958, p. 81. Acres-
cente-se uma série não menos importante: Documentário histórico, vol. 1,
1950 (vol. xxxrx da coleção do Departamento de Cultura da prefeitura de
São Paulo), sob a direção de Nuto SANT'ANA. Deste mesmo historiador:
São Paulo histórico, 6 tomos, São Paulo, Departamento de Cultura, 1937-
1944.
MINAS GERAIS. Ainda que pouco dotado, o Arquivo Público Mineiro,
contém algumas peças fundamentais de história colonial. Sua Revista, que
já atingiu 25 vols., contendo preciosidad~s, não constitui, porém, um modelo
de técnica historiográfica. O índice publicado pela direção é mesmo um mo-
delo de incompreensão do assunto (/ndice geral da Rev. do Archivo Público
Mineiro (1 - 1896 a xvm - 1913), organizado por Theophilo Feu de
CARVALHO, Belo Horizonte, 1914). O apêndice, contendo a lista geral e
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completa das pessoas que obtiveram sesmarias no "Estado [sic] de Minas
Gerais desde 1710 a 1835" é de uma confusão babélica. Por isso mesmo o
Arquivo Nacional fez publicar em sua série "Instrumentos de trabalho",
um novo lndice da mesma revista, Organizado por Lygia Nazareth FERNAN-
DES, Rio de Janeiro, 1960, bastante melhorado. Sobre a importância deste
arquivo, v. Aurélio Pires, "O Arquivo Público Mineiro", O Jornal, n. 0 es-
pecial dedicado a Minas Gerais, Rio de Janeiro, 1929. Na mesma publicação
há um artigo de EscRAGNOLLE DÓRIA, "As riquezas ào Arquivo Público Mi-
neiro". V. ainda: Elmar G. QuEIROGA, "Arquivo Público Mineiro". Revista
do Instituto histórico e geográfico de Minas Gerais, vol. II, 1946, p. 34. Ali
também se encontram os discursos pronunciados na sessão comemorativa do
cinqüentenário da instituição.
BAHIA. O Arquivo da Bahia é o mais antigo dentre os estaduais. Data
de 16 de janeiro de 1890 a lei promulgada por Manuel Vitorino criando o
Arquivo Público do Estado da Bahia, destinado a adquirir e conservar, de-
baixo de classificação sistemática, "todos os documentos concernentes ao
direito público, à legislação, à história e geografia do Brasil". O arquivo
era dividido em quatro secções: a legislativa, a administrativa, a judiciária
e a histórica. Foi seu primeiro diretor Francisco Vicente VIANA, autor de
uma preciosa Memória sobre o Estado da Bahia, Salvador, 1893. A lei n. 0
1 . 255. de 3 de julho de 1918, promulgada pelo dr. Antônio Moniz, criou,
anexo ao Arquivo Público, o Museu do Estado da Bahia, inaugurado em 1919.
Em 1930, por proposta do deputado estadual Pedro CALMON, criou-se uma
Inspetoria dos Monumentos (Lei n. 0 2.032, de 8 de agosto de 1927), também
anexada ao Arquivo Público. Só em 16 de maio de 1938 (Dec. 10.744) des-
tacaram-se o Arquivo, e a Inspetoria de Museus e Monumentos. V.: Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, Fontes para o estudo da educação no
Brasil, Bahia, 1. Fontes. oficiais, Rio de Janeiro, IBPE, 1939 (Levantamentos
b,bliográficos, vol. I, t. 1 ), 268. Em 1950 foi aprovado o Regimento do
Arquivo Público.
O Arquivo publica, desde 1917, sob a direção de Francisco Borges de
BARROS, uma importante série de documentos sob o título de Annaes do
Archivo Público da Bahia, depois de ter publicado muitos documentos pelo
Diário oficial para evitar-lhes o desaparecimento. Depois passou a chamar-se
Annaes do Archivo Público e do Museu do Estado da Bahia, Annaes do
Museu da Bahia, Annaes do Arquivo Público e lnspectoria dos Monumentos
(diretor Alfredo VIEIRA PIMENTEL), e, finalmente, Anais do Arquivo Público
da Bahia (diretor Luís Henrique Dias TAVARES). Ao todo são 36 volumes,
constituindo uma publicação importante, ainda que não sistemática (1917-
1961 ). Além dos Anais, e autorizado por lei especial, publicou o Arquivo
outra série de documentos, desta vez dentro de rigorosa técnica, sob o título
de Publicações do Arquivo do Estado da Bahia, 1937-1948. Sob o n. 0 3
desta série, e sob a direção do professor Luís Henrique Dias TAVARES, foi
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publicado um importante Guia do Arquivo do Estado da Bahia, s. d., com a
relação sumária das coleções.
Nos seus números iniciais especialmente, as publicações do Arquivo
baiano não obedecem a nenhum critério tornando a pesquisa uma verdadeira
charada. Os documentos se seguem sem ordem nem cronologia, nem temá-
tica. Alguns estão encartados em meio a séries muito posteriores, de modo
que o leitor não consegue encontrar o que lhe interessa, mormente sem
dispor de índices minuciosos. Um ligeiro roteiro encontra-se no trabalho
de Alfredo VIEIRA PIMENTEL, "Documentos valiosos dos arquivos baianos",
Anais do v.° Congresso de História da Bahia, Salvador, 1951, vol. v, p. 573.
Em 1948 foi criado no arquivo o curso de Arquivologia.
Os arquivos baianos sofreram considerável desfalque em virtude das
retiradas de documentos por A. J. de MELO MORAIS isênior), acusado de
não ter devolvido peças retiradas a pretexto de divulgação. É a queixa re-
gistrada por Afonso d'E. TAUNAY em "Documentação paulista de procedência
baiana", Anais do Museu paulista, 111 (1927), 2.ª, p. 237.
Também VALE CABRAL recolheu à Biblíoteca Nacional valiosos docu-
mentos, provocando protestos de historiadores baianos. Mas a ação do emi-
n~nte b:bliófilo resultou cm benemerência. Os documentos em questão en-
contram-se divulgados na série Documentos históricos, enquanto os que per-
maneceram no local foram, em grande parte, destruídos no incêndio do
arquivo, conseqüente do bombardeio da Bahia em 1910. (TAUNAY, Ib.)
Além do arquivo estadual, existe na cidade do Salvador outra exce-
lente fonte de estudos históricos que é o Arquivo Municipal. A ele se refere
o grande pesquisador Robert C. SMITII em seu estudo "Documentos baianos"
(Rev. do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n.0 9, 1945): "Os livros
da extinta Câmara da cidade do Salvador, preservados em grande parte,
formam a base da opulenta coleção do Arquivo histórico da Prefeitura, na
capital baiana, onde se encontram, bem classificados e facilmente acessíveis
aos pesquisadores. Contêm as mais amplas e variadas informações no
tocante a ofícios mecânicos, construções civis e normas de estrutura e de-
coração na Bahia, sobretudo com referência ao séc. xvm." Sob a direção de
Osvaldo VALENTE e Antônio Loureiro de SousA, foram feitas, durante a
prefeitura de Elísio LISBOA e José Wanderley de ARAÚJO PINHO, primorosas
publicações, sob o título geral de Documentos históricos do Arquivo M unici-
pal. A série Atas da Câmara, vol. t a VI (1625-1700) constitui valiosa con-
tribuição para a história colonial. Não menos importante é a série Cartas
do Senado, quatro tomos (1673-1698). Outras publicações avulsas não des-
merecem a importância da coleção, como os tomos da Evolução histórica
da cidade do Salvador e os Pequenos guias, de grande utilidade. Mencio-
ne-se ainda o R egistro das marcas dos ensaiadores de ouro e prata da cidade
do Safrador (1725-1845), Salvador [1952), publicado sob a prefeitura de Os-
waldo GORDILHO e direção do arC\uivo de Luís Meneses MONTEIRO DA COSTA.
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PERNAMBUCO. Em 1867 foi apresentado à Assembléia provincial um
projeto criando o arquivo local. Seu autor: o deputado Manuel de Carvalho
PAIS DE ANDRADE. M.ereceu rasgado apoio de Antônio Joaquim de MELO
em artigo no Jornal do Recife (21-vi-1867). Mas o projeto foi julgado
inoportuno. É o que informa PEREIRA DA COSTA em conferência publicada
na RIHGB, tomo 71 (2.ª), p. 507. Só muito mais tarde os diversos arquivos
existentes no Estado (Arquivo central, secções de arquivo das secretarias do
Interior e do Governo) foram reunidos por lei (Dec.-lei n.0 1.265, de
4 - xn - 1945) no Arquivo Público do Estado de Pernambuco. V. Jordão
EMERENCIANO, "Documentação do Arquivo Público Estadual de Pernambu-
co", Anais do segundo congresso de história da Bahia, 1952, Bahia, IGHB,
1955, p. 122. É um arquivo oficial. Seu acervo é quase integralmente de pa-
péis de natureza púb1ica, na maioria do século x,x, com pequena parte do
século xvm. Nada existe dos séculos anteriores. Edita uma Revista do Arquivo
Público, qu~ conta. já diversos números, onde se publicam, além de documen-
tos, estudos e comentários. Publica também. uma série Documentos do
arquivo, com a transcrição integral de códices e publicações avulsas, de
grande interesse, como os Anais pernambucanos de PEREIRA DA CosTA (1951-
1966), 10 vols. Registre-se que o arquivo recolheu, muito avisadamente, o
acervo de instituições para-estatais e privadas que apresentavam interesse
para a história econômica, como o da Associação Comercial, da Caixa Eco-
nômica e de diversos bancos. Publicou ainda: Arquivo do barão de Lucena,
Catálogo, 1956; e Flávio GUERRA, Alguns documelltos de arquivos portu-
gueses de illteresse para a história de Pernambuco, índice analítico do pro-
fessor Gilberto Osório· de ANDRADE, Recife, 1969. O Arquivo recebeu recen-
temente o arquivo do conselheiro João Alfredo CORREIA DE OLIVEIRA. A
comemoração de vinte anos de existência deu ensejo a uma série de publica-
ções: I. Lúcia Nery da FONSECA, Arquivo Público Estadual, Vinte anos de
atividades (1945-1965). II. Catálogo de edições, Recife, 1965; 111. Flávio
GUERRA, Memória· sobre o acervo e documentação do arquivo, 1965; 1v.
Jordão EMERENCIANO, Vinte anos de atividades, 1965; v. Edson Nery da
FONSECA, índice da Revista do Arquivo Públíco (números Ia xu, 1946-1956),
1966.
Também em Pernambuco merece menção o Arquivo Municipal. A sua
revista Arquivos, 1943, publicada a princípio pela Diretoria de Estatística,
Propaganda e Turismo, e agora pela Diretoria de Documentação e Cultura,
publica as atas da Câmara Municipal e documentação religiosa, além de
b:ia colaboração.
Pernambuco dispunha de excelente arquivo eclesiástico, bem montado
e cuidadosamente zelado, vindo o seu material da instituição do bispado,
em 1676, "ficando em uma grande sala do pavimento térreo do palácio epis-
copal de Olinda, ao seu abandono foi mudado todo o arquivo, que avultava
em livros e documentos, para o. convento de São Francisco da mesma cidade
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e acomodado no salão da sua biblioteca; porém tendo-de se instalar naquele
convento o Seminário episcopal, ordenou o bispo D. Manuel dos Santos
Pereira (1893-1900) a remoção do arquivo para o Palácio da Soledade,
onde ficou muito mal acomodado, em uma pequena sala do pavimento
térreo, fechada, e completamente abandonado, foi vítima do cupim que
tudo devorou, perdendo-se assim o inestimável material de um acervo .de
mais de dois séculos, e que constituía. os únicos subsídios para um. dia se
escrever a história eclesiástica pernambucana!" F. A. Pereira da COSTA,
Anais pernambucanos, .vol. IX, Recife, Arquivo Público Estadual, 1965, p. 263.
Dos demais arquivos antigos de Pernambuco, e o quase sistemático
abandono a que foram condenados, fala o mesmo autor em dolorido Rela-
tório, publicado na Revista do Instituto arqueo/6gico, histórico e geográfico
pernambucano, n.o 43. O Arquivo Municipal está reduzido a ínfimas pro-
porções do. que era. No arquivo da Delegacia Fiscal, que sucedeu. à Tesou-
raria da Fazenda e esta à Provedoria da Fazenda Real, fez-se em 1874, por
ordem superior, um auto da fé de avultado número de livros. IguaL sorte
teve o arquivo da Assembléia Legislativa. No próprio arquivo da Secreta-
ria do Governo foi aplicada uma ordem do secretário do Estado "mandando
queimar todos os livros que chegassem até o ano de 1829" (ib.).
PARÁ. A Biblioteca .e Arquivo Público do Pará data de 1894. Constitui
um acervo da. maior importância para o estudo da Amazônia. Seus Anais
do Arquivo Público do Pará, Belém, 1902-1906, 10 vols., são um repositório
dos mais respeitáveis de documentação. Arthur VIANNA publicou um Catá-
logo chronologico das secções de manuscriptos, Belém, 1901. Os códices
do Arquivo Público do Pará são abundantemente utilizados pelo conhecedor
de seus arcanos que é o prof. Arthur Cezar FERREIRA REIS. V. ainda, pelo
diretor da Biblioteca e Arquivo Público do Pará, prof. Ernesto CRUZ, a
memória "Manuscritos do séc. XVIII", nos Anais do congresso comemorativo
do .centenário da transferência da sede do governo do Brasil, 1963, vol IV,
Rio de Janeiro, IHGB, 1967. (índice da correspondência dos governadores
com a metrópole, alvarás, cartas-régias e decisões.)
AMAZONAS. Sendo' o Amazonas um Estado relativamente recente, não
possui documentos de alta antiguidade. O seu arquivo, que era apenas uma•
secção da biblioteca estadual, foi completamente restaurado e modernizado
sob o governo do prof. Arthur Cezar FERREIRA Rms. Segundo expõe o
mesmo governador em sua Mensagem à Assembléia legislativa de 15 de_
março de 1965, Manaus, 1965, p. 34, "estava no mais criminoso abandono.
Conquanto todas os papéis ali existentes representassem a vida documental
do Estado, eram atirados ao chão, como papéis velhos, imprestáveis. Sofriam.
a danificação . do tempo e do abandono, tanto por falta de estantes, por
ausência de arrumação, como pelas goteiras que existiam no telhado do velho
prédio". O arquivo mantém uma revista :· Arquivo do Amazonas, iniciada
em Manaus em 1906 e da. qual já apareceram 8 volumes.
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23. Esta importante série de arquivos deve ser acrescida
de numerosos arquivos religiosos, que são de maior importância
especialmente para a época em que não havia Registro Civil.
Assim o Arquivo da Câmara Eclesiástica do arcebispado. do Rio
de Janeiro, ora em reorganização, contém preciosidades para a
História religiosa( 77 ). No gênero, porém, o mais bem organizado
do país é o Arquivo Geral da cúria metropolitana de São Paulo,
50
de iniciativa do arcebispo historiador D. Duarte Leopoldo e
Silva(78 ). Muitos outros arquivos eclesiásticos merecem menção,
como o de Mariana. Mas são, em geral, de organização técnica
mui.to deficiente.
24 . Se acrescentarmos, afinal, os arquivos de instituições,
públicas ou privadas: alguns arquivos de família, veremos como é
difícil a um historiador no Brasil ter à' sua disposição as fontes
arquivais necessárias a uma pesquisa. Um exemplo edificante disso
temos no esforço do embaixador José Carlos de M1cedo Soares
que, só para indicar os arquivos e instituições a que teria de re-
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1914. As falhas nas coleções são lamen-
táveis. Sofreram uma criminosa destruição pelo fogo, em 1922, por ordem do
cônego Carios Duarte Costa, futuro bispo de Maura, e depois cismático. Cleo-
fe Person de MATIOS, Catálogo temático das obras do P.' José Maurício Nu-
nes Garcia, Rio de Janeiro, Conselho Fed. de Cultura, 1970, p. 59.
78. Padre Paulo Aurisol Cavalheiro FREIRE, Relação dos livros de
batizados, casamentos e óbitos existentes no arquivo geral da cúria metropo:-
litana de São Paulo, São Paulo, 1939. Foi também publicado na Revista
do Instituto de estudós genealógicos, São Paulo, II (1938), n.°" 3 e 4. A
Revista genealógica brasileira, de São Paulo, tem publicado várias relações
de acervos de dioceses e algumas paróquias. V. Catálogo, vol. viu, n.°" 15 e
16. Mas não há qualquer organização de conjunto. Contudo as Constitui;
ções do arcebispado da Bahia, de 1707, e que vigoraram em quase todo o
Brasil, determinavam muito claramente, quanto aos livros de batismo, que
"acabado de• encher, o mandará o pároco entregar ao nosso vigário-geral,
o qual será obrigado a mar:-dá-lo meter logo no cartório da nossa câmara
arquiepiscopal, e cobrará dele recibo. . . E o pároco que assim o não
cumprir será castigado." (Constituições primeiras do arcebispado da Bahia,
São Paulo, 1853, ar!. 75, p. 30-31.) Como se vê, tão sábias dis-
posições permaneceram letra morta. Não · menos esquecidas foram as
disposições constantes das Constituições das províncias eclesiásticas meridio-
nais do Brasil, constantes da Pastoral coletiva dos senhores arcebispos e
bispos das provínciàs eclesiásticas de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Mariana, São Paulo, Cuiabá e Porto Alegre, Rio de Janeiro, 1915. (Depois
generalizadas ao Brasil todo.) Os cânones 1.197 a 1.200 davam regras·
minuciosas sobre a manutenção e organização dos arquivos paroquiais e
diocesanos. Disposições semelhantes encontram-se no Código de Direito
Canônico. Tudo em vão. A dispersão é a regra. O arquivo da cúria da
Bahia, segundo Bulcão Sobrinho, tem mais de uma centena de 1/0lumes
inutilizados. O arquivo da cúria de Mariana tem sido objeto de estudos
por parte do cônego Raimundo TRINDADE.
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correr para elaborar Üma história religiosa do Brasil, publicou um
dos mais volumosos trabalhos de heurística no país(79 ).
Alguns arquivos particulares são notáveis. Muitos se disper-
sam após a morte dos herdeiros próximos dos estadistas a que
pertenceram. Muitos, por outro lado, são abrigados por institui-
ções como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que possui
algumas dezenas de arquivos de personalidades do Império e .da
República, nem siempre classificados, outros nem sequer arrolados,
por falta de técnicos. Um dos mais importantes do Rio de Janeiro
é o do Sr. Marcos Carneiro de Mendonça, no Cosme Velho, com-
posto fundamentalmente da coleção do marquês de Lavradio, vi-
ce-rei do Brasil, e um dos grandes elementos executivos da política
pombalina. Uma relação sumária desses documentos foi publica-
da pelo seu antigo possuidor sob o título "Documentos do arqui-
vo do terceiro marquês de Lavradio, terceiro vice-rei do Brasil"( 8º).
A Ordem dos Frades Menores tem tido sua história estudada recen-
temente graças às pesquisas numa parte considerável de seu arquivo. Ainda
recentemente a RIHGB, n.0 287 (2. 0 trimestre de 1970), publicou, por inicia-
tiva de Frei Venâncio WILLEKE, as atas cgmpletas das reuniões capitulares
da província de Santo Antônio (Norte do Brasil), com elementos essenciais
para reconstituição da vida religiosa colonial e imperial.
Os papéis da Companhia de Jesus são centralizados nos arquivos centrais
da cúria generalícia em Roma, onde também funciona o Instituto Histórico
Jesuítico. A publicação dos Monumenta historica Societatis Jesu a patris
ejusdem societatis edita, que atingem mais de uma centena de volumes, têm
uma série exclusivamente brasileira: Monumenta Brasiliae.
Entre as instituições e associações religiosas poucas têm conservado o
arquivo em boa organização. Uma das que mereceram bom estudo foi a
Ordem 3.ª de São Francisco de Assis de Ouro Preto. V. Cônego Raimundo
TRINDADE, São Francisco de Assis de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1951
(Publicações do PHAN, n.0 17 ), p. 237: "Encontra-se otimamente conser-
vado o arquivo da ordem" e, ainda mais raro, catalogado, em condições de
servir aos estudiosos. Em bom estado também está o arquivo da ordem
correspondente em São Paulo. V. Frei Adalberto ORTMANN, Hist6ria da
antiga capela da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, em São
Paulo, Rio de Janeiro, 1951. (Publicações do PHAN, n.0 16.)
O arquivo da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, apesar de
recentemente desfalcado, ainda possui algumas coleções de interesse para
a história social, mas a conservação não é das melhores. O autor da mais
recente monografia elaborada nesse arquivo queixa-se do "péssimo estado
de parte dos livros existentes, muitos praticamente ilegíveis", apenas permi-
52
Bibliotecas
25. Se os arquivos contêm as peças oficiais que os primei-
ros historiadores tiveram de ordenar e interpretar, uma grande par-
te dos documentos já se acha impressa, ou estudada pelos pre-
decessores. Chegamos, assim, a outra grande fonte de estudos
que são as bibliotecas. Cada estabelecimento de ensino tem a
sua biblioteca, às vezes considerável, que os alunos precisam ha-
bituar-se a freqüentar. É bom, porém, dar uma noção histórica a
1espeito das grandes bibliotecas do mundo, especialmente a nossa
Biblioteca Nacional, que deve ser visitada. Do estudo das biblio-
tecas passa-s.e a compreender a importância dos catálogos e da
bibliografia.
26. Convém travar conhecimento e habituar-se a utilizar
os catálogos e dicionários bibliográficos, começando pelos mais
famosos: - Inocêncio Francisco da Silva, Diccionario bibliogra-
phico português ( continuado por Brito Aranha e com vários adi-
tamentos), 22 vols., Lisboa, 1858-1923; Augusto Victorino Alves
Sacramento Blake, Dicionário bibliographico brasileiro, 1 vols., Rio
de Janeiro, 1883-1902 (que acaba de ser reproduzido em off-set
por ordem do Conselho Federal de Cultura); A. L. Garraux, Bi-
bliographie brésilienne, Paris, 1898 (há uma reedição feita na
coleção Documentos brasileiros, da Liv. José Olympio, Rio de
Janeiro, 1962); José Carlos Rodrigues, Bibliotheca brasiliense,
t. I, Rio de Janeiro, 1907; Alfredo de Carvalho, Biblioteca exó-
tico-brasileira, 1929-1930, 3 vols.; Rubens Borba de Moraes, Bi-
bliografia brasileira, Amsterdã, 1958-1959, 2 vols., e Guia da biblio-
grafia histórica portuguesa, Ed. da Academia Portuguesa da His-
tória, vol. I fase. I, Lisboa, 1959. Para utilizar os repertórios bi-
bliográficos é necessário ter uma vista geral sobre eles: Antônio
Simões dos Reis, Bibliografia das bibliografias brasileiras, Rio de
Janeiro, INL, 1942. A obra correspondente em Portugal é a de
Manuel Anselmo, Bibliografia das bibliografias portuguesas, Lis-
boa, Biblioteca Nacional, 1923 (Biblioteca do bibliotecário e do
arquivista, m) ( 81 ).
53
bibliográficas continua a ser o Catálogo da exposição de História do Brasil,
realizada em 1881, publicado nos Anais da Biblioteca Nacional. v. IX, duas
partes (1881-1882) com um suplemento em 1883. (Há uma impressão com
prcntispício próprio.) A este acontecimento refere-se CAPISTRANO DE ABREU,
um dos mais importantes colaboradores na elaboração do catálogo. (Prefá-
cio da História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, incluído nos Ensaios
e estudos, 2. 3 série, Rio de Janeiro, Sociedade Capistrano de Abreu, 1932,
p. 175.) A exposição foi mero pretexto para a obra verdadeira, o catálogo,
obra que se deve ao esforço de Ramiz Galvão, barão de Ramiz, então
diretor da Biblioteca. Toda e qualquer pesquisa bibliográfica, até hoje, tem
como ponto de partida este notável repositório. A ele se refere, com o
maior respeito, Fidelino de FIGUEIREDO, em Aristarchos, 2.ª ed., Rio de
Janeiro, Antunes, 1941, p. 97-98.
Segue~se, em importância, o trabalho do bibliotecário João de Saldanha
da GAMA, "Catálogo da exposição permanente de cimélíos da Biblioteca
Nacional", 1885, que constitui o tomo XI dos mesmos ABN, Rio de Janeiro,
1885. É um histórico das coleções, com a descrição das peças mais raras
e interessantes, em pequeno número, mas cuidadosamente descritas.
É preciso mencionar também os primeiros catálogos de bibliotecas, à
frente dos quais está o Catálogo dos livros que se acham na biblioteca
pública da cidade da Bahia, s.l., s.d., mas que o Catálogo da Exposição d~
história do Brasil, acima citado, esclarece ser de 1818 (data que ocorre no
ms. da Bibl. Nac.), e impresso por Silva Serva. (V. Renato Herbert de
CASTRO, A primeira imprensa da Bahia e suas publicações. Tipografia de
Manuel Antônio da Silva Serva, 1811-1819, Bahia, 1969, p. 156.) Vêm
depois os catálogos do Gabinete português de leitura, o primeiro em 1840,
(Simões dos REIS, op. cit., n. 0 10), seguido de, vários outros, dos quais o
mais famoso é o de 1906, organizado segundo sistema decimal de Melvil
Dewey, pelo Dr. Benjamin Franklin Ramiz Galvão. Foi uma das primeiras
aplicações, em nossa biblioteconomia, do sistema decimal. Foi nisso prece-
dido, em 1904, pelo Catálogo da Biblioteca da Marinha, organizado pelo
cap.-ten. José Augusto dos SAN'I'OS PORTO e outros (Simões dos REIS, op. cit.,
n.º1 205-206).
As publicações oficiais do Brasil foram catalogadas pela Hispanic
Foundation, da Bibliote·c a do Congresso, de Washington, D. C., na série
A Guide to the Official Publications of the other american republics. Ili.
Brazi/, compiled by John de NOIA, Washington, 1948.
O livro mais utilizado para início de pesquisas é o prático e inteligente
trabalho organizado por Rubens Borba de MORAIS e William BERRIEN, Ma-
nual bibliográfico de estudos brasileiros, Rio de Jan•eiro, Ed. Souza, 1949.
A bibliografia de história é de autoria de Rubens Borba de MORAIS e Alice
P. CANNABRAvA. Mas cada capítulo tem uma introdução por um especia-
lista: colônia, Sérgio BUARQUE DE HOLANDA; primeiro reinado e regência
54
por Otávio Tarquínio de SoUSA, segundo reinado por Caio PRADO JÚNIOR,
e república por Gilberto FREYRE. O capítulo Bandeiras é de autoria de
Alice P. CANNABRAVA, o relativo aos Holandeses no Brasil, de José Honório
RODRIGUES e o dedicado às viagens, de Rubens Borba de MORAIS. Em adi-
tamento há um capítulo com o título "Assuntos especiais": Escravidão
africana, indígena, igreja, história econômica, história constitucional, orga-
nizado por Caio PRADO JÚNIOR. Pode ainda servir de base para qualquer
pesquisa.
:É justo mencionar ainda algumas bibliografias elaboradas por america-
nos que ultimamente se têm revelado altamente interessados em temas bra-
sileiros. Assim Alan K. MANCHESTER, Descriptive bibfíography of the
Brazilian Section of the Duk University library (Separata da HAHR. 1933);
E. Bradford BuRNs, Perspectives 011 Brazilian History. Ed. ·with an i11troduc-
tion and bibliographical essay, Nova York e Londres, Columbia University
Press, 1967. Trata-se de uma bibliografia selecionada, precedida de alguns
estudos preliminares de grande utilidade: o ensaio de MARTIUS, "Como se
deve escrever a história do Brasil"; o "Esboço de uma historiografia brasi-
leira nos secs. XIX e xx", por Pedro Moacyr de CAMPOS, publicado em apên-
dice à obra citada de GLÉNissoN; o "Roteiro para a historiografia do 2. 0
reinado", de Caio PRADO JÚNIOR, extraído da sua obra Evolução política do
Brasil; dois capítulos sobre os problemas de história, historiografia e perio-
dização, extraídos da Teoria da história de José Honório RODRIGUES, um
capítulo do livro Oiliam José sobre "Historiografia mineira"; um estudo de
CAPISTRANO DE ABREU sobre Varnhagen e outro de José Honório RODRIGUES
sobre Capistrano de Abreu. Finalmente um capítulo sobre o pensamento
histórico no Brasil, de autoria de Sérgio BUARQUE DE HOLANDA, publicado
no Correio da Manhã de 1951. Em suma, verdadeiro manual de introdução
à história do Brasil.
Utilíssimo também é o manual de Bailey W. DIFFIE, com a colabo-
ração de Justine Whitefield DIFFIE, Latin-Amerícan civi{ization, 2.ª ed.,
colonial period, Nova York, Octagon books, 1967. A introdução biblio-
gráfica atualizada (a 1.ª ed. é de 1945) representa um grande esforço.
Sobre os estudos uruguaios, v. Luís Alberto Musso, Bibliografia uru-
guaia sobre Brasil, Montevidéu, Inst. de Cultura Uruguaio-brasileiro, 1967.
:É também de grande utilidade para início de pesquisas o trabalho
de Nelson Werneck SODRÉ, O que se deve ~ler para conhecer o' Brasil, cuja
primeira edição é do Rio de Janeiro, Leitura, 1945, A 2.ª é de 1960 (INEP)·.
As ex.posições de· livros no estrangeiro _cO§tµmam · dar ,lugar tarobém a
úteis catálogos. Mencionem-se os mais · recentes: Exposição do · livro bra-
sileiro contemporâneo, Lisboa, 1957; Exposición dei libro prasile1io co11-
temporá11eo, Madrid, 1959; Exposition du livre brésili1m, Paris, Institut des
Hautes Etudes de l'Amérique Latine, 1960; Em todos eles a parte relativa
A.his~ória é - c.Qn~ids:i:~vç.J;_- , A- tsse.· ·ti~.: ~e jiyrÓ ,_pert7nf~:- .9 fatd)pgp. d(!
,55
livros portugueses e brasileiros e publicações estrangeiras sobre Portugal e
o Brasil, Bibliotheck der Rijksuniversiteit te Utrecht, 2 vols., Utrecht,
1959-1962.
Algumas bibliografias especializadas merecem ser mencionadas. Assim:
Rubens Borba de MORAIS, Bibliografia brasileira do período colonial, São
Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, 1969;
Luís Heitor Correa de AzEVEDO, Bibliografia musical brasileira (1820-1950),
Rio de Janeiro, INL, 1952; Brito BROCA e Galante de SOUSA, Introdução ao
estudo da literatura brasileira, Rio de Janeiro, INL, 1963; J. Galante de
SousA, O teatro no Brasil (vol. n: Subsídios para uma bibliografia do teatro
no Brasil), Rio de Janeiro, INL, 1960; José VALADARES, Hist6ria da arte
brasileira (bibliografia), Bahia, 1960; Oito Maria CARPEAUX, Pequena bi-
bliografia crítica da literatura brasileira, l.ª ed., Rio de Janeiro, Serviço
do Documentação do MEC, 1952 (2.ª ed., 1955); Antônio Simões dos REIS,
Bibliografia da Hist6ria da literatura brasileira de Sílvio Romero, vol. I,
Rio de Janeiro, 1944.
A bibliografia contemporânea aparece em várias publicações oficiais
ou privadas. Assim a Biblioteca Nacional edita um Boletim bibliográfico
semestral, assinalando todas as obras nacionais depositadas por lei; o INL
publica uma Bibliografia brasileira mensal, registrando igualmente todos
os livros aparecidos e que ali são depositados obrigatoriamente. Este bole-
tim aparecia até 1968 incluído na Revista do livro, publicada pelo Insti-
tuto. A biblioteca do Itamarati publica uma Bibliografia anual, registrando
não somente as publicações nacionais, como as estrangeiras adquiridas. A
Universidade Católica de Campinas, pelo seu departamento de história,
publica um boletim com o nome de Notícia bibliográfica e histórica (1969-),
sob a direção do professor Odilon Nogueira de MATOS, que não somente
recenseia livros novos, como dedica uma secção às coleções sobre o Brasil.
No estrangeiro a publicação periódica mais importante é o Handbook
of Latin-American Studies, iniciado por Lewis HANKE e dirigido depois por
Francisco AouILERA. Baseia-se no material recebido pela Biblioteca do
Congresso de Washington, D.C. Compreende uma bibliografia seletiva de
antropologia, arte, economia, educação, geografia, governo, história, relações
internacionais e direito. Foi, a princípio, impressa pela Universidade de
Harvard, passando depois, desde o número 14, para a Universidade de
Flórida.
Outra publicação de importância é a Revista de historia de América,
órgão do Instituto Pan-americano de Geografia e História. A revista é edi-
tada no México. Em todos os números (semestrais) há uma bibliografia
de história na América com ligeiras recensões.
Para a bibliografia universal, a publicação mais importante é a Inter-
national bibliograplry of historical sciences, publicada pelo International
56
27. Os maiores centros d~ pesquisas históricas são natural-
mente as bibliotecas. Os documentos, uma vez impressos, reves-
tem a feição de livros e ali se armazenam. As memórias, diários
e correspondências, em grande parte das vezes, não se encontram
senão em forma impressa. Todo trabalho de pesquisa se inicia,
portanto, por um exame do que foi feito anteriormente.
A produção bibliográfica vai crescendo em proporções espan-
tosas. Não é possível sonhar em reunir todas as obras existentes,
mesmo em setores limitados. Os métodos modernos de reprografia
e a existência de catálogos nacionais, e ainda convênios permitin-
do a obtenção de publicações dentro de todo o país, mesmo "ora
das fronteiras, alargam as possibilidades de consulta dos estudiosos.
28. A história das grandes bibliotecas da antiguidade e do
mundo moderno tem sido objeto de muitos trabalhos( 82 ). Aqui
devemos focalizar especialmente o que se refere aos livros úteis
à história do Brasil.
No III Colóquio Internacional de Estudos Luso-brasileiros,
em Lisboa (1957), o diretor da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, professor Celso Cunha, e o professor Antônio Houaiss
apresentaram um plano de "Catálogo Geral Luso-brasileiro", que
constituiria um ponto de partida para uma publicação realmente
modelar. Só uma instituição internacional ou uma fundação po-
derosa poderia empreender tão relevante publicação( 83 ). :Ê o pla-
57
no mais ambicioso e sistemático já elaborado, infelizmente longe
de ser posto em execução.
Um levantamento geral das bibliotecas brasileiras já foi feito
pelo Instituto Nacional do Livro, que o vem mantendo em dia
através de reedições periódicas ( 84 ).
29. O nosso maior acervo bibliográfico é o da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, a que já nos referimos ao tratar de
sua secção de manuscritos. Fundada em 1810, pelo então Prín-
cipe Regente Dom João, é constituída inicialmente pela própria
coleção da Casa Real, compreendendo, em grande parte, a biblio-
teca do cônego Diogo Barbosa Machado, doada ao rei para subs-
tituir a antiga livraria régia, desapareçida com o terremoto d,e 17 55.
Possuía, em 1969, 1.311.758 volumes de obras e 1.821 títulos de
periódicos, em 773. 646 volumes, além de imensa riqueza em do-
cumentos, estampas e músicas( 85 ). Ao núcleo inicial juntou-se a
livraria do Colégio de Todos os Santos, da ilha de São Miguel e
a coleção da Casa do Infantado, pertencente aos infantes reais.
Pelo tratado de reconhecimento· da independência, em 1825, a
biblioteca ficou incorporada ao Brasil em vista do pagamento de
uma indenização para fazer frente a todas ~s reclamações do go-
verno português. ,
Entre as coleções que foram enriquecendo o seu patrimônio
estão a do conde da Barca, adquirida pelo Governo no inventário
do ·estadista; a biblioteca do imperador D. Pedro II (parte da qual
coube ao Instituto Histórico e parte ao Museu Nacional); o arqui-
vo da Casa dos Contos, de Ouro Preto; a coleção Pedro De An-
geliz, de que se tratará adiante; a coleção Rio Branco ( documen-
84. Guia das bibliotecas brasileiras, Rio de Janeiro, INL, 1.ª ed., 1944,
4.ª ed., 1969. Nesse ano dispunha o Brasil de 9.743 bíbliotecas. Cerca de
50 dispunham de secção especial de história.
85. Biblioteca Nacional. Sesquicentenário (181Ó-l960), Guia da
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, MEC, 1960.
Além do histórico do estabelecimento, contém uma lista completa dos
diretores e um sumário das principais coleções nos vários departame~os.
Mas não há referência às doações, às veze1 importantíssimas. V. ainda
Antônio Caetano DIAS, "B:bliotecas do Rio de Janeiro", Anuário brasileiro
de literatura, VII-VIII (1943-44), p. 185. Uma relação de cátálogos
de antigas bibliotecas brasileiras encontra-se no capítulo sobre bibliografia
do Catálogo sistemático da óiblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro ... 1900-1915, organizado pelo dr. Álvaro Paulino SoARES DE SouZA:,
Rio de Janeiro, 1916, p. 138, bem como no prefácio do volume seguinte
(1916-1930), Rio de Janeiro, i930, · organizado pelo mesmo bibliotecário.
58
tos paraguaios) de que também se tratará; a coleção do natura--
lista Freire Alemão, ia de José Bonifácio; a do naturalista Frei
José Mariano da Conceição Veloso; a do visconde de Ourém; a
de Francisco Ramos Paz, doada pela família Guinle; a coleção
José Carlos Rodrigues ( doada por Júlio Ottoni, e por isso cha-
mada Coleção Cristiano Ottoni); a coleção Salvador de Mendon-
ça, por ele mesmo doada; a coleção Alves de Carvalho; a coleção
doaqa por Azevedo Castro; a coleção legada por Tobias Monteiro
e a coleção do Morgado de Mateus, adquirida recentemente.
30. Em todos os Estados do Brasil há bibliotecas oficiais,
bem como nas universidades e, em Brasília, as bibliotecas das duas
casas do Congresso (ainda não fundidas). Merecem menção espe-
cial: a Biblioteca Estadual da Bahia, atualmente a mais bem ins-
talada do Brasil( 86 ), a Biblioteca Municipal de São Paulo, pioneira
da renovação da bibliologia brasileira e que incorporou a Biblio-
teca Estadual( 87 ). As de Pernambuco mereceram um estudo es-
pecial de um especialista, que não somente historiou as grandes
coleções, mas ainda os precursores da biblioteconomia na antiga
pruvíncia( 88 ).
31 . As condições dentro das quais se formou o Brasil não
foram favoráveis à criação de bibliotecas. Mas .nos colégios je-
suíticos, nos conventos, nos paços episcopais, havia coleções res-
peitáveis às quais podiam recorrer os estudiosos. As mais ricas
eram, sem dúvida, as da Companhia de Jesus, que aparecem mal
discriminadas no confisco pombalino. Nas visitações do Santo Ofí-
cio ressalta a existência de vários livros, alguns em circulação
clandestina. Os inventários e seqüestros da era colonial e início
do império são de uma irritante deficiência nessas informações,
dada a ignorância com que arrolavam as peças os incultos escre-
ventes. Mesmo assim conseguiu Clado Ribeiro de Lessa recolher
dados curiosos( 59 ) . Uma dessas bibliotecas, a do cônego Luís
Vieira da Silva, mereceu curioso ensaio de Eduardo Frieiro( 9º).
60
O Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais ( CBPE) e a
organizaçã'o nacional, o International Council of Museums
( oNICOM), promoveram a organização de um repertório dos
museus brasileiros. Foi ele elaborado pelo museólogo professor
Guy de Hollanda, Recursos educativos dos museus brasileiros, Rio
de Janeiro, CBPE e ONICOM, 1958. Apesar de antigo representa
ainda a maior contribuição para um conhecimento geral dos mu-
seus no país. Contém igualmente a indicação de várias publica-
ções de cada entidade.
já atingiram 21 volumes, merecem menção as seguintes publicações: Gustavo
BARROSO, Introdução õ técnica de museus. 1. Parte geral e parte básica,
Rio de Janeiro, 1946; II. Parte especializada, Rio de Janeiro, 1947; Gustavo
BARROSO, E;cposição do Museu Histórico Nacional, Pavilhão do Mundo
Português e Pavilhão do Brasil independente, Rio de Janeiro, Comissão
brasileira dos centenários de Portugal, 1940. No governo do presidente
Juscelino Kubitschek foi a ele incorporado o Museu da República, instalado
no Palácio do Catete, sendo diretor o acadêmico Josué MONTELLO.
MUSEU DO lNDIO. Foi instalado em 1953 e é considerado dos mais
atrativos para conhecimento dos selvagens brasileiros. Compõelse de um
acervo inicial, vindo do antigo Serviço de Proteção aos lndios, hoje Fun-
dação Nacional do lndio. A ele se agregou parte da coleção Simoem da
S:lva, outrora um museu particular. Promove anualmente excursões etno-
gráficas.
o MUSEU DO BANCO DO BRASIL é dos mais bem instalados do Rio de
Janeiro. Sua coleção de moedas e cédulas está enriquecida com a coleção
Júlio Meili, cujos catálogos foram publicados em Zürich, e aos quais nos
referiremos ao tratar de numismática. Sobre o museu v. o trabalho de seu
diretor Fernando MONTEIRO, O Museu do Banco do Brasil, Rio de Janeiro,
1956. Promoveu ainda o museu outras publicações: Cédulas brasileiras da
República. Emissões do Tesouro Nacional, Rio de Janeiro, Banco do Brasil
S. A., 1965; Fernando MONTEIRO, A velha rua Direita, Rio de Janeiro,
Banco do Brasil S. A., 1965.
O MusEu HISTÓRICO DA CIDADE. está mal instalado no antigo solar do
marquês de São Vicente, depois pertencente ao conde de Santa Marinha e,
finalmente, ao dr. Guilherme Guinle que o doou à cidade. Suas coleções
reúnem o acervo do antigo Museu de Arte Retrospectiva, que funcionou
no Liceu de Artes e Ofícios, e várias coleções particulares, .adquiridls ou
recebidas por doação. Tem promovido algumas publicações como o álbum
Vistas do Rio de Janeiro, coleção Pustkow, Rio de Janeiro, 1953 [2.ª ed.,
1955].
O MusE.U NACIONAL, instalado no antigo palácio de São Cristóvão,
na Quinta da Boa Vista, residência do Imperador, é destinado às ciências
61
naturais e faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publica
Arquivos desde 1876. Além dessa publicação, edita Boletins, destinados às
pesquisas em curso. De 1932 a 1934 publicou a Revista nacional de edu-
cação e, de 1944 a 1945, a Revista do Museu Nacional, ambas para divul-
gação científica. Funcionou outrora em prédio pertencente ao barão de
Ubá, onde está hoje instalado o Arquivo Nacional. V.: O Museu Nacional,
seus fins, sua história, seu trabalho, Rio de Janeiro, 1928; O Museu Na-
cional na exposição comemorativa dos centenários de Portugal, Rio de
Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1940; Dulce F. Fernandes da
CUNHA, História da biblioteca do Museu Nacional, 1966. (Contém impor-
tantes elementos para a história do próprio museu. )·
O MusEu PAULISTA, hoje no Palácio lpiranga, começou como uma ini-
ciativa particular, localizado no centro da cidade. Era propriedade do
cnronel Joaquim Sertório. Em 1890 o conselheiro Mayrink adquiriu o
acervo do museu e doou-o ao Estado,. criando-se, assim, o Museu Paulista.
Em 1894, sob a direção do sábio naturalista alemão Hermann von Jhering,
foi transferido para o palácio erguido no lpiranga para comemorar-se o
grito de Independência. A finalidade precípua da instituição era a guarda
e conservação das peças relativas à história natural, com uma secção des-
tinada a "colecionar e arquivar documentos relativos à nossa independência''.
Sob a direção do sábio historiador Afonso d'Escragnolle Taunay ( 1917-
1945), começou a predominar o setor histórico. Em 1946, nomeado di-
retor o professor Sérgio Buarque de Holanda, e sendo interventor em
São Paulo o embaixador José Carlos de Macedo Soares, ficou constituído
de quatro secções: 1) História, tendo como anexo o Museu republicano
de ltu; 2) Etnologia; 3) Numismática e 4) Documentação lingüística,
além da biblioteca. Destacou-se dele a parte referente à história natural.
Em 1946 foi adquirido o acervo ·d o antigo Museu Dom José, de Cuiabá,
rico em peças de arte religiosa colonial. Em 1950 incorporou igualmente
o museu a coleção histórica da Força Pública do Estado, rico em coleções
de armas antigas. :e continuamente enriquecida a secção etnográfica. O
Museu edita duas publicações: os Anais, especialmente dedicados à história,
já contando 22 números, e a Revista, especializada cm etnologia. Além
disso publica Boletins com trabalhos das secções especializadas. Sérgio
BUARQUE DE HOLANDA, ''Museu paulista", RIHGB, vol. 217, 1952, p. 131;
Afonso d'Escragnolle TAUNAY, "Comemoração do cinqüentenário da solene
.i nstalação do Museu paulista no palácio do lpiranga", Anais do Museu
·.paulista, ·t XII, ·São· Paulo, :1945; Sérgio· BUARQUE DE ·HOLANDA,. preâmbulo
do t. xm dos mesmos Anais, 1949; Francisco NARDY F.0 , ''Museu Republi-
cano Convenção de ltu", em A cidade de Ytú, vol. I, São Paulo, 1928, p. 177.
O MusEu oo ESTADO DA BAHIA, do qual se tratou a propósito do Ar-
quivo d.o Estado, ficou anexo a esta repartição até 1930. De 193J. a.1937,
com a criação .da Pinacoteca ~o º Estado~ passo_u a dependência de.&t~, np
Campo :Grande (Solar Pacífico Pereira). Em 1938 passou à Inspetoria de
Museus e Monumentos do Estado. Foi dirigido de 1939 a 1959 pelo mu-
seólogo José A. do Prado Valadares. Em 1943 passou a funcionar na
Avenida Joana Angélica, no palacete outrora pertencente ao antigo gover-
nador _Góis Calmon, cujas coleções foram adquiridas. Está hoje sob a
direção do professor Carlos Eduardo da Rocha. Esteve instalado, en-
quanto se restaurava o palacete, em dependências do convento do Carmo.
B rico em coleções de arte baiana, azulejos, porcelanas, móveis e prataria.
Tem feito importantes publicações de história, arte, etnologia e filologia,
como, entre outras, Pedro CALMON, História da fundação da Bahia, 1949;
José VALADARES, A galeria Abbot, Bahia, 1951; SILVA CAMPOS, Procissões
tradicionais da Bahia, 1941; do mesmo autor: Tempo antigo, 1942; M . J.
HERsKovns, Pesquisas etnológicas na Bahia, 1943; Acácio C. FRANÇA, A
pintura "ª Bahia, 1944; Carlos Orr, Vestígios da cultura indígena no ser-
tão da Bahia, 1945; José VALADARES, Museus para o povo, 1946; Frederico
EDELWEISS, Tupis e guara11is, 1947; Edison CARNEIRO, Candomblés da Bahia,
1948; Antônio VIANA, Casos e coisas da Bahia, 1950.
O MusEu DE ARTE ANTIGA, instalado no Instituto Feminino da Bahia,
é uma iniciativa particular devida à benemerência de D. Henriqueta Cata·
rino. Contém preciosidades da antiga Sé e doações da Família Imperial.
O MusEu DE ARTE SACRA pertence à Universidade Federal da Bahia.
Está localizado no antigo convento dos Carmelitas calçados. B a mais
completa e mais bem apresentada coleção de objetos sacros do país, ex-
Posta mediante convênio com a Mitra arquidiocesana e os sodalícios reli-
giosos. Seu diretor, o beneditino Dom Clemente Maria da SILVA NtGRA é
um dos mais competentes especialistas no assunto.
O MUSEU Cosn PINTO é uma fundação particular e compreende uma
opulenta coleção de objetos de arte reunida por um colecionador bene-
mérito. Foi inaugurado em 5 de novembro de 1969 e funciona na antiga
residência do doador.
O MUSEU oo RECÔNCAVO WANDERLEY PINHO, inaugurado em 10 de
março de 1971, está instalado no antigo engenho da Freguesia, estudado
monograficamente, em' trabalho modelar, por um de seus proprietários, o
falecido historiador Wanderley Pinho. V. História de um engenho do
Recôncavo, 1552-1944, Rio de Janeiro, Zélio Valverde, 1946. Visa a fixar
:im engenho típico, com todas as suas instalações e parafernália. V. : Museu
do Recôncavo Wanderley Pinho, Bahia, 1971 (Com introd. histórica por
Carlos Eduardo da Rocha, diretor da divisão de Museus e Patrimônio
cultural).
O MUSEU DA INCONFIDÊNCIA, em Minas Gerais, instalado na antiga
penitenciária de Ouro Preto, em 1942, e subordinado à diretoria do IPHAN,
é um dos mais típicos do Brasil. O seu Guia do visitante, Ouro Preto,
1964, é primoroso. Edita um Anuário, de que já apareceram 4 tomos
63
(1952-1957), no qual se publicaram alguns documentos básicos, como o
processo dos sacerdotes inconfidentes, pela primeira vez divulgado, docu-
mentos relativos à repressão do movimento e peças administrativas sobre
a exploração do ouro.
O MusEu DO OuRo em Sabará, também subordinado ao IPHAN, desti-
na-se a recolher os objetos históricos relativos ao ciclo da mineração e
reconstituir o ambiente da região. Está instalado na antiga Intendência do
ouro na cidade. Foi criado em 1945. Sobre o museu leia-se o capítulo
"O museu qu:: conta o ciclo do ouro", do livro de Lúcia Machado de
ALMEIDA, Passeio a Sabará, São Paulo, Martins, 1952.
O MusEu DAS BANDEIRAS, localizado na antiga Casa da câmara da
velha cidad:: de Goiás, está sob a administração do IPHAN, hoje Instituto
subordinado ao Ministério da Educação e Cultura. Além de móveis e
objetos evocativos das bandeiras, possui o arquivo da Recebedoria do Tesouro
em Goiás, na maior parte microfilmado pela Universidade de São Paulo.
o MUSEU HISTÓRICO DE BELO HORIZONTE, instalado no único prédio
intacto da antiga povoação de Curral d'El Rei, é destinado à evocação
da história local. Teve a colaboração do IPHAN, para sua instalação em 1943.
Em Diamantina há um MusEu DO DIAMANTE, também subordinado ao
IPHAN, criado em 1954.
Em Juiz de Fora é de iniciativa privada o MUSEU MARIANO PROCÓPIO,
instalado junto ao palacete que pertenceu ao grande homem de empresa do
Império chamado Mariano Procópio Ferreira Laje. Possui peças de alto
valor, especialmente de indumentária do imperador Dom Pedro II. Tem
enorme interesse a residência do capitalista, conservada intacta. V.: Max
FLEIUSS, Páginas de história, 2.ª ed., Rio de Janeiro, 1930, p. 437, e Revista
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1, 1937; Geralda Ferreira
ARM0ND MARQUES, No centenário do castelo residencial de Mariano Pro-
cópio e no se11 jubileu de prata como museu (Breve histórico), Juiz de
Fora, 1961.
o MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI, em Belém, é dos mais famosos
por suas coleções de história natural. Data a sua iniciativa de 1866. Em
1894 foi entregue a direção ao sábio alemão Emílio Goeldi, que desenvol-
veu enormemente suas coleções. Foi restaurado com o auxílio do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia e, ultimamente, da Superintendência
do Plano de Valorização da Amazônia. Publica Boletim e Memórias. V.
Hélio F. de .Almeida CAMARGO, "Pequena contribuição ao estudo da his-
tória do Museu paraense Emílio Goeldi", Ciência e cultura, São Paulo,
vol. m, n. 0 1, 1951; Carlos Estevão de OLIVEIRA, "Resumo histórico do
Museu paraense Emílio Goeldi", Revista do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional, n.0 2, 1938; P. SERRE, "Le Musée Goeldi, au Pará", Bulletin,
Musée a'histoire naturelle, vol. 22, 1916.
n4
O MusEu DAVID CARNEIRO em Curitiba, Paraná, é de iniciativa parti-
cular, fundado e dirigido por David O. da Silva Carneiro, em 1928. Seu
Catálogo foi impresso pelo IPHAN. Junto ao museu funciona um Instituto
de pesquisas históricas que promove cursos, conferências e publicações.
Possui valioso arquivo. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
nal, 1, 1937.
Na mesma cidade existe o MusEu PARANAENSE, de iniciativa particular
em 1874, mas incorporado à administração do Estado desde 1882. Publica
desde 1941 os Arquivos do Museu paranaense, além de publicações avulsas,
como os Anais do Primeiro congresso de história da revolução de 1894,
1944; Memórias históricas de Paranaguá e Morreres, 3 vais., 1950-1952.
Em Pernambuco é digno de menção o MusEu DO EsTAoo, criado em
1929 e restaurado em 1940. O museu é regional e possui excelente acervo
de peças ligadas à história e à cultura pernambucanas. Incorporou a cole-
ção do Liceu de Artes e Ofícios e a coleção Carlos Estevão. Realiza cursos
de cultura popular.
O mais visitado do país é o MusEu IMPERIAL, em Petrópolis, fundado
em 1939 pelo Estado do Rio, mas transferido para a União. É subordinado
ao Ministério da Educação e Cultura. Está instalado no palácio de verão
do imperador Dom Pedro II e possui a mais valiosa coleção de peças per-
tencentes outrora ao soberano e às grandes figuras do regime. A coleção
de vestes e símbolos imperiais (coroa, cetro, murça, manto e jóias), retra-
tos, porcelanas, cristais e móveis, é única. Além disso, o antigo príncipe
do Grão-Pará, D. Pedro de Orleans e Bragança, filho da princesa D. Isa-
bel, doou ao museu o precioso arquivo que se encontrava no castelo d'Eu,
compreendendo papéis pertencentes à Família Imperial, cujo catálogo foi
publicado nos ABN, do Rio de Janeiro. Possui também uma numerosa bi-
blioteca especializada e bem instalada. Por convênio com a Universidade
Católica locàl e com a Prefeitura, realiza cursos e pesquisas históricas.
Publica desde 1940 um Anuário, com artigos e documentos, que já atingiu
20 volumes. Editou ainda muitas publicações avulsas. Alcindo SooRÉ,
Museu Imperial, Rio de Janeiro, 1950.
No Rio Grande do Sul goza de merecido prestígio o MusEu Júuo DE
CASTILH0S, criado como museu provincial em 1885, recebendo o nome
atual a partir de 1907. A parte relativa às ciências naturais foi destacada
em 1956. Publica uma Revista e vários catálogos.
Existe em Santo Ângelo o MusEu DAS MISSÕES, subordinado ao IPHAN,
destinado a reunir e co115ervar as obras de valor artístico ou histórico liga-
das às antigas missões jesuíticas.
Não se pode deixar de mencionar, entre os museus sacros, o da Vene-
rável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, o da Imperial
Irmandade da Glória do Outeiro, o da Venerável Ordem Terceira do
Carmo, todos no Rio de Janeiro; o de Arte Religiosa de Vitória, Espírito
65
Santo, instalado na antiga capela de Santa Luzia; o de arte sacra de
Goiana, Pernambuco; o Museu Diocesano, de Sobral, Ceará; o Museu Pio
xn, de São Luís do Maranhão. Acima de todos, o Museu de Arte Sacra de
São Paulo, instalado no antigo convento da Luz, que possui a mais opu-
lenta coleção de objetos no gênero.
Entre os museus destinados ao culto de homens célebres, a Casa
de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, a de Santos Dumont, cm Petrópolis,
a de Anita Garibaldi, cm Laguna, se, além do Museu da cripta do monu-
mento aos heró:s de Laguna e Dourados (incorporado ao Museu da Ci-
dade), no Rio de Janeiro.
Entre os especializados, mantém profícua atividade o Museu da Ima-
gem e do Som, no Rio de Janeiro, mantido pela. Fundação Vieira Fazenda,
possuidor de rico acervo de gravuras, fotografias, discos e gravações: o
Museu dos Teatros, instalado no subsolo do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro e o museu Silva Arcos, de Campos, RJ, que possui respeitãvel
hemeroteca.
• Entre os museus estaduais citem-se o da biblioteca do Estado cio
Maranhão, o do Estado da Paraíba, o de Goiás (em Goiânia, incorporado
à Universidade do Brasil Central), o Histórico e Antropológico do Ceará,
cm Fortaleza, administrado pelo Instituto do Ceará, e o Sergipano de Arte
e Tradições.
Entre os museus regionais: Museu Colonial Visconde de São Leopoldo,
RS, criado pela Fundação Muntz (especializado na história da colonização
alemã); o do Café Francisco Schmidt, cm Ribeirão Preto, SP, anexo ao
Museu Municipal; o Museu Dom Diogo de Sousa, em Bagé; o dos
Campos Gerais, de Ponta Grossa, no Paraná, mantido pelo Grêmio Eu-
clides da Cunha; o Museu Farroupilha, em Triunfo, RS, e o Museu His-
tórico de Venâncio Aires, anexo ao Centro de Tradições Gaúchas Coronel
Tomás Pereira Júnior, RS.
São inúmeros os museus municipais.
O trabalho do professor Guy de Hollanda, em que nos baseamos para
esta resenha de museus, data de 1958. Assinala 148 museus em 72 cidades.
Hoje certamente duplicaria estes números. Há um surto de respeito pelas
relíquias do passado em todo o país, especialmente depois que o ministro
J arbas Passarinho convocou a histórica reunião de Brasília em 1970, em
que os representantes dos Estados, o diretor do IPHAN e o Presidente do
IHGB, iniciaram uma campanha de esclarecimento e firmaram em documento
o "Compromisso de Brasília" que jã começa a dar frutos. Onde menos
se faz sentir este movimento é no setor arquivístico. EII! alguns setores
registrou-se mesmo um retrocesso, com manifestações de fúria antiarqui-
vai e destruição de documentos até mesmo necessários à defesa dos pró-
prios serviços.
66
Registre-se ainda que, felizmente, em relação aos museus não há
só progresso em quantidade, mas também em qualidade. O velho sistema
de acumular, como em casas de antiguidade, as peças dignas de perma-
necerem, vai longe. Os novos museus não são mais aqueles depósitos que
um escritor de gosto tachou de melancólicos: "Os museus são tristes, o que
a eles se recolhe vai como ao último fim dos seus destinos. Não seria sem
propósito chamá-los de cemitérios das cousas. . . A posteridade é impo-
nente, mas concordemos que o melhor nas cousas é contemplarem-se na luz
do seu dia, como a vida as arruma, no seu ambiente natural". V. Aloysio de
CASTRO, Excerptos, Rio de Janeiro, Briguiet, 1930, p. 96.
:e. precisamente a procura deste ambiente natural o tom dos museus
modernos, em que se ressaltam as peças e os objetos numa decoração
adequada. Ademais, em todos os museus criam-se, por efeito do interes-
se despertado, conforme acabamos de verificar, centros de estudo, cursos
e pesquisas, tendendo-se para a incorporação a uma atividade univer-
sitária.
67
2 - SETORES DA HISTúRIA
Sectores
1. A história é elaborada, em geral, tendo em vista um setor
limitado no tempo ou no espaço. Daí as histórias de um período,
de uma nação ou de uma região. O problema da periodização na
história do Brasil foi amplamente estudado pelo professor José
Honório Rodrigues em sua Teoria da história do Brasil (cap. v da
3.ª ed.). Como ali se vê, não houve inicialmente um estabeleci-
mento sistemático das eras da história nacional. O Catálogo da
Exposição de História nacional, de 1881, balisou os capítulos em
que dividiu as suas peças com os acontecimentos mais notáveis até
então: 1) o governo-geral, 2) a restauração, 3) o vice-reino,
4) a transferência da corte, 5) a independência, 6) a abdicação,
7) a maioridade e 8) o segundo reinado. Dentro desses períodos
classificou as publicações e documentos.
68
ma previamente proposto( 2 ). Baseados ·nesses estudos parc1a1s, os
relatores gerais elaboraram seus relatórios finais, enunciando os
temas e principais fontes documentais e bibliogrâficas para com-
preensão de cada período(ª). Foi a prim::ir.1 tentativa, em grande
escala, de uma harmonização periódica da história regional, dentro
da história continental.
História Regional
69
4. Mas, dentro da história nacional, uma necessidade prática
leva equivalentemente ao estudo das regiões nacionais. As mono-
grafias regionais são, às vezes, de relevância fundamental par,a
compreensão do conjunto. A primeira tentativa de estudo de his-
tória nacional através do estudo prévio das regiões parece ser a de
Ernani da Silva Bruno, História do Brasil. Geral e regional, São
Paulo, Cultrix, 1966-1967, 7 v. (1. Amazônia, n. Nordeste, m.
Bahia, rv. Rio e Minas, v. São Paulo e o sul, VI. Grande oeste, vn.
Brasil, história geral).
Acontecimentos de enorme repercussão local, mas que não
podem figurar na narrativa geral da evolução do país, ganham aqui
uma justa perspectiva. Alguns traços regionais, que se esmaecem
na fisionomia do conjunto, assumem então uma importância que
não se costuma avaliar na síntese geral. Baseado nessa tentativa,
é possível esboçar uma bibliografia de história regional, ainda que
sabidamente incompleta.
Biografia
5. Outro problema, semelhante ao dilema geral-regional, é o
dilema sociedade-indivíduo, que conduz ao debate sobre o valor
histórico das biografias. Sem entrar no problema filosófico do papel
do homem no processo histórico, é preciso encarar o problema da
técnica expositiva. "Os historiadores profissionais", observa Com-
mager, "particularmente os que praticam a história técnica, enca-
ram a biografia com profunda desconfiança." Lewis Namier, lem-
bra o mesmo autor, "talvez o historiador britânico moderno mais
influente", insistiu na afirmação de que o estudo da biografia era
uma espécie de jardim de infância histórico. "O historiador não
deveria distrair-se com o estudo do homem individual, mas dirigir-se
mais às grandes forças da política e da economia, que determinaram
o curso da história, ou às instituições onde a influência do indíviduo
foi insignificante." Mas a verdade, responde Commager, é que ao
bom biógrafo não es.capa o estudo do ambiente. Há biógrafos que
realmente se concentram no exame psicológico do herói e nada
contribuem para a história. Outros, porém, fazem de seu estudo
uma autêntica restauração da época em que viveram. A rigor,
termina ele .as suas considerações, "a história nunca se afasta muito
da biografia. Mesmo assuntos austeros, como o direito e a ciência,
são esclarecidos pela abordagem biográfica". Por motivos fáceis
de entender, a biografia sempre foi a mais popular das formas da
70
história. :e, agradável de ler, é dramática, cheia de cores, persona-
liza e simplifica problemas complexos( 4 ).
Daí a recomendação constante em pedagogos do emprego do
método biográfico como motivador na abordagem dos assuntos.
6. Para o estudo das biografias na história do Brasil, impõe-se
o estudo prévio da antroponímia, o exame da significação dos no-
mes próprios, muito desenvolvido no estrangeiro, mas escassamente
desenvolvido em língua portuguesa( 5 ). O emprego de um nome
ainda não surgido na época de um documento pode induzir à sua
falsidade.
7. Só ultimamente se tem desenvolvido no Brasil o gosto
pelas biografias. São imensas ias contribuições que estudos biográ-
ficos têm trazido à história de outros países, especialmente em
povos que incluem a divulgação póstuma dos papéis dos homens
públicos, como um complemento indispensável de sua ação na
terra. As L1Je and Letters e os Papers dos estadistas ingleses for-
mam uma importante contribuição para a história política daquele
país. Na maior parte visam ao elogio, e à apologia do herói e
valem como elementos a serem manuseados e purificados pelo his-
toriador.
Na historiografia brasileira alguns trabalhos biográficos mar-
caram uma mudança de rumo nos estudos. Assim, o estudo de
Oliveira Lima, D. João VI no Brasil (1.ª ed., Rio de Janeiro, 1908),
é o princípio da revisão da figura do primeiro rei do Brasil, até
então submetida a uma autêntica visão caricatural. A biografia
paterna escrita por Joaquim Nabuco, Um estadista do império (l.ª
ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1897-1899), marca uma reação na
campanha depreciativa do parlamentarismo brasileiro. f:. o mais
71
completo panorama da história política da época. Seus conceitos
influem decisivamente nos que o seguem. Um movimento em
torno dos homens de empresa no Brasil, com a valorização dos
líderes capitalistas, foi provocado pelo aparecimento da obra de
Alberto de Faria, Mauá (l.ª ed., Rio de Janeiro, 1926) ( 6 ).
6. Na geração contemporânea não é possível dispensar as biografias
de Otávio Tarquínio de SousA, História dos fundadores do império, 10 v.
(especialmente a de D. Pedro I, que ocupa 3 v., e cuja 1.ª ed. é de 1952),
Rio de Janeiro, José Olympio, 1957; Heitor LYRA, História de Dom Pedro II,
3 v., São Paulo, 1938-1940 (Brasiliana); Afonso Arinos de MELO FRANCO,
Um estadista da república. Afrânio de Melo Franco e seu tempo, 3 v., Rio
de Janeiro, José Olympio, 1955 (Documentos brasileiros); Carolina NABUCO,
A vida de Joaquim Nabuco, São Paulo, CEN, 1928; Laurita Pessoa RAJA
GABAGLIA, Epitácio Pessoa, Rio de Janeiro, José Olympio, 1951 (Documentos
brasileiros); Lúcia Miguel PEREIRA, Machado de Assis, São Paulo, 1936
(Brasiliana), e Gonçalves Dias, Rio de Janeiro, José Olympio, 1943 (Do-
cumentos brasileiros); Álvaro LINs, Rio-Branco, Rio de Janeiro, José
Olympio, 1945 (Documentos brasileiros); Luís VIANA F. 0 , Rui Barbosa, São
Paulo, CEN, 1941; Joaquim Nabuco, São Paulo, CEN, 1952; Rio-Branco, Rio
d~ Janeiro, José Olympio, 1959 (Documentos brasileiros); Machado de
Assis, São Paulo, Martins, 1965; Cândido MOTA F. 0 , Bernardino de Campos,
São Paulo, 1931, e Eduardo Prado, São Paulo, 1967; Pedro CALMON, Dom
João VI, Rio de Janeiro, José Olympio, 1935; Pedro 1 (O rei cavaleiro),
São Paulo, CEN, 1933; Pedro II (O rei filósofo), São Paulo, 1938 (Brasi-
liana); A princesa Isabel, São Paulo, 1941 (Brasiliana); Antônio Gontijo de
CARVALHO, David Campista (Uma conspiração contra a inteligência), Rio
de Janeiro, Artenova [1969]; A. J. Barbosa LIMA SoB.º, Presença de Alberto
Torres, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968; Hermes LIMA, Tobias
Barreto, São Paulo, 1939 (Brasiliana); Raimundo MAGALHÃES JÚNIOR, Deo-
doro, 2 v., São Paulo, 1957 (Brasiliana); Nelson Lage MASCARENHAS, Fir-
mino Rodrigues Silva, São Paulo, 1961 (Brasiliana); Marcos Carneiro de
MENDONÇA, O intendente Câmara, Rio de Janeiro, 1933; Eugênio Vilhena
de MORAES, O duque de ferro, Rio de Janeiro, 1933; Caxias em São Paulo,
Rio de Janeiro, 1933; Novos aspectos da figura de Caxias, Rio de Janeiro,
1927; Oswaldo ÜRICO, O tigre da Abolição (José do Patrocínio), Rio de
Janeiro, 1953; Wanderley PINHO, Cotegipe e seu tempo, São Paulo, 1937
(Brasiliana); Carlos PONTES, Tavares Bastos, São Paulo, 1939 (Brasiliana);
Alberto RANGEL, Gastão de Orleans, São Paulo, 1935; Marques REBELO,
Manuel Antônio de Almeida, Rio de Janeiro, 1943; Francisco de Assis
BARBOSA, Lima Barreto, Rio de Janeiro, José Olympio, 1952 (Documentos
brasileiros); Carlos RIZZINI, Hipólito da Costa, São Paulo, 1957 (Brasiliana);
Mecenas DOURADO, Hipólito da Costa, Rio de Janeiro, 1957; Maria Junqueira
72
As coleções biográficas, dicionários e guias de personalidades
são, muitas vezes, de difícil obtenção o que dificulta muito as pes-
quisas (7).
73
FRANCO, Francisco de Assis Carvalho, Dicionário de bandeirantes e serta-
nistas, São Paulo, Comissão do IV centenário da cidade, 1954.
FREIRE, Laudelino, Clássicos brasileiros, 1.º v., Rio de Janeiro, 1923.
FREITAS, Clodoaldo, Vultos piauhyenses, Teresina, s.d. [v. 1].
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HOLANDA, Sérgio Buarque de [et alit], Grandes personagens da nossa histó-
ria, 4 v., São Paulo, Abril, 1969-1970.
LAGO, Laurênio, Relação nominal dos generais efetivos do exército brasi-
leiro, Rio de Janeiro, 1938.
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biográficos, 1928-1939, Rio de Janeiro, 1940.
- Brigadeiros e generais de D. João VI e D. Pedro I no Brasil. Dados
biográficos (1808-1831), Rio de Janeiro, 1938.
- Conselheiros de guerra e ministros do Conselho Supremo Milítar.
Ministros do Supremo Tribunal Militar. Dados biográficos, 1808-1943,
Rio de Janeiro, 1944.
LEAL, Antônio Henriques, Pantheon maranhense, São Luís, 1873-1875, 4 v.
LYRA, Augusto Tavares, A presidência e os presidentes do Conselho de Mi-
nistros (Separata da RIHGB, t. 94, 1923).
- O Senado do Império (Separatada da REHGB, t. 99, 1926).
- O Supremo Tribunal de Justiça (Separata da RIHGB, t. 104, 1928).
- O Conselho de Estado (Separata dos Anais do 2.° Congresso de His-
tória Nacional, 1931, v. I (1934), p. 411 ).
- O Senado da República (Separata da RIHGB, t. 210, 1951) [Biografias
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[Trabalho feito para a Exposição de Filadélfia em 1876. Há um suple-
mento de 1880 e uma versão inglesa. São notícias curtas e nada têm
que ver com os elogios fúnebres proferídos no IHGB. Há lndice alfabé-
tico e remissivo, organizado por José Marcelo Moreira, divulgado pelo
Arquivo Nacional em 1965.]
MELO, Luís Correia de, Dicionário de autores paulistas, São Paulo, 1954.
- Subsídios para um diiconário dos intelectuais rio-grandenses, s.1.,
1944.
74
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1953.
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goas, Rio de Janeiro, Pongetti, 1954.
NEVES, Fernão [pseud. de Fernando Nery], A Academia Brasileira de Letras,
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PEREIRA, Amâncio, Homens e cousas espírito-santenses, Vitória, 1914.
- Traços biográficos, 1.ª série, 1.º livro, s.J., 1897.
PONTUAL, Roberto, Dicionário das artes plásticas no Brasil, Rio de Janeiro,
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Quem é quem nas artes e nas letras do Brasil, MRE, 1966.
REIS, Antônio Simões dos, Poetas do Brasil, Rio de Janeiro, org. Simões,
1949, 2 V.
SANTANA, Moisés, V11ltos e fatos de Goiás, v. 1, Rio de Janeiro, 1928.
SANTOS, Prezalindo Lery, Pantheon fluminense, Rio de Janeiro, 1880. [Flu-
minense é aqui tomado no sentido amplo, abrangendo os cariocas.]
SILVA, Innocencio Francisco da, Diccionario bibliographico português, Estu-
dos . . . applicaveis a Portugal e ao Brasil, Lisboa, Imp. nacional, 18S8-
1923, 22 V.
SILVA, João Manuel Pereira da, Plutarcho brasileiro, Rio de Janeiro, Laem-
mert, 1847, 2 v. [A 2.ª e a 3.ª edições, 1858 e 1868, tiveram o título
alterado para Varões ilustres do Brasil durante os tempos coloniais.]
SILVA, Zedar Perfeito da, Perfis de alguns catarinenses ilustres, Rio de Ja-
neiro, 1948 (1. 0 v.).
SILVEIRA, Alarico, Enciclopédia brasileira, ed. patrocinada pela fundação
Edmundo Bittencourt, t. I, Rio de Janeiro, 1958.
SISSON, Sebastião Augusto, Galeria dos brasileiros illustres (Os contemporâ-
neos), Rio de Janeiro, 1859, 2 v. [Sisson é o autor dos retratos, aliás
excelentes. Cada um, porém, é seguido de uma biografia, cuja autoria
é atribuída a diversos autores.]
SousA, Antônio Loureiro de, Bahianos ilustres, 1564-1925, Bahia, 1949.
SousA, J. Galante de, lndice de biobibliografia brasileira, Rio de Janeiro,
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- O teatro no Brasil, t. 11, Subsídios para uma biobibliografia do teatro
no Brasil, Rio de Janeiro, INL, 1960.
SoTOMAJOR, Sebastião de Sá, Galeria paranaense, Notas biográficas, Curitiba,
1922.
STUDART, Guilherme, Diccionario bio-bibliographico cearense, Fortaleza,
1910-1915, 3 V.
TAUNAY, Afonso d'Escragnolle, Grandes vultos da independ€ncia do Brasil,
São Paulo, Melhoramentos, 1922.
75
Memórias, Correspondência, Diários
8. As memórias, diários e cartas constituem, nas literaturas
estrangeiras, um setor da maior importância. Na Inglaterra quase
todos os homens de destaque se consideram obrigados a legar à
posteridade o depoimento pessoal acerca dos fatos de que partici-
param. Por isso o número de memórias inglesas é imenso e
extremamente aproveitadas no estudo da política.
Em França há memorialistas imprescindíveis para a com-
preensão de certas épocas. Para a reconstituição admirável do
Ancien régime; Taine abeberou-se amplamente neles: "Une mul-
titude de Mémoires . .. naus conduisent de salon en salon, comme
si no'\}S y étions présentés". (Les origines de la France contem-
poraine: l'Ancien régime, v. 1, Paris, 1909, p. IX.)
No princípio do século XIX, porém, um verdadeiro furor
pelas Memórias, que constituíam grande sucesso de livraria, che-
gou a tal ponto que os livreiros passaram a lançar obras falsas,
forgicadas por. escribas. Um deles celebrizou-se: Alphonse de
Beauchamp que, empregado da polícia, editou umas supostas me-
mórias de Fouché ( 1824), compostas conforme as peças do ar-
quivo da repartição, e algumas memórias análogas de contempo-
râneos (8). Os herdeiros de Fouché levaram o impostor aos tri-
7.6
bunais, onde foi condenado, apesar da brilhante defesa de Ber-
ryer, que sustentava a inocência de Beauchamp por serem os fatos
verídicos( 9 ). Dedicando-se à história do Brasil, Beauchamp
prosseguiu na vocação de falsário, plagiando escandalosamente o
historiador inglês Robert Southey(1°).
9. Os memorialistas são relativamente ipouc~ em nosso
país. Amoroso Lima considera o fenômeno "a maior lacuna na
nossa literatura". Enumerou-os, ainda recentemente, Francisco de
Assis Barbosa ( 11 ). f: forçoso reconhecer que o hábito de registrar
lembranças para a posteridade começa a se generalizar, com vanta-
gem para o futuro historiador( 12 ).
??
- Quando eu era vivo. Memórias póstumas, Porto Alegre, Globo, 1942.
[Republicação da obra anterior revista.}
.ALBUQUERQUE, Matheus de, Perenidade na vida breve (Memórias autobiográ-
ficas), Rio de Janeiro, 1966 (Obras completas de M. A. 5).
ALBUQUERQUE, Ulysses Lins de, Um sertanejo e o sertão, Memórias, Rio de
Janeiro, José Olympio, 1957.
ALMEIDA, José Américo de, A palavra e o tempo, Rio de Janeiro, José Olym-
pio, 1965 (Documentos brasileiros) [Memórias políticas].
- O ano do nego, Memórias, Rio de Janeiro, Gráfica Record, 1968.
ALVES, Santos, O Quim de Ana, Memórias de um minhoto, v. I, Rio de
Janeiro, 1962.
ALVES, W. Menici, Reminiscências, Rio de Janeiro, 1949.
AMADO, Geoolino, O reino perdido. Histórias de um professor de história,
Rio de Janeiro, José Olympio, 1971.
AMADO, Gilberto, História da minha infância, Rio de Janeiro, José Olympio,
1954.
- Minha formação no Recife, Rio de Janeiro, José Olympio, 1954.
- Mocidade no Rio e l.ª viagem à Europa, Rio de Janeiro, José Olympio,
1956.
- Presença na política, Rio de Janeiro, José Olympio, 1958.
- Depois da política, Rio de Janeiro, José Olympio, 1960.
AMARAL, Inácio Manuel Azevedo do, Reminiscências, Rio de Janeiro, Im-
prensa Naval, 1958. [Recordações de um oficial de marinha, depois
professor de matemática e reitor da Universidade Federal do Rio de
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texto, como Reminiscências, São Paulo, 1908; Trechos de minha vida,
São Paulo, Melhoramentos, 1921, e Homens e cousas do Império, São
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Quanto a correspondências, as mais conhecidas são CAPISTRANO DE
ABREU, Correspondência, ed. organizada e prefaciada por José Honório
RODRIGUES, Rio de Janeiro, INL, 3 v., 1954-1956; Francisco -Adolfo VAR-
l"IIµG.Er-"; Corr1;spondênc_ia ativa, c::d._ org. ç anokpe>f Çlado Rib\liro !lc:: ~l?SS.~,
Rio de Janeiro, INL, 1961; Rui BARBOSA, Mocidade. e -~xíliq,,.;g; or_g. .;;ç, _anot.
Do estudo das biografias passa-se ao estudo das famílias.
Algumas obras já encaram o assunto de modo superior( 13 ).
por Américo Jacobina LACOMBE, São Paulo, 1934 (Brasiliana) [2.ª ed.
1940, 3.ª, 1949]; ID., Correspondência íntima, org. e anot. por Afom;o Ruy
de SousA, Bahia, 1921 [2.ª ed. 1933, 3.ª, 1946]; Rui BARBOSA, Correspondên-
cia, org. e anot. por Homero PIRES, São Paulo, Saraiva, 1933; Mário de
ANDRADE, Cartas a Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, Simões, 1958; GRAÇA
ARANHA, Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Comentários e notas à
correspondência, São Paulo, Monteiro Lobato, 1923; MACHADO DE Assis,
Correspondência com Magalhães de Azeredo, ed. preparada por Carmelo
Virgílio, Rio de Janeiro, INL, 1969; Visconde de MAUÁ, Correspondência
política de Mauá no Rio da Prata (1850-1885) , org. e notas de Lídia
BESOUCHET, São Paulo, 1943 (Brasiliana); João Baptista CALOGERAS, Um
ministério visto por dentro. Cartas inéditas, org. e anotadas por Antônio
Gontijo de CARVALHO, Rio de Janeiro, José Olympio, 1959; Edgard CAVA-
LHEIRO, Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto, Rio de
Janeiro, MEC, 1955; Assis CINTRA, D. Pedro I e o grito da independência
(Cartas de D. Pedro I a D. João VI], São Paulo, Melhoramentos, 1921;
Duarte CoELHO, Cartas de. . . a El Rei, anot. de Gonsalves de Mello e
Cleonir Xavier de Albuquerque, Recife, lmp. da Universidade, 1967; D.
PEDRO li, Cartas do imperador. . . ao barão de Cotegipe, org. e anot. por
Wand~rley PINHO, São Paulo, 1933 (Brasiliana); Gastão CRULS, Antônio
Tôrres e seus amigos. Notas biobibliográficas seguidas de correspondência,
São Paulo, CEN, 1950; Jackson de FIGUEIREDO, Correspondência, Rio de
Janeiro [1938]; D. LEOPOLDINA [Imperatriz], Correspondência entre Maria
Graham e a imperatriz D. Leopoldina (Sep. dos ADN, v. LX, 1940); MON-
TEIRO LoBATO, Cartas escolhidas, 2 t., São Paulo, Brasiliense, 1959; R.
MAGALHÃES JÚNIOR, D. Pedro li e a condessa de Barrai, através da corres-
pondência íntima. . . anotada e comentada, Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1956; Joaquim NABUCO, Cartas a amigos (Obras completas, 2 v.),
São Paulo, 1949; Lafayette Rodrigues PEREIRA, Cartas ao irmão, São Paulo,
1967 (Brasiliana); Georges RAEDERS, Pedro li e os sábios franceses, Rio
de Janeiro, Atlântica, 1944; D. Pedro li e o conde de Gobi11eau. Corresp.
inédita, São Paulo, 1938 (Brasiliana); Barão do RIO BRANCO, Correspon-
dência entre D. Pedro lI e o barão (jo µ(o Branco, apresentação de Miguel
do Rio BRANCO, São Paulo, 1957 (Br;isi!iana); Alçindo SooRÉ; Al?rfndo um
cofre. Cartas de D. _P edro II à cc;mdessa de Barrai, Rio de Ja11eiro, 1956;
Frani;;isc9__ -V1;NÂJ'{cro ·FILl{Q, Euclydes d_a Cunha a seus l}migos, São J>aulo,
·193:8 (Brasiliana).
13 . _A título de exemplo citem~ o tr;1balho do ten.-cel. João de Deus
.~orç>nha Mi;~~ BA.RRI;TO,- Os Memia Barreto. Sei$ gerações de soldados,
1769-1950. :Ê o estudo de uma família composta quase toda de militares.
89
Genealogia
1O. Do estudo das biografias e das famílias, passa-se natu-
ralmente ao das genealogias. Estas tiveram no Brasil um caráter
peculiar. Desenvolveram-se como uma afirmação de capacidade cm
face do desprezo dos reinóis. Irritava aos portugueses a invoca-
ção de ilustres ascendentes por parte dos colonos e brasileiros na-
tos. Garção põe na boca de um personagem do Teatro novo uma
tirada sarcástica:
Estou tonto de ouvir estes senhores!
Parece-me que estou entre paulistas
Que. arrotando congonha, me aturdiam
Co'a fabulosa ilustre descendência
De seus claros avós, que de cá foram
Em jaleco e ceroulas( 14 ).
A estas farpas respondiam os brasileiros com a demonstração
da nobreza e esplendor de seus ancestrais. O título da obra de
Uma família senhorial e latifundiária típica foi estudada por Pedro CALMON,
História da Casa da Torre, Rio de Janeiro, José Olympio, 1939 (Documentos
brasileiros). Já o livro de Espiridião de Queirós LIMA, Antiga família do
sertão, Rio de Janeiro, Agir, 1946, é o histórico de uma grande familia
nordestina, com preciosos elementos para a reconstituição do ambiente social.
De interesse equivalente é o trabalho de Lena Ferreira CosTA, Uma família
na história (Monografia sobre a família Castelo Branco), Goiânia, Univer-
sidade Federnl de Goiás, 1967. Uma das mais importantes famílias antigas
do Rio foi objeto do estudo de Heitor GuRGEL, Uma família carioca do
século XVI [Amaral Gurgel], Rio de Janeiro, São José, 1964. A história
de uma família estrangeira que se radicou no Brasil é objeto dos estudos
de Aroldo de AZEVEDO, Os Cochrane do Brasil, São Paulo, 1965 (Brasiliana)
e de Raimundo Bandeira VAUGHAN, Livro da família Monnerat, Vila de
Monnerat, 1945.
Um dos mais completos estudos monográficos no gênero é o de Lycurgo
SANTOS F. 0 , Uma comunidade rural do Brasil antigo. (Aspectos da vida
patriarcal no sertão da Bahia nos séculos xvn e XIX), São Paulo, 1956 (Bra-
siliana). Um aspecto, dos mais importantes para a história do estudo dos
grupos familiares, é estudado por L. A. Costa PINTO, Lutas de famílias no
Brasil (Introdução ao seu estudo), São Paulo, 1949 (Brasiliana).
14. Apud Afonso d'E. TAUNAY, Estudo sobre a obra de Pedro Taques
em Informação sobre as minas de São Pàulo e A expulsão dos jesuítas do
colégio de São Paulo, São Paulo, Melhoramentos, s.d. V. a respeito, José
da Gama e CASTRO, Mem6ria ~obre a nobreza do Brasil, Rio de Janeiro,
1841.
90
Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) é nada menos
que Nobiliarquia paulistana, histórica e geneal6gica( 15 ). A gran-
de preocupação do autor é demonstrar as origens aristocráticas
das famílias paulistas.
Nem é outra a idéia mestra de frei Antônio de Santa Maria
Jaboatão (1695-1764), no "Catálogo genealógico das principais
famílias que procederam de Albuquerques e Cavalcantis em Per-
nambuco e Caramurus na Bahia", publicado na RIHGB (tomo LII
- 1889) (1 6 ). As filhas do cacique Arcoverde, matriarcas de tão
importantes famílias do Norte, como quase todas as que se ligaram
aos povoadores portugueses, recebem aí o tratamento de princesas.
Também sobre as famílias nordestinas, tendo como ponto de
partida Pernambuco, versa o trabalho de Antônio José Vitoriano
Borges da Fonseca (1718-1786), "Nobiliarquia pernambucana",
ABN, V. XLVII, 1925, Rio de Janeiro, 1935 ( 17 ).
- Alguns estudos regionais são básicos. Assim, os do gene-
ral Borges Fortes, Troncos seculares. O povoamento do Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, 1931, e Casais, Rio de Janeiro,
Ed. do Centen.° Farroupilha, 1932, e Jorge Godofredo Felizardo,
Genealogia rio-grandense (Carneiro da Fontoura), Porto Alegre,
1937( 18 ).
15. Publicada inicialmente na RIHGB, t. xxxn ao xxxv, foi reunida e
completada, com erudita introdução de Afonso d'E TAUNAY, em tomo
especial da mesma revista, datado de 1926. Um segundo e terceiro tomos
apareceram como volumes especiais da RtHGSP (v. 39 e 39 bis, 1940-1944).
Nova edição apareceu na Biblioteca Histórica Paulista, v. IV, São Paulo,
Martins, 1953. O índice desta obra foi organizado por Salvador de MoYA,
e ocorre na coleção lndices genealógicos brasileiros, São Paulo, Inst. Ge-
nealógico Brasileiro, n.º' 3 e 4, s.d.
16. O índice do Catálogo genealógico, de Jaboatão, também foi ela-
borado por Salvador de MoYA e está publicado na coleção referida acima.
2 t., s.d.
17 . Foi inicialmente publicada, incompleta, na RIAHGP, v. 56 a 60,
1902-1904. O índice da Nobi/iarquia pernambucana, também feito por
Salvador de MoYA, ocorre nos mesmos índices citados, São Paulo, s .d., n.0 2.
IS. De carâter mais estritamente genealógico são os estudos de F. de
A. Carvalho FRANCO, Os Camargos de. São Paulo, São Paulo, 1937; Embai-
xador José Bonifácio de Andrada e SILVA, "Descendência do inconfidente
José Aires Gomes", RIHGB, t. 72, 2. 3 , p. 144; Frederico de Barros BROTERO,
Famf/ia Mo11teiro de Barros, São Paulo, 1951; Antônio de Araújo de Aragão
BuLcÃo SOBRINHO, Famílias bahianas. Bulcão, Salvador, 1961; Luiz P.
Moretzsohn de CASTRO, Apontamentos genealógicos. Famílias pàulistas:
91
11 . A propósito da completa transformação do conceito de
genealogia dos tempos :a-tuais, já tivemos ocasião de falar certa vez:
Hoje em dia o sentido . dos estudos genealógicos mudou por com-
pleto. E disso não se deram conta muitos pesquisadores que pare-
cem dominados por um espírito completamente ultrapassado. O
Pais-de-Barros e Vasconcellos-Vergueiros, Santos, 1900; Carlos Grandmasson
RHEINGANTZ, Primeiras famílias do Rio de Janeiro, v. r. A-E, Rio de Janeiro,
Liv. Brasiliana, 1965; v. II. F-M, 1967; Armando Vida! Leite RIBEIRO,
Família Vida/ Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, Ed. Sul-Americana, 1960; Mário
L!NHARES, Os Linhares, Retrospecto genealógico, 1690-1939, Rio de Janeiro,
1939; Geraldo Cardoso de MELLO, Os Almeida e os Nogueira do Bananal,
São Paulo, Inst. Genealógico Brasileiro, 1942 (Biblioteca genealógica bra-
síleira, n. 0 1); José Ferreira de Mello NOGUEIRA, Rabiscos genealógicos, São
Paulo, 1939; Sérgio Bizarro de Andrade PINTO, Genealogia do ramo pri-
mogênito das famílias Andrade Pinto (Brasil) e Campos de Andrada (Por-
tugal), 1. 0 v., Rio de Janeiro, 1922; 2.0 v. (Documentação), Lisboa, 1922;
Benoni da VEIGA, Genealogia da família Veiga, a partir de Francisco Luís
Saturnino da Veiga até a atual geração, Rio de Janeiro, 1932; Leôncio
Amaral GURGEL, Genealogia de Manuel Ferraz de Campos Salles, São
Paulo, 1906; Mário ARANTES, Apontamentos genealógicos sobre a família
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de José Fernando de Almeida Barros. Notas genealógicas, São Paulo, 1934;
Augusto de Sequeira CARDOSO, Livro de família, Alguns apontamentos genea-
lógicos sobre os ascendentes de Malta Cardoso de Jacareí, São Paulo, 1907,
e Livro de família. Os ascendentes e descendentes de Pedro Taques de
Alme~da Paes Leme,. São Paulo, 1909; Antônio Leôncio Pereira FERRAZ et
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Leme, Gama, Villas Boas até seus descendentes, Rio de Janeiro, 1859; João
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de MoYA, Os Gonçalves (de Queluz), São Paulo, 1936; João Baptista de
SoUSA f'..º,. Apontamentos genealógicos de Francisco Pacheco e Silva, São
l'aulo, 1930; francisco Xavier Taqu_es e ALVIM, Livro de. família. Algumas
l!9fO$. g~ne.a(ógiças_ so.lm: os }'aq~es A lvin:i.. e Ol!tras, São . Paulo, 1895; Nuno
J,,.ow.. _Smith. de .Y ~SÇO?:lCELLOS, A . famíli[! Smith de Vasconcellos, 1927;
l;.:us.êriio~J'gUJUNllQ;_Qre.ve$_ apon.(Qmento.s d(l famí_lia Ferreira. Tourinho, Sala
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._ . ~- faJtlílias. paµlista.s cont.inuaram a ser objeto de pesquisas por Luiz
G.ofl'Zaga: da Sily.a··.LEME, -Genealogia paulistana, 9. v., SãQ. Paulo, 1903-1909;
que se procura é encontrar os traços fundamentais que se mantêm
nos descendentes de um ancestral comum ( os chamados homens
fortes que todas as famílias reivindicam), e compreender os laços
de parentesco que justificam alguns fenômenos inexplicáveis para
os observadores superficiais. A genealogia sofreu as influências da
genética moderna, especialmente após os trabalhos do célebre cô-
nego Mendel. Galton realizou, aliás, pesquisas bastante curiosas a
respeito dos traços comuns das estirpes. São dele as tentativas de
Carlos SILVEIRA, Subsídios genealógicos, São Paulo, Inst. Genealógico Brasilei-
ro, 1942, Salvador de MOYA, A·rvores de costado, Colecionadas, com índice
alfabético de pessoas e apelidos. Separ. da Revista do arquivo municipal, São
Paulo, 1938; Salvador de Moya é também autor de um bom índice onomás-
tico da Genealogia paulistana, São Paulo, 2 v., s.d. As famílias mineiras
estão estudadas por Arthur Vieira de Resende e SILVA, Genealogia dos
fundadores de Catag11azes, Rio de Janeiro, 1934, e Genealogia Mineira, 4
v., Belo Horizonte, 1937-1939 (com índice também elaborado por Salvador
de Moya, São Paulo, Inst. Genealógico Brasileiro, s.d.); Cônego Raimundo
TRINDADE, Genealogias da zona do Carmo, Ponte Nova, 1943, e Velhos
troncos mineiros, São Paulo, 1955, 3 v. As famílias baianas estão indexadas
por Afonso CosTA, "Achegas genealógicas", RIGHB, n. 0 61. As fluminenses
pelo conselheiro Antônio Joaquim de MACEDO SoARES, Nobiliarquia flumi-
11ense (revista e publicada por seu filho, desembargador Julião Rangel de
Macedo Soares), 2 t., Niterói, Imp. estadual, 1947, bem como Mário Aloysio
Cardoso de MIRANDA, O ciclo das gerações. Introdução a um nobiliário
fluminense, Petrópolis, Vozes, 1939. As famílias mato-grossenses foram
objeto de estudo por parte de José de MESQUITA, "Genealogia cuiabana",
Revista do lllstituto Histórico Matogrossense, Cuiabá, v. 5, 1921, e segs., e
"Nobiliário mato-grossense", Revista do Instituto Histórico Matogrossense.
As famílias do Paraná estão estudadas por Francisco NEGRÃO, Genealogia
paranaense, 4 v., Curitiba, 1929. Sobre o Maranhão v. José JANSEN, "Intro-
dução ao nobiliário maranhense", Anais do museu histórico nacional, v. xx1,
p. 165. Sobre o Rio Grande do Sul, v. Mário Teixeira de CARVALHO,
Nobiliário sul-rio-grandense, Porto Alegre, 1937.
O centro mais ativo de pesquisas genealógicas no Rio de Janeiro é
o Colégio Brasileiro de Genealogia, que publica uma Revista, t. l, n. 0 1,
1960 e que já se encontra no t. 11, n. 0 7 .
. . No ·capitulo· dedicado à. heráldica·. mencionaremos outras publicações de
centros de pesquisas que se dedicam à. genealogia,. como o. Instituto Genea-
lógico Brasileiro, de São Paulo, que depois se transformou .em Instituto
Genealógico Latino; o Instituto Heráldico Genealógico, também de São
Paulo;· o Instituto Genealógico da .Bahia e o Colégio de Armas e Consultas
Heráldicas do Brasil, do Rio de Janeiro.
93
obtenção dos retratos de família, pela superposição de uma sene
de imagens em condições semelhantes de proporção e iluminação.
Chegava-se, assim, a uma fisionomia familiar paradigma, da qual
se aproximavam ou afastavam os consanguíneos( 19 ).
Através desses estudos objetivos, conseguiu-se chegar a con-
clusões práticas a respeito dos homens fortes, que realmente marcam
a descendência até várias gerações posteriores com traços que so-
brelevam os demais ancestrais. Assim é que se explica o fenômeno
de ser Guilherme II da Alemanha uma reprodução exata, física e
moral, de seu antepassado, o Grande Eleitor de Brandeburgo, que
só teria uma probabilidade sobre 65.536 de lhe legar seus traços.
12. Daí as distorções que têm ido até a fraude deslavada,
como a do suposto D. Tivisco de Nasao Zarco y Colona, que não
passa de uma impostura do pai do marquês de Pombal, com o seu
Teatro genealógico, onde encartou, em meio a dados exatos, algu-
mas mentiras históricas para aumentar o lustre de sua casa, mas
que teve afinal de ser procristo por alvará régio (porque contém
"notórios erros contra a verdade, não tem fé nem crédi~o, nem se
lhe dê para efeito algum") ( 2º).
Assumem aspecto antes ridículo os estudos ligando as ascen-
dências de famílias brasileiras nas casas reais européias, muitas
vezes autênticas, mas sem significação, dada a quantidade inume-
rável de descendentes de certos príncipes. Um honesto e diligente
pesquisador, por exemplo, no início deste século, foi encontrar a
origem das famílias Barros e Penteado, de São Paulo, em vultos
europeus como Vitiza, rei dos Godos, Fernando Magno, rei de
Leão, Afonso III, rei de Portugal, e, conseqüentemente, Carlos
Magno, Pepino o Breve, Pepino de Heristal, Santo Arnaldo, duque
de Austrásia, Clóvis e Meroveu. Por outro lado, descenderiam as
mesmas famíli'as de Balduíno II, rei de Jerusalém, Malcolm III,
rei de Escócia, Alfredo, o Grande, Egberto e Etelredo, reis de
Inglaterra( 21 ).
Este resultado nada tem de extraordinário se considerarmos
que na base de três gerações por século, na média, cada um de nós
teria necessariamente um milhão de antepassados ao alcançar a
21. ª geração ( ou seja, o tempo do rci São Luís) e alguns bilhões ao
19. Paul BERT, Revués scientifiques, ano m, Paris, 1881, p. 30. Refe-
re-se à obra de GALTON, Natural inheritante, que data de 1880.
20. Alvará de 28 de agosto de 1703, Guia dos manuscritos da Ajuda,
Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1966, p. 330.
21. L. ·P. Morethzsohn de CASTRO, Apontamentos geneal6gicos, Santos,
1900.
94
alcançar a 40.ª, na alta Idade Média. Esta verificação é espantosa
porque tais números ultrapassam de muito a população do mundo
civilizado naquele tempo. O que se passa, de fato, é que as uniões
consanguíneas inevitáveis vão reduzindo consideravelmente o nú-
mero de ancestrais. Assim é que as casas reais vão infimizando o
número de seus troncos. O rei Afonso xm, por exemplo, descen-
dia 8.000 vezes de São Luís e tinha 111 avós na geração em que
normalmente deveria ter 1.124. São Luís, por sua vez, tinha Carlos
Magno por avô 500 vezes. O lendário Carlos Magno figura neces-
sariamente nas raízes de toda a nobreza francesa e grande parte
da européia. É por isso chamado "pai comum do ocidente" ( 22 ).
13 . Mutatis mutandis, na genealogia brasileira, os homens
fortes (Caramuru na Bahia, os Albuquerques e Cavalcantis em
Pernambuco e João Ramalho, em São Paulo) aparecem infalivel-
mente na ascendência das principais famílias, não só porque havia
a preocupação em procurar a aliança dos descendentes dos troncos
principais, como porque os pesquisadores tendem a seguir a linha-
gem nobre, abandonando as menos brilhantes. E isso não só pela
natural vaidade como pela facilidade de pesquisa, porque são os
ramos ilustres que deixam a marca da sua passagem nos cartórios.
14. O reaparecimento súbito da figura de um ancestral em
um longínquo -descendente, a que nos referimos a propósito do impe-
rador Guilherme II, pode surgir em casos surpreendentes( 23 ).
15. Na história social moderna o estudo da formação de
uma família ganhou outro sentido. Nada tem das obsessões da
prosápia antiga, palavra que indicava simplesmente tinhagem e
ganhou um sentido pejorativo. Desde o precursor das monografias
22. Pierre DuRYE, La généalogie, Paris 1961 ( Coleção Que sais-je?);
J. Meurgey de TuPIGNY, "La généalogie", in L'Historie et ses méthodes,
Paris, 1961 (Encyclopédie de la Pléiade).
23. V. o caso nal'rado por BATISTA PEREIRA numa conferência pro-
nunciada no Itamarati em 1932: o milagre do reaparecimento exato de um
tipo flamengo, através do sangue açoriano, em um gaúcho de nossos dias:
"A realidade vai mais longe do que a fantasia. Quereis ver-lhe o retrato
fiel? O mesmo cabelo loiro? O mesmo perfil? Os mesmos traços? Os
mesmos olhos e a mesma expressão mosqueteira de garbo, ímpeto, bravura
e desgarre? A sua cópia fiel, enfim? Vede a reprodução do célebre painel
de Franz Hals no Museu de Harlem - 'A colação dos oficiais. archeiros de
Santo Adriano'. Lá está, na figura central, Flores da Cunha em carne
e osso". BATISTA PEREIRA, Vultos e episódios do Brasil, São Paulo, 1932
(Brasiliana, n.0 46), p. 304. Ora os flamengos foram ter aos Açores no
95
sociais, Le Play, o estudo da instituição da família, pobre ou rica,
poderosa ou miserável, ganhou importância considerável para a
compreensão de uma sociedade.
O estudo das famílias dominantes de uma época, ou de uma
região, não mais se faz em vista da defesa de regalias, mas para a
interpretação do modo de vida de uma classe. Nas publicações do
Laboratório de Estatística da Universidade Católica de Milão, em
1936, encontrou o nosso sociólogo Fernando de Azevedo elementos
importantíssimos para a compreensão da nossa sociedade imperial,
especialmente no estudo de Amintore Fanfani, Les changements
economiques dans l'Europe moderne et l'évolution constitutio-
nelle des classes dirigeantes, bem como nas observações de Carlo
Mengarelli, Les caracteres physiques de la nobleesse.
"Seria interessante do ponto de vista biotipológico", diz o
nosso mestre contemporâneo, "o estudo que não nos foi possível
fazer por falta de dados e elementos indispensáveis de iconografia
artística e fotográfica sobre os principais políticos e titulares do
império" (24 ) .
16. É isto que esboçou, em livro aparentemente superficial,
a escritora Barbara Tuchman em sua popularíssima The proud
tower, quando focaliza o que era realmente o grupo de famílias que
constituíam a reduzida e poderosíssima aristocracia inglesa na
belle époque. Cento e quinze pessoas possuíam então passante de
50.000 geiras. Daquelas cento e quinze, quarenta e cinco possuíam
mais de 100.000 geiras, posto que em parte inaproveitadas.
Havia 60 a 65 pessoas, todas titulares, que possuíam tanto quanto
50. 000 libras de renda. Quinze delas ( sete duques, três marqueses,
três condes, um barão e um baronete) usufruíam de seus imóveis
mais de 100.000 libras anuais. Curioso é que todas estavam liga-
das por laços de sangue.
Fisicamente esta aristocracia se apresentava com um aspecto
imponente, com impressionante semelhança e em condições de
higidez espantosas. Cinco dos ministros do gabinete Tory, chefiado
pelo marquês de Salisbury, tinham mais de seis pés de altura,
século xv. Os açorianos vieram para o sul do Brasil no século xvm, e no
século xx reaparece no Brasil uma fisionomia flamenga do século XVI.
24. Fernando de AzEVEDO, Canaviais e engenhos na vida política do
Brasil, Rio de Janeiro, 1948, p. 119. "La notion de groupe social présente
un éminent intérêt dialectique puisqu'elle permet, d'une part, de regrouper
des individus et, d'autre part d'inserer le groupe dans une société globale"
(Michel PERONNET, "Généalogie et histoire", Revue historique, I-III, 1968).
96
muito acima da média do país. Dos 19 membros do gabinete,
todos, menos dois, ultrapassaram 70 anos, sete atingiram mais de
oitenta, e dois chegaram a mais de noventa, num tempo em que
a média da vida humana no país era de 44. Esta era realmente
uma elite privilegiada!
17. O que se tem em vista agora, no estudo das famílias, não
é a defes:i dos privilégios, mas o exame dos movimentos da socie-
dade, os vínculos estabelecidos_ pelo parentesco na estrutura social
do país. Parece missão bem mais séria do que elaborar esquemas
e gráficos das estirpes dominantes. A futilidade da maior p:irte dos
estudos genealógicos acarretou o desprestígio dessa auxiliar da
história no juízo de muitos historiadores. Para o caso brasileiro ó
estudo genealógico, encarado de maneira científica, apresenta im-
portância indiscutível. As relações de parentesco .estabelecem en-
tre nós uma rede bem mais séria que em outros países. Em inqué-
rito recente, feito no interior de São Paulo, sob a direção de um
sábio mestre da sociologia, Donald Pierson, com todos os preceitos
da técnica, espantaram-se os pesquisadores exatamente oom a
força extraordinária dos laços de parentesco. Analfabetos, inca-
pazes de conhecer pelo nome as autoridades locais ou nacionais,
conhecem os parentes até graus reputados remotos pelos povos que
se consideram civilizados (25 ). f: este emaranhado de relações que
entra em ação na política, na religião, na vida social e nas tradi-
ções, - elemento imprescindível para compreensão de solidarie-
dades inesperadas, resistências imprevisíveis e r·eações imponde-
ráveis (26).
25. Donald PIERSON, Cruz das almas, Rio de Janeiro, José Olympio,
1966 (Coleção Documentos brasileiros, n.0 124), p. 262.
26. Américo Jacobina LAOOMBE, "Genealogia", RIHGB, t. 281 (1969),
p. 91.
.97
3 - DISCIPLINAS AUXILIARES
Paleografia
2. A Paleografia, ou decifração das grafias antigas, não tem
no Brasil a relevância que apresenta em países mais antigos. Para
o historiador brasileiro interessam especialmente as escritas por-
tuguesas e espanholas dos séculos xv a xIX.
Isto não quer dizer que o pesquisador brasileiro possa estar
despreparado para o estudo paleográfico, quer ao trabalhar em
acervos estrangeiros, quer ao lidar com material deles procedente.
"Quem aspira 1ao título de -investigador-", diz uma das grandes
autoridades em historiografia, "e queira contribuir para o pro-
gresso de nossa ciência, não pode desconhecer a paleografia. Os
conhecimentos paleográficos ou, ao menos, o domínio dos seus
princípios gerais, especialmente do setor que está em relação com
o ramo que p~squisa, sã,o para o investigador uma ciondiiçã:o
prévia" (1).
98
Em Portugal o ensino da paleografia foi estabelecido em
I 796, só precedido pela Itália em 1765, não somente para arqui-
vistas, mas também para notários. Foi professor João Pedro Ri-
beiro, a maior figura da paleografia portuguesa. Mas o curso re-
gular só se iniciou em 1801 na Torre do Tombo. Ali estudaram
Alexandre Herculano, o renovador da ciência histórica em Portu-
gal e Francisco Adolfo de Varnhagen, que representou papel equi-
valente no Brasil.
3. No Brasil só muito recentemente começou o estudo dessa
especialidade. No currículo do curso de biblioteconomia criado
na Biblioteca Nacional pela lei n.0 2.356, de 31 de dezembro de
1910, regulamentada pelo decreto n. 0 8.835, de 11 de julho de
1911, e instalado solenemente em 1O de abril de 1915, existia uma
cadeira (segunda) com o título de "Paleografia e diplomática".
No decreto n. 0 20.673, de 17 de novembro de 1931, que resta-
beleceu o mesmo curso e o desdobrou em dois anos, a mesma ca-
deira foi mantida. Na legislação em vigbr, :porém ( decreto-lei
n. 0 6.440, de 27 de abril de 1944, regulamentada pelo decreto
n. 0 I 5.395, da mesma data) , a cadeira de "Noções de paleografia"
foi considerada disciplina optativa e praticamente cessou o seu
ensino naquele curso( 2 ) .
O ensino da paleografia m3.ntém-se, porém, no curso de arqui-
vologia, mantido no Arquivo Nacional desde a reforma do regi-
mento aprovada pelo decreto n. 0 44.862, de 21 de novembro de
1958. O curso foi iniciado em 1959, pela portaria n. 0 5, de 1960.
Foi considerado parte do curso regular, compreendendo paleografia,
diplomática e notariado( 3 ).
4. Para o estudo, porém, das origens de várias instituições
que se projetaram no Brasil, é preciso conhecer a paleografia por-
tuguesa. Falta, infelizmente, já o notava o erudito Luís Camilo de
Oliveira Neto, .um bom álbum de documentos antigos porque nos
séculos finais da ~dade Média, perdidas na Península as normas
tradicionais, "a _escrita se fazia mais ou menos à vontade de cada
um". A Paleografía ibérica de Burnam, cuja publicação não se com-
99
pletou, ficando limitada à escrita visigótica, tem tido as suas trans-
crições seriamente contestadas ( 4 ).
Filologia
100
ou, ao menos, na forma mais prox1ma possível''( 5 ). A filologia,
como auxiliar da história, é, pois, uma ciência crítica do documento
escrito; tem em vista estudar as condições em que foi produzido, a
sua autenticidade essencial.
101
6. Devem-se a grandes filólogos (e não a historiadores)
algumas publicações de documentos fundamentais que foram de-
pois utilizados no campo da ciência histórica. Durante muito tem-
po levava-se em conta, na publicação de textos, uma argumenta-
ção, por assim dizer, numérica, adotando-se a versão que figurava
em maior quantidade de cópias. Mas nem mesmo a determinação
da antiguidade de um documento pode ser decisiva. Muitas vezes
uma cópia mais recente liga-se mais diretamente ao texto primitivo
- o arquétipo - e merece, por isso, mais fé. Daí a importância
do histórico de cada documento.
Diplomática
102
lio Viana, e passamos a ler as três cartas que o imperador escrevera
na semam da abdicação: uma delas dirigida ao filho pequenino
que deixava no Brasil. Grande silêncio em classe! Ao acabarmos
as alunas mostravam-se visivelmente emocionadas, algumas ha-
viam chorado durante a leitura dos documentos. Eis uma forma
de motivar os alunos"( 6 ).
103
tentes no Museu Imperial, por doação do príncipe D. Pedro de Orleans e
Bragança, encontrou o professor Hélio Viana um calendário maçônico ma-
nuscrito, pertencente a D. Pedro 1. Aplicando-o (com início do ano a 24
de março), todas as datas dos acontecimentos maçônicos ficam alteradas e
muito ma:s bem ajustadas à cronologia civil. (F. A. de VARNHAGEN, His-
tória da independência do Brasil, 3.ª ed., revista e anotada pelo prof. Hélio
Vianna, São Paulo, Melhoramentos, 1957, p. 129, nota 81.) Ainda sobre
o caler.,dário maçônico utilizado pela maçonaria brasileira, e confirmando o
documento do arquivo da Família Imperial, v. Isa CH'AN [pseud. de Kurt
Prober]: Achegas para a história da maçonaria no Brasil, São Paulo, 5968
[ 1968], I, p. 80-81.
Também as particularidades do calendário da Cúria Romana e suas
aplicações ao Brasil foram estudadas por Mons. Manuel de Aquino BARBOSA,
na memória sobre a data da bula Super specula, Anais do 2.° Congresso
de Hist. da Bahia, Salvador, 1952, p. 317.
8. O trabalho clássico aqui ainda é o de João Pedro RIBEIRO, "Esfra-
gística portuguesa, ou tratado sobre o uso do selo no nosso reino", Disserta-
ções chronologicas, Lisboa, 1910-1836, terceira dissertação, 1, 82. Quanto
ao Brasil, v. Jenny DREYFUS, "A sigilografia no Museu histórico", Anais do
Museu Histórico Nacional, t. 11, 1941, p. 193; da mesma autora: "Sigilo-
grafia", Síntese da cadeira do curso de museus. lb., t. XXI, 1969, p. 8, e
José HEITGEN, "Sinetes", Anuário do Museu Imperial, t. v, 1944.
Aos antigos selos apostos aos documentos, ora em cera, ora em papel
posto em relevo, ora junto às firmas, ora pendentes, em cera, lacre ou
chumbo, sobrevieram os carimbos. Entre estes notam-se os carimbos postais
e, a partir dos meados do século x1x, os selos postais. A filatelia tende a
firmar-se numa direção útil ao estudo e interpretação dos documentos.
Alguns catálogos já atingiram o nível de uma especialidade útil à ciência.
9. A heráldica se baseia, como é natural, na tradição portuguesa. Os
trabalhos mais utilizados são Antônio RODRIGUES, principal rei de armas
Portugal, Tratado geral de nobreza. Apresentação de Afonso de Domelas,
Porto, Biblioteca Pública Municipal, 1931; Anselmo Braancamp FREIRE,
Brasões da sala de Sintra, Coimbra, 3 v., 1921-1930; Albano da Silveira
PINTO e Viscor.-de de Sanches de BAENA, Resenha das famílias titulares e
grandes de Portugal, 2 v., Lisboa, 1890; Visconde de Sanches de BAENA,
Archil'o heráldico, Lisboa, 1873; Santos FERREIRA, Armaria/ português, 2 t.,
L:sboa, 1873; Armando MATOS, Braso11ário de Portugal, 2 v., Lisboa, 1940;
Armando de MATOS, "Comentários à margem da heráldica brasileira", Bra-
síl:a, v .Ili, Coimbra, 1944.
No Brasil as obras mais consultadas são: Barão de VASCONCELLOS
e Barão Smith de VAsCONCELLOs, A rchivo 110biliárchico brasileiro, Lausanne,
1918; Egon Prates PINTO, Armaria! brasileiro. f:poca: Brasil colônia. Iluminu-
104
ras de L. G. Loureiro, edição em suplementos da Revista da Semana, Rio de
Janeiro (29 gravuras); Mário Teixeira de CARVALHO, Nobiliário sul-rio-gran-
dense, Porto Alegre, 1937; José HEITGEN, "Achegas ao armorial brasileiro",
Anuário do Museu Imperial, Petrópolis, IV, 1943, p. 155.
Algumas instituições dedicadas à heráldica e à genealogia publicam
revistas especializadas. São elas: 1) Anuário genealógico brasileiro, 1939-
1948, 10 v., São Paulo. (Daí por diante passou a chamar-se Anuário
genealógico latino), citado AGB; 2) Revista genealógica brasileira, 1940-
1948, 9 v., São Paulo. (A partir daí passou a chamar-se Revista genealó-
gica latina), citada RGB; 3) Revista do Instituto de estudos genealóg;cos,
São Paulo (depois do n.0 7 passou a chamar-se Revista do Instituto herál-
dico-genealógico), 1939-1943, 9 v., citada RIHG; 4) Boletim do Colégio de
Armas e consulta heráldica do Brasil, Rio de Janeiro, 1955-1956, citado
BCACH; Revista do i1lstituto genealógico da Bahia, 1945-1958, 11 v. Ci-
tado RIGB; 5) Brasil genealógico, Revista do Colégio Brasileiro de Genea-
logia, 10 v., Rio de Janeiro (1960-1970).
Omitindo os estudes particulares sobre determinado brasão, merecem
ser citados os seguintes estudos: Salvador de MoYA, "Simbologia heráldica",
RIEG, li, n.o, 3 e 4; João José Mário Francisco Rodrigues de OLIVEIRA,
"Subsídios de heráldica", RIEG, 1, n.0 2; Roberto TuuT, "Técnica herál-
dica", RIEG, m, n.O 6, p. 273, e "Brasões de titulares do Império",
ib. 1x, p. 21; Francisco Marques dos SANTOS, "Cores nacionais e distintivos
da Independência", RIEG, IX, p. 539; Afonso de DORNELLAS, "Origens e
desanvolvimento da heráldica portuguesa", RIEG, rv e v, p. 214; Conde
Dom Antônio de SÃo PAYO, "A heráldica portuguesa", ib. 1v e v, n.0 8, p.
246; Jenny DREYFUs, "O escudo ovado, a sua origem e seu uso", RIEG, 1v
e v, n. 0 8, p. 92, e "lndice heráldico em relação a alguns nomes de famílias
que passaram para o Brasil", RIEG, n. 9, 1942-43 e "Heráldica", RGB, 6,
p. 383; Carvalho FRANCO e Roberto THUT, "Achegas a um brasonário paulis-
ta", RGB, V, n. 0 9, p. 75, VI, n. 0 11, p. 75, VII, n. 0 13, p. 83, VIII, n.0 15-16,
p. 247, 1x, n. 0 17-18, p. 81; ten.-cel. Henrique Oscar WIEDERSPAHN, "Origens
e evolução da jurisprudência herálica nacional", BCACH, n; Cid TEIXEIRA,
"Contribuição ao estudo da heráldica po1tuguesa", RIGB, u, n. 0 2, p. 9;
H. NEESER, "Investigações heráldicas", RIGB, VI, n. 0 6, p. 39 e "Brasonário
baiano", VIII, n. 0 8, p. 109; F.P. de Almeida LANGHANS, "Heráldica, ciência
de temas vivos", RIGB, vm, n. 0 8, p. 117; José HEITGEN, "Ainda técnica
heráldica", RGB, r, n. 0 l e "A fauna heráldica", RGB, VII, p. 259.
A heráldica de domínio, compreendendo brasões e bandeiras nacionais,
estaduais e municipais, tomou-se assunto polêmico no Brasil. Em torno
da bandeira nacional e dos símbolos nacionais houve larga discussão. V. a
respeito: Clóvis RIBEIRO, Brasões e bandeiras do Brasil, São Paulo, 1933;
Eduardo PRADO, A bandeira nacional, São Paulo, 1903; Teixeira MENDES,
A bandeira nacional, Rio de Janeiro, 1890; Eurico de GÓIS, Symbolos na-
105
Arqueologia, Iconografia, Indumentária
10. Finalmente temos a arqueologia( 1º) que estuda as fontes
históricas que não constituem propriamente textos, mas monu-
mentos (que podem ostentar, por sua vez, textos escritos) e obje-
tos usuais. Comporta ela inúmeras subdivisões que vão constituin-
cionaes, São Paulo, 1908, e A bandeira positivista, São Paulo, 1927; gen.
Eduardo Peres Campello de ALMEIDA, Bandeiras históricas do Brasil, Rio
de Janeiro, 1961; Afonso d'E. TAUNAY, "Heráldica municipal paulista",
Anais do Museu paulista, III, 1927, p. 419, e "Heráldica municipal brasileira",
ib., Vil, 475; Roberto THuT, "As armas nacionais e sua legitimidade heráldica",
RIEO, 1v, n. 0 7 ( 1940), p. 197; gen. Djalma Polli COELHO, "A bandeira do
Brasil", DCACH (1955), 1; Affonso RuY [de Sousa], "Projeto para um novo
brasão de armas do Estado da Bahia", RIGB, III, n.0 3 (1948), p. 21;
H. NEESER, "Projeto de uma ordenação para a heráldica de domínio", RIGB,
v, n.0 5 (1950), p. 143.
Outro campo da heráldica que permanece vivo, ao lado da heráldica de
domínio, é a heráldica eclesiástica. A este respeito escreveu um livro exaus-
tivo Luís Delgado GARDEL, Les armoiries ecclésiastiques au Brésil, Rio de
Janeiro, 1963. A propósito dele escreveu o heraldista Paulo Braga de ME-
NESES uma extensa recensão (RIHGB, v. 268, 1965, p. 413), onde faz um
esboço da tradição e legislação brasileira em matéria de heráldica. Ainda
sobre a heráldica eclesiástica, v.: Mons. Antônio Paes CINTRA, "Armorial
eclesiástico brasileiro", RGB, IX (1948) , p. 3 e ss., e Revistd genealógica
latina, n.0 2 (1950), p. 27; João Hermes Pereira de ARAÚJO, "Heráldica de
pessoas morais eclesiásticas", Ilustração brasileira, número especial dedicado
ao Ano Santo de 1950; Vasco Smith de VASCONCELLOs; História da pro-
víncia eclesiástica de São Paulo, com a colaboração heráldica de Paulo
Braga de Meneses, São Paulo, 1957; Irmão Paulo LACHENMEYER OSB,
"Brasões novos, Domínio e Eclesiásticos", RIGB, x, n.0 10, p. 179. J;:. de
grande utilidade também o Catálogo da exposição de modelos de brasão e
cartas de nobre~a e fidalguia, Colônia, Reino unido e Império. Documen-
tação cedida pelo Arquivo Nacional, Juiz de Fora, Universidade Federal de
Juiz de Fora, I 965.
10 . Arqueologia. O estudo dos restos deixados pela antiguidade ou
pelos primitivos é objeto de uma cadeira no curso de museus, existente no
Museu Histórico Nacional. Dele resultou um trabalho muito utilizado, de
Angyone COSTA, Introdução à arqueologia brasileira. Etnografia e história,
São Paulo, 1934 (Brasiliana, n.0 34), que é uma boa introdução geral
no tema. O mesmo autor escreveu Migrações e cultura indígena . . Ensaios
d! Arqueologia e etnologia do Brasil, São Pau!o, 1939, e Arqueologia geral,
106
do, cada uma, especialidades cada vez mais fechadas. Assim, a
iconografia (ramo da história da arte), que estuda a representa-
ção figurada das pessoas e fatos, tem sido muito pouco estudada
sistematicamente no Brasil ( 11 ); a indumentária, que estuda o ves-
tuário de cada épo::a( 12 ), trazem contribuição apredável para a
reconstituição do ambiente histórico.
São Paulo, CEN, 1936. No Brasil o objeto de maior interesse nesse setor
é o estudo dos restos deixados pelas tribos indígenas, cujo significado
ainda não está suficientemente esclarecido: os sambaquis. Sobre este tema, v.:
Everardo BACKHEUSER, A faixa litorânea. Brasil meridional. Hoje e ontem,
Rio de Janeiro, 1918 (especialmente a parte 2.ª). O livro mais antigo sobre
o assunto é o do barão de CAPANEMA, Os sambaquis, Rio de Janeiro,
1876. São imprescindíveis os trabalhos de Alberto CHILDE, "Arqueologia
clássica e americanismo", Arquivos do Museu Nacional, v. XIX, 1916, e
Emílio A. GOELDI, "Excavações arqueológicas em 1895", Memórias do
Museu Goeldi, 1905; Herman Von JHERING, "Arqueologia comparativa do
Brasil", Revista do Museu Paulista, v. VI, 1904; LADISLAU NETIO, "Inves-
tigações sobre a arqueologia brasileira", Arquivos do Museu Nacional, v.
VI, 1885. V. ainda: J. M. PALADOFF, "Arqueologia rio-grandense", Revista
do Museu Paulista, v. Iv, 1898, bem como o verbete "Arqueologia brasi-
leira", por Theodoro SAMPAIO, no Dicionário histórico, geográfico e etno-
gráfico do Brasil, Rio de Janeiro, IHGB, 1922, v. I. Até o presente momento
os resultados das pesquisas arqueológicas não são muito abundantes. Alguns
casos de impostura ficaram famosos, como o da inscrição fenícia numa
laje da Paraíba, em localidade que nunca se identificou. (Theod. SAMPAIO,
loc. cit., p. 848, Maria da Conceição M. Coutinho BELTRÃO e Roque de
Barros LARAIA, "Método arqueológico e interpretação etnológica", RPHAN,
V. 17, 1969.)
Note-se que são poucos nítidos os limites entre a arqueologia, a paleon-
tologia e a etnografia e que, por sua vez, há uma tendência para a espe-
cialização dentre os arqueólogos; como, por exenwlo, a ceramografia.
A arqueoiogia moderna é voltada especialmente para o aperfeiçoamento das
técnicas de pesquisas de restos históricos. Torna-se, cada vez mais, uma
técnica prática, militante, e não de gabinete. (SAMARAN, L'histoire et ses
méthodes, Paris, Pléiade, 1961, p. 252.)
11. A melhor fonte para o estudo da iconografia brasileira aiooa
é a Secção Artística, classes xv a xx do Catálogo da Exposição de História
do Brasil, cit. "A carência de dados iconográficos do passado, sobre a
cidade, o campo, a milícia, o móvel, a roupa, o trato social e doméstico, nos
obrigam a tatear em plena sombra por longos séculos", diz Wasth RODRIGUES,
em "Trajes civis e militares", Revista do Arquivo .P1íblico, Pernambuco,
1949, p. 197.
107
:É este dos pontos mais desprezados .por historiadores e professores
brasileiros, quer nos trabalhos de pesquisa, quer nos compêndios. Nos
primeiros, deixa-se de mencionar freqüentemente a origem das gravuras,
às vezes fonte importante para pesquisas ulteriores. Nos segundos, deixa-se
de chamar a atenção dos estudantes para minúcias, ou peculiaridades, de
grar,de interesse para a didática. Compare-se com os bons compêndios
cstrar.geiros. Em 1929, de acordo com a Terceira Assembléia do Comitê
Internacional de Ciências Históricas, constituiu-se no Brasil um subcomitê
de Iconografia, presidido pelo Dr. Max Fleiuss (RIHGB, t. 106, p. 451 e 513).
O plano de classificação do material iconográfico foi aprovado pelo dito
comitê em 1930 (RIHGB, v. 165, p. 11). Infelizmente esta iniciativa não teve
prosseguimento.
V. ainda, Alberto IRIA, "Inventário da iconografia brasileira no Arqui-
vo Histórico {Jltramarino", Studia, Lisboa, n. 0 16, XI, 1965. Uma História
do Brasil em quadros, editada pela revista Manchete, em 1963, teve cará-
ter meramente de divulgação popular. Tem servido de fonte para ilustração
de mu:tos trabalhos, posto que nem sempre dividamente mencionada, a obra
do dr. B. F. RAMIZ GALvÃo [barão de Ramiz], Galeria histórica brasileira,
1509-1900, Rio de Janeiro, Garnier [1900].
Com os aperfeiçomentos da gravura e da fotografia, a iconografia
ganhou maiores dimensões. Para o Brasil C' trabalho mais completo sobre
o progresso da fotografia é o de Gilberto FERREZ, A fotografia no Brasil,
Rio de Janeiro, 1953 [Separ. da RPHAN].
Uma especialidade importante da iconografia, porque indicativa do
espírito de certas épocas, é a caricatura, hoje em dia muito empregada
na ilustração de livros históricos. O mais completo estudo no Brasil é
o de Herman LIMA, História da caricatura no Brasil, 4 v., Rio de Janeiro,
José Olympio, 1963.
Mencionem-se ainda alguns trabalhos especializados: Oswaldo P. da
SILVA, Gravura e gravadores em madeira. Origem, evolução e técnica da
xilografia, Rio de Janeiro, 1941. Sobre a litografia há o trabalho de Pedro
Totquato Xavier de BRITO, "Notícia acerca da introducção da arte litho-
graphica e do estado de perfeição em que se acha a cartographia no Impé-
rio do Brasil", RIHGB, t. XXXIII, 2.ª parte, 1870, p. 21. Um estudo importante
é o de Manuel QuERINO, "A litografia e a gravura", RIHGB, n. 0 40 (1914).
Está incorporado ao livro do autor: A Bahia de outrora. Prefácio e notas
de Frederico Edelweiss, Salvador, Progresso, 1946 (Col. Estudos brasi-
leiros, série l.ª, v. 3).
12. Há poucos trabalhos sobre esta especialidade no Brasil. Sobre
uniformes militares, v. Gustavo BARROSO e J. Wasth RODRIGUES, Uniformes
do Exército Brasileiro, Rio de Janeiro, 1922; J. Wasth RODRIGUES, Fardas
do Reino-Unido e do Império, Rio de Janeiro, 1953 [Separ. do Anuário do
Museu Imperial, de Petrópolis], do mesmo autor: Trajes civis e militares
108
Epigrafia, Numismática e outras
109
málica portuguesa, 2 v., Lisboa, 1946. Não é possível deixar de mencionar
as obras de José Leite de VASCONCELOS, Numismática nacional, Lisboa,
1888; E/encho das lições de numismática, Lisboa, 1894, e Da numismá-
tica em Portugal, Lisboa, 1923.
No Brasil o trabalho precursor é de Cândido de Azeredo COUTINHO,
Noticia sobre as moedas do Brasil e seu valor intrínseco, Rio de Janeiro,
1867. Revestem-se de grande rigor e são freqüentemente utilizados os
livros de Julius MEILI, Das Brasilianische Geldwesen. 1. Theil, Die Münzen
der Colonie Brasilien, 1645 bis 1822; 2. Die Muezen des unabhaegigen
Brasilien, 1822 bis 1900; 3. A moeda fiduciária do Brasil, 1777 até 1900,
3 v., Zurique, 1897-1905. Mencionem-se ainda os trabalhos de Miguel
Archanjo GALVÃO, A moeda no Brasil. Histórico e catálogo de uma coleção
de moedas e medalhas do Brasil desde os tempos coloniais até 14 de no-
vembro de 1889. [Separ. da RIHGB, t . 66, 2.ª, 1905); Giovanni EBOLI, A
numismática brasileira, São Paulo, 1907. e clássico também o Catálogo
da coleção numismática brasileira de Augusto de Sousa LoBo, Rio de
Janeiro, 1908. Recentemente devem-se assinalar: Saturnino de PÁDUA, As
moedas brasileiras, Rio de Janeiro, 1928 (2.ª ed., 1941); Eusébio de SousA,
· Numismática cearense, Fortaleza, 1933; Kurt PROBER, Catálogo das moe-
das brasileiras de prata, São Paulo, 1947; Oswaldo SoARES, "Numismática
maranhense", Geografia e história. Revista do instituto Hist. e Geogr. do
Maranhão, Ano n, n.0 l, 1948, p. 89; Mário BARATA, Ensaios de numis-
nuítica e ourivesaria, Rio de Janeiro, Pongetti, s. d.; Alfredo Solano de
BARROS, "A gênese da numismática brasileira", Anais do Museu histórico
Nacional, vol. I p. 89. Do mesmo autor: "O Brasil colonial e seu meio
circulante", ib., vol. VI, 1945; Professor Edgard de Araújo ROMERO, chefe
da secção de numismática do Museu Histórico Naci-onal, é autor de alguns
trabalhos utilíssimos: "Numismática brasileira", Casa da Moeda, revista,
n. 0 18, 1949; "O meio circulante no Brasil holandês", Anais do Muse11
Histórico Nacional, vol. 1; "O Estado do Maranhão e o seu meio circulan-
·te", ib., 11; "Numismática brasileira. Reinado de D. José 1", ib. IV; "Reinado
de D. Maria 1", ib., v1. O estudo sobre o reinado de D. José I apareceu
também na Revista brasileira de numismática, vol. v (1937) . Sobre o Brasil
colonial, v. ainda : Alvàro Salles OLIVEIRA, "História numismática do
Brasil colonial", Revista brasileira de numismática, vol. v, 1937, e Severino
SoMBRA, História monetária do Brasil colonial. Repertório cronológico,
com introdução, notas e carta monetária, 2.ª ed., Rio de Janeiro, 1938.
Em 1940 os numismatas realizaram uma reunião que provocou va-
liosas contribuições. Dela resultaram os Anais do primeiro congresso de
numismática brasíleira, 2 t., 1937-1940. Publica-se também uma R evista
brasileira de numismática, em São Paulo, desde 1937.
Outro setor da numismática muito útil à pesquisa histórica é o das
medalhas. As obras principais, para o Brasil, são: Cândido de Azeredo
110
COUTINHO, Apreciação do medalheiro da Casa da Moeda apresentada na
exposição de 1861, Rio de Janeiro, 1862; Viscondessa de CAVALCANTI,
Catálogo das medalhas brasileiras e das estrangeiras referentes ao Brasil
da coleção numismática pertencente à . .. , 2.ª ed., Paris, 1910, 2 v.; Julius
MEILI, As medalhas referentes ao Império do Brasil (1822-1889), 1890.
Um exemplar deste trabalho, abundantemente anotado em vista de uma
segunda edição, existe na Biblioteca do Itamarati. Ver ainda Gilberto
FERREZ, Os irmãos Ferrez da Missão a;tística francesa, Separ. do vol. 275
da RIHGB, 1968.
A respeito das medalhas militares, v.: Álvaro da Veiga COIMBRA,
"Medalhas militares", Casa da Moeda, números de 1949 e 1950; Alfredo
Solano de BARROS, "Medalhas militares brasileiras", Anais do Museu Hist.
Nacional, vol. II; Francisco Marques dos SANTOS, M edalhas mi/ítares brasi-
leiras (Da época colonial ao fim do primeiro reinado), Rio de Janeiro,
1937. (Há edição em espanhol, Montevidéu, 1938); do mesmo autor:
A guerra do Paraguai na medalhística brasileira, São Paulo, 1937; Lau-
rênio LAGO, Medalhas e condecorações brasileiras. Coletânea de atos ofi-
ciais, 1808-1934, Rio de Janeiro, 1935.
As condecorações, antigamente ordens de cavalaria, que se estudavam
no capítulo da história religiosa, dado o caráter monacal por elas assu-
mido, em face da completa laicização sofrida, são hoje simples insígnias
conferidas pelos governos. Por isso são incluídas entre as medalhas. No
Brasil, a obra mais completa é a de Luís Marques POLIANO, Ordens
honoríficas no Brasil. Hist6ria, organização, padrões e legislação, Rio de
Janeiro, 1943. Sobre a ordem do Cruzeiro, v. Ministério das Relações
Exteriores. Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, Decretos e regulamentos,
Rio de Janeiro, s. d.; Minist. das R ei. Exteriores. Cerimonial. Lista dos
agraciados com a ordem nacional do Cruzeiro do Sul, Rio de Janeiro, 1970.
Sobre as ordens imperiais, v. Artidoro Augusto Xavier PINHEIRO, Orga-
nização das ordens honoríficas do Império do Brasil, São Paulo, 1884.
Sobre algumas ordens em particular: Gastão PENALVA (pseud. de Se-
TAVANO e José Augusto da SILVA, Notícia hist6rica das ordens militares
e civis portuguesas, Lisboa, 1881; J . Vieira da Silva GUIMARÃES, A ordem
de Christo, Lisboa, 1901.
Sobre algumas ordens em particular: Gastão PENALVA ( i:seud. de Se-
bastião de Sousa), "A ordem de Colombo", R evista numismática, 1934;
cel. Boaventura PEREIRA (pseud. de Francisco Marques dos Santos), "A
propósito da Real ordem de Santa Isabel", ib., n.º' 1-2, 1936; L. G.
d'EsCRAGNOLLE DORIA, "A ordem de Santa Isabel", ih., n.º' 3-4, 1937;
Orlando Guerreiro de CASTRO, "Influência napoleônica nas insígnias das
ordens honoríficas do Império do Brasil", Anais do 1.0 congresso de nu-
mismática brasileira, São Paulo, 1936; Jen:iy DREYFUS, "D. Sebastião Ga-
briel de Bourbon e Bragança" [a propósito das veneras de seu retrato],
111
aos estudos históricos. Assim, a geografia é quase imprescindivel~
mente estudada para a compreensão do quadro em que se vão dc-
s,enrolar os acontecimentos( 15 ), bem como sua própria disciplina
112
sua "decisiva orientação geográfica". (História e historiadores do Brasil,
São Paulo, Fulgor, 1965, p. 39.)
Das especializações geográficas, algumas interessam diretamente a his-
tória. Assim, a geomorfologia, que visa não somente à geologia, mas
ainda, e sobretudo, acs sistemas de erosão, que dão a terrenos geologica-
m~!lte comparáveis formas completamente diversas; a paleomorfologia, evo-
cando ciclos de erosão que se sucederam no correr dos tempos, lígada assim
à climatologia, que é o estudo da temperatura, da umidade, da eletricidade
e da química da atmosfera e suas variações, conforme as zonas, as latitudes,
longitudes e os tempos; a hidrologia, estudo da ação das águas continentais
ou marinhas; a biogeografia, estudo da flora e da fauna, sob a depend;ncia
mediata ou imediata do solo e do clima; a ecologia, que mostra a adaptação
dos organismos ao meio físico, inseparável do estudo da ação humana (des-
florestamento, queimada, caça e extinção de animais selvagens, ameaça ao
eouilíbrio biológico, expansão de animais domésticos). Mencionemos ainda a
geografia humana em geral, que estuda a domin-ação da superfície do globo, a
partir do meio natural. Pode ser considerada, sob o ângulo demográfico, estu-
c!ando a quantidade, a composição ou a repartição do povo nas diferentes re-
giões do ll}Undo. O estudo do aspecto social da população, desde as sociedades
;,rimitivas, que vivem da colheita, da caça e da pesca, é o campo da geo-
grafia econômica, que examina não só o produto da exploração, mas tam-
bém o trabalho através do qual são explorados os recursos. Exemplos de
estudos geográficos básicos para conclusões no campo da história são os
do professor Everaldo BACKHEUSER, Estrutura política do Brasil, Rio de Ja•
neiro, 1926, e Problemas do Brasil, Estrutura geopolítica. O espaço, Rio
de Janeiro, 1933.
A cartografia, dispondo hoje de poderosos inst~umentos mecânicos de
pesquisa, tem trazido valíoso auxílio à ciência histórica. A fotografia aérea,
por exemplo, tem proporcionado revelações inesperadas aos arqueólogos e
pesquisadores.
Outro setor da geografia que ainda não mereceu suficiente atenção
de brasileiros é a toponímia, que tem sido objeto de sérios estudos na
Europa. (V., p. ex., E . Ni::GRE, L es 11oms de lieux en France, Paris; A.
Colin, 1963; A. VINCENT, Toponymie de la France, Bruxelas, 1937. ) Entre
nós. o estudo mais imo0rtante é o o:ie Thendoro SAMPAIO, O tupi na geografia
nacional, 4.ª ed., In·trod. e notas de F. EoELWEiss, Salvador, 1955. Muitos
elementos se encontram no segundo volume do Dicionário etimológico da
língua portuguesa (nomes próprios), de Antenor NASCENTES, Rio de Janeiro,
1952. V. também o precioso trabalho de Luís SILVEIRA, "La toponymie des
territoires portugais d'outre-mer", Studia, v. 1, 1958. Uma descriteriosa revisão
de nossa nomenclatura _geográfica. alterando nomes tradicionais e imoondo
uma nomenclatura artificial, extraída de línguas indígenas alheias à região, ti-
rou de nossa toponímia a sua fisionomia autêntica, criando sérios embaraços
113
auxiliar, que é a cartografia( 16), o direito, para o estudo das insti-
tuições; e a etnologia, quase sempre vizinha da história em suas
investigações (17).
114
Cooperação das Ciências
12. A rigor não são somente as ciências limítrofes que po-
dem eventualmente servir ao historiador. Todas as ciências sociais,
115
isto é, as que tenham o mesmo objeto material, distinguindo-se pelo
objeto formal, são convocadas a colaborar no estudo de uma época.
A economia, o direito, a estatística, a política, a sociologia se in-
terpenetram. Torna-se cada vez mais difícil traçar os limites entre
elas nas grandes obras ,coletivas que, gradativamente, apresentam
uma visão global dos fenômenos sociais.
Não mais estamos na era em que o labor historiográfico se
limitava a um exame de laboratório de fatos, mediante os instru-
mentos restritos das ciências auxiliares. "Os documentos não são
outra cousa senão as marcas exteriores, mais ou menos aciden-
tais, do conteúdo efetivo da história a que se referem. É, pois,
necessário saber tirar deles todo o proveito, saber descobrir neles
a suma realidade que representam. E aqui se manifesta toda uma
série de premissas, muito mais importantes com relação às con-
clusões. São elas que constituem aquilo que o historiador conhece
ou pensa acerca da natureza geral dos fenômenos estudados pela
história. Sucede assim que os mesmos documentos dizem cousas
muito diversas ao historiador que dispõe de cultura meramente lite-
rária e ao que dispõe de cultura jurídica, econômica e sociológica.
Um dado estatístico, para o primeiro, não passa de um número;
para o segundo pode revelar toda uma ampla situação social de
uma cidade ou de um Estado. A descrição de determinado pro-
cesso criminal pode não passar para um de uma simples curiosidade
de erudição. Para outro será um clarão que o lança na pista da
reconstrução de toda uma fase típica da evolução jurídica de um
povo"(lS).
Foi um grande pensador, Emile Boutroux, que chamou uma
vez a atenção para a -impossibilidade de considerar as ciências como
divisões estanques: "A verdadeira ciência não é um sistema de
compartimentos construídos de uma vez por todas, no qual se de-
vem alinhar, por bem ou por mal, todos os objetos colhidos na
natureza. A ciência é o próprio espírito humano no esforço de
compreensão das coisas e, para conseguir atingi-la na medida do
possível, trabalhando, adaptando-se e diversificando-se"(l9) .
Finalmente observemos com um grande pesquisador que o
próprio termo "ciência Auxiliar" é hoje ambíguo. "A Classificação
de todas essas disciplinas é incômoda. Houve quem propusesse
116
discriminá-las em dois grupos, conforme as relações mais ou menos
estre.itas com as fontes escritas. Cinco ciências auxiliares seriam
assim postas ao serviço do historiador que examina um documen-
to: a paleografia, a filologia, a diplomática, a cronologia e a geo-
grafia. Por outro lado a arqueologia, a heráldica, a numismática,
a epigrafia e a sigilografia seriam convocadas para facilitar o
estudo dos testemunhos históricos fora das fontes escritas. Tal
quadro não pode ser admitido sem objeções. Como separar a di-
plomática da sigilografia? Não são os selos apostos aos diplomas?
Por que limitar a arqueologia à explicação de documentos não-
escritos, quando tantos textos incluem monumentos, instrumentos
e mil objetos cuja compreensão exige o auxílio da arqueologia?
Como é possível deixar de colocar a psicologia em primeiro plano
na lista das ciências auxiliares?" (Z. Barbu, Problems of histo-
rical psychology, Londres, 1960.) ·
"O problema das definições dessas disciplinas não é menos
irritante. Há definições que parecem feitas para misturar e con-
fundir as mais simples noções. Reivindicam certos filólogos como
deles o estudo de todas as manifestações do espírito humano. Afir-
mam os geógrafos ser domínio próprio da geografia tudo que se
passa sobre a terra e na terra. E, afinal, não é a história mesma,
vista de longe, considerada senão como o capítulo mais recente
da história natural?" (É o ponto de vista de Teilhard de Chardin,
em Le groupe zoologique humain, Paris, 1956, p. 114.) "Eis alguns
temas adequados para atingirem, em seus propósitos desencontra-
dos, os historiadores que de boa vontade incorporariam na sua
ciência a integralidade do passado planetário: cosmologia, paleon-
tologia, geologia, etc."( 2º).
E conclui o mestre francês com admirável bom-senso: "Re-
nunciemos, pois, a hierarquizar as ciências auxiliares em relação
à história, bem como a fixar-lhes o número. O verdadeiro pro-
blema não é, aliás, isolar as ciências. É pelo contrário necessário
associá-las para a pesquisa. Todo isolamento seria uma regressão,
já que não há ciência autônoma ,e todas as ciências são solidárias e
auxiliares umas das outras" ( 21 ) .
117
Não é somente na pesquisa que se impõe a cooperação das
ciências, mas igualmente no ensino. Eis os motivos pelos quais,
sem eliminar as disciplinas existentes, os modernos planos peda-
gógicos estabelecem os projetos comuns, em que economistas, so-
ciólogos, antropólogos, geógrafos e historiadores se entreguem a
pesquisas harmônicas e paralelas. Na atual lei do ensino, n. 0
5. 692, e suas complementações, delimitaram-se três grandes áreas
de estudos para reunir as matérias do núcleo comum, sendo uma
delas os estudos sociais. O conteúdo desses seria o ensino da geo-
grafia, da história e da organização social e política. As matérias
do currículo, diz ainda a lei, serão oferecidas na forma de disci-
plinas, áreas de estudos e atividades. As disciplinas constituem
o ensino e aprendizagem de conhecimentos sistemáticos específicos.
As áreas de estudo serão a integração de conteúdos afins, confor-
me entendimentos entre os responsáveis de mais de uma disciplina.
As atividades compreendem o ensino e aprendizagem através de
experiências obtidas em situações concretas, próprias para as qua-
tro primeiras séries do primeiro grau (22 ).
Alguns intérpretes apressados viram nesse plano a eliminação
do ensino disciplinar. Foi a essa distorção que os professores de
história, em manifestação coletiva, procuraram obviar em documen-
to de importância.
14. Enquanto permanecemos no terreno da pesquisa, classüi-
cação e depuração de fontes, trabalho de técnica e perícia, não há
nada que separe os pesquisadores. Na elaboração propriamente
do texto histórico surgirão, necessariamente, as divergências deri-
vadas âa concepção filosófica ou da finalidade que cada historiador
tem em vista. A pesquisa congrega os historiadores, a exposição
os divide. O conceito filosófico que fazem da história cohduz 0
interpretações diversas, e conseguintemente a um diverso quadro
de valores para o julgamento dos fatos.
Dentro dessa concepção filosófica, dois historiadores licita-
mente diferenciam-se na interpretação dos mesmos fatos. Nos
dados fornecidos pela pesquisa, devidamente apurados por uma
competente e honesta crítica histórica, cada historiador pode captar
aqueles que estão na mira de sua finalidade. "O presente é quem
governa o passado", disse João Ribeiro, "e é quem fabrica e com-
põe nos arquivos a genealogia que nos convém. A verdade, cor-
rente hoje, sabe buscar, onde os há verossímeis, os seus fantasmas
prediletos de antanho. . . O presente modela e esculpe o seu pas-
118
sado, levanta dos túmulos os seus heróis e constrói com as suas
vaidades, ou a sua filosofia, a hipótese do mundo antigo"( 23 ).
23. João RIBEIRO, "Discurso de posse no Instituto Histórico e Geogr.
Brasileiro", RIHGB, t. 78, 2.ª, p. 617 (1915).
O sábio professor aborda aqui um dos mais complexos problemas da
historiografia: o comando, por parte do presente, da pesquisa do passado.
Neste sentido é que Benedetto CROCE disse que toda história é contemporâ-
nea. A verdade, nota Paul RICOEUR (Histoire et vérité, Paris, Seuil, 1955),
é que cabe ao historiador atribuir um valor histórico ao acontecimento.
"O documento não era documento sem que o historiador tivesse em mente
dirigir-lhe uma pergunta" (p. 28). :É ao historiador que cabe estabelecer
uma relação entre os fenômenos que ele destacou: este estabelecimento
resulta de uma concepção ordenadora que exprime o mais alto esforço do
historiador para o encadeamento dos fatos: é o fruto de uma teoria (ib.,
p. 30). Este julgamento preside à pr6pria escolha dos fatos e dos fatores,
o complexo dos esquemas de causalidade. O historiador não capta senão
os acontecimentos que julga importantes. Neste sentido, diz Raymond ARoN,
"a teoria precede a história".
Ora, é perfeitamente válido situar, dentro da noção do progresso, a
escatologia cristã (ib. 81). Para os que crêem na Providência, a história
é, sobretudo, a salvação da humanidade. "Não há senão uma história", diz
um escritor de nossos dias, "a salvação dos entes, que Deus empreende com
incansável bondade e obstinação. A história do mundo, esta que lemos nos
jornais, é o resíduo da história da salvação." (André FR0SSARD, "L'espérance",
entrevista ao Figaro, em 31 de julho de 1970.)
A descrição de fatos puros e a acumulação de dados não constitui
ciência alguma. "O simples fato de chamar hist6rico a certo fato e a tal
dado introduz já, quer o historiador se dê disso conta ou não, todo o a
priori historiológico na massa do puramente factício e fenomênico." São
palavras de ORTEGA Y GASSET, "Historiologia", Goethe desde dentro, Buenos
Aires, 1940, p. 205. E acrescenta este conceito de GoETHE: "Todo fato
já é teoria". Na mesma página lê-se este conceito de HEGEL: "O historiador
corrente, medíocre, que crê e pretende conduzir-se receptivamente, entre-
gando-se simplesmente aos dados, não é, realmente, passivo no seu modo de
pensar. Traz consigo suas categorias. Através delas vê o que existe".
Observa ainda R1COEUR que aquilo que permite ao cristão ultrapassar
o absurdo aparente dessa história, que tantas vezes se assemelha a uma
"história de louco narrada por um idiota", é que esta história tem um
sentido que não é inacessível, que pode ser entendido (p. 98).
Enquanto a história do progresso representa o lado racional da histó-
ria, e a ambígüidade, no nível existencial, representa o ·lado irra:::ion-al, a
esperança introduz nela o sentido supra-racional (ib.). A relação. entre as
119
15. O interesse pelos fatos históricos varia conforme os pro-
blemas presentes, cujas raízes o investigador vai buscar no passado.
Daí haver uma história autêntica, no sentido da honestidade da
pesquisa e de boa técnica de elaboração, mas que é diversa de
outra, cujo ponto de vista é legitimamente diferente. A investiga-
ção do passado se faz, quase sempre, no s,entido de esclarecer os
fundamentos de certos problemas, as causas de determinadas cri-
ses. Da diversidade das perguntas resulta, pois, a licitude da varie-
dade nas respostas.
A rigor pode-se dizer que cada geração refaz a história do
passado e elabora uma história própria, compatível com a sua men-
talidade. Mesmo a história romana, por exemplo, cujas fontes têm
sido tão seguidamente estudadas, aparece-nos continuamente com
uma nova feição, não somente pela retificação de pontos informa-
tivos, m:1s pela ênfase que se passa a dar a certos problemas e
circunstâncias que interessavam menos ao historiador da geração
antecedente. Neste sentido cada geração faz a sua filosofia política
e a sua história.
Assim, a geração liberal, empenhada na construção de um
arcabouço político assegurador da liberdade individual, foi captar,
na massa dos fatos da história romana, os que lhe fornecessem
um roteiro para a liberdade. Já os doutrinadores do Estado absor-
vente e unificador encararam preferentemente os elementos for-
madores do Império. A nossa geração, absorvida pelos problemas
resultantes do conflito de classes, vai abeberar-se na mesma fonte
para colher as lições da sociedade romana nesse setor. Longe,
pois, de constituir a fraqueza da ciência histórica, esse contínuo
refazer do passado e a inexistência de uma narrativa definitiva
120
( expressão sem conteúdo científico) provam a riqueza e a impres-
cindibilidade da fundamentação histórica de cada concepção po-
lítica.
16. As soluções históricas, portanto, que o brasileiro vai
buscar no passado do Brasil, correspondem às questões diversas do
historiador europeu. Enquanto este encara preferentemente a ex-
pansão da cultura ocidental, o historiador nativo quer estudar o
delineamento e surgimento da nacionalidade brasileira: no campo
da política, o problema do conflito entre o localismo e a centra-
lização; no campo da sodedade, a fusão das raças, a movimentação
das classes.
É, assim, um erro pensar que algum historiador possa erguer
qualquer construção científica sem uma base filosófica. Explícita
ou implicitamente, no rumo que tomam as investigações, obedece
ele a um roteiro resultante de suas indagações.
17. Varnhagen, por exemplo, é o autor do monumento his-
toriográfico até hoje mais imponente da nossa literatura histórica.
De um exame atento de sua obra verifica-se que o autor visou,
ao traçar o seu plano, à defesa de dois elementos que ele julgou
básicos para o Brasil: - a superioridade da raça branca (donde o
plano inferior em que coloca o índio e o negro) e a vantagem
da forma monárquica, mantenedora da ordem e da unidade nacio-
nal. Esta apologia aparece mais visível no esboço inacabado da
História da Independência.
Eis, porque é possível prever que a obra do maior historiador
brasileiro deva ser superada em nossa geração. O reforço de ele-
mentos historiográficos, trazidos sucessivamente às suas páginas
pelos dois maiores nomes da ciência histórica que lhe sucederam,
Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, atualizou-lhe as informa-
ções, mas não puderam atualizar-lhe a diretriz geral, em desacordo
com a atual mentalidade em face dos problemas raciais e da ex-
periência republicana, que preservou vitoriosamente a estrutura da
unidade brasileira dentro do sistema federal,
121
4 - ELABORAÇÃO DA IDSTóRIA DO BRASIL
122
oficial do autor permitiu que fosse feita à vista das peças arquivais
originais, contém numerosas referências ao Brasil, dentro de um
contexto altamente apologético da coroa espanhola.
, 3. Ainda sob o governo de um rei espanhol, foi estabelecido
o ca.rgo de cronista-mor do reino de Portugal, existente outrora, e
nomeado para o cargo Francisco de Andrade (1540?-1614), guar-
da-mor da Torre do Tombo. :E: autor de uma Crônica de D. João
III (1613), mais valiosa pela linguagem que pela pesquisa, mas
bastante criteriosa( 3 ) • • Foi sucedido por Frei Bernardo de Brito
(1569-1617). Este é um dos monges da Escola Alcobacense e
não goza de nenhum crédito como historiador. Nomeado por
carta-patente de 12 de julho de 1614, foi ele um dos colaboradores
da obra monumental, a Monarquia lusitana. Nela escreveu apenas
a primeira parte. Tampouco interessa ao nosso país o grande his-
toriador da mesma série Frei Antônio Brandão (1584-1637), que
atingiu o reinado de Afonso III. No mesmo caso está Frei Fran-
cisco Brandão (1601-1679) que sucedeu o tio como cronista-mor
e, na Monarquia lusitana, historiou o reinado do rei D. Dinis. Frei
Rafael de Jesus (1614-1693), também continuador da obra e cro-
nista-mor, não nos interessa quanto ao capítulo que nela escreveu
sobre D. Afonso IV, mas sim quanto à Vida do sereníssimo rei D.
João IV de gloriosa memória, Coimbra (1940-1942), prolixa e
confusa, mas onde há várias referências ao Brasil. Outro cronis-
ta-mor, Frei Manuel dos Santos (1672-1743), prosseguiu na ela-
boração da Monarquia lusitana até o reinado de D. João I. Escre-
veu também a discutida História sebástica ( 1735), na qual apare-
cem várias referências às colônias. Segue-se na função de
cronista-mor Frei Manuel da Rocha (167 6-17 44), que não escre-
veu sobre o período posterior aos descobrimentos. Como se vê,
apesar de contar com alguns vultos importantes da historiografia
portuguesa, a série dos cronistas-mores não traz grande contribuição
para o estudo do Brasil, já que se concentraram seus estudos na
primeira fase da história do reino.
4. A preocupação de valorizar o que haviam feito os portu-
gueses levou; porém, o governo, após a restauração, a criar um
cargo novo, o de Cronista do Brasil. Esta criação foi devida à
iniciativa das câmaras municipais. Eis aqui um dos motivos para
discordarmos de Capistrano de Abreu quando considera de some-
conhecfda corno Décadas de Herrera, e ainda a Historia general del mundo
dei tiempo dei senor D. Felipe el Segundo, Valladolid, 1606.
3. Para·os cronistas· e historiadores portugueses, v. Joaquim Veríssimo
SERRÃO, Historia breve da historiografia iortuguesa, Lisboa, Verbo, 1962;
123
nos a influência das câmaras muruc1pais. .B importante notar que
a iniciativa partiu das municipalidades: as câmaras da Bahia, de
Pernambuco, do Rio de Janeiro e de Angola, esta solidária com
as brasileiras, de tal modo eram correlatas as atividades americanas
e africanas. As câmaras foram atendidas pela provisão régia de 1.0
de junho de 1661. Dizia o ato real que seu objetivo era criar um
cargo "para que houvesse pessoa que escrevesse e desse à estampa
os feitos que, no Brasil, obraram os portugueses". A essa pessoa
facultava-se, então, o acesso à Torre do Tombo, privilégio dificil-
mente outorgado, e a todos os arquivos portugueses, a esse tempo
fechados.
5. O cronista nomeado foi o dr. Diogo Gomes Carneiro.
Deveria receber vencimentos vultosos para a época: 200.000 rs por
ano, pagos por quotas das câmaras da Bahia, Pernambuco, Rio
de Janeiro e Angola( 4 ). Foram minguados os resultados dessa
medida. O cronista, nascido em 1618, faleceu aos 58 anos, tendo
deixado uma obra escrita que foi oferecida ao rei e examinada
por várias pessoas. Frei Francisco Brandão, por exemplo, cronis-
ta-mor do reino, como foi dito, leu o trabalho e fez-lhe vários elo-
gios. Mas os originais se perderam. Talvez um dia ainda apareçam
em algum arquivo português. Dizem os que viram o manuscrito
que não estava caligraficamente perfeito. Eram, talvez, aponta-
mentos ainda não ordenados definitivamente. Mas como o cronista
teve acesso aos arquivos portugueses anteriormente ao terremoto
que destruiu algumas repartições públicas importantíssimas, como
a Casa da 1ndia, é muito provável que sua obra nos viesse a escla-
recer muitos pontos obscuros que constituem enigmas até hoje.
124
O que nos resta deste empreendimento é uma pilha de reque-
rimentos reclamando o pagamento das contribuições. Ao que pa-
rece, os ordenados de Diogo Gomes Carneiro não foram pagos com
regularidade porque as câmaras não depositavam as contri-
buições(5).
125
nações estrangeiras". "Para o animar a lhe dar princípio", disse o magis-
trado-perito, "deve Vossa Alteza mandar ordenar que, por conta dos anos
passados, ou por mercê particular, se lhe dêem 1. 000 cruzados, para ajuda
de a começar, por ser pobre e ter gastado algum dinheiro na compra de
livros e com as pessoas que lhe copiaram outros e escrevessem seus ditados,
porque ainda que em seus dias a não conclua, ao menos se aproveitarão
os rascunhos e manuscritos, para, por sua morte, a poder continuar e
acabar outro qualquer sujeito que Vossa Alteza for servido encarregar dela,
porque com eles, tendo as notícias necessárias e juntas, e sem andar mendi-
gando, lhe ficará mais fácil o prossegui-la." Curioso é que o Conselho
ajunte a circunstância de que "alguns dos príncipes da Europa lhe mandaram
oferecer gratificação deste trabalho se quisesse aplicar-se a ele por sua
conta para o mandar imprimir em seus reinos, o que não convém à autori-
dade real e à reputação da nação portuguesa". O despacho real mandou
apressar a contribuição das câmaras. Quanto ao adiantamento, mandou
que se lhe dessem 200$000 rs. Falcão de Sousa ficou encarregado de acom-
panhar o andamento da obra e, cada seis meses, trazer informado o Con-
selho. Eduardo de Castro ALMEIDA, lnventdrio dos documentos relativos
ao Brasil existentes 110 Arquivo de Marinha e Ultramar, Rio de Janeiro,
Biblioteca Nacional, v. v, 1921, p. 128, n.°' 777-780.
Gomes Carneiro faleceu em 1676, ignorando-se se perseverou na em-
presa. Provavelmente não lhe satisfizeram o pagamento dos vencimentos
e ele a abandonou.
Note-se que havia também o cargo de Cronista da Casa de Bragança,
cargo que só foi extinto em 1816, Publicações do Arquivo Nacional, Elenco,
1941, p. 317.
O Almanaque de Lisboa de 1807 (Almanach do anno de 1807, Lisboa,
na Impressão Régia) reeditado pelo IHGB, em apêndice ao v. 290 da sua
revista (1971), consigna sob a rubrica "Cronistas", na extensa nominata
de servidores do Estado, os seguintes: 1) Da sereníssima Casa do lnfa111ado,
o padre-mestre dr. frei Joaquim Botelho, religioso dos Agostinhos Calçados;
2) ajudante, o padre-mestre frei Bernardino de Santa Gertrudes Mosqueira,
monge de São Jerônimo; 3) do Reino, de língua portuguesa (V!ago); 4) do
Reino, de língua latina, padre-mestre Joaquim de Foyo, da Congregação do
Oratório; 5) da Casa de Bragança, desembargador Antônio Ribeiro dos
Santos; 6) dos Domínios Ultramarinós, padre Antônio Alvares, da Con-
gregação do Oratório.
Destes, só Antônio Ribeiro dos Santos, lente de Coimbra e membro da
Academia das Ciências, deixou valiosas memórias, revelando notável erudi-
ção, especialmente a que dedicou à literatura sagrada dos judeus portugue-
ses. "Dedicou-se também a estudos geográficos, cartográficos e marítirrics,
dentro de uma linha de erudição ·-vasta e, portanto, dispersiva", diz Joaquim
126
6. Posteriormente, já no fim do século XVIII, encontramos
outra iniciativa governamental em relação à historiografia: a criação
do cargo de Cronista geral do ultramar. Ainda aqui, se trata de
glorificar os feitos dos portugueses. A história teria, assim, o
caráter apologético. O cronista nomeado foi Inácio Barbosa Ma-
chado (1686-1766), irmão do famoso bibliógrafo Diogo Barbosa
Machado. É o autor dos Fastos políticos e militares da antiga e
nova Lusitânia, t. I (único publicado), Lisboa, 1745.
Foi sucedido pelo padre Francisco José da Serra Xavier que,
por alvará de 13 de maio de 1780, teve o encargo de "escrever a
história completa e verdadeira das grandes e gloriosas ações obradas
pela nação portuguesa na América, África e Ásia". Tudo isso
pelos mesmos 200$000 réis anuais. Ficou provavelmente, até
morrer, cerca de 1803, mais que sexagenário, pleiteando junto
ao Tesouro português o recebimento dos vencimentos, sem entregar
os originais. Foi, assim, perdido, mais um esforço governamental
em favor da elaboração de uma história brasileira.
7. Já no Brasil independente tivemos dois cronistas oficiais.
O primeiro foi José da Silva Lisboa, barão e visconde de Cairu
(1756-1835), figura respeitabilíssima, e que escreveu, realmente,
uma história de que adiante nos ocuparemos. Não recebeu ven-
cimentos. Mas, para desempenho de seu encargo, foi dispensado
do exercício de várias funções públicas que ocupava ( e eram im-
portantes).
O outro cronista oficial foi o português naturalizado, ou me-
lhor, baianizado, Inácio Accioli de Cerqueira e Silva, autor das
Memórias históricas da Bahia, de que também se tratará adiante
e que morreu sem dar cumprimento a seu encargo pelo completo
desestímulo do Governo( 6 ). Mencione-se ainda o cônego Joaquim
Caetano Fernandes Pinheiro, que recebeu a nomeação de Cronista
do Império. Mas os Anais que prometeu elaborar nunca vieram à
luz. Deles dizia, segundo Blake (Dicion. bibliogr., IV, 113), que
"a exemplo de Menandro, estavam prontos, só faltava escrevê-los".
Tal o melancólico epílogo das tentativas de história oficial.
Veríssimo SERRÃO, Historiogr. portug., cit., p. 238. Mas a crônica dos domí-
nios ultramarinos, em que se estudaria o Brasil, não apareceu.
6. "Baldo de recursos", diz VIEIRA FAZENDA, "Accioli veio para o Rio
de Janeiro em companhia de um amigo, em busca de algum emprego. Aqui
lutou com a adversidade. Foi sempre socorrido por seu bom amigo Melo
Morais, pai. Depois de muito esperar, o governo mandou dar ao ilustre
homem de letras cem mil-réis mensais com a condição de escrever a história
contemporânea. Completamente valetudinário, Accioli, fazendo das fra-
127
8. Também nas províncias pensou-se, algumas ve.res, em es-
tabelecer um cronista. Pereira da Costa(7) menciona uma tentativa
de criação do cargo de cronista de Pernambuco já em 1867. A
Assembléia Provincial, porém, rejeitou a idéia, provavelmente por-
que já estava ultrapassada a época das histórias oficiais.
9. Ao lado das tentativas diretas de escrever a história
por meio de cronistas oficiais, tomou, também, o Governo várias
providências no sentido de recolher material histórico; estas medi-
das foram às vezes muito importantes. Se não houve grande êxito
na elaboração das crônicas, outro tmto não se poderá dizer com
relação à garantia dos documentos.
O decreto de 30 de setembro de 1628 determinou a apresen-
tação da relação exata por diário dos negócios concluídos e por
concluir aos vice-reis, governadores e embaixadores. Essa é a
origem de uma série de diários que encontramos nos arquivos por-
tugueses. Não são de iniciativa individual: é uma determinação
governamental e tem servido de base a muitos estudos. Em com-
plemento ao citado decreto, a carta-régia de 31 de outubro mandou
que todas as pessoas que abandonassem os cargos administrativos
elaborassem relatórios sobre o estado em que ficavam os respectivos
serviços, sob pena de não pagamento dos últimos vencimentos.
São medidas que revelam o espírito historial, como então se dizia,
da administração metropolitana.
10. A carta-régia de 20 de julho de 1782 determinou aos
ouvidores de comarcas que promovessem, nas câmaras municipais
128
sob suas jurisdições, a elaboração de memórias anuais dos fatos
mais dignos de história, memórias essas a cargo do segundo verea-
dor na ordem da votação. Examinadas e aprovadas pela câmara,
essas memórias seriam registradas em livros especiais. Os ouvido-
res, ao fazerem as correições, deviam ter particular inspeção sobre
esses livros( 8 ). E realmente existiram em várias câmaras esses
livros com registros dos acontecimentos anuais. Seu desapareci-
mento é relativamente re~nte. Uma das mais preciosas memórias
que possuímos hoje, - a notícia sobre o Aleijadinho, redigida pelo
mineiro Rodrigo José Ferreira Bretas, - tem origem num do-
cumento desse tipo. Foi o vereador Joaquim José da Silva que,
em 1790, ainda em vida do artista, registrou os principais dados
de sua biografia e de sua obra. Nele se baseou Bretas amplamente,
reproduzindo longo trecho do documento original( 9 ).
129
5 - CENTROS DE ATIVIDADE HISTÓRICA
130
de orimelra ordem, com um fuxo tipográfico que encanta os biblió-
filos. Gozavam do privilégio excepcional de estarem isentas da
licença do Desembargo do Paço( 2 ).
Em 1721, logo após a fundação, remeteu ela importante ques-
tionário aos bispos, aos cabidos, às ordens religiosas, às câmaras
municipais, aos provedores, acerca de assuntos históricos. Repre-
sentavam as respostas dessas entidades .abundante material para
a história local e destinavam-se à elaboração de um arquivo de
informação para uso dos acadêmicos. Este questionário foi enviado
juntamente com os ofícios do Governo, e sua resposta foi conside-
rada "Serviço de Sua Majestade". Foi, assim, um inquérito de
caráter oficial, destinado à elaboração de uma História eclesiástica
e secular do reino de Portugal e suas conquistas. Além disso orde-
nou o rei que se remetessem à Academia cópias e traslados dos
documentos que pudessem interessar aos encarregados daqueles em-
preendimentos.
Não foi perdida essa iniciativa. Pereira da Costa, de quem
extraímos a maior parte destes dados, cita como fruto dessa medida
a carta do Deão do cabido de Olinda, Dr. Nicolau Pais Sarmento,
ao secretário da Academia, cujo registro foi encontrado, na íntegra,
por J. M. Figueira de Melo, no livro especial da Câmara Eclesiástica
de Olinda, datada de 1723. Este documento constitui a base das
informações para a história da igreja em Pernambuco. Em outros
arquivos eclesiásticos devem encontrar-se documentos equivalentes.
Entre as publicações da Academia, enumeram-se algumas até
hoje utilizadas, como a Biblioteca lusitana, de Diogo Barbosa Ma-
chado, 4 v., Lisboa, 1721-1741, e a monumental História genealó-
gica da Casa Real Portuguesa, de Dom Antônio Caetano de Sousa,
13 v., e 6 suplementares de provas, Lisboa, 1735-1748.
A essa Academia devem-se inestimáveis serviços em matéria
de arquivologia. Por sua iniciativa tentou-se, pela primeira vez,
a catalogação dos papéis portugueses arquivados em Simancas ( 3 ).
2. Decreto de 29 de abril de 1722.
3. A Carta-régia de 31 de março de 1722 remeteu ao governador-ge-
ral uma memória impressa sobre a Academia e ordenou ao arcebispo, cabido
e prelados o envio, extraído dos arquivos, dos documentos que interessem
à "constituição da História portuguesa eclesiástica e secular do Reino" (Anais
do Arquivo Público da Bahia, v. XXXII, 1952, p. 105, n. 0 37). A Carta de
14 de maio de 1723 reiterou essas recomendações (ib., 142). Em 14 de
novembro de 1722 escrevia o governador Vasco Fernandes César de ME-
NESES aos prelados das religiões da Bahia, ao Senado da Câmara "Sobre o
131
3. As causas do malogro desta academia tão prestigiada es-
tão sintetizadas pelo visconde de Caim em nota à sua introdução à
História dos principais sucessos políticos do Império do Brasil:
"Causa espanto o ver-se que tantos literatos que entraram nesta
Academia se desvelassem principalmente em orações panegíricas
uns dos outros, e em estilo tão afetado e bombeiro, que só manifesta
o mau gosto do tempo. Presentemente é intolerável a lição dessas
composições, impressas por ordem real em grossos volumes in-fólio,
em que quase nada há que aprender de importante ao objeto da
instituição" ( 4 ).
132
A atual Academia Portuguesa da História, criada por decre-
to-lei n. 0 26.611, de 19 de maio de 1936, destina-se a ressurgir
a antig1 Academia Real da História.
133
Academia Real das Ciências
6. Em 1779 uma nova instituição portuguesa deu alento
aos estudos históricos. Em vista da decadência da antiga Academia
Real da História, por iniciativa do duque de Lafões, e sob o patro-
cínio da rainha D. Maria I, fundou-s.e a Academia Real das Ciências
de Lisboa, até hoje existente. Gozou, como a precedente metro-
politana, de inúmeras reg:ilias e reuniu importante arquivo e biblio-
teca. A ela se devem coleções valiosas de memórias históricas,
especialmente a série chamada Memórias de literatura, em 8 v., com
preciosos elementos para o estudo do governo português. Mencio-
nem-se ainda a Coleção de inédüos de história portuguesa e a Co-
leção de notícias para a história e geografia das nações ultramarinas,
bem como os Opúsculos, relativos à história das navegações. Todas
ess:is publicações são fundamentais para o estudo da era dos des-
cobrimentos. Não é possível deixar de referir ainda os Portugaliae
monumenta historica, dirigidos por Alexandre Herculano(7).
7. No período final da colônia muitos brasileiros colaboraram
ativamente nas atividades da Academia de Lisboa, entre eles José
Bonifácio, que foi ali secretário-geral. Mas o movimento da inde-
pendência fez logo surgir a idéia da necessidade de ser fundada
uma associação brasileira que cuidasse de reunir os elementos para
uma história nacional. Assim, em 1821, sob o patrocínio do Prín-
cipe-regente D. Pedro, e presidência do conde de Palma, tendo
como secretários Joaquim Gonçalves Ledo e o cônego Januário da
Cunha Barbos:i, fundou-se a Academia Fluminense das Ciências e
Artes, que tinha como uma das suas finalidades estudar a histór:a
do Brasil e sua estatística. As lutas pela Independência, então no
auge, absorveram de tal modo os fundadores que aquela instituição
pereceu em pouco tempo.
134
o cônego Januário da Cunha Barbosa propuseram a cnaçao de
um Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, logo instalado a 2
de outubro. Desde então tornou-se este Instituto o maior centro
de atividade histórica do Brasil ( 8 ). Gozando de grande prestígio
nos meios ilustrados e na sociedade brasileira (em grande parte
pela extrema dedicação do imperador D. Pedro 11), o Instituto foi,
durante o Império, a grande academia, a que procuravam pertencer
os homens de cultura. Além de manter valiosíssima biblioteca e
precioso arquivo, realizou sempre conferências, cursos, exposições
e, acima de tudo, manteve uma excelente revista, que é hoje a pu-
blicação cultural mais antiga da América. Além dos 290 volumes
da série ordinária, conta ela inúmeros tomos especiais. Editou
ainda o monumental Dicionário histórico, geográfico e etnográfico
do Brasil, comemorativo do Primeiro Centenário da Independência,
Rio, 1922, infelizmente incompleto, constante apenas de dois vo-
lumes.
9. Uma das principais atividades do Instituto consistiu na
realização dos congressos de história. O Primeiro Congresso de
História Nacional reuniu-se em 1914 . Seus Anais compreendem
cinco tomos (Rio de Janeiro, 1915-1917), e contêm algumas co-
laborações preciosas. Nele, pela primeira vez, historiadores de to-
das as correntes, desfeitos os ressentimentos resultantes da mudança
de regime, colaboraram cordialmente no estudo dos problemas do
passado.
Em 1922 reuniu-se o Primeiro Congresso de História da Amé-
rica. O Segundo Congresso de História Nacional, realizado em
1931, tem seus Anais publicados em cinco volumes. Do Terceiro
Congresso de História Nacional, realizado em 1938, também resul-
taram importantes Anais, publicados em dez volumes. Finalmente
o Quarto Congresso de História Nacional reuniu-se em 1949 e seus
trabalhos constam de treze volumes.
Em 1963 convocou o Instituto um Congresso Comemorativo
do Bicentenário da Transferência da Sede do Governo do Brasil da
cidade do Salvador para o Rio de Janeiro. Os Anais compreendem
quatro tomos, publicados entre 1966 e 1967.
Em 1968 reuniu um colóquio comemorativo do Quinto cen-
tenário do nascimento de Pedro Alvares Cabral, com a participação
de vários especialistas portugueses, americanos, argentinos e uru-
8 . Max FLEIUss, "Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro" (Cem
anos bem vividos), in Anais do Terceiro Congresso de Hist6ria Nacional,
1938, v. VII, Rio de Janeiro, 1942, p. 203.
135
guaios. Seus debates constam do tomo da Revista correspondente
ao segundo trimestre de 1970. (n.0 287).
Muitas das teses e memórias constantes da RIHGB e dos
Anais dos Congressos referidos apareceram posteriormente em for-
ma de livros e são peças fundamentais da bibliografia da História
do Brasil.
Institutos Históricos
136
cedido pelo Governo, onde se reuniu a assembléia preliminar
e se aprovaram os estatutos. A assembléia inaugural realizou-se
no Rio de Janeiro em dezembro de 1932( 9 ). O Instituto Pan-ame-
ricano não funciona à maneira de academia, mas de centro organi-
zador de pesquisas e publicações. Organizou comitês especializa-
dos, sediados em diversas capitais dos estados americanos e tem
feito publicações numerosas, algumas delas referentes ao Brasil.
Acima de todas a Revista de Historia de América, modelarmente
editorada( 1º).
9. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume
especial, Assembléia inaugural do Instituto Pan-americano de Geografia
e História, Rio de Janeiro, 1933. As atas das sessões e as memórias apresen-
tadas ocorrem em 4 v. especiais da mesma revista, 1934-1942.
10. Mencionemos: Virgílio CORRÊA FILHO, Missões brasileiras nos
arquivos europeus, México, 1952; Rodrigo Melo Franco de ANDRADE,
Brasil, monumentos históricos e arqueológicos, México, 1952; La ensefíanza
de la historia en Brasil, por Virgilio CORRÊA FILHO, Arthur Cezar Ferreira
REIS, Hélio VIANNA e de Eremildo VIANNA, México, 1953. Do Programa de
História de América, série de volumes que vem sendo elaborada por um
comitê especial, estão prontos os três volumes relativos ao Brasil: 1)
Emílio WILLEMS, América pré-colombiana, 1953; José Honório RODRIGUES,
Era colonial, 1953, e Américo Jacobina LACOMDE, Era nacional, 1955.
A série denominada Bibliografias compreende estudos para pesquisa-
dores, como o Guia bibliográfica para la ensefía11za de la historia en Hispa-
no-América, por Maria dei Carmen VELAZQUEZ CHAvEZ, México, 1964, e
La emancipación lati11oamerica11a. Estudios bibliográficos, Por R. A.
HUMPHREYS et ai., México, 1967.
A coleção Estudios de historia contém, entre outros, os seguintes tra-
balhos básicos para a história continental: Contribuciones a la historia
municipal de América, de Rafael ALTAMIRA et ai., México, 1951, e, do
mesmo autor, o Diccionario castella110 de palavras jurídicas y técnicas to-
madas de la legislació11 indiana, México, 1951.
A coleção Fue11tes documentales para la historia de la independencia de
América iniciou-se com um exaustivo estudo de Ricardo DoNoso, misión de
investigación en los archivos europeos, México, 1960.
Dos Guias já publicados, destacam-se os que se referem às lnstitucio11es
que cultivan la historia de América, de Carlos BoscH GARCÍA, 1949 e o das
Personas que cultiva11 la historia de América, de Juan ALMELA MELIÓ, 1951,
e Juan Domingo VIDARGAS DEL MORAL, 1967.
Publicou, igualmente, o Instituto os guias de documentos microfilma-
dos pela unidade móvel de microfilme da UNESCO: Geral, 1963; Barbados,
1965; Honduras, 1967, e Peru (em preparação).
137
13. A tendência para estudar em conjunto os problemas de
formação dos países americanos em paralelo oom os demais, já
fora ress'.:lltada pelo sábio beneditino francês, Frei Camilo de Mon-
serrate, diretor da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Ao
tratar da criação de uma ,cadeira de História do Brasil, observava
o eminente erudito que "en fais1nt de l' histoire et de la géographie
du Brésil l'objet d'un enseignement spécial, il serait nécéssaire d'en
élargir un peu les limites et de n'en pas séparer ce qui concerne le
reste de l'Amérique". E adiante: "La plupart des problemes de
l'histoire du Brésil ne sauraient être traités et résolus d'une maniere
plus ou moins définitive sans le concours des données fournies par
l'histoire des autres états du nouveau monde" ( 11 ).
138
Congressos de História
14. Conhecidos os principais centros de atividade histórica
do Brasil e relativos ao país, não é possível deixar de mencionar
os congressos históricos que têm fornecido oportunidade a diversas
contribuicões documentais e científicas de valor.
Con~ocados pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
reuniram-se, como foi dito, quatro Congressos de história do Brasil
(1914, 1931, 1938 e 1949) e um Congresso de História da Amé-
rica (1922)( 12 ).
15. Em 1935 reuniu-se em Porto Alegre um Congresso de
história comemorativo do Centenário da Revolução Farroupilha, de
que se publicaram importantes anais( 13 ). Em 1937, outro con-
gresso, o segundo de História e Geografia Sul-rio-grandense. O
terceiro, comemorativo do bi--centenário da colonizaçã-o de Porto
Alegre, é de 1940. Houve quarto em 1946( 14 ).
16. Em 7 de fevereiro de 1944 reuniu-se em Curitiba um
Congresso de História da Revolução de 1894, do qual se imprimi-
ram os anais pelo Museu Paranaense da mesma cidade em
1944( 15 ). O segundo congresso comemorativo da História da Re-
volução de 1894 reuniu-se em Belo Horizonte (a propósito do
centenário do general Gomes Carneiro), em novembro de 1946 ( 16 ).
12. O primeiro Congresso de História Nacional ( de 7 a 16 de setembro
de 1914),
O segundo (de 7 a 14 de abril de 1931 ),
O terceiro (de 19 a 28 de outubro de 1938).
O quarto (de 21 a 28 de abril de 1949),
O primeiro Congresso de História da América (de 8 a 14 de setembro
de 1922).
13. Anais do Primeiro Congresso de Hist6ria e Geografia Sul-rio-
grandense, Porto Alegre, 1935, 3 v.
14. Anais do Segundo Congresso de Hist6ria e Geografia Sul-rio-
grandense, Porto Alegre, 1937, 3 v.
Anais do Terceiro Congresso Su[-rio-grandense de Hist6ria e Geografia,
comemorativo do bicentenário da colonização de Porto Alegre, Porto Ale-
gre, 1940, 4 v.
Anais do Quarto Congresso de Hist6ria e Geografia Sul-Rio-grandense,
Porto Alegre, 1946, 2 v.
15. Congresso de História da Revolução de 1894, Curitiba, Museu Pa-
ranaense, 1944. (Comemorativo do centenário do cerco de Lapa.)
16. Uma extensa notícia do Congresso encontra-se na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 111,
139
17. Em 1947 reuniu-se em São Leopoldo um congresso his-
tórico e geográfico( 17 ).
18. Em Florianópolis realizou-se em 1948 o Primeiro Con-
gresso de História Catarinense, comemorativo do segundo cente-
nário da colonização açoriana( 18 ).
19. Também provocaram salutar movimento nos meios his-
tóricos, o primeiro Congresso da História da Bahia, comemorativo
do centenário da cidade do Salvador( 19 ). Em 1952 reuniu-se, na
mesma cidade, o segundo Congresso da História da Bahia, come-
morativo da chegada do primeiro bispo( 2º).
20. No ano de 19 54 dois congressos históricos atraíram os
estudiosos, um em Pernambuco, comemorativo da expulsão dos
holandeses( 21 ), outro em São Paulo, comemorativo do Quarto Cen-
tenário da fundação da cidade (2 2 ).
Colóquios Luso-brasileiros
21. Um outro tipo de reuniões tem interessado vivamente os
estudiosos de História. São os Colóquios Internacionais de Estudos
Luso-brasileiros, nos quais se abre amplo espaço para o setor his-
tórico. O primeiro reuniu-se em Washington, de 15 a 20 de outu-
bro de 1950, sob o patrocínio da Biblioteca do Congresso e da
140
Vanderbilt University( 23 ). O segundo foi realizado em São Paulo,
de 12 a 18 de setembro de 1954 ( 24 ). O terceiro reuniu-se em
Lisboa de 9 a 15 de setembro de 1957. As Actas estão publicadas
em dois volumes(2 5 ). O quarto colóquio reuniu-se na cidade do
Salvador, na Bahia, de 10 a 21 de agosto de 1959, sob o patrocínio
da Universidade da Bahia e da UNESCO( 26 ). Reuniu-se em Coimbra,
de 2 a 8 de setembro de 1963 o quinto colóquio( 27 ). O sexto
colóquio foi organizado por três entidades: a Harvard University
(Cambridge, Mass.), de 7 a 10 de setembro de 1966, a Hispanic
Sodety of America (Nova York), 11 de setembro, e a Columbia
University (Nova York), 12 de setembro. Mais tarde incorpora-
ram-se à organização a New York University e o Metropolitan
Museum of Art(2B).
22. De natureza mais técnica são os colóquios luso-brasilei-
ros de história, iniciados em 1968, a propósito das Comemorações
Cabralinas, pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Teve
por tema exclusivamente a era dos descobrimentos até 1530, com-
23. As atas estão publicadas em volume bilíngüe: Atas do Colóquio
Internacional de Estados Luso-brasileiros, Nashville, The Vanderbilt Univer-
sity Press, 1953. Algumas contribuições está.o publicadas na íntegra. Outras
em sumário.
24. Do segundo colóquio, sob o patrocínio da Comissão do IV cen-
tenário da cidade de São Paulo, apesar de transcorrido com grande êxito,
não se publicaram os anais.
25. Ill Colóquio Internacional de Estudos Luso-brasileiro, Atas, Lis-
boa, 2 v., 1959-1960. (Sob o patrocínio do Instituto de Alta Cultura e da
Junta de Investigação do Ultramar.)
26. Também não foram publicadas as atas. V. o programa e a rela-
ção das comunicações em: IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-
brasileiros, Bahia, agosto de 1959. Sob o patrocínio da Universidade da
Bahia e da UNESCO (Salvador, 1959).
27. V .: V Colóquio Internacional de Estudos Luso-brasileiros, sob o
patrocínio do Instituto de Alta Cultura, da Fundação Calluste Gulbenkian
e da Universidade de Coimbra, Programa geral, Coimbra, 1963. As Atas
apareceram até agora em 4 v., Coimbra, 1965-1968.
28. O programa foi distribuído pela Universidade de Harvard (7 a
10 de setembro) e pelas demais entidades (New York, de 11 a 13 de se-
tembro). V. Circulares. Os trabalhos foram reunidos numa interessante
publicação em um só volume, inteligentemente coordenado pelo profes5or
Raymond S. SAYERS, Portugal and Brazil in transition, Minneapolis, Uni-
versity of Minnesota Press, 1968. Além das contribuições escritas, o volu-
me contém um resumo dos debates.
141
parecendo um número reduzido de especialistas brasileiros, portu-
gueses, argentinos, uruguaios e americanos( 29 ).
O segundo reuniu-se em Lourenço Marques, em 1970. Nele
tomaram parte vários brasileiros. 1=: de prever-se a continuação
destas reuniões de pequeno número de especialistas, muito mais
lucrativas que as grandes assembléias em que os estudiooos dificil-
mente entram em contato com os companheiros de pesquisa( 3º).
142
Em setembro de 1971 houve um profícuo Seminário de Estu-
dos Brasileiros, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros
d3. Universidade de São Paulo.
De grandes frutos foi, igualmente, o Colóquio de História
Quantitativa do Brasil de 1830 a 1930, realizado no Institut de
Hautes ~tudes de l'Amérique Latine, da Universidade de Paris, de
11 a 14 de outubro de 1971 ( 34 ).
O ano de 1972, em que se comemorou o sesquicentenário da
Independência do Brasil, prometia ser fértil em reuniões culturais.
A Universidade Católica de Campinas promove um congresso de
história paulista. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
planeja um congresso de história, conjugado com o Instituto de
São Paulo.
143
no comércio internacional do século xvm até o início do séc. XIX"; Jurgen
Schneider (Nüremberg), "As relações comerciais entre a França e o Brasil
(1815-1848). Análise de estrutura econômica''; Hermann Kellenberg
(Nüremberg), "Dados estatísticos sobre o sistema marítimo Hamburgo-
Terra Nova-Brasil na l.ª metade do séc. x1x''; Eddy Stols (Lovaina), "Os
investimentos belgas no Brasil, 1830-1914"; Oliver Onody (Rio de Janeiro),
"Alguns aspectos históricos dos capitais estrangeiros no Brasil"; Cecília
Westphalen, (Curitiba), "Paranaguá e o Rio da Prata no século x1x". Na
secção de Desenvolvimento apresentaram trabalhos: Werner Baer (Nashville),
e Aníbal Vilanova Vilela (Rio de Janeiro), "Crescimento industrial e indus-
trialização no Brasil, 1920-1970"; Jacques Bondeville (Paris), "Os pó-
los brasileiros do desenvolvimento no séc. x1x"; Denis-Clair Lambert
(Lyon), "Declinou num meio século, 1920-1970, o grau de dualismo da
economia brasileira?"; Louis Jeanjean (Paris), "Crescimento urbano e re-
gional no Brasil desde a Independência". Além dos autores dos trabalhos
tomaram parte nos debates diversos convidados como Ernesto Labrousse,
Pierre Monbeig, Jean Marazewski, Jacques Lambert, Ruggiero Romano, F.
Maurc. O prof. Buescu, da Puc-Rio, apresentou contribuições elaboradas
no seio do Centro de Estudos de História Econômica do Rio. O prof.
Mauro, grande planejador do encontro, chamou a atenção para o perigo de
tratar o estudo histórico dentro de uma filosofia universalista ou globalista,
fazendo preceder a síntese ao estudo analítico de dissecação da realidade.
f: escusado enfatizar a importância deste encontro, não só pelo valor in-
trír.-seco dos trabalhos, mas pela repercussão dos temas brasileiros dentro
do quadro dos estudos internacionais em que são em regr, relegados a um
plano secundário. "O simples fato de o Centro Nacional de Pesquisas Cien-
tíficas dedicar um colóquio exclusivamente ao Brasil demonstra não apenas
o interesse crescente pelo nosso país, mas também a existência de uma cor-
rente intelectual merecedora de atenção internacional no sentido da reno-
vação dos estudos de história econômica do Brasil." V. notícia a respeito
do Colóquio pelo prof. Mircea Buescu, na RIHGB, 4.0 trim. de 1971.
144
6 - ENSINO DA HISTÓRIA
Colônia
145
Nunes, os holandeses Barléu e Piso, os portugueses Bartolomeu
Guerreiro, José da Costa, a Crônica geral de Herrera, Gândavo
(cópia manuscrita), Osório, Barros, o Justo império lusitano de
Frei Serafim de Freitas, as crônicas de Luís Coelho de Barbuda,
Pedro de Mariz, Du:irte Nunes, Manuel de Faria, Simão de Vas-
concelos, Teles, Brito Freire, Frei José de Santa Teresa, Frei
Rafael de Jesus e Frei Manuel Calado. Não se poderia exigir mais
em trabalho elaborado em um centro não considerado culto.
3. No curso de ciências superiores, instituído no convento
de Santo Antônio pelo alvará de 11 de junho de 1776, e que cons-
tituía o núcleo de futura universidade, com 13 cadeiras, havia o
estudo de história eclesiástica( 4 ). No Seminário de São José do
Rio de Janeiro, a cadeira de história, além da de história eclesiás-
tica, só foi criada sob o episcopado do bispo conde de Irajá, na
era regencial( 5 ). Mas no Seminário de Olinda, instalado em 1800,
e que se caracterizou pelo avanço de seus planos, no nível quase
de uma universidade, havia a cadeira de história eclesiástica, regida
pelo padre Miguel José Reinau( 6 ).
4. Ao se criarem os cursos jurídicos em 1827, a história
passou a ser exigida como um dos exames preparatórios. Nos
cursos anexos que passaram a funcionar junto às futuras faculda-
des de direito de São Paulo e Olinda (depois Recife), a cadeira
de história foi ocupada por alguns nomes que merecem menção.
Em São Paulo a cadeira de história assumiu enorme importância
pela personalidade de seu ocupante, o misterioso personagem Júlio
Frank (7), egresso de uma universidade alemã, e que estabeleceu
um contato novo na mocidade acadêmica com a cultura germânica.
Falecido este em 1841, sucedeu-lhe na cátedra, por concurso, o
146
discípulo e colaborador Antônio Joaquim Ribas, futuro luminar na
Faculdade. Da sua atuação como professor diz Almeida Nogueira
que "fez da história um estudo verdadeiramente científico, con-
tribuindo com muita eficácia para o progresso da mentalidade bra-
sileira" (8).
5. Em Pernambuco, por uma proposta do Conselho Geral
da província, aprovada pelo Parlamento, foi o seminário episcopal
de Olinda constituído em Colégio das Artes do curso jurídico. Daí
por diante ocorreram várias reformas até a extinção do colégio.
A história era uma das cadeiras do estabelecimento( 9 ). O seminá-
rio, por sua vez, foi reconstituído pelo bispo D. Luís Raimundo
da Silva Brito.
147
7. Em 1849 a cadeira de história foi dividida em duas. Em
1857 criou-se uma cadeira esper.ial de história e corografia do
Brasil que em 1870 passou para o último ano. A reforma Benja-
min Constant (1890), mantendo o bacharelado em ciências e le-
tras, com sete anos de curso, estabeleceu no 7. 0 ano a cadeira de
História do Brasil, destacada da História Universal. O regula-
mento de 20 de abril de 1892, do ministro Fernando Lobo, estabe-
leceu que a História do Brasil passaria a figurar no 6. 0 ano e
no 7. 0 • A mesma coisa dispôs o decreto de 15 de agosto de 1894,
subscrito pelo ministro Cassiano do Nascimento. O regulamento
Amaro Cavalcanti (30 de novembro de 1897) nada alterou neste
ponto.
8. Nos exames chamados "preparatórios", exigíveis para os
que não tivessem curso ginasial ou o bacharelado em letras, a His-
tória do Brasil constituía somente uma parte do exame de História
Universal. Na reforma Epitácio Pessoa iniciada em 1899 e conso-
lidada com o código de 1901, a História do Brasil permaneceu
disciplina do 6. 0 ano do Ginásio Nacional (nome que então tinha
o antigo Colégio Pedro II), mas extinguiu-se a cadeira de História
e corografia do Brasil. Passou a chamar-se "História Universal
especialmente do Brasil".
9. Na reforma Rivadávia Correia (1911), suprimiu-se adis-
ciplina de História do Brasil. Limitou-se o legislador a recomendar
que o estudo da história fosse feito "no ponto de vista da história
da civilização, com especial desenvolvimento na parte referente à
América e ao Brasil.". Restaur,ou-a a sensata lei Maximiliano
(1911), incluindo ainda a História do Brasil entre os doze prepa-
ratórios prestados em ginásio oficial. Em 1925 a reforma de
autoria do professor Rocha Vaz, sendo ministro da Justiça João
Luís Alves, restaurou a cadeira de História do Brasil( 12 ).
1O. A criação de uma Faculdade de Letras, em nível uni-
versitário, proposta várias vezes no parlamento, nunca chegou a
efetivar-se, não obstante o exemplo português, com a criação em
148
1858, à custa do próprio rei D. Pedro v, do Curso Superior de
Letras, gérmen da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Aí se estabeleceu, pela -primeira vez naquele país, o ensino da
história em nível superior. (A reforma pombalina restringira-o ao
curso de propedêutica histórica na Faculdade de Direito.)
11. A relação dos professores de história no Colégio Pedro II
é das mais honrosas para as nossas tradições culturais. Antônio
Gonçalves Dias, Joaquim Manuel de Macedo, barão do Rio Branco,
"personagens de nossa história literária", e "um deles personagem
da própria história do Brasil - como autor de um de seus mais
belos capítulos, o da formação definitiva das fronteiras", constituí-
ram a "trindade micial dos ocupantes da cátedra". Em 1883, após
famoso concurso, assumia o ensino da história pátria a figura ímpar
de Capistrano de Abreu, de quem já se tratou( 13 ).
Foram ainda professores de história no Colégio Pedro n
alguns nomes famosos em nossas letras, como Justiniano José da
Rocha, Frei Camilo de Monserrate, o barão Homem de Melo e
Moreira de Azevedo. Em 1900 outro professor do mesmo colégio,
João Ribeiro, foi autor de um compêndio cuja publicação consti-
tuiu grande acontecimento científico. Sob o simples título de
História do Brasil, passou a figurar imprescindivelmente nas bra-
silianas, tal a largueza de vistas e o nível elevado com que encarou
a nossa formação.
12. A reforma Francisco Campos, em tantos pontos pro-
gressist:1. (Decreto n. 0 19.890, de 18 de abril de 1931) represen-
tou nesse particular um completo retrocesso. Foi suprimida nova-
mente a cadeira de História do Brasil. A fundamentação de tal
anomalia consta das instruções para os programas de ensino se-
cundário, aprovadas pelo ministro em portaria de 30 de junho
de 1931 : "A História do Brasil e da América constituirão o centro
do ensino. :8 claro, porém, que não se deve considerá-las isola-
d:imente. Ao contrário, cumpre seja adquirido, a princípio, o co-
nhecimento da situação do mundo até o descobrimento para se
fazer depois o estudo simultâneo da História geral, da História da
América e da História pátria, a fim de que possam ser bem apre-
ciadas as influências que concorreram, de toda parte, para a for-
mação do Brasil e das várias nações americanas, bem como para
que se considere o papel desempenhado pelos diversos países no
149
conjunto da evolução da humanidade e se conheçam os problemas
humanos em cuja solução cumpre ao Brasil empenhar-se solidaria-
mente com as demais nações"( 14 ).
13. Teoricamente, como se vê, os intuitos eram os mais ele-
vados: enquadrar o estudo da história brasileira dentro do estudo
do desenvolvimento universal. Praticamente isto resultou no se-
guinte: nos programas dos quatro anos em que se estudava a His-
tória, a do Brasil compreendia aproximadamente 20% dos itens.
Isto se reduzia nos compêndios a algumas páginas em apêndice aos
estudos de história geral. O resultado foi nefasto. Durante vários
anos os alunos do segundo ciclo tiveram da história nacional al-
gumas ligeiras noções, apressadas e rápidas. Porque o estudo da
história nacional pode ser conduzido de forma a provocar uma dis-
torção da visão geral do mundo, não se segue que as novas ge-
rações ficassem privadas de conhecimento elementar de fatos
essenciais da formação brasileira. Manifestou-se logo um movi-
mento de protesto contra este estado de coisas, contraditório com
o desenvolvimento dos estudos de história pátria em nível superior.
A Congregação do Colégio Pedro II em 4 de agosto de 1936, o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a assembléia do Ili
Congresso de História Nacional, em sessão de 26 de outubro de
1938, protestaram contra o novo currículo( 15 ). No Congresso Na-
cional o historiador Wanderley Pinho, então deputado pela Bahia,
defendeu brilhantemente um projeto restabelecendo a cadeira de
História do Brasil, aprovado pela Cãmara, mas que não teve curso
no Senado.
14. Em 4 de novembro de 1938 proferiu o professor Pedro
Calmon uma conferência sobre "O ensino da História do Brasil e
as realidades nacionais", no Instituto de Estudos Brasileiros, ins-
tituição que então funcionava com imenso proveito no Rio de
Janeiro( 16 ). Nela pugnava pela "dilatação, quanto possível, no
curso ginasial, do tempo reservado ao ensino da história pátria".
Após a conferência, como era costume naquele instituto, houve
largo e importante debate em que tomaram parte Eremildo Viana,
150
Severino Sombra, Gustavo Barroso, Wanderley Pinho e Sousa
Docca. Sustentou o orador ser "essencial separar-se o ensino da
história do Brasil nos cursos liceais do ensino da história da civi-
lização". Apoiaram-no quase todos os debatedores, criticando o
currículo existente e dizendo "ter sido funesta e errônea a inclu-
são do programa de história do Brasil no programa de história
universal" (Severino Sombra). "Não se compreende que a história
do Brasil deixe de constituir uma cadeira", declarou Wanderley
Pinho. Examinando o compêndio de Jônatas Serrano, que era,
então, dos mais utilizados para todas as séries, provou este pro-
fessor que, em todos os volumes, só havia 173 páginas dedicadas
à história nacional, inclusive nas recapitulações e nos quadros sinó-
ticos. Contrapunha a issõ o compêndio de João Ribeiro, o mais
usado na Primeira República, com cerca de 400 páginas na edição
de 1901, e 538, na de 1914.
15. Em 1939 a questão foi largamente debatida pela im-
prensa. O Correio da Manhã conseguiu que o Colégio Militar
incluísse em seu novo regulamento o ensino autônomo da Histó-
ria do Brasil. No ano seguinte o ministro Gustavo Capanema
inclui-o, a título provisório, nos ginásios. Na lei geral de 1942,
chamada geralmente Reforma Capanemo, foi a questão definitiva-
mente resolvida. Na Lei de Diretrizes e Bases foi mantida a auto-
nomia da cadeira( 17 ).
151
17. Também em São Paulo, no mesmo ano de 1908, foi
criada no Mosteiro de São Bento, por iniciativa do Abade D. Mi-
guel Kruse, a Faculdade Livre de Filosofia e Letras, organizada
por Monsenhor Sentroul. Esta Faculdade foi agregada em 1911 à
Universidade de Lovaina, donde era antigo aluno o organizador.
Chama-se hoje Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São
Bento e é devidamente reconhecida pelo Governo Federal. Está
incorporada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Suas
publicações contêm abundante matéria sobre filosofia da his-
tória( 19 ).
18. Em 1916 instalou o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro uma Academia de Altos Estudos, criada no ano anterior,
que se transformou depois em Faculdade de Filosofia e Letras.
Durou quatro anos. Em 1926 o presidente do Instituto encerrou
seus cursos e remeteu ao Ministério da Justiça e Negócios Inte-
riores todo o arquivo. Nela se deram vários cursos de história
em nível superior, freqüentados por numeroso público. Alguns
desses cursos foram publicados na RIHGB ( 20 ).
152
Em 1913, no Rio de Janeiro, um educador português, que aqui man-
tinha um reputado estabelecimento de ensino, empreendeu a organização
de uma Escola de Altos Estudos, apoiado por um grupo de intelectuais.
Realizaram ali notáveis cursos Oliveira Lima, que foi o seu grande inspi-
rador, Clóvis Beviláqua, José Veríssimo, Rodrigo Otávio, João Ribeiro,
Pontes de Miranda, Oscar de Sousa e Paulo Bittencourt. (José Júlio
RODRIGUES, A evolução, a eficiência e a grandeza do Liceu Literário Por-
tuguês, Rio de Janeiro, 1948, e Comentários às lições proferidas durante o
ano /etil'o de 1947, Rio de Janeiro, Inst. de Est. Portugueses Afrânio Pei-
xoto, 1948, p. 53.)
Em fins desse mesmo ano de 1913 iniciou o IHGB uma série de cursos
que vieram mais tarde a consubstanciar-se na Academia de Altos Estudos,
com a qual veio a colaborar o professor José Júlio Rodrigues.
O primeiro curso do Instituto foi o de Alberto RANGEL sobre o tema
"Aspectos gerais do Brasil", em quatro preleções (dezembro de 1913 e
janeiro de 1914 ). Estão publicadas no volume Rumos e perspectivas, Rio
de Janeiro, 1914 (2.ª ed., 1934, Brasiliana). Basílio de MAGALHÃES deu
depois três aulas, em maio e junho sobre "Bandeirismo no Brasil", publi-
cadas em resumo no t. 77 da RIHGB, p. 67. O curso de Aureliano LEAL sobre
a "História constitucional do Brasil", em outubro e novembro de 1914, apa-
receu em resumo na RIHGB, t. 77, 1.ª, p. 291, e na íntegra em volume de
1915. Ainda em 1914 realizou o prof. A. Pinto da ROCHA seis palestras
sobre "História diplomática do Brasil" (RIHGB, t. 77, 2.ª). Em 1915, A. O.
Viveiros de CASTRO deu um curso de cinco preleções acerca "Da história
tributária do Brasil", publicado no t. 78 (1915), 1.ª, da mesma Revista.
No mesmo ano Ernesto da Cunha de Araújo VIANNA falou "Das artes
plásticas no Brasil em geral e na cidade do Rio de Janeiro em particular"
(RIHGB, t. 78, 2.ª, p. 505).
Finalmente o Instituto deu forma definitiva a seus cursos fundando
um órgão autônomo. Em sessão de 1-2 de outubro de 1915 comunicava o
secretário perpétuo que recebera de Oliveira Lima um plano completo para
uma escola de nível superior. Segundo aquele consórcio, os cursos de
1913 e 1914 eram exatamente o núcleo da instituição que projetara. O
programa compreendia uma Escola de Ciências Políticas e Administrativas,
de autoria_ "do nosso inteligentíssimo compatriota, sr. Carlos Delgado de
Çaryal_ho", discíp_ulo de .estabelecimento análogo em ..Paris. A Escola .com-
preenderia três· cursos:· 1) o administrativo e financeiro, 2) . o diplomático
consular, :e. 3) o ~-e fil~ofia e letras. N~ssa mesma sessão de 12 de ou-
tubro de 1915 foi- nomeada um_a _coiµ.issã~ que elaborou os estatutos _da
nova entida4~ que _passou. a cltarnar-se Academia de Altos Estudos. · Foi
instalada em 25 de março de 1916, com discurso inaugural de Amaro Ca-
valcanti. D~ mesmo OLIVEIRA LIMA, v. "A Faculd. de Filos. e Letras",
artigo datado de P~rnamirim, dez. <le 1919, e publicado -:ia revista ABC,
153
do Rio, 4 de janeiro de 1920. (Estatutos da Academia de Altos Estudos,
Rio de Janeiro, lmp. Nacional, 1917.)
A Academia de Altos Estudos visava a tornar-se um núcleo univer-
sitário, reunindo iniciativas existentes e em projeto, realizando a Faculdade
de Filosofia e Letras que faltava à formação brasileira. (OLIVEIRA LIMA,
"Discurso" em Obra seleta, Rio de Janeiro, INL, 1971, p. 744.) No currí-
culo havia diversas cadeiras de ensino de história, inclusive uma de socio-
logia aplicada à história do Brasil.
Em 13 de março de 1919 a congregação da Academia decidiu trans-
formá-la em Faculdade de Filosofia e Letras. Os Estatutos estão assina-
dos pelo barão de Ramiz, por Afrãnio Peixoto, relator-geral, por Alfredo
Gomes, Max Fleiuss e Fernando Nery. Pela nova organização, a institui-
ção passava a ter três cursos: 1) filosofia e letras, 2) ciências políticas e
sociais, e 3) curso normal superior. Este seria dividido nos seguintes
ramos: a) línguas clássicas, b) línguas modernas, e) ciências matemáticas,
d) ciências históricas e geográficas, e) ciências físicas. e naturais, e /)
ciências da educação. (Regulamento da Faculdade de Filosofia e Letras,
Antiga Academia de Altos Estudos, Rio de Janeiro, lmp. Nac., 1919.) A
Faculdade funcionou regularmente durante seis anos.
Em sessão de 21 de outubro de 1919 o secretário perpétuo menciona
"certa animadversão ao novo instituto de ensino. Desde a crítica mofina
até a jogralidade, de tudo se têm servido os que não admitem a permanên-
cia e o desenvolvimento triunfante desses cursos, sempre franqueados ao
público, chegando mesmo a emprestar-lhes intuitos menos verdadeiros."
(RIHGB, t. 85, 1919, p. 598.)
Em 10 de maio de 1919 o deputado José Augusto Bezerra de MEDEI·
Ros apresentou à Câmara dos Deputados um projeto reconhecendo a Fa-
culdade de Filosofia e Letras como instituição de utilidade pública. No
mesmo projeto declarava-se que "aos bacharéis diplomados no curso de
Filosofia e Letras diplomados por essa faculdade serão concedidas todas
as regalias de que atualmente gozam os bacharéis em letras pelo Colégio
Pedro 11", e aos bacharéis em ciências políticas e sociais, "a validade dos
exames das cadeiras similares quando pretendam matricular-se nas faculda-
des de direito", bem como preferência, dada a igualdade de condições, nos
concursos para as carreiras diplomática e administrativa. Aos professores
diplomados no curso normal superior seria concedida a mesma vantagem
para o preenchimento de vagas nos ginásios e nas escolas normais.
Este projeto gerou forte oposição. O Colégio Pedro u, cioso da sua
antiga regalia de conferir o grau de bacharel em ciências e letras, julgou-se
atingido, quando precisamente nesse momento empreendia uma campanha
pela restauração do seu curso de bacharelado em letras. (V. EscRAGNOLLE
DÓRIA, Mem6ria hist6rica do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, 1938, p.
251. O Colégio Pedro 11 era, então, dirigido pelo conde Carlos de Laet,
154
19. Em 1931 funcionou uma Faculdade de Letras e Filo-
sofia em São Paulo. Nela ministrou um curso o prof. Francisco
Isoldi que publicou suas Preleções de introdução à história e crí-
tica histórica no ano de 1932 na Faculdade Paulista de Letras e
Filosofia [sic], São Paulo, Piratininga [1932]. Este livro, sem rigo-
roso método, tem, fora de dúvida, o valor de uma obra precur-
sora(21).
20. A Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo
foi fundada por iniciativa de Roberto Simonsen em 1933, come-
çando a funcionar n.o ano seguinte. É um órgão complementar da
Universidade de São Paulo. Foi nela que o fundador ministrou o
curso de História Econômica do Brasil de que resultou o livro
tantas vezes reeditado a partir de 1937. Na mesma escola havia
ainda uma cadeira de História Social e Política do Brasil minis-
trada sob a forma de conferências por Afonso d'E. Taunay, Alcân-
tara Machado, Roberto Simonsen, Sérgio Milliet, Tácito de Al-
meida e J. F. de Almeida Prado ( 22 ) .
21. O ensino em grau superior da ciência histórica, com
cadeiras especiais de história do Brasil só se iniciou após a refor-
ma chamada Francisco Campos, de 11 de abril de 1931, que esta-
beleceu a necessidade da criação das Faculdades de Educação, Ci-
ências e Letras, depois chamadas Faculdades de Filosofia. O pri-
cujas relações com o Instituto Histórico não eram de simpatia. (RIHGB,
t. 77, 1909, p. 344.) Em 1923 o Colégio insistia junto ao Governo, que
então elaborava uma reforma geral do ensino, pela criação, no estabele-
cimento-padrão secundãrio, de uma secção "de carãter superior, sob o
nome de Faculdade de Letras, habilitando professores e concorrendo para
o desenvolvimento da cultura". Pleiteava exatamente conferir o titulo
de bacharel em letras e a licentia docendi. (EscRAGNOLLE DÓRIA, op. cit.,
p. 259.) Em 1925 a chamada lei Rocha Vaz restabeleceu finalmente o
bacharelado em ciências e letras no Colégio Pedro 11. Mas em 1926 só
um aluno conseguiu o título após o ano suplementar exigido.
21 . O volume, que aliãs não tem data, refere-se às preleções de
1932, mas traz um sumãrio das preleções do ano anterior.
22 . Jorge AMERICANO, A Universidade de São Paulo. Dados, pro-
blemas e planos, São Paulo, 1947, p. 78; Pedro Moacyr CAMPOS, "Estudos
da História na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo",
Ensaios paulistas. Contribuição de "O Estado de S. Paulo" às comemora-
ções do IV centenãrio da cidade, São Paulo, Anhambi, 1958, p. 340.
Faz-se aí justa referência à valiosa contribuição dos mestres franceses na
formação de uma mentalidade científica entre os professores paulistas:
Braudel, Gagé, Coomaert.
155
meiro instituto no gênero a funcionar no Brasil, dentro dos qua-
dros da lei, foi o Instituto Superior de Pedagogia, Ciências e Letras
"Sedes Sapientiae", dirigido pelas Cônegas Regulares de Santo
Agostinho, de São Paulo. A abertura das aulas realizou-se em
1933. Este instituto também se integrou na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo( 23).
22. Em 25 de janeiro de 1934, fundou o Governo de São
Paulo a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, integrada na
universidade estadual. Foi instalada em setembro do mesmo ano,
sendo seu primeiro diretor o prof. Teodoro Ramos. Nela havia a
cadeira de História da civilização antiga e medieval, a de História
da civilização moderna, a de História da civilização americana e
a de História da civilização brasileira. Tanto nesta faculdade
quanto na Sedes Sapientiae ocupou a cátedra de civilização brasi-
leira o historiador Afonso d'Escragnolle Taunay. O curso de geo-
grafia e história, que era conjunto, compreendia, além das cadeiras
referidas, as de geografia, de antropologia, geologia, cartografia,
etnografia, etnografia do Brasil e língua tupi-guarani ( 24 ).
23. Em 1935 (Decreto municipal n. 0 5.513, de 4 de abril),
por iniciativa do prof. Anísio Teixeira, então Secretário da Educa-
ção, criou-se no Rio de Janeiro a Universidade do Distrito Federal,
em bases inteiramente novas no Brasil, ultrapassando as normas
do decreto federal de 19 31, voltada especialmente para o ensino
de ciências desinteressadas, letras e pedagogia. A Escola de Filo-
sofia e Letras tinha por fim "concorrer para os estudos superiores
do pensamento e sua história nos seus aspectos filosófico, literário
e moral". Nos cursos iniciais, art. 10, não figuravam a história,
nem a geografia. Mas na Escola de Economia e Direito
havia uma secção de Ciências Geográficas e Históricas, compreen-
dendo, inicialmente, a Fisiografia, a Geografia Humana, a Histó-
ria Antiga, a História Medieval e Moderna e a História Contem-
porânea. Não se menciona a História do Brasil.
F, bem verdade que o artigo 31 previa a criação de novas
cadeiras '~à medida que :Os estudos se forem desenvolvendo". Na
l3:sé:01a· de__Filosofia e Letras aparecia uma_ cadeira de História ge-
ral da· civilização, "estudada pomo conclusão_ sintéticà dos estudos
JS6
de história, consistindo na teorização e coordenação desses estu-
dos" (Art. 39)( 25 ).
No curso de formação do professorado de História (Instru-
ção n. 0 3), foi criado um curso de História da Civilização no
Brasil, que foi confiado ao prof. Afonso Arinos de Melo Franco,
curso professado na Faculdade de Economia e Direito( 26 ). Ocu-
pou-a em seguid:i o comandante Eugênio de Castro, que restabe-
leceu o nome de História do Brasil. Por último ocupou a mesma
cátedra o historiador Luís Camilo de Oliveira Neto.
24. Extinta a Universidade do Distrito Federal, foram seus
cursos e professores, pela maior parte, aproveitados na Faculdade
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje Universidade
Federal do Rio de Janeiro), criada em 1937. Pelo decreto-lei n. 0
1.063, de 20 de janeiro de 1939, foram transferidas para a Uni-
versidade do Brasil as cadeiras estabelecidas da antiga Universi-
dade do Distrito Federal. O Decreto-lei n. 0 1.190, de 4 de abril
de 1939, organizou, afinal, os novos cursos. Geografia e história
p:issaram a ser um dos cursos da secção de ciências(27 ). Foi então
que assumiu a cadeira de História do Brasil o professor Hélio
Vianna. Desde então têm-se multiplicado as cátedras de História
do Brasil em todas as Faculdades de Filosofia ou Institutos Sociais,
reunidos ou não em universidades.
157.
ao público cerca de 400 volumes da maior importância( 28 ). A se-
gunda é a coleção Documentos brasileiros, da Livraria José Olym-
pio, Rio de Janeiro, que já alcançou mais de 130 volumes, a partir
de 1936( 29 ). Merece menção a Biblioteca hist6rica brasileira, da
Livraria Martins, São Paulo, que lançou 23 volumes, desde
1940( 3º). Ultimamente tem contribuído oom excelentes lança-
mentos a coleção Corpo e alma do Brasil, da Difusão Européia do
Livro, São Paulo, com mais de 30 títulos. Estas coleções têm
proporcionado aos estudiosos o conhecimento de obras fundamen-
tais só encontráveis em grandes bibliotecas.
26. Outras instituições e editoras têm concorrido notavel-
mente para a reimpressão ou para o lançamento de séries utilíssimas
aos estudiosos de história do Brasil. Assim, a Academia Brasileira
organizou a Coleção Afrânio Peixoto (Biblioteca de Cultura Nacio-
nal), dividida em várias séries; a Livraria Progresso, da Bahia, com
suas coleções Marajoara e Cruzeiro; a Edições Melhoramentos,
de São Paulo (antiga Weisflog Irmãos), com os Arquivos históricos;
a Editora Conquista, do Rio de Janeiro, com a série Temas bra-
sileiros; a Editora Globo, do Rio Grande do Sul, com a coleção
Província; a Editora ltapuã, do Salvador, com a coleção Baiana;
a livraria Epasa, do Rio de Janeiro, com a Biblioteca brasileira de
cultura; a Organização Simões, do Rio de Janeiro, com a coleção
Rex; as Edições Cultura, de São Paulo, com a série Brasílica;
a editora Guaíra, do Paraná, com a série Guairacá (Estudos na-
cionais). Nem todos tiveram êxito, infelizmente, em seus empreea-
dimentos.
27 . Algumas instituições oficiais concorreram igualmente para
essa vulgarização das obras básicas de cultura brasileira. O Insti-
tuto Nacional do Livro publicou várias dezenas de volumes da
Biblioteca de Divulgação Cultural, da Biblioteca Popular Brasileira
e algumas modelares edições na Coleção de Obras Raras. O Ser-
viço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura lançou
várias séries de valor: a coleção Vida brasileira, para obras de
28 . Um índice completo da Coleção Brasiliana, elaborado por Edson
Nery da Fonseca, foi publicado na Revista do Livro, publicação la-
mentavelmente extinta, do INL, n.0 38 (1969).
29. O catálogo e índice da coleção Documentos brasileiros, de auto-
ria de Aníbal Rodrigues Coelho, foi publicado na Revista do Livro, cit.,
n. 0 35 (1968).
30. O catálogo e índice da coleção Biblioteca histórica brasileira,
organizado por Maria Emília Melo e Cunha, está publicado na mesma revista,
n. 0 37 (1969).
158
maior vulto; os Cadernos de cultura e a coleção Aspectos para
divulgação de obras menores. O Ministério da Guerra (hoje do
Exército), através da Biblioteca Militar e da Biblioteca do Exér-
cito, em várias coleções, tem lançado e reeditado obras imprescin-
díveis. Os Subsídios para a história marítima do Brasil, editados
pelo Ministério da Marinha, não têm menor importância.
28. A rede de universidades federais, estaduais e livres tem
contribuído ultimamente para o incremento de impórtantes cole-
ções históricas. A Universidade de São Paulo tem adotado prefe-
rentemente o sistema da co-edição com séries já existentes. A Uni-
versidade Federal do Pará iniciou uma Coleção amazônica de alto
nível. A Universidade do Ceará montou uma imprensa universi-
tária que tem editado uma série importante de obras históricas.
São igualmente notáveis as edições da Universidade de Pernam-
buco, bem como as da Bahia e outras universidades do Sul.
29. Também o Govemo Federal e alguns governos estaduais
empreenderam diretamente edições de caráter histórico e socioló-
gico, como o do Amazonas que, sob a administração Ferreira Reis,
publicou dezenas de volumes. O Conselho Federal de Cultura,
como alguns conselhos estaduais ( especialmente o de São Paulo),
têm promovido igualmente importantes publicações que não cabe-
riam nos planos de iniciativa privada, quer diretamente, quer me-
diante convênios com entidades culturais. Todas essas iniciativas
têm permitido um surto notável de publicações históricas impres-
cindíveis a uma coleção de estudos brasileiros.
159
7 - HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
As Crônicas Coloniais
1. João de Barros (1496-1570) teria escrito a primeira his-
tória do Brasil, por ele denominada História da província de Santa
Cruz. Só nos resta o título. O livro nunca apareceu. f: lamen-
tável que o tão justamente chamado "Tito Lívio português" não
seja o primeiro da lista de nossos historiadores. Como feitor da
Casa da 1ndia teve ele em mãos exatamente os documentos desa-
parecidos para sempre com o terremoto de 1755. Com eles foram
redigidas as quatro primeiras décadas de Ásia, obra monumental
que se destinava a perpetuar os feitos portugueses na conquista
do oriente. A obra completa compreenderia, aliás, Europa (con-
quista da Espanha e fundação do reino), África ( conquista de
Ceuta, ponto de partida das navegações) e Ásia, única parcialmente
redigida. "E a quarta parte", diz o próprio Barros (Dec. 1, cap. 1,
liv. 1), "haverá nome Santa Cruz, nome próprio posto por Pedro
Alvares Cabral" (1).
Estas quatro partes constituiriam somente a primeira secção da
obra completa, A Conquista, a que se seguiriam A Navegação e o
Comércio.
1. Joaquim Veríssimo SERRÃO, Historiogr. port., p. 96. Uma vista d
vol d'oiseau do tema encontra-se na conferência proferida pelo embaixador
José Carlos de MACEDO SoARES no curso sobre historiografia brasileira na
Academia Brasileira de Letras, publicada na RIHGD, v. 240 (1958), p.
311 V. também José Honório RODRIGUES, História e historiadores do
Brasil, São Paulo, Fulgor, 1965. Do mesmo autor: Brazilian Historio-
graphy. Present trends and research requirements, Nova York, 1967.
Separ. da Social Science in Latin America, org. por Bryce Wood e Manuel
Diégues Jr. Nova York, Columbia University Press, 1967.
160
2. Também teria escrito uma cromca do descobrimento do
Brasil o segundo explorador da costa, o escrivão da Fazenda Real
Gonçalo Coelho, pai de Duarte Coelho, donatário de Pernambuco.
Mas também esta peça desapareceu inexplicavelmente.
3. A primeira História do Brasil é, assim, de fato, a de
Pero de Magalhães Gândavo. Escreveu ele dois livros: O Tratado
da terra do Brasil (Lisboa, Academia Real das Ciências, 1826),
e a História da província de Santa Cruz (Lisboa, 1576)( 2 ). Até
há poucos anos não se sabia se o autor teria estado no Brasil, ou
se teria feito o livro através de informações. O professor Hélio
Vianna verificou em Portugal que um dos apógrafos é precedido
de uma introdução em que Gândavo se refere express:imente à sua
estada no Brasil ( 3 ). Pretendia o professor Emmanuel Pereira
Filho demonstrar com copioso material recolhido em Portugal que
as duas obras representavam duas fases de um trabalho, e que se
completavam. Ficaram interrompidas as pesquisas com o seu pre-
maturo desaparecimento. A obra está traduzida para o inglês em
edição da Cortés Society( 4 ).
4. Vem depois Fernão Cardim (1549-1625), que é jesuíta,
autor de escritos curiosíssimos sobre a terra do Brasil, dos quais
alguns foram primeiro publicados em inglês, por terem sido rou-
bados por um pirata, levados para a Inglaterra e incluídos na fa-
mosa coleção de viagens organizada por Purchas( 5 ). O primeiro
161
intitula-se "Do climà e terra do Brasil e de algumas coisas notá-
veis que se acham assim na terra como no mar"; o segundo, "Do
princípio e origem dos índios do Brasil, e de seus costumes, ado-
ração e cerimônias". O último é a "Informação da missão do
Padre Cristóvão de Gouveia às partes do Brasil no ano de 83,
ou narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica". Foram
todos esses escritos publicados em conjunto com o título de Tra-
tados da terra e gente do Brasil, introdução e notas de Batista
Caetano, Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, Rio de Janeiro,
J. Leite, 1925. (Volume republicado na coleção Brasiliana.)
5. Gabriel Soares de Sousa (1540-15 91), colono fixado na
Bahia, empreendeu uma entrada em busca de riquezas minerais.
Escreveu na Corte de Madrid, enquanto aguardava o despacho de
favores solicitados para o seu projeto, uma obra notável, a mais
completa de informações, muitas delas únicas, sobre o Brasil, com
a circunstância de ser extremamente atrativa como estilo. É um
livro que se pode ler realmente com agrado( 6 ).
Apesar de português de nascimento, Gabriel Soares de Sousa
arraigou-se no Brasil. Tinha tanta fé no futuro do país que Oli-
veira Lima chega a considerar sua obra "um perfeito manual de
propaganda da colônia para uso dos governantes e, de fato, encerra
162
o inventário cuidadoso, circunstanciado, relativamente cabal, das
nossas riquezas"(?). Logo de início mostra-se crente na vocação
história do Brasil, que "está capaz para se edificar nele um grande
império, o qual, com poucas despesas destes reinos, se fará tão
soberano que seja um dos estados do mundo"( 8 ).
Observa Varnhagen que esta confiança no futuro do Brasil
se encontra igualmente nos Diálogos das grandezas do Brasil, onde
se consigna a profecia de um astrólogo, de que a Terra de Santa
Cruz seria abrigo e amparo da metrópole( 9 ).
6. A contribuição jesuítica para o conhecimento do Brasil é
constituída em regra por cartas e memórias. Além da obra de
Cardim, já referida, a coleção mais valiosa das cartas está reunida
na série editada pela Academia Brasileira sob o título de Cartas
jesuíticas( 1º). Do valor, do pensamento e da ação de Nóbrega na
7. Aspectos da literatura colonial brasileira, Leipzig, 1896, p. 69.
8. Na ed. da Col. Brasiliana, de 1938, p. 2.
9. Jb., p. 453.
1O. I. Manuel da NÓBREGA, Cartas do Brasil, Rio de Janeiro, 1931.
Cartas jesuíticas 1. (A 1.ª edição apareceu em 1886 sob o título geral de
Materiais e achegas para a história e a geografia do Brasil. O prefácio e
notas são de VALE CABRAL.) A edição da Academia contém ainda o Diálogo
da conversão do gentio.
II. Cartas avulsas (1550-1568), Rio de Janeiro, 1931. Cartas jesuíticas
n. Baseia-se num códice da Biblioteca Nacional, hoje ilegível por ter o texto
completamente delido. Em 1887 chegou a ser impresso na coleção Materiais
e achegas, acima referida. Mas encontram-se raríssimos exemplares. A
edição da Academia tem introdução e notas de Afrânio Peixoto.
III. Joseph de ANCHIETA, Cartas, informações, fragmentos históricos e
sermões (1554-1594), Rio de Janeiro, 1933. Cartas jesuíticas m. Nota
preliminar de Afrânio Peixoto e prefácio de Antônio de Alcântara Machado.
Observe-se que o Padre Serafim Leite atribui ao Padre Cardim, e não a
Anchieta, a Informação da província do Brasil para o nosso padre, aí pu-
blicada sob o n. 0 XXXII.
A essas publicações nunca assaz louvadas, que se devem à incansável ati-
vidade de Afrânio Peixoto, convém ajuntar: Padre Manuel da NÓBREGA, Car-
tas do Brasil e mais escritos (Opera omnia), com introdução e notas históricas
e críticas de Serafim Leite, SJ, Coimbra, por ordem da Universidade, 1955
(Acta universitatis conimbrigensis).
Serafim LEITE, Novas cartas jesuíticas (de Nóbrega a Vieira), São
Paulo, CEN, 1940 (Brasiliana, 194).
A publicação oficial dos documentos históricos jesuíticos constitui uma
série organizada com todos os requisitos da moderna técnica historiográfica:
163
civilização do Brasil se dirá no momento em que se tratar da cate-
quese.
7. :e também muito utilizado no estudo deste período o
Diário da navegação de Pero Lopes de Sousa, descoberto por
Varnhagen na Biblioteca da Ajuda. Foi pelo investigador editado
com eruditas anotações com o título de Diário da navegação da
armada que foi à terra do Brasil em 1530 .. . , Lisboa, 1839( 11 ).
8. A primeira história da terra escrita logo no início do século
XVII, mas que permaneceu inédita até quase o século xx, foi a de
Frei Vicente do Salvador, no século Vicente Rodrigues Palha, fran-
ciscano, natural da Bahia. :e um trabalho delicioso de bom humor,
de graça e de simplicidade. O próprio livro teve uma história aci-
dentada. O autor escrevera antes uma Crônica da custódia do
Brasil, que se perdeu, mas da qual algumas páginas terão sido
aproveitadas na História do Brasil. Numa estada em Portugal
entrou em contato com o cônego Manuel Severim de Faria, chantre
da Sé de :Évora, irmão de Frei Cristóvão de Lisboa, seu colega de
hábito. Era Severim de Faria um erudito escritor e apaixonado
bibliófilo. Foi ele que animou Frei Vicente a escrever a História
do Brasil, comprometendo-se a publicá-la. Teve-a em mãos, mas não
cumpriu a promessa. Pergunta-se por quê. Os originais perde-
ram-se. Um apógrafo existente na Torre do Tombo foi conhecido
por Varnhagen. Uma cópia tirada pela comissão de pesquisas
mantida em Portugal pelo governo brasileiro, extraviou-se, vindo
afinal ter à Biblioteca Nacional por benemerência de um livreiro.
Começou a ser divulgada cm 1886. Mas só em 1887 apareceram
em vohime os dois primeiros livros. Em 1889 os Anais da Biblioteca
164
Nacional deram o texto completo, em seu volume XIII. Em 1918,
finalmente, aparece em edição prefaciada e anotada por Capistrano
de Abreu, com a colaboração de Said Ali e Rodolfo Garcia ( 12 ).
9. Dois problemas suscita a obra de Frei Vicente do Salva-
dor. O primeiro é o mistério do abandono e ineditismo de tão va-
lioso escrito. A resposta só poderá ser a de Frei Venâncio Willeke
no seu estudo biográfico comemorativo do quarto centenário do es-
critor: "sua atitude franca para com a Metrópole"( 13 ). Realmente,
basta ler as páginas iniciais da narração para ver que o chantre da
Sé de Évora não poderia deixar de temer a repercussão das páginas
do livro no ambiente português. Porque Frei Vicente não era so-
mente o primeiro historiador nascido no Brasil. Era também um
intimorato defensor do ponto de vista brasileiro no modo de apre-
ciar os fatos. Jamais um cortesão português permitiria que, por sua
conta, aparecessem, em letra de forma, apreciações como esta:
apesar de "não haver cem anos que se começou a povoar, já se
vão despovoando alguns lugares. . . Nem por isso vai em aumento,
mas em diminuição". (Ed. de 1918, p. 15.) E ainda queixas
contra os reis "pelo pouco caso que hão feito de tão grande
Estado, que nem título quiseram dele, pois intitulando-se senhores
de Guiné, por uma caravelinha que lá vai e vem, como disse o rei
do Congo, do Brasil nem se quiseram intitular" (p. 16) ( 14 ). Para
o autor, o único soberano que se interessou pelo Brasil foi D. João
III. Depois dele não houve rei "que dele curasse senão para colher
suas rendas e direitos" (p. 16). E adiante insiste: "A reputação e
estima do Brasil se acabou com el-rei D. João" (p. 152).
Acusa também os colonos de pouco apego à terra: "Tudo
pretendem levar a Portugal. Se as fazendas falassem, continua,
haveriam de lhes ensinar como aos papagaios: -papagaio real, para
Portugal" (p. 16). No Brasil, comenta o autor, tomam os portu-
gueses o tom de usufrutuários e não de senhores. Atribui à mur-
muração, mas não deixa de consignar com ênfase, as acusações
165
aos povoadores que não conquistam o sertão: "Nem uma passada
dão por isso. E quando vão ao sertão é a buscar índios forros,
trazendo-os à força e com enganos" (p. 26). O desconhecimento
das minas do interior é resultado da "negligência dos portugueses
que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam
delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar
como caranguejos" (p. 19). Por estas e outras passagens, Afrânio
Peixoto chega a chamar a História de "livro antiportuguês"( 15 ).
Além disso, não agradaria a Severim de Faria, cultor dos clás-
sicos e das formas rígidas, o estilo despreocupado do frade baiano.
"Pode escrever com elegância e graça", diz Capistrano de Abreu,
"mas em geral desenvolvem-se os períodos descuidosos, a m,rncira
de contas de rosário ·debulhadas maquinalmente" (p. XIX).
O segundo problema suscitado pelo estudo da obra de Frei
Vicente é o desaparecimento de sua Crônica da Custódia e de vá-
rios capítulos da História. Quanto à Crônica, não havendo naquele
tempo muito escrúpulo no se servirem os autores de material
alheio, é certo que foi aproveitada, em largos trechos, por Frei
Manuel da Ilha, na crônica em latim que elaborou sobre a pro-
víncia do Brasil ( 16 ). Também Jorge Cardoso (1606-1669) no
15. Breviário da Bahia, 2.ª edição, Rio de Janeiro, Agir, 1946, p. 81.
Outra obra extraviada, se algum dia foi escrita, é a do padre Manuel
de Morais, jesuíta que abandonou a ·batina e se passou para o lado dos
holandeses após havê-los enfrentado. Seria o autor de uma História do
Brasil segundo autores flamengos e di!clarações dele próprio. Voltando
depois ao Brasil, conseguiu ser perdoado em longo processo perante a Inqui-
sição, mas nunca apresentou o manuscrito da obra que teria trazido de volta.
V. OLIVEIRA LIMA, "O p•. Manuel de Morais", RIHGB, v. XII, 1907; Afon-
so d'E. TAUNAY, "Esc.ritores coloniais", Anais do Museu paulista,
São Paulo, li, 1925; José Honório RODRIGUES, Historiografia dei
Brasil, Siglo XVII, México, 1963, p. 163. A vida do padre Manuel
de Morais estava sendo escrita por Eduardo Prado. A R evista nova, de
São Paulo (1932, II, p. 5) publicou um capítulo (o 4.0 ) do livro inacabado.
16. Prova-o exaustivamente Frei Venâncio WILLEKE, não somente em
seu estudo acima citado, mas ainda em "Estado atual das pesquisas sobre
Frei Vicente do Salvador", RIHGB, v. 279 (1968), p. 165. Para a elabora-
ção de sua obra Frei Vicente socorreu-se da ajuda dos irmãos da ordem.
Em carta ao cônego Manuel Severim de FARIA escreve seu irmão Frei Cris-
tóvão de LISBOA em 1626: "Frei Vicente, frade da nossa conquista do Brasil,
me mandou dizer que escrevia a História do Brasil. Foi tão honrado que
me mandou pedir alguma cousa das que cá fizemos para a inserir nela ".
ABN, 1904, V, XXVI, p. 409.
166
Hagiológio lusitano (que ele aliás escreve Agiológio) nos três
primeiros volumes que são de sua autoria (Lisboa, 1652-1666),
serviu-se amplamente da Crônica, mencionando aliás a fonte. No
Santuário mariano, obra coletiva coordenada por Frei Agostinho
de Santa Maria (Lisboa, 1722), também foi utilizada a História,
ainda em manuscrito, convenientemente citada.
A quinta edição, de 1967, conservando o prefácio e as notas
de Capistrano de Abreu e seus colaboradores, ficou a cargo de
Frei Venâncio Willeke e seguiu um apógrafo mais fiel encontrado
na Torre do Tombo, completando-se os capítulos desaparecidos
com os trechos de obras provadamente baseadas no texto manus-
crito da História. A existência dos capítulos desaparecidos fica
irretorquivelmente comprovada pelo encontro de um índice alfa-
bético, em que vários temas são remetidos aos mesmos.
1O. Aproximadamente da mesma época deverão .ser os
Diálogos das grandeza,s do Brasil, obra preciosa, de autor desco-
nhecido, que Capistrano de Abreu intuitivamente atribuiu a Am-
brósio Fernandes Brandão, senhor de engenho em Pernambuco, e
Rodolfo Garcia, amigo e discípulo de Capistrano de Abreu, teve a
fortuna de comprovar, seguindo a indicação do mestre( 17 ).
O livro é de um escritor "colorido, enérgico, veemente", diz
Capistrano de Abreu, "capaz de atingir à eloqüência". Mas não é
brasileiro, porque refere-.s-e, com certa ironia, ao "mal de negligên-
cia dos naturais da terra". Era culto, e mesmo erudito, sem deixar
de ser excelente observador dos fenômenos do país. Garcia en-
controu o nome de Brandão entre os cristãos-novos denunciados
na Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. (Denun-
ciações da Bahia), São Paulo, 1925.
Sobre a importância das informações de caráter econômico
fornecidas pelo livro escreveu o professor Mircea Buescu um arti-
go repleto de observações preciosas, incorporando-o depois a seu
167
livro História econômica do Brasi/(1 8 ). Curioso é que, do mesmo
modo que Gabriel Soares de Sousa e Frei Vicente do Salvador, o
autor dos Diálogos profetiza que o Brasil "havia de ser uma opu-
lenta província, refúgio e abrigo da gente portuguesa" (p. 35).
11. Voltando à contribuição jesuítica é preciso registrar o
nome do Padre Simão de Vasconcelos (1597-1671), autor de algu-
mas obras de valor desigual: a Vida do Padre João de Aln-,eida
( Lisboa, 165 8); a Chronica da Companhia de Jesu do Estado do
Brasil (Lisboa, 1663); as Notícias curiosas e necessárias das cousas
do Brasil (Lisboa, 1668) e, finalmente, a Vida do venerável padre
Joseph de Anchieta (Lisboa, 1672). A Crônica foi reproduzida
em duas edições: Rio de Janeiro, 1864, e Lisboa, 1865, esta muito
superior. A Vida de Anchieta apareceu em edição do Instituto
Nacional do Livro em 1943 (Biblioteca popular brasileira), em
dois volumes, com prefácio do padre Serafim Leite, SJ.
Não é considerado um escritor do nível de seus companheiros
de ordem. Estilo redundante e pouca precisão nas .indicações, não
tiram, porém, à sua contribuição o valor de um testemunho res-
peitável. Em artigo de extrema agudeza, critica o professor Robert
Ricard a sua produção, comparando-o, em matéria de simplicid1de,
a seu contemporâneo, o padre Manuel Bernardes. Na biografia de
Anchieta, diz o ilustrado professor da Sorbonne, "acumulou o au-
tor, com visível satisfação, os mais espantosos e extraordinários
prodígios. Qualquer que seja a nossa opinião a respeito da possi-
bilidade desses prodígios, mal se compreende que um religioso que
deveria ter sido formado nos quadros postridentinos possa aceitar
e divulgar, com tanta ingenuidade, fatos cuja exatidão material
aparece em muitos casos escassamente comprovada, ou conferir
caráter miraculoso, seja a acontecimentos assaz insignificantes,
seja a coisas que se podem explicar muito bem por simples causas
naturais. A obra representa, assim, um desses casos, hoje bem
conhecidos, demonstrativos de que nem o Renascimento, nem a
Reforma protestante e católica, conseguiram extinguir de todo,
sobretudo num país conservador como Portugal, o velho espírito
· da Idade Média, não só com suas distorções e seus erros, mas
com a profundeza e a candura da sua fé( 19 ).
12. Uma obra de aparência puramente devocional é fonte
de numerosas informações históricas. Trata-se do trabalho de
168
Frei Agostinho de Santa Maria (1642-1728), agostiniano, o San-
tuário mariano, Lisboa, 1707 a 1723, em dez volumes, tendo em
vista a história d:is igrejas e capelas destinadas ao culto de Nossa
Senhora. Como a maior parte das igrejas tem, pelo menos s-ecun-
dariamente, o padroado da Virgem Maria, o livro resultou numa
verdadeira história da expansão da Igreja no Brasil. Trata-s,e, diz
um dos seus recentes comentadores( 2º), de "uma espécie de enci-
clopédia", em que se descrevem 1. 777 santuários (igrejas, capelas,
ermidas, altares) dedicados ao cultG da virgem. Os setf' primeiros
tomos abrangem o território português. O oitavo descreve os san-
tuários da 1ndia, Ásia insular, África e Filipinas. O nono trata da
Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará. O décimo, e último publi-
cado, descreve os santuários do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Colônia do Sacramento,
Para realizar a sua obra Frei Agostinho recorreu a diversos cola-
boradores. Este último volume, por exemplo, é praticamente de
autoria do franciscano carioca Frei Miguel de São Francisco, que
foi provincial várias vezes. À boa maneira franciscana, na esteira
de Frei Vicente do Salvador, Frei Miguel introduz na sisuda obra
uns traços de humorismo, também resultante, é de crer-se, de sua
condição de natural do Rio de Janeiro.
13. Uma última contribuição jesuítica para a História do
Brasil é representada pela obra do padre João Antônio Andreoni
(1649-1716), natural de Lucca, Itália, que, sob o pseudônimo de
André João Antonil, escreveu um livro célebre: Cultura e opulên-
cra do Brasil por suas drogas e minas. . . A obra obteve todas as
licenças necessárias dos poderes civis e eclesiásticos, sendo impressa
em 1711. Logo depois foi, porém, confiscada. A revelação das
minúcias acerca das riquezas e, especialmente, do roteiro minucioso
para a região das minas, foi considerada altamente perigosa. Uns
poucos exemplares escaparam(2 1 ).
169
A obra de Antonil abre um novo quadro diante dos estudiosos
da formação brasileira. Não é mais a crônica dos acontecimentos
e o elogio dos soberanos, nem o panegírico dos homens notáveis
pelo heroísmo ou pela santidade. Trata-se de um estudo em pro-
fundidade das produções do país, com fartos dados estatísticos e
como uma preciosa descrição dos roteiros. Dele extraiu o professor
Mircea Buescu importantes conclusões para a nossa história econô-
mica: "f: um dos testemunhos mais preciosos que um estudioso
da economia brasileira pode consultar. O autor dá, com admirável
precisão quantitativa, uma visão clara da economia brasileira no
início do século xvm"( 22 ) . Num tempo em que não se publicavam
estatísticas nem relatórios, nem orçamentos, nem balanços, o livro
de Antonil representa um caso realmente extraordinário.
14. f: de outro tipo a obra histórica que se segue. Sebastião
da Rocha Pita (1660-1738), magistrado baiano, publicou a His-
tória da América portuguesa em Lisboa, 1730. Ao contrário do
seu conterrâneo, Frei Vicente do Salvador, Rocha Pità é acadêmico
e adora o estilo empolado e grandíloquo. Southey considera a
obra "magra e desalinhavada, que só na falta de outra tem podido
passar por valiosa". Capistrano de Abreu refere-se com ironia às
"informações farfalhantes da sua acatassolada história" nas notas à
História de Frei Vicente do Salvador. Enquanto no século anterior,
o fnde franciscano chamara o seu livro simplesmente História do
170
Brasil, a obra do setecentista intitula-se "da América portuguesa".
Seu nacionalismo existe, realmente, mas refugia-se em duas formas.
Primeiro pelos louvores delirantes a tudo que se refere à terra.
Para apreender o tom da obra basta ler o primeiro capítulo. Tudo
é belo no Brasil, tudo é grande, as baías, os rios, as montanhas.
Em nenhum lugar do mundo "madruga mais bela a aurora", nem
"se mostra o céu mais sereno", "o sol em nenhum outro hemisfério
tem os raios tão dourados", "as águas são as mais puras", "dando
as suas frutas sazonada ambrosia". É enfim "o Brasil terreal pa-
raíso". Trata-se, pois, do precursor de um gênero de literatura que
foi, mais tarde, cognominada "ufanista", do nome de um livro fa-
moso do conde de Afonso Celso, Porque me ufano de meu país
(Rio de Janeiro, 1900).
Os conhecimentos geográficos de Rocha Pita são, porém, es-
tranhos. Diz, por exemplo, que o Brasil se limita, a ocidente, com
os reinos de Angola e Moçambique. . . Mas ao lado de excentrici-
dades, o livro contém informações precios:1s, obtidas dos arquivos
que foram realmente pesquisados, mas não são infelizmente men-
cionados.
Outro traço nacionalista, e este é realmente positivo, e mais
tarde será novamente estudado, é a insistência num ponto nobre
da coloniz:1ção portuguesa: a incorporação dos brasileiros ao qua-
dro dos dirigentes do império. O livro contém em apêndice uma
lista das "Pessoas naturais do Brasil que exerceram dignidades e
governos eclesiásticos e seculares na pátria e fora dela", bastante
incompleta, aliás.
O estilo do autor obscurece as qualidades do livro que só
agora começam a ser levadas em conta( 23 ). "Talento não faltava
ao escritor, senão moderação ou bom-senso", diz Pedro Cal-
mon(24).
15. Dom José de Mirales, natural de Xatira (Valência), na
Espanha, passou-se para o Brasil, onde casou e fez carreira militar.
171
Pedro Calmon encontrou no Livro de registro dos irmãos da Mi-
sericórdia da Bahia estes dados (25 ). Pertenceu à Academia dos
Esquecidos, como também à dos Renascidos. A sua História mili-
tar, diz Rodolfo Garcia, é obra de investigação fidedigna. Sabe-se
que rebuscou arquivos e coletou dados de testemunhas. Mas está
longe de merecer a qualificação de uma história em moldes cientí-
ficos. Continua sendo fonte imprescindível para pesquisas no setor
militar. Está publicada nos Anais da Biblioteca Nacional, tomo 22
( 1900). Não passa de apontamentos, preciosos, é verdade, para
uso de um historiador de visão.
16. Frei Antônio de S:inta Maria Jaboatão (1695-1763 ou
17 65), religioso franciscano, membro da Academia Brasílica dos
Renascidos, sob o pretexto de escrever a história da sua ordem no
Brasil, legou-nos uma .crônica geral um tanto ingênua (mas preciosa
em face do desaparecimento de importantíssimas peças históricas)
a que denominou Orbe seraphico novo brasilico. . . (seguindo-se
mais de quarenta palavras, à moda do século xvm), Lisboa, 17 61.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro reeditou-a nos anos
de 1858-1862, em 5 volumes com duas partes, mudando-lhe sem
razão o título para Novo orbe seraphico brasileiro, e acrescentan-
do-lhe uma parte inédita. O autor foi cronista-mor da seráfica
província de Santo Antônio do Brasil e lidou com preciosos do-
cumentos. Varnhagen considera apreciável a sua contribuição e
utiliza-o abundantemente em sua obra. Alguns querem simples-
mente expulsá-lo da história, esquecendo o valor de um depoimento
honesto e bem apresentado.
17. Frei Gaspar da Madre de Deus (1715-1800), aliás Frei
Gaspar da Madre de Deus Teixeira de Azevedo, era paulista. Eru-
dito, professor de filosofia, escreveu as Memórias para a história da
capitania de São Vicente hoje chamada São Paulo do Estado do
Brasil, que foram publicadas por ordem da Real Academia das
Ciências de Lisboa, da qual era o autor sócio correspondente, em
1797. Pertencente a importante família, aparentado com as maiores
figuras do São Paulo colonial, Frei Gaspar é um dos maiores cons-
trutores da visão bandeirista da história do Brasil, opondo-se vio-
lentamente à interpret;1ção jesuítica. Eis porque ele transcende o
quadro dos cronistas regionais.
25. Rodolfo GARCIA, nota a VARNHAGEN, Hist. geral, 4.ª ed. int., IV,
269. Mirales conseguiu autorização para ter livre acesso a todos os livros
da vedoria a fim de recolher dados para sua obra. Daí a fidedignidade
de suas indicações. V. ordem de OEIRAS, 1761. V. Anais do Arquivo
Pi!blico e Museu da Bahia, v. XVII, p. 224.
172
Sem ser um estilista à moda do tempo, narra com vivacidade
os episódios da sua agitada capitania. A obra está incompleta,
faltando um terceiro livro, cujos originais se extraviaram.
Tratando-se de um professor de filosofia, doutorado, aliás, no
Rio de Janeiro em 1749, cuja cultura geral se revela imediatamente,
e de um pesquisador minucioso de arquivos, cujas peças transcreve
conscienciosamente, Frei Gaspar representa um passo importante
na historiografia brasileira(26 ).
Costuma-se juntar ao nome de Frei Gaspar, o de seu primo e
companheiro de pesquisas Pedro Taques de Almeida Pais Leme.
Mas como estamos preocupados especialmente com histórias gerais
e este se dedicou unicamente à regional, dele trataremos oportuna-
mente.
18. Informa Luís dos Santos Vilhena que Dom Fernando
José de Portugal, governador da capitania da Bahia, m:1is tarde
vice-rei do Brasil e, finalmente, ministro de Dom João VI, com o
título de marquês de Aguiar, animado não só de seu incomparável
engenho e profunda literatura, como por estar senhor dos arquivos
mais antigos e preciosos de todo o Brasil. . . além de uma rica
vitualha de todos quantos manuscritos particulares há, bem como
impressos que por obséquio se lhes vão ofertar, se incumbiu do
precioso trabalho de escrever a história da sua capitania, obra que
felizmente vai continuando, apesar das incompreensíveis diligências
de que Sua Majestade é servido encarregá-lo, e de que tão glorio-
samente sabe sair"( 27 ).
Que o marquês era realmente culto e conhecedor de boa lite-
ratura, provou-o com a sua tradução do Ensaio sobre a crítica, de
Pape, uma das primeiras produções da Imprensa régia. Que estava
173
a par de toda a legislação colonial, ficou demonstrado com suas
utilíssimas notas ao Regimento do governador Roque da Costa
Barreto ( 28 ). Mas não se conhece nenhum sinal dessa obra que
Vilhena já dava como encetada em 101.
19. Os nomes que acabamos de relacionar pertencem a
uma fase ultrapassada na historiografia brasileira. Contribuíram
valiosamente para a elaboração da história, são hoje utilizados como
fontes de informação, mas não suficientes para a compreensão dos
fenômenos. São mais objeto da história do que historiadores. No
estudo dos historiadores mais recentes vamos encontrar alguns no-
mes que ainda permanecem válidos para certos setores.
Os Grandes Historiadores
20. O maior historiador do Brasil foi Francisco Adolfo de
Varnhagen, visconde de Porto Seguro(29 ). A obra de Varnhagen
seguiu o plano traçado pelo sábio bávaro Martius no seu célebre
28. Publicado nos Documentos históricos (Bibl. Nac.), v. xm e XIV,
Rio de Janeiro, 1929. O único sinal de execução desse projeto talvez se_ia
a ordem dada pelo governador para que fossem recopiadas as atas da
câmara que estavam em mau estado de conservação. Osvaldo VALENTE,
apresentação às Atas da Câmara, Pref. Munic. do Salvador, 1944 (Do-
cumentos Históricos do Arquivo Municipal, p. m).
29. CAPISTRANO DE ABREU, "Sobre o visconde de Porto Seguro", En-
saios e estudos, l.ª série, Ed. da Sociedade Capistrano de Abreu, Rio de
Janeiro, 1931, p. 127; publicado também em apenso à História geral do
Brasil, 3.ª ed. int., vol. III [1932], p. 435. V. também Rodolfo GARCIA,
''Ensaio biobibliográfico", em apenso à História geral do Brasil, 3.ª ed.
integral, São Paulo, v. 11, 1932, p. 436 (publicado anteriormente no Jornal
do Brasil, de l.º de julho de 1928 e na RIHGB, t. 104, p. 946). A mais
completa biografia de VARNHAGEN é a de Clado Ribeiro de LESSA, publicada
na RIHGB, v. 182 a 227 (de abril-junho de 1954 a abril-junho de 1955).
Por ocasião do sesqüicentenário de seu nascimento, promoveu o IHGB ·três
conferências: "As idéias políticas de Varnhagen", por Américo Jacobina
LACOMBE, "Varnhagen e a história da literatura portuguesa e brasileira",
por Thiers Martins MOREIRA, e "Varnhagen, mestre da História Geral do
Brasil", por José Honório RODRIGUES. Estão publicadas na RIHGB, v. 275
(abril-junho 1967), p. 135. A Correspondência ativa de Francisco Adolfo
de Varnhagen foi coligida e anotada por Clado Ribeiro de LESSA e editada
pelo INL, Rio de J aneíro, 1961. Sobre essa correspondência escreveu in-
teressantes comentários o prof. Hélio VIANNA, RIHGB, v. 274 (1967),
174
ensaio: "Como se deve escrever a História do Brasil"( 3º). Pes-
quisador incansável, paleógrafo emérito e dotado de cultura geral
notável, Varnhagen foi quem mais fez para tornar conhecido o
século xv1, segundo comenta Capistrano.
Quanto ao século xvn, deu um passo decisivo na história da
invasão holandesa, fazendo, pela primeira vez, a síntese dos relatos
portugueses com os dos adversários. Quanto ao século xvm, o
mais complexo e o menos estudado do Brasil, ainda assim não tem
competidor. De modo que, em conjunto, a obra de Varnhagen é
ainda a mais completa de nossa literatura histórica, não só pela
extensão do seu trabalho, como pelos métodos historiográficos ri-
gorosos empregados em sua elaboração.
A História geral de Varnhagen, segundo Capistrano em 1882,
como obra de conjunto, poderá servir por muitos anos, devendo-se
encaminhar o esforço dos pesquisadores para as monografias. De
175
um modo geral, o esquema dentro do qual lidamos até hoje ainda é
o dele. "Sob as mãos de Varnhagen", conclui o ensaio que vimos
acompanhando, "a história do Brasil uniformiza-se e esplandece".
"Nenhum brasileiro lhe pode atualmente ser comparado.".
21. Acima de Varnhagen quanto à forma, a concepção ar-
tística e a intuição, Capistrano coloca a obra de Robert Southey.
Mas a obra do liureado poeta inglês é infelizmente incompleta,
visto como ele a escreveu antes das grandes contribuições e
dos estudos regionais de Baena ( 31 ), Accioli( 32 ), Pizarro( 33 ), Lis-
boa(34), São Leopoldo{ 35 ), e Fernandes Gama( 36 ); Capistrano só
vê um historiador que pode ser comparado a Varnhagen com van-
tagem, "mas de longe", dado o caráter fragmentário de seus estu-
dos: o senador Cândido Mendes de Almeida( 37 ).
31. Antônio Ladislau Monteiro de BAENA, Compêndio das eras da
província do Pará, Pará, 1838. Foi reeditado em 1969 pela Universidade
Federal do Parâ, com prefácio de Artur César Ferreira Reis e biografia do
autor por Artur Viana, extraída dos Anais da Biblioteca e Arquivo público
do Pará, t. 11 (Belém, 1902). Por ocasião do centenârio da morte de
Baena, pronunciou o coronel João Batista de Magalhães uma conferência no
Instituto Histórico (RIHGB, v. 207, IV-IV-1950, p. 192). Baena era militar.
Chegou ao Brasil em 1803, como ajudante-de-campo do conde dos Arcos,
governador do Pará. Aí se radicou, morrendo em 1850. Sua obra é ex-
tensa, compreendendo muitos trabalhos técnicos. O Compêndio das eras
é um mero repositório de fatos. A comissão do Iru.tituto Histórico incumbida
de dar parecer sobre a obra (RIHGB, t. II, 2.ª ed., p. 237), composta do
cons. 0 Rodrigo de Sousa da Silva Pontes, Cândido José de Araújo Viana e
Gustavo Adolfo de Aguilar Pantoja, aponta-lhe sérios defeitos, como um
aproveitamento excessivo da obra de BERREOO e certa pobreza de linguag~m.
Mas é uma fonte útil a serviço dos pesquisadores modernos, conforme o
declara Artur César Ferreira Reis, no prefácio citado.
32. lgnacio Accioli de CERQUEIRA E SILVA, Memórias históricas e po-
líticas da província da Bahia, Bahia, 1835-1852, 6 v. Nova edição: Memó-
rias históricas e políticas da província da Bahia, pelo coronel lgnacio Accioli
de CERQUEIRA E SILVA, mandadas reeditar pelo governo do Estado. Anotador
Dr. Braz do Amaral, Bahia, Imprensa Official, 1919-1940. (O título não é
uniforme em todos os volumes.) As notas aumentaram consideravelmente
o texto primitivo com documentos dos arquivos brasileiros e portugueses.
Accioli, como é geralmente conhecido o autor, era português, natural de
Coimbra, vindo em criança para a Bahia. Faleceu no Rio de Janeiro em
1865 como cronista do Império. Combateu a favor do Brasil na guerra da
Independência, obtendo o posto de coronel de milícias. Além de sua obra
176
maior, acima citada, escreveu uma Corografia· paraense, Bahia, 1833; uma
Informação ou descrição topográfica e política do rio de São Francisco,
Bahia, 1847 (reeditada na RIHGB, n. 0 62); um Ensaio corográfico do Império
do Brasil, Rio de Janeiro, 1954, além de memórias publicadas na RIHGB e
outros periódicos. Deixou inéditos. Bom compilador de fatos, não se dis-
tingue por nenhuma orientação científica.
33. José de Souza Azevedo PIZARRO E ARAÚJO, Memórias históricas
do Rio de Janeiro e das províncias anexas à jurisdição do vice-rei do Estado
do Brasil, Rio de Janeiro, 1820-1822, 9 t., citado habitualmente como
Pizarro, era carioca (1753-1830). As Memórias foram reeditadas pelo
INL, com prefácio de Rubens Borba de Morais, 1945-1948. (Biblioteca
popular brasileira, 1v) com valioso acréscimo de um índice geral em 1951.
Sua biografia, publicada na RIHGB, t. 1 (3.ª ed.), p. 275 é transcrição
quase literal do que diz o próprio Pizarro (v1, 135). :É. autor escrupuloso,
pesquisador incansável nos arquivos eclesiásticos e civis. Sua documentação
é preciosa e, em boa parte, destruída nos originais. Falta-lhe, porém, mé-
todo na exposição, sendo antes guiado pelo material obtido do que por um
plano sistemático. Por isso, diz dele Varnhagen que é autor de "uma obra
confusa, difusa e até, às vezes, obtusa." (História geral, 3.ª ed. integr., São
Paulo, 1936, v, 269). Rodolfo Garcia, anotando Varnhagen, considera suas
Memórias "indispensáveis", o que é rigorosamente exato.
As memórias representam o fruto de continuado esforço dos eclesiásti-
cos do cabido do Rio de Janeiro, honestamente mencionados pelo autor.
Do ponto de vista doutrinário, Pizarro é uma expressão autêntica do rega-
lismo português. Defende calorosamente o controle do Estado sobre a Igreja
e tem má vontade indisfarçável em relação à Cúria romana e seus agentes,
os Legados e Núncios. Tem visível antipatia às ordens religiosas, então em
crise, especialmente os jesuítas, tanto os antigos, extintos, quanto os exis-
tentes, os egressos da ordem, secularizados. Antiescolástico, elogia o monge
beneditino Frei José Sofia da Natividade, mais tarde bispo do Pará, porque
"foi o primeiro que, rompendo o véu escuro da filosofia doutrinada pelos
sectários de Aristóteles, postilou ecleticamente no Rio de J an-eiro, abrindo
à mocidade desvalida de meios para adquirir melhores conhecimentos, com
proveito notável da República Literária" ( v, 285).
Foi membro da Mesa da Consciência e Ordens, precisamente o órgão
pelo qual o Estado interferia diretamente nos assuntos eclesiásticos, aposen-
tando-se como Ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Teve sérios
conflitos com o bispo do Rio de Janeiro, sendo preso por ordem deste,
partindo depois ocultamente para Lisboa. Só voltou ao Rio de Janeiro
por ocasião da vinda da Família Real. (Américo Jacobina LACOMBE,
"Monsenhor Pizarro", Verbum, v. v1, março de 1949, p. 42.)
O capítulo sobre a vila de Parati de suas Memórias está transcrito
fac-similarmente nas Publicações do JPHAN, n. 0 22 (Rio de Janeiro, 1960). Um
177
códice de manuscritos sobre Angra dos Reis, com documentos extraídos do ar-
quivo da câmara dali, hoje desaparecido, alguns do punho de Pizarro, existe
no moe. Foram publicados na RIHGB, t. 271 (1966), p. 295. (Américo Jaco-
bina LACOMBE, "Pizarro", Diário de Notícias, 26 de janeiro de 1964; "Ainda
Pizarro", ib., 16 de fevereiro de 1964.)
34 . Balthazar da Silva LISBOA, A11naes do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 1834-1835, 7 v. O título completo da obra principal de Balthazar
Lisboa, irmão de José da Silva Lisboa, visconde de Cairu, é: Annaes do
Rio de Janeiro, contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação
da cidade, com a historia civil e ecclesiastica até a chegada d'El Rei D.
João VI, além de noticias topographicas, zoologicas e botanicas, por Baltha-
zar da Silva LISBOA, doutor em leis pela Universidade de Coimbra, conse-
lheiro aposentado no Con~elho da Fazenda, Rio de Janeiro, Seignot Plancher,
7 t., 1834-1835.
Uma reedição iniciada em 1941 pelo Serviço de Museus da cidade não
passou do primeiro tomo. A obra foi reeditada fac-similarmente em 1967
pela Editora Leitura. Um tomo complementar (vm) contém uma nota do
editor, um estudo biográfico do prof. Pedro Calmon, um índice de assuntos,
uma iconografia organizada por Lígia da Fonseca Fernandes da Cunha e
uma cartografia por Eduardo Canabrava Barreiros.
Seu elogio histórico foi feito no IHGB pelo sargento-mor ( depois mare-
chal-de-campo) Pedro de Alcântara Bellegarde e sua biografia pelo sobrinho
Bento da Silva Lisboa (2.0 barão de Cairu). Ambos os trabalhos figuram
na RlHGB, t. 11, p. 384, 590. Como professor de Direito Eclesiástico da
Faculdade de Direito de São Paulo, traça-lhe o perfil ALMEIDA NooUEIRA,
A Academia de São Paulo. Tradições e reminiscências, IV série, São Paulo,
1908, p. 26. O mais completo estudo a seu respeito é a conferência do
engenheiro João da Costa FERREIRA, publicada na RIHGB, t. 175, p. 543 .
Apesar de indiciado na Conjuração mineira (ABN, t. 59, p. 207), era
extremamente reacionário. Seu discurso na abertura dos cursos em 1829 é
uma profissão de fé monárquica e absolutista. V. Fala do conselheiro
Baltasar da Silva Lisboa na abertura de sua aula em 3 de março de 1829,
Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Nacional, 1829. Isto não impediu
que, na qualidade de Juiz de Fora do Rio de Janeiro, enfrentasse os podero-
sos e tomasse atitudes francamente populistas.
Na Biblioteca Municipal do Porto há um apógrafo dos Anais do Rio
de Janeiro, Catálogo dos mss. da Bibl. Mun. do Porto, Lisboa, 1953, p. 190.
A Baltasar Lisboa também se refere depreciativamente Varnhagen cha-
mando-lhe a obra de "colcha de retalhos", mas reconhecendo que "ao
menos há neles muitos documentos". (Hist6ria geral, 3.ª ed. integ., v, p.
269.) A obra de Lisboa, excelente conhecedor dos arquivos judiciários,
completa, de certo modo, a de Pizarro (especialista em arquivos eclesiásti-
cos). V.: Américo Jacobina LACOMBE, "Bibliografia carioca", Diário de
178
Notícias, Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1964; "Baltasar Lisboa", ib., 23
de fevereiro de 1964, e "Ainda Baltasar Lisboa", ib., 8 de março de 1964.
35. José Feliciano Fernandes PINHEIRO [Visconde de SÃO LEOPOLDO],
Annaes da Capitania de São Pedro, t. I, Rio de Janeiro, 1819, t. n, Lisboa,
1822. O t. II já tem por título: Annaes da provincia de São Pedro. Segue-se
nova edição em Paris, fundindo a matéria em um só tomo: Annaes da
provincia de São Pedro por José Feliciano Fernandes PINHEIRO, Visconde de
SÃo LEOPOLDO, antigo Conselheiro de Estado. . . Segunda edição, correcta
e augmentada... Paris, 1839. Foi feita uma reedição pelo INL, Anais da
província de São Pedro. Notícia sobre o autor, de Aurélio Porto, Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, 1946 (Biblioteca Popular Brasileira, XXI). A
obra traz em anexo um resumo, histórico da província de Santa Catarina.
Os Anais de São Leopoldo constituem um dos livros mais bem plane-
jados e bem escritos de toda a nossa antiga historiografia. Sobre ele veja-se
o Juízo da Comissão de História na RIHGB, t. I, 3.ª ed., p. 225; o estudo
biográfico do dr. Antônio da CUNHA BARBOSA, RIHGB, t. 72, 2. ª parte, p.
181; o elogio fúnebre de Araújo PORTO ALEGRE, na RIHGB, t. 11, p. 179.
Uma conferência de Aureliano LEITE (RIHGB, v. 196, p. 239) não encarou
o historiador. Sílvio Romero diz que ele era "dos nossos historiadores, o
que melhor sabia fazer um livro". Enquanto os contemporâneos faziam
livros pesados, ele se revela "um espírito ordeiro, claro, sem nebulosidades,
sóbrio. Suas idéias, se não são profundas e originais, são perfeitamente elabo-
radas. São filhas de uma reflexão metódica e serena". História da litera-
tura brasileira, 4.ª ed., v. II, 1949, p. 272. A biografia de Feijó Bittencourt,
aliás seu parente, feita para o Instituto Histórico (Os fundadores, Rio de
Janeiro, 1938, p. 19), pouco se estende sobre a obra histórica.
O visconde de São Leopoldo juntou à sua qualidade de historiador, a
de planejador, como primeiro presidente (perpétuo) do Instituto Histórico.
Procurou imprimir à instituição um cunho científico e objetivo. Ao que
consta, propunha-se a escrever uma História geral do Brasil quando lhe
faltaram as forças. Suas Memórias, infelizmente pouco extensas, compila-
das pelo barão Homem de Melo, estão publicadas na RIHGB, t. 37 (2.ª),
p. 5, e 38, p. 5.
V. ainda sobre ele os "Apontamentos biográficos" de autoria do cônego
FERNANDES PINHEIRO (RIHGB, t. 19, 2.ª, p. 132) e a "Biografia", pelo
barão HoMEM DE MELO (ib., t. 23, p. 131). Encerrando a notícia que
precede a edição do INL, diz Aurélio PORTO que os Anais representam "obra
notável no seu tempo, esforço inteligente de pesquisa e erudição. Cabe a
Fernandes Pinheiro o lugar de primeiro historiador do Rio Grande do Sul,
pois antes dele ninguém se aventurou a fazer obra de conjunto", e isto
na "década de 1810, quando os documentos a consultar dos arquivos das
secretarias formavam um verdadeiro caos" (p. :xxrn-xxiv).
179
36. José Bernardo FERNANDES GAMA, Memórias históricas da pro-
víncia de Pemambuco, precedidas de um ensaio topographico-historico, de-
dicadas aos Illmos. e Exmos. senhores Francisco do Rego Barros e Fran-
cisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, Recife, 1844-1847, 4 t.
De todos os cronistas locais Fernandes Gama (1809-1853) é exata-
mente o mais fraco. Segundo José Honório RODRIGUES (Historiografia e
bibliografia do domínio holandês no Brasil, Rio de Janeiro, INL, 1949,
p. 138), limitou-se a compilar diversos escritos da época. "Seguiu Beau-
champ, o· que não é louvável, e falseou a verdade de muitos fatos. / Sua
obra é secundária, sem método e crítica histórica.''
37. Cândido Mendes de ALMEIDA, a quem Capistrano de Abreu se
refere com tanta admiração ("Sobre o visconde de Porto Seguro", Gazeta
de notícias, de 21 e 23 de novembro de 1882, transcr. na Hist. geral do
Brasil, 3.ª ed. integr., u, p. 436), mereceu muitas referências de Varnhagen.
Em carta ao Imperador, este historiador indicava seu nome para secretário
do Instituto Histórico, cargo que ele entendia que deveria ser remunerado
pelos cofres públicos. Elogiava-lhe a erudição e o método de trabalho.
( Correspondência ativa, coligida e anotada por Clado Ribeiro de LESSA,
Rio de Janeiro, INL, 1961, p. 198, 199). Respondendo a uma crítica, no pos-
fácio da História das lutas com os holandeses no Brasil desde 1621 a 1654,
Viena, 1871, ainda lhe manifesta o maior respeito.
O senador do Império Cândido Mendes de Almeida (Brejo, Máranhão,
1818-Rio de Janeiro, 1881) era bacharel em direito, foi professor de geo-
grafia e história em São Luís e, depois, funcionário público e advogado
no Rio de Janeiro. Foi deputado e senador pela sua província. Católico
ortodoxo, foi dos mais ardentes defensores dos bispos na chamada "Ques-
tão religiosa". Sua obra é extensa e valiosa: Direito civil ecclesiastico bra-
sileiro ... , 2 t. em 4 v., Rio de Janeiro, 1866-1873. (O prefácio, de 424 p.,
é a mais séria exposição do ponto de vista católico da história religiosa
luso-brasileira.) O Código filipino ... , Rio de Janeiro, 1870 (Ordenações do
reino, com aditamento das leis novas portuguesas e brasíleiras). A essa obra
serve de complemento o Auxiliar jurídico . .. , Rio de Janeiro, 1869. (O
aparato bibliográfico dessas duas obras é dos mais notáveis em nossa lite-
ratura histórico-jurídica.) Da mesma linha são os Arestas do Supremo Tri-
bunal de Justiça ... , Rio de Janeiro, 1880, 2 v. O Atlas do Império do
Brasil, Rio de Janeiro, 1868, contém 24 mapas e é trabalho pioneiro. As
Memórias para a história do extinto estado do Maranhão, Rio de Janeiro,
1860-1874, 2 v., é uma valiosa compilação de documentos raros, criterio-
samente anotados. Não é possível deixar de mencionar a edição revista e
anotada dos Princípios de direito mercantil, do visconde de CAIRU, a que
antepôs um prefácio de 648 páginas, que é uma insuperada história do
comércio (Rio de Janeiro, 1874, 2 v.). Acrescentem-se numerosos opúsculos
e colaborações em diversos periódicos e verificar-se-á que Cândido
180
Mendes de Almeida é dos mais prolíficos escritores do Brasil. Dele disse
Clóvis BEVILÁQUA, na História da Faculdade de Direito do Recife, Rio de
Janeiro, 1927, v. 1, p. 75, que "foi um trabalhador extraordinário. Todas
as fontes do direito ele perqüiriu, algumas restaurou e muitas pôs ao
alcance dos estudiosos. Não foi um criador, nem um doutrinário, mas um
investigador inteligente e infatigável que influiu sobre o desenvolvimento
da nossa jurisprudência, poupando penosos labores aos que tinham de es-
tudar e aplicar". De seu Direito civil eclesiástico disse LACERDA DE ALMEIDA
(Revista da Fac. livre de Direito, Rio de Janeiro, v. xm, 1917): "Não
conheço, em história do direito, obra mais erudita, mais profunda, de vistas
mais exatas e de maior sinceridade". A profundeza de seu pensamento e
sua atualidade são proclamadas por um mestre autêntico da nova geração
quando declara: "Uma reflexão cuidadosa [sobre a história do direito
nacional] na esteira das lições de grandes mestres como Cândido Mendes
de Almeida, permitiria aos juristas de hoje vencer definitivamente o
individualismo sem cair no socialismo. . . Intérprete da formação his-
tórica do nosso direito, Cândido Mendes de Almeida é também um
guia para a renovação jurídica· à qual devemos tender". (J. P. Galvão de
SousA, "Cândido Mendes, intérprete da nossa formação jurídica", Digesto
econômico, São Paulo, n.0 94, setembro de 1952, p. 59.)
Sua biografia está resumida por Abelardo Saraiva da Cunha Loso
("Adesão do Maranhão à independência do Brasil. Traços biográficos do
senador Cândido Mendes de Almeida ... ", Jornal do comércio, Rio de
Janeiro, julho de 1928. V. ainda: SÁ VIANNA, Elogio histórico, Rio de Ja.
neiro, 1918, e, mais recentemente, Cândido Antônio Mendes de ALMEIDA,
O Senador do império Cândido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1943.
3 8, A obra histórica de João Francisco LISBOA, expoente da cultura
humanística do Maranhão (1812-1863) é constituída de trabalhos diversos;
publicados parceladamente. O principal é o Jornal de Timon, aparecido
em São Luís entre 1852 e 1858, sob a forma de fascículos, depois reu-
nidos em dois volumes. Daí se extraíram os Apontamentos, notícias e
observações para servirem à história do Maranhão, Lisboa, 1858. Escreveu
também a Vida do padre Antônio Vieira, publicação póstuma, considerada
inacabada pelo autor, mas incluída em suas Obras completas, Lisboa, 1864-
1865, 4 v. (Reimpressas em 1901, 2 v.)
Com um pouco mais de atenção à técnica historiográfica, Francisco
Lisboa seria um dos primeiros nomes de nossa história. Ele atinge com
agudeza todos os pontos fundamentais de nossa formação. Preocupou-se
seriamente com a administração e a legislação coloniais, que pesquisou e
sumariou como nenhum outro. Sílvio Romero chamou-o de "Príncipe de
nossos historiadores". Lamentam os críticos atuais a pouca difusão de
seus livros. (Luís Costa LIMA, in A literatura brasileira, direcção de Afrânio
CouTINHO, 2.ª ed., Rio de Janeiro, 1968, 1, 378.) Poucos o estudaram com
181
22. A respeito dos principais nomes da historiografia do sé-
culo XIX, convém consignar os nomes de João Francisco Lisboa,
dotado de qualidades excepcionais como pesquisador e, especial-
mente, como expositor, mas que não deixou obra à altura dos seus
altos méritos(3 8 ); Joaquim Caetano da Silva, um dos maiores pes-
quisadores brasileiros, autor da maior obra de erudição de nossa
historiografia, o L'Oyapoc et l'Amazone (Paris, 1861) ( 39 ); Pereira
182
da Silva, escritor agradável, mas guia perigoso, do qual se apontam
várias infidelidadcs( 4 º); Abreu e Lima, compilador inteligente, com
um <temperamento polêmico e apaixonado( 41 ). José da Silva Lisboa,
40. O Conselheiro João Manuel Pereira da SILVA (1817-1898), ca-
rioca, foi político ( chegando a senador do Império) e advogado. Como
historiador escreveu abundantemente. Algumas de suas obras são ainda
consultadas necessariamente, mas é extremamente perigosa a sua utilização.
Ele não se preocupava com a exatidão dos textos, nem com a pureza das
fontes. O mais importante de seus trabalhos, a·História da fundação do império
brasileiro, Paris, 1864-1868, 7 t., está cheio de enganos. Mencionem-se ainda:
Segundo período do reinado de Dom Pedro I no Brasil, Rio de Janeiro,
1879; História do Brasil (1831-1840), Rio de Janeiro, 1879; o Plutarcho
brasileiro, Rio de Janeiro, 1847, 2 t., reeditado em 1858 com o título de
Varões illustres do Brasil. O mais legível de seus livros, são as Memórias de
meu tempo, Rio de Janeiro, 1895-1896, 2 v.
Fazendo-lhe o necrológico no moa, Joaquim Nabuco (Obras completas,
São Paulo, 1949, IX, 207) ressalta a utilidade de alguns de seus livros, mas
acrescenta logo: "Qual será, porém, o lugar dessa história nessa posteridade?
~ um lugar provisório,. . . porque nesse trabalho todo há antes justaposição
que elaboração e não há crítica nem critério certo... Numerosos enganos
de datas e de fatos inçam os seus volumes. Ele escrevia história em via-
gem, em hotéis nas escrivaninhas· dos bancos e, naturalmente, com esses
hábitos nômades, não podia recorrer a bibliotecas e arquivos, nem sequer
a livros de consulta; feitas, porém, essas e outras concessões à crítica, os
seus volumes são ainda o melhor aperitivo que existe entre nós para os que
têm que estudar a história". Em "Algumas retificações ao conselheiro Pe-
reira da Silva", pelo visconde de TAUNAY (Brasileiros e estrangeiros, São
Paulo, 1931, p. 90) encontram-se algumas correções à obra "muito preci-
pitadamente escrita". Mais violentamente se pronunciam os escritores soli-
dários com os que ele atacou: A biografia de José Bonifácio, diz o andra-
dista VASCONCELOS DE DRUMMOND, "é um tecido de falsas apreciações, de
calúnias e desaforos políticos que só merecem o mais profundo desprezo".
(Gazeta Literária, I, 2, p. 38, 1883.) Com grande desapreço refere-se a ele
Jaime CORTESÃO, segundo o qual a biografia de Alexandre de Gusmão
enxameia de erros. (Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, parte
I, tomo I, Rio de Janeiro, lnst. Rio Branco, 1952, p. 143.) Tem lugar
conspícuo, porém, na história literária como autor de contos e novelas.
(Os precursores do conto no Brasil, intr., pesquisa e .seleção de Barbosa
LIMA SoBRINHO, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 19~0.)
41. José Inácio de ABREU E LIMA (1796-1869), filho do revolucio-
nário de 1817 Abreu. e Lima, cognominado o Padre Roma,_ era perpama
bucano. Seguiu a· carreira militàr. Exilou-se após a. ;revolução de · 1817. .:e.
J.83.
visconde de Cairu, tem uma produção histórica abaixo do seu
imenso valor como pensador político e erudito( 42 ). Melo Morais
foi um benemérito colecionador de peças históricas, que publicou
desordenadamente diversas obras, compreendendo muita documen-
tação preciosa, muita produção alheia e diversas produções polê-
serviu à causa da independência da Grã-Colômbia, sob o comando de
Bolívar. Com a morte deste foi para a Europa, onde se aproximou de D.
Pedro 1, já abdicatário do trono brasileiro. Daí veio para o Brasil e escreveu
abundantemente sobre vários assuntos históricos, filosóficos e religiosos, sem-
pre fiel aos princípios liberais. Polemista ardente, enfrentou adversários peri-
gosos. A propósito de um Compêndio de Hist6ria do Brasil, Rio de Ja-
neiro, 1843, 2 v. (2.ª edição, infiel, em 1882), teve exaltada discussão com
o cônego Januário da Cunha Barbosa e Francisco Adolfo de Varnhagen.
Publicou depois a Synópsis ou deducção chronologica dos fatos mais notáveis
da hist6ria do Brasil, Pernambuco, 1845. Abreu e Lima não era um bom pes-
quisador e Varnhagen em seu parecer, apresentado no IHGB, assinala,
realmente, falhas graves na exposição. Mas foi o primeiro que encarou
alguns aspectos metodológicos da história, como o da periodização. (V.
José Honório RODRIGUES, Teoria da história do Brasil, 3.3 ed., Rio de
Janeiro, 1969, p. 126.) Foi-lhe favorável Gonçalves Dias num parecer de
1852 (RIHGB, t. xv, p. 510). Araújo Porto Alegre no Relatório de 1858 do
IHGB não lhe regateia elogios: "O sr. general Abreu e Lima, no seu índice
cronológico fez a enumeração dos fatos e, na sua história geral, seguiu algu-
mas vezes Beauchamp. Porém, honra lhe seja feita na parte moderna e em
que foi espectador, porque aí abdicou muitas vezes seus princípios e vistas
políticas para fazer justiça a seus contrários"; RIHGB, XXI, 2.ª ed., p. 464.
Seu Resumen histórico de la última dictadura dei Libertador Simón
Bolivar, existente no arquivo do IAHGP foi publicado pela primeira vez no
Rio de Janeiro em 1922, com prefácio de Goulart de Andrade e biografia
e notas de Diego Carbonell. Sua biografia foi feita por Alfredo de CARVA-
LHO na Revista americana, I, p. 8 (1910). V. ainda: Estevão PINTO, O ge-
neral Abreu e Lima, Recife, 1949. (Incluído em Muxarabis e balcões,
São Paulo, 1958, Brasiliana, v. 303, p. 312); José Honório RODRIGUES, Histó-
ria e historiadores do Brasil,· São Paulo, 1965, p. 62; C. F. X. [Comandante
César Feliciano Xavier], "Abreu e Lima", O Jornal, Rio de Janeiro, 4 de
novembro de 1923 (com pequena bibliografia); Argeu GUIMARÃES, Um
brasileiro na epopéia bolivariana, Recife, 1926 e Barbosa LIMA SOBRINHO,
"Centenário da morte do general José Inácio de Abreu e Lima", RIHGB,
V. 283 (1969), p. 169.
184
mercantil coloca-o entre os grandes cientistas do direito, a ponto de uma
autoridade como T. AscARELLI considerá-lo o maior comercialista do mundo
em seu tempo. Sua obra política, quer nos conselhos da coroa, quer na
tribuna parlamentar, é fundamental. Como jornalista e panfletário também
teve papel primacial. Mas como historiador sua obra é pequena. Restrin-
ge-se, quanto ao Brasil, à Memória dos benefícios políticos de El-Rei Nosso
Senhor D. João Vi (1818), à Introdução (1823) e à História dos principais
sucessos políticos do Império do Brasil (1830). A Memória dos benefícios,
a que se prende uma publicação anexa, a Sinopse da legislação principal
do Sr. D. João VI, do mesmo ano, são de iniciativa individual. Mas a
História dos principais sucessos políticos resulta de uma providência oficial.
Fora ele incumbido de elaborá-la por ato do ministro do Império, o mar-
quês de Valença, por ordem do Imperador (Portaria de 7 de janeiro de
1825). Para desincumbir-se do encargo foi dispensado de suas atividades
judiciárias e teve dois colaboradores de mérito: Frei Francisco de Santa
Teresa de Jesus SAMPAIO e o brigadeiro Domingos Alves Branco MoNIZ
BARRETO. Teria ainda a colaboração de um escrevente, Estanislau de SousA
CALDAS. Acresce que a impressão do trabalho retardou-se mais de seis
meses na Imprensa Nacional. Mesmo assim apareceu a Introdução em
1825 e, em seguida, a Parte l.ª (1827), e a 10.ª, dividida em três seções
(1827, 1829 e 1830). BLAKE, Diccion. bibliogr., v. 1899, p. 200. Nunca
foram reeditadas.
A Introdução é o primeiro trabalho relativo às fontes necessárias à
elaboração de uma História do Brasil" e, assim, "o primeiro trabalho his-
toriográfico brasileiro" . Dele existe uma versão manuscrita no arquivo da
Família imperial, ora no Museu Imperial de Petrópolis, que foi cotejada
com a impressa, em curioso estudo do prof. Hélio VIANNA: "A primeira
versão da Introdução à História dos principais sucéssos políticos", R evista
de história, São Paulo, 1963. Em numerosos opúsculos são igualmente
abordados importantes problemas históricos em defesa do Brasil. V. Cân-
dido Mendes d:! ALMEIDA, Introdução aos Princípios de direito mercantil,
6.ª ed., Rio de Janeiro, 1874; Braz do AMARAL, "Visconde de Caim",
RIHGB, v. 170 (1939) ; Moses Bensabat AMZALAK, "José da Silva Lisboa,
visconde de Cairu", Brasília, Coimbra, v. II, 1943; Clóvis BEVILÁQUA, "A
cultura jurídica no Brasil", A nais do 1.° Congresso de História da América
( 1922), t. IX, Rio de Janeiro, 1930; Alcides BEZERRA, "O visconde . de Caim,
vida e obra' '., Publicações do Arquivo Nacional, v. 34, Rio de Janeiro,
1-937; Inocêncio M. Góis CALM0N, "Cairu, jurista e advogado", RIHGB, n.0
62, 19.36; Aloísio de CARVALHO FILHO, "Caim. Político e intelectual", ib.;
~fonso Arin_o s de MELO FRANCO, "O._ visconde de Caim", Diges~o -econô-
_mico, n;0 28, São Paulo, 1947; Bento da Silva LISBOA, 2. 0 barão de Cairu,
"J. da S. Lisboa, v. de Cairo", RIHGB, t. I (1839); Eugênio Vilhena de
MORAIS, "Obscuridade de Caim", Jornal do Comércio, 16 de julho de 1937;
185
micas de valor desigua1( 43 ). Joaquim Felício dos Santos é o autor
de uma das mais interessantes monografias regionais, que reúne à
186
precisão histórica o bom gosto literário( 44 ). Joaquim Norberto de
Sousa Silva( 45 ) e o cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro
Esboço de uma psicobiografia através de um livro de botânica", Terceiro
congresso de hist. nacional, t. 111, 1941, p. 293.
44. Joaquim Felício dos SANTOS (1825-1895), irmão do líder católico
Antônio Felício dos Santos, jurisconsulto e jornalista. Posto que não se
apresente com aparato erudito e sejam evidentes as falhas de pesquisa, o
livro conseguiu, acima de tudo, alcançar o tom de alta seriedade, aliado
a um ex;tremo bom-gosto. .e, ao mesmo tempo, uma peça de história e
uma jóia literária. "Reúne ao rigor da história o encanto do romance",
disse dele Capistrano de Abreu. Brito BROCA, "O romance de Diamantina",
Horas de leitura, Rio de Janeiro, INL, 1957 (Bibliot. de divulgação cultu-
ral, x). A 3.ª edição das Memórias do Distrito Diamantino da comarca de
Serro Frio; Rio de Janeiro, Castilho, 1924, é precedida de um estudo bio-
gráfico de autoria de Nazaré de Meneses.
45. Joaquim Norberto de SousA SILVA, carioca (1820-1891), era
funcionário incumbido do arquivo do Ministério do Império ( que corres-
ponde ao atual Ministério do Interior). Acostumado a lidar com documen-
tos, organizou um inventário dos papéis da sua repartição (RIHGB, t. 22, p.
649) e tomou providências acerca da classificação e guarda dos mesmos.
Foi Presidente do IHGB. Era poeta e literato de abundante produção. Sua
obra histórica, ainda que não seja numerosa e de primeira ordem, é baseada
em boa e metódica documentação. Além disso é bem redigida. A prin-
cipal é a História dà conjuração mineira (Rio de Janeiro, 1873, reeditada
pelo INL, 1948, 2 v.), elogiada por Lúcio José dos SANTOS, a propósito da
qual teve de sustentar polêmicas. Enfrentou também um debate com Gon-
çalves Dias sobre o acaso no descobrimento do Brasil (RIHGB, t. xv, p. 125).
Além disso escreveu inúmeras biografias e preparou muitos textos de auto-
res antigos para publicação. A sua contribuição para a história literária
é também importante e nela estão os seus maiores títulos. Sua bibliografia
encontra-se em SACRAMENTO BLAKE (Diccion . bibliogr., 1v, 1898, p. 211 ).
V. Almir Câmara de . Matos PEIXOTO, Direção em critica literária (Joaquim
Norberto de Sousa Silva e seus críticos), Rio de Janeiro, MEC, 1951 (espe-
cialmente ô cap. IV: "Norberto como historiador"). Esta obra defende
cabalmente Joaquim Norberto como historiador e crítico literário. De-
monstra como tem sido mal estudada sua contribuição notável para a
história cultural. Merece referência o fato de ter sido Joaquim Norberto
o autor sem malícia de umas falsas poesias, Dirceu de Marília, atribuídas
à noiva de Gonzaga. O caso foi exaustivamente estudado por Domingos
de Carvalho da SILVA, Gonz.àga e outros estudos, Rio de Jàneiro, Orfeu,
1970, p. 167. · Suas deficiências como historiador estão ressaltadas por
187
deixaram VtJltosas e preciosas contribuições, mas nenhuma funda-
mental ( 46).
23. A geração de historiadores que se seguiu tem como fi-
gura ·central Capistrano de Abreu( 47 ). Sem ter realizado uma obra
Waldemar de Almeida BARBOSA, A verdade sobre Tiradentes, Belo Hori-
zonte, lnst. de Hist., Letras e Artes, s. d., p. 47 e ss.
46. O cônego Joaquim Caetano Fernandes PINHEIRO, carioca ( 1825-
1876), se não é autor de nenhuma obra de vulto, foi um culto e com-
petente historiador, incontestavelmente o precursor de nossa historio-
grafia literária em seu Curso elementar de literatura (1862), refundido
no Resumo de história literária (1873). Os Estudos históricos (1876)
compreendem boa parte de seus trabalhos. Foi cronista oficial do Império.
Doutrinariamente era um intelectual representativo do catolicismo liberal
e regalista, dominante ao -t empo do bispo conde de !rajá, de quem foi
prestimoso secretário. Daí suas notas antijesuíticas à obra do historiador
protestante Robert Southey, muito mais simpático aos inacianos que o re-
presentante da Igreja. A reação ortodoxa combateu-o. Tem sido injusta e
incompreensivelmente posto à margem. Sua bibliografia, além da que
ocorre em BLAKE, figura em Osvaldo Melo BRAGA, "O cônego J. C. Fer-
nandes Pinheiro. Ensaio bibliográfico", RIHGB, v. 240, p. 232. Neste mesmo
número da Revista encontram-se diversos estudos comemorativos de seu
centenário. Um bom estudo biográfico, bem fundamentado, é o do seu
sobrinho-neto Mário Portugal Fernandes PINHEIRO, publicado na RIHGB, v.
238 (1958), p. 179, de que há separata. O mesmo autor tem trazido im-
portantes contribuições para O· estudo da vida e da obra do cônego em
opúsculos polêmicos: Outras reivindicações a favor do cônego F. P." (Rio
de Janeiro, 1956); A exatidão e a pesquisa histórica, 2 v., (Rio de Janeiro,
1957), -e Sagrada mansidão (Rio, 1959). V. ainda o elogio fúnebre de
José Tito N!!buco de ARAÚJO, RIHGB, 39, 2.ª, p. 504. Sobre o c~ne.go
Fem;rndes Pinheiro, v. a referência de Vilhena de Morais em sua
resposta a Basílio de Magalhães no Jornal do Comércio de 31 de janeiro
de 1932: "Representa, infelizmente, na história eclesiástica do império
regalista, a figura trágica é dolorosa do padre sem vocação. Não celebrava.
Os próprios hábitos talares só raramente os vestia quando tinha de exami-
nar no Colégio ºde Pedro li. Tendo em pouco ou nenhum caso a ortodoxia
da·. doutrina, censura · sempre acrimoniosamente em seus .trabalhos .a Come
panhia. de · Jesus, · à · qual, entretanto,· soube tecer, :com justiça, louvores, o
próprio protestante Southey."
47.. João CAP.ISTRANO DE A.a1u~u: :(Mar1J.n_guape, J::e.ará,: 185.2-Rio de
J1J.neir9, 1927), estudou no Seminário de Fortaleza; em segui~a no -Recife,
visando ao ingresso na ·Fac:uldade 9e Direito na qual não chegou a ingressar,
não se· diplomando . em ·.nenhum·. curso superior•. Dotado :de e,xtraordinária
monumental equivalente à de Varnhagen, foi a maior capacidade
do Brasil como cultura histórica. O espírito científico, a riqueza
de informações, a cultura geral, o estilo pessoal, conciso, sóbrio,
adequado ao gênero e, acima de tudo, uma curiosidade e um espí-
rito de cooperação raros, fizeram-no presente, direta ou indireta-
mente, a quase todas as grandes realizações históricas do tempo.
Anotador e prefacista incomparável, valorizou extraordinariamente
os documentos e trabalhos que passaram por suas mãos. Os Pro-
legômetws à História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, por ele
editada em 1918, "constituem", no dizer ·de Hélio Vianna, "no
consenso geral, o ponto mais alto atingido pela crítica histórica
no Brasil".
189.
24. Os outros nomes de primeira grandeza da fase final do
século XIX e início do XX são os de Joaquim Nabuco( 48 ); barão
do Rio Branco(49 ); Manuel de Oliveira Lima( 50 ), e Pandiá Caló-
geras(Sl).
190
25. Seria injusto encerrar esta resenha sem mencionar o
nome de um autor tão utilizado pelos pesquisadores quanto rara-
mente mencionado: o Padre Rafael Maria Galanti, SJ (1840-
1917), italiano de origem, mas fixado no Brasil, onde escreveu.
Professor dos colégios jesuíticos de Itu e de Nova Friburgo, elabo-
rou um compêndio: Lições de história do Brasil (1895) e, logo
depois, a História do Brasil (5 v., 1896-1905). Obra composta
longe dos arquivos, compendia e sistematiza todos os bons autores
correntes, em plano sistemático, com clareza, e fornecendo, em geral
a indicação das principais fontes. Em certos capítulos foi precur-
sor. Como expositor é de valia manifesta.
26. Também não é possível, entre os mestres da história-
pátria, deixar de mencionar o autor de um compêndio que, pela
superioridade com que foi planejado e pelo bom gosto com que foi
redigido, assumiu uma posição excepcional em nossa bibliografia.
Trata-se da História do Brasil (Curso superior), de João Ribeiro,
Rio de Janeiro, Alves, 1900. É um dos poucos escritores de pri-
duas edições, ambas de 1889. A segunda, consideravelmente aumentada,
traz em apêndice um A/bum de vues du Brésil, exécuté sous Ia direction de
M. J. M. da Silva PARANHOS, baron de RIO BRANCO. A Esquisse de l'histoire
du Brésil, impressa em 1889, já teve edição a parte pelo Instituto Rio Branco
em 1958.
Sobre a obra, v.: Cláudio GANNS, Bibliografia sobre o barão do R. B.,
Rio de Janeiro, MRE, 1946; Maria Carolina FLEIUSS, Biobibliografia, RIHGB,
v. 186 (1945); Armando Ortega FONTES, "Trabalhos do barão do R. B.",
RIHGB, v. 189 (1945); Ministério das Rei. Exteriores, Div. cultural: Arqui-
vo do barão do R. B., concluído por Aluízio NAPOLEÃO, Rio de Janeiro,
1951; Luís VIANNA F. 0 , A vida do barão do R. B., Rio de Janeiro, 1959;
Álvaro LINs, Rio Branco, 2 v., Rio de Janeiro, 1945; João LYRI F. 0 , O Barão,
Rio de Janeiro, 1935; Antônio Carlos VILLAÇA, O barão, Rio de Janeiro,
1935; Alufzio NAPOLEÃO, O segundo Rio Branco, 1941.
50. Manuel de OLIVEIRA LIMA (1867-1928), ao contrário da maior
parte de nossos historiadores, teve uma formação especializada no Curso
Superior de Letras, hoje Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
sendo aluno de grandes historiógrafos portugueses. Entrou para a diplomacia
no início da República. Aposentou-se como ministro e passou ao magistério
na Universidade Católica da América (Washington, D.C.). A essa institui-
ção legou sua preciosa biblioteca, núcleo de um importante centro de estudos
brasileiros. Era membro da Academia Brasileira de Letras e do IHGB. De
sua produção destacam-se: O reconhecimento do Império, Rio de Janeiro,
Garníer, 1901; Dom João VI no Brasil, Rio de Janeiro, 1909, 2 v.; Evolu-
ção histórica da América latina comparada com a da América Inglesa, Rio
191
de Janeiro, Garnier, 1914; O movimento da independência, 1821-1822, São
Paulo, 1927; Dom Pedro e Dom Miguel, São Paulo, 1925; O Império bra-
sileiro, São Paulo, 1927; Memórias, Rio de Janeiro, 1937 (Coleção Do-
cumentos brasileiros). Por ocasião de seu centenário publicou o ltamarati
uma coletânea de conferências e discursos: Ministério das Relações Exte-
riores. Div. de documentação. Comissão de estudos de textos de história
do Brasil. Centenário de Oliveira Lima, Rio de Janeiro, 1968. (Conferên-
cias de Américo Jacobina Lacombe, Barbosa Lima Sobrinho, J. Sousa Leão
Filho, Hélio Vianna, Elmano Cardim, Heitor Lyra, John P. Whalen, Manuel
Cardozo e Vasco Leitão da Cunha.) O Governo de Pernambuco, por seu
lado, publicou: Oliveira Lima, o centenário do seu nascimento. (Confe-
rências de Nilo Coelho, Gilberto Freyre, Luís Delgado, Hélio ViannaJ,
Recife, Arquivo Estadual, 1968. Gilberto FREYRE publicou ainda: O Dom
Quixote gordo, Recife, 1968. Seu necrológio no Instituto Histórico foi feito
por Ramiz Galvão (RIHGD, 104, 1928) e sobre ele pronunciou ainda Max
FLEJUSS uma conferência (RIHGB, t. 104, 1928, p. 822). A Revista de
história, fase dirigida por Fidelino de Figueiredo, dedicou-lhe o número 16,
1927-1928. V. ainda o Catalogue o/ the exhíbit held i11 the Mullen Líbrary
o/ the Catholic University o/ America, 1967.
Sobre a biblioteca, v.: Alcides BEZERRA, "A biblioteca de Oliveira Lima
em Washington", Publicações do Arquivo Nacional, n. 0 26, p. 221; Ruth
E. V. HOLMES, Bibliographical and historical description o/ the rarest
books in the Oliveira Lima Collection at the Catholic University o/ America,
Washington, 1926; Manoel CARDOZO, "A Guide to the Manuscripts in the
Lima Library, Toe Catholic University of America", Handbook o/ lati11
american studies, n. 0 6, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1940.
A Coleção Centenário, publicada pelo JNL, em convênio com o Con-
selho Federal de Cultura, publicou um utilíssimo volume: Obra seleta,
organizado sob a direção de Barbosa Lima Sobrinho, que para o mesmo
escreveu excelente introdução, Rio de Janeiro, MEC, 1971.
51. João Pandiá CALÓGERAS (Rio de Janeiro, 1870 - Petrópolis,
1934), formado pela Escola de Minas de Ouro Preto, foi dos mais com-
pletos estadistas brasileir9s, ocupando várias pastas e excercendo funções
legislativas e diplomáticas. Era notável erudito, autor de obras da maior
importância sobre problemas brasileiros. Limitamo-nos a mencionar os
trabalhos ligados à História: As minas do Brasil e sua legislação, 3 v., Rio
de Janeiro, 1904-1905. (Trata-se de um parecer legislativo sobre um projeto
de lei de minas. O histórico do descobrimento das riquezas minerais é
considerado clássico.); La po/itique monétaire du Brésil, Rio de Janeiro,
1910. (Trabalho escrito diretamente em francês para a Quarta Conferência
Pan-americana. Hoje editado em português, sob o título A política mone-
tária do Brasil, tradução de T. Newlands Neto, São Paulo, CEN, 1960.
Coleção Brasiliana. :e, imprescindível para a história financeira.); Formação
192
meira linha, profundo conhecedor da língua· e de· gosto liter~rio,
que se dedicou à história(s2 ). · ·
27. Os autores contemporâneos serão citados nas bibliogra-
fias parciais, no correr dos estudos que devem seguir a este livro
introdutório.
28. Mencionemos agora a contribuição estrangeira para a
História do Brasil. Um fenômeno dos mais graves nos estudos
gerais contemporâneos é o iliolamento em relação à América ibé--
rica, raramente levada em conta. Nos · grandes trabalhos históri-
cos, alguns com importante aparato bibliográfico, a literatura
hispano-luso-americana é geralmente mal representada. No entanto,
a contribuição da América do Norte e do Sul na solução de várias
crises universais foi decisiva. "A lacuna provém da pouca difusão
dos idiomas hispânicos nos principais centros de estudos", diz um
dos nossos maiores eruditos. E continua: "Raros são os estran-
geiros em condições de se inteirarem da documentação existente em
língua portuguesa" (Sl).
29. Começando pelos autores em língua inglesa( 54 ), a obra
mais importante é, sem dúvida, a de Robert Southey, já referida,
193
'!o .primeiro que se ocupou da História do Brasil com espírito-cien-
tífico"(55). Trabalho complementar do de Southey, largamente
utilizado pelos estudiosos brasileiros, é o de John Armitage, The
History of Brazil from the arrival of the Braganza Family in 1808
A biblioteca de um colecionador inglês reúne os principais trabalhos
sobre o Brasil em sua língua: Brasiliana. Coleção Sir Henry Lynch, orga-
nizado por Júlia Godóis VIANA e Maria Carolina MINELLI, Rio de Janeiro,
Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, 1959 (Prefácio de A. J. LACOMBE).
Há ainda boas indicações bibliográficas no trabalho de J. C. OAKEN-
FULL, Brazil. Past, present and future, Londres, John Bale Sons & Danielsson,
1919.
Acrescentem-se alguns catálogos preciosos, entre os quais: MAGOS
BR0S, Bibliotheca americana, Londres [1926], e Bibliotheca brasilensis,
Londres [1930].
Utilíssimo é o estudo de Olga PANTALEÃO, Fontes primárias inglesas
para o esiudo da hist6ria de São Paulo no século XVI, São Paulo, 1949.
Um dos mais completos repertórios bibliográficos sobre o Brasil predo-
minantemente em língua inglesa é o que ocorre na obra de BAILEY W.
DIFFIE, Latin American Civilization, Colonial period, Nova York, Octagon
Books, 1967.
55. Robert SouTHEY (1774-1843) foi um dos grandes nomes da lite-
ratura inglesa, poeta laureado. Era originário de Bristol, de família burguesa.
Estudou em Oxford. Visitou a Espanha e Portugal por duas vezes (1795 e
1800), tornando-se especialista em assuntos ibéricos, tendo para isso um
motivo decisivo: seu tio, o rev. Herbert HILL, homem ilustrado, amigo do
erudito frei Manuel do CENÁCULO, era capelão da comunidade britânica
em Lisboa, onde reuniu preciosa coleção de livros e documentos, especial-
mente portugueses. Esta coleção foi a base dos estudos de Southey, que
planejou escrever uma vasta história portuguesa. A transmigração da corte
e o súbito interesse europeu pela monarquia n-a América motivaram a
antecipação da secção relativa ao Brasil, programada originalmente como
parte de uma grande obra que nunca se completou. (Entre os papéis de
Southey constantes do catálogo do leilão de seu espólio figuraram vários
códices de capítulos de história portuguesa cuja pista se perdeu.) Southey
vivia em uma casa de campo em Keswick, dedicado exclusivamente às
letras. A História do Brasil rendeu-lhe muito pouco; menos, diz ele, do que
um artigo na Quarter/y review. Mas animava-o o ser o "Heródoto de uma
nação fadada a grandes destinos", nas suas próprias palavras. Os mss. da
Hist6ria do Brasil e ainda dois volumes da coleção das minutas foram
adquiridos pela Bibl. Nacional do Rio de Janeiro e seriam utilizados pelo
sábio Rodolfo GARCIA numa edição por ele revista e anotada que não che-
gou a ser feita.
194
Southey foi o primeiro escritor de nível internacional que se ocupou
da História do Brasil, e fê-lo em moldes científicos modernos. Em sua
numerosa produção, a Vida de Nelson e a Guerra da Península interessam
ainda ao Brasil. É hoje autor pouco lido, especialmente no campo da poesia,
em que punha mais eloqüência do que propriamente inspiração poética,
dizem os críticos. Era na juventude ardente democrata, entusiasta das
idéias da Revolução Frances_a. Com o tempo tornou-se conservador. Con-
tudo rejeitou um título de baronete. Sua obra é extensa: 10 volumes de
poesia, 40 de prosa e 6 de Li/e & Correspondence (1849'-1850). Era pessoal-
mente encantador. Sua casa era um centro simpático e acolhedor, onde
se vivia em intensa vida intelectual. Apesar de protestante, revelou uma
alta compreensão da mentalidade religiosa portuguesa, considerando um
erro a extinção dos jesuítas. De sua linguagem disse MACAULEY (Essays,
1886, p. 100) que era castiça e "salvava seus escritos menos importantes".
Já seu rival, Lorde BYRON, era menos benevolente e considerava a História
do Brasil livro básico contra a insônia. (João RIBEIRO, Obras. Crítica, VI,
Rio de Janeiro, 1961, p. 319.) Nunca deixou de ser artista ao tratar de
temas sociais. Isto mesmo lhe exprobra MACAULEY no ensaio referido:
·"Government is to Mr. Southey one of the fine arts. . . What he calls his
opinions are, in fact, merely his tastes". WXTJEN (0 domínio colonial
holandês no Brasil, trad. de P. C. Uchoa Cavalcanti, São Paulo, 1938,
Brasiliana, n. 0 23, p. 47) elogia-lhe contudo o método e a isenção.
Como observa William ATKINSON (British contributions to Portuguese
and Brazilian studies, Londres, 1945, p. 37), a História do Brasil, ainda
que fragmento de um todo, e único a ser impresso, constHui, no conjunto,
um todo nobre e independ~nte. A conclusão da obra, intitulada "Visão
geral do estado do Brasil", é uma verdadeira e primorosa monografia de
cerca de 200 páginas com algumas observações que são verdadeiros conceitos
originais a respeito do espírito brasileiro que espantam pelo caráter quase
profético. Southey sentiu-se altamente grato com a colaboração que recebeu
das autoridades brasileiras, especialmente do conde dos Arcos, então gover-
nador da Bahia. De modo especial neste capítulo final a obra se revela o
primeiro ensaio sistemático da organização e da interpretação dos fatos
da História do Brasil. Sua confiança no futuro da terra manifesta-se
quando prevê uma sociedade onde "nenhuma barreira sistemática se erguerá
contra a harmonia social". Procurou, pela primeira vez, elogiar não só
os heróis guerreiros, mas cs construtores pacíficos do país. A história,
dizia ele, "registra os nomes daqueles que destroem cidades e esquece
aqueles que as fundaram".
Em suas cartas expande-se, como é natural, com mais liberdade: "Quando
o Brasil se tornar a grande e próspera nação que um dia há de ser, eu
serei tido na conta do primeiro a ter tentado dar forma consistente à sua
195
to the abdication of Dom Pedro the First in 1831 (Londres,
1836. 2 v.). É obra séria e útil, sem o caráter científico, porém,
de seu predecessor(S6).
30. A contribuição francesa( 57 ) é representada primeira-
mente por Ferdinand Denis, autor de um excelente resumo, hoje
h:stória, até agora crua, desconexa e desprezada". (Carta. a C. Townsend,
VII, 1819.)
Sobre Southey, ver: S. C. WEsT, Robert Sowhey; the rev. Herbert Hill
and the bishop o/ Beja, Londres, 1948; W. HALLER, The early li/e o/ Robert
Southey, 1774-1803, Nova York, 1917; Rose MACAULEY, "Southey em Por-
tugal". O Jornal, Rio de Janeiro, 9-vu-1945, transcr. na RIHGD, v. 194
(1948), p. 117. As comemorações do centenário de Southey, prejudicadas
pelo ambiente da Segunda Guerra Mundial, estão narradas pelo Embaixador
Joaquim de Sousa LEÃo F.0 , "No centenário de Southey", RIHGB, v. 194
(1948), p. 124. Leia-se especialmente o discurso que então pronunciol!
o diplomata brasileiro. J. S1MMONs, o mais recente biógrafo cio historiador
(Southey, Londres, 1945), fez então uma importante conferência. Algumas
cartas inéditas, obtidas pelo Embaixador Sousa Leão F.0 , foram publicadas
na RIHGB (v. 178, 1943), com apresentação de Rodolfo GARCIA. Final-
mente, encerrando as comemorações centenárias da morte de Southey no
Brasil, pronunciou AFRÂNio PEIXOTO uma primorosa conferência: "Southey
e a História do Brasil", RIHGB, v. 181 (1943), p. 87.
56. A obra de John ARMITAGE suscitou uma série de dúvidas. Hoµve
quem a atribuísse a Evaristo da VEIGA, que teria utilizado um pseudônimo.
A autoria está hoje devidamente comprovada (RIHGB, t. 25, p. 588. Vide
também o prefácio da edição dirigida por Eugênio Egas). Quanto à tradu-
ção, foi também atribuída a Evaristo. ~ fora de dúvida, porém, que foi
feita, aliás excelentemente, por Joaquim Teixeira de MACEDO, irmão do
conselheiro Sérgio Teixeira de Macedo. Apareceu em 1837, mas sem as
notas e documentos. A segunda, com o mesmo texto, é de 1914, organizada
por Eugênio EoAs. ~ completa. Há uma terceira, organizada por GARCIA
JÚNIOR, que aproveitou o texto de Teixeira de Macedo, a documentação, as
notas de Egas e ainda ajuntou novas, Rio de Janeiro, Zélio Valverde, 1943.
Está divulgada em Livro de bolso (Edições de Ouro). Mas a revisão desta
última edição deixa muito a desejar.
ARMITAGE era comerciante e observador imparcial, ligado ao grupo
liberal de Evaristo da Veiga. Mas não era um erudito.
57. A bibliografia francesa sobre o Brasil é imensa. Começa pelo
livro de Charles LECLERC, Bibliotheca america11a, Paris, 1867, com um su-
plemento em 1878. Segue-se Ch. CHADENAT, Le bibliophile américain, Paris,
1889-1897 e a Bibliotheca brasiliensis, Paris, 1907. Editado por Chadenat
é o trabalho de Anatole Louis GARRAUX, Bibliograpl,ie brésilienne; catalogue
196
raríssimo( 58 ). Outro autor que dedicou excelentes trabalhos de
erudição ao Brasil foi Paul Gaffarel( 59).
des ouvrages /rançais & latins relatifs au Brésil (1500-1898), Paris, 1898.
Deste trabalho foi feita segunda edição em 1962, na coleção Documentos
brasileiros, Rio de Janeiro, José Olyrnpio, precedida de um ensaio de Fran-
cisco de Assis Barbosa, Alguns aspectos da influência francesa no Brasil, de
que há separata. ~ ainda esta obra base segura de investigações.
O INL editou urna útil compilação de Georges RAEDERS, Bibliographie
franco-brésilienne (com a colaboração de Edson Nery da Fonseca), Rio de
Janeiro, 1960. Presta bons serviços, posto que seja somente um catálogo
de exposição, o livro: France et Brési/. Avant propos de Charles BRAIBANT,
Paris, 1955. (Exposição organizada pelos Archives Nationales de France,
no Hôtel de Rohan.)
58. Jean Ferdinand DENIS (1798-1890) é o patriarca dos estudos
brasileiros em França. Sua bibliografia encontra-se em Simões dos REIS,
Bibliografia da História da literatura brasileira de Silvio Romero, l, l, Rio
de Janeiro, Z. Valverde, 1944. Denis veio ao Brasil em 1816, aqui perma-
necendo algum tempo. De volta à Europa desistiu da carreira consular,
a que se destinava, passando a exercer as funções de bibliotecário. Em
1861 foi lotado na biblioteca Sainte Genevieve, de que passou a diretor em
1865, aposentando-se em 1885. Transformou-se numa espécie de consultor
geral de assuntos brasileiros. Dele disse Castilho que foi "o mais lusitano
coração que nunca palpitou em peito franco". (Revista universal lisbonense,
1, 1842-1843.) Dos papéis recolhidos à Biblioteca de Sainte Genevieve
publicou KoEHLER um minucioso catálogo em 1913.
A poucos homens deve o Brasil tanto, pela permanente e vigilante
defesa de nossa cultura nos meios culturais da Europa. A ele dedicou
MELO MORAIS o seu livro História do Brasil-Reino e Brasil-Império (Rio,
1871), numa hora amarga para os franceses, com essas expressivas palavras:
"Enquanto o vosso nobre coração geme dentro da pátria, eu me recordo
do que vos devemos. Recordo-me do historiador consciencioso de nossas
glórias literárias e políticas, do generoso escritor que, proficiente em nossa
história, de há muitos anos tornou a si fazer-nos conhecidos dentro e fora
da França."
De sua extensa produção destaca-se: Le Brésil, ou histoire, moeurs,
usages et coutumes des habitans de ce royaume, Paris, 1822, 6 v.; résumé
de l'histoire du Brésil ... , Paris, 1825; Histoire géographique du Brésil, Paris,
1833; Une fête brésilienne célébrée à Rouen -em 1550,- Paris7"lssÕ;.B;'J;;1:
Paris, 183 7 (L' Univers. H istoire et description de tout les peuples). Trad.
port.: O Brasil, Salvador, 1955, 2 v.
Sobre Denis há abundante bibliografia, da qual destacaremos: José
Luís ALVES, "Elogio histórico", RlHGB, t. 53, 2.ª, p. 624-625; ESCRAGN0LLE
197
31. Entre os alemães( 6º) dois nomes sobrelevam todos os
demais. O sábio Karl Friedrich Philipp von Martius( 61 ), autor da
DÓRIA, "Um amigo no Brasil", RIHGB, t. 75, 1.ª (1912), p. 219-230;
Afonso Arinos de MELO FRÀNC0, "Algumas cartas copiadas no arquivo de
F. Denis", Brasília, Coimbra, II, 1943 (com separata); Jornal do Comércio,
n.0 de 3 de agosto de 1930 (com uma coletânea de artigos e documentos
sobre Denis); Henrique de Campos FERREIRA LIMA, "Um amigo de Por-
tugal e do Brasil", Re·v. de história (1927-1928), v. xv1; Joaquim Norberto
de SousA SLIVA, Discurso, RIHGB, t. 53, 2.ª, p. 474-477; RAMALHO ORTIGÃO,
Em Paris, Lisboa, 1868 (Uma visita a Ferdinand Denis); Pierre MoREAU,
"Fred Denis et les romantiques, d'apres des documents inédits", Revue
d'histoire littéraire de la France, n. 0 4, Paris, 1926, p. 530-564; Ferdinand DE·
NIS, Journal (1829-1848), avec introduction et notes par Pierre Moreau, Fri-
burgo, Libr. de l'Université, 1932; Henri CoRDIER, Mélanges américaines, Pa-
ris, 1913. (Contém o elogio feito no Congresso de americanistas em 1890, por
ocasião do falecimento de Denis.) A respeito da biobibliografia de F. Denis
elaborou o sr. Cícero DIAS, adido à nossa delegação na UNESCO, um minu-
cioso catálogo comentado que resgata, em parte, nossa dívida para com o
simpático erudito francês. Catalogue du Jonds Ferdinand Denis. Paris, 1972.
59. Paul L. F. GAFFAREL (1843-·1920) era professor na Faculdade
de Letras de Dijon. Sua obra principal é a Histoire du Brésil /rançais,
Paris, 1878. Sobre ela pronunciou-se o barão de RAMIZ em estudo publicado
na RIHGB, t. 41 (1878), 2.ª, p. 399, republicado no t. 102 (1927), p. 569.
Ao lado de sérias restrições ressalta Ramiz Galvão os excelentes serviços
prestados pelo erudito francês. A ele também se refere CAPISTRAN0 DE
ABREU em suas notas a Frei Vicente do Salvador (Hist. do Brasil, São
Paulo, 1918), 140 e 264. Se é por vezes superficial, "compendiou notícias
esparsas. . . revelou alguns inéditos e prestou excelentes serviços quando
saiu à luz".
60. Os primeiros guias bibliográficos teuto-brasileiros foram os de
Oscar CANSTATT, Kritisches repertorium der deutsch-brasilianischen literatur,
Berlim, 1902, a que se segue o Nachtrag zum kritisches repertorium der
deutsch-brasilianische11 literatur, Berlim, 1906. Ambos foram traduzidos e
atualizados por Eduardo de Lima CASTRO e Hans Jurgen W. HoRcH com o
título de: Repertório crítico da literatura teuto-brasileira, Rio de Janeiro,
Ed. Presença, 1967 (Com a colaboração dC' INL). Ainda é útil o trabalho
de Joseph ScHERRER, "Historisch-geographischer katalog für brasilien", Anais
da Bibl. Nac., xxxv (1913), p. 313.
61. Karl Friedrich Philipp von MARTIUS ( 194-1868), um dos maiores
botânicos do mundo, que dirigiu a obra monumental a Flora brasiliensis
( 40 volumes in folio, com 3.000 estampas e descrição de 20.000 espécies
vegetais), foi um dos maiores amigos do Brasil. Além da famosa viagem
198
memoria: "Como se deve escrever a história do Brasil", enviada de
Munique em 1843 ao Instituto Histórico, a que já nos referimos,
e Handelmann, cuja obra, influenciou vários autores brasileiros( 62 ).
que empreendeu em nosso país, em companhia de J. B. VON SPIX (Reise in
Brasilien, 3 v. e um atlas, Munique, 1823-1831, traduzida por iniciativa do
IHGB por D. Lúcia Furquim LAHMEYER sob o título de Viagem pelo Brasil,
Rio de Janeiro, 1938), escreveu a memória "Como se deve escrever a Histó-
ria do Brasil", RIHGB, VI (1845), p. 381 (reproduzida na Revista de imi-
gração e colonização, IV, n.0 2, Rio de Janeiro, 1943). Ela teria fornecido
as diretrizes para a obra de Varnhagen.
Sobre o grande sábio bávaro há imensa bibliografia. Mencionemos:
PACHECO LEÃO, Martius, Rio de Janeiro, 1918; P. Balduíno RAMEO, Martius,
São Paulo, lnst. Hans Staden, 1952; Sílvio ROMERO, "Carlos Fred. F. von
Martius e suas idéias acerca da História do Brasil", Revista da Academia
Brasileira de Letras, m, n.0 8 (1912); José Soares DUTRA, Martius, Rio de
Janeiro, 1942; Frederico SoMMER, A vida do botânico Martius, São Paulo,
Melhoramentos, s.d.; Centenário da chegada de Martius ao R io de Janeiro,
Rio de Janeiro, IHGB, 1918; PADBERG-DRENKPOL, "Como Goethe apreciou
as obras de Martius sobre o Brasil", Boletim do Museu Nac., v. VIII, Rio de
Janeiro, 1932; Carlos da Silva ARAÚJO, Von Martius e o Cristo que ofertou
ao Brasil, Rio de Janeiro, 1941; C. TESCHAUER, "Explorações e estudos de
Carlos von Martius", Anais do I Congresso Internacional de H ist. da Amé-
rica, v. v, 1927, p. 382; Afonso d'Escragnolle TAUNAY, "A viagem de Spix e
Martius", Anais do Museu Paulista, v. m , p. 220; Exposição comemorativa
do sesquicentenário de Karl F. Ph. von Martius, Rio de Janeiro, Bibl. Nac.,
1968; "A obra do sábio naturalista e amigo do Brasil", Boletim do lrtstituto
Teuto-Brasileiro de A /ta Cultura, 1937.
62. Gottfried Heinrich HANDELMANN ( 1827-1891), professor da Uni-
versidade de Kiel e diretor de um museu de antiguidades, é autor de uma
Geschichte von Brasilien, Berlim, 1860. Só foi traduzida parcialmente pelo
ministro Rafael de Mayrink na Revista americana em 1918-1919. Uma
tradução completa, aproveitando aquela iniciativa, foi feita em 1931 (RIHGB,
1. 108, 1930), por D. Lúcia Lahmeyer, com revisão do general Bertoldo
Klinger. O ministro alemão Hubert Knipping colaborou com uma excelente
bibliografia do autor. A edição foi anotada por Basílio de MAGALHÃES.
Dada a pouca difusão da língua alemã no Brasil, a tradução da obra
de Handelmann, que João Ribeiro confessava ter tido grande influência na
elaboração de seu célebre compêndio (v. art. no Jornal do Brasil de 3 de
novembro de 1931, incluído em Crítica, v. v1, Rio de Janeiro, Acad. brasi-.
leira, 1961, p. 25) , era aguardada com ansiedade. A ela se referia, também
com grandes gabos, Oliveira Lima.
199
32. Apesar de não abordarmos neste trabalho a historio-
grafia contemporânea, não é possível deixar de mencionar um as-
pecto alarm,mte da produção atual no campo das ciências sociais.
O interesse crescente despertado pelo Brasil e as grandes possibili-
dades oferecidas aos estudantes estrangeiros têm provocado um
sem-número de trabalhos de nível universitário que estão ultrapas-
sando de muito a produção brasileira. Já algumas publicações estão
se preocupando com o problema e anunciando que "o passado do
país está sendo escrito em inglês". Além da produção bibliográfica
de alta importância, as coleções reunidas de livros raros, publica-
ções oficiais, periódicas e seriados, originais ou reprografados, exis-
tentes nas universidades estrangeiras, fazem com que, em alguns
casos, estejamos dependentes de centros no exterior para o estudo
de certos temas brasileiros. Uma lei votada há poucos anos visando
a obstar a emigração de livros e documentos para o exterior, não
parece ter atingido seus objetivos, nem concorrido para solucionar
uma situação das mais complexas.
Há temas de história nacional .que podem ser muito mais bem
estudados em centros americanos do que no Brasil. A título mera-
mente exemplificativo, já que o assunto obriga um desenvolvi-
mento muito maior, mencionaremos alguns livros americanos que
são essenciais ao estudo do Brasil contemporâneo. Basta dizer que
os autores de teses aprovadas sobre temas latino-americanos cons-
tituem uma Associação de História especializada que conta para
200
mais de 2.000 soc1os. :É presidida pelo historiador Thomas E.
Skidmore. Esta entidade reúne-se bienalmente. O mesmo pro-
fess-or preside à Conferência de Historiadores Latino-americanos,
cuja secção de brasilianistas conta mais de 116 membros.
33. Um dos melhores trabalhos sobre a história política re-
cente do nosso país é precisamente o do mesmo professor Thomas
E. Skidmore. Politics in Brazil, 1930-1964. An experiment in
democracy, Oxford University Press. (Traduzido para o portu-
guês sob o título de Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco,
1930-1964, Rio de janeiro, Ed. Saga, 1969.) O mesmo tema fora
versado por Karl Loewenstein, professor de ciência política do
Arnherst College, em Brazil under Vargas, Nova York, MacMillan,
1942. Recentemente dois trabalhos de John W. S. Dulles se im-
põem para a história de nossos dias: Vargas of Brazil. A Political
biography, Univ. of Texas Press, 1967, e Unrest Brazil. A Poli-
tical military crisis, 1955-1964, Univ. of Texas Press, 1970.
O papel do exército na história da República está estudado
em dois estudos monográficos: June E. Hahner, Civilian-military
Relations in Brazil, 1889-1898, Univ. of South Carolina Press,
1969, e Alfred Stepan, The military in politics. Changing patterns
in Brazil, Princeton University Press, 1971, feito à vista de nossos
arquivos militares.
A história econômica regional encontra-se modelarmente rea-
lizada por Stanley J. Stein, Vassouras. A brazilian coffee county,
1850-1900. Univ. of Harvard, Cambridge, 1957. (Traduzido para
o português com o título de: Grandeza e decadência do café no
vale do Paraiba com referência especial ao município de Vassouras,
São Paulo, Brasiliense, 1961.) O mesmo autor escreveu outro
importante livro sobre a economia brasileira, ainda não traduzido :
The brazilian cotton manufacture, textile enterprise in an under-
developed area. 1850-1950, Cambridge, Mass., 1957.
Trabalhos fundamentais para a história econômica são os de
Joel Bergsman, Brazil. lndustrialization and trade policies, Oxford
Univ. Press, 1971; Warren Dean; A industrialização de São Paulo,
1971 ( Col. Corpo e alma do Brasil), e Werner Baer, Siderurgia e
desenvolvimento brasileiro, também traduzido pela Ed. Zahar, Rio
de Janeiro.
O messianismo brasileiro está estudado, com documentação
inédita, na obra de Ralph Della Cava, Miracle at Joazeiro, Colum-
bia Univ. Press, 1971.
A história da Igreja Católica é também objeto de estudos
monográficos americanos sem correspondentes brasileiros, como,
por exemplo, o de Sister M. Ancilla O'N eill, Tristão de
201
Athayde and the catholic social movement in Brazil, The Catholic
Univ. of America Press, Washington, 1939 e Sister Mary Crescen-
tia Thornton, The Church and Freemansory in Brazil, 1872-
1875. A study in regalism, Washington, Toe Catholic Univ. of Ame-
rica, 1948, já em 2.ª edição. A mesma autora tem pronto novo estu-
do sobre a Igreja na primeira república. Acrescente-se a notável mo-
nografia de A. J. R. Russell-Wood, Fidalgos and philantropists,
Berkeley e Los Angeles, Univ. of California Press, 1968. Trata-se
de um estudo magistral do funcionamento da Santa Casa de Mise-
ricórdia da Bahia, uma das muitas que exerciam a função de assis-
tência social na colônia.
Centenas de bolsistas americanos pesquisaram no Brasil assun-
tos históricos, sociais, econômicos e literários. f: mais fácil conhe-
cer certos temas da formação brasileira em bibliotecas americanas
que recolheram microfilmes nos depósitos arquivais e bibliotecas
do Brasil do que em centros brasileiros, desprovidos, quase sempre,
de verbas para a aquisição de livros.
Com menos recursos, há outros países empenhados na pesquisa
da história do Brasil. Citamos, ainda a título exemplificativo, duas
notáveis obras inglesas acerca da história econômica do Brasil: a
de Richard Graham, Britaín, and the onset of modernizatíon in
Brazil, 1850-1914, Cambridge, University Press, 1968, e Leslie
Bethel, The abolition of the brazilian slave trade, na mesma edi-
tora, 1970.
Em França, tem aumentado ultimamente o interesse pelos es-
tudos brasileiros. O Instituto de Altos Estudos para a América
Latina da Universidade de Paris e o Instituto de Estudos Portu-
gueses e Brasileiros da Sorbonne têm editado trabalhos de valor
incontestável. No primeiro apareceu o minucioso estudo de Jean
Roche, La colonisatíon allemande et le Rio Grande do Sul, Paris,
1959, e, mais recentemente, o estudo de Yves Leloup, Les villes
de Minas Gerais, Paris, 1970 (Travaux et mémoires de l'Institut
des Hautes Etudes de l'Amérique Latine, n. 0 25). O antigo diretor
do Instituto de Estudos Portugueses e Brasileiros, prof. L6on Bour-
don, está editando, com aparato completo de erudição, as Notes
dominicafes prises pendant un voyage au Portugal et au Brésil en
1816, 1817 et 1818 por L. F. de Tollenare sob o patrocínio da
Fundação Calouste Goulbenkian. Ainda recentemente, num coló-
quio comemorativo do cinqüentenário da criação do ensino do por-
tuguês na Bretanha, reuniu-se em Rennes, Universidade de Haute
Bretagne, um importante colóquio, em que os temas bras,ileiros
ocuparam parte importantíssima. Deve-se esta reunião aos esforços
do Professor Jean Michel Massa, autor de estudos profundos sobre
202
Machado de Assis, um dos quais acaba de ser editado no Rio de
Janeiro, em co-edição com o Instituto Nacional do Livro: A juven-
tude de Machado de Assis, Rio de Janeiro, Civilização ed., 1971.
34. É bem verdade que há quem aponte sérias falhas nestes
estudos, em face das deficiências dos estrangeiros tanto no que se
refere à língua quanto à psicologia do povo. Mas a verdade é
que o material carreado para a utilização dos estrangeiros deveria
alertar as autoridades brasileiras, não para impedir a colaboração
deles, mas para incrementar uma ação correspondente por parte
dos nacionais.
203
8 - CONCLUSÕES
204
As Distorções do Ensino da História
3. É evidente que este sentimento de respeito pode ser aba-
fado por várias deformações comuns. A primeira é a que resulta
do excesso de cronologia e onomástica, exatamente nos primeiros
anos de formação. Nenhum aluno entenderá a utilidade para seus
estudos que resultará de decorar uma lista de nomes rebarbativos
ao iniciar o estudo de capítulos que, aliás, podem despertar a mais
viva simpatia através de uma exposição metódica e interessante.
4. Outra deformação consiste no excesso oposto: na ablação
quase total daquilo que é tratado depreciativamente como informa-
ção factual ou narrativa. Assim é que alunos que chegam à uni-
versidade desconhecendo quase inteiramente os acontecimentos e
as personalidades de uma época, mesmo as noções elementares,
essenciais à conversação usual, recebem de chofre noções sintéticas
e conclusões filosóficas cujas premissas eles ignoram totalmente.
Mutila-se, assim, o ensino da ciência. A história não pode ser
apenas o estudo do porquê, mas também o do como. Desconhe-
cem-se pessoas e episódios vulgares, mas aceitam-se conclusões
que permanecem sem sentido nos resumos fornecidos como "ciência
feita".
5. Ora, a interpretação não esgota o estudo histórico. Os
criadores de grandes teorias, quando .enfrentaram temas históricos,
meteram-se a fundo no estudo dos fatos para justificarem suas con-
clusões. Mas não falta quem interprete literalmente - para não
dizer primariamente - o conceito de que, encontrada a interpreta-
ção, nada mais resta ao historiador( 5 ). Este menosprezo pelo
modo através do qual se processaram os acontecimentos, não le-
é a teórica, a segunda a sociológica. A terceira é necessariamente histórica,
voltada para o passado. A quarta é a praxiológica. (Raymond ARON,
Paix et guerre, 4.ª ed., Paris, 1962.) O desprezo pelo aspecto histórico é
sempre grave sintoma de crise de pensamento, um dos mais graves sinais
da falta de orientação de nosso tempo, "mais grave até que a decadência
do ideal de liberdade. O desprezo pela verdade histórica se exibe com
impudência por toda a parte, nos dois mundos em que se convencionou
dividir a humanidade". (H. I. MARROU, De la connaissance historique,
Paris, 1954, p. 14.)
5. Um dos mais respeitáveis defensores da teoria marxista da história
usou de uma expressão que tem sido evidentemente distorcida. Após
enunciar a "determinação imperiosa" da evolução brasileira pelo fator eco-
nômico, declara que, com evidenciação desse fator, "cessa a missão do
205
vando em conta as peculiaridades de cada fenômeno, nem os efeitos
dessemelhantes de causas comuns, levou um autor insuspeito a las-
timar o abandono da autêntica pesquisa histórica por parte de
escolas que, na fórmula distorcida, cessam a sua função no mo-
mento em que conseguem aplicar a fórmula interpretativa. "Os
cientistas de orientação marxista", diz o antropólogo Darcy Ribeiro,
"aceitando embora uma teoria geral do processo histórico, pouco
têm contribuído para desenvolvê-la, em virtude da tendência a
converter a maioria dos seus estudos em meras exemplificações,
com novos materiais, das teses marxistas clássicas" ( 6 ).
6. Uma outra deformação consiste no excesso da história
anedótica. O aluno vicia-se em apreciar somente os capítulos car-
regados de pitoresco e cria o gosto pela leitura de livros leves, vendo
só interesse nas intrigas e enredos do que se costuma chamar a
pequena história. Realmente é difícil fazer acreditar que tal gênero
de estudos tenha relevância política ou sociológica.
7. As conseqüências da falta de interesse de um povo pela
história são de uma gravidade muito maior do que se pode imaginar.
A falta de respeito pelo passado provoca um completo desprezo
pela continuidade política. Por outro lado abre margem a outro
sentimento, igualmente perigoso e anti-histórico: - o saudosismo,
que envolve o passado numa aura de sistemática simpatia e deforma
a perspectiva histórica, fazendo do presente uma era antipática.
Gera a idéia de uma contínua decadência, conduzindo, portanto, à
descrença nas convicções e ao desânimo na atuação. Tout est si
beau quand on se retourne . ..
8. Não é possível terminar esta apreciação preliminar sem
uma palavra a respeito dos trabalhos literários, que não são de ciên-
cia histórica, muitas vezes citados em alguns capítulos. Pensamos,
em boa companhia, que não há nenhum progresso em matar nos
estudantes o gosto pelas leituras de tipo literário, desde que sirvam
206
para despertar o interesse pelos temas e pela época. Períodos há
em que não há somente interesse, mas necessidade de serem estu-
dados em face da produção literária. Assim, Balzac(?) e Stendhal
são imprescindíveis para a compreensão da França da Restauração;
Machado de Assis para o Brasil do Segundo Reinado( 8 ). Em
recente coletânea de especialistas franceses, afirma G. Rustin que
as indicações literárias, feitas com reserva, servem para "alimentar
e estimular a imaginação" ( 9 ). E acrescenta: "Mesmo os romances
207
mais suspeitos poderão, nesse sentido, prestar os maiores serviços.
Alain, que sustenta, com evidente exagero, que neles e nas Memó-
rias encontra-se a melhor cultura histórica, afirma que Seignobos
_costumava dizer aos estudantes que, em relação a Luís XIII e Luís
x1v, não há nada que supere a lenda dos mosqueteiros. O prof. Levy-
Schneider, da Faculdade de Lyon, recomendava reviver, em imagi-
nação, o tempo da Revolução Francesa através dos Dieux ont soif".
9. Foi um dos maiores expoentes científicos da cultura his-
tórica da França, e um dos que mais influenciam os estudos histó-
ricos daquele país que escn;veu estas palavras cheias de espírito:
"Les lecteurs d'Alexandre Dumas ne sont peut-être que des histo-
riens en puissance, auxquels manque seulement d'avoir eté dressés
à se donner un plaisir plus pur, et à moo gré, plus aigu: celui de la
couleur vraie" (1º). Tudo está em dosar adequadamente as leituras,
de modo a servirem estritamente de motivação e atrativo. Com
isso cultivaremos o bom gosto dos estudiosos de história, que
alguns professores se comprazem em massacrar, como se só fosse
científico o texto caracterizado pela sensaboria e pela insensibilida-
de. "Gardons-nous", continua a mesma autoridade, "de retirer à
notre science sa part de poésie. Gardons-nous surtout, comme j'en
ai surpris le sentiment chez certains, d'en rougir. Ce serait une
étonnante sottise de croire que, pour exercer sur la sensibilité un
si puissant appel, elle doive être moins capable de satisfaire aussi
notre intelligence."
1O. Observa Hilaire Belloc, que escreveu algumas das mais
importantes páginas de história em nosso tempo, que o prestígio
desproporcionado conferido às ciências exatas durante o século
xrx fez com que se confundisse a ciência com as massas de observa-
ções minuciosas que constituíram naquela época a, maior ocupação
dos sábios. Esta grande massa de observações, com o nome de
''ciência moderna", afetou todas as artes e todos os estudos; atingiu
especialmente o espírito da história( 11 ). Que a geração de historia-
dores que hoje se forma, reencontre o caminho da história sensível
à beleza, às emoções superiores, sem abandonar o rigor e a exatidão
que são o timbre das ciências.
208