Orientação Com Bússola e Mapa - Parte 3 - Trekking Brasil

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M ARIO NERY  13 fevereiro, 2010

Este artigo é a continuação do texto “Orientação com bússola e mapa – Parte 2“

Ok, podem me xingar. Eu não tenho tido muito tempo ultimamente para escrever e isso
tem deixado os leitores que acompanham esta série de artigos um pouco irritados. Mas
podem ficar tranquilos, nada de me jogar penhasco abaixo ou colocar água nas minhas
botas. Aqui está o terceiro artigo da série!! Depois desse teremos um com dicas de
como navegar usando a carta topográfica e a bússola.

Bem, vamos deixar de bla bla bla e vamos pro que interessa.

6. A carta topográfica

Navegar somente com a bússola é praticamente impossível, a menos que você conheça
muito bem o terreno onde está – o que teoricamente o faria dispensar a bússola. Para
sabermos onde estamos exatamente e para poder traçar uma rota até um determinado
ponto precisamos de uma carta topográfica, um mapa que demonstra em detalhes o
relevo da região, permitindo escolher o melhor caminho entre montanhas, vales, etc…

As cartas brasileiras são feitas em geral por órgãos militares ou pelo IBGE e podem ser
compradas ou em alguns casos até mesmo ser baixadas da internet.

As cartas apresentam uma série de padronizações de símbologia que simplificam a


leitura delas e o ajuste da carta em relação ao terreno quando estamos em uma
situação real de navegação. Entender estes símbolos é fundamental.

Para auxiliar os estudos eu vou colocar aqui o download de uma carta topográfica em
JPG, assim vocês poderão ir lendo os tópicos e ir comparando com a carta. Download
Carta Topográfica de Manhumirim.

Os pontos mais importantes de uma carta topográfica são:


1. Nome da Carta: em geral vem marcado no topo da carta, no centro ou nos cantos.
O nome de uma carta é dado pela cidade ou acidente geográfico mais importante
presente no mapa, aqui no Brasil a maioria das cartas tem nomes de cidades.

2. Escala e régua: a escala indica a proporção entre o que está na carta topográfica e
o terreno real. A maioria das cartas nacionais tem escala de 1:50.000 – veremos com
mais detalhes essa leitura da escala daqui a pouco.

3. Curvas de Nível: quem nunca viu uma carta topográfica costuma ficar confuso com
esse item fundamental nos mapas. As curvas de nível indicam o relevo na sua frente,
podendo detalhar para os olhos mais experientes onde existem vales, depressões,
campos ou encostas de montanhas. São elas que permitem parte da orientação no
terreno. Veremos mais detalhes depois.

4. Latitudes, Longitudes e UTM: nas quinas dos mapas temos as Latitudes (quina


superior e inferior – vertical) e as Longitudes (quinas direita e esquerda – horizontal).
Entre as marcas de latitudes e longitudes temos marcações em UTM que permitem
resumir uma área de uma carta topográfica em um espaço ainda menor. Esses são os
conceitos mais complicados para se aprender e são mais usados para resgate e
localização de pontos específicos. Normalmente não são usados por alguém que está
apenas navegando rumo a um local. Claro que se você se perder no meio do nada e
solicitar socorro fica muito mais simples para o resgate te localizar se você passar as
coordenadas exatas.

5. Declinação magnética, variação anual e data da impressão da carta: estes itens


são importantes para uma navegação exata. O conceito de declinação magnética foi
explicado no segundo artigo desta série, portanto não será revisto aqui.

6. Articulação da folha e localização da folha no estado: essas informações


auxiliam na localização da pessoa ao usar a carta, com elas a pessoa pode ter uma
idéia melhor de onde está em uma escala mais ampla. Ela é apenas um auxílio não
influenciando efetivamente na navegação.

7. Legendas e convenções: auxiliam na leitura do mapa, facilitando a identificação de


pontos úteis, tais como estradas. rios, cidades, ferrovias, fazendas, etc.
Uma curiosidade importante para quem está se orientando: os nomes de
cidades e afins grafados nas cartas apontam sempre para o norte! Note que o
topo do mapa é o norte, e os nomes grafados no mapa sempre estão alinhados
com esse topo, sendo assim caso você tenha apenas um pedaço do mapa e
precise alinhá-lo com o terreno basta deixar a agulha da bússola casar com o
norte e então alinhar o mapa.

Agora que já falei dos principais itens de uma carta topográfica vamos ver mais detalhes
daqueles que realmente são importantes para o nosso aprendizado de navegação.

6.1 Entendendo a escala da carta

Entender a escala é importante para quem está se deslocando, afinal de contas, o que
parece perto em um mapa pode significar uma travessia de 3 dias no terreno real.

A escala é medida em centímetros e a relação se dá do seguinte modo:

1:50.000

Isso significa que cada 1 centímetro no mapa equivale a 50 mil centímetros no terreno
real, ou seja, 500 metros. Para achar o valor em metros basta dividir o maior número da
escala por 100. Neste caso teríamos 50.000 / 100 = 500 metros.

No primeiro artigo da série eu mostrei as partes de uma bússola cartográfica, se vocês


se lembram dela vão recordar que ela possui uma régua em um dos lados. A função
dessa régua é justamente marcar os centímetros entre um ponto e outro do mapa e
permitir ao navegador saber qual a distância real entre esses pontos!

6.2 Curvas de Nível


Curvas de nível são linhas fechadas que funcionam como um espelho do terreno ao seu
redor.

As curvas podem ficar mais próximas umas das outras, o que indica um terreno
montanhoso ou mais afastadas, o que indica uma área mais plana. Independente da
situação, a distância entre uma curva e outra no mapa é de 20 metros (verifique a
informação na carta, logo abaixo da escala). Sendo assim, um amontoado de curvas
umas coladas nas outras indicam uma elevação rápida do terreno, ou seja, uma
encosta ou montanha. Observe nos exemplos abaixo:

Acima eu pintei de verde e vermelho duas áreas deste trecho de uma carta topográfica,
note a diferença de espaçamento entre as curvas de nível da área verde e da vermelha.
Na verde temos uma região de campos de altitude, note que as curvas apontam 2300 e
depois 2400 com um bom espaçamento entre essas altitudes. Já na parte vermelha as
linhas se amontoam em alguns pontos, isso significa que aquela é uma região de
encostas montanhosas.

Como eu mencionei acima, os números que ficam no meio das curvas de nível indicam
a altitude naquela linha, para quem tem em mãos um altímetro essa informação permite
uma localização na carta ainda mais precisa. Um altímetro é um equipamento bem
interessante para quem faz navegação – vou fazer um review de um desses
equipamentos durante o carnaval, aguardem!

Duas curiosidades sobre as curvas de nível, primeira: elas podem indicar tanto
elevações quanto depressões no terreno. Curvas com valores aumentando das pontas
para o centro indicam uma montanha, já as curvas onde o valor diminui no centro
representam uma depressão, um grande “buraco” no chão. Observem:
Note que as imagens acima, são iguais… Eu somente alterei as altitudes, na da direita
temos uma elevação, já na esquerda o valor central é menor que o anterior, neste caso
temos uma depressão, um afundamento no relevo do terreno.

A segunda curiosidade é que as curvas de nível podem ser usadas para “ver” o
contorno de uma montanha e com isso facilitar a orientação do navegador. Esse
procedimento não é muito simples, mas um conjunto de curvas de nível pode ser
“planificado” para que represente o desenho de um item qualquer do relevo, ou em
termos mais técnicos, para que seja representado o perfil topográfico, veja um exemplo:

Pra quem está mais familiarizado com as


montanhas, eis aqui um perfil simples do
Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.

Acho que depois dessas explicações


qualquer um consegue entender um
conjunto de curvas de nível em uma carta
topográfica e já é capaz de medir distâncias
entre um ponto e outro, além de conseguir
caminhar pelos trechos de relevo mais
baixo ao invés de subir e descer penosos
trechos de montanha. Certo, pessoal?

Entender essas curvas é fundamental


quando o assunto é navegação, usaremos
muito essas curvas no próximo artigo, onde
eu vou mostrar como fazer a triangulação de vocês usando pontos de referência na
carta topográfica e com essa triangulação vocês conseguem saber o ponto onde vocês
estão no mapa! Mas isso é pra depois. Vamos ver a parte mais complicada agora.

6.3 Latitudes, longitudes e UTM


Não vou me aprofundar tanto neste ponto de latitudes e longitudes, mas vou mostrar o
básico sobre como usar as marcações UTM (Projeção Universal Transversa de
Mercator) para localizar um ponto e assim fazer com que vocês sejam capazes de
passar a localização de vocês para uma equipe de SAR (resgate).

Ao pegar a carta topográfica note as marcações de latitude (nos cantos verticais do


mapa) e as marcações de longitude (nos cantos horizontais do mapa). Entre essas
marcações existem linhas que se cruzam e formam quadrículas no mapa, essas
quadrículas são numeradas usado um padrão conhecido como UTM. Se você cruzar
uma linha vertical e uma horizontal no mapa o ponto onde elas se cruzam marcará uma
localização, se você souber atribuir os valores UTM certos para aquele ponto você fará
qualquer resgate profissional lhe encontrar! É mais ou menos como jogar batalha naval,
vamos ver:

A imagem acima é do canto superior direito da carta que eu estou usando como modelo
para este artigo, note a latitude 20º 15′ no canto direito e próximo dela a longitude 41º
45′. Observe também que cada linha das quadrículas é marcada por um conjunto de
números que aumentam de 2 em 2. Essas são as marcações UTM que aprenderemos a
usar para localizar um ponto.

Vamos supor que você e seu grupo sofreram um acidente ao subir um morro de 758
metros próximo do ribeirão Pouso Alto e estão precisando de um resgate no topo. O
primeiro passo é localizar o ponto onde você está, isso aconteceria usando uma
triangulação (caso você não soubesse onde estava), mas para fins de estudos vamos
supor que você saiba que está no alto do tal morro. Deixaremos a triangulação para o
próximo artigo.

O primeiro passo é identificar o seu ponto no mapa, eu marquei com uma bola vermelha
e tracei duas linhas até ele (em vermelho também), veja:

O primeiro passo é verificar as marcações UTM da carta e fazer alguns ajustes. Como
elas andam de 2 em 2 faça marcações no meio de cada quadrícula e dê valores
intermediários para as marcas, que no nosso caso seriam: 11 e 57 (descarte os
números menores do UTM e trabalhe só com os grandes!), marque esses pontos no
mapa:
Pronto, a coisa está ficando bem mais simples agora. Para determinar o ponto exato
precisamos dividir os espaços entre o 11 e o 12 e entre o 57 e 58 em dez partes iguais,
como se fosse uma régua com a marcação de milímetros entre os centímetros,
entenderam? Observem:

Cada marcação ganha um valor crescente de 1 até 9 e com isso podemos determinar
uma coordenada mais exata, que no nosso caso ficou sendo: 116573.

Explicando: 116 oeste-leste e 573 sul-norte baseado na carta topográfica de


Manhumirim. A ordem deve ser sempre a mostrada acima – coordenada oeste-leste na
frente e em seguida a sul-norte. Caso contrário a leitura será errada por quem receber a
informação.

Pronto, agora é só sentar no alto da montanha e esperar o helicóptero do resgate! Viu


como cartas topográficas não são nenhum bicho de sete cabeças?

No próximo artigo vamos falar sobre como navegar com a carta e a bússola, usando o
conceito de triangulação para achar o ponto onde estaremos e depois as outras
técnicas para chegar até o ponto desejado.

Até lá!

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