Direito Penal IV - Resumos-1
Direito Penal IV - Resumos-1
Direito Penal IV - Resumos-1
1. Estupro:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
A revogação do art. 214 extinguiu o crime de ato libidinoso que foi abarcado pelo art.
213, porém não se pode falar em abolitio criminis, pois a lei 12.015 de 2009 continua
considerando crime o atentado violento ao pudor, porém dentro do tipo penal estupro. Fala-se,
por isso, em continuidade normativo-típica. O estupro é um crime hediondo, devido a sua
gravidade e potencial ofensivo, não sendo possível qualquer tipo de composição.
Lembre-se que antes da lei 12.015 de 2009 o crime de estupro era “contranger mulher
a conjunção carnal” e falava apenas sobre a conjunção carnal (introdução completa do pênis
na vagina). O novo tipo penal fala em conjunção carnal ou “praticar ou permitir com que ele
pratique outro ato libidinoso”. Antes da lei, a prática de ato libidinoso diverso da conjunção
carnal configurava o crime de atentado violento ao pudor (antigo art. 214).
O tipo penal estupro exige: o constrangimento, a coação do sujeito passivo a algo,
retirando sua liberdade de fazer algo ou impedindo-a de não fazer; uso de violência, vis
absoluta ou corporalis, ou grave ameaça, violência psicológica ou vis compulsiva; o intuito
de conjunção carnal, introdução do pênis na vagina ou prática de ato libidinoso, qualquer ato
diverso revestido de conotação sexual.
Nota: segundo o Resp 1.611.910 MT, o beijo roubado, bem como o beijo lascivo, pode
configurar ato libidinoso e configurar o tipo penal estupro.
Note que o tipo penal não impõe que o autor realize a conjunção carnal ou o ato
libidinoso com a vítima. Aquele que constrange, mas não realiza a conjunção ou o ato
libidinoso, não será mero partícipe, mas auto do crime de estupro.
Ademais, no que tange ao consentimento da vítima, ele exclui a tipicidade. A sua
discordância deve ser firme e capaz de demonstrar sua efetiva oposição ao ato sexual, bem
como deve subsistir durante toda a atividade sexual.
Atente-se que após a lei 13.718 de 2018, os crimes sexuais são crimes de ação penal
pública incondicionada (art. 225, CP).
Nota: Os Tribunais Superiores têm entendido como crime único e não como concurso
material quando o agente pratica conjunção carnal e ato libidinoso em um mesmo contexto
fático e contra a mesma vítima.
O sujeito ativo e o passivo pode ser qualquer pessoa, diferente da antiga visão em que
apenas o homem poderia ser sujeito ativo e a mulher sujeito passivo.
Nota: não há impedimento para configuração do crime de estupro entre marido e
mulher.
O objeto jurídico (bem jurídico tutelado) é a liberdade sexual. O objeto material, por
sua vez, é a vítima, o próprio sujeito passivo.
O elemento subjetivo é o dolo genérico. Não se exige dolo específico e não há
modalidade culposa.
O crime de estupro se consuma com a realização do ato. Trata-se de crime material,
pois depende da produção do resultado material e admite tentativa.
Os parágrafos trazem as figuras qualificadas: se resulta lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima é menor de 18 e maior de 14; se resulta morte.
3. Importunação sexual:
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Até o ano de 2017, havia o crime de estupro que descrevia uma relação sexual
mediante violência ou grave ameaça e a importunação ofensiva ao pudor, uma contravenção
penal com pena baixa, que dizia “art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível
ao público, de modo ofensivo ao pudor: Pena – multa”. Ocorreu, nessa época, um caso
paradigmático em que um homem ejaculou em uma passageira no ônibus. No entanto, ele foi
solto, pois não havia tipo penal aplicável ao ato.
Nota: a pena mínima de 01 ano permite a suspensão condicional do processo! (art. 89,
Lei nº 9.099/95)
O núcleo do tipo penal fala em praticar, realizar/cometer, sem o consentimento da
vítima, ato libidinoso, qualquer tipo de contato corporal. Atente-se que esse crime exige que a
satisfação da lascívia seja realizada em relação a uma pessoa determinada, pois se for
indeterminada se configura o crime de ato obsceno.
O crime do art. 215-A não se refere a violência ou grave ameaça nem a conjunção
carnal, diferindo-o do crime de estupro.
Os sujeitos (ativo e passivo) podem ser qualquer pessoa. O elemento subjetivo (dolo)
é específico, o de satisfazer a lascívia, seja própria ou de terceiro. Se o dolo específico não for
satisfeito, está descaracterizado o crime.
O crime se consuma com a prática de um ato libidinoso, logo, no momento em que o
agente pratica qualquer ato libidinoso, o crime está consumado. Assim, o crime é instantâneo.
O crime de importunação sexual admite tentativa. Por exemplo, o agente tenta tirar a
roupa para a prática do ato libidinoso, porém um terceiro o interrompe e o agente foge do
local.
Art. 89, Lei nº 9.099/95. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a
suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não
tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo
a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;II - proibição de
freqüentar determinados lugares;III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do Juiz;IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades
.§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado
por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do
prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em
seus ulteriores termos.
4. Assédio Sexual:
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício
de emprego, cargo ou função. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Constranger alguém é o verbo do tipo, ultrapassando a razoabilidade de uma simples
cantada ou similares. Esse verbo remete a forçar, compelir vítima.
Atente-se que o assédio é sempre do superior para o inferior hierárquico. O inverso
enseja outros crimes, mas jamais assédio. Ademais, a situação fática deve ser inerente à
situação de emprego, situação laboral.
A situação, por óbvio, exige a falta de consentimento da vítima.
O sujeito ativo é próprio, o superior hierárquico, e o passivo também é próprio,
inferior hierárquico. Não se configura o crime entre indivíduos na mesma posição hierárquica.
Nota: O tipo penal não se caracteriza na relação entre professor e aluno, pois este não
é funcionário da instituição. Entretanto, o STJ já decidiu de forma contrária (REsp
1759135/SP), em 2019 (verificar se é linha minoritária ou não).
Nos casos de líderes religiosos com fiéis, a doutrina entende que não há vínculo
laboral. Logo, não se configura o crime de assédio. No entanto, entre cargos hierárquicos
remunerados, configurando vínculo laboral, pode se configurar o crime.
O dolo é específico, pois exige que o intuito seja de obter vantagem ou favorecimento
sexual. Não há previsão da modalidade culposa.
O crime se consuma com o constrangimento (com a finalidade). Logo, crime
instantâneo, formal e comissivo.
Nota: não há, no Brasil, previsão legal ou tipo penal específico para o assédio moral.
Mas, nada impede que seja configurado outro tipo penal.
O tipo penal admite tentativa, fracionamento do iter criminis.
A ação penal é pública incondicionada.
Classificação: simples, próprio, formal, instantâneo, comissivo, de forma livre,
plurissubsistente e unissubjetivo.
O tipo penal é de competência do JECRIM por ser um crime de menor potencial
ofensivo, permitindo a composição civil dos danos e transação penal e o SURSIS processual.
A causa de aumento no parágrafo 2º traz que, se a vítima for menor de 18 anos, a pena
será aumentada em um terço.
5. Exposição da intimidade:
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: (Incluído
pela Lei nº 13.772, de 2018)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer
outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
(Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
O tipo penal possui uma gama de verbos, abarcando as ações de produzir (criar),
registrar (guardar algo), fotografar (retratar a imagem) e filmar (gravar algo), mas sempre
voltados ao caráter íntimo da vítima. O tipo foi criado pela Lei 13.772 de 2018.
Nota: Atente-se que esse tipo penal abarca hipóteses de concurso material e de
consunção, a depender do caso prática, verificando o dolo do agente.
O objeto jurídico tutelado é a intimidade sexual da vítima. O objeto material é a
pessoa. O dolo é genérico e os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa, crime
comum.
A consumação ocorre de forma instantânea, no momento em que o agente produz,
fotografa, filma ou registra cena de nudez ou sexual.
O crime admite tentativa e a ação penal é pública incondicionada.
Conforme a Lei 9.099/95, crime de menor potencial ofensivo, a pena máxima até 02
anos, cabe suspensão condicional do processo.
O crime é comum, de forma livre, doloso, instantâneo, formal, plurissubsistente,
unissubjetivo, de dano, comissivo e admite tentativa.
6. Estupro de Vulnerável:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído
pela Lei nº 13.718, de 2018)
O Código se refere à conjunção carnal, logo, a penetração ou praticar qualquer ato
libidinoso. O tipo penal não aceita nenhum tipo de medida despenalizadora, em decorrência
da gravidade do crime.
A competência será da vara comum ou da vara da infância.
A lei 12.015 trouxe os mesmos verbos do tipo penal “estupro” e instituiu o estupro de
vulnerável como crime hediondo.
O tipo penal tem como objetivo, objeto jurídico, proteger a dignidade sexual da pessoa
vulnerável e o objetivo material é a pessoa vulnerável.
No que tange a violência, o tipo penal não a traz, mas há a chamada violência
presumida (art. 217-A, §5º).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o passivo precisa ser pessoa vulnerável,
menor de 14 anos, pessoa com enfermidade física ou mental ou pessoa que não pode oferecer
resistência.
Nota: Atente-se que quando o crime ocorre com pessoas de idades próximas,
excepcionalmente os tribunais têm absolvido o acusado. O nome da prática é “exceção de
Romeu e Julieta".
Nota: No estupro de vulnerável bilateral, os dois sujeitos são menores. Logo, não é
cabível o enquadramento no tipo penal.
Nota: A prática de conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso, ainda que superficial,
caracteriza estupro de vulnerável. Não se admitindo a desclassificação para importunação
sexual.
O elemento subjetivo é o dolo, a intenção de ter conjunção carnal ou praticar ato
libidinoso com pessoa vulnerável. É cabível, no entanto, o erro de tipo, a falsa representação
da realidade. A partir disso, considera-se se o erro era escusável ou inescusável. Havendo erro
de tipo escusável, aplica-se o art. 20, CP, por ausência de dolo.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.
A consumação ocorre com a prática do ato libidinoso ou da conjunção carnal, porém o
tipo penal admite tentativa.
A ação é pública incondicionada.
O crime é simples, comum, material, forma livre, dano, instantâneo, doloso,
unissubjetivo, plurissubsistente.
As causas de aumento, crime qualificado pelo resultado, são: lesão corporal grave (10
a 20 anos) e morte (12 a 30 anos).
7. Corrupção de Menores:
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
O tipo se refere a alguém que age como intermediário entre um menor de 14 anos e
outra pessoa. O núcleo do tipo é o verbo induzir que se refere a fazer nascer o pensamento
com o intuito de satisfazer o desejo sexual de outrem.
Nota: o intermediador pode ser chamado de proxeneta. O terceiro é um observador,
pois se ele tiver qualquer contato sexual com o menor, responderá por estupro, bem como o
proxeneta.
O tipo penal fala em menor de 14 anos, logo o indivíduo com 14 anos não está
abarcado.
Atente-se que “outrem” se refere à pessoa específica, determinada.
Nota: Na corrupção de menores, a satisfação da lascívia deve se limitar a atividades
contemplativas. O agente atua mediante observação, “voyeur”. Se o agente sair da posição
contemplativa e alcançar o ato libidinoso ou a conjunção carnal, o crime será de estupro de
vulnerável.
O objeto jurídico é a dignidade sexual do menor e o objeto material é a pessoa que
sofre a conduta. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o passivo pode ser apenas o
menor de 14 anos.
Nota: Se o sujeito passivo é maior de 14 e menor de 18 anos, aplica-se o art. 227, §1º.
Se o sujeito passivo for maior de 18, aplica-se o caput. Houve falha do legislador ao não
escrever “igual ou superior a 14 anos”.
O elemento subjetivo é o dolo. Não há forma culposa. Há dolo específico, satisfazer a
lascívia de outrem. O crime se consuma com a realização do ato pelo menor,
independentemente da efetiva satisfação da lascívia do terceiro. A tentativa é possível.
A ação penal é pública incondicionada.
O crime é comum, doloso, material, de dano, plurissubsistente, instantâneo, simples,
unissubjetivo, concurso eventual, execução livre.