Orientação Com Bússola e Mapa - Parte 3 - Trekking Brasil
Orientação Com Bússola e Mapa - Parte 3 - Trekking Brasil
Orientação Com Bússola e Mapa - Parte 3 - Trekking Brasil
Ok, podem me xingar. Eu não tenho tido muito tempo ultimamente para escrever e isso
tem deixado os leitores que acompanham esta série de artigos um pouco irritados. Mas
podem ficar tranquilos, nada de me jogar penhasco abaixo ou colocar água nas minhas
botas. Aqui está o terceiro artigo da série!! Depois desse teremos um com dicas de
como navegar usando a carta topográfica e a bússola.
Bem, vamos deixar de bla bla bla e vamos pro que interessa.
6. A carta topográfica
Navegar somente com a bússola é praticamente impossível, a menos que você conheça
muito bem o terreno onde está – o que teoricamente o faria dispensar a bússola. Para
sabermos onde estamos exatamente e para poder traçar uma rota até um determinado
ponto precisamos de uma carta topográfica, um mapa que demonstra em detalhes o
relevo da região, permitindo escolher o melhor caminho entre montanhas, vales, etc…
As cartas brasileiras são feitas em geral por órgãos militares ou pelo IBGE e podem ser
compradas ou em alguns casos até mesmo ser baixadas da internet.
Para auxiliar os estudos eu vou colocar aqui o download de uma carta topográfica em
JPG, assim vocês poderão ir lendo os tópicos e ir comparando com a carta. Download
Carta Topográfica de Manhumirim.
2. Escala e régua: a escala indica a proporção entre o que está na carta topográfica e
o terreno real. A maioria das cartas nacionais tem escala de 1:50.000 – veremos com
mais detalhes essa leitura da escala daqui a pouco.
3. Curvas de Nível: quem nunca viu uma carta topográfica costuma ficar confuso com
esse item fundamental nos mapas. As curvas de nível indicam o relevo na sua frente,
podendo detalhar para os olhos mais experientes onde existem vales, depressões,
campos ou encostas de montanhas. São elas que permitem parte da orientação no
terreno. Veremos mais detalhes depois.
Agora que já falei dos principais itens de uma carta topográfica vamos ver mais detalhes
daqueles que realmente são importantes para o nosso aprendizado de navegação.
Entender a escala é importante para quem está se deslocando, afinal de contas, o que
parece perto em um mapa pode significar uma travessia de 3 dias no terreno real.
1:50.000
Isso significa que cada 1 centímetro no mapa equivale a 50 mil centímetros no terreno
real, ou seja, 500 metros. Para achar o valor em metros basta dividir o maior número da
escala por 100. Neste caso teríamos 50.000 / 100 = 500 metros.
As curvas podem ficar mais próximas umas das outras, o que indica um terreno
montanhoso ou mais afastadas, o que indica uma área mais plana. Independente da
situação, a distância entre uma curva e outra no mapa é de 20 metros (verifique a
informação na carta, logo abaixo da escala). Sendo assim, um amontoado de curvas
umas coladas nas outras indicam uma elevação rápida do terreno, ou seja, uma
encosta ou montanha. Observe nos exemplos abaixo:
Acima eu pintei de verde e vermelho duas áreas deste trecho de uma carta topográfica,
note a diferença de espaçamento entre as curvas de nível da área verde e da vermelha.
Na verde temos uma região de campos de altitude, note que as curvas apontam 2300 e
depois 2400 com um bom espaçamento entre essas altitudes. Já na parte vermelha as
linhas se amontoam em alguns pontos, isso significa que aquela é uma região de
encostas montanhosas.
Como eu mencionei acima, os números que ficam no meio das curvas de nível indicam
a altitude naquela linha, para quem tem em mãos um altímetro essa informação permite
uma localização na carta ainda mais precisa. Um altímetro é um equipamento bem
interessante para quem faz navegação – vou fazer um review de um desses
equipamentos durante o carnaval, aguardem!
Duas curiosidades sobre as curvas de nível, primeira: elas podem indicar tanto
elevações quanto depressões no terreno. Curvas com valores aumentando das pontas
para o centro indicam uma montanha, já as curvas onde o valor diminui no centro
representam uma depressão, um grande “buraco” no chão. Observem:
Note que as imagens acima, são iguais… Eu somente alterei as altitudes, na da direita
temos uma elevação, já na esquerda o valor central é menor que o anterior, neste caso
temos uma depressão, um afundamento no relevo do terreno.
A segunda curiosidade é que as curvas de nível podem ser usadas para “ver” o
contorno de uma montanha e com isso facilitar a orientação do navegador. Esse
procedimento não é muito simples, mas um conjunto de curvas de nível pode ser
“planificado” para que represente o desenho de um item qualquer do relevo, ou em
termos mais técnicos, para que seja representado o perfil topográfico, veja um exemplo:
A imagem acima é do canto superior direito da carta que eu estou usando como modelo
para este artigo, note a latitude 20º 15′ no canto direito e próximo dela a longitude 41º
45′. Observe também que cada linha das quadrículas é marcada por um conjunto de
números que aumentam de 2 em 2. Essas são as marcações UTM que aprenderemos a
usar para localizar um ponto.
Vamos supor que você e seu grupo sofreram um acidente ao subir um morro de 758
metros próximo do ribeirão Pouso Alto e estão precisando de um resgate no topo. O
primeiro passo é localizar o ponto onde você está, isso aconteceria usando uma
triangulação (caso você não soubesse onde estava), mas para fins de estudos vamos
supor que você saiba que está no alto do tal morro. Deixaremos a triangulação para o
próximo artigo.
O primeiro passo é identificar o seu ponto no mapa, eu marquei com uma bola vermelha
e tracei duas linhas até ele (em vermelho também), veja:
O primeiro passo é verificar as marcações UTM da carta e fazer alguns ajustes. Como
elas andam de 2 em 2 faça marcações no meio de cada quadrícula e dê valores
intermediários para as marcas, que no nosso caso seriam: 11 e 57 (descarte os
números menores do UTM e trabalhe só com os grandes!), marque esses pontos no
mapa:
Pronto, a coisa está ficando bem mais simples agora. Para determinar o ponto exato
precisamos dividir os espaços entre o 11 e o 12 e entre o 57 e 58 em dez partes iguais,
como se fosse uma régua com a marcação de milímetros entre os centímetros,
entenderam? Observem:
Cada marcação ganha um valor crescente de 1 até 9 e com isso podemos determinar
uma coordenada mais exata, que no nosso caso ficou sendo: 116573.
No próximo artigo vamos falar sobre como navegar com a carta e a bússola, usando o
conceito de triangulação para achar o ponto onde estaremos e depois as outras
técnicas para chegar até o ponto desejado.
Até lá!