Do Lenocínio e Do Tráfico de Pessoas - 2017-2 Versão Reduzida

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CAP.

V - DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS – Leis


12.015 de 7 de agosto de 2009 e 13.344 de 6 de outubro de
2016. 2018-1
GENERALIDADES

Embora a prostituição, em si mesma, não seja prevista como ilícito penal,


REPRIME A LEI A EXPLORAÇÃO DO MERETRÍCIO POR SER ELE UM ESTADO
PERIGOSO EM RELAÇÃO À VIDA SEXUAL NORMAL E DECENTE QUE SE REALIZA POR
MEIO DO CASAMENTO OU, INCLUSIVE, DE LIGAÇÕES ESTÁVEIS.

Diante das alterações promovidas pela Lei 12.015 de 07/08/2009 protege-se a


DIGNIDADE SEXUAL da pessoa, ressaltando-se que a denominação do capítulo V do
Título VI da parte especial do CP mudou de “Do lenocínio e do tráfico de pessoas” para
“DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL”. Afirma Masson, que neste capítulo, o
legislador poderia ter usado a expressão: “DO LENOCÍNIO”, termo que abrange todas as
figuras criminosas relacionadas aos mediadores e aos aproveitadores da prostituição e da
exploração sexual, incluindo o tráfico de pessoas para tal finalidade.

CONCEITO DE LENOCÍNIO

A expressão lenocínio origina-se do latim lenocinium, que significava o tráfico de


escravas para prostituição.

É a prestação de apoio, assistência e incentivo à vida voluptuosa de outra pessoa,


dela tirando proveito. Os agentes do lenocínio são peculiarmente chamados de rufião (ou
cafetão) e proxeneta (Nucci).

Para Masson, LENOCÍNIO CONSISTE EM PRESTAR ASSISTÊNCIA À


LIBIDINAGEM DE OUTREM OU DELA TIRAR PROVEITO.

OS CRIMES PREVISTOS NO CAP. V DO TÍTULO VI DO CP, SÃO DIFERENTES


DOS DEMAIS CRIMES SEXUAIS PORQUE GIRAM EM TORNO DA LASCÍVIA ALHEIA.
AFIRMA MASSON QUE OS PROXENETAS (OU ALCOVITEIROS), OS RUFIÕES E OS
TRAFICANTES DE PESSOAS PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL ATUAM EM FAVOR
DA LIBIDINAGEM DE OUTREM, ORA COMO MEDIADORES, FOMENTADORES OU
AUXILIARES, ORA COMO APROVEITADORES.

Para a maioria dos doutrinadores, o lenocínio divide-se em:

1) PRINCIPAL = o agente induz a vítima a satisfazer a lascívia de outrem ou a


leva efetivamente a prostituir-se.

2) ACESSÓRIO = o agente, encontrando a vítima corrompida ou prostituída,


apenas facilita ou explora a prática dos atos libidinosos, ou seja, a vítima já
se prostituía.

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O LENOCÍNIO ACESSÓRIO pressupõe uma precedente fase de corrupção ou
prostituição da vítima (arts. 229, 230 e outros).

Dessa forma, não se incrimina a conduta da pessoa que exerce a prostituição ou


daquela que por outra forma é explorada sexualmente, que são os sujeitos passivos dos
crimes previstos nos arts. 227 a 231-A do Código Penal. Somente as condutas execráveis
que estimulam e fomentam a prostituição e outras formas de exploração sexual são
tipificadas.

Não existe um dispositivo específico prevendo a punição dos beneficiários dos


serviços sexuais prestados pelos sujeitos passivos desses crimes, mas serão
responsabilizados penalmente se realizarem uma das condutas típicas descritas em lei.

VALE RESSALTAR QUE, EMBORA NÃO SE EXIJA NO LENOCÍNIO O ÂNIMO


LUCRATIVO, A PRÁTICA DEMONSTRA SER ISTO O QUE NORMALMENTE ACONTECE,
O QUE FEZ SURGIR O LENOCÍNIO MERCENÁRIO OU QUESTUÁRIO.

MEDIAÇÃO PARA SERVIR À LASCÍVIA DE OUTREM – art. 227, CP

CONCEITO - Significa induzir (persuadir) alguém a satisfazer a lascívia


(sensualidade, concupiscência) de outrem.

No art. 227, define a lei uma hipótese de LENOCÍNIO PRINCIPAL, denominado


como mediação para servir a lascívia de outrem:

“ART. 227 - INDUZIR ALGUÉM A SATISFAZER À LASCÍVIA DE OUTREM:


PENA – RECLUSÃO, DE UM A TRÊS ANOS.

§ 1º SE A VÍTIMA É MAIOR DE 14 (QUATORZE) E MENOR DE 18 (DEZOITO)


ANOS, OU SE O AGENTE É SEU ASCENDENTE, DESCENDENTE, CÔNJUGE OU
COMPANHEIRO, IRMÃO, TUTOR OU CURADOR OU PESSOA A QUEM ESTEJA
CONFIADA PARA FINS DE EDUCAÇÃO, DE TRATAMENTO OU DE GUARDA:
PENA – RECLUSÃO, DE DOIS A CINCO ANOS.

§ 2º SE O CRIME É COMETIDO COM EMPREGO DE VIOLÊNCIA, GRAVE


AMEAÇA OU FRAUDE: PENA – RECLUSÃO, DE DOIS A OITO ANOS, ALÉM DA
PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.

§ 3º SE O CRIME É COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE TAMBÉM


MULTA.”

Diante das disposições do art. 218 do CP (mediação de menor de 14 anos para


servir a lascívia de outrem, punido com reclusão de 2 a cinco anos), incluído pela Lei
12.015/09, no 2º capítulo do Título VI da Parte Especial (Crimes sexuais contra
vulnerável) a expressão “alguém” usada pelo legislador no art. 227 do CP não pode ser
alguém menor de 14 (catorze) anos, porque estaria configurado o já citado crime, ou seja
um crime sexual contra vulnerável.

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Dessa forma, deduz-se que as disposições previstas no caput art. 227 do CP são
aplicadas quando O SUJEITO PASSIVO É PESSOA MAIOR DE DEZOITO (18) ANOS,
pois o § 1° do mesmo artigo prevê como forma qualificada o fato da vítima ser maior de
14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos.

OBJETO JURÍDICO: Tutela-se a dignidade sexual da pessoa, protegendo-a a lei


contra influências de terceiros que possam prejudicar a liberdade de escolha na vivência
de sua sexualidade e contribuir para a sua sujeição a diferentes formas de exploração.
No § 2º do art. 227 (figura qualificada – emprego de violência, grave ameaça ou fraude),
protege-se também A LIBERDADE SEXUAL DA PARTE OFENDIDA.

Em suma, procura-se, com essa proteção legal, impedir o desenvolvimento


desenfreado da prostituição, o qual é, comumente, estimulado pela ação de terceiros que
exploram o “comércio carnal”.

VALE RESSALTAR QUE O CRIME PREVISTO NO ART. 227 DO CP SÓ EXISTIRÁ


SE FOR PRATICADO TENDO COMO SUJEITO PASSIVO PESSOA DETERMINADA,
POIS SE O INDUZIMENTO FOR DIRECIONADO A UM NÚMERO INDETERMINADO DE
PESSOAS OU SE PRESENTE A HABITUALIDADE, A FIGURA TÍPICA SERÁ A
PREVISTA NO ART. 228 DO CP. Assim, se o agente induz outrem a satisfazer a lascívia
de um número indeterminado de pessoas, outro crime se configurará: O DELITO DE
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
(CP, ART. 228).

OBJETO MATERIAL: aquele que foi induzido A SATISFAZER A LASCÍVIA DE


OUTREM.

Para a doutrina, o crime previsto no art. 227 do CP deveria ser extirpado do CP,
pois para ele, a liberdade sexual exercida sem violência ou grave ameaça não deve ser
tutelada pelo Estado. Afirma ainda que, aqueles que acreditam ser ainda necessária tal
figura típica, estão fechando os olhos para a realidade, pois basta consultar as inúmeras
ofertas de sexo feitas pelos mais variados meios de comunicação de massa do País para
verificar o excessivo número de pessoas que estão, dia após dia, induzindo outras à
satisfação da lascívia alheia e – o que é mais ostensivo – com a nítida finalidade de lucro.

ELEMENTOS DO TIPO: AÇÃO NUCLEAR: verbo INDUZIR (dar a ideia ou


inspirar), que significa aconselhar, persuadir, incutir, aliciar, levar a vítima, por qualquer
meio, a praticar uma ação para satisfazer a lascívia (saciar o desejo sexual ou a luxúria,
homem ou mulher, de qualquer maneira) de outrem. Para que haja induzimento, portanto,
é necessário que tenham ocorrido promessas, dádivas ou súplicas.

Abrange a prática de qualquer ato libidinoso para satisfazer a lascívia de outrem,


inclusive a contemplação lasciva ou qualquer outra atividade direcionada ao prazer erótico.
Lascívia é a sensualidade, luxúria, libidinagem, concupiscência, pouco importando qual a
espécie do ato libidinoso.

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Basta apenas um caso de induzimento para a caracterização do crime previsto no
art. 227, que não exige habitualidade, ressaltando-se que a violência, grave ameaça e a
fraude atuam como qualificadoras (§ 2º do art. 227 do CP).

Para a Doutrina, pouco importa a espécie do ato libidinoso, que tanto pode ser a
conjunção carnal como as práticas sexuais anormais ou meramente contemplativas, ou
quaisquer outras expressivas de depravação física ou moral.

SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa, homem ou mulher, que deve colaborar com a
ação do agente, embora não seja punida, podendo haver, inclusive, coautoria ou
participação quando dois ou mais agentes contribuem para a ação delituosa (crime comum).

O DESTINATÁRIO DO LENOCÍNIO, OU SEJA, AQUELE QUE SATISFAZ A


SUA LASCÍVIA COM A AÇÃO DA VÍTIMA, POR QUAL CRIME RESPONDE? Conforme a
doutrina, não pode ser coautor do crime previsto no art. 227, pois não realiza qualquer
mediação para satisfazer a lascívia alheia. Poderá, então, responder por outros crimes
contra a dignidade sexual.

Capaz apresenta a seguinte hipótese: A VÍTIMA QUE, INDUZIDA A


SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM, ACABA SENDO ESTUPRADA PELO
DESTINATÁRIO DO LENOCÍNIO. DIFERENTES PODEM SER AS CONSEQUÊNCIAS
LEGAIS:

a) SE O INDUTOR AGIU COM DOLO DIRETO OU EVENTUAL COM


RELAÇÃO AO ESTUPRO, DEVERÁ RESPONDER COMO PARTÍCIPE
DESSE CRIME, FICANDO O LENOCÍNIO ABSORVIDO EM FACE DO
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO;

b) SE HOUVE CULPA EM RELAÇÃO AO CRIME PREVISTO NO ART. 213


DO CP, O AGENTE RESPONDERÁ APENAS POR LENOCÍNIO, DIANTE
DA IMPOSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO CULPOSA EM CRIME
DOLOSO.

Ressalta Capez não ser suficiente que o indutor preveja a possibilidade de o


estupro ocorrer; além da previsão, é imprescindível que ele queira tal desfecho ou não se
importe com sua ocorrência (dolo eventual). Assim, o destinatário da conduta do agente
responderá, eventualmente, por outro delito. Não está satisfazendo a lascívia alheia, mas
a própria, podendo incidir, conforme o caso, no art. 217-A ou em outro dispositivo.

SUJEITO PASSIVO – QUALQUER PESSOA, homem ou mulher, que satisfaz a


lascívia de outrem. Pode ser qualquer pessoa com idade igual ou superior a 14 anos,
independentemente do sexo, uma vez que a norma não faz menção à identidade daquele
sobre quem recai a conduta do agente.

EXCLUI-SE O INTEIRAMENTE CORROMPIDO, POIS, NO CASO, NÃO HÁ


NECESSIDADE DE INDUZIR, PERSUADIR AQUELE PARA SATISFAZER A LASCÍVIA
DE OUTREM.

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Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, incide a qualificadora prevista no
§ 1º. Se menor de 14 anos, teremos o CRIME SEXUAL CONTRA VULNERÁVEL, previsto
no art. 218, do CP, criado pela Lei 12.015/2009.

Finalmente, será qualificado o crime se o agente é seu ascendente, descendente,


cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a que esteja confiada para
fins de educação, de tratamento ou de guarda (§ 1º, 2ª. parte, com redação
determinada pela Lei n. 11.106/2005).

É o TIPO DE CRIME QUE EXIGE A PARTICIPAÇÃO NECESSÁRIA DO SUJEITO


PASSIVO, QUE, NO ENTANTO NÃO É PUNIDO.

Ressalte-se que a sociedade figura como sujeito passivo secundário em razão do


objeto jurídico tutelado (moralidade da vida sexual em geral).

Afirma Mirabete que, tratando-se de prostitutas, não há necessidade de


induzimento à prática do ato, o que afasta o crime. Já se tem decidido que a meretriz
não pode ser havida como vítima do delito previsto no art. 227 do CP, pois não é induzida,
mas se presta, voluntariamente, à lascívia de outrem.

VÍTIMA E PESSOA QUE SATISFAZ A LASCÍVIA DETERMINADA: é


característica fundamental do tipo penal que a pessoa ofendida seja DETERMINADA.

Se o agente induz várias pessoas, ao mesmo tempo, falando-lhes genericamente a


respeito da satisfação da luxúria alheia, não se pode considerar configurado o crime. O
mesmo ocorrerá se o autor do induzimento faz com que com a vítima satisfaça a lascívia
de várias pessoas. Por falta de adequação ao art. 227 do CP não há delito.

A reiteração da mesma conduta reprovável pelo fim de lucro poderá levar ao crime
de rufianismo (art. 230, CP), considerado a mais sórdida atividade delituosa das que
gravitam ao redor de crime relacionado à prostituição.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO – Para Nucci e para a maioria da


doutrina é a finalidade de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de outrem. Existente
outro fim, como o de obter fotografias eróticas ou obscenas, por exemplo, poderá
ocorrer outro ilícito.

ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME – é o dolo, consistente na vontade livre e


consciente de induzir, de convencer, de persuadir a vítima a satisfazer a lascívia alheia.
Não existe a forma culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Não se trata de crime habitual. Consuma-se com


a prática de qualquer ato pela vítima destinado a satisfazer a lascívia de outrem. Não se
exige efetiva satisfação sexual desse terceiro.

A tentativa é perfeitamente possível. Dessa forma, haverá a tentativa se houver


o emprego de meios idôneos a induzir a vítima a satisfazer o desejo sexual de terceiro e,

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quando esta está prestes a praticar qualquer ato de cunho libidinoso, é impedida por
terceiros.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA – é crime comum (não exige sujeito ativo


qualificado ou especial), material (exige resultado naturalístico, consistente na efetiva
satisfação da lascívia, que não significa atingir o orgasmo), de forma livre (pode ser
cometido por qualquer meio eleito pelo agente), em regra é comissivo (induzir implica em
ação), excepcionalmente, pode ser praticado por omissão imprópria na forma do art. 13,
§ 2°, do CP, instantâneo (a consumação não se prolonga no tempo), unissubjetivo (pode
ser praticado por um só agente), plurissubsistente (é possível a conduta ser realizada por
mais de um ato). Admite tentativa.

FORMAS

SIMPLES - caput do art. 227.

QUALIFICADAS – § § 1º, 2º e 3º do art. 227, CP.

§ 1º - 1ª. PARTE - “A PENA SERÁ DE DOIS A CINCO ANOS DE RECLUSÃO,


SE: A VÍTIMA É MAIOR DE CATORZE ANOS E MENOR DE DEZOITO ANOS”. Se a
vítima tiver menos de 14 anos, haverá o crime previsto no art. 218 do CP, incluído no CP
pela Lei 12.015/2009.

§ 1º- 2ª. PARTE – “OU SE O AGENTE É SEU ASCENDENTE, DESCENDENTE,


CÔNJUGE OU COMPANHEIRO, IRMÃO, TUTOR OU CURADOR OU PESSOA A QUEM
ESTEJA CONFIADA PARA FINS DE EDUCAÇÃO, DE TRATAMENTO OU DE GUARDA”.
(§ 1º 2ª, parte, com redação determinada pela Lei n. 11.106/2005).

Nas hipóteses em que o agente é ascendente, descendente, cônjuge ou


companheiro, irmão, tutor ou curador da vítima, temos o chamado LENOCÍNIO
FAMILIAR.

Esse rol é taxativo, portanto, não abrange, por exemplo, o enteado. A


qualificadora incidirá também se a vítima estiver confiada ao agente para fins de
educação (exemplos: professor que está incumbido de ministrar aulas particulares à vítima,
diretor da escola em relação ao aluno), tratamento (exemplos: enfermeiro em relação ao
doente, psiquiatra que está incumbido de realizar seu tratamento), ou guarda (exemplos:
padrasto, carcereiro em relação ao preso).

§ 2º: “SE O CRIME É COMETIDO COM EMPREGO DE VIOLÊNCIA, GRAVE


AMEAÇA OU FRAUDE: PENA – RECLUSÃO, DE DOIS A OITO ANOS, ALÉM DA PENA
CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA”. Esse parágrafo não só prevê mais uma forma
qualificada do crime, como também menciona a regra do concurso material de crimes (art.
227, § 2º, e lesão corporal, por exemplo). A fraude, elemento normativo do tipo, é
aquela em que o agente, ardilosamente, ludibria a vítima, fazendo supor uma realidade
fática diversa daquela realmente engendrada pelo sujeito ativo.

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Exemplo de lenocínio fraudulento: a conduta do agente que, após convencer a
vítima de que esta deveria efetuar exames médicos preventivos, a conduz até a presença
do destinatário do crime e, este, então, simulando ser médico, determina que a vítima
desnude-se, para, a seguir, tocá-la com o intuito de satisfazer a sua luxúria.

Na figura qualificada do § 2º, o agente emprega violência ou grave ameaça para


forçá-la a fazer algo contra sua vontade. Por isso, se a vítima for forçada a manter
conjunção carnal ou a realizar outra espécie de ato libidinoso contra terceiro, o agente
responde por crime de estupro. Se o terceiro sabe que a vítima está sendo coagida,
responde também por este crime. Se não sabe, apenas o coautor responde pelo estupro,
tendo havido autoria mediata.

Por isso, a qualificadora do art. 227, § 2º, tem aplicação somente para casos em
que o agente emprega violência ou grave ameaça para forçar a vítima a fazer sexo por
telefone, danças sensuais ou striptease para outrem, hipóteses não configuradoras de
estupro.

Caso a conduta do agente seja a de “aliciar, assediar, instigar ou constranger, por


qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso
“estará incorrendo no crime descrito no art. 241 do ECA (Lei 8.069/90).

§ 3º- “SE O CRIME É COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE


TAMBÉM MULTA”. É chamado LENOCÍNIO QUESTUÁRIO. O sujeito ativo é levado à
pratica delitiva com o escopo de obter lucro. Não é necessário que ele efetivamente
obtenha a vantagem econômica, basta que o lenão aja com o propósito de obter vantagem
econômica.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: estão previstas no art. 234-A do CP, criado


pela Lei 12.015/2009: “Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: I –
(vetado); II – (vetado); III – de metade, se do crime resultar gravidez e IV – de um
sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de
que sabe ou deveria saber ser portador”.

AÇÃO PENAL. PROCEDIMENTO. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS -


trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. É cabível, na forma simples, o
instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 8069/90).

SEGREDO DE JUSTIÇA: Nos termos do art. 234-B do CP, os processos que


apuram os crimes contra a dignidade sexual correm em segredo de justiça.

FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO


SEXUAL – ART. 228, CP, redação da Lei 12.015/2009.

CONCEITO DE PROSTITUIÇÃO: É O COMÉRCIO SEXUAL EXERCIDO COM


HABITUALIDADE (Masson).

CONSTITUI A PROSTITUIÇÃO A HABITUALIDADE DE PRESTAÇÕES CARNAIS


A UM NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS. INDEPENDE DO FIM DE LUCRO,

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PARA ALGUNS AUTORES, NÃO SE EXCLUINDO DO CONCEITO A ENTREGA A
QUALQUER PESSOA POR SIMPLES DESREGRAMENTO OU NINFOMANIA.

Afirma capez, que não é necessária a finalidade lucrativa, já Nucci entende o


contrário. A prostituição em si, embora seja um ato considerado imoral não é crime, mas
a exploração do lenocínio por terceiro é reprimida pelo Direito Penal.

Já Mirabete afirma que são características da prostituição a habitualidade, o fim


lucrativo e o número indeterminado de pessoas para as quais são prestados os serviços
sexuais.

PROSTITUIÇÃO É, PORTANTO, O COMÉRCIO HABITUAL DO PRÓPRIO CORPO,


EXERCIDO PELO HOMEM OU MULHER, EM QUE ESTES SE PRESTAM À SATISFAÇÃO
SEXUAL DE INDETERMINADO NÚMERO DE PESSOAS.

Vale ressaltar que a prostituição, por si só, não constitui crime ou contravenção
penal. É atividade lícita, embora, taxada de imoral, importando para o Direito Penal a
sua exploração e o seu estímulo.

QUEM SE PROSTITUI NÃO REALIZA FATO DE IMPORTÂNCIA PENAL, MAS


HÁ CRIME PARA QUEM A FAVORECE (ART. 228), CONTRIBUI PARA A SUA
MANUTENÇÃO, INTERMEDIANDO ENCONTROS AMOROSOS (ART. 229), OU DELA SE
APROVEITA MATERIALMENTE (ART. 230).

O CP FILIOU-SE AO SISTEMA ABOLICIONISTA, PELO QUAL NÃO SE PUNE


QUEM EXERCE A PROSTITUIÇÃO, MAS SIM AS PESSOAS QUE A ESTIMULAM,
EXPLORAM OU DELA TIRAM PROVEITO ECONÔMICO.

Afirma Capez que, por razões de política criminal, a prostituição, em si, não foi
elevada à categoria de crime, podendo constituir, QUANDO HÁ SOLICITAÇÃO
ESCANDALOSA EM LUGARES PÚBLICOS, UMA CONTRAVENÇÃO (art. 61 da LCP).

A PROSTITUIÇÃO EXIGE CONTATO FÍSICO ENTRE AS PESSOAS


ENVOLVIDAS NA ATIVIDADE SEXUAL.

Para Masson, após a lei 12.015/2009, o art. 228 do CP passou a alcançar


também o favorecimento de qualquer forma de exploração sexual – elemento normativo do
tipo, de índole cultural, cujo conceito deve ser obtido mediante análise do intérprete da
lei penal. Uma pessoa é explorada sexualmente quando vem a ser enganada para manter
relação sexual, ou então, nas situações em que, permite a obtenção de vantagem
econômica por terceira pessoa, em decorrência da sua atividade sexual. A exploração
sexual não se confunde com a violência sexual, nem com a satisfação sexual – livre busca
do prazer erótico entre pessoas maiores de idade e com pleno discernimento para a
prática do ato, fato que não interessa ao direito penal. AFIRMA ainda QUE NA
EXPLORAÇÃO SEXUAL NÃO HÁ EMPREGO DE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA
CONTRA A VÍTIMA.

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No art. 228 é definido o crime de FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL, COM REDAÇÃO DA LEI 12.015/2009:

“INDUZIR OU ATRAIR ALGUÉM À PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE


EXPLORAÇÃO SEXUAL, FACILITÁ-LA, IMPEDIR OU DIFICULTAR QUE ALGUÉM
A ABANDONE: PENA – RECLUSÃO, DE 2 (DOIS) A 5 (CINCO) ANOS, E MULTA.

§ 1° SE O AGENTE É ASCENDENTE, PADRASTO, MADRASTA, IRMÃO,


ENTEADO, CÔNJUGE, COMPANHEIRO, TUTOR OU CURADOR, PRECEPTOR OU
EMPREGADOR DA VÍTIMA, OU SE ASSUMIU, POR LEI OU OUTRA FORMA,
OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO OU VIGILÂNCIA: PENA – RECLUSÃO,
DE 3 (TRÊS) A 8 (OITO) ANOS.

§ 2° SE O CRIME É COMETIDO COM EMPREGO DE VIOLÊNCIA, GRAVE


AMEAÇA OU FRAUDE: PENA – RECLUSÃO, DE 4 (QUATRO) A 10 (DEZ) ANOS,
ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.

§ 3° SE O CRIME É COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE TAMBÉM


MULTA.”

Dessa forma, o delito consiste no fato de o sujeito ativo induzir ou atrair alguém
à prostituição ou a outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar
que alguém a abandone.

OBJETO JURÍDICO - tutela-se a dignidade da vida sexual, ou seja, protege-se


o indivíduo (homem ou mulher), no que concerne ao seu desenvolvimento, maturidade e
liberdade sexual.

Com a Lei 12.015/2009 reconheceu o legislador que, independentemente de


qualquer juízo de moralidade pública, a prostituição é uma atividade ou um estado que
fere a dignidade sexual da pessoa, por impedir ou dificultar o sadio desenvolvimento da
sexualidade e a liberdade de cada um a vivenciá-la a salvo de diversas formas de
violência e exploração. Tenta-se impedir, o que parece impossível, ou pelo menos
dificultar a prostituição, que é o último degrau da dissolução dos costumes ou qualquer
outra forma de exploração sexual.

ELEMENTOS DO TIPO - AÇÕES NUCLEARES: As ações nucleares do tipo


consubstanciam-se nos verbos:

a) INDUZIR (persuadir, aconselhar, ou seja, atuar no convencimento da vítima,


criando-lhe na mente a ideia de se prostituir). Constitui LENOCÍNIO PRINCIPAL
porque a vítima ainda não estava prostituída.

b) ATRAIR – chamar, seduzir, fascinar, chamar a atenção da vítima para o fato de


se prostituir; entretanto não há uma atuação persistente e continuada no sentido
de fazê-lo mudar de ideia e iniciar a prostituição. Importa em atividade de menor
influência psicológica do que a indução, pois o agente propaga a ideia, sem atuar
tão decisiva e diretamente sobre a mente da pessoa. Pode-se, por exemplo,

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atrair, simplesmente levando a pessoa para o ambiente, sem, no entanto, ficar
dizendo que ela tem de se prostituir; Constitui LENOCÍNIO PRINCIPAL porque a
vítima ainda não estava prostituída.

c) FACILITAR – favorecer o meretrício, prestar qualquer forma de auxílio, por


exemplo, arranjando cliente. Esta ação nuclear constitui LENOCÍNIO ACESSÓRIO,
pois o agente permite que a vítima, já entregue ao comércio carnal, nele se
mantenha com o seu auxílio, com as facilidades por ele proporcionadas. A
facilitação pode ocorrer de diversas formas em que o agente, de alguma maneira,
ajuda a prostituta a desenvolver suas atividades ou até mesmo a amealhar clientes.
Ex: porteira de hotel que apresenta catálogo de prostitutas a hospedes, motorista
de táxi que diz conhecer garotas de programa e se dispõe a buscar um grupo
delas para uma festa, sites que se dedicam a anunciar garotas e garotos de
programa etc.

d) IMPEDIR OU DIFICULTAR O ABANDONO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA


FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL– obstar ou dificultar a saída da vítima do
prostíbulo ou de outra forma de exploração sexual. Aqui a vítima já exerce o
meretrício e é impedida de abandonar essa função outra forma de exploração
sexual ou enfrenta obstáculos criados pelo agente para abandonar tais práticas.
Se o agente do crime, pelo menos uma vez, conseguiu evitar o abandono, diz-se
que IMPEDIU A VÍTIMA. Se, entretanto, apesar do óbice criado, a vítima
conseguiu abandonar a prostituição, diz-se que o agente DIFICULTOU o abandono
das atividades. O verbo DIFICULTAR, introduzido pela Lei 12.015/2009, tirou
parte da importância da figura do impedimento, pois sua consumação é antecipada,
isto é, existe o crime se o agente cria o óbice, mas, mesmo assim, a prostituta
consegue superá-lo e abandonar o comércio carnal. No IMPEDIMENTO,
entretanto, o crime é permanente, o que viabiliza a prisão em flagrante a qualquer
instante.

É possível a PRÁTICA DO CRIME POR OMISSÃO, desde que o agente tenha o dever
jurídico de impedir o resultado. Assim, cometem o crime em questão, o pai, tutor e
curador que aceitam e toleram a prostituição ou outra forma de exploração sexual de
pessoa que lhe é sujeita e cuja educação, orientação e guarda lhes compete.

CASOS QUE CARACTERIZAM O DELITO:

a) Arranjar a localização e a instalação de meretrizes;

b) Arranjar-lhes fregueses;

c) Endereçar mulheres à prostituição;

d) Encaminhar mulheres para outra cidade, com o fim de prostituição;

e) Encaminhar pessoas para apartamento, com o fim de promover encontros sexuais.

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Afirma a Doutrina que, com a alteração provocada pela Lei 12.015/2009, incluindo no
tipo penal “outra forma de exploração sexual” a simples presença da mulher ou do homem
em bares ou boates em que o corpo do agente passivo é usado com a estrita finalidade de
atrair freguesia, estará constituído o crime na modalidade “outra forma de exploração
sexual”.

Segundo Mirabete, ao se referir à prostituição ou outra forma de exploração sexual,


a lei afirma que a prostituição é uma forma de exploração sexual, sem, contudo, definir o
significado de tal expressão. O conceito de exploração sexual é mais amplo e abrange o
conceito de prostituição, concluindo-se que a fórmula genérica de que se valeu o
legislador permite a busca de seu significado mediante interpretação analógica, com base
nas semelhanças existentes com a prostituição.

São exemplos de exploração sexual para Mirabete:

- a mulher ou companheira de um condenado que se submete a manter relações


sexuais com outros detentos, em visitas íntimas, ou funcionário do presídio, para que
aquele possa usufruir de privilégios no cárcere;

-a pessoa que se submete a manter relações sexuais habituais com o proprietário do


imóvel em troca do abrigo ou moradia de que necessita;

- a filha constrangida ou induzida pela mãe a manter relações sexuais periódicas com
alguém, independentemente de remuneração, para agradá-lo e assim dele obter favores
de qualquer natureza ou somente a sua permanência sob o mesmo teto;

- a funcionária que é coagida a prestar serviços sexuais habituais ao patrão ou ao


chefe como forma de manter o emprego;

- a mulher, coagida pelo marido a se tornar amante de seu superior apenas para
favorecer a sua promoção;

- filha menor de um comerciante que é por este submetida a se exibir nua no


estabelecimento como meio de atrair fregueses;

- menor que é induzida ou coagida a se tornar dançarina de striptease, modelo para


fotografias eróticas ou atriz em filmes pornográficos, etc.

Ao se referir a lei à exploração sexual, não limitou o legislador o conceito do termo


sexual à conjunção carnal ou à prática de atos libidinosos diversos.

Afirma Mirabete também que não se configura o delito, na hipótese do agente


“doente e miserável”, que aceita a triste situação de marido traído, por não ter
condições materiais e morais de se opor aos deslizes sexuais da mulher, que transformou
o lar em verdadeiro meretrício.

Outros exemplos: induzir uma mulher a ser dançarina de striptease em lupanar, a ser
modelo habitual de filmes pornográficos, a dedicar-se a fazer sexo por telefone ou via
internet por meio de webcams (sem que haja efetivo contato físico com cliente), etc.

11
Afirma Victor Eduardo Rios Gonçalves que, tem proliferado essas duas últimas
modalidades antes não abrangidas pelo texto legal. Nestas, o cliente: a) tem conversas
eróticas com a vítima pelo telefone – normalmente mulheres – mediante pagamento
bancário direcionado ao responsável por organizar o esquema, providenciar as linhas
telefônicas, reunir as atendentes e divulgar o número de telefone em jornais ou pela
internet; b) fornece o número do seu cartão de crédito para desconto de determinado
valor para que, durante alguns minutos, tenha contato visual com a vítima da exploração
sexual via webcam. Nesse período, ele pede para que a vítima faça poses eróticas, se
masturbe, fale coisas indecorosas, etc. Responde pelo crime o responsável pela
organização e cobrança dessas práticas.

O CRIME DE FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO NÃO É DELITO HABITUAL,


BASTANDO A PRÁTICA DE UMA DAS CONDUTAS, POR UMA VEZ, PARA SE
CONFIGURE O ILÍCITO.

SUJEITO ATIVO - trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticar o


delito de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual.

SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa maior de dezoito anos, homem ou mulher,


pode ser vítima desse crime, até mesmo a própria prostituta, pois o tipo penal prevê a
conduta de facilitar a prostituição, impedir ou dificultar que alguém a abandone.

Pouco importa que o sujeito passivo seja pessoa de má reputação ou corrupta,


ocorrerá o delito na forma de induzir ou atrair a esse estado se o agente a incentivar,
levando-a a exercer o meretrício ou a se deixar explorar sexualmente. Nas últimas
formas já se pressupõe que a vítima seja prostituta.

Ressalte-se que, se o agente passivo for criança ou adolescente ou pessoa


vulnerável, o delito será o previsto no art. 218-B do CP (favorecimento da prostituição ou
outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou pessoal vulnerável), crime
hediondo, nos termos da LEI 12.978/2014, que promoveu a revogação tácita do art.
244-A, que pretendia combater a prostituição infantil-juvenil e a exploração sexual, com
a proibição de hospedagem de tais pessoas em hotel, motel ou congênere.

ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME – é o dolo, consubstanciado na vontade livre


e consciente de induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la, impedir ou dificultar
que alguém a abandone. Se houver a finalidade de obtenção de lucro, o crime será
qualificado na forma do § 3º.

Para Nucci, há o dolo específico consistente na vontade de introduzir alguém no


comércio profissional do sexo. Não há a forma culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: O CRIME CONSUMA-SE NO MOMENTO EM


QUE A VÍTIMA PASSA A SE DEDICAR HABITUALMENTE À PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL, APÓS TER SIDO INDUZIDA, ATRAÍDA OU
TER FACILITADA TAL ATUAÇÃO PELO AGENTE, OU AINDA QUANDO JÁ SE DEDICA
USUALMENTE A TAL PRÁTICA, TENTA DELA SE RETIRAR, MAS SE VÊ IMPEDIDA

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PELO AUTOR OU TEM A SUA SAÍDA DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL DIFICULTADA PELO SUJEITO ATIVO.

A PROSTITUIÇÃO, COMO ATIVIDADE PROFISSIONAL DO SEXO, SOMENTE


SE CONFIGURA COM O REQUISITO DA HABITUALIDADE.

Afirma Rogério Greco, que não é necessário o contato físico para configuração da
prostituição, a exemplo do que ocorre com o chamado DISK-SEXO, onde alguém presta
serviços sexuais a alguém em troca do preço, conduta que caracteriza a prostituição.

A TENTATIVA É POSSÍVEL EM TODAS AS HIPÓTESES: apesar do induzimento,


a mulher não se convence ou é impedida de colocar-se à disposição dos fregueses; não
cede a mulher aos conselhos ou oferecimentos do agente e abandona o meretrício etc.
RESSALTE-SE, MAIS UMA VEZ QUE, O CRIME PREVISTO NO ART. 228 DO CP NÃO
É HABITUAL, POIS BASTA O AGENTE FAVORECER UMA ÚNICA VEZ A
PROSTITUIÇÃO PARA QUE HAJA A CONFIGURAÇÃO DESSE TIPO PENAL.

FORMAS

SIMPLES – caput.

FORMAS QUALIFICADAS – §§ 1º, 2° e 3° do art. 228. A intenção de lucro,


prevista o § 3º, é por parte do agente e não da vítima.

O crime de favorecimento, evidentemente, pode ser cometido sem intenção de


lucro, por parte do agente, que, por exemplo, aconselha uma moça a entrar na
prostituição para ela possa se sustentar. Caso o agente o faça, todavia, a fim de obter
alguma vantagem financeira, incorrerá também na pena de multa. Se o agente visar
reiteradamente participação nos lucros de quem exerce a prostituição, incorrerá em crime
de rufianismo.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: estão previstas no art. 234-A do CP, criado


pela Lei 12.015/2009: “Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: I –
(vetado); II – (vetado); III – de metade, se do crime resultar gravidez e IV – de um
sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de
que sabe ou deveria saber ser portador”.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA – é crime comum (não exige sujeito ativo


qualificado ou especial), material (exige resultado naturalístico, consistente na efetiva
prática da prostituição pelo sujeito passivo), delito de forma livre (pode ser cometido por
qualquer meio eleito pelo agente), em regra é comissivo (os verbos implicam em ação),
excepcionalmente, pode ser praticado por omissão imprópria na forma do art. 13, § 2°,
do CP, instantâneo (a consumação não se prolonga no tempo), unissubjetivo (pode ser
praticado por um só agente), plurissubsistente (é possível a conduta ser realizada por
mais de um ato).

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AÇÃO PENAL – trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Nos
termos do art. 234-B, do CP, os processos em que se apura o crime previsto no art. 227
do CP correrão em segredo de justiça.

DISTINÇÃO

Se o sujeito passivo é menor de 18 anos ou pessoa com enfermidade ou deficiência


mental que não tem discernimento necessário em relação às questões sexuais, configura-
se o descrito no art. 218-B, punido com reclusão de 4 a 10 anos, em razão da maior
proteção conferida pela lei às pessoas vulneráveis.

Não se confunde o crime previsto no art. 228 com o do art. 227 do CP


(MEDIAÇÃO PARA SERVIR À LASCÍVIA DE OUTREM). Neste, a conduta do agente se
destina a servir determinada pessoa sem caráter de habitualidade. Também não se
confunde com o crime previsto no art. 229 do CP. Evidentemente que, quem mantém casa
de prostituição também a facilita; todavia, a primeira conduta já se acha definida como
fato típico, pelo que, caracterizando-se, não se pune a segunda. Trata-se de um conflito
aparente de normas.

SEGREDO DE JUSTIÇA: Nos termos do art. 234-B do CP, os processos que


apuram essa modalidade de infração penal correm em segredo de justiça.

ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA EXPLORAÇÃO SEXUAL - ART. 229 DO


CP

CONCEITO: Segundo Mirabete, na Antiguidade, o Estado chegou até manter, ou


pelo menos regulamentar, os lupanares, hospedarias ou banhos públicos onde se instalava
a prostituição. Modernamente, porém, pune-se, como forma especial de favorecimento à
prostituição, o fato de manter-se locais para encontros libidinosos. Trata-se do crime de
ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA EXPLORAÇÃO SEXUAL (ex: falsos hotéis,
pensões, etc), previsto no art. 229, do CP, com redação da Lei 12.015 de 7 de agosto
de 2009:

“MANTER, POR CONTA PRÓPRIA OU DE TERCEIRO, ESTABELECIMENTO EM


QUE OCORRA EXPLORAÇÃO SEXUAL, HAJA, OU NÃO, INTUITO DE LUCRO
OU MEDIAÇÃO DIRETA DO PROPRIETÁRIO OU GERENTE: PENA – RECLUSÃO,
DE DOIS A CINCO ANOS E MULTA”.

O delito consiste no fato de o sujeito ativo manter, por conta própria ou de


terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro
ou mediação direta do proprietário ou gerente.

Ressalte-se mais uma vez que a prostituição, por si só, não é crime. A lei pune a
sua exploração. O que a lei sempre puniu foi o lenocínio, que é a atividade acessória ou
parasitária da prostituição.

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REQUISITOS DA PROSTITUIÇÃO:

a) A habitualidade da conduta;

b) Um número indeterminado de pessoas a quem a vítima se entrega;

c) A finalidade de lucro (para a maioria dos autores).

OBJETO JURÍDICO- tutela-se a dignidade da vida sexual da pessoa. Objetiva o


legislador coibir uma forma específica de favorecimento da prostituição e demais formas
de exploração sexual, consistente em propiciar um local próprio para o exercício dessas
atividades. Antes da Lei 12.015/2009, a redação do tipo não se referia a
estabelecimento onde haja exploração sexual, mas sim lugar destinado a encontros
libidinosos: O QUE ESTÁ REPROVADO, AGORA, NÃO É O SEXO (A LIBIDINAGEM), E
SIM, A EXPLORAÇÃO. A jurisprudência já caminhava nesse mesmo sentido (destacando-
se a necessidade de proteção de menores).

ELEMENTOS DO TIPO: AÇÃO NUCLEAR

A ação nuclear do tipo consiste no verbo MANTER, isto é, CONSERVAR,


SUSTENTAR ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA A EXPLORAÇÃO SEXUAL, HAJA
OU NÃO, INTUITO DE LUCRO OU MEDIAÇÃO DIRETA DO PROPRIETÁRIO OU
GERENTE, O QUE FORNECE A NÍTIDA VISÃO DE ALGO HABITUAL OU FREQUENTE.

O CRIME É HABITUAL, exigindo-se a repetição de atos de meretrício ou


exploração sexual, daí o núcleo MANTER, que significa a conduta de conservar, sustentar.
Uma ação apenas não tipifica o delito.

Afirma Mirabete que se tem exigido, para a demonstração da habitualidade, uma


sindicância prévia ou uma prova inconteste. Essa circunstância, porém, pode ser
comprovada por qualquer meio, inclusive o flagrante, o mais cabal, a mais convincente das
provas do crime e da autoria. Havendo permanência, reiteração, continuidade no
acolhimento de pessoas para os fins vedados, o crime é permanente, permitindo-se em
qualquer momento a prisão em flagrante.

Incluídos estão no dispositivo, segundo Nelson Hungria, “não só o pensionato de


meritrício, o conventilho, o bordel, o prostíbulo, o lupanar, o alcoice, a casa de rendez-
vouz ou de passe, o hotel de cômodos à hora, senão também todo e qualquer local
destinado a encontros lascivos, sejam ou não com prostitutas, propriamente tais”.

Tem-se entendido que se deve dar ao dispositivo, interpretação estrita, não sendo
casas de prostituição ou hotéis de alta rotatividade, estabelecimentos destinados, em
princípio a receber toda espécie de hóspedes. Essa interpretação tem sido, por vezes,
acolhida na jurisprudência.

Em fevereiro de 2011 a 1ª. Turma do STF negou pedido de Habeas Corpus (HC
104467), impetrado pelos donos da Boate Pantera, na cidade de Cidreira (RS),
denunciados pelo crime previsto no art. 229 do CP. A relatora ministra Cármen Lúcia

15
Antunes Rocha, AFASTOU A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
alegado pela defesa, que defendia a necessidade de aplicar a lei vigente aos “fatos da
vida real”. Ao proferir seu voto, a citada Ministra do STF observou que, pelo exposto na
peça acusatória, tratava-se de “uma espécie de lenocínio” e que os bens jurídicos
protegidos, no caso, pelo CP, em benefício de toda a coletividade, são “a moralidade
sexual e os bons costumes, valores ainda de elevada importância”.

Em 2009, a Lei 12.015, alterou o art. 229 do CP e retirou da tipificação do


crime a expressão “lugar destinado a encontros para fins libidinosos”. A nova norma, ao
adequar o tipo penal ao momento da sociedade, tornou atípico apenas o comportamento de
manter lugares para encontros (como motéis e casas noturnas). A CRIMINALIZAÇÃO SE
MANTEVE PARA A MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO PARA FINS DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL. Afirmou a Ministra Carmen Lúcia que “a liberdade sexual,
inserida aí, a disposição do próprio corpo, mediante paga, para fins libidinosos, não se
confunde com a exploração da liberdade sexual alheia para fins de lucro.

Segundo a jurisprudência e doutrina majoritárias não constituem estabelecimentos


de prostituição as boates, motéis, casas de massagem, relax for men, drive-in, saunas
mistas, hotéis de alta rotatividade, pois não são lugares específicos para a prostituição.

Assim, é pacífico o entendimento de que não pode ser considerado o local


destinado para encontro de amantes, namorados, companheiros (os motéis ou hotéis de
alta rotatividade). Nesse sentido já se manifestou o STJ: “A CASA DE PROSTITUIÇÃO
NÃO REALIZA AÇÃO DENTRO DO ÂMBITO DA NORMALIDADE SOCIAL AO
CONTRÁRIO DO MOTEL QUE, SEM IMPEDIR A EVENTUAL PRÁTICA DE MERCADORIA
DO SEXO, NÃO TEM POR FINALIDADE ÚNICA E ESSENCIAL FAVORECER O
LENOCÍNIO”. STJ, 6ª. Turma, REsp 149.070-DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j.
9.6.1998, DJ, 29.6.1998. No tocante à casa de massagem, banho, ducha, relax e bar,
a simples manutenção destes não configura o delito previsto no art. 229 do CP, SENDO
NECESSÁRIO COMPROVAR QUE OS EMPREGADOS SE PRESTAM À EXPLORAÇÃO
SEXUAL.

Importante mencionar, que embora haja tolerância por parte da sociedade e


mesmo dos órgãos policiais relativamente à manutenção de estabelecimento em que ocorra
a exploração sexual, o art. 229 do CP não deixou de ser considerado crime, embora sua
aplicação esteja em desuso. Assim, a aceitação social de um fato reputado criminoso pela
lei penal, o qual, em virtude de reiterada prática e aprovação social passa a constituir um
costume (por ex: jogo do bicho), não tem o condão de descriminalizá-la. Tampouco se
vislumbra uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. Esse, inclusive, é o
entendimento do STJ.

A manutenção de estabelecimento destinado à exploração sexual, mediante licença


da autoridade policial ou pagamento de imposto ou taxas, poderá configurar o erro de
proibição (CP, art. 21), pois há erro sobre a ilicitude do fato. Nenhuma autoridade está
autorizada por lei a conceder licença ou cobrar qualquer tipo de taxa para o

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funcionamento de tais locais, porém, o agente, por desconhecer a lei, supõe ser lícito o
fato.

Tendo em vista o verbo empregado pelo tipo penal, MANTER, trata-se de um


crime habitual e permanente, exigindo-se a repetição dos atos de meretrício ou
libidinagem, ou seja, atos de exploração sexual.

O crime previsto no art. 229 do CP, abrange casas de prostituição, casas de


massagens onde haja encontros com prostitutas em quartos, boates em que se faça
programa com prostitutas etc. O tipo penal é abrangente, punindo o dono do local, o
gerente, os empregados que mantêm a casa etc. O texto legal, dispensa para a
ocorrência do crime a intenção de lucro (normalmente existente) e a mediação direta do
proprietário ou gerente na captação de clientes. Assim, não exclui o crime o fato de, no
interior da casa de prostituição serem as próprias moças quem se incumbem de se
aproximar dos clientes e fazerem a proposta do encontro carnal.

Existem muitas boates cujos donos incentivam a frequência de prostitutas ou as


atraem para o exercício de suas atividades no local, mas que, por não haver local
apropriado para a prática de relações sexuais, não são classificadas como casa de
prostituição. Nesses casos, todavia, devem os responsável ser punidos ao menos pelo
crime de favorecimento è prostituição (art. 228, do CP), NA FORMA DE FACILITAÇÃO –
quando não cobrarem porcentagem ou valores das prostitutas, ou rufianismo, quando for
cobrada comissão.

O STJ já se manifestou no sentido de que: “NO DELITO DO ART. 229, DO CP,


A PROVA DA HABITUALIDADE PRESCINDE DE SINDICÂNCIA PRÉVIA PODENDO SER
DEMONSTRADA POR OUTROS MEIOS, INCLUSIVE DEPOIMENTOS DE
TESTEMUNHAS. RECURSO DESPROVIDO”. STJ, 5ª. TURMA. RHC 11.853-RJ – REL.
Min. ARNALDO DA FONSECA, J. 27/11/2001, DJ, 25/2/2002, P. 401. EM SENTIDO
CONTRÁRIO: “O DELITO DO ART. 229 DO CÓDIGO PENAL EXIGE PROVA DE
REITERAÇÃO DOS ENCONTROS PARA FIM LIBIDINOSO, PARA A SUA
CONFIRMAÇÃO, O QUE SE FAZ ATRAVÉS DE SINDICÂNCIA PRÉVIA” (RT, 522/327).
E AINDA: “NÃO HÁ FALAR NO DELITO DO ART. 229 DO CÓDIGO PENAL SE NÃO
AVERIGUOU A POLÍCIA A EXISTÊNCIA NO HOTEL, DE HÓSPEDES FIXOS E TAMBÉM
NÃO EFETUOU SINDICÂNCIA PRÉVIA PARA CONSTATAR A HABITUALIDADE, QUE É
REQUISITO INDISPENSÁVEL À SUA CONFIGURAÇÃO” (RT, 519/355).

INDAGA-SE: A AUTORIDADE POLICIAL QUE PRETENDE REALIZAR


DILIGÊNCIA DE BUSCA E APREENSÃO DENTRO DO ESTABELECIMENTO EM QUE
OCORRA A EXPLORAÇÃO SEXUAL NECESSITA DE ORDEM JUDICIAL? HÁ UM
POSICIONAMENTO NA JURISPRUDÊNCIA NO SENTIDO DE QUE A GARANTIA DA
INVIOLABILIDADE DOMICILIAR “NÃO SE ESTENDE A LARES DESVIRTUADOS,
COMO CASSINOS CLANDESTINOS, APARELHOS SUBVERSIVOS, CASA DE
TOLERÂNCIA, LOCAIS E PONTOS DE COMÉRCIO CLANDESTINO DE DROGAS OU
ENTORPECENTES. TRATANDO-SE DE INFRAÇÃO DE CARÁTER PERMANENTE,
ININVOCÁVEL A TUTELA CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DO LAR E

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FALTA DE MANDADO PARA O INGRESSO NO MESMO”. Porém, deve-se ressalvar que,
no caso do estabelecimento em que ocorra a exploração sexual, muitas vezes a mesma
serve de residências para as prostitutas, de forma que, se o local estiver fechado ao
público, será objeto de proteção penal.

SUJEITO ATIVO - qualquer pessoa (homem ou mulher) que mantenha


estabelecimento em que ocorra exploração sexual pode ser sujeito ativo do crime, haja,
ou não, intuito de lucro ou a intermediação direta do proprietário ou gerente. Dispensa-
se que o agente obtenha proveito econômico com a prostituição ou outra forma de
exploração sexual, exercida em seu estabelecimento ou com os encontros libidinosos de
seus pensionistas. Também se dispensa a mediação direta entre o proprietário do
estabelecimento, a prostituta e o seu cliente, ou seja, não se exige que o proprietário
realize qualquer captação de clientela.

O SUJEITO ATIVO É CHAMADO PROXENETA – AQUELE QUE PRATICA O


LENOCÍNIO, MANTENDO LOCAIS DESTINADOS A ENCONTROS LIBIDINOSOS OU
SERVE DE MEDIADOR PARA A SATISFAÇÃO DO PRAZER SEXUAL ALHEIO. PARA
GUILHERME NUCCI, EXISTE DIFERENÇA ENTRE O PROXENETA E O RUFIÃO, SENDO
O PROXENETA A PESSOA QUE INTERMEDIA ENCONTROS AMOROSOS PARA
TERCEIROS, MANTENDO LOCAIS PRÓPRIOS E O RUFIÃO OU CAFETÃO É A PESSOA
QUE VIVE DA PROSTITUIÇÃO ALHEIA, FAZENDO-SE SUSTENTAR PELA (O)
PROSTITUTA(O), COM OU SEM O EMPREGO DE VIOLÊNCIA.

O proprietário de um imóvel que o aluga para determinado fim comercial (por ex:
clínica estética para homem), vindo o inquilino a nele manter estabelecimento em que
ocorra a exploração sexual sem o conhecimento daquele, não pode ser considerado
coautor do crime do art. 229. Também se exclui do art. 229 do CP a conduta da
prostituta, que aluga um imóvel para exercer o meretrício, pois não é crime prostituir-se.
Mesmo que várias prostitutas mantenham um imóvel com esse fim, a conduta será atípica,
pois tem de existir a figura de terceira pessoa que mantenha, administre a casa com o
fim de proporcionar os encontros sexuais. Caso a pessoa que administre o estabelecimento
também seja prostituta, responderá ela por esse delito, pois não está somente exercendo
o meretrício por si só.

Afirma Mirabete que não há crimes no fato de inquilinas do agente receberem


homens em seus aposentos para prostituição ou outra forma de exploração sexual, sem
que tenha havido a sua mediação. A responsabilidade do empregado subalterno do hotel,
aliás, somente pode ser admitida quando se alegue e seja demonstrada a sua participação
consciente na ação típica prevista na lei.

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SUJEITO PASSIVO – são aqueles (homem ou mulher) que se dedicam à exploração
sexual (prostituição), ou frequentam o local destinado a encontros libidinosos. Tratando-
se de sujeitos passivos menores de 18 anos, configura-se o crime previsto no art. 218-B,
do CP.

ELEMENTO SUBJETIVO – É O DOLO, CONSISTENTE NA VONTADE LIVRE E


CONSCIENTE DE MANTER ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA EXPLORAÇÃO
SEXUAL. O INTUITO LUCRATIVO PODE OU NÃO EXISTIR.

Para Mirabete, o dolo genérico é a vontade de manter o estabelecimento em que


ocorra a exploração sexual. Afirmava também que se exige, como no delito anterior, o
fim de satisfazer a lascívia de outrem, que é, na realidade, o favorecimento à
prostituição ou a prática de atos libidinosos. Não comporta o crime a forma culposa, não
respondendo pelo ilícito o proprietário do hotel por ser desidioso na fiscalização do
porteiro que se dá à prática delituosa.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA – é crime comum (não exige sujeito ativo


qualificado ou especial), formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente
na efetiva degradação da moral sexual), delito de forma livre (pode ser cometido por
qualquer meio eleito pelo agente), em regra é comissivo (“manter” implica em ação),
excepcionalmente, pode ser praticado por omissão imprópria na forma do art. 13, § 2°,
do CP, permanente (a consumação se prolonga no tempo), unissubjetivo (pode ser
praticado por um só agente), plurissubsistente (é possível a conduta ser realizada por
mais de um ato). É delito habitual e não comporta tentativa. Vale ressaltar que a
habitualidade da conduta não impede a prisão em flagrante do seu autor.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: CONSUMA-SE O DELITO COM O INÍCIO DE


MANUTENÇÃO DO ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA EXPLORAÇÃO SEXUAL,
HAJA OU NÃO INTUITO DE LUCRO OU MEDIAÇÃO DIRETA DO PROPRIETÁRIO OU
GERENTE. Não é necessária a prática de qualquer ato sexual. Basta a prova de que o
estabelecimento se destina à exploração sexual, por exemplo: prostitutas que já se
encontram alojadas no quartos no aguardo dos clientes, panfletos anunciando a abertura
do estabelecimento de prostituição etc. Além de crime habitual é também permanente,
pois enquanto o estabelecimento estiver funcionando, estarão sendo lesados os bens
tutelados. Por isso, em havendo prova da habitualidade, a prisão em flagrante é possível.

A TENTATIVA É INADMISSÍVEL, POIS SE TRATA DE CRIME HABITUAL.


Embora se exija habitualidade, um só ato é bastante para a caracterização do ilícito
quando indicar que há instalação para encontros reiterados. A tentativa, afirma
Mirabete é impossível, porque, ou há meros atos preparatórios ou já houve a instalação
destinada à prostituição e o delito consumou-se.

FORMAS DO DELITO

SIMPLES – está prevista no caput.

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CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: previstas no art. 234-A: “Nos crimes
previstos neste Título a pena é aumentada: I – (vetado); II (vetado); III – de
metade, se do crime resultar gravidez e IV – de um sexto até a metade, se o agente
transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador.”

AÇÃO PENAL- trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Nos


termos do art. 234-B, do CP, os processos em que se apura o crime previsto no art. 227
do CP correrão em segredo de justiça.

DISTINÇÃO: Os tipos dos arts. 228 e 229 são autônomos, embora o segundo
seja uma espécie do primeiro. Nada impede, porém, que o agente, além de manter
estabelecimento de exploração sexual, induza ou atraia alguém à prática do meretrício
ou a facilite, ou mesmo que impeça ou dificulte que alguém a abandone, ocorrendo, no
caso, concurso material. Ressalte-se que, a prostituta que recebe clientes em sua
casa para encontros sexuais, explorando o próprio comércio carnal, não incorre no
crime previsto no art. 229 do Código Penal.

SEGREDO DE JUSTIÇA: Nos termos do art. 234-B, do CP, os processos que


apuram essa modalidade de infração penal correm em segredo de justiça.

RUFIANISMO – ART. 230.

CONCEITO: consiste no fato de o sujeito ativo tirar proveito da prostituição


alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou
em parte, por quem a exerça. O rufianismo é uma espécie de lenocínio, em que o
agente explora a prostituta que vai servir à lascívia alheia, é o delito de
RUFIANISMO, definido, no art. 230:

“TIRAR PROVEITO DA PROSTITUIÇÃO ALHEIA, PARTICIPANDO


DIRETAMENTE DE SEUS LUCROS OU FAZENDO-SE SUSTENTAR, NO TODO
OU EM PARTE, POR QUEM A EXERÇA: PENA- RECLUSÃO, DE UM A QUATRO
ANOS, E MULTA.

§ 1° SE A VÍTIMA É MENOR DE 18 (DEZOITO) E MAIOR DE 14 (CATORZE)


ANOS OU SE O CRIME É COMETIDO POR ASCENDENTE, PADRASTO,
MADRASTA, IRMÃO, ENTEADO, CÔNJUGE, COMPANHEIRO, TUTOR OU
CURADOR, PRECEPTOR OU EMPREGADOR DA VÍTIMA, OU POR QUEM
ASSUMIU, POR LEI OU OUTRA FORMA, OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO
OU VIGILÂNCIA: PENA – RECLUSÃO, DE 3 (TRÊS) A 6 (SEIS) ANOS E MULTA.

§ 2° SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA,


FRAUDE OU OUTRO MEIO QUE IMPEÇA OU DIFICULTE A LIVRE
MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DA VÍTIMA: PENA – RECLUSÃO, DE 2 (DOIS)

20
A 8 (OITO) ANOS, SEM PREJUÍZO DA PENA CORRESPONDENTE À
VIOLÊNCIA.”

OBJETO JURÍDICO - tutela-se, ainda uma vez, a vida sexual regular, a


dignidade sexual, de acordo com os bons costumes, a moralidade pública e a
organização familiar, embora não se deixe de proteger, também a prostituta.
Procura-se, assim, coibir a exploração da prostituição. Note-se que a prostituição em
si não é moralmente elevada, nem eticamente suportável, dentro dos princípios de
dignidade sexual, embora não seja penalmente punível. Entretanto, quem explora a
prostituição pratica ato atentatório aos padrões médios de moralidade e, conforme a
situação, penalmente relevante.

OBJETO MATERIAL: é a pessoa prostituída explorada.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO (TIPO OBJETIVO)

AÇÕES NUCLEARES

DUAS SÃO AS CONDUTAS TÍPICAS:

a) TIRAR PROVEITO DA PROSTITUIÇÃO ALHEIA, PARTICIPANDO


DIRETAMENTE DE SEUS LUCROS – aqui o RUFIÃO constitui uma espécie de
sócio da meretriz, pois tem participação em seus lucros. Exige-se que o
proveito econômico (DINHEIRO OU QUALQUER OUTRA VANTAGEM) seja
proveniente do exercício da prostituição. Dessa forma, se for produto de
herança da meretriz ou qualquer outra renda, não há que se falar no crime de
rufianismo. É CHAMADO RUFIANISMO ATIVO.

b) OU FAZENDO-SE SUSTENTAR, NO TODO OU EM PARTE, POR QUEM A


EXERÇA – cuida-se aqui da manutenção do rufião através do fornecimento de
alimentação, vestuário, habitação etc. É CHAMADO RUFIANISMO PASSIVO.

Trata-se de crime permanente e habitual. Na modalidade PARTICIPAR, deve


haver uma continuada entrega de lucros pela prostituta ao rufião. Na modalidade
SUSTENTAR, deve o sustento perdurar por algum tempo. Não basta, por exemplo,
que a prostituta lhe pague uma única refeição ou lhe dê uma peça de roupa, OU O
PRESENTEIE. Exige-se, sim, UMA AÇÃO CONTINUADA.

CRIME HABITUAL: tirar proveito participando dos lucros ou tirar proveito


fazendo-se sustentar são condutas nitidamente habituais, que implicam em um
conjunto. Afirma Nucci que, isoladamente, o fato de a pessoa tirar proveito dos
lucros da prostituta uma única vez é atípico, penalmente irrelevante. Globalmente,
entretanto, fazendo disso seu método de vida, torna-se punível para o Direito Penal.

O rufião visa à obtenção de vantagem econômica reiterada em relação à prostituta


ou prostitutas determinadas.

21
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa, homem ou mulher, pode praticar o crime
de rufianismo. São vários tipos de rufiões: há os que utilizam coação, inclusive pela
força ou terror; há os que atuam pelo poder de sedução ou do amor ou o que faz
apenas da atividade um comércio (comerciante). Segundo Rogério Greco, o sujeito
ativo na segunda ação nuclear (FAZENDO-SE SUSTENTAR NO TODO OU EM PARTE
POR QUEM EXERÇA A PROSTITUIÇÃO) é o famoso GIGOLÔ, normalmente amante
da prostituta.

Os GIGOLÔS, que se servem gratuitamente da meretriz, ou que dela recebem


esporádicos presentes, não praticam o crime, segundo Capez. A meretriz também
pode ser sujeito ativo do crime; prestando-se, mediante paga, a guardar outras
prostitutas da polícia, enquanto se entregam estas a comercio sexual, pratica o delito
de rufianismo.

SUJEITO PASSIVO- a pessoa que exerce a prostituição (homem ou mulher),


ou seja, a pessoa que se presta ao comércio carnal. Em segundo lugar, é a
coletividade, pois o delito é contra a dignidade sexual.

ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME: É o dolo, consistente na vontade livre e


consciente de tirar proveito da prostituição alheia, participando dos seus lucros, ou
ser por ela sustentado, ainda que em parte. Não se exige nenhuma finalidade
específica. O erro por parte do sujeito quanto à fonte de renda elide o dolo e exclui
o crime. Não existe a forma culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA = Consuma-se o delito com a participação


reiterada do rufião no recebimento dos lucros, bem como da sua manutenção às
custas da pessoa prostituída. TRATANDO-SE DE CRIME HABITUAL É IMPOSSÍVEL
A OCORRÊNCIA DE TENTATIVA.

CLASSIFICAÇÃO: trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo
qualificado ou especial), material (delito que exige resultado naturalístico, consistente
no efeito proveito auferido pelo agente em detrimento da vítima), de forma livre
(podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente), comissivo (“tirar proveito”
implica em ação), e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou
seja, é a aplicação do art. 13, § 2°, do CP), instantâneo (cujo resultado se dá de
maneira instantânea, não se prolongando no tempo), embora dependa de minuciosa
verificação, pois o complemento é de natureza habitual; unissubjetivo (que pode ser
praticado por um só agente), plurissubsistente (em regra, vários atos integram uma
conduta). Não admite tentativa.

FORMAS

SIMPLES: está prevista no caput.

FORMAS QUALIFICADAS: estão previstas nos §§ 1º e 2º.

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CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: previstas no art. 234-A: “Nos crimes
previstos neste Título a pena é aumentada: I – (vetado); II (vetado); III – de
metade, se do crime resultar gravidez e IV – de um sexto até a metade, se o agente
transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador.” Redação da Lei 12.015 de 07/08/2009.

Ressalte-se que o § 3° do art. 230 foi revogado pela Lei 11.106/2005,


tornando dispensável a finalidade de lucro.

AÇÃO PENAL. PROCEDIMENTO. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS


CRIMINAIS – trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Na forma
simples, é cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n.
9099/95). Nos termos do art. 234-B, do CP, os processos em que se apura o crime
previsto no art. 227 do CP correrão em segredo de justiça.

CONCURSO - possível é falar-se em crime continuado quando o agente explora


várias prostitutas. É PERFEITAMENTE POSSÍVEL CONCURSO MATERIAL ENTRE
ESTABELECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO
SEXUAL E RUFIANISMO, PERMANECENDO ATUAL (E APLICÁVEL) O
ENTENDIMENTO DO STJ NO SENTIDO DE QUE O PRIMEIRO, ART. 229 DO CP,
NÃO FICA ABSORVIDO PELO SEGUNDO, ART. 230 (RSTJ 134/525).

SEGREDO DE JUSTIÇA: Nos termos do art. 234-B do CP, os processos que


apuram essa modalidade de infração penal correm em segredo de justiça.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL –


ART. 231

REVOGADO PELA LEI 13.344 de 06 de outubro de 2016, publicada no dia 07 de


outubro de 2016, que entrou em vigor 45 dias após a sua publicação.

TRÁFICO INTERNO DE PESSOA (ART. 231-A) – também foi revogado pelo art.
13 da Lei 13.344/2016.

OS CRIMES ANTES PREVISTOS NOS ARTS. 231 e 231-A FORAM


UNIFICADOS. AGORA A CONDUTA É DENOMINADA TRÁFICO DE PESSOAS,
ESTÁ TIPIFICADA NO ART. 149-A DO CÓDIGO, OU SEJA, O CRIME FOI
INCORPORADO AO TÍTULO I (CRIMES CONTRA A PESSOA), CAPÍTULO V (DOS
CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL – SEÇÃO I – DOS CRIMES CONTRA
A LIBERDADE PESSOAL), deixando, portanto, de integrar o Título VI da Parte
Especial que trata dos Crimes contra a dignidade sexual.

A nova lei constitui uma adaptação da lei brasileira ao Protocolo Adicional à


Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas (Protocolo de Palermo), do qual
o Brasil é signatário.

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Afirma Masson que, em tempos de globalização, de “cidadãos do mundo”, no qual
todos procuram transformar seus sonhos em realidade, com facilidade, surgem
verdadeiras redes criminosas que se aproveitam da vulnerabilidade de muitas pessoas,
para praticarem uma das mais cruéis e desumanas formas de escravidão humana: o
tráfico de pessoas.

O tráfico de pessoas é uma das atividades mais lucrativas do mundo, faz milhões
de vítimas e movimenta bilhões dólares por ano, segundo informações do Escritório da
ONU sobre drogas e Crime (UNODC). Tal crime está relacionado a outras práticas
criminosas e de violações de direitos humanos, servindo não apenas à exploração da
mão de obra escrava, mas também a redes internacionais de exploração sexual
comercial, muitas vezes ligadas a roteiros de turismo sexual e associações criminosas
transnacionais especializadas em remoção de órgãos.

Com a finalidade de adequar a lei brasileira à sistemática internacional, o art. 13


da Lei 13.344/2016 criou o crime de tráfico de pessoas, incluindo o art.149-A ao
Código Penal.

A Lei 13.344/2016 dispõe sobre PREVENÇÃO E REPRESSÃO AO TRÁFICO


INTERNO E INTERNACIONAL DE PESSOAS E SOBRE MEDIDAS DE ATENÇÃO ÀS
VÍTIMAS; ALTEROU A LEI 6.815, DE 19 DE AGOSTO DE 1980 (Estatuto do
Estrangeiro), O DECRETO-LEI 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 (CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL), E O DECRETO-LEI 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (CÓDIGO
PENAL); e REVOGOU DISPOSITIVOS DO DECRETO-LEI 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO
DE 1940 (CÓDIGO PENAL).

A nova lei trata DO TRÁFICO DE PESSOAS COMETIDO NO TERRITÓRIO


NACIONAL CONTRA VÍTIMA BRASILEIRA OU ESTRANGEIRA E NO EXTERIOR
CONTRA VÍTIMA BRASILEIRA.

O Brasil ao aprovar a Lei 13.344/2016 comprovou sua adesão ao Protocolo


Adicionou à Convenção da ONU contra o Crime Organizado relativo à prevenção,
repressão e punição ao tráfico de pessoas, que ratificou e promulgou pelo Decreto
5.017/2004. Apesar desse compromisso assumido na órbita internacional, o tráfico de
pessoas era reprimido criminalmente pelo ordenamento jurídico nacional apenas em sua
forma de exploração sexual, por meio dos tipos previstos nos arts. 231 e 231-A, do
Código Penal, revogados pela mencionada lei.

AGORA, SÃO CRIMES OUTRAS FORMAS DE EXPLORAÇÃO (REMOÇÃO DE


ÓRGÃOS, TRABALHO ESCRAVO, SERVIDÃO E ADOÇÃO ILEGAL), O QUE REPRESENTA
UM GRANDE AVANÇO NO COMBATE AO TRÁFICO DE PESSOAS. Nessa esteira, a Lei
13.344/2016 está baseada em três aspectos: PREVENÇÃO, REPRESSÃO E
ASSISTÊNCIA À VÍTIMA (art. 1º, parágrafo único).

Além de questões gerais e propedêuticas (princípios, forma de prevenção etc.), essa


lei também tem importantes dispositivos penais e processuais. No art. 1º, a sobredita Lei

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estabelece a sua aplicação para o tráfico de pessoas cometido no território nacional
contra vítima brasileira ou estrangeira e no exterior contra vítima brasileira. Portanto,
não dispõe ser aplicável ao tráfico de pessoas cometido no exterior contra vítima
estrangeira. Outro ponto interessante e com enorme efeito prático está no art. 3º,
VIII, quando aponta como diretriz do enfrentamento ao tráfico de pessoas a preservação
do sigilo dos procedimentos administrativos e judiciais, nos termos da lei. Em seu art.
5º, prevê que a repressão ao tráfico de pessoas ocorrerá por meio da cooperação entre
órgãos do sistema de justiça e segurança, nacionais e estrangeiros; da integração de
políticas e ações de repressão aos crimes correlatos e da responsabilização dos seus
autores; e da formação de equipes conjuntas de investigação. Um dos aspectos mais
significativos da nova Lei é a previsão no seu art. 6º de várias formas de proteção e
atendimento, de forma semelhante à Lei Maria da Penha. Destaca-se, por exemplo, o
atendimento humanizado, assim como as várias formas de assistência (jurídica, social, de
trabalho e emprego e de saúde). Da mesma forma, possibilita que o juiz, inclusive de
ofício, determine medidas assecuratórias relacionadas a bens, direitos ou valores
pertencentes ao investigado ou acusado, que sejam instrumento, produto ou proveito do
crime de tráfico de pessoas.Também nessa linha, o art. 13-B do CPP, possibilita que o
membro do Ministério Público ou o delegado de polícia requisitem, mediante autorização
judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados que permitam a localização da
vítima ou dos suspeitos do delito em curso. Na esfera da execução penal, a nova Lei
altera o art. 83, V, do Código Penal, para exigir do condenado pelo crime de tráfico de
pessoas o cumprimento de 2/3 da pena para que possa obter o livramento condicional.
Assim, o tráfico de pessoas, sem ser um crime hediondo ou equiparado a hediondo, passa
a exigir essa fração superior, da mesma forma que os crimes hediondos, de tráfico de
drogas, de terrorismo e de tortura.

O Art. 13 da Lei 13.344/2016 criou o art. 149-A, do Código Penal, definido


como TRÁFICO DE PESSOAS, assim descrito:

Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar


ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso,
com a finalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II -
submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a
qualquer tipo de servidão; IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena -
reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1o A pena é aumentada de um
terço até a metade se: I - o crime for cometido por funcionário público no
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II - o crime for cometido
contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III - o agente se
prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de , de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao
exercício de emprego, cargo ou função; ou IV - a vítima do tráfico de pessoas
for retirada do território nacional. § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se
o agente for primário e não integrar organização criminosa.”

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CONCEITO: O art. 149 do CP, disciplina que configura TRÁFICO DE PESSOAS
AGENCIAR, ALICIAR, RECRUTAR, TRANSPORTAR, TRANSFERIR, COMPRAR, ALOJAR
OU ACOLHER PESSOA, MEDIANTE GRAVE AMEAÇA, VIOLÊNCIA, COAÇÃO, FRAUDE
OU ABUSO.

OBJETO JURÍDICO: o bem jurídico protegido é a liberdade pessoal, no tocante à


plena gestão do ser humano quanto ao seu próprio corpo, à liberdade locomoção e de
trabalho, ao estado de filiação e à liberdade sexual.

OBJETO MATERIAL: é a pessoa, de qualquer origem, sexo ou idade, atingida pela


conduta criminosa.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO (TIPO OBJETIVO):

AÇÕES NUCLEARES: O “caput” do art. 149-A do Código Penal prevê 8 (oito)


núcleos agenciar (atuar como empresário, representar alguém), aliciar (atrair, reduzir,
induzir ou corromper alguém, com entrega de dinheiro ou qualquer outra vantagem),
recrutar (angariar, convocar alguém para um determinado propósito), transportar (levar
de um local para outro), transferir (deslocar ou despachar alguém para outro local),
comprar (adquirir a pessoa traficada), alojar (abrigar, hospedar ou acomodar alguém em
determinado local ou acolher (receber alguém). É tipo misto alternativo.

Os cinco incisos previstos no art. 149-A são elementos do tipo penal, tratando-se
de finalidade especial ou dolo específico. Portanto, somente haverá consumação do crime
de tráfico de pessoas se o agente tiver alguma das finalidades legalmente previstas,
independentemente de conseguir concretizá-las.

INCISO I – REMOVER-LHE ÓRGÃOS, TECIDOS OU PARTES DO CORPO = se a


remoção se concretizar, ao agente também será imputado o crime de homicídio consumado
ou tentado, se havia o dolo de matar, ou então, de lesão corporal grave (CP, art. 129, §
1º, inciso II ou III) ou gravíssima (CP, art. 129, § 2º, inciso II, III ou IV). Por sua
vez, se a remoção for praticada para fins de transplante, estará consumado o crime
previsto no art. 14 da Lei 9.434/1997.

INCISO II – SUBMETÊ-LA A TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À DE


ESCRAVO = a condição análoga à de escravo constitui situação fática na qual o agente
busca retirar a liberdade de autodeterminação de alguém, suprimindo seus direitos, em
situação semelhante àquela vivida pelos escravos. Se essa submissão efetivamente
ocorrer, o traficante de pessoa deverá responder pelo crime de plágio (redução à
condição análoga à de escravo), tipificado no art. 149 do CP.

INCISO III – SUBMETÊ-LA A QUALQUER TIPO DE SERVIDÃO = servidão é a


submissão da vítima aos anseios do agente, desde que não resulte em condição análoga à
de escravo, pois tal situação foi descrita separadamente pelo legislador, como na hipótese
em que a pessoa traficada é obrigada trabalhar para o agente por um reduzidíssimo
salário, por longas jornadas diárias e sem folgas semanais.

26
INCISO IV – ADOÇÃO ILEGAL = a adoção de crianças e adolescentes está
disciplinados pelos arts. 39 a 52-D da Lei 8069/90 (ECA). Lamentavelmente, o comércio
clandestino de crianças de pouca idade, muitas vezes bebês, cresce a cada dia, inclusive
com o transporte das vítimas ao exterior.

INCISO V – EXPLORAÇÃO SEXUAL = é a atividade em que o sujeito busca algum


proveito com a utilização da sexualidade alheia. Trata-se de ELEMENTO NORMATIVO
DO TIPO, de índole cultural, cujo conceito deve ser obtido mediante a valoração do
intérprete da lei penal. A exploração sexual não se confunde com a violência sexual, pois
não há emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima. No tráfico de pessoa, a
violência (ou qualquer outro meio de execução) recai na conduta de agenciar, aliciar,
recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mas não na ulterior
exploração sexual. Dessa forma, uma pessoa é explorada sexualmente quando vem a ser
enganada para manter relação sexual, ou então nas situações em que permite a obtenção
de vantagem econômica por terceiro, em consequência da sua atividade sexual. A
exploração sexual é a hipótese mais comum, no tráfico de pessoas, tanto no plano interno
como ocorre no turismo sexual, como também em âmbito internacional, com o envio de
homens e especialmente mulheres para atuarem no comércio carnal. Além da ação espúria
dos traficantes, que lucram facilmente ao abusarem de pessoas em situação de
necessidade e ludibriadas com a promessa de ganhos fáceis em curto espaço de tempo, a
miséria que existe em grande parte da população brasileira contribui para esse quadro
alarmante.

SUJEITO ATIVO: crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa,
sendo certo que é comum esse delito ser praticado por uma pluralidade de pessoas, que
formam uma associação criminosa de agentes.

SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa, independentemente de origem, sexo,


religião ou classe social. Basta a traficância de uma única pessoa para a caracterização
do delito.

MEIOS DE EXECUÇÃO: As formas de execução do crime de tráfico de pessoas


são taxativas, quais sejam: grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.
Grave ameaça (vis compulsiva), é a violência moral. Já a violência física (vis
absoluta), deve ser material (emprego de força física). Coação é o constrangimento para
que alguém faça ou deixe de fazer algo contra a própria vontade, podendo ser física ou
material. Fraude é a prática de artifício capaz de induzir ou manter a vítima em erro,
para que esta, por sua, atue representando falsamente a realidade. O abuso é o uso
ilegítimo, excessivo, imoderado ou incorreto de forças usadas pelo agente para praticar
dos verbos do crime de tráfico de pessoas.

VALE RESSALTAR que, se as condutas descritas no art. 149-a do Código Penal


não forem executadas mediante uma das formas previstas no tipo penal (grave ameaça,
violência, coação, fraude ou abuso), o fato será atípico.

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CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: é crime bicomum, simples, formal, de
consumação antecipada ou de resultado cortado, de forma livre, comissivo (em regra),
trata-se de TIPO MISTO ALTERNATIVO, crime de ação múltipla que pode ser praticado
mediante qualquer uma de suas condutas. HÁ ATOS QUE DENONTAM PERMANÊNCIA
(TRANSPORTAR, ALOJAR E ACOLHER) EM QUE A CONSUMAÇÃO SE PROLONGA NO
TEMPO. É CRIME FORMAL (de consumação antecipada), dessa forma, o tráfico de
pessoas se consuma com a simples prática de um dos verbos presentes no caput, desde
que com o emprego de grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, bem como uma
das finalidades previstas em alguns dos respectivos incisos, não se exigindo o alcance do
resultado naturalístico previsto no tipo, que, caso seja alcançado, constituirá mero
exaurimento do crime, a ser analisado quando da fixação da pena-base. É CRIME
PLURISUBSISTENTE, que permite o fracionamento do iter criminis. Via de regra, é
plurissubjetivo.

ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME: É O DOLO. Não há previsão da modalidade


culposa.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO (finalidade especial – dolo específico)= não


apenas a exploração sexual, mas alternativamente a remoção de órgãos, trabalho
escravo, servidão ou adoção ilegal.

CONSUMAÇÃO – independe da efetiva concretização da vontade específica,


bastando a realização de um dos núcleos do tipo mediante violência física ou moral,
fraude, coação ou abuso. A tentativa é admissível.

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO = Enquanto nos crimes dos artigos 231 e 231-


A a violência ou fraude atuava como majorante, no crime de tráfico de pessoas passa a
fazer parte do próprio tipo penal. O CONSENTIMENTO DO OFENDIDO NÃO EXCLUI O
CRIME, pois o agente busca atacar um bem jurídico indisponível, circunstância que anula
eventual concordância do sujeito passivo. Vale ressaltar que na exploração sexual,
aparentemente compatível com a vontade da vítima, pois qualquer pessoa pode usar seu
corpo, no plano erótico, como achar mais adequado. MAS NÃO SE ADMITE A
EXPLORAÇÃO DA SEXUALIDADE ALHEIA. ASSIM, A EXPLORAÇÃO SEXUAL É
INCOMPATÍVEL COM O CONSENTIMENTO DA VÍTIMA, EM RESPEITO À DIGNIDADE
SEXUAL, COROLÁRIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Foram revogados os artigos 231 e 231-A do CP (tráfico internacional e interno


para fim de exploração sexual). NÃO HOUVE ABOLITIO CRIMINIS, ocorreu apenas a
revogação formal do tipo penal, mas não a supressão material do fato criminoso. Houve
na verdade a incidência do princípio da continuidade normativo-típica, pois a conduta
continua sendo definida como crime, muito embora tenha havido a alteração topográfica
do tipo penal.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES): A legislação tornou mais


rigorosas as penalidades, portanto, em se tratando de lex gravior, a lei não pode
retroagir para prejudicar o réu. As majorantes (1/3 a 1/2) definidas no parágrafo 1º

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incidem no caso de: (a) crime cometido por funcionário público; (b) contra criança,
adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; (c) prevalência de relações de
parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de
autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou
função e (d) retirada da vítima do território nacional.

CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA (MINORANTES): No parágrafo 2º estão


previstas as minorantes do tráfico de pessoas (1/3 a 2/3), cabível ao agente primário que
não integra organização criminosa. O dispositivo se parece com o tráfico de drogas
privilegiado (art. 33, §4º da Lei 11.343/06 – que na verdade também é uma causa de
diminuição de pena), aplicável caso o agente seja primário e não integre organização
criminosa, e além disso, tenha bons antecedentes e não se dedique às atividades
criminosas. O delito de tráfico de pessoas, em que pese não hediondo ou equiparado,
sofre uma restrição relativa àquela categoria de crimes: requisito temporal mais severo
(cumprimento de mais de 2/3 da pena) para obtenção do livramento condicional (art. 83,
V do CP). Todavia, contra esse crime não incidem as demais vedações da Lei 8.072/90.

AÇÃO PENAL: A ação penal é pública incondicionada.

COMPETÊNCIA: Em regra, a competência para julgar o crime de tráfico de


pessoas é da Justiça Estadual. Porém, a competência será da Justiça Federal na hipótese
de tráfico internacional (art. 109, V, da CF).

ASPECTOS INVESTIGATIVOS E PROCESSUAIS: Quanto aos aspectos


investigativos e processuais penais, vale destacar o artigo 9º que dispõe; “Aplica-se
subsidiariamente, no que couber, o disposto na Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013”.

Dessa forma, se é permitida a aplicação subsidiária da Lei de Crime Organizado,


isso significa que estão à disposição do Estado-Investigação os meios extraordinários de
obtenção de prova lá albergados, tais como colaboração premiada, ação controlada e
infiltração de agentes e captação ambiental de comunicações. Essas técnicas especiais de
investigação revelam-se imprescindíveis no combate à criminalidade moderna, que se
mostra cada vez mais organizada e sofisticada. Crimes graves exigem emprego de
estratégias investigativas diferenciadas e por vezes mais intrusivas, que não se limitem a
testemunhas e perícias.

Outra medida importante que auxiliará nas investigações do tráfico de pessoas é a


criação pelo Poder Público de sistema de informações visando à coleta e à gestão de
dados que orientem o enfrentamento ao tráfico de pessoas (art. 10). Tendo em vista que
a atribuição investigativa é tanto da Polícia Federal e da Polícia Civil, é imprescindível que
haja um adequado compartilhamento dos dados entre as Polícias Judiciárias, e também
com o Ministério Público. No caso de tráfico internacional de pessoas o legislador
considerou como majorante apenas a retirada da vítima do país, esquecendo-se de sua
colocação no território nacional, em lamentável equívoco.

A Lei 13.344/2016 instituiu o Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de


Pessoas, a ser comemorado, anualmente, em 30 de julho e determina que serão adotadas

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campanhas nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas, a serem divulgadas em
veículos de comunicação, visando à conscientização da sociedade sobre todas as
modalidades de tráfico de pessoas.

REFERÊNCIAS:

BÁSICA:

1-CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte especial. Vol. III. São Paulo. Saraiva,
13ª edição, 2015.
2-JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte especial. Vol. III. São Paulo, Saraiva,
23ª edição, 2015.
3- MASSON, Cleber. Direito penal; especial, Vol. III; esquematizado. São Paulo,
Método, 7ª edição, 2017.
4-MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. III. Atlas, 32ª edição, 2015.
5-NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Forense, 11ª. Edição, Rio de
Janeiro, 2015.
COMPLEMENTAR

6-ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. São Paulo, Saraiva, 10ª
edição, 2014.

7-BARROS, Francisco Dirceu. Direito Penal. Parte Especial. Rio de Janeiro.


Campus/Elsevier. 2015.

9- CAPEZ, Fernando. Código Penal Comentado. Porto Alegre. Verbo Jurídico, 4ª edição,
2014.

10- CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para concursos. Salvador. Bahia, Editora
Podivm, 7ª, edição, 2014.

11- GRECO, Rogério. Código Penal comentado. Rio de Janeiro. Ímpetus, 11ª edição,
2014.

12- ESTEFAM, André. Direito Penal; parte especial; vol. III. São Paulo, Saraiva, 3ª
edição, 2015.

13- MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 5ª. ed. Revista, atualizada e ampliada -
Rio de Janeiro, Forense. São Paulo: Método, 2017.

14- NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo. RT, 13ª edição,
2014.

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