Zoologia de Invertebrados II
Zoologia de Invertebrados II
Zoologia de Invertebrados II
Invertebrados II
Zoologia dos
Invertebrados II
Arno Blankensteyn
Florianópolis, 2010.
Governo Federal Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Verzani Nogueira
Ministro de Educação Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância Carlos Eduardo Projeto Gráfico Material impresso e on-line
Bielschowky Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Equipe Henrique Eduardo Carneiro da Cunha, Juliana
Brasil Celso Costa Chuan Lu, Laís Barbosa, Ricardo Goulart Tredezini
Capítulo 12 - Os Quetognatos.........................................................155
12.1 Introdução............................................................................................................... 157
Apresentação
12.2 Estrutura Geral....................................................................................................... 157
Resumo............................................................................................................................. 159
Este livro será apresentado lembrando a história dos fósseis que reflete a
história do atual Reino Animal. Os grandes grupos de invertebrados surgiram
nos oceanos há mais de 550 milhões de anos e desde então vêm co-evoluindo
em comunidades biológicas aquáticas e terrestres, e hoje mostram uma ele-
vada complexidade de modos de vida e variedade de formas. Os invertebra-
dos como moluscos, anelídeos, artrópodos, equinodermados, entre outros, já
estavam presentes nos tempos dos dinossauros, compondo os ecossistemas.
Nesse contexto, a importância do estudo dos diferentes grupos de animais é
justificada pois contribui para o conhecimento das comunidades biológicas e
dos ecossistemas da Terra.
As linhas pedagógicas da presente Disciplina tratarão da zoologia basea-
das na história evolutiva e no papel funcional que as espécies da fauna assu-
mem nas comunidades biológicas atuais e nas nossas vidas. Neste segundo
enfoque, com conceitos de ecossistemas, pretende-se mostrar que durante o
estudo da fauna, também podemos falar de educação ambiental.
Arno Blankensteyn
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Introdução aos Invertebrados
Ao final deste capítulo você deverá ser capaz de mostrar co-
nhecimentos sobre a biologia dos invertebrados. Também deve-
rá mostrar conhecimentos sobre as duas formas concorrentes de
classificação de todos os animais: a morfológica e a molecular.
Através do estudo dos invertebrados, você aprenderá sobre
os diversos modelos morfológicos, sobre as interações desses
organismos com o meio físico e químico e a respeito das adap-
tações ligadas ao contexto evolucionário. Com esse conheci-
mento você entenderá as questões ecológicas da fauna rela-
cionadas com a funcionalidade e utilidade dos invertebrados.
Introdução aos Invertebrados 15
fósseis e dos estudos sobre o desenvolvimento embrionário, foi A sociedade atual precisa
assimilar o novo paradigma
possível estabelecer hipóteses sobre as relações filogenéticas dos das ciências naturais que
grandes agrupamentos de animais (Figura 1.1). Atualmente, são diz que, na biosfera, tudo
Protostômia
funciona como uma grande
aceitos dois modelos de classificação dos filos animais, um com rede de interrelações e Gastrea Bento-pelágico; larva dipleurula;
base em características morfológicas e outro com base em evidên- interdependências, de modo holopelágico; intestino com boca e ânus;
que a espécie humana faz arquêntero com blastóporo blastóporo forma boca e ânus
cias moleculares (Figura 1.2). parte dessa rede e precisa
se adequar a ela quanto
Mas para nossa vida prática, do dia-a-dia, é bom ter claro o ce- à exploração dos recursos
nário da diversidade dos grupos animais e ensiná-lo para as pes- naturais e ao respeito que
soas, com o objetivo de colaborar para o entendimento da vida no se deve ter com a Biosfera.
O modelo atual do uso
ambiente que nos cerca. Outro desafio posto é esclarecer as com- dos recursos naturais que Deuterostômia
plexas redes de interações que ocorrem nas comunidades biológi- operamos não é sustentável
ecologicamente.
cas, entre os organismos e desses com os meios físico e químico. Figura 1.1 – Cladograma com as relações filogenéticas dos grandes grupos de animais multicelulares.
(Adaptado de Soares-Gomes et al.; 2009, p. 324).
Protostômia
Annelida
Echiura e minimizando a perda de água. Nos organismos de água doce,
Mollusca como a tendência é da água entrar no corpo dos animais, o proces-
Sipuncula
so de excreção tem função especial para que sais importantes não
Spiralia Nemertea
Platyhelminthes
sejam perdidos, pois muita urina é produzida.
Gnathostomulida Lophotrochozoa
Rotifera 1.2.2 Os ciclos de vida dos invertebrados
Acanthocephala
Kamptozoa Os ciclos de vida mostram muitos padrões comuns a vários fi-
Cycliophora los, uma vez que a maioria das espécies marinhas apresenta estra-
Phoronida tégias de vida similares: a regra geral é a fecundação externa e for-
Lophophorata Brachiopoda
mação de larva planctônica. Mas há exceções a essas regras, como
Bryozoa
Deuterostômia
Hemichordata
Echinodermata caso de invertebrados terrestres os ciclos de vida apresentam mais
Chordata estágios, com diferentes tipos morfológicos. Em geral invertebra-
dos têm ciclo de vida curto, com duração de um ano ou mais. A
visão sobre os ciclos de vida é importante para percebemos mais
Figura 1.2 – Classificações concorrentes dos grupos bilaterais embasadas em dados
morfológicos e moleculares. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 252). aspectos da ecologia das espécies.
Nas Figuras 1.3a, 1.3b e 1.3c a seguir, podemos observar dife-
rentes modelos de ciclo de vida de invertebrados. A largura da
1.2 O papel funcional dos invertebrados faixa representa a quantidade de recursos utilizados durante o
crescimento do animal: uma faixa com largura crescente mostra a
1.2.1 Questão da osmorregulação aquisição de recursos; a utilização de recursos é indicada pelas fai-
xas contínuas. Os períodos de ovipostura são indicados por setas:
A osmorregulação, ou seja, a questão do balanço de sais nos
as setas pequenas significam múltiplas proles pequenas e as setas
líquidos corporais trata de um dos maiores problemas que os in-
grandes significam uma única prole grande após armazenamento
vertebrados enfrentam considerando sua fisiologia. A fauna mo-
de gametas.
derna está adaptada para três condições dominantes: os ambien-
tes aquáticos marinhos, os ambientes terrestres e os ambientes de
20 Zoologia de Invertebrados II Introdução aos Invertebrados 21
Diapausa
Figura 1.3B – Cladograma: (i) Espécies subanuais, com muitas gerações a cada ano; há uma diapausa reprodutiva, que é um
período de manutenção em um estágio (frequentemente também se dá como ovo, larva ou pupa).
(Adaptado de Barnes, et al.; 1995, p. 156).
(vi) Semélparo com prole terminal única em uma idade que é condicionada
pelo ambiente 2, 3 ou mais anos
1 Ano 1 Ano
C
II ESPÉCIE ANUAL
Figura 1.3C – Cladograma: (iii) Espécies perenes que podem viver por muitos anos e acumulam recursos
nesses períodos, como nas estrelas (iv), que liberam os gametas em episódios anuais (por isso iteróparos), com
sincronicidade nas populações; (v) nas minhocas ocorrem várias pequenas desovas, e sem sincronicidade, pois
esta depende do contato entre os indivíduos; (vi) em algumas espécies perenes, a desova ocorre apenas uma
vez na vida, podendo ser no primeiro ano ou não. (Adaptado de Barnes, et al.; 1995, p. 157).
(ii) Única desova em massa
Quadro 1 - Análise comparativa com síntese das características dos diferentes grupos de invertebrados e sobre as utilidades que podem assumir para o homem.
* Os itens da 6ª coluna são detalhados a seguir.
hematomas;
Utilidade para o homem
ciclagem de nutrientes;
de enriquecimento orgânico.
alguns moluscos e crustáceos;
Resumo
A história evolutiva dos seres vivos é relativamente bem conhe-
cida e os invertebrados são elementos importantes para o entendi-
mento dessa história. Os eumetazoários reúnem-se em dois gran-
des agrupamentos de organismos, baseados no desenvolvimento
embrionário: os protostômios e os deuterostômios. Os inverte-
brados apresentam elevada diversidade morfológica e são adapta-
das as diferentes condições ambientais existentes como, os meios
marinhos, terrestres e de água doce. Essas condições ambientais
influenciam nas interações dos invertebrados nos ecossistemas e
as interações ecológicas que ocorrem são fundamentais para a ma-
nutenção da Biosfera.
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed. São
Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
SOARES-GOMES, A.; PITOMBO, F. B.; PAIVA, P. C. Biologia
Marinha. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2009.
VENTURA, C. R. R.; PIRES, D. O. Ciclos de vida de invertebrados
marinhos. In: PEREIRA, R.C.; SOARES-GOMES, A. (Orgs.).
Biologia Marinha. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Interciência, 2009.
p. 71-92.
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Filo Moluscos
Os moluscos são animais muito populares. Você já perce-
beu a ocorrência de caracóis em jardins. Da mesma forma,
quem nunca viu uma imagem de um polvo com todo aque-
le movimento estranho e mudança de cores inacreditáveis?
Para compreender a dinâmica e morfologia desses animais é
essencial que você conheça a história evolutiva das conchas,
e as características desses esqueletos nos grupos modernos de
moluscos. Também é interessante conhecer a estrutura e fun-
ção do pé e do manto nas diferentes classes.
Filo Moluscos 29
2.1 Introdução
Os moluscos são animais que possuem uma diversidade mor-
fológica fascinante, os caracóis, lesmas, mexilhões, polvos e lulas
são exemplos familiares desse grupo. Apesar das diferenças ób-
vias entre esses animais, todos compartilham várias característi-
cas básicas. Os moluscos têm uma longa história evolutiva e, gra-
ças às conchas calcárias que se preservam facilmente, podemos
verificar um rico registro fóssil desde o Cambriano. Como diz o
nome [molluscus no latim = mole], são animais de corpo mole,
cujo revestimento principal é chamado manto. A maioria apresen-
ta uma concha calcária externa com função protetora, constituída
por uma placa plana ou globosa, duas valvas ou apenas espículas
dérmicas, com grande variedade de cores, formas e tamanhos. As
conchas das lulas são reduzidas e internas, ou seja, dentro da mas-
sa muscular e tem forma de uma pena. As conchas são secretadas
por áreas específicas no manto. O corpo de um molusco genera-
lizado não é segmentado e apresenta 3 partes: cabeça, pé e massa
visceral. A partir desse modelo, existem muitas variações, modi-
ficações de forma no plano corporal básico. A partir da seção 2.3,
estudaremos as características específicas de cada classe. O quadro
2 apresenta uma síntese das características das classes de molus-
cos. Os moluscos modernos somam cerca de 100 mil espécies. To-
dos os grupos de moluscos apresentam representantes marinhos,
no entanto bivalves e gastrópodos também apresentam espécies
de água doce e apenas esses últimos tem representantes terrestres.
30 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 31
Figura 2.1 – Esquema de molusco generalizado: (A) vista lateral; (B) figura esquemática de um corte transversal na Figura 2.2 – Desenho esquemático das conchas dos gastrópodos.
altura da cavidade branquial. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 325). (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 346).
32 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 33
2.2.3 Sistemas de transportes internos Os cílios fazem a água circular para otimização das trocas gasosas e
filtração de partículas em suspensão na água. O sistema nervoso é
O celoma do molusco generalizado é reduzido em uma cavida-
composto por um anel anterior que circunda o esôfago, e dois pares
de pericárdica e gonocele (Figura 2.1), pois contém o coração e as
de cordões nervosos longitudinais: um par atende a massa visceral
gônadas, respectivamente. Uma pequena parte do intestino tam-
e o outro se estende pelo pé, como cordões nervosos ventrais.
bém passa pela cavidade pericárdica. As trocas gasosas dos mo-
luscos aquáticos são sempre branquiais. O molusco generalizado
possui vários pares de brânquias (ou ctenídios). Nos gastrópodos Ctenídios 2.2.5 Reprodução e desenvolvimento
São as brânquias dos
terrestres a cavidade palial funciona como pulmões. O sistema cir- moluscos com forma No molusco generalizado a regra é o modelo dioico gonocórico,
culatório é dotado de um coração dorsal, o qual recebe o sangue semelhante a um pente. ou seja, sexos separados com liberação de gametas na água, fe-
oxigenado que vem das brânquias. Os moluscos possuem uma Rádula cundação externa e desenvolvimento indireto da trocófora planc-
placa dentária chamada rádula (Figura 2.10 adiante) para raspar Estrutura que se situa na tônica, que é uma larva livre natante. Uma forma larval alternati-
base da cavidade bucal dos
e se alimentar de algas e outros pequenos organismos sésseis. A moluscos (exceto no caso dos va e exclusiva de moluscos é a véliger. Alguns grupos apresentam
porção mais anterior do intestino seleciona as partículas nutritivas bivalves) e com a qual estes sistema reprodutor mais elaborado para fecundação interna. Os
através do saco do estilete cristalino, que é secretor de enzimas raspam o seu alimento.
gastrópodos terrestres são hermafroditas.
digestivas e muco, e também faz a seleção do material que não é Tiflossole
interessante para a alimentação. O tubo digestório dos moluscos Dobra da parede do
intestino.
pode apresentar glândulas salivares, cecos digestivos e tiflossole 2.3 Classe Aplacóforos
para ampliar a área de absorção. O ânus abre-se na porção mais
posterior, na cavidade do manto. A excreção dos moluscos é feita Os aplacóforos formam um grupo pequeno de animais vermi-
por metanefrídios. Cada metanefrídio possui um ducto com duas formes marinhos. Vivem principalmente em grandes profundida-
aberturas: uma para a cavidade pericárdica, chamada nefróstoma, des, mas existem espécies de águas rasas. A maioria são formas
de onde o metanefrídio retira as excretas, e outras para o poro ex- diminutas, com menos de 5 mm. Não possuem concha, mas a epi-
cretor, chamado nefridióporo, por onde saem as excretas. derme apresenta espículas calcárias; o pé é reduzido (Figura 2.3).
Alguns moluscos terrestres possuem um órgão excretor chama- Considerando a evolução do grupo, estes não são ancestrais. Sua
do rim, o qual se abre na cavidade pericárdica através do canal biologia ainda não é muito conhecida.
renopericardial e secreta urina, após um complexo processo de
transporte interno. Espécies de água doce e terrestres necessitam Espículas
fazer a osmorregulação.
Boca
mimetismo; importante
muitas ornamentações.
molusco generalizado.
chamados captáculos.
mudanças de cores e
Tentáculos de coleta
Bentônicas abissais.
Forma diferente do
hermafroditas; alta
plano corporal do
diversidade nos
Cromatóforos,
para a pesca.
Terrestres
Popularmente chamados de quítons, são moluscos marinhos
Especiais
oceanos.
que habitam principalmente substratos rochosos, e em alguns lo-
cais podem apresentar elevada densidade populacional. Sua estru-
tura geral é similar à do molusco generalizado. As diferenças mais
importantes dizem respeito à concha, formada por 8 placas que
segmentação; estilete
Possuem ctenídios ou
Abertura menor da
com evidências de
Olhos muito
brânquias.
complexa.
cristalino.
cefálica é claramente separada do tronco (Figuras 2.4 e 2.5). As
Outras
Dentro da concha
Sobre o pé e sob
Sobre o pé e sob
Sobre o pé e sob
e na concha dos
sofre rotação de
Envolta pelo
sensorial, situado no tegumento das valvas. As demais caracterís-
as conchas.
as conchas
náutilos.
Visceral
tubular
Massa
Grande e cavador.
pode ocorrer um
Ventral e amplo.
Ventral e amplo.
Ventral e menor
No lado ventral
Modificado em
poliplacóforos.
sulco pedal.
do que em
Revestimento ocorre
Similar ao molusco
Similar ao molusco
Revestimento com
espécies terrestres.
cavidade funciona
dentro da concha
como pulmão nas
cavidade ampla.
Modificado com
generalizado.
rudimentar.
tubular.
plana ou reduzida.
calcárias dorsais.
Concha ausente;
Concha única
cilíndrica.
reduzida.
Concha
Gastrópodos
Escafópodos
Cefalópodos
Aplacóforos
Classes
Boca Boca
Abertura inalante
Concha
Cinturão do manto Pé
Cavidade do manto Cavidade do
manto
Manto
B
Brânquia
Brânquias
Câmara inalante
Pé A
Câmara exalante
Ânus
Gonóporo
Abertura exalante Nefrídio
Nefridióporo Tentáculos Músculos retratores Concha
pós-orais do pé
Ânus
Gônada
Figura 2.4 - Vista ventral de um poliplacóforo, um quíton. As setas indicam o caminho Cavidade do
da água. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 336). Músculos retratores Brânquia manto
Nefridióporo
Véu Pé Brânquia do pé
C D Pé
Glândula esofágica Figura 2.6 - O monoplacóforo Neopilina: (A) vista ventral; (B) vista dorsal da concha; (C) esquema da organização interna
Estômago em vista lateral; (D) detalhe da cavidade do manto e organização interna. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 342).
esquerda
Ceco digestivo
Esôfago Região anterior do intestino
Valva ou Concha Aorta dorsal
Gônada
Cavidade pericárdica (similares ao molusco generalizado, com aspecto ancestral e, por
Cavidade bucal
Ventrículo
isso, classificam-se na Classe Arqueogastrópodos). Os demais gas-
Glândula salivar esquerda trópodos têm concha espiralada, de modo que o corpo do molus-
Átrio esquerdo
Anel nervoso co se encaixa dentro da concha (ver exemplos conforme Figuras
Ânus
2.2, 2.7, 2.8 e 2.14 adiante). Além da torção do corpo, para man-
Cinturão do manto Região posterior terem-se dentro da concha apresentam uma forte musculatura. O
Boca do intestino animal pode recolher-se dentro da concha como forma de escapar
Pé Nefridióporo esquerdo
Rádula e odontóforo Nervo Gonóporo esquerdo do ataque de predadores ou para tolerar condições ambientais ad-
pedioso
Saco sub-radular Saco radular Nefrídio esquerdo versas, fechando-a com um opérculo (Figura 2.7). Nos trópicos,
Órgão sub-radular Válvula intestinal comunidades nativas utilizam diferentes espécies de gastrópodos
nas suas dietas; entretanto, no Brasil aparentemente há poucas es-
Figura 2.5 - Esquema da organização interna de um poliplacóforo. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 336). pécies com importância econômica.
38 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 39
Pênis
Cabeça Cavidade bucal Flagelo Saco do quadro
Esôfago Glândula secretora de muco
Estômago Colarinho do manto Gânglio cerebral
Aorta Ânus Gânglios pleural-parietal
visceral fundidos
Ventrículo Gânglio bucal
Átrio
Nefridióporo
Cavidade do Reto
Brânquia Tentáculo oculífero
manto
Ânus Ureter
A Pé B
Saco da rádula Oviduto
Plexo pulmonar
180 o Músculo Duto espermático
Concha columelar
Estômago Esôfago Papo Duto da bolsa copulatória
Massa visceral Cavidade do manto
Intestino Glândula
Esôfago Ânus salivar
Opérculo
Brânquia Nefrídio
Cabeça Cavidade do manto Átrio
Ventrículo Estômago
Tentáculo Brânquia
cefálico Esôfago (região posterior)
Osfrádio
Boca Pé Ceco digestivo Bolsa copulatória
C D Osfrádio Câmara de fecundação
Gônada
Duto hermafrodita
Figura 2.7 - Gastrópodo marinho mostrando a organização interna, posição da concha e processo da torção. (A) e (B) representam a Glândula do albúmen
vista dorsal, (C) e (D) a vista lateral. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 347). Pé
Figura 2.9 - Gastrópodo terrestre em dissecção dorsal (concha removida), com vista da organização interna. (Adaptado de
Boca Ruppert et al.; 2005, p. 371).
Probóscide
Figura 2.8 - Gastrópodo marinho: (A) vista do animal inteiro, com concha; B) vista da organização interna após a dissecção.
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 345).
40 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 41
POSTERIOR
Esôfago
Celoma percárdico
Corcova visceral
Glândula digestiva
Cavidade bucal
Coração sistêmico
Gonocele
Gônada
Ceco
Membrana radular
Estômago
Dentes da rádula
Sifúnculo
Retrator da rádula
Gonóporo
Boca
Gonoduto
Retrator do odontóforo
Intestino
Protrator da rádula Protrator do odontóforo
A
Ligamento da brânquia
Saco da tinta
Manto
branquial
Concha
Coração
Gânglio estelar
Figura 2.12 - Esquema da organização interna, em vista lateral, de uma lula. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 399).
Rádula
B
Brânquia
DORSAL
D
Nefridióporo
Gânglio pleurovisceral
Manto
Esôfago
Estatocisto
Ânus
Gânglio pedioso
C
do manto
Cavidade
sifão inalante
Borda do
Figura 2.10 - Funcionamento da rádula: (A) esquema da abertura bucal com visão da rádula, saco radular e odontóforo;
(B) esquema da rádula sendo protraída da cavidade bucal; (C) esquema dos dentes da rádula tocando o substrato; (D) detalhe
mostrando o efeito de cada dente no ato de raspagem da superfície alimentar. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 328).
Crânio
inalante
Válvula
Gânglio cerebral
Funil
Cabeça
Tentáculo anterior
Tentáculo posterior
Rádula
Gonóporo
Massa bucal
exalante
Válvula
Olho Pneumostômio
Cabeça Ânus
A
Manto
Boca
Braço
Mandíbula superior
Mandíbula inferior
Noto (e parte da
massa visceral)
Ventosas
Tentáculo
Figura 2.11 - (A) Desenho esquemático de uma lesma,
ANTERIOR
dos gastrópodos sem concha; (B) Gastrópodo com
concha. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 358).
42 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 43
Figura 2.14 - Vista esquemática da anatomia de: (A) um gastrópodo; B) um cefalópodo. (Adaptado de
Ruppert et al.; 2005, p. 398).
44 Zoologia de Invertebrados II Filo Moluscos 45
Brânquia
Saco de estilete B
cristalino Demibrânquia externa
Intestino Pé Demibrânquia interna Figura 2.17 - (A) Esquema da morfologia de um bivalve teredinídeo; (B) radiografia com vários indivíduos perfuradores de
madeira. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 460).
Gônada
B Ligamento da
Celoma
pericárdico
charneira
Ventrículo DORSAL Gânglio Concha
Câmara Eixo pleural Saco da rádula Estômago Pavilhão
Figura 2.15 (acima) - Organização interna de Probóscide Mandíbula Manto Gônada do manto
exalante Intestino Cavidade Esôfago
bivalves: (A) concha direita com as brânquias Captáculo Gânglio bucal
Átrio cerebral Intestino Abertura
cobrindo a massa visceral; (B) brânquias Lamela Boca posterior
Intestino e
removidas, com o tubo digestório à vista. descendente saco do Lobo circular
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 427). estilete do pé
Lamela POSTERIOR
Intestino
ascendente ANTERIOR
Massa Cavidade do
visceral Abertura anterior manto (posterior)
Demibrânquia Gânglio Ceco digestivo
externa pedioso Cavidade do Nefrídio
Pé manto (anterior)
Crista ciliarNefridióporo
Demibrânquia Concha Pé Gânglio Rádula pré-anal Ânus
interna Manto pedioso
Lobo do Estatocisto Odontóforo Gânglio visceral
Figura 2.16 ( à direita) - Corte transversal Câmara manto VENTRAL
de bivalve lamelibrânquio. (Adaptado inalante
de Ruppert et al.; 2005, p. 428). Margem do manto
Figura 2.18 - Esquema da morfologia interna de um escafópodo. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 471).
46 Zoologia de Invertebrados II
Resumo
Os moluscos são invertebrados bilaterais, protostômios esqui-
zocelomados e hiponeuros. Apresentam uma concha calcária. A
maior diversidade morfológica do grupo é observada nos ecossis-
temas marinhos. Os moluscos apresentam um plano corporal uni-
forme com grande variação morfológica nos grupos modernos,
dessa forma as características do pé, da concha e do manto são
fundamentais para a identificação desses organismos. O estudo da
história das Relações Filogenéticas é muito conhecido, pois os fós-
seis de conchas são muito abundantes. Devido à grande importân-
cia econômica os moluscos são cultivados no mar e representam
uma fonte de alimento muito promissora.
Referências
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
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Os Vermes Celomados - Filos
Equiúros, Sipúnculos e Anelídeos
Poliquetos
Esse capítulo tem como objetivo caracterizar o grupo dos
vermes celomados (esquizocelomados protostômios), princi-
palmente pelas suas afinidades anatômicas e por comparti-
lharem o habitat de fundos moles marinhos. Serão abordados
diferentes aspectos da biologia enfocando o papel ecológico
desses organismos no ambiente bentônico e nas cadeias ali-
mentares marinhas.
Os Vermes Celomados - Filos Equiúros, Sipúnculos e Anelídeos Poliquetos 51
3.1 Introdução
A palavra “verme” foi utilizada pela primeira vez por Haeckel
em 1866, na proposta de “Árvore Filogenética” do Reino Animal.
O grupo dos Vermes foi criado para reunir todos os animais inver-
tebrados que eram muito mais longos do que largos. Constituíram
um grupo artificial de animais sem relações filogenéticas claras,
apenas as semelhanças da forma geral do corpo os reuniam.
Os filos pertencentes a esses invertebrados são pouco familiares,
compartilham várias características anatômicas, como por exem-
plo, uma cavidade do corpo ou cavidade celomática verdadeira,
Esqueleto hidrostático todos são bentônicos e vivem nos substratos marinhos. Com o uso
Estrutura corporal formada
por músculos da parede do
da musculatura da parede do corpo associada à pressão do líquido
corpo e pressão dos líquidos celomático, produzem um esqueleto hidrostático para escavação
das cavidades corporais.
dos sedimentos marinhos. As ondas de contração muscular pas-
Detritívoros sam pelo corpo alongando e, contraindo alternadamente regiões
Organismos que se
alimentam de detritos ou
de segmentos, ajudam o animal a deslocar-se, escavar galerias, re-
partículas residuais de alizar trocas gasosas e eliminação de excretas no caso das espécies
origem orgânica. tubícolas. Os vermes celomados possuem um importante papel
Celoma nas cadeias alimentares marinhas: são detritívoros e transformam
Cavidade do corpo dos a matéria orgânica. Como habitantes do fundo do mar podem ser
animais triploblásticos,
revestida pelo peritônio de ingeridos por algum peixe predador, ou seja, sua energia e biomas-
origem mesodérmica. sa passam para níveis tróficos superiores.
A condição celomada de construção do corpo já foi tratada
anteriormente na Disciplina de Zoologia I, no caso da rincoce-
le de nemertinos. Um celoma espaçoso representa um ganho de
funcionalidade, especialmente no que diz respeito à eficiência do
52 Zoologia de Invertebrados II Os Vermes Celomados - Filos Equiúros, Sipúnculos e Anelídeos Poliquetos 53
transporte interno. Entenda-se por transporte interno, as vias de nos vermes celomados é o funcionamento do mecanismo de esca-
circulação de materiais, sejam gases das trocas gasosas ou produ- vação dos fundos marinhos e o papel ecológico desses animais nas
tos e subprodutos do metabolismo. A cavidade do corpo verdadei- cadeias alimentares marinhas.
ra (ou euceloma) originada da mesoderme ocorre de duas formas:
origem esquizocélica e origem enterocélica. Os vermes celomados
Probóscides versus Introvertes quetos, a faringe eversível torna-se uma introverte,
de que trata o presente Capítulo apresentam o meio de formação
pois a boca está contida nessa estrutura, a qual pode
do celoma como “fendas” (= esquizo) das massas de células me- Em alguns grupos de invertebrados, é comum ocor-
ser evertida de dentro do tronco. O alimento obtido é
rer um órgão acessório ou um prolongamento ever-
sodermais que surgem durante o desenvolvimento embrionário sível do tubo digestivo, que se torna funcional no ato
ingerido através da introverte, que contém a porção
(Figura 3.1). Esquizo e enterocelomados apresentam a cavidade mais anterior do tubo digestivo. No caso de Equiúros,
da ingestão de alimentos. Em Nemérteos, a probósci-
a porção mais anterior chama-se prostômio (Figuras
celomática delimitada por membrana própria, também de origem de everte-se e pode ser retraída em cavidade própria,
3.4 e 3.6), pois é uma parte do corpo situada à frente
mesodermal, chamada peritônio. Os enterocelomados serão tra- ou seja, não é associada ao tubo digestivo. Em Poli-
da boca.
tados com mais detalhes no Capítulo XII. Cerdas
Peças duras de origem
Os vermes celomados sipúnculos (Figuras 3.2 e 3.3) e equiúros epidérmica, feitas de
(Figuras 3.4 e 3.5) apresentam poucas espécies, entretanto os po- escleroproteína e quitina. A
3.1.1 Revestimento e sustentação
principal função das cerdas é
liquetos, do Filo Anelídeos (Figuras 3.6, 3.7 e 3.8 adiante), são dar tração ao verme quando
muito diversificados, com mais de 10 mil espécies descritas. Os este se desloca pelo fundo Todos os vermes celomados possuem o revestimento externo
sipúnculos e os equiúros não são segmentados. Por outro lado, os
do mar. do corpo composto por uma cutícula de origem epidérmica. A
equiúros e os poliquetos se assemelham por apresentarem cerdas Tagmatização estrutura da parede do corpo das diversas espécies desse grupo
epidérmicas (Figura 3.4). Os poliquetos apresentam o tronco seg- Fusão de grupos de varia no arranjo da musculatura, como respostas adaptativas para
segmentos com o objetivo
mentado com maior ou menor grau de regionalização ou tagma- de desempenhar funções
os variados modos de vida. O esqueleto hidrostático é importante
tização, característica que diferencia esse grupo dos sipúnculos e diferentes na vida dos para a sustentação do corpo, tanto nas espécies escavadoras como
animais, tais como: nas espécies com hábitos sedentários tubícolas.
equiúros. Mais características que os vermes celomados comparti- locomoção, captura da
lham: são bilaterais, esquizocelomados, protostômios, hiponeuros presa, filtragem do alimento,
sensibilidade a vários tipos
com introverte, faringe eversível ou probóscide no início do tubo de estímulos, troca gasosa,
3.1.2 Locomoção
digestivo, clivagem espiral e larva trocófora. O grande destaque copulação, entre outras.
A maioria dos vermes celomados é sedentária, entretanto alguns
possuem pouca mobilidade no fundo do mar. Entre os vermes ce-
lomados, os poliquetos se destacam por apresentarem movimen-
Cavidade da
Parapódios
LARVA
Apêndices segmentares tos muito rápidos no fundo do mar usando parapódios, e existem
TROCÓFORA cabeça
carnosos de poliquetos, poucos nadadores do plâncton. As cerdas existentes ao longo do
laterais, que levam as cerdas
Protostômio/Espiral
Mesênquima
Boca e que podem ter a forma de corpo dos vermes são estruturas duras que dão a tração para o
Cavidades
Protonefrídio Proctodeu
celômicas remos. deslocamento nos sedimentos marinhos.
Banda
{
Ânus Faringe
mesodémica Esquizocele Porção anterior do
POLYCHAETA Blastóporo Teloblasto Teloblasto LARVA tubo digestório dos
3.1.3 Sistemas de transportes internos
Mesentoblasto
DESENVOLVIDA poliquetos, que pode ser
evertida durante o ato da O tubo digestivo é completo, se diferenciando nas diversas famí-
alimentação; apresenta lias, alguns são mais regionalizados que outros devido a diferentes
Figura 3.1 - Sequência de desenvolvimento embrionário e formação dos esquizocelomas de um poliqueto. formas variadas, dotada
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 251). ou não de dentes e
dietas alimentares. A porção anterior do tubo digestivo, ou farin-
ornamentações. ge, pode ser evertido como uma introverte. Os poliquetos podem
54 Zoologia de Invertebrados II Os Vermes Celomados - Filos Equiúros, Sipúnculos e Anelídeos Poliquetos 55
apresentar vários graus de modificação da região cefálica adaptados 3.2 Filo Sipúnculos – Estrutura Geral
para a alimentação, os detritívoros seletivos e filtradores possuem
tentáculos; algumas espécies são predadoras e muitas são onívoras.
As trocas gasosas são realizadas na maioria das vezes pelo tegumen- Tentáculos
Escudo caudal
3.1.4 Sistemas sensorial, nervoso e endócrino
O aparato sensorial externo é mais visível nos poliquetos, em Figura 3.2 - Três tipos morfológicos de sipúnculos. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 574).
grupos nos quais esse aparato é pobre toda a parede do corpo pode
receber os estímulos ambientais. Algumas espécies de poliquetos
Boca
apresentam manchas ocelares. Um órgão quimioreceptor chama- Disco oral Vaso contrátil
Órgão nucal Celoma tentacular Epiderme
do órgão nucal, pode estar presente. Na maioria, os estatocistos Órgão quimiossensorial Cérebro Ocelo Musculatura circular
são responsáveis pelo equilíbrio. O modelo básico do sistema situado na borda posterior do Musculatura longitudinal
prostômio dos poliquetos. Vaso contrátil
nervoso é um anel nervoso anterior com conectivos perifaringe- Peritônio
anos e um cordão nervoso ventral longitudinal de onde partem Celoma do tronco
terminações responsáveis pelas ações e reações desses animais. As Ânus Esôfago
neurossecreções são hormônios que controlam o crescimento e o
Musculatura retratora
processo reprodutor. Metanefrídio
Cordão nervoso
3.3 Filo Equiúros – Estrutura Geral 3.4 Classe Poliquetos (Filo Anelídeos) – Estrutura Geral
Prostômio
Cirros
Antena
tentaculares
Prostômio
Prostômio
Palpo
Cerda em Olho Tentáculos
gancho Cirros tentaculares
Figura 3.4 - Tipos morfológicos com indicação
das principais regiões do corpo. O círculo Parapódio Peristômio Palpo
Tronco pontilhado indica um macho (da mesma
espécie da fêmea à esquerda, no centro da B Boca
figura) de tamanho reduzido. (Adaptado de Peristômio
Ruppert et al.; 2005, p. 567). Vaso dorsal
Círculo septal IV III
Cordão nervoso
Nefróstoma
Vaso sanguíneo Mandíbula
Septo Esôfago
Glândulas mucosas
Saco setígero Metanefrídeos
Cílios
Sacos genitais
Trato digestivo C Faringe evertida
anterior Seio hemal Celomócito
Vaso sanguíneo mediano dorsal
Vaso sanguíneo ventral Celoma do tronco
Sifão Gameta
Peritônio
Intestino
Intestino
Vaso ventral
Sifão
Cordão nervoso Celoma do tronco Vaso lateral
Musculatura longitudinal
Gameta
Vaso Musculatura circular
Gônoda sanguíneo Epiderme A
ventral Cordão nervoso
Saco anal
Figura 3.6 - (A) Anatomia de poliquetos nereidídeos, em vista dorsal dissecada; (B) Cabeça em vista lateral; os números
Sistema digestivo posterior romanos referem-se aos segmentos. (C) Cabeça em vista lateral com faringe (probóscide) evertida. (Adaptado de
Ruppert et al.; 2005, p. 494).
Cloaca
Ânus
Figura 3.5 - Esquema de morfologia interna de equiúros em cortes transversais. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 570).
58 Zoologia de Invertebrados II Os Vermes Celomados - Filos Equiúros, Sipúnculos e Anelídeos Poliquetos 59
Resumo
Brânquia
Episfera
Prototróquio Tronco
segmentado
Metatróquio
Boca
Neurotróquio
Protonefrídio
c a p í t u lo 4
Os Clitelados - Os Anelídeos
Oligoquetos e Hirudíneos
Nesse capítulo você entenderá o sistema hermafrodita dos
clitelados, bem como as questões populacionais e evolutivas
relacionadas com o modelo monoico de reprodução. Você
também compreenderá os aspectos ecológicos envolvidos na
dieta hematófaga das sanguessugas e no trabalho das minho-
cas na escavação dos solos.
Os Clitelados - Os Anelídeos Oligoquetos e Hirudíneos 63
4.1 Introdução
Os clitelados compõem outro grande grupo de anelídeos e in-
cluem as minhocas (oligoquetos) e as sanguessugas (hirudíneos).
São organismos vermiformes de corpo mole, dotados de muita
movimentação. A base morfológica externa dos clitelados é um
tronco segmentado de anelídeos, sendo que nas sanguessugas há
mais variações, principalmente devido à formação de ventosas.
Para o processo de alimentação e digestão as sanguessugas dis-
põem de adaptações anatômicas e fisiológicas. A segmentação da
maioria dos oligoquetos é completa, com septos intersegmentares;
apenas nas sanguessugas a cavidade do corpo é única, ou seja, não
Ventosas
Estrutura circular, muscular, ocorrem septos intersegmentares. Os clitelados não apresentam
que tem função de fixação muitos apêndices sensoriais e nem locomotores; oligoquetos pos-
e locomoção e representa
fusão de segmentos
suem poucas cerdas. As sanguessugas apresentam número fixo de
anteriores e posteriores. segmentos e não possuem cerdas. Os clitelados são anelídeos que
compartilham uma característica interessante: são hermafroditas,
Cerdas
Estrutura quitinosa de mas sem autofecundação.
origem epidérmica dos
anelídeos, presentes apenas O nome “clitelados” é originado da presença de um clitelo. Nos
nos oligoquetos. oligoquetos maduros sempre é possível visualizar o anel esbran-
Clitelo quiçado, ou clitelo. Nos hirudíneos, esse só aparece na época da
Segmentos mais espessos reprodução. O sucesso do hermafroditismo das minhocas terres-
do corpo de certos
anelídeos, cuja função
tres é ligado às limitações impostas pelo ambiente, além do fato de
é secretar um material haver necessidade do encontro de dois vermes para estes procede-
viscoso para a cópula e que rem à reprodução, esse encontro pode ser dificultado por questões
forma o casulo no qual são
depositados os óvulos. de baixas densidades populacionais.
64 Zoologia de Invertebrados II Os Clitelados - Os Anelídeos Oligoquetos e Hirudíneos 65
As trocas gasosas são tegumentares na maioria das espécies. A A reprodução das minhocas ocorre em várias etapas: a) cópula
circulação é fechada em vasos e com “corações” nas grandes mi- cruzada para transferência de espermatozoides (Figura 4.3a); b)
nhocas; nas sanguessugas o sistema é hemocelômico e a hemoglo- individualização com cada indivíduo levando uma carga de es-
bina está presente em ambos os grupos. A excreção se dá por meio permatozoides em espermatecas; c) secreção do casulo no clitelo,
de muitos metanefrídeos. O sistema nervoso é um conjunto de através de glândulas mucosas da epiderme; d) liberação do óvulo
gânglios cerebrais ligados a um cordão nervoso ventral sob o tubo para dentro do casulo; e) deslizamento do casulo com óvulos para
digestivo, com muitas terminações para todas as partes do corpo, cima das aberturas das espermatecas; f) liberação dos esperma-
como papilas sensoriais dorsais. tozoides no casulo para fecundação dos óvulos; g) liberação do
casulo no ambiente para desenvolvimento dos embriões; h) desen-
volvimento direto, ou seja, juvenis saem do casulo (Figura 4.3b).
4.2 Os Oligoquetos – Estrutura Geral
Nas minhocas terrestres o esqueleto hidrostático atinge a maior
Húmus
eficiência. A separação dos celomas segmentares (Figura 4.2) pro- Produto da defecação das
picia a formação de ondas de peristaltismo que são responsáveis minhocas, um material Cavidade bucal
pela locomoção e escavação (Figura 4.1). A atividade de escavação fertilizante com propriedades Musculatura Peritônio Prostômio
Gânglio cerebral
coloidais, que auxilia no uso longitudinal Vaso dorsal
dos solos proporciona a drenagem e aeração, além da fertilização e na conservação dos solos. Celoma Faringe
Musculatura circular
devido à produção do húmus. A morfologia externa é simplificada Epiderme Tecido cloragógeno Músculos
faríngeos
e a questão mais importante do grupo é o hermafroditismo. Cutícula Tiflossole Segmento 5
Intestino Vaso sanguíneo
Esôfago dorsal
Cerda Vaso circum- Septo
esofágico
(coração) Nefrídio
Receptáculo seminal Glândula
Testículo calcífera
Funil seminal
Vesícula
Bexiga Ovário seminal
Axônios Funil do
Nefridióporo Duto
gigantes oviduto
Nefróstoma espermático
Axônios dorsais Ovissaco
Vaso neural lateral Cordão
gigantes Papo
nervoso Segmento 15
Vaso subneural ventrais
ventral
A
10 cm
Moela
Intestino
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
s
B
Figura 4.1 - Esquema do funcionamento do esqueleto hidrostático em oligoquetos. Os segmentos Figura 4.2 - Os oligoquetos: (A) desenho esquemático de uma seção do corpo; (B) vista dorsal dissecada mostrando a organização
marcados com pontos maiores estão sofrendo contração da musculatura longitudinal, formando interna. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 535).
uma onda de peristaltismo. A consequência do processo é o avanço da minhoca. (Adaptado de
Ruppert et al.; 2005, p. 534).
66 Zoologia de Invertebrados II Os Clitelados - Os Anelídeos Oligoquetos e Hirudíneos 67
V Boca
I
Posição das
mandíbulas V
Gonóporo
masculino Faringe X Faringe protraível
Musculatura
radial
Casulo sendo formado
no clitelo
B X Glândula
salivar
XV
Papo
Duto ejaculatório
Ovário Testículo
Seio dorsal XV
Casulo
Ceco gástrico
XX Vesícula seminal
Intestino XX
Figura 4.3 – (A) Reprodução em oligoquetos mostrando duas formas de ocorrer a cópula
cruzada. (B) Reprodução em oligoquetos: Sequência do processo de liberação do casulo Ceco intestinal
no ambiente. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 542).
Reto
XXV XXV
Reto
4.3 Os Hirudíneos – Estrutura Geral
A B
As sanguessugas são vermes hematófagos e ectoparasitas muito
especializados. Suas principais características são: i) a segmentação
corporal, com um número fixo de 33 segmentos em todas as espé- Figura 4.4 - Organização interna de Hirudíneos: (A) Hirudo medicinalis e (B) Glossiphonidae. Os números em romanos
presentes nesta e em outras ilustrações a seguir representam o número de segmentos do corpo apresentado pela figura.
cies e, ii) adaptações anatômicas e fisiológicas do tubo digestório, (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 552).
como as ventosas, glândulas secretoras de substâncias anestésicas
68 Zoologia de Invertebrados II Os Clitelados - Os Anelídeos Oligoquetos e Hirudíneos 69
Espermatozoides
Espermatóforo Espermatozoides
Ovário
D
E F
Figura 4.6 - Reprodução em Hirudíneos: (A) cópula cruzada; (B) casulo; (C) liberação de casulo; (D) espermatóforo; (E)
Glossiphonidae incubando centenas de juvenis na face ventral do corpo; (F) processo de impregnação hipodérmica.
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 555).
c a p í t u lo 5
c a p í t u lo 5
Os Panartrópodos
Nesse capítulo estudaremos a história evolutiva dos panar-
trópodos. Também conheceremos os grupos mais populares
de artrópodos como caranguejos, aranhas, moscas e cento-
peias, com base nas características da regionalização do cor-
po, tipo e distribuição dos apêndices.
Os Panartrópodos 73
5.1 Introdução
Os panartrópodos formam um grande agrupamento de animais
com importantes similaridades anatômicas. O grupo foi criado
para incluir dois filos, os onicóforos e os tardígrados, que possuem
algumas características em comum com os crustáceos, quelicera-
dos, hexápodos e miriápodos, pertencentes ao filo dos artrópodos
(Quadro 3). Vale lembrar que a famosa fauna extinta da “Explosão
Cambriana” foi dominada por artrópodos (Figura 5.1). Quanto a
esse filo, considerando os grupos viventes, eles são os animais com
maior sucesso ecológico do planeta Terra, pois conquistaram os
ambientes terrestres, aquáticos e aéreos. Somam mais de três quar-
tos de todos os organismos vivos e fósseis, com mais de 1 milhão
de espécies conhecidas.
Figura 5.1 - Foto de um fóssil pré-
cambriano, gênero Spriggina sp.,
que foi encontrado nas rochas
de Ediacara, na Austrália. Supõe- 5.2 Artrópodo Generalizado
se que esses organismos não
apresentavam partes duras e
Apesar da incrível diversidade, o plano básico corporal é bas-
não há informações sobre a
existência de apêndices. O corpo tante constante nos artrópodos modernos, ou seja, todos são do-
segmentado e a sua semelhança tados de um exoesqueleto duro e apêndices articulados. Esses
com trilobitos chamam à aten-
ção. Atualmente, acredita-se que organismos possuem corpos segmentados, como base ancestral,
seja um grupo de artrópodos. mas apresentam vários padrões de fusão de segmentos, processo
Disponível em: <http://www.
britannica.com/EBchecked/to- chamado tagmose, para formar regiões ou unidades integradas
pic-art/340003/95798/Spriggina- como cabeça, tórax, cefalotórax e abdomes. Os apêndices articula-
fossil-from-the-Ediacaran-Period-
found-in-the-Ediacara>. Acesso
dos podem ser modificados de muitas maneiras, como é o caso das
em: dez. 2009. antenas sensoriais, apêndices locomotores, cavadores, nadadores,
74 Zoologia de Invertebrados II Os Panartrópodos 75
Habilidade de enrolar-se
Anabiose e Criptobiose;
glândulas; repugnantes
a alimentação humana;
estratégia de predação.
Cerdas sensoriais como
de teias ligadas a
processos de transferência de células reprodutivas. Os artrópodos
injetar veneno.
Criptobiose.
dos artrópodos o fato de
Especiais
haver fusão de segmentos apresentam o corpo com formato altamente variável, desta forma,
para formar uma região podemos observar desde animais alongados e vermiformes com
corporal, como por exemplo,
o cefalotórax, comum em tronco formado por muitos segmentos até animais como os ca-
muitos grupos. ranguejos, com corpos globulares, robustos e atarracados. E o que
dizer das cracas? Surpreendentemente, cracas são crustáceos ma-
segmento e quilópodos
sistemática complexa.
similar com fósseis do
produção de venenos
interstícios das areias
rinhos sésseis. Esses animais, quando adultos, têm o exoesqueleto
Alta diversidade no
do fundo do mar.
Grande variação
morfológica e
Cambriano.
Paleozoico.
Asas e voo.
calcificado, composto por várias placas que definem uma forma
com 1 par.
Outras
desenvolvimento indireto
(larva náuplio) e direto (s/
desenvolvimento direto.
desenvolvimento direto.
desenvolvimento direto.
metamorfose; ciclos de
5.2.1 Revestimento e sustentação
vida complexos.
grupos fazendo
espermatóforo.
Dioicos com
Dioicos com
Dioicos com
Dioicos com
Dioicos com
Dioicos com
Ciclo De
indireto.
Quadro 3 – Análise comparativa da anatomia e características especiais dos grandes grupos de panartrópodos.
Vida
Ecdise palmente de quitina e proteína, que pode ser mais ou menos im-
Superfilo Panartrópodos
Processo de eliminação
do exoesqueleto dos pregnada e endurecida por carbonato de cálcio (Figuras 5.2 e 5.4
Filo Artrópodos
possível o crescimento e a
articulados com
articulados com
segmentado.
unirramosos;
unirramosos.
unirramosos.
Apêndices
articulados;
articulados;
articulados;
articulados;
Birramosos.
articulados;
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
garras.
tronco
O mesmo que ‘muda’.
processo também se chama ecdise e, no caso de algumas cigarras
Exúvias de florestas, algumas vezes podemos encontrar as suas exúvias (os
Exoesqueleto antigo,
descartado ao final do antigos exoesqueletos) presas aos troncos das árvores. Os caran-
guejos marinhos também realizam mudas para crescimento, dei-
fina não calcificada;
fina não calcificada.
exoesqueleto duro.
exoesqueleto duro.
exoesqueleto duro.
exoesqueleto duro.
Ausente; tronco
mais ou menos
placas dorsais.
exoesqueleto
segmentado;
dos artrópodos.
calcificado.
Presente;
Presente;
Presente;
Ausente;
5.2.2 Locomoção
O exoesqueleto duro dos artrópodos faz com que toda a estru-
glândulas orais; 1 par de
de mandíbulas; 1 par de
1 par de antenas; 1 par
mandíbulas e maxilas;
em quelíceras; olhos
um par de antenas e
Vários cirros e clavas
olhos do tipo direto.
antenas modificado
2 pares de antenas,
labro ventral; olhos
sensoriais; 1 par de
Reduzida; 1 par de
mandíbulas; olhos
mandíbulas; olhos
Região Cefálica
compostos.
compostos.
compostos.
compostos
Subfilo Trilobitos
Filo Tardígrados
Filo Onicóforos
Quelicerados
Escleritos
Coração
Músculo longitudinal dorsal
Hemocele
Tergito Figura 5.4 - Esquema da articulação intersegmentar;
Protrator observe a dobra da membrana articular ou artrodial,
Músculo do trocanter sob a placa segmentar do exoesqueleto, ou esclerito.
Retrator
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 601).
Membrana artrodial
Extensor
Artículos
Cordão Flexor Região distal do fêmur
Pleurito nervoso
Esternito ventral Membrana artrodial
Músculo longitudinal ventral
Articulação
Figura 5.2 - Desenho esquemático de um corte transversal mostrando o exoesqueleto de um
artrópodo generalizado. As principais placas que revestem os artrópodos são chamadas de
tergitos, pleuritos e esternitos. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 601). Côndilo
Epicutícula
Exocutícula Figura 5.5 - Esquema das articulações entre 3 artículos de um apêndice locomotor de
um inseto, mostrando os côndilos e ligamentos musculares. (Adaptado de Ruppert et
Endocutícula Líquido exuvial
al.; 2005, p. 601).
Epicutícula nova
Epiderme
A B Epicutícula
Linha de fratura Procutícula
Líquido exuvial Epiderme
Epicutícula e
exocutícula novas
Epiderme
CC DD
Figura 5.3 - Esquema das etapas do processo de muda nos artrópodos: (A) camadas do
exoesqueleto completamente formadas; (B) ocorre a separação da epiderme e formação da nova
epicutícula; (C) ocorre a digestão da endocutícula e a formação da nova procutícula; em (D) o
animal já pode sofrer a muda, nesse caso ele está com o exoesqueleto velho e o novo já está Figura 5.6 - Esquema de um apódema, os pontos específicos
formado. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 607). de ligação dos músculos com o exoesqueleto dos artrópodos.
Músculo
Apódema (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 601).
78 Zoologia de Invertebrados II Os Panartrópodos 79
cortar, triturar e auxiliar na reprodução. A adaptação ao voo é de 5.2.4 Sistemas sensorial, nervoso e endócrino
fato uma das estratégias de locomoção mais importante dos inse-
O cordão nervoso ventral com cérebro dorsal na cabeça é típico
tos. É importante destacar que a habilidade para o voo ocorre em
de protostômios. O sistema sensorial dos artrópodos é extrema-
apenas uma etapa do ciclo de vida da maioria das espécies aladas.
mente diversificado e vai além de apêndices, dessa forma, ocorrem
cerdas sensoriais, ou “sensilas”, que cobrem grande parte do corpo
5.2.3 Sistemas de transportes internos e que também respondem pela sensibilidade para estímulos me-
O tubo digestório inicia-se na boca, em uma cabeça bem defi- cânicos e químicos. O sistema neuromotor é dotado de diferentes
nida, e termina no ânus posterior, no télson (Figura 5.7). O reves- arranjos de neurônios e fibras para atender variados estímulos e
timento das porções mais anteriores (ou estomodeu) e posteriores executar diversos tipos de movimentos. Os olhos dos artrópodos
(ou proctodeu) do tubo digestório são feitas por ectoderme. O in- são do tipo olho composto; como o nome sugere, ele é composto de
testino mediano é de origem endodermal. A cavidade celomática unidades chamadas omatídeos, todos cobertos por uma lente cha-
(ou hemocele) é muito pequena em alguns órgãos, como nas gô- mada córnea. Também ocorrem muitos tipos de manchas ocelares.
nadas e nos órgãos de excreção. O sistema circulatório possui um No sistema endócrino, os hormônios ativadores e inibidores do
coração dorsal com aberturas chamadas óstios, por onde o sangue desenvolvimento gonadal são conhecidos em camarões sendo que
circula livremente para o espaço entre os órgãos e a parede do cor- são secretados em glândulas no pedúnculo ocular. Os processos de
po, ocupado por uma hemocele. O oxigênio e o dióxido de carbo- acasalamento tanto em formas terrestres como marinhas, são indu-
no são trocados em áreas específicas como brânquias, nos grupos zidos por hormônios que garantem o sucesso das estratégias. Nos
aquáticos, pulmões tubulares (traqueias de insetos) ou lamelares insetos sociais, também são os hormônios que garantem a estabili-
(como “livros” das aranhas). A distribuição de gases e nutrientes é dade, funcionamento e produtividade das colônias e colmeias.
feita na hemocele que contribui com parte do transporte interno.
A hemolinfa possui hemocianina como pigmento respiratório. A Hemocele 5.2.5 Reprodução e desenvolvimento
Celoma reduzido, cavidade
excreção é feita por metanefrídios que recebem vários nomes nos do corpo formada por A maioria dos grupos pertencentes aos artrópodos são dioi-
diferentes grupos: como glândulas antenais, ou como os túbulos de uma expansão do sistema
sanguíneo. cos. A cópula e a fertilização interna são características comuns
Malpighi dos grupos terrestres, que podem ter órgãos adicionais.
nestes organismos, sendo que vários apêndices estão envolvidos
no acasalamento e transferência de espermatozoides. A clivagem
Antena é espiral. Existem casos de incubação de juvenis e ciclos de vida
Óstio
Coração complexos, com formas larvais e com estágios imaturos, podendo
Cérebro
Cordão nervoso
ser de hábitos muito diferentes dos adultos. Poucas espécies são
Télson
hermafroditas, como as cracas, e ocorrem algumas espécies que
Olho composto realizam criptobiose e partenogênese.
Figura 5.7 - Esquema do corpo de um artrópodo em corte sagital. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 601).
80 Zoologia de Invertebrados II
Resumo
Os panartrópodos são invertebrados bilaterais, protostômios
esquizocelomados, hiponeuros, segmentados e com cutícula en-
durecida, que sofrem mudas ao longo do crescimento. Apesar da
grande diversidade morfológica, vários grupos são conhecidos
apenas como fósseis. Os artrópodos têm uma história evolutiva
muito antiga, alguns táxons superiores ocorreram na fauna da “ex-
plosão de diversidade marinha cambriana”. Além, é claro, da longa
história dos trilobitos na era paleozoica, presentes com milhares
de espécies, por vários milhões de anos nos oceanos ancestrais. Os
grupos modernos estão presentes em todos os ecossistemas ter-
restres, marinhos e de água doce. O sucesso no meio terrestre se
dá devido à presença do exoesqueleto impermeável, que evita a
desidratação. A importância dos artrópodos para o homem está
relacionada às questões de saúde pública, além da enorme impor-
tância econômica na alimentação.
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
c a p í t u lo 6
c a p í t u lo 6
Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos
Ao final deste capítulo você deverá ser capaz de reconhecer
as características gerais do grupo de crustáceos e compreen-
der a forma de separação e identificação das diversas classes
pertencentes a esse grupo.
Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 85
6.1 Introdução
Quem nunca comeu um camarão? Quem nunca viu algum siri
na praia? Ou seja, os crustáceos são muito visíveis nos litorais do
mundo afora. O grupo apresenta mais de 38 mil espécies de orga-
nismos predominantemente marinhos, mas que também ocorrem
em rios e lagos, e poucos ocupam nichos terrestres, como é o caso
do tatuzinho-de-jardim. Muitos crustáceos são microscópicos e
muitos são esquisitos, como as cracas dos costões rochosos. São
animais extremamente bem adaptados a todos os habitats dispo-
níveis no mar, desempenhando papéis fundamentais nas cadeias
alimentares. São animais com tronco segmentado e, nas formas
que estão presentes hoje na natureza, ocorrem inúmeros graus de
fusão, perda de segmentos e várias modificações de apêndices para
locomoção, reprodução e captação de alimentos.
A região final do corpo chama-se télson, com apêndices e ânus (Fi- Características
gura 6.3 adiante). A cópula é comum em muitos crustáceos com
Grupos Apêndices
posterior incubação de ovos. O ovo eclode uma larva náuplio que Região Tagmose (nº
Toracópodos
Apêndices Ciclo de Vida e
Outras
é exclusiva dos crustáceos e que se caracteriza por apresentar um Cefálica de segmentos) Maxilípedes Reproduçao
ou pereópodos
olho naupliar e 3 pares de apêndices (Figura 6.1). Veremos a seguir Todos
Cabeça (5) e
a caracterização dos grandes grupos sistemáticos, mas antes é pre- Remipédios Placa cefálica tronco (mais de Não filópodos 1 par Hermafroditas
apêndices
do tronco
ciso ficar claro que o modelo de corpo com tronco segmentado é 32)
similares
considerado ancestral e dois grupos apresentam esse modelo: os
Cabeça (5) tórax
remipédios e os cefalocáridos (Figuras 6.2 e 6.3). O quadro 4 apre- Cefalocáridos Placa cefálica
(8) abdome (11)
filópodos ausentes Hermafroditas s/ pleópodos
senta uma síntese comparativa dos grandes grupos de crustáceos.
Branquiópodos
Cabeça (5) tórax Apêndice sem
(Ordem Placa cefálica filópodos ausentes Dioicos; *náuplios
(11) abdome (8) pleópodos
Anostrácos)
6.3 Descrições dos Principais Grupos de Branquiópodos Carapaça Cabeça (5) tórax
Apêndices
Abdominais
Crustáceos (Ordem (bivalve ou (11) abdome filópodos 0-1 par Dioicos; *náuplios
presentes ou
“Conchostrácos”) dobrada) (muitos)
ausentes
6.3.1 Classes Remipédios e Cefalocáridos Filópodos Subgrupos
(Ordem Cabeça (5) tórax são separados
Carapaça filópodos 0-3 pares Dioicos
São os dois grupos de crustáceos marinhos que apresentam a Leptostrácos E (8) abdome (6) devido à
característica primitiva de tronco composto de muitos segmentos Estomatópodos) tagmose
Antena
6.3.2 Classe Anostrácos
Trata-se de um grupo de crustáceos pequenos e aquáticos, e a
maioria de suas espécies é restrita à água doce. Inclui um conjunto
de organismos que são morfologicamente diversos, mas que com-
partilham a seguinte característica: possuem apêndices do tronco
achatados como estruturas foliáceas, chamados filopódios. Artemia
Antênula salina (Figura 6.4) é famosa por ser muito útil no cultivo de cama-
Apêndice
do tronco rões, pois suas larvas são alimento para o crescimento destes.
A
Télson 6.3.3 Classe Filópodos
Furca caudal Nesse grupo de microcrustáceos encontramos as famosas pulgas
Antênula da água, os cladóceros, e outras ordens menores, como notostrácos e
conchostrácos. Estes dois últimos estão presentes em água doce e no
mar, e no caso de Daphnia magna, as segundas antenas funcionam
Cefalotórax
como remos para natação. Possuem um único olho composto e o
Sulco cefálico tronco muito reduzido fica protegido entre duas valvas (Figura 6.5).
Segmento do tronco
São planctônicos e filtradores de materiais em suspensão na água.
A reprodução é muito variada no grupo dos filópodos, mas uma
Segmento genital questão chama à atenção: trata-se da partenogênese. Nesse proces-
feminino
so, e também através de fertilização, os filópodos produzem ovos de
Apêndice do tronco verão com casca fina e ovos de resistência. Ovos de resistência os
auxiliam a permanecer por longos períodos de tempo em condições
Segmento genital ambientais desfavoráveis, como por exemplo, períodos de estiagens.
masculino
Figura 6.3 – Um cefalocárido com corpo segmentado
e região da cabeça com escudo frontal como carapaça. 6.3.4 Classe Malacostrácos – Ordem Leptostrácos
São crustáceos com poucos milímetros de comprimento,
habitantes do fundo do mar, em sedimentos de areia e lama. Trata-se de um grupo de poucas espécies de crustáceos bentôni-
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 716).
cos, de tamanho reduzido e que se difere dos demais malacostrá-
cos por possuir: antênula com estrutura semelhante a uma esca-
ma; o segundo par de antenas unirreme; maxilas com palpo longo
para limpeza; 8 segmentos abdominais. Os ovos são incubados e o
B desenvolvimento é direto (Figura 6.5).
Télson
Furca caudal
6.3.5 Classe Malacostrácos – Ordem Estomatópodos
Figura 6.2 - Em (A) uma foto do remipédio, nadando em águas de cavernas que têm Explotar
conexão com o mar, no Caribe. Na figura (B) percebe-se mais claramente os dois pares Tirar proveito da exploração São crustáceos que podem atingir grande porte, mas com po-
de antenas (as primeiras chamam-se antênulas) e os apêndices birramosos. (Adaptado por meio de recursos pulações reduzidas, não são explotáveis. São alongados, com
de Ruppert et al.; 2005, p. 715). naturais.
90 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 91
LADO INTERNO
LADO EXTERNO
Protopodito
Trato digestivo Epipodito
Antênulas Endopoditos
Exopodito Télson
Figura 6.4 - O anostráco do gênero Artemia. Perceba que ela nada com o dorso voltado para baixo, e observe o detalhe dos 1º pleópode
apêndices filopódios. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 717). Antena
Apêndices torácicos
Figura 6.6 - Gênero Nebalia de leptostráco marinho bentônico. Perceba os apêndices torácicos. (Adaptado de Ruppert
Antena et al.; 2005, p. 728).
Olho Ceco digestivo
composto
Cérebro
Músculo segmentação bem visível, e a carapaça não cobre todos os tora-
Olho naupliar cômeros. As primeiras antenas são trirremes e os primeiros cinco
Antênula toracópodos são raptoriais. Na região sul e sudeste do Brasil são
Boca Mandíbula
Glândula maxilar
conhecidos como tamarutacas (Figura 6.7).
1º toracópode Nefridióporo
Coração
Óstio 6.3.6 Classe Malacostrácos – Ordem Decápodos
Cerdas filtradoras
do 3º toracópode Ovário Os decápodos estão entre os crustáceos mais familiares, pois
Carapaça Embrião reúnem animais como os camarões, siris, caranguejos, lagostas,
Epipodito hermitões e pitus (Figuras 6.8 e 6.9). Nesses animais os 8 toracô-
Garra pós-
abdominal Câmara incubadora meros são cobertos por carapaça e fusionados. Existem câmaras
Ânus branquiais sob a carapaça, a qual possui internamente um esca-
Figura 6.5 - O cladócero do gênero
fognatito, o qual é um apêndice modificado que cria corrente de
Daphnia. Perceba que ele tem tronco
Pós-abdome e abdome muito reduzidos; perceba água para as brânquias. A Figura 6.8 ilustra qual foi a tendência
ainda os apêndices torácicos com de modificação do corpo que ocorreu na evolução dos decápodos.
Espinho da carapaça cerdas para filtração e a câmara de
Cerdas pós-abdominais incubação. (Adaptado de Ruppert et Nossa familiarização com esses animais é devida ao fato de estes
al.; 2005, p. 720).
serem muito importante na nossa dieta alimentar, ou seja, muitos
92 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 93
Télson C
Terceiro maxilípide
Figura 6.7 – Vista dorsal de um estomatópodo. (Adaptado de Figura 6.8 – Esquema que mostra três passos da evolução do Palpo do maxilípede
Ruppert et al. (2005, p. 729). corpo dos crustáceos decápodos. (Adaptado de Ruppert et
al. (2005, p. 731). Garra do quelípode
Quadro
Carapaça Antênula Carpo Basísquio bucal
1o segmento abdominal Rostro
Olho
Olho Mandíbula
Mero
Figura 6.10 - Siri em vista ventral. Perceba o abdome estreito, que é característica dos machos. (Adaptado de Ruppert
Figura 6.9 - Malacostráco generalizado. Perceba os apêndices birremes. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 727). et al.; 2005, p. 736).
94 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 95
Antênulas
Antena
Antênulas Antenas
Olho composto
Olho naupliar
Antenas 1ª perna
Figura 6.13 - Isópodo em vista dorsal; pode-se perceber a
separação das regiões torácica e abdominal. (Adaptado de
Ruppert et al.; 2005, p. 771).
Mandíbulas Mandíbula
A 2º maxilípede
2ª maxila
Tórax
2º maxilípede Zona de crescimento
B Epímero 4
C
7º segmento
torácico
Exopodito do urópode
2º pereópode Antenas 5º pereópode Antênula Antena
Pleópodes Urópode Endopodito do urópode
1º pereópode
1º maxilípede Urópode Pleotélson
D
E Télson Maxilípede
1ª perna
Figura 6.11 - Ciclo larval de camarão peneídeo pelo qual se pode perceber o crescimento das regiões torácica e abdominal e a
Ovos no marsúpio
aquisição de apêndices a cada estágio larval. (Adaptado de Ruppert et al. (2005, p. 755).
Oostegito
8º segmento torácico
7ª perna
2º pleópode
Câmara branquial
3º pleópode
(opérculo)
Urópode
Marsúpio
A B C D Cavidade em forma de
bolsa dos crustáceos
localizada ventralmente Figura 6.14 - Isópodo em vista ventral, para mostrar detalhes da
Figura 6.12 - Várias larvas de decápodos: (A) zoé; (B) megalopa de caranguejo; (C) filosoma de lagosta; (D) metazoé de no abdome para abrigar região da cabeça e da bolsa de incubação, com ovos no marsúpio.
hermitões. (Adaptado de Ruppert et al. (2005, p. 755). filhotes recém-nascidos. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 772).
96 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 97
Ovissaco
O mesmo que vesícula,
formada para conter os ovos
Péreon em desenvolvimento.
Antena Bula
5 6 7 Maxila
4 8
3 Ple Ab
os Cabeça
x
so d
óra
2 1 mo ome
lot
fa
Ce
COXAS 2 Filamento
branquial
Olho
3
Ur
os
Maxilípede
so
m
4 Télson
o
2
5
3 6
2 3 6 Ovissaco
5 1 5
4 Pleópodes 4 Urópodes
6
Antena
Antênula
Gnatopódes
7 8 A B
Epímero
Pereópodes
Capítulo
de embarcações. Pênis
vés de um pedúnculo (Figura 6.20). A carapaça tem a forma de um Boca
Carena
pequeno cone que é constituído por placas Músculo
calcárias. Os apêndices típicos dos crus- Escudo Ceco
táceos, chamados cirros, estão presentes, Tergo
Abertura
mas a sua função é outra, neste caso são Placas do
rostro e
usados para filtrar alimento em suspensão rostro-lateral
fundidas
na água do mar.
Carena Ovário
Boca POSTERIOR
g
tro
o
Ros
Care
Cirros
Músculo depressor udo
Esc Pênis 6.3.10 Maxilópodos – Classe Ostracódas
na
do escudo Ânus
Antênula
para o parasitismo (Figura 6.22). Podem sair de um hospedeiro e Olho
Antena
adotar outro, nadando através da água, e com isso podem infestar
Espinho
tanques com peixes confinados para crescimento.
Maxílula
6.3.12 Maxilópodos – Classe Pentastômidos
Maxila
Também são formas parasitas, e já foram descritas mais de 100
espécies. São organismos muito modificados e vermiformes (Figu-
Carapaça
ra 6.23), que habitam as vias aéreas, seios nasais e pulmões de ver-
tebrados, principalmente de cobras e crocodilos. Têm ciclo vital
completo no hospedeiro e às vezes necessitam de um hospedeiro
intermediário. O corpo tem de 1 a 16 cm e possuem ganchos na Área
respiratória
cabeça que podem ou não estar sobre 2 pares de protuberâncias.
1o apêndice
torácico
Abdome
Reentrância
na valva Valva
Figura 6.22 - Morfologia externa do lado ventral de um Branquiúro. Perceba o aparato sensorial e bucal
Furca caudal modificados para ectoparasitismo. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 807).
Maxílula
1o toracópode
Palpo
mandibular Maxila
Carapaça
Figura 6.21 - Estrutura geral de ostracódas, vista lateral com valva esquerda removida.
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 804).
102 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Crustáceos 103
Resumo
Boca
Os crustáceos são artrópodos com grande diversidade morfoló-
gica e ocorrem em praticamente todos os ambientes disponíveis na
biosfera. Dominam em abundância o zooplâncton e vários outros
ecossistemas marinhos, com espécies muito representativas. São
Cabeça
invertebrados bilaterais, protostômios, hiponeuros, segmentados
e com exoesqueleto duro. Apresentam ciclos de vida complexos
com vários estágios larvais e sofrem mudas ao longo do cresci-
mento. As principais características são: 1) elevada variabilidade
morfológica; 2) altíssimo valor para o desenvolvimento de vários
Perna
setores da nossa sociedade, como aquicultura, ecotoxicologia e
Estilete conservação da natureza.
Boca
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Ganchos
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
Tronco
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
B
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
Figura 6.23 - Pentastômidos: (A) parasito de cobras e (B) parasito de crocodilos. (Adaptado de
Ruppert et al.; 2005, p. 807).
c a p í t u lo 7
c a p í t u lo 7
Filo Artrópodos - Subfilo
Quelicerados
Ao final deste capítulo você deverá ser capaz de identifi-
car os quelicerados devido às características da tagmose e
dos apêndices do cefalotórax. Você, como um(a) futuro(a)
biólogo(a), deve compreender o processo evolutivo de fusão e
perda de segmentos da cabeça que levou à ausência das an-
tenas. Irá também diferenciar as quelíceras e os pedipalpos,
apêndices cefálicos relacionados com a predação, percepção
sensorial e reprodução.
Filo Artrópodos - Subfilo Quelicerados 107
7.1 Introdução
Os quelicerados incluem as aranhas, os carrapatos, o carangue-
jo-ferradura e os escorpiões, dentre estes um grupo de escorpiões
extintos, os euriptéridos. Trata-se da segunda ordem mais impor-
tante dos artrópodos, depois dos insetos. A maioria dos represen-
tantes marinhos está extinta, mas eles foram muito expressivos em
mares paleozoicos, e alguns dentre eles são considerados um dos
mais amedrontadores predadores. Além do grande interesse filo-
genético, é importante o estudo a respeito dos quelicerados, em
virtude da sua interferência na saúde pública humana. São mui-
tas as ocorrências de picadas de aranhas e escorpiões. Carrapatos
e sarnas são ectoparasitos do homem e de animais domésticos, e
causam graves lesões à pele.
Os quelicerados, comparativamente aos outros grupos de artró-
podos, têm a região da cabeça muito modificada. O que ocorreu
na evolução foi a perda de segmentos cefálicos e com isso as ante-
nas estão ausentes nesse grupo. Os apêndices cefálicos presentes
são as quelíceras e os pedipalpos. Os olhos dos quelicerados estão
na superfície dorsal do cefalotórax e podem ser em número de até
quatro pares.
Os quelicerados são divididos em três classes: Merostomados
e Picnogônidos, com poucas espécies e marinhos; e Aracnídeos,
um grupo com grande diversidade e cuja maioria das espécies é
terrestre. A seguir, veremos a descrição das classes.
108 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Quelicerados 109
Pedipalpo Tergito 5
locomotoras
Carapaça
Olhos
Pernas
Quelícera
Carapaça
Quelícera
5
2
3
1
Tergito
6
Ocelo mediano
Figura 7.3 - Ordem Escorpiões em vista ventral, à esquerda, e dorsal, à direita. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 658-659).
Aguilhão
1
Olho lateral
2
Coxa da Espiráculo do Espiráculo do Fiandeiras
perna 3 primeiro pulmão
3
segundo pulmão
foliáceo foliáceo
Membrana
4
pleural
Figura 7.4 - Ordem Aranhas - regiões do corpo e estruturas em vista lateral sem apêndices locomotores.
Télson
(Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 665).
5
Aguilhão
Fúsula da glândula filiforme Fúsula da glândula lobada
Pré-abdome
Cefalotórax
Pós-abdome
(fio-guia)
Pré-abdome
Esternito 4
Pectinas
Opérculo
Esterno
Aguilhão
genital
Quelícera
Télson
Coxas
Colulo
Fiandeira posterior
Fiandeira mediana
Pedipalpo
Fiandeira anterior
Pós-abdome
Ânus
Figura 7.5 - Fiandeiras que se situam no final do abdome de uma aranha tecedora. (Adaptado de Ruppert et al.;
2005, p. 667).
112 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Quelicerados 113
Coxas
Carapaça
Espiráculo
Quarto
tergito Quarto esternito
abdominal abdominal
Abertura genital
Abertura anal
Figura 7.6 - Ordem Ácaros: (A) piolho em vista dorsal e (B) em vista ventral. (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 688).
114 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Quelicerados 115
Dedo móvel
Referências
Perna 1 BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
Pré-abdome
Pós-abdome Flagelo
Flagelo
Figura 7.9 - Ordens Uropygi (à esquerda) e Schizomida (à direita). (Adaptado de Ruppert et al.; 2005, p. 663).
Resumo
Os quelicerados são artrópodos com grande diversidade morfo-
lógica e estão presentes em todos os ecossistemas terrestres, com
espécies muito representativas. Mais uma vez o seu sucesso no
meio terrestre se dá devido à presença do exoesqueleto imperme-
ável. Aranhas podem habitar desertos, onde quase nunca chove.
São invertebrados bilaterais, protostômios esquizocelomados, hi-
poneuros, segmentados e com exoesqueleto duro, que sofrem mu-
das ao longo do crescimento. As principais questões e que devem
ser estudadas são: i) sua importância médica, devido aos acidentes
por picadas nas pessoas e ao ectoparasitismo de sarnas, piolhos
e carrapatos; ii) a história evolutiva dos euriptéridos marinhos,
quelicerados já extintos, importantes devido às afinidades com os
limúlos, verdadeiros fósseis vivos.
c a p í t u lo 8
c a p í t u lo 8
Filo Artrópodos - Subfilo
Hexápodos
Este capítulo lhe conduzirá a reconhecer a elevada diversi-
dade de espécies dos insetos e sua importância para a ecologia
vegetal devido à polinização, à saúde pública (como no caso da
dengue e malária) e para a alimentação humana (mel de abe-
lhas, por exemplo). Você poderá reconhecer os diversos grupos
de hexápodos baseado(a) nos tipos de peças bucais e de ciclos
vitais. Um(a) biólogo(a) precisa demonstrar algum conheci-
mento sobre a comunicação, o voo e a vida social dos insetos.
Filo Artrópodos - Subfilo Hexápodos 119
8.1 Introdução
O número de espécies de insetos pode chegar a 1 milhão, ou
mais. O nome ‘hexápodo’ revela que possuem 3 pares de apêndices
locomotores, sendo que esses são exclusivamente unirramosos,
ou seja, têm apêndices ou patas constituídos de apenas um ramo.
A maioria é terrestre, mas alguns são aquáticos durante parte ou
todo o seu ciclo de vida.
Os hexápodos são divididos em dois grupos: (i) insetos e (ii)
entognados, entretanto os dois grupos podem ser popularmente
Entognados
Ento (= dentro) + conhecidos como insetos. Os entognados possuem as peças bu-
gnados (= mandíbula). cais afundadas em uma depressão na cabeça. Dentre as diversas
Serapilheira formas que compõem o grupo, existem aquelas que só vivem em
Folhas secas depositadas no ambientes úmidos ou locais com acúmulos de matéria orgânica,
solo das florestas.
como composteiras e na serapilheira das florestas. Os entognados
ou apterigotos, ou seja, sem asas, são muito pequenos e o corpo
não tem exoesqueleto muito duro (Figura 8.1).
Fúrcula
Colóforo
Télson C D E
A B
Figura 8.1 - Hexápodos entognatos: (A) Colembola; (B) Protura; (C) Japygina; (D) Arqueognato; (E) Zigentoma (traça-de-livro).
(Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 870).
120 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Hexápodos 121
Ocelo
Antena Antena Antena
A B
Espirotromba (maxilas)
Proventrículo
Figura 8.5 - Hexápodo em vista da região anterior de lepidópteros (borboletas) para mostrar as peças
Ceco bucais sugadoras (A) e de hemípteros (cigarrinhas) para mostrar as peças picadoras e sugadoras (B)
digestivo Ovário em vista ventral. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 849-850).
Mesêntero
Intestino
Túbulos de Malpighi
Traqueia
transversal
Labro
Antena
Tronco traqueal
Olho longitudinal
Mandíbula Olho
Antena Hipofaringe
Glândula
VIII IX Epiprocto (XI)
acessória X
Folículos Cerco
Testículo
Ânus
Paraprocto
Duto Gonóporo
Pênis
espermático Protórax
Estilo Mesotórax
Metatórax
Protórax
Figura 8.8 - Desenvolvimento com metamorfose total (holometábolo) de uma espécie de besouro. (Adaptado de
RUPPERT et al.; 2005, p. 862).
Figura 8.7 - Sistema reprodutor de hexápodos: (A) sistema feminino e (B) sistema masculino; nesse último, observa-se em
detalhe a extremidade posterior do abdome. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 859-860).
126 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Hexápodos 127
Resumo
Os insetos são artrópodos com o maior número de espécies,
Tergo
principalmente nos ecossistemas de florestas tropicais. São inver-
Asa
tebrados bilaterais, protostômios esquizocelomados, hiponeuros,
segmentados e com exoesqueleto duro, que sofrem mudas ao lon-
Processo pleural Musculatura go do crescimento. As principais questões e que devem ser estuda-
ou fulcro vertical
contraída
das são: comunicação, insetos sociais e ciclos de vida complexos.
Musculatura Musculatura
longitudinal longitudinal Para aplicação nas nossas vidas, os insetos são de interesse, prin-
esticada A contraída B cipalmente, nas questões de polinização, para a agricultura e para
a saúde pública.
Figura 8.9 - Esquemas mostrando a relação entre asas, tergo, pleura e o mecanismo básico de batimento das asas em um
inseto. Em (A) ocorre contração da musculatura vertical e em (B) ocorre contração da musculatura longitudinal. (Adaptado de
RUPPERT et al.; 2005, p. 847).
128 Zoologia de Invertebrados II
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
c a p í t u lo 9
c a p í t u lo 9
Filo Artrópodos - Subfilo
Miriápodos
Neste capítulo você deverá ser capaz de diferenciar os dois
grupos de miriápodos devido ao tronco segmentado e núme-
ro de pares de apêndices locomotores. Deverá também reco-
nhecer o papel de predadores dos quilópodos e de detritívoros
dos diplópodos.
Filo Artrópodos - Subfilo Miriápodos 133
9.1 Introdução
As centopeias são, no mínimo, bichos muito curiosos devido
ao movimento rápido das centenas de pares de pernas. São, tam-
bém, amedrontadores, pois as lacraias são predadoras e possuem
veneno que pode causar problemas para a saúde humana. Os mi-
riápodos somam mais de 13.000 espécies e vivem por baixo de ro-
chas, troncos e no meio da serapilheira de florestas. São terrestres
e apresentam apêndices com apenas um ramo (ou unirramosos).
Podem ter entre dez e até mais de 200 pares de apêndices no tron-
co, com tamanho variando desde formas microscópicas até 30 cm
de comprimento. Algumas espécies apresentam glândulas repug-
nantes, as quais secretam substâncias que funcionam como defesa.
Os dois principais grupos de miriápodos são os quilópodos e os
diplópodos (as centopeias) e, a seguir, apresentaremos as caracte-
rísticas desses animais.
9.2 Os Quilópodos
As centopeias ou lacraias são miriápodos com mais de 2.500
espécies em regiões tropicais e temperadas, apresentando um par
de apêndices locomotores por segmento. São formas predadoras
dotadas de mandíbulas poderosas, que têm como presas os inver-
tebrados, mas há também registros de lacraias predadoras de rãs
e até mesmo aves. As mandíbulas, ligadas às glândulas de veneno,
representam a modificação de um par de apêndices locomotores
anterior. As características gerais da morfologia externa de uma la-
craia estão apresentadas na Figura 9.1. Ocorre um órgão na cabe-
ça, sensível a vibrações e umidade, chamado órgão de Tomosvari.
134 Zoologia de Invertebrados II Filo Artrópodos - Subfilo Miriápodos 135
apêndices locomotores por segmento (Figura 9.2), pois cada seg- 1ª perna
mento observado externamente é originado da fusão de dois seg- (2º segmento) Gnatoquilário
Perna Referências
anal
Perna em
fase de Forcípula (garra BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
recuperação de veneno) Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed. São
Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
c a p í t u lo 10
c a p í t u lo 10
Os Lofoforados
Ao final deste capítulo você deverá ser capaz de reconhecer
um organismo lofoforado foronídeo, braquiópodo ou briozo-
ário, poderá descrever as suas características gerais e parti-
cularidades de cada grupo. Deverá também demonstrar co-
nhecimentos de filogenia, ou seja, das relações de parentesco
do grupo dentro do Reino Animal.
Os Lofoforados 139
10.1 Introdução
Os lofoforados são invertebrados bilaterais celomados que re-
únem três filos: os foronídeos, os braquiópodos e os briozoários
(Quadro 5). São organismos aquáticos – os dois primeiros filos
Lofóforo são exclusivamente marinhos e os briozoários possuem mais de
Estrutura localizada 5000 espécies marinhas e cerca de 50 de água doce. Esses animais
na região anterior de
compartilham como característica a presença de um órgão cha-
briozoários, foronídeos e
braquiópodos, formada mado lofóforo, usado para a captação de alimentos, ou seja, são
por tentáculos ciliados e comedores de suspensões ou filtradores. Também compartilham
preenchidos por celoma,
que circundam a boca. a característica de apresentarem um revestimento de exoesqueleto
secretado, em forma de concha ou tubo, com uma única abertura.
A boca, o ânus, os nefridióporos e os gonóporos comunicam-se
com o meio externo através dessa abertura. O tubo digestivo é em
forma de “U” e a boca situa-se no centro do lofóforo. Geralmente
o ânus é dorsal à boca e com tendência a abrir fora do lofóforo
(Figura 10.1). O corpo é dividido em duas ou três regiões, sendo
que cada uma possui uma cavidade celomática. A primeira região
é o mesossoma, com a mesocele, que é o celoma do lofóforo; a
segunda é o metassoma ou tronco, com a metacele ou celoma do
tronco. O epístoma, que é um lobo antero-dorsal, pode anteceder
o mesossoma e, nesse caso, é preenchido pelo “protocele” (saco
celômico do prossoma) (Figura 10.1).
140 Zoologia de Invertebrados II Os Lofoforados 141
Características
O desenvolvimento embrionário com clivagem radial é uma mistura
de caracteres de deuterostômios com protostômios e leva à forma-
Cavidades Orientação Simetria Massa
Filos
do Corpo do Corpo Esqueleto Visceral
Reprodução Especiais ção de uma larva chamada actinotróca, livre-natante planctônica.
Braquiópodos Enteroceloma; Solitários: valvas Conchas bivalves Dentro do Gônadas Brânquias;
Procele ausente; dorsal e ventral. articuladas ou manto na ausentes; Epifauna e
Mesocele=lofóforo; inarticuladas. concha. Larva alguns com
Metacele = menor semelhante ao pedúnculo. “Protocele” Tentáculo cortado
porção do corpo. adulto. Lofóforo Epístoma
Foronídeos Esquizoceloma; Solitários: Secretam tubo Tubo digestivo Dioicos: larva Apenas dois Mesocele
Septo
Procele reduzida; Tubícolas quitinoso com em U. cifonauta e gêneros Boca Ânus
Mesocele=lofóforo; vermiformes da areia. actinotróca. conhecidos. Metanefrídio
Septo
Metacele = maior infauna.
porção. Esôfago Vaso sanguíneo ascendente
Quadro 5 – Análise comparativa da anatomia e características gerais dos grupos lofoforados. DORSAL
Tronco
Cordão nervoso
O enteroceloma (Figura 10.1) é tripartido e funciona como esque- Vaso sanguíneo descendente
leto hidrostático para as espécies que vivem dentro de tubos. A re-
produção assexuada por brotamento é conhecida para algumas es-
pécies. São dotados de capacidade de regeneração. A maioria dos
foronídeos é hermafrodita e os espermatóforos são produzidos A B
em órgãos lofoforais, os quais são liberados na água do mar, onde
são capturados por outros indivíduos. Espermatozoides ameboi-
Figura 10.1 - (A) Ilustração esquemática de um foronídeo dentro do tubo, no fundo do mar; (B) três
des entram no celoma e neste fecundam os óvulos que são poste- seções mostrando a anatomia em diferentes regiões do corpo. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005,
riormente lançados ao meio externo através dos metanefrídeos. p. 954).
142 Zoologia de Invertebrados II Os Lofoforados 143
10.3 Os Braquiópodos divíduo de uma colônia é chamado de zooide, com tamanho redu-
zido e poucos milímetros (Figuras 10.4 e 10.5). As colônias podem
Todos braquiópodos são bentônicos marinhos e as conchas apresentar relações epifíticas sobre talos e lâminas de macroalgas,
têm orientação ventral-dorsal, ou seja, não são laterais como nos ou seja, sobrepondo-se a eles, usando-os como suporte, mas sem
moluscos. Mas as similaridades das partes moles, como o manto, lhes causar prejuízos.
dentro da concha, são notáveis, assim como o hábito sedentário
suspensívoro. Nos braquiópodos o que se vê dentro das conchas
é o lofóforo (nos moluscos se vê as brânquias). A maioria das 350 Zooide
Zooide
espécies atuais vive sobre fundos de plataforma, aderindo-se a ma-
teriais duros; destas, apenas poucas se enterram em sedimentos
moles e habitam preferencialmente águas frias, em grandes pro-
fundidades e mares polares. Toda a anatomia mais a estrutura do
lofóforo podem ser vistas na ilustração a seguir (Figura 10.2).
10.4 Os Briozoários
Os briozoários, que significa “animais-musgo”, são organismos
Zooide
cujas formas coloniais podem ser laminares aderidas e cobrindo
superfícies com uma aparência de musgos, ou em formas eretas, Zooide
arborescentes e semelhantes a macroalgas (Figura 10.3). Cada in-
Concha
Canal celômico do manto
Lobo ventral
Bráquio do manto
Tentáculos
Cerdas
Cavidade do manto Boca Zooide Zooide
Ceco digestivo
Músculo abdutor
Gônada Celoma
Metanefrídio Músculo adjustor
Figura 10.5 - Ilustração esquemática de zooides de briozoário, com lofóforos distendidos à direita e retraídos à esquerda.
Figura 10.4 - (A) Ilustração de uma colônia de briozoários, com alguns lofóforos distendidos e alguns retraídos.
(Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 969).
(B) A anatomia do corpo, com coroa de tentáculos aberta. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 970).
146 Zoologia de Invertebrados II
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
c a p í t u lo 11
c a p í t u lo 11
Introdução aos Deuterostômios
Ao final deste capítulo você deverá ser capaz de compre-
ender os diversos planos corporais dos invertebrados com
modelo de construção enterocelomado e deuterostômio, bem
como suas implicações para o animal adulto e para os siste-
mas de órgãos vitais.
Introdução aos Deuterostômios 151
11.1 Introdução
Deuterostômio Daqui para frente, neste livro, dedicaremos o nosso estudo a um
Desenvolvimento
embrionário no qual a
conjunto de filos animais que são denominados os Deuterostô-
boca do adulto será uma mios: Filos Quetognatos e Equinodermados.
nova abertura na larva e
o blastóporo se tornará a
abertura anal.
11.2 Evolução e Desenvolvimento
Ainda não existe conhecimento suficiente pra determinar se os
protostômios são ancestrais dos deuterostômios, ou vice-versa. O
atual modelo de organização do reino animal com os deuteros-
tômios sendo analisados após os protostômios é uma saída que
os autores encontraram por reconhecerem que os cordados são
animais mais complexos.
Nos deuterostômios, durante o desenvolvimento embrionário
o celoma se forma como bolsas no arquênteron, por isso é chama-
do de enteroceloma (Figura 11.1). Esses grupos possuem cliva-
gem do óvulo do tipo radial, que é diferente do modelo de cliva-
gem espiral comum a todos os animais protostômios.
Nos deuterostômios, a evolução resultou em várias diferenças
fundamentais entre os planos corporais básicos dos táxons maio-
res. Anfioxos e vertebrados têm evidências de segmentação, mas
no plano básico deuterostomado, o corpo é trimérico, ou seja, é
dividido em três regiões distintas: (i) o prossoma, que é pré-oral;
(ii) o mesossoma, que é a região com a boca; e (iii) o metassoma,
com vísceras e gônadas.
152 Zoologia de Invertebrados II Introdução aos Deuterostômios 153
Celomas
Blastocele Enteroceles Ectoderme
Mesoderme
A B C D Endoderme
Mesênquima Blastóporo Vaso
sanguíneo
dorsal
Tecido conjuntivo
E Ânus
Figura 11.1 - Etapas da formação do enteroceloma em hemicordados. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 250).
c a p í t u lo 12
c a p í t u lo 12
Os Quetognatos
Ao final desse capítulo você deverá ser capaz de reconhecer
um quetognato em uma amostra de zooplâncton marinho e
descrever as características gerais do grupo.
Os Quetognatos 157
12.1 Introdução
Os quetognatos são um grupo de animais de tamanho reduzido,
e todas as cerca de 150 espécies são marinhas, de formas predomi-
nantemente planctônicas, mais comuns nos mares tropicais. São
bons nadadores e por isso são predadores do plâncton.
Resumo
Olho
Espinhos de Os quetognatos são organismos microscópicos e planctônicos
captura
Cabeça marinhos Distinguem-se por apresentar uma simetria bilateral,
Septo Capuz nadadeira ímpar caudal e nadadeiras pares no tronco, para nata-
anterior Tronco
Espinhos de ção. A cabeça é dotada de uma coroa de espinhos que são usados
captura
Colarinho para capturar presas no plâncton marinho.
Ovário
Celoma do tronco
Cerdas ciliares
Referências
Gânglio
ventral
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Septo posterior Poro Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
masculino
Nadadeira lateral SP: Holos, 2006. 271p.
Testículo anterior
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Intestino
Celoma da cauda Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
Ovário São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.
Órgão
adesivo
Poro feminino
1 mm Tronco
Ânus
Cauda
Nadadeira Septo
caudal posterior
Testículo
Nadadeira lateral
posterior
Mesentério
lateral Vesícula seminal
Nadadeira
caudal 1 mm
c a p í t u lo 13
Filo Equinodermados
Este capítulo lhe auxiliará a descrever as características e
reconhecer os diferentes grupos de equinodermados. Os dois
pontos principais são: (i) orientação do eixo oral-aboral e (ii)
estrutura e função do sistema aquífero.
Filo Equinodermados 163
13.1 Introdução
Ofiuroide
Classes
Esqueleto e Simetria Eixo Oral/ Aboral Sistema Aquífero Massa Visceral Outras Especiais
Sem placa madrepórica, Geralmente fixos (com Podem mover-se
Muito calcificado e base Eixo perpendicular ao
opera só com fluido Disco central ou sem pedúnculo) às rolando pelo fundo
Crinoides pentâmera evidente; Os substrato; Superfície
celomático; Pódios ou cálice. rochas por meios de do mar; Brotamento
braços podem ser ramificados. oral voltada para cima.
voltados para cima. cirros; Filtradores. assexuado.
Disco central,
Calcificado com base Eixo perpendicular ao Eversão total de
Completo com placa mas com cecos
Asteroides pentâmera evidente; Os substrato; Superfície Braços pouco móveis. estômago para
madrepórica aboral. e gônadas nos
braços podem ser ramificados. oral voltada para baixo. digestão de presas.
braços.
Zoologia de Invertebrados II
Árvore respiratória;
Base pentâmera pouco Eixo paralelo ao
Completo com placa Sistema Hemal Reto funciona como Brotamento
Holoturoides evidente; Braços ausentes, substrato; Superfície
madrepórica interna. muito complexo. cloaca. assexuado;
vermiformes. oral é a face anterior.
Evisceração.
Quadro 6 – Análise comparativa da anatomia e características especiais de cada classe dos equinodermados.
Espinho
peritônio
Célula do
Microvilosidades
Célula
glandular
Células
Junção
aderente
mioepiteliais
Cutícula
Cílio
Esclerócito
com ossículo
em formação
gulhados na parede do corpo couriácea.
13.1.1 Revestimento e sustentação
Célula
Derme
Epitélio
sensorial
celômico
Epiderme
Filo Equinodermados
ectoneural
hiponeural
Rede nervosa
Rede nervosa
165
Figura 13.2 - Ilustração esquemática de uma pequena porção da parede do corpo de um equinodermado. (Adaptado de RUPPERT
ra típica: são finas redes de carbonato de cálcio que formam um
nome ao grupo (equino = espinho, e dermados = derme). Esses
espinhos, apresentam outras estruturas especiais da parede do Paxilas O sistema aquífero participa principalmente da locomoção e o
Espinhos modificados, com
corpo, derivadas de ossículos, que são as paxilas e as pedicelárias extremidade achatada, na
sistema hemal é responsável pela distribuição de nutrientes e ga-
(Figura 13.3) que têm função de proteção de brânquias e defesa, forma de pequenos “guarda- ses. Os fluidos dentro desses sistemas movem-se através de movi-
respectivamente. chuvas”, os quais recobrem as mentos ciliares e bombeamento muscular. (Figuras 13.4 e 13.5).
pápulas, nos asteroides.
Ampola do madreporito
de uma larva livre-natante. É comum a regeneração de braços em es-
Estômago cardíaco
Figura 13.5 - Ilustração esquemática da anatomia de uma estrela-do-mar, mostrando celomas, trato digestivo, sistema hemal e pódios. (Adaptado
trelas e alguns grupos podem incubar seus ovos em desenvolvimento.
Canal pétreo
Madreporito 13.2 Classe Crinoides
Cavidade pericárdica
Lúmen do coração
(saco dorsal)
Canal circular
pedúnculos (Figura 13.6). Nas formas sem pedúnculo, o disco
Vaso hemal genital
Cirros
Apêndice articulado dos mos fixos às rochas. Nos pedunculados, ocorrem muitos cirros. A
Canal circular
hiponeural
crinoides, que ocorre em membrana que cobre a superfície oral do disco central chama-se
grande número na base
do cálice e tem função de tégmen. Boca e ânus estão do lado oral (Figura 13.7). O sulco am-
fixação do animal. bulacral com os pódios estende-se desde o tégmen até as pínulas.
Ânus
Boca
Anel nervoso
Estômago
pilórico
Anel hemal gástrico
Celoma
genital
de Tiedemann
Coroa
Vaso hemal radial Corpúsculos
Seio hemal genital
Pínulas
Nervo
Tégmen
Gônada
Ceco pilórico
Cálice Pínulas
hiponeural
Pápula
radial
A Pedúnculo Articulação
Vaso hemal gástrico radial
do braço
Tégmen
de RUPPERT et al.; 2005, p. 1030).
B Cálice
Cirros
Canal radial hiponeural
Celoma perivisceral
Pé ambulacral
Canal radial
Epiderme
Ampola
Espinho
Derme
canal lateral
Abertura do
Figura 13.6 - Crinoides ou lírios-do-mar: (A) com pedúnculo e (B) sem pedúnculo. (Adaptado de RUPPERT
et al.; 2005, p. 1070).
170 Zoologia de Invertebrados II Filo Equinodermados 171
Base do braço
13.3 Classe Equinoides
cortado
Cirros Placas deltoides Boca Os ouriços e bolachas-da-praia possuem uma carapaça de ossí-
Sulcos ambulacrais
culos fundidos em cinco fileiras ambulacrais pareadas, e outras
cinco fileiras interambulacrais pareadas, de modo que o corpo é
globoso ou mais achatado dorsalmente (Figuras 13.9 e 13.11). Pos-
suem um par de poros para cada pé ambulacral. O Periprocto, ou
seja, a região à roda do ânus, conta com dez ossículos: cinco placas
ocelares e cinco placas genitais.
Cone anal
Espinhos
A B Pequenas placas periféricas do tégmen primários
Pés
ambulacrais
Figura 13.7 - Crinoides ou lírios-do-mar: (A) detalhe de um pedúnculo com cirros e (B) detalhe do lado oral ou Pedicelárias
tégmen. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1071).
Área
Área
ambulacral
Crinoides também regeneram braços perdidos. São dioicos com interambulacral
gônadas nas pínulas. Quando óvulos e espermatozoides estão ma-
duros, são liberados pela ruptura da parede das pínulas. Em espé-
cies de mares polares, ocorre incubação dos juvenis (Figura 13.8).
Barbelas
Câmaras
incubadoras
Tubérculos
Base do
Pínulas
espinho
Ovários Espinho
secundário
Madreporito
Figura 13.10 - Ilustração esquemática da base de
inserção do espinho de um ouriço. Perceba que o
tubérculo faz parte do ossículo dérmico. (Adaptado Bainha interna de colágeno Sulco alimentar
de RUPPERT et al.; 2005, p. 1049).
Petaloide Boca
Filódios Ânus
Lúnula
Lúnula anal
Periprocto Pé
Perfurações para os pés A B
Espinho primário
Figura 13.13 - Equinoides irregulares, em vista aboral (A) e oral (B). (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1057).
Brânquia peristomial
Boca
Placas interambulacrais 13.4 Classe Asteroides
Localização do ânus
Nas estrelas-do-mar, os braços se articulam amplamente com o
Figura 13.11 - À esquerda, vista oral do ouriço-do-mar. A figura à direita mostra o lado aboral do ouriço; em ambas as figuras, os disco central de modo que há pouca mobilidade destes. O sulco
espinhos foram removidos para observação das placas do endoesqueleto e dos tubérculos, nos quais se encaixam os espinhos. ambulacral é amplo, de onde emergem os pódios. As figuras 13.1,
(Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1048).
174 Zoologia de Invertebrados II Filo Equinodermados 175
Gônadas
Bursa Canal
13.5 Classe Ofiuroides Fenda da bursa radial
Vesícula poliana
Músculos
Nos ofiúros, os braços são nitidamente distintos do disco (Fi- inter-radiais Dentes da Músculo
Nervo radial Vaso hemal
Canal radial
radial hiponeural
gura 13.14). Grande parte dos braços é de ossículos vertebrais e externos
Cavidade
mandíbula no canal radial
Pé inferior hiponeural
também possue placas de revestimento ósseo (Figura 13.16). Os epineural
pré-oral ambulacral
ofiúros são detritívoros e carniceiros, mas podem se alimentar de
suspensões. Entre as bases dos braços dos ofiúros localiza-se uma Figura 13.15 - Esquema da organização interna do disco central e início de um braço de ofiuroide.
(Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1041).
bursa com função na reprodução e para as trocas gasosas (Figura
13.15). Nessas bursas ocorre liberação de gametas para amadure-
cimento, que serão lançados ao mar.
Celoma perivisceral
Escudo aboral
Escudo lateral
Pés ambulacrais
Músculos
Boca Canal radial
Escudo oral intervertebrais
Vaso hemal
Pé Escudo lateral Canal radial
hiponeural
ambulacral Escudo oral do hiponeural
radial
oral disco
Placa maxilar Escudo oral
Mandíbula Canal epineural
Pé ambulacral
Espinhos Papilas Escama tentacular
dos braços
Nervo Nervo
Escudos laterais ectoneural hiponeural
A B dos braços
Escudo aboral
Nervo radial
Figura 13.14 - Esquema da organização externa do disco central e início dos braços dos ofiuroides: em (A) o lado oral e em (B) o Figura 13.16 - Esquema da organização interna de um braço de ofiuroide. (Adaptado de RUPPERT et al.;
lado aboral. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1040). 2005, p. 1040).
176 Zoologia de Invertebrados II Filo Equinodermados 177
Figura 13.17 - Esquema da anatomia geral de holoturoide. (Adaptado de RUPPERT et al.; 2005, p. 1065).
178 Zoologia de Invertebrados II
Resumo
Os equinodermados são organismos muito visíveis devido ao
tamanho, forma e cores. Distinguem-se por apresentar uma sime-
tria corporal pentâmera. São bilaterais nos estágios larvais e, de-
pois, com as metamorfoses, passam a ser radiais pentâmeros. São
deuterostômios enterocelomados. Possuem esqueleto epidérmico
formado por ossículos mais ou menos desenvolvidos. O transpor-
te interno, a respiração, a excreção e a locomoção são relacionados
com o sistema hidrovascular e o sistema hemal.
Referências
BARNES, R. S. K.; CALOW, P.; OLIVE, P. J. W. Os invertebrados.
Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995. 526 p.
BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrates. 2nd. Sunderland:
Sinauer Associates, 2002.
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. (Coords.).
Invertebrados. Manual de Aulas Práticas. 2. ed. Ribeirão Preto,
SP: Holos, 2006. 271p.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos
Invertebrados. Uma abordagem funcional evolutiva. 7. ed.
São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.